100
´ Diplomatica BUSINESS & DIPLOMACY With English & French Texts Lusofonia Um mundo económico, cultural e político Embaixadores Brasil e Moçambique CPLP e UCCLA Dossier Em destaque Festas nacionais: E.U.A., Rússia, França, Itália, Luxemburgo, Israel e Eslovénia Nº11 AGOSTO/OUTUBRO 2011 4 (Cont.) Diplomática 11 • agosto a outubro 2011

Diplomática n.º11

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Negócios e Diplomacia

Citation preview

Page 1: Diplomática n.º11

4 • Diplomática - Junho/Julho 2008

´Diplomaticabusiness & Diplomacy

With English & French Texts

Lusofonia Um mundo económico,cultural e político

Embaixadores Brasil e Moçambique

CPLP e UCCLA

Dossier

Em destaque

Festas nacionais: E.U.A., Rússia, França, Itália, Luxemburgo, Israel e Eslovénia

Nº11 AGOSTO/OUTUBRO 20114 (Cont.)

Dip

lo

tic

a 1

1 • a

go

st

o a

ou

tu

br

o 2

01

1

Page 2: Diplomática n.º11

O complexo dispõe no hotel de 201 quartos com uma decoração moderna – incluindo 21 suites,

divididas em 17 júnior suites, 3 suites de luxo, uma magnífica suite presidencial e 20 vilas, com lodo o

luxo e conforto necessários para tornar a sua estadia inesquecível.

Todos os quartos dispõem das tecnologias mais avançadas de climatização, segurança e comunicação,

telefone e internet (2 ligações com 4Mbps cada), mesa de trabalho. TV Cabo com 48 canais, TV LCD,

serviço de quartos 24hrs, limpeza e serviço de turndown diários, cofre e secador de cabelo. O luxo

atinge o seu expoente máximo com distintas e elegantes Vilas, todas com 3 quartos que poderão ser

perfeitas para estadias curtas bem como para estadias mais prolongadas.

Mais do que um Hotel, o HCTA é um espaço refrescante, sensual e incomparável para recuperar os

seus sentidos, onde a tradição foi capturada e transformada em elementos únicos e sofisticados com

o objectivo de criar uma ligação culural com os hóspedes.

um estilo de vida!

Vilas, Suites & Quartos

capacidade das Salas

Banquetes e Conferências

0

5

25

75

95

100

Page 3: Diplomática n.º11

0

5

25

75

95

100

Page 4: Diplomática n.º11

4 • Diplomática - oUtUBRo 2011

Tempos terríveis

Hoje, impressionada, recordo a recepção na Embaixada do Egipto, com a

fotografia de mubarak na sala por onde passávamos até chegar ao jardim,

que se ia enchendo de convidados, do gentilíssimo e muito culto Embaixador,

onde se serviam as especialidades gastronómicas do seu país.

Há 30 anos a dirigir o Egipto, Hosni mubarak era tido, de acordo com as tradi-

ções, como um faraó.

com a coragem e a dignidade de um grande senhor, mubarak demitiu-se ao

ver as manifestações, para si injustas, contra a sua forma de liderar e, evitan-

do posições de força e uma guerra civil, o “faraó” foi hoje a julgamento carre-

gando a “cruz” de ter sido poderoso e amado por muitos.

metido numa jaula como um animal feroz, assistia ao julgamento das suas

atitudes e decisões, que outros julgavam erradas.

isto de enjaularem o senhor fez-me francamente muita impressão.

Será que os novos governantes que, no século XXi permitem este achincalhamento e humilhação ao seu ex-líder,

serão mais justos e civilizados do que ele?

Do oriente ao ocidente, o terrorismo político que se tem manifestado ultimamente e que será o oposto da verdadei-

ra diplomacia, deixa-me a mim, como a qualquer outra pessoa de bem, atormentada levando-me a enviar os meus

profundos sentimentos à Embaixadora da Noruega, ao seu Rei e ao seu povo, pela horrível acção de um louco que

assassinou dezenas de conterrâneos, muitos deles muito jovens, porque assim pensava defender a sua civilização.

civilização onde se está também a desenvolver o terrorismo económico, atacando multidões no mundo dito civilizado

e provocando, por exemplo, em portugal, centenas de suicídios e mortes por acidentes cardio-vasculares como não

há memória.

mais recentemente, é impossível não referir as violentas manifestações, tanto em diversas cidades inglesas, como

em madrid, na véspera da chegada do papa Bento XVi.

tudo isto fez-me pensar no que poderá mudar este caminhar da humanidade e cheguei à ideia de que a educação

poderá ser um remédio. Não as boas maneiras ou a dita cultura do conhecimento. o remédio talvez esteja numa re-

formulação da educação, com cadeiras desde o início da escolaridade e acompanhamento das novas gerações, para

que estas possam transmitir regras de conduta e o verdadeiro exemplo de dignidade e princípios éticos que afinal

iremos encontrar em todos os mandamentos e religiões.

o necessário é ensinar a cumpri-las mesmo. ■

Nota do Editor

Editor's note

[email protected]

Horrible Times

Today, rather impressed, i remembered the reception at the Embassy of Egypt, with the photograph of mubarak in the room, while going towards the garden,

which was by then filled with guests invited by the most kind and well bred ambassador, and where food specialties from his country were being served.

at the helm of Egypt for 30 years, Hosni mubarak was held, according to the tradition, as a pharaoh.

With the courage and dignity of a great gentleman, mubarak, ended up resigning when faced with all the demonstrations, understood by him as unjust, that

took place. these demonstrations were against the way he governed his country. He, however, avoided, taking a stand that could have lead to a civil war.

the “pharaoh” was on trial today, carrying with him the “cross” of his powerful rulings – hated by many but still loved by others.

Stuck in a cage while on trial like a wild beast, he witnessed his actions and decisions – now preceived as wrong – being judged. the caging of this man

impressed me strongly.

are these new rulers, the same that in the 21st century allow this kind of humiliation to their former leader to take place, more just and civilized than him?

From East to West the political terrorism that has manifested itself lately, and that is the very opposite of true diplomacy, leaves me, like any other well bred,

flabbergasted obliging me to send my deepest feelings to the ambassador of Norway in portugal, the King of Norway and his people, given the horrible

actions of a madman who murdered dozens of his own people, many of them so very young, under the belief that he was defending his civilization.

a civilization that is also developing an economic terrorism attacking many people in the so-called civilized world, in portugal, for example, hundreds of

suicides and the greatest number of deaths from cardio-vascular accidents that one can recall.

all this made me wonder about what could be made to change this journey of humanity and i came to the conclusion that education could be the best remedy. Not

good manners or the so-called culture of knowledge. the solution may well be a reinstatement of education and a stronger guidance for younger generations that

may pass on rules of conduct and a true example of dignity, and the ethical principles those that ultimately we find in the commandments of all religions.

What is necessary is to make sure that they take those teachings with these principles to heart. ■

Page 5: Diplomática n.º11
Page 6: Diplomática n.º11

6 • Diplomática - oUtUBRo 2011

DIRECTOR: maria da luz de Bragança PRODUÇÃO: césar Soares PROPRIEDADE: maria da luz de Bragança EDIÇÃO: Gabinete 1 Editor nº 211 326. av. Engº Duarte pacheco, nº1 - 4º Esq. – 1070-100 lisboa.

MARkETIng & PUblICIDADE: Gabinete 1 - e-mail:[email protected] tel.: 21 322 46 60 a 76 Fax: 21 322 46 79IMPRESSÃO: madeira & madeira, S.a. DISTRIbUIÇÃO: logista - alcochete - telefone: 21 926 78 00 Fax: 21 926 78 45

iSSN 1647-0060 – Depósito legal nº 276750/08 – publicação registada na Direcção Geral da comunicação Social com o nº 125395

4

7

8

10

12

14

16

22

24

30

34

38

40

49

57

60

66

68

70

73

76

78

80

81

87

89

92

94

95

AssuntosSummary

carta ao leitor.letter to the reader.

Dossier. lusofoniaDossier. lusophony

as pérolas da lusofoniathe pearls of lusophony

XVi Reunião da comunidade países de língua portuguesaXVi meeting of the community of portuguese-Speaking countries

texto de mira amaral:”portugal, Europa, mundo Emergente”text by mira amaral: “portugal, Europe, Emerging World”

texto de maria de Belém: “lusofonia, uma alma Grande”text of maria de Belém, “lusofonia, a large Soul”

Entrevista a anacoreta correia, secretário -geral da Ucclainterview with anacoreta correia, Secretary-General of Uccla

maria lúcia torres lepecki, memória da vida e obra de uma grande defensora da cultura portuguesamaria lúcia torres lepecki, memory of the life and Work of a Great Defender of portuguese culture

Entrevista a mário Vilalva, Embaixador do Brasilinterview with mário Vilalva, ambassador of Brazil

Brasil, uma viagem de sonhoBrazil, a Dream trip

Entrevista a miguel costa mikaima, Embaixador de moçambiqueinterview with miguel costa mikaima, ambassador of mozambique

as independências e os intelectuais negros, por palmira tjpilicathe independences and the black intellectuals, by palmira tjpilica

o Governo de passos coelhothe Government of passos coelho

opiniões: Embaixador da Grécia, Embaixadora da Eslovénia, Embaixador dos EUaopinion: ambassador of Greece, ambassador of Slovenia, ambassador of USa

Dia de portugal e das comunidadesDay of portugal and the communities

mala Diplomática. Dia Nacional da FrançaDiplomatic bag. National Day of France

mala Diplomática. Dia da independência dos Estados Unidos da américaDiplomatic bag. independence Day of the United States of america

mala Diplomática. Dia Nacional da RússiaDiplomatic bag. National Day of Russia

mala Diplomática. Festa Nacional do luxemburgoDiplomatic bag. luxemburg’s National Holliday

mala Diplomática. Embaixada do Reino Unido celebra aniversário de isabel iiDiplomatic bag. the Embassy of the United Kingdom celebrates the anniversary of Queen Elizabeth ii

mala Diplomática. Dia Nacional da itáliaDiplomatic bag. National Day of italy

mala Diplomática. Festa da independência de israelDiplomatic bag. israel’s independence Day party

mala Diplomática. 20º aniversário da República da EslovéniaDiplomatic Bag. 2oth anniversary of the Republic of Slovenia

Economia e Finanças. o Euro dilema de portugal, por patrick Siegler-lathropEconomy and Finances. the Euro-Dilemma of portugal by patrick Siegler-lathrop

instituto camões preside à EUNicinstituto camões presides EUNic

Homenagem a malangatanatribute to malangatana

arte e cultura. artistas de angola na Galeria de arte do casino Estorilart and culture. artists of angola in the art Gallery of the casino Estoril

parabéns Helena Dagetcongratulations Helena Daget

English & French texts

Page 7: Diplomática n.º11

7OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •

Há vinte anos dificilmente Angola, Cabo

Verde e Moçambique seriam recomendáveis

para efeitos de confiança e investimento

externo. Hoje, com democracias em processo

de aprofundamento, as ex-colónias africanas

concitam o elogio dos observadores e alimen-

tam ventos de esperança nos seus povos.

E, noutro continente, emerge segura a nova

potência mundial: um Brasil de progresso e

desenvolvimento. ➤

Dossier Lusofonia

Page 8: Diplomática n.º11

8 • DiplOmáTica - OUTUBRO 2011

Quatro países despontam no univer-

so da lusofonia. Em áfrica, depois

dos dramas que se seguiram às

independências, angola, cabo Verde

e moçambique seguem o seu cami-

nho, construindo democracias ainda

débeis mas irreversíveis. E procuram

encontrar espaço no intrincado pu-

zzle da economia mundial, empreen-

dendo projectos de desenvolvimen-

to, encontrando as suas áreas de

negócio específicas e optimizando a

ajuda internacional que, nos últimos

anos, tem vindo a implementar pro-

jectos e a acalentar o sonho.

O Brasil, um gigante emergente que

começa a afirmar-se como grande

potência económica da lusofonia,

constitui a locomotiva dos países

que falam português e têm laços

culturais e afectivos que os unem à

ex-potência colonial em estado de

depressão e crise profunda.

ao país do carnaval, paulatinamen-

te, vem-se juntando angola, país de

destino de milhares de portugueses

à procura de uma vida melhor e de

oportunidades de negócio. É a impa-

rável roda da História: a inexorável

decadência dos impérios transpor-

ta sempre a emergência de novas

nações prenhes da sua afirmação no

mundo.

AngolaO despertar do gigante africanoConsolidando aos poucos a vida

democrática, resgatada de guerra

civil prolongada e contradições, à

época, aparentemente insuperáveis,

angola tem vindo a afirmar-se como

emergente potência económica da

lusofonia e de áfrica.

a extensão territorial, aliada a uma

população de 18 milhões de habi-

tantes, abre enormes perspectivas

de desenvolvimento, permitindo a

prazo, de momento que subsista

uma estratégia económica de desen-

volvimento sustentado, aumentar o

seu precário piB per capita de 4792

euros.

mas uma economia dependente do

petróleo comporta, necessariamente,

cautelas acrescidas. a mais-valia do

ouro negro está dependente da con-

juntura internacional e dos jogos de

interesses de quem domina a econo-

mia. No entanto, angola está cres-

cer noutras áreas. Há uma grande

pujança e dinamismo na construção

civil, na agricultura e no sector de

serviços. E a recente ajuda do Fmi,

através de um empréstimo 1.4 mil

milhões de dólares está a equilibrar

a balança corrente e a afirmar o país

na senda do desenvolvimento.

BrasilA nova potência mundialÉ o grande país da lusofonia, des-

de logo pelos seus 194 milhões

de habitantes, e um caso raro de

criatividade e abertura de ideias no

que respeita à organização social e

económica. O plano “Fome Zero” er-

radicou bolsas endémicas de pobre-

za e projectou o país, naquele que

parece ser um irreversível caminho

de progresso e desenvolvimento.

Os seus 7500 euros de piB per ➤

As pérolas da lusofonia

Dossier

Page 9: Diplomática n.º11

9OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •

➤ capita, contudo, indicam que ainda

há muito por fazer, mas os sinais

são francamente positivos. mes-

mo em época de recessão e crise

mundial, o Brasil conseguiu baixar

consideravelmente os níveis do de-

semprego, fazendo crescer a econo-

mia, estando muito próximo do limite

“sistémico” de 5 por cento.

a conjuntura internacional, porém,

fustiga a economia brasileira que,

resultante da guerra cambial entre

os EUa e a china, se ressentiu,

perturbando as suas exportações,

podendo comprometer o crescimento

do Brasil. mas, apesar do florescer

económico traduzido em elevada

procura interna, a inflação não deixa

de preocupar os economistas.

cabo Verde

Dependência externa inibe desenvol-

vimento

a dependência das importações de

energia e de alimentos – sectores

onde se regista colossal défice entre

a produção e o consumo – é o maior

entrave ao desenvolvimento do

país. a origem do problema está nas

características dos solos, que são

muito pobres, bem como na precária

capacidade de produção energética.

mas outra das causas está no carác-

ter terciário da economia, cujo sector

do turismo – sujeito a flutuações

constantes - constitui mais de 70 por

cento do piB. Outra das principais

fontes de receitas são as remessas

dos emigrantes, que constituem a

grande maioria dos cabo-verdianos,

cuja população residente no arqui-

pélago não chega a meio milhão de

habitantes. a agricultura, as pescas

e a actividade industrial são ainda

muito incipientes.

as dificuldades apontadas, lenta-

mente vêm a ser superadas, quer

através da ajuda internacional, quer

pela captação de investimento es-

trangeiro directo, o que coloca cabo

Verde na invejável posição de ser

o país africano do espaço lusófono

com melhores possibilidades de de-

senvolvimento da economia, apesar

da crise e da conjuntura internacio-

nal desfavorável.

MoçambiqueEstranhamente, pese embora a re-

cessão que prejudica as economias

mundiais, moçambique dá sinais de

elevado crescimento, alicerçado em

mega-projectos de aproveitamento

dos seus recursos minerais.

apostado nas exportações, sedi-

mentadas na diversificação secto-

rial da economia, o país tem vindo

a registar um grande dinamismo,

aumentando exponencialmente as

oportunidades de desenvolvimento

de negócios e de crescimento.

a exploração agrícola, de igual

modo, adquiriu novo fulgor na última

década, despontando vários inves-

timentos, principalmente de origem

sul-africana. E as possibilidades

de extracção de petróleo, a serem

testadas por empresas exploradoras,

abre outro sinal de esperança para

uma democracia ainda jovem, mas já

num processo de consolidação que

tem ajudado ao ganho de confiança

dos mercados. ■

Page 10: Diplomática n.º11

10 • Diplomática - oUtUBRo 2011

XVI Reunião da CPLP destacou estratégia fulcral Promoção e defesa da língua de Camões

A Reunião ordinária do Conselho de Ministros da CPLP, que teve lugar no final de Julho, em Luanda, sob o

tema geral “A CPLP, as Nações Unidas e a Língua portuguesa”, tomou decisões importantes de âmbito políti-

co, económico e reforço da percepção do português no Mundo.

A língua vai ser um dos vectores fundamentais da estratégia definida nessa reunião, de onde saiu uma CPLP

reforçada e motivada no objectivo comum de tornar o português mais universalista.

A promoção, defesa, enriquecimento e difusão da

língua portuguesa como veículo de cultura, educa-

ção, informação e acesso ao conhecimento científico

e tecnológico e de utilização em fóruns internacionais,

foi uma das decisões fundamentais da XVi reunião de

países da cplp, que contou com a presença do minis-

tro português dos Negócios Estrangeiros, paulo portas,

na sua primeira saída oficial ao estrangeiro desde que

tomou posse do cargo.

Num espaço global afectado presentemente por uma

crise sem precedentes, importa sublinhar os propósitos

anunciados nesta reunião magna da cplp de apoiar

medidas que facilitem e fomentem o relacionamento

económico e comercial intracomunitário, promovendo o

crescimento e desenvolvimento dos Estados membros

mais vulneráveis.

Um outro factor importante a assinalar foi o realce dado

ao plano de acção de Brasília para a promoção, a

Difusão e a projecção da língua portuguesa (plano de

acção de Brasília) no que diz respeito à consolidação

do português como língua oficial ou de trabalho nas

organizações internacionais, nomeadamente naquelas

onde está representada a cplp.

a cplp quer alargar o seu âmbito de acção, não ad-

mirando, por isso, que uma das medidas a executar no

futuro respeite ao relacionamento com a oNU, reiteran-

do os estados-membros a necessidade de reformar o

Sistema das Nações Unidas, em particular, o conselho

de Segurança, de modo a torná-lo mais eficaz e repre-

sentativo da realidade internacional contemporânea.

Reforço da democracia no espaço da CPLP

Num mundo africano caracterizado pela instauração de

regimes autocráticos, o espaço formado pelos países

daquele continente afectos à cplp foi caracterizado

pelos membros presentes nesta reunião como de con-

solidação da Democracia e do Estado de Direito e com

a promoção e respeito dos Direitos Humanos. Neste

âmbito, registaram os avanços obtidos por cabo Verde

na consolidação do processo de transição para país

de Rendimento médio. No que concerne a timor, foi

igualmente registada a tendência positiva da situação

política e social no país, numa altura em que se pers-

pectiva a abertura da representação da cplp em Díli.

Já quanto à Guiné-Bissau, foi feito um apelo a presidên-

cia da cplp para, em conjunto com o governo daquele

país e o secretariado executivo da cEDEao, encetarem

diligências visando a realização de uma conferência

internacional de parceiros de Desenvolvimento da

Guiné-Bissau para a mobilização adicional de recursos

financeiros.

Foi igualmente reiterada a importância da concertação

político-diplomática para o reforço da actuação interna-

cional da cplp, tendo-se congratulado com a eleição

de portugal para o conselho de Segurança da organi-

zação das Nações Unidas para o biénio de 2011-2012.

Processos de adesão de novos membros

Os ministros da cplp reafirmaram a necessidade de

prosseguir a aproximação à ilha maurício e ao Senegal,

observadores associados da cplp, privilegiando a

difusão e o ensino da língua portuguesa nesses países

e a promoção de um relacionamento bilateral, económi-

co e comercial, traduzindo a vontade política de reforço

das relações entre estes dois países e a cplp.

tomaram nota do desenvolvimento do processo de

candidatura da Ucrânia a observador associado, apre-

sentado por ocasião da Viii conferência de chefes de

Estado e Governo da cplp e das reuniões técnicas en-

tre o grupo de trabalho do Secretariado Executivo e os

representantes da Ucrânia, no quadro das disposições

previstas no Regulamento de observadores associa-

dos.

Registaram, com satisfação, a constituição da União

internacional de Juízes de língua portuguesa, na ilha

do Sal, em cabo Verde, a 12 de Novembro de 2010,

assim como a constituição da Reunião das instituições

públicas de assistência Jurídica dos países de língua

portuguesa – RipaJ, em Brasília, a 7 de abril de 2011.

instaram, igualmente, os Estados membros, que não o ➤

DOSSIER

Page 11: Diplomática n.º11

11oUtUBRo 2011 - Diplomática •

➤ fizeram ainda, a ratificar o acordo ortográfico, incitan-

do os Estados membros, que já o ratificaram, a adoptar

as medidas para a sua implementação.

os ministros da cplp aprovaram ainda efectuar uma

homenagem póstuma ao presidente itamar Franco.

os trabalhos, presididos pelo ministro das Relações

Exteriores de angola, Dr. Georges chikoti, contaram

com a participação do ministro dos Negócios Estran-

geiros português, paulo portas, do Brasil, cabo Verde,

Guiné-Bissau, moçambique, S. tomé e príncipe, do

Vice-ministro dos Negócios Estrangeiros de timor-leste

e do Secretário Executivo da cplp. n

1. o Secretário Executivo da cplp, Domingos Simões pereira, deu as boas vindas na abertura desta XVi Reunião de ministros da cplp

2. o ministro dos Negócios Estrangeiros junto dos membros da cplp 3. a expansão portuguesa foi um tema em foco nos trabalhos

Page 12: Diplomática n.º11

12 • Diplomática - oUtUBRo 2011

Portugal enfrenta uma situação economico-financeira

extremamente difícil, sendo apanhado em cheio pela

chamada crise das dívidas soberanas dos países peri-

féricos da Zona Euro.

a nível mundial estamos a ter um crescente dualismo

no crescimento económico mundial, com taxas de

crescimento mais expressivas nos países emergentes,

designadamente nos BRic’s (Brasil, Rússia, Índia e

chile) e mais modestos no tradicional mundo desenvol-

vido da ocDE, designadamente Europa e EUa.

a geografia económica mundial do século XXi é dife-

rente da que vigorou no século XX, onde tivemos a

hegemonia do mundo ocidental.

temos neste século a china e a Índia a ultrapassarem

os EUa como primeiras potências económicas mun-

diais.

Na economia global, despontam também grandes paí-

ses emergentes no espaço lusófono, como é o caso do

Brasil e angola. o Brasil é uma estrela em ascenção

e nível mundial e angola afirmar-se-á cada vez mais

como potência regional a nível económico e militar no

Sul de áfrica onde até agora havia hegemonia incon-

testada da República da áfrica do Sul.

Num contexto em que o petróleo, a energia dominante,

se tornará mais escasso, avulta também a importância

Portugal, Europa, Mundo Emergente por luís mira amaral

geo-estratégica do espaço lusófono, através dos recur-

sos energéticos e petrolíferos existentes no Brasil, S.

tomé, angola, moçambique e timor-leste.

portugal, pequeno país europeu e que deu novos mun-

dos ao mundo, expressão hoje corporizada no espaço

lusófono da cplp, terá que jogar cada vez mais entre

a vertente europeia e a dimensão lusófona. Será crucial

mantermos a ligação à Europa e a permanência no

euro, pois só assim teremos o encore cambial e a cre-

dibilidade e estabilidade financeiras que são condição

necessária, mas não suficiente, para o desenvolvimento

económico. mas precisamos de ter consciência de que

num contexto de crescimento económico mais lento e

de saturação dos mercados europeus, a economia por-

tuguesa vai precisar de jogar no dinamismo dos merca-

dos emergentes para ter crescimentos significativos.

Naturalmente aqui avultou angola, que já ultrapassou

os EUa como mercado para as exportações portugue-

sas, e o Brasil, cujo dinamismo económico deverá ser

aproveitado pelos empresários portugueses. também

há que não esquecer a Índia e a china, onde podemos

e devemos também jogar com as ligações históricas e

culturais.

a afirmação económica portuguesa nestes mercados

emergentes exige um grande entrosamento e coope-

ração estratégica entre o poder político e os empresá-

rios portugueses através daquilo a que se começou a

chamar a diplomacia económica. nl.m.a.

presidente Executivo do Banco Bic português

dossier

Na economia global, despontam

também grandes países

emergentes no espaço lusófono,

como é o caso do Brasil e Angola.

Page 13: Diplomática n.º11
Page 14: Diplomática n.º11

14 • Diplomática - oUtUBRo 2011

A fabulosa História de portugal, constru-

ída com o sangue suor e lágrimas do seu

povo, permitiu-nos que fossemos bem

maiores que a nossa configuração geo-

gráfica. E valeu bem a pena, porque se

alcançou uma “alma” grande, na perspecti-

va pessoana.

povo de muitos e variados destinos, fomos

deixando muito de nós, um pouco por

todo o mundo, ao longo de muitos sécu-

los. mas também trouxemos, e imenso.

outras culturas, outras gentes, outras

religiões, outras formas de ver e de estar.

Enfim, temos o seu mundo também cá

dentro do nosso território e dentro de nós.

Sim, dentro de nós, nos nossos genes, no

nosso sangue, naquilo que de mais intimo

e mais de dentro nos marca e também no

ambiente onde crescemos e amadurece-

mos, que nos permite actuar e amadurecer

no espaço de desenvolvimento da nossa

personalidade.

E tudo isso se vive e se transmite através

de um extraordinário instrumento agrega-

dor que é a nossa língua comum, produto

de tantas influências e tantas vivências di-

ferentes que a fazem tão rica, tão expres-

siva, tão viva e tão mutável e adaptável ao

mundo que vivemos hoje e àquele em que

se viverá.

Esta riqueza pode bem ser mais vivida. É

sempre isso que eu sinto quando penso na

lusofonia, que deve ser vista, não apenas

como um instrumento riquíssimo do ponto

de vista cultural, mas também como um

instrumento de valor incalculável do ponto

de vista político e do ponto de vista econó-

mico.

Razão pela qual faz todo o sentido que

ele seja aproveitado como objectivo de

afirmação que busca novos desenhos geo-

estratégicos, para além daqueles que mais

nos têm marcado nas últimas dezenas de

anos.

Na verdade, portugal assumiu, e bem,

como objectivo estratégico a integração no

espaço europeu. Décadas de regime políti-

co opressivo e uma relação transatlântica, ➤

LusofoniaUma alma grande, por maria de Belém Roseira

Dossier

Fomos os primeiros construtores

da globalização. Exportamos

a nossa cultura, importamos a

cultura de outros e miscigenámo-nos.

Page 15: Diplomática n.º11

15oUtUBRo 2011 - Diplomática •

➤ insuficientemente explorada, pôs-nos de

costas voltadas para a Europa continental

e para um modelo de progresso e de de-

senvolvimento que estávamos muito longe

de acompanhar. os indicadores sociais e

económicos mostravam-no bem.

a integração europeia permitiu-nos dar

um salto extraordinário no bom sentido,

salto esse, no entanto, que não permitiu

ultrapassar todas as nossas debilidades

estruturais, hoje bem patentes num mundo

fortemente abalado pela crise económica,

financeira e social que deflagrou a partir

de 2008.

as ondas de choque que ele tem provo-

cado, estão longe de ser conhecidas em

todas as suas dimensões. No entanto, há

reflexos que são claramente identificados,

sobretudo no domínio económico e social

e que reclamam de nós uma nova postura,

que nos faça transpor as fronteiras que,

tantas vezes, ao longo da nossa História,

nos amarraram e, ao fazerem-no, nos en-

fraqueceram de forma dramática.

Num contexto em que o projecto de cons-

trução de uma Europa unida em torno de

princípios e valores comuns está profun-

damente abalado e faz recear pelo seu

futuro em coerência, faz todo o sentido

que portugal reganhe uma dinâmica que

o transporte para além da Europa, numa

ligação que renove e alimente a sua diáspora

e que o faça relançar-se de corpo inteiro

no espaço da sua lusofonia, onde se sente

bem, porque se sente entre os seus.

a língua é um fortíssimo instrumento de

relação. Não o olhar como um activo es-

tratégico, num mundo que buscará o seu

futuro na incorporação de conhecimento,

é uma miopia inaceitável. Há, pois, que o

contrariar e desenhar politicas activas que

acrescentem a nós e que acrescentem

aos países que falam português, numa

relação “win – win”, que sirva os respec-

tivos povos, com afinco, com visão e com

determinação.

Fomos os primeiros construtores da glo-

balização. Exportamos a nossa cultura,

importamos a cultura de outros e miscige-

námo-nos. porventura mais do que qual-

quer outro povo.

conhecemo-nos todos bem, nos nos-

sos defeitos e nas nossas qualidades.

Entendemo-nos muitas vezes e também

nos desentendemos. Somos irmãos de

sangue, de percurso histórico secular e

falamos a mesma língua. Somos família!

Não há melhor base e melhor ponto de

partida para que possamos construir em

conjunto um espaço próprio no mundo de

hoje, em que nos possamos impor através

da nossa especificidade, da nossa riqueza

humana, em suma, de uma identidade que

é só nossa.

