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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
DIÁLOGOS SOBRE VIOLÊNCIA DE GÊNERO: COM A PALAVRA,
MULHERES TRABALHADORAS RURAIS BAIANAS.
Maria Asenate Conceição Franco1
Márcia Santana Tavares2
Resumo: A violência de gênero contra mulheres é uma violação de direitos humanos que atinge
mulheres independente da geração, grupo étnico, região e/ou classe social a que pertençam. Mirar
esse fenômeno social, em contextos rurais baianos, emerge de inquietações pessoais e acadêmicas,
instigadas pela lacuna nas pesquisas científicas sobre violência contra mulheres rurais. A violência
de gênero contra mulheres rurais é produzida e reproduzida pela ordem patriarcal de gênero e traz
como agressor o cônjuge ou ex-cônjuge. Materializa-se através de atos brutais, embora nem sempre
deixe marcas visíveis ou seja percebida pelas mulheres como violência e, a organização social de
gênero contribui para naturalizar polos antagônicos: homens opressores, mulheres oprimidas. A
ausência de políticas públicas e a dificuldade de acesso a direitos nas áreas rurais contribuem para
manutenção dessa violência. Baseado na perspectiva de gênero e feminista, este artigo problematiza
a violência de gênero em contextos rurais, a partir de relatos de mulheres sobre violência enfrentada
por elas, parentes, vizinhas e amigas, os quais vêm sendo coletados durante trabalho de campo da
minha pesquisa de doutorado, em desenvolvimento, que discute a questão da mulher trabalhadora
rural e o fenômeno da violência de gênero imersa nas suas vidas, tendo o patriarcado como categoria
fundante dessa opressão “naturalizada”.
Palavras-chave: Gênero. Violência de Gênero. Mulheres Trabalhadoras Rurais. Patriarcado.
À guisa de introdução
Considerada como fenômeno social visível mundialmente, a violência contra as mulheres é
baseada na ideologia de gênero e se materializa por meio de discriminações e violações de seus
direitos humanos. Por ser universal, independe de classe social, raça/etnia, idade/geração, castas e
condição sexual (TAVARES; SARDENBERG; GOMES, 2011)
Este artigo emerge de inquietações acerca da invisibilidade no acervo bibliográfico sobre
violências de gênero contra mulheres domiciliadas em contextos rurais baianos, bem como, ouvir
gritos de socorro na polifonia de mulheres baianas silenciadas e invisilizadas na condição de sujeitos
e objetos de suas histórias de vida (PERROT, 1995; DEL PRIORE, 1998). Mulheres, ao evocarem
1 Doutoranda do Programa em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo/UFBA; Assistente Social
do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano.
[email protected]/[email protected]. 2 Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia – UFBA. Professora e Coordenadora do Programa de
Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo – PPGNEIM/UFBA. E-mail:
[email protected]. (Orientadora)
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Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
suas trajetórias de vidas, puderam desnudar as multifaces da violência e suas vidas, materializadas ou
simbolizadas através de opressões, objetificações, ‘lugares sociais’, sujeições, e mais, relação
patriarcal de gênero para lhes assegurar que tinham ‘donos’.
No sentido mais geral, analisaremos inicialmente aspectos metodológicos da pesquisa,
seguindo com explanações breves sobre mulheres que continuaram as lutas em favor dos direitos
femininos; e na sequência, as abordagens teóricas da violências de gênero e o sujeito feminino;
entretanto, vozes (não) silenciadas, evocam violências “sem sangue”3 (BANDEIRA, 2013) capazes,
tamanha atrocidade, de não somente destruir as identidades de mulheres acometidas por violências
dessa natureza, como abrir feridas na alma ( SAFFIOTI, 2004); sumarizando com arremates finais.
A problematização sobre o fenômeno social violências de gênero em comunidades rurais das
cidades baianas de Governador Mangabeira e Muritiba, teve como procedimento uma pesquisa de
campo realizada no primeiro semestre de 2017; de abordagem qualitativa e, quanto ao objetivo,
exploratória. Já seus dados empíricos foram obtidos através das técnicas observação participante
assistemática e a recolha de histórias de vida, métodos qualitativos de análise (DEBERT, 1986). Mais
adiante, a autora advoga em defesa da utilização da história oral para produzir ‘novos conhecimentos’.
Para ela, a seleção de segmentos sociais das classes populares oprimidas, preteridas durante o
processo sócio- histórico, ao se tornarem sujeito e objeto de suas histórias de vida, consequentemente,
suas narrativas (silenciadas) evocadas contribuirão para ampliar o acervo historiográfico oficial.
