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1 Culpada ou Inocente? A Produção Intertextual dos Comentários de Internautas sobre Crimes Corporativos Autoria: Cintia Rodrigues de Oliveira Medeiros, Rodrigo Miranda Neste artigo, analisamos os comentários de internautas postados em notícias sobre crimes corporativos veiculadas na imprensa eletrônica nacional. Concentramos nossa análise em reportagens sobre trabalho escravo com objetivo de identificar as facetas das concepções em torno dos crimes corporativos, analisando a dinâmica intertextual entrelaçada com a sua produção. A análise da intertextualidade oferece uma abordagem interessante para identificar como as concepções da sociedade estão enraizadas em textos produzidos na vida cotidiana. Como resultados, evidenciamos os temas discursivos, os discursos e ideologias imersos nos comentários analisados, sinalizando para a importância de compreender a produção intertextual sobre a atuação de grandes empresas. 1 Introdução O papel desempenhado pelas grandes empresas tem sua relevância na sociedade contemporânea, porém, não é capaz de justificar os perigos e riscos que as mesmas impõem aos seus consumidores, empregados, meio ambiente e à comunidade em geral. Vários autores contemporâneos, no campo dos estudos organizacionais, assentados, principalmente, em Weber, Marx e Foucault, já alertaram sobre a “deusa-mãe”, que nutre e devora (Motta, 1981), a inexistência de uma saúde moral nas organizações e o seu lado perverso (Freitas, 2005), a face repugnante (Morgan, 1996), o dark side of organizations (Vaughan, 1999), corporate psycopaths (Boddy, Ladyshewsky, Galvin & 2010), killing organizations (Soke & Gabriel, 2010), entre outros. A veiculação de notícias e informações em tempo real e em maior abrangência contribui para trazer à tona questões que incomodam a sociedade em geral, estimulando o

Culpada ou Inocente? A Produção Intertextual dos ... · Na produção dos discursos que envolvem as organizações, as notícias sobre a atuação das mesmas, veiculadas pela imprensa,

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Culpada ou Inocente? A Produção Intertextual dos Comentários de Internautas sobre Crimes Corporativos

Autoria: Cintia Rodrigues de Oliveira Medeiros, Rodrigo Miranda

Neste artigo, analisamos os comentários de internautas postados em notícias sobre crimes corporativos veiculadas na imprensa eletrônica nacional. Concentramos nossa análise em reportagens sobre trabalho escravo com objetivo de identificar as facetas das concepções em torno dos crimes corporativos, analisando a dinâmica intertextual entrelaçada com a sua produção. A análise da intertextualidade oferece uma abordagem interessante para identificar como as concepções da sociedade estão enraizadas em textos produzidos na vida cotidiana. Como resultados, evidenciamos os temas discursivos, os discursos e ideologias imersos nos comentários analisados, sinalizando para a importância de compreender a produção intertextual sobre a atuação de grandes empresas. 1 Introdução

O papel desempenhado pelas grandes empresas tem sua relevância na sociedade contemporânea, porém, não é capaz de justificar os perigos e riscos que as mesmas impõem aos seus consumidores, empregados, meio ambiente e à comunidade em geral. Vários autores contemporâneos, no campo dos estudos organizacionais, assentados, principalmente, em Weber, Marx e Foucault, já alertaram sobre a “deusa-mãe”, que nutre e devora (Motta, 1981), a inexistência de uma saúde moral nas organizações e o seu lado perverso (Freitas, 2005), a face repugnante (Morgan, 1996), o dark side of organizations (Vaughan, 1999), corporate psycopaths (Boddy, Ladyshewsky, Galvin & 2010), killing organizations (Soke & Gabriel, 2010), entre outros.

A veiculação de notícias e informações em tempo real e em maior abrangência contribui para trazer à tona questões que incomodam a sociedade em geral, estimulando o

 

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surgimento de grupos, movimentos e organizações (Greenpeace, Occupy Wall Street, Repórter Brasil, entre outros) visando monitorar e denunciar corporações e governos, em manifestações que tomam proporções geográficas e sociais cada vez maiores. Ainda assim, como bem manifesta Sachs (2011), “É difícil que haja um dia em que não venha à tona um novo caso de práticas administrativas questionáveis ou ilegais”. Práticas desse tipo tornaram-se parte do cotidiano de novas vidas, associando as grandes empresas a uma “impressionante quantidade de devastação infligida sobre a vida humana e sobre o meio ambiente” (Pearce, 1993, p.135), dando maior vulto, nas palavras de Sachs (2011), a uma “onda global de crimes corporativos”.

A discussão da culpabilidade e punição das corporações e seus agentes, no âmbito jurídico, é bastante complexa, bem como o próprio conceito de corporação também o é. Pearce (1993) discute a responsabilidade limitada das corporações, no contexto estadunidense, argumentando que essas são legalmente privilegiadas, pois sua existência é independente de seus membros (Clinard et al, 1979). Os acionistas, apesar de terem direito a partes dos lucros, não são pessoalmente responsáveis pelas práticas e dívidas da corporação (Berle & Means, 1932), pois há uma separação entre propriedade e gestão. No Brasil, a Constituição Federal de 1988 inseriu a responsabilidade penal da pessoa jurídica, não excluindo a responsabilidade da pessoa física (Brasil, 2003), no caso, seus dirigentes.

Diante de acusações e denúncias, as corporações agem de diversas formas, procurando responder aos questionamentos, ora defendendo-se, ora negando, ou, ainda, amparando-se em um aparato ideológico, servindo-se de discursos que fabricam verdades sobre a sua atuação (Barley & Kunda, 1992; Freitas, 2000) . A análise dos discursos que envolvem as grandes empresas é relevante para conhecer como os mesmos são produzidos e sua relação com as estruturas materiais e sociais, evidenciando, dessa forma, as ideologias e relações de poder imersas nos discursos (Freddo, 1994; Faria, 2004; Chiapello & Fairclough, 2002).

Na produção dos discursos que envolvem as organizações, as notícias sobre a atuação das mesmas, veiculadas pela imprensa, constituem-se em um elemento fundamental, pois, por meio delas, as práticas discursivas do cotidiano produzem os sentidos sobre os fenômenos sociais (Fairclough, 1993; Djik, 1998). No caso das notícias veiculadas em jornais online ou webjornais, os leitores interagem postando seus comentários sobre a notícia, produzindo um texto (discurso) a partir de outros textos (discursos), que são sempre um intertexto em uma cadeia de textos constantemente em diálogo (Kristeva, 1980; Bahktin, 2002). Assim, os comentários postados em notícias sobre grandes empresas são discursos produzidos sobre as mesmas, cujos sentidos são produzidos pela interação social dos atores com outros textos, incluindo-se, ideologias, visões de mundo e relações de poder (Djik, 1998; Fairclough, 1993; Chiapello & Fairclough, 2002; entre outros).

