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Curso de AGRICULTURA NATURAL MÓDULO 4 Agricultura Urbana e Hortas Caseiras Alexandre Bertoldo da Silva Juliana da Silva Ribeiro de Castro

Curso de Agricultura Natural

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Módulo 4: Agricultura Urbana e Hortas Caseiras.

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Curso de AGRICULTURA NATURALAGRICULTURA NATURAL

MÓDULO 4 Agricultura Urbana e Hortas Caseiras

Alexandre Bertoldo da SilvaJuliana da Silva Ribeiro de Castro

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CONTEÚDO

1. Conceituando a Agricultura Urbana 3

2. Movimento da Agricultura Urbana no mundo 6

3. Técnicas de cultivos em pequenos espaços 8

4. Agricultura Vertical 10

5. Uso de materiais recicláveis nas hortas 15

6. Estudo de casos 20

7. Bibliografia sugerida 27

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1. Conceituando a Agricultura Urbana

A agricultura urbana, como sugere seu próprio nome, é aquela que é praticada em pequenos espaços dentro das cidades e em seu entorno, nesse último caso chamada agricultura periurbana.

Precisamos nos lembrar de que a agricultura sempre esteve ligada diretamente às cidades. Já vimos no Módulo 1 desse nosso curso que a possibilidade da fixação do homem, ou seja, a passagem do modo nômade de vida para o modo sedentário e a formação de pequenos grupos familiares que formaram futuramente as urbes e cidades, é diretamente atribuída ao advento da descoberta e prática da agricultura.

Assim, falar em agricultura urbana é retornar à origem da agricultura que com a modernização, crescimento e verticalização das cidades foi sendo afastada para os campos agrícolas e deixando de fazer parte do dia a dia das populações urbanas.

Claro que, como em todas as regras, existem excessões e com esse tema não é diferente, assim a agricultura continua a ser praticada em muitas cidades ao redor do mundo. Em algumas cidades, esse processo deixou de existir em determinado momento, mas em muitas outras está a ser recuperado. Em certas urbes essa recuperação da agricultura urbana é recente, mas em todo o mundo é um processo atual que vem a cada dia aumentando em número e formas diferentes de ser implantado.

Pelas próprias características das propriedades e seus tamanhos a agricultura urbana baseia-se na agricultura familiar ou nas pequenas propriedades agrícolas.

Em muitos locais esse tipo de agricultura é feito quase como um hobby ou como já ouvimos algumas vezes, é praticado como se fosse agricultura psicológica. Contudo, os objectivos da agricultura urbana têm mudado ao longo dos últimos anos e na última década a produção de alimentos em quantidades suficientes para alimentação humana ganhou uma importância ainda maior. Além disso, a possibilidade de obtermos alimentos mais frescos e de melhor qualidade perto de nossas casas também passou a ser considerada mais seriamente.

Por ter um caráter familiar, de subsistência, sem muitas vezes uma preocupação com a comercialização dos produtos, a agricultura urbana geralmente não faz uso de agrotóxicos, ou quando o faz, estes são utilizados

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em pequenas quantidades. desta forma, os produtos produzidos neste sistema podem ser considerados mais saudáveis.

Além disso, são produzidos próximo ao consumidor, portanto, são geralmente mais frescos, já que não precisaram ser deslocados a longas distâncias. Como não precisam ficar durante um longo período em deslocamento, é reduzido também o uso de produtos conservantes nos alimentos, garantindo produtos de melhor qualidade. Além do mais, reduzimos também as quantidades de combustíveis utilizadas para o deslocamento da produção.

Além das hortas ou espaços agrícolas familiares ou comerciais, encontraremos nas cidades e em seus entornos outros tipos de espaços que estão crescendo nos últimos anos, as chamadas hortas comunitárias ou institucionais.

