23

Discurso na Tomada de Posse como Reitor€¦ · permanente e cont nua sobre os lhos nos espa˘cos publicos torna-se necessidade e fardo. N~ao haja duvida: e muito mais f acil, e muito

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Discurso na Tomada de Posse como Reitor€¦ · permanente e cont nua sobre os lhos nos espa˘cos publicos torna-se necessidade e fardo. N~ao haja duvida: e muito mais f acil, e muito
Page 2: Discurso na Tomada de Posse como Reitor€¦ · permanente e cont nua sobre os lhos nos espa˘cos publicos torna-se necessidade e fardo. N~ao haja duvida: e muito mais f acil, e muito

Discurso na Tomada de Posse como Reitor∗

Antonio Fidalgo, Universidade da Beira Interior

1- O compromisso com a regiao esta na genese da criacaoda Universidade da Beira Interior, faz parte do seu nome, ee, por isso, uma das suas razoes de ser. Esse compromissoreafirmo-o solenemente neste momento em que assumo asfuncoes de reitor. Faco-o na conviccao de que a sustentacaoda UBI e da regiao se implicam mutuamente. O contributoda UBI para o desenvolvimento regional tem sido frequen-temente salientado, mas e altura de realcar tambem o outrolado da relacao, o papel que a regiao assume na vida ena afirmacao da universidade. Ha uma reciprocidade narelacao, uma comunhao de fortunas, que determina o su-cesso, ou o insucesso, de uma e outra das partes. Nao hauniversidades pujantes em regioes deprimidas, nem regioessocial e economicamente fortes sem universidades dinamicase de reconhecida qualidade.

A melhor maneira de a regiao apoiar a UBI e ser umaregiao desenvolvida e sustentavel. A Beira Interior tem hoje

∗Em cerimonia realizada no Anfiteatro da Faculdade de Ciencias da Saude em 5de Setembro de 2013.

1

Page 3: Discurso na Tomada de Posse como Reitor€¦ · permanente e cont nua sobre os lhos nos espa˘cos publicos torna-se necessidade e fardo. N~ao haja duvida: e muito mais f acil, e muito

infra-estruturas boas: escolas, hospitais, equipamentos soci-ais e desportivos, vias de acesso, redes fiaveis de energia e detelecomunicacoes, que a comparam a qualquer regiao desen-volvida da Europa. O problema – e e um grande problema!– reside na baixa densidade populacional, no envelhecimentoacentuado da populacao, na fraca actividade economica ecultural e na correspondente falta de emprego. O que aUBI precisa da regiao e, em particular, dos responsaveispolıticos, dos empresarios e dos demais actores relevantesda sociedade e que tudo facam para inverter a situacao de-mografica, economica e cultural em que a regiao se encontra.Se a Beira Interior se tornar uma regiao dinamica como azona de Aveiro ou o Minho, esse sera o maior apoio, aindaque indirecto, a sua universidade, a UBI.

Podemos concretizar um pouco mais. Se as escolas dosensinos basico e secundario estiverem cheias, se o ensino aıministrado for de qualidade, se a regiao tiver uma economiacapaz de absorver mao de obra superiormente qualificada,se houver uma vida cultural vibrante, entao a UBI terauma sustentacao forte e o seu futuro estara definitivamenteassegurado. Uma regiao desenvolvida tera capacidade, e alegitimidade, de exigir a universidade padroes elevados dequalidade.

2- Sabemos que as coisas nao sao assim. A regiao e uma dasmais gravemente atingidas pela crise demografica em quePortugal mergulhou nas ultimas dezenas de anos. O paıs

2

Page 4: Discurso na Tomada de Posse como Reitor€¦ · permanente e cont nua sobre os lhos nos espa˘cos publicos torna-se necessidade e fardo. N~ao haja duvida: e muito mais f acil, e muito

tem uma das taxas de natalidade mais baixas do mundo, afecundidade e de 1,28, muito longe da taxa de 2,1 como onıvel mınimo para a efectiva substituicao de geracoes, e aforte emigracao, provocada pela crise, agrava o problema.Um quinto da populacao portuguesa tem mais de 65 anosde idade e Portugal e um dos paıses mais envelhecidosda Uniao Europeia. Em 2012 nasceram menos de 90 milcriancas em Portugal, menos 7 mil do que em 2011, e noprimeiro semestre deste ano, 2013, houve menos 4 mil doque em igual perıodo do ano passado. Para sabermos bemo que isso significa, basta dizer que em 1960 nasceram 214mil bebes em Portugal, e em 1980 nasceram 158 mil. Esteano vamos ter quase menos 50% de bebes que em 1980. Saonumeros com consequencias, nomeadamente na populacaoescolar e no numero de estudantes que se inscrevem noensino superior.

