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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 20
08
Versão On-line ISBN 978-85-8015-039-1Cadernos PDE
VOLU
ME I
O ESPORTE E SUAS DIFERENTES DIMENSOES COMO CONTEÚDO DA
EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR POSSIBILITANDO A PARTICIPAÇÃO DE
TODOS
Rosaine Granado da Cunha1
Carmem Elisa Henn Brandl2
RESUMO: O estudo realizado teve como objetivo identificar as possíveis causas da não inclusão dos alunos do Ensino Médio nas aulas de Educação Física, bem como solucionar/minimizar qualquer sentimento de exclusão, buscando estratégias e possibilidades de aplicação do princípio da não exclusão dos alunos, no ensino aprendizagem do conteúdo Esporte, valorizando o movimento humano também através da prática esportiva. Caracterizou-se como um estudo descritivo, tendo como instrumento de coleta de dados um questionário com questões abertas e fechadas, aplicado a 79 alunos, sendo respectivamente turmas de 1º, 2º e 3º anos do Ensino Médio do período matutino do Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta. Após levantamento, concluiu-se que o sentimento de exclusão nas aulas de Educação Física existe, embora não atinja a maior parcela dos alunos, e que esse sentimento não é constante, depende sim da atividade que é desenvolvida. O maior fator de exclusão quando o conteúdo trabalhado é o esporte, apontado pelas respostas dos alunos foi a ausência de habilidades para desenvolver certas modalidades esportivas, seguida só que em grau bem menor da exclusão por gênero e por alguma deficiência física. Concluiu-se também que a metodologia do professor e a discriminação dos colegas influênciam na participação dos alunos nas aulas de Educação Física, e como a competição que acontece quando o conteúdo trabalhado é Esporte, é vista pelos alunos nas aulas de Educação Física.
Palavras-chave: Esporte, Participação, Inclusão.
ABSTRACT: The study maked had how objetive identify the main reasons for exclusion, and the possibilities of inclusion of students in higher learning the sport in physical education classes of High School. Characterized as a descriptive study, with the instrument of data collection a questionnaire with open and closed questions, 79 students answer the questions to the 1º, 2º and 3º years of high school in the mornings on Colégio Estadual Antonio Maximiliano Ceretta. After removal, it was concluded that the feeling of exclusion in physical education classes there, but does not reach the greatest number of students, and that this feeling is not constant, but 1DEDICATÓRIA: A Nilda de Azeredo Coutinho, do Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta, meu muito obrigado, pelo tempo que disponibilizou em me auxiliar pacientemente no setor de informática. Professora de Educação Física do Programa de Desenvolvimento Educacional2 Professora da UNIOESTE – Dra. Em Educação Física/Pedagogia do Movimento – UNICAMP, Líder do GEPEFE
depends on the activity that is developed. The biggest factor of exclusion worked when the content is sports, appointed by the responses of the students was the lack of ability to do certain sports, then, only a lesser extent, exclusion, gender and any disability. It was also concluded that the methodology of teacher and peer attitudes influence the participation of students. Another factor identified was that many students feel that the competitive nature of sports to be withdrawn from classes that would be more productive and participation would be greater.
Keywords: Sports, Participation, Inclusion.
1 INTRODUÇÃO
Seguindo a linha do tempo, observamos o surgimento de diversas
concepções filosóficas dentro da área educacional e consequentemente
dentro da educação física, todas buscando o que seria o ideal para o
desenvolvimento do indivíduo.
Para Assis (2005, p.14) nesse percurso, “a Educação Física vem
recebendo influência de outras instituições, assumindo ou incorporando
seus códigos e vinculando-se à construção/formação de diferentes modelos
de corpos.”
Diferentes autores, como Darido e Sanches Neto (2005), Betti (1991),
Bregolatto (2003) quando tratam da história da educação física, descrevem
a seguinte trajetória: por volta dos anos 30 do séc. XX a educação física
adentra o espaço escolar com uma concepção higienista calcada nos
hábitos de higiene e na saúde, voltada para a formação de um indivíduo
forte e saudável, seguida de uma concepção baseada no regime militar,
ficando vinculada a formação de uma geração capaz de atuar na guerra
através de indivíduos fisicamente perfeitos, sendo excluídos dessa seleção
aqueles que não se encaixassem dentro desse padrão, tido como
incapacitados. Assim devido sua vinculação aos ideais militaristas, a
educação física virou sinônimo de instrução física militar.
Na década de 60 surge uma nova concepção, a Escola Nova, que
provoca grandes transformações na área educacional e eleva a educação
física como um meio da Educação com capacidade de promover através de
seus movimentos uma educação integral. Tal proposta acaba ficando
2
somente no discurso, porque na prática ainda prevalecia à concepção
militarista. Essa proposta já no final dos anos 60 e começo dos anos 70 é
sufocada pela instalação no Brasil de uma ditadura militar que vê no ensino
público um espaço para promover a propaganda ideológica do regime
militar.
O esporte torna-se em pouco tempo um fenômeno de grande
relevância social e, no Brasil, o sucesso do futebol em níveis internacionais,
contribui para que o esporte de rendimento seja associado à educação
física, assim, o esporte dentro do contexto escolar torna-se uma cultura que
recria valores e princípios de competição, como a concorrência, o
rendimento físico e técnico, a racionalização, o treinamento e o
desempenho. Segundo Betti (1991) observa-se que a ascensão do esporte é
a razão do Estado e a inclusão do binômio educação física/esporte na
planificação estratégica do governo. Ocorrem profundas mudanças na
política educacional e na educação física escolar que se subordinou ao
sistema esportivo. Devido o esporte estar vinculado à propaganda de
governos totalitários, é que muitos educadores e pesquisadores, vêem no
esporte uma sutil forma de alienação.
Caligal (apud GALVÃO, 2005) escreve que o esporte é um dos hábitos
que caracteriza o século XX, tamanha é sua força que invade os espaços da
mídia, revistas, jornais, televisão aberta ou fechada, de importância
nacional ou internacional.
Não há como negar a importância do esporte nem desconsiderá-lo
como conteúdo da educação física, mas sim reconhecê-lo como uma prática
social dentro do contexto escolar como conteúdo curricular, que necessita
de uma nova identidade pedagógica que não seja a visão hegemônica do
esporte seletivo, competitivo e excludente, mas sim um conteúdo com
capacidade de promover a integração e a inclusão dos educando.
Um grande desafio dentro do contexto escolar, além de garantir uma
escola com qualidade, é garantir a permanência daqueles que nela
ingressa. A educação física como disciplina integrante do currículo escolar,
deve, oferecer igualdade de oportunidades. Assim como muitos não
3
conseguem permanecer na escola, muitos também não conseguem
participar de uma aula de educação física.
Vários são os motivos que levam os alunos a permanecerem fora das
aulas de educação física. Segundo Rangel et al. (2005), observa-se que
muitos garotos e garotas que por estarem obesos, portanto fora dos
padrões atuais de beleza, se excluem não por não gostarem de esportes ou
das aulas de educação física, mas sim por estarem num ambiente que não
respeita as diferenças.
Quando o professor utiliza alunos num nível de habilidades acima da
maioria do grupo como ponto de referência para os demais, pode inibir a
participação daqueles que não se enquadram no mesmo padrão, e, causar,
se persistir essa atitude, uma exclusão definitiva. O difícil relacionamento
entre meninos e meninas no início da adolescência também pode ser
motivo de exclusão, meninas acabam sendo excluídas do grupo, com
algumas exceções, por serem consideradas menos habilidosas e por não
possuírem a mesma força física masculina e os meninos acabam sendo
excluídos por utilizarem essa mesma força física de forma violenta. Não
podemos esquecer aqueles que tiveram suas habilidades mais
desenvolvidas que os outros, que, por estarem acima da média do grupo
acabam ficando em segundo plano, ou, os que preferem esportes não
tradicionais entre outros motivos, que também podem levar a exclusão.
O caráter competitivo das aulas de educação física também pode se
tornar um fator de exclusão por habilidades, que somada com a exclusão
por gênero, acaba promovendo uma “seleção natural” de alunos, onde
somente os mais aptos é que serão aceitos. Diferenças entre meninos e
meninas são muitas, principalmente em relação a comportamentos,
reconhecer essas diferenças é papel essencial do professor para não deixar
que esse fato se torne uma desvantagem para um dos gêneros.
