Upload
artes-ulbra
View
238
Download
1
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Trabalho de Curso apresentado por Cláudia Vanzo Ongaratto em julho de 2010
Citation preview
UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL – ULBRA/Canoas/RS
UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO
CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS
CLÁUDIA VANZO ONGARATTO
DESENHANDO UM OUTRO OLHAR
Canoas/RS
2010
CLÁUDIA VANZO ONGARATTO
DESENHANDO UM OUTRO OLHAR
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Licenciado (a) em Artes Visuais, pelo Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Luterana do Brasil.
Orientadora: Profª M.ª Ana Lúcia Beck.
Canoas/RS.
2010
Ao meu marido, Élio, que faz parte desta conquista
pelo grande apoio e incentivo que recebi.
Aos meus filhos pela compreensão.
Aos meus pais agradeço pelo apoio que recebi.
RESUMO
O presente trabalho foi desenvolvido a partir da pesquisa e aplicação do projeto de
ensino ¨Desenhando um Outro Olhar¨ nas turmas 105 e 106 do 1° ano do ensino médio da
Escola Estadual de Ensino Médio Professor Sarmento Leite, no município de Porto Alegre,
Rio Grande do Sul. O tema desenvolvido no projeto foi o Desenho, uma linguagem plástica
que constitui uma forma de expressão. É o desenho com um outro modo de olhar, um olhar
mais atento e aguçado ao universo visual que nos rodeia. No primeiro capítulo os autores que
embasaram o tema foram Edith Derdyk, Betty Edwards, Gombrich, Maria Letícia Vianna,
Carol Strickland, Ana Angélica Moreira entre outros. A justificativa para este projeto deu-se a
partir das observações silenciosas das aulas teóricas e do diagnóstico da turma. Através do
desenho, os alunos podem expressar o que pensam; seus pontos de vista ou sua visão do
mundo. Os objetivos gerais do projeto foram: propiciar aos aprendizes o desenvolvimento de
um processo artístico através da execução da linguagem gráfica do desenho e de atividades
visando aprimorar um senso crítico em relação ao fazer artístico; despertar o interesse dos
aprendizes pela Arte, obras e artistas; e propiciar o desenvolvimento da expressão através da
linguagem do desenho. A metodologia do projeto de ensino deu ênfase a exercícios práticos
visando uma outra visão sobre o desenho. Os autores Ana Mae Barbosa, Anamélia Buoro,
Arslan, Dworecki, Gombrich, Edwards entre outros deram base ao projeto. As reflexões
surgidas desta prática de ensino foram que o aprendiz demonstra interesse quando estimulado
e motivado; e que o interesse do professor pelo aluno propiciou mudanças de comportamento
e participação dos aprendizes em sala de aula.
Palavras-chave: Desenho. Estereótipo. Motivação. Interesse.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO....................................................................................................................... 6CAPÍTULO I………………………………………………………………………………… 91 DESENHO............................................................................................................................. 9
1.1 O DESENHO NA PRÉ – HISTÓRIA................................................................................ 12
1.2 O DESENHO NO RENASCIMENTO............................................................................... 13
1. 2. 1 LEONARDO DA VINCI.............................................................................................. 13
1.2. 2 MICHELANGELO........................................................................................................ 151.3. DESENHO NA RENASCENÇA GERMÂNICA............................................................. 161.3. 1 ALBRECHT DÜRER (1471- 1528)............................................................................... 171.4. O DESENHO BARROCO HOLANDES.......................................................................... 181.4. 1 REMBRANDT VAN RIJN (1606 – 1669)................................................................... 191.5 O DESENHO NO SÉCULO XIX - O NASCIMENTO DOS “ISMOS”........................... 201.5. 1 JEAN AUGUSTE DOMINIQUE INGRES (1780-1867).............................................. 201.6 DESENHO NO PERÍODO IMPRESSIONISTA............................................................... 211.6. 1 EDGAR DEGAS (1834 – 1917).................................................................................... 221.7 DESENHO NO PERÍODO PÓS-IMPRESSIONISTA...................................................... 231.7.1 VICENT VAN GOGH (1853 - 90)................................................................................. 231.8 DESENHO NA ARTE MODERNA (SÉCULO XX)........................................................ 241.8.1 PABLO PICASSO (1881-1973)..................................................................................... 251.8.2 SAUL STEINBERG (Romênia, 1914)............................................................................ 261.9 ARTE CONTEMPORÂNEA............................................................................................. 271.9.1 DAVID HOCKNEY (1937)............................................................................................ 28CAPÍTULO II………………………………………………………………………………... 30CAPÍTULO III......................................................................................................................... 381.CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA................................................................................... 381.1 IDENTIFICAÇÃO DA ESCOLA...................................................................................... 382. OBSERVAÇÕES SILENCIOSAS........................................................................................ 392.1 ANÁLISE DAS OBSERVAÇÕES SILENCIOSAS........................................................... 47CAPÍTULO IV.......................................................................................................................... 49PROJETO DESENHANDO UM OUTRO OLHAR.................................................................. 49AULA N° 1............................................................................................................................... 51
AULA N° 2............................................................................................................................... 54AULA N° 3............................................................................................................................... 57AULA N° 4............................................................................................................................... 59AULA N° 5............................................................................................................................... 61AULA N° 6............................................................................................................................... 63AULA N° 7............................................................................................................................... 65AULA N° 8............................................................................................................................... 67AULA N° 9............................................................................................................................... 70AULA N° 10............................................................................................................................. 73AULA N° 11............................................................................................................................. 75AULA N° 12............................................................................................................................. 78CONCLUSÃO.......................................................................................................................... 82REFERÊNCIAS....................................................................................................................... 86APÊNDICE.............................................................................................................................. 881. QUESTIONÁRIO DA DIREÇÃO……………......…………………………….………… 89
2. QUESTIONÁRIO DO PROFESSOR…………........………….…………………………. 90
3. QUESTIONÁRIO DOS ALUNOS ………………………….….………………………... 91
ANEXO CD………………………….…………………………..…………………………... 96
INTRODUÇÃO
O presente trabalho é um relato e uma reflexão sobre o desenho, uma forma de
expressão que faz parte da vida do homem desde a Pré-história. E a aplicação do projeto
Desenhando um outro olhar que foi desenvolvido com a turma 106 do 1° ano do ensino
médio noturno da Escola Estadual de Ensino Médio Professor Sarmento Leite, no município
de Porto Alegre, no ano de 2009. Foram realizados doze encontros com a turma 106 e a partir
da quinta aula também com a turma 105, pois as turmas foram condensadas em uma só.
O projeto foi elaborado a partir do tema ¨o desenho¨ no qual visa um outro modo
de olhar, um olhar mais aguçado sobre o universo visual que nos rodeia.
A partir das observações das aulas teóricas e do diagnóstico da turma percebi a
necessidade de fomentar os alunos para o despertar de uma outra visão sobre o desenho,
fugindo do convencional: desenho estereotipado.
Algumas pessoas sentem receio de se expressarem através do desenho, porque
buscam a reprodução fotográfica e realista do objeto e isto, muitas vezes, desencadeia uma
sensação de medo no qual faz com que as crianças abandonem gradativamente sua capacidade
de desenhar. Através do desenho, os alunos podem expressar o que pensam, seus pontos de
vista ou sua visão do mundo.
Este trabalho foi dividido em quatro capítulos conforme abaixo.
No primeiro capítulo há uma conversa sobre o desenho, sua importância, o
conceito de estereótipo e artistas que trabalharam com o desenho como: Leonardo da Vinci
que usava o desenho para entender a realidade, realizou estudos e esboços de inventos que só
se tornariam possíveis após alguns séculos; Michelangelo estudou a harmonia das formas, o
estudo das posições e os detalhes da anatomia humana utilizando luz e sombra para obter
relevo; Dürer experimentou regras de proporção para descobrir o equilíbrio e a harmonia
perfeita; Rembrandt era um artista gráfico que desenhava com agulha sobre a cera que cobria
uma lâmina de cobre; Ingres preferia desenhar as pessoas de perfil usando uma linha sinuosa
e contínua; Edgar Degas gostava de cenas não planejadas para captar a espontaneidade do
mundo; Vicent Van Gogh desenhava com gestos que compõe ritmos, as texturas são feitas por
gestos circulares, retos e pontos; Picasso tem uma série de desenhos de uma linha única no
qual o traço do lápis quando chega ao fim retorna ao início; Steinberg que transforma as
palavras em seres gráficos; e David Hockney que utiliza a máquina fotográfica para fazer
imagens. O desenho é a matriz de outras formas de expressão visual que tem como base um
esboço: a pintura, a gravura.
O desenho é um tema que pode ser trabalhado em qualquer série, o material é de
fácil aquisição pelos alunos. Os autores que embasaram o tema foram Edith Derdyk, Betty
Edwards, Gombrich, Maria Letícia Vianna, Carol Strickland, Ana Angélica Moreira entre
outros.
No segundo capítulo faz-se uma abertura do tema para o ensino em Artes Visuais.
Neste capítulo trata – se das inúmeras possibilidades que o desenho proporciona como
exemplo desenhar com materiais não convencionais como: clips, fita crepe, canetas ou
plásticos sobre radiografias, carvão, nanquim, grafite e maquiagem sobre papelão, jornais,
papel pardo e outros. Outro exemplo é trabalhar com palavras no qual elas são personagens
que sofrem experiências de acordo com os significados.
O terceiro capítulo contém informações e observações da comunidade escolar no
qual realizei o meu estágio supervisionando. Ele contém sete observações que foram feitas no
primeiro semestre de 2009 e a análise das observações silenciosas.
No quarto capítulo, há um relato da aplicação do projeto Desenhando um outro
olhar com uma descrição detalhada do planejado e do realizado de cada aula.
Os autores que embasaram este capítulo foram Ana Mae Barbosa, Ana Angélica
Moreira, Betty Edwards, Susana Rangel V. da Cunha, Susan Galassi, Miriam C. Martins,
Anamélia Buoro entre outros.
Os artistas trabalhados em aula foram Picasso, Nair de Teffé, Joan Miró e Alfredo
Volpi.
Foram planejadas e realizadas várias atividades como desenho cego, de
observação, experimentação de diferentes materiais traçando linhas e texturas variadas,
composição com as texturas feitas, composição de uma figura utilizando pedaços rasgados
aleatoriamente, fazer uma representação gráfica com apenas uma linha, desenhar uma imagem
invertida, fazer caricaturas de Tiago Rodrigues e de Gisele Bündchen, desenhar em folhas
com recortes e dobras, desenhar a partir de detalhes colados das reproduções do artista Joan
Miró e um ditado de imagens da reprodução de Alfredo Volpi.
Ao final da prática surgiram reflexões como: o interesse do professor e do aluno é
importante para que o projeto tenha êxito e devemos acreditar no que estamos nos propondo a
realizar em sala de aula.
7
As pessoas através da prática contínua podem desenvolver o seu processo criador.
Não é por falta de interesse dos alunos e sim por receberem tudo pronto que eles têm
dificuldade em criar e imaginar
A insegurança e o medo nos remetem a um sentimento de impotência gerando
uma baixa auto-estima.
8
CAPÍTULO I
1. DESENHO
A palavra desenho vem do Latim – designium, conforme a enciclopédia Delta
Larrouse Cultural (1950). É a Arte de representar visualmente, por meio de traços, a forma e
eventualmente os valores de luz e sombra de um objeto ou figura.
O desenho é capaz de exprimir tanto valores de luz e sombra quanto os contornos
desde as épocas primitivas. O desenho não se separa da pintura, pois os artistas o utilizam
como fim de esboço para uma obra que se pretende pintar ou esculpir.
Definir a palavra desenho não é fácil, pois engloba inúmeras atividades
relacionadas, porém diferentes. De uma forma simples podemos definir desenho como
rabiscos feitos numa folha de papel.
Segundo Derdyk,
O desenho como linguagem para a Arte, para a ciência e para a técnica é um instrumento de conhecimento, possuindo grande capacidade de abrangência como meio da comunicação e expressão. As manifestações gráficas não se restringem somente ao uso do lápis e papel. (DERDYK, 2004, p. 20).
O desenho pode manifestar-se através de sinais gráficos como ponto, linha,
texturas, manchas, e também através de marcas como um risco no muro, impressão digital e
desenhos da natureza: rugas no rosto, nervuras das plantas, caminho dos animais e outros.
Segundo Ana Mae Barbosa (2002) no Brasil, o desenho foi introduzido como
disciplina no ensino a partir dos cursos de Belas Artes da Missão Francesa
Barbosa (2002, p.23) cita que ¨não sabemos quais os métodos empregados no
ensino do Desenho, mas é indicativo de uma nova abordagem educacional sua inclusão no
currículo, como também o é a criação de uma aula régia de desenho e figura em 1800¨.
Para Derdyk (2004, p. 24) “Desenhar não é copiar formas, figuras, não é
simplesmente proporção, escala [...] Desenhar é conhecer, é apropriar-se”.
O desenho, conforme o traçado pode expressar como as pessoas pensam, como
vêem o mundo, seus sentimentos, suas inquietações, seu ¨eu¨ interno .
9
O desenho vem antes de todas as coisas que o homem produz como roupas, casas,
edifícios, utensílios, automóveis e é útil em várias profissões como: engenharia, arquitetura,
medicina e design.
Um desenho pode representar várias coisas um esboço – poucas linhas para
lembrar de algum aspecto importante, uma etapa da pintura, uma obra inacabada.
Desenhar, como escrever, é uma habilidade que pode ser conquistada, basta
motivação e como qualquer outra prática pode ser aperfeiçoada.
