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Curso de Letras Artigo de Revisão
A PONTUAÇÃO: A VÍRGULA E SUAS FUNÇÕES NA INTERAÇÃO DOS COMPONENTES SINTÁTICO E SEMÂNTICO DA LÍNGUA PORTUGUESA LA PUNTUACIÓN: LA COMA Y SU PAPEL EN LA INTERACIÓN DE LOS COMPONENTES SINTÁCTICO Y SEMÂNTICO DE LA LENGUA PORTUGUESA
Rubens Bonfim Leal
1 Maria das Graças Martins Pinto de Carvalho
2
1 Aluno do Curso de Letras – Português/ Espanhol 2 Professora Mestra do Curso de Letras
Resumo
Este trabalho discorre sobre o sinal de pontuação denominado vírgula, recurso gráfico próprio da língua escrita. Apesar de
nãoconseguir reproduzir toda a riqueza melódica da linguagem oral, a pontuação é responsável por organizar as relações dos
elementos frasais e estabelece as pausas e entonações. O objetivo deste trabalho é descrever os casos em que se deve utilizar a
vírgula nas orações e nos períodos. O desenvolvimento desta pesquisa se deu por meio de pesquisa bibliográfica, na qual foi realizado
um levantamento sobre o que os autores prescrevem para a utilização da vírgula. A língua escrita, enquanto um modo de expressar a
linguagem humana, conta com a pontuação para exprimir as nuances da oralidade, suas pausas, ritmo e entonação. A vírgula indica
uma pausa breve e é utilizada de acordo com a sintaxe da construção das frases e da colocação dos termos da oração, demarcando
uma inversão na ordem direta, separando elementos de igual valor sintático, separando elementos repetidos e separando orações ou
outros elementos inseridos em tal ordem, na marcação de elementos marginais, intercalados e deslocados, na marcação da elipse
verbal e para evitar ambiguidades. A vírgula é um sinal de pontuação que se relaciona com toda a estrutura da sintaxe da língua
portuguesa e com o elemento semântico da língua, marcando pausas, separando e isolando elementos que indicam uma quebra nas
relações sintáticas, marcando uma quebra na ordem direta ou indicando a inserção de elementos no interior das orações.
Palavras-Chave: pontuação; vírgula; sintaxe; semântica; linguagem escrita.
Resumen
Este trabajo versa sobre el signo de puntuación denominado coma y es un recurso gráfico propio de la lengua escrita. A pesar de que
no consiga reproducir toda la riqueza melódica del lenguaje oral, él se encarga de organizar las relaciones entre los elementos de la
frase y establece las pausas y la entonación. El objetivo de este trabajo es describir los casos en los cuáles se debe utilizar la coma,
tanto en las oraciones como en las proposiciones. El desarrollo de este estudio se ha efectuado mediante la investigación bibliográfica,
y que ha permitido el levantamiento de literatura sobre lo que los autores prescriben sobre el empleo de la coma. El lenguaje escrito,
como una manera de expresar el lenguaje humano, recurre a la puntuación para expresar los matices de la oralidad, sus pausas, ritmo
y entonación. La coma indica una breve pausa y se utiliza de acuerdo con la sintaxis de la construcción de las oraciones y de la
colocación de los términos de la oración, y marca un cambio en el orden directo, separa los elementos del mismo valor sintáctico,
elementos repetidos y separa las oraciones u otros elementos insertados en tal orden, en el marcado de los elementos marginales,
intercalados y desplazados; en el marcado de la elipsis verbal y para evitar la ambigüedad. La coma es un signo de puntuación que se
relaciona con toda la estructura de la sintaxis de la lengua portuguesa y con el componente semántico de la lengua; marca las pausas,
separa elementos que indican una ruptura en las relaciones sintácticas e indica la ruptura del orden directo o la inserción de elementos
dentro de las oraciones.
Contato: [email protected]
Introdução
A língua é constantemente utilizada para o
desempenho de diversas atividades sociais, como
escrever um bilhete, pegar um ônibus, seguir os
passos de uma receita culinária e até para
desenvolver atividades mais complexas que
envolvam o seu uso, como fazer resumos,
escrever resenhas, fazer citações ou referenciar
autores em textos acadêmicos, contudo, para que
tais atividades sejam realizadas de maneira
eficiente, é necessário que os diversos
profissionais de áreas distintas conheçam e
2
aprofundem os seus conhecimentos de tal modo
que, em suas atividades, alcancem o êxito
esperado no uso da linguagem, oral ou escrita.
Neste contexto, o presente trabalho
aborda o tema da pontuação, mais precisamente o
uso da vírgula como parte constituinte da oração.
A vírgula desempenha papel importante diante das
funções sintáticas e semânticas, e, para o bom
desenvolvimento de atividades que envolvem a
Língua Portuguesa, saber empregar a vírgula
adequadamente diferencia a proficiência de seus
usuários.
Para Catach (1994 apud Bechara 2009 p.
604), a pontuação é um sistema de reforço da
escrita que organiza as relações dos elementos
frasais e das pausas orais e escritas. Nesse
sentido, o objetivo deste trabalho é descrever os
casos em que se deve utilizar a vírgula enquanto
unidade sintática da oração e no interior dos
períodos, retratando seu papel primordial na
comunicação de uma mensagem, na qual se
utiliza a Língua Portuguesa como código escolhido
para transmiti-la por meio da linguagem escrita,
que se vale dos sinais de pontuação para imprimir,
no texto, as pausas e entonações que compõem a
melodia da língua falada, as quais, sem a vírgula,
não seria possível emiti-la de forma eficaz ao
receptor.
Sob esse entendimento, a pontuação
possui uma relação estreita com o conteúdo e o
sentido da mensagem, e a vírgula, como sendo
um desses sinais, e por ser considerada a menor
pausa existente, destina-se a separar palavras,
expressões e orações e a deixar claro o
significado de uma frase, com o intuito de evitar a
ambiguidade em um texto, pois, ao escrever,
perde-se o recurso sonoro da língua oral, e a
vírgula, do mesmo modo que a pontuação como
um todo, tenta exprimir algumas dessas nuances
da oralidade. Sendo assim, a vírgula, além de ser
um elemento de coesão textual, é necessária para
a coerência em um texto.
