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Negócios e Diplomacia
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4 • Diplomática - Junho/Julho 2008
´Diplomaticabusiness & Diplomacy
With English & French Texts
Lusofonia Um mundo económico,cultural e político
Embaixadores Brasil e Moçambique
CPLP e UCCLA
Dossier
Em destaque
Festas nacionais: E.U.A., Rússia, França, Itália, Luxemburgo, Israel e Eslovénia
Nº11 AGOSTO/OUTUBRO 20114 (Cont.)
Dip
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O complexo dispõe no hotel de 201 quartos com uma decoração moderna – incluindo 21 suites,
divididas em 17 júnior suites, 3 suites de luxo, uma magnífica suite presidencial e 20 vilas, com lodo o
luxo e conforto necessários para tornar a sua estadia inesquecível.
Todos os quartos dispõem das tecnologias mais avançadas de climatização, segurança e comunicação,
telefone e internet (2 ligações com 4Mbps cada), mesa de trabalho. TV Cabo com 48 canais, TV LCD,
serviço de quartos 24hrs, limpeza e serviço de turndown diários, cofre e secador de cabelo. O luxo
atinge o seu expoente máximo com distintas e elegantes Vilas, todas com 3 quartos que poderão ser
perfeitas para estadias curtas bem como para estadias mais prolongadas.
Mais do que um Hotel, o HCTA é um espaço refrescante, sensual e incomparável para recuperar os
seus sentidos, onde a tradição foi capturada e transformada em elementos únicos e sofisticados com
o objectivo de criar uma ligação culural com os hóspedes.
um estilo de vida!
Vilas, Suites & Quartos
capacidade das Salas
Banquetes e Conferências
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4 • Diplomática - oUtUBRo 2011
Tempos terríveis
Hoje, impressionada, recordo a recepção na Embaixada do Egipto, com a
fotografia de mubarak na sala por onde passávamos até chegar ao jardim,
que se ia enchendo de convidados, do gentilíssimo e muito culto Embaixador,
onde se serviam as especialidades gastronómicas do seu país.
Há 30 anos a dirigir o Egipto, Hosni mubarak era tido, de acordo com as tradi-
ções, como um faraó.
com a coragem e a dignidade de um grande senhor, mubarak demitiu-se ao
ver as manifestações, para si injustas, contra a sua forma de liderar e, evitan-
do posições de força e uma guerra civil, o “faraó” foi hoje a julgamento carre-
gando a “cruz” de ter sido poderoso e amado por muitos.
metido numa jaula como um animal feroz, assistia ao julgamento das suas
atitudes e decisões, que outros julgavam erradas.
isto de enjaularem o senhor fez-me francamente muita impressão.
Será que os novos governantes que, no século XXi permitem este achincalhamento e humilhação ao seu ex-líder,
serão mais justos e civilizados do que ele?
Do oriente ao ocidente, o terrorismo político que se tem manifestado ultimamente e que será o oposto da verdadei-
ra diplomacia, deixa-me a mim, como a qualquer outra pessoa de bem, atormentada levando-me a enviar os meus
profundos sentimentos à Embaixadora da Noruega, ao seu Rei e ao seu povo, pela horrível acção de um louco que
assassinou dezenas de conterrâneos, muitos deles muito jovens, porque assim pensava defender a sua civilização.
civilização onde se está também a desenvolver o terrorismo económico, atacando multidões no mundo dito civilizado
e provocando, por exemplo, em portugal, centenas de suicídios e mortes por acidentes cardio-vasculares como não
há memória.
mais recentemente, é impossível não referir as violentas manifestações, tanto em diversas cidades inglesas, como
em madrid, na véspera da chegada do papa Bento XVi.
tudo isto fez-me pensar no que poderá mudar este caminhar da humanidade e cheguei à ideia de que a educação
poderá ser um remédio. Não as boas maneiras ou a dita cultura do conhecimento. o remédio talvez esteja numa re-
formulação da educação, com cadeiras desde o início da escolaridade e acompanhamento das novas gerações, para
que estas possam transmitir regras de conduta e o verdadeiro exemplo de dignidade e princípios éticos que afinal
iremos encontrar em todos os mandamentos e religiões.
o necessário é ensinar a cumpri-las mesmo. ■
Nota do Editor
Editor's note
Horrible Times
Today, rather impressed, i remembered the reception at the Embassy of Egypt, with the photograph of mubarak in the room, while going towards the garden,
which was by then filled with guests invited by the most kind and well bred ambassador, and where food specialties from his country were being served.
at the helm of Egypt for 30 years, Hosni mubarak was held, according to the tradition, as a pharaoh.
With the courage and dignity of a great gentleman, mubarak, ended up resigning when faced with all the demonstrations, understood by him as unjust, that
took place. these demonstrations were against the way he governed his country. He, however, avoided, taking a stand that could have lead to a civil war.
the “pharaoh” was on trial today, carrying with him the “cross” of his powerful rulings – hated by many but still loved by others.
Stuck in a cage while on trial like a wild beast, he witnessed his actions and decisions – now preceived as wrong – being judged. the caging of this man
impressed me strongly.
are these new rulers, the same that in the 21st century allow this kind of humiliation to their former leader to take place, more just and civilized than him?
From East to West the political terrorism that has manifested itself lately, and that is the very opposite of true diplomacy, leaves me, like any other well bred,
flabbergasted obliging me to send my deepest feelings to the ambassador of Norway in portugal, the King of Norway and his people, given the horrible
actions of a madman who murdered dozens of his own people, many of them so very young, under the belief that he was defending his civilization.
a civilization that is also developing an economic terrorism attacking many people in the so-called civilized world, in portugal, for example, hundreds of
suicides and the greatest number of deaths from cardio-vascular accidents that one can recall.
all this made me wonder about what could be made to change this journey of humanity and i came to the conclusion that education could be the best remedy. Not
good manners or the so-called culture of knowledge. the solution may well be a reinstatement of education and a stronger guidance for younger generations that
may pass on rules of conduct and a true example of dignity, and the ethical principles those that ultimately we find in the commandments of all religions.
What is necessary is to make sure that they take those teachings with these principles to heart. ■
6 • Diplomática - oUtUBRo 2011
DIRECTOR: maria da luz de Bragança PRODUÇÃO: césar Soares PROPRIEDADE: maria da luz de Bragança EDIÇÃO: Gabinete 1 Editor nº 211 326. av. Engº Duarte pacheco, nº1 - 4º Esq. – 1070-100 lisboa.
MARkETIng & PUblICIDADE: Gabinete 1 - e-mail:[email protected] tel.: 21 322 46 60 a 76 Fax: 21 322 46 79IMPRESSÃO: madeira & madeira, S.a. DISTRIbUIÇÃO: logista - alcochete - telefone: 21 926 78 00 Fax: 21 926 78 45
iSSN 1647-0060 – Depósito legal nº 276750/08 – publicação registada na Direcção Geral da comunicação Social com o nº 125395
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AssuntosSummary
carta ao leitor.letter to the reader.
Dossier. lusofoniaDossier. lusophony
as pérolas da lusofoniathe pearls of lusophony
XVi Reunião da comunidade países de língua portuguesaXVi meeting of the community of portuguese-Speaking countries
texto de mira amaral:”portugal, Europa, mundo Emergente”text by mira amaral: “portugal, Europe, Emerging World”
texto de maria de Belém: “lusofonia, uma alma Grande”text of maria de Belém, “lusofonia, a large Soul”
Entrevista a anacoreta correia, secretário -geral da Ucclainterview with anacoreta correia, Secretary-General of Uccla
maria lúcia torres lepecki, memória da vida e obra de uma grande defensora da cultura portuguesamaria lúcia torres lepecki, memory of the life and Work of a Great Defender of portuguese culture
Entrevista a mário Vilalva, Embaixador do Brasilinterview with mário Vilalva, ambassador of Brazil
Brasil, uma viagem de sonhoBrazil, a Dream trip
Entrevista a miguel costa mikaima, Embaixador de moçambiqueinterview with miguel costa mikaima, ambassador of mozambique
as independências e os intelectuais negros, por palmira tjpilicathe independences and the black intellectuals, by palmira tjpilica
o Governo de passos coelhothe Government of passos coelho
opiniões: Embaixador da Grécia, Embaixadora da Eslovénia, Embaixador dos EUaopinion: ambassador of Greece, ambassador of Slovenia, ambassador of USa
Dia de portugal e das comunidadesDay of portugal and the communities
mala Diplomática. Dia Nacional da FrançaDiplomatic bag. National Day of France
mala Diplomática. Dia da independência dos Estados Unidos da américaDiplomatic bag. independence Day of the United States of america
mala Diplomática. Dia Nacional da RússiaDiplomatic bag. National Day of Russia
mala Diplomática. Festa Nacional do luxemburgoDiplomatic bag. luxemburg’s National Holliday
mala Diplomática. Embaixada do Reino Unido celebra aniversário de isabel iiDiplomatic bag. the Embassy of the United Kingdom celebrates the anniversary of Queen Elizabeth ii
mala Diplomática. Dia Nacional da itáliaDiplomatic bag. National Day of italy
mala Diplomática. Festa da independência de israelDiplomatic bag. israel’s independence Day party
mala Diplomática. 20º aniversário da República da EslovéniaDiplomatic Bag. 2oth anniversary of the Republic of Slovenia
Economia e Finanças. o Euro dilema de portugal, por patrick Siegler-lathropEconomy and Finances. the Euro-Dilemma of portugal by patrick Siegler-lathrop
instituto camões preside à EUNicinstituto camões presides EUNic
Homenagem a malangatanatribute to malangatana
arte e cultura. artistas de angola na Galeria de arte do casino Estorilart and culture. artists of angola in the art Gallery of the casino Estoril
parabéns Helena Dagetcongratulations Helena Daget
English & French texts
7OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •
Há vinte anos dificilmente Angola, Cabo
Verde e Moçambique seriam recomendáveis
para efeitos de confiança e investimento
externo. Hoje, com democracias em processo
de aprofundamento, as ex-colónias africanas
concitam o elogio dos observadores e alimen-
tam ventos de esperança nos seus povos.
E, noutro continente, emerge segura a nova
potência mundial: um Brasil de progresso e
desenvolvimento. ➤
Dossier Lusofonia
8 • DiplOmáTica - OUTUBRO 2011
Quatro países despontam no univer-
so da lusofonia. Em áfrica, depois
dos dramas que se seguiram às
independências, angola, cabo Verde
e moçambique seguem o seu cami-
nho, construindo democracias ainda
débeis mas irreversíveis. E procuram
encontrar espaço no intrincado pu-
zzle da economia mundial, empreen-
dendo projectos de desenvolvimen-
to, encontrando as suas áreas de
negócio específicas e optimizando a
ajuda internacional que, nos últimos
anos, tem vindo a implementar pro-
jectos e a acalentar o sonho.
O Brasil, um gigante emergente que
começa a afirmar-se como grande
potência económica da lusofonia,
constitui a locomotiva dos países
que falam português e têm laços
culturais e afectivos que os unem à
ex-potência colonial em estado de
depressão e crise profunda.
ao país do carnaval, paulatinamen-
te, vem-se juntando angola, país de
destino de milhares de portugueses
à procura de uma vida melhor e de
oportunidades de negócio. É a impa-
rável roda da História: a inexorável
decadência dos impérios transpor-
ta sempre a emergência de novas
nações prenhes da sua afirmação no
mundo.
AngolaO despertar do gigante africanoConsolidando aos poucos a vida
democrática, resgatada de guerra
civil prolongada e contradições, à
época, aparentemente insuperáveis,
angola tem vindo a afirmar-se como
emergente potência económica da
lusofonia e de áfrica.
a extensão territorial, aliada a uma
população de 18 milhões de habi-
tantes, abre enormes perspectivas
de desenvolvimento, permitindo a
prazo, de momento que subsista
uma estratégia económica de desen-
volvimento sustentado, aumentar o
seu precário piB per capita de 4792
euros.
mas uma economia dependente do
petróleo comporta, necessariamente,
cautelas acrescidas. a mais-valia do
ouro negro está dependente da con-
juntura internacional e dos jogos de
interesses de quem domina a econo-
mia. No entanto, angola está cres-
cer noutras áreas. Há uma grande
pujança e dinamismo na construção
civil, na agricultura e no sector de
serviços. E a recente ajuda do Fmi,
através de um empréstimo 1.4 mil
milhões de dólares está a equilibrar
a balança corrente e a afirmar o país
na senda do desenvolvimento.
BrasilA nova potência mundialÉ o grande país da lusofonia, des-
de logo pelos seus 194 milhões
de habitantes, e um caso raro de
criatividade e abertura de ideias no
que respeita à organização social e
económica. O plano “Fome Zero” er-
radicou bolsas endémicas de pobre-
za e projectou o país, naquele que
parece ser um irreversível caminho
de progresso e desenvolvimento.
Os seus 7500 euros de piB per ➤
As pérolas da lusofonia
Dossier
9OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •
➤ capita, contudo, indicam que ainda
há muito por fazer, mas os sinais
são francamente positivos. mes-
mo em época de recessão e crise
mundial, o Brasil conseguiu baixar
consideravelmente os níveis do de-
semprego, fazendo crescer a econo-
mia, estando muito próximo do limite
“sistémico” de 5 por cento.
a conjuntura internacional, porém,
fustiga a economia brasileira que,
resultante da guerra cambial entre
os EUa e a china, se ressentiu,
perturbando as suas exportações,
podendo comprometer o crescimento
do Brasil. mas, apesar do florescer
económico traduzido em elevada
procura interna, a inflação não deixa
de preocupar os economistas.
cabo Verde
Dependência externa inibe desenvol-
vimento
a dependência das importações de
energia e de alimentos – sectores
onde se regista colossal défice entre
a produção e o consumo – é o maior
entrave ao desenvolvimento do
país. a origem do problema está nas
características dos solos, que são
muito pobres, bem como na precária
capacidade de produção energética.
mas outra das causas está no carác-
ter terciário da economia, cujo sector
do turismo – sujeito a flutuações
constantes - constitui mais de 70 por
cento do piB. Outra das principais
fontes de receitas são as remessas
dos emigrantes, que constituem a
grande maioria dos cabo-verdianos,
cuja população residente no arqui-
pélago não chega a meio milhão de
habitantes. a agricultura, as pescas
e a actividade industrial são ainda
muito incipientes.
as dificuldades apontadas, lenta-
mente vêm a ser superadas, quer
através da ajuda internacional, quer
pela captação de investimento es-
trangeiro directo, o que coloca cabo
Verde na invejável posição de ser
o país africano do espaço lusófono
com melhores possibilidades de de-
senvolvimento da economia, apesar
da crise e da conjuntura internacio-
nal desfavorável.
MoçambiqueEstranhamente, pese embora a re-
cessão que prejudica as economias
mundiais, moçambique dá sinais de
elevado crescimento, alicerçado em
mega-projectos de aproveitamento
dos seus recursos minerais.
apostado nas exportações, sedi-
mentadas na diversificação secto-
rial da economia, o país tem vindo
a registar um grande dinamismo,
aumentando exponencialmente as
oportunidades de desenvolvimento
de negócios e de crescimento.
a exploração agrícola, de igual
modo, adquiriu novo fulgor na última
década, despontando vários inves-
timentos, principalmente de origem
sul-africana. E as possibilidades
de extracção de petróleo, a serem
testadas por empresas exploradoras,
abre outro sinal de esperança para
uma democracia ainda jovem, mas já
num processo de consolidação que
tem ajudado ao ganho de confiança
dos mercados. ■
10 • Diplomática - oUtUBRo 2011
XVI Reunião da CPLP destacou estratégia fulcral Promoção e defesa da língua de Camões
A Reunião ordinária do Conselho de Ministros da CPLP, que teve lugar no final de Julho, em Luanda, sob o
tema geral “A CPLP, as Nações Unidas e a Língua portuguesa”, tomou decisões importantes de âmbito políti-
co, económico e reforço da percepção do português no Mundo.
A língua vai ser um dos vectores fundamentais da estratégia definida nessa reunião, de onde saiu uma CPLP
reforçada e motivada no objectivo comum de tornar o português mais universalista.
A promoção, defesa, enriquecimento e difusão da
língua portuguesa como veículo de cultura, educa-
ção, informação e acesso ao conhecimento científico
e tecnológico e de utilização em fóruns internacionais,
foi uma das decisões fundamentais da XVi reunião de
países da cplp, que contou com a presença do minis-
tro português dos Negócios Estrangeiros, paulo portas,
na sua primeira saída oficial ao estrangeiro desde que
tomou posse do cargo.
Num espaço global afectado presentemente por uma
crise sem precedentes, importa sublinhar os propósitos
anunciados nesta reunião magna da cplp de apoiar
medidas que facilitem e fomentem o relacionamento
económico e comercial intracomunitário, promovendo o
crescimento e desenvolvimento dos Estados membros
mais vulneráveis.
Um outro factor importante a assinalar foi o realce dado
ao plano de acção de Brasília para a promoção, a
Difusão e a projecção da língua portuguesa (plano de
acção de Brasília) no que diz respeito à consolidação
do português como língua oficial ou de trabalho nas
organizações internacionais, nomeadamente naquelas
onde está representada a cplp.
a cplp quer alargar o seu âmbito de acção, não ad-
mirando, por isso, que uma das medidas a executar no
futuro respeite ao relacionamento com a oNU, reiteran-
do os estados-membros a necessidade de reformar o
Sistema das Nações Unidas, em particular, o conselho
de Segurança, de modo a torná-lo mais eficaz e repre-
sentativo da realidade internacional contemporânea.
Reforço da democracia no espaço da CPLP
Num mundo africano caracterizado pela instauração de
regimes autocráticos, o espaço formado pelos países
daquele continente afectos à cplp foi caracterizado
pelos membros presentes nesta reunião como de con-
solidação da Democracia e do Estado de Direito e com
a promoção e respeito dos Direitos Humanos. Neste
âmbito, registaram os avanços obtidos por cabo Verde
na consolidação do processo de transição para país
de Rendimento médio. No que concerne a timor, foi
igualmente registada a tendência positiva da situação
política e social no país, numa altura em que se pers-
pectiva a abertura da representação da cplp em Díli.
Já quanto à Guiné-Bissau, foi feito um apelo a presidên-
cia da cplp para, em conjunto com o governo daquele
país e o secretariado executivo da cEDEao, encetarem
diligências visando a realização de uma conferência
internacional de parceiros de Desenvolvimento da
Guiné-Bissau para a mobilização adicional de recursos
financeiros.
Foi igualmente reiterada a importância da concertação
político-diplomática para o reforço da actuação interna-
cional da cplp, tendo-se congratulado com a eleição
de portugal para o conselho de Segurança da organi-
zação das Nações Unidas para o biénio de 2011-2012.
Processos de adesão de novos membros
Os ministros da cplp reafirmaram a necessidade de
prosseguir a aproximação à ilha maurício e ao Senegal,
observadores associados da cplp, privilegiando a
difusão e o ensino da língua portuguesa nesses países
e a promoção de um relacionamento bilateral, económi-
co e comercial, traduzindo a vontade política de reforço
das relações entre estes dois países e a cplp.
tomaram nota do desenvolvimento do processo de
candidatura da Ucrânia a observador associado, apre-
sentado por ocasião da Viii conferência de chefes de
Estado e Governo da cplp e das reuniões técnicas en-
tre o grupo de trabalho do Secretariado Executivo e os
representantes da Ucrânia, no quadro das disposições
previstas no Regulamento de observadores associa-
dos.
Registaram, com satisfação, a constituição da União
internacional de Juízes de língua portuguesa, na ilha
do Sal, em cabo Verde, a 12 de Novembro de 2010,
assim como a constituição da Reunião das instituições
públicas de assistência Jurídica dos países de língua
portuguesa – RipaJ, em Brasília, a 7 de abril de 2011.
instaram, igualmente, os Estados membros, que não o ➤
DOSSIER
11oUtUBRo 2011 - Diplomática •
➤ fizeram ainda, a ratificar o acordo ortográfico, incitan-
do os Estados membros, que já o ratificaram, a adoptar
as medidas para a sua implementação.
os ministros da cplp aprovaram ainda efectuar uma
homenagem póstuma ao presidente itamar Franco.
os trabalhos, presididos pelo ministro das Relações
Exteriores de angola, Dr. Georges chikoti, contaram
com a participação do ministro dos Negócios Estran-
geiros português, paulo portas, do Brasil, cabo Verde,
Guiné-Bissau, moçambique, S. tomé e príncipe, do
Vice-ministro dos Negócios Estrangeiros de timor-leste
e do Secretário Executivo da cplp. n
1. o Secretário Executivo da cplp, Domingos Simões pereira, deu as boas vindas na abertura desta XVi Reunião de ministros da cplp
2. o ministro dos Negócios Estrangeiros junto dos membros da cplp 3. a expansão portuguesa foi um tema em foco nos trabalhos
12 • Diplomática - oUtUBRo 2011
Portugal enfrenta uma situação economico-financeira
extremamente difícil, sendo apanhado em cheio pela
chamada crise das dívidas soberanas dos países peri-
féricos da Zona Euro.
a nível mundial estamos a ter um crescente dualismo
no crescimento económico mundial, com taxas de
crescimento mais expressivas nos países emergentes,
designadamente nos BRic’s (Brasil, Rússia, Índia e
chile) e mais modestos no tradicional mundo desenvol-
vido da ocDE, designadamente Europa e EUa.
a geografia económica mundial do século XXi é dife-
rente da que vigorou no século XX, onde tivemos a
hegemonia do mundo ocidental.
temos neste século a china e a Índia a ultrapassarem
os EUa como primeiras potências económicas mun-
diais.
Na economia global, despontam também grandes paí-
ses emergentes no espaço lusófono, como é o caso do
Brasil e angola. o Brasil é uma estrela em ascenção
e nível mundial e angola afirmar-se-á cada vez mais
como potência regional a nível económico e militar no
Sul de áfrica onde até agora havia hegemonia incon-
testada da República da áfrica do Sul.
Num contexto em que o petróleo, a energia dominante,
se tornará mais escasso, avulta também a importância
Portugal, Europa, Mundo Emergente por luís mira amaral
geo-estratégica do espaço lusófono, através dos recur-
sos energéticos e petrolíferos existentes no Brasil, S.
tomé, angola, moçambique e timor-leste.
portugal, pequeno país europeu e que deu novos mun-
dos ao mundo, expressão hoje corporizada no espaço
lusófono da cplp, terá que jogar cada vez mais entre
a vertente europeia e a dimensão lusófona. Será crucial
mantermos a ligação à Europa e a permanência no
euro, pois só assim teremos o encore cambial e a cre-
dibilidade e estabilidade financeiras que são condição
necessária, mas não suficiente, para o desenvolvimento
económico. mas precisamos de ter consciência de que
num contexto de crescimento económico mais lento e
de saturação dos mercados europeus, a economia por-
tuguesa vai precisar de jogar no dinamismo dos merca-
dos emergentes para ter crescimentos significativos.
Naturalmente aqui avultou angola, que já ultrapassou
os EUa como mercado para as exportações portugue-
sas, e o Brasil, cujo dinamismo económico deverá ser
aproveitado pelos empresários portugueses. também
há que não esquecer a Índia e a china, onde podemos
e devemos também jogar com as ligações históricas e
culturais.
a afirmação económica portuguesa nestes mercados
emergentes exige um grande entrosamento e coope-
ração estratégica entre o poder político e os empresá-
rios portugueses através daquilo a que se começou a
chamar a diplomacia económica. nl.m.a.
presidente Executivo do Banco Bic português
dossier
Na economia global, despontam
também grandes países
emergentes no espaço lusófono,
como é o caso do Brasil e Angola.
14 • Diplomática - oUtUBRo 2011
A fabulosa História de portugal, constru-
ída com o sangue suor e lágrimas do seu
povo, permitiu-nos que fossemos bem
maiores que a nossa configuração geo-
gráfica. E valeu bem a pena, porque se
alcançou uma “alma” grande, na perspecti-
va pessoana.
povo de muitos e variados destinos, fomos
deixando muito de nós, um pouco por
todo o mundo, ao longo de muitos sécu-
los. mas também trouxemos, e imenso.
outras culturas, outras gentes, outras
religiões, outras formas de ver e de estar.
Enfim, temos o seu mundo também cá
dentro do nosso território e dentro de nós.
Sim, dentro de nós, nos nossos genes, no
nosso sangue, naquilo que de mais intimo
e mais de dentro nos marca e também no
ambiente onde crescemos e amadurece-
mos, que nos permite actuar e amadurecer
no espaço de desenvolvimento da nossa
personalidade.
E tudo isso se vive e se transmite através
de um extraordinário instrumento agrega-
dor que é a nossa língua comum, produto
de tantas influências e tantas vivências di-
ferentes que a fazem tão rica, tão expres-
siva, tão viva e tão mutável e adaptável ao
mundo que vivemos hoje e àquele em que
se viverá.
Esta riqueza pode bem ser mais vivida. É
sempre isso que eu sinto quando penso na
lusofonia, que deve ser vista, não apenas
como um instrumento riquíssimo do ponto
de vista cultural, mas também como um
instrumento de valor incalculável do ponto
de vista político e do ponto de vista econó-
mico.
Razão pela qual faz todo o sentido que
ele seja aproveitado como objectivo de
afirmação que busca novos desenhos geo-
estratégicos, para além daqueles que mais
nos têm marcado nas últimas dezenas de
anos.
Na verdade, portugal assumiu, e bem,
como objectivo estratégico a integração no
espaço europeu. Décadas de regime políti-
co opressivo e uma relação transatlântica, ➤
LusofoniaUma alma grande, por maria de Belém Roseira
Dossier
Fomos os primeiros construtores
da globalização. Exportamos
a nossa cultura, importamos a
cultura de outros e miscigenámo-nos.
15oUtUBRo 2011 - Diplomática •
➤ insuficientemente explorada, pôs-nos de
costas voltadas para a Europa continental
e para um modelo de progresso e de de-
senvolvimento que estávamos muito longe
de acompanhar. os indicadores sociais e
económicos mostravam-no bem.
a integração europeia permitiu-nos dar
um salto extraordinário no bom sentido,
salto esse, no entanto, que não permitiu
ultrapassar todas as nossas debilidades
estruturais, hoje bem patentes num mundo
fortemente abalado pela crise económica,
financeira e social que deflagrou a partir
de 2008.
as ondas de choque que ele tem provo-
cado, estão longe de ser conhecidas em
todas as suas dimensões. No entanto, há
reflexos que são claramente identificados,
sobretudo no domínio económico e social
e que reclamam de nós uma nova postura,
que nos faça transpor as fronteiras que,
tantas vezes, ao longo da nossa História,
nos amarraram e, ao fazerem-no, nos en-
fraqueceram de forma dramática.
Num contexto em que o projecto de cons-
trução de uma Europa unida em torno de
princípios e valores comuns está profun-
damente abalado e faz recear pelo seu
futuro em coerência, faz todo o sentido
que portugal reganhe uma dinâmica que
o transporte para além da Europa, numa
ligação que renove e alimente a sua diáspora
e que o faça relançar-se de corpo inteiro
no espaço da sua lusofonia, onde se sente
bem, porque se sente entre os seus.
a língua é um fortíssimo instrumento de
relação. Não o olhar como um activo es-
tratégico, num mundo que buscará o seu
futuro na incorporação de conhecimento,
é uma miopia inaceitável. Há, pois, que o
contrariar e desenhar politicas activas que
acrescentem a nós e que acrescentem
aos países que falam português, numa
relação “win – win”, que sirva os respec-
tivos povos, com afinco, com visão e com
determinação.
Fomos os primeiros construtores da glo-
balização. Exportamos a nossa cultura,
importamos a cultura de outros e miscige-
námo-nos. porventura mais do que qual-
quer outro povo.
conhecemo-nos todos bem, nos nos-
sos defeitos e nas nossas qualidades.
Entendemo-nos muitas vezes e também
nos desentendemos. Somos irmãos de
sangue, de percurso histórico secular e
falamos a mesma língua. Somos família!
Não há melhor base e melhor ponto de
partida para que possamos construir em
conjunto um espaço próprio no mundo de
hoje, em que nos possamos impor através
da nossa especificidade, da nossa riqueza
humana, em suma, de uma identidade que
é só nossa.
