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DE MÚSICA A CULTURA: Análise de como o documentário Metal: A Headbanger's Journey trata a cultura do heavy metal

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Rafael Igor Rocha Costa

DE MÚSICA A CULTURA

Análise de como o documentário Metal: A Headbanger's  Journey trata a culturado heavy metal 

Belo Horizonte

Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH)2011

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Rafael Igor Rocha Costa

DE MÚSICA A CULTURA

Análise de como o documentário Metal: A Headbanger's  Journey trata a culturado heavy metal

 

Projeto de monografia final de curso apresentado ao curso deJornalismo do Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH)como requisito parcial para aprovação na disciplina ProjetoExperimental em Jornalismo.

Orientador: Murilo Gontijo

Belo Horizonte

Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH)

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................05

2 A CULTURA DE UMA SOCIEDADE..................................................................................07

2.1 Definição de cultura ...............................................................................................................07

2.2 Cultura e identidade ...............................................................................................................08

2.3 A identidade do heavy metal ...................................................................................................10

3 UM NOVO PONTO DE VISTA.............................................................................................14

3.1 A história do cinema ..............................................................................................................14

3.1.2 A evolução do cinema .........................................................................................................15

3.1.3 O cinema e o documentário no Brasil.................................................................................17

3.2 O documentário ......................................................................................................................18

3.3 A analogia entre documentário e jornalismo .........................................................................22

4 ANÁLISE DE UM DOCUMENTÁRIO................................................................................26

4.1 Apresentação...........................................................................................................................264.2 Análise quantitativa................................................................................................................27

4.3 Análise qualitativa..................................................................................................................29

5 CONCLUSÃO..........................................................................................................................40

REFERÊNCIAS..........................................................................................................................42

ANEXOS......................................................................................................................................45

Anexo A –  Metal: a headbangers journey ..................................................................................45

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1 INTRODUÇÃO

A presente pesquisa tem como objetivo desenvolver uma reflexão sobre a representação do

heavy metal como cultura a partir do documentário  Metal: a headbangers journey, lançado no

ano de 2005, no Canadá, pelos diretores Sam Dunn, Scot McFadyen e Jessica Wisemostra. O

filme tem a proposta de estudar o motivo de o heavy metal causar tantas reações opostas e ser 

caracterizado como música do diabo. O documentário pretende mostrar a representação do

metal como cultura, um gênero que é levado pelos fãs a sério indo muito além de uma mera

música. Também propõe discussões sobre os temas mais controversos no estilo religião e

satanismo.

O primeiro capítulo da pesquisa trata da criação da cultura, dividida em três tópicos. O primeiro

é o estudo para compreender o que é a cultura. Para assim, entender o termo, e como o heavy

metal pode ser representado como cultura. E como a cultura se expande, não se limitando mais

apenas ao espaço geográfico, como era no passado. O segundo tópico, Cultura e identidade

 pretende entender como o meio cultural determina comportamentos e leva à criação de grupos e

tribos. Os principais fatores seriam a cultuação ao corpo, vestimenta e sentimento

compartilhado. O último tópico do capítulo estuda a identidade do heavy metal . Primeiro realizaum estudo da origem do termo, onde foi primeiramente utilizado e quando foi designado para o

estilo musical. Em seguida discutir que este estilo é mais do que apenas música, é uma filosofia

de vida para os fãs.

 No segundo capítulo explica-se o que é um documentário, quais suas características e a sua

evolução ao longo dos anos. No primeiro tópico, estuda-se a história do documentário, desde a

sua origem na França, com os irmãos Lumière, até os dias de hoje, com as mudanças por queeste estilo de filme passou. Este capítulo é divido em três tópicos, o último trata de mostrar o

contexto social do documentário no Brasil.

Já o terceiro capítulo trata de fazer uma análise sobre o documentário  Metal: a headbanger´s

 journey. O primeiro tópico é uma apresentação do documentário, com ficha técnica, diretores,

origem, ano de lançamento, duração, dentre outros. Além de resumir do que trata o

documentário. O segundo tópico é uma analise qualitativa do filme. Exemplificando todos os

tópicos em que Metal é dividido, com todas as fontes entrevistadas é um breve resumo do que

acontece em cada um. Por último, a análise qualitativa que fica responsável por conceituar a

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questão de tribos, formação de grupos, cultura e a identidade do heavy metal, de acordo com os

temas discutidos por cena.

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2 A CULTURA DE UMA SOCIEDADE

2.1 Definição de cultura

Desde o início dos tempos, o homem está inserido em grupos, sendo que, no passado, o

 principal fator para a formação desses grupos era o compartilhamento geográfico, com cada

cultura tendo sua característica própria, linguagem, visão do mundo, gestos, modo de agir. A

cultura influencia o comportamento social que diversifica enormemente a humanidade. De

acordo com Laraia (2001), é em 1871 que o termo cultura surge na França, se desenvolvendo

nas manifestações iluministas até os tempos modernos. No país das luzes, se referia às

realizações materiais de um povo, já na Alemanha simbolizava os aspectos espirituais de umacomunidade.

Ainda tratando do termo, Edward Burnett Tylor foi o primeiro a empregar a palavra “cultura”,

em 1877, para designar todos os produtos comportamentais espirituais e materiais da vida social

humana. Para Mintz (2010), os sentidos mais antigos e restritos desse termo foram perdendo

terreno. Entre os sentidos mais antigos da cultura, se destacam dois que sobreviveram com

algumas modificações. O primeiro é que em determinadas sociedades algumas pessoas possuem

cultura, e outras pessoas não. O outro se refere ao conceito, um pouco diferente, de que certas

sociedades possuem cultura, enquanto outras não. Para o autor, essas ideias são opostas, pois a

 primeira cria diferenças de grau e a segunda, de espécie.

“No primeiro caso – a sociedade na qual as pessoas que possuem cultura distinguem-se dasque não a têm – a linha divisória é estabelecida usualmente entre discurso apropriado einapropriado, comportamento apropriado e inapropriado, e contrastes similares. Cultura,nessa visão, seria um conjunto formado por nascimento, posição social, educação e criação,que se traduziria em idéias e comportamentos; seria portanto também uma questão de

 privilégios. No segundo caso – sociedades com cultura, e sociedades sem cultura – a culturaem si era vista como o produto de certas peculiaridades da história do grupo.” (MINTZ,2010, p:224)

O autor avalia que seria sorte de algumas sociedades possuírem a cultura, pois ela só poderia ser 

atribuída ao gênio de seus portadores, a alguns heróis míticos, a uma divindade benigna.

Segundo Mintz (2010), a diferença nestes dois significados assentava-se em estabelecer se a

cultura poderia ser transmitida às sociedades cujos membros não a possuíam e também para

aquelas sociedades em que apenas alguns membros possuíam valores culturais.

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Laraia (2001) diz que as culturas são sistemas que definem o comportamento e servem para

adaptar as comunidades humanas aos seus embasamentos biológicos. A cultura é uma cadeia

que inclui os conhecimentos, as crenças, a moral, a linguagem, a lei e os costumes. O autor 

afirma que o comportamento cultural não depende da transmissão genética, mas da transmissão

 por antepassados e aprendizados culturais.

Segundo White, citado por Laraia (2001), "todo comportamento humano se origina no uso de

símbolos. Foi o símbolo que transformou nossos ancestrais antropóides em homens e fê-los

humanos" (LARAIA, 2001. p.55). Assim, só foi possível que as civilizações se espalhassem e

 perpetuassem pelo uso dos símbolos, sendo que cada cultura depende de símbolos. É o

exercício da faculdade de simbolização que cria a cultura e o uso de símbolos que torna possívela sua perpetuação. Para perceber o significado de um símbolo é necessário conhecer a cultura

que o criou. Por exemplo, o preto na cultura brasileira significa o luto, já para os chineses é a

cor branca que exprime tal sentimento.

O ato de uma determinada sociedade é explicado dentro do padrão por ela mesma concebido e

multiplicado. Assim, pessoas com costumes distintos vivem particularidades culturais. O modo

de ver o mundo, questões de valores e moral são produtos de uma herança, de uma determinadacomunidade, ou seja, indivíduos de culturas diferentes podem ser facilmente identificados,

 podendo questionar e não aceitar outras. Laraia (2001) enfatiza que a cultura é dinâmica ao

 ponto do homem poder questionar e modificar seus próprios atos.

Portanto, o homem é o único ser que pode ser considerado possuidor de cultura, pois ele,

diferente dos animais, não tem comportamentos predeterminados apenas biologicamente.

Inserido na cultura, o homem perde as características animalescas, de ações geneticamentedeterminadas e passa a agir de acordo com a moral e a ética de sua sociedade.

2.2 Cultura e identidade

Como foi abordado no tópico anterior, a cultura se caracteriza como um conjunto de regras,

moral e modo de agir de uma sociedade. No passado, era determinada pela posição geográfica,

 permitindo apenas pessoas que se encontravam no mesmo espaço participar de uma cultura e ter 

seus fundamentos de acordo com ela. Porém, atualmente é possível que indivíduos que vivem

em extremos geográficos tenham a mesma cultura. Esses grupos são denominados de tribos na

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sociedade contemporânea, não como indígenas, mas como comunidades (usualmente urbanas),

que não se restringem ao compartilhamento de um espaço físico em comum para se integrarem.

Hoje, pessoas que estejam em locais completamente distintos e afastados podem fazer parte de

um mesmo grupo, partilhando os mesmos sentimentos e mesmas experiências de vida. Portanto,

época e lugar não são mais as bases para a criação de uma cultura da sociedade. Independente

do lugar onde residem as pessoas, novas tribos e culturas podem ser criadas.

Com isso, os grupos são integrados na vivência, na paixão e nos sentimentos comuns em uma

 perspectiva global. Assim, o homem passa a fundar um novo mundo, e a transformá-lo

continuamente. Ao longo de sua história, o indivíduo sente que é necessário estar ligado a uma

cultura, não podendo viver isolado, tornando-se um corpo carregado de ideias sociais e sematerializando nele.

 Na união cultural contemporânea, os indivíduos valorizam a perspectiva ecológica, a estética, a

atividade política, a cultuação do corpo, a aparência, os modos de vida, sentimentos, emoções e

ideologia. Atualmente, os indivíduos se juntam a um grupo por meio da preocupação com um

 presente vivido coletivamente, em que as pessoas tenham as mesmas experiências e gostos,

formando laços sociais fortes em que compartilham a emoção. Assim o emocional eexperiências vividas tornam-se fatores essenciais para a formação de um grupo. O cotidiano

 passa a servir como um “cimento” de todas as representações.

A socialidade se dá pela empatia, ela se liga aos afetos e à ação. Portanto, as comunidades

emocionais se dão a partir de processos de empatia que compõem um paradigma estético que

Maffesoli (1998) designa como ética da estética. A desindividualização das pessoas é uma

saturação do papel que cada um representa dentro da sociedade. Isso ocasiona um conjunto deideias, preocupações impessoais e estabilidade da estrutura que supera as particularidades dos

membros que, compartilham dos mesmos sentimentos do grupo. Com o surgimento dos

microgrupos, a população se apoia numa lógica de identidade, e é assim que acontece a

saturação do papel de cada pessoa na sociedade, encontrando apenas nas tribos sua estabilidade.

