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– 19 – CRIANÇAS E ADOLESCENTES VÍTIMAS DE QUEIMADURAS: CARACTERIZAÇÃO DE SITUAÇÕES DE RISCO AO DESENVOLVIMENTO CHILDREN AND ADOLESCENTS VICTIMS OF BURNS: CHARACTERIZATION OF RISK SITUATIONS TO THE DEVELOPMENT Fabiana P. S. de Oliveira 1 Eleonora A. P. Ferreira 2 Shirley S. Carmona 3 Estudo parcialmente financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado do Pará (FAPESPA) processo número 020/2008. 1 Psicóloga, Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento, Universidade Federal do Pará. 2 Professora no Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento, Universidade Federal do Pará. 3 Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento, Universidade Federal do Pará, bolsista da FAPESPA. Correspondência para: Eleonora Arnaud Pereira Ferreira. End: BR 316, Km 2, Cond. City Park, Rua A, Casa 5, Atalaia, CEP: 67.013-070, Ananindeua-Pará, Fone: (91) 3235 3902 / (91) 8111 3915. E-mail: [email protected] Resumo: No Brasil acontece um milhão de casos de queimadura a cada ano, dos quais 40 mil demandam hospitalização. Ainda que o prognóstico para o tratamento da queimadura tenha melhorado nos últimos anos, ela ainda configura importante causa de mortalidade, além de resultar em morbidade pelo desenvolvimento de seqüelas. Este trabalho objetivou caracterizar a clientela pediátrica vítima de queimadura, atendida no Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência, PA, no período de um ano, e descrever os contextos em que os acidentes ocorreram, identificando situações de risco ao desenvolvimento do paciente. Participaram 164 acompanhantes de crianças/adolescentes vítimas de queimaduras. Utilizou-se: (a) roteiro de entrevista semi-estruturado com perguntas sobre dados sociodemográficos e questões referentes ao acidente que ocasionou a queimadura, e (b) roteiro de análise de prontuário. Os resultados apontam que a maioria das crianças/adolescentes vítimas de queimaduras era do sexo masculino (68%). A maioria permaneceu hospitalizada por um período igual ou inferior a 10 dias (n=53). O agente causador que apresentou maior freqüência foi líquido quente (56,71%), em crianças na faixa de 1 a 4 anos de idade. Os demais incluíam líquido inflamável, eletricidade, cinza e incêndio. Evidenciou-se a falta de conhecimento dos cuidadores acerca de características do desenvolvimento infantil, expondo a criança a condições de risco. Discute- se a possibilidade de programas de prevenção, tanto em nível primário (educação de pais sobre prevenção de acidentes domésticos), quanto em nível secundário e terciário (minimização das seqüelas resultantes da queimadura). Palavras-chave: queimadura; crianças; adolescentes; prevenção; acidentes domésticos. Rev Bras Crescimento Desenvolvimento Hum. 2009; 19(1): 19-34 PESQUISA ORIGINAL ORIGINAL RESEARCH Oliveira FPS, Ferreira EAP, Carmona SS. Crianças e adolescentes vítimas de queimaduras: caracterização de situações de risco ao desenvolvimento. Rev Bras Crescimento Desenvolvimento Hum. 2009; 19(1): 19-34.

CRIANÇAS E ADOLESCENTES VÍTIMAS DE QUEIMADURAS

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Crianças e adolescentes vítimas de queimaduras Rev Bras Crescimento Desenvolvimento Hum. 2009; 19(1): 19-34

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CRIANÇAS E ADOLESCENTES VÍTIMAS DE QUEIMADURAS:CARACTERIZAÇÃO DE SITUAÇÕES DE RISCO AO DESENVOLVIMENTO

CHILDREN AND ADOLESCENTS VICTIMS OF BURNS: CHARACTERIZATIONOF RISK SITUATIONS TO THE DEVELOPMENT

Fabiana P. S. de Oliveira 1

Eleonora A. P. Ferreira 2

Shirley S. Carmona 3

Estudo parcialmente financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado do Pará (FAPESPA) processo número020/2008.

1 Psicóloga, Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento, Universidade Federal do Pará.2 Professora no Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento, Universidade Federal do Pará.3 Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento, Universidade Federal do Pará, bolsista da

FAPESPA.Correspondência para: Eleonora Arnaud Pereira Ferreira. End: BR 316, Km 2, Cond. City Park, Rua A, Casa 5, Atalaia,CEP: 67.013-070, Ananindeua-Pará, Fone: (91) 3235 3902 / (91) 8111 3915.E-mail: [email protected]

Resumo:No Brasil acontece um milhão de casos de queimadura a cada ano, dos quais 40 mil demandamhospitalização. Ainda que o prognóstico para o tratamento da queimadura tenha melhoradonos últimos anos, ela ainda configura importante causa de mortalidade, além de resultar emmorbidade pelo desenvolvimento de seqüelas. Este trabalho objetivou caracterizar a clientelapediátrica vítima de queimadura, atendida no Hospital Metropolitano de Urgência eEmergência, PA, no período de um ano, e descrever os contextos em que os acidentes ocorreram,identificando situações de risco ao desenvolvimento do paciente. Participaram 164acompanhantes de crianças/adolescentes vítimas de queimaduras. Utilizou-se: (a) roteiro deentrevista semi-estruturado com perguntas sobre dados sociodemográficos e questõesreferentes ao acidente que ocasionou a queimadura, e (b) roteiro de análise de prontuário. Osresultados apontam que a maioria das crianças/adolescentes vítimas de queimaduras era dosexo masculino (68%). A maioria permaneceu hospitalizada por um período igual ou inferiora 10 dias (n=53). O agente causador que apresentou maior freqüência foi líquido quente(56,71%), em crianças na faixa de 1 a 4 anos de idade. Os demais incluíam líquido inflamável,eletricidade, cinza e incêndio. Evidenciou-se a falta de conhecimento dos cuidadores acercade características do desenvolvimento infantil, expondo a criança a condições de risco. Discute-se a possibilidade de programas de prevenção, tanto em nível primário (educação de paissobre prevenção de acidentes domésticos), quanto em nível secundário e terciário (minimizaçãodas seqüelas resultantes da queimadura).

Palavras-chave: queimadura; crianças; adolescentes; prevenção; acidentes domésticos.

Rev Bras Crescimento Desenvolvimento Hum. 2009; 19(1): 19-34 PESQUISA ORIGINALORIGINAL RESEARCH

Oliveira FPS, Ferreira EAP, Carmona SS. Crianças e adolescentes vítimas de queimaduras:caracterização de situações de risco ao desenvolvimento. Rev Bras CrescimentoDesenvolvimento Hum. 2009; 19(1): 19-34.

