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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE EDIFICAÇÕES E AMBIENTAL DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS: ANÁLISE DO SISTEMA VIÁRIO DO CAMPUS SEDE DA UFMT EDIVANETE MÁRCIA NOGUEIRA DE ANDRADE Cuiabá-MT Fevereiro 2011

DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

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Page 1: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE EDIFICAÇÕES E AMBIENTAL

DISSERTAÇÃO

SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS: ANÁLISE DO SISTEMA VIÁRIO DO

CAMPUS SEDE DA UFMT

EDIVANETE MÁRCIA NOGUEIRA DE ANDRADE

Cuiabá-MT Fevereiro 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE EDIFICAÇÕES E AMBIENTAL

SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS: ANÁLISE DO SISTEMA VIÁRIO DO

CAMPUS SEDE DA UFMT.

EDIVANETE MÁRCIA NOGUEIRA DE ANDRADE Dissertação apresentada junto ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Edificações e Ambiental da Universidade Federal de Mato Grosso, como requisito para obtenção do título de Mestre.

JOSÉ MANOEL HENRIQUES DE JESUS

Cuiabá – MT Fevereiro 2011

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Dados Internacionais de Catalogação na Fonte

Catalogação na fonte: Maurício S. de Oliveira - Bibliotecário CRB/1 1860

A553s Andrade, Edivanete Márcia Nogueira de. Sustentabilidade em áreas urbanas: análise do sistema viário do campus sede da UFMT, 2010.

131 f ; il : colors ; 30 cm (Inclui figuras.)

Orientador: José Manoel Henriques de Jesus Dissertação (mestrado). Universidade Federal de Mato Grosso.

Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Edificações e Ambiental, 2010.

Bibliografia: 122-131

1. Sustentabilidade. 2. Campus universitário - UFMT. 3. Sistema viário I. Título.

CDU 711.4(817.2)

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iii

DEDICATÓRIA

Aos meus pais pelo grande incentivo e amor incondicional.

Ao meu marido Carlos pela paciência e compreensão.

Page 6: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

iv

AGRADECIMENTOS

À Deus pelas oportunidades

Ao Prof. Dr. José Manoel Henriques de Jesus pela orientação e confiança

Aos demais professores do PPGEEA pelo apoio e ensino

Aos colegas de curso pelas histórias que escrevemos junto

Aos colegas da PROPLAN/CPF pela ajuda e companheirismo

Page 7: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

v

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ................................................................................................. vi LISTA DE QUADROS ............................................................................................ viii LISTA DE TABELAS ................................................................................................ ix RESUMO ...................................................................................................................... x ABSTRACT ................................................................................................................ xi 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1 1.1 PROBLEMÁTICA ................................................................................................. 1 1.2 JUSTIFICATIVA ................................................................................................... 4 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................. 7 2.1 SUSTENTABILIDADE ........................................................................................ 7 2.1.1 Histórico e definições ......................................................................................... 7 2.1.2 Áreas Urbanas .................................................................................................. 17 2.1.2.1 Localização, entorno e implantação ............................................................ 28 2.1.2.2 Infraestrutura ............................................................................................... 31 2.1.2.2.1 Sistema viário ............................................................................................. 32 2.1.2.2.2 Energia Elétrica ......................................................................................... 41 2.1.2.2.3 Água ........................................................................................................... 50 2.1.2.2.4 Resíduos ..................................................................................................... 55 2.1.2.2.5 Arborização urbana ................................................................................... 57 2.1.3 Materiais de construção .................................................................................. 64 2.1.4 Sistemas de Avaliação ...................................................................................... 70 3 MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................ 74 3.1 MATERIAIS ........................................................................................................ 74 3.2 MÉTODOS .......................................................................................................... 75 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................ 77 4.1 CARACTERIZAÇÃO GERAL DO CAMPUS SEDE DA UFMT ..................... 77 4.1.1 Contexto histórico do seu desenvolvimento urbano ..................................... 77 4.1.2 Contexto atual .................................................................................................. 85 4.2 SISTEMA VIÁRIO .............................................................................................. 87 4.2.1 Vias Urbanas .................................................................................................... 87 4.2.1.1 Diagnóstico ................................................................................................... 87 4.2.1.2 Proposições ................................................................................................... 90 4.2.2 Acessos .............................................................................................................. 93 4.2.2.1 Diagnóstico ................................................................................................... 93 4.2.2.2 Proposições ................................................................................................... 95 4.2.3 Estacionamentos .............................................................................................. 96 4.2.3.1 Diagnóstico ................................................................................................... 96 4.2.3.2 Proposições ................................................................................................... 99 4.2.4 Mobilidade e acessibilidade .......................................................................... 107 4.2.4.1 Diagnóstico ................................................................................................. 107 4.2.4.2 Proposições ................................................................................................. 109 4.2.5 Iluminação ...................................................................................................... 114 4.2.5.1 Diagnóstico ................................................................................................. 114 4.2.5.2 Proposições ................................................................................................. 116 4.2.6 Arborização .................................................................................................... 117 4.2.6.1 Diagnóstico ................................................................................................. 117 4.2.6.2 Proposições ................................................................................................. 118 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 119 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 122 6.1 BIBLIOGRAFIAS CITADAS ........................................................................... 122 6.2 BIBLIOGRAFIAS CONSULTADAS ............................................................... 129

Page 8: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

vi

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Esquema do metabolismo linear ....................................................... 26 Figura 2 – Esquema do metabolismo circular .................................................... 27 Figura 3 – A orientação da rua em relação aos ventos. (A) Situação onde o

sentido da rua não permite que as edificações recebam o vento. (B) O vento penetra nas edificações, pois a via urbana está no sentido da direção predominante dos ventos ...................................................... 29

Figura 4 – O vento e a disposição dos edifícios altos e baixos. (A) A ventilação refresca os edifícios térreos. (B) Os prédios mais altos protegem (ou servem de barreira) da ação dos ventos ............................................ 29

Figura 5 – Comparativo entre as malhas viárias. (A) Retilínea. (B) Orgânica. . 36 Figura 6 – Caracterização de pessoas com deficiência e mobilidade reduzida. . 40 Figura 7 – Atlas solarimétrico do Brasil: variação da radiação solar ................. 44 Figura 8 – Potencial eólico brasileiro ................................................................. 45 Figura 9 – A influência do vidro nas edificações circunvizinhas ...................... 49 Figura 10 – Distribuição da água na superfície da Terra ..................................... 51 Figura 11 – Esquema do sistema de coleta das águas pluviais no nível

comunitário ....................................................................................... 54 Figura 12 – Esquema de purificação do ar de um bosque em relação a uma área

densamente urbanizada ..................................................................... 58 Figura 13 – Esquema de purificação do ar de uma rua arborizada em relação a

uma rua sem arborização .................................................................. 58 Figura 14 – Barreiras acústicas ............................................................................ 60 Figura 15 – Sistema fechado da desconstrução e desmontagem .......................... 65 Figura 16 – Etapas do ciclo de vida de um produto ............................................. 69 Figura 17 – Localização dos campi da UFMT no Estado .................................... 78 Figura 18 – Localização do campus sede da UFMT em relação a área urbana do

município .......................................................................................... 79 Figura 19 – Localização atual do campus no município de Cuiabá ..................... 79 Figura 20 – Campus sede da UFMT (início da década de 70) ............................. 80 Figura 21 – Croqui do sistema viário ................................................................... 81 Figura 22 – Plano diretor do campus – PROPLAN (1979) .................................. 81 Figura 23 – Estacionamento com acesso pelo exterior do campus ...................... 82 Figura 24 – Zoneamento do campus de Cuiabá da UFMT .................................. 82 Figura 25 – Planta atual do campus sede da UFMT ............................................ 84 Figura 26 – Clima ................................................................................................. 85 Figura 27 – Vias urbanas do campus sede da UFMT .......................................... 88 Figura 28 – Perfil da via principal ........................................................................ 89 Figura 29 – Perfil das vias secundárias ................................................................ 89 Figura 30 – Alteração da via urbana principal ..................................................... 89 Figura 31 – Projeto de intervenção física para a definição e construção do

sistema viário e de segurança do campus da UFMT ........................ 90 Figura 32 – Exemplo de vias urbanas pavimentada com piso intertravado ......... 91 Figura 33 – Perfil da situação atual da via principal ............................................ 92 Figura 34 – Proposta para alargamento das calçadas conforme legislação .......... 92 Figura 35 – Possibilidades de desenho e tipo de paginação do piso intertravado 92 Figura 36 – Acessos ao campus sede da UFMT .................................................. 93 Figura 37 – Guaritas do campus sede da UFMT .................................................. 94 Figura 38 – Acessos exclusivos para pedestres do campus sede da UFMT ........ 94 Figura 39 – Acesso de pedestres – proposta 1 ..................................................... 95 Figura 40 – Acesso de pedestres – proposta 2 ..................................................... 96

Page 9: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

vii

Figura 41 – Localização dos estacionamentos ..................................................... 97 Figura 42 – Estacionamentos ............................................................................... 97 Figura 43 – Estacionamentos ............................................................................... 98 Figura 44 – Estacionamento para pessoas com deficiência ................................. 99 Figura 45 – Estacionamento de motocicletas ....................................................... 99 Figura 46 – Piso intertravado vazado ................................................................. 100 Figura 47 – Exemplos de projetos de estacionamento ....................................... 100 Figura 48 – Estacionamento E5 existente .......................................................... 101 Figura 49 – Proposta para o estacionamento E5 ................................................ 102 Figura 50 – Detalhe do estacionamento E5 – passarela elevada de pedestre e

vagas de veículos para pessoas com deficiência ............................. 102 Figura 51 – Detalhe do estacionamento E5 – vagas delimitadas por blocos de

concreto móveis .............................................................................. 103 Figura 52 – Estacionamento E6 existente .......................................................... 103 Figura 53 – Proposta para o estacionamento E6 ................................................ 104 Figura 54 – Detalhe do estacionamento E6 – vagas de automóveis e canteiros

arborizados ...................................................................................... 105 Figura 55 – Detalhe do estacionamento E6 – vagas destinadas a pessoas com

deficiência ....................................................................................... 105 Figura 56 – Detalhe do estacionamento E6 – passarelas elevadas de pedestre .. 105 Figura 57 – Estacionamento E2 existente .......................................................... 106 Figura 58 – Proposta para o estacionamento E2 ................................................ 106 Figura 59 – Ponto de ônibus. (A) Com abrigo. (B) Sem abrigo. ....................... 107 Figura 60 – Exemplo de barreiras físicas ........................................................... 108 Figura 61 – Rampas de acessibilidade ............................................................... 108 Figura 62 – Exemplo de ciclovia ........................................................................ 109 Figura 63 – Exemplo de ciclofaixa .................................................................... 109 Figura 64 – Proposta para implantação de ciclovias unidirecionais na via

principal do campus sede da UFMT – Planta de localização ......... 110 Figura 65 – Proposta para implantação de ciclovias unidirecionais na via

principal do campus sede da UFMT – perfil da via principal ........ 110 Figura 66 – Proposta para implantação de ciclovia bidirecional na via principal

do campus sede da UFMT – Planta de localização ........................ 111 Figura 67 – Proposta para implantação de ciclovia bidirecional na via principal

do campus sede da UFMT – Perfil da via principal ....................... 111 Figura 68 – Vantagens do uso da bicicleta e exemplo de bicicletário urbano ... 112 Figura 69 – Calçadas como bosques urbanos ..................................................... 112 Figura 70 – Proposta para calçadas da via principal do campus ........................ 112 Figura 71 – Proposta para calçadas das vias secundárias do campus ................ 113 Figura 72 – Exemplos de vias e calçadas acessíveis.(A) Rampa de acesso à via e

uso piso tátil direcional e de alerta na via urbana e calçada. (B) Passagem elevada de pedestre. ................................................. 113

Figura 73 – Postes de iluminação na via principal do campus ........................... 115 Figura 74 – Postes de iluminação de 7 m de altura ............................................ 115 Figura 75 – Postes de iluminação de 4,5 m de altura ......................................... 115 Figura 76 – Proposta para a iluminação da via principal ................................... 116 Figura 77 – Postes de iluminação instalados no Parque Barigui ........................ 117 Figura 78 – Arborização urbana ......................................................................... 117

Page 10: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

viii

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – Comparativo entre as características da urbanização dispersa e do

novo urbanismo ................................................................................ 26 QUADRO 2 – Alterações do vento em relação à declividade do solo .................... 30 QUADRO 3 – Características da declividade do terreno em relação ao

escoamento das águas da chuva ....................................................... 53 QUADRO 4 – Taxas de infiltração das águas pluviais para diferentes tipos de

ocupação, solo e pavimentação urbana ............................................ 53 QUADRO 5 – Principais métodos de avaliação e certificação ambiental de

edifícios e seu país de origem .......................................................... 71 QUADRO 6 – Apresentação da sistemática dos principais métodos de avaliação

e certificação ambiental de edifícios ................................................ 71 QUADRO 7 – Relação dos grupos temáticos analisados, usuários, atividades e

aspectos considerados durante a análise .......................................... 76 QUADRO 8 – População do campus sede da UFMT .............................................. 87 QUADRO 9 – Caracterização dos estacionamentos existentes ............................... 98 Nenhuma entrada de índice de ilustrações foi encontrada. Nenhuma entrada de índice de ilustrações foi encontrada.

Page 11: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

ix

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Valores de albedo de alguns materiais superficiais das construções Fiscal de Tributos Estaduais – MT ............................. 59

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x

RESUMO

ANDRADE, E. M. N. de. Sustentabilidade em áreas urbanas: análise do sistema viário do campus sede da UFMT. Cuiabá-MT, 2010. 131 p. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia. Universidade Federal de Mato Grosso. O objetivo deste trabalho é analisar as características intrínsecas ao sistema viário do campus sede da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) situada em Cuiabá, tendo em vista a sustentabilidade, uma emergente preocupação mundial que preconiza a necessidade de minimizar os impactos das atividades humanas sobre o meio ambiente para que as futuras gerações possam usufruir o que hoje nós usufruímos. A base teórica do trabalho consiste na revisão bibliográfica sobre o tema sustentabilidade, com a apresentação de seu contexto histórico, elencando os parâmetros e peculiaridades que norteiem as áreas urbanas. O campus, como um todo, é apresentado considerando seu desenvolvimento inicial e sua situação atual. Os aspectos estudados do sistema viário são as vias urbanas, os acessos, estacionamentos, a mobilidade, acessibilidade, iluminação e arborização. Estes são apresentados de forma descritiva, utilizando-se de mapas, desenhos e registros fotográficos, seguidos de uma análise crítica e comparativa com as diretrizes levantadas na revisão bibliográfica. São apresentados os aspectos positivos e negativos do atual sistema viários, e, por consequência, são elencadas intervenções que supram as deficiências encontradas, de forma mais eficiente, menos impactante e que refletem em melhorias ambientais e sociais, tanto para o ambiente urbano construído quanto para os seus usuários. É interessante salientar que a busca por um ambiente mais sustentável não é baseado em fórmulas ideais, mas, sim, na ideia de produzir o mínimo de impacto possível ao meio ambiente. Assim, as soluções desenvolvidas se referem, única e exclusivamente, ao ambiente de estudo, isto é, ao campus sede da UFMT, e servem de referência para contextos semelhantes, mas não são regras a serem seguidas. Palavras-chave: sustentabilidade, campus universitário, sistema viário.

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xi

ABSTRACT

ANDRADE, E. M. N. de. Sustainability on urban areas: analysis on road system at UFMT headquarter campus. Cuiabá-MT, 2010. 131 p. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia. Universidade Federal de Mato Grosso. The objective of this study is to analyze of intrinsic characteristics on The headquarter campus of Federal University de Mato Grosso (UFMT), located in Cuiaba, in view of sustainability, an emerging global concern which advocates the need of minimizing the human activity impacts on environment in order that next generation enjoy what we do today, aims in this study, the analysis of intrinsic characteristics on campus´s road system in question. The theoretical basis of this work consists of bibliographical revision about the sustainability subject, along with the presentation of its historical context, by listing the parameters and peculiarities that guide the urban areas. The campus, in total, is shown by considerating its initial development as well as its current situation. The studied aspects on road system are urban roads, the accesses, parkings, mobility, accessibility, lighting and afforestation. They are shown in a descriptive way by using maps, drawings and photographic records, followed by a critical and comparative analysis with guidelines surveyed on a bibliographical revision. Positive and negative positions of current road systems are shown and, in consequence, interventions are listed that will supply the found defficiencies in a workable way, less impactant e that reflect into environmental and social improvement, as for constructed urban environment as for its users. It´s important to stress that the search for a more sustainable environment is not based on ideal formulas but truly on the idea of producing the minimum of a possible impact to the environment. Therefore the developed solutions are referred, solely and exclusively, to the study environment, that is, the UFMT headquarter campus and are reference to the similar contexts, but they are not rules to be followed.

Keywords: sustainability, campus, road system.

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1

1 INTRODUÇÃO

1.1 PROBLEMÁTICA

A revolução industrial pode ser considerada a principal causa da migração do

homem do campo para as cidades. Influenciado pela oferta de empregos e melhor

qualidade de vida, o homem abandona o campo e inicia um processo de urbanização

desenfreado e sem planejamento.

Oliveira (2001, p. 2) destaca que o Brasil passou por essa rápida urbanização

entre os anos de 1930 e 1970. Na década de 1930, a sociedade brasileira era

praticamente rural. E esse cenário domiciliar se inverteu em 1970, quando 55,95% da

população já era urbana. No ano de 2000, esse índice chegou a 81,23%. Em escala

mundial, Edwards (2008, p. 9) enfatiza que o ano 2000 marcou a humanidade, pois

foi a primeira vez que a população urbana superou a rural. Para Rogers (2008, p. 4),

as cidades caracterizam-se como “o maior agente destruidor do ecossistema e a

maior ameaça para a sobrevivência da humanidade no planeta”.

No Brasil, esse desordenado processo ocasionou as extensas e longínquas

periferias, desprovidas de serviços e equipamentos essenciais, como abastecimento

de água e energia, tratamento de esgoto, transporte público, escolas e postos de

saúde. Esta situação é agravada pela ocupação desequilibrada do espaço urbano

(especulação imobiliária) e causadora da crescente contaminação do meio ambiente e

de seus recursos naturais.

Além da ocupação periférica das cidades, o adensamento urbano, ou seja, a

intensificação do uso e da ocupação do solo urbano, principalmente nas áreas

centrais, é fruto da urbanização na maioria das cidades brasileiras. A

impermeabilização do solo, o aumento constante do tráfego de veículos (leves e

Page 15: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

2

pesados), a verticalização das edificações, que impossibilita a circulação de ar, e a

redução significativa de áreas verdes são alguns dos fatores inerentes do

adensamento urbano, resultando nas famosas ilhas de calor, isto é, quando áreas

centrais apresentam temperaturas maiores que áreas periféricas ou menos

urbanizadas.

John (2007, p. 6) afirma: “o planeta se encontra em uma crise ambiental sem

precedentes, na qual a participação dos edifícios é significativa”. Para Sattler e

Pereira (2006, p. 6), a construção civil engloba atividades que consomem grande

quantidade de recursos naturais do planeta. Recursos estes não renováveis e partícipe

da cadeia produtiva de insumos da construção, como o cimento, entre outros. Mesmo

atualmente não havendo uma previsão sobre a escassez de alguns recursos, o fato é

que, com o elevado crescimento populacional e, consequentemente, de bairros,

cidades, enfim, de edificações em geral, qualquer recurso advindo da natureza tende

a ser finito.

Não suficiente, essa sociedade urbana é responsável pela produção de

inúmeros tipos de resíduos. Podem ser esporádicos, isto é, aqueles que permeiam a

execução do edifício, onde muito destes são oriundos do descaso durante o processo

construtivo e de técnicas construtivas não racionalizadas; ou constantes, como o lixo

e esgoto produzidos no decorrer do uso da edificação. Além do desperdício de

matéria prima, de recursos naturais, a destinação final de resíduos pode ser

considerada como um grave problema ao meio ambiente.

Não bastasse os resíduos gerados, a indústria da construção emite inúmeros

poluentes gasosos. Tem-se, como exemplos, os diversos materiais inerentes à

construção, como o cimento, cal, cerâmica vermelha, ferro, entre outros, os quais

emitem dióxido de carbono (CO2) no ar, seja durante a fabricação ou no processo de

retirada da natureza. O metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O) também são gases

resultantes desta atividade, e responsáveis por formar uma proteção que envolve o

planeta. Tal proteção tem ação refletora, impedindo que a radiação solar refletida

pela superfície (o calor) retorne ao espaço. Assim, são poluentes causadores do efeito

estufa, que contribuem para o aquecimento global e para as mudanças climáticas do

planeta.

Page 16: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

3

Como exemplo, Keeler e Burke (2010, p. 51) apresentam dados estatísticos

dos Estados Unidos (EUA), onde as edificações são responsáveis por 73,1% do

consumo de eletricidade, 30% do consumo dos recursos naturais, 30% das emissões

de gases de efeito estufa, pela produção de 136 milhões de toneladas de lixo por ano

e absorção de 12% da água potável do país.

Vale lembrar que, numa visão micro do problema, as edificações surgem

como grandes vilãs. A construção civil, de um modo geral, está totalmente atrelada

aos impactos ambientais, seja aqueles que surgem na região de influência da

edificação ou aqueles distantes a ela e disseminados pela logística.

Visualizando de forma macro, os bairros e as cidades, ou seja, a urbanização,

também impacta negativamente o meio ambiente. Ao imaginar áreas rurais se

transformando em áreas urbanas, vê-se surgir construções residenciais, pavimentação

para circulação de pessoas e veículos, construções para o trabalho e para o lazer, nos

espaços antes ocupados predominantemente por fauna e flora nativas. Enfim, a

transformação do meio rural em urbano afeta de inúmeras maneiras o meio ambiente.

Não bastasse essa mudança sistemática de uso, Gouvêa (2008, p. 21) esclarece que a

globalização trouxe consigo a ideia de homogeneização, característica tal que explica

o fato das cidades e dos edifícios serem semelhantes em todas as partes do mundo, a

despeito de fatores diferenciadores, como os econômicos, tecnológicos, climáticos,

funcionais e culturais.

O campus universitário sede da Universidade Federal de Mato Grosso

(UFMT), situado em Cuiabá, é exemplo de uma área urbana que contempla os mais

diversos sistemas de infraestrutura, e onde estão instaladas edificações com

finalidades funcionais distintas. Deste modo, nada mais justo chamar de ‘cidade’ a

sede de uma universidade, devido à ampla gama de atividades exercidas naquele

local, mesmo distinguindo-se de uma cidade, propriamente dita, pelas características

predominantes: centro cívico, artístico, cultural, socialmente atrativo, recreativo e

homogêneo (PEDROSA, 2003 apud CAMPOS NETO, 2007, p. 62).

Implantado a partir dos anos de 1970, hoje o campus sede está inserido na

área urbana do município de Cuiabá, mais especificamente na região leste. Com uma

área de 76 ha e, aproximadamente, 113.000 m² de área construída, caracteriza-se

atualmente por apresentar pouca perspectiva de crescimento físico, ou seja, não há

Page 17: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

4

mais espaços vazios para novas edificações. Pode-se afirmar, então, que o

crescimento deste campus caminha para um ponto estacionário e, por tal motivo, já

está em andamento a implantação do campus II da capital do Estado de Mato Grosso.

Assim, o sistema viário do campus sede é o objeto do estudo que visa analisar

suas premissas urbanas adotadas e construídas ao longo de seus 40 anos de

existência. Esses aspectos serão apresentados e avaliados sob o olhar da

sustentabilidade. Mesmo tendo em vista tratar-se de um termo relativamente novo, o

conceito de sustentabilidade abrange antigas facetas da arquitetura e do urbanismo.

1.2 JUSTIFICATIVA

A perspectiva atual é que os recursos naturais não são perenes, e a atividade

humana vem causando o desequilíbrio ecológico do planeta. Tais fatos podem ser

considerados como base para incentivar investimentos em empreendimentos com

características mais sustentáveis, não apenas de ordem financeira, mas também

investimentos técnicos, de modo a disseminar o conhecimento sobre o

desenvolvimento sustentável. Formoso (2002, p. 11) apresenta a importância do setor

da construção civil nas três principais dimensões da sustentabilidade: a) representar

uma considerável participação no Produto Interno Bruto (econômica); b) ser

responsável por uma parcela expressiva na geração de trabalho (social); c) ter

atividades diretamente relacionadas ao meio-ambiente (ecológica).

O processo de conscientização e disseminação da importância de prever áreas

urbanas e construções mais sustentáveis pode e deve partir dos governos, municipal,

estadual e/ou federal. Neste sentido, Rogers (2008, p. 159, 161) afirma que são

necessárias estruturas de governo capazes de reconhecer a complexidade e as inter-

relações da cidade moderna de forma sistêmica. Sobre o tema, o autor ainda

complementa:

o poder público pode garantir a obtenção de projetos urbanos de qualidade que estimulem a inovação e a experimentação. Simplesmente agindo como espectadores bem informados sobre arquitetura, os ministros podem estabelecer padrões nacionais para qualidade ambiental. Os cidadãos têm o direito de esperar que seus governos proporcionem edifícios públicos da melhor qualidade arquitetônica possível, já que estes são edifícios cruciais da nossa vida cotidiana: arquitetura é a expressão física do desenvolvimento cultural e das preocupações sociais de uma sociedade urbana.

Page 18: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

5

Cabe então aos governos serem os precursores de obras públicas de

engenharia que apresentem características de sustentabilidade e até mesmo autores

de exigências legais para nortear as entidades privadas. Nóbile (2003, p. 7) atesta que

qualquer intervenção capaz de auxiliar o poder público a reduzir os problemas

sociais e ambientais, promovendo uma melhoria nas relações entre os próprios

moradores e entre eles e o meio ambiente, trará benefícios a toda sociedade.

Desta forma, algumas ações foram desenvolvidas por parte do governo

federal. Em janeiro de 2010 foi publicado a Instrução Normativa n° 1, “que dispõe

sobre os critérios de sustentabilidade ambiental na aquisição de bens, contratação de

serviços ou obras pela Administração Pública Federal direta, autárquica e

fundacional” (BRASIL, 2010e). Nesta, o Capítulo II trata exclusivamente das obras

públicas sustentáveis, mais especificamente de questões relacionadas a economia

energética e captação de águas das chuvas. No geral, vale ressaltar a posição de

Edwards (2008, p. 30): “a legislação, isoladamente, não será capaz de gerar a ampla

transformação cultural necessária para a sustentabilidade”.

Dentre as instituições públicas, as universidades federais, por visarem o

desenvolvimento científico, social, econômico e cultural do país, são perfeitas para

disseminar essas novas ideias e ideais.

Neste contexto, a UFMT, que mantêm cinco campi – Cuiabá (sede),

Rondonópolis, Pontal do Araguaia, Barra do Garças e Sinop – e ainda possui

unidades operacionais que compõem os polos de apoio presencial de ensino à

distância, apresenta-se como objeto de estudo deste trabalho. Assim, o objetivo geral

é analisar as características do sistema viário do campus sede da UFMT, por meio de

parâmetros mais sustentáveis, de modo a propor intervenções que possam ser

aplicadas futuramente no seu espaço físico.

Por objetivos específicos, tem-se: levantar aspectos históricos do

planejamento urbano do campus; levantar as características de sua localização e

entorno; elencar as características físicas e climatológicas da região; realizar a análise

comparativa entre a situação existente e os aspectos de projetos menos impactantes

ao meio ambiente; apresentar propostas mais sustentáveis.

Page 19: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

6

É de interesse salientar que, com a expansão e interiorização dos campi

universitários, este estudo servirá de base referencial para a implantação e

planejamento de novos centros de ensino.

Page 20: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

7

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Neste capítulo são abordados os ideários da sustentabilidade, com seus

aspectos históricos e evolutivos. Também são tratadas as características inerentes das

áreas urbanas e de suas infraestruturas.

2.1 SUSTENTABILIDADE

2.1.1 Histórico e definições

Em Houaiss (2009), sustentabilidade é uma característica ou condição do que

é sustentável. Sustentável é o que pode ser sustentado, passível de sustentação. O

verbo sustentar equivale a evitar a queda, manter o equilíbrio, dar ou obter os

recursos necessários à sobrevivência ou à manutenção, garantir e fornecer os meios

necessários para a realização e continuação de uma atividade.

A sustentabilidade não envolve somente a construção civil, mas todas as

atividades humanas. Manter um padrão de consumo sustentável é privilegiar o

necessário de forma consciente. E pode-se afirmar, segundo Nóbile (2003, p. 51)

que, mesmo sem esse rótulo, a preocupação com a sustentabilidade é antiga, pois

sempre existiu a interação do homem com o meio ambiente, seja positiva ou

negativa. Segundo Lyle (1994 apud MÜLFARTH, 2002, p. 20),

a contextualização do processo de interação do Homem com o Meio Ambiente é de extrema dificuldade. Desde a antiguidade, Platão já utilizava o conceito de que tudo faz parte de um mesmo organismo, nada pode ser avaliado isoladamente. O homem e a natureza fazem parte deste mesmo sistema.

