Upload
trinhhanh
View
217
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
CONVERGÊNCIA DE MÍDIAS NO PORTAL GLOBO.COM
Demócrito Garcia de Almeida1 RESUMO O presente trabalho monográfico consiste em um estudo de caso sobre a forma como o portal globo.com utiliza-se dos recursos da multimídia convergente para a prática do jornalismo. Nosso objetivo foi observar a vivência cotidiana do globo.com sobre as linguagens midiáticas e os desafios que estas impõem à prática do jornalismo. Sua importância não reside em alguma constatação ou abordagem inovadora. É, ao contrário, a percepção de uma realidade sem a inquietação da inovação tecnológica, para que possa conduzir a um real amadurecimento da mídia digital. Para isto, nossa observação centrou-se sobre a estrutura “física” do globo.com e no modo como os recursos do ambiente digital integram o conteúdo informativo veiculado no portal. Realizamos uma abordagem a partir dos estudos sobre linguagem na Internet, inovação tecnológica e elementos estruturais da rede de computadores. Além de um levantamento histórico sobre o desenvolvimento das linguagens das mídias tradicionais, para tentar encontrar ali o ponto de amadurecimento que possa ser também utilizado na mídia digital. Chegamos à conclusão de que é mais recorrente a formação de uma estrutura em que diversos formatos de mídia possam convergir. Já o uso destas mídias não é tão expressivo para a produção de conteúdo jornalístico, não desenvolve os recursos que o meio on line possibilita para levar informação ao usuário. Palavras-chave: Globo.com. Convergência de mídias. Jornalismo na Internet.
INTRODUÇÃO
A Internet reestruturou sobremaneira o exercício do jornalismo em todo o mundo. Se, por
um lado, os processos das mídias anteriores tornaram-se mais dinâmicos, de outro, a produção de
informação dentro deste novo meio possui especificidades nunca antes desenvolvidas. As novidades
precisam ser bem compreendidas para que cada aparato tecnológico possa provocar, de fato, um
avanço.
No entanto, ainda é difícil estabelecer os parâmetros que devem guiar a atuação do jornalista
dentro das redações on line. Ou seja, de que forma e onde o jornalista deve trabalhar na Internet.
Tamanha é a dificuldade em entender o novo meio que boa parte dos conteúdos dos informativos
disponíveis na Web não foram projetados para este meio, são adaptações do jornalismo tradicional
para as novas mídias.
No contexto atual, a convergência de mídias dentro dos ambientes virtuais coloca-se como a
principal inquietação nos processos de comunicação na Internet. A preocupação do jornalista da
1 Demócrito Garcia de Almeida é graduado em Comunicação Social pela UFPB, habilitação Jornalismo.
mídia digital passa pelos caminhos do texto, dos sons e também das imagens. Além da concepção
do leitor enquanto agente participativo e construtivo da troca de informações.
Quando nos referimos à Internet, estamos falando do modelo de interligação de
computadores adotado mundialmente como produto final de tentativas anteriores para formação de
uma rede global de comunicação. Seus precursores tinham como finalidade descentralizar as
informações do Departamento de Defesa dos Estados Unidos a fim de que essas pudessem ser
preservadas em caso de danos às instalações físicas do governo norte-americano.
Para acadêmicos e profissionais de comunicação, a Internet representou a possibilidade de
levar informação a qualquer parte do mundo de maneira quase instantânea. Mas a rede mundial
apresentou-se também como espaço profícuo para a intervenção do receptor no processo de
comunicação, para a construção colaborativa de conhecimento e para a coexistência e correlação
dos diversos formatos de mídia. É este último aspecto o foco do nosso estudo. Outros tantos fatores
se relacionam à produção de conteúdo para Internet, cuja própria estrutura física, histórico, técnicas
e protocolos, ajudar-nos-ão a entender como se adapta o jornalismo a esta nova realidade.
Entender o diálogo entre as diversas mídias na produção de conteúdo hipertextual para a
grande rede é fundamental para compreender de que forma se estrutura este meio que já está mais
que inserido em nosso cotidiano. Nosso interesse se sedimenta na vivência cotidiana das novas
linguagens midiáticas, bem como os desafios que elas impõem para os que já atuam no campo da
comunicação.
Como forma de aproximação das novidades que estão sendo incorporadas no jornalismo
digital, o portal Globo.com será utilizado como objeto de estudo. Nele vamos procurar identificar as
nuanças da convergência de mídias em função do texto jornalístico e da organização multimídia do
portal. O formato de monografia deste estudo de caso possibilitará uma discussão dos aspectos
teóricos da comunicação neste novo meio, resgatando também aspectos históricos do jornalismo
para sugerir caminhos possíveis futuros.
A escolha do Globo.com para análise da união das mídias tradicionais a partir da Internet é
respaldada sobre a tradição e qualidade indubitável que as Organizações Globo mantêm dentro dos
meios tradicionais. Entre estes meios, podemos destacar: no campo do jornalismo impresso, Diário
de São Paulo, Jornal O Globo e Valor Econômico (em parceria com a Folha de São Paulo); as
revistas Época, Época Negócios, Marie Claire, PEGN, Quem Acontece, Revista Fantástico, Revista
Galileu; as emissoras de rádio 98 FM, BH FM, CBN, Globo FM, Globo AM; nas televisões, TV
Globo, Canal Brasil, Futura, Globo News, Globosat, GNT, Multishow, Shoptime, Sportv, Telecine.
Além do Globo.com, o sistema Globo atua na Internet com os sites G1, Globo Online,
Blogger.com.br, Kit.net, Globolog, EGO, 8P, Baixatudo e Paparazzo. Outras empresas e iniciativas
do sistema globo são Criança Esperança, Amigos da Escola, Fundação Roberto Marinho, Globo
Filmes e Som Livre.
O Globo.com foi criado em março de 2000, em 2006 contava com cerca de 300 mil
assinantes segundo Manzoni (2006), e difunde em sua plataforma a rádio CBN, Revista Época,
Jornal O Globo (sua edição na Internet: O Globo Online) e Tv Globo. O site possui em seu acervo
um número próximo de 50 mil vídeos, que são utilizados em boa parte das reportagens do site, bem
como algumas animações e infográficos.
Sob a forma inicial de crítica ao modo como se desenvolve o jornalismo online no Brasil,
este estudo se destina, fundamentalmente, a explorar os caminhos praticados e possíveis para um
melhor fluxo de informação na Internet. E, tem como objetivo principal, identificar de que forma o
portal Globo.com trabalha as diversas mídias em um único endereço. Seja sob seu aspecto
estrutural, a arquitetura utilizada, seja pelo modo como o texto jornalístico absorve as linguagens
visual, sonora e textual em função da notícia.
Como objetivos secundários, o estudo intenta: comparar a forma como um mesmo conteúdo
pode ser veiculado em diferentes formatos; como se constroem a linguagem hipertextual dentro da
notícia do Globo.com; como o “leitor” interage e intervém nos conteúdos do portal.