A bem dizer, Thompson (1992) adverte sobre a indissociabilidade entre as histórias e seu
objetivo social, e complementa ser a história oral uma ferramenta capaz de ressignificar o sentido das
vidas de pessoas não letradas. Neste sentido, o autor reafirma a valoração da escolha do objeto de
estudos, em particular, mulheres rurais limitadas em seus saberes acadêmicos, todavia autoras
doutoras de suas histórias de vida. Narrativas evocadas sem pretensão de seguir linearidade
diacrônica, as memórias emergiram seguindo a vontade das entrevistadas e, como bem diz Debert
(1986, p. 143), “[...] a periodização que as mulheres faziam da história de suas vidas estava
indissoluvelmente ligada à leitura que fazia de sua experiência de vida atual e ao contexto a partir.”
Já com as mulheres trabalhadoras rurais entrevistadas, quando solicitadas a ‘contarem sua história de
vida’, foi recorrente iniciarem as narrativas a partir de seu momento atual, ao invés de rememorarem
sua infância, não obstante, esta, inexoravelmente, emergisse.
3 Terminologia utilizada pela professora socióloga Lourdes Bandeira. A autora ressaltou o emprego da expressão quando
coordenou pesquisa realizada na Delegacia Regional do Trabalho (DRT- DF) entre os anos 2001 e 2002.
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Em suma, valemo-nos do jogo de palavras da canção popular: “Eu vejo o futuro repetir o
passado...”, ou seja, o continuum na violação de direitos humanos de mulheres na sua historiografia,
embora movimentos políticos de mulheres tenham surgido e permanecem na luta.
As ações sociopolíticas dos movimentos feministas e movimentos de mulheres no Brasil são
incansáveis em defesa da mulher singular e plural. Não obstante, a intensificação desse processo se
dá a partir dos anos 1970. Contudo, o fenômeno da violência contra as mulheres ganha pujança nas
pesquisas, sobretudo feministas, na década de 1980, cenário de redemocratização e polifonia de
segmentos sociais ‘invisíveis’ até então na sociedade brasileira (SANTOS; IZUMINO, 2005).
Baseado na perspectiva de gênero e feminista, o artigo aqui apresentado, objetiva
problematizar a violência de gênero em contextos rurais, a partir de relatos de mulheres sobre a
violência enfrentada por elas, parentes, vizinhas e amigas, os quais vêm sendo coletados4 durante
trabalho de campo da minha pesquisa de doutorado, em desenvolvimento, que discute a questão da
mulher trabalhadora rural e o fenômeno da violência de gênero imersa nas suas vidas, tendo o
patriarcado como categoria fundante dessa opressão “naturalizada”.
Violências de gênero e o sujeito feminino.
O fenômeno da violência de gênero contra a mulher, como ressalta muito bem Bandeira
(2014), apresenta-se na vida social como polissêmico, multicausal e multiforme. É comum haver
relação assimétrica de gênero e, consequentemente posiciona a mulher como oprimida, submissa,
isolada, medrosa, intimidada (Ibid.). Nas palavras da autora, “[...]. É considerada como uma ação que
envolve o uso da força real ou simbólica, por parte de alguém, com a finalidade de submeter o corpo
e a mente à vontade e liberdade de outrem (p. 460).”
Sequenciando, Lisboa (2014) ao ampliar discussões referentes à violência de gênero, políticas
públicas e serviço social, chama a atenção quanto à visibilidade do fenômeno social da violência de
gênero nas intervenções de assistentes sociais. E ainda ressalta a diversidade da violência de gênero
para além dos atos brutais visíveis, cujas manifestações se corporificam silenciosamente, podendo ser
denominada “violência sem sangue” Portanto, é oportuno trazer a fala de uma das mulheres rurais5,
referindo-se à violência moral, que assim evocou: “[...] tem certas palavras que é pior que um tapa”.