Esta é uma visão partilhada num espa-

ço político-ideológico abrangente. tem,

pois, suporte político. para se concre-

tizar, necessita, apenas, de políticas.

políticas competentes, integradas, que

partam do que já se fez e que lhes

acrescentem visão, ambição e afectivi-

dade. Às políticas económicas, acres-

centar políticas sociais. Estabelecer a

relação entre o económico e o social que

tanto tem faltado no governo dos povos,

atirando-os para o desemprego e o de-

sespero. políticas que verdadeiramente

invistam no desenvolvimento humano

que cruza o investimento no saber, com

o acesso ao trabalho e a disponibilida-

de de meios financeiros que afastam a

privação do essencial.

temos toda a capacidade e a competên-

cia para o fazer. assim tenhamos todos a

vontade e, essa, parece não faltar. ape-

nas teremos que falar uns com os outros,

entendermo-nos uns com os outros e, para

isso, é que falamos todos a mesma língua.

ao trabalho, pois! n

Maria de Belém Roseira

Page 16: Diplomática n.º11

16 • Diplomática - oUtUBRo 2011

Engº Anacoreta Correia por José leite, fotos ligia correia

secretário-geral da UCCLA

“Lisboa continua a ser uma grande referência para o Mundo Lusófono”

Foi Conselheiro de Estado, antigo governante na área dos Transportes, deputado europeu

e é o rosto mais visível da UCCLA ( União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa),uma

organização que, nos seus 25 anos de existência, tem pugnado por aproximar os povos das

várias cidades localizadas nos cinco continentes onde se fala o português, desenvolvendo

uma vasta acção cultural, sócio-económica e geo-estratégica, sobretudo de expansão e de-

fesa da língua de Camões e das empresas nacionais num quadro cada vez mais competitivo

resultante da globalização. O engº Anacoreta Correia fala com entusiasmo dos objectivos e

iniciativas em curso da associação de que é responsável, tecendo ainda comentários sobre o

momento actual da política portuguesa. ➤

Dossier

Page 17: Diplomática n.º11

17oUtUBRo 2011 - Diplomática •

➤ Que balanço faz do trabalho

desenvolvido pela UCCLA numa

altura em que completou 25 anos

de actividade?

o balanço é positivo. a Uccla tem

sabido adaptar-se às mutações

do mundo exterior e à realidade

autárquica. trata-se de uma orga-

nização internacional de cidades,

não tem carácter governamental,

é intermunicipal. Surgiu como uma

afirmação lusófona, tendo contado

com dois grandes precursores: o

engº Nuno Krus abecasis, que ini-

cialmente a criou, com duas cidades

a funcionar em rede, numa altura

em que as relações diplomáticas

não eram as mesmas que são hoje

– actualmente, é fácil ter um dis-

curso lusófono, fazem-se colóquios

sobre a lusofonia, mas, naquele

tempo, a Uccla foi uma grande

novidade, criando um movimento

de solidariedade ao lado dos gover-

nos de vários países, permitindo a

entrada nos mesmos de empre-

sários; outro dos criadores foi o

embaixador brasileiro José apare-

cido de oliveira. pode-se dizer que

nós contribuímos para a formação

do código genético da cplp.

Como foi a evolução da UCCLA

nas várias vertentes?

Nos dois primeiros anos, as cida-

des funcionavam em bloco e evoluí-

mos para a situação actual em que

temos três pilares de funcionamen-

to: um deles é o institucional, em

que nós queremos que as cidades

trabalhem em rede, assumindo

posições comuns – ainda recente-

mente, em luanda, apoiámos, em

conjunto, a candidatura do fado

a património material da humani-

dade; o mesmo aconteceu com a

candidatura da Ribeira Grande de

Santiago, cabo Verde, a patrimó-

nio mundial da Humanidade. Esta-

mos a promover transferências de

conhecimentos de tecnologias das

cidades através de redes temáti-

cas. Neste momento, está a funcio-

nar uma rede sobre protecção civil

e uma outra sobre a conservação

dos centros Históricos.

Num segundo pilar, que eu chama-

ria de projectos de cooperação e

cultura, procuramos satisfazer os

objectivos do milénio. por exemplo,

combater a pobreza principalmente

nas cidades mais necessitadas.

Não se admirará, por isso, de ver

a Uccla a tratar dos resíduos

sólidos na cidade de Bissau. ainda

recentemente, com apoio da União

Europeia, assinámos um protocolo

na cidade da praia para abasteci-

mento de água potável a cerca de

1500 famílias.

ainda respeitante ao combate

contra a pobreza, criámos um vasto

projecto de cuidados de Saúde pri-

mários – em moçambique, estamos

na luta contra a Sida. tudo isto

complementado com uma intensa

acção cultural, em nichos espe-

cíficos. ainda recentemente, em

lisboa, organizámos uma home-

nagem a malangatana num espec-

táculo a que compareceu o presi-

dente da República, bem como a

publicação de uma brochura que

irá ser distribuídas nas escolas mo-

çambicanas e um colóquio sobre a

vida e obra desse artista.

Num terceiro pilar, procurámos dar

um novo sentido às relações das

cidades com as suas empresas.

E nesse âmbito, é justo prestar

uma palavra de homenagem ao dr.

Ernâni lopes e ao seu colaborador

mais directo, o dr. poças Esteves.

a eles se deve a magnífica expo-

sição apresentada em Salvador

da Baía chamando a atenção que

competitividade é fundamental, não

só entre países, mas nas cidades.

Em que sectores é fundamental

essa competitividade?

principalmente, no turismo. aca-

bámos de realizar em luanda um

Fórum, em que os grandes benefi-

ciários foram os agentes turísticos

com o estabelecimento de várias

parcerias com empresários. cer-

ca de uma dezena de cidades da

Uccla apresentaram os seus

projectos, abrindo muitas perspecti-

vas sobre o que podem fazer nesse

campo.

O Turismo tem sido um dos

grandes pólos de desenvolvi-

mento das cidades que integram

a UCCLA?

Naturalmente que sim, nos seus

múltiplos aspectos. Desde a cria-

ção de mão-de-obra à auto estima

das cidades. mas deixe-me referir o

papel fulcral da Uccla como apre-

sentadora das empresas portugue-

sas às municipalidades. o objectivo

é pôr a trabalhar as empresas cuja

actividade está directamente ligada

aos municípios. Há todo um mundo

que não tem sido trabalhado con-

venientemente: desde empresas

especializadas em espaços verdes,

que fazem animação cultural, água,

saneamento, esgotos, regulação

de tráfego, etc. Nós queremos

que essas empresas e as cidades

trabalhem em conjunto, pois nor-

malmente os municípios são muito

conservadores no que respeita

à sua política de contratação de

fornecedores. Estamos muito

empenhados em organizar fóruns

de empresas que operam para os

municípios e, com essa finalidade,

está a ser planeada uma reunião

de empresas no próximo ano em

Salvador.

O sr. engº focou num aspecto

interessante: num quadro de

crescente competitividade exigi-

da ao país para debelar a crise,

qual o papel que a UCCLA pode

desempenhar nesse âmbito?

É o de fomentar a entrada de em-

presas nesses mercados emergen-

tes – nesse reunião de que falei há

pouco que teve lugar em angola,

expliquei aos empresários que o ➤

Page 18: Diplomática n.º11

18 • Diplomática - oUtUBRo 2011

➤ país não é só luanda. Há outras

cidades cheias de potencialida-

des – existem relatórios de peritos

que o atestam – como é o caso de

Namibe e Kuando Kubango. ob-

viamente que, nessa nossa função,

não nos podemos substituir a ou-

tros organismos oficiais com meios

mais poderosos do que os nossos.

mas, através dos nossos parcos

meios, acho que estamos a ganhar

a aposta. a Uccla não tem qual-

quer comparação com o que era

há dois ou três anos atrás…Não

dispomos de grandes meios finan-

ceiros mas temos muitos amigos…

E, actualmente, é uma das raras

instituições do país que não deve

a fornecedores, não há salários

em atraso, não tem empréstimos

à banca e tem dinheiro em caixa.

isso é fruto de uma gestão conser-

vadora ( sou conservador da cabe-

ça aos pés…) e de muito rigor.

Tem sido positiva a rotatividade

na presidência da UCCLA?

actualmente a presidência cabe ao

Governador de luanda. Este siste-

ma tem sido positivo, dado terem

sido utilizadas fórmulas de muito

bom senso. Durante 24 anos, a

presidência da Uccla era inerente

a lisboa.

O Império ainda a mandar…

Era um bom império…o certo é

que lisboa continua a ser uma

grande referência para todo este

mundo lusófono. contacto com

muitos estrangeiros que nos visi-

tam vindos desses territórios e vejo

o carinho e a emoção que lisboa

lhes provoca. os portugueses é

que estão com uma crise de auto-

estima! os políticos é que têm de

resolver isso. as cambalhotas da

política também não ajudam a for-

talecer a auto-estima. mas há boas

razões para acreditar no futuro:

e chamo-lhe a atenção para uma

entrevista que o ex-ministro dos

Negócios Estrangeiros deu à Sic,

onde referiu que a acção diplomá-

tica de portugal era muito facilitada

pelo prestígio que o país tem no

mundo. tive a sorte de trabalhar

durante dez anos na comissão

Europeia como responsável ➤

“A crise económica afecta a nossa actividade. Estão a faltar alguns meios

em áreas essenciais, como seja o incremento do ensino do português”

Anacoreta Correia

Page 19: Diplomática n.º11

19oUtUBRo 2011 - Diplomática •

➤ das Relações Externas ( áfrica e

américa latina),não tenho dúvidas

nenhumas em afirmar que bene-

ficiei muito desse prestígio. mas

devo dizer-lhe que a passagem da

presidência de Salvador da Baía

para luanda foi muito positiva.

Hoje, a capital angolana, tem cerca

de oito milhões de habitantes e é

ali que ocorre 60 por cento de toda

a actividade económica de angola.

Que projectos tem a UCCLA em

curso?

Depois da visita do governador

de luanda, estamos a trabalhar

na toponímia da capital angolana,

mas também já nos pediram para

dar um apoio na rede de esgotos,

na criação de espaços verdes. o

primeiro passo a dar é pôr a fun-

cionar o que já existe, recorrer ao

que já existe, e não aplicar novas

estruturas, necessariamente mais

caras. angola também já mani-

festou interesse em que façamos

qualquer coisa no âmbito da acção

preventiva de cuidados de Saúde

primários e, nesse aspecto, foi

importante a nossa experiência em

cabo Verde, onde nos envolvemos

na campanha contra a erradicação

do dengue. Na altura em que nos

pediram para actuar, estavam a

registar-se cerca de 700 casos de

dengue por dia. Foi magnífico o tra-

balho desenvolvido por uma equi-

pa médica do ippaD de coimbra

que se deslocou ao arquipélago e

pela magnifica atitude da câmara

da praia ao efectuar uma série de

demolições em zonas que eram

autênticas incubadoras de mosqui-

tos. Não quer dizer que fomos nós

que acabámos com essa praga,

mas o trabalho foi árduo e profí-

cuo, nomeadamente, na atitude

preventiva da população, que é, ao

fim e ao cabo, o melhor combate

contra as epidemias. Depois disso,

formámos agentes em Dili especia-

listas nos cuidados primários de

Saúde tendo atingido cerca de 110

mil pessoas – estarei em agosto

em timor para me reunir com o

primeiro-ministro, Xanana Gusmão,

com a finalidade de discutir se esta

medida deve ou não ser alargada

a outros distritos ou se deve uni-

camente ser aprofundada em Dili.

Uma acção que se deverá alargar a

maputo através de negociações em

curso com responsáveis pelo sec-

tor da Saúde daquele país. Repito:

temos hoje em dia uma boa rede

de amigos.

Como profundo conhecedor do

mundo africano lusófono, o sr.

engº acha que os regimes auto-

cráticos que têm caracterizado

esses países estão em declínio?

A democratização está em mar-

cha em África?

Sim, creio que áfrica caminha para

a democratização. peço desculpa,

sou um pouco critico da actuação

dos nossos media…acontece que

estive em luanda nos dias que

antecederam o anúncio das gran-

des manifestações contra o regime

angolano e o que verifiquei é que

esses movimentos aglutinaram es-

cassas dezenas de pessoas. Quero

dizer-lhe o seguinte: a forma como

foi resolvido um conflito armado

terrível em moçambique e em

angola, sem haver condenações

à morte ou fuzilamentos, contrasta

com o resto de áfrica. claro, nem

tudo foi exemplar. mas, Djalakama

circula livremente em moçambique,

a UNita tem expressão parlamen-

tar e diz o que discorda. acho que

o caso mais espantoso é o da Gui-

né Bissau, um território um pouco

maior que o alentejo, com cerca de

30 etnias, com golpes de Estado

sangrentos, mas onde, ao contrário

do que se verificou na libéria ou na

Serra leoa, há actualmente algu-

ma contenção. isso é uma herança

lusófona.

O clima económico difícil que

atravessa Portugal pode afectar

a actividade desenvolvida pela

UCCLA?

claro que afecta. Estão a faltar

alguns meios em áreas essenciais,

como seja o incremento do ensino

do português. por exemplo, várias

cidades têm recorrido à Uccla no

sentido de gerir outras ajudas que

não são provenientes de portugal,

o que mostra o grau de confiança

que têm em nós.

Há razões para temer que o ensi-

no de português e a expansão da

nossa língua esteja em risco?

tenho verificado algumas posições

muito pessimistas e ignorantes

a esse respeito. convido esses

críticos a apurar o que é hoje a

expansão do português em angola

comparativamente à que era há

30 anos atrás. incomparavelmente

maior e de muito boa qualidade!

Um inquérito apurou que 30 por

cento dos angolanos declaram o

português como língua materna.

penso que alguns dos nossos

pivots dos canais de tV até já

terão de aprender algo com os

seus congéneres angolanos…o

mesmo se passa em moçambique.

para esse facto, muito contribuiu a

atitude de Samora machel ao dizer

que o crescimento da unidade em

moçambique deveria fazer-se atra-

vés da língua portuguesa. portanto,

temos de relevar mais os aspectos

positivos do que os negativos.

Não acha que há que ter cuida-

do com a China que está cada

vez mais penetrante no mercado

africano lusófono…

isso significa que dentro de dez

anos vai haver mais chineses a

falar português…Foi o que acon-

teceu em moçambique. Na Beira,

há uma colónia chinesa completa-

mente inserida na vida portuguesa.

a iURD ( igreja Universal do Reino

de Deus) fez em moçambique a

sua base de penetração na áfrica ➤

Page 20: Diplomática n.º11

20 • Diplomática - oUtUBRo 2011

➤ do Sul. portanto, há uma realida-

de insofismável: o português está

em expansão no mundo lusófono.

Eu estive na fronteira da lunda

com o congo e pude aperceber-

me que os congoleses falam agora

muito mais português do que o

francês, porque mandam os filhos

estudar em angola, porque ali o

ensino é melhor. Esta é a realidade

de alguns portugueses que não

se apercebem destas realidades,

porque passam a vida a frequentar

cocktails…É preciso falar com o

povo…

Há quem diga que o sr. engº

dava um bom ministro dos Negó-

cios Estrangeiros…

acho que a pasta dos Negócios Es-

trangeiros está muito bem entregue

ao dr. paulo portas. Há muito tem-

po que ele se preparou para essa

pasta. a passagem pela Defesa foi

útil. por isso, acho que portas vai

ser um bom ministro. Nós não an-

damos à procura de oportunidades,

mas se for preciso alguma con-

tribuição da Uccla para “ler” as

questões da lusofonia, cá estare-

mos para as dar. Julgo que temos

uma leitura muito profunda sobre

as cidades ligadas a esse mundo.

Há muito a fazer no campo da

Diplomacia?

acho que foi uma grande vitória

portuguesa a eleição para um lugar

no conselho de Segurança. os

adversários eram de peso. Repare

que a maioria dos países europeus

não votaram por portugal. Quem o

fez foram os latino-americanos, os

africanos e os asiáticos. o que nos

falta é termos uma política activa

de defesa da língua. Estou conven-

cido que esta é uma língua de afec-

tos e isso facilita a aproximação.

Acha que o Acordo Ortográfico

defende a língua portuguesa a

sua expansão no Mundo ?

o que vou dizer vai escandalizar

os meios conservadores, mas

acho que sim. É preferível fazer

as mutações de forma gradual. É

importante para a sua permanên-

cia, sobretudo numa altura em que

a língua vai ser completamente

diferente daqui a uns trinta ou

quarenta anos. É preciso ter uma

atitude aberta.

O Brasil continua a ser importan-

te na estratégia da UCCLA?

Queria que a Uccla tivesse uma

presença mais activa no Brasil.

temos sete cidades associadas,

mas gostaria de consolidar a nossa

presença no Nordeste, onde está

a acontecer uma verdadeira revo-

lução económica, muito em parte,

graças aos portugueses, princi-

palmente nos sectores ligados ao

turismo e à agricultura. temos um

plano de contactos e vamos execu-

tá-lo em Novembro e Dezembro.

A Índia ainda está demasiado

longe?

Não, não está. Seguimos com

atenção o dossier de Goa e es-

tamos preparados para termos

boas notícias a esse respeito. É a

primeira vez que o digo, mas antes

de terminar o meu mandato, gos-

taria de ter Goa dentro da nossa

constelação de capitais de língua

portuguesa. Não nos podemos

esquecer que no grupo de países

emergentes - Rússa, china, Índia

e Brasil - este é o único que é uma

democracia perfeita e pratica os

valores ocidentais. E é onde se fala

português. Está a abrir-se para o

mundo o que nos enche a todos de

um certo orgulho lusófono.

Porque decidiu deixar o cargo de

Conselheiro de Estado?

Não me afastei nem fui afastado.

Respeito a decisão do sr. presiden-

te da República de renovar o con-

selho de Estado. Um determinado

número de pessoas entendeu que,

neste momento, o dr. Bagão Félix

correspondia melhor ao perfil para

o cargo e respeito a decisão.com

pena, pois sentia que os lusófonos

tinham ali uma voz amiga. conti-

nuo a manter com cavaco Silva

relações extraordinárias. o facto de

ter vindo à Gala de homenagem a

malangatana no dia a seguir às úl-

timas eleições, numa altura em que

as solicitações ao sr. presidente da

República eram múltiplas, é a pro-

va disso. os meus colaboradores

sabem que, em cada um dos meus

actos, existe a preocupação de ter

pronta a renovação em qualquer

altura.

As eleições em Portugal clarifi-

caram a situação política?

Está clarificada, vamos a ver se

está melhor. Não gostei da falhada

tentativa de eleger Fernando Nobre

para presidente da assembleia da

República. Foi a crónica anuncia-

da desse episódio. creio que o dr.

passos coelho, ao escolher quatro

independentes de uma outra faixa

etária, demonstrou uma aposta

renovadora, que não há cargos

políticos vitalícios. No entanto, no

Governo, apesar de um dos par-

tidos ter uma maior expressão de

votos, tem que haver partilha do

poder. confrontar e partilhar são

próprias da negociação. Falta-nos

alguma cultura de negociação em

portugal e de governação. prefe-

rimos criar de novo, reinvestir, em

vez de aproveitarmos o que existe.

tempos de banir esta mentalidade

de novo riquismo. cito um episódio

que tem a ver com a minha cam-

panha de candidatura a deputado

europeu: em Viseu, gelei a assis-

tência ao felicitar a cidade por não

ter um estádio para o Euro. Hoje,

as pessoas felicitam-me por aquilo

que disse. Houve uma política in-

discriminada de crédito, criaram-se

auto-estradas em regiões onde não

eram necessárias, inauguraram-

se hospitais a uma curta distância

uns dos outros, e agora estamos a

pagar a factura desse desvario. n

Anacoreta Correia

Page 21: Diplomática n.º11

VISTA ALEGREPRESTA HOMENAGEM

A MALANGATANA.

A Vista Alegre vai lançar em breve uma peça de edição numeradae limitada a 500 exemplares, para assinalar o trabalho

que o Mestre Malangatana estava a desenvolver com a marca.

Para mais informações e pré-reservas, contactar:[email protected] ou +351 262 540 259

www.vistaalegreatlantis.com

VAA_Malangatana230x320.pdf 1 8/3/11 6:53 PM

Page 22: Diplomática n.º11

22 • Diplomática - oUtUBRo 2011

Levam-nos a crer que a experiência en-

sina. ledo engano, penso eu, ao come-

çar este depoimento. Nascida no Brasil

e lá tendo vivido trinta anos, estando em

portugal desde 1970, tendo trabalhado

durante quatro anos num país africano

de língua portuguesa, eu deveria ser,

se o que me levaram a acreditar vales-

se, uma pessoa particularmente apta

a discorrer sobre o tema que hoje me

apresentam.

Experimentei muitos percalços da vida

política e económica brasileira e portu-

guesa e não me posso acusar, em sã

consciência, de me ter desesforçado

por os compreender e administrar – nos

planos pessoal e doméstico, que eram

os que me competiam – do modo que

me parecia mais correcto e, já agora

saudável. Não desacompanhei também

por completo a vida sócio-política e

económica do país africano onde estive.

E nem sequer direi que saí dele desco-

nhecendo-o em excesso. Nada disso,

contudo me pacifica na hora de fazer

esse texto: parece-me, de facto, que a

experiência – tornada princípio perverso

-, só serve ao meu desconcerto e de-

sorientação. tentarei, contudo, depor

sobre aquilo que mais de perto me diz

respeito e que melhor procuro ir conhe-

cendo: a questão cultural.

com evidentes e importantíssimas im-

plicações políticas e económicas para

o próximo milénio, deveria ser pouco

problemática, no plano cultural, a cons-

tituição de uma comunidade de países

como os de língua portuguesa. com

efeito, eles partilharam séculos de His-

tória comum e partilham ainda a mesma

língua, em estatuto de “Nacional” ou de

“oficial” em convívio com outras línguas

maternas.

Junto com a língua guardamos, todos

os lusófonos, onde quer que nos encon-

tremos, traços culturais que nos unem.

Eles podem ir desde a religião (ou religi-

ões: penso nos cultos afro-negros no ➤

maria lúcia torres lepecki, a grande defensora da cultura

portuguesa, nasceu no Brasil em 1940, tendo-se notabilizado

como professora universitária de literatura portuguesa, ensa-

ísta e crítica literária.

Especialista nas áreas de literatura portuguesa dos séculos

XiX e XX, foi professora catedrática da Faculdade de letras

da Universidade de lisboa, onde lecionou entre 1970 e 2008.

mas abrangeu a sua actividade de professora e conferencista

a inúmeras universidades europeias, brasileiras e africanas.

Enquanto crítica literária colaborou em várias revistas, jornais

portugueses e estrangeiros e foi agraciada com vários pré-

mios e honrarias dos quais se destaca o grau de comendado-

ra da ordem de Sant’iago da Espada, recebido em 2000.

Deixou-nos em 24 de Julho de 2011, aos 72 anos de idade,

Relembremos o seu estilo fino, argúcia de pensamento, e

ideias ainda actuais, no texto publicado em 1994 num dos

números Especiais da revista Manchete, editada por este

nosso Grupo Gabinete1.

Desaprender com a Vidapor maria lúcia lepecki

Dossier

Page 23: Diplomática n.º11

23oUtUBRo 2011 - Diplomática •

➤ Brasil) até à arquitectura (ou arqui-

tecturas: penso nas casa dos “brasi-

leiros” do minho ou no tipo tradicional

da casa de fazenda em minas Gerais);

eles tocam necessariamente pequenís-

simos pormenores do quotidiano que,

passando-nos quase sempre desperce-

bidos permitem, quando observados e

cotejados, evidenciar a comunidade das

origens que a todos nos unem.

partilhamos, sem dúvida, muito de

cultural, e isso deveria ser garante de

tranquilidade para quem – no caso os

Estados envolvidos – agora se abalança

ao empreendimento que os tempos não

permitem adiar mais.

Deveria ser garante digo eu – e se assim

digo é porque ainda assim não é, pelo

menos na medida em que esperaríamos

que fosse. Falta qualquer coisa e ela é,

muito simplesmente, o real e profundo

conhecimento mútuo entre os povos que

se expressam, em qualquer estatuto que

seja, em língua portuguesa.

para um real conhecimento mútuo, para

aquela “irmandade na aceitação das

diferenças”, garante único e imprescindí-

vel de vitalidade para uma comunidade

com real força política, capacidade e

força de intervenção duradouras, torna-

se necessária uma política cultural que

sustente, em bases sólidas, o nosso

saber e entendimento uns dos outros.

É essa política que ainda não existe, e

ela que se torna necessário imediata-

mente instalar. Não se pode adiar mais a

nossa presença sistemática, em termos

de criações do espírito, nos países que

partilham connosco a mesma língua.

É possível, e não difícil, estarmos perto

uns dos outros de modo sistemático, or-

ganizado e produtivo. comecemos, que

já é hora, pelo privilegiado espaço das

escolas. Não parece justificar-se, por

exemplo, que as crianças portuguesas

conheçam as histórias contadas por lo-

bato, por Francisco martins ou por maria

clara machado, como não se percebe

por que as crianças brasileiras não po-

derão deliciar-se com os livros de alice

Vieira, de Natércia Rocha e de tantos

outros. E não me digam que as diferen-

ças ortográficas, mesmo sem qualquer

acordo, são impedimento: sempre li,

em pequena, livros em ortografia portu-

guesa, e nunca na escola primária me

escapou um “facto” em lugar de “fato”.

Já em outro campo, lembro-me de que

quando fiz o conservatório de piano, no

Rio, entre meados dos anos 50 e 60,

era obrigatória uma peça portuguesa por

ano, e, se não erro, para o exame final.

ignoro se isso se passa aqui, mas era

importante tratar do assunto.

De muitos jeitos e em muitas áreas,

torna-se urgente aproximar de facto as

culturas lusófonas – e a Universidade,

em termos de docência e de investiga-

ção, deveria ser a locomotiva a condu-

zir o processo: porque não instalar um

programa de trocas de docentes entre

países de língua portuguesa, um pouco

nos moldes do que a comunidade Euro-

peia faz nos Erasmus?

No meu entender, só um empreendimen-

to cultural ambicioso (sem ambição não

vale a pena começar), sério e ponde-

rado, um empreendimento onde todos

entremos sem veleidades de liderança

ou, vamos lá, de “direitos maiores”, só

isso poderá, realmente, sustentar uma

comunidade viva e actuante. Fora desse

quadro, que iluminará nossas diferenças

e sedimentará nossas semelhanças, que

nos dará conhecimento de nós mesmos

e dos nossos mais próximos no concerto

das nações, fora desse quadro, que nos

permitirá diálogo, partilha e mútuo enri-

quecimento, receio bem que a constru-

ção de uma casa política para a língua

portuguesa peque, muito simplesmente,

por debilidade de alicerces. n

Page 24: Diplomática n.º11

24 • Diplomática - oUtUBRo 2011

Mário Vilalva, embaixador do Brasil em Portugalpor maria da luz de Bragança e José leite, fotos lígia correia

“Portugal deve aproveitar esta fase de crescimento económico do Brasil” ➤

Dossier

Page 25: Diplomática n.º11

25oUtUBRo 2011 - Diplomática •

➤ Mário Vilalva, 58 anos, ocu-

pa desde Novembro de 2010 o

cargo de embaixador do Brasil. Já

tinha estado nesta representação

diplomática, há vinte anos atrás,

como conselheiro para assuntos

económicos e comerciais e, em

2000, foi director-geral do Depar-

tamento comercial do ministério

das Relações Exteriores e esteve

no ministério do planeamento no

sector da cooperação financeira.

Não admira que assuma que um

dos seus actuais objectivos é o

reforço das relações comerciais

entre os dois países, privilegiando

a diplomacia económica, fazendo

questão de relevar o papel de-

terminante que portugal deve ter

num quadro de globalização, em

que o mundo lusófono pode as-

sumir uma posição determinante,

passando das letras aos negócios.

Nesse sentido, anuncia a criação

da chamada inteligência comer-

cial, com a finalidade de ajudar

as empresas nacionais a exportar

para o Brasil, identificando os

problemas, ao mesmo tempo que

assume ser crucial um acordo en-

tre o mercosul e a UE.o diplomata

tem uma filha nascida em portu-

gal, um país, que, como sublinha,

é o único, na sua vida de 36 anos

como diplomata, em que não se

sente estrangeiro.

Qual o papel do Brasil na ex-

pansão e reforço da Lusofonia

no Mundo?

o Brasil foi membro fundador –

eu diria, o líder – da criação da

cplp. Eu próprio participei nesse

momento, que considero histó-

rico, dado que, nessa altura, eu

era conselheiro na Embaixada em

portugal, responsável pela área

económica Na altura, era embai-

xador José aparecido oliveira,

que tinha como uma das suas

preocupações dar mais substância

ao instituto internacional da língua

portuguesa. Deu-se conta que

havia uma outra realidade que

comprometia, e muito, o nosso

espaço lusófono no mundo. De-

pois de um período de crise entre

portugal e a sua relação com o

Brasil e os palop’s, José apareci-

do oliveira empenhou-se em criar

um espaço lusófono. inicialmente,

pensou numa comunidade dos

povos de língua portuguesa, en-

volvendo não só os Estados, mas

que englobasse todas as comuni-

dades que falam o português. o

objectivo também foi o de iniciar

uma cooperação entre os vários

sectores, afirmando e consolidan-

do, ao mesmo tempo, a nossa

língua, criando riqueza, gerando

novos empregos, expandindo

culturas comuns. por via disso, o

Brasil tem um compromisso muito

forte com a lusofonia, através

da criação e manutenção desse

espaço, no que concerne à língua,

cultura e exploração dos merca-

dos. Quem sabe se, no futuro, não

possamos aprofundar mais essa

cooperação, como acontece já

com vários blocos económicos?