1 AS NOVAS TECNOLOGIAS E O JORNALISMO
São tempos novos estes em que vivemos. Transformações que levavam anos para se
sedimentar eram permeadas por guerras ou outros conflitos. Desde a metade do século XX aos dias
de hoje muita coisa muda com maior freqüência e velocidade. O fato de termos abstraído
informações sob a forma de bits contribui e muito para tal fluidez, o kilobit por segundo (kbps)
tornou-se padrão para medidas diversas.
E tal configuração causa uma influência direta no estabelecimento da comunicação humana.
Os suportes tecnológicos inovam-se a cada instante, de tal maneira que as grandezas físicas de
tempo e espaço exigem medidas cada vez menores. Se, chegaram a se tornar desprezíveis, não
sabemos, nem o que o futuro nos reserva. Mas o presente aponta formas de interação cada vez mais
virtualizadas em que tudo ocorre de forma paralela ao tempo e espaço reais. As extensões humanas
de que nos fala McLuhan (2001) estão cada vez mais distantes do nosso corpo físico.
Para a prática jornalística, a formação de um complexo, dinâmico e expansivo sistema de
comunicação, traz possibilidades que vão além da publicação de notícias 24 horas por dia, da rápida
veiculação da notícia, ou do poder de abranger seu público num nível global. A Internet, como
espaço onde diversas formas de mídias convergem e interagem, modificou substancialmente a
forma de produção de informação preconizada pelos meios que a antecederam. Instaurou uma nova
maneira de comunicação multimidiática, interativa e com um grau de personalização só vista,
ironicamente, em culturas de tradição oral. O diálogo que se procura estabelecer hoje com o leitor é
o mesmo que tiveram nossos antepassados com os contadores de histórias. Anos de pesquisa e
desenvolvimento de tecnologias da informação foram necessários para retomar a conversa, o bate-
papo ou chat.
1.1 As Tecnologias da Informação
A utilização das tecnologias da informação modificou sensivelmente as estruturas da nossa
sociedade. Da engenharia à medicina, dos estudos da psicologia às metodologias de ensino escolar,
a revolução tecnológica alterou processos e produtos vários. O próprio sistema econômico
capitalista, segundo Castells (2002), precisou adaptar-se ao novo fluxo de informações e oferecer
maior flexibilidade à sua gestão para se adequar às novas transformações.
O recente desenvolvimento da computação eletrônica de dados, aliada à interligação de
computadores em uma rede mundial, passou a ser o principal instrumento de inovação tecnológica
das últimas décadas. Considerado por Castells como um “novo paradigma tecnológico”:
Quando, na década de 70, se construiu um novo paradigma tecnológico, organizado em torno da tecnologia da informação, principalmente nos Estados Unidos, foi um segmento da sociedade norte-americana, em interação com a economia global e com a geopolítica mundial, que concretizou um novo estilo de produção de comunicação, de gestão, de viver. (CASTELLS, 2002, p.6)
No entanto, o conceito preciso do que são, de fato, essas tão faladas tecnologias da
informação ainda não foi bem estruturado. Contribui para isso a forma indiscriminada como tem
sido empregado o termo muitas vezes como sinônimo de inovação tecnológica. E também por ser
um processo ainda em andamento, as revoluções continuam a acontecer nos grandes centros de
pesquisa e nas garagens de jovens visionários. Tomemos emprestado o conceito de Rodrigues e
Ferrante (1995) a respeito da tecnologia de informação:
Compreende todos os recursos tecnológicos para armazenagem, tratamento e recuperação de dados, que são transformados em informações úteis para a nossa sociedade. Devido à utilização da tecnologia da informação, algumas importantes transformações ocorrem neste momento, principalmente à medida que rotinas físicas ou intelectuais originalmente realizadas por pessoas são gradualmente, e de forma irreversível, substituídas por rotinas executadas por máquinas. (RODRIGUES e FERRANTE, 1995, p.5)
Mas até que ponto esse trecho contempla formas de comunicação como a fala, tratamento e
recuperação de dados, que são transformados em informação? O entendimento que Castells (2002,
p.34) apresenta a respeito da tecnologia trata-a como algo para além dos aparelhos eletrônicos ou
digitais contemporâneos: “Por tecnologia, entendo, em consonância com Harvey Brooks e Daniel
Bell, ‘a utilização do conhecimento científico para especificar as vias de se fazerem coisas de forma
reprodutível’.”
A partir de então, podemos sugerir uma definição de tecnologia da informação como sendo
técnicas que ampliam e dinamizam o tratamento de dados e transformam-lhes em informações
necessárias para a realização de ações, estabelecimento de comunicação e ampliação do
conhecimento.
A prensa de tipos móveis, ferramenta criada por Gutenberg no século XV, foi a tecnologia
que permitiu maior circulação de informações. O que não aconteceu tão logo surgiu a prensa, mas
foi responsável por mudanças políticas, ideológicas e religiosas. Acima de tudo, transformou a
narração de viagens e decisões dos seus comandantes em um jornal.
E assim ocorre até os dias de hoje. O exercício cotidiano do jornalismo esteve sempre
relacionado com o desenvolvimento de suportes tecnológicos necessários para estabelecer e
aperfeiçoar o fluxo de informações. Para que esta fosse, e seja a cada dia mais transmitida, de forma
rápida e precisa, facilitando processos de comunicação multidirecional e abrangendo um público
difuso ao redor de todo mundo.
1.2 As Linguagens do Jornalismo na História
1.2.1 Surgimento do Jornalismo
Assim como toda origem se dá pela junção de dois ou mais fatores que se tornam
insustentáveis, o surgimento da atividade do jornalista vem solucionar desníveis de informação
entre grupos social, política ou economicamente distintos. Tal como aconteceu no Império Romano,
tido como palco da primeira publicação periódica de informações sobre a Igreja e ações do Estado:
Roma conheceu antes de Julio César os anais dos pontífices, balanço político de fim de ano. Havia os secretos e públicos. Os primeiros formavam os comentarii pontificum; os segundos, os annales maximi. (...) Depois, com a expansão do império romano surgiu a acta publica, espécie de diário oficial que levava as notícias de cada dia até as províncias. (ROMERO, 1979, p.12)
A publicação dos assuntos políticos do estado romano viria em seguida, com a acta diurna e,
ainda segundo Romero (1979), com a domus augusta teve início a difusão de informações sobre o
império e outras mais variadas.
