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6º Seminário Nacional Estado e Políticas Sociais e 2º Seminário de Direitos Humanos Crise e desmantelamento das políticas sociais na União Europeia: fim da referencia para América Latina? Luis Enrique Casais Padilla Professor Visitante Universidade Federal de Espírito Santo. UFES UNIOESTE. 17 Setembro 2014 Esta palestra tornou-se possível com o apoio do Programa Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). 1

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6º Seminário Nacional Estado e Políticas Sociais e 2º Seminário de Direitos Humanos

Crise e desmantelamento das políticas sociais na União Europeia: fim da referencia para América Latina?

Luis Enrique Casais Padilla

Professor Visitante

Universidade Federal de Espírito Santo. UFES

UNIOESTE. 17 Setembro 2014

Esta palestra tornou-se possível com o apoio do Programa Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). 1

Objetivos

1. Marco histórico, político e econômico das políticas sociais: a conformação dos Estados de Bem estar na Europa

2. Crise, ajuste e seus efeitos sobre os Estados de bem- estar

3. Estado de bem-estar e América Latina: “Contradictio in terminus?”

Conclusão

Índice

2

O principal objetivo é reflexionar sobre a problemática geral atual das políticas sociais sob a crise do capital.

Para tratá-lo se vai mostrar o caso dos desmantelamentos dos Estados de bem estar na Europa, pois durante décadas eles foram o exemplo a seguir e a alcançar por muitos países da América Latina.

Objetivos

3

1. Marco histórico, político e econômico das políticas sociais na Europa

4

5

7,3 3,2

25,7

34

0

20

40

60

80

100

Poblaçao Superficie Produçao Comércio

Peso da UE no mundo (vários indicadores, 2010)

Fuente: World Bank Database, 2012

Marco histórico, político e econômico da Europa

O Estado do bem estar, ao contrário da crença popular, não foi o resultado da chegada dos partidos social-democratas aos governos europeus.

• Em países importantes como Alemanha, França ou Itália, por exemplo, o estado de bem-estar foi construído principalmente por governos cristãos conservadores.

• Da mesma forma, a partir dos anos noventa, os governos social-democratas em países como a Alemanha, (Gerhard Schroeder), o Reino Unido (Tony Blair), a Itália (Bettino Craxi), etc., contribuíram para o desmantelamento dos estados do bem estar.

• Na verdade, esta história mostra que nas alternâncias de diferentes partidos no governo não envolvem mais do que meras alterações não substanciais em fantasia de que existe uma democracia liberal.

6

Marco histórico, político e econômico da Europa

A Europa depois da II Guerra Mundial. 1945

7

O período pós-guerra (1945-70)

Lógica de acumulação

Eliminação obstáculos valorização

Expansão do Sistema Capitalista Mundial (SCM)

– Integração para formar um mercado maior

Contexto histórico

II Guerra Mundial

Crise dos anos setenta

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Contexto anterior:

Regulamentação nacional

Conquistas sociais históricas dentro de Estado-nação

Após a Segunda Guerra Mundial

Regulamento Internacional

– Plano Marshall

– Integração Financeira Internacional (IFI)

– Empresas Transnacionais (ETN)

9

O período pós-guerra (1945-70)

Igualdade

Mercado de trabalho

Regulação e políticas de

trabalho

Sistema

tributário

Salário

social

A dinâmica de

crescimento

Quadro Político-social

Seguridade econômica

Sistema redistributivo

Objetivos

Instrumentos

Áreas explicativas

Estado do Bém-Estar

O pleno emprego

Fuente: Luis Buendía García

Modelo de desenvolvimento social da União Europeia

10 10

Modelo Anglo-saxão (Reino Unido / Irlanda).

O motor inquestionável do processo (atual) é o mercado e a iniciativa individual com ampla autonomia política.

• Assistência social como um último recurso,

• Baixos níveis de proteção do emprego

• Baixos salários mínimos

• Altos níveis de desigualdade salarial

• Elevada concentração de gasto em pensões

• Alta segmentação dos direitos à ajuda.