Nos ultimos anos, os candidatos ao ensino superior temvindo a diminuir, e, e obvio, que a diminuicao tendera aagravar-se fortemente a medio prazo (daqui a 10-20 anos).Este ano temos apenas 40.546 estudantes inscritos na pri-meira fase do concurso nacional de acesso, menos 4847alunos do que em 2012 quando houve 45.838 candidaturas.Menos 10%! (compreenderao pois a minha expectativa pre-ocupada quanto a colocacao de alunos na UBI na proximasegunda feira). Mesmo que esta reducao brutal seja emparte devida a factores circunstanciais, como os maus resul-

3

Page 5: Discurso na Tomada de Posse como Reitor€¦ · permanente e cont nua sobre os lhos nos espa˘cos publicos torna-se necessidade e fardo. N~ao haja duvida: e muito mais f acil, e muito

tados nos exames nacionais do ensino secundario, o contınuodeclınio demografico nao deixara de se sentir nas proximasdecadas.

O cenario triste e preocupante da demografia portuguesaagrava-se, e muito, quanto nos cingimos as regioes do In-terior. O estudo Demospin, ”Demografia EconomicamenteSustentavel. Reverter o Declınio em Areas Perifericas”, ela-borado por investigadores das Universidades de Aveiro,Coimbra, UBI, e dos Institutos Politecnicos de CasteloBranco e Leiria, financiado pela Fundacao para a Ciencia eTecnologia, estudo que sera apresentado publicamente noFundao em 25 e 26 de Outubro, mostra bem quao sombriossao os cenarios demografico-economicos da Beira Interior.Se nada for feito para contrariar as tendencias actuais, secontinuarmos como ate aqui, em 2100 teremos zonas doInterior, como a Beira Interior Norte, com um quarto dapopulacao actual, e mesmo as zonas mais habitadas docorredor urbano, servido por auto-estrada e ferrovia, teraomenos de 40% da populacao actual, como a Cova da Beira.

E obvio que nao podemos continuar assim, porque assima regiao sera, dentro de decadas, uma reserva cinegeticasem lugar para universidades.

3- Nao ignoro que a baixa fecundidade e a urbanizacao saotendencias globais, assentes em valores civilizacionais. Estouciente de que os valores nao se alteram de um momento parao outro e que e muito difıcil contrariar local ou regionalmente

4

Page 6: Discurso na Tomada de Posse como Reitor€¦ · permanente e cont nua sobre os lhos nos espa˘cos publicos torna-se necessidade e fardo. N~ao haja duvida: e muito mais f acil, e muito

tendencias globais. E difıcil, mas nao e impossıvel, e, estandonos na Beira Interior entre as primeiras vıtimas dessastendencias, e nosso dever lutar contra elas.

E um facto que as pessoas preferem viver nos grandescentros urbanos. Isso e uma realidade na China, na Ale-manha, no Brasil, em Africa; e Portugal nao foge a regra.Esta preferencia pela vida urbana e certamente uma dasprincipais causas do decrescimo de natalidade. O espacohabitacional e muito menor, nao existe a rua como local deconvıvio e brincadeira com outras criancas, desaparece afamılia alargada como ambiente de suporte e a vigilanciapermanente e contınua sobre os filhos nos espacos publicostorna-se necessidade e fardo. Nao haja duvida: e muitomais facil, e muito mais barato, criar uma famılia numerosanuma aldeia do que numa cidade.

Os valores mudaram, e verdade. O que se coloca hojeem primeiro lugar como sentido da vida e a auto-realizacao,a satisfacao pessoal. Um curso superior, uma profissao comelevado reconhecimento social, um emprego bem remune-rado e seguro, sao hoje os principais objectivos de um jovemnas sociedades actuais. O casamento e os filhos sao objecti-vos subsequentes. Importantes, sem duvida, mas claramentedeslocados para uma fase posterior da vida. Quantas vezes,porem, a obtencao da estabilidade profissional e economicanao leva muito mais tempo que o previsto, empurrando aparentalidade para uma epoca tardia da vida, para a decada

5

Page 7: Discurso na Tomada de Posse como Reitor€¦ · permanente e cont nua sobre os lhos nos espa˘cos publicos torna-se necessidade e fardo. N~ao haja duvida: e muito mais f acil, e muito

dos 30 e dos 40, menos propıcia em termos biologicos e psi-cologicos. E entao o mais comum e um casal ficar pelo filhounico.