Page 21: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

8

No século XVIII, inicialmente na Inglaterra, a Revolução Industrial provocou

grandes impactos na estrutura da sociedade. Visualmente, predominou o caráter

econômico, no entanto, houve inúmeras modificações no solo e na atmosfera, devido

à retirada e queima de combustíveis fósseis (desmatamento e poluição). São

exemplos destes impactos a concentração do uso de matérias-primas e de energia, a

extrema dificuldade em manter um balanço entre o uso e a capacidade dos processos

básicos, o aparecimento dos aglomerados urbanos e a urbanização. Keeler e Burke

(2010, p. 32-33) resumem: “a Revolução Industrial provocou a transição

internacional da sociedade agrícola e agrária, que se baseava na comunidade rural em

pequena escala e na economia de subsistência, para a sociedade industrializada, que

vivia em um ritmo muito mais rápido”. Nesse período a natureza foi transformada

em objeto e passou a ser vista como um produto agrícola e econômico. Assim

também afirma Mülfarth (2002, p. 21): a industrialização é a grande responsável pelo

rompimento do elo homem e meio ambiente e marcou o início da degradação

ambiental e da deterioração das fontes de recursos naturais1. Valques (2007, p. 1935)

destaca que o homem, desde que iniciou a vida em comunidade, altera a natureza de

forma a assegurar a própria sobrevivência e conforto e, segundo Keeler e Burke

(2010, p. 29), o esgotamento de recursos naturais está entre os fatores que

ocasionaram o colapso de diversas sociedades primitivas.

Como se pode observar, os impactos ambientais não são tão recentes, pois o

desenvolvimento da humanidade, um aspecto positivo da nossa história, está

intimamente ligado a esta transformação negativa do meio ambiente. Nóbile (2003,

p. 25) concorda que o problema ecológico não é tão novo quanto se diz, e justifica a

atual situação com base no adensamento populacional da Terra e na falta de sintonia

entre a velocidade das mudanças tecnológicas, a sua efetiva aplicação e o

entendimento dos ciclos naturais, isto é, sua capacidade de regeneração e de absorção

dos resíduos.

Exemplos recentes destas inovações tecnológicas são relacionados por

MÜLFARTH, 2002, p. 21:

1 Recursos naturais são, segundo Keeler e Burke (2010, p. 168), as riquezas extraídas da natureza, como recursos hídricos, solos, minerais, biomas, terras agrícolas, florestas, a biodiversidade das espécies e até a área de terrenos ocupados por depósitos de lixo.

Page 22: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

9

nos Estados Unidos, por exemplo, foram necessários cerca de 46 anos para que ¼ da população tivesse, no início do século XX, acesso à eletricidade. No decorrer do século, porém, já se observa que foram necessários 35 anos para o telefone, 26 para a televisão, 13 para o telefone celular e apenas 7 para a internet.

As consequências dessas abruptas mudanças tecnológicas não são

assimiladas, nem por nós homens, muito menos pelo meio ambiente. Desde o

advento da industrialização, todo o processo de extração e utilização de recursos

naturais culminou em técnicas e tecnologias voltadas diretamente para o consumo e

desperdício (ROGERS, 2008, p. 153).

Edwards (2008, p. 27) esclarece que, conforme os recursos naturais se

escasseiam, a capacidade científica e de projeto deve se expandir, pois o

desenvolvimento sustentável exige novos conhecimentos e novas tecnologias. Tais

tecnologias como, por exemplo, as células fotovoltaicas, fachadas inteligentes,

paredes e tetos verdes, não devem ser apenas eficientes e inteligentes, devem ser,

logicamente, benéficas ao meio ambiente e socialmente aceitáveis.

Historicamente, após a II Guerra Mundial, a enorme expansão de técnicas

construtivas e a abundância de combustível barato facilitaram o uso de mesmos

materiais construtivos e soluções tecnológicas em locais com características

climáticas distintas. Para Gouvêa (2008, p. 14), os efeitos da globalização são amplos

e ocorrem no desenvolvimento e revitalização urbana e na introdução de tecnologias

inadequadas. Para Afonso (2005), esse desprezo pela identidade do local proporciona

uma estética sem ética, ou seja, uma estética da arquitetura globalizada, em que não

se respeitam tradições, recursos naturais e é resultado de um pensamento

internacional. São fatos que contribuíram para a disseminação de equívocos nas

obras de engenharia. Alia-se a esses, o custo irrisório da energia e a falta de

consciência sobre a poluição criada pela geração e consumo dessa energia, pois

facilitaram o uso indiscriminado de condicionadores de ar e iluminação artificial,

alterando drasticamente, segundo Keeler e Burke (2010, p. 108), o formato das

edificações.

A crise energética desencadeada pela Guerra no Oriente Médio, em 1973,

acarretou o aumento no preço do petróleo e, consequentemente, impulsionou, em

alguns países, o que de início chamou-se de arquitetura solar. Para Corbella e Yannas

(2009, p. 19), essa arquitetura, fundamentalmente se preocupava “em incorporar a

Page 23: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

10

energia solar aos edifícios para contribuir à sua calefação, poupando o consumo de

energia convencional”. Não diferente, Bustos Romero (2007, p.18) a delimita como a

busca pela utilização de energia de fontes naturais, como água, sol e vento, na

construção e na climatização das edificações.

Neste sentido, renascia uma arquitetura preocupada com a integração do

edifício e clima, visando o conforto ambiental do ser humano e sua repercussão no

planeta, ou seja, a arquitetura bioclimática. López de Asiain (1989 apud BUSTOS

ROMERO, 2007, p. 26) caracteriza o enfoque bioclimático como o esforço para

compreender o lugar, com seus condicionantes físicos, climáticos, históricos,

culturais e estéticos, e o define como um pré-requisito para a ação arquitetônica.

Para Corbella e Yannas (2009, p. 19) a arquitetura sustentável pode ser

considerada como a continuidade mais natural da arquitetura bioclimática. Sendo

assim, esses autores definem a arquitetura sustentável como

a arquitetura que quer criar prédios objetivando o aumento da qualidade de vida do ser humano no ambiente construído e no seu entorno, integrado com as características da vida e do clima locais, consumindo a menor quantidade de energia compatível com o conforto ambiental, para legar um mundo menos poluído para as futuras gerações.

Keeler e Burke (2010, p. 50) apresentam outra visão derivada dessa crise

energética, onde em muitos países o resultado foi a construção de edificações mais

herméticas, com intuito de reduzir os gastos financeiros com calefação e

refrigeração. Para os autores, um aspecto positivo foi o desencadeamento de

pesquisas com vistas a melhorar a eficiência energética e encontrar fontes de energia

renovável.

O marco inicial do desenvolvimento sustentável ocorreu em 1972, na 1ª

Conferência Internacional das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, realizada

em Estocolmo, Suécia. Foi a primeira vez que representantes de governos (países

ricos e pobres) uniram-se e discutiram a necessidade de estabelecer correlações entre

desenvolvimento e meio ambiente global. Nessa convenção foi acordada a

Declaração de Princípios sobre Proteção do Meio Ambiente, com 23 princípios.

Observou-se a necessidade de, segundo Nóbile (2003, p. 60), “tomar medidas

efetivas de controle dos fatores que causam a degradação, reconhecendo a dimensão

Page 24: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

11

ambiental como condicionadora e limitadora do modelo tradicional de crescimento

econômico e de uso de recursos naturais”.

A Câmara da Indústria da Construção (2008, p. 14) traz à tona que, no ano

de 1987, o termo desenvolvimento sustentável foi definido pela Comissão Mundial

sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Comissão Brundtland, como “o

desenvolvimento que atende às necessidades da geração atual sem comprometer a

capacidade das gerações futuras de atenderem suas próprias necessidades”. De

acordo com Nóbile (2003, p. 62), o relatório final da comissão reafirmava a visão

crítica do modelo de desenvolvimento adotado pelos países desenvolvidos e/ou

industrializados e reproduzido pelos países em desenvolvimento. Neste caso, o autor

ressalta os riscos de usufruir dos recursos naturais sem considerar a capacidade de

suporte dos ecossistemas e a incompatibilidade entre o desenvolvimento sustentável

e os altos e atuais padrões de produção e consumo.

O relatório Brundtland, como ficou conhecida a publicação Our Common

Future (Nosso Futuro Comum), culminou na convocação da Conferência das Nações

Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, que aconteceu em 1992 no Rio

de Janeiro. Também conhecida como Rio 92, Eco 92 ou Cúpula da Terra, nesta

conferência foi apresentado um documento intitulado Agenda 21 Global. Assinado

por 179 países, o documento de 40 capítulos constituiu uma abrangente tentativa de

promover um novo padrão de desenvolvimento, denominado desenvolvimento

sustentável. Mais especificamente, o Capítulo 7 trata da Promoção do

Desenvolvimento Sustentável dos Assentamentos Humanos.

A Agenda 21 pode ser definida como um instrumento de planejamento para a construção de sociedades sustentáveis, em diferentes bases geográficas, que concilia métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica (BRASIL, 2010a). A Agenda 21 Brasileira é um instrumento de planejamento participativo para o desenvolvimento sustentável do país, resultado de uma vasta consulta à população brasileira (BRASIL, 2010b).

Além da Agenda 21, outros documentos foram gerados no evento: a

Declaração do Rio, com 26 princípios relacionados com o desenvolvimento

sustentável; a Declaração de Princípios das Florestas; a Convenção sobre

Page 25: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

12

Diversidade Biológica; e, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças

Climáticas (KEELER; BURK, 2010, p. 44-45).

Para Edwards (2008, p. 41), essa conferência serviu como um alerta ao

mundo “sobre os iminentes problemas ecológicos e ambientais associados ao

desenvolvimento urbano”. Isso porque, conforme associa Rogers (2008, p. 3), a

sobrevivência da sociedade depende da manutenção do equilíbrio entre as seguintes

variáveis: população, recursos naturais e meio ambiente.

Sobre o aquecimento global, em 1997, foi aprovado, talvez o mais famoso

documento sobre o tema, o Protocolo de Kyoto, na 3ª Conferência das Partes (COP-

3) da Convenção do Clima, ocorrida em Kyoto, Japão. Na ocasião, ficou

determinado um compromisso por parte dos países desenvolvidos: “atingir, entre

2008 e 2012, a meta de redução média de 5,2% das suas emissões de gases de efeito

estufa, em relação ao ano de 1990” (CONSUMO SUSTENTÁVEL, 2005, p. 87).

O conceito do Protocolo de Kyoto é ‘responsabilidade comum, porém

diferenciada’, em que todas as nações têm responsabilidade no combate ao

aquecimento global. No entanto, cabe aos países desenvolvidos a obrigação maior de

reduzir emissões, pois são os que mais contribuíram para o acúmulo de gases na

atmosfera, devido o tempo de sua industrialização. Esta situação é bem descrita por

Roaf, Crichton e Nicol (2009, p. 44): “daqueles que têm mais, se deve esperar mais.

Igualdade e proporcionalidade são os dois princípios-chave que nos ajudarão a

sobreviver no século XXI”.

As metas desse protocolo foram baseadas em um sistema de comércio de

emissões de carbono (emissions trading system - ETS) entre os diferentes países.

Edwards (2008, p. 57, 113) explica que este sistema permite a um país a

possibilidade de comprar créditos de carbono de outro, compensando-o com

investimentos para o desenvolvimento de tecnologias limpas. Esta possibilidade de

adquirir créditos de carbono de outros países, principalmente dos menos

desenvolvidos, permite aos países ricos continuarem poluindo e mantendo os países

pobres endividados.

Todavia, de acordo com Keeler e Burke (2010, p. 45) e Consumo Sustentável

(2005, p. 87), o Protocolo de Kyoto, que esteve aberto a adesões desde março de

1999, só entrou em vigor em 2005 sem a adesão dos Estados Unidos da América

Page 26: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

13

(EUA), considerado o maior emissor de gases de efeito estufa do mundo, com 25%

das emissões globais.

Em 2002, em Johannesburg, África do Sul, foi realizada a Conferência das

Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, cujo objetivo principal

apresentado por Mülfarth (2002, p. 43) era “orientar a adoção de novas regras para

um desenvolvimento em uma direção mais sustentável”. A principal proposta dessa

conferência foi elevar a fração de energia renovável para 10% em todo o mundo até

2010, porém, por não ter sido aprovada na íntegra, não foi fixada para todos os

países. Também conhecida, segundo Keeler e Burke (2010, p.45), como Cúpula da

Terra de Joanesburgo, nesta foi reconhecido o tripé da sustentabilidade estabelecido

no Rio de Janeiro dez anos antes: desenvolvimento econômico, desenvolvimento

social e a proteção ambiental. Edwards (2008, p. 21) conclui que serviu de estímulo

para o investimento em tecnologias energéticas limpas, como, por exemplo, as

células fotovoltáicas. Batista (2008, p. 66) destaca o fato do evento ter contado com a

participação de representantes de governos e de grupos não governamentais (ONGs)

– é a sociedade participando de forma mais efetiva.

No Brasil, em 2001, foram estabelecidas as diretrizes gerais da política

urbana pela Lei nº 10.257, conhecida como Estatuto das Cidades. Dentre as diretrizes

que fazem parte do Art. 2º dessa lei, é de interesse citar estas:

I – garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações; [...] IV – planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição espacial da população e das atividades econômicas do Município e do território sob sua área de influência, de modo a evitar e corrigir distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente; (OLIVEIRA, 2001, p. 46, grifo nosso)

Recentemente, em dezembro 2009, aconteceu em Copenhague, na

Dinamarca, a 15ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP

15). Com a participação de diversos países, concluiu-se que a mudança climática é

um dos maiores desafios da atualidade. O documento COP 15 (2010, p. 2, tradução

nossa) salienta que para o desenvolvimento sustentável são prioridades o

desenvolvimento social e econômico com a erradicação da pobreza e com baixas

Page 27: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

14

emissões de gases causadores do efeito estufa. Porém, sem aprovação unânime, o

Acordo de Copenhague recebeu inúmeras críticas e não obteve consenso de todos os

envolvidos. A expectativa é que o acordo seja incrementado na COP 16, que ocorrerá

em novembro de 2010, no México.

Percebe-se que tais preceitos de sustentabilidade vem há décadas procurando

espaço na conjuntura econômica e urbana das cidades e de sua população. Para

Keeler e Burke (2010, p. 29), a origem desse movimento não advém de um único

evento, mas “se devem aos efeitos cumulativos de marcos convergentes, cujas raízes

remontam aos primórdios da humanidade”. Assim também a definição de

sustentabilidade, que, de acordo com Edwards (2008, p. 3), vem evoluindo ao longo

de diversos congressos mundiais e não envolve somente a construção civil, mas todas

as atividades necessárias para o desenvolvimento da humanidade.

Nota-se que a preocupação com a o desenvolvimento sustentável é mundial.

E, segundo Canepa (2007, p. 86), a crescente tomada de consciência a respeito da

degradação ambiental foi a responsável por essa reflexão sobre a sobrevivência da

humanidade, suas inter-relações e sua relação com o meio ambiente. Neste contexto,

muitas nações priorizam alguns aspectos em detrimento de outros, devido às

características físicas, econômicas, políticas e culturais do meio onde vivem. “É

fundamental encontrar o equilíbrio entre as questões que envolvem a energia, a

ecologia e o meio ambiente, em vez de priorizar um desses aspectos em detrimento

dos demais” (EDWARDS, 2008, p. 45, 93).

E muitos autores, ao tentarem definir sustentabilidade, acabam eliminando a

característica holística do termo, ou seja, a busca por um entendimento integral dos

sistemas. O autor considera que “apesar de a definição de Brundtland constar em

muitas bibliografias como um conjunto unificado de valores, na verdade sua

interpretação não é universal, mas varia em função das diferentes disciplinas. Como

resultado, são promovidas diferentes prioridades”.

O fato é que não existe um respaldo científico para o tema, pois seu caráter

multidisciplinar dificulta a criação de conceitos e gera controvérsias nas aplicações

em várias áreas do conhecimento (SILVA, 2000 apud MÜLFARTH, 2002, p. 7).

Edwards (2008, p. 49) enfatiza o conceito que vê o meio ambiente como um sistema

holístico e interdisciplinar.

Page 28: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

15

Mülfarth (2002, p. 32-33) relata que, em 1994, Ignacy Sachs elencou cinco

dimensões para a sustentabilidade e afirmou que a “sustentabilidade só é atingida

quando abrange estas facetas”: social, econômico, ecológico, espacial e cultural. A

sustentabilidade social trata da “melhor distribuição de renda e redução do abismo

entre classes ricas e pobres”. A econômica só é possível com maiores investimentos

e eficiência gerencial dos recursos (públicos ou privados) “em termos macrossociais

e não apenas através do critério macroeconômico do empresário”. Quanto à

ecológica, deve promover “a autolimitação do consumo” e “intensificação nas

pesquisas para obtenção de meios mais eficientes e menos poluentes para o

desenvolvimento do espaço urbano, rural e industrial”. Para a espacial, é necessário

uma “configuração urbana rural mais equilibrada entre os assentamentos urbanos e

atividades econômicas”. Sob o aspecto cultural, este visa “manter as raízes em todos

os processos de modernização, agricultura, indústria; preservando as características

locais e particulares de cada região”. Edwards (2008, p. 48), Batista (2008, p. 67) e

Formoso (2002, p. 11) limitam em três as principais vertentes da sustentabilidade:

ambiental, social e econômica.

Sobre o termo desenvolvimento sustentável, Mülfarth (2002, p. 36) acredita

que o substantivo desenvolvimento não pode ser adjetivado, por já possuir embutido

a ideia de menor impacto social e ambiental. No entanto, também justifica que, para

outros autores, o adjetivo reforça o seu sentido. Daly (2004, p. 198), por sua vez, faz

questão de distinguir desenvolvimento de crescimento: “crescer significa aumentar

naturalmente em tamanho pela adição de material através de assimilação ou

acréscimo”, e “desenvolver-se significa expandir ou realizar os potenciais de trazer

gradualmente a um estado mais completo, maior ou melhor”. E assim, afirma:

desenvolvimento sustentável, para a economia, só faz sentido se compreendido como

desenvolvimento sem crescimento, ou seja, “a melhoria qualitativa de uma base

econômica física que é mantida num estado estacionário”. Canepa (2007, p. 80)

diverge desta definição ao afirmar que desenvolvimento se faz ao atrelar crescimento

quantitativo e qualitativo para os diversos setores da sociedade – educação, saúde,

habitação, saneamento, emprego, distribuição equitativa de renda, preservação

ambiental, entre outros.

Page 29: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

16

Edwards (2008, p. 163) relaciona o desenvolvimento sustentável ao triângulo

de Vitruvio2, aos princípios que criaram a arquitetura clássica: firmitas, utilitas e

vetustas (solidez, utilidade e beleza). Para o autor, “um projeto não é

economicamente sustentável se não cumprir uma função efetiva; não é

ambientalmente sustentável se não for construído de forma sólida; e não é

socialmente sustentável se não for desejável por seus usuários”.

Dias (2002 apud VALQUES, 2007, p. 1940) tenta simplificar ao afirmar que

o desenvolvimento sustentável deve conciliar o desenvolvimento (que o autor trata

de maneira abrangente) com a preservação do meio ambiente e a melhora da

qualidade de vida da população. Canepa (2007, p. 57) caracteriza desenvolvimento

sustentável não como um estado fixo de harmonia, e sim um processo de mudança

que compatibiliza a exploração de recursos, a gestão de investimentos, a orientação

para o desenvolvimento tecnológico e as mudanças institucionais com o presente e

futuro.

O fato é que precisamos viver de modo a garantir às futuras gerações os

recursos os quais hoje usufruímos. Assim, desenvolvimento sustentável é o

desenvolvimento que integra “aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais

da sociedade humana com a preocupação principal de preservá-los, para que os

limites do planeta, a habilidade e a capacidade das gerações futuras não sejam

comprometidos” (CÂMARA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO, 2008, p. 14).

Talvez a sustentabilidade seja uma utopia, mas no fim é um ideal que, no mínimo,

deve ser buscado. Além disso, salienta-se a visão de Porto (2006, p. 30), que afirma:

“sustentabilidade é uma questão de gradação”, ou seja, as atividades são mais ou

menos sustentáveis.

É imprescindível assegurar que o conceito de desenvolvimento sustentável ou

sustentabilidade, apesar de ter surgido no Ocidente, é um conceito global e

transcende as divisões políticas, étnicas e culturais (EDWARDS, 2008, p. 32).

2 Marco Vitrúvio Polião, engenheiro e arquiteto romano que viveu no século I a.C. Seus padrões de proporções e princípios arquiteturais forma a base da Arquitetura Clássica (Arquitetura Grega). Sua obra literária De Architectura (27 a. C.), em dez volumes, forneceu valiosas informações aos arquitetos, onde descrevia a arquitetura em geral, planejamento urbano e materiais de construção.

Page 30: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

17

2.1.2 Áreas Urbanas

Antes de configurar as áreas urbanas comumente conhecidas, o homem,

segundo Martins Junior (1996, p. 23), vivia em bandos nômades, cuja atividade era

caçar animais e coletar frutos selvagens. Historicamente, é o período denominado por

paleolítico ou da pedra lascada. Canepa (2007, p. 41) denomina esse período pré-

urbano de ‘sociedade de gente’ e a primeira fase do processo evolutivo da

urbanização. Na sequência, Martins Junior (1996, p. 24) contempla a segunda fase

deste processo, o período neolítico ou da pedra polida, onde o homem se transforma

em agricultor e criador, como “uma das maiores revoluções na história”. As

primeiras cidades aparecem nesse momento, denominado por Souza (2003, p. 43-46)

de Revolução Agrícola ou Revolução Neolítica. E com esta prática da agricultura,

surgem, aos poucos, os primeiros assentamentos e, posteriormente, as primeiras

cidades. As cidades, isto é, “os assentamentos permanentes maiores e muito mais

complexos”, surgem para abrigar uma grande parcela da população de não

produtores. E estes passam a se especializar em atividades como gestão (governo),

comércio, religião e guerras.

A cidade é simplesmente definida por Houaiss (2009) como “aglomeração

humana localizada numa área geográfica circunscrita e que tem numerosas casas,

próximas entre si, destinadas à moradia e/ou a atividades culturais, mercantis,

industriais, financeiras e a outras não relacionadas com a exploração direta do solo”

De caráter menos conceitual, Rogers (2008, p. ii, 28) define a cidade “como

organismos, absorvem recursos e emitem resíduos”; e o planeta, “um sistema

fechado com recursos finitos”.

A terceira e fundamental transformação do meio urbano, segundo Canepa

(2007, p. 43), foi a Revolução Industrial, cujos acontecimentos marcaram a terceira

fase do processo evolutivo da urbanização.

E assim as cidades não pararam de crescer. Rogers (2008, p. 4) afirma que,

em 1900, “um décimo da população mundial vivia em cidades”. Nos anos 2000, já

era a metade. Estima-se que em 30 anos serão três quartos dos habitantes do planeta

e, de acordo com Afonso (2005), por volta de 2050 o mundo terá aproximadamente 9

bilhões de habitantes, ou seja, 50% a mais do que nos dias atuais. “A preocupação

Page 31: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

18

com impacto e o limite de crescimento das cidades foi abordada desde a Grécia

Antiga, onde a utilização do termo Megalópolis passou a ser referência para cidades

que, como Atenas, estavam próximas de esgotar o limite de se sustentarem”

(MÜLFARTH, 2002, p. 20).

Esse aumento da população urbana acarreta o distanciamento trágico entre o

homem e a terra. Por conseguinte, o homem perdeu o seu contato com os ciclos das

estações e passou a não se esforçar para obter alimentos ou buscar aquecimento. Da

mesma forma, a arquitetura se distancia dos seus vínculos com os materiais

construtivos locais, as tradições vernaculares e sua unidade com o território. “As

cidades não mais dependem da capacidade do território onde se localizam, pois

importam alimentos, água, recurso e força de trabalho humano de todos os lugares do

mundo” (EDWARDS, 2008, p. 113).

No mesmo contexto, como afirma Mülfarth (2002, p. 68), o crescimento

excessivo das cidades provoca o aumento de problemas sociais, como criminalidade,

aumento das áreas pobres e agravamento do trânsito; por fim, as pessoas acabam se

isolando, anulando a principal função da cidade: a convivência. E essa vertiginosa

urbanização, consequência de processos econômicos e tecnológicos, ocasionou

grandes problemas sociais e ecológicos. Não diferente, Canepa (2007, p. 26) afirma

que o crescimento exponencial da pobreza, resultado da concentração da população

em áreas urbanas, cria uma incapacidade nos governos locais para o planejamento,

financiamento e administração das suas cidades, ocasionando o aumento dos males

sociais e das patologias urbanas – solidão, depressão, violência e epidemias. Para

Edwards (2008, p. 9),“quanto mais a espécie humana se urbaniza, mais consome,

desperdiça e polui”.

A situação atual descrita por Rogers (2008, p. 72) é que, nos países

desenvolvidos, “os mais pobres são excluídos da sociedade de consumo, sendo

abandonados e isolados em guetos nos centros urbanos”; nos países em

desenvolvimento “são relegados à miséria das favelas sempre crescentes”. E essa

expansão urbana, segundo Gouvêa (2002, p. 72), fruto do crescimento desordenado,

horizontal e disperso, é agravada pela especulação imobiliária, que, por sua vez, é

responsável pela destruição de maior área de ambiente natural. Logo, o meio

Page 32: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

19

ambiente sofre as consequências da desarmonia e segregação social, que se agrava

diante urbanização e da falta de controle público.

Os efeitos da urbanização são negativos, na maioria dos casos. A excessiva

cobertura do solo, a concentração de gases contaminantes, o aumento da temperatura

em razão da redução da difusão do calor e dos menores índices de evaporação afetam

a saúde física e mental da população (BUSTOS ROMERO, 2007, p. 9).

Os danos ambientais decorrentes das atuais práticas construtivas se manifestarão, primeiramente, em nossas cidades, onde sentiremos os impactos causados, como a elevação das temperaturas, os problemas de saúde causados pela poluição do ar ou pela contaminação da água, a escassez de alimentos e a falta de energia (EDWARDS, 2008, p. 5).

A sobrecarga da infraestrutura existente e a falta de serviços urbanos são

algumas das muitas consequências de um crescimento urbano acelerado, gerando

problemas ambientais. Pode-se citar como exemplos as ruas de loteamentos ilegais,

desgastadas pela ação das intempéries e a falta de esgotamento sanitário, que, por

vezes, percorrem a céu aberto até atingirem um curso d’água. A situação do país é

muito bem definida por Martins Junior (1996, p. 27): “os problemas ambientais

urbanos no Brasil se agravam em virtude da incapacidade de investimentos em

infraestrutura e serviços capazes de compensar as desvantagens de ambientes

densamente povoados”.

Como afirma Gouvêa (2008, p. 13), a globalização trouxe consigo “a ideia

de homogeneização a partir das culturas centrais (EUA e Europa), julgando as

demais como pertencentes a mundos inferiores”. Em harmonia, Mülfarth (2002, p.

84) culpa o processo de industrialização pela massificação da arquitetura, que

resultou na disseminação de soluções arquitetônicas e urbanísticas em áreas com

características muito distintas. De acordo com Bustos Romero (2007, p. 9), o

desenho dos espaços urbanos externos deveria ser condicionado e adaptado às

características do meio, tais como a topografia (relevo e solo), hidrografia, a

cobertura do solo, a ecologia, a latitude, o clima e os impactos negativos na massa

construída. Enfim, esses importantes elementos devem influenciar a forma das

cidades e dos espaços urbanos no geral.

Segundo Rogers (2008, p. 162, vi), no final no século XX, as cidades foram

planejadas e desenvolvidas ao redor de zonas com uma única atividade. E assim,

Page 33: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

20

criaram-se guetos sob a forma de distritos e setores – comerciais, industriais,

habitacionais, de compras etc. – sem perceber o custo social para o indivíduo. Como

destaca Batista (2008, p. 26), a divisão da cidade em zonas funcionais surgiu em

resposta à necessidade de regularizar a especulação imobiliária que até então

controlava a evolução das cidades. Seria a tentativa de criar uma cidade capaz de ser

aplicada em qualquer lugar.

Algumas características marcaram esse período, influenciadas, de acordo com

Gouvêa (2002, p. 3, 36), pela Carta de Atenas3, que pregava uma arquitetura e

urbanismo refletido e reproduzido pelo modo de produção industrial, ou seja,

adaptando a construção de edifícios e de cidades à indústria. De maneira geral, o

autor enumera algumas ideias: racionalizar as atividades da construção, modular o

processo construtivo, aplicar materiais industrializados e setorizar as

atividades/funções urbanas, com intuito de minimizar os problemas, principalmente

os do tráfego de veículos.

Há posicionamentos que remetem historicamente às ideias modernistas para o

inicio do século XX e afirmam que:

as bases dos princípios do Movimento Moderno da Arquitetura começaram a surgir quando Ebenezer Howard, com a construção, a partir de 1903, da primeira cidade jardim em Letchworth, a uns 50 km ao norte de Londres, levou à prática suas ideias urbanísticas: fixação de uma população limite, propriedade municipal da terra urbana, princípios de zoneamento, agrupamento dos edifícios públicos num centro cívico e previsões para o planejamento das ruas (BUSTOS ROMERO, 2007, p. 103).