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Abstract:In Brazil it happens one million cases of burn every year, of the which 200 thousand isassisted in emergency services and 40 thousand its demands hospitalization. Although theprognostic for the treatment of the burn has gotten better in the last years, it still configuresimportant mortality cause, besides resulting in morbidity for the development of sequels.This work aimed at to characterize the patients pediatric burn victim, assisted in theMetropolitan Hospital of Urgency and Emergency (HMUE) of the metropolitan area ofBelém-PA, in one year; and to describe the contexts in that the accidents happened,identifying risk situations to the patient’s development. They announced 164 companionsof children/adolescents victims of burns. It was used: interview route semi-structured withquestions on partner-demographic data and referring subjects to the accident that causedthe burn, and route for analysis of the patient’s handbook. The results point that most of thechildren/adolescents victims of burns was of the masculine sex (68%). Most stayedhospitalized by a period to 10 days or less (n=53). The causal agent that presented largerfrequency was the category hot liquid (56,71%), in children about 1 to 4 years of age. Thecontexts in that the accidents happened they made reference to hot liquid, inflammableliquid, electricity, ash and fire. The lack of the caretakers’ knowledge was evidencedconcerning characteristics of the development of the children/adolescents, exposing thepatient to risk conditions. The possibility of prevention programs is discussed, so much inprimary level (parents’ education about prevention of domestic accidents), as in secondaryand tertiary level (minimize of the resulting sequels of the burn).

Key words: burn; children; adolescents; prevention; domestic accidents.

INTRODUÇÃOProcurou-se caracterizar a clientela

pediátrica vítima de queimadura internada emenfermaria de um hospital de referência na re-gião metropolitana de Belém-PA. Procurou-setambém caracterizar, por meio do relato dosacompanhantes, os contextos em que ocorre-ram os acidentes, a fim de identificar a neces-sidade de programas de prevenção de aciden-tes e de acompanhamento psicológicodirecionados às crianças/adolescentesvitimizados e a seus familiares.

QueimaduraA queimadura se caracteriza por ser uma

lesão de um tecido produzida pelo efeito docalor, decorrente de substâncias químicas ouda eletricidade, que pode ser resultado da açãodireta ou indireta do calor sobre o organismohumano.¹ De acordo com a quantidade de teci-

do atingido e a profundidade da lesão, a quei-madura pode ser de: (a) primeiro grau, quandoa pele atingida fica hiperemiada, dolorosa, in-chada, e não ocorre formação de bolhas; (b)segundo grau, quando causam lesão profunda,formando bolhas na pele, com base vermelhaou branca, contendo um líquido claro e espes-so, dolorosas ao tato e (c) terceiro grau, quan-do produzem lesão mais profunda, na qual aárea queimada perde a sensibilidade ao tato,ocasionalmente formam-se bolhas, e, normal-mente, são indolores porque as terminaçõesnervosas da pele são destruídas.²

A alta incidência de ocorrência de quei-maduras se dá em ambiente doméstico, em con-textos que poderiam ser evitados. Dados deuma pesquisa³ realizada na Unidade de Quei-mados do Hospital de Clínicas de Ribeirão Pre-to demonstraram que: 80% dos acidentes dospacientes lá internados ocorreram em ambien-

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te doméstico, atingindo principalmente crian-ças; 8% ocorreram no trabalho, atingindo adul-tos do sexo masculino; 7% foram vítimas detentativas de suicídio; 3% de acidentes auto-mobilísticos, e 2% foram vítimas de agressões.

Nos Estados Unidos, ocorrem dois mi-lhões de queimaduras por ano, das quais, emmédia, 100.000 necessitam de internação emcentros de tratamento de queimados e 5.000desses pacientes morrem.4 De acordo com aSociedade Brasileira de Queimaduras5, no Bra-sil acontece um milhão de casos a cada ano,dos quais 200 mil são atendidos em serviçosde emergência e 40 mil demandamhospitalização. Cerca de um milhão de reaispor mês é o valor gasto pelo Ministério da Saú-de com a internação destes pacientes.6 As quei-maduras estão entre as principais causas ex-ternas de morte registradas no Brasil, perdendoapenas para acidentes de transporte e homicí-dios.

Alguns estudos apontam as criançascomo as maiores vítimas de queimaduras.7,8

Dentre as situações que oferecem maiores ris-cos para acidentes por queimaduras em crian-ças estão: a manipulação de líquidos supera-quecidos, produtos químicos e/ou inflamáveis,metais aquecidos, o uso de fogões improvisa-dos na presença de crianças, manipulação depanelas no fogão, cabo de panela para fora dofogão, tomadas elétricas, bombas festivas e fiosdesencapados ao alcance de crianças.7,9

A literatura aponta que, na maioria doscasos, as queimaduras em crianças acontecemem ambiente doméstico e são provocadas peloderramamento de líquidos quentes sobre o cor-po. Nestes casos, costumam ser mais superfi-ciais, porém mais extensas e tem maior inci-dência em crianças de seis meses aos dois anos,enquanto que acidentes com chamas são maisfreqüentemente observados em crianças a par-tir da idade pré-escolar.1,10

Ainda que o prognóstico para o trata-mento da queimadura tenha melhorado nos úl-

timos anos, ela ainda configura importante cau-sa de mortalidade, além de resultar emmorbidade pelo desenvolvimento de seqüelascomo: (a) a incapacidade funcional, principal-mente quando atinge os membros superiores einferiores; (b) as deformidades, sobretudo daface; (c) as seqüelas de ordem psicossocial, e(c) dependendo da localização, as queimadu-ras podem ainda causar danos neurológicos,oftalmológicos e geniturinários.11

Dependendo da gravidade da situação ea complexidade da queimadura, o tratamentopode traduzir-se em hospitalizações por vezesprolongadas. Com isso, o paciente fica priva-do de seu convívio familiar e de suas interaçõessociais, além da dor física causada pelo trata-mento. Destaca-se que, entre as lesõespediátricas mais dolorosas e que necessitam deperíodos de internação prolongados, está aqueimadura, mais do que qualquer outro tipode lesão.1

Procedimentos inerentes ao processo derecuperação, como hidroterapia, limpeza daslesões com remoção do tecido desvitalizado,mudança de compressas e fisioterapia, são re-conhecidos como particularmente dolorosos.As mudanças de compressas (curativos) sãousualmente dolorosas, mesmo com a utiliza-ção de sedativos fortes.1

Partindo do pressuposto de que a maio-ria das queimaduras poderia ser evitada, medi-das preventivas ajudariam a diminuir a inci-dência e dependem de educação e realizaçãode programas efetivos.