Esta é uma visão partilhada num espa-
ço político-ideológico abrangente. tem,
pois, suporte político. para se concre-
tizar, necessita, apenas, de políticas.
políticas competentes, integradas, que
partam do que já se fez e que lhes
acrescentem visão, ambição e afectivi-
dade. Às políticas económicas, acres-
centar políticas sociais. Estabelecer a
relação entre o económico e o social que
tanto tem faltado no governo dos povos,
atirando-os para o desemprego e o de-
sespero. políticas que verdadeiramente
invistam no desenvolvimento humano
que cruza o investimento no saber, com
o acesso ao trabalho e a disponibilida-
de de meios financeiros que afastam a
privação do essencial.
temos toda a capacidade e a competên-
cia para o fazer. assim tenhamos todos a
vontade e, essa, parece não faltar. ape-
nas teremos que falar uns com os outros,
entendermo-nos uns com os outros e, para
isso, é que falamos todos a mesma língua.
ao trabalho, pois! n
Maria de Belém Roseira
16 • Diplomática - oUtUBRo 2011
Engº Anacoreta Correia por José leite, fotos ligia correia
secretário-geral da UCCLA
“Lisboa continua a ser uma grande referência para o Mundo Lusófono”
Foi Conselheiro de Estado, antigo governante na área dos Transportes, deputado europeu
e é o rosto mais visível da UCCLA ( União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa),uma
organização que, nos seus 25 anos de existência, tem pugnado por aproximar os povos das
várias cidades localizadas nos cinco continentes onde se fala o português, desenvolvendo
uma vasta acção cultural, sócio-económica e geo-estratégica, sobretudo de expansão e de-
fesa da língua de Camões e das empresas nacionais num quadro cada vez mais competitivo
resultante da globalização. O engº Anacoreta Correia fala com entusiasmo dos objectivos e
iniciativas em curso da associação de que é responsável, tecendo ainda comentários sobre o
momento actual da política portuguesa. ➤
Dossier
17oUtUBRo 2011 - Diplomática •
➤ Que balanço faz do trabalho
desenvolvido pela UCCLA numa
altura em que completou 25 anos
de actividade?
o balanço é positivo. a Uccla tem
sabido adaptar-se às mutações
do mundo exterior e à realidade
autárquica. trata-se de uma orga-
nização internacional de cidades,
não tem carácter governamental,
é intermunicipal. Surgiu como uma
afirmação lusófona, tendo contado
com dois grandes precursores: o
engº Nuno Krus abecasis, que ini-
cialmente a criou, com duas cidades
a funcionar em rede, numa altura
em que as relações diplomáticas
não eram as mesmas que são hoje
– actualmente, é fácil ter um dis-
curso lusófono, fazem-se colóquios
sobre a lusofonia, mas, naquele
tempo, a Uccla foi uma grande
novidade, criando um movimento
de solidariedade ao lado dos gover-
nos de vários países, permitindo a
entrada nos mesmos de empre-
sários; outro dos criadores foi o
embaixador brasileiro José apare-
cido de oliveira. pode-se dizer que
nós contribuímos para a formação
do código genético da cplp.
Como foi a evolução da UCCLA
nas várias vertentes?
Nos dois primeiros anos, as cida-
des funcionavam em bloco e evoluí-
mos para a situação actual em que
temos três pilares de funcionamen-
to: um deles é o institucional, em
que nós queremos que as cidades
trabalhem em rede, assumindo
posições comuns – ainda recente-
mente, em luanda, apoiámos, em
conjunto, a candidatura do fado
a património material da humani-
dade; o mesmo aconteceu com a
candidatura da Ribeira Grande de
Santiago, cabo Verde, a patrimó-
nio mundial da Humanidade. Esta-
mos a promover transferências de
conhecimentos de tecnologias das
cidades através de redes temáti-
cas. Neste momento, está a funcio-
nar uma rede sobre protecção civil
e uma outra sobre a conservação
dos centros Históricos.
Num segundo pilar, que eu chama-
ria de projectos de cooperação e
cultura, procuramos satisfazer os
objectivos do milénio. por exemplo,
combater a pobreza principalmente
nas cidades mais necessitadas.
Não se admirará, por isso, de ver
a Uccla a tratar dos resíduos
sólidos na cidade de Bissau. ainda
recentemente, com apoio da União
Europeia, assinámos um protocolo
na cidade da praia para abasteci-
mento de água potável a cerca de
1500 famílias.
ainda respeitante ao combate
contra a pobreza, criámos um vasto
projecto de cuidados de Saúde pri-
mários – em moçambique, estamos
na luta contra a Sida. tudo isto
complementado com uma intensa
acção cultural, em nichos espe-
cíficos. ainda recentemente, em
lisboa, organizámos uma home-
nagem a malangatana num espec-
táculo a que compareceu o presi-
dente da República, bem como a
publicação de uma brochura que
irá ser distribuídas nas escolas mo-
çambicanas e um colóquio sobre a
vida e obra desse artista.
Num terceiro pilar, procurámos dar
um novo sentido às relações das
cidades com as suas empresas.
E nesse âmbito, é justo prestar
uma palavra de homenagem ao dr.
Ernâni lopes e ao seu colaborador
mais directo, o dr. poças Esteves.
a eles se deve a magnífica expo-
sição apresentada em Salvador
da Baía chamando a atenção que
competitividade é fundamental, não
só entre países, mas nas cidades.
Em que sectores é fundamental
essa competitividade?
principalmente, no turismo. aca-
bámos de realizar em luanda um
Fórum, em que os grandes benefi-
ciários foram os agentes turísticos
com o estabelecimento de várias
parcerias com empresários. cer-
ca de uma dezena de cidades da
Uccla apresentaram os seus
projectos, abrindo muitas perspecti-
vas sobre o que podem fazer nesse
campo.
O Turismo tem sido um dos
grandes pólos de desenvolvi-
mento das cidades que integram
a UCCLA?
Naturalmente que sim, nos seus
múltiplos aspectos. Desde a cria-
ção de mão-de-obra à auto estima
das cidades. mas deixe-me referir o
papel fulcral da Uccla como apre-
sentadora das empresas portugue-
sas às municipalidades. o objectivo
é pôr a trabalhar as empresas cuja
actividade está directamente ligada
aos municípios. Há todo um mundo
que não tem sido trabalhado con-
venientemente: desde empresas
especializadas em espaços verdes,
que fazem animação cultural, água,
saneamento, esgotos, regulação
de tráfego, etc. Nós queremos
que essas empresas e as cidades
trabalhem em conjunto, pois nor-
malmente os municípios são muito
conservadores no que respeita
à sua política de contratação de
fornecedores. Estamos muito
empenhados em organizar fóruns
de empresas que operam para os
municípios e, com essa finalidade,
está a ser planeada uma reunião
de empresas no próximo ano em
Salvador.
O sr. engº focou num aspecto
interessante: num quadro de
crescente competitividade exigi-
da ao país para debelar a crise,
qual o papel que a UCCLA pode
desempenhar nesse âmbito?
É o de fomentar a entrada de em-
presas nesses mercados emergen-
tes – nesse reunião de que falei há
pouco que teve lugar em angola,
expliquei aos empresários que o ➤
18 • Diplomática - oUtUBRo 2011
➤ país não é só luanda. Há outras
cidades cheias de potencialida-
des – existem relatórios de peritos
que o atestam – como é o caso de
Namibe e Kuando Kubango. ob-
viamente que, nessa nossa função,
não nos podemos substituir a ou-
tros organismos oficiais com meios
mais poderosos do que os nossos.
mas, através dos nossos parcos
meios, acho que estamos a ganhar
a aposta. a Uccla não tem qual-
quer comparação com o que era
há dois ou três anos atrás…Não
dispomos de grandes meios finan-
ceiros mas temos muitos amigos…
E, actualmente, é uma das raras
instituições do país que não deve
a fornecedores, não há salários
em atraso, não tem empréstimos
à banca e tem dinheiro em caixa.
isso é fruto de uma gestão conser-
vadora ( sou conservador da cabe-
ça aos pés…) e de muito rigor.
Tem sido positiva a rotatividade
na presidência da UCCLA?
actualmente a presidência cabe ao
Governador de luanda. Este siste-
ma tem sido positivo, dado terem
sido utilizadas fórmulas de muito
bom senso. Durante 24 anos, a
presidência da Uccla era inerente
a lisboa.
O Império ainda a mandar…
Era um bom império…o certo é
que lisboa continua a ser uma
grande referência para todo este
mundo lusófono. contacto com
muitos estrangeiros que nos visi-
tam vindos desses territórios e vejo
o carinho e a emoção que lisboa
lhes provoca. os portugueses é
que estão com uma crise de auto-
estima! os políticos é que têm de
resolver isso. as cambalhotas da
política também não ajudam a for-
talecer a auto-estima. mas há boas
razões para acreditar no futuro:
e chamo-lhe a atenção para uma
entrevista que o ex-ministro dos
Negócios Estrangeiros deu à Sic,
onde referiu que a acção diplomá-
tica de portugal era muito facilitada
pelo prestígio que o país tem no
mundo. tive a sorte de trabalhar
durante dez anos na comissão
Europeia como responsável ➤
“A crise económica afecta a nossa actividade. Estão a faltar alguns meios
em áreas essenciais, como seja o incremento do ensino do português”
Anacoreta Correia
19oUtUBRo 2011 - Diplomática •
➤ das Relações Externas ( áfrica e
américa latina),não tenho dúvidas
nenhumas em afirmar que bene-
ficiei muito desse prestígio. mas
devo dizer-lhe que a passagem da
presidência de Salvador da Baía
para luanda foi muito positiva.
Hoje, a capital angolana, tem cerca
de oito milhões de habitantes e é
ali que ocorre 60 por cento de toda
a actividade económica de angola.
Que projectos tem a UCCLA em
curso?
Depois da visita do governador
de luanda, estamos a trabalhar
na toponímia da capital angolana,
mas também já nos pediram para
dar um apoio na rede de esgotos,
na criação de espaços verdes. o
primeiro passo a dar é pôr a fun-
cionar o que já existe, recorrer ao
que já existe, e não aplicar novas
estruturas, necessariamente mais
caras. angola também já mani-
festou interesse em que façamos
qualquer coisa no âmbito da acção
preventiva de cuidados de Saúde
primários e, nesse aspecto, foi
importante a nossa experiência em
cabo Verde, onde nos envolvemos
na campanha contra a erradicação
do dengue. Na altura em que nos
pediram para actuar, estavam a
registar-se cerca de 700 casos de
dengue por dia. Foi magnífico o tra-
balho desenvolvido por uma equi-
pa médica do ippaD de coimbra
que se deslocou ao arquipélago e
pela magnifica atitude da câmara
da praia ao efectuar uma série de
demolições em zonas que eram
autênticas incubadoras de mosqui-
tos. Não quer dizer que fomos nós
que acabámos com essa praga,
mas o trabalho foi árduo e profí-
cuo, nomeadamente, na atitude
preventiva da população, que é, ao
fim e ao cabo, o melhor combate
contra as epidemias. Depois disso,
formámos agentes em Dili especia-
listas nos cuidados primários de
Saúde tendo atingido cerca de 110
mil pessoas – estarei em agosto
em timor para me reunir com o
primeiro-ministro, Xanana Gusmão,
com a finalidade de discutir se esta
medida deve ou não ser alargada
a outros distritos ou se deve uni-
camente ser aprofundada em Dili.
Uma acção que se deverá alargar a
maputo através de negociações em
curso com responsáveis pelo sec-
tor da Saúde daquele país. Repito:
temos hoje em dia uma boa rede
de amigos.
Como profundo conhecedor do
mundo africano lusófono, o sr.
engº acha que os regimes auto-
cráticos que têm caracterizado
esses países estão em declínio?
A democratização está em mar-
cha em África?
Sim, creio que áfrica caminha para
a democratização. peço desculpa,
sou um pouco critico da actuação
dos nossos media…acontece que
estive em luanda nos dias que
antecederam o anúncio das gran-
des manifestações contra o regime
angolano e o que verifiquei é que
esses movimentos aglutinaram es-
cassas dezenas de pessoas. Quero
dizer-lhe o seguinte: a forma como
foi resolvido um conflito armado
terrível em moçambique e em
angola, sem haver condenações
à morte ou fuzilamentos, contrasta
com o resto de áfrica. claro, nem
tudo foi exemplar. mas, Djalakama
circula livremente em moçambique,
a UNita tem expressão parlamen-
tar e diz o que discorda. acho que
o caso mais espantoso é o da Gui-
né Bissau, um território um pouco
maior que o alentejo, com cerca de
30 etnias, com golpes de Estado
sangrentos, mas onde, ao contrário
do que se verificou na libéria ou na
Serra leoa, há actualmente algu-
ma contenção. isso é uma herança
lusófona.
O clima económico difícil que
atravessa Portugal pode afectar
a actividade desenvolvida pela
UCCLA?
claro que afecta. Estão a faltar
alguns meios em áreas essenciais,
como seja o incremento do ensino
do português. por exemplo, várias
cidades têm recorrido à Uccla no
sentido de gerir outras ajudas que
não são provenientes de portugal,
o que mostra o grau de confiança
que têm em nós.
Há razões para temer que o ensi-
no de português e a expansão da
nossa língua esteja em risco?
tenho verificado algumas posições
muito pessimistas e ignorantes
a esse respeito. convido esses
críticos a apurar o que é hoje a
expansão do português em angola
comparativamente à que era há
30 anos atrás. incomparavelmente
maior e de muito boa qualidade!
Um inquérito apurou que 30 por
cento dos angolanos declaram o
português como língua materna.
penso que alguns dos nossos
pivots dos canais de tV até já
terão de aprender algo com os
seus congéneres angolanos…o
mesmo se passa em moçambique.
para esse facto, muito contribuiu a
atitude de Samora machel ao dizer
que o crescimento da unidade em
moçambique deveria fazer-se atra-
vés da língua portuguesa. portanto,
temos de relevar mais os aspectos
positivos do que os negativos.
Não acha que há que ter cuida-
do com a China que está cada
vez mais penetrante no mercado
africano lusófono…
isso significa que dentro de dez
anos vai haver mais chineses a
falar português…Foi o que acon-
teceu em moçambique. Na Beira,
há uma colónia chinesa completa-
mente inserida na vida portuguesa.
a iURD ( igreja Universal do Reino
de Deus) fez em moçambique a
sua base de penetração na áfrica ➤
20 • Diplomática - oUtUBRo 2011
➤ do Sul. portanto, há uma realida-
de insofismável: o português está
em expansão no mundo lusófono.
Eu estive na fronteira da lunda
com o congo e pude aperceber-
me que os congoleses falam agora
muito mais português do que o
francês, porque mandam os filhos
estudar em angola, porque ali o
ensino é melhor. Esta é a realidade
de alguns portugueses que não
se apercebem destas realidades,
porque passam a vida a frequentar
cocktails…É preciso falar com o
povo…
Há quem diga que o sr. engº
dava um bom ministro dos Negó-
cios Estrangeiros…
acho que a pasta dos Negócios Es-
trangeiros está muito bem entregue
ao dr. paulo portas. Há muito tem-
po que ele se preparou para essa
pasta. a passagem pela Defesa foi
útil. por isso, acho que portas vai
ser um bom ministro. Nós não an-
damos à procura de oportunidades,
mas se for preciso alguma con-
tribuição da Uccla para “ler” as
questões da lusofonia, cá estare-
mos para as dar. Julgo que temos
uma leitura muito profunda sobre
as cidades ligadas a esse mundo.
Há muito a fazer no campo da
Diplomacia?
acho que foi uma grande vitória
portuguesa a eleição para um lugar
no conselho de Segurança. os
adversários eram de peso. Repare
que a maioria dos países europeus
não votaram por portugal. Quem o
fez foram os latino-americanos, os
africanos e os asiáticos. o que nos
falta é termos uma política activa
de defesa da língua. Estou conven-
cido que esta é uma língua de afec-
tos e isso facilita a aproximação.
Acha que o Acordo Ortográfico
defende a língua portuguesa a
sua expansão no Mundo ?
o que vou dizer vai escandalizar
os meios conservadores, mas
acho que sim. É preferível fazer
as mutações de forma gradual. É
importante para a sua permanên-
cia, sobretudo numa altura em que
a língua vai ser completamente
diferente daqui a uns trinta ou
quarenta anos. É preciso ter uma
atitude aberta.
O Brasil continua a ser importan-
te na estratégia da UCCLA?
Queria que a Uccla tivesse uma
presença mais activa no Brasil.
temos sete cidades associadas,
mas gostaria de consolidar a nossa
presença no Nordeste, onde está
a acontecer uma verdadeira revo-
lução económica, muito em parte,
graças aos portugueses, princi-
palmente nos sectores ligados ao
turismo e à agricultura. temos um
plano de contactos e vamos execu-
tá-lo em Novembro e Dezembro.
A Índia ainda está demasiado
longe?
Não, não está. Seguimos com
atenção o dossier de Goa e es-
tamos preparados para termos
boas notícias a esse respeito. É a
primeira vez que o digo, mas antes
de terminar o meu mandato, gos-
taria de ter Goa dentro da nossa
constelação de capitais de língua
portuguesa. Não nos podemos
esquecer que no grupo de países
emergentes - Rússa, china, Índia
e Brasil - este é o único que é uma
democracia perfeita e pratica os
valores ocidentais. E é onde se fala
português. Está a abrir-se para o
mundo o que nos enche a todos de
um certo orgulho lusófono.
Porque decidiu deixar o cargo de
Conselheiro de Estado?
Não me afastei nem fui afastado.
Respeito a decisão do sr. presiden-
te da República de renovar o con-
selho de Estado. Um determinado
número de pessoas entendeu que,
neste momento, o dr. Bagão Félix
correspondia melhor ao perfil para
o cargo e respeito a decisão.com
pena, pois sentia que os lusófonos
tinham ali uma voz amiga. conti-
nuo a manter com cavaco Silva
relações extraordinárias. o facto de
ter vindo à Gala de homenagem a
malangatana no dia a seguir às úl-
timas eleições, numa altura em que
as solicitações ao sr. presidente da
República eram múltiplas, é a pro-
va disso. os meus colaboradores
sabem que, em cada um dos meus
actos, existe a preocupação de ter
pronta a renovação em qualquer
altura.
As eleições em Portugal clarifi-
caram a situação política?
Está clarificada, vamos a ver se
está melhor. Não gostei da falhada
tentativa de eleger Fernando Nobre
para presidente da assembleia da
República. Foi a crónica anuncia-
da desse episódio. creio que o dr.
passos coelho, ao escolher quatro
independentes de uma outra faixa
etária, demonstrou uma aposta
renovadora, que não há cargos
políticos vitalícios. No entanto, no
Governo, apesar de um dos par-
tidos ter uma maior expressão de
votos, tem que haver partilha do
poder. confrontar e partilhar são
próprias da negociação. Falta-nos
alguma cultura de negociação em
portugal e de governação. prefe-
rimos criar de novo, reinvestir, em
vez de aproveitarmos o que existe.
tempos de banir esta mentalidade
de novo riquismo. cito um episódio
que tem a ver com a minha cam-
panha de candidatura a deputado
europeu: em Viseu, gelei a assis-
tência ao felicitar a cidade por não
ter um estádio para o Euro. Hoje,
as pessoas felicitam-me por aquilo
que disse. Houve uma política in-
discriminada de crédito, criaram-se
auto-estradas em regiões onde não
eram necessárias, inauguraram-
se hospitais a uma curta distância
uns dos outros, e agora estamos a
pagar a factura desse desvario. n
Anacoreta Correia
VISTA ALEGREPRESTA HOMENAGEM
A MALANGATANA.
A Vista Alegre vai lançar em breve uma peça de edição numeradae limitada a 500 exemplares, para assinalar o trabalho
que o Mestre Malangatana estava a desenvolver com a marca.
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22 • Diplomática - oUtUBRo 2011
Levam-nos a crer que a experiência en-
sina. ledo engano, penso eu, ao come-
çar este depoimento. Nascida no Brasil
e lá tendo vivido trinta anos, estando em
portugal desde 1970, tendo trabalhado
durante quatro anos num país africano
de língua portuguesa, eu deveria ser,
se o que me levaram a acreditar vales-
se, uma pessoa particularmente apta
a discorrer sobre o tema que hoje me
apresentam.
Experimentei muitos percalços da vida
política e económica brasileira e portu-
guesa e não me posso acusar, em sã
consciência, de me ter desesforçado
por os compreender e administrar – nos
planos pessoal e doméstico, que eram
os que me competiam – do modo que
me parecia mais correcto e, já agora
saudável. Não desacompanhei também
por completo a vida sócio-política e
económica do país africano onde estive.
E nem sequer direi que saí dele desco-
nhecendo-o em excesso. Nada disso,
contudo me pacifica na hora de fazer
esse texto: parece-me, de facto, que a
experiência – tornada princípio perverso
-, só serve ao meu desconcerto e de-
sorientação. tentarei, contudo, depor
sobre aquilo que mais de perto me diz
respeito e que melhor procuro ir conhe-
cendo: a questão cultural.
com evidentes e importantíssimas im-
plicações políticas e económicas para
o próximo milénio, deveria ser pouco
problemática, no plano cultural, a cons-
tituição de uma comunidade de países
como os de língua portuguesa. com
efeito, eles partilharam séculos de His-
tória comum e partilham ainda a mesma
língua, em estatuto de “Nacional” ou de
“oficial” em convívio com outras línguas
maternas.
Junto com a língua guardamos, todos
os lusófonos, onde quer que nos encon-
tremos, traços culturais que nos unem.
Eles podem ir desde a religião (ou religi-
ões: penso nos cultos afro-negros no ➤
maria lúcia torres lepecki, a grande defensora da cultura
portuguesa, nasceu no Brasil em 1940, tendo-se notabilizado
como professora universitária de literatura portuguesa, ensa-
ísta e crítica literária.
Especialista nas áreas de literatura portuguesa dos séculos
XiX e XX, foi professora catedrática da Faculdade de letras
da Universidade de lisboa, onde lecionou entre 1970 e 2008.
mas abrangeu a sua actividade de professora e conferencista
a inúmeras universidades europeias, brasileiras e africanas.
Enquanto crítica literária colaborou em várias revistas, jornais
portugueses e estrangeiros e foi agraciada com vários pré-
mios e honrarias dos quais se destaca o grau de comendado-
ra da ordem de Sant’iago da Espada, recebido em 2000.
Deixou-nos em 24 de Julho de 2011, aos 72 anos de idade,
Relembremos o seu estilo fino, argúcia de pensamento, e
ideias ainda actuais, no texto publicado em 1994 num dos
números Especiais da revista Manchete, editada por este
nosso Grupo Gabinete1.
Desaprender com a Vidapor maria lúcia lepecki
Dossier
23oUtUBRo 2011 - Diplomática •
➤ Brasil) até à arquitectura (ou arqui-
tecturas: penso nas casa dos “brasi-
leiros” do minho ou no tipo tradicional
da casa de fazenda em minas Gerais);
eles tocam necessariamente pequenís-
simos pormenores do quotidiano que,
passando-nos quase sempre desperce-
bidos permitem, quando observados e
cotejados, evidenciar a comunidade das
origens que a todos nos unem.
partilhamos, sem dúvida, muito de
cultural, e isso deveria ser garante de
tranquilidade para quem – no caso os
Estados envolvidos – agora se abalança
ao empreendimento que os tempos não
permitem adiar mais.
Deveria ser garante digo eu – e se assim
digo é porque ainda assim não é, pelo
menos na medida em que esperaríamos
que fosse. Falta qualquer coisa e ela é,
muito simplesmente, o real e profundo
conhecimento mútuo entre os povos que
se expressam, em qualquer estatuto que
seja, em língua portuguesa.
para um real conhecimento mútuo, para
aquela “irmandade na aceitação das
diferenças”, garante único e imprescindí-
vel de vitalidade para uma comunidade
com real força política, capacidade e
força de intervenção duradouras, torna-
se necessária uma política cultural que
sustente, em bases sólidas, o nosso
saber e entendimento uns dos outros.
É essa política que ainda não existe, e
ela que se torna necessário imediata-
mente instalar. Não se pode adiar mais a
nossa presença sistemática, em termos
de criações do espírito, nos países que
partilham connosco a mesma língua.
É possível, e não difícil, estarmos perto
uns dos outros de modo sistemático, or-
ganizado e produtivo. comecemos, que
já é hora, pelo privilegiado espaço das
escolas. Não parece justificar-se, por
exemplo, que as crianças portuguesas
conheçam as histórias contadas por lo-
bato, por Francisco martins ou por maria
clara machado, como não se percebe
por que as crianças brasileiras não po-
derão deliciar-se com os livros de alice
Vieira, de Natércia Rocha e de tantos
outros. E não me digam que as diferen-
ças ortográficas, mesmo sem qualquer
acordo, são impedimento: sempre li,
em pequena, livros em ortografia portu-
guesa, e nunca na escola primária me
escapou um “facto” em lugar de “fato”.
Já em outro campo, lembro-me de que
quando fiz o conservatório de piano, no
Rio, entre meados dos anos 50 e 60,
era obrigatória uma peça portuguesa por
ano, e, se não erro, para o exame final.
ignoro se isso se passa aqui, mas era
importante tratar do assunto.
De muitos jeitos e em muitas áreas,
torna-se urgente aproximar de facto as
culturas lusófonas – e a Universidade,
em termos de docência e de investiga-
ção, deveria ser a locomotiva a condu-
zir o processo: porque não instalar um
programa de trocas de docentes entre
países de língua portuguesa, um pouco
nos moldes do que a comunidade Euro-
peia faz nos Erasmus?
No meu entender, só um empreendimen-
to cultural ambicioso (sem ambição não
vale a pena começar), sério e ponde-
rado, um empreendimento onde todos
entremos sem veleidades de liderança
ou, vamos lá, de “direitos maiores”, só
isso poderá, realmente, sustentar uma
comunidade viva e actuante. Fora desse
quadro, que iluminará nossas diferenças
e sedimentará nossas semelhanças, que
nos dará conhecimento de nós mesmos
e dos nossos mais próximos no concerto
das nações, fora desse quadro, que nos
permitirá diálogo, partilha e mútuo enri-
quecimento, receio bem que a constru-
ção de uma casa política para a língua
portuguesa peque, muito simplesmente,
por debilidade de alicerces. n
24 • Diplomática - oUtUBRo 2011
Mário Vilalva, embaixador do Brasil em Portugalpor maria da luz de Bragança e José leite, fotos lígia correia
“Portugal deve aproveitar esta fase de crescimento económico do Brasil” ➤
Dossier
25oUtUBRo 2011 - Diplomática •
➤ Mário Vilalva, 58 anos, ocu-
pa desde Novembro de 2010 o
cargo de embaixador do Brasil. Já
tinha estado nesta representação
diplomática, há vinte anos atrás,
como conselheiro para assuntos
económicos e comerciais e, em
2000, foi director-geral do Depar-
tamento comercial do ministério
das Relações Exteriores e esteve
no ministério do planeamento no
sector da cooperação financeira.
Não admira que assuma que um
dos seus actuais objectivos é o
reforço das relações comerciais
entre os dois países, privilegiando
a diplomacia económica, fazendo
questão de relevar o papel de-
terminante que portugal deve ter
num quadro de globalização, em
que o mundo lusófono pode as-
sumir uma posição determinante,
passando das letras aos negócios.
Nesse sentido, anuncia a criação
da chamada inteligência comer-
cial, com a finalidade de ajudar
as empresas nacionais a exportar
para o Brasil, identificando os
problemas, ao mesmo tempo que
assume ser crucial um acordo en-
tre o mercosul e a UE.o diplomata
tem uma filha nascida em portu-
gal, um país, que, como sublinha,
é o único, na sua vida de 36 anos
como diplomata, em que não se
sente estrangeiro.
Qual o papel do Brasil na ex-
pansão e reforço da Lusofonia
no Mundo?
o Brasil foi membro fundador –
eu diria, o líder – da criação da
cplp. Eu próprio participei nesse
momento, que considero histó-
rico, dado que, nessa altura, eu
era conselheiro na Embaixada em
portugal, responsável pela área
económica Na altura, era embai-
xador José aparecido oliveira,
que tinha como uma das suas
preocupações dar mais substância
ao instituto internacional da língua
portuguesa. Deu-se conta que
havia uma outra realidade que
comprometia, e muito, o nosso
espaço lusófono no mundo. De-
pois de um período de crise entre
portugal e a sua relação com o
Brasil e os palop’s, José apareci-
do oliveira empenhou-se em criar
um espaço lusófono. inicialmente,
pensou numa comunidade dos
povos de língua portuguesa, en-
volvendo não só os Estados, mas
que englobasse todas as comuni-
dades que falam o português. o
objectivo também foi o de iniciar
uma cooperação entre os vários
sectores, afirmando e consolidan-
do, ao mesmo tempo, a nossa
língua, criando riqueza, gerando
novos empregos, expandindo
culturas comuns. por via disso, o
Brasil tem um compromisso muito
forte com a lusofonia, através
da criação e manutenção desse
espaço, no que concerne à língua,
cultura e exploração dos merca-
dos. Quem sabe se, no futuro, não
possamos aprofundar mais essa
cooperação, como acontece já
com vários blocos económicos?
A lusofonia terá agora uma ver-
tente mais económica, devido à
crise global?
a lusofonia nasceu essencial-
mente com uma particularidade
política e cultural, numa altura em
que o Brasil não estava bem do
ponto de vista económico, aliás,
como acontecia com os países de
língua portuguesa em áfrica. a
ideia de estreitar os laços econó-
micos surgiu depois. actualmente,
o Brasil e portugal têm um capital
político e económico fantástico.
agora, é preciso aproveitá-lo de
forma a dar mais substância eco-
nómica.