Esses espaços geralmente são geridos de forma comunitária e atendem a comunidades, geralmente carentes, escolas e outras instituições, reduzindo assim os custos com a aquisição de alimentos e garantindo melhor nutrição, principalmente aos grupos mais vulneráveis, como crianças, idosos, gestantes e pessoas carentes. Normalmente a coletividade é responsável pela produção de alimentos e se beneficia diretamente com uma alimentação saudável e mais diversificada.

Horta da Agricultura Natural do Centro de Aprimoramento da Igreja Messiânica de

Moçambique

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Horta da Agricultura Natural Associação Khandlelo

Precisamos ressaltar que muitas vezes o desenvolvimento das cidades é feito sem nenhum planejamento e zoneamento das áreas. Assim, muitos locais considerados produtivos para a agricultura acabam se transformando em zonas habitacionais. Desse modo, a prática agrícola é mais do que justificável.

Consideremos que o êxodo rural tem se acentuado cada vez mais e que um número maior de pessoas habitam as zonas urbanas. de acordo com essa maior quantidade de pessoas e aumento da importação de alimentos pelas cidades, podemos verificar que todo esse processo causa grandes danos ambientais e sociais que podem ser minimizados pela implantação das hortas urbanas.

Essa minimização pode ocorrer devido ao melhor aproveitamento dos espaços urbanos como praças, terrenos vazios, canteiros de vias públicas, etc., garantindo uma proteção ambiental de seu solo bem como a melhoria da segurança do local, evitando a ocupação destes terrenos por atividades indesejadas.

A diminuição da pressão ambiental pode se refletir não somente na cidade, mas também no campo com a redução dos espaços utilizados para a produção de alimentos para a cidade. Portanto, há cada vez mais iniciativas para a ocupação de espaços urbanos para a produção de alimentos saudáveis serem apoiados por instituições governamentais, não governamentais, religiosas, comunitárias, sociais, desportivas e educacionais.

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2. Movimento da Agricultura Urbana no mundo

O movimento da agricultura urbana não é novo no mundo. Em muitas cidades ao redor do planeta ela é praticada e vemos em alguns países um incentivo forte para que isso ocorra cada vez mais, enquanto que também em sentido contrário, vemos alguns países a tentarem dificultar esta prática.

Estima-se que 15% de todos os alimentos consumidos nas áreas urbanas sejam cultivados por agricultores urbanos e que essa porcentagem se duplique nos próximos 20 anos. Para se ter uma ideia da escala de envolvimento das pessoas nesse tipo de atividade, estima-se que cerca de 800 milhões de pessoas estejam envolvidas na produção agrícola urbana no mundo todo.

Em países como Cuba e Rússia, por exemplo, a agricultura urbana é responsável por grande parte da alimentação da população e são retiradas toneladas de alimentos das cidades anualmente.

Aproximadamente 72% de todas as famílias urbanas na Federação Russa cultivam alimentos. Berlim, por sua vez, tem mais de 80 mil agricultores urbanos. (Fonte: UNCHS, 2001a e 2001b)

Em Cuba, após a queda do comunismo na Rússia e a intensificação do embargo econômico imposto pelos Estados Unidos, o país viu-se numa grande crise alimentar, pois a maior parte do que se produzia na época era direcionada à exportação, enquanto sua alimentação era importada dos países comunistas/socialistas. dessa forma, através de uma grande iniciativa governamental, iniciou-se um amplo projeto para a produção de alimentos nas áreas urbanas de todo o país, sendo esta atualmente responsável pela produção de mais de 2 milhões de toneladas de alimentos por ano.

Em África, apesar de nem sempre existirem estudos mais aprofundados sobre o assunto, vemos a agricultura urbana sendo praticada em muitas cidades e vilas. Isso se deve em parte pelas condições nem sempre adequadas que as famílias africanas, principalmente aquelas que vivem nos perímetros das cidades e nas vilas interioranas têm em adquirir seus alimentos. A agricultura urbana, em muitos desses casos, é a única fonte de alimentos que boa parte dessas famílias encontra.