O desenho é a matriz de outras formas de expressão visual que tem como base um
esboço: a pintura, a gravura.
Quando crianças desenhamos muito, mas a timidez, os comentários nos levam
abandonar o desenho e acreditar que não sabemos desenhar, que não temos o “dom”.
Para Dworecki (1992) os principais empecilhos que fazem com que as crianças
abandonem os desenhos e aos poucos sua capacidade de figurar tornando-se adultos que não
desenham são: considerar ¨errado¨ todo o desenho que não retrate a imagem e semelhança do
original e tentar fazer uma reprodução fotográfica.
Assim que surgem os estereótipos, são como ervas daninhas que se alastra e faz
com que as pessoas se acomodem não desenvolvendo seus potenciais criativos em plenitude.
Para uma prática efetiva de produção artística, o professor terá que abandonar
alguns aspectos como, por exemplo: a famosa pasta de desenhos de datas comemorativas e
deixar aflorar a linguagem gráfica plástica de seus alunos.
Para entendermos o que é estereótipo, devemos fazer uma viagem ao passado,
segundo Maria Letícia Vianna (1994) no ano de 1040, na China o tipógrafo Pi Ching inventou
um processo de impressão que mais tarde foi adotado na Europa, cujo nome é estereotipia.
Antes do processo de estereotipia a impressão dos livros era feita manualmente página por
página.
As letras e sinais que constituem a escrita se apresentavam em forma de tipos
(peças isolados) que combinados e colocados em suportes especiais formaram as palavras e as
frases. A composição de cada página era feita linha por linha.
O processo de Pi Ching consistia em conservar as folhas através do uso de uma
cera derretida, fundindo-a em uma placa inteiriça como uma forma permitindo assim
sucessivas reimpressões.
Conforme Vianna (1994), estereotipia vem do grego “stereós¨, que quer dizer
firme, constante; imóvel compacto e de “typos” que significa molde representação sinal.
10
Estereótipos ou¨clichê ¨como chamavam os europeus passou a ser a designação de
um novo processo tipográfico. Exemplos de recursos para produzir estereótipo mimeógrafo,
xerox, matrizes materiais e mentais, transferência de imagens de um suporte para outro.
Os estereótipos de tão reproduzidos, multiplicados se tornam em uma espécie de
estereótipos mentais, isto é, clichê que ficaram armazenados nas gavetas do nosso cérebro e
nos acompanham para o resto da vida. A criança passa a admirar estereótipos passando a
copiá-los, imitá-los achando-se incapaz de criar.
Os desenhos estereotipados empobrecem a percepção e a imaginação da criança, inibem sua necessidade expressiva; embotam seus processos mentais, não permitem que desenvolvam naturalmente suas potencialidades. Estereotipar quer dizer então, simplificar, esquematizar, reduzir à expressão mais simples. (VIANNA, 1994, p. 3).
De acordo com Edwards (2003), o cérebro humano se divide em dois hemisférios,
o direito que é o não verbal e intuitivo que pensa em imagens, padrões e não compreende
reduções e o lado esquerdo do cérebro é o racional e verbal e reduz o raciocínio a números,
letras e palavras.
Como algumas habilidades globais – por exemplo, ler, dirigir, esquiar e andar, desenhar compõe-se de outras habilidades parciais que se integram numa habilidade total. Uma vez aprendidas e integrados os componentes, você conseguirá desenhar – assim como uma vez aprendida a habilidade de ler, sabe-se ler por toda a vida; uma vez que se aprende a andar, sabe-se andar por toda vida. (EDWARDS, 2003, p. 18).
Conforme Edwards (2003) para desenhar um objeto, uma pessoa ou cenário exige
cinco componentes básicos, percepção das bordas, espaços, relacionamentos, luzes e sombras
e a percepção do todo ou gestual.
Silvio Dworecki desenvolve uma pesquisa onde o adulto é estimulado a descobrir
o traço perdido no desenho.
Para o aluno desenvolver - se plasticamente tem que se ¨sentir capaz ¨e essa
capacidade tem que ser ¨reconstruída¨ dia após dia. (Dworecki,1999, p.194).
Como educadores devemos acreditar no poder de criatividade das pessoas, na
individualidade do ser humano, na necessidade que a criança tem de se expressar.
A primeira manifestação da história da humanidade são os desenhos; os desenhos
das cavernas. Os homens desenham antes mesmo de representar a escrita. A expressão e
modo de comunicação entre eles era o desenho, através de símbolos e códigos entre eles.
11
1.1. O DESENHO NA PRÉ-
HISTÓRIA
Na Pré-história os homens pintavam as cavernas com desenhos simples feitos de
carvão e pigmentos extraídos da natureza, aproveitando o relevo das rochas. Os desenhos
eram associados a rituais de caça, religião, crenças, como está ilustrada nesta representação.
Pinturas nas cavernas Lascaux,França.Entre 15000 e 13000 a.C. Fonte: OLIVEIRA, Jô; GARCEZ, Lucília (1994, p. 116)
Segundo Strickland (2004. p.40) “os primeiros “quadros” foram pintados em
cavernas, provavelmente 15000 anos atrás”.
Os símbolos de animais e de pessoas tinham significados sobrenaturais e poderes
mágicos.
12
1.2. O DESENHO NO
RENASCIMENTO
De acordo com Strickland (2004, p. 32) no início dos anos 1400, iniciou-se em
Florença, o renascimento da cultura, se estendeu a Roma e Veneza e, em 1500 ao resto da
Europa.
Nesta época, a exploração de novos continentes, pesquisas cientificas, confiança
no homem e o poder da igreja foi diminuído pela Reforma protestante. O Homem passa a ser
o centro do mundo e não Deus.
Neste período os artistas que obtiveram prestigio em virtude do desenvolvimento
das técnicas de pintura foram Leonardo da Vinci, Michelangelo e Rafael.
1.2.1. LEONARDO DA VINCI
No Renascimento, na Itália um dos mestres do desenho é Leonardo da Vinci- que
usava o desenho para compreender a realidade.
Ainda conforme Strickland (2004), Leonardo da Vinci (1452- 1519), nasceu na
pequena cidade de Vinci, perto de Floresça. Como o pai não lhe deu o nome, Leonardo
passou a utilizar o nome do Vilarejo onde nasceu.
Segundo Gombrich (1995), através do desenho, Leonardo realizou estudos para a
elaboração de obras de pintura e escultura, registrou aspectos da natureza com interesse
científico e esboço de inventos que só se tornariam possíveis em alguns séculos, desenhou
série de máquinas de guerra, investigou as leis das ondas e correntes, inventou uma máquina
13
voadora a partir da observação do vôo dos pássaros e insetos, pesquisa da posição do feto no
útero, análise do sistema nervoso.
Como era canhoto, resolvera escrever da direita para a esquerda, por isso suas notas só podem ser lidas num espelho. É possível que temesse divulgar as descobertas, com medo de que suas opiniões fossem consideradas heréticas. De fato, encontramos em seus escritos as cinco palavras¨ O sol não se move¨, o que prova ter Leonardo antecipado as teorias de Copérnico que mais tarde colocariam Galileu em sérios apuros. (GOMBRICH,1995, p. 294).
Conforme os Grandes Artistas (1989), Leonardo empregou larga variedade de
materiais como: pena, craion e ponta de prata. Na arquitetura, os desenhos feitos por ele de
igrejas “ideais” influenciaram um dos maiores arquitetos do Renascimento italiano Donato
Bramante.
Homem Vitruviano, Leonardo da Vinci. Fonte: GRANDES ARTISTAS, 1989, p.31.
Segundo a coleção Grandes Artistas (1989, p.31), as proporções da figura humana
de 1492, ilustra a tese filosófica “o homem é a medida de todas as coisas”.
14
1.2.2. MICHELANGELO
Conforme Gombrich (1995, p, 303) Michel Angelo di Ludovico Buonarroti
Simoni conhecido por Michelangelo nasceu em 06/03/1475 na cidade de Toscana de Capresa,
perto de Arezzo.
Michelangelo - renascentista ele não segue a harmonia das formas como no
Renascimento. Dedicou-se ao estudo da anatomia humana, dessecando cadáveres e desenhou
utilizando como modelos meninos e homens. Pintou o teto da Capela Sistina.
[...] Michelangelo demonstrava sua genialidade através da maestria ao reproduzir o corpo humano - e, particularmente, o nu masculino, revelando uma homofilia intensa e platônica no culto do corpo viril e musculoso, do ideal masculino captado em seus mais belos gestos e posições. O homem, de acordo com as idéias do Renascimento, era a medida de todas as coisas, o centro do universo. E Michelangelo apaixonou-se pela figura humana, não sentindo interesse em criar paisagens ou em retratar pessoas. (Grandes Artistas 1989, v. I, p. 8)
Michelangelo utilizava desenhos preliminares, tanto para os trabalhos de pintura
em afresco como para escultura em mármore, visando o estudo de posições e os detalhes de
anatomia.
Para a Coleção Grandes Artistas VI (1989, p. 10), “seus desenhos mostram que,
como escultor que era, raciocinava naturalmente em três dimensões. Luz e sombra eram
utilizadas em abundância, para obter o relevo, sugerindo várias texturas”.
A minúcia com que Miguel Ângelo estudou todos os detalhes com cuidado é
mostrada no desenho da figura abaixo.
15
Estudos das formas de um modelo para uma das Sibilas, no Teto da Capela Sistina, 1510. Michelangelo Fonte: GOMBRICH. História da Arte (1995, p. 311).
1.3. DESENHO NA RENASCENÇA GERMÂNICA
Conforme Strickland (2004) o período foi marcada pela austeridade da pintura
religiosa de Grünewald, pela técnica perfeita de Dürer e pelos insuperáveis retratos de
Holbeim.
16
1.3.1. ALBRECHT DÜRER
(1471- 1528)
Segundo Gombrich (1995), Dürer era um artista alemão que fez muitas
xilogravuras para livros. Os estudos dos esboços de Dürer mostram e copiam a natureza com
todo o seu brilho, como uma cópia perfeita.
A paciência para desenhar seus esboços fez dele o gravador nato que não se
cansava de adicionar detalhes sobre detalhes.
Gombrich (1995) relata que Dürer “experimentava várias regras de proporção,
vendo distorcendo a compleição humana ao desenhar corpos demasiados longos ou largos
para descobrir o equilíbrio e a harmonia perfeita” (Idem, p. 347).
Segundo Strickland (2004, p. 42) ¨ […] Dürer foi o primeiro a usar a gravura
como forma de Arte maior”.
Conhecido como “Leonardo do Norte” pela diversidade de interesses, aprofundou
seus estudos de botânica já que era apaixonado pela natureza.
17
Drawing of mother- 1514. Albert Durer Fonte: www.1st.art.gallery.com
1.4. O DESENHO BARROCO
HOLANDES
Strickland (2004 p. 52), afirma que os artistas foram bons técnicos pela sua
“habilidade para captar os jogos de luz em diferentes superfícies e para sugerir texturas–das
luminosas às opacas – conforme a luz é absorvida ou refletida”. Neste período os grandes
mestres são Hals, Rembrandt e Vermeer.
18
1.4.1. REMBRANDT VAN RIJN (1606 – 1669)
Para Gombrich (1995), Rembrandt foi um grande pintor e artista gráfico usando a
técnica que chama-se água forte. Nesta técnica o artista cobre a lâmina de cobre com cera na
qual desenha com agulha.
I Moisés salvo das águas, desenho, 1643, Rijksprentenkabinet,Amsterdã. Artista: Rembrandt Fonte: OSTROWER, Fayga, 2001, p.145.
19
1.5. O DESENHO NO SÉCULO
XIX - O NASCIMENTO DOS “ISMOS”
Conforme Strickland (2004) os artistas enfatizavam os desenhos com linhas e não a
cor que excitava os sentidos.
Três estilos principais o Neoclassicismo, o Romantismo e o Realismo competiram
um com o outro nesta época
.
1.5.1. JEAN AUGUSTE DOMINIQUE INGRES (1780-1867)
Pintor formalista. Relatado em Grandes Artistas (1989 p.248) como um dos
expoentes do Neoclassicismo onde o “seu forte é o desenho ao mesmo tempo clássico e
original, às vezes permeado de sensualidade”
Para Ingres era mais importante desenhar do que colorir.
Ingres acreditava que à “forma interior” de uma figura podia ser expressa só com um contorno. Por isso, preferia desenhar as pessoas de perfil, usando uma sinuosa linha contínua. Essa influencia da antiga Arte Grega é um ponto em comum entre os desenhos de Ingres e os de Pablo Picasso. (Grandes Artistas 1989, p. 250)
20
Retratos a lápis 1815 – 1820, Ingres. Fonte: Grandes Artistas 1989, v.III p.249.
1.6. DESENHO NO PERÍODO IMPRESSIONISTA
Conforme Strickland (2004), este movimento surgiu na França no início dos anos
1860. Os artistas passaram a representar neste período sensações visuais através da cor e da
luz rejeitando a perspectiva, composição equilibrada, figuras estilizadas e o chiaroscuro da
Renascença.
21
1.6.1. EDGAR DEGAS (1834-1917)
Como relata Strickland (2004, p. 108), Degas gostava de cenas não planejadas,
para captar a espontaneidade do mundo. Seus desenhos, pinturas e pastéis de bailarinas
mostram gestos como ajeitar as sapatilhas, quando bocejam, se coçam.
Como seus olhos enfraqueceram e sua visão começou a faltar, nos anos 1870,
mudou de óleo para pastel, desenvolvendo um estilo próprio.