Garantir aos alunos o acesso às vivências, utilizando na educação
física escolar uma diversificação, não priorizando somente esportes ou
somente uma modalidade, é proporcionar a eles oportunidades de escolhas
com o qual podem se identificar. Essa identificação pode contribuir para que
se compreenda a necessidade tanto da fundamentação teórica como de um
4
domínio da técnica através de uma vivência orientada com condições para
que essas aprendizagens sejam fixadas e assim aconteça uma participação
efetiva dentro de um ou de vários esportes trabalhados nas aulas de
educação física.
Quando falo em técnica, penso que ela deva ser assumida como
componente fundamental no processo do aprendizado de uma modalidade
esportiva, qualquer que seja ela e seu aprimoramento construído durante
sua vivência nas aulas, porque assim a falta de habilidades deixará de ser
um aspecto excludente e limitador, sendo o aluno respeitado em suas
características individuais e também em suas limitações, buscando estímulo
para uma prática regular.
A educação física, então cumpriria seu papel, dentro do espaço
escolar remetendo-nos a um campo repleto de conteúdos que privilegiariam
a inclusão através do conhecimento e compreensão prático/teórico, da
diversidade e das vivências significativas que o esporte pode proporcionar.
Para reforçar o enunciado acima Ferraz (2002, p.37) escreve que
o Esporte é um patrimônio cultural da humanidade e um direito do cidadão. Portanto, o conhecimento que permite ao ser humano apreciar e usufruir desse patrimônio é fundamental para a qualidade de vida e deve ser oportunizado.
Diante de tantos contrastes que nos fazem viajar através desse
fenômeno que é o esporte, vem o seguinte questionamento: Quais os
principais motivos de exclusão, e quais as possibilidades de inclusão dos
alunos, no ensino aprendizagem do esporte nas aulas de educação física?
Para tentar solucionar o problema exposto acima, elaborou-se os
seguintes objetivos: I - Identificar e analisar se as facilidades/dificuldades
dos alunos em relação à prática dos esportes influenciam na sua
participação nas aulas de educação física; II - Verificar quais as estratégias
utilizadas na prática dos esportes e se as mesmas influenciam a
participação dos alunos nas aulas de educação física; III - Identificar quais
os esportes e demais conteúdos são trabalhados nas aulas de educação
física; IV - Identificar se atitudes e comportamentos dos colegas de sala
influenciam na participação dos alunos nas aulas de educação física; V -
5
Identificar se durante o desenvolvimento das atividades acontece à
exclusão por gênero nas aulas de educação física; VI – Verificar se a
competição interfere na participação dos alunos nas aulas de educação
física.
Após realizar a pesquisa de campo, diagnóstico na Escola, realizou-se
a implementação do Projeto, visando atingir os seguintes objetivos: I -
Utilizar o esporte, dentro do contexto escolar, oportunizando a sua vivência
através das diversas modalidades, de forma a incluir todos nesse processo
educacional, que é a aprendizagem e a formação do homem; II - Resgatar
valores através da compreensão de que o esporte não é apenas a prática de
“um contra o outro”, mas também que se efetiva no “um com o outro”; III -
Propor conhecimentos básicos de fundamentação, para a participação do
aluno, a partir do domínio de elementos técnicos e táticos; IV - Propor aos
alunos, diferentes possibilidades da prática do esporte (cooperativo,
competitivo, recreativo) para que possam refletir sobre as diferentes
dimensões e valores que permeiam este conteúdo; V - Propor além da
prática dos esportes tradicionais, que sejam também contemplados nas
aulas, outras modalidades que não fazem parte do cotidiano dos alunos,
levando em consideração a estrutura física material da escola.
Este estudo justifica-se porque o esporte compreendido como
conteúdo da educação física tem como finalidade o aspecto educacional, a
prática lúdica e informal que desenvolva nos jovens uma tomada de
consciência de princípios de cooperação, iniciativa, liderança, autodisciplina
e espírito de grupo, e essa é a visão com foi enviado originalmente para
todo o mundo.
Bregolato (2003, p.61) diz que “aos poucos os reais significados do
esporte se modificaram quando incorporou características de rendimento
com técnicas aprimoradas”. Formou-se assim, uma visão capitalista onde
educar a juventude era incutir-lhes princípios competitivos para que fossem
inseridos numa sociedade igualmente competitiva.
O Esporte dentro e fora do contexto escolar carrega uma visão
hegemônica de seletividade por excluir todos aqueles que não se encaixam
dentro dos padrões que se tem em relação aos que o praticam.
6
Nos últimos anos venho observando que logo no início do Ensino
Médio, muitos alunos se afastam das aulas, ou no mínimo de algumas
práticas que acontecem nas aulas de educação física. Esse afastamento me
levou a questionar, quais eram os reais motivos deste comportamento
justamente na adolescência, que é o público que caracteriza o Ensino
Médio, e, ainda quais as modificações que deverão ocorrer, seja ela
metodológica ou pedagógica, para reverter essa situação, de forma a evitar
que essa seletividade se torne também característica do esporte escolar.
Repensar, compreender e transformar o esporte seletivo dentro do
espaço escolar é um desafio para muitos professores de educação física,
uma vez que ainda muitos foram formados dentro de um contexto
tecnicista, portanto ainda com resquícios desse tecnicismo.
O esporte traz consigo possibilidades contraditórias que dependendo
da prática do professor, pode tanto incluir como excluir, e a partir do
momento em que se propõem mudanças nessa visão de seletividade e na
prática pedagógica aplicada ao esporte na escola, penso ser possível criar
situações que privilegiem a cooperação sobre a rivalidade, o coletivo sobre
o individual, a autonomia sobre o conformismo, o respeito sobre a disputa, a
perseverança sobre a desistência e principalmente a superação pessoal
sobre a competição exacerbada, a partir do momento em que esses
objetivos forem alcançados as possibilidades de um esporte inclusivo na
escola será maior.
2 REVISÃO DE LITERATURA
Ao longo da história a Educação Física como instituição, da mesma
forma que a Educação, representou diferentes papéis, adquiriu diferentes
significados, conforme o momento histórico, sendo utilizada muitas vezes,
como instrumento de poder para veiculação de ideologias dominantes e
preservação de status quo. Segundo Assis (2005, p. 14), “em sua trajetória
observou-se o surgimento das mais diversas concepções e abordagens
pedagógicas, recebendo, assumindo e incorporando seus códigos”.
No Brasil a Educação Física Escolar foi inserida como disciplina nas
matrizes curriculares por volta dos anos 30 do séc. XX, e adentra o espaço
7
escolar primeiramente numa concepção higienista através das instituições
médicas, o corpo higiênico-eugênico voltado para indivíduos fortes e
saudáveis, depois surge através da instituição militar, o corpo produtivo,
dócil e disciplinado, onde a educação física se torna sinônimo de instrução
militar.
Por volta dos anos 60 surge a Escola Nova, concepção que provoca
grandes transformações no setor educacional, que coloca a educação física
como um meio da educação, com capacidade de promover, através de seus
movimentos uma educação integral, mas ao final dos anos 60 e início dos
anos 70 se instala no Brasil uma ditadura militar que vê no ensino público
um espaço para promover a propaganda ideológica do regime militar. Na
atualidade a Educação Física é representada pela instituição esportiva (os
corpos produtivo, esportivo, competitivo, apolítico, acrítico, alienado,
mercador, mercadoria e consumidor).
A Educação Física no Brasil percorreu um longo caminho, passando
por uma série de estudos nas diversas abordagens teóricas, sendo
atualmente regida pela Lei de nº 10.793 de 1º/12/2003, art. 26, parágrafo
3º, que diz que a Educação Física, integrada a proposta pedagógica da
escola, é componente curricular obrigatório da educação básica. Hoje o
documento que orienta a Educação Física no Estado do Paraná é um
trabalho resultante de documentos norteadores já existentes anteriormente,
como o Currículo Básico para a Escola Pública do Estado do Paraná
(PARANÁ, 1990) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1996).