Assim, ao indivíduo simples é atribuída uma "multiplicidade de facetas", podendo perceber as

máscaras que os homens podem utilizar diante de situações representadas em conjunto, e

 participar de cada grupo existente. Essa metáfora é a demonstração do aspecto da indecisão da

sociedade. Uma das características fundamentais das tribos, onde tudo é, principalmente,

fundamentado no sentimento partilhado entre os membros.

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Segundo Maffesoli (1998), o poder que a política, publicidade e televisão exerce sobre as

 pessoas colabora para o processo de desinvidualização. A participação dos valores coletivos e a

retração do indivíduo estão vinculados à importância creditada à vida cotidiana, e é justamente

nisso que acontece a multiplicação dos pequenos grupos.

Assim, as diversas aparências que surgem, como o " punk ", “emo”, “metaleiro”, dentre outros,

exprimem muito bem a uniformidade e conformidade dos grupos, uma das constantes no

espetáculo que as megalópoles de hoje oferecem. Segundo Maffesoli (1998), as tribos

desenvolvem-se, primeiro, pela experiência vivida. O costume é um dos eventos que guiam para

caracterizar a vida cotidiana dos grupos contemporâneos. Este tem a mesma função para ocotidiano como o ritual na vida religiosa.

Para Maffesoli (1998), o culto ao corpo é uma forma de inserção nos grupos e criações de

tribos, caracterizando-se na vestimenta, nos cabelos multicoloridos e outras manifestações,

servem de cimento para a cultuação do corpo, que não passa apenas de um jogo de aparência.

Os indivíduos devem ter expressão dentro de uma cena devem estar inscritos nesses parâmetros.

Essas características de um grupo podem ser entendidas como um ritual que é uma maneira detrazer à tona suas opiniões, por meio das roupas, cabelos e maquiagens.

2.3 A identidade do heavy metal

Controvérsia e imprecisão reinam absolutas quando o assunto é a origem do termo heavy metal.

Antes de ser implantado na música, o termo já era utilizado nos anos de 1930, para denominar 

armas de longo alcance e precisão, porém, segundo o Dictinary of Word and phrase origins, sereferia a veículos de guerra. A associação com a música aconteceu pela primeira vez com a

 banda canadense Steppenwolf, com a frase “I like smoke and lightining, Heavy Metal thunder,

Racing’ With the Wind...”, em um dos clássicos “Born To Be Wild”, que, segundo Janotti Jr.,

foi utilizada no filme  Easy Rider , relatando o universo metálico, ligando o gênero aos

motociclistas.

Fora o termo, o heavy metal como estilo só surgiu no final dos anos de 1960, com os ingleses

do Black Sabbath. Suas músicas consistiam em guitarras altas, explorando dimensões sonoras

únicas, com guitarras pesadas e linhas de baixo potentes, fazendo riffs barulhentos, rápidos e

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versáteis. Indo na contramão da cultura hippie e avesso ao movimento “Flower Power”, a

 banda inglesa foi a precursora do gênero no mundo, criando um estilo próprio e tipicamente

urbano, por muitas vezes expor o ambiente industrialista em que viviam. Assim, Christe (2010)

diz que os criadores do gênero eram “profetas criados à margem da sociedade inglesa,

desempregados, socialmente desprezíveis e, ainda, moralmente suspeitos.” (CHRISTE, 2010.

 p.13), sendo essas “características” levadas muito a sério pelas novas bandas e seguidores que

viriam a surgir no cenário.

O rock n’ roll não é caracterizado somente pela heterogeneidade musical e estilística. Os fãs

diferem radicalmente entre si apesar de ouvirem o mesmo tipo de música, porém de distintas

vertentes. Os seguidores de cada subgênero utilizam a música com diferentes propósitos e dediferentes modos, possuem fronteiras diferenciadas para definir não só o que ouvem, mas

também o que é incluído na categoria de metal. O rock criou modos de expressão que estavam

longe do alcance da autoridade do mundo adulto, os primeiros passos da ligação entre o que é

rock e a ideia de rebeldia por alternativas que eram consideradas espaço de trabalho e lazer. Em

todos os pontos do planeta, o rock acabou provocando uma reformulação não só da geografia

cultural como dos valores da música. Depois do sucesso da ideia, todas as bandas do final da

década de 1960, desejaram a honra de ser a criadora da expressão.

Tratando de temas que não eram de costume para as bandas daquela época, de acordo com

Christe (2010), o heavy metal surge para trazer à tona as mais profundas mazelas da história

que passam a ser retratadas nas letras das músicas que se revolviam nesse inquieto limbo, onde

tudo era acinzentado, fumacento, escuro e sagrado. Essas poderosas correntes estavam

adormecidas até que a guerra, a crise e a angústia pudessem despertar e trazer à tona seus mais

horrendos poderes. Que não emitiam som até serem capturados pela primeira banda de heavymetal: Black Sabbath.

Com a mesma intenção de um filme de terror, o heavy metal passou a ser considerado a

“música do terror”, abordando temas como ocultismo, sobrenatural, guerra, magia negra e

satanismo. Segundo Christe (2010), apesar da morbidez em seus temas, as músicas eram

delicadas e fortes ao mesmo tempo. O Black Sabbath lançou, portanto, um estilo não só musical

como também cultural, em que as pessoas se ligavam, por meio de roupas pretas, cabelos

compridos e ideologias que fugiam do padrão, de acordo com o subgênero de que gostavam.

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O estilo revolucionário da década de 1960 serviu para “relaxar” e tornar o comportamento mais

liberal em relação às drogas, ao sexo e à gloria orgiástica. Christe (2010) analisa o rock como

um bastião da rebeldia jovem e que estava rapidamente tornando-se o estilo de vida desejado, e

a classe média conservadora não sabia como lidar com isso. De acordo com Leão (1997), o rock 

criou uma fama de mau e transviado, por inspirar a rebeldia numa geração que antes vivia

rodeada de ídolos que não falavam a sua linguagem, pelo visual diferente que inspirava seus

seguidores e admiradores, com o predomínio do preto.

Para Janotti Jr. (2004), de algum modo, a música potente e distorcida, que é o metal, fala de

sentimentos e angústias que sentem os jovens, mas que não sabem como expressar. E são

 bandas do gênero que falavam desses sentimentos, que fazem com que as pessoas participem deum mundo, em que se misturam amizade, sonhos e valores comuns. Portanto, para o autor, ser 

fã de um gênero tão adorado, significa colocar para fora parte de confusos sentimentos de

adolescentes diante do mundo, entrando nele ou em seu lugar.

A partilha dos sentimentos que envolve as músicas, o vestuário, as letras e histórias domundo metálico parecem estar situadas fora das amarras das culturas locais, mas, ao mesmotempo, são enriquecidas pelas suas contrapartidas regionais, que envolvem não só osmúsicos locais, como relatos pitorescos das farras e vivência dos fãs em relação à

especificidade desses cenários. (JANOTTI JR. 2004. p.16)

Segundo Leão (1997), o heavy metal, antes de música, é atitude, um estilo de vida e filosofia.

Funciona como um espaço em que os jovens partilham sentimentos, frente às incertezas do

cotidiano familiar, escolar e profissional, ou seja, aos espaços normativos da sociedade. E há

muito deixou de se caracterizar apenas pelo tipo que se convencionou chamar por aqui

 pejorativamente de "metaleiro". Leão (1997) descreve a evolução dos metálicos de hoje tanto

no visual quanto na música. Há várias "tribos" e facções dividindo o terreno do metal, e nem

todas se misturam. Por outro lado, existem facções fortes e radicais dentro do heavy metal que

são muito conservadoras e não admitem certas modernidades, como também seguidores

rebeldes que cada vez mais se levantam contra o estabelecido e o conservador.

 Na década de 1980, com a criação dos subgêneros do metal, algumas bandas passaram a focar-

se em temáticas como sonhos juvenis com mulheres, dinheiro, fama e outros continuavam no

caminho sombrio e de terror. Com isso, o cenário metálico acaba se fragmentando,

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consequentemente criando novas vertentes. O black metal 1 passa a ser o gênero que mais atrai a

atenção dos headbangers, estilo que mistura a musicalidade death com temas satanistas,

atacando diretamente os valores judaico-cristãos. A marca dessas bandas e fãs é a adoção de

maquiagem preta e branca, roupas mais sombrias, braçadeiras e caneleiras com pregos. “Os

rockeiros mais extravagantes respondiam à indignação cívica indo além dos limites do bom

gosto e elevando o fator medo”. (CHRISTE. 2010 p.31). Do outro lado, existe o  glam metal 2, o

qual se vale de roupas de seda e maquiagem feminina. Em contraponto, surgiu o doom metal 3,

que retrata temas ligados à depressão e à angústia existencial.

Atualmente, o heavy metal  pode ser musicalmente, qualquer coisa. Do trash-speed metal  ao

death, do  grunge ao industrial-metal , passando pelo  glam,  funk metal etc. Acompanhando osom, o visual das tribos seguidoras também mudou e a vestimenta antiga, jeans rasgado e

roupas apenas pretas, deixou de ser usada. O headbanger  admite, hoje, cor em seus trajes e o

cabelo comprido pode ser apenas um detalhe. Claro que as camisetas pretas ainda prevalecem.

Ainda de acordo com Janotti Jr (2004), o gênero musical não apenas criou uma expressão que

estava longe do alcance da autoridade do mundo adulto, mas senão que o primeiro passo está na

rebeldia, que boa parte dos jovens adotou no pós-guerra.

3 UM NOVO PONTO DE VISTA

3.1 História do cinema

1 Black metal, estilo mais sombrio e agressivo que tem como temas principais o satanismo e o paganismo.2

Glam metal é um subgênero do heavy metal, que teve seu apogeu na década de 1980, no qual as bandas apresentavam uma aparência andrógena, valorizando cabelos longos e o uso de maquiagemfeminina.3 Doom metal se caracteriza por criar uma atmosfera de escuridão e melancolia.

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A necessidade de documentar os momentos e movimentos é quase um instinto do homem sendo

que pinturas e desenhos funcionavam nos primórdios como registro dos acontecimentos. Para

dos Santos e da Costa (2009), o registro das imagens é importante, pois faz parte dos sentidos,

crenças e imaginação da humanidade. Portanto, as imagens são atos para perceber a realidade e

de entreter sem a preocupação de mostrar o real, é uma maneira de conhecer a relação entre o

homem e o mundo. Para os autores, fazendo uma análise das imagens, é possível compreender 

mensagens visíveis, tendo o apelo das evidências a intenção de persuadir.

