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MESTRADO EM LETRAS ELISABETH SUMBERCKI WEISS A IMPORTÂNCIA DA DISCIPLINA NA APRENDIZAGEM DE L2 NO COLÉGIO MILITAR DE PORTO ALEGRE Porto Alegre 2016

dissertacao final maio16

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Page 1: dissertacao final maio16

MESTRADO EM LETRAS

ELISABETH SUMBERCKI WEISS

A IMPORTÂNCIA DA DISCIPLINA NA APRENDIZAGEM DE L2 NO COLÉGIO

MILITAR DE PORTO ALEGRE

Porto Alegre

2016

Page 2: dissertacao final maio16

ELISABETH SUMBERCKI WEISS

A IMPORTÂNCIA DA DISCIPLINA NA APRENDIZAGEM DE L2 NO COLÉGIO

MILITAR DE PORTO ALEGRE

Dissertação de mestrado apresentada ao Centro Universitário Ritter dos Reis como requisito para titulação de Mestre em Letras.

Prof. Dr. Márcia Zimmer (orientadora- UNIRITTER)

Prof. Dr. Pedro Theobald (convidado- PUCRS) Prof. Dr. Neiva Maria Tebaldi Gomes (convidada – UNIRITTER)

Porto Alegre

2016

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Aos meus pais Rosa e Luiz pela imensa ajuda durante esses dois anos de pesquisa. Obrigada por sonharem junto o meu sonho. Sem o apoio de vocês este trabalho não teria sido realizado. Meu muito obrigado!

Page 4: dissertacao final maio16

AGRADECIMENTOS

À minha orientadora, professora Dra. Márcia Zimmer, por acalmar minhas

angústias e compreender minhas inúmeras dificuldades. Pelas intervenções pertinentes e sábias e principalmente pelas palavras incentivadoras. A toda a equipe de professores do PPGL/UNIRITTER, que contribuíram para a minha formação.

Aos meus pais, Rosa e Luiz, pela ajuda incansável. Aos meus colegas de curso, que me ajudaram nessa caminhada. Pela troca de

experiência, pela conversa amiga e incentivadora durante nossa trajetória. Meu muito obrigado!

Em especial, meu muito obrigada à minha colega Cristiane Toffanello, por ter insistido com o tema desta dissertação.

Ao Colégio Militar de Porto Alegre, por me apoiar durante minha pesquisa.

Page 5: dissertacao final maio16

Não há vida intelectual sem esforço e disciplina.

Décio de Almeida Prado

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo apresentar e analisar o desempenho dos alunos do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) no concurso de vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e no concurso de admissão à Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), investigando como estudo de caso os mecanismos disciplinares presentes no CMPA, e sua influência no desempenho dos alunos nestes concursos. Para atingir os objetivos propostos, foram analisados os resultados obtidos pelos egressos do CMPA no concurso de vestibular da UFRGS do ano de 2007 até 2016. A análise do desempenho dos alunos no concurso da EsPECx foi realizada nos anos de 2012 até 2015. A metodologia adotada nesta pesquisa foi a abordagem qualitativa, com o propósito de relacionar o alto índice de desempenho nos exames de língua inglesa dos alunos do CMPA nestes concursos aos mecanismos disciplinares e às rotinas de sala de aula, que parecem ser determinantes no processo ensino-aprendizagem de L2. Palavras-chave: Disciplina. Ensino. Língua Inglesa.

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ABSTRACT

This work aims to analyze the performances of the students from Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) at the college admission exam to Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) and at the college admission to Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), investigating as a case study the disciplinary mechanisms presented at CMPA, and its importance on the development of the students on their performances in those exams. To achieve this purpose, the results were analyzed based on UFRGS data analyzed of entrance examination from 2007 to 2016, and EsPECx data analyzed admission exam from 2012 to 2015.

The methodology used on this work was based on the qualitative approach, in order to understand the high performances in the English language admissions test of the CMPA students at UFRGS and EsPECx college admission exams.

The results indicated that the disciplinary mechanisms and the classroom management are decisive in the language teaching process of L2. Key-words: Discipline. Teaching. English Language.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AMAN- Academia Militar das Agulhas Negras

CMPA- Colégio Militar de Porto Alegre

CRI - Clube de Relações Internacionais

CTA- Centro de Telemática de Área

ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio

ESA - Escola de Sargentos das Armas

EsPECx- Escola Preparatória de Cadetes do Exército

FNDE- Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

HMUN- Harvard Model United Nations

IAG/USP - Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP

IDEB- Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

IME - o Instituto Militar de Engenharia

LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

LE- Língua Espanhola

LI- Língua Inglesa

MEC- Ministério da Educação e Cultura

OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico

OM- Organização Militar

PPP- Projeto Político Pedagógico

SEAN- Sistema de Ensino e Aprendizagem por Níveis

SCMB- Sistema Colégio Militar de Porto Alegre

SEF - Seção de Educação Física

UFMG- Universidade Federal de Minas Gerais

UFRGS- Universidade Federal do Rio Grande do Sul

USP- Universidade de São Paulo

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: O uso do tempo em sala de aula……………………………..….. página 26

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1: Resultados dos alunos do CMPA na UFRGS….……………..… página 64

TABELA 2: Desempenho dos alunos do CMPA no Ensino Médio e UFRGS..página 67

TABELA 3: Resultados dos alunos do CMPA na EsPECx….………………..página 70

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1: Jargões Militares…………..………………………………..….. página 39

QUADRO 2: Jargões Militares………………………………………………...página 40

QUADRO 3: Juramento do Legendário…………………………………...…...página 46

QUADRO 4: Níveis do material didático adotado pelo CMPA………..….…..página 55

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 14

2. REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................... 18

2.1. Disciplina em sala de aula ................................................................................................... 18

2.1.1 O tempo gasto em sala de aula devido a questões de (in)disciplina ............................... 23

2.1.2 A disciplina e o estabelecimento de rotinas de sala de aula ........................................... 26

2.2. Disciplina e Aprendizagem de L2 ..................................................................................... 30

3. O SISTEMA COLÉGIO MILITAR DO BRASIL E O COLÉGIO MILITAR DE

PORTO ALEGRE ....................................................................................................................

3.1 Sistema Colégio Militar do Brasil e Colégio Militar de Porto Alegre ................................ 33

3.1.1 Rotinas Militares ........................................................................................................... 34

3.1.2 Linguajar Militar e a Semana Zero ................................................................................ 38

3.1.3 Disciplina versus Punição no SCMB ........................................................................... 43

3.1.4 Legião de Honra ............................................................................................................ 45

3.1.5 Atividades Extracurriculares: Banda de música e Coral ............................................... 46

3.1.6 Atividades Esportivas .................................................................................................... 49

3.1.7 Sociedade Esportiva e Literária ..................................................................................... 50

3.1.8 Laboratórios e Clubes .................................................................................................... 51

3.1.9 Observatório Astronômico Didático Capitão Parobé .................................................... 51

3.1.10 O Funcionamento do 3º ano e a Seção de Cursos ........................................... ........... 53

3.2 O Ensino de L2 no CMPA e seu impacto no exame de vestibular na Universidade

Federal do Rio grande do Sul (UFRGS) .................................................................................... 54

3.3 O ensino de L2 no CMPA e seu impacto sobre a performance na prova de L2 na

Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx) .............................................................. 57

4. OBJETIVOS E MÉTODO .................................................................................................. 59

4.1. Objetivos .............................................................................................................................. 59

4.2. Metodologia ......................................................................................................................... 59

4.2.1 Tipo de Pesquisa e participantes .................................................................................... 59

Page 13: dissertacao final maio16

5. ANÁLISE E DISCUSSÂO DOS RESULTADOS ............................................................. 63

5.1. Resultados obtidos no vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul-

UFRGS ...................................................................................................................................... 63

5.2. Resultados obtidos no concurso de admissão à Escola Preparatória de Cadetes do

Exército (EsPCEx) ...................................................................................................................... 69

5.3. Os mecanismos disciplinares presentes no Colégio Militar de Porto Alegre, e a

importância das rotinas em sala de aula no processo aprendizagem de L2 ................................ 71

5.3.1 As Rotinas militares e a disciplina na sala de aula de L2 ................................................ 73

5.3.2 Atividades extracurriculares como mecanismos disciplinadores .................................... 77

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 79

6.1. Resumo dos principais achados deste estudo ...................................................................... 79

6.2 Limitações do estudo ........................................................................................................... 80

6.3. Sugestões para estudos futuros ............................................................................................ 80

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 82

Page 14: dissertacao final maio16

INTRODUÇÃO

As exigências do ensino e da educação são cada vez maiores e mais complexas.

A indisciplina, o insucesso e o abandono escolar são problemas que integram o

cotidiano dos professores. E a escola de hoje parece permanecer imóvel frente às

mudanças que vêm ocorrendo na sociedade. Em virtude disso, as relações entre as

várias pessoas que a compõem vêm se alterando, e os conflitos dessas relações têm

trazido consequências variadas para todos, facilitando a emergência, no interior da

escola, de formas de conduta diversas nas relações sociais de seus integrantes

(SIRGADO, 2000). Os problemas da indisciplina em sala de aula, segundo o autor, têm

importunado professores e administradores escolares. Os professores referem-se a esse

problema como um dos aspectos mais difíceis e perturbadores para quem leciona.

As forçasarmadas primam pelas características profissionais de centralização,

hierarquia e disciplina. Tais práticas, aliadas a uma forte estrutura burocrática, com

regras rígidas de funcionamento, e um código penal próprio, fazem dos militares

funcionários públicos diferenciados. No Brasil as Forças Armadas são compostas pela

Marinha, Exército e pela Aeronáutica

O Sistema de Ensino Militar forma profissionais capacitados para se ajustarem

às finalidades e aos objetivos da Instituição. O Exército utiliza a educação como uma

ponte entre setores militar e civil; assim sendo, os Colégios Militares despontam como

uma forma eficaz de aproximação entre ambos os setores, fazendo com que os ideais

defendidos pelo Exército sejam disseminados nos demais setores da sociedade civil.

O interesse pelo tema baseia-se em justificativas de ordem pessoal, aliadas ao

interesse profissional. Ex-aluna do Sistema Colégio Militar do Brasil (SCMB), sou

oficial do Exército Brasileiro e atuo como professora de Língua Inglesa no Colégio

Militar de Porto Alegre, inicialmente como estagiária, depois concursada desde 2009.

Desde então, procuro respostas às diversas perguntas em relação ao desempenho dos

alunos, não só no Colégio Militar de Porto Alegre, mas no Sistema de Colégios

Militares do Brasil - SCMB.

As práticas didático-pedagógicas em vigor nos Colégios Militares subordinam-

se às normas e às prescrições do sistema de ensino do Exército e, ao mesmo tempo,

obedecem também à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBN, principal

referência que estabelece os princípios e finalidades da educação nacional, conforme se

Page 15: dissertacao final maio16

lê em seu art. 83: “o ensino militar é regulamentado em lei específica, admitida a

equivalência de estudos, de acordo com as normas fixadas pelos sistemas de ensino”.

Sendo assim, por que o SCMB se diferencia dos demais colégios, mesmo havendo entre

eles equivalência de estudos? A disciplina é a responsável pela alta aprovação em

exames como o Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM, concursos militares ou

exames vestibulares? O desempenho satisfatório dos alunos do SCMB nesses exames

pode sugerir que tal desempenho seja produto da seleção de alunos realizada para

ingresso nos Colégios Militares?

Para responder a todas essas indagações, torna-se necessário resgatar o histórico

do SCMB e suas especificidades. A fim de situar o leitor, antes da análise dos dados, é

fundamental contextualizar o surgimento das instituições de ensino militar.

O processo de modernização do exército teve início em 1903 com a unificação

das escolas de guerra e, por consequência, a criação da Escola Militar do Realengo.

Esse processo teve reflexos no ensino militar. Houve uma ampliação significativa de

cursos e instituições educativas vinculadas ao Exército Brasileiro, sendo que atualmente

as Forças Armadas mantêm um número expressivo de instituições, tanto de Ensino

Fundamental e Médio, quanto de cursos de Graduação e Pós-Graduação.

Sobre a continuidade da expansão do ensino militar no Brasil, Leal (2009, p. 01)

diz que em 1889 surge, no Rio de Janeiro, o primeiro Colégio Militar, destinado ao

Ensino Secundário. Oficializado pelo Decreto Imperial 10.202, assinado em 9 de março

de 1889, com o nome Imperial Colégio Militar da Corte, tinha como

[...] finalidade garantir a educação dos órfãos de militares que haviam morrido ou que se tornaram inaptos em campos de batalha ou no serviço em campanha, além de promover a escolarização dos filhos de militares destacados a serviço e também de filhos de civis interessados em uma educação fundada sob os auspícios da pedagogia e disciplina militar.

Segundo Leal (2009), a instituição criou um grande renome pela sua qualidade

de ensino e isso fez com que o próprio Exército fosse enxergado com outro olhar pelos

civis.O prestígio adquirido foi um dos fatores que motivaram o Exército a defender a

ideia de espalhar uma rede de colégios militares pelo Brasil. O Exército conta com

Centros de Formação Profissional próprios: a Academia Militar das Agulhas Negras

(AMAN), a Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), a Escola de

Sargentos das Armas (ESA), o Instituto Militar de Engenharia (IME), dentre outros.

O Sistema dos Colégios Militares do Brasil (SCMB) dá assistência educacional

para os filhos de militares e, mais recentemente, para os filhos de civis que entram na

Page 16: dissertacao final maio16

escola através de concurso público, já mencionado anteriormente. Todos esses aspectos

possibilitam à Instituição um relativo funcionamento, independente da sociedade civil.

A contribuição do Exército para a cultura nacional e a valorização do homem brasileiro, conquanto seja assunto de evidente interesse histórico e social, não tem merecido o adequado enfoque pelos que escrevem a história da educação nacional (LUCHETTI, 2006, p.63).

Os seus sistemas de seleção são independentes, mas todos eles possuem a

disciplina e a hierarquia como princípios básicos para a sua proposta educacional. Com

uma doutrina de ensino baseada na filosofia do Exército Brasileiro, todos os Colégios

Militares buscam adequar os conteúdos educacionais também a esses preceitos

militares, incentivando o patriotismo através do ensino de hinos cívicos.

Na opinião do especialista Luiz Prazeres (2012), consultor em processos de

avaliação educacional e professor do Centro Pedagógico da Universidade Federal de

Minas Gerais (UFMG), a disciplina dos colégios militares faz diferença, mas não é o

único fator determinante para o sucesso dos estudantes egressos desse sistema de

ensino. “Os alunos desses colégios representam uma elite intelectual. A prova para

admissão nessas instituições é muito rigorosa, e acaba selecionando apenas os

melhores”, afirma Prazeres (2012, p.19). Embora pareça ser senso comum o fato de que

a seleção dos melhores alunos de fora do ambiente militar acabe por criar um círculo

virtuoso, diminuindo de alguma forma o papel da disciplina na aprendizagem, é

importante fazer uma contraposição a essa crítica, pois os alunos que prestam o exame

de admissão no SCMB geralmente não ultrapassam os 30%, sendo que os restantes 70%

formam o contingente de amparados, ou seja, alunos dependentes de militares das

Forças Armadas, transferidos ou não. Reforço aqui a importância dos alunos

concursados no SCMB devido ao alto nível de aprendizagem exigido na prova no

concurso de admissão.

Essa situação será explorada em detalhes na seção 3, mas chama-se a atenção

para isso com o intuito de resgatar, sim, o papel da disciplina na aprendizagem.

A disciplina dos colégios militares se aproxima da cobrada no Exército, mas de

modo mais leve, já que o aluno do SCMB não é um soldado. Algumas características

dos colégios militares, como hastear a bandeira e cantar o hino nacional, são algumas

atividades rotineiras. A postura frente ao professor, aos monitores, os horários

cumpridos com rigor e o uso da farda contribuem para o desenvolvimento de uma

postura diferenciada do aluno.

Page 17: dissertacao final maio16

Durante minhas pesquisas, foi possível perceber que há uma escassez na

comunidade científica sobre as práticas pedagógicas das instituições militares e a

própria cultura escolar destes estabelecimentos de ensino.

O objetivo desta pesquisa é estudar o fenômeno da disciplina em sala de aula e

sua relação com o processo de aprendizagem em L2 no Colégio Militar de Porto Alegre

(CMPA). Serão apresentados os mecanismos disciplinares presentes na escola e os

fatores que interferem no cotidiano escolar e sua relação com a prática docente.

Esta dissertação apresenta o referencial teórico no capítulo 2, que está

subdividido em cinco seções, a saber: 2.1 Disciplina em sala de aula; 2.2 Disciplina e

Aprendizagem; 3 O Sistema Colégio Militar do Brasil e O Colégio Militar de Porto

Alegre; 3.2 O Ensino de L2 no CMPA e seu impacto no exame de vestibular na

Universidade Federal do Rio grande do Sul (UFRGS); 3.3 O ensino de L2 no CMPA e

seu impacto sobre a performance na prova de L2 na Escola Preparatória de Cadetes do

Exército (EsPCEx).

O capítulo 4 apresenta os objetivos e os métodos utilizados na dissertação. Esse

capítulo é dividido em duas partes. Na primeira parte (4.1), a apresentação dos objetivos

específicos a eles correspondentes e na segunda parte o método (4.2), que trata das

características dos participantes e das características desse grupo. Na seção 4.2.1 será

apresentado o tipo de pesquisa e os participantes da pesquisa. No capítulo 5 são

apresentados os resultados com a análise dos dados coletados seguidos pelas

considerações finais e referências.

No próximo capítulo será feita uma revisão bibliográfica de teorias e pesquisas

realizadas sobre a (in) disciplina em sala de aula.

Page 18: dissertacao final maio16

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Este capítulo está organizado em 4 seções, sendo que a primeira delas versa

sobre a disciplina e seu universo conceitual (2.1). Na subseção que segue (2.1.1),

veremos o tempo gasto em sala de aula devido a questões de (in)disciplina e a disciplina

e o estabelecimento de rotinas em sala de aula na seção (2.1.2). Na seção 2.2, será

ressaltada a relação entre disciplina e aprendizagem de L2.

2.1 Disciplina em sala de aula

O viver em sociedade implica elaborar e disseminar princípios e regras que

regulam a convivência entre pessoas num determinado tempo e lugar. Para que tais

princípios sejam respeitados e tais regras sejam seguidas, produzem-se práticas

disciplinadoras visíveis e invisíveis (PAIVA,2005). Tudo isso pode parecer simples fora

do ambiente escolar. No entanto, a relação entre professor e aluno com a disciplina

escolar não pode ser compreendida de forma tão simplificada.

A aprendizagem, segundo Vygotsky (2000), é o processo no qual o indivíduo se

apropria de informações e conhecimentos que são apresentados a ele por meio da sua

interação com o meio. Ela se dá a partir do momento em que signos e sistemas

simbólicos são assimilados pelo sujeito, contribuindo para o desenvolvimento das

funções mentais superiores do mesmo. Assim, pode-se perceber que existe uma estreita

relação entre aprendizado e desenvolvimento, ou seja, o aprendizado permite ao

indivíduo a maturação das suas funções psicológicas propiciando o seu

desenvolvimento. Assim, a teoria de Vygotsky trata o indivíduo como um agente e o

meio, é externo, com isso, os indivíduos interagem com o social, com colegas e

mediadores. Através disso, as crianças internalizam e constroem o conhecimento, sob

influência desse meio e como são passados os conhecimentos.

O pedagogo Mariano Narodowski (2000) faz um alerta sobre o assunto

disciplina. Ele explica que a escola não consegue se reacomodar às novas configurações

sociais, não consegue lidar com as crianças que estão hoje na escola, prejudicando

assim o processo de aprendizagem.

O tema em questão vem sendo discutido cada vez mais no cotidiano escolar e

vem se tornando um desafio para professores e gestores educacionais que se deparam

com o problema da indisciplina. Para Parrat-Dayan (2008, p.07), “os problemas de

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indisciplina manifestam-se com frequência na escola, sendo um dos maiores obstáculos

pedagógicos do nosso tempo.”

Rocha (1996, p.338) entende que "indisciplina é a falta de disciplina, que

significa regime de ordem, imposta ou livremente consentida, a ordem que convém ao

funcionamento regular de uma organização" (grifo desta autora). Diante da posição de

Rocha, percebe-se que a indisciplina é algo que pode desencadear a desordem no

ambiente escolar, afetando assim o funcionamento da escola e, por conseguinte, o

processo de ensino-aprendizagem.

Segundo Carvalho (1996, p. 129), há seis diferentes acepções do termo

disciplina no dicionário, a saber:

1.instrução e direção dada por um mestre a seu discípulo[...] 2. submissão do discípulo à instrução e direção do mestre. [...] 3. imposição de autoridade, de método, de regras ou preceitos[...] 4. respeito à autoridade; observância de método, regras ou preceitos. [...] 5. qualquer ramo de conhecimentos científicos, artísticos, linguísticos, históricos, etc.: as disciplinas que se ensinam nos colégios. [...] 6. o conjunto das prescrições ou regras destinadas a manter a boa ordem resultante da observância dessas prescrições e regras: a disciplina militar; a disciplina eclesiástica.

