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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA – DEF
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA – PPGEF
ORIENTADORA: Dra. MARIA ISABEL BRANDÃO DE SOUZA MENDES
CORPO E SAÚDE: REFLEXÕES SOBRE O
QUADRO “MEDIDA CERTA”
NATAL – RN
2012
HUDSON PABLO DE OLIVEIRA BEZERRA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA – DEF
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA – PPGEF
ORIENTADORA: PROFª. Dra. MARIA ISABEL BRANDÃO DE SOUZA MENDES
HUDSON PABLO DE OLIVEIRA BEZERRA
CORPO E SAÚDE: REFLEXÕES SOBRE O QUADRO
“MEDIDA CERTA”
NATAL – RN
2012
HUDSON PABLO DE OLIVEIRA BEZERRA
CORPO E SAÚDE: REFLEXÕES SOBRE O QUADRO “MEDIDA CERTA”
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Educação Física – PPGEF,
linha de pesquisa “Estudos Sócio-Filosóficos
sobre o Corpo e o Movimento Humano”, da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
– UFRN, como requisito para obtenção do
título de Mestre em Educação Física.
Orientadora: Dra. Maria Isabel Brandão de
Souza Mendes.
NATAL – RN
2012
Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede
Bezerra, Hudson Pablo de Oliveira.
Corpo e saúde: reflexões sobre o quadro “medida certa”. / Hudson Pablo de Oliveira Bezerra. – Natal, RN,
2012.
206 f.; il.
Orientadora: Dra. Maria Isabel Brandão de Souza Mendes.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências da Saúde.
Programa de Pós-Graduação em Educação Física.
1. Educação física – Dissertação. 2. Corpo – Dissertação. 3. Saúde - Dissertação. 4. Mídia – Dissertação. 5.
Medida Certa – Dissertação. I. Mendes, Maria Isabel Brandão de Souza. II. Universidade Federal do Rio Grande
do Norte. III. Título.
RN/UF/BCZM CDU 796
Dedico este trabalho a minha mãe, Maria
Dolores de Oliveira Bezerra, mulher de força,
fé e coragem, que sempre enfrentou os
desafios impostos pela vida não medindo
esforços para proporcionar uma boa educação
e formação aos seus filhos. Especialmente
durante este processo de formação em nível de
mestrado em que lutou de forma incansável
pela vida, não desanimando e não me deixando
desanimar, mostrando que com amor, fé e
união muitos problemas podem ser superados.
A ela e a todos pacientes oncológicos que
lutam cotidianamente pela vida, dedico este
trabalho.
AGRADECIMENTOS
A Deus, entidade maior de minha fé, ponto de confiança e reconciliação para os problemas
enfrentados durante toda a trajetória de formação e demais experiências da vida.
A minha mãe Maria Dolores e a minha irmã Poliana Nara, mulheres de minha vida, pelo
incentivo, apoio, paciência e por tudo que sempre fizeram e fazem por mim. Não saberei
expressar com palavras a admiração e o carinho que sinto por vocês.
Aos avós, tios, primos e demais familiares que sempre estiveram na torcida incentivando e
apoiando, especialmente nos momentos mais difíceis em que minhas bases de sustentação
passaram por abalos.
A minha orientadora, Dra. Maria Isabel Brandão de Souza Mendes, que me acompanhou de
forma intensa durante todo esse processo, apontando sempre os direcionamentos necessários
para a construção de um bom trabalho e de uma formação de qualidade.
Aos professores do Mestrado em Educação Física da UFRN que compartilharam seus
conhecimentos e produções nas aulas, seminários, eventos, reuniões, entre outros momentos
da formação.
Ao Departamento de Educação Física da UFRN ao qual agradeço em nome dos professores:
Dr. José Pereira de Melo e Dra. Maria Aparecida Dias.
Ao Programa de Pós-Graduação em Educação Física da UFRN ao qual agradeço em nome da
professora Dra. Terezinha Petrucia da Nóbrega.
A CAPES pela concessão da bolsa.
Ao professor e amigo Bertulino José de Souza por toda confiança depositada e incentivos
prestados para que este sonho pudesse se tornar realidade. Bem como aos professores e
amigos da UERN: Themis Cristina, Helder Câmara, Lúcia Lira, Ubilina Maia e Suênia
Duarte; que muito contribuíram na minha graduação em Educação Física e que sempre
estiveram acompanhando o processo de formação no Mestrado incentivando e se
disponibilizando a me ajudar no que fosse preciso.
Aos amigos, aqueles com quem compartilhei os bons e os maus momentos. Agradeço a
paciência e a força demandada nos momentos em que foram solicitados. Agradeço a todos em
nome de dois que se fizeram presentes de forma mais intensa nesse processo de formação:
Márcia e Aedson.
Aos companheiros da primeira turma do Mestrado em Educação Física da UFRN: Gertrudes,
André Igor, André Osvaldo, Radamés, Christiane, Richardson, e de forma bem especial à
Rodolfo Pio, Thays Macêdo e Jefferson Eufrásio com os quais convivi de forma mais
próxima. Quero guardá-los para sempre!
Aos colegas e amigos proporcionados por intermédio do Mestrado: Rayane Nóbrega,
Hellyson Ribeiro, Moaldecir, Judson, Aline Prezotto, Hosana, Ingridh, Dianne, Valdemar,
Fátima, Mackson, Patrícia, Paula Nunes, Dandara entre outros que no momento posso não ter
lembrado.
Enfim, agradeço a todas as pessoas que contribuíram e contribuem para a realização dos meus
sonhos, sendo o Mestrado um desses, o meu muito obrigado!
O homem ocidental aprende pouco a pouco o
que é ser uma espécie viva num mundo vivo.
(FOUCAULT, 2011, p. 155)
RESUMO
O cenário atual encontra-se permeado por diversas compreensões a respeito do corpo e da
saúde. Estas são frutos de um processo histórico vivenciado pelos homens em diferentes
épocas e contextos sociais através dos quais foram sendo construídas. Diante deste cenário,
destacamos a mídia como um poderoso meio de informação e formação de ideias no que
concerne ao corpo e à saúde. A mídia também, enquanto meio de mediação de informações
nos apresenta características do cenário social em que está inserida. Em nossa pesquisa
trazemos como objetivo refletir sobre as compreensões, saberes e práticas propagadas a
propósito do corpo e da saúde no quadro “Medida Certa” do programa Fantástico da emissora
Rede Globo de Telecomunicações, no sentido de identificar como a Educação Física, tem
contribuído com a construção dos conhecimentos divulgados. Para tanto, direcionamos nossas
análises ao quadro “Medida Certa” exibido pelo Fantástico nos meses de abril, maio e junho
de 2011. Os dados para análise foram coletados através dos vídeos exibidos ao vivo no
Fantástico e das informações disponibilizadas no blog do referido quadro. Assim, tivemos 14
vídeos exibidos ao vivo, 16 vídeos postados no blog e 97 postagens no blog. Como técnica de
análise dos dados utilizamos da análise de conteúdo de Bardin (2011). Sobre o corpo
obtivemos como categorias de análise: corpo como sistema operacional; corpo biológico;
corpo fragmentado e exterior ao sujeito; corpo quantificado e atrelado a padrões; e, corpo
sujeito. Quanto à saúde analisamos as categorias de: saúde baseada em índices de
normalidade biológica; saúde associada ao emagrecimento e à padrões estéticos; saúde
associada à atividade física e ao controle alimentar; e, por fim propomos uma compreensão de
saúde existencial. Portanto, a partir das análises dos dados evidenciamos uma predominância
de compreensões, saberes e práticas sobre o corpo e a saúde pautadas nos constituintes
biológicos do corpo, na quantificação e classificação em médias e padrões de normalidade, na
generalização de formas de cuidado, na associação linear entre atividade física e controle
alimentar com a saúde, e evidenciamos que a Educação Física tem contribuído com essas
construções, por meio de alguns de seus discursos com ênfase nos aspectos biológicos. Dessa
forma, defendemos em nosso estudo uma compreensão de corpo não somente objeto, mas
também, enquanto sujeito recortado pelos elementos orgânicos, culturais, históricos e sociais,
um corpo vivo, que sente, deseja e antes de tudo se expressa, e a saúde perspectivada como
algo do corpo, entrelaçada através dos aspectos biológicos, culturais, históricos e emocionais
deste corpo que coexiste em sociedade.
PALAVRAS-CHAVE: Corpo; Saúde; Mídia.
ABSTRACT
The present scenario is permeated by different comprehensions about the body and health.
These are the result of a historical process experienced by men in different times and social
contexts through which were being built. Faced this scenario, we emphasize the media as a
powerful means of information and training ideas regarding the body and health of theses.
The media also as a means of mediating information we present characteristics of the social
scenario where is inserted. In our research we bring reflects about the comprehensions,
knowledge and practices propagated by the way the body and health under "Medida Certa" of
the program Fantastico the broadcaster Globo Telecommunications, in order to identify how
Physical Education, has contributed the construction of knowledge disseminated. Therefore,
we focus our analysis to the table "Medida Certa" exhibited by Fantastico in the months of
April, May and June of 2011.The data for analysis were collected through the videos shown
live in Fantastic and the information provided in the blog that table. Thus, we had 14 videos
shown live, 16 videos posted on the blog, 97 posts in blog. As technique of analysis of the
datas used of content analysis of the Bardin (2011). About body obtained as analytical
categories: body as operating system; biological body; fragmented body exterior to the
subject; body trailer quantified to patterns; subject body. How to health we analyze the
categories of health existential: health existential based in biological indices of normality;
health existential associated with weight loss and aesthetic patterns; health existential
associated with physical activity and nutritional control; and finally we propose a
comprehension of health existential. Therefore, from the analysis of the data evidenced a
predominance of comprehensions, knowledge and practices about the body and health guided
the biological constituents of the body, quantification and classification in medium and
normal patterns on pervasive forms of care, in the linear association among physical activity
and nutritional control with health, evidenced that Physical Education has contributed to these
constructions, through some of his discourses with emphasis on biological aspects. Thus, in
our study we advocate an understanding of not only the body as object, but also as a subject
clipped by organic, cultural, historical and social elements, a living body, feeling, desire and
above all expresses itself, and health viewed as something body, interlaced through the
biological, cultural, historical and emotional aspects of this body that coexist in this society.
KEY- WORDS: Body; Healt; Media.
LISTA DE IMAGENS
Imagem 01 - Zeca Camargo, Renata Ceribelli e Márcio Atalla (Página 15)
Fonte: Medida Certa, 2011.
Imagem 02 – Abertura do Quadro Medida Certa (Página 27)
Fonte: Medida Certa, 2011.
Imagem 03 – Márcio Atalla (Página 31)
Fonte: Medida Certa, 2011.
Imagem 04 – Renata Ceribelli (Página 34)
Fonte: Medida Certa, 2011.
Imagem 05 – Zeca Camargo (Página 36)
Fonte: Medida Certa, 2011.
Imagem 06 – Consulta ao Cardiologista Alexandre Carvalho (Página 53)
Fonte: Medida Certa, 2011.
Imagem 07 – O antes e o depois dos apresentadores (Página 56)
Fonte: Medida Certa, 2011.
Imagem 08 – Caminhada Medida Certa (Página 58)
Fonte: Medida Certa, 2011.
Imagem 09 – Livro do Medida Certa (Página 60)
Fonte: Medida Certa, 2011.
Imagem 10 – Aplicativo Medida Certa (Página 61)
Fonte: Medida Certa, 2011.
Imagem 11 – Medidinha Certa (Página 63)
Fonte: Medida Certa, 2011.
Imagem 12 – Medida Certa - O Fenômeno (Página 64)
Fonte: Medida Certa, 2011.
Imagem 13 – Renata Ceribelli e Zeca Camargo se medindo (Página 71)
Fonte: Medida Certa, 2011.
Imagem 14 - Renata Ceribelli em jantar de casamento (Página 82)
Fonte: Medida Certa, 2011.
Imagem 15 – Componentes biológicos do corpo (Página 86)
Fonte: Medida Certa, 2011.
Imagem 16 – Renata Ceribelli no controle alimentar e na prática de atividade física (Página
89)
Fonte: Medida Certa, 2011.
Imagem 17 – Na prática do Remo (Página 97)
Fonte: Medida Certa, 2011.
Imagem 18 – Renata Ceribelli pedala junto ao esposo (Página 123)
Fonte: Medida Certa, 2011.
Imagem 19 – Cardápio do almoço: carne com legumes (Página 126)
Fonte: Medida Certa, 2011.
Imagem 20 – Renata Ceribelli realiza teste de esforço (Página 131)
Fonte: Medida Certa, 2011.
Imagem 21 – Renata Ceribelli enfrenta o desafio de pular corda (Página 142)
Fonte: Medida Certa, 2011.
Imagem 22 – Renata Ceribelli estreia bicicleta presente de aniversário (Página 147)
Fonte: Medida Certa, 2011.
Imagem 23 – Zeca Camargo almoça na casa da mãe Maria Inês (Página 148)
Fonte: Medida Certa, 2011.
Imagem 24 – Zeca Camargo e Renata Ceribelli antes da realização dos exames bioquímicos
no consultório médico (Página 160)
Fonte: Medida Certa, 2011.
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 – Comentários postados no blog medida certa
Tabela 02 – Postagens realizadas no blog medida certa
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 15
CAPÍTULO 01 – O QUADRO MEDIDA CERTA ............................................................. 27
CAPÍTULO 02 – EM BUSCA DO CORPO REPROGRAMADO .................................... 71
Corpo como sistema operacional .......................................................................................... 75
Corpo biológico .................................................................................................................... 84
Corpo fragmentado e exterior ao sujeito ............................................................................... 94
Corpo quantificado e padronizado ...................................................................................... 104
Corpo como sujeito ............................................................................................................. 117
CAPÍTULO 03 – EM BUSCA DA SAÚDE IDEAL .......................................................... 126
Saúde baseada em índices de normalidade biológica ........................................................ 130
Saúde associada ao emagrecimento e à padrões estéticos .................................................. 138
Saúde associada à atividade física e ao controle alimentar ................................................. 144
Por uma compreensão de saúde existencial ........................................................................ 155
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 160
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 173
ANEXOS
16
No contexto social contemporâneo, os espaços de comunicação de massa oportunizam
constantemente a veiculação de ideias, informações, compreensões, valores, comportamentos,
modos de viver, entre outros, sobre os diferentes temas que estão imbrincados nas relações
sociais cotidianas. Esta veiculação acontece através da mediação exercida pelos espaços
midiáticos, sejam eles revistas, televisão, jornais, rádio e internet, alcançando assim um
público numeroso e variado.
Diante este cenário, percebemos que as informações difundidas por estes meios
possuem grande influência na forma como as pessoas compreendem os diferentes temas
abordados, tais como: educação, segurança, saúde, esporte, economia, política dentre outros.
Entretanto, focaremos neste estudo dois temas que se configuram como centrais no debate da
Educação Física atual: Corpo e Saúde.
Partimos do entendimento de que as diferentes compreensões de corpo e saúde
subsidiam reflexões e práticas em diferentes áreas do conhecimento: anatomia, fisiologia,
filosofia, sociologia, pedagogia, psicologia, antropologia, dentre outras. Todavia, são as
reflexões promovidas sobre estes temas que oportunizam uma evolução para compreensões
que permitam o uso diferenciado do corpo e da saúde nos espaços profissionais de diferentes
áreas do conhecimento, bem como, nas experiências da vida cotidiana.
Com base nisto, pesquisadores da Educação Física têm realizado estudos que buscam
superar as compreensões difundidas sobre o corpo regidas pelos dualismos, pelas
fragmentações e pelos estereótipos padronizados, como também, o entendimento de saúde
enquanto a ausência de doenças, associada à padrões estéticos e baseada em modelos
(CARVALHO, 1995; NÓBREGA, 2010; MENDES, 2007; PALMA, 2001; SILVA, 2001;
etc.). As reflexões oferecidas por esses estudos trazem novos olhares para atuação dos
profissionais da área, entretanto, ainda temos muito a desenvolver para que possamos
17
consolidar um campo de conhecimento que reconheça os sujeitos, antes de tudo, a partir de
suas experiências vividas no mundo.
No que concerne às compreensões de corpo e saúde é necessário pensá-las como
fenômenos situados que emergem de diferentes espaços e tempos e que são constantemente
reconstruídas e ressignificadas de acordo com as características do contexto social em que se
desenvolvem. Neste contínuo, percebemos a interferência de diversas instituições na
construção de novos sentidos e significados para o corpo, bem como para a saúde, dentre as
quais destacamos a mídia.
Segundo Gastaldo (2009, p. 353):
Entende-se por “mídia” os “meios de comunicação de massa” [...], ou seja,
os veículos de comunicação, tomadas como dimensão tecnológica, que, a
partir da produção centralizada, veiculam seus produtos de modo
“massificado”, isto é, a um público numeroso e indistinto, sem levar em
conta a individualidade de cada um dos participantes deste público.
No cenário contemporâneo, percebemos que as instituições midiáticas têm atuado
como catalizadoras na construção de novos valores e significados para os acontecimentos das
relações sociais. Dentre esses, têm possibilitado através dos seus meios de veiculação de
informações, a disseminação e a construção de novos sentidos para as compreensões sobre o
corpo e sobre a saúde.
Baseando-nos nesta situação, sentimos a necessidade de refletir sobre essas
compreensões para que pudéssemos pensar em fundamentos teóricos que contribuem com a
atuação da Educação Física e que contemplem significações de corpo e saúde de forma
ampliada, superando os reducionismos que por muito tempo estiveram e estão presentes no
imaginário social e que são reforçados muitas das vezes pelas informações veiculadas pela
mídia. Além disso, este estudo proporcionará contribuições para pensarmos as influências que
a mídia possui na veiculação de padrões corporais e de saúde.
18
Dessa forma, nosso estudo busca avançar nas reflexões e análises sobre as
compreensões de corpo e saúde veiculadas pela mídia que incitam a adoção de hábitos ditos
saudáveis, a busca por padrões corporais, estilos de vida ativo e padronizados, o consumo de
bens e serviços associados à aquisição de saúde, entre outros. Portanto, este estudo contribuirá
para a aquisição de “novas” compreensões de corpo e saúde, bem como para pensarmos como
estas são veiculadas pela mídia.
Diante essas considerações, discutimos as compreensões de corpo e saúde veiculadas
pela mídia, especialmente a mídia televisiva e a internet. Assim, questionamo-nos como e
quais compreensões, saberes e práticas de corpo e saúde são veiculadas nos espaços
midiáticos, e como a Educação Física tem contribuído com a construção dos conhecimentos
divulgados?
Frente a estes questionamentos, o objetivo desta pesquisa foi analisar as
compreensões, saberes e práticas propagadas a propósito do corpo e da saúde no quadro
“Medida Certa” do programa Fantástico da emissora Rede Globo de Telecomunicações, no
sentido de identificar como a Educação Física tem contribuído com a construção dos
conhecimentos divulgados.
As motivações para a presente pesquisa partem do envolvimento pessoal ao longo da
trajetória acadêmica como pesquisador voluntário de iniciação científica e da construção da
monografia de conclusão no curso de Educação Física da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte – UERN, Campus Avançado “Profª. Maria Elisa de Albuquerque Maia” –
CAMEAM, onde traçamos diálogo com a temática da mídia e do esporte. Entretanto, a partir
do contato com o Grupo de Pesquisa Corpo e Cultura de Movimento – GEPEC, através
programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em nível de Mestrado em Educação Física da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, possibilitamos uma ressignificação
19
das discussões que envolvem a mídia para o campo das pesquisas sobre o corpo e a saúde,
temas esses discutidos pelo grupo de pesquisa citado.
Este trabalho faz parte também da pesquisa “Saberes e práticas educativas sobre corpo
e saúde” coordenada pela Professora Dra. Maria Isabel Brandão de Souza Mendes e que tem
por objetivo analisar, catalogar e arquivar documentos e imagens relacionadas aos cuidados
com o corpo em busca de saúde, seja por meio de programas televisivos e da internet,
outdoors, panfletos de propagandas, revistas, filmes e periódicos científicos ou espaços das
cidades, buscando-se tecer reflexões sobre saberes e práticas educativas sobre corpo e saúde
presentes nos materiais analisados, relacionando-os à ideologia do ser saudável e ao cuidado
de si.
Dentre as pesquisas do GEPEC que oportunizam um debate sobre temas relacionados
à mídia destacamos a dissertação de Mestrado de Allyson Carvalho de Araújo (2006)
intitulada “Um olhar estético sobre o telespetáculo esportivo: contribuições para o ensino do
esporte na escola”, onde o autor citado promove reflexões a partir de uma análise de conteúdo
a luz de Bardin (1977) sobre o espetáculo esportivo nos telejornais esportivos. Outra pesquisa
de destaque em uma linha mais próxima de discussões com a que aqui apresentamos é a tese
de Doutorado de Eduardo Ribeiro Dantas (2007), com o título “A produção biopolítica do
corpo saudável: mídia e subjetividade na cultura do excesso e da moderação”. O referido
autor promove através da análise de conteúdo de Bardin (1977) reflexões sobre a revista
“Saúde!” para pensar a subjetivação de práticas corporais na construção do corpo perfeito,
oportunizando debates a respeito dos temas corpo e saúde.
Para atingir o objetivo deste estudo, direcionamos os focos de análise da pesquisa
sobre o quadro “Medida Certa” do programa Fantástico da emissora Rede Globo. Este quadro
foi desenvolvido entre os meses de abril e junho de 2010, e teve como objetivo levar os
apresentadores Renata Ceribelli e Zeca Camargo a adotarem um novo estilo de vida através
20
do acompanhamento do profissional de Educação Física Márcio Atalla e de outros
profissionais especializados (médicos, nutricionistas etc.) com vista a reprogramar o corpo
dos apresentadores para obtenção da medida certa. O período de intervenção profissional
sobre os apresentadores foi de 90 dias.
Vale ressaltar que no estado da arte1 realizado durante a estruturação da pesquisa não
localizamos nenhum estudo semelhante com as temáticas abordadas no espaço indicado para
a pesquisa, ou seja, o quadro Medida Certa. Como hipótese para esta ausência visualizamos o
fato do quadro em questão ser recente e até o momento da realização do estado da arte não
apresentar desdobramentos para sua continuidade. Entretanto durante a construção dos
capítulos da dissertação localizamos alguns trabalhos que analisaram o quadro a partir de
outros olhares e em área do conhecimento distinta da Educação Física, especificamente da
área da comunicação, os quais foram utilizados como referências em nossa dissertação.
A escolha do Medida Certa como espaço para realização da pesquisa deve-se ao
alcance e a grande representatividade atribuída pelos telespectadores e pela crítica midiática
ao programa Fantástico. E o quadro em questão, por oportunizar um diálogo com nossas
temáticas de estudo, ou seja, as temáticas de corpo e saúde. Outra característica que contribuiu
para a escolha desse espaço de investigação deve-se a oportunidade de articulação existente
entre a mídia televisiva e a internet, fato que oportuniza uma interatividade com o público que
consome suas informações e a manifestações de opiniões a respeito do que foi recebido.
O quadro Medida Certa contou com dois espaços de veiculação, são eles: a mídia
televisiva e internet, ambas com grande alcance nos domicílios brasileiros. Segundo o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010, 95% dos domicílios
1 O estado da arte foi realizado no banco de dados de teses e dissertações da Capes, bem como em periódicos da
Educação Física de destaque como: Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Movimento, Motriz e Pensar a
Prática, durante o mês de abril de 2011.
21
brasileiros possuíam televisão e 38,3% possuíam microcomputadores, sendo que 30,7% deste
total estão conectados a internet (IBGE, 2010).
Na Televisão, o quadro foi veiculado nos domingos a noite durante a exibição do
Fantástico. Foram apresentadas reportagens a propósito do processo de intervenção realizada
pelo profissional de Educação Física Márcio Atalla sobre os apresentadores e as mudanças
efetivadas ao longo dos três meses. Destacam-se dentre outros assuntos: a rotina e o estado
emocional dos apresentadores, as avaliações físicas e médicas realizadas, as dicas de atividade
física e alimentação, a receptividade do público ao quadro, os objetivos alcançados, os
desafios, entre outros.
A internet serviu de um segundo espaço ao quadro, não menos importante, para
veiculação de suas informações. Através de um blog, Blog Medida Certa, a internet contribuiu
apresentando informações e vídeos que foram exibidos ao vivo no Fantástico, bem como
oportunizando a veiculação de informações mais detalhadas sobre a rotina dos apresentadores,
dicas alimentares e de exercícios, desafios e resultados alcançados, entre outros, através de
textos, imagens e vídeos. Todavia, destacamos que o blog oportunizou um novo olhar sobre
as informações veiculadas, especialmente ao trazer em sua configuração a ferramenta de
“comentário” onde as pessoas que acessam suas informações puderam expor suas opiniões
sobre as informações veiculadas através de comentários realizados sobre as postagens do
blog.
Com relação aos aspectos metodológicos, nossa pesquisa configura-se a partir de uma
abordagem qualitativa. Seabra (2001, p. 55) resume o papel da abordagem qualitativa
argumentando que esta “aprofunda-se no mundo dos significados, das ações e relações
humanas, um lado não perceptível e não captável em equações, médias e estatísticas”.
Trata-se de uma pesquisa documental, visto que segundo Gil (2007, p.164) “os
documentos de comunicação de massa, tais como jornais, revistas, fitas de cinema, programas
22
de rádio e televisão, constituem importante fonte de dados para a pesquisa social. Possibilitam
ao pesquisador conhecer os mais variados aspectos da sociedade atual”. O referido autor ainda
destaca que “os documentos de comunicação de massa são muito valiosos. Entretanto por
terem sido elaborados com objetivos outros que não a pesquisa científica, devem ser tratados
com muito cuidado pelo pesquisador”.
Ainda sobre a pesquisa documental é importante que tenhamos claro que esta “permite
a investigação de determinada problemática não em sua interação imediata, mas de forma
indireta, por meio do estudo dos documentos que são produzidos pelo homem e por isso
revelam seu modo de ser, viver e compreender um fato social” (SILVA et al, 2009, p. 4557).
Dessa forma, investigamos o espaço do quadro Medida Certa no meio televisivo
através das reportagens apresentadas semanalmente no Fantástico e na internet através do
blog Medida Certa. Os dados do meio televisivo foram coletados através de downloads das
reportagens exibidas ao vivo durante o Fantástico no site do referido programa, sendo 14
vídeos no total.
Os dados da internet foram coletados através do blog Medida Certa. Nele coletamos as
postagens realizadas sobre o quadro durante os três meses de desenvolvimento2. Coletamos
textos, imagens e vídeos e organizamos todas as postagens separando-as de acordo com a data
de postagem. Nessa investigação obtivemos um total de 16 vídeos publicados no blog, além
de 97 postagens. Além disso, coletamos também os comentários realizados pelos internautas
sobre cada postagem, fato que totalizou 4804 comentários. Estes comentários não
constituíram o corpus de análise deste trabalho, no entanto serão arquivados para análise e
construção de trabalhos posteriores.
Destacamos que toda coleta de dados para arquivamento foi realizada uma semana
posterior ao término do quadro, ou seja, 03 de julho de 2011. Utilizamos dessa demarcação
2 Exemplos de postagens em anexo.
23
temporal de uma semana, em virtude da rotatividade dos arquivos virtuais. Posteriormente
realizamos a análise dos dados.
Segundo Silva et al (2009, p. 4557) “todo esse trabalho com os documentos é
compreendido em dois momentos distintos: o primeiro de coleta e o outro de análise do
conteúdo”. Assim, realizado o primeiro momento, ou seja, a coleta de dados, passamos aos
encaminhamentos para a análise do material coletado.
Optamos em nosso estudo pela técnica de análise de conteúdo de Bardin (2011). De
acordo com Bardin (2011, p. 37) a análise de conteúdo é “um conjunto de técnicas de análise
das comunicações”. Ainda segundo a autora “não se trata de um instrumento, mas de um
leque de apetrechos; ou com maior rigor, será um único instrumento, mas marcado por uma
grande disparidade de formas e adaptável a um campo de aplicação muito vasto: as
comunicações” (BARDIN, 2011, p. 37).
Continuando as argumentações sobre a análise de conteúdo, Bardin (2011, p. 44) diz
que esta “aparece como um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza de
procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens”. Entretanto,
a referida autora esclarece que somente a descrição não é suficiente para oportunizar a
especificidade da análise de conteúdo.
Dessa forma, “a intenção da análise de conteúdo é a inferência de conhecimentos
relativos às condições de produção (ou eventualmente, de recepção), inferência esta que
recorre a indicadores (quantitativos ou não)” (BARDIN, 2011, p. 44). Foi isto que almejamos
ao oportunizar um espaço para dialogar com as questões referentes à produção de informações
do meio midiático.
Segundo as orientações de Bardin (2011), a análise de conteúdo é realizada em três
fases: a pré-análise; a exploração do material; e o tratamento dos resultados obtidos e
interpretação.
24
Seguindo as orientações apresentadas acima realizamos após a coleta dos dados a pré-
análise do material. Organizamos os dados separando cada uma das postagens e, os
comentários realizados sobre elas, de acordo com o mês e a semana em que foi realizada a
postagem dentro de pastas. O mesmo procedimento foi adotado na organização dos vídeos.
Após essa organização prévia dos dados, realizamos a leitura exploratória de todo o
material coletado para podermos ter uma noção mais ampliada do que havíamos coletado.
Essa etapa pode também ser caracterizada segundo Bardin (2011) por leitura flutuante. Nesta
etapa foi essencial estabelecer contato e conhecer os dados a analisar, deixando ser invadido
por impressões e orientações.
Depois a exploração realizada sobre os dados, passamos a seleção dos documentos a
serem analisados, que em nosso estudo foram selecionados os vídeos e as postagens do blog,
excluindo para este momento os comentários realizados nas postagens. A leitura e a seleção
dos dados oportunizaram também o levantamento de algumas hipóteses, como a
predominância dos conhecimentos biológicos e das informações generalizadas, que nos
embasaram durante a construção das categorias de conteúdo e da análise dos dados. Nessa
fase foram realizadas as transcrições na íntegra de todos os vídeos, conforme pode ser
visualizado exemplos em anexo.
Ainda na fase de pré-análise dos dados, realizamos a referenciação dos índices. Neste
momento destacamos alguns pontos que se sobressaíam quanto aos conceitos de corpo e
saúde, e que posteriormente contribuíram para a elaboração de indicadores sobre os conceitos
estudados. Nesta fase realizamos também a formatação de todo material de forma padronizada
visando facilitar a análise dos dados nas etapas posteriores.
Seguimos as orientações de Bardin (2011) quanto à realização das etapas da análise de
conteúdo, tanto na pré-análise, quanto nas demais etapas, porém, não como um arcabouço
25
rígido, mas como uma orientação que delimita ações e permite o reconhecimento de
características específicas de nossa pesquisa.
O segundo momento da análise dos dados caracterizou-se pela exploração do material.
Segundo Bardin (2011), esta fase torna-se longa e fastidiosa, consistindo essencialmente de
operações para codificação dos dados. Realizamos nessa fase através de fichas de análises a
codificação dos dados, sendo que, para isso criamos duas fichas: uma para as reportagens
exibidas ao vivo durante o Fantástico e os demais vídeos disponibilizados no blog e, outra
para as postagens realizadas no blog3.
Na construção das fichas de análise, estipulamos previamente algumas unidades
temáticas visando compreender como o quadro se manifesta sobre determinados assuntos:
saberes e práticas sobre corpo e saúde; compreensão de corpo; compreensão de saúde; e
informações para o público. Além disso, deixamos o espaço em cada ficha para realizar a
transcrição do vídeo, uma síntese do vídeo/postagem, e um espaço para outras informações
relevantes. Todavia, estas categorias prévias ou unidades temáticas, como são denominadas
por Bardin (2011) não encerram as categorias de conteúdo utilizadas neste estudo, outras
categorias foram construídas a partir da análise dos dados.
É essencial que as categorias de conteúdos mantenham-se articuladas com os objetivos
da pesquisa, no entanto, elas “podem ser definidas previamente quando o pesquisador elege
antes da análise as informações a serem procuradas no documento ou ao longo do processo de
leitura, seguindo uma perspectiva compreensiva, hermenêutica” (SILVA et al, 2009, p. 4561).
Em nosso estudo procedemos desta forma, com unidades temáticas prévias e com unidades
construídas a partir da análise dos dados.
O próximo passo que foi dado se refere ao tratamento dos dados e a interpretação. Esta
etapa da pesquisa foi realizada durante a construção dos capítulos da dissertação, onde foram
3 Exemplos de fichas de análises em anexo.
26
firmados os temas centrais de discussão, corpo e saúde, e as unidades temáticas para delimitar
de forma mais específica às discussões sobre cada tema. Direcionamos nosso olhar na busca
por compreender de forma mais clara como os conceitos de corpo e saúde se difundem.
O principal referencial teórico para nossa pesquisa foi advindo do campo
epistemológico das ciências humanas: da Filosofia, da Sociologia e da própria Educação
Física. Dentre estes destacamos os estudos de Michel Foucault (1985, 1997, 2001, 2004,
2011, 2012), porém, além destes dialogamos com Merleau Ponty (2004, 2006, 2007), Le
Breton (2010), Baudrillard (1990), Canguilhem (2011), dentre outros.
Nossa dissertação está organizada em três capítulos: o primeiro capítulo abre espaço
para apresentação do local de realização da pesquisa, ou seja, o quadro Medida Certa. Neste
capítulo aprofundamos nossas discussões teóricas sobre a mídia e as estratégias adotadas para
veiculação de informações, especialmente da mídia televisiva e do blog, bem como
apresentamos o panorama social no qual estes elementos midiáticos e suas informações estão
inseridos. No segundo capítulo analisamos as compreensões, saberes e práticas apresentados
durante o quadro sobre o corpo a partir de algumas categorias de análises: corpo como sistema
operacional; corpo biológico; corpo fragmentado e exterior ao sujeito; corpo quantificado e
atrelado à padrões; e, corpo sujeito. O terceiro capítulo foi utilizado para as discussões
concernentes à saúde, também evidenciando as compreensões, saberes e práticas divulgadas
durante o quadro e discutimos com base nas seguintes categorias: saúde baseada em índices
de normalidade biológica; saúde associada ao emagrecimento e à padrões estéticos; saúde
associada à atividade física e ao controle alimentar; e, por fim propomos uma compreensão de
saúde existencial. Culminando nosso trabalho apresentamos nossas “conclusões” sobre o que
foi analisado e as principais reflexões teóricas realizadas.
28
Apresentamos neste capítulo o espaço utilizado para realização de nossa pesquisa bem
como o contexto social em que este está inserido. Expomos a seguir algumas das
características principais do quadro Medida Certa, especialmente dos seus personagens e das
estratégias adotadas para veiculação dos seus objetivos, seja através dos programas exibidos
pela televisão ou pelas informações disponibilizadas na internet através do blog Medida
Certa4. Sobre o contexto social, refletimos sobre a influência da virtualidade, da valorização
da aparência, do consumo e dos conhecimentos técnico-científicos.
Antes de adentrar nas especificidades do quadro em análise, apresentamos algumas
características do programa que o sustenta, ou seja, o Fantástico. Também denominado de
Revista Eletrônica Semanal, o Fantástico estreou no dia 05 de agosto de 1973 e possui como
característica importante à união entre a informação e o entretenimento. De acordo com
Gomes (2011, p. 278) “o Fantástico estabelece um pacto hibridizado tanto para a conversação
social quanto para o entretenimento”. Além disso, “seu caráter informativo de relatar
acontecimentos é confrontado com o objetivo de alimentar a conversação cotidiana com vistas
à formação da opinião pública sobre a realidade social”. O Fantástico é assim, um programa
de grande destaque no cenário televisivo brasileiro, sendo reconhecido pela credibilidade e
pelo diferencial no trato das informações.
O Fantástico se apresenta como o mais completo meio de informação jornalística da
Rede Globo. Ele sintetiza os acontecimentos semanais e mostra detalhes novos sobre esses.
No entanto, “em função da variedade de formatos trazidos e da variedade do conteúdo
apresentado, dentro de um contexto comunicativo dialógico, marcado pela descontração e
leveza, o compromisso com o entretenimento é constantemente verificado” (GOMES, 2011,
p. 278).
4 http://fantastico.globo.com/platb/medidacerta
29
Ainda sobre o Fantástico, compreendemos que este vai além do entretenimento e
apresenta uma forte predominância dos aspectos científicos e tecnológicos. De acordo com
Barata (2006, p. 18) o Fantástico “se destacou na divulgação de temas de Ciência e
Tecnologia desde a década de 70 quando mostrava os avanços dos países desenvolvidos e
sempre reservou amplas reportagens à questão da saúde”. Através de diferentes reportagens, a
saúde foi sempre ponto de pauta das edições do Fantástico, “confirmando também a
preferência pelo tema na divulgação científica de jornais e revistas”. Característica essa, que
oportuniza espaço para as discussões sobre a saúde no quadro Medida Certa.
Quanto ao Medida Certa apresentado pelo programa Fantástico, este desenvolveu suas
atividades entre os meses de abril, maio e junho de 2011. O mesmo foi idealizado e
comandado pelo profissional de Educação Física Márcio Atalla e para tanto, teve como
personagens centrais dessa história, os jornalistas e apresentadores do Fantástico Zeca
Camargo e Renata Ceribelli.
Para pensarmos de forma mais precisa sobre este duplo papel desempenhado pelos
apresentadores no quadro Medida Certa, trazemos as contribuições de Mendes (2011, p. 7)
quando fala que:
Os jornalistas Zeca Camargo e Renata Ceribelli ora são personagens do
quadro ‘Medida Certa’, quando são flagrados em suas atividades físicas, nas
horas das refeições e na rotina de trabalho, sendo interpelados pelo educador
físico; ora atuam como jornalistas, reportando a sequencia de fatos,
organizando a narrativa e convocando o público à ação.
Diante destas considerações, compreendemos que ao mesmo tempo em que se
tornaram objeto da notícia, os apresentadores também eram responsáveis por, através das
narrativas realizadas, noticiar os acontecimentos referentes ao quadro. Estariam assim
desempenhando um duplo papel dentro do quadro. Papéis estes permeados pela atividade
profissional e pela vida cotidiana fora do espaço de trabalho dos dois.
30
Sobre o quadro, o profissional de Educação Física Márcio Atalla argumenta no
episódio inicial que “vai ser um reality, nós vamos acompanhar a vida deles e eu vou tentar
incorporar bons hábitos, principalmente através da atividade física regular” (MÁRCIO
ATALLA, VÍDEO BLOG 01). Além do profissional de Educação Física, o quadro também
contou com as contribuições profissionais de médicos, nutricionistas, dentre outros.
Para o profissional de Educação Física, o quadro Medida Certa teve como objetivo
principal incorporar atividade física de maneira regular e melhorar alguns hábitos de vida. Ao
fazer uso da palavra, o profissional expressa: “eu vou entrar com atividade física regular, que
eles não tem, a gente entra sem medicação, melhorando um pouquinho na alimentação”.
Continuando sua argumentação, ele ainda expõe que: “não é uma questão apenas de
emagrecimento, a gente vai mostrar o poder que o movimento tem, que a atividade física tem,
para ajudar na vida das pessoas” (MÁRCIO ATALLA, VÍDEO BLOG 03). Para tanto, os
apresentadores Renata Ceribelli e Zeca Camargo foram submetidos a 90 dias de intervenção
com exercícios físicos e controle alimentar.
A jornalista do Fantástico Sônia Bridi argumenta sobre a importância do papel
desempenhado pelo profissional de Educação Física Márcio Atalla no quadro auxiliando os
apresentadores. Segundo ela, “ele está sempre ali ao lado, mantendo acesa a chama nos dois”
(SÔNIA BRIDI, VÍDEO BLOG 13). Embora a jornalista busque evidenciar essa importância,
ao se expressar evidencia uma função do profissional de Educação Física limitada a incentivar
os jornalistas integrantes do quadro, negando assim, as valiosas contribuições com
conhecimentos técnicos solicitados em intervenções sobre o corpo e a saúde. Portanto,
compreendemos que o profissional de Educação Física possui um amplo repertório de
conhecimentos na orientação das práticas corporais que são de fundamental importância no
trato com o corpo e com a saúde.
31
Quanto ao tempo estipulado para a realização das intervenções, Márcio Atalla diz que
90 dias é o tempo mínimo necessário para a obtenção das mudanças esperadas, ou seja,
reprogramar o corpo e entrar na medida certa. Segundo ele:
Você fazer atividade física e ter boas escolhas na alimentação é para a vida
inteira. Os três meses que o Zeca e a Renata vão passar é o tempo mínimo
para o corpo se reprogramar, para ele entender que existe uma nova
realidade. Os três meses é o tempo que eu consigo colocar no Zeca a
consciência da atividade física regular, é o tempo que eu consigo que ele
passe a fazer boas escolhas na alimentação e isso vai refletir no corpo, não só
para o corpo perceber uma nova realidade, mas como para mostrar os
resultados que os dois vão alcançar (MÁRCIO ATALLA, VÍDEO BLOG
01).
Perante essa justificativa, utilizou-se do período de três meses para a realização das
intervenções. A jornalista Renata Ceribelli comenta: “nossa copa dura 90 dias, este é o tempo
de entrar na medida certa” (RENATA CERIBELLI, VÍDEO FANTÁSTICO 11). Quanto ao
desenvolvimento do quadro e sua consequente exposição na mídia, evidenciamos que
inicialmente foram apresentados os três integrantes principais (Márcio Atalla, Renata
Ceribelli e Zeca Camargo).
Imagem 03 – Márcio Attala
32
Começando por Márcio Atalla (imagem 03): “Sou professor de Educação Física, já
tem mais de 10 anos que eu venho desenvolvendo esse trabalho com pessoas, que é
basicamente incorporar atividade física de maneira regular e melhorar alguns hábitos de vida”
(MÁRCIO ATALLA, VÍDEO BLOG 02).
Ao analisarmos a imagem 03 do profissional de Educação Física Márcio Atalla,
evidenciamos que esta compõem-se de elementos que alimentam ainda mais o imaginário
social sobre o professor de Educação Física, especialmente pelos equipamentos e vestimentas.
O halter posicionado em sua mão, assim como toda postura corporal, reforçam a imagem de
um profissional preocupado com o trabalho muscular estético e de força, como demonstram
as veias que saltam sobre o braço e o antebraço direito. As roupas aparentemente leves
acentuam o indicativo da prática de atividade física. Ao mesmo tempo em que seriam mais
confortáveis para a realização de movimentos e a transpiração do corpo, elas também colocam
a mostra as marcas de um corpo definido e trabalhado esteticamente. O leve sorriso e o olhar
convidam os expectadores a também realizarem a prática do levantamento de peso como
sendo algo fácil e prazeroso.
No site de Márcio Atalla (2012) na internet, ele abre espaço para uma apresentação
profissional mais detalhada, segundo ele:
Guardei este espaço para me apresentar propriamente. Contar como foi
minha trajetória, como educador físico e especialista em saúde e bem-estar,
até aqui. Tudo começou na USP, Universidade de São Paulo, onde tive o
prazer de estudar e criar minhas bases como professor de Educação Física.
Desde essa época, já planejava levar minha filosofia de vida para os outros.