Foi um pioneiro em expor pastéis como obras acabadas ao invés de esboços.
Aguardando a deixa-1879, Degas. Pastel sobre papel, 99,8x119, 9 cm.; coleção particular. Fonte: GOMBRICH, 1995, p. 527.
22
1.7. DESENHO NO PERÍODO
PÓS-IMPRESSIONISTA
Foi um fenômeno francês onde os artistas se expressavam com cores vivas como
o arco-íris. Seus representantes são Seurat, Gauguin, Cézanne, Toulouse-Lautrec e o
holandês Van Gogh.
1.7.1 VICENT VAN GOGH
(1853-90)
Enfatizou a expressão de suas emoções através da cor e da luz, segundo Strickland
(2004).
Segundo Derdyk (2004, p. 174), o desenho de Van Gogh é uma ¨festa de textura¨.
Elas são feitas por gestos circulares, retos e pontos.
[...] os gestos compõe ritmos, cadenciando um universo em cada pedacinho do papel. O olho se perde no meio desta atribuição gráfica. Não existem centros de atenção, focos de interesse específico. A visão, atenção e o espírito não se acomodam, não repousam. [...] há uma área que se movimenta que seduz e atrai; é um desenho exigente. (DERDYK, 2004, p. 174).
23
Paisagem, desenho 1888, museu Van Gogh, Amsterdã. Fonte: OSTROWER, Fayga - 2004 p. 143.
1.8. DESENHO NA ARTE
MODERNA
(SÉCULO XX)
Há uma busca de liberdade de expressão. A Arte se afasta da natureza e parte para
a abstração, onde o domínio é a forma, as linhas e as cores.
24
1.8.1 PABLO PICASSO
(1881-1973)
Picasso tem uma série de desenhos de uma ¨linha única¨ onde o traço do lápis
quando chega ao fim retorna ao início da forma.
Conforme Galassi (1998, p.8), Picasso afirmava que ¨desenhar não é brincadeira¨.
Muitos desenhos possuem citações que acompanham as imagens.
Desenhos de Picasso Fonte: GALASSI, Susan Grace-1998, p. 25.
25
1.8.2 SAUL STEINBERG
(Romênia, 1914)
Como Edith Derdyk (2004, p.156) relata Steinberg ¨transforma as palavras em
seres gráficos¨, usa a linguagem verbal como uma troca com a linguagem visual.
Steinberg, 1969. Fonte: DERDYK (2004 p. 156).
26
Steinberg, 1968. Fonte: DERDYK (2004, p. 157).
1.9. ARTE CONTEMPORÂNEA
Conforme Strickland relata (2004. p. 168) que ¨à medida que o século XX
caminha para seu término, a arte se torna mais internacional, sem uma área geográfica
dominante, e mais diversificada do que nunca¨. Surge a liberdade total após um século de
experimentação.
27
1.9.1. DAVID HOCKNEY (1937)
Segundo Gombrich (1995), David Hockney usa a máquina fotográfica para fazer
inúmeras imagens, lembrando de pinturas cubistas.
¨Mother,Bradford¨,1978,350X2mm, tinta sépia s/ papel.David Hockney. Fonte: LUCKHARDT, Ulrich; MELIA, Paul. David Hockney: a drawing retrospective. Londres: Chronicle Books, 1995.
28
Lápis de cor. David Hockney. Fonte: LUCKHARDT, Ulrich; MELIA, Paul. David Hockney: a drawing retrospective. Londres: Chronicle Books, 1995.
29
CAPÍTULO II
Possibilidades de ensino a partir do
tema
No nosso cotidiano passamos muitas vezes por um mesmo caminho, uma cena,
um local, uma paisagem, uma rua e não percebemos nenhum detalhe. Se estamos desocupa-
dos, e nos propomos a olhar com atenção ao nosso redor, passamos a perceber milhares de de-
talhes que nunca tínhamos percebido.
A primeira habilidade que precisamos renovar, estimular e desenvolver é a obser-
vação. È como usar uma lente de aumento sobre algum objeto.
Foi muito difícil selecionar, pois há vários que gostei mesmo os mais difíceis. De-
pois de muito refletir, escolhi o que talvez mostre a trajetória de uma caminhada onde tentei
colocar minhas marcas e impressões.
Sou professora do jardim nos turnos manhã e tarde numa escola estadual e estudo
na ULBRA no curso de Artes Visuais. Quando fiz a cadeira de introdução ao desenho precisei
de galhos para desenhar. Quando estava na pracinha da escola pedi às crianças que procuras-
sem galhos que tinham nozinhos, marcas para que eu pudesse desenhar. Brinquei com eles de
passar galhos, senti-los e observar como eles são. Comecei o desenho ali mesmo na praça e as
crianças ficaram entusiasmadas e perguntavam se podiam fazer o mesmo e respondi que sim,
depois começaram trazendo flores do chão e me diziam para que lado eram as linhas da flor e
as marcas, contornos e como era para ser feito.
A partir disso, comecei a aguçar a curiosidade, observação e a incentivá-los a de-
senhar o que enxergavam como marcas, sombras, cores, linhas.e colocassem nos seus dese-
nhos.
30
Deve haver um maior compromisso com o ensino da Arte na escola, acabando
com a idéia de que a Arte é diversão, ou o momento para a criança relaxar, se distrair. Obvia-
mente, a produção artística deve ser sempre prazerosa. Porém, devemos mostrar aos alunos
várias técnicas de trabalho de tal forma que ele se aproprie delas para se expressar criativa-
mente. Criar é um ato que requer muito esforço e concentração, além de habilidades especiais,
que podem e devem ser desenvolvidas na escola.
Precisamos ser sempre criativos para solucionar problemas ou enfrentar as mais
diversas situações; a prática artística ensina que não há apenas uma forma de ultrapassar obs-
táculos.
A criança ao se expressar livremente através de técnicas de desenho, pintura, re-
corte, modelagem manifesta suas emoções, seu ritmo interior, seus interesses. Assim, as pala-
vras, os gestos e os movimentos, a expressão plástica é uma linguagem, constituindo uma for-
ma de comunicação com o mundo.
As crianças da educação infantil, em geral experimentam movimentos e materiais
oferecidos sem medo, exercitando sua função simbólica. Quando há uma relação dos conheci-
mentos iniciais com os novos saberes, segundo Cunha (2006, p.13), há um ¨conhecimento sig-
nificativo em relação aos materiais e à própria expressão, pois não podemos perder de vista
que os materiais são os veículos que tornam visível e invisível”.
O professor deve ter conhecimento do desenvolvimento gráfico-plástico das crian-
ças e adolescentes, pois através dele podemos obter informações sobre o nosso aluno, suas po-
tencialidades, dificuldades, saber em que estágio se encontra para que possamos ajudá-lo nes-
ta caminhada da construção do saber. Devemos incentivar e apresentar desafios para que o
aluno consiga vencer suas dificuldades.
Através dos questionários e das observações feitas em sala de aula no ensino mé-
dio e fundamental percebi que aparecem os desenhos estereotipados, a professora reforça di-
zendo que são lindos, não há uma reflexão, um desafio sobre as obras dos alunos.
Auto- estima não se promove afirmando que tudo o que o aluno faz e pensa em arte é ótimo. Ele se sentirá confiante em relação a sua arte apenas na medida em que aprender de modo significativo: fazendo, interpretando, refletindo e sabendo contex-tualizar a arte como produção social e histórica. (ARSLAN, 2006, p.9).
Segundo Cunha (2006, p. 15), “o processo é importante, o produto realizado é um
resultado que não é questionado”.
31
Nas atividades livres, ao invés do professor simplesmente disponibilizar materiais, as crianças devem ser desafiadas a explorar os materiais em todas as suas possibili-dades, [...] como numa atividade simplista e comum em uma proposta e comum em uma proposta investigadora e fonte de descobertas matéricas, além de conhecermos as hipóteses das crianças sobre o que vamos trabalhar. (CUNHA, 2006, p. 12).
Assim como as crianças menores podem ser estimulados a aguçarem sua percep-
ção os jovens também deveriam ser trabalhados para olhares, ao seu redor.
A falta de imagens nas aulas e história da Arte e dos artistas também é um dos
problemas observados.
A maioria das pessoas sente um certo receio em desenhar porque buscam a repre-
sentação mais realista do objeto ou figura e muitas vezes desencadeia a sensação de medo e a
preocupação com o fazer bem feito.
A criança passa a admirar os estereótipos passando a copiá-lo, imitá-lo achando-se
incapazes de criar.
Para que as crianças tenham possibilidades de desenvolverem-se na área expressiva, é imprescindível que o adulto rompa seus próprios estereótipos, a fim de que consiga realizar intervenções pedagógicas no sentido de trazer à tona o universo expressivo infantil. (CUNHA, 2006, p. 10)
A criança desde a mais tenra idade começa a fazer rabiscos numa folha de papel.
O desenho é uma atividade motora prazerosa e natural. Ele adquire conhecimento através da
experimentação e manuseio de materiais.
Quando a criança entra na adolescência deve ser desafiada para seus desenhos não
virarem estereótipos.
Para Derdyk,
[...] o desenho acompanha a rapidez do pensamento, responde às urgências expressivas: o desenho feito às pressas para indicar o melhor caminho, a seqüência de desenho em busca da melhor solução para tal encaixe de madeira, o desenho para afirmar simplesmente uma necessidade existencial poética e estética. O desenho possui a natureza aberta e processual. (DERDYK, 2006, p. 42).
O desenho pode ser introduzido a partir da observação de reproduções de imagens
de vários artistas que trabalharam com desenho. A partir disso, pedir que os alunos analisem
seus próprios desenhos para descobrir como podem melhorá-los.
Trabalhar com texturas num primeiro plano e desafiar os alunos a inventarem e
fazerem as suas próprias texturas nos seus desenhos.
A observação e desenho de elementos da natureza com galhos, folhas, vegetais,
são meios de desenhar as linhas, sombras e marcas. Cunha (2006, p.16), cita que ¨uma
32
educação do ver, do observar, significa desvelar as nuanças e características do próprio
cotidiano, e ir além, propondo rupturas com o instituído.
A reprodução da obra de Dürer, ¨Drawinng of mother¨, 1514, é um exemplo de
como o desenho pode ser trabalhado, a partir da análise e reflexão da mesma. A partir dele
podemos pedir que os alunos os alunos observem o rosto do seu colega, escolham alguma
parte que ache interessante e desenhem.
Outro processo é o desenho cego, dá medo nas pessoas porque não podemos ver o
processo, mas é um meio de soltar o traço, deixar fluir o movimento sem tirar o lápis do
papel. O objetivo é soltar a mão, o traçado e não a perfeição do desenho.
A figura fragmentada faz parte de um desafio, pois demanda de observação e da
continuidade à figura usando a própria criatividade.
A observação das roupas, dos materiais dos aprendizes – pode ser um meio de
introduzir o desenho. A partir deles podemos explorar texturas, linhas, cores, formas,
movimentos, sons e cheiros. São objetos com valor significados para os alunos, pois tem a sua
marca.
Incentivar o uso de outros materiais que não os convencionais como: desenhar
com fita crepe, clips, linhas, canetas ou plásticos sobre radiografias, carvão nanquim, grafite e
maquiagem sobre papelão, jornais, papel pardo e outros.
[...] a linha como o espelho do gesto no espaço do papel. O ponto sai do repouso, passeia pelo papel vislumbrando, dele mesmo, uma memória do trajeto: eis a linha. A linha é o depósito gráfico da pulsão, do ritmo, do movimento, da ação motora e energética, revelando no papel pontos, traços, manchas, resultantes da interação mão/ gesto/ instrumento. Desta interação, nascem as qualidades expressivas da linha: a intensidade, a duração, a direção, a espessura, a dimensão, o ritmo, a tensão, a tipologia. (DERDYK, 2006, p.144).
Desenhar em duplas pode ser enriquecedor, pois envolve exercício mental e
questões relativas a valores morais.
Leitura e releitura de representações de obras como de Dürer, Van Gogh,
Michelangelo, Da Vinci, Klee, Picasso, David Hockney, Ingres, Saul Steinberg e outros que
mostram que o desenho é uma forma de expressão.
Temos que alfabetizar para a leitura de imagem. Através da leitura das obras de artes plásticas estaremos preparando a criança para a decodificação da gramática visual, da imagem fixa e, através da leitura do cinema e da televisão, a preparemos para aprender a gramática da imagem em movimento.
33
Esta decodificação precisa ser associada ao julgamento da qualidade do que está sendo visto aqui e agora e em relação ao passado.Preparando-se para o entendimento das áreas visuais se prepara a criança para o entendimento da imagem quer seja arte ou não. (BARBOSA, 2009, p. 34-35)
Desenhar um violão em diferentes posições a partir de uma representação da obra
de Picasso ¨Violino e as uvas¨.
[...] sua forma de expressão que contraria o código da perspectiva euclidiana, apontando a representação do mundo visual, o real mundo de nosso meio ambiente como o princípio construtivo do cubismo, contrário à teoria da representação do campo visual que dominou o impressionismo.A teoria da representação do mundo visual supõe que não percebemos os objetos, apenas estando nosso corpo em imobilidade, mas considerando também o meio ambiente que o cerca. A perspectiva euclidiana que preside os manuais de desenho supõe que o indivíduo que vê o objeto esteja imóvel (teoria da representação do campo visual). (BARBOSA, 2009, p. 61).