Sintaticamente falando, ou seja, quanto à
relação das palavras, substantivos, adjetivos,
advérbios e conjunções, entre outras, e sua
função sintática, sujeito, verbo e complementos, a
vírgula ocupa lugar de destaque nessas
estruturas, coordenando termos de igual valor
sintático, separando elementos de uma oração
que não se relacionam diretamente com os
demais, como é o caso dos vocativos, e, inclusive,
suprimindo outros, como ocorre com os verbos.
Na Língua Portuguesa, segundo afirma
Cunha (2001 p. 162), "predomina a ordem direta,
isto é, os termos da oração dispõem-se
preferencialmente na sequência Sujeito + Verbo +
Objeto Direto + Objeto Indireto ou Sujeito + Verbo
+ Predicativo", contudo, havendo a escolha da
ordem inversa ou quando há a inserção de algum
elemento no interior dos enunciados, em alguns
casos, a vírgula vem a ser essencial para a
construção desse tipo de oração/ período,
enquanto que, em outros casos, seu uso é
relativizado.
Embora as regras estabelecidas nas
gramáticas não sejam gerais o suficiente para
contemplar todos os casos de empregos da
virgula, conforme afirma Luft (1996), o presente
trabalho propõe-se a verificar, por meio da
pesquisa bibliográfica, quais os casos em que a
vírgula separa as orações dentro dos períodos,
como ocorre o emprego da vírgula em relação aos
termos da oração no período simples e a
identificar a vírgula como elemento de coesão e
coerência textual. Para tal finalidade, foi realizado
um levantamento para verificar, de acordo com os
autores que tratam sobre o objeto deste estudo,
em que contextos a vírgula deve ser aplicada e
quando ela deve ser evitada.
Ainda que tenha sido citado sobre a
representatividade sonora dos sinais de pontuação
na construção de enunciados, este estudo trata a
vírgula sob a ótica da sintaxe, e não sob os
aspectos prosódicos da Língua Portuguesa. Para
3
atingir o que se propõe, o presente estudo se
apoia em Cunha (2001), Mesquita (1996), Bechara
(2009), Rocha Lima (2008), Cegala (2008), entre
outros.
Materiais e métodos
O presente trabalho foi desenvolvido por
meio de pesquisa bibliográfica, que "tem por
finalidade conhecer as diferentes formas de
contribuição científica que se realizaram sobre
determinado assunto ou fenômeno" (OLIVEIRA
2002, p.119). Sendo assim, foi realizado um
levantamento para verificar, de acordo com os
autores que falam sobre o objeto deste trabalho,
em que contexto a vírgula deve ser aplicada e
quando ela deve ser evitada. O conjunto de obras
lidas durante a catalogação das informações foi
analisado para a elaboração do trabalho, pois,
conforme Ruiz (2002, p. 58) a "pesquisa
bibliográfica consiste no exame desse manancial,
para levantamento e análise do que já se produziu
sobre determinado assunto, que assumimos como
tema de pesquisa científica".
A investigação passou por etapas como:
localização das informações, que é o ato de fazer
uma leitura prévia, uma leitura seletiva, julgando o
que pode ser útil para o trabalho, uma leitura
crítica e uma leitura interpretativa, para
estabelecer conexões, discutindo ideias,
descartando ou comprovando opiniões; as leituras
foram documentadas por meio de anotações e
fichamentos. Selecionado o material a ser
pesquisado, foi elaborado um plano de trabalho,
traçando um plano de redação, o qual foi seguido
na fase posterior, em que se procedeu a própria
redação do trabalho, o qual, depois de escrito, foi
lido de forma crítica, para receber a redação final.
Resultados
A linguagem, a língua e a pontuação
A necessidade de o homem comunicar-se,
levou-o a criar e desenvolver diversos sinais e
símbolos carregados de significado para emitir ao
interlocutor uma mensagem e, segundo Abaurre
(2010, p. 17), a “linguagem é uma atividade
humana e é sempre utilizada em situação de
interlocução”, havendo distintos tipos de
linguagem, como as expressões artísticas, pintura,
música e dança, gestos e qualquer outra
manifestação que pretenda comunicar algo a
alguém. Bechara (2009, p. 28) afirma que a
linguagem “é qualquer sistema de signos
simbólicos empregados na intercomunicação
social para expressar ideias e sentimentos, isto é,
conteúdos da consciência”, logo, a linguagem é
“qualquer processo de comunicação” (ROCHA
LIMA, 2008, p. 4).
No presente estudo, abordou-se a
linguagem sob o aspecto da língua, a qual, para
Rocha Lima (2008, p. 5) “é um sistema; um
conjunto organizado e opositivo de relações,
adotado por determinada sociedade para permitir
o exercício da linguagem entre os homens”.
Saussure (2008, p.17) afirma que a língua é uma
parte essencial e determinada da linguagem,
sendo “ao mesmo tempo, um produto social da
faculdade da linguagem e um conjunto de
convenções necessárias, adotadas pelo corpo
social para permitir o exercício dessa faculdade
nos indivíduos”, isto quer dizer que a língua é
resultado da capacidade de o ser humano criar
meios para comunicar-se, e é um conjunto de
regras que lhe permite executar tal capacidade por
meio da fala humana, o principal meio pelo qual se
manifesta a língua.
Cada língua possui sua própria sintaxe, a
qual, segundo Abaurre (2010, p. 373) “é o conjunto
de regras que determinam as diferentes
possibilidades de associação das palavras da
língua para a formação de enunciados”, podendo
haver diversas formas possíveis de se organizar
as palavras nas sentenças. Na língua portuguesa,
por exemplo, há diversas formas de emitir o
seguinte enunciado: A menina vai à
4
igreja; podendo se dizer: à igreja vai a menina; a
menina à igreja vai; à igreja a menina vai;
entretanto, devido à perda de sentido da frase, as
palavras da mesma mensagem não podem se
organizar as seguintes maneiras: Igreja a menina
à vai; A vai casa menina à. Dessa forma, embora
estejam sendo utilizadas as palavras do léxico do
Português, a não utilização das regras
compreendidas na sintaxe do idioma faz com que
a sentença perca o seu sentido, tornando-se
agramatical, ou seja, fora das possibilidades da
sintaxe da Língua Portuguesa.