Já percebia o quanto as pessoas ignoravam a importância de cuidar da
própria saúde, do próprio corpo, que é nosso maior bem. Uma filosofia
baseada em hábitos saudáveis, como a prática regular de exercícios e
esportes, e uma alimentação inteligente, equilibrada e sem privações. Enfim,
uma vida ativa e saudável. Depois de formado, me especializei em
treinamento para atletas de alto nível. Atualmente, sou também pós-
graduado em nutrição, aplicada à atividade física e a doenças crônicas pela
USP. Em 1993, trabalhei com aulas particulares e projetos específicos. Um
deles foi preparar a modelo e atriz Claudia Liz, para participar do filme As
Meninas, em que ela deveria perder 6 quilos do início ao fim. Em 94, fui
33
para os Estados Unidos, onde trabalhei com atletas profissionais de tênis,
entre eles a brasileira Miriam D´Agostini, a grega Christina Papadaki, a
holandesa Seda Noorlander. No início de 1999 aceitei o desafio de preparar
o campeão olímpico de vôlei, o capitão Carlão, ao lado do parceiro Paulo
Emílio, no vôlei de praia. Trabalhei com essa modalidade até o final das
Olimpíadas de 2000, em Sydney, quando decidi que era hora de iniciar um
novo projeto: de conscientizar as pessoas da importância de adotarem um
novo jeito de viver. Em agosto de 2000 criei a marca BemStar, com o portal
www.bemstar.com.br, que evoluiu ao longo dos anos para outras mídias,
como a revista de bordo BemStar e o livro Segredos do Gnt para o seu
BemStar, lançado em dezembro de 2007, e na televisão o programa BemStar
do canal Gnt, no ar desde 2006, atualmente reapresentado pelo canal Viva,
Globosat. Em 2010 desenvolvi um projeto com a editora Globo, um reality
show, chamado Época Saúde, que durante 3 meses se propôs a mudar a vida
de 6 pessoas sedentárias que queriam ganhar mais saúde. Foram 13 DVD´s
encartados semanalmente pela revista Época. Logo depois, tive o prazer de
levar esse mesmo desafio para o programa Fantástico, e trazer mais
qualidade para às vidas de Zeca Camargo e Renata Ceribelli, pelo quadro
Medida Certa. Esse ano, o desafio Medida certa foi especialmente para
crianças, e virou o Medidinha Certa, um serviço excelente para auxiliar pais
e filhos, enfim, as famílias brasileiras, a viver melhor, com mais qualidade.
Lancei recentemente o livro Sua Vida em Movimento, pela editora Paralela,
e o DVD Vida Saudável com Marcio Atalla, pela Sony Music Brasil. Dois
ótimos guias para quem quer mudar de vida e não sabe por onde
começar. Atualmente, sou colunista da revista Época e da Rádio CBN,
diariamente às 7h40 da manhã. Também ministro palestras em diversos
eventos. Estou de volta ao Fantástico com o novo Medida Certa, e agora o
desafio será ainda maior: Ronaldo Fenômeno. Nos próximos meses você
poderá acompanhar e aprender, com dicas eficientes, como ser saudável e
viver bem! Até breve, e bons treinos! (MÁRCIO ATALLA, 2011).
O perfil apresentado por Márcio Atalla em sua página na internet mostra a grande
ligação do profissional com o treinamento desportivo de atletas de alto nível e as diferentes
experiências profissionais vivenciadas: personal trainer, empresário, colunista de revista e
rádio, entre outros, seja na busca pela perda de peso ou obtenção da saúde por parte dos seus
alunos. É importante compreendermos o perfil do profissional de Educação Física presente no
quadro, visto que o mesmo acaba representando uma classe, desde os bacharéis aos
licenciados, e, no entanto, apresenta especificidades de formação e de atuação profissional
que não podem ser generalizadas a todos os profissionais da área. Como exemplo dessa
especificidade de atuação, evidenciamos a ligação com o mercado através da venda de
produtos, visto que, o nome Márcio Atalla possui uma dupla representação, sujeito e marca.
34
Sobre o profissional, não localizamos o seu currículo lattes, nem vínculo com nenhuma
instituição de ensino superior e pesquisa.
Com relação à apresentação dos jornalistas no quadro, identificamos que foram
descritos diante suas condições corporais. Ambos voltam ao passado para mostrar através de
imagens o quanto eram magros e que, com o passar do tempo e as mudanças de hábitos
obtiveram alterações na constituição corporal com consequente aumento de peso.
Inicialmente, Renata comenta que engordou após a sua gravidez de gêmeos, passando a ter
mais de 30 quilos do seu peso anterior, e daí em diante foi sempre uma luta constante para
reduzir e manter o peso. Como pode ser visto na imagem 04, o gesto do braço flexionado e de
punho fechado reforça o discurso da jornalista de guerra constante contra o peso. A posição
descrita, bem como a expressão facial, simbolizam a preparação para a guerra contra a
balança. Nessa luta será necessária determinação, conforme evidencia seu o olhar e o lábio
ligeiramente mordido.
Imagem 04 – Renata Ceribelli
35
No intuito de sabermos mais informações sobre essa apresentadora e jornalista,
encontramos no site do Fantástico a seguinte descrição que mostra a sua inserção na Televisão
e outros elementos sobre a sua formação profissional.
Em 1986, a passagem do cometa Halley causou sensação. A TV de
Campinas preparou um programa especial para registrar o evento, mas, na
última hora, o apresentador escalado não pôde ir. Foi então que a jovem
repórter Renata Ceribelli encarou pela primeira vez as câmeras. Dali para a
frente, não parou mais. Coincidência ou não, podemos dividir a carreira de
Renata em “antes do cometa” e “depois do cometa”! Mas a história começou
bem antes de cometas e afins. Começou em São José do Rio Preto, cidade de
São Paulo onde Renata nasceu. Cursou jornalismo na PUC-Campinas e se
formou em 1985, quando foi trabalhar como rádio escuta na TV Campinas.
“Eu lia todos os jornais, revistas, assistia a todos os noticiários e passava as
informações para o pauteiro, na redação”, conta Renata.
Depois da grande estreia, passou a fazer reportagens nas ruas. Nessa
temporada, ganhou o Prêmio Vladimir Herzog por uma matéria sobre um
abrigo para deficientes mentais e uma menção honrosa por outra, sobre o
cotidiano dos meninos de rua, viciados em cheirar cola. Esteve por dois anos
no SBT e entrou para substituir Leonor Corrêa, irmã do Faustão, no
programa Vitrine, da TV Cultura. Agradou tanto que foi parar no Vídeo
Show e lá ficou por seis anos. Até que, no início de 1999, entrou para a
equipe do Fantástico, em São Paulo (FANTÁSTICO, 2012).
O quadro Medida Certa apresentou também as características de Zeca Camargo
(imagem 05). O mesmo destaca que sempre foi magro, porém com o passar dos anos foi
obtendo um acúmulo de peso, principalmente em decorrência da rotina agitada de trabalho,
como podemos perceber durante sua fala no primeiro episódio da série: “então essa é mais ou
menos a nossa rotina, comer entre as gravações, sem horários e exercícios só quando o tempo
nos permite, mas daqui para frente tudo vai ser diferente” (ZECA CAMARGO, VÍDEO
FANTÁSTICO 01). Diante esta situação, os apresentadores se dispuseram a participar do
quadro rumo à medida certa.
36
A imagem 05 do jornalista Zeca Camargo evidencia através da expressão facial, de
sobrancelhas arqueadas e leve sorriso no canto da boca, a sua resistência sobre as práticas a
serem realizadas durante o desenvolvimento do quadro. Na imagem vemos também um dos
grandes aliados do apresentador na realização do desafio, os fones, representantes das músicas
que segundo o jornalista são estímulos à sua prática.
Torna-se importante destacarmos que tanto na imagem 04 quanto na 05 os corpos dos
apresentadores estão refletidos em espelhos. Estes estão presentes nos espaços de avaliação na
imagem 04 e nos espaços de realização da atividade física como na imagem 05. Entendemos
esses espelhos como um reforço à necessidade da visualização do corpo a partir de suas
aparências, funcionando como uma voz da verdade sobre a situação do corpo. Além disso, os
espelhos apresentam-se como um reforço a valorização da imagem no contexto de uma
sociedade virtualizada e “presa” as aparências. Portanto, eles representam a valorização da
Imagem 05 – Zeca Camargo
37
percepção visual exterior como negação da percepção corporal mais ampla de cada indivíduo
através dos diferentes sentidos.
No site do Fantástico também há a descrição do apresentador e jornalista Zeca
Camargo, como pode ser observado na citação abaixo:
Zeca Camargo é apresentador e repórter do Fantástico. No programa desde
1996, já fez entrevistas com grandes nomes do “showbizz”, como Madonna,
Lady Gaga e Gisele Bündchen. Também é conhecido pelas reportagens
sobre assuntos ligados ao público jovem, como no quadro “Altos Papos”.
Desde 1998, Zeca Camargo desenvolve projetos especiais para o Show da
Vida. O primeiro deles foi “Aqui se Fala Português”, uma série sobre os
lugares do mundo onde é possível ouvir a nossa língua. O projeto foi
realizado para marcar os 500 anos do descobrimento do Brasil.
Em 2004, foi a vez de “A Fantástica Volta ao Mundo”, uma viagem de
quatro meses, onde o público escolhia por interatividade os lugares que
seriam visitados nas reportagens. Em 2009, completou mais uma volta ao
mundo, desta vez explorando alguns dos mais interessantes Patrimônios da
Humanidade da Unesco. As duas aventuras tornaram-se livros, que estão
entre os mais vendidos da coleção Fantástico. Outros projetos especiais
incluem “Passado Presente” (2008), série de reportagens pelo Japão para
marcar os 100 anos da imigração japonesa; e “Novos Olhares” (2007), uma
investigação sobre pensadores da vida moderna. Em 2010, Zeca Camargo
realizou a série “MegaCidades”. Para as reportagens, ele visitou algumas das
maiores aglomerações humanas do mundo. Com suas reportagens, Zeca
Camargo já colecionou visitas a mais de 90 países pelo mundo
(FANTÁSTICO, 2012).
Conforme apresentamos, os jornalistas possuem uma formação profissional adequada
à função que exercem, com experiência no trabalho com uma diversidade de assuntos e
situações. No entanto, vale ressaltar que estes estão a serviço de uma empresa que além de
objetivar a mediação de informação objetiva também a obtenção de lucros, mantendo forte
relação com a comercialização de produtos e marcas, e, desta forma, suas atuações ficam
limitadas aos interesses da empresa que estão vinculados.
Assim, apresentados os participantes do Medida Certa, bem como, suas descrições a
partir das informações profissionais disponibilizadas nos sites de suas instituições de atuação
profissional, passaremos a refletir sobre outras especificidades correspondentes ao nosso
objeto de estudo.
38
Frente a este cenário inicial, compreendemos que uma das principais características da
mídia televisiva para obter visibilidade entre a população é agregar dentro de sua
programação a vida cotidiana de pessoas públicas, especialmente aquelas consideradas
famosas diante o cenário social, ou mesmo de acontecimentos que provoquem impactos sobre
a vida dessas pessoas (MENEZES, 2007). Essa característica pode ser percebia ao utilizar dos
apresentadores acima citados para participarem do quadro em questão.
Ainda sobre os “personagens”, Márcio Atalla argumenta que todo aluno possui
algumas particularidades e apresenta o que conseguiu perceber inicialmente dos dois
apresentadores. Sobre Renata Ceribelli o profissional destaca, “eu já percebi que a Renata é
super determinada, só tá um pouquinho ansiosa. É só dá um pouquinho de carinho e atenção
que ela vai”. Quanto a Zeca Camargo ele comenta, “o Zeca é uma pessoa sem rotina, mas ele
já está entendendo que a atividade física vai mudar a vida dele” (MÁRCIO ATALLA,
VÍDEO BLOG 01).
Embora tenhamos apresentado Márcio Atalla, Renata Ceribelli e Zeca Camargo como
os três personagens principais do quadro Medida Certa, no entanto, percebemos que integra
esse grupo um personagem ainda maior, composto pela união de várias pessoas, ou seja, a
população. Verificamos assim, como nos fala Zovin (2008, p. 2) que “a vida privada do
telespectador brasileiro se confunde com a vida pública que a TV oferta”. Este fato pode ser
observado quando a vida dos apresentadores se tornou pública e os telespectadores passaram
em sua maioria a vê-los como “iguais” a si, despertando assim um estado de confusão que
assemelha a vida privada dos telespectadores à vida pública dos apresentadores. Para a
jornalista Sônia Bridi “o quadro é um sucesso, entre outros motivos, por que uma multidão se
identifica com o esforço da Renata e do Zeca” (SÔNIA BRIDI, VÍDEO BLOG 13).
Durante o quadro foi possível perceber, principalmente através dos comentários
postados no blog, que os apresentadores serviram de modelos para a população,
39
especialmente para as pessoas que assim como eles se encontravam acima do peso e
necessitavam entrar na “medida certa”. Conforme argumenta Mendes (2011, p. 4) “os meios
de comunicação exigem tanto das celebridades quanto das pessoas comuns à adequação do
corpo a um padrão estético considerado perfeito”. Ainda segundo a autora:
Ancorado em promessas de emagrecimento rápido, o telejornalismo, tal
como a publicidade, oferece um farto banquete de informações sobre dietas,
atividades físicas e procedimentos estéticos, colocando a disposição do
público informações que recomendam como construir um corpo ideal
(MENDES, 2011, p. 8)
Pensando sobre isto, poderíamos elencar como característica da mídia a veiculação de
modelos para população visando à adequação em padrões, especialmente aqueles relacionados
à imagem corporal. Desta forma, percebemos que “as narrativas jornalísticas impõem
modelos possíveis de imitação, fazendo o indivíduo supor que realiza sua escolha de modo
autônomo, mas, na verdade, tal decisão é efeito de uma influência midiática e mercantilizada”
(MENDES, 2011, p. 11). Os sujeitos são sempre interpelados por mensagens que lhes dotam
de liberdade para realização de escolhas e tomada de decisões, entretanto essa liberdade é em
si já delimitada por seleções realizadas previamente por aqueles responsáveis pela produção
das informações.
Refletindo ainda sobre a veiculação de modelos, compreendemos que este papel é
desempenhado frequentemente pela Televisão. Segundo Zovin (2008, p. 2) “na atual
sociedade midiática, é principalmente através da TV que as pessoas aprendem a seguir
modismos, a conhecer produtos e serviços”. Continuando, a autora ainda argumenta que
“tratando-se da televisão, é obviamente intensa e crescente a interferência na modelagem dos
padrões de vida da nossa sociedade, afinal a TV é um grande simulador das imagens da vida”
(ZOVIN, 2008, p. 3). Certamente essa sensação foi despertada nos telespectadores, visto que
40
as imagens postas dos apresentadores em busca da perda de peso configurar-se-ia como uma
representação de “suas” realidades.
O envolvimento da população com o quadro deve-se também entre outros motivos às
convocações e convites realizados para estarem participando junto com os apresentadores.
Estes convites foram feitos com frequência através dos comentários realizados pelos
apresentadores e pelo profissional de Educação Física durante as reportagens. Este fato
despertou em muitas pessoas a sensação de estarem participando junto com eles, já outros,
entretanto, deixaram dicas de que o quadro pudesse também ser realizado com pessoas
“normais” e não apenas com os famosos.
Essa abertura dos objetivos do quadro à população pode ser compreendida de forma
significativa por oportunizar um olhar para atenção ao corpo e ao cuidado com a saúde, além
de incentivar a prática de atividade física e a busca por uma alimentação saudável. Entretanto,
deve ser refletida em muitos aspectos por atuar na formação de estereótipos corporais, por
auxiliar na padronização da saúde, na generalização das prescrições de exercícios e dietas,
além de não reconhecer as diferenças individuais e sociais, sejam elas, econômicas, regionais
e culturais.
As informações apresentadas no quadro trazem significantes contribuições para o
esclarecimento e formação das pessoas, porém, como alertamos acima, podem trazer junto
alguns efeitos negativos por direcionar-se a grande massa e não reconhecer as
individualidades dos sujeitos que as recebem. Como alerta Lima (2010, p. 1) “os dizeres
veiculados no universo midiático dispõem de sentidos específicos que negam muitos outros”.
Dessa forma, pensando nos sentidos das mediações midiáticas é imprescindível estarmos
alertas para compreender os sentidos explícitos e implícitos postos nos jogos de mediação das
informações.
41
É necessário também compreendermos que a mídia tem como função primordial a
mediação de informações dos produtores para os receptores de forma massificada. Essa
característica acaba por acentuar a generalização e a homogeneização de hábitos,
comportamentos, valores e atitudes. Entendemos que o excesso de informações ao mesmo
tempo em que esclarece, confunde as pessoas, ameaça as “defesas” destas na recepção de
informações, especialmente as midiáticas. No entanto, o sujeito é dotado de um conjunto de
informações e conhecimentos que lhes permitem inferir sentidos ao conteúdo recebido, muitas
vezes rejeitando-os.
Em suma, a mídia através de suas veiculações pode interferir nos acontecimentos
sociais e consequentemente na vida das pessoas. Entretanto, vale ressaltar que as pessoas
guardam em si pontos de resistências que poderão ser manifestados na discordância de uma
opinião ou pensamento veiculado pela mídia. Para Dantas (2007, p. 24) “como legítimos
educadores informais, os mass média incidem de forma maciça sobre a formação do
imaginário coletivo, de forma a cumprirem tanto uma função de padronização dos
comportamentos, quanto um papel de emancipação das massas”. Esses diferentes papéis que
podem ser desempenhados pela mídia estão imbricados com os objetivos dos produtores das
informações, bem como, com os pontos de resistências e aceitação dos que consumem suas
informações.
De acordo com Menezes (2007, p. 5) “a mídia funciona através do uso de mecanismos
cognitivos, onde o cotidiano se torna elemento definidor da condução, incorporação e
repertório que alimenta suas programações diárias, fazendo com que o telespectador se
identifique com seu conteúdo”. Dessa forma, compreendemos que o cotidiano é o elemento
principal das veiculações midiáticas, seja ele em sua realização primária, ou mesmo diante a
simulação dos seus acontecimentos através de elementos “cênicos” com vista à construção do
espetáculo tão requerido pela sociedade contemporânea.
42
Os elementos “cênicos” dos espaços midiáticos utilizados para simular ou incrementar
os acontecimentos cotidianos são em sua maioria oportunizados pelos avanços tecnológicos.
Sobre isso, Menezes (2007, p. 3) argumenta que “a mídia utiliza os avanços tecnológicos
como forma de garantir a qualidade, acessibilidade, precisão, velocidade e ampliação do raio
de cobertura no que concerne à ampliação do poder de persuasão ou de convencimento”.
Corroboramos com Malta e Domingos (2007, p. 9) quando afirmam que “a atuação
dos meios de comunicação de massa transforma as relações sociais e, portanto, é notável a
influência que eles possuem sobre o público, sendo consideradas as mais poderosas
instituições culturais do mundo”. Esta transformação é estimulada pelos diferentes meios de
comunicação, entretanto observamos que a Televisão enquanto instituição midiática possui
um grande destaque neste cenário. Como afirmam Rocha e Aucar (2011, p. 56) “até hoje
nenhum outro veículo movimenta mais audiência das massas do que a televisão”. Como
características desse destaque podemos elencar que “a recepção de imagens televisivas
proporcionam prazer e satisfação, consequentemente cria hábitos, tanto é que a televisão faz
parte da rotina dos brasileiros” (ZOVIN, 2008, p. 2). No entanto, é importante
compreendermos que o jogo de articulação dos elementos que compõem as informações
midiáticas acabam por despertar significados específicos em cada sujeito a partir do encontro
destas informações com as experiências de vida que este possui. Assim, a forma de recepção
não é unilateral. O sujeito não apenas recepciona de forma passiva as informações, ele é
também capaz de rejeitar as informações mediadas.
Pensando o destaque do meio televisivo, direcionamos nossa pesquisa as informações
mediadas por ele, especificamente através das informações veiculadas no telejornal, também
referenciado como revista eletrônica, Fantástico. De acordo com Moroni e Oliveira Filha
(2008, p. 5) “no Brasil, o telejornalismo assume o papel de maior fonte de informação da
população”.
43
Dentre as características do telejornalismo, destacamos como essencial a sua
capacidade de promover a articulação entre o texto e as imagens. Para Moroni e Oliveira Filha
(2008, p. 8):
Não existe um consenso sobre o que teria maior importância no
telejornalismo: o texto ou a imagem. A proposta mais aceita é considerar
ambos como parte da linguagem jornalística [...]. Porém, não há dúvidas de
que a imagem é o grande diferencial e maior atrativo da televisão em relação
aos outros meios de comunicação.
Todavia, percebemos que um dos fatores que na maioria das vezes é utilizado para
justificar a valorização das imagens em detrimento dos textos diz respeito ao fato de que a
imagem tenta trazer a tona a “verdadeira” realidade. A imagem busca colocar para os
telespectadores o acontecimento de forma que eles possam acreditar que consomem o
acontecimento em sua forma primária, não sendo na maioria das vezes questionada. Como diz
o ditado popular, “só acredito vendo”, a imagem teria capacidade de oportunizar a visão dos
acontecimentos que o texto não conseguiria, mesmo através de uma boa descrição. Portanto, a
imagem promove uma síntese dos acontecimentos, o que demandaria esforços bem maiores
para serem descritos através de um texto, ou similares. Em síntese, uma boa imagem seria
aquela que consegue despertar no telespectador o desejo de continuar visualizando-a, são
aquelas que desestabilizam suas emoções.
Outra característica do telejornalismo diz respeito à brevidade que adota na veiculação
de informações. Isto acontece dentre outros fatores “em função do imediatismo do tempo, da
objetividade necessária e da exigência de que o conteúdo seja compreendido pelo receptor no
momento em que é transmitido” (MORONI e OLIVEIRA FILHA, 2008, p. 9). Estas
características podem ser evidenciadas no quadro Medida Certa se observarmos que os
acontecimentos realizados durante uma semana eram sintetizados e apresentados em
reportagens que tinham em média pouco mais de 10 minutos, ou seja, brevemente.
44
Como integrante da mídia, o telejornal, assume os acontecimentos do cotidiano na
veiculação de informações. Para Mendes (2011, p. 1):
O telejornalismo é um modo de construção da realidade, é possível afirmar
que as noticias constituem uma parte do real, estruturada a partir de um
principio de verdade que não reside no próprio discurso, mas em seus
efeitos, sendo, portanto, um meio fragmentado de reproduzir o mundo.
A impossibilidade da construção do real dar-se, dentre outros fatores, pela
preocupação demandada sobre os efeitos da reprodução, e não sobre a reprodução em si.
Entretanto, é importante percebermos que a reprodução fragmentada do real é consequência
da transformação do real em noticia, sendo que, essa transformação acontece mediante a
utilização de técnicas de produção jornalísticas, que desempenham dentre outras funções a
seleção e a restrição dos acontecimentos.
A tentativa do telejornalismo de reconstruir a realidade cotidiana, mesmo que de
forma fragmentada, é recortada por inúmeros interesses dos produtores das informações.
Segundo Mendes (2011, p. 3) “o telejornalismo enquadra a realidade a partir de um
determinado enfoque, operando a seleção de um assunto e a seleção de outros, tendo em vista
o perfil do seu público e sem esquecer de que o produto o qual manipula diariamente está
inscrito numa ordem de consumo”. Está ordem é orientada a partir de um contexto social onde
o consumo de produtos e serviços e exacerbadamente valorizado. Assim, a mídia enquanto
meio, acaba divulgando e reforçando elementos de uma sociedade do consumo.
Percebemos que essa ordem de consumo está dissipada nos diferentes espaços e
relações sociais, e com grande destaque nos cenários de atuação da mídia. Dessa forma,
segundo Rocha e Aucar (2011, p. 53):
Para compreender o fenômeno do consumo na sociedade moderno-
contemporânea é preciso perceber que aquilo que chamam “necessidades
humanas” não são dadas, naturais ou absolutas, mas sim construídas,
45
elaborada e sustentadas culturalmente. Os significados dos bens materiais
são incorporados nas subjetividades, nas identidades sociais e nas relações
humanas através de sistemas simbólicos, hierárquicos e discriminatórios.
O alerta sobre as necessidades humanas abordadas pelos autores citados acima é
importante para pensar que o consumo estimulado pela mídia dar-se a partir de interesses que
se relacionam com os objetivos dos responsáveis pela produção das informações e não como
algo natural. Percebemos ainda que o consumo dos bens materiais comercializados nestes
espaços afeta as subjetividades das pessoas através dos significados que cada produto
consegue despertar nelas. Sobre isto, compreendemos que “ao consumir um produto
consumimos também seus significados e, com eles, podemos elaborar uma identidade, ser
parte de um grupo, se afirmar e se sustentar dentro de um dado cultural” (ROCHA e AUCAR,
2011, p. 54).
Quanto ao consumo e os significados que este desperta através dos produtos e serviços
consumidos pela população, os autores supracitados complementam:
O consumo é um fenômeno que transforma produtos e serviços em um
sistema de significação através do qual podem ser elaborados aspectos da
subjetividade, traduzidas relações sociais e suprimidas diversas necessidades
simbólicas, tornando-se um modo central de interpretação do mundo que nos
cerca. O consumo é, portanto, um código capaz de atribuir sentido
identidades, sentimentos e relações sociais inserindo-os em um sistema de
classificação de coisas e pessoas, cultura material e identidades, indivíduos e
grupos (ROCHA e AUCAR, 2011, p. 54).
Conforme os argumentos apresentados, consumir produtos e serviços é muito mais do
que a aquisição de bens materiais. O ato do consumo trás junto aos objetos consumidos uma
rede de significados que nos permitem inferir sentidos aos produtos, bem como aos indivíduos
que os consomem. Entendemos dessa forma que vivemos em uma sociedade do consumo.
Consumo este que é permeado pelos diferentes sentidos e significados que os sujeitos
atribuem aos produtos e serviços consumidos.
46
Estas reflexões a respeito do consumo trazem contribuições importantes para
pensarmos os elementos que foram consumidos pelos apresentadores, bem como pela
população que acompanhou o desenvolvimento do quadro Medida Certa, especialmente
quando relacionadas ao corpo e a saúde.
Durante os três meses de desenvolvimento do quadro, os apresentadores tiveram suas
rotinas acompanhadas. O dia-a-dia dos apresentadores no trabalho, em casa, no lazer, entre
outros, foram registrados e apresentados nas reportagens do Fantástico no domingo à noite,
além disso, os vídeos e outras informações foram disponibilizadas no blog do quadro.
O blog configurou-se como ponto de apoio essencial para o quadro, haja vista que os
apresentadores usaram deste como uma espécie de diário de campo onde expressaram o que
sentiam diante as diferentes fases da intervenção, desde os momentos de maiores dificuldades
aos momentos de resultados positivos. Além disso, a importância do blog deve-se ao fato
deste oportunizar uma interatividade entre os apresentadores, o profissional de Educação
Física e o público.
No contexto atual verificamos que o blog possui um grande destaque no cenário da
mediação de informações. Sobre eles, Silva (2008, p. 78) comenta: “fato é que os blogs
tornam-se cada vez mais populares, e diversificados”. Este cenário evoca a presença de uma
sociedade que cada vez mais recorre aos espaços virtuais para desenvolver suas relações
sociais, sejam elas, afetivas, profissionais e de prestação de serviços. Assim, estamos diante
uma sociedade virtualizada que busca através da internet e de seus espaços de veiculação de
informações respostas para as necessidades do sujeito. No contexto do quadro Medida Certa,
a sociedade recorreu através do blog à informações diferenciadas sobre alimentação e a
atividade física.
Sobre suas características estruturais e de organização, podemos compreender que o
blog foi concebido como um diário na web. Silva (2008, p. 79) destaca que:
47
O blog é uma publicação na forma de uma página da web, atualizada,
frequentemente, composta por blocos de textos, chamados posts e
apresentados por uma ordem inversa, onde o texto mais recente aparece em
primeiro lugar. Estes textos são escritos, normalmente, pelo autor do blog ou
por convidados, mas podem ser comentados pelos visitantes, permitindo,
assim, a interação entre autor e visitante/leitor.
Diante destas características, compreendemos a importância do blog no cenário das
comunicações, e consequentemente, sua importância na veiculação de informações referentes
ao quadro Medida Certa, especialmente por oportunizar essa interação com o público a partir
do espaço destinado aos comentários.
Portanto, o blog se configura como uma via de mão dupla, ou seja, permite que a
informação seja veiculada pelos produtores, entretanto, abre espaço para que os receptores das
informações emitam seus posicionamentos sobre as informações recebidas. Seria uma forma
de libertação, mesmo que tímida, das amarras sociais muitas vezes impostas pela mídia.
Embora tenhamos uma diversidade de estilos de blogs, percebemos uma
predominância no blog da escrita em primeira pessoa, servindo a muitos como diário pessoal.
Entretanto, diferente dos diários usados em outras épocas, que seriam “guardados a sete
chaves”, os blogs têm justamente a função inversa, ele quer divulgar, quer expor, assim,
quanto mais visitado, lido e comentado ele for, maior é a satisfação daqueles que o gerenciam.
No blog do quadro Medida Certa verificamos em muitos momentos essa narrativa de
si, especialmente nos posts realizados pelos apresentadores. Nestes posts foram expostos os
resultados alcançados, os investimentos realizados, as dificuldades enfrentadas, entre outros
assuntos. Além disso, percebemos que o blog também despertou os internautas para o
exercício da vigilância sobre os novos hábitos adquiridos pelos apresentadores, sejam eles,
alimentares ou de exercícios.
Voltando ao desenvolvimento do quadro, verificamos também que foram apresentados
os processos de avaliação médica aos quais os apresentadores foram submetidos no início, os
48
exames bioquímicos realizados e seus respectivos resultados com diagnóstico e parecer
médico. Além disso, os apresentadores foram submetidos a avaliações antropométricas e
nutricionais, mostrando a situação em que se encontravam no início do quadro e quais
estratégias deveriam ser adotadas na tentativa de levá-los a uma adequação aos padrões de
normalidade no período de três meses.
O quadro também oportunizou a abertura de espaço para a exposição de dicas sobre a
realização de exercícios, o emagrecimento, a alimentação, o sono, a hidratação, dentre outros
temas. Percebemos, entretanto, que as dicas sobre exercícios realizadas por Márcio Atalla
obtiveram maior destaque. Nelas, ele tirou dúvidas sobre os benefícios da realização dos
exercícios, a frequência adequada, a carga correta, entre outros, além de apresentar para as
pessoas uma vasta quantidade de exercícios a serem realizados em diferentes locais e com
diferentes recursos.
Além dos exercícios, verificamos que as dicas nutricionais estiveram presentes com
grande frequência. Elas foram expostas através das dicas realizadas pelo profissional de
Educação Física, bem como pela participação das nutricionistas Laura Breves e Mônica
Dalmácio. Foram exibidas dicas para a seleção dos alimentos, compras no supermercado,
preparação dos alimentos, escolhas para o emagrecimento, bem como, para o aumento do
peso, entre outros. Ainda foram apresentadas algumas receitas e o modo de preparo como
fizeram a cozinheira de Renata Ceribelli, Célia, e a mãe de Zeca Camargo, Maria Inês.
Segundo Márcio Atalla “nesse desafio não pode passar fome, não pode fazer dieta radical,
pode comer equilibradamente sem precisar abrir mão das boas coisas que todos nós
gostamos” (MÁRCIO ATALLA, VÍDEO FANTÁSTICO 04).
As postagens realizadas no blog somaram um total de 975. Estas se direcionaram a
diferentes elementos que de uma forma ou de outra se relacionavam ao quadro. As postagens
5 Tabela com título, mês e semana de cada postagem em anexo.
49
feitas no blog nos servem como percurso histórico para pensarmos o desencadeamento das
ideias durante o acontecimento do quadro, mostrando a cada momento os resultados
alcançados, deixando dicas, apresentando as dificuldades, entre outros aspectos. A tabela em
anexo expõe de forma organizada o número, a data e título de cada postagem.
A maior parte das postagens realizadas no blog aconteceu durante o primeiro mês do
quadro, e nos meses posteriores as postagens diminuíram. O primeiro mês obteve um total de
56 postagens, no segundo mês foram realizadas 19 postagens e no terceiro e último mês um
total de 22 postagens, fato que consolida durante os três meses do quadro um total de 97
postagens.
Sobre os vídeos referentes ao quadro Medida Certa, coletamos durante nossa pesquisa
14 vídeos que foram exibidos ao vivo com duração total de 2:58:16 (duas horas, cinquenta e
oito minutos e dezesseis segundos) e mais 16 vídeos complementares que foram postados no
blog com duração total de 0:57:16 (cinquenta e sete minutos e dezesseis segundos). Na
somatória do tempo de todos os vídeos coletados para análise obtivemos um total de 3:55:32
(três horas, cinquenta e cinco minutos e trinta e dois segundos).
Quanto aos comentários realizados nas postagens no período delimitado para nossa
pesquisa, obtivemos um total de 4804. Sintetizamos numericamente os comentários realizados
sobre as postagens por mês e semana na tabela a seguir.
TABELA 01 – COMENTÁRIOS POSTADOS NO BLOG MEDIDA CERTA
MÊS SEMANA TOTAL DE COMENTÁRIOS
1º MÊS
1ª SEMANA 2372
2ª SEMANA 693
3ª SEMANA 284
4ª SEMANA 188
TOTAL 1º MÊS 3537
2º MÊS
5ª SEMANA 198
6ª SEMANA 159
7ª SEMANA 118
50
8ª SEMANA 159
TOTAL 2º MÊS 634
3º MÊS
9ª SEMANA 57
10ª SEMANA 52
11ª SEMANA 129
12ª SEMANA 395
TOTAL 3º MÊS 633
TOTAL FINAL 3537 + 634 + 633 = 4804 4804
Ao analisarmos a tabela 01 sobre os comentários, percebemos que estes obtiveram
uma maior concentração durante o primeiro mês de postagens, apresentando assim uma
discrepância acentuada dos meses posteriores. Todavia, vale ainda destacar que a primeira
semana foi responsável por quase metade de todos os comentários realizados ao longo dos
três meses de realização do quadro. É importante também, considerar o fato de que foi no
primeiro mês que apareceram o maior número de postagens, e assim, oportunizaram espaço
para um maior número de comentários.
A propósito dos números expostos referentes aos comentários, poderíamos inferir que
o quadro obteve um alcance significativo, especificamente entre os internautas. Nos
comentários percebemos um alcance regional diversificado no cenário nacional, apresentando
comentários de todas as regiões e seus referidos estados. É necessário também destacar o
alcance internacional que o quadro atingiu através das transmissões realizadas pela Globo
Internacional. Obtivemos inúmeros comentários de pessoas que moravam em outros países e
que evidenciaram estar acompanhando e participando do quadro Medida Certa. Destacamos
dentre eles países como: Inglaterra, Espanha, Estados Unidos, Alemanha, Canadá, Portugal,
Japão, Austrália, França, entre outros.
Percebemos diante dos argumentos expostos acima que o quadro atingiu
telespectadores e internautas de diferentes regiões, sejam elas nacionais ou internacionais.
Esse fato foi possível graças à união ou mesmo desterritorialização provocada pelas redes
51
informacionais pelo qual foi veiculado, fato que auxiliou na construção de novas relações
entre os sujeitos.
Essa desterritorialização promovida através das tecnologias informacionais foi o
elemento que fez com que as pessoas se visualizassem próximas dos apresentadores nos
momentos de lhes enviar comentários, bem como, próximas das demais pessoas que através
dos comentários evidenciavam estar participando do quadro. Entretanto, na verdade isso não
passava de uma ilusão provocada pelas facilidades oportunizadas pela internet. A
proximidade existia apenas no que confere a comunicação mediada, porém à distância física
entre eles permanecia estabelecida.
De toda forma, consideramos que a união estabelecida entre a mídia televisiva e os
blogs se constituiu de grande importância para oportunizar um “diálogo” com a população
que recepciona suas informações. Todavia, verificamos que a internet foi a responsável por
oportunizar espaço para uma maior interação das pessoas com as informações mediadas.
Segundo Malta (2009, p. 40) “podemos dizer que a internet deu o ‘pontapé’ inicial de uma era
de interação entre os homens mediada pelas máquinas”. Entretanto, Malta e Domingos (2007,
p. 3) argumentam que “outras mídias precisaram servir-se dos meios tecnológicos da
digitalização para permitir que o espectador se sinta parte do espetáculo, que carrega em sua
essência a característica de interação”.
A utilização da internet como aliada da televisão para permitir uma maior
interatividade entre os expectadores e os produtores da informação pôde ser observada no
desenvolvimento do quadro Medida Certa do Fantástico. Conforme Malta e Domingos (2007,
p. 4) “a internet passou a ser um aliado da televisão, já que através de sua plataforma, muitos
programas convidam o telespectador a interagirem”. Além disso, observamos que “após o
surgimento da internet, um veiculo aberto e que garante ampla interatividade com o usuário, a
52
possibilidade de interagir e participar da produção da mensagem tornou-se uma tendência”
(MALTA, 2009, p. 48).
Sobre isso, Malta (2009) destaca que o programa Fantástico da emissora Rede Globo
foi um dos primeiros a promover a união da televisão com a internet. Essa articulação entre as
mídias possibilitou uma maior aproximação entre a informação mediada e os telespectadores.
A articulação entre diferentes tipos de mídia é também conhecida por convergência midiática.
Segundo Malta (2009, p. 53) “a convergência seria a possibilidade de um mesmo produto
fazer uso de diferentes mídias para se promover”. Característica facilmente percebida no
quadro Medida Certa que utilizou da televisão e da internet para promover as ideias e os
objetivos do quadro.
Para os autores Rocha e Aucar (2011), o Fantástico tem se movimentado cada vez
mais em direção da convergência midiática. Segundo eles:
Isso pode ser notado no formato em prática e nos estudos de outros modelos
de programação. Linguagens e quadros que priorizam a participação do
telespectador incrementam a programação a cada domingo. O modelo é de
um consumidor mais ativo e que ganha maior espaço no portal do programa
e nos canais proporcionados pelas redes sociais e pelo telefone.
O Medida Certa serve como comprovação a estes argumentos, visto que, o
telespectador foi convidado a participar tanto desenvolvendo o mesmo projeto, quanto
interagindo através dos comentários para expor opiniões, realizar elogios e críticas. Além
disso, o quadro também oportunizou a abertura em redes sociais como no twitter e no
facebook, facilitando o acesso das informações aos internautas.
Diante essas considerações, corroboramos com Malta e Domingos (2007) quando
afirmam que a revolução tecnológica atual tem promovido uma descentralização da
informação, visto que ela passou a ser dissipada por diferentes fontes. Para os autores:
53
A interação das mídias produz um continuum informativo que preenche o
sujeito intermitente. A tecnologia, desse modo, desenvolveu uma estrutura
da comunicação com característica singular: não há mais distanciamento
entre o fato e sua transmissão, a descoberta científica e sua divulgação e a
noção de tempo e espaço modificou-se com contundência (MALTA e
DOMINGOS, 2007, p. 3).
No quadro percebemos que os telespectadores ocuparam um duplo papel, o de
telespectadores ávidos por informações e dicas, bem como participantes da história construída
pelo quadro, como seguidores do projeto. Participação esta estabelecida especialmente através
dos comentários realizados sobre as postagens realizadas no blog do quadro.
Durante os três meses de desenvolvimento do quadro foram efetivadas avaliações
periódicas como podemos observar na imagem 06, para acompanhar os resultados e auxiliar
na elaboração de novas estratégias para as intervenções e na obtenção dos resultados
esperados. Essas avaliações aconteceram ao final de cada mês e contaram com o auxílio de
profissionais da área médica e nutricional, através de exames laboratoriais e de avaliações
antropométricas. Os resultados destes foram avaliados a partir de parâmetros de normalidades
estipulados por tabelas de referência para cada exame e teste realizado, fato que culminava
com a sua posterior classificação ou não nos padrões ditos normais.
Imagem 06 – Consulta ao Cardiologista Alexandre Carvalho
54
Essa necessidade de avaliação e medicação através de exames laboratoriais e
avaliações antropométricas revelam a preocupação com um “resultado absoluto” cobrado por
uma sociedade técnico-científica. Essa sociedade tem apostado nos procedimentos técnicos de
base científica como os principais aliados capazes de apresentar a “real” situação do corpo
humano.
A culminância do quadro aconteceu no dia 26 de junho de 2011. Este momento foi
aguardado com grandes expectativas tanto pelos apresentadores quanto por todos os
telespectadores que acompanharam o quadro. Para verificação dos resultados alcançados
foram realizados novamente exames bioquímicos, testes cardiorrespiratórios, avaliações
antropométricas, avaliação médica e nutricional.
Os resultados dos exames, avaliações e testes foram divulgados e analisados pelo
médico responsável pelo quadro, o cardiologista Alexandre Carvalho, que evidenciou
melhoras significativas nos índices avaliados, tais como pressão arterial, glicose, colesterol,
resistência cardiorrespiratória, retenção de líquidos, entre outros. Segundo o cardiologista, se
os apresentadores pretendiam reprogramar o corpo, eles teriam conseguido.
Na avaliação realizada com a nutricionista Laura Breves os resultados também
mostraram-se positivos. A nutricionista destacou entre outros pontos as mudanças realizadas
pelos apresentadores no que concerne uma maior ingestão de fibras, a redução do consumo de
carnes vermelhas, uma maior ingestão de água, a diminuição no consumo de doces e
refrigerantes, a realização da alimentação fragmentada, entre outros.
Embora os apresentadores tenham obtido bons resultados nas avaliações realizadas,
como expusemos acima, o suspense maior foi gerado em torno do peso perdido que não foi
divulgado previamente, ficando mantido sobre sigilo para ser apresentado ao vivo no
Fantástico. Na exibição do programa, a jornalista e apresentadora Patrícia Poeta comenta
sobre os resultados do quadro: “A gente viu que todos os índices melhoraram, agora a gente
55
vai ver o peso e a cintura, mas antes eu quero saber qual é a expectativa dessa dupla fantástica
que suou e acompanhou aí durante esses 90 dias”. Em resposta, Renata Ceribelli destacou:
“olha, é muito mais curiosidade do que expectativa, a gente viu, a gente está sentindo os
resultados em nosso corpo, mas a gente quer ver o número” (PATRÍCIA POETA e RENATA
CERIBELLI, VÍDEO FANTÁSTICO 14).
Diante do exposto, percebemos que o foco final do quadro direcionou-se aos
resultados numéricos do peso dos apresentadores, especialmente os números representativos
da perda efetivada no peso. Os novos números referentes ao peso dos apresentadores foram
apresentados pelo profissional de Educação Física Márcio Atalla.
Quanto à Renata Ceribelli, esta iniciou o quadro com 80,3 kg, após os 90 dias de
participação no quadro obteve o peso de 74,4 kg. Entretanto, diante as avaliações do
percentual de gordura e percentual de massa magra, foi possível atestar que a apresentadora
perdeu neste período o equivalente a 9,5 kg de gordura e obteve um ganho de 3,6 kg de massa
muscular. Em relação às medidas de circunferência abdominal, verificamos que a
apresentadora tinha inicialmente 96,5 cm e com o passar dos 90 dias de participação no
quadro obteve uma redução para 82,7 cm. Diante a exposição dos resultados obtidos a
apresentadora demonstrou surpresa e muita satisfação (VÍDEO FANTÁSTICO 14).
Sobre Zeca Camargo, verificamos que este iniciou o quadro com peso de 111,4 kg,
após os 90 dias de participação no quadro obteve uma redução para 104 kg. Todavia, assim
como Renata, diante as avaliações do percentual de gordura e percentual de massa magra, foi
possível atestar que o apresentador perdeu neste período 12,29 kg de gordura e ganhou 4,9 kg
de massa muscular. Sobre as medidas referentes à circunferência abdominal, o apresentador
tinha iniciado o quadro com 110,3 cm e após os 90 dias de participação no quadro obteve uma
redução para 99 cm. O apresentador demonstrou surpresa com os resultados positivos
alcançados e comemorou junto à apresentadora (VÍDEO FANTÁSTICO 14).
56
A revelação das medidas “finais” e a afirmativa de que os apresentadores atingiram a
medida certa simbolizaram o encerramento do quadro. Todavia, os apresentadores deixaram
expresso que manteriam as rotinas alimentares e de exercícios que conquistaram durante o
processo de reprogramação corporal adquirido com o desenvolvimento do quadro Medida
Certa. A imagem a seguir apresenta a imagem do antes e depois dos apresentadores.
A imagem 07 busca sintetizar para os expectadores do quadro os resultados alcançados
pelos jornalistas. No entanto, o “antes e depois” apresentados assemelha-se ao tipo de
marketing utilizado em várias revistas e propagandas de produtos para o emagrecimento,
como causa e consequência, com caráter comercial. E por pensar no vínculo do profissional
de Educação Física Márcio Atalla com a empresa Rede Globo, pensamos consequentemente
no caráter comercial que está incluído no Medida Certa, se este não for seu principal objetivo.