E agora, após a recente visita
de Dilma Roussef a Portugal,
surgiu a hipótese de o Brasil
poder ajudar Portugal em ter-
mos económicos, até se falou
na compra de parte da dívida
lusa…
Não gosto do termo ajudar. Eu
acho que o Brasil não será a
solução, mas pode e deve colabo-
rar com portugal neste momento
de dificuldades. Nesse sentido,
estamos a dar um sentido de
urgência a todos os mecanismos
necessários para esse efeito, com
a finalidade de fazer sair portugal
o mais rapidamente dessa cri-
se. Quanto à compra da dívida,
que é uma questão específica, o
grande problema que nós temos
é que o Banco central do Brasil é
independente e só pode comprar
papéis no exterior, ou investir as
suas reservas, se os mesmos
forem classificados pelas agên-
cias de rating como sendo do tipo
aaa.o que significa dizer que, por
mais que houvesse uma vontade
política de comprar a dívida portu-
guesa, a lei proíbe-o. actualmen-
te, os actos de gestão pública no
Brasil são muito vigiados, depois
da lei criada pelo congresso Na-
cional – designada lei da Respon-
sabilidade Fiscal – ao tempo do
presidente Fernando Henriques
cardoso.
Quais são esses mecanismos
que falou de ajuda a Portugal?
Em primeiro lugar, nós queremos
aumentar o comércio entre o Bra-
sil e portugal. achamos que é um
comércio muito pequeno. Estamos
a promover alguns estudos para
encontrar nichos de mercado, que
não estão a ser aproveitados, para
procurar incrementar a compra de
produtos portugueses através de
um instrumento que nós designa-
mos como inteligência comercial.
ou seja, procuramos identificar os
motivos pelos quais determinado
produto não está a ser exportado
para o Brasil, quando o importa de
outros países. Vamos procurar ➤
26 • Diplomática - oUtUBRo 2011
➤ tirar a “radiografia”: Será por que
é um mau vendedor? Existem pro-
blemas logísticos? É um problema
de financiamento? De marketing?
De marca? o que é? E depois
facultamos essa “radiografia” ao
exportador, apontando as razões
prováveis pelas quais não está a
fazer essa exportação para o Bra-
sil. Não podemos ir contra as nor-
mas da organização mundial de
comércio privilegiando as impor-
tações de um determinado país.
podíamos ser punidos por estar-
mos a praticar o chamado Desvio
de comércio. mas ao efectuarmos
esse estudo, mostrando as oportu-
nidades de comércio com o Brasil
e os erros que cometem os expor-
tadores de um determinado país,
não estamos a praticar esse tipo
de infracção.
Já há resultados desse estudo?
Não, começou há pouco tempo.
Estamos a promover esse estudo
em estreita cooperação com a
aicEp, incrementando-o desde a
época em que o Dr. Basílio Horta
presidia a esse organismo. mas
vamos continuar nessa linha que,
aliás, foi enfatizada pelo primeiro-
ministro, Dr. passos coelho.
agora, nós sabemos que vamos
enfrentar alguns limitantes – em-
prego este termo de forma delibe-
rada, porque a palavra limitações
parece que ter uma conotação ne-
gativa. o que são? Nós sabemos
que a oferta limitada de portugal
tem os seus limites. mas isso não
nos vai impedir de explorar ao má-
ximo esses nichos de mercado. in-
clusive, vamos fazer uma promo-
ção desses produtos directamente
junto aos importadores brasileiros.
Vamos abrir os olhos destes para
os produtos que portugal pode
exportar, com qualidade e com-
petitividade. Vamos também criar
uma revista como um dos elemen-
tos fundamentais dessa coope-
ração, dedicada exclusivamente
aos produtos portugueses e será
distribuída a cada um dos dez mil
importadores brasileiros. por tudo
isto, acho que nós temos um forte
capital político, social e cultural,
mas chegou o momento de trans-
formar tudo isso em números.
portugal tem de se dar conta que
o seu destino não é só a Europa,
que é preciso diversificar os mer-
cados, aproveitando esta fase de
crescimento do Brasil. Há muitas
empresas portuguesas de qua-
lidade mundial e que têm de ter
escala no mercado brasileiro. mas
há um outro aspecto que eu con-
sidero mais importante: na minha
gestão vou tentar dar prioridade
aos investimentos bilaterais (nesta
altura, o embaixador mostra-nos
um livro de mário Ferreira, conten-
do um investimento que o conhe-
cido empresário português preten-
de levar a efeito no amazonas: a
de um luxuoso barco de turismo,
idêntico aos que navegam no rio
Douro).Estamos a ajudá-lo nesse
investimento, inclusive, na procu-
ra de financiamento. portanto, os
investimentos são uma meta que
eu tenho a certeza que vai dar um
outro contorno às relações dos
dois países.
O Brasil não está a ser um país
caro para os empresários portu-
gueses que nele queiram inves-
tir?
Repare, à medida que o país se
desenvolve, é natural que o custo
de vida também aumente. isso
aconteceu com todos os países
que se desenvolveram, como foi
o caso da alemanha, Japão, num
dado momento com os Esta-
dos Unidos. Depois desse salto,
surgem, em seguida, as acomo-
dações e a coisa se equilibra.
mas nada disso tem dificultado a
entrada de empresas estrangeiras
no Brasil. o dinheiro continua a
chegar ao Brasil, eu diria, até de
forma exagerada… tanto é que
a nossa moeda está a ser valori-
zada em detrimento à dos países
exportadores. Hoje, o real vale
um dólar e meio. isso é uma coisa
surpreendente – a igualdade entre
as duas moedas! isso acontece
porque o Brasil continua a gerar
saldos na sua balança comercial e
porque está a entrar muito investi-
mento estrangeiro.
Isso acontece também com An-
gola, que também está tornar-se
um mercado apetecível, tanto
para os exportadores lusos
como na entrada de capitais
angolanos em Portugal… e é um
mercado igualmente procurado
pelo Brasil!
isso é o que falei. o espaço lusó-
fono está a transformar-se num
mercado, está a gerar riqueza e
emprego. Este é, aliás, o último
objectivo…o de que a economia
funcione em pleno, que as pesso-
as possam ter o seu emprego, que
possam viver bem. o maior cré-
dito que o Brasil tem no exterior
é com angola. Nós concedemos
a esse país um crédito que ultra-
passa um bilião de dólares. mui-
tas empresas brasileiras estão a
trabalhar lá, e eles pagam no dia.
Funciona como um “relógio” esse
crédito. E o mesmo estamos a
procurar fazer com outros países
de expressão portuguesa, como é
o caso de moçambique.
Acha que a Europa ganharia
alguma coisa ao estabelecer
um acordo com os países que
integram o Mercosul?
É crucial esse acordo. Um dos
aspectos limitantes de que falei é
o facto de os produtos brasileiros,
quando entram na Europa, paga-
rem tarifas elevadas. o mesmo
acontece com a taxação em vigor
no Brasil a esses produtos euro-
peus. portanto, é necessário ➤
Mário Vilalva
27oUtUBRo 2011 - Diplomática •
➤ eliminar essas tarifas, e isso só
se consegue através de um acor-
do comercial entre o mercosul e
a União Europeia. Felizmente, as
negociações foram retomadas há
cerca de um ano e estamos numa
fase denominada normativa para
depois entrarmos no chamado
acesso a mercados que respeita
à troca de lista de bens. ou seja,
o escalonamento de bens até
chegar à taxa zero. E lembro que
o comércio do mercosul é mais da
metade do piB da américa latina.
Estamos a falar da união de dois
blocos económicos fortes, com
espaços geográficos aceitáveis e
que, uma vez assinado esse acor-
do, vão criar riqueza e emprego.
o atlântico será resgatado como
a grande via para esse comércio,
com a vantagem dos europeus de
terem acesso ao maior mercado
da américa do Sul, que é o Bra-
sil, grande exportador de carne,
soja, milho, petróleo, entre outros
produtos. ➤
“Não gosto do termo ajudar. Eu acho que o Brasil não será a solução, mas pode e
deve colaborar com Portugal neste momento de dificuldades”
28 • Diplomática - oUtUBRo 2011
➤ E Portugal pode desempenhar
um papel importante no estabe-
lecimento desse acordo?
portugal sempre foi muito afirma-
tivo no estabelecimento desse
acordo. Seria, provavelmente,
o país mais beneficiado do lado
europeu, por uma simples razão:
estrategicamente, Sines será um
porto ideal. Há um trecho ferrovi-
ário que é preciso melhorar para
que fique mais competitivo. che-
guei a dizer ao então primeiro-
ministro Sócrates que era viável
a instalação de um entreposto co-
mercial com empresas brasileiras,
mas estas iriam sempre sofrer os
efeitos de uma taxação elevada.
…elevadas taxações que impe-
diram a formação da APEX, que
seria o primeiro entreposto co-
mercial brasileiro em Portugal?
Sim, foi uma utopia. mas voltando
ao acordo da EU/mercosul, portu-
gal é um país privilegiado e só te-
ria a lucrar: tem um óptimo clima,
as empresas têm espaço para se
instalarem e, por isso, eu digo que
só teria a lucrar.
Contrariando a progressiva
entrada de empresas brasileiras
no mercado português, tem-se
assistido, ao invés, a um retor-
no de emigrantes brasileiros ao
país de origem, como conse-
quência da crise que Portugal
atravessa. O sr. Embaixador tem
certamente consciência desse
facto?
Sim, está a haver um retorno ao
Brasil em função de dois aspec-
tos: há uma demanda de mão-de-
obra muito grande no Brasil. Se a
mesma é qualificada, fatalmente
voltará à origem.
Afluxo naturalmente relaciona-
do com os grandes aconteci-
mentos dos quais o Brasil vai
ser palco, que requerem muita
mão-de-obra
qualificada: o Mundial de Fute-
bol, os Jogos Olímpicos…
Não são os únicos, mas são even-
tos importantes. o que há é essa
demanda de mão-de-obra quali-
ficada que é paga com salários
mais elevados do que aqui. in-
clusive, de cidadãos portugueses
– no ano passado, concedemos
800 autorizações de residência a
compatriotas vossos e este ano
esse número já aumentou em 30
por cento em relação ao primei-
ro trimestre. por outro lado, os
ordenados da mão-de-obra não
qualificada são maiores em portu-
gal do que no Brasil e a tendência
deste é permanecer em portugal
desde que o mercado local permi-
ta. Se isso não acontecer, aí sim,
ela regressa. Já não há barreiras
no fluxo de trabalhadores entre os
dois países.
Vinte anos depois de ter estado
na embaixada brasileira, pode
fazer um retrato do Portugal
actual?
a primeira vez que vim a portugal
foi em 1980, para uma reunião
de trabalho, estava eu na repre-
sentação diplomática brasileira
em Washington. Encontrei então
um país deprimido, empobrecido,
sem um rumo, ainda não havia por
parte dos responsáveis políticos
uma certeza sobre qual o caminho
a seguir. Voltei em 1991 e deparei
com uma transformação radical
daquilo que havia visto dez anos
antes. Vi um portugal com destino
definido, com história renovada,
já com ânimo na população, havia
emprego e a Europa era a grande
solução depois de consumada
a adesão à UE. passados vinte
anos, devo dizer que encontrei
um portugal muito mais bonito.
com auto-estradas maravilho-
sas, infra-estruturas perfeitas, as
cidades estão limpas em qualquer
lugar que a gente vá. E há alegria,
coisa que eu não via no semblante
das pessoas nos anos oitenta. Há
quem diga que o dinheiro que veio
da UE foi mal gasto. Eu não acho
isso, depois de ter visto o vosso
país nessa minha primeira estadia
aqui. Hoje há um Estado Social
que não havia, estruturas fantásti-
cas para receber os turistas, está
perfeitamente integrado no conti-
nente europeu, podendo agora di-
versificar as suas relações, inclu-
sive, fora da Europa, que possam
acrescentar valor. Recordo uma
frase do anterior ministro dos Ne-
gócios Estrangeiros, luís amado,
ao ser questionado sobre qual se-
ria o futuro de portugal na Europa.
Ele respondeu que o futuro será
aquilo que o país possa ser fora
dela. portugal foi dono do mundo,
tem uma vantagem em relação
aos restantes países europeus de
saber ver o mundo, não a partir do
seu próprio umbigo, mas segundo
várias perspectivas: da Índia, de
áfrica, da china, do Brasil. portu-
gal tem talento. por isso, sempre
advoguei que o vosso país deveria
ter um papel de articulador entre
esses vários mundos.
O que é que o Sr. Embaixador
aprecia mais em Portugal?
São várias as características que
aprecio: o conhecimento em pri-
meiro lugar; aprendi a conhecer a
história do meu país vivendo aqui.
Nutro um carinho muito grande
pelas pessoas – adoro percorrer
o país, conhecer os lugares e
as suas gentes. Sabe, uma filha
minha nasceu aqui e esse facto
levou-me a que esses sentimen-
tos se tenham tornado ainda
mais fortes. De vez em quando,
perguntam-me qual dos países
em que estive colocado aquele
que mais gostei. E eu respondo: a
gente só repete aquilo que gos-
ta. Sou diplomata há 36 anos e é
o único país onde não me sinto
estrangeiro. n
Mário Vilalva
1mês/mês 2011 - Diplomática •
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30 • Diplomática - oUtUBRo 2011
Desde o momento em que os portugueses descobriram
as belezas do Brasil, que este país entrou no nosso
imaginário. Raros serão aqueles, portanto, que não
ambicionam mais tarde ou mais cedo rumar ao outro
lado do atlântico e, por regra, o ponto de partida desta
viagem por terras do Brasil tem início na cidade mara-
vilhosa – o belíssimo Rio de Janeiro, a capital do país,
até à inauguração da magnificente Brasília de Óscar
Niemeyer.
Uma vez chegados ao aeroporto internacional de
antónio carlos Jobim, tradicionalmente conhecido por
Galeão, e logo após ter visto do ar a beleza da cidade
carioca, é hora de rumar ao centro e de se deslumbrar
perante as maravilhas do berço da bossa nova, como
é caso do pão de açúcar, do cristo Redentor (uma
das sete maravilhas do mundo moderno), as praias
de copacabana e ipanema, o estádio maracanã, o
parque Nacional de tijuca (o maior bosque urbano do
mundo), e o fantástico “calçadão”, passeio à beira-mar
trabalhado por calceteiros enviados propositadamente
de portugal. claro que para os mais festeiros, a época
ideal para rumar ao Rio é por excelência o carnaval,
pela sua alegria, criatividade, plasticidade, cores, sons
e muita fantasia. É, aliás, a maior manifestação popular
do mundo. mas como viajar e barriga vazia não combi-
nam, a gastronomia carioca também merece referência
e a peculiaridade que esta cozinha tem de baptizar
pratos com nomes de embaixadores. os dois exemplos ➤
Brasil, uma Viagem de Sonho
Viagens & Lazer
1. praia do Forte, São Salvador da Bahia
1
31oUtUBRo 2011 - Diplomática •
➤ mais eloquentes são o filé à osvaldo aranha e sopa
leão Veloso. adaptação da “bouillabaisse” marselhesa,
a sopa com efeito revigorante e própria para ser con-
sumida em dias frios, foi criada pelo embaixador leão
Veloso no restaurante Rio minho, um dos mais antigos
em funcionamento na cidade (desde 1884).
mas o Brasil não é só Rio, e como tal, rumámos a Sal-
vador da Bahia, outro ícone de beleza e tradição deste
imenso país. para tal, fazemos a estrada Rio-Bahia,
que permite, ao atravessar diversos estados ao longo
dos mais de 1200 quilómetros, ver de tudo um pouco
do interior. Um pouco antes de meio da viagem vale a
pena fazer um pequeno desvio para ficar a conhecer
Belo Horizonte, a capital do Estado de minas Gerais. a
cidade é mundialmente conhecida e exerce significativa
influência nacional e até internacional, seja do ponto de
vista cultural, económico ou político. conta com impor-
tantes monumentos, parques e museus e é também
nacionalmente conhecida como a “capital nacional do
boteco”, por existirem mais bares per capita do que em
qualquer outra grande cidade do Brasil.
Uma vez chegados a Salvador da Bahia, as escolhas
são inúmeras: das praias belíssimas, como é o caso
da Barra de Jacuípe, lauro de Freitas, a trajectos que
fazem redescobrir o passado, como aquele que passa
pelo histórico mercado modelo e pelo porto da Barra.
Salvador, a capital do Estado da Bahia, e património
cultural da Humanidade, sobrevive principalmente do ➤
2. a colorida cidade de São Salvador da Bahia 3. a gastronomia baiana é das mais ricas do Brasil
4. praia lauro de Freitas 5. as tradicionais baianas
2
3 4
5
32 • Diplomática - oUtUBRo 2011
➤ turismo e do comércio e é conhecida como centro da
cultura afro-brasileira. a miscigenação resultou também
na mescla de culturas, crenças e rituais, que tornaram
o Brasil ainda mais rico, através de uma pluralidade
que o fez singular. o sincretismo religioso é exemplo
da efervescência cultural da cidade, sendo que a igreja
do Senhor do Bonfim é um dos maiores símbolos reli-
giosos da Bahia. Situada na Sagrada colina, a igreja
representa elementos do candomblé. os visitantes
podem presenciar a fusão de religiões principalmente
em Janeiro, na cerimónia de lavagem do Senhor do
Bonfim, quando as baianas percorrem as ruas da cida-
de em cortejo até a igreja, para lavar a escadaria com
água de cheiro.
Num tom algo mais profano é imperativo sublinhar o
facto de que na Bahia come-se maravilhosamente,
sendo que as moquecas, de carne, peixe ou marisco,
os vatapás bem picantes, e o acarajé, trazido de áfrica,
são indispensáveis. Em caso de dúvida é só procurar
o restaurante Da Dádá! todavia, também os doces,
muitos deles feitos à base de coco e jaca, e comum-
mente vendidos pelas ruas por baianas, são de comer
e chorar por mais.
De volta ao Rio de Janeiro empreende-se de seguida
a segunda parte desta viagem, rumo mais ao sul do
Brasil. pelo caminho, e de facto incontornável, a ma-
ravilhosa angra dos Reis, bem digna do nome que lhe
foi atribuído, onde para além de praias a que é difícil
dizer adeus se encontra também o melhor peixe fresco
cozinhado mesmo em cima do mar num restaurante
pertencente a um conterrâneo português.
assim, e antes de tornar a terras lusas, faz todo o sen-
tido rumar à Nova iorque da américa do Sul – a cidade
de São paulo. São paulo é uma síntese cultural do país
e é também a cidade que abriga a maior diversidade
étnica. São paulo tem a melhor e mais completa ➤
Brasil, uma Viagem de Sonho
6. o Farol da Barra em São Salvador da Bahia
6
33oUtUBRo 2011 - Diplomática •
➤ oferta cultural da américa latina: museus; programa-
ção cultural diversificada com “shows”, teatro, mostras
e exposições artísticas, opções de entretenimento e
lazer, a maior rede de restaurantes qualificados do país
com variedade gastronómica, chefs conceituados e
capacidade de renovação permanente. No que toca à
museologia, por exemplo, existe um museu para quase
tudo nesta magnífica cidade: das ciências naturais aos
presépios, das raízes etnológicas dos imigrantes prove-
nientes do Japão à microbiologia, do museu da língua
portuguesa ao de arte Sacra, passando por muitos
outros de igual relevo e interesse.
mas São paulo não é apenas cultura. É também uma
cidade vibrante de negócios, feiras, congressos e
convenções. É também a cidade da São paulo Fashion
Week: o maior evento de moda do país e um dos mais
importantes do mundo. Realizado em duas edições
anuais, ilumina toda a cadeia produtiva e concentra
desfiles que valorizam tanto as marcas quanto os esti-
listas deste imenso país.
para acabar em beleza umas férias maravilhosas, e
antes de regressar à Europa, é indispensável conhe-
cer ilhabela. localizada no litoral norte do estado de
São paulo, ilhabela é o único município-arquipélago
marinho do Brasil. com uma geografia montanhosa,
com relevos acidentados que mergulham no mar sob a
forma de belíssimas praias de areia branca, tornam a
paisagem da ilha particular e deslumbrante. Em cerca
de quatrocentos quilómetros, encontram-se para deleite
dos visitantes mais de 30 fantásticas cachoeiras e as
pequenas ilhas Vitória, São Sebastião, Búzios e dos
pescadores. Nesta paisagem paradisíaca pode dar-se
por terminada esta primeira aventura por terras de
Vera cruz, mas fica, sem sombra de dúvida, a vontade
de regressar e conhecer o tanto que ainda ficou por
explorar… n isabel prates
7. a catedral metropolitana de São paulo 8. a beleza tradicional de Belo Horizonte 9. ilhabela, Estado de São paulo
7 8
9
34 • Diplomática - oUtUBRo 2011
Embaixador de Moçambique, Miguel Costa Mikaima, destaca as relações cada vez mais fortes dos dois países e sublinha :
Miguel Costa Mikaima, o representante diplomático de Moçambique em Portugal, não é um embaixador de
carreira mas a sua escolha para o cargo deve-se, sobretudo, ao mérito e qualidades pessoais e experiência
politica, a que não será alheio o facto de ter sido ministro da Cultura num mandato de cinco anos. À
Diplomática, fala sobre as relações bilaterais, cada vez mais profícuas, do seu país com Portugal e de como
o combate à fome e pobreza se tornou numa questão primordial na governação da antiga colónia portuguesa,
numa altura em que comemora os 35 anos de independência. Casado, com quatro filhos, todos a residir em
Portugal, Miguel Mikaima aprecia a simpatia inigualável dos portugueses, a diversificada gastronomia,
destacando a posta mirandesa e, claro, o vinho do Porto. ➤
“Atrair investimentos portugueses tem sido um dos meus objectivos fundamentais”
por maria da luz de Bragança e José lucas Fernandes, fotos ligia correia
Dossier
35oUtUBRo 2011 - Diplomática •
➤ Como antigo ministro da Cultu-
ra, pensa que o povo moçambica-
no atingiu já um nível de maturida-
de cívica e educacional ou ainda
há muito a fazer nesse campo?
culturalmente, os moçambicanos
são já um povo muito maduro. Uma
maturidade adquirida ao longo da
experiência de vida, quer no pro-
cesso da luta de libertação nacional
para contrariar aquilo que ocorreu
no passado colonial, quer na pro-
gressiva conquista da sua liberdade
e valorização desses valores cultu-
rais. Recordo que 2011 foi procla-
mado o ano de Samora machel pelo
governo moçambicano. Há uma
frase do antigo presidente e que
ele usou, com frequência, dirigida a
todo o mundo que eu cito: ” a luta
de libertação de moçambique não
era contra o povo português, mas
sim, contra o regime português». É
uma frase muito avançada, com um
grande nível cultural que exprimia o
que era a vida prática e quotidiana
dos moçambicanos, um estado de
espírito que se mantém até aos dias
de hoje. Durante os anos em que
fui ministro da cultura, entre 2000
e 2004, pude aperceber-me disso,
dessa maturidade cultural do povo
moçambicano, que sabia interpre-
tar as dificuldades que enfrentava,
com uma visão clara do seu futuro.
E agora que estou em portugal, é
impressionante ver a forma simples
e aberta como decorrem as relações
entre moçambicanos e portugueses.
Por falar em cultura moçambica-
na, há uma grande figura moçam-
bicana, o pintor Malangantana,
recentemente desaparecida.
Guarda memórias do convívio
com esse artista que marcou de
forma significativa a cultura mo-
çambicana?
Guardo memórias muito profundas,
impressionantes. malangantana
é a síntese daquilo que disse há
pouco, da maturidade cultural dos
moçambicanos. Ele foi um verda-
deiro embaixador da nossa cultura
pelo mundo, fazia amizades com
franqueza e abertura, expunha-se
totalmente perante as pessoas…
tinha sempre a preocupação de as
transformar em bons amigos. as
suas obras exprimem o carácter
cultural dos moçambicanos, ou seja,
uma junção entre o tradicional e o
moderno.
Tem havido uma cooperação cul-
tural entre os dois países ou esse
aspecto ainda se poderia desen-
volver mais?
temos assistido a um fluxo cultural
muito grande entre os dois países.
Em portugal, por exemplo, não
passam seis meses sem que tenha
lugar uma exposição de um artista
moçambicano, ou mostras colecti-
vas, havendo um salutar convívio
dos artistas de ambos os países.
isto tem sido uma marca moçambi-
cana em portugal, que ultrapassa
as artes plásticas e abrange outros
sectores, interagindo entre si. por
exemplo, em maio decorreu a Bie-
nal de cultura em odivelas na qual
moçambique teve uma presença
muito significativa. aqui, na em-
baixada, organizamos uma sessão
de ópera com Stella mendonça. a
princípio houve uma certa retracção
ou desconfiança do público, mas, no
final, todos se renderam ao profis-
sionalismo e qualidade do reportório
da intérprete.
Portugal tem apoiado a emigra-
ção moçambicana? Ou há ainda
algo por fazer no apoio a quem
chega a Portugal para trabalhar?
Há dois aspectos a considerar: aquilo
que portugal pode efectivamente fa-
zer e aquilo que não pode face à actu-
al conjuntura económica – por exem-
plo, muitos moçambicanos recorrem
à embaixada pedindo para que eu
interceda junto do governo português
para lhes arranjar empregos. Quanto
a esse aspecto eu não posso fazer
nada, como é compreensível
Mas há já organismos criados em
Portugal de apoio aos emigran-
tes, principalmente aqueles pro-
venientes de países lusófonos?
Visitei na semana passada a aciD,
reuni com a comissária responsável
desse organismo. Foi um encontro
muito positivo, tendo ficado total-
mente a par da forma, igualmente
empenhada, como têm sido desen-
volvidos esforços para a integração
de cidadãos estrangeiros. E mais
agradavelmente surpreendido
fiquei quando essa responsável
me informou que, de acordo com
informações a que teve acesso, os
moçambicanos são a comunidade
melhor integrada na sociedade por-
tuguesa. portanto, apraz-me regis-
tar que não tem havido problemas
com os moçambicanos em portugal
que possam afectar gravemente
essa convivência. pelo contrário, o
que há é uma profunda harmonia e
concertação de interesses.
Os desenvolvimentos da crise
portuguesa podem potenciar a
emigração de portugueses para
Moçambique ?
temos assistido nos últimos tempos
a um grande afluxo de portugue-
ses para moçambique, à procura
de oportunidades de investimento,
mas há muitos que se deslocam por
questões de emprego.
Há uma grande abertura por parte
do governo moçambicano a quem
queira investir no país? Existem
apoios?
a embaixada criou há três anos
uma nova estrutura, a de conselhei-
ro comercial, da qual é responsá-
vel a Dra. Filomena malalane (?),
precisamente porque o governo de
moçambique verificou que portugal
era um país potencialmente inves-
tidor, com muitas possibilidades de
os empresários desenvolveram os
seus negócios. atrair investimentos
portugueses tem sido uma das ➤
36 • Diplomática - oUtUBRo 2011
➤ actividades prioritárias da embai-
xada, isto numa altura em que mo-
çambique se tornou uma referência
mundial em termos de crescimento
económico e desenvolvimento
social. tem havido da nossa parte
muita abertura, sobretudo, para as
pequenas e médias empresas. isto
porque as grandes empresas, no-
meadamente, as que estão ligadas
ao sector bancário ou da constru-
ção, essas sabem encontrar os
seus canais próprios para entrar em
moçambique.
Há áreas prioritárias?
as grandes empresas portuguesas
de construção estão em moçam-
bique. Estamos agora a criar uma
nova rede viária em termos de
funcionalidade e sustentabilidade,
de forma a ultrapassar uma situação
que vinha do passado em termos de
insegurança rodoviária.
E no sector bancário?
No período de um ano ( 2010/11)
abriram três novos bancos com uma
forte participação portuguesa – aliás,
todos os grandes bancos moçam-
bicanos têm uma participação de
capital luso, com destaque para
a caixa Geral de Depósitos, Bpi,
Bcp,BES.
A luta contra a pobreza, a ex-
ploração de novas tecnologias
na Agricultura e dos recursos
naturais, como o carvão, são
áreas que estão a ser objecto
de particular atenção por parte
do governo moçambicano. O sr.
Embaixador pode falar-nos sobre
este aspecto?
a comemoração dos 35 anos da
independência de moçambique, que
teve lugar no ano passado, aconte-
ceu numa altura em que o combate
contra a pobreza se tornou cada
vez mais premente, situando-se no
primeiro nível das nossas priorida-
des, quer do governo, assim como
da sociedade moçambicana. o povo
é chamado a participar com qual-
quer coisa na luta contra a pobreza.
Neste campo, há um aspecto muito
importante: o resgate da auto-
estima dos moçambicanos. o que
significa que devemos acreditar nas
nossas capacidades de poder trans-
formar moçambique, muito em parte
devido aos recursos que dispomos.