A disciplina, em seu sentido original, traduz a ideia de um caminho a ser

percorrido ao longo do processo educacional e do grau de comprometimento que deve

existir entre os agentes de determinada estrutura ou instituição; neste caso, os agentes

escolares. Portanto, a disciplina está intimamente ligada à capacidade de ter controle

sobre si mesmo, de forma a ajustar a conduta individual às atividades e aos trabalhos

coletivos, promovendo a convivência na vida escolar. E em momento algum deve

referir-se a um poder de autoridade, que promove um sistema de castigos ou sanções

que são aplicadas àqueles que não desenvolvem as atividades escolares em silêncio, ou

seja, são punidos por sua conduta negativa (CARVALHO, 1996).

Os significados atribuídos à disciplina estão relacionados às concepções que se

formam no ideário educacional, influenciando diretamente os eventos de sala de aula.

Para Rego,

o modo como interpretamos a disciplina, sem dúvida, acarreta uma série de implicações à prática pedagógica, já que fornece elementos capazes de interferir não somente nos tipos de interações estabelecidas com os alunos e na definição de critérios para avaliar seus desempenhos na escola, como também no estabelecimento dos objetivos que se quer alcançar (REGO, 1996, p. 87).

Page 20: dissertacao final maio16

Enfatizando as ideias de Rego (1996), Boynton (2008), explica como as questões

disciplinares interferem na aprendizagem do aluno. Solucioná-las torna-se uma questão

primordial. A administração adequada do comportamento do aluno é um aspecto

extremamente importante, que todo professor deve desenvolver, já que, além de auxiliar

na criação de um ambiente positivo, afeta muito na aprendizagem escolar. Segundo o

autor, a socialização é o primeiro déficit a ser vencido. É importante para o aluno ter um

bom relacionamento com os colegas e professores para que possa desenvolver a sua

aprendizagem. Sem vencer esse problema, o aluno não conseguirá um ambiente

favorável à aprendizagem.

De acordo com Estrela (2002) as definições de disciplina baseadas em um

ensino tradicional voltado para a coação e a obediência implicam um comportamento de

passividade por parte dos alunos. Com base em estudos de várias áreas de

conhecimento, principalmente da psicologia, em que se retoma o lugar do aluno no

processo de ensino-aprendizado, o conceito de disciplina foi-se transformando em

organização do espaço e do tempo escolar e do grupo.

Para De La Taille (1994, p.120) “se desde cedo a criança aprende que há limites a

serem respeitados, aos poucos ela própria vai compreendendo que as regras são como

contratos estipulados para que todas as partes sejam beneficiadas”. Pela citação,

entende-se que o aluno deve compreender, desde o início de sua formação, que o

respeito a regras faz parte do processo educacional e da disciplina, compreensão essa

que não é percebida no dia a dia da maioria das escolas brasileiras.

De acordo com Xavier (2002) a partir da intenção da escola em fugir do ensino

tradicional, em virtude de seus métodos autoritários, bem como da concepção de

disciplina que traduz, acabou ocorrendo um silêncio entre os profissionais da escola

sobre a questão disciplinar, consequentemente, sobre o que se pode ser considerado

importante para a organização do trabalho docente e para o aprendizado dos alunos. A

escola passou a rejeitar todas as decorrências de uma opção pelo ensino tradicional,

acreditando que estaria, desse modo, optando por um ensino mais democrático, recaindo

no erro ao deixar de falar sobre a disciplina. No entanto, segundo a autora, o silêncio da

escola e a rejeição a questões de cunho disciplinares não a tornou mais democrática, e

sim mais despreparada para administrar as questões que resultam dessa escolha.

Para estabelecer os limites em sala de aula ou na escola, o professor vale-se das

regras, que visam contribuir para a organização do ambiente de trabalho, promover a

justiça, fomentar a responsabilidade por aquilo que ocorre na classe e o

Page 21: dissertacao final maio16

comprometimento de todos com os procedimentos e decisões referentes à sala de aula.

E, segundo Vasconcellos (2004) o aluno tem a necessidade de se expressar, sentir-se

como sujeito no meio em que vive. Nesse sentido, o professor deve mediar a

comunicação e a relação interpessoal, de modo a garantir o respeito às regras, às

diferenças, favorecendo experiências e aprendizados e permanecer atento quanto à sua

prática pedagógica.

Enfatizando a ideia de Vasconcellos, Araújo (1996) salienta a importância do

exercício da autoridade por parte do educador de criar vínculos afetivos com seus

alunos para que estes se sintam seguros e motivados a agirem de forma adequada.

Como exemplo da necessidade de resgatar a importância da disciplina em sala de

aula, foi recentemente aprovada a militarização de 15 escolas só no estado de Goiás. A

parceria entre o prefeito com as Secretarias de Educação e de Segurança Pública

promete ampliar o projeto em mais 35 escolas até o final de 2015. Segundo a

reportagem da Revista Veja, nestas escolas cabe aos policiais aplicar a disciplina,

lecionando constituição e noção de cidadania (Revista Veja. São Paulo. Edição 2368,

abril 2015).

Os resultados da mudança implantada no início deste ano, segundo a escola e o

governo goiano, foram satisfatórios. O diretor do agora Colégio Militar Fernando

Pessoa, capitão Francisco dos Santos Silva, afirma que, implementando os princípios

básicos militares de "hierarquia e disciplina", a escola conseguiu acabar com os casos de

violência e virou um "sonho" para os moradores da cidade. A escola se tornou militar

em janeiro deste ano e, segundo o capitão Santos conseguiu manter 80% dos alunos

após as mudanças – eram 680 alunos até então. Agora, o colégio tem quase o dobro de

estudantes (1.100) e atuam nele um total de 13 oficiais militares, 38 professores – a

maioria mantida do modelo antigo da escola, com apenas algumas trocas daqueles que

"não se adaptaram ao novo esquema" -, além de uma psicóloga, uma psicopedagoga e

outros funcionários. Entre as funções dos militares, estão as de cunho administrativo – o

comandante e o sub-comandante fazem parte do corpo diretivo – e também as de

"coordenadores de disciplina", que são responsáveis por fazer com que os alunos

cumpram as regras da cartilha militar. Além dos novos hábitos, os alunos da escola

Fernando Pessoa ganharam também novas aulas. O currículo do Ministério da Educação

(MEC) é mantido, mas os militares adicionaram à grade aulas de música, cidadania,

educação física militar, ordem unida, prevenção às drogas e Constituição Federal.

Page 22: dissertacao final maio16

Em Manaus o modelo de gestão militar está sendo implementado pelo prefeito

na escola, que agora se chama 3° Colégio Militar da PM Professor Waldocke Fricke de

Lyra, numa região com alto índice de violência. Para o governo a experiência até o

momento é positiva, já que os índices do IDEB (Índice de Desenvolvimento da

Educação Básica) melhoraram. Segundo a reportagem do site do jornal O Tempo (O

TEMPO,2015), no estado de Minas Gerais, são mais de 20 mil alunos frequentando

escolas cujo uniforme remete à farda militar, divididos em 24 colégios, dois do Exército

e 22 da PM – dois deles inaugurados no corrente ano, em Uberlândia, no Triângulo, e

em Pouso Alegre, no Sul de Minas. E a intenção é continuar crescendo: Divinópolis, na

região Centro-Oeste, também deverá receber em 2016 uma unidade do Colégio

Tiradentes. “Não conseguimos atender 100% (dos interessados). Ainda temos uma

demanda reprimida de dependentes de militares”, explica a coronel Rosângela de Souza

Freitas, diretora de Educação Escolar e Assistência Social da PM. O levantamento feito

pelo jornal Folha de São.Paulo e divulgado no site 24horasnews aponta que Minas

Gerais só perde para Goiás na quantidade de colégios militares.

A autoridade e o respeito que cada professor impõe perante a turma podem

variar. Observa-se então o conceito de autoridade moral de Durkheim (1978). O filósofo

e sociólogo francês diz que a autoridade do mestre é algo nato, advindo de sua função

social, porém ela só é passível de ser observada e praticada por meio “[...] do respeito

que o mestre tenha por suas funções [...]”. Durkheim (1978) deixa claro também que a

autoridade não é exercida por meio violento ou opressor e que para que o professor a

exerça são necessárias duas condições essenciais:

A autoridade implica confiança, e a criança não pode manifestar confiança em quem vê hesitar, voltar sobre suas decisões. O que importa, antes de tudo, é que o mestre demonstre sentir realmente, sinceramente, o sentimento da própria autoridade. A autoridade é uma força que ninguém pode manifestar, se efetivamente não a possui. (DURKHEIM, 1978, p. 55).

O crescente processo de militarização apresentado acima reforça essa

necessidade em disciplinar os alunos evitando, por exemplo, um desperdício de tempo

em sala de aula destinado ao aprendizado de conteúdos. Esse é o assunto da subseção

2.1.1 a seguir.

Page 23: dissertacao final maio16

2.1.1 O tempo gasto em sala de aula devido a questões de (in)disciplina

No cotidiano escolar é possível perceber demonstrações de insatisfação por parte

dos docentes, devido à indisciplina dos alunos. Nesse contexto surgem as queixas dos

professores, que não conseguem desenvolver as atividades previstas no planejamento e,

como consequência, sofrem prejuízos no desenvolvimento do processo da aprendizagem

de seus alunos. Situações como essas possivelmente contribuirão para desestabilizar as

atividades previstas no planejamento e se converterão em desconforto por parte dos

professores. Com relação a essas situações, Estrela (2002) aponta que

O tempo que o docente gasta na manutenção da disciplina, o desgaste provocado pelo trabalho num clima de desordem, a tensão provocada pela atitude defensiva, a perda do sentido da eficácia e a diminuição da auto-estima pessoal levam a sentimentos de frustração e desânimo e ao desejo de abandono da profissão. (ESTRELA, 2002, p. 109)

Nesse sentido, o tempo gasto na sala de aula para intervir na indisciplina dos alunos é

contado como um tempo que se perdeu, tempo este que poderia ser ganho no

desenvolvimento do ensino-aprendizagem.

Harris (2000) revisa estudos feitos em relação ao tempo de sala de aula

dispendido para dar instruções ou para iniciar as aulas. Seus estudos, realizados nos

últimos 15 anos, mostram a importância das rotinas em sala de aula e sua relação direta

com a qualidade da aprendizagem.

Entre os professores iniciantes, o maior problema visto na pesquisa foi a

(in)disciplina e seus efeitos na aprendizagem. De acordo com a autora, a questão do

tempo desperdiçado em função da disciplina em sala de aula varia de escola para escola,

mas em todos os casos, esse número está aumentando. Mesmo nas melhores

circunstâncias, o tempo usado para instruções iniciais da aula e estabelecimento de uma

atmosfera propícia à aprendizagem chega à metade de um dia letivo. O tempo perdido

com instruções é sempre relacionado com a (in)disciplina dos alunos. O problema não é

a falta de tempo que o professor possui em sala de aula, e sim a maneira como esse

tempo será usado pelo professor para a aprendizagem do aluno. Rotinas como

atividades de planejamento do conteúdo, da organização da sala de aula e monitoração

por parte dos próprios alunos administram o tempo disponibilizado para a aprendizagem

(HARRIS, 2000), conforme se vê na seção 3.1.1

Page 24: dissertacao final maio16

A importância do tempo em sala de aula é um tema estudado e pesquisado por

instituições brasileiras e estrangeiras. O desperdício de 10% dos dias letivos é uma das

constatações presentes na pesquisa publicada em 2014 pelo Banco Internacional para

Reconstrução e Desenvolvimento, Great Teachers: How to Raise Student Learning in

Latin America and the Caribbean (BRUNS; LUQUE, 2014). Do total de 200 dias

letivos do ano escolar aos quais os alunos brasileiros têm direito, 20 dias são

desperdiçados por conta de atrasos e saídas dos alunos antes do término da aula e com

outras atividades que em nada estão relacionadas com o ensino e a aprendizagem. Nesse

cálculo sequer foi considerado o tempo perdido com a contenção da bagunça e com a

realização de outras atividades pelo professor, como a realização de chamada e a

entrega de trabalhos escolares.

Segundo a pesquisa, a mágica da educação, referida como transformação dos

elementos educacionais em resultados da aprendizagem, acontece na sala de aula. A

pesquisa realizada proporcionou um olhar nunca empregado antes sobre as salas de aula

da América Latina e do Caribe para examinar de que modo os professores utilizam o

tempo em sala de aula e outros recursos disponíveis para apoiar a aprendizagem de seus

alunos. No período entre 2009 e 2013, foram observadas mais de 15.000 salas de aula

em mais de 3.000 escolas de sete países diferentes: o maior estudo internacional desse

tipo jamais realizado. Por meio de visitas não-anunciadas a amostras representativas de

escolas de âmbito nacional, observadores treinados utilizaram um protocolo de pesquisa

padronizado chamado “Retrato da sala de aula de Stallings” para gerar dados

comparáveis para quatro variáveis: a) Uso do tempo de instrução por parte dos

professores; b) Uso dos materiais pelos professores, inclusive computadores e outros

recursos de TIC; c) Práticas pedagógicas as usadas pelos professores; d) Capacidade dos

professores de manter os alunos envolvidos.

O método foi originalmente desenvolvido nos Estados Unidos e, portanto, os

resultados da América Latina e do Caribe podem ser comparados com os dados dos

sistemas escolares dos EUA coletados durante várias décadas pelos pesquisadores

Stallings e Knight (2003).

O baixo uso do tempo de instrução contribui para o baixo nível de aprendizagem

na América Latina e no Caribe. Nenhum dos sistemas escolares da América Latina e do

Caribe estudados aproximou-se do padrão de boas práticas de Stallings de 85% de

utilização do tempo total da aula com instrução. As médias mais elevadas registradas —

65% para a amostra nacional na Colômbia e 64% para o Brasil e Honduras — estão 20

Page 25: dissertacao final maio16

pontos percentuais abaixo do que a pesquisa de Stallings sugeriu que uma sala de aula

bem administrada pode alcançar.

Tendo em vista que as medidas de Stallings são estatisticamente representativas

do funcionamento do sistema escolar como um todo, isso sugere que 20% do tempo de

instrução potencial esteja sendo perdido na América Latina em comparação com o

objetivo de boas práticas. Isso equivale a um dia de instrução a menos por semana. A

maior parte do tempo de instrução perdido é utilizada em atividades de organização da

sala de aula, tais como chamada, limpeza do quadro negro, correção de dever de casa ou

distribuição de trabalhos, que absorvem entre 24% e 39% do tempo total da aula: muito

acima do padrão de 15%.

Os padrões de Stallings também partem do pressuposto que os professores

passam a aula inteira ensinando ou administrando a sala de aula, mas em todos os países

da América Latina e do Caribe estudados os professores gastam pelo menos 9% do

tempo em nenhuma dessas duas atividades, o que é considerado tempo do professor fora

de tarefa.

Os professores brasileiros gastam, em média, 20% do tempo de aula para

manter a disciplina na classe, segundo levantamento internacional. Ou seja, o docente

gasta um minuto, de cada cinco, pedindo silêncio ou chamando a atenção por bagunça,

como mostra a figura 1 abaixo.

Page 26: dissertacao final maio16

Figura1: Uso do tempo em sala de aula

Fonte:http: Disponível em <> http://g1.globo.com/educacao/noticia/2015/03/professor-no-brasil-

perde-20-da-aula-com-bagunca-na-classe-diz-estudo.html>. São Paulo, São Paulo, Brasil. Acessado em:

06 de Agosto de 2015.

O desempenho brasileiro é o pior entre os 32 países que responderam a essa

parte da pesquisa. A média entre os países é de 13%. Na Finlândia, país tido como

exemplar no quesito educação, o percentual de tempo dedicado a essa atividade chega a

13%. As informações são da edição 2013 da Talis, Pesquisa Internacional sobre Ensino

e Aprendizagem coordenada mundialmente pela OCDE (Organização para Cooperação

e Desenvolvimento Econômico). Em âmbito nacional, o estudo foi coordenado pelo

Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), vinculado ao Ministério

da Educação (MEC).

Tendo em vista esses dados, começa-se a cogitar quais seriam as estratégias a

serem usadas para restabelecer ou criar um ambiente de maior disciplina em sala de

aula. Esse é o tema da próxima subseção.

2.1.2 A disciplina e o estabelecimento de rotinas em sala de aula

As rotinas são entendidas não apenas como um dos elementos integrantes das

práticas pedagógicas e didáticas que são planejadas e reguladas, mas também como a

dimensão educativa favorecedora da aprendizagem e do desenvolvimento do aluno

(BARBOSA, 2006). A rotina prevista no planejamento é um trabalho intencional, no

qual o professor mobiliza recursos didático-pedagógicos em prol da aprendizagem dos

alunos, não é uma atividade mecânica sem contextualização.

Page 27: dissertacao final maio16

As crianças aprendem, através dessas rotinas, a prever o que farão na escola e a organizar-se. Por outro lado, a existência dessas rotinas possibilita ao professor distribuir com maior facilidade as atividades que ele considera importantes para a construção dos conhecimentos em determinado período, facilitando o planejamento diário das atividades didáticas. (LEAL, 2004, p.02)

O estabelecimento de rotinas contribui tanto para a prática de ensino como para o

processo de aprendizagem do aluno. Com a construção de rotinas é possível conduzir

melhor a aula, prevendo dificuldades dos alunos, organizar o tempo da forma

sistemática e flexibilizar as estratégias de ensino. (CRUZ, 2012, p.17)

Segundo Veiga (2011), a organização da aula demanda características como: a

colaboração entre professores e alunos; a contextualização da aula, que considera o

contexto social, educativo e as peculiaridades do conjunto de alunos. O reconhecimento

da diversidade étnica e cultural das crianças; a organização flexível, capaz de se adequar

com as necessidades detectadas. Para a autora, a qualidade da aula interfere na

promoção da autonomia, da criatividade, da ética, da solidariedade e da colaboração.

O estudo de Szenczuk (2004) contribui muito ao salientar um posicionamento,

mais institucional do que pessoal, em relação à (in)disciplina. Segundo a autora, as

pesquisas analisadas privilegiam três focos de investigação: a organização das

atividades de ensino, a organização das atividades escolares e as relações de poder na

escola. Entretanto, em aproximadamente metade das pesquisas, cuja abordagem é a

didático-pedagógica, o foco foi colocado na organização das atividades de ensino e na

organização das atividades escolares, conhecidas como rotinas de sala de aula. Essa

tendência, observada nas pesquisas sobre a (in)disciplina, de trazer para a escola e para

seus processos internos parte da responsabilidade sobre as práticas educativas escolares

torna-se de extrema importância. Assim, os professores precisam compreender que o

sentido das coisas é construído por um conjunto de representações, historicamente

construídas, que vão se tornando presentes em seus discursos. Além disso, como se

verifica, toda ação docente é pautada por concepções e crenças que muitas vezes não

são conscientes para o professor (CORSI, 2005; PAPPA, 2004).

Dada a complexidade da questão da indisciplina, mesmo as pesquisas que a

analisaram do ponto de vista dos alunos (ARAÚJO, U., 2001; BENTES, 2003) também

destacam aspectos como a organização escolar, organização dentro de sala de aula, a

interação professor-aluno, a prática pedagógica do professor, entre outros, como fatores

de influência para o comportamento dos alunos.

Page 28: dissertacao final maio16

Segundo Estrela (2002), a relação pedagógica tem extrema importância no

âmbito dos comportamentos apropriados. No mesmo sentido, Carita e Fernandes (1997)

afirmam que a organização e gestão de sala de aula, através da criação e manutenção do

clima afetivo do grupo, representa uma atuação para evitar e/ou diminuir os

comportamentos de indisciplina. De fato, o ensino na sala de aula pode ser estruturado

através de dois elementos que se relacionam intrinsecamente: a ordem e a

aprendizagem, como afirma Barroso (2004, p.10): “a disciplina e a aprendizagem são

duas faces de uma mesma moeda”, que não podem existir separadamente. O papel do

professor passa por manter um equilíbrio entre estes dois elementos, isto é, estabelecer

regras na aula, lidar com o comportamento dos alunos e definir consequências para

estes, sem que haja interrupção da aula. No entanto, a maioria dos professores deseja

centrar-se mais na instrução que na disciplina. (Estrela, 2002). Por um lado, quando há

disciplina, os alunos estão atentos e aderem às tarefas o que leva ao prazer no ensino.

Entretanto, um ambiente negativo de controle e repreensões constantes, poderá levar à

desmotivação e ansiedade do professor. Então, a intervenção do professor deverá

basear-se numa correta organização e gestão de sala de aula (Estrela, 2002).