Os primeiros filmes produzidos pelos pioneiros da fotografia em movimento eram registros

documentais das atividades urbanas da época, como o final do expediente numa indústria, o

 balanço das folhas das árvores pelo vento, funerais, ou a chegada de um trem na estação.Durante toda a história do cinema no século XX, o filme de atualidades se fez presente, em

 produções como os cine-jornais, filmes institucionais, registros de expedições e contecimentos

históricos e outras documentações. Porém, de acordo com Altafini (1999), as primeiras imagens

cinematografadas na história foram realizadas no final do século XIX, na França, pelos

descobridores desta técnica, os irmãos Lumière.

Mas é o século XX que marca a consolidação do cinema. Para dos Santos e da Costa (2009), a partir daí o modo de vida, costumes e hábitos das pessoas são veículados no cinema e demais

mídias para todo o mundo. Com isso, documentários e filmes ganham o poder criar realidade e

ficcção por meio das câmeras e representá-las nas telas, sendo uma forma mais rápida e fácil de

conhecer um país ou uma realidade social.

Ao longo dos anos, o cinema transforma-se em uma das formas de arte que mais se expandem.

Transforma-se em um meio de comunicação bastante influente que pode atuar como uma poderosa ferramenta de disseminação de práticas sociais, culturais e políticas. Atua como

espaço de representações, de referência para construção de identidades.

Durante a evolução do cinema, duas vertentes se destacaram por meio da teoria da montagem

cinematográfica.Para Canelas (2010), com essa técnica foi possível distinguir as principais

funções da montagem, que, desde o século XX, opuseram as duas grandes tendências

ideológicas, a montagem narrativa, desenvolvida pelos norte-americanos Edwin Porter e David

Griffith, e a montagem como produção de sentido, teorizada pela escola soviética, por Lev

Kulechov, Vsevolod Pudovkin, Sergei Eisenstein e Dziga Vertov. Entre 1917 e 1920, as ainda

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não consolidadas repúblicas socialistas soviéticas mergulharam numa dura guerra civil. Os

futuros protagonistas do cinema começavam suas carreiras nas filas do Exército Vermelho.

Como os estúdios foram destruídos na revolução russa, grandes donos do cinema russo

deixaram o país, com isso o estado teve que reinventar a atividade cinematográfica e ficar à

mercê das disputas políticas, ao comprar equipamentos e reorganizar a produção, distribuição e

exibição. Com isso, criou uma geração de cineastas que revolucionariam o cinema para sempre

Teoricamente todos os filmes são montados, mas essa ideia propriamente dita só surgiu com a

libertação do papel da câmera de espectador, de apenas presenciar e reproduzir o que está sendo

 passado pelo filme. Desde o surgimento do cinema, em 1895, até cerca de 1903, os filmes eram

gravados a partir de um único lugar, o do espectador. A função de completar os planos, dandosequência cronológica à história narrada era do técnico de montagem.

3.1.1 A evolução do cinema

O cinema, assim como qualquer outra atividade, passa por evoluções. A cinematografia

acompanha o desenvolvimento da sociedade, da tecnologia e das necessidades sinestésicas das

audiências. Izzo (2009) avalia que esse processo evolutivo segue uma trajetória ascendente noque diz respeito à velocidade. Com o passar dos anos e com o aperfeiçoamento das técnicas, os

filmes mudaram e o modo de apreciá-los também mudou. Para o autor, hoje existe um

 predomínio da multiplicidade de informações visuais.

Cada momento da história tem sua característica linguística peculiar, gerando um novo estado

 perceptivo, que se desdobra em outro modo de contemplar. Para o autor, a “dinâmica da

memória é ilimitada e a capacidade evolutiva da tecnologia e da sociedade é constante” (IZZO,2009 p:2). Cada estágio evolutivo reclama outros estágios, criando novas e diferentes

 perspectivas. A inovação no cinema passa a ser um processo de constante busca pela

originalidade.

 

Dado o fato de que hoje existe um predonínio da interatividade e multiplicidade da informação,

Izzo (2009) observa que acontece um desaparecimento da linha estética. Com isso o surgimento

da internet, publicidade, histórias em quadrinhos, televisão e outros veículos de comunicação

ampliou a diversidade que a pessoa pode encotrar no cinema. Hoje, todo o processo de um filme

 pode ser acompanhdo por meio da internet e televisão, desde as cenas de gravação até o produto

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final. Na internet, blogs são criados, fotos disponibilizadas, e vários outros recursos a fim de

 promover a obra. Para o autor, um longa-metragem estreia já quase sem significados e

expectativas,

Com esses avanços tecnológicos, no século XXI, o imediatismo, principalmente da informação

 passa a ser fundamental, acontecendo um desejo da perspectiva do tempo real. O efeito dessa

nova realidade modificou os filmes e o próprio modo de fazer cinema. O tempo da velocidade

 predomina, em que a imagem precisa se explicar no momento e precisa entregar-se ao presente,

 pois tudo é passageiro e requer mais atenção. O cinema, como não poderia ser diferente,

assimila a velocidade e a multiplicidade de informação. Para Izzo (2009), os novos aparatos no

mundo do cinema fazem com que ele seja multifacetado, dinâmico e promove inovaçõestécnicas, moldando o próprio filme e o espectador. Com isso, as obras cinematográficas trazem

 personagens mais complexos, mais brutais, dotados de dramas mais palpáveis. São dotados de

mais realismo e de fraquezas, defeitos e qualidades bem delineadas, bem próximas da realidade.

Devido ao imediatismo, o homem passa a se acostumar com o bombardeio de informações, o

que reflete nos filmes tentando sempre abordar o tempo, sendo mais rápidos e dinâmicos.

Segundo Izzo (2009), essa maneira de fazer cinema o deixou mais cínico.

Com o passar dos anos, novas possibilidades foram surgindo e afetando diretamente a ideia dos

diretores em como escrever e narrar uma história. Com o desenvolvimento constante das lentes,

câmeras e equipamentos, as imagens são usadas e geradas com parâmetros de perfeição cada

vez mais elevados. O avanço tecnológico da computação gráfica proporcionou ao mundo dos

cinemas que os criadores se libertassem das amarras técnicas. Hoje, com bom orçamento, quase

tudo pode ser feito. Há uma nova ordem estética em curso, em que o uso dos efeitos especiais e

utilização de computação gráfica ditam novas tendências e suscitam o debate: o realismo daimagem em contraposição ao universo digital criado para mimetizar a realidade. Essa nova

tendência pode ser notada, principalmente nos longas-metragens inspirados em histórias em

quadrinhos. Para atender às exigências formais deste gênero específico, o cinema rompeu com

os conceitos tradicionais de filmagem e criou novos aparatos técnicos.

3.1.2 O cinema e o documentário no Brasil

Segundo Altafini (1999), a primeira filmagem realizada no Brasil, aconteceu em 19 de julho de

1898, por Afonso Segreto, irmão de Paschoal Segreto, dono de salas de cinema e teatro e um

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dos maiores promotores de entretenimento do Rio e São Paulo na época, sendo que os próprios

donos das salas de projeção começaram a produzir as filmagens. O primeiro plano

cinematográfico realizado no Brasil flagra a entrada de um navio na Baia de Guanabara, Rio de

Janeiro. Depois desta primeira experiência, os irmãos começaram a registrar regularmente os

acontecimentos cívicos e a elite brasileira.

Com o advento da televisão, os documentaristas puderam encontrar um suporte mais adequado

ao gênero que nunca teve muita popularidade nas salas de exibição. A partir da década de 1980,

surge na Europa e EUA canais de televisão, principalmente a cabo, especializados em

documentários e também canais convencionais que começaram a se interessar pelo gênero.

A partir de meados da década de 1990, com a introdução do sistema de televisão a cabo no

Brasil, os cineastas documentaristas brasileiros aproveitaram para desfrutar do espaço da

televisão como destino de suas produções com o surgimento também de canais especializados e

a maior possibilidade de venda de produções para canais estrangeiros. Apesar deste crescimento

de mercado e espaço para o documentário, poucos trabalhos teóricos são realizados no sentido

de conceituar as formas de linguagem deste gênero, e muito menos sobre suas reais

 possibilidades. No Brasil, o documentário juntamente com o cinema ficcional de curtametragem sempre teve o papel de escola para cinema. Porém, pode-se encontrar grandes

diretores brasileiros que se especializaram no gênero ou que continuaram produzindo-o mesmo

depois de consagrados, por exemplom Humberto Mauro, Eduardo Coutinho, Geraldo Sarno,

Vladimir de Carvalho, Leon Hirzman, João Moreira Salles, Aurélio Michiles, Ricardo Dias,

dentre outros.

Para dos Santos e da Costa (2009), o cinema brasileiro passa a ser também um mecanismo de

comunicação, propagando a imagem e cultura do país, não só para o povo brasileiro, comotambém para o mundo, bem como traz imagens de outros países para a terra tupiniquim. Os

filmes produzem sentidos sobre as nações, constroem identidades. Assim, imagens e

representações sobre o Brasil são constituídas através das cenas dos filmes, como acontece com

“Central do Brasil” (1998, Walter Salles), “Tropa de Elite” (2007, José Padilha), dentre outros.

Para os autores, o diferencial do cinema brasileiro é de justamente destacar a identidade

nacional.

3.2 O documentário

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O documentário é definido pelo contraste com o filme de ficção. Para Nichols (2005), o

significado do termo não pode simplesmente ser reduzido a um verbete de dicionário. O gênero

 pode ser tratado como a representação da realidade do mundo em que vivemos. A prática de

cada documentário apresenta um conjunto de características diferentes, sempre buscando

abordagens alternativas dos outros produtores. Com isso, os documentaristas tentam representar 

o mundo histórico. De acordo com o autor, os documentários não têm um padrão ou estilo

 predefinidos, não adotam um conjunto de técnicas ou proporcionam apenas um conjunto de

formas ou estilo.

De acordo com Nichols (2005), o documentário estabelece um forte vínculo com o mundo

histórico, para poder mostrar e acrescentar uma nova dimensão à memória popular e à históriasocial. O documentário se faz por três maneiras. A primeira é oferecer um retrato do mundo, da

maneira que as pessoas conhecem, mostrando histórias ou depoimentos e possibilitando mudar 

o modo de ver aquele mundo. A segunda maneira é de relatar interesses de terceiros, agindo

como representantes públicos. E, por último, os documentários representam o mundo como uma

 pessoa defendendo os interesses de seus clientes. Assim, a voz do documentário é o meio para

estabelecer um novo ponto de vista para as pessoas. A ponto de defender uma causa, apresentar 

um argumento. Para Penafria (1999), ele deve ser entendido como um ponto de vista,construindo argumentos sobre o mundo. Os documentários têm a intenção de persuadir ou

convencer, pelo poder de seu argumento. A autora propõe que o estilo deve aprofundar os

assuntos discutidos, a fim de promover a discussão sobre algum tema, respeitando suas

motivações.

Os documentários apresentam normas e convenções semelhantes, com a utilização de

comentários e narrações com a voz de “Deus”, as entrevistas, a gravação de som direto, oscortes para apresentar uma imagem que ilustre determinada situação mostrada numa cena e o

uso de pessoas em suas atividades e papeis cotidianos, como personagens principais do filme.