Porém, não se pode negar que as cidades jardins (garden cities)

apresentavam características ambientalmente favoráveis, descritas por Hagan (2001

apud MÜLFARTH, 2002, p. 171), pois “se caracterizavam basicamente pela grande

quantidade de verde e baixa densidade demográfica com um limite de tamanho e de

crescimento”. Também “possuíam cinturões verdes naturais, áreas de agricultura,

florestas e áreas de reflorestamento, havendo nas proximidades o necessário para seu

funcionamento”. Outras características são identificadas por Andrade (2003), como a

3 Documento urbanístico resultado do Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM), realizado em 1933, em Atenas, Grécia. Pregava que as chaves do urbanismo estavam em quatro funções: habitar, trabalhar, recrear-se e circular.

Page 34: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

21

adequação do transporte público, o zoneamento misto e o reaproveitamento de

resíduos sólidos.

Ainda sobre este contexto histórico das cidades, surgem lamentos que

exemplificam as ideias urbanísticas do plano de expansão de Barcelona no século

passado, projetadas pelo engenheiro espanhol Ildefonso Cerdà, por não terem

influenciado o pensamento dos administradores e técnicos das cidades latino-

americanas.

Cerdà, como seu contemporâneo Haussmann4, que via a cidade como uma totalidade, propôs-se a descentralizar o antigo centro de Barcelona mediante uma equilibrada distribuição dos serviços e das funções urbanas em todas as áreas da cidade, para que fossem acessíveis a toda a população. Esse conceito de cidade aberta e sem hierarquias tentava encontrar soluções para os problemas do tráfego, da salubridade e da privatização (BUSTOS ROMERO, 2007, p. 104). [...] o urbanista Cerdà consegue ir a frente de seu tempo e produzir um desenho que, além de possibilitar a fácil integração com os núcleos existentes e o desenvolvimento das funções urbanas, com uma relativa separação de atividades, consegue minimizar problemas de poluição do ar com a orientação do sistema viário principal de forma a facilitar a penetração dos ventos dominantes pelas vias (GOUVÊA, 2002, p. 26).

No Brasil, Brasília é considerada por Gouvêa (2002, p. 31; 2008, p. 36) como

o modelo mais completo das propostas modernistas, ou seja, de um desenvolvimento

urbano monofuncional. De acordo com o autor e Batista (2008, p. 53), Brasília é

tombada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

(UNESCO) como Patrimônio da Humanidade por ser exemplo vivo e acabado do

urbanismo moderno.

Para Rogers (2008, p. 33), este modelo de cidade setorizada ocasiona

“resultados desastrosos, e a razão para sua contínua adoção tem por base uma

conveniência econômica”, pois “o modelo de cidade compacta5 e sobreposta inclui a

complexidade”, enquanto “o modelo de divisão por zonas a rejeita, reduzindo a

cidade a divisões simplistas e pacotes econômicos e administrativos facilmente

manejáveis”.

4 Barão Georges Eugène Haussmann (1809-1891) foi o responsável pela reforma urbana em Paris. 5 Cidade compacta é uma cidade densa e socialmente diversificada onde as atividades econômicas e sociais se sobreponham e onde as comunidades sejam concentradas em torno das unidades de vizinhança (ROGERS, 2008, p. 33).

Page 35: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

22

Mascaró e Yoshinaga (2005, p. 181-182) afirmam que as cidades

polinucleares são cidades com vários núcleos interligadas por redes, especialmente

espaços verdes. Tal conceito também pode ser estendido às redes de cidades, cujos

exemplos ocorrem na Europa, onde cidades entre 20 e 50 mil habitantes se situam 20

a 40 km distantes uma das outras.

Andrade (2003) caracteriza bem o efeito da suburbanização nos EUA,

justificando que a setorização das cidades é responsável por vários impactos

ambientais, como a dependência do automóvel e, consequentemente, o aumento da

poluição, a devastação de florestas e terras agrícolas, os altos custos de urbanização,

a concentração da pobreza em áreas centrais e o enfraquecimento do espírito

comunitário. Não é possível negar que as questões ambientais se agravam de acordo

com o modelo de urbanização desenvolvido nas cidades.

As cidades pouco compactas, em que o solo é destinado a um único uso, geram uma quantidade de CO2 muito maior que os bairros tradicionais de usos mistos. O transporte privado e a construção de edificações isoladas, muito menos eficientes em relação ao consumo de energia, aumentam o consumo de combustíveis fósseis e, portanto, a produção de CO2. [...] Os modelos urbanos densos, baseados na diversidade de usos do solo, produzem uma quantidade muito menor de CO2 que a cidade moderna suburbana. (EDWARDS, 2008, p. 6)

E essas emissões de CO2 vêm aumentando desde a Revolução Industrial.

Atualmente, podem-se considerar três principais razões: o crescimento populacional,

as edificações antigas e ineficientes e os padrões crescentes de consumo. Como

consequência, tem-se o aquecimento global, que sugere um aquecimento uniforme

do planeta, mas, na verdade, de acordo com Edwards (2008, p. 58), é uma mudança

climática capaz de proporcionar grande instabilidade regional. Um estudo analisado

por Roaf, Crichton e Nicol (2009, p. 34, 103) afirma que nunca fez tanto calor como

na atualidade e o período a partir de 1980 é o mais quente dos últimos 200 anos. O

autor também enumera os anos com temperaturas recordes: 1998, quando a

temperatura da superfície global aumentou 0,55ºC acima da média anual de 1961-

1990; 2002, com aumento de 0,48ºC; e 2003, com 0,45ºC.

Edwards (2008, p. 59) ainda destaca os principais efeitos do aquecimento

global: a) a maior frequência de tempestades e de altas temperaturas; b) o aumento

das diferenças regionais de temperatura; c) a expansão dos desertos; d) o aumento do

Page 36: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

23

nível do mar6. Roaf, Crichton e Nicol (2009, p. XIV) caracterizam o problema como

uma injusta realidade, pois as pessoas dos países em desenvolvimento são vítimas

das mudanças climáticas, embora sejam os países desenvolvidos os grandes

responsáveis pelas emissões dos gases do efeito estufa.

É válido ressaltar que não só o CO2 é responsável pelo efeito estufa. O

metano (CH4), de acordo com Edwards (2008, p. 60), é o segundo gás, em volume,

que mais contribui para o efeito estufa. Também, em menor proporção, o óxido

nitroso (N2O), hidrofluorcarbonos (HFCs), perfluorcarbonos (PFCs) e hexafluoreto

de enxofre (SF6), conforme enumera Roaf, Crichton e Nicol (2009, p. 30).

Não apenas a cidade, vista como o todo, mas parte dela, como os bairros,

pode exemplificar situações desfavoráveis ao meio ambiente. Rogers (2008, p. 118)

avalia que atualmente os empreendimentos habitacionais são implantados para

atender a demanda do consumidor e não consolidam a vizinhança, enfim, são

complexos que amontoam o maior número de casas individuais por área,

perpetuando uma cidade espalhada, de baixa densidade e insustentável

ambientalmente. É necessário implantar propostas mais densas, acrescidas de áreas

públicas, praças, parques, comércios, escolas e locais de trabalho, situação que, no

entendimento do autor, exemplifica uma comunidade sustentável.

Mülfarth (2002, p. 79) elabora um paralelo com os sistemas naturais,

afirmando que a relação do homem com o meio ambiente é de parasitismo, ou seja,

retira-se do meio ambiente todos os recursos necessários para a sua sobrevivência

humana, sem a preocupação de mantê-lo. Seguindo a mesma ideia, Martins Junior

(1996, p. 27) define as cidades como parasitas do ambiente rural, pois não produzem

alimentos, poluem o ar e praticamente nada reciclam. Ainda podem ser vistas numa

simbiose, pois a cidade produz e exporta para o rural as mercadorias, serviços,

dinheiro e cultura. Hoje vive-se na cidade sem qualquer limitação, tanto no que se

refere a territórios conquistados quanto sobre recursos consumidos (ROGERS, 2008,

p. 28). Além disso, o estilo de vida das pessoas é de grande influência para

desenvolvimento das cidades.

6 Roaf, Crichton e Nicol (2009, p. 211) afirma que, em média, o nível dos mares tem subido cerca de 0,1 ou 0,2 mm por ano no últimos 3 mil anos. Porém, no século XX, esta elevação foi de 2 ou 3 mm por ano.

Page 37: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

24

Na década de 90, segundo Borba (2007, p. 7) e Roaf, Fuentes e Thomas

(2009, p. 328), William Rees e Mathis Wackernagel, da University of British

Columbia, no Canadá, procuraram formas de medir a dimensão crescente das marcas

deixadas no planeta e, em 1996, publicaram o livro Pegada Ecológica. O estudo

tentou relacionar a cidade ao espaço necessário para a sua própria sobrevivência. De

acordo com Rogers (2008, p. 30) “os recursos consumidos por uma cidade podem ser

medidos em termos de ‘seus rastros ecológicos’ – uma área, espalhada por todo o

mundo e muito maior do que suas fronteiras físicas, da qual a cidade depende”. São

as chamadas pegadas ecológicas (ecological footprint).

Para Mülfarth (2002, p. 24) essa medida tenta relacionar a área de ocupação

de uma cidade com a área necessária para o seu funcionamento. Borba (2007, p. 4, 5,

7), não diferente, define como a estimativa do quanto utilizamos da natureza para

sustentar o nosso estilo de vida, as nossas formas de moradia, alimentação,

locomoção, lazer. Enfim, pode ser considerada como uma ferramenta de leitura e

interpretação da realidade de uma pessoa ou de uma sociedade.

Mesmo sendo uma estimativa, Rogers (2008, p. 30) expõe: “as pegadas

ecológicas das cidades existentes já cobrem virtualmente todo o globo”. Para Borba

(2007, p. 11, 15) as sociedades industrializadas ocupam mais espaços do que as

sociedades menos industrializadas. Desde meados de 1980, a demanda por recursos

naturais da população mundial superou a capacidade do planeta em renová-los.

Dados recentes mostram que é necessário um planeta e mais um quarto para sustentar

o atual estilo de vida da população mundial: “desde de 1999, a média de consumo

por pessoa no mundo é de 2.2 hectares, cerca de 25% a mais do que o planeta pode

suportar”. Em concordância, como afirmam Keeler e Burke (2010, p. 168), o mundo

ultrapassou em 23% a capacidade do planeta de recuperar seus recursos naturais.

Para amenizar estas atitudes evolutiva e degradantes do meio ambiente,

Rogers (2008, p.20) relata que nos últimos anos as sociedades urbanas vem

desenvolvendo estratégias mais adequadas à sua cultura e especificidades. Mülfarth

(2002, p. 31) acredita: “a possibilidade de esgotamento dos recursos naturais, com

consideráveis consequências para a preservação da vida no planeta, tem feito com

que o homem passe a encarar de maneira diferente a sua forma de relacionamento

com o Meio Ambiente”.

Page 38: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

25

Não por acaso, alguns autores, como Edwards (2008, p. 35), definem o século

atual como o século do meio ambiente, “assim denominado porque se prevê que este

será o principal problema do século XXI”. Afonso (2005) e Canepa (2007. p. 158)

destacam que, neste século, o desenvolvimento urbano sustentável é o mais forte

desafio da humanidade.

Para tanto, Gouvêa (2008, p. 16) determina a importância dos processos

tecnológicos vinculados aos meios de produção e aos insumos disponíveis no local,

de modo a se tornarem viáveis, competitivos e sustentáveis. “Somente por meio do

uso de tecnologias mais inteligentes, de um maior respeito aos recursos naturais e da

substituição da exploração de recursos não renováveis por práticas renováveis e

autossuficientes, poderemos reduzir a pressão sobre o meio ambiente” (EDWARDS,

2008, p. 5). De forma geral a cidade desempenha um papel primordial para uma

relação simbiótica entre as edificações, o território e a natureza.

Em nenhum outro lugar a implementação da ‘sustentabilidade’ pode ser mais poderosa e benéfica do que na cidade. De fato, os benefícios oriundos dessa posição possuem um potencial tão grande que a sustentabilidade do meio ambiente deve transforma-se no princípio orientador do moderno desenho urbano (ROGERS, 2008, p. 5).

Sobre as áreas urbanas, não são apenas as cidades, mas os bairros, vilas,

condomínios e até mesmo campus universitário. Boas (1988 apud GOUVEA, 2008,

p. 17) entende que um projeto urbano sustentável é aquele que, na sua implantação e

manutenção, gaste menos energia, cujos insumos básicos gerem menor impacto

ecológico e que satisfaça as exigências culturais locais e regionais.

Segundo Gouvêa (2002, p. 11), a criação de novos desenhos urbanos implica

novas teorias e metodologias, fazendo-se necessário o equacionamento de conceitos

e critérios que minimizem os impactos ambientais e maximizem o uso de soluções

sustentáveis no processo de urbanização. E essas soluções devem estar estruturadas

com base no clima, nos elementos geomorfológicos, na vegetação e nos fatores

sociais existentes no meio.

Macedo (2008) e Keeler e Burke (2010, p. 215-216) identificam uma nova

vertente de desenho urbano, denominada de novo urbanismo, que surgiu inicialmente

no EUA, em meados dos anos 1990, e se espalhou pela Europa na década seguinte.

Mesmo com realidades distintas, os autores apontam os aspectos desta nova proposta

Page 39: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

26

urbana: minimizar os efeitos da urbanização dispersa, estimular o uso misto,

valorizar e incentivar o pedestre e o uso de bicicleta, promover no bairro o uso de

veículos que utilizem energia alternativa, dar atenção às demandas das pequenas

comunidades e preservar os bens de interesse histórico.

Negreiros (2009, p. 34) faz um comparativo, no QUADRO 1, do que a autora

define por urbanismo disperso (o urbanismo tradicional) e o novo urbanismo (um

movimento mais idealizado), apresentando as características destes dois modelos.

QUADRO 1 – Comparativo entre as características da urbanização dispersa e do novo urbanismo

URBANIZAÇÃO DISPERSA NOVO URBANISMO

Dispersão; Compacidade, melhor aproveitamento e uso do

espaço; Expansão em áreas rurais ou naturais,

conurbação; Revitalização de áreas previamente urbanizadas;

Aumento nas distancias e viagens percorridas por automóveis;

Projeto amigável ao pedestre e ciclista, ênfase em transporte coletivo;

Cidades-dormitório, predominantemente residenciais.

Mix de usos, diversidade de usos.

Fonte: Negreiros, 2009, p. 34.

Para Edwards (2008, p. 217-218), a cidade ideal é, tendo em vista o

desenvolvimento sustentável, compacta e de uso misto, com áreas verdes conectadas,

limites bem definidos e edificações de média altura. Não diferente, Gouvêa (2002, p.

68, 121) define biocidade como uma cidade densa, complexa, dinâmica, equilibrada

com a natureza tropical, diversificada como a sociedade brasileira, enfim, viva

ecológica e culturalmente. Justifica-se também a criação, na malha urbana, de áreas

de uso múltiplo, de modo a atender as demandas sociais de difícil previsão,

proporcionando ao parcelamento do solo a flexibilidade necessária.

De forma geral, Girardet (1992 apud ROGERS, 2008, p. 30) soluciona o

problema substituindo o metabolismo linear que consome e polui (Figura 1) pelo

“metabolismo circular nas cidades, onde o consumo é reduzido pela implementação

de eficiências, e onde a reutilização de recursos é maximizada” (Figura 2).

Figura 1 – Esquema do metabolismo linear

Fonte: Rogers, 2008, p. 31

Page 40: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

27

Figura 2 – Esquema do metabolismo circular

Fonte: Rogers, 2008, p. 31

Todos estes processos que ainda ocorrem de forma linear devem assumir um caráter cíclico, diminuindo os impactos que são gerados no meio ambiente. [...] Os processos básicos do homem ainda ocorrem de maneira linear, não devolvendo à natureza os subprodutos envolvidos, ou seja, admite-se que os recursos naturais sejam infinitos. Este padrão deve ser convertido para processos cíclicos, onde todos os ‘dejetos’ ou subprodutos destes processos básicos retornem ao meio ambiente. O atual padrão adotado nos processos básicos do homem é chamado de degenerativo, e o padrão cíclico, que é extremamente mais complexo que o linear, é chamado de regenerativo. (MÜLFARTH, 2002, p. 80, 127)

Para Rogers, (2008, p. 53) é necessária uma dimensão holística de

planejamento onde todos os fatores que constituem as necessidades econômicas,

físicas e sociais de uma sociedade sejam relacionados ao meio ambiente.

Mascaró e Yoshinaga (2005, p. 29, 194, 195) discursam sobre perspectivas de

que a cidade passará por novas transformações decorrentes da era tecnológica que

marcarão o período pós-industrial. E desta forma a comunicação à distância será o

elemento estruturador dos novos moldes, o transporte perderá importância, as

cidades serão policêntricas e interligadas por redes. No mais, serão necessárias

cirurgias urbanas voltadas a estes novos conceitos.

Batista (2008, p. 77) vê a cidade como um conjunto de muitos elementos que

podem, individualmente, incentivar ou não o seu crescimento mais sustentável. As

áreas urbanas são um organismo complexo, detentora de uma diversidade de usos e

de atividades. Influenciada pelo seu entorno imediato, é também fundamentada

principalmente pelo seu sistema viário que entremeia as edificações e os espaços

abertos e composta por um sistema de abastecimento de energia e de água e, por

conseguinte, pelo tratamento de resíduos e efluentes gerados.

Page 41: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

28

Vale ressaltar que, segundo Keeler e Burke (2010, p. 213), a criação de

comunidades sustentáveis requer processos de planejamento em nível municipal e

regional, com adoção de políticas governamentais. De maneira geral, deve ser

exigido, para um desenho urbano sustentável, que todas as facetas que envolvem a

cidade, como os bairros, os sistemas de suporte (energia, água, transporte etc.) e o

próprio edifício, atentem para critérios de projeto e operação mais sustentáveis ou

menos impactantes.

Os quesitos que envolvem a área urbana são estudados a seguir trazendo à

tona a importância da localização, seu entorno e sua implantação, da infraestrutura,

como o traçado do sistema viário, gestão da energia, da água e dos resíduos, e as

áreas verdes.

2.1.2.1 Localização, entorno e implantação

É de extrema importância considerar o local onde será implantada uma nova

área urbana, tenha ela qualquer finalidade. Bustos Romero (2007, p. 26) enfatiza a

necessidade de se observar e considerar a influência do lugar nas decisões de

desenho, tendo em vista não somente os aspectos climáticos, mas os aspectos

culturais e históricos do lugar em questão. Em concordância, Batista (2008, p. 89)

afirma não existir um modelo único de cidade sustentável e, sim, um planejamento

contextualizado com o local de implantação, ou seja, com as condições ambientais,

as carências e desejos da população e a viabilidade econômica.

Gouvêa (2002, p. 75) relaciona critérios para a seleção do sítio e sua

implantação. São eles: hidrografia, topografia, solo, orientação solar, orientação do

vento e vegetação. Considerar estes elementos e adequar o desenho urbano às

peculiaridades do local significa uma maior harmonia entre o projeto e o meio

ambiente do lugar.

Segundo Bustos Romero (2007, p. 91), “de todos os elementos climáticos, as

condições do vento são as mais modificadas pela urbanização”, é o “elemento

climático que mais pode ser controlado e modificado pelo desenho urbano”. Assim,

alguns elementos urbanos, como a orientação das ruas em relação à direção dos

ventos (Figura 3), as características dos edifícios (tamanho, altura e densidade) e sua

Page 42: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

29

distribuição em relação às edificações altas e baixas (Figura 4), são exemplos que

apresentam grande impacto nas condições urbanas do vento.

(A) (B)

Figura 3 – A orientação da rua em relação aos ventos. (A) Situação onde o sentido da rua não permite que as edificações recebam o vento. (B) O vento penetra nas edificações, pois a via urbana está no sentido da direção predominante dos ventos

Fonte: Lengen, 2009, p. 105

(A) (B)

Figura 4 – O vento e a disposição dos edifícios altos e baixos. (A) A ventilação refresca os edifícios térreos. (B) Os prédios mais altos protegem (ou servem de

barreira) da ação dos ventos Fonte: Lengen, 2009, p. 104

Gouvêa (2002, p. 76, 82) ainda recomenda que, para regiões de seca

prolongada, com umidade do ar inferior a 70%, é interessante situar as áreas urbanas,

principalmente as residências, de forma a possibilitar a penetração dos ventos

dominantes após sua passagem por curso d’água, fato que eleva os índices de

umidade relativa.

Tanto como o vento favorece o conforto ambiental, pode também causar

desconforto. Por conseguinte, o autor destaca a necessidade de evitar a localização de

núcleos residenciais a barlavento de indústrias ou outras fontes poluentes, tendo em

vista o desconforto olfativo e problemas com a saúde, e em vales, pois a topografia

dificultaria a ação dos ventos. Como relata Mascaró (2008, p. 40), a declividade do

solo altera a velocidade dos ventos, favorecendo-os ou não. Estas alterações estão

expostas no QUADRO 2.

Page 43: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

30

QUADRO 2 – Alterações do vento em relação à declividade do solo DECLIVIDADE ALTERAÇÕES DO VENTO

i < 5% Tanto em aclive como em declive, não tem influência na velocidade nem na direção.

i < 50% Em aclive, a velocidade tende a aumentar; em declive, a velocidade diminui. i > 50% O vento turbilhona, carecendo de uma direção certa.

Fonte: Adaptado de Mascaró (2008, p. 43).

Gouvêa (2002, p. 41, 77, 80) considera o solo e suas características como o

mais importante elemento físico do local quando se pretende desenvolver conceitos e

critérios para um desenho ambiental urbano. Neste sentido, Mascaró (2008, p. 37)

acredita que, das características do solo, a topografia é a principal. O primeiro autor e

Lengen (2009, p. 124) indicam que as linhas naturais de drenagem do terreno devem

ser preservadas durante a ocupação do solo e evitar a implantação de núcleos urbanos

de alta densidade e elevados índices de impermeabilização em áreas mais baixas.

Segundo Gouvêa (2008, p. 90), é necessário, durante o processo de projeto de

áreas urbanas, descartar a implantação do tipo ‘terra arrasada’, onde é retirada toda

vegetação nativa. Gouvêa (2002, p. 83) também reflete sobre a necessidade de

preservar as matas ciliares e a vegetação nativa de uma forma geral, pois estas

funcionam como elemento de purificação do ar nas áreas urbanas e minimizam os

efeitos da erosão. Sendo assim, a retirada de vegetação deve ocorrer somente no

momento da construção das vias e edificações.

Ainda em relação à implantação e ao uso e ocupação do solo, Gouvêa (2002,

p. 32, 68-70) prefere a sobreposição de usos/setores compatíveis em vez de uma

setorização rígida, pois a malha urbana sobreposta induz ao encontro de pessoas nos

espaços públicos e minimiza os processos de segregação social. É importante definir

espaços livres, como ruas, praças, parques ou reservas florestais, cujas dimensões e

equipamentos sejam especificados em função dos usos. Mesmo possibilitando um

melhor escoamento de veículos, uma rígida setorização de atividades condiciona a

uma trama espacial segregada, onerosa e monótona.

Batista (2008, p. 76) também sugere a diversidade de atividades num mesmo

local, pois reduziria a necessidade do uso de automóveis e, consequentemente, a

redução de estradas, do consumo energético e aumento da qualidade do ar. Para

Afonso (2005) o transporte é reflexo direto do modelo de uso do solo urbano, pois as

Page 44: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

31

deslocações ocorrem porque existe uma distância a ser percorrida. No espaço urbano

a área de solo destinada para o automóvel, ruas e estradas, é estimada entre 25 a 35%

da área urbanizada.

Sobre o conforto ambiental, Gouvêa (2002, p. 81) recomenda estudar os

‘caminhos do sol’, ou seja, a carta solar do local da área de estudo. Batista (2008, p.

77) identifica que a variação das alturas dos edifícios possibilita o melhor

aproveitamento da luz do dia na iluminação natural de praças, ruas e dos próprios

edifícios, reduzindo a necessidade de iluminação artificial e, consequentemente, do

consumo energético.

2.1.2.2 Infraestrutura

Segundo Mascaró e Yoshinaga (2005, p. 13, 17), o sistema de redes de

infraestrutura é parte essencial da cidade e pode ser dividido em vários subsistemas

de acordo com suas funções: a) sistema viário; b) sistema sanitário; c) sistema

energético; d) sistemas de comunicação. O sistema viário consiste nas redes de

circulação7 e é complementado pela rede de drenagem pluvial; o sistema sanitário é

formado pelas redes, simétricas e opostas8, de abastecimento de água e de esgoto; o

sistema energético constitui-se pelas redes de energia e gás; e, o sistema de

comunicações, pelas redes de telefone e de televisão. O autor ainda destaca a

importância da integração harmônica destes subsistemas, visando um conjunto de

elementos articulados entre si e com o próprio ambiente urbano.

A seguir serão apresentados aspectos urbanos relacionados com sua

infraestrutura, porém sem seguir a subdivisão apresentada. O intuito não é descrever

o funcionamento de todos os sistemas de infraestrutura do espaço urbano, mas

apresentar proposições menos impactantes das atividades desenvolvidas.

7 A circulação urbana, ou o ato de circular pela cidade, é o exercício da mobilidade mediante o próprio esforço pessoal (a pé ou de bicicleta) ou através de meios motorizados de posse ou uso pessoal, ou providos por terceiros, através de serviços oferecidos (BRASIL, 2007, p. 44). 8 Os autores caracterizam estas redes como simétricas e opostas pela forma de árvore que apresentam. Pois a rede de abastecimento de água possui seu tronco nos depósitos urbanos de água e seus ramos finos abastecem as edificações. Já a rede de esgoto inicia seu funcionamento pelos ramos finos que saem dos edifícios e se encontram no tronco maior.

Page 45: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

32

2.1.2.2.1 Sistema viário

O sistema viário é definido por Brasil (2007, p. 74) como “o espaço público

por onde as pessoas circulam, a pé ou com auxílio de algum veículo (motorizado ou

não), articulando, no espaço, todas as atividades humanas intra e inter urbanas”.

Além de abrigar as redes de distribuição dos serviços urbanos, dispõe de uma série

de equipamentos instalados nas próprias vias, no subsolo ou no seu espaço aéreo, que

nem sempre convivem sem conflitos.

De acordo com Gouvêa (2002, p. 24-25) antes do século XIX as cidades eram

implantadas tendo em vista o controle e a defesa do território. Esse período ficou

marcado pela implantação de cidades em área de relevo íngreme, cujo traçado urbano

era frequentemente irregular e sinuoso.

Até a primeira república, menos de 10% da população vivia em regiões urbanizadas e as cidades se caracterizavam por um conjunto de ruas estreitas e tortuosas que acompanhavam a topografa e esbarravam nos limites geográficos. Muitas de nossas cidades fundadas neste período herdaram estas estruturas que hoje caracterizam seus centros históricos (Brasil, 2007, p. 56).

No século XIX essas concepções se transformaram e os aspectos econômicos

passaram a ter um significado maior na escolha do sítio. Assim, o solo começou a ter

valor comercial e passou a orientar e influenciar a organização da trama urbana. Para

Brasil (2007, p. 56), a industrialização, o fim da escravidão e a imigração,

impulsionaram o crescimento acelerado das cidades.

A estrutura urbana, com ruas estreitas e sinuosas e sem saneamento básico tornava as cidades focos de doenças que comprometiam a vida urbana. Foi essa a motivação do urbanismo sanitarista e embelezador no início do século XX, inspirado em conceitos europeus, que promoveu, nas grandes cidades, vultosos investimentos em infraestrutura viária e saneamento.

Segundo Gouvêa (2002, p. 24-25), no final do século XIX e início do século

XX surgem no Brasil, nas regiões Sudeste e Sul, várias cidades com o traçado

xadrez. Este traçado milenar, utilizado pelos gregos e romanos, foi considerado como

uma melhor opção em relação ao traçado colonial irregular, tendo em vista que a

terra urbana passa a ter um crescente valor de troca. Como vantagens apresenta a

facilidade de implantação do projeto, de comercialização devido a simplificação do

Page 46: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

33

cálculo de áreas de lotes e do registro em cartório, e a flexibilidade para suportar

mudanças e expansões. No entanto, era inadequado para sítios acidentados, por

apresentaram, em consequência do traçado reto, inconvenientes ambientais como a

erosão. Mascaró (2008, p. 37) conclui que o traçado totalmente geométrico só é

economicamente viável e ecologicamente estável se implantado em um sítio sem

acidentes topográficos.

Destacando o traçado xadrez como resultado de uma divisão racional do solo,

Gonsales (2005) o caracteriza pela ordem, clareza e igualdade na distribuição da

propriedade, tornando-se o esquema básico da maioria das cidades. Para Batista

(2008, p. 22), o principal objetivo da malha em xadrez foi a rápida deslocação, pois a

quadrícula cria cruzamentos que possibilitam várias rotas para um mesmo percurso e

permite adequar o perfil das avenidas e ruas aos seus usos e ao tráfego esperado.

Conforme relata Gouvêa (2002, p. 27), com o aumento das cidades

(densidade urbana), a utilização de veículos automotores e o aumento dos gabaritos

dos edifícios, o traçado tradicional (colonial e xadrez) começou a apresentar

inúmeros problemas para atender às exigências urbanas atuais. Desta forma,

iniciaram-se as cirurgias urbanas inspiradas no Plano de Paris9 e baseadas nas

cidades-jardins. No Brasil, Goiânia, capital do Estado de Goiás, construída na década

de 1930, refletiu essa proposta, denominada pelo autor de conciliadora. Seu desenho

contemplou eixos de acesso rápido, traçados de forma radial para o escoamento do

tráfego da área central e ruas residenciais tortuosas, adaptadas à topografia local. Sob

o aspecto climático, este foi atendido pela disposição dos lotes e pelas largas

calçadas arborizadas que criavam microclimas.