Saussure (2008, p. 22) faz uma separação
entre a língua e a fala, fazendo uma distinção
entre o que é socialmente estabelecido entre os
falantes, e o que é registrado passivamente pelo
indivíduo, pois, para ele, a fala é:
um ato individual de vontade e inteligência, no qual convém distinguir; 1º, as combinações pelas quais o falante realiza o código da língua no propósito de exprimir pensamento pessoal; 2º, o mecanismo psicofísico que lhe permite exteriorizar essas combinações.
Afirmando haver dois tipos de expressão
linguística, a fala e a escrita, Rocha Lima (2008, p.
4) relata que:
Na comunicação escrita, os sons da fala (que em essência constituem a linguagem dos homens) passam a ser apenas evocados mentalmente por meio de símbolos gráficos; a rigor, ela não se apresenta senão como um imperfeito sucedâneo da fala. Esta é que abrange a revelação do eu em sua totalidade, pressupondo, além da significação dos vocábulos e das frases, o timbre da voz, a entoação, os elementos subsidiáveis do gesto e do jogo fisionômico.
Desta forma, Rocha Lima está afirmando
que, embora a escrita seja um substituto da fala,
ela se apresenta de forma imperfeita por meio dos
signos gráficos, pois é na fala que se encontra a
mensagem de forma completa, e, ao falar, o
emissor da mensagem conta com outros recursos
para que as ideias sejam transmitidas, como os
gestos, a impostação da voz e expressões faciais,
que completam o sentido da mensagem.
Ainda que imperfeita, a escrita conta com
a pontuação para alcançar êxito no processo de
comunicação, pois, de acordo com Catach (1994,
apud Bechara 2009, p. 604) a pontuação é um:
sistema de reforço da escrita, constituído de sinais sintáticos, destinados a organizar as relações e a proporção das partes do discurso e das pausas orais e escritas. Estes sinais também participam de todas as funções da sintaxe, gramaticais, entonacionais e semânticas.
Diante disso, pode-se afirmar que a
pontuação tem o intuito de registrar na escrita
certos elementos da oralidade, ritmo, pausas,
entonação das linhas melódicas que indicam
quando o falante faz uma pergunta, quando ele faz
uma exortação, ou apenas afirma algo. Todas
essas informações manifestam-se naturalmente na
fala, mas, ao escrever, é necessário utilizar bem
os sinais de pontuação para garantir que o
receptor compreenda a intenção do emissor da
mensagem ao emitir um enunciado. Sendo assim,
Catach (1994 apud Bechara 2009, p. 605) define a
pontuação como:
conjunto de sinais visuais de organização e apresentação que acompanham o texto, interiores ao texto e comuns tanto ao manuscrito quanto ao impresso; abrange a pontuação várias classes de sinais gráficos discretos e constitutivos de um sistema, complementando ou suplementando a informação escrita.
Cegala (2008, p. 428) diz que não há
consenso entre os escritores sobre o uso da
pontuação e afirma que a pontuação possui três
funcionalidades: “indicar pausas e inflexões da voz
(a entonação) na leitura; separar palavras,
expressões e orações que devem ser destacadas;
esclarecer o sentido da frase, afastando qualquer
ambiguidade”.
Mesquita (1996, p. 461) define os sinais de
pontuação como “os recursos gráficos utilizados
para imprimir ao texto escrito as características da
língua falada. Aplicam-se às palavras ordenadas
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na oração ou no período e, por isso, são
chamados também de notações sintáticas”,
classificando-os em dois grupos: os sinais que
indicam pausa e os que indicam melodia ou
entonação, dentre os quais o ponto e vírgula, o
ponto e a vírgula marcam as pausas, enquanto
que os sinais que marcam a melodia ou entonação
são os dois pontos, o ponto de interrogação, o
ponto de exclamação, as reticências, as aspas, os
parênteses, os colchetes e o travessão. Essa
classificação dos sinais de pontuação divididos
entre os que marcam pausas e melodia/entonação
também é utilizada por Cunha (2001, p.643),
contudo, este ressalta que tal distinção entre os
sinais de pontuação é didaticamente cômoda, mas
não é rigorosa, uma vez que, em geral, os sinais
de pontuação indicam tanto a pausa como a
melodia.
Em relação à pontuação, Rocha Lima
(2008, p. 458) diz que há três tipos de pausas
rítmicas: a que não interrompe o discurso, a qual é
marcada no texto com o uso da vírgula, do
travessão, dos parênteses, do ponto e vírgula e
dos dois pontos; a pausa que sinaliza a finalização
do discurso ou de parte dele, na qual são
utilizados o ponto simples, o ponto parágrafo e o
ponto final; e, por fim, a pausa utilizada para
destacar uma intenção ou estado emotivo, que é
indicada no texto pelos pontos de interrogação,
exclamação e pelas reticências.
Bechara (2009) afirma que a pontuação
pode ser entendida de dois modos: numa acepção
larga e outra restrita. Na primeira, incluem-se não
só os sinais de pontuação propriamente ditos, mas
também aqueles que realçam e valorizam o texto,
como os títulos, as rubricas, as margens, a
escolha de espaços e de caracteres e até a forma
com que são dispostos os capítulos, incluindo a
maneira da confecção de um livro.
Na concepção restrita, ele diz que há os
sinais separadores: vírgula, ponto e vírgula, ponto
final, ponto de exclamação e reticências, e os
sinais de comunicação ou “mensagem”, que são
os dois pontos, as aspas simples, as aspas
duplas, o travessão simples, o travessão duplo, os
parênteses, os colchetes ou parênteses retos, a
chave aberta e a chave fechada. Bechara propõe,
ainda, que esses dois tipos de sinais, os
separadores e os de mensagem, podem ser
subdivididos em sinais de pausa conclusa e de
pausa inconclusa. Os sinais de pausa conclusa
são, fundamentalmente, o ponto, e depois o ponto
e vírgula, o ponto de interrogação, o ponto de
exclamação e as reticências, quando em função
conclusa. Os sinais de pausa inconclusa são,
essencialmente, a vírgula, além dos dois pontos,
dos parênteses, travessão e colchetes, quando
utilizados em função inconclusa.