Programas de prevenção são os que tra-zem maior benefício para numerosos proble-mas de saúde. Programas preventivos têm umimpacto maior no controle do problema e nasnecessidades dos pacientes, principalmente nocaso de crianças. Se intervenções preventivasocorrem precocemente, os efeitos positivos sãomaiores que os negativos e evitam que danossejam estabelecidos. Entretanto, para o suces-so de um programa preventivo é necessário que

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este tenha objetivos específicos para cada pa-tologia, conte com profissionais competentes,treinados e sensíveis às necessidades indivi-duais dos pacientes e o envolvimento destes ede seus familiares para aumentar a chance demudanças comportamentais adequadas.12

Wallack e Winkleby13, ao definirem pre-venção primária, apresentam três aspectoscomo sendo fundamentais. São eles: (1) pro-mover habilidades e informações que condu-zam ao desenvolvimento e manutenção de es-tilos de vida saudáveis; (2) a prevenção dedoenças através da identificação de riscos, e(3) a proteção de saúde que inclui estratégiasde responsabilidade de órgãos governamentais.

Todas as dimensões da prevenção pri-mária (redução da incidência de novos casos),assim como a prevenção secundária (reduçãoda prevalência) e a terciária (redução de inca-pacidades oriundas das doenças) são práticasimportantes para promover a qualidade de vidana sociedade além de apresentarem benefíciosà população e ao sistema de saúde.14,15

Em se tratando de queimadura, o papelda prevenção se destaca como sendo primor-dial, haja vista que a criança vitimizada nãonecessariamente possui alguma patologia queacarretaria em uma internação. Freqüentementesão crianças sadias que, por alguma falta desupervisão de um adulto, acabam sofrendo umacidente.

Segundo Vale11, medidas de prevençãoincluem orientação sobre como evitar situaçõesde risco, ensino de prevenção de acidentes nocurrículo escolar, além de campanhas preven-tivas voltadas para toda a população.

No tratamento direcionado à criança eao adolescente, as intervenções realizadas como cuidador, para que este aprenda novos reper-tórios comportamentais, têm se mostrado mui-to eficientes. Entretanto, para que comporta-mentos preventivos sejam instalados norepertório desta população, é necessária a par-ticipação integrada de uma equipe

multiprofissional constante, permanente e ca-pacitada a lidar com as características e exi-gências específicas desta faixa etária.12,13

Muitos profissionais envolvidos emequipes de saúde ainda hoje não conhecem aspossibilidades de atuação do psicólogo da saú-de na promoção de mudanças comportamentaisvoltadas à promoção de saúde da criança.16

Como consequência, não reconhecem a neces-sidade do psicólogo como membro importanteda equipe, principalmente no planejamento deatividades preventivas. Ao mesmo tempo, anatureza complexa da multidisciplinaridadedos sistemas de saúde oferece oportunidadespara o psicólogo aplicar seus conhecimentos eassim contribuir com a saúde e bem estar dacriança, do adolescente e de seus familiares.

O psicólogo, sendo um especialista emmudanças comportamentais, torna-se o profis-sional da equipe qualificado para promover aadesão e a comunicação necessárias para o su-cesso de um programa de prevenção que atinjao paciente e seus familiares em uma variedadede sistemas de saúde como: hospitais, postosde saúde, clínicas pediátricas, clínica escola,programas de planejamento familiar e demaisprogramas de atenção à saúde.1,16

Assim, são objetivos descrever as vari-áveis que sustentam a efetivação de programade prevenção, a necessidade de suporte psico-lógico e caracterizar os contextos em que osacidentes ocorreram.

MÉTODO

ParticipantesFoi realizado um estudo descritivo, vi-

sando a caracterizar a clientela pediátrica víti-ma de queimadura atendida no Hospital Me-tropolitano de Urgência e Emergência (HMUE)da região metropolitana de Belém-PA, no pe-ríodo de um ano. Participaram deste estudocento e sessenta e quatro cuidadores acompa-

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nhantes de crianças/adolescentes vítimas dequeimaduras internadas no HMUE. A maioriados pacientes (n=124 de 164) procedia do in-terior do Estado do Pará.

Os informantes que permaneceram duran-te o período de internação e participaram doestudo eram as pessoas que desempenhavam emcasa os cuidados fundamentais com a criança/adolescente sendo, portanto, os cuidadores prin-cipais. O grau de parentesco mais encontradoentre os acompanhantes da criança/adolescenteinternada foi a mãe, em cento e vinte entrevis-tas (73% em 164), seguido da avó/avô (13%),do pai (8%) e da tia (6%). A faixa etária maisfreqüente dos cuidadores participantes corres-pondeu às idades entre 26 a 30 anos (n= 57, 35%em 164), seguida da faixa de 21 a 25 anos (23%).A maioria dos acompanhantes entrevistados(n=89, 54% em 164) possuía o ensino funda-mental incompleto, seguida do ensino médioincompleto (20%), ensino médio completo(13%), ensino fundamental completo (10%) esem escolaridade (3%).

Local da Coleta de DadosA unidade onde o estudo foi realizado é

referência, no Norte e Nordeste do Brasil, ematendimento de vítimas de queimaduras e gran-des traumas. Os pacientes que se enquadramno perfil de atendimento do hospital são enca-minhados de municípios e outros centros desaúde do Estado do Pará, após os primeirosatendimentos. O HMUE conta com 20 leitosem pediatria para demandas diversas e 10 lei-tos de pediatria no Centro de Tratamento aoPaciente Queimado (CTQ). Entretanto, é co-mum crianças vítimas de queimaduras ficareminternadas na pediatria devido à alta demandapara os leitos do CTQ.

A equipe de ambas as clínicas é forma-da por pediatra, cirurgião plástico, enfermei-ros, técnicos de enfermagem, psicóloga, assis-tente social, terapeuta ocupacional efisioterapeutas.

É obrigatória a presença de um acompa-nhante durante todo o período de internaçãoda criança, em conformidade com o Estatutoda Criança e do Adolescente.17 As visitas sãorealizadas uma vez ao dia no turno da tarde.Na maioria dos casos, os pacientes e acompa-nhantes oriundos de outros municípios ficamsem receber visitas, devido à dificuldade detransporte e condições financeiras.