Batista (2008, p. 27) destaca que, no século XX, a grande revolução no

planejamento das cidades está relacionada com a evolução dos transportes, pois

permitiu que a cidade mantivesse um crescimento contínuo e centrífugo, ou seja, a

9 Idealizado por Haussmann, o Plano de Paris foi, segundo Benévolo (1994, p. 91-102), uma grande reforma urbana justificada pelo crescimento populacional. O centro da cidade não suportava tal crescimento, as ruas medievais eram insuficientes para o trânsito, as casas, inadequadas às exigências higiênicas da cidade industrial, e a concentração de funções e interesses provocou o aumento dos preços dos terrenos. Assim, Haussmann executa obras viárias (novos traçados na periferia e em bairros já consolidados), implanta novas edificações públicas (escolas, hospitais, prisões, escritórios administrativos, bibliotecas, colégios, mercados), cria parques públicos, renova as instalações da velha Paris (rede de água, esgoto, iluminação, transporte público) e modifica a sede administrativa.

Page 47: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

34

massificação do automóvel como veículo de transporte individual criou cidades sem

limites e espalhadas. Neste ponto, Mascaró e Yoshinaga (2005, p. 185) também

justifica a origem das cidades satélites nas metrópoles. O automóvel desempenhou

neste século, segundo Afonso (2005), mais do que uma revolução no modo das

deslocações, ele modificou os costumes e transformou a forma e o funcionamento

das cidades, que passou de estruturas compactas e eficientes para dispersas, difusas e

antiecológicas.

Não diferente, como sintetiza Brasil (2007, p. 40), as “cidades foram, ao

longo de décadas, construídas, reformadas e adaptadas para um modelo de

circulação, hoje percebido como insustentável, fundado no transporte motorizado,

rodoviário e individual: o automóvel”. Em concordância, Rogers (2001, p. 35-36)

responsabiliza o automóvel pela deterioração da coesa estrutura social da cidade,

pela destruição da qualidade dos espaços públicos e pelo estímulo à expansão urbana

para áreas distantes. Além de saturar a cidade de poluição e congestionamentos,

ainda afetam e dividem comunidades. O autor também relata pesquisas realizadas em

San Francisco, na Califórnia, com a seguinte conclusão: “o nível de interação social

entre vizinhos de uma determinada rua, ou o senso de comunidade naquela rua, era

inversamente proporcional à sua quantidade de trânsito”, ou seja, quanto maior o

tráfego de veículos, menor o contato entre os vizinhos. No mais, Mascaró e

Yoshinaga (2005, p. 57) veem que o perfil atual da rua privilegia os veículos e

desconsidera o pedestre. Não bastante, como afirmam Roaf, Crichton e Nicol (2009,

p. 113), o aumento contínuo do trânsito de veículos, associado às grandes mudanças

climáticas, acarretam o aumento da poluição do ar, constatando um problema de

saúde, cada vez mais grave em muitas cidades.

Os veículos automotores constituem mundialmente, segundo Consumo

Sustentável (2005, p. 81-83), a principal fonte de poluição do ar nas regiões urbanas.

Movidos à gasolina e óleo diesel, o aumento da frota faz da poluição veicular a

grande responsável pela má qualidade do ar que se respira. No Brasil, os veículos são

responsáveis por 70% da poluição atmosférica nas cidades. Há ainda os reflexos

diretos sobre a saúde da população: alergias, irritação nos olhos, coceira na garganta,

tosse, doenças respiratórias e cardiovasculares. Brasil (2007, p. 22) afirma que a

poluição produzida pelo transporte individual custa à sociedade o dobro daquela

Page 48: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

35

produzida pelo transporte público e, no caso dos poluentes locais, esta relação passa

de cinco vezes. Estima-se que, na mobilidade urbana, são emitidas 1,6 milhão de

toneladas/ano de poluentes locais, onde 84% são atribuídas ao transporte individual.

No caso do CO2, são emitidas 22,7 milhões de toneladas/ano e 66% são atribuídas ao

transporte individual. O autor complementa elencando outros impactos, aqueles

relacionados com a poluição sonora e os resíduos gerados, como pneus, óleos e

graxas. Rogers (2001, p. 120) acrescenta que o trânsito e a poluição gerada pelos

veículos não incentivam os pedestres nem os ciclistas. Enfim, a rua é o espaço

público da cidade, o espaço para o encontro, porém é hoje, essencialmente, o espaço

para o movimento (GONSALES, 2005).

O recurso utilizado, pelo urbanismo modernista para minimizar o problema

do tráfego de veículos foi a setorização das atividades. Entretanto, ao criar zonas

funcionais nas cidades, criou-se também uma malha viária onerosa, pouco

sustentável econômica e socialmente. Essa, apesar de bem equipada, fica ociosa

durante o horário noturno, nos fins de semana e feriados (GOUVÊA, 2002, p.37).

A situação atual mostra que só poderemos controlar efetivamente a poluição nas cidades com medidas integradas que conduzam ao consumo sustentável dos meios de transporte, como a melhoria do transporte coletivo, especialmente trens e metrô, e o investimento em energias alternativas aos combustíveis fósseis (CONSUMO SUSTENTÁVEL, 2005, p. 83).

Borba (2007, p. 19) resume bem a ideia de um transporte sustentável que

utiliza eficientemente a energia: “transportar o máximo de carga possível gastando o

mínimo de combustível”. Seguindo o mesmo raciocínio, Gouvêa (2008, p. 82)

idealiza restringir o uso do automóvel em favor do transporte coletivo e incentivar o

uso de transportes mais limpos, como os veículos elétricos, a bicicleta e o simples

caminhar. Como afirma Mascaró (2008, p. 95), a maioria das cidades europeias já

está tentando aumentar o uso de bicicletas como forma de diminuir a poluição e

melhorar a saúde de seus habitantes.

Sobre o transporte coletivo público, a sua viabilidade e eficiência está

relacionada com a densidade habitacional, bem como a diversidade social e funcional

(tipos de uso do solo).

Page 49: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

36

Somente as áreas de densidade média ou alta podem sustentar o transporte público, com todos os seus benefícios sociais e energéticos. Assentamentos com uma densidade relativamente alta, de cerca de duzentas unidades habitacionais por hectare, distribuídas em edificações de quatro pavimentos, consomem um terço menos da energia procedente de combustíveis fósseis que as áreas residências periféricas, construídas com vinte unidades por hectare (EDWARDS, 2008, p. 200).

Em relação ao traçado urbano, Gouvêa (2002, p. 88-89) e Lengen (2009, p.

63) recomendam projetar traçados orgânicos, principalmente em áreas cuja

declividade é acentuada, ou seja, onde o solo é propício à erosão; também, em

regiões com períodos de alta pluviosidade, pois oferecem uma resistência natural à

velocidade das águas. Estes traçados orgânicos caracterizam-se por acompanhar as

curvas de nível ou serem traçados diagonalmente em relação à maior inclinação do

sítio. Em fundos de vale, é interessante projetar ruas estreitas, de acesso secundário e

com calçamento que possibilite a infiltração das águas pluviais. Em sítios planos, de

0 a 5% de inclinação, os traçados retilíneos representados pela malha xadrez

apresenta excelente desempenho. No entanto, conforme destaca Gouvêa (2008, p.

39), a repetição do desenho em quadrícula dificulta a orientação e torna a malha

urbana pouco diversificada e monótona. A seguir, a Figura 5 apresenta um

comparativo entre a malha viária orgânica, menos rígida e mais agradável, e a malha

viária xadrez, retilínea e tradicional.

(A)

(B)

Figura 5 – Comparativo entre as malhas viárias. (A) Retilínea. (B) Orgânica. Fonte: Lengen, 2009, p. 63-64

Page 50: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

37

Mascaró (2008, p. 87) acrescenta que o ideal é não ter longos trechos retos,

pois as trocas de direção ou até de largura das vias contribuem para a atenção dos

usuários e podem resguardar maciços de vegetação, construções de interesse ou

acidentes topográficos.

Para uma proposta de urbanismo sustentável, Gouvêa (2002, p. 70; 2008, p.

120) afirma que a questão hierárquica das vias é de extrema importância, porque

permite uma significativa economia na sua construção. Em termos gerais, é

necessário estabelecer ruas locais, coletoras e principais, dimensionadas em função

do fluxo de veículos, das atividades desenvolvidas e da possibilidade de ampliação

futura.

Em Cuiabá (2004, p. 494-510), a Lei Complementar nº 44, de 23 de

dezembro de 1997, disciplina o uso e a ocupação do solo urbano do município. Mais

especificamente, o Capítulo V trata do sistema viário e estabelece cinco classes de

vias: as vias locais, com o padrão geométrico mínimo (PGM) de caixa viária10 igual a

12 m; as vias coletoras, com PGM igual a 18 m; as vias principais, PGM de 24 m; as

vias estruturais, 30 m; e as especiais, cujo traçado geométrico, uso e ocupação do

solo serão de acordo com cada caso específico e definido por lei. Vale salientar que

no caso de vias estruturais e vias principais em sistemas binários de tráfego, o PGM é

de 20 m e 16 m, respectivamente.

Em um projeto de sistema viário para uma área urbana, Guedes (1981 apud

GOUVÊA, 2002, p. 90; GOUVÊA, 2008, p. 121) preconiza a necessidade de se

observar a orientação solar, de modo a evitar a implantação de vias de grande fluxo

de veículos no sentido Leste-Oeste. Isso tem por intuito minimizar o ofuscamento do

motorista, principalmente ao pôr do sol, o que reduz a visibilidade em cerca de 45%.

O IPT (1986 apud GOUVÊA, 2002, p. 82) recomenda também que em localidades

de clima tropical e equatorial o sistema viário principal seja orientado no sentido da

direção dos ventos dominantes.

Ainda sobre o desenho das vias, é imprescindível evitar a segregação do

pedestre e possibilitar a mobilidade universal de todos. Além de ser essencial para as

atividades humana, a mobilidade é determinante para o desenvolvimento econômico

10 PGM de caixa viária é a largura mínima real ou prevista para cada classe de via e integram a caixa viária, o leito carroçável, os passeios adjacentes e os canteiros centrais.

Page 51: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

38

e para a qualidade de vida, sendo decisiva na inclusão social e acesso aos serviços

urbanos. Hoje o atual modelo de mobilidade apresenta efeitos negativos como a

poluição sonora e atmosférica, o elevado número de acidentes e vítimas e os grandes

impactos na ocupação do solo urbano (BRASIL, 2007, p. 21).

Para Fernandes, Maia e Ferraz (2009, p. 2), a mobilidade urbana sustentável é

definida por quatro práticas: a) o planejamento integrado do transporte e do uso e

ocupação do solo urbano; b) a atualização da regulação e gestão do transporte

coletivo urbano; c) a promoção da circulação não motorizada; d) o uso racional do

automóvel. Como sugere Gouvêa (2008, p. 123), os desenhos das ruas devem

estimular o andar das pessoas, para serem como ‘caminhos da saúde’.

Este novo conceito de mobilidade, segundo Brasil (2007, p. 21, 40, 44),

requer a adoção de “uma visão sistêmica sobre toda a movimentação de bens e de

pessoas, envolvendo todos os modos e todos os elementos que produzem as

necessidades destes deslocamentos”. Não é mais possível tratar as questões de

transporte, circulação e mobilidade de maneira isolada.

Priorizar o transporte coletivo, o pedestre e os meios de transporte não motorizados significa repensar toda a cidade: desenho urbano, a localização e distribuição das atividades e a localização dos equipamentos públicos, tendo como objetivos reduzir a necessidade de viagens motorizadas, reforçar novas centralidades, desconcentrar o processo de urbanização e valorizar as relações locais.

De um modo geral, Gouvêa (2002, p. 69-70) determina o ideal: trabalhar todo

o espaço da malha urbana, especificando o uso e a forma, de modo a criar uma

cidade densa, diversificada e com baixos custos de implantação e manutenção.

Mascaró e Yoshinaga (2005, p. 27) refletem sobre a não internacionalização

dos materiais, desenhos e tecnologias, em detrimento de soluções locais, que muitas

vezes são mais interessantes e econômicas. Priorizar e valorizar, deste modo, os

aspectos sociais e econômicos do lugar.

A pavimentação, como indica Mascaró (2008, p. 107), tem a função de

manter o plano horizontal estável, sob diversas condições – sol, chuva, alta e baixa

umidade, pois assim os pedestres e veículos transitam com maior conforto. Ressalta-

se a importância de se utilizar materiais que facilitem o acesso a infraestrutura e

possibilitem a penetração das águas das chuvas, como blocos de concreto

Page 52: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

39

intertravado e blocos de concreto vazado. Segundo Gouvêa (2002, p. 39), o excesso

de calçamento do tipo asfáltico aumenta a temperatura ambiente, contribuindo para a

alteração dos usos culturais do espaço urbano, como, por exemplo, as conversa de

fim de tarde na frente das casas. Mascaró e Yoshinaga (2005, p. 67, 71) estimam que

os pavimentos asfálticos, quase pretos, atingem 90ºC, enquanto os pavimentos claros

não passam de 60ºC.

Os materiais também são responsáveis pelo aumento dos ruídos. E a sua

ressonância está ligada a sua lisura e elasticidade. Neste sentido, o asfalto é

considerado o mais silencioso, seguido do concreto moldado in loco, blocos

articulados, paralelepípedos e pedra.

Outro assunto relacionado com o sistema de circulação das áreas urbanas trata

da acessibilidade. Os autores apresentam estatísticas: 15% da população brasileira

têm algum tipo de limitação. De forma geral a acessibilidade significa, segundo

Brasil (2007, p. 42), a condição do indivíduo de “realizar qualquer movimentação ou

deslocamento por seus próprios meios, com total autonomia e em condições seguras,

mesmo que para isso precise se utilizar de objetos e aparelhos específicos”.

A acessibilidade, prevista em lei, é um elemento de integração social

indispensável. Para tanto é importante ter-se em mente que a acessibilidade não

atinge apenas as pessoas que estão em cadeiras de rodas, mas sim, todas as pessoas

com deficiências ou com mobilidade reduzida, como as caracterizadas na Figura 6.

Além de evitar a construção de barreiras11, Keeler e Burke (2010, p. 227)

acrescentam a necessidade de oferecer acesso equivalente. Para melhor entender, um

acesso não equivalente é aquele onde a rampa leva a uma entrada lateral e não a

principal, seja de áreas urbanas ou de edificações.

O Decreto Federal nº 5.296 estabelece, entre outras, normas gerais e critérios

básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas com deficiência ou

mobilidade reduzida. Esta norma define acessibilidade como “condição para

utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários e

equipamentos urbanos”. Em seu Art. 15, impõe que a urbanização das vias, praças,

11 Do modo como estão hoje, o sistema viário (ruas e calçadas) e os meios de transporte público, muitas vezes, se constituem em barreiras: a sinalização das ruas, o desenho e o estado de conservação das calçadas, a ausência de guias rebaixadas, a concepção e a localização do mobiliário urbano, ou os meios de transporte coletivo (BRASIL, 2007, p. 43).

Page 53: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

40

logradouro, parques e demais espaços de uso público incluam o rebaixamento de

calçadas com rampa acessível ou elevação da via para travessia de pedestre e a

instalação de piso tátil direcional e de alerta. A Associação Brasileira de Normas

Técnicas (ABNT) também contribui com normativos relacionados com a

acessibilidade, principalmente na NBR 9050 – Acessibilidade a edificações,

mobiliário, espaços e equipamentos urbanos.

(A) (B) (C) (D) (E) (F)

(G) (H) (I) (J) (K) (L) Figura 6 – Caracterização de pessoas com deficiência e mobilidade reduzida.

(A) Pessoa com deficiência visual com cão guia. (B) Pessoa com deficiência visual com bengala de rastreamento. (C) Pessoa engessada com muleta. (D) Criança. (E) Pessoa idosa. (F) Pessoa usuária de cadeiras de rodas. (G) Pessoa obesa.

(H) Pessoa anã. (I) Grávida. (J) Pessoa com carrinho de bebê. (K) Pessoa usuária de andador. (L) Pessoa acompanhada por criança de colo.

Fonte: Brasil, 2006, p. 14

Mascaró (2008, p. 70-71) apresenta a união de diferentes níveis por meio de

rampas com inclinação adequada como um critério urbanístico que contribui para o

conforto e segurança dos usuários no meio urbano. Em caso de escadas no meio

urbano, estas devem ter inclinação inferior a 45%, com espelhos entre 14 e 16 cm e

degraus (piso da escada) entre 35 a 45 cm.

Mascaró e Yoshinaga (2005, p. 13, 71-73) acrescentam a tendência de fazer

as rampas das calçadas na mesma largura que as faixas de pedestre. Também é atual

a sobre-elevação das faixas de pedestres, indicando ao tráfego de veículo que a

Page 54: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

41

prioridade não é deles. Esta indicação também é possível com a troca do

revestimento nessas faixas.

Sobre o sistema viário como um todo, um aspecto interessante abordado pelos

autores é o alto custo, que abrange mais de 50% do custo total da urbanização.

2.1.2.2.2 Energia Elétrica

a) Geração de energia

Segundo Edwards (2008, p. 61), a conservação da energia pode ser

considerada como a principal questão para a sustentabilidade. O autor ainda elenca

que para atividades como aquecimento, iluminação e ventilação é exigido, em grande

parte, o uso de combustíveis fósseis, isto é, fontes energéticas não renováveis.

Exemplos destes combustíveis são o petróleo, gás natural e carvão mineral, os quais

geralmente são queimados em uma central energética. Cerca de 50% de toda energia

consumida no mundo é destinada a abastecer a construção civil. Mas o problema não

está no uso da energia em si, e sim na forma de produção energética e nas emissões

de CO2.

A realidade, como descreve Mülfarth (2002, p. 84), é que a falta de energia

está afetando muitos países, e estes já apresentam sérios problemas de abastecimento

energético. A autora cita como exemplos Brasil, Estados Unidos e Nova Zelândia, e

enumera algumas alternativas utilizadas nesses países para tentar evitar a ameaça de

apagões e blecautes: programas de racionamento, rodízios e cotas de consumo,

respectivamente.

O fato é que, no caso do Brasil, são as usinas hidrelétricas as grandes

responsáveis pela produção de energia elétrica. Esta produção fundamenta-se no

fluxo de água canalizada em desnível (barragem), que faz movimentar uma turbina e,

por sua vez, alimenta um gerador elétrico. Dados divulgados pela ANEEL (2008, p.

57) apresentam o Brasil como o país, em todo mundo, com o maior potencial

hidrelétrico. E a energia de fonte hidráulica chega a 85,6% de toda a energia

produzida no país. Consumo Sustentável (2005, p. 34) confirma este dado e ainda

destaca o fato de ser uma produção energética derivada de uma fonte renovável.

Destarte, é necessário adotar critérios de localização e construção de modo a

Page 55: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

42

minimizar os impactos negativos ao meio ambiente. A ANEEL (2008, p. 61)

demonstra consciência, caracterizando esse tipo de construção como cara e

demorada, com impactos na flora e fauna locais, devido à formação dos

reservatórios, aumento do nível dos rios ou alterações em seu curso após o

represamento. Mesmo com estes danos ambientais, considera-se uma forma de

geração de energia elétrica limpa, porque não emitem poluentes, não influenciando

no efeito estufa.

Para Consumo Sustentável (2005, p. 98-99) o uso de fontes não renováveis –

petróleo, gás natural, carvão mineral e urânio – está associado a riscos ambientais.

Riscos estes que podem ser locais, como a poluição do ar e vazamento radioativo, e

globais, como o aumento do efeito estufa. Para tanto, o autor indica o uso de fontes

de energia renováveis – água, sol, ventos, marés, geotérmica e biomassa (lenha,

bagaço de cana, carvão vegetal, álcool, resíduos vegetais entre outros) – que são

formas de geração mais limpa. A facilidade de acesso aos combustíveis fósseis foi,

segundo Edwards (2008, p. 65), a causa determinante no atraso do desenvolvimento

e exploração das fontes de energia renovável. O uso dessas fontes energéticas

renováveis também pode afetar o meio ambiente, pois depende da forma de

utilização desses recursos.

Mülfarth (2002, p. 129) justifica muito bem o quadro de poluição atual onde a

arquitetura ignorou os recursos naturais locais, como a insolação, os ventos, a energia

do solo, entre outros que visam a climatizacao natural da edificação. Tal fato

ocassionou a necessidade de instalar equipamentos mecânicos.

Neste sentido, Edwards (2008, p. 88-89) afirma: “três fatores fundamentais

conduzem à maior eficiência energética nas edificações: inovações tecnológicas,

políticas públicas e o interesse dos próprios usuários”, ou seja, a edificação ecológica

deve envolver uma combinação de tecnologias inovadoras, conectadas às políticas

públicas, inclusive incentivos financeiros, e um cliente ciente dos benefícios de um

projeto que proporcione baixo consumo de energia.

O autor afirma que as tecnologias podem ser divididas em dois tipos. A

primeira são as novas formas de energia, onde se inclui as energias renováveis,

células combustíveis de hidrogênio e os biocombustíveis. A segunda é a melhoria na

Page 56: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

43

aplicação das energias existentes, com a sua eficiência maximizada por meio de um

bom projeto arquitetônico e da gestão das edificações e seus sistemas.

As fontes renováveis disponíveis e os métodos de exploração devem ser

considerados nas primeiras fases do projeto, e podem ser exploradas de diferentes

maneiras: extraída distante da edificação e distribuída por meio convencional,

extraída na própria edificação (ou em seu entorno imediato) ou extraída pelos

elementos construtivos da edificação. O principal problema na utilização deste tipo

de fonte energética é a sua natureza intermitente e a dificuldade de armazenamento

(EDWARDS, 2008, p. 65-66, 72).

No caso da energia solar, a ANEEL (2008, p. 83) relata que esta chega à

Terra nas formas luminosa e térmica, de maneira não uniforme, pois depende da

latitude, estação do ano e das condições atmosféricas (nebulosidade e umidade

relativa) do local em questão. Edwards (2008, p. 68) descreve que pode ser utilizada

de modo passivo, aquecendo e iluminando naturalmente os ambientes, e pode ser

aplicada de modo ativo, como no aquecimento de água ou na geração de eletricidade

por meio de células fotovoltaicas12. Sobre a iluminação natural, Kirschbaum (2006,

p. 16) atenta-se que a cena urbana muda constantemente devido a não uniformidade.

Ainda sobre a geração de energia elétrica, a ANEEL (2008, p.84-85) traz à

tona o sistema heliotérmico, no qual a irradiação solar é convertida em calor para as

usinas termelétricas. E ainda revela o potencial da energia solar no Brasil (Figura 7),

destacando a região Nordeste, comparando-a com as melhores regiões do mundo

nessa variável.

Em relação ao aquecimento de água, os sistemas solares, segundo Roaf,

Fuentes e Thomas (2009, p. 201, 234), coletam a energia da radiação e a

transformam em calor, distribuindo-o através de ar ou água quente até o local de uso

ou de armazenamento. Os autores também descrevem o sistema de células

fotovoltaicas, capazes de converter a luz direta do Sol em eletricidade de corrente

contínua (CC), podendo ser usada dessa forma, convertida em corrente alternada

(CA) ou armazenada para uso posterior. Para o funcionamento eficiente de um

12 Disponíveis no comércio desde meados dos anos de 1970, são células solares de material semicondutor, geralmente silício (material cuja produção não é tóxica), modulares, sem partes móveis e sua flexibilidade possibilita o uso em muitos produtos da edificação (brises, telhas, cortinas de vidro etc.).

Page 57: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

44

sistema fotovoltaico, Keeler e Burke (2010, p. 143) e Edwards (2008, p. 73)

destacam a necessidade de acesso à rede de abastecimento nacional, de modo que

seja encaminhado o excedente elétrico, excluindo a necessidade de grandes e caras

baterias de armazenamento. Além da rede pública adquirir o excedente e reverter em

crédito para a edificação, aumenta sua própria estabilidade, reduzindo a necessidade

de se construir novas usinas de geração.

Figura 7 – Atlas solarimétrico do Brasil: variação da radiação solar Fonte: EPE 2007 apud ANEEL, 2008, p. 85

Sobre a energia eólica, Roaf, Fuentes e Thomas (2009, p. 276) acreditam

tratar-se de energia solar em outra forma, pois o Sol é quem dá origem às variações

de pressão que criam os ventos. A ANEEL (2008, p. 80) apresenta as seguintes

vantagens deste sistema: renovabilidade, perenidade, grande disponibilidade,

independência de importações e custo zero para obtenção de suprimento. Como

desvantagem tem o custo que, mesmo decrescente, ainda é alto em comparação com

outras fontes. Nesse sistema, a geração de energia ocorre pelo contato do vento com

as pás do cata-vento integrantes da usina. Esse movimento origina energia mecânica

que aciona o aerogerador e produz eletricidade.

Segundo Edwards (2008, p. 79-80), essa geração energética pode acontecer

no mar, na terra e na própria edificação, e é muito útil como complemento da energia

solar, tendo em vista que “a captação de raios solares é menor nos dias nublados,

Page 58: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

45

justamente quando há maior incidência de ventos”. A ANEEL (2008, p. 81), ao

afirmar que a velocidade dos ventos costuma ser maior em períodos de estiagem,

sugere a possibilidade de complementar os sistemas de usinas hidrelétricas com

usinas eólicas. Sobre o potencial eólico, o Brasil apresenta valores duas vezes

superiores à média mundial e, assim, como a energia solar, o Nordeste,

principalmente o litoral, conta com os maiores valores (Figura 8).

Figura 8 – Potencial eólico brasileiro Fonte: EPE, 2007, apud ANEEL, 2008, p. 81.

Num contexto geral, para Roaf, Crichton e Nicol (2009, p. 304), “a energia do

vento tem se tornado um dos grandes atores no setor de geração de energia, e sua

participação crescerá cada vez mais com o aumento planejado da ‘indústria do vento’

para os próximos anos”.

Outra tecnologia emergente descrita por Edwards (2008, p. 82, 84) é das

células combustíveis, que, aparentemente, serão capazes de transformar os sistemas

de produção de energia. Estas células baseiam-se em uma tecnologia eletroquímica e

utilizam gás de hidrogênio com oxigênio para gerar eletricidade. No fim, em vez de

produzir CO2, as células de hidrogênio produzem dióxido de hidrogênio, ou seja,

água.

Já o biocombustível, de acordo com o autor, é procedente de cultivos

específicos (soja, arroz, cana-de-açúcar, entre outros) ou de resíduos urbanos (sólidos

ou líquidos), agrícolas (dejetos) ou florestais (madeira). A energia é produzida pela

Page 59: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

46

fermentação anaeróbica, e, segundo ANEEL (2008, p. 86), pela ação de micro-

organismos que decompõem a matéria orgânica. Assim, a biomassa passa

naturalmente do estado sólido para o gasoso. Também é possível obter energia pela

combustão direta dos resíduos ou por meio de reações químicas (termoquímica).

Na Europa a madeira é a principal fonte de energia renovável. Geralmente é

comercializada sob a forma de troncos, lascas e serragem prensada (briquetes),

enfim, subprodutos obtidos de outros processos de transformação da madeira

(EDWARDS 2008, p. 85).

Em relação às emissões de CO2, Roaf, Crichton e Nicol (2009, p 307)

avaliam a neutralidade na atividade de queima de biomassa, tendo em vista que a

quantidade não seria maior caso a massa se decompusesse no meio ambiente. Desta

forma o biogás é virtualmente neutro nestas emissões.

Outra energia renovável apresentada por Edwards (2008, p. 82) é a energia

geotérmica, ou seja, aquela obtida pelo calor existente em camadas profundas do

interior da Terra. Como descreve a ANEEL (2008, p. 87), o calor captado aquece a

água utilizada em usinas termelétricas. O órgão ainda destaca que o parque instalado

do sistema em questão não se expandiu entre os anos de 2006 e 2007. No Brasil, não

há registros desse tipo de fonte energética.

Sobre a energia advinda do mar, esta pode ser obtida pelo aproveitamento das

marés, correntes marítimas, ondas e energia térmica. A ANEEL (2008, p. 88)

contempla um estudo de 2008, quando todas as tecnologias estavam em fase de

desenvolvimento, exceto a que trata da usina maremotriz, isto é, derivada do

movimento das águas. Segundo confirmam Roaf, Crichton e Nicol (2009, p. 305-

306), a tecnologia para conversão de energia derivada das ondas ainda é incipiente.

No mais, caracterizam sua dependência do clima, porém menos do que as energias

solar e eólica.

b) A energia no meio urbano

Fornecer energia para as edificações e iluminar o ambiente urbano são as

principais funções da energia elétrica no meio urbano. Nas áreas urbanas, a rede

elétrica que abastece os edifícios pode ser, de acordo com Mascaró e Yoshinaga

(2005, p. 16, 143), aérea ou subterrânea. Os autores caracterizam as redes aéreas

Page 60: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

47

pelos baixos custos, poluição visual e menor segurança em relação à subterrânea.