As Diretrizes Curriculares de Educação Física (PARANÁ, 2008),
direciona-se para os anos finais do Ensino Fundamental e para o Ensino
Médio, e tem a Cultura Corporal como objeto de aprendizagem da Educação
Física. A proposta das DCES para a Educação Física conta com conteúdos
estruturantes para o desenvolvimento das aulas de Educação Física
denominados de Danças, Lutas, Jogos e Brincadeiras, Ginástica e Esportes
(PARANÁ, 2008). Seu objetivo principal é direcionar a ação docente dos
professores da rede estadual de Ensino do Estado do Paraná, definindo
rumos e apontando caminhos.
8
A visão que se tem da educação física dentro do contexto escolar se
confunde com o próprio esporte, conteúdo da educação física de grande
relevância social tido com seletivo e excludente por estar atrelado ao
rendimento e a performance mas que dentro do espaço escolar deve
assumir uma outra identidade, ou seja, uma identidade pedagógica capaz
de promover a integração e a inclusão dos educandos.
A influência do esporte sobre a educação física teve um grande
crescimento após a Segunda Guerra Mundial, afirmando-se como elemento
hegemônico da cultura corporal. Os governos pós-64 incentivaram esse
crescimento e Betti (1991, p.100) sobre esse período assinala
[...] a ascensão do esporte à razão do Estado e a inclusão do binômio Educação Física/Esporte na planificação estratégica do governo. Ocorrem também profundas mudanças na política educacional e na Educação Física Escolar, que subordinou-se ao sistema esporte do sistema formador de recursos humanos para a Educação Física/Esporte.
O Esporte teve inserção destacada nas sociedades modernas e seu
caráter competitivo ou de rendimento que prevalece dentro do contexto
político-social tende a excluir todos aqueles que não se encaixam dentro de
padrões dos que o praticam, selecionando assim os mais aptos. Com essa
visão de seletividade invadiu o espaço escolar e sua prática prevalece
largamente sobre os outros conteúdos da educação física escolar, e tem
sido o meio mais utilizado para difundir o movimento corporal no âmbito
escolar, tornando-se uma cultura que cria e recria valores.
É necessário desmistificar o esporte dentro do contexto escolar
através de conhecimentos que permitam aos alunos compreender que a
prática desportiva deve ter significado e valores que assegurem a todos o
direito de participar e que cada um deles deve se colocar na situação do
outro participante, principalmente daqueles que não possuem aquelas
“devidas” habilidades ou não possuam a força física esperada.
Segundo Kunz (2004), só assim conseguiremos ensinar o esporte de
tal forma, que nossas crianças possam crescer, desenvolver-se e tornar-se
adulta através dele, e, quando isso acontecer, quando se tornarem adultas
possam praticar o esporte como crianças.
9
A partir do momento em que se propõem mudanças nesta visão
seletiva é possível criar situações que levem os alunos a refletirem sobre as
diferenças ensinando-lhes a necessidade da tolerância e aceitação das
características do outro. Essa reflexão deve levar o aluno a compreender
que mesmo havendo aprendizagem e desenvolvimento de habilidades,
ainda o prazer da brincadeira deve ser mantido, sendo assim possível a
prática de um esporte inclusivo dentro da escola, sem a necessidade de
retirar todo o aspecto competitivo do esporte, pois a competição depende
muito de quem a orienta, podendo ser usada apenas como mais um recurso
didático para se atingir um determinado objetivo.
Segundo Kunz (2004), ressignificar o esporte dentro de uma visão
mais crítica seria ensiná-lo não visando apenas o aluno presente, mas o
cidadão futuro que vai partilhar, participar, produzir e transformar as formas
culturais da atividade física. Salienta a importância da competição dentro de
uma sociedade na qual ela está naturalmente inserida, e que excluí-la ou
ignorá-la como parte da formação esportiva dos nossos alunos seria um erro
pedagógico que poderia acentuar desajustamentos, marginalização e
conflitos diante de uma realidade como de fato, vivem.
Assim acredito que o esporte competitivo pode muito bem estar
imbuído dos mesmos valores educacionais que devem permear o esporte
escolar, tudo vai depender do posicionamento de quem o ensina, de quem o
orienta, e principalmente da finalidade com que é desenvolvido sua prática
dentro do contexto escolar.
Betti (apud ASSIS, 2005, p. 112),
o desporto não possui nenhuma virtude mágica. Ele não é em si mesmo nem socializante nem anti-socializante. Ele é conforme aquilo que se fizer dele. A prática do judô ou do râguebi pode formar tanto patifes como homens perfeitos preocupados com o ‘fair-play’.
Na prática do esporte escolar, mesmo com características de
competição, a finalidade da educação física é fazer com que os alunos
desenvolvam valores e princípios de inclusão, cooperação, respeito mútuo,
coletividade, liderança, iniciativa, mas para isso é necessário que o esporte
escolar passe por um trato pedagógico, e que sua prática seja
10
fundamentada na prática de valores realmente educacionais , para que o
próprio esporte, seja ele escolar ou não, possa tornar-se um fator de
humanização do homem, evidenciando um ambiente de grande diversidade
mas que respeita as diferenças sejam elas econômicas, políticas ou sociais.
Segundo Assis (2005, p. 128),
um trato diferenciado ao esporte não deve afastar os alunos do esporte criticado, mas dirigir esse contato através de uma ‘transformação’ que garanta a preservação do significado, a vivência de sucesso nas atividades e a alteração de sentidos através da reflexão pedagógica.
A metodologia utilizada no conteúdo Esporte deve buscar meios para
garantir a vivência prática das mais diversas modalidades, adaptar e
modificar atividades de forma a contemplar a heterogeneidade dos grupos,
possibilitar a valorização do aluno, independente de ser mais ou menos
dotado, constituir um ambiente de aprendizagem significativa que faça
sentido para o aluno, no qual ele tenha a possibilidade de fazer escolhas,
trocar informações, estabelecer questões e construir hipóteses na tentativa
de respondê-las, oportunizando a todos para que possam desenvolver suas
potencialidades de forma democrática e não seletiva, considerando sua
realidade social e pessoal, a percepção de si e do outro, suas dúvidas e
necessidades de compreensão dessa mesma realidade.
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Segundo Gil (1999, p.44), “a pesquisa é um processo formal e
sistemático do desenvolvimento do método científico, cujo objetivo principal
é buscar respostas para problemas através de procedimentos também
científicos”. Ainda segundo este autor a pesquisa descritiva tem a finalidade
de relatar as características de determinada população ou fenômeno ou o
estabelecimento de relações entre as variáveis. Para coletar dados utilizam-
se técnicas padronizadas como, por exemplo: o trabalho de tabulação e
elaboração de gráficos, para análises, interpretações e conclusões.
11
Assim, esta pesquisa é caracterizada como descritiva porque se
baseou na própria realidade, ou seja, foi buscar informações dentro do
espaço escolar, através de um questionário organizado e aplicado pela
pesquisadora buscando subsídios no discurso dos alunos, para então
estudar uma forma de intervenção na escola.
Os participantes da pesquisa representam os alunos do Ensino Médio
do Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta, totalizando 180 alunos,
divididos em 05 turmas, sendo 02 de 1º ano, 2 de 2º ano e 1 de 3º ano, do
período matutino. Fizeram parte da amostra 79 alunos, sendo 15 de cada
turma do 1º e 2º anos e 19 alunos do3º ano. Os alunos participaram de
forma voluntária.
Para a coleta das informações o instrumento utilizado foi um
questionário, elaborado pela pesquisadora com o auxílio da orientadora, e
avaliado por dois professores do curso de educação física da Unioeste e
testado com um grupo de alunos da mesma faixa etária.O questionário
constou de 15 perguntas mistas, ou seja 14 fechadas, sendo que 06 foram
complementadas com questões abertas.
O procedimento de coleta de dados foi realizado após a autorização
da direção do Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta, e feita durante
as aulas de educação física com alunos da própria professora pesquisadora.
Foi entregue a cada aluno que participou da pesquisa um questionário. A
pesquisadora fez a leitura e deu as devidas explicações ou esclarecimento
de dúvidas que surgiram durante a aplicação do mesmo.
As informações coletadas foram analisadas a partir da frequência e
percentual de respostas das questões fechadas e complementadas com a
análise qualitativa das questões abertas, a partir da elaboração de
categorias, originadas de unidades de significado extraído do discurso dos
alunos.
4 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS DA
PESQUISA
12
Neste capítulo, será apresentado os resultados da pesquisa realizada
junto aos alunos do Ensino Médio com o objetivo de coletar informações dos
principais motivos que levam alunos a não inclusão nas aulas de educação
física.