Em contrapartida, há também em muitas dessas áreas, espaços enormes

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com água disponível e nada plantado. Há quintais limpos, vazios e bastante varridos, enquanto os moradores passam fome ou mesmo desequilíbrios nutricionais advindos de uma dieta deficiente.

Alguns desses casos são explicados pelo distanciamento da terra, geralmente das gerações mais novas, que foram afastadas de suas localidades devido aos grandes períodos de guerra e com isso não tiveram a oportunidade de aprender a cultivar a terra. Mas em outros casos, isso se explica por questões sociais, já que a agricultura em muitos desses países é considerada profissão menor, praticada por quem não teve outra oportunidade na vida. Dessa forma, as pessoas que conseguiram chegar a viver nas cidades e com isso ter uma profissão diferente, não admitem que elas ou seus filhos retornem à enxada.

Mas geralmente em África, a produção urbana ou periurbana de alimentos é muito presente. Em alguns países esse cultivo é mais presente, como por exemplo no Quênia e na Tanzânia, onde 66% das famílias urbanas cultivam alimentos utilizando todos os espaços disponíveis nas cidades.

observamos essas características também em Moçambique quando durante o período chuvoso as áreas desocupadas e até as bernas das estradas se transformam em campos de cultivo, onde principalmente as senhoras cuidam do plantio de milho, amendoim, feijão nhemba e abóbora, culturas que necessitam de poucos cuidados para produzirem.

Horta urbana da Agricultura Natural localizada no bairro do Inhagoia

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Horta escolar Escola Primária Completa Unidade 6

3. Técnicas de cultivos em pequenos espaços

Em pequenos espaços precisamos trabalhar para aproveitá-los ao máximo. Para as pessoas que têm pequenos quintais é importante escolher variedades agrícolas que se adaptem melhor a essa questão, bem como organizá-los para que plantas companheiras possam ficar próximas e as antagônicas possam ficar separadas. Podemos também cultivar plantas que sejam suportes para outras, como por exemplo, o plantio de culturas trepadeiras ou que precisem de suporte, perto de árvores frutíferas ou de sombra. Como exemplo, podemos plantar tomateiros próximo ao caule de árvores frutíferas, assim eles usarão o tronco das árvores como suporte.

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Neste caso podemos também utilizar os muros ou cercas como suportes para vasos ou outras estruturas de plantio como caixotes e sacos. o uso de prateleiras, escadotes e outras estruturas que aumentem nossa área de cultivo também é importante.

É fundamental também levarmos em conta a possibilidade de plantio de variedades agrícolas perenes, ou seja, aquelas que não morrem ao final do ciclo de cultivo ou que produzem durante todo o ano. Assim, mantemos o quintal sempre plantado dando maior motivação para o cuidado com as plantas.

Nesse caso, precisamos levar em conta o adensamento da produção plantando um número maior de plantas por metro quadrado, o que nem sempre é possível de ser feito em espaços maiores devido aos cuidados que essa prática exige. Como o espaço é menor, os cuidados com as plantas podem ser maiores. A utilização de composto orgânico pode ser mais frequente, além dos cuidados com a rega. As sachas ou capinas demorarão menos tempo para serem realizadas e os caminhos podem ser reduzidos, tendo-se o cuidado ao caminhar entre as culturas para o plantio em uma maior área e consequentemente uma maior produtividade do seu pequeno espaço.

Para aqueles que não possuem quintais e utilizarão varandas, lajes ou outros espaços, podemos também aumentar a produtividade no momento da escolha dos recipientes que utilizaremos para o plantio, bem como na escolha dos alimentos que plantaremos e como os organizaremos dentro da nossa “pequena propriedade”.

Por exemplo, podemos em vasos maiores plantarmos algumas trepadeiras ou árvores de fruta de pequeno porte, como amoreiras, goiabeiras, limoeiros e, no entorno do vaso, utilizar para plantarmos temperos e hotaliças.

Assim também o plantio de espécies trepadeiras como abóboras, pepinos, carás, ora-pro-nobis pode aumentar nossa produtividade por metro quadrado, pois estaremos aumentando a nossa área produtiva.