Para que não confundamos os conceitos de disciplina e gestão de sala de aula

(classroom managment), torna-se relevante fazer a sua diferenciação. Martins (2011)

afirma que o primeiro conceito (disciplina) diz respeito “apenas aos comportamentos

que o professor desenvolve no sentido de alcançar e manter determinados padrões de

comportamento nos alunos”, e o segundo (gestão de sala de aula) diz respeito “a todas

atividades da sala de aula, como aprendizagem, interação social e comportamento dos

alunos”. Ambos os conceitos são importantes no contexto deste estudo porque nos

interessa caracterizar a indisciplina, no âmbito dos comportamentos do professor, mas

também dos comportamentos dos alunos e das interações que se estabelecem entre

ambos e, ainda, relativamente ao sistema produtivo na sala de aula.

O estudo da gestão de sala de aula teve início com Kounin (1977) e referia-se a

prática docente, mais concretamente a preparação de aula, a gestão do tempo e do

espaço, a exposição e a capacidade de envolver os alunos nas atividades. Para Amado e

Freire (2005), o conceito de gestão de sala de aula envolve conceitos de ensino e de

aprendizagem enquanto ações observáveis, quantificáveis e subjetivas. Abrange, ainda,

conhecimentos, técnicas e tecnologias, bem como maneiras de ser e pensar de cada

participante do contexto.

Page 29: dissertacao final maio16

Estudando sobre a questão gestão de sala de aula, Amado e Freire (2005)

debruçaram-se sobre duas dimensões: o modo como o professor organiza as atividades e

a forma como gere os poderes dentro da sala de aula.

Para Slavin (2006), qualquer docente deve proporcionar aulas interessantes,

envolventes e relevantes para os estudantes, o que irá permitir que estes prestem mais

atenção e façam com mais entusiasmo o que lhes é solicitado. Assim, as estratégias

devem ser focadas na prevenção e resposta aos comportamentos inadequados, na

utilização eficaz do tempo e espaço físico, bem como na criação de um ambiente que

abranja os interesses dos alunos e os faça colocar questões, e a promoção de atividades

que acionem a imaginação e o envolvimento mental dos alunos (engagement),

permitindo a criação de um ambiente feliz e produtivo de aprendizagem e a

minimização de problemas de comportamento.

Os estudos de Richardson (1997) dão destaque aos recursos que o professor

controla, salientando o tempo – gestão e focalização do tempo dos alunos nos assuntos

escolares em geral – e o espaço na sala de aula – como movimentar-se nesse espaço,

onde colocar os alunos, os materiais e as carteiras e como criar um ambiente adequado à

aprendizagem. Fazem, ainda, referência ao fato de estar bastante bem desenvolvida a

investigação sobre a gestão do tempo, mas muito pouco se saber ainda sobre a gestão do

espaço. A flexibilidade na colocação das carteiras e das mesas e no agrupamento dos

alunos assume um papel muito importante quando se considera o uso do espaço na sala

de aula. A principal preocupação dos professores com o espaço é experimentar a

reorganização da disposição da sala de aula. A forma como o mobiliário está disposto

pode ter influência no tempo de aprendizagem escolar e, consequentemente, na

aprendizagem dos alunos. A flexibilidade na colocação das cadeiras e das mesas, bem

como no agrupamento dos alunos, é essencial para proporcionar uma aprendizagem

cooperativa, o apoio entre pares e a apresentação dos conteúdos a todos os elementos da

aula (RICHARDSON, 1997).

Richardson (1997) e Castro (2004) investigaram as relações entre os vários

aspectos do tempo e da aprendizagem dos alunos e confirmaram que a aprendizagem

está relacionada com a quantidade de tempo atribuída a uma tarefa e com o tempo que

os alunos permanecem ocupados e concentrados na sua realização. Quanto mais tempo

os professores atribuírem a um tópico escolar específico e quanto mais os alunos

estiverem concentrados nesse tópico, mais aprenderão acerca dele.

Page 30: dissertacao final maio16

Slavin (2006) afirma que o docente deve manter a Regularidade e o Ritmo,

evitando interrupções ou abrandamentos por parte do professor ou outro, de modo a

prevenir situações de perturbação da aula, como bater à porta, fazer chamadas

telefônicas, administração de rotinas diárias escolares e minimização do tempo para a

disciplinação as ações/conversas sobre disciplina devem ser direcionadas depois da aula

(SLAVIN, 2006).

A sala de aula, enquanto espaço de socialização cultural, produz, além de

desenvolvimento cognitivo, conflitos inevitáveis, especialmente no ensino de línguas,

por envolver a participação ativa do aluno. Dentre esses conflitos, a indisciplina

destaca-se. Percebe-se que, apesar do estudo realizado sobre esse tema no campo da

Educação em geral, no campo da Linguística Aplicada há uma carência de estudos que

tratem especificamente da questão, apesar das implicações que a indisciplina pode trazer

para o processo de ensino e aprendizagem de Língua Estrangeira (LE).

A literatura sobre estratégias de aprendizagem apresenta diferentes

classificações. Tais classificações são decorrentes de visões específicas de estratégia

defendidas pelos autores e pesquisadores.

Na seção seguinte será abordada a relação da disciplina e o processo de ensino

de L2 e as pesquisas realizadas sobre a importância da disciplina nesse processo.

2.2 Disciplina e Aprendizagem de L2

As palavras tempo e espaço são utilizadas cotidianamente no âmbito da escola,

porém o que se constitui como uma das abordagens desta pesquisa, não é o uso rotineiro

das noções dessas palavras, mas de refletir o significado de tempo e espaço como

elementos mediadores do processo de aprendizagem. É preciso observar que há

possibilidades de organização e distribuição do tempo e do espaço para efetivar de

maneira significativa a aprendizagem dos alunos.

Lima (2009) investigou a relação entre disciplina e ensino/aprendizagem de L2

em uma escola brasileira. Em seu estudo, a autora confirma que a questão da

(in)disciplina compromete o processo de ensino e aprendizagem de L2, levando a uma

atmosfera conflituosa e tensa, interferindo na qualidade relacional em sala de aula. Mais

ainda, a qualidade material (metodologia, material didático etc.) do ensino de L2 é

afetada pela falta de disciplina, uma vez que concepções de disciplina modulam

escolhas metodológicas da professora, bem como suas ações e tomadas de decisão,

Page 31: dissertacao final maio16

acarretando forte e rápido desgaste das relações professor-aluno e entre alunos, e

inclusive inviabilizando a manutenção de ambiente propício à aprendizagem.

Em sua pesquisa, Lima (2009) acompanhou as experiências de uma professora e

quatorze estudantes adolescentes entre 13 e 14 anos em um curso de idiomas no interior

de Minas Gerais. O curso conta com excelente infra-estrutura de ensino: salas de aula

limpas e equipadas, turmas pequenas, professores treinados, apoio da coordenação,

variedade de material didático e aulas em dois encontros semanais de uma hora e quinze

minutos de duração. Mesmo nessas condições, a professora, profissional competente,

graduada e com dezesseis anos de prática de ensino, abandonou a turma devido a

dificuldades em lidar com comportamentos indisciplinados. Em questionários e

entrevistas, professora e alunos relataram sentimentos de incômodo sobre

comportamentos indisciplinados, respectivamente, de alunos e de colegas ou pessoais,

bem como do comportamento e atitudes da professora. Assim, a pesquisa documentou

que indisciplina pode ocorrer em qualquer sala de aula, inclusive na equipada e moderna

de cursos livres, tendo efeito prejudicial para aprendizagem, professor e estudantes

(LIMA, 2009).

Além disso, os resultados confirmaram que a indisciplina compromete o

processo de ensino e aprendizagem de LE, levando a uma atmosfera conflituosa e tensa,

interferindo na qualidade relacional em sala de aula. Mais ainda, a qualidade material

(metodologia, material didático etc.) do ensino de LE é afetada pela indisciplina, uma

vez que concepções de (in)disciplina modularam escolhas metodológicas da professora,

bem como suas ações e tomadas de decisão, contrariando expectativas dos estudantes.

Isso acarretou forte e rápido desgaste das relações professor-aluno e entre alunos,

inviabilizando a manutenção de ambiente propício à aprendizagem (LIMA, 2009).

A literatura em Linguística Aplicada tem identificado uma taxonomia de

Estratégias de Aprendizagem (doravante EA) como um dos fatores que podem

contribuir para a aprendizagem de L2 e diminuir a indisciplina. Williams e Burden

(2000, p. 10) constatam que “[o] trabalho recente da área de aprendizagem de

estratégias de aprendizagem tem nos mostrado que o uso consciente de estratégias pode

aumentar a aprendizagem significantemente”.

Freitas (1998), por exemplo, apresenta um artigo no qual diz comprovar a

validade do uso consciente de EA por alunos de inglês como L2. Além disso, a autora

interpretou o aumento gradativo do uso de certas EA como evidência da possibilidade

de um ensino de EA sistemático, ou seja, as EA não são algo inerente ao aprendiz, mas

Page 32: dissertacao final maio16

podem ser ensinadas a ele. Destaco aqui a disciplina na autoaprendizagem como uma

dessas estratégias, afinal, segundo Oxford (1990, p. 139), organizar a aprendizagem diz

respeito a “compreender e usar condições relacionadas a otimizar a aprendizagem da

nova língua; organizar seus horários, o ambiente físico (ou seja, local, temperatura,

barulho, iluminação) e o caderno de Língua Estrangeira” (Oxford, 1990, p. 139). Essa

EA ressalta a importância de o aluno desenvolver a habilidade de organizar sua

aprendizagem para otimizar o desenvolvimento da competência comunicativa.

As estratégias de aprendizagem, como o próprio nome indica, visam a possibilitar,

facilitar ou acelerar a aprendizagem de uma língua. Na literatura sobre o tema, as

classificações mais referenciadas são as de O’Malley e Chamot (1990) e Oxford (1990),

sendo esta última a mais popular, tomada como parâmetro para muitas pesquisas.

O´Malley e Chamot (1990, p. 1), baseados em uma perspectiva cognitiva de

processamento da informação, definem as estratégias de aprendizagem como

pensamentos ou comportamentos especiais que os indivíduos utilizam para ajudá-los a

compreender, aprender ou reter informações novas. Cohen (1996), por sua vez, afirma

que as estratégias de aprendizagem são como passos ou ações selecionados pelos

aprendizes para melhorar a aprendizagem ou o uso da língua, ou ambos. São

pensamentos e comportamentos conscientes que os alunos utilizam para facilitar as

tarefas de aprendizagem.

As estratégias são predominantemente classificadas como sociais, afetivas,

cognitivas e metacognitivas. Inegavelmente este é o critério de classificação mais

empregado na literatura sobre ensino de línguas (WENDEN, 1987; OXFORD, 1990;

O`MALLEY & CHAMOT, 1990, entre outros).

As estratégias metacognitivas requerem avaliação, planejamento, reflexão e

monitoramento do processo de aprendizagem. Tanto a organização do espaço físico, da

luz, do horário das aulas e do gerenciamento do tempo fazem parte dessa estratégia. A

autora acrescenta que um dos fatores que resultam em baixa qualidade de ensino é a

indisciplina, pois essa está relacionada com o desperdício de tempo em sala de aula

pelos professores. Esses seriam responsáveis, portanto, pela administração de processos

envolvidos na aprendizagem, em especial pelo emprego consciente de estratégias

metacognitivas, o que pode levar a uma diminuição da indisciplina.

Em termos gerais, as estratégias representam um pensar sobre a aprendizagem

de forma a possibilitar a tomada de decisões que visam possibilitar uma aprendizagem

mais consciente, responsável e bem-sucedida. Uma das funções das estratégias

Page 33: dissertacao final maio16

metacognitivas é identificar problemas durante a aprendizagem e planejar possíveis

soluções. Apesar das estratégias metacognitivas não estarem relacionadas à aquisição de

conteúdos específicos, o emprego das mesmas contribui de forma significativa para o

sucesso da aprendizagem, uma vez que é por meio delas que os alunos podem

desenvolver níveis mais elevados de autonomia e consciência sobre o processo

educacional (COHEN, 1998; CHAMOT, 2005).

Na seção 3 será apresentado o Sistema Colégio Militar do Brasil juntamente com o

Colégio Militar de Porto alegre e suas particularidades em treze (13) subseções.

3. O SISTEMA COLÉGIO MILITAR DE PORTO ALEGRE E O CO LÉGIO MILITAR DE PORTO ALEGRE

A presente seção está dividida em 13 subseções que abordarão as características

do SCMB: Sistema Colégio Militar do Brasil e Colégio Militar de Porto Alegre. Nas

seções (3.2 e 3.3) serão apresentados o ensino de L2 no Colégio Militar de Porto Alegre

seu impacto nos concursos de vestibular da UFRGS e EsPECx respectivamente.

3.1. Sistema Colégio Militar do Brasil e Colégio Militar de Porto Alegre

O Sistema Colégio Militar do Brasil (SCMB) é formado por 12 Colégios

Militares, que oferecem o ensino fundamental (do 6º ao 9º ano) e o ensino médio.

Fazem parte do SCMB os seguintes colégios: Colégio Militar de Brasília, Colégio

Militar de Campo Grande, Colégio Militar de Curitiba, Colégio Militar de Fortaleza,

Colégio Militar de Juiz de Fora, Colégio Militar de Manaus, Colégio Militar de Porto

Alegre, Colégio Militar de Salvador, Colégio Militar de Santa Maria, Colégio Militar de

Belo Horizonte, Colégio Militar de Rio de Janeiro e Colégio Militar de Recife.

Esses estabelecimentos de ensino oferecem educação de alta qualidade a

aproximadamente 15 mil jovens. As práticas didático-pedagógicas nos Colégios

Militares subordinam-se às normas e às prescrições do Sistema de Ensino do Exército e,

ao mesmo tempo, obedecem à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

(LDBEN), principal referência que estabelece os princípios e as finalidades da educação

no País.

Os Colégios Militares realizam anualmente um concurso público de admissão

para o preenchimento de vagas do 6º ano do Ensino Fundamental e do 1º ano do Ensino

Page 34: dissertacao final maio16

Médio. Para ingressar no SCMB, o candidato realizará um exame intelectual de

matemática (prova objetiva) e, se aprovado, um exame intelectual de Língua Portuguesa

(prova objetiva e redação). Se classificado dentro do número de vagas oferecidas, será

convocado para revisão médica.

Outra maneira de ingresso no SCMB é por amparo. Especificado em

regulamento, destina-se a atender aos dependentes de militares, que sofrem os reflexos

das obrigações profissionais dos pais em razão das peculiaridades da carreira, as

transferências. Com isso cada colégio possui a mesma grade curricular, possibilitando

assim um ensino único entre as escolas, e facilitando em caso de troca de colégio, em

qualquer época do ano. Os Concursados são os alunos que ingressaram no SCMB

através de concurso de admissão. Geralmente, o número de alunos amparados (70%) é

superior ao de concursados (30%) em todos os colégios militares. Esse fato merece

destaque, já que põe por terra o argumento de que o bom desempenho dos estudantes

dos colégios militares deve-se ao fato do processo de seleção feita para a admissão de

novos alunos.

O Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) foi criado pelo Decreto nº 9.397, de

28 de fevereiro de 1912. Seu aniversário é comemorado em 22 de março, data em que

houve a primeira aula. Atualmente, no Colégio Militar de Porto Alegre o número de

alunos amparados é de 70% e concursados 30%.

Os ritos de ensino militar, que serão descritos na seção seguinte, também

contribuem para uma atmosfera permeada pela disciplina.

3.1.1 Rotinas Militares

Refletir sobre os ritos promovidos pelo SCMB permitirá não só conhecê-lo e

avaliar a imagem que a sociedade e a instituição fazem dele como também tornará

possível entender os métodos utilizados para promoção e perpetuação dessa imagem,

uma imagem constituída ao longo da evolução da instituição militar em si e consolidada

na expansão de seus estabelecimentos de ensino.

Para o antropólogo francês Van Gennep:

A vida individual, qualquer que seja o tipo de sociedade, consiste em passar sucessivamente de uma idade a outra e de uma ocupação a outra. Nos lugares em que as idades são separadas, e também as ocupações, esta passagem é acompanhada por atos especiais, que, por exemplo, constituem para os nossos ofícios, a aprendizagem, e que, entre vários povos, consistem em cerimônias. (VAN GENNEP, 2011, p.24)

Page 35: dissertacao final maio16

Segundo Mesquita (2011), visando firmar identidade frente à sociedade, o

Exército construiu ao longo de sua história uma série de ritos e tradições a serem

transmitidas a seus integrantes, principalmente através do ensino, e, o mais importante,

a serem cultuados por eles. A preocupação militar em fazer das passagens de fase, pelas

quais todo indivíduo passa, momentos memoráveis compele a instituição a validar as

ideias de Van Gennep sobre as cerimônias como marcação dessas passagens.

Segundo Abbagnado (2007), “ tradição perpassa pela herança cultural no qual

se transmite as crenças e os valores de uma geração a outra. (ABBAGNADO, 2007,

p.p. 1149-1150) A cultura militar, por assim dizer, tem nos estabelecimentos militares, o

mensageiro de suas tradições. Seus valores são passados aos jovens de geração a

geração e são tidos na mais alta conta. Existem várias reuniões “nostálgicas”,

promovidas pelo colégio, através da Associação de Ex-Alunos, em que o fluxo de

lembranças consolida o conjunto de valores.

Os rituais do ensino secundário militar funcionam como uma espécie de “janela”

através da qual a sociedade pode observar o desenvolvimento do trabalho e ter uma

ideia dos objetivos da instituição. Os rituais que já são tradição envolvem: formaturas

matinal e geral, formaturas de conclusão de curso, desfiles, o grito de guerra, o

uniforme, o culto ao civismo e às personagens históricas, entre outras solenidades.

As tradições são necessárias para imprimir, nas gerações futuras, os valores da

instituição. O melhor meio para efetivar a impressão é a educação. No contexto do

estabelecimento em questão, podemos citar aquilo que Hobsbawm chamou de

“tradições inventadas”.

(...) Inclui tanto as “tradições” realmente inventadas, construídas e formalmente institucionalizadas, quanto as que surgiram de maneira mais difícil de localizar num período limitado e determinado de tempo – às vezes coisas de poucos anos apenas – e se estabelece com enorme rapidez. (HOBSBAWM, 1997, p.9)

Ao cruzar por militares do Colégio, os alunos deverão saudar os militares

prestando a continência individual. No pátio, cantina e demais áreas de livre acesso, os

alunos deverão estar bem uniformizados e fazendo o uso obrigatório da boina. Os

deslocamentos de turmas para qualquer local devem ser em forma, a comando do Chefe

de Turma, sob a supervisão dos Monitores. O chefe de turma é definido de acordo com

a ordem da lista de chamada e trocado a cada semana, de maneira que todos os alunos

devam passar por essa posição de destaque e responsabilidade durante o ano. É de

Page 36: dissertacao final maio16

responsabilidade do chefe de turma informar ao professor os alunos ausentes logo no

início do período.

A principal diferença entre os colégios militares e as escolas civis é a questão da

disciplina. As regras no SCMB são rígidas. Apesar de a aula começar às 7:30h, o aluno

que atravessa o portão de entrada às 7:15h é considerado atrasado.

A formatura matinal funciona como prévia de qualquer solenidade. Ela é

realizada no início de todas as manhãs. Nesse momento os monitores repassam os

avisos, anotam as faltas e observam o uniforme, cabelo e a apresentação individual.

Nessa hora é feito o hasteamento da bandeira nacional.

A formatura com desfile, onde os alunos marcham, é apenas semanal, a cargo de

cada colégio militar. O hino nacional e o hino do colégio é cantado por todos, sempre

com muita vibração. Nessa formatura são observadas marcialidade, imobilidade,

disciplina e, mais uma vez, a apresentação individual.

Nesses dias, a formatura é seguida pela apresentação dos estandartes dos 27

estados brasileiros, além dos pavilhões do Brasil e do próprio Colégio Militar de cada

região, no caso de Porto Alegre, o brasão do CMPA; pela entonação do Grito de Guerra

e dos hinos do Brasil e de cada canção do colégio militar em questão; e pela

apresentação do mascote do Colégio, sendo tudo acompanhado pela banda de música do

colégio, composta pelos alunos.

A posição hierárquica dos conhecidos “alunos-graduados” durante as cerimônias

fica evidenciada para quem assiste. A condução do batalhão do corpo de alunos e do

grito de guerra, além da ostentação das bandeiras, são honras concedidas aos melhores

alunos.