Diante dessas considerações, centramos nossa análise em reportagens sobre trabalho escravo veiculadas na mídia eletrônica nacional, com o objetivo de identificar as facetas das concepções presentes em torno dos crimes corporativos, visando analisar a dinâmica intertextual entrelaçada com a sua produção. Como abordagem metodológica, adotamos a análise intertextual dos textos selecionados. Para operacionalizar essa análise, utilizamos a análise da intertextualidade, como proposto por Fairclough (1993), que envolve dois tópicos: a intertextualidade manifesta e a intertextualidade constitutiva. A esses dois tópicos, acrescentamos um terceiro: ideologias manifestadas (Fairclough, 1992).

Organizamos o artigo da seguinte forma: apresentamos, inicialmente, o contexto do domínio ideológico das corporações e dos crimes corporativos. Então, apresentamos o modo pelo qual conduzimos a pesquisa e introduzimos a abordagem intertextual adotada para os crimes corporativos em comentários de internautas sobre o trabalho escravo. Por fim, apresentamos os resultados e fazemos as considerações finais.

 

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2 Corporações, ideologias corporativas e crimes corporativos O conceito contemporâneo de corporação é bastante diverso da concepção hegeliana

de uma instituição mediadora entre a dimensão socioeconômica e política da sociedade civil-burguesa (Hegel, 2010), especificamente, a ligação entre comunidade, indivíduo e trabalho. Nessa concepção, a corporação é uma instituição com fins de promoção e defesa de interesses particulares, à qual os indivíduos se associam em defesa de seu próprio interesse, promovendo, dessa forma, o interesse de todos os seus membros, sendo necessário que o Estado mantenha a corporação sob supervisão.

A corporação como forma de negócios surgiu no século XIX, mais propriamente sob o sistema institucional-legal norte-americano, quando o sistema de produção artesanal foi suplantado pelo sistema fabril. As particularidades desse novo sistema de produção e a quantidade de capital necessário para construir e operar fábricas mudaram os mecanismos de propriedade de empresas, inclusive, no âmbito legal, fazendo com que o modelo de corporação se tornasse o modo preferido pelos capitalistas para organizar suas empresas (Clinard et al., 1979). Nesse contexto, as corporações foram acusadas de fixação de preços, exploração e outros abusos, resultando em uma reação política, e o governo federal norte-americano instituiu novas formas de regulação, no final do século XIX (Carey Jr., 2011).

A forma moderna de corporação, que Peter Drucker (1993) descreve como a instituição econômica e social que opera negócios em larga escala (big business), em um sistema de livre iniciativa (free-enterprise), é, para Tragtenberg (2005, p.16), “uma ideologia neocapitalista, cuja função é a legitimação do status quo como o único e desejável”. A maioria das grandes corporações são conglomerados, e, embora todos esses tenham linhas principais de negócios, adquiriram outras linhas de produtos através de fusões e aquisições, tornando-se mais fortes e poderosos na medida em que ficam protegidas contra flutuações dos negócios e têm maior abrangência geográfica, cultural e social, além de maiores lucros (Clinard et al., 1979).

Assim, a relação entre o Estado, a sociedade e as corporações, no contexto contemporâneo, adquiriu outras conotações. Retomando os tipos ideais de Weber (1991), compreendem-se os aparatos ideológicos que perpetuam e justificam a racionalidade característica do capitalismo. O interesse de Weber ( 1991) sobre as organizações burocráticas e suas formas de dominação abriu caminho para a visão de que o processo burocrático constitui-se em uma ameaça à liberdade do espírito humano e aos valores da democracia, pois, nesse processo, os controladores e gestores (Tragtenberg, 2005; Bernardo, 2009) servem-se da racionalização administrativa para subordinar os interesses e o bem-estar das massas. Para Weber (1991), o processo de racionalização constitui-se em um modo de dominação, visto que a impessoalidade, as regras e cálculos que associam meios e fins tornam-se crenças ou forças básicas utilizadas nas organizações para se exercer o comando sobre as pessoas.

As ideias de Weber, associadas às de Karl Marx, deram origem a uma visão pessimista (ou mais verdadeira) das corporações, descortinando os diferentes processos de dominação e exploração utilizados pelas mesmas, para servir aos interesses de acumulação de capital. Motta (1981; 1992) e Tragtenberg (2005) estimulam a reflexão sobre as organizações como instrumentos de reprodução de uma sociedade de classes, na qual as corporações exercem o poder disciplinar (Foucault, 1977). As relações de dominação são estabelecidas pela estrutura de classes originadas das relações de produção, e, de acordo com Motta (1981, p. 33) “em uma sociedade capitalista avançada a dominação aparece como administração”. Inspirado no filósofo e sociólogo grego Nicos Poulantzas, Motta (1981), Motta (1981) analisa que as empresas, como um aparelho de Estado, são sistemas cuja função é reproduzir a sociedade de classes, do mesmo modo que as instituições religiosas, militares e educacionais, sendo as mesmas de natureza econômica, repressiva e ideológica.

 

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Nessa mesma direção, Bernardo (2009) insere as grandes corporações no conceito de ‘Estado Amplo’, as quais constituem um tipo de quarto poder, em que os capitalistas, donos da ordem e de lei, tornam-se, ao mesmo tempo, “Governante, legislador, política, juiz e carrasco – esta é a multiplicidade de funções do capitalista no interior da empresa” (Bernardo, 2009, p.218). Aos poderes judiciário, executivo e legislativo, juntos, Bernardo (2009) denomina de Estado Restrito, o qual, segundo o autor, perdeu espaço nas suas funções para o Estado Amplo que, ao longo do tempo, assumiu funções centralizadoras, enfraquecendo as instituições do Estado Restrito.

Vários estudos (Tragtenberg, 1974; 2005; Motta, 1981, 1992; Barley, Meyer & Gash, 1988; Barley & Kunda, 1992; Alvesson & Berg, 1992; Clegg, 1992; Pagès et al., 1993; Morgan, 1996; Enriquez, 1997; Freitas, 2000; Faria, 2004; Bernardo, 2009, entre outros) discutem a ideologia nas corporações, bem como a forma pela qual ela é criada, reproduzida e, principalmente, transmitida. Ainda, Woodr Jr e Paula (2006, p. 94) definem a cultura do management “como um conjunto de pressupostos compartilhados pelas organizações e, em larga medida, imbuída no tecido social”. Dentre esses pressupostos, os autores apontam: a crença numa sociedade de mercado livre; a visão do indivíduo como auto-empreendedor; o culto da excelência como forma de aperfeiçoamento individual e coletivo; o culto de símbolos e figuras emblemáticas, como “palavras de efeito” (inovação, sucesso, excelência) e “gerentes heróis”; a crença em tecnologias gerenciais que permitem racionalizar as atividades organizacionais.