Sobre a rede subterrânea, apresentam seu custo 3 a 4 vezes maior do que a rede

aérea, no entanto, tem como vantagens o melhor serviço, pois não estão sujeitas aos

agentes atmosféricos, menor perigo e ausência de poluição visual. Além de fornecer

energia elétrica aos edifícios, há a atividade de iluminar artificialmente o recinto

urbano13 quando este não está provido pela iluminação natural. Em relação a esta

última, conforme relatam Pattini, Córica e Mascaró (2006, p. 66), é o resultado da

incidência dos raios solares de forma direta e difusa. Difusa porque são refletidas e

dependem das características dos planos laterais (edifício) e horizontais (piso), assim

como das suas dimensões e das relações entre largura da rua e altura dos edifícios.

Outro aspecto interessante destacado por Kirschbaum (2006, p. 17) é o fato

da atmosfera urbana, composta por emissões de automotores, edifícios, indústrias e

indivíduos e da flora e fauna urbana existente, caracterizarem a visibilidade e

aparência visual do recinto urbano. Estes componentes refratam, refletem e

distribuem a luz de formas variadas, contribuindo para que cada cidade tenha uma

identidade única, do ponto de vista luminoso.

Sobre a iluminação urbana artificial, Mascaró (2006b, p. 29-32) descreve um

pouco da sua história. Até meados do século XVII, a iluminação de ruas, praças e

fachadas de prédios era praticamente inexistente. O século XVIII foi marcado pelo

uso de lâmpadas de azeite na iluminação urbana. No Brasil, essa tecnologia

permaneceu em uso até o século XIX. A partir de 1780, devido à pressão econômica

e social causada pela revolução industrial, surgem inventos destinados a aperfeiçoar

as fontes e os métodos de produção da luz: a iluminação a gás e, posteriormente, a

elétrica. A primeira se impõe nas cidades a partir de 1810, tendo em vista os menores

custos em relação ao combustível e manutenção. No Brasil, tal sistema a gás foi

implantado em 1854. Pouco tempo depois, em 1879, a iluminação elétrica chega ao

país.

Em relação à necessidade de iluminação, Kirschbaum (2006, p. 19, 21) afirma

sua importância ao apoiar a ordem e a segurança pública e facilitar a visibilidade e

13 Recintos urbanos, para os autores Pattini, Córica e Mascaró (2006, p. 56), são os espaços definidos pelos planos do piso e da parede (edifícios), ou seja, ruas e praças, principalmente. Pode ser definido ainda como a arquitetura sem teto.

Page 61: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

48

orientação. Além dos quesitos de segurança no trânsito e prevenção da criminalidade,

Mascaró e Mascaró (2006, p. 151) tratam a função de embelezamento das áreas

urbanas, como o melhor aproveitamento das áreas verdes e a definição da hierarquia

viária. Já Manzano (2006, p. 112-113) aponta seis aspectos para a iluminação de

espaços urbanos, são eles: segurança, orientação, promoção, identidade, ambiente e

recreação. A iluminação de segurança trata da necessidade de ver e ser visto, tanto do

motorista quanto do pedestre – possibilita a ambos adotar medidas defensivas diante

de uma situação de risco. Sobre a orientação, a iluminação deve possibilitar a

identificação dos elementos do entorno urbano como nomes de ruas, nome e números

dos edifícios. A iluminação de fachadas (igrejas, museus, pontes) serve de referência

na orientação e pode ser considerada uma iluminação promocional, caracterizada por

uma publicidade sutil, atraindo visitantes e turistas. A luz ainda pode trazer

identidade ao acentuar determinadas características e criar ambientes com sensações

distintas – hospitalidade, aconchego, intimidade. No mais, podem servir de recreação

com o uso dinâmico da luz em espetáculos de luz e som.

Não diferente, Kirschbaum (2006, p. 15) afirma que a iluminação urbana só

pode ser designada eficiente quanto reunir vários requisitos. São eles:

chega onde se necessita; responde às funções que se desenvolvem na cidade; a gente se sente confortável, satisfeita, estimulada, segura; contribui para a beleza de lugares, monumentos e edifícios; o impacto ambiental é controlado e limitado; a energia para seu funcionamento é a necessária, sem desperdício nem excessos; o custo de provê-la é adequado, de acordo com as funções urbanas, necessidades e possibilidade do usuário; a tecnologia a utilizar incorpora conhecimentos, técnicas e produtos locais.

Segundo Manzano (2006, p. 114-116), o consumo energético dos sistemas de

iluminação está em concordância com a seleção eficiente do conjunto, e não apenas

de um item. Este conjunto compreende luminária, lâmpada, equipamento auxiliar e

geometria da instalação. E estes componentes são dependentes entre si e “por mais

eficiente que seja uma lâmpada, alojada em uma luminária que não distribua a luz às

zonas de interesse, prejudicará o projeto”.

O autor ainda aponta outras consequências sobre o meio ambiente,

relacionadas com a iluminação urbana. Falou-se da emissão de CO2 devido às formas

Page 62: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

49

de geração de energia, porém também se observa a poluição luminosa14 e a geração

de resíduos, principalmente de lâmpadas. De acordo com Mascaró (2006a, p. 184),

essa poluição ocorre também durante o dia, quando superfícies polidas ou brilhantes

dos edifícios refletem a luz do Sol e invadem o recinto urbano ou mesmo ambientes

de outros edifícios (Figura 9). O autor denomina como poluição luminosa dinâmica.

Figura 9 – A influência do vidro nas edificações circunvizinhas

Fonte: Lengen, 2009, p. 56

Como determina Kirschbaum (2006, p. 17, 19), a poluição luminosa depende

do desenho da luminária15 e da geometria de sua instalação. Segundo estima o autor,

pelo menos 20% da luz de uma iluminação pública é desperdiçada quando não se

controla a poluição luminosa. Em referência ao desenho da luminária, este é

inadequado quando direciona a luz para o céu ou para outros pontos de não interesse.

Sobre a localização das luminárias, o próprio autor afirma que os sistemas dependem

de suas próprias características e também das características funcionais e físicas do

espaço e de seus usuários.

Um dos principais pontos para a integração harmônica da iluminação urbana

no ambiente está relacionado com a arborização urbana. No entanto, Mascaró

(2006b, p. 38) traz à tona uma premissa traçada durante a história da humanidade: “a

luz elétrica simbolizava a civilização, o progresso, a repulsa ao obscurantismo. E

deixava a vegetação urbana num segundo plano, tanto de interesse como de

14 Poluição luminosa pode ser entendida como o resultado da emissão direta de luz para o céu e da emissão indireta devido à refletância das superfícies. 15 São estabelecidos requisitos na NBR 15129 – Luminárias para iluminação pública.

Page 63: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

50

cuidados. O romantismo e o naturalismo que inspiram a arborização das cidades

eram superados pelo progresso”.

Conforme afirmação de Mascaró e Mascaró (2006, p. 141), a iluminação

pública é imprescindível para a vida urbana, e deve ser projetada de modo a não

provocar a retirada da vegetação existente. Além de delinear sobre essa premissa,

Kirschbaum (2006, p. 20-21) descreve as consequências da falta de articulação entre

a arborização e o sistema de iluminação urbana: ao projetar uma densa sombra sobre

os passeios e ruas, a vegetação que encobre a iluminação cria uma cena de

insegurança e dificuldades tanto para o pedestre quanto para o motorista. Também se

observa o desperdício de energia elétrica, já que a luz não atinge as superfícies para

as quais foi projetada. De fato, deve haver a integração destes dois sistemas urbanos,

tendo em vista as qualidades ambientais possibilitadas pela arborização do espaço

urbano. É interessante apresentar ainda a existência de efeitos negativos decorrentes

da excessiva iluminação artificial noturna, segundo Mascaró e Mascaró (2006, p.

146), sobre o ciclo anual de crescimento e reprodução de árvores.

Outro aspecto importante para a eficiência da iluminação urbana diz respeito

às operações de manutenção. Manzano (2006a, p. 116, 124) prevê a necessidade de

limpeza de luminárias a cada dois anos e a troca de lâmpadas a cada quatro anos. No

mais, é necessário interagir, na fase de projeto, com a arborização urbana e prever

podas regulares da vegetação. Também é possível, segundo a autora, utilizar de

recursos tecnológicos para reduzir o consumo de energia. Por exemplo, é admissível

reduzir os níveis de iluminação de áreas urbanas em determinados horários, tendo em

vista a redução de fluxo de trânsito e pedestre.

2.1.2.2.3 Água

De acordo com Consumo Sustentável (2005, p. 27, 28), a água ocupa

aproximadamente 70% da superfície do planeta, onde 97,5% é salgada. Da água doce

existente, 68,9% está nas geleiras, calotas polares ou em regiões montanhosas, 29,9%

em águas subterrâneas, 0,9% compõe a umidade do solo e dos pântanos. Assim,

apenas 0,3% é a porção superficial de água doce em rios e lagos. É fato ainda que

esta água não está uniformemente distribuída no globo, e o Brasil pode ser visto

como privilegiado, pois detém 13,7% da água doce do mundo. E mesmo com essa

Page 64: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

51

abundância, a disponibilidade desse recurso no país também não é uniforme e,

segundo Gonçalves e Jordão (2006, p. 1), 70% se encontram na região amazônica.

Essa distribuição geral pode ser visualizada na Figura 10.

Figura 10 – Distribuição da água na superfície da Terra

Uma das principais causas da escassez de água é o crescimento

populacional. E esta escassez em áreas urbanas, provoca sofrimento, limita a

atividade econômica e retarda o progresso. Roaf, Fuentes e Thomas (2009, p. 252)

acrescentam outras causas: “as mudanças climáticas, a interferência crescente do

homem nos cursos naturais de água e a poluição”. Para Rogers (2008, p. 52, 174), a

água é o principal e mais crítico recurso deste milênio. Nesse contexto, a crise

ambiental é invariavelmente crescente, tendo em vista a afirmação da ONU de que

cerca de “1,3 bilhão de pessoas não tem acesso à água limpa” e a previsão de que “3

bilhões de pessoas ficarão sem água nos próximos 50 anos”.

Nos últimos anos, foi dada muita atenção à conservação da energia, e isso fez

com que se relegassem a um segundo plano as questões relacionadas à água. Para

Edwards (2008, p. 97-99) a água é mais importante do que a energia, pois a sua

escassez impacta diretamente sobre a saúde e produção de alimentos. Muitas

doenças16 estão relacionadas à água, devido a sua escassez ou consumo de água

contaminada, comprometendo o desenvolvimento físico, podendo causar cegueira e

provocar morte. Conforme a afirmação do autor, “a água contaminada é a principal

16 O autor elenca a cólera, disenteria, febre tifoide, esquistossomose, ancilostomíase e tracoma como as principais doenças relacionadas à água.

2,5% doce

68,9% geleiras

29,9% águas subterrâneas

0,9% umidade do solo e

0,3% rios e lagos

13,7% Brasil 70% região amazônica

97,5% salgada

Page 65: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

52

causa de morte no mundo” e, além das doenças que provocam, sua ausência afeta a

dignidade humana e a qualidade de vida.

Mascaró (2008, p. 129), ao descrever a água como imprescindível para a

existência da vida, justifica que os assentamentos humanos sempre estiveram

associados a este recurso. A água é considerada um componente urbano, pois o seu

fornecimento e os métodos de conectá-la, armazená-la e distribuí-la, segundo Bustos

Romero (2007, p. 96), eram determinantes na localização dos assentamentos.

Hoje, sabe-se da necessidade de conservação da água. Gonçalves e Jordão

(2006, p. 17, 18) alertam sobre ações que resultam em economia de água, tanto sobre

os mananciais, com a criação de áreas de preservação, combate à poluição e ao

desmatamento, quanto nas redes de distribuição e nos edifícios. Essa conservação de

água compreende o seu uso racional e eficiente e o uso de fontes alternativas de

água. A primeira é conseguida com o reaproveitamento ou reuso da água. A segunda

consiste em evitar a utilização de fontes convencionais de suprimento, como

mananciais subterrâneos ou superficiais. Logo, é na escala dos edifícios,

principalmente das residências, que as opções despertam o maior interesse, tendo em

vista que, em áreas densamente urbanizadas, o consumo nesses ambientes chega a

50% do consumo total. Para complementar, segundo indicam Mascaró e Yoshinaga

(2005, p. 112), áreas urbanas, caracterizadas pelo clima seco, recuos com jardins e

ruas arborizadas, tendem a ter um alto consumo de água.

Em relação ao ciclo hidrologia (ou ciclo das águas), Speers e Mitchell (2000

apud GONÇALVES, ALVES e ZANELLA, 2006, p. 31) revelam uma verdade

interessante: “a intervenção humana no ciclo natural da água deu origem a um ciclo

menor, de natureza antrópica, que acontece dentro das cidades, denominado ciclo

urbano das águas”. Este ciclo é caracterizado pela rede de drenagem urbana, que,

segundo Mascaró e Yoshinaga (2005, p. 91), consiste na captação das águas de

chuva, sua circulação pelas galerias e, por fim, despejo num curso de água.

Enfim, como Mascaró (2008, p. 39,44, 58) afirma, a água pluvial divide-se

em dois fluxos, o que infiltra e o que escorre. Para o autor, é fundamental o mínimo

de declividade do terreno, lembrando que a água sempre procura o sentido com

maior declividade, cortando perpendicularmente as curvas de nível. A seguir, o

QUADRO 3 caracteriza as faixas de declividade em relação ao escoamento pluvial.

Page 66: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

53

QUADRO 3 – Características da declividade do terreno em relação ao escoamento das águas da chuva

DECLIVIDADE CARACTERÍSTICAS DO TERRENO < 0,5% A água da chuva não escoa.

0,5% a 1,9% Por serem declividades pequenas, só terão escoamento de água de chuva se pavimentadas ou adequadamente drenadas.

2% ou menos São locais que devem ser evitados, pois terão dificuldades de drenagem; podem ser utilizados se forem pavimentados, pelo menos parcialmente.

2% a 7% São ideais para qualquer uso; parecem planos, escoam bem.

8% a 15% São locais adequados, mas com certas restrições; na situação original podem servir para atividades que não precisem de construções; em caso contrário, devem ser feitos cortes e aterros para dotá-los de patamares.

16% a 30%

São locais que devem ser evitados; são necessárias obras especiais para sua utilização. Se forem úmidos, podem ser estabilizados com vegetação rasteira; a plantação de grama deve ter uma declividade de 30% ou menos, pois os cortadores de grama de grande produtividade têm sérios problemas para trabalhar a partir dessa declividade.

Mais de 30% São terrenos, em princípio, perigosos e precisam de obras especiais para sua estabilização.

Fonte: Adaptado de Mascaró (2008, p. 43-44).

Para reduzir a velocidade das águas pluviais e do vento em terrenos cuja

declividade é menor que 10%, Gouvêa (2002, p. 90) aconselha utilizar a sinuosidade

das vias associada à vegetação e a uma tipologia construtiva que funcione como

barreira. Com esta declividade não se deve expor os lotes residenciais e pode-se

optar pela implantação de praças ou elementos para absorver as águas da chuva o

máximo possível.

Segundo relatam Mascaró e Yoshinaga (2005, p. 92), esta questão de

permeabilidade pode e deve ser fruto de normas legais, como plano diretor ou código

de obras que limitem a taxa de ocupação dos terrenos urbanos. O autor ainda afirma

que a taxa de infiltração da água no solo é caracterizada pelo tipo de urbanização

(QUADRO 4).

QUADRO 4 – Taxas de infiltração das águas pluviais para diferentes tipos de ocupação, solo e pavimentação urbana

TIPO DE URBANIZAÇÃO TAXA DE

INFILTRAÇÃO Edificação muito densa, áreas urbanas centrais com pátios, ruas e calcadas. 2 a 10% Edificação medianamente densa, normalmente partes adjacentes ao centro, com jardins privados e ruas calçadas e arborizadas.

10 a 30%

Edificação pouco densa, com recuos de jardim, jardins interiores, ruas pavimentadas e calçadas parcialmente gramadas.

20 a 50%

Edificações de baixa densidade, tipo cidade jardim, grandes áreas gramadas, calçadas dominantemente gramadas, ruas pavimentadas.

40 a 70%

Subúrbios com edificação esparsa, lotes baldios, ruas sem pavimentação, praças com arborização, pouco impermeabilizadas.

50 a 80%

Parques, campos de esportes, reservas florestais urbanas. 70 a 98% Fonte: Mascaró e Yoshinaga (2005, p. 92)

Page 67: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

54

Gouvêa (2008, p. 165) e Roaf, Fuentes e Thomas (2009, p. 262, 263) relatam

sobre a necessidade de permitir uma drenagem natural, de modo a sobrecarregar o

menos possível às redes e absorvam eficazmente as águas que caem no solo,

diminuindo alagamentos. Não diferente, Edwards (2008, p. 35) sugere que as

superfícies duras sejam substituídas por tipologias que atuem como esponjas, ou seja,

tenham a capacidade de absorver a umidade, liberando-a gradualmente.

Keeler e Burke (2010, p. 19) e Gouvêa (2002, p. 91) recomendam, para as

ruas locais, praças e estacionamentos, revestimentos com materiais capazes de

permitir a infiltração das águas pluviais, como, por exemplo, blocos intertravados de

concreto pré-moldado, vazados ou não. Além de contribuir para a eficiência do ciclo

da água, esses componentes permitem acesso fácil para manutenções das redes

subterrâneas. Enfim, o ideal é impermeabilizar o menos possível, permitindo que as

águas penetrem no solo e recarreguem os aquíferos locais de maneira natural.

É possível observar, de acordo com Edwards (2008, p. 35), como os efeitos

da expansão urbana e da agricultura intensiva sobrecarregam a capacidade do solo de

absorver água das chuvas. Além disso, o aquecimento global torna as chuvas mais

intensas, concentradas e irregulares. Roaf, Crichton e Nicol (2009, p. 188)

confirmam o aumento das enchentes urbanas, à medida que as cidades se expandem,

substituindo as florestas e áreas permeáveis, por estradas, edifícios e

estacionamentos. Neste sentido, Mascaró e Yoshinaga (2005, p. 91, 113) indica a

criação de reservatórios a céu aberto, de forma a permitir o acúmulo de águas

pluviais por tempos maiores, antes de lançá-las em cursos de água. Ressalta-se ainda

que esse reservatório pode servir, diretamente, para a rega da vegetação urbana.

Keeler e Burke (2010, p. 25) acrescentam que essa água pode ser direcionada

também para o uso não potável nas edificações, conforme a Figura 11 a seguir.

Figura 11 – Esquema do sistema de coleta das águas pluviais no nível comunitário

Fonte: Keeler e Burke, 2010, p. 25

Page 68: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

55

2.1.2.2.4 Resíduos

Já foi relatado anteriormente, a busca pela sustentabilidade requer um

processamento cíclico dos recursos. Neste contexto, Edwards (2008, p. 104) reflete:

reduzir o consumo de água irá, consequentemente, reduzir as águas residuais e a

energia consumida no processamento do esgoto. A mesma ideia serve para o lixo,

quanto mais consciente for o consumo, menos resíduos sólidos serão depositados nos

aterros sanitários.

a) Esgotamento sanitário

Gouvêa (2002, p. 130) indica, para zonas residenciais com densidade menor

que 150 habitantes por hectare (hab./ha), a utilização de fossas sépticas ligadas a

sumidouros ou drenos e faixas sanitárias para plantio de pomar ou horta. Para zonas

de alta densidade, acima de 250hab./ha, Gouvêa (2008, p. 172) recomenda o sistema

de rede de esgoto. Mascaró (1991 apud GOUVÊA, 2002, p. 130-131) acrescenta que

o sistema de fossa possibilita um tratamento de 40 a 60% dos resíduos. Por este valor

ser superior ao tratamento da rede, permite que se utilize o sistema em conjunto com

as redes pluviais, evitando a duplicação de canalizações.

Mascaró e Yoshinaga (2005, p. 117, 123-124) lembram que as primeiras

redes de esgoto escoavam juntamente com as águas pluviais, porém essa mistura

dificultava o tratamento dos líquidos poluídos. Assim, surge o sistema separado, com

duas tubulações ou com tubulação dupla. Atualmente, os sistemas de esgoto urbanos

devem ser compostos pelas estações de tratamento de águas residuárias, que são

instalações destinadas a eliminar os elementos poluidores antes das águas serem

lançadas nos cursos d’água (receptores finais).

Os autores ainda definem as lagoas de estabilização como lagoas de diversos

tamanhos onde os efluentes ficam depositados e mantidos durante vários dias. Nestas

lagoas o processo ocorre pelo contato da água com o oxigênio do ar e com a ação dos

raios solares sobre ele. Este processo favorece a criação de algas microscópicas, que

ao exercerem a função fotossintética, incorporam oxigênio na água, resultando na

digestão dos esgotos.

Page 69: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

56

Outros sistemas sépticos naturais relatados por Roaf, Fuentes e Thomas

(2009, p. 270, 272) incluem filtros de areia e sistemas de desnitrificação com o uso

de plantas. Neste caso, as plantas exigem projetos apropriados e atenção ao longo de

suas vidas.

b) Lixo

Em relação ao lixo, Borba (2007, p. 18) apresenta a média nos grandes

centros urbanos: por dia é produzido 1 kg de lixo por pessoa. Para o Brasil, Mascaró

(2008, p. 24) afirma que se produz mais de 200.000 toneladas de lixo/dia. Destes,

apenas 3% são destinados a compostagem e 1% a reciclagem. Dias (2002 apud

COELHO-DE-SOUZA, SCUSSEL E SATTLER, 2009, p. 6) acrescenta a seguinte

estimativa: para 3 kg de lixo são produzidos 1 kg de CO2.

Gouvêa (2008, p. 182) vê o lixo como um dos principais problemas das

cidades, especialmente nas metrópoles. Não diferente, Rogers (2008, p. 50) acredita

que o lixo produzido pelo homem, tão rico em nutrientes, é um veneno quando

despejado no meio ambiente. Os aterros sanitários são fontes que liberam substâncias

nocivas e tóxicas nos lençóis freáticos, solo e terras agrícolas do entorno. E quando

ateado fogo, afetam a qualidade do ar das comunidades próximas e da atmosfera

como um todo (transmigração17) (KEELER; BURKE, 2010, p. 282).

Rogers (2008, p. 50) e Gouvêa (2008, p. 182) creem que o lixo urbano

deveria ser analisado como um recurso, podendo ser aproveitado de diversas formas:

ao ser convenientemente tratado, o lixo pode, em médio prazo, tornar-se uma solução

e alternativa para a geração de empregos e energia; tem-se, ainda, a reciclagem direta

e a produção de gás metano (biogás) ou fertilizantes.

Keeler e Burke (2010, p. 286) apresentam o conceito de gestão integrada do

lixo, combinando diferentes técnicas de gestão de resíduos: redução das fontes

(prevenção de lixo), compostagem, incineração, reciclagem (reuso,

reaproveitamento) e, por fim, aterros sanitários.

17 Transmigração é a capacidade das substâncias químicas de ultrapassar as fronteiras geográficas definidas pelo homem (KEELER; BURKE, 2010, p. 282).

Page 70: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

57

2.1.2.2.5 Arborização urbana

Santos (2006) define arborização pública como “toda vegetação localizada

em vias e logradouros públicos, com finalidade ornamental, amenizadora climática,

purificadora do ar, amortizadora da poluição sonora e atrativa para a fauna local”.

Historicamente, o europeu, o grande colonizador do Brasil, segundo Gouvêa

(2008, 188), não tinha convivência com florestas, como a Mata Atlântica brasileira.

Razão pela qual se criou um grande conflito entre a selva e civilização. A selva,

formada pela densa vegetação com alta umidade, abundância de insetos e animais

peçonhentos e abrigo do ‘homem selvagem’, era vista pelo colonizador como um

inimigo a ser destruído. Gouvêa (2002, p. 16, 19) afirma que o europeu se assustou

com o seu gigantismo, com ação dos insetos e animais e com os ataques dos índios.

Além disso, a sua derrubada era significado de desenvolvimento, de civilização.

Apenas no século XVIII iniciaram-se, timidamente, programas de arborização

à moda europeia, onde foi introduzido o jardim frontal e lateral caracterizado por

vegetação miúda, com flores e em canteiros, e tentavam substituir as árvores

frutíferas dos quintais brasileiros. Gouvêa (2008, p. 189) indica que somente no

século XX a utilização da vegetação foi direcionada para as questões de conforto

térmico e acústico. Até então, seguia o modelo europeu, onde a vegetação era

inserida tendo em vista o clima frio, ao invés de atender a necessidade básica dos

trópicos que seria barrar o sol.

Hoje, a árvore, segundo Mascaró e Mascaró (2006, p. 141), é a forma vegetal

característica da paisagem urbana e incorporou uma estreita relação com a

arquitetura. Não é apenas um objeto na composição paisagística e, sim, um ser vivo

que contribui para uma melhoria da ambiência urbana, reduz o consumo energético e

controla a poluição do ar. Também afirmando ser a vegetação um elemento vivo,

Mascaró (2008, p. 16) a trata como um material plástico, pois evolui de forma e cor

ao longo das estações e dos anos.

Para a região dos trópicos, Gouvêa (2008, p. 189) e Mascaró e Mascaró

(2006, p. 141) relatam a importância da vegetação como instrumento de conforto

ambiental de modo a amenizar o clima urbano. Bustos Romero (2007, p. 94)

caracteriza a vegetação pela sua menor capacidade calorífica e condutibilidade

Page 71: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

58

térmica se comparada com os materiais dos edifícios. A radiação solar é, na sua

maioria, absorvida pelas folhas, filtros naturais de poeira e poluição, e apresenta

pouca reflexão (albedo18 baixo). Pode-se acrescentar a alta taxa de evaporação nas

áreas verdes e sua capacidade de reduzir a velocidade dos ventos. Sobre a capacidade

de filtragem da vegetação, como afirma a autora, ela aumenta em relação ao número

de folhas por área. Assim a ordem de maior filtragem é definida pelo seu porte, ou

seja, segue a sequência árvore, arbusto e vegetação rasteira. Lengen (2009, p. 136-

137) estima que uma árvore de 25 m de altura purifica o ar para 10 pessoas. Outros

dados apresentados pelo autor são: em um parque têm-se 1.000 vezes menos

partículas de poeira do que em uma área densamente urbanizada (Figura 12); em ruas

arborizadas têm-se 5 vezes menos poeira do que em ruas sem arborização (Figura

13).

Figura 12 – Esquema de purificação do ar de um bosque

em relação a uma área densamente urbanizada Fonte: Lengen, 2009, p. 136

Figura 13 – Esquema de purificação do ar de uma rua arborizada

em relação a uma rua sem arborização Fonte: Lengen, 2009, p. 136

Sobre o albedo, Girardi (2010, p. 35) acrescenta um comparativo onde a

vegetação tem um albedo na mesma faixa que o concreto, porém as plantas têm a

18 Albedo é a razão entre a quantidade de luz que é difundida ou refletida por uma superfície e a quantidade de luz incidente sobre a mesma. Quanto menor for o albedo, maior será a absorção do calor e sua permanência no ambiente.

Page 72: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

59

capacidade de transformar essa energia em calor latente e o utilizam na fotossíntese,

enquanto o concreto o libera para o ambiente. Abaixo segue a TABELA 1 com os

valores de albedo de alguns materiais da superfície das construções.

TABELA 1 – Valores de albedo de alguns materiais superficiais das construções

MATERIAL VALORES DE

ALBEDO MATERIAL

VALORES DE ALBEDO

Tinta branca 0,50 a 0,90 Grama 0,25 a 0,30 Telha cerâmica

vermelha 0,53 Concreto 0,10 a 0,35

Telha de fibrocimento 0,34 Árvores 0,15 a 0,18 Tijolo 0,20 a 0,40 Asfalto 0,05 a 0,20

Tinta colorida 0,15 a 0,35 Fonte: Girardi (2010, p. 35)

Rogers (2008, p. 50) também delineia sobre as funções da vegetação de

minimizar os níveis de ruído, filtrar a poluição, absorver CO2, produzir oxigênio,

absorver e diminuir a velocidade do escoamento das águas pluviais, reduzir o calor

das áreas urbanas e, consequentemente, a necessidade do condicionamento do ar de

forma artificial. É possível ainda trazer à tona o seu importante papel na variedade de

vida silvestre e no psicológico dos habitantes. Este último, também comentado por

Gouvêa (2002, p. 84) como um fator psicológico de segurança e de estímulo ao

encontro social nas áreas urbanas. Neste mesmo sentido, Gouvêa (2008, p. 85) define

as praças como locais de encontro e lazer. No mais, a vegetação é capaz de reduzir,

os níveis de estresse dos ambientes de trabalho estéreis e promover a interação social

e o sentido de comunidade das edificações comerciais (EDWARDS, 2008, p. 178-

179).

Em relação a sua capacidade de extrair contaminantes do ar, Keeler e Burke

(2010, p. 103) acrescentam o uso da vegetação nos ambientes internos com essa

finalidade. Os autores apresentam um estudo onde sete espécies vegetais foram

inseridas no local de estudo e concluíram que o benzeno19 foi removido do ar em

quantidades variáveis.

Outros aspectos, não menos importantes, são, segundo Mascaró e Mascaró

(2006, p. 142), a função embelezadora, de ponto de atração e de marco visual urbano.

19 Benzeno é um composto orgânico volátil (VOC), que contribui para a poluição atmosférica e afeta a saúde dos trabalhadores.

Page 73: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

60

Não suficiente, também servem de fonte de alimentos e remédios para a população

carente. Esta função, para Gouvêa (2002, p. 108), representa um traço cultural

importante e que deve ser estimulado com, por exemplo, o plantio de hortas e

pomares comunitários e/ou individuais.