Sobre a imagem 07 ainda podemos identificar algumas características que tentam
convencer sobre a eficiência do quadro e a satisfação com os resultados. Como podemos
observar, a imagem do antes apresenta sujeitos sérios, de olhares fixos e cabelos descuidados.
Imagem 07 – O antes e o depois dos apresentadores
57
Nas imagens do depois são apresentados sujeitos alegres, sorridentes que nos demonstram
satisfação com os resultados. Além disso, evidenciamos que os cabelos encontram-se
arrumados, dando uma melhor impressão a ambas as faces. Nas imagens, para evidenciar
ainda mais a diferença, os sujeitos encontram-se na imagem do antes com duas peças de roupa
na parte superior, fato que não favorece a demarcação dos contornos corporais. Na imagem do
depois evidenciamos apenas uma peça de roupa, estando à mesma mais colada ao corpo,
mostrando mais claramente os contornos dos corpos dos apresentadores. A foto também
busca sintetizar o fim do quadro e os resultados alcançados.
Ao analisar o “pós Medida Certa” questionamo-nos se esse realmente teve fim, ou
apenas teria encerrado uma de suas etapas visto que, posteriormente foram lançadas as
caminhadas medida certa, o livro medida certa, o aplicativo medida certa, além do programa
dedicado a crianças, o Medidinha Certa, e do Medida Certa – O Fenômeno. Este fato
demonstra o grande respaldo que obteve entre o público, mostrando a “necessidade” de novas
ressignificações.
As Caminhadas Medida Certa foram lançadas logo após o final do quadro como forma
de incentivar as pessoas a aderirem à prática de exercícios físicos, conforme podemos
visualizar na imagem 08, estas envolveram multidões de pessoas que se destinaram a
acompanhar os apresentadores juntamente com o profissional de Educação Física. Esta
iniciativa aconteceu através de uma parceria realizada entre o Fantástico e o Sesi.
A proposta das caminhadas consistia em visitar inicialmente 11 capitais brasileiras
(Rio de Janeiro, Belém, Fortaleza, Goiânia, Belo Horizonte, Florianópolis, Recife, Curitiba,
Vitória, São Paulo e Brasília) durante os finais de semana de julho com os apresentadores
Renata Ceribelli e Zeca Camargo, além dos profissionais de Educação Física Márcio Atalla e
André Trombini.
58
Os moradores das referidas capitais foram convidados a participar das caminhadas
junto com os apresentadores e os profissionais de Educação Física em um percurso de 4 km.
As caminhadas foram recepcionadas com grande participação do público nas cidades onde
foram realizadas, conforme podemos observar na imagem 08 acima. Essa participação “junto”
a eles, assim como o quadro apresentado na televisão, também passou pelo auxílio de
mediadores.
Na situação descrita, os mediadores, diferente dos meios de comunicação, deram-se
pelos muitos seguranças que fizeram o isolamento dos apresentadores e profissional de
Educação Física do público, conforme podemos observar na imagem 08. Em virtude das
solicitações de moradores de outras capitais a proposta da caminhada foi estendida a outras
cidades, como Natal.
Seriam as caminhadas Medida Certa realizadas nas capitais brasileiras uma
ressignificação da campanha “Mexa-se” promovida pela Rede Globo em 1975? Segundo
Carvalho (1995, p. 58), a campanha “Mexa-se” implementada pela Rede Globo, definida pela
Imagem 08 – Caminhada Medida Certa
59
autora como o maior conglomerado de televisão do país, “foi enquadrada em suas origens à
pressão, intuitiva ou consciente, para a mobilização da população brasileira no sentido da
atividade física, com audiência de cinquenta milhões de pessoas nos horários principais sob
patrocínio comercial”.
As Caminhadas Medida Certa, assim como a campanha “Mexa-se”, foi uma
articulação da emissora Rede Globo para incentivar a população a aderir à prática da atividade
física. Como desdobramento do quadro Medida Certa as caminhadas invadiram diversas
cidades e se fizeram presente em diferentes espaços midiáticos convidando a população a
participar do evento, bem como a adotar as caminhadas como constante em suas vidas, ou
outros tipos de atividade física.
O livro sobre o quadro Medida Certa de autoria dos apresentadores Renata Ceribelli e
Zeca Camargo, e do profissional de Educação Física Márcio Atalla foi publicado
posteriormente ao término do quadro. Sobre o título de “Medida Certa: como chegamos lá”, o
livro traz para os leitores informações sobre o desenvolvimento do quadro, com depoimentos
dos apresentadores e de Márcio Atalla, bem como apresenta as atividades realizadas, as
emoções vivenciadas, os medos, os desafios, entre outros.
Além disso, o livro apresenta as dicas realizadas pelo profissional de Educação Física
sobre alimentação e a prática de exercícios, dentre outras informações sobre o quadro e os
resultados obtidos pelos apresentadores. O livro conta ainda com um grande acervo de
fotografias dos diferentes momentos do quadro.
60
Ao analisarmos a imagem 09, capa do livro, evidenciamos sujeitos alegres com os
resultados obtidos. Conforme apresenta o título “Medida Certa: como chegamos até lá!”, o
mesmo busca esclarecer para os leitores o percurso traçado pelos apresentadores para
alcançarem a medida certa. A fita métrica entrelaçada em seus corpos demonstra que todas
suas partes devem estar adequadas as medidas certas, e que a forma de verifica-las se dá
justamente através dos processos de medições. Os olhares, os sorrisos e o imperativo do título
convidam os leitores a descobrirem a fórmula, ou fórmulas, de se chegar à medida certa.
Posterior ao lançamento do livro, os responsáveis pelo quadro Medida Certa
resolveram inovar ainda mais, utilizando dos recursos tecnológicos criaram um aplicativo
para Android, iPhone e iPad, e disponibilizaram-no para download para celulares e tablets
Imagem 09 – Livro do Medida Certa
61
(Imagem 10). A chamada realizada para a adesão ao aplicativo disponibilizada no blog do
quadro dizia: “com a ajuda do aplicativo, você tem 90 dias para reprogramar seu corpo e pode
passar pela mesma experiência que os apresentadores Zeca Camargo e Renata Ceribelli
viveram na série do Show da Vida”. A utilização dessa ferramenta visava dar acesso às
pessoas sobre as informações utilizadas no quadro de forma mais fácil e constante, visto que
bastava acessar o aplicativo que você encontraria as sugestões alimentares, de exercícios,
dentre outras informações.
No aplicativo Medida Certa um dos elementos que mais nos chamou a atenção diz
respeito a um espaço destinado ao “desabafo das pessoas”. Quer desabafar? Assim
questionava o aplicativo, e as pessoas que assim quisessem deveriam gravar um vídeo e
enviar para a produção do quadro que abriria um espaço no blog para postar os desabafos.
Imagem 10 – Aplicativo do Medida Certa
62
Seguindo essa lógica, assim como os apresentadores tornaram públicas suas rotinas, as
pessoas também exporiam suas realidades, e especialmente suas dificuldades.
Sobre o aplicativo ainda encontramos no blog a seguinte afirmação: “o aplicativo
Medida Certa cria um programa de treinamentos específico para você, de acordo com seus
dados e seus objetivos. Você pode compartilhar seus resultados no Twitter e no Facebook e
ainda tem espaço para gravar vídeos desabafando sobre as dificuldades da busca pela Medida
Certa”.
Embora as relações comerciais e de consumo estivessem presentes durante todo o
quadro, destacamos que após o término do quadro, com o lançamento do livro para
comercialização e a criação do aplicativo percebemos mais claramente a lógica de consumo
objetivada pelo quadro, além das estratégias adotadas para cercar toda a população. Se não
acompanhou o quadro ao vivo acesse o blog, se não conseguiu acessá-lo, leia o livro, mesmo
assim, se ainda não conseguiu acompanhar as informações do quadro baixe o aplicativo e
tenha as informações necessárias juntas a você. Acreditamos que essa seja a lógica adotada.
Através das múltiplas estratégias adotadas, percebemos a intenção de fazer o Medida Certa
permanecer em evidência para a população.
O quadro Medidinha Certa foi outra estratégia lançada pelo Fantástico posterior ao
quadro Medida Certa (Imagem 11). Seguindo basicamente a mesma estrutura do quadro
desenvolvido com os apresentadores, o Medidinha Certa trás como inovação o
direcionamento do quadro para o público infantil. Segundo o blog6 do “novo” quadro “depois
do sucesso do quadro Medida Certa, que levou os apresentadores do Fantástico Zeca Camargo
e Renata Ceribelli a reprogramarem o corpo em 90 dias, chegou a hora das crianças entrarem
nesse projeto em busca de uma vida mais saudável”. Continuando a chamada ainda diz, “sob
orientação do preparador físico Márcio Atalla, três crianças, de 9 a 11 anos, sedentárias ou
6 http://fantastico.globo.com/platb/medidinha-certa
63
que estão acima do peso, vão descobrir alternativas para uma alimentação balanceada e como
praticar atividades físicas e até brincadeiras que estimulem o corpo”.
Posterior ao Medidinha Certa eis que surge a nova ressignificação do quadro Medida
Certa, dessa vez o participante do quadro foi Ronaldo Nazário, “O Fenômeno”. Assim como
os jornalistas e apresentadores Renata Ceribelli e Zeca Camargo Ronaldo foi submetido a
rotinas de exercícios e ao controle alimentar sobre orientação do profissional de Educação
Física Márcio Atalla. O quadro tenta inovar ao trazer um dos atletas de maior sucesso no
Futebol brasileiro, duas vezes campeão mundial e artilheiro das Copas do Mundo de Futebol,
o ex-jogador possui um currículo invejoso no que concerne vitórias e conquistas de
campeonatos nacionais e internacionais. No entanto, com o fim da carreira o jogador
aumentou consideravelmente de peso e abandonou a prática de exercícios físicos, e o
Fantástico através do “Medida Certa – O Fenômeno” (imagem 12) buscou reorganizar os
hábitos do atleta para o retorno a atividade física, melhoria da saúde e o emagrecimento.
Imagem 11 – Medidinha Certa
64
Pensando sobre esses acontecimentos relacionados ao quadro poderíamos reconhecê-
lo como algo mais amplo. A dúvida permanece em saber se este ampliou-se a partir do
sucesso do quadro realizado com os apresentadores do Fantástico ou se estes acontecimentos
posteriores já haviam sido planejados? Quais serão os novos investimentos em relação ao
quadro? Independente da resposta, devemos reconhecer a importância que o quadro obteve na
divulgação de saberes e práticas sobre questões que se relacionam ao corpo e a saúde.
Portanto, refletiremos de forma mais aprofundada sobre essas compreensões, saberes e
práticas nos capítulos a seguir.
Apresentadas as características da mídia e do quadro em análise, nos interrogamos que
sociedade é essa que nos exige estes tipos de cuidados com o corpo e a saúde apresentados no
quadro Medida Certa? Que sociedade é essa que embriagada com as informações midiáticas
impulsiona os sujeitos a formas de cuidado com o corpo e com a saúde baseada em
informações exteriores e generalizadas? Que sociedade é essa que sente a necessidade de
adequar os corpos e a saúde a padrões predeterminados? Que sociedade é essa que valoriza o
corpo dos sujeitos a partir das aparências e do consumo exercido sobre ele? Ao longo do
Imagem 12 – Medida Certa – O Fenômeno
65
capítulo apresentamos características dessa sociedade virtualizada que prioriza a aparência e o
consumo, utilizando para sua conquista procedimentos técnicos-científicos.
Entretanto, vale ressaltar que “de uma sociedade para outra, a caracterização da
relação do homem com o corpo e a definição dos constituintes da carne do indivíduo são
dados culturais cuja variabilidade é infinita” (LE BRETON, 2010, p. 30). O convívio social
nos oportuniza criar e recriar constantemente as relações sociais, bem como os sujeitos ao
estarem inseridos nessas, portanto “a potência coletiva cria uma obra de arte: a vida social em
seu todo, e em suas diversas modalidades” (MAFFESOLI, 2010, p. 24).
Assim, estamos expostos a uma mudança constante na compreensão do corpo a
depender do contexto social, cultural e histórico em que este é reconhecido. Todavia o corpo
será sempre o meio de ligação dos seres humanos, no meio social. “O corpo é a interface entre
o social e o individual, entre a natureza e a cultura, entre o fisiológico e o simbólico” (LE
BRETON, 2010, p. 92).
Verificamos que o corpo hoje está sob a luz dos holofotes (LE BRETON, 2010). A ele
é dedicado amplos espaços de cuidado e de apresentação para os outros corpos que coabitam
em sociedade. Assim, visualizamos que o corpo é:
lugar privilegiado do bem-estar e do parecer bem através da forma e da
manutenção da juventude (frequência nas academias de ginástica, body
building, cosméticos, dietética, etc.), o corpo é objeto de constante
preocupação. Trata-se de satisfazer a mínima característica social fundada na
sedução, quer dizer no olhar dos outros (LE BRETON, 2010, p. 78).
Diante essa constante preocupação com os cuidados com o corpo, evidenciamos que
estamos diante uma sociedade que valoriza o corpo e isso pode ser percebido “através da
explosão publicitária, pela difusão do vídeo texto, ou das imagens televisivas, uma
sensibilidade coletiva está se afirmando, e é inútil querer negligenciar” (MAFFESOLI, 2010,
p. 42). De outra forma, poderíamos dizer que estamos diante de:
66
Sociedades “somatófilas”, sociedades que amam o corpo, exaltam-no e
valorizam-no. Numa tal perspectiva, direi que o body building ressurgido
nos nossos dias não é, de modo algum, um fato individual ou narcísico, mas
muito pelo contrário, um fenômeno global, ou, mais exatamente a
cristalização no nível (persona) de um ambiente de todo coletivo. Um jogo
de máscaras generalizadas (MAFFESOLI, 2010, p. 44-45).
Dessa forma, essa sociedade acaba valorizando o somático do corpo, ou seja, aquilo
que te constitui e possibilita a visualização pelos outros, especialmente os constituintes que
são possíveis de serem visualizados a olhos nus. Além disso, essa valorização mais do que um
ato individual isolado é um acontecimento de nível social mais amplo. As pessoas buscam
constantemente modificarem seus corpos para sua apresentação social. Como exemplo desse
jogo de máscaras, apresentamos as cirurgias estéticas, especialmente aquelas realizadas sobre
o rosto. “O acaso de um rosto, sua beleza ou feiúra, seus traços distintivos, seus traços
negativos, vai ser preciso concertar tudo isso e fazer algo mais belo que o belo, um rosto
ideal, um rosto cirúrgico” (BAUDRILLARD, 1990, p. 52)
Verificamos que essa busca constante é estimulada por discursos de verdade que
emergem de diferentes instituições sociais, como por exemplo, a mídia. Segundo Foucault
(2012, p. 54) “a ‘verdade’ está circularmente ligada a sistemas de poder, que a produzem e a
apoiam, e efeitos de poder que ela induz e que a reproduzem”. Assim, as verdades sobre o
corpo estão imbrincadas em relações de poder que a sustentam e que a valorizam.
Nessa ação do poder desempenhada sobre o corpo é imprescindível reconhecer que ele
vai além da negação, ou seja, o poder não se exerce apenas negando a realização de
intervenções, os hábitos, os costumes, entre outros. Segundo Foucault (2012, p. 45) “o que faz
com que o poder se mantenha e que seja aceito é simplesmente que ele não pesa só como uma
força que diz não, mas que de fato ele permeia, produz coisas, induz ao prazer, forma saber,
produz discurso”. Dessa forma o exercício do poder deve ser reconhecido em uma perspectiva
mais ampla, como produtor de saberes, sensações e discursos que circulam socialmente.
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Assim, “deve considerá-lo como uma rede produtiva que atravessa todo o corpo social muito
mais do que uma instância negativa que tem por função reprimir” (FOUCAULT, 2012, p. 45).
Ainda, Foucault (2012, p. 278 – 279) argumenta que:
Em uma sociedade igual a nossa, mas no fundo em qualquer sociedade,
existem relações de poder múltiplas que atravessam, caracterizam e
constituem o corpo social e que essas relações de poder não podem se
dissociar, se estabelecer nem funcionar sem uma produção, uma
acumulação, uma circulação e um funcionamento do discurso.
Diante o exposto, percebemos que o poder dissipado no seio social é antes de tudo
circulante. O poder não é algo fixo e de comando exclusivo de um sujeito ou grupo, o poder
se dá no confronto social das resistências e aceitações, em uma reconstrução constante. No
entanto, é imprescindível reconhecer que este está intimamente relacionado e presente nos
discursos proferidos pelos sujeitos.
No que concerne ao exercício do poder nessa sociedade que ama o corpo, valoriza e
exalta, percebemos que a ele tem sido dedicada atenção especial. Através de diferentes
saberes e práticas o corpo tem sido trabalhado para ser visto e desejado por outros corpos. De
acordo com Maffesoli (2010, p. 36), compreendemos que:
Sejam os caixões de isolamento sensoriais, muito na moda nas megalópoles
contemporâneas, os diversos body-building, sem esquecer o jogging e,
seguramente, todas as técnicas de inspiração oriental, estamos em presença
de um corpo que nos dedicamos a “epifanizar”, a valorizar. Notemos, no
entanto, que até em seus aspectos mais “privados” esse corpo só é construído
para ser visto. É teatralizado ao mais alto grau. Na publicidade, na moda, na
dança, só é paramentado para ser apresentado em espetáculo. Pode-se dizer
que se trata de uma socialização que é, talvez, específica, mas que não deixa
de apresentar todas as características da socialização: a de integrar num
conjunto e de transcender o indivíduo.
Visualizamos que o corpo no contexto contemporâneo, tem sido perspectivado para a
apresentação social, ou seja, ser visto. No entanto, essa perspectiva acaba por valorizar o jogo
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das aparências, do que é possível de ser visto, e tem negado a este corpo as sensações e os
desejos que lhes são inerentes. De acordo com Le Breton (2010, p. 77):
A aparência corporal responde a uma ação do ator relacionada com o modo
de se apresentar e de se representar. Engloba a maneira de se vestir, a
maneira de se pentear e ajeitar o rosto, de cuidar do corpo, etc, quer dizer, a
maneira cotidiana de se apresentar socialmente, conforme as circunstâncias,
através da maneira de se colocar e do estilo de presença.
O quadro Medida Certa se insere nesse contexto ao objetivar a mudança dos padrões
corporais de Renata Ceribelli e Zeca Camargo conforme evidencia a imagem 07, com o “antes
e depois”, onde a magreza aprece como sinônimo da felicidade. Sob um plano de fundo nos
discursos sobre saúde, o quadro apresenta saberes e práticas que o descortinam e o teatralizam
sobre a valorização das aparências. Corroboramos com Baudrillard (1990, p. 52) quando
argumenta que “estamos em plena compulsão cirúrgica que visa a amputar os traços negativos
das coisas e remodelá-las idealmente por uma operação de síntese”.
Nesse trabalho desempenhado sobre o corpo na busca pela aparência, verificamos que
na contemporaneidade os conhecimentos científicos e tecnológicos têm sido constantemente
requisitados. É um processo de constante renovação. Conforme argumenta Le Breton (2010,
p. 78) “um mercado em pleno crescimento renova permanentemente as marcas que visam a
manutenção e a valorização da aparência sob os auspícios da sedução ou da ‘comunicação’”.
Dessa forma, nos vemos diante um contexto de grande valorização da aparência. E
alguns discursos da Educação Física, da Medicina e da Nutrição tem colaborado com essa
valorização e com a construção de saberes e práticas para atender a esses padrões. “O corpo
torna-se parceiro daquele de quem se exige a melhor apresentação, as sensações mais
originais, a boa resistência, a juventude eterna, a ostentação das marcas distintivas mais
eficazes”. O corpo parece saltar ao próprio sujeito como um parceiro social que lhe colocará
diante dos outros a partir de suas aparências. “Em tempos de crise do casal ou da família, de
69
‘multidão solitária’, e de dispersão de referências, o corpo torna-se um espelho fraterno, um
outro eu com quem coabitar” (LE BRETON, 2010, p. 86).
Esse contexto nos convence a corroborar com Maffesoli (2010, p. 139) quando afirma
que “a vida urbana é mesmo das aparências. O espetáculo cotidiano não está mais acantonado
a lugares fechados, capilarizou-se na rede densa do mundo físico e social”. Dessa forma, os
diferentes espaços de convívio social são também espaços de valorização das aparências.
“Assim, o corpo, como invólucro, não é uma excedente que se possa rejeitar à vontade, uma
concha vazia que se possa abandonar; está ao contrário, intrinsicamente ligado ao corpo
social” (MAFFESOLI, 2010, p. 147). O corpo é então mais do que um arcabouço, invólucro
ou concha vazia, o corpo é o sujeito que coexiste com outros seres em um contexto social,
sofrendo influência e influenciando as relações que estabelece.
Entretanto, no contexto contemporâneo esse sujeito tem sido exigido socialmente para
enveredar no mundo das aparências. Para tanto, deve estar atento às diversas modulações,
sejam elas: moda, espetáculo político, teatralidade, publicidade, televisões, entre outros.
Conforme apresenta Maffesoli (2010, p. 127) “valorizar a aparência é de um lado, escrever as
formas em jogo (estáticas), e é, do outro, apreciar suas articulações (dinâmicas)”. Além disso,
Essa prática da aparência, na medida em que se expõem à avaliação de
testemunhas, se transforma em engajamento social, em meio deliberado de
difusão de informação sobre si, como atualmente ilustra a importância
tomada pelo look no aliciamento, na publicidade ou no exercício meticuloso
do controle sobre si que as agências de comunicação tentam promover para o
uso dos homens públicos (LE BRETON, 2010, p. 87).
A aparência é assim submetida ao jogo das avaliações do belo, sendo que estas muita
das vezes são impedidas de serem realizadas pelas percepções e sensações que despertam no
sujeito e, passam a ser realizadas com base em padrões e parâmetros difundidos socialmente,
atreladas ao emagrecimento, a juventude, ao consumo, entre outros.
70
Portanto, somos cotidianamente interceptados por discursos que valorizam o corpo e
as aparências. Discursos esses que nos convencem, ou ao menos tentam nos convencer, sobre
a importância da adequação aos padrões expostos socialmente. Para isso, somos também
apresentados aos diferentes tipos de práticas interventivas que podem ser realizadas sobre ele,
sejam cirúrgicas, alimentares, atividade física, estéticas etc. Em nossa pesquisa, pensaremos
sobre essas práticas e os saberes sobre o corpo, bem como sobre a saúde, no quadro Medida
Certa.
71
CAPÍTULO 02
EM BUSCA DO CORPO
REPROGRAMADO
Imagem 13 – Renata Ceribelli e Zeca Camargo se medindo
72
Sobre corpo, compreendemos que na contemporaneidade este é detentor de um vasto
espaço nos discursos difundidos socialmente, bem como a ele é dedicado uma grande atenção
no que concerne a realização de terapias, práticas corporais, entre outros processos
interventivos com finalidade de lazer, expressão e cuidados com a saúde. Diante deste
contexto, Nóbrega (2009, p. 18) alerta para a necessidade de uma “reflexão acerca dos
discursos, práticas e valores atribuídos a essa ‘onda do corpo’, evitando assim uma possível, e
já visível, banalização do corpo e do movimento humano”.
Muitos são os estudos que se debruçam sobre o corpo na tentativa de compreendê-lo,
outros, entretanto, debruçam-se sobre as relações estabelecidas a partir dos seus usos e de suas
formas de expressão como no esporte, na dança, nas lutas etc. Nestes estudos, percebemos
uma diversidade de compreensões sobre o corpo, visto que, ele foi e é visualizado a partir de
diferentes óticas de análise que lhe atribuíram características específicas a depender do
contexto e dos instrumentos utilizados na investigação.
Em uma breve análise do percurso histórico das compreensões sobre o corpo Nóbrega
(2001) verificou que este esteve coberto de características distintas, assumidas de acordo com
o contexto histórico, cultural e social em que estava inserido. A ele foram atribuídos “valores
como corpo-objeto, corpo-mercadoria, corpo-pecado, corpo-sujeito, corpo-prótese”, entre
outros (NÓBREGA, 2001, p. 1).
Refletindo sobre o corpo, Nóbrega (2010) chama a atenção para a cultura de consumo
que se criou sobre o corpo na contemporaneidade, especialmente a partir da influência das
instituições midiáticas. Segundo a autora:
Uma nova cultura do consumo se estabelece a partir da imagem do corpo
bonito, sexualmente disponível, e associado ao hedonismo, ao lazer, e à
exibição, enfatizando a importância da aparência e do visual. Essas imagens
de corpo são divulgadas pelos meios de comunicação de massa e mídia
eletrônica, exigindo toda uma rotina de exercícios, dietas, cosméticos,
terapias, entre outras preocupações com a imagem e a autoexpressão, uma
exposição sem limites do corpo (corpo-outdoor) (NÓBREGA, 2010, p. 23).
73
Percebemos então que os discursos sobre o corpo veiculado pela mídia são em sua
maioria restritos diante a variedade corporal existente, pois, adotam padrões que devem ser
dissipados no imaginário social buscando uma adequação coletiva como sinônimo de
felicidade, de beleza, e, acima de tudo, de saúde.
Destacamos a necessidade de reflexão sobre o corpo em telas de imagens pela
confusão que nos causam de pertencimento e estranhamento. Pertencimento pelo
reconhecimento de muitas de suas características como semelhantes a si, ao eu corpo, e o
estranhamento consequente da distorção proporcionada pelos aparatos tecnológicos
responsáveis pela mediação e transmissão das imagens do corpo. Sobre isso, destacamos as
palavras de Baudrillard (1990, p. 63) quando argumenta que:
No espaço da comunicação, as palavras, os gestos, os olhares ficam em
estado de contiguidade incessante, sem contudo jamais se tocarem. É por que
nem à distância, nem a proximidade são as do corpo em relação ao que
cerca. A telas de nossas imagens, a tela interativa, a tela telemática são ao
mesmo tempo muito próximas e muito distantes: muito próximas para serem
verdadeiras [...], muito distantes para serem falsas. Criam assim, uma
dimensão que já não é exatamente humana, uma dimensão excêntrica que
corresponde a uma desporalização do espaço e uma indistinção das figuras
do corpo.
A impossibilidade do tocar é consequência do distanciamento oportunizado pela
mediação imagética, distância essa que se aproxima na oportunidade de reconhecê-lo
enquanto corpo. Portanto, o corpo em telas de imagens deve ser refletido e compreendido na
complexidade em que nos representa e se apresenta para nós.
Assim, devemos compreender que na veiculação dos discursos sobre o corpo, a mídia
assume um papel central. Através dos diferentes espaços da comunicação, sejam eles: jornais,
revistas, televisão, internet, entre outros, ela transmite para a população diferentes
compreensões, saberes e práticas sobre o corpo. Este fato merece a atenção de pesquisas que
74
se proponham a investigar o corpo e suas influências nos diferentes contextos e espaços
sociais, como: escolas, academias, hospitais etc.
Portanto, buscaremos aqui pensar como o corpo foi veiculado através das telas de
imagens da televisão e do computador no quadro Medida Certa, promovendo a construção de
compreensões, saberes e praticas sobre ele, construções estas que muita das vezes acabam por
fragmentá-lo, ou seja, desconstruí-lo.
Conforme expressa a imagem 13 apresentada na abertura deste capítulo, esse corpo foi
essencialmente controlado a partir das medidas. As fitas métricas como mordaça na boca dos
apresentadores simboliza o controle alimentar efetivado na busca pela medida certa. É
necessário fechar a boca e diminuir o consumo de alimentos para redução do peso e
consequente obtenção dos objetivos do quadro. O olhar dos apresentadores demonstra espanto
e sufoco sobre essa necessidade do controle alimentar.
Neste quadro, o corpo foi o personagem principal. Sobre os corpos foram realizadas
intervenções na busca por um aprimoramento fisiológico e estético, bem como de busca pela
obtenção de saúde. Todavia, as informações veiculadas não mantiveram uma coerência nas
compreensões sobre corpo, manifestando assim elementos que nos permitem visualiza-lo a
partir de diferentes características que são discutidas em categorias de conteúdos
posteriormente.
Diante os dados analisados chegamos as seguintes categorias de análise: corpo como
sistema operacional; corpo biológico; corpo fragmentado e exterior ao sujeito; corpo
quantificado e padronizado; e, corpo sujeito.
Sobre as categorias de conteúdo construídas para a discussão deste tema neste
capítulo, é importante deixar claro que a separação ou categorização utilizada não objetiva o
isolamento dos conhecimentos de cada uma delas. Ao contrário, é usado como efeito didático
para construção textual visando tornar as discussões mais claras para os leitores e evidenciar
75
as características mais fortes em cada uma das compreensões sobre o corpo. Todavia, os
conhecimentos apresentados em uma categoria não estão isentos de também estarem presente
ou mesmo se relacionar com os conhecimentos apresentados em outras.
Corpo como sistema operacional
Destacamos dentro desta categoria as compreensões, saberes e práticas que se
propuseram a realizar uma reprogramação do corpo. Os termos reprogramar ou
reprogramação foram frequentemente utilizados durante todo o desenvolvimento do quadro
pelos profissionais da área médica, nutricional e da Educação Física, bem como pelos
jornalistas integrantes e pelo público que acompanhou o quadro. Portanto, esta compreensão
do corpo foi a que mais se sobressaiu nos discursos do Medida Certa.
Em muitos momentos, a ideia da reprogramação foi tomada como conceito base para
os objetivos e as intervenções realizadas. Segundo a jornalista Patrícia Poeta o desafio do
quadro é “reprogramar o corpo em 90 dias” (PATRÍCIA POETA, VÍDEO BLOG 03). A todo
instante se enfatizava a necessidade de reprogramar o corpo. Durante os programas foram
apresentados como o corpo estava sendo reprogramado, que benefícios tinham sido
alcançados e o que ainda era necessário reprogramar.
A associação do corpo a um sistema operacional se deu justamente pela ideia
propagada de reprogramar. O termo traz em si a significação de tornar a programar, ou seja,
programar algo novamente. De acordo com Ferreira (2000, p. 560) programar é definido
como: “1. Fazer o programa de; planejar. 2. Prever ou selecionar, como parte de programa ou
de programação. 3. Determina a forma de funcionamento (aparelho, computador), fornecendo
programa. 4. Elaborar”. Direcionar o ato de “programar” ao corpo é de forma indireta
relacioná-lo a um sistema operacional, que em muitos momentos associa-se a aparelhos como
exposto na definição acima, especialmente ao computador.
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Sobre este fato, percebemos que quando é realizada a programação no corpo não se
devem negar os componentes nele existente, mas é necessário reorganizar os hábitos e
costumes para poder atingir os objetivos estabelecidos, no caso do quadro a perda de peso
entendida como obtenção da saúde. Podemos perceber isto quando a jornalista Renata
Ceribelli apresenta que o objetivo do “reality” é reprogramar o corpo, e que os
jornalistas/apresentadores passaram pelo processo de reprogramação mantendo as rotinas de
cada um (RENATA CERIBELLLI, VÍDEO BLOG 02).
O termo reprogramação corporal nos desperta para uma associação ao sistema
operacional de um computador. Dessa forma, o corpo se associaria a este, visto que, seria
necessária a “instalação” de novos hábitos, especialmente através da prática regular de
exercícios e do controle alimentar, bem como por meio da “remoção” do que não lhe é útil ou
do que atrapalha o seu desempenho. Realizar-se-ia uma formatação na busca por um melhor
funcionamento.
Esse corpo enquanto sistema operacional, assim como os sistemas computacionais,
está submetido aos riscos da contaminação dos vírus. Estes vírus seriam provenientes de
diferentes fontes, sejam os vírus biológicos estudados e decifrados nos laboratórios pelos
profissionais da área da saúde, ou, os vírus sociais, que aqui caracterizaríamos a partir das
modas, do consumo, das aparências, entre outros, e que no cotidiano nos infectam ou buscam
nos infectar.
Para refletir de forma mais detalhada sobre os vírus sociais acima comentados,
destacamos o fenômeno das modas. Sobre este, Baudrillard (1990, p. 77) comenta que:
Basta considerar o efeito da moda. É um contágio miraculoso das formas,
em que o vírus da reação em cadeia prevalece à lógica da distinção. O prazer
da moda é, decerto, cultural, mas não seria mais ainda decorrente do
consenso imediato, fulgurante nos jogos dos signos? As modas, aliás
extinguem-se como as epidemias, quando devastaram a imaginação, e o
vírus se cansa.
77
Portanto, verificamos que a moda surge como um efeito viral que contamina as
pessoas, contaminação essa que se extinguirá, ou se ressignificará, quando se normaliza
dentro do contexto social em que estas vivem. Atrelada ao consumo, a moda serve
socialmente como forma de distinção entre os grupos, assim, o efeito da moda mostra a
contradição entre a busca pela adequação de todos e a necessidade de distinção seja através
dos produtos, marcas, formas de usos, frequentação de espaços, entre outros. No contexto
atual a moda cansa quando se torna habitual, fato que demanda a necessidade do surgimento
de novas modas.
Assim, percebemos que a moda enquanto vírus social atrela-se as relações de poder
exercidas socialmente, não um poder centrado em um único sujeito ou grupo, mas um poder
que circula através das relações exercidas e vivenciadas por esses. Sobre isso destacamos as
palavras de Foucault (2012, p. 284), visto que segundo ele:
O poder deve ser analisado como algo que circula, ou melhor, como
algo que só funciona em cadeia. Nunca está localizado aqui ou ali,
nunca está nas mãos de alguns, nunca é apropriado como riqueza ou
bem. O poder funciona e se exerce em rede. Nas suas malhas os
indivíduos não só circulam, mas estão sempre em posição de exercer
esse poder e de sofrer sua ação, nunca são o alvo inerte ou consentido
do poder, são sempre centros de transmissão.
Assim, o poder presente nas modas ao mesmo tempo em que submete os sujeitos as
suas ideias é submetido também às ideias e ressignificações dos sujeitos que a recepcionam.
No entanto, ao pensar a questão das modas é imprescindível reconhecer que “adoramos ser
imediatamente contaminados, sem refletir”. Ou seja, embora tenhamos nossos pontos de
resistências é necessários estimulá-los para que nossa contaminação aconteça de forma
consciente e crítica. Dessa forma, é necessário que tenhamos claro que “a moda é um
fenômeno irredutível por que participa desse modo de comunicação insensato, viral,
78
imediático, que só circula tão rápido porque não passa pela mediação do significado”
(BAUDRILLARD, 1990, p. 77).
Diante este contexto de uma multiplicidade de vírus, é necessário a “instalação” e
utilização de antivírus eficientes (vacinas, reflexões, atividade física, controle alimentar, entre
outros) e constantemente atualizados para que possamos resistir às investidas infecciosas
destes, sejam eles sociais ou biológicos, e conviver harmoniosamente enquanto corpo.
Portanto, esse corpo enquanto sistema operacional é reconhecido nos discursos do
quadro, fato que nos leva a refletir sobre uma percepção social mais ampla sobre ele.
Conforme argumenta Baudrillard (1990, p. 13):
Outrora o corpo foi a metáfora da alma; depois foi a metáfora do sexo; hoje
já não é mais metáfora de coisa nenhuma. É o lugar da metástase, do
encadeiamento maquínico de todos os seus processos, de uma programação
infinita sem organização simbólica, sem objetivo transcendental, na pura
promiscuidade consigo mesmo, que é também a das redes e dos circuitos
integrados.
Essa compreensão do corpo enquanto máquina ressurge nessa associação do corpo aos
sistemas operacionais, como descritos acima, em uma programação infinita. Assim, o sujeito
enquanto corpo é incitado constantemente a estar se reprogramando para atender as
necessidades sociais, sejam elas profissionais, afetivas, sexuais, entre outras. É necessário se
atualizar constantemente, ou seja, reprogramar-se.
Diante a forte influência dos computadores na resolução dos problemas sociais e nos
processos de comunicação e de relacionamento, os seres humanos são em muitos momentos
comparados a estes. Conforme apresenta Baudrillard (1990, p. 31) “a revolução cinerbenética
leva o homem, diante da equivalência entre cérebro e computador, à interrogação crucial: sou
um homem ou uma máquina?”.
Essa interrogação que coloca o ser humano diante a inquietação da associação a uma
máquina não é recente, no entanto, verificamos ressignificações dessa associação. O corpo
79
que anteriormente foi constantemente associado a uma máquina, sendo esta pensada através
das máquinas a vapor, de funções mecânicas, de funções “braçais”, de força, de produção do
trabalho. Este, seria visualizado no arcabouço dos seus músculos, ossos e constituintes
biológicos que associados entre si possibilitariam o desenvolvimento de trabalho, assim como
as máquinas apresentadas acima, sendo um metáfora do outro, ou seja, corpo e máquina.
Que máquinas nos possibilitam a associação com os seres humanos na
contemporaneidade? Acreditamos diante os discursos evidenciados no quadro, que os seres
humanos pensados enquanto máquina assemelham-se as máquinas digitais, virtualizadas e
integradas a circuitos de informações, máquinas essas que tentam reproduzir, e muitas vezes
reproduzem, funções desempenhadas pelos seres humanos nas relações sociais. Todavia essas
máquinas apresentam limitações que as tornam estranhas ao homem. Para Baudrillard (1990,
p. 61):
O que sempre distinguirá o funcionamento do homem do funcionamento das
máquinas, mesmo das mais inteligentes, é a embriaguez de funcionar, o
prazer. Inventar máquinas que sintam prazer está ainda, felizmente, fora dos
poderes do homem. Todos os tipos de prótese podem concorrer para o prazer
dele. Embora invente algumas que trabalham, “pensam” ou se deslocam
melhor do que ele ou por ele, não há prótese, técnica ou midiática, do prazer
do homem, do prazer de ser homem. Para isso seria necessário que as
máquinas tivessem ideias do homem, que pudessem inventar o homem, mas
para elas é tarde demais: foi ele quem as inventou. É por isso que o homem
pode exceder o que é, ao passo que as máquinas nunca excederão o que são.
As mais inteligentes são exatamente o que são, exceto talvez no acidente ou
na falha, que sempre lhes podem ser imputados como um desejo obscuro.
Elas não tem o excesso irônico de funcionamento, excesso de funcionamento
que corresponde ao prazer ou sofrimento, pelo qual os homens se afastam de
sua definição e se aproximam do seu fim. A infeliz máquina, nunca excede
sua própria operação o que talvez explique a profunda melancolia dos
computadores... Todas as máquinas são celibatárias.
Os argumentos apresentados na citação acima são de fundamental importância para
visualizar as fortes distinções existentes entre o ser humano e a máquina, independente do tipo
de máquina. O ser humano enquanto corpo vivo e situado em um contexto está sujeito às
sensações, as ressignificações e as reconstruções dos sentidos e modos do viver. As máquinas
80
estão condicionadas e programadas ao desenvolvimento de funções específicas pensadas a
partir dos desejos e necessidades de quem as programa, todavia o ser humano não se rende
aos desejos “próprios” das máquinas.
Pensando os discursos do quadro que compreendem o corpo como um sistema
operacional, fica evidente a necessidade de uma reprogramação corporal. Nas análises
realizadas fica evidente que a reprogramação deve ser realizada predominantemente de acordo
com os conhecimentos técnicos exteriores ao sujeito, de profissionais capacitados, no caso da
Medicina, Nutrição e Educação Física.
A ideia apresentada acima é sintetizada na fala da jornalista Renata Ceribelli quando
realiza a apresentação da proposta do quadro. A jornalista argumenta que: “vou tirar da
memória do meu corpo tudo aquilo que me fez engordar no decorrer dos anos, e vou
reprogramá-lo em 90 dias” (RENATA CERIBELLI, POSTAGEM 01).
Durante o quadro, evidenciamos que os apresentadores perseguiram a perda de peso
como objetivo a ser alcançado. Além disso, foram em diferentes momentos abordados os
riscos que a obesidade oferece a saúde e o que poderia ser feito para amenizar ou retirá-los
dessa situação. Conforme Hauser, Benetti e Rebelo (2004, p. 73) em artigo publicado na
Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano dizem que “para evitar que
a prevalência da obesidade continue crescendo, surge à necessidade de adotar-se medidas de
prevenção. Estas podem ser através do aumento do gasto calórico pelo exercício ou pela
diminuição na ingestão calórica”.
Esclarecendo sobre o processo de reprogramação objetivado pelo quadro, a jornalista
solicita que os acompanhantes do quadro esqueçam que os participantes estão fazendo dieta, e
reconheçam que estes estão reprogramando o corpo. Segundo ela, reprogramar o corpo
significa dar um novo padrão de saúde através de mudanças alimentares e da prática de
exercícios. Vejamos:
81
Para começar, esqueçam a palavra DIETA. Eu e o Zeca NÃO estamos de
dieta. A proposta do Medida Certa é REPROGRAMAR O CORPO em 90
dias. E o que isso significa? Dar um outro padrão de saúde para o corpo
através de mudanças nos hábitos alimentares, e principalmente incluindo
atividade física DIÁRIA na nossa vida. Assim, o corpo vai entender que ele
vai ter que funcionar com novas regras, ou seja: queimando mais gordura,
diminuindo o colesterol, melhorando a circulação sanguínea, enfim, ele vai
funcionar de maneira mais saudável, melhorando e muito, a qualidade de
vida, o bem estar. Como fazer isto? Não adianta eu e o Zeca passarmos para
o público um cardápio sugerido por um médico ou nutricionista, pois ele só
servirá para nós (RENATA CERIBELLI, POSTAGEM 51).
Diante os argumentos expostos verificamos que o corpo nesta reprogramação se torna
passivo, visto que as intervenções foram realizadas de fora para dentro não oportunizando a
atuação do próprio corpo, que para nosso entendimento não pode ser reconhecido somente
como objeto, mas também como sujeito que se modifica. Embora a jornalista defenda a ideia
de não estarem realizando dieta, a mesma entra em contradição com outros momentos do
quadro, em que claramente afirma e defende a realização de dietas.
Para a reprogramação do corpo os discursos apoiam-se na realização de exercícios e
no controle alimentar na busca pela perda de peso, ambos com base nos conhecimentos
biológicos. De acordo com estudos da área com enfoque biológico, “a combinação de dieta
mais exercício proporciona perdas de peso mais eficiente, durante um curto ou longos
períodos, do que somente uma destas intervenções” (HAUSER, BENETTI E REBELO, 2004,
p. 77). Entende-se desta forma que “uma alimentação equilibrada quantitativa e
qualitativamente, aliada a uma prática desportiva, garante o trabalho metabólico normal, que
conduz o indivíduo a atingir e manter seu peso ideal” (SERRA e SANTOS, 2003, p. 700).
82
No controle do peso os hábitos alimentares possuem grande influência. A imagem 14
mostra a jornalista Renata Ceribelli no jantar de um casamento, a mesma apresenta o prato
constituído basicamente de fibras e proteína de carne branca. Segundo Serra e Santos (2003,
p. 701) “hábitos e práticas alimentares são construídas com base em determinações
socioculturais. No mundo contemporâneo, a mídia desempenha papel estruturador na
construção e desconstrução de procedimentos alimentares”. Além disso, vale salientar
segundo as autoras citadas acima que “as práticas alimentares de emagrecimento inserem-se
numa lógica de mercado impregnada por um padrão estético ideal”.
Um dos momentos fortes sobre a reprogramação do corpo acontece através do diálogo
entre a nutricionista Laura Breves e a jornalista Renata Ceribelli. A jornalista comenta sobre a
dificuldade em emagrecer rápido e a nutricionista responde:
Quando você inicia um programa de emagrecimento geralmente a pessoa se
dedica melhor no primeiro mês [...] por que tá incomodando o peso, depois
Imagem 14 – Renata Ceribelli em jantar de casamento
83
existe uma adaptação do organismo que é de 30 a 60 dias, onde o corpo se
defende também da restrição calórica, então quanto mais for à restrição
calórica, maior é essa defesa, tá? Então não é interessante que você faça
restrições calóricas muito severas (LAURA BREVES, VÍDEO BLOG 10).