Na verdade, dentro destes espaços precisamos entender que na agricultura urbana trabalhamos com três dimensões (hortas 3D) e não somente com duas como faz a agricultura convencional. desta forma, deixamos de trabalhar com área cultivada e passamos a trabalhar com volume de espaço cultivado. Aproveitamos, desta forma, todos os espaços que possuímos e consequentemente teremos cada vez mais alimentos com melhor qualidade.

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Exemplos de cultivos em pequenos espaços

4. Agricultura Vertical

Quando falta o espaço para o plantio podemos lançar mão de técnicas de agricultura vertical utilizando suportes, paredes, muros ou cercas para a fixação de vasos, sacos, caixotes e outras estruturas de fixação.

É sempre bom levarmos em conta que precisamos diminuir o peso da nossa estrutura de plantio já que é preciso verificar o peso tolerado pelo nosso suporte. Para isso, ao planejarmos nosso espaço, devemos escolher recipientes de plantio leves.

Para o uso de vasos e floreiras é importante termos alguns cuidados básicos no seu preparo e manutenção como aqueles que apresentamos no esquema a seguir:

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Em virtude do espaço de plantio ser menor, recomenda-se que seja observada uma boa distância de colocação das mudas para que elas não fiquem “sufocadas” na floreira. Os cuidados com a horta em floreira são os mesmos de um canteiro externo: é necessário receber luz pela manhã ou se não for possível, que de preferência não seja o período mais quente, além disso, o solo precisa estar protegido por uma fina cobertura de capim picado ou folhas secas e sua umidade tem que ser mantida.

Depois de um período de cerca de um mês após os primeiros plantios precisamos acrescentar mais composto e a partir daí, mensalmente, devemos repetir essa prática para que nossas plantas possam se desenvolver adequadamente.

os vasos podem ser pendurados nas paredes, muros ou grades utilizando para isso grampos, ganchos, arames, parafusos ou outras estruturas de apoio que possam ser úteis.

Produção de morangos em floreiras

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Técnicas de fixação de vasos em grades

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No caso de usarmos estruturas de plantio maiores ou plantas das quais vamos fazer colheita das raízes ou tubérculos, é difícil ou não adequado realizarmos a adição de composto. Dessa forma, quando formos preparar a terra para o plantio devemos aumentar a quantidade de composto, fazendo uma mistura de 50% de terra e 50% de composto na preparação dessas estruturas.

Para o cultivo vertical podemos utilizar vários materiais, métodos e tipos de estruturas. Para cada espaço, cultivo e agricultor, um tipo de agricultura vertical será mais adequado.

Podemos utilizar estruturas de canos de construção, esgotamento ou drenagem de águas para o plantio de vegetais verticalmente. Para isso precisamos preparar inicialmente os tubos com furos que permitam fazer o plantio nas laterais como podemos observar nas fotos abaixo. É recomendável que como são estruturas maiores, onde for difícil fazer manutenção e adição de composto, precisamos utilizar grandes quantidades deste na preparação dos tubos. É interessante também nos lembrarmos de acrescentar um pequeno tubo de rega perfurado no centro antes de enchermos com terra para que possamos facilitar a chegada da água de irrigação em toda a altura do tubo.

Cultivo vertical utilizando tubos de água

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O uso de sacos de ráfia para o armazenamento de farinha ou arroz também é muito interessante. Como podemos verificar nas fotos abaixo, dependendo da cultura agrícola, conseguimos multiplicar nossa área de cultivo em até nove vezes. Assim, um único metro quadrado pode receber o número de plantas que, convencionalmente, seriam plantadas em 9 m2.

Além disso, este tipo de estrutura economiza enormes quantidades de água, chegando a uma taxa de 80% de economia de água.