Só em 1438, com a viabilidade do uso de tipos móveis proporcionada por Johannes
Gutemberg, estava vencido outro problema: aumentar e dinamizar o processo de produção de
textos. O que, no entanto, não representou o instantâneo aparecimento dos jornais, do que viríamos
a conhecer como imprensa. Na realidade, o que determinou a criação do jornalismo foi a
necessidade de comunicação e não o surgimento da prensa em si:
Só quando a circulação de informações tornou-se uma necessidade para os homens é que surgiu a imprensa, pois é a necessidade que viabiliza o uso das tecnologias. A utilização dos elevadores, por exemplo, foi imposta pelas limitações de espaço das cidades, exigindo que elas crescessem verticalmente, e não horizontalmente. (LUSTOSA, 1996, p.38)
Quanto à necessidade de transmitir informações, essa é resultante da ascensão das potências
burguesas e da expansão das fronteiras de que o mercantilismo precisava. O novo modo de
produção trazido por esta classe, com a expansão de seu comércio com o mundo, demandou, como
define Marcondes Filho (1989, p.56), “um fluxo de informações controlável, regulável e
acessível...”. É a partir daí que o invento de Gutemberg é utilizado para criar a imprensa. Pouco
mais de um século depois do aparecimento dos tipos móveis, surgia uma “indústria” que utiliza a
prensa para “beneficiar” a informação, chamada jornalismo.
O aparecimento do jornal está subordinado ao desenvolvimento da economia de mercado e da lei de circulação econômica. Ou seja, o jornal surge como o instrumento de que o capitalismo financeiro e comercial precisava para fazer com que as mercadorias fluíssem mais rapidamente e as informações sobre exportações, importações e movimento de capital chegassem mais depressa e diretamente aos componentes do circuito comercial (MARCONDES FILHO, 1989, p.56)
Sendo mais um instrumento da classe burguesa insurgente, o jornalismo desempenhava a
função de transmitir informações politicamente ou economicamente vinculadas ao capital mercantil.
Já neste período seu caráter diário estava estabelecido. No entanto, seu público era composto por
burgueses ou intelectuais atrelados ao poder da classe burguesa, quebrando com toda tradição
restritiva de conhecimento centralizado no clero e nas academias.
A quebra deste paradigma vertical de circulação de informação é atribuída por Marcondes
Filho (1989) ao jornal: “o advento da impressa simboliza a ruptura com a forma segregada de
armazenar informação”. O jornal tornava público os fatos de notoriedade e informações de
relevância, os fatos ganhavam as ruas através da transformação de um bem abstrato em produto
para comercialização.
A comunicação, como princípio humano de integração social, voltava a circular entre a
sociedade através das folhas do jornal. A informação que transitava de um indivíduo para outro, em
tempos remotos, e ficou depois estagnada e centralizada em instituições como a Igreja e a
universidade, retornou ao grande público pelas mãos dos jornalistas.
1.2.2 Jornalismo Impresso
Esta forma de transmitir informações através dos jornais adquiriu contornos bastante
peculiares. A consolidação do veículo deu-se, em um primeiro momento, dentro da comunicação de
negócios e inseriu-se nos meios públicos da economia, política e cultura, logo em seguida. Com a
conquista de espaços públicos e o aumento do número de leitores, o jornal seguiu aprimorando seu
produto para se tornar um eficiente meio de comunicação de massa.
Enfim consolidado como importante meio de informação, o jornal desenvolve características
próprias que perduram até os dias atuais. E, servirão de base neste estudo sobre as inter-relações
entre os meios.
O primeiro entendimento que se deve ter acerca de um jornal é que ele é uma empresa e,
como tal, possui interesses próprios, não necessariamente ligados a quaisquer segmentos da
sociedade. As informações nele contidas estão distantes de uma representação política ou
ideológica. A criação de um jornal, segundo Marcondes Filho (1989), é “cada vez menos um
resultado do movimento político e cada vez mais uma oportunidade dos que têm capital.” Ainda que
na maior parte das vezes este capital esteja atrelado a expressões políticas, o jornal possui a
liberdade de se posicionar segundo as orientações de seus proprietários.
Sendo uma empresa beneficiadora de informação, a prática do jornalismo precisou aprimorar
a qualidade e a apresentação de sua mercadoria, a notícia. A partir daí, desenvolveu-se uma série de
recursos estilísticos que acabaram por formar uma linguagem jornalística. Um veículo com
linguagem própria é o jornal, mas que também se remodelou com o passar do tempo e o surgimento
de outras mídias.
Lustosa (1996) define o jornalismo como o fruto de um trabalho intelectual que tem por
finalidade transmitir a informação precisa. O mesmo autor apresenta também algumas
características próprias do meio que nos ajudarão a entendê-lo melhor.
O jornal precisa que todos os textos sejam editados e todas as folhas impressas antes de
chegar ao seu público. Desta forma, ele só consegue chegar às mãos dos seus leitores num espaço
de tempo depois de decorridos os fatos. O jornal, de acordo com Lustosa (1996), “trata dos fatos
ocorridos no dia anterior; assim, relata o que passou”. Tal peculiaridade reflete-se no conteúdo da
notícia quando os textos prezam pelas análises mais elaboradas e podem ir além dos aspectos
factuais. Isto pode ser bem explorado pelos meios impressos mas nem tanto pelos eletrônicos que o
seguiram. Ao contrário, eles se voltaram a transmitir os contornos do fato em detrimento das
conseqüências deste para a sociedade. O jornal teve que aprimorar-se sobre este ponto para garantir
sua sobrevivência.
Por circular no dia seguinte aos fatos, o jornal concorre com os veículos que já informaram o que aconteceu, como o rádio, que anda com o cidadão para todo lado (...) ou a televisão, a principal fonte de lazer e informação da população. Então, o jornal tem que oferecer uma refeição completa, já que o prato feito saiu no rádio e na televisão. (LUSTOSA, 1996, p.87).
Reflexão e análise devem ser, segundo Lustosa, sugeridas aos leitores do jornal através de
notícias que expliquem os fatos decorridos e as suas conseqüências futuras.
Os recursos que as empresas adquiriram ao longo do tempo permitiram que o jornal
incorporasse outros elementos além do texto em sua composição. A utilização de barras entre os
textos servia para delimitar cada conteúdo e marcou o início da preocupação com a apresentação
gráfica do texto. A possibilidade de trabalhar com fotografias e ilustrações intensificou a
necessidade do cuidado com a estética do jornal. Desta forma, o texto jornalístico lida diretamente
com dois códigos, o escrito e o visual em uma só publicação. No jornal, fotos e ilustrações além de
flexibilizarem a forma linear da narrativa textual, incorporam significados à informação que o texto
por si só talvez não conseguisse desenvolver.