Os alunos do SCMB têm um brado. Uma saudação colegial, que marca seu

status de aluno ou ex-aluno de um Colégio Militar no Brasil. O brado demonstra

unidade do grupo e camaradagem entre os alunos, mas sua origem é um dos grandes

mistérios nos Colégios Militares. Chamado de "Zum Zaravalho", o brado foi iniciado no

Colégio Militar do Rio de Janeiro, na década de 90 e foi estendido a todos os demais

Colégios, sem que ninguém ainda tenha descoberto seu real significado. Os militares

mais antigos relatam que o brado foi criado pelos índios paraguaios durante a guerra do

Paraguai para exaltar coragem, mas até hoje a fonte nunca foi confirmada. Ainda,

segundo Hobsbawm, as novas “tradições inventadas” podem se estabelecer com

rapidez, tanto que fica difícil localizar num período limitado e determinado de tempo.

Page 37: dissertacao final maio16

Em dias de formatura o aluno mais graduado do terceiro ano do Ensino médio

fica em frente ao batalhão escolar para a execução do grito de guerra como término de

formatura. Para os militares, essa cerimônia é importante porque é nesse momento que o

SCMB apresenta para a sociedade, civil e militar, a disciplina e condicionamento físico

que caracterizam o ensino militar.

A apresentação individual é outro fator decisivo que faz parte dos rituais

militares, sendo considerada de grande importância dentro do sistema Colégio Militar,

tendo em vista os aspectos educacionais que se tenta incutir nos alunos, como higiene,

boa aparência, sociabilidade, postura, marcialidade, dentre outros.

Ao longo do ano, são realizadas revistas de uniforme e de apresentação

individual, podendo ser divulgadas ou não. O uso correto dos uniformes e a boa

apresentação individual dos alunos são preocupações diárias e constantes. São

recomendadas aos alunos a padronização, a discrição e a sobriedade na apresentação

individual. O não cumprimento das normas em detrimento dos deveres que sempre

aprendemos a preservar, como cidadão, constitui falta disciplinar. Atenção especial

deve ser dispensada ao uso e à conservação da boina.

Nos dias de formatura do Batalhão Escolar, os alunos deverão comparecer ao

Colégio com o uniforme “Meia Gala” , um uniforme usado apenas em dias especiais.

O SCMB entrega um manual no primeiro dia de aula aos alunos, o Manual do

Aluno. Nele constam informações sobre o colégio, explicações sobre o sistema de notas

e bônus, nomenclaturas e postos militares, mapa do colégio com todas as suas

instalações e todas as obrigações e informações necessárias aos alunos. No manual do

aluno estão as seguintes orientações quanto ao uso do uniforme e uso de acessórios: os

sapatos sempre limpos e engraxados; camisa, saia e calças limpas, passadas e vincadas;

utilizar sempre a plaqueta de identificação e as divisas do ano atualizadas, de acordo

com o ano que está cursando. A boina é o símbolo maior dos alunos do CMPA. Em

locais descobertos (a céu aberto) a boina deve estar obrigatoriamente na cabeça. Em

locais fechados (salas de aula, auditórios, vestiários etc) o uso da boina não é

obrigatório. Em via pública, o aluno deve estar sempre utilizando a boina.

Para o segmento feminino os cabelos médios e longos serão usados presos em

coque, com uso obrigatório de “redinha” ou uso do cabelo preso em "rabo de cavalo"

sempre observando que os acessórios (elásticos, grampos e presilhas) devem ser na cor

preta. Os cabelos podem ser tingidos uniformemente, em tonalidades naturais,

entretanto, é proibido o uso de mechas coloridas. É permitido o uso de batons ou gloss

Page 38: dissertacao final maio16

em tons discretos. Maquiagem é permitida desde que discreta. As unhas podem ser

tratadas e pintadas uniformemente apenas com esmalte incolor, nas cores branca e rosa

claro. Não é permitido o uso de esmaltes de qualquer outra cor, assim como adesivos.

O segmento masculino também deve seguir algumas regras em relação ao corte

de cabelo devendo ser efetuado no período máximo de 15 (quinze) dias sempre

apresentar-se ao seu monitor na primeira oportunidade que tiver logo após a realização

do corte de cabelo, sob pena de não ser aceito o corte e, consequentemente, não ser

assinado o Cartão de Cabelo. Em sala de aula o professor pode anotar o número e nome

do aluno caso observe que o aluno está com cabelo fora do padrão. Não é permitido o

uso de bigode, barba ou cavanhaque.

Essas tradições, rituais e símbolos dão oportunidade de refletir sobre os aspectos

desse núcleo cultural. Segundo Hobsbawm (1997) esses aspectos podem ser analisados

primeiro em respeito ao poder político do colégio, mostrando à sociedade o

compromisso de contribuir para formação da nação e de pertencer a uma instituição de

prestígio; o segundo aspecto está relacionado com a imagem dele, que é respeitada por

esta sociedade; em terceiro lugar, apontaria a estrutura social do colégio, que é

reconhecido em nível local e nacional; o quarto aspecto a ser analisado é a imponência

de suas instalações, que se apresentam pelo prédio histórico e funcional; e por último,

aponta o autor a imagem que a instituição tem de si e que proclama em seus eventos,

solenidades, como uma instituição que promove um dos melhores ensinos do país e, que

são proclamados também em seus símbolos (HOBSBAWM,1997,p.p 114-174).

Na seção 3.1.2 a seguir será apresentado o linguajar militar usado em todo o

território nacional, não somente nos colégios militares, mas sim em todas as

organizações militares no país. Ainda na mesma seção será explicado o funcionamento

da Semana Zero e sua importância no CMPA.

3.1.2 Linguajar Militar e a Semana Zero

Esta subseção trata de dois assuntos que exercem um grande impacto sobre a

disciplina no CMPA, a saber: 1) o jargão militar usado na comunicação entre

professores e alunos; 2) a Semana Zero

Os processos de mudança que ocorrem na comunidade de fala segundo Labov

(1972) são primordiais na Sociolinguística. Comunidade de fala para o modelo teórico-

Page 39: dissertacao final maio16

metodológico não é entendida como um grupo de pessoas que falam exatamente igual,

mas que compartilham traços linguísticos que distinguem seu grupo de outros;

comunicam relativamente mais entre si do que com os outros e, principalmente

compartilham normas e atitudes diante do uso da linguagem. (LABOV, 1972).

Como exemplo de neologismo, podemos citar a linguagem usada pelas Forças

Armadas no Brasil, onde os traços linguísticos usados na Marinha, Exército e

Aeronáutica são exatamente o mesmo em qualquer região do país. No quadro 1 abaixo

estão alguns termos e jargões militares mais usados pelos militares nos quartéis e OMs

(organizações militares) do país.

Quadro 1- Jargões militares

Acochambrar = Relaxar,“vagabundear”

Bizonho = inexperiente, burro

Bizu = Dica Ir na rota= Seguir destino.

Carcaça = Porte físico

Embuste = Gabar-se

Escamotear = fugir de responsabilidades

Laranjeira = quem vive dentro do quartel, quem mora no quartel Mocorongo = não sabe dar palpites, bizonho

Mulambo = mal feito, mal vestido

Paisano = Civil PC = Posto de comando. Geralmente se utiliza pra falar do escritório do

comandante.

Piruar = (verbo) Pedir, ver se consegue algum favor. Safo = Militar bom no que faz, experiente

Torar = Dormir Última forma = esqueça o que eu disse

Zaralho = bagunça Zero um = Melhor colocado, cabeça da turma

PQD = paraquedista.

Ler o celotex =Verificar avisos no quadro mural.

Peguei uma Vermelha = Estar de serviço sábado ou domingo, ou nos feriados.

Peguei uma Preta = Estar de serviço qualquer da semana, de segunda à sexta.

Cobertura = boina, quepe ou capacete.

Catanho = Lanche em um saco plástico constituído de um pão, mariola e uma laranja ou banana.

Bivaque = Acampar sem barracas, somente com a capa de chuva. Gandola = Blusão de tecido mais grosso que se usa por cima da camisa camuflada. Dar golpe = Burlar um regulamento

Voador = Aquele militar que tá sempre sumindo pelo quartel pra não receber missão. Desunido = Aquele que não se preocupa com o bem da tropa e sim com o

Page 40: dissertacao final maio16

próprio bem

Acochambrão = Militar que sempre arranja alguma desculpa pra não trabalhar ou que sempre descansa na hora de ralar.

Aloprar = Tocar o horror.

Rolha = Missão fácil.

PC = Posto de comando. Geralmente se utiliza pra falar do escritório do comandante.

Rancho = refeitório Suco de Amarelo / de Vermelho etc…= Suco servido no rancho Suco de Gandola = Suco servido no rancho

Pica fumo: = mais moderno, recém formado.

Alvorada: = usada no sentido de começar o dia, ou horário em que os militares levantam da cama. Toque de Alvorada.

Dar o Pronto: = Após terminar uma missão, reportar ao superior que a missão foi cumprida.

Quadro 1 - jargões militares mais usados pelos militares nos quartéis e organizações militares.

Fonte: elaborada pela autora

Em alguns lugares, as relações de jargões de caserna, como os verbos

relacionados no quadro 2 abaixo, são colocadas em celotex situados nos corredores da

escola.

Quadro 2: jargões militares

Quadro 2 - relações de jargões usados nos quartéis e organizações militares

Fonte: elaborada pela autora

Militar não entra: avança

Militar não pode: tem permissão

Militar não come: arrancha

Militar não entra: avança

Militar não dorme: tora

Militar não adorce: baixa

Militar não anda: sem cadência marche

Militar não se esconde: se camufla

Militar não tem alarme: tem PDA

Militar não pratica esporte: Faz TFM (teste físico militar)

Militar não tem carro: tem viatura

Militar não tem tarefa, tem missão

Militar não vai embora: segue destino

Militar não se agrupa: fica coberto e alinhado

Page 41: dissertacao final maio16

A movimentação do militar ou transferência é o ato administrativo que se realiza

para atender a uma necessidade do serviço e tem por finalidade principal assegurar a

presença, nas Organizações Militares (OM), do efetivo necessário à sua eficiência

operacional e administrativa. Estando sujeito a ser transferido em decorrência dos

deveres e das obrigações, o militar pode servir em qualquer parte do país ou no exterior,

e geralmente leva junto sua família. Logo, os filhos podem estudar no Colégio Militar

da região transferida.

Visando atender ao ensino assistencial para os dependentes de militares do

Exército, da Marinha e da Aeronáutica, o SCMB padroniza a linguagem militar. A

problemática não está relacionada com os filhos de militares, que acabam se

familiarizando com essa linguagem desde pequenos, e sim com os filhos de civis, que

na maioria das vezes, nunca usou ou teve conhecimento dessa variação linguística.

Porém, qual seria a necessidade de padronizar uma variedade linguística nos

Colégios Militares? Com a mesma grade curricular, o SCMB possibilita um ensino

único entre as escolas e facilita a adaptação do aluno quando chega num novo Colégio

Militar. Entretanto, para os alunos que são filhos de civis, conhecidos como

concursados, essa adaptação é mais demorada e penosa para algumas crianças, tendo em

vista a grande diferença da linguagem militar encontrada na nova escola.

Mudar de escola não é simples, pois não envolve apenas a troca de endereço ou

de professores. Mudar implica o enfrentamento do desconhecido, no temor de não

conseguir dar conta das exigências dessa nova escola, no receio de ser rejeitado pelos

colegas e de não conseguir fazer justiça ao esforço dos pais, que sonhavam com seu

filho vestindo a farda do Colégio Militar.

A Semana Zero é uma semana atípica. Ela começa como o próprio nome diz,

uma semana antes do ano letivo normal, e é direcionada apenas para os alunos novos,

sejam concursados ou filhos de militar transferidos. Essa adaptação é feita apenas no

turno da manhã.

Já no primeiro dia os alunos se apresentam de calça jeans e camiseta branca,

padronizando o efetivo e já demonstrando o uso do uniforme, já que os alunos

concursados só poderão usar a farda um mês depois.

Os alunos são divididos em grupos de 12, onde cada pelotão (sinônimo de

grupo) fica com um monitor. Esse monitor é um sargento ou uma sargento que tem por

missão o primeiro contato com a postura, linguagem e disciplina militar. Em cinco dias

esses monitores terão que demonstrar e treinar a ordem unida com os alunos, treinar

Page 42: dissertacao final maio16

apresentação de turma, como fazer e para quem prestar a continência, etc. Os alunos

terão ainda que decorar a canção do colégio e o hino nacional, reconhecer os militares

pelo uniforme, aprender a hierarquia militar, fazer um tour pelo colégio, ter uma breve

noção de patriotismo, aprender a hastear a bandeira entre outras atividades. Essa

demanda de novas atividades adicionada pelo nervosismo do primeiro dia de aula faz

com que vários alunos tenham que enfrentar uma angústia, relatada no consultório

médico do colégio. Essas angústias são típicas desse momento de recomeço, mas que

podem e devem ser apaziguadas.

Ao mesmo tempo em que os alunos sentem vontade de frequentar a nova escola,

tem curiosidade sobre os professores e sobre as avaliações, além do interesse de se

integrar ao grupo de colegas. Os sentimentos são muito ambivalentes. A principal

reclamação é com o linguajar militar, que segundo os alunos novos, é impossível de

gravar na memória.

Na sociolinguística de Labov (1972), o contexto social é anterior à fala, aos

enunciados; é global e duradouro e, como conjunto de condições sociais e históricas,

funciona como sistema de referência explicativo dos usos individuais da linguagem.

Assim sendo, coletividades como classes sociais, comunidades, redes sociais, bem

como características coletivas dos agentes (sexo, idade, profissão, escolaridade) são

unidades de análise relevantes. Há uma afirmação a esse respeito, quando os autores

citados resumem o problema do encaixamento para uma teoria da variação e mudança

linguística:

Na explicação linguistica, é possíve alegar que os fatores sociais pesam sobre o sistema linguistico como um todo [...]Assim, a tarefa do linguista não é tanto demostrar a motivação social de uma mudança quanto ao determinar o grau de correlação social que existe e mostrar como ela pesa sobre o sistema linguistico abstrato (WEINREICH, LABOV e HERZOG, 1968 [2006], p.123)

Segundo a teoria laboviana, apesar de o indivíduo ser tradicionalmente visto

como ponto de articulação entre dados linguísticos e categorias sociais, Labov (1972)

reconhece que, para explicar certos fenômenos da mudança, torna-se necessário não

apenas identificar o sujeito, mas conhecê-lo, conhecer sua história, suas redes de

relações, etc. E esse conhecimento do sujeito é feito no primeiro dia da Semana Zero.

Usando uma dinâmica lúdica, os monitores fazem a apresentação dos alunos e cada um

escolhe o seu “nome de guerra”, o nome com o qual irá ser reconhecido pelos próximos

7 anos, durante sua passagem pelo colégio, sua nova identidade, agora militar.

Page 43: dissertacao final maio16

Sobre o indivíduo no processo de mudança linguística, Labov (1972) localiza a

importância do papel da identidade/identificação de um certo grupo. Labov (1972)

salientou que os membros de uma comunidade de fala têm o intuito de marcarem suas

identidades, intensificando certos usos linguísticos.

Sobre as variações linguísticas nos indivíduos, segundo Labov (2003), essas

seriam condicionadas pelos seguintes fatores: (i) as relações entre os interlocutores,

particularmente as relações de poder e solidariedade entre eles; (ii) o contexto social

mais amplo – escola, trabalho, vizinhança; e (iii) o tópico.

As atitudes implícitas ou explícitas e as palavras do monitor podem interferir+

intensamente na concepção do “eu” de cada aluno, como também podem influenciar

todos os membros que compõem a sala de aula a terem a mesma percepção. Por isso foi

elaborada a Semana Zero, que nada mais é que um cuidado especial com esses alunos

novos e suas angústias. É na semana zero que o aluno recebe seu manual do aluno, onde

constam os tipos de uniforme, canções militares, modelos de corte de cabelo para os

meninos e os tipos de penteados aceitos para as meninas já explicados anteriormente.

3.1.3 Disciplina versus punição no SCMB

Segundo Magalhães (1998) o ensino militar no Brasil veio promover o

disciplinamento de todo o corpo militar, pois mesmo dentro da instituição havia

resistência entre os membros em se submeterem às ordens, à disciplina e à hierarquia

militar. O ensino surge, assim, como um meio para moldar os indisciplinados, além de

apresentar caminhos para a reorganização da própria instituição. O ensino segue normas

e regras específicas, bem como define papéis, baseadas na estrutura militar. De acordo

com Mesquita (2011) o disciplinamento por meio da educação é tema recorrente da

ciência da educação, especialmente, na Sociologia Francesa. Segundo Durkheim,

Para cada sociedade, “a educação é o meio pelo qual prepara no coração das crianças as condições essenciais para sua própria existência”. A observação dos fatos conduz pois à seguinte definição: A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre aquelas que ainda não estão maduras para a vida social. Tem por objeto suscitar e desenvolver na criança um certo número de estados físicos, intelectuais e morais que lhe exigem a sociedade política no seu conjunto e o meio ao qual se destina particularmente. Em resumo, a educação é uma socialização da jovem geração. (DURKHEIM, 2007, p.14)

Segundo esta corrente sociológica, seria através da educação com

disciplinamento que se consolidariam os valores morais, políticos e religiosos

transmitidos às gerações futuras exigidos para consolidar a sociedade moderna, afirma

Page 44: dissertacao final maio16

Mesquita (2011). Nesse contexto, os militares enquanto instituição definiram uma

educação específica, que seria transmitida aos oficiais, com base nos princípios, valores

e tradições militares. Não bastava disciplinar a elite militar dentro das regras e normas

da organização, era necessário formar a nova geração. Assim, as escolas e colégios

militares surgem como espaço singular para esse disciplinamento. No estatuto dos

militares a hierarquia faz parte da base da estrutura organizacional:

A hierarquia militar é a ordenação da autoridade, em níveis diferentes, dentro da estrutura das Forças Armadas. A ordenação se faz por postos ou graduações; dentro de um mesmo posto ou graduação se faz pela antiguidade no posto ou na graduação. O respeito à hierarquia é consubstanciado no espírito de acatamento à sequência de autoridade. (LEI N° 6.880, 09 de dezembro de 1980, Artigo 14)

A hierarquia, traduzida pela autoridade distribuída em níveis pré-estabelecidos, é

a essência da ordem. Os níveis hierárquicos da corporação são utilizados também pelo

ensino militar, o que leva os alunos a serem reconhecidos, dentro de seus

estabelecimentos educacionais, com base no mesmo princípio.

A ascensão hierárquica nos estabelecimentos de ensino funciona como incentivo

entre os alunos, pois alcançar patentes cada vez mais altas evidencia o desempenho

geral do aluno no batalhão escolar, dando-lhe destaque durante as datas comemorativas

e cerimônias, conhecidos como alunos graduados. Esse poder disciplinar não procura

reter as forças, mas sim interligá-las, multiplicá-las e utilizá-las, sua consolidação

utiliza-se dessa vigilância hierárquica e outros meios como o de punição.

Por definição, o ato de punir significa uma ação no ambiente que tem como

propriedade a interrupção imediata do comportamento inadequado, como jogar um

papel no chão ou no meio escolar militar andar sem boina em um lugar público por

exemplo.

A entrada na escola dos alunos só é permitida se estiverem uniformizados,

usando a boina, mochila da cor preta e no caso dos meninos com a barba feita. Esse

controle rigoroso, aliado a outras regulamentações, forma um sistema punitivo,

composto por dispositivos disciplinares que fazem funcionar normas gerais da

educação.

A transgressão disciplinar é uma infração culpável. O aluno do colégio militar

deve observar dois preceitos fundamentais: a hierarquia e a disciplina. A inobservância

destes preceitos poderá configurar a prática de faltas administrativas denominadas

transgressões disciplinares. O aluno estará sujeito as diversas punições, como ordem

Page 45: dissertacao final maio16

unida nos finais de semana, manutenção da sala de aula por um período de uma semana,

etc.

Na seção seguinte será explicado o funcionamento da Legião de Honra do

Colégio Militar de Porto Alegre. Vale lembrar que a disciplina também é um dos pilares

da Legião de Honra.

3.1.4 Legião de Honra

A Legião de Honra do Colégio Militar de Porto Alegre foi instituída no ano de

1964, no comando do Coronel Plácido de Castro Nogueira, e presidida pelo aluno

Marco Antônio Longo. Na década de 80, foi extinta. Seu ressurgimento ocorreu no ano

de 1995, por iniciativa da DEPA.

A Legião de Honra do Colégio Militar de Porto Alegre, pioneira no SCMB, foi

inspirada, como suas demais congêneres no mundo, na Legião de Honra francesa criada

pelo Primeiro-Cônsul General Napoleão Bonaparte, em 1802, com o fim de

recompensar os cidadãos que se destacaram por feitos militares na defesa da Liberdade

ou por outros méritos civis ou militares, qualquer que fosse a origem do cidadão.

A Legião de Honra do Colégio Militar tem por finalidade incentivar os alunos ao

cultivo e à prática de sadios princípios de lealdade e honestidade, iniciativa e nobreza de

atitude, disciplina e camaradagem, estudo e amor à cultura, segundo os valores, os

costumes e as tradições do Exército Brasileiro.