Barbosa (2009) propõe que os alunos, usando de um desenho acabado,
representem os mesmos elementos procurando arranjá-los de maneiras diferentes, assim,
como Picasso
Os alunos podem fazer desenhos através de fotografias colocadas em baixo de
uma tampa de caixa de cd transparente, com agulha ou material com ponta.
O desenho em papel rasgado- rasgar uma folha de papel. Observar os pedaços e
montar alguma forma utilizando a cola, O aluno desenha o que imaginou com materiais
como: lápis de cor, giz de cera, caneta.
Fazer frotagem de objetos ou elementos da natureza com lápis de cera, observá-
las e depois desenhá-las.
[...] mais do que quantidade de materiais, é preciso oferecer ricas oportunidades de aprendizagem. Para isso, é preciso selecionar meios acessíveis à realidade, inventar possibilidades para os materiais existentes, inovar, ousar. (MARTINS, 1998, p. 145).
O livro Desenhando com o lado direito do cérebro possui exercícios como vaso/
rostos, negativo e positivo, desenho de memória, desenho da imagem invertida que podem ser
aplicados em sala de aula
Levar para a sala de aula imagens que nos cercam no cotidiano e que são
desvalorizadas.
Arslan (2006) relata que Hernandes (2000) defende que ¨muitas outras imagens da
¨cultura visual¨(não legitimadas como arte ) por exemplo, propagandas, fotografias de jornais,
desenho de moda, videoclipes e outras, podem ser apreciadas na sala de aula ¨(ARSLAN,
2006 p. 23 )
34
Os alunos devem desenhar em papéis pequenos do tamanho de etiquetas desenhos
que mostram as suas marcas, característica como se fosse uma tatuagem.
Desenhar histórias em quadrinhos.
No papel sulfite fazer alguns recortes onde podem ter partes vazadas e dobras e
pedir para que os alunos imaginem o que podem desenhar nesta folha.
[...] o aprendiz também brinca com as linhas, formas e cores da linguagem visual, em produções sonhadas também por artistas que nelas buscaram a liberdade e a ousadia. Ousadia de quem nem sabe que ousa tanto. (MARTINS, 1998, p.136).
Desenhar com palito de churrasco numa bandeja de isopor. Passar um rolinho
com têmpera e pôr o papel em cima e passar uma colher de pau ou a mão para fazer
impressão.
Observar suas mãos e desenhá-las como todos os detalhes que elas apresentam
anéis, rugas, linhas e sombras.
Conhecer o livro Picasso em uma só linha – fazer desenhos utilizando uma só
linha sem tirar o lápis do papel.
[...] quando estamos diante de uma obra de arte, a recriarmos em nós. A contemplação de uma produção artística nunca é passiva, algo de nós penetra na obra ao mesmo tempo em que somos por ela invadidos e despertados para novas sensibilidades.A forma de nos relacionarmos com a obra de arte é totalmente diversa da relação cotidiana, utilitária que temos como os fatos, com as coisas, com o nosso dia-a-dia (MARTINS, 1998, p. 75).
Propor aos alunos a confecção de um portfólio, onde eles podem decidir através
da reflexão e seleção dos trabalhos mais significativos.
Para a introdução da linha podemos trabalhar com arames maleáveis. Os alunos
devem modelar o arame formando figuras das mais diversas. A partir desse trabalho de
escultura passar o papel, através do desenho à figura formada com todas as suas linhas
retorcidas.
Outro exemplo é trabalhar com um rolo de linha ou barbante a qual os alunos em
circulo seguram uma ponta da linha com a mão e jogam o rolo com a outra para um colega
formando uma teia. Essa teia é um emaranhado de linhas que viajam por cima por baixo, prá
direita, esquerda e que se inclinam num espaço.
O livro de Rosalind Ragans “estuda os elementos do desenho, em primeiro lugar. Um deles, a linha, analisa em relação à espécie de linhas, variações, desenho de contorno, desenho gestual, desenho caligráfico, linha e valor, levando os alunos a verem criticamente os trabalhos de outros alunos e de grandes mestres como Durer,
35
Roualt, John Marin, Juan Gris, Tintoretto, Calder, Edward Hooper, em especial, Cabinet Maker de Jacob Lawrence. Propõe trabalhos práticos com lã. Arame, relevos etc., para explorar as múltiplas possibilidades de expressões da linha. (BARBOSA, 2009, p. 71)
Utilizar a reprodução da obra de Van Gogh sobre o seu quarto. Segundo Grandes
Artistas (1989, p. 13) há um esboço do quarto em uma de suas cartas para Gauguin em
setembro de 1888. A partir da análise dessa obra pedir para os alunos que imaginem como
poderiam montar o seu próprio quarto, pensando nas cores, imagens, texturas e marcas
pessoais para compor o seu quarto ideal.
Oferecer o suporte técnico, acompanhar o aluno no enfrentamento dos obstáculos inerentes à criação, na resolução de problemas com dicas e perguntas, fazendo-o acreditar em si mesmo, no que faz e pensa; propor exercícios que aprimorem a criação, informar com base na história da Arte, promover a leitura, a reflexão e a construção de idéias sobre arte; e ainda, documentar os trabalhos e textos produzidos para analise e reflexão conjunta configuram o quadro de ações do professor na área de arte. (ARSLAN, 2006, p. 9).
A partir da história da arte, o período da pré-história nos remete a inúmeras
possibilidades de como desenhar com tintas naturais em papel pardo na qual o aluno imprime
suas marcas mais significativas assim como a tatuagem no papel. Pode ser usado junto com
grafite e carvão.
Observar e analisar reproduções dos desenhos de Saul Steinberg (Romênia 1914).
Ele usa linguagem verbal como uma troca com a visual. Segundo Derdik (2004, p. 156) ¨ele
transforma as palavras em entes gráficos adquirindo a solidez das coisas¨.
As palavras são os personagens que sofrem experiências de acordo com os
significados.
[...] a palavra doente está caída no sofá, socorro desaba de um precipício, raiva explode numa plataforma de foguetes. As palavras personificadas refletem, decidem marcham, escolhem direções, têm poder de decisão. Uma palavra, um número, uma entidade abstrata qualquer é um “objeto” achado da mesma ordem que uma árvore, uma lata, um cachorro. Esta reordenação do familiar é um recurso da imaginação causando estranheza em relação aos elementos do cotidiano. (DERDYK, 2004, p. 158).
Propor uma releitura com os alunos na qual devem dar um significado visual a
palavras significativas para eles.
36
CAPÍTULO III
37
Neste capítulo estão contidos dados, informações e observações da comunidade
escolar onde realizei meu estágio supervisionado.
1. CARACTERIZAÇÃO DA
ESCOLA
A Escola Estadual de Ensino Médio Professor Sarmento Leite está inserida em
uma comunidade de nível sócio- cultural diversificado, sendo que parte da comunidade pode
ser considerada carente. Neste aspecto há falta de estrutura física, financeira e profissional.
1.1. IDENTIFICAÇÃO DA
ESCOLA
A escola foi fundada no dia 7 de setembro de 1951. Situa-se na Rua Eugenio Du
Pasquier 280, Bairro Jardim Floresta, no município da Porto Alegre.
Ela possui 773 alunos distribuídos nos turnos da manhã, tarde e noite. No período
da manhã e da tarde são oferecidas turmas de Currículo por Atividades e Áreas por disciplinas
de estudos e ensino médio. À noite são oferecidas turmas de ensino médio.
QUADRO FUNCIONAL
38
A instituição educacional conta com o auxílio de uma supervisora escolar, um
orientador escolar que atua em regime de 20 horas semanais, duas secretárias, e conta com o
apoio de 49 professores.
Existe três vice-diretoras (sendo uma para cada turno: manhã, tarde e noite), duas
merendeiras, duas serventes e dois auxiliares de disciplina.
ESPAÇO FÍSICO DA ESCOLA
Esta instituição educacional possui um prédio de alvenaria, um biblioteca, uma
sala de vídeo, um laboratório de Ciências, dois banheiros dos professores, quatro banheiros
masculinos e quatro femininos, uma cozinha, um refeitório, um laboratório de Biologia, uma
sala de supervisão, uma sala de professores, sala de coordenação, duas canchas, área coberta e
um laboratório de informática (sem uso por falta de pessoal qualificado).
2. OBSERVAÇÕES SILENCIOSAS
TURMA 106 - ENSINO MÉDIO
NOTURNO
As sete observações silenciosas foram feitas na turma 106 do ensino médio,
noturno, no primeiro semestre de 2009, na E. E.E. M. Professor Sarmento Leite.
OBSERVAÇÃO SILENCIOSA Nº 1
DIA 19-03-2009.
TURMA 106 – Ensino médio - Noturno
39
A aula de Artes é no 3º período, após a aula de Física. A aula foi realizada na sala
de Artes.
A turma é calma. Os alunos entraram tranqüilos e foram sentar-se perguntando o
que fariam. O professor disse que continuariam o desenho da pré - história.
Foram utilizadas folhas A4, lápis de cor, lápis preto e grafite. A maioria levou os
lápis, o professor emprestou algumas folhas e o grafite.
Os aprendizes pegaram os livros com gravuras rupestres que se encontrava na sala
e foram trabalhar. O professor ligou o computador da sala onde se encontrava a imagem de
um bisão pintado nas paredes de uma caverna em Altamira, Espanha para um grupo de alunos
continuar o seu desenho.
A aula passou rapidamente. Os alunos não concluíram o trabalho, que deverá ser
retomado na próxima aula.
A chamada é feita no final da aula. A turma compõe-se de 15 alunos, onde
compareceram neste dia 11aprendizes.
ANÁLISE DA AULA
Não houve retomada pelo professor sobre as pinturas nas cavernas, qual o
significado, que tipo de material era utilizado pelos povos primitivos.
OBSERVAÇÃO SILENCIOSA Nº 2
DIA 25-03-09
TURMA 106- Ensino Médio noturno
40
Na quarta - feira, a aula de Artes é após o período de História. Os alunos levam
em torno de 5 minutos para entrar na sala de Artes.
Os alunos continuam o desenho que começaram no dia anterior sobre pintura
rupestre. Os que concluíram guardam os trabalhos e devem continuar o questionário sobre a
Pré-História.
O texto xerocado sobre Período Neolítico foi distribuído para os alunos em
grupos, pois não tem para todos. Este texto deve ser entregue para o professor ao final da aula
para ser usado em outra turma. O professor escreveu no quadro verde quatro perguntas para
serem respondidas.
Os questionários e todos os trabalhos que serão feitos serão entregues ao final do
trimestre.
Os aprendizes trabalham tranqüilos. A chamada é feita no final da aula.
Compareceram na aula 13 alunos.
ANÁLISE DA AULA
A aula está monótona, o período é curto de 40 minutos e não há incentivo por
parte do professor.
OBSERVAÇÃO SILENCIOSA Nº 3
DIA 26-03-09.
TURMA 106 - Ensino Médio-Noturno.
41
A aula começa às 20h: 20min., na própria sala de aula, porque até os alunos
dirigirem-se à sala de Artes perdem muito tempo. A sala fica no andar de cima do prédio e no
corredor tem portas com grades que são chaveadas.
Continuação do questionário. Os alunos devem assinalar o que é relacionado ao
Período Neolítico. (7 alternativas).
Após o exercício eles devem continuar o desenho de pintura Rupestre.
O professor saiu para falar com a diretora. Os aprendizes continuaram trabalhando
(alguns com rádio nos ouvido, lendo e respondendo o questionário).
O questionário e as perguntas são para levar para casa para serem entregues no
final de Maio.
A turma é calma.
Na volta do professor, os aprendizes reclamaram que gostariam de trabalhar
pintura. O professor explicou que o tempo é curto e que está batalhando para ter dois períodos
no mesmo dia. Ele pede que os alunos, em grupos, comprem tinta têmpera, as cores primárias,
para trabalhar com pintura no mês de Abril.
Compareceram treze alunos.
ANÁLISE DA AULA
As aulas poderiam ser mais dinâmicas.
Como consta nos Parâmetros Curriculares nacionais de Artes (PCNs, 1997, p.
112) o educador é o descobridor de propostas de trabalhos que tem por objetivo sugerir
atividades onde os aprendizes possam realizar seu processo de criação e apreciação da arte.
Através de imagens de reproduções o professor poderia falar de linha, textura,
cores, volume e outros.
OBSERVAÇÃO SILENCIOSA Nº 4
DIA 1º/04/2009.
TURMA 106 - Ensino Médio – Noturno.
42
A aula começou às 20h 25min.
O professor chegou com um dado de varetas e explicou que iriam trabalhar
perspectiva. Através do cubo de varetas o professor mostrou os vários lados do cubo e
começou a desenhar no quadro o cubo de várias posições. Disse que iriam passar do
tridimensional para o bidimensional (no papel).
O professor pediu que os alunos fizessem junto com ele o cubo e o retângulo.
Pediu que copiassem numa folha do caderno e em casa passassem a limpo usando uma régua.
Uma aluna de outra turma gritou na porta: ¨ - Oi loira tu tá muito concentrada
nesta aula¨. A aluna loira levantou-se e saiu retornando no final do período.
O professor continuou de costas desenhando e não deu a mínima importância.
Logo após ele saiu para buscar o questionário para os três alunos novos que chegaram.
Os alunos continuaram copiando do quadro várias formas em perspectiva. Alguns
reclamaram que é difícil de fazer o desenho.
Ás 20h. 50 min. chegou um aluno.
A chamada foi feita no final do período 8h55min.
Nos corredores têm muita conversa por causa do jogo.
Compareceram 12 alunos.