Bechara ressalta, ainda, a função
comunicativa da pontuação no enunciado para o
entendimento do texto, afirmando que:
O enunciado não se constrói com um amontoado de palavras e orações. Elas se organizam segundo princípios gerais de dependência e independência sintática e semântica, recobertos por unidades melódicas e rítmicas que sedimentam esses princípios. Proferidas as palavras e orações sem tais aspectos melódicos e rítmicos, o enunciado estaria prejudicado na sua função comunicativa. Os sinais de pontuação, que já vêm sendo empregados desde muito tempo, procuram garantir no texto escrito esta solidariedade sintática e
semântica. (BECHARA, 2009, p. 606).
Dessa forma, o autor está destacando o
papel da pontuação na construção de enunciados,
os quais, para garantir a comunicação, contam
com os sinais de pontuação para registrar os
aspectos rítmicos e melódicos da mensagem, sem
os quais a mensagem pode ficar comprometida,
podendo haver uma mudança de sentido naquilo
que se pretendeu dizer devido a não utilização
adequada de tais recursos gráficos.
Emprego da vírgula
6
Cunha (2001), Terra (1996) e Mesquita
(1996) afirmam que a vírgula é uma pausa,
pequena e breve, entretanto, Luft (1996, p. 7)
adverte que “a nossa pontuação – pontuação em
língua portuguesa – obedece a critérios sintáticos,
e não prosódicos", ou seja, na hora de pontuar,
não se segue o ritmo ou qualquer outra
propriedade acústica da fala, mas as relações
sintáticas dos elementos constitutivos da oração,
responsabilizando essa ligação entre a pausa
melódica da fala e a vírgula por grande parte dos
erros em relação ao uso da vírgula, que, para ele,
é um "sinal de pontuação que indica falta ou
quebra de ligação sintática no interior das frases".
(LUFT, 1996, p. 9), sendo utilizada nas aposições,
justaposições, assíndetos (coordenação sem
coordenador), vocativos, na marcação de
elementos marginais, intercalados, deslocados, na
marcação da elipse verbal e para evitar
ambiguidades.
Diante disso, o autor afirma que o emprego
da vírgula se dá, entre outros, na delimitação de
elementos marginais, intercalados e deslocados, e
propõe que as frases podem ser compostas por
quatro casas, as quais são ocupadas por
elementos que compõem a oração, o sujeito
ocupando a casa um, o verbo a casa dois, os
complementos a casa três, e as circunstâncias a
casa quatro. Bechara (2009, p. 582) classifica que,
desse modo, tal estrutura encontra-se em ordem
direta, que “consiste em enunciar, no rosto da
oração, o sujeito, depois o verbo e, em seguida, os
seus complementos”, ou seja, o esquema SVC
(sujeito – verbo – complementos), e, caso a ordem
dos elementos frasais surjam fora desse esquema,
dá-se o nome de ordem inversa ou ocasional.
Sautchuk (2010, p. 153) reforça a afirmação
de Luft, relatando que:
O emprego da vírgula, em português, é realizado em função da sintaxe de construção das frases e da colocação dos termos essenciais, integrantes e acessórios das orações, e não por
motivos “sonoros”. Somente as pausas sintático-semânticas têm correspondência no sistema escrito do português: as pausas respiratórias não têm. Em nossa língua, a ordem não marcada melodicamente é o SVC e, por isso, esses elementos sintáticos não podem ser separados por vírgula. Baseando-se nesse princípio, somente quando um elemento “estranho” (termo acessório) é colocado entre esse padrão ou antes dele, essa colocação é ou deve ser marcada melodicamente por meio de vírgula.
A autora, assim, explana que pontuar com a
vírgula se faz em função da colocação dos termos
essenciais, integrantes e acessórios da oração
dentro da estrutura SVC, a qual não é marcada
melodicamente pela vírgula, contudo utiliza-se a
vírgula quando há uma quebra na ordem direta ou
na colocação de algum termo acessório no interior
de tal estrutura ou anterior a ela.
Mesquita (1996) diz que as vírgulas, entre
os termos da oração, são utilizadas para separar
os vocativos, o aposto, os adjuntos adverbiais que
aparecem no início ou no meio de orações,
separar os termos de uma enumeração, quando
têm idêntica função sintática, separar os nomes de
lugar nas datas e nos endereços, indicar a elipse,
isto é, a omissão de um termo da oração, isolar
palavras ou expressões explicativas ou
conclusivas, tais como, por exemplo, isto é, digo,
assim, com efeito. Enquanto que, entre as
orações, a vírgula separa orações independentes,
isto é, orações coordenadas assindéticas; separa
as orações subordinadas adjetivas explicativas e
as orações subordinadas adverbiais,
principalmente quando estão antepostas à oração
principal, além de separar orações intercalares ou
interferentes. Terra (1996, p. 335) explica que as
vírgulas, na ordem indireta, são utilizadas quando
há intercalações, termos deslocados, omissão de
palavra, vocativos e entre os termos coordenados
assindéticos, logo, a vírgula no interior da oração é
utilizada entre “os termos que se intercalam na
ordem direta, quebrando a sequência natural da
7
frase”, isolando-os, o que é o caso do aposto
intercalado; das expressões de caráter explicativo
ou corretivo; nas conjunções coordenativas e nos
adjuntos adverbiais intercalados. Entre as orações,
o autor diz que “as orações que compõem um
período podem ser separadas por vírgulas ou não,
dependendo do tipo de cada oração”, afirmando
que são utilizadas entre as orações subordinadas
adjetivas explicativas, as orações subordinadas
adjetivas restritivas, adverbiais e substantivas, nas
orações coordenadas e nas intercaladas.
Cunha (2001, p. 644), ao tratar sobre a
vírgula, a define como uma marca de breve
duração e é utilizada para separar elementos de
uma oração e para separar orações de um só
período. Dentro da oração, o autor diz que ela
serve para separar elementos de igual função
sintática, exceto quando ligados pelas conjunções,
e, ou e nem; para separar o aposto ou qualquer
elemento que tenha valor explicativo; para isolar o
vocativo; para isolar elementos repetidos; para
isolar o adjunto adverbial antecipado; para separar
o nome do lugar nas datas; e para indicar a
supressão de uma palavra, ou grupo de palavras,
geralmente o verbo.
