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ESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA
INSTITUTO ECUMÊNICO DE PÓS-GRADUÇÃO EM TEOLOGIA ESPECIALIZAÇÃO EM ACONSELHAMENTO E PSICOLOGIA PASTORAL
DANOS CAUSADOS PELO ALCOOLISMO
Trabalho apresentado ao INSTITUTO ECUMÊNICO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TEOLOGIA em cumprimento parcial das exigências para a obtenção do grau de
Especialização em Aconselhamento e Psicologia Pastoral
por
Edson Elmar Müller
Setembro, 2007.
2
SUMÁRIO
SUMÁRIO ................................................................................................................ 02
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 03
1. ALGUNS CONCEITOS SOBRE ALCOOLISMO ................................................. 05
1.1 - O que é o álcool? ........................................................................................ 09
1.2 - Origem do álcool . ....................................................................................... 10
1.3 - Padrões de consumo de álcool na população brasileira ............................ 12
2. DANOS CAUSADOS PELO ALCOOLISMO NA VIDA PESSOAL, FAMILIAR E
SOCIAL ................................................................................................................ 19
2.1 - Danos causados pelo alcoolismo na vida pessoal - reações no organismo
2.1.1 - Prejuízos orgânicos do alcoolismo ..................................................... 20
2.1.2 - Prejuízos psíquicos do alcoolismo .................................................... 21
2.2 - Danos causados pelo alcoolismo na vida familiar ........................................ 22
2.2.1 - Relacionamento familiar ..................................................................... 22
2.2.2 - Danos em filhos de alcoolistas ........................................................... 25
2.2.3 - Danos causados pelo álcool na adolescência .................................... 27
2.2.4 - Violência relacionada ao álcool .......................................................... 30
2.2.5 - Violência doméstica ............................................................................ 31
2.3. Danos causados pelo alcoolismo na sociedade ............................................ 32
3. PROPOSTAS PARA A REDUÇÃO DE DANOS
CAUSADOS PELO ALCOOLISMO ..................................................................... 37
CONCLUSÃO ..................................................................................................... ... 42
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................ 46
3
INTRODUÇÃO
Neste trabalho abordaremos um tema envolvendo um costume que todos
aceitam com naturalidade, e que é apoiado por um constante bombardeio de
mensagens publicitárias. Referimo-nos ao consumo de bebidas alcoólicas.
Através dos séculos, a humanidade vem celebrando a vida, brindando ao
amor, a alegria e o êxito, com um copo na mão.
Mas o álcool tem o poder de arruinar silenciosamente e sem misericórdia a
vida de homens, mulheres, jovens e até crianças. Por tudo isso, um dos problemas
mais graves de saúde pública em nosso país, é o alcoolismo.
O trabalho que segue, trata do alcoolismo, uma dependência causada pelo
consumo exagerado de álcool, que age na pessoa, trazendo resultados nem sempre
desejáveis.
O alcoolismo não atinge unicamente as pessoas dependentes do álcool,
mas tem também repercussões na família, no seu conjunto, nas relações
profissionais e privadas, assim como na sociedade em geral.
4Para nos aprofundarmos um pouco mais no tema alcoolismo, propomos o
trabalho que segue e que será desenvolvido em três capítulos.
O primeiro capítulo tratará de conceitos e algumas informações sobre o
alcoolismo, a idéia é apresentar algumas informações gerais sobre o álcool e o
alcoolismo.
O segundo capítulo tratará então especificamente dos danos causados pelo
alcoolismo na vida pessoal, familiar e na sociedade como um todo. Onde
procuraremos mostrar os graves danos causados pelo consumo de álcool.
No terceiro capítulo procuraremos apresentar algumas propostas que estão
sendo feitas pelo próprio governo federal em relação aos danos causados pelo
álcool, e também o que pode ser feito a nível de Igreja cristã e pessoalmente
também.
O trabalho será elaborado através de pesquisas bibliográficas referentes ao
tema proposto. Será muito utilizado material extraído na internet sobre pesquisas e
dados estatísticos referentes a questão do alcoolismo.
5
1. ALGUNS CONCEITOS SOBRE ALCOOLISMO
“O álcool, a pior de todas as drogas, abre as portas a tragédias familiares e
sociais". Anônimo
Alcoolismo uma doença de natureza complexa, na qual o álcool atua como
fator determinante sobre causas psicossomáticas preexistente no indivíduo, e para
cujo tratamento é preciso recorrer a processos profiláticos de grande amplitude.
Apesar do desconhecimento por parte da maioria das pessoas, o álcool
também é considerado uma droga psicotrópica, pois ele atua no sistema nervoso
central, provocando uma mudança no comportamento de quem o consome, além de
ter potencial para desenvolver dependência.
O álcool é uma das poucas drogas psicotrópicas que tem seu consumo
admitido e até incentivado pela sociedade. Nos meios de comunicação de massa,
especialmente a televisão, o álcool é “endeusado”. A veiculação de propagandas de
bebidas alcoólicas não tem limite. Em todos os horários, as casas são
bombardeadas pelas inserções de cervejas e outros produtos que, praticamente,
obrigam o espectador - mesmo que nunca tenha tido acesso a um copo na vida – a
consumir. “Engraçadinhas” e “bem-humoradas”, protagonizadas por belas mulheres
e personagens caricatos da vida nacional, as propagandas atraem crianças e
adolescentes e os familiarizam, desde cedo, ao gosto pela bebida. Como resultado,
6formamos uma legião de alcoolistas. Aquele sujeito que não bebe é excluído do
grupo, discriminado. A moda é beber... e matar... e morrer... e ferir... e chorar...
As autoridades e a sociedade dão muito pouca atenção às tragédias
provocadas, diariamente, pelo álcool. Insistem no “combate” ao tráfico de
entorpecentes ilegais, mas esquecem que o perigo está, mesmo, na esquina de
casa, no bar mais próximo... não enxergam que o grande risco mora nas festas
juvenis dominadas pela bebedeira, em que o importante, o bacana, o “barato” é sair
arrastando-se (ou arrastado) de bêbado. Esse é um dos motivos pelo qual ele é
encarado de forma diferenciada, quando comparado com as demais drogas.
Apesar de sua ampla aceitação social, o consumo de bebidas alcoólicas,
quando excessivo, passa a ser um problema. Além dos inúmeros acidentes de
trânsito e da violência associada a episódios de embriaguez, o consumo de álcool a
longo prazo, dependendo da dose, freqüência e circunstâncias, pode provocar um
quadro de dependência conhecido como alcoolismo. Desta forma, o consumo
inadequado do álcool é um importante problema de saúde pública, especialmente
nas sociedades ocidentais, acarretando altos custos para sociedade e envolvendo
questões médicas, psicológicas, profissionais e familiares.
Segundo Krüger “o alcoolismo não é um simples problema de cifras,
números, percentagens ou quantidade de pessoas. É um profundo problema
humano, familiar, social e espiritual. Implica a destruição das pessoas afetadas,
todas elas criaturas de Deus, feitas à sua imagem e semelhança. Por isso ninguém -
e menos ainda o membro de uma igreja - poderá dizer: “Esse problema não me
7afeta, pois não sou alcoolista nem tenho membros da família que são alcoolistas.
Eles que se virem”1.
Gierus afirma que a “medicina considera o alcoolismo uma doença
progressiva que sempre provoca morte prematura. A enfermidade é muito complexa,
pois afeta não somente organismo, mas também a mente da pessoa alcoolista –
quer dizer, toda sua personalidade”2.
Alcoolistas são bebedores excessivos, cuja dependência do álcool chega a
ponto de acarretar-lhes perturbações mentais evidentes, manifestações afetando a
saúde física e mental, suas reações individuais, seu comportamento sócio-
econômico e suas relações familiares3.
Ainda segundo Krüger,
O alcoolismo pertence às adições. Uma adição é a necessidade imperiosa de consumir regularmente alguma substância, ou seja, não ter condições de moderar o consumo e, menos ainda, de abandoná-lo totalmente. Toda adição inclui uma multiplicidade de fatores. ... Na verdade, as adições não apenas causam doenças, mas são doenças de fato. Para muitas delas, há possibilidades de recuperação, e quase todas podem ser previnidas4.