ANÁLISE DA AULA
Embora a turma seja calma, as aulas são monótonas. O professor acha um período
insuficiente e inconveniente para levar os alunos até a sala de Artes, onde possui imagens no
computador da sala e os livros de Artes. Eles perdem tempo no deslocamento.
Alguns alunos reclamam que desenhar o cubo em várias posições é difícil.
OBSERVAÇÃO SILENCIOSA
Nº5
DIA: 02/04/09
43
TURMA- 106 Ensino Médio-Noturno.
O professor avisou que a aula de hoje é a continuação do desenho do cubo em
perspectiva, desta vez com a peça cortada e girando sobre seu eixo.
Um aluno foi chamado ao quadro para fazer o corte na peça porque disse que
sabia. Brincou que era o ajudante do professor, os colegas brincaram dizendo “que ajudante o
professor foi arranjar”.
O professor disse que estava perfeito e que agora ele deveria girar o corte do cubo.
Enquanto isso, ele desenhou no outro lado do quadro uma cadeira e os alunos pediram que ele
desenhasse uma pessoa sentada.
O aluno que desenhava o cubo no quadro falou –¨tá tri o cubão, né professor?¨
¨-Está muito bom ¨– disse o professor.
Os colegas davam risadas das palhaçadas do colega enquanto ele desenhava. Às
vezes ele não conseguia acertar o corte, os colegas opinavam e ele apagava porque não estava
reto. Três alunos pediram ajuda para outros colegas porque não conseguiam fazer.
Neste dia compareceram dez alunos, entre eles, uma aluna grávida que trocou de
turno.
ANÁLISE DA AULA
A aula foi participativa e descontraída, os alunos davam opiniões do corte do cubo
se estava certo ou torto.
OBSERVAÇÃO SILENCIOSA Nº 6
DIA: 15/04/09.
TURMA 106 Ensino Médio - noturno
44
Continuação da aula sobre perspectiva - cubo em perspectiva em 4 etapas, desta
vez devem usar a medida de 4 cm de aresta.
Os alunos ajudam os que não conseguem desenhar os cubos.
Entreguei o questionário do estágio para os alunos, que logo responderam e me
entregaram.
Nessa aula os alunos devem desenhar um objeto em perspectiva, à mão livre, para
ser entregue no final de Maio. O professor deu exemplo de uma caixa, um estojo.
A aula passou rápido.
Compareceram 11 alunos.
ANÁLISE DA AULA
Os alunos faltam bastante. Eles não demonstram interesse nas aulas.
Em uma conversa informal uma aluna disse que queria criar, estava enjoada de ter
que desenhar os cubos.
Se o desafio fosse observar e desenhar uma cadeira ou mesa em perspectiva o
trabalho não ficaria tão monótono.
Mostrar e descobrirem perspectivas em algumas reproduções de pinturas.
O professor deve incentivar a participação dos alunos fazendo-os observarem,
analisar e a pensar nas aulas.
OBSERVAÇÃO SILENCIOSA Nº 7
DIA: 16/04/09
TURMA 106- Ensino médio - noturno
45
O professor chegou e disse que eles iriam fazer uma composição de paisagem.
Ele desenhou uma árvore, céu e montanhas no quadro. Pediu aos alunos que
desenhassem e pintassem com o lápis de cor da seguinte maneira:
Céu – azul fraco mais cor de pele.
Montanha – verde mais marrom.
Árvore – tronco – marrom mais verde.
Copa – verde fraco mais amarelo.
Entreguei o questionário para quatro alunos que tinham faltado no dia anterior.
Rapidamente eles responderam e entregaram.
Duas alunas disseram: ¨Até que enfim não vamos mais desenhar os cubos, não
aguentamos mais. ¨
O professor saiu para falar com a diretora. Os alunos trabalharam quietos. Quando
o professor retornou disse que ainda não conseguiu os dois períodos no mesmo dia. Uma
aluna disse que iria falar com a diretora para ajudar o professor.
2.2. ANÁLISE DAS
OBSERVAÇÕES SILENCIOSAS
Penso que deveria haver uma retomada pelo professor sobre as pinturas nas
cavernas, qual o significado, que tipo de material era utilizado pelos povos primitivos na
primeira aula que observei.
46
O professor chega desmotivado, alguns alunos não trazem materiais, a escola não
fornece. É um círculo vicioso – o professor e aluno estão desmotivados
A aula está monótona, o período é curto (40 minutos) e não há incentivo por parte
do professor. As aulas poderiam ser mais dinâmicas. Os alunos faltam bastante e não
demonstram interesse nas aulas.
Em uma conversa informal uma aluna disse que queria criar, estava enjoada de ter
que desenhar os cubos.
Se o desafio fosse observar e desenhar uma cadeira ou mesa em perspectiva,
mostrar e descobrirem perspectivas em algumas reproduções de pinturas o trabalho não ficaria
tão monótono.
O professor deve incentivar a participação dos alunos fazendo-os observarem,
analisarem e a pensarem nas aulas. Através de imagens de reproduções o professor poderia
falar sobre linha, textura, cores, volume e outros elementos visuais.
Como consta nos Parâmetros Curriculares nacionais de Artes (PCN’s, 1997) o
educador é o descobridor de propostas de trabalhos que tem por objetivo sugerir atividades
onde os aprendizes possam realizar seu processo de criação e apreciação da arte.
Embora a turma seja calma, as aulas são monótonas. O professor acha um período
insuficiente e inconveniente para levar os alunos na sala de artes, onde possuem imagens no
computador da sala e os livros de Artes. Eles perdem tempo no deslocamento.
Conforme Ana Mae Barbosa (2009) a arte na escola não quer formar artistas; ela
busca o conhecedor, fruidor e o decodificador de arte. E o conhecimento em arte se dá através
da experimentação, da apreciação de arte, da decodificação da informação.
É dever de todo educador de Arte, como consta nos parâmetros Curriculares de
Arte (PCN’s, 1997; p. 111),
[...] ser um incentivador de seus aprendizes; propor questões relativas à Arte, interferir tanto no processo criador dos alunos como nas atividades de apreciação de obras de arte e informações sobre artistas. O educador é o estimulador do olhar crítico dos aprendizes em relação às formas produzidas por eles, pelos colegas e pelos artistas.
Penso que na última aula a paisagem deveria ser criada pelos alunos - onde iriam
imaginar e desenhar criando seus trabalhos podendo usar as cores pedidas pelo professor.
47
CAPÍTULO IV
Este capítulo contém o plano de ensino e as doze aulas aplicadas no ensino médio,
na turma 105 e 106 do noturno, na E. E. E. .F. Professor Sarmento Leite.
TEMA
48
O tema escolhido foi o desenho, uma linguagem plástica que constitui uma forma
de expressão.
É um outro modo de olhar, um olhar mais atento, aguçado ao universo visual que
nos rodeia.
JUSTIFICATIVA
A partir das observações das aulas teóricas e do diagnóstico da turma, percebi a
necessidade de fomentar os alunos para o despertar de uma outra visão sobre o desenho,
fugindo do convencional: desenho estereotipado.
Não há um incentivo desafiador com atividades que estimulam a criatividade do
aluno.
Através do desenho, os alunos podem expressar o que pensam, seus pontos de
vista ou sua visão do mundo.
Algumas pessoas sentem receio em desenhar, porque buscam a representação
realista do objeto e isto, muitas vezes, desencadeia uma sensação de medo e a preocupação de
fazer bem feito.
OBJETIVOS GERAIS
-Propiciar aos aprendizes o desenvolvimento de um processo artístico através da
execução de uma linguagem gráfica e de atividades que visem aprimorar um senso crítico em
relação ao fazer artístico.
-Despertar o interesse dos aprendizes pela Arte, obras e artistas.
-Propiciar o desenvolvimento da expressão através da linguagem do desenho.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
49
-Reproduzir através da linguagem do desenho o objeto observado.
-Exercitar o lado direito e esquerdo do cérebro.
-Incentivar os alunos a um outro modo de olhar, um olhar mais atento, aguçado ao
-universo visual que os rodeia.
-Experimentar diferentes materiais traçando linhas e texturas variadas.
-Compor uma imagem com as texturas feitas em papéis de diferentes cores e
gramaturas da aula anterior.
-Exercitar a linguagem do desenho através de um exercício não convencional.
-Conhecer a obra de Nair de Teffé, a primeira mulher caricaturista brasileira.
-Identificar uma caricatura e representar por meio de caricatura os artistas Tiago
Rodrigues e Gisele Bündchen.
-Estimular a criatividade.
-Conhecer um pouco da vida e obras do artista Joan Miró.
-Utilizar o desenho como meio de expressão artística
-Conhecer a vida do artista Pablo Picasso e seus desenhos com o uso de poucas
linhas.
-Observar que com apenas uma linha é possível fazer uma representação gráfica
-Conhecer um pouco sobre a vida de Volpi e a reprodução da obra ¨Grande Fachada
Festiva¨.
-Compor uma figura utilizando pedaços rasgados aleatoriamente de uma folha de
ofício.
1ª Aula
Dia: 09/09/09
Turma 106
50
OBJETIVOReproduzir através da linguagem do desenho o objeto observado.
PLANEJADODistribuir uma folha A4 e o lápis 6B.
Desenhar um objeto (mochila ou bolsa) sem olhar para a folha A4 e sem tirar o
lápis do papel.
Fazer um desenho de observação com o mesmo objeto, procurando ocupar todo o
espaço da folha.
REALIZADOA aula foi no último período da noite. Entrei na sala de aula junto com o professor
regente que informou aos alunos que a partir desse momento eu iria assumir a turma até o
final de novembro e que os trabalhos feitos a partir de agora seriam para as notas do trimestre.
O professor saiu da sala. A chamada foi feita por mim.
Apresentei-me e passei as informações aos alunos sobre o trabalho que seria
realizado. Meus olhos percorriam a sala para ver onde poderia colocar a mochila, de forma
que ficasse visível a todos os aprendizes. Como não tinha prego a opção foi a classe dos
alunos.
Solicitei que eles guardassem todo o material e que sobre as suas classes
permaneceria apenas uma folha A4 e lápis grafite. Enquanto eles organizavam seus materiais,
coloquei a cadeira em cima da mesa dos alunos e disse: “pessoal hoje vou colocar a cadeia em
cima da mesa para que vocês possam observar um objeto”, então coloquei a mochila em cima
da cadeira.
Pedi que os alunos desenhassem o objeto sem olhar para a folha e sem tirar o lápis
do papel.
Alguns alunos disseram que ¨não conseguiam desenhar olhando, imagina sem
olhar¨.
Tranquilizei-os informando que o objetivo da atividade é o traçado da linha, o
movimento e não a perfeição do desenho.
Após observarem seus rabiscos foi feito o desenho de observação da mochila.
Quando o tempo se esgotou recolhi os trabalhos.
Ao serem questionados sobre a experiência do desenho cego alguns acharam
interessante e outros não gostaram muito por que é difícil ficar sem olhar a folha ao desenhar.
51
Percebi que os adolescentes estão muito presos a preconceitos e isto gera uma
certa resistência neles no ato de desenhar para outras pessoas verem a sua produção artística.
A maioria dos aprendizes, sentem uma certa resistência em desenhar para que os
outros vejam, porque consideram que não sabem desenhar. Toda criança desenha aquilo que
sente, não está presa a paradigmas, sua expressão gráfica é solta. Mas a maioria destas
crianças, conforme Ana Angélica Moreira ( 1999, p.51 ) quando crescem dizem: ¨...eu não sei
desenhar...¨ e esta é uma característica da maioria das pessoas que presas a paradigmas
alegam que não sabem desenhar. Isto pude observar em sala de aula.
O ato em si de desenhar busca pela representação mais realista do objeto ou figura
que muitas vezes desencadeia sensações de medo e de preocupação com o bem feito. É por
esta razão que a maioria das pessoas sentem um certo receio em desenhar.
Analisando os trabalhos observei que a maioria dos alunos não ocupou todo o
espaço da folha para o desenho e muitos não fizeram texturas, não utilizaram o recurso luz e
sombra para dar volume ao mesmo.
Trabalho do aluno Israel, 2009. Fonte: ONGARATTO, 2009.
52
Figura: Trabalho do aluno Douglas, 2009. Figura: Trabalho da aluna Yasmim, 2009. Fonte: ONGARATTO, 2009. Fonte: ONGARATTO, 2009.
2ª AULA
Turma: 106 - E. Médio
Data: 16 / 09 /09
OBJETIVOSExercitar o lado direito e esquerdo do cérebro
53
Construir um perfil humano de frente para um outro (já desenhado) e que no meio
deles apareça um vaso simétrico.
Exercitar o lado direito e esquerdo do cérebro.
PLANEJADO Distribuir aos alunos uma folha A4 com um perfil impresso para destros e outra
com um perfil para canhotos. Pedir que eles desenhassem o perfil oposto ao apresentado.
Após pedir aos alunos que observem qual a figura que se formou no meio dos dois
perfis.
Mostrar o desenho de ilusão de ótica vaso / rostos
Figura: Vaso /Rostos
Fonte: EDWARDS (2003, p.72)
REALIZADOApós a chamada expliquei aos alunos que eles iriam traçar um perfil humano.
Para esta atividade entreguei uma folha com o perfil feito para destros e outra para canhotos.
Os alunos (após observarem o perfil impresso na folha) devem desenhar o perfil
do lado oposto.
Pedi para que eles observassem que figura foi gerada no meio dos dois perfis.
Ao término do trabalho mostrei o desenho de ilusão de ótica (vaso / rostos) do
livro de Betty Edwards, Desenhando com o lado direito do cérebro.