Conforme os argumentos apresentados acima, inicialmente o corpo reage de forma
significativa aos estímulos postos sobre ele, entretanto com a permanência destes, ele acaba se
adaptando. Além disso, a nutricionista fala que o corpo tende a se defender de restrições
calóricas muito acentuadas e assim aconselha a não realizá-las severamente. Renata Ceribelli
questiona sobre o motivo: “porque o corpo vai te cobrar?”. Em resposta, a nutricionista
argumenta: “está me dando pouco, então também não vou gastar, tá? Então aí que entra a
atividade física que é fundamental, pois ela obriga o seu corpo a manter o metabolismo alto”.
Diante dessas considerações, a jornalista indaga mais uma vez: “então isso é que é
reprogramar o corpo?”. A nutricionista afirma: “exatamente, você faz uma restrição que não
seja muito severa, e a atividade física entra mantendo o seu metabolismo elevado. Então isso é
o que faz você ir emagrecendo, mantendo uma coisa progressiva no emagrecimento”
(RENATA CERIBELLI e LAURA BREVES, VÍDEO BLOG 10).
Na realização dessa reprogramação corporal fica evidente que os exercícios foram
essenciais. Durante o quadro foram realizadas diferentes tipos de atividade física, as quais
exemplificamos: vôlei, natação, musculação, corrida, caminhada, musculação, pular corda,
remo, ciclismo, dança, ginástica funcional, yoga, entre outros.
Os efeitos oportunizados por cada tipo de exercício é diferente, visto que “algumas
modalidades de exercícios físicos podem ser mais benéficas que outras em relação ao impacto
sobre o balanço de energia. A quantidade de gasto de energia difere de acordo com o tipo de
atividade escolhida” (HAUSER, BENETTI e REBELO, 2004, p. 73). Diante dessas
considerações, Márcio Atalla fez constantes indicações e esclarecimentos a respeito da
84
escolha correta dos exercícios para cada situação, além de argumentar que a variação dos
exercícios intensificaria o gasto calórico.
O controle alimentar também é essencial para a obtenção da reprogramação proposta.
Ao longo do quadro foram apresentadas inúmeras dicas de alimentos que contribuem para o
emagrecimento, como também para o aumento do peso. Receitas de pratos, indicação da
alimentação fragmentada de três em três horas, seis vezes ao dia, ingestão de fibras e
hidratação, dentre outras dicas. Porém, os conhecimentos fisiológicos e bioquímicos foram os
elementos chaves para a reprogramação promovida.
O profissional de Educação Física Márcio Atalla destaca que o corpo é uma máquina
em funcionamento. Segundo ele, “o seu corpo é uma máquina perfeita, pois sempre vai te dar
sinais de quando está exagerando para mais ou para menos. Aprenda a ouvir esses sinais”
(MÁRCIO ATALLA, POSTAGEM 88).
Fica evidente que nesta categoria de conteúdo o corpo foi compreendido e divulgado
pela mídia como um sistema operacional com necessidade de reprogramação, ou seja, de
emagrecimento. Sendo que esta foi idealizada através da intervenção com atividade física
regular e orientada, bem como do controle alimentar, ambas as práticas com grande influência
dos saberes da fisiologia e da bioquímica. Evidenciamos ainda que desta compreensão de
corpo enquanto um sistema operacional, temos desdobramento de outras categorias que estão
diretamente interligadas, como por exemplo: corpo biológico; corpo fragmentado e exterior
ao sujeito; e, corpo quantificado e padronizado.
Corpo biológico
O corpo compreendido dentro desta categoria obteve grande destaque durante as
análises do material do Medida Certa em virtude dos inúmeros discursos que lhe fizeram
referência a partir dos constituintes biológicos. Nela, destacamos como o corpo foi
85
predominantemente apresentado a partir dos conhecimentos de base biológica, especialmente
pelos saberes de áreas como a anatomia, a fisiologia e a bioquímica. Este corpo na perspectiva
de organismo teria então seu funcionamento condicionado às estruturas e componentes
químicos articulados entre si. No entanto, vale ainda destacar que cada corpo teria sua
configuração subordinada a uma carga genética herdada dos progenitores.
Os discursos e imagens analisados apresentam uma compreensão que toma como base
o conhecimento sobre corpo a partir dos seus componentes estruturais. As estruturas seriam
então conhecidas de forma detalhada através dos estudos da Anatomia. Esta ciência
proporcionaria o conhecimento das estruturas do corpo nos diferentes níveis de complexidade,
sejam: as células (epiteliais, sanguíneas, nervosas etc); os tecidos (conjuntivo, nervoso,
muscular etc); os órgãos (coração, pulmão, fígado, cérebro etc); os sistemas (nervoso,
circulatório, respiratório etc).
A imagem 15 que apresentamos a seguir expressa um pouco dessa visualização do
corpo a partir dos seus constituintes biológicos. Nos painéis informativos dissipados na
imagem é possível ver o indicativo de inúmeros constituintes e os valores encontrados de cada
um deles. A posição dos jornalistas nos leva a visualização de uma rotação em torno do eixo
do próprio corpo, uma forma de mostrá-lo em seus diferentes ângulos. A imagem também se
assemelha a muitas cenas de filmes futuristas, onde os sujeitos em foco parecem estar
realizando uma viagem, uma transposição para outro espaço e cenário. No quadro, a viagem
realizada pelos apresentadores se deu na objetivação da perda de peso, fato que foi
demonstrando na imagem 07 quando apresenta o antes e o depois de cada jornalistas.
86
Segundo Souza (2005, p. 173) a biologia instituiu uma nova forma de olhar para o ser
vivo. “Esse olhar, ao dirigir-se para o interior do corpo e procurar correlacionar as funções
dos órgãos e dos sistemas com a anatomia comparada, cria o interno do organismo vivo e,
depois os elementos exteriores que integram o corpo, possibilitando-lhe a existência da vida”.
Para conhecer o corpo a partir dos seus constituintes biológicos foi necessário o
desenvolvimento de instrumentos, dentre eles destacamos o microscópio. Segundo Mendes
(2007, p. 74) “com o aperfeiçoamento do microscópio, um mundo novo se descortina, órgãos,
tecidos e células revelam o interior do corpo humano vivo. Um corpo que não era possível de
ser visto a olho nu”. Continuando seus argumentos a autora destaca que:
o aperfeiçoamento do microscópio tornou visível a constante reconstrução
das células, mas houve de uma maneira geral uma interpretação reducionista
da vida, e a compreensão de corpo humano se estabelece prioritariamente de
uma maneira fragmentada, pautada no reducionismo biológico (MENDES,
2007, p. 74).
Imagem 15 – Componentes biológicos do corpo
87
Assim como a autora, compreendemos que este olhar para o corpo a partir dos
constituintes biológicos individualizados acarreta uma redução do sujeito e não o compreende
no entrelaçamento com outros elementos que estão presente no seu existir, ou seja,
compreende-o numa perspectiva reducionista.
Com o desenvolvimento tecnológico foram construídos novos instrumentos e
desenvolvidas técnicas de maior precisão no esquadrinhamento e conhecimento do corpo.
Dentre estas destacamos as técnicas de imagem que passaram a realizar um minucioso
trabalho de conhecimento das estruturas e componentes biológicos do corpo. Para Santaella
(2007, p. 3) “as técnicas de processamento de imagem atingiram hoje um tal nível de
penetração nas mais íntimas cavidades e recessos do corpo que este pode ser
milimetricamente esquadrinhado e fatiado sem ser lesado”.
Diferente dos estudos anatômicos realizados para o conhecimento do corpo, as
técnicas de imagens não necessitam “invadi-lo” e “ferí-lo” para conhecer todos seus
caminhos, fato que torna vantajosa sua utilização. Conforme Santaella (2007, p. 3) “os novos
aparelhos fazem o rastreamento dos componentes celulares, calculam as dimensões e volumes
das estruturas microscópicas, reconstroem em imagens tridimensionais o fatiamento
infinitamente milimétrico dos órgãos, surpreendendo-os em pleno funcionamento”. Portanto,
não é necessário paralisar ou “matar” o corpo para conhecê-lo, pois estas técnicas
oportunizam o seu exame diante o seu funcionamento, assim, “órgãos, tecidos, buracos e
reentrâncias, pedaços do corpo são expostos, postos a nu. O que se tem aí é a carne
perscrutada em sua crueza, células, moléculas, carne reduzida a si mesma, dessexualizada”
(SANTAELLA, 2007, p. 3 - 4).
Ainda sobre a constituição do corpo, a categoria do corpo biológico abre espaços para
sua composição a partir dos elementos químicos, conhecimentos estes que são tratados pela
88
bioquímica e que no quadro aparecem constantemente associados aos saberes da área médica
e aos exames laboratoriais. Essa prevalência dos constituintes biológicos também está
presente nos discursos de corpo da Revista Brasileira de Ciências do Esporte, em artigos
publicados até a década de 80, conforme é mostrado no estudo de Mendes (2007, p. 75). Para
ela:
Quando o estudo dos seres vivos é reduzido à análise de seus componentes
bioquímicos e genéticos, há um reforço ao reducionismo biológico. Isolando
seus elementos e suas características específicas nessas análises, o todo é
explicado apenas por essas partes. Visão que refuta a ideia de totalidade e se
faz presente neste cenário epistemológico pautado no mecanicismo, não
somente em relação aos estudos biológicos.
O conhecimento das partes constituintes do corpo é importante para pensar algumas de
suas características estruturais e de funcionamento, no entanto o seu isolamento e
exclusividade no conhecimento do corpo reduz este a um sistema pautado no mecanicismo e
exclui as possibilidades de reconhecimento como sujeito passível de expressão, sensação e
desejo.
Entretanto, é importante não negarmos os conhecimentos produzidos pela biologia
para não cairmos numa “biofobia”. Sobre este termo, Almeida (2009, p. 84) destaca, “a
biofobia, isto é horror a tudo que lembra o biológico, marcou durante muito tempo o
conhecimento nas chamadas ciências humanas e sociais”.
Nóbrega (2010, p. 28) ao refletir sobre as contribuições da biotecnologia no cenário
contemporâneo destaca que “a genética tem apresentados contribuições significativas para as
novas possibilidades de reconstrução da identidade corpórea”, especialmente a partir dos
estudos do Projeto Genoma que busca mapear o DNA humano. No entanto, para a referida
autora, “a existência humana não se reduz aos fundamentos químicos. Nessa perspectiva, a
visão da biologia molecular torna-se insuficiente, pois, ao considerar que os genes constituem
89
a informação que especifica o ser vivo, reduz o todo à propriedade dos componentes”
(NÓBREGA, 2010, p. 29).
Na articulação dos conhecimentos anatômicos com os conhecimentos bioquímicos nos
deparamos com o campo de saber da fisiologia, que se empenha na compreensão do
funcionamento do corpo humano. A compreensão do funcionamento do corpo humano
destacou-se constantemente durante o quadro analisado. Diante dos aspectos fisiológicos, ele
pode ser pensado a partir do metabolismo, da respiração, da circulação, da reprodução, entre
outros. Entretanto, no quadro Medida Certa as questões que envolvem o metabolismo se
sobressaíram especialmente por direcionar muitos dos discursos e práticas para as questões
que envolvem o emagrecimento.
As práticas realizadas sobre esse corpo biológico aconteceram a partir de exames
laboratoriais, bem como pelas intervenções realizadas com os exercícios físicos e o controle
alimentar, ambos direcionados por profissionais especializados.
Imagem 16 – Renata Ceribelli no controle alimentar e na prática de
atividade física
90
A imagem 16 apresenta a jornalista Renata Ceribelli diante as intervenções chaves do
quadro, o controle alimentar e a prática de exercícios. Na primeira a jornalista apresenta com
uma forte expressão de alegria o alimento que será consumido. Mesmo diante a quantidade
mínima de alimento, o sorriso é esboçado como forma de mostrar para os expectadores que o
controle alimentar pode ser uma prática prazerosa. Na outra parte da imagem a jornalista
encontra-se na academia em uma bicicleta ergométrica, a postura curvada do tronco e o olhar
para o horizonte evidencia o foco e a determinação da apresentadora na realização do
exercício. Ao fundo da imagem é possível visualizar diversas pessoas realizando o mesmo
exercício. É interessante notar que os sujeitos encontram-se isolados em suas máquinas, não
havendo relações interativas entre eles. A interação fica restrita ao homem e a máquina, fato
que evidencia essa valorização de uma sociedade virtualizada.
As práticas buscavam oportunizar aos apresentadores, bem como a população que
acompanhava o quadro, o desenvolvimento de um estado de equilíbrio do corpo no que
concernem os aspectos biológicos, visto que, estes eram os únicos enfatizados. O equilíbrio
seria alcançado através de adaptações fisiológicas promovidas pela prática de exercícios e do
controle alimentar. Um exemplo disso pode ser localizado quando o profissional de Educação
Física Márcio Atalla indica a realização da prática do remo como importante atividade para o
trabalho cardiovascular (VÍDEO FANTÁSTICO 10).
No quadro, a atenção para o corpo dentro desta perspectiva aconteceu através dos
diferentes profissionais envolvidos, tais como: profissional de Educação Física, médicos e
nutricionistas. O conhecimento dos aspectos biológicos do corpo foi essencial para pensar
estratégias de intervenção sobre ele na busca dos objetivos estipulados pelo quadro.
Ao analisarmos as imagens dos vídeos exibidos no Fantástico nos domingos à noite,
verificamos que em muitos momentos da reportagem eram expostos através de imagens e
texto, alguns componentes do corpo de ordem biológica, como: leucócitos, hemoglobina,
91
hematócrito, hemácias, promielócitos, metamielócitos, glicose, plaquetas, gordura, músculos,
sangue, entre outros. Como exemplo desse corpo biológico, destacamos a fala de Zeca
Camargo no primeiro episódio do quadro quando diz que: “o ácido úrico é uma substância
que é resultado da quebra das proteínas e o colesterol é a gordura no sangue, nenhum dos dois
pode ficar muito alto” (ZECA CAMARGO, VÍDEO FANTÁSTICO 01).
O corpo nesta perspectiva foi evidenciado em outros momentos do quadro através dos
discursos efetivados sobre ele. Márcio Atalla destaca que os homens possuem mais facilidade
na perda de peso do que as mulheres, isto como consequência de questões hormonais e
fisiológicas (VÍDEO FANTÁSTICO 02). Ao realizar esta afirmativa fica evidente que os
únicos parâmetros utilizados são de ordem biológica, não oportunizando espaço para pensar
como outras questões sociais também influenciam essa dificuldade feminina na perda de peso.
O diálogo estabelecido entre o profissional de Educação Física Márcio Atalla e a
jornalista Renata Ceribelli evidencia mais uma vez o corpo na perspectiva biológica. Segundo
Márcio Atalla: “o exercício de musculação é muito importante para você proteger suas
articulações, a partir dos 30 - 35 anos todo mundo começa a perder massa muscular de forma
espontânea, então você manter a massa muscular é importante para manter a autonomia”.
Renata complementa: “Isso significa que se minha musculatura continuar firme o meu
metabolismo não vai diminuir e com a idade eu vou diminuir essa tendência para engordar”.
Márcio finaliza: “Só que a gente precisa também pensar nos ganhos cardiovasculares, no
nosso coração, e alinhado aos exercícios aeróbicos” (MÁRCIO ATALLA e RENATA
CERIBELLI, VÍDEO FANTÁSTICO 11). O diálogo apresenta como os exercícios físicos
auxiliam na manutenção e desenvolvimento de partes e consequentemente funções do corpo,
no entanto, desconsidera aspectos importantes que também estão relacionados ao corpo que é
muito mais que biológico. Para Czeresnia (2007, p. 23):
92
O corpo biológico foi definido por uma concepção mecanicista que o
apreende desconectado das suas interfaces. Não há dúvida de que a biologia
pressupõe o corpo em relação, em constante troca com o meio, em constante
exercício de funções de assimilação e de excreção. Porém, deixa a desejar a
compreensão de como nas interfaces são construídas alguns atributos do
corpo biológico e suas fronteiras.
A autora supracitada evidencia o isolamento proporcionado por esta compreensão do
corpo aos demais elementos que interferem no seu existir. É importante pensar o corpo nas
relações que estabelece e nas experiências vividas por ele. Conforme argumentam Mendes e
Nóbrega (2004, p. 130 – 131) “o homem é considerado um ser biocultural, sendo totalmente
biológico e totalmente cultural”, além disso, “o que é biológico no ser humano encontra-se
simultaneamente infiltrado de cultura. Todo ato humano é biocultural”. Portanto, de acordo
com as autoras citadas o corpo deve ser compreendido no entrelaçamento da constituição
biológica com a cultural, sem hierarquizações ou isolamentos, fato pouco evidenciado nos
discursos do quadro.
Em outras passagens do quadro, Márcio Atalla fala sobre os benefícios da prática
regular de atividade física para depressão e ansiedade. Apresenta como se dá esses benefícios
através da liberação de um “coquetel bioquímico” composto por neurotransmissores. Segundo
Márcio Atalla:
A atividade aeróbica regular reduz a ansiedade e uma caminhada rápida por
20 a 30 minutos é excelente para diminuir o estresse. Os efeitos benéficos
proporcionados pela atividade física podem ser sentidos num período de 3 a
4 semanas. Nesse tempo, o indivíduo vê melhorar a sua autoestima e começa
a sentir os efeitos benéficos proporcionados pelo corpo em movimento como
o aumento da disposição (MÁRCIO ATALLA, POSTAGEM 24).
Mais uma vez evidenciamos uma forte presença dos aspectos biológicos, e
especialmente de como a prática de exercícios pode contribuir para um equilíbrio dos
neurotransmissores do corpo responsáveis pelos estados emocionais. Quanto a isto, Renata
Ceribelli destaca que: “a produção de endorfina provocada pelos exercícios seria uma das
93
explicações. A atividade física desencadeia uma secreção de endorfina capaz de provocar um
estado de euforia natural, o que alivia o estado da depressão”. Complementando a
apresentadora argumenta que “os exercícios também regulam a neurotransmissão da
noradrenalina e da serotonina, que aliviam os sintomas da doença. Além disso, uma boa
condição física aumenta a autoestima e dá saúde e bem-estar.” (RENATA CERIBELLI,
POSTAGEM 38).
Apesar de sabermos que os constituintes biológicos são importantes, o quadro
oportunizou uma compreensão de corpo biológico numa perspectiva reducionista. Outros
estudos no campo da Biologia tem oportunizado uma compreensão diferenciada do corpo,
dentre eles destacamos o estudo dos biólogos Humberto Matura e Francisco Varela que tratam
do conceito de autopoieses. Segundo Mendes (2002, p. 11) “um organismo vivo, ou seja,
autopoiético, é capaz de produzir as partes que o constitui, mantendo-os em ordem
operacional por meio de renovação constante”. Ainda segundo a autora:
A teoria da autopoiese, capaz de proporcionar o estudo dos seres vivos com
o entorno, propõem o entrelaçamento entre as ações biológicas e os
fenômenos sociais. Os seres vivos, possuindo organização autopoiética, são
capazes de se autoproduzirem continuamente, especificando seus próprios
limites à medida que interagem com o meio em que vivem (MENDES, 2002,
p. 11).
Assim, a compreensão do corpo enquanto autopoiético, ou seja, um corpo autônomo
com capacidade de autorganização, entende os aspectos biológicos do corpo numa perspectiva
ampliada estando entrelaçado com os acontecimentos sociais. Compreendemos que o corpo é
formado por uma dinâmica molecular e, dessa forma, “vai organizando-se e se reorganizando
mediante as provocações advindas do ambiente, das pessoas e da sociedade com as quais
convivemos, sendo ao mesmo tempo agente perturbador, modificando-as” (MENDES e
NÓBREGA, 2004, p. 129).
94
Esses aspectos biológicos precisam ser discutidos com reflexões que perpassam a
cultura em que estamos inseridos, pautada na produtividade e no consumo de forma
exacerbada, características essas que tem gerado problemas de adoecimento nas pessoas por
uma busca desenfreada pela adequação aos padrões, consumo de produtos e marcas, e pela
busca de rendimentos elevados na produção de produtos e serviços. Assim, entendemos que a
compreensão do corpo somente com base nos aspectos biológicos torna-se insuficiente.
Corpo fragmentado e exterior ao sujeito
Classificamos dentro desta categoria as compreensões de corpo que o visualizam a
partir de suas partes, numa constante fragmentação e isolamento. Um corpo que parece estar
exterior ao sujeito. Esta categoria contempla o corpo visualizado e definido nas palavras de
Albino e Vaz (2008, p. 204), ou seja, “o corpo é, assim, dividido, recortado, esquadrinhado
para que nele possa ser realizado um trabalho minucioso e eficiente”.
Os discursos analisados não evidenciam uma visão holística dos componentes do
corpo, muito menos inter-relações entre eles. Destacamos aqui também os discursos que
evidenciam uma fragmentação entre o corpo e o sujeito, e o corpo e a mente, como se esta
última não fosse um constituinte do corpo. A mente é compreendida como a entidade lógica
do sujeito, que com base na anatomia seria denominada de sistema nervoso central.
Esta perspectiva de fragmentar o corpo recorda a outros momentos da história,
especialmente ao cartesianismo. Segundo Nóbrega (2010, p. 49) “a tradição cartesiana, que
influenciou consideravelmente as abordagens científicas sobre o corpo, limitou-se a
considerar apenas dois modos de existência: como coisa ou objeto e como consciência”.
Ainda conforme a autora “vários conceitos, advindos das análises clássicas sobre o corpo e
influenciadas pelo cartesianismo, especialmente na fisiologia e na psicologia, reduzem a
95
dimensão do universo corporal ao conhecimento de suas partes ou ao direcionamento
psíquico” (NÓBREGA, 2010, p. 50).
No material analisado percebemos a fragmentação do corpo através dos discursos que
evidenciam suas partes: coração, pulmões, músculos, gordura, colesterol, glicose, entre
outros. Nesta fragmentação, evidenciamos uma forte presença dos conhecimentos da
anatomia, fisiologia e bioquímica, visto que para ela “no momento em que um corpo físico é
fragmentado, é cortado em pedaços e, consequentemente objetivado, um conjunto de
entendimentos é assegurado para ser moldado e formado” (MEDEIROS, 2011, p. 145).
O conhecimento das partes constituintes do corpo é essencial para pensar suas
características estruturais e de funcionamento, entretanto conhecê-las de forma isolada trás
poucas contribuições na compreensão do sujeito como um todo, bem como, seu
comportamento diante as diferentes situações.
Para Souza (2005, p. 173):
Tal maneira de pensar, conhecer, nomear e explicar o corpo humano,
engendrada na discursividade cientifica, vem produzindo formas
fragmentadas de pensar em relação a sua constituição, ao seu funcionamento
e aos processos que nele ocorrem – como também desvinculada das suas
inter-relações com as condições históricas, ambientais e culturais, em que o
corpo humano se encontra relacionado.
Assim, o corpo nesta compreensão é perspectivado como organismo e seu
funcionamento fica condicionado aos aspectos biológicos pensados de forma fragmentada.
Esta compreensão de corpo negligencia uma integração de todos os constituintes,
especialmente dos que se relacionam aos aspectos culturais e históricos.
A fragmentação do corpo pode ser pensada também quando o profissional de
Educação Física Márcio Atalla apresentou para os jornalistas Zeca Camargo e Renata
Ceribelli a quantidade de gordura eliminada através de um pedaço de borracha de constituição
semelhante, como forma de chocar os apresentadores em relação à gordura que tinham
96
eliminado na metade do quadro (MÁRCIO ATALLA, VÍDEO FANTÁSTICO 07). Ao
apresentar a gordura perdida através da borracha percebe-se uma acentuação dos constituintes
de forma isolada, sem pensar suas relações com as demais partes e constituintes do corpo.
Analisando outro vídeo, nos deparamos com os comentários de Márcio Atalla sobre a
jornalista Renata Ceribelli: “Renata reprogramar o corpo, eu vi que você já está
reprogramando, show! Agora eu quero reprogramar a cabeça” (MÁRCIO ATALLA, VÍDEO
FANTÁSTICO 06). Os argumentos utilizados evidenciam mais uma vez uma fragmentação
do corpo, visto que segundo Márcio Atalla a jornalista tinha conseguido reprogramar o corpo
e faltaria a cabeça. Nesta situação questionamos, e a cabeça não corresponde a um dos
componentes do corpo? Certamente sim, entretanto percebemos uma frequência e ênfase na
fragmentação do corpo, e a cabeça neste contexto simbolizaria o que anteriormente também
denominamos de mente.
Segundo Silva (2001, p. 12) “a partir do momento em que sou um corpo e uma razão,
ou um corpo e uma alma, o corpo sempre vai ocupar um lugar desfavorável, ou menos
importante em relação à alma e razão”. Esta fragmentação empreendida sobre o corpo acaba
por limitá-lo a uma perspectiva biológica e de objeto, e sendo assim, pode ser fragmentado em
suas partes e seus constituintes para serem classificados pela Anatomia e Fisiologia.
Reforçamos este entendimento a partir da afirmativa de Medeiros (2011, p. 145), quando
argumenta que “essas ciências, sobretudo no modelo anatômico e fisiológico, só vieram a
ratificar o valor do corpo como objeto, por meio da fragmentação e isolamento de suas
partes”.
No trabalho das partes do corpo os exercícios foram constantemente solicitados e
aconselhados. Um exemplo disso pode ser destacado quando o profissional faz a indicação da
prática do remo (imagem 17).
97
Segundo ele, “o remo é uma atividade física completa, por que além dele ter um
trabalho cardiovascular importante ele também trabalha toda a musculatura de braço, perna,
peito, costas, é uma excelente opção” (MÁRCIO ATALLA, VÍDEO FANTÁSTICO 10).
Muitas das vezes os exercícios são realizados visando o trabalho das partes isoladas, como na
musculação em que os grupos musculares requeridos variam de acordo com o tipo de
exercício realizado. Foca-se nas partes e na maioria das vezes esquece-se do conjunto, ou seja,
do corpo como um todo.
Durante o quadro, o profissional de Educação Física destaca alguns cuidados que
devem ser tomados em relação à musculação, bem como o auxilio que pode prestar na
reabilitação de lesões. Segundo ele, a musculação tem:
a vantagem de que, ao trabalhar grupos musculares distintos, permite que
uma pessoa que sofreu uma lesão em determinado grupo muscular, possa
Imagem 17 – Na prática do Remo
98
continuar a exercitar as demais regiões do corpo não afetadas. Somente
problemas de coluna, principalmente durante as crises, não podem ser
tratadas por meio da musculação. [...] Aliada ao alongamento e a
fisioterapia, a musculação pode e deve ser incluída no programa de
reabilitação e excelente aliada na recuperação de lesões (MÁRCIO
ATALLA, POSTAGEM 73).
Outro exemplo desse foco direcionado ao trabalho de uma parte isolada é encontrado
quando este profissional de Educação Física fala sobre os benefícios do fortalecimento do
abdome. Segundo ele “um abdômen rijo promove não só uma melhor aparência estética,
como também, somada a uma boa alimentação e a prática de exercícios aeróbicos, melhora a
capacidade de digerir alimentos”. Continuando argumenta que “além de melhorar a digestão,
um abdômen bem trabalhado também melhora o equilíbrio postural, dá uma maior
sustentação as vísceras, aperfeiçoa a respiração, previne contra o traumatismo e também evita
a diástase (fenômeno que separa as extremidades do músculo abdominal” (MÁRCIO
ATALLA, POSTAGEM 54).
Seguindo as análises do material referente ao quadro, localizamos mais indícios de
uma compreensão fragmentada de corpo quando é apresentada a ginástica funcional como
possibilidade de exercício físico. Sobre esta modalidade é possível compreender que “os
exercícios são realizados usando o peso do próprio corpo e através de movimentos mais
complexos que proporcionam saúde e beleza ao corpo, além de maior flexibilidade nos
membros inferiores e superiores e equilíbrio entre corpo e mente” (MÁRCIO ATALLA,
POSTAGEM 65). Como citado, o corpo nesta perspectiva é fragmentado em partes, sejam
elas superiores e inferiores, bem como entre o corpo e a mente. No entanto, é necessário
superar esta compreensão dualista e fragmentada e para isto é necessário reelaborar nossas
compreensões de corpo e de mente. Nóbrega (2010, p. 56) defende que “a concepção de
mente é reelaborada no sentido de não se restringir ao racionalismo, não havendo separação
entre corpo e mente, razão e emoção”.
99
Ainda para Nóbrega (2010, p. 31) “os fragmentos detonam a possibilidade de novos
olhares sobre o corpo, configurando uma nova possibilidade delineada a partir da perspectiva
da corporeidade como estesia ou comunicação sensível”. Assim, ao fragmentar o corpo e não
reconhecê-lo em sua integralidade, estamos impedindo que novas perspectivas de
conhecimento se instaurem sobre ele. No entanto, ainda sobre a fragmentação do corpo
Nóbrega (2010, p. 31) destaca que “a racionalidade moderna produziu um saber fragmentado
sobre o corpo, muitas camadas superpostas em formas de discursos variados que tentaram
silenciar a sabedoria do corpo e sua linguagem sensível”.
Dessa forma, verificamos que durante a realização do quadro, o corpo foi em muitos
momentos compreendido a partir de uma fragmentação entre suas partes. No entanto,
entendemos que essa compreensão não oportuniza um conhecimento mais amplo, visto que,
nas situações cotidianas o corpo não se fragmenta, mas está articulado através dos seus
diferentes componentes.
Nesta categoria destacamos também os discursos que compreenderam o corpo numa
fragmentação que exteriorizava o sujeito do seu corpo. Com predominância dos aspectos
biológicos na composição e no funcionamento, o corpo foi em muitos momentos do quadro
compreendido como uma espécie de objeto que estaria fora ou que não se integraria a pessoa
que o possuía. Pelos discursos analisados o corpo restringia-se aos aspectos físicos e químicos
de sua composição.
Percebemos que de uma forma geral os discursos sobre o corpo nesta categoria de
conteúdo acentuam uma separação entre o corpo e os sujeitos. As pessoas não se concebem
enquanto corpo com capacidade de sentir, pensar, expressar etc, mas apenas como seres
capazes de exercer controle sobre ele. Esse controle ou autocontrole é realizado pelos sujeitos
a partir de escolhas que tomam como base normas padronizadas divulgadas socialmente nos
discursos das instituições (FOUCAULT, 2001).
100
Ao falar sobre o discurso Foucault (2011, p. 111) comenta:
É justamente no discurso que vêm se articular poder e saber. E por essa
mesma razão, deve-se conceber o discurso como uma série de segmentos
descontínuos, cuja função tática não é uniforme nem estável. Mais
precisamente, não se deve imaginar um mundo do discurso dividido entre o
discurso admitido e o discurso excluído, ou entre o discurso dominante e o
dominado; mas ao contrário, como uma multiplicidade de elementos
discursivos que podem entrar em estratégias diferentes.
Os discursos são então submetidos às relações de poder exercidas socialmente, visto
que as ideias contidas nos discursos desestabilizam as relações entre os sujeitos. “O discurso
veicula e produz poder; reforça-o mais também o mina, expõe, debilita e permite barrá-lo”
(FOUCAULT, 2011, p. 112).
A produção social dos discursos acontece mediante o exercício de controle, seleção e
organização dos seus componentes visando o domínio de seus poderes, perigos e
acontecimentos aleatórios. Para Foucault (2001, p. 10) “o discurso não é simplesmente aquilo
que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo por que, pelo que se luta, o poder
do qual nos queremos apoderar”.
É importante perceber que a compreensão de corpo exterior ao sujeito acentua uma
inferiorização deste e das práticas efetivadas sobre ele. Segundo Silva (1999, p. 11) “em
Descartes, o corpo humano é domínio da natureza, o corpo é puramente corpo, assim como a
alma é puramente alma”. Complementando a autora diz que “ao separar radicalmente as
dimensões corpo e alma, a perspectiva cartesiana reforça a ideia de funcionamento corporal
independente da ideia de essência, como uma maquinaria que atua com princípios mecânicos
próximos”. Percebemos que a compreensão empreendida por Descartes acaba influenciando
muitos discursos e saberes difundidos atualmente sobre o corpo, como evidenciamos no
quadro Medida Certa.
101
Sobre esta relação ou separação do corpo com a alma, também denominada de
espírito, Merleau-Ponty (2004, p. 42) argumenta:
Enquanto a maioria dos homens entendem por espírito algo como uma
matéria muito sutil, ou uma fumaça, ou um sopro – seguindo nisso o
exemplo dos primitivos – Descartes mostrava limpidamente que o espírito
não corresponde a nada de parecido, ele é de uma natureza completamente
distinta, já que a fumaça e o sopro são, a seu modo, coisas, ainda que bem
sutis ao passo que o espirito não é absolutamente uma coisa, não habitando o
espaço, disperso como todas as coisas por uma certa extensão, mas sendo,
pelo contrário, completamente comandado, indiviso, não sendo nada mais,
finalmente, do que se recolhe e se reúne infalivelmente, que reconhece a si
mesmo.
Portanto, o espírito ou alma estaria num domínio não pertencente à classificação das
coisas. Além disso, Merleau-Ponty (2004, p. 46 – 47) comenta que Descartes “chegou a
afirmar que a alma era não apenas o chefe e o comandante do corpo, como o piloto em seu
navio, e sim tão estreitamente unida a ele que nele sofre”, mas não foi isso que prevaleceu no
pensamento cartesiano. Assim, percebe-se que mesmo diante o dualismo, o corpo e a alma
estabelecem uma relação.
Nos diálogos do quadro fica evidente em muitos momentos essa separação do corpo e
do sujeito, ou seja, do ser humano que não é somente objeto de intervenção. Para
exemplificarmos como isto acontece deixamos expostos alguns trechos de falas dos
integrantes do quadro. A jornalista Renata Ceribelli ao discutir sobre seus objetivos dentro do
quadro comenta “a ideia nem é ser magra, eu quero estar feliz dentro da estrutura do meu
corpo” (RENATA CERIBELLI, VÍDEO FANTÁSTICO 11).
Em um vídeo postado no blog, a jornalista Renata Ceribelli relata sobre os primeiros
dias após a adesão ao quadro. Nele, ela destaca que o corpo está dolorido e que está se
sentindo cansada, atribui estes sintomas a uma forma de resistência do corpo, às mudanças
efetivadas. Diante disto a jornalista fala que é necessário resistir, pois o corpo está resistindo
102
(RENATA CERIBELLI, VÍDEO BLOG 03). No discurso da jornalista percebe-se que falar
dela e “do corpo dela” são coisas diferentes, no entanto se o corpo está resistindo isto
indicaria que ela está resistindo.
Outra passagem que demonstra essa separação do corpo do sujeito é encontrada em
uma postagem realizada por Renata Ceribelli no blog do quadro. Nela a apresentadora fala da
relação de uma pessoa com o corpo, especialmente quando pensa as questões estéticas. A
apresentadora destaca: “vocês podem imaginar que a relação de uma pessoa com o corpo,
quando ele não está exatamente dentro dos padrões de beleza, é um pouco complicado”
(RENATA CERIBELLI, POSTAGEM 04).
Renata Ceribelli simula um diálogo com seu corpo para pensar a resistência que este
oferece quando é retirado da zona de conforto. Desta forma o discurso da jornalista apresenta
o corpo como algo exterior ao sujeito, algo que fica fora e que podemos conversar e
comandar. O corpo e o sujeito seriam nesta perspectiva dois elementos distintos. A
apresentadora destaca: “o diálogo com meu corpo está engraçado”. Simula então um diálogo:
“ele diz: estou cansado, pare de fazer tanto exercício! E eu respondo: calma, é só neste
começo, é preciso tirar você da zona de conforto! Isso vai ajudar você a ajudar o meu
metabolismo e queimar as gorduras que estão sobrando e me fazendo mal” (RENATA
CERIBELLI, POSTAGEM 29).
Em outra postagem a jornalista reforça mais uma vez essa exteriorização do corpo, só
que desta vez enfatiza a resistência do corpo em relação às mudanças alimentares. Segundo
ela “meu corpo está resistindo à dieta. Ele me deixa cansada e está me fazendo ter uma fome
voraz” (RENATA CERIBELLI, POSTAGEM 31).
Outro exemplo do reforço a essa compreensão do corpo pode ser localizada na fala da
jornalista:
103
No começo do projeto, dois meses atrás, eu tinha dúvida se conseguiria fazer
o percurso que fiz hoje. Como é bom ter o domínio do corpo. Como é bom
perceber que seu corpo está mais firme, mais forte, mais condicionado.
Ponto para Márcio Atalla, que é o responsável pela nossa preparação física.
Eu e meu corpo agradecemos (RENATA CERIBELLI, POSTAGEM 68).
Os argumentos apresentados na fala da jornalista destacam como o corpo é
compreendido numa ótica de separação, de posse e de exteriorização. Sobre ele deve ser
exercida a dominação, pois só assim será possível conquistar os objetivos que se deseja. No
entanto, o quadro enfatizava frequentemente que os meios para exercer esta dominação são
através da prática regular de exercícios e do controle alimentar. Todavia, uma passagem da
citação salta mais forte e vem reforçar os argumentos aqui utilizados: “eu e meu corpo
agradecemos”. No caso exposto, a apresentadora e o corpo dela agradeciam ao profissional
pelos benefícios conquistados na participação do quadro.
Os discursos do corpo como exterior ao sujeito acabam passando para a população que
acompanha o quadro a ideia de que o corpo é algo exterior as pessoas, e dessa forma pode ser
facilmente realizada intervenções sobre ele. Ele pode ser moldado e esquadrinhado de acordo
com a vontade do ser que o governa. Entretanto, os saberes e práticas utilizados nas ações
sobre eles são provenientes dos campos de estudo da fisiologia e são aplicados especialmente
através da realização de exercícios físicos regulares orientados e do controle alimentar.
Diante estes argumentos, reconhecemos a necessidade de ampliar a compreensão do
corpo e reconhecê-lo em sua integralidade e coletividade. Para tanto, é necessário visualizar
que:
O corpo [...] mais do que uma resolução unicamente orgânica, é
protagonista, testemunha, mediador e palco não só da existência individual,
mas também da esfera coletiva. Nele, e através dele, inscrevem-se os valores
socioculturais que denunciam e determinam o pertencimento ou a exclusão
de um indivíduo no grupo social, bem como as maneiras pela qual esse
grupo cultural está organizado (GUAZZELLI, 2007, p. 69).
104
O corpo é individual, mas também é coletivo, visto que nele estão infiltradas marcas
do contexto social e cultural em que está inserido, e são estas marcas que lhe oportunizam um
reconhecimento ou não como integrante de um determinado grupo social. Assim, o corpo não
é algo exterior ao sujeito, ao contrário é o próprio sujeito em ação, expressão, desejo,
sentimento e relação.
Corpo quantificado e padronizado
Destacaremos dentro desta categoria as compreensões, saberes e práticas do corpo
enquanto elemento mensurado e quantificado através dos exames, medições, pesagens, entre
outros procedimentos técnicos e atrelados à padrões construídos e impostos socialmente. De
acordo com os dados analisados do quadro Medida Certa percebemos que é possível conhecer
o corpo diante a sua transformação em números estatísticos que oportunizem uma avaliação e
classificação em padrões de normalidade ou não, padrões estes predeterminados que não
respeitam as individualidades dos sujeitos. Para isto foram realizados exames, avaliações,
testes e medidas pelos profissionais da Medicina, Nutrição e Educação Física, com
predominância para os profissionais das duas primeiras áreas de conhecimento.
Os discursos apresentados vêm confirmar uma perspectiva que na maioria das vezes
esteve atrelada ao conhecimento do corpo humano, ou seja, a sua quantificação. Essa
quantificação com grande influência do racionalismo torna-se necessária diante os discursos,
pois se considera que somente a partir dos números ter-se-ia o conhecimento exato. Conforme
argumentam Prado Filho e Trisotto (2008, p. 216) “os corpos modernos encontram-se presos
a uma normatividade sustentada em argumentos científicos”. Assim, é necessário medir,
quantificar, pesar, esquadrinhar, enfim, tornar os elementos constituintes do corpo valores
numéricos para posteriores análises.
105
O processo de quantificação corporal na Educação Física não é recente. Trazemos as
contribuições de Mendes (2007, p. 75) quando reflete sobre a produção do conhecimento
nesta área, destacando como a quantificação corporal esteve presente em seus conhecimentos.
Segundo ela “no final do século XIX e início do XX, a produção do conhecimento permanece
sendo exequível, priorizando-se o corpo fracionado, medido por partes e exposto a
quantificações, condição principal para a obtenção do conhecimento científico”. Vê-se assim,
que a quantificação do corpo torna-se importante diante o valor científico que esta confere ao
seu conhecimento. O conhecimento científico pautado na quantificação foi e ainda é utilizado
como verdade absoluta em muitos contextos e situações sociais.
Devemos observar que o corpo pensado a partir da sua quantificação em valores
numéricos está restrito apenas aos constituintes biológicos, pois, são passíveis de
quantificação. No entanto, ao reconhecer o corpo para além da anatomia, bioquímica e
fisiologia percebemos que a quantificação é insuficiente para sua compreensão. Como
poderíamos quantificar o desejo, os elementos culturais, os sentimentos dentre outros fatores,
que permeiam o corpo? Entendemos que esta mensuração é impossível de ser realizada e
traduzida em valores numéricos que podem ser reconhecidos por todas as pessoas, no entanto
podem ser sentidos por cada um durante o existir enquanto ser social.
As críticas à quantificação corporal se devem ao fato de estas parecerem dar conta de
todo o conhecimento construído sobre o corpo. Entretanto, acreditamos que conhecer o corpo
é muito mais do que sua transformação em números que serão avaliados dentro de padrões
estipulados aos grupos através de categorias de referência. Nas ultimas décadas temos
assistido uma intensa investigação e quantificação dos constituintes corporais com finalidades
diversas. Sobre isto, Pinheiro e Queiroz (2011, p. 22) comentam que:
A partir das últimas décadas, no entanto, com o fortalecimento da relação
entre a tecnologia e a ciência, passamos a ser confrontados com a
106
manipulação cada vez mais eficiente do corpo, afetando desde a sua
aparência externa até o seu interior microscópico, remetendo-lhe as novas
configurações a propósito do qual a relação entre corpo e sujeito se modifica,
inaugurando uma noção diferente sobre o que é ser humano.
Entretanto, é necessário reconhecer as contribuições prestadas pelos exames, testes e
medidas para o conhecimento e avaliação de partes ou funções do corpo, especialmente nos
espaços de tratamento da saúde. É através dos resultados destes que são traçadas estratégias
para melhorar os índices e consequentemente melhorar o funcionamento do corpo. No
entanto, não podem ser utilizados como única forma de conhecimento. Compreendemos que
essas medições são em sua maioria formas de adequar as pessoas a padrões corporais pré-
determinados, negando muita das vezes à percepção corporal como importante para o
conhecimento das características e funções do corpo.
Os autores Alves e Baptista (2006, p. 5) apresentam algumas utilidades das avaliações
realizadas sobre os sujeitos a partir dos exames e medidas. Segundo eles, estas podem servir
para “diagnosticar, verificar o progresso do indivíduo, classificar, selecionar indivíduos,
manter padrões de performances físicas esperadas com o treinamento, motivar o indivíduo e
servir como diretriz para pesquisas”. Assim, a transformação do corpo e dos seus constituintes
em valores numéricos contribui aos olhos dos profissionais envolvidos para traçar estratégias
e alcançar resultados. Na Educação Física, assim como em outras áreas de conhecimento e
atuação profissional, há profissionais que defendem que, “uma vez detectado as
potencialidades e as dificuldades do avaliado, o professor terá subsídios para selecionar e
adequar um programa de atividade física e os exercícios” de acordo os objetivos estabelecidos
para cada sujeito ou grupo de pessoas (ALVES e BAPTISTA, 2006, p. 5).
Sobre isto levantamos alguns questionamentos, seriam essas avaliações realmente
necessárias? A percepção corporal possibilita o reconhecimento de todas as características,
funções e constituintes do corpo? Seria benéfico à articulação entre essas avaliações e a
107
percepção corporal? Respondemos positivamente ao último questionamento, e deixamos os
demais como reflexão sobre essas práticas.