O processo de admissão na Legião de Honra inicia-se com a indicação do aluno

para ingresso como legionário. Os comandantes de Companhia de Alunos (Cmt Cia Al),

por intermédio do Comandante do Corpo de Alunos (Cmt CA), indicam, à assembleia

geral, os alunos que satisfaçam as seguintes condições de ingresso:

1) Estar classificado no comportamento “excepcional”;

2) Ter obtido nota final igual ou superior a 6,0 (seis) em todas as disciplinas;

3) Estar cursando o Colégio Militar desde o início do ano letivo considerado.

Solenemente e perante o estandarte do CM, o novo legionário prestará seu

compromisso, traduzido no CÓDIGO DE HONRA, que encerra o juramento de

legionário conforme quadro 3 a seguir:

Page 46: dissertacao final maio16

Quadro 3: Juramento do legendário

“AO INGRESSAR NA LEGIÃO, PROMETO CUMPRIR O LEMA: - LEALDADE E HONESTIDADE - INICIATIVA E NOBREZA DE ATITUDE - DISCIPLINA E CAMARADAGEM - ESTUDO E AMOR À CULTURA - RESPEITO ÀS NORMAS DO COLÉGIO”

Quadro 3: Juramento do legendário

Pertencer à Legião de Honra exerce sobre o aluno uma responsabilidade que é

passada aos demais alunos. Aptos por conduta exemplar os legionários acabam

incentivando os alunos à prática de princípios de lealdade, camaradagem, estudo e amor

as tradições do Exército, transformando esses valores em disciplina consciente. Os

alunos oriundos do concurso de admissão tem como objetivo alcançar o legionato e

seguir os passos desses alunos diferenciados. Logo, é fato importância que esses alunos

exercem na formação s alunos novos no SCMB.

Na subseção seguinte serão destacadas as atividades extracurriculares e sua

importância para os alunos do SCMB.

3.1.5 Atividades extracurriculares: Banda de música e Coral

Nesta seção, tratar-se-á de duas atividades curriculares que podem

colaborar para o desenvolvimento da disciplina no CMPA, que são a banda de música e

o coral. A presença da música é uma tradição em todos os colégios militares do Brasil.

É uma atividade extraclasse cultural e artística desenvolvida durante o ano letivo, com a

participação de alunos voluntários. É coordenada por um militar especializado em

música.

A Banda de Música de Alunos encontra-se dividida em Banda “A” e Banda “B”.

A Banda “A” é composta por alunos que alcançaram um grau de conhecimento técnico

e teórico compatíveis com as atividades desenvolvidas pela Banda de Música. Por isso,

é a fração que toca nas formaturas, treinamentos e apresentações externas. A Banda “B”

é composta por alunos que estão iniciando seus estudos teóricos e práticos de música,

com a finalidade de ingressar posteriormente na Banda “A”. Deve ser respeitado o

critério de voluntariado, dando-se prioridade aos alunos do Ensino Fundamental, no

caso de aprendizes, na Banda “B”. Os voluntários serão submetidos, no início do ano

letivo, a testes específicos e, quando aprovados, frequentam um estágio de, no máximo,

120 (cento e vinte) dias. Serão aproveitados os alunos que tiverem revelado progresso,

Page 47: dissertacao final maio16

disposição e gosto pela atividade. Os pais ou Responsáveis deverão apresentar

autorização por escrito para que os alunos possam pertencer ao efetivo da Banda de

Música. O aluno estará habilitado a receber o GIP (bônus) após atingir o tempo mínimo

de dois meses de participação na Banda de Música. O aluno iniciante deverá ter uma

participação ativa em 85% das aulas teóricas e dos ensaios da Banda “B”, realizadas no

contraturno com o Maestro.

Os alunos da Banda “A” deverão ter 90% de presença durante o bimestre nos

ensaios que são realizados diariamente das 07h00min às 07h30min. Os alunos da Banda

de Música assumem a responsabilidade de estarem presentes em todas as apresentações

internas e externas.

Segundo Kater (2004) e Brito (2013) essa formação musical está presente no

contexto educacional de modo significativo para o processo de formação do civismo e

do patriotismo. As ordens dos monitores são realizadas através dos diferentes toques das

cornetas, fazendo com que os alunos os identifiquem e executem movimentos militares

correspondentes a cada trecho melódico emitido. Esses movimentos indicados pelos

toques de cornetas a exemplo de “entrar em forma”, apresentar arma, dar meia volta até

que retorne à posição de descansar. Ao total, são trinta e um toques diferentes que

devem ser memorizados pelos estudantes para que o comando seja executado segundo

as convenções previamente estabelecidas. Essa forma de linguagem através dos toques

previamente convencionados nos remete a Schaff (1968), quando afirma que:

Os homens comunicam-se por meio de gestos, linguagem fônica, escrita, filmagens pictóricas previamente convencionadas, etc. Em todos esses casos, porém, sempre por meio de signos. Gestos, sons da fala, escrita, sinais – todos são uma forma de signo, os quais por sua vez, organizados em sistema, constituem uma forma de linguagem. (SCHAFF, 1968. Pag. 161)

Os toques de corneta e clarim, que são parte importante do patrimônio da música

militar, também merecem uma atenção especial, já que registram os processos de

comunicação sonoros das Forças Armadas, evoluindo de acordo com as novas

necessidades e realidades militares a importância da música na história e na tradição

militares brasileiras, não apenas cumprindo suas funções na tropa, mas retratando a

história nacional.

Mesmo tendo uma relação direta com as práticas militares, a música promove o

desenvolvimento de aspectos psicossociais além da aprendizagem de conteúdos,

permitindo a construção de um conjunto de valores internos (KATER, 2004). A música

é uma das ferramentas mágicas para promover o desenvolvimento interno e a

Page 48: dissertacao final maio16

qualificação humana, sendo até a mais abstrata e de maior sentido coletivo

(KATER,2004).

Por sua vez, o Coral no CMPA é coordenado pelo professor civil de música. É

uma atividade extraclasse cultural e artística desenvolvida durante o ano letivo, com a

participação de alunos voluntários.

Como em todas as outras atividades, algumas condições são impostas aos alunos

para a sua participação. O aluno iniciante deverá ter uma participação ativa em 85% das

aulas teóricas realizadas com o Maestro e deverão ter 90% de presença durante o

bimestre nos ensaios que são realizados diariamente das 7h às 07h30min. Esses alunos

assumem a responsabilidade de estarem presentes em todas as apresentações internas e

externas. Muitas das obrigações são semelhantes as exigências da Banda em função dos

diversos ensaios realizados em conjunto. Durante o ano letivo Banda e Coral se

apresentam juntos em hospitais, asilos e escolas carentes.

Para Mazzini (2013) e Faria (2001), a presença da música na educação auxilia

desde a socialização às habilidades linguísticas e lógicas-matemáticas. Ao estimular a

sentimentos, memória e a inteligência, relacionando-as ainda com ao desenvolver do

próprio educando, a música favorece a construção de um cidadão mais consciente de si

e de seu papel no mundo, mais humano, mas participativo. É também uma ferramenta

importante para disciplinar os alunos.

A música pode ser uma atividade divertida e que ajuda na construção do caráter,

da consciência e da inteligência emocional do indivíduo, pois desenvolve a mente

humana, promove o equilíbrio, proporciona um estado agradável de bem-estar, facilita a

concentração e o desenvolvimento do raciocínio, sendo também um agente cultural que

contribui efetivamente na construção da identidade do cidadão. Pode até mesmo

transformar conceitos espontâneos em conceitos científicos. (FARIA,2001)

Para a autora existe uma forte correlação entre a educação da música e o

desenvolvimento das habilidades que as crianças necessitam para se tornarem bem

sucedidas na vida. Autodisciplina, paciência, sensibilidade, coordenação, e a capacidade

de memorização e de concentração são valorizadas com o uso da música. Estas

qualidades acompanharão os educandos em qualquer caminho que escolham para a sua

vida. A aprendizagem, juntamente com a música, pode ter uma influência na formação

das crianças que é apenas secundada pelo amor dos pais escolham para a sua vida.

Atualmente a Banda de Música e o Coral juntos possuem 132 alunos. São 62 alunos na

Banda de Música e 70 alunos no Coral.

Page 49: dissertacao final maio16

Na subseção seguinte (3.1.6) será explicado o funcionamento da Seção de

Educação Física(SEF) e suas atividades esportivas.

3.1.6 Atividades Esportivas

A Seção de Educação Física (SEF) e o Grêmio da Cavalaria oferecem horários

de treinamento específico em várias modalidades, visando à formação de equipes para a

participação em competições externas. O Grêmio da Cavalaria oferece equitação aos

alunos. As modalidades e horários são organizados e divulgados pela Seção de

Educação Física e Grêmio da Cavalaria de acordo com a disponibilidade de professores

e locais para funcionamento. Todas as atividades são gratuitas.

O Corpo de alunos apresenta considerações em relação às atividades:

a) O GIP (bônus) poderá ser concedido ao atleta que preencher todas as condições

necessárias e tiver efetiva participação em todos os treinamentos, amistosos e

competições previstas, excetuando-se os casos de impossibilidade de comparecimento,

cujas justificativas deverão ser entregues ao técnico da modalidade em até 48 (quarenta

e oito) horas após a falta. Só poderão compor as equipes desportivas do CMPA os

alunos com grau de comportamento igual ou superior a 5,0 (cinco vírgula zero).

b) Os horários de treinamento, amistosos e competições ocorrerão, preferencialmente,

no contraturno e nos finais de semana.

c) O atleta que não obtiver média maior ou igual a 5,0 em todas as NP (notas

periódicas) não poderá participar das competições esportivas externas representando o

Colégio Militar.

Segundo o professor da Unicamp, João Batista Freire (2012), é notório que

jovens que praticam esportes querem competir e vencer. No entanto, isso só será

possível em um regime disciplinado. Não sendo assim não terão sucesso. O esporte

impõe o mérito pela disciplina. Ou seja, ninguém fica forte sem treinos árduos, ninguém

entra em plena forma física sem treinamentos rigorosos, não é possível desenvolver

habilidades técnicas sem treinos exaustivos e incontáveis. Outro detalhe é que tais

características não são características únicas do esporte, com as devidas adaptações e

observação das diferenças, a música, a arte e cultura de um modo geral são aliados no

auxílio para a formação disciplinada. Tal disciplina está relacionada à liberdade de

escolhas, maturidade e desenvolvimento pleno recheado de ricas experiências de vida.

Page 50: dissertacao final maio16

Essencial no esporte e nos negócios, a disciplina é o que faz a diferença na hora

dos resultados. O professor destaca que assim como no mundo esportivo, quase tudo é

uma competição em ambientes corporativos, e a disciplina para realizar suas tarefas e se

preparar é imprescindível. Esporte e disciplina andam juntos. Tudo começa pelas regras.

Regras do jogo, de convivência, de treinos. Regras e rotinas são muito importantes para

as crianças. Na verdade as crianças precisam muito disso, é fundamental para o seu

desenvolvimento que estejam orientados sobre o que devem fazer. E o esporte ajuda

muito nesse papel. Esportes coletivos e individuais auxiliam os pais a firmarem regras

importantes para a vida de cada um. Regras de convivência, de individualidade, de vida.

Além de o esporte ser importante para o desenvolvimento físico, é fundamental para a

disciplina. “Escolha o esporte ideal e coloque seu filho. Esporte não é só saúde, mas

também é disciplina” (FREIRE,2012).

Quando se faz referência ao esporte, parte-se primeiramente da prática do

exercício físico, do corpo saudável e esteticamente bem modelado. Porém, a prática do

esporte, segundo o pedagogo Freire (2012), não se limita apenas a uma vida saudável, e

sim a todo um contexto social mais abrangente, como a inclusão social, a construção do

conceito de cidadania, a socialização com diferentes modos de vivência e a consciência

de que o âmbito escolar e núcleos esportivos são locais de aprendizagem, de bem estar e

de construção de valores e que por isso precisam ser conservados e bem cuidados para

os fins que os reservam.

Na subseção seguinte será explicada a função do grêmio estudantil no CMPA,

chamado de Sociedade Esportiva e Literária.

3.1.7 Sociedade Esportiva e Literária

A Sociedade Esportiva e Literária, conhecida como SEL, é uma instituição sem

fins lucrativos constituída pelos alunos regularmente matriculados e frequentes no

Colégio Militar de Porto Alegre.

A SEL é um grêmio estudantil que tem por finalidade melhorar a qualidade de

vida e da educação dos alunos do CM, estimulando o interesse desses na construção de

soluções para os problemas, contribuindo para formar assim cidadãos conscientes,

participativos e multiplicadores dos valores constantes na Proposta Pedagógica do

Colégio Militar.

Page 51: dissertacao final maio16

No cumprimento de suas finalidades, a SEL promove ações na área social,

cultural, esportiva e educacional, podendo realizar eventos, cursos, debates, palestras,

campeonatos, concursos e quaisquer outras atividades ligadas às suas finalidades.

Na subseção a seguir serão destacados os laboratórios e os clubes existentes no

CMPA.

3.1.8 Laboratórios e Clubes

Os laboratórios são considerados espaços importantes no processo de ensino e

aprendizagem. Os colégios militares do Brasil possuem os seguintes laboratórios:

Laboratório de Química, Física, Biologia e Matemática. Alguns colégios apresentam

algumas especificidades, como é o caso do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)

que junto com o Laboratório de Física ainda criaram um observatório astronômico.

Os colégios ainda possuem clubes no contraturno: Clube de Robótica, Clube de

Radioamadores, Clube de Astronomia, Clube de Relações Internacionais e o Clube de

Línguas.

3.1.9 Observatório Astronômico Didático Capitão Parobé

No dia 26 de novembro de 2002, o Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)

inaugurou a primeira fase do seu Observatório Astronômico, em solenidade realizada no

quartel da 1ª Divisão de Levantamento, onde está situado.

A instalação foi batizada como “Observatório Astronômico Capitão Parobé”,

em homenagem ao Capitão João José Pereira Parobé, aluno e professor da Escola

Militar do Rio Grande do Sul (1882-1887), diretor da Escola de Engenharia (berço da

UFRGS) (1898 – 1915), fundador do Colégio Júlio de Castilhos (1900), da Escola

Técnica Parobé (1906) e do Instituto Astronômico e Meteorológico da UFRGS (1906),

além de eminente político e administrador público gaúcho.

O Colégio Militar transformou-se, assim, na primeira escola brasileira de

educação básica a contar com um observatório astronômico. A ideia inicial surgiu após

as vitórias alcançadas por seus alunos nas competições de astronomia em 2001/2002,

quando os alunos Viegas e Lion foram selecionados para representar o Brasil na VII

Olimpíada Internacional de Astronomia (realizada em outubro na Rússia), com apenas

alguns meses de preparação na matéria. O fato despertou a atenção de pesquisadores

Page 52: dissertacao final maio16

militares e civis, bem como de órgãos de pesquisa e de fomento à pesquisa ligados a

UFRGS e a USP, os quais viram ali a oportunidade para realizar um velho sonho: trazer

a iniciação à pesquisa para a escola básica, tal como é feito nos países mais adiantados.

Segundo o comando do Colégio Militar de Porto Alegre, a viabilização do

Observatório deu-se através de um convênio firmado entre o CMPA, a 1ª Divisão de

Levantamento (1ª DL), a Comissão Regional de Obras/3 (CRO/3), a UFRGS, a

Fundação de Apoio a UFRGS (FAURGS), o 1º Centro de Telemática de Área (1º CTA),

a Universidade de São Paulo (USP) e a Fundação Vitae.

O Observatório Capitão Parobé possibilita o desenvolvimento do projeto

“Educação em Ciências com Observatórios Virtuais”. Neste projeto, um grupo de seis

instituições acadêmicas e sete escolas de ensino médio, sob a coordenação do Instituto

de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP (IAG/USP), estão associadas

para implantar um programa piloto de estudos, pesquisas e observação astronômica

direta, com utilização, em tempo real, de telescópios robóticos, que assim funcionarão

como "observatórios virtuais". Todas essas instituições estarão ligadas entre si e, por sua

vez, terão acesso e poderão ser acessadas pela rede do projeto TIE (Telescópios na

Educação), um programa patrocinado pela NASA e apoiado, entre outras instituições,

pelo Laboratório de Propulsão a Jato, do Instituto de Tecnologia da Califórnia.

No Brasil, as escolas estarão conectadas aos telescópios robóticos instalados

nos observatórios do IAG em Valinhos – SP; da Universidade Federal do Rio de Janeiro

(UFRJ), no Valongo – RJ; da Universidade Federal de Santa Catarina, em

Florianópolis; da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e do Colégio Militar,

ambos em Porto Alegre. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em São

José dos Campos, e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em Natal,

terão os telescópios robóticos localizados inicialmente em suas dependências, prevendo-

se a instalação de seus respectivos observatórios durante o período de execução do

projeto. Está prevista também a possibilidade, em médio prazo, de integração do projeto

ao observatório do LNA - Laboratório Nacional de Astrofísica/CNPq, instalado no Pico

dos Dias, em Minas Gerais, que é o principal observatório brasileiro.

No exterior, a conexão será articulada com os observatórios do projeto TIE,

principalmente os localizados nos Estados Unidos, Austrália, Japão e Chile.

As atividades pedagógicas previstas objetivam desenvolver as habilidades e

competências dos alunos no uso do método científico, através da realização de projetos

interdisciplinares, a partir de atividades de observações astronômicas, já que a

Page 53: dissertacao final maio16

astronomia é uma área interdisciplinar por excelência. Assim, os projetos pedagógicos

deverão integrar as áreas de matemática (para correção de medidas, por exemplo),

computação, física, química, história, geografia (com estudos sobre regiões e realidades

socioculturais dos sítios de observação), antropologia (para estudos comparados sobre a

diversidade cultural dos conceitos astronômicos), artes (representação simbólica e

plástica de objetos astronômicos), mitologia, etc. Essas atividades terão níveis

diferenciados de complexidade, que podem ser adequados aos vários graus do ensino.

O sucesso do laboratório de Física fez com que outros três clubes fossem

criados: Clube de Astronomia, Clube de Radioamadores e Clube de Robótica.

A seguir o funcionamento do curso pré-vestibular que o Colégio Militar oferece

aos alunos e da Seção de Cursos.

3.1.10 O funcionamento do 3º ano e a Seção de Cursos

O último ano em um colégio militar é atípico em relação às demais escolas. Ele

se divide em subseções: PREVEST e Seção de Cursos. Essas duas seções são

direcionadas aos alunos que irão realizar algum tipo de prova em concurso público, seja

vestibular os concursos militares. O 3º ano segue com quase as mesmas normas e

prescrições previstas para todos os demais anos escolares. O ano é diferenciado pois

segue um padrão de concurso. Durante todo o ano letivo o aluno vivencia ao final de

cada bimestre a estrutura, a ambientação e o estilo de prova, já se familiarizando com o

concurso desejado. A seção de Cursos prepara os alunos para a Escola Preparatória de

Cadetes do Ar (EPCAr) e Escola Preparatória de Cadetes de Exército (EsPCEx) e

Escola de Sargentos do Exército (ESA). As aulas são ministradas no turno da tarde,

juntamente com o PREVEST.

O último ano tem como objetivo prestar orientação aos alunos que desejarem

realizar o Programa de Avaliação Seriada (PAS) ou similar e, programar e coordenar as

atividades de complementação de conteúdos para realização do Exame Nacional do

Ensino Médio (ENEM). As finalidades de orientar para o ENEM são a de estimular o

aluno do 3º ano a participar de um exame de âmbito nacional promovido pelo

INEP/MEC, com ênfase para a autoavaliação, e a de permitir que o discente participe de

outras formas de ingresso no ensino superior. A preparação do ENEM será alvo cada

vez maior de atenção dos docentes, principalmente nos aspectos de interdisciplinaridade

e contextualização das questões.

Page 54: dissertacao final maio16

Na seção 3.2 será explicado como se desenvolve o ensino de L2 no Colégio

Militar de Porto Alegre MPA e seu impacto nos exames vestibulares

3.2 O Ensino de L2 no CMPA e seu impacto nos exames vestibulares

Os Colégios Militares ministram inglês por níveis, nos moldes dos institutos

civis especializados nessa área. O método utilizado desenvolve a capacidade de

expressão oral dos alunos e tem como base o uso do chamado “Corredor de Inglês”. No

Colégio Militar de Porto Alegre o nome dado ao espaço de idiomas é Salas Especiais.

Tem esse nome devido ao número de salas direcionadas apenas ao ensino de língua

estrangeira, num total de 10 salas de aula. É um espaço temático em que todos são

incentivados a se expressar no idioma.