Pedi que eles escolhessem qual das figuras (vaso ou rostos) iriam pintar.
54
Segundo Betty Edwards (2003, p. 73), ¨ […] os alunos sentem uma certa confusão
ou conflito ao fazerem este exercício.¨
Para Edwards (2003), o cérebro humano é dividido em dois hemisférios, o
esquerdo que é a modalidade dominante e o direito que é a modalidade subordinada. O
primeiro perfil foi desenhado à maneira do hemisfério esquerdo onde podemos nomear as
partes do rosto. O segundo perfil foi desenhado na modalidade do hemisfério direito onde
observamos os espaços e examinamos a direção do traçado da linha. O cérebro deve passar de
uma modalidade verbal à outra, visual, gerando confusão e exigindo uma mudança mental.
Observando os alunos trabalhando notei que muitos passaram primeiramente o
lápis por cima do perfil impresso para depois tentar desenhar o lado oposto. Algumas vezes
foi preciso intervir para que eles observassem os espaços, curvas e formas. Alguns alunos
queriam desistir alegando que não conseguiam fazer, insisti que eles tentassem porque
conseguiriam.
55
Trabalho aprendiz Paulo G., 2009. Trabalho aprendiz Josiane, 2009. Fonte: ONGARATTO, 2009. Fonte: ONGARATTO, 2009.
Figura: trabalho aprendiz Israel, 2009. Figura: trabalho aprendiz Pamela, 2009. Fonte: ONGARATTO, 2009. Fonte: ONGARATTO, 2009.
56
3ª AULA
TURMA: 106
DATA: 23 / 09 / 09
OBJETIVOIncentivar os alunos a um outro modo de olhar, um olhar mais atento, aguçado ao
universo visual que os rodeia.
PLANEJADOOs alunos deverão observar a sua mão e desenhá-la numa folha A4 com lápis 6B.
Se o aluno for destro, desenhará a sua mão esquerda na posição que preferir. Se sinistro,
desenhará a sua mão direita.
REALIZADOExpliquei aos alunos que eles deveriam observar sua mão, que procurassem
perceber as linhas, texturas, contornos.
Disse que quem fosse destro, desenharia sua mão esquerda, na posição que
preferisse, e o canhoto a sua direita.
Distribuí folhas A4 e o lápis 6B para fazerem o desenho.
Alguns alunos tiveram dificuldades com o contorno das unhas.
De acordo com Betty Edwards,
¨[...] ao chegar as partes que lhe imponham nomes-as unhas, por exemplo-, tente fugir das palavras. Uma boa estratégia é se concentrar nas formas em torno das unhas. Estas formas compartilham arestas com as unhas. Portanto se desenhar as formas em torno das unhas, você também terá desenhado as arestas das unhas [...]. (EDWARDS, 2003, p.129)
A maioria dos trabalhos apresenta textura, eles ocuparam melhor o espaço da
folha e os desenhos apresentam noções de proporção.
57
Trabalho da aprendiz Yasmin, 2009. Trabalho aprendiz Pamela, 2009. Fonte: ONGARATTO, 2009. Fonte: ONGARATTO, 2009.
Trabalho do aprendiz Israel, 2009. Trabalho do aprendiz Wagner, 2009. Fonte: ONGARATTO, 2009. Fonte: ONGARATTO, 2009.
58
4ª AULA
Turma: 106 - ensino médio- noturno
Dia: 30 / 09 / 09.
OBJETIVOExperimentar diferentes materiais traçando linhas e texturas variadas.
PLANEJADODistribuir papéis com cores e gramaturas diferentes.
Colocar em uma mesa diversos materiais: nanquim preto e amarelo, líquido
corretivo, canetinhas hidrocor, lápis aquarela, lápis 6b, palitos, pincéis, lápis de cera, papéis
com cores e gramaturas diferentes.
Os alunos devem fazer experimentos com os materiais.
REALIZADOConversei com os alunos sobre o experimento com diversos materiais. Pedi aos
alunos que juntassem algumas mesas para colocarem os materiais: nanquim preto e amarelo,
líquido corretivo, hidrocores, lápis aquarela e de cor, lápis 6B, palitos, pincéis, lápis de cera e
papéis de diferentes gramaturas e cores.
Pedi aos alunos que fizessem texturas, linhas diversas, enfim, que brincassem com
o material.
Os alunos estavam concentrados no trabalho. A aula foi tranquila.
Um aluno disse que fazia muito tempo que não trabalhava com vontade sem
preocupação com forma, utilizando vários materiais. A aula estendeu-se quinze minutos além
do previsto, porque os alunos pediram para terminar o que tinham começa.
Duas alunas comentaram que a aula ¨estava muito gostosa¨.
59
Susana Rangel Vieira da Cunha afirma que,
[…] Para que as crianças [e os adultos] tenham possibilidades de desenvolverem-se na área expressiva, é imprescindível que o adulto rompa seus próprios estereótipos, à fim de que consiga realizar intervenções pedagógicas no sentido de trazer á tona o universo expressivo infantilUma das maneiras de o adulto romper suas formas cristalizadas é resgatar seu processo expressivo, voltando a brincar com os materiais, não tendo medo de mostrar suas descobertas formais, espaciais e colorísticas, lançando-se junto com as crianças na aventura de criar o inusitado, acompanhando o processo infantil junto com o seu próprio processo. (CUNHA, 2006, p. 10).
Os alunos estavam concentrados no trabalho e experimentaram todos os materiais,
pois alguns nunca trabalharam com lápis aquarela, nanquim e o líquido corretivo.
Nos trabalhos surgiram mistura de cores, linhas retas, onduladas, espirais, linhas
sinuosas, manchas, pontos, abstrações sem preocupação do resultado.
Os alunos demonstraram satisfação e prazer em aula.
Fonte: ONGARATTO, 2009. Figura: Trabalho aprendiz Josiane, 2009.
Fonte: ONGARATTO, 2009. Figura. Trabalho aprendiz Felipe, 2009.
60
5ª AULA
DIA: 14 / 10 /09.
TURMAS: 105-106 - Ensino Médio-noturno.
OBJETIVOCompor uma imagem com as texturas feitas em papéis de diferentes cores e
gramaturas da aula anterior.
PLANEJADOPedir aos alunos que escolham um dos trabalhos de textura feitos na aula anterior.
Após, cada aluno deverá colar em uma folha A4 e fazer uma composição
utilizando canetas, lápis coloridos e lápis 6B.
REALIZADOQuando cheguei à escola fui avisada pela direção que a partir deste dia as turmas
106 e 105 foram condensadas numa única, pois as duas tinham poucos alunos.
Para os alunos da turma 105 foi a primeira vez que dei aula. Alguns dos
adolescentes são inquietos e agitados.
Coloquei as texturas feitas na aula anterior numa mesa e pedi aos alunos que
escolhessem as texturas que os colegas da turma 106 tinham feito na aula anterior.
Cada aluno ficou com uma textura para trabalhar. Quando foram escolher as
figuras dois alunos da turma 105 disseram que as figuras ¨eram feias e que fariam muito
melhor ¨. Pedi que respeitassem o trabalho dos colegas e instiguei-os a fazerem suas
composições, mostrando-me como iriam resolver seus desenhos usando sua criatividade e
como poderiam fazer melhor a partir das texturas dos colegas.
Após os alunos escolheram as figuras e o material disponível numa mesa e foram
trabalhar.
Penso que os dois alunos que desdenharam do trabalho dos colegas ficaram com
ciúmes por não terem passado pelo mesmo processo de experimentação e vivência que os
colegas da turma 106.
61
Quando os alunos entregaram os trabalhos disse que estavam razoáveis, mas que
poderiam ter trabalhado mais, fazendo com que os seus desenhos sobressaíssem mais do que a
textura. Disse que na próxima aula teriam que melhor.
Ana Mae Barbosa (2003) afirma que
[...] para Antônio Nóvoa as escolas precisam abrir espaços para a história e o projeto pessoal do aluno, unindo saberes e experiências, e eu [a autora] acrescento, saberes como sabores significativos, quer deliciosos, quer “terríveis”, mas transformados em delicias […] (BARBOSA, 2003, p.36).
Os alunos que passaram pela experiência da experimentação fizeram trabalhos
mais significativos.
Alguns alunos ao fazerem seus desenhos ainda utilizam estereótipos e procuraram
usar o lado figurativo mesmo que as texturas sugerissem formas abstratas.
Trabalho aluno Israel, 2009. Fonte: ONGARATTO, 2009.
62
Trabalho aluno Gelson, 2009. Fonte: ONGARATTO, 2009.
6ª AULA
TURMAS: 105-106 -Ensino médio -noturno.
DIA: 21 /10 / 09
OBJETIVOCompor uma figura utilizando pedaços rasgados aleatoriamente de uma folha de
ofício.
PLANEJADOPedir aos alunos para rasgar folhas de ofício sem pensar em formas.
Orientar para que o pedaço do papel não fique muito pequeno e que observem os
pedaços e monte-os em várias posições antes da colagem.
63
Após a colagem o aluno deverá utilizar lápis 6B, hidrocor, lápis de cor e de cera
para desenhar a figura que imaginou.
REALIZADODistribuí duas folhas de papel ofício pra os alunos. Mostrei como deveriam rasgar
os papéis, cuidando para que não ficassem muito pequenos e que rasgassem primeiro tirando
as pontas e depois, trabalhando com as mãos, fazendo vários contornos diferentes.
Após rasgar as folhas, pedi que eles observassem as formas em várias posições
montando uma figura com os pedaços rasgados. Solicitei que os alunos colassem os pedaços
de papel quando terminassem a montagem. Dois deles pediram uma folha para colar a figura
que formaram. Respondi que esse trabalho não seria colado em outra folha.
Os alunos, após a colagem, utilizaram lápis 6B, lápis de cera, de cor e canetas
hidrocor para completarem a figura formada.
Para Susana Rangel (2006, p. 56), o sujeito deve ser provocado e desafiado na sua
criação, onde o ¨criar é sempre complexificar, coordenar, combinar de forma nova a partir de
uma provocação ¨.
Surgiu uma variedade de figuras como carro, pessoas, animais e outras. Esse
trabalho foi muito bom, pois sai da figura do estereótipo.
Trabalho da aprendiz Liliane, 2009. Fonte: ONGARATTO, 2009.
64
Trabalho da aprendiz Taiara, 2009. Fonte: ONGARATTO, 2009.
7ª AULA
DIA: 24 /10/09
TURMAS: 105-106 -Ensino médio -noturno.
OBJETIVOSObservar que com apenas uma linha é possível fazer uma representação gráfica.
Conhecer a vida do artista Pablo Picasso e seus desenhos com o uso de poucas
linhas.
PLANEJADOSolicitar aos alunos que pensem numa figura, pessoa ou animal.
Após eles devem tentar desenhar o contorno desta figura sem levantar o lápis da
superfície do papel.
Desenhar o mesmo contorno, porém desenhando com a mão direita e tapando o
olho esquerdo sem tirar o lápis do papel.
65
Repetir novamente este procedimento utilizando a mão esquerda e tapando o olho
direito sem levantar o lápis da folha.
Após a execução do trabalho, mostrar o desenho de Picasso, falar um pouco da
vida do artista e dizer que com poucas linhas ele consegue transmitir segurança e graça nos
traçados de suas linhas.
Figura: desenhos de Picasso.
Fonte: GALASSI, Susan Grace – 1998.
REALIZADO Pedi aos alunos que pensassem numa figura, podendo ser esta um animal ou
pessoa e que desenhassem o contorno desta figura numa folha A4 com lápis 6B sem levantá-
lo da superfície do papel.
Os alunos devem procurar desenhar o mesmo contorno com a mão direita e
tapando o olho esquerdo sem tirar o lápis do papel.
Após repetiram desenhando com a mão esquerda e com o olho direito tapado.
Comentei com os alunos que Picasso era pintor e desenhista e que tinha desenhos
onde utilizava uma linha só.
Mostrei desenhos onde Picasso desenha com uma linha só. Como foram poucos
alunos por ser sábado, entreguei o livro de Susan Grace Galassi (1998) para que os alunos o
manuseassem.
Segundo Galassi( 1998, p.7 ), ¨[...]o interesse de Picasso se ligava ao próprio
prazer do processo de desenhar e a infinita extensão de permutações da linha, e não à simples
solução de um problema.¨
Os alunos ficaram impressionados com os desenhos de Picasso, que fez uma
figura com apenas uma linha.
Os desenhos dos alunos são simples e eles utilizaram uma linha única.
São contornos de pessoas, peixe, cachorro, pato sem texturas e volumes.
66
Alguns alunos apresentaram mais dificuldade no traçado com os olhos fechados,
talvez por mudar seu foco de visão, os desenhos ficaram com o traçado das linhas um pouco
tremulas.
Trabalho da aprendiz Jennifer, 2009. Fonte: ONGARATTO, 2009
8ª AULA
DIA: 28 /11/09
TURMA: 105-106 -Ensino médio -noturno.
OBJETIVOExercitar a linguagem do desenho através de um exercício não convencional
PLANEJADOObservar a reprodução do desenho do compositor Igor Stravinsky, feita por Pablo
Picasso. A imagem está de cabeça para baixo. Os alunos deverão copiar essa imagem
invertida, ou seja, de cabeça para baixo.
67
Pablo Picasso(1881-1973), retrato de Igor Stravinsky.Paris, 21 de maio de 1920(datado). Coleção particular. Fonte: EDWARDS, 2003, p. 80.
