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CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
COMISSÃO ESPECIAL - APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE TRÂNSITOEVENTO: Congresso N°: 0556/02 DATA: 22/05/02INÍCIO: 9h TÉRMINO: 15h15min DURAÇÃO: 6h15minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 6h28min PÁGINAS: 135 QUARTOS: 85REVISÃO: Cássia Regina, Gilberto, Luci, Madalena, Maria Teresa, Odilon, Silvia, Tatiana, ZilfaSUPERVISÃO: Daniel, Graça, J. Carlos, Joel, Márcia, Maria Luíza, NeusinhaCONCATENAÇÃO: Lívia
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃOJOAQUIM LOPES DA SILVA JÚNIOR - Chefe de Gabinete do Secretário de TransportesMetropolitanos do Estado de São PauloPEDRO WILSON GUIMARÃES - Prefeito de GoiâniaLUIZ CARLOS BERTOTTO - Diretor-Presidente da Empresa Pública de Transporte e Circulação— EPTCMARCELO PAZZINI - Chefe de Trânsito de Guaratinguetá, Estado de São PauloLAEDSON BEZERRA - Diretor do DETRAN de PernambucoCYRO VIDAL - Advogado especialista em TrânsitoCARLOS EDUARDO LOURENÇO - Diretor de Marketing de Produtos Reflexivos da 3M do BrasilLUIZ ANTÔNIO SERAPHIM - Assessor Técnico da Presidência da Companhia de Engenharia deTráfego — CET, do Estado de São PauloEMERSON ROZENDO SALGADO - Assessor do Diretor de Planejamento do DepartamentoNacional de Infra-Estrutura de Transportes — DNITGIDEL DANTAS QUEIROZ - Presidente da GD Consultores AssociadosWALDEMAR ANTÔNIO LEMES FILHO - Presidente da União dos Vereadores do Brasil — UVBJOSÉ ESCOBAR CAVALCANTE - Superintendente da União dos Vereadores do Brasil — UVB
SUMÁRIO: I Congresso Brasileiro de Municipalização do Trânsito.Painel B - Tema: “Gerenciamento Municipal do Trânsito: Solução o u Problema? Por queMunicipalizar? Como Municipalizar. Inteligência do art. 24 do Código de Trânsito Brasileiro.Competência e Atribuição Municipais. O Papel do Estado e da União.”Painel C - Tema: “Operação e Fiscalização do Trânsito por Agentes Municipais. Integração dasEntidades Fiscalizadoras. Poder de Polícia.”Painel D - Tema: “PEC nº 375/2001, que extingue os subsídios dos Vereadores de cidades comaté vinte mil habitantes e diminui o número de Vereadores e subsídios nas demais cidades.”
OBSERVAÇÕESReunião externa realizada no Pavilhão de Exposição do Parque da Cidade, Brasília, DF.Há falhas na gravação.Não há seqüência entre alguns textosHá oradores não identificados.Há intervenções simultâneas ininteligíveis.Há exibição de imagens.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Aplicação do Código de TrânsitoNúmero: 0556/02 Data: 22/05/02
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O SR. APRESENTADOR – Senhoras e senhores, bom dia.
É com grande satisfação que estamos dando início ao primeiro painel do
Congresso Brasileiro de Municipalização do Trânsito.
Em nome do Exmo. Sr. Deputado Ary Kara, Presidente da Comissão Especial
de Aplicação do Código de Trânsito Brasileiro, desejamos a todos excelente
aproveitamento deste seminário.
Neste momento, daremos início ao primeiro painel, cujo tema é:
“Gerenciamento Municipal do Trânsito: Solução ou Problema? Por Que
Municipalizar? Como Municipalizar. Inteligência do art. 24 do Código de Trânsito
Brasileiro. Competências e Atribuições Municipais. O Papel do Estado e da União”.
Para compor a Mesa, convidamos o Exmo. Sr. Deputado Ary Kara, Presidente
da Comissão Especial de Aplicação do Código de Trânsito Brasileiro; como
Coordenador, o Sr. Gidel Queiroz Dantas, ex-Diretor do DENATRAN; como
conferencista, o Dr. Joaquim Lopes da Silva Júnior, ex-Coordenador de Educação
do DENATRAN e atual Chefe de Gabinete do Secretário de Transportes
Metropolitanos do Estado de São Paulo. (Palmas).
Convido também, para exercerem o papel de debatedores, o Exmo. Sr.
Prefeito de Goiânia, Pedro Wilson Guimarães; o Sr. Laedson Bezerra, Diretor do
DETRAN de Pernambuco; o engenheiro Luiz Carlos Bertotto, Diretor-Presidente da
Empresa Pública de Transporte e Circulação — EPTC, de Porto Alegre, Rio Grande
do Sul, e Presidente do Fórum Nacional de Secretários de Transportes Urbanos e
Trânsito, além de ex-Diretor do DETRAN do Rio Grande do Sul, e o Dr. Marcelo
Pazzini, Chefe de Trânsito de Guaratinguetá, São Paulo. (Palmas.)
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Aplicação do Código de TrânsitoNúmero: 0556/02 Data: 22/05/02
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Passo a palavra ao Exmo. Sr. Deputado Ary Kara, Presidente da Comissão
Especial de Aplicação do Código de Trânsito Brasileiro, para suas considerações
iniciais.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ary Kara) – Bom dia a todos.
É com muita satisfação que abrimos este primeiro painel de debates no dia de
hoje, com a presença do Dr. Joaquim Lopes da Silva Júnior, que trabalhou no
DENATRAN por alguns anos e hoje é Chefe de Gabinete da Secretaria de
Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo.
Na verdade, o conferencista seria o Secretário Jurandir Fernandes, mas,
infelizmente, devido a uma greve nas companhias de ônibus em São Paulo e,
possivelmente também no Metrô, S.Sa. não teve condições de se ausentar daquela
cidade. Mas todos conhecem o Dr. Joaquim Lopes, pelo trabalho que desenvolveu
no DETRAN na época em que o Dr. Jurandir era Diretor.
O coordenador será o Sr. Gidel Dantas Queiroz, que também foi Diretor do
DENATRAN e um dos que, desde 1991, quando o Código de Trânsito Brasileiro
começou a engatinhar, participaram da primeira comissão, nomeado que foi pelo
Presidente da República. O Dr. Gidel é um estudioso do assunto e nos ajudou muito
na relatoria do Código de Trânsito Brasileiro, com a experiência que teve como
delegado, Diretor do DETRAN e, posteriormente, Diretor do DENATRAN.
O Dr. Pedro Wilson, Prefeito de Goiânia e que foi Deputado Federal por
algumas Legislaturas, também participou da Comissão Especial da Câmara dos
Deputados que estudou o Código de Trânsito Brasileiro.
Contamos ainda com a participação do Dr. Laedson Bezerra, Diretor do
DETRAN de Pernambuco; do Dr. Luiz Carlos Bertotto, Diretor-Presidente da
Empresa Pública de Transporte e Circulação — EPTC, de Porto Alegre, Rio Grande
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do Sul, e Presidente do Fórum Nacional de Secretários de Transporte Urbano e
Trânsito, além de ex-Diretor do DETRAN do Rio Grande do Sul, e do Dr. Marcelo
Pazzini, Chefe de Trânsito de Guaratinguetá, São Paulo, cuja municipalização do
trânsito é exemplo no Estado.
Antes de passar a palavra ao conferencista desta manhã, Dr. Joaquim Lopes
da Silva Júnior, que disporá de vinte minutos para proferir sua palestra, informo que,
posteriormente, haverá a participação do coordenador, Dr. Gidel Dantas Queiroz, por
cinco minutos, e dos debatedores, também pelo prazo de cinco minutos cada um,
após o que, terá início o debate entre todos — conferencista, coordenador e
debatedores.
Com a palavra o Dr. Joaquim Lopes da Silva Júnior.
O SR. JOAQUIM LOPES DA SILVA JÚNIOR - Bom dia a todos.
Estou representando o Dr. Jurandir Fernandes. Como bem disse o Deputado,
estamos em campanha salarial no Estado de São Paulo, em particular no Metrô e na
CPTM. As companhias negociam e, em determinado momento, esse resultado é
encaminhado à Secretaria dos Transportes. O Metrô de São Paulo é importante
meio de transporte e não pode ficar paralisado. Por esse motivo, o Dr. Jurandir me
solicitou que o representasse nesta exposição e apresentasse suas desculpas pela
ausência.
Tenho acompanhado S.Sa. há algum tempo e, portanto, sinto-me bastante à
vontade para discutir esse assunto. Além disso, entre 1993 e 1996, Campinas foi um
dos primeiros Municípios a adotar medidas preconizadas pelo novo Código, como o
uso obrigatório do cinto de segurança e a implantação de radares. Na ocasião,
tivemos oportunidade de ganhar dois prêmios nacionais na área da educação, entre
os quais o Prêmio Volvo.
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O tema da nossa exposição é a municipalização do trânsito. Hoje, o
DENATRAN conta com aproximadamente 410 Municípios integrados ou
municipalizados. Isso significa que 85% da frota nacional já estaria contemplada, de
certa maneira, mas não se trata apenas da frota de veículos. Quando se fala em
trânsito, também se quer abordar a questão da circulação dos ciclistas, pedestres e
outros usuários do sistema. Há ainda muito a fazer do ponto de vista da
municipalização.
O Sistema Nacional de Trânsito inclui os Municípios, cuja atuação no trânsito
depende de regulamentação.
A legislação, no art. 7º, inciso III, quando estabelece a composição do
Sistema Nacional de Trânsito, os órgãos e entidades executivas de trânsito, inclui a
figura do Município. O art. 8º, em particular, determina que os Municípios
organizarão seus respectivos órgãos e entidades executivas de trânsito, ou seja, as
Secretarias e algumas empresas, como foi o caso de Campinas.
Quais são as competências dos Municípios estabelecidas pelo Código? De
certa maneira, elas estão sob dois aspectos que consideramos importantes: as
responsabilidades e as prerrogativas do Município nesse processo.
As responsabilidades são: administrar; conservar e sinalizar as vias públicas
da sua competência, ou seja, aquelas em que o Município tenha competência
legislativa para atuar; operar o trânsito; promover o ensino; promover campanhas de
prevenção de acidentes; elaborar e analisar estatísticas de acidentes de trânsito.
Lembro-me que os Prefeitos Municipais perguntavam: “O que preciso para me
integrar?” — eu estava aqui nesse tempo. Respondia-lhes, então, que era preciso ter
um órgão gestor e que esse órgão gestor deveria ter um departamento de
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estatística, um departamento de educação, um corpo de fiscalização e uma área de
engenharia.
São prerrogativas próprias dos Municípios: planejar o trânsito nas vias da sua
competência em nível local; implantar e manter, se for o caso, estacionamento
rotativo ou a zona azul, ou arco-íris, como é chamada em alguns outros lugares;
implantar e manter um serviço de remoção e guarda de veículos infratores — no
nosso caso, montamos um pátio para recolher esses veículos —; fiscalizar, autuar e
arrecadar multas por infração de regras de trânsito relativas à circulação, velocidade,
semáforo, parada, manobra, carga e descarga de veículos, cometidas inclusive por
veículos de outros Municípios; editar norma para circulação de cargas especiais ou
perigosas, autorizando a cobrança de taxa, no caso de necessidade de operadores
de tráfego. Por exemplo, área de carga e descarga quem define é o órgão gestor do
Município, que tem a autoridade sobre a via local. É ainda prerrogativa municipal
cadastrar ciclomotores, bicicletas e veículos de tração animal, mediante cobrança ou
não de taxa. Há alguns casos em que se cobram, há outros em que não.
O que é necessário, então, para o Município se integrar ao SNT, de acordo
com a legislação?
Primeiro, aprovar lei que permita a criação de órgão executor das atribuições
conferidas pelo Código. Ou seja, se não tenho órgão gestor ou Secretaria de
Transportes com a atribuição de cuidar de trânsito, tenho de elaborar lei específica,
que deve ser encaminhada à Câmara, criando esse quadro. Esse dado é bastante
novo. A maioria das Secretarias de Transportes, pelo menos nos grandes centros, é
da década de 80 para cá. Até então, a questão do trânsito ficava relegada à
Secretaria de Obras ou à de Serviços Públicos ou, muitas vezes, ao próprio
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Gabinete do Prefeito. Então, de acordo com o Código, é necessário haver um órgão
responsável por isso.
Segundo, implantar um quadro de agentes municipais de trânsito
devidamente capacitado. O DENATRAN criou, no ano passado, programa destinado
a ajudar os Municípios que estavam nesse processo a formar agentes de trânsito
para executar essas atribuições.
Terceiro, aprovar uma lei que permita ao Executivo firmar convênio, contratar
terceiros, criar cargos e tomar medidas necessárias para a plena implantação dos
órgãos de trânsito, bem como delegar atividades relativas a ele. Então, é preciso
realizar todos os procedimentos para isso.
É também necessário que o Município se interligue, por meio do DETRAN do
seu Estado, ao Sistema Nacional de Trânsito. Para quê? Mesmo com toda a base de
dados de veículos que se tem no Município, é preciso ter acesso aos dados dos
veículos — quem são os condutores, quais são os veículos e tal. E isso quem tem é
o DETRAN. Em alguns casos, faz-se convênio. Depois, o Dr. Laedson pode explicar
melhor. Em alguns casos, o pessoal faz contratos para ter acesso a isso.
A promoção da cobrança de multas aplicadas em veículos de outros
Municípios também é resultado do grande esforço do RENACOM, projeto que já está
hoje, se não me engano, com dez Estados interligados. Dessa forma há também o
bloqueio do licenciamento e da transferência de veículos com multas não pagas.
Como o dado relativo, por exemplo, a uma autuação do Município é lançado e entra
no sistema? É preciso ter acesso a isso, e quem pode auxiliar os Municípios em
cada Estado é o DETRAN, por meio da sua base de dados e de seus contatos.
É também necessário ao Município: instituir o serviço de remoção e guarda de
veículos infratores, ou seja, a montagem dos parques — se o Município autuou,
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prendeu, recolheu esse veículo, ele tem de ter um lugar, terceirizado ou próprio, para
guardá-lo —, e adequar o seu sistema de ensino básico para promover a educação
de trânsito. Na verdade, não é bem o seu próprio sistema de ensino, mas essa já é
uma atribuição do próprio órgão gestor de trânsito que vai ser criado e que precisará
ter um departamento de educação com essa finalidade. É claro: se o Prefeito tinha
vontade, municipalizou, encaminhou o projeto de lei, fez o contato com o DETRAN e
integrou-se, evidentemente, entram em campo o Secretário de Educação e de
Transporte. É sempre mais fácil promover este último item.
Quais são os investimentos e as despesas diretas ou indiretas que
identificamos? A criação do órgão gestor de trânsito; a remuneração e despesas
com os agentes de trânsito, salários e encargos; as despesas com a
regulamentação do trânsito; a sinalização das vias e sua manutenção; a implantação
e manutenção de serviço de remoção e guarda de veículos; a instalação e
manutenção do sistema de estacionamento rotativo; a formação de um quadro de
funcionários para a execução de todas essas atividades; a implantação de um
sistema de processamento de multas — chamo de investimento e despesa porque,
na verdade, para boa parte dessas atividades, há um investimento e algumas
despesas —, aquisição, instalação e manutenção de equipamentos eletrônicos.
Quais são as receitas oriundas desses investimentos? Taxa de
cadastramento de veículos não-motorizados; receita de multas de trânsito; serviço
de remoção e guarda de veículos; taxa de permissão para circulação de cargas
especiais e perigosas; melhoria da qualidade do trânsito; redução dos custos
hospitalares — sim, porque, com essa série de medidas, de certa forma, vai ser
melhorada a qualidade do trânsito e, portanto, haverá redução no número de
acidentes, o que desafoga a rede de atendimento médico — e formação dos alunos
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das escolas municipais como usuários do trânsito. Na verdade, estamos falando da
formação de uma nova geração, com novos valores de respeito à cidadania, de
respeito ao outro, com regras de circulação para viver em comunidade.
Profissionalização de jovens no Município — temos um dado interessante.
Tivemos uma experiência muito interessante em Campinas com um programa
voltado para os jovens em situação de risco. Por intermédio desse programa
chamado “Meninos do Arco-íris” conseguimos absorver alguns desses jovens, que
entraram e estão trabalhando ainda hoje na empresa. É possível criar um programa
de geração de emprego para determinadas faixas etária e de renda. São crianças,
jovens e adolescentes que hoje não têm quase nenhuma perspectiva, e estão
afetadas pelo desemprego. Tal medida proporcionaria abertura de novos empregos.
De maneira bastante sucinta, a municipalização é isso. Vou dividir a palavra
com os outros componentes da Mesa. Estamos à disposição para conversar.
(Palmas.)
O SR. COORDENADOR (Gidel Dantas Queiroz) – Vamos passar a palavra
aos debatedores. Cada um terá direito a cinco minutos para debater o assunto
abordado, com muita propriedade, aliás, pelo Dr. Joaquim Lopes da Silva Júnior.
O primeiro debatedor inscrito é o Dr. Pedro Wilson Guimarães, Prefeito de
Goiânia, cuja presença muito nos honra.
O SR. PEDRO WILSON GUIMARÃES - Bom dia a todos.
Saúdo o Dr. Joaquim, os colegas da Mesa, o Coordenador, o Deputado Ary
Kara, os colegas Prefeitos, Vereadores, Secretários, Superintendentes Municipais de
Trânsito, técnicos, dirigentes de organismos vinculados à questão do transporte e do
trânsito das cidades.
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Disse muito bem o Dr. Joaquim que a questão do trânsito hoje não está
desligada nem do Estado, nem da União, nem dos fatores em que interfere.
Municipalizar é solução ou problema? Muita gente pensa que o Município não tem
idoneidade, competência, capacidade. Mesmo que tenhamos, como temos,
Municípios em que a questão do trânsito seja diminuta, se municipalizarmos o
trânsito, esses Municípios, no presente e no futuro, terão muito mais condições do
que nós, que, às vezes, começamos a operar de uma hora para outra.
Temos de pensar a questão do trânsito numa dimensão de tempo e de
espaço. O Município, por menor que seja, deve ter um organismo, porque ele vai
começar a trabalhar na educação, na informação, no processo de sinalização e de
compreensão dos papéis decisivos para o cidadão, homens e mulheres que vivem
no Município, do ponto de vista de motorista, do ponto de vista de pedestre, do
ponto de vista de gestor público, do ponto de vista dos fabricante de carros.
Sr. Coordenador, colegas debatedores e caro expositor, como, no Brasil, nós,
Prefeitos, podemos assistir, por exemplo, a todas essas propagandas de carros
novos? Elas falam de excesso de velocidade, de velocidade ao limite, que carro bom
é aquele que rompe tudo. Que idéia transmitem à nossa população, que ainda é
jovem, quando compra aquele carro? É a de respeitar o Código de Trânsito? Não, é
de aventurar-se. Então, o carro vai ao limite, a precipícios. Carro bom é aquele que
passa por córregos e estradas ruins e, depois, chega e pára a um centímetro de um
precipício, no alto de uma serra. Que imagem nos passam tais propagandas?
Não vemos uma propaganda que diga: “Dirija com calma, dirija de acordo
com a lei, dirija dentro dos limites”. Já perceberam isso? Nenhum fabricante de carro
diz: “Respeite o trânsito, respeite a cidade, respeite o pedestre”. Será que eles
também não são responsáveis pelo trânsito no Município?
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Então, a municipalização é uma solução. Municipalizar significa qualificar o
Município para o presente e para o futuro nas políticas que envolvam a questão do
trânsito. Mais ainda: no Brasil, em muitos Municípios, principalmente Capitais ou
regiões metropolitanas, a gestão do trânsito e do transporte está com uma
companhia metropolitana e o uso do solo com o Município, com a Câmara de
Vereadores.
É importante para a municipalização associar transporte, trânsito e uso do
solo. Por que vamos asfaltar uma rua? Por que vamos mudar um componente de
habitabilidade em determinada avenida? O Município precisa desses elementos.
Goiânia foi vítima disso. O Estado ficou com a administração do transporte, e o
Município, incipiente, com o trânsito e o uso do solo, mas sem poder de gestão,
especialmente em regiões onde apenas uma rua separava um Município do outro.
Enquanto num Município vigora uma legislação, no outro ela é completamente
diferente. Enquanto uns asseguram o adensamento e promovem a melhoria do
tráfego, outros fazem políticas completamente diferentes.
Portanto, o nosso desafio é avançar na municipalização. Sabemos que 80%
da frota de veículos está nesses mais de 400 Municípios. Mas só isso não basta.
Precisamos analisar presente e futuro — quem diria, por exemplo, que uma cidade
próxima a Brasília, Águas Lindas, que há dez anos não existia, hoje possui 200 mil
habitantes? O que isso significa para nós?
A minha primeira resposta é positiva. Como bem disse o Ministro João
Henrique ontem, é no Município que as pessoas moram, vivem, reivindicam, é lá que
acontece o acidente, e é onde essas pessoas pressionam os Prefeitos, os
Vereadores, os Secretários, os superintendentes. São esses cidadãos que vão para
a imprensa.
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Fazemos um trabalho anual extraordinário, mas se acontece um fato negativo
é ele que vai para a mídia. O fato positivo realizado pelo Município desaparece.
Muitas vezes a mídia trabalha com o fato negativo porque este dá mais ibope. Não
dá ibope dizer que não houve nenhuma multa no trânsito. Ao mudarmos a mão de
determinada rua que apresentava problemas, todos ficam esperando que essa
mudança dê errado. Depois de ter dado certo, o fato desaparece do noticiário. Quer
dizer, é preciso também anunciar os atos positivos realizados pelo Município.
Outro ponto que gostaria de levantar é relativo ao fato de que nós, na luta
pela união dos Vereadores e pela associação dos Municípios brasileiros — e faço
parte da Frente Nacional de Prefeitos —, temos de explicitar as relações dos
Municípios com o DETRAN e com a Polícia. Não podemos continuar com essa
política de arrecadação e não-participação.
A Política Nacional de Trânsito não pode ver a multa ou a arrecadação como
um fim, mas como um meio. Se ela existe, esses recursos têm de ser bem
administrados, e a participação do Município é decisiva. Até hoje os DETRANs, de
um Estado para o outro, têm dificuldade em ter acesso à informação acerca de
roubo de carros. Essas informações deviam estar on line. Ao acontecer um roubo,
imediatamente o carro deveria ser registrado no computador, de tal forma que os
Municípios e os Estados vizinhos ficassem informados sobre o ocorrido. Esta é uma
forma de lutarmos contra o roubo de carros. Muitas vezes, porém, há uma
dificuldade imensa em obter esses dados.
Portanto, é preciso que o DENATRAN, o Sistema Nacional de Trânsito, os
sistemas estaduais e o Município criem mecanismos facilitadores. Agora mesmo
querem estabelecer custos altíssimos para termos acesso a informações. Muitas
vezes um órgão do Estado faz uma pesquisa origem/destino e não passa esses
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dados para os Municípios, não informa a população. O DENATRAN deveria
estimular a realização de pesquisas avaliativas sobre o desempenho e a capacidade
dos nossos motoristas e pedestres em aceitar o processo educativo.
A estrada Goiânia–Anápolis tinha só uma pista. Depois de duplicada, não sei
por que circunstâncias, em vez de diminuírem os acidentes, em determinado
período, eles aumentaram. Por quê? Porque muitas vezes as pessoas pensam que,
como existem duas pistas, podem correr mais. É preciso apresentar todas essas
questões. Portanto, vamos ampliar as relações entre o DETRAN e a Polícia, por
meio de convênios, de discussões. Temos de criar outros mecanismos de relação
com a população.
O julgamento de um recurso não pode ser visto como jus esperniandi, tem
de respeitar o cidadão, seja para confirmar a multa ou revogá-la, e servir como
documento educativo e informativo.
Nesse sentido, a nossa relação com o DENATRAN e com os DETRANs tem
de ser mais cotidiana. Temos de criar mecanismos de acesso às informações.
Existem computadores em todo o Brasil, ainda assim, salas vizinhas desses órgãos
não se ligam umas com as outras e, muito menos, com as fronteiras, para divulgar
informações sobre o número de roubo de veículos. A relação de habitantes por
veículo em Goiânia, que hoje possui 1 milhão e 100 mil habitantes, é de 2 por 1. A
cada mês, 3 mil veículos novos entram em Goiânia, o que corresponde a 36 mil por
ano. No entanto, a cidade não gera espaço para isso, como novos estacionamentos,
novas vias. O nosso amigo falava a respeito dos gases poluentes. Será que os
nossos Municípios estão preparados para isso?
Como urge o tempo, verifiquem também a importância da realização de
programas e convênios e da transparência das nossas juntas, a fim de que julguem,
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a tempo e a hora, os pedidos dos usuários, mostrando-lhes que estão sendo levados
em consideração, tanto, repito, para confirmar a multa, a advertência, a cassação da
carteira, como também para dizer-lhes que estavam certos. Não devemos trabalhar
a idéia de que o motorista está contra o trânsito.
Outro dado é o processo de educação. Acredito que ela continua sendo o
principal instrumento para a municipalização. O acesso aos dados, repito, é de
fundamental importância para muitos lugares no Brasil. Se o Dr. Bertotto, de Porto
Alegre, tem acesso a muitos dados, por que não os compartilhar com todos através
do DENATRAN? É lógico que podemos repartir os custos, mas vamos facilitar. Não
vamos colocar taxas altas, porque assim nunca teremos acesso aos dados.
Precisamos, portanto, de fichas que registrem não só os roubos, mas também o
volume de veículos. Temos de criar no Sistema Nacional, no DENATRAN, nos
DETRANs, na Polícia e nas Secretarias Municipais elementos facilitadores, em vez
de ficarmos brigando e nos contradizendo.
Por fim, caro expositor, quero deixar uma mensagem de esperança.
Sabemos que o trânsito traz um enorme prejuízo para a população brasileira: a
morte de jovens e altos custos para os hospitais, Municípios, Estados e União. A
idéia de avançar com a municipalização que trazemos para este seminário é no
sentido de criar mecanismos facilitadores e de intercâmbio. Se existem experiências
em Porto Alegre, em Recife, em Belo Horizonte, no Rio ou em Brasília, por que não
trocá-las de maneira permanente? Por que não criar um sistema facilitador de
informações, de tal sorte que possamos fazer uma política de trânsito que leve em
conta o transporte e o uso do solo, para que nossas cidades sejam melhores e mais
participativas? (Palmas.)
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Gostaria de passar à Mesa, com um pouco mais de ousadia, algumas idéias
que coloquei no papel. Neste documento estão alguns números que repasso aos
presentes.
Agradeço mais uma vez a todos a oportunidade e afirmo que Goiânia está no
circuito para, mais uma vez, debater e aprender com todos os senhores.
Muito obrigado.
O SR. COORDENADOR (Gidel Dantas Queiroz) – Antes de passar a palavra
ao próximo debatedor, engenheiro Luiz Carlos Bertotto, registro a presença do
Diretor-Geral do DETRAN da Paraíba, Maurício de Souza Lima, e de José Brandão
Vieira Júnior, Diretor do DETRAN de Alagoas.
Recomendo aos participantes que, a partir deste momento, encaminhem à
Mesa as perguntas que serão feitas aos palestrantes.
Com a palavra o engenheiro Luiz Carlos Bertotto. V.Sa. disporá de cinco
minutos para debater o tema em pauta.
O SR. LUIZ CARLOS BERTOTTO - Caro Deputado Ary Kara; Coordenador
Gidel Dantas; conferencista Joaquim Lopes da Silva Júnior; Prefeito Pedro Wilson;
Laedson Bezerra, do DETRAN de Pernambuco; Marcelo Pazzini, Chefe de Trânsito
de Guaratinguetá; senhoras e senhores; demais Secretários presentes, Diretores
dos DETRANs; comunidade que trabalha com a questão do trânsito no País, o fato
de o Código de Trânsito Brasileiro, que está em vigor há mais de quatro anos, ter
colocado o Município como parte integrante do sistema, parece-me — e sempre digo
isso —, foi das suas mais importantes conquistas.
Por que das mais importantes? No Sul do País, embora houvesse todo um
planejamento, as cidades ainda não tinham o poder de fazer a sinalização das
cidades nem fiscalizá-las, a fim de fechar o ciclo de cuidado do trânsito, de
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planejamento e de construção da cidade de maneira adequada. Muitas vezes não se
tinha uma fiscalização satisfatória e não se cuidava do que era importante para o
Município. Do ponto de vista da estruturação do novo Código, essa foi uma das
questões mais fundamentais para construirmos uma segurança no trânsito, na
cidade, com melhor circulação e mobilidade.
Faz parte do preâmbulo do nosso tema a pergunta: isso trouxe soluções ou
problemas? Quais são eles? É claro que trouxe soluções porque hoje podemos
planejar o trânsito e o transporte de uma cidade de maneira conjunta; podemos
trabalhar a mobilidade e a circulação dessa cidade de maneira uniforme e fazer com
que aquilo que planejamos, sinalizamos e discutimos com as comunidades locais,
onde acontecem determinados problemas, depois de implantado e monitorado,
funcione adequadamente, inclusive fiscalizando aqueles que não cumprem a lei.
Trouxe também o Código outras soluções, pelo menos para Porto Alegre,
como, por exemplo, a grande diminuição do número de acidentes, principalmente de
acidentes fatais. Exemplifico: nos quatro últimos anos depois da assunção do novo
Código, antes de a cidade de Porto Alegre assumir a municipalização do trânsito, o
que aconteceu no dia 23 de janeiro de 1998, ocorreu uma diminuição de 46% no
número de mortes. Esse dado por si só já reflete a importância e a solução que pode
representar o trabalho integrado por agentes que se preocupam durante todo o dia
em operar, fiscalizar e fazer com que o trânsito da cidade seja mais seguro e que a
cidade funcione de maneira mais adequada. Essas, com certeza, são as soluções
que o novo Código trouxe com a municipalização.
É claro que trouxe problemas também. Por isso, dos 5.500 Municípios do
País, 410 municipalizaram seu trânsito.