No período composto, Cunha (2001) diz que
a vírgula é utilizada para separar orações
coordenadas assindéticas; para separar as
orações coordenadas sindéticas e as orações
coordenadas que têm sujeitos diferentes e que
são unidas pela conjunção e ou quando a
conjunção é utilizada reiteradas vezes; para isolar
as orações intercaladas; para isolar as orações
subordinadas adjetivas explicativas; para separar
as orações subordinadas adverbiais,
principalmente quando elas vêm antepostas a sua
principal; e para separar as orações reduzidas,
quando estas tiverem equivalência às orações
adverbiais.
Cunha (2001, p. 650) finaliza o tema
acentuando que qualquer oração ou termo da
oração que tenha um valor exclusivamente
explicativo é pronunciado entre pausas e, por isso,
são isolados por vírgulas na escrita. Afirma, ainda,
que os termos essenciais e integrantes da oração
não podem ser separados por vírgula, pois se
ligam uns aos outros sem nenhuma pausa, por
isso, não se admite o uso da vírgula entre a
oração subordinada substantiva e a sua principal.
O mesmo autor também ressalta que
existem poucos casos em que o uso da vírgula
não corresponde a uma pausa real na fala, como
se observa em respostas rápidas como: Sim,
senhor. Não, senhor.
Bechara (2009) inclui a vírgula no grupo de
sinais de pontuação essencialmente separadores,
sendo empregada para separar termos
coordenados, mesmo quando estão ligados por
uma conjunção; na separação das orações
coordenadas aditivas e alternativas, quando
proferidas com pausa; nas aposições, excetuando-
se no aposto especificativo; para separar os
pleonasmos, e as repetições; separar ou intercalar
vocativos; além de separar as orações adjetivas
de valor explicativo; para separar, as orações
adjetivas restritivas de certa extensão, sobretudo
quando os verbos de duas orações diferentes se
encontram; para separar orações intercaladas, os
adjuntos adverbiais que precedem o verbo e as
orações adverbiais que vêm antes ou no meio da
sua principal; para separar o nome do lugar nas
datas; para separar as partículas e expressões de
explicação, correção, continuação, conclusão,
concessão; para separar as conjunções e
advérbios adversativos; para indicar a elipse do
verbo; para assinalar a interrupção de um
segmento natural das ideias e se intercala um
juízo de valor ou uma reflexão subsidiária; para
desfazer possível má interpretação resultante da
distribuição irregular dos termos da oração.
Assim sendo, o autor não recorre à
oralidade ou às pausas emitidas na linguagem
falada para justificar o emprego da vírgula, mas a
define como um separador de alguns elementos
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dentro da oração e para separar orações
intercaladas ou deslocadas, além de separar
algumas partículas que se inserem dentro das
orações na ordem direta ou anteriormente a estas,
frisando sobre a sua importância em prevenir má
interpretação devido a irregularidade de colocação
dos termos da oração.
Cegala (2008) fala que a vírgula se
emprega basicamente para separar orações e os
elementos de uma oração, sendo utilizada para
separar palavras ou orações justapostas
assindéticas; para separar os vocativos da oração;
para separar apostos e determinados predicativos;
para separar orações intercaladas e outras de
caráter explicativo; para separar certas expressões
explicativas ou retificadas, como: isto é, a saber,
por exemplo, ou melhor, ou antes, entre outras;
para separar orações adjetivas explicativas;
geralmente é utilizada para separar orações
adverbiais desenvolvidas; para separar as orações
adverbiais reduzidas da sua principal; para separar
os adjuntos adverbiais; para demarcar a existência
de um termo elíptico; para separar determinadas
conjunções propositivas, como porém, contudo,
pois, entretanto, portanto, entre outras; para
separar os elementos justapostos de um
provérbio; para separar termos os quais deseja-se
ressaltar; e para separar o nome do lugar, quando
se escrevem as datas.
O autor ainda adverte sobre três situações
nas quais não se emprega a vírgula: entre o
sujeito e o verbo da oração, exceto quando estão
separados por um adjunto ou por uma oração;
entre os verbos e os complementos verbais que
lhes pertencem, quando estes estão juntos na
oração; e, geralmente, antes das orações
adverbiais consecutivas.
Hauy (2014, p. 407) define a vírgula como
um sinal gráfico de pontuação que indica pequena
pausa, sendo empregada na reestruturação
sintática dos períodos, objetivando dar clareza ao
discurso. Segundo a autora, no período simples, a
vírgula é utilizada para três finalidades; para
separar; para indicar e para sinalizar algo no
interior da oração.
Quanto à função separadora da vírgula,
Hauy explana que o sinal é empregado para
separar os apostos, os vocativos, os elementos da
oração de igual valor sintático, sejam eles
repetidos ou não; para separar a data do lugar;
para separar palavras ou locuções que expressam
a ideia de retificação, explicação, continuação, tais
como isto é, a saber, por exemplo, digo, aliás, com
efeito, também entre outras palavras e locuções;
para separar palavras que expressam seleção
como, por exemplo, as palavras principalmente,
sobretudo, notadamente, senão e mais; para
separar os advérbios sim e não; para separar as
locuções adverbiais; para separar os adjuntos
adverbiais deslocados; e para separar
predicativos, complementos e adjuntos, de seus
pleonasmos. Hauy (2014) também afirma que a
vírgula tem o papel de indicar a elipse de uma
palavra ou de um grupo de palavras, além de ser
utilizada para evitar ambiguidade ou interpretação
equivocada de uma sentença. Finalizando, a
autora afirma que não se utiliza a vírgula entre
elementos que mantenham entre si uma relação
de dependência sintática, ou seja, não se utiliza a
vírgula para separar o sujeito do verbo e o verbo
de seus complementos, ao menos que, entre eles,
sejam colocados outros elementos, como apostos,
vocativos ou adjuntos adverbiais, os quais também
devem ser postos entre vírgulas, caso se
interponham entre o predicativo e o objeto direto
ou objeto indireto, ou entre esses dois últimos.