De acordo com o Projeto Político Pedagógico da escola, cujos fundamentos

teóricos metodológicos estão contemplados nas Diretrizes Curriculares Estaduais, o

objeto do ensino da língua estrangeira moderna é “a língua, concebida como discurso,

repleta de sentidos a ela conferidos por nossa cultura em nossa sociedade.” (Projeto

Político Pedagógico, p. 96). Além disso, tem como objetivo possibilitar ao aluno o

emprego da língua oral em diferentes situações de uso, adaptar o uso da língua em

situações discursivas, como também levar o aluno a ser parte integrante do mundo atual,

caracterizado pelo avanço tecnológico e grande intercâmbio de povos.

Um número reduzido de alunos por classe assegura que os mesmos recebam um alto

nível de atenção por parte dos professores. Com o número reduzido de alunos

aprendizado é facilitado devida a atenção que os alunos podem receber do professor

individualmente.

O ensino de Língua Inglesa está estruturado de acordo com o Sistema de Ensino

e Aprendizagem por Níveis (SEAN) até o 2˚ ano do Ensino Médio. A distribuição de

níveis com Matriz de Referência de Competências e Habilidades é elaborada a partir das

orientações dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). A carga horária segue o

previsto nas Normas de Planejamento e Gestão Escolar (NPGE): 6ano/EF ao 1ano/EM

– 90h/a; 2ano e 3ano/EM – 60h/a. A fim de alinhar o SEAN à divisão proposta pelo

Marco Comum Europeu (Common European Framework of Reference), os níveis

passam a receber a seguinte denominação: A1A, A1B, A2A, A2B, B1A, B1B.

Cada ano escolar pode se encaixar em dois ou em até três níveis. Para

exemplificar essa divisão dos níveis usamos o 8º ano do ensino fundamental como

Page 55: dissertacao final maio16

exemplo. Os alunos do 8º ano são divididos por 3 níveis. O nível relacionado ao ano e

dois níveis mais baixos, para aqueles alunos com mais dificuldades no idioma. O único

ano em que os alunos possuem apenas um nível é o 6º ano. Todos os alunos desse ano

iniciam no nível A1A (Starter). Durante o ano são avaliados e, se aprovados, passam

para o nível seguinte, ou permanecem no mesmo nível se forem reprovados apenas na

disciplina de inglês.

O quadro 4 ilustra essa divisão por níveis ao longo dos anos escolares:

Quadro 4: níveis de inglês

6˚/EF – A1A

7˚/EF – A1A e A1B

8˚/EF – A1A, A1B e A2A

9˚/EF – A1B, A2A e A2B

1˚/EM – A2A, A2B e B1A

2˚/EM – A2B, B1A e B1B

Quadro 4 – níveis do material didático adotado pelo CMPA

Logo no primeiro dia de aula, os alunos novos não-concursados realizam uma

prova de nivelamento. Caso não atinjam, neste teste de nivelamento, o nível mínimo de

Língua Inglesa previsto para o Ensino Médio (A2A para o 1º EM e A2B para o 2º EM),

será indicado para cursar a Língua Espanhola. Nos outros níveis o aluno irá para o nível

mais baixo de seu ano de ensino.

Fica facultada aos Colégios Militares a escolha do material didático para uso no

SEAN e seriado, devendo ser registrado no Plano Geral de Ensino (PGE) do CM.

As avaliações em Língua Inglesa seguem as modalidades previstas nas Normas

de Avaliação para a Educação Básica (NAEB) – diagnóstica, formativa e somativa. Os

testes de nivelamento visam verificar o nível de conhecimento em Língua Inglesa

necessário para a distribuição dos alunos pelos níveis possíveis nos anos escolares.

As quatro habilidades (speaking, listening, reading e writing) deverão compor a nota de

Avaliação Parcial (AP), ficando a critério de cada Colégio Militar o peso que será

atribuído a cada habilidade. Uma vez definido, o peso atribuído a cada habilidade

deverá constar no PGE.

Page 56: dissertacao final maio16

O sucesso dessa divisão por níveis é comprovado pelo alto desempenho nas

línguas estrangeiras pelos alunos nos diversos concursos vestibulares e concursos

públicos. Os 12 colégios do SCMB têm registrado a aprovação de seus alunos em

processos seletivos nos respectivos estados, fora dele e até mesmo em outros países. De

acordo com os dados da Diretoria de Ensino Preparatório e Assistencial (DEPA)

somente 2015, um total de 13.801 estudantes passou por processos seletivos em

vestibulares de universidades públicas e privadas. E desse número, até o momento,

9.384 foram aprovados, o que corresponde a quase 70% de aprovação.

Os resultados dos alunos do Colégio Militar de Porto Alegre nos vestibulares e

concursos militares também foram satisfatórios no ano de 2015. Foram 90 alunos

aprovados em universidades públicas e 122 em instituições de ensino privado, como

IBMEC, PUC, entre outras. Nas instituições militares como o Instituto Militar de

Engenharia (IME) e o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e a Escola

Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx) foram 40 alunos aprovados.

O Instituto Militar de Engenharia (IME) é uma instituição acadêmica de nível

superior pública que pertencente ao Exército Brasileiro. O IME oferece cursos de

graduação e pós-graduação em Engenharia, sendo considerado um centro de excelência

e referência nacional e internacional no ensino da Engenharia. No recente concurso para

o Curso de Formação e Graduação (CFG) do Instituto Militar de Engenharia (IME),

dois dos três aprovados no RS são do CMPA.

Outra instituição militar é a Escola Preparatória de Cadetes do Exército

(EsPCEx), que no ano de 2015 aprovou 35 alunos do CMPA e outros três ex-alunos do

ano de 2014. Outros dois ex-alunos do Colégio Militar de Porto Alegre foram

aprovados naquele que é considerado um dos mais difíceis vestibulares brasileiros, o do

Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA).

Alguns alunos do CMPA se destacaram pelas aprovações em universidades

estrangeiras nos últimos anos. Em 2010 uma aluna membro da Legião de Honra,

Secretária da SEL, integrante da Comissão de Formatura e primeira aluna a se tornar

Jovem Embaixadora junto aos Estados Unidos - tornou-se a primeira ex-aluna a

conquistar vaga de graduação em universidades americanas, optando pela Bryn Mawr

College, uma universidade para mulheres na Pensilvânia. Agora, com sua formatura,

tornou-se a primeira ex-aluna a concluir os sete anos do CMPA e a se graduar em uma

universidade americana.

Page 57: dissertacao final maio16

Atualmente, três ex-alunos do CMPA fazem graduação nos Estados Unidos,

após terem sido selecionados no ano de 2012 nas universidades de Harvard,

Pennsylvania e Duke e um ex-aluno na Universidade de Salamanca (Usal), na Espanha.

Em 2011 outro ex-aluno foi aceito para realizar os estudos de graduação em

Relações Internacionais na Fudan University, sediada na cidade de Shanghai, na

República Popular da China. Essa Universidade é membro do C9, a liga das mais

destacadas universidades chinesas. É considerada a melhor universidade de Shanghai e

a terceira melhor da China, possuindo convênios com Harvard, Yale e outras renomadas

universidades mundiais. Ao todo, vinte jovens brasileiros foram selecionados para

cursar universidades chinesas, mas apenas dois foram selecionados para a Fudan

University.

Três alunos e um ex-aluno do Colégio Militar de Porto Alegre, integrantes do

CRI - Clube de Relações Internacionais, participaram da 61th Harvard Model United

Nations- HMUN 2014, a mais antiga e importante simulação da ONU no mundo,

realizada anualmente na Universidade Harvard, nos Estados Unidos.

Como já foi dito anteriormente o número de alunos aprovados na Escola

Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx) também foi satisfatório. Em 2015 foram

35 alunos do CMPA e outros três ex-alunos do ano anterior. Na seção 3.3 será

destacado o ensino de L2 e seu impacto no concurso de admissão.

3.3 O ensino de L2 e seu impacto sobre a performance na prova de L2 na Escola

Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx)

A aprovação na Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx) cumpre

dupla finalidade para o ensino no exército: é um objetivo histórico do SCMB, posto que

os Colégios Militares sempre se prestaram à reprodução do efetivo da oficialidade; e se

presta a avaliação do rendimento escolar, como indicador externo.

A Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx) localiza-se na cidade de

Campinas, estado de São Paulo. É uma instituição com mais de meio século de

existência, cuja missão é preparar candidatos para o ingresso na Academia Militar das

Agulhas Negras (AMAN), responsável pela formação do oficial combatente do exército.

O ingresso na EsPCEx é feito por intermédio de um concurso de admissão realizado

anualmente, para jovens do sexo masculino que estejam cursando, ou tenham concluído,

Page 58: dissertacao final maio16

a 3ª Série do Ensino Médio. No ano de 2016 a escola passará a receber a primeira turma

de segmento feminino.

O aluno da EsPCEx realiza em um ano, um curso equivalente ao 1º Ano do

Ensino Superior, acrescido de formação militar necessária ao futuro cadete da AMAN.

Inclui-se, além das disciplinas do Ensino Superior, a disciplina de Instrução Militar,

entre outras de cunho preparatório para a AMAN e para a vida militar, com ênfase na

preparação física do aluno através do Treinamento Físico Militar (TFM).

A aprovação do concurso de admissão da EsPCEx é muito estimulada no

Sistema Colégio Militar do Brasil. No contraturno os alunos interessados podem

ingressar no curso preparatório já mencionado na subseção 3.1.10. A língua inglesa,

única língua estrangeira no concurso de admissão, tem sido nos últimos anos uma

matéria de grande dificuldade no concurso como um todo, já que apenas 30% dos

candidatos conseguem atingir 50% necessários para a aprovação na parte de língua

estrangeira. De acordo com o site oficial da EsPCEx , em 2015 cerca de 17 mil jovens

participaram do processo seletivo e apenas 7% foram aprovados para a segunda fase .

Ao final da segunda fase somente 3% conseguem a aprovação. Das 500 vagas

destinadas ao país inteiro, o CMPA aprovou 35 alunos e três ex-alunos de 2014. O

processo ocorreu em 34 cidades em todo o Brasil.(www.espcex.ensino.eb.br).

Dos 41 alunos do CMPA que realizaram o exame de admissão, 39 conseguiram

o resultado mínimo na prova de língua inglesa para a aprovação. Esse resultado se

iguala aos demais colégios militares. O Sistema Colégio Militar do Brasil aprovou nesse

ano 162 alunos, quase 34% dos aprovados no concurso no país todo.

Na seção seguinte serão apresentados os objetivos e o método utilizados para a

realização da pesquisa.

Page 59: dissertacao final maio16

4 OBJETIVOS E MÉTODO

Este capítulo trata dos objetivos e do método de pesquisa construído para

implementá-la. Para essa finalidade, divide-se em duas partes principais. Na primeira

parte (4.1), trataremos dos objetivos específicos a eles correspondentes. Na segunda

parte, apresentamos o método (4.2), que trata das características dos participantes e as

características desse grupo.

4.1 Objetivos

Tendo em mente o enfoque teórico abordado no capítulo anterior, pretende-se,

nesta seção, estabelecer o objetivo geral e os objetivos específicos da pesquisa.

A partir do objetivo geral, que é estudar o fenômeno da disciplina em sala de

aula e sua influência no processo de ensino aprendizagem de L2 no Colégio Militar de

Porto Alegre, colocam-se os seguintes objetivos específicos:

1) apresentar e analisar os resultados obtidos no concurso vestibular da UFRGS;

2) apresentar e analisar os resultados obtidos no concurso de admissão à Escola

Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx );

3) investigar como estudo de caso os mecanismos disciplinares presentes no

Colégio Militar de Porto Alegre, analisando a importância das rotinas em sala de aula

no processo aprendizagem de L2.

4.2 Metodologia

Esta seção visa descrever o tipo de pesquisa implementada, o processo de

seleção dos dados e os procedimentos de análise.

4.2.1 Tipo de pesquisa e participantes

A metodologia adotada neste estudo de caso é a abordagem qualitativa, com o

propósito de compreender o alto índice de desempenho nos exames de língua inglesa

dos alunos do CMPA no vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

(UFRGS) e no concurso público da Escola Preparatória de Cadetes do Exército. A

abordagem qualitativa permite, segundo Richardson (1999), descrever a complexidade

Page 60: dissertacao final maio16

de determinados problemas e possibilita, dentre outros aspectos, compreender processos

dinâmicos vividos por grupos sociais, além de favorecer o entendimento das

peculiaridades do comportamento dos indivíduos.

O estudo de caso permite, segundo Triviños (1987), realizar investigações de

maneira profunda, tanto de um indivíduo, como grupo ou instituição. Nesse sentido, a

metodologia escolhida possibilitou retratar a realidade de forma contextualizada,

considerando que essa se desenvolve numa situação natural, o dia-a-dia da escola, rico

em dados significativos, descritivos, que resultam das “[...] interações, ações,

percepções, sensações e dos comportamentos das pessoas relacionados à situação

especifica onde ocorrem” (TRIVIÑOS, 1987).

Dessa forma, é possível entender que o estudo de caso possibilita um maior

aprofundamento do problema da vida escolar e, em se tratando da avaliação do ensino-

aprendizagem e seus desdobramentos em relação à aprovação nos vestibulares na

disciplina de língua inglesa, o estudo de caso propicia a análise dos elementos inseridos

no processo de ensino, buscando a participação de todos, como esclarece Depresbiteris

(1991, p. 58-59):

[...] na busca de uma perspectiva totalizante de conhecimento e análise da realidade, e mais próxima de uma concepção dialética da educação, a prática avaliativa deveria lançar mão de abordagem de pesquisa tais como pesquisa etnográfica, avaliação iluminativa, pesquisa participante, pesquisa-ação e estudo de caso. Essas abordagens visam à conscientização e envolvimento dos elementos inseridos no processo de ensino, buscando a participação de todos esses elementos numa discussão conjunta e crítica desses resultados [...].

O estudo de caso manifesta o pensamento de Lüdke e André (1986), que o

definem como uma estratégia de investigação, uma forma de analisar dados em que

“[...] o desenvolvimento do estudo aproxima-se a um funil: no início há questões ou

foco de interesses muito amplos, que no final se tornam mais diretos e específicos. O

pesquisador vai precisando melhor esses focos à medida que o estudo se desenvolve”

(LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p.13).

De acordo com Ludke e André (1986, p. 11), a pesquisa qualitativa “[…] supõe

contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo

investigada”. Chizzotti (2003, p.221) esclarece que “[…] o termo qualitativo implica

uma partilha densa com pessoas, fatos e locais que constituem objetos de pesquisa, para

extrair desse convívio os significados visíveis e latentes que somente são perceptíveis a

uma tenção sensível”.

Page 61: dissertacao final maio16

Na mesma perspectiva, Deslandes (1994, p.21-22) destaca que “[…] a pesquisa

qualitativa responde a questões muito particulares […] trabalha com o universo de

significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes”.

Nesta modalidade de investigação, o pesquisador envolve-se com o tema

estudado, faz observações dos fenômenos, registrando como eles se processam e se

relacionam. Na prática, tem-se a coleta, o registro, a organização, a codificação e a

análise de dados. Esse processo requer sistematização para possibilitar que os resultados

descrevam a realidade estudada.

A proposta desta pesquisa é estudar o fenômeno da disciplina em sala de aula e

sua relação com o processo de aprendizagem em L2 no Colégio Militar de Porto Alegre

(doravante CMPA). Desse modo, serão apresentados os mecanismos disciplinares

presentes na escola, bem como os fatores que interferem no cotidiano escolar e sua

relação com a prática docente. O foco de atenção será na implicação que a disciplina

aplicada no Sistema Colégio Militar do Brasil (SCMB) exerce no processo de ensino

aprendizagem de L2 no CMPA, refletindo-se nos resultados (produto) dos exames

vestibulares em L2.

A discussão sobre este tema não é nova, pois a indisciplina sempre foi polêmica

nos meios acadêmicos, continua sendo um assunto relevante, carente de pesquisas que

acrescente novos conhecimentos.

A pesquisa ocorreu no Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA). Os

selecionados para participar da pesquisa foram apenas os vestibulandos, os alunos do

último ano do Ensino Médio do CMPA, totalizando mil trezentos e cinquenta e três

(1353), de 2007 até o ano de 2015. A faixa-etária dos alunos envolvidos é de 16 a 19

anos. A fase inicial da pesquisa iniciou-se com a coleta de dados de aprovação dos

vestibulares das universidades juntamente com os concursos públicos militares. Durante

o corrente ano foram realizadas pesquisas nos sites do Colégio Militar de Porto Alegre,

site da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Escola Preparatória de Cadetes

do Exército para tais informações. Alguns dados sobre o desempenho dos alunos no

ensino médio foram enviados pela Diretoria de Educação Preparatória e Assistencial

(DEPA). Esses dados serão analisados juntamente com o desempenho dos alunos do

CMPA no capítulo 5.

Tendo em vista o grande efetivo de alunos dessa pesquisa, a coleta de dados

começou no início de 2015 com a obtenção das médias do Ensino Médio dos alunos

envolvidos através do Sistema Integrado de Gestão Acadêmica (SigaWeb) usado em

Page 62: dissertacao final maio16

todo o SCMB. Algumas médias dos alunos foram enviadas também pela Diretoria de

Educação Preparatória e Assistencial (DEPA), já mencionado anteriormente. Essas

médias foram coletadas com o intuito de comparar o desempenho dos alunos durante a

vida escolar no CMPA com o desempenho no vestibular da UFRGS e nos concursos

militares. Também foram usadas as redes sociais para entrar em contato com os alunos

mais antigos do colégio, já que alguns alunos deletaram o seu desempenho do vestibular

no site da UFRGS. Esses dados serão apresentados com melhor clareza no capítulo 5.

Page 63: dissertacao final maio16

5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Nesse capítulo serão apresentados os resultados e análises concernentes ao

desempenho dos alunos no Vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

(UFRGS) e ao desempenho do concurso público da Escola Preparatória de Cadetes do

Exército (EsPCEx ). Para isso, o capítulo está dividido em duas seções, cada uma

referente a cada análise pesquisada.

5.1 Resultados obtidos no vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do

Sul- UFRGS

Na literatura até hoje não foi investigado o desempenho dos alunos do SCMB

em concursos vestibulares ou militares. Partimos da ideia de que os alunos do CMPA

certamente apresentam um desempenho melhor em concursos do que os alunos de fora

do colégio. Contudo, não era possível afirmar se haveria grandes diferenças entre esses

alunos.

Conforme o objetivo da pesquisa, foram realizadas coletas de dados dos últimos

vestibulares da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) juntamente com o

desempenho dos alunos do CMPA desde 2007, ano em que as questões do vestibular da

UFRGS foram reduzidas de 30 para 25 questões. O Concurso Vestibular da UFRGS

constitui-se de provas que visam à avaliação dos conhecimentos adquiridos pelos

candidatos nas matérias do núcleo comum do Ensino Médio: Física, Literatura de

Língua Portuguesa, Língua Estrangeira Moderna, Língua Portuguesa e Redação,

Biologia, Química, Geografia, Matemática e História.

A tabela 1 abaixo ilustra o ano do vestibular da UFRGS, a quantidade de alunos

que realizaram a prova de língua inglesa e língua espanhola seguidos pelo número de

acertos dos alunos do CMPA e demais vestibulandos em cada uma das provas. Ilustra

também a média dos alunos do CMPA e a média do vestibular em cada prova de

idiomas da UFRGS de 2007 a 2015.

As informações constantes na tabela 1 foram coletadas através de quatro

maneiras: 1) informações obtidas no site da UFRGS, para obter o número de acertos nas

provas de língua estrangeira dos alunos do CMPA; 2) no site do CMPA; e 3) na seção

técnica de ensino do CMPA para obter o número exato de alunos aprovados no 3º ano

Page 64: dissertacao final maio16

do Ensino Médio; 4) redes sociais para o contato direto com os alunos que realizaram

aprova.

Analisando a tabela 1 abaixo, é possível visualizar uma diferença significativa

em ambos os idiomas no desempenho dos alunos do Colégio Militar de Porto Alegre em

relação aos demais vestibulandos. No vestibular do ano de 2007 os alunos do CMPA

alcançaram desempenho acima dos demais vestibulandos da UFRGS nas provas de

idiomas. O número de acertos acima dos demais candidatos foi de 2,82 em Língua

Inglesa (LI). Na Língua Espanhola (LE), o número de acertos acima dos demais foi de

2,37, o pior desempenho dos alunos nesse idioma nos vestibulares de 2007 a 2015.

Mesmo assim, os alunos do CMPA conseguiram superar a média geral em ambos os

idiomas, como se pode observar na tabela 1.