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Esse número, obviamente, representa a grande maioria da população
brasileira e da frota do nosso País. A dificuldade que se tem está em montar essas
estruturas e conseguir pessoas para trabalhar de maneira adequada a questão do
trânsito. Digo isso com tranqüilidade, porque sempre fui um defensor da
municipalização. Sempre defendi a idéia de que temos de encontrar soluções
diferentes para os pequenos Municípios, para montar toda uma empresa e uma
estrutura de pessoal, de agentes, para fiscalizar o trânsito.
Nos pequenos Municípios, isso pode ser integrado a outras funções. Neles,
temos não só fiscalização de trânsito, mas de saúde, de obras e uma série de outras
que poderiam estar integradas em algum local da Prefeitura, para fazer o controle. É
inadmissível montar uma empresa em uma cidade de 5, 6, 10 ou 15 mil habitantes
para fazer simplesmente a fiscalização do trânsito. É provável que possamos,
nessas cidades de menor porte, fazer com que o trânsito seja municipalizado de
maneira diferente: integrado a outras fiscalizações do Município ou mesmo por meio
de convênios com as Polícias Militares ou outros órgãos, ou com outros Municípios.
Essas questões dos pequenos ou médios Municípios, muitas vezes, dificultam
a municipalização do trânsito em todo o País. São questões que, a partir de agora,
têm de ser debatidas, uma vez que a maioria dos grandes Municípios e das Capitais
já municipalizaram ou estão em fase de municipalização, possibilitando cuidarmos
do trânsito de maneira adequada nessas localidades. A partir de agora, temos de
nos preocupar com aquilo que esses outros Municípios vão fazer.
Para encerrar, gostaria de trazer um exemplo mencionado pelo Prefeito Pedro
Wilson sobre a questão do DETRAN e do DENATRAN. Em muitos Estados e mesmo
em âmbito federal, não temos ainda uma integração total entre DETRAN,
DENATRAN e órgãos municipais. No Fórum Nacional de Secretários e Transportes,
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temos visto muitas dificuldades na integração desses órgãos. Muitos DETRANs
cobram valores absurdos para que os Municípios possam fiscalizar o trânsito. Muitas
vezes, nem é esse o fator fundamental para que o Município esteja integrado, mas
diferenças políticas, o que é pior ainda. Na questão administrativa, essas diferenças
políticas têm de desaparecer, para que possamos todos trabalhar por um trânsito
mais seguro. A integração entre os DETRANs dos Municípios é fundamental.
No Estado do Rio Grande do Sul, temos um convênio único para todos os
Municípios. Todos têm a mesma base de dados, pagam o mesmo valor e têm no
DETRAN um parceiro para fazer o controle das multas e licenciamento. Esse é um
fator preponderante para crescermos nesse sentido. Isso tem melhorado muito, mas
ainda temos algumas dificuldades.
Outra questão importante é relativa ao fato de que ainda não temos uma
política clara e integração dos órgãos de trânsito nos âmbitos federal, estadual e
municipal. Não é possível continuarmos com uma política de trânsito que mata e
causa inúmeras vítimas e grande número de problemas para o País.
Antes do início desta reunião, comentávamos que, neste Governo, o
DENATRAN já teve oito Presidentes. Não há como encaminhar uma política, algo
que possa fazer com que o trânsito neste País seja prioridade e integrado. Políticas
nacionais e estaduais integradas são fundamentais para que, juntamente com os
Municípios, possamos implantar, de maneira definitiva, o novo Código, que já tem
mais de quatro anos, a fim de que possamos fazer do trânsito algo mais seguro. É
claro que temos melhorado rapidamente nas questões de segurança, mas ainda
estamos longe de ter um trânsito seguro em nossas cidades e estradas do País.
Era o que tinha a dizer. Espero poder esclarecer mais algumas questões no
momento dos debates.
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Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. COORDENADOR (Gidel Dantas Queiroz) – Registro a presença do Dr.
Ademir Serafim, Diretor do DETRAN de Santa Catarina. Desculpem-me por não ter
apresentado os demais diretores, mas só pude identificá-los agora.
Registro também, com muita satisfação, a presença do Dr. Roberto
Scaringella, Presidente do CONTRAN, ex-Secretário do Município de São Paulo e
Presidente da CET, São Paulo.
Comunicamos que estamos recolhendo as perguntas. Quem tiver alguma a
entregar, basta fazer um sinal, que será recolhida, para ser respondida após a
apresentação do último debatedor.
Temos a satisfação de passar a palavra ao Dr. Marcelo Pazzini, Chefe de
Trânsito de Guaratinguetá, São Paulo.
O SR. MARCELO PAZZINI - Bom dia, Dr. Gidel Dantas, Dr. Joaquim Lopes
da Silva Júnior, Prefeito Pedro Wilson, engenheiro Luís Carlos Bertotto, demais
participantes desta Mesa, Srs. Prefeitos, Srs. Vereadores, diretores de DETRANs,
dirigentes municipais de trânsito e demais congressistas.
Alguns dados já foram mostrados com muita inteligência pelos colegas,
quando disseram que a municipalização do trânsito no País, desde a criação do
Código de Trânsito Brasileiro, anda a passos lentos. Somente se deu em 410
Municípios, embora já se tenha concretizado nas grandes Capitais. Cerca de 80% da
frota nacional já deve ter sido municipalizada, mas ainda temos de voltar nossos
olhos para os pequenos e médios Municípios, que têm problemas e dúvidas muito
sérias quanto à municipalização do trânsito.
A cidade de São Paulo tem 25% da frota nacional. No Vale do Paraíba, onde
fica a minha cidade, Guaratinguetá, eixo Rio—São Paulo, uma das regiões de maior
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tráfego no Brasil, juntamente com os colegas de cidades vizinhas, cujos trânsitos já
foram municipalizados, criamos uma associação, que tem por finalidade sanar
nossas dúvidas cotidianas em relação ao Código e auxiliar os Municípios que não
municipalizaram o trânsito de suas cidades.
Sabemos que algumas cidades têm problema de ordem política na questão
da municipalização: Prefeito que a considera perigosa para sua reeleição ou
oposição pesada por parte da Câmara de Vereadores. Como administradores
municipais de trânsitos já municipalizados, devemos auxiliar essas cidades. É
interessante convocar todos que participam do Sistema Nacional de Trânsito para
nos unirmos numa marcha pela municipalização, que, sem dúvida alguma, será o
início do progresso até mesmo do Código de Trânsito Brasileiro, porque estamos
praticamente estacionados. As grandes cidades municipalizaram e as pequenas
ainda estão receosas.
Certa vez, em Cuiabá, num fórum nacional da NTP, um colega, se não me
engano, da Região Metropolitana de Belo Horizonte, disse que em sua cidade havia
mais de 200 mil habitantes, mas o trânsito de lá não era municipalizado. Isso foi
motivo de preocupação, porque se trata de uma cidade considerada de porte médio.
Belo Horizonte já tem o trânsito municipalizado. Por que as grandes cidades não
auxiliam as pequenas e médias que encontram dificuldade em municipalizar?
Em algumas cidades municipalizadas o item educação no trânsito sequer tem
sido explorado. Essa é uma questão muito séria, porque é com educação que
poderemos alterar o futuro. O jovem de 15 anos ou 16 anos, em pouco tempo será
motorista. Se ele não tiver plena consciência do que significa ser motorista,
futuramente poderá fazer parte das estatísticas de acidentes de nosso País, que
não são pequenas. Com certeza, o Código reduziu os números dessas estatísticas.
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Inclusive parabenizamos o Deputado Ary Kara por isso. Em Guaratinguetá, por
exemplo, houve redução de 68% no número dos acidentes de trânsito e de 75% no
de acidentes com vítimas. Esses são dados consideráveis. Muita gente tem sido
salva pelo cinto de segurança ou pelo capacete, em função da obrigatoriedade do
uso e da fiscalização.
Saliento as palavras do Prefeito Pedro Wilson a respeito das propagandas
dos veículos que ressaltam suas capacidades mecânicas e eletrônicas e pouco
falam sobre segurança: como transitar com segurança, utilizar os dispositivos de
segurança e respeitar os artigos do Código de Transito Brasileiro.
Temos observado, desde ontem à noite, entre vários colegas de pequenos e
médios Municípios, dúvidas freqüentes em relação ao uso de bicicleta: registro;
licenciamento e fiscalização. Trata-se de uma situação complicada e real. Há
Municípios que têm sérios problemas com bicicleta: ciclistas extrapolam seus direitos
de cidadão, atropelam pedestres, andam na contramão e causam acidentes. Essa é
uma realidade presente em todos os fóruns paulistas de que tenho participado.
O poder de polícia dos agentes de trânsito é também uma questão importante
a ser debatida e esclarecida. Devemos trabalhar esta questão. É complicado um
agente de trânsito adotar uma medida administrativa com base em artigo do Código,
ao fiscalizar um veículo, e, mais tarde, sofrer processo por abuso de autoridade.
Então, o poder de polícia tem de ser amplamente discutido na Mesa.
Frisando as palavras do engenheiro Luís Carlos Bertotto, a política de
integração nacional de trânsito entre o DENATRAN, os DETRANs e os Municípios
tem de ser mais clara. Hoje, ainda há muita dificuldade nesse sentido.
Eram essas as minhas palavras.
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O SR. COORDENADOR (Gidel Dantas Queiroz) – Passo a palavra ao Dr.
Laedson Bezerra, Diretor do DETRAN de Pernambuco.
O SR. LAEDSON BEZERRA – Sr. Coordenador, Dr. Gidel Dantas, caros
companheiros da Mesa, minhas senhoras e meus senhores, encaro o Código de
Trânsito de forma positiva e otimista.
A partir do momento em que começaram a circular veículos automotores no
Brasil, passamos um século inteiro de forma desordenada. À medida que o tempo
passava, aumentava o número de acidentes e mortes fatais, como vimos antes da
publicação do Código.
Um instrumento que só tem quatro anos de idade já consegue fazer com que
se fale, cada vez mais, em educação para o trânsito. Cito o exemplo do meu Estado,
onde grande parte das escolas já discutem o tema durante todo o ano.
Como foi dito ontem, na abertura deste Congresso, mais de quatrocentos
Municípios já estão gerindo seu próprio trânsito, o que representa mais de 80% da
frota brasileira. Sabemos que é no Município que se vive. Por isso, encaramos de
forma otimista os resultados obtidos. Esse número é expressivo, considerando que o
Código vem sendo usado há apenas quatro anos.
Todos sabemos das dificuldades, sobretudo dos Municípios menores, em
fazer a gestão do trânsito, porque as prioridades são educação, saúde e segurança.
Muitos não têm condições de atender a todos esses requisitos.
Quero mostrar, num breve resumo, a situação do meu Estado. Temos nove
Municípios, de um total de 184, integrados ao sistema nacional, representando 21%
da nossa frota. Desses nove, cinco atuam de forma direta na gestão do trânsito; seis
cumpriram a determinação do Código e delegaram a gestão ao Estado, perfazendo
48% da frota.
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Nossa Capital, uma das poucas que ainda não se municipalizaram, tomará
essa medida no final do ano, segundo compromissos assumidos pelo Secretário
José Ailton — a quem saúdo, neste momento — e pelo próprio Prefeito. Dessa
forma, Pernambuco terá mais de 50% de sua frota municipalizada.
Devemos lembrar que estamos na metade da segunda gestão municipal,
depois da implantação do Código. Destaco, de forma positiva, a oportunidade de
hoje debater o assunto com representantes de todos os Estados.
Alguns problemas apresentam-se no caminho da municipalização. Um deles
se refere às regiões metropolitanas e acontece em várias regiões. Em Recife, temos,
no entorno da Capital, quatorze Municípios já conurbados e integrados; três deles
são cortados por avenidas. Imaginem os senhores as dificuldades que teremos com
a municipalização individualizada.
Pergunta-se: não é o caso de se delegar a gestão do trânsito de regiões
metropolitanas a um único organismo do Estado?
Com relação ao Código de Trânsito, há uma grande preocupação. Mesmo
sendo tão novo, já tramitam, no Congresso Nacional, mais de duzentos projetos que
propõem mudanças. Será que é hora de mudar o Código ou devemos lhe dar mais
tempo para que se solidifique, já que vem caminhando a passos largos? Todos os
oradores da noite de ontem o consideraram instrumento de Primeiro Mundo para
administrar o trânsito.
Para finalizar, quero abordar as formas de integração que o Dr. Joaquim
destacou.
Uma solução para o problema de pequenos Municípios vizinhos seria a
formação de consórcios para administrar o trânsito.
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Em Pernambuco, há uma experiência positiva nesse sentido, na
administração da infra-estrutura de educação e saúde, por intermédio da AMUPE,
associação municipalista do Estado.
Por que não estendê-la ao trânsito, juntando os Municípios menores? Esses
podem ter um único diretor, engenheiro e coordenador de fiscalização, acelerando a
integração ao Sistema Nacional de Trânsito.
Isso permitiria avançar, sem sombra de dúvida. Se não der certo, os
Municípios também podem delegar a gestão do trânsito ao Estado, por meio de
convênios, enquanto adquirem condições técnicas e operacionais para fazê-la.
Faço uma última observação, Dr. Joaquim e Dr. Gidel: o CONTRAN deve
baixar resolução específica sobre a delegação de gestão do trânsito ao Estado.
Dessa forma, teremos proteção judicial no âmbito do DENATRAN e do Ministério da
Justiça, quando argüida a incompetência do Estado para fiscalizar e aplicar
penalidades no Município.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. COORDENADOR (Gidel Dantas Queiroz) – Agradecemos ao Dr.
Laedson Bezerra a intervenção.
Temos algumas perguntas dirigidas ao preletor, outras à Mesa e uma ao Dr.
Almir Maia Ribeiro, Diretor do DETRAN de Brasília, que está ausente. Nós a
encaminharemos a S.Sa.
Registro a presença do Dr. Antenor Pinheiro, Superintendente de Trânsito de
Goiânia, e do Sr. Luís Eduardo Passando Barbosa, Presidente do Sindicato das
Auto e Moto-Escolas do Centro de Formação de Condutores do Distrito Federal.
Enquanto o preletor faz a seleção das perguntas, vou ler uma dirigida à Mesa
por Gervásio Suato Filho, do Sindicato das Auto-Escolas do Distrito Federal. Ele
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pergunta: "Por que não advertir, primeiramente, e, em segundo lugar, punir,
preventivamente, o motorista nas infrações de trânsito? Não adianta mudar sem
antes educar".
Peço permissão aos expositores para tentar responder à pergunta.
Apresento algumas explicações sobre o Código de Trânsito Brasileiro. Este
diferencia a educação formal, dada pelas escolas, de competência da União,
Estados e Municípios, e a chamada formação de condutores, ministrada durante as
aulas no Departamento de Trânsito.
Nessa formação, o cidadão aprende que não pode avançar o sinal vermelho;
que o verde é para seguir; e o amarelo é advertência. A maioria dos brasileiros não
entende este último. Em vez de diminuir a velocidade, apertam o pé, mas não dá
tempo. Dava no tempo do guarda, escondido atrás do poste; agora, não, porque o
equipamento registra.
Há determinadas infrações sobre as quais não há como educar. Como
advertir, por exemplo, o motorista que avançou o sinal? Ele já tomou conhecimento,
na escola de formação de condutores, das normas da via. Portanto, a pergunta é
pertinente apenas para determinadas infrações.
Algumas infrações são cometidas porque mudou, por exemplo, o sentido da
via. O órgão que tem jurisdição sobre ela tem a obrigação de orientar o motorista e
esperar que ele se acostume à mudança. Ele tem de ser, primeiro, educado, e,
depois, responsabilizado.
Portanto, concordo plenamente com essa educação. Entretanto, há casos em
que ela não funciona. Já contei a história do guarda que perguntou ao cidadão que
avançou o sinal se não o tinha visto fechado, ao que ele respondeu: "Vi. Só não vi o
senhor". Então, muitas vezes, o motorista condiciona o cumprimento das normas à
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presença do policial, pois não freqüentou a escola de formação de condutores. Já
que o Poder Público não tem condições de colocar um guarda em cada cruzamento,
o brasileiro tem de ser educado para dirigir.
Com a palavra o Sr. Pedro Wilson Guimarães, Prefeito de Goiânia.
O SR. PEDRO WILSON GUIMARÃES – Sr. Coordenador, peço permissão à
Mesa para responder as questões a mim dirigidas, pois devo comparecer a
cerimônia no Memorial JK, destinada ao lançamento da Política de Transportes
Urbanos.
A primeira se refere à capacidade de municipalização, se esta é prejudicial ou
vantajosa, e se a Câmara de Vereadores tem de aprová-la. O Dr. Joaquim e o Dr.
Gidel, que têm experiência no assunto, poderão explicá-lo melhor.
Quero reafirmar o sentimento de que devemos caminhar para a
municipalização, com cuidado, sem a interferência do clientelismo político, por
exemplo. Muitos pedem, ao Prefeito e aos Vereadores, a "quebra" da multa. Vimos
vários casos. Adotamos o critério de que todos podem recorrer ou pagar; acabou a
história de "quebrar" multa.
É preciso haver transparência. Quando as Juntas decidem, acaba a pressão.
Não podemos abrir exceções, por mais justas que sejam. O melhor caminho é o do
recurso, mas também é necessário um processo de educação. Caso contrário,
ficaremos prisioneiros de pressões.
Alguém comparou a municipalização do trânsito à da saúde, que, na verdade,
trouxe mais encargos para o Município. Já afirmei, ontem à noite, que precisamos de
uma reforma tributária, pois, atualmente, 50% do Orçamento vão para o Governo
Federal, 30% para o Estadual e apenas 20% para o Municipal.
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Argumentou-se também que os DETRANs têm imensa dificuldade de
atuação, cobram caro e legislam sobre o Município sem consultá-lo. Por isso
fazemos um apelo ao Ministério da Justiça, ao DENATRAN e ao CONTRAN para
que apliquem o Código e criem legislações que facilitem o relacionamento entre
União, Estados e Municípios.
O Dr. Joaquim disse que houve briga na primeira reunião sobre o sistema
nacional. Temos de enfrentar a realidade. Precisamos encarar nossas diferenças e
acertos, sabendo que a legislação facilita nosso trabalho.
Nesse sentido, a integração é fundamental, mas o Município não pode
receber só o ônus; ele precisa do bônus, ou seja, recursos humanos e financeiros,
informações técnicas, tecnologia, enfim, experiências positivas, que contribuam para
a humanização do trânsito.
O companheiro de Guaratinguetá falou sobre aquela rica região de São
Paulo, cortada por rodovias movimentadas. De quem é a responsabilidade pelo
trânsito de um Município atravessado por uma BR ou uma rodovia estadual? Todos
pensam que é do Prefeito.
A Mesa tem muitas questões legais para apreciar.
Em relação à pergunta de Magali Nunes sobre a prerrogativa de Santa
Catarina, temos convênios e leis, mas é preciso uma integração nacional. O Sistema
Nacional deve estabelecer resoluções ou mecanismos que facilitem a vida do
Município, não no sentido de burlar a lei, mas de criar sistemas que possibilitem
melhorar seu trânsito e, conseqüentemente, o do Estado.
No que se refere à educação para o trânsito, devemos estabelecer uma
política efetiva, por meio de convênios, visitas, shows e peças de teatro nas
escolas. Se investirmos nas crianças hoje, certamente teremos resultados diferentes
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amanhã. Temos de investir também nos adultos, porque 70% das multas de trânsito
resultam de imprudência do motorista, seja de ônibus, seja de outros veículos.
Regulamentamos o mototáxi em Goiânia. Por quê? É uma prática nova, que
não tem legislação nacional. Avançamos, fizemos acordo e estamos
regulamentando. Há realidades, Dr. Gidel, que ultrapassam a legislação. O Código é
de quatro anos atrás; depois, apareceu o mototáxi. Não precisamos acabar com ele.
Podemos estabelecer padrões de regulação, um dos pontos decisivos para a vida do
Município.
Por último, quero citar minha experiência na qualidade de integrante da
Comissão que examinou o Código de Trânsito. Na época, apresentei emenda que
obrigava todas as redes de televisão a ceder entre 10 e 30 minutos, no horário
nobre, para a educação para o trânsito. A pressão contrária foi tão forte que a
Comissão aprovou a emenda somente para as chamadas TVs Educativas. A
televisão tem muito poder. Muitas vezes ela mostra o trânsito caótico e culpa o
Prefeito, Superintendente, Secretário ou Governador, mas não contribui para
melhorar a situação.
No que se refere ao Ministério Público, é fundamental estabelecer
relacionamento com o órgão.
Peço desculpas aos membros da Mesa por ter de me ausentar. Saúdo
V.Exa., nobre Deputado Ary Kara, por ter possibilitado este debate, que nos
permitirá construir um trânsito cada vez mais humanizado.
Este Congresso, certamente, trará frutos para nós, Prefeitos e Vereadores,
mas também para o DENATRAN e o Sistema Nacional de Trânsito. Os sistemas
municipais devem ser elementos facilitadores e, não, dificultadores da vida de
pedestres e motoristas.
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Muito obrigado.
O SR. COORDENADOR (Gidel Dantas Queiroz) – Sr. Prefeito, V.Sa. afirmou
que não há legislação federal sobre os mototáxis.
Esclareço que ela existe no atual Código; não existia no anterior, que apenas
autorizava os Municípios a registrarem o transporte público e individual restrito a
automóveis — entre parênteses, táxis.
O novo Código se refere a veículo público ou individual de passageiros.
Então, a moto está enquadrada. Tenho respondido algumas perguntas sobre o
assunto. O Município está autorizado a regulamentar o mototáxi, se lhe convier.
Cabe a ele fixar exigências, tais como a comprovação de segurança.
Com a palavra o Sr. Joaquim Lopes da Silva Júnior.
O SR. JOAQUIM LOPES DA SILVA JÚNIOR - As perguntas que me
chegaram são várias. Vou respondê-las e encaminhá-las aos interessados.
Em linhas gerais, elas tratam de gargalos na relação entre o Município e o
DETRAN, sobretudo no que se refere às taxas cobradas pelo órgão.
Perguntam-me se o DENATRAN pode estabelecer um parâmetro nacional
para essa cobrança. Penso que ele pode estimular encontros setoriais e regionais, a
fim de discutir a melhor forma de fazê-lo, considerando o custo efetivo do acesso ao
banco de dados.
Em virtude da dimensão do País, não é possível estabelecer um parâmetro
nacional de preços, mas é viável a discussão do assunto entre DETRANs e
Municípios. Ela pode ser facilitada pelo DENATRAN, que tem por função articular
institucionalmente os estabelecimentos que lidam com o trânsito.
Precisamos buscar parâmetros regionais e, não, estabelecer preço e taxa a
serem cobrados. Podemos montar planilhas que ofereçam subsídios às discussões.
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Boa parte das questões refere-se a pequenos Municípios, que têm entre 20
mil e 70 mil habitantes. Há outro mecanismo para que os problemas sejam
resolvidos?
Lembro que os 410 Municípios integrados abrangem 85% da frota nacional,
mas a circulação é inerente ao tamanho de cada um. Mesmo que se trate de tráfego
de bicicletas ou de pedestres, é possível discutir a questão.
Procurei o Deputado Ary Kara para falar a respeito da peculiaridade das
regiões metropolitanas, citada pelo Dr. Pedro Wilson Guimarães. A de São Paulo,
por exemplo, é composta por 39 Municípios, alguns com apenas 40 mil habitantes.
Muitas vezes, eles são cortados por uma rodovia; se não estiverem integrados ao
sistema, podem acontecer muitos acidentes, apesar do reduzido número de
moradores.
Nesse sentido, a discussão que tentamos estimular e que o DENATRAN deve
promover refere-se à figura do consórcio entre pequenos Municípios para a gestão
do trânsito por meio de um único órgão. Tal medida é viável. Não é preciso assumir
despesas que, muitas vezes, não se têm condições de manter. Um conjunto de
Municípios pode instituir o consórcio para gerenciar seu trânsito.
Outras questões abordam peculiaridades das regiões metropolitanas. Em São
Paulo, sofro na pele o caso específico do corredor metropolitano. Este tem 33
quilômetros de extensão e equipamentos eletrônicos que somente 5% dos
Municípios brasileiros possuem. Todos os dias, circulam por ele, aproximadamente,
300 mil passageiros; além disso, a via corta cinco Municípios.
O Dr. Laedson Bezerra questionou a situação do ente metropolitano. Esse
ponto foi incorporado à discussão da Política Nacional de Trânsito. Ele a transcende,
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pois tem a ver com fenômeno característico daquelas regiões. Temos de resolver o
problema. Essa é uma de nossas preocupações.
Outro dado refere-se à qualificação profissional. É possível ao Governo
Federal, por intermédio do DENATRAN, promovê-la? Sim. O DENATRAN possui
programas na área de educação para o trânsito como o “Rumo à Escola”, em
estágio avançado, e um voltado para o ensino médio, que abrange 15 Capitais.
Há pouco tempo, foi realizado extenso curso para os agentes de órgãos
gestores de trânsito. Também contamos com manuais de sinalização, que serão
impressos e distribuídos pelo DENATRAN, além do programa “Caminho Aberto à
Cidadania”, em andamento.
Deixamos algumas contribuições, que outros dirigentes estão encaminhando.
Um exemplo é o Segundo Prêmio DENATRAN, que tem por objetivo estimular a
discussão sobre a educação para o trânsito. O órgão responsável pelos programas é
o Departamento Nacional de Trânsito. É preciso lhe expor as demandas dos que se
preocupam com o tema.
Foi citada outra questão que caracterizo como conflito de competência.
Refiro-me às brigas — no bom sentido — naturais a respeito das atribuições do
DER, da Polícia Rodoviária Estadual, da Polícia Rodoviária Federal e dos Municípios
cortados por determinadas vias.
Como resolver o problema? Não há outra maneira senão promover o encontro
de todos os componentes do sistema nacional, para discutir a melhor forma de
acabar com os gargalos.
Realizamos o Primeiro Encontro do Sistema Nacional de Trânsito somente
em 2000, ocasião na qual afloraram vários pontos. Inicialmente, os problemas
apresentados devem ser exaustivamente discutidos; em seguida, é possível
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encontrar saídas conjuntas. Não há milagres. Volto a insistir no fato de que o papel
fundamental do DENATRAN é articular institucionalmente todos os setores que
compõem o Sistema Nacional de Trânsito.
Ontem, fiquei satisfeito ao ouvir a afirmação do Dr. Chiaradia de que pretende
adotar o sistema de cartas. Trata-se de uma maneira mais eficaz de resolver boa
parte dos problemas relativos às taxas e aos conflitos entre Municípios e DETRANs
ou a Polícia Rodoviária Federal; ou entre o DETRAN e o DER, em determinados
Estados.
É possível tratar o assunto de maneira localizada, mas o ente responsável por
tal articulação é o DENATRAN, que tem a competência e a autoridade necessárias
para promover o debate. Cabe também ao órgão promover a implantação do Código
Brasileiro de Trânsito.
Foram feitas perguntas genéricas. Encaminharei a resposta àquelas que dão
o endereço.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ary Kara) - Solicito ao Coordenador que
permita ao Dr. Joaquim Lopes da Silva Júnior responder às demais perguntas.
Peço ao conferencista, por sua vez, que seja rápido. Afinal, quanto maior o
número de respostas, melhor para todos.
O SR. JOAQUIM LOPES DA SILVA JÚNIOR – Pois não.
Foi feita pergunta a respeito do Município de Lajes, em Santa Catarina. O
texto encaminhado afirma que passam pelo Município as BRs-282 e 116 e que, no
perímetro urbano, acontecem atropelamentos por falta de sinalização; o Município
diz que a obrigação de sinalizar é do DNER; indaga-se qual é a solução para o caso.
De fato, a competência sobre a via é do DNER, mas, se a estrada passa
dentro do Município, não é possível que este se omita. Afinal de contas, o cidadão
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que usa a rodovia é o munícipe de Lajes, Santa Catarina. Para resolver o problema,
são necessárias gestões junto à autoridade responsável. Se o DNER não responde,
deve-se buscar o DETRAN ou o DER local. Não vejo outra maneira. A competência
sobre a via é do DNER, mas outras saídas devem ser buscadas.
Temos outra questão, bastante oportuna, do Sr. José Roberto Carvalho, da
Secretaria de Trânsito de Rio das Ostras, no Rio de Janeiro. Ele pergunta se a
Guarda Municipal pode exercer o poder de polícia e a fiscalização do trânsito.
Essa é uma discussão recente; inúmeras leis tratam do tema.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ary Kara) – O poder de polícia é
estabelecido pela Constituição. A Guarda Municipal tem poder apenas fiscalizador.
O SR. JOAQUIM LOPES DA SILVA JÚNIOR – Então, não pode.
O SR. COORDENADOR (Gidel Dantas Queiroz) – Permita-me, Sr. Joaquim.
Os Guardas Municipais têm a função específica de cuidar do patrimônio do
Município. Eles podem ser preparados para atuar como agentes da autoridade de
trânsito, mas não podem exercer o poder de polícia.
O SR. JOAQUIM LOPES DA SILVA JÚNIOR – Muito bem.
O Sr. Antonio Gonzaga Moreira, da Autarquia de Trânsito da Prefeitura de
Cacauia, Ceará, pergunta se, na nova Política Nacional de Trânsito, o DENATRAN
pode unificar a política de cobrança de taxas dos Municípios nos convênios
celebrados, pois sabemos que existem percentuais diversos.
O DENATRAN pode, repito, articular institucionalmente o conjunto de
instituições locais para discutir os parâmetros dos convênios, mas ele não pode fixar
valores. Pode-se discutir o percentual, em função do serviço prestado, conforme
lembra o Dr. Laedson. Ele difere, em cada Município, devido ao tamanho da frota.
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A pergunta da Empresa Municipal de Transportes MTU, de Ji-Paraná, é: o
que fazer quando o Estado se omite em apoiar a Polícia Militar nas fiscalizações
ostensivas e quando o DETRAN não controla o registro de licenciamento de veículos
de aluguel nem o sistema de cobrança de multas?