Esses dados serviram de referência para implantar uma proposta
metodológica com possibilidades de incluir os alunos, especialmente nas
aulas onde o conteúdo fosse o Esporte.
O Quadro 1, representa as respostas dos alunos em relação à
participação dos mesmos nas aulas de Educação Física.
Quadro 1. Alunos que participam das aulas de Educação Física
Série Alternativas Sempre Quase sempre Às vezes Nunca TOTAL
1º anoFem 13 05 01 0 19Masc 13 03 0 0 16
2º anoFem 14 03 0 0 17Masc 09 01 0 0 10
3º anoFem 04 03 0 0 7Masc 08 02 0 0 10
Total 61 17 01 0 79
Com relação à participação dos alunos nas aulas de Educação Física,
podemos visualizar no quadro 1 que 61 alunos participam sempre, 17 quase
sempre e somente uma aluna às vezes. Esse resultado não surpreende, pois
as aulas de Educação Física, fazem parte da grade curricular e são
obrigatórias, sendo contemplada na nova Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB) em seu artigo 26, no parágrafo 3º, que estabelece
que: “A Educação Física integrada à proposta pedagógica da escola é
componente curricular obrigatório da educação básica...”. E aqueles alunos
que responderam quase sempre, possivelmente não gostam das atividades
desenvolvidas naquele dia, e se sentem no direito de não participar. Já na
opção às vezes somente um aluno assinalou-a e a opção nunca, não foi
assinalada por nenhum aluno. Fica claro que a grande maioria participa das
aulas de educação física frequentemente como em qualquer outra disciplina
do currículo escolar.
Na questão 2, foi questionado aos alunos se alguma vez deixaram de
participar das aulas de Educação Física por sentirem-se excluídos de
alguma forma. Conforme o quadro 2, percebemos que 50 alunos nunca
13
deixaram de participar, 26 às vezes e somente 03 alunos responderam que
quase sempre deixam de participar por sentirem-se excluídos. Essas
respostas podem ser resultado da compreensão, a partir da LDB de 1996,
de que a Educação Física é um componente curricular obrigatório como as
demais disciplinas, portanto o aluno deve participar, havendo assim uma
pequena exclusão.
Quadro 2. Alunos que deixam de participar das aulas por sentirem-se excluídos
Série AlternativasGênero Sempre Quase
Sempre Às vezes Nunca Total
1º Ano
FemMasc
0000
0200
0404
1312
1916
2º Ano
FemMasc
0000
0000
0903
0807
1710
3º Ano
FemMasc
0000
0100
0402
0208
0710
Total 00 03 26 50 79
Ao solicitar aos alunos o porquê de sua resposta, os alunos que
responderam que são excluídos quase sempre e às vezes, na maioria dos
casos, justificam suas respostas que é por falta de habilidade necessária
para praticar determinados conteúdos. Ainda surgiram várias outras
justificativas, como a de que os melhores alunos jogam no mesmo time
ficando assim uma divisão desigual nos grupos que se formam, citou-se
também a exclusão por gênero e a deficiência visual.
A falta de habilidade é um dos principais motivos responsáveis pelo
sentimento de exclusão dos alunos nas aulas de educação física no Ensino
Médio. Nesta fase, a adolescência, o jovem tem muito medo de se expor e
de receber críticas, então se afasta, preferindo nem tentar, usando mil
desculpas para não participar das aulas mesmo que este não seja o seu
desejo. Cabe ao professor o resgate desse aluno minimizando esse
afastamento das atividades nas aulas de Educação Física.
14
Segundo Barni e Schneider (2005), a abordagem pedagógica
Educação Física Plural, é uma abordagem que procura fazer com que as
diferenças entre os alunos sejam percebidas e seus movimentos,
expressões, frutos da sua história de corpo, sejam valorizadas independente
do modelo “certo” ou “errado”. Dentro dessa abordagem considera-se que
os alunos são diferentes e que na aula, para alcançar todos os alunos deve-
se levar em conta estas diferenças. Neste sentido, o professor de Educação
Física deve buscar práticas pedagógicas que não excluam os alunos.
Segundo Rangel et al. (2005, p.39),
buscar uma educação física cujas vivências propiciadas no ambiente escolar permitam ao aluno pensar em alternativas que façam com que ele próprio deixe de se excluir de determinadas atividades por quaisquer que sejam os motivos, deve ser uma preocupação dos educadores, pois muitas vezes os alunos deixam de frequentar as aulas de educação física, não por não gostarem de atividades físicas, mas sim por encontrarem um ambiente que não respeita as diferenças.
Na sequência foi questionado se a participação dos alunos nas aulas
de Educação Física, é influenciada pela facilidade ou dificuldade que o
aluno tem na prática do esporte que o professor trabalha.
Quadro 3. Frequência com as facilidade ou dificuldade dos alunos na prática dos esportes influenciam a sua participação nas aulas
Série Sempre Quase Sempre
Às vezes Nunca Total
1º Ano
FemMasc
0206
0302
1207
0201
1916
2º Ano
FemMasc
0200
0201
0904
0405
1710
3º Ano
FemMasc
0100
0204
0203
0203
0710
Total 11 14 37 17 79
Conforme o quadro 3, 11 alunos responderam que a sua participação
nas aulas de educação física depende sempre da facilidade ou dificuldade
que apresentam na prática do conteúdo a ser desenvolvido pelo professor,
14 responderam quase sempre, 37 às vezes e 17 que nunca sofrem esse
tipo de influência. Esse resultado mostra que a maioria dos alunos mesmo
encontrando algum tipo de dificuldade prefere participar das aulas de
educação física, ao passo que os que responderam sempre e quase sempre,
15
diante de uma dificuldade preferem não arriscar quando o conteúdo é uma
atividade que desconhecem ou que conhecem mas não possuem as
habilidades, que segundo eles, seriam necessárias para participar da
atividade. Mais uma vez aparece a exclusão por falta de habilidades, e na
verdade o próprio aluno se exclui. Fica assim evidente a necessidade de se
trabalhar os conteúdos da educação física de forma sistematizada no ensino
fundamental, dando ao aluno o suporte necessário para que quando o
mesmo estiver no ensino médio, onde supõe-se que eles devam ter esse
conhecimento, os alunos possam participar das atividades em condições de
igualdade ou que, pelo menos as diferenças não sejam um motivo de
exclusão.
Na questão 4 foi colocado sobre as diferenças de habilidades
existentes entre os alunos, e foi pedido se o professor faz distinção entre os
alunos na hora do jogo.
Quadro 4. Percepção dos alunos sobre a distinção entre os mais ou menos habilidosos por parte do professor
Série Sim Às vezes Não Total
1º ano FemMasc
0805
0804
0307
1916
2º ano FemMasc
0001
1206
0503
1710
3º ano FemMasc
0003
0404
0303
0710
Total 17 38 24 79
Observando as respostas do quadro acima, percebe-se que 38 alunos
acham que às vezes ocorre por parte do professor, distinção entre os alunos
mais e menos habilidosos na hora do jogo. 24 alunos afirmaram que essa
distinção não acontece e somente 17 alunos responderam que sim,
acontece.
Foi ainda pedido de que forma isso ocorre. Conforme as respostas
descritivas dos alunos a distinção nem sempre foi vista como negativa, e
16
sim como uma estratégia pedagógica para resolver problemas
momentâneos como por exemplo, separar equiparadamente as equipes.
Para os alunos que responderam sim, que existe distinção entre os mais e
os menos habilidosos a justificativa foi de que isso acontece quando a
professora equilibra as equipes com alunos mais e menos habilidosos,
quando separa os mais fortes dos mais fracos e ainda que a distinção
ocorre, mas é positiva.
Os alunos que responderam que às vezes essa distinção acontece
justificaram essa resposta dizendo que: ocorre quando a professora separa
equipes para que fiquem equilibradas; quando faz a divisão das equipes; a
professora faz distinção para beneficiar a todos; quando ainda não conhece
a turma direito; a divisão para as atividades não ficam equilibradas; o
professor interage com alunos mais habilidosos; quando os alunos mais
habilidosos ficam juntos; quando faz um time que só perde; e, ainda alguns
não justificaram sua resposta.