• Sistema de tributação eficiente

O desenvolvimento dos sistemas de proteção social: Diferentes

Estados de bem-estar na Europa

11

Modelo Continental (Áustria, Bélgica, França, Alemanha e Luxemburgo) e Modelo nórdico (Escandinávia, Finlândia, Países Baixos)

Um alto nível de segurança para os trabalhadores,

Um forte apoio nas políticas ativas de emprego

Baixa desigualdade

Altos níveis de tributação dos rendimentos do trabalho

Altos níveis de educação

Níveis elevados da atividade governamental

Subsídios generosos e generalizados

Altos níveis de compressão dos salários

Poder relativo dos sindicatos e negociação centralizada

O desenvolvimento dos sistemas de proteção social: Diferentes

Estados de bem-estar na Europa

12

Modelo Mediterrâneo (Itália, Espanha, Portugal, Grécia)

Num sentido, o modelo Latino é um modelo fracassado.

• Ausência de definição inicial dos direitos de propriedade e dum sistema legal e judicial para garanti-los.

• Forte peso da produção agrícola tradicional - cujos interesses dominam o sistema político

• Baixo crescimento da produtividade / desacelerou mudança ao capitalismo

• Ação distributiva ineficiente.

• Baixa capacidade do Estado de fornecer bens públicos,

• Fracasso endêmico e combinação sub-ótima de investimento em infraestrutura, condicionada pelo sistema de financiamento (ineficiente sistema tributário).

O desenvolvimento dos sistemas de proteção social: Diferentes

Estados de bem-estar na Europa

13

2. Crise, ajuste e seus efeitos sobre os Estados de bem-estar

14

Crise, ajuste e seus efeitos sobre os estados de Bem estar

* A eficiência marginal do capital é calculado como (PIBt--‐PIBt--‐1)/(FBKFt--‐1+FBKFt)

Fuente: AMECO, 2012.

Eficiência marginal do capital, a economia total, 1960--‐2011, UE--‐12

15

* Nós definimos a produtividade do capital, como o PIB constante por unidade de estoque de capital líquido. Fuente: AMECO, 2012.

A produtividade do capital, a economia global, 1960--‐2011, UE--‐12

Crise, ajuste e seus efeitos sobre os estados de Bem estar

16

17

Crise, ajuste e seus efeitos sobre os estados de Bem estar

A crise mundial: Crise de rentabilidade

Esgotamento do padrão anterior de acumulação

– Abrandamento do investimento

– Redução da produtividade

– Menos taxa de progresso tecnológico

– Inflação e desemprego: estagflação

– Os preços da energia

→Ajuste e regressão social

Crise • Ajustar Crise

18

Crise global e reajuste salarial

Novo papel do Estado

Não desaparece

“Tem havido uma reconfiguração radical das instituições e

práticas estatais" Harvey (2007)

Clima ideal para valorização do capital (contra os direitos

sociais)

Defesa do sistema financeiro

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Após a crise dos anos 70

Governo dos mercados: remover os obstáculos à D-D’

Flexibilização laboral

Liberalização comercial

Apertura financeira

– Dívida como alavanca para objetivos particulares

Austeridade

Flexibilidade

Fim último elevação das taxas de lucro

20

Após a crise dos anos 70

Desaceleração do crescimento econômico e hipertrofia financeira 1970 2009

Fuente: Banco Mundial y Bank For International Setlements (BIS) 21

Crise, ajuste e seus efeitos sobre os estados de Bem estar

Vários fatores (década 1990):

• o declínio e a queda final do bloco soviético;

• fragmentação das classes trabalhadoras em setores com interesses por vezes conflitantes,

• fragmentação devido às novas formas de produção;

• Crescimento de setores sociais enquadrado em uma maioria "classe média";

• Globalização e offshoring de processos de produção industrial;

• Assimilação e institucionalização dos partidos políticos socialdemocratas e sindicatos;

• Descrédito dos sindicatos e os partidos comunistas resultado do fiasco histórico do modelo soviético;

• Desaparecimento de alternativas reais ao capitalismo tanto a nível sócio-político e programático, como puramente intelectual.

O estado de bem-estar, um contrato social quebrado

22

Igualdade

Mercado de trabalho

Regulação e políticas de

trabalho

Sistema

tributário

Salário

social

A dinâmica de

crescimento

Quadro Político-social

Seguridade econômica

Sistema redistributivo

Objetivos

Instrumentos

Áreas explicativas

Estado do Bém-Estar

O pleno emprego

Fuente: Luis Buendía García

Modelo de desenvolvimento social da União Europeia

23 23

Consolidação orçamental

Confiança dos

mercados

internacionais

de dívida

Reestruturação

dos mercados

de trabalho

Objetivos

princípios

ideológicos

crescimento econômico e criação de empregos

Fuente: Elaboração própria

Estratégia da Troika para os países da União Europeia

medidas a

serem

aplicadas

Austeridade Reformas estruturais

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Crise como auge de tendências anteriores