4 A pesquisa de campo foi concluída, embora na elaboração deste trabalho estivesse em andamento. 5 Depoimento que antecedeu a pesquisa de campo, dado durante a implementação do Projeto extensionista: “A MARIA
DA PENHA” EM MOVIMENTO: conversando e aprendendo sobre violência contra a mulher em contextos rurais das
cidades baianas, de Governador Mangabeira e Muritiba, desenvolvido em 06 comunidades rurais, de outubro/2015 a
maio/2016, que objetivou promover e contextualizar ações político-educativas inspiradas na pedagogia feminista
transformadora que visibilizassem multifaces das violências de gênero contra mulheres campesinas baianas e
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Conforme demonstrado, a violência contra a mulher se desdobra na relação assimétrica de
gênero, contudo, Lisboa, referenciada pela Organização das Nações Unidas - (1993) (apud
VELÁZQUEZ, 2006, p. 26) concebe: “Violência de Gênero é todo o ato de violência que tenha ou
possa ter como resultado um dano ou sofrimento físico, sexual e psicológico para a mulher, inclusive
as ameaças de tais atos, a coação ou a privação arbitrária da liberdade, tanto produzidas na vida
pública como no espaço privado”. Tal categoria é materializada diferentemente, conforme prossegue
a autora, citando Velázquez:
[...], a violência de gênero nos conduz a abordá-la desde a perspectiva individual até a do
coletivo. Leva-nos, também, a repensar os limites da ética e dos direitos humanos. [...],
violência de gênero engloba várias formas de violência: violência doméstica, violência contra
a mulher, violência familiar ou intrafamiliar, violência conjugal, violência sexual (no interior
da família e em diferentes âmbitos da comunidade), violência psicológica, patrimonial,
tráfico de mulheres e de meninas para fins de prostituição etc. As temáticas mais específicas
como o abuso sexual de crianças e adolescentes, maus-tratos infantis, incesto (violências
exercidas especialmente pelo fato de serem mulheres) também estão incluídas nesse vasto
“guarda-chuva” que abriga a diversidade de tipologias que cabem no conceito.
Acrescentemos nesse “guarda- chuva”, a violência contra pessoas idosas, precisamente, contra
mulheres velhas, geralmente acometida por parentes, genros6, agregados ou mesmo pessoas
desconhecidas da agredida. Ressaltamos a discussão acercada de gênero e velhice, é bem difundida
pela socióloga e pesquisadora Britto da Motta. A autora, baseada em pesquisas, salienta serem pessoas
mais jovens, responsáveis por atos brutais contra mulheres idosas, no geral, membros da família. E
continua suas críticas ao discordar da invisibilidade nas pesquisas, até mesmo feministas, ao omitirem
dados sobre violência contra mulheres velhas; enfatiza que a violência não faz acepção de idades,
ocorre desde a infância à velhice. No entender de Britto da Motta (2010, p. 87):
[...] a violência contra as mulheres não se restringe à vitimização daquelas em idade jovem,
no período reprodutivo, como retrata a grande maioria dos trabalhos. Ao contrário, essa
violência se inicia na infância, continua na juventude e assume novas formas, velhice adentro.
Confluências nas pesquisas sobre violência de gênero contra mulheres têm repercutido nas
arenas de debates feministas, entretanto, é fulcral o entendimento das manifestações violentas, bem
como dos espaços/ cenários em que são cometidas, além das condições das mulheres agredidas. Não
obstante as multifaces da violência de gênero, citando Soares (2002), estas costumam, como nos
ensina Saffioti (2004), advirem mais comumemente do homem contra a mulher, em decorrência de
potencializassem lutas e resistências feministas contra o patriarcado, fundante da opressão, dominação, exploração,
discriminação e desigualdade entre homens e mulheres. 6 Por exemplo, uma das entrevistas, com 88 anos, foi submetida às violências psicológica, patrimonial e moral pelo ex-
companheiro da filha, com histórico de reincidências de violência, o qual chegou ao ponto de cometer a expressão
máxima: o feminicídio.
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uma série de causalidades. A autora então ressalta que: “Violência de gênero, inclusive na sua
modalidade familiar e doméstica, não ocorre aleatoriamente, mas deriva de uma organização social
de gênero, que privilegia o masculino” (p. 81). Não obstante, Santos e Izumino (2005) ampliam essa
discussão sobre violência de gênero, ao mencionarem o trabalho realizado pela segunda autora7. Para
ela, mulheres em situação de violência, ao denunciarem seus agressores, esvaziam o conceito de
patriarcado, logo, a sujeição da mulher ao poder do macho.