Em relação ao período composto, a
mesma autora expõe que a vírgula é utilizada para
separar as orações coordenadas assindéticas e
sindéticas, contudo, ressalta que não se utiliza
vírgula antes da conjunção coordenativa aditiva e,
caso o sujeito seja o mesmo nas duas orações,
contudo, havendo um sujeito diferente nas duas
orações, a vírgula antepõe-se à conjunção; que as
9
conjunções coordenativas adversativas, no início
das orações, são escritas depois da vírgula; são
separadas pela vírgula as orações coordenadas
sindéticas ligadas pelas conjunções alternativas; a
vírgula é empregada antes das conjunções
explicativas; citando Cunha (p. 630), a autora
afirma que, excetuando-se a conjunção pois, as
demais conclusivas podem iniciar as orações, ou
aparecer após qualquer um dos termos e,
semelhante às adversativas, as conjunções
conclusivas são escritas com uma vírgula anterior
ou entre vírgulas; as vírgulas separam as orações
intercaladas; as orações subordinadas de igual
função sintática; os conectivos coordenativos dos
conectivos subordinativos; e para separar as
orações subordinadas adverbiais.
Martins (2010, p. 345) defende que, “de
modo geral, a vírgula é uma pausa de pequena
duração”, entretanto, destaca que, tanto as pausas
respiratórias nem sempre correspondem ao
emprego da vírgula, como a vírgula também não
marca todas as pausas respiratórias da fala.
Categoricamente, após definir a vírgula, a autora
afirma que é proibido o uso da vírgula entre o
sujeito e o predicado e entre o verbo e seus
complementos. A partir daí é prescrito que a
vírgula seja empegada para separar termos da
mesma função sintática, para isolar o aposto, para
isolar o vocativo, para isolar o adjunto adverbial
deslocado (vírgula não obrigatória, mas
aconselhável), para separar a localidade da data e
nos endereços; para marcar a supressão do verbo;
para isolar expressões que exemplificam ou
retificam; para isolar o predicativo deslocado; para
separar as conjunções coordenativas adversativas
e conclusivas deslocadas; para isolar os
elementos repetidos nas orações; para separar o
complemento do verbo, quando estiver anteposto
ao verbo ou quando houver outro complemento –
pleonástico; para separar as orações adjetivas
explicativas; para separar as orações adverbiais
deslocadas, estando ou não reduzidas, exceto as
orações adverbiais e comparativas, quando o
verbo está elíptico.
Discussão
De acordo com o objetivo deste trabalho,
que se destina a descrever o emprego da vírgula e
sua relação nos componentes sintáticos e
semânticos da Língua Portuguesa, esta seção
busca desenvolver as considerações que
permitem discutir o que foi levantado nos
resultados. Como se trata de pesquisa
bibliográfica, esta discussão retoma os principais
teóricos, tentando apontar as diferenças ou
aproximações nas abordagens e nos conceitos.
Como exposto anteriormente, segundo
Rocha Lima (2008), na comunicação escrita, os
sons da fala são evocados por meio dos símbolos
gráficos, e a pontuação, segundo afirmam
Mesquita (1996) e Cunha (2001), tem por
finalidade expressar, na escrita, tais características
da língua falada. Segundo os dois últimos, os
sinais de pontuação são divididos entre os que
indicam pausa e os que indicam a melodia ou
entonação. Rocha Lima (2008) trata dessa
distinção limitando-se, apenas, a definir a
pontuação como um demarcador de pausas
rítmicas, contudo, o que Cunha e Mesquita
chamam de melodia, Rocha Lima afirma tratar-se
de outro tipo de pausa, a que destaca uma
intenção ou estado emotivo, o que Bechara
classifica como sinais de comunicação
(mensagem).
Dentre os sinais que marcam uma pausa,
Rocha Lima os divide entre os que não
interrompem o discurso e os que sinalizam a
finalização do discurso ou de parte dele. Ao
classificar os sinais de pontuação, Bechara (2009)
diz que existem os sinais separadores e os sinais
de comunicação ou mensagem, os quais ainda
podem ser subdivididos entre os que indicam uma
pausa conclusa ou uma pausa inconclusa. Cegala
(2008), ao afirmar que há falta de consenso entre
10
os autores sobre o uso da pontuação, passa a
tratar do tema pelas funções da pontuação, que,
segundo ele, é de indicar pausas e inflexões da
voz, de separar palavras, expressões e orações
que devem ser destacadas e de dar sentido à
frase, o que Bechara (2009) diz ser parte da
função comunicativa da pontuação na
interlocução, que, ao registrar na escrita os
aspectos melódicos da língua oral, garante a
comunicação efetiva do enunciado. Dentro desse
contexto, os autores situam a vírgula entre os
sinais que indicam uma pausa, mas não
interrompe o discurso, pois se trata de uma pausa
inconclusa, e entre os sinais de pontuação que
têm a função de separar, os sinais separadores.
Em relação ao não emprego da vírgula,
existem alguns gramáticos que detalham o tema
de forma bastante aproximada, em abordagem
essencialmente sintática. Quanto ao esquema:
sujeito, verbo, complemento – SVC, Sautchuk
(2010), Luft (1996), Bechara (2009), Cunha (2001)
Martins (2010) preveem que os casos onde os
elementos da oração encontram-se fora da ordem
direta ou quando há algum elemento inserido
nesta ordem, interrompendo a sequência das
ideias, tais elementos devem ser isolados pela
vírgula. Em relação às “casas” das quais trata Luft,
não se utiliza a vírgula entre as casas 1, 2 e 3, ou
seja, entre o sujeito, o verbo e seus
complementos, contudo, nas frases mais longas, a
“casa 4”, em que se situam as circunstâncias
(adjuntos adverbiais), pode ser virgulada.
Sobretudo, principalmente para não gerar
interpretação errônea, nas inversões que
envolvem o sujeito, o verbo e seus complementos,
é facultado o uso da vírgula. Sobre tal proibição
em relação ao uso da vírgula entre os termos
essenciais, integrantes e acessórios, Sautchuk
(2010), Cunha (2001), Cegala (2008), Hauy (2014)
e Martins (2010) concordam com Luft.
Para Cunha (2001, p. 650), os termos
essenciais e integrantes da oração ligam-se uns
com os outros sem pausa; não podem, assim, ser
separados por vírgulas, por isso, não é admitido o
uso da vírgula entre a oração subordinada
substantiva e a sua principal (CUNHA 2001).