Alcoolismo é qualquer uso de bebidas alcoólicas que ocasionam prejuízo ao
indivíduo, a sociedade ou a ambos. Portanto podemos definir alcoolismo, como
sendo uma dependência orgânica e emocional do álcool que é causada pela
ingestão mais ou menos prolongada de bebidas alcoólicas, que se manifesta num
desejo ou compulsão pelo consumo de bebida alcoolica5.
1 KRÜGER, René. Voltar do abismo: uma abordagem pastoral do alcoolismo. p. 8-9 2 GIERUS, Friedrich. Enfrentando o alcoolismo. p. 8. 3 GIERUS, Friedrich. Enfrentando o alcoolismo. p. 8. 4 KRÜGER, René. Voltar do abismo: uma abordagem pastoral do alcoolismo. p. 9 5 Ibidem. p. 10.
8Krüger diz,
A dependência da bebida é tanta que a pessoa alcoolista, após beber o primeiro copo, costuma não parar até chegar ao estado de embriaguez. Ou seja, perde o controle sobre a quantidade que bebe; ingere maior quantidade do que o "normal" (por exemplo, o copo que alguém bebe junto com o almoço ou numa festa). Ambas as caracterizações – a dependência e a falta de controle depois de começar a beber - constituem os sinais principais e inconfundíveis do alcoolismo6.
Além da dependência, o álcool é fator inequívoco de criminalidade.
Ignorando as leis e as recomendações feitas pelos meios de comunicação, são
muitas as pessoas que assumem a direção de veículos automotores embriagadas,
provocando acidentes, não raro, muito graves. Há os que ficam agressivos sob efeito
de bebidas alcoólicas e as conseqüências são percebidas nas Delegacias de
Polícia: mulheres espancadas por seus companheiros, brigas em bares, lesões
corporais graves, homicídios. Tudo provocado por bebidas alcoólicas, vendidas sem
nenhum controle.
De acordo com o II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas
Psicotrópicas no Brasil de 2005, realizado pelo CEBRID/UNIFESP, 12,3% das
pessoas com idades entre 12 e 65 anos apresentam risco para a dependência do
álcool e cerca de 75% já beberam alguma vez na vida. Os dados também indicam o
consumo de álcool em faixas etárias cada vez mais precoces.
Além disso, grande parte dos acidentes de trânsito com vítimas está
associado ao uso de bebidas alcoólicas pelo condutor do veículo ou pelo pedestre
vítima de atropelamento. Uma pesquisa do ano passado, realizada pela Associação
Brasileira de Medicina do Trafego (ABRAMET) em quatro grandes capitais
6 Ibidem. p. 10.
9brasileiras (Curitiba, Brasília, Salvador e Recife) aponta que 61% dos acidentados
haviam ingerido bebida alcoólica antes do acidente. A pesquisa também revelou que
o jovem é sempre a maior vítima.
Os gastos públicos do Sistema Único de Saúde (SUS), com tratamento de
dependentes de álcool e outras drogas em unidades extra-hospitalares, como os
Centros de Atenção Psicossocial - Álcool e Drogas (CAPS-ad), somaram, entre 2002
e junho de 2006, R$ 36.887.442,95. Além disso, outros R$ 4.317.251,59 foram
gastos em procedimentos hospitalares de internações relacionadas ao uso de álcool
e outras drogas no mesmo período. Vale salientar que esses valores incluem apenas
os custos com o tratamento hospitalar e extra-hospitalar para o uso ou dependência
de álcool e outras drogas, estando excluídas, portanto, as doenças e agravos à
saúde decorrentes do consumo e dependência destas substâncias. Estudos
internacionais estimam em 6% do PIB os custos sociais, diretos e indiretos, do uso
nocivo de bebidas alcoólicas7.
1.1 O QUE É O ÁLCOOL?
O álcool é uma substância lícita, obtido a partir fermentação ou destilação da
glicose presente em cereais, raízes e frutas. O álcool está presente em quase todas
as culturas e participa plenamente do cotidiano da humanidade. É também a
substância que mais causa danos à saúde, causa dependência e possui um quadro
de abstinência que pode levar ao óbito, se não tratada.
7 SILVA, Ruben. Governo lança Política Nacional sobre Bebidas Alcoólicas. http://www.saude.gov.br em 23/05/07.
10Ele se encontra em várias substâncias. Apresenta-se como combustível,
álcool hospitalar e álcool ingerível (etanol), o qual será abordado neste trabalho.
Apesar de seu livre e generalizado uso, o álcool ingerível é o mais
degradante de todos os tóxicos, sendo capaz de reduzir o homem a uma condição
inferior a das criaturas irracionais, tornado suas atitudes inconscientes, pois é uma
substância psicoativa, que produz alterações no funcionamento do cérebro,
alterando o comportamento das pessoas.
O maior problema é o fato de o álcool ser visto como bem vindo em qualquer
lugar e ocasião, bem como o fato de que há muitas idéias errôneas a respeito de
seu valor, pois traz conseqüências alarmantes, devendo preocupar a todos.
Na verdade o álcool é uma droga, como outra qualquer, e que modifica o
estado de ânimo e altera o organismo de maneira cumulativa. O álcool ataca o
cérebro, o fígado, o coração, o estômago, o duodeno, o pâncreas, os nervos, e a
longo prazo, a maioria dos órgãos e sistemas do corpo humano8.
1.2. ORIGEM DO ÁLCOOL
A verdade é que jamais saberemos exatamente como ocorreu à descoberta
do álcool. Certo é que ele, bem como os problemas de seu uso inadequado são
antigos conhecidos do Homem. Beber é certamente um dos costumes mais antigos,
8 KRÜGER, René. Voltar do abismo: uma abordagem pastoral do alcoolismo. p. 11
11que persiste a milhares de anos, apesar de que sempre se soube de seus perigos
potenciais. Incontáveis costumes vieram e se foram. Contudo, este permaneceu.
As primeiras informações sobre o uso do álcool datam de 6000 a.C., e a sua
difusão generalizada permite que conjeture-se a respeito e se formulem hipóteses
de ´por que o álcool é a droga de eleição, à qual outros psicotrópicos vêm se
sobrepor, mas não para substituí-lo.’ Em primeiro lugar deve ser considerado a
grande disponibilidade do álcool, que sempre persistiu, sendo um produto de
fermentação de açúcares, pode ser facilmente obtida em qualquer região, enquanto
que outros psicoativos sofrem limitações devido a sua origem vegetal. A maior
disponibilidade se traduz no seu baixo custo.
A cerveja e o vinho foram as primeiras bebidas alcoólicas a serem
consumidas, pois dependiam exclusivamente do processo de fermentação. Na idade
média, as bebidas alcoólicas começam a ser utilizadas na sua forma destilada,
surgindo então o whisky, conhaque, run, cachaça, gim e vodka, as quais contém
uma concentração de álcool em 40% à 50%, muito superior aos 4% da cerveja e dos
12% do vinho.
O início da era dos destilados, causam uma revolução na história das
bebidas alcoólicas, já que dissipam as preocupações mais rapidamente do que o
vinho e a cerveja, assim como produzem alívio mais eficiente na dor, bem como a
euforia é mais prolongada. Entretanto, logo se percebeu que não só os efeitos
positivos aumentam com os destilados, mas também os problemas relacionados ao
12álcool, como a embriagues e o alcoolismo. Portanto, temos ai os dois lados da
moeda.
1.3. PADRÕES DE CONSUMO DE ÁLCOOL NA POPULAÇÃO
BRASILEIRA9
A Secretaria Nacional Anti-drogas (SENAD) do Gabinete de Segurança
Institucional da Presidência da República, em parceria com a Unidade de Pesquisa
em Álcool e Drogas (UNIAD), do Departamento de Psiquiatria da Universidade
Federal de São Paulo (UNIFESP), realizou o I Levantamento Nacional sobre os
Padrões de Consumo de Álcool na População Brasileira. O principal propósito
consistiu no oferecimento do panorama nacional sobre os padrões de consumo de
bebidas alcoólicas pelos brasileiros.
A Metodologia utilizada para este levantamento foram entrevistas.
Realizaram-se 3007 entrevistas, 2346 com adultos de faixa etária superior a 18 anos
e 661 entrevistas com adolescentes de 14 a 17 anos em 143 municípios brasileiros.