Segundo Nichols (2005), “a voz está relacionada ao estilo, à maneira pela qual um filme, de

ficcção ou não, molda seu tema”. (NICHOLS 2005, p.74)

Outra convenção seguida por alguns documentários é introduzir um problema ou tópico, em

seguida apresentar informações históricas, levando o espectador a endossar e adotar sua opinião

diante do fato. Segundo Nichols (2005), a lógica do documentário sustenta-se em argumentos,

afirmações ou alegações sobre o mundo histórico, dando ao gênero sua particularidade,

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 portanto, o documentário, diferentemente dos filmes de ficção, se estabelece em ligações reais e

históricas.

“O fato de os documentários não serem uma reprodução da realidade dá a eles uma voz própria. Eles são uma representação do mundo, e essa representação significa uma visãosingular do mundo. A voz do documentário é, portanto, o meio pelo qual esse ponto devista ou essa perspectiva singular se dá a conheccer”. (NICHOLS, 2005. P:73)

Essa causa apresentada pelo autor pode defender uma razão, mostrar um argumento e transmitir 

um ponto de vista. Procurando persuadir ou convencer, pela força de seu argumento ou ponto

de vista, por meio de sua voz, que é a maneira de expressar um argumento ou perspectiva. Essa

voz está relacionada com a maneira pela qual um filme molda seu tema e o desenrolar da

história, que, no documentário, são a tentativa do diretor de traduzir seu ponto de vista sobre omundo histórico em termos visuais e de seu envolvimento direto com o tema.

O documentário organiza sequências de sons e imagens, a fim de construir metáforas que

atribuem, inferem, confirmam ou contestam valores que cercam as práticas sociais sobre as

quais a sociedade continua dividida. Com a intenção de persuadir, dar sua orientação e

 julgamento particular.

Segundo Penafria (1999), o documentário não é um "espelho da realidade", pois ao obter as

imagens, o cineasta está construindo e dando significado à realidade, mostrando que o mundo é

feito de vários significados. Para a autora, essa é a função do documentário, se distanciar do

voyeurismo e abrir questionamentos e discussão através da construção de argumentos. O

documentário deve ser entendido como um ponto de vista de determinado assunto, como um

filme que apresenta e constroi argumentos sobre o mundo. Trata de aprofundar seus temas,

 promovendo a discussão de determinado assunto, respeitando as aspirações, expectativas e

motivações daqueles que expõem. Segundo a autora, não se colocar, como fazia a escola de

Grierson, acima dos temas, dando apenas "voz" às soluções governamentais para os problemas

concretos vividos pelas pessoas comuns. Para Penafira (1999), o documentário apresenta alguns

 princípios.

"A obrigatoriedade de se fazer um registro in loco da vida das pessoas e dosacontecimentos do mundo, deve apresentar as temáticas a partir de um determinado pontode vista e, finalmente, cabe ao documentarista tratar com criatividade o material recolhido

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in loco, podendo, combiná-lo e re-combiná-lo com outro material (por exemplo, legendas,outro tipo de imagens,etc.)". (PENAFRIA, 1999)4 

O documentário pode reclamar uma relação próxima com a realidade, um filme que solicita

constante inovação e experimentação de formas e conteúdos. Portanto, um filme para ser documentário não precisa ter uma relação próxima com a realidade, este estilo está diante de

uma constante inovação e experimentação de formas e conteúdos que nos são próximos. Ramos

(2008) avalia a possibilidade de o documentário mostrar ou não a verdade, se é que ela existe

sobre determinado fato. Pois, para o autor, o documentário pode estabelecer asserções falsas

como verdadeiras, não deixando de ser documentário. Alguns documentários podem abordar a

ficção, este estilo de filme pode mostrar algo que não é real e continuar sendo documentário,

 por exemplo, explicar melhor sobre seres de outros planetas, não importa se realmente existem,ou estão dentro do que é chamado de realidade.

As principais temáticas de um filme documentário dizem respeito à vida das pessoas e aos

acontecimentos do mundo, a sua forma depende diretamente da criatividade do documentarista.

Uma questão importante a ter em consideração na maneira de fazer documentário, é a

necessidade de uma atitude ética, essencialmente dirigida aos intervenientes do filme.

Segundo Ramos (2008), o documentário estabelece asserções ou proposições do mundo

histórico, a ponto de mostrar um mundo que as pessoas podem conhecer ou não e ter um

 pensamento "preconceituoso" sobre o assunto. O documentário tem o poder de fazer uma

abordagem do mundo histórico e a capacidade de intervenção, mostrando para o espectador 

uma visão diferente das ideias que tinha sobre um determinado assunto. De uma maneira

diferente, tenta cativar e abrir os olhos do espectador.

 

Portanto, alguns documentários tentam explicar aspectos do mundo, fazendo análises de

 problemas e soluções, por meio de representações, a fim de tornar compreensíveis os aspectos

do mundo histórico. Outros documentários convidam a compreender aspectos do mundo de

maneira mais completa. Observam, descrevem ou evocam poeticamente situações e interações.

Em suas representações, tentam enriquecer a compreensão de aspectos do mundo histórico.

Complicam a adesão a certas posturas, eliminando a certeza com a complexidade ou a dúvida.

 

4 Artigo disponibilizado no site http://www.bocc.ubi.pt/pag/_texto.php?html2=penafria-perspectivas-documentarismo.html. Acessado no dia 13/09/2011

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Este estilo de filme se caracteriza como uma narrativa que possui vozes diversas que falam do

mundo, ou de si. Portanto, esse gênero pode causar diferentes impressões nas pessoas, pois,

cada espectador terá uma maneira de ver e interpretar o que o documentário propôs.

Diferenciando-se da ficção, alguns filmes podem fazer com que uma pessoa o assista, a fim de

estabelecer hipóteses, relações, previsões sobre personagens e suas personalidades. Mas nem

todos os documentários servem de entretenimento para seu público. Portanto, é importante

destacar que a narrativa é feita para alguém, que se efetiva na forma de recepção deste. Para

 Nichols (2005), o documentário se diferencia dos outros modos de fazer filme por ser baseado

em suposições diferentes sobre seus objetos. Segundo Ramos (2008), diante de um

documentário, o espectador é levado a conceitos como verdade, objetividade e realidade,

 propondo-se a explicar os limites da ficção ou não.

Segundo Nichols (2005), para cada documentário, há pelo menos três histórias que se

entrelaçam: a do cineasta, a do filme e a do público. Como o espectador tem novas experiências

e pontos de vista de experiências prévias ao assistir um documentário, cada público verá um

episódio de uma determinada maneira.

Os documentários oferecem a experiência sensorial de sons e imagens organizados de maneiraque passam a representar algo mais do que simples impressões ocasionais, eles representam

qualidades e conceitos de natureza mais abstrata. Normalmente, eles contêm uma tensão entre o

específico e o geral, entre momentos únicos da história e generalizações, podendo guiar o

telespectador para as interpretações que considera corretas.

O documentário é um gênero cujo maior atributo, para Penafria (1999), é ser uma porta aberta

 para o mundo, abordando diferentes olhares sobre o universo e refletindo sobre ele. Já que é asimagens concretas a quem o estilo dedica-se, abrir um espaço para a experimentação e

exploração de diversos temas. Este é um gênero que está em constante processo de

aperfeiçoamento.

Devido ao fato de o documentário aprofundar e exercer uma reflexão sobre um tema específico,

ele desencadeia um envolvimento crítico sobre este tema e contribui com inesgotáveis

conteúdos, para que possa melhorar a compreensão das pessoas do mundo em que vivem. O seu

olhar não se restringe a mostrar o óbvio, mas procura, criar diferentes olhares sobre o mundo,

 permitindo um envolvimento novo sobre aquele fato. Portanto, o documentário tem um forte

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apelo em debater as ideias, criar reflexões e um envolvimento crítico com experiências diversas,

sejam pessoais ou sociais.

3.3 A analogia entre documentário e jornalismo

Antes de tudo, o cinema é uma arte, assim como a pintura, pois é uma imagem móvel e um

meio de comunicação e reprodução, portanto pode servir como divulgação de dados variados

sem algumas vezes sim preocupação de ordem estética. Assim como qualquer outro veículo de

informação, o filme pode difundir notícias, anúncios, propagandas e, assim como os jornais,

rádios e televisões deve ter a informação correta do que será veiculado.

Desde o começo de sua história, começando no século XX, os assuntos abordados pelo

documentário no cinema ou na televisão sempre envolveram a realidade de determinados fatos

ou pessoas. Com isso, reforça-se a teoria de que ele pode ser um importante instrumento para o

conhecimento real dos acontecimentos, de maneira a compreender os mecanismos de

construção de uma realidade. No documentário, destaca-se o papel de discutir informações que

muitas vezes não são abordadas pela grande mídia. Zandonade e Fagundes (2003), citando

Cristina Melo, afirmam que as características dos documentários em fazer um discurso sobre oreal com bases em imagens in loco os aproxima da prática jornalística.

Porém, segundo Rosenfeld (2002), a analogia entre cinema e jornais não pode ser levada muito

longe, pois os grandes veículos de notícia nunca passam de um mero produto jornalístico. O

filme pode servir de veículo de comunicação a uma pequena joia poética em forma de desenho

ou aos inúmeros filmes policiais que povoam as telas do mundo. Sendo que o filme, como arte,

transforma em meio de expressão. “Por isso, o filme, quando simplesmente reproduz uma peçateatral de valor estético, não é uma obra de arte – é apenas veículo de comunicação e

reprodução, que fixa, multiplica e divulga uma obra de arte por meios mecânicos[...]”,

(ROSENFELD, 2002. P:34)

De acordo com Nichols (2005), o filme documentário pode interferir para a criação de

identidades nacionais envolvendo a construção de um senso de comunidade. O documentário,

criando uma identidade na sociedade, passa a abordar temas esquecidos da vida social, com um

caráter informativo jornalístico. Isso aconteceu no caso dos gays e lésbicas, associado a uma

nova identidade cultural, abordando grupos marginalizados e excluídos e culturas ignoradas,

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tratando-os com orgulho e integridade. Para o autor, essa foi uma forma de revelar histórias e

revelar identidades e mitos.

Ainda de acordo com Nichols (2005), os documentários se aproximam do jornalismo ao abordar 

temas de interesse público como nos filmes A film about a woman Who... e Jeanne Dielman, 23

Quai da commerce, 1080 Bruxelles, que aboradaram muito o feminismo e o trabalho doméstico.

Outros documentários fizeram papeis de coberturas jornalísticas como o Union Maids e With

babies and banners, que por meio de entrevistas e imagens de arquivo contaram a história da

organização operária e das greves gerais durante os anos 30.