Tabela 1: Resultados dos alunos do CMPA e vestibulandos na UFRGS

Ano vestibular UFRGS

Número de

Alunos CMPA

(LI)

Acertos LI Vestibulandos

UFRGS (Média)

Acertos LI

Alunos CMPA

Número de

Alunos CMPA (LE)

Acertos LE Vestibulandos

UFRGS (Média)

Acertos LE

Alunos CMPA (Média)

2007 98 14,22 17,04 27 13,84 16,21 2008 95 13,93 16,21 27 11,61 15,52 2009 100 13,03 16,09 29 10,89 16,09 2010 130 15,03 18,34 27 12,83 17,04 2011 114 13,55 19,52 25 14,52 18,34 2012 92 14,71 20,04 37 11,37 19,52 2013 114 11,88 18,31 24 10,42 17,04 2014 105 11,10 19,52 24 10,18 19,32 2015 102 8,94 19,04 37 10,42 19,52 2016 132 10,41 17,04 14 13,03 18,34

* LI – Língua Inglesa **LE – Língua Espanhola *** (Média vestibulandos UFRGS – Média acertos alunos CMPA X 100% Média UFRGS) Fonte: UFRGS, 2015 ( http://www.ufrgs.br/ufrgs/inicial, adaptado) e CMPA, 2015 (http://www.cmpa.tche.br/, adaptado)

No ano de 2008 os alunos do CMPA tiveram o pior desempenho em Língua

Inglesa (LI) nos vestibulares analisados. A média geral da UFRGS foi de 13,93 acertos

e a média dos alunos do Colégio Militar foi de 16,21 acertos, superando, ainda sim, a

média geral por 2,28 acertos. Em Língua Espanhola (LE) os alunos superaram a média

geral em quase 4 acertos (3,91acertos).

No ano de 2009 o CMPA realizou a troca do material didático visando um

melhor desenvolvimento dos alunos de ambos os idiomas. O resultado foi uma melhora

no desempenho do vestibular no ano de 2009 nos dois idiomas. O número de acertos

Page 65: dissertacao final maio16

acima dos demais candidatos foi de 3 acertos em Língua Inglesa (LI), e na Língua

Espanhola (LE) o número de acertos acima dos vestibulandos da UFRGS foi de 5,2

acertos.

O ano de 2010 é lembrado no CMPA como a turma recorde do 3º ano do Ensino

Médio com 157 formandos. Com isso, 130 alunos realizaram a prova do vestibular da

UFRGS de LI e 27 alunos do CMPA realizaram a prova de LE. O desempenho dos

alunos foi satisfatório na prova de Língua Inglesa com 18,34 acertos, alcançando 3,31

acertos acima da média geral. Na prova de LE os alunos conseguiram 17,04 acertos e

superaram a média geral em 4,21 acertos.

Em 2011 os alunos do CMPA mais uma vez superaram a média dos demais

vestibulandos em LI e LE. A turma de 2011 e de 2015 foram em termos de formandos,

a segunda mais numerosa, totalizando 139 formandos. Em LI os alunos obtiveram 19,52

acertos, superando em quase 6 acertos (5,97 acertos) a média geral da UFRGS. Em LE

os alunos conseguiram 18,34 acertos na prova superando em 3,82 acertos os demais

vestibulandos,

O vestibular de 2012 é tido como referência pelos docentes do CMPA. Os

alunos do CMPA tiveram o seu melhor desempenho desde 2007 acertando 20 questões

na prova de LI e 19 questões na prova de LE. Os alunos superaram em 5,33 acertos a

prova de LI e 8,15 acertos a prova de LE. O efetivo total de alunos do CMPA que

prestaram o vestibular foi de 129 alunos, onde 92 realizaram a prova de LI e 37 a prova

de LE. Dos 16.816 candidatos que realizaram a prova para LI, apenas 108 acertaram 20

questões. Em LE 15.505 candidatos realizaram a prova e apenas 284 alcançaram 19

acertos. Vale lembrar que o vestibular de 2012 da UFRGS bateu recorde de inscritos

com exatos 46.224 de vestibulandos inscritos.

No vestibular de 2013 os alunos conseguiram uma diferença de quase 7 acertos

na prova de LI (6,43 acertos). Na prova de LE a diferença de acertos dos vestibulandos

do CMPA foi de 6,62 acertos acima da média geral da UFRGS.

Em 2014 os alunos do CMPA obtiveram um desempenho muito bom em relação

aos demais anos analisados. Foi a segunda maior média de acertos dos alunos do

Colégio Militar de Porto Alegre, perdendo apenas para o vestibular de 2012, já

mencionado anteriormente. Os alunos conseguiram uma marca de 19,52 acertos na

prova de LI com quase 9 acertos acima da média geral (8,52) e 19,32 acertos na prova

de LE com 9,14 acertos acima da média geral do vestibular. Foi a maior diferença de

acertos na prova de LE nos vestibulares da UFRGS desde 2007.

Page 66: dissertacao final maio16

No ano de 2015 a média geral do vestibular na prova de LI foi de 8,94 acertos e

a média dos alunos do CMPA foi de 19,04 acertos. Assim, nesse vestibular os alunos do

CMPA alcançaram a maior diferença em relação a média geral do vestibular da UFRGS

nos anos analisados, com aproximadamente 10 acertos de diferença (10,10 acertos). Na

prova de LE os alunos obtiveram 19,52 acertos e uma diferença de 9,10 acertos da

média geral. O desempenho dos alunos em LE foi semelhante ao vestibular do ano

anterior com 9,14 acertos acima da média geral.

No último vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul os alunos

do CMPA fizeram 17,04 acertos em LI, e a média geral da UFRGS foi de 10,41 acertos.

A média geral de LE foi de 13,03 acertos. Já os alunos do CMPA obtiveram 18,34

acertos. Esses dados confirmam o excelente desempenho dos alunos no concurso.

Indo além das informações da tabela 1, pode-se compreender esse desempenho

analisando a performance dos alunos durante os três anos do Ensino Médio do CMPA

por meio da tabela 2. As médias nela apresentadas foram utilizadas com a intenção de

corroborar a ideia de que o bom aproveitamento dos alunos durante o Ensino Médio é

refletido no bom desempenho do vestibular.

As informações constantes na tabela 2 foram coletadas através de cinco

maneiras: 1) informações obtidas no site da UFRGS, para obter o número de acertos nas

provas de língua estrangeira dos alunos do CMPA e dos demais vestibulandos; 2) no

site do CMPA; e 3) na seção técnica de ensino do CMPA para obter o número exato de

alunos aprovados no 3º ano do Ensino Médio; 4) banco de dados do ex- sub comandante

do CMPA; 5) redes sociais para o contato direto com os alunos que realizaram aprova .

Page 67: dissertacao final maio16

Tabela 2: Desempenho dos alunos do CMPA no Ensino Médio e UFRGS

Ano

escolar CMPA

Matéria

Nr de

alunos

CMPA

Média

1º ano E.M

CMPA

Média

2º ano E.M

CMPA

Média

3º ano E.M

CMPA

Média todos

os

vestibulandos

(UFRGS)

Média

egressos

CMPA

(UFRGS)

% acima da média UFRGS

dos alunos do

CMPA***

2007 LI 98 7,9 9,2 7,6 14,22 17,04 19,83%

2007 LE 27 8,0 8,2 8,6 13,84 16,21 17,12 %

2008 LI 95 8,6 9,0 8,2 13,93 16,21 16,36 %

2008 LE 27 8,2 8,6 8,0 11,61 14,85 27,90 %

2009 LI 100 9,6 9,2 7,4 13,03 16,09 23,48 %

2009 LE 29 8,9 8,5 8,5 10,89 16,52 51,69 %

2010 LI 130 9,2 7,9 9,2 15,03 18,34 22,02 %

2010 LE 27 9,0 8,2 8,1 12,83 17,12 33,43 %

2011 LI 114 9,4 9,4 8,9 13,55 19,52 44,05 %

2011 LE 25 8,1 8,9 8,9 14,52 18,13 24,86 %

2012 LI 92 9,6 9,7 9,2 14,71 20,04 36,23 %

2012 LE 37 9,4 8,9 8,7 11,37 19,47 71,24 %

2013 LI 114 9,4 9,8 9,1 11,88 18,31 54,12 %

2013 LE 24 9,0 8,8 8,0 10,42 17,21 65,16 %

2014 LI 105 9,5 9,0 9,2 11,10 19,52 75,85 %

2014 LE 24 9,2 9,6 9,1 10,18 19,04 87,03 %

2015 LI 102 9,1 9,6 8,9 8,94 19,04 82,72 %

2015 LE 37 9,3 9,1 9,4 10,42 19,52 87,33 %

2016 LI 132 9,0 8,9 8,9 10,41 17,04 63,68% 2016 LE 14 9,2 9,0 9,0 13,03 18,34 40,75% * LI – Língua Inglesa **LE – Língua Espanhola *** (Média vestibulandos UFRGS – Média acertos alunos CMPA X 100% Média UFRGS) Fonte: UFRGS, 2015 ( http://www.ufrgs.br/ufrgs/inicial, adaptado) e CMPA, 2015 (http://www.cmpa.tche.br/, adaptado)

No ano de 2007 a média escolar dos alunos no ensino médio do Colégio

Militar de Porto Alegre foi 8,2 em ambos os idiomas, sendo a média escolar mais baixa

dos alunos nos anos analisados. Ainda assim, os alunos conseguiram alcançar uma

diferença de 19,83% acima da média da UFGRS na prova de LI. Em língua espanhola, a

diferença foi de 17,12% acima dos demais vestibulandos.

Em 2008 a diferença obtida na prova de LI realizada pelos alunos do CMPA foi

de 16,36% acima da média geral. Os alunos do CMPA obtiveram uma média nos três

anos de Ensino Médio de 8,6, 0,4 décimos acima da média do ano anterior. Em LE a

média permaneceu a mesma de 2007, 8,2, porém, o desempenho dos alunos no

vestibular foi 27,90 % acima da média da UFRGS.

Em 2009 o desempenho dos alunos melhorou em relação aos anos anteriores. As

médias escolares foram de 8,7 (LI) e de 8,6 (LE) durante o Ensino Médio.

Consequentemente o desempenho dos alunos também melhorou em relação ao

Page 68: dissertacao final maio16

percentual acima da média dos demais vestibulandos. Em LI o percentual foi de 23,48%

e em LE foi de 51,69% acima da média da UFRGS, o dobro da média do ano anterior.

A performance dos alunos em relação as médias escolares do Ensino Médio foi

de 8,7 (LI) e de 8,4 (LE), muito semelhante ao ano anterior. A porcentagem acima da

média do vestibular de 2010 foi de 22,02% em LI, superior ao ano anterior, já em LE o

desempenho não foi tão positivo como do ano anterior, mas ainda foi de 33,43% acima

da média do vestibular.

A turma de vestibulandos de 2011 alcançou um rendimento superior durante o

Ensino Médio de 9,2 (LI) e de 8,6 (LE). Em LI esse resultado positivo transpareceu no

vestibular. Os alunos conquistaram 44,05% acima da média geral do vestibular naquele

ano, e a Língua Espanhola atingiu 24,86% acima da média.

O vestibular de 2012 é considerado como um exemplo a ser seguido pelos

demais alunos do CMPA. As médias escolares no Ensino Médio foram de 9,5 (LI) e de

9,0 (LE), as maiores já alcançadas por alunos do CMPA. O sucesso no vestibular da

UFRGS era esperado pelo corpo docente do colégio. Em LI os alunos conseguiram um

resultado de 36,23% acima da média geral e em LE alcançaram 71,24 % acima da

média da UFRGS, a maior diferença até então.

O vestibular de 2013 mais uma vez demonstrou superação dos alunos do CMPA.

Com médias escolares muito boas no Ensino Médio com 9,4 (LI) e 8,4 (LE), eles

alcançaram 54,12% acima de média em LI e 65,16% em acima da média geral em LE.

A porcentagem alcançada em LI foi a mais alta desde 2007.

Os vestibulandos de 2014 demonstraram um bom resultado do ensino médio

com 9,2 (LI) e 9,3 (LE), resultou num excelente desempenho no vestibular, o segundo

melhor desempenho dos alunos nos anos analisados. Com 75,85% em LI e 87,03% em

LE acima da média geral, os alunos obtiveram em ambos os idiomas o maior percentual

até então conquistados no vestibular de 2013.

No início do ano de 2014, o livro didático foi trocado a fim de alinhar o SEAN

(Sistema de Ensino e Aprendizagem por Níveis) à divisão proposta pelo Marco Comum

Europeu (Common European Framework of Reference), já explicado anteriormente na

seção 2.4. A troca de material didático sempre é um momento de cautela no SCMB. Os

alunos do Ensino Médio, os mais próximos a prestarem o concurso de vestibular, são

obrigados a se familiarizar com o novo material didático. Contudo, a troca do material

não prejudicou os vestibulandos do CMPA, como mostra a tabela 2. Dessa forma, no

vestibular do ano de 2015, os alunos que fizeram a prova de língua inglesa alcançaram

Page 69: dissertacao final maio16

um resultado 82,72% acima dos outros candidatos, e os alunos que fizeram a prova de

língua espanhola alcançaram resultado 87,33% acima da média geral da prova. Foi o

maior percentual acima da média geral da UFRGS dos alunos do CMPA dos anos

analisados.

A média escolar no ensino médio dos alunos que prestaram vestibular em 2016

foi de 8,9 em LI e 9,1 em LE. No vestibular do corrente ano os alunos mantiveram o

bom desempenho dos últimos vestibulares. A média geral da UFRGS foi a segunda

mais baixa desde 2007 com apenas 10,41 acertos na prova de língua inglesa. Os 134

alunos que fizeram a prova de LI do CMPA alcançaram 17,04 acertos, alcançando

63,68% acima da média geral. A média de LE da UFRGS foi de 13,03 acertos. Os 14

alunos que fizeram a prova de LE acertaram 18,34 acertos nesta prova, alcançando

40,75% acima da média geral da UFRGS.

Assim, a tabela 2 acima demonstra um desempenho superior dos alunos do

Colégio Militar em todos os anos analisados. Nos anos em que o rendimento não foi tão

alto, ainda assim houve um percentual superior aos demais vestibulandos. Uma análise

mais aprofundada desses resultados será feita na seção 4.3, onde será discutido o papel

das rotinas em sala de aula no processo de aprendizagem de L2 (tanto língua inglesa

como espanhola).

Na próxima seção será apresentada a análise dos resultados obtidos no concurso

de admissão à Escola Preparatória de Cadetes do Exército.

5.2 Resultados obtidos no concurso de admissão à Escola Preparatória de Cadetes

do Exército (EsPCEx )

O segundo objetivo desta pesquisa é apresentar e analisar os resultados obtidos

no concurso de admissão à Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx ).

A tabela 3 abaixo ilustra os acertos de Língua Inglesa dos alunos do CMPA e de

demais candidatos no concurso público da Escola Preparatória de Cadetes do Exército

nos anos de 2012 a 20151. O Exame Intelectual é composto de provas escritas,

realizadas em dois dias consecutivos e aplicadas a todos os candidatos inscritos, 1 Entre os anos de 2006 a 2010 o idioma de inglês foi cancelado do concurso devido ao baixo rendimento dos candidatos no idioma. Em 2011 a escola voltou a exigir o idioma no concurso pois no ano de 2012 a Escola Preparatória de Cadetes do Exército passaria a adotar, como método de educação, o Ensino por Competências. Foi a escola pioneira do Exército Brasileiro a implantar essa metodologia, que busca contextualizar o conhecimento, integrando os conteúdos programáticos das diversas disciplinas em situações-problema, obrigando o aluno a refletir e solucioná-los de forma sistêmica e integralizada.

Page 70: dissertacao final maio16

versando sobre os assuntos relacionados no edital de Abertura do Concurso de

Admissão. As provas se distribuem em dois módulos (o primeiro módulo composto das

provas de Português (com 20 questões objetivas), Redação (questão discursiva), Física

(com 12 questões objetivas) e Química (com 12 questões objetivas) e módulo 2

composto das provas de Matemática (com 20 questões objetivas), Geografia (com 12

questões objetivas), História (com 12 questões objetivas) e Inglês (com 12 questões

objetivas).

Na tabela 3 é possível perceber o excelente desempenho dos alunos do CMPA

em relação aos outros candidatos no concurso de admissão da EsPCEx nos 4 anos

analisados. A Língua Inglesa deixou de fazer parte do processo de admissão por 5 anos,

no período de 2006 a 2011.

As informações constantes da tabela 3 foram coletadas através de três maneiras:

1) informações obtidas no site da EsPECx, para obter o número de acertos nas provas

de língua estrangeira dos candidatos; 2) no site do CMPA; e 3) redes sociais para o

contato direto com os alunos que realizaram aprova.

Tabela 3: Resultados dos alunos do CMPA e candidatos do concurso EsPCEx

Ano concurso EsPECx

Alunos CMPA prova

Língua Inglesa- EsPECx

Acertos LI dos

candidatos do concurso

EsPCEx (M)

Acertos LI

Alunos CMPA

% acima da média EsPCEx

dos alunos do CMPA**

2007 - - - - 2008 - - - - 2009 - - - -

2010 - - - - 2011 - - - - 2012 31 4 8 100% 2013 30 6 7 16,66% 2014 28 5 9 80% 2015 35 5 8 60%

* LI – Língua Inglesa ** (Média concurso EsPCEx – Média acertos alunos CMPA X 100 % Média EsPCEx) Fonte: EsPCEX, 2015 (http://www.espcex.ensino.eb.br/adaptado)

No ano de 2012 a Língua Inglesa voltou a fazer parte da grade de conteúdo do

concurso. O SCMB redobrou o número de aulas de LI nos cursinhos durante o

contraturno de todos os colégios militares. No concurso de 2012 o esforço feito pela

parte docente e pelos alunos do CMPA foi compensado com a aprovação de 31 alunos,

Page 71: dissertacao final maio16

número considerado excelente para os colégios militares. Os alunos alcançaram um

percentual de 100% acima da média dos demais candidatos, já que a média do concurso

em LI foi de 4 acertos, conforme a tabela 3 abaixo.

Em 2013 o CMPA aprovou o maior número de alunos no SCMB, com 30

alunos. Das 12 questões apresentadas na prova de LI, os alunos obtiveram 7 acertos,

chegando a um percentual de 16,66% acima da média geral.

No concurso de 2014 o desempenho não foi tão bom quanto o anterior, mas

ainda assim aprovou 28 alunos. Com uma média de acertos de 5 questões os alunos

conseguiram um percentual de80% acima da média geral do concurso.

No ano de 2015 o concurso de admissão ultrapassou os 17 mil inscritos, segundo

site oficial do concurso (EsPCEx, 2015). Desse número 35 alunos e três ex-alunos de

2014, foram aprovados, conforme dito anteriormente. No concurso do ano em questão,

os alunos do CMPA fizeram 60 % acima da média dos demais candidatos. É sabido nos

cursinhos preparatórios para esse concurso que as matérias que mais reprovam

candidatos são matemática e inglês. Esse ano a média de acertos de LI foi de 5 acertos,

quase tão baixa quanto a média dos acertos de matemática, que foi de apenas 3 acertos

num total de 20 questões. Possivelmente uma das causas pelo não aparecimento do

inglês nos anos de 2006 a 2010 deve-se a sua dificuldade.

Conforme a tabela 3 acima, em todos os anos analisados os alunos do CMPA

conseguiram aprovação acima da média dos demais candidatos.

Na seção 5.3 serão destacados os mecanismos disciplinares presentes no CMPA.

Além disso, a importância das rotinas militares e da disciplina implicada no processo de

aprendizagem de L2.

5.3 Os mecanismos disciplinares presentes no Colégio Militar de Porto Alegre, e a

importância das rotinas em sala de aula no processo aprendizagem de L2.

Os colégios militares do SCMB se tornaram destaque nos meios de comunicação

nos últimos anos pelos bons resultados que os alunos obtiveram em diversos concursos

pelo país, como o vestibular da UFRGS (seção 5.1) e o concurso de admissão para a

EsPCEx (seção 5.2). Para muitos educadores, como Paiva (2005), Rocha (1996) e

Narodowski (2000), estabelecimentos de ensino pautados pela disciplina escolar

proporcionam aos alunos aquilo que se espera de uma escola: formar alunos

Page 72: dissertacao final maio16

competentes para enfrentar os desafios da educação, entre os quais ENEM e, depois, a

vida universitária (CMPA, 2015).

Um dos fatores relacionados com o bom desempenho dos alunos é a rotina em

sala de aula existente no CMPA. Segundo Barbosa (2006) a organização e planejamento

das atividades diárias proporcionam ao professor a reflexão de suas ações e

metodologias, analisando os resultados de seu projeto. A prática pedagógica possui o

objetivo principal de transmissão dos conhecimentos, em todos os níveis escolares. Essa

prática compreende, também, aquelas ações repetitivas e regulares que ocupam o maior

tempo dos professores e alunos, às quais se refere por rotinas escolares. Compreendem-

se como rotinas “[...] uma série de ações que se repetem, com um padrão estrutural

característico, o qual possui certa invariância e é reconhecível por todos aqueles que

pertencem à área” (Barbosa, 2006, p. 132), sendo caracterizadas pela tradição de

realizar determinadas ações sempre do mesmo modo.