Os Resultados gerais obtidos por este levantamento foram os seguintes:
- 52% dos brasileiros beberam pelo menos uma vez no último ano e os 48%
restantes relataram estar abstinentes, de tal forma que não fizeram uso na vida e
tampouco nos 12 meses anteriores à entrevista.
9 http://cisa.org.br/UserFiles/cartilha_alcool.pdf, Acesso em 27/08/07.
13- As mulheres apresentam maior prevalência de abstinência (59%) e os
homens bebem mais frequentemente, ou seja, 39% dos homens bebem pelo menos
1 vez/semana, dos quais 11% bebem diariamente. A quantidade de bebida por
ocasião de consumo também difere conforme o sexo, ou seja, enquanto a maioria
das mulheres (68%) bebeu até 2 doses de álcool na última ocasião, 38% dos
homens beberam 5 ou mais doses, dos quais 11% beberam 12 ou mais doses na
última ocasião.
- Por faixa etária os entrevistados com idade superior a 60 anos são
frequentemente abstêmios (68%) e ao beberem fazem-no em pequenas
quantidades, sendo que a maioria (70%) bebeu até 2 doses na última ocasião de
consumo. Em freqüência, cerca de 30% dos brasileiros, com idade até 44 anos,
consumiram 5 ou mais doses de bebidas na última ocasião de consumo, sendo que,
dentro dessa mesma faixa etária, cerca de 23% dos jovens beberam de forma
freqüente, ou seja, de 1 a 4 vezes/semana.
- Os dados também foram analisados por regiões. O Sul é a região que
apresentou maiores freqüências de consumo (36% dos entrevistados beberam pelo
menos 1 vez/semana, dos quais 11% fazem-no diariamente). Porém, o consumo na
Região Sul é o mais “leve” em termos de quantidade (66% da população bebeu até
2 doses na última ocasião), sendo maior entre os entrevistados das regiões Norte,
Nordeste e Centro-Oeste.
- Quando a questão é classe socioeconômica verificou-se que as classes A,
B e C são as de uso mais freqüente, sendo que os índices de abstinência são
14maiores para as classes D e E (de prevalência entre 55 e 60%). Porém, dois
terços dos entrevistados da classe socioeconômica A fizeram-no de forma “leve”, ou
seja, até 2 doses, enquanto que 45% dos entrevistados da classe E beberam mais
de 5 doses alcoólicas na última ocasião, relatando um padrão de beber mais
“pesado”.
- Quanto aos tipos de bebida consumida, a cerveja e o chope são os mais
consumidos (61% do total), sendo que o vinho e destilados ocupam,
respectivamente a segunda (25%) e terceira (12%) colocações.
- Já na questão da diferença entre os sexos por tipo de bebida, não há
diferença para o uso de cerveja, mulheres bebem mais vinho que os homens, em
contrapartida, os homens bebem mais destilados que as mulheres. No que concerne
ao uso de destilados, é feito preferentemente na forma de cachaça (66%) e
prevalentemente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e por pessoas de
baixa condição socioeconômica (31%).
A pesquisa também levantou dados sobre o padrão de consumo entre os
jovens brasileiros, e os resultados foram os seguintes10:
Verificou-se que entre os adolescentes, 66% são abstêmios, 35%
consomem bebidas alcoólicas pelo menos uma vez/ano e 24% pelo menos uma
vez/mês.
10 Ibidem.
15Na questão última ocasião de consumo os homens beberam maiores
quantidades, sendo que um terço deles relatou ter consumido de 5 a mais doses.
O padrão binge de consumo (definido como o consumo de 4 ou 5 doses de
álcool, respectivamente, entre mulheres e homens) é mais prevalente entre os
homens (21%) que mulheres (12%).
A cerveja é a bebida mais consumida pelos adolescentes (52%), seguida do
vinho (35%), destilados (7%) e bebidas do tipo “ice” (6%). Os homens apresentaram
tendência de beber mais destilados que mulheres.
O início do uso de álcool na vida e do uso regular deram-se,
respectivamente, para as idades de 13,9 e 14,6 anos. Em contraposição, entre os
adultos, as idades para as respectivas variáveis foram 15,3 e 17,3 anos.
Este levantamento também apresentou dados sobre o comportamento de
beber de risco entre adultos, e verificou-se o seguinte11:
28% da população brasileira, equivalente a 33,6 milhões de pessoas, já
bebeu em binge pelo menos uma vez no último ano, com prevalência maior entre os
homens (40% homens e 18% mulheres), porém, o uso em binge diminui com o
avançar da idade;
11 Ibidem.
1673% de todas as doses consumidas por aqueles que beberam em binge,
no último ano, foram feitas na forma de cerveja, seguida dos destilados (13%), vinho
(12%) e bebidas “ice” (1%)
27% dos adultos que beberam em “binge” nos últimos 12 meses beberam na
balada ou no bar
45% dos brasileiros adultos que beberam, tiveram problemas relacionados
ao álcool, mais prevalente entre homens (58% homens; 26% mulheres) e mais
comuns na região Centro-Oeste. Dentre os que relataram ter sofrido problemas
relacionados ao álcool, problemas físicos são os mais freqüentes.
3% dos brasileiros relataram ter feito uso nocivo e 9% são dependentes de
álcool, prevalência quatro vezes maior entre os homens.
Um dos problemas mais graves que podemos verificar também neste
levantamento é a perigosa combinação bebida e direção, os dados são os
seguintes12:
Dentre os indivíduos que consumiram álcool nos últimos 12 meses e dirigem
(tem carteira de habilitação e costumam dirigir, n=1152, 599 homens e 553
mulheres), 53,5% dos homens e 86,4% das mulheres nunca beberam e dirigiram.
12 Ibidem
17Dentre os adultos que dirigem alcoolizados (38,40% dos que bebem e
dirigem), 17,6% nunca dirigiu e bebeu depois de beber 3 doses, 23,7% dirigiu 2 ou 3
vezes depois de beber 3 doses, 18,3% dirigiram quase todas as vezes depois de
beber 3 doses de álcool.
43% dos indivíduos beberam na balada e em festas antes de dirigir (depois
de consumir 3 doses)
Os entrevistados neste levantamento demonstraram grande apoio às
políticas públicas sobre o álcool13.
A imensa maioria da população geral adulta apóia o aumento de programas
preventivos ao uso do álcool em escolas (92%), programas de tratamento para o
alcoolismo (91%) e campanhas governamentais de alerta sobre os riscos do álcool
(86%).
Quanto aos programas de tratamento aos dependentes de álcool, 96% acha
que deveriam ser gratuitos e obrigatórios em postos de saúde, ambulatórios da rede
pública e Hospitais Gerais.
56% defende o aumento dos impostos sobre as bebidas alcoólicas.
55% da população defende o aumento da idade mínima de 18 anos para a
venda de bebidas alcoólicas.
13 Ibidem.
18Para 89% dos entrevistados, os estabelecimentos não deveriam servir
bebidas alcoólicas para clientes que já estivessem bêbados. As padarias,
confeitarias e mercearias, na opinião de 74%, deveriam ser proibidas de vender
bebidas alcoólicas.
76% defende à restrição do horário de venda de bebidas alcoólicas14.
14 http://cisa.org.br/UserFiles/cartilha_alcool.pdf, Acesso em 27/08/07
19
2. DANOS CAUSADOS PELO ALCOOLISMO
NA VIDA PESSOAL, FAMILIAR E SOCIAL
Já vimos acima que o uso de álcool pode prejudicar o indivíduo em diversas
esferas de sua vida social. O uso indevido de álcool está relacionado a inúmeras
conseqüências negativas tanto na vida do cônjuge daquele que bebe quanto na vida
de seus filhos. Exemplos dessas complicações na vida do filho são: Síndrome Fetal
Alcoólica, abuso infantil e impacto nas esferas social, psicológica e econômica.
Como afirma Streck e Harpprecht, “o alcoolismo contribui para o aumento da
violência doméstica, da criminalidade, dos acidentes no trânsito, dos abusos sexuais
e estupros”15.
Neste capitulo, queremos apresentar alguns danos que são causados pelo
alcoolismo tanto na vida pessoal como familiar, e na sociedade como um todo, não
iremos abordar todos os danos causados pelo alcoolismo, mas alguns que no
momento julgamos mais relevantes.