Outra especificidade apontada por Lustosa (1996) quanto ao jornal é que este “só vale por
um dia, no outro será jogado fora”. Isto está relacionado com o aspecto material do jornal, pois o
leitor dificilmente terá disponibilidade para armazenar jornais em casa. O reflexo disto no
desenvolvimento da linguagem jornalística faz com que o jornalista seja redundante para conseguir
resgatar a memória do leitor. Ainda que guardasse todos os jornais dos dias anteriores, o leitor
jamais iria consultar seu acervo para entender os acontecimentos do passado. A produção da notícia
impressa deve sempre incluir os precedentes e o contexto onde se desenvolvem os fatos. Neste
sentido:
Quando o indivíduo se lembra de algo que leu num livro e tem dúvidas, vai à estante e pega a obra de novo, confere tudo e resolve o problema. Quando isto ocorre com uma matéria que saiu no jornal, não há como recuperar a
informação por que raramente são guardados jornais velhos. É por isso que o jornal está sempre repetindo as informações básicas de matérias publicadas no dia anterior, acrescentando alguns poucos dados novos. (LUSTOSA, 1996, p.87)
A Internet possui, sobre este aspecto, a vantagem de facilitar o acesso às mais diferentes
fontes, opiniões ou relatos feitos em qualquer parte do mundo a respeito de uma determinada
informação. Porém, tal funcionalidade não se apóia simplesmente na boa vontade do leitor de ir
buscar as informações passadas, mas sim na capacidade do jornalista de envolver os contextos e
repercussões dos fatos que estão sendo divulgados. Capacidade que já era requisitada do
profissional dos veículos impressos, e que se transpõe para o meio digital, com a diferença da
quebra da linearidade da leitura que será mais explicada adiante.
Atento às mudanças nas tecnologias da informação, o jornal mantém sólida a sua essência
com o passar dos anos e o surgimento de mídias concorrentes, conservando ainda sua principal
característica: a profundidade. Tanto por ser um veículo de interação eminentemente individual,
como por ter mais espaço para trabalhar com diversas informações em sua edição. Diferente do
rádio e da televisão, o impresso consegue ir mais além quanto à apuração e redação das suas
notícias. O que, conseqüentemente, lhe permite uma abordagem mais cheia de detalhes. Na
concorrência com os meios eletrônicos, o jornal encontrou seu reduto no campo da leitura reflexiva.
Diferente do rádio e da televisão, onde as informações são “puro lides que pouco ou nada dizem
sobre os fatos”, de acordo com Marcondes Filho (1989, p.52).
1.2.3 Radio Jornalismo
As informações que já circulavam impressas em papel encontraram na tecnologia de
transmissão radiofônica do som a melhor maneira de expandir sua penetrabilidade. Foi nas ondas
eletromagnéticas moduladas da radiofreqüência transmitida pelo ar que o jornalismo enxergou um
novo filão a ser explorado. Esta é uma consideração muito simples, incapaz de abranger toda a
revolução que o rádio causou nas formas de comunicação humana, especialmente em seu modelo
mais comercial, o jornalismo. O rádio permitiu que a voz do homem se projetasse para além das
distâncias, tornando dispensável a presença física de um interlocutor para que os demais o
pudessem ouvir.
Se a mídia impressa levou o relato dos fatos aos grandes públicos, o rádio agregou emoção,
agilidade e proximidade com seus ouvintes, a um custo de produção inferior até os dias de hoje.
Como instrumento do jornalismo, as transmissões radiofônicas facilitam a vida do seu público por
fazer a notícia chegar até eles sem exigir a aquisição do jornal para isto.
O radiojornalismo possui uma capacidade enorme de penetrabilidade no cotidiano das
pessoas, é de fácil aquisição e não ocupa toda atenção, apenas o sentido da audição, para que possa
ser acompanhado.
A radiodifusão, no entanto, já era usada para transmitir informações antes mesmo da
confecção do aparelho eletrônico popularmente chamado de rádio. A bordo das ondas
eletromagnéticas, viajavam códigos, tais como o Morse, utilizados para estabelecer comunicação
ente grandes distâncias. Até mesmo o jornalismo impresso usufruiu desses serviços ao receber
informações através do telégrafo dentro das redações.
No Brasil, a primeira locução oficial transmitida pelo rádio aconteceu em 7 de setembro de
1922, quando da comemoração do Centenário da Independência. Cesar (1999, p.33) observa que a
locução do festejado dia foi feita por Epitácio Pessoa, então Presidente da República, que pôde ser
ouvido no recinto da exposição, e chegou até as cidade de Niterói, Petrópolis e São Paulo, devido a
uma retransmissora instalada no Corcovado e de aparelhos para recepção nas respectivas cidades.
Mas tal pioneirismo é ainda cercado de uma polêmica, outras versões dão conta de que o
padre Roberto Landell de Moura conseguiu transmitir sua voz através de radiodifusão ainda em 03
de junho de 1900. E também de que em 1919, no Recife, Augusto Joaquim Pereira junto com Oscar
Moreira Pinto fundaram a Rádio Clube de Pernambuco que passou a adotar esse nome em 1923. Tal
nome foi atribuído inspirado na Rádio Clube do Rio de Janeiro, fundada por Roquete Pinto, em 20
de abril de 1923.
Com os pormenores ainda não totalmente esclarecidos, o fato é que só no ano seguinte à
transmissão presidencial tem início a formação das rádios comerciais:
Somente em 20 de abril de 1923 é que surgiu a primeira emissora, fundada por Edgard Roquete Pinto, na Academia Brasileira de Ciências, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro com o prefixo PRA-A. Logo depois Elba Dias fundou a Rádio Clube Brasil PRA-B. Em São Paulo a primeira emissora foi a Educadora Paulista, em 1924, presidida por Vergueiro Steidel. (CESAR, 1991 p. 34)
No entanto, o rádio não se tornou imediatamente um veículo das massas. O preço do
aparelho era elevado, pois tinha de ser importado. A programação estritamente cultural e erudita
eram outros fatores que não despertavam o interesse dos ouvintes pela nova mídia. O slogan da
Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, citado por Cesar (1990, p.34), traduzia bem o princípio do rádio
no Brasil: “Trabalhar pela cultura dos que vivem em nossa terra e pelo Brasil”.
Os anos trinta marcam a popularização do rádio no Brasil. Contribui para isso, a redução no
preço dos aparelhos, a inserção de programas humorísticos, de auditório e maior número de música
popular durante a programação. Além da Rádio Nacional, inaugurada em 1936, no Rio de Janeiro
O seguir dos anos trouxe outros elementos ao rádio: a utilização dos transistores, tapes,
satélites e a telefonia móvel dinamizaram o processo de comunicação e ampliam a atuação do rádio.
As tecnologias da informação vão se juntando ao meio e modificando a forma de fazer rádio, a
técnica de levar informações através das ondas moduladas.
Mas a linguagem utilizada no rádio possui características próprias, essenciais para se
enquadrar ao meio, ainda que este tenha, a cada dia, novos concorrentes no mercado. O rádio
precisou entender o seu papel para melhor se posicionar e se diferenciar dos demais veículos dentro
do mercado.
O jornalismo feito no rádio possui a necessidade de abastecido constantemente por notícias,
precisa passar a informação antes do jornal impresso e antes mesmo que seu ouvinte vá para casa e
ligue a TV. De certa forma, defende Prado (1989, p.10), o rádio abandonaria sua agilidade e
imediatismo:
Não se pode mais apoiar na fonte do jornalismo impresso, no artigo “gilete-press”. Recortar notícias de jornal e lê-las no ar. O rádio jornalismo tem que estar à frente dos jornais. Nunca a reboque. O rádio repercute hoje as notícias que o jornal vai publicar amanhã. (PRADO, 1989, p.10)
O som é o elemento utilizado pelo rádio para informar seus ouvintes. Até então, nenhuma
novidade, Mas são as vantagens e limitações do som da fala humana que concebem toda estrutura
da linguagem utilizada no rádiojornalismo.