Os alunos que responderam que o professor não faz distinção entre os
alunos justificam que a professora dá o mesmo tratamento a todos os
alunos, que a professora procura equilibrar com alunos mais fortes e mais
fracos em todas as atividades, que professores não fazem distinção entre
alunos e alguns ainda não justificaram sua resposta.
Levando em consideração as respostas dos alunos, penso que apesar
do professor não ver nessa sua atitude uma forma discriminatória, pois o faz
para o bem do grupo, alguns alunos estão se sentindo discriminados,
mesmo que a intenção do professor seja oportunizar a todos independente
de quem tem mais ou menos habilidade.
Segundo Galvão, Rodrigues e Silva (2005), quando o professor utiliza
alunos num nível de habilidades acima da maioria do grupo como ponto de
referência para os demais, pode inibir a participação daqueles que não se
enquadram no mesmo padrão, causando, se persistir essa atitude, uma
exclusão definitiva.
Na pergunta 5, foi feita a seguinte colocação: o esporte pode ser
ensinado através de educativos como o toque, o saque, o arremesso, o
chute, em colunas, livres na quadra ou através do jogo. Então foi
17
questionado aos alunos com que freqüência acontece à aprendizagem
através do jogo nas aulas de Educação Física.
Quadro 5. Frequência com que o processo de ensino aprendizagem é realizado através do jogo
Série Sempre Quase sempre Às vezes Nunca Total
1º ano FemMasc
1006
0502
0307
0101
1916
2º ano FemMasc
1006
0402
0202
0100
1710
3º ano FemMasc
0305
0203
0202
0000
0710
Total 40 18 18 03 79
As respostas do quadro acima mostram claramente que a prática do
jogo é a estratégia pedagógica mais usada para o desenvolvimento da
aprendizagem dos esportes, no Ensino Médio, pois 40 alunos responderam
que sim, essa é a prática mais usual, e 18 disseram quase sempre e 18
disseram às vezes e apenas 03 disseram que nunca é através do jogo.
Embora o jogo seja a estratégia mais freqüente nas aulas de educação
física, não é a única.
Por outro lado, foi questionado com que freqüência acontece a
aprendizagem através de educativos para cada modalidade desportiva.
Quadro 6. Frequência com que o esporte é desenvolvido a partir de educativos
Série Sempre Quase sempre
Às vezes Nunca Total
1º ano
FemMasc
0102
0303
1107
0404
1916
2º ano
FemMasc
0200
0301
1205
0202
1908
3º ano
FemMasc
0002
0102
0605
0001
0710
Total
07 13 46 13 79
No quadro 6, uma grande maioria, ou seja, 46 alunos, disseram que o
uso de educativos como meio de aprendizagem acontece às vezes, e 13
responderam quase sempre ou nunca e apenas 07 disseram que sempre a
aprendizagem acontece através de educativos. Esses resultados
provavelmente se dá pelo fato de que ao chegar no Ensino Médio os alunos
já passaram muitos anos pela prática de fundamentos no ensino
fundamental, supõe-se então que eles possuam habilidades ou deveriam
18
possuir essas habilidades mais desenvolvidas para que se pudesse utilizar o
jogo como a maior estratégia. Mas esse pensamento não pode ser visto
como regra geral, uma vez que muitas turmas por diversos motivos,
possuem um conhecimento limitado de determinadas modalidades.
Diante da realidade que se apresenta, ou seja, a utilização da prática
do esporte como principal conteúdo das aulas de Educação Física do Ensino
Médio, deve acontecer um embasamento teórico que priorize além das
regras o contexto antropológico, sociológico e filosófico, de forma que os
alunos possam compreender a importância dos movimentos humanos
desenvolvidos durante esta prática, podendo inclusive, auxiliar nas escolhas
das atividades a serem desenvolvidas nas aulas de Educação Física sejam
elas através de jogos ou exercícios educativos, pois essa prática poderá
auxiliar na eliminação/minimização de qualquer sentimento de exclusão que
os alunos possam estar sentindo, evidenciando assim nas aulas de
educação física o princípio da não exclusão e a valorização do movimento
humano também através da prática esportiva.
Bracht (1997), para reforçar o enunciado acima escreve que o aluno
deve construir, demonstrar e compreender, para poder explicar e intervir,
utilizando a cultura corporal do movimento como uma prática pedagógica
em confronto com a sua realidade social, utilizando como conteúdo, os
jogos, a ginástica, as danças e os esportes.
Na questão 6, foi perguntado aos alunos se a forma com que o
professor trabalha interfere em sua participação nas aulas de Educação
Física?
Quadro 7. Interferência da forma de trabalho do professor na participação dos alunos.
Série Sim Ás vezes Não Total1º
AnoFemMasc
0100
1107
0808
1915
2º Ano
FemMasc
0401
0305
1004
1710
3º Ano
FemMasc
0001
0401
0308
0710
Total 07 31 41 79Conforme o quadro acima, 41 alunos disseram que a metodologia de
ensino não interfere na participação das aulas de educação física, 31
responderam que somente às vezes a forma de trabalho do professor
19
interfere, e apenas 7 alunos responderam que a sua participação depende
sim da forma como o professor trabalha.
Aqueles que responderam que a forma de trabalho do professor
interfere na participação dos alunos nas aulas de Educação física
justificaram que não gostam quando as atividades são mistas, no entanto
essa não é uma escolha da professora, mas uma regra geral da Escola.
Outros justificaram que interfere quando não tem habilidades para
determinado tipo de jogo e quando o professor exige demais. Outros vêem
a interferência de forma positiva porque esta forma faz com que todos
participem, mostra que devemos respeitar os colegas para ser respeitado,
outros ainda responderam que gostam de tudo que é feito nas aulas, que
gosta do professor e alguns não justificaram.
Os alunos que responderam às vezes, justificaram que interfere
quando a aula repete conteúdos anteriores; quando os jogos são mistos;
quando faz correções durante o jogo; depende também do humor dela; das
atividades que aplica; das explicações que ela dá no início da aula; como
separa os times; por não possuírem as habilidades necessárias e ainda se a
professora não interferir, alguns colegas excluem os outros.
Os alunos que consideram que a forma de trabalhar não interfere
justificam a resposta dizendo que não há motivos para interferir, porque
fazem sempre as aulas; gostam de todas atividades de educação física; ela
propõe as atividades e não tem porque reclamar; a disciplina de educação
física é igual a todas as outras e precisa participar; as atividades são
diversificadas e acham a professora competente.
Ao professor compete trabalhar tanto os conhecimentos específicos
como também maneiras de pensar e padrões de comportamento para se
viver em sociedade, não podendo descartar ainda o aspecto afetivo. Penso,
assim que, a metodologia de trabalho do professor tende sim a influenciar a
participação dos alunos nas aulas de educação física, se essa metodologia
tende a excluir ou incluir vai depender do posicionamento do professor.
Na questão 7, foi perguntado aos alunos se eles acham importante
trabalhar os fundamentos das diferentes modalidades esportivas, no Ensino
Médio.
20
Quadro 8. Percepção dos alunos sobre a importância do trabalho dos fundamentos dos esportes no Ensino Médio
Série Sim Não Total1º ano Fem
Masc1409
0507
1916
2º ano FemMasc
1309
0401
1710
3º ano FemMasc
0708
0002
0710
Total 60 19 79
As respostas do quadro acima apontam que uma grande maioria dos
alunos, ou seja, 60 num total de 79 dos que responderam o questionário,
consideram importante trabalhar a fundamentação das diferentes
modalidades no Ensino Médio. Apenas 19 alunos disseram que não acham
importante trabalhar os fundamentos.
Os alunos que consideram importante trabalhar a fundamentação
justificaram que isso ajuda a melhorar as habilidades, adquirir novos
conhecimentos sobre os esportes, para retirar as dúvidas que ainda não
foram tiradas, aprender mais e durante o jogo poder atuar melhor, muitos
não aprenderam a executar os movimentos de forma correta.
Os alunos que responderam não achar importante aprender os
fundamentos através dos educativos justificam essa resposta alegando que
todos já aprenderam ou deveriam ter aprendido; porque já foi visto durante
todo ensino fundamental e ver novamente seria muito cansativo; a base já
foi feita no ensino fundamental, agora no Ensino Médio é por em prática
através do jogo; porque através do jogo se aprende mais; e, alguns ainda
não justificaram.