2.1. DANOS CAUSADOS PELO ALCOOLISMO NA VIDA PESSOAL -
REAÇÕES NO ORGANISMO
15 STRECK, Valburga Schmiedt; SCHNEIDER-HARPPRECHT, Christoph. Imagens da família: dinâmica, conflitos e terapia do processo familiar, p. 131.
20Abraham J. Twerski, diz que “dificilmente há um tecido no corpo humano
que não seja danificado pelo abuso de álcool”16. Devemos, por isso, ter também em
mente a parte física do alcoolista, pois não podemos ignorar o corpo da pessoa.
Portanto vejamos alguns danos que são causados pelo alcoolismo na parte física do
sujeito alcoolista.
2.1.1. PREJUÍZOS ORGÂNICOS DO ALCOOLISMO
O alcoolismo causa comprometimento do sistema nervoso, aparelho
digestivo e cardiovascular17.
Sistema nervoso: Causa tremores, polineurite (sensibilidade à pressão dos
troncos nervosos, dores nas extremidades e outras).
Aparelho digestivo: Falta de apetite, gastrite com vômitos matinais, cirrose
hepática que pode levar o indivíduo à morte, degeneração ao câncer esofágico e
gástrico e outros18.
Aparelho cardiovascular: Insuficiência circulatória e a vasodilatação que
faz com que a pele se torne mais vermelha do que o normal, insuficiência cardíaca e
aumento da pressão arterial19 .
O álcool também altera o sono causando insônia e fazendo com que o
indivíduo sinta necessidade de beber a noite, alterando assim o ritmo sono-vigília
favorecendo o aparecimento de ataques epilépticos.
16 TWERSKI, M.D., Abraham J. Como proceder com o alcoólatra, p. 35 17 KRUSKE, Manfred. É só um pouquinho. In: Vida e Saúde. Casa Publicadora Brasileira, Ano 69, no 6, junho 2007, p.16. 18 TWERSKI, M.D., Abraham J. Como proceder com o alcoólatra, p. 35. 19 Ibidem, p.16.
21Em casos avançados causa impotência sexual, onde os testículos se
atrofiam, e diminuem a excreção hormonal. O atrofiamento e a lesão hepática
provocam queda dos pelos pubiano e axilares20.
2.1.2. PREJUÍZOS PSÍQUICOS DO ALCOOLISMO
A alteração mais evidente é sua labilidade emocional, unida a uma
acentuação efetiva de todas as vivências causando falta de domínio emocional.
A susceptibilidade emotiva faz com que os alcoólatras desconfiem de tudo e
de todos, fazendo idéias delirantes de ciúme e perseguição, como por exemplo, sem
base real acreditam ter provas de infidelidade conjugal21. Em virtude da disposição
emocional, muitos alcoólatras são sugestionáveis, o que faz com que as certas
pessoas se aproveitem disso.
Compromete as funções intelectuais, a memória, a percepção e a crítica,
que com o passar dos anos causa a decadência do caráter.
Eduardo Kalina, afirma que “drogar-se como suicidar-se é um ato
psicótico”22. Para Griffth Edwards, a bebida alcoólica causa muitos problemas
mentais, que não podem ser ignorados a fim de evitar o agravamento do problema.
Além do que, o álcool é uma droga lenitiva, que suaviza muitos tipos de desconforto
mental23. E uma constatação final: “O uso abusivo e a de dependência do álcool são
20 Ibidem, p.17. 21 EDWARDS, Griffth. O tratamento do alcoolismo. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 86. 22 KALINA, Eduardo. Viver sem drogas. p. 41. 23 EDWARDS, Griffth. op. cit. p. 105.
22os transtornos psiquiátricos mais prevalentes, sendo responsáveis pela maioria
das internações psiquiátricas...”. O álcool age diretamente sobre o Sistema Nervoso
Central24.
2.2. DANOS CAUSADOS PELO ALCOOLISMO NA VIDA FAMILIAR
2.2.1. RELACIONAMENTO FAMILIAR
A família continua sendo de fundamental importância na vida de cada ser
humano, e esta sofre muitas conseqüências com a alcoolização de um de seus
membros. A falta de amor, principalmente se for precoce, pode levar ou gerar a
adicção às drogas, segundo Eduardo Kalina25.
O comportamento, a conduta, as atitudes de um indivíduo dentro da família,
e do ambiente familiar, está relacionada com a dos demais membros desta família. E
quando ocorre uma mudança de comportamento de um dos membros isto provoca
mudanças nos demais membros.
Quando uma ou mais pessoas de um grupo familiar usam álcool,
estabelece-se, inegavelmente, uma tensão intensa com elevado limiar de ansiedade,
provocando o início de desorganização familiar. Pois, o alcoolismo dificilmente
afetará somente um membro da família, normalmente todos serão afetados. Griffth
24 RAMOS, Sérgio de Paula; BERTOLOTE, José Manuel et al. Alcoolismo hoje. 3 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997, p. 111. 25 KALINA, Eduardo. Drogadição II. p. 26 e 27.
23Edwards, afirma que a bebida frequëntemente afeta a família com a mesma
intensidade que afeta o alcoolista26.
Habitualmente, o “chefe” da família é a primeira vitima da alcoolização.
Antes mesmo que o alcoolismo chegue à fase decisiva, o bebedor excessivo
começa a negligenciar suas obrigações, no seu duplo aspecto de pai e provedor da
família.
Na medida em que se acentua a desagregação do alcoolismo, e se a
tolerância familiar é fraca em relação a esta conduta desviada, não tarda a isolá-lo
ou amputar aquele que tem esta patologia, para tornar a encontrar seu equilíbrio.
Segundo RAMOS e BERTOLOTE, um dos muitos efeitos ou danos que
atingem a família por causa do alcoolismo é o estresse, que acaba levando todo o
grupo familiar a adoecer27.
Se é evidente o papel do álcool na desorganização da família, resta saber se
ele é um fator desencadeante ou resultante de outra causa, sendo a alcoolização
secundária ou primária à desorganização familiar.
Uma das pessoas que mais sofre com as conseqüências do alcoolismo na
família é o cônjuge. E um dos problemas que muitas vezes a esposa de um
26 EDWARDS, Griffth. O tratamento do alcoolismo. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 43. 27 RAMOS, Sérgio de Paula; BERTOLOTE, José Manuel et al. Alcoolismo hoje. 3 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997, p. 209.
24alcoolista enfrenta é o ciúme, pois não há duvida que exista uma relação entre
ciúme e alcoolismo28.
No caso do cônjuge daquele que faz uso indevido de álcool, o álcool pode
danificar a performance deste indivíduo como pai ou mãe, como marido ou mulher
ou ainda como provedor da casa.
O casamento é mais facilmente rompido quando o alcoolismo está presente,
do que no grupo dos que usam ou usavam pouco álcool. Estes alcoolistas uma vez
divorciados custam mais a tornar a casar-se do que o grupo dos que usam pouco
álcool. As necessidades materiais da família servem freqüentemente para consumar
a separação, constituindo-se os alcoolistas em dependência da Previdência Social
ou dos órgãos de Higiene Mental.
Em muitas sociedades, o consumo de álcool se dá fora do ambiente familiar
e faz com que o tempo e o dinheiro gasto com esta prática desfalquem a família em
suas necessidades básicas.
Quando o doente é um filho, os pais, muitas vezes, não sabem como agir
frente à situação, descriminam-no, então, ou até fingem não estarem preocupados,
ao invés de ajudá-lo, o que é indispensável quando chegar a este ponto.
28 EDWARDS, Griffth. op. cit p. 86.
25Algumas experiências, em decorrência da embriaguez alcoólica, podem
deixar seqüelas permanentes na família: acidentes no ambiente familiar, violência
doméstica e doenças.
O uso abusivo do álcool pode levar ao desenvolvimento de transtornos
psiquiátricos e infecção por HIV, prejudicando a saúde física e financeira da família,
especialmente das famílias mais carentes.
2.2.2. DANOS EM FILHOS DE ALCOOLISTAS
Algumas pesquisas mostram que uma em cada quatro crianças menores de
18 anos está exposta ao abuso de álcool no ambiente familiar. Associado a
componentes biológicos, psicológicos e sociais, a influencia parental (pais,
cuidadores, responsáveis) corrobora para o desenvolvimento do abuso e
dependencia de álcool29.