A lusofonia terá agora uma ver-

tente mais económica, devido à

crise global?

a lusofonia nasceu essencial-

mente com uma particularidade

política e cultural, numa altura em

que o Brasil não estava bem do

ponto de vista económico, aliás,

como acontecia com os países de

língua portuguesa em áfrica. a

ideia de estreitar os laços econó-

micos surgiu depois. actualmente,

o Brasil e portugal têm um capital

político e económico fantástico.

agora, é preciso aproveitá-lo de

forma a dar mais substância eco-

nómica.

E agora, após a recente visita

de Dilma Roussef a Portugal,

surgiu a hipótese de o Brasil

poder ajudar Portugal em ter-

mos económicos, até se falou

na compra de parte da dívida

lusa…

Não gosto do termo ajudar. Eu

acho que o Brasil não será a

solução, mas pode e deve colabo-

rar com portugal neste momento

de dificuldades. Nesse sentido,

estamos a dar um sentido de

urgência a todos os mecanismos

necessários para esse efeito, com

a finalidade de fazer sair portugal

o mais rapidamente dessa cri-

se. Quanto à compra da dívida,

que é uma questão específica, o

grande problema que nós temos

é que o Banco central do Brasil é

independente e só pode comprar

papéis no exterior, ou investir as

suas reservas, se os mesmos

forem classificados pelas agên-

cias de rating como sendo do tipo

aaa.o que significa dizer que, por

mais que houvesse uma vontade

política de comprar a dívida portu-

guesa, a lei proíbe-o. actualmen-

te, os actos de gestão pública no

Brasil são muito vigiados, depois

da lei criada pelo congresso Na-

cional – designada lei da Respon-

sabilidade Fiscal – ao tempo do

presidente Fernando Henriques

cardoso.

Quais são esses mecanismos

que falou de ajuda a Portugal?

Em primeiro lugar, nós queremos

aumentar o comércio entre o Bra-

sil e portugal. achamos que é um

comércio muito pequeno. Estamos

a promover alguns estudos para

encontrar nichos de mercado, que

não estão a ser aproveitados, para

procurar incrementar a compra de

produtos portugueses através de

um instrumento que nós designa-

mos como inteligência comercial.

ou seja, procuramos identificar os

motivos pelos quais determinado

produto não está a ser exportado

para o Brasil, quando o importa de

outros países. Vamos procurar ➤

Page 26: Diplomática n.º11

26 • Diplomática - oUtUBRo 2011

➤ tirar a “radiografia”: Será por que

é um mau vendedor? Existem pro-

blemas logísticos? É um problema

de financiamento? De marketing?

De marca? o que é? E depois

facultamos essa “radiografia” ao

exportador, apontando as razões

prováveis pelas quais não está a

fazer essa exportação para o Bra-

sil. Não podemos ir contra as nor-

mas da organização mundial de

comércio privilegiando as impor-

tações de um determinado país.

podíamos ser punidos por estar-

mos a praticar o chamado Desvio

de comércio. mas ao efectuarmos

esse estudo, mostrando as oportu-

nidades de comércio com o Brasil

e os erros que cometem os expor-

tadores de um determinado país,

não estamos a praticar esse tipo

de infracção.

Já há resultados desse estudo?

Não, começou há pouco tempo.

Estamos a promover esse estudo

em estreita cooperação com a

aicEp, incrementando-o desde a

época em que o Dr. Basílio Horta

presidia a esse organismo. mas

vamos continuar nessa linha que,

aliás, foi enfatizada pelo primeiro-

ministro, Dr. passos coelho.

agora, nós sabemos que vamos

enfrentar alguns limitantes – em-

prego este termo de forma delibe-

rada, porque a palavra limitações

parece que ter uma conotação ne-

gativa. o que são? Nós sabemos

que a oferta limitada de portugal

tem os seus limites. mas isso não

nos vai impedir de explorar ao má-

ximo esses nichos de mercado. in-

clusive, vamos fazer uma promo-

ção desses produtos directamente

junto aos importadores brasileiros.

Vamos abrir os olhos destes para

os produtos que portugal pode

exportar, com qualidade e com-

petitividade. Vamos também criar

uma revista como um dos elemen-

tos fundamentais dessa coope-

ração, dedicada exclusivamente

aos produtos portugueses e será

distribuída a cada um dos dez mil

importadores brasileiros. por tudo

isto, acho que nós temos um forte

capital político, social e cultural,

mas chegou o momento de trans-

formar tudo isso em números.

portugal tem de se dar conta que

o seu destino não é só a Europa,

que é preciso diversificar os mer-

cados, aproveitando esta fase de

crescimento do Brasil. Há muitas

empresas portuguesas de qua-

lidade mundial e que têm de ter

escala no mercado brasileiro. mas

há um outro aspecto que eu con-

sidero mais importante: na minha

gestão vou tentar dar prioridade

aos investimentos bilaterais (nesta

altura, o embaixador mostra-nos

um livro de mário Ferreira, conten-

do um investimento que o conhe-

cido empresário português preten-

de levar a efeito no amazonas: a

de um luxuoso barco de turismo,

idêntico aos que navegam no rio

Douro).Estamos a ajudá-lo nesse

investimento, inclusive, na procu-

ra de financiamento. portanto, os

investimentos são uma meta que

eu tenho a certeza que vai dar um

outro contorno às relações dos

dois países.

O Brasil não está a ser um país

caro para os empresários portu-

gueses que nele queiram inves-

tir?

Repare, à medida que o país se

desenvolve, é natural que o custo

de vida também aumente. isso

aconteceu com todos os países

que se desenvolveram, como foi

o caso da alemanha, Japão, num

dado momento com os Esta-

dos Unidos. Depois desse salto,

surgem, em seguida, as acomo-

dações e a coisa se equilibra.

mas nada disso tem dificultado a

entrada de empresas estrangeiras

no Brasil. o dinheiro continua a

chegar ao Brasil, eu diria, até de

forma exagerada… tanto é que

a nossa moeda está a ser valori-

zada em detrimento à dos países

exportadores. Hoje, o real vale

um dólar e meio. isso é uma coisa

surpreendente – a igualdade entre

as duas moedas! isso acontece

porque o Brasil continua a gerar

saldos na sua balança comercial e

porque está a entrar muito investi-

mento estrangeiro.

Isso acontece também com An-

gola, que também está tornar-se

um mercado apetecível, tanto

para os exportadores lusos

como na entrada de capitais

angolanos em Portugal… e é um

mercado igualmente procurado

pelo Brasil!

isso é o que falei. o espaço lusó-

fono está a transformar-se num

mercado, está a gerar riqueza e

emprego. Este é, aliás, o último

objectivo…o de que a economia

funcione em pleno, que as pesso-

as possam ter o seu emprego, que

possam viver bem. o maior cré-

dito que o Brasil tem no exterior

é com angola. Nós concedemos

a esse país um crédito que ultra-

passa um bilião de dólares. mui-

tas empresas brasileiras estão a

trabalhar lá, e eles pagam no dia.

Funciona como um “relógio” esse

crédito. E o mesmo estamos a

procurar fazer com outros países

de expressão portuguesa, como é

o caso de moçambique.

Acha que a Europa ganharia

alguma coisa ao estabelecer

um acordo com os países que

integram o Mercosul?

É crucial esse acordo. Um dos

aspectos limitantes de que falei é

o facto de os produtos brasileiros,

quando entram na Europa, paga-

rem tarifas elevadas. o mesmo

acontece com a taxação em vigor

no Brasil a esses produtos euro-

peus. portanto, é necessário ➤

Mário Vilalva

Page 27: Diplomática n.º11

27oUtUBRo 2011 - Diplomática •

➤ eliminar essas tarifas, e isso só

se consegue através de um acor-

do comercial entre o mercosul e

a União Europeia. Felizmente, as

negociações foram retomadas há

cerca de um ano e estamos numa

fase denominada normativa para

depois entrarmos no chamado

acesso a mercados que respeita

à troca de lista de bens. ou seja,

o escalonamento de bens até

chegar à taxa zero. E lembro que

o comércio do mercosul é mais da

metade do piB da américa latina.

Estamos a falar da união de dois

blocos económicos fortes, com

espaços geográficos aceitáveis e

que, uma vez assinado esse acor-

do, vão criar riqueza e emprego.

o atlântico será resgatado como

a grande via para esse comércio,

com a vantagem dos europeus de

terem acesso ao maior mercado

da américa do Sul, que é o Bra-

sil, grande exportador de carne,

soja, milho, petróleo, entre outros

produtos. ➤

“Não gosto do termo ajudar. Eu acho que o Brasil não será a solução, mas pode e

deve colaborar com Portugal neste momento de dificuldades”

Page 28: Diplomática n.º11

28 • Diplomática - oUtUBRo 2011

➤ E Portugal pode desempenhar

um papel importante no estabe-

lecimento desse acordo?

portugal sempre foi muito afirma-

tivo no estabelecimento desse

acordo. Seria, provavelmente,

o país mais beneficiado do lado

europeu, por uma simples razão:

estrategicamente, Sines será um

porto ideal. Há um trecho ferrovi-

ário que é preciso melhorar para

que fique mais competitivo. che-

guei a dizer ao então primeiro-

ministro Sócrates que era viável

a instalação de um entreposto co-

mercial com empresas brasileiras,

mas estas iriam sempre sofrer os

efeitos de uma taxação elevada.

…elevadas taxações que impe-

diram a formação da APEX, que

seria o primeiro entreposto co-

mercial brasileiro em Portugal?

Sim, foi uma utopia. mas voltando

ao acordo da EU/mercosul, portu-

gal é um país privilegiado e só te-

ria a lucrar: tem um óptimo clima,

as empresas têm espaço para se

instalarem e, por isso, eu digo que

só teria a lucrar.

Contrariando a progressiva

entrada de empresas brasileiras

no mercado português, tem-se

assistido, ao invés, a um retor-

no de emigrantes brasileiros ao

país de origem, como conse-

quência da crise que Portugal

atravessa. O sr. Embaixador tem

certamente consciência desse

facto?

Sim, está a haver um retorno ao

Brasil em função de dois aspec-

tos: há uma demanda de mão-de-

obra muito grande no Brasil. Se a

mesma é qualificada, fatalmente

voltará à origem.

Afluxo naturalmente relaciona-

do com os grandes aconteci-

mentos dos quais o Brasil vai

ser palco, que requerem muita

mão-de-obra

qualificada: o Mundial de Fute-

bol, os Jogos Olímpicos…

Não são os únicos, mas são even-

tos importantes. o que há é essa

demanda de mão-de-obra quali-

ficada que é paga com salários

mais elevados do que aqui. in-

clusive, de cidadãos portugueses

– no ano passado, concedemos

800 autorizações de residência a

compatriotas vossos e este ano

esse número já aumentou em 30

por cento em relação ao primei-

ro trimestre. por outro lado, os

ordenados da mão-de-obra não

qualificada são maiores em portu-

gal do que no Brasil e a tendência

deste é permanecer em portugal

desde que o mercado local permi-

ta. Se isso não acontecer, aí sim,

ela regressa. Já não há barreiras

no fluxo de trabalhadores entre os

dois países.

Vinte anos depois de ter estado

na embaixada brasileira, pode

fazer um retrato do Portugal

actual?

a primeira vez que vim a portugal

foi em 1980, para uma reunião

de trabalho, estava eu na repre-

sentação diplomática brasileira

em Washington. Encontrei então

um país deprimido, empobrecido,

sem um rumo, ainda não havia por

parte dos responsáveis políticos

uma certeza sobre qual o caminho

a seguir. Voltei em 1991 e deparei

com uma transformação radical

daquilo que havia visto dez anos

antes. Vi um portugal com destino

definido, com história renovada,

já com ânimo na população, havia

emprego e a Europa era a grande

solução depois de consumada

a adesão à UE. passados vinte

anos, devo dizer que encontrei

um portugal muito mais bonito.

com auto-estradas maravilho-

sas, infra-estruturas perfeitas, as

cidades estão limpas em qualquer

lugar que a gente vá. E há alegria,

coisa que eu não via no semblante

das pessoas nos anos oitenta. Há

quem diga que o dinheiro que veio

da UE foi mal gasto. Eu não acho

isso, depois de ter visto o vosso

país nessa minha primeira estadia

aqui. Hoje há um Estado Social

que não havia, estruturas fantásti-

cas para receber os turistas, está

perfeitamente integrado no conti-

nente europeu, podendo agora di-

versificar as suas relações, inclu-

sive, fora da Europa, que possam

acrescentar valor. Recordo uma

frase do anterior ministro dos Ne-

gócios Estrangeiros, luís amado,

ao ser questionado sobre qual se-

ria o futuro de portugal na Europa.

Ele respondeu que o futuro será

aquilo que o país possa ser fora

dela. portugal foi dono do mundo,

tem uma vantagem em relação

aos restantes países europeus de

saber ver o mundo, não a partir do

seu próprio umbigo, mas segundo

várias perspectivas: da Índia, de

áfrica, da china, do Brasil. portu-

gal tem talento. por isso, sempre

advoguei que o vosso país deveria

ter um papel de articulador entre

esses vários mundos.

O que é que o Sr. Embaixador

aprecia mais em Portugal?

São várias as características que

aprecio: o conhecimento em pri-

meiro lugar; aprendi a conhecer a

história do meu país vivendo aqui.

Nutro um carinho muito grande

pelas pessoas – adoro percorrer

o país, conhecer os lugares e

as suas gentes. Sabe, uma filha

minha nasceu aqui e esse facto

levou-me a que esses sentimen-

tos se tenham tornado ainda

mais fortes. De vez em quando,

perguntam-me qual dos países

em que estive colocado aquele

que mais gostei. E eu respondo: a

gente só repete aquilo que gos-

ta. Sou diplomata há 36 anos e é

o único país onde não me sinto

estrangeiro. n

Mário Vilalva

Page 29: Diplomática n.º11

1mês/mês 2011 - Diplomática •

C

M

Y

CM

MY

CY

CMY

K

Page 30: Diplomática n.º11

30 • Diplomática - oUtUBRo 2011

Desde o momento em que os portugueses descobriram

as belezas do Brasil, que este país entrou no nosso

imaginário. Raros serão aqueles, portanto, que não

ambicionam mais tarde ou mais cedo rumar ao outro

lado do atlântico e, por regra, o ponto de partida desta

viagem por terras do Brasil tem início na cidade mara-

vilhosa – o belíssimo Rio de Janeiro, a capital do país,

até à inauguração da magnificente Brasília de Óscar

Niemeyer.

Uma vez chegados ao aeroporto internacional de

antónio carlos Jobim, tradicionalmente conhecido por

Galeão, e logo após ter visto do ar a beleza da cidade

carioca, é hora de rumar ao centro e de se deslumbrar

perante as maravilhas do berço da bossa nova, como

é caso do pão de açúcar, do cristo Redentor (uma

das sete maravilhas do mundo moderno), as praias

de copacabana e ipanema, o estádio maracanã, o

parque Nacional de tijuca (o maior bosque urbano do

mundo), e o fantástico “calçadão”, passeio à beira-mar

trabalhado por calceteiros enviados propositadamente

de portugal. claro que para os mais festeiros, a época

ideal para rumar ao Rio é por excelência o carnaval,

pela sua alegria, criatividade, plasticidade, cores, sons

e muita fantasia. É, aliás, a maior manifestação popular

do mundo. mas como viajar e barriga vazia não combi-

nam, a gastronomia carioca também merece referência

e a peculiaridade que esta cozinha tem de baptizar

pratos com nomes de embaixadores. os dois exemplos ➤

Brasil, uma Viagem de Sonho

Viagens & Lazer

1. praia do Forte, São Salvador da Bahia

1

Page 31: Diplomática n.º11

31oUtUBRo 2011 - Diplomática •

➤ mais eloquentes são o filé à osvaldo aranha e sopa

leão Veloso. adaptação da “bouillabaisse” marselhesa,

a sopa com efeito revigorante e própria para ser con-

sumida em dias frios, foi criada pelo embaixador leão

Veloso no restaurante Rio minho, um dos mais antigos

em funcionamento na cidade (desde 1884).

mas o Brasil não é só Rio, e como tal, rumámos a Sal-

vador da Bahia, outro ícone de beleza e tradição deste

imenso país. para tal, fazemos a estrada Rio-Bahia,

que permite, ao atravessar diversos estados ao longo

dos mais de 1200 quilómetros, ver de tudo um pouco

do interior. Um pouco antes de meio da viagem vale a

pena fazer um pequeno desvio para ficar a conhecer

Belo Horizonte, a capital do Estado de minas Gerais. a

cidade é mundialmente conhecida e exerce significativa

influência nacional e até internacional, seja do ponto de

vista cultural, económico ou político. conta com impor-

tantes monumentos, parques e museus e é também

nacionalmente conhecida como a “capital nacional do

boteco”, por existirem mais bares per capita do que em

qualquer outra grande cidade do Brasil.

Uma vez chegados a Salvador da Bahia, as escolhas

são inúmeras: das praias belíssimas, como é o caso

da Barra de Jacuípe, lauro de Freitas, a trajectos que

fazem redescobrir o passado, como aquele que passa

pelo histórico mercado modelo e pelo porto da Barra.

Salvador, a capital do Estado da Bahia, e património

cultural da Humanidade, sobrevive principalmente do ➤

2. a colorida cidade de São Salvador da Bahia 3. a gastronomia baiana é das mais ricas do Brasil

4. praia lauro de Freitas 5. as tradicionais baianas

2

3 4

5

Page 32: Diplomática n.º11

32 • Diplomática - oUtUBRo 2011

➤ turismo e do comércio e é conhecida como centro da

cultura afro-brasileira. a miscigenação resultou também

na mescla de culturas, crenças e rituais, que tornaram

o Brasil ainda mais rico, através de uma pluralidade

que o fez singular. o sincretismo religioso é exemplo

da efervescência cultural da cidade, sendo que a igreja

do Senhor do Bonfim é um dos maiores símbolos reli-

giosos da Bahia. Situada na Sagrada colina, a igreja

representa elementos do candomblé. os visitantes

podem presenciar a fusão de religiões principalmente

em Janeiro, na cerimónia de lavagem do Senhor do

Bonfim, quando as baianas percorrem as ruas da cida-

de em cortejo até a igreja, para lavar a escadaria com

água de cheiro.

Num tom algo mais profano é imperativo sublinhar o

facto de que na Bahia come-se maravilhosamente,

sendo que as moquecas, de carne, peixe ou marisco,

os vatapás bem picantes, e o acarajé, trazido de áfrica,

são indispensáveis. Em caso de dúvida é só procurar

o restaurante Da Dádá! todavia, também os doces,

muitos deles feitos à base de coco e jaca, e comum-

mente vendidos pelas ruas por baianas, são de comer

e chorar por mais.

De volta ao Rio de Janeiro empreende-se de seguida

a segunda parte desta viagem, rumo mais ao sul do

Brasil. pelo caminho, e de facto incontornável, a ma-

ravilhosa angra dos Reis, bem digna do nome que lhe

foi atribuído, onde para além de praias a que é difícil

dizer adeus se encontra também o melhor peixe fresco

cozinhado mesmo em cima do mar num restaurante

pertencente a um conterrâneo português.

assim, e antes de tornar a terras lusas, faz todo o sen-

tido rumar à Nova iorque da américa do Sul – a cidade

de São paulo. São paulo é uma síntese cultural do país

e é também a cidade que abriga a maior diversidade

étnica. São paulo tem a melhor e mais completa ➤

Brasil, uma Viagem de Sonho

6. o Farol da Barra em São Salvador da Bahia

6

Page 33: Diplomática n.º11

33oUtUBRo 2011 - Diplomática •

➤ oferta cultural da américa latina: museus; programa-

ção cultural diversificada com “shows”, teatro, mostras

e exposições artísticas, opções de entretenimento e

lazer, a maior rede de restaurantes qualificados do país

com variedade gastronómica, chefs conceituados e

capacidade de renovação permanente. No que toca à

museologia, por exemplo, existe um museu para quase

tudo nesta magnífica cidade: das ciências naturais aos

presépios, das raízes etnológicas dos imigrantes prove-

nientes do Japão à microbiologia, do museu da língua

portuguesa ao de arte Sacra, passando por muitos

outros de igual relevo e interesse.

mas São paulo não é apenas cultura. É também uma

cidade vibrante de negócios, feiras, congressos e

convenções. É também a cidade da São paulo Fashion

Week: o maior evento de moda do país e um dos mais

importantes do mundo. Realizado em duas edições

anuais, ilumina toda a cadeia produtiva e concentra

desfiles que valorizam tanto as marcas quanto os esti-

listas deste imenso país.

para acabar em beleza umas férias maravilhosas, e

antes de regressar à Europa, é indispensável conhe-

cer ilhabela. localizada no litoral norte do estado de

São paulo, ilhabela é o único município-arquipélago

marinho do Brasil. com uma geografia montanhosa,

com relevos acidentados que mergulham no mar sob a

forma de belíssimas praias de areia branca, tornam a

paisagem da ilha particular e deslumbrante. Em cerca

de quatrocentos quilómetros, encontram-se para deleite

dos visitantes mais de 30 fantásticas cachoeiras e as

pequenas ilhas Vitória, São Sebastião, Búzios e dos

pescadores. Nesta paisagem paradisíaca pode dar-se

por terminada esta primeira aventura por terras de

Vera cruz, mas fica, sem sombra de dúvida, a vontade

de regressar e conhecer o tanto que ainda ficou por

explorar… n isabel prates

7. a catedral metropolitana de São paulo 8. a beleza tradicional de Belo Horizonte 9. ilhabela, Estado de São paulo

7 8

9

Page 34: Diplomática n.º11

34 • Diplomática - oUtUBRo 2011

Embaixador de Moçambique, Miguel Costa Mikaima, destaca as relações cada vez mais fortes dos dois países e sublinha :

Miguel Costa Mikaima, o representante diplomático de Moçambique em Portugal, não é um embaixador de

carreira mas a sua escolha para o cargo deve-se, sobretudo, ao mérito e qualidades pessoais e experiência

politica, a que não será alheio o facto de ter sido ministro da Cultura num mandato de cinco anos. À

Diplomática, fala sobre as relações bilaterais, cada vez mais profícuas, do seu país com Portugal e de como

o combate à fome e pobreza se tornou numa questão primordial na governação da antiga colónia portuguesa,

numa altura em que comemora os 35 anos de independência. Casado, com quatro filhos, todos a residir em

Portugal, Miguel Mikaima aprecia a simpatia inigualável dos portugueses, a diversificada gastronomia,

destacando a posta mirandesa e, claro, o vinho do Porto. ➤

“Atrair investimentos portugueses tem sido um dos meus objectivos fundamentais”

por maria da luz de Bragança e José lucas Fernandes, fotos ligia correia

Dossier

Page 35: Diplomática n.º11

35oUtUBRo 2011 - Diplomática •

➤ Como antigo ministro da Cultu-

ra, pensa que o povo moçambica-

no atingiu já um nível de maturida-

de cívica e educacional ou ainda

há muito a fazer nesse campo?

culturalmente, os moçambicanos

são já um povo muito maduro. Uma

maturidade adquirida ao longo da

experiência de vida, quer no pro-

cesso da luta de libertação nacional

para contrariar aquilo que ocorreu

no passado colonial, quer na pro-

gressiva conquista da sua liberdade

e valorização desses valores cultu-

rais. Recordo que 2011 foi procla-

mado o ano de Samora machel pelo

governo moçambicano. Há uma

frase do antigo presidente e que

ele usou, com frequência, dirigida a

todo o mundo que eu cito: ” a luta

de libertação de moçambique não

era contra o povo português, mas

sim, contra o regime português». É

uma frase muito avançada, com um

grande nível cultural que exprimia o

que era a vida prática e quotidiana

dos moçambicanos, um estado de

espírito que se mantém até aos dias

de hoje. Durante os anos em que

fui ministro da cultura, entre 2000

e 2004, pude aperceber-me disso,

dessa maturidade cultural do povo

moçambicano, que sabia interpre-

tar as dificuldades que enfrentava,

com uma visão clara do seu futuro.

E agora que estou em portugal, é

impressionante ver a forma simples

e aberta como decorrem as relações

entre moçambicanos e portugueses.

Por falar em cultura moçambica-

na, há uma grande figura moçam-

bicana, o pintor Malangantana,

recentemente desaparecida.

Guarda memórias do convívio

com esse artista que marcou de

forma significativa a cultura mo-

çambicana?

Guardo memórias muito profundas,

impressionantes. malangantana

é a síntese daquilo que disse há

pouco, da maturidade cultural dos

moçambicanos. Ele foi um verda-

deiro embaixador da nossa cultura

pelo mundo, fazia amizades com

franqueza e abertura, expunha-se

totalmente perante as pessoas…

tinha sempre a preocupação de as

transformar em bons amigos. as

suas obras exprimem o carácter

cultural dos moçambicanos, ou seja,

uma junção entre o tradicional e o

moderno.

Tem havido uma cooperação cul-

tural entre os dois países ou esse

aspecto ainda se poderia desen-

volver mais?

temos assistido a um fluxo cultural

muito grande entre os dois países.

Em portugal, por exemplo, não

passam seis meses sem que tenha

lugar uma exposição de um artista

moçambicano, ou mostras colecti-

vas, havendo um salutar convívio

dos artistas de ambos os países.

isto tem sido uma marca moçambi-

cana em portugal, que ultrapassa

as artes plásticas e abrange outros

sectores, interagindo entre si. por

exemplo, em maio decorreu a Bie-

nal de cultura em odivelas na qual

moçambique teve uma presença

muito significativa. aqui, na em-

baixada, organizamos uma sessão

de ópera com Stella mendonça. a

princípio houve uma certa retracção

ou desconfiança do público, mas, no

final, todos se renderam ao profis-

sionalismo e qualidade do reportório

da intérprete.

Portugal tem apoiado a emigra-

ção moçambicana? Ou há ainda

algo por fazer no apoio a quem

chega a Portugal para trabalhar?

Há dois aspectos a considerar: aquilo

que portugal pode efectivamente fa-

zer e aquilo que não pode face à actu-

al conjuntura económica – por exem-

plo, muitos moçambicanos recorrem

à embaixada pedindo para que eu

interceda junto do governo português

para lhes arranjar empregos. Quanto

a esse aspecto eu não posso fazer

nada, como é compreensível

Mas há já organismos criados em

Portugal de apoio aos emigran-

tes, principalmente aqueles pro-

venientes de países lusófonos?

Visitei na semana passada a aciD,

reuni com a comissária responsável

desse organismo. Foi um encontro

muito positivo, tendo ficado total-

mente a par da forma, igualmente

empenhada, como têm sido desen-

volvidos esforços para a integração

de cidadãos estrangeiros. E mais

agradavelmente surpreendido

fiquei quando essa responsável

me informou que, de acordo com

informações a que teve acesso, os

moçambicanos são a comunidade

melhor integrada na sociedade por-

tuguesa. portanto, apraz-me regis-

tar que não tem havido problemas

com os moçambicanos em portugal

que possam afectar gravemente

essa convivência. pelo contrário, o

que há é uma profunda harmonia e

concertação de interesses.

Os desenvolvimentos da crise

portuguesa podem potenciar a

emigração de portugueses para

Moçambique ?

temos assistido nos últimos tempos

a um grande afluxo de portugue-

ses para moçambique, à procura

de oportunidades de investimento,

mas há muitos que se deslocam por

questões de emprego.

Há uma grande abertura por parte

do governo moçambicano a quem

queira investir no país? Existem

apoios?

a embaixada criou há três anos

uma nova estrutura, a de conselhei-

ro comercial, da qual é responsá-

vel a Dra. Filomena malalane (?),

precisamente porque o governo de

moçambique verificou que portugal

era um país potencialmente inves-

tidor, com muitas possibilidades de

os empresários desenvolveram os

seus negócios. atrair investimentos

portugueses tem sido uma das ➤

Page 36: Diplomática n.º11

36 • Diplomática - oUtUBRo 2011

➤ actividades prioritárias da embai-

xada, isto numa altura em que mo-

çambique se tornou uma referência

mundial em termos de crescimento

económico e desenvolvimento

social. tem havido da nossa parte

muita abertura, sobretudo, para as

pequenas e médias empresas. isto

porque as grandes empresas, no-

meadamente, as que estão ligadas

ao sector bancário ou da constru-

ção, essas sabem encontrar os

seus canais próprios para entrar em

moçambique.

Há áreas prioritárias?

as grandes empresas portuguesas

de construção estão em moçam-

bique. Estamos agora a criar uma

nova rede viária em termos de

funcionalidade e sustentabilidade,

de forma a ultrapassar uma situação

que vinha do passado em termos de

insegurança rodoviária.

E no sector bancário?

No período de um ano ( 2010/11)

abriram três novos bancos com uma

forte participação portuguesa – aliás,

todos os grandes bancos moçam-

bicanos têm uma participação de

capital luso, com destaque para

a caixa Geral de Depósitos, Bpi,

Bcp,BES.

A luta contra a pobreza, a ex-

ploração de novas tecnologias

na Agricultura e dos recursos

naturais, como o carvão, são

áreas que estão a ser objecto

de particular atenção por parte

do governo moçambicano. O sr.

Embaixador pode falar-nos sobre

este aspecto?

a comemoração dos 35 anos da

independência de moçambique, que

teve lugar no ano passado, aconte-

ceu numa altura em que o combate

contra a pobreza se tornou cada

vez mais premente, situando-se no

primeiro nível das nossas priorida-

des, quer do governo, assim como

da sociedade moçambicana. o povo

é chamado a participar com qual-

quer coisa na luta contra a pobreza.