A bem dizer, há casos em que mulheres têm seus direitos violados e não se mantêm estáticas,
passivas, incorporam o sujeito político. Destarte, a crítica de Santos e Izumino (2005) ao analisar
Saffioti (2004, p. 75), recai sobre a relevância do patriarcado quando concebe violência como
dessimetria entre homens e mulheres e, neste sentido, Saffioti, refere-se à violência de gênero nas
modalidades intrafamiliar e doméstica, que alimenta a sujeição das mulheres aos homens, já que para
ela: “[...] paira sobre a cabeça de todas as mulheres a ameaça de agressões masculinas, funcionando
isto como mecanismo de sujeição aos homens, inscrito nas relações de gênero”. No entanto, a autora
é enfática na discussão e salienta tratar-se de “mecanismo de ordem social, cada mulher o interpretará
singularmente. Neste caso, as relações de gênero atravessadas por atos brutais, se denunciadas não se
constituem violência de gênero; há mulheres capazes de romper ‘o fantasma’ da omissão, inércia,
apatia, ou para melhor dizer: o medo.
Em seguida, analisaremos manifestações de violência de gênero: expressões sem sangue
(BANDEIRA, 2013), expressões com sangue; episódios ocorridos desde a meninice à velhice.
Destacamos também a violência multigeracional.
Expressões da “Violências sem sangue”
Na sequência, narrativas evocadas pelas entrevistadas8 exemplificam nitidamente a tipologia
de violências que não deixam marcas no corpo, entretanto, são ‘perceptíveis’ na alma, analisemos:
7 Izumino, Wânia Pasinato. Justiça para Todos: Os Juizados Especiais Criminais e a Violência de
Gênero. Tese de Doutorado. Departamento de Sociologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.
8 Todas assinaram Termo de Consentimento Livre e Esclarecido- TCLE. Os nomes mencionados, são fictícios.
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Maria Felipa, 41 anos, 01 filha e 01 filho, reside com a genitora, trabalhadora rural, é auxiliar
de serviços gerais, sem companheiro. Atualmente preside a Associação Comunitária de onde mora.
Entrevistada na varanda de sua casa com pouca luminosidade (escolha da entrevistada).
Minha infância [...] em termo de colégio sofria bullying que era tinha apelido de lubizone
que isso me machucava por demais. [...] mas no colégio foi assim difícil mesmo que tinha
dificuldade de pegar os assunto tudo isso os colegas ficava fazendo hora da cara e tudo. Os
penteado que minha mãe fazia tranças, fazia duas trança uma subia e outra descia e era
chamada também de vaca mucha, que era o chifre da vaca.
[...] eu disse à moça que veio me pegar pra trabalhar ela disse que eu ia estudar e.[...] ela me
enganou e não me botou pra estudar. [...] ela me enganou e não me botou pra estudar.
[...] trabalho, foi uma das fase pior da minha vida, porque onde ali sofria praticamente
violência porque só comia depois que eles almoçassem é o resto que ficava. Porque se fosse
tipo frango ficava só os ossos ai ou comia ou ficava com fome. De manhã pra tomar café a
mesma coisa, tinha que trabalhar que nem burro de carga pra depois comer alguma coisa, se
quisesse comer só o resto, se não quisesse comer ficava com fome. Então é uma fase assim
difícil que domestica nenhuma merece passar por essa fase, [...]
[...]era sempre a mãe que botava sempre a gente era fazer alguma coisa e os meninos sempre
ia jogar bola, ia brincar com outra coisa ia sentar pra assistir televisão.
[...]o homem chegar e dizer assim você tá feia, oh paí como tá gorda, o tamanho dessa barriga,
isso não tem violência pior do que a mulher se arrumar, se achar que tá linda e maravilhosa
e o homem chegar, mesmo ele sabendo que ele tá bonita e só pra botar ele pra baixo diz
assim: tu tá feia, vai tirar essa roupa, vai vestir outra não tá vendo que tu tá feia. [...].
[...]menosprezar a mulher, humilhar a mulher. [...] mas vim com violência em palavras ai
isso tudo me deixa assim constrangida
[...]no colégio tava uma turma de menina assim clara ai eu passei e ai elas: e ai nega do cabelo
duro. Ai eu simplesmente virei pra ela assim: sou negra do cabelo duro sim com muito
orgulho, tem alguma coisa contra
[...]ele me ameaçava por demais, dizendo que eu nunca iria conseguir um trabalho, pra mim
A vida de Maria Felipa é recheada de opressões: Infância violada, trabalho infantil, negaram-
lhe o direito à educação formal quando foi trabalhar como doméstica, ‘escrava” nas palavras dela.