Vários pesquisadores têm feitos estudos com filhos de alcoolistas, pois
esses têm grande chance de vivenciar eventos negativos durante o seu
desenvolvimento. O ambiente familiar e a maneira como os familiares se relacionam
podem afetar muito a vida dos jovens. Muitos estudos mostram que filhos de pais
alcoolistas apresentam elevadas taxas de psicopatologias (doenças psicológicas) e
muitos desenvolvem problemas com uso abusivo de álcool. Além disso, a
29 REVISTA ELETRÔNICA SAÚDE MENTAL ÁLCOOL E DROGAS. Estudo mostra que pais alcoolistas podem prejudicar o desenvolvimento dos filhos. Disponível em <http://www2.eerp.usp.br/resmad/resmad2/artigo_titulo.asp?rmr=58> Acesso em: 20 out. 2006.
26ansiedade, a depressão e a desordens comportamentais são mais comuns em
filhos de pais alcoolistas30.
A Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool e Drogas publicou um artigo de
revisão com o intuito de identificar as reais condições de vulnerabilidade e de
proteção à criança e ao adolescente expostos ao alcoolismo familiar. A coleta de
dados deu-se através de artigos sobre o tema filhos de alcoolistas com delimitação
do período de busca de 1995 a 2000 e foi dividida em duas fases: na primeira etapa
a pesquisa bibliográfica foi efetuada e na segunda realizou-se a análise e
distribuição dos artigos de acordo com os objetivos propostos pelo estudo em
questão31.
Após uma revisão minuciosa os artigos selecionados foram dispostos em
três categorias diferentes visando a apresentação dos resultados: alcoolismo
parental e características afetivas e comportamentais da criança ou do adolescente;
co-ocorrência de alcoolismo com outro distúrbio e características da criança ou do
adolescente e fatores que podem funcionar como protetores à criança/adolescente.
Os resultados mostram que crianças de pais alcoolistas apresentam
problemas escolares, como notas baixas e mau comportamento quando comparadas
aos filhos de não-alcoolistas. Demonstram também maior vergonha e sentimento de
inferioridade, sendo mais agressivos e hiperativos. Quanto ao ambiente familiar, a
relação dos filhos com os pais é ruim e com pouca conversa e carinho32.
30 Ibidem. 31 Ibidem. 32 Ibidem.
27Outro ponto que chama atenção é que muitos estudos mostram que essas
crianças se envolvem mais cedo com as drogas e acabam se tornando
dependentes, mas isso não é um consenso. Outras pesquisas defendem resultados
diferentes, mostrando que jovens que possuem pais alcoolistas observam o
sofrimento dos mesmos e acabam criando uma imagem negativa do álcool e se
afastam não perpetuando os padrões parentais em relação ao alcoolismo. Alguns
fatores podem ajudar filhos de pais alcoolistas, como um familiar que não faça uso
do álcool e pode proporcionar um ambiente melhor, incentivando rotinas familiares,
sendo carinhoso e conversando bastante com a criança.
O estudo evidenciou que o uso abusivo de álcool não afeta somente o
alcoolista, mas todos aqueles que fazem parte da família principalmente os filhos
que estão em fase de desenvolvimento e são muito mais sensíveis.
Explicita a questão da incidência freqüente do alcoolismo na família e a falta
de estudos nacionais sobre o tema e conclui enfatizando a importância de atentar-se
para os aspectos do funcionamento psicológico dessas crianças e adolescentes33.
2.2.3 - DANOS CAUSADOS PELO ÁLCOOL NA ADOLESCÊNCIA
Acabamos de ver os danos que o álcool pode trazer para filhos de pais
alcoolistas, analisemos agora um pouco dos danos que o álcool causa quando
usado pelo próprio adolescente.
33 Ibidem.
28O álcool é a substancia psicoativa mais consumida precocemente pelos
adolescentes, sendo que a idade de início do uso tem sido cada vez menor, o que
aumenta o risco de dependência, problemas no desenvolvimento e no futuro.
Aumenta também as chances de envolvimento em acidentes, violência sexual e
participação em gangues. Estudos mostram que o álcool na adolescência está
associado com mortes violentas, queda no desempenho escolar, dificuldades de
aprendizagem e prejuízo no desenvolvimento34.
Os danos causados pelo uso de álcool ao adolescente são diferentes
daqueles causados nos adultos, seja por questões existenciais desta etapa da vida,
seja por questões relacionadas ao amadurecimento do cérebro. O consumo de
álcool pode trazer prejuízos para a memória, dificultar a aprendizagem e o controle
de impulsos. Os profissionais que trabalham com adolescentes devem ter um
preparo para avaliar corretamente o possível uso abusivo ou a dependência,
conhecendo bem as características singulares dos adolescentes para que possam
adaptar os instrumentos disponíveis para diagnóstico, uma vez que foram
desenvolvidos para adultos35.
O artigo publicado pela Revista Brasileira de Psiquiatria descreveu aspectos
sociais associados ao consumo de bebidas alcoólicas por adolescentes, visando
orientar o profissional não especialista no trabalho com essas difíceis questões e
alertar para as conseqüências do uso do álcool nessa idade, bem como os prejuízos
no futuro. Os autores também citam dados onde o uso na vida de drogas
34 PECHANSKY, Flávio & SZOBOT, Claudia Maciel et. a. Uso de álcool entre adolescentes: conceitos, características epidemiológicas e fatores etiopatogênicos. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462004000500005&lng=pt&nrm=iso> Acesso em: 20 ago. 2007. 35 Ibidem.
29psicotrópicas entre jovens de 12 a 17 anos é de 48,3% em 107 grandes cidades
brasileiras, sendo o maior no índice de uso na vida de álcool na região Sul, 54,5%.
Pinsky e Silva, estudando comerciais de bebidas alcoólicas, demonstraram
que a freqüência destes era, em média, maior do que a freqüência de comerciais
sobre outros produtos, como bebidas não alcoólicas, medicamentos ou cigarros. Dos
cinco temas mais freqüentemente encontrados nesses comerciais, três deles (como
relaxamento, camaradagem e humor) eram diretamente relacionáveis às
expectativas dos jovens. Para uma mente tipicamente sugestionável como a de um
adolescente, a prática de propagandas que estimulam o uso de bebidas alcoólicas,
apoiadas na posição da sociedade e a falta de firmeza no cumprimento de leis, é um
caldo de cultura ideal para a experimentação tanto de drogas como de álcool,
contribuindo para a precocidade da exposição de jovens ao consumo abusivo.
Álcool na adolescência é um tema bastante controverso, pois a Lei brasileira
proíbe a venda de bebida alcoólica a menores de 18 anos, embora muitos jovens
façam uso em casa, em festas e às vezes até em ambientes públicos. A sociedade
age de forma diferente frente a esse problema, onde por um lado condena o abuso
de álcool, mas por outro aceita propagandas que estimulam o uso36.
O adolescente gosta de desafio e de burlar regras, acredita estar protegido
mesmo envolvendo-se em situações de risco que podem ter conseqüências graves.
Mesmo sem um diagnóstico de abuso ou dependência de álcool, pode se prejudicar
com o seu consumo, à medida que se habitua a passar por uma série de situações
36 Ibidem.
30apenas sob efeito de álcool. Vários adolescentes costumam, por exemplo,
associar o lazer ao consumo de álcool, ou só conseguem tomar iniciativas em
experiências afetivas e sexuais se beberem37.
O artigo procurou demonstrar que o consumo de álcool por adolescentes
tem elementos controversos que dificultam a compreensão do problema. Apesar de
trazer claras conseqüências orgânicas, comportamentais e na estrutura de
desenvolvimento da personalidade do jovem, o uso de álcool nesta faixa etária ainda
é combatido e valorizado, dependendo do ângulo em que o fenômeno é observado:
para a mídia, o consumo de álcool é favorecido. Para a lei e para os programas de
saúde pública, ele é combatido38.
No meio deste embate está o jovem com a personalidade em formação,
navegando entre correntes opostas. Entretanto, independentemente das forças em
questão, um ponto é inquestionável em relação ao consumo de álcool por
adolescentes: quanto mais precoce o início de uso, maior o risco de surgirem
conseqüências graves, cabendo aos profissionais que lidam com jovens alertá-los
para esses riscos39.