Durante o quadro, os apresentadores foram submetidos a uma série de exames, testes e
avaliações antropométricas. Para tanto foi necessário o auxílio de profissionais da Nutrição,
Medicina e Educação Física. Todavia vale ressaltar que o parecer médico assume o lugar de
verdade diante os demais e é a partir dele que devem ser pensadas as estratégias de
intervenção sobre o corpo.
Segundo Alves e Baptista (2006, p. 8) “é necessário e fundamental a realização de um
exame médico antes da admissão em programas de atividade física, objetivando detectar
algum problema físico e orgânico, que poderá colocar em risco a vida do indivíduo”. Dessa
forma, a avaliação médica para os apresentadores antes da submissão ao programa de
treinamento físico proposto foi essencial para evitar possíveis danos a estes, bem como
auxiliar na escolha de estratégias que facilitem a obtenção dos resultados. De acordo com
Pollock e Wilmore (2009), a realização de uma rotina de exames físicos e laboratoriais é parte
integrante da avaliação médica. Além disso, os autores recomendam que dependendo dos
resultados encontrados deve ser realizada uma avaliação completa da aptidão física,
classificando o indivíduo de acordo com os resultados obtidos.
Apresentaremos alguns fragmentos de discursos sobre o corpo pensado nesta
perspectiva. No vídeo do primeiro episódio do quadro os apresentadores foram submetidos a
realização de exames de sangue para aferição dos valores referentes a: leucócitos, glicose,
colesterol, plaquetas, entre outros. Além disso, foram também verificadas as quantidades de
ácido úrico, pressão arterial e posteriormente foi realizada uma avaliação física com a
nutricionista através de medição, testes e pesagens. Segundo Zeca, “tiramos todas as medidas,
altura, circunferência abdominal, percentual de gordura”. Já Renata argumenta que “pior
momento para mim até agora, hora de tirar as medidas. Primeiro a altura mais fácil né?, um e
108
setenta, agora o peso, socorro! Será que tenho mesmo que contar isso?” (RENATA
CERIBELLI e ZECA CAMARGO, VÍDEO FANTÁSTICO 01).
Com a aferição das medidas foram realizadas também avaliações como a da
circunferência abdominal e do IMC, Índice de Massa Corporal. Segundo Zeca, “essa medida é
uma relação entre peso e altura”. Sobre a circunferência abdominal Renata convida os
espectadores a realizarem a aferição, “você aí de casa pode entrar nessa. Pegue uma fita
métrica e passe um pouco abaixo do umbigo, acima dos ossos da bacia”. Sobre os resultados
dessa medida, Zeca comenta que “nas mulheres deve ficar abaixo de 88 cm e nos homens
abaixo de 102 cm, se a sua cintura passou dessas marcas está na hora de fazer igual a gente e
tomar uma atitude” (RENATA CERIBELLI e ZECA CAMARGO, VÍDEO FANTÁSTICO
01). Além disso, ainda foram realizados outros testes/exames com o cardiologista, do qual
destacamos o teste de esforço e o eletrocardiograma.
Percebemos que o corpo a partir da sua tradução em valores numéricos foi
constantemente solicitado no decorrer do quadro, visto que, sobre ele foram realizadas
intervenções com exames, testes e medidas na tentativa de compreendê-lo.
Diante disso, compreendemos que a verdade sobre o corpo que se sobressai no quadro
Medida Certa é aquela proveniente dos instrumentos e testes de mensurações, e
consequentemente dos valores numéricos obtidos. No vídeo apresentado, na metade do
quadro, Renata destaca que “chegou a hora de verificar se está dando certo, fita métrica,
balança, consultório médico, [...] quero saber se estamos chegando na medida certa”. No
mesmo episódio é mostrado o encontro dos apresentadores com a nutricionista Laura Breves,
ou seja, “a hora da verdade”. Para tanto, Zeca comenta que “só tem um jeito de saber, que
venha a fita métrica”. Na ocasião, a nutricionista destaca a situação do apresentador e os
benefícios já alcançados na redução do peso e das medidas. Renata comenta sobre as
mudanças de hábitos que realizou, comenta que quer “ver o efeito disso nas medidas”. Aponta
109
as perdas nas medidas de braço, circunferência abdominal, etc, entretanto demonstra
ansiedade no que concerne ao peso: “chega a hora da tão temida balança, vou até jogar a
roupa para pesar e depois descontar” (RENATA CERIBELLI e ZECA CAMARGO, VÍDEO
FANTÁSTICO 07).
No contexto da Educação Física no final do século XIX e início do século XX foram
observados uma grande predominância dos conhecimentos matemáticos nos conhecimentos
da área, o que possibilitou visualizar que “a análise antropométrica contribuiu com o
conhecimento do corpo humano, através de um processo de quantificação. Altura, peso e
diâmetro do tórax são medidas que colaboram com a determinação de cada corpo humano e
com a classificação das populações” (MENDES e NÓBREGA, 2008, p. 211 – 212). Embora,
empreendendo técnicas de avaliações e mensurações diferentes, evidenciamos uma relação
entre a forma de tratamento de alguns conhecimentos da Educação Física, especialmente na
matematização dos corpos, com as compreensões, saberes e práticas apresentadas no quadro.
Uma passagem significativa nesta compreensão do corpo através dos números, ou
seja, de sua quantificação, é encontrada na fala da jornalista Renata Ceribelli. Segundo ela,
“por mais que a gente esteja sentindo os resultados em nosso corpo, aquele numerozinho da
balança, aquele da fita métrica, a gente fica esperando” (RENATA CERIBELLI, VÍDEO
FANTÁSTICO 13). A afirmativa da jornalista deixa expresso à importância que os números
adquirem no conhecimento do corpo, mesmo sentindo, percebendo é indispensável o
conhecimento do corpo através dos valores numéricos.
Ao final do quadro, os resultados obtidos pelos jornalistas/apresentadores do
Fantástico foram expressos através dos valores numéricos dos exames, testes e avaliações
realizados sobre eles. No último episódio, a jornalista e apresentadora Patrícia Poeta comenta:
“vamos direto aos números, acho que o Brasil inteiro quer saber”. Dessa forma o profissional
de Educação Física Márcio Atalla apresenta os resultados atingidos pelos apresentadores ao
110
longo dos 90 dias de intervenção proposto pelo quadro. Dentre esses números destacamos os
valores referentes ao peso. O profissional expõe os valores conquistados pelos apresentadores:
“Renata você começou o programa com 80,3 kg [...] agora depois de muito suor, de três
meses, Renata seu novo peso é 74,4 kg”, “o Zeca começou esse programa com 111,4 kg [...]
agora 104 kg”. Entretanto Patrícia Poeta comenta “Atalla não é só o número da balança que
vale né? Acho que é importante a gente dizer pro pessoal de casa que está nos assistindo nesse
momento”. Dessa forma, Márcio Atalla responde “o número da balança para mim conta
menos, o quê que é importante? Eles entraram num programa que a atividade física é o carro
chefe e eles não tiveram nenhuma dieta restritiva” (MÁRCIO ATALLA e PATRÍCIA
POETA, VÍDEO FANTÁSTICO 14).
Percebemos diante dos argumentos apresentados uma contradição. Embora seja
enfatizada durante todo o quadro uma relevância aos números, bem como a perseguição para
sua conquista, o profissional de Educação Física finaliza dizendo que o número é o que conta
menos neste processo. Entendemos seu argumento final, porém percebemos que este não é
alimentado durante o quadro. Outro momento que verificamos nesse discurso contraditório é
quando Márcio Atalla comenta “a balança não é o retrato fiel do que está acontecendo no
corpo de vocês” (MÁRCIO ATALLA, VÍDEO FANTÁSTICO 4). Portanto, a situação nos
coloca diante duas possibilidades: contradição no discurso do profissional ou superação das
ideias inicialmente propostas.
Perante o exposto, entendemos que o corpo reduzido aos processos de quantificação
dos seus constituintes estaria reduzido a uma objetivação que negaria a sua complexidade e a
sua atuação nos diferentes espaços de convívio. Assim, entendemos que os exames, testes,
medidas e avaliações são importantes para o conhecimento de elementos integrantes do corpo,
no entanto, não podem ser utilizados como única e verdadeira forma de conhecimento sobre
este, visto que negaria o seu existir enquanto sujeito.
111
Entendemos ainda, que o processo de quantificação do corpo e sua posterior avaliação
e classificação em padrões de normalidade com base em índices e tabelas de referência acaba
por propagar determinados padrões como corretos em detrimento de outros. Dessa forma, os
seres humanos deveriam buscar se adequar aos padrões impostos como forma de facilitar sua
aceitação e inserção nos diferentes espaços de convívio social. O corpo preconizado seria
dessa forma o padronizado.
Os discursos do quadro mostraram constantemente uma busca pela adequação corporal
aos padrões de magreza. Os jornalistas foram submetidos a esse programa de intervenções em
consequência do aumento de peso que obtiveram com o passar dos anos, conforme
apresentado no primeiro episódio. Diante esse aumento no peso e consequentes problemas de
saúde ocasionados por este, os mesmos se dispuseram a participar. No entanto, estes não
ficaram sós e convidaram a população a também participarem do desafio.
Pensar o corpo a partir dos padrões é algo que nos remete as questões culturais de uma
sociedade. Nos diferentes contextos sociais verificamos no imaginário das pessoas uma
necessidade de efetuar julgamentos e a categorização dos elementos que o constituem entre o
bom e o mal, feliz ou triste, bonito ou feio, entre outros. Dessa forma, verificamos que o
corpo também é passível dessas classificações e são com base nelas que se busca uma
adequação em padrões que lhe permitam conquistar adjetivos positivos.
Conforme argumentam Albino e Vaz (2008, p. 199) “os corpos estão a mostra como
nunca, provocando desejos e anseios, sobretudo de alcançar promessas de liberdade,
felicidade e sucesso que se encontram encarnadas nas aparências tidas como belas e
saudáveis”. Assim, verifica-se que socialmente tem-se convencionado determinados padrões
que permitem o reconhecimento do corpo como adequado ou não, especialmente no que
concernem as questões de beleza. Estes corpos belos irão buscar apoio em diferentes espaços
sociais, visto que estes “têm como território os salões de beleza, as academias de ginásticas e
112
musculação, os consultórios nutricionais e de cirurgia plástica, alastrando-se para as
residências, locais de trabalho e confundindo-se com os espaços de lazer” (ALBINO e VAZ,
2008, p. 200).
Para adequação aos padrões é necessário atitude. Conforme argumenta o profissional
de Educação Física Márcio Atalla, esta deve ser manifestada através do desprendimento para
a realização de exercícios e controle alimentar. “Quem quer faz, quem não quer arruma
desculpa” (MÁRCIO ATALLA, VÍDEO FANTÁSTICO 08). No entanto, não é fácil ter a
atitude de buscar adequar-se aos padrões impostos socialmente. Conforme argumenta Renata
Ceribelli “as pessoas querem ser emagrecidas, elas não querem emagrecer, elas querem que o
remédio emagreça, que a cirurgia plástica emagreça. Não é possível que você não goste de
uma atividade física, escolha uma e faça! Você vai ver os benefícios”. Finalizando a jornalista
ainda diz “não tem sacrifício, é só fazer tudo na medida certa” (RENATA CERIBELLI,
VÍDEO FANTÁSTICO 09).
Diante os argumentos expostos acima, percebemos uma responsabilização dos
indivíduos sobre as mudanças a serem efetivadas em seu corpo e consequentemente
adequação aos padrões determinados. Dessa forma, corroboramos com Gomes (2006) quando
fala que as receitas para a obtenção da felicidade através do corpo perfeito insistem na
responsabilidade individual.
No cenário atual verificamos também um grande arsenal de informações a respeito de
como cuidar do corpo. Conforme Oliveira (2010, p. 44) “na fabricação do corpo, o mercado é
inesgotável”. A esse respeito Figueira e Goellner (2005, p. 88) comentam que:
Esta profusão de informações interpelam diferentes sujeitos de diferentes
formas provocando o despontar de várias e sutis questões relacionadas ao
seu corpo, sua aparência e seu comportamento, pois pensar o próprio corpo
é, na atualidade, pensar sobre si mesmo e sobre a identidade de cada um. Ter
um corpo perfeito, trabalhado, esculpido à imagem e semelhança do desejo
de cada um é uma tendência que vem se firmando, fazendo parecer serem
normais, inerentes, essenciais, portanto, “naturais” do viver a identidade
113
contemporânea. Já não basta apenas ser saudável: há que ser belo, jovem,
estar na moda e ser ativo. Há que ter um estilo criado e valorizado consoante
as possibilidades e as informações disponíveis a quem quiser acessá-las. A
opção é individual e depende do esforço, da dedicação, da disciplina e dos
cuidados de cada um para construí-lo.
De acordo com a citação realizada acima percebemos que ao ser humano é colocada à
responsabilidade de cuidar do seu próprio corpo, no entanto, para isso é disponibilizada uma
séries de saberes dos quais ele deverá servir-se para alcançar os objetivos propostos. Isso pode
ser evidenciado no quadro a partir dos saberes e práticas disponibilizados aos apresentadores
para alcançarem a “medida certa”, ou seja, um padrão corporal desejado.
Este padrão corporal imaginado pelos sujeitos é costumeiramente nominado de “corpo
perfeito” e povoa o imaginário social da população e alguns discursos científicos. Segundo
Guazzelli (2007, p. 69) o corpo perfeito “vem impregnado pela promessa de felicidade e
realização por um lado, e expressa, por outro, os signos de saúde e funcionalidade, aspectos
tão valorizados nos discursos médicos”. Assim, “o corpo perfeito pode ser comprado, a vista
ou a prazo, trazendo consigo, a semelhança de outros produtos, um sem número de
promessas, entre elas a saúde, o vigor e o bem estar”.
Os argumentos utilizados no quadro evidenciam a necessidade de atitude para efetivar
as mudanças corporais e deixam expresso que o corpo necessita em sua maioria adequar-se
aos padrões de magreza. Essa situação seria diferente apenas para aqueles que fossem magros
em demasia e que buscassem o objetivo inverso, ou seja, engordar. Segundo Albino e Vaz
(2008, p. 205):
A imoralidade atrelada à apresentação de um corpo que não esteja em forma
é algo que é potencializado contemporaneamente. O corpo em toda sua
superfície deve ser mostrado, exibido, para que possa na mesma medida ser
apreciado, desejado, invejado, ou apenas e tão somente ser notado, contanto
que esteja adequado para isso.
114
Diante a ideia apresentada, fica evidente que o corpo na sociedade contemporânea
deve ser exposto, no entanto, a exposição fica restrita aos corpos adequados aos padrões
estéticos convencionados como belos.
Sobre esta compreensão de corpo é essencial um olhar sobre os elementos culturais em
que ele se insere, pois, os padrões corporais não são fixos e se modificam na fluidez das
características históricas e culturais. No entanto, na busca pela adequação dos corpos aos
padrões que permeiam o imaginário social foram utilizados os saberes da fisiologia e
bioquímica, especialmente através da nutrição e dos exercícios físicos.
É importante ainda destacar que embora se viva “um momento de exacerbado culto ao
corpo, contraditoriamente há uma enormidade de pessoas que não incorporam qualquer
prática de exercícios físicos no seu dia a dia, que não estabelece rotineiramente a alimentação
considerada pelos especialistas e, quiçá, são obesas” (OLIVEIRA et al, 2010, p. 37).
Ainda sobre a padronização do corpo em medidas pré-determinadas, a jornalista
Patrícia Poeta define Márcio Atalla como “o homem que conseguiu colocar Renata Ceribelli e
Zeca Camargo na Medida Certa” (PATRÍCIA POETA, VÍDEO FANTÁSTICO 14). Qual
seria a Medida Certa? A Medida Certa seria individual ou coletiva? Esta Medida Certa é fixa
ou é fluida?
Sobre a primeira pergunta, verificamos que embora o quadro propague a ideia de
busca por uma Medida Certa ele não define claramente qual seria esta medida. Diante disto,
refletimos se esta medida seria coletiva ou individual, ou seja, a medida certa propagada pelo
quadro seria uma medida geral exposta para as pessoas de fora para dentro a qual deveriam se
adequar ou a medida certa seria única para cada pessoa de acordo com as individualidades de
cada um. Portanto, defendemos uma perspectiva de compreensão que não define uma medida
padrão como certa.
115
O quadro em alguns momentos expressa respeito a essas individualidades e propaga a
ideia de uma medida certa de acordo com cada um, no entanto ele também aponta para uma
medida padronizada que todos devem se adequar. Sobre isto, Moroni e Oliveira Filha (2008,
p. 3) dizem que: “com facilidade e frequentemente, os estereótipos descartam a
individualidade das pessoas, tornando-o um aspecto desprezado e inexistente”. Porém, as
reflexões tecidas vão além da mensuração em valores numéricos, pois ela está carregada dos
elementos culturais e históricos, ou seja, de um conjunto de símbolos e significados no
contexto social em que se insere.
De acordo com Mendes (2007) compreendemos que o conceito de medida possui
diferentes conotações a depender do contexto em que ele é utilizado. Para a autora, ao abordar
o referido conceito é possível entender que na Antiguidade Greco-Romana ele era pensado a
partir da capacidade que cada corpo pode suportar e do que era adequado para cada um. Já no
contexto do século XIX a medida era pensada a partir da classificação em uma média mínima,
que receberia o status de normal. Na contemporaneidade, a medida é propagada através de
uma ideologia que oportuniza padrões que devem ser alcançados pelas pessoas não
reconhecendo as individualidades de cada sujeito. No entanto, ao pensarmos o corpo enquanto
sujeito inserido em um contexto social, a medida deve ser pensada por cada pessoa de acordo
com suas características pessoais, sociais e culturais.
Quanto à estabilização ou não dessa medida, os discursos apontam para uma fixação.
O quadro estabelece 90 dias para atingi-la, entretanto, os discursos denotam que passados os
90 dias não seria necessário os mesmos cuidados. Verifica-se assim um grande engano, pois,
assim como antes, os apresentadores aumentarão de peso em consequência dos descuidos com
o corpo, passado o prazo do quadro se não derem continuidade aos cuidados voltarão à
mesma situação.
116
Durante o quadro foram evidenciados também alguns desejos de expectadores para
aumentar de peso. Diferente dos jornalistas, algumas pessoas enviaram solicitações de dicas
para o aumento do peso. Nesse fato, localizamos também uma busca de adequação aos
padrões, visto que, um peso excessivamente baixo pode não agradar socialmente. Sobre este
fato Márcio Atalla faz algumas considerações:
Quem está nesta situação que precisa ganhar peso, precisa ficar mais forte.
Vai ter que fazer uma atividade de ganho de massa muscular, e aí ela pode
escolher: musculação, pilates, ginástica funcional, ginastica localizada. Tem
que fazer de quatro a cinco vezes na semana, tem que dar esse estímulo para
o músculo e tem que comer mais calorias do que o que gasta, o inverso do
Zeca e da Renata que estão gastando mais do que consumindo. O importante
é dar o estímulo de ganho da massa muscular e comer bem. E aí é importante
falar assim, as pessoas acreditam que para ficar mais forte tem que comer
muita proteína, isso também é um mito. O nosso corpo tem uma Zona ideal
de aproveitamento da proteína, pega o nosso peso multiplica por 1,8 é a
quantidade de proteína ótima pra você ganhar massa muscular. Não é quanto
mais melhor até por que o nosso corpo não tem um estoque de proteína, o
tipo de alimento é o mesmo, carboidratos, preferir os integrais, é fruta,
proteína, escolher as proteínas mais magras, existem alguns suplementos que
as pessoas podem consumir mais isso depende, o suplemento de proteína,
depende se a ingestão dela, se o que ela está comendo não é suficiente, mas
proteínas que seriam leites, carnes, tem proteínas vegetal como feijão, então
proteína é bom e gorduras, boas gorduras, acho que o padrão de alimentação
pode seguir o do Zeca mais vai ter que comer mais, ao contrário do Zeca que
tem que comer menos (MÁRCIO ATALLA, VÍDEO BLOG 13).
Apesar dessa busca desenfreada por um corpo padronizado, acreditamos que a
definição de uma medida certa não pode ser tomada de forma generalizada e imposta de fora
para dentro, deve antes respeitar as individualidades dos sujeitos e ser compreendida dentro
de uma fluidez visto que a medida compreendida como certa hoje poderá não ser a mesma
amanhã. Portanto, isto dependerá de uma série de fatores como os desejos, sentimentos,
objetivos e contextos sociais de cada sujeito nos diferentes momentos históricos de sua vida.
117
Corpo como sujeito
De forma mais tímida durante o quadro foi possível perceber elementos que fizeram
referência ao corpo enquanto sujeito. Embora não tenhamos encontrado uma defesa clara
sobre esta compreensão em relação às demais, foi possível a localização de discursos e
atitudes que visualizaram o corpo antes de tudo como um sujeito que é e que se expressa
através dos seus movimentos. Nestes momentos evidenciamos um tratamento sobre o corpo
lhe reconhecendo como sujeito vivo, com capacidade de sentimento, memória e desejo.
Visualizamos a presença desta compreensão quando o corpo foi tratado como sendo o
próprio sujeito que realizava os movimentos e os cuidados alimentares propostos pelo quadro.
Para tanto, levou-se em consideração os desejos e as experiências já vivenciadas em outros
momentos pelos jornalistas e os sentimentos que cada manifestação lhe despertava. Não sendo
fragmentado em partes e nem nos dualismos que sempre predominaram.
Este corpo sujeito é assim reconhecido na integralidade dos aspectos biológicos com
os elementos culturais e históricos do contexto em que viveu ou que vive. É um corpo que
permite o entrelaçamento dos diferentes fatores que se fazem presente na vida de um ser
humano, sem buscar sua classificação ou julgamento. Para Mendes e Nóbrega (2004, p. 128)
“nosso corpo possui historicidade tanto na estrutura orgânica quanto nas interações com a
cultura em que vamos convivendo, o que desmistifica a ideia de que só os estudos culturais
reconhecem a historicidade do corpo”. Complementando esta ideia, trazemos as contribuições
de Sampaio (2006, p. 82) quando afirma que “o corpo concebido dentro de um contexto
sócio-cultural, no qual está inserido, não pode mais ser visto a partir dos seus aspectos
biológicos dissociados das questões culturais e simbólicas que o constitui na história”.
Assim, essa compreensão reconhece o corpo como um conceito vivo em movimento.
É a representação e a expressão do homem durante o seu existir. Ele é o entrelaçamento de
diferentes elementos, sejam eles biológicos, culturais, históricos, sociais e emocionais.
118
Entretanto, essa configuração complexa e fascinante, faz do corpo um sujeito enigmático e
mutável, especialmente no que concernem as compreensões, os saberes e as práticas que agem
sobre si.
Além disso, este corpo sujeito é constituído nas relações que estabelece com os demais
integrantes dos espaços sociais, ou seja, é necessário estar com para ser (CYRULNIK, 1997).
Além disso, compreendemos conforme Cyrulnik (1997, p. 92) que o ser humano é um
indivíduo poroso. Segundo ele, “o indivíduo é ao mesmo tempo indivisível e poroso,
suficientemente estável para ser o mesmo quando o biótipo varia é suficientemente poroso
para se deixar penetrar a ponto de se tornar ele mesmo um bocado de meio ambiente”.
Finalmente, “de todo os organismos, o ser humano é, provavelmente, o mais dotado para a
comunicação porosa (física, sensorial e verbal), que estrutura o vazio entre dois parceiros e
constitui a biologia do ligante”.
Pensando sobre este corpo enquanto sujeito inserido em um determinado contexto
social e cultural, com capacidade para agir autonomamente sobre eles, Le Breton (2010, p. 7)
argumenta que:
Moldado pelo contexto social e cultural em que o ator se insere, o corpo é o
vetor semântico pelo qual se evidencia a relação com o mundo, é construída
atividades perceptivas, mas também expressão dos sentimentos, cerimoniais
dos ritos de interação, conjuntos de gestos e mímicas, produção da
aparência, jogos sutis de sedução, técnicas do corpo, exercícios físicos,
relação com a dor, com o sofrimento, etc.
Assim, o corpo se apresenta diante uma grande complexidade de fatores e com
capacidade de significações diversas. Ainda segundo o autor, “do corpo nascem e se
propagam as significações que fundamentam a existência individual e coletiva; ele é o eixo da
relação com o mundo, o lugar e o tempo nos quais a existência toma forma através da
fisionomia singular de um ator” (LE BRETON, 2010, p. 7).
119
Além disso, devemos compreender o corpo como sujeito em relação com outros
corpos, visto que, “os outros contribuem para modular os contornos de seu universo e dar ao
corpo o relevo social que necessita, oferecem a possibilidade de construir-se inteiramente
como ator do grupo de pertencimento” (LE BRETON, 2010, p. 9).
Identificamos como as características desta compreensão de corpo apareceram durante
o desenvolvimento do quadro. Destacamos algumas passagens que referenciaram o corpo
como sujeito nos discursos expostos pelos jornalistas Renata Ceribelli e Zeca Camargo e
pelos demais profissionais envolvidos no quadro, bem como pelos saberes e práticas
empenhados sobre ele.
Um dos momentos que revela o corpo como sujeito que sente e que reage as
experiências vividas é percebido quando o jornalista Zeca Camargo relata durante o quadro o
mau humor e a irritação que tem sentido diante as mudanças provocadas na rotina de
alimentação e prática de exercícios. Este fato mostra que o corpo é um ser com autonomia,
que além de receber informações exteriores, o corpo também possui a capacidade de reação
(VÍDEO FANTÁSTICO 03). Assim, compreendemos o corpo dotado de autonomia para se
organizar, expressar, modificar a si e aos outros, além de ser recortado pelos aspectos
históricos das experiências vivenciadas. Dessa forma, entendemos que:
Desde que nascemos, nosso corpo traz a história que nos concebe como
indivíduos da espécie humana. Dando continuidade à historicidade do corpo,
vamos construindo outra história, mediante nossas experiências de vida, de
acordo com a sociedade em que convivemos. Nosso corpo, portador da
mesma organização dos seres vivos, possui estrutura diferente e vai
adquirindo originalidade à medida que interage com o entorno. Formado por
uma dinâmica molecular, organiza-se e reorganiza-se mediante as provações
advindas do ambiente e das pessoas com as quais convivemos, sendo ao
mesmo tempo agente perturbador, modificando o ambiente e as pessoas
(MENDES, 2002, p. 15).
Diante o exposto percebemos que o corpo não é somente um objeto passível, no qual
se podem realizar intervenções sem reações adversas, ao contrário é dotado de capacidade de
120
assimilação das informações que lhe despertam inúmeras reações, a depender das
experiências vivenciadas por cada sujeito. Além disso, o corpo possui a incrível capacidade de
aprender e se adaptar a novas experiências, porém sempre será influenciado pelo
entrelaçamento dos fatores que o compõem, seja eles biológicos, históricos, culturais etc. Para
Prado Filho e Trisotto (2008, p. 116) “o corpo [...] não tem nada de natural – em rigor, não
existe ‘corpo natural’, espontâneo e livre, ‘pura potência’ anterior a qualquer trabalho da
cultura – ele é sempre resultado de investimentos de poder e de enunciações por saberes”.
Outra demonstração de sensação empreendida pelo corpo sobre os investimentos
realizados sobre ele é apresentada pelo jornalista Zeca Camargo quando relata a sensação de
culpa por ter “saído da linha”, ao antecipar uma “folga alcóolica”. O jornalista comenta:
“achei que fiz bem, pois a bebida caiu bem com a endiva assada e a costela de cordeiro [...]!
Só que no dia seguinte, quando eu acordei, bateu um arrependimento – e forte!”
(POSTAGEM 21). O discurso do apresentador revela um corpo que sente e deseja, bem como
responde aos investimentos realizados sobre ele.
Para Lacroix (2006, p. 38) “o individuo só é ele mesmo [...] a partir do momento em
que pode sentir e exprimir as emoções que nos agitam”. O sentir, o emocionar-se são dessa
forma elementos inerentes ao ser humano e estão entrelaçados neste, em todas suas
configurações e experiências vividas ao longo do seu existir. “Ao nos abandonarmos a nossas
emoções, reaprendemos a ser o nosso corpo. Sentimos o delicioso afloramento da fisiologia
sob o envoltório cultural” (LACROIX, 2006, p. 41).
Assim, o corpo guarda em si as experiências vivenciadas sejam positivas ou negativas,
e fará uso das informações e aprendizagens proporcionadas por estas em outros momentos
quando requeridas. Um exemplo disso pode ser reconhecido na fala de Márcio Atalla quando
aborda a importância da aprendizagem de movimentos na infância para a posterior utilização
do repertório de movimentos na vida adulta. Segundo ele, “quem constrói esse acervo de
121
movimentos na infância, jogar vôlei, futebol, depois quando vai jogar lembra. [...] é
importante até como socialização, a criança fazer atividade física, por que quando ela for
adulta ela vai poder participar de muitos eventos, porque ela tem habilidade para aquilo”
(MARCIO ATALLA, VÍDEO FANTÁSTICO 07).
Um exemplo do resgate de movimentos já realizados em outros momentos pelos
sujeitos é exposto quando Zeca faz opção por praticar a dança indiana após um longo tempo
sem vivenciá-la. A professora de dança indiana destaca a importância da memória do corpo,
sendo que esta é compreendida como sendo os conhecimentos já adquiridos em outros
momentos da vida do sujeito (VÍDEO FANTÁSTICO 11). O corpo expressa através dos seus
movimentos, conhecimentos, sentimentos, desejos, entre outros aspectos.
Para Sampaio (2006, p. 76):
O corpo em seu movimento cotidiano, através de diversas linguagens,
anuncia seus desejos e sentidos. Criando cultura, cultivando projetos e
sonhando horizontes proclama a vida com dignidade, afirma sua saúde na
contramão de um sistema que multiplica as formas do morrer. Desse modo, a
cultura será compreendida como uma construção social significativa para os
seres humanos a partir de suas relações, o que exige que se considere a
diversidade e pluralidade como sua marca fundamental.
Dessa forma, percebemos que o corpo sujeito é dotado de inúmeros significados
sociais e culturais a partir das relações que estabelece com os demais. No entanto devemos
considerar que a expressão dos significados construídos no/pelo corpo se devem aos
movimentos realizados por este. Para Sampaio (2006, p. 77), devemos “considerar o
movimento dos corpos para afirmar sentidos significativos de suas relações com potencial de
criar cultura”. Além disso, a autora complementa “o corpo em seu movimento acolhe os
anseios e sentidos da existência possibilitando a re-significação de linguagens fortes e
importantes que carregam a afirmação da identidade de um grupo social”.
122
Diante desses argumentos, a jornalista Renata Ceribelli ao comentar sobre a adaptação
conseguida diante da nova rotina, reconhece-se como ser corporal. Segundo ela “a impressão
que eu tenho até agora é que eu dou mais conta das coisas, eu estou mais ativa mesmo no meu
dia a dia” (RENATA CERIBELLI, VÍDEO FANTÁSTICO 09). A fala da apresentadora
diferente de outros momentos no quadro evidencia uma aceitação do corpo enquanto sujeito e
não um distanciamento ou exteriorização do sujeito do seu corpo. Assim, ao reconhecer o
corpo enquanto sujeito, a jornalista também reconhece sua capacidade de sensação, e sobre
isso destaca no decorrer do quadro sentir as mudanças no corpo. A jornalista ressalta que “a
gente está sentindo os resultados em nosso corpo” (RENATA CERIBELLI, VÍDEO
FANTÁSTICO 14).
Esta compreensão do corpo enquanto sujeito vivo e desejoso é visualizada também na
fala da jornalista Renata Ceribelli quando diz que é “hora de ouvir o corpo e dar o que ele está
pedindo” (RENATA CERIBELLI, POSTAGEM 46). Ao oportunizar espaço para ouvir o
corpo ela reconhece este com capacidade de sensação e expressão. Ouvir o corpo é ouvir a si
mesmo.
No o quadro foi enfatizado que é essencial escolher exercícios que proporcione prazer
a quem irá praticá-los. Dessa forma, as práticas empreendidas sobre o corpo devem ser
condizentes com os desejos deste e com as sensações que lhe desperta. Renata comenta sobre
a prática da bicicleta junto com o esposo e as boas sensações alcançadas (imagem 18).
Para Renata Ceribelli “a atividade física nos tira da conversa chata do dia a dia de todo
casal, diminui o estresse que sempre carregamos do trabalho para casa, e nos traz mais
disposição, bom humor e autoestima” (RENATA CERIBELLI, POSTAGEM 61).
123
Nesta compreensão de corpo sujeito ganha destaque a compreensão fenomenológica
de Merleau-Ponty. Esta compreensão entende inicialmente que “tudo aquilo que sei do
mundo, mesmo que por ciência, eu o sei a partir de uma visão minha ou de uma experiência
do mundo sem a qual os símbolos da ciência não poderiam dizer nada” (MERLEAU-PONTY,
2006, p. 3). Para a fenomenologia de Merleau-Ponty (2006, p. 14) “o mundo é não aquilo que
eu penso, mas aquilo que eu vivo; estou aberto ao mundo, comunico-me indubitavelmente
com ele, mas não o possuo, ele é inesgotável”.
Ainda segundo o autor citado acima “a aquisição mais importante da fenomenologia
foi sem dúvida ter unido o extremo subjetivismo ao extremo objetivismo em uma noção do
mundo ou da racionalidade” (MERLEAU-PONTY, 2006, p. 18). Diante este entendimento
percebemos que o corpo foi pensado na união da objetividade com a subjetividade. Para tanto,
Imagem 18 – Renata Ceribelli pedala junto ao esposo
124
dizemos, assim que nosso corpo, como uma folha de papel, é um ser de duas
faces, de uma lado, coisa entre as coisas e, de outro, aquilo que as vê e toca;
dizemos, por que é evidente, que nele se reúne essas duas propriedades, e
sua dupla pertença à ordem do “objeto” e à ordem do “sujeito” nos revela
entre as duas ordens reações muito inesperadas (MERLEAU-PONTY, 2006,
p. 18).
Nesta dupla pertença o corpo não é somente objeto, mas também, assume-se como
vivo, como sensível, como desejante e atuante nos diferentes cenários sociais. Com base na
compreensão fenomenológica de Merleau-Ponty, Nóbrega (2010, p. 15) defende o corpo
como aspecto primordial da existência humana, ele “é a medida de nossa existência no
mundo”. Desta forma, “o corpo não é uma coisa, nem ideia, o corpo é movimento, gesto
linguagem, sensibilidade, desejo, historicidade e expressão criadora” (NÓBREGA, 2010, p.
15).
No contexto do quadro, verificamos que esse corpo como sujeito acaba sendo na maior
parte do tempo negado, embora como apresentamos, em alguns momentos possamos de forma
tímida reconhecê-lo nos discursos dos participantes. Essa negação se dá em consequência do
biopoder exercido sobre ele, ou seja, o controle sobre os elementos biológicos do corpo. O
quadro Medida Certa busca reprogramar o corpo, e para isso, utiliza técnicas racionais e
instrumentais, impulsionadas pela tecnologia e pelos discursos midiáticos assumidos como
verdade. Demonstrando assim a influência da sociedade técnico-científica em que está
inserido. Sociedade essa que assume discursos de verdade produzidos e divulgados por
entidades científicas de cunho majoritariamente técnicos.
Assim, compreendemos que o corpo enquanto sujeito ao relacionar-se com outros
corpos em sociedade é submetido a relações de poder, exercendo ou recebendo intervenções
deste. Conforme Foucault (2012, p. 284 - 285):
Efetivamente, aquilo que faz com que um corpo, gesto, discursos e desejos
sejam identificados e constituídos enquanto indivíduos é um dos primeiros
efeitos do poder. Ou seja, o indivíduo não é o outro do poder: é um dos seus
125
primeiros efeitos. O individuo é um efeito do poder e simultaneamente, ou
pelo próprio fato de ser um efeito, seu centro de transmissão. O poder passa
através do individuo que ele constitui.
De acordo com a citação acima, o corpo seria um dos primeiros efeitos do poder, bem
como um dos seus centros de transmissão. Poder compreendido de forma circular e não
apenas restrito a uma esfera social. Dessa forma, ao exercerem-se tentativas de controle sobre
o corpo através da busca de uma adequação corporal padronizada em suas formas, medidas,
entre outros constituintes, verifica-se que o corpo possui em si um contrapoder que lhe
permite aceitar ou mesmo rejeitar as imposições ou orientações apresentadas a ele. Essa
capacidade de aceitação ou rejeição está diretamente articulada com as experiências pessoais
vivencias ao longo do existir.
Portanto, compreendemos diante os argumentos apresentados nesta categoria que o
corpo deve ser antes de tudo compreendido no entrelaçamento com os diferentes aspectos que
se relacionam ao seu entorno. O corpo expressa os desejos, sentimentos, medos, afetos,
emoções, de cada ser humano. É um ser relacional e entrelaçado que reage às investidas
realizadas sobre ele. É deste modo, um corpo construído e recortado por aspectos biológicos,
culturais, históricos e sociais.
127
Abrimos espaço neste capítulo para tratarmos das compreensões, saberes e práticas
sobre a saúde veiculadas e defendidas pelos apresentadores/jornalistas Renata Ceribelli e Zeca
Camargo, bem como pelos profissionais da Educação Física, Nutrição e Medicina envolvidos
no quadro Medida Certa.
Ao realizar um estudo epistemológico do conceito de saúde percebemos que esta foi e
é compreendida a partir de diferentes referenciais, além disso, para ela foram desenvolvidos
inúmeros saberes e práticas através dos conhecimentos biológicos, fisiológicos, anatômicos,
mas também a partir de conhecimentos provindos da filosofia, psicologia, dentre outros.
De acordo com Carvalho (2001, p. 13) “o conceito de saúde está historicamente
associado ao de doença”. Segundo a autora:
O conceito de saúde ao longo do tempo, significou: ausência de doença
(visão simplista), completo bem-estar físico-psíquico-social (visão idealista),
está em um padrão “normal” (visão relativista), ou ainda disposição de
superação das adversidades físicas, psíquicas e sociais (visão subjetivista)
(CARVALHO, 2001, p. 13).
De acordo com os argumentos utilizados acima, evidenciamos que a saúde assumiu
diferentes compreensões ao longo do seu processo histórico, no entanto, uma coisa parece
consenso em todas as compreensões apresentadas, ou seja, a sua inerência aos seres humanos.
Diante disso, visualizamos que a compreensão de corpo utilizada contribui para a defesa de
uma concepção de saúde, visto que, corpo e saúde estabelecem relações circulares.
Ao analisar as compreensões, saberes e práticas sobre a saúde no quadro Medida Certa
evidenciamos que estas estão diretamente relacionadas à uma compreensão de corpo com
características específicas. Portanto, verificamos que de forma direta ou indireta a saúde
sempre esteve relacionada ao corpo, seja este corpo visualizado sobre a ótica do corpo objeto,
corpo máquina, ou mesmo a compreensão de corpo enquanto sujeito. Assim, podemos afirmar
que a compreensão de corpo influenciará diretamente na forma como a saúde é compreendida.
128
Entretanto, é necessário considerar que no cenário contemporâneo somos
influenciados também quanto à compreensão de saúde a partir das influências das
informações midiáticas. Conforme argumenta Dantas (2007, p. 27), “os discursos da mídia
agem como uma prática pedagógica” e enquanto esta, tem oportunizado a divulgação e
produção de uma série de conhecimentos sobre o corpo. Caracterizando-o como “objeto de
diferentes pedagogias culturais, o corpo encontra particularmente na pedagogia da mídia, a
emergência de uma certa pedagogia do corpo saudável”. Portanto, ao divulgar informações
sobre hábitos saudáveis, dentre outras informações, os espaços midiáticos acabam por reforçar
o desenvolvimento dessa pedagogia de um corpo saudável.
Sobre os saberes relacionados à saúde, verificamos que ao longo da história se
constituíram com grande predominância da área médica. Inicialmente, falar e discutir sobre
saúde era algo que ficaria restrito aos médicos. Eram os médicos os detentores do
conhecimento da área da saúde, eles quem dominavam seus discursos e suas práticas
(FOUCAULT, 2004).
Todavia, evidenciamos que os discursos e práticas sobre a saúde passaram por
ressignificações e oportunizaram espaço de atuação para outras áreas, dentre as quais
destacamos a Educação Física (MENDES, 2007). Nessa “descentralização” da saúde da
Medicina, Dantas (2007, p. 145) argumenta que a própria mídia tem contribuído na promoção
de uma maior informação dos indivíduos que deixam de ser tão dependentes da instituição
médica e de seus códigos. Segundo ele, “as redes de informação sobre saúde, fazem com que
o individuo tenha mais detalhes para decidir sobre sua saúde ou o seu tratamento, que
resultam em uma melhor discussão com os médicos”. Entretanto, a veracidade das
informações divulgadas pela mídia será de fundamental importância neste processo, bem
como, as fontes de onde estas são provenientes.
129
Embora tenhamos conseguido ampliar o campo de conhecimento e atuação sobre a
saúde, percebemos que até os dias atuais os saberes médicos ainda têm grande influência
sendo em muitos casos exclusivos e hegemônicos. Entretanto, o desenvolvimento de estudos
realizados em outras áreas têm buscado a afirmação de novos campos de saberes e práticas
sobre esta.
Portanto, assim como o corpo, a compreensão de saúde, bem como seus saberes e
práticas, também não tiveram um percurso linear na sua constituição, nela foram realizadas
rupturas e continuidades que lhe permitiram em momentos distintos ser caracterizada como
ausência de doenças, associada aos padrões estéticos, pensada apenas a partir dos elementos
biológicos, uma saúde individualizada, institucionalizada através da Organização Mundial de
Saúde (OMS), ou mesmo pensada a partir de uma perspectiva existencial (MENDES, 2007).
Atualmente verificamos que a saúde se tornou objeto de consumo, sendo que este é
efetivado a partir da aquisição de bens e serviços veiculados constantemente nos espaços
midiáticos. O espaço na mídia para a discussão dos temas da saúde tem aumentado
consideravelmente nos últimos tempos, fato que contribui para a caracterização da chamada
“geração saúde”.
Diante do quadro “Medida Certa” do Fantástico, elencamos as seguintes categorias
para discussão das compreensões, saberes e práticas de saúde que são: Saúde baseada em
índices de normalidade e biológica; Saúde associada ao emagrecimento e à padrões estéticos;
e, Saúde associada a atividade física e ao controle alimentar. Todavia, é válido salientar que
embora tenhamos a separação destas categorias as mesmas estabelecem diálogos em muitas
das compreensões, saberes e práticas sobre a saúde. Assim, não devemos visualizá-las como
antagônicas e sem possibilidade de relação. Diante as categorias de conteúdos analisadas
propomos ao final deste capítulo uma compreensão de saúde existencial que oportuniza
ressignificações dos saberes e práticas aplicados em sua busca da saúde.
130
Saúde baseada em índices de normalidade biológica
Apresentamos nesta categoria os discursos do quadro Medida Certa que referenciam a
saúde a partir dos elementos biológicos constituintes do corpo humano em um estado de
equilíbrio, ou seja, nos seus índices de normalidade. A saúde nesta perspectiva foi visualizada
como equilíbrio do corpo no que se refere aos seus processos fisiológicos e sua composição
bioquímica.
Nas reflexões realizadas por Canguilhem (2011) encontramos respaldo crítico para
essa compreensão de saúde associada a uma normalidade biológica. Segundo o referido autor,
o médico, reconhecido socialmente como principal responsável pelo cuidado com a saúde,
“tira a norma do seu conhecimento da fisiologia, dita ciência do homem normal, de sua
experiência vivida das funções orgânicas, e da representação comum da norma em um meio
social em dado momento”. Ainda segundo o autor, “as constantes fisiológicas são, portanto,
normais do sentido estatístico, que é um sentido descritivo, e no sentido terapêutico, que é um
sentido normativo” (CANGUILHEM, 2011, p. 77). Essa compreensão de saúde restrita a
normas biológicas é refletida e criticada pelo autor citado diante a impossibilidade de
apreensão dos diversos constituintes e significados que a saúde desperta na vida dos sujeitos.
Compreendemos que a constituição biológica do corpo e o funcionamento dos seus
componentes são essenciais na conquista da saúde dos seres humanos, entretanto esta não
deve servir como único parâmetro de análise em sua aquisição. Assim, reconhecemos a
relevância dos componentes biológicos, mas entendemos que a saúde como algo que
acontece/existe no ser humano trás em si uma complexidade maior, pois os aspectos
biológicos não se isolam dos acontecimentos sociais que este participa, da cultura, da história
e das sensações que experimenta.
131
No entanto, no quadro Medida Certa evidenciamos uma exacerbação dos aspectos
biológicos como essenciais, e em muitos momentos como únicos responsáveis, para a
aquisição da saúde. Esta compreensão de saúde relaciona-se diretamente com a compreensão
de corpo enquanto biológico demasiadamente enfatizada no quadro.
Nesta compreensão de saúde, enfatiza-se a composição corporal e a estabilização dos
elementos biológicos, ou seja, o equilíbrio ocasionado entre os componentes bioquímicos e
anatômicos e seus respectivos processos fisiológicos como forma de melhorar a estabilidade
do corpo. Essa estabilidade seria conseguida diante a adequação em índices de normalidade
dos diferentes constituintes, como os verificados através dos exames que os apresentadores
foram submetidos. Na imagem 20 podemos evidenciar a jornalista Renata Ceribelli realizando
o teste de esforço.
Imagem 20 – Renata Ceribelli realiza teste de esforço
132
Ao analisar a imagem 20, evidenciamos a apresentadora sendo submetida ao teste de
esforço, a expressão de exaustão visível na face da jornalista demonstra todo o esforço
demandado na realização do exercício. Os eletrodos fixados ao corpo buscam captar todos os
efeitos sofridos pelo corpo e traduzir esses efeitos a uma linguagem compreensível pela
medicina. Verifica-se mais uma vez a prevalência dos conhecimentos técnicos-científicos. No
entanto, entendemos que o esforço em toda sua completude não pode ser mensurado, pois
envolve outros aspectos como a situação de cada indivíduo que não pode ser apreendida por
uma classificação em padrões.
Os valores numéricos e os índices pré-estabelecidos são essenciais dentro desta
compreensão. Essa configuração da saúde compartilha da ideia apresentada por Chammé
(1996, p. 65) quando argumenta que “enquanto a sociedade vai se tornando mais
instrumentalizada, mais mecanizada, o corpo vai passando a ser visto sob a ótica das novas
descoberta das ciências físico-químicas, tecnológicas e biológicas”.
Retornando ao “Medida Certa”, em um dos momentos do quadro, a nutricionista Laura
Breves ao avaliar o jornalista Zeca Camargo refere-se a ele afirmando que “você passou do
índice considerado normal”, para tanto a mesma diz que utiliza parâmetros de saúde para esta
avaliação, não especificando quais (LAURA BREVES, VÍDEO FANTÁSTICO 01). A
afirmativa da nutricionista deixa expresso o entendimento de que a obtenção da saúde está
estabelecida através de parâmetros, sendo estes predominantemente expressos através dos
valores numéricos.
Os índices de normalidade são verificados através dos exames bioquímicos, das
avaliações médicas, dos testes físicos, das pesagens e medições realizadas, além dos cálculos
matemáticos e da estatística. Segundo Chammé (1996, p. 67) “o pensamento estatístico foi
adquirindo conotações que puderam demonstrar a importância e a potencialidade dos
números: eles servem para revelar ou para ocultar”. De acordo com o quadro, compreendemos
133
que em se tratando da saúde, os números podem reconhecer os seres humanos como saudáveis
ou não a partir de índices de referência.
Em outro momento do quadro, o cardiologista Alexandre Carvalho avalia os exames
realizados pelos jornalistas Renata Ceribellli e Zeca Camargo ao final do quadro. Segundo
ele, ao se referir à Renata, diz que “com relação a sua saúde você melhorou mais ainda. O seu
colesterol bom aumentou, seu colesterol ruim caiu, ou seja, o que estava bom ficou melhor”.
O cardiologista argumenta que estes benefícios são “efeito de exercício, não tem como a gente
negar isso” (ALEXANDRE CARVALHO, VÍDEO FANTÁSTICO 13).
Sobre Zeca Camargo o cardiologista Alexandre Carvalho afirma que “hoje você é uma
pessoa normal quanto ao seu colesterol”. Sobre os motivos que levaram os índices de
colesterol do apresentador a baixarem, o cardiologista comenta que foi consequência de “mais
vegetais, colocou mais fibra, tirou um pouco daquela gordura saturada, isso naturalmente
inverte e, obviamente colocou o exercício físico para consumir essa coisa toda”. Finalizando o
diagnóstico clínico do jornalista o cardiologista ainda afirma: “você tinha um alto fator de
risco para ter um problema no coração, seja um AVC, um infarto. Você tinha seis fatores de
risco, mas hoje você ainda tem dois fatores de risco. 1 – obesidade, 2 – sedentarismo, 3-
colesterol alto, 4 – a sua glicose que também caiu”. Além disso, complementa apresentando
os dois outros fatores de risco: “a idade e o antecedente familiar a gente não tem como mexer
nisso, tirando isso, todos os outros fatores que são modificáveis você conseguiu”
(ALEXANDRE CARVALHO, VÍDEO FANTÁSTICO 13).
Os argumentos apresentados acima evidenciam mais uma vez uma compreensão de
saúde que está atrelada aos padrões e índices de normalidade, especialmente no que
concernem aos constituintes biológicos do corpo. Além disso, demonstra a grande influência
do saber médico, o dono do veredito final.
134
Verificamos uma relação dessa compreensão de saúde com o que comenta
Canguilhem (2011) sobre a saúde pensada como absoluta e perfeita. Segundo o autor “a saúde
considerada de modo absoluto, é um conceito normativo que define um tipo ideal de estrutura
e de comportamentos orgânicos; neste sentido, é um pleonasmo falar em saúde perfeita, pois a
saúde é o bem orgânico” (CANGUILHEM, 2011, p. 90). Essa idealização de saúde trás
concomitantemente uma idealização dos constituintes biológicos e do funcionamento do
corpo. No entanto, o mesmo autor nos alerta para os riscos que corremos na constituição
ideológica de um homem perfeito, visto que ao tratarmos da ideia de normalidade,
especialmente associada aos constituintes biológicos, podemos restringi-la ao que está no
meio, ou seja, entre os valores máximos e mínimos. Conforme argumenta, “a determinação
das constantes fisiológicas, pela elaboração de médias experimentais obtidas apenas no
âmbito de um laboratório, corre o risco de apresentar o homem normal como um homem
mediano” (CANGUILHEM, 2011, p. 112).
A saúde visualizada através dos componentes biológicos ganha destaque nos discursos
pela credibilidade que o visível, mesmo que através de exames médicos, possui no
imaginário das pessoas. Os componentes biológicos do corpo oportunizam o parecer sobre
sua saúde, desde que tudo esteja na “medida certa”.
Em um dos episódios do quadro, o jornalista Zeca Camargo relata sobre a sua
avaliação e os resultados dos exames realizados. Comenta sobre os resultados negativos
obtidos em seus exames de sangue, no teste de resistência e a retenção de líquido no
tornozelo, e demonstra argumentos de constituintes biológicos fora dos índices de
normalidade. Segundo o jornalista, ele possuía vários “índices incômodos, colesterol ruim
alto, colesterol bom baixo, glicose dois pontos do aceitável” (ZECA CAMARGO,
POSTAGEM 15).
135
O quadro enfatiza a necessidade do equilíbrio dos constituintes químicos do corpo, e
que sua falta ou seu excesso prejudicam o funcionamento normal do mesmo. Sobre isso,
destaca que a falta de alguns nutrientes acabam ocasionando problemas como: falta de
memória, cabelos e unhas fracas, vontade de comer doce, retenção de líquido, intestino preso,
entre outros (POSTAGEM 34).
De acordo com Canguilhem (2011, p. 121) “considerar os valores médios constantes
fisiológicas humanas como a expressão de normas coletivas de vida seria apenas dizer que a
espécie humana, inventando gêneros de vida, inventa ao mesmo tempo, modos de ser
fisiológicos”. Percebemos que, ao buscar uma adequação biológica à padrões de normalidade
os seres humanos acabam afirmando a necessidade de um padrão fisiológico e bioquímico do
corpo humano.
Em uma das postagens realizadas no quadro fala-se da saúde a partir dos benefícios
oportunizados pelas “gorduras do bem”. O profissional de Educação Física Márcio Atalla
comenta que a gordura é frequentemente associada à características negativas, como
problemas no coração. No entanto, as gorduras trazem inúmeros benefícios, pois estas são
conhecidas como as “gorduras do bem”. Assim, Márcio Atalla destaca as funções das
gorduras no corpo e diferenciam àquelas que oportunizam benefícios das que são prejudiciais
ao corpo humano (POSTAGEM 71).
Diante das considerações feitas, é necessário compreendermos que “o verdadeiro
papel da fisiologia, suficientemente importante e difícil, consistiria em determinar exatamente
o conteúdo das normas dentro das quais a vida conseguiu se estabilizar, sem prejulgar a
possibilidade ou a impossibilidade de uma eventual correção dessas normas”
(CANGUILHEM, 2011, p. 123-124). Assim, embora estabeleçam normas, ou melhor,
orientações, sobre índices que facilitariam o bom desempenho do corpo na realização de suas
136
atividades diárias é necessário que estejamos abertos a modificações e em muitos casos
adaptações do corpo a índices diferenciados.
Nesta compreensão de saúde percebemos que prevalecem os saberes da área médica,
especialmente quando fazem uso dos conhecimentos produzidos pela anatomia, bioquímica e
fisiologia. Nela, não verificamos abertura para o reconhecimento das influências culturais,
sociais e históricas impregnadas em cada ser humano. Verificamos a influência do saber
médico em algumas passagens do quadro, por exemplo, quando argumenta que: “o que a
medicina recomenda a quem tem varizes e quer praticar musculação, é que utilizem menos
carga e executem um número maior de repetições” (MÁRCIO ATALLA, POSTAGEM 77).
A citação apresentada deixa evidente o saber, ou mesmo veredito, médico em relação a temas
que outras áreas teriam mais propriedades para falar, como neste caso, a prática de
musculação.
De acordo com Prada Filho e Trisotto (2008, p. 116) “o corpo objeto tradicional das
modernas ciências médicas é o corpo biológico, natural, sede de processos fisiológicos, solo
firme, positivo, onde se instaura a doença”. Assim, o corpo saudável é aquele que adequa-se a
uma normalidade dos constituintes biológicos e cujo saber deve ser de domínio predominante
da medicina.
A categoria também apresenta uma referência à saúde como ausência de doença. Ou
seja, ter saúde é não ter doença, assim, o que é doença? Diante os discursos e a sua base nos
conhecimentos biológicos, à doença seria o desequilíbrio dos constituintes biológicos do
corpo e dessa forma o funcionamento estaria comprometido.
Segundo Czeresnia (2007, p. 20) “a doença na sociedade ocidental é compreendida
mediante o conceito de organismo, formulado com base em uma concepção mecanicista de
corpo”. A autora ainda argumenta que “o conceito moderno de doença constitui-se por meio
da análise da estrutura material do corpo, estudada pela anatomopatologia”. Além disso, “tem
137
como marca uma redução que encobre as relações em movimento, as emoções, a
singularidade dos sujeitos” (CZERESNIA, 2007, p. 21).
Pensar a saúde enquanto ausência de doença trás também como ponto negativo a
visualização da doença e não do sujeito doente. Assim, acontece um isolamento do que é
doentio no sujeito não considerando que a doença está imbrincada em uma complexidade
maior, ou seja, o ser humano.
Corroboramos com Canguilhem (2011, p. 141) quando afirma que “o organismo sadio
procura, sobretudo, realizar sua natureza, mais do que se manter em seu estado e em seu meio
atual”. O ser humano deve entregar-se a aventura de viver, a sua constante desestabilização,
em vez de ficar preocupado e se manter numa busca exacerbada por padrões de normalidade.
Portanto, é preciso ter claro que “o homem sadio não foge diante dos problemas
causados pelas alterações – as vezes súbitas – de seus hábitos, mesmo em termos fisiológicos;
ele mede sua saúde pela capacidade de superar as crises orgânicas para instaurar uma nova
ordem” (CANGUILHEM, 2011, p. 141). Assim, pensar sobre a saúde é dar capacidade ao
corpo para reagir e adequar-se as “crises orgânicas” enfrentadas nas instabilidades do viver,
gerando novas ordens fluidas e modeláveis de acordo com o ambiente e suas relações.
De acordo com Palma (2001, p. 24) “tratar de saúde é, em última instância,
compreender as tramas sociais que se desenrolam nos projetos e políticas públicas. Parece
ingênuo aceitar o determinismo biológico, como razão única, para conferir as análises sobre o
processo saúde-doença”. Corroboramos com o autor ao reconhecer as limitações dos aspectos
biológicos como definidores da saúde do corpo humano. O referido autor ainda nos alerta para
os riscos de centrarmo-nos apenas nos aspectos individuais, visto que, “considerar, então, um
foco individual pode ser insuficiente, já que a sociedade é mais que um agregado de
indivíduos” (PALMA, 2001, p. 35-36).
138
Saúde associada ao emagrecimento e à padrões estéticos
Apresentamos nesta categoria as discussões e reflexões sobre a saúde associada ao
emagrecimento e à padrões estéticos. Para isso analisamos os discursos proferidos no quadro
Medida Certa que referenciam a associação linear entre um corpo magro e a saúde.
Inicialmente, o quadro Medida Certa apresenta como objetivo maior do seu
desenvolvimento a busca pela obtenção da saúde dos apresentadores. No entanto, durante o
seu desenvolvimento, além dos saberes e práticas utilizados, verificamos uma predominância
da busca pela perda de peso, ou seja, do emagrecimento.
Embora o quadro defenda uma busca por saúde para os apresentadores e para o
público envolvido, o mesmo em quase todas as reportagens exibidas referencia a saúde
através das questões referentes ao peso, especialmente no que concerne o seu controle em
uma medida certa. Segundo a repórter Sônia Bridi “o resultado é o mesmo, chegar na medida
certa” (SÔNIA BRIDI, VÍDEO BLOG 13). Assim, se a proposta do quadro é definida como
uma busca pela saúde e referenciam a todo instante a adequação do peso corporal a um padrão
ideal, poderíamos entender a saúde como a simples adequação a um peso específico? Que
peso seria esse, visto que todos querem chegar a essa medida certa? Quais fatores são levados
em consideração para esta obtenção? A desejada e propagada medida certa se apresenta
confusa, e nesta reportagem quando a repórter Sônia Bridi expressa que o objetivo de quem
quer ganhar é o mesmo, é entrar na medida certa, deixa expresso uma noção de que a medida
certa é algo exterior aos quais os seres humanos devem se adequar não reconhecendo a
importância das características individuais e culturais
As reflexões promovidas trazem a tona uma valorização de um padrão corporal
considerado belo, referenciado a partir da magreza. Conforme argumenta Carvalho (2001, p.
20) nós “vivemos em uma sociedade dominada pelo fascínio de corpos repartidos pela fama e
139
riqueza e pela exclusão de corpos condenados pela pobreza ou que não coincidem com os
modelos”. Dessa forma, corroboramos com a autora e percebemos que o quadro atua na
reprodução dos modelos e na afirmação do poder manifestado através do corpo.
Ao reconhecer o sujeito a partir dessa compreensão estaremos reduzindo-o e
impedindo-o de manifestar-se como possuidor de uma história, expressivo, sentimental e
desejante. Isso é exposto por Carvalho (2001, p. 10) quando diz que “o ‘lugar’ destinado ao
sujeito, ou o entendimento que prevalece a respeito do sujeito, está caracterizado por uma
‘figura’ que muitas vezes não pensa, não sente, não experimenta emoções, desejos, não
carrega consigo sua própria história de vida”. Os discursos apresentados pelo quadro
acabaram por colaborar com essa compreensão reducionista de corpo, visto que, os
investimentos em sua maioria foram realizados de fora para dentro sem o reconhecimento das
características de cada um.
No inicio do quadro os jornalistas foram apresentados mediante a sua constituição
corporal e as mudanças efetivadas na obtenção do ganho de peso, especialmente de gordura,
com o passar dos anos e com as rotinas as quais estavam submetidos. Dessa forma, através de
comparativos com anos anteriores, os jornalistas foram convocados a entrarem no quadro e se
submeterem a um programa de exercícios físicos e a um controle alimentar com objetivo de
perder peso. Assim, o mesmo deixou exposto uma forte associação entre o emagrecimento e a
obtenção da saúde, como pode ser visto na imagem 07.
Ao refletir sobre o acúmulo de peso alcançado pelas pessoas em virtude do estilo de
vida que levam na contemporaneidade, Gomes (2006, p. 56) fala sobre a obesidade. Segundo
ele, “a obesidade e suas pequenas adjacências (as gorduras localizadas) se constituem num
dos focos de batalha individual para se alcançar os intermináveis padrões de beleza
(intermináveis embora magros!), enfrentados cotidianamente através das escolhas”. Assim,
cada ser humano deveria através de suas escolhas alcançar o emagrecimento corporal.
140
Apesar dessa predominância no quadro Medida Certa, em um dos episódios o
profissional de Educação Física Márcio Atalla alerta, mesmo contrariando essas ideias, que
ser magro não é sinônimo de ser saudável, abrindo espaço para reflexões que questionem e
contradigam esta associação (VÍDEO FANTÁSTICO 08).
No entanto, no decorrer do quadro ficaram expostos discursos que promovem uma
associação linear entre perder peso e ganhar saúde, ou seja, emagreça e você estará saudável.
Assim, para emagrecerem os seres humanos estariam constantemente guerreando contra a
balança, como declara a jornalista Renata Ceribelli, “tem horas que parece uma batalha sem
fim contra a balança, dá raiva” (RENATA CERIBELLI, VÍDEO FANTÁSTICO 02). Embora
concordemos com os malefícios provocados pelo acúmulo de gordura, entendemos que a
visão apresentada se torna restrita para a grande complexidade que representa a saúde.
Para conseguir essa adequação corporal e consequentemente saúde, Renata Ceribelli
aconselha: “acho que a primeira dica é rir de você mesmo. Rir da vergonha do peso, rir do
medo da balança, rir e rir. Assim, fica mais leve a luta pela medida certa!”. (RENATA
CERIBELLI, POSTAGEM 04). Dessa forma, possuir um corpo gordo é caracterizado como
vergonhoso, motivo de riso e antes de tudo prejudicial à saúde.
Diante dos argumentos utilizados ficou entendido que o corpo deve ser magro, no
entanto a magreza em excesso também não seria saudável. Ocorre assim à necessidade de
adequação aos padrões corporais, e o quadro por constituir-se como um espaço de mediação
para os telespectadores e internautas acaba veiculando também padrões corporais que devem
ser consumidos pela população. Essa adequação torna-se uma exigência e a responsabilidade
de sua conquista é individual.
Corroboramos com Carvalho (1995, p. 121) quando argumenta que “esta é uma época
‘neurotizada’ pela ideia da atividade física como saúde associada à beleza estética como o
único caminho para o sucesso, para a felicidade e para o dinheiro”. É nesta mesma época que
141
as instituições responsáveis pelo “ordenamento social” atribuem ao ser humano a
responsabilidade pelo cuidado com a sua saúde. Um exemplo é a saúde pública que:
reforça a ideia de que o individuo é o responsável pela degradação de sua
qualidade de vida. A sua mensagem se fundamenta no pressuposto de que as
enfermidades são causadas pela negligência do indivíduo com relação ao seu
corpo. Está constantemente lembrando à população o seu compromisso com
os cuidados alimentares, o excesso de bebida, o fumo e a necessidade de
atividade física para a promoção da saúde (CARVALHO, 1995, p. 124).
O ser humano seria o responsável pela não aquisição da saúde. No entanto, para
consegui-la deveria se adequar de forma obediente as proposições feitas pelas instituições
sociais, como no caso citado as instituições responsáveis pela saúde pública. Dentre as
proposições, destacamos a necessidade de adequação aos padrões estéticos.
A estética associada a padrões assume uma relação de grande estabilidade com a
saúde. Possuir um corpo esteticamente belo é essencial para obtenção da saúde, de acordo
com os discursos do quadro. Assim, percebemos que no quadro a “estética é encarada como
sinônimo de boa forma que, por sua vez, passa a ser sinônimo de saúde” (CARVALHO,
1995, p. 126-127).
Todavia, essa associação esconde grandes riscos para as pessoas que buscam uma
adequação à determinados padrões estéticos difundidos socialmente através da mídia de forma
irresponsável. Especialmente quando utilizam para isto de meios nada favoráveis visando
obtenção de um corpo saudável, como o uso irrestrito de medicamentos sem orientação
médica, a realização de dietas de alta restrição calórica, a submissão sem orientação a
programas de exercícios físicos de alta intensidade, entre outras.
Verificamos que os saberes e práticas predominantes nessa compreensão de saúde
possuem como base as ciências anatômicas, bioquímicas e fisiológicas, e, para tanto, utilizam
de saberes ou práticas alimentares da Nutrição bem como da prática de atividade física da
Educação Física. Principalmente através da realização de dietas hipocalóricas em relação ao
142
gasto energético, com prescrição e acompanhamento de nutricionistas, a realização de
refeições fragmentadas ao longo do dia, a hidratação, entre outros. Quanto à atividade física,
através de exercícios físicos de predominância aeróbica e com acompanhamento do
profissional de Educação Física, além da variação nos tipos de atividades realizadas e na
frequência. Um exemplo dos exercícios realizados podem ser evidenciados na imagem 21,
quando a apresentadora Renata Ceribelli é submetida a pular corda.
A imagem 21 apresenta a prática de pular corda como alternativa de exercício
aeróbico. Não reconhece a atividade como uma prática cultural à qual a jornalista não teve
acesso a vivenciá-la em outros momentos de sua vida. A prática em questão ainda deixa
algumas inquietações sobre os efeitos prejudiciais que pode provocar no corpo, especialmente
por ser uma atividade de alto impacto nas articulações, especialmente para pessoas de peso
Imagem 21 – Renata Ceribelli enfrenta o desafio de pular corda
143
elevado como a jornalista. Estes efeitos prejudiciais não foram relatados pelo profissional de
Educação Física e desconsiderado em sua vivência.
Ao final do quadro mais uma vez ficou demonstrada a associação entre o
emagrecimento e a obtenção da saúde. Este fato foi verificado quando a redação do Fantástico
apontou que “depois de 90 dias reprogramando o corpo, eles perderam quilos e ganharam
saúde” (POSTAGEM 95). Ou seja, emagreceram e obtiveram saúde.
Portanto, visualizamos que “é neste domínio comum situado nas fronteiras de saúde
com a estética a partir de um padrão, que se forma esta ‘ditadura estética’ sob a qual se vive
hoje em dia – esta obrigação contemporânea de ser bonito e saudável!” (PRADO FILHO e
TRISOTTO, 2008, p. 120). Assim, as associações promovidas entre os padrões corporais e a
saúde acabam por enfatizar a necessidade e responsabilidades dos indivíduos estarem
adequados aos modelos esteticamente perfeitos divulgados socialmente, reduzindo dessa
forma, a complexidade que representa o “ser saudável”.
Na ideia de ser saudável, sendo esta compreendida como o conjunto de códigos,
normas e valores a serem seguidos pela população na busca pela saúde, “divulgada” no
quadro Medida Certa ficou evidente uma associação linear entre a perda de peso e a aquisição
de saúde. O corpo magro como sinônimo de corpo saudável. Utilizou-se da generalização para
propagar para os sujeitos que a perda de peso contribui de forma significativa para a conquista
da saúde. Para isso, foram divulgadas inúmeras dicas de exercícios físicos e de controle
alimentar para auxiliar os sujeitos na perda de peso. A estética a partir de um padrão e a
composição corporal foram à chave para aquisição de um corpo saudável. Como não
reconhecem as características individuais negam a necessidades de muitos em aumentar o
peso corporal.
Ser saudável de acordo com o quadro Medida Certa requer uma ritualística de saberes
e práticas. É necessário o desprendimento de uma série de atitudes por cada sujeito na busca
144
pela adequação aos índices e padrões previamente estabelecidos para a aquisição de uma
Medida Certa, e consequentemente da saúde. Exemplos de práticas defendidas para aquisição
da saúde são localizados quando Márcio Atalla recomenda dormir no mínimo seis horas por
noite e realizar exercícios aeróbicos por 150 minutos por semana (VÍDEO FANTÁSTICO
09). Outro exemplo dos modelos preestabelecidos para obtenção da saúde é indicado pelo
profissional de Educação Física quando argumenta que “para ser considerada saudável uma
pessoa tem que dar diariamente nada menos do que 10 mil passos” (MÁRCIO ATALLA,
POSTAGEM 40).
A saúde é então conquistada através de um conjunto de códigos e atitudes que devem
ser seguidas pelos sujeitos. Verificamos neste ponto uma grande associação entre as ideias
expressas no quadro e o que nos apresenta Foucault sobre as práticas médicas e os cuidados
com a saúde efetivados no século XIX. Segundo o autor “a prática médica podia, desse modo,
conceder grande destaque ao regime, à dietética, em suma, a toda uma regra de vida e de
alimentação que o individuo se impunha a si mesmo” (FOUCAULT, 2004, p. 38).
Saúde associada à atividade física e ao controle alimentar
Outra perspectiva de saúde encontrada nas análises do quadro Medida Certa, refere-se
à saúde pensada a partir de uma relação de causa e consequência entre a realização de
atividade física e o controle alimentar. Um exemplo desta associação pode ser localizada na
fala do profissional de Educação Física Márcio Atalla quando argumenta que “a ideia é
incorporar, de maneira regular, atividade física na vida dos dois. Isso vai refletir diretamente
na saúde” (MÁRCIO ATALLA, POSTAGEM 03). Desde já, reconhecemos as significativas
contribuições da atividade física e de uma alimentação equilibrada para a obtenção da saúde,
no entanto, devemos compreender que a saúde possui uma complexidade maior e não pode
145
ser restrita a esses aspectos, bem como reconhecemos que as práticas alimentares e de
exercícios indevidas podem trazer uma série de malefícios ao corpo.
Sobre atividade física trazemos como argumento as discussões realizadas por Carvalho
(1995, p. 49 – 50). Para ela, “o termo atividade física carrega toda e qualquer ação humana
que comporte a ideia de trabalho como conceito físico”, e, “tudo que é movimento humano
desde fazer sexo até caminhar no parque, é atividade física”. Essa compreensão acaba sendo
generalista, e durante o quadro percebemos que o entendimento do termo atividade física
esteve restrito especialmente aos exercícios físicos orientados para objetivos pré-
estabelecidos, sejam eles, aumento da capacidade cardiorrespiratória, fortalecimento muscular
e emagrecimento. Esses assumem ainda uma postura mecanicista e não oportunizam um olhar
para a expressão e linguagem proferida por eles e seus significados. Essa compreensão está
atrelada a necessidade de gasto energético, desconsiderando os aspectos culturais e simbólicos
do movimento humano.
Carvalho (1995) ainda reflete sobre o papel da atividade física na sociedade
contemporânea e comenta que:
Contemporaneamente, a atividade física, ao tempo que canaliza a atenção da
sociedade para a sua capacidade de delinear corpos saudáveis, fortes, belos,
mascara outros determinantes do setor de saúde e do quadro social brasileiro.
De outra forma, se superestima o papel de determinação da atividade física
em relação à saúde (CARVALHO, 1995, p. 63).
Como argumentado acima, a atividade física assume papel ativo sobre o corpo
objetivando desde questões estéticas até a saúde. A autora alerta no final de sua citação para a
superestima do papel da atividade física sobre a saúde, especialmente os discursos que vem
defender uma linearidade absoluta entre a prática da atividade física e a saúde, ou mesmo de
que a atividade física isoladamente poderia oportunizar a saúde para os indivíduos.
146
Durante o quadro, a atividade física e o controle alimentar foram utilizados como
elementos principais para a obtenção dos objetivos estabelecidos, ou seja, obtenção de saúde.
Através da intervenção dos profissionais da Nutrição e da Educação Física os jornalistas
Renata Ceribelli e Zeca Camargo foram submetidos às intervenções na busca pela perda de
peso, e consequentemente alcançarem a saúde, como apresentamos acima.
Vemos uma clara associação dessa compreensão de saúde ao que Carvalho (1995, p.
126) reflete em seus estudos. Segundo a autora, “as orientações acerca das receitas, dietas,
quantidade de exercícios também têm sido veiculados na área da saúde, com o objetivo de
habilitar o leitor a manter o equilíbrio entre seus hábitos (alimentares, físicos,
comportamentais) e seu ritmo de vida”. O mesmo foi evidenciado no quadro através de um
conjunto de normativas sobre as quais os seres humanos devem se adequar.
Para tanto, o profissional de Educação Física argumenta que para obtenção da saúde é
necessário à adesão de bons hábitos e, dessa forma, destaca três dicas como essenciais.
“Atividade física regular, número um, fundamental; se alimentar bem, se alimentar bem quer
dizer: comer fracionadamente e escolher bons alimentos; terceira dica é dormir bem. Essas
três dicas compõe na verdade os bons hábitos” (MÁRCIO ATALLA, VÍDEO BLOG 01).
A imagem 22 apresenta um dos hábitos favoritos da jornalista Renata Ceribelli. A
prática do ciclismo foi adotada durante o quadro Medida Certa pela jornalista como uma das
atividades físicas de maior regularidade e prazer. Através dessa prática a jornalista percorreu
diferentes pontos da cidade do Rio de Janeiro.
147
No início do quadro Medida Certa os jornalistas Renata Ceribelli e Zeca Camargo
relataram os cuidados que tinham com a alimentação e com a prática de atividade física, e que
em consequência das rotinas de trabalho com horários desregulados não conseguiam manter
uma prática regular de exercícios e controle da alimentação. O jornalista Zeca Camargo
comenta que tinha uma alimentação desregulada e sem horários (VÍDEO FANTÁSTICO 01).
Além dos jornalistas, o quadro a todo instante evidenciou a necessidade de realização
destas intervenções pelo público que acompanhou o quadro tanto pelas reportagens exibidas
ao vivo no Fantástico, como pelas postagens realizadas no blog do Medida Certa. Para a
população foram disponibilizadas dicas de exercícios, as formas corretas de realização, os
seus benefícios, a frequência, entre outras informações. Não discutiram de forma aprofundada
sobre os malefícios da prática de atividade física mal orientada e inadequada para os seres
humanos. Segundo o profissional Márcio Atalla “atividade física não é igual a um
medicamento que você toma e faz efeito na hora, você precisa de um pouco de regularidade
pra começar a colher os benefícios” (MÁRCIO ATALLA, VÍDEO FANTÁSTICO 05).
Imagem 22 – Renata Ceribelli estreia bicicleta presente de aniversário
148
Reconhecemos a importância da estimulação da prática da atividade física para toda a
população, no entanto, esse reconhecimento parece apenas “teórico”, visto que “no plano da
concretização de programas, de propostas, da realização de atividades, da implementação do
sistematizado, a prática específica tem privilegiado, ao longo da história da Educação Física
brasileira, a minoria, a quem pode pagar” (CARVALHO, 2001, p. 13). A autora cita a área da
Educação Física visto que foi nela que aprofundou seu estudo, mas é possível perceber que
essa valorização da minoria, especialmente daquela que dispõem de recurso para pagar, tem
crescido e se pulverizado nas diferentes áreas envolvidas pela busca da saúde.
No que concerne à alimentação, foram disponibilizadas informações a respeito da
composição química dos alimentos, as quantidades indicadas, receitas de preparos, a
frequência da alimentação, a importância da alimentação fragmentada etc.
Imagem 23 – Zeca Camargo almoça na casa da mãe Maria Inês
149
A imagem 23 apresenta características ampliadas do ato de alimentar-se.
Compreendemos que ela expõe uma compreensão de alimentação que vai além da ingestão de
tipos e quantidades de alimentos devidamente controlados. Conforme apresenta a imagem 23,
a alimentação é um momento repleto de significações culturais, simbólicas e afetivas. Talvez
em consequência da influência técnico-científica no controle alimentar vivenciado atualmente
tenhamos nos preocupado apenas com os constituintes bioquímicos desta e esqueçamos do
que o ato de se alimentar revela.
O momento da alimentação é palco de grandes acontecimentos. Seja os religiosos,
como expresso através da Santa Ceia, ou os familiares nos almoços de domingo com a família
ou mesmo na união entre amigos e colegas de profissões. Conforme argumenta Cyrulnik
(1997, p 49) “a maior parte dos acontecimentos familiares é marcada por um ritual alimentar,
e a história do grupo poderia contar-se pelos alimentos”. A imagem 23 apresenta um desses
momentos de encontro familiar em torno da alimentação.
Atualmente, evidenciamos que a fragmentação familiar pela distância entre seus
membros, a correria imposta pelas fontes de trabalho, a individualização da vida, tem
colaborado para que a alimentação em grupo seja cada vez menos realizada. Em outros
períodos unir-se diante a mesa nas refeições tornava-se o momento de debate e conversas
sobre os acontecimentos do dia, bem como para o planejamento e orientação familiar.
Esse momento de reunião comandado pelo responsável pela casa colocava todos os
seus membros em comunhão, porém, notamos “o desaparecimento dos ritos de mesa onde o
pai reinava. Torna observável a modificação das estruturas familiares em que se pode notar a
ausência frequente dos adolescentes, que, conseguem evitar esse ritual de partilha”
(CYRULNIK, 1997, P. 51). Hoje, assiste-se mudanças quanto a essas práticas, começando
pelo afastamento do ato de alimentar-se como próprio da residência onde habitam, eliminação
150
do espaço delimitado para realização desse ato, prática que pode ser realizada enquanto se
realizam outras atividades, como por exemplo assistir TV ou mesmo acessar internet.
Assim, o quadro ao oportunizar o almoço de Zeca Camargo com a sua mãe Maria
Helena, mesmo diante a grande correria enfrentada pelo jornalista no seu dia a dia nos mostra
que o ato de alimentar-se está carregado de muitos outros sentidos que vão além da simples
ingestão de alimentos devidamente quantificados. “Em redor da pulsão alimentar, os
indivíduos ligam-se, os grupos estruturam-se e as sociedades organizam-se” (CYRULNIK,
1997, p. 52).
Porém o sentido da alimentação no quadro Medida Certa se restringiu aos aspectos
calóricos. Ainda sobre a alimentação Márcio Atalla destaca que:
Nesse programa nós não vamos seguir nenhum cardápio, nenhuma dieta
preestabelecida. As cinco regras de alimentação que será seguida por Renata
e pelo Zeca é: 1 - fracionar a refeição; 2 - diminuir o consumo de gorduras;
principalmente as saturadas; 3 – aumentar o consumo de fibras; 4 – aumentar
o consumo de água; e, 5 – diminuir açúcar e sal na alimentação (MÁRCIO
ATALLA, VÍDEO FANTÁSTICO 03).
O profissional de Educação Física em outros momentos do quadro volta a enfatizar os
cuidados com a alimentação a partir dessas cinco regras. Para ele, “o mais importante é que a
gente coloque mais fibra, tente diminuir a gordura, tente comer menos sal e açúcar, sempre
está fracionando a alimentação e beber mais água” (MÁRCIO ATALLA, VÍDEO
FANTÁSTICO 11).
Conforme argumenta Oliveira et al (2010, p. 32) “na literatura cientifica biomédica ou
em suas construções contemporâneas que ecoam na mídia, é possível encontrar uma extensa
variedade de discursos advogando a relação entre ‘corpos’ em forma e a ideia de evitar riscos
a saúde”. Complementando ainda afirmam:
151
A experiência pessoal cotidiana, entretanto, nos faz observar que a visão
hegemônica de saúde permeada nos meios de comunicação fortalece e
complementa a necessidade de um discurso de legitimação sociocultural,
sustentada pela moral que se funda na conservação da vida. O que subjaz
esta questão é a sedução constante de busca de um corpo utopicamente
considerado ‘perfeito’. Em outras palavras, o que parece impelir as pessoas a
mostrar adesão à prática de exercícios físicos e a tudo a ela agregado pode
residir muito mais no desejo de modelagem estética das formas corporais do
que na prevenção de determinadas doenças (OLIVEIRA et al, 2010, p. 34).
De acordo com os argumentos apresentados acima, a mídia imbuída na divulgação e
comercialização de produtos acaba por convidar as pessoas a aderirem à prática de atividade
física com objetivo na saúde, no entanto, faz isso muitas vezes maquiando a preocupação com
as questões estéticas.
Por isso, devemos refletir sobre as informações propagadas pelos meios de
comunicação, pois, elas são destinadas as massas e dessa forma não reconhecem as
individualidades de cada um. Assim, o quadro ao propor saberes e práticas sobre a atividade
física e alimentação faz de forma generalista, sem reconhecer as características individuais, os
contextos em que estão inseridos e os recursos que possuem disponíveis.
Para embasar estes saberes e práticas efetivados na busca pela saúde através da
atividade física e da alimentação foram utilizados conhecimentos da bioquímica, anatomia,
fisiologia e fisiologia do exercício. E para pô-los em prática foram utilizados de profissionais
das áreas de Nutrição e de Educação Física, com auxílio dos conhecimentos médicos.
Apresentamos a seguir mais exemplos de como a compreensão de saúde atrelada a
atividade física e ao controle alimentar foi propagada durante os discursos do quadro Medida
Certa, além de como estes saberes e práticas sobre estes foram apresentados para a população.
Em uma das postagens realizadas no blog, o profissional de Educação Física tira
dúvidas dos expectadores sobre exercícios e alimentação. Dentre os questionamentos é
possível destacar: Qual a proposta da série “Medida Certa”? É possível praticar atividade
física sem frequentar uma academia de ginástica? Musculação ajuda a emagrecer? Malhar
152
sem fazer dieta emagrece? Existe um alimento mágico para emagrecer? Quais os exercícios
ajudam a diminuir as taxas de colesterol? É possível emagrecer em duas semanas?
Suplemento alimentar ajuda ou não no ganho de massa muscular? Caminhar é um bom
começo para quem não faz exercícios regularmente? Como perder aquela gordurinha a mais
na barriga? Quem é hipertenso pode fazer exercícios físicos regularmente? Quem quer mudar
os hábitos deve procurar que profissionais? Existe um limite de tempo para se exercitar
diariamente? Ginástica localizada fortalece os músculos? Para quem tem dores na coluna qual
é o exercício indicado? Tomar remédios diuréticos para perder peso é errado? É verdade que
pessoas podem ter o metabolismo mais lento ou mais rápido do que outras? O spining é bom
para perder peso? Qual é o melhor horário para a pratica de exercícios? Qual a importância do
sono para perda de peso? (POSTAGEM 11).
Diante estes questionamentos o profissional Márcio Atalla buscou se posicionar e
contribuir para a mudança de hábitos nas pessoas, especialmente no que concerne a atividade
física e a alimentação. Para isso apresentou dicas e desmistificou muitas ideias que perpassam
o imaginário social da população. Ao fazer isso o profissional mostra que sua função no
quadro vai além da motivação dos participantes, como descrito inicialmente pela jornalista
Sônia Bridi.
Em outros momentos do quadro Márcio Atalla também esclareceu sobre os benefícios
da prática da atividade física para o coração e para os demais órgãos do corpo, além de
contribuir para retardar a osteoporose e a falta de memória (POSTAGEM 14). Sobre
alimentação, o profissional de Educação Física diz que suco de caixinha é uma boa opção, no
entanto, esclarece que estes não podem ser comparados ao suco de fruta preparados na hora.
Aponta os pontos negativos de sua ingestão, mas destaca também o ponto positivo de
conservar a vitamina C das frutas (POSTAGEM 22). Além disso, apresenta os benefícios da
ingestão de fibras na alimentação, mostra de que forma elas agem em nosso corpo, as
153
quantidades mínimas necessárias, os alimentos que a compõem e os problemas que ajudam a
evitar (POSTAGEM 43).
Em uma postagem a nutricionista Laura Breves cita os sete mandamentos para uma
alimentação saudável:
1) comer a cada três ou quatro horas; 2) não beliscar nos intervalos; 3) tomar
pelo menos dois litros de água por dia; 4) tomar líquidos quentes (eles dão a
sensação de que você está saciado); 5) mastigar mais os alimentos; 6)
escolher alimentos que contenham pouca gordura, porém mais fibra; 7) usar
o relógio para controlar o tempo da refeição” (LAURA BREVES,
POSTAGEM 27).
Ao indicar a utilização do relógio na alimentação, a nutricionista refere-se à
necessidade de dar-se tempo para realizar as refeições, ou seja, saborear a comida e realizar a
mastigação de forma adequada, uma contemplação do ato de alimentar-se e não apenas o
exercício mecânico e rápido de mastigar e deglutir os alimentos.
Sobre os saberes e práticas abordados sobre a alimentação e exercícios destacamos
também o diálogo estabelecido entre Márcio Atalla com os internautas através do blog do
quadro em que esclarece duvidas sobre os exercícios realizados em casa, alimentação
fragmentada, exercícios aeróbicos, plataforma vibratória, a baixa imunidade por consequência
de dietas, sobre bebidas, exercícios pós gravidez, dentre outras dúvidas (POSTAGEM 30).
Além disso, Márcio Atalla aponta benefícios da prática de exercícios para prevenir e até
mesmo curar a depressão. Segundo Renata Ceribelli, uma boa condição física aumenta a
autoestima e dá saúde e bem estar (POSTAGEM 38).
O profissional de Educação Física fala sobre a importância da caminhada para saúde
enquanto prática de atividade física, e faz a recomendação diária mínima de 10 mil passos
para cada pessoa. Segundo ele, estudos têm comprovado que “aqueles que adotam a
caminhada como hábito têm menos gordura corporal, menor pressão sanguínea e melhor
tolerância à glicose. A caminhada também combate a osteoporose, melhora a lombalgia,
154
recupera o vigor sexual e fortalece o sistema imunológico” (MÁRCIO ATALLA,
POSTAGEM 40).
Além disso, o profissional de Educação Física destaca que a Organização Mundial de
Saúde (OMS) indica a realização de 30 minutos de atividade física durante 5 dias da semana
(VÍDEO FANTÁSTICO 02).
Renata Ceribelli comenta sobre a realização de exercícios:
Eu estou muito mais disposta, o exercício físico fez toda diferença na minha
vida. Segundo a organização mundial de saúde para você ter uma vida
saudável, você tem que fazer 150 minutos semanais, meia horinha por dia,
de exercício aeróbico: andar, caminhar, pedalar, isso já vai mudar muito sua
disposição, vai te deixar menos ansiosa, vai dormir melhor (RENATA
CERIBELLI, VÍDEO BLOG 15).
A jornalista argumenta também que, de acordo com pesquisas americanas, a
inatividade física apresenta grandes riscos à saúde. Para tanto, apresenta os benefícios da
prática regular de exercícios físicos de acordo com a OMS e as mortes ocasionadas pelo
sedentarismo (POSTAGEM 80).
Continuando os argumentos a favor da prática de atividade física para aquisição e
manutenção da saúde Márcio Atalla destaca que:
A prática de atividade física também ajuda a evitar a formação de placas de
gordura na parede das artérias do coração, causando a angina no peito e
infarto do miocárdio. O esporte melhora a capacidade de trabalho do coração
e dos pulmões, melhorando o condicionamento cardiorrespiratório. Mexer o
corpo também evita o aparecimento de câncer no intestino, na mama e na
próstata. O portador de doença que consegue se exercitar tem uma melhora
significativa em sua qualidade de vida ao praticar esportes (MÁRCIO
ATALLA, POSTAGEM 44).
Dessa forma, evidenciamos mais uma vez em seus discursos uma associação da saúde
à prática de exercícios. Estes devem ser praticados como forma de prevenção, mas também
como alternativa de cura para muitos problemas de saúde. No entanto, as informações são
155
disponibilizadas de forma generalizadas e sem maiores aprofundamentos, fato que demanda
reflexões e maiores esclarecimentos a respeito.