Sobre o conforto acústico, Gouvêa (2008, p. 193) indica que associar

vegetação a barreiras de terra minimizam os ruídos urbanos. Como relatam Niemeyer

e Slama (1998 apud GOUVÊA, 2008, p. 121), os ruídos mais agudos decorrentes do

sistema viário podem ser minimizados ao serem criadas barreiras vegetais e de terra

com cerca de 1 m a 1,5 m de altura (Figura 14). Bustos Romero (2007, p. 61) afirma

que a vegetação interfere na intensidade do som devido a sua capacidade de absorção

e dispersão quando o som se encontra em sua trajetória. Assim, árvores ao longo das

ruas não reduzem o nível de ruído, e, sim, o tempo de permanência do ruído. Esta

característica de mitigar o ruído cria, segundo Valques (2007, p. 1940), um “oásis de

sossego no caos sonoro urbano”.

Figura 14 – Barreiras acústicas

Fonte: Gouvêa, 2008, p. 120

Da mesma forma, Gouvêa (2008, p. 188, 190) elenca as qualidades da

vegetação, sobretudo a arbórea: aumento da umidade relativa do ar, redução da

temperatura, poeira e dos efeitos da erosão e incentivo ao encontro das pessoas. O

autor afirma que a vegetação “se constitui, na maioria das regiões do planeta, num

dos poucos conceitos humanos universais de qualidade urbana”. No que trata de

evitar os danos decorrentes da erosão, como descreve Gouvêa (2002, p. 41), a

cobertura vegetal do tipo cerrado, pelo seu aspecto agreste – com formas retorcidas e

troncos ásperos – é fundamental para a proteção dos solos, principalmente nos sítios

mais acidentados.

Page 74: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

61

Dentre as funções da arborização, Pattini, Córica e Mascaró (2006, p. 88)

destacam que a principal é o sombreamento, particularmente nas estações quentes

dos climas tropical e subtropical úmido. Tal função é possibilitada pelo baixo valor

do albedo, pela energia gasta nos processos fisiológicos e pela quantidade produzida

de vapor d’água. O sombreamento da vegetação é mais significativo quando as

árvores se igualam à altura dos edifícios, reduzindo a importância da sua geometria e

orientação no recinto urbano. Esta questão também é abordada por Mascaró e

Mascaró (2006, p. 141), que ainda destacam a altura da árvore como fator capaz de

aumentar a sua capacidade térmica e, por conseguinte, aumentar a inércia térmica e

provocar queda nas variações de temperatura do dia.

Além do sombreamento, Edwards (2008, p. 6, 180) considera que o plantio de

árvores junto aos edifícios direciona as correntes naturais de ar contribuindo para a

ventilação natural dos ambientes internos das edificações. O autor faz um

comparativo entre os sistemas naturais de refrigeração e os de ar-condicionado: o

primeiro produz uma redução de 50% das emissões de CO2, 20% dos custos de

construção (instalações específicas) e de 5% a 7% dos custos de manutenção das

edificações. Mascaró e Mascaró (2006, p. 149) estimam em 25% a poupança

energética ao se comparar edificações residenciais localizadas em áreas com e sem

vegetação.

Quanto aos aspectos econômicos (eficiência energética) e ambientais, os

autores explicam que as áreas gramadas são vistas como grandes consumidoras de

água e combustível, este último devido à necessidade de manutenção de corte. No

mais, não protegem as fachadas, nem os usuários, nem os automóveis dos espaços

públicos. Todavia, vale destacar a opinião de Mascaró (2008, p. 46) e Gouvêa (2002,

p. 61, 101) que apresentam a grama como um elemento vegetal de muita importância

na estabilização de taludes, dificultando a erosão do solo. Os estudos deste último

autor afirmam: “áreas gramadas, em razão das múltiplas sombras de sua ramagem,

têm melhor desempenho que os demais pisos”.

Mesmo com aspectos positivos tão importantes para as áreas urbanas e

edificadas, a vegetação, segundo Mascaró e Mascaró (2006, p. 142, 151), provocam

alguns inconvenientes. E a maioria destes são resultados da falta de harmonia entre

os projetos de arborização e os de infraestrutura. As redes aéreas (eletricidade,

Page 75: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

62

telefone, TV) prejudicam, por vezes, as copas das árvores, devido à necessidade de

podas drásticas; já as redes subterrâneas (água, esgoto, drenagem, gás) e os

pavimentos (calçadas e edificações) podem sofrer interferências por causa das raízes.

Gouvêa (2002, p. 95) acrescenta que associar espécies arbóreas, de folhagem grande

e caduca20 ou de folhagem pequena, facilita o entupimento das redes e calhas

destinadas a águas pluviais e ao sistema de esgotamento sanitário.

Enfim, são falhas técnicas, ora pela implantação de espécies inadequadas a

determinados locais urbanos e climas, ora pela falta de manutenção. É necessário

então, o planejamento dos espaços vegetados ou a serem arborizados em relação à

infraestrutura existente e prevista, fato este que evita transtornos e manutenções

onerosas. É imprescindível conhecer a região de origem da espécie, de modo a

selecioná-la adequadamente às características do clima para que sua adaptabilidade

seja mais fácil (GOUVÊA, 2008, p. 188, 199). A preferência por espécies da flora

local proporciona maior equilíbrio ecológico e possibilita uma conservação natural e,

consequentemente, reduz custos de manutenção (GOUVÊA, 2002, p. 96, 108).

Uma solução apresentada por Mascaró e Mascaró (2006, p. 163) é utilizar

espécies de grande porte na arborização dos canteiros centrais, onde não serão

necessárias podas para contenção do crescimento. Para Gouvêa (2002, p. 93, 97) esta

solução auxilia na redução da temperatura do pavimento da via. Estudos realizados

no Distrito Federal, apresentados pelo autor, encontraram diferenças de 20ºC nos

pisos na sombra para os pisos no sol.

Sabendo da importância da vegetação, Gouvêa (2008, p. 122, 129) prevê a

necessidade de arborização nas calçadas, tendo em vista a formação de caminhos à

sombra, que protejam o pedestre, induzam o encontro das pessoas, e atentem para o

tráfego de veículos e para os estacionamentos. Sobre os estacionamentos, o autor vê

a possibilidade de torná-los bosques urbanos, ou seja, “pulmões verdes nas áreas

contíguas à malha viária”. Não diferente, Rogers (2008, p. 135) vê a arborização

“marcando e criando ‘percursos verdes’ para pedestres e ciclistas”.

Para as calçadas e estacionamentos, Gouvêa (2002, p. 43, 93, 108) sugere

especificar as espécies de acordo com a orientação solar, protegendo o lado que

20 Folhagem caduca é aquela que cai intensamente num determinado período do ano.

Page 76: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

63

recebe o Sol mais quente. Aqui no hemisfério sul é a orientação norte e oeste. O

autor especifica árvores de folhagem densa e perene como ideais. E as árvores com

frutos ou que liberem seiva, resina e similares devem ser evitadas, de modo a

prevenir acidentes, prejuízos materiais e sujeiras nas ruas.

Outro problema apresentado trata da falta de diversificação das espécies, o

que acarreta em uma paisagem homogênea e monótona. Devem-se explorar diversas

espécies, preferencialmente as nativas ou aquelas já adaptadas ao clima da região, e

também o formato das copas: colunares, triangulares, globulares.

Deve-se ater que a vegetação pode significar uma obstrução visual em

determinados níveis e direções. Em relação a custos estima-se que o sistema de

arborização urbana é um dos mais caros e só perde para os custos do sistema viário

(MASCARÓ; MASCARÓ, 2006, p. 149, 162).

Cabe frisar que as alterações climáticas, segundo Roaf, Crichton e Nicol

(2009, p. 118), estão provocando o desaparecimento de diversas espécies da flora e

fauna. E este é um contexto que deve ser observado ao implantar áreas verdes de

modo a tentar evitar esse quadro devastador. Para Gouvêa (2008, p. 38) é

interessante separar as áreas urbanas por parques, gerando menores impactos sociais,

ambientais e econômicos. Estas áreas verdes serviriam para colorir, com as folhas e

flores da vegetação, e musicar, com pássaros, naturalmente, a cidade.

Gouvêa (2002, p. 111) sugere, com o intuito de elevar os índices de umidade

relativa em regiões de clima tropical, entremear áreas urbanizadas, principalmente

aquelas de alta e média densidade, com zonas verdes e massas d’água. Conforme

recomendação do autor, a distância entre essas zonas não deve ser superior a 1.500m.

Mascaró e Yoshinaga (2005, p. 179, 181) também destacam a importância de

subdividir as áreas verdes em pequenas áreas espalhadas pela malha urbana. Além

das vantagens ambientais, as distâncias sendo menores, possibilita maior frequência

de uso. No entanto, os autores ressaltam que até o tamanho de um quarteirão, “o

custo da área verde por unidade de superfície aumenta na medida em que seu

tamanho diminui”. Deste modo, a alternativa mais econômica para grandes áreas

verdes é margear as cidades em seus limites, ou seja, manter a área urbanizada

apenas de um lado dos parques, por exemplo.

Page 77: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

64

2.1.3 Materiais de construção

Os materiais utilizados na construção civil, segundo Edwards (2008, p. 124,

128, 137-138), exercem um grande impacto no meio ambiente, ao se considerar as

suas cinco fases: extração, processamento, transporte, uso e eliminação. Afetam o

clima, a biodiversidade e a saúde das pessoas, em âmbito global, regional e

individual e representam, aproximadamente, a metade de todos os recursos

consumidos no mundo.

Os projetos de edificações devem contribuir para a redução dos resíduos.

Além de projetar edifícios flexíveis, capazes de abrigar diferentes funções durante

sua vida útil, devem ser projetados edifícios fáceis de desmontar, com materiais que

não precisem ser processados no local e sejam reutilizados ou reciclados.

Sobre as edificações voltadas a funções específicas, estas rapidamente se

entravam devido às correntes transformações sociais e tecnológicas. Seja porque as

necessidades sociais e econômicas acabaram, seja porque as tecnologias usadas se

tornaram obsoletas, estes edifícios tendem a ser demolidos, aumentando a busca por

recursos, poluição e resíduos. A reutilização de todo o edifício ou a reciclagem de

suas partes são ações preferíveis à demolição. Segundo Gouvêa (2002, p. 155),

“adotar soluções arquitetônicas que possibilitem a reutilização/reciclagem de

elementos e materiais construtivos, gerando com isso menores gastos de energia e

trabalhando na construção de uma arquitetura sustentada”. Para Roaf, Fuentes e

Thomas (2009, p. 61), só é interessante reciclar ou reformar um edifício se for

possível realizar com facilidade, sem muito dispêndio de energia, se forem

melhoradas termicamente suas condições e se essa reciclagem não for repetida

frequentemente.

Antes de se preocupar com a reutilização e reciclagem de materiais, é

imprescindível a sua redução. Em vez do consumo desenfreado, “a sociedade deve

reduzir a demanda de recursos não renováveis, como os combustíveis fósseis, a água,

os minerais, o solo agrícola e os depósitos geológicos” (EDWARDS, 2008, p. 137).

Em concordância, Mülfarth (2002, 49) analisa que a reciclagem é uma alternativa à

escassez de matéria-prima, mas ainda são necessárias outras formas de redução do

uso de recursos naturais.

Page 78: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

65

Segundo Edwards (2008, p. 126, 138-139), reutilização é a recuperação dos

elementos construtivos de uma edificação para sua utilização em outras, o material

ganha uma nova vida sem a necessidade de um novo processo fabril. Já a reciclagem

consiste na recuperação de partes úteis de um material extraído e reprocessado. Neste

caso, a reciclagem consome energia nos processos de transformação, mas, para o

autor, é preferível à perda do material. Também é possível, de acordo com Keeler e

Burke (2010, p. 293), utilizar estratégias de projeto que incluam o conceito de

desmontagem, isto é, o orientado para a desconstrução (Figura 15).

Figura 15 – Sistema fechado da desconstrução e desmontagem

Fonte: Keeler e Burke, 2010, p. 294.

Outro problema relacionado com os materiais construtivos é a sua relação

com a má qualidade interna dos ambientes. Os compostos orgânicos voláteis

(Volatile Organic Compounds – VOC) são

qualquer composto orgânico que participa de reações fotoquímicas na atmosfera, que contribuem para a poluição atmosférica, afetando a saúde do trabalhador durante a fase de construção do edifício, como também reduzindo a qualidade do ar presente no interior do edifício, prejudicando a saúde dos usuários (SATTLER; PEREIRA, 2006, p. 9).

Page 79: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

66

Roaf, Fuentes e Thomas (2009, p. 171-172) elencam alguns materiais

utilizados na construção civil, onde são encontrados os VOC: carpetes, forros,

adesivos, vedantes, isolantes térmicos, tintas, revestimentos, vernizes, pisos vinílicos,

madeira compensada, papel de parede, emulsões betuminosas e membranas de

impermeabilização. No caso do ambiente interno, à medida que o clima fica mais

quente, aumentam-se as taxas de VOC, causando desconforto pelo seu cheiro e riscos

à saúde iniciando os sintomas da síndrome do edifício doente. Edwards (2008, p.146)

apresenta dados comparativos entre o interior dos edifícios e o exterior: o interior

costuma conter 10 vezes mais VOC que o ambiente externo. O autor também cita as

alergias e a síndrome do edifício doente como danos causados por esses poluentes.

Outros gases sintetizados pelo homem são os clorofluorcarbonetos (CFC) e o

hidroclorofluorcarbonos (HCFC) (ROAF, FUENTES e THOMAS, 2009, p. 152;

EDWARDS, 2008, p. 148). Além de prejudicarem a saúde do homem, atingem a

saúde do planeta, pois são responsáveis pela destruição da camada de ozônio. Estes

compostos estão presentes em equipamentos de refrigeração, nos isolantes, aerossóis

e extintores de incêndio. Uemoto, Ikematsu e Agopyan (2006, p. 60) apresentam as

tintas e os produtos usados durante a pintura, com base solvente, como tinta a óleo e

o esmalte sintético, como grandes emissores de hidrocarbonetos na atmosfera.

Para Bustos Romero (2007, p. 84), o comportamento do material ao conduzir

o calor é uma de suas características mais importantes. A questão da inércia térmica

refere-se à capacidade do material de conservar e liberar calor. Os materiais mais

densos e geralmente com maior peso apresentam grandes diferenças de tempo entre a

temperatura exterior e interior, são, segundo a autora, como baterias térmicas.

Não bastassem os problemas ao ambiente interno decorrentes dos materiais

construtivos, suas características podem afetar o meio externo. Roaf, Crichton e

Nicol (2009, p. 256) afirmam que a refletância da luz e do calor, derivadas dos

acabamentos metálicos e vidro, causam problemas aos motoristas, pedestres e

edificações adjacentes. Bustos Romero (2007, p. 83) acrescenta: “materiais que

refletem a radiação em vez de absorvê-la e rapidamente devolvem ao exterior a que

não foi absorvida permite manter temperaturas baixas dentro do edifício”. Entretanto,

este material é pouco benéfico para o espaço exterior, tendo em vista o aumento das

emissões de calor nesse ambiente.

Page 80: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

67

Em síntese, Mülfarth (2002, p. 112) e Roaf, Fuentes e Thomas (2009, p. 58)

creem que os aspectos ambientais devem ser avaliados em conjunto com os aspectos

estéticos e econômicos no processo de escolha de determinado material. Estes

critérios ambientais estão relacionados com o seu impacto e energia embutida nos

processos de extração, transporte, utilização e demolição, seu potencial de

reciclagem ou reuso e sua toxidade para o homem e meio ambiente (poluição e danos

ao patrimônio paisagístico, ecológico e cultural). Para John e Sato (2006, p. 22, 24-

25), a degradação dos materiais e componentes atinge também as questões

econômicas quando exige dispendiosas atividades de manutenção e limita a vida

útil21 dos edifícios. Rogers (2008, p. 154) acrescenta a necessidade de alterar a atual

prática mercadológica em que os preços são fixados pelo custo de produção, sem

avaliar os impactos decorrentes.

Para Edwards (2008, p. 124), não existe uma metodologia específica para

orientar as especificações de materiais construtivos. Utiliza-se, muitas vezes, o

conceito de energia incorporada, porém esta energia vinculada aos materiais

utilizados em uma edificação representa, ao longo de toda vida útil, apenas 10% de

toda energia consumida.

Este conceito de energia incorporada é calculado, segundo Roaf, Fuentes e

Thomas (2009, p. 60), considerando todos os processos pelo qual passou o material:

“extração de materiais brutos, transporte, processamento, fabricação, transporte ao

sítio e a energia usada in loco para instalar o produto”. Edwards (2008, p. 125)

acredita que este conceito ressalta o alto custo energético dos materiais pesados e

volumosos, como pedra, areia, brita, tijolos e cimento, e o processamento fabril dos

materiais leves, como o alumínio e PVC. Deste modo, o ideal é a aquisição dos

materiais mais pesados nas proximidades da obra, reduzindo gastos energéticos

relacionados com o transporte e o impacto ambiental devido o ruído e poluição. No

mais, ajuda a “revitalizar técnicas de construção tradicionais e locais, e criar emprego

para a população local, fazendo com que a comunidade se envolva com o

empreendimento”. Assim também é o pensamento de Gouvêa (2008, p. 153) tanto

21 Vida útil pode ser entendida como uma quantificação da durabilidade, da variação do desempenho ao longo do tempo (JOHN; SATO, 2006, p. 22, 24-25).

Page 81: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

68

em relação aos materiais locais, quanto às técnicas populares de construção. Além

disso, há a necessidade de aplicar os novos conhecimentos tecnológicos para

aperfeiçoar o processo e as técnicas construtivas mais antigas.

Mülfarth (2002, p. 131) acredita que o transporte é o item de maior peso

nessa avaliação energética. Roaf, Fuentes e Thomas (2009, p. 62) concordam ao

afirmar que “quanto mais longe um material estiver, maior será a energia utilizada no

seu transporte” e o peso do material tem grande influência nesse quantitativo

energético.

Sobre os materiais leves, Edwards (2008, p. 125) apresenta o problema

energético relacionado ao processo de fabricação. No entanto, é importante

considerar: “uma vez que a energia permitiu que o processo de fabricação se

desenvolvesse, a sociedade passa a dispor de uma reserva de recursos materiais que

pode ser usada, reusada ou reciclada”. Roaf, Fuentes e Thomas (2009, p. 61) são

claros ao afirmarem que quanto maior o número de processos maior será a energia

incorporada e a quantidade de resíduos associados.

Para Edwards (2008, p. 124-125), três princípios derivam do conceito de

energia incorporada: utilização de fontes locais, principalmente materiais pesados,

utilização de fontes globais para materiais leves e o potencial de reciclagem. Gouvêa

(2008, p. 153) acrescenta a energia utilizada nos sistemas construtivos relacionada

com sua implantação e manutenção no edifício.

Outra forma de avaliar os materiais de construção denomina-se análise do

ciclo de vida (ACV). Para Roaf, Fuentes e Thomas (2009, p. 64), é uma abordagem

do berço ao túmulo, ou seja, é avaliado o impacto total de qualquer edificação,

material ou sistema construtivo – quanto mais tempo durar, menor será o impacto de

energia e poluição resultante da fabricação de seus materiais. De acordo com

Edwards (2008, p. 91) este conceito de ACV tem como base os recursos consumidos

e gerados.

As NBR ISO 14040 e 14044 tratam da gestão ambiental por meio da ACV,

com seus princípios e estrutura, e requisitos e orientações, respectivamente. Para

Soares, Souza e Pereira (2006, p.98), a ACV é uma ferramenta para análise e escolha

de alternativas, sob uma perspectiva puramente ambiental, que considera as etapas de

extração da matéria-prima, transporte, fabricação, uso e descarte (Figura 16). Permite

Page 82: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

69

uma avaliação da situação e facilita mudanças, resultando em melhoria das questões

ambientais.

Figura 16 – Etapas do ciclo de vida de um produto

Fonte: Ciraig, 2008 apud Miyazato e Oliveira, 2009, p. 2

Mülfarth (2002, p. 118-122) divide o ciclo de vida de um material construtivo

em apenas três fases: fabricação, utilização e pós-utilização. A fabricação engloba as

etapas de extração de matéria-prima, o transporte ao local de fabricação, o processo

fabril, a embalagem, a entrega na obra e a sua instalação. Esta fase de fabricação

sempre apresenta algum impacto ao meio ambiente, e as consequências mais

evidentes são a extinção de espécies (animais e/ou vegetais), erosão do solo e

poluição da água e do ar. A autora sugere alguns parâmetros a serem avaliados

visando a questão ambiental e a sustentabilidade, são eles: “redução das perdas,

prevenção da poluição, componentes recicláveis, redução da energia embutida,

materiais naturais e embalagem”.

A fase da utilização relaciona-se com o uso do material construtivo e a vida

útil da edificação. Inicia-se na construção e considera-se a etapa de manutenção.

Aqui, os parâmetros sugeridos para serem avaliados são: “eficiência energética,

conservação/tratamento de água, materiais construtivos com baixo grau de toxidade,

sistemas com energias renováveis, vida útil do material, redução das perdas”. Já a

Page 83: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

70

fase de pós-utilização, ao fim da vida útil da edificação, apresenta como parâmetros

de avaliação a biodegrabilidade, reciclabilidade e reutilização dos materiais inerentes

à construção.

Para Caldeira-Pires (2005 apud MIYAZATO e OLIVEIRA, 2009, p. 3), a

ACV é capaz de mudar as tecnologias fundamentais na produção, tendo em vista o

seu efeito multiplicador ao longo da cadeia produtiva, com a otimização de energia e

materiais por meio de processos de reciclagem e reuso.

Edwards (2008, p., 157) evidencia bem a importância da mão-de-obra e

tecnologia construtiva local, ao afirmar que não é suficiente especificar ‘produtos

verdes’, é necessário adotar técnicas construtivas menos impactantes ao meio

ambiente. Também é imprescindível, de acordo com Keeler e Burke (2010, p. 183),

se atentar ao marketing que oculta às implicações ambientais negativas dos produtos,

por meio de uma supervalorização de atributos ambientais irrisórios.

De forma geral, Roaf, Fuentes e Thomas (2009, p. 69, 77, 84, 118) elencam

alguns critérios para a escolha do material construtivo: materiais locais e com o

mínimo de processamento; materiais duráveis e adequados ao uso; materiais naturais;

materiais não tóxicos em preferência àqueles quimicamente tratados; materiais

facilmente recicláveis.

2.1.4 Sistemas de Avaliação

Enfaticamente, Roaf, Crichton e Nicol (2009, p. 333) veem a necessidade de

normativos rigorosos para assegurar a qualidade do ar, solo e água, reduzir a

produção de lixo e o consumo de água e energia. Edwards (2008, p. 96) acredita que

ferramentas de avalição são necessárias para os projetistas e devem ser baseadas em

princípios e valores facilmente compreensíveis.

Keeler e Burke (2010, p. 256) creem que esses sistemas de categorização,

certificação ou selo ecológico proporcionam uma escala de avaliação das estratégias

sustentáveis de uma edificação em comparação com os edifícios convencionais. Os

autores também apresentam a opinião de críticos, que veem estes sistemas como

listas de conferência incapazes de avaliar verdadeiramente o sucesso holístico do

projeto.

Page 84: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

71

Brito, Vittorino e Akutsu (2008, p. 72) afirmam que a partir da década de

1990 muitos países “desenvolveram mecanismos para a avalição do desempenho

ambiental de edifícios por meio de processo de certificação voluntária”. Ximenes

(2009, p. 5) crê que esta consciência ecológica se fortaleceu com os princípios

divulgados pela Agenda 21. Assim, nasceram, nos países europeus, EUA, Canadá,

Austrália e Japão, as primeiras certificações de avaliação ambiental aplicadas a

projetos arquitetônicos. Em consequência, surge também a necessidade de avaliar a

qualidade ambiental do ambiente urbano.

Neumann e Sattler (2009, p. 3) elencam no QUADRO 5 os principais

métodos de avaliação existentes voltados às edificações. Cada método apresenta, na

sua maioria, subsistemas para edificações específicas como edifícios hospitalares,

escolares, hoteleiros, habitacionais, entre outros.

QUADRO 5 – Principais métodos de avaliação e certificação ambiental de edifícios e seu país de origem

PAÍS MÉTODO DE AVALIAÇÃO E CERTIFICAÇÃO

Reino Unido BREEAM – Building Research Establishment Environmental Assessment Method

EUA LEED – Leadership in Energy and Environmental Design Green Building França HQE – Association por la Haute Qualité Environnementale Japão CASBEE – Comprehensive Assessment System for Building

Fonte: Neumann e Sattler (2009, p. 3)

Os autores os caracterizam por apresentarem aspectos conceituais em comum

e de acordo com os principais problemas ambientais locais. Estes aspectos em

comum, na visão de Brito, Vittorino e Akutsu (2008, p. 72), são os seguintes:

impactos do empreendimento no meio urbano, materiais e resíduos, uso racional da

água, energia e emissões atmosféricas, conforto e salubridade do ambiente interno. O

QUADRO 6 é composto pela apresentação das principais sistemáticas internacionais

apresentadas pelos autores.

QUADRO 6 – Apresentação da sistemática dos principais métodos de avaliação e certificação ambiental de edifícios

MÉTODO APLICAÇÃO CATEGORIAS AVALIAÇÃO

BREEAM Atendimento de itens

obrigatórios e classificatórios

Saúde, poluição, conforto, uso de energia, uso de água,

uso de materiais, uso do solo, ecologia local,

transporte.

Pontuação total obtida e classificação em vários

níveis.

Page 85: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

72

MÉTODO APLICAÇÃO CATEGORIAS AVALIAÇÃO

LEED Atendimento de itens

obrigatórios e classificatórios

Sítios sustentáveis, energia e atmosfera, uso eficiente da água, materiais e recursos,

qualidade do ambiente interno, inovação e processo

de projeto.

Pontuação obtida e classificação em 4 níveis.

HQE Atendimento do perfil

ambiental.

Impactos no meio ambiente, gestão de recursos, conforto

e saúde do usuário.

Não há classificação. A certificação é obtida a

partir do atendimento ao perfil de desempenho ambiental escolhido.

CASBEE Verificação do

atendimento aos itens.

Ambiente interno, qualidade dos serviços, ambiente

externo (dentro e fora do terreno), energia, recursos e

materiais.

Pontuação ponderada e classificação em 5 níveis.

Fonte: Brito, Vittorino e Akutsu (2008, p. 72),

Sobre áreas urbanas, entre 2001 a 2004 foi desenvolvido, na França, o

HQE2R – Alta Qualidade Ambiental em Economia e Renovação, um projeto de

qualidade ambiental para áreas necessitadas de renovação urbana. No Reino Unido,

em 2002, o BRE – Building Research Establishment cria, em parceira com SEEDA –

South East England Development Agency, um guia para planejamento urbano, com

uma lista de requisitos socioambientais para serem aplicados em novos

empreendimentos urbanos. Em 2003, nos EUA, a USGBC – United States Green

Building Council se expande e passa a avaliar e certificar o desenvolvimento de

loteamentos com o LEED for Neighborhood Development (LEED-ND) – Liderança

em Energia e Design Ambiental para o Desenvolvimento do Bairro (XIMENES,

2009, p. 5).

De acordo com o BRE Global (2009, p. 9), o BREEAM Communities é

dividido em 8 categorias. São elas: Clima e energia, Recursos, Transporte, Ecologia,

Atividades Comerciais, Comunidade, Formação do Lugar e Edifícios. E a estrutura

do LEED-ND está organizada, segundo USGBC (2009, p. 9-10), em quatro grandes

temas: Locação Inteligente e Integração, Tipologia do Assentamento e Desenho,

Infraestrutura e Edifícios Verdes e Inovação e Processo de Projeto.

É interessante salientar a opinião de Negreiros (2009, p. 134) sobre os

métodos criados e difundidos internacionalmente. Estes provêm de países

desenvolvidos, e sua aplicabilidade em países em desenvolvimento, como o Brasil,

apresenta contrapontos oriundos das características políticas, econômicas e sociais.

Page 86: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

73

Aqui no Brasil, alguns certificados internacionais estão sendo adaptados à

realidade do país. Um exemplo apresentado por Coelho (2010, p. 36) é o Processo

AQUA (Alta Qualidade Ambiental), implantado pela Fundação Vanzolini e baseado

na certificação francesa HQE. O LEED também é aplicado com frequência em

empreendimentos brasileiros, seguindo as orientações originais do método. De forma

menos abrangente que esses já apresentados, há o Procel Edifica, que consiste num

subprograma do PROCEL – Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica

– do Governo Federal. Neste são avaliados três sistemas individuais: envoltória,

iluminação e condicionamento de ar. Outro selo ambiental citado pelo autor é o

Sustentax, que tem por finalidade “identificar e atestar a qualidade ambiental de

produtos e serviços prestados por construtoras e incorporadoras”. Brito, Vittorino e

Akutsu (2008, p. 76) e Neumann e Sattler (2009, p. 3) relatam o método

desenvolvido pelo IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas. Voltado para grandes

cidades, sua sistemática de avaliação é similar ao BREEAM e LEED.

Page 87: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

74

3 MATERIAIS E MÉTODOS

A partir do referencial teórico foi possível iniciar as análises e proposições do

sistema viário do campus sede da UFMT. A seguir são apresentados os materiais e

métodos utilizados na realização deste diagnóstico e, consequentemente, das ações

propostas.