2.2.4 - VIOLÊNCIA RELACIONADA AO ÁLCOOL
Outro problema fortemente relacionado ao consumo exagerado de álcool
são os comportamentos agressivos. Este fato pode ser observado tanto em um
ambiente criminal como nos lares. Não é fácil interpretar relevância das palavras 37 Ibidem. 38 Ibidem. 39 Ibidem.
31“violência”, “agressão”, “crime”, principalmente se elas se referem à intenção de
machucar outra pessoa. No entanto, muitos estudos indicam que o consumo de
álcool pode provocar comportamentos violentos acima do que se considera
acidental40.
Outro fato importante que deve ser levado em consideração é a
porcentagem de pessoas que abusam do álcool entre reincidentes na prisão (em
todos os países onde se levantaram as estatísticas). É interessante notar que não só
o agressor como também a vítima podem ter consumido álcool antes ou durante o
crime. Também foi detectado álcool na maioria das investigações de casos de
estupro violento e também em outros crimes sexuais41.
2.2.5 - VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Vários estudos demonstram que mais de 50% dos casos de espancamento
de esposas têm relação direta com consumo de álcool pelo espancador. Uma
análise dos casos investigados de abuso ou negligência de crianças no Canadá
revelou que o agressor havia consumido álcool em 87% dos casos. Abusos sexuais
e atos incestuosos contra crianças também foram comprovadamente cometidos sob
a influência do álcool. Estudos e dados estatísticos destacam os efeitos físicos mais
comuns do abuso do álcool. No entanto, problemas psicológicos e doenças pós-
traumáticas não devem ser minimizados ou ignorados. Vítimas de um estilo de vida
40 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Álcool e redução de danos: uma abordagem inovadora para países em transição / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. - 1. ed. em português, ampl. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004. p. 44. 41 Ibidem, p. 44.
32baseado na violência doméstica podem apresentar problemas de longo prazo ou
até incuráveis como doenças de natureza afetiva, neurótica e de desenvolvimento42.
2.3. DANOS CAUSADOS PELO ALCOOLISMO NA SOCIEDADE
O problema social do alcoolismo cresce assustadoramente no mundo. No
Brasil, 12,3% das pessoas com idades entre 12 e 65 anos são dependentes de
álcool, de acordo com a última pesquisa da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad)
sobre uso de drogas no país, feita em 2005. O número subiu mais de 1% em relação
à pesquisa anterior, de 2001. A produção de bebidas alcoólicas se expande a cada
ano e tudo indica que o consumo cresce em toda a América Latina43.
Pode-se tranqüilamente afirmar que o número de alcoólatras é sempre maior
que aparece nas estatísticas de todas as comunidades onde o uso do álcool é um
traço social.
Não há dúvida de que a prevalência do alcoolismo parece marcadamente
afetada por fatores sociais e culturais. Ele é um fato universal e também um
comportamento transcultural; quase todas as sociedades o usaram ou o usam ainda,
como conseqüência de um costume socialmente aceito44.
42 Ibidem, p. 44. 43 RETRATO DO ALCOOLISMO. Disponível em <http://72.21.62.210/alcooledrogas/atualizacoes/cl_275a.htm > Acesso em: 20 mar. 2007. 44 KRÜGER, René. op. cit. p.12.
33A evidência de sua ação sócio-cultural está demonstrada pela proporção
variável dos usuários do álcool, segundo grupos profissionais, sociais, religiosos,
sexo, idade, e outros.
Segundo René Krüger:
A sociedade cultua o hábito prejudicial de beber "socialmente". Vivemos numa cultura alcoolizada e sexualizada. Há um paralelo interessante entre ambos os problemas. A "sexualização" tira da sexualidade seu componente fundamental do amor, reduzindo-a à simples produção egoísta e mecânica do prazer sem compromisso, embora depois se reclame dos problemas da gravidez precoce, da infidelidade, das crianças abandonadas ou da AIDS. Da mesma maneira, a alcoolização sugere que o álcool tem o prestígio da "boa vida", mas ao mesmo tempo rebaixa moralmente o doente alcoolista45.
Segundo Krüger, o que está por detrás dessa sociedade alcoolizada e que
incentiva o beber “socialmente” são “os enormes interesses econômicos, cujos
lucros vêm, em grande parte, do bebedor social e do alcoolista”46.
E o mais triste desta “realidade alcoólica” é que a sociedade (de maneira
geral) que antes incentivou o indivíduo a beber, agora ignora o alcoólatra, não
vendo-o como um doente, mas como um simples desvinculado da sociedade, pois é
considerado um desnorteado, perturbado, que só prejuízos a sociedade47.
Entre os muitos danos que existem na sociedade por causa do alcoolismo
podemos destacar:
... sofrimento e complicações físicas e mentais, desemprego, violência e criminalidade, mortalidade, morbidade, entre outros. Todos estes problemas acarretam, significativamente, um elevado custo econômico para a sociedade. Pouco tem sido feito, portanto, para mensurar, quantitativamente, suas conseqüências em nosso país. Uma constatação da necessidade de ampliação desta discussão está no fato de que, atualmente, elementos fundamentais - como os custos indiretos - não estão sendo considerados nas estimativas de custos da dependência do álcool48.
45 Ibidem, p. 13. 46 Ibidem, p. 13. 47 Ibidem, p. 13. 48 LARANJEIRA, Ronaldo et al. Impacto social do abuso do álcool e economia da saúde. Disponível em < http://www.alcoolismo.com.br/impacto_social.html> Acesso em: 20 jul. 2007.
34Além destes destaca-se ainda
o fim da harmonia entre vizinhos; os problemas no ambiente de trabalho (e também acidentes); conflitos com a lei, como dirigir embriagado, crimes violentos cometidos após ou durante o consumo de álcool, delitos relacionados a comportamentos agressivos ou anti-sociais conseqüentes do abuso de álcool49.
Podemos observar com isto que os danos causados pelo alcoolismo a
sociedade são enormes, pois as vítimas saem dos bares, de dentro de casa, da
turma de amigos. As estatísticas aparecem nos acidentes de trânsito, nas
internações hospitalares, nas consultas por dependência. E todos estes problemas
geram custos enormes aos cofres públicos.
De acordo com estudos realizados, o álcool no Brasil é responsável por 85%
das internações decorrentes do uso de drogas; 20% das internações em clínica
geral e 50% das internações masculinas psiquiátricas. Somente entre os anos de
1995 e 1997, as internações decorrentes do uso abusivo e dependência de álcool e
outras drogas geraram um gasto de 310 milhões de reais. Além disso, estudo
realizado em Recife, Brasília, Curitiba e Salvador detectou índice de 61% de casos
de alcoolemia em pessoas envolvidas em acidentes de trânsito. Visto que o aumento
do consumo de álcool eleva também a gravidade dos problemas decorrentes,
conseqüentemente, o custo social será maior50.
De acordo com reportagem do jornal o GLOBO, os gastos públicos do
Sistema Único de Saúde (SUS) com tratamento de dependentes de álcool e outras
drogas em unidades extra-hospitalares somaram, entre 2002 e junho de 2006, R$
36.887.442,95. Outros R$ 4.317.251,59 foram gastos em procedimentos
49 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas, op. cit. p.39. 50 LARANJEIRA, Ronaldo et al. Impacto social do abuso do álcool e economia da saúde. op. cit.
35hospitalares de internações relacionadas ao uso de álcool e outras drogas no
período. Estudos internacionais estimam em 6% do PIB os custos sociais, diretos e
indiretos, do uso nocivo de álcool51.
Cada vez mais, a sociedade brasileira vem sentindo o impacto do custo
social gerado pelo uso abusivo de álcool, ao mesmo tempo em que percebe que os
investimentos realizados não estão conseguindo reduzir os problemas decorrentes,
tais como criminalidade, acidentes, violência doméstica, absenteísmo, desemprego e
outros. A razão para isso pode estar na má alocação dos recursos, uma vez que, no
Brasil, ainda não existem parâmetros, baseados em evidências científicas, que
sustentem uma correta tomada de decisão52.
Em alguns países desenvolvidos, onde também existe a preocupação com
os custos sociais gerados pelo abuso e/ou dependência química, tal decisão vem
sendo respaldada pela realização de estudos nesta área. Resultados já obtidos por
estes estudos demonstram a importância deste tipo de avaliação na tomada de
decisão quanto à alocação de recursos em intervenções que possam vir a minimizar,
de forma comprovadamente custo-efetiva, a incidência desses custos para a
sociedade53.