REALIZADO Expliquei que a proposta de trabalho era desenhar uma imagem invertida, de
cabeça para baixo. Seria um grande desafio.
Entreguei a reprodução do desenho de Stravinsky feito por Picasso xerocado na
metade de uma folha A4. Na outra metade da folha os alunos deveram desenhar a imagem
invertida com lápis 6B.
Disse aos alunos que não virassem o desenho para cima antes de terminar. Eles
poderiam começar por onde quisessem, por baixo, por cima, um dos lados, basta começar
copiando as linhas. Recomendei que não tentassem desenhar o contorno inteiro da forma e
depois preencher as partes, porque se cometessem algum erro as partes não se encaixariam.
Pedi aos alunos para passar de uma linha para outra adjacente, de um espaço para outro
encaixando as partes do desenho. Para Betty Edwards (2003, p. 82), os alunos devem¨ usar a
linguagem da visão descobrindo somente as linhas e não dar nome as partes do desenho¨.
Uma aluna disse: ¨não sei desenhar e a senhora quer ainda de cabeça para baixo?¨
Respondi que ela tentasse e seguisse todas as orientações dadas e possivelmente
teria uma grande surpresa.
68
Segundo Edwards (2003), a razão para se fazer este exercício é de que possamos
fugir dos conflitos entre os hemisférios esquerdo e direito do cérebro e desenhar somente
aquilo que percebemos.
Respondi que ela tentasse e seguisse todas as orientações dadas e possivelmente
teria uma grande surpresa.
Depois de terminado o desenho os alunos viraram a cópia.
Eles, que diziam não saber desenhar ficaram surpresos com os resultados. A aluna
que reclamou comentou que ¨foi mais fácil desenhar invertido, que nunca imaginou que
conseguiria, pois o desenho tinha muitas linhas ¨.
Os alunos ficaram satisfeitos com o resultado, pois os desenhos ficaram bons.
Retrato de Igor Stravnsky Trabalho da aprendiz Taiara, 2009. por Pablo Picasso, 1920 Fonte: Ongaratto, 2009. Fonte: Edwards, 2003, p. 80.
69
9ª AULA
DIA: 04 /11 /09.
TURMA: 105-106 -Ensino médio - noturno.
OBJETIVOSIdentificar uma caricatura.
Conhecer a obra de Nair de Teffé, a primeira mulher caricaturista brasileira.
Representar por meio de caricatura os artistas Tiago Rodrigues e Gisele
Bündchen.
PLANEJADOFalar um pouco da vida da primeira caricaturista brasileira, Nair de Teffé.
Nair de Teffé foi a primeira caricaturista brasileira (Petrópolis, RJ, 1886)
Iniciou-se com o pseudônimo de RIAN (Nair de trás para frente), fazendo retratos
caricatural de indivíduos (portrait-charges ).
Seu sucesso como artista deveu-se, em parte, à posição social que desfrutou, como
filha do barão de Teffé e, mais tarde esposa do Presidente da Republica, marechal Hermes da
Fonseca.
Morreu em 1981, em Niterói no Rio de Janeiro.
Mostrar a caricatura feita do presidente exilado na década de 30 por Nair de Teffé
-Rian como assinava.
70
Caricatura de Nair de Teffé Gisele BündchenFonte: wwwmuseuhistoriconacional.com. BR Revista Caras, 2008.
Tiago Rodrigues. Revista Caras, REALIZADO
Mostrei a reprodução da Caricatura feita por Nair de Teffé e relatei sobre sua
vida,
71
Comentei que caricatura é uma das formas de expressão que se utiliza do exagero
em determinadas características físicas da pessoa. É comum vermos o exagero nos traços
fisionômicos da pessoa caricaturada, mas podemos destacar no desenho qualquer parte do
corpo, bem como trejeitos. O exagero é importante, mas sem esquecer de manter os traços
característicos que identifiquem a pessoa caricaturada.
No site Wikipédia consta que,
A caricatura é um retrato cômico de uma pessoa, salientando seus traços peculiares e provocando em quem os aprecia, riso, zombaria e até mesmo desprezo. Sua história tem início nas antigas civilizações: os assírios, gregos e romanos fizeram uso da caricatura. Esta arte, porém, só floresceu por volta do século XVII. (www.wikipédia.org).
A caricatura é um meio de expressão através do desenho, pintura, escultura,
cinema teatro e outros.
Após o comentário mostrei a representação da imagem do artista Tiago Rodrigues
para os alunos e pedi que fizessem uma caricatura do mesmo utilizando lápis 6B e folha A4.
No mesmo site, aparece a seguinte definição:
Caricatura é um desenho de um personagem da vida real, tal como políticos e artistas. Porém, a caricatura enfatiza e exagera as características da pessoa de uma forma humorística, assim como em algumas circunstâncias acentua gestos, vícios e hábitos particulares em cada indivíduo. Historicamente a palavra caricatura vem do italiano caricare (carregar, no sentido de exagerar, aumentar algo em proporção). (www,Wikipédia.org.)
Após mostrei a imagem de Gisele Bündchen para os alunos fazerem a caricatura
da mesma.
Analisando os trabalhos nota-se a dificuldade em alguns alunos de observar as
imagens e colocar no papel suas impressões. Outros alunos mostram uma facilidade na
expressão caricatural utilizando o exagero em determinados traços da fisionomia da pessoa
caricaturada.
72
Trabalho do aprendiz Gideão, 2009. Trabalho do aprendiz Israel, 2009. Fonte: ONGARATTO, 2009. Fonte: ONGARATTO, 2009.
10ª AULA
DIA: 11 / 11 /09
TURMA: 105-106 -Ensino médio - noturno.
OBJETIVOExpressar- se criativamente através do desenho.
PLANEJADODar uma folha A4 com alguns recortes e dobras para os alunos. Pedir que
observem a folha e que imaginem um desenho onde essas dobras e recortes se integrem
e desenhar com lápis 6B, lápis de cor e canetinhas hidrocor.
REALIZADODistribui folhas A4 com recortes e dobraduras em algumas partes das
folhas.
73
Pedi que os alunos observassem a sua folha em várias posições e que eles
imaginassem um desenho que interagisse com as dobras e recortes da folha.
Alguns alunos tiveram dificuldade em desenhar na folha demorando mais
tempo que o previsto.
Nota-se em alguns trabalhos, os estereótipos.
Para Maria Letícia Viana (2006, p.3), ¨os desenhos estereotipados
empobrecem a percepção e a imaginação da criança, inibem sua necessidade expressiva;
embotam seus processos mentais, não permitem que desenvolvam naturalmente suas
potencialidades¨.
Todas as pessoas podem desenvolver seu processo criador através da prática
continua.
Outros alunos deixaram sua imaginação e criatividade fluir.
Os alunos têm dificuldade em criar.
Trabalho do aprendiz Israel, 2009. Fonte: ONGARATTO, 2009.
74
Trabalho do aprendiz Paulo, 2009. Fonte: ONGARATTO, 2009.
11ª AULA
DIA: 18 / 11 /09
TURMA: 105-106 - Ensino médio noturno.
OBJETIVOSObservar detalhes da obra do artista Joan Miró.
Conhecer um pouco das obras e vida do artista Joan Miró.
Utilizar o desenho como meio de expressão artística
75
PLANEJADO Falar sobre o artista Joan Miró e mostrar as reproduções de suas obras:¨O
Jardim de Miró¨, ¨Carnavial of Harlequin¨ e ¨Chiffres et Constellations¨.
Joan Miró nasceu no dia 20 de abril de 1893, em Barcelona, Espanha.
Iniciou sua formação como pintor, em Barcelona.
Em 1912 entrou para a escola de arte de Francisco Gali onde conheceu a
obra dos impressionistas e fauvistas franceses. Nesta época, fez amizade com Picasso
e seus amigos cubistas, em cujo grupo militou durante algum tempo. É desse período
sua obra Auto-retrato.
Miró dedicou-se também à cerâmica e a escultura.
Entre suas obras mais importantes estão Carnaval de Arlequim (1924-25)
e o Caçador, ou Paisagem Catalã (1923). Integrante do movimento surrealista e um
dos maiores pintores espanhóis.
Morreu em 1983.
Fonte: Grandes Artistas Modernos: Picasso, Modigliani e Miró, 1991, p.53.
Mostrarei algumas reproduções de suas obras.
Figura: Carnaval de Arlequim 1924-25. Figura: O Jardim de Miró.Fonte: Grandes Artistas Modernos: Fonte www.crfrance.wordpress.com Picasso, Modigliani e Miró, 1991
76
Figura: Chiffres et Constellations . Fonte: www.abcgallery.com.
Recortarei um pedacinho de suas obras, ¨ O carnaval de Arlequim e¨ O
Jardim de Miró¨ e colarei em uma metade da folha A4. Pedirei aos alunos que
observem a figura colada e expressem através do desenho o que a figura lhes transmite.
REALIZADOComecei a aula mostrando as reproduções de Joan Miró- ¨O Carnaval de
Arlequin¨,¨O Jardim de Miró¨ e ¨Chiffres et constelations¨. Perguntei se sabiam quem
teria pintado as telas. Os alunos responderam que não. Então, fiz um breve relato sobre
a vida de Miró.
Após, distribuí as folhas A4 cortadas pela metade com detalhes colados das
reproduções do artista, lápis 6B, canetinhas, lápis de cor e de cera.
Pedi aos alunos que observassem a figura colada na folha e que, a partir
dela, se expressassem através do desenho deixando fluir sua criatividade.
Para Miriam Celeste Martins, Gisa Picosque e M. T. Guerra (1998, p. 114),
¨quem não produz e inventa idéias dificilmente consegue encontrar soluções criativas
para resolver as dificuldades do cotidiano¨.
Os alunos devem ir em busca de soluções criativas para resolverem seus
problemas na vida diária tornando-se sujeitos com olhares críticos e pensamentos
criadores.
Analisando os trabalhos, muitos alunos utilizaram uma variedade de cores e
partiram para o lado abstrato fazendo com que o seu desenho sobressaísse como a figura
colada.
77
Alguns trabalhos dos alunos apresentam contornos dados pelas cores que
definem formas ou espaços e em outros o contorno é dado pela cor preta. Algumas
formas da figura fragmentada se repetem em alguns trabalhos, há uma variação de
linhas e de diferentes espessuras nos trabalhos dos alunos.
Trabalho da aprendiz Taiara,2009. Trabalho do aprendiz Paulo Gilberto, 2009. Fonte: ONGARATTO, 2009 Fonte: ONGARATTO, 2009.
12 ª AULA.
DIA: 25 / 11 /09.
TURMA: 105-106 -Ensino médio - noturno.
OBJETIVOS
78
Conhecer um pouco sobre a vida e a reprodução da obra ¨A Grande Fachada
Festiva ¨de Alfredo Volpi
PLANEJADO Ditar as imagens que compõem a reprodução de Alfredo Volpi, a ¨Grande
Fachada Festiva ¨, (década de 1950 ),
Figura: Grande Fachada festiva (década de 1950 ). Fonte: www.artedesalto.wordpress.com
Após, os alunos deverão pintar o desenho como preferir.
Por último, mostrarei a reprodução da obra ¨Grande Fachada Festiva¨ aos
alunos e um breve comentário sobre Volpi.
Alfredo Volpi foi um grande artista moderno. As características de suas
obras são bandeirinhas e os casarios. Ele fazia murais decorativos. Tem uma série de
bandeirinhas e mastros de festas juninas.
REALIZADOComecei a aula dizendo aos alunos que a atividade proposta seria um ditado
de imagens, ou seja, eles fariam um desenho através de um ditado de imagens sobre um
artista famoso.
Comecei o ditado falando lentamente objeto por objeto do quadro para que
os alunos desenhassem do jeito que imaginavam.
Os alunos desenharam as imagens com lápis 6B nas folhas A4.
79
Anamélia Bueno Buoro cita ¨Paulo Mendes de Almeida que publicou o
seguinte, no jornal Diário da Noite, em junho de 1930¨
É este pintor uma das mais fortes individualidades da ¨Família¨( Família Artística Paulista). No que faz, deixa sempre a ¨marca de fábrica¨ do seu temperamento. É alguém que encontrou sua forma de expressão. Seu progresso se realiza sem vacilações. Tomou uma estrada e nela se aprofunda. É pictório por excelência... Tenho a impressão de que Volpi descobriu a chave dos seus problemas artísticos. O resto é realizar as operações, trabalhar.( BUORO, apud. Almeida, 1998, p. 140)
Os alunos pintaram seus desenhos com lápis de cor, cera e canetinhas
hidrocor.
Os trabalhos apresentam formas geométricas como retângulos e quadrados.
As figuras foram distribuídas uniformemente ocupando todo espaço da folha
A4.
Foram utilizadas combinações de cores das mais variadas como vermelho /
preto e branco; amarelo/ verde e branco; rosa /azul e branco; amarelo /laranja /branco e
vermelho.
Segundo Anamelia Bueno Buoro,
Volpi tece uma só teia, ao longo de sua carreira, num processo de criação intuitivo e individualizado. Nas etapas de sua construção pictórica, vai transformando portas e janelas em incisões retangulares; telhados, em triângulos recortados. Sua arte tornou-se abstrata. No início, era signo indicial das formas figurativas; depois, com os primeiros quadros geométricos, abstração nas formas não-representativas, na relação signo com o objeto. (BUORO 1998, p. 140)
As janelas no canto superior da folha, em cinco trabalhos, os alunos
desenharam quatro quadrados um ao lado do outro em cada janela e em outros
organizaram os quadrados como na reprodução da obra ditada.