3.1 MATERIAIS

Foram empregados mapas urbanos do local de estudo e sua área de influência,

impressos e em meio digital (CAD e/ou Adobe Reader), tanto os mais atualizados

quanto de anos anteriores. Esses materiais foram obtidos no órgão competente da

instituição, ou seja, na Coordenação de Planejamento Físico (CPF), setor pertencente

à Pró-Reitoria de Planejamento (PROPLAN), em outros documentos da própria

universidade e em trabalhos acadêmicos.

Foram utilizados registros fotográficos atuais de acervo próprio obtidos

durante o desenvolvimento da pesquisa, e de anos anteriores disponibilizados pela

Coordenação de Comunicação Social (ASCOM). Também foram utilizadas imagens

aéreas conseguidas por meio do software Google Earth.

Para trabalhar com estes mapas, projetos e imagens diversas foram utilizados

softwares de desenho (CAD) e para manipulação de imagens.

Utilizou-se ainda documentos da administração superior da UFMT referente

ao planejamento urbano, como memoriais descritivos e justificativos, relatórios

anuais, relatórios de gestão, planos de desenvolvimento institucional (PDI), entre

outros. Outras informações relevantes foram obtidas em jornais, revistas, livros,

Page 88: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

75

dissertações que trataram sobre a instituição e seu desenvolvimento ao longo dos

anos.

3.2 MÉTODOS

Para o estudo em questão o método se baseia no diagnóstico do ambiente de

estudo, a partir do levantamento de informações relevantes, em uma análise crítica e

comparativa em relação aos parâmetros apresentados na revisão bibliográfica e na

elaboração de proposições. Estas, por sua vez, têm por objetivo suprir as deficiências

encontradas de forma mais eficiente, menos impactante e que reflitam em melhorias

ambientais e sociais, tanto para o ambiente urbano construído quanto para os seus

usuários.

De posse dos materiais coletados foi possível iniciar o diagnóstico de forma a

apresentar mapas urbanos temáticos, detalhes construtivos para a melhor

compreensão, registros fotográficos e textos descritivos que caracterizem o campus

universitário.

Apresenta-se inicialmente o contexto histórico da formação do campus, do

seu desenvolvimento urbano e suas características gerais, como área, população,

clima. A partir daí o trabalho é dividido em seis aspectos de análise do sistema

viário: vias urbanas, acessos, estacionamentos, mobilidade e acessibilidade,

iluminação e arborização. Para as vias urbanas, considerou-se tanto as vias internas

do campus quanto as vias do entorno imediato (perímetro). Em relação aos acessos,

preocupou-se com os acessos voltados para veículos e aqueles destinados aos

pedestres. Para os estacionamentos, as funções e os usos nortearam as analises e

proposições. A adequada circulação urbana foi a principal preocupação das questões

relacionadas com a mobilidade e acessibilidade. Por serem outros sistemas da

infraestrutura urbana, a iluminação e arborização foram tratadas de modo a

apresentar considerações para uma coesa integração com o sistema viário.

De forma geral o QUADRO 7 apresenta os grupos temáticos analisados, os

principais usuários e atividades consideradas e os aspectos de análise formatados de

acordo com a revisão bibliográfica.

Page 89: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

76

QUADRO 7 – Relação dos grupos temáticos analisados, usuários, atividades e aspectos considerados durante a análise

GRUPOS USÚARIOS ATIVIDADES ASPECTOS PARA

ANÁLISE Vias urbanas

Veículos automotores; Motocicletas; Bicicletas; Veículos de uso coletivo; Pedestres; Pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida;

Estudos; Ensino/Pesquisa; Administração/Serviços; Lazer; Atividades Físicas; Eventos (shows, teatros);

Conforto térmico; Conforto lumínico; Agradabilidade visual; Segurança; Legislação; Custos –financeiros e ecológicos; Deslocamentos;

Acessos

Estacionamento Mobilidade/ Acessibilidade Iluminação

Arborização

O diagnóstico permitiu uma análise crítica do espaço urbano estudado,

possibilitando ainda uma análise comparativa com os parâmetros observados na

revisão de literatura. Isto possibilitou o desenvolvimento de proposições que visam

minimizar os efeitos do ambiente urbano no meio natural, possibilitando um menor

impacto ambiental, ou seja, uma maior sustentabilidade.

Page 90: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

77

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

É apresentado um breve histórico da UFMT e dados gerais do campus sede

em Cuiabá. Em seguida, são abordadas as características estruturais e físicas do

campus relacionadas com o sistema viário, utilizando-se mapas urbanos, desenhos,

registros fotográficos, textos descritivos da situação encontrada e as proposições para

um ambiente mais sustentável.

4.1 CARACTERIZAÇÃO GERAL DO CAMPUS SEDE DA UFMT

4.1.1 Contexto histórico do seu desenvolvimento urbano

A UFMT foi, segundo Cubas (2000, p. 6), resultado de “quatro décadas de

luta” da sociedade mato-grossense pela implantação de cursos superiores no Estado.

Em Cuiabá, foi criada, no ano de 1934, a Faculdade de Direito, que apenas em 1956

passou a funcionar sem interrupções, e em 1961 foi federalizada. No ano de 1966 foi

criado o Instituto de Ciências e Letras de Cuiabá (ICLC) que, de acordo com Dorileo

(1981, p.8-9), era composto pela Faculdade de Educação, Faculdade de Economia,

Faculdade de Engenharia Civil, Departamentos e Colégio Universitário. Em 1970, os

dois se fundem, originando a UFMT, em forma de fundação, criada pela Lei nº.

5.647, de 10 de dezembro daquele ano, pelo Presidente Emílio Garrastazu Médici.

Assim, os atuais cursos superiores foram transferidos para o “Campus do Coxipó”,

hoje campus sede da UFMT.

Na sequência, as décadas de 1980 e 1990 marcaram a interiorização da

UFMT. Segundo Cubas (2000, p. 6), foram implantados os campi de Rondonópolis

em 1980, do Médio Araguaia em 1981 e o de SINOP em 1992. Hoje são dois campi

Page 91: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

78

na região do Araguaia, o campus I situado no município de Pontal do Araguaia e o

mais recente, campus II, em Barra do Garças. Além disso, atualmente está em fase de

implantação o campus II de Cuiabá. A localização desses campi no Estado do Mato

Grosso está representada na Figura 17.

Figura 17 – Localização dos campi da UFMT no Estado

Em um documento anexo ao trabalho de Mariano Filho (1984), o campus

sede situava-se fora da malha urbana do município, a uma distância aproximada de

3,5 km. Na data de sua fundação, o campus estava na área rural do munícipio

(CUIABÁ, 2007, p. 71). Apenas em 1974 sua área foi inserida ao perímetro urbano.

A Figura 18 apresenta um croqui dessa localização, datado de 1979.

Hoje, como mostra a Figura 19, o campus sede da UFMT está inserido no

perímetro urbano, praticamente no centro da área urbana.

Page 92: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

79

Figura 18 – Localização do campus sede da UFMT

em relação a área urbana do município Fonte: Adaptado de Mariano Filho (1984)

Figura 19 – Localização atual do campus no município de Cuiabá

Page 93: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

80

As primeiras edificações do novo campus foram o Parque Aquático e parte

dos Centros de Ciências Sociais (CCS) e de Letras e Ciências Humanas (CLCH),

que, segundo a publicação Universidade Federal (1981, p. 1), foram construídos pelo

Governo do Estado entre os anos de 1969 e 1970. Para Dorileo (1981, p. 9), a partir

de 1971 iniciou-se um mutirão incessante de obras, que o autor designa de

‘fazejamento’: “o planejar pode ter existido, mas foi tragado pelo fazer”.

As primeiras construções federais foram o Bloco da Tecnologia e o Ginásio

de Esportes. A Figura 20 retrata o início do seu planejamento e as primeiras

construções do campus.

Figura 20 – Campus sede da UFMT (início da década de 70)

Fonte: Adaptado de ASCOM, 2010

Tavares (2001, p. 136) acrescenta que o Estado encomendou um projeto

urbanístico ao renomado arquiteto Oscar Niemeyer, que na época estava exilado na

Argélia. Algumas características desse projeto são descritas por Oliveira (2008):

(...) Niemeyer sugeriu um conceito inovador, construir uma universidade integrada onde todas as faculdades estariam no mesmo bloco. Sim, um super-prédio que abrigaria da Medicina à Contabilidade, do Direito à Comunicação, um bloco de salas de aula que poderiam ser utilizadas conforme a necessidade permitindo uma expansão na oferta de cursos sem a necessidade de novas construções. O projeto contemplava ainda um conjunto de prédios para alojamento integrados com a área esportiva, um prédio grande para os laboratórios (aulas práticas diversas) e um estacionamento que atenderia a todos.

Por ser um projeto audacioso e de alto custo, desistiu-se da sua execução.

Desse modo, o engenheiro civil e então governador do Estado, Pedro Pedrossian,

Page 94: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

81

iniciou o planejamento e construção do campus de Cuiabá. Um pouco diferente da

Figura 20, a Figura 21 apresenta um esquema básico do sistema viário, datado de

1979 e apresentado por Filho (1984). Vale salientar que neste croqui, o espaço com

hachuras indicam áreas que seriam anexadas ao campus, porém não foram

incorporadas em sua totalidade.

Figura 21 – Croqui do sistema viário

Fonte: Mariano Filho (1984)

O autor ainda apresenta na Figura 22 uma planta urbana que reflete o

planejamento do campus, também datado de 1979.

Figura 22 – Plano diretor do campus – PROPLAN (1979)

Fonte: Adaptado de Mariano Filho (1984)

Page 95: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

82

Nesta planta a área do campus é ainda maior do que a atual, devido

negociações que estavam em curso, mas que não se concretizaram. Pode-se observar

também a locação de edifícios que estavam construídos e outros que estavam em fase

de projeto, porém não foi possível distingui-los em razão das condições do mapa

original.

A grande consideração em relação à Figura 22 são as entradas dos

estacionamentos, representado pelo número 25. Observa-se que os estacionamentos,

em sua grande maioria, eram abertos para as vias urbanas do município. A Figura 23

representa um destes estacionamentos.

Figura 23 – Estacionamento com acesso pelo exterior do campus (década de 80)

Fonte: Adaptado de ASCOM, 2010

Outra planta urbana, do tipo zoneamento, obtida na CPF/PROPLAN, porém

não datada, é mais fiel à situação atual e é apresentada na Figura 24.

Figura 24 – Zoneamento do campus de Cuiabá da UFMT

Fonte: Adaptado de UFMT, 2010b.

Page 96: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

83

Nesse zoneamento, por sua vez, é possível visualizar o fechamento da maioria

dos estacionamentos que antes eram voltados (ou por hora planejados) para as vias

que circundavam o campus. Assim, os estacionamentos voltam-se para o interior da

cidade universitária. Além disso, esta planta urbana retrata as faixas de áreas verdes

bem delimitadas que margeiam a via principal do tráfego.

Hoje o campus sede da UFMT encontra-se bastante consolidado e apresenta

poucas possibilidades de inserção de novos blocos de edificações. A planta mais

atualizada, disponibilizada pela CPF/PROPLAN está na Figura 25.

É possível observar, ainda na Figura 25, as curvas de nível, caracterizando a

topografia do campus com um leve aclive. Ressalta-se que muitos desníveis foram

criados com a implantação das edificações.

Devido a ‘falta de espaço’ para o contínuo crescimento do campus, já estão

em construção as primeiras edificações no campus II em Cuiabá, que, seguindo o

histórico do desenvolvimento do campus sede, encontra-se, atualmente, fora do

perímetro urbano legal do município22.

22 O segundo campus universitário da UFMT em Cuiabá está sendo implantado na Rodovia MT 456, na saída para o município de Santo Antônio de Leverger.

Page 97: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

84

Figura 25 – Planta atual do campus sede da UFMT Fonte: Adaptado de UFMT (2010a) e Cuiabá (2006).

Page 98: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

85

4.1.2 Contexto atual

O Estado de Mato Grosso está situado na Região Centro-Oeste e, segundo

dados de BRASIL (2010c; 2010d), estima-se uma população em pouco mais de 3

milhões, e Cuiabá, sua capital, aproximadamente, 550 mil habitantes.

Localizada na Latitude 15º35’46’’ Sul e Longitude 56º05’48’’ Oeste, Cuiabá

está a uma altitude média de 200 m, variando em sua área urbana entre 146 a 250 m

(LEÃO, 2007, p. 90). Seu clima é caracterizado pelo IBGE em Brasil (2005) como

sendo tropical quente, semiúmido, com 4 a 5 meses de seca (Figura 27).

Figura 26 – Clima Fonte: Brasil (2005)

A cidade de Cuiabá possui duas estações bem distintas, sendo uma úmida e uma seca. Durante a estação seca (maio a setembro) são provocados vários danos na cobertura vegetal, e devido à localização da cidade na região tropical, próximo à linha do Equador possui apenas alguns dias de frio no inverno, devido à chegada de frentes frias oriundas das regiões meridionais. O restante da estação é quente e seca (...) (MARQUES et. al., 2005 apud CAMPOS NETO, 2007, p. 58)

Essa estação seca é caracterizada por Maitelli (1994 apud CAMPOS NETO,

2007, p. 59) por sua estabilidade do tempo, vento fraco e moderado e noites claras

com céu limpo. Em média ao longo dos anos as mínimas são de 5ºC e as máximas

chegam a 41ºC. O índice pluviométrico é caracterizado por um inverno bastante seco

e o verão muito chuvoso. A média na região é de 1500 mm/ano (SAMPAIO, 2006).

Segundo INMET (2003 apud LEÃO, 2001, p. 92), Cuiabá possui pequena amplitude

Page 99: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

86

térmica, com exceção nos fenômenos de friagem, temperatura média das máximas de

42ºC e médias das mínimas de 15ºC. Leão (2007, p. 100, 103) apresentou em seu

estudo, em relação aos anos de 1990 e 2004, a média das médias de 26,8ºC; sobre a

umidade relativa, a média anual é 68,04%, com máxima de 93% em fevereiro e

mínima 39% em maio.

Em relação aos ventos, Santanna (2008, p. 154, 157) analisou os dados de

direção, velocidade e velocidade máxima dos ventos, no período de 2004 e 2005, e

concluiu que a direção do vento dominante (VD) varia com as estações do ano.

Assim, na primavera e no verão são predominantes os ventos na direção norte-

nordeste, enquanto que no outono e inverno predomina na direção sul-sudoeste.

Verificou-se ainda neste trabalho que “apesar da relativa constância da velocidade do

vento, seu valor médio forneceu uma potência eólica de 24 W/m², o que não viabiliza

a exploração dessa fonte de energia”. A velocidade média anual dos ventos, de

acordo com Leão (2007, p. 106), é de 6,28 m/s.

De forma geral Duarte e Serra (2003 apud CAMPOS NETO, 2007, p. 58-59)

justificam a baixa frequência e velocidade média dos ventos devido à depressão

geográfica onde a cidade se localiza (depressão cuiabana23). Fato que, além de

minimizar o efeito das trocas térmicas, ressalta ainda mais a influência do espaço

construído sobre a temperatura do ar.

Sobre a situação atual do campus sede da UFMT, este oferece, atualmente, 53

cursos de graduação presencial, 3 de graduação, na modalidade à distância, e 28 de

pós-graduação, apresentando, entre alunos, docentes e técnicos da administração

superior, uma população total de um pouco mais de 20 mil pessoas, nos três turnos

de funcionamento, conforme descriminado no QUADRO 8.

Vale ainda comentar a existência de uma população não fixa que visita o

campus e suas dependências de lazer como biblioteca, teatro e zoológico, os dois

últimos principalmente nos dias não uteis como fins de semana e feriados.

23 A depressão cuiabana é, segundo Maitelli (1994 apud CAMPOS NETO, 2007, p. 58), parte integrante da depressão do rio Paraguai, compreendendo uma área rebaixada situada entre o Planalto dos Guimarães e a Província Serrana. Estreita-se para o norte até a altura do paralelo 15° quando se expande para leste, acompanhando o vale do rio Manso. Ao sul, limita-se com o Pantanal Mato-grossense; a oeste, noroeste e norte com a Província Serrana. A partir da margem esquerda dos rios Cuiabá e Manso seu limite se encontra nas encostas do relevo escarpado do Planalto dos Guimarães.

Page 100: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

87

QUADRO 8 – População do campus sede da UFMT

Alunos de graduação presencial 9.328 Alunos de graduação à distância 3.479 Alunos de pós-graduação – especialização 4.908 Alunos de pós-graduação – mestrado 950 Alunos de pós-graduação – doutorado 56 Docentes 961 Técnicos administrativos 927 TOTAL 20.609

Fonte: PROPLAN/CPDI, 2010.

4.2 SISTEMA VIÁRIO

4.2.1 Vias Urbanas

4.2.1.1 Diagnóstico

Em relação ao campus, este é limitado em seu perímetro externo por duas

vias estruturais (Avenida Fernando Côrrea da Costa e Avenida Arquimedes Pereira

Lima) e por uma via principal (Avenida Edgar Vieira). Todo este perímetro é

fechado por uma estrutura de concreto e tela metálica, exceto onde ocorrem os

acessos de veículos e de pedestres. A estrutura viária principal no interior da

instituição é comumente denominada de avenida principal, que ‘corta’ todo campus

e, para municipalidade, é uma via coletora. A seguir, na Figura 27, é apresentada

uma imagem aérea do Google Earth, onde foram demarcadas e nomeadas as vias que

limitam externamente o campus sede da UFMT e as principais vias urbanas do seu

sistema viário e entorno.

As vias que circundam o campus, principalmente as estruturais, são avenidas

de grande fluxo de tráfego na cidade, com características predominantemente

comerciais e de serviços e interligam diversos bairros da capital. Sobre as vias

internas do campus, estas podem ser divididas em dois tipos, a via principal, que

coincide com a via coletora, e as vias secundárias (Figura 27).

Page 101: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

88

Figura 27 – Vias urbanas do campus sede da UFMT

Fonte: Adaptado do Google Earth

A via principal tem 22 m de largura, onde 7 m são as caixas viárias, 2 m as

calçadas e 4 m o canteiro central. Cada caixa viária tem duas faixas de rolamento. O

pavimento da via é o asfáltico e as calçadas são, em alguns trechos, de concreto

moldado in loco e, em outros, de blocos de concreto intertravados em forma de

hexágono. No canteiro localiza-se a iluminação pública e a arborização urbana. O

perfil da via é apresentado na Figura 28.

As vias secundárias do campus (Figura 29) são como vias locais do interior

de bairros, por elas trafegam os veículos que seguem para os edifícios e/ou

estacionamentos. Essas vias são caracterizadas pela sua menor largura em relação à

via principal, mas este valor é variável. A menor largura encontrada é de 10 m, com

caixa viária de 7 m, duas faixas de rolamento e sentido duplo de tráfego, e cada

calçada, também variando entre 1,7 a 2 m. Assim, como na via principal, o

pavimento é o asfáltico e as calçadas em concreto moldado in loco ou em blocos

intertravados de concreto.

Page 102: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

89

Figura 28 – Perfil da via principal

Figura 29 – Perfil das vias secundárias

Sobre as vias urbanas, é importante apresentar um projeto que está em

andamento na CPF/PROPLAN: consiste na alteração da avenida principal, que em

vez de se encontrar com a Avenida Edgar Vieira, a via passará a se encontrar com a

Avenida Arquimedes Pereira Lima. Então, parte da via que hoje é coletora passaria a

ser um via secundária do campus e vice-versa. A justificativa para a alteração é o

conflito existente no tráfego de veículos na confluência entre a via principal e

Avenida Edgar Vieira (Figura 30).

Figura 30 – Alteração da via urbana principal

Fonte: Adaptado do Google Earth

Além desta alteração, o projeto também contempla uma reformulação geral

das vias urbanas que pode ser observado na Figura 31. Este projeto sugere ainda a

Page 103: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

90

não circulação de transporte coletivo público por dentro do campus e a instalação de

guaritas com controle de acesso de pedestres.

Figura 31 – Projeto de intervenção física para a definição e construção do sistema

viário e de segurança do campus da UFMT Fonte: Adaptado de Eximia (2009, p. 76)

4.2.1.2 Proposições

A partir da caracterização das vias urbanas do campus sede da UFMT é

possível vislumbrar possibilidades que melhorem e possibilitem um menor impacto

ambiental e maior sustentabilidade.

Segundo informações obtidas na CPF/PROPLAN, não há data prevista para a

implementação do projeto exposto na Figura 31. Sendo assim, as alterações aqui

propostas não levam em consideração o projeto existente, e sim a situação atual. Vale

frisar que a intenção não é propor alterações significativas no fluxo do sistema viário,

mas, sim, melhorias que estimulem o uso de modo mais igualitário, priorizando o

pedestre, a mobilidade, a acessibilidade e o conforto de forma geral.

Quanto à orientação das vias urbanas, estas estão em parte em concordância

com as premissas apresentadas na revisão bibliográfica. Enquanto um grande trecho

está situado no sentido da orientação dos ventos, favorecendo a disseminação das

correntes de ar, um pequeno trecho está orientado seguindo a posição leste-oeste, o

Page 104: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

91

que prejudica o trânsito de veículos, por causa da baixa visibilidade no início da

manhã e no fim da tarde, quando o sol está próximo ao horizonte.

Para as vias secundárias do campus, onde se estima aproximadamente 2 km

de extensão, poderiam ter como pavimento outro tipo de revestimento, como blocos

intertravados de concreto (Figura 32), já que não apresentam grandes fluxos de

veículos, e permitir-se-ia, com mais facilidade, a infiltração das águas pluviais no

solo. No entanto, como o campus detém uma grande área ainda permeável, a troca de

pavimento pode não ser economicamente viável. Salienta-se que tal solução poderia

ter sido adotada na época de sua implantação, de modo a minimizar os efeitos da

urbanização e da pavimentação no recinto urbano.

Figura 32 – Exemplo de vias urbanas pavimentada com piso intertravado Fonte: TBS Sul, 2010

Em relação às calçadas, a sua largura é prevista na Lei Complementar nº 44

(CUIABÁ, 2004, p. 499), onde a largura mínima dos passeios adjacentes que

integram a caixa viária é de 1/6 (um sexto) do Padrão Geométrico Mínimo (PGM) da

via em questão. Como o PGM mínimo para uma via coletora é de 18 m, as calçadas

da via principal do campus deveriam ter 3 m de largura ao invés dos 2 m da realidade

local (Figura 33). Devido à consolidação do espaço, onde as calçadas da via principal

são margeadas por árvores de grande porte, é crítica a possiblidade de ampliação das

calçadas para as laterais além da caixa viária existente. Assim, para solucionar esta

deficiência de espaço seria necessário diminuir a largura da via de tráfego para 6 m,

possibilitando um acréscimo de 1 m na largura de cada calçada (Figura 34).

Page 105: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

92

Figura 33 – Perfil da situação atual da via principal

Figura 34 – Proposta para alargamento das calçadas conforme legislação vigente

Sobre as vias secundárias, as calçadas existentes estão de acordo, na sua

maioria, com a legislação, pois se tratam de vias do tipo local, com PGM igual a 12

m, ou seja, as calçadas teriam que possuir 2 m de largura. No mais, as calçadas

apresentam muitas irregularidades no pavimento ao longo de todo o campus e a falta

de arborização adequada não favorece as caminhadas entre as edificações. Por ser o

campus um espaço público, seria interessante manter uma padronização nos

revestimentos, o que também serviria como uma identificação visual do espaço.

O piso intertravado, também conhecido com pavimento drenante, é um

exemplo de pavimento que possibilita inúmeras configurações e pode ser aplicado

tanto em ruas com trânsito de veículos quanto nas calçadas. Segue, na Figura 35,

possibilidades de paginação e características físicas para uma adequada especificação

de acordo com o tráfego esperado.

Figura 35 – Possibilidades de desenho e tipo de paginação do piso intertravado

Fonte: TBS Sul, 2010; Medeiros, 2008

Page 106: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

93

Outra vantagem desse tipo de revestimento é a facilidade de executar

reformas e ampliações tendo em vista a sua forma modular.

4.2.2 Acessos

4.2.2.1 Diagnóstico

Os acessos ao campus estão apresentados na Figura 36.

Figura 36 – Acessos ao campus sede da UFMT

Fonte: Adaptado do Google Earth Os acessos ao campus por veículos automotores, motocicletas e pelo

transporte público (ônibus e micro-ônibus) são pelas Avenidas Fernando Côrrea da

Costa e Edgar Vieira. Assim, se dão pela via principal do campus (Acessos A1 e

A2), guarnecidos por guaritas (Figura 37), uma em cada extremidade da via, que

monitora a entrada e saída dos veículos. O controle é realizado por meio de entrega

manual de cartão plastificado, com a identificação da universidade, para os usuários

de automóveis. Motocicletas, veículos do transporte público e táxis não recebem o

cartão de controle. A Coordenação de Segurança (CS) estima que 3.000 veículos

circulem por dia no campus sede da UFMT.

Page 107: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

94

(A1) (A2)

Figura 37 – Guaritas do campus sede da UFMT

Os pedestres podem adentrar o campus pelas entradas de veículos (A1 e A2),

mas também são dispostos, no perímetro do campus, acessos exclusivos para eles,

equipados por roletas metálicas e portões de abrir (A3 a A6), como já foi observado

na Figura 36. A Figura 38 apresenta registros fotográficos destes acessos.

(A3) (A4) (A5) (A6)

Figura 38 – Acessos exclusivos para pedestres do campus sede da UFMT

Sobre os acessos de pedestres, vale comentar que todos eram, há alguns

poucos anos, equipados por roletas metálicas. No caso do acesso A3, que consiste

atualmente de uma porta metálica, este foi alterado para atender as necessidades de

acesso de pessoas com deficiência. O acesso A5, que era localizado, assim como os

outros no perímetro do campus, foi desativado devido uma construção e passou a ser

realizado pela edificação do MACP (Museu de Arte e de Cultura Popular).

O projeto em andamento na CPF/PROPLAN, abordado no item 4.2.1 Vias

Urbanas, altera também os acessos, criando guaritas onde os pedestres adentram o

campus por meio de catracas após uma prévia identificação.

Page 108: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

95

4.2.2.2 Proposições

Sobre a estrutura dos acessos de veículos, estes são padronizados e bem

sinalizados, com a identificação do campus universitário pela logomarca e por placa

indicativa. Em relação ao seu caráter funcional, o controle de veículos é realizado de

forma a não abranger todos os usuários, principalmente as motocicletas. A falta de

um controle de acesso mais rígido colabora para a insegurança dentro do campus.

Esse controle poderia ser executado a partir de tecnologias informatizadas

que permitam a identificação automática do veículo e/ou do condutor e, certamente,

mais específica.

Os acessos de pedestres, de forma geral, são simples roletas ou portas

metálicas, sem identificação. É necessário então construir estruturas realmente

acessíveis, que possibilitem o acesso de todas as pessoas, protegidas das intempéries

e com a adequada caracterização de acesso ao campus da UFMT. A Figura 39 exibe

um croqui de uma guarita com espaço para controle, equipado de lavabo, onde se

propõe a disponibilização de, pelo menos, um funcionário para controlar

efetivamente o acesso de alunos e visitantes, portadores de deficiência ou não, por

meio de cartão de acesso individual.

Figura 39 – Acesso de pedestres – proposta 1

É válido comentar que essa proposta não possibilita o controle efetivo de

todos os pedestres, tendo em vista o acesso pelo transporte público (ônibus e micro-

ônibus). No entanto, contribui para o controle efetivo do acesso de motocicletas, pois

muitos usuários deste meio de locomoção acessam o campus pelos atuais acessos de

pedestres que não se configuram em roletas.

Page 109: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

96

Caso não seja possível ou necessário um controle efetivo dos pedestres, seja

pela falta de disponibilidade de pessoal ou até mesmo de tecnologia, propõe-se,

então, um acesso mais simples e que, no mínimo, dificulte o acesso de motocicletas.

A Figura 40 apresenta esta segunda proposta.

Figura 40 – Acesso de pedestres – proposta 2

Vale ressaltar que estas propostas para o acesso de pedestre devem levar em

consideração premissas de projeto mais sustentáveis, como a observância da posição

da planta arquitetônica em relação à orientação solar, a especificação de

equipamentos eficientes, o reaproveitamento das águas da chuva, uso de materiais

construtivos menos agressivos, entre outras ações não menos importantes.

4.2.3 Estacionamentos

4.2.3.1 Diagnóstico

Os estacionamentos estão dispostos no campus próximos aos núcleos

edificados. Eles configuram grandes pátios abertos, asfaltados, pouco arborizados e

minimamente sinalizados, sendo que alguns são utilizados para outras funções e

atividades, como apresentações de shows e feiras diversas. Não há estudos que

indiquem a relação da oferta e demanda das vagas nos estacionamento, mas, baseado

na observação, a oferta é maior do que a demanda, principalmente nos

estacionamentos voltados ao público acadêmico.

A localização dos estacionamentos existentes no campus sede da UFMT pode

ser visualizada na Figura 41.

Page 110: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

97

Figura 41 – Localização dos estacionamentos

Fonte: Adaptado do Google Earth

A maioria dos estacionamentos atende os usuários do meio acadêmico, como

alunos e professores. Apenas os estacionamentos E10, E12 e E13 atendem, quase que

exclusivamente, os funcionários da administração do campus. Por serem, em relação

às dimensões, menores do que os demais, a vegetação que margeia estes últimos

confere um bom sombreamento aos veículos, como mostra a Figura 42.