Neste campo, há um aspecto muito

importante: o resgate da auto-

estima dos moçambicanos. o que

significa que devemos acreditar nas

nossas capacidades de poder trans-

formar moçambique, muito em parte

devido aos recursos que dispomos.

Estes devem estar disponíveis para

sustentar o combate à pobreza. Há

áreas no decurso da história mo-

çambicana que foram subestimadas

em termos de acção produtiva. cito,

por exemplo, o sector da agricultura,

que, tradicionalmente, nunca foi ca-

paz de ter um papel preponderante

na sustentabilidade da nossa econo-

mia, mas sim, caracterizou-se ➤

“Os moçambicanos são a comunidade melhor integrada na sociedade portuguesa”

Miguel Costa Mikaima

Page 37: Diplomática n.º11

37oUtUBRo 2011 - Diplomática •

➤ por ser de subsistência. temos de

chegar a um novo modelo, que, por

um lado, sirva para combater a fome

e, por outro, de fonte de exportações.

as comemorações dos 35 anos

de independência caracterizaram-

se pela assumpção desta visão.

moçambique tem outros recursos

naturais importantes, como é o caso

do carvão. o ano passado, a área do

sector mineral foi objecto de pesqui-

sas aprofundadas, foram identifica-

das todas as riquezas existentes.

como é o caso do carvão que come-

ça já, em Julho, a ser exportado.

Uma empresa brasileira investiu

cerca de um milhão e meio de

euros nessa exploração...

É um facto que o Brasil tem o maior

investimento neste sector, mas

também há empresas australianas e

indianas. Não podemos esquecer o

turismo, que tem sido bastante en-

corajado. Notamos, com satisfação,

o número crescente de turistas por-

tugueses que vão a moçambique,

encontrando o mínimo de condições

para os acolher, usufruindo de uma

hotelaria e restauração com qualida-

de, de excelentes praias e parques

naturais e de um riquíssimo patrimó-

nio cultural.

O sr. Embaixador acha que

Portugal pode perder um pa-

pel dominante de intervenção

económica em Moçambique em

detrimento de outros países que

estão a apoiar o desenvolvimento

do país, como é o caso da China,

Índia e Brasil? Há esse risco?

acho que portugal nos últimos anos

trabalhou bastante bem, conseguiu

explorar de uma forma firme a sua

presença em regiões em desenvol-

vimento económico, na áfrica, ásia

e américa latina, e isso faz com

que o valor da cultura portuguesa

cresça cada vez mais. creio, sobre-

tudo, que a actual visão empresa-

rial de portugal assente cada vez

mais na potenciação com o mundo,

olhando para as suas antigas coló-

nias como um mercado emergente.

ou seja, toda a cplp.

Ultrapassado o acordo estabele-

cido com Portugal, a barragem

de Cahora Bassa começou a criar

riqueza para o país?

Em 2009 e 2010 produziu lucros

que nunca foram alcançados e tudo

indica que cahora Bassa vai ser um

sustentáculo fulcral na economia

nacional. a área de produção e dis-

tribuição de energia eléctrica é uma

área fundamental de sustentabili-

dade económica para moçambique.

os problemas do passado foram

ultrapassados e não nos lembramos

mais deles. cahora Bassa é uma

empresa moçambicana bem orga-

nizada e está no topo do ranking

das melhores do país apresentando

lucros de forma sustentada.

Portugal tem dado cartas no cam-

po das energias renováveis, um

sector que também poderá inte-

ressar a Moçambique ?

Nós concordamos com essa políti-

ca. para se desenvolver, moçam-

bique precisa de levar a energia a

todos aqueles que precisam dela

e também para a melhoria de vida

das pessoas. E só podemos levá-

la aos locais mais recônditos se

recorrermos às energias renováveis,

até porque não podemos distribuir a

energia produzida em cahora Bassa

a todo o país. as energias renová-

veis são uma solução alternativa de

imediato que precisamos de imple-

mentar de imediacto.

Pode traçar o ponto da situação

respeitante à balança comercial

entre Moçambique e Portugal?

Durante a visita que o então pri-

meiro-ministro, José Sócrates fez a

moçambique, foram estabelecidos

entendimentos comerciais bastante

fortes e significativos. Uma parte

dos mesmos respeitante à dívida

moçambicana para com portugal e

também na parte financeira. a partir

daí, os acordos têm sido feitos com

muita segurança e maior credibilida-

de. Neste momento, não há ques-

tões pendentes que possam minar

a nossa relação. Neste momento, a

balanço é negativo para moçambi-

que, porque importamos mais, dado

estarmos numa fase de relança-

mento das economia com grandes

investimentos.

Aliás, foi estabelecida a realiza-

ção de encontros anuais de repre-

sentantes dos dois países para

discussão desses assuntos…

ia ter lugar em maio um desses en-

contros, mas acabou por ser adiado

devido aos problemas políticos que

surgiram em portugal. Da nossa

parte, temos os dossiers preparados

e as equipas formadas.

Acha que a crise política e a

consequente entrada do FMI em

Portugal poderá prejudicar as re-

lações económicas entre Portugal

e Moçambique?

Quero dizer-lhe que nós tivemos o

Fmi em moçambique. importante

nesse relacionamento foi o posi-

cionamento de moçambique, que

sempre se mostrou disponível para

a negociação e diálogo. Esse tem

sido um dos nossos pontos fortes,

ou seja, o de sabermos dialogar

com transparência e rigor. o Fmi é

nosso parceiro e com ele temos tra-

tado os problemas mais candentes

da nossa economia, tendo efectua-

do um acompanhamento permanen-

te da evolução da nossa economia

O que aprecia mais em Portugal?

a simpatia das pessoas, a boa

comida e os excelentes vinhos.

portugal é um país aparentemen-

te pequeno mas com uma grande

diversidade gastronómica. Vamos

a Bragança e saboreamos aquele

naco …como se chama…ah, sim,

a posta mirandesa; vamos para o

alentejo e deparamos com aquelas

entradas de enchidos, não esque-

cendo o afamado vinho do porto. n

Page 38: Diplomática n.º11

38 • Diplomática - oUtUBRo 2011

As independências e os intelectuais negros

Retomo o conceito “intelectual negro”, para estar consonante com a

elaboração sociológica desenvolvida nos Estados Unidos da américa do

Norte, desde Dubois, martin luther King, tendo chegado ao nosso tem-

po com Barack obama, (yes we can), actual negro americano tornado

líder do país mais mediático do mundo. Esta designação nada tem a ver

com a história do racismo e, sobre essas teses, já correu muita tinta. Não

é simples entender a cultura que se desenvolveu entre os americanos

depois da sua independência, em pleno séc 18, a de “melhores cabeças”

que não deixou os escravos de fora nas exigências de uma super-potência

mundial assessorada pelas Nações Unidas desde outubro de 1945, após a

2ª guerra mundial.

com a conferência de Berlim de 1885, engendrou-se uma nova aborda-

gem em relação ao desenvolvimento das colónias e dos autóctones,sob a

ocupação dos europeus. a teoria de identidades apaixonou os emancipa-

listas negros e europeus e a partir daí nada mais foi igual. Vejamos que

já no séc. XVii, destaca-se o francês e o filósofo René Descartes com a

célebre frase:“cogito ergo sum” je pense, donc je suis, penso, logo existo.

a liberdade de pensamento, com base na existência, foi a grande arma dos

intelectuais negros, que abraçaram princípios humanistas para subver-

ter um dos fundamentos do esclavagismo declarado, em pleno séc. XVii

(dezassete).

Da ocupação efectiva e administração das colónias, juntou-se o quebra

cabeças do fim obrigatório de determinadas hegemonias, proeza iniciada

pelos EUa em 1776. a independência dos Estados Unidos de américa e a

revolução francesa de 1789 tinham criado o homem novo voltado para os

valores da liberdade, igualdade e fraternidade. a classe burguesa letrada

ganhara a batalha da inteligência e do conhecimento científico, contra a

burguesia iletrada, baseada apenas nos grandes latifúndios, ou seja na

exploração de grandes terras, enriquecidos pela força do trabalho humano

gratuíto ou barato. Foi neste ambiente que forjaram certas mudanças no

ocidente que influenciaram grandemente as revoluções e as indendências

mais significativo a partir dos anos 50, do séc. XX

Esses pressupostos criaram choques socias, muitas vezes traduzidos em

conflitos abertos em que o maior ganhador foi sempre quem viveu amarra-

do à terra do senhor na condição de “servo da gleba” “escravo” ou coloni-

zado.

As independênciasPois bem, é exactamente na época da grande expansão colonial eurocen-

trista e cristianocentrista que os africanos das áfrica Negra passam a ser

considerados, teoricamente, do terceiro mundo e sem história, vivendo de

parasitismo em relação ao desenvolvimento histórico mundial. a primeira

metade do século XX lançou ideias de fim de exploração do”homem pelo

homem” e o marxismo-leninisno fez-se presente, criando diferentes aproxi-

mações entre humanos em determinados países, com base na exploração

dos bens de produção. período reivindicativo que culminou com o fortaleci-

mento das ideias independentistas dos territórios sob o domínio dos ➤

Dossier

Page 39: Diplomática n.º11

39oUtUBRo 2011 - Diplomática •

➤ inquilinos europeus, facilitados séculos a fio, pela generosidade e aco-

lhimento dos vencidos, através da capacidade de submissão e cruzamento

das raças.

No entanto, à medida que os 500 anos de subjugação nos aproximavam

dos anos 50, a abertura das escolas, o redimensionamento das redes

viárias e a consolidadação da admistração pública centrada nos meios

urbanos, facilitaram o surgimento dos primeiros intelectuais negros afri-

canos, homens e mulheres capazes de levar por diante, com a ajuda de

países africanos e não africanos, a consciência da “noção de pertença” e

do “resgate” da identidade.É munidos dessas ferramentas que os mesmos

resolveram não se apresentar de mãos vazias no encontro e reencontro

com a história.

Falar a mesma línguagemNão poderia ser de outra maneira senão agindo, pensando e actuando na

base dos conhecimentos retóricos da filosofia aristotélica platónica, hege-

liana ou kantiana, dialética de que precisavam para se confrontar com os

irmãos europeus na arena do debate político, cultural, de acordo com os

cânones do pensamento da europa clássica e moderna, a partir dos quais

foram forjados os seus conhecimentos e a língua. De toda a maneira, era

preciso uma redefinição africana e, de acordo com o historiador e sociólo-

go inglês das caraíbas paul Gilroy, impunha-se recuperar a memória sobre

as importantes e inigualáveis contribuições do “atlântico negro”, que se

forjou noutras dimensões que vão além dos contra-valores da escravatura,

sobretudo na intercomunicação através da música, dança, saberes, identi-

dades e histórias.Do mesmo modo, mulheres há que se tornaram militantes

do saber endógeno, ou seja de si próprios, recuperando os bons hábitos e

costumes.É assim que intelectuais negros buscaram a história do Egipto,

para se estabelecer o tão procurado fio condutor da história africana, des-

de os tempos pré-históricos, relacionando as civilizações da Núbia, Ghana,

chade e demais com história, como justificações da memória.

o mérito dos “intelectuais negros” centrou-se também nas

teses sobre o africanismo, que obrigaram os estudiosos eu-

ropeus a uma leitura mais atenta dos referidos fundamentos,

no que tange a forma como o negro e o não-negro se colo-

cam perante o objecto do conhecimento.

com o devir histórico, imparável na marcha dos tempos, os

angolanos chegaram à independência proclamada há 35

anos que, de forma irreversivel, nos levou ao concerto das

nações grandes e pequenas, a partir de cada 11 de Novem-

bro que celebrámos, como corolário de conquistas arran-

cadas com determinação inteligência e trabalho, a partir

dos quais criámos os nossos mitos e heróis, como acontece

com todos que, como nós, são donos das memórias que

particularizam, universalizam e engrandecem na arena da

solidariedade social, desenvolvimento sustentado e demo-

cracias do séc. XXi. n palmira tjipilicaprofessora Universitária

Page 40: Diplomática n.º11

40 • Diplomática - oUtUBRo 2011

Um liberal reformista, resoluto, teimoso,

um resistente na luta partidária, estas

são as características principais de

pedro passos coelho, actual primeiro

ministro de portugal, líder do governo

de coligação pSD/cDS-pp que tomou

posse a 21 de Junho de 2011.

“É zero materialista”, resume o tempe-

ramento do actual primeiro ministro um

dos chamados “barões” do pSD e antigo

ministro, Ângelo correia, considerado

uma espécie de guia espiritual de pas-

sos coelho . “tem ar de lisboeta, mas

alma de transmontano. Não é dado a

luxos, não liga nada a isso”, garante o

patrão da Fomentinvest, a empresa que

passos coelho deixou para derrubar o

então líder do pS, José Sócrates, nas

eleições do passado dia 5 de Junho. ti-

rar portugal do sufoco financeiro através

de um programa ambicioso de conten-

ção dos gastos públicos – “o Estado

deve dar esse exemplo de rigor e con-

tenção para que haja recursos para os

que mais necessitam e o Governo será o

líder desse exemplo…”, sublinhou pas-

sos coelho no discurso de tomada de

posse – é sintomático dessa vontade e

espírito inquebrantáveis, moldadas nas

várias latitudes geográficas que nortea-

ram o destino de vida e que contribuíram

para moldar o seu temperamento.

pedro manuel mamede passos coelho

nasceu em coimbra em 24 de Julho de

1964. os pais eram de trás-os-montes,

família de pequenos industriais de ma-

deira. o seu pai, antónio passos coe-

lho, 84 anos, é médico pneumologista e

foi dirigente do pSD em Vila Real. as-

cendeu aos órgãos nacionais do partido

no tempo de Sá carneiro.

passos coelho cresceu com a irmã

maria teresa e o irmão entre Silva porto

e luanda, onde o pai exercia medicina

antónio passos coelho abandonou a

direcção do sanatório do caramulo e foi

para angola, levando com ele a família:

a mulher e os filhos, teresa, paulino e

pedro. “Em áfrica fui sempre um miú-

do à solta”, conta passos no seu livro

mudar. pedro saía de manhã, almoçava

numa cubata, brincava com os meninos

tuberculosos, lanchava noutra cubata e

ia brincando, até outra família lhe dar

jantar numa outra cubata. assim, com

seis anos, aparecia em casa pelas nove

da noite. Já nessa altura pedro passos

aparentava não ter medo e moldava o

seu espírito nesse convívio multirracial

que se mantém até aos dias de hoje,

Brincar nas cubatas

talvez resquícios desse período da

sua juventude, áfrica continua a ser

marcante na sua vida. logo na noite

das eleições, no rescaldo da vitória nas

urnas, pedro passos coelho lembrou

o papel que portugal pode desempe-

nhar como placa giratória da lusofonia

africana para a Europa. aliás, chegou

mesmo a casar há sete anos, em segun-

das núpcias, com a guineense laura,

fisioterapeuta, natural de Bissau, com

quem teve a sua terceira filha, Júlia,

agora com três anos. Fisioterapeuta,

laura está habituada a passar por cabo-

verdiana porque “as pessoas pensam

que todos os guineenses são pretos

retintos”, sublinha bem humorada. Do

seu anterior casamento, com Fátima

padinha - a Fá das Doce, actual quadro

da REN - passos coelho tinha já duas

filhas, Joana (nascida em 1988) e cata-

rina (em 1993)

passos coelho viveu ainda as vicissitu-

des da chamada “descolonização exem-

plar” que marcou os finais dos anos

setenta e que culminou na debandada ➤

Passos do Destino

Provável consequência das múltiplas vivências africanas do actual primei-

ro-ministro, Passos Coelho acredita no papel fundamental de Portugal como

placa giratória da Lusofonia Africana para a Europa.

eSTADO

Page 41: Diplomática n.º11

41oUtUBRo 2011 - Diplomática •

Page 42: Diplomática n.º11

42 • Diplomática - oUtUBRo 2011

➤ dos portugueses de áfrica. Regressou

a portugal, tendo ido viver com a famí-

lia para Vale de Nogueiras, concelho

de Vila Real, donde o pai é originário.

concluiu o ensino secundário na Escola

Secundária camilo castelo Branco, no

mesmo concelho.

É licenciado em Economia pela Univer-

sidade lusíada de lisboa. iniciou a sua

actividade de consultor na tecnoforma,

em 2000. No ano seguinte, tornou-se co-

laborador da lDN consultores, até 2004.

Dirigiu o Departamento de Formação da

URBE - Núcleos Urbanos de pesquisa e

intervenção, entre 2003 e 2004. Durante

este ano, recebeu o convite de Ângelo

correia para ingressar no Grupo Fomen-

tinvest, onde será director financeiro, até

2006, e administrador executivo, entre

2007 e 2009. Foi também presidente do

conselho de administração das partici-

padas Ribtejo e da Hlc tejo, e até 2010

leccionou no instituto Superior de ciên-

cias Educativas.

a política motivou passos coelho a vir

para lisboa. o objectivo era o estudo

da matemática. mas a JSD tomava-lhe

todo o tempo. Foi secretário-geral desta

estrutura do partido aos 20, e presidente

aos 26. Eleito deputado em 1991, viria

a integrar a comissão política Nacional

(cpN) do pSD de cavaco Silva. muitos

se lembram de o jovem pedro ter fei-

to frente a cavaco Silva, por causa da

política de Educação – vivia-se então a

revolta estudantil motivada pelo aumen-

to das propinas universitárias. Era então

ministra manuela Ferreira leite. pas-

sos coelho teve como secretário-geral

miguel Relvas, que ainda hoje é o seu

braço direito e integra o elenco governa-

mental.

Em maio de 2008 candidatou-se, pela

primeira vez, à presidência do pSD,

propondo uma revisão programática de

orientação neoliberal. Derrotado por

manuela Ferreira leite, fundou com um

conjunto de apoiantes um círculo de

reflexão política denominado “ construir

ideias”. Já em Janeiro de 2010 lançou

o livro "mudar" e assumiu-se, de novo,

candidato às eleições directas de março

desse mesmo ano. Eleito presidente do

pSD a 26 de março de 2010, foi o líder

do maior partido da oposição, viabili-

zando no parlamento três alterações

ao programa de Estabilidade e cres-

cimento (pEc). a recusa de um quarto

pEc, em sintonia com toda a oposição

parlamentar ao partido Socialista, e a

necessidade de portugal recorrer à aju-

da externa (Fmi, Banco central Europeu

e União Europeia) face à incapacidade

autónoma de travar o défice das con-

tas públicas portuguesas levaram o

primeiro-ministro socialista José Sócra-

tes a demitir-se do cargo e obrigaram o

presidente da República, cavaco Silva,

a convocar eleições antecipadas para 5

de Junho de 2011. Foi a oportunidade

esperada por passos coelho de assumir

a liderança política do país.

Cortar a direito

contra ventos e marés, os costumados

«Velhos do Restelo» e… as agências

internacionais de “rating”, coelho lá

vai dando passos firmes, impondo as

suas propostas e ideais. Dentro e fora

do pSD: “corta a direito no partido, às

vezes parece um elefante numa loja

de porcelanas a limpar rente o que lhe

soe a carreirismo, vícios de aparelho”,

sublinham os correligionários políticos,

vendo nessa atitude uma virtude.

por outro lado, alguns comentadores

políticos sustentam que há muito que

portugal precisava de um safanão polí-

tico, de gente nova, de corajosas refor-

mas que o tire do marasmo e do cliente-

lismo em que vive atolado há décadas.

as tarefas do novo Governo foram bem

delineadas no discurso de posse de

passos coelho: estabilizar as finanças,

socorrer os mais necessitados e fazer

crescer a economia e o emprego. tudo

à custa de draconianas medidas de aus-

teridade que afectam todos os estratos

sociais, medidas encaradas pela “troika”

do Fmi e EU como um sinal positivo que

portugal está no caminho certo da recu-

peração económica. ➤

Passos do Destino

Page 43: Diplomática n.º11

43oUtUBRo 2011 - Diplomática •

Quem é quem no actual elenco governativo

Uma coligação PSD/CDS e independentes constitui o elenco de onze

titulares do XIX Governo Constitucional, empossado no passado dia 13 de

Junho pelo Presidente da República, Cavaco Silva. ➤

Page 44: Diplomática n.º11

44 • Diplomática - oUtUBRo 2011

➤ Após o juramento do primeiro-ministro, pedro

passos coelho, assinaram o auto de posse, por

esta ordem hierárquica, o ministro de Estado e das

Finanças, Vítor Gaspar, e o ministro de Estado e

dos Negócios Estrangeiros, paulo portas, finalizan-

do com o secretário de Estado adjunto do primeiro-

ministro, carlos moedas. a redução de ministérios

pretendida pelo novo Governo, tendo em atenção

uma medida preconizada no plano apresentado ao

país de contenção de custos, implicou que alguns

ministros ficassem responsáveis por mais que uma

pasta. miguel Relvas será um desses casos e terá

a seu cargo um superministério.

Relevamos algumas notas biográficas de cada um

dos actuais membros do Governo

Paulo Portas, o ministro dos Negócios Estran-

geiros, regressa ao Governo, tendo assim

oportunidade de mostrar a “habilidade diplomá-

tica” que lhe apontam colaboradores próximos,

numa pasta que tinha sido recusada ao cDS-pp

em 2002. o líder do cDS/pp já tinha desempe-

nhado em anteriores Executivos os cargos de

ministro de Estado e da Defesa Nacional (nos

governos liderados por Durão Barroso e pedro

Santana lopes).

portas aderiu ao cDS-pp em 1995, depois de

ter sido um dos principais conselheiros do antigo

presidente do partido manuel monteiro, que viria

a substituir, no congresso de Braga, em 1998,

depois de ter sido um dos fundadores e director do

polémico semanário “o independente”, entretanto,

encerrado.

Foi presidente do partido durante sete anos, levan-

do o cDS-pp ao poder em 2002 e demitiu-se em

2005, na sequência das legislativas de Fevereiro ➤

Passos do Destino

Page 45: Diplomática n.º11

45oUtUBRo 2011 - Diplomática •

➤ desse ano, nas quais os populares obtiveram

um resultado abaixo das expectativas.

Voltou à liderança do cDS-pp, em 2007, quando

derrotou o ex-líder Ribeiro e castro. Foi reeleito

por duas vezes, em 2009 e em 2011, com mais de

95 por cento dos votos e sem qualquer adversário,

em eleições directas. Exceptuando as intercalares

de lisboa em 2007, nas quais sofreu uma pesada

derrota, o cDS-pp conseguiu manter ou reforçar

os resultados eleitorais nas regionais, europeias e

legislativas.

católico praticante e amante de cinema, portas

começou na política na JSD, da qual se afastou

com a morte de Francisco Sá carneiro.

Vítor Gaspar, transitou do cargo director do

Gabinete de conselheiros da União Europeia

(BEpa), que ocupava desde 2007, para o

ministério das Finanças. Entre 1998 e 2004 foi

director do centro de Estudos do Banco central

Europeu. No currículo lê-se ainda que foi con-

selheiro e director do Departamento de Estudos

Económicos do Banco de portugal. Gaspar foi

o representante do ministro das Finanças de

cavaco Silva, Braga de macedo, na conferência

intergovernamental que negociou o tratado de

maastricht, em 1992.terá a difícil tarefa de pôr

as finanças do país em ordem de acordo com as

medidas propostas pela troika do Fmi, EU e Ban-

co central Europeu.para já, na primeira reunião

do Eurogrupo em que participou, num discurso

de 180 segundos, impressionou os seus pares

pela forma clara como apresentou as reformas

em curso para controlar o défice público e estabi-

lizar a situação financeira, evitando os riscos de

contágio à Zona Euro. ➤

Page 46: Diplomática n.º11

46 • Diplomática - oUtUBRo 2011

➤ Miguel Relvas, ex-secretário-geral do pSD, é o

ministro dos assuntos parlamentares do Gover-

no de pedro passos coelho, mas terá também

outras responsabilidades, abarcando aquilo que se

poderá chamar um superministério. além dos as-

suntos parlamentares, miguel Relvas ainda terá a

responsabilidade da Reforma administrativa e de

tutelar a pasta da Juventude e Desporto. É um dos

homens de confiança de pedro passos coelho,

seu amigo pessoal de longa data, desde a estru-

tura da Juventude Social Democrata onde ambos

começaram a sua ascensão política. Relvas ficará

assim, não apenas com a responsabilidade da

coordenação política entre o Governo e os parti-

dos com assento parlamentar, mas também com

um dos principais desafios dos próximos anos:

a reforma administrativa, que passa pela reorga-

nização política do aparelho do Estado central e

local, com destaque para o mapa autárquico e a

fusão e extinção de municípios prevista no memo-

rando assinado com a troika. Foi secretário-geral

da Juventude Social Democrata, de 1987 a 1989,

deputado à assembleia da República, entre 1991

e 2009, presidente da assembleia municipal de

tomar, entre 1997 e 2009, presidente da Região

de turismo dos templários, entre 2001 e 2002,

secretário de Estado da administração local de

Durão Barroso.

Alvaro Santos Pereira veio do canadá para

ocupar a pasta da Economia e obras públicas do

governo de passos coelho. É docente na Simon

Fraser University e professor visitante na Univer-

sity of British columbia. Entre 2004 e 2007, foi

docente no departamento de Economia da Univer-

sidade de York, onde leccionou Economia Euro-

peia e Desenvolvimento Económico. Entre 2000

e 2004, ensinou no departamento de Economia

da University of British columbia. licenciou-se em

economia pela Universidade de coimbra. Douto-

rou-se em Economia pela Simon Fraser University,

em Vancouver.

Nuno Crato, o matemático de 52 anos que deu

protagonismo à ciência exacta e se distinguiu pela

sua divulgação, é o novo ministro da Educação.

professor catedrático e pró-reitor da Universidade

técnica de lisboa (Utl), começou por dar aulas

no ensino secundário. Viveu em lisboa, nos aço-

res e nos Estados Unidos da américa, onde fez

o doutoramento em matemática aplicada (1992),

depois do mestrado em métodos matemáticos

para Gestão de Empresas (1987), na capital por-

tuguesa.Foi também em lisboa que se licenciou

em Economia (1980/81), no instituto Superior de

Economia.

É autor de um vasto conjunto de publicações,

entre artigos em revistas científicas e livros que

tornaram a matemática acessível a todos e o po-

pularizaram entre os mais jovens.

para essa popularidade contribuiu também o

cargo de presidente da Sociedade portuguesa de

matemática (Spm), que ocupou desde 2004 e que

deixou para miguel abreu, nas últimas eleições,

após assumir funções de administrador do tagus-

park, no ano passado.

Em 2008, foi condecorado pelo presidente da

República com a comenda da ordem do infante

Dom Henrique.

a União Europeia atribuiu-lhe, no mesmo ano, um

prémio de comunicador científico do ano.

crítico da educação em portugal, defendeu nas

várias entrevistas que deu a necessidade de medi-

das urgentes no ensino da matemática, sugerindo

alterações na estrutura do ministério da Educação,

como a extinção do gabinete responsável pelos

exames e pelas estatísticas, que quer ver entre-

gues a uma entidade independente.

Miguel Macedo, ministro da administração

interna, tem 52 anos e liderou no parlamento,

durante o último ano, a oposição ao Governo do

pS. Nasceu em Braga no dia 6 de maio de 1959, é

licenciado em Direito e advogado.

Depois de pedro passos coelho ter sido eleito

presidente dos sociais-democratas, em março de

2010, miguel macedo foi escolhido para presidir

ao grupo parlamentar do pSD e nas legislativas

de 5 de Junho encabeçou a lista do partido no

círculo de Braga. Nessa qualidade, foi o deputado

social democrata que justificou no parlamento o

chumbo do pSD ao programa de Estabilidade e

crescimento (pEc), que levaria à demissão do

primeiro-ministro, José Sócrates, e à realização de

eleições antecipadas, sustentando a necessidade

de “uma clarificação política” para “o país poder

vir a contar com um Governo de maioria alargada”

e “repor o respeito e a credibilidade abaladas de

um primeiro-ministro que comprometeu o país em

Bruxelas” com medidas de austeridade “sem res-

peitar o presidente da República e sem consultar

a assembleia da República”. ➤

Passos do Destino

Page 47: Diplomática n.º11

47oUtUBRo 2011 - Diplomática •

➤ antes de ser líder parlamentar do pSD, miguel

macedo fez parte da direcção social-democrata de

marques mendes, ocupando o cargo de secretá-

rio-geral, e teve três experiências governativas.

militante social-democrata desde jovem, miguel

macedo foi dirigente da JSD e a sua primeira

experiência governativa aconteceu no primeiro

Governo de maioria absoluta de cavaco Silva,

como secretário de Estado da Juventude do minis-

tro couto dos Santos, entre 1990 e 1991.integrou

depois, entre 2002 e 2005, os governos de coliga-

ção pSD/cDS-pp de Durão Barroso e de pedro

Santana lopes, como secretário de Estado da

Justiça, trabalhando nessas funções com os minis-

tros celeste cardona e José pedro aguiar-Branco,

seu antecessor na liderança parlamentar do pSD.