Violência racial, misoginia materializada quando não possuía ‘a boa aparência’, logo, contrária aos
padrões de beleza, sujeita à gordofobia9, potencializam violências sem sangue perceptíveis na
linguagem corporal da entrevistada ao narrar sua evocações (olhar fixo em determinado ponto,
respiração forte, rodeios para iniciar a entrevista, morosidade para concluir o pensamento a ser
explicitado, olhar cabisbaixo, sentou-se encostada na parede segurando as pernas pelo joelho).
9 “A gordofobia é uma forma de discriminação estruturada e disseminada nos mais variados contextos socioculturais,
consistindo na desvalorização, estigmatização e hostilização de pessoas gordas e seus corpos. As atitudes gordofóbicas
geralmente reforçam estereótipos e impõem situações degradantes com fins segregacionistas...” (ARRAES, 2014, s/p).
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Zeferina, 40 anos, mora sozinha, sem prole, é professora de Fundamental I, liderança
comunitária, ex- vereadora, ex- presidenta do Sindicato Rural, assume cargo chefia no referido
Sindicato.
Já passei por violência psicologia. [...]. No momento agora é uma coisa que ainda to tentando
sabe é, curar (risos) por essas todas palavras que foram muitos fortes. [...] Exatamente por
uma mulher. Uma mulher pra mulher e que realmente problemas que a mesma mulher pode
ter. Então são feridas que eu prefiro assim, sabe... to procurando cicatrizar, ta cicatrizando.
Mas são coisas psicológicas que você fecha os olhos as vezes você vem, você ta andando as
vezes não ta pensando em nada você vem..., então as vezes como é que é, o físico, a violência
física nem te machuca tanto...aquele pensamento, ... aquela coisa psicológica que tem na sua
mente o tempo todo. E já sofri com isso.
[...] assédio. [...] Quando a gente ocupa esse cargo assim, de autoridade a gente às vezes é
menosprezado tem homens que horas sim as vezes não quer dá tanta importância de vez em
quando, chegava nele assim eu era magrinha, ai o pessoal olhava pra ele assim né, tentava
então tem muita coisa, novinha 20 e tantos anos, magrinha assumindo a presidência do
sindicato. Então não foi tão fácil. E assédio isso a gente encontra em todo momento, que tem
homem que acha pelo fato da mulher ser independente, da mulher ocupando cargo, ele acham
que pode tá assediando. [...] Homem sim, quando eu terminei de atender, ele logo interessado
e tal ele me perguntou você tem namorado? Ai eu disse não. Então já que você não tem
namorado eu sinto a total liberdade. Ai eu disse: então qual é a liberdade que você acha que
pode ter? Ele disse: já que eu preciso terminar de resolver o que eu tenho que resolver com
você novamente, que eu queria que não fosse aqui. Que a gente pudesse ir jantar. [..] Ai ele
disse: porque a gente se sentiria mais a vontade a sós. Eu disse: quem disse pra você que eu
teria de ficar a sós com você? Ai ele disse: mais que você é uma mulher e uma mulher não
pode ficar sem home, não sei o que. Eu disse: sim, uma mulher não pode ficar sem o homem?
E quem disse que você é o homem que eu quero ficar? [...]
[...] Se o senhor me trata com educação eu trataria o com educação, eu lhe exigir os
documentos necessários. Mais aquela questão o senhor disse quem sou eu, essa aqui que não
é nada pro senhor não vai assinar mais documento
Durante a entrevista realizada na Sede do sindicato rural, houve constantes interrupções,
telefone celular sempre tocando, pessoas à sua procura, vida em movimento. Zeferina manteve a
aparência agitada. A entonação da voz variava, ao falar da vida familiar e da militância era segura,
entretanto, vida afetiva, percebia-se lacunas sem pretensão de preenchê-las.
A violência intragênero, ‘abriu ferida’ de difícil cicatrização, enquanto as perpetradas por
homens fizeram-na sentir-se segura para enfrentar.
Anastácia, 40 anos, mãe de 01 filha e 01 filho, trabalhadora rural e empregada doméstica,
sem companheiro.
Então eu já vi muito homem pegando minha mãe estuprando, usando [...].
[...]. Ai fui pra outra casa trabalhar, quando cheguei em outra pra trabalhar também eu tinha
na base 11 ano eu dormia numa área de serviço que quando chovia que era aberto em
Salvador, eu passei a acordar toda molhada ai eu tinha que ir pro banheiro encharcada só
tinha um coberta e amanhecia no vaso sanitário. [...]