Para termos uma noção dos danos causados pelo alcoolismo a nível
mundial vejamos os dados a seguir apresentados pela OMS (Organização Mundial
da Saúde):
51 DAMÉ, Luiza. Governo lança plano para combater males do álcool. O Globo Online. Disponível em <http://www.abert.org.br/D_mostra_clipping.cfm?noticia=105362> Acesso em: 20 jun. 2007 52 LARANJEIRA, Ronaldo et al. Impacto social do abuso do álcool e economia da saúde. op. cit. 53 Ibidem.
36... o álcool é o terceiro maior fator de risco tanto de morte como de
incapacidade na Europa, embora entre os jovens já tenha se transformado no primeiro, com 55.000 mortes ao ano de pessoas entre 15 e 29 anos, especialmente devido aos acidentes de trânsito.
No mundo todo, é o quinto fator de morte prematura e de incapacidade e provoca 4,4% da carga mundial de morbidade, já que até 60 doenças são associadas a seu consumo .
Além disso, seu consumo esteve relacionado com 6,1% das mortes de homens ocorridas no mundo todo em 2002, uma percentagem que entre as mulheres foi de 1,1%, o que representa uma média para ambos os sexos de 3,7%.
O efeito nocivo do álcool tem uma relação especial com os transtornos neuropsiquiátricos (entre eles o alcoolismo), que chegam a 34,3% das doenças e mortes ligadas ao hábito.
Seguem os traumatismos involuntários como os associados aos acidentes de trânsito, queimaduras, afogamentos e quedas (25,5%); os propositais como o suicídio (11%); a cirrose hepática (10,2%), as doenças cardiovasculares (9,8%) e o câncer (9%).
Se forem consideradas apenas as mortes, as três categorias principais correspondem a traumatismos involuntários (25%), doenças cardiovasculares (22%) e câncer (20%).
Além disso, o relatório da OMS defende que em muitas doenças, entre elas o câncer de mama, o risco aumenta em função da quantidade de álcool consumido, ao tempo que "a acumulação de indícios sugere uma relação entre o consumo e doenças infecciosas tais como a AIDS e a tuberculose, embora essa relação ainda precise ser demonstrada e quantificada”54.
E ainda de acordo com a OMS o custo conjunto do consumo nocivo de
álcool chegou a US$ 665 bilhões, no ano de 200255.
Com estes dados podemos verificar o grande impacto social negativo, ou os
grandes danos e prejuízos causados pelo alcoolismo.
54 OMS vai preparar plano para reduzir efeitos nocivos do consumo de álcool. Disponível em <http://www.alcoolismo.com.br/oms_alcool.html> Acesso em: 10 set. 2007. 55 Ibidem.
37
3. PROPOSTAS PARA A REDUÇÃO DE DANOS
CAUSADOS PELO ALCOOLISMO
Após termos destacado até aqui os enormes danos causados pelo
alcoolismo tanto na vida pessoal, familiar como na sociedade, precisamos nos
preocupar agora em como tentar reverter este quadro, ou ao menos reduzir os
danos.
A prevenção do alcoolismo, ou a redução de danos, deve basear-se em
objetivos realistas. A esperança de erradicá-lo ou suprimi-lo totalmente é utópica e
irrealizável. Por isso, é importante procurar-se dentro da realidade sócio-cultural e
econômica de regiões e países; estabelecer objetivos prioritários para diminuir os
riscos e as conseqüências que se avolumam na sociedade alcoólica de nossa
época.
Apesar das dificuldades previsíveis, a profilaxia do alcoolismo figura entre as
atividades preventivas das mais importantes e frutíferas. É necessário insistir na
idéia de prevenção e assistência que se encontra centrado no mesmo objetivo,
constituindo em realidade uma missão unitária.
A Organização Mundial de Saúde sugere que as seguintes medidas de
saúde pública sejam implementadas a fim de dar combate aos danos causados pelo
álcool:
381 - Taxação das bebidas alcoólicas: quanto maior o preço, menor o consumo: Há evidências claras na literatura científica de que o preço das bebidas alcoólicas exerce influencia no consumo dessa substância. Nessa lógica, quanto menor o preço, maior o consumo de álcool e quanto maior o preço, menor o consumo. 2 - Regulação da disponibilidade física do álcool: diminuição do acesso à bebida: A maioria dos países apresenta leis restringindo tanto quem pode consumir quanto quem pode vender álcool. Os estudos mostram que quanto menor o acesso às bebidas alcoólicas, menor será o consumo e os problemas relacionados ao uso dessa substância. No entanto, as restrições no acesso às bebidas alcoólicas trazem também conseqüências adversas: há o aumento na produção caseira de álcool e no contrabando dessa substância. 3 - Modificação do contexto de consumo de bebidas alcoólicas: Há intervenções que buscam atuar na mudança de contexto dos locais onde as bebidas alcoólicas são servidas. Tais medidas incluem a co-responsabilização dos estabelecimentos que vendem álcool e do staff que serve (barman e garçons) essa substância de maneira abusiva. A venda responsável de bebidas alcoólicas inclui mudança de atitudes dos estabelecimentos e treinamento do staff de funcionários visando à prevenção ao uso abusivo de álcool. A venda responsável de bebidas é uma medida que pode ajudar no combate ao uso abusivo de álcool e na prevenção dos problemas decorrentes desse uso. 4 - Medidas de combate ao beber e dirigir: Tradicionalmente, as leis relacionadas ao combate do beber e dirigir buscam penalizar os infratores respaldadas pela idéia de que essas punições irão precaver o indivíduo de fazer o uso associado de álcool e direção. Há, contudo, poucas evidências na literatura que apóiem às leis. A exceção a essa regra parece ser a suspensão das licenças de motorista, medida eficiente no combate tanto do beber e dirigir quanto de infrações automobilísticas em que o uso de álcool não esteve associado. Uma outra estratégia de combate ao beber e dirigir é o aumento na visibilidade de medidas de avaliação do consumo de álcool, tais como a presença constante e aleatória de bafômetros pelas ruas e avenidas. Somado a essas medidas, a redução nos limites permitidos de alcoolemia parece também ser uma medida efetiva no combate do beber e dirigir56.
Ewa Oslatynska, dá as seguintes recomendações para que aja uma redução
de danos no consumo de álcool:
• É necessário informar (permanentemente) aos potenciais consumidores de álcool sobre fatos reais baseados em pesquisas acerca dos efeitos nocivos do consumo irresponsável do álcool; • O governo deve priorizar a educação das equipes médicas (clínicos gerais ou médicos de família, residentes, ginecologistas, equipe de emergência e enfermeiros) na área de prevenção e avaliação precoce dos danos causados pelo abuso ou uso prejudicial de álcool; • Programas no ambiente de trabalho sobre prevenção de abuso de álcool devem ser implementados por todas as empresas com grande número de funcionários. Devem ser oferecidos treinamento a gerentes e supervisores visando o reconhecimento precoce de problemas com álcool; • Motoristas embriagados envolvidos em acidentes devem receber, além das punições legais, a oportunidade de participar de programas de educação sobre os efeitos do álcool no corpo e na mente humanos; • Criminosos violentos, inclusive agressores domésticos, devem receber educação especial (com a possibilidade de tratamento de vários níveis de alcoolismo no local de trabalho), em todos os casos onde o álcool tiver sido o fator contribuinte da violência;
56 Combatendo o uso nocivo de álcool. Disponível em <http://www.oboulo.com/search.php?q=combatendo+o+uso+nocivo+de+alcool&start=0&topConsult=0 > Acesso em: 20 jun. 2007
39• A publicidade de bebidas alcoólicas é considerada um fator importante que influencia os jovens a se tornarem consumidores em potencial. Ela deve ser fiscalizada e, conseqüentemente, obrigada a obedecer às regulamentações legais para reduzir eventuais danos57.
Como podemos observar as recomendações acima são mais em termos de
ações governamentais, mas diante dos grandes danos ocasionados pelo álcool não
podemos esperar que o governo faça tudo.
Precisamos como Igreja de Cristo, que está aqui para pregar as boas-novas
da salvação, levar a vida em abundância às pessoas e nos preocupar também com
este grande flagelo que assola a vida pessoal, familiar e a sociedade como um todo.