Aguiar Branco regressa ao Governo, agora na

pasta da Defesa, seis anos depois de ter sido

ministro da Justiça no governo de pedro Santana

lopes. Nascido no porto a 18 de julho de 1957, é

licenciado em Direito pela Universidade de coim-

bra. conta com um extenso percurso político no

pSD, que iniciou na JSD na década de 70.chega

ao Governo de passos coelho depois da corrida

às legislativas de 5 de Junho como cabeça de lista

pelo porto – pela terceira vez consecutiva, depois

das eleições de 2005 e de 2009 – nas quais o

pSD venceu também no distrito, com a eleição

de 17 deputados, com 39,14 por cento dos votos,

contra os 12 de 2009 (onde os sociais democra-

tas ficaram atrás do pS e conseguiram 29,14 por

cento dos votos).

casado e com cinco filhos, o então líder da ban-

cada parlamentar do pSD – apoiante de manuela

Ferreira leite, assumiu o cargo na sequência da

vitória, em 2008, da ex-líder do partido nas elei-

ções internas – apresentou formalmente a sua

candidatura à liderança laranja a 19 de fevereiro

de 2010.apresentando-se então como o candidato

a presidente da comissão política Nacional do

pSD, que se propunha a “unir” no pós-eleições, o

advogado do porto manteve o sentimento em ➤

Page 48: Diplomática n.º11

48 • Diplomática - oUtUBRo 2011

➤ torno de passos coelho, tendo abandonado a

liderança da bancada parlamentar – para no seu

lugar se sentar miguel macedo – mantendo as

suas funções de deputado.

aguiar-Branco foi então convidado por passos

coelho para coordenar a comissão de revisão do

programa do pSD – o GENEpSD.

aguiar Branco integrou o conselho Nacional

social-democrata entre 1982 e 1984 e entre 1988

e 1990 ,e as comissões de honra das candidatu-

ras de cavaco Silva à presidência da República

(1995) e de Rui Rio à câmara do porto (2001).

Maria da Assunção Cristas é a responsável pela

pasta da agricultura, pescas e ambiente. Nas-

ceu em luanda em 1974 e é jurista e professora

tendo-se licenciado em Direito, na Faculdade

de Direito da Universidade de lisboa, em 1997.

admitida na ordem dos advogados, em 1999, foi

assessora da ministra da Justiça do XV Governo

constitucional, em 2002, e assumiu a direcção do

Gabinete de política legislativa e planeamento,

até 2005. Em 2004 tornou-se professora convida-

da na Faculdade de Direito da Universidade Nova

de lisboa.militante do cDS, foi eleita deputada à

assembleia da República, pelo círculo de leiria,

em 2009.

Paula Teixeira da Cruz, ministra da Justiça,

nasceu em luanda em 1960 e é advogada. Es-

tudou no liceu padre antónio Vieira, em lisboa

e licenciou-se em Direito, na Universidade livre

de lisboa, em 1983. militante do partido Social

Democrata, desde 1995, exerceu funções na

câmara municipal de lisboa, como vereadora

(1998-2002) e presidente da assembleia munici-

pal (2005-2009). É vice-presidente da comissão

política Nacional do pSD, na direcção de pedro

passos coelho, desde 2010, e exerceu as mes-

mas funções na direcção de luís marques men-

des (2005-2006).

Pedro Mota Soares, advogado de 37 anos, é o

actual ministro da Solidariedade e da Segurança

Social. Foi um dos jovens ‘quadros’ democratas-

cristãos oriundos da Juventude centrista/Gera-

ções populares, contando já com cerca de 10

anos na assembleia da República como depu-

tado. Nascido pouco mais de um mês depois do

25 de abril (29 de maio de 1974), mota Soares é

casado e pai de dois filhos, mas não abdicou da

sua pequena piaggio Vespa conduzindo-a até ao

local onde tomou posse do cargo. pós-graduado

em Direito do trabalho e assistente universitário

na Faculdade de Direito da Universidade lusófo-

na de Humanidades e tecnologias, desempenhou

também dois mandatos à frente da juventude

partidária dos populares entre 1996 e 1999.Entre

2002 e 2005 foi eleito para o cargo de secretário-

geral do cDS-pp, já depois de ter começado

a vida parlamentar, na Viii legislatura, entre

1999-2002.Nas suas passagens por São Bento,

contabilizando ainda o período entre 2005 e 2011,

mota Soares participou nos trabalhos de diversas

das comissões parlamentares em variadas áreas

como a Saúde e toxicodependência ou o tra-

balho e Segurança Social..a comissão Eventual

de Revisão constitucional e o Grupo de trabalho

da Reforma do parlamento também contaram

ao longo da última década com o contributo de

mota Soares.o actual vice-presidente do cDS-pp

coordenou igualmente a comissão do trabalho,

Segurança Social e administração pública e foi

vice-presidente da comissão de Ética, Sociedade

e cultura.

Paulo Macedo, antigo Director-Geral dos impos-

tos e ex-administrador da medis, é novo ministro

da Saúde. licenciado em organização e Gestão

de Empresas e pós-graduado em Gestão Fiscal,

foi pela mão de manuela Ferreira leite que che-

gou à Direcção Geral dos impostos (DGci) em

2004. pelo seu trabalho neste organismo, onde

se manteve até 2007, é apontando como um

dos maiores responsáveis pela modernização e

informatização da máquina fiscal.Natural de lis-

boa, onde nasceu a 14 de Julho de 1963, paulo

macedo é actualmente vice-presidente do con-

selho de administração executivo do millennium

Bcp. Fora do grupo ocupa o cargo de vogal do

Supervisory Board da Euronext, NV, é vice-presi-

dente da comissão executiva do agrupamento de

alumni da aESE - associação de Estudos Supe-

riores de Empresa e ainda membro do conselho

da escola do instituto Superior de Economia e

Gestão.Entre 2001 e 2004 foi administrador da

companhia portuguesa de Seguros de Saúde,

S.a. (médis). ao longo da sua vida profissional

passou ainda pelo Banco comercial português

(entre 1993 a 1998 e mais recentemente entre

2007 e 2008, altura em que ocupou o lugar de

director-geral desta instituição). n

Passos do Destino

Page 49: Diplomática n.º11

49OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •

Vassilios Costis - Embaixador da Grécia

Espaço diplomático

A Diplomacia, sendo a «arte da gestão das relações

externas», caracteriza-se pela evolução intemporal e a

contribuição decisiva no que diz respeito à formação da

realidade contemporânea. Seu objectivo principal é o

desenvolvimento económico e social, bem como a con-

solidação e preservação da paz a nível mundial. conse-

quentemente, a Diplomacia visa a colaboração entre os

países, o combate conjunto dos problemas mundiais, a

promoção da cultura e o percurso criativo das nações.

portanto, neste contexto, deveria salientar-se a necessi-

dade do exercício da Diplomacia preventiva e a tomada

de iniciativas para que as divergências nacionais não

resultem em crises sérias ou até mesmo incidentes

graves. Nomeadamente, uma Diplomacia militar activa

pode contribuir para a consolidação do respeito para

com os princípios da segurança política e nacional e

as convenções internacionais e, consequentemente, a

estabilidade, bem como a democracia. além disso, de-

sempenha um papel importante na política de prevenção

para a redução das armas de destruição massiva, sem

desvalorizar a eficácia das Forças armadas dos países.

assim, cria-se um espírito de solidariedade colectiva

e de autonomia sem que os interesses nacionais dos

países sejam esquecidos. logo, sob estas condições, a

protecção dos direitos humanos, a coesão e a paz são

considerados dados adquiridos.

É, também, óbvio que a diplomacia económica, através

não só das relações bilaterais mas também da tentativa

de aplicação de uma política económica, visa resolver os

perigos de natureza financeira de todos os países, me-

lhorar a competitividade internacional das suas empre-

sas e criar um novo âmbito de competitividade referente

à modernização das infra-estruturas estatais, à expan-

são do comércio e do investimento em todo o mundo,

bem como à reformulação dos serviços internacionais.

portanto, é óbvio que a colaboração entre os vários

países, no âmbito de uma concorrência saudável com

a organização, ainda mais, de conselhos económicos

internacionais, reforça a extroversão e o poder económi-

co dos países.

além disso, com a constituição de Organismos e co-

missões internacionais ou associações supranacionais

e a assinatura das respectivas convenções, está a ser

planeada e aplicada uma política social com vista ao

melhoramento das condições de vida, à concessão de

ajuda humanitária e ao cumprimento dos princípios da

protecção civil e da justiça, especialmente nos países

em desenvolvimento ou nos do Terceiro mundo. Fi-

nalmente, a diplomacia deve desempenhar um papel

dinâmico na expansão adicional das relações interna-

cionais em assuntos que dizem respeito à investigação,

educação, saúde, ambiente e tecnologia para que estes

melhorem em termos qualitativos. por exemplo, é parti-

cularmente importante para a comunidade internacional

a promoção do crescimento verde, visto uma das suas

vantagens, para além da protecção do ambiente, ser

a criação de novos postos de trabalho, a produção de

matérias-primas energéticas e a troca do “know-how”

entre os países.

por conseguinte, o sistema diplomático universal é

chamado a desempenhar vários papéis complicados,

com o objectivo mais longínquo de assegurar a paz e o

crescimento económico e social de todos os países. a

recolha, a avaliação e a valorização correcta da informa-

ção, as negociações, a consistência, o diálogo e a acção

imediata constituem os elementos de uma administração

eficaz da política de diplomacia, que pode mudar radical-

mente a vida das pessoas, eliminar os pontos fracos do

mundo tradicional e moderno e constituir o suporte para

a evolução das comunidades internacionais. ■

Aplicação de uma política económica

Page 50: Diplomática n.º11

50 • DiplOmáTica - OUTUBRO 2011

Bernarda Gradišnik - Embaixadora da Eslovénia

A Toast to Slovenia for its Coming of Age

Espaço diplomático

Republic Slovenia ceased to be a teenager on June the

25th, 2011.

Twenty years might not seem a long period to some,

but in this precariously shifting world of today two deca-

des are what a century used to be in a kingdom of old.

So many thing s happened to Slovenians after 1991:

we joined all the major international organizations and

finally, in 2004, the EU and NaTO.

We also presided different organizations (OScE, EU,

cE), starting with the Security council in 1999.

in 2007 we joined the Eurozone.

and last year Slovenia has become a member of the

OEcD.

maybe we Slovenians as a nation are not old enough to

reach the wisdom of the old age, but we are thankfully

small enough to stay away from hubris of global politics.

We know we aren’t big enough to be everywhere and to

reach everyone. (G.K. chesterton once said that it was

smallness and not greatness of one’s nation that a true

patriot should be proud of, and we Slovenians agree.)

That’s why Slovenia has been trying to define niches

where we can be of use.

in matters of peace and security Slovenia emphasizes

the role of preventive diplomacy and peace building. We

try to do our share in fields of disarmament and de-mi-

ning, of conflict-prevention, of protection of civilians and

of human rights. We fully support the work of peace-

building commission.

So far more than 5000 Slovenes have participated in

peacekeeping operations and missions all over the

world, from afghanistan, middle East, Somalia, chad to

the neighboring Kosovo and BiH.

We believe that recent history-in-making in Northern

africa and middle East has been transforming the

political situation and represents an opportunity to start

creating prosperous societies based on respect of

human rights, democracy and cultural traditions. That’s

why we have joined the international efforts to alleviate

the humanitarian crisis in libya through the allocation of

funds and delivery of medicines.

We are also chipping in to concepts and solutions of

sustainable development. We are committed to a timely

realization of the millennium Development Goals, con-

vinced that the right to development is a fundamental

right of all humans and countries. Here, let me mention

the Green Group, initiated by Slovenia, that has united

capo Verde, costa Rica, iceland, Singapore, and the

United arab Emirates in their efforts to promote environ-

mental themes within international relations (underlining

the important link between climate change and water as

well as promoting improved water management).

We believe that contemporary foreign policy cannot be

anything but a global one, for all the challenges we are

facing are global ones. The globalness has been amply

demonstrated by the butterfly effect that, in the era of

social networks, an individual initiative can set forth. a

man gets humiliated by a police officer in one country

and decides he has had enough, another man in ano-

ther country loves Facebook and decides to use it for

spreading his political views; this two decisions have set

off the avalanche of political change in the middle East,

for instance.

Right now, our most important foreign policy priority is

our candidacy for the non-permanent seat in the Securi-

ty council for the years 2012/2013. We honestly believe

that the importance of such positions is shifting from

the titular to the factual. The way itself of getting there

is becoming more and more important. But on this way

into the global world we mustn’t by any means forget

our origins, our courtyard, our neighbors.

There is a speech in Brothers Karamazov that goes like ➤

Page 51: Diplomática n.º11

51OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •

➤ this: »in my dreams, i often make plans for the service

of humanity, and perhaps i might actually face crucifi-

xion if it were suddenly necessary. Yet i am incapable

of living in the vicinity of anyone for two days together«.

Sometimes big concepts and words are not so impor-

tant as small but concrete steps that we have to take in

our small corner of the world.

How do we cope with »men in our vicinity« – or, to put it

more precisely, with our neighbors across the border –

italy, austria, Hungary, croatia?

i think i may state that we have pretty much overcome

the impulses described by Dostoyevsky. We are active-

ly seeking to resolve the problems with our neighbors

that arise from our joint past history within the cauldron

of the Balkans. if there are still some problems we try

to resolve them, or, if they cannot be resolved due to

differing points of view, make them unobtrusive in view

of other, wider common interests and joint ventures

being taken.

i may say that our relations with our neighbors have

never been so peaceful and fruitful as today. it is espe-

cially helpful to have in our constitution safety-catches

providing that citizens of Slovenia belonging to some

neighboring ethnic groups have guaranteed special ri-

ghts, (such as, for instance, the right to use their native

language in cases of speakers of Hungarian or italian)

officially within their respective regions.

Based on Slovenia’s experiences in the Western

Balkans (our imminent neighborhood), we can see that

humanitarian efforts like demining (carried out by the

iTF; international Trust Fund for Demining and mine

Victims assistance, established by the Government of

the Republic of Slovenia in march 1998 with the aim of

helping Bosnia and Herzegovina in its mine clearance

and mine victim assistance efforts. Since its establish-

ment, iTF has expanded its activities throughout the

region of South Eastern Europe.) can offer the politi-

cally and ethnically alienated and divided partners a

technical platform for a dialogue which can significantly

contribute to future cooperation.

By knitting, in form of such initiatives, a net and friendly

neighborly relations as well as of international partner-

ships we are helping create a globalized commonwealth

where even the smallest members can participate ac-

tively and with honors. Hopefully, this net would prove

to be able and willing to cope with global problems of,

predominantly, pollution, sustainability of resources,

and peace.

a special part of this network that i personally have to

work on pertains to cooperation between Slovenia and

portugal.

The ties between the two countries that didn’t use to

have much in common have lately started to get stron-

ger, specially due to their successive presidencies of

the EU a few years ago.

my primary concern here is about economic coopera-

tion.

Slovenia has been represented in portugal by three

companies – not much but a solid starting point.

One is Krka, a generic pharmaceutical firm.

The other one is Hidria, dealing in state-of-the-art air-

conditioning technology.

The third one is Bridge partner established privately

but with exclusive intent to bridge the gap between the

nations.

Hopefully in the future there will be more companies

present on the portuguese market as well as portu-

guese companies on the Slovenian one. This aim is to

be my basic preoccupation in the next three and a half

years.

also, the cultural cooperation has been getting stronger

as well.

We are looking forward into 2012 when the Slovenian

city of maribor is going to be, together with portuguese

Guimarães, the cultural capital of Europe.

***

Times are not easy, not for anyone. On and on, every

European nation have been receiving wake-up calls – in

economy, in conservation of Nature, in political realities.

But we shouldn’t allow our worries to make us forget

what nations of Europe were dreaming about when they

were young and full of hope and promise.

let’s raise our glasses to toast the fledgling Slovenia.

let’s summon the spirit of our national anthem the lyrics

for which were (in a shape of a cup) written by our na-

tional poet France prešeren in 1844. ■

My friends, this is the hour

Of sweet new wine that once again

Makes eyes bright, hearts recover,

Puts fire in a feeble vein,

And everywhere

Drowns dull despair

With hopes weren’t used to be just care.

God blessings to every nation

Who strives and long for a happy day

When wars will be past ancient,

Forgotten, gone away –

Who yearns to see

All peoples free

And foes no more, just neighborly.

Page 52: Diplomática n.º11

52 • DiplOmáTica - OUTUBRO 2011

Allan J. Katz - Embaixador dos EUA

A relação entre os Estados Unidos e portugal data de

há mais de 200 anos � um número que pode parecer

apenas o tempo de um piscar de olhos para europeus,

mas que engloba, quase na totalidade, a história da

nossa ainda jovem nação.

após a Revolução americana, portugal foi um dos

primeiros países a reconhecer a independência dos

Estados Unidos. O nosso primeiro presidente, George

Washington, estabeleceu relações diplomáticas for-

mais com portugal ao nomear David Humphreys como

o nosso primeiro Embaixador.

muitos outros homens – e uma mulher – represen-

taram os Estados Unidos em portugal ao longo dos

últimos dois séculos, uma lista à qual tive o privilégio

de me juntar, em abril de 2010, quando cheguei à Em-

baixada em lisboa. Enquanto chefe de missão, tenho

também sob a minha alçada o consulado americano

nos açores, que é o mais antigo consulado americano

em funções no mundo e que representa os nossos

interesses desde 1795.

mas não são apenas os laços diplomáticos que unem

os nossos dois países. Quase dois milhões de luso-

americanos fazem parte da sociedade americana.

imigrantes que se estabeleceram em massachusetts,

EUA e Portugal: Uma Aliança Diplomática Duradoura

Nova Jérsia, Nova iorque e Rhode island, assim como

na califórnia e no Havai, trouxeram com eles, não ape-

nas o som da língua portuguesa, mas também o gosto

do pastel de nata e do bacalhau. a comida e a cultura

de portugal fazem parte da diversidade dos Estados

Unidos.

como Embaixador americano, estou empenhado em

fortalecer a nossa relação assegurando que trabalha-

mos juntos em temas comuns e que, nas raras ocasi-

ões em que discordamos, nos ouvimos mutuamente

como amigos que somos, tentando sempre encontrar

um meio-termo.

Um dos importantes instrumentos de colaboração

entre as nossas duas nações é o acordo de coopera-

ção e Defesa, que os nossos governos assinaram em

1995. Esse acordo estabeleceu a comissão Bilateral

permanente EUa-portugal, que reúne oficiais ameri-

canos e portugueses duas vezes por ano para discutir

formas de melhorar a nossa colaboração.

Quando, em Julho de 2010, participei na minha primei-

ra reunião da comissão Bilateral, constatei que tínha-

mos obtido vários sucessos através desta comissão,

incluindo a resolução de assuntos relacionados com

a presença da Força aérea americana na Base das

lajes e na ilha Terceira, nos açores.

Tendo em conta esses sucessos, decidimos reestru-

turar a comissão Bilateral de modo a torná-la mais

relevante e a ampliar o alcance dos assuntos que

abordará. a reunião do passado maio em Washington

foi o primeiro passo neste sentido e a nossa reunião,

este Outono, em lisboa irá, mais uma vez, permitir aos

nossos países abordar questões ligadas à cooperação

bilateral em áreas como segurança e pesquisa ➤

Um dos importantes instrumentos de

colaboração entre as nossas duas nações

é o Acordo de Cooperação e Defesa, que os

nossos governos assinaram em 1995.

Espaço diplomático

Page 53: Diplomática n.º11

53OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •

➤ ambiental; comércio e promoção de investimento; e

justiça.

Um dos problemas mais importantes que enfrentamos

hoje em dia, é, obviamente, o abrandamento económi-

co global e os desafios que esse fenómeno acarreta

para as nossas economias. Os portugueses, tal como

os americanos, estão a enfrentar tempos difíceis. pais

dos dois lados do atlântico estão preocupados com a

possibilidade de perderem os seus empregos, enquan-

to os seus filhos se perguntam se as suas esperanças

e sonhos se irão evaporar.

Um raio de sol que atravessa esta nuvem negra é a

inovação, um conceito muito familiar para portugueses

e americanos, e que irá ajudar-nos a garantir um futuro

melhor.

Nos Estados Unidos, o presidente Obama está a ten-

tar encorajar a inovação ao aumentar o financiamento

em áreas como pesquisa biomédica, tecnologias de

informação e energia limpa. E portugal, através do seu

investimento em educação, pesquisa e desenvolvi-

mento apoiado pela Fundação para a ciência e Tecno-

logia, está a fazer um percurso semelhante.

Os aerogeradores que avistamos no topo de incon-

táveis colinas em portugal são um símbolo omnipre-

sente de como a inovação numa área específica – as

energias renováveis – já está a dar frutos. O papel

de liderança que portugal assumiu neste sector pode

servir de exemplo aos americanos.

Nos Estados Unidos, um dos maiores desafios que

enfrentamos é tentar reverter a nossa dependência de

petróleo importado. como parte desse esforço, o pre-

sidente Obama estabeleceu o objectivo de colocar um

milhão de carros eléctricos nas estradas até 2015.

É com orgulho que digo que a indústria automóvel

americana criou o carro eléctrico mais desenvolvido do

mundo. Esta inovação começa agora a ser exportada

para o resto do mundo. portugal, por seu lado, deu

passos significativos para encorajar a utilização de

carros eléctricos, ao desenvolver uma rede nacional

de carregamento de veículos eléctricos. O governo

açoriano lançou também o seu próprio programa para

promover a utilização de carros eléctricos e estamos a

trabalhar estreitamente com as instituições locais para

encorajar o uso de tecnologia americana.

para além de colaborarmos em áreas como a ciência

e a tecnologia, continuamos a colaborar com os nos-

sos parceiros, inclusivamente com portugal, na área

da segurança nacional para assegurar que os nossos

princípios e modo de vida não são postos em causa.

O ponto mais óbvio de cooperação para a segurança

entre os nossos dois países é o afeganistão onde,

como membros da NaTO, as nossas tropas trabalham

lado a lado para garantir a segurança e apoiar o de-

senvolvimento. Não obstante, a cooperação internacio-

nal para a segurança vai muito além do afeganistão e

abrange áreas igualmente criticas para a protecção de

cidadãos americanos e portugueses.

O mundo enfrenta hoje ameaças transnacionais que

são transversais a diversos países e sistemas legais.

a ameaça do terrorismo internacional compele-nos a

estarmos vigilantes. Temos que cooperar a todos os

níveis. Já testemunhámos como terroristas e crimino-

sos de um país podem estabelecer-se noutro país para

operar num terceiro país. O crime transnacional é um

facto incontornável nos dias de hoje.

Este ano assinalamos o 10º aniversário dos ataques

de 11 de Setembro, um evento que mudou irreversivel-

mente o modo como vemos o mundo e que nos levou

a implementar medidas para garantir que a tragédia

não se repetirá. muitos foram os resultados alcançados

ao longo da última década e há razões para estarmos

optimistas com os acontecimentos recentes no Egip-

to, na Tunísia e noutros países da região que podem

sinalizar o início de um novo capítulo, mais positivo, na

história mundial. mas não podemos fechar os olhos às

ameaças reais que pendem sobre os Estados Unidos e

a Europa.

Os Estados Unidos e os seus aliados europeus, entre

os quais portugal, têm trabalho em conjunto para esta-

belecer mecanismos formais de partilha de informação

que podem ser cruciais para prevenir o terrorismo e

outros crimes graves. ao fazê-lo, é fundamental res-

peitar a privacidade e os direitos dos nossos cidadãos.

a natureza elementar da privacidade está imbuída na

constituição americana e é protegida por inúmeras

leis e regulamentos. Tendo em conta as ameaças

que o mundo hoje enfrenta, trabalharmos juntos para

partilhar a informação necessária é fundamental, mas

iremos fazê-lo de forma a conseguir um equilíbrio entre

proteger vidas e proteger a privacidade.

O respeito pelos direitos dos indivíduos é apenas um

dos muitos valores partilhados pelos povos dos Esta-

dos Unidos e de portugal. Estes valores constituem

a base da nossa longa história de cooperação em

inúmeras áreas. Somos parceiros na NaTO há mais de

60 anos e somos amigos há muito mais tempo.

O futuro da relação transatlântica é luminoso, não só

pelas ideias e projectos em que estamos a trabalhar

hoje, mas porque há diplomatas disponíveis e capazes

nos Estados Unidos e em portugal para fortalecer a

nossa relação a partir da fundação que foi estabelecida

há mais de 200 anos. ■

Page 54: Diplomática n.º11

54 • DiplOmáTica - OUTUBRO 2011

As the first ambassador of Georgia in the portu-

guese Republic, i am greatly honored to extend my

warmest greetings to the Government and people of

portugal, as well as to the Diplomatic corps accre-

dited in the country. it is truly a pleasure to serve

in one of the oldest and most beautiful European

states with very hospitable people, eye-catching

nature, and impressive history.

located on the Black Sea shore, serving as the

trade route and the crossroads of Europe and asia,

and linking both with the middle East, Georgia had

always been a significant commerce hub and a

center of great economic and cultural exchange be-

tween various great civilizations. as one of the first

christian nations and centers of science and edu-

cation, some consider Georgia to be the inception

point of the grand European Renaissance, which

has commenced in my country back in the 12th cen-

tury a.D. as a nation of culture and trade, Georgia

had maintained for centuries very close relations

with Europe, asia and the middle East regions.

it is widely known that Georgia and portugal have

enjoyed close historical ties throughout the centu-

ries. Thereby it is not surprising to find the martyr-

dom scene of one of the greatest Georgian Queens,

Saint Ketevan, on the traditional portuguese tiles

currently kept in lisbon’s igreja da Graca. Unfortu-

nately, a tragic chain of historic events temporarily

distanced my ancient country of the colchis civiliza-

tion and Golden Fleece from the European realm,

where it rightfully belongs. However, today we are

going back to our European roots, restoring our

European ties and close historic and cultural bonds,

and rediscovering Europe and specifically portugal.

Our two countries currently enjoy friendly and cons-

tructive relations through the productive and cons-

tantly enhancing cooperation both in bilateral and

multilateral formats. We strongly believe that there

always is an opportunity to strengthen and deepen

relations of Georgia with portugal through a pletho-

ra of significant initiatives in all spheres of mutual

collaboration, and especially in boosting our cultural

and economic ties.

as you are aware, with the advent of the Rose

Revolution of 2003 in Georgia, our Government has

commenced the process of successful reformation.

positive transformations in governance and eco-

nomy made Georgia a very attractive country for fo-

reign investors. as a result, various world renowned

international agencies have ranked Georgia ➤

Giorgi Gorgiladze - Embaixador da Georgia

Returning to our european Roots

Espaço diplomático

Page 55: Diplomática n.º11

55OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •

➤ among the world’s leaders in various fields. For

example, Doing Business 2011 report placed Ge-

orgia the 12th in terms of Ease of Doing Business,

and named my country the top reformer among 174

nations over the last 5 years. moreover, among the

other accredited international watchdogs, Transpa-

rency international named Georgia the top country

in the post-Soviet space - except for Baltic States -

as the top fighter with corruption. Furthermore, the

Global corruption Barometer 2010, ranked Georgia

the 1st in the world in terms of reducing the level of

corruption in the country, while placing my country

the 5th in the world for the low level of corruption in

the police.

We have concentrated not only on democratic

transformation, but also on the advancement of

economy. We have also enhanced our trade rela-

tions with the EU and other parts of the world, and

currently enjoy either visa-free or simplified-visa

regimes with most of the countries, including the

EU member states.

We have substantially improved our transport in-

frastructure, and established free industrial zones

in the port-city of poti, as well as free tourist zones

in Kobuleti and anaklia-Zugdidi. We have bolste-

red our touristic potential with more than 2 million

international travelers visiting Georgia in 2010, and

this year we expect a higher number of tourists to

visit Georgia’s beautiful azure seaside, stunning

mountainous resorts, as well as ancient historic

and cultural sites.

largely due to its lucrative geopolitical and geo-

strategic location as the shortest route linking Euro-

pean and asian markets, Georgia has always stood

ready to partake in various energy and transport

projects of all magnitudes. currently, my country is

actively involved in several very successful projects

linked to the South caucasus energy corridor, such

as the Baku-Tbilisi-Supsa oil pipeline, Baku-Tbilisi-

ceyhan oil pipeline, Baku-Tbilisi-Erzurum gas

pipeline. moreover, Georgia is an integral part of all

transit projects to be implemented within the fra-

mes of the Southern corridor, such as NaBUccO,

the azerbaijan-Georgia-Romania-Hungary (aGRi)

interconnector, Trans Black Sea links, the Euro-

asian Oil Transportation corridor, as well as the

cNG and lNG projects. Furthermore, Georgia is a

part of a high capacity Baku-Tbilisi-Kars regional

railway project, which improves safety of transpor-

tation.

By virtue of active transformation through reforma-

tion, Georgia economic standing had been impro-

ving on an annual basis. Despite the harsh global

financial crisis coupled with the brutal Russian

military aggression in august 2008 and subsequent

ethnic cleansing - which left 20% of the country’s

territory occupied and hundreds of thousands of

Georgian iDps homeless and fleeing for their lives

- Georgia had remarkably managed to maintain a

substantial economic profile. as a result, in 2010

the GDp of the country rose to $11.7 billion, and

the real GDp growth accounted to 6.4%.

currently, i believe we have a historic opportuni-

ty to enhance our economic cooperation with the

portuguese Republic. certainly, the opening of the

Georgian Embassy in the friendly portugal in 2010

serves as a vivid example of our willingness and

interest to boost cooperation with the portuguese

State and the portuguese-speaking world in ➤

As you are aware, with the advent of

the Rose Revolution of 2003 in Georgia,

our Government has commenced the

process of successful reformation.

Page 56: Diplomática n.º11

56 • DiplOmáTica - OUTUBRO 2011

➤ general. popularizing our culture in portugal and

vice versa is one of our priorities. in this respect,

we plan in the near future to open a center of portu-

guese language and culture in Georgia. and cer-

tainly, we are very interested in cooperating closely

with the member states of the community of portu-

guese language countries.