Sigmund Freud definiu os instintos do Eros e do Thana-tos, da vida e da morte, como forcas motrizes da existenciahumana. O estranho da nossa civilizacao e como o eros, oprincıpio da vida, e da reproducao, se generalizou, banalizoue inutilizou. O erotismo que invadiu todas as esferas da vidahumana – e basta olhar a publicidade – deixou de ser umaforca criadora de abertura e ligacao aos outros, para setornar um objectivo em si mesmo, em instinto egocentricoe de auto-satisfacao. Mas, ao transformar-se em hedonismoapenas preocupado com o momento presente, perdeu a di-mensao de futuro que lhe e intrinsecamente propria e comisso tornou-se inane. O resultado deste auto-centramentoerotico e, mais do que estranho, paradoxal. A sua inanidadetornou-o uma forma de Thanatos social. Na verdade, comodenominar a falta de vontade de manter a comunidade emque vivemos, de assegurar o seu futuro, senao como suicıdiocolectivo a prazo?

Se alguem achar que isto e apenas consideracao teorica,aconselho-o a verificar os registos de nascimento e de obitoda maioria dos concelhos da regiao ou entao visitar aldeiasonde as escolas primarias fecharam ha muito e onde se podeassistir a morte lenta de comunidades outrora cheias devida.

6

Page 8: Discurso na Tomada de Posse como Reitor€¦ · permanente e cont nua sobre os lhos nos espa˘cos publicos torna-se necessidade e fardo. N~ao haja duvida: e muito mais f acil, e muito

4- Se nao podemos continuar assim, que devemos fazer?Darmo-nos conta do problema e o primeiro passo. A regiaoprecisa de gente nova, precisa de criancas, precisa de alu-nos para os varios ciclos de estudos dos ensinos basico,secundario e superior. Precisa de casais jovens para gerare criar essas criancas, precisa de empregos para manter osjovens naturais da regiao e atrair jovens de outras partesdo paıs e do mundo, precisa de uma economia forte paracriar os empregos, precisa de ter uma vida cultural ricapara animar os residentes, precisa de um estado espıritode que o nosso lugar e aqui, de que a Beira Interior e umaterra onde se vive bem no presente e de que oferece boaspossibilidades para os filhos e para os netos. O presenteganha-se projectando o futuro, e e isso que temos de fazer.

Nao deixa de ser surreal, ao mesmo tempo ironico e cruel,que a regiao tinha populacao quando nao tinha condicoes,quando lhe faltava agua canalizada, energia electrica, sa-neamento basico, escolas, centros de saude, equipamentosdesportivos, vias de comunicacao, e agora que tem tudoisso, inclusive cortes de tenis, piscinas aquecidas, Internetde banda larga, nao tenha populacao. Gastaram-se riosde dinheiro, nomeadamente os muitos milhoes dos fundoscomunitarios, para as infra-estruturas que servissem as pes-soas, e agora que as temos, estamos a perder as pessoasque delas se servem e faltam-nos as pessoas que delas sepoderiam servir.

7

Page 9: Discurso na Tomada de Posse como Reitor€¦ · permanente e cont nua sobre os lhos nos espa˘cos publicos torna-se necessidade e fardo. N~ao haja duvida: e muito mais f acil, e muito

Certamente o Governo Central tem graves culpas nodescalabro demografico que atingiu o paıs e sobretudo oInterior. As obras de regime, centros culturais, estadios defutebol, pontes faustosas, auto-estradas duplicadas ou semmovimento, submarinos desnecessarios, levaram o dinheiroque faltou para pagar o abono de famılia a todos os primeirosfilhos e o aumentar crescentemente e significativamente paraos filhos seguintes. Sobretudo ao nıvel fiscal faltam apoiosas famılias numerosas. Mas o poder local tambem poderiafazer muito mais em polıticas de pro-natalidade. A tıtulo deexemplo, nao se compreende como os consumos de agua e desaneamento sao taxados por habitacao independentementedo numero de pessoas que nela habitam. Claro que se for umunico habitante o mais provavel e que se fique pelo primeiroescalao, mas se for uma famılia numerosa o consumo disparae aı e taxada pelos escaloes de consumo superior muitıssimomais caros. E, por outro lado, porque nao instituırem asautarquias bolsas de estudo para os segundos, terceiros equartos filhos num montante superior? Porventura nao euma escola primaria cheia um bem maior que rotundas epavilhoes, ainda por cima sem movimento e vazios?

A criacao de emprego e imprescindıvel para fixar e atrairpessoas. Repito, e imprescindıvel, ou seja, e condicao ne-cessaria. Mas nao e suficiente, e sublinho: nao e suficiente.Ha quem trabalhe na regiao, nomeadamente em empregosqualificados, e nao viva na regiao. As razoes sao diversas:

8

Page 10: Discurso na Tomada de Posse como Reitor€¦ · permanente e cont nua sobre os lhos nos espa˘cos publicos torna-se necessidade e fardo. N~ao haja duvida: e muito mais f acil, e muito

uns porque o conjuge trabalha no Litoral, porque tem la acasa de famılia, porque os filhos estudam la, ou entao porquenao se adaptam ao ritmo de uma cidade de provıncia, ouporque acham que a vida na grande cidade tem atraccoes eencantos unicos.

