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ESTUDO DE CASO
FISIOTERAPIA PARA CORREÇÃO POSTURAL EM ADOLESCENTE COM
ESCOLIOSE DORSO-LOMBAR SOB A ÓTICA DAS CADEIAS MUSCULARES.
Francisco Luis Alves Teixeira da Silva
Rua Alberto Leite nº 67, Méier - Rio de janeiro cep: 20730060
Tels.: 3275-6632 / 9692-0208
E-mail: [email protected]
Anna Paola P. B. G. Montes - Supervisora de Estágio da Clínica Escola de Fisioterapia da
Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro RJ
Roberto Carlos Carmo - Orientador do Trabalho de Conclusão de Curso.
RESUMO.
O objetivo desse estudo foi comprovar como a Fisioterapia usando a estabilização e
o equilíbrio das cadeias musculares pode interferir na tendência à deformidade a qual os
adolescentes, principalmente do sexo feminino, estão sujeitos, devido ao crescimento ósseo
acelerado chamado “estirão”, um crescimento desordenado entre ossos e as estruturas
moles associadas. O estudo de caso apresenta uma paciente adolescente que iniciou seu
tratamento Fisioterapêutico há dois anos. Seu exame físico foi constituído de análise
postural global, exame estático e dinâmico das cadeias hipoprogramadas e
hiperprogramadas. Seu tratamento foi desprogramação das cadeias musculares
hiperprogramadas e reprogramação das hipoprogramadas, pelo método da reeducação
postural das cadeias musculares. O tratamento dependeu de uma boa avaliação e da correta
utilização das técnicas disponíveis para a obtenção da máxima eficácia. Obteve-se um
excelente resultado na recuperação de sua postura e na execução de suas AVD`S, conforme
atestaram seus exames posturais e de raios x.
PALAVRAS-CHAVE.
Estrutural, músculo-esquelética, desprogramação,hiperlordose.
Rio de Janeiro
2008.1
2
INTRODUÇÃO.
A escoliose é uma disfunção da coluna vertebral na qual podem ocorrer desvios
tridimensionais em três planos do corpo (frontal, sagital e transversal), cujo principal
componente é o desvio lateral anormal no plano frontal, podendo caracterizá-la como
estrutural, diferente da atitude escoliótica, em que os sintomas desaparecem quando o
paciente está em decúbito (1).
É considerada uma patologia multifatorial, podendo ter várias
origens: situações compensatórias, neuromusculares, por posturas idiopáticas ou antálgicas,
congênitas (falha na formação dos ossos e segmentação), poliomielite, paralisia cerebral,
traumas/fraturas, cirurgias, queimaduras, fenômenos irritativos, tumores medulares, hérnia
de disco, distrofia muscular e outros (2)
. O termo idiopática é usado pela medicina para
designar qualquer doença que tem causa desconhecida, que não apresenta nenhuma
anormalidade óssea ou neuromuscular.
A escoliose pode apresentar uma ou mais curvaturas. Apresentam convexidades
para a esquerda ou para a direita “C”, abrangendo uma ou mais regiões da coluna. Podem
apresentar curvas compensatórias formando um "S" ou um "S invertido". Podem resultar
em alterações anatômicas como: rotações vertebrais, saliências nas costelas, encurtamento
vertebral e gibosidades (3)
. Foram definidas por Cobb como sendo Primárias (maiores,
iniciais) ou secundárias (menores, de compensação). A curva primária é a que determina as
alterações da estrutura óssea, ligamentar, nervosa e muscular no segmento da coluna onde
ela se localiza (2)
. A curva primária tende a se tornar estruturada quando não compensada no
início, tornando oblíquas as linhas horizontais do olho e da pelve, obrigando a pessoa a
adotar uma posição antifisiológica para compensar. As secundárias, como são curvas
menores e apenas de compensação são mais flexíveis e fáceis de serem corrigidas. No
entanto, não podemos nos esquecer que, quanto maior for a curva primária, maior será a
secundária (4)
.
Podemos encontrar a escoliose na região cervical, torácica, toracolombar, lombar ou
abranger toda a extensão da coluna (5)
. Uma grande complicação da escoliose está
relacionada à fase de crescimento rápido, o chamado “estirão”, ocorrendo nos meninos em
torno dos 13/15 anos e nas meninas dos 11/13 anos, geralmente 18 meses antes de eles
entrarem na puberdade. Dentro desse período o risco de aumentar a escoliose ou o começo
3
de um processo escoliótico é extremamente grande, devido ao fato de haver um
crescimento ósseo mais acelerado em relação ao crescimento muscular (6)
. É nessa fase que
adolescentes referem muita dor nas costas e nos membros, principalmente inferiores, as
quais denominam-se “dores de crescimento” (3)
.
A freqüência de ocorrências da escoliose varia, dependendo da população estudada,
do método de identificação ou do grau da curvatura, mas estudos têm sugerido que a
incidência da escoliose na população em geral aproxima-se de 2 a 4%, representando cerca
de 30% das incidências dos desvios posturais (1)
.
A estrutura músculo-esquelética é a carcaça do nosso corpo. Ela determina sua
forma, influencia as funções, e condiciona os movimentos. Sua deformação é dispendiosa
em energia e perturba obrigatoriamente a sensibilidade (5)
.
Este trabalho teve por objetivo avaliar a eficácia do tratamento de correção postural
em um caso de escoliose e hiperlordose em uma adolescente, levando-se em conta a ação
das cadeias musculares antagonistas e sinergistas e acompanhar seus progressos desde a
primeira avaliação.
MATERIAIS E MÉTODO.
Identificação: Paciente: TBG. Idade: 16 anos. Sexo: feminino. Profissão: estudante.
Diagnóstico Médico: Escoliose tóraco-lombar à direita.
Anamnese: HDA: Responsável relatou ter identificado assimetrias em ombros e membros
inferiores (MMII) em 2005. Foi levada ao Hospital que diagnosticou escoliose e
recomendou natação e reeducação postural. Só realizou natação por não ter aonde fazer
reeducação postural. Retornou ao médico em 2006 onde foi feito um pedido de Raios-X
(RX) em incidências ântero-posterior (doravante denominado ap) e perfil, que confirmou
escoliose tóraco-lombar à direita e hiperlordose. Na história patológica pregressa (HPP), a
paciente relatou sentir dores nos membros inferiores (MMII) durante a infância, tendo
tomado analgésico com remissão dos sintomas. Teve bronquite com várias crises. Sentia
dificuldade e cansaço para respirar durante atividades físicas. História familial (H.FAM) e
história social (HS). Mãe relata artrose em ambos joelhos e pai hipercifose torácica.
Paciente não etilista e não tabagista. Realiza dança (frevo) sem intercorrências. Anda com
mochila pesada por causa de material escolar, e sobe cinco lances de escada para chegar na
sala de aula.
4
Procurou a clínica-escola da Universidade Gama Filho para realizar uma avaliação
postural, onde foi confirmado o diagnóstico de escoliose através de exames posturais
estáticos e dinâmicos. Foi importante saber da paciente sobre sua digestão, casos de
problemas gástricos e se ele já sofreu alguma cirurgia, pois as cadeias musculares e os
tecidos tendem a se fechar sobre as cicatrizes para protegê-la, (relação contendor e
conteúdo).
Método: Para exames foram utilizadas técnicas de RPG Australiano e para tratamento, o
método de cadeias musculares de philippe Souchard.
Exame físico: Levou em consideração a observação analítica e a comparação dos
segmentos do corpo, um lado com o outro. O primeiro exame físico foi realizado em
18/08/2006. Os exames foram estáticos e dinâmicos.
Exames estáticos: Face anterior: Observou-se o posicionamento da cabeça, se estava
rodada ou inclinada e para qual lado. Ombros: Altura e simetria. Triângulo de Talhe (o
ângulo que se forma no espaço entre os braços e a lateral do corpo quando há algum desvio
ou rotação na coluna). Pregas mamárias: Assimetrias. Tórax: Tipo e assimetrias.
Abdômen: Protuso ou retruso. Cicatriz umbilical: Se está deslocada ou alterada. Espinha
ilíaca ântero superior (EIAS): Assimetrias e diferença de altura. Sínfise pubiana. Coxa:
Varismo ou valgismo, com fechamento ou abertura. Joelhos: Varismo ou valgismo. Perna:
Varismo ou valgismo. Maléolos: Assimetria. Pés: Arco plantar, varismo ou valgismo,
pronação ou supinação. Face posterior: Observou-se o posicionamento e a simetria de
cabeça. Ombros: Altura, assimetrias. Escápula: Altura, assimetrias. Deve-se marcar os
bordos superior, médio e inferior mediais da escápula e medir a distância entre eles e o
processo espinhoso das vértebras da coluna torácica, anotar e comparar os dois lados.