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[...] Agora ela não é assim carinhosa uma vez ela respondeu assim pra mim, ah, só tem uma
irmã minha que casou, mas só que a gente nenhuma é casada, as três. Ai ela falou assim
comigo: seu soubesse que você ia ser tudo pra puta eu tinha pisado na cabeça de vocês (ainda
fez assim com o pé) eu falei oh mãe não fala isso, não fala isso da gente quem era a senhora,
quem era a senhora mãe, pra falar isso. Ai ele ficou quieta eu disse oh mãe não fala isso não,
a senhora tem que dar graças a Deus que a gente não é nada disso, que a gente não casou,
mas, casamento não quer dizer nada. [...]
[...]. Minha vida adulta é sofrida também, porque eu não tive sorte, que dizer morei 10 anos
com uma pessoa, que eu fui morar com esse rapaz de 16 ano, tive minha primeira menina
que morreu de pneumonia. Ai que eu engravidava e perdia, ai na história eu tive 8 filhos, 8
perda, engravidando e perdendo eu tinha 16 ano, eu tomei remédio em Salvador chama
cintotec, ai depois disso eu engravidava e perdia, engravidava e perdia porque por segurança
tinha que ficar de repouso, muito repouso. Ai eu engravidava e perdia, ai com 16 ano
engravidei de minha primeira menina, a menina morreu com 6 meses de pneumonia[...], [...]
fui pra São Paulo fiz um tratamento lá e engravidei dessa menina. Quando eu tava lá, o pai
dela saia toda noite, eu cuidava dele porque ele tava doente também, pra tratar dele chegou
lá ele arranjou outra uma colega minha que dizia que era colega minha e ficou. Eu vim me
embora com ela e 5 mês grávida. [...]. Quando o irmão dele chegou e falou ele era doente o
irmão: Maria tenho um negócio pra te contar. Eu falei o que Zezeu? Renato ta com uma mulé
lá, a mulé todo dia vai buscar, aliás ele tava com ele a muito tempo desde que você tava lá.
[...] ligava pra mim todos os dias, tinha dia que me ligava 3 vezes ai foi indo, foi diminuindo
os dia, os dia. Não sentia que no dia acho que ele me traiu eu senti. Eu fali oh Leo, tô sentino
que você ta me traindo. Ele: não, não to te traindo. Teve alguma coisa que você ta me traindo.
[...]. Parecia que não era ele, parecia que era outra pessoa que esta distransformado gritava
no telefone de um jeito ai falou: oh, tô ligando pra terminar, não quero mais você já tenho
outra aqui. Ai nesse dia foi um desespero, eu quase que entrava em depressão, pedi muitas
vezes pra mim [...] (segundo relacionamento)
Anastácia experienciou uma diversidade de violências10. Foi violentada sexualmente duas
vezes ainda na fase infanto-juvenil. Alegações de pessoa adulta no tocante à ausência de alimentos
na família da entrevistada fizeram-na ir morar com a madrinha para “não morrer de fome” na roça,
entretanto, morrer simbolicamente quando estuprada pelos maridos das mulheres, suas patroas.
Antes, porém, enfrentou a violência familiar recorrente no seu cotidiano. Resiliente ‘, a
entrevistada relatou ser a vontade de ajudar o próximo o remédio para suas dores da alma.
Antonieta,54 anos, viúva, trabalhadora rural, 04 filhas, mora sozinha.
[...] , ai ele ia tocar fogo no colchão pra eu não durmi na cama; [...] botou o revolve debaixo
de trabiceiro, disse que ia mi matar, tirar minha vida. [...], não saia pra canto nenhum[...].
[...], o homem era muito valentão[...]
[...] da roça pra casa. Ele não deixava sair com ninguém novo não, [...] só com as veas, [...]
Ele dizia que botava um bolo da comida por causa das fias, por causa de mim ele não botava,
tinha que morrer de fome [...] [...] pegava o sofá assim oh! (Levantou e fez gesto com a mão)
suspendia de lá da tea e pá, pá, pra quebrar tudo. [...] [...] ai ele mostrou: aqui o revolve, isso
aqui [...], o pá ai, eu falei: atira? Um dia eu falei: atira pa tu vê? Nesse dia acho que foi Deus
que me ajudou pra falar, sai fora pra eu responder isso. [...] eu fiquei piou do que na cadea;
eu ficava pior do que na cadea. [...] a gente votarva na merma da hora quando ia nuha reza,
ele pegava o carro e ia busca. Tinha samba, tinha festa, a gente não ficava. [...] [...] só andava
com a lasca de facão, canivete e revolve, só tirava quando ia durmi. [...] lascou minha saia
10 Neste trabalho, limitou-se às violências sem sangue.
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quando eu passei nessa porta (mostro-a), minha saia era rala; ai ele me disse: troca essa saia!