As dimensões políticas dos documentários contribuem para a construção social de umaidentidade comum entre membros de uma comunidade, compartilhando histórias de exclusão ou

não e com o objetivo de transformação social. O documentário pode ser considerado uma arma

 poderosa e uma ferramenta usual de persuasão. No Brasil, o documentário foi um dos

importantes mecanismos de divulgação dos ideais revolucionários que permearam a década de

1960 em plena ditadura e, dessa forma, influenciaram a sociedade. Porém, Zandonade e

Fagundes (2003), acreditam que é um gênero elitizado. Na sociedade brasileira, são poucas as

 pessoas que frequentam as salas de exibição em busca de entretenimento.

O vídeo documentário fez parte das transformações sociais pelas quais o mundo passou. Ele

acompanhou as diferentes correntes ideológicas e históricas, por exemplo, no início da

industrialização da Europa, com o registro dos operários nas fábricas ou com o trabalho de John

Grierson5, na tentativa de traduzir o cotidiano das pessoas da época.

O documentário se relaciona com o jornalismo pelo modo de tratar a matéria, as suas fontes, asvertentes e confluências e comprovando ou não o evidenciado, enfatizando o tema de cada

assunto. Cabe ao documentário, não só trabalhar como uma mídia secundária, mas ser 

informativo e educativo. Esse caráter vai se tornar bem mais importante do que o simples fato

de registrar o que a lente da câmera vê. Para Franco (2001), ao contrário da grande mídia, o

teledocumentário não tem a intenção de manipular massas e, sim, de criar novas expectativas

nas pessoas sobre algo que elas não dominam. Ninguém passa a comprar mais ou menos depois

de um documentário.

5 John Grierson: considerado um dos principais documentáristas dos primórdios do estilo. Fundador da escolainglesa de documentário. Responsável pela consolidação do gênero ao lançar as bases para o documentárioclássico

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É neste domínio que prevalece o papel educativo e didático primordial do estilo, mostrando

muitas vezes pontos que a mídia, por questões editoriais, não divulga para o público. Devido à

falta de prestígio nas telonas, o teledocumentário está na crista das ondas da televisão, na

criação de bens educativos simbólicos, sobretudo na lógica mediática como um excelente

instrumento didático de passagem de conhecimentos. Bem construído e montado será também

um bom estimulador de audiência e de vendas.

O documentário, por oferecer uma profunda reflexão sobre determinado tema, desencadeia um

envolvimento crítico sobre este e contribui como espaço de formas e conteúdos inesgotáveis,

 para uma melhor compreensão do mundo em que vivemos, assim como faz o jornalismo.Porém, o seu olhar não se reduz ao que é óbvio, antes disso ele aborda olhares diferentes sobre

o mundo e permite olhar o mundo de modo diferente. Segundo Penafria (1999), por esta razão

há um apelo ao debate de ideias, à reflexão e ao envolvimento crítico já que o espectador é

confrontado com experiências diversas, sejam elas sociais ou pessoais. Para a autora, é possivel

 perceber a utilização de recursos multimídia para prender a atenção do usuário e,

consequentemente, ajudar na construção do conhecimento.

Zandone e Fagundes (2003), citando Walter Sampaio, discutem a importância do documentário

ao afirmar que se trata de um estágio evolutivo do telejornalismo. Mesmo que alguns autores

reafirmem seu valor, observa-se que o vídeo documentário é um gênero jornalístico que passa a

ser explorado na mídia televisiva brasileira, sendo uma linguagem regularmente usada no

cinema.

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4 ANÁLISE DO DOCUMENTÁRIO

4.1 Apresentação

O documentário Metal: A Headbanger's Journey (Metal: Uma Jornada pelo Mundo do HeavyMetal) foi produzido e dirigido por Sam Dunn juntamente com Scot McFadyen e Jessica

Wisemostra. O filme foi exibido pela primeira vez no Canadá em 2005, no Festival

Internacional de Toronto, foi lançado em uma edição dupla em DVD nos Estados Unidos em 19

de Setembro de 2006. No Brasil estreou em 2007. Com 96 minutos de duração, Metal mostra o

antropólogo Sam Dunn, um fã de Heavy Metal desde os 12 anos, fazendo uma viagem pelo

mundo para conseguir opiniões sobre o estilo musical. Incluindo suas origens, cultura,

controvérsias e razões pelas quais ele é amado por tantas pessoas e odiado por muitas outras.

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O roteiro e as sonoras são sustentados com entrevistas realizadas com sociólogos, críticos,

 produtores, fãs e músicos, que falam sobre diversos temas que envolvem o heavy metal. Este

segundo grupo é representado por membros importantes de bandas do gênero ao longo do

tempo, por exemplo, Vince Neil (Vocalista do Mötley Crüe), Geddy Lee (Vocalista e baixista

do Rush), Bruce Dickinson (Vocalista do Iron Maiden), Ronnie James Dio (Vocalista do Dio),

Tommy Iommi  (Guitarrista do Black Sabbath), Lemmy Killmister (Vocalista e baixista do

Motörhead), Alice Cooper (Alice Cooper), Dee Snider   (Vocalista do Twisted Sister) e  Rob

Zombie (Vocalista do Rob Zombie). O destaque entre os entrevistados fica para Snider,

convocado em 1986 perante o comitê do senado norte-americano para depôr sobre os efeitos

causados pelo heavy metal aos jovens. E Alicee Cooper que é utilizado em vários tópicos do

filme.

O filme estabelece um forte vínculo com o mundo histórico, para mostrar e acrescentar uma

nova dimensão à memória popular e à história social.  Metal: A Headbanger's Journey oferece

um retrato do cenário do heavy metal, mostrando histórias e depoimentos com a intenção de

quebrar o preconceito que existe em relação a esse gênero que “cultua o demônio”, para mudar 

o modo de como as pessoas veem o estilo musical. O documentário faz uma discussão sobre o

heavy metal como cultura, suas vertentes, a espetacularização da morte e porque o gênero éconsiderado por muitos como música do diabo.

4.2 Análise Quantitativa

O começo do documentário funciona como o lead de uma matéria jornalística, fazendo um

resumo do que é o heavy metal e do que o filme vai tratar. Essa parte acontece durante os quatro

minutos iniciais. Após a introdução, apresenta-se a vinheta do documentário, os créditos dequem o produziu com imagens das viagens do diretor e partes do documentário.

O primeiro tópico que o documentário discute é "As origens". Este tópico consiste em chegar a

um acordo sobre a banda criadora do estilo heavy metal. As fontes entrevistadas são: Geddy

Lee (Vocalista e baixista do Rush); John Kay (Vocalista do Steppenwolf); Bob Ezrin

(Produtor); Lemmy Killmister (Vocalista e baixista do Motorhead); Alice Cooper (Vocalista do

Alice Cooper); Alex Webster (Baixista do Cannibal Corpse); membros da banda Lamb of God;

Rob Zombie (Vocalista do Rob Zombie) e Tony Iommi (Guitarrista do Black Sabbath). O

 primeiro tópico conta com três minutos.

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O segundo tópico tratado é "O som", em que o documentário discute qual a origem da

sonoridade do heavy metal e dá ênfase à tonalidade que caracteriza o “som diabólico” e suas

características na música clássica. Os entrevistados são: Alex Webster (Baixista do Cannibal

Corpse); Bob Ezrin (Produtor); Deena Weinstein (Socióloga); Bruce Dickson (Vocalista do Iron

Maiden); Robert Walsen (Estudioso de Música.). Este tópico é maior em comparação ao

 primeiro e tem cinco minutos.

 Na sequência, é abordado o tópico "Raízes musicais". Conta com as sonoras de: Bob Ezrin

(Produtor); Malcolm Dome (Escritor e DJ); Robert Walsen (Estudioso de Música.); Mark 

Morton (Guitarrista do Lamb of God); Randy Blythe (Vocalista do Lamb of God); Tony Iommi(Guitarrista do Black Sabbath) e Geddy Lee (Vocalista e baixista do Rush). Com quatro

minutos de discussão, um dos menores junto com o tópico “Censura”.

O próximo tópico que o documentário traz é o "Entornos", que em seus seis minutos, aborda

como o cenário em que as pessoas vivem reflete diretamente nas letras das músicas. Conta com

as sonoras de Malcolm Dome (Escritor e DJ); Tony Iommi (Guitarrista do Black Sabbath);

Dennis Piggy D'Amour (Vocalista do Voivod); Lemmy Killmister (Vocalista e baixista doMotorhead); Joey Jordison (Baterista do do Slipknot); Corey Taylor (Vocalista do Slipknot);

Mark Morton (Lamb of God); James "Munky" Shaffer (Guitarrista do Korn) e Tom Morello

(Guitarrista do Rage Against the Machine).

O seguinte tópico é "Os fãs" e se divide em entrevistas com fãs e especialistas no gênero. Para

discutir qual o significado da música de heavy metal para cada pessoa, os entrevistados foram:

Sam Guitor, Joe Bottiglieri e Eric Bryan (Fãs); Rob Zombie (Vocalista do Rob Zombie); Chuck Klosterman (Escritor) e Bruce Dickson (Vocalista do Iron Maiden). Esta parte também conta

com seis minutos.

 Na sequência o tópico é a "Cultura". Momento em que o diretor visita o W.O.A. (Wacken Open

Air), para mostrar a diversidade dos metaleiros e os vários grupos que podem ser encotrados em

um único lugar, com a mesma intenção de curtir o som. Os entrevistados são: Malcolm Dome

(Escritor e DJ); Deena Weinstein (Socióloga); Rob Zombie (Vocalista do Rob Zombie); Robert

Kampf (Fundador da Century Media); Necrobutcher e Blasphemer (Mayhem); Ronnie James

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Dio (Vocalista do Dio) e Dee Snider (Vocalista do Twisted Sister). Este tópico já é um pouco

maior em relação aos outros e conta com 13 minutos.

O próximo tópico é a “Censura”. Um dos mais “pobres” em fontes do documentário, pois

aborda apenas uma, que é Dee Snider (Vocalista do Twisted Sister), quedepõe para defender 

suas músicas contra o CPRM (Centro de Pais de Recursos Musicais). É um dos mais curtos com

cinco minutos.

 No tópico "Gênero e sexualidade", o documentário discute em 16 minutos, que, apesar do

gênero estar associado ao universo masculino e de agressividade, houve um certo momento em

que as mulheres mudaram o seu papel de  groupies e assumiram os palcos, algumas dominandoo thrash metal e o death metal . Os entrevistados são: Malcolm Dome (Escritor e DJ); Deena

Weinstein (Socióloga); Geddy Lee (Vocalista e baixista do Rush); Robert Walsen (Estudioso de

Música.); Corey Taylor (Vocalista do Slipknot); Vince Neil (Vocalista do Mötley Crüe); Rob

Jones (Dj); Dee Snider (Vocalista do Twisted Sister); Chuck Klosterman (Escritor); Pamela Des

Barres (Groupie e atriz); Lemmy Killmister (Vocalista e baixista do Motorhead); Donna Gaines

(Socióloga); Kim McAuliffe e Jackie Chambers (Girlschool); Doro Pesch (Doro); Morgan

Lander (Vocalista e guitarrista do Kittie); Merdes Lander (Baterista do Kittie) e Angela Gossow(Vocalista do Arch Enemy).