Seguindo a regra geral sobre o uso da vírgula
entre o sujeito e o verbo, Luft (1996, p. 23) diz que
não é permitido o uso da vírgula entre esses dois
elementos, contudo, caso haja explicativos
(apostos e orações subordinadas adjetivas
explicativas e outros termos de caráter
explicativo), vocativos e intercalações, para marcar
esses encaixes, deve-se utilizar duas vírgulas,
isolando-os.
Sautchuk (2010) afirma que essa proibição
ocorre porque a ordem SVC não é marcada
melodicamente pela vírgula, enquanto que, para
explicar o mesmo fenômeno, Hauy (2014), afirma
que tais elementos possuem uma relação de
dependência sintática e, devido a essa
dependência, não se separam por vírgulas, exceto
nos casos citados anteriormente por Luft (1996).
A princípio, o que se percebe em relação à
divisão feita pelos autores para explicar a
aplicação do emprego da vírgula entre o seu uso
no período simples e no período composto parece
ser meramente didática, uma vez que, ao explicar
que não se separa o sujeito do verbo, e de seus
complementos, sabe-se que há orações que
desempenham estas funções no interior dos
enunciados, logo, também não devem ser
separadas umas das outras; ou quando se diz que
palavras e expressões explicativas também são
isoladas por vírgulas, já incluem as orações que
possuem essa função. Ou mesmo sobre as
intercalações, que também são feitas no período
simples e no composto. Em relação às orações
reduzidas, Cunha (2001) afirma que devem ser
virguladas, quando estas forem equivalentes às
orações adverbiais, enquanto Bechara (2009)
apenas relata que estas devem ser separadas da
sua principal por meio da vírgula.
Em relação à casa quatro citada por Luft
11
(1996), esta é ocupada pelas palavras que
indicam circunstâncias, ou seja, o adjunto
adverbial, então, caso os adjuntos adverbiais
estejam antepostos à ordem direta ou intercalados
com outros elementos da oração, eles devem
estar separados dos demais elementos pela
vírgula, conforme concordam Luft (1996), Bechara
(1999), Mesquita (1996), Cegala (2008), Terra
(1996), Cunha (2001), Hauy (2014) e Martins
(2010), os quais estão de acordo em relação às
orações adverbiais, pois, por terem a mesma
função dos adjuntos adverbiais, também devem
ser separadas por vírgula.
Cunha (2001) discorre sobre a
facultatividade do uso da vírgula no uso dos
adjuntos adverbiais de pequeno corpo, um
advérbio, por exemplo, afirmando que tal vírgula
pode ser dispensada, contudo, quando objetiva
ressaltar o adjunto adverbial, coloca-se vírgula
obrigatoriamente, o que (HAUY, 2014, p. 415)
ressalta tratar-se de um recurso de estilo para
realçá-los.
Hauy (2014, p. 414) diz que os advérbios
sim e não são virgulados “quando empregados
para responder a uma pergunta, confirmar ou
enfatizar uma ideia”. Em contrapartida, Luft (1996)
chama atenção para o uso da expressão e sim, a
qual o autor afirma que não se deve separá-los
por vírgulas, por tratar-se de uma locução
adversativa, pois, juntas, seu significado é o
mesmo da conjunção mas.
O aposto é um termo de caráter nominal,
que, a título de explicação ou de apreciação, se
une a um substantivo, a um pronome, ou a outro
elemento com equivalência a estes (CUNHA,
2001). Desse modo, o autor afirma que o valor
sintático do aposto é o mesmo do termo ao qual se
refere. Quanto ao uso da vírgula em relação ao
aposto, como foi visto no tópico anterior, o aposto
é isolado entre vírgulas, contudo, Bechara (2009)
adverte quanto à exceção ao aposto
especificativo. Luft (1996, p. 64-65) afirma que a
diferença entre o aposto especificativo e o aposto
explicativo está relacionada ao sentido da frase
com a retirada do aposto, o qual, se for
especificativo, torna a mensagem incompleta, sem
sentido; enquanto que, caso se trate de um aposto
meramente explicativo, este, sendo retirado da
oração, não comprometerá o teor da mensagem.
Portanto, como o aposto especificativo forma um
todo com o elemento ao qual ele especifica, este
não pode ser separado por vírgulas. Ademais, Luft
(1996, p.68) ainda ressalta sobre a situação do
nome próprio e de elementos que o restrinjam,
relatando que, como o nome próprio já é restrito
em si, não admite restritivo, logo, tudo o que se
anexa a ele tem valor explicativo, é articulado com
marca de pausa na pronúncia e é isolado por
vírgulas.
Quanto ao vocativo, Bechara (2009),
Cunha (2001), Mesquita (1996), Terra (1996),
Cegala (2008), Hauy (2014), Rocha Lima (2008),
Luft (1996) afirmam que vem separado por uma
vírgula ou por duas, caso ele surja no meio da
oração. Hauy (2014, p. 1154) diz que o vocativo
“consiste no chamamento, invocação ou
interpelação referente a pessoas, animais ou seres
personificados, tratados como segunda pessoa do
discurso (tu ou vós)”.
A vírgula também demarca a elipse de um
termo no interior da oração. A elipse, segundo o
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
(online), é a “omissão de uma ou mais palavras
sem prejudicar a clareza da frase”. Luft (1996) e
Bechara (2009), em relação à elipse, apenas citam
que a vírgula demarca a elipse verbal, contudo,
Mesquita (1996), Terra (1996), Cunha (2001) e
Hauy (2014) admitem que a vírgula indique a
elipse de outro grupo de palavras, além dos
verbos, ainda que, com este, seja mais recorrente.
Também se emprega a vírgula para
separar, na oração, os elementos de igual valor
sintático, (sujeito composto, complementos,
adjuntos), mas somente quando não vêm ligados
12
pelas conjunções e, ou e nem (CUNHA, 2001, p.
644), ou seja, separa os termos coordenados
assindéticos (TERRA, 1996).
Portanto, a vírgula separa os elementos de
mesma função sintática, termos coordenados
assindéticos, que não se ligam por meio das
conjunções coordenativas. Cunha (2001, p. 580)
afirma que conjunções aditivas “servem para ligar
simplesmente dois termos ou duas orações de
idêntica função”; o autor relata que se as
conjunções e (conjunção aditiva), ou (conjunção
alternativa) e nem são repetidas num enunciado,
estas devem ser precedidas de vírgula, o que seria
o polissíndeto, situações também previstas por
Rauy (2014), que ressalta, ainda, que as orações
subordinadas de igual função sintática também
devem ser separadas por vírgulas, a exemplo dos
elementos que se repetem de mesmo valor no
interior do período simples.
Ainda sobre a conjunção e, Luft (1996, p.
37) afirma que é obrigatório o emprego da vírgula
antes de tal conectivo, quando este vier precedido
de qualquer aposto interno – aquele que não
antecede o ponto – pois este tipo de aposto “deve
ser precedido e seguido de vírgula”. O escritor se
refere a uma falsa regra que proíbe a vírgula antes
da conjunção e, atribuindo a isso os erros
cometidos em relação a esta colocação da vírgula,
sugerindo que a regra correta seria que sempre
que a conjunção e, ou outra conjunção qualquer,
estiver precedida de alguma estrutura intercalada,
a vírgula é obrigatória. “Estrutura intercalada inclui
qualquer espécie de encaixe, elemento explicativo
ou marginal, etc, – e aposto. Qualquer coisa que
interrompa uma sequência direta” (LUFT, 1996, p.
38). Do mesmo modo, só se emprega a vírgula
depois da conjunção e, “se houver uma
intercalação entre o e e o elemento ligado por ele”
(LUFT, 1996, p. 40), contudo, o autor relativiza o
uso das vírgulas nas intercalações, retificando que
ou se utilizam duas vírgulas para isolar os termos
das intercalações ou nenhuma. Hauy (2014)
acrescenta que, em relação a conjunção e,
quando liga duas orações, esta deve ser
precedida de vírgula, caso os sujeitos das duas
orações sejam diferentes.
Embora as informações apresentadas até
aqui sejam suficientes para compreendermos o
uso da vírgula, os dados compilados neste
trabalho são insuficientes para o conhecimento
total do seu emprego e das suas funcionalidades,
pois, conforme afirma Luft (1996, p.8) todas as
regras explicitadas nas gramáticas e manuais de
português são deficitárias, pois não são precisas e
gerais o suficiente para contemplar todos os casos
especiais de uso da vírgula.
Em relação a essa debilidade da literatura
em suprir todos os casos de emprego da vírgula,
Soncin (2014, p.21), ao defender o estudo da
vírgula de forma heterogênea, considerando, além
dos aspectos gramaticais, os aspectos prosódicos
na constituição do seu emprego, faz uma crítica à
tradição gramatical, afirmando que, embora a
tradição gramatical preveja essas instabilidades
para o tratamento tendencialmente sintático que
orienta a convenção, trata essas situações sob o
rótulo de estilo. Diante disso, como esta é uma
pesquisa de graduação, é um trabalho inconcluso,
pois o tema da vírgula e da pontuação não se
esgota neste artigo, porque, além de se poder
ampliá-lo, no que diz respeito às referências
bibliográficas, buscando os mais variados casos
nos quais a vírgula é empregada, sugere-se
verificar em novas pesquisas, como o
conhecimento da funcionalidade da vírgula pode
contribuir para o ensino da sintaxe do Português,
já que tal elemento está diretamente relacionado
às relações sintáticas dos elementos que os
compõem.
Conclusão
A partir dos dados levantados neste
trabalho, conclui-se que a pontuação é a parte da
escrita responsável por imprimir na escrita as
13
inflexões da língua oral, suas pausas, ritmo e
entonações.
Sendo assim, a vírgula é um sinal de
pontuação que tem uma íntima relação com toda a
estrutura da sintaxe da Língua Portuguesa e com
o elemento semântico da língua, tanto no interior
das orações como dentro dos períodos compostos
por coordenação ou subordinação, marcando
pausas, separando e isolando elementos que
indicam uma quebra nas relações sintáticas,
marcando uma quebra na ordem direta ou
indicando a inserção de elementos no interior das
orações.
Estas funções da vírgula estão
diretamente ligadas ao sentido da mensagem, pois
é conferido a ela o papel de demarcar as próprias
funções sintáticas dos elementos distribuídos
aleatoriamente no interior das orações, pois o seu
mau uso pode alterar o significado daquilo que se
pretende dizer.
A vírgula também é utilizada para isolar ou
separar as partículas e expressões de explicação,
correção, continuação, conclusão, concessão,
além de separar as conjunções e advérbios
adversativos. Ela é utilizada para separar o lugar
nas datas e nos endereços e para evitar
ambiguidade, seja pela má interpretação, produto
da distribuição irregular dos termos da oração, ou
pela falta da vírgula do vocativo.
Este estudo, apesar de ter levantado
diferentes autores sobre o emprego da vírgula,
pode representar aporte para novas investigações,
por exemplo, o emprego da vírgula em gêneros
textuais específicos, como os literários.
Vale ressaltar, neste contexto, que esta
pesquisa representou uma caminhada de
aprofundamento de conhecimentos que se
encontravam esparsos e se organizaram em uma
dimensão de saber aplicável, ou seja, em termos
profissionais futuramente, em termos pessoais,
este trabalho ampliou competências. Além dessas
marcas, acredita-se que este trabalho pode
contribuir com reflexões de estudiosos de
diferentes áreas que encontram, na leitura e na
teoria linguística, fundamentação voltada para o
saber profissional.
Agradecimentos
O agradecimento pela elaboração e
execução deste artigo é direcionado a todos que,
direta ou indiretamente, contribuíram para a sua
realização, apoiando e incentivando, e àqueles
que, de fato, estiveram envolvidos na sua
confecção. Portanto, gostaria de agradecer
primeiramente a Deus, aos amigos e familiares,
que me estimularam e à minha professora e
mestra Maria das Graças Martins Pinto de
Carvalho, que acreditou que isto era possível e
poderia se tornar real, aceitando tornar-se guia na
travessia necessária para a solidificação do
conhecimento adquirido neste trabalho.
14
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Bessana - São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.
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é restrito? Vírgula! São José do Rio Preto, 2014 308f : tabs - Orientador: Luciani Ester Tenani:
Tese (doutorado) – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Instituto de
Biociências, Letras e Ciências Exatas.
http://www.bv.fapesp.br/pt/bolsas/133295/lingua-discurso-e-prosodia-investigar-o-uso-da-
virgula-e-restrito-virgula/ – Disponível em 10.11.2015.