Na questão 8, foi pedido aos alunos que apontassem quais os
Esportes que são trabalhados nas aulas de Educação Física.
Quadro 9. Esportes mais trabalhados nas aulas de Educação Física
Série
Futsal
Handebol
Voleibol
Basquete
Xadrez
Atletismo
Futebol
Tenis de
Mesa
Outros
1º ano
Femm
asc
1915
1915
1915
2015
1107
0902
1103
1112
0000
2º ano
FemM
asc
1710
1710
1710
1710
0905
0302
1106
1710
0000
21
3º ano
FemM
asc
0710
0710
0710
0710
0203
0101
0204
0708
0000
Total
78 78 78 79 47 18 37 64 00
Os resultados da pesquisa acima apontam o Futsal (78), o Handebol
(78), o Voleibol (78) e o Basquetebol (79), como os esportes mais
trabalhados nas aulas de educação física pois foram assinalados por quase
todos os alunos, seguido pelo Tênis de Mesa (64), pelo Xadrez (47) e o
Futebol (37) e por último o Atletismo com uma incidência bem inferior (18).
Pelos resultados obtidos acima fica claro que os esportes mais
trabalhados nas aulas de educação física são aqueles considerados mais
populares em nossa região são esportes coletivos, outra justificativa seria
que quase toda escola possui uma quadra onde é possível desenvolver
esses conteúdos, o que já não se pode dizer do futebol e do atletismo que
precisam de locais mais específicos para a sua prática.
Facco (apud MARZINEK, 2004) assim como Betti (2003), observaram
que as modalidades esportivas, futsal, voleibol, handebol e basquetebol,
além de serem os conteúdos mais desenvolvidos nas escolas, são também
os preferidos dos alunos. Acrescentaria ainda que por serem mais
desenvolvidos ou até únicos nas aulas de Educação Física, são justamente
os preferidos.
Na questão 9, questionou-se aos alunos quais os outros conteúdos
além do Esporte, são trabalhados nas aulas de Educação Física.
Quadro 10. Outros conteúdos trabalhados nas aulas de Educação Física
Série Dança Brincadeiras
Ginástica
Lutas Nenhum
Outros Total
1º ano FemMasc
0303
1206
0000
0000
0507
0000
2016
2º ano FemMasc
0903
1102
0001
0000
0506
0000
2512
3º ano FemMasc
0001
0405
0001
0000
0204
0001
0612
Total 19 40 02 00 39 01 91
As respostas do quadro 10 mostram bem a realidade da educação
física nas nossas escolas, que apesar de se basearem nas Diretrizes
Curriculares Estaduais, para se elaborar um planejamento anual, na
22
realidade se utiliza muito pouco de todos os conteúdos que lá constam. A
prova disso foi a resposta de 39 alunos no item nenhum outro conteúdo
além dos esportes, apenas um aluno a menos do que o desenvolvimento de
brincadeiras (40), e 19 alunos apontarem o conteúdo dança, 02 alunos
ginástica e nenhum aluno apontou o conteúdo lutas.
Segundo Machado (2008), o conteúdo mais presente nas aulas de
educação física sendo efetivamente trabalhado é o Esporte, seguido dos
Jogos, da Ginástica e por último a Dança. O conteúdo lutas, apesar de
contemplado nas diretrizes curriculares como conteúdo obrigatório da
disciplina, não foi mencionado.
Este resultado não surpreende, pois todo o professor dentro de sua
graduação universitária possui uma carga grande que abrange o esporte, os
jogos, a ginástica e um menor que abrange a dança. Algumas instituições
não oferecem nenhuma carga horária em relação ao conteúdo Lutas que
nem foi mencionado como conteúdo trabalhado. Além deste fator altamente
relevante ainda existe a necessidade de um lugar apropriado para o
desenvolvimento das lutas, não só para uma aprendizagem correta, mas até
por questão de segurança tanto dos alunos como do professor. Como isso
não tem sido possível, a maioria dos professores abandona esse conteúdo
que poderia ser levado ao conhecimento dos alunos pelo menos em sua
dimensão conceitual.
Segundo Rangel et al. (2005, p. 38),
o princípio da não-exclusão, segundo o qual nenhum aluno pode ser excluído de qualquer aula, procura garantir o acesso de todos os alunos às atividades propostas e o princípio da diversidade, que propõe uma educação física com conteúdos diversificados, não privilegiando, por exemplo, apenas uma modalidade esportiva. Garantir a diversidade como princípio é propiciar aos alunos vivências corporais nos jogos, esportes, nas danças, na ginástica, nas lutas.
Na questão 10, foi perguntado se comportamentos e atitudes
positivas/negativas por parte dos colegas, interfere na participação dos
alunos nas aulas de educação física.
Quadro 11. Interferência do comportamento e atitudes dos colegas na participação dos alunos nas aulas de Educação Física.
Série Sim Às vezes Não Total1º Ano Fem 01 11 07 19
23
Masc 02 09 05 16
2º Ano FemMasc
0500
0706
0504
1710
3º Ano FemMasc
0402
0204
0104
0710
Total 14 39 26 79
A maioria dos alunos, 39, responderam que às vezes sua participação
é influenciada por atitudes ou comportamentos positivos ou negativos dos
colegas, já 26 alunos disseram que não se deixam influenciar e apenas 14
são influenciados pelas atitudes dos colegas.
Os resultados do quadro acima demonstram que a maioria dos alunos
em algum momento deixou de participar das aulas de educação física
devido a atitudes e comportamentos dos colegas que influenciaram de
forma positiva ou negativa nesta participação.
Penso que este resultado advém da necessidade do adolescente, faixa
etária que praticamente compõe o Ensino Médio, de ser aceito pelo grupo e,
quando por algum motivo, sente-se rejeitado, se isola do grupo. Se esse
quadro persistir, as chances desse aluno não retornar mais para as aulas de
educação física é muito grande.
Segundo Staviski e Da Cruz (2008), a vergonha ou a falta de
compreensão dos demais colegas quando determinados alunos não
conseguem realizar o que lhes é proposto, pode levar, em alguns casos, o
aluno a adotar uma postura de isolamento ou mesmo que o próprio grupo o
exclua das atividades, levando em muitos casos a um afastamento
definitivo de qualquer atividade esportiva.
Na questão 11, foi questionado se os colegas também fazem esse tipo
de distinção.
Quadro 12. Frequência de alunos que percebem distinção dos colegas em relação aos menos habilidosos
Série Sim Às vezes Não Total
1º ano FemMasc
1007
0706
0203
1916
2º ano FemMasc
0805
0905
0000
1710
3º ano FemMasc
0304
0404
0002
0710
Total 37 35 07 79
24
Pelas respostas do quadro acima fica evidente que entre os colegas
ocorre alguma forma de distinção, visto que do total dos alunos, 37
responderam que sim, 35 responderam que às vezes e apenas 07 alunos
responderam que essa distinção por parte dos colegas não acontece.
Foi pedido aos alunos de que forma isso acontece, e os mesmos
justificaram assim:
Os que responderam sim justificam dizendo que geralmente os
colegas com maiores habilidades não querem jogar com alunos com
habilidades pouco desenvolvidas; que existe grupos em sala de aula e que
uns não gostam do outro e na hora do jogo não querem ficar juntos
também; que alguns colegas só querem ganhar e então querem fazer uma
equipe forte deixando os mais fracos de fora; e ainda alguns não
justificaram sua resposta.
Os que responderam que somente às vezes acontece essa distinção
entre colegas justificam que quando é jogo, alguns só querem ganhar,
então quando um colega comete algum erro reclamam em vez de incentivar
ao acerto; que outros querem jogar somente com seus colegas mais
próximos e acabam fazendo “panelinhas” e por isso é melhor quando a
professora separa as equipes; que durante as atividades os alunos mais
habilidosos ignoram os menos habilidosos evitando de passar a bola ou
tomando a frente do colega; e ainda há os que não justificaram.
Os que responderam que não percebem essa distinção justificam
dizendo que participam igualmente de todas as atividades mesmo não
sendo tão habilidoso, gostam de aulas de educação física e fazem todas as
atividades, e ainda os que não justificaram sua resposta.
Na questão 12, foi solicitado aos alunos se nas aulas de Educação
Física, meninos e meninas jogam juntos.