– Crise econômica + crise política

– Austeridade recortes + ativação da população

– Acentuação da regressividade y diminuição da

capacidade de redistribuição do Estado

– … mas não desmontagem: há aspectos funcionais

para o capitalismo

Crise de 2008

25

3. Estado de bem-estar e América Latina: Contradictio in terminus?

Índice

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Cinco funções básicas:

Pacificação das relações sociais

Freio à mercantilização

Proteção social

Redistribuição

Desenvolvimento econômico

27

O Estado de bem-estar e América Latina

O Estado do bem-estar tem sido capaz de desenvolver funções por meio da

Tributação progressiva

O gasto público com uma forte componente social

Regulação principalmente no âmbito dos mercados do trabalho

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O Estado de bem-estar e América Latina

O crescimento econômico, em termos de aumento da

produção, não é sinônimo de desenvolvimento das forças

produtivas.

Aumentar as possibilidades materiais da sociedade: avanços

científicos e técnicos, melhor mão de obra qualificada, etc. não

envolvem melhorias para as condições de vida da população (a

classe trabalhadora).

Os requisitos do processo de acumulação impedem que isto

aconteça: as possibilidades genéricas de desenvolvimento das

forças produtivas são transmutadas em forças destrutivas.

29

O Estado de bem-estar e América Latina

O capital financeiro oligopolista se impõe na economia global

Resultado: tensão crescente sobre as forças produtivas.

Necessidades crescentes de destruição para obter uma maior acumulação capitalista (guerras, a exploração excessiva dos recursos naturais, mas especialmente a desvalorização da força de trabalho).

O capitalismo, impulsionado pelo lucro, deteriora em vez de melhorar as condições de vida das massas trabalhadoras,

atacando os direitos democráticos e os ganhos sociais.

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O Estado de bem-estar e América Latina

O fracassado Modelo Espanhol e América Latina

Primeira reflexão é que nenhuma prática institucional pode ser transplantada dum pais a outro. Especialmente nos Estados de bem-estar.

O rasgo mais destacável do modelo latino é um dirigismo do sistema político sobre os outros subsistemas sociais.

O fracasso do primeiro intento de modernização espanhol também foi pela incongruência eo desenvolvimento desigual entre os diferentes sistemas sociais.

A principal característica distintiva do fracasso histórico espanhol foi a insuficiência fiscal: incapacidade endêmica para aplicar políticas de bem estar. Fontes alternas de financiarão, que dificultaram o crescimento.

31

O Estado de bem-estar e América Latina

A acumulação de recursos humanos. Produto da inversão sustenido para aumentar sua qualidade, é o principal motor de desenvolvimento endógeno. O retraso espanhol é explicado também pelo fracasso neste item.

O isolamento é causa certa de subdesenvolvimento e desigualdade. (Na Espanha, a chegada da democracia)

A estabilidade forçada dos tipos de cambio; a expansão artificial e o controle da inflação baseados em políticas fictícias impostas pelo FMI impedem os avances dos desenvolvimentos auto sustenidos.

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O Estado de bem-estar e América Latina

Conclusão

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• O Estado de bem-estar não era uma fase adulta do capitalismo que se desenvolvia e tornou-se mais social, solidária e humana.

• Também não, o Estado de bem-estar foi o produto de uma burguesia europeia, mais generosa culta o tolerante do que o resto do planeta.

• Só foi o resultado de uma correlação de forças políticas, sócio-econômico e geoestratégico. Um produto do medo e de pactos de não-agressão

• Uma vez que a correlação de forças equilibrada rompeu em favor das elites econômicas, se abandona o pacto do Estado social e começa um processo para redefinir o modelo sócio-econômico europeu eo modelo Estado.

O estado de bem-estar

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• A “verdadeira” esquerda (Europeia e de América Latina) deve desenvolver uma estratégia que inclui toda a sociedade.

• Uma estratégia para fornecer uma visão verdadeiramente progressiva dos cidadãos que promovera tanto o fortalecimento da participação política através da democracia direta como a melhora da situação econômica dos trabalhadores.

• Mas isso não vai se conseguir sem luta. Hoje, as demandas comunitárias de grandes segmentos da população não tem espaço dentro da globalização capitalista das elites.

Conclusão final

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A origem do Estado social europeu foi o resultado

de um certo equilíbrio entre blocos econômicos,

políticos e militares conflitantes em disputa e entre

classes sociais antagônicas.

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Muito Obrigado