O código sonoro de uma língua é mais facilmente compreendido do que sua representação
escrita. Este ponto favoreceu a popularização do rádio no Brasil devido ao déficit educacional de
que faz vítima nossa nação. Mas isso não o restringe aos analfabetos, a diversidade do seu público é
uma constante no rádio. A recepção das informações se dá em lugares e situações as mais diversas,
devido à autonomia que os transistores possibilitaram aos aparelhos, projetando diversas situações
de uso.
A primeira exigência que a notícia radiofônica deve atender é ser clara o suficiente para
suprir a falta de imagens na informação. O ouvinte necessita de uma linguagem nítida para
compreender a informação e formar as imagens que estão encobertas pelas palavras.
Tal clareza também importa pela temporalidade da notícia no rádio, que também pode ser
amenizada com a repetição das informações principais. Porchat (1993) enfatiza:
A audição é passageira. Não se pode voltar atrás para ouvir uma informação que não se entendeu. Muitas vezes liga-se o aparelho no meio de uma reportagem. Novamente surge a imposição de uma linguagem nítida e também repetitiva, com relação às idéias básicas de uma informação. É preciso saber quando e como repetir, para não cansar o ouvinte (PORCHAT, 1993, p.97)
Além de enfatizar a informação principal, a repetição possibilita o entendimento da notícia a
pessoas que não a acompanharam desde o início.
O texto radiofônico deve ser dito ao ouvinte, não apenas lido. De modo geral, ele sempre está
fazendo outra coisa enquanto ouve rádio. É preciso ser dinâmico e invocar sua atenção. Em seu
manual de rádiojornalismo da Jovem Pan, Porchat (1993) ressalta que tal invocação deve sempre
buscar uma identificação dos ouvintes para que aquela informação possa se aproximar de seus
meios e de sua maneira de pensar.
Em suma, a eficácia da notícia radiofônica e o reconhecimento da relevância do meio só
serão obtidos através dos seguintes elementos: veiculação da informação instantaneamente, ou
quase simultaneamente ao fato, riqueza de detalhes da informação que possibilite ao ouvinte formar
imagens em sua mente. Tudo isso de forma clara e breve, pois é o mais importante no
radiojornalismo.
1.2.4 Telejornalismo
A história da civilização humana confunde-se com a história dos meios que seus integrantes
criam para comunicarem-se. Dentre estes meios, a televisão ocupou uma posição de relevância nas
últimas décadas do século XX por sua penetrabilidade e potencial informativo. E isto por dois
motivos: a possibilidade desta mídia não exigir de seus receptores nenhuma instrução prévia, tal
como acontece com o texto, que exige regras, convenções e repetição para ser decodificado. E a
dinâmica estimulante das imagens que desperta os sentidos dos que estão frente à TV.
Por incorporar a imagem ao som, a televisão poderia afastar de si a audiência dos ouvintes
habituados com o rádio, que tinham a possibilidade de realizar outras atividades enquanto se
mantinham informados. A TV exigiu do receptor a mesma atenção que este tinha com relação à
leitura. E, para assegurar esta atenção, desenvolveu uma linguagem própria, rápida, envolvente e
enfática.
O jornalismo tem se valido com grande presteza dessas características. A notícia
televisionada une elementos de forma tal que às vezes se sobrepõem, ultrajam, adaptam ou
superestimam a própria realidade dos fatos. “a TV surge com uma arma poderosa e (por que não?)
infalível: a imagem da notícia – a informação visual” (PATERNOSTRO, 1987, p.87).
No entanto, o uso de informação visual em si não representa nenhuma novidade. Hieróglifos,
pictogramas, o próprio alfabeto, a fotografia e o cinema são formas de registro que comprovam a
tentativa do homem de comunicar-se através de imagens, das coisas ou dos sons. E a TV nada mais
é do que a evolução técnica destes suportes. O que não impede Sodré(1984) de questionar a
necessidade de criação da televisão:
A televisão, com contrário [do rádio], não veio atender nenhuma espera específica e preexistente da comunicação visual. Surgiu diretamente do meio técnico, como resultado da crescente autonomia dos bens eletrônicos (do mercado) com relação às carências humanas. A televisão é uma técnica, um eletrodoméstico, em busca de necessidades que a legitimem socialmente. (SODRÉ, 1984, p.14)
Mas o que mais poderia surgir que não fosse fruto da técnica, criatividade ou acaso?
Já Paternostro (1987, p.17), considera o surgimento da TV mais uma tentativa do homem de
vencer as barreiras do tempo e do espaço. “É nesse processo – urgente, avassalador – que surge a
televisão, com a informação na sua forma mais dinâmica e universal: através da imagem”.
Os aspectos históricos da criação da TV são bastante dispersos e é impreciso afirmar
exatamente quando ela surgiu. Tratam-se de sucessivas descobertas científicas que pouco a pouco
foram aperfeiçoando o modo de captação e transmissão da imagem para longas distâncias.
Já em 1917, o químico sueco Jackob Berzelius percebeu que o selênio tinha sua corrente
elétrica modificada quando a luz incidia sobre ele. Vinte e quatro anos depois, Paul Nipkow
construiu um disco de ferro com furos eqüidistantes e em espiral para subdividir uma imagem em
pequenos pontos quando girado. Mas foi só a partir da criação do iconoscópio de Vladimir
Zworykin em 1923 que a televisão começa a sair dos laboratórios e ir ganhar os lares. O
iconoscópio permitia a análise eletrônica da imagem através de células fotoelétricas. Zworykin
trabalhava para a norte-americana RCA (Radio Corporation of America) e, a partir de então, a
indústria tem impulsionado os aperfeiçoamentos da TV. Isto desde a construção das válvulas
elétricas, que permitiram um sistema totalmente eletrônico em 1940, a transmissão de imagens a
cores, a partir de 1950, até a implantação de transmissões via satélite, a primeira deles através do
TELSTAR, em 1962.
A primeira transmissão de TV ocorreu em 1936, na Inglaterra, pela British Broadcasting
Corporation (BBC) quando da coroação do rei Jorge VI. No Brasil, a primeira transmissão de TV
foi realizada em 18 de setembro de 1950. O paraibano Assis Chateaubriand foi quem trouxe os
equipamentos e técnicos dos Estados Unidos para formar a primeira emissora do país: PRF-3 TV
Difusora. Que logo em seguida passou a se chamar TV Tupi de São Paulo. No ano de 1965 surge a
TV Globo, emissora das Organizações Globo, do Rio de Janeiro. A qual, hoje, ocupa uma posição
de destaque no cenário nacional e internacional.