O próximo tópico abordado pelo documentário é "Religião e satanismo”. Nele é discutido o

motivo das bandas tratarem tanto da religião em suas músicas e como se chegou ao ponto de

algumas bandas serem realmente satânicas. Os entrevistados são: Ronnie James Dio (Vocalista

do Dio); Tony Iommi (Guitarrista do Black Sabbath); Gavin Baddeley (Escritor satanista);

Corey Taylor (Vocalista do Slipknot); Alice Cooper (Alice Cooper); Monte Conner (Senior VPA&R - Roadrunner Records); Kerry King (Guitarrista do Slayer); Tom Araya (Vocalista e

 baixista do Slayer); Rolf Rasmussem (Padre); Jorn Tunsberg (Guitarrista do Hades Almighty);

Gaahl (Vocalista do Gorgoroth); Grutle Kjellson (Enslaved) e Ihsahn (Emperor). Tem 18

minutos.

O último tópico do documentário é "Morte e violência", e que se discute com especialista e

 bandas sobre a espetacularização da morte, provocado pelas bandas de death metal, considerado

como arte pelos integrantes. Representando algo que não tem possibilidade de acontecer, um

deleite de explorar o corpo, um desejo primitivo da sociedade, sabendo que a morte é parte da

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mesma essência da vida. As sonoras são com: Alice Cooper (Alice Cooper); Brian Slagel (Dono

da Metal Blade Records); Rose Dyson (Escritora); Alex Webster (Baixista do Cannibal

Corpse); George Fisher (Vocalista Cannibal Corpse); Keith Kahn-Harris (Sociólogo); Gavin

Baddeley (Escritor satânico); Dee Snider (Vocalista do Twisted Sister); Kerry King (Guitarrista

do Slayer); Chuck Klosterman (Escritor); Robert Walsen (Estudioso de Música); Eric Bryan e

Corey Taylor (Vocalista do Slipknot). Um dos tópicos mais longos do documentário, com 18

minutos.

4.3 Análise Qualitativa

Logo no início do documentário, ao mostra imagens de fundo de jovens metaleiros, dandoênfase ao ano de 1986 em que o heavy metal encontrou seu auge, meninos e pessoas com

cabelos compridos, fazendo o sinal do diabo e tocando air guitars em todos os lugares. Mostra

uma das características principais da identidade dos fãs do heavy metal que é o cabelo

comprido. Mas os críticos, segundo a narração de fundo, caracterizavam tal música como não

sofisticada e marginalizada, da mesma maneira classificavam quem a escutava. O documentário

cita um artigo que a definiu como doente, repulsiva, horrível e perigosa, devido aos temas

abordados nas letras das bandas. Os grupos religiosos lançavam campanhas contra o heavymetal, com medo de que a música fosse um receptáculo do demônio e que iria corromper os

 jovens, principalmente por glorificar a maldade. Na sequência, a esses motins viriam os

 processos que as bandas de metal sofreriam, por supostamente incitar suicídios e homicídios em

suas letras, como a música Suicide Solution, de Ozzy Osbourne, mostrando na imagem de

fundo jornais e cenas de um julgamento. Apesar das músicas de metal não apoiarem e

aconselharem tais atos, a morte e obscuridade são uma das marcas da identidade do gênero.

Depois de uma introdução, o roteiro do documentário é dividido em diversos tópicos que

abordam os assuntos mais polêmicos, temas como religião, sexo, violência, drogas, entre outros.

Ao mesmo tempo, Dunn apresenta as origens do som, as primeiras bandas, a censura e todos os

subgêneros ( power , glam, black , death, thrash etc.) que surgiram ao longo de mais de 40 anos.

Sam revela que conheceu o estilo e que como na faculdade não existia metal ele optou pela

Antropologia. Para o diretor, vivendo desde os 12 anos nesse mundo, ele gostaria de entender 

 por quê o metal provoca tantas reações opostos. É assim que começa a jornada por este mundo

que é amado por várias pessoas espalhadas pelo mundo.

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O primeiro tópico que o documentário aborda é “As origens”, tentando chegar à conclusão de

qual a primeira banda de heavy metal e suas origens. Criando uma árvore genealógica, ele

coloca entre os precursores no “Early Metal”, entre os anos de 1966 a 1971, bandas como

Cream, Jimi Hendrix, Blue Cheer , Led Zeppelin, Deep Purple, MC4, Mountain, The Stooges e

 Black Sabbath. Nessa parte, após mostrar a lista, o vídeoclipe da música Summertime blues, do

 Blue Cheer , que é mencionada pelo vocalista e baixista da banda  Rush, Geedy Lee, ao se tratar 

da origem do gênero, como trio mais barulhento e metálico naquele momento. Já para John Kay

o heavy metal estava presente na música “Born to be wild”, do Steppenwolf , que se referia às

grandes motocicletas correndo pelas autoestradas. Entre várias outras sonoras, cada entrevistado

aponta uma banda como a primeira representante do gênero. Outros, como Alice Cooper, falam

que a primeira vez que o gênero foi designado a uma banda, foi na Revista Rolling Stones, aoescrever que Alice Cooper era heavy metal. Mas a grande maioria aponta a banda inglesa Black 

Sabbath como a primeira. Como argumentado por Christe (2010), o heavy metal surgiu para

trazer à tona as mazelas da história em suas letras, temas que não eram abordados pelos

movimentos hippies da época. Estilo que abordava poderosas correntes que estavam

adormecidas até que a guerra, a crise e a angústia pudessem despertar e trazer à tona seus mais

horrendos poderes. Que não emitiam som até serem capturados pela primeira banda de heavy

metal: Black Sabbath. O grupo formado em Birmingham, em 1970, passou a dar um tomobscuro e sinistro à música. O estilo, segundo o guitarrista da banda, Tony Iommi, foi criado,

simplesmente ao acaso, e em poucas notas soava tão diferente e demoníaco. Porém, o fato de

abordar a figura do mal em suas letras, mesmo sendo uma personagem a se temer, desenvocou

na vontade das pessoas para criar-se uma banda satânica.

Após chegar a uma conclusão sobre a origem, o documentário aborda o tópico “O som”, para

discutir o que faz com que o heavy metal soe diabólico. Sonoras com membros de bandas,revelam que a base do gênero é o B Bemol, o tritão. No passado essa tonalidade se referenciava

à “música do diabo”, pois aparentemente era o som que invocava as bestas. Segundo a sonora

de Robert Walsen, na Idade Média, o som, era relacionado à questão sexual, pois era uma

música que mexia com a reação hormonal das pessoas. Neste momento, o off  de Robert é

sustentado por imagens de fundo com um pequeno demônio tocando violino para um enfermo.

Porém, o documentário ressalta a necessidade de ser mais do que ser apenas “evil”, para ser 

heavy metal. Por exemplo, na entrevista com a socióloga, Deena Weinstein, ela afirma precisar 

de guitarras com boa amplificação e distorção e baixos com um som forte, não podendo os

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acordes ser tímidos, bonitos e suaves, devem ser fortes de qualquer maneira. Sem esses recursos

dos instrumentos não há o núcleo do metal.

 No tópico “Raízes Musicais”, o documentário ressalta que mesmo que muitos critiquem o

estilo, ele tem uma associação com a música clássica e a ópera, influências que segundo a

narração de Dunn, fazem com que o metal seja único. Para o produtor Bob Ezrin, essa

influência é clara, pela música clássica obscura, poderosa e pesada, como a de Wagner, que

utilizava contrabaixos e um octobaixo, tanta intensidade e força ao tocar fazia com que as

 paredes do lugar tremessem. Para o DJ e escritor, Malcolm Dome, se os grandes nomes da

música clássica estivessem vivos hoje tocariam em uma banda de metal. No momento em que

são exibidas as habilidades dos músicos clássicos, como Wagner, Beethoven e Bach, bem comoa de Eddie Van Halen, a sonora fica em off e após a imagem de Bach no piano é apresentado

vídeo de um show da banda Van Halen, em que Eddie elucida suas características e destrezas

com a guitarra.

 No tópico “Entornos”, o documentário, por meio de sonoras, aborda o blues e a música de

escravos como a principal origem do gênero. Da mesma forma que o heavy metal, o blues é

uma música dos oprimidos e se designa as pessoas que precisavam de algo diferente. Como defato, a sonora com Tony Iommi declara que a banda  Black Sabbath era de blues antes de seguir 

os caminhos do rock. O documentário avalia que os temas que as bandas abordam nas letras de

suas músicas são justamente pelo que viviam e o que ficava em torno deles. Como na sonora de

Iommi, em que ele descreve o lugar onde morava como “um buraco de merda”. O vocalista

Piggy, do Voivod tem a mesma opinião, e fala que as fábricas que havia nas cidades traziam um

impacto no ambiente que os cercava, assim como nas pessoas. O mesmo é relatado na sonora

com a banda Slipknot , que veio de uma cidade dominada pelas igrejas e cujo único lugar dedivertimento era o cemitério. Para o vocalista do Slipknot , Corey Taylor, é assim que as pessoas

criam fortes personalidades.Ainda de acordo com o vocalista, alguns símbolos são marcas

registradas de algumas bandas, como a cruz ( Black Sabbath) e pentagrama (Slayer ). A

utilização destes símbolos por algumas bandas, criou uma cultura demoníaca. Assim, a cultura

de determinadas sociedades próximas a locais bucólicos e altamente industriais, sem nenhum

divertimento influenciou diretamente as músicas e a maneira como as pessoas passam a agir e

utilizar um visual que não é considerado tradicional. O guitarrista Tom Morello fala que o

heavy metal é uma maneira de fugir dos problemas que as pessoas passam, é uma negação do

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mundo em que vivem. Ao final da sonora de Morello, um clipe ao vivo da banda  Rage Against 

the Machine é tocado.

 No tópico “Os fãs”, o documentário intercala-se com sonoras de fãs do gênero musical, críticos

e músicos, para mostrar a diferença do significado do heavy metal para fãs e bandas do gênero.