While domestically reorganizing our domestic ins-

titutions and pushing for more democracy, gover-

nment responsibility, and economic liberalization,

Georgia has become highly determined to accede

to the European and Euro-atlantic community, as

we strongly believe that, sharing common values,

we belong in the realm of democracy and freedom.

as one of the most ancient European nations, ours

is not the attempt to become European. We strive

to get back to where we belong. and while we tread

this difficult road leading to Europe, we certainly

rely on the strong and active support of portugal.

i believe that the plea of the greatest portuguese

poet of the 16th century, luis Vaz de camoes, utte-

red in his magnum opus “Os lusiadas” and addres-

sed to the European leaders of his time to assist

the suppressed European nations, and Georgia in

particular, has not lost its power even today.

i am strongly convinced that it is high time for the

Georgian and portuguese nations to rediscover

each other, and to never let go of each other again. ■

Espaço diplomático

Region of Geogia and it's capital Tbilisi

Page 57: Diplomática n.º11

57OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •

Agricultura e interior foram os temas em foco no

discurso do presidente da República nas comemo-

rações do 10 de Junho, que tiveram lugar em cas-

telo Branco. cavaco Silva considerou impensável

que o país seja auto-suficiente em matéria alimen-

tar, sublinhando que os actuais níveis de produção

e os seis mil milhões de euros gastos na importa-

ção de bens agrícolas, em contraponto aos três mil

milhões registados nas exportações, são insusten-

táveis e exigem dos poderes políticos uma actua-

ção determinante para se conseguir inverter esta

situação. No seu discurso, cavaco Silva apontou o

progressivo envelhecimento da população agrícola,

exigindo a criação de estímulos, para que os jovens

regressem aos campos e ajudem, também, a inver-

ter a actual desertificação do interior, não só para o

litoral, mas também para as cidades mais próximas,

como é o caso de castelo Branco, palco das come-

morações, que registaram este ano a presença de

mais de sete mil pessoas, entre as quais, os líderes

das principais forças partidárias.

a escolha desta cidade para a realização do Dia ➤

Dia de PortugalCavaco Silva apelou ao retorno ao interior desertificado, não esquecendo a crise

Num dia de grande calor, as comemorações do 10 de Junho. Dia de Portugal e de Camões, o grande poeta

luso, em Castelo Branco, juntaram mais de sete mil pessoas e ficaram marcadas pelo discurso presidencial

de apelo à corrida ao interior do País e pela intervenção de António Barreto, sugerindo uma nova Constitui-

ção que permita pôr termo à permanente ameaça de governos minoritários e de Parlamentos instáveis.

Mala diploMática

"É nestas alturas que se vê a alma do povo"

Page 58: Diplomática n.º11

58 • DiplOmáTica - OUTUBRO 2011

➤ de portugal foi justificada pelo presidente da

República por a mesma ser um exemplo a seguir,

tendo elogiado a construção de infra-estruturas que

permitiram a quebra do isolamento. alertou também

para alguns caminhos de combate à desertificação

que não passam de ilusões e que não resolvem o

problema.

cavaco referiu-se ainda às gentes do interior, no-

meadamente a sua frugalidade, o seu sacrifício e

a sua capacidade de resistência.”aqui, em castelo

Branco, poderemos buscar no exemplo dos portu-

gueses do interior a inspiração do que precisamos

para, uma vez mais, fazer das fraquezas forças e

transformar as adversidades em oportunidades”,

sublinhou o presidente. Numa clara alusão às

dificuldades generalizadas que atravessa o país,

consubstancializadas no acordo estabelecido com a

troika e a crise, cada vez mais latente. O presidente

da República apelou para que portugal inteiro se

erga nesta “hora decisiva, num tempo de sacrifí-

cios e de grandes responsabilidades. Não podemos

falhar. É nestas alturas que se vê a alma do povo”,

frisou cavaco Silva no final do seu discurso.

a intervenção de antónio Barreto, presidente da

comissão organizadora das comemorações do 10

de Junho, marcou também a cerimónia. Sem peias,

como é seu hábito, traçou um diagnóstico, a régua

e esquadro, de um portugal a duas velocidades.

Se, por um lado, nada é novo, porque esta não é a

primeira crise que vivemos, por outro, tudo é novo,

porque há a globalização, o euro, uma situação

económica e social que apanhou portugal de sur-

presa.

«Há momentos, na história de um país, em que se

exige uma especial relação política e afectiva entre

o povo e os seus dirigentes. Em que é indispensá-

vel uma particular sintonia entre os cidadãos e os

seus governantes. Em que é fundamental que haja

um entendimento de princípio entre trabalhadores e

patrões. Sem esta comunidade de cooperação e ➤

Todo o corpo diplomático creditado em portugal apresentou cumprimentos ao presidente de portugal

Dia de Portugal

Page 59: Diplomática n.º11

59OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •

➤ sem esta consciência do interesse comum nada é

possível, nem sequer a liberdade», disse o soció-

logo. por isso mesmo, antónio Barreto considerou

ser crucial existir uma “cultura de compromisso,

de diálogo, de consenso, entre forças, instituições

e políticos, num momento de extrema dificuldade,

propondo a revisão da constituição, considerando-a

“anacrónica, barroca e excessivamente programáti-

ca”.

“Uma constituição renovada, implica um novo siste-

ma eleitoral, com o qual se estabeleçam condições

de confiança, de lealdade e de responsabilidade,

hoje pouco frequentes na nossa vida política. Uma

nova constituição implica um reexame das relações

entre os grandes órgãos de soberania, actualmente

de muito confusa configuração. Uma constituição

renovada permitirá pôr termo à permanente ameaça

de governos minoritários e de parlamentos instá-

veis. Uma constituição renovada será ainda, final-

mente, o ponto de partida para uma profunda refor-

ma da Justiça portuguesa, que é actualmente uma

das fontes de perigos maiores para a democracia. a

liberdade necessita de Justiça, tanto quanto de elei-

ções», acentuou antónio Barreto, naquele que foi

considerado o discurso mais importante deste Dia

de portugal. Uma cerimónia que ficou ainda mar-

cada pela frieza de relacionamento entre passos

coelho e José Sócrates, os quais se chegaram a

cruzar, sem se cumprimentar, à saída do cineteatro

avenida, onde tiveram lugar os discursos oficiais.

Uma atitude que deu razão a uma parte do discurso

de antónio Barreto, ao referir-se aos políticos que

não deram o exemplo do sacrifício que impõem aos

cidadãos.

“a indisponibilidade para falarem uns com os ou-

tros, para dialogar, para encontrar denominadores

comuns e chegar a compromissos, contrasta com

a facilidade e o oportunismo com que pedem aos

cidadãos esforços excepcionais e renúncias, a que

muitos se recusam”. Nem a propósito… n

mais de sete mil pessoas compareceram no Dia de portugal em castelo Branco, tendo assistido ao espectáculo, nos Jardins do

palácio Episcopal, em que actuartam luis Represas e Teresa Salgueiro

Page 60: Diplomática n.º11

60 • Diplomática - oUtUBRo 2011

Tal como sucede usualmente a

Embaixada de França abriu uma vez

mais as portas do palácio de Santos

para celebrar o 14 de Julho. pas-

cal teixeira da Silva, o embaixador

acreditado em portugal, recebeu, em

companhia de sua mulher, pascale

teixeira da Silva, os seus inúmeros

convidados, entre os quais se conta-

vam muitos embaixadores, distintas

figuras da cultura, economia e política

bem como da sociedade civil quer

portuguesa quer francesa.

Depois de agradecer a presença de

todos e também a gentileza das mar-

cas que colaboraram na organização

da festa, o embaixador francês fez

uma referência à razão de ser ➤

Dia Nacional da França celebrado em Portugal

1

2 3

4

1. Embaixador pascal teixeira da Silva a fazer discurso 2. maria do carmo Vieira da

Fonseca, miguel morais leitão e luís Ferreira dos Santos 3. Directora da revista Di-

plomática cumprimenta o Embaixador de França 4. Embaixadores de França, christo-

phe Bergey, claire monné e Sophie laszlo

mala diplomática

Page 61: Diplomática n.º11

61oUtUBRo 2011 - Diplomática •

➤ desta celebração referindo que,

“o 14 de Julho é, há mais de cento e

trinta anos, a festa nacional francesa.

comemora, não a tomada da Basti-

lha mas a Festa da Federação, que

teve lugar um ano mais tarde, a 14

de Julho de 1790. Esta Festa, para

utilizar as palavras ditas em 1880, era

o ‘símbolo da união fraterna de todos

os partidos da França e de todos os

cidadãos franceses, na liberdade e

na igualdade’”. Esta alusão foi não

apenas interessante mas inovadora

para muitas das pessoas que ouviam

pascal teixeira da Silva, pois quase

sempre que chega o dia 14 de Julho

este é usualmente designado como o

dia da celebração da tomada da ➤

5

6 7 8

5. convidados a ouvir o discurso do Embaixador 6. Embaixador marcello mathias e José Blanco, presidente da associação “légion

Honneur” em portugal 7. Embaixadores da polónia, professor Eduardo lourenço e José antónio pinto Ribeiro

Page 62: Diplomática n.º11

62 • Diplomática - oUtUBRo 2011

➤ Bastilha.

No seu discurso prosseguiu falando

dos três ideais liberdade, igualdade,

fraternidade que “são partilhados e

amados pela França e por portugal,

que há um século eram (com a Suíça)

as únicas repúblicas na Europa.” Elo-

giando a atitude que os povos árabes

tiveram há perto de seis meses, em

busca da liberdade e democracia, re-

feriu também o desafio que os países

europeus ora enfrentam e da neces-

sidade que todos os seres humanos

têm de viver numa sociedade fraterna.

pascal teixeira da Silva terminou re-

ferindo que, “a França e portugal são

duas velhas nações que enfrentam

os problemas e os desafios do início

do século XXi. todos juntos devemos

enfrentá-los e superá-los. ➤

9 10 11

12 13 14 15

9. maria de Bragança e maria do carmo Vieira da Fonseca 10. Embaixadora da Noruega com o Embaixador da ordem de malta

11. chef chakall deliciou os presentes com as suas receitas 12. Fernando Santos e Henrique polignac de Barros, consul do principado

do mónaco 13. Jacques de Bretagnol 14. Embaixatriz ana Rocha paris e maria da luz de Bragança 15. maria de Belém Roseira

Dia Nacional da França

Page 63: Diplomática n.º11

63oUtUBRo 2011 - Diplomática •

➤ (…) Deverá ser nosso o apelo

lançado há cerca de 160 anos por

alexandre Herculano, grande escritor

e historiador português: ‘Que somos

nós hoje? Uma nação que tende a

regenerar-se: diremos mais: que se

regenera’”.

cantados primorosamente o hino

francês e o português pelo contra

tenor Francisco Ricardo, acompanha-

do ao piano, seguiu-se um cocktail

que se estendeu até ao início da noite

e no qual muitas iguarias francesas

foram servidas acompanhadas pelos

excelentes vinhos franceses. Já os

champanhes da mesma proveniência

serviram aos brindes feitos a ambas

as nações e promoveram ainda mais

o convívio e a boa disposição de to-

dos os presentes. ➤

16 17 18

19 20 21 22

16. inês mendonça, Fátima airey e maria de Bragança 17. Duquesa de cadaval e anne-marie mathias 18. patrick e pia Ziegler

19. cantores líricos, Francisco Ricardo e acompanhante 20. Embaixadora da Eslovénia 21. Embaixadora do Senegal 22. Fermando

mendes, director da legrand com a nossa directora

Page 64: Diplomática n.º11
Page 65: Diplomática n.º11

65oUtUBRo 2011 - Diplomática •

➤ Por ocasião das celebrações do

Dia de França, o conhecido arquitec-

to Jacques Bretagnolle e o reputado

pintor mateus de Sousa camacho,

com o apoio do Embaixador teixeira

da Silva e das associações francesas

sediadas em lisboa, organizaram

um baile popular no adro da igreja de

Santos-o-Velho, mesmo ao lado da

embaixada de França. Nessa noite

de Verão, a música popular portu-

guesa e a francesa foram rainhas.

a animação foi constante, e nem os

embaixadores franceses resistiram a

associar-se à festa, dando um pé de

dança. Um simpático bar, a tempera-

tura amena e o ambiente descontra-

ído fizeram com que o Baile popular

do 14 de Julho tenha sido um retum-

bante sucesso – cujos lucros foram

entregues na íntegra à paróquia de

Santos-o-Velho. n

Baile popular assinalou 14 de Julho

23. michel animou a noite 24 e 25. Eram muitos amigos 26. os embaixadores vie-

ram visitar o baile 27. Uma animação constante 28. as crianças felizes 29. Sofie

laslo e Jacques Bretagnole

23 24

25

26

27

28

29

Dia Nacional da França

Page 66: Diplomática n.º11

66 • Diplomática - oUtUBRo 2011

Para celebrar o 235º aniversário da

Declaração de independência dos

Estados Unidos, o Embaixador allan

Katz e sua mulher, a Embaixatriz

Nancy Katz abriram as portas da em-

baixada aos seus muitos convidados,

para comemorar mais este aniversá-

rio do seu país, com uma recepção

muito requintada.

o Embaixador allan Katz, no seu

discurso de boas vindas, manifestou

a sua satisfação por todos os con-

vidados terem aceite participar num

evento comemorativo de tão impor-

tante data da história do seu país.

o embaixador referiu-se ainda ao

mote desse dia de festa – “o espírito

da música”, frisando que a música

americana é tão diversa quanto o

próprio país, desde ao rock & roll ao

jazz, da Broadway ao Blue Grass.

E não deixou de se referir à banda

da marinha, “topside”, que viera de

Nápoles para estar de propósito nesta

recepção.

allan Katz lembrou que chegou ao

nosso país há pouco mais de um

ano e confessou que tem sido uma

aventura fantástica, pois viajou, ele

e a mulher, por todo o portugal, um

país notável, como especiais são os

portugueses, que conheceram e que

sempre os receberam de braços ➤

Dia da Independência dos Estados Unidos da América

1

2

1. Discurso do Embaixador allan Katz 2. Embaixador dos Estados Unidos da américa a ouvir o Hino acompanhado da guarda americana

Mala DiploMática

Page 67: Diplomática n.º11

67oUtUBRo 2011 - Diplomática •

➤ abertos, com simpatia e generosidade.

os convidados espalharam-se pelos

jardins da embaixada, num ambiente

de grande descontracção e boa dis-

posição, tanto mais que até o tempo

ajudou, de tão ameno que estava.

allan Katz lembrou, na sua alocução,

que no campo do empreendedorismo

e enquanto representante dos EUa,

tem continuado a fazer esforços para

juntar empresários portugueses e

americanos, com vista ao desenvolvi-

mento de parcerias da áfrica lusófo-

na. mas referiu-se igualmente à área

da Educação, dizendo-se impressio-

nado com o dinamismo das novas

relações entre universidades portu-

guesas e americanas para a criação

de mais oportunidades de intercâmbio.

a terminar o seu discurso de boas-

vindas aos muitos convidados, entre

eles representantes do corpo diplomá-

tico creditado no nosso país e per-

sonalidades das mais diversas áreas

da vida nacional. allan Katz afirmou

também que os Estados Unidos e

portugal vão continuar ligados por

fortes laços de amizade e valores

comuns agradecendo aos convidados

presentes por celebrarem o Dia da

independência dos EUa e por parti-

lharem desta velha amizade que une

os dois países. n

8 9

10 11

3. abigail Dressel 4. christina Gillies, maria da luz de Bragança e Embaixatriz dos E.U.a. 5. Embaixatrizes de França e luxemburgo

6. Embaixadora de marrocos 7. Embaixadores de itália e da Rússia com o chefe de protocolo de Estado, Bouza Serrano 8. Rodrigo

costa, luísa costa, anabela mata Ribeiro e antónio pinto Ribeiro 9. maria da luz de Bragança com o Embaixador dos Emirados

árabes 10. Embaixadores da coreia 11. Embaixadora do Senegal

3 4 6

7

5

Page 68: Diplomática n.º11

68 • Diplomática - oUtUBRo 2011

Festejava-se o Dia Nacional da

Rússia nos jardins do pestana

palace. os embaixadores pavel

e irina petrovskiy receberam os

muitos convidados - corpo diplomá-

tico creditado no nosso país, lado

a lado com figuras destacadas das

diversas áreas da vida nacional,

do meio empresarial, à política e à

cultura, que encheram os jardins,

onde foi servido um requintado

cocktail.

o embaixador pavel petrovskiy

dirigiu um breve discurso de boas-

vindas aos seus convidados,

recordando a data de 12 de Junho,

que abriu caminho para o desenvol-

vimento democrático do seu país.

como resultado, no espaço da

antiga URSS e de toda a Europa de

leste, aconteceram grandes mu-

danças, que levaram a que fossem

corrigidas as regras do jogo políti-

co. o embaixador russo frisou ➤

Dia Nacional da Rússia celebrado em Lisboa

1 2 3

4 5 6

1. maria da luz de Bragança com os

Embaixadores da Rússia

2. Embaixador da argentina e Embaixa-

dores de cuba

3. Embaixatriz da ordem de malta e

pedro Ferreira de carvalho

4. Embaixador do irão com o Embaixa-

dor do iraque

5. Embaixadora da polónia, Embaixador

da Hungria e Embaixador da letónia

6. Embaixadores da moldava

Mala DiploMática

Page 69: Diplomática n.º11

69oUtUBRo 2011 - Diplomática •

➤ a sua satisfação pelo desenvolvi-

mento progressivo da cooperação

russo-portuguesa, que exerce uma

influência positiva num plano bas-

tante abrangente.

o Emb. pavel petrovskiy fez saber

que, no seu país, se avalia de

forma muito positiva, os êxitos

alcançados por portugal ao nível do

desenvolvimento das novas tecno-

logias, energia verde e implemen-

tação de plataformas electrónicas

nas entidades governamentais.

Num tom divertido, o embaixador

virou-se para um campo inespera-

do – o futebol, área com que a Rús-

sia, disse o Emb. petrovskiy, está a

adquirir uma experiência preciosa.

"cada vez mais se desenvolvem

os contactos entre as pessoas e

se ampliam os laços culturais, o

que é muito positivo", disse ainda o

embaixador russo, que brindou, por

fim, à amizade entre os dois povos. n

7 8 9

10 11 12

7. Embaixador da áustria, adrian Wes-

sedi e Embaixadora da Noruega

8. José Bouza Serrano, Embaixador de

cuba, Embaixador da turquia

9. Embaixador da palestina com a filha

leen Shami

10. Embaixador da argentina e a Direc-

tora da revista Diplomática

11. Embaixador da Suíça, Embaixador

de Espanha e Embaixador da or-

dem de malta

12. Embaixador da Suécia, Núncio

apostólico e José Bouza Serrano

Page 70: Diplomática n.º11

70 • Diplomática - oUtUBRo 2011

Os embaixadores do luxemburgo

celebraram, em lisboa, o aniver-

sário de Sua alteza Real, o Grão-

Duque do luxemburgo, e dia da

Festa Nacional do seu país.

Uma data que, no luxemburgo,

se celebra durante dois dias.

os embaixadores paul e Nadine

Schmit ofereceram uma recepção,

não só aos seus compatriotas,

como também outros convidados

das várias áreas da vida nacio-

nal (empresários, economistas,

personalidades ligadas à cultura),

celebrando, assim, o aniversário

do Grão-Duque do luxemburgo.

No seu discurso de boas-vindas,

o embaixador lembrou aos ➤

Festa Nacional do Luxemburgo

1 2

3 4

No seu discurso de boas-vindas,

Paul Schmit lembrou aos

convidados como começou

o Luxemburgo,

1. o Embaixador paul Schmit no seu

discurso

2. Embaixador da Sérvia, Embaixador

da Grécia, Embaixador de cuba e

Embaixador da Hungria

3 . Embaixador de cuba, Embaixado-

ra da Eslovénia e Embaixador da

turquia

4. maria José tormenta e Embaixatriz

do luxemburgo

Mala DiploMática

Page 71: Diplomática n.º11

71oUtUBRo 2011 - Diplomática •

➤ convidados como começou o

luxemburgo, na idade média,

com a construção do castelo do

luxemburgo. E foi em torno desta

fortaleza que se desenvolveu,

gradualmente, uma cidade, que

viria a transformar-se no centro

de uma pequena, mas importante,

nação com grande valor estraté-

gico. No século XiX e depois de

séculos de conquistas e gover-

nado por estados estrangeiros, o

luxemburgo acabou por se tornar

numa nação independente e neu-

tra. Uma neutralidade que viria

a abandonar depois da Segunda

Guerra mundial, quando se tornou

um dos membros fundadores da ➤

6 7

8 9 10

5. Embaixadores da letónia

6. Duque de loulé, inês Figueiredo e

carmen távora

7. maria da luz de Bragança e inês

mendonça

8. Embaixador da Rússia e Embaixador

da Suiça

9. João proença

10 Ricardo Espírito Santo Bastos Salga-

do, Rita Bustorff de Sousa tavares e

Embaixador do luxemburgo

5

Page 72: Diplomática n.º11

72 • Diplomática - oUtUBRo 2011

➤ Nato, das Nações Unidas e da

União Europeia.

o embaixador paul Schmit lem-

brou a visita dos Grão-Duques do

luxemburgo a portugal, a convite

do presidente da República, para

lembrar as relações de amizade

existentes entre os dois países,

enriquecidas pela forte presença

e contribuição dadas pela comu-

nidade lusa, que lançou raízes no

seu país, contribuindo para o seu

progresso.

Foram ouvidos os hinos na-

cionais dos dois países e, já a

terminar, paul Schmit convidou

os presentes para que levantas-

sem as taças para um brinde de

felicidades a Sua alteza Real,

o Grão-Duque Henri, à família

Grã-Ducal, ao luxemburgo e a

portugal. n

11 12

1413

11. marion Krüse, Susana capela, ma-

teus camacho, ana paula taborda

e maria da luz de Bragança

12. isabel monteiro e maria de Jesus

Barroso

13. Embaixador da Ucrânia e Embai-

xador da lituânia

14. christine Gillies e Embaixador dos

países Baixos

15. Directora da revista Diplomática

com o Embaixador do luxemburgo

Festa Nacional do Luxemburgo

15

Page 73: Diplomática n.º11

73OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •

Embaixada da Grã-Bretanha Celebra aniversário de Isabel II

A rainha de Inglaterra celebrou 85 anos ficando apenas a um ano de distância do

jubileu de diamante, um marco celebrado apenas pela rainha Vitória, em 1987.

Os seus súbditos continuam a dedicar-lhe o maior carinho e devoção.

Uma devoção que remonta aos tempos da guerra, em que a então jovem Isabel

constatou o quanto era amada pelos súbditos que, apesar da dureza da situação, não

hesitaram em dar os seus cartões de racionamento, para que a sua princesa tivesse

um vestido de noiva a preceito.

Casou com Duque de Edimburgo, de quem tem quatro filhos – Carlos, Ana, André e

Eduardo. Toda a Grã-Bretanha celebrou com júbilo o 85º aniversário da sua Rainha. ➤

Mala diploMática

Page 74: Diplomática n.º11

74 • DiplOmáTica - OUTUBRO 2011

➤ Londres celebrou e, em portu-

gal, a embaixada da Grã-Breta-

nha recebeu imensos convida-

dos, para evocar a efeméride,

com um requintado cocktail, ser-

vido nos jardins da embaixada.

O ambiente era, decididamente,

de festa, nesse fim de tarde. O

aniversário da rainha isabel ii

brindado pelos convidados com

champanhe, tornou-se, também,

no nosso país e, nessa tarde em ➤

1. Banda da marinha inglesa 2. Joanne Kuenssberg, DHm 3. Embaixadores da coreia e Embaixador da indonésia 4. Directora da

revista Diplomática e Embaixador da Russia

1

2 3 4

Embaixada da Grã-Bretanha

Page 75: Diplomática n.º11

75OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •

➤ especial, um evento destacado

na sociedade portuguesa, uma

vez que estamos ligados, desde

há muito, à Grã-Bretanha, por

laços políticos e de amizade.

Entre as muitas personalida-

des presentes, para além de

representantes do corpo diplo-

mático creditado em portugal,

esteve também maria da luz de

Bragança, directora da revista

Diplomática. n

5. Um brinde à Rainha 6. Jordana e Bernardo campos pereira 7. Embaixador do luxemburgo, Joanne Kuenssberg e Embaixador

da áustria 8. peter mottek e Robert S. levitt 9. Embaixador da Hungria, Embaixadores de Espanha, Embaixador da Rússia e mer-

cedes mottek 10. Teresa Syrungli e Embaixadora da Noruega

5

7 8

6

9

10

Page 76: Diplomática n.º11

76 • Diplomática - oUtUBRo 2011

Foi na Embaixada de itália, em

lisboa, que teve lugar a recepção do

Dia Naccional daquele país, que con-

tou com a participação de mais de

1000 convidados, entre eles o corpo

diplomático creditado em portugal

e individualidades ligadas ao sector

empresarial, político e da cultura.

Este ano, o evento esteve associa-

do às celebrações dos 150 anos da

unificação da itália.

o embaixador da itália, luca del

Bazo di presenzano, no seu discurso

de boas vindas, recordou que se es-

tava a comemorar, não só os 65 anos

da República italiana, mas também

os 150 anos da Unidade Nacional.

Daí, ser-lhe muito grata a oportuni-

dade de receber na embaixada, para

celebrarem juntos, não só as autori-

dades portuguesas, como também

os colegas e amigos diplomatas e

a comunidade italiana, que trabalha

"neste magnífico país, que é portu-

gal, contribuindo para manter bem

alto o nome e o prestígio da itália no

mundo".

o embaixador recordou ainda que,

há 150 anos, a 17 de março de 1861,

nasceu o Reino da itália, graças ao

processo político, diplomático e mi-

litar, conhecido como Risorgimento.

Um processo fundamentado nos va-

lores, ideais e na coragem, que levou

à unificação da itália, anteriormente

dividida em 7 estados de pequena

dimensão. com afirmação do princí-

pio da nacionalidade, disse ainda o

embaixador, os cidadãos do Norte e ➤

Dia Nacional da Itália

1. início da festa 2. maria de Bragança com Embaixador de itália 3. clara Nunes Santos, José Bouza Serrano e Embaixadores da Georgia 4. ana Salazar 5. Renée Gomes, maria Barroso e a Embaixadora das Filipinas 6. Embaixadora da Índia

1 2

3 4 5 6

Mala diploMática

Page 77: Diplomática n.º11

77oUtUBRo 2011 - Diplomática •

➤ Sul da península tornaram-se italia-

nos sem, claro está, renegarem o seu

passado, mas antes integrando-o na

nova itália, acabada de nascer.

Sucessivamente, há precisamente 65

anos, o povo italiano, através de um

referendo constitucional, sancionou

o fim da monarquia e nascia então a

República, frisou ainda o embaixador

luca del Balzo.

o evento teve também uma caracte-

rística especial, graças à participação

da companhia dos agitadores de

Bandeiras (Sbandieratori) da munici-

palidade italiana de città Della pieve

(cuja vinda tão especial e original,

o embaixador fez questão de agra-

decer na pessoa do presidente da

câmara daquela cidade, Ricardo

manganello, ali presente) e que ofe-

receu aos convidados um espectá-

culo evocativo das antigas tradições

italianas. Um espectáculo que se

repetiria, dias depois, no castelo de

S. Jorge.

a terminar o seu discurso, o Embai-

xador de itália fez questão de recor-

dar que, nesta recepção, se estava a

celebrar a identidade de uma nação

que se sente orgulhosa da sua histó-

ria e cumprimentou, de modo espe-

cial, todos os italianos presentes, em

particular todos aqueles que residem

e vivem longe da pátria, à qual se en-

contram ligados por profundos laços

afectivos. E terminou, agradecendo

a presença de todos os convidados,

desejando uma boa continuação da

festa, com amizade e muita alegria. n

7. Embaixadora da Noruega e manuel Enes 8. Embaixador ali Kaya Savut, Embaixadores da Sérvia, Embaixadora Bernarda Gra-dishik 9. Embaixadora de marrocos e directora da Diplomática 10. Embaixadora do Senegal 11. Embaixador da Suíça e maria de Bragança 12. Helena e manuel pinto Barbosa 13. isabel Rilvas

7 8 9

10 11 12 13

Page 78: Diplomática n.º11

78 • Diplomática - oUtUBRo 2011

A Embaixada de israel assinalou

os 63 anos da independência do

Estado de israel numa cerimónia no

Hotel Sheraton, no passado dia 10

de maio, em lisboa.

presentes estiveram muitos

amigos de israel, nomeadamente

membros do parlamento, do minis-

tério dos Negócios Estrangeiros,

do corpo Diplomático, da ➤

1

2 3 4

1. Embaixadores de israel a brindar

2. Embaixador de israel e lior Keinan e a mulher Sarit Keinan

3. Embaixador da Sérvia e a mulher

4. miguel polignac de Barros

Festa da independencia de Israel

Mala DiploMática

Page 79: Diplomática n.º11

79oUtUBRo 2011 - Diplomática •

➤ comunidade Judaica e muitas

outras personalidades do mundo

Económico e dos meios de comu-

nicação Social, que vieram feste-

gar esta ocasião tão feliz. No final

do seu discurso, os Embaixadores

de israel, Ehud e Sharon Gol brin-

daram aos fortes laços de amizade

entre portugal e israel. n

5 6 7

8 9 10 11

5. pia Ziegler e Rodi Bachmann

6. Jack Saifer, Raul capela e João proença

7. marinho pinto

8. ana de Brito e antónio alvim

9. carla Fontes e conceição Ribeiro, Directora do Hotel tiara

10. Núncio apostólico e Eduardo Fortunato de almeida

11. milton moniz

Page 80: Diplomática n.º11

80 • Diplomática - oUtUBRo 2011

Foi por ocasião da celebração

dos 20 anos da independência da

República da Eslovénia e do Dia Na-

cional, que teve lugar uma recepção

na Estufa Real, no Jardim Botânico

da ajuda.