Atualmente, a televisão avança na idade digital. Todo processo, da captura das imagens,
passando pela transmissão e indo até a recepção das imagens acontece sob a forma de bits. E os
padrões para desenvolver este meio incorporam características novas à televisão e ao
telejornalismo. Tais como: interatividade, maior qualidade de áudio e vídeo, suporte para
dispositivos móveis, entre outros.
Com a entrada no século XXI, a Internet surgiu como grande concorrente em um mercado
em que a TV vinha liderando desde a metade do século passado. Três implicações diretas ela sofre
devido à expansão da grande rede: a perda de audiência torna-se cada dia mais evidente, o que
demanda busca por novos formatos para tentar manter-se líder. A segunda é a integração com a
própria rede, usando-a como arquivo ou repositório de vídeos, espaço para discussões, informações
complementares, serviços e outros. E a terceira implicação é a adaptação às novas posturas que o
telespectador assume devido ao seu contato com a Internet. Entre os quais se destacam a vontade de
guiar os assuntos e mesmo intervir no que é veiculado.
“É verdade, juro, passou na televisão”. Assim diz o refrão da música “É Verdade” do grupo
português Terrakota. A televisão é um meio que lida com a realidade de maneira muito intensa. A
forma como a TV veicula suas informações, ainda que de forma superficial, contribui
intencionalmente para a construção desta realidade. Paternostro (1987) nos ajuda a entender esta
superficialidade como um estímulo para o telespectador:
A TV pode “abrir o apetite” dos receptores da mensagem e estimular a investigação, a busca diversificada da informação, uma vez que seu público, tendo tomado conhecimento da dimensão de um fato, pode não se ter satisfeito de forma total. (PATERNOSTRO, 1987, p.35)
Seguindo as características do telejornalismo definidas por Paternostro (1987), discutiremos
alguns pontos que compõem este meio tão questionado e, ao mesmo tempo, tão apaixonante.
A primeira dessas características é a mais evidente e, talvez por isso mesmo, mais
significativa: o uso da informação visual. Uma imagem possui uma carga de significados que mil
palavras não poderiam representar, tal como fala o provérbio. A informação visual não requer
conhecimento de uma língua, nem necessita de traduções. Quando aliada à informação sonora, de
forma redundante ou complementar, formam um signo de grande representatividade.
O imediatismo é outra característica que a TV pôde explorar após a “miniaturização” dos
seus equipamentos e estações de transmissão. Desta forma, consegue noticiar os fatos com maior
agilidade. Mas esta preocupação em noticiar um acontecimento no momento exato em que ele
ocorre pode não ser tão proveitoso para a televisão. Pois o rádio cumpre bem esta função e a TV
possui horários restritos para seu telejornalismo em boa parte das emissoras.
Como terceiro ponto, destacaríamos o envolvimento que a televisão proporciona ao
telespectador. A linguagem televisiva causa um fascínio que por vezes deixa o telespectador alheio
àquilo que o rodeia. Seus sentidos “sintonizam” com o que a televisão propaga ao ponto de eles
sentirem-se transportados para dentro delas. O “plim-plim” da Globo tem a função de despertar o
telespectador para o início ou fim do programa, e que anteriormente, absorto na programação,
levava um susto ou não percebia quando iniciava ou terminava o intervalo comercial.
A penetrabilidade também é um ponto importante da TV. Pois permite àqueles que não têm
acesso à livros ou jornais, informarem-se. Utilizando sistemas de códigos que não demandam um
aprendizado anterior além daquele vivenciado no cotidiano: a imagem e a língua falada.
A informação nesta mídia é também instantânea, aquilo que é veiculado não poderá ser
retomado algum tempo depois. A atenção do telespectador é fundamental para que ele não perca a
mensagem. Segundo Paternostro (1987, p.36): “O conceito de instantaneidade é dos mais
importantes na elaboração do texto jornalístico”. O jornalista deve ter a preocupação de não deixar
que seu texto, que inclui também o aspecto visual, dê margens para que o telespectador fique
disperso.
As emissoras exploram uma concessão pública de rádio difusão. É dever das
empresas cumprir as normas da Agência Nacional de Telecomunicações, Anatel, e servir
ao bem público.
1.3 O Jornalismo na Internet
Por toda parte surgem discussões, os mais diversos autores buscam dissolver o imbróglio,
mas ainda não há um consenso sequer sobre como deve ser nomeada a função do produtor de
conteúdo para os meios digitais. Nem mesmo atribuir-lhe o nome de produtor de conteúdo é de todo
acertado. Pois que falamos da informação como algo que pode ser coletado, manipulado, trocado
(portanto, entre dois ou mais partícipes) e processado.
Webjornalismo, jornalismo online, ciberjornalismo... Afinal, como definir esta modalidade
de jornalismo praticada na Internet? Esta não é tarefa das mais simples. E a cada instante surgem
tentativas de equacionar o problema.
Uma dentre tantas chama-se webwriting, termo que tem origem nos estudos de Jacob
Nielsen, considerado pai da usabilidade (estudo que analisaremos melhor adiante), sobre o
comportamento da informação na mídia digital. Em seu livro intitulado “Webwriting”, Rodrigues
(2006) define a função do webwriting como o conjunto de técnicas que auxiliam na distribuição de
conteúdo informativo em ambientes digitais. Mas ele mesmo questiona-se a respeito da
continuidade do uso deste termo, já que em sua tradução literal – escrevendo na web – restringe um
imenso campo de atuação. Rodrigues fala que o meio, Internet, e a função, webwriter, ainda vivem
seus primeiros momentos, e sugere: “É provável que, em breve, o termo seja substituído por Gestão
da Informação Digital” (RODRIGUES, 2006).
Estamos sentados diante de um rio de bits e não conseguimos enxergar o que corre em seu
leito. Talvez nossos olhos queiram sempre antever as próximas águas, saber o que o futuro nos
reserva, mas não sabemos sequer dar nome ao que se põe aos nossos olhos. Este novo rio, ou
information highway quando falamos da nova mídia, nada mais é do que um caminho de águas, ou
de bytes, e assim deve ser entendido.
Não há motivos para nomear o jornalismo praticado em ambientes digitais com nomes que
fujam de jornalismo digital, jornalismo on-line ou jornalismo na Internet. Da mesma forma como
aconteceu e foi apresentado anteriormente, dentro das outras mídias onde se modifica o nome do
meio, mas persiste o mesmo jornalismo: radiojornalismo e telejornalismo. Cada uma delas exigiu
dos profissionais tradicionais uma mudança na linguagem veiculada e na forma de como lidar com
a informação em cada formato.
O termo jornalismo na Web também não possui total conformidade com nova demanda de
tarefas, pois, ao contrário do que muitos se habituaram a pensar, a Web, ou World Wide Web, não é
sinônimo de Internet. Esta, consiste em uma rede de computadores conectados e descentralizados
que se comunicam através de diversos protocolos, padrões e procedimentos dispostos para execução
de uma determinada tarefa. O protocolo HTTP (Hypertext Transfer Protocol) é utilizado pela rede
Web para que os usuários tenham acesso a um servidor remoto onde estão depositados os arquivos
de foto, vídeo e áudio em formato digital.