Em certo momento, em um dos depoimentos, um fã do gênero torna explícita a importância do

heavy metal para ele, pois ajuda em momentos difíceis ou em dias ruins, é algo que durará para

sempre em sua vida. É nesse cenário que Janotti Jr. (2004) avalia a música como uma maneira

 para os jovens expressarem seus sentimentos e angústias. E são essas bandas, que falavam

desses sentimentos, que fazem com que as pessoas participem de um mundo em que se

misturam amizade, sonhos e valores comuns. Ainda abordando o significado para os fãs, elesnão demonstram preocupação com o que as pessoas dizem sobre o seu modo de vestir. Roupas

 pretas, braceletes de couro e pinos, cabelo diferente, e até maquiagem, são características de

culto ao corpo, maneiras como se iniciam a formação e inserção nos grupos. Essa caracterização

das vestimentas e outras manifestações não passam de um mero jogo de aparência. É uma

maneira de mostrar que os indivíduos têm opiniões e se expressam dentro dos seus grupos. Pois,

 para eles, os metaleiros são diferentes de muitos jovens. Eles têm “cabeça” e não se vestem ou

agem de acordo com a modinha6

e com o que está sendo transmitido pela mídia. Segundo umadas entrevistadas, os headbangers têm senso para escolher o que querem e o que não. Essa é

uma demonstração do que é apontado como a expressão e maneira de agir de cada pessoa

quando está inserida em um grupo e atua de acordo com os parâmetros em que vive. Para o

vocalista da banda Rob Zombie, Rob Zombie, o metal é um estilo de vida, não é uma “modinha

de carnaval”, não é uma música que se escuta hoje e no outro mês já não se escuta mais, como

ele diz, não hácomo gostar de Slayer apenas por um verão. Ele ainda afirma ser música de

marginalizados para marginalizados, e tudo começa quando o indivíduo sente-se sozinho ecomeça a interessar-se por coisas estranhas, e o heavy metal reúne todos os meninos estranhos

em um único lugar. Com isso, a formação de grupos inicia-se quando os indivíduos se

aproximam por meio da preocupação com o presente vivido coletivamente, em que as pessoas

apresentam seus problemas e defeitos e se unem pelos mesmos gostos e experiências. O

documentário prova que os indivíduos que vivenciam o heavy metal formam laços sociais fortes

 por meio da emoção compartilhada. Assim o emocional e experiências vividas tornam-se

fatores essenciais para a formação de um grupo de acordo com Maffesoli (1998).

6 Modinha: expressão utilizada para falar que as pessoas utilizam ou aceitam facilmente o que está fazendosucesso na mídia.

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Chuck Klosterman acredita que no metal as pessoas podem se sentir estranhas, mas na verdade

não são. O exemplo disso é o “exército do Kiss”. Segundo ele, uma pessoa gostar da banda Kiss

significa que ela faz parte de uma massa de pessoas com o mesmo valor. Essa é a maneira mais

clara para a formação de grupos, pois pessoas que apresentam gostos semelhantes,

independentemente de onde estejam ou o que façam, um simples gosto musical faz com que

elas valorizem a estética, no caso se vestir igual aos integrantes da banda Kiss, com pinturas

faciais, valorizando o preto e branco. Assim, pessoas de espaços geográficos distintos podem se

unir para formar laços sociais fortes e a emoção compartilhada é uma das maneiras de agrupar 

essas pessoas. Para ele, isso é o que torna o metal tão interessante, é fazer com que as pessoas

sintam-se importantes, introduzindo-as em algo maior que o próprio indivíduo. 

 No tópico “Cultura”, o documentário ainda discute as características e os diversos subgêneros

do heavy metal. Uma cena que descreve o gênero como cultura e consequentemente a criação

de várias “tribos”, é o momento em que Sam Dunn, visita o Wacken Open Air (W.O.A.) – um

dos maiores eventos de Metal do mundo – onde se encontram todos os tipos de seguidores do

metal e onde há tendas em que os próprios fãs divulgam a música. Como foi definido por Leão

(1997), no terceiro tópico do primeiro capítulo, este estilo musical é atitude, um estilo de vida efilosofia. O W.O.A. funciona como um espaço em que os jovens partilham sentimentos, frente

às incertezas do cotidiano familiar, escolar e profissional. Lá diferentes pessoas se unem para

curtir a grande celebração ao heavy metal. É neste tópico que o diretor mais frisa que o estilo

 pode ser considerado cultura. Pois, no festival realizado na Alemanha, reúnem-se pessoas de

diferentes partes do mundo que compartilham o espaço geográfico para participar de uma

mesma cultura. Indivíduos de diversos países do mundo, com suas peculiaridades culturais,

abandonam seus espaços para se integrarem à grande cultura heavy metal, unidos peloscomportamentos e gostos pelo metal. Malcoml Dome, em sonora em que o plano fica apenas

em seu rosto, conclui que o que torna o metal cultura, primeiramente, é a música e, segundo, a

maneira de vestir, sem ser um uniforme, que distingue os headbangers de imediato. Na sonora

em que a psicóloga fala dos acessórios que os metaleiros utilizam, por   exemplo, o preto, o

couro, o níquel, lembra que o preto em culturas ocidentais significa perigo, maldade, mas

também liberdade. Neste instante, imagens de fundo mostram a vestimenta e a voz da psicóloga

se reproduz em off . Na seguinte sonora, com Rob Zombie, enquanto ele fala, a câmera foca em

seus gestos e roupas.

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Após a cena do W.O.A., o documentário apresenta uma arte para discutir e mostrar o trajeto do

heavy metal desde sua origem até os dias de hoje, evidenciando todos os seus subgêneros, por 

meio de uma “árvore genealógica”. Cada quadro apresentado na arte é de uma das vertentes do

metal, com o off  da narração de Sam Dunn explicando os fundadores dos estilos e suas

características. A primeira sonora, no Wacken, é com membros da banda de black metal

norueguesa, Mayhem, cujos integrantes realizam a entrevista bêbados, contestam muito as

 perguntas de Dunn e soltam palavrões.Como contraponto a esta entrevista inusitada, o

documentário traz uma sonora com Dio, ex-vocalista do Black Sabbath, que mostra muita

educação e serenidade, diferentemente da pessoa que leva aos palcos o gesto dos chifres do

diabo (indicador e mindinho levantados). Para ele, esse sinal é uma superstição de sua avó para

espantar mal olhado. Neste momento o documentário exibe imagens de membros de bandasfazendo o sinal. Dio, questionado sobre o porquê da cultura do metal ser única, afirma que é

 pelo fato de todos serem uma grande família que compartilham valores do metal.

 

Em seguida a narração do documentário confirma, após as filmagens do Wacken, que o heavy

metal divide algo com outras culturas, uma sensação de pertencer a um estilo de vida. Na

sequência o documentário se preocupa em focar-se sobre alguns assuntos, construindo

argumentos que defendam o heavy metal como cultura e, em outros tópicos, tratando de todosos lados envolvidos, deixando o espectador tirar suas conclusões. Também procura responder o

 porquê do metal provocar tantas reações negativas nas pessoas e ser estereotipado e condenado.

O próximo tópico do filme é “Censura”. Trata da repulsão que o gênero recebeu no começo de

sua existência. O tópico começa com o videoclipe “We’re not gonna take it”, da banda Twisted

Sister, que em partes da letra diz que o metaleiro, tem o direito de escolher e que deve lutar 

contra quem os oprime. A banda, na década de 1980 era considerada a mais perigosa do planeta, pelo CPRM (Centro de Pais de Recursos Musicais), e inclusive foi colocado na lista

das 15 mais obscenas. O vocalista Dee Snider foi convocado ao congresso dos EUA para

esclarecer sua música e meio de vida. Enquanto Snider conta como foi o testemunho, são

exibidas cenas do Congresso e, principalmente, do vocalista que foi da forma como ele se

apresenta em um show: com jaqueta e jens colado, um pouco de maquiagem e seu cabelo

comprido. Este fato mostra que o heavy metal não era apenas uma encenação nos palcos mas,

além da intenção de provocar as pessoas, ser também um estilo de vida. Para ele, as pessoas

acreditavam que iriam fazê-lo de idiota, por acharem que ele era burro, mas ao contrário, fala

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inglês fluente e bem articulado. As falas de Dee Snider demonstram que todas as acusações

feitas pelo CPRM eram equivocadas.

O roteiro aproveita as declarações de Snider de que a música “Under the blade”, se tratava da

cirúrgia de garganta e de defender seus direitos para abordar músicas que apresentam letras

mais provocativas, temas como hedonismo, religião, morte e sexualidade, para introduzir o

 próximo tópico. Neste “quadro”, o heavy metal é analisado como um gênero dominado pelos

homens e que, por ser tão agressivo sonoramente, não conseguia conquistar a audiência do

 público feminino.

Em contraste ao universo masculino, o documentário viaja ao  glam metal , em que homens sevestem como mulheres. Nesse momento, em que o filme aborda a mudança na identidade do

heavy metal, é discutida no primeiro capítulo em que algumas bandas e fãs deixam de utilizar as

vestimentas antiga, caracterizado pelo preto e maquiagem “pesada” do gênero e passa a admitir 

cor em seus trajes e um visual feminino, incorporando roupas de ceda e outras e maquiagem

feminina em seus estilos. No cenário do glam metal os temas focam em temáticas como sonhos

 juvenis com mulheres, dinheiro e fama ao invés do terror. Para essa discussão, é chamado o

vocalista Vince Neil, do Mötley Crüe, uma das bandas criadoras do estilo, e que transformou ocouro em rendas. Para Dee Snider, quanto mais as roupas femininas chamassem a atenção,

melhor. É a rebelião contra o que se supõe que seja o homem, analisa Robert Walson. Porém,

ele ressalta que houve um público que não aceitou isso e o caracterizou como gay. O couro e as

roupas coladas ao corpo eram utilizados pelo vocalista do  Judas Priest , Rob Halford, que

muitos não sabiam que ele era homossexual.

 Na cultura do heavy metal , as mulheres até certo ponto só faziam parte de cenário como gruppies, mas em certo ponto surge uma banda composta por mulheres, Girlschool . Nesta parte

o tópico tratado pelo documentário é “Gênero e Sexualidade”. Desde o surgimento da banda

Girlschool , as mulheres passaram a ter mais visibilidade neste cenário, não apenas liberando o

vocal, como também assumindo um estilo que é dominado pela extrema técnica masculina de

vozes guturais. Nessa parte, é mostrado um pedaço do show da banda de thrash metal ,  Arch

 Enemy, que é liderado pela vocalista Angela Gossow. Em sua sonora, ela afirma que o metal

deixou de ser um universo dominado pelos homens.

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O próximo tópico do documentário discute a “Religião e o satanismo”. Tema polêmico na

cultura heavy metal, pois da mesma maneira que o glam metal trouxe novos valores ao metal

criando um novo grupo, o black metal apresenta um modo peculiar de ver o mundo, questões

ligadas a valor e moral, que são produtos de herança, de determinada comunidade. Este explora

mais uma sonora com Ronnie James Dio que também apresenta muito simbolismo religioso em

suas canções. Esta parte é realizada em sua casa e ele fala sobre a obsessão da música ligada à

religião. Neste momento é tocada ao fundo uma música do cantor enquanto ele fala e em

seguida o clipe. Após a frase “heaven and hell”, acontece a entrevista, com Dio com o plano

aberto mostrando também Dunn. Após a pergunta do diretor, o plano foca no rosto de Dio.

Quando o entrevistado fala “hell” (Inferno, em português), sua voz fica no off enquanto sãomostradas imagens de dragões e outras criaturas. Na sequência, a psicóloga Deena afirma que o

cristianismo é essencial para o surgimento do metal, pois nos primórdios os fundadores tinham

uma formação religiosa. Após sua sonora, é lançado uma imagem de fundo da banda  Black 

Sabbath com um off de Iommi, em que todos usavam uma cruz. Acessório, que foi dado para os

membros da banda com a intenção de dar proteção a eles. Com alguns segundos na imagem da

cruz a cena volta para Iommi, que sempre esteve nos palcos com uma cruz. Porém, mesmo que

em algumas culturas a cruz pudesse representar o cristianismo e proteção, no primeiro momentoa banda  Black Sabbath criou a música “Black Sabbath”, citando Satã como uma figura a se

temer. Mas como a indústria de massa procurava uma banda satânica, foi criada essa relação

com o satanismo. Neste momento, imagens da banda são introduzidas no filme, com seu off .