Ora e crucial que quem trabalhe no Interior tambem sefixe aqui. Pessoas atraem pessoas, criancas atraem criancas,e quanto mais se fixarem no Interior mais empregos criarao.Usando a linguagem economica do momento, temos deinverter a espiral recessiva, demografica e economica. Aeconomia puxa pela demografia, mas a demografia puxatambem pela economia. As autarquias da regiao tem assimde privilegiar mais a vida concreta das pessoas, em parti-cular dos casais jovens. E ha argumentos para atrair gentenova das grandes cidades. De facto, a vida fora dos grandescentros urbanos oferece uma qualidade de vida superior, noespaco habitacional, no tempo disponıvel, no custo de vida,no atendimento personalizado em grande parte dos servicos,na superior seguranca de bens e pessoas. Por outro lado, aInternet em banda larga disponibiliza em qualquer partedistante, na provıncia mais profunda, o acesso a informacaoe a servicos que dantes so existiam nos grandes centros.

Resumindo brevemente esta parte, a Beira Interior temde se tornar uma regiao propıcia a natalidade e a fixacaode pessoas. A sua sustentabilidade disso depende.

9

Page 11: Discurso na Tomada de Posse como Reitor€¦ · permanente e cont nua sobre os lhos nos espa˘cos publicos torna-se necessidade e fardo. N~ao haja duvida: e muito mais f acil, e muito

5- A criacao do ensino superior nas decadas de 70 e 80 foifundamental para a revitalizacao dos 3 centros urbanos daregiao, Covilha, Castelo Branco e Guarda. Nao so vieramqualificar a populacao jovem natural da regiao, mas trouxe-ram jovens das outras partes do paıs, do Minho a Madeira,e estudantes de outras partes do mundo, em particular dospaıses lusofonos e da Uniao Europeia. Se e verdade quemuitos, certamente a maior parte, saıram da regiao aposos seus estudos, nao menos verdade e que muitos outrosficaram, aqui trabalham e passaram a fazer parte da socie-dade. E com os alunos, e por causa deles, vieram professorese investigadores, nacionais e estrangeiros, que se fixarame enriqueceram sobremaneira a regiao tanto de um pontode vista humano, como cultural e cientıfico. Foram essesprofessores vindos de fora que tornaram possıvel o ensinosuperior na regiao, lhe deram estatuto e tornaram compe-titivas as respectivas instituicoes. A regiao tornou-se maiscosmopolita, abriu-se ao exterior e ganhou mais mundo.

Nao ha duvida que, com a criacao do ensino superior,a Beira Interior deu um salto de gigante na sua afirmacaosocial, economica e cientıfica. Ha uma intermediacao que oensino superior protagoniza entre o regional, o nacional eo internacional, factor crıtico para a insercao baseada noconhecimento e positivamente diferenciadora da regiao naeconomia global.

10

Page 12: Discurso na Tomada de Posse como Reitor€¦ · permanente e cont nua sobre os lhos nos espa˘cos publicos torna-se necessidade e fardo. N~ao haja duvida: e muito mais f acil, e muito

De facto, nao ha desenvolvimento a margem dos fluxosde pessoas e bens, de ideias, mercadorias e capitais, quecaracterizam um mundo cada mais globalizado. Quem seisola fica definitivamente para tras. A UBI, o IPG e oIPCB sao veıculos privilegiados da ligacao da regiao aomundo, e, por isso, a sustentabilidade economica e socialda regiao depende em muito deles. A saude e o vigor destasinstituicoes sao fundamentais para a viabilidade da regiao.E necessario que todos os autarcas e demais protagonistaspolıticos e sociais da regiao tenham bem consciencia daimportancia das suas instituicoes de ensino superior para aatraccao de investimento, para a criacao de emprego e paraa vitalidade economica e demografica dos seus concelhos.Considera-las apenas como agencias do governo central queservem tao so como canais de transferencias do orcamentode estado para a regiao e miopia grave. De facto, nao secompreende como e que uma autarquia pode encarar astaxas de agua e saneamento aplicaveis a uma instituicaode Ensino Superior como geradoras de boa receita, certa epermanente, para cobrir despesas ou dıvidas do municıpio.E como matar uma galinha de ovos de oiro, perdendo amedio prazo, em multiplos e dolorosamente, o que lucra nocurto prazo.

O Data Center da Portugal Telecom na Covilha e o Cen-tro de Servicos da Altran no Fundao sao bons exemplosdo que podem ser mais investimentos em areas inovadoras

11

Page 13: Discurso na Tomada de Posse como Reitor€¦ · permanente e cont nua sobre os lhos nos espa˘cos publicos torna-se necessidade e fardo. N~ao haja duvida: e muito mais f acil, e muito

e geradores de emprego. Ora estes investimentos resulta-ram de decisoes em que muito pesou a presenca da UBIna regiao. Investimentos associados a tecnologia de pontanecessitam da vizinhanca de instituicoes de ensino superiorcom qualidade na investigacao e no ensino. Uma populacaojovem e qualificada e o melhor atractivo para a captacaode investimentos geradores de riqueza e de emprego. Vamosentao apostar nesta espiral de crescimento. Para isso temosde, em conjunto e em sintonia, trabalhar como um todo.As autarquias nao podem ser mini-feudos que se esgotamem rivalidades bairristas de alecrim e manjerona. Ou nosunimos todos na regiao para a tornar uma regiao mais forte,ou iremos perdendo crescente e inexoravelmente a forcaeconomica e polıtica que ainda nos resta. Julgar que ummunicıpio pode crescer e florescer no meio da desolacao de-mografica dos municıpios circundantes e pura ilusao. Oasisno meio do deserto so no Saara. Um concelho que perdepopulacao e dinamismo economico em favor de um concelhovizinho e apenas o primeiro passo numa cadeia de dominos,onde a queda de um provocara a queda do seguinte e assimsucessivamente.

6- Minhas senhoras e meus senhores,a Beira Interior faz parte da UBI antes da UBI, desde acriacao do Instituto Universitario da Beira Interior em 1979que so viria a transformar-se em universidade em 1986. Naotendo vingado a criacao da Regiao da Beira Interior, por

12

Page 14: Discurso na Tomada de Posse como Reitor€¦ · permanente e cont nua sobre os lhos nos espa˘cos publicos torna-se necessidade e fardo. N~ao haja duvida: e muito mais f acil, e muito

referendo popular sobre a regionalizacao em Portugal, elaexiste como desıgnio da propria universidade. De facto, naoha um lastro historico identitario como ocorre por exemploem outras novas universidades publicas portuguesas (Univ.do Minho ou do Algarve), pelo que, a falta de historia,importa realcar e realizar o projecto de uma comunidaderegional tricentrica que partilha territorio, gentes, costumese enfrenta problemas e desafios que so unida –mesmo que naoadministrativamente, pelo menos de facto– pode resolver eganhar.

A criacao da Faculdade de Ciencias da Saude em 1998 asua entrada em funcionamento em 2000, em particular com ocurso de Medicina, deu azo a uma articulacao reforcada doshospitais da regiao, Guarda, Covilha e Castelo Branco. Semos tres hospitais o Curso de Medicina nao pode funcionar.Mas, simultaneamente, os tres hospitais beneficiam coma associacao a Faculdade de Ciencias da Saude e de umamaior ligacao entre si. Porem, e necessario ir mais longe.Em artigo publicado no Jornal do Fundao (10 de Marco de2011), Manuel Lemos, medico especialista e professor daUBI, escrevia que, e cito:

a falta de competitividade na area da saude e oproblema da fixacao dos medicos tem sobretudoa haver com a dispersao dos servicos de saudeda regiao, resultando em unidades de pequena di-mensao, sem massa crıtica para evoluir e com uma

13

Page 15: Discurso na Tomada de Posse como Reitor€¦ · permanente e cont nua sobre os lhos nos espa˘cos publicos torna-se necessidade e fardo. N~ao haja duvida: e muito mais f acil, e muito

escala que nao permite competir pela atraccao denovos profissionais. Este aspecto e mais impor-tante que do que as razoes habitualmente invoca-das, como a interioridade ou falta de incentivosfinanceiros.

Concordo com esta analise, como concordo com a sua pro-posta de que a fusao de servicos identicos distribuıdos pelaregiao permitiria a constituicao de equipas clınicas de mai-ores dimensoes e com maior capacidade de diferenciacaotecnica . . . aumentando a eficiencia e a produtividade, e,com isso, criando as condicoes necessarias para a imple-mentacao de especialidades previamente inexistentes e queapenas se justificam numa estrutura de maiores dimensoes.O princıpio geral da argumentacao e bem explicitado peloprofessor: e preferıvel ter um bom servico hospitalar do quetres servicos de qualidade inferior. Quem pode discordardeste princıpio? Cito novamente o texto do Prof. ManuelLemos:

O problema da proximidade as populacoes e umafalsa questao, pois estas ha muito se habitua-ram a ter que percorrer frequentemente cente-nas de quilometros ate ao litoral para obter osservicos diferenciados de que necessitam. A saudedas populacoes defende-se com a concentracao deservicos e quem disser o contrario, ou tem faltade visao, ou esta de ma fe.