A solução é fazer gestões junto ao órgão, conforme disse o Dr. Pedro Wilson.
Outra pergunta: num Município de 20 mil habitantes ou menos, seria viável e
obrigatória a municipalização?
Ela não é obrigatória, mas é viável.
O SR. COORDENADOR (Gidel Dantas Queiroz) – Perdoe-me, Sr. Joaquim.
Ela seria obrigatória. É lei: o Código de Trânsito Brasileiro municipalizou o
trânsito. Todos os Municípios até mil habitantes têm de fazê-lo. Eles não são
obrigados a ter seu próprio departamento de trânsito; podem fazer convênio com a
Polícia Militar do Estado, que executará o serviço, repassando-lhes as multas sobre
a circulação viária e o uso do solo.
O SR. JOAQUIM LOPES DA SILVA JÚNIOR – Então, é viável.
Outras perguntas: "Existe prazo para a municipalização? A que vocês
atribuem a pouca adesão municipal? Aos custos?"
Não. O problema não é o custo, conforme já afirmei. O Município pode
implantar o órgão gestor de trânsito ou delegar a tarefa ao DETRAN ou a outro ente,
por meio de convênio, se não quiser arcar com os custos.
O SR. COORDENADOR (Gidel Dantas Queiroz) - Com a palavra o Sr.
Laedson Bezerra.
O SR. LAEDSON BEZERRA – Vou responder às três questões que me foram
formuladas, porque estou atrasado para outro compromisso.
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Duas dizem respeito à questão do mototáxi e, a outra, feita pelo Vereador
Pedro Lucas Rodrigues, de Patos de Minas, ao transporte escolar.
Toda a legislação de transporte remunerado de passageiro diz respeito ao
Município, que tem de legislar sobre isso, porque o interesse é municipal. O tempo
de vida útil do transporte escolar e o serviço de mototáxi são de competência do
Município.
Particularmente, por princípio, sou contra o transporte de mototáxi. Só em
Porto Alegre, os mototáxis representam 6% da frota e são responsáveis por 25% das
mortes em acidente de trânsito. Por isso, sou contra.
“Qual é a estrutura mínima para o funcionamento
da municipalização do trânsito?”
Essa pergunta é da Evanildes, de Santo Amaro, Bahia.
Vai depender do tamanho do Município e do número da frota. Pode ser um
engenheiro e um fiscal ou, como ocorre em Porto Alegre, que tem 450 agentes, uma
estrutura de quase mil funcionários que dá suporte a toda a parte de trânsito e
transporte do Município. Vai depender muito do tamanho do Município. Não há
tamanho prefixado. Trabalha-se com um agente para cada mil ou 2 mil veículos.
A última pergunta de Santa Catarina é a do Sr. Romualdo, da Companhia de
Desenvolvimento Urbano de Joinville, sobre o convênio. No Rio Grande do Sul,
fizemos um trabalho, com a Federação dos Municípios de todo o Estado. Todos os
Municípios atualmente, ou têm convênio com o Governo do Estado para fiscalização
do trânsito, por meio da Polícia Militar, ou já estão municipalizados, o que representa
algo em torno de cinqüenta Municípios. Pagamos quinze ou dezesseis reais
dependendo do tipo de notificação, com ou sem foto. Com esses quinze reais,
pagamos o DETRAN para que faça toda a parte de emissão e cobrança da multa, e
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o dinheiro vai para o Município, que só tem o trabalho de fiscalizar na rua e digitar no
sistema. Depois, tudo é feito pelo sistema do DETRAN. Esse sistema vale para
todos os Municípios, para as Polícias Rodoviárias Federal e Estadual e para todos
os órgãos de trânsito do Estado do Rio Grande do Sul, que têm o mesmo convênio e
a mesma estrutura de trânsito com o DETRAN.
Peço desculpas por ter que me retirar devido a compromisso assumido —
solenidade no Memorial JK — e agradeço pelo convite para participar desta
conferência. (Palmas.)
(Não identificado) – Enquanto o nosso palestrante organiza outras questões,
irei responder a três perguntas.
A primeira, de Paulo Sena, de Abaetetuba, no Pará, que gostaria de saber se
os trabalhos realizados pelos membros da JARI são realizados voluntária ou
remuneradamente.
Em Pernambuco, é remunerado; há pouco tempo, era voluntário, mas por
meio de projeto de lei encaminhado à Assembléia, passou a ser remunerado. Paga-
se 600 reais por oito sessões durante o mês. Alguns Estados não remuneram os
membros da JARI.
A outra pergunta é a do Sr. Wilson Monteiro, de Palmares, Pernambuco:
“Considerando que a Rodovia BR-101 passa em
Palmares, as multas aplicadas pela Polícia Rodoviária
Federal, dentro do perímetro urbano, reverterão em favor
de quem, uma vez municipalizado o trânsito?”
De fato, cabe à Polícia Rodoviária a fiscalização de trânsito na rodovia. É
possível, no meu modo de ver, que, por negociação e fiscalização, naquele trecho
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do perímetro urbano, ela passe, por meio de acordo ou convênio, para o Município
que a exercerá e, conseqüentemente, terá a remuneração pelas multas aplicadas.
A última pergunta é sobre o DETRAN — não citarei o nome do Estado, por
questão de ética:
“O que fazer quando não há acesso fácil ao
DETRAN, e o DETRAN não cumpre convênio assinado,
ou seja, cria, à revelia, normas absurdas, sempre
dificultando a vida dos Municípios e dos usuários?”
A pergunta não é de Pernambuco.
Se não há condições, por meio de negociação, de fazer cumprir as
determinações de um documento legal assinado, não vejo outro caminho a não ser o
da Justiça.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ary Kara) – Gostaria de responder algumas
perguntas.
“Com a possibilidade do estabelecimento, como
princípio da política de trânsito, da sinalização, da
conservação das estradas e das ruas, com vigilância, e,
em último caso, da aplicação da multa, eliminar-se-ia a
indústria da multa?”
Essa pergunta é da Sra. Maria Ferreira, do Escritório de Representação de
São Paulo, e do Sr. Osvaldo Pacheco.
Estamos debatendo muito, na Câmara dos Deputados, principalmente, as
mudanças reais que terão de ser feitas no Código de Trânsito Brasileiro, com
relação às sanções.
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Há outra pergunta quanto à apreensão, a multa referente à ultrapassagem em
20% da velocidade permitida nas vias. Certos artigos, realmente, precisam ser
modificados. Conseguimos segurar, até hoje, no Congresso Nacional, todas as
mudanças propostas ao Código de Trânsito Brasileiro. Só passou uma, que foi o
estojo de primeiros socorros. Até o final do ano, vamos apresentar algumas
mudanças junto com o DENATRAN.
Iguais a esta reunião de hoje faremos mais cinco; uma em cada região do
País: Nordeste, Norte, Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Vamos levar, mais ou menos, o
estudo da mudança que pretendemos realizar no Código para discutir com os
senhores, pessoas ligadas ao trânsito, e com as Câmaras Municipais, que têm papel
importantíssimo no trânsito e que não estão exercendo a fiscalização.
Quando se fala em indústria de multa, é bom lembrar que é dever do poder
municipal a fiscalização. Ontem, conversei com o coronel Almir, do DETRAN/DF,
sobre a velocidade permitida na L2 Sul, 60 quilômetros. Nessa via, de repente, há
um declive grande, e a velocidade permitida continua a ser 60 quilômetros, e há um
equipamento eletrônico de fiscalização. Ninguém consegue chegar a esse
equipamento com 60 quilômetros. Devemos acabar com essas armadilhas.
Em São Paulo, na Dutra ou na Trabalhador, a velocidade é 110, 120
quilômetros; na Marginal Tietê, 90 quilômetros. Se bobear, o motorista é multado.
Trafegando a 20% a mais da velocidade permitida, a carteira de motorista será
apreendida, mesmo que seja apenas uma multa.
São mudanças que estamos pretendendo fazer no Código. Por isso, este
seminário de hoje e os outros cinco serão realizados para recebermos sugestões
que serão apresentadas ao Congresso Nacional.
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A indústria da multa existe, sim, infelizmente. Alguns DETRANs têm tentado
diminuir o volume dos equipamentos eletrônicos que multam em lugares em que não
há movimento de veículos e acidentes. Existem infrações sem que o motorista seja
educado. Não vou dizer que isso ocorre em todos os DETRANs; há exceções, mas
temos problemas seriíssimos com a indústria de multas, principalmente com os
equipamentos móveis.
Queremos que o DENATRAN regulamente o uso dos equipamentos. O
equipamento usado em Curitiba será o mesmo usado em Recife e em São Paulo,
senão a tecnologia irá permitir que o motorista seja multado sem sabê-lo, pela falta
de conhecimento dos equipamentos existentes em nossas vias.
Não é preciso dizer que o local está sendo fiscalizado com equipamento
eletrônico, mas é muito importante que seja padronizada a sinalização da velocidade
com a devida distância entre o equipamento eletrônico e a sinalização. O motorista
não pode entrar numa rodovia sem sinalização e cem metros adiante encontrar um
equipamento eletrônico de fiscalização.
Quanto à aplicação do dinheiro, isso está claro no Código de Trânsito
Brasileiro, que estabelece para que fim se pode usar o dinheiro arrecadado no
trânsito. De acordo com seu art. 320, a receita arrecadada com a cobrança das
multas de trânsito será aplicada, exclusivamente, em sinalização, engenharia de
tráfego, de campo, policiamento, fiscalização e educação de trânsito. Cinco por
cento do arrecadado irá para o Fundo Nacional de Segurança e Educação no
Trânsito — FUNSET.
Estamos comunicando todos os Tribunais de Contas dos Municípios, dos
Estados e o Tribunal de Contas da União que, nos estudos das contas das
Prefeituras, dos Estados e da União, deverá ser usado o mesmo critério da
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aplicação dos 25% da educação. Quanto arrecadou? O que gastou? Estão de
acordo com o Código? Estão. As contas estão aprovadas. Não estão de acordo com
o Código? As contas estão rejeitadas. Só assim o dinheiro será aplicado no trânsito.
Estradas estão arrecadando — e muito — no trânsito, sem campanha
educativa alguma. Por meio de campanhas educativas, vamos melhorar nosso
trânsito.
O meu carro tem placa de Taubaté, São Paulo. Caso eu cometa alguma
infração em Brasília, a multa será cobrada em Taubaté? Não. Não dispomos ainda
do RENACOM a ponto de exercer esse papel de cobrança de multas de um veículo
de um Estado que comete infração em outro.
É preciso que haja campanha educativa que realmente venha ao encontro da
necessidade de entendermos que devemos respeitar as leis de trânsito.
Fazemos uma crítica muito severa e forte ao Ministro da Educação. De
acordo com o Código, o Ministério da Educação e do Desporto, mediante proposta
do CONTRAN, deverá aplicar multa, após 240 dias da publicação, estabelecendo
currículo com conteúdo programático relativo à segurança e educação do trânsito. A
publicação ocorreu em setembro de 1997. Quero que me mostrem uma escola que
apresente esse currículo mínimo. O Governo peca ao não aplicar o Código. Se em
todas as escolas públicas e privadas, em todos os níveis de ensino, de 1998 até
hoje, quatro anos, houvesse o currículo mínimo de educação e segurança do
trânsito, sem dúvida alguma, o Código seria muito mais respeitado por toda a
população.
Cumprimento o Rio Grande do Norte, onde há campanha educativa forte que
está suprindo a deficiência do Governo Federal. Isso deve ser levado aos nossos
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Municípios. Os Prefeitos presentes e os Vereadores devem cobrar do Departamento
de Trânsito a aplicação de verba em educação no trânsito em cada cidade.
(Não identificado) – O Engenheiro Civil Janson Marcondes faz uma
afirmação.
Estamos num processo de municipalização do trânsito, mas a Câmara
Municipal não aprovou a JARI com três membros e suplentes. Quer aprová-la
apresentando mais quatro membros titulares. Com essa constituição da JARI, sete
membros, o DENATRAN não homologará nossa municipalização. Qual é o
procedimento que devemos adotar?
Primeiro, a Câmara Municipal vai aprovar a estrutura administrativa do órgão
que está sendo criado para gerir o trânsito no Município. Uma vez que o Município
vai necessitar de estrutura, a Câmara vai aprovar, mas a JARI, não. A Junta
Administrativa está prevista no Código de Trânsito, no art. 7º, inciso VII. Talvez o
equívoco tenha sido mandar para a Câmara o projeto da criação das Juntas
Administrativas de Recursos de Infração. O Código já autoriza a formação desse
acordo com os membros estabelecidos: três membros e três suplentes.
(Não identificado) – Algumas questões dizem respeito a recursos para
implantação das estruturas de trânsitos nos Municípios. Vou ler uma delas porque
acho que caracteriza várias das que chegaram e creio deva ser dirigida ao Deputado
Ary Kara.
Esta é especificamente de José Álvaro Twardowski, Diretor de Trânsito da
DIRETRAN de Curitiba.
“Proposição. Para estruturação da entidade
Municipal de trânsito a Prefeitura necessita adiantar
recursos financeiros de que nem sempre dispõe e vai
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iniciar o retorno desses recursos somente após dois a três
anos. Sugiro que o Governo Federal promova linhas de
financiamento para municipalização do trânsito, agora em
Municípios de pequeno e médio porte.”
Cabe, no meu modo de ver, um bom projeto de lei.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ary Kara) – Acho que não tem segredo
nenhum. A Caixa Econômica Federal tem várias linhas de crédito. Vamos solicitar da
Caixa que abra linha de crédito para os Municípios que não têm condições
financeiras, a fim de que façam o financiamento e possam pagar de acordo com a
entrada do dinheiro do trânsito e suas condições financeiras.
O SR. LAEDSON BEZERRA – O Sr. Francisco Fernandes, Secretário de
Planejamento da Prefeitura Municipal de Poços de Caldas pergunta:
“Há algum tipo de incentivo financeiro, estrutural para os
Governos Federal e Estaduais? Como consegui-lo?”
Pergunta do Sr. Oscar Pereira da Silva, da competente CET, de Santos:
“Pelo art. 24 do Código de Trânsito Brasileiro, o
Município deve registrar, licenciar ciclomotores, veículos
de tração humana, bicicletas, triciclos, etc., porém não
pode legislar, sendo obrigado a aplicar as mesmas
penalidades previstas no Código de Trânsito Brasileiro
para os demais veículos, o que torna inviável a sua
aplicação. Exemplo: um ciclista que avança um semáforo
vermelho ou transita sobre a calçada, como aplicar uma
multa de 191 reais ou 571 reais? Esse valor é maior do
que o veículo.”
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O problema é sério. Fazer cadastro dessas bicicletas é complicado. Muitas
bicicletas são cabritos que estão na rua, e o dono não vai querer registrá-las nunca,
ele não tem nota fiscal, não tem nada. É complicada essa parte do registro das
bicicletas.
Quanto a aplicar as penalidades previstas no Código, é difícil compararmos
uma bicicleta a um automóvel, não pelo fato de que o automóvel seja mais possante,
mas pelo valor das multas.
No Vale do Paraíba, as cidades de Caçapava e Ubatuba, com base em
decreto municipal, começaram a apreender bicicletas. Ubatuba, por exemplo, cobra
taxa que é destinada a uma instituição de caridade. Após a apreensão, a bicicleta é
lacrada e depositada no pátio municipal. Para ser retirada é necessária a
apresentação da nota fiscal. Se a bicicleta for cabritada, está perdida. É uma
questão delicada.
Em Guaratinguetá, eu e o Dr. Fagundes, com base no Código de Trânsito
Brasileiro, elaboramos projeto de lei municipal prevendo tornar mais brandas as
penalidades às infrações cometidas pelos ciclistas, bem como facilitar o registro e o
licenciamento das bicicletas. Nada entrou em vigor ainda. Enviamos o projeto ao
Departamento Jurídico e solicitamos que se fizesse uma análise, pois há que se ter
cuidado, uma vez que cidade nenhuma do Brasil tem executado a fiscalização de
bicicletas.
Nesse sentido, deixo ao Deputado Ary Kara o pedido para que o Congresso
Nacional, se for de sua competência, possa ampliar ou esclarecer melhor a questão
da fiscalização das bicicletas e o registro das mesmas no Código de Trânsito
Brasileiro. Realmente, a situação está complicada.
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Há experiências iniciadas em outras cidades, mas todas estão-se
aventurando na fiscalização de bicicletas. Ninguém ainda arregaçou as mangas e
começou a se debruçar sobre a questão para valer. Quem sabe o Deputado Ary
Kara possa nos dar uma força.
É proposta dos últimos fóruns paulistas da ANTP que no Código pudesse ficar
mais esclarecida a parte de registro e licenciamento de veículos de propulsão
humana e de tração animal.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ary Kara) – Quando elaboramos o Código e
municipalizamos o trânsito, demos o primeiro passo para, futuramente, passar tudo
aos Municípios inteiramente. Quem legisla hoje sobre o pedestre, o ciclista, o veículo
de tração animal ou propulsão humana é o Município. Este tem total liberdade para
isso. A lei estabelece que o Município pode legislar nesses casos. É o início para o
Município começar a legislar na matéria trânsito, que é de competência federal.
Então, os Municípios, por meio da ANTP, podem começar a estudar uma maneira de
padronização.
Em Campos do Jordão, por exemplo, a quantidade de veículos de tração
animal é muito maior que a de São Paulo. Por isso, cada Município, dentro de sua
peculiaridade, deve administrar.
(Não identificado) - Sr. Deputado, no último fórum em Campos do Jordão, foi
consenso que todos os Municípios paulistas adotariam ação única no que diz
respeito a essa parte de bicicleta e tração animal, porque é complicado, pois numa
cidade há uma lei municipal onde o ciclista tem sua bicicleta apreendida; no
Município vizinho, sua bicicleta é multada; vira uma torre de babel, onde todos
moram num mesmo lugar, porém falam línguas diferentes.
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Quanto ao registro, tudo bem. Exige-se que o ciclista apresente a nota,
apresente seus documentos pessoais e se executa o registro do veículo, mas o
grande problema é a fiscalização, a cobrança da multa ao ciclista. Se ele ultrapassa
um semáforo no vermelho ou se transita por uma calçada, o valor da multa às vezes
ultrapassa o valor do próprio veículo. É uma questão complicada.
Em Guaratinguetá, estamos tentando fazer lei municipal regulamentando os
valores das multas, a fim de que sejam adequadas a um ciclista.
(Não identificado) – Deixe-me tentar ajudar no entendimento. O art. 24 do
Código acrescentou mais um item que não existia no Código anterior. Só se falava
em veículo de propulsão humana, na carroça, de tração animal, e agora foi
acrescido mais um que está sendo relegado a um plano secundário. Refiro-me aos
ciclomotores, veículos de até cinqüenta cilindradas, que estão rodando sem
regulamentação. O Código ainda não estabeleceu multas para esses tipos de
veículos. Cabe ao Município fazê-lo e ele pode estabelecer 10 ou 20 reais. Fica a
critério de cada Município estabelecer o valor das multas, mas deve pensar primeiro
no registro e depois na punição. Deve-se pensar primeiro na preparação do ciclista.
O Deputado Ary Kara esclareceu muito bem que cabe ao Município
regulamentar e estabelecer as punições. Só o Município pode disciplinar sobre a
matéria.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ary Kara) – Só há uma multa difícil de ser
cobrada, relacionada a esses itens. Trata-se da multa ao pedestre que atravessar a
rua fora da faixa, estando a menos de 50 metros da mesma. Parece-me que o valor
é de 50% do salário mínimo. É a única multa estipulada pelo Código. Todo o
restante é de competência do Município.
Já são 12h. Às 14h, continuaremos o debate.
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Comunicamos que amanhã, às 10h, haverá palestra do Prof. Roberto
Scaringella.
Antes de encerrar, passamos a palavra ao conferencista, para as últimas
considerações.
O SR. JOAQUIM LOPES DA SILVA JÚNIOR – Agradeço ao Deputado Ary
Kara a oportunidade de participar do debate. É sempre muito prazeroso discutir o
sistema nacional de trânsito. Algumas pessoas estão pedindo meu cartão. Deixo
meu e-mail: [email protected]. Já me comprometi com o Deputado Ary
Kara a responder às questões que os senhores formularam e me encaminharam.
Muito obrigado.
O SR. APRESENTADOR (Carlos Rudney) – Para concluir, o Sr. Mauro
Bernardes, da Prefeitura Municipal de Toledo, faz uma pergunta que pode interessar
a todos:
“Para se criar o órgão executivo de trânsito e
transporte do Município, qual a estrutura mais adequada a
ser adotada: autarquia, secretaria, departamento de uma
secretaria ou outro? Nosso Município tem 100 mil
habitantes. Os membros da JARI podem ser
remunerados? Se sim, de que forma?”
Acho que qualquer uma dessas estruturas deve ser discutida internamente.
Trata-se de questão particular. Pessoalmente, preferiria autarquia pela liberdade
administrativa de aplicação de recursos e tudo o mais. Trata-se de questão pessoal
que deve ser discutida. E os membros da JARI podem, sim, ser remunerados,
através de projeto de lei encaminhado à Câmara dos Vereadores da cidade.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Ary Kara) – Farei uma pergunta rápida, que é
importante para os Municípios. Há muitos Municípios reconduzindo os membros da
JARI. Depois do mandato de um ano, eles podem ser reconduzidos? Só pode ser
reconduzido o membro do Ministério Público, segundo resolução do DENATRAN. É
inconstitucional reconduzir os membros da JARI. Há exemplos gritantes de
Municípios que estão fazendo isso. A anulação de todos os recursos julgados pela
JARI poderá ser argüida, se não forem respeitados os parâmetros da lei, uma vez
que dispõe que os membros da JARI não podem ser reconduzidos.
Passo a palavra ao Sr. Marcelo Pazzini, para suas considerações finais.
O SR. MARCELO PAZZINI – Agradeço a oportunidade e parabenizo V.Exa.
pela organização deste evento de grande importância para a municipalização do
trânsito em nosso País. Espero que ocorram outros eventos como esse, porque
esclarecem, tiram dúvidas e orientam melhor os Municípios quanto à
municipalização de seu trânsito.
Faço pequena ressalva sobre a pergunta a respeito de apadrinhamento de
Prefeitos e Vereadores para anulação de multas, conhecido como “quebrar multa”.
Isso depende da consciência dos Prefeitos e Vereadores. Onde essas autoridades
são sérias, não há quebra de multa. Devem orientar o motorista infrator a pagar a
multa, ou a recorrer dela. Trata-se de questão de consciência e de ética, inclusive,
política, porque há Vereador ganhando eleição em cima disso.
Meus agradecimentos ao Deputado Ary Kara, mais uma vez, a todos os
membros da Mesa e aos presentes. Foi uma satisfação estar aqui nesta manhã.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ary Kara) – Com a palavra o Dr. Laedson
Bezerra, Diretor do DETRAN de Pernambuco para suas considerações finais.
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O SR. LAEDSON BEZERRA – Agradeço a oportunidade de participar e a
paciência aos companheiros. Estou à disposição dos senhores em Pernambuco,
através de nosso endereço, esperando poder ajudar nessa tarefa da
municipalização do nosso trânsito.
Parabéns à coordenação e ao Deputado Ary Kara pela organização do
evento. Um grande abraço a todos.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ary Kara) – Com a palavra o Sr. Joaquim
Lopes da Silva, nosso conferencista, para suas considerações finais.
O SR. JOAQUIM LOPES DA SILVA – Volto a justificar a ausência do Dr.
Jurandir Fernandes. Em São Paulo, estamos vivendo uma peculiaridade salarial em
razão do dissídio coletivo do Metrô e da CPTM, de modo que ele me pediu para que
o representasse.
Agradeço o convite e ressalto que fiquei muito contente por estar participando
de evento desse porte que discute novamente o sistema nacional de trânsito, em
particular a municipalização.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ary Kara) – Agradecemos a todos que
participaram desta Mesa. Destaco que todos estão aqui gratuitamente. Todos se
locomoveram de seus Estados a Brasília a fim de participar do Congresso Brasileiro
de Municipalização de Trânsito, pura e simplesmente, para trazer ao nosso
conhecimento o que praticam no dia-a-dia no trânsito.
A Comissão Especial de Aplicação do Código de Trânsito agradece ao
conferencista, ao coordenador, aos debatedores e a todos os presentes.
Convidamos os senhores para às 14h continuarmos nosso debate.
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O SR. APRESENTADOR (Carlos Rudney) – Lembramos aos participantes
interessados em obter o material dos conferencistas que devem anotar o seguinte e-
mail: [email protected]. Esse e-mail será afixado à tarde para que todos
possam anotar.
Informamos ainda que às 14h haverá apresentação de um grupo de teatro
sobre o trânsito. Mais uma vez, convidamos a todos para a palestra “Operação e
Fiscalização do Trânsito por Agentes Municipais”.
Solicitamos a todos os participantes que, por gentileza, registrem sua
presença no livro que está na sala VIP, a fim de ser posteriormente registrado na ata
da Comissão.
(Final do Painel B e início do Painel C.)
O SR. APRESENTADOR (Carlos Rudney) – Pedimos especial atenção de
todos que estão na fila neste momento para que compareçam ao auditório, porque
terá início a apresentação de peça voltada à educação no trânsito. São artistas que
vieram do Rio Grande do Norte, por conta própria, fazendo belíssimo trabalho.
Tenho certeza absoluta de que daqui nascerá uma semente para que muitos
DETRANs criem grupos como esse, com o objetivo de a cada dia mais educar o
trânsito no Brasil. Convidamos todos os congressistas para se dirigirem ao auditório,
a fim de ter início essa fabulosa peça de educação do trânsito.
Boa tarde, senhoras e senhores, pedimos a todos que se acomodem para
darmos início à conferência da tarde. Antes de anunciar a peça de teatro, porém,
passo a palavra ao Deputado Ary Kara.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ary Kara) – Boa tarde a todos.
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Antes de iniciarmos as duas conferências da tarde de hoje, teremos a
apresentação do trabalho cultural de educação do trânsito realizado pelos DETRANs
do Rio Grande do Norte e do Distrito Federal respectivamente.
Convidamos, então, os componentes do teatro do DETRAN do Rio Grande do
Norte para se apresentarem e, posteriormente, os do Distrito Federal.
O SR. APRESENTADOR (Carlos Rudney) – O grupo de teatro chama-se TTT
– Turma de Teatro e Turismo do Trânsito, apresentando a peça “A vida pede
passagem”. No Rio Grande do Norte, o DETRAN utiliza esse teatro como principal
ferramenta para a educação do trânsito e assim investe na cultura potiguar,
beneficiando alunos da rede pública e privada que integram o PNET.
Recebamos, com uma salva de palmas, o Grupo TTT.
(Não identificado) – Convido os atores da CM Produções a virem até aqui.
Estamos lisonjeados com o convite para participar deste Congresso e agradecemos
especialmente ao Deputado Ary Kara.
Estamos representando o Governo do Estado do Rio Grande do Norte, o
Diretor-Geral do DETRAN, Dr. Walter Sandi, que tem dado apoio à cultura através
do teatro e o tem usado como ferramenta lúdica para educar o trânsito. Estamos
muito orgulhosos e nos sentimos recompensados por estar neste Congresso.
Os senhores podem nos procurar posteriormente, distribuiremos cartões, e
estamos abertos a qualquer convite. Queremos ver um trânsito mais humano e
pessoas com mais consciência. Por intermédio das crianças, formaremos bons
condutores.
Muito obrigada. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ary Kara) – Cumprimento os representantes
do Rio Grande do Norte que estão dando demonstração de campanha educativa.
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Sou testemunha disso, porque solicitamos a todas as cidades integradas ao Sistema
Nacional de Trânsito, aos Governos Estaduais, à Polícia Rodoviária Federal e às
Polícias Rodoviárias Estaduais seus programas de campanhas educacionais. O Rio
Grande do Norte nos mandou uma caixa fechada contendo todo o seu material,
revistas, teatro, informativos, principalmente direcionado às crianças.
Levem nosso abraço ao Governador do Rio Grande do Norte e ao Diretor do
DETRAN. Parabenizo-os por contribuírem para a educação no trânsito.
O SR. APRESENTADOR (Carlos Rudney) – Nossos agradecimentos do
Diretor do DETRAN do Rio Grande do Norte, que se encontra presente. Parabéns
pelo brilhante trabalho com a equipe dos TTTs.
Neste momento, vamos dar início ao 2º Painel, cujo tema é Operação e
Fiscalização do Trânsito por Agentes Municipais — Integração das Entidades
Fiscalizadoras e Poder de Polícia.
Convidamos para compor a Mesa, na condição de Presidente, o Exmo. Sr.
Deputado Ary Kara, Presidente da Comissão Especial de Fiscalização e Aplicação
do Código de Trânsito Brasileiro; para Vice-Presidente, o Exmo. Sr. Deputado
Federal Mauro Lopes, ex-Diretor-Geral da Polícia Rodoviária Federal; o
Coordenador, Dr. César Roberto Franco, Diretor-Geral do DETRAN do Paraná; na
condição de conferencistas, o Dr. Cyro Vidal, advogado especialista em trânsito e
ex-Diretor do DETRAN de São Paulo, e o engenheiro Luís Antônio Seraphim,
Assessor-Técnico da Presidência da Companhia de Engenharia de Tráfego — CET,
São Paulo.
Composta a Mesa, passamos a palavra ao Sr. Presidente, Deputado Ary
Kara.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Ary Kara) – Boa tarde a todos. Cumprimento
o Dr. Cyro Vidal, o conferencista desta tarde; o Sr. Coordenador e todos os demais
debatedores.