Por uma compreensão de saúde existencial
Ao analisarmos os discursos do quadro sobre a saúde, verificamos diferentes
compreensões, saberes e práticas como apresentamos anteriormente nas categorias de análise.
No entanto, sentimos a necessidade de ampliar estas compreensões e defender uma
perspectiva de saúde atrelada a compreensão de corpo não somente como objeto, mas também
enquanto sujeito vivo, que além de ser orgânico está inserido em um contexto social, histórico
e cultural.
Esse corpo possuidor de vida está entregue as aventuras e incertezas do viver. Para
tanto, é necessário um incessante confronto com os acontecimentos sociais. Para Canguilhem
(2011, p. 140) “a vida não é, portanto, para o ser vivo, uma dedução monótona, um
movimento retilíneo; ela ignora a rigidez geométrica, ela é debate ou explicação com um meio
em que há fugas, vazios, esquivamentos e resistências inesperadas”. Complementando este
entendimento sobre a vida, o autor “sintetiza”: “a vida joga contra a entropia crescente”
(CANGUILHEM, 2011, p. 186).
No que concerne à saúde, o autor acima citado faz algumas considerações. Para ele “a
saúde é uma maneira de abordar a existência com uma sensação não apenas de possuidor ou
portador, mas também, se necessário, de criador de valor, de instaurador de normas vitais”
(CANGUILHEM, 2011, p. 143). Assim, o corpo também possui papel autônomo sobre a
saúde, mas estará entrelaçado a elementos históricos, sociais e culturais.
A compreensão de saúde que aqui apresentamos não teve espaço direto nos discursos
proferidos durante o desenvolvimento do quadro Medida Certa, seja pelos jornalistas Renata
156
Ceribelli e Zeca Camargo ou pelos profissionais da área da saúde envolvidos, como médicos,
nutricionistas e o profissional de Educação Física Márcio Atalla. Nem tão pouco foi abordada
nas categorias de análise.
Porém, localizamos no Medida Certa de forma discreta elementos que nos permitem
evidenciar tentativas de ampliar a compreensão de saúde para além das categorias de
conteúdos analisadas acima. Especialmente nos momentos em que os discursos apontam para
a saúde através de uma complexidade de elementos que articulados entre si garantiriam ao ser
humano um equilíbrio de seus constituintes e um estado saudável reconhecido por si.
Aqui pretendemos deslocar nossos olhares para uma compreensão saúde que vai além
dos aspectos biológicos e do atrelamento a padrões previamente determinados. Assim, como
Carvalho (2001, p. 11-12), concordamos que devemos deslocar “a concepção de saúde
centrada no organismo, no físico, no biológico para a saúde como processo e resultado das
opções na vida, opções relativas ao trabalho, à moradia, ao lazer, mas especialmente nos
valores e princípios de vida que se quer, que se acredita ser melhor”.
Diante disso, compreendemos que “a saúde resulta de possibilidades, que abrangem
condições de vida, de modo geral, e em particular, de acesso ao trabalho, serviços de saúde,
moradia, alimentação, lazer conquistados – por direito ou por interesse – ao longo da vida”
(CARVALHO, 2001, p. 14). Ainda, segundo a autora anteriormente citada:
A saúde está diretamente relacionada com as escolhas que não se restringem
tão somente a poder escolher este ou aquele trabalho, realizar-se pessoal e
profissionalmente com ele, morar dignamente, comer, relaxar e poder
proporcionar condições de vida para os mais próximos, mas também
conseguir viver dignamente com base em valores que não predominam em
uma sociedade como a brasileira – excludente, individualista, competitivista,
consumista (CARVALHO, 2001, p. 14).
A citação acima trás a tona uma ideia nova na compreensão de saúde ao reconhecer a
importância dos valores propagados no imaginário social e presente nas relações estabelecidas
157
entre os seres humanos. Quem sabe a presença da solidariedade, do respeito, do amor, da
união, da fraternidade, dentre outros valores pudesse contribuir para o desenvolvimento da
saúde dos sujeitos. Trazemos assim à tona a necessidade da dimensão afetiva da saúde, que
em muitos momentos tem sido negligenciada.
No movimento em busca de uma ampliação da compreensão de saúde e dos saberes e
práticas efetivados sobre ela, encontramos também as ideias de Sampaio (2006, p. 79-80).
Para ela “falar de saúde é dar expressão ao corpo. É escutá-lo como corpo expressivo,
sensível, vulnerável, transcendente, marcado por experiências pessoais singulares e coletivas
que podem ser de inclusão ou de exclusão ao defrontar-se no cotidiano”. Complementando
ainda cita que:
lugar comum ou sintonia com as perspectivas da Organização Mundial da
Saúde, seria afirmar que a saúde é muito mais do que a ausência de doenças.
Constitui-se em um direito muito mais amplo de afirmação da vida e de
construção da cultura, na qual o ser humano tenha acesso não apenas às suas
condições básicas (de alimentação, moradia, higiene, educação, trabalho,
lazer, prática de esportes e acesso ao conhecimento e tratamentos médicos
disponíveis na sociedade em que vive), mas que haja espaço para seus
desejos e vontades (SAMPAIO, 2006, p. 80-81).
Nas ideias apresentadas acima, a autora mostra uma compreensão de saúde que vai
além da ausência de doença, a reconhecendo como um direito de afirmação da vida. No
entanto, ganha destaque em sua fala a afirmação da necessidade de reconhecer os desejos e
vontades dos sujeitos em busca da saúde. Isso nos permite refletir sobre os cuidados para com
a saúde que em sua maioria partem de informações e padrões exclusivamente exteriores.
Outra perspectiva ampliada de saúde, e que também estabelece relações com a
compreensão apresentada acima é apresentada por Alves e Carvalho (2010). Neste artigo os
autores buscam também ampliar o entendimento de saúde e para isso trazem para os leitores a
compreensão de grande saúde proposta Nietzshe. Como citam os autores “a grande saúde não
busca a conservação, o que distancia seus propósitos do âmbito restritivo da prevenção. Antes
158
e fundamentalmente, a grande saúde afirma a vida em plenitude, mas também, e não menos,
afirma a dor e a morte como pulsões vitais da própria vida” (ALVES e CARVALHO, 2010,
p. 236).
Segundo os autores supracitados não se concebe esta noção de saúde sem pensar o
corpo como ser próprio. A grande saúde é reservada àqueles que querem experimentar
diferentes modos de querer, sentir e pensar. Assim, ela só existe quando nos oferecemos à esta
aventura do viver, à exploração e à descoberta de diferentes pontos de vista.
Ao refletir sobre a saúde e suas compreensões, saberes e práticas, Mendes (2010, p.
17) argumenta que “desde a Antiguidade, diversos discursos e praticas educativas em saúde
são construídas e ressignificadas conforme o tempo e o espaço em que ocorrem e, variam de
acordo com a compreensão de corpo e o tipo de educação que almeja”. Assim, se
compreendemos o corpo a partir da perspectiva fenomenológica devemos oportunizar uma
compreensão de saúde que dialogue diretamente com este corpo vivo, objetivo, subjetivo,
orgânico, histórico e cultural. É o que faz Mendes (2007) ao considerar a saúde dentro de uma
perspectiva existencial. A saúde como verdade do corpo situada no mundo que está inserido.
Para Mendes (2007) a saúde na perspectiva existencial não está relacionada apenas ao
individual. Nesta perspectiva de saúde são considerados além dos aspectos biológicos, os
fatores culturais, sociais e históricos. Portanto, a saúde é:
um processo dinâmico em que o ser humano enquanto existe como ser
situado no mundo, busca harmonizar-se com o restante na natureza através
de sua capacidade de atuar e resistir frente as intempéries da vida [...] Saúde
e doença não estão em contraposição; ambas fazem parte da existência
humana (MENDES, 2007, p. 129).
Compreender a saúde a partir dessas características permite reconhecer as
necessidades e desejos de cada corpo, e de quem convive conosco em sociedade. A saúde
159
seria então a constante busca pelo equilíbrio do corpo com o ambiente em que vive a partir
dos seus múltiplos aspectos (MENDES, 2007).
De acordo com Resende (2008, p. 139) “pensar numa, concepção de saúde afirmativa
não é negar a doença ou a morte, mas ao contrário, afirmá-las como partes de um mesmo
processo: a experiência de viver”. Para tanto, a arte de viver tem atrelada a si a doença e a
morte, antes de serem oposições, são inerência. Assim, “a saúde nessa perspectiva, é a saúde
possível para aquele indivíduo, com aquela experiência, e ele será tão mais saudável quanto
puder estabelecer uma relação flexível e espontânea com o meio ou determinada
enfermidade” (RESENDE, 2008, p. 140).
Portanto, ao reconhecermos o corpo não somente como objeto, mas também enquanto
sujeito vivo, subjetivo, biológico, histórico e cultural, devemos compreender a saúde dentro
de uma perspectiva que oportunize esse corpo expressar sua individualidade, não uma
individualidade isolada, mas ao contrário, uma individualidade que traz traços dos diferentes
cenários e relações sociais estabelecidas por esse corpo enquanto “ser único”, ou seja, um
corpo como unidade construída na diversidade de outros corpos. Assim, estaremos diante de
uma compreensão de saúde que entrelaça os aspectos biológicos aos elementos culturais,
históricos e emocionais deste corpo que coexiste em sociedade.
160
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Imagem 24 – Zeca Camargo e Renata Ceribelli antes da realização dos exames
bioquímicos no consultório médico
161
Nesta pesquisa oportunizamos espaços para discussões e reflexões a respeito dos
temas corpo e saúde a partir de um diálogo com a mídia. A mídia enquanto meio de mediação
de informações nos apresentou também elementos através dos quais pudemos caracterizar o
contexto social em que os discursos sobre o corpo e a saúde emergiram. Sociedade essa
respaldada através do conhecimento técnico-científico utilizado na comercialização de
produtos para o consumo. Ainda, uma sociedade individualizada, que valoriza as aparências e
a virtualidade.
O quadro Medida Certa do programa Fantástico da emissora Rede Globo de
Telecomunicações nos serviu como um rico espaço para discussões e reflexões sobre as
compreensões, saberes e práticas que se efetivaram em relação aos temas do corpo e da saúde
na mídia. Temas esses de grande relevância nos conhecimentos produzidos e aplicados na
área da Educação Física em seus diferentes espaços de atuação profissional: escolas,
academias, hospitais, clubes, dentre outros.
No quadro foi possível evidenciar através da presença do profissional de Educação
Física como responsável pelo desenvolvimento do mesmo, que a Educação Física enquanto
área de produção e aplicação dos conhecimentos tem contribuído na construção de saberes e
práticas que acabam por reforçar as compreensões de corpo e saúde atreladas unicamente aos
aspectos biológicos, de forma generalizada e reducionista. Embora tenhamos encontrados
perspectivas de estudos diferenciados e ampliados de profissionais da área da Educação Física
(NÓBREGA, 2010; MENDES, 2007; MEDEIROS, 2011; dentre outros), é necessário uma
ampliação cada vez maior para saberes e práticas que reconheçam o corpo enquanto vivo e
situado socialmente em um determinado contexto. Reconhecemos assim a importância do
debate desses temas em linhas de pesquisas nas ciências humanas.
Durante as análises dos discursos do quadro Medida Certa ficou evidente diferentes
formas de cuidados com o corpo em busca da saúde. Estes foram propagados com a intenção
162
de serem consumidos pelas pessoas na objetivação de um cuidado para consigo. No entanto,
as formas de cuidado propagadas se deram a partir de padrões e modelos, fato que rejeitamos
diante a variedade corporal existente nos diferentes contextos sociais. Defendemos formas de
cuidado com o corpo que leve em consideração antes de tudo o sujeito que será cuidado, seja
por si ou pelos outros. Assim, acreditamos que oportunizar diferentes formas de cuidado com
o corpo, é também, reconhecer que esses cuidados estão sujeito a transformações.
Imbuídos pelos pensamentos de Michel Foucault, visualizamos transformações das
diferentes formas de cuidados com o corpo em busca da saúde em períodos históricos
distintos. O autor mostra como o conceito de cuidado de si se diferencia em três períodos
históricos e como essas práticas associadas a esse conceito vão se modificando: o socrático-
platônico; os séculos I e II ou idade de ouro; e, a era Cristã (FOUCAULT, 1985). É
importante destacar que Foucault em seus estudos voltava-se para os escritos realizados por
filósofos de outras épocas para poder pensar acontecimentos do seu tempo e estabelecer
diferenças.
No período socrático-platônico, Foucault (2010) utiliza do Alcebíades para apresentar
as características do cuidado de si. Segundo Foucault (2010), neste período, o cuidado de si
deveria ser uma prática desenvolvida por jovens da elite, um privilégio de classe, que
deveriam aprender a cuidar de si para assim poder cuidar dos outros, ou seja, cuidar dos
outros através do governo das cidades. É preciso inicialmente conhecer a si mesmo para poder
cuidar de si e posteriormente cuidar dos outros.
Continuando com suas argumentações, Foucault (2010, p. 9) destaca que “o cuidado
de si é uma espécie de aguilhão que deve ser implantado na carne dos homens, cravado na sua
existência, e constitui um principio de agitação, um princípio de movimento, um principio de
permanente inquietude no curso da existência”. Esse cuidado de si vincula-se fortemente ao
exercício do poder.
163
O segundo momento que destacamos sobre o cuidado de si nos estudos de Foucault
(2010), é o que compreende os séculos I e II. Nessa nova configuração do cuidado de si,
visualizamos a mudança de uma prática que se restringia aos jovens de elites para uma prática
que deveria ser universalizada entre toda a população.
Na prática do cuidado de si, dos séculos I e II, o sujeito está desvinculado da atividade
política. É preciso que ele se volte para si, que converta-se a si mesmo para beneficio próprio.
“Ocupar-se consigo tornou-se um principio geral e incondicional, um imperativo que se
impõem a todos, durante todo o tempo e sem condição de status” (FOUCAULT, 2010, p. 76).
Outro elemento que ganha destaque nesse cuidado de si é a velhice. Segundo Foucault
(2010, p. 98) “a mais alta forma do cuidado de si, o momento de sua recompensa, estará
precisamente na velhice”. A velhice nesse período é coroada como momento principal do
cuidado de si. Dessa forma, os indivíduos deveriam preparar-se para velhice. Esta consistiria
em um objetivo a ser buscado pelos sujeitos, assumindo características positivas na vida de
quem a alcança.
Além disso, nesse período ao tratar da cuidado de si no livro História da Sexualidade,
Foucault (1985) destaca que ocupar-se consigo mesmo configura-se como um pré-requisito
básico para o desenvolvimento de uma “arte da existência”. Para tanto, é necessário adotar um
conjunto de procedimentos, práticas, receitas, que seriam ensinadas e aperfeiçoadas pelas
pessoas no cuidado de si. Uma prática social que se oportuniza na relação com os outros.
Outro marco importante do cuidado de si nos estudos de Foucault (2010) é o período
da era cristã. Nesse período evidenciamos um cuidado de si que objetiva a salvação do sujeito,
e para tanto, utiliza-se da espiritualidade como aliado para essa “conquista”. Com base em
Foucault (2010, p. 163) “é preciso salvar-se, salvar-se para salvar os outros”.
Nessa pratica do cuidado de si, a verdade assume papel central, verdade essa que em
grande parte é vivenciada pelos discursos de verdade com base nos preceitos do cristianismo.
164
No Cristianismo o cuidado de si deveria promover uma renúncia dos sujeitos a si, ou seja,
para esse período os sujeitos deveriam renunciar a si, não no sentido de abandoná-lo, mas
renunciar a si para dissipar as ilusões interiores, afastar os maus pensamentos e, assim,
converter-se a si, para passar a olhar sobre si mesmo.
Embora sabendo que os sentidos do cuidado de si apresentados por Michel Foucault
não tem relações diretas com as formas de cuidados com o corpo em busca da saúde
apresentadas e vivenciadas no quadro Medida Certa, entendemos que as formas de cuidado
refletidas pelo autor em outros períodos históricos nos permitem visualizar transformações
das formas de cuidado visualizadas no presente.
No quadro, verificamos uma predominância de formas de cuidado com o corpo em
busca da saúde atreladas à conhecimentos e informações exteriores a eles. Baseado
principalmente nos valores numéricos, os sujeitos foram estimulados a cuidarem de si
adequando-se à normas e padrões previamente estabelecidos. Destacamos ainda que não foi
evidenciado durante o quadro um diálogo com os jornalistas sobre seus gostos e desejos no
que concerne exercícios físicos e alimentação. Assim, compreendemos que o cuidado com o
corpo em busca da saúde foi executado mediante as formas de cuidado defendidas pelo
“outro”, através das indicações profissionais e dos modelos previamente estabelecidos de
alimentação e de exercícios. Desse modo, entendemos que as formas de cuidado
oportunizadas pelo quadro não reconhecem e não atendem as necessidades individuais, sendo,
portanto, insuficientes.
Sobre estas normas ou padrões, verificamos que foram estabelecidas e pulverizadas no
imaginário social com base nos conhecimentos biológicos construídos nas ciências
anatômicas, bioquímicas e fisiológicas. Uma forte valorização dos conhecimentos científicos
e tecnológicos. Assim, para cuidar de si, Renata Ceribelli e Zeca Camargo, deveriam manter
ou adequar os componentes biológicos de seus corpos dentro de padrões pré-estabelecidos e
165
verificados mediante a realização de exames médicos, bioquímicos, entre outros. Prevalece
desta forma, um cuidado baseado em valores numéricos e não em sensações, percepções,
desejos, entre outras manifestações possíveis de serem expressas por cada um por meio de
suas percepções corporais.
Também, nas formas de cuidado apresentadas percebemos uma aceitação de que a
responsabilidade é de cada individuo. Portanto, cada um deveria buscar adequar-se aos
padrões e normas divulgados independente da condição social. Todavia, reconhecemos uma
grande lacuna ao não priorizar o conhecimento de si, ou seja, do próprio ser humano em
relação ao seu corpo, para a efetivação de cuidados. Antes disso, o quadro acaba defendendo
formas de cuidado com o corpo e com a saúde que tomam como base fatores externos aos
sujeitos. No entanto, o quadro não reconhece as dificuldades dos sujeitos de cuidados a partir
de orientações somente externas.
Ao colocar a responsabilidade sobre os indivíduos o quadro exime as entidades
governamentais da assistência de subsídios para uma qualidade de vida favorável, tais como:
saúde, moradia, educação, emprego, entre outros, bem como também ausenta de si a
responsabilidade enquanto entidade social, apontando o sujeito como único responsável pelos
avanços ou atrasos no cuidado com o corpo e a saúde.
Além dos fatores externos serem utilizados como referenciais no cuidado dedicado por
cada corpo, à vigilância sobre este cuidado parece ficar também sobre a tutela de “entidades”
exteriores a ele. Isso pode ser percebido através dos discursos proferidos pelas instituições
escolares, médicas, religiosas, midiáticas etc. Verificamos uma contradição, na hora de fazer
responsabiliza-se o sujeito pela intervenção, já na hora de avaliar os resultados entra em cena
os elementos externos.
Verifica-se a indicação de formas de cuidado com o corpo em busca da saúde através
de exercícios físicos e do controle alimentar com informações advindas dos profissionais
166
especializados, sem levar em consideração os gostos e os objetivos individuais. O cuidado
com a alimentação é propagado no quadro através de informações nutricionais e da restrição
alimentar realizada pelos jornalistas, sendo estas também direcionadas ao público
acompanhante do quadro. Dessa forma, muitas vezes o cuidado realizado pelo sujeito se torna
enfadonho e insignificante. Todavia, compreendemos que as diferentes formas de cuidado
efetivadas pelos seres humanos devem proporcionar o reconhecimento das características,
gostos e prazeres de cada um.
Quanto às formas de cuidado realizadas e defendidas pelo quadro através dos
exercícios verificamos uma predominância do conhecimento fisiológico e dos efeitos
biológicos ocasionado por estes. Os cuidados propagados defendem a prática de exercícios
como alternativa para a adequação a níveis considerados normais em relação aos aspectos
bioquímicos e fisiológicos do corpo. Lembrando que os níveis assim considerados são
elaborados com base em dados generalistas e exteriores aos sujeitos. Sobre os exercícios
verificamos ainda informações simplistas e generalistas, não apresentando informações mais
esclarecedoras a respeito de sua realização, como os efeitos negativos de uma prática não
orientada. O quadro em poucos momentos apresenta formas de cuidado que reconhecem que
o corpo humano também é sujeito ativo e autônomo, com capacidade de realizar escolha e
tomar decisões.
Assim, as formas de cuidado com o corpo e com a saúde propagadas e vivenciadas no
quadro Medida Certa aconteceram de forma a priorizar o beneficio individual, ou seja,
pensaram o sujeito como ser isolado, não o reconhecendo como integrante de um contexto
social mais amplo. Entendemos que um ser que promove um verdadeiro cuidado de si acaba
consequentemente cuidando dos outros, visto que não habita o mundo de forma isolada, mas
entrelaçado a uma complexidade de fatores culturais, históricos, emocionais, econômicos,
educacionais, entre outros.
167
Segundo o quadro foi necessário à adoção de cuidados para consigo na medida certa,
no entanto, o quadro não define em nenhum momento de forma clara qual seria a medida
certa. Pensamos que uma medida certa não pode ser definida e muito menos identificada, mas
sentida e vivida por cada sujeito dentro de seu existir, em um processo contínuo de
transformação. Dessa forma, a compreensão do quadro é restrita e acaba despertando a falsa
ilusão em inúmeros consumidores de suas informações de que existe uma medida certa ideal
que pode ser alcançada.
Ainda, diante as discussões oportunizadas no quadro Medida Certa sobre o corpo e a
saúde verificamos que está dissipada no seio social uma ideologia de saúde, ou mais
precisamente uma ideologia do ser saudável. Assim como as formas de cuidado apresentadas
acima, trazemos as discussões sobre a “Ideologia do ser saudável” a partir das construções e
reflexões teóricas de Michel Foucault.
As discussões promovidas por Foucault sobre uma ideologia do ser saudável acabam
se fazendo presente em diferentes espaços de sua obra, no entanto, buscaremos suporte para
esta a partir do seu livro “O nascimento da clínica” para pensar como a Medicina contribuiu
para a formação de um modelo característico de ser saudável. Foucault (2004) apresenta
elementos que caracterizam a formação de uma consciência coletiva e de saberes e práticas
que deveriam ser administrados para obtenção da saúde.
A saúde seria nesta lógica recursiva uma estratégia política, visto que seriam
destinados investimentos a formação de uma consciência coletiva de cuidados para com ela.
Sobre o médico, Foucault (2004, p. 36) destaca que sua tarefa é primeiramente política, visto
que, “a luta contra a doença deve começar por uma guerra contra os maus governos; o homem
só será total e definitivamente curado se for primeiramente liberto”. A medicina ficou
encarregada da tarefa constante de informar, controlar e coagir. No entanto, Foucault (2004,
p. 33) argumenta que “será preciso que cada cidadão esteja informado do que é necessário e
168
possível saber em Medicina”. No quadro analisado essa ideia ressurge para oportunizar
saberes e responsabilizar os indivíduos dos seus usos na busca pela saúde.
Embora com roupagens diferentes, verificamos no quadro Medida Certa que ainda
perdura uma tentativa de controlar a vida dos sujeitos. Os discursos divulgados deveriam ser
absorvidos pela população e esta deveria realizar os investimentos necessários para alcançar
os objetivos do quadro.
Nas discussões sobre ideologia percebemos que esta está atrelada as relações de poder
exercidas socialmente. O embate discursivo realizado nas relações sociais permite a
construção de ideologias que são compartilhadas e pulverizadas no imaginário social. Para
Foucault (2011, p. 102-103):
Parece-me que se deve compreender o poder, primeiro como a
multiplicidade de correlações de força imanentes ao domínio onde se
exercem e constitutivos de sua organização; o jogo que através de lutas e
afrontamentos incessantes os transforma, reforça, inverte; os apoios que tais
correlações de força encontram uma nas outras, formando cadeias ou
sistemas ou ao contrário, as defasagens e contradições que os isolam entre si;
enfim, as estratégias em que se originam e cujo esboço geral ou cristalização
institucional toma corpo nos aparelhos estatais na formulação da lei, nas
hegemonias sociais.
Assim, o poder relaciona-se a hegemonia. “O poder não é uma instituição e nem uma
estrutura, não é uma certa potência de que alguns sejam dotados: é o nome dado a uma
situação estratégica complexa numa sociedade” (FOUCAULT, 2011, p. 103). O autor ainda
deixa expresso que o poder está atrelado aos discursos difundidos socialmente.
Tomando como base os discursos do quadro Medida Certa, partindo especialmente do
seu título, encontramos uma concepção ideológica de saúde que está fortemente atrelada a
padrões pré-determinados. As ideias propagadas reforçam a ideia de que para se ter saúde é
necessário que se façam escolhas e se tomem atitudes em busca de adequarem-se a padrões
estabelecidos socialmente.
169
Além disso, os discursos do quadro mostraram a saúde diretamente atrelada aos
padrões de normalidade dos componentes bioquímicos do corpo. Para tanto foi necessário
mensurá-los através dos exames bioquímicos laboratoriais e avaliados com base em índices
pré-estabelecidos em tabelas de referências. Assim, os valores numéricos e os cálculos
matemáticos foram utilizados para caracterizar ou não a adequação a saúde, ou seja, os
números assumiram a simbologia da saúde e do ser saudável.
Outra perspectiva que encontramos nessa relação com o corpo refere-se às biopolíticas
efetivadas sobre ele na busca por uma disciplinarização. O conceito de biopolítica é
apresentado por Foucault (1997, p. 89). O referido autor:
Entendia por biopolítica a maneira pelo qual se tentam, desde o século XVII,
racionalizar os problemas propostos à prática governamental, pelos
fenômenos próprios a um conjunto de seres vivos constituídos em
população: saúde, higiene, natalidade, raças... Sabe-se o lugar crescente que
esses problemas ocupam, desde o século XIX e as questões políticas e
econômicas em que eles se constituíram até os dias de hoje.
As estratégias biopolíticas objetivaram dessa forma uma disciplinarização e controle
dos sujeitos através de um conjunto de condutas que deveriam ser seguidas por cada individuo
no cuidado para consigo, e consequentemente cuidado com os outros.
Deixamos nossas críticas para a utilização somente de parâmetros exteriores como
referências para adequação, sem a oportunidade de escolhas e sem o reconhecimento das
características individuais. Reconhecemos a importância das orientações e dos conhecimentos
utilizados provenientes de pesquisas, no entanto defendemos que os seres humanos sejam
pensados diante suas individualidades biológicas, culturais e históricas, não como fatores
isolados, mas entrelaçados entre si.
Além disso, o quadro ainda deixa expresso que é necessário o desprendimento de cada
ser humano em busca da adequação aos padrões alimentares e de exercícios divulgados como
corretos. Assim, a responsabilidade pela adequação aos padrões e ao conjunto de códigos
170
estabelecidos é pessoal. Ou seja, a individualidade só é reconhecida na responsabilidade de
cada sujeito manter-se saudável, no entanto não se reconhece a individualidade no momento
de escolher que cuidados tomar.
Portanto, o quadro Medida Certa ao fazer uso dos saberes e práticas sobre corpo e
saúde, e divulgá-las para a população acaba por compartilhar uma ideologia de saúde já
existente ou mesmo por construir uma ideologia de saúde pautada majoritariamente no
controle alimentar e na prática de exercícios físicos. E a Educação Física tem contribuído com
essa visão de forma hegemônica, especialmente através do quadro Medida Certa.
Quanto as compreensões, saberes e práticas apresentadas a respeito do corpo e da
saúde, verificamos que estas se mantiveram restritas e limitadas, pautadas essencialmente em
conhecimentos de cunho biológico, com contribuições dos conhecimentos científicos e
tecnológicos, provindos predominantemente de conhecimentos exteriores aos sujeitos e
estabelecidos com base em parâmetros ou índices de normalidade aos quais os sujeitos
deveriam se adequar. Diante disso, evidenciamos a presença de uma ideologia de corpo e
saúde as quais os apresentadores, assim como os espectadores, deveriam corresponder.
Os discursos do quadro acabam acentuando uma preocupação com o consumo de bens
e serviços estéticos de cuidado com o corpo com finalidade nas aparências. O corpo, sob a
ótica da reprogramação foi visualizado como um sistema operacional a partir do qual suas
funções deveriam ser programadas para perda de peso e obtenção da medida certa. E a saúde
como responsabilidade individual deveria ser alcançada através dessa reprogramação com o
controle alimentar e a realização de exercícios físicos.
Assim, os discursos e práticas do quadro Medida Certa que predominam não
valorizam os conhecimentos que cada um possui, nem suas características individuais.
Tomam como base parâmetros e conhecimentos amplos e descontextualizados visto que se
destinam a grande massa. Embora se apresentem pontos de resistências na recepção dos
171
discursos midiáticos estes podem acabar contaminados pelos mesmos, sem maiores reflexões.
Este fato reforça a importância de pesquisas como esta que oportunizam conhecimentos e
reflexões sobre os discursos veiculados pela mídia e que muitas vezes são fundamentados em
estudos da Educação Física.
Para a Educação Física, este trabalho oportunizou a construção de conhecimentos
sobre o corpo e a saúde, temas esses essenciais no trabalho dos conteúdos da área nos espaços
escolares, bem como nos demais espaços profissionais, academias, clubes, hospitais, entre
outros. Assim, esperamos que a Educação Física possa contribuir para formação de seres
humanos capazes de recepcionar criticamente os discursos do espaço midiático, bem como
possam usufruir dos conhecimentos oportunizados pela mídia de forma a priorizar os
cuidados com o corpo em busca de saúde, e não apenas o consumo e a valorização das
aparências e da estética associada a um padrão específico. Reconhecendo dentro do seu
contexto de atuação o corpo enquanto vivo e a saúde como existencial.
Dessa forma, esta pesquisa não tem pretensões de responder a todas as especificidades
que correspondem aos temas corpo e saúde, especialmente em suas relações com a mídia.
Todavia, a mesma oportunizou reflexões sobre como essas compreensões, saberes e práticas
são dissipadas no imaginário social e como se materializaram nas práticas sociais realizadas
por Renata Ceribelli e Zeca Camargo no quadro Medida Certa. Para que tenhamos respostas a
outros questionamentos que também envolvem essa temática de estudo, sugerimos o
desenvolvimento de outras pesquisas com perspectivas semelhantes de investigação dos
espaços midiáticos, especialmente esses que se propõem na discussão de temas relacionados à
saúde, como exemplo, o programa Bem-Estar da Rede Globo de Telecomunicações.
Sobre essa pesquisa, ainda guardamos como futuras intenções a análise dos
comentários que foram coletados e arquivados, para que possamos compreender como as
pessoas recepcionaram as informações do quadro Medida Certa. A produção dessa análise
172
será enviada para periódicos científicos ou outra fonte de divulgação acadêmica da Educação
Física ou áreas afins.
Portanto, defendemos diante o exposto a necessidade de refletir sobre as informações
midiáticas, visto que, elas nos trazem elementos sobre o contexto social em que emergem e o
público a quem se destinam. Quanto ao corpo e a saúde, percebemos que estes são alvos de
diferentes investimentos das esferas do consumo, estética, aparência, cuidado, política, poder,
entre outras. Este fato nos coloca diante a necessidade de reflexões cada vez mais
aprofundadas como as que pretendemos realizar em outros momentos de nossa formação
enquanto professor e pesquisador da área da Educação Física, como exemplo, na formação em
nível de Doutorado.
173
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180
TABELA 02 - POSTAGENS REALIZADAS NO BLOG MEDIDA CERTA
01/04/2011 – 26/06/2011
Nº DA
POSTAGEM DATA TÍTULO DA POSTAGEM
1º MÊS
1ª SEMANA
1 Sexta - 01 de abril A proposta
2 Sexta - 01 de abril Márcio Atalla conta como vai mudar os hábitos
de Zeca Camargo e Renata Ceribelli
3 Domingo - 03 de abril Zeca e Renata terão 90 dias para adquirir
hábitos saudáveis
4 Segunda - 04 de abril Alívio de estreia
5 Segunda - 04 de abril Nunca antes na história desse apresentador...
6 Segunda - 04 de abril Quer reprogramar o seu corpo em 90 dias?
Saiba como:
7 Segunda - 04 de abril Vamos começar o projeto juntos?
8 Segunda - 04 de abril Zeca Camargo e Renata Ceribelli comentam
estreia da série Medida Certa
9 Terça - 05 de abril 1ª dica do Atalla: nunca malhar em jenjum
10 Terça - 05 de abril Cardápio do almoço: carne com legumes
11 Terça - 05 de abril Márcio Atalla tira dúvidas sobre exercícios e
alimentação
12 Terça - 05 de abril O adeus ao salaminho
13 Terça - 05 de abril O fim da picada
14 Quarta - 06 de abril 2ª dica do Atalla: fazer exercícios físicos não é
beneficio apenas para os músculos
15 Quarta - 06 de abril Más notícias
16 Quarta - 06 de abril Receita do Atalla: macarrão com legumes
17 Quinta - 07 de abril Meu prato preferido? Comida!
18 Quinta - 07 de abril Renata comemora aniversário com bicicleta
nova
19 Sexta - 08 de abril 3ª dica do Atalla: Tabagismo é a principal
causa de morte evitável no mundo
20 Sexta - 08 de abril Aniversário light
21 Sexta - 08 de abril Culpa!
22 Sábado - 09 de abril 4ª dica do Atalla: suco de caixinha é uma boa
opção
23 Sábado - 09 de abril Primeiro balanço
2ª SEMANA
24 Segunda - 11 de abril 5ª dica do Atalla: exercícios físicos ajudam a
combater a depressão
25 Segunda - 11 de abril O problema da água
26 Segunda - 11 de abril Zeca e Renata encaram academia e exercícios
na primeira semana
27 Segunda - 11 de abril Sete mandamentos da alimentação saudável
28 Terça - 12 de abril Como eu me convenci a correr por 30 minutos
29 Terça - 12 de abril Dominando a ansiedade
181
30 Terça - 12 de abril Márcio Atalla tira dúvidas dos internautas
31 Terça - 12 de abril Renata Ceribelli sua a camisa para entrar em
forma
32 Quarta - 13 de abril 6ª dica do Atalla: ouvir música durante o
exercício ajuda a emagrecer
33 Quarta - 13 de abril Aquela “forcinha”
34 Quinta - 14 de abril 7ª dica do Atalla: falta de nutrientes pode
provocar problemas de saúde
35 Quinta - 14 de abril Dia de chocolate... será?
36 Sexta - 15 de abril Fã de Zeca e Renata aproveita quando Medida
Certa para reprogramar o corpo
37 Sexta - 15 de abril Sobre o mau-humor
38 Sábado - 16 de abril 8ª dica do Atalla: exercício físico ajuda a
combater a baixa autoestima
39 Domingo - 17 de abril Zeca encara almoço na casa da mãe e Renata
aprende a se exercitar mesmo fora de casa
3ª SEMANA
40 Segunda - 18 de abril 9ª dica do Atalla: ande mais a pé
41 Segunda - 18 de abril Apresentando, Maria Inês!
42 Terça - 19 de abril Momento difícil... mas a verdade tem que ser
dita
43 Quarta - 20 de abril 10ª dica do Atalla: coloque mais fibras em sua
alimentação
44 Quinta - 21 de abril 11ª dica do Atalla: prática de atividade física
só promove ganhos a saúde
45 Quinta - 21 de abril Luan Santana e Dudu Nobre dão aquela
forcinha para o Zeca e Renata
46 Sexta - 22 de abril E a gripe me pegou...
47 Sexta - 22 de abril Mãe de Zeca Camargo ensina suculenta receita
de rosbife
48 Domingo - 24 de abril Zeca e Renata tentam manter hábitos saudáveis
no almoço de domingo
4ª SEMANA
49 Quarta - 27 de abril 12ª dica do Atalla: suor não faz perder peso
50 Quarta - 27 de abril Márcio Atalla tira dúvidas de quem quer entrar
na medida certa
51 Quarta - 27 de abril Medida Certa: que dieta é essa?
52 Quinta - 28 de abril 13ª dica do Atalla: queijo conttage é excelente
para alimentação saudável
53 Quinta - 28 de abril Renata ensina receita de hambúrguer de soja
54 Sexta - 29 de abril 14ª dica do Atalla: abdominais trazem vários
benefícios para o organismos
55 Sábado - 30 de abril Cozinheira de Renata Ceribelli ensina receita
saborosa de jiló
56 Domingo - 01 de maio Viagens de trabalho dificultam rotina saudável
de Zeca e Renata
2º MÊS
5ª SEMANA
57 Terça - 03 de maio Fui madrinha de um casamento e passei por
182
uma das situações mais engraçadas
58 Quarta - 04 de maio Meu treino... vai encarar?
59 Quinta - 05 de maio 15ª dica do Atalla: natação trabalha o coração e
ajuda a queimar calorias
60 Sexta - 06 de maio Doce de Buenos Aires... pode?
6ª SEMANA
61 Terça - 10 de maio Fazer exercícios com companhia é muito bom!
Com o marido, melhor ainda!
62 Terça - 10 de maio Zeca Camargo não abandona o Medida Certa
nem nas férias em Paris
63 Quarta - 11 de maio Nutricionista ajuda Ceribelli a encontrar
Medida Certa no supermercado
64 Quinta - 12 de maio 16ª dica do Atalla: nunca é tarde para começar
a se exercitar
65 Sexta - 13 de maio 17ª dica do Atalla: ginástica funcional traz
equilíbrio e beleza ao corpo
66 Domingo - 15 de maio Zeca Camargo e Renata Ceribelli enfrentam a
balança
7ª SEMANA
67 Terça - 17 de maio 18ª dica do Atalla: pratique atividade física na
gravidez
68 Terça - 17 de maio Meu corpo já entendeu
69 Quarta - 18 de maio Renata Ceribelli ensina exercício simples para
obter bons resultados
70 Quinta - 19 de maio Zeca e Renata experimentam nova atividade:
remo
8ª SEMANA
71 Segunda - 23 de maio 19ª dica do Atalla: gorduras do bem geram
benefícios para a saúde
72 Segunda - 23 de maio Zeca descobre que boa noite de sono ajuda a
emagrecer
73 Terça - 24 de maio 20ª dica do Atalla: usados de maneira correta,
exercícios ajudam a recuperar lesões
74 Sábado - 28 de maio Inspirada por Zeca e Renata, família se une
para emagrecer
75 Domingo - 29 de maio Zeca mostra que é possível queimar calorias na
balada
3º MÊS
9ª SEMANA
76 Quarta - 01 de junho Medida Certa às avessas: Márcio Atalla dá
dicas para quem precisa engordar
77 Quinta - 02 de junho 21ª dica do Atalla: varizes X musculação –
permitido com cautela
78 Quinta - 02 de junho Zeca usa semente saudável para deixar salada
crocante
10ª SEMANA
79 Segunda - 06 de junho Renata e Zeca encaram remo na lagoa e corrida
com paraquedas na praia
80 Terça - 07 de junho 22ª dica do Atalla: inatividade física é
183
responsável por aproximadamente 2 milhões
de mortes
81 Terça - 07 de junho Bom condicionamento físico permite... subir a
pedra bonita
82 Terça - 07 de junho Fantástico: Ceribelli avalia mudanças
provocadas pelo quadro Medida Certa
83 Sexta - 10 de junho 23ª dica do Atalla: água de coco é boa para
saúde e não engorda
11ª SEMANA
84 Segunda - 13 de junho Zeca e Renata Ceribelli já sentem diferenças
no guarda-roupa
85 Terça - 14 de junho Calcule sua medida certa
86 Quarta - 15 de junho 24ª dica do Atalla: grávida também pode
malhar
87 Quinta - 16 de junho Desafio lançado, missão cumprida: Renata
sobe de bicicleta até o Cristo
88 Quinta - 16 de junho Ganhando a medida certa – a batalha de um
editor para ganhar peso
12ª SEMANA
89 Segunda - 20 de junho Zeca e Renata encaram trilha difícil
90 Terça - 21 de junho Hora da Verdade: encontro com a fita métrica
91 Quarta - 22 de junho 25ª dica do Atalla: inclua cereais na dieta
92 Quinta - 23 de junho Proteínas – por que elas são tão importantes?
93 Sexta - 24 de junho Veja o antes e o depois de quem entrou no
desafio medida certa com Zeca e Renata
94 Sábado - 25 de junho Zeca e Renata levam caminhada Medida Certa
para 11 capitais
95 Domingo - 26 de junho Confira as novas medidas dos apresentadores
96
Domingo - 26 de junho
Depois de 90 dias, Zeca e Renata perdem
quilos e ganham saúde
97 Domingo - 26 de junho Veja o antes e depois de Zeca e Renata
184
FICHA DE ANÁLISE DE CONTEÚDO - VÍDEO
ORIGEM DO VÍDEO: EXIBIDO AO VIVO NÚMERO DO VÍDEO: 1
SEMANA DE EXIBIÇÃO: 1ª SEMANA
DATA DE EXIBIÇÃO: 03/04/2011 DURAÇÃO: 15:10
CATEGORIAS DE
ANÁLISE DESCRIÇÃO
Transcrição
Renata: Tudo começou com um grande susto uma participação
do Zeca no Vídeo Show que prepararam uma surpresa para ele
e eu estava nessa surpresa e no final agente ficou chocada.
Quando eu fiz essa entrevista com o Zeca lá no meio dos anos
80 eu era repórter do vídeo show e o Zeca já tinha começado a
dar suas voltas no mundo pro fantástico.
Zeca: Teve um susto anterior quando você mesma fez uma
matéria sobre o transexual por causa desse ultimo big brother,
aí colocaram um arquivo, uma imagem minha apresentando um
fantástico sobre mudança de sexo e aí, foi chocante.
Renata: é o Zeca estava bem diferente;
Zeca: É eu já fui bem magro, mais magro até do que quando eu
entrei no fantástico em 1996, olha eu aqui no início de minha
carreira de jornalista, final dos anos 80.
Renata: Não Zeca eu nunca fui magrinha, tipo modelo, mas fui
magra, pra falar a verdade até os meus 25 anos eu não tinha a
menos preocupação com isso, a coisa mudou mesmo depois
que eu engravidei de gêmeos, engordei quase 30 kg na minha
gravidez.
Zeca: Chega um momento na vida de um homem que ele se
olha no espelho e tem que dizer, estou gordo, estou acabado,
talvez não tenha caminho de volta e é por isso que nós
escalamos o Márcio Atalla pra dizer que tudo isso é mentira,
tem jeito.
Márcio Atalla: Sou professor de Educação Física, já tem mais
de 10 anos que eu venho desenvolvendo esse trabalho com
pessoas que é basicamente incorporar a atividade física de
maneira regular e melhorar alguns hábitos, estilo de vida.
Lançei um desafio pro Zeca e pra Renata que é justamente isso,
eles precisam incorporar de maneira regular a atividade física
na vida dele, e isso vai refletir diretamente na saúde. Não pode
tomar medicamento, não pode tomar suplemento e não pode
apelar para fórmula mágica, sem precisar abrir mão das boas
coisas que todos nós gostamos e precisa ter muita disposição, é
isso é que pode, é a vontade de mudar, isso é o mais
importante. Minha proposta é essa, três meses para vocês
sentirem a diferença.
Zeca: O lema agora é qualidade de vida na medida certa, são 90
dias para reprogramar o corpo.Pô mais se essa mudança de
hábitos é necessária mesmo é por que alguma coisa de errado
agente está fazendo né Renata?
Renata: Eu acho né, começando pela rotina, trabalhar no
fantástico não é exatamente uma rotina.
185
Zeca: Não é mesmo. O fantástico chegou aqui em casa as 7 e
pouco da manhã, é porque eu já acordei as 6 e pouco. Eu
costumo dormir 6 horas por noite mais hoje eu dormi 5, então
agente já começa um pouco cansado, eu não preciso dormir
muito, eu acordo bem, eu preciso fazer pelo menos duas vezes
por semana uma aula de musculação, quando muito uma
aeróbica, eu não tomo água, eu tenho dificuldade de tomar
água, eu gosto é de uma bebida industrializada, mas é um
hábito que eu sei que eu tenho que mudar, eu já sei disso. Eu
tou conversando aqui mais agente tem que ir embora, só mais
um vai. Literalmente eu não sei que horas eu vou comer de
novo. 4 minutos para fazer o check in eu vou tomar um café.