Segundo Krüger:
Diante das consequências desastrosas do alcoolismo é altamente contraditório que a sociedade não tenha tomado consciência da gravidade do problema. As igrejas, as instituições intermediárias, as organizações populares e todas as pessoas de boa vontade devem denunciar e, principalmente, inverter esse mecanismo. Há motivos suficientes para dizer: "Neste caso precisamos fazer algo, e urgentemente". Cabe propor a necessidade de um trabalho em duas frentes: por um lado, com as pessoas que sofrem o alcoolismo e, por outro, com a sociedade em geral58.
E ainda de acordo Krüger:
No que se refere à sociedade em geral, é essencial apontar claramente a falsidade do corpo social alcoolizado, denunciar profeticamente o comércio com a morte, desmascarar a propaganda que vende uma imagem enganosa do que significa a bebida, acusar publicamente os hábitos prejudiciais do beber "social" e criar espaços de contenção comunitária, nos quais se possa provar que uma vida alternativa é possível59.
Precisamos, portanto, conhecer cada vez mais sobre o problema do
alcoolismo e ai sim tomar medidas concretas e realizáveis.
57 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas, op. cit. p. 45. 58 KRÜGER, René. op. cit. p.19. 59 Ibidem, p. 19.
40Tais como:
- campanhas de conscientização sobre o problema do alcoolismo e sobre
onde encontrar ajuda;
- campanhas de informação dirigidas aos freqüentadores da igreja ( e por
extensão, para a sociedade em geral) sobre os problemas que o álcool pode trazer;
- Localização e individualização dos casos concretos de alcoolismo,
tomando muito cuidado com as fofocas e diz-que-diz-que, por um lado, e com a
ocultação e a dissimulação, por outro;
- Conversas com os familiares e com a pessoa alcoolista (preferencialmente
nessa ordem) para explicar-lhes a natureza do problema;
- Estabelecimento de relações diretas entre os afetados e os grupos de
auto-ajuda, vinculando as pessoas dispostas a tratar-se com integrantes
especializados desses grupos e/ou acompanhando os afetados para a sua primeira
reunião;
- Acompanhamento pastoral de cada pessoa e de cada família;
- Campanhas e medidas de prevenção;
- Organização de grupos de leitura e estudo sobre o assunto60.
Além destas medidas e recomendações, não podemos nos esquecer que a
prevenção tem seu início na família, pois bem sabemos que a família como célula de
origem da sociedade, é o lugar mais importante para a formação da personalidade.
Porque é dentro dela que aprendemos as coisas básicas da vida.
60 Ibidem, p.20-21.
41Portanto, uma grande mudança na situação atual do alcoolismo vai
começar a aparecer quando a família assumir o seu papel, e como família procurar
informação sobre os problemas causados pelo álcool e é claro também começar a
mudar o seu modo de ver a questão do uso do álcool.
A mudança começa em casa, pais que participam da vida de seus filhos, que
procuram conversar abertamente sobre os problemas do uso de álcool, que
participam da vida escolar de seus filhos, que escutam seus problemas, fazem com
que diminua e muito a possibilidade deste adolescente fazer uso do álcool.
42
CONCLUSÃO
O alcoolismo é, indiscutivelmente, uma doença com a qual é necessário
muita cautela. Como foi visto, fica claro de que o álcool traz inúmeras conseqüências
drásticas, não sendo uma forma aconselhável de fugir ou enfrentar os problemas. O
beber como um simples prazer ou mero relaxante perde-se de vista no meio de tanta
“destruição” que o álcool traz em nossa sociedade.
Como pudemos verificar enormes são os danos causados pelo álcool na
vida pessoal, familiar e na sociedade como um todo. Precisamos urgentemente rever
conceitos e atitudes com relação ao consumo de bebida alcoólica, para evitar que a
situação se agrave mais ainda.
A verdade é que a melhor maneira de diminuir os números nas estatísticas,
é prevenindo e conscientizando a sociedade, através dos órgãos públicos de saúde,
ou outras instituições, como por exemplo o ALCOOLICOS ANÔNIMOS, AL-ANON e
outras. Para que o alcoólatra deixe de beber é necessário, acima de tudo, que ele
realmente tenha muita força de vontade para se conscientizar que está em um
grande problema. A questão central é a motivação.
O alcoolismo preocupa cada vez mais as autoridades, e líderes (em geral),
pois o seu consumo aumenta a cada dia, e respectivamente as suas conseqüências
desastrosas. Uma simples proibição não vai resolver o problema (até mesmo porque
43é de fácil fabricação - de açucares). Assim, o mais adequado e imediato a fazer é
uma conscientização da sociedade, de forma intensa e coerente.
Cuidado! O álcool é uma droga que nos faz trilhar o caminho que leva
ao abismo!
É preciso também rever nosso papel de igreja em face desta “doença
terminal”... - Nas igrejas, lamentavelmente, não é muito diferente do que na
sociedade em geral. Na maioria há muitas festas, com jogos, rifas, bingos etc,
fazendo com que cada vez mais aumente o uso e consumo de bebida alcoólica.
Numa reunião para organização de uma festa de igreja, um membro insistia
em que se contratasse um conjunto de música. Perguntado sobre a razão do
mesmo, sua resposta não foi outra: “Sem música o pessoal não bebe!”
Jesus disse: “Vós sois o SAL da terra e a LUZ do mundo” (Mt 5.13-14).
Que espécie de luz e sal é uma igreja que estimula as pessoas à bebedeira, ou que
da bebedeira obtêm o seu sustento? Com que autoridade uma igreja poderá tratar
com alcoólatras se ela mesma promove a bebedeira?
Concluímos com um texto denominado: “POR QUE DIZER NÃO AO
ALCOOLISMO”, a autoria do mesmo é desconhecida, mas é bastante relevante
para o momento.
“POR QUE DIZER NÃO AO ALCOOLISMO”
O álcool prejudica funções físicas e mentais;
44 O álcool danifica o cérebro;
O álcool envelhece o cérebro;
O álcool causa uma diminuição na função sexual;
O álcool pode contribuir para a obesidade;
O álcool pode levar à desnutrição;
O álcool aumenta a disposição para doenças contagiosas;
O álcool causa cirrose hepática;
O álcool aumenta o risco de câncer;
O álcool aumenta o risco de ataque cardíaco;
O álcool rouba o autocontrole;
O álcool encoraja o comportamento violento e criminoso;
O álcool aumenta a perda de vidas nas estradas;
O álcool pode levar ao suicídio;
O álcool pode provocar violência contra familiares;
O álcool causa danos ao feto;
O álcool abala a economia e o trabalho...
O álcool escraviza, destrói e mata!
O álcool rouba a Herança Eterna (Gálatas 5.21)
O álcool fere e abala o templo e morada do Espírito Santo (1 Co 6.19):
O corpo humano foi criado por Deus
O corpo é a habitação do Espírito Santo
Não matarás... (5º Mandamento)
O corpo foi comprado por alto preço
O corpo humano, figura da Igreja de Cristo.
45 O corpo do alcoólatra PRECISA SER PURIFICADO para ser
santuário de Deus”.
Em todos esses esforços, talvez a nossa ação mais eficaz seja a de
ajudarmos uns aos outros e ensinarmos nossos filhos a enfrentar dificuldades e
experimentar júbilo sem lançarem não de reforço químico. À medida que a nossa
cultura se torna cada vez mais dedicada à busca do prazer e cada vez mais
acostuma ao alívio instantâneo da dor, precisamos reafirmar nosso compromisso de
viver como filhos de Deus. No gozo e conforto do seu Espírito Santo, podemos
render-lhe serviço sóbrio, enquanto esperamos na fé pela restauração final de toda a
criação.
“Esperei com paciência pela ajuda do Deus Eterno. Ele me escutou e
ouviu o meu pedido de socorro. Tirou-me de uma cova perigosa, de um poço
de lama. Ele me pôs seguro em cima da rocha e firmou os meus passos. Ele
me ensinou a cantar uma nova canção, um hino de louvor ao nosso Deus.
Quando virem isso, muitos temerão ao Deus Eterno e aprenderão a confiar
nele” (Salmo 40.1-3)
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BIBLIOGRAFIA
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