O SR. APRESENTADOR (Carlos Rudney) – Convidamos, neste momento,
para compor também a Mesa, os debatedores: Dr. Emerson Rozendo Salgado,
Assessor do Diretor do Planejamento do Departamento Nacional de Infra-Estrutura
de Trânsito — DNIT; o Dr. Gidel Dantas Queiroz, Consultor e Ex-Diretor do
DENATRAN; o Major PM, José Ricardo Cintra de Lima, Comandante da Companhia
de Polícia Rodoviária do DF e o Sr. Antônio José Brilhante, Presidente do Sindicato
dos Mensageiros, Motociclistas, Ciclistas Autônomos e Serviços Afins do Estado de
São Paulo. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ary Kara) – Nossos cumprimentos a todos os
senhores que estão participando deste congresso. Contamos hoje com a presença
de uma das maiores autoridades de trânsito do País, Dr. Cyro Vidal, Delegado de
Polícia há dez anos e Diretor do DETRAN de São Paulo, que conta com uma das
mais brilhantes, famosas e requisitadas consultorias do País.
S.Sa. fará, indiscutivelmente, uma palestra que marcará este congresso.
Conhecemos bem nosso conferencista, nosso amigo, e não temos dúvida de que
esclarecerá qualquer dúvida que os senhores tenham sobre o Código. Tanto é que
nos pediu para democratizar o debate: esta tarde as perguntas serão efetuadas
diretamente a ele. Dois microfones ficarão à disposição dos senhores para
formularem qualquer pergunta.
Esclarecemos que o conferencista é o Dr. Cyro e as perguntas têm de ser
rápidas e práticas, a fim de que o maior número de pessoas possam participar do
debate. Solicito também que não haja repetição de perguntas.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Aplicação do Código de TrânsitoNúmero: 0556/02 Data: 22/05/02
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Passo a Presidência dos trabalhos ao companheiro, que também relatou o
Código de Trânsito Brasileiro na Comissão Especial da Câmara e foi, por muitos
anos, Diretor-Geral da Polícia Rodoviária Federal, Secretário de Segurança Pública
de Minas Gerais, Deputado Mauro Lopes.
O SR. COORDENADOR (Deputado Mauro Lopes) – Convido, neste
momento, o Dr. Ailton Brasiliense para participar da Mesa.
Com muita alegria, passo a presidir esta reunião, após as deferências feitas a
mim pelo Presidente da Comissão, Deputado Ary Kara.
Saúdo os componentes já mencionados, os congressistas, os Vereadores e
técnicos da área de trânsito do País; os Diretores de DETRANs, as autoridades
militares, todos que realmente se interessam por esse problema gravíssimo que
existe no Brasil, pois vidas preciosas são ceifadas pelas imprudências cometidas no
trânsito.
Saúdo, de forma especial, Antônio Brilhante, cuja história está um pouco
ligada à minha. Ingressei na Polícia Rodoviária Federal na condição de motociclista,
que sou até hoje. Faço parte do grande grupo de motociclistas de Minas Gerais, os
Águias de Aço. Admiro muito os motociclistas que obedecem às leis de trânsito.
Tenho moto, um veículo perigoso, e ainda hoje estou vivo, sem ter sofrido nenhum
acidente.
Estou aqui com muita alegria. Sou um entusiasmado pelo trânsito, fui
Secretário de Estado de Segurança Pública, Diretor da Polícia Rodoviária Federal e
tive a felicidade de trabalhar com meu grande amigo Cyro Vidal, ex-Diretor do
DETRAN de Minas Gerais, e com o Dr. Emerson, do DNER.
Neste momento, passo a palavra ao Dr. César Roberto Franco, Coordenador-
Geral deste encontro.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Aplicação do Código de TrânsitoNúmero: 0556/02 Data: 22/05/02
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O SR. COORDENADOR (César Roberto Franco) – Sr. Presidente, Srs.
componentes da Mesa, inicialmente faço uma saudação especial ao Deputado Ary
Kara pela iniciativa louvável de nos reunir para tratar de assunto tão fundamental
para a sociedade brasileira.
Antes de iniciar, quero fazer algumas considerações que considero
pertinentes neste momento. Necessitamos de eventos como este, sentimo-nos um
pouco órfãos, e me atreveria até a falar em nome de outros órgãos de trânsito dos
Municípios, de todos aqueles, enfim, que estão envolvidos.
Na minha visão pessoal, tem sido difícil conviver com o DENATRAN nos
últimos anos. Estou há seis anos dirigindo o DETRAN do Paraná e me parece que
existiram nove diretores nesse mesmo período. Quando a pessoa começa a
aprender o Código e como funciona aquele órgão, muda-se o diretor. Todos
dependemos de um DENATRAN forte e estruturado, porque temos uma missão a
cumprir. O Código de Trânsito Brasileiro está em andamento, e as Prefeituras têm a
difícil missão da municipalização do trânsito, e isso envolve os DETRANs, o DNER,
os DERs, enfim, todos os órgãos e agentes envolvidos em situações que se referem
ao trânsito.
Parece-me que o Deputado Ary Kara é um entusiasta da transformação do
DENATRAN numa agência — que é também nosso sonho —, para que esse órgão
tenha autonomia e condições de realizar missões com começo, meio e fim. Há
situações terríveis que afligem a sociedade brasileira, como é o caso da implantação
do RENACOM, da inspeção de segurança veicular, pois o Código de Trânsito ainda
não foi concluído. Ele precisa ser melhorado, corrigido e concluído, mas isso só vai
de fato acontecer quando o trânsito for realmente valorizado, e o DENATRAN tiver
condições, estruturas e principalmente “caneta”. Temos esperança de que isso
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aconteça. E o Deputado Ary Kara, ao nos trazer aqui, mostra que ainda existe um
caminho para o trânsito brasileiro.
O tema do painel desta tarde é “O Agente de Trânsito”. Eu gostaria de dizer
apenas uma coisa antes de passar a palavra ao nosso conferencista: o agente de
trânsito é o elemento de ligação entre o Sistema Nacional de Trânsito e o cidadão.
Temos de estar bastante preocupados com a sua função. A sua principal missão é
orientar o cidadão e, de preferência, evitar que aconteça a infração de trânsito. Se
acontecer, é lógico que o cidadão deve ser autuado. Mas a nossa maior
preocupação deve ser evitar que os acidentes aconteçam, a fim de que o número de
mortes no trânsito diminua, e, principalmente, fazer com que as pessoas que nos
assessoram e que estão em contato com os cidadãos sejam capacitadas para tratá-
los com respeito e com dignidade, pois eles precisam da nossa ajuda neste
momento.
Vamos iniciar, chamando o Dr. Cyro Vidal, advogado especialista em trânsito
e ex-Diretor do DETRAN de São Paulo.
O SR. CYRO VIDAL - Boa tarde, senhoras e senhores, meus cumprimentos a
todos pela presença e ao meu velho companheiro da área de trânsito Dr. Miura, que
veio de Boa Vista, Roraima, para participar deste Congresso de Municipalização de
Trânsito.
Minha saudação inicial vai para meu querido amigo Deputado Mauro Lopes,
que, na verdade, pertence ao grupo dos Águias de Aço, de Minas Gerais, mas é
uma águia de aço da competência, da autoridade e do caráter. Por isso, nos seus
mais de vinte anos de atuação na Polícia Rodoviária, exerce hoje a função pública, o
mandato de Deputado Federal por Minas Gerais. Cumprimento V.Exa. como
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Presidente da Mesa e meu amigo pessoal, a quem devo inúmeros favores, assim
como a comunidade brasileira de forma geral.
Antes de iniciar a minha exposição, que acredito ser do conhecimento de
todos os senhores, esclareço que discutirei alguns pontos fundamentais como, por
exemplo, a municipalização do trânsito. Na verdade, ela
já existe desde 1902. O que se pretende, atualmente — e minhas brigas com o
Ailton Brasiliense Pires quando da elaboração do código foram históricas —, é a
municipalização da operação do sistema viário, porque não se municipaliza o
processo da habilitação e do registro de licenciamento. Então, quando se fala em
municipalização de trânsito, peço ao senhores que entendam sempre o sistema de
operação do uso do solo, de operação viária, a sinalização, o planejamento, a
programação, a educação, a autuação e a aplicação da penalidade.
Durante largo tempo — talvez até pela formação profissional de 38 anos na
condição de delegado de polícia, dos quais 25 foram dedicados à área de trânsito, e
no DETRAN de São Paulo foram 20 anos —, resisti muito a essa municipalização da
operação do sistema viário, entendendo que os pequenos Municípios não tinham
condições de fazê-la. Hoje penitencio-me, e já o fiz publicamente anteriormente, mas
faço isso com alegria, porque acho que esta é a solução e também porque a própria
Constituição, em seu art. 30, determina que compete ao Município o exercício do
controle do seu solo e dos interesses próprios da sua atividade como Poder estatal.
Antes de entrar neste assunto, caríssimo Deputado Mauro Lopes, peço
permissão a V.Exa. e ao Sr. César Franco, que hoje coordena esta Mesa, para fazer
uma ligeira homenagem a pessoas que julgo absolutamente integradas ao sistema e
que merecem todo o nosso respeito.
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Em primeiro lugar, homenageio o Dr. Gidel Dantas, Presidente do CONTRAN.
O ex-Presidente da República Fernando Collor de Mello criou uma comissão para
elaborar o novo Código de Trânsito em razão da incidência cada vez maior do
evento morte no trânsito e porque se dizia que no Brasil — e isso se deveu ao fato
de não haver um sistema de estatística adequado —, à época, ocorriam mais de 20
mil mortes por ano. Esses números assustavam o Governo de então, que entendeu
que uma lei mais severa e rigorosa poderia, de alguma maneira, pelo menos tentar
reverter o número absurdo de evento morte no trânsito.
O Dr. Gidel, então Presidente do CONTRAN, tomou para si essa tarefa.
Formamos um grupo de doze pessoas, o qual elaborou um código enxuto, com
cerca de 200 artigos. Depois, a comissão do Congresso Nacional, primeira comissão
substitutiva da Câmara Federal, aumentou para 340 artigos, e o substitutivo do
Senado completou-o com o atual número de artigos: 341.
Não era essa a nossa idéia inicial, mas, atendendo a solicitações de
entidades que vivenciam o problema trânsito, acabamos todos envolvidos nesse
processo de criar um código com 341 artigos.
No dia de sua sanção, 22 de setembro de 1997, para nossa surpresa, o
código sofreu 21 vetos. Depois, tivemos de lutar para consertá-los, senão não
haveria mais a renovação da carteira de habilitação.
Presto, neste momento, essa homenagem ao Dr. Gidel Dantas, que, até
janeiro de 1993, com pulso forte e muita serenidade, conseguiu apresentar à
Presidência da República o Código conhecido de todos vocês, pelo menos na sua
essência.
Permito-me também fazer uma menção especial à Major Vera Cruz, Diretora
de Habilitação do DETRAN de São Paulo, aqui presente, e ao Major Paulo, que
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desempenha a atividade de professor em vários Municípios e comunidades de São
Paulo. Este casal merece nosso respeito pelo seu esforço, mesmo sem condições
ou meios, mas com esforço da alma, do coração, para levar às crianças, aos
adultos e aos infratores as noções fundamentais que esta Casa tão bem conhece.
Finalmente, permito-me também fazer menção àquele que, na minha opinião, hoje, é
a maior excelência em Medicina do Trânsito do País. Refiro-me ao Dr. Fábio Racy,
que participou da Mesa de ontem e, juntamente com a ABRAMET (Associação
Brasileira de Medicina do Trânsito), entidade que congrega todos os médicos
relacionados com o trânsito em todo o Brasil, está revolucionando o sistema médico
de trânsito e, por sua vez, atingindo a saúde pública, como ele bem explicou ontem.
Aceitem V.Sas. as nossas homenagens. Quando digo que são homenagens
minhas, faço essas homenagens extensivas a todos aqueles que compõem o
sistema de trânsito pelo trabalho, pela dedicação, pelo carinho e pelo amor com que
se dedicam à matéria.
Até recentemente, eu tinha um data show sobre qualquer tema que era
convidado a falar. Mas comecei a perceber que, quando chegávamos ao local,
sempre havia problemas: o computador não funcionava, o disquete não era dos
melhores. Há dois meses, num evento em São Paulo, com a presença de cerca de 3
mil pessoas, para se explicar o GEFOR (Gerenciamento Eletrônico de Formação de
Condutores), um sistema de gerenciamento da carteira de habilitação, o cidadão
colocou o data show e as 3 mil pessoas foram embora, porque ele não funcionou.
Então, simplesmente eu cortei o data show e hoje vou voltar ao velho, arcaico,
antigo sistema de projeção. Então, não pensem que voltamos ao fusquinha 1960.
Estamos nos prevenindo.
(Segue-se exibição de imagens.)
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Fala-se em municipalização de trânsito. Há uma história sobre isso. Em 1910,
tivemos a primeira legislação que tratou do tema — legislação municipal do Rio de
Janeiro —, fixando os pontos relacionados com segurança, instituindo um serviço de
engenharia de trânsito e criando também no Rio de Janeiro e depois em São Paulo
o engenheiro fiscal de trânsito, que andava com uma vareta de ferro nas mãos
parando veículos na via pública. Com essa vareta de ferro, ele batia no pneu, na
suspensão, no sistema de iluminação para verificar se o veículo estava em boas
condições. Quem fazia isso, na verdade, era a Prefeitura Municipal, para prevenir
acidentes com o veículo.
Em 1922, tivemos a primeira lei que tratou dos projetos de construção de
estradas. Aqui também aparecem pequenas regras de segurança. Finalmente, com
o Presidente Washington Luís — cujo lema “Governar o Brasil é construir estradas”,
vocês conhecem muito bem —, foram editados decretos regulamentadores dos
caminhões e, em conseqüência, aprovou-se o regulamento de circulação
internacional, a sinalização diária, a segurança. Aí aparece em São Paulo, em Minas
Gerais e no Rio de Janeiro a polícia das estradas, inicialmente uma polícia de
pequeno porte. Com a evolução do sistema viário, o Brasil trocou o transporte
ferroviário e fluvial pelo transporte sobre rodas, porque acabou atrelando todo o
nosso sistema às fábricas de automóveis criadas e instaladas a partir de 1960.
Em 1928, praticamente surgiu o primeiro Código Nacional de Trânsito que foi,
em seguida, revogado. Inicialmente com 23 artigos, ele foi aperfeiçoado até o
surgimento do primeiro Código Nacional de Trânsito, em 1941, com o Estado Novo.
Vinte e cinco anos depois tivemos outro Código Nacional de Trânsito, em 1966, que
foi regulamentado em 1968.
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Vejam que fato interessante. Esse código acabou servindo de motivo, 25 anos
depois, em 1991, para a elaboração desse anteprojeto que se transformou no atual
Código de Trânsito Brasileiro. O atual diploma sofreu até agora, nesses quatro anos
de vigência, três alterações.
A primeira alteração veio pela Lei nº 9.602, de 1998, que consertou os 21
vetos palacianos. Mas ainda hoje os senhores encontram no código sérios
problemas, quando determinado artigo faz remissão a outro. Por exemplo, o art. 149
faz remissão ao art. 150, que não existe. Ele deixou de existir. Os senhores
encontram determinados vetos naquilo que diz respeito à Polícia Militar,
praticamente deixando-a apenas com a função de exercer fiscalização de trânsito,
desde que faça convênio com o Município, embora ela tenha, por lei, poder de
polícia para exercer o policiamento de trânsito, e assim por diante.
Em seguida, a Lei nº 9.792, de 1999, revogou o art. 112, que tratava do kit de
primeiros socorros. Aliás, recordo-me muito bem de que nesse ano se vendeu muita
bugiganga pela ruas. Algumas pessoas andavam com o kit doméstico nos carros,
porque o código exigia. A verdade é que o CONTRAN incumbiu um arquiteto de
elaborar a resolução que tratava do kit de primeiros socorros, não um médico. A
tesoura não tinha tamanho adequado; não se sabia se o esparadrapo teria de ter
um, dois ou três centímetros, dez ou vinte metros; não se sabia que tipo de luva
usar; não se tinha o tamanho da gaze. Então, ficou mais fácil para o Governo
revogar o artigo. Tiramos o sofá da sala. Em vez de se revogar a resolução,
mantendo-se o art. 112 e entregá-la, por exemplo, à experiência e à ciência da
ABRAMET, revogou-se o artigo. Hoje, o kit de primeiros socorros caiu do código.
Finalmente, a terceira e última alteração, recente, veio pela Lei nº 10.350, de
22 de dezembro passado, a qual passou a exigir o exame psicotécnico, ou o exame
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psicológico, como queiram, quando da renovação de carteira para motoristas de
qualquer categoria que pretendam exercer a atividade remunerada. Embora o
código e a lei não se refiram ao motorista profissional, essa lei, com a exigência do
exame psicotécnico, quando da renovação da carteira, para quem exerce atividade
remunerada ao veículo, com o veículo ou para o veículo, passa a ser, na verdade, o
motorista profissional.
Qual o papel do Município na legislação?
A evolução histórica de toda legislação de trânsito mostra sempre a tendência
centralizadora. A União determinando, o Estado determinando e o Município
obedecendo. O Código de 1966 não faz menção ao Município. Essas atribuições
estão no regulamento do código, mas não na própria lei. Em contrapartida, hoje,
encontramos a presença do Município, firme, como gerente do uso do interesse do
solo, embora se tenha pretendido, através do art. 22, inciso XI, da Constituição, dar
à União a competência privativa para legislar sobre trânsito, tráfego e transporte. A
nossa sorte é que tivemos à frente da comissão elaboradora do código um homem
de discernimento, de sentido universal das coisas, Gidel Dantas, que disse que
colocaria dentro do código as atribuições do Município.
O projeto inicial, no art. 20, reconheceu a importância do Município. Houve
sucessivas alterações nesse artigo — na redação final, transformou-se no art. 24,
com 21 incisos e 2 parágrafos —, que permitia ao Município, ao Estado e à União a
celebração de convênio com qualquer entidade pública ou particular. No art. 25, o
código permitia a elaboração de convênio para o exercício das suas atividades.
O código avançou dentro do espírito da Constituição, entregou ao Município a
operação do sistema viário, nos limites da sua circunscrição, permitiu ao Município a
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aplicação da penalidade e, o que é principal, transportou para os seus cofres a
arrecadação daquilo a que tem direito, na aplicação da lei de trânsito.
Segundo o art. 320 do Estatuto de Trânsito, essa arrecadação deve ser
empregada, evidentemente, na área de trânsito — na fiscalização, na educação, no
policiamento, na engenharia —, e não na construção de qualquer coisa que não seja
do interesse próprio do trânsito.
Nesse conceito, para deleite de Ailton Brasiliense Pires, confesso, depois de
homéricas brigas, o Município ficou com o pescoço, com o rabo e com as pernas, e
o Estado ficou com o filé mignon — o registro, o licenciamento e a habilitação.
Talvez o Dr. César Franco não goste muito disso, porque ele é Estado, mas é a
grande verdade. Onde o Município não ingressa no sistema e na operação, o
Estado, evidentemente, na sua função de dar cobertura ao ente menor de todo o
sistema estatal, cobre. Se o Município não o quiser, que faça convênio, como temos
em São Paulo cerca de 160.
Os 408 Municípios que, até o dia 30 de abril, estavam ligados ao Sistema
Nacional de Trânsito representam 80% da frota. Eu ainda posso dizer que o
Município está presente no controle da circulação de área. Os pequenos Municípios,
vagarosamente, deverão optar pelo ingresso no Sistema Nacional de Trânsito, ou
delegar essas atribuições ao Estado ou a outra entidade que achar de interesse.
Quanto ao problema da operação e da fiscalização, como todos sabemos, a
competência do Município, como órgão executivo de trânsito, depende do seu
ingresso no Sistema Nacional de Trânsito. Mas esse ingresso deve ter certos
requisitos, complementados pela Resolução nº 106 e mencionados no § 2º do art.
24.
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A Resolução nº 106 foi inspirada por Gidel Dantas, que iniciou, dentro do
DETRAN, os primeiros trabalhos de envolvimento dos Municípios no Sistema
Nacional de Trânsito. Os 408 Municípios integrantes do sistema operam,
praticamente, todo o controle viário, a circulação viária, a sinalização, a arrecadação
das multas em razão das penalidades de controle do solo, em todo o território
nacional.
Como está previsto na Resolução nº 106, os Municípios devem dispor de
engenharia de tráfego, educação de controle, análise estatística, engenharia de
recurso de infração de trânsito e fiscalização de trânsito, que são os agentes
fiscalizadores.
Como disse o Diretor do DENATRAN, os agentes de trânsito não só devem e
necessitam receber instruções adequadas sobre trânsito, contrato de trabalho,
uniforme, apito e o talão de multa, como também necessitam e precisam ser
devidamente educados e orientados para a atividade de trânsito, como são, por
exemplo, as polícias militares. Às vezes, os policiais permanecem mais de seis
meses internados em uma unidade para receber não só orientação legal sobre
trânsito e sobre a postura que devem ter na via pública, mas principalmente
orientação sobre o trato urbano com o cidadão que está para ser vistoriado. A
mesma coisa acontece com a Polícia Rodoviária Federal, que também faz um curso
de seis meses para formar o patrulheiro.
A fiscalização de trânsito é basicamente municipal. O Estado entra naquilo
que diz respeito ao veículo e ao condutor. Em particular, a Polícia Militar tem o poder
de polícia inerente à sua própria atividade, previsto no art. 140 da Constituição
Federal, e ninguém pode lhe tirar isso. A qualquer momento a Polícia Militar pode
parar um veículo, de acordo com a orientação do seu comando, e fazer a
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fiscalização de rotina. Como pode também a Polícia Civil, dentro da sua atribuição.
Mas essa fiscalização ligeira, rápida, escoteira do trânsito compete ao Município.
O agente operador do sistema municipal — vocês encontram essa regra no
art. 280, § 4º, do Código de Trânsito Brasileiro — pode ser celetista, contratado,
efetivo, conveniado e guarda municipal.
Em conversa com o meu amigo Luis Miura, ex-Diretor do DETRAN do Distrito
Federal e hoje responsável pela Unidade Municipal de Trânsito de Boa Vista,
Roraima, ele me disse que tem guardas municipais, fiscais de trânsito, agentes
municipais e, por convênio, a PM. Ele usa tudo que a legislação lhe deu direito de
usar.
Na verdade, esse é o atual sistema. Nada há que discutir. Não deve e não
pode o operador municipal exigir, por exemplo, a carteira de habilitação para fins de
fiscalização. Mas nada lhe impede que, ao autuar alguém por ter estacionado em
local proibido — a sua atribuição legal —, peça documentos do carro e a carteira
para fazer anotação no auto de infração de trânsito. Ele não está fiscalizando a
carteira nem o registro. Ele está fiscalizando o uso do solo, que é competência
municipal.
Embora tenhamos dentro do código, no capítulo das atribuições e
competências, compartimentos que dão competência ao DENATRAN, um órgão
executivo de trânsito da União, e aos DETRANs, um órgão executivo de trânsito do
Estado, o código não fala em DETRAN nem em DENATRAN. Ele fala em órgão
executivo de trânsito, que dá competência aos Municípios. Esse sistema tem de ser
integrado. Não pode ser solteiro, não pode ser escoteiro, não pode ser divorciado. A
integração do Sistema Nacional de Trânsito é fundamental. Caso contrário, teremos
a história dos dois burros, cada um puxando de um lado o seu pedaço de capim, até
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que eles chegaram à conclusão óbvia e racional de que os dois juntos tinham de
puxar o pedaço do capim. Essa integração também é necessária para que o Estado
não seja a madrasta da Prefeitura e negue ao Município o cadastro.
Sei de um Município baiano, Vitória da Conquista, que não consegue obter o
seu cadastro porque o DETRAN não dá, e a Prefeitura não pode trabalhar. Ela vai
ter que ir à Justiça para conseguir mano militare o seu cadastro. Isso é um absurdo
em termos administrativos, por ser um absurdo em termos legais. A integração é
fundamental.
E o poder de polícia, finalmente? Quem detém o poder de polícia? Tem o
poder de polícia quem pode regular a matéria. O que significa o poder de polícia?
Significa alcançar o interesse particular em benefício do interesse público. Isso é
poder de polícia. No exato momento em que o policial, armado, chega até o cidadão
para vistoriar, está invadindo a privacidade dele, está atingindo o seu direito à
privacidade, está atingindo o seu direito de ir e vir. E por quê? Em benefício da
própria coletividade, o que é previsto em lei.
Esse poder de polícia hoje se estende administrativamente aos Municípios
por força do art. 24 do Código de Trânsito. A certeza do poder de polícia municipal
está inserida no § 1º do art. 269 do CTB, além, evidentemente, de outros artigos.
Agradeço aos senhores a atenção. Eu me coloco à inteira disposição e
desejo, de todo o coração, que os senhores tenham uma vida muito duradoura, que
respeitem principalmente as regras, as normas e os comportamentos que devemos
ter no trânsito, mas, acima de tudo, lembrem que o meu direito vai até onde começa
o direito de terceiros. Se soubermos respeitar o direito de terceiros, tenho certeza de
que teremos um sistema de vida muito melhor. Muito obrigado e que Deus proteja a
todos os senhores. (Palmas.)
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O SR. COORDENADOR (Deputado Mauro Lopes) - Agora vamos ter uma
apresentação especial, mas, antes disso, gostaria de registrar a presença do
Roberto.
Concedo a palavra ao Sr. Carlos Eduardo Lourenço, Diretor de Marketing de
Produtos Reflexivos da 3M do Brasil.
O SR. CARLOS EDUARDO LOURENÇO - Sr. Presidente, senhoras e
senhores, boa tarde. Meu nome é Carlos Eduardo, trabalho na 3M do Brasil. Hoje
vou falar um pouquinho sobre os dispositivos refletivos para caminhões de carga,
conhecidos também por faixas refletivas.
Mais de 95% das ações que tomamos no trânsito têm referência com o que
vemos. Por isso é que luminância, que é simplesmente a quantidade de luz que
atinge os nossos olhos, é muito importante nas ações que vamos tomar no trânsito.
Quando falamos de luz, precisamos levar em conta que existem diversas unidades
para se medir. Vou clarear esses conceitos para nos aprofundarmos um pouco mais
no assunto.
A intensidade que uma fonte de luz emite é conhecida por candela, e
luminância é a luz que atinge os nossos olhos. A capacidade que uma superfície tem
de retrofletir uma luz é luminância sobre luminância, medido em candelas por lux,
por metro quadrado.
Só para se ter uma idéia da quantidade de luz que os nossos olhos recebem
quando estamos dirigindo ou em qualquer outra situação, um cartão branco sobre
fontes de luz diferentes, como ao ar livre, onde chega a ter uma praia até 3.500
candelas por metro quadrado, vai diminuindo conforme a intensidade de luz vai
diminuindo, chegando até a baixíssimos níveis como as próprias estrelas do céu.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Aplicação do Código de TrânsitoNúmero: 0556/02 Data: 22/05/02
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Para entender como funciona um dispositivo refletivo, temos que entender
como a superfície interage com a luz que está incidindo. Temos três tipos de
reflexão — lembrando a física do colégio —: reflexão difusa, que é a da maioria das
superfícies, de onde a luz se espalha por todas as direções, uma vez que foi incidida
sobre ela; reflexão especular, a dos espelhos, onde a luz incide em um ângulo igual
e oposto; e a área de nosso interesse, que é a retrorreflexão, em que a superfície
tem a capacidade de retornar a luz justamente do ponto do qual ela veio. Existem
duas tecnologias capazes de fazer isso: através de microesferas e de elementos
prismáticos.
A tecnologia funciona simplesmente como o gráfico está mostrando, onde
microesferas em uma superfície conseguem fazer com que a luz tenha um processo
de incidência, dessa forma, e retorne para o olhos do motorista, no caso, a fonte. A
tecnologia prismática nada mais é do que um sistema de microprisma que consegue
refletir a luz também, jogando-a através de microespelhos e tendo uma eficiência
muito maior.
No nosso dia-a-dia, o que acontece é que, uma vez emitida a luz pelo veículo,
uma placa de automóvel tem reflexão difusa, mas a grande quantidade de luz volta
para o motorista, formando o que conhecemos por cone de luz. Daí vem a grande
eficiência dos refletivos. Vários órgãos internacionais, várias empresas envolvidas,
vários institutos de pesquisa criaram uma correlação para entender quão eficiente a
luz retornar para o motorista e criaram tabelas como a ABNT e a STM, nos Estados
Unidos, que envolvem ângulo de observação e ângulo de entrada.
Ângulo de observação nada mais é do que a distância que o elemento
emissor de luz está dos olhos do observador. O ângulo de observação, portanto,
varia para um caminhão e para um carro, sensivelmente, conforme a ilustração. Um
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sinal colocado acima da rodovia forma um ângulo de observação, do ponto cinco,
para o motorista do carro a cem metros, e de um grau para o motorista de caminhão,
ou seja, cada motorista vê diferentemente o mesmo sinal. Ângulo de entrada é
justamente a perpendicularidade que o material refletivo está dos olhos do motorista.
Isso depende drasticamente da geometria da estrada.
Os refletivos surgiram basicamente na década de 10 ou 20, quando se
observou, com o aumento da indústria automobilística, que os animais,
principalmente o gato, tinham capacidade de refletir a luz de volta para o olho do
motorista, quando cruzavam a estrada. Foi entendido que o globo ocular do gato
funcionava como refletor esférico.
Observamos, nos países desenvolvidos, como nos Estados Unidos, placas de
trânsito, no início do século passado, com esse aspecto, como se fossem bolinhas
de gude cerradas, formando letras de advertência para o motorista. Atualmente, a
maioria da sinalização horizontal é feita com esferas expostas, ou seja, coloca-se
tinta no pavimento e depois joga-se a esfera por cima para que ela tenha
retrorreflexão. O grande problema desse sistema é que, com a água, ele pára de ser
eficiente. É por isso que quando chove não conseguimos enxergar as faixas de uma
estrada. Existem as faixas refletivas para orientar o caminho durante a chuva.
Na década de 30 surgiu a primeira tecnologia de película com o conceito de
esferas colocadas em superfície plástica, com resinas plásticas e as esferas
embebidas na resina, tendo esse aspecto em nível microscópico. Também havia o
grande problema de água, pois, quando chovia, não se enxergavam os sinais de
trânsito.