Estes devem estar disponíveis para
sustentar o combate à pobreza. Há
áreas no decurso da história mo-
çambicana que foram subestimadas
em termos de acção produtiva. cito,
por exemplo, o sector da agricultura,
que, tradicionalmente, nunca foi ca-
paz de ter um papel preponderante
na sustentabilidade da nossa econo-
mia, mas sim, caracterizou-se ➤
“Os moçambicanos são a comunidade melhor integrada na sociedade portuguesa”
Miguel Costa Mikaima
37oUtUBRo 2011 - Diplomática •
➤ por ser de subsistência. temos de
chegar a um novo modelo, que, por
um lado, sirva para combater a fome
e, por outro, de fonte de exportações.
as comemorações dos 35 anos
de independência caracterizaram-
se pela assumpção desta visão.
moçambique tem outros recursos
naturais importantes, como é o caso
do carvão. o ano passado, a área do
sector mineral foi objecto de pesqui-
sas aprofundadas, foram identifica-
das todas as riquezas existentes.
como é o caso do carvão que come-
ça já, em Julho, a ser exportado.
Uma empresa brasileira investiu
cerca de um milhão e meio de
euros nessa exploração...
É um facto que o Brasil tem o maior
investimento neste sector, mas
também há empresas australianas e
indianas. Não podemos esquecer o
turismo, que tem sido bastante en-
corajado. Notamos, com satisfação,
o número crescente de turistas por-
tugueses que vão a moçambique,
encontrando o mínimo de condições
para os acolher, usufruindo de uma
hotelaria e restauração com qualida-
de, de excelentes praias e parques
naturais e de um riquíssimo patrimó-
nio cultural.
O sr. Embaixador acha que
Portugal pode perder um pa-
pel dominante de intervenção
económica em Moçambique em
detrimento de outros países que
estão a apoiar o desenvolvimento
do país, como é o caso da China,
Índia e Brasil? Há esse risco?
acho que portugal nos últimos anos
trabalhou bastante bem, conseguiu
explorar de uma forma firme a sua
presença em regiões em desenvol-
vimento económico, na áfrica, ásia
e américa latina, e isso faz com
que o valor da cultura portuguesa
cresça cada vez mais. creio, sobre-
tudo, que a actual visão empresa-
rial de portugal assente cada vez
mais na potenciação com o mundo,
olhando para as suas antigas coló-
nias como um mercado emergente.
ou seja, toda a cplp.
Ultrapassado o acordo estabele-
cido com Portugal, a barragem
de Cahora Bassa começou a criar
riqueza para o país?
Em 2009 e 2010 produziu lucros
que nunca foram alcançados e tudo
indica que cahora Bassa vai ser um
sustentáculo fulcral na economia
nacional. a área de produção e dis-
tribuição de energia eléctrica é uma
área fundamental de sustentabili-
dade económica para moçambique.
os problemas do passado foram
ultrapassados e não nos lembramos
mais deles. cahora Bassa é uma
empresa moçambicana bem orga-
nizada e está no topo do ranking
das melhores do país apresentando
lucros de forma sustentada.
Portugal tem dado cartas no cam-
po das energias renováveis, um
sector que também poderá inte-
ressar a Moçambique ?
Nós concordamos com essa políti-
ca. para se desenvolver, moçam-
bique precisa de levar a energia a
todos aqueles que precisam dela
e também para a melhoria de vida
das pessoas. E só podemos levá-
la aos locais mais recônditos se
recorrermos às energias renováveis,
até porque não podemos distribuir a
energia produzida em cahora Bassa
a todo o país. as energias renová-
veis são uma solução alternativa de
imediato que precisamos de imple-
mentar de imediacto.
Pode traçar o ponto da situação
respeitante à balança comercial
entre Moçambique e Portugal?
Durante a visita que o então pri-
meiro-ministro, José Sócrates fez a
moçambique, foram estabelecidos
entendimentos comerciais bastante
fortes e significativos. Uma parte
dos mesmos respeitante à dívida
moçambicana para com portugal e
também na parte financeira. a partir
daí, os acordos têm sido feitos com
muita segurança e maior credibilida-
de. Neste momento, não há ques-
tões pendentes que possam minar
a nossa relação. Neste momento, a
balanço é negativo para moçambi-
que, porque importamos mais, dado
estarmos numa fase de relança-
mento das economia com grandes
investimentos.
Aliás, foi estabelecida a realiza-
ção de encontros anuais de repre-
sentantes dos dois países para
discussão desses assuntos…
ia ter lugar em maio um desses en-
contros, mas acabou por ser adiado
devido aos problemas políticos que
surgiram em portugal. Da nossa
parte, temos os dossiers preparados
e as equipas formadas.
Acha que a crise política e a
consequente entrada do FMI em
Portugal poderá prejudicar as re-
lações económicas entre Portugal
e Moçambique?
Quero dizer-lhe que nós tivemos o
Fmi em moçambique. importante
nesse relacionamento foi o posi-
cionamento de moçambique, que
sempre se mostrou disponível para
a negociação e diálogo. Esse tem
sido um dos nossos pontos fortes,
ou seja, o de sabermos dialogar
com transparência e rigor. o Fmi é
nosso parceiro e com ele temos tra-
tado os problemas mais candentes
da nossa economia, tendo efectua-
do um acompanhamento permanen-
te da evolução da nossa economia
O que aprecia mais em Portugal?
a simpatia das pessoas, a boa
comida e os excelentes vinhos.
portugal é um país aparentemen-
te pequeno mas com uma grande
diversidade gastronómica. Vamos
a Bragança e saboreamos aquele
naco …como se chama…ah, sim,
a posta mirandesa; vamos para o
alentejo e deparamos com aquelas
entradas de enchidos, não esque-
cendo o afamado vinho do porto. n
38 • Diplomática - oUtUBRo 2011
As independências e os intelectuais negros
Retomo o conceito “intelectual negro”, para estar consonante com a
elaboração sociológica desenvolvida nos Estados Unidos da américa do
Norte, desde Dubois, martin luther King, tendo chegado ao nosso tem-
po com Barack obama, (yes we can), actual negro americano tornado
líder do país mais mediático do mundo. Esta designação nada tem a ver
com a história do racismo e, sobre essas teses, já correu muita tinta. Não
é simples entender a cultura que se desenvolveu entre os americanos
depois da sua independência, em pleno séc 18, a de “melhores cabeças”
que não deixou os escravos de fora nas exigências de uma super-potência
mundial assessorada pelas Nações Unidas desde outubro de 1945, após a
2ª guerra mundial.
com a conferência de Berlim de 1885, engendrou-se uma nova aborda-
gem em relação ao desenvolvimento das colónias e dos autóctones,sob a
ocupação dos europeus. a teoria de identidades apaixonou os emancipa-
listas negros e europeus e a partir daí nada mais foi igual. Vejamos que
já no séc. XVii, destaca-se o francês e o filósofo René Descartes com a
célebre frase:“cogito ergo sum” je pense, donc je suis, penso, logo existo.
a liberdade de pensamento, com base na existência, foi a grande arma dos
intelectuais negros, que abraçaram princípios humanistas para subver-
ter um dos fundamentos do esclavagismo declarado, em pleno séc. XVii
(dezassete).
Da ocupação efectiva e administração das colónias, juntou-se o quebra
cabeças do fim obrigatório de determinadas hegemonias, proeza iniciada
pelos EUa em 1776. a independência dos Estados Unidos de américa e a
revolução francesa de 1789 tinham criado o homem novo voltado para os
valores da liberdade, igualdade e fraternidade. a classe burguesa letrada
ganhara a batalha da inteligência e do conhecimento científico, contra a
burguesia iletrada, baseada apenas nos grandes latifúndios, ou seja na
exploração de grandes terras, enriquecidos pela força do trabalho humano
gratuíto ou barato. Foi neste ambiente que forjaram certas mudanças no
ocidente que influenciaram grandemente as revoluções e as indendências
mais significativo a partir dos anos 50, do séc. XX
Esses pressupostos criaram choques socias, muitas vezes traduzidos em
conflitos abertos em que o maior ganhador foi sempre quem viveu amarra-
do à terra do senhor na condição de “servo da gleba” “escravo” ou coloni-
zado.
As independênciasPois bem, é exactamente na época da grande expansão colonial eurocen-
trista e cristianocentrista que os africanos das áfrica Negra passam a ser
considerados, teoricamente, do terceiro mundo e sem história, vivendo de
parasitismo em relação ao desenvolvimento histórico mundial. a primeira
metade do século XX lançou ideias de fim de exploração do”homem pelo
homem” e o marxismo-leninisno fez-se presente, criando diferentes aproxi-
mações entre humanos em determinados países, com base na exploração
dos bens de produção. período reivindicativo que culminou com o fortaleci-
mento das ideias independentistas dos territórios sob o domínio dos ➤
Dossier
39oUtUBRo 2011 - Diplomática •
➤ inquilinos europeus, facilitados séculos a fio, pela generosidade e aco-
lhimento dos vencidos, através da capacidade de submissão e cruzamento
das raças.
No entanto, à medida que os 500 anos de subjugação nos aproximavam
dos anos 50, a abertura das escolas, o redimensionamento das redes
viárias e a consolidadação da admistração pública centrada nos meios
urbanos, facilitaram o surgimento dos primeiros intelectuais negros afri-
canos, homens e mulheres capazes de levar por diante, com a ajuda de
países africanos e não africanos, a consciência da “noção de pertença” e
do “resgate” da identidade.É munidos dessas ferramentas que os mesmos
resolveram não se apresentar de mãos vazias no encontro e reencontro
com a história.
Falar a mesma línguagemNão poderia ser de outra maneira senão agindo, pensando e actuando na
base dos conhecimentos retóricos da filosofia aristotélica platónica, hege-
liana ou kantiana, dialética de que precisavam para se confrontar com os
irmãos europeus na arena do debate político, cultural, de acordo com os
cânones do pensamento da europa clássica e moderna, a partir dos quais
foram forjados os seus conhecimentos e a língua. De toda a maneira, era
preciso uma redefinição africana e, de acordo com o historiador e sociólo-
go inglês das caraíbas paul Gilroy, impunha-se recuperar a memória sobre
as importantes e inigualáveis contribuições do “atlântico negro”, que se
forjou noutras dimensões que vão além dos contra-valores da escravatura,
sobretudo na intercomunicação através da música, dança, saberes, identi-
dades e histórias.Do mesmo modo, mulheres há que se tornaram militantes
do saber endógeno, ou seja de si próprios, recuperando os bons hábitos e
costumes.É assim que intelectuais negros buscaram a história do Egipto,
para se estabelecer o tão procurado fio condutor da história africana, des-
de os tempos pré-históricos, relacionando as civilizações da Núbia, Ghana,
chade e demais com história, como justificações da memória.
o mérito dos “intelectuais negros” centrou-se também nas
teses sobre o africanismo, que obrigaram os estudiosos eu-
ropeus a uma leitura mais atenta dos referidos fundamentos,
no que tange a forma como o negro e o não-negro se colo-
cam perante o objecto do conhecimento.
com o devir histórico, imparável na marcha dos tempos, os
angolanos chegaram à independência proclamada há 35
anos que, de forma irreversivel, nos levou ao concerto das
nações grandes e pequenas, a partir de cada 11 de Novem-
bro que celebrámos, como corolário de conquistas arran-
cadas com determinação inteligência e trabalho, a partir
dos quais criámos os nossos mitos e heróis, como acontece
com todos que, como nós, são donos das memórias que
particularizam, universalizam e engrandecem na arena da
solidariedade social, desenvolvimento sustentado e demo-
cracias do séc. XXi. n palmira tjipilicaprofessora Universitária
40 • Diplomática - oUtUBRo 2011
Um liberal reformista, resoluto, teimoso,
um resistente na luta partidária, estas
são as características principais de
pedro passos coelho, actual primeiro
ministro de portugal, líder do governo
de coligação pSD/cDS-pp que tomou
posse a 21 de Junho de 2011.
“É zero materialista”, resume o tempe-
ramento do actual primeiro ministro um
dos chamados “barões” do pSD e antigo
ministro, Ângelo correia, considerado
uma espécie de guia espiritual de pas-
sos coelho . “tem ar de lisboeta, mas
alma de transmontano. Não é dado a
luxos, não liga nada a isso”, garante o
patrão da Fomentinvest, a empresa que
passos coelho deixou para derrubar o
então líder do pS, José Sócrates, nas
eleições do passado dia 5 de Junho. ti-
rar portugal do sufoco financeiro através
de um programa ambicioso de conten-
ção dos gastos públicos – “o Estado
deve dar esse exemplo de rigor e con-
tenção para que haja recursos para os
que mais necessitam e o Governo será o
líder desse exemplo…”, sublinhou pas-
sos coelho no discurso de tomada de
posse – é sintomático dessa vontade e
espírito inquebrantáveis, moldadas nas
várias latitudes geográficas que nortea-
ram o destino de vida e que contribuíram
para moldar o seu temperamento.
pedro manuel mamede passos coelho
nasceu em coimbra em 24 de Julho de
1964. os pais eram de trás-os-montes,
família de pequenos industriais de ma-
deira. o seu pai, antónio passos coe-
lho, 84 anos, é médico pneumologista e
foi dirigente do pSD em Vila Real. as-
cendeu aos órgãos nacionais do partido
no tempo de Sá carneiro.
passos coelho cresceu com a irmã
maria teresa e o irmão entre Silva porto
e luanda, onde o pai exercia medicina
antónio passos coelho abandonou a
direcção do sanatório do caramulo e foi
para angola, levando com ele a família:
a mulher e os filhos, teresa, paulino e
pedro. “Em áfrica fui sempre um miú-
do à solta”, conta passos no seu livro
mudar. pedro saía de manhã, almoçava
numa cubata, brincava com os meninos
tuberculosos, lanchava noutra cubata e
ia brincando, até outra família lhe dar
jantar numa outra cubata. assim, com
seis anos, aparecia em casa pelas nove
da noite. Já nessa altura pedro passos
aparentava não ter medo e moldava o
seu espírito nesse convívio multirracial
que se mantém até aos dias de hoje,
Brincar nas cubatas
talvez resquícios desse período da
sua juventude, áfrica continua a ser
marcante na sua vida. logo na noite
das eleições, no rescaldo da vitória nas
urnas, pedro passos coelho lembrou
o papel que portugal pode desempe-
nhar como placa giratória da lusofonia
africana para a Europa. aliás, chegou
mesmo a casar há sete anos, em segun-
das núpcias, com a guineense laura,
fisioterapeuta, natural de Bissau, com
quem teve a sua terceira filha, Júlia,
agora com três anos. Fisioterapeuta,
laura está habituada a passar por cabo-
verdiana porque “as pessoas pensam
que todos os guineenses são pretos
retintos”, sublinha bem humorada. Do
seu anterior casamento, com Fátima
padinha - a Fá das Doce, actual quadro
da REN - passos coelho tinha já duas
filhas, Joana (nascida em 1988) e cata-
rina (em 1993)
passos coelho viveu ainda as vicissitu-
des da chamada “descolonização exem-
plar” que marcou os finais dos anos
setenta e que culminou na debandada ➤
Passos do Destino
Provável consequência das múltiplas vivências africanas do actual primei-
ro-ministro, Passos Coelho acredita no papel fundamental de Portugal como
placa giratória da Lusofonia Africana para a Europa.
eSTADO
41oUtUBRo 2011 - Diplomática •
42 • Diplomática - oUtUBRo 2011
➤ dos portugueses de áfrica. Regressou
a portugal, tendo ido viver com a famí-
lia para Vale de Nogueiras, concelho
de Vila Real, donde o pai é originário.
concluiu o ensino secundário na Escola
Secundária camilo castelo Branco, no
mesmo concelho.
É licenciado em Economia pela Univer-
sidade lusíada de lisboa. iniciou a sua
actividade de consultor na tecnoforma,
em 2000. No ano seguinte, tornou-se co-
laborador da lDN consultores, até 2004.
Dirigiu o Departamento de Formação da
URBE - Núcleos Urbanos de pesquisa e
intervenção, entre 2003 e 2004. Durante
este ano, recebeu o convite de Ângelo
correia para ingressar no Grupo Fomen-
tinvest, onde será director financeiro, até
2006, e administrador executivo, entre
2007 e 2009. Foi também presidente do
conselho de administração das partici-
padas Ribtejo e da Hlc tejo, e até 2010
leccionou no instituto Superior de ciên-
cias Educativas.
a política motivou passos coelho a vir
para lisboa. o objectivo era o estudo
da matemática. mas a JSD tomava-lhe
todo o tempo. Foi secretário-geral desta
estrutura do partido aos 20, e presidente
aos 26. Eleito deputado em 1991, viria
a integrar a comissão política Nacional
(cpN) do pSD de cavaco Silva. muitos
se lembram de o jovem pedro ter fei-
to frente a cavaco Silva, por causa da
política de Educação – vivia-se então a
revolta estudantil motivada pelo aumen-
to das propinas universitárias. Era então
ministra manuela Ferreira leite. pas-
sos coelho teve como secretário-geral
miguel Relvas, que ainda hoje é o seu
braço direito e integra o elenco governa-
mental.
Em maio de 2008 candidatou-se, pela
primeira vez, à presidência do pSD,
propondo uma revisão programática de
orientação neoliberal. Derrotado por
manuela Ferreira leite, fundou com um
conjunto de apoiantes um círculo de
reflexão política denominado “ construir
ideias”. Já em Janeiro de 2010 lançou
o livro "mudar" e assumiu-se, de novo,
candidato às eleições directas de março
desse mesmo ano. Eleito presidente do
pSD a 26 de março de 2010, foi o líder
do maior partido da oposição, viabili-
zando no parlamento três alterações
ao programa de Estabilidade e cres-
cimento (pEc). a recusa de um quarto
pEc, em sintonia com toda a oposição
parlamentar ao partido Socialista, e a
necessidade de portugal recorrer à aju-
da externa (Fmi, Banco central Europeu
e União Europeia) face à incapacidade
autónoma de travar o défice das con-
tas públicas portuguesas levaram o
primeiro-ministro socialista José Sócra-
tes a demitir-se do cargo e obrigaram o
presidente da República, cavaco Silva,
a convocar eleições antecipadas para 5
de Junho de 2011. Foi a oportunidade
esperada por passos coelho de assumir
a liderança política do país.
Cortar a direito
contra ventos e marés, os costumados
«Velhos do Restelo» e… as agências
internacionais de “rating”, coelho lá
vai dando passos firmes, impondo as
suas propostas e ideais. Dentro e fora
do pSD: “corta a direito no partido, às
vezes parece um elefante numa loja
de porcelanas a limpar rente o que lhe
soe a carreirismo, vícios de aparelho”,
sublinham os correligionários políticos,
vendo nessa atitude uma virtude.
por outro lado, alguns comentadores
políticos sustentam que há muito que
portugal precisava de um safanão polí-
tico, de gente nova, de corajosas refor-
mas que o tire do marasmo e do cliente-
lismo em que vive atolado há décadas.
as tarefas do novo Governo foram bem
delineadas no discurso de posse de
passos coelho: estabilizar as finanças,
socorrer os mais necessitados e fazer
crescer a economia e o emprego. tudo
à custa de draconianas medidas de aus-
teridade que afectam todos os estratos
sociais, medidas encaradas pela “troika”
do Fmi e EU como um sinal positivo que
portugal está no caminho certo da recu-
peração económica. ➤
Passos do Destino
43oUtUBRo 2011 - Diplomática •
Quem é quem no actual elenco governativo
Uma coligação PSD/CDS e independentes constitui o elenco de onze
titulares do XIX Governo Constitucional, empossado no passado dia 13 de
Junho pelo Presidente da República, Cavaco Silva. ➤
44 • Diplomática - oUtUBRo 2011
➤ Após o juramento do primeiro-ministro, pedro
passos coelho, assinaram o auto de posse, por
esta ordem hierárquica, o ministro de Estado e das
Finanças, Vítor Gaspar, e o ministro de Estado e
dos Negócios Estrangeiros, paulo portas, finalizan-
do com o secretário de Estado adjunto do primeiro-
ministro, carlos moedas. a redução de ministérios
pretendida pelo novo Governo, tendo em atenção
uma medida preconizada no plano apresentado ao
país de contenção de custos, implicou que alguns
ministros ficassem responsáveis por mais que uma
pasta. miguel Relvas será um desses casos e terá
a seu cargo um superministério.
Relevamos algumas notas biográficas de cada um
dos actuais membros do Governo
Paulo Portas, o ministro dos Negócios Estran-
geiros, regressa ao Governo, tendo assim
oportunidade de mostrar a “habilidade diplomá-
tica” que lhe apontam colaboradores próximos,
numa pasta que tinha sido recusada ao cDS-pp
em 2002. o líder do cDS/pp já tinha desempe-
nhado em anteriores Executivos os cargos de
ministro de Estado e da Defesa Nacional (nos
governos liderados por Durão Barroso e pedro
Santana lopes).
portas aderiu ao cDS-pp em 1995, depois de
ter sido um dos principais conselheiros do antigo
presidente do partido manuel monteiro, que viria
a substituir, no congresso de Braga, em 1998,
depois de ter sido um dos fundadores e director do
polémico semanário “o independente”, entretanto,
encerrado.
Foi presidente do partido durante sete anos, levan-
do o cDS-pp ao poder em 2002 e demitiu-se em
2005, na sequência das legislativas de Fevereiro ➤
Passos do Destino
45oUtUBRo 2011 - Diplomática •
➤ desse ano, nas quais os populares obtiveram
um resultado abaixo das expectativas.
Voltou à liderança do cDS-pp, em 2007, quando
derrotou o ex-líder Ribeiro e castro. Foi reeleito
por duas vezes, em 2009 e em 2011, com mais de
95 por cento dos votos e sem qualquer adversário,
em eleições directas. Exceptuando as intercalares
de lisboa em 2007, nas quais sofreu uma pesada
derrota, o cDS-pp conseguiu manter ou reforçar
os resultados eleitorais nas regionais, europeias e
legislativas.
católico praticante e amante de cinema, portas
começou na política na JSD, da qual se afastou
com a morte de Francisco Sá carneiro.
Vítor Gaspar, transitou do cargo director do
Gabinete de conselheiros da União Europeia
(BEpa), que ocupava desde 2007, para o
ministério das Finanças. Entre 1998 e 2004 foi
director do centro de Estudos do Banco central
Europeu. No currículo lê-se ainda que foi con-
selheiro e director do Departamento de Estudos
Económicos do Banco de portugal. Gaspar foi
o representante do ministro das Finanças de
cavaco Silva, Braga de macedo, na conferência
intergovernamental que negociou o tratado de
maastricht, em 1992.terá a difícil tarefa de pôr
as finanças do país em ordem de acordo com as
medidas propostas pela troika do Fmi, EU e Ban-
co central Europeu.para já, na primeira reunião
do Eurogrupo em que participou, num discurso
de 180 segundos, impressionou os seus pares
pela forma clara como apresentou as reformas
em curso para controlar o défice público e estabi-
lizar a situação financeira, evitando os riscos de
contágio à Zona Euro. ➤
46 • Diplomática - oUtUBRo 2011
➤ Miguel Relvas, ex-secretário-geral do pSD, é o
ministro dos assuntos parlamentares do Gover-
no de pedro passos coelho, mas terá também
outras responsabilidades, abarcando aquilo que se
poderá chamar um superministério. além dos as-
suntos parlamentares, miguel Relvas ainda terá a
responsabilidade da Reforma administrativa e de
tutelar a pasta da Juventude e Desporto. É um dos
homens de confiança de pedro passos coelho,
seu amigo pessoal de longa data, desde a estru-
tura da Juventude Social Democrata onde ambos
começaram a sua ascensão política. Relvas ficará
assim, não apenas com a responsabilidade da
coordenação política entre o Governo e os parti-
dos com assento parlamentar, mas também com
um dos principais desafios dos próximos anos:
a reforma administrativa, que passa pela reorga-
nização política do aparelho do Estado central e
local, com destaque para o mapa autárquico e a
fusão e extinção de municípios prevista no memo-
rando assinado com a troika. Foi secretário-geral
da Juventude Social Democrata, de 1987 a 1989,
deputado à assembleia da República, entre 1991
e 2009, presidente da assembleia municipal de
tomar, entre 1997 e 2009, presidente da Região
de turismo dos templários, entre 2001 e 2002,
secretário de Estado da administração local de
Durão Barroso.
Alvaro Santos Pereira veio do canadá para
ocupar a pasta da Economia e obras públicas do
governo de passos coelho. É docente na Simon
Fraser University e professor visitante na Univer-
sity of British columbia. Entre 2004 e 2007, foi
docente no departamento de Economia da Univer-
sidade de York, onde leccionou Economia Euro-
peia e Desenvolvimento Económico. Entre 2000
e 2004, ensinou no departamento de Economia
da University of British columbia. licenciou-se em
economia pela Universidade de coimbra. Douto-
rou-se em Economia pela Simon Fraser University,
em Vancouver.
Nuno Crato, o matemático de 52 anos que deu
protagonismo à ciência exacta e se distinguiu pela
sua divulgação, é o novo ministro da Educação.
professor catedrático e pró-reitor da Universidade
técnica de lisboa (Utl), começou por dar aulas
no ensino secundário. Viveu em lisboa, nos aço-
res e nos Estados Unidos da américa, onde fez
o doutoramento em matemática aplicada (1992),
depois do mestrado em métodos matemáticos
para Gestão de Empresas (1987), na capital por-
tuguesa.Foi também em lisboa que se licenciou
em Economia (1980/81), no instituto Superior de
Economia.
É autor de um vasto conjunto de publicações,
entre artigos em revistas científicas e livros que
tornaram a matemática acessível a todos e o po-
pularizaram entre os mais jovens.
para essa popularidade contribuiu também o
cargo de presidente da Sociedade portuguesa de
matemática (Spm), que ocupou desde 2004 e que
deixou para miguel abreu, nas últimas eleições,
após assumir funções de administrador do tagus-
park, no ano passado.
Em 2008, foi condecorado pelo presidente da
República com a comenda da ordem do infante
Dom Henrique.
a União Europeia atribuiu-lhe, no mesmo ano, um
prémio de comunicador científico do ano.
crítico da educação em portugal, defendeu nas
várias entrevistas que deu a necessidade de medi-
das urgentes no ensino da matemática, sugerindo
alterações na estrutura do ministério da Educação,
como a extinção do gabinete responsável pelos
exames e pelas estatísticas, que quer ver entre-
gues a uma entidade independente.
Miguel Macedo, ministro da administração
interna, tem 52 anos e liderou no parlamento,
durante o último ano, a oposição ao Governo do
pS. Nasceu em Braga no dia 6 de maio de 1959, é
licenciado em Direito e advogado.
Depois de pedro passos coelho ter sido eleito
presidente dos sociais-democratas, em março de
2010, miguel macedo foi escolhido para presidir
ao grupo parlamentar do pSD e nas legislativas
de 5 de Junho encabeçou a lista do partido no
círculo de Braga. Nessa qualidade, foi o deputado
social democrata que justificou no parlamento o
chumbo do pSD ao programa de Estabilidade e
crescimento (pEc), que levaria à demissão do
primeiro-ministro, José Sócrates, e à realização de
eleições antecipadas, sustentando a necessidade
de “uma clarificação política” para “o país poder
vir a contar com um Governo de maioria alargada”
e “repor o respeito e a credibilidade abaladas de
um primeiro-ministro que comprometeu o país em
Bruxelas” com medidas de austeridade “sem res-
peitar o presidente da República e sem consultar
a assembleia da República”. ➤
Passos do Destino
47oUtUBRo 2011 - Diplomática •
➤ antes de ser líder parlamentar do pSD, miguel
macedo fez parte da direcção social-democrata de
marques mendes, ocupando o cargo de secretá-
rio-geral, e teve três experiências governativas.
militante social-democrata desde jovem, miguel
macedo foi dirigente da JSD e a sua primeira
experiência governativa aconteceu no primeiro
Governo de maioria absoluta de cavaco Silva,
como secretário de Estado da Juventude do minis-
tro couto dos Santos, entre 1990 e 1991.integrou
depois, entre 2002 e 2005, os governos de coliga-
ção pSD/cDS-pp de Durão Barroso e de pedro
Santana lopes, como secretário de Estado da
Justiça, trabalhando nessas funções com os minis-
tros celeste cardona e José pedro aguiar-Branco,
seu antecessor na liderança parlamentar do pSD.
Aguiar Branco regressa ao Governo, agora na
pasta da Defesa, seis anos depois de ter sido
ministro da Justiça no governo de pedro Santana
lopes. Nascido no porto a 18 de julho de 1957, é
licenciado em Direito pela Universidade de coim-
bra. conta com um extenso percurso político no
pSD, que iniciou na JSD na década de 70.chega
ao Governo de passos coelho depois da corrida
às legislativas de 5 de Junho como cabeça de lista
pelo porto – pela terceira vez consecutiva, depois
das eleições de 2005 e de 2009 – nas quais o
pSD venceu também no distrito, com a eleição
de 17 deputados, com 39,14 por cento dos votos,
contra os 12 de 2009 (onde os sociais democra-
tas ficaram atrás do pS e conseguiram 29,14 por
cento dos votos).
casado e com cinco filhos, o então líder da ban-
cada parlamentar do pSD – apoiante de manuela
Ferreira leite, assumiu o cargo na sequência da
vitória, em 2008, da ex-líder do partido nas elei-
ções internas – apresentou formalmente a sua
candidatura à liderança laranja a 19 de fevereiro
de 2010.apresentando-se então como o candidato
a presidente da comissão política Nacional do
pSD, que se propunha a “unir” no pós-eleições, o
advogado do porto manteve o sentimento em ➤
48 • Diplomática - oUtUBRo 2011
➤ torno de passos coelho, tendo abandonado a
liderança da bancada parlamentar – para no seu
lugar se sentar miguel macedo – mantendo as
suas funções de deputado.
aguiar-Branco foi então convidado por passos
coelho para coordenar a comissão de revisão do
programa do pSD – o GENEpSD.
aguiar Branco integrou o conselho Nacional
social-democrata entre 1982 e 1984 e entre 1988
e 1990 ,e as comissões de honra das candidatu-
ras de cavaco Silva à presidência da República
(1995) e de Rui Rio à câmara do porto (2001).
Maria da Assunção Cristas é a responsável pela
pasta da agricultura, pescas e ambiente. Nas-
ceu em luanda em 1974 e é jurista e professora
tendo-se licenciado em Direito, na Faculdade
de Direito da Universidade de lisboa, em 1997.
admitida na ordem dos advogados, em 1999, foi
assessora da ministra da Justiça do XV Governo
constitucional, em 2002, e assumiu a direcção do
Gabinete de política legislativa e planeamento,
até 2005. Em 2004 tornou-se professora convida-
da na Faculdade de Direito da Universidade Nova
de lisboa.militante do cDS, foi eleita deputada à
assembleia da República, pelo círculo de leiria,
em 2009.
Paula Teixeira da Cruz, ministra da Justiça,
nasceu em luanda em 1960 e é advogada. Es-
tudou no liceu padre antónio Vieira, em lisboa
e licenciou-se em Direito, na Universidade livre
de lisboa, em 1983. militante do partido Social
Democrata, desde 1995, exerceu funções na
câmara municipal de lisboa, como vereadora
(1998-2002) e presidente da assembleia munici-
pal (2005-2009). É vice-presidente da comissão
política Nacional do pSD, na direcção de pedro
passos coelho, desde 2010, e exerceu as mes-
mas funções na direcção de luís marques men-
des (2005-2006).
Pedro Mota Soares, advogado de 37 anos, é o
actual ministro da Solidariedade e da Segurança
Social. Foi um dos jovens ‘quadros’ democratas-
cristãos oriundos da Juventude centrista/Gera-
ções populares, contando já com cerca de 10
anos na assembleia da República como depu-
tado. Nascido pouco mais de um mês depois do
25 de abril (29 de maio de 1974), mota Soares é
casado e pai de dois filhos, mas não abdicou da
sua pequena piaggio Vespa conduzindo-a até ao
local onde tomou posse do cargo. pós-graduado
em Direito do trabalho e assistente universitário
na Faculdade de Direito da Universidade lusófo-
na de Humanidades e tecnologias, desempenhou
também dois mandatos à frente da juventude
partidária dos populares entre 1996 e 1999.Entre
2002 e 2005 foi eleito para o cargo de secretário-
geral do cDS-pp, já depois de ter começado
a vida parlamentar, na Viii legislatura, entre
1999-2002.Nas suas passagens por São Bento,
contabilizando ainda o período entre 2005 e 2011,
mota Soares participou nos trabalhos de diversas
das comissões parlamentares em variadas áreas
como a Saúde e toxicodependência ou o tra-
balho e Segurança Social..a comissão Eventual
de Revisão constitucional e o Grupo de trabalho
da Reforma do parlamento também contaram
ao longo da última década com o contributo de
mota Soares.o actual vice-presidente do cDS-pp
coordenou igualmente a comissão do trabalho,
Segurança Social e administração pública e foi
vice-presidente da comissão de Ética, Sociedade
e cultura.
Paulo Macedo, antigo Director-Geral dos impos-
tos e ex-administrador da medis, é novo ministro
da Saúde. licenciado em organização e Gestão
de Empresas e pós-graduado em Gestão Fiscal,
foi pela mão de manuela Ferreira leite que che-
gou à Direcção Geral dos impostos (DGci) em
2004. pelo seu trabalho neste organismo, onde
se manteve até 2007, é apontando como um
dos maiores responsáveis pela modernização e
informatização da máquina fiscal.Natural de lis-
boa, onde nasceu a 14 de Julho de 1963, paulo
macedo é actualmente vice-presidente do con-
selho de administração executivo do millennium
Bcp. Fora do grupo ocupa o cargo de vogal do
Supervisory Board da Euronext, NV, é vice-presi-
dente da comissão executiva do agrupamento de
alumni da aESE - associação de Estudos Supe-
riores de Empresa e ainda membro do conselho
da escola do instituto Superior de Economia e
Gestão.Entre 2001 e 2004 foi administrador da
companhia portuguesa de Seguros de Saúde,
S.a. (médis). ao longo da sua vida profissional
passou ainda pelo Banco comercial português
(entre 1993 a 1998 e mais recentemente entre
2007 e 2008, altura em que ocupou o lugar de
director-geral desta instituição). n
Passos do Destino
49OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •
Vassilios Costis - Embaixador da Grécia
Espaço diplomático
A Diplomacia, sendo a «arte da gestão das relações
externas», caracteriza-se pela evolução intemporal e a
contribuição decisiva no que diz respeito à formação da
realidade contemporânea. Seu objectivo principal é o
desenvolvimento económico e social, bem como a con-
solidação e preservação da paz a nível mundial. conse-
quentemente, a Diplomacia visa a colaboração entre os
países, o combate conjunto dos problemas mundiais, a
promoção da cultura e o percurso criativo das nações.
portanto, neste contexto, deveria salientar-se a necessi-
dade do exercício da Diplomacia preventiva e a tomada
de iniciativas para que as divergências nacionais não
resultem em crises sérias ou até mesmo incidentes
graves. Nomeadamente, uma Diplomacia militar activa
pode contribuir para a consolidação do respeito para
com os princípios da segurança política e nacional e
as convenções internacionais e, consequentemente, a
estabilidade, bem como a democracia. além disso, de-
sempenha um papel importante na política de prevenção
para a redução das armas de destruição massiva, sem
desvalorizar a eficácia das Forças armadas dos países.
assim, cria-se um espírito de solidariedade colectiva
e de autonomia sem que os interesses nacionais dos
países sejam esquecidos. logo, sob estas condições, a
protecção dos direitos humanos, a coesão e a paz são
considerados dados adquiridos.
É, também, óbvio que a diplomacia económica, através
não só das relações bilaterais mas também da tentativa
de aplicação de uma política económica, visa resolver os
perigos de natureza financeira de todos os países, me-
lhorar a competitividade internacional das suas empre-
sas e criar um novo âmbito de competitividade referente
à modernização das infra-estruturas estatais, à expan-
são do comércio e do investimento em todo o mundo,
bem como à reformulação dos serviços internacionais.
portanto, é óbvio que a colaboração entre os vários
países, no âmbito de uma concorrência saudável com
a organização, ainda mais, de conselhos económicos
internacionais, reforça a extroversão e o poder económi-
co dos países.
além disso, com a constituição de Organismos e co-
missões internacionais ou associações supranacionais
e a assinatura das respectivas convenções, está a ser
planeada e aplicada uma política social com vista ao
melhoramento das condições de vida, à concessão de
ajuda humanitária e ao cumprimento dos princípios da
protecção civil e da justiça, especialmente nos países
em desenvolvimento ou nos do Terceiro mundo. Fi-
nalmente, a diplomacia deve desempenhar um papel
dinâmico na expansão adicional das relações interna-
cionais em assuntos que dizem respeito à investigação,
educação, saúde, ambiente e tecnologia para que estes
melhorem em termos qualitativos. por exemplo, é parti-
cularmente importante para a comunidade internacional
a promoção do crescimento verde, visto uma das suas
vantagens, para além da protecção do ambiente, ser
a criação de novos postos de trabalho, a produção de
matérias-primas energéticas e a troca do “know-how”
entre os países.
por conseguinte, o sistema diplomático universal é
chamado a desempenhar vários papéis complicados,
com o objectivo mais longínquo de assegurar a paz e o
crescimento económico e social de todos os países. a
recolha, a avaliação e a valorização correcta da informa-
ção, as negociações, a consistência, o diálogo e a acção
imediata constituem os elementos de uma administração
eficaz da política de diplomacia, que pode mudar radical-
mente a vida das pessoas, eliminar os pontos fracos do
mundo tradicional e moderno e constituir o suporte para
a evolução das comunidades internacionais. ■
Aplicação de uma política económica
50 • DiplOmáTica - OUTUBRO 2011
Bernarda Gradišnik - Embaixadora da Eslovénia
A Toast to Slovenia for its Coming of Age
Espaço diplomático
Republic Slovenia ceased to be a teenager on June the
25th, 2011.
Twenty years might not seem a long period to some,
but in this precariously shifting world of today two deca-
des are what a century used to be in a kingdom of old.
So many thing s happened to Slovenians after 1991:
we joined all the major international organizations and
finally, in 2004, the EU and NaTO.
We also presided different organizations (OScE, EU,
cE), starting with the Security council in 1999.
in 2007 we joined the Eurozone.
and last year Slovenia has become a member of the
OEcD.
maybe we Slovenians as a nation are not old enough to
reach the wisdom of the old age, but we are thankfully
small enough to stay away from hubris of global politics.
We know we aren’t big enough to be everywhere and to
reach everyone. (G.K. chesterton once said that it was
smallness and not greatness of one’s nation that a true
patriot should be proud of, and we Slovenians agree.)
That’s why Slovenia has been trying to define niches
where we can be of use.
in matters of peace and security Slovenia emphasizes
the role of preventive diplomacy and peace building. We
try to do our share in fields of disarmament and de-mi-
ning, of conflict-prevention, of protection of civilians and
of human rights. We fully support the work of peace-
building commission.
So far more than 5000 Slovenes have participated in
peacekeeping operations and missions all over the
world, from afghanistan, middle East, Somalia, chad to
the neighboring Kosovo and BiH.
We believe that recent history-in-making in Northern
africa and middle East has been transforming the
political situation and represents an opportunity to start
creating prosperous societies based on respect of
human rights, democracy and cultural traditions. That’s
why we have joined the international efforts to alleviate
the humanitarian crisis in libya through the allocation of
funds and delivery of medicines.
We are also chipping in to concepts and solutions of
sustainable development. We are committed to a timely
realization of the millennium Development Goals, con-
vinced that the right to development is a fundamental
right of all humans and countries. Here, let me mention
the Green Group, initiated by Slovenia, that has united
capo Verde, costa Rica, iceland, Singapore, and the
United arab Emirates in their efforts to promote environ-
mental themes within international relations (underlining
the important link between climate change and water as
well as promoting improved water management).
We believe that contemporary foreign policy cannot be
anything but a global one, for all the challenges we are
facing are global ones. The globalness has been amply
demonstrated by the butterfly effect that, in the era of
social networks, an individual initiative can set forth. a
man gets humiliated by a police officer in one country
and decides he has had enough, another man in ano-
ther country loves Facebook and decides to use it for
spreading his political views; this two decisions have set
off the avalanche of political change in the middle East,
for instance.
Right now, our most important foreign policy priority is
our candidacy for the non-permanent seat in the Securi-
ty council for the years 2012/2013. We honestly believe
that the importance of such positions is shifting from
the titular to the factual. The way itself of getting there
is becoming more and more important. But on this way
into the global world we mustn’t by any means forget
our origins, our courtyard, our neighbors.
There is a speech in Brothers Karamazov that goes like ➤
51OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •
➤ this: »in my dreams, i often make plans for the service
of humanity, and perhaps i might actually face crucifi-
xion if it were suddenly necessary. Yet i am incapable
of living in the vicinity of anyone for two days together«.
Sometimes big concepts and words are not so impor-
tant as small but concrete steps that we have to take in
our small corner of the world.
How do we cope with »men in our vicinity« – or, to put it
more precisely, with our neighbors across the border –
italy, austria, Hungary, croatia?
i think i may state that we have pretty much overcome
the impulses described by Dostoyevsky. We are active-
ly seeking to resolve the problems with our neighbors
that arise from our joint past history within the cauldron
of the Balkans. if there are still some problems we try
to resolve them, or, if they cannot be resolved due to
differing points of view, make them unobtrusive in view
of other, wider common interests and joint ventures
being taken.
i may say that our relations with our neighbors have
never been so peaceful and fruitful as today. it is espe-
cially helpful to have in our constitution safety-catches
providing that citizens of Slovenia belonging to some
neighboring ethnic groups have guaranteed special ri-
ghts, (such as, for instance, the right to use their native
language in cases of speakers of Hungarian or italian)
officially within their respective regions.
Based on Slovenia’s experiences in the Western
Balkans (our imminent neighborhood), we can see that
humanitarian efforts like demining (carried out by the
iTF; international Trust Fund for Demining and mine
Victims assistance, established by the Government of
the Republic of Slovenia in march 1998 with the aim of
helping Bosnia and Herzegovina in its mine clearance
and mine victim assistance efforts. Since its establish-
ment, iTF has expanded its activities throughout the
region of South Eastern Europe.) can offer the politi-
cally and ethnically alienated and divided partners a
technical platform for a dialogue which can significantly
contribute to future cooperation.
By knitting, in form of such initiatives, a net and friendly
neighborly relations as well as of international partner-
ships we are helping create a globalized commonwealth
where even the smallest members can participate ac-
tively and with honors. Hopefully, this net would prove
to be able and willing to cope with global problems of,
predominantly, pollution, sustainability of resources,
and peace.
a special part of this network that i personally have to
work on pertains to cooperation between Slovenia and
portugal.
The ties between the two countries that didn’t use to
have much in common have lately started to get stron-
ger, specially due to their successive presidencies of
the EU a few years ago.
my primary concern here is about economic coopera-
tion.
Slovenia has been represented in portugal by three
companies – not much but a solid starting point.
One is Krka, a generic pharmaceutical firm.
The other one is Hidria, dealing in state-of-the-art air-
conditioning technology.
The third one is Bridge partner established privately
but with exclusive intent to bridge the gap between the
nations.
Hopefully in the future there will be more companies
present on the portuguese market as well as portu-
guese companies on the Slovenian one. This aim is to
be my basic preoccupation in the next three and a half
years.
also, the cultural cooperation has been getting stronger
as well.
We are looking forward into 2012 when the Slovenian
city of maribor is going to be, together with portuguese
Guimarães, the cultural capital of Europe.
***
Times are not easy, not for anyone. On and on, every
European nation have been receiving wake-up calls – in
economy, in conservation of Nature, in political realities.
But we shouldn’t allow our worries to make us forget
what nations of Europe were dreaming about when they
were young and full of hope and promise.
let’s raise our glasses to toast the fledgling Slovenia.
let’s summon the spirit of our national anthem the lyrics
for which were (in a shape of a cup) written by our na-
tional poet France prešeren in 1844. ■
My friends, this is the hour
Of sweet new wine that once again
Makes eyes bright, hearts recover,
Puts fire in a feeble vein,
And everywhere
Drowns dull despair
With hopes weren’t used to be just care.
God blessings to every nation
Who strives and long for a happy day
When wars will be past ancient,
Forgotten, gone away –
Who yearns to see
All peoples free
And foes no more, just neighborly.
52 • DiplOmáTica - OUTUBRO 2011
Allan J. Katz - Embaixador dos EUA
A relação entre os Estados Unidos e portugal data de
há mais de 200 anos � um número que pode parecer
apenas o tempo de um piscar de olhos para europeus,
mas que engloba, quase na totalidade, a história da
nossa ainda jovem nação.
após a Revolução americana, portugal foi um dos
primeiros países a reconhecer a independência dos
Estados Unidos. O nosso primeiro presidente, George
Washington, estabeleceu relações diplomáticas for-
mais com portugal ao nomear David Humphreys como
o nosso primeiro Embaixador.
muitos outros homens – e uma mulher – represen-
taram os Estados Unidos em portugal ao longo dos
últimos dois séculos, uma lista à qual tive o privilégio
de me juntar, em abril de 2010, quando cheguei à Em-
baixada em lisboa. Enquanto chefe de missão, tenho
também sob a minha alçada o consulado americano
nos açores, que é o mais antigo consulado americano
em funções no mundo e que representa os nossos
interesses desde 1795.
mas não são apenas os laços diplomáticos que unem
os nossos dois países. Quase dois milhões de luso-
americanos fazem parte da sociedade americana.
imigrantes que se estabeleceram em massachusetts,
EUA e Portugal: Uma Aliança Diplomática Duradoura
Nova Jérsia, Nova iorque e Rhode island, assim como
na califórnia e no Havai, trouxeram com eles, não ape-
nas o som da língua portuguesa, mas também o gosto
do pastel de nata e do bacalhau. a comida e a cultura
de portugal fazem parte da diversidade dos Estados
Unidos.
como Embaixador americano, estou empenhado em
fortalecer a nossa relação assegurando que trabalha-
mos juntos em temas comuns e que, nas raras ocasi-
ões em que discordamos, nos ouvimos mutuamente
como amigos que somos, tentando sempre encontrar
um meio-termo.
Um dos importantes instrumentos de colaboração
entre as nossas duas nações é o acordo de coopera-
ção e Defesa, que os nossos governos assinaram em
1995. Esse acordo estabeleceu a comissão Bilateral
permanente EUa-portugal, que reúne oficiais ameri-
canos e portugueses duas vezes por ano para discutir
formas de melhorar a nossa colaboração.
Quando, em Julho de 2010, participei na minha primei-
ra reunião da comissão Bilateral, constatei que tínha-
mos obtido vários sucessos através desta comissão,
incluindo a resolução de assuntos relacionados com
a presença da Força aérea americana na Base das
lajes e na ilha Terceira, nos açores.
Tendo em conta esses sucessos, decidimos reestru-
turar a comissão Bilateral de modo a torná-la mais
relevante e a ampliar o alcance dos assuntos que
abordará. a reunião do passado maio em Washington
foi o primeiro passo neste sentido e a nossa reunião,
este Outono, em lisboa irá, mais uma vez, permitir aos
nossos países abordar questões ligadas à cooperação
bilateral em áreas como segurança e pesquisa ➤
Um dos importantes instrumentos de
colaboração entre as nossas duas nações
é o Acordo de Cooperação e Defesa, que os
nossos governos assinaram em 1995.
Espaço diplomático
53OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •
➤ ambiental; comércio e promoção de investimento; e
justiça.
Um dos problemas mais importantes que enfrentamos
hoje em dia, é, obviamente, o abrandamento económi-
co global e os desafios que esse fenómeno acarreta
para as nossas economias. Os portugueses, tal como
os americanos, estão a enfrentar tempos difíceis. pais
dos dois lados do atlântico estão preocupados com a
possibilidade de perderem os seus empregos, enquan-
to os seus filhos se perguntam se as suas esperanças
e sonhos se irão evaporar.
Um raio de sol que atravessa esta nuvem negra é a
inovação, um conceito muito familiar para portugueses
e americanos, e que irá ajudar-nos a garantir um futuro
melhor.
Nos Estados Unidos, o presidente Obama está a ten-
tar encorajar a inovação ao aumentar o financiamento
em áreas como pesquisa biomédica, tecnologias de
informação e energia limpa. E portugal, através do seu
investimento em educação, pesquisa e desenvolvi-
mento apoiado pela Fundação para a ciência e Tecno-
logia, está a fazer um percurso semelhante.
Os aerogeradores que avistamos no topo de incon-
táveis colinas em portugal são um símbolo omnipre-
sente de como a inovação numa área específica – as
energias renováveis – já está a dar frutos. O papel
de liderança que portugal assumiu neste sector pode
servir de exemplo aos americanos.
Nos Estados Unidos, um dos maiores desafios que
enfrentamos é tentar reverter a nossa dependência de
petróleo importado. como parte desse esforço, o pre-
sidente Obama estabeleceu o objectivo de colocar um
milhão de carros eléctricos nas estradas até 2015.
É com orgulho que digo que a indústria automóvel
americana criou o carro eléctrico mais desenvolvido do
mundo. Esta inovação começa agora a ser exportada
para o resto do mundo. portugal, por seu lado, deu
passos significativos para encorajar a utilização de
carros eléctricos, ao desenvolver uma rede nacional
de carregamento de veículos eléctricos. O governo
açoriano lançou também o seu próprio programa para
promover a utilização de carros eléctricos e estamos a
trabalhar estreitamente com as instituições locais para
encorajar o uso de tecnologia americana.
para além de colaborarmos em áreas como a ciência
e a tecnologia, continuamos a colaborar com os nos-
sos parceiros, inclusivamente com portugal, na área
da segurança nacional para assegurar que os nossos
princípios e modo de vida não são postos em causa.
O ponto mais óbvio de cooperação para a segurança
entre os nossos dois países é o afeganistão onde,
como membros da NaTO, as nossas tropas trabalham
lado a lado para garantir a segurança e apoiar o de-
senvolvimento. Não obstante, a cooperação internacio-
nal para a segurança vai muito além do afeganistão e
abrange áreas igualmente criticas para a protecção de
cidadãos americanos e portugueses.
O mundo enfrenta hoje ameaças transnacionais que
são transversais a diversos países e sistemas legais.
a ameaça do terrorismo internacional compele-nos a
estarmos vigilantes. Temos que cooperar a todos os
níveis. Já testemunhámos como terroristas e crimino-
sos de um país podem estabelecer-se noutro país para
operar num terceiro país. O crime transnacional é um
facto incontornável nos dias de hoje.
Este ano assinalamos o 10º aniversário dos ataques
de 11 de Setembro, um evento que mudou irreversivel-
mente o modo como vemos o mundo e que nos levou
a implementar medidas para garantir que a tragédia
não se repetirá. muitos foram os resultados alcançados
ao longo da última década e há razões para estarmos
optimistas com os acontecimentos recentes no Egip-
to, na Tunísia e noutros países da região que podem
sinalizar o início de um novo capítulo, mais positivo, na
história mundial. mas não podemos fechar os olhos às
ameaças reais que pendem sobre os Estados Unidos e
a Europa.
Os Estados Unidos e os seus aliados europeus, entre
os quais portugal, têm trabalho em conjunto para esta-
belecer mecanismos formais de partilha de informação
que podem ser cruciais para prevenir o terrorismo e
outros crimes graves. ao fazê-lo, é fundamental res-
peitar a privacidade e os direitos dos nossos cidadãos.
a natureza elementar da privacidade está imbuída na
constituição americana e é protegida por inúmeras
leis e regulamentos. Tendo em conta as ameaças
que o mundo hoje enfrenta, trabalharmos juntos para
partilhar a informação necessária é fundamental, mas
iremos fazê-lo de forma a conseguir um equilíbrio entre
proteger vidas e proteger a privacidade.
O respeito pelos direitos dos indivíduos é apenas um
dos muitos valores partilhados pelos povos dos Esta-
dos Unidos e de portugal. Estes valores constituem
a base da nossa longa história de cooperação em
inúmeras áreas. Somos parceiros na NaTO há mais de
60 anos e somos amigos há muito mais tempo.
O futuro da relação transatlântica é luminoso, não só
pelas ideias e projectos em que estamos a trabalhar
hoje, mas porque há diplomatas disponíveis e capazes
nos Estados Unidos e em portugal para fortalecer a
nossa relação a partir da fundação que foi estabelecida
há mais de 200 anos. ■
54 • DiplOmáTica - OUTUBRO 2011
As the first ambassador of Georgia in the portu-
guese Republic, i am greatly honored to extend my
warmest greetings to the Government and people of
portugal, as well as to the Diplomatic corps accre-
dited in the country. it is truly a pleasure to serve
in one of the oldest and most beautiful European
states with very hospitable people, eye-catching
nature, and impressive history.
located on the Black Sea shore, serving as the
trade route and the crossroads of Europe and asia,
and linking both with the middle East, Georgia had
always been a significant commerce hub and a
center of great economic and cultural exchange be-
tween various great civilizations. as one of the first
christian nations and centers of science and edu-
cation, some consider Georgia to be the inception
point of the grand European Renaissance, which
has commenced in my country back in the 12th cen-
tury a.D. as a nation of culture and trade, Georgia
had maintained for centuries very close relations
with Europe, asia and the middle East regions.
it is widely known that Georgia and portugal have
enjoyed close historical ties throughout the centu-
ries. Thereby it is not surprising to find the martyr-
dom scene of one of the greatest Georgian Queens,
Saint Ketevan, on the traditional portuguese tiles
currently kept in lisbon’s igreja da Graca. Unfortu-
nately, a tragic chain of historic events temporarily
distanced my ancient country of the colchis civiliza-
tion and Golden Fleece from the European realm,
where it rightfully belongs. However, today we are
going back to our European roots, restoring our
European ties and close historic and cultural bonds,
and rediscovering Europe and specifically portugal.
Our two countries currently enjoy friendly and cons-
tructive relations through the productive and cons-
tantly enhancing cooperation both in bilateral and
multilateral formats. We strongly believe that there
always is an opportunity to strengthen and deepen
relations of Georgia with portugal through a pletho-
ra of significant initiatives in all spheres of mutual
collaboration, and especially in boosting our cultural
and economic ties.
as you are aware, with the advent of the Rose
Revolution of 2003 in Georgia, our Government has
commenced the process of successful reformation.
positive transformations in governance and eco-
nomy made Georgia a very attractive country for fo-
reign investors. as a result, various world renowned
international agencies have ranked Georgia ➤
Giorgi Gorgiladze - Embaixador da Georgia
Returning to our european Roots
Espaço diplomático
55OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •
➤ among the world’s leaders in various fields. For
example, Doing Business 2011 report placed Ge-
orgia the 12th in terms of Ease of Doing Business,
and named my country the top reformer among 174
nations over the last 5 years. moreover, among the
other accredited international watchdogs, Transpa-
rency international named Georgia the top country
in the post-Soviet space - except for Baltic States -
as the top fighter with corruption. Furthermore, the
Global corruption Barometer 2010, ranked Georgia
the 1st in the world in terms of reducing the level of
corruption in the country, while placing my country
the 5th in the world for the low level of corruption in
the police.
We have concentrated not only on democratic
transformation, but also on the advancement of
economy. We have also enhanced our trade rela-
tions with the EU and other parts of the world, and
currently enjoy either visa-free or simplified-visa
regimes with most of the countries, including the
EU member states.
We have substantially improved our transport in-
frastructure, and established free industrial zones
in the port-city of poti, as well as free tourist zones
in Kobuleti and anaklia-Zugdidi. We have bolste-
red our touristic potential with more than 2 million
international travelers visiting Georgia in 2010, and
this year we expect a higher number of tourists to
visit Georgia’s beautiful azure seaside, stunning
mountainous resorts, as well as ancient historic
and cultural sites.
largely due to its lucrative geopolitical and geo-
strategic location as the shortest route linking Euro-
pean and asian markets, Georgia has always stood
ready to partake in various energy and transport
projects of all magnitudes. currently, my country is
actively involved in several very successful projects
linked to the South caucasus energy corridor, such
as the Baku-Tbilisi-Supsa oil pipeline, Baku-Tbilisi-
ceyhan oil pipeline, Baku-Tbilisi-Erzurum gas
pipeline. moreover, Georgia is an integral part of all
transit projects to be implemented within the fra-
mes of the Southern corridor, such as NaBUccO,
the azerbaijan-Georgia-Romania-Hungary (aGRi)
interconnector, Trans Black Sea links, the Euro-
asian Oil Transportation corridor, as well as the
cNG and lNG projects. Furthermore, Georgia is a
part of a high capacity Baku-Tbilisi-Kars regional
railway project, which improves safety of transpor-
tation.
By virtue of active transformation through reforma-
tion, Georgia economic standing had been impro-
ving on an annual basis. Despite the harsh global
financial crisis coupled with the brutal Russian
military aggression in august 2008 and subsequent
ethnic cleansing - which left 20% of the country’s
territory occupied and hundreds of thousands of
Georgian iDps homeless and fleeing for their lives
- Georgia had remarkably managed to maintain a
substantial economic profile. as a result, in 2010
the GDp of the country rose to $11.7 billion, and
the real GDp growth accounted to 6.4%.
currently, i believe we have a historic opportuni-
ty to enhance our economic cooperation with the
portuguese Republic. certainly, the opening of the
Georgian Embassy in the friendly portugal in 2010
serves as a vivid example of our willingness and
interest to boost cooperation with the portuguese
State and the portuguese-speaking world in ➤
As you are aware, with the advent of
the Rose Revolution of 2003 in Georgia,
our Government has commenced the
process of successful reformation.
56 • DiplOmáTica - OUTUBRO 2011
➤ general. popularizing our culture in portugal and
vice versa is one of our priorities. in this respect,
we plan in the near future to open a center of portu-
guese language and culture in Georgia. and cer-
tainly, we are very interested in cooperating closely
with the member states of the community of portu-
guese language countries.
While domestically reorganizing our domestic ins-
titutions and pushing for more democracy, gover-
nment responsibility, and economic liberalization,
Georgia has become highly determined to accede
to the European and Euro-atlantic community, as
we strongly believe that, sharing common values,
we belong in the realm of democracy and freedom.
as one of the most ancient European nations, ours
is not the attempt to become European. We strive
to get back to where we belong. and while we tread
this difficult road leading to Europe, we certainly
rely on the strong and active support of portugal.
i believe that the plea of the greatest portuguese
poet of the 16th century, luis Vaz de camoes, utte-
red in his magnum opus “Os lusiadas” and addres-
sed to the European leaders of his time to assist
the suppressed European nations, and Georgia in
particular, has not lost its power even today.
i am strongly convinced that it is high time for the
Georgian and portuguese nations to rediscover
each other, and to never let go of each other again. ■
Espaço diplomático
Region of Geogia and it's capital Tbilisi
57OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •
Agricultura e interior foram os temas em foco no
discurso do presidente da República nas comemo-
rações do 10 de Junho, que tiveram lugar em cas-
telo Branco. cavaco Silva considerou impensável
que o país seja auto-suficiente em matéria alimen-
tar, sublinhando que os actuais níveis de produção
e os seis mil milhões de euros gastos na importa-
ção de bens agrícolas, em contraponto aos três mil
milhões registados nas exportações, são insusten-
táveis e exigem dos poderes políticos uma actua-
ção determinante para se conseguir inverter esta
situação. No seu discurso, cavaco Silva apontou o
progressivo envelhecimento da população agrícola,
exigindo a criação de estímulos, para que os jovens
regressem aos campos e ajudem, também, a inver-
ter a actual desertificação do interior, não só para o
litoral, mas também para as cidades mais próximas,
como é o caso de castelo Branco, palco das come-
morações, que registaram este ano a presença de
mais de sete mil pessoas, entre as quais, os líderes
das principais forças partidárias.
a escolha desta cidade para a realização do Dia ➤
Dia de PortugalCavaco Silva apelou ao retorno ao interior desertificado, não esquecendo a crise
Num dia de grande calor, as comemorações do 10 de Junho. Dia de Portugal e de Camões, o grande poeta
luso, em Castelo Branco, juntaram mais de sete mil pessoas e ficaram marcadas pelo discurso presidencial
de apelo à corrida ao interior do País e pela intervenção de António Barreto, sugerindo uma nova Constitui-
ção que permita pôr termo à permanente ameaça de governos minoritários e de Parlamentos instáveis.
Mala diploMática
"É nestas alturas que se vê a alma do povo"
58 • DiplOmáTica - OUTUBRO 2011
➤ de portugal foi justificada pelo presidente da
República por a mesma ser um exemplo a seguir,
tendo elogiado a construção de infra-estruturas que
permitiram a quebra do isolamento. alertou também
para alguns caminhos de combate à desertificação
que não passam de ilusões e que não resolvem o
problema.
cavaco referiu-se ainda às gentes do interior, no-
meadamente a sua frugalidade, o seu sacrifício e
a sua capacidade de resistência.”aqui, em castelo
Branco, poderemos buscar no exemplo dos portu-
gueses do interior a inspiração do que precisamos
para, uma vez mais, fazer das fraquezas forças e
transformar as adversidades em oportunidades”,
sublinhou o presidente. Numa clara alusão às
dificuldades generalizadas que atravessa o país,
consubstancializadas no acordo estabelecido com a
troika e a crise, cada vez mais latente. O presidente
da República apelou para que portugal inteiro se
erga nesta “hora decisiva, num tempo de sacrifí-
cios e de grandes responsabilidades. Não podemos
falhar. É nestas alturas que se vê a alma do povo”,
frisou cavaco Silva no final do seu discurso.
a intervenção de antónio Barreto, presidente da
comissão organizadora das comemorações do 10
de Junho, marcou também a cerimónia. Sem peias,
como é seu hábito, traçou um diagnóstico, a régua
e esquadro, de um portugal a duas velocidades.
Se, por um lado, nada é novo, porque esta não é a
primeira crise que vivemos, por outro, tudo é novo,
porque há a globalização, o euro, uma situação
económica e social que apanhou portugal de sur-
presa.
«Há momentos, na história de um país, em que se
exige uma especial relação política e afectiva entre
o povo e os seus dirigentes. Em que é indispensá-
vel uma particular sintonia entre os cidadãos e os
seus governantes. Em que é fundamental que haja
um entendimento de princípio entre trabalhadores e
patrões. Sem esta comunidade de cooperação e ➤
Todo o corpo diplomático creditado em portugal apresentou cumprimentos ao presidente de portugal
Dia de Portugal
59OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •
➤ sem esta consciência do interesse comum nada é
possível, nem sequer a liberdade», disse o soció-
logo. por isso mesmo, antónio Barreto considerou
ser crucial existir uma “cultura de compromisso,
de diálogo, de consenso, entre forças, instituições
e políticos, num momento de extrema dificuldade,
propondo a revisão da constituição, considerando-a
“anacrónica, barroca e excessivamente programáti-
ca”.
“Uma constituição renovada, implica um novo siste-
ma eleitoral, com o qual se estabeleçam condições
de confiança, de lealdade e de responsabilidade,
hoje pouco frequentes na nossa vida política. Uma
nova constituição implica um reexame das relações
entre os grandes órgãos de soberania, actualmente
de muito confusa configuração. Uma constituição
renovada permitirá pôr termo à permanente ameaça
de governos minoritários e de parlamentos instá-
veis. Uma constituição renovada será ainda, final-
mente, o ponto de partida para uma profunda refor-
ma da Justiça portuguesa, que é actualmente uma
das fontes de perigos maiores para a democracia. a
liberdade necessita de Justiça, tanto quanto de elei-
ções», acentuou antónio Barreto, naquele que foi
considerado o discurso mais importante deste Dia
de portugal. Uma cerimónia que ficou ainda mar-
cada pela frieza de relacionamento entre passos
coelho e José Sócrates, os quais se chegaram a
cruzar, sem se cumprimentar, à saída do cineteatro
avenida, onde tiveram lugar os discursos oficiais.
Uma atitude que deu razão a uma parte do discurso
de antónio Barreto, ao referir-se aos políticos que
não deram o exemplo do sacrifício que impõem aos
cidadãos.
“a indisponibilidade para falarem uns com os ou-
tros, para dialogar, para encontrar denominadores
comuns e chegar a compromissos, contrasta com
a facilidade e o oportunismo com que pedem aos
cidadãos esforços excepcionais e renúncias, a que
muitos se recusam”. Nem a propósito… n
mais de sete mil pessoas compareceram no Dia de portugal em castelo Branco, tendo assistido ao espectáculo, nos Jardins do
palácio Episcopal, em que actuartam luis Represas e Teresa Salgueiro
60 • Diplomática - oUtUBRo 2011
Tal como sucede usualmente a
Embaixada de França abriu uma vez
mais as portas do palácio de Santos
para celebrar o 14 de Julho. pas-
cal teixeira da Silva, o embaixador
acreditado em portugal, recebeu, em
companhia de sua mulher, pascale
teixeira da Silva, os seus inúmeros
convidados, entre os quais se conta-
vam muitos embaixadores, distintas
figuras da cultura, economia e política
bem como da sociedade civil quer
portuguesa quer francesa.
Depois de agradecer a presença de
todos e também a gentileza das mar-
cas que colaboraram na organização
da festa, o embaixador francês fez
uma referência à razão de ser ➤
Dia Nacional da França celebrado em Portugal
1
2 3
4
1. Embaixador pascal teixeira da Silva a fazer discurso 2. maria do carmo Vieira da
Fonseca, miguel morais leitão e luís Ferreira dos Santos 3. Directora da revista Di-
plomática cumprimenta o Embaixador de França 4. Embaixadores de França, christo-
phe Bergey, claire monné e Sophie laszlo
mala diplomática
61oUtUBRo 2011 - Diplomática •
➤ desta celebração referindo que,
“o 14 de Julho é, há mais de cento e
trinta anos, a festa nacional francesa.
comemora, não a tomada da Basti-
lha mas a Festa da Federação, que
teve lugar um ano mais tarde, a 14
de Julho de 1790. Esta Festa, para
utilizar as palavras ditas em 1880, era
o ‘símbolo da união fraterna de todos
os partidos da França e de todos os
cidadãos franceses, na liberdade e
na igualdade’”. Esta alusão foi não
apenas interessante mas inovadora
para muitas das pessoas que ouviam
pascal teixeira da Silva, pois quase
sempre que chega o dia 14 de Julho
este é usualmente designado como o
dia da celebração da tomada da ➤
5
6 7 8
5. convidados a ouvir o discurso do Embaixador 6. Embaixador marcello mathias e José Blanco, presidente da associação “légion
Honneur” em portugal 7. Embaixadores da polónia, professor Eduardo lourenço e José antónio pinto Ribeiro
62 • Diplomática - oUtUBRo 2011
➤ Bastilha.
No seu discurso prosseguiu falando
dos três ideais liberdade, igualdade,
fraternidade que “são partilhados e
amados pela França e por portugal,
que há um século eram (com a Suíça)
as únicas repúblicas na Europa.” Elo-
giando a atitude que os povos árabes
tiveram há perto de seis meses, em
busca da liberdade e democracia, re-
feriu também o desafio que os países
europeus ora enfrentam e da neces-
sidade que todos os seres humanos
têm de viver numa sociedade fraterna.
pascal teixeira da Silva terminou re-
ferindo que, “a França e portugal são
duas velhas nações que enfrentam
os problemas e os desafios do início
do século XXi. todos juntos devemos
enfrentá-los e superá-los. ➤
9 10 11
12 13 14 15
9. maria de Bragança e maria do carmo Vieira da Fonseca 10. Embaixadora da Noruega com o Embaixador da ordem de malta
11. chef chakall deliciou os presentes com as suas receitas 12. Fernando Santos e Henrique polignac de Barros, consul do principado
do mónaco 13. Jacques de Bretagnol 14. Embaixatriz ana Rocha paris e maria da luz de Bragança 15. maria de Belém Roseira
Dia Nacional da França
63oUtUBRo 2011 - Diplomática •
➤ (…) Deverá ser nosso o apelo
lançado há cerca de 160 anos por
alexandre Herculano, grande escritor
e historiador português: ‘Que somos
nós hoje? Uma nação que tende a
regenerar-se: diremos mais: que se
regenera’”.
cantados primorosamente o hino
francês e o português pelo contra
tenor Francisco Ricardo, acompanha-
do ao piano, seguiu-se um cocktail
que se estendeu até ao início da noite
e no qual muitas iguarias francesas
foram servidas acompanhadas pelos
excelentes vinhos franceses. Já os
champanhes da mesma proveniência
serviram aos brindes feitos a ambas
as nações e promoveram ainda mais
o convívio e a boa disposição de to-
dos os presentes. ➤
16 17 18
19 20 21 22
16. inês mendonça, Fátima airey e maria de Bragança 17. Duquesa de cadaval e anne-marie mathias 18. patrick e pia Ziegler
19. cantores líricos, Francisco Ricardo e acompanhante 20. Embaixadora da Eslovénia 21. Embaixadora do Senegal 22. Fermando
mendes, director da legrand com a nossa directora
65oUtUBRo 2011 - Diplomática •
➤ Por ocasião das celebrações do
Dia de França, o conhecido arquitec-
to Jacques Bretagnolle e o reputado
pintor mateus de Sousa camacho,
com o apoio do Embaixador teixeira
da Silva e das associações francesas
sediadas em lisboa, organizaram
um baile popular no adro da igreja de
Santos-o-Velho, mesmo ao lado da
embaixada de França. Nessa noite
de Verão, a música popular portu-
guesa e a francesa foram rainhas.
a animação foi constante, e nem os
embaixadores franceses resistiram a
associar-se à festa, dando um pé de
dança. Um simpático bar, a tempera-
tura amena e o ambiente descontra-
ído fizeram com que o Baile popular
do 14 de Julho tenha sido um retum-
bante sucesso – cujos lucros foram
entregues na íntegra à paróquia de
Santos-o-Velho. n
Baile popular assinalou 14 de Julho
23. michel animou a noite 24 e 25. Eram muitos amigos 26. os embaixadores vie-
ram visitar o baile 27. Uma animação constante 28. as crianças felizes 29. Sofie
laslo e Jacques Bretagnole
23 24
25
26
27
28
29
Dia Nacional da França
66 • Diplomática - oUtUBRo 2011
Para celebrar o 235º aniversário da
Declaração de independência dos
Estados Unidos, o Embaixador allan
Katz e sua mulher, a Embaixatriz
Nancy Katz abriram as portas da em-
baixada aos seus muitos convidados,
para comemorar mais este aniversá-
rio do seu país, com uma recepção
muito requintada.
o Embaixador allan Katz, no seu
discurso de boas vindas, manifestou
a sua satisfação por todos os con-
vidados terem aceite participar num
evento comemorativo de tão impor-
tante data da história do seu país.
o embaixador referiu-se ainda ao
mote desse dia de festa – “o espírito
da música”, frisando que a música
americana é tão diversa quanto o
próprio país, desde ao rock & roll ao
jazz, da Broadway ao Blue Grass.
E não deixou de se referir à banda
da marinha, “topside”, que viera de
Nápoles para estar de propósito nesta
recepção.
allan Katz lembrou que chegou ao
nosso país há pouco mais de um
ano e confessou que tem sido uma
aventura fantástica, pois viajou, ele
e a mulher, por todo o portugal, um
país notável, como especiais são os
portugueses, que conheceram e que
sempre os receberam de braços ➤
Dia da Independência dos Estados Unidos da América
1
2
1. Discurso do Embaixador allan Katz 2. Embaixador dos Estados Unidos da américa a ouvir o Hino acompanhado da guarda americana
Mala DiploMática
67oUtUBRo 2011 - Diplomática •
➤ abertos, com simpatia e generosidade.
os convidados espalharam-se pelos
jardins da embaixada, num ambiente
de grande descontracção e boa dis-
posição, tanto mais que até o tempo
ajudou, de tão ameno que estava.
allan Katz lembrou, na sua alocução,
que no campo do empreendedorismo
e enquanto representante dos EUa,
tem continuado a fazer esforços para
juntar empresários portugueses e
americanos, com vista ao desenvolvi-
mento de parcerias da áfrica lusófo-
na. mas referiu-se igualmente à área
da Educação, dizendo-se impressio-
nado com o dinamismo das novas
relações entre universidades portu-
guesas e americanas para a criação
de mais oportunidades de intercâmbio.
a terminar o seu discurso de boas-
vindas aos muitos convidados, entre
eles representantes do corpo diplomá-
tico creditado no nosso país e per-
sonalidades das mais diversas áreas
da vida nacional. allan Katz afirmou
também que os Estados Unidos e
portugal vão continuar ligados por
fortes laços de amizade e valores
comuns agradecendo aos convidados
presentes por celebrarem o Dia da
independência dos EUa e por parti-
lharem desta velha amizade que une
os dois países. n
8 9
10 11
3. abigail Dressel 4. christina Gillies, maria da luz de Bragança e Embaixatriz dos E.U.a. 5. Embaixatrizes de França e luxemburgo
6. Embaixadora de marrocos 7. Embaixadores de itália e da Rússia com o chefe de protocolo de Estado, Bouza Serrano 8. Rodrigo
costa, luísa costa, anabela mata Ribeiro e antónio pinto Ribeiro 9. maria da luz de Bragança com o Embaixador dos Emirados
árabes 10. Embaixadores da coreia 11. Embaixadora do Senegal
3 4 6
7
5
68 • Diplomática - oUtUBRo 2011
Festejava-se o Dia Nacional da
Rússia nos jardins do pestana
palace. os embaixadores pavel
e irina petrovskiy receberam os
muitos convidados - corpo diplomá-
tico creditado no nosso país, lado
a lado com figuras destacadas das
diversas áreas da vida nacional,
do meio empresarial, à política e à
cultura, que encheram os jardins,
onde foi servido um requintado
cocktail.
o embaixador pavel petrovskiy
dirigiu um breve discurso de boas-
vindas aos seus convidados,
recordando a data de 12 de Junho,
que abriu caminho para o desenvol-
vimento democrático do seu país.
como resultado, no espaço da
antiga URSS e de toda a Europa de
leste, aconteceram grandes mu-
danças, que levaram a que fossem
corrigidas as regras do jogo políti-
co. o embaixador russo frisou ➤
Dia Nacional da Rússia celebrado em Lisboa
1 2 3
4 5 6
1. maria da luz de Bragança com os
Embaixadores da Rússia
2. Embaixador da argentina e Embaixa-
dores de cuba
3. Embaixatriz da ordem de malta e
pedro Ferreira de carvalho
4. Embaixador do irão com o Embaixa-
dor do iraque
5. Embaixadora da polónia, Embaixador
da Hungria e Embaixador da letónia
6. Embaixadores da moldava
Mala DiploMática
69oUtUBRo 2011 - Diplomática •
➤ a sua satisfação pelo desenvolvi-
mento progressivo da cooperação
russo-portuguesa, que exerce uma
influência positiva num plano bas-
tante abrangente.
o Emb. pavel petrovskiy fez saber
que, no seu país, se avalia de
forma muito positiva, os êxitos
alcançados por portugal ao nível do
desenvolvimento das novas tecno-
logias, energia verde e implemen-
tação de plataformas electrónicas
nas entidades governamentais.
Num tom divertido, o embaixador
virou-se para um campo inespera-
do – o futebol, área com que a Rús-
sia, disse o Emb. petrovskiy, está a
adquirir uma experiência preciosa.
"cada vez mais se desenvolvem
os contactos entre as pessoas e
se ampliam os laços culturais, o
que é muito positivo", disse ainda o
embaixador russo, que brindou, por
fim, à amizade entre os dois povos. n
7 8 9
10 11 12
7. Embaixador da áustria, adrian Wes-
sedi e Embaixadora da Noruega
8. José Bouza Serrano, Embaixador de
cuba, Embaixador da turquia
9. Embaixador da palestina com a filha
leen Shami
10. Embaixador da argentina e a Direc-
tora da revista Diplomática
11. Embaixador da Suíça, Embaixador
de Espanha e Embaixador da or-
dem de malta
12. Embaixador da Suécia, Núncio
apostólico e José Bouza Serrano
70 • Diplomática - oUtUBRo 2011
Os embaixadores do luxemburgo
celebraram, em lisboa, o aniver-
sário de Sua alteza Real, o Grão-
Duque do luxemburgo, e dia da
Festa Nacional do seu país.
Uma data que, no luxemburgo,
se celebra durante dois dias.
os embaixadores paul e Nadine
Schmit ofereceram uma recepção,
não só aos seus compatriotas,
como também outros convidados
das várias áreas da vida nacio-
nal (empresários, economistas,
personalidades ligadas à cultura),
celebrando, assim, o aniversário
do Grão-Duque do luxemburgo.
No seu discurso de boas-vindas,
o embaixador lembrou aos ➤
Festa Nacional do Luxemburgo
1 2
3 4
No seu discurso de boas-vindas,
Paul Schmit lembrou aos
convidados como começou
o Luxemburgo,
1. o Embaixador paul Schmit no seu
discurso
2. Embaixador da Sérvia, Embaixador
da Grécia, Embaixador de cuba e
Embaixador da Hungria
3 . Embaixador de cuba, Embaixado-
ra da Eslovénia e Embaixador da
turquia
4. maria José tormenta e Embaixatriz
do luxemburgo
Mala DiploMática
71oUtUBRo 2011 - Diplomática •
➤ convidados como começou o
luxemburgo, na idade média,
com a construção do castelo do
luxemburgo. E foi em torno desta
fortaleza que se desenvolveu,
gradualmente, uma cidade, que
viria a transformar-se no centro
de uma pequena, mas importante,
nação com grande valor estraté-
gico. No século XiX e depois de
séculos de conquistas e gover-
nado por estados estrangeiros, o
luxemburgo acabou por se tornar
numa nação independente e neu-
tra. Uma neutralidade que viria
a abandonar depois da Segunda
Guerra mundial, quando se tornou
um dos membros fundadores da ➤
6 7
8 9 10
5. Embaixadores da letónia
6. Duque de loulé, inês Figueiredo e
carmen távora
7. maria da luz de Bragança e inês
mendonça
8. Embaixador da Rússia e Embaixador
da Suiça
9. João proença
10 Ricardo Espírito Santo Bastos Salga-
do, Rita Bustorff de Sousa tavares e
Embaixador do luxemburgo
5
72 • Diplomática - oUtUBRo 2011
➤ Nato, das Nações Unidas e da
União Europeia.
o embaixador paul Schmit lem-
brou a visita dos Grão-Duques do
luxemburgo a portugal, a convite
do presidente da República, para
lembrar as relações de amizade
existentes entre os dois países,
enriquecidas pela forte presença
e contribuição dadas pela comu-
nidade lusa, que lançou raízes no
seu país, contribuindo para o seu
progresso.
Foram ouvidos os hinos na-
cionais dos dois países e, já a
terminar, paul Schmit convidou
os presentes para que levantas-
sem as taças para um brinde de
felicidades a Sua alteza Real,
o Grão-Duque Henri, à família
Grã-Ducal, ao luxemburgo e a
portugal. n
11 12
1413
11. marion Krüse, Susana capela, ma-
teus camacho, ana paula taborda
e maria da luz de Bragança
12. isabel monteiro e maria de Jesus
Barroso
13. Embaixador da Ucrânia e Embai-
xador da lituânia
14. christine Gillies e Embaixador dos
países Baixos
15. Directora da revista Diplomática
com o Embaixador do luxemburgo
Festa Nacional do Luxemburgo
15
73OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •
Embaixada da Grã-Bretanha Celebra aniversário de Isabel II
A rainha de Inglaterra celebrou 85 anos ficando apenas a um ano de distância do
jubileu de diamante, um marco celebrado apenas pela rainha Vitória, em 1987.
Os seus súbditos continuam a dedicar-lhe o maior carinho e devoção.
Uma devoção que remonta aos tempos da guerra, em que a então jovem Isabel
constatou o quanto era amada pelos súbditos que, apesar da dureza da situação, não
hesitaram em dar os seus cartões de racionamento, para que a sua princesa tivesse
um vestido de noiva a preceito.
Casou com Duque de Edimburgo, de quem tem quatro filhos – Carlos, Ana, André e
Eduardo. Toda a Grã-Bretanha celebrou com júbilo o 85º aniversário da sua Rainha. ➤
Mala diploMática
74 • DiplOmáTica - OUTUBRO 2011
➤ Londres celebrou e, em portu-
gal, a embaixada da Grã-Breta-
nha recebeu imensos convida-
dos, para evocar a efeméride,
com um requintado cocktail, ser-
vido nos jardins da embaixada.
O ambiente era, decididamente,
de festa, nesse fim de tarde. O
aniversário da rainha isabel ii
brindado pelos convidados com
champanhe, tornou-se, também,
no nosso país e, nessa tarde em ➤
1. Banda da marinha inglesa 2. Joanne Kuenssberg, DHm 3. Embaixadores da coreia e Embaixador da indonésia 4. Directora da
revista Diplomática e Embaixador da Russia
1
2 3 4
Embaixada da Grã-Bretanha
75OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •
➤ especial, um evento destacado
na sociedade portuguesa, uma
vez que estamos ligados, desde
há muito, à Grã-Bretanha, por
laços políticos e de amizade.
Entre as muitas personalida-
des presentes, para além de
representantes do corpo diplo-
mático creditado em portugal,
esteve também maria da luz de
Bragança, directora da revista
Diplomática. n
5. Um brinde à Rainha 6. Jordana e Bernardo campos pereira 7. Embaixador do luxemburgo, Joanne Kuenssberg e Embaixador
da áustria 8. peter mottek e Robert S. levitt 9. Embaixador da Hungria, Embaixadores de Espanha, Embaixador da Rússia e mer-
cedes mottek 10. Teresa Syrungli e Embaixadora da Noruega
5
7 8
6
9
10
76 • Diplomática - oUtUBRo 2011
Foi na Embaixada de itália, em
lisboa, que teve lugar a recepção do
Dia Naccional daquele país, que con-
tou com a participação de mais de
1000 convidados, entre eles o corpo
diplomático creditado em portugal
e individualidades ligadas ao sector
empresarial, político e da cultura.
Este ano, o evento esteve associa-
do às celebrações dos 150 anos da
unificação da itália.
o embaixador da itália, luca del
Bazo di presenzano, no seu discurso
de boas vindas, recordou que se es-
tava a comemorar, não só os 65 anos
da República italiana, mas também
os 150 anos da Unidade Nacional.
Daí, ser-lhe muito grata a oportuni-
dade de receber na embaixada, para
celebrarem juntos, não só as autori-
dades portuguesas, como também
os colegas e amigos diplomatas e
a comunidade italiana, que trabalha
"neste magnífico país, que é portu-
gal, contribuindo para manter bem
alto o nome e o prestígio da itália no
mundo".
o embaixador recordou ainda que,
há 150 anos, a 17 de março de 1861,
nasceu o Reino da itália, graças ao
processo político, diplomático e mi-
litar, conhecido como Risorgimento.
Um processo fundamentado nos va-
lores, ideais e na coragem, que levou
à unificação da itália, anteriormente
dividida em 7 estados de pequena
dimensão. com afirmação do princí-
pio da nacionalidade, disse ainda o
embaixador, os cidadãos do Norte e ➤
Dia Nacional da Itália
1. início da festa 2. maria de Bragança com Embaixador de itália 3. clara Nunes Santos, José Bouza Serrano e Embaixadores da Georgia 4. ana Salazar 5. Renée Gomes, maria Barroso e a Embaixadora das Filipinas 6. Embaixadora da Índia
1 2
3 4 5 6
Mala diploMática
77oUtUBRo 2011 - Diplomática •
➤ Sul da península tornaram-se italia-
nos sem, claro está, renegarem o seu
passado, mas antes integrando-o na
nova itália, acabada de nascer.
Sucessivamente, há precisamente 65
anos, o povo italiano, através de um
referendo constitucional, sancionou
o fim da monarquia e nascia então a
República, frisou ainda o embaixador
luca del Balzo.
o evento teve também uma caracte-
rística especial, graças à participação
da companhia dos agitadores de
Bandeiras (Sbandieratori) da munici-
palidade italiana de città Della pieve
(cuja vinda tão especial e original,
o embaixador fez questão de agra-
decer na pessoa do presidente da
câmara daquela cidade, Ricardo
manganello, ali presente) e que ofe-
receu aos convidados um espectá-
culo evocativo das antigas tradições
italianas. Um espectáculo que se
repetiria, dias depois, no castelo de
S. Jorge.
a terminar o seu discurso, o Embai-
xador de itália fez questão de recor-
dar que, nesta recepção, se estava a
celebrar a identidade de uma nação
que se sente orgulhosa da sua histó-
ria e cumprimentou, de modo espe-
cial, todos os italianos presentes, em
particular todos aqueles que residem
e vivem longe da pátria, à qual se en-
contram ligados por profundos laços
afectivos. E terminou, agradecendo
a presença de todos os convidados,
desejando uma boa continuação da
festa, com amizade e muita alegria. n
7. Embaixadora da Noruega e manuel Enes 8. Embaixador ali Kaya Savut, Embaixadores da Sérvia, Embaixadora Bernarda Gra-dishik 9. Embaixadora de marrocos e directora da Diplomática 10. Embaixadora do Senegal 11. Embaixador da Suíça e maria de Bragança 12. Helena e manuel pinto Barbosa 13. isabel Rilvas
7 8 9
10 11 12 13
78 • Diplomática - oUtUBRo 2011
A Embaixada de israel assinalou
os 63 anos da independência do
Estado de israel numa cerimónia no
Hotel Sheraton, no passado dia 10
de maio, em lisboa.
presentes estiveram muitos
amigos de israel, nomeadamente
membros do parlamento, do minis-
tério dos Negócios Estrangeiros,
do corpo Diplomático, da ➤
1
2 3 4
1. Embaixadores de israel a brindar
2. Embaixador de israel e lior Keinan e a mulher Sarit Keinan
3. Embaixador da Sérvia e a mulher
4. miguel polignac de Barros
Festa da independencia de Israel
Mala DiploMática
79oUtUBRo 2011 - Diplomática •
➤ comunidade Judaica e muitas
outras personalidades do mundo
Económico e dos meios de comu-
nicação Social, que vieram feste-
gar esta ocasião tão feliz. No final
do seu discurso, os Embaixadores
de israel, Ehud e Sharon Gol brin-
daram aos fortes laços de amizade
entre portugal e israel. n
5 6 7
8 9 10 11
5. pia Ziegler e Rodi Bachmann
6. Jack Saifer, Raul capela e João proença
7. marinho pinto
8. ana de Brito e antónio alvim
9. carla Fontes e conceição Ribeiro, Directora do Hotel tiara
10. Núncio apostólico e Eduardo Fortunato de almeida
11. milton moniz
80 • Diplomática - oUtUBRo 2011
Foi por ocasião da celebração
dos 20 anos da independência da
República da Eslovénia e do Dia Na-
cional, que teve lugar uma recepção
na Estufa Real, no Jardim Botânico
da ajuda.
Foram mais de 100 convidados, das
mais diversas áreas da sociedade
portuguesa, da política à economia,
passando pela cultura e o jornalismo,
que estiveram presentes na recep-
ção que a Embaixada da República
da Eslovénia organizou, em lisboa,
no Restaurante Estufa Real, no
Jardim Botânico da ajuda. presentes
estiveram também representantes
de empresas eslovenas e eslovenos
residentes em portugal.
No discurso com que recebeu os
seus convidados, a Embaixadora
Bernarda Gradisnik enfatizou os
sucessos alcançados pela Eslovénia,
nos 20 anos decorridos desde a sua
independência, a candidatura da Es-
lovénia a um lugar não-permanente
no conselho de Segurança da oNU
e saudou as boas relações entre
portugal e a Eslovénia.
Uma das seis repúblicas que forma-
vam a ex-Jugoslávia, a Eslovénia (si-
tuada na confluência de quatro gran-
des zonas geográficas europeias)
tornou-se independente em 1991,
com a desintegração da Jugoslávia.
o país faz fronteira com a itália, a
áustria, a Hungria e a croácia. ■
20º Aniversário da República da Eslovénia
1 2 3
4
5 6
1. Embaixadora da Eslovénia 2. Vassilios costis, Embaixador da Grécia, Embaixador da itália e alan cummins 3. Embaixador do chile,
Embaixadora da Noruega, inga magistad, Embaixador da áustria 4. Embaixador da itália, Embaixadora da Eslovénia, Núncio apostólico
e antónio de macedo 5. Embaixador da Rússia, Embaixadora da Índia e Gassan El aouar 6. ali Kaya Savut, Embaixador da turquia
mala diplomática
81OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •
Portugal’s Eurodilemma
Portugal’s current financial and economic
situation poses serious questions about the
country’s membership in the Eurozone, and
the conditions it is obliged to accept to obtain
funds to service its debts.
The country’s structural weaknesses - high go-
vernment deficit, low past and current growth,
low international competitiveness reflected in
persistent balance of trade deficits, a fragile
banking system - have led international finan-
cial markets to put portugal in the same cate-
gory as the weakest members of the Eurozone,
closing off access to private financing for the
country.
To avoid impending default, portugal was
obliged in may of this year to negotiate a $78
billion loan from the international monetary
Fund (“imF”), the European Union (“EU”), and
the European central Bank (“EcB”), referred
to as the “troika”. Behind the troika’s apparent
willingness to help portugal (and Greece and ➤
O Euro Dilema de Portugal
No tratamento dos seus membros mais fracos da Zona
Euro, a União Europeia (“UE”), o Banco central Europeu
(“BcE”) e o Fundo monetário internacional (“Fmi”), referido
como a “troika”, pode muito bem-estar a colocar em risco
não só o futuro do Euro, mas de igual modo a prejudicar
todo o movimento de integração europeia.
pese embora todos concordem que portugal não tem sido
tão perdulário quanto a irlanda e a Grécia, as debilidades
estruturais do país - um alto nível de défice orçamental, o
baixo crescimento passado e corrente, uma ausência de
competitividade internacional reflectida no saldo persistente
do deficit comercial e um sistema bancário frágil - levaram
os mercados financeiros internacionais a colocar portugal
na mesma categoria dos membros mais fracos da zona
euro, fechando o acesso ao financiamento privado para o
país.
para evitar a incumprimento iminente, portugal foi obri-
gado, em maio deste ano a negociar um empréstimo de
78.000 milhões dólares americanos do Fundo monetário in-
ternacional (“Fmi”), da União Europeia (“UE”), e do Banco
central Europeu (“BcE”), referido como a “troika”. atrás ➤
patrick Siegler-lathrop is a French-american consultant living in
portugal, with a more than 30-year career as a Wall Street investment
banker, entrepreneur, industrialist and professor, having taught at
iNSEaD and paris University, Dauphine. He is a founding member of
the international NGO action contre la Faim.
Economia & Finanças
(* The opinions expressed herein are those of the author, and do
not necessarily represent those of DiplOmaTica)
(* as opiniões expressas aqui são de responsabilidade do autor
e não representam necessariamente as da Diplomática.)
82 • DiplOmáTica - OUTUBRO 2011
➤ ireland) is a fear that a default by a European
country could seriously weaken the banking
system and possibly lead to a systemic failure
of the entire European financial structure (Ger-
man and French banks alone hold about $1.4
trillion worth of the sovereign debt of portugal,
ireland, Greece, italy, and Spain).
What were the conditions portugal had to
accept for such a loan? The troika espoused
exactly the same “politically correct” view as
financial markets and rating agencies: portugal
(like Greece and ireland) committed to dras-
tically reduce government expenditures and
increase taxes, as well as to put into place a
number of structural reforms.
There is no doubt that some of the structural
reforms imposed by the troika are necessary,
and the crisis that portugal is experiencing is
an excellent opportunity to force changes that
would have been politically impossible otherwi-
se.
But basic economics teaches us that a mas-
sive reduction in government expenditures
simultaneously with large tax increases, un-
less counterbalanced by contrary forces, will
immediately send the economy into a tailspin,
greatly reducing output and increasing both
unemployment and poverty. The entire country
will suffer, but as always, the poorest segment
will suffer the most.
although lip service is given to noble employ-
ment and growth objectives in the text agreed
to with the troika, concrete measures to protect
employment and promote growth are painfully
absent.
What is portugal getting in exchange for ac-
cepting the troika-imposed pain? Short-term
liquidity to pay its current deficits, yes, but also
the certainty of a prolonged, government-indu-
ced recession.
What is particularly troubling about the ap-
proach of rating agencies, the imF, the EcB
and the EU, is that there is no clear evidence
that this excessively monetarist medicine will
work. On the contrary, the recession will lead
to much lower government receipts, virtually
guaranteeing that the ambitious deficit targets
will not be met.
paying a high cost can be considered accep-
table, if there is light at the end of the tunnel,
reasonable prospect of healthy development in ➤
➤ da aparente disposição da troika para ajudar portugal (e
a Grécia e irlanda) está o medo de que a falha de cumpri-
mento de um país europeu poderia enfraquecer seriamente
o sistema bancário (os bancos alemães e franceses pos-
suem 1,4 biliões de dólares americanos da dívida soberana
de portugal, irlanda, Grécia, itália e Espanha) e possivel-
mente levar a uma falha sistemática de toda a estrutura
financeira europeia.
Quais foram as condições que portugal teve de aceitar
para um empréstimo deste tipo? a troika expôs exacta-
mente a mesma visão “politicamente correcta” dos merca-
dos financeiros e das agências de rating, que têm o poder
de julgar o “valor” da dívida de um país: portugal (como
a Grécia e irlanda) assumiu o compromisso de reduzir
drasticamente os gastos do governo e aumentar os impos-
tos, bem como o de pôr em prática uma série de reformas
estruturais.
Não há dúvida de que algumas das reformas estruturais
impostas pela troika são necessárias, e a crise pela qual
portugal está a passar é uma excelente oportunidade para
forçar mudanças que seriam politicamente impossíveis de
outra forma.
mas a economia ensina-nos que uma redução drástica dos
gastos do governo em simultâneo com grandes aumentos
de impostos - a não ser que contrabalançados por forças
contrárias - irá colocar imediatamente a economia numa
espiral descendente, reduzindo a produção e aumentando
tanto o desemprego como a pobreza. O país inteiro irá
sofrer, mas como sempre, o segmento mais pobre será o
mais afectado.
apesar de o discurso oficial se focar no emprego e no cres-
cimento económico, o texto do acordo com a troika, visto
justamente de uma perspectiva de geração de emprego e
crescimento, revela medidas que são inteiramente negati-
vas.
E o que recebe portugal em troca ao aceitar estes sacri-
fícios impostos pela troica? De facto obtém liquidez a curto-
prazo para pagar os seus deficits correntes mas a expen-
sas de uma recessão prolongada induzida por imperativos
governamentais.
O que eu acho particularmente preocupante sobre a
abordagem das agências de rating, o Fmi, o BcE e a UE,
é que não há evidências claras de que este medicamento
excessivamente monetarista vá funcionar. pelo contrário,
a recessão vai levar a receitas de Estado muito menores,
praticamente garantindo que os ambiciosos objectivos para
o défice que foram estabelecidos não serão cumpridos.
pagar um alto custo pode ser considerado aceitável, se
houver luz no fim do túnel, ou seja, uma prospecção razo-
ável de desenvolvimento saudável num futuro não muito
distante. mas tal garantia não nos é dada - não há ➤
The Financial CrisisA Crise Finaceira
83OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •
➤ the not-too-distant future. But no such pros-
pect is offered - there is virtually nothing in
the package that will generate growth - many
believe the troika plan has little chance of
success, and will merely postpone a necessa-
ry restructuring of portuguese debt to a later
date.
The recent severally criticized downgrade of
portugal’s debt by moody’s rating agency to
the level of “junk” says moody’s doesn’t belie-
ve their own excessively monetarist medicine
will work, at least not well enough to avoid
likely renegotiation of the debt.
in this situation, if portugal were not a member
of the Eurozone, it would no doubt envisage a
substantial devaluation of its currency, imme-
diately improving its international competiti-
veness, and put into place a series of parallel
measures: structural reforms to take advantage
of lower costs to generate export-led growth,
major reduction in government deficits, mana-
gement of interest rates and monetary policy to
provide for a moderate level of inflation to help
reduce debt, etc. Such an approach would not
be painless - one result would be an immediate
increase in foreign-currency debt - but it has
proven effective in the past, and if well mana-
ged, would almost certainly provide a positive
solution to the very difficult position portugal is
in today.
But portugal cannot devalue: it is a member of
the Eurozone, with no control over the value of
its currency, nor its monetary policy and level
of interest rates. These are set by the Europe-
an central Bank, copied after the German cen-
tral Bank, established to respond to the needs
of a country, Germany, with a strong export-
oriented industrial base which can accept a
strong currency and with a singular focus on
controlling inflation, at a time when much of
Europe would benefit from a moderate level of
inflation.
i think the world has become excessively do-
minated by a monetary approach, with exces-
sive emphasis given to protecting banks and
bankers, and too little attention given to taking
care of the unemployed. Such an approach is
short-sighted, will strengthen anti-European
sentiment in many countries and risks threate-
ning the very foundation of European success.
The Euro, and the policies of the European ➤
➤ praticamente nada no pacote que possa fazer gerar cres-
cimento - muitos acreditam que o plano troika tem poucas
hipóteses de sucesso; irá apenas adiar uma necessária re-
estruturação da dívida portuguesa para uma data posterior.
O recente "downgrade" da dívida de portugal pela agência
de rating moody ao nível de “junk”, mostra que a própria
moody não acredita que o seu remédio excessivamente
monetarista vá funcionar, pelo menos não suficientemente
bem para evitar a provável renegociação da dívida.
Nesta situação, se portugal não fosse um membro da
zona euro iria fazer uma desvalorização substancial da
sua moeda, que provocaria uma melhoria imediata da sua
competitividade internacional e colocaria em prática uma
série de medidas paralelas: reformas estruturais para tirar
proveito da redução dos custos a fim de gerar crescimento
liderado pelas exportações, grande redução dos défices or-
çamentais, gestão das taxas de juro e a política monetária
prever um nível moderado de inflação para ajudar a reduzir
a dívida, etc. Tal abordagem não seria indolor - um dos re-
sultados seria um aumento imediato em dívida em moeda
estrangeira - mas mostrou-se eficaz no passado, e se bem
gerido, quase certamente proporcionaria uma solução posi-
tiva para a posição muito difícil que tem hoje portugal.
mas portugal não pode desvalorizar: é um membro da
zona Euro, sem controlo sobre o valor da sua moeda,
sobre as suas políticas monetárias nem sobre o nível das
suas taxas de juro. Tudo isto é determinado pelo Banco
central Europeu, estabelecido para responder às neces-
sidades de um país, a alemanha, copiando o modelo do
Banco central alemão, estabelecido para responder às
necessidades de um país, com uma forte orientação para a
exportação industrial e com um particular foco no controlo
da inflação, de um tempo em que a Europa beneficiaria de
uma taxa de inflação moderada.
penso que o mundo tornou-se excessivamente dominado
por uma abordagem monetária, com ênfase excessiva na
protecção de bancos e banqueiros, e pouca atenção dada
ao desemprego. Tal aproximação revela-se curta de vistas,
potenciadora de sentimentos anti-europeus em vários
países e arrisca por em causa as fundações do sucesso
europeu.
O Euro, e as políticas do Banco central Europeu, clara-
mente não respondem às necessidades actuais de portu-
gal (ou a Grécia ou a irlanda, e alguns outros).
assim, deve considerar portugal deixar o Euro? Em Bruxe-
las e nos gabinetes de Governo em lisboa, tal alternativa
continua a ser impensável.
É evidente que os riscos económicos e de mercado e os
custos a curto prazo de deixar o Euro seriam muito eleva-
dos, mas é muito menos claro se os custos de longo prazo
seriam maiores do que o que portugal tem agora de ➤
84 • DiplOmáTica - OUTUBRO 2011
➤ central Bank, clearly do not respond to the
current needs of portugal (or Greece, or ire-
land, and certain others).
So should portugal consider leaving the Euro?
in Brussels and in Government offices in lis-
bon, such an alternative remains unthinkable.
it is evident that the economic and market risks
and the short-term costs of leaving the Euro
would be very high, but it is much less clear
that the long-term costs would be higher than
what portugal is now facing. i think it would
be in the interest of the portuguese Govern-
ment to bring together a small, discreet team
to examine under what conditions it might be
possible to leave the Euro.
That such a step is not even considered is
troubling. Whenever conventional wisdom is
so dominant that alternatives are not even
examined, such dogmatism can lead to serious
mistakes.
But of course, we must recognize that the Euro
is more than just a currency, it is a political
statement, a major milestone in the construc-
tion of a united and democratic Europe. Both
the EU and EcB bureaucracy fear that if a
Eurozone member were to leave the Euro, the
whole system might unravel, putting a serious
brake on the European integration movement.
The portuguese are well aware that they have
enormously benefited from membership in the
EU, and portugal has consistently played an
important and positive role in its evolution. as
a result, no portuguese Government would
find the political will to leave the Euro, taking
a step that would so radically go against the
movement of European integration.
So does portugal only have the choice of being
a “good student”, stuck in the straight-jacket of
the Euro, subservient to the dominant moneta-
rist orthodoxy of the troika, suffering through
years of recession with little prospect of signifi-
cant improvement?
i think not. Just as the problems facing portu-
gal reflect a European problem, so the so-
lutions should be developed on a European
stage.
The portuguese Government can and should
seize the initiative, to propose to the EU
that it put into place, in parallel with existing
measures which we know will have a negative
impact on growth, positive solutions which ➤
➤ enfrentar. Eu acho que seria do interesse do Governo
português reunir uma equipa pequena e discreta para ana-
lisar em que condições seria possível deixar o Euro.
Que tal passo não é mesmo considerado é preocupante.
Sempre que conhecimento convencional, é tão dominante
que as alternativas não são sequer examinadas, tal dog-
matismo pode levar a erros graves.
mas, claro, o euro é mais do que apenas uma moeda, é
uma declaração política, um marco importante burocracia
que na construção de uma Europa unida e democrática.
Tanto a burocracia da UE como a do BcE temem que se
um membro da zona euro deixar o Euro, todo o sistema
poderia se revelar, colocando um forte travão no movimen-
to de integração europeia.
Os português estão bem conscientes de que têm benefi-
ciado enormemente adesão à União Europeia, e portugal
tem sempre desempenhou um papel importante e positivo
na sua evolução. como resultado, nenhum Governo por-
tuguês iria encontrar a vontade política de deixar o Euro,
dando um passo que poderia ir tão radicalmente contra o
movimento de integração europeia.
O mesmo acontece com portugal só tem a opção de ser
um “bom aluno”, preso na camisa de força do euro, subser-
viente à ortodoxia monetarista dominante da troika, sofren-
do através de anos de recessão com poucas perspectivas
de melhora significativa?
acho que não. Uma vez que os problemas que portugal
enfrenta reflectem um problema europeu, as soluções de-
vem ser desenvolvidas num contexto europeu.
O Governo português pode e deve tomar a iniciativa, de
propor à UE que coloque em prática, em paralelo com as
medidas existentes que sabemos que terão um impacto
negativo sobre o crescimento, as soluções positivas que
irão gerar crescimento e emprego. Estas medidas reque-
rem imaginação e dinheiro, mas vão garantir que o proces-
so de volta à boa saúde financeira e económica funcione,
em benefício de interno. portugal, do Euro e da UE.
portugal precisa de atrair investimento estrangeiro e
precisa de gerar um ambiente interno mais empreende-
dor. Encontrou-se 78 milhões de dólares para os credores
portugueses; Não podem 1-2 mil milhões ser encontrados
para gerar uma dinâmica positiva? Esse dinheiro poderia
ser usado para colocar em cena novas iniciativas, como
por exemplo:
– incentivos fiscais - por que não permitir uma taxa de
imposto muito mais baixa para qualquer actividade empre-
sarial recém-criada, por um período temporário de 5 anos,
com a plena aprovação e acompanhamento cuidadoso por
parte da UE?
– portugal tem relações privilegiadas com o Brasil, com
angola e noutros países - por que não criar um ou mais ➤
The Financial CrisisA Crise Finaceira
85OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •
➤ will generate growth and employment. Such
measures will require imagination, and mo-
ney, but they will ensure that the process of
returning to financial and economic good he-
alth will work, to the benefit of portugal, the
Euro and the EU.
To generate growth and employment, portugal
needs to attract foreign investment and needs
to generate a more entrepreneurial domestic
environment. many ideas could be explored:
Fiscal incentives - why not permit a much
lower corporate tax rate for any newly created
activity, for a temporary period of 5 years, with
the full approval and careful monitoring by the
EU?
portugal has privileged relationships with
Brazil, with angola and certain other coun-
tries - why not create one or more investment/
development bank located in portugal, with
shareholders from the EU and from these
countries, to promote investment and joint
business?
ask any French industrialist who has portu-
guese workers and he will tell you they are the
best workers he has. Yet the portuguese in
portugal do not have such a reputation. could
not measures be explored to attract portugue-
se to return to portugal, in part to counteract
the loss of the entrepreneurial spirit of the
100,000 portuguese who leave portugal each
year, for want of jobs and career opportuni-
ties?
There are a number of large European com-
panies which have highly productive industrial
operations in portugal, producing for niche
markets. Why not regroup them, with large
companies from elsewhere, into a EU funded
structure, which will specifically assist in brin-
ging investment into the country?
The tourism sector represents enormous
potential for development, yet the troika agre-
ement hardly mentions the subject. a EU
inspired study to examine the impediments to
tourism development, followed by funding for
the promotion of tourism projects, is clearly
another avenue to examine
Similarly, portugal’s agricultural potential for
export markets is grossly under-developed,
and needs studies and funding to promote the
launch of numerous projects
portugal needs more entrepreneurship ➤
➤ bancos de investimento / desenvolvimento, com os accio-
nistas da UE e destes países, para promover o investimen-
to e a exploração em comum?
– pergunte-se a qualquer empresário francês que tenha
trabalhadores portugueses e ele dir-lhe-á que estes são os
melhores trabalhadores que tem. E há um grande núme-
ro de português expatriados que se tornaram líderes em
londres, paris, Nova York, pequim e São paulo, e que,
sem dúvida, estarão motivados a contribuir para o desen-
volvimento de portugal. Não será possível serem explora-
das medidas para atrai-los a regressar a portugal, ou para
explorar o recurso da comunidade de expatriados de portu-
gal para contribuir para o desenvolvimento de portugal no
estrangeiro, em parte para compensar a perda do espírito
empreendedor dos 100.000 portugueses que deixam por-
tugal em cada ano, por falta de empregos e oportunidades
de carreira?
– poucas pessoas estão conscientes que muitas grandes
empresas europeias consideram as suas operações indus-
triais em portugal como das mais produtivas no mundo,
competindo com custos muito competitivos para mercados
de nicho. muito mais poderia ser feito, com a ajuda de
companhias com investimentos já existentes, e a EU, para
explorar a atractividade do país, possivelmente através
de uma entidade com base na EU especificamente criada
para ajudar a trazer investimento para o país.
– O sector do turismo representa um potencial imenso de
desenvolvimento, contudo o acordo da troika quase não
menciona o assunto. Um estudo feito pela EU para exami-
nar os correntes impedimentos ao desenvolvimento turís-
tico, seguido de um fundo para a promoção de projectos
turísticos, é claramente uma outra via a ter em conta.
– Da mesma forma, o potencial agrícola de portugal para
a exportação e para a substituição da importação é larga-
mente subdesenvolvido, e necessita de estudos e fundos
para promover o lançamento de numerosos projectos.
– portugal necessita de mais formação em empreendedo-
rismo e deveria encorajar as suas universidades e escolas
de gestão e economia a desenvolver parcerias com univer-
sidades estrangeiras que tenham elaborado activamente
planos de empreendedorismo.
a família da EU tem um know-how considerável na promo-
ção do desenvolvimento: O Banco Europeu para a Recons-
trução e Desenvolvimento, que desenvolveu um know-how
significativo com o seu trabalho na Europa de leste, o
Banco de investimentos Europeu, ou uma nova entidade
fundada pelos membros da zona Euro, poderiam servir de
veículos à reunião de know-how existente a fim de catalisar
e fundar projectos dos países periféricos da zona euro.
poder-se-ia começar pela organização de uma mesa re-
donda, patrocinada pela EU e Governo português, ➤
86 • DiplOmáTica - OUTUBRO 2011
➤ education, and should encourage its univer-
sities and business schools to develop part-
nerships with universities elsewhere that have
elaborated extensive entrepreneurship activity.
The European Bank for Reconstruction and
Development, which has developed considera-
ble knowhow from its work in Eastern Europe,
the European investment Bank, or a new entity
funded by Eurozone members, could serve as
vehicles to catalyze and fund projects for peri-
pheral countries in the Eurozone.
portugal is a small market, and the European
Union can test new ideas there, at minimal
risk, and apply the successful ones more broa-
dly to other peripheral European countries.
One could start by organizing a broad round-
table discussion, sponsored by the EU and the
portuguese Government, inviting the participa-
tion of portuguese business and Government
leaders, including expatriate portuguese who
have become leaders in london, paris, New
York, Beijing and Sao paolo, and who would
no doubt be motivated to contribute to the de-
velopment of portugal.
Financial rigor, imposed by the rating agen-
cies, the imF, the EU and the EcB, will not be
enough to save the Euro. On the contrary, the
policies being applied, if pursued alone, may
well lead to the destruction of the Euro and
much of the success of the EU.
portugal’s situation is a case in point. Unless
some positive impetus is added to the agree-
ments portugal has signed with the troika, the
likelihood of continued economic decline, with
serious political repercussions, is high. if the EU
and the EcB are so afraid of the consequences
of an eventual departure from the Euro, then
they should provide for new, entrepreneurial
growth and employment opportunities, to save
both the Euro and the continued evolution to-
wards democratic and popular European union.
Just as portugal’s peaceful and impressive
evolution from a long dictatorship to a healthy
democracy after the 1974 revolution served as
an example for newly created democracies of
Eastern Europe, can portugal not once again
be on the forefront of new initiatives which can
provide a permanent, long-term solution to
the multiple crises which Europe and the Euro
appear likely to face? n
➤ convidando à participação de líderes governamentais
e da indústria e comércio, incluindo os portugueses da
diáspora, e elementos representativos de potenciais inves-
tidores, para identificar objectivos específicos e propostas
concretas para o desenvolvimento do país.
portugal é um mercado pequeno onde a União Europeia
pode testar as suas novas ideias com um risco muito
reduzido e aplicar as de sucesso de forma mais vasta aos
outros países periféricos.
preocupa-me a ideia de que os burocratas em Bruxelas,
Frankfurt, Washington e ministérios governamentais pos-
sam estar a viver num mundo fechado e não tenham sido
treinados para perceber o impacto das suas decisões na
vida das pessoas comuns.
Talvez seja demasiado arriscado sair do Euro, mas portu-
gal precisa de dizer à União Europeia para acordar para o
facto de ao não estar a fazer nada de positivo está também
a pôr em risco toda a estrutura europeia reforçando as
posições dos partidos anti-europeus e contribuindo para
prováveis manifestações da «primavera Europeia» que
poderão se espraiar para além das ruas da Grécia. Se
os Europeus começarem a fazer realmente a sua voz ser
ouvida, a impopularidade da burocracia da EU arrisca-se a
tornar-se numa torrente. a EU não fez um bom trabalho na
sua auto-promoção, pelo contrário, a visão populista está
na ordem do dia.
Se a EU e o BcE estão com tanto medo das consequên-
cias de uma eventual saída do Euro, então deveriam provi-
denciar medidas para o crescimento do empreendedorismo
e da criação de empregos, para salvar tanto o Euro como
uma continuada evolução para uma União Europeia verda-
deiramente democrática e popular.
Não é impossível impor rigor ao mesmo tempo que se
acrescenta níveis de crescimento e criação de empre-
go. mas é necessário um ímpeto positivo e imaginação,
algo muito contrário à visão convencional e asfixiante dos
monetaristas – pese embora, politicamente correcta - de
«devemos proteger os bancos a todo o custo», «deficits
são sempre maus» e «a mãe de todos os problemas é a
inflação». as medidas de vistas curtas ou básicas revelam-
se inapropriadas para tempos como estes em que esta-
mos.
Tal como a impressionante evolução pacífica de portu-
gal de uma longa ditadura até uma saudável democracia
pós-25 de abril serviu de exemplo para as recentemente
criadas democracias da Europa de leste, não poderá ago-
ra portugal estar de novo na vanguarda de novas iniciati-
vas que possam providenciar soluções permanentes e de
longo termo para as múltiplas crises que a Europa e o Euro
parecem ter que vir a enfrentar? n
The Financial CrisisA Crise Finaceira
87OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •
A presidência da EUNic – institu-
tos Nacionais de cultura da União
Europeia – pelo instituto camões,
que se iniciou a 8 de junho, com a
reunião de dois dias em lisboa do
plenário semestral dos dirigentes
das instituições que a integram, vai
coincidir com um «salto qualitati-
vo» no funcionamento desta rede
europeia.
a reunião de lisboa marcou o
arranque prático de uma série de
transformações na EUNic, que «já
vinham sendo discutidas há algum
tempo», segundo a presidente do
instituto camões, ana paula labo-
rinho, e na penúltima reunião dos
seus dirigentes, realizada em Bru-
xelas, em dezembro de 2010, «foi
decidido criar um estatuto jurídico
para a EUNic», que lhe dá «perso-
nalidade jurídica», e dotá-la de um
escritório em Bruxelas.
criada em 2006, a EUNic é uma
rede de institutos responsáveis pe-
las relações culturais externas dos
Estados membros da UE, congre-
gando presentemente 30 institui-
ções de 26 países. O seu objetivo
principal é promover a cooperação
cultural, mediante parcerias entre
os profissionais dos setores cultu-
ral, educativo e da juventude, «ten-
do em vista um maior entendimento
da diversidade cultural e linguística
europeia».
mas a sua peculiaridade maior
é o facto de as �antenas� desses
institutos espalhadas pelo mun-
do se agruparem localmente em
núcleos (os clusters, na linguagem
da organização), que desenvolvem
iniciativas conjuntas com a marca
cultural europeia.
Instituto Camões preside à EUNICPlenário de Lisboa provoca salto qualitativo
a ideia inicial de «construção con-
junta de projetos» evoluiu entre-
tanto no sentido de levar a EUNic
a agir também na «formação e
capacitação dos agentes culturais»,
indica ana paula laborinho, que
insere nessa vertente as chamadas
«academias de verão» para jovens
gestores culturais dos institutos.
antecedendo a reunião de lisboa,
realizou-se na capital portugue-
sa, organizada pela primeira vez
inteiramente por portugueses,
através do instituto camões (ic), a
4ª edição da «academia de verão»
dedicada às indústrias criativas e
culturais, cumprindo três objetivos
da organização: «partilha, aprendi-
zagem, construção».
Novo modelo e nova faseCom a assinatura dos estatutos, que
acontecerá em breve, em Bruxelas,
e de acordo com a legislação belga,
a EUNic passa a ser «uma asso-
ciação com personalidade jurídica»,
refere a presidente do ic, que revela
ainda estar em elaboração «um
regulamento não só em relação
ao funcionamento do escritório em
Bruxelas, mas também em relação
ao funcionamento dos clusters, ou
seja, como é que estes se relacio-
nam com a equipa da presidência da
EUNic e como é que representam,
de alguma forma, a EUNic».
«Este será também um momento
em que, ao contrário do que acon-
tecia – em que o projeto era su-
portado financeiramente sobretudo
pelo Goethe institut e pelo British
council – os institutos parceiros
deste projeto vão todos eles contri-
buir, na medida da sua dimensão,
para o orçamento geral da EUNic»,
afirma a presidente da EUNic,
terão assim «um maior envolvimento ➤
Cultura
88 • DiplOmáTica - OUTUBRO 2011
➤ na sua gestão e na elaboração do
seu plano de atividades».
Do novo modelo da EUNic fazem
ainda parte as reuniões regionais,
«em que a presidência se junta
com os clusters de uma grande
região para debater questões não
só de organização, mas também
substantivas». Na génese destas
reuniões regionais esteve a realiza-
ção anual de uma reunião de todos
os clusters para partilharem expe-
riências, discutirem problemas e
articularem estratégias de atuação.
com o crescimento do número de
clusters, e na constatação de que
estes partilhavam regionalmente
maior identidade na ação e nos
obstáculos com que se defronta-
vam, pensou-se na organização
de reuniões regionais de clusters
com a equipa da presidência. Em
2010, teve lugar a primeira reunião
regional, na Europa e, em 2011, já
se realizaram reuniões na áfrica
subsariana e nas américas. ainda
este ano, haverá reuniões na áfrica
do Norte e na Europa de leste.
Outro elemento do novo modelo é
o «grupo estratégico». atendendo
a que «são muitos países, que são
muitas as identidades», o grupo es-
tratégico, com uma «representação
alargada», destina-se «de alguma
forma a pensar o que pode ser
a ação conjunta, não apenas em
termos de organização, mas a ação
substantiva da EUNic».
a função da presidência da EU-
Nic pelo ic, que se vai prolongar
durante um ano, será assim de
«consolidação desta nova fase» na
vida da rede dos institutos culturais
europeus. mas não apenas. ana
paula laborinho refere que «um
dos aspetos que tem sido sublinha-
do como positivo na presidência
portuguesa – cuja primeira vice-pre-
sidência é francesa – são as nossas
relações, quer com a ásia quer com
o Brasil. Está em curso um projeto
de diálogo com a china e de esta-
belecimento de parcerias através
da EUNic, que vai ser desenvolvido
e prosseguido, e a mesma coisa
acontece com as américas, conti-
nente que foi objeto de uma reunião
regional dos clusters, em maio pas-
sado, em São paulo, no Brasil».
O que é a EUNIC?– a EUNic é uma rede constituída
pelos institutos nacionais de cultura
da União Europeia.
– Foi fundada em 2006 e, presen-
temente, congrega 30 membros de
26 países.
– O seu órgão máximo é a reunião
dos diretores dos institutos parti-
cipantes, que decorre de seis em
seis meses. além disso existe uma
«equipa presidencial» de 3 mem-
bros, escolhida por eleição, consti-
tuída por um presidente (desde 8 de
Junho, o instituto camões) e dois
Vice-presidentes (institut Français
e Wallonie-Bruxelles internacional),
que vão mudando de funções. O 2º
Vice-presidente passa a 1º Vice-
presidente e o 1º Vice-presidente
passa depois a presidente.
– atua através de núcleos –os
chamados clusters – nos vários
países do mundo, núcleos esses
que congregam as representações
locais dos institutos nacionais de
cultura da UE. Neste momento
existem quase 70 núcleos, desde a
china, passando por vários países
da ásia, até às américas, áfrica e
Europa (estes em maior número),
que articulam a sua ação com a
presidência da EUNic.
– Em setembro, a EUNic deverá
abrir um escritório em Bruxelas,
com dois funcionários permanentes.
– anualmente, promove a realiza-
ção de uma academia de Verão
para formação de jovens quadros
dos membros da EUNic.
– a língua de trabalho da EUNic é
o inglês.
Projetos com envolvimento da EUNIC– a EUNic preside à plataforma
da Sociedade civil da UE sobre
o multilinguismo. com um sig-
nificativo financiamento da UE,
o projeto destina-se à criar um
Observatório da língua em linha
até dezembro de 2012, destinado
a captar as boas práticas e rea-
lizar investigação nas seguintes
áreas: recursos locais e regionais
de aprendizagem de línguas por
adultos; política linguística e prá-
tica dos serviços públicos; apren-
dizagem precoce de línguas.
– O projeto poliglotti4.eu utiliza
a arte, a cultura e os media para
promover o multilinguismo, vi-
sando quatro grupos principais:
atores nos sistemas de educa-
ção não-formais e nos serviços
sociais, decisores políticos e
organizações de base da socie-
dade civil. a fim de aumentar a
perceção sobre a importância
do multilinguismo na sociedade
em geral, o projeto poliglotti4.eu
também constituirá uma rede de
embaixadores que são conhecidos
e multilingues, ou que são parti-
cularmente reconhecidos e ativos
no domínio do multilinguismo na
sociedade civil.
– language Rich Europe. Este
projeto, liderado pelo British
council reúne parceiros em 16
países, incluindo Goethe insti-
tut, instituto camões, instituto
cervantes e instituto cultural da
Dinamarca. pretende criar uma
ferramenta de medição inovadora
e interativa, o chamado “Índice
de práticas e políticas multilin-
guísticas na Europa”, que permiti-
rá visualizar o papel e o apoio ao
multilinguismo nos países euro-
peus participantes e destacar as
boas práticas. O lançamento será
no final de 2011. n
ic. ip.
Instituto Camões preside à EUNIC
89OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •
A fim de honrar o grande pintor moçambica-
no malangatana, falecido recentemente, a
Uccla, com o apoio da câmara de lisboa e
do conselho municipal de maputo organizou
no São luiz Teatro municipal um conjunto de
eventos que englobou um colóquio e um gran-
de espectáculo multidisciplinar coordenado
pelo arq. João laplaine Guimarães.
No colóquio “malangatana: o Homem e as
suas Obras” pudemos ouvir as doutas opi-
niões de um painel ilustre onde se contava
alfredo caldeira (da Fundação mário Soares),
antónio loja Neves (moderador), marcelo Re-
belo de Sousa, maria João Seixas e mutxhimi
Ngwenya malangatana (filho e administrador
da Fundação malangatana).
Foi focada quer a faceta artística, quer a
política de um homem que soube lutar pelos
seus ideais universalistas e humanistas e pela
auto-determinação do seu país. malangatana
entendia moçambique como uma nação plura-
lista com uma grande multiplicidade cultural e
étnica que deveria ser respeitada.
as suas posições políticas valeram-lhe vários
dissabores sendo, nos anos de 1960, indi-
ciado como membro da FRElimO e encar-
cerado. Este envolvimento profundo com as
questões políticas não poderia deixar de se
reflectir na sua arte. Esse engajamento há-de
valer-lhe uma nova prisão, em 1971, pelo ➤
Homenagem a Malangatana
Cultura
90 • DiplOmáTica - OUTUBRO 2011
➤ simbolismo crítico da obra 25 de Setembro,
que não deixou de expor, mesmo sabendo
que estava a pôr em risco a sua partida para
portugal garantida por uma bolsa da Funda-
ção Gulbenkian.
menino pobre, sempre trabalhou para con-
seguir o mínimo para sobreviver. para a
arte dependeu de mecenas que viram nele
a promessa de um grande artista. Quando,
em 1958, ingressa no Núcleo de artes esse
apoio passa, de imediato, a ser dado pelo
mestre Zé Júlio. acontece a primeira exposi-
ção colectiva e recebe o apoio do arquitecto
português pancho Guedes. Quatro anos
depois, e com apenas 25 anos de idade, tem
a sua primeira exposição individual no Banco
Nacional Ultramarino.
artista pluridisciplinar vai abarcar, ao longo
da sua vida as mais variadas formas de arte:
da pintura à poesia, da tapeçaria à cerâmica.
No seu todo porém, a sua arte está sempre
ligada aos acontecimentos políticos e históri-
cos de moçambique; primeiro centrando-se na
questão colonial e mais tarde, com a indepen-
dência do país, no tema da guerra civil.
com a maturidade a obra vai evoluindo para
temas mais amplos e universais até chegar, a
partir dos anos 80, a um universo sensualista
e erótico.
para que se soubesse um pouco mais deste
grande homem e da sua arte, a organização
distribuiu á entrada do espectáculo, a bro-
chura “malangatana o Homem e as Obras”
resultado do trabalho de coordenação do ➤
Homenagem a Malangatana
91OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •
➤ Dr. Rui lourido em parceria com a Funda-
ção mário Soares e a Fundação malangatana.
Nesta pequena obra, profusamente ilustrada,
pode ler-se igualmente os testemunhos de
diversas personalidades.
O espectáculo luso-moçambicano, que de-
correu na Sala principal do Teatro municipal
de S. luiz, apresentou um conjunto de artis-
tas de várias formações e origens. iniciou-se
com uma récita arrebatadora de poesia por
Elsa de Noronha que, de imediato prendeu
a atenção do público. Seguiram-se um vasto
número de artistas, ora cantando, ora dan-
çando. Do fado de mafalda arnauth às dan-
ças guerreiras do grupo Xispane-pane, duas
horas passaram velozes na companhia de
camané, andré colaço, maria João, mingas e
o grupo coral alma de coimbra que encerrou
com chave de ouro.
Enquanto iam sendo projectadas imagens de
várias obras de malangatana, os artistas iam
sendo apresentados por margarida pinto cor-
reia que não se deixou intimidar pela excelsa
plateia de honra onde se incluía Sua Exce-
lência o presidente da República de portugal,
Sua Excelência o Embaixador de moçambi-
que em lisboa, miguel costa mkaima, pre-
sidente da câmara municipal de lisboa, o
presidente do conselho municipal do maputo,
o Governador da província de luanda e a
Directora da Revista Diplomática – Negócios
e Diplomacia.
Um serão memorável para homenagear um
homem inolvidável. n
1
2 3 54
1. O presidente cavaco Silva e sua mulher estiveram presentes 2. Embaixador de moçambique, maria da luz de Bragança e lívio
morais 3. presidente do conselho municipal de maputo com o presidente cavaco Silva 4. Nuno Vaz de moura 5. Elsa de Noronha
com a nossa Directora
92 • Diplomática - oUtUBRo 2011
Artistas de Angolana Galeria de Arte do Casino Estoril
A Galeria de arte do casino Estoril foi palco da exposição artistas de angola, em
que participaram os artistas: albano Neves e Sousa, abílio Victor, adão marcelino,
amílcar Vaz de carvalho, antónio magina, Dília Fraguito Samarth, Domingos lau-
rindo, Dora-iva Rita, Edgardo Xavier, Filomena coquenão, Grácia Ferreira, João
inglês, José Zan andrade, Júlio Quaresma, Viteix e Vítor Ramalho.
a Galeria do casino Estoril tem tido sempre as suas portas abertas aos artistas
dos países de expressão portuguesa aí nascidos ou que aí viveram longos anos e
privilegiaram, na sua temática, motivos desses países.
a presente exposição insere-se nesta linha de pensamento. contou com a presen-
ça de 17 artistas, na sua maioria nascidos em angola, mas residentes em portu-
gal, na sua quase totalidade em lisboa, e já inseridos no mundo das nossas artes
plásticas.
Foi objectivo desta exposição facultar aos artistas angolanos um espaço privile-
giado para mostrar os seus trabalhos a um público qualificado, na sua maioria
estrangeiros que, nesta época do ano, visitam o Estoril, mas também proporcionar
uma visibilidade, sem dúvida útil, ao conjunto de artistas participantes, muitos dos
quais são titulares de currículos artísticos significativos. É o caso de Júlio Qua-
resma, Neves e Sousa, ZaN, Dília Fraguito, Viteix, Dora-iva Rita, João inglês e
outros mais.
De referir também o nome de abílio Victor, um engenheiro químico, nascido em
lucala, desconhecido do grande público e que se especializou na pintura de ani-
mais (principalmente aves) e outros temas da natureza, sem esquecer as pessoas
que ai vivem, sempre com inegável qualidade artística.
a exposição integrou também uma homenagem ao pintor albano Neves e Sousa,
grande pintor angolano, que realizou na galeria do casino exposições individuais
e participou em dezenas de colectivas. Sem dúvida um dos pintores que mais e
melhor pintou as terras e as gentes de angola. n
albano Neves e Sousa
Júlio Quaresma
Cultura
94 • Diplomática - oUtUBRo 2011
A revista Eles & Elas completou 30 anos e a festa, que teve lugar no Restaurante aura,
em lisboa, foi de arromba. Numa belíssima noite de Verão foram imensos os amigos,
bem como as figuras conhecidas das mais variadas áreas, que fizeram questão de pres-
tigiar tanto a revista, que completou três décadas, como a sua directora, maria da luz de
Bragança.
cumprindo a tradição, a Estátua da Verdade, uma peça concebida em bronze pelo escul-
tor Francisco Simões, foi de novo entregue durante o evento. aliás, desde o primeiro ano
da sua existência que a Eles & Elas homenageia as figuras mais relevantes da socieda-
de portuguesa nas mais diversas áreas. Este ano a Estátua da Verdade foi entregue à
consagrada empresária Helena Daget, uma mulher que triunfou num universo de extrema
concorrência e é a presidente da empresa techdrill, sedeada nos Estados Unidos, uma
companhia que dá cartas no universo da perfuração petrolífera.
aquando da entrega do prémio, Helena Daget, claramente emocionada, agradeceu a hon-
ra que lhe havia sido concedida, afirmando que embora já tenha sido a recipiente, noutras
ocasiões, de prémios relativos ao seu trabalho, esta foi a primeira vez que tal sucedeu no
seu país de origem, algo que a deixou extraordinariamente grata. amante confessa da
sua terra natal e das belezas lusas, Helena Daget é bem o exemplo do melhor que a pe-
quena grande nação portuguesa tem dado ao longo dos séculos ao mundo. De parabéns
estão, assim, o universo empresarial, tanto nacional quanto internacional mas também a
revista Eles & Elas. ■
Parabéns a Helena Daget
95OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •
7. The pearls of LusophonyFour countries are leaving a strong mark in the universe of lusophony. Brazil, an emerging giant and a
leader in the affirmation of lusophony are strengthening their bonds and assistance to its former ex-colonial
country, now clearly going through a steep depressive crisis. Overcoming the last remnants of a dramatic
independence, angola has become the country of destiny for many new work and business opportunities
for thousand of portuguese individuals. mozambique is also given signs of a strong growth, built upon huge
projects that make the best of its natural resources, aided by all the investments made around the oil franchise,
thus given signs of new hope for the consolidation of a still young democracy. at the same time, cape Verde’s
is searching in international aid and in the search for foreign investment all the necessary help to overcome the
factors that have so far stopped its sustainable development. ■
7. Les Perles de la LusophonieQuatre pays se distinguent dans le monde lusophone. Brésil, un géant émergent et un leader dans la
déclaration lusophones renforce les liens et les aides à l'ancienne puissance coloniale,traverse actuellement
une phase dépressive.
Dépassé les restes d'une indépendance dramatique, l'angola est devenu un pays de destination pour le travail
et de nouvelles opportunitées de milliers de portugais.le mozambique a également des signes positifs de
croissance élevé, basé sur des méga-projets pour l'exploitationde ses ressources naturelles,et a obtenu un
nouvel éclat avec les investissements réalisés dans le domaine de l'exploration pétrolière, tous les signes
encourageants de consolidation de la démocratie encore jeune.alors que la demande au cap-Vert et l'aide
internationale pour attirer les aides directes aux investissements étrangers nécessaires pour surmonter les
facteurs inhibant son développement durable. ■
10. XVI Meeting of CPLP revealed core strategy The promotion, protection, enhancement and dissemination of the portuguese language as a vehicle of
culture, education, information and access to scientific and technological knowledge and use in international
forums, was one of the fundamental decisions of the sixteenth meeting of the cplp countries, which had the
presence of the portuguese minister of Foreign affairs, paulo portas, in what was his first official visit abroad
since taking the job.
in a global space affected at present by an unprecedented crisis, it is important to note the purposes
announced at this particularly important meeting of the cplp, mainly the supporting of measures that will,
namely, point to the promotion of the growth and development of the member states that are at their most
vulnerable.
another important factor to note was the emphasis placed on the plan of action for the promotion of Brasília
for the Broadcast and projection of the portuguese language, in regard to the consolidation of portuguese
as official and working language in international organizations, particularly those in which the cplp is
represented. When trying to extend its scope of action, one of the measures to be implemented in the near
future, regards the relationship with the UN and, in particular, with its Security council. ■
10. XVI e Réunion de la stratégie de la CPLP a révélé coeurLa promotion, la protection et l'amélioration et la diffusion de la langue portugaise comme véhicule
de la culture, l'éducation,l'information et l'accès aux connaissances scientifiques et technologiques et
l'utilisation dans les forums internationaux, a été l'une des décisions fondamentales de la seizième réunion
des pays de la cplp, qui avait la présence du ministre portugais des affaires Étrangères, paulo portas,
depuis sa prise de l'emploi. Dans un espace global actuellement touchés par une crise sans précédent, il
est noté dans le but de la réunion l' annonce, lors de la réunion de la cplp, des mesures pour soutenir,
qui pointent à la promotion de la croissance et le développement des Etats membres les plus vulnérables.
Un autre facteur important a été l'accent mis sur le plan d'action pour la promotion de Brasilia, la diffusion
et de projection de la langue portugaise, en termes de la consolidation,en tant que langue officielle et de
travail dans les organisations internationales, en particulier lorsque la cplp est représentée. Une des
mesures à mettre en ?uvre dans un proche avenir, concerne les relations avec l'ONU et, en particulier, le
conseil de Sécurité. ■
English & French texts
96 • DiplOmáTica - OUTUBRO 2011
English & French texts
12. Portugal, Europe, Emerging WorldThe current chief executive of the portuguese Bic Bank, luís mira amaral says that portugal faces an
extremely difficult economic and financial situation, being caught in the so-called full sovereign debt crisis of
the peripheral countries of the Eurozone.
Recalling that the global economical geography of the 21st century has changed much from what it was in the
20th century, mira amaral stated that we now have china and india overtaking the U.S. as the major world
economic powers, recalling, on the other side, that in global economy, major emerging countries also stand out
in lusophony space, as is the case of Brazil (a rising star at world level) and angola, as a regional economic
and military in southern africa, where the hegemony was detained until now by South africa. Finally, he states
that portugal will have to engage itself more and more, between the EU side and its lusophony dimension,
which requires a great rapport and strategic cooperation between the political power and the portuguese
entrepreneurs. ■
12. Portugal, Europe, Monde émergentsActuel Directeur Général du Bic Banco portugais, luís mira amaral affirme que le portugal fait face à une
situation économique et financière extrêmement difficile, d'être pris dans la soi-disant crise de la dette totale
souveraine des payspériphériques de la zone euro.
Rappelant que la géographie économique du XXi siécle a beaucoup changé a ce qui concerne à la situation
au cours du siècle.XX, mira amaral a affirmé que nous avons maintenant la chine et l'inde à dépasser
lesEtats-Unis, comme les pouvoirs du premier monde économique,rappelant, de l'autre côté, l'économie
mondiale, les grandes économies émergentes qui se distinguent également dans l'espace lusophone,
comme c'est le cas du Brésil (une étoile montante et le niveau monde) et en angola,en tant que puissance
économique et militaire regionalen afrique australe, où l'hégémonie a été détenu jusqu'à présent par l'afrique
du Sud. pour conclure, en affirmant que le portugal aura à jouer, à chaque fois, entre le côté de l'UE et la
dimension lusophone, qui demande un bon rapport, et de la coopération stratégique entre les politiques et les
entrepreneurs portugais. ■
14. Lusophony, a Large SoulMaria de Belém, the current bench leader of the Socialist party in parliament, addresses the question
of how the portuguese language has become an instrument of aggregation within the portuguese
speaking world, the result of different influences and experiences that have made it rich and
expressive, alive, and adaptable to both the world of today and of tomorrow. a wealth that can be
more experienced, when looking at lusophony as a rich tool, not only from a cultural point of view,
but emphasizing its value as incalculable in terms of politics and economics. That is why it makes
sense tfor it to be tapped as the aim of assertion, and in the search for new geostrategic designs.
in a Europe in crisis, both in terms of values and economics, maria de Belém argues that
portugal must acquire a new dynamic that carries it beyond the European area, a link that may renew
and nourish its diaspora and revive the entire body of the world of lusophony, in order to make it
feel good, “because it feels amongst his own kind”. ■
14. Lusofonia, une Grande ÂmeActuel leader du groupe parlementaire du parti Socialiste, maria de Belem aborde la question de savoir
comment la langue portugaise est devenue un instrument agrégateur du monde de la lusofonie, un produit
d'influences et diferents expériences, ce qui fait sa richesse et expressif, vif, adaptable à l'univers du
present et de l'avenir. Une richesse qui peut être plus vif, face à la lusofonia, non seulement du point de
vue culturel, mais en soulignant le valeur inestimable en termes politique et économique. c'est pourquoi il
est logique qu'il soit exploité que dans le but d'affirmation, de trouver de nouveaux désirs géostratégiques.
Dans une Europe en crise, les valeurs et l'économie, affirme maria de Belem que le portugal doit acquérir
une nouvelle dynamique, que le transport au-delà de l'espace européen, un lien de renouveler et nourrir
notre diáspore et que le fait se lancer, de tout le corps, dans le monde lusophone, où il se sent bien,
“parce qu'il se sent parmi les siens." ■
97OUTUBRO 2011 - DiplOmáTica •
16. Eng. Anacoreta Correia, secretary-general of UCCLAHe has worked as a state councillor, a former minister, European Deputy and is the most visible face of
Uccla (Union of the portuguese-speaking capitals), an organization that fights to bring together people from
the various cities, located in five continents, where portuguese is spoken, developing a wide cultural, socio-
economic and geo-strategic activity, particularly in the expansion and defense of the language of camões
and national companies. anacoreta correia states that in a situation of global competitivity one should
promote the entry of domestic companies in the emerging portuguese speaking nations, advocating a more
active presence in Brazil’s Uccla. ■
16. Eng Anacoreta Correia, secrétaire général de l'UCCLAIl a été consillier d'Etat, ancien ministre, député européen, est la face la plus visible de l'Ucla (Union des
capitales de la langue portugaise), une organisation qui se bat pour rapprocher les peuples des villes
situées sur les cinq continents où le portugais est parlé, pour développer une action globale culturel, socio-
économiques et géostratégiques, en particulier l'expansion et la défense de la langue de camões et des
sociétés nationales. anacoreta correia soutient que dans un contexte de concurrence mondiale croissante,
nous devrions encourager l'entrée des entreprises nationales dans les marchés émergents, parlant, luttant
pour une presence plus actif de l'Uccla au Brésil. ■
24. Mário Vilalva, Ambassador of Brazil in PortugalAdept of the so-called economical diplomacy, the ambassador of Brazil in portugal highlights how, after twenty
years elapsed before his return to lisbon, he found a different country, a more modern one, and states
that one of his main objectives is the strenghtening of trade relations between Brazil and portugal.
mario Vilalva announces the creation of a new economical instrument for cooperation, named Business
intelligence, that aims to help companies to export to its brother country, identifying existing obstacles
and stressing how crucial it is to establish an agreement between mercosul and the European Union. ■
24. Mário Vilalva, Ambassadeur du Brésil au PortugalAdepte de la diplomatie économique appelée, l' ambassadeur du Brésil au portugal met en évidence
comment, après vingt ans se sont écoulés après son retour à lisbonne, il a trouvé un pays différent, plus
moderne, affirmant que l'un de ses principaux objectifs c'est le renforcement des relations commerciales entre
le Brésil et le portugal. mário Vilalva annonce la création d'un nouvel instrument de coopération économique,
appelé Business intelligence, avec le but d'aider les entreprises portugaises à exporter vers le pays frère ,
l'identificant des obstacles créés, il insiste, soulignant qu'il est crucial d'établir un accord entre le mercosur et
l'Union Européenne. ■
34. Miguel Costa Mikaima, ambassador of MozambiqueThe mozambican diplomatic representative in lisbon talks of bilateral relations, that are getting increasingly
profitable, between portugal and mozambique, noting that to attract portuguese investment has been one of its
objectives, having with that in mind, created a specific sector for that effect in the embassy.
Fighting problems such as hunger and poverty in his country has become a key issue in governance, at a
time when the former colony celebrates its 25 years of post-independence by contributing to what he calls
“the recovery of self-esteem of the mozambican people”. married and with four children, michael mikaima
appreciates the hospitality of the portuguese, emphasizing the full integration into society of his countrymen. ■
34. Miguel Costa Mikaima, Ambassadeur de MozambiqueLe représentant du mozambique à lisbonne parle sur les relations bilatérelles,en plus rentable,entre le
portugal et le mozambique, en soulignant que d'attirer les investements portugaises a été l'un de ses
objectifs, créant même un departement spécifique dans ce sujet dans l'ambassade. il afirme que le combat
contre la faim et la pauvreté dans son pays est devenu une question clé en matière de gouvernance, à une
époque où l'ancienne colonie célèbre ses 25 ans dans la post-indépendance, ce qui contribue à ce qu'il
appelle «la récupération de l'estime de soi du peuple mozambicaine». marié, avec quatre enfants, michael
mikaima apprécie l'hospitalité des portugais, en insistant sur la pleine intégration, dans la société, de ses
compatriotes. ■
98 • DiplOmáTica - OUTUBRO 2011
English & French texts
57. Day of Portugal and CamõesMore than seven thousand people attended the celebrations of Day of portugal and camões, the great poet
who perpetuates in his work the lusíadas the story of the portuguese Discoveries. This year the ceremonies
took place in the city of castelo Branco and the focus in the speech of the president was on the call for the
people to go back to the countryside and to working in agriculture, an area that has been terribly neglected in
recent years, and also appealing to the political powers for more determinant action in this sector. The entire
credited diplomatic corps in portugal was present for the usual greetings ceremony to cavaco Silva, and the
official ceremonies were followed by a show in the Gardens of the palácio Episcopal, starring luís Represas
and Teresa Salgueiro. ■
57. Le Portugal et la Journée de CamõesPlus de sept mille personnes ont assisté à la célébration de la Journée du portugal et de camões, le grand
poète qui perpétue dans les lusíadas, la geste des Découvertes portugaises. les cérémonies ont eu lieu cette
année dans la ville de castelo Branco et l'accent mis dans le discours du président de la République abouti à
l'appel à la ruée vers la campagne et l'agriculture, qui a été tellement négligée ces dernières années, faisant
appel aux pouvoirs politiques à une action décisive dans le secteur. Tout le corps diplomatique credité au
portugal a eté présent dans l'habituelle cérémonie de compliments devant cavaco Silva, suivie d'un spectacle
dans les jardins du palais de l'Evêché, où ont chanté luis Represas et Teresa Salgueiro. ■
40. Passos Coelho, a “portrait” of the new Prime MinisterA liberal reformer, feisty, stubborn, tough fight insofar as the party is concerned, the african continent has
been branded in his life, having spent there his youth, and shaped his experience in a multiracial spirit that
remains until today. On the very night he was elected, passos coelho recalled the role that portugal can play
in establishing this “bridge”, perhaps crucial for the survival of the country, between the portuguese-speaking
africa and Europe. The tasks of the new Executive were outlined right at the inauguration speech: to stabilize
the finances, help the needy and make sure that the economy and employment were to grow. all at the
expense of the austerity measures imposed by the “troika”, measures that he intends to comply with as strictly
as possible, in order to give a positive sign that portugal is on track to its economic recovery. ■
40. Passos Coelho, un «portrait» du nouveau Premier MinistreUn réformateur libéral, fougueux, opiniâtre, dur dans le combat au parti, le continent africain a marqué,
dans sa vie, où il a passé sa jeunesse, le façonnage de leur expérience dans l' esprit multiraciale, qui reste
aujourd'hui. Dans la nuit même où il a été élu, passos coelho a rappelé le rôle que le portugal peut jouer dans
l'établissement de ce «pont», peut-être crucial pour la survie du pays, entre le monde africaine lusophone
e l' Europe. les tâches du nouvel exécutif, il les a énoncés à droite au discours d'investiture: stabiliser les
finances, aider les nécessiteux et la croissance de l'économie et l'emploi. le tout aux frais des mesures
d'austérité imposées par la «troïka» et qu'il entend se conformer strictement, afin de donner un signe positif
que le portugal est sur la bonne voie du redressement économique. ■
87. Instituto Camões presides EUNICThe presidency of the instituto camões EUNic will coincide with “a qualitative leap in the functioning of this
European network responsible for the external relations of the EU member states, currently bringing together
30 institutions in 26 countries, and whose objective is to promote cultural cooperation by partnerships between
professionals of the cultural, educational and youth sectors”. as ana paula laborinho, the president of the ic,
revealed, according to the signature of the new statutes, EUNic becomes an “association with legal personality.” ■
87. Instituto Camões chaises EUNICLa présidence de l'EUNic par l'instituto camões coincidera avec «un saut qualitatif dans le fonctionnement
de ce réseau européen”, responsable pour les relations extérieures des Etats membres de l'Union Européene,
réunissant actuellement 30 établissements dans 26 pays, et dont l'objectif est de promouvoir la coopération
culturel, grâce à des partenariats entre les professionnels des secteurs culturels, éducatifs et de la jeunesse.
"En tant que président de l'ic a révélé, ana paula laborinho, selon la signature des nouveaux statuts, EUNic
devient "une association ayant la personnalité juridique." ■