Foram mais de 100 convidados, das

mais diversas áreas da sociedade

portuguesa, da política à economia,

passando pela cultura e o jornalismo,

que estiveram presentes na recep-

ção que a Embaixada da República

da Eslovénia organizou, em lisboa,

no Restaurante Estufa Real, no

Jardim Botânico da ajuda. presentes

estiveram também representantes

de empresas eslovenas e eslovenos

residentes em portugal.

No discurso com que recebeu os

seus convidados, a Embaixadora

Bernarda Gradisnik enfatizou os

sucessos alcançados pela Eslovénia,

nos 20 anos decorridos desde a sua

independência, a candidatura da Es-

lovénia a um lugar não-permanente

no conselho de Segurança da oNU

e saudou as boas relações entre

portugal e a Eslovénia.

Uma das seis repúblicas que forma-

vam a ex-Jugoslávia, a Eslovénia (si-

tuada na confluência de quatro gran-

des zonas geográficas europeias)

tornou-se independente em 1991,

com a desintegração da Jugoslávia.

o país faz fronteira com a itália, a

áustria, a Hungria e a croácia. ■

20º Aniversário da República da Eslovénia

1 2 3

4

5 6

1. Embaixadora da Eslovénia 2. Vassilios costis, Embaixador da Grécia, Embaixador da itália e alan cummins 3. Embaixador do chile,

Embaixadora da Noruega, inga magistad, Embaixador da áustria 4. Embaixador da itália, Embaixadora da Eslovénia, Núncio apostólico

e antónio de macedo 5. Embaixador da Rússia, Embaixadora da Índia e Gassan El aouar 6. ali Kaya Savut, Embaixador da turquia

mala diplomática

Page 81: Diplomática n.º11

81OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •

Portugal’s Eurodilemma

Portugal’s current financial and economic

situation poses serious questions about the

country’s membership in the Eurozone, and

the conditions it is obliged to accept to obtain

funds to service its debts.

The country’s structural weaknesses - high go-

vernment deficit, low past and current growth,

low international competitiveness reflected in

persistent balance of trade deficits, a fragile

banking system - have led international finan-

cial markets to put portugal in the same cate-

gory as the weakest members of the Eurozone,

closing off access to private financing for the

country.

To avoid impending default, portugal was

obliged in may of this year to negotiate a $78

billion loan from the international monetary

Fund (“imF”), the European Union (“EU”), and

the European central Bank (“EcB”), referred

to as the “troika”. Behind the troika’s apparent

willingness to help portugal (and Greece and ➤

O Euro Dilema de Portugal

No tratamento dos seus membros mais fracos da Zona

Euro, a União Europeia (“UE”), o Banco central Europeu

(“BcE”) e o Fundo monetário internacional (“Fmi”), referido

como a “troika”, pode muito bem-estar a colocar em risco

não só o futuro do Euro, mas de igual modo a prejudicar

todo o movimento de integração europeia.

pese embora todos concordem que portugal não tem sido

tão perdulário quanto a irlanda e a Grécia, as debilidades

estruturais do país - um alto nível de défice orçamental, o

baixo crescimento passado e corrente, uma ausência de

competitividade internacional reflectida no saldo persistente

do deficit comercial e um sistema bancário frágil - levaram

os mercados financeiros internacionais a colocar portugal

na mesma categoria dos membros mais fracos da zona

euro, fechando o acesso ao financiamento privado para o

país.

para evitar a incumprimento iminente, portugal foi obri-

gado, em maio deste ano a negociar um empréstimo de

78.000 milhões dólares americanos do Fundo monetário in-

ternacional (“Fmi”), da União Europeia (“UE”), e do Banco

central Europeu (“BcE”), referido como a “troika”. atrás ➤

patrick Siegler-lathrop is a French-american consultant living in

portugal, with a more than 30-year career as a Wall Street investment

banker, entrepreneur, industrialist and professor, having taught at

iNSEaD and paris University, Dauphine. He is a founding member of

the international NGO action contre la Faim.

Economia & Finanças

(* The opinions expressed herein are those of the author, and do

not necessarily represent those of DiplOmaTica)

(* as opiniões expressas aqui são de responsabilidade do autor

e não representam necessariamente as da Diplomática.)

Page 82: Diplomática n.º11

82 • DiplOmáTica - OUTUBRO 2011

➤ ireland) is a fear that a default by a European

country could seriously weaken the banking

system and possibly lead to a systemic failure

of the entire European financial structure (Ger-

man and French banks alone hold about $1.4

trillion worth of the sovereign debt of portugal,

ireland, Greece, italy, and Spain).

What were the conditions portugal had to

accept for such a loan? The troika espoused

exactly the same “politically correct” view as

financial markets and rating agencies: portugal

(like Greece and ireland) committed to dras-

tically reduce government expenditures and

increase taxes, as well as to put into place a

number of structural reforms.

There is no doubt that some of the structural

reforms imposed by the troika are necessary,

and the crisis that portugal is experiencing is

an excellent opportunity to force changes that

would have been politically impossible otherwi-

se.

But basic economics teaches us that a mas-

sive reduction in government expenditures

simultaneously with large tax increases, un-

less counterbalanced by contrary forces, will

immediately send the economy into a tailspin,

greatly reducing output and increasing both

unemployment and poverty. The entire country

will suffer, but as always, the poorest segment

will suffer the most.

although lip service is given to noble employ-

ment and growth objectives in the text agreed

to with the troika, concrete measures to protect

employment and promote growth are painfully

absent.

What is portugal getting in exchange for ac-

cepting the troika-imposed pain? Short-term

liquidity to pay its current deficits, yes, but also

the certainty of a prolonged, government-indu-

ced recession.

What is particularly troubling about the ap-

proach of rating agencies, the imF, the EcB

and the EU, is that there is no clear evidence

that this excessively monetarist medicine will

work. On the contrary, the recession will lead

to much lower government receipts, virtually

guaranteeing that the ambitious deficit targets

will not be met.

paying a high cost can be considered accep-

table, if there is light at the end of the tunnel,

reasonable prospect of healthy development in ➤

➤ da aparente disposição da troika para ajudar portugal (e

a Grécia e irlanda) está o medo de que a falha de cumpri-

mento de um país europeu poderia enfraquecer seriamente

o sistema bancário (os bancos alemães e franceses pos-

suem 1,4 biliões de dólares americanos da dívida soberana

de portugal, irlanda, Grécia, itália e Espanha) e possivel-

mente levar a uma falha sistemática de toda a estrutura

financeira europeia.

Quais foram as condições que portugal teve de aceitar

para um empréstimo deste tipo? a troika expôs exacta-

mente a mesma visão “politicamente correcta” dos merca-

dos financeiros e das agências de rating, que têm o poder

de julgar o “valor” da dívida de um país: portugal (como

a Grécia e irlanda) assumiu o compromisso de reduzir

drasticamente os gastos do governo e aumentar os impos-

tos, bem como o de pôr em prática uma série de reformas

estruturais.

Não há dúvida de que algumas das reformas estruturais

impostas pela troika são necessárias, e a crise pela qual

portugal está a passar é uma excelente oportunidade para

forçar mudanças que seriam politicamente impossíveis de

outra forma.

mas a economia ensina-nos que uma redução drástica dos

gastos do governo em simultâneo com grandes aumentos

de impostos - a não ser que contrabalançados por forças

contrárias - irá colocar imediatamente a economia numa

espiral descendente, reduzindo a produção e aumentando

tanto o desemprego como a pobreza. O país inteiro irá

sofrer, mas como sempre, o segmento mais pobre será o

mais afectado.

apesar de o discurso oficial se focar no emprego e no cres-

cimento económico, o texto do acordo com a troika, visto

justamente de uma perspectiva de geração de emprego e

crescimento, revela medidas que são inteiramente negati-

vas.

E o que recebe portugal em troca ao aceitar estes sacri-

fícios impostos pela troica? De facto obtém liquidez a curto-

prazo para pagar os seus deficits correntes mas a expen-

sas de uma recessão prolongada induzida por imperativos

governamentais.

O que eu acho particularmente preocupante sobre a

abordagem das agências de rating, o Fmi, o BcE e a UE,

é que não há evidências claras de que este medicamento

excessivamente monetarista vá funcionar. pelo contrário,

a recessão vai levar a receitas de Estado muito menores,

praticamente garantindo que os ambiciosos objectivos para

o défice que foram estabelecidos não serão cumpridos.

pagar um alto custo pode ser considerado aceitável, se

houver luz no fim do túnel, ou seja, uma prospecção razo-

ável de desenvolvimento saudável num futuro não muito

distante. mas tal garantia não nos é dada - não há ➤

The Financial CrisisA Crise Finaceira

Page 83: Diplomática n.º11

83OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •

➤ the not-too-distant future. But no such pros-

pect is offered - there is virtually nothing in

the package that will generate growth - many

believe the troika plan has little chance of

success, and will merely postpone a necessa-

ry restructuring of portuguese debt to a later

date.

The recent severally criticized downgrade of

portugal’s debt by moody’s rating agency to

the level of “junk” says moody’s doesn’t belie-

ve their own excessively monetarist medicine

will work, at least not well enough to avoid

likely renegotiation of the debt.

in this situation, if portugal were not a member

of the Eurozone, it would no doubt envisage a

substantial devaluation of its currency, imme-

diately improving its international competiti-

veness, and put into place a series of parallel

measures: structural reforms to take advantage

of lower costs to generate export-led growth,

major reduction in government deficits, mana-

gement of interest rates and monetary policy to

provide for a moderate level of inflation to help

reduce debt, etc. Such an approach would not

be painless - one result would be an immediate

increase in foreign-currency debt - but it has

proven effective in the past, and if well mana-

ged, would almost certainly provide a positive

solution to the very difficult position portugal is

in today.

But portugal cannot devalue: it is a member of

the Eurozone, with no control over the value of

its currency, nor its monetary policy and level

of interest rates. These are set by the Europe-

an central Bank, copied after the German cen-

tral Bank, established to respond to the needs

of a country, Germany, with a strong export-

oriented industrial base which can accept a

strong currency and with a singular focus on

controlling inflation, at a time when much of

Europe would benefit from a moderate level of

inflation.

i think the world has become excessively do-

minated by a monetary approach, with exces-

sive emphasis given to protecting banks and

bankers, and too little attention given to taking

care of the unemployed. Such an approach is

short-sighted, will strengthen anti-European

sentiment in many countries and risks threate-

ning the very foundation of European success.

The Euro, and the policies of the European ➤

➤ praticamente nada no pacote que possa fazer gerar cres-

cimento - muitos acreditam que o plano troika tem poucas

hipóteses de sucesso; irá apenas adiar uma necessária re-

estruturação da dívida portuguesa para uma data posterior.

O recente "downgrade" da dívida de portugal pela agência

de rating moody ao nível de “junk”, mostra que a própria

moody não acredita que o seu remédio excessivamente

monetarista vá funcionar, pelo menos não suficientemente

bem para evitar a provável renegociação da dívida.

Nesta situação, se portugal não fosse um membro da

zona euro iria fazer uma desvalorização substancial da

sua moeda, que provocaria uma melhoria imediata da sua

competitividade internacional e colocaria em prática uma

série de medidas paralelas: reformas estruturais para tirar

proveito da redução dos custos a fim de gerar crescimento

liderado pelas exportações, grande redução dos défices or-

çamentais, gestão das taxas de juro e a política monetária

prever um nível moderado de inflação para ajudar a reduzir

a dívida, etc. Tal abordagem não seria indolor - um dos re-

sultados seria um aumento imediato em dívida em moeda

estrangeira - mas mostrou-se eficaz no passado, e se bem

gerido, quase certamente proporcionaria uma solução posi-

tiva para a posição muito difícil que tem hoje portugal.

mas portugal não pode desvalorizar: é um membro da

zona Euro, sem controlo sobre o valor da sua moeda,

sobre as suas políticas monetárias nem sobre o nível das

suas taxas de juro. Tudo isto é determinado pelo Banco

central Europeu, estabelecido para responder às neces-

sidades de um país, a alemanha, copiando o modelo do

Banco central alemão, estabelecido para responder às

necessidades de um país, com uma forte orientação para a

exportação industrial e com um particular foco no controlo

da inflação, de um tempo em que a Europa beneficiaria de

uma taxa de inflação moderada.

penso que o mundo tornou-se excessivamente dominado

por uma abordagem monetária, com ênfase excessiva na

protecção de bancos e banqueiros, e pouca atenção dada

ao desemprego. Tal aproximação revela-se curta de vistas,

potenciadora de sentimentos anti-europeus em vários

países e arrisca por em causa as fundações do sucesso

europeu.

O Euro, e as políticas do Banco central Europeu, clara-

mente não respondem às necessidades actuais de portu-

gal (ou a Grécia ou a irlanda, e alguns outros).

assim, deve considerar portugal deixar o Euro? Em Bruxe-

las e nos gabinetes de Governo em lisboa, tal alternativa

continua a ser impensável.

É evidente que os riscos económicos e de mercado e os

custos a curto prazo de deixar o Euro seriam muito eleva-

dos, mas é muito menos claro se os custos de longo prazo

seriam maiores do que o que portugal tem agora de ➤

Page 84: Diplomática n.º11

84 • DiplOmáTica - OUTUBRO 2011

➤ central Bank, clearly do not respond to the

current needs of portugal (or Greece, or ire-

land, and certain others).

So should portugal consider leaving the Euro?

in Brussels and in Government offices in lis-

bon, such an alternative remains unthinkable.

it is evident that the economic and market risks

and the short-term costs of leaving the Euro

would be very high, but it is much less clear

that the long-term costs would be higher than

what portugal is now facing. i think it would

be in the interest of the portuguese Govern-

ment to bring together a small, discreet team

to examine under what conditions it might be

possible to leave the Euro.

That such a step is not even considered is

troubling. Whenever conventional wisdom is

so dominant that alternatives are not even

examined, such dogmatism can lead to serious

mistakes.

But of course, we must recognize that the Euro

is more than just a currency, it is a political

statement, a major milestone in the construc-

tion of a united and democratic Europe. Both

the EU and EcB bureaucracy fear that if a

Eurozone member were to leave the Euro, the

whole system might unravel, putting a serious

brake on the European integration movement.

The portuguese are well aware that they have

enormously benefited from membership in the

EU, and portugal has consistently played an

important and positive role in its evolution. as

a result, no portuguese Government would

find the political will to leave the Euro, taking

a step that would so radically go against the

movement of European integration.

So does portugal only have the choice of being

a “good student”, stuck in the straight-jacket of

the Euro, subservient to the dominant moneta-

rist orthodoxy of the troika, suffering through

years of recession with little prospect of signifi-

cant improvement?

i think not. Just as the problems facing portu-

gal reflect a European problem, so the so-

lutions should be developed on a European

stage.

The portuguese Government can and should

seize the initiative, to propose to the EU

that it put into place, in parallel with existing

measures which we know will have a negative

impact on growth, positive solutions which ➤

➤ enfrentar. Eu acho que seria do interesse do Governo

português reunir uma equipa pequena e discreta para ana-

lisar em que condições seria possível deixar o Euro.

Que tal passo não é mesmo considerado é preocupante.

Sempre que conhecimento convencional, é tão dominante

que as alternativas não são sequer examinadas, tal dog-

matismo pode levar a erros graves.

mas, claro, o euro é mais do que apenas uma moeda, é

uma declaração política, um marco importante burocracia

que na construção de uma Europa unida e democrática.

Tanto a burocracia da UE como a do BcE temem que se

um membro da zona euro deixar o Euro, todo o sistema

poderia se revelar, colocando um forte travão no movimen-

to de integração europeia.

Os português estão bem conscientes de que têm benefi-

ciado enormemente adesão à União Europeia, e portugal

tem sempre desempenhou um papel importante e positivo

na sua evolução. como resultado, nenhum Governo por-

tuguês iria encontrar a vontade política de deixar o Euro,

dando um passo que poderia ir tão radicalmente contra o

movimento de integração europeia.

O mesmo acontece com portugal só tem a opção de ser

um “bom aluno”, preso na camisa de força do euro, subser-

viente à ortodoxia monetarista dominante da troika, sofren-

do através de anos de recessão com poucas perspectivas

de melhora significativa?

acho que não. Uma vez que os problemas que portugal

enfrenta reflectem um problema europeu, as soluções de-

vem ser desenvolvidas num contexto europeu.

O Governo português pode e deve tomar a iniciativa, de

propor à UE que coloque em prática, em paralelo com as

medidas existentes que sabemos que terão um impacto

negativo sobre o crescimento, as soluções positivas que

irão gerar crescimento e emprego. Estas medidas reque-

rem imaginação e dinheiro, mas vão garantir que o proces-

so de volta à boa saúde financeira e económica funcione,

em benefício de interno. portugal, do Euro e da UE.

portugal precisa de atrair investimento estrangeiro e

precisa de gerar um ambiente interno mais empreende-

dor. Encontrou-se 78 milhões de dólares para os credores

portugueses; Não podem 1-2 mil milhões ser encontrados

para gerar uma dinâmica positiva? Esse dinheiro poderia

ser usado para colocar em cena novas iniciativas, como

por exemplo:

– incentivos fiscais - por que não permitir uma taxa de

imposto muito mais baixa para qualquer actividade empre-

sarial recém-criada, por um período temporário de 5 anos,

com a plena aprovação e acompanhamento cuidadoso por

parte da UE?

– portugal tem relações privilegiadas com o Brasil, com

angola e noutros países - por que não criar um ou mais ➤

The Financial CrisisA Crise Finaceira

Page 85: Diplomática n.º11

85OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •

➤ will generate growth and employment. Such

measures will require imagination, and mo-

ney, but they will ensure that the process of

returning to financial and economic good he-

alth will work, to the benefit of portugal, the

Euro and the EU.

To generate growth and employment, portugal

needs to attract foreign investment and needs

to generate a more entrepreneurial domestic

environment. many ideas could be explored:

Fiscal incentives - why not permit a much

lower corporate tax rate for any newly created

activity, for a temporary period of 5 years, with

the full approval and careful monitoring by the

EU?

portugal has privileged relationships with

Brazil, with angola and certain other coun-

tries - why not create one or more investment/

development bank located in portugal, with

shareholders from the EU and from these

countries, to promote investment and joint

business?

ask any French industrialist who has portu-

guese workers and he will tell you they are the

best workers he has. Yet the portuguese in

portugal do not have such a reputation. could

not measures be explored to attract portugue-

se to return to portugal, in part to counteract

the loss of the entrepreneurial spirit of the

100,000 portuguese who leave portugal each

year, for want of jobs and career opportuni-

ties?

There are a number of large European com-

panies which have highly productive industrial

operations in portugal, producing for niche

markets. Why not regroup them, with large

companies from elsewhere, into a EU funded

structure, which will specifically assist in brin-

ging investment into the country?

The tourism sector represents enormous

potential for development, yet the troika agre-

ement hardly mentions the subject. a EU

inspired study to examine the impediments to

tourism development, followed by funding for

the promotion of tourism projects, is clearly

another avenue to examine

Similarly, portugal’s agricultural potential for

export markets is grossly under-developed,

and needs studies and funding to promote the

launch of numerous projects

portugal needs more entrepreneurship ➤

➤ bancos de investimento / desenvolvimento, com os accio-

nistas da UE e destes países, para promover o investimen-

to e a exploração em comum?

– pergunte-se a qualquer empresário francês que tenha

trabalhadores portugueses e ele dir-lhe-á que estes são os

melhores trabalhadores que tem. E há um grande núme-

ro de português expatriados que se tornaram líderes em

londres, paris, Nova York, pequim e São paulo, e que,

sem dúvida, estarão motivados a contribuir para o desen-

volvimento de portugal. Não será possível serem explora-

das medidas para atrai-los a regressar a portugal, ou para

explorar o recurso da comunidade de expatriados de portu-

gal para contribuir para o desenvolvimento de portugal no

estrangeiro, em parte para compensar a perda do espírito

empreendedor dos 100.000 portugueses que deixam por-

tugal em cada ano, por falta de empregos e oportunidades

de carreira?

– poucas pessoas estão conscientes que muitas grandes

empresas europeias consideram as suas operações indus-

triais em portugal como das mais produtivas no mundo,

competindo com custos muito competitivos para mercados

de nicho. muito mais poderia ser feito, com a ajuda de

companhias com investimentos já existentes, e a EU, para

explorar a atractividade do país, possivelmente através

de uma entidade com base na EU especificamente criada

para ajudar a trazer investimento para o país.

– O sector do turismo representa um potencial imenso de

desenvolvimento, contudo o acordo da troika quase não

menciona o assunto. Um estudo feito pela EU para exami-

nar os correntes impedimentos ao desenvolvimento turís-

tico, seguido de um fundo para a promoção de projectos

turísticos, é claramente uma outra via a ter em conta.

– Da mesma forma, o potencial agrícola de portugal para

a exportação e para a substituição da importação é larga-

mente subdesenvolvido, e necessita de estudos e fundos

para promover o lançamento de numerosos projectos.

– portugal necessita de mais formação em empreendedo-

rismo e deveria encorajar as suas universidades e escolas

de gestão e economia a desenvolver parcerias com univer-

sidades estrangeiras que tenham elaborado activamente

planos de empreendedorismo.

a família da EU tem um know-how considerável na promo-

ção do desenvolvimento: O Banco Europeu para a Recons-

trução e Desenvolvimento, que desenvolveu um know-how

significativo com o seu trabalho na Europa de leste, o

Banco de investimentos Europeu, ou uma nova entidade

fundada pelos membros da zona Euro, poderiam servir de

veículos à reunião de know-how existente a fim de catalisar

e fundar projectos dos países periféricos da zona euro.

poder-se-ia começar pela organização de uma mesa re-

donda, patrocinada pela EU e Governo português, ➤

Page 86: Diplomática n.º11

86 • DiplOmáTica - OUTUBRO 2011

➤ education, and should encourage its univer-

sities and business schools to develop part-

nerships with universities elsewhere that have

elaborated extensive entrepreneurship activity.

The European Bank for Reconstruction and

Development, which has developed considera-

ble knowhow from its work in Eastern Europe,

the European investment Bank, or a new entity

funded by Eurozone members, could serve as

vehicles to catalyze and fund projects for peri-

pheral countries in the Eurozone.

portugal is a small market, and the European

Union can test new ideas there, at minimal

risk, and apply the successful ones more broa-

dly to other peripheral European countries.

One could start by organizing a broad round-

table discussion, sponsored by the EU and the

portuguese Government, inviting the participa-

tion of portuguese business and Government

leaders, including expatriate portuguese who

have become leaders in london, paris, New

York, Beijing and Sao paolo, and who would

no doubt be motivated to contribute to the de-

velopment of portugal.

Financial rigor, imposed by the rating agen-

cies, the imF, the EU and the EcB, will not be

enough to save the Euro. On the contrary, the

policies being applied, if pursued alone, may

well lead to the destruction of the Euro and

much of the success of the EU.

portugal’s situation is a case in point. Unless

some positive impetus is added to the agree-

ments portugal has signed with the troika, the

likelihood of continued economic decline, with

serious political repercussions, is high. if the EU

and the EcB are so afraid of the consequences

of an eventual departure from the Euro, then

they should provide for new, entrepreneurial

growth and employment opportunities, to save

both the Euro and the continued evolution to-

wards democratic and popular European union.

Just as portugal’s peaceful and impressive

evolution from a long dictatorship to a healthy

democracy after the 1974 revolution served as

an example for newly created democracies of

Eastern Europe, can portugal not once again

be on the forefront of new initiatives which can

provide a permanent, long-term solution to

the multiple crises which Europe and the Euro

appear likely to face? n

➤ convidando à participação de líderes governamentais

e da indústria e comércio, incluindo os portugueses da

diáspora, e elementos representativos de potenciais inves-

tidores, para identificar objectivos específicos e propostas

concretas para o desenvolvimento do país.

portugal é um mercado pequeno onde a União Europeia

pode testar as suas novas ideias com um risco muito

reduzido e aplicar as de sucesso de forma mais vasta aos

outros países periféricos.

preocupa-me a ideia de que os burocratas em Bruxelas,

Frankfurt, Washington e ministérios governamentais pos-

sam estar a viver num mundo fechado e não tenham sido

treinados para perceber o impacto das suas decisões na

vida das pessoas comuns.

Talvez seja demasiado arriscado sair do Euro, mas portu-

gal precisa de dizer à União Europeia para acordar para o

facto de ao não estar a fazer nada de positivo está também

a pôr em risco toda a estrutura europeia reforçando as

posições dos partidos anti-europeus e contribuindo para

prováveis manifestações da «primavera Europeia» que

poderão se espraiar para além das ruas da Grécia. Se

os Europeus começarem a fazer realmente a sua voz ser

ouvida, a impopularidade da burocracia da EU arrisca-se a

tornar-se numa torrente. a EU não fez um bom trabalho na

sua auto-promoção, pelo contrário, a visão populista está

na ordem do dia.

Se a EU e o BcE estão com tanto medo das consequên-

cias de uma eventual saída do Euro, então deveriam provi-

denciar medidas para o crescimento do empreendedorismo

e da criação de empregos, para salvar tanto o Euro como

uma continuada evolução para uma União Europeia verda-

deiramente democrática e popular.

Não é impossível impor rigor ao mesmo tempo que se

acrescenta níveis de crescimento e criação de empre-

go. mas é necessário um ímpeto positivo e imaginação,

algo muito contrário à visão convencional e asfixiante dos

monetaristas – pese embora, politicamente correcta - de

«devemos proteger os bancos a todo o custo», «deficits

são sempre maus» e «a mãe de todos os problemas é a

inflação». as medidas de vistas curtas ou básicas revelam-

se inapropriadas para tempos como estes em que esta-

mos.

Tal como a impressionante evolução pacífica de portu-

gal de uma longa ditadura até uma saudável democracia

pós-25 de abril serviu de exemplo para as recentemente

criadas democracias da Europa de leste, não poderá ago-

ra portugal estar de novo na vanguarda de novas iniciati-

vas que possam providenciar soluções permanentes e de

longo termo para as múltiplas crises que a Europa e o Euro

parecem ter que vir a enfrentar? n

The Financial CrisisA Crise Finaceira

Page 87: Diplomática n.º11

87OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •

A presidência da EUNic – institu-

tos Nacionais de cultura da União

Europeia – pelo instituto camões,

que se iniciou a 8 de junho, com a

reunião de dois dias em lisboa do

plenário semestral dos dirigentes

das instituições que a integram, vai

coincidir com um «salto qualitati-

vo» no funcionamento desta rede

europeia.

a reunião de lisboa marcou o

arranque prático de uma série de

transformações na EUNic, que «já

vinham sendo discutidas há algum

tempo», segundo a presidente do

instituto camões, ana paula labo-

rinho, e na penúltima reunião dos

seus dirigentes, realizada em Bru-

xelas, em dezembro de 2010, «foi

decidido criar um estatuto jurídico

para a EUNic», que lhe dá «perso-

nalidade jurídica», e dotá-la de um

escritório em Bruxelas.

criada em 2006, a EUNic é uma

rede de institutos responsáveis pe-

las relações culturais externas dos

Estados membros da UE, congre-

gando presentemente 30 institui-

ções de 26 países. O seu objetivo

principal é promover a cooperação

cultural, mediante parcerias entre

os profissionais dos setores cultu-

ral, educativo e da juventude, «ten-

do em vista um maior entendimento

da diversidade cultural e linguística

europeia».

mas a sua peculiaridade maior

é o facto de as �antenas� desses

institutos espalhadas pelo mun-

do se agruparem localmente em

núcleos (os clusters, na linguagem

da organização), que desenvolvem

iniciativas conjuntas com a marca

cultural europeia.

Instituto Camões preside à EUNICPlenário de Lisboa provoca salto qualitativo

a ideia inicial de «construção con-

junta de projetos» evoluiu entre-

tanto no sentido de levar a EUNic

a agir também na «formação e

capacitação dos agentes culturais»,

indica ana paula laborinho, que

insere nessa vertente as chamadas

«academias de verão» para jovens

gestores culturais dos institutos.

antecedendo a reunião de lisboa,

realizou-se na capital portugue-

sa, organizada pela primeira vez

inteiramente por portugueses,

através do instituto camões (ic), a

4ª edição da «academia de verão»

dedicada às indústrias criativas e

culturais, cumprindo três objetivos

da organização: «partilha, aprendi-

zagem, construção».

Novo modelo e nova faseCom a assinatura dos estatutos, que

acontecerá em breve, em Bruxelas,

e de acordo com a legislação belga,

a EUNic passa a ser «uma asso-

ciação com personalidade jurídica»,

refere a presidente do ic, que revela

ainda estar em elaboração «um

regulamento não só em relação

ao funcionamento do escritório em

Bruxelas, mas também em relação

ao funcionamento dos clusters, ou

seja, como é que estes se relacio-

nam com a equipa da presidência da

EUNic e como é que representam,

de alguma forma, a EUNic».

«Este será também um momento

em que, ao contrário do que acon-

tecia – em que o projeto era su-

portado financeiramente sobretudo

pelo Goethe institut e pelo British

council – os institutos parceiros

deste projeto vão todos eles contri-

buir, na medida da sua dimensão,

para o orçamento geral da EUNic»,

afirma a presidente da EUNic,

terão assim «um maior envolvimento ➤

Cultura

Page 88: Diplomática n.º11

88 • DiplOmáTica - OUTUBRO 2011

➤ na sua gestão e na elaboração do

seu plano de atividades».

Do novo modelo da EUNic fazem

ainda parte as reuniões regionais,

«em que a presidência se junta

com os clusters de uma grande

região para debater questões não

só de organização, mas também

substantivas». Na génese destas

reuniões regionais esteve a realiza-

ção anual de uma reunião de todos

os clusters para partilharem expe-

riências, discutirem problemas e

articularem estratégias de atuação.

com o crescimento do número de

clusters, e na constatação de que

estes partilhavam regionalmente

maior identidade na ação e nos

obstáculos com que se defronta-

vam, pensou-se na organização

de reuniões regionais de clusters

com a equipa da presidência. Em

2010, teve lugar a primeira reunião

regional, na Europa e, em 2011, já

se realizaram reuniões na áfrica

subsariana e nas américas. ainda

este ano, haverá reuniões na áfrica

do Norte e na Europa de leste.

Outro elemento do novo modelo é

o «grupo estratégico». atendendo

a que «são muitos países, que são

muitas as identidades», o grupo es-

tratégico, com uma «representação

alargada», destina-se «de alguma

forma a pensar o que pode ser

a ação conjunta, não apenas em

termos de organização, mas a ação

substantiva da EUNic».

a função da presidência da EU-

Nic pelo ic, que se vai prolongar

durante um ano, será assim de

«consolidação desta nova fase» na

vida da rede dos institutos culturais

europeus. mas não apenas. ana

paula laborinho refere que «um

dos aspetos que tem sido sublinha-

do como positivo na presidência

portuguesa – cuja primeira vice-pre-

sidência é francesa – são as nossas

relações, quer com a ásia quer com

o Brasil. Está em curso um projeto

de diálogo com a china e de esta-

belecimento de parcerias através

da EUNic, que vai ser desenvolvido

e prosseguido, e a mesma coisa

acontece com as américas, conti-

nente que foi objeto de uma reunião

regional dos clusters, em maio pas-

sado, em São paulo, no Brasil».

O que é a EUNIC?– a EUNic é uma rede constituída

pelos institutos nacionais de cultura

da União Europeia.

– Foi fundada em 2006 e, presen-

temente, congrega 30 membros de

26 países.

– O seu órgão máximo é a reunião

dos diretores dos institutos parti-

cipantes, que decorre de seis em

seis meses. além disso existe uma

«equipa presidencial» de 3 mem-

bros, escolhida por eleição, consti-

tuída por um presidente (desde 8 de

Junho, o instituto camões) e dois

Vice-presidentes (institut Français

e Wallonie-Bruxelles internacional),

que vão mudando de funções. O 2º

Vice-presidente passa a 1º Vice-

presidente e o 1º Vice-presidente

passa depois a presidente.

– atua através de núcleos –os

chamados clusters – nos vários

países do mundo, núcleos esses

que congregam as representações

locais dos institutos nacionais de

cultura da UE. Neste momento

existem quase 70 núcleos, desde a

china, passando por vários países

da ásia, até às américas, áfrica e

Europa (estes em maior número),

que articulam a sua ação com a

presidência da EUNic.

– Em setembro, a EUNic deverá

abrir um escritório em Bruxelas,

com dois funcionários permanentes.

– anualmente, promove a realiza-

ção de uma academia de Verão

para formação de jovens quadros

dos membros da EUNic.

– a língua de trabalho da EUNic é

o inglês.

Projetos com envolvimento da EUNIC– a EUNic preside à plataforma

da Sociedade civil da UE sobre

o multilinguismo. com um sig-

nificativo financiamento da UE,

o projeto destina-se à criar um

Observatório da língua em linha

até dezembro de 2012, destinado

a captar as boas práticas e rea-

lizar investigação nas seguintes

áreas: recursos locais e regionais

de aprendizagem de línguas por

adultos; política linguística e prá-

tica dos serviços públicos; apren-

dizagem precoce de línguas.

– O projeto poliglotti4.eu utiliza

a arte, a cultura e os media para

promover o multilinguismo, vi-

sando quatro grupos principais:

atores nos sistemas de educa-

ção não-formais e nos serviços

sociais, decisores políticos e

organizações de base da socie-

dade civil. a fim de aumentar a

perceção sobre a importância

do multilinguismo na sociedade

em geral, o projeto poliglotti4.eu

também constituirá uma rede de

embaixadores que são conhecidos

e multilingues, ou que são parti-

cularmente reconhecidos e ativos

no domínio do multilinguismo na

sociedade civil.

– language Rich Europe. Este

projeto, liderado pelo British

council reúne parceiros em 16

países, incluindo Goethe insti-

tut, instituto camões, instituto

cervantes e instituto cultural da

Dinamarca. pretende criar uma

ferramenta de medição inovadora

e interativa, o chamado “Índice

de práticas e políticas multilin-

guísticas na Europa”, que permiti-

rá visualizar o papel e o apoio ao

multilinguismo nos países euro-

peus participantes e destacar as

boas práticas. O lançamento será

no final de 2011. n

ic. ip.

Instituto Camões preside à EUNIC

Page 89: Diplomática n.º11

89OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •

A fim de honrar o grande pintor moçambica-

no malangatana, falecido recentemente, a

Uccla, com o apoio da câmara de lisboa e

do conselho municipal de maputo organizou

no São luiz Teatro municipal um conjunto de

eventos que englobou um colóquio e um gran-

de espectáculo multidisciplinar coordenado

pelo arq. João laplaine Guimarães.

No colóquio “malangatana: o Homem e as

suas Obras” pudemos ouvir as doutas opi-

niões de um painel ilustre onde se contava

alfredo caldeira (da Fundação mário Soares),

antónio loja Neves (moderador), marcelo Re-

belo de Sousa, maria João Seixas e mutxhimi

Ngwenya malangatana (filho e administrador

da Fundação malangatana).

Foi focada quer a faceta artística, quer a

política de um homem que soube lutar pelos

seus ideais universalistas e humanistas e pela

auto-determinação do seu país. malangatana

entendia moçambique como uma nação plura-

lista com uma grande multiplicidade cultural e

étnica que deveria ser respeitada.

as suas posições políticas valeram-lhe vários

dissabores sendo, nos anos de 1960, indi-

ciado como membro da FRElimO e encar-

cerado. Este envolvimento profundo com as

questões políticas não poderia deixar de se

reflectir na sua arte. Esse engajamento há-de

valer-lhe uma nova prisão, em 1971, pelo ➤

Homenagem a Malangatana

Cultura

Page 90: Diplomática n.º11

90 • DiplOmáTica - OUTUBRO 2011

➤ simbolismo crítico da obra 25 de Setembro,

que não deixou de expor, mesmo sabendo

que estava a pôr em risco a sua partida para

portugal garantida por uma bolsa da Funda-

ção Gulbenkian.

menino pobre, sempre trabalhou para con-

seguir o mínimo para sobreviver. para a

arte dependeu de mecenas que viram nele

a promessa de um grande artista. Quando,

em 1958, ingressa no Núcleo de artes esse

apoio passa, de imediato, a ser dado pelo

mestre Zé Júlio. acontece a primeira exposi-

ção colectiva e recebe o apoio do arquitecto

português pancho Guedes. Quatro anos

depois, e com apenas 25 anos de idade, tem

a sua primeira exposição individual no Banco

Nacional Ultramarino.

artista pluridisciplinar vai abarcar, ao longo

da sua vida as mais variadas formas de arte:

da pintura à poesia, da tapeçaria à cerâmica.

No seu todo porém, a sua arte está sempre

ligada aos acontecimentos políticos e históri-

cos de moçambique; primeiro centrando-se na

questão colonial e mais tarde, com a indepen-

dência do país, no tema da guerra civil.

com a maturidade a obra vai evoluindo para

temas mais amplos e universais até chegar, a

partir dos anos 80, a um universo sensualista

e erótico.

para que se soubesse um pouco mais deste

grande homem e da sua arte, a organização

distribuiu á entrada do espectáculo, a bro-

chura “malangatana o Homem e as Obras”

resultado do trabalho de coordenação do ➤

Homenagem a Malangatana

Page 91: Diplomática n.º11

91OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •

➤ Dr. Rui lourido em parceria com a Funda-

ção mário Soares e a Fundação malangatana.

Nesta pequena obra, profusamente ilustrada,

pode ler-se igualmente os testemunhos de

diversas personalidades.

O espectáculo luso-moçambicano, que de-

correu na Sala principal do Teatro municipal

de S. luiz, apresentou um conjunto de artis-

tas de várias formações e origens. iniciou-se

com uma récita arrebatadora de poesia por

Elsa de Noronha que, de imediato prendeu

a atenção do público. Seguiram-se um vasto

número de artistas, ora cantando, ora dan-

çando. Do fado de mafalda arnauth às dan-

ças guerreiras do grupo Xispane-pane, duas

horas passaram velozes na companhia de

camané, andré colaço, maria João, mingas e

o grupo coral alma de coimbra que encerrou

com chave de ouro.

Enquanto iam sendo projectadas imagens de

várias obras de malangatana, os artistas iam

sendo apresentados por margarida pinto cor-

reia que não se deixou intimidar pela excelsa

plateia de honra onde se incluía Sua Exce-

lência o presidente da República de portugal,

Sua Excelência o Embaixador de moçambi-

que em lisboa, miguel costa mkaima, pre-

sidente da câmara municipal de lisboa, o

presidente do conselho municipal do maputo,

o Governador da província de luanda e a

Directora da Revista Diplomática – Negócios

e Diplomacia.

Um serão memorável para homenagear um

homem inolvidável. n

1

2 3 54

1. O presidente cavaco Silva e sua mulher estiveram presentes 2. Embaixador de moçambique, maria da luz de Bragança e lívio

morais 3. presidente do conselho municipal de maputo com o presidente cavaco Silva 4. Nuno Vaz de moura 5. Elsa de Noronha

com a nossa Directora

Page 92: Diplomática n.º11

92 • Diplomática - oUtUBRo 2011

Artistas de Angolana Galeria de Arte do Casino Estoril

A Galeria de arte do casino Estoril foi palco da exposição artistas de angola, em

que participaram os artistas: albano Neves e Sousa, abílio Victor, adão marcelino,

amílcar Vaz de carvalho, antónio magina, Dília Fraguito Samarth, Domingos lau-

rindo, Dora-iva Rita, Edgardo Xavier, Filomena coquenão, Grácia Ferreira, João

inglês, José Zan andrade, Júlio Quaresma, Viteix e Vítor Ramalho.

a Galeria do casino Estoril tem tido sempre as suas portas abertas aos artistas

dos países de expressão portuguesa aí nascidos ou que aí viveram longos anos e

privilegiaram, na sua temática, motivos desses países.

a presente exposição insere-se nesta linha de pensamento. contou com a presen-

ça de 17 artistas, na sua maioria nascidos em angola, mas residentes em portu-

gal, na sua quase totalidade em lisboa, e já inseridos no mundo das nossas artes

plásticas.

Foi objectivo desta exposição facultar aos artistas angolanos um espaço privile-

giado para mostrar os seus trabalhos a um público qualificado, na sua maioria

estrangeiros que, nesta época do ano, visitam o Estoril, mas também proporcionar

uma visibilidade, sem dúvida útil, ao conjunto de artistas participantes, muitos dos

quais são titulares de currículos artísticos significativos. É o caso de Júlio Qua-

resma, Neves e Sousa, ZaN, Dília Fraguito, Viteix, Dora-iva Rita, João inglês e

outros mais.

De referir também o nome de abílio Victor, um engenheiro químico, nascido em

lucala, desconhecido do grande público e que se especializou na pintura de ani-

mais (principalmente aves) e outros temas da natureza, sem esquecer as pessoas

que ai vivem, sempre com inegável qualidade artística.

a exposição integrou também uma homenagem ao pintor albano Neves e Sousa,

grande pintor angolano, que realizou na galeria do casino exposições individuais

e participou em dezenas de colectivas. Sem dúvida um dos pintores que mais e

melhor pintou as terras e as gentes de angola. n

albano Neves e Sousa

Júlio Quaresma

Cultura

Page 93: Diplomática n.º11
Page 94: Diplomática n.º11

94 • Diplomática - oUtUBRo 2011

A revista Eles & Elas completou 30 anos e a festa, que teve lugar no Restaurante aura,

em lisboa, foi de arromba. Numa belíssima noite de Verão foram imensos os amigos,

bem como as figuras conhecidas das mais variadas áreas, que fizeram questão de pres-

tigiar tanto a revista, que completou três décadas, como a sua directora, maria da luz de

Bragança.

cumprindo a tradição, a Estátua da Verdade, uma peça concebida em bronze pelo escul-

tor Francisco Simões, foi de novo entregue durante o evento. aliás, desde o primeiro ano

da sua existência que a Eles & Elas homenageia as figuras mais relevantes da socieda-

de portuguesa nas mais diversas áreas. Este ano a Estátua da Verdade foi entregue à

consagrada empresária Helena Daget, uma mulher que triunfou num universo de extrema

concorrência e é a presidente da empresa techdrill, sedeada nos Estados Unidos, uma

companhia que dá cartas no universo da perfuração petrolífera.

aquando da entrega do prémio, Helena Daget, claramente emocionada, agradeceu a hon-

ra que lhe havia sido concedida, afirmando que embora já tenha sido a recipiente, noutras

ocasiões, de prémios relativos ao seu trabalho, esta foi a primeira vez que tal sucedeu no

seu país de origem, algo que a deixou extraordinariamente grata. amante confessa da

sua terra natal e das belezas lusas, Helena Daget é bem o exemplo do melhor que a pe-

quena grande nação portuguesa tem dado ao longo dos séculos ao mundo. De parabéns

estão, assim, o universo empresarial, tanto nacional quanto internacional mas também a

revista Eles & Elas. ■

Parabéns a Helena Daget

Page 95: Diplomática n.º11

95OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •

7. The pearls of LusophonyFour countries are leaving a strong mark in the universe of lusophony. Brazil, an emerging giant and a

leader in the affirmation of lusophony are strengthening their bonds and assistance to its former ex-colonial

country, now clearly going through a steep depressive crisis. Overcoming the last remnants of a dramatic

independence, angola has become the country of destiny for many new work and business opportunities

for thousand of portuguese individuals. mozambique is also given signs of a strong growth, built upon huge

projects that make the best of its natural resources, aided by all the investments made around the oil franchise,

thus given signs of new hope for the consolidation of a still young democracy. at the same time, cape Verde’s

is searching in international aid and in the search for foreign investment all the necessary help to overcome the

factors that have so far stopped its sustainable development. ■

7. Les Perles de la LusophonieQuatre pays se distinguent dans le monde lusophone. Brésil, un géant émergent et un leader dans la

déclaration lusophones renforce les liens et les aides à l'ancienne puissance coloniale,traverse actuellement

une phase dépressive.

Dépassé les restes d'une indépendance dramatique, l'angola est devenu un pays de destination pour le travail

et de nouvelles opportunitées de milliers de portugais.le mozambique a également des signes positifs de

croissance élevé, basé sur des méga-projets pour l'exploitationde ses ressources naturelles,et a obtenu un

nouvel éclat avec les investissements réalisés dans le domaine de l'exploration pétrolière, tous les signes

encourageants de consolidation de la démocratie encore jeune.alors que la demande au cap-Vert et l'aide

internationale pour attirer les aides directes aux investissements étrangers nécessaires pour surmonter les

facteurs inhibant son développement durable. ■

10. XVI Meeting of CPLP revealed core strategy The promotion, protection, enhancement and dissemination of the portuguese language as a vehicle of

culture, education, information and access to scientific and technological knowledge and use in international

forums, was one of the fundamental decisions of the sixteenth meeting of the cplp countries, which had the

presence of the portuguese minister of Foreign affairs, paulo portas, in what was his first official visit abroad

since taking the job.

in a global space affected at present by an unprecedented crisis, it is important to note the purposes

announced at this particularly important meeting of the cplp, mainly the supporting of measures that will,

namely, point to the promotion of the growth and development of the member states that are at their most

vulnerable.

another important factor to note was the emphasis placed on the plan of action for the promotion of Brasília

for the Broadcast and projection of the portuguese language, in regard to the consolidation of portuguese

as official and working language in international organizations, particularly those in which the cplp is

represented. When trying to extend its scope of action, one of the measures to be implemented in the near

future, regards the relationship with the UN and, in particular, with its Security council. ■

10. XVI e Réunion de la stratégie de la CPLP a révélé coeurLa promotion, la protection et l'amélioration et la diffusion de la langue portugaise comme véhicule

de la culture, l'éducation,l'information et l'accès aux connaissances scientifiques et technologiques et

l'utilisation dans les forums internationaux, a été l'une des décisions fondamentales de la seizième réunion

des pays de la cplp, qui avait la présence du ministre portugais des affaires Étrangères, paulo portas,

depuis sa prise de l'emploi. Dans un espace global actuellement touchés par une crise sans précédent, il

est noté dans le but de la réunion l' annonce, lors de la réunion de la cplp, des mesures pour soutenir,

qui pointent à la promotion de la croissance et le développement des Etats membres les plus vulnérables.

Un autre facteur important a été l'accent mis sur le plan d'action pour la promotion de Brasilia, la diffusion

et de projection de la langue portugaise, en termes de la consolidation,en tant que langue officielle et de

travail dans les organisations internationales, en particulier lorsque la cplp est représentée. Une des

mesures à mettre en ?uvre dans un proche avenir, concerne les relations avec l'ONU et, en particulier, le

conseil de Sécurité. ■

English & French texts

Page 96: Diplomática n.º11

96 • DiplOmáTica - OUTUBRO 2011

English & French texts

12. Portugal, Europe, Emerging WorldThe current chief executive of the portuguese Bic Bank, luís mira amaral says that portugal faces an

extremely difficult economic and financial situation, being caught in the so-called full sovereign debt crisis of

the peripheral countries of the Eurozone.

Recalling that the global economical geography of the 21st century has changed much from what it was in the

20th century, mira amaral stated that we now have china and india overtaking the U.S. as the major world

economic powers, recalling, on the other side, that in global economy, major emerging countries also stand out

in lusophony space, as is the case of Brazil (a rising star at world level) and angola, as a regional economic

and military in southern africa, where the hegemony was detained until now by South africa. Finally, he states

that portugal will have to engage itself more and more, between the EU side and its lusophony dimension,

which requires a great rapport and strategic cooperation between the political power and the portuguese

entrepreneurs. ■

12. Portugal, Europe, Monde émergentsActuel Directeur Général du Bic Banco portugais, luís mira amaral affirme que le portugal fait face à une

situation économique et financière extrêmement difficile, d'être pris dans la soi-disant crise de la dette totale

souveraine des payspériphériques de la zone euro.

Rappelant que la géographie économique du XXi siécle a beaucoup changé a ce qui concerne à la situation

au cours du siècle.XX, mira amaral a affirmé que nous avons maintenant la chine et l'inde à dépasser

lesEtats-Unis, comme les pouvoirs du premier monde économique,rappelant, de l'autre côté, l'économie

mondiale, les grandes économies émergentes qui se distinguent également dans l'espace lusophone,

comme c'est le cas du Brésil (une étoile montante et le niveau monde) et en angola,en tant que puissance

économique et militaire regionalen afrique australe, où l'hégémonie a été détenu jusqu'à présent par l'afrique

du Sud. pour conclure, en affirmant que le portugal aura à jouer, à chaque fois, entre le côté de l'UE et la

dimension lusophone, qui demande un bon rapport, et de la coopération stratégique entre les politiques et les

entrepreneurs portugais. ■

14. Lusophony, a Large SoulMaria de Belém, the current bench leader of the Socialist party in parliament, addresses the question

of how the portuguese language has become an instrument of aggregation within the portuguese

speaking world, the result of different influences and experiences that have made it rich and

expressive, alive, and adaptable to both the world of today and of tomorrow. a wealth that can be

more experienced, when looking at lusophony as a rich tool, not only from a cultural point of view,

but emphasizing its value as incalculable in terms of politics and economics. That is why it makes

sense tfor it to be tapped as the aim of assertion, and in the search for new geostrategic designs.

in a Europe in crisis, both in terms of values and economics, maria de Belém argues that

portugal must acquire a new dynamic that carries it beyond the European area, a link that may renew

and nourish its diaspora and revive the entire body of the world of lusophony, in order to make it

feel good, “because it feels amongst his own kind”. ■

14. Lusofonia, une Grande ÂmeActuel leader du groupe parlementaire du parti Socialiste, maria de Belem aborde la question de savoir

comment la langue portugaise est devenue un instrument agrégateur du monde de la lusofonie, un produit

d'influences et diferents expériences, ce qui fait sa richesse et expressif, vif, adaptable à l'univers du

present et de l'avenir. Une richesse qui peut être plus vif, face à la lusofonia, non seulement du point de

vue culturel, mais en soulignant le valeur inestimable en termes politique et économique. c'est pourquoi il

est logique qu'il soit exploité que dans le but d'affirmation, de trouver de nouveaux désirs géostratégiques.

Dans une Europe en crise, les valeurs et l'économie, affirme maria de Belem que le portugal doit acquérir

une nouvelle dynamique, que le transport au-delà de l'espace européen, un lien de renouveler et nourrir

notre diáspore et que le fait se lancer, de tout le corps, dans le monde lusophone, où il se sent bien,

“parce qu'il se sent parmi les siens." ■

Page 97: Diplomática n.º11

97OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •

16. Eng. Anacoreta Correia, secretary-general of UCCLAHe has worked as a state councillor, a former minister, European Deputy and is the most visible face of

Uccla (Union of the portuguese-speaking capitals), an organization that fights to bring together people from

the various cities, located in five continents, where portuguese is spoken, developing a wide cultural, socio-

economic and geo-strategic activity, particularly in the expansion and defense of the language of camões

and national companies. anacoreta correia states that in a situation of global competitivity one should

promote the entry of domestic companies in the emerging portuguese speaking nations, advocating a more

active presence in Brazil’s Uccla. ■

16. Eng Anacoreta Correia, secrétaire général de l'UCCLAIl a été consillier d'Etat, ancien ministre, député européen, est la face la plus visible de l'Ucla (Union des

capitales de la langue portugaise), une organisation qui se bat pour rapprocher les peuples des villes

situées sur les cinq continents où le portugais est parlé, pour développer une action globale culturel, socio-

économiques et géostratégiques, en particulier l'expansion et la défense de la langue de camões et des

sociétés nationales. anacoreta correia soutient que dans un contexte de concurrence mondiale croissante,

nous devrions encourager l'entrée des entreprises nationales dans les marchés émergents, parlant, luttant

pour une presence plus actif de l'Uccla au Brésil. ■

24. Mário Vilalva, Ambassador of Brazil in PortugalAdept of the so-called economical diplomacy, the ambassador of Brazil in portugal highlights how, after twenty

years elapsed before his return to lisbon, he found a different country, a more modern one, and states

that one of his main objectives is the strenghtening of trade relations between Brazil and portugal.

mario Vilalva announces the creation of a new economical instrument for cooperation, named Business

intelligence, that aims to help companies to export to its brother country, identifying existing obstacles

and stressing how crucial it is to establish an agreement between mercosul and the European Union. ■

24. Mário Vilalva, Ambassadeur du Brésil au PortugalAdepte de la diplomatie économique appelée, l' ambassadeur du Brésil au portugal met en évidence

comment, après vingt ans se sont écoulés après son retour à lisbonne, il a trouvé un pays différent, plus

moderne, affirmant que l'un de ses principaux objectifs c'est le renforcement des relations commerciales entre

le Brésil et le portugal. mário Vilalva annonce la création d'un nouvel instrument de coopération économique,

appelé Business intelligence, avec le but d'aider les entreprises portugaises à exporter vers le pays frère ,

l'identificant des obstacles créés, il insiste, soulignant qu'il est crucial d'établir un accord entre le mercosur et

l'Union Européenne. ■

34. Miguel Costa Mikaima, ambassador of MozambiqueThe mozambican diplomatic representative in lisbon talks of bilateral relations, that are getting increasingly

profitable, between portugal and mozambique, noting that to attract portuguese investment has been one of its

objectives, having with that in mind, created a specific sector for that effect in the embassy.

Fighting problems such as hunger and poverty in his country has become a key issue in governance, at a

time when the former colony celebrates its 25 years of post-independence by contributing to what he calls

“the recovery of self-esteem of the mozambican people”. married and with four children, michael mikaima

appreciates the hospitality of the portuguese, emphasizing the full integration into society of his countrymen. ■

34. Miguel Costa Mikaima, Ambassadeur de MozambiqueLe représentant du mozambique à lisbonne parle sur les relations bilatérelles,en plus rentable,entre le

portugal et le mozambique, en soulignant que d'attirer les investements portugaises a été l'un de ses

objectifs, créant même un departement spécifique dans ce sujet dans l'ambassade. il afirme que le combat

contre la faim et la pauvreté dans son pays est devenu une question clé en matière de gouvernance, à une

époque où l'ancienne colonie célèbre ses 25 ans dans la post-indépendance, ce qui contribue à ce qu'il

appelle «la récupération de l'estime de soi du peuple mozambicaine». marié, avec quatre enfants, michael

mikaima apprécie l'hospitalité des portugais, en insistant sur la pleine intégration, dans la société, de ses

compatriotes. ■

Page 98: Diplomática n.º11

98 • DiplOmáTica - OUTUBRO 2011

English & French texts

57. Day of Portugal and CamõesMore than seven thousand people attended the celebrations of Day of portugal and camões, the great poet

who perpetuates in his work the lusíadas the story of the portuguese Discoveries. This year the ceremonies

took place in the city of castelo Branco and the focus in the speech of the president was on the call for the

people to go back to the countryside and to working in agriculture, an area that has been terribly neglected in

recent years, and also appealing to the political powers for more determinant action in this sector. The entire

credited diplomatic corps in portugal was present for the usual greetings ceremony to cavaco Silva, and the

official ceremonies were followed by a show in the Gardens of the palácio Episcopal, starring luís Represas

and Teresa Salgueiro. ■

57. Le Portugal et la Journée de CamõesPlus de sept mille personnes ont assisté à la célébration de la Journée du portugal et de camões, le grand

poète qui perpétue dans les lusíadas, la geste des Découvertes portugaises. les cérémonies ont eu lieu cette

année dans la ville de castelo Branco et l'accent mis dans le discours du président de la République abouti à

l'appel à la ruée vers la campagne et l'agriculture, qui a été tellement négligée ces dernières années, faisant

appel aux pouvoirs politiques à une action décisive dans le secteur. Tout le corps diplomatique credité au

portugal a eté présent dans l'habituelle cérémonie de compliments devant cavaco Silva, suivie d'un spectacle

dans les jardins du palais de l'Evêché, où ont chanté luis Represas et Teresa Salgueiro. ■

40. Passos Coelho, a “portrait” of the new Prime MinisterA liberal reformer, feisty, stubborn, tough fight insofar as the party is concerned, the african continent has

been branded in his life, having spent there his youth, and shaped his experience in a multiracial spirit that

remains until today. On the very night he was elected, passos coelho recalled the role that portugal can play

in establishing this “bridge”, perhaps crucial for the survival of the country, between the portuguese-speaking

africa and Europe. The tasks of the new Executive were outlined right at the inauguration speech: to stabilize

the finances, help the needy and make sure that the economy and employment were to grow. all at the

expense of the austerity measures imposed by the “troika”, measures that he intends to comply with as strictly

as possible, in order to give a positive sign that portugal is on track to its economic recovery. ■

40. Passos Coelho, un «portrait» du nouveau Premier MinistreUn réformateur libéral, fougueux, opiniâtre, dur dans le combat au parti, le continent africain a marqué,

dans sa vie, où il a passé sa jeunesse, le façonnage de leur expérience dans l' esprit multiraciale, qui reste

aujourd'hui. Dans la nuit même où il a été élu, passos coelho a rappelé le rôle que le portugal peut jouer dans

l'établissement de ce «pont», peut-être crucial pour la survie du pays, entre le monde africaine lusophone

e l' Europe. les tâches du nouvel exécutif, il les a énoncés à droite au discours d'investiture: stabiliser les

finances, aider les nécessiteux et la croissance de l'économie et l'emploi. le tout aux frais des mesures

d'austérité imposées par la «troïka» et qu'il entend se conformer strictement, afin de donner un signe positif

que le portugal est sur la bonne voie du redressement économique. ■

87. Instituto Camões presides EUNICThe presidency of the instituto camões EUNic will coincide with “a qualitative leap in the functioning of this

European network responsible for the external relations of the EU member states, currently bringing together

30 institutions in 26 countries, and whose objective is to promote cultural cooperation by partnerships between

professionals of the cultural, educational and youth sectors”. as ana paula laborinho, the president of the ic,

revealed, according to the signature of the new statutes, EUNic becomes an “association with legal personality.” ■

87. Instituto Camões chaises EUNICLa présidence de l'EUNic par l'instituto camões coincidera avec «un saut qualitatif dans le fonctionnement

de ce réseau européen”, responsable pour les relations extérieures des Etats membres de l'Union Européene,

réunissant actuellement 30 établissements dans 26 pays, et dont l'objectif est de promouvoir la coopération

culturel, grâce à des partenariats entre les professionnels des secteurs culturels, éducatifs et de la jeunesse.

"En tant que président de l'ic a révélé, ana paula laborinho, selon la signature des nouveaux statuts, EUNic

devient "une association ayant la personnalité juridique." ■

Page 99: Diplomática n.º11
Page 100: Diplomática n.º11