Para resolver esse problema, na década de 40, foi introduzida a tecnologia de
esferas encapsuladas ou grau técnico, como é conhecido comercialmente. Essas
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esferas foram inclusas e elas foram embebidas em uma resina por inteiro. Nesse
processo, não tínhamos mais o problema da chuva ocultando os sinais.
Construção. É muito simples esse material, como vocês podem ver.
O que aconteceu foi que as cidades foram crescendo, os sinais de trânsito
passaram a competir com a publicidade, com os prédios, com as luzes emitidas pela
cidade. Vários estudos mostraram que a necessidade de refletivos cada vez
melhores era fundamental em uma área urbana, principalmente. Foi por isso que na
década de 70 foi introduzida a tecnologia de alta intensidade ou esferas
encapsuladas, em que, para se melhorar a eficiência do material refletivo, no qual a
luz não precisava trafegar por resina, as esferas foram encapsuladas em
microcápsulas em vácuo, em área onde não precisavam atravessar a resina.
O aspecto microscópico da alta intensidade é mais ou menos esse e funciona
basicamente como o grau técnico. E a necessidade continuou por películas mais
eficientes.
Finalmente, na década de 90, foi introduzido o grau diamante e, aí sim,
tecnologia microprismática, com uma construção cujo microprisma funcionaria como
um espelho retornando a luz para a mesma direção de onde ela veio. A partir daí,
desde a década de 70, já se pensava muito seriamente em fazer alguma coisa no
trânsito para melhorar a visibilidade de caminhão e foi tentado usar o grau técnico de
alta intensidade, mas essas películas se mostraram pouco efetivas para retrorrefletir
a luz de veículos, no caso da necessidade de angularidade que se tinha.
O que aconteceu foi que, com o grau diamante, conseguiu-se tornar um
sistema efetivo que atendesse às reais necessidades do trânsito e de como o
motorista via um caminhão à noite. Por exemplo, no Brasil, a resolução do
CONTRAN traz essa especificação, sendo que o grau diamante atende a esses
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níveis de retrorrefletividade. Esse é o típico por que é preciso uma película de alta
performance. Se você não tiver uma película de alta angularidade, simplesmente
você não conseguirá ver um caminhão numa situação como essa. Aqui estamos
vendo a quantidade de luz que chega aos olhos do motorista em cada uma das três
películas.
Dados estatísticos de países de Primeiro Mundo mostraram que um terço dos
acidentes envolvendo caminhão e carro acontecem à noite, e esse um terço é
responsável por dois terços das mortes que ocorreram no trânsito. Portanto,
adotaram os dispositivos refletivos para caminhão. Então, para ver a efetividade do
dispositivo refletivo, um instituto americano criou um vector study. Simplesmente
fez um estudo muito consistente, estatisticamente, em que colocaram os refletores
em 2 mil veículos e deixaram de colocar em outros 2 mil. Eles acompanharam esses
veículos por dois anos por mais de 100 milhões de milhas percorridas e constataram
que o caminhão se envolvia muito mais em acidentes. A conclusão foi a de que,
quanto mais visível fosse aquele caminhão, menor seria a quantidade de acidente
em que ele se envolveria. O estudo foi contundente e mostrou que à noite houve
redução de 21% nos acidentes e, surpreendentemente, de dia, sob condições de
clima extremo, houve redução em 16% nos acidentes. Foi por isso que o Brasil, ao
adotar as...
(Não há seqüência entre os textos.)
O SR. COORDENADOR (Deputado Mauro Lopes) - ...da Presidência da
Companhia de Engenharia de Tráfego — CET, de São Paulo, e tem vinte minutos
como nosso segundo conferencista da tarde.
O SR. LUÍS ANTONIO SERAPHIM – Boa tarde, senhoras e senhores. Sou
Assessor Técnico da Presidência da Companhia de Engenharia de Tráfego — CET.
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Em nome do Secretário Municipal de Transportes, Carlos Zaratini, e do Presidente
Francisco Macena da Silva, quero agradecer à Câmara dos Deputados esta
oportunidade e parabenizar o Deputado Ary Kara e os organizadores pelo magnifico
evento.
Vou falar um pouco da experiência da CET na operação e na fiscalização do
trânsito.
(Segue-se exibição de imagens.)
A CET, Companhia de Engenharia de Tráfego, é uma empresa de economia
mista vinculada à Secretaria Municipal de Transportes — SMT. Ela foi fundada em
28 de maio de 1976, portanto, há 26 anos, e, em um primeiro momento, contou com
350 funcionários. Hoje a CET já conta com 4.400 funcionários, 60% operacionais.
Vou referir-me ao art. 24 do Código de Trânsito Brasileiro, que dispõe sobre a
competência do Município e as ações da CET. A CET, desde a sua fundação, já
trabalha com operação. Depois vamos detalhar algumas dessas ações.
A CET também faz planejamento e transporte. Como exemplo, estou citando
o Pólo Gerador de Tráfego, porque é uma atividade muito importante desenvolvida
pela CET. A cidade de São Paulo está deixando de ser um centro industrial e
passando a ser um centro de serviços. Então, há a implantação de um grande
número de empreendimentos que acabam por modificar o cenário, e a CET age
firmemente nessa questão dos pólos geradores de tráfego. Temos uma
superintendência de planejamento e uma superintendência de projetos que cuidam
dessas questões. A CET acompanha também obras viárias não só da Prefeitura de
São Paulo, mas também de todos os órgãos, como o metrô. Por exemplo, uma nova
linha de metrô modifica totalmente o cenário da cidade, e a CET atua na elaboração
de projetos de desvio de tráfego e acompanhamento das obras.
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A CET também fiscaliza através de seus agentes e de equipamentos
eletrônicos. O art. 24 prevê ainda o gerenciamento, pela CET, de estacionamento
rotativo pago na cidade de São Paulo.
Esse sistema, implantado em 1974, era gerenciado pela Empresa Municipal
de Urbanização — EMURB, e passou para a CET em 1981.
Ainda atendendo ao art. 24, a CET faz sinalização, segurança. Inclusive foi
mostrado neste slide uma faixa de pedestre iluminada. Chamo a atenção porque
esse dispositivo realmente tem dado resultados auspiciosos, que depois vamos
mostrar.
Antes de falar da missão da CET, gostaria de lhes mostrar o desafio que
enfrentamos. Ocorrem 20 milhões de viagens na região metropolitana de São Paulo
e contamos hoje com uma frota registrada de 5 milhões e 300 mil veículos, nada
mais nada menos que 25% da frota nacional.
Missão atual da CET: mobilidade. Prover mobilidade com segurança no
trânsito, contribuindo com a cidadania e qualidade de vida. Mobilidade porque
envolve uma questão muito mais simples do que segurança e fluidez: o
deslocamento pela cidade de bens, serviços e pessoas.
Alguns dados comparativos: em 1976, quando a CET foi criada, a cidade de
São Paulo tinha 7 milhões e 200 mil habitantes e uma frota de 1 milhão 370 mil
veículos — tínhamos, então, 6 habitantes para cada veículo —; em 2002, já
contamos com 5 milhões 340 mil veículos registrados, passando para 2 habitantes
por veículo, e uma população de 10 milhões 440 mil habitantes.
O sistema de sinalização da cidade conta com 350 mil placas, 5.111
cruzamentos com semáforos e 2,7 milhões de metros quadrados em sinalização
horizontal. Operamos 30 mil e 400 vagas de estacionamento rotativo, 800 remoções
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por dia de veículos quebrados na pista, obstruindo o sistema viário, 80% por
problemas mecânicos, elétricos, falta de combustível ou pneu furado, por exemplo.
Atendemos 5.300 ligações por dia no nosso sistema 194. Quanto à remoção, é um
desafio bastante grande, pois vocês têm idéia do que significa um veículo parado em
uma via expressa na cidade de São Paulo no horário de pico.
Temos um agente para cada 4.460 habitantes e um agente para cada 2.281
veículos. Como já disse, 25% da frota nacional está na cidade de São Paulo.
Temos um quilômetro de metrô para cada 210 mil habitantes. Fazemos uma
comparação com a Cidade do México, porque o metrô daquela Capital começou a
ser construído praticamente na mesma época que o de São Paulo. Só que paramos
nos cinqüenta quilômetros, e a Cidade do México tem quase duzentos quilômetros
de metrô. Então a proporção é esta: a Cidade do México tem um quilômetro de
metrô para cada 82 mil habitantes.
Numa cidade do tamanho de São Paulo, temos de regionalizar a operação;
caso contrário, não damos conta do recado. Então, temos seis gerências
operacionais espalhadas pela cidade, embora uma delas, a GET-6 (Gerência de
Engenharia de Tráfego 6), cuide basicamente das marginais Tietê, Pinheiros e da
Avenida dos Bandeirantes.
Só as marginais Tietê e Pinheiros têm extensão total de 45 quilômetros e
pavimentação equivalente à de uma rodovia com 270 quilômetros de pista simples.
Temos cinco modernas centrais de tráfego em área, com acompanhamento remoto
por câmeras de televisão.
Ações permanentemente implementadas pela CET para melhor fluidez do
trânsito. Há a zona máxima de restrição à circulação de caminhões e estudamos a
expansão do setor. Realizamos constantes pesquisas para mobilidade de bens e
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serviços. Elaboramos portaria que regulamenta as entregas na cidade de São Paulo,
inclusive noturnas, o que têm dado bom resultado. Temos onze faixas reversíveis,
que operam nos horários de pico, com reversão, para aumentar a capacidade dos
gargalos, na impossibilidade de expansão do sistema viário em termos de
capacidade; seis faixas reversíveis solidárias, em que possibilitamos a utilização de
veículos que transportam pelo menos um acompanhante.
Operação no horário de pico. Trata-se da necessidade que agora temos de
manter o rodízio, porque a cidade não pode prescindir mais do dispositivo.
Centrais de tráfego em área e operação via livre. Operação via livre é o
projeto emergencial para recuperar o transporte coletivo na cidade de São Paulo.
Trata-se de programa que visa a ações de transporte e de trânsito, com baixo custo
e rápida implantação. Interferimos nos principais corredores de transporte da cidade
com sinalização, operação redobrada, com aumento de capacidade dos corredores
de ônibus, com pequenas obras, manutenção do pavimento, regulagem do
semáforo. Priorizamos o transporte coletivo.
As medidas adotadas já mostraram ser bastante eficazes. A figura que
exibimos é da Radial Leste. Na verdade, o primeiro trecho foi implantado na Celso
Garcia. A velocidade comercial é próxima à do metrô. A ação emergencial antecede
projeto mais amplo, que é a recuperação de todo o sistema de transporte da cidade.
Por que estou falando em transporte? Porque a solução dos problemas do
trânsito passam, necessariamente, pela requalificação do transporte coletivo.
Como já disse, monitoramos o sistema viário da cidade: temos 41 postos
avançados de campo. Na verdade, dos 15.600 quilômetros que compõem a malha
viária da cidade de São Paulo, 3.300 quilômetros compõem o sistema viário
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principal. Dos 3.300 quilômetros, a CET fiscaliza, por meio das câmeras de televisão
ou de agentes localizados em postos estratégicos, 560 quilômetros.
A ação mais relevante para a CET, no momento, é a de remoção de veículos
parados na via. Inclusive, a CET elaborou, recentemente, novo modelo operacional,
em que a fiscalização e a operação com o uso de motocicletas será o elemento
principal, para detectar problemas e atender ao usuário no menor tempo possível.
O SR. COORDENADOR (Deputado Mauro Lopes) - Peço permissão ao Dr.
Luís Antônio Seraphim, para, com muita alegria, anunciar a presença do Deputado
Simão Sessim, brilhante Deputado Federal do Estado do Rio de Janeiro que integra
a Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados.
Convido V.Exa., Deputado Simão Sessim, para compor a Mesa e participar da
conferência do Sr. Luís Antonio Seraphim.
O SR. LUÍS ANTONIO SERAPHIM - A remoção das interferências é, sem
dúvida nenhuma, ação bastante importante, por causa da obstrução, no caso de
veículos quebrados. A desobstrução deve ser feita no menor tempo possível.
A CET também executa operações especiais. Todos sabem que o brasileiro é
fanático por Fórmula 1. O Grande Prêmio de Fórmula da cidade de São Paulo é
evento da maior importância, em que a CET mobiliza em torno de 1.700 técnicos. De
acordo com a FIA, trata-se da melhor operação de trânsito realizada para corridas de
Fórmula 1.
Fazemos ainda a Operação Morumbi, em jogos de futebol; a Operação
Maratona; a Operação São Silvestre; e outras. São megaoperações.
Usualmente, atendemos a ocorrências de trânsito. Monitoramos diretamente
os principais corredores de trânsito da cidade, supervisionando-os, vistoriando-os
sistematicamente e removendo as interferências.
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A próxima figura é da faixa solidária, zona azul.
Sempre nos fazem a seguinte pergunta: por que controlar a velocidade? A
fiscalização, de maneira geral, principalmente a eletrônica, faz parte da indústria da
vida. Os números provam tal afirmação.
Em 1996, antes da implantação da fiscalização eletrônica na cidade de São
Paulo, tínhamos 2.245 mortos. Em 2001, o número já diminuiu para 1.526. No
primeiro ano da implantação da fiscalização eletrônica, tivemos 480 mortos a menos
no trânsito da cidade de São Paulo. A redução no período foi de 32%, enquanto a
frota cresceu, conforme os senhores poderão observar no gráfico adiante.
A fiscalização eletrônica é feita por intermédio de vinte radares móveis,
quarenta e três fixos e trinta lombadas eletrônicas. Não é muito para uma cidade do
tamanho de São Paulo. Temos noventa e três equipamentos que chamamos de
“caetanos”. São instrumentos desenvolvidos pela própria CET, que fotografam a
infração de avanço de sinal na fase vermelha. Fiscalizamos a ocupação indevida de
faixas exclusivas de ônibus. O equipamento também é desenvolvido pela CET.
O projeto da faixa iluminada foi desenvolvido pela própria empresa. Já foram
instaladas 1.267 faixas, e as estatísticas comprovam a redução de 50% dos
atropelamentos em período noturno.
Praticamos a operação rodízio que, aos poucos, tem de ser reconsiderada.
Estamos reavaliando-a constantemente. Inicialmente, houve redução de 37% dos
congestionamentos no pico da manhã e 26% no da tarde.
Dispomos de página na Internet que mostra todo do serviço realizado pela
CET, inclusive com informações sobre as condições de ocupação da malha viária
nos principais corredores, além de serviços de informações aos usuários. Na
Internet, a freqüência de acesso é de 6.900 usuários por dia.
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Há certo corredor escolhido para a elaboração de projeto piloto: o corredor da
23 de Maio, que possui certificado ISO 9002.
Dispomos de dois espaços vivenciais de trânsito. São locais com pistas
sinalizadas em tamanho reduzido, em que atendemos a crianças, a jovens, inclusive
adultos. O trabalho da companhia é intenso. Colocarei à disposição de todos,
depois, os telefones e o endereço eletrônico para que o senhores conheçam o
trabalho desenvolvido pela CET.
Com relação às multas, temos a seguinte distribuição: 54% são feitas por
operadores, 46% por equipamentos. Vale ressaltar, contrariando a tese da indústria
da multa, que 71% dos veículos de São Paulo não têm nenhuma multa, 16,8% têm
apenas uma, 10,8% têm entre duas e cinco, e 1,6% mais de cinco. Como a
esmagadora maioria não possui multas, não há por que reclamar da fiscalização
eletrônica.
O quadro em exibição resume o trabalho de engenharia realizado pela
companhia, respaldado pelo Código de Trânsito Brasileiro. A CET enfoca a essência
da questão: o crescimento da frota versus a queda do número de mortos na cidade
de São Paulo.
Quando a CET foi criada, em 1976, havia 22 mortos para cada grupo de 10
mil veículos. Hoje o número é de 2,9 mortos para cada grupo de 10 mil veículos. O
índice ainda não atingiu os padrões internacionais do Primeiro Mundo, mas
caminhamos para tal. Os índices internacionais apontam para 1 a 1,5. Estamos com
2,9, com queda constante, como os senhores podem observar. A previsão é a de
que, em três anos, atingiremos, pelo menos, o índice de 2 mortos para cada grupo
de 10 mil veículos.
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Agradeço a V.Exas. a oportunidade, em nome do Presidente da CET e do
Secretário Carlos Zaratini. Parabenizo, mais uma vez, o Deputado Ary Kara e os
organizadores pelo magnífico evento.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. COORDENADOR (Deputado Mauro Lopes) - Agora, damos início aos
debates.
Registramos a presença do Sr. Jorge Guilherme Francisconi e do Deputado
Gonzaga Patriota, a quem convidamos para compor a Mesa.
Solicitamos aos debatedores que nos ajudem na administração do tempo.
Cada debatedor dispõe de cinco minutos. Em função do adiantado da hora, a Mesa
decidiu que as perguntas deverão ser apresentadas por escrito. Pedimos que as
pessoas interessadas encaminhem suas perguntas, a fim de procedermos à triagem
necessária para organizá-las.
Para iniciar os debates, convidamos o Sr. Emerson Rozendo Salgado,
assessor do Diretor de Planejamento do Departamento Nacional de Infra-estrutura
de Transportes — DNIT.
(Intervenções simultâneas ininteligíveis.)
O SR. COORDENADOR (Deputado Mauro Lopes) - A seu gosto, Sr.
Emerson.
O SR. EMERSON ROZENDO SALGADO - Em primeiro lugar, agradeço ao
Deputado Ary Kara a oportunidade de participar do evento.
Deputado Mauro Lopes, meu amigo, demais componentes da Mesa, senhoras
e senhores, o DNER foi criado em 1937 e, durante 65 anos, desenvolveu a política
nacional de transportes, estendendo a malha rodoviária federal a 55 mil quilômetros.
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Contava o DNER, à época, com a Polícia Rodoviária Federal, responsável
pelo patrulhamento de trânsito em toda a malha rodoviária federal. Ao longo dos
anos, o órgão sofreu transformações. Em 1990, a Polícia Rodoviária Federal
desvinculou-se do DNER e passou a ser Departamento do Ministério da Justiça.
Hoje, o DNER realiza o patrulhamento de trânsito em toda a malha rodoviária
federal.
Recentemente, em 2002, foi extinto o DNER e foram instituídos o DNIT, órgão
de infra-estrutura de transporte do Ministério dos Transportes, e duas agências
reguladoras, uma de transporte terrestre e outra de transporte aquaviário.
A Agência Nacional de Transporte Terrestre cuida da malha federal concedida
à iniciativa privada e também do transporte de cargas e passageiros. O
Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes responde pelo restante da
malha federal.
Estamos propondo entendimento à Polícia Rodoviária Federal, a fim de que
apenas ela faça as ações de patrulhamento, ficando o Departamento Nacional de
Infra-estrutura de Transportes a cargo da área de engenharia. No setor de
engenharia, também existe fiscalização, no que diz respeito ao controle de peso nas
rodovias para a preservação do pavimento e segurança do trânsito. O mesmo ocorre
com relação aos redutores eletrônicos de velocidade, principalmente em travessias
urbanas em que existe risco de atropelamento de pedestre.
Já existe divisão de atividades entre as áreas de engenharia e de
patrulhamento, cada uma vinculada a determinado Ministério.
Agradeço a V.Exas. a oportunidade de fazer este pronunciamento. Estamos à
disposição dos senhores para esclarecer qualquer dúvida.
Obrigado.
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O SR. COORDENADOR (Deputado Mauro Lopes) - Nós é que agradecemos
a V.Sa. a participação.
Dando seqüência aos debates, com muita honra, anuncio o meu amigo Sr.
Gidel Dantas Queiroz, consultor e ex-Diretor do DENATRAN.
O SR. GIDEL DANTAS QUEIROZ - Senhores componentes da Mesa,
aproveito o momento para saudar de modo especial o Deputado Gonzaga Patriota,
aqui presente, e que foi Secretário Nacional de Trânsito na vigência do Código
anterior e, atualmente, é meu companheiro no Congresso Nacional.
Não é fácil debater tema apresentado com tanta propriedade pelo Dr. Cyro
Vidal. Realmente, S.Sa. esgotou as possibilidades de qualquer debatedor propor
algo. Operação e fiscalização do trânsito por agentes municipais, integração das
entidades fiscalizadoras e poder de polícia foram os temas abordados .
Destaco apenas que no antigo Código Nacional de Trânsito, para muitos de
saudosa memória, existia o policiamento de trânsito. Estava implícito tal função, que
deveria ser executada pelo policial militar. No novo Código de Trânsito Brasileiro,
criou-se a figura do agente da autoridade de trânsito, credenciado pela autoridade. A
atividade, na maioria dos casos, tem sido exercida por policiais. É aquela velha
história: “O guarda me multou” ou “Fui multado pelo guarda”. Não, o guarda não
multa, ele apenas notifica. Quem aplica a penalidade é a autoridade que tem
jurisdição sobre a via , e ainda há outra vantagem no novo Código, o tal funcionário
do poder público. Ele pode, por meio de declaração da autoridade, formar os autos
de infração. Então, o art. 280, § 2º, é bem claro ao definir que a própria autoridade
que tem jurisdição sobre a via, por intermédio de declaração, pode fazer a autuação.
Hoje pela manhã, enquanto coordenava os trabalhos, indagaram se o guarda
municipal pode ser tal agente. Repito o que já disse naquela ocasião: pode, sim,
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desde que exerça a atribuição, além da função legal de guarda municipal,
responsável por cuidar do patrimônio do Município. Se ele for preparado e
designado pela autoridade que tem jurisdição sobre a via, pode transformar-se em
agente da autoridade. Portanto, a sugestão que damos para os Municípios é
simplesmente relacionar os guardas municipais, entregar-lhes o talão, e, com o
devido preparo, eles poderão desempenhar o papel de agente da autoridade de
trânsito.
A integração é necessária. O Deputado Ary Kara tem feito fantástico trabalho
na área de orientação, relacionada também com a integração entre os órgãos
municipais. Como o Sr. Cyro afirmou, o policial militar pode, visto que vai fiscalizar
estacionamentos, requerer a habilitação, mas ele não tem tanta autoridade como o
policial.
(Falha na gravação.)
(Não identificado) – Cumprimento o Sr. Deputado Ary Kara e os demais
companheiros da Mesa.
Como disponho de apenas cinco minutos, serei rápido, sem deixar de
enaltecer três atuações do Deputado Ary Kara.
A primeira delas é o convite a nós feito para participar do evento. A segunda
diz respeito ao excelente trabalho que S.Exa. efetivou como Relator, quando o
Código voltou a ser apreciado na Câmara, em 1997. Os erros e os acertos foram
muito bem negociados pelo Sr. Deputado Ary Kara. Grande parte dos avanços do
Código devem-se ao seu esforço. Parabenizo-o ainda porque S.Exa. carregou a
bandeira da causa. Depois de ser o Relator da matéria, continuou batalhando pela
real aplicação do Código, a fim de que a norma não constasse apenas do papel.
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Destaco também o desempenho do Sr. Gidel Dantas Queiroz, na época em
que era Presidente do CONTRAN.
O Sr. Cyro Vidal citou a criação da Comissão Especial, em 1991. Naquela
ocasião, o Presidente da República se esqueceu de que existiam Municípios no
Brasil, porque não havia nenhum representante municipal naquela Comissão. No
entanto, o Sr. Gidel Dantas Queiroz atendeu ao convite da ANTP e participou de
determinado Congresso em Fortaleza. A partir daí, a pedido da Frente Nacional de
Prefeitos e por intermédio da influência da Prefeita Luiza Erundina, ele apresentou à
Presidência solicitação de Prefeitos e Secretários a respeito da participação dos
Municípios. O Presidente da República, então, nomeou o representante municipal.
O Sr. Gidel Dantas Queiroz, é bom que o Sr. Luís Antônio Seraphim saiba, foi
Conselheiro da Companhia de Engenharia de Tráfico. S.Sa. também se destacou
em outra importante ocasião. Aprovado o Código, a interpretação sobre as
atribuições municipais e estaduais era cinzenta. Foi através da atuação de S.Sa.,
que capitaneou certo grupo de diretores do DETRAN e de Secretários Municipais de
Transporte, que se negociou a aplicação da Resolução nº 66, que tem vinte páginas
e mais de duzentos itens a serem classificados. Não fosse a negociação feita entre
Estados e Municípios, teríamos várias dificuldades para pôr o Código em prática.
O Sr. Cyro Vidal também merece ser lembrado não só pelas brincadeiras que
fez em relação à minha pessoa, mas porque sua atuação engrandeceu muito a
elaboração do anteprojeto que esta Comissão propôs ao Ministro, em meados de
1992; instrumento que realmente serviu de referência para o atual projeto.
Quanto ao Código, vejo ainda alguns problemas muito sérios que dificultam a
obtenção de resultados absolutamente efetivos. O primeiro é o mal entendimento
dos Prefeitos que imaginam que o Código é opcional, que as responsabilidades
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podem ser assumidas ou não. O Código é compulsório, e o administrador deve
responder civil e criminalmente pelas omissões que pratica. Ninguém perguntou ao
Prefeito se ele queria que assim fosse. O mesmo ocorreu em outras áreas, como as
de educação e saúde. O acordo foi feito visando ao caráter compulsório do Código.
Espera-se que não só quatrocentos Municípios, mas todos os demais assumam o
mais rápido possível as suas responsabilidades.
Outro aspecto que merece preocupação é o trabalho do Estado Federativo no
que se refere à administração do Código. Historicamente, os diretores do DETRAN
— na Mesa há pelo menos um, além do Sr. Gidel e do Sr. Cyro, que não se
encontram mais presentes — costumam dar muito pouca importância aos
Departamentos Estaduais de Trânsito, que gerenciam o setor com enormes
dificuldades. Portanto, os Governadores não estão dispensando ao Código todo o
apoio que a sua aplicação exige.
No que se refere às propostas, ressalto a relevância de o País implementar a
Política Nacional de Trânsito. O Sr. Francisconi, na condição de diretor do
DENATRAN, analisou a proposta inicial e nela trabalhou. Acredito que o documento
está no ponto. Falta o mínimo necessário para efetivar a negociação com os
componentes do Sistema Nacional de Trânsito.
O Código criou o Sistema Nacional de Trânsito, órgão técnico, e as câmaras
temáticas, que desempenham papel político-administrativo. As resoluções
politicamente convenientes devem considerar fundamentalmente tais instâncias. As
questões podem ser trabalhadas tecnicamente pelas câmaras temáticas. Mas, para
estabelecer o entendimento, além das diretrizes das câmaras temáticas, é essencial
considerar a importância de todo o Sistema Nacional de Trânsito.
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A minha sugestão é trabalharmos em conjunto com o Dr. Benedito Dantas,
novo diretor do DENATRAN, para concretizar, no espaço de tempo que falta para o
término do ano, a discussão final e a implantação da Política Nacional de Trânsito.
Precisamos fortalecer o Sistema Nacional de Trânsito e estimular os Estados. Em
Minas Gerais, por exemplo, o Deputado Mauro Lopes pode confirmar o desempenho
do Sistema Estadual de Trânsito, em que todos os organismos estaduais têm
espaço para negociar questões do seu dia-a-dia.
Muito obrigado.
O SR. COORDENADOR (Deputado Mauro Lopes) – As secretárias farão a
coleta das perguntas. Pedimos a todos que sejam objetivos na sua formulação.
Dando prosseguimento, convocamos o major da Polícia Militar, Sr. José
Ricardo Rocha Cintra de Lima, comandante da Companhia de Polícia Rodoviária do
Distrito Federal, para os seus cinco minutos de exposição.
O SR. JOSÉ RICARDO ROCHA CINTRA DE LIMA – Sr. Deputado Mauro
Lopes e demais integrantes da Mesa, autoridades presentes e diretores dos órgãos
e entidades executivas de trânsito, caros policiais e agentes de trânsito, senhoras e
senhores, serei o mais conciso possível, mas falar de fiscalização é tarefa difícil e de
longa duração.
Desde cedo aprendemos, quando lidamos com as questões do trânsito, que a
educação, a engenharia e o esforço legal são fatores que influem diretamente nas
condições de trânsito. No trinômio, o esforço legal é, sem dúvida nenhuma, por
intermédio da fiscalização, a mais árdua das tarefas, porque se relaciona
diretamente com o possível infrator. O pior é que trabalha com as pessoas nas
condições mais penosas, no momento em que estão sendo fiscalizadas, quando
ficam nervosas, ansiosas, desconfortáveis e transtornadas, porque foram abordadas.
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Em geral, elas acreditam que não fizeram nada de errado ou que, se o fizeram, não
foi grave. Julgam que podem ser desculpadas, que a infração cometida deve ser
tolerada pelo policial. Não consideram que é tão sério dirigir fazendo uso do
aparelho celular ou transportar crianças no banco traseiro sem nenhuma segurança,
soltas, enquanto que o motorista e seu acompanhante, sentados nos bancos da
frente, colocam o cinto de segurança em nome da sua segurança. Tais indivíduos
dizem várias vezes para os policiais e agentes que fiscalizam o trânsito que é melhor
procurar bandido do que ficar multando cidadãos honestos que pagam seus
impostos.
Por isso, sem dúvida, fiscalizar é a função mais difícil. Não existe na nossa
sociedade cultura que valorize a importância do cumprimento das Leis de Trânsito. A
morte em acidentes geralmente é encarada com naturalidade. Trata-se de uma
fatalidade que aconteceu e que não poderia ser evitada. Por isso, a função é tão
difícil e exige sobretudo preparo dos policiais e dos agentes.
Defendo assiduamente a especialização do policial e do agente. Coo
comentou o Dr. Cyro, não basta dar a farda ao servidor e contratá-lo. É necessário
dar-lhe o devido treinamento, principalmente para lidar com a sociedade. A
fiscalização apresenta inúmeras dificuldades. Inicialmente, a legislação é vasta. São
inúmeras as normas, o Código é extenso, complexo e dinâmico. Ele está sempre
mudando, o que exige, acima de tudo, interesse por parte do policial e dos agentes.
A fiscalização ainda tem de suportar a contínua falta de material e de equipamentos
adequados.