Quadro 13. Frequencia com que meninos e meninas jogam juntosSérie Sim Às vezes Não Total
1º ano FemMasc
0305
1310
0301
1916
2º ano FemMasc
0100
1609
0001
1710
3º ano FemMasc
0209
0500
0001
0710
Total 20 53 06 79
25
Nas respostas da questão acima fica claro que meninos e meninas
jogam juntos somente às vezes, visto que 48 alunos, a maioria,
responderam esse item, 20 alunos responderam sim, e apenas 06 alunos
responderam que não, que meninos e meninas não jogam juntos. As
respostas acima coloca em “xeque”, a proposta de uma educação física
mista em um mesmo espaço e com as mesmas atividades para meninos e
meninas, pois nem sempre é a realidade do cotidiano da educação física
dentro do espaço escolar
Desenvolver as aulas de forma mista acaba esbarrando sempre nas
dificuldades relacionadas a intolerância, as frustrações entre meninos e
meninas que se excluem, se conflitam e criam resistências a participação
junto com o outro, meninas alegam que os meninos são brutos e meninos
alegam que meninas são muito frágeis e não possuem força e habilidades
para acompanhá-los.
Rodrigues e Galvão (2005, p. ), diz que
conviver com as diferenças que existem no mundo o tornam mais interessante e nos permite crescer. Mesmo quando não entendemos ( ou quando nos posicionamos de forma contrária) a diversidade que nos cerca, cabe a nós o respeito pela mesma, assim como o posicionamento a favor de preservação dos direitos e da voz de quem é a favor, de quem defende.
Inconscientemente se cobram coisas diferentes de meninos e
meninas, essa forma diferente de tratar meninos e meninas dentro do
espaço escolar reforçam determinadas posturas frente a sociedade. Assim
no que se refere à questão de gênero é de fundamental importância as
aulas mistas, uma vez que pode favorecer a convivência entre meninos e
meninas, incentivando a tolerância e respeitando as diferenças existentes.
Meninos e meninas apresentam diferentes interesses que na prática
da educação física se materializa em diferentes atitudes e percepções, mas
que não podem ser usados como justificativa para omissões ou exclusões.
Segundo Cruz e Palmeira (2009, p. ),
não se pode negar que há diferenças biológicas entre os sexos, porém este fato não implica na impossibilidade de realização de aulas conjuntas, se por sua vez, estas preconizam a conscientização dos/as alunos/as o que pode a vir a ponderar as diferenças durante as atividades propostas.
26
O professor ao optar por determinada metodologia, deve criar
estratégias que possam intervir, minimizando/atenuando essa realidade e
constantemente estar refletindo sobre sua prática pedagógica que pode
influenciar diretamente de forma positiva ou negativa nas formas de agir e
pensar dos alunos.
Na questão 13, foi questionado se nas aulas de Educação Física,
quando o jogo é misto, se as meninas são tão bem aceitas quanto os
meninos.
Quadro 14. Frequência da aceitação das meninas num jogo mistoSérie Sim Às vezes Não Total
1º ano FemMasc
0202
1307
0407
1916
2º ano FemMasc
0402
1106
0202
1710
3º ano FemMasc
0103
0603
0004
0710
Total 14 46 19 79
O quadro 14, demonstra que 46 deles responderam que somente às
vezes num jogo misto as meninas são tão bem aceitas quanto os meninos,
19 responderam que não e somente 14 alunos acham que as meninas são
tão bem aceitas quanto os meninos quando o jogo é misto.
Essas respostas do quadro acima pode ser resultado de uma
separação por gênero que acaba acontecendo durante as aulas,
principalmente quando o esporte trabalhado é o futsal, esporte que tem a
preferência masculina e que os meninos gostam de jogar com mais
liberdade, o que não acontece quando as meninas jogam juntas, quando
então, segundo eles, é necessário o cuidado em medir a força quando
tocam ou chutam a bola devido as meninas não apresentarem a mesma
força física e por não possuírem as mesmas habilidades que eles, as
meninas preferem o futsal não misto pois dizem que os meninos são brutos
e não respeitam as diferenças entre os dois gêneros. Já em outros esportes
e outros conteúdos a participação das meninas junto com os meninos não
causa tanta polêmica e em alguns conteúdos ou atividades essa
preocupação não ocorre.
Essa diferença de habilidades acontece devido os meninos possuírem
um desenvolvimento motor maior que a maioria das meninas. Segundo
27
Darido e Rangel (2005), quando crianças, meninos são incentivados a
praticar brincadeiras mais agressivas e mais livres: jogar bola na rua, andar
de bicicleta, soltar pipa, rolar no chão em brigas intermináveis, escalar
muros e várias outras atividades que envolvem desafios e certos riscos. As
meninas, ao contrário, são desestimuladas a praticar tais brincadeiras e
atividades.
Essa exclusão por habilidades já acontece antes do período escolar,
onde os meninos são incentivados a participarem de tudo que contenha
riscos, ou seja um incentivo a aventuras, enquanto que às meninas resta
brincadeiras mais calmas, tranqüilas que não as coloque em risco nenhum.
Assim as habilidades motoras masculinas vão sendo mais desenvolvidas, ao
passo que as femininas ficam estabilizadas, essa diferença no
desenvolvimento de habilidades acabam, desde muito cedo, por separar
meninos de meninas principalmente nas atividades que envolvam
habilidades motoras.
Na última questão foi pedido se na opinião deles, se retirássemos o
aspecto competitivo do jogo, a participação nas aulas de Educação Física
seria maior e mais produtiva?
Quadro 15: Competição nas aulas de Educação Física, a participação seria maior e mais produtiva?
Série Sim Não Total
1º ano FemMasc
0708
1208
1916
2º ano FemMasc
0704
1006
1710
3º ano FemMasc
0504
0206
0710
Total 35 44 79
No quadro acima, 44 alunos responderam que a aula de educação
física não seria mais produtiva e que a participação não seria maior se o
aspecto competitivo fosse retirado do jogo e 35 alunos responderam que
28
sim que a aula de educação física seria mais produtiva e a participação
seria maior se a competição não existisse.
Os resultados apontados no quadro 15 mostram que apesar da
maioria responder que o aspecto competitivo do jogo não influencia numa
participação maior e mais produtiva dos alunos nas aulas de educação
física, a diferença em relação a quem respondeu que influencia foi bem
pequena.
A justificativa dada pelos alunos que consideram que a participação
nas aulas seria maior se retirasse o aspecto competitivo foi de que todos
iriam se divertir mais não importando quem ganha ou perde; não haveria
tanta cobrança entre os colegas e sem medo de errar todos iriam produzir
mais; não havendo competição não haveria distinção entre um e outro,
haveria mais respeito entre os colegas, facilitaria o jogo entre meninos e
meninas, não haveria jogadas ríspidas e ninguém sairia machucado.
Os que responderam que, não acham que retirando o aspecto
competitivo do jogo a aula seria melhor e mais produtiva , justificam que a
competição estimula ao acerto, e que sem competição o jogo em si perderia
a graça muitos não iriam se esforçar e então a aula seria menos produtiva,
perder-se-ia o prazer de ganhar sendo esse o fator que mais estimula o
jogo.
Durante as aulas de educação física tem-se buscado estratégias para
que o aluno possa compreender e vivenciar os mais variados tipos de jogos
recreativos seja eles dentro de um contexto participativo ou competitivo.
Como citado anteriormente neste trabalho, a questão não é negar ou
descartar a competição como uma estratégia de ação para o professor de
Educação Física, mas sim tratar a competição como um instrumento de
orientação pedagógica, voltada para uma relação social saudável que
valorize o acerto ou a vitória e, o erro ou a derrota, como partes naturais do
processo.
Para reforçar o comentário acima e confirmar o comentário dos alunos
que consideram que a participação nas aulas seria maior se retirasse o
aspecto competitivo, encontramos em Bracht (1997, p. 19) a seguinte
citação:
29
[...] existe uma forma onde o rendimento e as competições tenham um outro papel, um outro sentido, diverso daquele que possui no âmbito do esporte de rendimento ou alta competição? Entendemos que sim. Portanto, o esporte tratado e privilegiado na escola pode ser aquele que atribui um significado menos central ao rendimento máximo e à competição, e procura permitir aos educandos vivenciar também formas de prática esportiva que privilegiem antes o rendimento possível e a cooperação.