Assim, considera-se, nesta dissertação, como rotinas de sala de aula, por

exemplo, a organização dos alunos assim que o período começa, o chamado entrar em

forma; fazer a chamada ou tirada de faltas pelos alunos; a apresentação da turma feita

pelo chefe de turma ao professor informando as faltas; e a liberação dos alunos somente

após a apresentação da turma ao término do período. Esses procedimentos são

repetidos ao longo dos 06 (seis) períodos diários no colégio a cada troca de professor.

Nas salas especiais o procedimento é o mesmo, porém o idioma é na língua em questão,

LI (língua inglesa), ou LE (língua espanhola).

Para Harris (2000), a importância das rotinas de sala de aula estão diretamente

relacionadas ao tempo ganho pelo professor. Os alunos são os responsáveis, como já

mencionado na seção 2.3.1, pela organização da turma como um todo, cabendo ao

professor desenvolver seus projetos sem grandes distrações. Esta organização durante as

aulas de idiomas no CMPA tem efeitos na qualidade ensino-aprendizagem de uma

língua estrangeira (HARRIS,2000).

As rotinas colaboram na ação educativa, uma vez que auxiliam o trabalho

pedagógico do professor, permitindo efetivar, de maneira organizada, o cotidiano

educativo e poupando tempo do docente com a indisciplina. A autora afirma em sua

pesquisa a importância to tempo em sala de aula, já explicado na seção 2.1.1, onde

relata os efeitos do tempo desperdiçado. Assim, acredita-se que estas rotinas no CMPA

são as grandes responsáveis pelo excelente desempenho dos alunos nos concursos

analisados nesta dissertação.

Page 73: dissertacao final maio16

Aspectos como organização escolar e a organização dentro de sala de aula são

fatores de influência para o comportamento dos alunos e consequentemente, para o bom

andamento do processo ensino-aprendizagem (ARAÚJO, 2005; VEIGA,2011). Outros

autores como Kounin (1977), Amado e Freira (2005), Slavin (2006) e Richardson

(1997) reforçam a ideia da importância da gestão de sala de aula.

Assim, os rituais executados diariamente do CMPA, como a organização dos

alunos diariamente no pátio (formatura matinal), o respeito pelo professor com a

apresentação da turma no início de cada período, a hierarquia da continência,

hasteamento da bandeira todas as manhãs, por exemplo, podem ser considerados como

uma forma genuína de comportamento ritualizado (Barbosa, 2006). Segundo o autor, os

rituais são compreendidos como atos, individuais ou grupais, que se mantêm fiéis a

certas regras e hábitos sociais e que possuem um significado particular em cada cultura.

São práticas que fixam regularidades apesar de manterem-se abertas a eventuais

mudanças. A repetição de certas ações e de determinadas práticas dão estabilidade e

segurança aos sujeitos (BARBOSA, 2006).

A próxima seção se subdivide em 5.3.1 e 5.3.2, que tratam, respectivamente, das

rotinas militares e a disciplina na sala de aula de L2, e das atividades extracurriculares e

a disciplina.

5.3.1 As rotinas militares e a disciplina na sala de aula de L2

A organização da rotina das atividades dos alunos no CMPA é um aspecto de

suma importância. Segundo DeLaTaille, a rotina deve ser pensada a partir do

planejamento feito pela equipe pedagógica e professores, traduzida no plano de trabalho

ou de aula. A rotina é uma situação de aprendizagem quando possibilita ao aluno

segurança e domínio do espaço e do tempo que passa na escola. Uma rotina estável,

clara e compreensível permite que os alunos a incorporem, podendo antecipar o que irá

acontecer em seguida. Isso oferece uma sensação de segurança, o que por sua vez,

permitirá que elas atuem com maior autonomia e tranquilidade no ambiente escolar

(DeLaTaille,1994).

Uma das explicações possíveis para o alto desempenho dos alunos nos diferentes

concursos são as diferentes atividades que o Colégio Militar de Porto Alegre oferece aos

alunos são as rotinas militares. O CMPA possui um repertório de ritos que visam à

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formação do estudante, numa proposta de educá-lo disciplinarmente e provê-lo de uma

bagagem cultural determinada por seu sistema de ensino.

Esta disciplina é desenvolvida devido aos diversos mecanismos disciplinares que

o SCMB possui, como o rígido cumprimento de horários, respeito a hierarquia e até a

continência prestada a um militar. As regras estabelecem no âmbito da escola o padrão

da apresentação individual masculina e feminina, definindo para os gêneros

padronizações que lhes conferirão, discrição e sobriedade considerados importantes, tais

como o corte de cabelo masculino e para as alunas como devem ser usados os adornos e

a maquiagem, dentre outros.

As padronizações de condutas de comportamento segundo Van Gennep (2011),

de rigor no vestuário imputam ao aluno a internalização da moral. As regras não se atêm

apenas ao tipo de corte ou arrumação do cabelo, mas também detalha o que pode e o

que não pode ser usado na apresentação pessoal, como a cor da mochila, cor do esmalte

e até a quantidade e modelo dos brincos femininos. Essas regras são usadas para a

perpetuação da imagem constituída ao longo da evolução militar, já explicadas na seção

3.1.1, anteriormente.

A partir da constatação de que o Colégio utiliza a meritocracia para avaliar os

alunos, há uma disputa para conseguir símbolos de destaque pelas melhores notas que

são conferidos como estímulo à aprendizagem. Há uma busca ansiosa para o

recebimento das notas, pois será a partir delas que os alunos receberão os símbolos de

distinção, identificados como estimuladores da aprendizagem como, por exemplo, ser

promovido no Batalhão Escolar, ser o chefe de turma, integrar a legião de honra, ser

escolhido para hastear a Bandeira Nacional numa formatura geral, ou até mesmo ser

nomeado monitor (MESQUITA, 2011).

Os mecanismos disciplinares têm reflexos sobre a aprendizagem nas aulas de

língua inglesa e língua espanhola no CMPA. Logo no início do intervalo, entre um

período e outro de aula, os alunos se direcionam para as salas especiais guiados pelo

subchefe da turma. Este procedimento já foi explicado na subseção anterior, pois além

de ser uma rotina de sala de aula também é uma rotina militar. As salas de idiomas é um

ambiente, já mencionado na seção 3.2, propício ao aprendizado de uma segunda língua.

Lá, o subchefe deve conferir o número de cadeiras em sala de aula, conferir o efetivo de

alunos presentes, conferir se todos os alunos estão com o livro didático e até mesmo se

na sala de aula possui caneta e apagador para o professor. A tarefa do chefe de turma é

Page 75: dissertacao final maio16

colocar os alunos em forma dentro da sala de aula, usando os comandos militares na

língua do idioma estudado para a apresentação da turma ao professor.

Segundo Vasconcelos (2004) o estudo é um processo de adaptação, é um hábito

adquirido com esforço, aborrecimento e até sofrimento. Contudo, sem disciplina, seria

quase impossível realizar-se a aprendizagem (VASCONCELOS, 2004). Assim, somos

levados a concluir que a disciplina se apresenta como possuidora de características

pertinentes ao processo de aprendizagem, neste caso então, a disciplina é vista pelo

SCMB como sendo uma condição necessária para a produção da aprendizagem.

Essa estrutura educativa, minuciosamente estruturada nas rotinas militares, está

voltada para a constituição identitária do corpo da tropa. Nas definições sobre o

disciplinamento para se conseguir obter a excelência do aluno transparece o forte

vínculo com o que preconiza Émile Durkheim ao tratar da educação moral. Para

Durkheim a moral é entendida como “um sistema de regras que predeterminam a

conduta. Elas dizem como devemos agir em cada situação; e agir bem é obedecer bem.

(DURKHEIM, 2008). Desta forma, a característica das ações morais é o que se faz em

obediência a uma regra preestabelecida.

O Manual do Aluno é um documento onde as regras e as rotinas militares estão

descritas. Nele consta o gesto eminentemente militar: a continência. O objetivo desse

regulamento específico é estabelecer as honras, as continências e os sinais de respeito

que os alunos do CMPA devem prestar a determinados símbolos nacionais e às

autoridades civis e militares membros do colégio. É através desse regulamento que se

torna ainda mais visível a atuação do poder disciplinar no CMPA e o fato desta escola

ser uma sociedade disciplinar.

Faz parte desta estrutura educativa a SEL (Sociedade Esportiva e Literária), os

Grêmios, os esportes intensamente praticados no contraturno, as formaturas, o civismo e

as atividades extracurriculares que serão relembradas na subseção seguinte.

Os alunos da SEL representam os interesses dos estudantes na escola. Os alunos

podem discutir,criar e fortalecer inúmeras possibilidades de ação tanto no próprio

ambiente escolar como na comunidade. A SEL é encarada a partir de uma perspectiva

pedagógica onde tal experiência irá compor o currículo escolar dos estudantes, sendo

uma atividade onde os envolvidos desenvolverão um exercício de cidadania, formação

de cultura cívica, vivência política e liderança positiva (CMPA,2015).

Outra ferramenta usada para inserir os alunos neste ambiente escolar é a Semana

Zero, explicada anteriormente na subseção 3.1.2 É por meio deste processo de

Page 76: dissertacao final maio16

comunicação que os novos alunos aprendem sua função social e adquirem sua nova

identidade cultural. Este novo linguajar é iniciado na Semana Zero juntamente com um

programa de treinamentos (ordem unida) e de aquisição de conhecimentos cujo objetivo

é adaptá-los às particularidades do CMPA. Esta semana serve de acolhida aos novos

alunos, com o intuito de recebê-los com muita afetividade e ao mesmo tempo

desenvolver autoestima e segurança.

Os fatores internos possuem grande destaque para a análise da aprendizagem de

línguas. Vygotsky (2000) já se referia a eles ao evidenciar que os aspectos externos

contribuem para os fatores internos do aprendiz. E ainda acrescenta que o

desenvolvimento cognitivo é produzido pelo processo de internalização da interação

social com materiais fornecidos pela cultura. Então o sujeito é interativo, porque forma

conhecimentos e se estabelece como ser social a partir de relações intra e interpessoais.

Baseado neste pensamento, Vygotsky (2000) afirmou que diferentemente do que

se acreditava, “o único bom ensino é o que se adianta ao desenvolvimento”, trabalhando

sob a perspectiva da análise da capacidade potencial dos sujeitos. Vygotsky (2000)

afirma ainda que uma organização coerente da aprendizagem é imprescindível para a

criança, pois conduz ao desenvolvimento mental.

A autoestima, por sua vez, é também um fator interno preponderante na

aprendizagem de línguas. Lago (2000) considera o fato de a autoestima ser algo

primordial no processo, uma vez que quando elevada, se converte em segurança,

encorajando e fornecendo ao aluno subsídios para desenvolver tarefas ainda maiores.

As atividades esportivas no contraturno ou em competições nacionais e

internacionais que os alunos do CMPA participam servem também para dinamizar o

processo de ensino-aprendizagem, já que prática do esporte envolve a aquisição de

habilidades físicas e sociais, valores, conhecimentos, atitudes e normas. Almeida e

Gutierres (2009) cita que o esporte é uma forma de sociabilização e de transmissão de

valores. Portanto, observa-se que o esporte possui amplas repercussões, sendo um

fenômeno que possui uma linguagem universal. Os benefícios do esporte têm

ultrapassado o limite do bem-estar físico e tornar-se visível também em nível

educacional e formativo dos alunos do CMPA.

Na subseção a seguir será discutida a importância das atividades

extracurriculares para o desenvolvimento da disciplina.

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5.3.2 Atividades extracurriculares como mecanismos disciplinadores

As atividades extracurriculares no SCMB podem contribuir para o

desenvolvimento da disciplina nos colégios militares. A Banda de Música do CMPA e o

Coral são atividades diferenciadas dos outros colégios e pertencentes a caserna. Já

mencionados anteriormente na subseção 3.1.5, essas duas atividades exigem disciplina e

um coleguismo em torno de um objetivo comum. Você não pode se sobressair aos

outros, nem ser pior (FARIA,2001).

A música é considerada por vários autores e pesquisadores como elemento

enriquecedor para o desenvolvimento humano, que proporciona, segundo Correia

(2003) bem-estar e colabora para a ampliação de outras áreas necessárias para a

formação plena do indivíduo. O aprendizado musical serve como estímulo, ajudando na

apropriação da linguagem, concentração, disciplina e no aprendizado da matemática.

Como explica o autor Faria (2001) a música como sempre esteve presente na

vida dos seres humanos, ela também sempre está presente na escola para dar vida ao

ambiente escolar e favorecer a socialização dos alunos, além de despertar neles o senso

de criação e recreação. No caso do CMPA a música faz parte da rotina da escola, tendo

em vista toda a dependência que os alunos e militares têm em relação aos toques de

corneta. Os hinos e as canções militares são sempre acompanhados pela banda de

música durante as formaturas, e até mesmo os avisos de reuniões são feitos apenas com

um toque de corneta ou clarim.

Assim, a música nos colégios militares é uma ferramenta disciplinar usada por

militares e alunos do SCMB. Ela promove o desenvolvimento interno e a aprendizagem

de conteúdo, estimulando áreas do cérebro não desenvolvidas por outras linguagens,

como a escrita e a oral. A música potencializa o processo de aprendizado e disciplina os

alunos (KATER,2004).

A Banda de Música também faz parte do Coral, outra atividade extracurricular

do CMPA. Além de desenvolver as habilidades da música já mencionadas

anteriormente, o coral desenvolve percepção auditiva e desenvolvimento de senso

rítmico. Outras características potencializadas são o respeito ao próximo e ao coletivo,

pontualidade, disciplina e o espírito de corpo, termo militar que consiste em demonstrar

solidariedade e lealdade ao corpo ou grupo de pessoas a que se pertence ou está ligado

de algum modo.

Page 78: dissertacao final maio16

Segundo Brito (2013) a Banda de Música possui junto a si um caráter social que

muito contribui para o ambiente escolar: a hierarquia, a convivência, a inclusão, a

valorização do indivíduo com suas particularidades e possibilidades e ainda sua

identificação dentro do grupo e dentro da comunidade. Toda essa gama de

possibilidades é ferramenta necessária à formação integral do indivíduo na sociedade e

por consequência uma ótima ferramenta para o desenvolvimento escolar do aluno.

(BRITO, 2013).

Além disso, aprender música aguça a percepção e desenvolve o raciocínio,

salienta Brito (2013). Para o pesquisador, a música também ensina autodisciplina,

paciência e sensibilidade.

O professor de música no Instituto de Bateria Northon Vanalli de Presidente

Prudente (SP) Daniel Mazzini é defensor do ensino de música nas escolas. Para ele,

depois de musicalizado vocalmente o aluno terá mais segurança em si mesmo. Segundo

ele, o trabalho vocal tem sido um dos meios que muitos professores encontraram para

inserir uma atividade musical no contexto escolar. “Há muitas práticas corais

envolvendo percussões corporais, que facilitam o trabalho nas questões financeiras, e

ajudam na aprendizagem e no desenvolvimento musical ”(MAZZINI, 2013).

Para Vygotsky, a espécie humana é capaz de adquirir e transmitir o

conhecimento através da cultura que o circunda, por meio da interação social com os

outros. O conhecimento, as idéias, as atitudes e os valores das crianças se desenvolvem

pela interação com os outros. Sendo assim, não podemos ignorar a importância desse

aspecto em que está inserido o contexto das Bandas de Música e Coral no meio escolar.

Enfim, por meio da Banda de Música e do Coral os alunos do CMPA fortalecem

o respeito, as regras do colégio e as habilidades sociais, ampliando na maioria das vezes

a liderança e autoconfiança, características importantes para a formação de cidadão de

sucesso. No capítulo final serão feitas as considerações finais desta pesquisa.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este capítulo de conclusão tem como objetivo retomar as motivações que

originaram a realização desta pesquisa, procurando estabelecer uma relação entre os

resultados obtidos através dos objetivos investigados. Para tanto, este capítulo encontra-

se dividido em três seções: a primeira apresenta um resumo dos principais achados deste

trabalho; a segunda, por sua vez, expõe as limitações deste estudo e a terceira propõe

algumas sugestões que podem ser adotadas futuramente para fazer avançar a pesquisa

na área de ensino-aprendizagem de L2.

6.1 Resumo dos principais achados deste estudo

Esta é uma época de transição na educação brasileira. De acordo com Estrela

(2002) as políticas educacionais estão sendo implementadas e apontam novas visões

teóricas e práticas pedagógicas, tendo ao centro conceitos tais como cidadania,

interdisciplinaridade e contextualização. Mas nesse horizonte de mudanças desejadas

vemos um cruzamento de novos e antigos desafios que instigam educadores e sistemas

educacionais. Nesta dissertação a (in) disciplina na escola foi destacada.

Entendemos que a escola deve, de fato, educar por meio de uma série de

instrumentos, estratégias e princípios, sendo que o Colégio Militar de Porto Alegre

cumpre efetivamente essa função ao estabelecer as rotinas de sala de aula; incentivar as

atividades extracurriculares fomentando o aprendizado em suas aulas de

acompanhamento no período vespertino e ao criar clubes de estudo e grêmios esportivos

para os alunos. O colégio ministra uma educação cujos resultados são visíveis na

sociedade Porto Alegrense que vê os alunos do CMPA ingressarem em instituições

públicas de ensino superior de renome nacional e internacional.

Sobre os objetivos desta pesquisa, verificamos que o excelente desempenho dos

alunos do CMPA no vestibular da UFRGS e na EsPCEx podem estar diretamente

relacionados com a disciplina, com os mecanismos disciplinares e com as rotinas em

sala de aula. Eles acentuam e fortalecem o processo de ensino-aprendizagem de L2.

Page 80: dissertacao final maio16

6.2 Limitações do estudo

O propósito desta pesquisa foi apresentar os resultados obtidos nos concursos

públicos da UFRGS e da EsPCEx dos alunos do CMPA, analisando os mecanismos

disciplinares e a influência no processo ensino-aprendizagem de L2.

Nas últimas duas décadas, diversas questões relativas à (in) disciplina escolar

têm sido debatidas em eventos educacionais no Brasil, e este tema tem sido explorado

em periódicos científicos, bem como em diversos trabalhos de mestrado e doutorado no

campo educacional (ZENCZUK, 2004). Temas e assuntos relacionados apenas com a

(in) disciplina é vasto, porém, tanto o número de pesquisas quanto a quantidade de

referencial teórico relacionados com a aprendizagem de segunda língua é muito

pequeno. Esta foi a grande limitação da pesquisa.

Outro aspecto que merece destaque foi a dificuldade em obter os resultados dos

desempenhos dos alunos. Durante o ano de 2014 a internet e as redes sociais foram de

grande valia para este trabalho. As ferramentas usadas para o contato com 1353 alunos

foram o facebook, instagram, e-mail, site da UFRGS e até mesmo o site do CMPA.

O discurso cívico e o ritual da doutrina militar – que buscam mobilizar o jovem

para a consciência nacional, impondo amor à Pátria como prática cultural – permitem

uma reflexão sobre as relações sociais dos jovens com os adultos na educação formal e

constituem outro aspecto da formação do jovem que merece ser considerada. Talvez por

causa da página nebulosa que temos em nossa história, haja uma resistência

inconsciente a essa prática do cultivo do “amor a Pátria” por parte de alguns jovens que

refutam as solenidades de formatura. Porém, sem querer levantar a bandeira do

sentimento patriótico, acredito que o resgatar, no jovem, a valorização do amor a Pátria,

ajuda na formação de cidadãos comprometidos com o gênero humano que exige valores

solidários e fraternos.

6.3 Sugestões para estudos futuros

Nesta estrutura de ensino assentada prioritariamente na hierarquia e na

disciplina, os alunos vão construindo sua formação por meio de uma série de

mecanismos a partir dos quais os militares representam a si próprios como integrantes

da sociedade política. Assim, estes são aspectos relevantes que aliados com o

cumprimento efetivo dos conteúdos dados e a exigência para que a aprendizagem

Page 81: dissertacao final maio16

ocorra, promovem o Colégio Militar de Porto Alegre a uma posição de destaque em

âmbito nacional.

Para desenvolvimento futuro, sugere-se a extensão da aplicação desta pesquisa

para os demais colégios do SCMB. Importante seria a análise dos resultados dos

vestibulares de línguas estrangeiras em todos os 12 colégios militares situados em

diferentes regiões do país, analisando assim as especificidades de cada vestibular,

confirmando a importância da disciplina no processo ensino-aprendizagem no Sistema

Colégio Militar do Brasil.

Por fim, é importante ressaltar entre outros fatores o caráter inédito desta

pesquisa, pois ainda não consta na literatura Brasileira nenhum estudo relacionando à

(in) disciplina e sua influência no aprendizado e L2. Espera-se que esta investigação

tenha dado o pontapé inicial a muitas que virão, em que os efeitos da disciplina e das

rotinas de sala de aula possam auxiliar e estimular a aprendizagem de L2.

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