14

Page 16: Discurso na Tomada de Posse como Reitor€¦ · permanente e cont nua sobre os lhos nos espa˘cos publicos torna-se necessidade e fardo. N~ao haja duvida: e muito mais f acil, e muito

Sim, digo eu, porque nao havemos de ter um servico deponta no Hospital da Guarda, um na Covilha e outro emCastelo Branco? Sei que as administracoes dos tres hospitaistrabalham neste momento em estreita sintonia e essa e amelhor forma de servir as populacoes e tambem o melhorque pode acontecer a Faculdade de Ciencias da Saude e aformacao dos estudantes de Medicina. Como reitor da UBI,so me posso regozijar com isso.

7- O que se passa na saude e tambem valido nos outroscampos. A UBI nao pode comprometer-se seriamente coma regiao sem uma estreita colaboracao com os Institutos Po-litecnicos da Guarda e de Castelo Branco. Ha areas em quenos complementamos e areas em que podemos reforcar-nos.Cabe-nos a nos, instituicoes de ensino superior, a quem com-pete pautar-se pela racionalidade, vencer preconceitos, daras maos e em colaboracao com outras entidades promovera recuperacao do Interior.

Ainda por cima a reorganizacao da rede do ensino su-perior a nıvel nacional esta na ordem do dia, a evolucaodemografica a isso obriga, e nao podemos deixar de, entrenos, debatermos as solucoes que salvaguardem os interessesdo Interior e de, em conjunto, lutarmos por elas. O despa-cho orientador de Junho sobre a oferta formativa do ensinosuperior criou as areas de coordenacao regional, sendo anossa a que engloba o IPCB, o IPG e a UBI. Porventura va-mos assumir um papel passivo, aceitando sem mais o que o

15

Page 17: Discurso na Tomada de Posse como Reitor€¦ · permanente e cont nua sobre os lhos nos espa˘cos publicos torna-se necessidade e fardo. N~ao haja duvida: e muito mais f acil, e muito

poder central decidir sobre a materia, ou vamos dar o nossocontributo para solucoes que salvaguardem e promovam asnossas instituicoes e a regiao? Tenho a certeza de que sabe-rei encontrar conjuntamente com os presidentes do IPCB edo IPG, Profs Carlos Maia e Constantino Rei, com quemtive ja o prazer de conversar depois da minha eleicao, e cujapresenca nesta cerimonia muito me honra, uma plataformade dialogo franca e permanente para unirmos esforcos faceaos desafios da reorganizacao iminente.

8- O proximo Quadro Comunitario de Apoio, 2014-2020, aoestabelecer como primeira referencia na aplicacao dos fundoso crescimento baseado no conhecimento e na inovacao, iraexigir uma cooperacao mais reforcada entre universidades,politecnicos, empresas, autarquias e instituicoes sociais eculturais. A tonica e colocada na transferencia de tecnolo-gia. Ou seja, instituicoes de ensino e de investigacao teraonecessariamente de se ligar a economia real para concorreraos projectos comunitarios e vice-versa. Necessitamos unsdos outros. Reafirmo a disponibilidade da UBI para a cola-boracao com as empresas e as autarquias para a elaboracao,candidatura e execucao de projectos tanto de financiamentonacional como comunitario.

E, desde ja, lanco aqui uma proposta para as instituicoesde ensino superior da regiao, autarquias e associacoes em-presariais da Beira Interior se reunirem em seminario pelamenos uma vez por ano para estudarmos e elaborarmos

16

Page 18: Discurso na Tomada de Posse como Reitor€¦ · permanente e cont nua sobre os lhos nos espa˘cos publicos torna-se necessidade e fardo. N~ao haja duvida: e muito mais f acil, e muito

projectos comuns. Gostaria que esse primeiro encontro ti-vesse lugar ainda este ano civil, na segunda quinzena deNovembro ou na primeira de Dezembro. Proponho aindaque esses encontros se realizem alternadamente nas tresinstituicoes de ensino superior da regiao. Estou convencidode que conversando nos entenderemos, juntaremos esforcose nos tornaremos mais fortes da prossecucao dos interessesda regiao. E creio que desse modo realizaremos o intuitoque presidiu a criacao do ensino superior na regiao peloProf. Veiga Simao em 1973 e cumpriremos o sonho do Dr.Duarte Simoes com a entrada em funcionamento do Insti-tuto Politecnico da Covilha em 1975: o de desenvolver aregiao mediante a formacao superior das suas gentes

9- De entre os varios contributos que a UBI presta a regiaodestaca-se o da internacionalizacao. Por natureza, uma uni-versidade e aberta ao mundo. O intercambio academicode docentes e alunos com universidades e regioes de ou-tros paıses e outras culturas e constitutivo da qualidadedo ensino ministrado e da investigacao realizada. O conhe-cimento tem um condao extraordinario, quanto mais sedifunde mais aumenta. Se e bom que os nossos docentes ealunos participem em congressos e coloquios no estrangeiroe facam sabaticas, estagios e semestres em universidadesestrangeiras, e tragam de la novas ideias, experiencias econtactos, tao ou mais importante e a vinda para aqui deprofessores e alunos de outros paıses; porque isso significa

17

Page 19: Discurso na Tomada de Posse como Reitor€¦ · permanente e cont nua sobre os lhos nos espa˘cos publicos torna-se necessidade e fardo. N~ao haja duvida: e muito mais f acil, e muito

antes de mais uma riqueza humana, cultural e cientıficapara nos mesmos.

Os programas de intercambio academico financiados pelaComissao Europeia, de que se destaca o Programa Eras-mus, sao claramente exemplos de iniciativas muito bemsucedidas dentro da Uniao Europeia. Estes programas vi-eram melhorar significativamente a qualidade das nossasuniversidades, alem de fazerem uma aproximacao ımparno entendimento entre os povos. So quem ignora a historiasecular de guerras entre os povos europeus pode menospre-zar a importancia destes programas de internacionalizacaoacademica e cientıfica.

Mas na internacionalizacao universitaria merecem umclaro destaque os paıses de lıngua portuguesa. A comu-nidade linguıstica e dos lacos mais fortes no ensino e nainvestigacao. A lıngua portuguesa e uma forca de afirmacaona cena internacional, pela quantidade dos seus falantes e epela diversidade geografica dos paıses lusofonos. O esforcoque nos ultimos anos tem sido feito para aumentar e sobre-tudo dar vida aos convenios de cooperacao com instituicoesde ensino superior dos paıses lusofonos sera incrementado.Acontece que enquanto em Portugal a oferta de vagas noensino superior e superior a demanda, nos outros paıses,em particular no Brasil e em Angola, a demanda e superiora oferta. A cooperacao impoe-se, portanto, para benefıciomutuo.

18

Page 20: Discurso na Tomada de Posse como Reitor€¦ · permanente e cont nua sobre os lhos nos espa˘cos publicos torna-se necessidade e fardo. N~ao haja duvida: e muito mais f acil, e muito

10- Minhas senhoras e meus senhores, caros funcionarios eestimados colegas professores,ao escolher como tema do discurso de tomada de posse ocompromisso que a UBI tem com a regiao, nao esquecoque o lema do programa de accao para o mandato quehoje inicio era e e “uma universidade coesa e plural”. Masa coesao so se obtem quando os princıpios se encontramclaramente definidos e interiorizados por todos os membrosda comunidade academica. E um dos princıpios enunciadosera justamente o forte compromisso com a regiao. Dosoutros princıpios do programa de accao e dos passos para asua concretizacao, e que dizem sobretudo respeito a vidainterna da UBI, falarei no discurso da abertura solene doano lectivo, em cerimonia que ocorrera em Outubro.

Mas hoje achei que devia chamar a atencao para a sus-tentabilidade demografica da UBI e da propria regiao. Eum desafio geral, que nos toca a todos, e que, pela suagravidade, tem de merecer particular atencao por toda asociedade, tanto regional como nacional.

E um desafio que, tenho a certeza, iremos vencer. Opercurso da UBI e uma historia de obstaculos ultrapassadoscom tenacidade e perseveranca. Sim, hoje a nossa luta epara manter, solidificar e reforcar o que foi construıdo. Masfoi construıdo, e o que foi construıdo e uma obra que nosorgulha a todos. Nas faldas da montanha, nas margens dasribeiras da Goldra e da Carpinteira, hoje temos modernas fa-

19

Page 21: Discurso na Tomada de Posse como Reitor€¦ · permanente e cont nua sobre os lhos nos espa˘cos publicos torna-se necessidade e fardo. N~ao haja duvida: e muito mais f acil, e muito

culdades levantadas sobre as ruınas das fabricas de outrora,temos salas de aula, laboratorios e gabinetes, onde professo-res e alunos dos tres ciclos ensinam, estudam e investigam.Houve visao, houve querer, houve determinacao, capaci-dade de execucao, para erguer a universidade que temos.Sem a dedicacao, o empenho e o amor a UBI, demonstradocomprovadamente pelos reitores que me antecederam nocargo, nao estarıamos aqui neste momento de passagem detestemunho reitoral.