Há pouco, foi publicada a Deliberação nº 33, que explicitou as formas de
aplicação da receita arrecadada com a cobrança de multas. Esperamos que ela seja
revertida em material e equipamentos adequados à fiscalização, que ainda enfrenta
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dificuldades para concretizar medidas administrativas, especialmente quanto ao
recolhimento da CNH e à retenção do veículo, até mesmo na tipificação de algumas
infrações e nos problemas com a documentação. Cada órgão executivo cria novos
documentos de âmbito interno, sobre os quais o policial tem de se inteirar e
fiscalizar. Até mesmo a CNH representa dificuldade para o policial. O número de
registro que interessa para o policial é o menor e escrito em vermelho na CNH. É
difícil enxergá-lo à noite, com chuva.
Outro exemplo de obstáculo é a polêmica sobre a fiscalização dos níveis de
embriaguez; problema penoso, que causa acidentes e que precisa ser resolvido
urgentemente. Evoluímos muito na fiscalização de algumas infrações, como as
relativas ao excesso de velocidade. Embora haja muita celeuma sobre o uso dos
equipamentos eletrônicos, estamos controlando a velocidade, bem como os avanços
dos semáforos. No entanto, repito, temos de abordar direta e objetivamente as
questões da embriaguez e das ultrapassagens indevidas nas rodovias, que, sem
dúvida alguma, causam muitos acidentes de trânsito.
As estatísticas do Departamento de Trânsito mostram que, de 72% dos
condutores examinados no ano passado, 48,9% estavam com teor alcoólico acima
do permitido; dos pedestres examinados, 52%. Dos pedestres atropelados e mortos
nas rodovias, 66% possuíam teor de álcool no sangue superior ao admitido. O
problema não é só do condutor, mas também do pedestre.
É fundamental que na fiscalização seja seguido o ciclo completo, envolvendo
seis etapas, em que a polícia tem diferentes responsabilidades e influências. É
preciso detectar a inflação, aplicar a medida administrativa adequada, possibilitar a
defesa do infrator, julgar a defesa, aplicar a penalidade e, finalmente, fiscalizar o
cumprimento da penalidade. Não adianta suspender o direito de o motorista dirigir,
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se ele continua a fazê-lo. Tais assuntos merecem ser tratados objetivamente, talvez
até em congresso específico, direcionado para a área de fiscalização de trânsito.
Como o meu tempo já se esgotou, registro que, com certeza, outros assuntos
serão debatidos e procuraremos discuti-los.
O SR. COORDENADOR (Deputado Mauro Lopes) – Muito obrigado.
Anunciamos a presença do Deputado José Carlos Aleluia.
Tem a palavra o Sr. Antônio José Brilhante, Presidente do Sindicato dos
Mensageiros, Motociclistas, Ciclistas Autônomos e Serviços Afins do Estado de São
Paulo.
A seguir, teremos as respostas das perguntas enviadas à Mesa.
O SR. ANTÔNIO JOSÉ BRILHANTE – Senhoras e senhores, boa tarde. É
com muito orgulho que represento, no Distrito Federal, a categoria que ninguém
valoriza: do motoboy, profissional mais discriminado no País.
Quando fundamos o sindicato, em 1991, ninguém acreditava nele. Hoje,
temos 126 mil associados na cidade de São Paulo. O Estado possui 1 milhão e 400
mil motoboys. Temos, nesta reunião, vários representantes de sindicatos de outros
Estados. Nesse sentido, agradeço ao Deputado Ary Kara e à Presidência da Mesa a
oportunidade.
Em São Paulo, morre um motoboy por dia, ou até mais. Os dados são
comprovados pelos representantes do Poder Público no Estado. Peço às
autoridades presentes que discutam a criação de lei específica para a profissão de
motoboy. Ele não é bandido, mas trabalhador. Apesar de as pessoas, em São
Paulo, fecharem os vidros dos carros e os xingarem, elas precisam dos seus
serviços. É ele que entrega o remédio, a pizza e até mesmo segue os maridos
infiéis, quando preciso. Estamos vigiando vocês.
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Pedimos ainda que as penalidades aplicadas não sejam tão severas, porque,
às vezes, quando o motoboy do Correio, ao entregar a correspondência, levanta a
viseira, o policial de São Paulo o autua. É claro que, com a viseira, não é possível
ler. Propomos que as multas não sejam tão pesadas quanto àquelas aplicadas aos
caminhoneiros e aos taxistas, porque somos um sobre duas rodas. Estamos em
desvantagem.
Solicito encarecidamente aos participantes deste congresso que façam
alguma coisa pelos motoboys — não só os de São Paulo, mas do País. Estive com
presidentes de sindicatos em Brasília e em Goiás. Vários deles estão presentes e
nos apoiam. Hoje, a bandeira do setor é a mais forte. Para se ter uma idéia, trata-se
da maior categoria profissional em âmbito nacional. Quando os senhores avistarem
um motoboy, não tenham medo dele. Dialoguem com ele, porque ele socorre muitas
pessoas nas vias e realiza até mesmo partos, se for preciso.
Quanto aos bandidos, precisamos criar leis severas para não permitir que
circulem, nem mesmo de motocicleta. Em São Paulo, 46% das motos não são
licenciadas, por falta de dinheiro. A categoria é pobre.
Apelo mais uma vez ao Deputado Ary Kara, representante dos motoboys no
Estado. Major Vera, atuante funcionária do DETRAN, que sempre nos apoiou, é
preciso anistiar as multas dos motoboys ou elaborar algum instrumento específico,
ou pelo menos parcelar as multas do grupo. É mais fácil parcelá-las do que prender
a moto. No pátio do DETRAN não cabem mais motos. Se quiserem levá-las para o
quintal da minha casa, não há problema.
Agradeço ao Sr. Luiz Antônio Seraphim, engenheiro brilhante que luta pela
criação de via específica para o motoboy, o seu auxílio. Seraphim, seria muito bom
se concretizássemos tal propósito.
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Meu tempo já se esgotou e encerro a minha fala, porque embarcarei no vôo
das 19 horas.
O SR. COORDENADOR (Deputado Mauro Lopes) – Neste momento,
iniciamos a fase das respostas às perguntas.
Recebemos indagações sobre diversos temas. Peço que seja exibido
novamente na tela o e-mail do Deputado Ary Kara, porque há assuntos não
pertinentes ao tema do debate específico.
Responderemos ao maior número possível de perguntas relacionadas à
discussão deste momento. As outras perguntas podem ser encaminhadas agora ou
posteriormente, por e-mail.
A primeira pergunta, do Prefeito de Teresópolis, Waldeck Amaral é a
seguinte: “Dr. Cyro Vidal, essa é uma cópia do boletim da PM do Rio de Janeiro, em
que consta orientação para prender o guarda municipal que intervir em acidente de
trânsito com vítimas. O Deputado Simão Sessim apresentou projeto de lei que altera
a Lei nº 5.970, de 1973. Até que a alteração da lei seja aprovada, pode o agente de
trânsito municipal desfazer o local do acidente com vítima? É correto o
posicionamento do comandante da PM do Rio de Janeiro?”
O SR. CYRO VIDAL – Sr. Prefeito, como dissemos ontem, é preciso haver
integração. Na verdade, o acidente de trânsito é crime com vítima e deve ser
apurado. O local precisa ser preservado para que, primeiro, seja feita a perícia não
só do local, como também dos veículos envolvidos. Depois, é feita a remoção. O
Distrito, se for o caso, ou a autoridade policial de uma delegacia especializada vai
instaurar o inquérito para apurar o fato.
Vejam bem, lei de 1974 determina que a autoridade policial e seus agentes
policiais, sejam eles civis ou militares, têm autoridade para desfazer o local, quando
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houver extrema necessidade do fluxo viário para socorrer a vítima ou para qualquer
fato maior. Imaginem os senhores, por exemplo, um acidente com vítima cujo
veículo caia no corredor de ônibus, às 6 horas da tarde. Isso provocará um
congestionamento que vai parar a cidade inteira. Nesse caso, demarca-se o local e
remove-se o veículo. Mas isso é da competência da autoridade policial e de seus
agentes. O agente municipal deve, no curso da lei, checar o local e preservá-lo até a
chegada da polícia e, em conseqüência, da perícia.
O fato de mandar prender é questão de relacionamento. Não se pode chegar
a esse extremo. Tenho cópia desse B.O. Conhecia o fato, mas tenho a impressão de
que o comandante fez isso para colocar sob a proteção da lei situação que de fato
ocorreu, porque a lei não o permite, a não ser à autoridade policial e a seu agente
policial.
O SR. COORDENADOR (Deputado Mauro Lopes) – Convido o Dr. Jorge
Guilherme Francisconi a fazer parte da Mesa neste momento. (Palmas.)
A próxima pergunta, de Fernando Carneiro, do CTBEL de Belém do Pará, é
para o engenheiro Luís Antônio Seraphim: "Qual é a relação ideal entre o número de
agentes de trânsito e o de veículos?"
O SR. LUÍS ANTÔNIO SERAPHIM – Hoje, inclusive, o colega do Rio Grande
do Sul já respondeu a uma pergunta semelhante. Ele apontou entre 1 mil e 2 mil. Na
cidade de São Paulo, temos 2 mil, 280. Logicamente, consideramos esse número
insuficiente, porque não se trata de relação direta entre o tamanho da frota e o
número de agentes. Há outros fatores que implicam relação ideal. Em São Paulo,
esse número é insuficiente.
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O SR. COORDENADOR (Deputado Mauro Lopes) – Mais uma pergunta para
o Dr. Cyro Vidal, nosso campeão em perguntas. Peço que a resposta seja dada em
dois minutos.
A pergunta, de Alexandre Pió, da Câmara Municipal de Pindamonhangaba, é
a seguinte: "Em nosso Município, temos agentes moças na área azul. Elas podem
ser treinadas e cadastradas para atuar na fiscalização do trânsito, no que compete
ao Município?"
O SR. CYRO VIDAL – Podem.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ary Kara) – Dr. Cyro, antes que V.Sa.
responda, convido o Dr. Roberto Scaringella a fazer parte da Mesa, uma vez que
S.Sa. será um dos debatedores de amanhã. (Palmas.)
O SR. CYRO VIDAL – A resposta é: podem, conforme o § 4º do art. 280,
combinado com o art. 25 do Código.
O SR. COORDENADOR (Deputado Mauro Lopes) – Pergunta de Sílvio
Toledo, ex-presidente do DETRAN de Rondônia e coordenador de trânsito de
Primavera do Leste, Mato Grosso, para o Dr. Cyro Vidal: "O Município de Primavera
do Leste tem convênio firmado com o DETRAN de Mato Grosso há mais de um ano.
Consta em cláusula específica que o DETRAN nos disponibilizaria o cadastro. Até
agora isso não aconteceu. Primavera do Leste foi o primeiro Município do interior do
Estado e o nonagésimo nono no Brasil a se integrar ao Sistema Nacional de
Trânsito. O que devemos fazer?"
O SR. CYRO VIDAL – Meu caro diretor, denuncie o contrato ou entre na
Justiça com obrigação de fazê-lo. Na verdade, o contrato trata de relação entre duas
pessoas, é bilateral. Se ele é realizado com o DETRAN e este não o cumpre, ou vá
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para o campo da denúncia, até que o DETRAN o cumpra, ou ingresse na Justiça
com obrigação de fazê-lo. Sem sombra de dúvida, a liminar sairá.
O SR. COORDENADOR (Deputado Mauro Lopes) – Temos uma série de
perguntas importantes sobre faixas refletivas, mototáxi, temas que nada têm a ver
com o debate. Decidimos nos manter apenas no tema. As demais perguntas parece-
me que foram respondidas.
Pergunta de Floriano Viga, de Itaquatiara, Amazonas: "O que fazer com os
mototáxis? Temos mais de seiscentos”.
O Deputado Ary Kara falará um pouco sobre o assunto.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ary Kara) – O Dr. Cyro responderá.
O SR. CYRO VIDAL – O Código não trata da questão do mototáxi em
momento algum. O CONTRAN — não me lembro se foi na gestão de Gidel — editou
orientação proibindo o mototáxi. O Código de 1966 também proibia. Não se falava
em mototáxi. Esse fato começou no Ceará. Depois, apareceu em São Paulo,
primeiro Estado a adotar esse tipo de transporte individual, e a Justiça acabou
referendando-o. Uma última decisão do Superior Tribunal de Justiça diz que o
mototáxi não é ilegal e pode ser utilizado.
O SR. ANTÔNIO JOSÉ BRILHANTE – Sr. Coordenador, só para
complementar. Abordamos esse assunto pela manhã. Repetirei o que disse na
ocasião. O Código anterior mencionava a competência do Município no caso do
registro de transporte, ou seja, automóvel (táxi) — entre parênteses. O CONTRAN
foi consultado sobre mototáxi. Na época, ele não autorizou, porque o Código não
permitia. Esse dispositivo desapareceu do novo Código. Hoje, mototáxi é permitido,
dependendo da conveniência do Município, mesmo porque no Código consta
“veículo coletivo ou individual”. O Município exige que seja feito novo exame do
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motociclista, porque quando ele o fez não havia garupa. Cabe ao Município
conceder ou não a autorização.
O SR. CYRO VIDAL – Lembro aos senhores que todas as legislações
municipais e quase todas as estaduais foram contestadas. Na contestação, a
princípio, a liminar era negativa. Isso aconteceu, por exemplo, em Fortaleza. Depois,
o Tribunal de Justiça de Fortaleza admitiu, na decisão de mérito, a possibilidade do
mototáxi. Confesso aos senhores que sou contra. Como se fará com o capacete? Se
alguém tiver piolho, passará para o capacete. Os mototáxis estão se proliferando de
forma absurda. Hoje, todos os Municípios querem mototáxi.
O SR. COORDENADOR (Deputado Mauro Lopes) – Senhores, o tema
"trânsito" é muito amplo e dele não podemos nos desviar, até porque não temos
mais tempo. Outro painel deverá iniciar-se imediatamente.
Devolvo a palavra ao Presidente, para suas considerações finais, e agradeço-
lhes a oportunidade de participar deste evento.
(Não identificado) – Agradeço ao Deputado Ary Kara por ter-me concedido
a presidência deste evento. Aproveito a oportunidade para mandar uma mensagem
a todos os motociclistas e motoboys. Todo condutor de veículo deveria colocar um
adesivo em seu automóvel, dizendo: eu respeito motociclista. Realmente, trata-se de
veículo de equilíbrio. Nós, motoristas de automóvel, devemos olhar no retrovisor, ter
cuidado com os motociclistas e ajudá-los no trânsito urbano.
Devolvo a palavra ao Deputado Ary Kara.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ary Kara) – Muito obrigado, meu amigo, meu
companheiro, Deputado Mauro Lopes, de Minas Gerais.
Queremos prestar duas homenagens.
(Não há seqüência entre os textos.)
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Chamo o Dr. Fábio Racy, Presidente da ABRAMET, para que faça a
homenagem ao nosso conferencista de hoje, Dr. Cyro Vidal. (Palmas.) (Pausa.)
Solicitamos ao nobre Deputado Mauro Lopes que faça a homenagem ao Dr.
Jorge Guilherme Francisconi, ex-Diretor do DENATRAN, que muito nos ajudou na
realização deste Congresso. (Palmas.) (Pausa.)
Concedo a palavra ao Dr. Jorge Guilherme Francisconi.
O SR. JORGE GUILHERME FRANCISCONI – Quero agradecer a todos a
homenagem; ao Deputado Ary Kara, a amizade.
Tive oportunidade de servir com o Ministro Aloysio Nunes Ferreira e, depois,
com o Ministro Miguel Reale Júnior, durante seis meses, no DENATRAN. Acho que
deixamos uma herança boa: uma política nacional de trânsito discutida em três
seminários por mais de trezentas pessoas; o RENACON, sendo a primeira vez que
se lançam as multas interestaduais; minuta de inspeção veicular pronta para o
momento político em que for necessária; e uma resolução que tenta normatizar as
multas e o uso da tecnologia, cada vez mais necessária. Por isso, quero agradecer a
cada um dos senhores dos DETRANs, a cada um dos Deputados Federais, a cada
um dos técnicos do DENATRAN e àqueles que trabalharam no RENACON. Parece-
me uma medida extremamente importante.
Quero dizer-lhes que levo comigo uma grande satisfação. Ter servido com os
senhores certamente me deixa extremamente feliz e com a consciência em paz.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ary Kara) – Agradeço ao nosso amigo e
companheiro, Dr. Francisconi.
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Em alguns minutos começaremos o debate que será coordenado pela nossa
irmã neste evento, a União dos Vereadores do Brasil — UVB, cujo Presidente é o Dr.
Waldemar Antônio Lemes Filho.
Agradecemos ao Dr. Cyro Vidal a participação. (Palmas.)
Faremos um intervalo de dez minutos, um coffee break. Após, continuaremos
nosso evento com a segunda palestra de hoje.
Está encerrado o primeiro painel.
(Não identificado) – Aviso aos senhores que está disponível no estande da
CET, montado aqui em frente, a revista Engenharia, publicação com bastante
informações sobre o transporte e o trânsito na cidade de São Paulo.
(Final do Painel C e início do Painel D.)
O SR. COORDENADOR (Deputado Mauro Lopes) – (Falha na gravação)
...Presidente, Deputado Gonzaga Patriota, e pelo Deputado José Carlos Aleluia.
Neste momento, vamos convidar também para compor a Mesa o nosso
próximo conferencista, Dr. Waldemar Antônio Lemes Filho, Presidente da União dos
Vereadores do Brasil — UVB. (Palmas.)
Na condição de coordenador, convidamos o Sr. José Escobar Cavalcante,
Superintende da União dos Vereadores do Brasil — UVB. (Palmas.)
Na condição de debatedor, já presente à Mesa, o Deputado José Carlos
Aleluia. (Palmas.)
Convidamos mais as seguintes autoridades: o Vereador Alceu, Presidente da
União dos Vereadores do Estado do Rio de Janeiro; o Vereador Davi, Presidente da
União dos Vereadores do Estado de Pernambuco; o Vereador José Rogério Martins,
Presidente da Câmara Municipal de Cruzeiro, Estado de São Paulo; a Vereadora
Sônia Regina, Vice-Presidenta da Câmara Municipal de Alagoinhas, Bahia; o
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Vereador Cleriton Henrique, Presidente da Associação Catarinense de Câmaras de
Vereadores — UVESC; o Vereador André Raposo, da Câmara de Vereadores de
Pindamonhagaba, Estado de São Paulo; e o Vereador Élder Alberto Boff, Presidente
da Associação de Câmaras de Vereadores do Oeste do Paraná, representando aqui
a União dos Vereadores do Paraná. (Palmas.)
Neste momento, passo a palavra ao Deputado José Carlos Aleluia, que falará
contrariamente ao projeto.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ALELUIA – Boa tarde. Quero saudar o
Deputado Ary Kara, um herói na Câmara dos Deputados na luta pela melhoria da
qualidade do trânsito. Sou um colaborador do Deputado Ary Kara, lutador incansável
desta causa. Uma causa da vida, pois está provado estatisticamente que o novo
Código e a nova visão de cidadania em torno do Código de Trânsito e do próprio
trânsito têm salvado milhões de vidas no Brasil. Portanto, saúdo o Deputado Ary
Kara, de quem sou amigo e admirador.
Quero saudar o Deputado Gonzaga Patriota, do vizinho Estado de
Pernambuco, que se preocupa com o transporte brasileiro, setor muito mais amplo, e
é defensor intransigente inclusive dos quadros de funcionários que atuam nessa
área, tendo sido Secretário Nacional de Trânsito.
Quero saudar o Presidente da UVB, os Srs. Vereadores, em especial os
Vereadores do meu Estado, particularmente do Município de Alagoinhas, que aqui
estão em número significativo.
Vou direto ao assunto. Fui convidado para falar sobre emendas
constitucionais que tentam interferir na vida do Município, mas prefiro falar da
federação brasileira. Temos de lutar para sermos de fato uma federação. Não o
seremos enquanto não for respeitada a autonomia das Unidades da Federação.
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O Brasil tem mais de 5.500 Unidades da Federação. Portanto, não tem
cabimento o Congresso Nacional tentar estabelecer amarras ao seu funcionamento.
Uma coisa é estabelecer limites, o que já é de certa forma criticável. Quanto aos
projetos que estão em meu poder, diria que apenas um deles é razoável e poderia
avançar: o de autoria do Deputado Pompeo de Mattos, que em resumo diz que o
número de Vereadores será fixado pela Lei Orgânica dos Municípios, observados os
limites.
Com os outros todos, o que se pretende são absurdos. Por exemplo, querer
estabelecer a vereança sem remuneração. Não compete ao Congresso Nacional
decidir sobre isso. (Palmas.)
Seria o mesmo que nos atribuir o poder de decidir a largura das ruas, o
espaçamento das casas, a densidade das árvores, a freqüência da coleta de lixo, o
número de alunos na sala de aula — coisas que não podem ser resolvidas de forma
padronizada para o País. Eventualmente pode até haver uma comunidade que
deseje ter vereadores honoríficos. Não creio que exista, porque seria o mesmo que
dizer: só podem exercer a vereança aqueles que forem abastados.
Essa é uma prática comum em países desenvolvidos. Nos Estados Unidos,
por exemplo, o Congresso é um reduto dos afortunados. Só pessoas que nasceram
em berço de ouro ou que conquistaram fortuna muito cedo, ao longo da vida,
conseguem eleger-se.
No Brasil, felizmente, é diferente. Aqui estamos eu, Gonzaga Patriota, Ary
Kara, pessoas da classe média, como os senhores, operários, gente de todas as
categorias. Imaginem o que seria estabelecer um salário ainda menor para o
Deputado. Seguindo a mesma proporção, se a vereança não será remunerada, nada
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mais razoável do que reduzir ainda mais o salário dos Deputados, porque tudo
conspira no sentido de melhorar o orçamento da República. (Palmas.)
Minha posição é fácil. Além de ser contra esse projeto, quero defender os
companheiros que deram suporte à sua apresentação. Os senhores são Vereadores
e sabem muito bem que é comum, nas Casas Legislativas, dizerem: dou apoio à
apresentação, mas não me comprometo com o voto. Felizmente não estou na lista,
mas poderia estar, porque é comum dar apoio à apresentação de projetos de
companheiros. O fato de existirem 170, 180 assinaturas não significa que existam
170, 180 votos; muito menos os trezentos e tantos votos necessários. Diria aos
senhores que, pelo menos na atual Legislatura, esse é um tema morto.
No Brasil, precisamos de reformas políticas, reformas da Federação, no
sentido de descentralizar. O tema principal deste congresso é a descentralização do
trânsito.
Todo o meu trabalho no Congresso Nacional tem sido no sentido de
descentralizar. Tive a felicidade de trabalhar na descentralização da educação. O
FUNDEF é uma realidade no Brasil. Tive a felicidade de trabalhar na
municipalização da saúde, que avançou significativamente. Não adianta o exemplo
de um ou dois Municípios — ou até de um número maior — em que os recursos são
mal aplicados. Não são maioria e nem predominantes. A verdade é que recursos
aplicados nos Municípios, invariavelmente, têm eficácia — e eficiência muito maior
do que aqueles aplicados diretamente pela União. Não foi por outro motivo que se
decidiu descentralizar a educação, a saúde e, no futuro, os recursos
correspondentes, para que essas tarefas possam ser bem realizadas.
Sobre a descentralização do trânsito, não cabe pensar que serão resolvidos
problemas de trânsito nas cidades de médio porte com um só departamento de
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trânsito instalado na Capital do Estado. Mesmo em São Paulo ou em Sergipe —
Estado menor — isso não funciona. Em Estados como a Bahia, com extensão
territorial continental, o Amazonas, o Pará ou Minas Gerais, não é cabível que se
entenda que todos os problemas de trânsito das cidades... O trânsito da cidade está
associado à vida da cidade e não à vida do Estado. Não se mora no Estado, mas na
casa, que fica na rua, que fica no bairro, que fica na cidade.
Portanto, os senhores contarão sempre com o meu apoio no sentido de
fortalecer a Federação brasileira, o que será conseguido com uma reforma tributária
que dê às unidades federativas poderes tributários. Não podemos ficar limitando a
capacidade tributária dos Municípios, concentrando-a unicamente na União. Se os
senhores estudarem a evolução da arrecadação durante a década de 90, sobretudo
a das Unidades da Federação, quanto ao Produto Interno Bruto brasileiro, verão que
houve crescimento expressivo em relação ao PIB. Porém, esse crescimento
expressivo não foi para os Municípios ou para os Estados, mas basicamente para a
União.
Ainda no ano passado criamos um novo tributo, a Contribuição de Intervenção
no Domínio Econômico incidente sobre os combustíveis, que vai arrecadar neste
ano algo próximo a 9 bilhões de reais; e todo o dinheiro vai para a União. Portanto,
fortalecer a Federação significa dar mais liberdade aos Estados e Municípios para
que possam estabelecer políticas tributárias e fiscais responsáveis. Uma coisa é
estabelecer limites em política econômica, outra coisa é querer tutelar a gestão
municipal.
E aí vai um recado para o Poder Judiciário. Está se tornando comum
promotores e juízes tentarem assumir postura de gestor municipal. Já vi decisão de
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juiz transferindo professor, lotando pessoal no quadro da administração municipal. É
uma intromissão na vida do Executivo, que só caberia ao Legislativo Municipal.
Não quero alongar-me muito, mas podem dormir tranqüilos, porque esses
projetos foram plantados em terra não fértil, que não tem água nem sol. Portanto,
não darão raízes, caules, flores e frutos. (Palmas.)
O SR. COORDENADOR (Deputado Mauro Lopes) – Esta Presidência
agradece ao Deputado José Carlos Aleluia.
Convido a Sra. Cleuza Pereira Nascimento, Prefeita do Município de
Salgueiro, Pernambuco, para fazer parte da Mesa.
Dr. Waldemar, este é o I Congresso Brasileiro de Municipalização do Trânsito,
e nós, amantes que somos do tema "trânsito", queremos que isso ocorra em todos
os Municípios.
Queremos saudar todos os Vereadores, os membros da Mesa, os
conferencistas, os debatedores e os Vereadores do meu Estado, Pernambuco, na
pessoa do Vereador Davi, da União dos Vereadores de Pernambuco.
Com a palavra o Dr. Waldemar Antônio Lemes Filho, que disporá do tempo
necessário para sua conferência.
Quero dizer que sempre fui um defensor do Vereador, que está lá no
Município, no grotão. É ele que está em contato com a sociedade. Faço minhas as
palavras do Deputado José Carlos Aleluia: não cabe ao Congresso Nacional
intrometer-se nas atividades do Vereador, dos Municípios. (Palmas.) Portanto, essa
proposta de emenda constitucional será sepultada exatamente onde o Deputado
José Carlos Aleluia preconizou: num local que não tenha água, não tenha fertilidade,
para que morra antes de ser votada.
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O SR. WALDEMAR ANTÔNIO LEMES FILHO – Meus caros Deputados
Gonzaga Patriota e José Carlos Aleluia. Aleluia! Ao fazermos essa exclamação,
desejamos que o discurso do Deputado José Carlos Aleluia seja efetivamente aquilo
que nós, Vereadores, esperamos, principalmente na Câmara dos Deputados, porque
no Senado Federal já aconteceu, num passado não muito remoto, quando tivemos o
desprazer de ver os 63 Senadores presentes votarem contra os Vereadores do
Brasil.
Minha cara Prefeita; meu caro José Escobar, Superintendente da União dos
Vereadores do Brasil; companheiros, representantes ou presidentes das estaduais;
Sras. e Srs. Vereadores; Srs. Secretários; Srs. Prefeitos: ao iniciarmos nossa
intervenção nesta tarde, cumprimentamos a Câmara dos Deputados, na pessoa do
Presidente Ary Kara, por proporcionar a realização deste evento em conjunto com a
União dos Vereadores do Brasil.
Abordaremos as dificuldades que a União dos Vereadores do Brasil
atravessou, não sem antes falar a cada Vereador e a cada Vereadora presentes
sobre a nossa luta, nas últimas décadas, no que diz respeito à nossa sobrevivência
e subsistência.
Nascemos em 1964 como um foco de resistência, um fórum onde deveríamos
debater nossa situação e os interesses dos Municípios e dos Vereadores. No
decorrer dos anos, temos enfrentado dificuldades e conseguido várias vitórias. A
maior delas — quero deixar registrado —, os Srs. Vereadores e Deputados sabem
disso, obtivemos quando as forças municipalistas deste País conseguiram escrever
o art. 1º da Constituição, transformando o Município em ente federado.
Conseguimos parceria com a Assembléia Nacional Constituinte, quando pudemos
deixar como norma constitucional o direito de cada Município escolher seu Vereador
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para fazer a Lei Orgânica. Houve um avanço, uma conquista por parte dos
Vereadores, que, ao longo do tempo, tentam, de alguma forma, diminuir ou extinguir.
Combatemos a Emenda Amin, mas, graças ao trabalho da União dos
Vereadores do Brasil, conseguimos fazer com que a atual Emenda nº 25 fosse
menos salgada e menos prejudicial às Câmaras Municipais.
Em 1995 tivemos a Emenda Nicias Ribeiro, que está no ar até os dias de
hoje, a emenda do Senador Paulo Hartung, que, numa reunião memorável no
Espírito Santo, conseguimos que o Senado arquivasse. Estávamos comemorando
essa vitória conseguida no Espírito Santo quando surgiu a PEC nº 375, de autoria do
ilustre Deputado Marcos Cintra. E aqui também cabe o registro de que S.Exa. foi um
de nós, um Vereador. Diga-se de passagem, um grande Vereador, com excelente
atuação na cidade de São Paulo.