Escoliose: Tipo, classificação. Gibosidade (altura das paravertebrais de um lado em relação
ao outro com o paciente em flexão de tronco e o Fisioterapeuta observa no sentido crânio-
caudal ou vice-versa). Espinha ilíaca póstero superior (EIPS). Deve ser encontrada
palpando-se o paciente ao nível da cintura, bi-lateralmente com os polegares e marcamos
seu local com um lápis dermatográfico para observação e comparação posterior. Marcou-se
também a espinha ilíaca póstero inferior (EIPI) que deve ser achada a partir da marcação da
EIPS, três dedos abaixo desta, lateralmente. Prega glútea. Prega poplítea: Assimetrias.
Vista perfil: Posicionamento de cabeça, hipercifose, ptose abdominal e ombros, (se está
5
protuso ou retruso), escápulas, hiperlordose, quadril: Compara-se então a altura da EIAS e
a EIPI para se definir se o quadril está em anteroversão (EIAS mais baixa que EIPI) ou
retroversão (EIAS mais alta que EIPI). Joelhos: Geno flexo ou geno recurvatum, pernas,
pés: Cavo ou plano. Depois do exame físico foi feito o teste dos apoios onde o paciente foi
colocado em decúbito dorsal (doravante denominado dd) na maca e perguntou-se se os
seguintes segmentos tocavam ou não a maca, e se um lado era igual ao outro: cabeça,
pescoço, ombros, escápula, tronco, quadril, nádegas, coxas, joelhos, tornozelos, maléolos,
pés. Tudo foi anotado e comparado, e serviu para confirmar as cadeias que estavam em
hiperprogramação e que foram identificadas em outros testes.
Exames dinâmicos: Teste de flexão de pé (TFP), onde o paciente fez uma flexão para
avaliar se havia hiperprogramação das cadeias musculares de extensão, que se evidencia
quando alguma parte da coluna não flexiona no teste, mantendo-se retificada. Se ele não
alcançar 90º entre os membros inferiores e o tronco, indica comprometimento da cadeia
posterior estática. Teste de extensão de pé (TEP), onde o paciente fez uma extensão de
tronco para avaliar as cadeias musculares de flexão. Teste de flexão lateral (TFL), que
avaliou as cadeias musculares laterais e cruzadas, e a flexibilidade de coluna vertebral.
Teste de extensão deitado (TED) com o paciente deitado em dd, que avaliou cadeia flexora
ântero-superior. Pernas estendidas, Fisioterapeuta de frente para a paciente na altura de sua
cabeça, na ponta da maca, solicitou-se que ela elevasse os braços até atrás da cabeça e
observou-se se eles tocavam a maca, se não, força-se um pouco para evidenciar elevação do
tórax e aumento da lordose. Teste de flexão deitado (TFD). Com o paciente em dd, o
Fisioterapeuta homolateral ao paciente, fez uma elevação passiva dos membros inferiores
(MMII). Observou-se comprometimento de cadeia póstero-inferior, ísquios tibiais e
quadrado lombar, à medida que o quadril se elevou da maca quando as pernas ainda
estavam à menos de 40º. O teste do diafragma: Paciente em dd, Fisioterapeuta na ponta da
maca, acima da cabeça da paciente, e os dois polegares colocados bilateralmente à altura do
diafragma, pouco abaixo das costelas, e as mãos apoiadas nas laterais do corpo da paciente.
Pediu-se que ela respirasse normalmente e avaliou-se o movimento do diafragma, se este
tinha tendência a subir ou descer. Se subisse, a tendência era hipertonia, e se descesse,
hipotonia. Foi feito na oportunidade, solicitação para mobilidade pélvica em todas as
6
posturas, deitada em dd, sentada na ponta de uma cadeira com os pés apoiados no chão e de
pé, para avaliar seu grau de controle muscular.
Materiais para avaliação: Fita métrica, lápis dermatográfico, placas de borracha gymnic
educ-o-disks com diâmetro de 20 cm e 1,5 mm de espessura (para igualar as cristas ilíacas).
Materiais para tratamento: Para tratamento foram utilizados maca, travesseiro, toalhas
diversas, triângulo de espuma, cadeira, bola suíça gymnic de 65 cm, bastão de madeira com
1 metro e espelho para o corpo inteiro.
Programa de tratamento: O programa de tratamento foi dividido em duas fases,
primeiramente em desprogramação das cadeias musculares hiperprogramadas e
posteriormente na reprogramação das cadeias hipoprogramadas.
1ª fase - O tratamento desenvolvido consistiu, primeiramente, na desprogramação
das cadeias musculares ântero-superior, entre o pescoço e o final das costelas e póstero-
inferior, entre a cintura e a prega glútea, com o uso dos traços de desprogramação, que
foram feitos com o bordo lateral do polegar em lugares específicos, feitos com força
moderada para forte, para alcançar a musculatura profunda e proporcionar uma ação mais
local, de acordo com a reflexologia. O paciente ficou deitado em uma maca com espaço
livre em todos os lados, em dd, com a cabeça apoiada em um travesseiro fino ou uma toalha
dobrada, com as pernas em flexão apoiadas em um triângulo de espuma, a coluna bem
apoiada à maca e o fisioterapeuta homolateral à paciente. Iniciou-se então uma massagem
com os polegares no diafragma do paciente, pressionando preferencialmente quando ela
expirava. A massagem começava na altura do apêndice xifóide com o dedo em suave
rotação, acompanhando a parte inferior das costelas até a lateral do corpo, repetindo-se
duas vezes cada lado, depois foi feito o poupée rolée, que é o descolamento da pele no
mesmo local e sentido da massagem, em seguida, massagem de mão-em-luva, onde com a
ponta dos dedos afastados entre si, puxa-se a pele de todo abdômen em direção a púbis por
três a cinco vezes. Depois se iniciou os traços de desprogramação da cadeia ântero-
superior, um traço de cada vez, feitos com o bordo lateral do dedo polegar repetido duas
vezes, bi-lateralmente nos locais e sentidos apropriados. O primeiro foi do apêndice xifóide
seguindo o esterno até o acrômio, fazendo um leve arco. O segundo seguiu a prega
mamária de proximal para distal. O terceiro foi do acrômio até o esterno, mais ou menos na
altura da 2ª costela. Colocou-se o paciente em decúbito lateral (doravante denominado dl), e
7
iniciou-se a desprogramação de cadeia póstero-inferior, fazendo uma massagem no
ligamento arqueado, situado pouco abaixo das costelas, bilateralmente, a nível de L5, C1,
com os polegares em suave rotação. Descolamento da pele, feito pinçando a pele com os
dedos suavemente. A desprogramação foi feita utilizando-se os traços também. O primeiro
foi em cima da articulação sacro-ilíaca, onde se traça um losango, com mais ou menos 10
cm, de cima para baixo e é o único que os dois lados foram feitos simultaneamente, todos
os outros foram feitos um traço de cada vez com o bordo lateral do dedo polegar, repetido
duas vezes, bi-lateralmente. O segundo traço foi da parte superior do sacro até a cabeça do
fêmur, fazendo um leve arco para baixo. O terceiro foi da região média do sacro até o colo
do fêmur, fazendo um leve arco para cima. O terceiro acima da prega glútea, do cóccix até
abaixo do colo do fêmur, fazendo também um arco mais acentuado para cima. O quarto
traço foi do início das vértebras lombares até o sacro, em linha reta, aproximadamente um
centímetro ao lado do processo espinhoso. E o quinto segue paralelo ao quarto, mas com
três a cinco centímetros de distância do processo espinhoso. Voltou-se agora o paciente
para dd para a conscientização diafragmática, colocou-se o paciente em uma posição de
relaxamento e alongamento, com as pernas apoiadas em um triangulo e na cabeça em um
travesseiro não muito alto, a coluna bem apoiada na maca e os braços estendidos ao lado do
corpo. Pedimos à paciente para inspirar profundamente pelo nariz e soltar o ar pela boca
contraindo o abdômen para desprogramar o diafragma, dando o comando de “murchar” a
barriga ao soltar o ar. Foi feita uma série de quinze respirações e repetiu-se a série duas
vezes, com um período de relaxamento entre elas. Pompage sacral, onde a paciente elevou
os quadris da maca fazendo uma meia ponte e o Fisioterapeuta, homolateral à paciente,
colocou sua mão por baixo desta na região do sacro com a palma virada para cima, os
dedos abertos e o cotovelo apoiado na maca e pediu para ela abaixar. A paciente apoiou o
sacro na mão do Fisioterapeuta e em seguida estendeu as pernas. O Fisioterapeuta puxou
suavemente a mão no sentido dos pés na expiração e afrouxou levemente, mas não
totalmente na inspiração. Foi feito por um minuto. Pompage cervical, com a paciente
deitada em dd e as pernas apoiadas em um triângulo de espuma, o Fisioterapeuta, sentado
na cadeira de frente para o alto da cabeça da paciente, segura a cabeça com as duas mãos e
puxa-a levemente em sua direção fazendo pressão na parte posterior do pescoço por um
minuto. Em seguida, foi solicitado que ela fizesse Williams I, que consiste de flexionar
8
quadril e joelho de uma perna, segurar com as mãos enquanto a outra está estendida
associando com a respiração. Puxar a perna à expiração e relaxar à inspiração. Foram feitas
três séries de quinze repetições. Isso promove alongamento e retificação da coluna lombar
diminuindo a hiperlordose. Em seguida foi feito Williams II, que é basicamente igual ao I,
só que se segura as duas pernas ao mesmo tempo. Foi feito por um minuto. Alongamento
de glúteos em dd, com os tornozelos apoiados em bola suíça, com os joelhos e os quadris
fazendo 90º por um minuto. Pompage dos ísquios, onde se segurou o pé pela região plantar
com uma mão e com a outra se estabilizou a perna, puxando passivamente o pé fazendo
dorsiflexão e relaxando para flexão plantar, com as pernas da paciente totalmente
estendidas, por um minuto.
2ª fase - Controle isolado da respiração, colocando-se a mão em uma área do abdômen e
pedindo-se uma inspiração focada naquela área. Foi feito em região central, costo-
diafragmática e transverso do abdômen, uma série de dez repetições em cada uma. Rã
deitada, onde a paciente em dd uniu as plantas dos pés e dobrou os joelhos com as pernas
em abdução (posição de borboleta), tendo mantido a posição forçando a abertura das
cadeias musculares adutoras e rotadoras mediais do quadril por dois minutos. A paciente
saiu dessa posição mantendo o padrão de abertura até a total extensão das pernas para
treinar sua propiocepção. Rã sentada na maca, com três bolachas de borracha sob sua
nádega esquerda para igualar a altura de seu quadril, encostada em dois triângulos
contrapostos, fazendo um encosto de 90º, a paciente fez flexão dos joelhos unindo as
plantas dos pés e fez massagem na coxa no sentido do quadril para o joelho e de medial
para lateral para trabalhar sua cadeia de fechamento, um minuto cada perna. Fez
alongamento no lado da convexidade nessa posição, com o Fisioterapeuta do lado da
convexidade, seu braço passando para o outro lado, uma mão apoiada no quadril e o outro
braço passando para o outro lado e apoiando abaixo do braço. Pediu-se uma inspiração e na
expiração afastou-se as mãos alongando todo o lado côncavo. Manteve-se uma tensão nas
inspirações, porém sem fazer muita força. Ao final, saiu dessa posição devagar, mantendo a
postura de abertura. Movimentação pélvica: Fez retroversão forçada e anteroversão leve do
quadril para trabalhar a musculatura do abdômen e alongar as paravertebrais sem aumentar
a hiperlordose: Deitada com a paciente em dd, pernas flexionadas e pés apoiados na maca,
por ser mais fácil e treinar a musculatura para as outras posturas; Sentada na cadeira;
9
Sentada na bola suíça, com o mesmo propósito da cadeira, porém trabalha em conjunto as
cadeias estabilizadoras profundas do corpo, três séries de dez repetições. Movimentação
pélvica de pé, a mais difícil e que requer maior controle muscular, duas séries de dez
repetições. Exercícios de equilíbrio (pêndulo) à frente do espelho, com a paciente de pé,
fazendo uma leve retroversão de quadril, pés levemente afastados e a paciente corrigindo
sua postura com o reflexo. Fez inclinação para frente e para trás, de um lado para o outro e
rodando com o corpo o mais rígido possível para treinar os músculos responsáveis pela sua
postura e dar ao corpo propiocepção de movimento. Fez uma vez cada exercício por um
minuto.
RESULTADOS.
De acordo com os exames de RX e pela observação da postura nos exames físicos
de reavaliação, foi observado que ao longo do tratamento a escoliose diminuiu
sensivelmente (figura 1). Houve também diminuição da hiperlordose (figura 2), melhora
geral na postura e na simetria foi observada em exames posturais, com diminuição de
retropulsão de ombros, diminuição de projeção anterior de esterno, diminuição de genu
recurvatum e melhora de controle motor generalizado, principalmente de quadris e
abdômen. Ausência de dor e melhora na qualidade de seus movimentos em suas avd`s
foram relatadas pela paciente.
Figura 1.
2006 2007 2008
10
Figura 2.
2006 2008
DISCUSSÃO.
O propósito desse estudo foi comprovar como a terapia usando o equilíbrio das
cadeias musculares pode influenciar na tendência natural de deformidade a qual os
adolescentes, principalmente do sexo feminino estão sujeitos, devido ao crescimento ósseo
acelerado chamado “estirão”, um crescimento desordenado entre os ossos e as estruturas
moles associadas (4)
.
As escolioses podem ser classificadas como: infantis (até três anos), juvenis (de três
anos à puberdade), do adolescente (após a puberdade), e do adulto (8)
. De acordo com
BIENFAIT & SANTOS (9)
, três tipos de tecido participam na evolução da escoliose: ósseo,
conjuntivo e muscular. Estes três tecidos de base estão ligados intimamente e são
inseparáveis na locomoção. O crescimento os modifica, talvez mais que em outros tecidos
humanos. Como os demais tecidos, independentemente de seu desenvolvimento em força e
resistência, devem crescer em comprimento ao longo dos anos.
É na fisiologia deste crescimento, que é diferente para cada um dos três tipos de
tecidos, que se situa a evolução da escoliose, sendo os tecidos conjuntivo e muscular
dependentes do alongamento ósseo. Na fase de crescimento, portanto, é que a instalação de
11
alguma disfunção por desequilíbrio fica mais evidente. De acordo com TEIXEIRA (10)
e
PUERTAS (11)
, a escoliose é uma patologia da infância e adolescência e durante esta fase do
desenvolvimento, está em estágio de adaptação às novas exigências físicas e psicológicas.
De acordo com seu grau de mobilidade, BIENFAIT (12)
apresenta a seguinte classificação
das escolioses:
- Pré-escoliose: no exame clinico se constatam indícios de uma escoliose, porém ao RX em
posição ortostática não é confirmado.
- Escoliose de primeiro grau: ao RX em posição ortostática aparece uma leve flexão lateral
sem rotação ou com uma leve rotação vertebral. Ao RX em decúbito a curva desaparece.
- Escoliose de segundo grau: ao RX em posição ortostática aparece uma escoliose. Ao RX
em decúbito ela se acentua. Ao RX sob tração ela desaparece.
- Escoliose de terceiro grau: não desaparece mesmo em um RX sob tração.
A paciente vem realizando tratamento em reeducação postural nos últimos três
anos, logo depois do seu período de “estirão”, com evolução comparável a outras técnicas
fisioterapêuticas, utilizando apenas a correção da postura associada à exercícios e o
equilíbrio das cadeias musculares. Neste estudo, não se associou os achados condizentes à
escoliose com a obesidade, apesar desta ter grande influência em diversos males posturais.
É necessário critério quando se opta em um programa de Fisioterapia para a
coluna. Deve-se evitar o treinamento puro dos músculos abdominais por oferecer riscos,
como muita tensão sobre o disco intervertebral. Como resultado de estudos recentes, há
uma tendência a incluir principalmente o músculo transverso abdominal e o multífido na
reabilitação (13,14,15,16)
.
CONCLUSÃO.
Com uma boa e criteriosa avaliação inicial, a utilização de Fisioterapia de correção
postural, desprogramação e programação das cadeias musculares podem apresentar
resultados excelentes, como comprovam seu exame postural e as imagens de RX,
principalmente levando-se em conta que a paciente está saindo se seu momento mais crítico
de crescimento, onde apenas a manutenção de sua escoliose como se apresentava, já seria
considerado satisfatório.
12
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13
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