(E10) (E12) (E13)

Figura 42 – Estacionamentos

Os demais estacionamentos são caracterizados, na sua maioria, pelo vazio e

monotonia (Figura 43). A falta de sinalização e, em alguns casos, de demarcação das

vagas ocasiona problemas no fluxo do tráfego e, por vezes, acidentes.

Page 111: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

98

(E1) (E2) (E3)

(E4) (E5) (E6)

(E7) (E8) (E9)

(E11)

Figura 43 – Estacionamentos

Pode-se dividir os estacionamentos em dois grupos pela existência ou não de

canteiros centrais arborizados (QUADRO 9).

QUADRO 9 – Caracterização dos estacionamentos existentes

ESTACIONAMENTOS CARACTERÍSTICAS GERAIS E1, E2, E5, E9*, E11 Estacionamentos sem canteiros centrais com arborização; E3, E4, E6, E7, E8, E9*, E10, E12, E13 Estacionamentos com canteiros centrais arborizados;

*O estacionamento E9 pode ser dividido em dois estacionamentos, pois apesar de apresentar apenas um acesso, ele está situado em dois níveis distintos, onde o primeiro nível caracteriza-se pela existência de canteiros centrais arborizados e no outro nível, não.

Observou-se que os estacionamentos com canteiros centrais são geralmente

espaçosos, permitindo, devido à distância entre os canteiros, a colocação de mais de

Page 112: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

99

duas fileiras de veículos, mesmo que a sinalização de piso não indique tais vagas. Tal

fato gera, frequentemente, confusões no tráfego, devido o desrespeito às indicações

dos locais de vagas.

De forma geral as vagas de veículos são delimitadas por pintura no piso na

cor amarela. Em quase todos os estacionamentos há vagas destinadas a pessoas com

deficiências com pintura especial e placa de identificação (Figura 44). Em relação a

vagas ou espaços destinados a motocicletas e bicicletas, não são encontradas vagas

específicas ou adequadamente demarcadas. E acabam por invadir áreas verdes,

calçadas ou áreas próximas às edificações em busca de espaços sombreados (Figura

45).

Figura 44 – Estacionamento para

pessoas com deficiência

Figura 45 – Estacionamento de

motocicletas

4.2.3.2 Proposições

Os estacionamentos, inseridos no campus são descritos como grandes pátios

asfaltados e não possuem sombreamento para os veículos. Isto seria obtido,

satisfatoriamente, com o uso de vegetação arbórea adequada ao clima da região, às

características funcionais e integradas aos outros sistemas de infraestrutura. Além de

sombrear os veículos, minimizaria também os efeitos da radiação solar direta sob o

asfalto. Esse revestimento é outro aspecto que deve ser repensado. O ideal seria um

revestimento que permitisse a infiltração das águas da chuva no solo (como já foi

comentando nas proposições para vias urbanas – 4.2.1.2) e, de preferência, com uma

cor mais clara que a do asfalto, como os pisos intertravados de concreto, vazados ou

não (Figura 46). Há de se pensar, neste caso, sobre a viabilidade econômica de se

Page 113: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

100

trocar toda uma área já asfaltada, mesmo considerando o beneficio ambiental. No

entanto, trata-se de uma sugestão em casos de reformas, ampliações e implantação de

novos estacionamentos.

Figura 46 – Piso intertravado vazado

Fonte: Distrito Federal, 2007, p. 12 e

Ainda sobre os estacionamentos é necessário melhorar a demarcação das

vagas, delimitando-as de acordo com a ocupação, ou seja, para veículos,

motocicletas, bicicletas e aquelas exclusivas para pessoas com deficiência e idosos.

Segue exemplos na Figura 47.

Figura 47 – Exemplos de projetos de estacionamento

Fonte: Distrito Federal, 2007, p. 12, 14 Em relação aos espaços necessários para cada veículo, a Lei Complementar

nº 102 (CUIABÁ, 2004, p. 471) estipula que cada vaga de carro deve ter largura

mínima de 2,40 m e comprimento mínimo de 4,50 m. No projeto dos

estacionamentos, considerou-se cada vaga de veículo automotor com as seguintes

dimensões: 2,50 m x 5,00 m. Sobre as vagas de motocicletas e bicicletas, estas não

são referenciadas na legislação urbana do município de Cuiabá. Desta forma, optou-

se pelas informações apresentadas em Neufert (2004, p. 206, 421, 426), onde um

Page 114: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

101

estacionamento confortável de bicicletas deve ter 1,20 m x 2,00 m. Para motocicletas

optou-se por um espaço um pouco maior – 1,50 m x 2,50 m – tendo em vista a

diferença de tamanho entre tais veículos. Sobre os espaços de circulação entre as

vagas, segue as diretrizes do autor supracitado: para estacionamentos inclinados a 45º

a largura da via de tráfego em uma única direção deve ser no mínimo de 3,50 m; para

estacionamento a 90º, ou seja, perpendiculares a via de tráfego, a largura do espaço

de circulação para os dois sentidos é, no mínimo, 5,50 m.

É necessário ainda delimitar os usos dos estacionamentos. Como foi visto,

alguns estacionamentos funcionam como pátios para apresentações de shows e feiras.

Assim, sugere-se a limitação de apenas um para exercer tais atividades. Para tanto,

opta-se pelo estacionamento E5, devido a sua centralidade e amplitude, além da

proximidade com uma praça. E este estacionamento seria o único que não se

permitiria abrigar canteiros arborizados entre as fileiras de vagas.

Antes de apresentar a proposta de projeto deste estacionamento, apresenta-se

na Figura 48 a sua situação atual.

Figura 48 – Estacionamento E5 existente

Propõe-se, desta maneira, a limitação da via urbana e priorização dos

pedestres, com a inserção de calçadas, margeando a via principal e a praça,

passagens elevadas de pedestres e ciclovia. No mais, delimitam-se os espaços para

entrada e saída dos veículos e aumentam-se os canteiros arborizados. De forma geral,

consolida-se 240 vagas para automóveis, sendo seis destinadas a pessoas com

deficiência, 42 vagas para motocicletas e 22 para bicicletas (Figura 49).

Page 115: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

102

Figura 49 – Proposta para o estacionamento E5

Em relação às vagas, optou-se, na maioria, por vagas inclinadas a 45º graus e

perpendiculares à via de acesso, onde, assim como o espaço do trânsito de veículos,

são adequadamente delimitadas e sinalizadas. O detalhe na Figura 50 mostra a

passarela elevada próximo ao acesso de uma edificação, onde também se concentra

as vagas destinadas a pessoas com deficiência.

Figura 50 – Detalhe do estacionamento E5 – passarela elevada de pedestre e vagas

de veículos para pessoas com deficiência

No mais, como o estacionamento apresenta outras funções (apresentações de

shows e feiras), a limitação de parte das vagas é realizada por blocos de concreto

Page 116: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

103

móveis, a serem encaixados no piso, podendo ser retirados para a realização dos

eventos (Figura 51).

Figura 51 – Detalhe do estacionamento E5 – vagas delimitadas por blocos de

concreto móveis Os estacionamentos, que possuem canteiros centrais arborizados, apresentam

sua organização um pouco caótica devido o grande espaço existente entre os

canteiros, o que possibilita a configuração de mais de duas fileiras de vagas, mesmo

não estando sinalizadas. De forma geral, necessita-se de um projeto de readequação

do espaço. Na Figura 52 contempla-se a situação atual do estacionamento E6.

Figura 52 – Estacionamento E6 existente

Na Figura 53 é possível vislumbrar o zoneamento proposto em relação às

vagas de veículos, onde se tem 97 vagas para automóveis, sendo duas destinadas a

pessoas com deficiência, 28 para motocicletas e 13 para bicicletas. Estas vagas são

demarcadas por pintura no piso e as vagas de moto e bicicletas, além da pintura e

Page 117: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

104

sinalização, são entremeadas por canteiros arborizados de modo a não permitir o

estacionamento de outro tipo de veículo. No caso das vagas de bicicletas é necessário

também disponibilizar um suporte para fixação das mesmas.

Figura 53 – Proposta para o estacionamento E6

Observa-se também na Figura 53 a integração de uma ciclovia que dá acesso

diretamente às vagas destinadas a bicicletas de modo a fomentar o uso deste meio de

transporte menos agressivo ao meio ambiente.

Com a ampliação dos canteiros centrais e a delimitação física das vagas é

possível organizar o fluxo de veículos. Optou-se pelas vagas de estacionamento

inclinadas a 45º, pois facilita as manobra, o sentido do fluxo e sua intersecção com os

limites do estacionamento ou com os canteiros criam área a serem vegetadas e

arborizadas (Figura 54). Neste caso, também foram delimitadas vagas

perpendiculares à via de trafego, devido à distância existente entre o canteiro central

e a calçada perimetral. Mesmo assim, foi feito um recuo onde inseriu um canteiro

arborizado para proteger essas vagas.

Page 118: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

105

Figura 54 – Detalhe do estacionamento E6 – vagas de automóveis

e canteiros arborizados Em relação ao revestimento, escolhe-se o uso de piso intertravado para as

calçadas e, no caso dos canteiros, estes devem receber vegetação rasteira. De forma

geral aumentou-se a área permeável do estacionamento com a criação de mais

canteiros no centro e nas extremidades do estacionamento.

Sobre a acessibilidade, foram dispostas vagas exclusivas para pessoas com

deficiência, próximas ao acesso do edifício, com rampa de fácil acesso a circulação

de pedestre e que devem estar devidamente sinalizadas com pintura e placa

indicativa do uso (Figura 55).

O acesso à edificação foi possibilitado pela disposição de passarelas elevadas

de pedestres, devendo ser adequadamente sinalizadas com piso tátil (Figura 56). Esse

tipo de passagem faz com que os veículos reduzam a sua velocidade mais facilmente,

pois é vista como uma barreira pelos condutores.

Figura 55 – Detalhe do estacionamento E6 – vagas destinadas a pessoas

com deficiência

Figura 56 – Detalhe do estacionamento E6 – passarelas elevadas de pedestre

Page 119: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

106

Para o estacionamento E2 que é simplesmente um pátio asfaltado (Figura 57),

sugere-se, em geral, a implantação de canteiros centrais com arborização adequada e

delimitação de vagas para automóveis inclinadas a 45º conforme a Figura 58.

Figura 57 – Estacionamento E2 existente

Figura 58 – Proposta para o estacionamento E2

Page 120: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

107

Da mesma forma que os demais, são criadas vagas exclusivas para portadores

de necessidades especiais próximas aos acessos, vagas para motocicletas, para

bicicletas e conexão com a ciclovia.

Vale salientar que estas propostas são aplicáveis aos outros estacionamentos

existentes conforme a similaridade das características entre eles.

4.2.4 Mobilidade e acessibilidade

4.2.4.1 Diagnóstico

O acesso ao campus é possibilitado por meio de transporte público, composto

por ônibus e micro-ônibus, e veículos particulares. Em relação ao transporte público,

este percorre a via principal, nos dois sentidos, onde estão dispostos pontos de ônibus

com e sem abrigo (Figura 59).

(A) (B)

Figura 59 – Ponto de ônibus. (A) Com abrigo. (B) Sem abrigo.

Como não há ciclovias instaladas no entorno próximo nem no interior do

campus, é possível se deslocar caminhando pelas calçadas, quando existentes, que

margeiam as vias. Em alguns pontos, encontram-se, no meio urbano, barreiras físicas

que, no mínimo, dificultam a circulação, principalmente daqueles que possuem

alguma deficiência (Figura 60).

Page 121: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

108

Figura 60 – Exemplo de barreiras físicas

Ainda sobre a acessibilidade, os acessos exclusivos de pedestre ao campus se

configuram como uma barreira aos usuários de cadeira de rodas e de dificuldade

àqueles com mobilidade reduzida, principalmente aqueles que se fazem por meio dos

acessos do tipo roleta. Já as calçadas, em alguns pontos de travessia, contam com

rebaixamento por rampa. Neste aspecto, a localização, a própria execução, a falta de

sinalização e piso tátil são alguns problemas observados. A Figura 61 apresenta

visualmente as características descritas.

Figura 61 – Rampas de acessibilidade

Page 122: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

109

4.2.4.2 Proposições

Com a intenção de criar possibilidades de uma mobilidade mais sustentável

(ou menos impactante) seria interessante inserir dentro do campus uma ciclovia

(Figura 62), ou seja, uma via destinada a circulação de bicicletas, com separação

física da via onde trafega os veículos, ou uma ciclofaixa (Figura 63), isto é, uma

faixa da via urbana destinada aos ciclistas. O ideal é que esse tipo de mobilidade

esteja integrada a uma rede maior em nível de município ou região.

Figura 62 – Exemplo de ciclovia Fonte: Distrito federal, 2010, p.24

Figura 63 – Exemplo de ciclofaixa Fonte: Distrito Federal, 2010, p.25

No interior do campus, esta ciclovia pode estar inserida na via principal do

campus, o que facilitaria o acesso de um edifício ao outro. Como já foi dito, dever-

se-ia, também, instalar ciclovias nas vias que margeiam o campus, de modo a

incentivar a utilização da bicicleta como meio de transporte, além da implantação,

pelo poder público, de redes cicloviárias.

No caso do campus universitário, apresentam-se duas propostas para a

inserção de ciclovias, ambas na via principal do campus, ligando os principais e

maiores estacionamentos onde se propuseram vagas exclusivas para bicicletas.

Antes de apresentar as propostas, é interessante observar a Figura 33 que

expõem o perfil da via principal na sua situação atual.

Sobre as propostas, a primeira, representada na Figura 64, consiste no recorte

da caixa viária, que ficaria com 6 m cada. E com este espaço de 1 m é possível

instalar uma ciclovia unidirecional. Vale comentar que estudos de Brasil (2001, p.

41) indicam que 2 m é largura mínima de uma ciclovia unidirecional, de modo a

Page 123: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

110

permitir a ultrapassagem de bicicletas. Como o trajeto é relativamente curto e por se

tratar de uma adaptação de uma via consolidada, uma forma menos impactante para

criar a ciclovia seria o recorte da caixa viária, reduzido ao limite permitido pela Lei

Complementar nº 44, que disciplina o uso e a ocupação do solo urbano no município

de Cuiabá (CUIABÁ. 2004, p. 499), sem interferir na vegetação de grande porte que

margeia as calçadas. As Figuras 64 e 65 representam a localização desta ciclovia e o

perfil da via principal de acordo com a proposta, respectivamente.

Figura 64 – Proposta para implantação de ciclovias unidirecionais na via principal

do campus sede da UFMT – Planta de localização

Figura 65 – Proposta para implantação de ciclovias unidirecionais na via principal

do campus sede da UFMT – perfil da via principal

A segunda sugestão é acrescentar uma ciclovia bidirecional com 2,5 m de

largura (BRASIL, 2001, p. 42), além do perfil da via existente, considerando a

implantação de um canteiro para abrigar as árvores existentes. Neste caso haverá a

Page 124: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

111

necessidade de um estudo em relação à topografia, pois há locais onde as edificações

que margeiam a via principal estão abaixo do nível desta, ocasionando a necessidade

de aterro ou da mudança do trajeto. De forma geral as Figuras 66 e 67 representam,

respectivamente, a localização da ciclovia e o perfil da via principal.

Figura 66 – Proposta para implantação de ciclovia bidirecional na via principal do

campus sede da UFMT – Planta de localização

Figura 67 – Proposta para implantação de ciclovia bidirecional na via principal do

campus sede da UFMT – Perfil da via principal

Além das ciclovias, propõem-se disponibilizar bicicletas, gratuitamente ou

mediante um ‘aluguel’, espalhadas em bicicletários pelo campus, próximo às

edificações (Figura 68). Tal sistema de aluguel é utilizado em vários países europeus,

como Londres, Paris, e em alguns municípios brasileiros como Blumenau-SC. O

intuito, neste caso é facilitar, sobretudo, o acesso a edifícios de uso comum, como a

biblioteca central e o restaurante universitário.

Page 125: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

112

Figura 68 – Vantagens do uso da bicicleta e exemplo de bicicletário urbano

Fonte: Blog, 2010b; Blog, 2010c

Ainda sobre a mobilidade é necessário transformar as calçadas em espaços

agradáveis para a circulação, com a implantação de áreas vegetadas adequadas à

orientação solar, com faixa gramadas e arborização. A Figura 69 representa

exemplos destes espaços para circulação urbana.

Figura 69 – Calçadas como bosques urbanos

Fonte: Blog, 2010a. Devido à orientação solar, parte das calçadas existentes no campus

universitário deveria ter a arborização entre a via de tráfego e a calçada. Para tanto,

propõe-se a diminuição do canteiro central em 1 m, para que esta largura torne-se um

canteiro entre a via de trafego e a calçada, representado pela Figura 70.

Figura 70 – Proposta para calçadas da via principal do campus

Page 126: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

113

Nas vias locais (ou secundárias) é possível diminuir em 1 m a via de tráfego,

que atualmente é de 7 m e, assim, criar, no lado onde o sol mais incide, um canteiro

arborizado com 1 m de largura (Figura 71).

Figura 71 – Proposta para calçadas das

vias secundárias do campus Neste caso é imprescindível que a iluminação principal da via de tráfego se

localize do lado oposto da nova vegetação de modo que esses sistemas de

infraestrutura não interfiram entre si.

As calçadas também devem possibilitar o acesso de todos a todas as áreas

públicas e edificadas, facilitando a mobilidade das pessoas e, principalmente, de

forma acessível. Para tanto é necessário o rebaixamento por meio de rampas e/ou

com a elevação da passagem de pedestre, de modo adequado e sinalizado. Além da

sinalização comum, vertical (placas, semáforos) e horizontal (marcas no piso),

devem-se atender as necessidades dos deficientes visuais, com a instalação de piso

tátil e avisos sonoros próximos às travessias de pedestre (Figura 72).

(A) (B)

Figura 72 – Exemplos de vias e calçadas acessíveis.(A) Rampa de acesso à via e uso piso tátil direcional e de alerta na via urbana e calçada. (B) Passagem elevada de

pedestre. Fonte: Distrito Federal, 2010, p. 18, 44

Page 127: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

114

Sugere-se a implantação de faixas de pedestre elevadas (similar àquelas

implantadas nos estacionamentos – Figuras 50 e 56) na via principal em pontos

estratégicos da universidade como próximo aos abrigos dos passageiros do transporte

público e a cruzamentos com vias secundárias.

Ainda sob o aspecto da acessibilidade é necessário que todas as calçadas do

meio urbano estejam adequadamente sinalizadas com piso tátil, assim como em volta

do mobiliário urbano existente – ponto de ônibus, abrigo de passageiros, postes etc.

No mais, os acessos exclusivos de pedestres são, em alguns pontos, barreiras, seja

pelas roletas, seja pelos desníveis existentes. As propostas apresentadas nas Figuras

39 e 40 atentam para os critérios de desenho universal.

Sobre o mobiliário urbano, como por exemplo, abrigos de passageiro e

lixeiras, são necessárias à padronização destes elementos de modo a favorecer a

identidade visual do campus. No caso dos abrigos, é indispensável que eles sejam

realmente abrigos capazes de proteger os usuários das intempéries.

4.2.5 Iluminação

4.2.5.1 Diagnóstico

O sistema energético do campus é fornecido, em sua totalidade, pela

concessionária local – Rede Energia CEMAT (Centrais Elétricas Mato-grossenses).

Sua geração é baseada no sistema de geração hidrelétrico por meio de uma usina de

médio porte, a UHE Guaporé.

A ligação da energia no campus é pela Avenida Edgar Vieira, em alta tensão,

até a cabine de proteção e medição, onde ocorre a medição do serviço, passando,

antes de alimentar os edifícios, pelas cabines ou postes de transformação.

Na área urbana do campus o principal gasto energético está relacionado com

a iluminação externa, que pode ser dividida em dois setores: a iluminação das vias

urbanas e a iluminação dos estacionamentos. A iluminação da via principal é

realizada em postes de 20 m de altura, com três pétalas e seis lâmpadas em cada

(Figura 73). Segundo dados obtidos na CPF/PROPLAN, em 2008 e 2009 as

lâmpadas de vapor de mercúrio de 400 watts, que equipavam essas luminárias, foram

Page 128: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

115

substituídas por lâmpadas de vapor de sódio de 350 watts visando diminuir o

consumo energético e aumentar a eficiência da iluminação.

Figura 73 – Postes de iluminação na via principal do campus

Nas vias secundárias e nos estacionamentos, os postes de 7 m eram, antes de

2008/2009, alimentados por lâmpadas de vapor de mercúrio de 250 watts. Hoje são

equipados por lâmpadas de vapor do sódio, também de 250 watts (Figura 74). No

entanto, atualmente está ocorrendo substituições, em etapas, por postes com altura de

4,50 m, de uma ou duas pétalas e lâmpadas de vapor de sódio de 150 watts (Figura

75). Assim, tem por intuito aumentar a eficiência e economia de gastos com a

iluminação.

Figura 74 – Postes de iluminação

de 7 m de altura

Figura 75 – Postes de iluminação de

4,5 m de altura

Page 129: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

116

4.2.5.2 Proposições

Observa-se que existe, por parte da instituição, uma preocupação com a

eficiência dos sistemas de iluminação da área urbana do campus, desde a substituição

das lâmpadas de vapor de mercúrio pelas de vapor de sódio que são mais eficientes e

apresentam maior durabilidade, até a diminuição da altura dos postes.

De forma geral propõe-se a instalação de novas luminárias na via principal,

próximo às calçadas de modo a iluminar o fluxo de pedestre e da ciclovia.

Consequentemente é possível diminuir a altura dos postes da via principal

(atualmente com 20 m), pois o fluxo luminoso do mesmo não necessita atingir mais

as calçadas adjacentes. Além de aumentar a eficiência da luminária, acarreta na

redução da potência da lâmpada e, por consequência, na economia energética e

financeira. A proposta para a iluminação pode ser observadas na Figura 76.

Figura 76 – Proposta para a iluminação da via principal

É necessário que esta iluminação urbana seja acionada automaticamente por

sensores de iluminação, ou seja, quanto à luz natural atingir um determinado valor de

luminância, as lâmpadas se acendem.

Ainda é recomentado utilizar as tecnologias advindas de recursos renováveis

como energia solar, tão abundante na região de estudo (Figura 7). Como exemplo

tem-se o uso de postes com dispositivos capazes de captar a energia solar durante o

dia e gerar energia elétrica para ser usada pelas lâmpadas durante o período noturno

(Figura 77).

Page 130: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

117

Figura 77 – Postes de iluminação instalados no

Parque Barigui em Curitiba-PR Fonte: O Globo (2009)

4.2.6 Arborização

4.2.6.1 Diagnóstico

A via urbana principal apresenta canteiros centrais gramados e com coqueiros

e árvores dispostos ao longo de toda via. É fato ainda que há vazios sem vegetação.

A Figura 78 ilustra estas duas situações relacionadas arborização do sistema viário.

Figura 78 – Arborização urbana

As calçadas, tanto aquelas da via principal quanto das vias locais, são

margeadas, em alguns trechos, por árvores de grande porte. Nos estacionamentos,

com já foi mencionado no item 4.2.3 Estacionamentos, poucos destes possuem

arborização que servem de proteção para os veículos.

Page 131: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

118

4.2.6.2 Proposições

Para os canteiros centrais da via principal do campus sugere-se a implantação

de árvores de grande porte nos vazios existentes. Com o passar do tempo a

substituição pode ir acontecendo conforme a vegetação existente (coqueiros) for se

degradando. O uso de árvores em detrimento de coqueiros ou palmeiras se dá pela

capacidade que essas possuem, devido a sua maior copa, de minimizar os efeitos da

radiação solar sobre o asfalto, aumentando o conforto dos transeuntes.

Em relação às calçadas, as propostas apresentadas para melhorar a mobilidade

nas calçadas (Figuras 70 e 71) incluíram a implantação de arborização adequada a

orientação solar, com o intuito de diminuir a incidência do sol, de modo a favorecer

as caminhadas entre edificações. Isto também ocorre nos estacionamentos, onde as

propostas representadas pelas Figuras 49, 53 e 58 incluem a inserção de árvores para

proteger os veículos estacionados.

Além de especificar espécies nativas ou adaptadas às condições climáticas da

região, deve-se observar a função que a vegetação vai exercer. Neste caso, como a

função da vegetação é sombrear e proteger o pedestre e os veículos, deve-se optar

por árvores não frutíferas e que não liberem nenhum tipo de seiva.

Page 132: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

119

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da revisão bibliográfica foi possível analisar criticamente as

características do sistema viário do campus sede da UFMT com vistas à

sustentabilidade e, consequentemente, realizar proposições que minimizassem os

impactos do meio urbanizado sobre o meio ambiente natural e aumentassem a

qualidade de vida e satisfação dos usuários.

De forma geral, o campus foi se desenvolvendo ao longo de seus 40 anos de

existência, mas as principais características do seu sistema viário permaneceram

quase que intactas. Nesses anos houve algumas intervenções significativas em

relação aos acessos dos estacionamentos e, recentemente, sobre a iluminação urbana.

No entanto, tendo em vista premissas de projeto mais sustentáveis, é necessário

mudar parâmetros até então consolidados na estrutura do seu sistema viário.

As vias urbanas necessitam de readequações onde haja a valorização do

pedestre e de outro tipo de mobilidade menos impactante ao meio ambiente. Nesse

caso optou-se em criar uma arborização que proteja as calçadas dos raios solares

diretos, favorecendo o caminhar, e a inserção, nas vias, de passarelas elevadas de

pedestres. No mais, a implantação de uma ciclovia e a criação de estacionamento

para bicicletas fomentaria o uso deste meio de locomoção.

Com esta alteração de fluxos é necessário adequar a iluminação urbana as

novas necessidades, implantando postes próximos às calçadas e ciclovias. Mesmo já

tendo ocorrido alterações que visavam maior eficiência do sistema de iluminação – a

instituição alterou recentemente as lâmpadas, substituindo aquelas de vapor de

mercúrio por vapor de sódio, e, em alguns casos, também diminui a altura de postes e

a potências dos equipamentos – é possível ainda implantar sistemas fotovoltaicos

Page 133: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

120

capazes de armazenar a energia advinda do sol e utilizá-la na iluminação noturna dos

ambientes urbanos.

Sobre os estacionamentos existentes, estes são caracterizados, na sua maioria,

por serem grandes pátios asfaltados com pouca vegetação e pouca sinalização. De

maneira geral a intervenção sugere principalmente a demarcação física das vagas

conforme os usos – automóveis, motocicletas, bicicletas, exclusivas para pessoas

com deficiência – com a devida arborização e sinalização.

Para os acessos, o maior problema é a falta de um controle efetivo,

principalmente dos veículos. Nesse sentido é necessário implantar sistemas

informatizados para que todos os veículos e/ou condutores sejam identificados. Não

menos importante, a falta de acessibilidade nos acessos de pedestres acarretou em

propostas de implantação de guaritas, que apresentem ou não controle eletrônico,

mas certamente acessível, facilmente identificável e seguindo diretrizes projetuais e

construtivas mais sustentáveis.

De modo geral, verificou-se, durante as análises e formulações das propostas,

a necessidade de balancear os principais aspectos da sustentabilidade, ou seja, o

econômico, o social e o ambiental, principalmente por tratar-se do estudo de um

espaço consolidado. Por exemplo, trocar o revestimento asfáltico dos

estacionamentos ou das vias secundárias do campus por um revestimento drenante e

mais claro é uma proposição interessante sim, pois possibilitaria a maior infiltração

das águas da chuva e minimizaria os efeitos da radiação solar sobre suas superfícies,

no entanto, é economicamente viável?

Como a área de estudo contém uma grande área permeável, essa não é uma

necessidade tão emergencial. E os efeitos da radiação podem ser minimizados a

partir de outras soluções como uma densa e adequada arborização. Se, no caso do

exemplo dado, houvesse pouca área permeável e problemas de alagamento, o fator

econômico poderia ser suprimido pelo aspecto ambiental.

E assim fica claro que a sustentabilidade não tem uma fórmula para ser

aplicada em qualquer caso. A sustentabilidade e o desenvolvimento sustentável

devem ser delineados de acordo com as características encontradas no ambiente

específico do estudo. E ainda é importante e necessária que a consciência dos

Page 134: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

121

usuários do ambiente, urbano ou edificado, seja estimulada por meio de processos

explicativos e educativos.

Além de trazer os principais conceitos e parâmetros em relação a

sustentabilidade no espaço urbano, este estudo serve de referência para a implantação

de novos campi universitários ou mesmo de outras áreas urbanas como loteamentos e

condomínios. Também abre um leque de possibilidades para diversos estudos dentro

do campus sede da UFMT, tendo em vista outros aspectos construtivos que devem,

certamente, ser repensados, a fim de impactar o menos possível o meio ambiente.

São exemplos desses possíveis estudos: análise sobre a possibilidade de

aproveitamento de água das chuvas para as edificações do campus; análise sobre o

uso da energia e sugestões para um uso mais eficiente; estudo sobre o tratamento de

resíduos líquidos e sólidos com a possibilidade de seu reaproveitamento; elaboração

de diretrizes projetuais para as edificações visando um maior conforto ambiental para

os usuários; estudo dos brise-soleils nas edificações do campus; entre outras.

Page 135: DISSERTAÇÃO SUSTENTABILIDADE EM ÁREAS URBANAS

122

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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