Cultivo de morangos utilizando canteiros verticais construídos em sacos

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5. Uso de materiais recicláveis nas hortas

Todos os dias geramos lixo. São a embalagem do arroz, a casca do tomate, a sacola de compras, o pacote de biscoito, os restos de comidas, os frascos de xampu, a lata de refresco e tantos outros materiais que em pouco tempo nossos contentores estão transbordando.

Alguns poucos privilegiados moram próximo a contentores onde podem deitar o lixo ou em lugares onde a sua recolha é feita regularmente. Para essas pessoas é mais fácil tirá-lo de suas casas e transferir o problema do lixo para outros lugares. Tirar o lixo de dentro de nossas casas não quer dizer que deixou de existir: ele simplesmente foi transferido de lugar e os problemas relacionados à sua existência vão continuar.

Enquanto isso, muitas pessoas têm condições de cultivar alimentos em casa, mas alegam não possuírem ferramentas ou que seus custos são muito elevados. Outras dizem que não têm como adquirir as ferramentas ou vasos para o plantio. Para tanto gostaríamos de demonstrar que com a adaptação de materiais que descartamos no dia a dia podemos confeccionar ferramentas que podem nos auxiliar no cultivo de alimentos.

Além disso, a reutilização e reciclagem de materiais diminui consideravelmente uma situação crítica: a grande quantidade de lixo acumulada nas ruas das cidades sem destino adequado. É claro que antes de pensarmos que vamos resolver a situação do lixo com esse processo precisamos ter em conta a necessidade de reduzirmos o lixo que geramos e isso inclui escolhas mais sensatas na hora da compra e avaliação da necessidade de certos produtos. Precisamos calcular se é realmente necessária a compra de certos itens, assim como a utilização de todas as embalagens em determinados produtos.

Uso de caixas de ovos e garrafas de refrescos (ou outros recipientes) como sementeiras de mudas

Para fazermos as sementeiras com caixas de ovos só precisamos furar o fundo das células para permitir o escoamento da água, enchê-las com terra misturada de composto orgânico e semear uma semente por célula. Quando as sementes atingirem o tamanho adequado para o transplantio, só precisamos

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retirá-las e plantá-las no local definitivo.

Para as sementeiras feitas de garrafas de refresco, precisamos cortar sua lateral, furar a parte que ficará para baixo, preenchê-las com terra misturada de composto vegetal e semear as sementes de acordo com o espaçamento de cada espécie para facilitar o transplantio posteriormente. Quando as mudas atingirem o tamanho adequado para o transplantio é só realizá-lo.

Exemplos de uso de materiais recicláveis para a produção de mudas

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Pás feitas de garrafas de refrescoAs garrafas plásticas de refresco são muito versáteis e podemos utilizá-

las para vários fins. Dessa forma, para a fabricação de pás podemos, por exemplo, cortar a parte de cima de uma garrafa transversalmente, aquecê-la um pouco para dar firmeza à extremidade e temos pronta a nossa pá, assim como vemos nas figuras abaixo:

IrrigaçãoPara a rega de mudas de árvores podemos utilizar garrafas plásticas

com um furo na base e um cotonete introduzido nele, sendo a velocidade do gotejamento controlada pela abertura da tampa da garrafa.

Para a irrigação de hortícolas furamos a parte de cima de uma garrafa plástica com uma agulha fazendo orifícios bem pequenos por onde sairá água. Para a irrigação enchemos a garrafa com água e quando chegamos ao sítio que precisa de rega, viramos a garrafa e a água sairá pelos furinhos.

Para a rega de hortícolas podemos também usar uma sacola plástica com pequenos furinhos que funcionarão como um regador.

Pá feita de garrafa de refresco – PET

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Vasos de plantasPara o plantio de pequenas hortas em apartamentos ou mesmo em

quintais podemos utilizar uma infinidade de materiais para a confecção de nossos vasos, como podemos observar nas fotografias a seguir:

Para isso basta utilizarmos nossa criatividade e colocarmos mãos à obra. Experimentar é o verbo adequado aqui. Algumas experiências não darão certo, mas não devemos desistir. A insistência e persistência são palavras-chave para podermos produzir nosso próprio alimento em pequenos espaços.