Teia de abrangência mundial é tradução literal desta rede que se liga por hiperlinks, criada
por Tim Berners Lee no início da década de 1990. Ela foi responsável pela popularização da
Internet e torná-la acessível aos mais diversos usuários. É a principal responsável por esta revolução
informacional e pela quebra da linearidade de leitura.
Ainda que, já em seu modelo original, a WWW tenha aberto um largo campo de atuação
para empresas de comunicação, ela possui algumas limitações estruturais, que vão sendo
solucionadas ou remediadas aos poucos. Permite apenas que o jornalista lance num espaço físico
aquilo que produziu, reduzindo significativamente as possibilidades de interação dentro do meio. Os
infográficos, que analisaremos adiante, são uma forma de amenizar esse desfalque quanto à
interatividade possível ao simular situações breves onde os leitores percorrem caminhos diversos
para obter a informação que desejam. Mobilidade, personalização de conteúdo e interatividade, ao
ponto de permitir intervenções, são características da Internet ainda não muito utilizadas para
produção jornalística e estão além das possibilidades da Web. Os jogos, blogs e comunidades
virtuais se apropriam melhor de tais recursos e contribuem, por isso mesmo, para o amadurecimento
da Internet. Veremos, no entanto, que a percepção dos jornalistas quanto a essas possibilidades
cresce a cada dia.
1.3.1 O Surgimento da Internet
Não raro é encontrar trabalhos acadêmicos de comunicação que tratem do surgimento da
Internet e dos motivos pelos quais ela foi criada. O que por vezes pode ser repetitivo, considero
fundamental para compreender o comportamento e as futuras mudanças que poderemos
implementar na grande rede.
É preciso ressaltar, por exemplo, que quando a Agência de Pesquisas em Projetos Avançados
(ARPA) dos Estados Unidos contratou a Rand Corporation para que fizesse uma consultoria sobre
os sistemas de comando e controle. Pois estavam preocupados com a ameaça eminente vinda do
bloco comunista durante a Guerra Fria. Esta consultoria resultou em 1964 nos estudos chamados
“Sistemas Distribuidos” e propunham mudanças num ponto central das informações: a hierarquia.
Entre outras recomendações, a consultoria sugeria a criação de um sistema de comunicação
não-hierárquica, em substituição ao sistema tradicional, e a implementação de redes de comutação
de pacotes, os quais garantiam que o comando e o controle dos Estados Unidos pudessem
sobreviver no caso de um ataque nuclear maciço destruindo o Pentágono. (PINHO, 2003, p.22)
Comunicação não-hierárquica e comutação de pacotes, eis os pontos-chave de uma boa rede
de terminais interligados. O primeiro ponto apresenta uma distribuição de informação a partir de
diversas origens, sem que nenhuma fonte seja exclusiva. Já a comutação, permite que qualquer
caminho seja seguido para transmitir uma informação de forma segura e efetiva.
A ARPA decidiu unir-se com universidades e centros de pesquisa para colocar em prática
este sistema. Nascia, assim, de forma experimental, em 1969, a mãe de todas as redes de
computadores: a ARPAnet.
Quatro anos mais tarde, a ARPAnet estabelecia suas primeiras conexões internacionais com
Inglaterra e Noruega. No ano seguinte, 1974, contava com “62 servidores e a necessidade de
aperfeiçoar seu protocolo de comunicação” (PINHO, 2003, p.26). Este protocolo é a “língua” sobre
a qual os computadores “conversam” e, assim, trocar informações.
Foram, então, criados os protocolos TCP (Transfer Control Protocol) e IP (Internet Protocol)
usados em conjunto até hoje. Responsáveis, respectivamente, pela subdivisão da informação e pelo
caminho a ser percorrido entre o emissor e o receptor.
Sucederam-se a formação de outras redes de computadores em empresas, centros de pesquisa
e países diversos. Só em 1991, todas elas passaram a ser sub-redes de outra que interligava a todas:
a Internet.
Mas este nosso resgate encontra no ano seguinte, 1991, o marco que levou a Internet para o
cotidiano das pessoas, além das fronteiras acadêmicas. Falo da Word Wide Web, ou simplesmente
Web, criada pelo inglês Tim Berners-Lee, que é tida por muitos como sinônimo da própria Internet.
Nada mais é, no entanto, do que uma forma de organizar as informações sob um modelo cliente-
servidor e estabelece comunicação, quando requerida, a um cliente via o protocolo HTTP
(Hypertext Transfer Protocol).
1.3.2 Características da Internet
Para bem entendermos esta modalidade jornalística que se põe em nossa frente, e para
projetarmos suas futuras melhorias quanto à adequação do meio, discorreremos sobre as
especificidades do meio e como isto influencia o conteúdo gerado. É importante percebermos como
a mídia se configura para saber como projetar as informações através dela. Porém, conhecer como
funciona a Internet não é tão simples como entender o sistema de impressão de um jornal, ou a
forma de captura de imagens feita pelas câmeras da televisão. A nova mídia não é um produto
acabado, sua construção ainda está em processo. E, para isto, ela conta com a participação de
cientistas, estudiosos, usuários avançados e usuários comuns.
Ainda que em estágio inacabado, a Internet já possui vida própria e que lhe confere devido
valor no campo das informações mediatas. E o jornalismo hoje praticado neste novo meio também
possui suas especificidades que devem ser conhecidas e melhor exploradas. Da mesma forma,
devemos segmentar sua utilização para que, juntamente com os meios já existentes, seja possível
suprir as mais diversas necessidades de informação. O rádio e a televisão sempre estarão lado a lado
com a Internet, praticando um estilo de jornalismo iniciado no século XX, mas direto e apurado. De
acordo com Rodrigues (2006), o grande avanço trazido pelo jornalismo on line não é, nem nunca foi
o noticiário em tempo real, algo que há muito é utilizado pelo ‘rádio’ e pela ‘televisão’. Além deste,
outros fatores determinantes, fazem da Internet um meio totalmente inovador:
A Internet é uma ferramenta de comunicação bastante distinta dos meios tradicionais – televisão, rádio, cinema, jornal e revista. Cada um dos aspectos críticos que diferenciam a rede mundial dessas mídias – não-linearidade, fisiologia, instantaneidade, acessibilidade e receptor ativo – deve ser mais bem conhecido e corretamente considerado para o uso adequado da Internet como instrumento de informação. (PINHO, 2000, p.49)
A Internet é um aglomerado de redes de computadores que podem trocar informações entre
si, interligados. Esta interligação pode dar-se de forma local, regional e internacional. Formando
redes que, respectivamente, gerenciam computadores de uma empresa/instituição, de uma região
com várias empresas/instituições conectadas e de países, ultrapassando limites geográficos de
qualquer região do planeta.