Materiais e recursos utilizados para acoleta de dados

Foram utilizados: (1) roteiro de entre-vista semi-estruturado que incluía perguntassobre dados sócio-demográficos e questõesreferentes ao acidente que ocasionou a quei-madura, e (2) roteiro para análise de prontuá-rio do paciente no qual estavam registradostodos os procedimentos realizados com a crian-ça/adolescente, incluindo a intervenção reali-zada pela psicóloga da equipe.

Procedimento de Coleta de DadosTodos os acompanhantes de crianças/

adolescentes vítimas de queimaduras que es-tavam internadas em qualquer unidade doHMUE eram solicitados a participar do estu-do. Todos foram muito colaborativos e nãohouve quem se negasse a participar. As pes-quisadoras os abordavam e explicavam os ob-jetivos do estudo, pedindo a participação vo-luntária. Os que concordavam em participareram solicitados a assinar o Termo de Consen-timento Livre e Esclarecido (Projeto aprovadopelo Comitê de Ética em Pesquisa do Núcleode Medicina Tropical, Universidade Federal doPará, Protocolo nº024/2008). Em seguida, oroteiro de entrevista era aplicado na própriaenfermaria pelas pesquisadoras. Os dados re-ferentes ao diagnóstico e à evolução clínica,como superfície corpórea queimada, grau daqueimadura e tratamento indicado, foramcoletados por meio de análise de prontuários.Todos os dados coletados por meio do roteiro

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de entrevista e do roteiro de análise do prontu-ário que continham informações comuns aoprotocolo de internação do hospital foram cru-zados com o banco de dados do HMUE.

Análise de DadosOs resultados foram analisados quantita-

tiva e qualitativamente. As informações obtidasforam armazenadas em um banco de dados noprograma Excel. As variáveis foram cruzadas afim de identificar relações entre elas. Recebe-ram destaque as seguintes variáveis relaciona-das às crianças/adolescentes: idade, sexo, tipode agente causador da queimadura, tempo deinternação, extensão e grau de queimadura. Os

dados referentes ao contexto em que ocorreu aqueimadura foram transcritos a partir da fala doscuidadores das crianças. Tais relatos foram ana-lisados descritivamente de acordo com o con-texto em que o acidente ocorreu.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Sexo, agente causador e faixa etária dacriança/adolescente

Observou-se neste estudo que a maioriadas crianças/adolescentes hospitalizadas porqueimaduras (n = 111, 68% de 164) era do sexomasculino, conforme apresentado na Tabela 1.

Tabela1: Relação entre agente causador, faixa etária e sexo das crianças/adolescentes.Distribuição por Sexo e Faixa Etária

Agente Causador Feminino (idade em anos) Total Masculino (idade em anos) Total ∑∑∑∑∑ %

< 1 1 a 4 5 a 9 10 a 14 < 1 1 a 4 5 a 9 10 a 14Líquido quente 3 19 4 1 27 4 50 9 3 66 93 56,71Líquido inflamável 0 5 4 6 15 1 9 9 2 21 36 21,95Chama 1 3 0 0 4 2 5 1 0 8 12 7,32Eletricidade 1 0 0 0 1 0 0 3 3 6 7 4,27Cinzas 0 3 0 0 3 0 2 0 0 2 5 3,05Vapor 0 1 0 0 1 0 1 0 0 1 2 1,22Incêndio na casa 0 1 0 0 1 0 0 1 0 1 2 1,22Outros 0 0 0 1 1 2 1 1 2 6 7 4,27

∑ 5 32 8 8 53 9 68 24 10 111 164 100,00 % 32% 68%

O agente causador que apresentou maiorfrequência (n=93, 56,71% de 164) foi a cate-goria líquido quente, a qual corresponde aoderramamento de líquido aquecido sobre ocorpo, decorrente de eventos como puxar pa-nela, queda sobre líquido aquecido e colocaralguma parte do corpo, como mãos ou pés, emlíquido quente. A faixa etária predominantenesta categoria foi de 1 a 4 anos (n=69 de 93).

Tempo de internação, agente causador, graude queimadura e extensão corpórea queimada

A tabela 2 mostra que, a maioria dascrianças e adolescentes internados permaneceuhospitalizada por um período igual ou inferiora 10 dias, seguido por período de 10 a 20 dias.Entretanto, é possível visualizar que 14 crian-ças/adolescentes, permaneceram internadas du-rante um período superior a 60 dias.

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Tabela 2: Relação entre agente causador e tempo de internação.

Agente causador Tempo de Internação (dias)Total %<10 10 a 20 21 a 30 31 a 40 41 a 50 50 a 60 >60

Liquido quente 38 32 13 2 4 2 2 93 56,71Líqüido inflamável 9 9 3 5 2 1 7 36 21,95Chama 1 5 0 2 0 2 2 12 7,32Outros 3 2 1 0 1 0 0 7 4,27Eletricidade 1 1 3 0 0 0 2 7 4,27Cinzas 1 1 2 0 0 0 1 5 3,05Vapor 0 1 0 1 0 0 0 2 1,22Casa incediou 0 0 1 1 0 0 0 2 1,22 ∑ 53 51 23 11 7 5 14 164 100,00

Procurou-se relacionar o tempo deinternação com o grau de queimadura( tabela 3) . Foi evidenciado que asqueimaduras de segundo grau são as que

frequentemente demandam um períodomaior de in ternação, pr inc ipalmentequando ocorrem associadas com a deterceiro grau.

Tempo de Grau da Queimadura Total %Internação (dias) 1º 2º 3º 1º e 2º 2º e 3º

<10 8 35 2 3 5 53 32,3210 a 20 3 34 3 1 10 51 31,1021 a 30 0 16 2 0 5 23 14,0231 a 40 0 4 3 1 4 12 7,3241 a 50 0 3 0 0 3 6 3,6650 a 60 0 3 0 0 2 5 3,05

>60 0 5 3 0 6 14 8,54∑ 9 100 12 5 35 164 100,00

Tabela 3: Relação entre tempo de internação e grau da queimadura.

A tabela 4 apresenta a relação entre su-perfície corpórea queimada (SCQ) e faixaetária das crianças/adolescentes participantesdeste estudo. Observa-se que, sete criançasentre 1 e 4 anos de idade tiveram mais de 70%do corpo queimado. Ainda que a maioria das

crianças tivesse apresentado uma área de quei-madura entre 10 e 19% (n = 70), eram criançaspré-escolares e muitas vezes necessitavam fi-car com restrição de mobilidade no leito, o quepoderia afetar seu desenvolvimento físico-mo-tor.

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Tabela 4: Relação entre superfície corpórea queimada (scq) e faixa etária.

SCQ Faixa Etária (anos) Total %< 1 1 a 4 5 a 9 10 a 14

< 10% 2 4 1 1 8 4,8810 – 19% 6 46 10 8 70 42,6820 – 29% 1 11 6 5 23 14,0230 – 39% 2 22 8 1 33 20,1240 – 49% 2 7 4 0 13 7,9350 – 59% 1 0 1 1 3 1,8360 – 69% 0 2 0 0 2 1,2270 – 79% 0 1 0 0 1 0,61 > 70% 0 7 2 2 11 6,71 ∑ 14 100 32 18 164 100,00

Na tabela 4, observa-se que não há umarelação entre extensão da queimadura e tempode internação. Entretanto, essas crianças pro-vavelmente necessitaram ser submetidas a vá-rios procedimentos dolorosos e isolamento so-cial devido ao risco de contaminação. Épossível também observar um número signifi-cativo de crianças/adolescentes em idade es-colar (n=50, sendo 32 com idades entre 5 e 9anos e 18 com idades entre 10 e 14 anos). Taiscrianças tiveram que se ausentar da escola, oumesmo abandoná-la, para continuar o tratamen-to, segundo relato dos cuidadores.

Contextos em que os acidentes ocorreram

(a) Acidentes com líquido quente:Era comum escutar relatos do tipo “eu

estava preparando o almoço e ele não paravade correr perto da panela, até que bateu nofogão e a panela virou em cima dele”. Outrosrelatavam ter fervido água para escaldar algumtipo de alimento, como cacho de açaí, porcoetc, e ter colocado a panela em um fogareirofeito no chão (um hábito comum em cidades

do interior do Estado do Pará), quando a crian-ça se aproximou engatinhando e colocou “aci-dentalmente” a mão dentro do fogareiro.

Destaca-se o caso de uma criança demenos de um ano, procedente de uma cidadedo interior e distante do hospital, que chegougravemente queimada ao HMUE, no qual orelato dos familiares revelou o seguinte:

“A avó dele ferveu água para escaldarum porco. Começou a chover e ela tirou a águada capoeira e colocou na varanda da casa. Láos meninos estavam chutando bola, aí o A. foichutar e caiu sentado para trás, certo dentroda panela. Ele nem chorou, a gente só viu apele dele saindo, embrulhou ele na folha debananeira e correu para o hospital. De lá pracá, pra esse hospital, demorou mais de 5 ho-ras de viagem e a gente trocava a folha de ba-naneira porque ela derretia com o calor dele.”

A mãe de outra criança, que trabalha-va com venda de comidas típicas, relatou que,em uma tarde, estava preparando vatapá (co-mida típica, com caldo quente) em uma pa-nela sobre a boca do fogão, quando a crian-ça abriu a tampa do forno e sentou sobre ela.

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Nisso, a panela com o vatapá quente virousobre a criança.

(b) Acidentes com líquido inflamável:A categoria líquido inflamável faz refe-

rência a líquidos como gasolina, óleo diesel,álcool e perfume. Duas das crianças com 7 anosde idade estavam brincando de bombeiro e seatearam fogo com álcool. Outra criança, de 8anos, derramou um vidro de perfume em suablusa. A mãe disse “troca de roupa agora se-não tu podes te queimar”. Então, de acordo como relato da mãe, a criança acendeu um fosfóropara “saber se era verdade”.

O cuidador [mãe] de uma outra criançarelatou:

“Eu estava queimando lixo e joguei ga-solina, só que o fogo não aumentava, então,peguei o galão de gasolina pra jogar, nisso ofogo entrou no galão e eu joguei ele [o galão]longe, e aí ele pegou na K. que tava brincandosentada na porta de casa. Quando eu vi a mi-nha filha pegando fogo, eu não sabia o quefazer, só gritava. Ela se agachou quietinha, semchorar, até que um vizinho enrolou ela numpano e o fogo apagou.”

Essa criança faleceu após dois meses deinternação.

(c) “Tentativa de suicídio”:Uma criança com 13 anos de idade deu

entrada no HMUE com o relato de ter se quei-mado “intencionalmente” com álcool. Segun-do informações obtidas no momento dainternação, ela teria se passado álcool “paraespantar mosquitos”. Durante o segundo aten-dimento com a psicóloga, esta criança afirmouter se jogado álcool por estar com raiva do ir-mão.

“Eu fico tentando estudar e ele rasga omeu caderno, me chama de burra, feia. Eu nãoagüentava mais. Aí, eu peguei a garrafa deálcool e derramei em cima de mim. Ele conti-nuou rindo dizendo que eu não tinha coragem.

Foi quando eu risquei um palito de fósforo ecomecei a pegar fogo. Ele saiu correndo pe-dindo ajuda, nem eu acreditava que eu tinhafeito aquilo. Aí um vizinho me trouxe [para oHMUE] e avisou a minha mãe.”

Esta criança recebeu a visita da mãe umaúnica vez, mesmo tendo ficado internada du-rante três meses. A mãe justificava a sua au-sência pelo trabalho, mas também alegava que“ela [a paciente] não pode ter o meu apoiodepois de ter feito essa besteira. Ela semprequer chamar atenção. Eu que não vou atrapa-lhar a minha vida para cuidar dela”.

(d) Acidentes com eletricidade:Quanto à eletricidade, houve o relato de

um caso no qual o acompanhante apresentou oseguinte caso: “ele meteu um pedaço de ferrona tomada e ela explodiu, quando vi, a mãodele tava pregada no ferro”.

(e) Queimadura por cinza:Em cidades localizadas no interior do

Estado, é comum fazerem buracos para quei-mar lixo. De acordo com o relato dos acompa-nhantes, dentre as cinco crianças queimadas porcinza, duas haviam caído “acidentalmente”nesses buracos. As outras três crianças pisa-ram em cinzas que caíram do fogão à lenha.

(f) Queimadura por vapor:Dentre as duas crianças queimadas pelo

vapor, o cuidador de uma delas, uma criançade 4 anos de idade, relatou:

“Eu coloquei a panela no fogo e fuilimpar a casa. Aí a panela – de pressão- co-meçou a fazer barulho e ouvi aquela explo-são. Quando corri para a cozinha, ela tavalá com o rosto e o peito todo queimado e comuma colher de pau na mão. Depois que elame contou, que quando a panela fez baru-lho, ela subiu num banco e bateu com a co-lher na panela, aí a panela explodiu. Masfoi bom ter acontecido isso, quem sabe ago-

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ra que ela tá toda malhada, ela aprende quenão é pra ir pra cozinha.”

(g) Queimadura decorrente de incêndio:As duas crianças vítimas de queimadu-

ras por conta de incêndio na casa estavam sema presença de um adulto no momento em queaconteceu o acidente. A mãe de uma destascrianças havia ido para a feira e tinha deixadoos três filhos dormindo, uma de 5 anos, umade 3 anos (a vítima de queimadura) e uma de 1ano e 2 meses de idade. O pai era feirante etrabalhava de madrugada. No relato da mãe:

“Estava perto da hora dele [o pai] che-gar e não tinha leite, como elas [as crianças]estavam dormindo, fui rápido à feira, paracomprar leite e pão. Quando tava voltando, viaquela correria e fumaça saindo da minhacasa. Só lembro de ter visto o meu marido car-regar ela toda queimada e os outros dois esta-vam sentados na calçada chorando muito.Depois que ela [a filha mais velha] me contou.Ela disse que acordou com um cheiro estra-nho e a cozinha tava pegando fogo, aí ela gri-tou e pegou o menor no colo. A outra ficoucom medo e se escondeu atrás da porta, foientão que o meu marido chegou e salvou ela.Ele tá todo queimado aqui no hospital tam-bém.”

A cuidadora [mãe] da outra criança víti-ma de incêndio relatou:

“Fui deixar o irmão dele na escola e eleficou em casa sozinho, ele tá acostumado.Quando tava chegando perto de casa, vi fogoe correria dos vizinhos. Ele tinha se pendura-do na cortina, jogado álcool no sofá e tacadofogo. Tava brincando de super-herói.”

Esta cuidadora, quando questionada so-bre os motivos de ter deixado a criança sozi-nha em casa, se justificou dizendo não ter nin-guém que possa ficar com ele, ou então paralevar o outro filho à escola. Também enfatizounão saber o que fazer no momento da alta mé-dica, haja vista que a rotina deveria voltar ao

“normal”, isto é, ela continuaria sem contarcom uma rede de apoio para cuidar dos filhos.

(h) Outros acidentes relatados:As queimaduras com chama dizem res-

peito a acidentes que aconteceram quando acriança passou perto de uma churrasqueira e achama do fogo aumentou e a atingiu, ou pertode algum fogareiro.

A categoria “outros” inclui acidentescomo: “sempre que ele escutava o barulho damoto, ele vinha engatinhando para me abra-çar e nesse dia eu me distraí e ele pegou nadescarga da moto”. Ou como: “tinha acabadode servir o cozido que estava na panela fer-vendo, aí ele [a criança] veio e foi carregar apanela para jogar na pia”.

Análise de riscos decorrentes da quei-madura para o desenvolvimento da criança/adolescente

A análise dos relatos dos acompanhan-tes sugere que, além de as crianças/adolescen-tes terem sido expostas a um episódio extre-mamente doloroso, isto é, o acidente queocasionou a queimadura, também estavam ex-postas a condições de risco para seu desenvol-vimento emocional. Tais riscos se relaciona-vam às seqüelas da queimadura, ao longotempo de hospitalização, às competências fa-miliares para cuidar destas crianças e à rede deapoio social que as receberia após a alta hospi-talar.

Quanto às deformidades decorrentes daqueimadura, observaram-se relatos referentesà dificuldade dos familiares em auxiliar a crian-ça no enfrentamento das seqüelas. Uma meni-na de 8 anos de idade relatou:

“O vovô mandou o meu irmão fazer fogopara assar um peixe. Aí ele tava querendo irpra rua pra brincar. Ele já tinha tentado umasduas vezes e não pegava fogo. Aí o amigo delemandou ele jogar álcool que o fogo pegavamais rápido. Eu avisei que ía estourar e ele foipra jogar mesmo assim. Só que antes dele jo-

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gar, a garrafa começou a pegar fogo e ele jo-gou pra trás, aí pegou em mim.”

Essa criança ficou quase dois meses in-ternada. A mãe, durante o atendimento com apsicóloga, relatou:

“Pra senhora ver como é a vida, eutive nove filhos. Dei sete logo na maternida-de, aí fiquei com esses dois pra criar. Aíacontece isso. Uma vizinha minha tinha pe-dido ela pra criar, porque ela viu em que si-tuação eu tava vivendo. Bem que eu tavapensando em dar ela, pra ela ter oportuni-dade. Aí aconteceu isso. Me diga, quem vaiquerer criar uma menina toda marcada?Será que foi castigo isso?”

Relatos semelhantes a esse acontece-ram com mais quatro crianças que, apesar deconseguirem sobreviver, ficaram com seqüe-las graves, como falta de falange de dedos eperda do lóbulo de orelha. Durante um aten-dimento psicológico, o cuidador de umacriança com menos de um ano de idade rela-tou: “Na minha família só tem gente perfei-ta, gente bonita. Em casa não entra gentefeia, deformada”. Este mesmo cuidador nãopermitiu que outro membro da família vies-se visitar a criança no hospital, e quando elesolicitava autorização para telefonar à mãeda criança para dar informações sobre a mes-ma, ele sempre dizia “ela está ótima, linda,igual como saiu daí”.

Observou-se que, se a entrevista fosserealizada no momento da internação da crian-ça, a principal dúvida do cuidador consistiana possibilidade de a criança ficar com se-qüelas da queimadura, como cicatrizesirreversíveis. Ainda que a entrevistadora ex-plicasse sobre os riscos de vida que a criançacorreria, a cicatriz permanecia como sendo apreocupação principal. Houve cuidadores,como o que foi descrito acima, que chegarama afirmar que não aceitariam em casa a pre-sença de uma criança “que não fosse perfei-ta”. Destaca-se que um número expressivo de

crianças (n = 38, 23% em 164) ficou com le-sões no rosto.

Através dos relatos espontâneos ou ob-tidos por meio de questionamentos, fica evi-dente a falta de conhecimento dos cuidadoresacerca de características do desenvolvimen-to da criança. A maioria das crianças é co-brada como se tivesse discernimento e com-petência apropriados para se proteger deacidentes domésticos como os relatados nesteestudo. Poucos cuidadores apresentaram re-latos referentes à sua responsabilidade decuidadores e protetores das crianças. Quan-do isso acontecia, era sempre relacionado aoutros problemas familiares como os seguin-tes exemplos: “se o pai dela me ajudasse,isso não teria acontecido”, sugerindo difi-culdades relativas ao relacionamento conju-gal. Ou então: “não sei o que me deu na ca-beça de deixar ela ir fazer o fogo, só que elajá tem idade de fazer as coisas. Eu, na idadedela, já tomava conta da casa e dos meusirmãos”, ou “ela é muito curiosa, o que ti-nha que ter ido mexer no fogão? Não sabeque lá não é lugar de criança???....”, de-monstrando a dificuldade dos pais em reco-nhecerem características relacionadas ao de-senvolvimento infantil e à necessidade desupervisão e orientação parental.

Também foi possível observar déficitsem competências parentais para o cuidado coma saúde da criança, como nos casos apresenta-dos a seguir.

A avó de uma criança de 4 anos vítimade queimadura por álcool relatou:

“Ele tava tossindo muito, então eu pe-guei um pano, embebi em álcool e amarrei nagarganta dele. Só que ele não pára, aí ele pe-gou uma vela e foi acender um fósforo, quan-do vi, ele tava pegando fogo. Não conseguiatirar o pano que tava amarrado nele. Agoranão sei o que vou fazer, porque a tosse dele sócura com álcool e aqui tão dizendo que eu nãovou poder mais fazer isso.”

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Essa criança ficou com seqüelas funcio-nais, já que teve queimaduras de segundo e ter-ceiro grau em seu pescoço e rosto.

Outro caso foi o de uma criança de ape-nas seis meses de idade que deu entrada nohospital após sete dias do acidente por derra-mamento de líquido quente. A mãe relatou:

“Ele estava com dificuldades para ma-mar no peito, aí eu esquentei uma água parafazer leite. Eu tava com ele no colo, não seibem o que aconteceu, só lembro que a panelavirou na gente. Queimou a minha perna e adele. O pai dele disse que não precisava levarpara o hospital, que era frescura. Aí me ensi-naram a passar borra de café. Passei todosesses dias só que como ele não melhorou, eutrouxe pra cá. Nunca pensei que isso ía mataro meu filho.”

Os resultados também sugerem riscosquanto à continuidade dos estudos destas crian-ças/adolescentes ao retornarem à sua rotina.Quase a totalidade dos acompanhantes dascrianças que estavam em idade escolar apre-sentava relatos semelhantes a este: “já perdeuo ano escolar, pois eu não vou querer que elavolte pra escola assim, toda marcada; eu nãoquero que fiquem caçoando dela”. Outrocuidador afirmou:

“Lá da escola perguntam como ela está,eu digo que está bem. Mas não quero voltar amorar lá não. Sabe como é povo de interior,adora se meter na vida dos outros. Parece queeu estou vendo, vai ser só eu pisar lá, que aminha casa vai lotar de curioso querendo vercomo ela ficou.”

Outro disse: “poxa, isso foi acontecerlogo agora que ela tá aprendendo a ler!!! Jáera.... o que vai ser da minha filha sem estu-do?”.

Um dos casos chamou a atenção para anecessidade de acompanhamento destas crian-ças após a alta hospitalar. Uma mãe, ao retornarcom a criança para consulta médicaambulatorial relatou:

“Quando ela chegou em casa, até os ir-mãos se assustaram. Ninguém abraçou ela.Aquilo acabou comigo. Ela foi a viagem intei-ra dizendo que queria abraçar eles [os irmãos]e chega lá, ela foi recebida assim. No início,[ainda hospitalizada] ela não tinha vergonhade como ela está. Acho que era porque ela viaoutros piores aqui. Só que quando chegou lá,parece que ela morreu, ela não sai do quartopra nada e se alguém entra em casa, ela secobre com lençol mesmo em dia muito quentee fica fingindo que tá dormindo até a pessoa irembora. Não sei o que vai ser da nossa vida,sofro junto com ela. Se eu pudesse, mudava delugar com ela.”

Em todas as entrevistas, a psicólogaquestionava sobre que medidas deveriam seradotadas para evitar que outro acidente ocor-resse. Quando questionados, os cuidadores sómencionavam o episódio que ocorreu, eviden-ciando a falta de repertório de comportamen-tos preventivos.

No caso de uma criança que se queimoudevido à descarga elétrica, em um dos retor-nos para consulta ambulatorial no HMUE amãe afirmou

“Nem lhe conto, agora ele deu de colo-car álcool em gel na palma da mão e acendeum fósforo. Já disse pra ele que se ele se quei-mar de novo, eu não volto mais pra cá. Eu voucurar com borra de café, pasta de dente. Eu quenão fico mais aqui todo esse tempo que eu fi-quei.”

Neste relato é possível verificar déficitsem comportamentos preventivos ao acidentedoméstico com a criança, pois, ao invés de amãe evitar que um novo acidente aconteça comseu filho, ela faz referência ao período deinternação como sendo aversivo.

Comumente, escutavam-se relatos decuidadores preocupados com a situação dehospitalização, com o tempo que necessitamficar internados até a alta da criança. Comoexemplo, destaca-se o caso de uma criança

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cujo pai fez o seguinte relato: “ela estava seembalando de costas na rede, se empurran-do no fogão, até que uma hora a varanda darede prendeu na beira do fogão e a panelaque estava em cima acabou virando nela”.Quando a criança estava com um mês deinternação, o pai solicitou a sua alta, pois amãe da criança havia ficado com os outrosseis filhos na cidade onde moram, no interi-or do Estado, e, possivelmente, estariam pas-sando fome, já que ele era o provedor da fa-mília. Depois de algumas intervenções, daanálise dos riscos aos quais a criança seriasubmetida caso saísse de alta médica antesdo tempo adequado, o pai decidiu ficar nohospital, porém sob constante vigilância,pois era comum ele dizer que iria “cortar amão da criança para que ela não cutucasseas casquinhas da queimadura”, ou então nãodava comida para a criança, deixava a mes-ma suja e não avisava a equipe.

Observou-se, por meio de relatos dosacompanhantes, que esse longo período dehospitalização pode ocasionar afastamento so-cial da criança e de seu cuidador, em especialem relação à família de origem. Algumas crian-ças/adolescentes só tinham contado com outrofamiliar no momento da alta hospitalar.

Dentre os casos estudados, destaca-se ocaso de uma criança vítima de queimadura porlíquido inflamável (gasolina) que permaneceudurante 120 dias internada. Durante esse pe-ríodo, apenas o pai e a mãe se revezavam noacompanhamento à paciente. Segundo o relatoda mãe:

“Quando eu fiquei grávida dela, eu ti-nha só 18 anos e foi uma confusão na famí-lia. Então, eu decidi cuidar só dela e não tra-balhar. O meu marido tinha a mesma idade.Sofremos muito com falta de apoio da nossafamília. Parece que eles estão sempre que-rendo dizer que a gente não está dando con-ta. Só que a gente não pede ajuda pra nada.Desde que saímos de casa – há seis anos- a

gente se vira só. Só que o meu marido perdeuum emprego e achamos melhor eu ir traba-lhar. Aí, arrumei essa senhora para tomarconta dela [a criança] e da casa. No segundodia que fui trabalhar, me ligaram contando oque tinha acontecido. Ela foi fazer um fogopara assar peixe e jogou gasolina. A R.[acriança] tava perto e explodiu tudo nela. Vie-mos de avião pra cá, eu e minha filha. O paidela ficou lá, só vai vir depois, quando a gentesouber quanto tempo ela vai ficar internada.Ele disse para a nossa família que ele vempra cá pra Belém para fazer um curso. A gen-te não quer que saibam o que aconteceu, por-que vai ser a chance deles falarem que a gen-te é irresponsável. Agora, se ela ficar comcicatriz, não vai ter jeito!!!”

Esta mãe afirmava que não conhecia nin-guém em Belém. Entretanto, um dia ela saiudo hospital para comprar um lanche e encon-trou uma tia dela no momento em que entravano HMUE. Nesse dia, ela solicitou a presençada psicóloga, porque ela não admitia contarpara a família o quê havia acontecido com afilha. Depois da intervenção com a psicóloga,esta mãe permitiu que a tia entrasse para visi-tar a filha e se mostrou arrependida de estar háquase 90 dias sem ter procurado apoio de al-guém.

Por fim, houve alguns casos em que aequipe suspeitava de que a criança havia sidovítima de agressão relacionada ao episódio queocasionou a queimadura. Entretanto, não foipossível confirmar esta hipótese em nenhumdos casos acompanhados durante o períododeste estudo. Mesmo assim, em todos os casosem que houve tal suspeita, a psicóloga intervi-nha e acionava o Conselho Tutelar do lugar deorigem da criança, com o intuito de acompa-nhar essa família para resguardar a integrida-de da criança e impedir que novos episódiosocorressem.

A maioria da clientela atendida no ser-viço de Pediatria do HMUE, no período a que

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se refere este estudo, era do sexo masculino, oque corrobora com dados encontrados na lite-ratura.³

O agente causador que apresentou maiorfrequência foi a categoria líquido quente, a qualcorresponde ao derramamento de líquido aque-cido sobre o corpo. A faixa etária predominan-te nesta categoria foi de 1 a 4 anos. Estes da-dos também corroboram com a literatura queaponta que, na maioria dos casos, as queima-duras em crianças são provocadas pelo derra-mamento de líquidos quentes sobre o corpo etem maior incidência em crianças que se en-contrem na primeira infância.1,10

O resultado encontrado neste estudoquanto ao local onde o acidente ocorreucorresponde à literatura pesquisada. Todas ascrianças/adolescentes estavam em ambientedoméstico, quer dentro de sua própria residên-cia, quer no quintal ou na casa de um amigo ouvizinho da família.1,3,10

A alta incidência de queimaduras de se-gundo grau encontradas neste estudocorresponde à literatura. Queimaduras de se-gundo grau são descritas na literatura comosendo as mais dolorosas, representando umagravante para possíveis sequelas psicológicasem crianças e adolescentes.1,11

Evidenciou-se neste estudo que a maio-ria das crianças participantes era provenientedo interior, principalmente nos casos em que oacidente foi provocado por líquidos inflamá-veis. Talvez essa maior incidência tenha ocor-rido devido à falta de energia elétrica no localonde a criança reside, favorecendo o uso decandieiros a gasolina e também à prática cul-tural da utilização de álcool para espantar mos-quitos e curar doenças (como a tosse).

Desse modo, estudos que revelem dadossobre o local de moradia da criança fornecemà equipe de saúde pistas sobre a qualidade doambiente no qual o paciente está inserido, in-dicando quais os riscos para a saúde e integri-dade física da criança e como essas variáveis

podem estar relacionadas com a situação queocasionou o acidente.

Todas as crianças/adolescentes que fi-zeram parte deste estudo, mesmo tendo melho-rado o seu estado de saúde, ficaram com mar-cas em seu corpo, umas mais profundas eextensas, outras menos aparentes. Além disso,todas as crianças/adolescentes foram submeti-das a numerosos procedimentos dolorosos,como punção venosa, curativos e fisioterapia,os quais podem deixar conseqüências prejudi-ciais ao seu desenvolvimento, conforme apon-ta a literatura.1

A falta de informação do cuidador so-bre como proceder no momento em que ocorrea queimadura e os riscos de morte que a mes-ma oferece, também foi evidenciado. Tal dadotambém destaca a importância de planejamen-to de atividades preventivas, que informem aoscuidadores sobre as queimaduras e os riscosque as seqüelas da mesma oferecem para odesenvolvimento da criança.11-13,15,16

Intervenções na área da saúde que vi-sem à promoção, prevenção e tratamento dedoenças estão mais consolidadas, e o psicólo-go possui um papel importante neste processo,uma vez que sua intervenção pode contribuirpara a diminuição de custos com o tratamentoe o aumento da freqüência de comportamentossaudáveis e de cuidado e proteção à criança eao adolescente.14

Outro aspecto relevante diz respeito àssuspeitas de agressão e de negligência. Isso éuma dificuldade enfrentada diariamente pelaequipe de profissionais da enfermaria de pe-diatria do Hospital Metropolitano de Urgênciae Emergência (HMUE). Ainda que a queima-dura tenha sido relatada como associada a umacidente, observou-se que, na maioria dos ca-sos, mesmo em se tratando de pré-escolares,isso somente aconteceu devido à criança estarsem a supervisão adequada de um adulto.

Assim, há necessidade de um efeti-vo programa de intervenção como estraté-

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gia para evitar prejuízos ao desenvolvimen-to destes pacientes e de seus familiares.AGRADECIMENTOS:

Este estudo foi realizado com o apoiodo Hospital Metropolitano de Urgência e

Emergência (HMUE), Pará. Estudo parci-almente financiado por meio de bolsa demestrado para a terceira autora, concedidapela Fundação de Amparo à Pesquisa noEstado do Pará (FAPESPA).

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Recebido em: 16/11/2008

Modificado em: 20/02/2009

Aceito em: 28/03/2009