[...]. Ele pegou o facão e lascou as duas bandas
Antonieta11, durante nossa conversa, mostrou-se cabisbaixa, olhando sempre para o chão, de
vez em quando, olhava meio de lado, sorria, mas não naturalizava, recorria à filha para ratificar na
rememória de episódios cotidianos. Com baixo tom da voz, às vezes afônica, o que sugeria que
certamente foi ‘domesticada’ pela gramática12 sexual (SAFFIOTI, 1999).
As falas de Maria Felipa, Zeferina, Anastácia e Antonieta evocam a sujeição feminina aos
seus “proprietários” e, confirmam ser a violência de gênero sem sangue capaz de ferir suas almas em
nome do laço matrimonial reafirmado pelo patriarcado, “um problema privado e familiar que pode
ser resolvido se as leis e as políticas públicas tratarem as mulheres como sendo exatamente iguais aos
homens” (PATEMAN, 1993, p. 35).
Mulheres oprimidas em contextos rurais baianos, como afirmam Scott; Rodrigues; Saraiva:
“ONDE MAL SE OUVE OS GRITOS POR SOCORRO”, seguem invisíveis, longe das estatísticas e
de políticas de proteção social à mulher em situação de violência (SCOTT, RODRIGUES;
SARAIVA, 2010; SAFFIOTI, 2004). Materializadas nos corpos femininos tendo como cenário
privilegiado os espaços domésticos; é então, a violência contra a mulher constructo social, categoria
histórica e cultural. Como guarda- chuva capaz de ‘guardar’ desde marcas visíveis a cicatrizes não
vistas a olho nu, que, embora perpetradas há 17, 20 anos, são rememoradas em meio a tensão,
angústias, olhares cabisbaixos, tristezas, como percebido durante as narrativas das entrevistadas.
Demarcada na violência contra mulheres, a relação patriarcal de gênero, imersa numa
constelação de problemas inerentes ao domínio masculino, cujo poder de macho violento busca no
grupo de menor potência, a exemplo da cônjuge, agir brutalmente. No entanto, Saffioti (2004, p. 51)
ressalta que o poder tem “[...] duas faces: a da potência e a da impotência. As mulheres estão
familiarizadas com esta última, mas este não é o caso dos homens, acreditando-se que quando eles
perpetram violência, estão sob o efeito de impotência”. A autora também chama a atenção sobre o
fato de as mulheres se passarem como coniventes quando agredidas, no entanto, é próprio da natureza
humana a força física masculina ser transmitida de modo desigual à força física da mulher, no caso
das entrevistadas, a ausência de políticas púbicas, moradias afastadas dos centros urbanos,
dificuldades de locomoção, inviabilizam agirem contra seus agressores. Essas mulheres, no entender
11 Participou assiduamente do projeto de extensão: “A Maria da Penha em Movimento” desenvolvido por mim na sua
comunidade. 12 Conjunto de regras que definem papéis sexuais de homens e de mulheres. Ver, por exemplo, Saffioti (1997).
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de Saffioti (2004), inexoravelmente, cedem aos atos brutais com ou sem sangue, mas não consentem
na violação de seus corpos e almas.
Decerto, as marcas nas almas de Maria Felipa, Zeferina, Antonieta e Anastácia13 são
constantes nas histórias de vidas das mulheres (SOIHET, 2000). Ocorrências violentas contra
mulheres, geralmente vêm acompanhadas por essa modalidade sem marcas visíveis (SAFFIOTI,
2004). Nas palavras de Bandeira (2013, p. 73-74),
[...] ‘violência sem sangue’; ocorrem concomitantes e não deixam marcas físicas, uma vez
que são práticas pessoais e sociais, predominantemente masculinas, que envolvem
humilhação, perseguição, controle, rebaixamento, ameaças sistemáticas, assédios que estão
presentes nas relações íntimas e intersubjetivas. Não são necessariamente ataques ao corpo,
mas à identidade e à subjetividade da mulher; [...], ao que a constitui como pessoa.
Focar na violência psicológica, moral e patrimonial não invalida modalidades aqui não
reveladas nas evocações das mulheres agredidas por cônjuges, no entanto, as violências não se
sobrepõem, lembrando Audre Lorde, inexistem hierarquias de opressão. No caso de mulheres rurais,
intensifica-se o quadro de violências ao serem invisibilizadas nas pesquisas sobre a fenômeno social
analisado, a morosidade na materialização de políticas públicas de proteção, prevenção e igualdade
de gênero.
À guisa de arremate
Sumarizando e sem pretender encerrar a discussão proposta, cabe afirmar, portanto, que o
fenômeno da violência contra a mulher, ‘cego’. Além de invadir espaços geográficos, algozes
desconhecem idades/ geração, laços afetivos, raça/etnia, casta, religiosidade. Continuum na
historiografia feminina, nem sempre visibiliza suas “selecionadas”. Como instrumento de poder do
macho sobre a fêmea, transcende limites, vai além das agressões físicas e sexuais; é naturalizado
quando se faz recorrente no cotidiano de mulheres que não as percebem, símbolos como divisão
sexual do trabalho doméstico, o homem é tido por elas como “a comeeira da casa”, o chefe da família,
mesmo em situações em que a mulher é a provedora principal, embora tenha a figura masculina. Mas
é a violência de gênero contra mulheres a matriz das diferentes tipologias com que se manifesta, a
exemplo da violência sem sangue. Neste sentido, esclarece Bandeira (2014),
[...] constitui-se em fenômeno social persistente, multiforme e articulado por facetas
psicológica, moral e física. Suas manifestações são maneiras de estabelecer uma relação de
submissão ou de poder, implicando sempre em situações de medo, isolamento, dependência
e intimidação para a mulher. É considerada como uma ação que envolve o uso da força real
13 Foram realizadas 20 entrevistas e em todas, violências sem sangue existiram nas vidas das entrevistadas.
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ou simbólica, por parte de alguém, com a finalidade de submeter o corpo e a mente à vontade
e liberdade de outrem. (BANDEIRA, 2014, p. 460).
A ação política e confluente ao permitir que as entrevistadas fossem sujeito e objeto de
histórias individuais, certamente contribuiu para transpor o silêncio e a invisibilidade de mulheres
silenciadas nas sebes rurais baianas. Suas evocações, livremente, redesenharam suas histórias de vida,
reatualizadas numa fase de maturidade política, que lhes possibilita interpretar a opressão masculina
vivida por anos nas trajetórias cotidianas. Entender que suas almas e seus corpos foram violentados
em virtude de serem propriedade de homens investidos pelo poder patriarcal, não as intimidou a
‘abrirem’ suas histórias e evocá-las em tempo real, embora tenha lhes custados dores perceptíveis nos
gestos corporais durante suas falas.
Decerto, a violência de gênero na vida de Maria Felipa, Zeferina, Antonieta e Anastácia
contribuiu para ofuscar sonhos, baixa autoestima, dores simbólicas, tristezas, depressão, enfim,
silenciar seus gritos por uma vida livre de opressão masculina. Contudo, essas mulheres são capazes
de se reerguerem e fazerem releituras minuciosas que compuseram o mosaico de suas vidas, aqui
compartilhado.
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THOMPSON, Paul. A voz do passado. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
DIALOGUES ABOUT GENDER VIOLENCE: BY THE WORD, RURAL WORKING
WOMEN FROM BAHIA
Abstract: Gender-based violence against women is a violation of human rights that affects women
regardless of gender, ethnic group, region and / or social class to which they belong. Looking at this
social phenomenon, in rural Bahian contexts, emerges from personal and academic concerns,
instigated by the gap in scientific research on violence against rural women. Gender-based violence
against rural women is produced and reproduced by the patriarchal gender order and is brought as an
aggressor by the spouse or former spouse. It is materialized through brutal acts, although it does not
always leave visible marks or is perceived by women as violence, and the social organization of
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gender contributes to the naturalization of antagonistic poles: oppressive men, oppressed women. The
absence of public policies and difficult access to rights in rural areas contribute to the maintenance
of this violence. Based on a gender and feminist perspective, this article discusses gender violence in
rural contexts, based on women's reports on violence faced by women, relatives, neighbors and
friends, which have been collected during the fieldwork of my research. A doctoral dissertation,
which discusses the issue of rural working women and the phenomenon of gender-based violence
immersed in their lives, with patriarchy as the founding category of this "naturalized" oppression.
Key words: Gender. Gender Violence. Rural Women Workers. Patriarchy.