Tem tempo três minutos. Provavelmente o único exercício que
eu vou conseguir fazer hoje (subindo as escadas). Cheguei no
Rio direto, 10:30 da manhã eu já fui pra reunião de pauta do
fantástico. Depois de duas horas e meia sem beliscar nada claro
a fome já bateu e forte, agente tem uma horinha, uma hora e
meia para almoçar, rápido, direito eu não sei, mais rápido tem.
Linguiçinha, filé a braseiro, farofa, batata portuguesa, arroz
pode vir, eu acabo comendo muito fora né, sobretudo aqui no
rio e eu como muito. Olha nem precisa puxar muito pela
memória, qualquer viagem que eu faço aqui pelo fantástico e
outras particulares também eu faço questão de provar a
culinária local.
Renata: Já a minha alimentação é mais regrada viu. Eu almocei
muito cedo, eu almocei super lightzinho, tudo certinho, 3:30 da
tarde estava morrendo de fome. O meu pecado eu confesso, é
beliscar, o tempo todo, e tem gente em casa que fica no meu
pé. Célia! (beliscou uma uva) Eu belisco Célia?
Célia: Belisca.
Renata: (Risos)
Célia: Ela come certo, porém ela belisca muito gelatina e
pudim. Tá aqui uma coisa que ela gosta muito, ela bota ali e vai
comendo, vai comendo, ela deve ter uns 5 quilos de queijo
minas no corpo. Renata: Na hora do jantar a comida aqui em
casa é toda balanceada, grelhados, legumes, saladas, mas ó,
tudo light gente, eu vou na sobremesa light. Esse pudim é até
difícil de acreditar que ele é light de tão bom. Olha a hora, já
são quase 11:30 da noite comendo isso né, uma combinação
que eu preciso ter depois das refeições, um café e um
chocolatinho adocicando, eu tenho que tomar café toda noite e
isso atrapalha um pouco do meu sono também.
Zeca: Então essa é mais ou menos a nossa rotina, comer entre
as gravações, sem horários, e exercícios só quando o tempo
permite, mas daqui para frente tudo vai ter que ser diferente.
Renata: Primeiro passo nós vamos ter que descobrir como anda
nossa saúde, começando pelo exame de sangue.
Zeca: Já estão pronto nossos exames de sangue já?
Alexandre: Já, estão excelentes, podem ser melhorados
obviamente.
186
Renata: Estão bom.
Alexandre: Você especialmente está um espetáculo. O Zeca
está mais ou menos.
Renata: Eu estou um espetáculo.
Alexandre: Hemograma está excelente, glicose normal, Renata
você tem um colesterol muito bom.
Renata: E o Zeca?
Alexandre: A glicose dele está um pouquinho alta, não chega a
ser um índice de diabetes, mas pensa que é a ponta do iceberg.
Zeca: Glicose é o nível de açúcar no sangue.
Renata: Quanto mais alto maior o risco de desenvolver
diabetes.
Alexandre: A onde há fumaça a fogo. Agente tem que ficar
atento a isso. O ácido úrico está bastante alto, seu colesterol
também não está nada bom.
Zeca: O ácido úrico é uma substância que é resultado da quebra
das proteínas e o colesterol é a gordura do sangue, nenhum dos
dois pode ficar muito alto, se não. E olhe a muitos anos que eu
não fazia um exame de sangue tão completo assim.
Alexandre: Começou bem, a pressão 12 por 8.
Zeca: Normal?
Alexandre: Normal, 12 por 76, excelente pressão já é o bom
começo Zeca.
Zeca: Finalmente uma boa notícia.
Alexandre: Você nunca fumou não né Zeca?
Zeca: Nunca.
Alexandre: Agora você vai deitar. Hum, eu vou encontrar coisa
aqui, edema é excesso de água, o que que acontece, a pessoa
que fica muito tempo em pé a pessoa que não faz exercício
aeróbico direito como é o seu caso, acaba retendo muito líquido
aqui (pernas).
Zeca: Que venha o teste de esforço.
Alexandre: E ai moleza?
Zeca: Muito ruim essa coisa de respirar, péssimo.
Alexandre: pressão controladíssima, eletro normal, muito bom,
muito bom, muito bom mesmo, pressão máxima foi de 19 por
7, excelente.
Zeca: Renata vem aí.
Renata: os homens sempre se dão melhor nessa?
Alexandre: Não, aqui é justamente o contrário.
Renata: Ele está me consolando. Eu já encarei a realidade, eu
vou emagrecer. Aí que depressão (risos). Coração, pulmão,
pressão tudo certo comigo, mas eu ainda não estou muito
contente não. Zeca, tou deprimida, eu estou tão gorda quanto
você.
Zeca: Eu estou pior, qualquer coisa que você estiver eu tou
pior.
Renata: Não tá, não tá, eu tou gorda quanto você, é verdade.
Zeca: O problema não é gordura, é tudo ruim, é água no
tornozelo.
187
Renata: eu tou mais desidratada do que você. Unidos
venceremos. E venha o teste de esforço.
Alexandre: Numa escala de cansaço de 0 a 10, qual seria o seu
máximo, 7 para 8?,
Renata: Deu canseira hein, e os resultados não foram lá muito
animadores não.
Alexandre: Sua capacidade está fraca e o seu condicionamento
está mais fraco ainda.
Zeca: agente saiu de lá meio triste, e o dia seguinte tinha mais
exame pela frente. Fala Márcio.
Márcio: grande zeca, preparado?
Zeca: Hoje mais uma notícia?
Márcio: Não, só boas notícias.
Zeca: Ninguém passou bem ontem nem eu nem a Renata.
Márcio: Olhe, eu acho assim, ele fez uma fotografia e o papel
do médico é aquele de alertar, o que eu posso dizer a você é
que fator de risco não quer dizer que você vá ter nada, você não
tem nada hoje, entendeu, você é uma pessoa de risca apenas
com alguns fatores de risco.
Zeca: O veredito da nutricionista Laura Breves é cauteloso.
Aqui tiramos todas as medidas, altura, circunferência
abdominal, percentual de gordura.
Laura: 111.4.
Zeca: aí eu não gostei, ah não gostei mesmo.
Laura: Você entrou no primeiro grau, de obesidade, você já
passou do sobrepeso.
Zeca: e aqui ó, é um sinal de alerta, o IMC índice de massa
corporal está alto, essa medida é uma relação entre peso e
altura. O meu está quanto?
Laura: Está 31,5. Então a primeira meta sua é sair desse índice
de 30, com menos 6 quilos de peso você entra em 29.8, quer
dizer, você cai de índice.
Zeca: quer dizer que se eu tiver que colocar uma meta..
Laura: Se você perder 5% de peso você já entra, você já sai do
primeiro grau que agente chama.
Zeca: Simples.
Laura: Em termos de circunferência abdominal, 102 já é uma
circunferência com risco alto, então você tem que perder 8 cm,
para sair desse risco, mais o ideal...
Zeca: 8 cm! Cadê a sua fita?
Laura: São três furos no seu cinto.
Zeca: (risos) Super fácil. Três?
Laura: composição corporal, você está com 29% de gordura,
mas pra você ficar bem.
Zeca: tem que perder 10, ou seja baixar de 29% para 19% de
gordura corporal. Agora, venha, venha a próxima paciente,
Renata!
Renata: estou escrevendo um diário da nossa experiência, e
terminei assim, estou na sala de espera da nutricionista e ouvi o
Zeca gritando lá dentro, 5 furos no cinto?
188
Zeca: Três.
Renata: Eu ouvi cinco. Pior momento pra mim até agora, hora
de tirar minhas medidas, primeiro altura mais fácil né, 170,
agora o peso, socorro, será que eu tenho mesmo que mostrar
isso.
Zeca: Eu já encarei, manda.
Renata: nem o meu marido sabe o quanto eu peso, 80.3, tirando
a roupa..
Laura: É menos de 80.
Renata: menos de 80 quanto
Laura: Ah aí deve ter um meio quilo de roupa
Renata: isso aí eu vou contar que tá descontando a roupa,
79.80. Os homens podem até não entender, mas para nós
mulheres essas 500 gramas fazem tanta diferença. Alias agente
tenta ganhar onde pode, né? Braço de família italiana.
Laura: 31.5
Zeca: Hora do veredito.
Renata: Isso significa o que? É muito?
Laura: Não, você está em sobrepeso, 27,7, atenção você passou
do índice considerado normal, são parâmetros de saúde.
Renata: Eu não tou gostando não.
Laura: tua circunferência abdominal você tem que tá com ela
abaixo de 88, você está com 96,5.
Renata: tá alto?
Laura: Tá, também tem aí os furinhos do cinto. Composição
corporal, você está com 35,85% de gordura teria que perder
aqui ó uns 7%.
Zeca: Ou seja Renata, basta você tem que baixar para uns 28%
de gordura, vamos ver quem chega primeiro?
Renata: E você de casa também pode entrar nessa, pegue uma
fita métrica e passe um pouco abaixo do umbigo, acima dos
ossos da bacia.
Zeca: nas mulheres deve ficar abaixo de 88 cm, e nos homens
abaixo de 102 cm, se a sua cintura passou dessas marcas está
na hora de fazer como agente e tomar uma atitude.
Márcio: esse tipo de jantar não vai ser proibido nesses três
meses de jeito nenhum, agente não vai proibir nada, só que ele
passa a ser excessão, vamos tentar fazer uma regra com outros
hábitos e ver o que acontece, vai fazer exercício isso é fato.
Zeca: começamos amanhã as 9:30 da manhã. Vamos fazer um
brinde, o brinde é para os próximos três meses.
Renata: depois dessa última ceia não tem mais desculpa, você
vai ver como uma boa alimentação e rotinas de exercícios vai
fazer agente entrar na medida certa.
SÍNTESE DO VÍDEO
Introdução ao quadro, motivos que levaram os
apresentadores a participarem do Medida Certa;
Apresentação dos personagens principais: Zeca Camargo,
Renta Ceribelli e Márcio Atalla;
Objetivo do quadro/intervenção: incorporar atividade física
de maneira regular e melhorar alguns hábitos, estilo de
189
vida;
Três meses para sentir a diferença;
Apresentação da rotina dos apresentadores: trabalho,
atividade física e alimentação (fora e em casa);
“Então essa é mais ou menos a nossa rotina, comer entre as
gravações, sem horários, e exercícios só quando o tempo
permite, mas daqui para frente tudo vai ter que ser
diferente” – Zeca Camargo
Avaliação da saúde: exame de sangue, hemograma,
avaliação médica, retenção de líquido, teste de esforço;
Glicose, colesterol e ácido úrico de Zeca Elevado
Pressão boa; nunca fumou, excesso de agua – Zeca
Esclarecimentos do médico
Apresentação dos resultados dos exames e testes realizados;
Condicionamento físico fraco de Renata;
Avaliação física com a nutricionista: “aqui tiramos todas as
medidas, altura, circunferência abdominal, percentual de
gordura,... Zeca
Avaliação pela nutricionista Laura Breves
Medição da altura, peso, circunferências, percentual de
gordura...
SABERES E PRÁTICAS
SOBRE CORPO E
SAÚDE
Incorporar atividade física de maneira regular, isso vai refletir
diretamente na saúde – Márcio Atalla
Não pode tomar medicamento, não pode tomar suplemento e
não pode apelar para fórmula mágica – Marcío Atalla
Descrição dos cuidados com o corpo e saúde dos
apresentadores;
Cuidados com a alimentação – alimentação desregulada e sem
horários;
Falta de atividade física...
“onde há fumaça a fogo, então agente tem que estar bastante
atento a isso” – Cardiologista Alexandre Carvalho
Parâmetros baseados em números, em valores numéricos pré-
determinados
“coração, pulmão, pressão, tudo certo comigo, mas eu ainda
não estou muito contente não... – Zeca, Ham(Zeca)... tou
deprimida, eu tou tão gorda quanto você (Renata).... Eu tou
pior, qualquer coisa que você tiver eu tou pior (Zeca)...
Avaliação física da nutricionista... IMC
Avaliação baseada em números e em estatísticas
COMPREENSÃO DE
CORPO
Corpo passível de reprogramação
Semelhança a um sistema operacional de computador, que
pode e deve ser reprogramado na busca da medida certa;
Corpo fragmentado composto por valores numéricos de:
leucócitos, hemoglobina, hematócrito, hemácias, promielócitos,
metamielócitos, entre outros;
Corpo que pode ser mensurado, medido, quantificado,
trabalhado;
Relevância apenas aos elementos biológicos.
190
Corpo quantificado
COMPREENSÃO DE
SAÚDE
Saúde associada a perca de peso e a uma medida correta;
Enfatiza-se a composição e estabilização dos elementos
biológicos;
Pode ser mensurada apenas pelas medidas, exames médicos;
Saúde baseada em padrões de normalidade “você passou do
índice considerado normal, são parâmetros de saúde” Laura
Breves
#FICA A DICA -
INFORMAÇÕES PARA
O PÚBLICO
Durante o vídeo é apresentado no canto inferior esquerdo em
forma de legenda alguns informações sobre o que esta sendo
apresentado;
Apresentação dos valores dos exames e das medidas com
sinalização de positivo ou negativo quando fora dos padrões de
normalidade
“Glicose é o nível de açúcar no sangue” – Zeca
“quanto mais alto maior o perigo de desenvolver diabetes” –
Renata
“o ácido úrico é uma substância que é resultado da quebra das
proteínas e o colesterol é a gordura no sangue, nenhum dos
dois pode ficar muito alto se não...” – Zeca
Esclarecimento pelo médico
“Imc, índice de massa corporal, essa medida é uma relação
entre peso e altura” – Zeca
Apresentação ilustrativa da fórmula para calcular o IMC
“e você de casa também pode entrar nessa, pegue uma fita
métrica e passe um pouco abaixo do umbigo, acima dos ossos
da bacia” (Renata) “Nas mulheres deve ficar abaixo de 88 e nos
homens abaixo de 102 cm, se a sua cintura passou dessas
marcas, hum, tá na hora de fazer igual agente e tomar uma
atitude (Zeca)”
OUTRAS
INFORMAÇÕES
RELEVANTES
“estou gordo, estou acabado, talvez não tenha caminho de
volta” – Zeca Camargo Comenta que tem e convida o professor
de educação física.
O lema agora é qualidade de vida na medida certa, são 90 dias
para reprogramar o corpo – Zeca Camargo
O vídeo traz recortes de programas anteriores realizados pelos
apresentadores para traçar comparativos
Avaliação com o cardiologista Alexandre Carvalho
Comparativos entre Zeca e Renata
“Agente sai de lá meio triste” – Zeca
O papel do médico é aquele de alertar, o que eu posso dizer
para você é que fator de risco não quer dizer que você vai ter
nada, você não tem nada hoje, entendeu, se eu pegar você, você
é uma pessoa saudável com alguns fatores de risco – Márcio
Atalla
O VEREDITO da nutricionista Laura Breves é cauteloso –
Zeca
Peso de Zeca – 111,4 “eu já não gostei” – Zeca .... “você entrou
no primeiro grau de obesidade, você já passou do sinal de
191
alerta” – Laura Breves
Valorização excessiva da perda de peso
Valores numéricos como objetivos a serem alcançados,
estratégia de alcançar medida certa baseada em valores
numéricos calculados através de programas estatísticos
Valorização da perda da gordura corporal
“pior momento pra mim até agora, hora de tirar as minhas
medidas, primeiro a altura mais fácil né, 170, agora o peso,
socorro! Será que eu tenho mesmo que contar isso” – Renata
80,3
Hora do veredito
“depois dessa última ceia não tem mais desculpas, você vai ver
como uma boa alimentação e rotina de exercícios vai fazer
agente entrar na medida certa” – Renata
192
FICHA DE ANÁLISE DE CONTEÚDO - VÍDEO
ORIGEM DO VÍDEO: EXIBIDO AO VIVO NÚMERO DO VÍDEO: 14
SEMANA DE EXIBIÇÃO: 12ª SEMANA
DATA DE EXIBIÇÃO: 26/06/2011 DURAÇÃO: 8:39
CATEGORIAS DE
ANÁLISE DESCRIÇÃO
Transcrição
Patricia: na parte médica agente viu que todos os índices
melhoraram, agora agente vai ver o peso e a cintura, mas antes eu
quero saber qual é a expectativa dessa dupla fantástica que suou e
acompanhou aí durantes esses 90 dias né.
Renata: Olha, é muito mais curiosidade do que expectativa, agente
viu, agente está sentindo os resultados em nosso corpo, MAS
AGENTE QUER VER O NÚMERO NÉ.
Zeca: Vocês estão me enrolando, vamos lá logo as medidas.
Patícia: Vamos lá, vamos revelar as medidas que vocês e o país
inteiro querem saber, quem tem esse segredo para a gente é
Márcio Atalla, nosso convidado especial no show da vida. não vai
colocar ninguém para malhar hoje, ninguém para pular corda,
correr na esteira dentro da água.
Renata: Não dê ideias.
Patricia: Pois é o diretor está gostando dessa ideia. Vamos aos
resultados, seja bem vindo ao show da vida. o que você conta para
a gente aqui.
Márcio: Antes de mais nada o medida certa é um programa de
qualidade de vida. Claro que o emagrecimento vai ser uma
consequência dessa reprogramação. Antes de mudar a rotina
nesses três messes eles estavam fora da medida certa.
Zeca: agente nem sabia o que era medida certa.
Patrícia: agente acompanhou isso direitinho. Agora, vamos direto
aos números, acho que o brasil inteiro quer saber BALANÇA... é
inimiga de muita gente.
Márcio: começando pela Renata. Renata você começou o
programa com 80,3 kg.
Renata: Nem quero lembrar mais disso.
Márcio: na terça feira nós fomos encarrar a balança. Bom agora
depois de muito suor, de três meses, Renata seu novo peso é 74,4
kg.” Vibração de Zeca e Renata pelo resultado.
Renata: Eu achei que tivesse perdido menos.
Márcio: Você achou que tivesse perdido menos?
Renata: Eu achei que tivesse perdido menos, eu perdi bastante, pq
eu sempre achei que eu tenho dificuldade de perder peso.
Zeca: bateu 6 quilos e 600 gramas.
Patrícia: Está feliz?
Renata: Muito feliz, me surpreendi de verdade.
Patrícia: e agora Zeca Camargo já ali compenetrado só de olho
esperando, e aí Atalla fala para agente.
Zeca: a palavra é desesperado.
Patrícia: Calma aí que esse desespero vai acabar. Olha o Atalla
com uma cara de feliz aqui, ele deve ter bons resultados para
193
agente.
Márcio: o Zeca começou esse programa com 111,4 kg, agente viu
a imagem.
Zeca: eu tenho muito orgulho dessas 400 gramas.
Márcio: Também n terça ele encarou a balança, ele mais CDF
subiu de costa para não ver, “Agora 104 kg” Vibração com o
novo peso.
Zeca: estou contente, era mais ou menos minha aposta.
Patricia: Atalla não é só o numero da balança que vale né, acho
que é importante agente dizer pro pessoal de casa que está nos
assistindo nesse momento.
Márcio: O número da balança pra mim conta menos, o que que é
importante, eles entraram num programa que a atividade física é o
carro chefe e eles não tiveram nenhum dieta restritiva.
Renata: O que importa é perder a gordura do corpo.
Márcio: emagrecer é perder gordura.
Renata: Não é perder peso na balança.
Márcio: Não é, então agente agora vai aos números que realmente
são importantes para mim. Renata você perdeu 9,5k kg de
gordura. (Ceribelli demonstra surpresa com o resultado, elogia. Os
jornalistas parabenmizam).
Renata: E ganhei 3,6 kg de massa muscular.
Márcio: esse é o jeito saudável de emagrecer.
Patrícia: Não tem mágica né Atalla?
Atalla: Não tem mágica.
Renata: Ou seja, você pede gordura e ganha massa muscular.
Márcio: e sem falar, agora a gente vai falar do nosso amigo Zeca,
que ele controla todos os fatores para doenças crônicas, fatores de
riscos, agente viu nos examos. Mas chega disso, Zeca olha o que
você perdeu de gordura, 12,29 kg. (Zeca fica surpreso e bastante
feliz com os resultados). E ganhou 4,9 kg de massa muscular. Po
isso que pros dois, Renata perdeu 10% de gordura. E que era
nossa meta, que era o qua agente esperava em 90 dias.
Renata: 90 dias sem remédio, sem dieta radial, sem suplemento,
só na saúde.
Márcio: E zeca também perdeu 10 %.
Zeca: eu tou quieto assim por que eu tou meio assustado, pro bem.
Patrícia: Nos bastidores o pessoal ta chamando o zeca de Tamagro
e não Zeca Camargo.
Zeca: mas falta o Grand finale.
Patrícia: A ultima medida é a circunferência abdominal que é
importante tanto para os homens quanto para as mulheres.
Márcio: é muito importante, claro que ela mostra o
emagrecimento. A circunferência abdominal é um fator de risco
para várias doenças cardiovasculares, nas mulheres é importante
que esse índice fique abaixo de 88 cm.
Patrícia: como é que estava a Renata;
Márcio: a Renata começou com 96,5 cm. 8 cm e meio a mais. É
muito, são três furos de um cinto.
194
Renata: Eu não imaginava isso.
Patrícia: e hoje, agente tá vendo que ela está com uma cinturinha
fina, colocou até um vestidinho.
Márcio: Esse resultado eu tenho muito prazer em anunciar, Renata
você diminuiu para 82,7 cm, são 14 cm a menos. 5 furos no sinto.
( Os apresentadores comemoram e renata demonstra surpresa.)
Renata: Ou seja isso é resultado da perda de gordura.
Zeca: Renata Ceribelli eu tou muito orgulhoso de você.
(comentários entre os jornalistas)
Márcio: ele começou com 110,3 cm.
Patrícia: ou seja 8 cm também acima.
Márcio: É, ele tem que ficar abaixo de 102 cm para diminuir esse
fator de risco de doenças cardiácas. E Zeca sua nova cinturinha é
de 99 cm. (Zeca Camargo comemora muito, vibra com o
resultado. Comentam sobre as mudanças efetivadas).
Patricua comenta que Zeca solicitava a troca de sintos.
Renata: essa felicidade não é só pra agente, a felicidade de poder
dar um exemplo para as pessoas, mostrar como é possível você
reprogramar seu corpo com saúde, é muito legal.
Zeca: Com a vida maluca que agente tem.
Patrícia: Eu estava confiando no esforço de vocês, parabéns
Renata, parabéns Zeca. Ea Medida certa não termina por aí não
né, não vai parar não.
Zeca: Patrícia, a partir do domingo que vem, eu a Renata e o
Atalla s nos vamos sair no Brasil todo numa caminhada do medida
certa.
Renata: É uma iniciativa para levar para vocês tudo que agente
aprendeu nesses três meses. As primeiras capitais das caminhadas
do medida certa são, Rio de janeiro e Belém do Pará.
Patricia: Tá dado o recado, mais informações no site do Fantástico
onde depois do programa vocês vão poder conversar ao vivo com
o Márcio Atalla. O HOMEM QUE CONSEGUIU COLOCAR
RENATA CERIBELLI E ZECA CAMARGO NA MEDIDA
CERTA”.
Márcio: mas eu quero fazer mais um desafio, você deixa?
Patricia: Claro, você é bem vindo Atalla.
Márcio: eu quero voltar daqui a três meses para saber se vocês
continuam na medida certa.
SÍNTESE DO VÍDEO
Patrícia Poeta comenta sobre resultados do quadro. “Agente viu
que todos os índices melhoraram, agora agente vai ver o peso e a
cintura, mas antes eu quero saber qual é a expectativa dessa dupla
fantástica que suou e acompanhou aí durantes esses 90 dias né”.
Renata diz que... “Olha, é muito mais curiosidade do que
expectativa, agente viu, agente está sentindo os resultados em
nosso corpo, MAS AGENTE QUER VER O NÚMERO NÉ”
Márcio Atalla vai ao fantástico como convidado falar sobre os
resultados finais. Márcio diz... “Antes de mais nada o medida
certa é um programa de qualidade de vida. Claro que o
emagrecimento vai ser uma consequência dessa reprogramação.
195
Antes de mudar a rotina nesses três messes eles estavam fora da
medida certa...”
Zeca diz... “agente nem sabia o que era medida certa”
Patrícia.... “Vamos direto aos números, acho que o brasil inteiro
quer saber BALANÇA... é inimiga de muita gente”
Márcio destaca.... “Renata você começou o programa com 80,3
kg” “agora depois de muito suor, de três meses, Renata seu novo
peso é 74,4 kg.” Vibração de Zeca e Renata pelo resultado. Renata
comenta que achou que vivesse perdido menos. Destaca a
felicidade com o novo peso.
Sobre Zeca, Márcio Atalla destaca... “o Zeca começou esse
programa com 111,4 kg” “Agora 104 kg” Vibração com o novo
peso. Xeca diz “estou contente”
Patricia Poeta destaca.... “Atalla não é só o numero da balança que
vale né, acho que é importante agente dizer pro pessoal de casa
que está nos assistindo nesse momento”.
Márcio Atalla diz... “O número da balança pra mim conta menos,
o que que é importante, eles entraram num programa que a
atividade física é o carro chefe e eles não tiveram nenhum dieta
restritiva”
Renata diz... “O que importa é perder a gordura do corpo”
Márcio diz... “emagrecer é perder gordura” Renata... “Não é
perder peso na balança” Márcio... “Não é, então agente agora vai
aos números que realmente são importantes para mim” “Renata
você perdeu 9,5k kg de gordura” Ceribelli demonstra surpresa
com o resultado, elogia. Ganhou 3,6 kg de massa muscular.
Márcio... “esse é o jeito saudável de emagrecer”
Renata... “Ou seja, você pede gordura e ganha massa muscular”
Márcio comenta sobre os resultados de Zeca... “Zeca olha o que
você perdeu de gordura, 12,29 kg” Zeca fica surpreso e bastante
feliz com os resultados. E ganhou 4,9 kg de massa muscular.
Renata perdeu 10% de gordura. E zeca também perdeu 10 %.
A ultima medida é a circunferência abdominal que é importante
tanto para os homens quanto para as mulheres.
Márcio... “A circunferência abdominal é um fator de risco para
várias doenças cardiovasculares, nas mulheres é importante que
esse índice fique abaixo de 88 cm, a Renata começou com 96,5
cm” “Renata você diminuiu para 82,7 cm, são 14 cm a menos”.
Os apresentadores comemoram e renata demonstra surpresa.
Sobre Zeca... “ele começou com 110,3 cm” “sua nova cinturinha é
de 99 cm” Zeca Camargo comemora muito, vibra com o
resultado. Comentam sobre as mudanças efetivadas.
Renata diz... “essa felicidade não é só pra agente, a felicidade de
poder dar um exemplo para as pessoas, mostrar como é possível
você reprogramar seu corpo com saúde, é muito legal”.
Patrícia diz... “ E o medida certa não vai parar por aqui não né?”
Zeca diz que eles irão sair pelo Brasil todo realizando a
caminhada do medida certa. É uma forma de compartilhar o que
aprenderam nos 3 meses.
Patricia convida a entrarem num chat com Mário Atalla “O
196
HOMEM QUE CONSEGUIU COLOCAR RENATA
CERIBELLI E ZECA CAMARGO NA MEDIDA CERTA”.
Márcio propõem o desafio de voltar em três meses e verificar se
os apresentadores irão se manter na medida certa.
SABERES E
PRÁTICAS SOBRE
CORPO E SAÚDE
Conhecimentos antropométricos. Pesagem, medida, percentual de
gordura.
COMPREENSÃO DE
CORPO
Corpo vivo, enquanto sujeito, os apresentadores enquanto corpos
“Nossos corpos”.
Corpo compreendido a partir das medidas e do peso.
COMPREENSÃO DE
SAÚDE
Associada a padrões de normalidade. Associada a perda de peso e
ao emagrecimento corporal.
Com base em medidas antropométricas.
#FICA A DICA -
INFORMAÇÕES
PARA O PÚBLICO
-
OUTRAS
INFORMAÇÕES
RELEVANTES
Darão início as caminhadas medida certa.
197
POSTAGENS
A proposta…
sex, 01/04/11
por redacao fantastico |
categoria Bastidores
| tags dieta, peso, proposta, renata ceribelli
Por Renata Ceribelli
Imagine ser chamada na sala do seu chefe e ser convidada a contar seu peso e suas medidas
para o Brasil inteiro!
No início achei que era uma brincadeira, mas pela risadinha dele…. percebi logo que era
sério, muito sério. Era mais uma idéia ousada saindo daquela sala no fundo da redação. A sala
do Luiz Nascimento, diretor do Fantástico.
Conforme fui ouvindo como seria o projeto, o fato de divulgar meu peso e minhas medidas
foi ficando muito pequeno.
Vou experimentar o que há anos venho dizendo nas minhas reportagens: o que fazer para ter
mais saúde, mais disposição, qualidade de vida, o que fazer para envelhecer bem! Vou encarar
um programa de saúde em frente as câmeras, e o público vai acompanhar os efeitos disso no
meu corpo, na minha saúde.
Vou tirar da memória do meu corpo tudo aquilo que me fez engordar no decorrer dos anos, e
vou reprogramá-lo em 90 dias .
Quero ver quem tem coragem de encarar esse desafio comigo. Você tem?
198
Márcio Atalla tira dúvidas sobre exercícios e
alimentação ter, 05/04/11
por redacao fantastico |
categoria Márcio Atalla
| tags dieta, Márcio Atalla, renata ceribelli, zeca camargo
Qual a proposta da série ‘Medida Certa’?
A primeira proposta, na verdade, é sobre mudança de hábito e ela passa principalmente pela
prática de atividade física, ter uma vida mais ativa em relação ao movimento. Se a gente
comparar as pessoas que viviam na década de 70 com as que vivem hoje, veremos que a gente
gasta em média trezentas calorias a menos por dia.
E qual foi o resultado disso? Nunca tivemos tantos obesos, e problemas de saúde, como
diabetes, problemas cardíacos e doenças crônicas. Então, a proposta é incorporar movimento,
e entrar com orientação nutricional, que na verdade, são quatro pontos:
1) comer fracionadamente, ou seja, fazer de cinco a seis refeições por dia,
2) diminuir a quantidade de gorduras, principalmente as gorduras saturadas,
3) aumentar o consumo de fibras
4) diminuir a ingestão de sal e açúcar.
Isso vai se refletir não só no emagrecimento dos dois, mas também nos fatores de risco, que
principalmente no Zeca estavam bem aumentados. Vamos mostrar que só com atividade física
e se alimentando um pouco melhor, a pessoa consegue ter benefícios reais na saúde, melhorar
a qualidade de vida e ficar mais distante do uso de medicamentos.
É possível praticar atividade física em frequentar uma academia de ginástica?
Na série “Medida Certa” vocês vão ver que vou passar algumas alternativas. Vou passar uma
série de exercícios que a pessoa pode fazer em casa, isso para a parte muscular. Agora, a parte
aeróbica, que é a parte cardiovascular, não precisa de dinheiro. Você pode caminhar trinta
minutos por dia, isso já é eficiente.
Musculação ajuda a emagrecer?
Ajuda, mas a musculação não é o exercício mais eficiente, que é o aeróbico. Mas ajuda a
emagrecer por alguns motivos: o primeiro é que qualquer atividade física gera um gasto
199
calórico, o segundo é que se a pessoa aumenta a massa muscular, e o músculo para se manter
vivo gasta mais calorias do que a gordura, significa dizer que com mais músculos, mesmo em
repouso, o corpo vai gastar mais calorias para manter aquela massa muscular que a pessoa
ganhou.
Malhar sem fazer dieta emagrece?
Sim, existem vários trabalhos científicos que mostram que aumentando o consumo calórico, a
pessoa já consegue emagrecer. É uma fórmula simples, o quanto se ingere menos o quanto é
gasto. Claro, que é sempre importante ter uma orientação nutricional e fazer boas escolhas. É
evitar gordura, aumentar o consumo de fibras e comer fracionadamente.
Existe um alimento mágico para emagrecer?
Não existe um alimento poderoso que vai resolver todos os problemas. Você tem que procurar
fazer boas escolhas na alimentação. Por exemplo, a linhaça é rica em fibras, mas se você está
ingerindo muita gordura, não será ela que vai te ajudar. Sozinha não irá fazer milagres.
Quais exercícios ajudam a diminuir as taxas de colesterol?
Exercícios aeróbicos são mais eficientes do que a musculação, sem dúvida nenhuma. É muito
importante diminuir a ingestão de gordura saturada e álcool.
É possível emagrecer em duas semanas?
Emagrecer em duas semanas, a pessoa não vai. Se quiser perder peso, o que não significa a
mesma coisa, já que perder peso é perder massa muscular e líquido, é possível fazendo estas
loucuras, como a dieta da proteína ou comendo pouco, o que sou totalmente contra. Para se
perder 1 kg de gordura, a pessoa tem que ter um déficit de calorias, ou seja, comer menos do
que gastar, 9 mil calorias. Então, pode-se imaginar que não será em pouco tempo. Não sou
muito a favor do emagrecimento rápido.
Suplementos alimentares ajudam ou não no ganho de massa muscular?
Sem dúvida o suplemento ajuda no processo de ganho de massa muscular. Não aconselho
porque a única pessoa que pode orientar o consumo de um suplemento nutricional é um
nutricionista, depois que analisar toda a alimentação daquela pessoa. Como eu irei
suplementar uma coisa, se eu não sei o que está em excesso ou falta? Está na moda tomar
suplementos de proteína, sendo que a alimentação do brasileiro já tem a proteína necessária.
Então, aquilo só está sobrecarregando os rins e o fígado. O suplemento só é indicado para o
atleta amador ou profissional. E o atleta amador é aquele que treina três horas por dia. Fora
isso, só com alimentação a pessoa consegue atingir toda a meta de nutrientes que deve ter.
200
Mesmo assim, se ela quer aumentar a massa muscular e acha que não se alimenta bem, deve
procurar um nutricionista. E o profissional vai ver exatamente o quanto se precisa. É
importante deixar claro que o suplemento em grande quantidade faz mal. Isso vai ter uma
conta lá na frente a ser paga. Isso é mais sério do que parece.
Caminhar é um bom começo para quem não faz exercícios regularmente?
É excelente, se puder em quatro dias acumular 150 minutos, já se atinge a recomendação da
Organização Mundial da Saúde.
Como perder aquela gordurinha a mais na barriga?
Não tem jeito, a solução é o exercício aeróbico. Agora, se quiser definir o abdômen, é o
exercício abdominal. Uma dica são os exercícios intervalados, que são mais eficientes. O que
é isso? Por exemplo, correr por dois minutos, andar por dois minutos e assim por diante.
Quem é hipertenso pode fazer exercícios físicos regularmente?
Deve, pois a atividade física é super recomendada para quem hipertensão. Principalmente a
atividade aeróbica porque vai diminuir a pr essão arterial. É comprovado.
Quem quer mudar os hábitos deve procurar quais profissionais?
Em primeiro lugar a pessoa tem que realmente querer mudar e ir abandonando os hábitos
ruins e os substituir pelos bons. Os profissionais mais indicados são: em primeiro lugar um
médico, para se saber se a pessoa está apta a praticar atividade física e depois ter uma boa
orientação de um professor de educação física. E se tiver condições financeiras pode-se
também procurar um nutricionista que vai avaliar a alimentação e dar boas orientações neste
sentido.
Existe um limite de tempo para se exercitar diariamente?
Cada pessoa tem um limite e uma condição física diferente. Mas com uma hora por dia já se
consegue treinar muito bem e colher todos os benefícios para a saúde.
Ginástica localizada fortalece os músculos?
Sendo bem feita fortalece bastante os músculos e tem o mesmo benefício da musculação.
Para quem tem dores na coluna qual é o exercício indicado?
O Pilates e a natação são as atividades indicadas, pois não têm impacto. A bicicleta
ergométrica também não tem impacto na articulação. Para a pessoa que tem dor nas costas,
como opção de atividade aeróbica, indicaria a natação e a bicicleta ergométrica. Para o
fortalecimento da musculatura, sem dúvida indicaria o Pilates.
201
Tomar remédios diuréticos para perder peso é errado?
Temos que lembrar que 60% do nosso peso corporal é formado de líquido. Emagrecer é
perder gordura. Ao tomar um diurético a pessoa vai perder líquido e desidratar. Funciona
como ir à sauna, a pessoa vai e perde líquido, sai de lá mais leve. E quando toma água, volta
ao peso antigo.
É verdade que pessoas podem ter o metabolismo mais rápido ou mais lento do que
outras?
É totalmente verdade. Duas manobras muito eficientes para acelerar o metabolismo são: fazer
atividade física e comer fracionadamente.
O spinning é bom para perder peso?
Muito, se for feito com regularidade. Para se colher os benefícios de qualquer atividade física
ela deve ser feita com regularidade.
Qual é o melhor horário para a prática de exercícios físicos?
O melhor horário para se praticar atividade física é quando a pessoa se sente bem e está mais
disposta. Tem gente que se sente melhor pela manhã e outras à noite. Não há uma regra.
Qual a importância do sono para a perda de peso?
Os estudos mais recentes e confiáveis apontam que quem dorme menos de seis horas por dia
tem uma tendência a engordar mais. A quantidade de sono pode influenciar muito no ganho
de peso.
202
Confira as novas medidas dos apresentadores
dom, 26/06/11
por redacao fantastico |
categoria Episódios
| tags balança, cintura, gordura, medidas,músculo, peso, renata ceribelli, zeca camargo
Renata Ceribelli:
Peso inicial: 80,3 kg
Peso final: 74,4 kg (perdeu 9,5 kg de gordura e ganhou 3,6 kg de massa muscular)
Circunferência abdominal inicial: 96,5 cm
Circunferência abdominal final: 82,7 cm.
“Achei que tivesse perdido menos. Estou muito feliz, me surpreendi de verdade”, disse
Renata.
. Zeca Camargo:
Peso inicial: 111,4kg
Peso final: 104 kg (perdeu 12,29kg de gordura e ganhou 4,9 kg de massa muscular)
Circunferência abdominal inicial: 110,3 cm
Circunferência abdominal final: 99cm.
“Era mais ou menos a minha aposta. No meio do programa, eu tinha perdido 4 kg. Na reta
final eu pensei que perderia mais 2 ou 3 kg. Estou contente”, comentou o apresentador.
203
FICHA DE ANÁLISE DE CONTEÚDO – POSTAGEM
TÍTULO DA POSTAGEM: A PROPOSTA
NÚMERO DA POSTAGEM: 01 DATA DA POSTAGEM: SEXTA
01/04/2011 TOTAL DE COMENTÁRIOS: 809
POSTADO POR: RENATA CERIBELLI
CATEGORIAS DE
ANÁLISE DESCRIÇÃO
SÍNTESE DA
POSTAGEM
Apresentação de como Renata recebeu a proposta do seu
apresentador. Reações iniciais e posteriores ao receber o
“desafio”.
SABERES E
PRÁTICAS SOBRE
CORPO E SAÚDE
-
COMPREENSÃO DE
CORPO
Um corpo como um sistema operacional de computador com
capacidade de memória que pode ser esvaziada e com um
sistema que pode ser reprogramado.
“Vou tirar da memória do meu corpo tudo aquilo que me fez
engordar no decorrer dos anos, e vou reprogramá-lo em 90 dias”
– Renata
COMPREENSÃO DE
SAÚDE
Associada fortemente a perda de peso, saúde conseguida na
ausência de gordura
INFORMAÇÕES PARA
O PÚBLICO
“Quero ver quem tem coragem de encarar esse desafio comigo.
Você tem?” – RENATA
Convidando as pessoas de casa a também entrarem na medida
certa.
OUTRAS
INFORMAÇÕES
RELEVANTES
Reforçando que o objetivo maior é saúde “Vou encarar um
programa de saúde em frente as câmeras, e o público vai
acompanhar os efeitos disso no meu corpo, na minha saúde” –
Renata
204
FICHA DE ANÁLISE DE CONTEÚDO - POSTAGEM
TÍTULO DA POSTAGEM: MÁRCIO ATALLA TIRA DÚVIDAS SOBRE EXERCÍCIOS
E ALIMENTAÇÃO
NÚMERO DA POSTAGEM: 11 DATA DA POSTAGEM: 05/04/2011
TOTAL DE COMENTÁRIOS: 43
POSTADO POR: REDAÇÃO DO FANTÁSTICO
CATEGORIAS DE
ANÁLISE DESCRIÇÃO
SÍNTESE DA
POSTAGEM
A postagem tenta tirar várias dúvidas dos expectadores do quadro:
Qual a proposta da série “Medida Certa”? É possível praticar
atividade física sem frequentar uma academia de ginástica?
Musculação ajuda a emagrecer? Malhar sem fazer dieta
emagrece? Existe um alimento mágico para emagrecer? Quais os
exercícios ajudam a diminuir as taxas de colesterol? É possível
emagrecer em duas semanas? Suplemento alimentar ajuda ou não
no ganho de massa muscular? Caminhar é um bom começo para
quem não faz exercícios regularmente? Como perder aquela
gurdurinha a mais na barriga? Quem é hipertenso pode fazer
exercícios físicos regularmente? Quem quer mudar os hábitos
deve procurar que profissionais? Existe um limite de tempo para
se exercitar diariamente? Ginástica localizada fortalece os
músculos? Para quem tem dores na coluna qual é o exercício
indicado? Tomar remédios diuréticos para perder peso é errado? É
verdade que pessoas podem ter o metabolismo mais lento ou mais
rápido do que outras? O spining é bom para perder peso? Qual é o
melhor horário para a pratica de exercícios? Qual a importância do
sono para perda de peso?
SABERES E
PRÁTICAS SOBRE
CORPO E SAÚDE
Saberes e praticas baseados nos conhecimentos fisiológicos e
bioquímicos. Um corpo com possibilidade de mudanças
fisiológicas promovidas pelos exercícios e novos hábitos
alimentares. Exercícios físicos e alimentação como práticas a
serem realizadas sobre o corpo, além da suplementação e
utilização de medicamentos.
COMPREENSÃO DE
CORPO
Um corpo biológico, visto a partir da fisiologia e da bioquímica.
Um corpo objeto que pode ser modificado através de intervenções
alimentares e de exercícios. Um corpo fragmentado que pode ser
trabalhado a partir de partes. Com base em dados estatísticos. Não
prioriza as subjetividades.
COMPREENSÃO DE
SAÚDE
Saúde associada somente as características biológicas, pensada a
partir da ausência de doenças, associada também a perda de peso.
INFORMAÇÕES
PARA O PÚBLICO
Diferentes informações de como cuidar do corpo através de
exercícios e alimentação para obtenção de saúde.
OUTRAS
INFORMAÇÕES
RELEVANTES
Muitos erros ortográficos nas postagens.
Informações amplas que vão desde alimentação, medicação,
exercícios, entre outros.
Não abre espaço para as subjetividades e afetividade das pessoas.
As informações apresentadas nos soam como condutas que devem
ser utilizadas na busca pela saúde.
206
FICHA DE ANÁLISE DE CONTEÚDO – POSTAGEM
TÍTULO DA POSTAGEM: CONFIRA AS NOVAS MEDIDAS DOS
APRESENTADORES
NÚMERO DA POSTAGEM: 97 DATA DA POSTAGEM: 26/06/2011
TOTAL DE COMENTÁRIOS: 18
POSTADO POR: REDAÇÃO FANTÁSTICO
CATEGORIAS DE
ANÁLISE DESCRIÇÃO
SÍNTESE DA
POSTAGEM
Apresenta as novas medidas dos apresentadores após os 90 dias
de participação no quadro, aponta as perdas de gordura e os
ganhos de massa muscular. Deixa comentários dos
apresentadores.
SABERES E
PRÁTICAS SOBRE
CORPO E SAÚDE
-
COMPREENSÃO DE
CORPO
-
COMPREENSÃO DE
SAÚDE
-
INFORMAÇÕES PARA
O PÚBLICO
-
OUTRAS
INFORMAÇÕES
RELEVANTES
-