Precisamos nos lembrar de que sempre é necessário fazer furos para a drenagem da água no fundo dos recipientes, assim como colocar pequenas pedrinhas no fundo, ou outro material, para garantir a drenagem da água e impedir que a terra feche as saídas de água. Também é imprescindível acrescentar composto aos vasos para que possamos ter boas colheitas.

Irrigadores feitos com garrafas de água e de refrescos

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Inove com garrafas plásticas, tubos plásticos de construção, potes de sorvetes, bacias e outros recipientes que podem ser aproveitados para a horta.

Uso de materiais diversos para a

construção de vasos e canteiros

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6. Estudo de casos

Na Escola Secundária Samora Machel, periferia de Maputo, iniciamos nossas atividades com dez turmas de 8as classes, num total de 650 alunos, que receberam formação em Agricultura Natural ao longo de 2011.

Apesar das inúmeras dificuldades, o trabalho proporcionou excelentes resultados. No início não conseguimos avançar muito na confecção de canteiros, pois não havia nenhuma árvore plantada na área da escola. Nosso viveiro chegou a oferecer mais de cem mudas de árvores e, juntamente com outras tantas mudas oferecidas pelo Ministério da Coordenação Ambiental de Moçambique, compõe hoje um verdadeiro parque de reflorestamento naquela escola.

Porém, diante da falta de matéria orgânica necessária para produzir o composto orgânico a ser utilizado nos canteiros, promovemos uma verdadeira campanha entre os próprios alunos. Todos foram incentivados a trazer de casa folhas, galhos e restos de podas para produzirem o composto na escola. Dessa forma, eles puderam perceber a importância da matéria orgânica e das árvores por eles plantadas na escola que iriam fornecer essa matéria orgânica no futuro.

A escola desenvolveu uma grande horta de onde saíram produtos que foram expostos em algumas feiras da cidade. Além disso, produziu grandes quantidades de morango e ficou conhecida na região como a Escola do Morango.

Também foi realizado nesta escola o nosso primeiro Curso de Formação de Professores no Ensino e Práctica da Agricultura Natural, onde participaram professores de mais quatro escolas. Esse projeto gerou frutos levando um dos alunos a tomar a decisão de fazer um curso técnico em Agropecuária.

dessa forma, os alunos se empenharam em praticar os ensinamentos da Agricultura Natural, sendo implantadas e consolidadas mais de 190 hortas caseiras.

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Na Escola Arco-Íris foram selecionados alunos da pré-escola, na faixa de 4 a 5 anos. Uma turma de 26 alunos liderados pela psicóloga da escola, implantou uma pequena horta nos fundos do terreno. Nossos colaboradores são unânimes em dizer que a animação na prática da Agricultura Natural daquela turma de pequeninos é de longe a mais contagiante. de fato, dos 26 alunos que participaram das atividades, 21 implantaram suas hortas caseiras e a maioria a partir de suas próprias iniciativas. Desde muito cedo já estão a praticar a Agricultura Natural e aprendendo o verdadeiro significado de cultivar conforme as leis da Natureza.

Horta da Agricultura

Natural da Escola

Secundária Samora Machel

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As atividades de Agricultura Natural foram iniciadas no Instituto Industrial de Maputo em 2013 com a participação de professores, alunos e funcionários da escola. A horta foi se desenvolvendo aos poucos e ganhou total apoio da Direção da escola no sentido de disponibilizar espaço, material, sementes e horas extras de funcionários para a dedicação exclusiva da horta da escola.

Em agosto de 2013 a escola realizou sua primeira colheita numa cerimônia onde estiveram presentes os representantes do bairro, do departamento de Educação do Município e diretores, alunos e professores do instituto. Também foi realizado um grande almoço com a colheita da escola, das hortas das casas dos alunos e funcionários, além das machambas das mães dos alunos.

Além disso, durante o evento, os próprios alunos ficaram responsáveis pelas explicações sobre a Agricultura Natural e seus benefícios.

Após esta colheita foram ainda realizadas pelo menos mais duas colheitas em 2013. Em 2014 a horta foi estendida e alcançou um maior número de alunos. Essa atividade já gerou cerca de 20 hortas caseiras.

Horta da Agricultura Natural da Escola Arco-Íris

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A professora de Química, Caldina Felisberto Mabjaia, não acreditava que uma prática tão simples como a implantação de uma horta caseira baseada na Agricultura Natural pudesse dar algum resultado concreto, mas resolveu desafiar e começou por plantar em vasos, apesar de possuir quintal em casa. Os resultados logo apareceram e ela começou a comprovar a eficácia do método e a diferença na qualidade dos produtos da Agricultura Natural. A partir daí não parou mais. Conseguiu terrenos onde implantou machambas e estendeu a prática da Agricultura Natural. Hoje já possui três áreas em que vem privilegiando o cultivo de espécies localmente adaptadas como

Horta da Agricultura Natural e Festa da Colheita do Instituto Industrial de Maputo

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mandioca, batata-doce, milho, etc. Inicialmente a ideia era atender apenas às necessidades alimentares da família, mas como a produção vem aumentando consideravelmente, ela já pensa em iniciar um negócio de fornecimento de produtos da Agricultura Natural. Além disso, é uma das responsáveis pela Horta da Unidade Religiosa da Igreja Messiânica Mundial de Moçambique no bairro do Malhazine e uma das responsáveis pela Horta do Instituto Industrial de Maputo.

Hortas da Agricultura Natural coordenadas pela Profa Caldina

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No Instituto Industrial 1o de Maio, iniciamos as atividades com a Horta Escolar Natural em 2011, sendo que já atendemos a cerca de 400 alunos com essas atividades, tendo iclusive vários deles iniciado hortas em suas casas. Em 2013 realizamos um curso de capacitação de professores com a participação de dez professores, dos quais três já tinham hortas caseiras da Agricultura Natural. Após o curso, muitos expandiram suas hortas ou montaram-nas inicialmente, alimentando suas famílias e com vistas à comercialização dos produtos. Por todas as atividades desenvolvidas nesta escola, ela hoje é a anfitriã do Curso de Agricultura Natural em Moçambique com 30 alunos inscritos.

Horta da Agricultura Natural do Instituto

Industrial 1o de Maio, anfitrião do nosso

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Poeta, escritor e voluntário no programa de expansão das hortas caseiras em Moçambique, Chagas Levene começou a sua horta no final de 2011 com algumas poucas mudas de morangueiro. Pela adaptação da variedade da planta cultivada atualmente pelo programa de Agricultura Natural da Africarte em Moçambique, rapidamente ele conseguiu reproduzi-las e, além do próprio fruto, hoje já é considerado um pequeno fornecedor de mudas, podendo ser essa uma fonte de renda alternativa para a família. Contando com a ajuda de familiares, rapidamente estabeleceu um sistema de produção de mudas de morangueiros num espaço de aproximadamente 50 m2 que o tem ajudado a difundir o trabalho com as hortas caseiras na periferia da capital Maputo. É importante ressaltar que, como o número de fornecedores locais de morangueiros na região ainda é muito pequeno, já há uma considerável procura por suas mudas.

Produção de mudas de morangueiros do Sr. Chagas Levene

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7. Bibliografia sugerida

Agricultura Urbana em Cuba: Análise de alguns aspectos técnicos www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/597348/1/doc.160.pdf

Agricultura Orgânica em áreas urbanas e periurbanas com base na agroecologia www.scielo.br/pdf/asoc/v10n1/v10n1a09.pdf

Estado do Meio Ambiente e retrospectivas políticas: 1972-2002 – Capítulo 2 – Áreas Urbanas www.wwiuma.org.br/geo_mundial_arquivos/cap2_areasurbanas.pdf

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SG