Assim, deixem-me dar uma palavra de muito aprecoao reitor cessante, ao Prof. Joao Queiroz. Com especialapetencia pela investigacao, nao se furtou as tarefas ad-ministrativas quando foi chamado a tal, nomeadamentecomo Presidente da Faculdade de Ciencias da Saude, comoVice-Reitor, Presidente do Conselho Cientıfico da Universi-dade e, finalmente como reitor. Agradeco-lhe a graciosidadedas suas palavras no inıcio da cerimonia e o cuidado e agentileza postos nesta fase de transicao reitoral.

Quero saudar tambem o Prof. Santos Silva, reitor de1996 a 2009, mas cuja biografia academica se confunde coma historia da propria UBI, primeiro como jovem assistenteno Instituto Politecnico da Covilha, logo no inıcio em 1975,depois como primeiro doutorado do IUBI em 1984, e, antesde chegar a reitor, como vice-reitor da UBI entre 1991-1996.Foi durante o seu reitorado que foram criadas as Faculdadesde Ciencias da Saude e de Artes e Letras. De feitio dis-

20

Page 22: Discurso na Tomada de Posse como Reitor€¦ · permanente e cont nua sobre os lhos nos espa˘cos publicos torna-se necessidade e fardo. N~ao haja duvida: e muito mais f acil, e muito

creto, com uma persistencia extraordinaria e um trabalhometodico e insistente, nomeadamente no aproveitamentodos fundos comunitarios, foi sob a sua tutela que muitos dosedifıcios emblematicos da UBI surgiram: nomeadamente aFaculdade de Ciencias da Saude em que estamos, os edifıciosda Faculdade de Engenharia e o da Biblioteca Central.

E quero cumprimentar e homenagear o Prof. CandidoPassos Morgado, primeiro reitor da UBI. Nos comecos dosanos oitenta, em tempos difıceis de grave crise social eeconomica, quando os horizontes eram curtos (um poucoa semelhanca da crise que hoje nos tolhe), Passos Mor-gado pensou em grande e lutou em grande. Quando outros,de espırito pequeno, contemporizavam e advogavam meiassolucoes, tipo ensino superior curto, Passos Morgado quisnada menos que uma universidade. Apelidaram-lhe os pro-jectos de megalomanos, mas em 1986 a criacao da UBI erealidade do que e hoje deram-lhe razao: a obra testemu-nhou a grandeza de um sonho e a forca tremenda de umquerer.

Personalidade forte, Passos Morgado criou polemica edividiu opinioes. Em luta pela meta que era so uma, fazeruma universidade, cortava a direito, sem muito jeito parapanos quentes. Beirao, de arestas e contornos definidos,teve incompatibilidades como so os beiroes as sabem ter.Faltava-lhe em maleabilidade de salao o que lhe sobrava emenergia e capacidade de trabalho.

21

Page 23: Discurso na Tomada de Posse como Reitor€¦ · permanente e cont nua sobre os lhos nos espa˘cos publicos torna-se necessidade e fardo. N~ao haja duvida: e muito mais f acil, e muito

Nao esqueco as palavras que um dia, em 1995, me disseno seu gabinete, era eu seu vice-reitor: “Sr Prof., esta univer-sidade precisa de uma regiao urbana de 200 mil habitantes”,referindo-se a Cova da Beira.

Caro Sr. Prof. Passos Morgado, hoje estamos mais longedessa meta, mas esforcar-me-ei para que, invertendo tenden-cias, a sua visao de uma grande comunidade urbana a voltade uma UBI forte e prestigiada se torne uma realidade.

11- Finalmente, deixem-me fazer os agradecimentos quenao fiz no inıcio. Agradeco a presenca do Sr Secretario deEstado do Ensino Superior, que muito nos honra, bem comoas demais altas autoridades aqui presentes e que dignifi-cam esta cerimonia, agradeco aos membros do ConselhoGeral, e ao seu Presidente Prof. Paquete de Oliveira, aconfianca que em mim depositaram ao elegerem-me reitorda UBI, e agradeco aos professores, funcionarios e alunosda UBI a solidariedade que ao longo destes meses me forammanifestando de uma ou outra forma.

Uma palavra de confianca, para terminar. A UBI nasceuporque outros antes de nos quiseram que ela nascesse paradesenvolver a nossa regiao. Unidos e coesos, nos venceremosos desafios que se avizinham e faremos uma UBI mais vivae mais forte ao servico da regiao e de Portugal.

Agradecendo a todos a atencao dispensada, tenho dito.

22