Conforme Barley, Meyer & Gash (1988) e Barley & Kunda (1992), desde 1870, até os dias atuais surgiram ideologias gerenciais, como a melhoria industrial, administração científica, capitalismo do bem-estar e relações humanas, racionalismo sistêmico e cultura organizacional, reforçando o domínio das empresas nas esferas econômica, social e cultural. Essa sucessão de ideologias gerenciais, acrescidas de outras (Motta, 1992; Pagés et al., 1993; Freitas, 2000; Vaara, Tienari & Laurila, 2006, Wood Jr e Paula, 2006), incluindo-se o próprio conceito de corporação (Tragtenberg, 2005), e que influenciam sobremaneira a vida social, é transmitida por meio de mensagens, recursos simbólicos e outras manifestações discursivas.

Discursos, como entendidos por Fairclough (1993), referem-se ao uso da linguagem como forma de prática social, a qual tem uma relação dialética com a prática discursiva, visto que, ao mesmo tempo em que o discurso molda as estruturas sociais, é também por elas moldado. Para Fairclough (1993), o discurso é uma prática política, visto que estabelece, mantém e transforma as relações de poder e as entidades coletivas nas quais essas relações existem. Entretanto, para o autor, o discurso é, também, uma prática ideológica, pois constitui, naturaliza, mantém e transforma visões de mundo nas diversas posições das relações de poder. É por meio de manifestações discursivas que as corporações constituem, naturalizam, mantêm e transformam visões de mundo a seu respeito, legitimando suas ações, seus produtos e processos.

As ideologias gerenciais presentes nas práticas discursivas das corporações obscurecem muitas reflexões sobre seus processos, produtos, ações e práticas que colocam a sociedade em risco e perigo. Alexander e Cohen (1996) e Simpson e Piquero (2002) associam os crimes corporativos ao desempenho anterior e às pressões e barreiras para obter desempenho superior. Conforme suas pesquisas, os crimes corporativos são incentivados pela estrutura, pelos processos e cultura da empresa. A escolha das condutas a serem tomadas nas corporações é motivada pelos interesses da corporação, não importando quais serão suas consequências.

Os crimes corporativos são evitáveis, porém, a um custo que as corporações não querem assumir (Mokhiber, 1995), preferindo outras práticas que deslocam esse custo para a sociedade em geral (Clinard et al., 1979), gerando uma miopia coletiva (Chikudate, 2009) que pouco associa a palavra crime aos acontecimentos do ambiente empresarial. Contudo, “Como

 

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evitar o crime corporativo?” não é uma questão simples de ser respondida, exigindo esforços para a compreensão, primeiro, da dimensão em que eles ocorrem na sociedade e, segundo, da ação humana que o provoca. Executivos, gerentes e trabalhadores exercem suas funções, de modo geral, orientando-se pelos objetivos empresariais, ainda que considerem seus interesses pessoais. No decurso de suas funções, eles agem e tomam decisões segundo o conjunto de normas, procedimentos, políticas e regulamentos da empresa que os aprisiona, resultando em economias de custos e qualidade de produtos. Contudo, a falta de questionamento “elimina possibilidades de ações associadas a visões alternativas da realidade” (Morgan, 1996, p.206).

O conceito de crime corporativo mais aceito, comumente, é estreitamente legalista, ou seja, aqueles cujos processos obtiveram condenação da empresa (Mokhiber, 1995). Entretanto, temos que considerar que essa concepção de crimes corporativos oculta as consequências que as suas vítimas sofrem e, ainda, acaba por consentir que esses sejam acontecimentos inevitáveis, acidentais e que não é necessário engendrar esforços para iluminar caminhos que levem à sua evitação (Chikudate, 2009). Compreender os crimes corporativos, nessa concepção, é aceitar que eles estão a nossa volta, no cotidiano de nossas vidas, o que é bastante desconfortável para aqueles que têm uma visão unicamente otimista quanto à gestão.

Conforme Snider (2000) proclamou quanto ao “desaparecimento do crime corporativo”, os grupos dominantes (entenda-se interesses capitalistas) e uma elite gerencial (entenda-se executivos de grandes corporações) foram competentes em desenvolver um discurso, ou produzir uma verdade, sobre o que seja crime corporativo, mais compatível com seus interesses. Dessa forma, os crimes cometidos em nome da racionalidade se escondem atrás de uma suposta fatalidade e, ainda, são cometidos por seres humanos, contra seres humanos, em nome de uma entidade, a corporação. 3 Descrição da estratégia de pesquisa

Nossa pesquisa, de caráter essencialmente qualitativo, concentra-se nos comentários de internautas sobre notícias relacionadas ao trabalho escravo, veiculadas em jornais eletrônicos, no Brasil. Nossa escolha por esse tema, trabalho escravo, é justificada por esse constituir-se em um crime corporativo, quando cometido por corporações, e pela quantidade de denúncias sobre o mesmo, com a qual a sociedade contemporânea se depara, no Brasil e em outros países. O trabalho escravo ou condições de trabalho análogas à escravidão é crime previsto por lei, porém, isso não tem impedido que certos empregadores se beneficiem dessa prática, sejam empregadores domésticos, rurais, pequenos fornecedores que integram a cadeia produtiva e corporações (Repórter Brasil, 2012).

A condição análoga à de escravo é definida pelo Código Penal Brasileiro como a submissão do empregado “a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto” (Instituto Observatório Social, 2004, p.8). Por trabalho forçado ou trabalho escravo, entende–se aquele ao quais os empregadores ou prepostos recorrem à coação física ou moral e privação da liberdade do empregado, sendo comuns a retenção de documentos e práticas de servidão por dívidas feitas para o consumo, para o próprio trabalho, de alimentos, roupas, ferramentas, alojamento e transporte (Repórter Brasil, 2012).

Para conhecer as concepções em torno dos crimes corporativos, focalizamos, neste artigo, as denúncias contra a Zara, empresa do grupo espanhol Inditex. Em agosto de 2011, os principais jornais do país noticiaram uma operação de investigação da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo (SRTE/SP), na qual foram flagrados trabalhadores submetidos a condições análogas à escravidão, no estado de São Paulo, produzindo peças de roupa para marca internacional Zara.

 

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Esse fato foi divulgado na mídia impressa, televisiva e eletrônica, gerando opiniões diversas. A mídia eletrônica tem desempenhado papel fundamental nos processos de comunicação, noticiando fatos e acontecimentos em tempo real, permitindo que leitores de diversas regiões geográficas tenham acesso aos mesmos. Atualmente, existe uma quantidade considerável de webjornais ou jornais online no Brasil, portanto, para viabilizar a pesquisa, optamos por selecionar as versões online dos dois maiores jornais do estado onde ocorreram as denúncias desse fato, quais sejam: Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo (ANJ, 2011).

A Folha.com, pertencente ao Grupo Folha, criada em 1995 com a denominação Folha Online, é o primeiro jornal a publicar notícias em tempo real em língua portuguesa, publicando cerca de 500 notícias por dia para uma audiência de 17 milhões de visitantes únicos e 173 milhões de páginas vistas por mês (FOLHA.COM.BR, 2012). O Estadão.com.br pertence ao Grupo Estado, tem uma audiência de mais de 10 milhões de visitantes únicos e mais de 92 milhões de páginas vistas por mês (ESTADÃO.COM.BR, 2012).

O primeiro passo da pesquisa consistiu em uma análise das versões online desses jornais para verificar a existência de postagens nas notícias veiculadas. Inicialmente, inserimos no sistema de busca da Folha.com a expressão “Zara trabalho escravo”, o qual retornou com 18 notícias, das quais 17 geraram 715 comentários de internautas (Quadro 1), entre os dias 18/08/2011 a 30/12/2011. Repetimos essa etapa no sistema de busca do Estadão.com.br, considerando o mesmo período, o que resultou em 20 notícias, das quais apenas 08 tinham postagens, totalizando 106 comentários (Quadro 2). Assim, o corpus de pesquisa constitui-se dos 821 comentários postados pelos internautas em 25 notícias, material suficiente para a nossa proposta.

Quadro 1 – Notícias veiculadas sobre o trabalho escravo na Zara na Folha.Com (2011) Data Notícia e link Q* 17/08 1. Zara reconhece trabalho irregular em 3 confecções de SP

http://www1.folha.uol.com.br/mercado/961047-zara-reconhece-trabalho-irregular-em-3-confeccoes-de-sp. 140

17/08 2.Internautas atacam Zara após denúncia de trabalho escravo – redes sociais http://www1.folha.uol.com.br/mercado/961145-internautas-atacam-zara-apos-denuncia-de-trabalho-escravo

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18/08

3.Editora de Moda comenta trabalho irregular em confecções da Zara http://www1.folha.uol.com.br/multimidia/videocasts/961400-editora-de-moda-comenta-trabalho-irregular-

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18/08 4.Voltar para a Bolívia não é uma opção, diz vítima de exploração em SP http://www1.folha.uol.com.br/bbc/961680-voltar-para-a-bolivia-nao-e-uma-opcao-diz-vitima-de-exploracao-

27

18/08 5.Zara revisará condições trabalhistas de fornecedores no Brasil http://www1.folha.uol.com.br/mercado/961715-zara-revisara-condicoes-trabalhistas-de-fornecedores-no-

3

18/08 6.Multas trabalhistas aplicadas à Zara somam R$ 1 milhão http://www1.folha.uol.com.br/mercado/961717-multas-trabalhistas-aplicadas-a-zara-somam-r-1-milhao.

108

18/08 7.Mais 6 marcas serão investigadas por trabalho irregular http://www1.folha.uol.com.br/mercado/961951-mais-6-marcas-serao-investigadas-por-trabalho-irregular.

160

19/08 8.Ação da Inditex, dona da Zara, cai 4% por denúncias em SP http://www1.folha.uol.com.br/mercado/962136-acao-da-inditex-dona-da-zara-cai-4-por-denuncias-em-sp.

26

19/08 9. 35 marcas de roupa são investigadas por trabalho irregular http://comentarios.folha.com.br/comentarios?comment=227839&site=folhaonline&skin=folhaonline

74

28/08 10.Assembleia convocará Zara para esclarecer trabalho degradante http://www1.folha.uol.com.br/mercado/967155-assembleia-convocara-zara-para-esclarecer-trabalho-

1

31/08 11.Ausência da Zara em assembleia pode resultar em CPI http://www1.folha.uol.com.br/mercado/968481-ausencia-da-zara-em-assembleia-pode-resultar-em-cpi.shtml

7

15/09 12.Zara anuncia a criação de disque-denúncia http://www1.folha.uol.com.br/mercado/976048-zara-anuncia-a-criacao-de-disque-denuncia.shtml

19

15/09 13. Zara aguarda Ministério Público para indenizar trabalhadores http://www1.folha.uol.com.br/mercado/975679-zara-aguarda-ministerio-publico-para-indenizar-

5

21/09 14.Presidente da Zara nega que sabia de trabalho irregular em SP http://www1.folha.uol.com.br/mercado/978660-presidente-da-zara-nega-que-sabia-de-trabalho-irregular-em-

17

15/10 15.Ministério Público propõe que Zara pague até R$ 20 mi http://www1.folha.uol.com.br/mercado/991030-ministerio-publico-propoe-que-zara-pague-ate-r-20-mi.shtml

39

30/11 16.Fracassa acordo entre Zara e Ministério Público http://www1.folha.uol.com.br/mercado/1014367-fracassa-acordo-entre-zara-e-ministerio-publico.shtml

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19/12 17.Procuradoria desiste de indenização de R$ 20 mi contra a Zara 26

 

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http://www1.folha.uol.com.br/mercado/1023480-procuradoria-desiste-de-indenizacao-de-r-20-mi-contra-a-z 715 * Q = quantidade de comentários Fonte: dados de pesquisa

Quadro 1 – Notícias veiculadas sobre o trabalho escravo na Zara no Estadão.com.br (2011) Data Notícia e link Q* 17/08 18.Fiscalização flagra trabalho escravo em oficinas da marca Zara em SP

http://economia.estadao.com.br/noticias/negócios,fiscalizacao-flagra-trabalho-escravo-em-oficinas-da-marca- 28

18/08 19.Zara é envolvida em denúncia de trabalho escravo http://economia.estadao.com.br/noticias/negócios,zara-e-envolvida-em-denuncia-de-trabalho-

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19/08 20.Após Zara, trabalho escravo é investigado em 20 grifes http://economia.estadao.com.br/noticias/negócios,apos-zara-trabalho-escravo-e-investigado-em-20-grifes,80827

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29/08 21.Deputados convocam Zara para explicar trabalho escravo http://economia.estadao.com.br/noticias/negócios,deputados-convocam-zara-para-explicar-trabalho-escravo

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31/08 22.Acusada de trabalho escravo, Zara não comparece em audiência http://economia.estadao.com.br/noticias/negócios,acusada-de-trabalho-escravo-zara-nao-comparece-em-

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14/09 23.Após flagra, Zara cria linha para denúncias de trabalho escravo http://economia.estadao.com.br/noticias/negócios,apos-flagra-zara-cria-linha-para-denuncias-de-trabalho-

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20/12 24.MP dá 'desconto' de 80% na multa da Zara por trabalho escravo http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,mp-da-desconto-de-80-na-multa-da-zara-por-trabalho-escravo-,

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30/12 25.Ministério inclui 52 novos nomes na lista do trabalho escravo http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,ministerio-inclui-52-novos-nomes-na-lista-do-trabalho-escravo

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* Q = quantidade de comentários Fonte: dados de pesquisa

4 Os elementos orientadores da análise A mídia desempenha um papel relevante na organização da vida social, bem como na

produção de sentidos, valores e crenças sociais (Fairclough, 1995; Fowler, 1996). As notícias veiculadas na mídia participam da construção de representações de mundo, identidades sociais, e, ainda, constroem versões da realidade conforme determinados propósitos (Li, 2009), pois os textos são organizados, produzidos e transformados dentro de um processo de construção ideológica. Nesse sentido, a mídia como uma instituição social discursiva participa da construção de representações sobre as organizações e sua atuação, trazendo implicações para a produção de concepções acerca dos fatos noticiados sobre as mesmas.

Os textos são discursos (Fairclough, 1993), e, enquanto tais, são produzidos na prática social, por conta das interações cotidianas nas quais se estabelecem as relações entre os sujeitos, independentemente de sua presença. Dessa forma, as notícias veiculadas na imprensa são práticas sociais que produzem, reproduzem e mantém ou transformam as representações e visões do mundo. Aqueles que produzem a notícia o fazem de um jeito próprio (Pinto, 1999), ou seja, conforme as suas próprias concepções de mundo, silenciando-se ou não a respeito de quaisquer fatos que dela fazem parte, pois todo texto comporta razões sociais distintas (Fairclough, 1993), sendo, portanto, produzidos a partir de outros textos.

Os leitores da notícia a recebem, a interpretam e, a partir dela, criam outros textos, lançando mão, ainda, de outros textos. No caso das notícias veiculadas eletronicamente, em webjornais ou jornais online, os internautas podem postar comentários de modo a externalizar a sua opinião sobre o assunto noticiado, lançando mão de outros discursos já existentes, o que lhes confere o caráter da intertextualidade (Kristeva, 1986; Fairclough, 1992). Os comentários de internautas são compostos de fragmentos de outros textos ou discursos, que podem ser identificados ou não.

As notícias sobre as organizações são consideradas, então, capazes de produzir sentido sobre, entre outros aspectos, o que essas são, o que fazem e como fazem, servindo de fragmento para a composição de outros discursos. Esses, por sua vez, adicionados a outros já existentes, reproduzem e ou transformam representações sociais, crenças e valores sobre as organizações e contexto socioeconômico e cultural do qual fazem parte.

 

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Nesta pesquisa, adotamos a intertextualidade conforme Fairclough (1992) que, inspirado em Bahktin, Foucault e Kristeva, a define como a propriedade que os textos têm de se constituirem de fragmentos de outros textos, que podem ser delimitados explicitamente ou não, e, ainda, os textos podem transformar textos anteriores e reestruturar convenções existente. Nessa perspectiva, textos ou discursos são intertextos (Kristeva, 1986) e, ainda, conforme Foucault (2007), todo enunciado, de uma forma ou de outra, reatualiza outros, pois cada texto ou discurso ganha um novo significado em sua relação com outros textos.

A intertextualidade, para Kristeva (1986, p. 39), implica “na inserção da história (sociedade) dentro do texto e deste texto, dentro da história”. A intertextulidade carrega a noção de que um texto ou um discurso não é único ou inédito, pois sempre traz referências (implícitas ou explícitas) a outros textos ou discursos aos quais os autores tiveram acesso, envolvendo, assim, conhecimento de outros textos e representações discursivas na análise de qualquer texto (Kristeva, 1986).

Fairclough (1992) propõe a análise intertextual em dois aspectos: (1) intertextualidade manifesta – os textos aos quais o autor recorreu estão explícitos dentro do texto analisado, marcados por aspas ou mesmo por outros elementos; e (2) intertextualidade constitutiva ou interdiscursividade – os tipos de discurso, as configurações discursivas que entram na sua produção.

Quanto à intertextualidade manifesta, Fairclough (1993) a discute em cinco aspectos: (1 ) representação do discurso – aquele discurso que é relatado pelo autor, se distinguindo do discurso indireto por representar, explicitamente, o que o outro disse; (2) pressuposições – proposições tomadas pelo autor do texto como estabelecidas, podendo ter intenção manipulativa ou não; (3) negação – contestação de outros textos, buscando contradizê-los; (4) ironias - disparidade entre um enunciado e o que foi ecoado, ou seja, não há uma relação entre o significado, ou função real do enunciado, e o que foi ecoado; e (5) metadiscurso – distanciamento do autor por meio de expressões evasivas, metáforas e outros recursos.

A interdiscursividade ou intertextualidade constitutiva refere-se à “constituição heterogênea de textos a partir de elementos da ordem do discurso” (Fairclough, 1993, p. 85). Ao contrário da intertextualidade manifesta, em que os textos aos quais o autor recorre aparecem de forma explícita, na interdiscursividade, outros textos existem na forma de ordens de discurso.

Para Fairclough (1993), ideologias são significados ou representações da realidade gerados entre as relações de poder que se manifestam, implicitamente, nas práticas discursivas, em todas as instâncias e contextos sociais, contribuindo para estabelecer, manter e mudar as relações sociais. Assim, ideologias subjazem a intertextualidade manifesta e discursiva.

Em nossa análise (Figura 1), considerando o caráter intertextual dos comentários selecionados, procuramos analisá-los focalizando os textos específicos aos quais os internautas recorrem (intertextualidade manifesta), os tipos de discursos (intertextualidade constitutiva) e, por fim, as ideologias. Ressaltamos que, dado o caráter qualitativo da pesquisa, nos preocupamos em identificar os elementos de análise, sem nos importar com a sua quantificação. Figura 1: Análise intertextual de comentários de internautas sobre trabalho escravo

 

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Fonte: elaborado pelos autores

Para operacionalizar nossa proposta, criamos um arquivo para cada uma das

reportagens e seus comentários, deixando um espaço para a codificação da interpretação e para identificação do comentário. Cada comentário recebeu um número para sua identificação na notícia (p. ex. C1.1 refere-se ao comentário 1 da notícia 1). Em seguida, analisamos os comentários buscando identificar os elementos da análise intertextual (Figura 1), os quais apresentamos, na seção a seguir.

5 A intertextualidade nos comentários de internautas sobre trabalho escravo

Nesta seção, apresentamos os resultados em três aspectos da análise intertextual. Intertextualidade Manifesta: os fragmentos

Os comentários de internautas sobre o trabalho escravo, um crime corporativo, são constituídos de fragmentos de outros textos que dialogam entre si. Esses textos expressam as representações de mundo dos internautas sobre o assunto em foco e, tecidos com outros textos formam a trama do texto que, conforme Fairclough (1992), pode ser reconhecida pela representação do discurso, pressuposições, metadiscurso, negação e ironias.

A representação do discurso (discursos relatados) é manifestada por várias vezes nos comentários analisados. O programa Liga, da rede Bandeirantes de Televisão, é citado em vários comentários por ter realizado uma reportagem sobre o assunto, como exemplos o C 39. 1 e C35.1: “Eh Pholha! Tá atrasada! "A LIGA" mostrou essa matéria ontem, em furo de reportágem, inclusive, cobrindo a ação dos fiscais do trabalho e da receita. Eh jornaleco atrasado sô!” (C39.1), e “ Será que se o programa "A Liga" não tivesse mostrado os trabalhadores, os diretores da tal marca Zara teriam reconhecido o trabalho irregular na confecção?”(C35.1). Os internautas recorrem a outro texto, no caso o programa televisivo, para comentar a notícia da Folha.com, mostrando que o trabalho escravo é um fato de seu conhecimento, porém, restrito a outros ramos.

Parabens ao pessoal da Liga pela reportagem, sobre trabalho escravo. Que carvoeiro tem trabalho escravo, todos ja sabíamos, mas rede de loja multinacional, metida a bacana explorando a miséria de trabalhadores é imperdoável. nunca mais compro na rede ZARA. É uma vergonha (C36.1).

Além do programa Liga, outros discursos são representados relatando que a prática de trabalho escravo ocorre em outros locais, como é o caso da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (ABIT): “No Camboja, os funcionários de uma oficina, que produz peças para a Zara, desmaiaram durante o expediente. O incidente, que aconteceu no dia 25 de julho, atingiu cerca de 100 colaboradores da fábrica. Pode confirmar no site www.abit.com.br” (C12.1) e do Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão: “De acordo com reportagem de ontem do Jornal Nacional, os bolivianos recebem vinte centavos por peça costurada. Isso é exploração, é escravidão!”(C.78.1), em que o internauta interpreta o fato como trabalho escravo.

O texto religioso também é representado de forma explícita, no C3.25, quando o internauta evoca a bíblia: “A bíblia FUNDAMENTA a escravidão! Levítico 25:44 E quanto a teu escravo ou a tua escrava que tiveres, serão das nações que estão ao redor de vós; deles

 

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comprareis escravos e escravas”. Os internautas utilizam, ainda, trechos da notícia para reforçar sua opinião, não sobre o trabalho escravo, mas sobre a ineficiência do sistema, como no caso do C5.12, a seguir. O trecho da notícia é identificado com aspas e o comentário ganha a extensão de outros fatos do cenário político nacional, utilizando-se da ironia.

"A empresa também disse que conta com cerca de 50 fornecedores fixos, que somam mais de 7.000 colaboradores, e que possui um sistema de auditoria anual das condições de trabalho em seus fornecedores." É QUE ELES CONTRATARAM AUDITORES CEGOS, SURDOS E MUDOS. POR ISSO NÃO SABIAM DE NADA. APRENDERAM RÁPIDO COM NOSSO EX. (C5.12)

Os internautas fazem ironias (p.ex.: “ ‘Parece que descobriram a pólvora.’ (C1.1)”).quanto às denúncias e notícias, expressando que esse fato não deveria surpreender, pois é algo comum para a população.

No comentário C3.3, o internauta relata o discurso de uma entrevistada, para, ao mesmo tempo, fazer uma negação , apontar que o dito da entrevistada é “um absurdo”, sugerindo que conhece a definição de trabalho escravo. “Desde quando pagar pouco por muito trabalho é uma definição de trabalho escravo ? Foi isto que a Editora de Moda disse e é absurdo” e, ainda, o metadiscurso: “Então, a maioria dos trabalhadores no Brasil, e em outras partes do mundo, é escrava ( talvez até alguns dentro da Folha/UOL) !” (C3.3).

Identificamos, nos comentários dos internautas, várias pressuposições, como o C3.25 que pressupõe o desprezo da empresa pelo ocorrido: “Ixe... os caras [Zara] não estão nem ai...”. Ainda, no comentário C20.5, por exemplo, o internauta manifesta ser o trabalho escravo algo comum nas políticas das empresas espanholas, sendo o lucro “mais importante”:

Essa conversa toda para esses espanhoes é mole para boi dormir. O intuito deles, a visão de America, sempre foi de exploração e colonias. Eles vão esfriar o assunto até que não se lembrem mais (entenda-se corromper alguns). A politica das empresas desse pais sempre foi de despreso pelos Sul Americanos e o mais importante é levar o maximo de lucro, doa a quem doer. Essa cambada deveria levar um belo sermão e serem convidados a se retirar do pais (C20.5).

No comentário C23.2, as pressuposições do internauta a respeito das grandes fortunas é de que as mesmas são conquistadas à custa de exploração:

Sempre atrás de grandes fortunas existem grandes segredos, Sugeiras.Roubos, desonestiades, tranbicagens, manipulçôes, Mentiras, trapaças, exploraçõese todo tipo e estilos de ladroagens enriquecimento elícitos. Que às vezes são comviventes com justiça e poder público... Ou Será que algum se esqueceu da daslú (C23.2).

Ao analisar a intertextualidade manifesta nos comentários dos internautas, identificamos fragmentos explícitos de vários outros textos. A representação do discurso de associações, jornais televisivos e eletrônicos, entre outros, indica que os internautas expressam sua visão de mundo, especificamente a respeito do trabalho escravo, a partir de outros textos aos quais tiveram acesso. Identificamos, ainda, o discurso de Karl Marx representado no C (10.25): “E ainda dizem que os preceitos do velho Marx estão ultrapassados!”, em que o internauta faz referência à exploração do trabalhador pelo capitalista como algo atual, ao contrário de outros textos (não identificados) que as ideias marxistas ultrapassadas. Não identificamos a representação de discursos diretos sobre o trabalho escravo como um crime corporativo ou, ainda, referência a textos (livros, filmes, artigos, entre outros) que tratam do assunto.

Ao expressar sua visão de mundo, os internautas utilizam-se da ironia que, conforme Flairclough (1993), ocorre quando há dissonância entre o significado do texto e o contexto no qual o mesmo está inserido. Quanto ao aspecto da negação, os internautas contestam as notícias, principalmente quando se referem às ações do Estado. O metadiscurso, que se caracteriza por expressões próprias de modo que o autor distinga seu próprio texto (Flairclough, 1993), foi por nós identificado, várias vezes, quando os internautas apresentam suas conclusões.

 

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Ainda, os internautas expressaram suas pressuposições acerca do trabalho escravo, sendo as mais comuns: (a) as multinacionais exploram o trabalhador; (b) o trabalho escravo deve ser combatido pelo Estado; (c) o trabalho escravo é algo comum no Brasil e no mundo; (d) o trabalho escravo é fruto, hoje, de uma longa história de escravidão.

Intertextualidade Constitutiva: os temas discursivos

A intertextualidade constitutiva ou interdiscursividade ocorre quando o autor do texto recorre a outros de forma implícita, evocando discursos “produzidos no interior de uma instituição social”(Foucault, 1977). Nesta seção, apresentamos os temas discursivos mais recorrentes nos comentários dos internautas, observando que não são os únicos.

Tema 1: O Estado, por ser ineficiente e corrupto, é culpado pelas empresas adotarem o trabalho escravo como prática

Esse é um discurso bastante recorrente. Ainda, o Estado é o verdadeiro culpado, e não a empresa, pois ele favorece essas práticas ao regulamentar a terceirização.

[...] Acusar estas empresas de trabalho escravo é no minimo precipitação. O serviço terceirizado no pais nada mais faz do que contribuir para a miséria absoluta do trabalhador, afinal coloca um terceiro no meio da relação que não tem o menor escrúpulo. O que de fato esta errado não é a iniciativa da Zara ou de outras empresas citadas, mas sim a possibilidade que a lei cria com a terceirização. TERCEIRIZAR (falsa terceirização) é um cancro para o direito do trabalho, favorece apenas o terceiro pilantra e principalmente as empresas oportunistas. O ESTADO É O VERDADEIRO VILÃO DESTA SITUAÇÃO. e olha que sequer citei as tais cooperativas de trabalho (C3.18)

Tema 2: A população deve boicotar as empresas que utilizam o trabalho escravo e cometem outras práticas abusivas

Identificamos, em muitos comentários, outros textos implícitos, como o discurso do “consumo consciente”.

Vamos ser consumidores conscientes. Não compre nada de empresas que usam trabalho escravo ou infantil. Mostre sua indignação. Rejeite estas marcas. Avise a todos os seus contatos. Divulgue esta notícia. Vamos fazer valer nosso direito. Quem não age direito tem de ser denunciado” (C9.1)

Os clientes e consumidores são chamados para dar exemplo e boicotar a empresa. O discurso da força do cliente também é evocado no comentário C2.2: “Vamos dar o exemplo e boicotar essa empresa. Não precisamos esperar a justiça formal.Cada um de nós que boicotar essa empresa, ajudará a mostrar o quanto isso é inaceitável. Justiça maior será a loja fechar as portas por falta de consumidores.Esse poder está nas nossas mãos”.

Tema 3: As empresas são “psicopatas sociais”, seus lucros são tão altos que compensam qualquer multa

Os empresários agem no sentido de servir aos interesses de acumulação de capital. (Motta, 1981,1992; Tragtenberg , 2005) , portanto, as multas legais são insignificantes (Morgan, 1996). As corporações ganham personalidade psicopata no C12.14 quando os internautas usam textos sobre o capitalismo selvagem, entre outros.

Multinacionais em geral sao psicopatas sociais. Elas pouco se importam com o social. Usam a população desprotegida para chegar por qqer meio ao lucro. Eles mentem ao dizendo nao ter culpa mas esse eh so mais um sintoma de psicopatia. Tao pouco mostram remorsos ou qqer outro sentimento em relação danos causados ao proximo. Sao frutos do capitalismo 'selvagem'. Sabem usar a midia muito bem para nos fazer acreditar numa falsa democracia. Infelizmente, muitos sao iludidos p/ seus falsos valores (C12.14).

Vejam os exemplos dos Empresarios do Ano no Brasil, comandam Cadeias enormes, movimentam milhoes de mercadorias, empregam milhares de pessoas, mas

 

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nao abaixam a rentabilidade para melhorar as condições de seus empregados...Pagam salarios minimos. Eles realmente se importam ? (C 1.14)

Tema 4: As empresas são vítimas, ou porque os empresários não sabem o que fazem

seus fornecedores ou os impostos e taxas são tão altos que é impossível arcar com os mesmos O C1.1 coloca a Zara como vítima, e, de forma contraditório, não tira a sua culpa de

comprar “destas empresas”: “COMO É A ZARA ESTÃO FAZENDO ESTE AUE TODO´. NOTE QUE A ZARA É COMPRADORA DESTAS EMPRESAS, PORTANTO ELA TAMBÉM É VITIMA. ISTO NÃO TIRA A CULPA DELA. TEM COISA PIOR” (C1.1).

A esse respeito, Alexander e Cohen (1996) e Simpson e Piquero (2002) associam os crimes corporativos ao desempenho anterior e às pressões e barreiras para obter desempenho superior. O resultado disso é que os crimes corporativos são incentivados pela estrutura, pelos processos e cultura da empresa.

Tema 5: A sociedade é hipócrita, pois o trabalho escravo é uma prática comum das

empresas Em muitos comentários, o interdiscurso é de que “Isso nao é novidade para

ninguém.Nao é somente a Inditex (Zara) que faz isso” (C4.1). O trabalho escravo é uma prática comum, estando à vista de qualquer pessoa que queira confirmar.

É SÓ IR NA JOSÉ PAULINO E ADJACÊNCIAS E OLHAR PARA OS ANDARES SUPERIORES DAS LOJAS. SÃO ANTRO DE PRISÕES DE COREANOS, CHINESES, BOLIVIANOS QUE EM TROCA DE COMIDA E ABRIGO SE DIPÕEM A TRABALHOS QUE CHEGAM ATÉ MESMO A PROSTITUIÇÃO DE MENORES. É SÓ IR LA E CONFIRMAR. MAS...(C1.1)

Ainda, no comentário de C2.1, o internauta manifesta sobre a continuidade dessa prática, ao questionar se alguém vai deixar de comprar. Mas as roupas e demais acessórios (eletrônicos, tênis, etc) vendidos na Zepa (R. José Paulino) e 25 de março também não são oriundas de trabalho escravo ? E alguém deixa de comprar ????????? (C2.1).

Ideologias corporativas Para finalizar nossa análise, identificamos que a interação entre os significados e visões de mundo expressas nos comentários dos internautas, apesar de não reproduzirem as ideologias corporativas, essas são utilizadas como um esforço para compreender e explicar por que o trabalho escravo é uma prática adotada pelas empresas. Dentre as ideologias corporativas manifestadas, apresentamos, a seguir, as duas mais significativas, as quais fazem parte dos pressupostos da “cultura do management”(Wood Jr & Paula, 2006).

1 - As tecnologias gerenciais, como a terceirização, permitem racionalizar as atividades organizacionais

A racionalização dos processos permite às empresas maior produtividade, trazendo consequências (Tragtenberg, 1974; 2005; Motta, 1981, 1992; Morgan, 1996 entre outros) para o trabalhador e a sociedade. A racionalização dos processos empresariais é uma ideologia gerencial (Barley, Meyer & Gash, 1988; Barley & Kunda, 1992), e, como tal, é utilizada para explicar porque ocorrem crimes corporativos:

Hoje a palavra de ordem é bater as metas, ganhar mais e gastar o minimo possível. Alguém de dentro da ZARA sabia sim dessas coisas, mas como vivemos no país na impunidade, é vantajoso continuar a economizar na mão-de-obra. Não se preocupem já já todo mundo esquece disso (C15.9) Toda terceirização carrega consigo o potencial de gerar a precarização das condições de trabalho. No serviço público, em todos os níveis, vemos exemplos similares. Medalhões ganham contratos milionários dos governos para prestar serviços de segurança, limpeza, transporte, etc. Esses medalhões terceirizam os serviços para os

 

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"gatos", e estes contratam "escravos", que receberão salários humilhantes e condições de trabalho abaixo da crítica. E la nave va... para deleite dos áulicos da privatização”(C20.8).

De acordo com os comentários, as organizações burocráticas e suas formas de dominação (Weber, 1991) constituem-se em um perigo para o trabalhador e sua liberdade, bem como coloca em abaixo os valores da democracia. Os gerentes e controladores e gestores (Tragtenberg, 2005; Bernardo, 2009) servem-se da racionalização administrativa da organização burocrática para explorar os empregados.

A exemplo do que Snider (2000) afirma, os grupos foram competentes em desenvolver um discurso sobre o que sejam crimes corporativos, mais compatível com seus interesses, pois são cometidos em nome da racionalidade organizacional.

2 - Sociedade de livre mercado Identificamos nos comentários que a crença em uma sociedade de livre mercado é

utilizada para explicar (sem justificar) as ações da empresa: “Incrível como o poder econômico com claro consentimentos de autoridades públicas ainda fazem com o trabalhador em pleno século XXI” (C5.1), referindo-se ao poder das corporações junto ao Estado. Esse poder é analisado por Motta (1981) que as considera um aparelho de Estado, cuja cuja função é reproduzir a sociedade de classes, do mesmo modo que as instituições religiosas, militares e educacionais.

Essa crença também está presente no comentário C3.3, o qual questiona sobre os deveres do Estado e a transferência de suas funções ao setor privado, o que Bernardo (2009) denomina de Estado Amplo. “Quer dizer que agora o trabalho de fiscalização quanto ao cumprimento da legislação trabalhista também cabe ao setor privado ? É mais uma função publica que está sendo transferida ao privado ?” (C3.3).

Para o internauta que postou o C5.7, a exploração faz parte do sistema capitalista. É tudo hipocrisia!Onde é que se viu o capitalismo sem a exploração.A gente é forçada a correr atrás dessas bobagens,sem o direito de se defender.A lavagem cerebal que nos leva atrás dessas besteiras acontece diaramente,sem darmos conta.Se hoje um miserável, que vive com menos de um dólor por dia, possa também ter iPod,mp4,celular e adidas, é graças a esses países chamados China e Índia.Porque não faz sentido alguém colocar diaramente um prato de comida à minha frente sem que possa degustá-la. (C5.7)

Ainda quanto a essa questão, a sociedade do consumo é referenciada: “A diferença de preço só demonstra como a sociedade se tornou tola no consumo. OU SEJA, DÁ PRA SE VESTIR MUITO BEM POR MUITO MENOS. NO MERCADO DE LUXO ENTÃO A DIFERENÇA DISPARA...somos vítimas dos nossos próprios valores” (C25.8).

É preciso reconsiderar o reducionismo legalista do conceito de crime corporativo (Mokhiber, 1995), pois isso acaba por ocultar as consequências reais , limitando esforços para iluminar caminhos que levem à sua evitação (Chikudate, 2009). Considerações finais sobre as concepções de crime corporativo nos comentários de internautas: Culpada ou inocente?

Nesta pesquisa, analisamos os comentários de internautas acerca de crimes corporativos, especificamente, em relação às denúncias de trabalho escravo contra a Zara, empresa do grupo espanhol Inditex.

Retomamos o título deste artigo na tentativa de esboçar uma resposta se a empresa é culpada ou inocente, conforme as concepções nos comentários de internautas sobre crimes corporativos. De modo geral, a empresa do caso ilustrado é culpada e vítima, embora, em alguns poucos comentários, internautas a tenham declarado inocente ou, ainda, tenham se mantido neutros, pois apreciam os produtos da marca. Quando a consideram culpada,

 

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utilizam, como explicações, o próprio sistema capitalista; o Estado, por sua benevolência e ineficiência; e, em algumas vezes, os próprios consumidores e trabalhadores, por aceitarem tais condições. Como vítima, a explicação mais recorrente é de que empresa, ao utilizar-se de serviços de terceiros, não tem a obrigação de fiscalizar o processo de trabalho deles.

Na análise dos textos e intertextos, as concepções que envolvem o crime corporativo, neste caso ilustrado pelo trabalho escravo, podem ser sintetizadas da seguinte forma: (1) o crime corporativo compensa, financeiramente, para a corporação – assim, deve ser punido não só com multas, mas, sim, de forma mais severa; (2) o crime corporativo deve ter fiscalização mais intensa por parte do Estado; (3) o crime corporativo é inevitável, pois o que interessa é a obtenção de maiores lucros; (4) o crime corporativo continuará a existir, pois a população aceita que ele ocorra, adquirindo os produtos da empresa e ignorando esse tipo de fato. O fato é que os crimes corporativos são evitáveis, porém, a um custo que as corporações não querem assumir (Mokhiber, 1995) e adotam práticas como o trabalho escravo cujo custo é da sociedade em geral (Clinard et al., 1979), gerandoo que Chikudate (2009) denomina de miopia coletiva (Chikudate, 2009) que pouco associa a palavra crime aos acontecimentos do ambiente empresarial.

Destacamos que, ao iniciar esta pesquisa, o fizemos considerando-a como um ponto de partida para outros trabalhos, visto que o tema crimes corporativos ainda é pouco explorado no campo dos estudos organizacionais. Diante disso, vislumbramos outras possibilidades que possam ampliar esta pesquisa, como: (a) considerar outros tipos de crimes corporativos para análise; (b) estabelecer comparações entre os comentários de internautas em relação aos outros tipos de crimes corporativos.

Ao considerarmos notícias jornalísticas sobre organizações, apontamos para outros atores na construção dos discursos sobre organizações, os jornais, o que consiste, a nosso ver, em uma contribuição desta pesquisa. Ainda, destacamos que a mesma contribui para ampliar os estudos que adotam a intertextualidade, um tipo de pesquisa ainda pouco explorado nos estudos organizacionais. Nesse sentido, sugerimos: (a) considerar o(s) texto(s) das notícias que estimularam os comentários; (b) analisar as conversas entre os internautas; (c) realizar comparações entre os comentários veiculados nos diferentes veículos.

Quanto à concepção de trabalho escravo, reproduzimos um comentário postado, no qual o internauta contesta a utilização do termo “escravidão” para referir-se às condições denunciadas no caso.

O termo "Escravidão" que está sendo usado é ridículo. Os trabalhadores podem ser irregulares por não serem registrados e receber baixo salário, mas nenhum deles é propriedade do dono da confecção e se estão lá é porque precisam do dinheiro do trabalho, mesmo que seja pouco. As portas estão abertas e eles tem liberdade para trabalhar em outro local. Agora perguntem pra eles o que eles preferem. O trabalho "escravo", como estão dizendo, ou o desemprego?

Finalizando, deixamos um comentário postado cujas ideias foram recorrentes: os crimes corporativos estão envoltos em uma rede de agentes, entre empresas e governos, dificultando a sua evitação.

Cadeia nessa empresa ZARA, multinacional da moda escravista, deve ter aprendido com as elites brasileiras escravistas, cadeia nestes empresários corruptos e corruptores dos trabalhadores e dos serviços públicos. Temos que acabar com esses corruptores antes que eles acabem com o Brasil. Apenas assim acabará a corrupção no país. Esses capitalistas corruptores são os patrocinadores dos corruptos, pagando propinas para receberem em dobro do ESTADO, gerando corruptos públicos e privados (C2.9).

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