Companheiros, é importante registrarmos que a entidade União dos
Vereadores do Brasil age de forma corporativista. Sim, agimos em defesa do
mandato do Vereador, em defesa das conquistas que a democracia proporcionou às
Câmaras Municipais. Mas a União dos Vereadores do Brasil também tem brigado
em defesa do municipalismo neste País. Temos gritado em todos os Estados por
várias situações que fortaleceriam os Municípios brasileiros. Temos brigado por uma
revisão do pacto federativo, para redefinir o papel do Estado, da União e do
Município. Temos brigado e gritado por reforma tributária, cuja discussão e votação
tenha a participação dos Vereadores. Temos brigado pela participação dos
Municípios na CPMF. Por quê? Porque fomos nós que a geramos. Não deve ser
uma taxa, mas sim um imposto. Temos brigado pela não-aprovação do Projeto de
Lei nº 4.717, que determina a privatização dos serviços de saneamento. Temos
brigado em vários sentidos, com o objetivo de fortalecer os Municípios, porque
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acreditamos que, com Municípios fortes, teremos uma Câmara forte, um Executivo
forte e Vereadores fortes. (Palmas.)
Não precisamos falar sobre o papel do Vereador, porque nós, que somos
Vereadores, sabemos do papel de cada um. Sabemos que somos pai, mãe,
assistente social, psicólogo, psiquiatra, motorista, médico, parteiro, somos tudo. Isso
não precisa ser dito.
Vale afirmar, companheiros, o absurdo dessa Emenda nº 375, de 2001, para
a democracia brasileira. Temos a obrigação de dizer que essa emenda, que daqui a
pouco o nosso Superintendente José Escobar esmiuçará, é o maior retrocesso que
pode acontecer ao País. E não é pela ingerência sobre o Município, mas porque vai
proporcionar, em 73% dos Municípios brasileiros, a volta das oligarquias nas
Câmaras Municipais (palmas), causando enorme prejuízo ao Brasil. Isso não
contribui para o fortalecimento da democracia.
Então, companheiros Vereadores e Vereadoras deste País, é importante que
nos levantemos. Alguns companheiros têm perguntado: "Waldemar, o que a UVB
pode fazer?" Respondo: “A UVB não pode fazer nada”. O que nós, Vereadores,
podemos fazer? Temos de nos unir. Só a nossa união é que fará com que
consigamos posicionamento dos Deputados, a exemplo dos dois que falaram nesta
tarde.
Tenho andado por este País. De todas as bancadas dos Estados, a que mais
me deixou feliz foi a bancada federal do Estado de Rondônia, onde conseguimos
que os três Senadores e os oito Deputados Federais se posicionassem contra a
emenda. Então, pergunto: será, Deputados, que não seria hora de votar essas
emendas, antes das eleições, e derrotá-las? (Palmas.) Será que não seria este o
momento, quando se avizinha uma eleição? Aí, os Srs. Vereadores deste País têm
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de saber quem deve ser eleito. Será que não é hora de se pedir isso? Mas eu, que
sou Vereador de Poços de Caldas, interior de Minas Gerais, fico preocupado e com
medo de que essa emenda seja aprovada.
Sras. e Srs. Vereadores, tenho sentido angústia em relação a essa emenda,
porque ela contraria tudo aquilo em que acredito — lutei contra a ditadura, para que
atingíssemos este estágio de democracia. Ela contraria todos os princípios e todos
os avanços que nós, municipalistas, conseguimos neste País, quando brigamos, no
Rio de Janeiro — Escobar, eu e outros companheiros —, para que o Vereador, a
Câmara Municipal, o Legislativo Municipal tivessem voz e vez.
Quando participamos da elaboração do art. 29 e dos seguintes, que
satisfação! Dizíamos naquela época: “Estamos caminhando; são 6.700...” (Falha na
gravação) predeterminado, no dia aprazado com a direção da UVB. E aí
convocamos os companheiros. Mas, pelo amor de Deus, companheiros,
multipliquem-se por mil, para que, em vez de sermos 500, sejamos 5 mil; senão,
com certeza, nossa voz não será ouvida.
Só a União dos Vereadores Brasileiros fará com que essa emenda seja
rejeitada, porque retirá-la de pauta será difícil; até porque ela agrada parte da
sociedade, e sabemos disso. Infelizmente, esta é a realidade: muitos não gostam de
Vereadores, sabemos disso. Por quê? Porque existe uma maledicência, uma
generalização. Se observarmos, o Vereador não é bandido, mas tentam passar essa
imagem para a população. É o caso do Vereador de São Gonçalo, que, além de ser
cassado, tem de ir para a cadeia. A UVB e os Vereadores brasileiros são honestos e
sérios. Não compactuamos, de forma alguma, com a bandidagem, com a safadeza,
com o furto do dinheiro público. A entidade UVB e os Vereadores brasileiros não
compactuam com isso de jeito nenhum. Os Vereadores que se venderam e se
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corromperam, ao votar a favor da privatização da agência de água de cidade da
região central, também não nos representam, são exceções. Então, não podemos
concordar, de forma alguma, com essa generalização e muito menos com a própria
justificativa da PEC nº 375, sobre a qual vou deixar que o Escobar se pronuncie.
Termino minhas palavras, companheiros, na certeza de que a União dos
Vereadores continuará presente em cada Estado deste País, levantando os
Vereadores, solicitando a atenção dos companheiros nas suas cidades para os
comunicados que expedir. Nossa parceria com a Câmara Federal, com certeza,
renderá, no mínimo, a discussão sobre a matéria.
Em vários projetos citados pelo nobre Deputado José Carlos Aleluia, temos
pedido isto: debate, participação, a exemplo do que ocorreu na Emenda Amin,
quando entendíamos que devia haver discussão. E nós alcançamos o nosso
objetivo: sentamo-nos à mesa do Senado, sentamo-nos à mesa da Câmara Federal,
sentamo-nos à mesa do Congresso Nacional, conversamos com Senadores e
Deputados. Não encontramos a melhor solução, meu caro Escobar, mas a possível,
e com a participação de pouquíssimos Vereadores. Mas a mobilização foi realizada.
Por isso, encerro o meu pronunciamento pedindo atenção a cada Vereador, já
que somente a unidade dos Vereadores brasileiros fará com que essa emenda
antidemocrática, retrógrada e populista não seja aprovada na Câmara dos
Deputados.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. COORDENADOR (Deputado Mauro Lopes) – Esta Presidência se
associa à proposta do Presidente da UVB, Dr. Waldemar Antônio Lemes Filho. Este
é um ano de eleições e os Srs. Deputados vão bater às portas de cada Vereador.
Por isso, é importante que isso ocorra.
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Dr. Waldemar, darei uma explicação aos Srs. Vereadores, que a solicitam. O
Deputado José Carlos Aleluia já o fez, mas eu também gostaria de esclarecer. Para
as emendas de Amin, Pompeo de Mattos, Augusto Nardes e para todas as
propostas, são necessárias, no mínimo, 175 assinaturas. E nós procuramos assiná-
las. Inclusive, eu assinei uma PEC que trata da pena de morte, para que haja
discussão. Mas essas assinaturas não representam nada. Pernambuco, por
exemplo, tem a assinatura de quatorze Srs. Deputados. Eu tenho certeza de que,
dos quatorze Srs. Deputados, nenhum votará a favor dessa emenda. Ou seja, não
se inibam porque o Deputado assinou a emenda para que houvesse tramitação. Os
senhores podem confirmar isso com os Deputados. E podem contar com o nosso
apoio. Caso a emenda entre em pauta neste mês de junho, com certeza será
flagrantemente derrotada.
Com a palavra o Dr. José Escobar, para fazer sua explanação.
O SR. JOSÉ ESCOBAR CAVALCANTE – Sr. Presidente, senhoras e
senhores, temos de aproveitar este momento, já que não adianta mais discutir se a
matéria entraria em pauta ou não, porque ela já entrou.
Com permissão dos Srs. Vereadores e de cada um dos companheiros, faço o
seguinte registro: precisamos saber separar este momento que estamos
enfrentando. Na mesa, temos a presença de três aliados: Deputados Ary Kara, José
Carlos Aleluia — que por alguma razão deixou o plenário — e Gonzaga Patriota, a
quem faço uma observação: uma coisa é ele dizer que ajuda o Vereador, outra coisa
é provarmos que isso realmente acontece. Em nome da UVB, é preciso provar que
o Deputado Gonzaga Patriota é velho aliado da União de Vereadores do Brasil. Não
apenas nesta ocasião, mas em todos os momentos em que o buscamos para
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trabalhar conosco, qualquer que tenha sido a questão. E não é de agora. O que
importa é termos isso definido.
Daqui a pouco, vamos entrar em um pleito eleitoral, e muitos companheiros
continuam não sendo sondados sobre quem irão apoiar. Em boa parte do País,
quem está vendendo nosso apoio político é o Prefeito. Ou seja, nem conhecemos o
Deputado, mas vamos votar nele porque o Prefeito o está apoiando. Esse, na
maioria das vezes, é o retrato da política brasileira. Depois, ficamos sem força de
cobrar algumas coisas. Concordo com a posição do Vereador de que o certo é não
entrar.
Até darei um testemunho de como funciona esse negócio de assinatura. Eu já
assinei PEC no corredor do Congresso Nacional. Uma mulher, que é contratada,
fica na porta do corredor do Congresso pegando assinaturas de Deputados. Eu,
usando um broche da UVB, passei apressado e pedi o documento para assiná-lo.
Ou seja, assinei o documento, mas nunca fui Deputado — talvez até tenha o sonho
de ser. A assinatura tem pouca importância, a não ser pelo caráter legal de permitir o
trâmite da matéria.
O companheiro disse que o ideal seria que a emenda não tivesse sido
apresentada, mas o foi. Agora, são necessárias estratégias, da mesma forma
quando a Emenda Amin começou. Poucos companheiros sabem, Deputado
Gonzaga Patriota — como sabem o Edésio, que há muitos anos está nesta vida, e o
Waldemar, que há vinte anos vem fazendo municipalismo e luta de corporação do
Legislativo brasileiro —, que temos uma história de sofrimento. Não podemos
dispensar o momento nacional, achando que o fim da emenda ou o seu
arquivamento resolverão o problema do Legislativo. Ao contrário, estamos votando a
criação de enes Conselhos Municipais, retirando da Câmara o poder de vínculo com
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a comunidade. Há Municípios com cinqüenta Conselhos Comunitários. Seria
importante trazer isso para o seio da Câmara Municipal.
Nós precisamos rediscutir o papel do Legislativo Municipal brasileiro, porque
ele está perdendo a eficiência, o conteúdo. Necessariamente, estamos perdendo a
simpatia da continuidade. Nosso Presidente disse aqui que a população é a favor do
fim do salário do Vereador, assim como é a favor do fim do salário do Deputado.
Basta apresentar uma emenda. Deputado não tem de ganhar. No entanto, ninguém
discute salário de juiz, de promotor, de fiscal, de delegado de polícia. Só se discute
salário de político, seja ele Vereador ou Presidente da República. A sociedade como
um todo, até com a ajuda, em boa parte, da mídia nacional, combate o salário do
político. Nisso, estamos empatados. Hoje, eles querem acabar com o nosso salário;
daqui a alguns dias, com o dos Deputados. Assim, esta sociedade será de
sacerdócio na política brasileira. Se os demais ofícios não fossem remunerados, não
haveria dificuldade nenhuma para encarar isso com naturalidade.
Mas nós vivemos uma realidade. É necessário demonstrar de forma incisiva
que estamos pressionados — e isso vem acontecendo há algum tempo — pela
necessidade de se adaptar um novo modelo de Legislativo. Historicamente, tivemos
grandes avanços. Tudo o que está sendo proposto aqui já aconteceu. Fui Vereador
em 1976, período em que praticamente não havia salário. Nós conseguimos
melhorar a questão do salário em 1984, com a nossa luta. Daí a primeira emenda
constitucional, que já veio para retirar isso.
É a primeira vez que o Waldemar preside a União dos Vereadores do Brasil,
mas desde 1983 está na instituição, em um ou outro cargo. É um municipalista com
experiência. Ele tem vivência e também entende que precisamos não apenas fazer
moção de repúdio ao Deputado Marcos Cintra, que apresentou a emenda, mas
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também adquirir mais consciência para definição do nosso modelo político, da nossa
postura eleitoral, para sabermos que tipo de compromisso temos e em quem vamos
votar, em especial, para Deputados Federais e Senadores, procurando saber que
tipo de envolvimento eles têm com as causas. Afinal, o grande equívoco cometido,
se não foi do Deputado Gonzaga Patriota, do Deputado Ary Kara ou do Deputado
José Carlos Aleluia, foi do Congresso, que votou a Emenda Amin considerando que
todas as Câmaras do Brasil são organizadas, têm sede, servidores suficientes,
técnicos, estrutura, carro de representação, telefone. Mais de 60% das Câmaras
sequer têm telefone direto; inclusive, funcionam em prédios de Prefeitura. Essa é a
realidade. Como podemos chamá-las de poder, se nem endereço têm? Hoje, elas
funcionam na garagem da Prefeitura; amanhã, no balcão, no açougue, no cemitério.
(Palmas.)
Nós precisamos entender que, para limitar-se, é necessário, primeiro, que o
modelo tenha pelo menos dignidade. Após a limitação, e de forma quase cruel, sem
levar em conta as diferenças socioeconômicas de cada Município... Limitou-se aqui
em Brasília, e isso foi bom para que tomássemos vergonha na cara, em juízo, e
descobríssemos que há uma falácia muito grande em relação a determinadas
posturas, que nos agradam no discurso, no envolvimento espontâneo, mas que não
têm, sinceramente, a nobreza de entender que o papel do Legislativo Municipal
brasileiro é importantíssimo para a construção de uma democracia cada vez mais
sólida e de um país cada vez mais justo. E que nos envolvamos com nossos
Deputados, sejam eles contra essa emenda ou não — essa não é a grande questão
—, mas que sejam a favor do fortalecimento do municipalismo.
Estamos discutindo municipalização do trânsito. Queremos, sim, mais
responsabilidade para o Município. Estamos discutindo quase todas as políticas
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públicas que fortalecem o Município, mas, neste momento, aparecem matérias ou
propostas para enfraquecer o papel do fiscalizador do serviço público, que é o
Vereador. Então, há um contraditório que precisa ser analisado e debatido.
Precisamos enfrentar isso até fazendo mea-culpa. É necessário que melhoremos a
nossa forma de atuação, o período de sessão, as datas, com mais tempo a serviço
da comunidade, e que lutemos por um salário ainda melhor. Lutar, sim, para que
possamos ficar mais tempo a serviço da comunidade. Aí, vamos encontrar vários
parâmetros.
Não vamos nos perder aqui, porque o tempo é curto. Não podemos abusar do
tempo de cada um, dos que saíram de longe não apenas para ouvir da entidade a
que são filiados que somos contra a proposta que diminui o número de Vereadores
brasileiros para 30 mil pelo simples fato de sermos contra. Ora, se o Deputado
Nicias Ribeiro, que é do meu partido, do Estado do Pará, tivesse um pouquinho de
vínculo com a nossa causa, iria perceber que o Congresso acabou de votar o limite
de repasse. Então, se houver 7 ou 21 Vereadores, se for 10 mil, vai continuar sendo
10 mil para a Câmara. Não muda em nada. É mais uma antipatia mesmo. Parece
uma coisa pessoal contra nós.
O Deputado José Carlos Aleluia falou, com propriedade, do modelo de
Legislativo na área federal ou do Congresso Nacional dos Estados Unidos. O
Legislativo Municipal naquele país é assim. Há um limite de gastos, não importa se
houver trinta ou quarenta Vereadores. É claro que há diferenças lá, porque os
Estados são altamente suficientes e independentes de forma constitucional.
Aqui vamos ter alguns modelos em que um conselho gestor gerencia. Mas
temos um modelo prático, e a Constituição de 1988 foi generosa conosco, dando-
nos bastante autonomia. A nossa Constituição é parlamentarista. Nós é que
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precisamos também ocupar esse espaço. Precisamos, de uma forma ou de outra,
reivindicar mais aquilo que o Congresso nos deu de direito, de poder, de ação. Não
estamos praticando o modelo. Aí, somos alvos de matérias nas quais, de forma
incompreensiva, toda nossa história não é analisada, nem nossa importância, nossa
contribuição para ajustar este País, inclusive para que nossos políticos — do
Vereador ao Presidente da República — sejam mais respeitados pela sociedade.
Esse é um papel nosso, porque nós é que vamos discutir os problemas nas
esquinas.
Por que é importante a política? Porque tudo se decide por meio dela. Não
adianta alimentar a antipatia de que somos contra Deputados e de que esses são
contra nós. Isso não leva a nada. Precisamos saber que, aqui em Brasília, como lá
na Câmara, muitos de nós não têm compromisso com o povo. Vamos buscar, então,
de alguma maneira, ajustar quem tem compromisso e lutar de forma organizada.
Gosto muito do otimismo do Deputado José Carlos Aleluia e da participação
do Deputado Gonzaga Patriota. São autênticos. Não tenho o prazer de conviver
muito com o Deputado Aleluia, mas o conheço através das palavras do Malta, nosso
ex-Presidente na Bahia. Sei das vezes em que o Malta procurou o Deputado Aleluia,
que sempre foi altamente simpático.
Conheço o Deputado Ary Kara por intermédio do Hugo, de Piquete, que diz
que o Deputado sempre atendeu as questões municipalistas. E o relato dos
companheiros nos permite dizer que temos aliados no Congresso. Temos e não
podemos perdê-los. Não podemos abrir mão deles. Se abrimos mão do pouco que
temos, ainda fica pior.
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Gostaria de chamar os companheiros que estão atrás para se sentarem mais
à frente. Infelizmente, é da natureza humana querer gritar para se fazer ouvir, mas
não vai funcionar.
Quero acreditar na possibilidade de votar a matéria antes das eleições, mas
acho isso quase impossível. As questões polêmicas, como as que tratam de salário,
estão sendo obstruídas. Enfim, há todo um clamor social. Dificilmente a matéria será
votada este ano, o que também é positivo.
De qualquer maneira, o Congresso Nacional será renovado. Espero que
sejam mantidos apenas aqueles que são a favor do Vereador e do povo. Quem vota
contra o Vereador é contra o povo. Certamente, os que assim o fizerem não voltarão
para o Congresso Nacional. Repito, o Congresso Nacional será renovado, com
nossas influências e nosso poder de barganha. A entidade não pode perder de vista
o seu trabalho.
Para os companheiros terem idéia do que estou dizendo, a primeira emenda
estabelecia 5% da renda líquida para custeio de uma Câmara Municipal. Mostramos,
com estatísticas, que alguns Municípios brasileiros iriam receber por mês em torno
de 60 a 90 reais para pagamento de salário, máquina, água, luz etc.
Estamos melhorando a emenda, que tem defeitos, em especial na questão do
repasse do exercício anterior. Se saímos de um período de equilíbrio da economia
brasileira para a inflação, sabemos o que isso significa. Em 1983 a receita era de
3%. No exercício anterior, a inflação chegava a 1.000% ao ano. Foi uma luta
extraordinária para acabar com essa situação.
Perguntam por que a UVB luta para melhorar o salário dos Vereadores.
Lutamos para manter a dignidade e a tranqüilidade do exercício do mandato dos
Vereadores. Fui Vereador por dezesseis anos consecutivos e sei que nos cobram
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estar cada dia mais à disposição do povo. É preciso que haja mecanismos
suficientes e tranqüilidade para que possamos nos dedicar ao nosso trabalho.
Entendo que a atividade legislativa municipal precisa de tempo integral. É
necessário encontrar essa possibilidade.
Os Vereadores que participam da discussão política devem ter tempo
suficiente para se dedicar à atividade legislativa, sem ter de fazer bico, como a
maioria, já que a média de salário dos Vereadores brasileiros é menor do que 600
reais. Isso não pode ser motivo de estrago para a economia. Os desvios efetuados
por pessoas que infelizmente não têm a dignidade de honrar o povo, nos últimos
anos, seriam suficientes para pagar uns dez anos de funcionamento do modelo
legislativo brasileiro municipal, sem nenhum problema.
A falta do Vereador poderia permitir que Prefeitos desonestos tivessem
assaltado os cofres públicos de maneira que não fosse possível administrar o rombo.
Temos essa consciência. Não queremos apenas discutir o salário. Queremos que
nossas prerrogativas sejam mantidas, que tenhamos dignidade e espaço físico para
trabalhar com assessoramento técnico.
Se não nos modernizarmos urgentemente, qualquer menino de 10 ou 12 anos
que acessa a Internet vai saber mais sobre nosso Município do que nós, porque não
temos assessoramento técnico para exercitar um mandato que é político. O mandato
do Vereador é o mais político. Às vezes, sabemos pouco de leis, mas conhecemos
as necessidades do povo, sabemos levantar a voz na tribuna, tratar dos problemas e
tentar resolvê-los.
O Presidente da UVB, Waldemar Antônio Lemes Filho, pediu para comentar
argumento do Deputado de que o gasto com uma Câmara Municipal, em cidade
pequena, serviria para construção de algumas escolas e pontes. Esse argumento é
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absurdo e primário. O mesmo raciocínio serve também para discutir o salário dele.
Só que não vamos entrar nesse jogo. Setenta mil Vereadores, que representam
quase 40 milhões de votos, não podem discutir algo tão infantil.
O Presidente do PFL, Jorge Bornhausen, recentemente também utilizou o
mesmo argumento, que foi estampado nos principais jornais do País. O
megaempresário brasileiro Antônio Ermírio de Moraes, em colunas dos jornais O
Globo e Folha de S.Paulo, fez o mesmo tipo de comentário. Antônio Ermírio de
Moraes, que tem empresa de extração de níquel em Niquelândia, deveria destinar
um pouco do seu dinheiro para tratamento dos pulmões dos que foram infectados
por trabalhar em sua empresa. Se tivesse o mínimo de cuidado com o seu servidor,
teria autoridade para falar em Vereador. Esse cidadão nunca ganhou uma eleição.
Disputou uma, e perdeu. Só sabe ganhar dinheiro e falar bobagem em jornal.
Parece-me que o básico será discutido em reunião interna, com todos os
presidentes de entidades dos Estados. Vamos discutir uma forma de atuação com
os Deputados José Carlos Aleluia, Gonzaga Patriota, Ary Kara e com quem mais
quiser se somar a nós para elaborar estratégia para ver se é possível votar a matéria
antes das eleições.
Muito obrigado.
O SR. COORDENADOR (Deputado Mauro Lopes) - A Mesa agradece ao
eminente amigo José Escobar.
Em homenagem aos Srs. Vereadores do Brasil, passo a coordenação dos
trabalhos ao Presidente da União dos Vereadores do Brasil, Dr. Waldemar Antônio
Lemes Filho.
O SR. COORDENADOR (Waldemar Antônio Lemos Filho) - Obrigado,
Deputado. Quero apenas reafirmar dado importante para que os Vereadores
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brasileiros saibam e V.Exa. também: as Câmaras Municipais deste País consomem
cerca de 3,5% do Orçamento Geral da União, e os 5.561 Municípios consumiram,
em 2000, 4,58% do Orçamento, com obrigações que não eram deles. Não
entendemos, até o presente momento, por que o empresário faz essas observações.
Passamos a palavra, por três minutos, ao representante dos Vereadores do
Estado de Pernambuco, Vereador Davi.
O SR. DAVI - Prezado coordenador dos trabalhos, Vereador Waldemar
Lemes; nobre Deputado Gonzaga Patriota, do meu Estado; prezada Prefeita da
cidade de Salgueiro, também do meu Estado, Sra. Cleuza Pereira; demais membros
da Mesa; prezados colegas Vereadores, depois de ouvirmos as palavras dos nobres
debatedores, do nosso Presidente, Waldemar Lemes, e do nosso Superintendente,
José Escobar, temos muito pouco a acrescentar.
Fazemos apelo aos Srs. Vereadores para que nos unamos, a fim de
pressionar os Deputados nos quais votamos para nos representar na Câmara
Federal. Do meu Estado, do meu modesto Município, os majoritários são o 1º
Secretário da Casa, Deputado Severino Cavalcanti, e o Deputado Sérgio Guerra. Do
sertão é o Deputado Gonzaga Patriota. Nós que somos Vereadores precisamos nos
unir e visitar esses Deputados e até lhes mandar correspondência, a fim de que essa
emenda seja apreciada o mais depressa possível, antes das eleições, para que seja
derrotada. Por tabela, os Vereadores de São Paulo devem derrotar também esse
Deputado que não tem nenhum compromisso com os Vereadores do Estado de São
Paulo. Tudo pode para Deputado; nada pode para Vereador.
Acharam pouco reduzir nossos salários. Aprovaram leis que, além de reduzir
nossos salários, fizeram com que demitíssemos vários funcionários. Em algumas
Câmaras, deixamos de ter o direito de nomear assessor parlamentar. Ficamos
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amarrados a algumas leis que não permitem que as Câmaras progridam de forma
alguma.
Portanto, há necessidade, prezados colegas, de união muito forte para que
possamos pressionar nossos Deputados, a fim de que essa emenda, repito, seja
votada o mais depressa possível, antes das eleições. Assim, vamos ver quais
Deputados se identificam com os Vereadores do Brasil e quais não sabem o valor
que tem o Vereador. Em nosso Estado, costumamos dizer que o Vereador é o
político mais próximo da população.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. COORDENADOR (Waldemar Antônio Lemes Filho) -
Democraticamente, vamos passar a palavra à Prefeita de Salgueiro, Sra. Cleuza
Pereira Nascimento.
A SRA. CLEUZA PEREIRA NASCIMENTO - Cumprimento com muita honra
os Srs. Vereadores, na pessoa da companheira Vereadora de Alagoinhas, e todos
os que estão presentes neste ilustre auditório. Agradeço a honra de ter sido
distinguida nesta Mesa.
Sou professora primária, nem digo do ensino fundamental, porque sou do
tempo do ensino primário. Vejo na vocação do legislador uma escola. Das
autoridades constituídas, quem mais tem na mão a oportunidade de ensinar política
ao povo é o Vereador.
Do meu ponto de vista, é fundamental que essa emenda seja derrotada. Se
olharmos para a nossa Câmara, veremos que há vários anos algumas pessoas —
não vou questionar o mérito ou o demérito delas — elegem-se sem que tenham tido
visibilidade na vida política do Município. Graças a Deus, podemos também dizer o
contrário. Na nossa Câmara, há professoras da rede municipal, professoras da rede
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do Estado e, inclusive, deficientes. Se pensamos em melhorar a qualidade do
desempenho dos Vereadores, essas pessoas terão que receber salário para ter
tempo de estudar, reunir-se, adquirir experiências com outros Municípios similares e
equipamentos que lhes permitam acompanhar o que está acontecendo.
O legislador tem que se educar continuamente, permitam-me usar a palavra
educar, porque não basta ter carisma. É preciso que ele se aperfeiçoe para que o
povo também evolua. Se o povo continua a ter práticas clientelistas, não há
evolução. O Vereador deve discutir seu mandato, ir às bases, mostrar que certas
práticas não são corretas. E o Vereador precisa de recurso para se mobilizar. Isso
sem falar das questões emergenciais em que ou o Vereador recorre ao próprio bolso
ou haverá problemas graves para as pessoas que estão perto dele.
Para o Vereador ser independente e não pedir gasolina a Prefeito, para ele
ser dono do seu mandato e só o povo determinar os rumos de sua ação, ele precisa
de salário, e, se possível, salário digno, para que possa ter assessores bem pagos,
pessoas que o ajudem a exercer mandato à altura de sua missão cívica.
Congratulo-me com os Vereadores presentes. Há necessidade de, nas bases,
nas escolas, quem sabe, serem simuladas eleições ou júris para que a juventude se
manifeste a esse respeito — não sobre a questão de o Vereador ser remunerado ou
não. Seria apresentada uma exposição sobre a missão do Vereador. Não se trata de
fazer favor, mas de algo muito maior do que isso. Ele precisa se preparar. Depois se
discutiria se os que estão no Legislativo podem desempenhar suas funções com tal
salário. Se este for retirado, como farão para exercer seus cargos com dignidade?
Quem é que vai ocupar essas cadeiras?
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Então, podemos fazer um trabalho desse tipo e, pela voz da juventude, por
intermédio dos seus Vereadores, isso seria encaminhado para respaldar, cada vez
mais, a Câmara perante a opinião popular.
Parabéns aos senhores! Tenho certeza de que essa batalha será ganha.
O SR. COORDENADOR (Waldemar Antônio Lemes Filho) - Agradecemos à
Prefeita sua solidariedade.
Passamos a palavra à Vereadora Sônia Regina, de Alagoinhas, Bahia, pelo
prazo de três minutos.
A SRA. SÔNIA REGINA - Boa noite a todos. Cumprimento a Prefeita de
Salgueiro, colega de profissão — também sou professora —, os colegas
Vereadores, na pessoa do Presidente da UVB, Waldemar Lemes, e todos os
presentes.
Sou da cidade de Alagoinhas, Estado da Bahia, onde há dezessete
Vereadores. Estamos aqui em número de doze. Por que estou dizendo isso? Porque
sinto a falta de compromisso dos Vereadores. Temos 67 mil Vereadores no Brasil.
Se aqui estivessem 5%, teríamos 3.350 Vereadores; se 1%, teríamos 670
Vereadores; se 0,5%, teríamos 335 Vereadores. A UVB fez o seu papel, convidando
as Câmaras Municipais, mas aqui vieram aqueles que, como os Vereadores de
Alagoinhas, estão preocupados.
Foi dito que existem pessoas que não gostam de Vereador. Isso é verdade.
Não querendo atingir a todos, mas a maioria dos Deputados só lembra dos
Vereadores em ano de eleição, ou seja, de quatro em quatro anos, quando o
Vereador tem voto. Passada a eleição, o Vereador passa a ser pedinte: “Lá vem
aquele Vereador chato do interior da Bahia. Sai lá de Alagoinhas, a 120 quilômetros
de Salvador, para vir aqui pedir”. E aí começam a se esconder de nós.
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Quero lembrar também que a desunião começa dentro da nossa cidade.
Aliás, aproveito a oportunidade para dizer-lhes que dentro de Alagoinhas quase fui
execrada por parte dos meus colegas Vereadores e também pelo Prefeito da cidade,
porque apresentei um projeto em que solicitava mais um subsídio para o Vereador
no final do exercício. Logo apelidaram esse subsídio de décimo terceiro. Hoje sou
conhecida — e fazem questão de dizê-lo em entrevistas nas rádios — como a
Vereadora do décimo terceiro, aquela que estava atrás de dinheiro. Vejam que esse
tipo de coisa começa lá na nossa cidade. Tínhamos cópia do parecer do Tribunal
dizendo que se tratava de um projeto de jurisprudência. Mas sou vista assim. Os
meus colegas Vereadores, o Prefeito da minha cidade, os seus funcionários que têm
cargos de confiança foram me vaiar no dia em que o Prefeito vetou esse projeto. Fui
quase execrada publicamente.
Portanto, vamos nos unir, vamos lembrar que o Vereador é gente, é aquele
que está onde o povo está. Foi dito pelos palestrantes que me antecederam que o
Vereador é quem sabe das necessidades do seu Município, porque ele é que está
todos os dias vendo o seu eleitor. Mas os nossos Deputados se esquecem de nós.
Quando um de nós procura um Deputado que está comprometido com a causa do
Vereador, este passa a ser venal: “O Vereador se vendeu ao Deputado fulano de
tal”. É assim que somos tachados dentro de nossas cidades.
Então, vamos nos comprometer com Deputados, Senadores, Governadores e
Presidente comprometidos com a nossa causa. Se não, sofreremos com essas
PECs. Se essa proposta de emenda à Constituição for aprovada, vamos perder, em
nossa Câmara, quatro colegas. Não queremos isso. Queremos, sim, estar unidos,
debatendo as causas dos nossos Municípios e as que interessam a nós,
Vereadores, pois somos o pulmão de qualquer administração pública municipal.
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Fiz questão de pronunciar essas palavras apenas para reforçar que temos de
estar unidos, a começar da Câmara de Vereadores.
Muito obrigada. Um abraço a todos.
O SR. COORDENADOR (Waldemar Antônio Lemes Filho) - Com a palavra o
Vereador José Rogério Martins, Presidente da Câmara Municipal de Cruzeiro, São
Paulo, pelo prazo de três minutos.
O SR. JOSÉ ROGÉRIO MARTINS - Quero, de maneira especial, saudar o Dr.
Waldemar Lemes, Presidente da União dos Vereadores do Brasil — UVB. Saúdo
também toda a Mesa e as companheiras e companheiros Vereadores.
Entendemos como verdadeiro absurdo essa proposta de emenda
constitucional que visa a diminuir a força do Vereador, dificultando o seu trabalho,
mexendo em questões fundamentais, como o corte da remuneração, a diminuição
do salário, a redução do número de vagas nas Câmaras Municipais.
Só nós Vereadores sabemos como é difícil legislar. A nossa função seria
fiscalizar o Prefeito, discutir projetos, emendas, visando à elaboração de leis. Só que
o Vereador não fica limitado somente ao trabalho da Câmara Municipal. Há Vereador
que trabalha muito mais fora da Câmara. De que forma isso acontece? Com o nosso
trabalho social, com o nosso auxílio na área da saúde.
Muitas vezes — não há por que não dizer isso aqui — o Vereador coloca a
mão no próprio salário para ajudar a comunidade, auxiliar aqueles que realmente
necessitam. Quando isso ocorre, percebemos claramente que o nosso trabalho
acaba sendo dificultado. Se não houver um apoio maior com relação ao salário do
Vereador, vamos ter dificuldades. Muitas vezes o Vereador deixa o seu serviço, a
sua família, seja final de semana, seja de dia, seja de noite, para atender ao eleitor.
Não podemos admitir que venha um Deputado atrapalhar o trabalho do Vereador,
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que é o responsável direto, juntamente com o Prefeito, com o Deputado Estadual,
com o próprio Deputado Federal, com os Governadores, pela busca de recursos
financeiros para os nossos Municípios.
Não estamos aqui a passeio. Estamos trabalhando, discutindo os interesses
das Câmaras Municipais e fazendo reivindicações aos nossos Deputados em
Brasília.
Agradeço a todos a atenção. Espero que possamos formar uma grande união
nesta data, que possamos estar juntos nessa caminhada. Os Vereadores do Brasil,
unidos, jamais serão vencidos, seja pelo Deputado Marcos Cintra, seja por outro
Deputado que venha a apoiar essa PEC.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. COORDENADOR (Waldemar Antônio Lemes Filho) - Passamos a
palavra ao Vereador Clerinton Henrique. S.Exa. dispõe de três minutos.
O SR. CLERINTON HENRIQUE - Sr. Waldemar Antônio Lemes Filho,
coordenador dos trabalhos e Presidente da UVB, autoridades da Mesa e todos os
que aqui se encontram neste momento, meus cumprimentos. Obrigado pela
presença.
Tenho observado, durante duas Legislaturas, como Vereador, que há um
enorme problema de união entre nós. A UVB, as associações estaduais e as
microrregionais devem fazer um esforço para que consigamos reverter essa
desunião. Em tudo o que está acontecendo contra a nossa classe, temos grande
parcela de culpa, não somos unidos. Essa é a minha visão e acredito que a da
grande maioria dos senhores.
O Deputado José Carlos Aleluia disse que essa matéria não é competência
do Congresso Nacional. Se não é da competência do Congresso, a Comissão de
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Constituição e Justiça deve declará-la inconstitucional. S.Exa. poderia encaminhar
esse pedido.
Existem hoje inúmeras PECs contra a classe de Vereadores, sérios
problemas nos Estados, nos Municípios, nos Conselhos Municipais, nas associações
de bairros. Em Santa Catarina, ações de um promotor público declaram que há mais
de trezentos Vereadores irregulares no nosso Estado, o que não é verdade. Há um
imenso peso em cima de nós e estamos aceitando tudo isso calados.
Peço à UVB, à União Estadual de Vereadores, às microrregionais, às
Câmaras e, principalmente, a todos os Vereadores que entrem em contato com os
Deputados para fazermos pressão e revertermos esse quadro. Se ficarmos calados,
chegaremos ao ponto de não conseguirmos mais reverter essa situação. Este é o
pedido que faço a todos os senhores e senhoras: vamos nos unir e brigar pelos
nossos direitos. Se não, deixará de existir a classe dos Vereadores em breve espaço
de tempo. Isso não é o que queremos e nem o que a democracia deseja.
Muito obrigado e uma boa noite. (Palmas.)
O SR. COORDENADOR (Waldemar Antônio Lemes Filho) - Com a palavra o
Vereador André Raposo, da Câmara Municipal de Pindamonhangaba, pelo prazo de
três minutos.
O SR. ANDRÉ RAPOSO - Boa noite a todos. Meus cumprimentos ao
Deputado Gonzaga Patriota; ao coordenador dos trabalhos, Waldemar Antônio
Lemes Filho, Presidente da UVB; a todas as companheiras e companheiros
Vereadores presentes, na pessoa de Maria das Graças, a Gracinha, e da Dra. Rita,
do Balneário de Ilha Bela; ao meu companheiro Alexandre Pereira Costa, que é o
Vereador mais jovem da Câmara de Pindamonhangaba.
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Temos um recado para o Deputado Marcos Cintra: vá trabalhar em outra
coisa e deixe de perseguir Vereador. Vá procurar um projeto interessante para
discutir. (Palmas.) Toda vez que apresentam PECs, atrapalham as Câmaras
Municipais. Quando foi apresentada a proposta que resultou na Emenda
Constitucional nº 25, fizemos um estudo na Câmara de Pindamonhangaba e
constatamos que ela prejudicou muitas Câmaras no Brasil. Hoje ela é uma realidade.
Por isso, as palavras de Waldemar Antônio Lemes, Presidente da UVB,
caíram muito bem. Temos de nos unir contra esse pessoal que quer aparecer à
custa de Vereador, que é quem faz a democracia no Brasil, que pisa no barro, que
vai às casas, que está em contato com a população.
Também quero protestar contra a mídia sensacionalista que sempre está
fazendo propaganda contra o Vereador, querendo aparecer à custa do deslize de
um ou outro companheiro. Nós representamos a população. Há gente boa e gente
ruim. A Câmara de Pindamonhangaba também já sofreu processo para a diminuição
do número de Vereadores. É um absurdo o que se faz. Querem interpretar a
Constituição na questão da proporcionalidade. Se para 20 mil habitantes temos nove
Vereadores, como é que para 70 mil habitantes podem ser nove também? E a
questão da proporcionalidade? A própria Constituição não se refere a isso. Ela diz
que o mínimo é de nove e que o máximo é de 21 e acabou. A Câmara tem o poder
de legislar e encontrar o número ideal de Vereadores para a sua cidade.
O Deputado José Carlos Aleluia foi muito feliz quando se referiu à questão do
elitismo. Diminuindo-se o número de Vereadores, haverá elitismo na política
nacional. Não queremos isso.
Antes de finalizar, deixo registrada uma mensagem de Maiakovski:
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“Na primeira noite, eles se aproximam e colhem
uma flor do nosso jardim. Não dizemos nada. Na segunda
noite, já não se escondem, pisam as flores, matam o
nosso cão. Não dizemos nada. Até que um dia o mais
frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua
e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da
garganta. E, porque não dissemos nada, já não podemos
dizer mais nada”.
Vamos nos unir contra esses picaretas que estão aí.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. COORDENADOR (Waldemar Antônio Lemes Filho) - Com a palavra,
pelo prazo de três minutos, o Vereador Elder Alberto Boff, Presidente da Associação
de Câmaras de Vereadores do Oeste do Paraná, aqui representando também a
União dos Vereadores do Estado.
O SR. ELDER ALBERTO BOFF - Nobre Deputado Gonzaga Patriota, Dr.
Waldemar Lemes, nossas saudações. Também saudamos todos os companheiros
da Mesa e os corajosos Vereadores que estão aqui representando os milhares e
milhares de Vereadores de todo o Brasil. Parabéns por essa corajosa e heróica
atitude. Muitos percorreram milhares de quilômetros, como é o nosso caso.
Será que vai surgir uma PEC que tira o salário do Prefeito, do juiz ou do
promotor nas cidades pequenas? Por que não aparece uma PEC propondo a
diminuição do número de Deputados ou a extinção, de repente, do Senado da
República? A principal justificativa, segundo o Presidente da UVEPAR, Edson
Primon, Vereador do pequeno Município de Matelândia, também no oeste do
Paraná, reside no aspecto econômico. Ou seja, as despesas destinadas às Câmaras
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Municipais comprometem os investimentos básicos da administração pública. Por
isso, haveria a necessidade não só de redução da quantidade de Vereadores, como
também de eliminação dos subsídios dos Municípios com até 20 mil habitantes.
Ora, só para citar um exemplo, no Estado do Paraná, o gasto médio com as
Câmaras Municipais equivale a 4% dos orçamentos municipais, muito aquém dos
limites estabelecidos em lei e bem abaixo dos percentuais de corrupção que se
vêem noticiados no dia-a-dia. Talvez não seja essa a intenção contida na proposta,
contudo sua aprovação vai produzir esse efeito. Ocorrerá não só a diminuição do
número de Vereadores, mas principalmente a extinção do Vereador nos Municípios
com até 20 mil habitantes. Se Deus quiser, isso não vai acontecer, porque a emenda
não vai ser aprovada.
Somente os grandes Municípios e as grandes cidades terão o pleno exercício
da representação popular. Nota-se que o autor é de uma grande cidade: São Paulo.
O Vereador está sendo considerado um pequeno Parlamentar, principalmente o do
interior. Pela proposta, o Vereador será excluído ou relegado a plano inferior.
O exercício da democracia não tem preço, não significa dizer que os abusos
não devam ser contidos e que não existam mecanismos para isso.
Para concluir, sugiro à UVB que estabeleça outro tipo de discussão em todo o
País com relação aos Vereadores.
O Poder Legislativo, dos três Poderes — que têm que ser harmônicos e
independentes entre si —, é o mais escrachado, perseguido e humilhado pelos
Tribunais de Contas dos Estados, que nos tratam genericamente por entes políticos
arbitrários. Tudo não pode para as Câmaras. Está na hora de acabar com a
discriminação dos Tribunais de Contas.
Obrigado.
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O SR. COORDENADOR (Waldemar Antônio Lemes Filho) - Gostaria de
registrar que a União dos Vereadores de Pernambuco encaminhou ofício
comunicando que há mobilização de 180 Câmaras Municipais no Estado.
A UVP enviou carta aberta no intuito de que cada um dos Vereadores
pressione seus respectivos Deputados Federais para que retirem suas assinaturas
em benefício da vereança municipal. Passo à leitura da carta:
“A União dos Vereadores de Pernambuco vem
conclamar todos os Vereadores do Estado a fazer uma
mobilização no intuito de barrar a malfadada Emenda
Constitucional nº 375, de 2001, a qual dá nova redação
aos incisos IV e VII do art. 29 da Constituição Federal,
prejudicando os Vereadores do Brasil.
As principais modificações são: a extinção da
remuneração, a diminuição dos Vereadores e a redução
da quantidade de Vereadores, de acordo com o número
de habitantes.
Outrossim, desde já, contamos com o empenho e a
luta de cada um dos Vereadores deste Estado, a fim de
que pressionem seus Deputados abaixo relacionados que
assinaram a referida emenda.
Vereador é o político mais próximo da população.
Vereador João Batista, Presidente da UVP”.
Registramos também o seguinte comunicado de Vereador de Paraopeba:
“Reduzir o subsídio e o número de Vereadores é
um atentado contra a classe política que está mais
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próxima do povo. Não podemos esquecer que 50 milhões
de excluídos do nosso País batem nas portas do
Vereador todos os dias.
União dos Vereadores e mais justiça social no
País!”
O Dr. Francisco Fernandes, da Secretaria de Planejamento de Poços de
Caldas, propõe, em repúdio à emenda, a elaboração de uma carta com a assinatura
de Vereadores presentes.
Este congresso não é um movimento específico dos Vereadores, mas vamos
mobilizar-nos e fazer a redação de documento que deverá sair do Congresso
Nacional.
Com a palavra o Vereador Elinoel de Faro Santos, de Alagoinhas.
O SR. ELINOEL DE FARO SANTOS - Sr. Presidente, Srs. Vereadores, sou
Vereador de Alagoinhas e estou no segundo mandato. Estive em Brasília inúmeras
vezes. Representantes da Câmara Municipal têm viajado pelo País inteiro.
Estivemos também na cidade de Joinville.
No mandato passado, recebemos alguns documentos sobre a Emenda Amin.
Naquela oportunidade, demos a devida atenção, só que outras Câmaras Municipais
do Brasil não se preocuparam, já que na mobilização o número de participantes era
muito pequeno.
Temos que nos fortalecer. Cada um que recebeu cópia da emenda deve
escrever para as Câmaras Municipais. É preciso que nos mobilizemos para levar ao
conhecimento de todas as Câmaras Municipais do Brasil o risco que os Vereadores
estão correndo.
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Em Alagoinhas, vou tentar alcançar todas as 417 Prefeituras da Bahia,
juntamente com meus colegas.
O SR. COORDENADOR (Waldemar Antônio Lemes Filho) - Muito obrigado e
meus cumprimentos.
Concedo a palavra ao Vereador Edésio.
O SR. EDÉSIO - Sr. Presidente, senhores membros da Mesa, Sras. e Srs.
Vereadores, saúdo todos em nome da Vereadora Sônia Regina, que representa a
classe feminina dos Vereadores.
O Sr. José Escobar Cavalcante disse que eu não era mais um Vereador
histórico, mas pré-histórico. Não é à toa que temos algo para contar ao povo que
aqui está. Sempre existiu essa perseguição contra a classe de Vereadores do Brasil.
Querem voltar à oligarquia dominante e fazer com que o Vereador fique preso
aos Prefeitos; querem acabar com os subsídios de Vereadores de Municípios com
menos de 20 mil habitantes e criar dependência econômica.
O Vereador por si só não tem condições de dar assistência legal aos seus
eleitores. Por esse motivo se fazem ameaças à vereança brasileira.
Os Deputados Estaduais recebem subsídio quando tomam posse. No fim de
cada ano, recebem outro, além dos doze que recebem e do 14º subsídio. Não há lei
no País que proíba ou diminua esse subsídio.
O eleitor não vai à casa do Prefeito, do Deputado, do Senador ou do
Governador, mas à do Vereador, de madrugada, de manhã, à tarde e à noite.
Pedimos aos companheiros Deputados que, de forma solidária, retirem suas
assinaturas, para que essa emenda morra antes de ser votada.
As eleições, que se aproximam, normalmente são impostas, de cima para
baixo.
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Agradeço a todos por ouvirem meu desabafo. Peço mais uma vez aos nossos
Deputados que retirem suas assinaturas.
Obrigado.
O SR. COORDENADOR (Waldemar Antônio Lemes Filho) - Com a palavra o
Sr. Romero.
O SR. ROMERO – Senhoras e senhores, sou Vereador da cidade do Cabo de
Santo Agostinho, Pernambuco. Dirigi-me ao Sr. José Escobar, logo após as suas
palavras, dizendo que ele havia roubado minha cena, lido meu discurso e meu
pensamento.
Se as Câmaras Municipais estivessem representadas, multiplicando 5.600
Câmaras por 4 Vereadores, estariam presentes 22.400 Deputados.
Senhoras e senhores, a relação entre Vereador e Deputado começa pelo
Vereador. José Escobar foi muito feliz ao sintetizar, perguntando: "Será que temos o
poder? Será que realmente nos comportamos assim?
Com relação à questão de Pernambuco, dizem que vão reunir 180 cidades e
pediram a cada Vereador que faça pressão junto a seu Deputado. Como vou fazer
pressão junto a Deputado se não sou recebido nem atendido por telefone? Isso
ocorre mesmo agora, quanto o interesse maior é do Deputado. Até onde sei, as
eleições não são para Vereador ou Prefeito, mas para Deputado Estadual e
Deputado Federal.
Tenho dito na Câmara Municipal que o papel do Vereador tradicional,
assistencialista, que tanto faz para prestar serviço à população, será extinto.
Concordo com o José Escobar, que diz que precisamos discutir um novo modelo,
uma vez que o atual está exaurido.
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Com relação a esta emenda, não gostaria de pedir ao Deputado que retirasse
a assinatura, mas que votasse a emenda.
Primeiro, o Orçamento Participativo acabou com 30%, 40% da nossa força.
Depois, os Prefeitos aprovaram as Associações de Moradores e tiraram mais 15%,
20% da nossa força. Depois, criaram no Orçamento Participativo os Conselhos
Consultivos e tiraram mais 15%, 20% da atividade tradicional do Vereador. Depois,
criaram os Conselhos Municipais, que acabaram de jogar por terra o tradicional
trabalho do Vereador.
Resta-nos apenas fiscalizar. Talvez até acabem com a figura do Vereador e,
então, seremos transformados em auditores, fiscais ou contadores.
Na revisão do modelo, na minha opinião, a figura do Vereador tradicional
precisa ser repensada. O modelo acabou, está exaurido. Quanto a ter ou não o
valor, quanto a esse valor ser ou não reconhecido, vai depender de cada um de nós.
Não procuro Deputado para pedir coisa nenhuma. Se o Deputado quiser ter
relacionamento comigo, que me procure para acertarmos as contas. Concordo com
José Escobar em gênero, número e grau. Falar em Poder Legislativo é brincadeira,
piada. Somos submissos. O Poder Executivo manda e desmanda em tudo.
Conclamo a UVB, com sua grande liderança e capacidade de articulação, a
que inicie o movimento de acordo com as palavras proferidas pelo Sr. José Escobar,
a fim de que o modelo de vereador seja repensado e modificado, para que nova
situação seja criada. Da forma como está não seremos valorizados. O princípio do
valor parte da pessoa que quer ser valorizada.
As minhas palavras são as de José Escobar, que roubou minha cena e meu
discurso.
Muito obrigado pela oportunidade.
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O SR. COORDENADOR (Waldemar Antônio Lemes Filho) – Com a palavra o
Sr. Jucimar de Freitas.
O SR. JUCIMAR DE FREITAS – Boa noite a todos. Gostaria que os
Vereadores atentassem para isto, que esta medida não visa só à Casa Legislativa,
mas sobretudo ao Município. No momento em que se afeta o desequilíbrio entre as
Casas Legislativa e Executiva, afeta-se o Município como um todo, enfraquecendo-
o. A Casa Legislativa é necessária ao Município, assim como a do Executivo.
Há de haver paridade, a fim de que o Município se mantenha forte e
solidificado. Portanto, a luta dos senhores não é só contra a Câmara dos Deputados,
mas contra toda a oligarquia, que quer derrubar a prevalência dos Municípios. É
preciso solidificar. Que o Município se fortaleça e represente a entidade como um
todo. Câmara Legislativa e Executivo devem trabalhar juntos para o Município se
fortalecer.
O objetivo é enfraquecer os Municípios, primeiramente por meio da Casa
Legislativa e, depois, por meio do Executivo, retirando-se verbas e engessando o
trabalho.
O trabalho dos senhores é fundamental para o Município se respaldar e se
solidificar.
Muito obrigado.
O SR. COORDENADOR ( Waldemar Antônio Lemes Filho) – Mineiro, registro
que ontem, em Belo Horizonte, recebemos a Medalha do Mérito Municipalista.
Quinhentos Prefeitos e a Associação Mineira dos Municípios aderiram à nossa luta.
A Associação Mineira dos Municípios, por meio da sua diretoria, comunga, junto com
a UVB, desta luta contra a Emenda nº 375.
Tem a palavra a Vereadora Dilcéia Marvila de Oliveira.
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A SRA. DILCÉIA MARVILA DE OLIVEIRA – Senhoras e senhores, sou
Presidenta da Câmara Municipal de Marataízes, Espírito Santo. Nossa Câmara é
composta por 11 Vereadores, sendo que 9 estão presentes. Nosso Município tem 35
mil habitantes e não será atingido pela emenda. No entanto, estamos na luta, porque
Municípios vizinhos vão ser atingidos.
Conheço o Presidente da UVB. Faço-lhe um convite para que nos
organizemos. Sabemos que muitos representantes de Municípios não conseguiriam
vir a Brasília. Que seja organizado documento em âmbito estadual e enviado a todas
as Câmaras, a fim de que possamos nos organizar nos Estados. Com certeza, com
um documento de cada Estado poderíamos ter mais força. Quando marcamos
reunião em Brasília, sabemos que nem todos os Vereadores serão apoiados pelo
Presidente da Câmara Municipal, a fim de que possam participar do encontro. Muitas
vezes, a ausência não ocorre por falta de interesse, mas de condição financeira.
Que seja feito, por meio da UVB, compromisso com os Estados, onde haja União de
Vereadores formada.
Queremos que este encontro não fique perdido no tempo e no espaço,
simplesmente para que alguns depois venham criticar, dizendo que viemos aqui
somente para passear. Não é esse o nosso objetivo.
O SR. COORDENADOR (Waldemar Antônio Lemes Filho) – Com a palavra o
Sr. Jucimar de Freitas Camelo.
O SR. JUCIMAR DE FREITAS CAMELO – Senhoras e senhores, sou
Vereador de Almerim, Pará. Vou fazer uma pergunta ao nosso amigo José Escobar.
Li a justificação da Emenda nº 375, de 2001, que é um absurdo: afirma que o
recurso repassado para os 2.016 Municípios de 20 mil habitantes cria na Câmara
nepotismo. O dinheiro que está sendo gasto com essas Câmaras poderia ir para o
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social. O Sr. José Escobar não falou sobre a justificativa da PEC nº 375/01, em
relação às “privilegiadas burocracias eivadas de nepotismo” e ao “acinte ao Estado
Democrático de Direito”. Será que poderia informar-nos quantos são os assessores
e funcionários de gabinete do autor da PEC? Será que nenhum parente dele é
assessor? O Deputado diz que só Vereador tem parentes e cria nepotismo na
administração municipal.
Congratulo-me com a UVB. Concordo com a Vereadora que me antecedeu.
Há dois Vereadores do nosso Município neste encontro, justamente porque a
Emenda nº 25 nos prejudicou. Se isso acontecer novamente, o Poder que
representamos e exercemos em nosso Município será ainda mais prejudicado.
O SR. COORDENADOR (Sr. Waldemar Antônio Lemes Filho) – Com a
palavra a Vereadora Rita.
A SRA. RITA – Boa noite a todos. Sou Vereadora do Município de Ilha Bela,
que está representada por cinco Vereadores. Na Câmara há treze Vereadores,
sendo três mulheres. Fazemos parte da Associação de Vereadoras do Estado de
São Paulo — AVESP. Essa associação tem praticamente um ano de existência.
Quero, além de parabenizar a Mesa, deixar o nosso posicionamento no sentido de
que temos que começar nosso trabalho de formiguinha, trabalho esse que sabemos
fazer, e muito bem, nos nossos Municípios. Cada um de nós tem que convocar as
Câmaras, junto com outros Vereadores, e pedir que essa emenda seja votada antes
das eleições. Precisamos saber o posicionamento dos nossos Deputados, que só de
quatro em quatro anos estão no Município pedindo a nossa ajuda e, muitas vezes,
não reconhecem o nosso valor. Portanto, temos que fazer pressão e um trabalho de
formiguinha em cima de todas as Câmaras, para que essa matéria seja votada antes
das eleições.
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Esse é o pedido da AVESP. Iremos acionar todas as Câmaras do Estado de
São Paulo. Estamos à disposição da União dos Vereadores.
Muito obrigada por esta oportunidade.
O SR. JOSÉ ESCOBAR CAVALCANTE – Sr. Presidente, quero dizer ao
amigo que pediu para ler a justificativa que a UVB já fez o documento, endereçando-
o ao autor da justificativa, apresentando as repulsas. Precisava houvesse mais
tempo para termos uma conversa mais individual sobre como funcionam as
estratégias. Desculpem-me, mas a grande maioria dos companheiros age com o
emocional. A lógica da votação no Congresso tem um princípio: ganha-se e perde-se
batalha, e há o processo de negociação; senão vamos ter que fazer uma avaliação,
infelizmente, das nossas fragilidades. E, ao fazê-la, vamos entender por que não
temos força. Não é o Deputado que não respeita o Vereador; é o Vereador que não
respeita a si mesmo. É diferente. Na hora em que tivermos essa consciência, isso
não acontece. Já aconteceu? Então, dos males o menor: como vamos agir, qual a
estratégia desenhada? Como buscar aqueles que apoiam, sem fazer disso um
cavalo de batalha, para que a opinião pública aumente o poder de pressão na
imprensa? Acabei de dizer, mas as pessoas não entenderam, que não é mais o
Deputado que está usando a mídia para condenar o salário do vereador de cidade
de 20 mil habitantes; são os empresários, que pagam a mídia brasileira, que
sustentam isso. Precisamos fazer algumas ações de simpatia com a população, de
envolvimento.
Na sexta-feira estávamos na cidade de Aracaju criando um departamento de
reforma agrária para a UVB, para que ela, juntamente com os Vereadores
brasileiros, discuta a questão da reforma agrária e se envolva nessa luta. Por que
deixamos o MST tomar uma bandeira que é obrigação do Vereador? Quantos no
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MST tiveram voto para representar o povo? Nós tivemos, e o que fizemos? Temos
que entender isso; senão esse jogo de cena vai trazer um modelo de morte. Ou seja,
pode matar essa emenda agora, mas que não se mate a intenção. Morre essa, vêm
outras. Se não mudarmos a forma de agir e ganhar como aliado o povo, num debate
fraterno, político, de envolvimento nos grandes temas nacionais, e até ganhar a
mídia, ou pelo menos deixá-la um pouco mais neutra, estaremos malhando em ferro
frio.
Se conseguirmos votar essa matéria antes, parabéns para nós. Infelizmente,
o Congresso Nacional não vai votar; ele está praticamente parado, e vai votar
somente aquilo que negociar a peso de político forte com o Presidente. Eles não
estão nem aí, vão se envolver mesmo é com a campanha, até para nos dizerem que
não votaram contra, até para terem motivo para respirar! Nesse caso, seria
necessário aquele trabalho no âmbito do Estado, buscar nele o envolvimento. Não
adianta uma Câmara de Vereadores mandar um pedido aos 500 Deputados, pois o
que vamos atingir é somente o Deputado com o qual tivermos alguma ligação. Um
companheiro disse, com propriedade: “Ninguém está me procurando. Talvez não
estejam procurando ninguém da minha Câmara.” Então, ela tem que se aliar à outra
e fazer o movimento. Infelizmente, somos nós que estamos precisando que essa lei
seja votada. O companheiro perguntou por que eles não votam o fim do salário do
Deputado. É muito simples: porque é o Deputado que vota. Se fôssemos nós que
votássemos o salário deles, talvez eles estivessem nos pressionando. É uma
questão de entender a lógica. Às vezes, determinados argumentos não funcionam.
Concordo com a Vereadora: a estratégia é essa. Quero responder ao
companheiro que a justificativa não merece de nós nenhum tipo de comentário, que
se trata de uma pessoa que não conhece vida política. Parece-me que essa pessoa
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esqueceu que um dia foi Vereador; e, se o foi, odiou tanto sê-lo que está retaliando.
Lamentavelmente, ainda não temos consciência. O Deputado Nicias Ribeiro já teve
três Legislaturas de Deputado Federal. Sua única bandeira é acabar com o salário e
o número de Vereadores. S.Exa. vai à televisão dizer isso, dispensando voto de
Vereador. Por que faz isso? Porque perdemos um pouco da nossa sintonia, do
representante com o representado. Se voltarmos a ter essa confiança, ninguém se
atreverá a falar de nós ou a nos desafiar.
Muito obrigado.
O SR. COORDENADOR (Waldemar Antônio Lemes Filho) – Vereadoras e
Vereadores, amanhã, às 9 horas, continuaremos o debate.
Ao encerrar o presente debate, quero pedir a todos que fiquem atentos às
atuações e à mobilização da União dos Vereadoras do Brasil. Quando falarmos em
fazer uma grande marcha, procurem regionalizar essa mobilização. E venham, de
ônibus, de carona ou de qualquer jeito, porque a presença física do Vereador vai ser
importantíssima. Que Deus nos abençoe e que continuemos a ser realmente
Vereadores!