Após realizar a pesquisa, que serviu de diagnóstico para elaborar o
projeto de implementação na Escola, tem-se na sequência, como
aconteceu, e quais as estratégias utilizadas para a aplicação desse projeto.
5 IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA
A partir dos resultados obtidos na pesquisa e das dificuldades
apontadas pelos alunos através do questionário, a proposta de
implementação pedagógica teve como finalidade desenvolver um programa
com o objetivo de proporcionar a participação de todos os alunos do Ensino
Médio, do Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta, nas aulas de
educação física, por meio de novas estratégias pedagógicas de forma a
eliminar/minimizar os comportamentos geradores de exclusão, tais como:
discriminação por idade, sexo, cor, raça, etnia, classe social, habilidades
motoras, altura, obesidade ou qualquer outro comportamento excludente
que possa surgir no decorrer das aulas, como previsto nas Diretrizes
Curriculares.
A prática do esporte escolar, embora tendo a competição como
característica hegemônica, poderá desenvolver princípios e valores de
cooperação, respeito mútuo, coletividade, liderança, iniciativa, mas para
isso é necessário que o esporte seja vivenciado dentro desses princípios
educacionais, visando à formação de um ambiente que respeita as
diferenças e as limitações de cada um.
A finalidade é tornar a prática do esporte escolar mais acessível aos
próprios alunos, de forma que eles possam vivenciar essa prática como
30
participantes ativos, dando-lhes oportunidades de se identificarem com uma
das modalidades esportivas para uma prática regular e permanente.
Inicialmente foi elaborado um questionário como ponto de partida
para se obter informações no próprio discurso dos alunos, para identificar os
motivos que levam os alunos a permanecerem fora das aulas de Educação
Física, para então dar início a implementação pedagógica na escola.
Participaram alunos de 1º, 2º e 3º ano do Ensino Médio, num total de 79
alunos do turno matutino do Colégio Antônio Maximiliano Ceretta.
A Escola desenvolve um projeto “A Hora da Leitura”, e através deste,
foi levado ao conhecimento dos alunos o conteúdo do Projeto de
Intervenção na Escola, projeto do qual estavam participando.
Com a intenção de sensibilizar os alunos em relação ao conteúdo do
projeto, aconteceu a projeção de um filme e logo após um debate onde os
alunos puderam fazer a relação dos principais aspectos sociais abordados
no filme com o Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola e o cotidiano
dos alunos nas aulas de Educação Física.
Ainda nessa etapa de sensibilização aconteceu a opção pelos
profissionais que vieram para uma palestra, sendo esses, profissionais da
saúde, tais como o fisioterapeuta e o nutricionista. Atletas e ex atletas da
escola ou mesmo do município foram convidados a palestrar aos alunos
sobre a suas trajetórias dentro do Esporte, suas vitórias, seus triunfos, seus
sucessos, bem como suas dificuldades e suas decepções. Tudo isso com o
objetivo de levar o aluno a refletir sobre seu papel na sociedade e também
a necessidade de uma melhoria em sua qualidade de vida, inclusive com a
prática permanente de um esporte.
Terminada a fase de sensibilização, buscou-se estratégias que
poderiam ser utilizadas para que o aluno percebesse a necessidade de
participar das aulas de educação física de uma forma que lhe desse prazer,
buscando principalmente atividades que permitisse a participação de todos
de forma igualitária, independente de maior ou menor habilidade, altura,
obesidade, deficiência visual ou qualquer fator que possa ser motivo de
exclusão.
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Essa prática poderá auxiliar na eliminação/minimização de qualquer
sentimento de exclusão que os alunos possam estar sentindo evidenciando
assim nas aulas de educação física o princípio da não exclusão e a
valorização do movimento humano também através da prática desportiva..
Procurou-se resgatar as atividades lúdicas, típicas da região e que fazem
parte do universo cultural do alunos, jogos com regras, bem como o
esporte, através de pré desportivos, exercícios educativos, prática esportiva
com grupos misto, masculino e feminino, procurando respeitar a
diversidade existente nas turmas, nas diversas modalidades esportivas
possíveis de serem trabalhadas, ou mesmo adaptadas na escola.
Buscou-se também estratégias de ensino que abordassem conceitos e
princípios teóricos, ressaltando-se a necessidade dessas informações no
sentido de compreender a necessidade de aceitação das diferenças
individuais, e que um esforço coletivo deve ser feito para equiparar as
oportunidades de participação de todos nas aulas de Educação física.
Ainda como estratégia, buscou-se a participação dos alunos na
elaboração de atividades e na atuação como árbitros e auxiliares de árbitros
durante o desenvolvimento da prática esportiva ou torneios, para que
pudessem perceber a necessidade de se inteirar também das regras
vigentes de cada modalidade esportiva desenvolvida nas aulas de Educação
Física.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a apresentação e a discussão dos resultados desse estudo
chegou-se as seguintes conclusões:
Com relação se a participação dos alunos nas aulas de Educação
Física são influenciadas ou não, pela facilidade ou dificuldade que os
mesmos encontram na prática dos esportes, verificou-se que se o aluno não
possuir habilidade motora e conhecimento da prática do esporte trabalhado,
a tendencia é ele não participar da aula, ficando assim excluído das aulas
de Educação Física.
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As estratégias que o professor utiliza na prática dos esportes não é
um fator tão relevante a ponto de influenciar negativamente na
participação dos alunos nas aulas, penso que depende mais da postura que
o professor vai adotar frente as situações que se apresentam. Mas a
utilização na prática de qualquer esporte de exercícios educativos e jogos
com ênfase na fundamentação são considerados importantes, já que a falta
de habilidades é apontada como o fator que mais gera exclusão, mesmo no
Ensino Médio, onde supõe-se que os mesmos deveriam ter assimilado essa
aprendizagem em anos anteriores. A aprendizagem através de exercícios
educativos da fundamentação das diferentes modalidades, pode ser a
solução para suprir as dificuldades encontradas pelos alunos na prática
esportiva, mesmo que seja um processo cansativo, o professor deve buscar
meios para que isso ocorra.
Na identificação dos conteúdos e dos esportes desenvolvidos nas
aulas de Educação Física, verificamos que embora o esporte seja o
conteúdo mais trabalhado não é o único, sendo o Esporte mais aplicados
até pela questão de estrutura física. Quanto aos esportes desenvolvidos
durante as aulas aparecem os que são considerados básicos e novamente
caimos no mesmo problema, a estrutura física que a Escola oferece, caso
contrário o professor acaba por adaptar o conteúdo ao que tem em mãos
para desenvolvê-lo.
Na busca por fatores que influenciam na não inclusão do aluno nas
aulas de educação física procurou-se identificar se atitudes e
comportamentos dos colegas influenciam na partcipação dos mesmos nas
aulas e verificamos que esse fator é de grande relevância. Essas atitudes
podem ser de caráter positivo ou negativo, devendo ter uma especial
atenção do professor quando de caráter negativo, visto que o aluno quando
incorpora esse sentimento de exclusão, pode adotar uma postura de
isolamento, que leva a um afastamento definitivo das aulas e
consequentemente de qualquer atividade esportiva.
A questão da exclusão por gênero foi levantada, apesar da ausência
de habilidades ser o principal fator de exclusão, a questão por gênero
também em determinadas situações e dependendo das atividades
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propostas para a aula, aparece com certa relevância. A política adotada
pelas escolas das aulas mistas poderia ser a solução para ameninzar um
pouco esse preconceito, mas a realidade escolar mostra que mesmo as
aulas sendo mistas, os alunos do sexo masculino, quase sempre trabalham
separados do sexo feminino. A exclusão por gênero aponta como fator, a
menor habilidade das meninas em relação à prática dos esportes.
A competição foi outro fator levantado e questionado junto aos
alunos, mas o que percebeu-se foi uma diferença mínima, quanto as
respostas de quem defende a competição como fator que pode ser
excludente de quem defende a competição como fator motivador para a
participação dos alunos.
Penso que a competição em si não exclui ninguém, ela é exatamente aquilo
que fazemos dela, e o Esporte, não o de rendimento, não o espetáculo, mas aquele
que educa, aquele que privilegia ao aluno vivenciar experiências de cooperação,
de iniciativa, de solidariedade, de coletividade, de iniciativa, de respeito mútuo e
do rendimento possível, seja de fato o esporte desenvolvido dentro da escola.
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