Para Alice Cooper, o satanismo existente nas músicas é uma caricatura do satanismo, pois o que

o heavy metal  faz é halloween. Após sua sonora, é introduzido um clipe da banda Venom, a

 primeira banda que se intitulou satânica com músicas bastante perturbadoras. O documentário

utiliza essa abordagem para tratar das bandas que realmente acreditam no satanismo. Enquantoimagens do vôo de Dunn para a Noruega são mostradas, ao fundo acontece uma narração do

diretor fazendo uma estatística da opção religiosa da população norueguesa, sendo 87%

luterana. Porém, a maior exportação do país é o black metal satânico. Na sequência das cenas

do aeroporto, é feita uma imagem em plano geral da cidade de Oslo e Dunn passeando de carro

até entrar em um túnel, (com no fundo uma música de black metal ) com a luz branca do túnel a

imagem faz uma sequência para a árvore genealógica do metal, explicando a origem e

sonoridade do black metal , com a narração de Dunn.

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Alguns documentários introduzem um problema ou tópico e, em seguida, apresentam

informações históricas, levando o espectador a endossar e adotar sua opinião diante do fato. O

documentário organiza sequências de sons e imagens, a fim de construir metáforas que

atribuem, inferem, confirmam ou contestam valores que cercam as práticas sociais sobre as

quais a sociedade continua dividida. É o caso quando Dunn abre a polêmica no mundo do

gênero: o Black metal, pois, muitos de seus grupos e membros das bandas se intitulam

seguidores de satã. Discussão esta que tem características jornalísticas, por apresentar um

debate sobre o tema, explorando todos os lados envolvidos no processo, tanto as bandas e fãs

que se envolveram com depredações de igrejas e assassinatos, quanto de religiosos. A

entrevista com o vocalista da banda, Gorgoroth, Gaahl, é realizada em um lugar escuro e à luz

de velas. O vocalista deixa claro que a música para ele é “Satã”, neste momento ele bebe um pouco de vinho como se fosse um brinde. O diretor do documentário entrevista membros de

 bandas norueguesas, controversas e que seguem a linha do satanismo, e, para eles, a música

serve para “pregar” o que eles acreditam, com a intenção de derrubar o cristianismo, visando à

liberdade. Em contrapartida, o documentário, com sonoras de membros clássicos do gênero,

como Alice Cooper, vê tal atitude como grotesca, na tentativa de que cada banda queira

aparecer mais malévola que a anterior. A banda Alice Cooper era banida em vários países em

seu início por utilizar sangue e cenas teatrais “perturbadoras” em shows.

Há também a sonora com padres católicos que questionam e lamentam os fatos que se tornaram

corriqueiros para os cristãos noruegueses, ao mostrar vídeos das igrejas sendo queimadas, com

a intenção de persuadir, dar orientação e criar um julgamento particular. Na narração de Dunn,

ele afirma que essas ações têm menos a ver com o heavy metal e sim com a sensibilidade

cultural norueguesa. Pois, o ressentimento contra o cristianismo no país remonta aos anos

quando existiam os Vikings. Como vimos a cultura é uma cadeia que inclui os conhecimentos,as crenças, a moral, a linguagem, a lei e os costumes. O comportamento cultural não depende da

transmissão genética, mas da transmissão por seus antepassados e aprendizados culturais. Com

isso a cultura Viking, utilizada para se referir aos exploradores, guerreiros, piratas nórdicos que

invadiam, exploraram e colonizaram grandes áreas da Europa no final do século VIII até

meados do século XI, pode sim ter influenciado algumas bandas e sua expressão musical.

O próximo tópico apontado pelo documentário é “Morte e Violência”, que começa com

imagens de um show da banda Alice Cooper e a narração de Dunn em off . O documentário

 procura especialistas e bandas para discutir a espetacularização da morte pelas bandas de death

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metal, considerada como arte pelos integrantes do Cannibal Corpse. Representando algo que

não tem possibilidade de acontecer, um deleite de explorar o corpo, um desejo primitivo da

sociedade, sabendo que a morte é parte da mesma essência da vida. Na parte final do

documentário, novamente há a discussão com tons jornalísticos, ao colocar entrevista da

escritora Rose Dyson, que critica a maneira como as bandas de death metal exploram a morte e

carnificina. Para ela, esta música passa a ser comercializada entre jovens marginais e que não

têm uma base para diferenciar e saber como a violência os afeta. Segundo Dyson, o que

acontece é uma glamorização da violência e das armas, como uma forma de resolução dos

conflitos. E afirma que as pessoas veem na cultura popular uma violência que jamais verão

em suas vidas. Discussão que toma dimensões políticas, como crítica da cultura popular e

industrial, ao questionar o que está sendo comercializado, criando uma identidade entre osmembros de uma comunidade, em que não deveria acontecer tanta exploração da morte.

 Na sonora com o baixista da banda Cannibal Corpse as letras e capas de seus discos são de

impressionar. Já para o vocalista George Fisher, o que eles fazem é arte, repugnante sim, mas

arte. Para ele existem muitas obras de artes espalhadas pelo mundo, de coisas que realmente

 podem acontecer. E o que a maioria da brutalidade que a cena de death metal realiza em suas

músicas nunca irá acontecer. Em contrapartida o sociólogo, Keith, declara que existe umaexploração do corpo humano e ao mesmo tempo do medo da morte. A cultura heavy metal tem

 por interesse explorar aquilo que é perigoso, que dá medo. Um deleite em explorar o corpo, que

 para ele é um desejo primitivo de todo o ser humano. Durante a sonora de Keith são

apresentados imagens de álbuns de bandas, como  Dimmu Borgir , Megadeth. Já para o escritor 

satanista, o que acontece é uma exposição do quão as pessoas estão cientes da própria

mortalidade. Essa união de moralidade e imortalidade, já acontece em muitas gerações atrás. O

metal é uma maneira de mostrar que a morte é parte da mesma essência da vida. Um dos problemas que o documentário aponta é o motivo das bandas trataram tão abertamente da morte

em suas letras e que, ao longo de sua existência,o heavy metal foi associado à mortes e suicídios

de garotos. Finalizando o tópico, uma sonora com Dee Snider, mostra que todas as vezes que

aparece um assassinato brutal as pessoas tentam relacioná-lo com o metal.

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5 CONCLUSÃO

O documentário Metal: a headbanger´s journey, de acordo com os estudos realizados, apresenta

as características de um documentário, ao representar a realidade do mundo em que as pessoas

estão inseridas, acrescentar uma nova dimensão ao que as pessoas acreditam, com a intenção de

dar novas impressões, quebrando os “preconceitos” de alguns.  Metal: a headbanger’s journey

apresenta essas características de oferecer um retrato do mundo heavy metal , da maneira comosão as pessoas que estão inseridas nele e também para quem está fora, afirmando que este

gênero musical é mais do que simplesmente um amontoado de acordes estridentes. Apresenta

histórias e depoimentos de pessoas envolvidas nesse gênero musical possibilitando às pessoas

que o desconhecem, mudar o modo de vê-lo.

O documentário faz concluir que o heavy metal pode ser visto como uma cultura. É possível

 perceber que cada fã de um subgênero do heavy metal cultua uma “moral” e uma maneira de

vestir próprias.

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Ao final do filme, quem não está acostumado ao mundo do heavy metal , pode ver com outros

olhos a música e quebrar alguns juízos e perceber que a música não é simplesmente gritaria e

cultuação ao diabo. O ápice do documentário é a representação do heavy metal como cultura, na

qual o modo de vestir com roupas pretas, couro, bandanas e outros acessórios é uma maneira de

inserção social das pessoas. Além do vestir, há também o modo de agir, que não é ligado à

“modinha” representada pela indústria cultural.

O filme para quem é fã do gênero é um deleite durante os seus 92 minutos. Com pessoas que

marcaram a história do heavy metal, como Tony Iommi, Alice Cooper, Bruce Dickson e Dee

Snider. Vê-lo cria uma sensação de que quem curte heavy metal  realmente faz parte de algo

maior.

 Na parte técnica, o problema do documentário é a grande interferência do diretor Sam Dunn

durante as cenas do filme, como quando aparece em um programa de rádio. Nesta parte, Sam

fala do documentário que estava produzindo e da entrevista que ele mais gostou, fatos que não

acrescentam nada ao documentário e fogem completamente da discussão.

 

Outro problema do documentário é apresentar algumas pessoas sem identificar o nome, comoacontece com o baixista da banda Cannibal Corpse, pois o nome dele só aparece na segunda

vez em que ele narra em uma sonora, além de não repetir o nome ou profissão de algumas

 pessoas em momento diferentes em que aparecem.

A grande exposição de Alice Cooper prejudica a credibilidade do documentário, apesar de suas

falas serem importantes para o tópico, porém, poderia utilizar outras pessoas para tratar de

alguns assuntos. Algumas entrevistas, como a realizada com Dio, em sua casa, apresentamaspectos que fogem de um documentário e assemelham-se a um programa televisivo.

Ao final do documentário, o diretor consegue responder a proposta que é colocada logo no

início do filme: por que o heavy metal causa tanta aversão? O simples fato de o heavy metal 

continuar vivo, diante de tudo isso, é pela nova geração de fãs que está surgindo e pela velha

guarda se manter ativa. Ou seja, seus valores ainda fazem sentido para muitos.

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Para os mais novos, o documentário mostra a possibilidade de transcender a vida cotidiana de

uma maneira muito gloriosa. O heavy metal  pode ser considerado uma catarse do mundo, a

 beleza, o bem e a verdade estão nos palcos, nos “deuses do rock”.

O heavy metal  é uma forma de fazer com que as pessoas relaxem ao escutar a música e se

sentirem menos agressivas. Pois, como já diria Ozzy Osbourne, é melhor as pessoas pulando e

se divertindo em seu show do que roubando uma velhinha. E se suas letras incitassem ao

suicídio seus shows não seriam tão cheios. Este estilo trata do que as pessoas sentem, é algo que

sempre vai estar ali para eles, sem julgar e criticar. Para alguns o heavy metal é um sacramento,

algo que dá esperanças de ter uma vida melhor e um lugar no paraíso. Diferentemente dos

religiosos que encontram esperanças em igrejas e rezas, os metaleiros encontram a sua salvaçãoem um show e escutando as suas músicas preferidas. Força esta, que se for analisar contrapõe o

que muitos dizem, essa ligação dos fãs tem um caráter de fé e religião, uma força espiritual.

Quem sabe um atalho para Deus.

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ANEXOS

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Anexo A - : Metal: a headbangers journey

Capa do documetário: