12
SETEMBRO 2013 | n.º 61 www.issuu.com/postaldoalgarve 9.189 EXEMPLARES Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PÚBLICO Urbano Tavares Rodrigues: Eterno, não efémero p. 11 D.R. Espaço AGECAL: Gestão cultural e recursos culturais p. 3 Letras e leituras: Salman Rushdie: Apanhem esse escritor! p. 6 Espaço ao património: Arqueologia em Albufeira Contos de Verão na Ria Formosa: Alice do Outro Lado do Monitor p. 9 D.R. D.R. D.R. p. 8 D.R. Orquestra Clássica do Sul arranca em Outubro p. 5 D.R.

Cultura.Sul 61 - 6 SET 2013

  • Upload
    postal

  • View
    217

  • Download
    0

Embed Size (px)

DESCRIPTION

• Veja o CULTURA.SUL DESTE MÊS• Sexta-feira (dia 6/9) nas bancas com o PÚBLICO e o POSTAL • Partilhe o seu caderno mensal de Cultura no Algarve • EM DESTAQUE: > EDITORIAL: A nova saison, por Ricardo Claro > ESPAÇO CRIA: Ciência, o que andas a tramar?!, por Ana Lúcia Cruz > JUVENTUDE, ARTES E IDEIAS: Novos desafios, por António Pina > GRANDE ECRÃ: Cineclube de Faro: Setembro, cinema de contrastes > ESPAÇO AGECAL: Gestão Cultural e recursos culturais, por Direcção da AGECAL > PANORÂMICA: Orquestra do Algarve alarga horizontes como “Clássica do Sul”, por Ricardo Claro > LETRAS E LEITURAS: Salman Rushdie - Apanhem esse escritor!, por Paulo Serra > ESPAÇO AO PATRIMÓNIO: Arqueologia em Albufeira, por Luís Campos Paulo > Na SENDA DA CULTURA: Farcume mostra curtas em Faro, por Pedro Ruas > DA MINHA BIBLIOTECA: Urbano Tavares Rodrigues: eterno, não efémero, por Adriana Nogueira

Citation preview

Page 1: Cultura.Sul 61 - 6 SET 2013

SETEMBRO 2013 | n.º 61

www.issuu.com/postaldoalgarve9.189 EXEMPLARES

Mensalmente com o POSTALem conjuntocom o PÚBLICO

Urbano Tavares Rodrigues: Eterno, não efémero

p. 11

d.r.

Espaço AGECAL:

Gestão cultural e recursos culturais

p. 3

Letras e leituras:

Salman Rushdie: Apanhem esse escritor!

p. 6

Espaço ao património:

Arqueologia em Albufeira

Contos de Verão na Ria Formosa:

Alice do Outro Lado do Monitor

p. 9

d.r.

d.r.

d.r.

p. 8

d.r.

Orquestra Clássica do Sul arranca em Outubro

p. 5

d.r.

Page 2: Cultura.Sul 61 - 6 SET 2013

06.09.2013 2 Cultura.Sul

Setembro marca a época das rentrées. O país regressa de ba-nhos e com as cidades a entra-rem em pleno funcionamento a Cultura regressa, também ela, aos cânones mais costumeiros.

O Cultura.Sul, que não fez fé-rias em Agosto, renova a vonta-de de acompanhar - enquanto único caderno cultural em for-mato jornal da região - o que se vai fazendo no Algarve em termos culturais.

Este mês começamos por fa-lar da nova Orquestra Clássica do Sul, que sucede à Orquestra do Algarve e promete fazer, a partir de 1 de Outubro, as delí-cias dos melómanos de todo o sul do Tejo.

Não posso deixar de aprovei-tar para nesta edição de Setem-bro agradecer, uma vez mais, a todos os colaboradores do Cul-tura.Sul que fazem deste cader-no de cultura uma realidade.

É pela pena destes esmerados amigos da Cultura que sabere-mos, mês após mês, cada vez um pouco mais, da Cultura na região e no país.

Da literatura, aos espectácu-los, do teatro à música, da ci-ência e tecnologia ao cinema, passando pelo património, pela gestão cultural e pelas bibliote-cas, sem esquecer a fotografia e tudo o muito mais que o Cultu-ra.Sul mostra a cada edição aos leitores, nada seria possível sem os colaboradores que apoiam com o seu esforço e esmero esta odisseia chamada Cultura.Sul.

Prometemos o mesmo es-forço de sempre em dar nota diversificada e alargada da re-alidade cultural nas suas mais diversas facetas.

Queremos manter o rego-zijo de saber que escrevemos para todos e que temos fiéis seguidores.

Nesta senda que é dar a co-nhecer aos algarvios o muito de Cultura que se faz na região e o muito que há para ver, ler, ouvir e sentir nesta área no Al-garve, renovamos os votos de que continuem lado a lado connosco.

Afinal é para os leitores e pelos leitores que existimos e trabalhamos.

Boa nova saison cultural são os nossos votos.

A nova saisonFicha Técnica:

Direcção:GORDAAssociação Sócio-Cultural

Editor:Ricardo Claro

Paginação:Postal do Algarve

Responsáveis pelas secções:• Contos da Ria Formosa:

Pedro Jubilot• Espaço ALFA:

Raúl Grade Coelho• Espaço AGECAL:

Jorge Queiroz• Espaço CRIA:

Hugo Barros• Espaço Educação:

Direcção Regionalde Educação do Algarve

• Espaço Cultura:Direcção Regionalde Cultura do Algarve

• Grande ecrã:Cineclube de FaroCineclube de Tavira

• Juventude, artes e ideias: Jady Batista• Da minha biblioteca:

Adriana Nogueira• Momento:

Vítor Correia• Panorâmica:

Ricardo Claro• Património:

Isabel Soares• Sala de leitura:

Paulo Pires

Colaboradoresdesta edição:Ana Lúcia CruzAntónio PinaLuís Campos PauloPaulo Serra

Parceiros:Direcção Regional de Cul-tura do Algarve, Direcção Regional de Educação do Algarve, Postal do Algarve

e-mail redacção:[email protected]

e-mail publicidade:[email protected]

on-line em: www.issuu.com/postaldoalgarve

Tiragem:9.189 exemplares

Ciência, o que andas a tramar?!

As férias acabaram e um novo ciclo vai começar. O sol e a praia passam a ser apre-ciados ao fim-de-semana, enquanto os dias da sema-na representam a azafama de sempre e são passados a trabalhar, planear o dia/se-mana seguinte, tratar das ta-refas domésticas, cuidar dos filhos ou, ainda, a estudar.

Eu divido o meu ano em dois períodos marcantes: 1) período de trabalho; e 2) período de férias. O que não significa que tenha preferên-cia por algum, simplesmente faço esta divisão devido ao estilo de vida que adoto em cada um. Independentemen-te dos períodos em causa, e da forma como lidamos com os mesmos, há algo que nun-ca nos abandona: a ciência.

Este mês, a nossa com-panheira de uma vida, terá uma atenção especial: a Noi-te Europeia dos Investigado-res 2013. Um dia inteiramen-te dedicado à ciência, aos cientistas e a quem dela be-neficia (todos nós), que terá

como principal palco o Ria Shopping. No ano passado a NEI foi dedicada ao despor-to, este ano será subordina-da ao tema Futuro 2020. Ine-vitavelmente, com a presente temática, não consigo parar de focar a minha atenção nas novas tecnologias, na forma como estas estão presentes na nossa vida e como nos

tornámos dependentes das mesmas para a realização das atividades do dia-a-dia, estejamos a trabalhar ou de férias. Por exemplo, quan-do estamos a trabalhar a tendência é para olharmos para os nossos companhei-ros smart (smartphone, smart tv, etc.). No período de férias,

esforçamo-nos para colocar de lado o smart (o que para a maioria se torna uma mis-são impossível) e focarmo--nos nos colchões e pistolas de água, protetor solar, re-pelente de mosquitos e uma ventoinha, pois com tanto calor e a ausência de ar con-dicionado, esta parece-nos a coisa mais smart inventa-

da até ao momento e a coi-sa mais smart a fazer. Para além, da aplicabilidade das descobertas científicas, não consigo deixar de observar outro aspeto: o tempo que os nossos cientistas necessi-taram para desenvolverem todos estes pequenos dis-positivos. O que, para nós,

não passa de uma novidade na prateleira de uma super-fície comercial, para eles aquele produto pode ter le-vado anos a ser investigado, produzido e eventualmente melhorado, até chegar ao mercado. Juntando os dois pontos anteriores à grande iniciativa que se aproxima, e para ajudar a levantar o véu, só resta uma questão a colocar: O que será que os cientistas estão a preparar, neste momento, para trans-formar as nossas vidas na próxima década? Impres-soras 3D?? carros autóno-mos?? smartwatches?? Que outras “smart coisas” estão a ser desenvolvidas para faci-litarem (ainda mais) o nosso dia-a-dia? O que vos posso garantir é que, apesar de algumas serem previsíveis, até porque surgem diaria-mente nos jornais e revistas de referência, todas elas vão abranger as áreas da saúde, ambiente, transportes, entre outras.

Posto isto, e tal como no ano passado, convido-vos mais uma vez a serem cien-tistas por um dia, no dia 27 de setembro, entre as 10 e as 22 horas, no Ria Shopping, em Olhão, pois a Noite Eu-ropeia dos Investigadores Futuro 2020, preparou um dia cheio de surpresas para todos e ninguém vai querer ficar de fora, independente-mente da idade, género ou interesses de cada um.

Novos desafios

Setembro é, para os jo-vens, o início de um novo ano lectivo.

A cada ano lectivo que co-meça, inicia-se um ciclo cheio de novos desafios. Uma nova oportunidade para vencer, ul-trapassar as adversidades e fa-zer dos obstáculos trampolins para o sucesso.

Muitas vezes ouvimos os jovens dizerem de forma con-formada: É mais um ano lecti-vo, é mais uma obrigação que temos que cumprir.

Não! Há que mudar essa mentalidade; é necessário avançar para o futuro que começa nesta data, ano após anos, com a certeza que so-mos capazes de conquistar os nossos sonhos, as nossas aspirações.

Há que olhar à nossa volta e verificar o muito que já con-quistámos. Perceber que hoje somos melhores e mais fortes. Somos mais capazes. Estamos preparados para enfrentar os novos desafios que o presente nos oferece. Desafios que são

diferentes dos anteriores e por isso obrigam a uma atitu-de positiva e empreendedora.

Os jovens têm que deixar

de olhar para a escola, para o ensino como “uma chatice”. Hoje, cada vez mais, o saber faz falta, torna-nos mais ex-perientes, informados e cons-cientes da realidade que nos rodeia, bem como nos pre-para para termos um futuro melhor.

Temos também que deixar de ver o nosso vizinho (colega de carteira) como o nosso ad-versário. É um parceiro, é um cúmplice que connosco par-tilha das mesmas angústias e partilhará as nossas alegrias. Unidos poderemos vencer melhor as adversidades. Há que aprender a cooperar e partilhar para vencer os no-vos desafios.

d.r.

d.r.

Ricardo [email protected]

Editorial Espaço CRIA

Ana Lúcia Cruz Gestora de Ciência e Tecnologia do CRIA - Divisão de Empreende-dorismo e Transferênciade Tecnologia da UAlg

Juventude, artes e ideias

António PinaVice-presidente do município de Olhão

Page 3: Cultura.Sul 61 - 6 SET 2013

06.09.2013  3Cultura.Sul

Espaço AGECAL

Gestão cultural e recursos culturais“Podemos definir Inventário

como o levantamento sistemáti-co, atualizado e tendencialmente exaustivo dos bens culturais exis-tentes num determinado territó-rio, com vista à respetiva identifi-cação. Inclui os bens classificados e os outros bens materiais – imóveis, móveis, paisagens, solos e depósi-tos de origem antrópica – aos quais, embora não estando classificados, se atribui igualmente interesse his-tórico e cultural.

Para os gestores culturais estes bens constituem, no seu todo, um recurso insubstituível, e não reno-vável, de criação de conhecimen-to, de afirmação de identidade, de educação e de inclusão social. Nesta medida, a sua gestão deve procurar assegurar a prevalência do seu uso público sobre a sua apropriação em prol dos interesses particulares de este ou aquele cidadão. Isto é, os gestores culturais devem fazer pre-valecer o seu valor de uso sobre o seu valor de troca.

Os bens culturais cujo achado tenha resultado de todas as ações arqueológicas realizadas numa determinada área – prospeções de terreno, escavações, achados for-tuitos… –, constituem o chamado património arqueológico. Pode-mos assim definir Carta Arqueo-

lógica como a transposição do res-petivo inventário para um mapa corográfico.

A transposição para um mapa das áreas arqueologicamente sen-síveis (onde se evidencia, ou onde, com fundamento, se presume, a existência de bens culturais arque-ológicos) que resultam da referida Carta Arqueológica constitui a cha-mada Carta de Sensibilidade Arque-ológica, que, na prática, se traduz

numa graduação das restrições de uso do solo, com uma definição dos correspondentes procedimentos de salvaguarda de caráter preventivo.

A proteção dos bens culturais imóveis inventariados – incluindo aqueles que constituem património arqueológico – cuja preservação in situ se justifique deve assentar, des-de logo, na sua classificação como bem cultural imóvel, cujo procedi-mento de submissão ao regime ju-

rídico do património cultural por-tuguês se encontra estipulado pelo Decreto-Lei n.º 309/2009.

Mas, por imperativo legal de pro-teção do património, definido na Lei de Bases do Património Cultural, Lei n.º 107/2001, atualmente em vigor, a conservação das Áreas de Sensibi-lidade Arqueológica e das áreas limí-trofes traduz uma efetiva proteção legal de todo o património arqueo-lógico – que inclui os bens imóveis, os bens móveis e os solos e depósitos de origem antrópica –, que impõe procedimentos de salvaguarda dos bens arqueológicos, estejam estes classificados ou não. Isto é: impõe regras restritivas do uso do solo.

Esta singularidade jurídica co-loca aos gestores de bens culturais públicos problemas específicos de natureza diversa dos inerentes aos imóveis classificados e às respetivas zonas de proteção, uma vez que im-põe restrições ao uso do solo, não permitindo o descontrolado re-meximento do subsolo e visando, assim, assegurar a proteção do pa-trimónio arqueológico cuja preser-vação in situ possa não se justificar mas cujo interesse público tem de prevalecer sobre os interesses priva-dos de uso da propriedade.

No regime jurídico do patrimó-nio cultural português esta prote-

ção de natureza preventiva assenta atualmente em dois princípios bási-cos: o princípio da conservação pelo registo científico; e o princípio do poluidor-pagador, na sua transpo-sição direta para o regime jurídico do património cultural.

O primeiro destes princípios le-gitima a remoção (isto é, a destrui-ção), desde que controlada por ar-queólogos, dos bens culturais não classificados, pelo que o seu rigo-roso registo deve ser assegurado com métodos científicos e técnicas internacionalmente aceites e em permanente aperfeiçoamento, que somente os arqueólogos são auto-rizados a praticar.

O segundo destes princípios trans-fere os custos desse registo científico para os promotores das operações urbanísticas e outras formas de uso com remeximento do subsolo. Contudo, pode incluir mecanismos compensatórios, a estabelecer pelos municípios (por exemplo, no âmbi-to do Regulamento de Urbanização e Edificação e dos regimes de Taxas e Licenças Municipais), que tenham em conta o volume financeiro do in-vestimento, ou a capacidade econó-mica do promotor.

AGECAL - Associação de Gestores Culturais do Algarve

Grande ecrã

Cineclube de TaviraProgramação: www.cineclubetavira.com281 971 546 | 965 209 198 | 934 485 [email protected]

SESSÕES REGULARESCine-Teatro António Pinheiro | 21.30 horas

12 SET | EM SEGUNDA MÃO, Catarina Rui-vo, Portugal 2012 (110’) M/12

19 SET | THE ICEMAN (UM HOMEM DE FA-MÍLIA), Ariel Vromen, E.U.A. 2012 (105’) M/16

26 SET | À PERDRE LA RAISON (OS NOSSOS FILHOS), Joachim Lafosse, Bélgica/Luxem-burgo/França/Suíça 2012 (111’) M/16

Setembro, Cinema de ContrastesCineclube de Faro Programação: cineclubefaro.blogspot.pt

A rentrée da actividade do Cineclube de Faro, sendo modesta, é uma retoma de con-trastes, mas vibrante e audaciosa nas suas propostas. Prenúncio, aliás, de um final de ano auspicioso no que diz respeito ao Ci-nema na sua vertente não comercial e mais desafiadora e artística.

Após um curto período de pausa para recarregar baterias, o CCF volta às sessões a partir de 17 de Setembro. Após os sucessos que foram a Mostra de Verão nos claustros do Museu Municipal e o ciclo estival dedica-do a Tony Gatlif na Esplanada d’Os Artistas (aproveitamos para agradecer mais uma vez a colaboração de todas as entidades envol-vidas), em Julho e Agosto, Setembro traz à tela três momentos imperdíveis. Começan-do pelo final, o CCF alia-se a 26 de Setembro à estreia nacional do filme Brasileiro “Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo”, um filme que chega agora às salas portuguesas, tido como um dos mais belos e poéticos fil-mes brasileiros da década passada, em que o road-movie, o documentário e a ficção se entrelaçam num objecto ímpar. A 20 de Se-tembro, mais um episódio da excelente par-ceria entre o CCF, a Biblioteca Municipal de

Faro e a Alliance Française de l’Algarve, com o filme “Dernier Étage, Gauche Gauche”, uma comédia que venceu o prémio Panorama FIPRESCI no Festival de Berlim2010. Para terminar, iniciamos actividade a 17 de Se-

tembro com um autêntico OVNI do cinema Português, “A Batalha de Tabatô”, de João Viana, que saltou para as bocas do mundo (mais desatento) após a menção honrosa na Berlinale em Março deste ano.

A Batalha de Tabatô recebeu uma menção honrosa na Berlinale

d.r.

Escavação arqueológica das ruínas da gafaria medieval de Lagos, no âmbito da construção de um parque

de estacionamento subterrâneo

fotos: m.j. neves / dryas, 2009

Page 4: Cultura.Sul 61 - 6 SET 2013

06.09.2013 4 Cultura.Sul

Tempo de palcos interiores

Ainda estamos debaixo dos efeitos do calor e dos rigores do astro rei, mas a arte anseia por regressar a palcos interio-res. Setembro marca este re-gresso ao conforto das cadei-ras ergonómicas, ou a outras quaisquer, um pouco por toda a região, mas decerto dentro de portas e debaixo de tecto.

As expressões culturais deste mês que abriu com o primeiro Dia Nacional das Filarmónicas (1 de Setembro) em reconhe-cimento do esforçado trabalho que as mesmas desenvolvem

nos quatro cantos das terras lusas, espraiam-se numa pale-ta de muitos tons.

João Miguel Garcia apresen-ta Open Hamlet no Teatro Mu-nicipal de Faro e de arte de pal-co se faz também Mê menine... e o tê pai, por terras de Olhão, saído do trabalho da Gorda, bem como Guru ainda na ci-dade cubista, com Rui Unas e Custódia Gallego aos coman-dos de um elenco invejável. Por terras do Arade sobe ao palco o Intruso com Marco Horácio.

A dança mostra-se em Faro em workshop e com Azul Infi-nito e em Portimão Hollywood marca o ritmo.

Xana Toc Toc anima com te-atro os mais miúdos em Olhão, enquanto em Portimão a pro-posta vai para um workshop

de fotografia aquática que su-cede à exposição de fotografia de João Bracourt iniciada dia 13.

Razões de sobra para não perder a agenda destas três salas de espectáculo da região e para não deixar a Cultura na gaveta, regressados que esta-mos da época de banhos.

As salas de espectáculo do Algarve mantêm, ainda que em tempos de crise, uma luta acesa pela manutenção de um programa recheado e diversifi-cado, muito por obra de pro-

gramadores hábeis, capazes de com o pouco fazerem muito e de manterem vivo o pulsar cul-tural dos grandes auditórios.

O desafio se é feito desta arte e mestria é-o também da apos-ta cultural que as autarquias de sotavento a barlavento fazem em prol da Cultura. Na magre-za imposta pelo fim dos tempos áureos e despesistas de outrora rasgam-se rumos de inovação e inventividade capazes de dar aos algarvios aquilo que real-mente merecem. Uma Cultura digna e capaz de garantir a to-dos os públicos a possibilidade de crescerem com aquilo que os artistas, grandes senhores de toda esta obra, são capazes de lhes entregar sem qualquer reticência, arte.

Ricardo Claro

Azul Infinito, dança em Faro

Teatro Municipal de Faro Programação: www.teatromunicipaldefaro.pt

13 e 14 SET | Open Hamlet, por João Miguel Garcia (teatro), 21.30 horas, duração: 1h10, preço: 7,5 €24 e 25 SET | Workshop de Dança Contemporânea, 18 horas, duração: 6h, preço: 15 € (10 €, ad-quirindo bilhete para o espectáculo Azul Infinito)27 SET | Azul Infinito (dança), 21.30 horas, duração: 0h55, preço: 10 €, 7 € para maiores de 65 anos

AMO - Auditório Municipal de Olhão Programação: www.cm-olhao.pt/auditorio

7 SET | “Mê menine... e o tê pai?” (teatro), 21.30 horas13 SET | Ana Moura – “Desfado” (música), 21.30 horas De 13 SET a 26 OUT | Diálogos Pétreos, por Leandro Sindoncha (escultura)21 SET | Xana Toc Toc (teatro infantil), 16 horas28 SET | Guru, com Rui Unas, Custódia Gallego, Heitor Lourenço e Susana Mendes, 21.30 horas

TEMPO - Teatro Municipal de PortimãoProgramação: www.teatromunicipaldeportimao.pt

13 e 14 SET | Manta de Retalhos (teatro), 16 e 21 horas (dia 14, às 16 horas), preço: 2,50 €De 13 SET a 2 NOV | Exoastose – Exposição de fotografia de João Bracourt, de terça a sábado, das 14 às 19 horas, entrada livre14, 15 e 17 SET | Workshop de Fotografia Aquática, com João Bracourt, preço: 90 €21 SET | Hollywood, Escola de Danças do Boa Esperança, 21.30 horas27 SET | Concerto para Dois Pianos e Orquestra, de Bernardo Sassetti, 21.30 horas, preço: 6 €, 3 € para menores de 12 e maiores de 65 anos28 SET | O Intruso – Marco Horácio, “Sem nada a perder”, 21.30 horas, duração: 1h10, preço: 10 €, 8€ para menores de 12 e maiores de 65 anos.

28 SET | Dia Zen, com Sílvia Duarte e outros, das 10 às 19 horas, entrada livre sujeita a inscrição prévia.

Aqui há espectáculo

Não há outra v o z n o f a d o como a de Ana Moura. Uma voz que se passeia pela tradição li-vremente, sem deixar de flirtar elegantemente

com a música pop, alargando de uma for-

ma muito pessoal o raio de acção da can-ção de Lisboa.Mas aquilo que a distingue é não ape-nas um timbre grave e sensual como há poucos – Ana Moura transforma instan-taneamente em fado qualquer melodia a que encoste a sua voz. É um rastilho imediato, uma explosão emocional dis-parada sem contemplações ao coração de quem a ouve.

Dest

aque 13 SET | Ana Moura – “Desfado” (música), 21.30 horas

d.r.

Marco Horácio, actor, apresentador, hu-morista, criador e intérprete, volta aos palcos para ajudar a contornar a crise que o país atravessa. Se a receita não re-sultar há sempre a boa disposição que, por momentos, ajuda a esquecer as di-ficuldades. Olhar a crise de frente, rir na cara da crise e demonstrar as formas mais criativas de tornar o conceito low

cost uma prática corrente no quotidia-no dos portugueses é a fórmula que o humorista encontra para, pelo menos, divertir as plateias.Rir a bom rir num espectáculo a não per-der, onde além do stand-up, há música, sapateado e outras surpresas que prome-tem agarrar o público durante uma hora bastante divertida.

Dest

aque 28 SET | O Intruso – Marco Horácio (stand-up comedy), 21.30 horas, duração: 1h10

Em Azul Infi-n i t o r e f l e t e --se a busca da l ib e rt a ç ã o , a p r o c u r a e o sentimento de harmonia e de-sarmonia, a an-

gústia e paz e a sensação que o Infinito nos traz enquanto coberto de Azul. A

verticalidade e a horizontalidade são bem delineadas conjugando a técnica de dança contemporânea com o tra-pézio aéreo. A linguagem de movimento expressa a fluidez, a leveza, o abandono e a resistência, o equilíbrio e o desequi-líbrio, a harmonia e a desarmonia, a vis-ceralidade no movimento, e a inércia; a permanência e a marca deste azul em cada indivíduo.

Dest

aque

s 27 SET | Azul Infinito (dança), 21.30 horas, duração: 0h55, preço: 10 €, 7 € para maiores de 65 anos

Page 5: Cultura.Sul 61 - 6 SET 2013

06.09.2013  5Cultura.Sul

Orquestra do Algarve alarga horizontes como “Clássica do Sul”

Maria Cabral, presidente da OCS, considera o crescimentoda orquestra uma resposta às necessidades

das populações do Sul do Tejo

fotos: d.r.

“12º FESTIVAL DE FLAMENCO”12 a 14 SET | 21.30 | Centro Cultural de LagosAs três formas de ver e sentir o flamenco - o cante, o toque e o baile - fundem-se e tornam-se espectácu-lo, um espectáculo de vanguarda, fantasia e ilusão flamenca

“WEEKEND”Até 14 SET | Galeria Artadentro - FaroExposição de esculturas de Carlos No da série inti-tulada “Vila Bidão”: cujas obras procuram chamar a atenção para as precárias condições da vida de mui-tos milhões de seres humanosAg

endar

Cesário Costa, o maestro titular da Orquestra Clássica do Sul

Panorâmica

Nos idos de 2002, tendo como pano de fundo o Festival Internacional de Música do Algarve, estreava-se a or-questra regional, uma ambição dos algarvios e, muito em particular, da massa crítica da região que ganhava assim corpo com a designação de Or-questra do Algarve.

Pensada e estruturada para ser uma orquestra clássica, pelo maestro Ál-varo Cassuto, a Orquestra do Algarve nasceu de um programa promovido pelo Ministério da Cultura ao qual ade-riram autarquias e entidades públicas regionais, fazendo dela um dos raros exemplos de agregação das vontades algarvias em prol da Cultura.

Aos fundadores Turismo do Algarve, Universidade do Algarve e Câmaras de Albufeira, Faro, Lagos, Loulé, Portimão e Tavira, juntaram-se, com o decorrer do tempo, os municípios de Alcoutim, Castro Marim, Olhão, Lagoa, São Brás de Alportel, Silves, Vila do Bispo e Vila Real de São António.

Ninguém, à data, preveria que a Or-questra do Algarve se fizesse um mar-co da identidade regional e fosse capaz de levar de forma tão relevante o nome da região algarvia aos palcos mais no-táveis. Para tanto, somaram-se às von-tades públicas o esforço daqueles que com a sua intervenção aos mais varia-dos níveis determinaram que o sonho tornado realidade se faria consubstan-ciar primando pela qualidade.

Um crescimento natural

O nome que a Orquestra do Al-garve granjeou num percurso de 11 anos, ditou pela sua notoriedade e expressão aquele que é o destino de-sejado de todas as instituições que vingam de forma peremptória, o crescimento. Não se trata de um cres-cimento pelo simples facto de o ser, mas sim o decurso natural de quem com mestria tem provas dadas.

Esta é a razão pela qual desde o passado dia 1 de Setembro a Orques-tra do Algarve se apresenta como Or-questra Clássica do Sul. A partir de 1 de Outubro, com abertura daquele que é o último trimestre da tempo-rada 2012/2013, a Orquestra Clássica do Sul dará então início às suas apre-sentações em palco.

Só os residentes significam mais de milhão e meio de pessoas

como público potencial

Não serão já somente os palcos al-garvios a casa natural da orquestra, mas sim todos os palcos a sul do Tejo. De Nisa, no distrito de Portalegre, a Sa-gres e de Setúbal a Vila Real de Santo António, o espaço vital da Orquestra Clássica do Sul passa a ser constituído por uma área territorial de 33.707 qui-lómetros quadrados, que albergam um público residente potencial de um mi-lhão, 671 mil e 930 pessoas.

O público potencial da orquestra, considerados apenas os residentes do seu novo território de implantação, ul-trapassa assim o milhão e meio de pes-soas, um número extraordinariamente expressivo.

Num quadro onde se não vislum-bra qualquer possibilidade de politi-camente se admitir a criação de novas orquestras regionais, o que determina que apenas as três já existentes (Or-questra das Beiras, Orquestra do Norte e Orquestra Clássica do Sul) se mante-rão no panorama cultural nacional, a expansão da Orquestra do Algarve para os territórios a sul do Tejo, que ainda não estavam abrangidos verdadeira-mente por nenhuma orquestra regio-nal, torna o processo de evolução agora concretizado uma realidade ainda mais natural e necessária.

Orquestra responde a umanecessidade das populações

e dos territórios

“A nova abrangência da orquestra é, assim, uma exigência da Cultura,

mais do que somente uma necessi-dade da instituição”, referiu ao Cul-tura.Sul, Maria Cabral, presidente da Orquestra Clássica do Sul. “Trata-se

da junção da necessidade das po-pulações terem acesso a actividades culturais na área da música erudita, com as respostas estratégicas que as

instituições culturais já existentes no país podem dar”, conclui.

“Assim se conjuga um conjunto de factores que determinam que a Orquestra Clássica do Sul se projecte em todo este território cumprindo de forma ainda mais cabal a missão que lhe foi confiada inicialmente apenas para o Algarve”, remata a responsável da instituição.

Sem aumento dos custos associa-dos ao desenvolvimento do trabalho da orquestra, para além daqueles que decorrem necessariamente da expan-são da sua área de intervenção e que, naturalmente, serão cobertos pelos dividendos de uma actividade mais abrangente e preenchida, a Orquestra Clássica do Sul opera aquilo a que se pode chamar uma verdadeira dupla descentralização da Cultura na área da música erudita.

Fruto de uma descentralização ini-cial nasceu a Orquestra do Algarve - e Lisboa deixou de ser o único palco de concertos clássicos de excelência - agora, depois de o Algarve muito ter ganho em qualidade cultural com a orquestra, chega a vez de territórios mais interiores do país e, a seu par, toda a faixa litoral a sul do Tejo terem o privilégio de receber aquela que é já, também, a sua orquestra clássica.

Não é o Algarve que perde a sua orquestra, é o sul do país que ganha uma orquestra. Porque a excelência não deve ser privilégio de uns poucos, mas sim ser realidade diária de tantos quanto possível. É isto que retiramos da conversa com Maria Cabral, que faz ponto de honra em “destacar as virtudes de um projecto em prol do verdadeiro crescimento do serviço público prestado pela orquestra”.

A batuta de Cesário Costa, maes-tro titular da Orquestra Clássica do Sul, a mestria dos seus 31 músicos e o empenho de uma pequena equipa que transporta o esforço dos ensaios para os palcos da orquestra, a que se soma uma direcção capaz de garantir sustentabilidade a um projecto fun-damental, podem agora ser vistos e reconhecidos por um universo ainda mais alargado de ouvintes.

A nossa orquestra é agora ainda mais nossa, porque somos mais a poder chamar-lhe assim, somos mais a deliciar-nos com a excelência dos seus músicos e somos sempre melho-res quando somos mais.

Page 6: Cultura.Sul 61 - 6 SET 2013

06.09.2013 6 Cultura.Sul

“AGARRA QUE É MILIONÁRIO”6 SET | 21.30 | Centro Cultural de LagosComédia que conta com a participação de artistas muito conhecidos do grande público, como Tó Zé Martinho, Carlos Areia, Patrícia Candoso, Marta Fer-nandes, entre outros

“TRANSPARÊNCIAS”Até 30 SET | Galeria Municipal de AlbufeiraJoão Moraes Rocha, artista autodidacta, natural de Lisboa, privilegia as paisagens, especialmente as ma-rinhas, tendo eleito a aguarela como a sua técnica pictóricaAg

endar

Salman Rushdie - Apanhem esse escritor!

Salman Rushdie é um nome sobe-jamente conhecido pois os media co-briram a sua vida durante quase uma década, enquanto o Islão prometia uma recompensa de dois milhões a quem matasse esse escritor arro-gante, prepotente, mal-encarado... A primeira obra deste autor britâni-co, nascido na Índia, foi Os Filhos da Meia-Noite, uma narrativa alegórica sobre o nascimento da Índia, ou seja, os primeiros trinta anos após a inde-pendência enquanto colónia ingle-sa, contestando o poder autocrático aí exercido e reflectindo igualmente sobre as tensões religiosas entre hin-dus e muçulmanos. Não é acidental que o nascimento do protagonista Saleem coincida com a hora exacta da independência da Índia. É uma lei-tura marcante, nomeadamente devi-do ao humor de situação, que serve um certo propósito de parodização e de reescrita da História, o que valeu justamente ter sido premiado com o Booker Prize, em 1981, bem como o melhor Booker a ter sido premiado nos 25 anos de vida do prémio, e, ain-da, o Best of the Booker, em 2008. Os Filhos da Meia-Noite só chegou a Por-tugal em 1989 e foi recentemente adaptado ao cinema, realizado por Deepa Mehta, tendo estreado já em vários países (crê-se que estreará nos ecrãs portugueses em Setembro). Sa-leem possui o extraordinário dom de comunicar por telepatia com os outros filhos da nação, igualmente dotados de estranhos poderes, o que, entre outros aspectos, leva a classifi-car esta obra como realismo mágico. Aliás, Salman Rushdie é um autor tão referenciado na crítica literária como o colombiano Gabriel García Márquez. Rushdie alega justamente que para ex-pressar a realidade sócio-política do país em que viveu até à adolescência, sendo que depois foi estudar para a Grã-Bretanha num colégio e possui nacionalidade britânica, o realismo e a sua linguagem são desadequados e obsoletos. Existem episódios absolu-tamente indeléveis e hilariantes como

o momento em que a mãe de Saleem e outra mulher se digladiam entre si, conforme se aproxima a meia-noite do dia que assinalará justamente a independência da ex-União Indiana, enquanto uma mulher faz força para a criança nascer antes do tempo, para receber o prometido prémio, enquan-to a outra tenta aguentar a criança que já está em vias de sair. Outro momen-to emblemático é o do penico voador, que substitui aqui outros objectos mágicos próprios das narrativas fan-tásticas das Mil e Uma Noites e que pululavam nas histórias que o autor ouvia em criança da boca do seu pai, e depois de ter sido aparentemen-te esquecido capítulos depois acaba por aterrar na cabeça da personagem.

A obra Os Versículos Satânicos, por outro lado, é uma alegoria que re-mete para uma reinterpretação do Islão e em que, inclusivamente, o autor reescreveu passagens do Co-rão. Esta narrativa tem início com o diálogo entre Gibreel e Saladin, em plena queda livre de um avião, per-sonagens que parecem remeter para o anjo Gabriel e Satã. Foi com este li-vro que a própria realidade bateu de chapa na cara do autor pois valeu-lhe, em 1989, uma condenação à morte, com a fatwa do ayatollah Ruhollah Khomeini, que o levou a esconder-se e a andar sob permanente protecção de uma força policial. A obra Joseph

Anton - Uma memória é justamente um relato extenso e denso em que o autor faz um balanço dos cerca de nove anos em que viveu arredado do mundo e teve de mudar de nome, es-colhendo a combinação de dois no-mes próprios dentre alguns dos seus escritores favoritos: Joseph Conrad e Anton Tchékov. Talvez por ser força-do a estar distante do próprio filho e do seu círculo de amigos e colegas, que constituíam uma família por op-ção que substituía a que ele deixou na Índia, ou por ter sido forçado a esconder-se do mundo, adoptando um nome de código, enquanto que pelo mundo inteiro tantos jornalis-tas, escritores e políticos se referiam a Rushdie como se fosse ele o culpado, o merecedor, o Satã que brincou com o fogo, talvez por ter deixado de se reconhecer a si próprio, este livro de memórias é completamente narra-do na terceira pessoa. O livro fornece minuciosa informação em que pode-mos acompanhar os momentos mais decisivos durante esses nove anos de pesadelo, em que toda a gente se achava no direito de o criticar e acu-sar, enquanto o próprio Reino Unido, sob governação da Dama de Ferro, confessou não poder fazer nada en-quanto não mudasse o regime no Irão, conforme afirmou Margaret Thatcher, enquanto o tocava no bra-ço. Devido a interesses económicos e

políticos (como os acordos comerciais que permitem a compra de petróleo), diversos países receavam incorrer na fúria do Islão por causa deste “autorzeco” que ti-nha decidido contestar abertamen-te o Corão e o fundamentalismo islâmico, pois “ele sabia bem o que estava a fazer”, pois, afinal, ninguém deve ter a liberdade de expressão para dizer abertamente o que pensa ou o que acha, nem sequer atrever--se a colocar em causa verdades sa-gradas. Basta lembrar o caso de José Saramago quando foi similarmente atacado por ter escrito O Evangelho segundo Jesus Cristo. Em contrapar-tida houve diversos amigos que se mantiveram sempre ao seu lado, por vezes disponibilizando as suas próprias casas, como Ian McEwan,

Angela Carter, Gunter Grass, Nigella Lawson, Harold Pinter, etc. Enquanto isso o Governo britânico evitava a sua questão delicadamente e uma visita à Casa Branca onde foi recebido por Bill Clinton foi delicadamente arras-tada e estrategicamente referida mas nunca fotografada, pois isso já seria ir longe de mais. Entretanto, o mundo foi deixando que a liberdade de ex-pressão e o direito à revisão de toda e qualquer “verdade oficial” fosse posta em causa, o que resultou num atentado ao World Trade Center em 2001, com uma prequela em 26 de

Fevereiro de 1993.O próprio processo de

escrita do autor viu-se se-riamente comprometido enquanto via a sua vida a ser controlada e acompa-nhada permanentemen-te por polícias e motoris-tas, “fazendo o Estado gastar consigo rios de dinheiro”, enquanto na verdade ele tinha que ir alugando casas tem-porárias que tivessem determinadas carac-terísticas ditadas por outrem que pode-riam ajudar a manter a sua segurança e só poder comparecer aos eventos para os quais a força poli-cial o autorizava. Todavia o autor acabou por escre-ver Harun e o Mar de Histórias, um

romance infanto--juvenil a pedido do seu filho, Zafar, a que se seguiu anos depois Luka e o Fogo da Vida.

O outro grande romance que se se-guiu, com este complicado parto, foi O Último Suspiro do Mouro: a saga de uma poderosa família que diz des-cender de Vasco da Gama, num tor-velinho de relações com outras famí-lias como os Lobos, os Mirandas, os Meneses, brincando com a presença e a colonização portuguesa na Índia. A ironia é absolutamente deliciosa, quando se diz que o encontro do Oriente e do Ocidente (uma temática cara ao autor) começa afinal com um grão de pimenta, de onde se expande uma rocambolesca saga familiar em que as barreiras de judaísmo, cristia-nismo, islamismo e hinduísmo são dissolvidas em nome do amor.

Paulo SerraInvestigador da UAlgassociado ao CLEPUL

Letras e Leituras

d.r.

O escritor Salman Rushdie

Page 7: Cultura.Sul 61 - 6 SET 2013

06.09.2013  7Cultura.Sul

Momento

O Verão e as férias

Foto de Vítor Correia

PUB

af_165x260_level_up.pdf 1 9/3/13 3:43 PM

Page 8: Cultura.Sul 61 - 6 SET 2013

06.09.2013 8 Cultura.Sul

Alice do Outro Lado do Monitor

«Afinal, amigos, a vida não é isto». Mas emendou colocando ‘só’ entre parêntesis antes de ‘isto’. E conti-nuou o seu estado no WorldGues-tBook (a rede social mais na moda): ‘Vou de férias, está bom tempo, é pre-ciso aproveitar depois de um inverno tão rigoroso. Vou deixar-vos por uns tempos. Passem bem’. Esta frase que publicara era mais uma forma indi-recta para ‘Alice’ expressar a já longa espera de notícias a que João Coelho a tinha votado.

Assim que entrou, João foi logo abrir as janelas do apartamento para renovar o ar, depois de quinze dias fechado. Recolocou o telescópio na varanda e limpou-lhe o pó ganho no tempo em que estivera ausente. Ti-nha de esperar pacientemente que o céu escurecesse bem para voltar ao seu passatempo. Uma obsessão, diziam os amigos, que mesmo esses o achavam um bocado estranho. A toda a hora se metiam com ele por não ter namorada e passar tantas horas a olhar o céu, mesmo quando estava com eles: ‘Estás à espera que uma miúda te caía do céu. Elas brilham é no firmamento das redes sociais’. Para não o chatearem sempre com aqui-lo acabou por aceitar uma rapariga que lhe adicionaram como amiga no WGB, e interagir com essa pes-soa virtual. Mas inesperadamente os contactos começaram a ser mais fre-quentes com a tal de Alice. Falavam quase todos os dias. ‘Ela’ conseguira cativá-lo, com certas coisas que disse que achou interessantes, agradáveis, assuntos tocantes, delicados. Mas ele não quis dar grande importância ao facto e apenas usava a rede nos pe-ríodos de pausa junto do telescópio. Só que a dada altura a sua amiga começou a interessar-se pela sua as-tronomia. Levava o pc para junto da janela e tentava deslindar as conste-lações através das coordenadas por ele transmitidas.

De novo em casa e com tempo para relaxar um pouco, João sentiu de repente a falta dela. Era estranho

ter saudades de alguém que nem sequer conhecia. Com todas as pre-ocupações e a azáfama dos últimos dias, nem tinha ligado o computador. Fê-lo enquanto esperava o momento de voltar ao céu . Viu as mensagens na caixa de entrada, algumas com as mais recentes novidades sobre o fasci-nante mundo da astronomia, acumu-ladas naqueles dias em que estivera desligado do mundo global e apenas

ligado ao restrito núcleo familiar e do trabalho. Não tivera tempo, oportu-nidade ou disposição para se ligar à conversa com Alice. Tentava agora contactá-la. Não obteve resposta. Tal-vez fosse melhor assim, pensou. Mas depois começou a ficar apreensivo. Por qualquer razão que não sabia ex-plicar achou que aquilo se tratava de uma espécie de jogo, preparado por ela, do qual ele não sabia o nome, ou mesmo se tinha um. Enviou-lhe uma mensagem: «Se vives tal como existes, se sentes tal como escreves, se queres tal como dizes… eu preciso parar de te ima-ginar ou corro o risco de perder o bem da tua realidade…»

Passou quase toda a noite de olhos postos no céu e no monitor, mas só na manhã seguinte algo novo surgiu, quando já se encontrava a trabalhar. Ela publicou uma foto sua na praia, legendada: ‘Estou aqui’. Ele respon-deu em força de mensagem: «Traba-lho no BTP, é na R. de Stº António. Saio às 5h. Não posso esperar mais. Quero

conhecer-te». De vez em quando ia olhar a foto

dela no pc. Mas com o passar vagaro-so dos minutos nas horas, começou a impacientar-se. Não aguentou es-perar mais. Inventou uma má dispo-sição para sair mais cedo e pôs-se a caminho da praia. Apanhou alguns semáforos fechados, o trânsito um pouco congestionado junto ao centro comercial. Apesar de ser verão, não

havia muito movimento ao pé do ae-roporto. Só faltava passar a ponte. A esta hora eram mais as pessoas que saíam da praia. Iria conseguir che-gar a tempo. João enfiou pelo areal já com a gravata desabotoada.

Ela, de paréu, com o cabelo desar-ranjado, sem maquilhagem, pensan-do se não seria uma loucura o que estava a fazer, entrou na agência. Sentiu o choque térmico devido ao ar condicionado que lhe embargou um pouco a voz ao perguntar pelo sr. João Coelho. Foi informada que ele se sentira mal e saíra. Estava con-fusa, nem parecia dela, estar envol-vida numa situação destas. Foi para casa, tomou um banho, ligou o ipad. Mesmo assim ainda esperou por uma resposta, ou qualquer sinal ou ideia que lhe pudesse trazer algo de con-creto, uma explicação qualquer para o que estava a acontecer. Nada. Ficar sozinha faria com que voltasse a pen-sar em tudo outra vez e se baralhas-se mais ainda. Arranjou-se e saiu. Ia

a um bar na ilha ter com os amigos. Depois de ter procurado Alice de

uma ponta à outra da praia sentou--se exausto na areia. Ficou por ali a pensar como as coisas não lhe cor-riam bem, mas também culpando-se por não saber lidar adequadamente com este tipo de situações. Após o sol se pôr, João saía dali decidido a acabar com aquela fantochada, antes que alguém se magoasse. Ao colocar

a chave na ignição reparou pelo es-pelho retrovisor que estava um carro a tapar-lhe a saída. Apitou, uma vez e depois outra. Como não veio nin-guém, saiu do carro para ir à procura do dono. Andando na sua direcção vi-nha uma mulher que pediu desculpa por não ter ouvido buzinar. Quando ela já ia a entrar no carro, João inter-pelou-a: Você chama-se Alice?! Virou--se surpreendida. Tu és a Alice, não és? Eu sou o João, Coelho.

…Mas tu não estavas doente, não tinhas ido para casa?

E tu não eras para estar ali na praia… passei horas a procurar-te.

O quê?! Será que estou a perceber? Tinhas vindo para aqui quando eu cheguei ao banco.

Ficaram parados, rebobinando o filme dessa tarde, nos olhos um do outro, tentando perceber como se tinham desencontrado na ânsia de se encontrarem, e agora sem querer encontravam-se.

Queres tomar um café aqui? Pode-

mos falar melhor… tens tempo?Já percebi que temos muito que fa-

lar, vou é …estacionar melhor.Riram-se quando ela contou como

tinha entrado e saído do banco, ten-do ficado todos os bancários a olhar para ela. E como no dia seguinte iriam olhar para ele com risinhos e boquinhas… acerca da descabelada em roupa de praia… que o procurava. As gargalhadas continuaram quando se soube de como ele andou na praia vestido de fato e gravata, com uma fotocópia dela na mão a perguntar se a tinham visto.

Nem imaginas as bocas que ouvi, tipo: perdeste a mulher no casino e não sabes, se calhar ela fugiu com al-gum tubarão…

Quer dizer que ambos tínhamos pressa em procurar o outro…

E que tu estavas realmente a fazer bluff, Alice!?

Fez-se um silêncio. Ela olhou na di-recção do mar.

Que foi? disse alguma coisa errada.Não. Até tens razão. É verdade, mas

precisava saber se continuavas inte-ressado em conhecer-me.

Mas eu posso explicar-te o que me aconteceu, para além de não estar muito à vontade com estas coisas das conversas na net, o meu pai foi ope-rado, e estive a trabalhar em Lisboa…mas no dia em que cheguei, a dado momento percebi que tinha mesmo de conhecer a Alice do outro lado do ecrã. E agora estás deste lado da re-alidade. Tens um corpo, uma voz, e uns olhos… ainda mais bonitos que na fotografia. E como a Alice do País das Maravilhas tens o cabelo loiro amarrado por uma faixa preta.

Sorriu, sentindo-se um pouco en-vergonhada. Sabes João, tenho ami-gos que minimamente sabiam quem tu és. Não me entreguei totalmente à aventura com um desconhecido. Ah! Eu não me chamo Alice, sabias?! São as mesmas letras. Mas o meu nome verdadeiro é Célia.

Deu uma última olhadela através do telescópio apontado ao céu, pois não conseguia mais suportar o peso das pálpebras a fecharem-se de can-saço. Recebeu uma mensagem no te-lemóvel: «Assim como uma estrela que já estava há muito tempo no céu quando a conhecemos, também o amor começa antes de sê-lo». Esboçou um sorriso de felicidade. Virou-se para o lado da parede e adormeceu ignorando por uma noite as mil luzinhas piscando lá fora.

Pedro [email protected]

Contos de Verão na Ria Formosa

d.r.

“LIGAÇÕES20 SET a 26 OUT | CECAL - Centro de Experi-mentação e Criação Artística de Loulé

Exposição mostra como o Projecto TASA liga arte-sãos, designers, gerações, saberes, materiais, tradição e inovação, arte e uso, origem e tendências, passado, presente e futuroAg

endar

“GURU28 SET | 21.30 | Auditório Municipal de Olhão

Divertida comédia, onde Custódia Gallego é He-lena Pinto Macedo, a ministra das Finanças à espera de inspiração para entregar o Orçamento de Estado

Vista aérea da Praia de Faro

Page 9: Cultura.Sul 61 - 6 SET 2013

06.09.2013  9Cultura.Sul

Os novos Imaginadores da Palavra

Ao longo dos últimos anos vários autores têm-se afirmado no panora-ma literário português pela sua origi-nalidade, versatilidade, criatividade e actualidade. A título de sugestões de leitura, deixo aqui três exemplos ilus-trativos ligados à ficção.

“Ler é preciso para ter lucidez” – diz--nos Gonçalo M. Tavares, que tem vindo a privilegiar em várias obras a explora-ção dos sótãos/caves mais escuros da condição humana, como o medo, a solidão, a violência e o mal, mas tam-bém os “gestos surpreendentemente bons”. GMT tem apostado também na microficção, em livros como Short Movies, Canções Mexicanas e, mais re-centemente, Animalescos. É, aliás, nes-te registo mais minimal que sugiro a sua série de micronarrativas “O Bair-ro” (com 10 vols. editados entre 2002 e 2010), em que o intenso diálogo com a filosofia, os exercícios lógicos e a ex-ploração dos paradoxos, e a criação de universos lúdicos, engenhosos, inven-tivos e humorados inserem-se numa lógica de investigação dos limites do mundo e da linguagem, de modo a pôr a nu as limitações das nossas formas convencionais de olhar para o mundo, tanta vezes baseadas numa redutora e superficial visão binária (branco/preto).

Rui Cardoso Martins é o segundo destaque, com a obra Deixem passar o homem invisível (2009). Num cenário apocalíptico, um invisual – encarado aqui na sua dimensão humana e não como metáfora ou alegoria – e uma criança caem num buraco em Lisboa e a sua incursão iniciática pelas entra-nhas da terra aprofunda uma relação de cumplicidade e de partilha que mostra o quão salvadores as palavras, as histórias e os livros podem ser quan-do os atravessamos por dentro. Muitas vezes, é preciso descer ao inferno, quer para desnudarmos as nossas fragilida-des individuais e colectivas, quer para aprofundarmos os corredores da nossa interioridade enquanto seres humanos. Uma escrita em que se funde passado e presente, numa visão estratigráfica da cidade das sete colinas, que recu-pera – na senda de autores como Cha-twin – o tópico do poder curativo da caminhada e, também, da urgência de encontrar uma via de sobrevivência es-perançosa no meio da incompetência institucional e da indiferença/incom-

preensão revelados por um certo co-lectivo social, em que a realidade conti-nuamente conspira contra o indivíduo e o coloca em eminente perigo (como, aliás, nos relembra/adverte, desde logo, uma das epígrafes do livro). A reflexão sobre o papel de Deus, a fé, os milagres e outras preocupações metafísicas, bem como acerca do livre-arbítrio humano e das receitas infalíveis, percorrem igual-mente o texto, não escapando à pena crítica do autor, para quem Deus só pode ser uma má pessoa, visto nos co-locar perante a eminência do milagre e depois o retirar. Uma obra que tam-bém “abala” e reformula claramente o nosso modo de olhar, escutar e de de-ambular por Lisboa…

Fecho esta lista com Valter Hugo Mãe, sugerindo o romance o apocalipse dos trabalhadores (2008), uma reflexão sobre os caminhos, sempre tão relati-vos, da felicidade e do amor, em que a procura de um paraíso terreal por parte de várias personagens principais (maria da graça, figura central, sonha literalmente em morrer de amor) se torna o objectivo primeiro das suas vidas, pontuada por uma esperança di-fícil, pela precariedade e pelos limites tantas vezes subjectivos do engenho e vontade humanos. Duas mulheres--a-dias protagonizam a acção, higie-nizando o real e, assim, resolvendo os problemas e limpando as sujidades – à imagem de um deus (mas, assim também, por contraponto a uma di-vindade aparentemente indiferente e arredada da realidade dos homens) – que a sociedade vai acumulando. Nas entrelinhas desta visão do mundo re-side um inequívoco enternecimento perante, por um lado, a hercúlea capa-cidade de sofrimento e de resistência humana, e, por outro, a manutenção da dignidade humana (não obstante todas as vicissitudes quotidianas) não só do elemento feminino como de to-dos aqueles que se situam na frágil e vulnerável base da pirâmide social: a anónima classe trabalhadora.

Paralelamente, o livro aborda o tema da imigração numa perspectiva de humanização da visão do Outro, des-construindo assim uma certa pequena xenofobia que a sociedade vai alimen-tando face aos estrangeiros, nomeada-mente dos países de Leste, fruto de uma manifesta incapacidade de compreen-são dos seus antecedentes, motivações, preocupações, dilemas e sonhos. Numa escrita acelerada, que precipita a urgên-cia de uma história feita de minúscu-las, de um notório fulgor poético e de uma dimensão humorística ausente dos seus romances anteriores, a morte assume-se como derradeira oportuni-dade de alcançar a felicidade… uma morte plena de maturidade, sabedoria e calma rente à felicidade, numa clara indiferença face ao juízo final e à exis-tência ou não de Deus.

Arqueologia em Albufeira

Albufeira é um concelho conhecido como um dos principais destinos turís-ticos a nível nacional, reconhecido pela qualidade das suas praias, gastrono-mia e outras ofertas que proporciona a quem visita. Esta é a face mais visível da “Capital do Turismo”. Mas é igualmen-te um município que tem sentido um acentuado crescimento de população residente, acompanhado com a melho-ria de infraestruturas e equipamentos económicos, sociais e culturais.

A Arqueologia em Albufeira, ainda que menos difundida, resulta de um trabalho que se vem a intensificar na úl-tima década. Com efeito, este tema pode levar alguns a pensar que podemos ter-minar o nosso artigo por aqui. De que nada subsistiu ao terramoto de 1755 ou à construção civil que se fez sentir a par-tir da 2ª metade do século XX. Ou ainda que é um território que apenas tem o Castelo de Paderne erguido durante a ocupação islâmica em elevação junto à ribeira de Quarteira, esquecendo-se a grande riqueza patrimonial nos con-celhos de Loulé e Silves, sendo apenas lógico que as sociedades antigas apro-veitassem os mesmos recursos naturais do Litoral e do Barrocal independente-mente das fronteiras dos municípios.

Retrospetiva

Na verdade, o património cultural do concelho de Albufeira nunca chamou a atenção da comunidade científica, até à realização das primeiras expedições de Estácio da Veiga, no século XIX, que revelaram o potencial que este território oferece. Infelizmente o seu trabalho não teve a continuidade que urgia manter, surgindo apenas algumas notícias de achados pontuais, como a da necrópole de cistas de Vale de Carro, descoberta na década de quarenta, em Olhos de Água.

Figura incontornável é a do Padre Semedo Azevedo, arqueólogo e pároco de Albufeira, que realizou diversas esca-vações nos concelhos vizinhos, e várias descobertas neste município, das quais se salienta a placa apotropaica exposta no Museu Municipal de Arqueologia, importante legado do património is-lâmico nacional e que foi encontrada durante a construção do Hotel Sol e Mar.

Foi apenas a partir da década de oi-tenta do século XX que se começaram a esboçar os primeiros inventários de sítios arqueológicos de uma forma sis-temática, bem como, as primeiras es-cavações arqueológicas no Castelo de Paderne, hisn rural em taipa militar nos

séculos XII-XIII e que se manteve habita-do até ao século XVI. Em contrapartida foi apenas no ano de 2000 que se efe-tuaram as primeiras escavações na área urbana de Albufeira, identificando parte de dois silos do período medieval islâmi-co, contendo vasto espólio arqueológico que testemunha o quotidiano daquela população.

Descobrir, estudar, salvaguardar

A afirmação das competências das autarquias locais na valorização e salva-guarda do património cultural nos terri-tórios que administram, levou à criação

do Gabinete Municipal de Arqueologia em 2004, com a missão de proceder à investigação, proteção e fiscalização do património arqueológico concelhio. No âmbito da sua missão salienta-se a atualização da Carta Arqueológica, que já permitiu localizar e georreferenciar mais de 150 sítios, acrescentando novos testemunhos de interesse histórico e pa-trimonial aos 81 conhecidos em 2003 e aos 18 em 1992. É evidente a relevância deste projeto para a gestão do patrimó-nio, mas também para o conhecimen-to do povoamento, nomeadamente de época muçulmana de Paderne, ou ain-da, da rede viária medieval com a iden-tificação das diversas pontes e caminhos antigos, sendo um dos melhores con-servados o do Vale de Santa Maria que ligava Albufeira a Alfontes da Guia.

É permanente o trabalho de salva-guarda em parceria com outros ser-viços municipais de obras públicas e privadas, reabilitação, planeamento e ordenamento do território, permitindo a realização de intervenções arqueológi-cas que, como resultado, vem aumen-tando o conhecimento histórico, reve-lando o rico património ainda existente e contribuindo para a compreensão da evolução urbana, testemunhados pelos vestígios de casas das épocas medieval e moderna encontradas no Centro Antigo ou na Baixa de Albufeira.

São diversos os projetos e descober-tas já realizadas pela equipa municipal, onde se destaca a identificação de parte da muralha medieval da cidade de Al-bufeira, junto à antiga Porta de Santana, assim como recentemente temos vindo a encontrar outros troços daquele muro de defesa da cidade escondidos por en-

tre o casario e que se pensava totalmen-te desaparecido.

Também a antiga igreja de Santa Ma-ria, o primeiro templo medieval cristão de Albufeira, destruído com o terramoto de 1755, foi redescoberta em escavações arqueológicas ainda em curso, mos-trando a grande dimensão do outrora edifício de culto, bem como, impor-tante conjunto de espólio arqueológi-co, salientando-se os diversos azulejos policromos, das oficinas de Lisboa ou do Porto, da segunda metade do século XVII que decoravam o seu interior e de onde provêm várias pedras esculpidas do século XVI, sendo a mais impressio-

nante o capitel com representações de animais exóticos, numa clara alusão aos descobrimentos portugueses e à nave-gação aos “quatro cantos do mundo”.

Santa Eulália – da fábrica à ermida

No topo de uma arriba na praia de Santa Eulália encontramo-nos a realizar escavações arqueológicas dos vestígios de uma antiga fábrica de salga de pei-xe do período romano, que já havíamos identificado em 2004, reconhecendo-se até ao momento cerca de seis tanques, colocados em torno de um pavimento central e de uma calçada de acesso ao complexo. Este conjunto inédito é um dos mais bem conservados do género e destaca-se pela sua localização, uma vez que os seus congéneres dispõem-se junto ao areal. Mas a relevância deste sítio centra-se na dimensão da fábrica de molhos e pastas produzidos a partir da fermentação do peixe em salmoura dentro das cetariae, aquecidos pelo sol e, posteriormente, transportados em ân-foras pelas galés que certamente ancora-vam na baía junto à praia e que partiam em direção do Mediterrâneo.

Naquele mesmo local, a tradição oral refere a existência de ermida do século XVI, que ainda não nos foi possível en-contrar. Mas são vários os testemunhos que atestam a sua existência, como os artefactos e sepulturas, algumas sobre-pondo os muros e pavimentos romanos.

Este breve panorama demonstra como a realidade patrimonial de Albu-feira está em transformação. Sabemos que ainda muito está por descobrir. Mas isso é que torna mais desafiante estudar a Arqueologia de Albufeira.

Espaço ao Património Sala de leitura

d.r.

Luís Campos PauloArqueólogo,Câmara Municipal de Albufeira Paulo Pires

Programador Culturalno Departamento Socioculturaldo Município de [email protected]

Escavações arqueológicas no Sítio de Santa Eulália (2013)

Page 10: Cultura.Sul 61 - 6 SET 2013

06.09.2013 10 Cultura.Sul

Na senda da Cultura

“PINTURA DE SÓNIA REIS”9 SET a 4 OUT | Antigos Paços do Concelho de LagosSónia Reis nasceu em Lagos em 1977. Desde sempre manifestou interesse pelo mundo das artes, nas áreas do desenho, ilustração, pintura sobre tela, pintura mural, colagem e decoraçãoAg

endar

“ARTE COM LATA”Até 29 SET | Museu de PortimãoExposição composta por uma série de imagens cria-das pelo artista holandês Eric de Bruijn, com base nas antigas ilustrações litográficas coloridas das latas de conserva

As iniciativas de exibição cinemato-gráfica nos meses de Verão sob a forma de mostras de cinema ou festivais, ao ar-livre e não só, atraem cada vez mais aficionados da sétima arte, bem como alguns residentes e turistas mais inte-ressados em diversificar as actividades com que ocupam o tempo livre durante as férias.

Assim se posiciona o Farcume – Fes-tival de Curtas-Metragens de Faro que, na passada semana, teve a sua terceira edição, num certame cada vez mais focado na criação de público para esta forma de cinema. Pela tela do Farcume passaram, ao longo de quatro dias, mais de cem curtas-metragens nacionais e in-ternacionais.

Entre os dias 28 e 31 de Agosto, na Escola de Hotelaria e Turismo de Faro (EHTA), estiveram a concurso 108 cur-tas, na sua maioria portuguesas, mas com um grande incremento de filmes brasileiros, aos quais se juntaram rea-lizadores provenientes de países como Espanha, Canadá, Estados Unidos, Ar-gentina ou Alemanha.

Com organização “única e exclusiva” da Faro 1540, associação de defesa e promoção do património ambiental e patrimonial de Faro, o Farcume mudou, este ano, o formato do concurso e alar-gou por mais um dia o festival, dada a “qualidade de curtas apresentadas e que não mereciam ficar de fora”, sublinhou ao POSTAL Bruno Lage, presidente da associação e director do festival.

No que se refere ao evento deste ano,

o responsável mostra-se muito satisfeito com os resultados alcançados. “Este ano quase dobrámos o número de especta-dores e durante os quatro dias foram quase mil pessoas que assistiram ao festival”. Mas ao balanço positivo com que Bruno Lage se congratula acresce também o maior número de realizado-res presentes, “inclusive do Brasil, que começam a fazer do Farcume um ponto de encontro cada vez mais internacional nesta forma de arte”.

“A qualidade das curtas apresentadas, o espaço fantástico de um edifício com 500 anos de história e a interacção entre realizadores e público são mais-valias

inequívocas do festival”, refere o direc-tor, que destaca a presença de “muitos jovens, com idades inferiores a 30 anos”, que, segundo Bruno Lage, é uma prova de “existir uma nova geração atenta e que aprecia eventos culturais”.

As curtas premiadas

Das 164 curtas-metragens enviadas foram seleccionadas 108 que estiveram a concurso em quatro categorias: ficção, animação, documentário e videoclip.

No final os vencedores foram, na ca-tegoria de ficção e em ex aequo, “Bué Sabi”, de Patrícia Delgado e “O Cheiro

das Velas”, realizado por Adriana Mar-tins da Silva.

Na categoria de animação o primei-ro lugar foi para a curta-metragem brasileira “ED”, de Gabriel Garcia; e no género documental, o primeiro lugar foi entregue a Luís Moya, com “Mia Mia Sudan Taman Taman”.

Na categoria de videoclip, a curta premiada foi “João Lum – Chama de Mil Cores”, de Sonat Duyar.

Farcume alarga horizontes

Como tem acontecido, de edição para edição, o Farcume tem ganho o seu espaço de referência no mundo das curtas-metragens a nível nacional, mas também a nível internacional como prova a crescente procura de realiza-dores de outras latitudes de se mos-trarem no festival farense. A edição de 2014 está, portanto, assegurada, garan-tia dada ao POSTAL por Bruno Lage.

O director do festival vai mais lon-ge e anuncia, desde já, a clara inten-ção de alargar o festival a outras ci-dades algarvias e até além-fronteiras, onde está a ser estudada a “real hi-pótese de estender o festival ao Brasil em Fevereiro ou Março do próximo ano”. Ainda este ano há também a in-tenção de realizar o certame em mais duas cidades da região, estando Tavi-ra e Portimão na linha da frente para a concretização do projecto.

Pedro Ruas/Ricardo Claro

Farcume mostra curtas em Faro e promete continuar a crescer

fotos: d.r.

Mais de mil pessoas estiveram presentes na terceira edição do Farcume

ClassificaçãoFarcume 2013:

Ô Ficção:1.º - (ex aequo) Bué SabiPatrícia DelgadoO Cheiro das VelasAdriana Martins da Silva2.º - Dios por el CuelloJosé Trigueiros3.º - Poesia de 2.ª CategoriaLuís Santo VazMH* - A Viuvez da CarpideiraAnderson Legal/Bruno LittleMH - Noite Gélida em Castelo BrancoLuís DiogoMH - Rafael e MariaRicardo Machado

Ô Animação:1.º - EDGabriel Garcia2.º - Forbidden RoomRicardo Almeida/Emanuel Nevado3.º - LuminarisJuan Pablo ZaramellaMH - A Ria, a Água, o HomemMatos BarbosaMH - Gata MáEva Mendes/Joana de Rosa/Sara Augusto

Ô Documentário:1.º - Mia Mia Sudan Taman TamanLuís Moya2.º - Aldeia dos TísicosHugo Dinis Neves3.º - AreiaHumberto Kzure-CerqueraMH - Brincadeiras dos nossos avósFlávio FariasMH - Crooner Vieira - A potência da voz e o romantismo nada têm a ver com a idadeCatarina NevesMH - Faro do Comboio ao AviãoLena Campelo/Fábio Léria/Carla San-tos/José Cabecinha

Ô Videoclip:1.º - João Lum – Chama de mil coresSonat Duyar2.º - Indie Nice Weather for Ducks – Back to the FutureBruno Carnide/Cláudio Cigarro3.º - Orblua – Aviãozinho MilitarCarlos NortonMH - Tribal Baroque – Gipsi DanceNuno Sá PessoaMH - Vol 2 – Sai e VemJoel Duarte

* Menção HonrosaA vertente ambiental da mostra é um evento carbono zero

Page 11: Cultura.Sul 61 - 6 SET 2013

06.09.2013  11Cultura.Sul

Urbano Tavares Rodrigues: Eterno, não efémero

Tinha programado para Dezembro, mês em que Urba-no Tavares Rodrigues faria 90 anos, um texto dedicado a este escritor, mas o seu recente fale-cimento, no passado dia 9 de agosto, levou-me a adiantá-lo, em jeito de homenagem pós-tuma.

Urbano Tavares Rodrigues é autor de cerca de meia centena de livros de ficção (romances, novelas e contos) e de outro tanto de ensaística, patente-ando as duas atividades em que mais se evidenciou: a es-crita e a vida académica, como professor da Faculdade de Le-tras da Universidade de Lisboa (onde só pôde lecionar após o 25 de abril), tendo muitas das suas obras sido premiadas.

Portugal, anos 60 – o «amanhã» é para todos.

Urbano Tavares Rodrigues foi um escritor corajoso, múl-tiplas vezes preso, que acabou por ter de sair deste seu país, devido à ditadura, e que revela as suas inquietações sociais na sua obra ficcional.

Escolhi falar da novela «Imi-tação da Felicidade», de 1966 (que dá o nome ao volume, do qual fazem ainda parte outros pequenos contos), para exem-plificar como exprimia as suas preocupações.

A história acompanha duas francesas em três contextos diversos, cada um narrado por uma terceira personagem que com elas interage duran-te a sua estada, estendida por três meses (que dão o nome aos capítulos) no nosso país. A linguagem de cada um dos narradores adequa-se à sua classe social (um taxista, uma

datilógrafa e um «pobre rico, ou rico pobre», como o pró-prio se define), mas todos coincidem na crítica à situação em que Portugal se encontra-va, com a Guerra Colonial a levar os jovens e com o povo a viver com salários de miséria, sentindo-se a necessidade de uma mudança (que só se daria daí a oito anos).

«Maio» passa-se no Algar-ve, na zona de Portimão. O narrador é Bernardo, um chofer dono do seu próprio carro de praça (alguns de nós ainda se lembram de serem assim chamados os taxistas e os táxis), que conduz as es-trangeiras para todo o lado, dando-nos uma ideia do con-traste entre a população mais simples e humilde (engraxa-dores, vendedores de peixe, mendigos) e as duas mulhe-res que dizem querer conhe-cer a realidade portuguesa e se insurgem contra a atitu-de passiva dos portugueses, sem, no entanto, mudarem alguma coisa: «Todos dizem o mesmo, fartinho estou eu de lhes ouvir a esta cantilena. Mas quem é que faz alguma coisa por nós?! Admiram-se, criticam e afirmam que estão inteiramente do nosso lado, mas vá de comerem ricos bi-fes e beberem o nosso bom vinho» (p.28).

O 2º capítulo, «Junho», em que a miséria das pessoas e a Guerra Colonial são os te-mas mais prementes (sob um pano de fundo de uma jóia roubada às francesas, pelo desespero de uma cria-da de quarto), é narrado por uma sobrinha de um rico ca-pitão. No 3º, «Julho», um aris-tocrata falido vende-se a um casamento, porque não quer perder regalias.

Com excertos como os que se seguem (algumas partes, infelizmente, ainda atuais), não admira que o livro, que ganhou o Prémio da Impren-sa Cultural, tivesse sido apre-endido pela censura:

«É bem verdade que os car-rascos do povo, destas criatu-ras tidas pouco mais ou me-

nos como vis, entre nós, são os intermediários, como a D. Almerinda. Os carrascos dire-tos. Porque o meu rico tio ca-pitão, tão boa pessoa, tenho de o reconhecer, está por de-

trás» (p.55).«Não, mãe (…), não me ve-

nha com a resignação: é ela que tem a culpa de tudo o que nos acontece. Porque, afinal, somos ou não somos todos seres humanos com direito à

vida, quero eu dizer, com direi-to a escolhermos a nossa vida? Quando a mãe, por exemplo, que fala constantemente em resignação, vive apenas a vida que lhe deram por castigo. E

eu, que teria gostado de ser médica, ou enfermeira, e sou modista? Eu, que aturo todo o dia senhoras idosas e tenho de lhes fazer boa cara e de lhes gramar as más-criações para não perder a freguesia!

Se somos todos irmãos em Deus, no seu Deus, que o seja-mos também na terra, irmãos nos mesmos direitos e não só alguns de nós nas mesmas es-cravidões. O que nos faz falta, mãe, não é a resignação: é a revolta» (p.59).

«País das rosas de Abril, estrumeira da Europa rica… Quando é que nasce «ama-nhã»? Até a mim me acon-tece pensar nisso. Não sei se gostarei de «amanhã», mas é urgente que desponte, para todos nós, outro dia, para os que o merecem, para os que o não merecem, para os que o desejam, para os que o te-mem, para os que o detestam. Isto assim, este vómito de an-gústia, é que não pode conti-nuar» (p.96).

O efémero amor

O tema do amor é recorren-te na obra de Urbano Tavares Rodrigues. Tanto o amor como o sexo e as suas variantes: sexo sem amor e amor sem sexo. E com o amor vem, muitas vezes, a morte e a efemeridade.

Por exemplo, em Filipa Nes-se Dia (1988), o amor é des-

truição, mas também aqui as classes sociais surgem como determinantes do tipo de re-lacionamento e até de senti-mentos possíveis: «Mas estarei eu verdadeiramente apaixo-nado? Não serei, afinal, como tantos da minha geração, do meu meio social, incapaz de paixão?» (p.75). Hélio, como muito bem o «vê» um velho cego com quem se cruza, não consegue encontrar, literal-mente e metaforicamente, o caminho que o leva a casa do pai e ao encontro do amor. Paralela à demanda do herói, temos a crítica ao que, depois do 25 de abril de 74, deveria ter mudado, mas não mu-dou. Dizem os trabalhadores de um latifúndio alentejano: «Estes cabrões exploram-nos sem dó nem piedade. Para eles somos animais, ou nem isso, que eles tratam de outra ma-neira os animais de estimação. Como as máquinas é que nós somos, dessas que nem vale a pena consertar, das que se ati-ram fora em não prestando» (p.99).

Urbano Tavares Rodrigues consegue, com muita elegân-cia, alternar a linguagem de diferentes narradores e per-sonagens, de um modo tão límpido, que parece que ora estamos a ouvir a rudeza das vozes revoltadas dos trabalha-dores do campo, explorados sem pejo, ora nos surpreende-mos com a delicadeza da voz da francesa Brigitte, ora nos condoemos com a fragilida-de de doentes e moribundos e coramos com a excitação dos amantes.

Inspirando-me no nome de um seu romance, O Eter-no Efémero (2005), repito o título deste artigo: Urbano Tavares Rodrigues, eterno, não efémero.

Edições citadas:Imitação da Felicidade, Publica-

ções Europa-América, 1966 (3ª edição: 1988).

Filipa Nesse Dia, Publicações Europa-América, 1988.

fotos: d.r.

Da minha biblioteca

Adriana NogueiraClassicistaProfessora da Univ. do [email protected]

“METÁFORA DAS FORMAS”Até 30 SET | Galeria de Arte Pintor Samora Barros - AlbufeiraAldamir Soares apresenta peças a três dimensões, elaboradas a partir de diversos materiais reciclados, como o ferro, madeira, pedra e alumínioAg

endar

“ESPECTÁCULO COM SEU JORGE”11 OUT | 22.00 | Portimão ArenaPara além de interpretar temas do novo disco, intitu-lado “Músicas para Churrasco nº 2” , o cantor e com-positor promete incluir no alinhamento do concerto canções bem conhecidas

Urbano Tavares Rodrigues

Page 12: Cultura.Sul 61 - 6 SET 2013

06.09.2013 12 Cultura.Sul

Uma das atribuições legal-mente cometidas à Direção Re-gional de Cultura do Algarve, pelo Decreto-Lei n.º 114/2012, de 25 de maio, é apoiar iniciati-vas culturais locais ou regionais, de caráter não profissional, que, pela sua natureza, correspon-dam a necessidades ou aptidões específicas da região. A isso acresce, ainda, as atribuições de promover a sensibilização e a divulgação de boas práticas para a defesa e valorização do património cultural, e articular--se com outras entidades, com a finalidade de incentivar formas de cooperação integrada, me-diante protocolos ou contratos--programa.

Nesta medida, tem a Direção Regional de Cultura do Algarve procurado otimizar os recursos disponíveis, através do progra-ma de Apoio à Ação Cultural e das parcerias de promoção cul-tural e de dinamização dos mo-numentos, aplicando fundos provenientes de receitas pró-prias, essencialmente receitas de ingresso, lojas e concessão

de espaços dos oito monumen-tos históricos que, no Algarve, lhe estão afetos.

Nos últimos anos foram re-alizados diversos eventos que tiveram como fio condutor criar ligações entre património e contemporaneidade, assim como proporcionar uma maior fruição cultural e criar hábitos culturais na região, conseguin-do chegar a um universo cada vez maior de pessoas.

De entre as iniciativas de pro-moção cultural que resultam de parcerias entre a Direção Regio-nal de Cultura do Algarve e ou-tras entidades que, na região, prosseguem objetivos afins, podemos destacar a realização de exposições temporárias nos monumentos afetos, quer de tema histórico (na Fortaleza de Sagres), quer de arte con-temporânea (na Casa Rural de Milreu, Estoi); o ciclo Filarmó-nicas nos Monumentos (uma parceria anual de divulgação musical com a Associação Re-gional de Filarmónicas do Al-garve, de sensibilização para a

importância do trabalho das Associações Filarmónicas na afirmação da identidade cul-tural da região, e a promoção e divulgação do património histórico através de um roteiro de atuações nos monumentos); os Encontros de Teatro Amador, reunindo os grupos de teatro amador do Algarve em torno da reflexão e debate; os Algarve Design Meetings, promovidos em parceria com o Departa-mento de Comunicação, Artes e Design, da Universidade do Algarve, um espaço que coloca sob análise e reflexão a temática do design de comunicação na região; os concursos de leitura «Ler Com...», realizados anual-mente na Fortaleza de Sagres em parceria com a Direção Re-gional de Educação e as Escolas da região para sensibilização e promoção da leitura e da língua portuguesa junto das crianças do 1.º ciclo; o projeto «Lugares Mágicos», em parceria com o Atelier Educativo e a participa-ção de várias instituições IPSS, com três tipos de oficinas edu-

cativas, barro/cerâmica; perfor-mance/teatro e fotografia; os ci-clos «Música nos Monumentos», uma parceria com a Orquestra do Algarve para a realização de concertos de música de câmara em monumentos da região; ou o projeto «Palato», uma parce-ria com a Xerém onde, usando as tecnologias de informação e comunicação e cozinhando na paisagem, se cruzam arte, gas-

tronomia e património.Este fio condutor – criar há-

bitos culturais e proporcionar a fusão entre identidade/ter-ritório/património e criação/reflexão contemporânea – tem permitido, num trabalho assente no tecido cultural regional e nas pessoas que estão no terreno, de forma (quase in)visível a conti-nuar projetos por toda a região e, ao mesmo tempo, garantir

que se continua a fazer cultura no Algarve. Conscientes de que há muito caminho a percorrer, e muito trabalho a fazer, continu-aremos a apostar nas parcerias para fazer mais e na capacidade de inovar para chegar a mais pes-soas, garantindo que a cultura é um factor de desenvolvimento e de diferenciação.

Já no domínio do apoio a ini-ciativas culturais, de caráter não profissional, através do progra-ma de Apoio à Ação Cultural, foi, ao longo dos últimos dois anos, apoiada financeiramente quase centena e meia de proje-tos na região, nomeadamente nas áreas das artes visuais, cine-ma/vídeo, dança, música, teatro e edição (particularmente en-saio, narrativa e poesia), abran-gendo mais de cento e vinte agentes culturais da região. Continuaremos a nossa missão de criar novas oportunidades e caminhos para quem todos os dias faz cultura na região.

Direção Regional de Cultura do Algarve

A Direção Regional de Cultura do Algarve:um parceiro (in)visível para quem faz cultura

d.r.

PUB