Quando os alunos terminaram os desenhos mostrei a reprodução da obra e
comentei sobre ela e também sobre a vida de Volpi.
80
Trabalho da aprendiz Yasmin, 2009.
Fonte: ONGARATTO, 2009.
81
Trabalho aprendiz Gideão, 2009. Fonte: ONGARATTO, 2009.
CONCLUSÃO
O tema escolhido é o desenho. O desenho com um olhar mais aguçado deu
origem ao projeto ¨Desenhando um outro olhar¨. Este projeto foi aplicado
primeiramente com a turma 106 e a partir do quinto encontro com a turma 105.
As crianças desde a mais tenra idade, quando pegam num lápis, ensaiam
seus primeiros rabiscos; a sua expressão gráfica é solta. Os desenhos das crianças são
símbolos de como ela vê e sente o mundo ao seu redor. Portanto, ela desenha
livremente, sem medo, sem receio do certo e/ou errado. O professor não deve podá-la,
pois ela se expressa através de suas representações. Em contrapartida, deve estimulá-la a
brincar com os materiais para que possa explorar o seu mundo e seu potencial criador.
Muitas vezes o professor vem com sua famosa pasta de desenhos
estereotipados que empobrecem a criatividade e inibem as pessoas na sua expressão
gráfica fazendo com que se sintam impotentes e com a certeza de não saberem
desenhar.
As situações mencionadas anteriormente foram corroboradas nas minhas
experiências vivenciadas no decorrer do estágio durante o qual muitos aprendizes
relatavam dificuldades como: não saberem desenhar, acreditarem que seus desenhos
eram feios, produção de estereótipos e entre outros.
O projeto ¨ Desenhando um outro olhar¨ foi aplicado na turma 106 do
ensino médio e previa atividades técnicas sobre o desenho como: o desenho cego,
desenhar o perfil (vaso/rostos), desenhar a sua mão, traçar tipos variados de linhas e
texturas utilizando diferentes materiais fazendo uma composição com as mesmas,
composição de uma figura utilizando papéis rasgados aleatoriamente, desenhar
conforme Pablo Picasso somente com uma linha, desenhar uma imagem invertida, fazer
uma caricatura de artistas famosos como Gisele Bündchen e Tiago Rodrigues, desenhar
82
em uma folha com recortes e/ou dobras, desenhar a partir de um pedacinho da
reprodução da obra de Miró, um ditado de imagens.
No início do estágio sentia-me insegura, com medo e com receio por ser
professora há 29 anos e trabalhar somente com crianças de cinco a nove anos. Nunca
havia trabalhado com adolescentes e adultos. O meu medo era de não conseguir
transmitir informações, fazer um bom estágio. Será que eles iriam me aceitar? Sentia-
me muito angustiada. Talvez fosse medo do ¨novo¨. Quanta bobagem. A partir do
momento em que o medo do novo passou, senti que tinha capacidade. Fui bem aceita
por todos, direção, professores e alunos, isso me tranqüilizou. Aliás, a minha capacidade
estava adormecida, mas a minha postura inicial foi de medo
No primeiro encontro a atividade do desenho cego serviu para quebrar o
gelo inicial da aula. Foi para soltar o traço, o movimento da mão.
Os adolescentes estão muito presos a preconceitos e isto gera resistência no
ato de desenhar, porque consideram que não sabem desenhar.
Ainda surge a preocupação do fazer bem feito, da perfeição e a
representação mais realista do objeto, deixando de lado o movimento, o traçado das
linhas, não dando importância ao que sente e ao que vê.
Nos segundo e terceiro encontros os alunos precisaram ser incentivados com
perguntas para completarem seus desenhos.
Os adolescentes são como crianças grandes, necessitam de apoio, atenção e
motivação. Eles devem ser motivados para não desistir na primeira dificuldade, pois na
vida enfrentarão muitos obstáculos.
O medo nos traz insegurança e nos remete a um sentimento de impotência,
gerando uma baixa auto-estima. O meu medo de errar foi desvanecendo, mostrando-me,
ao longo dos encontros, que o prazer de estar com os aprendizes adolescentes foi muito
maior. Esse prazer fez com que surgisse uma sintonia entre eu e os alunos e fez com que
me sentisse segura tanto em termos técnicos como pessoais.
A atividade do quarto encontro foi de traçar linhas e texturas utilizando
diferentes materiais. Essa aula de experimentação foi muito prazerosa, eu e os alunos
reunidos em um único grupo exploramos os materiais. Os adolescentes voltaram a
brincar com os materiais na aventura de criar, sem a preocupação do resultado final e
sim com o processo de criação. A aula de artes era no último período da noite, quando
ela acabou os alunos não queriam ir embora pedindo para ficar mais um pouco e
continuar o que estavam fazendo. O comentário de duas alunas de que a aula estava
83
muito ¨gostosa¨ e o pedido dos alunos para que pudessem terminar o trabalho reforça
como a aula foi significativa para eles.
No quinto encontro, as turmas 105 e 106 do ensino médio foram
condensadas em uma só. Esta fusão das turmas serviu para me desequilibrar e ao
mesmo tempo como motivação para enfrentar um novo desafio
As turmas 106, talvez por serem estimulados desde o primeiro encontro e
por já termos uma afinidade, levaram mais tempo em aula para terminarem os trabalhos.
Eles utilizaram mais texturas, linhas e ocuparam mais o espaço da folha, o que não
ocorreu com os alunos da turma 105 que fizeram rapidamente seu desenho e não se
preocuparam com o acabamento e texturas. Os aprendizes da turma 106 fizeram uma
caminhada durante a qual tiveram experiências significativas. É uma pena que somente
a turma 106 passou pela experiência e vivência de experimentação de materiais. As
vivências podem e devem ser estimuladas pelo professor através de estímulos, materiais
e atividades que estimulem a criatividade ao invés do fazer por fazer.
O ritual em todas as minhas aulas era circular pela sala e conversar
individualmente com todos os alunos com uma palavra de apoio, incentivo, um elogio.
Penso que isto ajudou a criar um vínculo de afinidade e interesse entre eu e
os alunos.
A partir do sexto encontro o adolescente G da turma 105, que na aula
anterior chamou atenção para si, mudou sua postura em aula se interessando e ajudando
nas aulas. Esse episódio me fez refletir sobre se o meu interesse pelos alunos,
conversando, estimulando, às vezes provocando e desafiando fez com que fomentasse o
interesse, a participação e assiduidade nas aulas dos aprendizes.
As palavras de Fussari reforçam como é importante o papel do professor de
Arte na educação.
[...] ao chegar à adolescência, muitos jovens demonstram até uma perda do entusiasmo pelas questões artísticas, ao contrário do grande envolvimento manifestado pelas crianças. Um dos desafios para o professor de Arte é manter vivo esse interesse, para que seja possível a continuidade do crescimento e aprendizado iniciado na infância (FUSSARI, 2001, p.62).
Os adolescentes precisam de motivações para seguir sua caminhada. Por
estarem passando por inúmeras transformações no seu corpo e identidade, eles se acham
feios, acham que as pessoas não gostam deles, estão desorientados, confusos. Eles
84
tentam se afirmar, muitas vezes, agredindo os outros ou se recolhendo em seu mundo
solitário.
No oitavo encontro os aprendizes tiveram que copiar a reprodução do
desenho do compositor Igor Stravinsky, feita por Pablo Picasso invertida.
Os alunos se mostraram surpresos com a questão técnica e o resultado,
porque não esperavam conseguir desenhar invertido. Foi a primeira experiência neste
sentido. Os desenhos ficaram parecidos com o modelo que tinha muitas linhas. As
afirmações: ¨eu não sei ¨e ¨eu não consigo desenhar¨ mostram como as pessoas estão
presas a modelos estereotipados e ficam presas a preconceitos. Será realmente que as
pessoas perderam seu traço em alguma fase de sua vida adulta como comenta Silvio
Dworecki em seu livro ¨Em busca do traço perdido? Penso que este trabalho ajudou na
auto-estima dos alunos, pois todos conseguiram realizar a atividade satisfatoriamente
Os aprendizes, a partir do oitavo encontro sentem-se mais soltos e tranqüilos
para se expressarem. Os adolescentes da turma 105 estão mais confiantes em si, penso
que o meu interesse por eles esteja modificando suas atitudes de interesse, participação
em aula e assiduidade.
As pessoas através da prática contínua podem desenvolver o seu processo
criador. Não é por falta de interesse dos alunos e sim por receberem tudo pronto que
eles têm dificuldade em criar e imaginar.
Os adolescentes gostam de expor seus pensamentos, de uma palavra de
apoio e atenção e de se sentirem importantes para alguém.
Nas minhas aulas geralmente a sala estava sempre cheia. Faltava um ou dois
alunos por aula. Após o estágio retornei por duas vezes a escola para conversar com o
professor e encontrei somente sete ou oito alunos. Perguntei pelos alunos e a resposta
foi que ¨tu sabe como é, eles não se interessam, não querem nada com nada¨. Isto me fez
pensar sobre o que estava acontecendo. Será mesmo que os alunos não se interessavam
pelas aulas ou será que o professor estava desestimulado e as aulas estavam chatas como
alguns alunos reclamaram.
Encontrei dois alunos na frente da escola, conversei com eles e perguntei
por que não estavam na aula, a resposta foi: ¨Ah prof. tem só um questionário para ser
entregue no final do trimestre depois a gente copia dos colegas¨.
Presume-se que as aulas deveriam ser como um banquete agradando a todos
os sentidos e deixando um gostinho de quero mais.
85
Meu estágio termina aqui. Levo comigo lembranças e experiências que
jamais serão esquecidas. Momentos como o de entrar em sala de aula e ver os
aprendizes curiosos me olhando e eu, com o coração aos pulos, com receio de errar,
iniciando a aula e, aos poucos, percebendo nascer uma sensação de alívio e bem estar.
REFERÊNCIAS
ARSLAN, Luciana Mourão. Ensino de Arte. São Paulo. Thomson, 2006.
BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte. Ed. Perspectiva, 2009.
BARBOSA, Ana Mae. Arte-educação no Brasil. 5ª ed. São Paulo. Ed.
Perspectiva, 2002.
BARBOSA, Ana Mae (org.). Inquietações e mudanças no ensino da Arte.
2ª ed. São Paulo: Ed. Cortez, 2003.
BARBOSA, Ana Mae, COUTINHO, Rejane Galvão, SALES, Heloisa
Margarido. Artes Visuais: da exposição à sala de aula. São Paulo: Edusp, 2005.
BRASIL (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO).
Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte. Brasilia, Mec, 1997
BUORO, Anamélia Bueno, O olhar em construção: Uma experiência de
ensino e aprendizagem da arte na escola. Ed. Cortez, 1998.
CUNHA, Susana Rangel Vieira da. Cor som e movimento: a expressão
plástica e dramática no cotidiano da criança. Ed. Mediação, 1999.
DERDYK, Edith. Formas de pensar o desenho. Ed. Scipione. São Paulo,
2004.
DWORECK, Silvio. Em busca do Traço Perdido. São Paulo: Edusp, 1999
EDWARDS, Betty, Desenhando com o lado direito do cérebro. Ediouro.
Rio de Janeiro, 2003.
86
FAYGA, Ortrower. Universos da Arte. 24ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
2004.
FUSSARI, Maria F. de Rezende e. Arte na educação Escolar. 2ª ed. São
Paulo. Cortez, 2001.
GALASSI, Susan Grace. Picasso em uma só linha. R. Janeiro.
Ediouro,1998.
OLIVEIRA, Jo, GARCEZ, Lucilia. Explicando a arte. Rio de Janeiro:
Ediouro, 1994.
GOMBRICH, E. H. A história da Arte. Ed. LTC, 1995.
MARTINS, Mirian Celeste Ferreira Dias, et. al. Didática do ensino de Arte:
a língua do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo: FTD, 1998.
MOREIRA, Ana Angélica Albano. O espaço do desenho: a educação do
educador. São Paulo: Loyola, 1999.
STRICKLAND, Carol. Arte Comentada da pré-história ao pós
modernismo. R. Janeiro, 2004.
VIANNA, Maria Leticia Rauen. Desenhos estereotipados: um mal
necessário ou é necessário acabar com este mal? 1994.
Disponível:<http:www.artenaescola.org.br>. Acessado em 14 de Março de 2009.
Enciclopédia: Os grandes artistas modernos Picasso, Modigliani e Miró.
Nova cultura, São Paulo, 1991.
Enciclopédia: Os grandes artistas. Vida, obra e inspiração dos maiores
pintores. São Paulo 1989.
Grande enciclopédia Larousse Cultural. Nova Cultural, 1999.
REVISTA Caras. Ed. 2008.
LUCKHARDT, Ulrich; MELIA, Paul. David Hockney: a drawing
retrospective. Londres: Chronicle Books, 1995.
www.crfrance.wordpress.com. Acessado em 28 de abril de 2009.
www.wikipedia.org. Acessado em 16 abril de 2009.
www.museuhistoriconacional.com.br. Acessado em 28 de abril de 2009.
www.artedesalto.wordpress.com. Acessado em 27 de abril de 2009.
www.abcgallery.com. Acessado em 25 de abril de 2009.
87
APÊNDICE
88
APÊNDICE-1 Questionário da direção da escola
89
APÊNDICE-2 Questionário do professor
90
APÊNDICE-3 Questionário dos alunos
91
92
93
94
95
96
ANEXO
CD contendo os seguintes materiais:
-cópia virtual em PDF do trabalho impresso;
-planejado e realizado do estágio no ensino fundamental;
-apresentação do Power point da banca.
97