Fisicamente, a Internet equivale a uma estrada da informação – mais propriamente uma “superestrada da informação”, um mecanismo de transporte que conduz os dados por um caminho de milhões de computadores interligados. Os pacotes de informação viajam então por meio de redes que compõem a Internet, seguindo um caminho que passa por muitos níveis diferentes de redes em vários tipos de linhas de comunicação. (PINHO, 2003, p.42)
Esta rede a que fazemos referência é composta por nós e elos. Os nós são os diversos tipos de
computadores que usam, repetem ou produzem informações. Já os elos, são os canais responsáveis
por transportar fisicamente as informações. Como vimos, a Web é apenas uma das redes que
compõem a Internet. Ela é, atualmente, a mais difundida e utiliza uma estrutura de clientes e
servidores. Os clientes são os responsáveis por gerar e consumir as informações. Já aos servidores,
cabe a função de armazená-las.
Quando, por exemplo, um jornalista deseja publicar determinada matéria na Internet, ele
utiliza um nó (computador) do tipo cliente para esta tarefa. As informações inseridas ali são
guardadas em um servidor (computador) remoto para que outro cliente (computador), independente
de onde esteja ou no momento em que deseje, possa acessá-las para obter a notícia.
A estrutura responsável por realizar este transporte foi baseada, inicialmente na rede de
telefonia. Atualmente, a Internet utiliza-se de cabos de fibra ótica, cabos telefônicos, transmissões
por satélite, microondas, radio e outras tecnologias que funcionam como os elos de conexão.
A rede é também constituída por aparelhos que ampliam os sinais elétricos e permitem um
maior alcance dos elos. E por outros que, como guias, apontam os caminhos a serem seguidos por
uma informação para que ela chegue ao seu destino.
Além de toda esta estrutura física apresentada, a Internet precisa de uma “língua” com a qual
os computadores passam a comunicar-se entre si. Esta língua é chamada de protocolo e cada rede
possui um protocolo específico. A Web é a parte da Internet mais usada pelas empresas jornalísticas
e utiliza o protocolo HTTP definido por Pinho (2003) como:
Protocolo que define como dois programas/servidores devem interagir, de maneira que transfiram entre eles comandos ou informação relativos ao WWW. O protocolo HTTP possibilita que os autores de hipertextos incluam comandos que permitem saltos para recursos e para outros documentos disponíveis em sistemas remotos, de forma transparente par o usuário. Por sua vez, o Uniforme Resource Locator (URL) é o localizador que permite identificar e acessar um serviço na Web. (PINHO, 2003, p.33)
Como pudemos ver, a Web foi responsável por propiciar o surgimento do hipertexto
eletrônico que modificou abruptamente o modo de registro e leitura do pensamento humano. Este
conceito de hipertexto é anterior à Internet. Porém, foi o Hypertext Markup Language (HTML),
linguagem padrão de documentos WWW, que permitiu a criação de documentos com textos, sons,
imagens e animações de forma que pudessem estabelecer elos (links) entre si. Com isto, estava
formado o alicerce para que as informações pudessem ser multimídia e hipertextuais. E também
com um fácil método para lançar/publicar e ler/baixar informações.
A Web é uma grande teia de bancos de dados interligados. Para visitar esses bancos,
necessita-se de um computador, (ligado à Internet através de linha telefônica), de um modem e de
um programa (software) conhecido como browser, que permita a leitura de texto e a recuperação de
material gráfico e sonoro (fotos, gravuras, cores, trilhas sonoras, efeitos de som, etc.). As
informações na WWW estão contidas em sites (sítios, ou simplesmente lugares), cada um dos sites
composto por muitas "páginas", isto é, arquivos em memórias de computadores, integrando textos,
sons e imagens.
Apesar de mais usada, a Web não é a única estrutura disponível na Internet, também para o
jornalismo. O envio e o recebimento de correio eletrônico, o acesso de dispositivos móveis, a troca
direta de arquivos entre dois computadores, o compartilhamento de arquivos em grupos, a conversa
entre pessoas em chats, a formação de fóruns e jogos virtuais utilizam outros protocolos ainda
pouco explorados, sobretudo pelo jornalismo, e que ainda têm muito a nos oferecer.
Vale lembrar, ainda, que o HTML foi concebido inicialmente para transmissão exclusiva de
textos. Aos poucos, os recursos visuais e sonoros incrementaram o projeto que “tecnicamente”
tornou-se uma “gambiarra”. O que não tira os méritos desta criação, mas aponta futuras
modificações necessárias e às quais os profissionais precisarão, mais uma vez, adaptar-se.
Em seguida, apresentaremos um conjunto de elementos que compõem os caminhos possíveis
do jornalismo na Internet. Utilizaremos os conceitos apresentados pelos autores que embasam este
estudo de forma unificada, resumindo, inclusive, nomenclaturas distintas para uma mesma idéia.
1.3.3 História do Jornalismo na Internet
Temos visto ao longo deste trabalho que, assim que surge uma nova mídia, o conteúdo nela
veiculado é, ao menos a princípio, diretamente reaproveitado de outro meio já existente. Com o
passar do tempo, esta nova mídia estabelece-se e passa a produzir seu próprio conteúdo de acordo
com sua demanda. Explorando suas potencialidades próprias para ganhar vantagens sobre os demais
veículos.
Desta mesma forma aconteceu com a Internet, quando as primeiras incursões do jornalismo
trataram-se apenas de transposições do conteúdo publicado em papel. A jornalista e professora de
jornalismo online, Ferrari (2004) descreve a experiência pioneira do The Wall Street Journal:
O pioneiro foi o norte-americano The Wall Street Journal, que em março de 1995 lançou o Personal Journal, veículo entendido pela mídia como sendo o “primeiro jornal com tiragem de um exemplar”. O princípio básico desse jornal era enviar textos personalizados às tela de computadores. A escolha do conteúdo e a sua formação seriam feitas pelo próprio assinante, conforme suas preferências de leitura – depois de escolher suas áreas de interesse, ele receberia, por meio de uma mensagem eletrônica, um portfólio pessoal com notícias sobre tudo aquilo que escolheu. (FERRARI, 2004, p.23)
Depois de certo amadurecimento é que as versões eletrônicas dos jornais passaram a ser
independentes da impressa. Seu conteúdo e organização passaram a explorar, com a devida
propriedade, todo “arsenal” de recursos disponíveis na Internet.
Em seguida a esta consolidação, tivemos o surgimento de empresas exclusivamente on-line.
Com um perfil muito mais inovador sobre as informações que circulavam na Internet, e passaram a
competir em pé de igualdade com os grandes conglomerados de mídia tradicionais.
O próximo passo dado pelos sistemas de produção de informação foi possibilitar ao usuário
(leitor) a possibilidade de não só comentar ou intervir naquilo que era publicado. Passou-se a
estimulá-los para que eles próprios produzissem o conteúdo. Podemos dizer que este é o panorama
atual da Internet, o que leva à discussões acirradas sobre propriedade intelectual, confiabilidade da
fonte, formação do profissional de jornalismo e até mesmo sobre a extinção desta.
De acordo com Ferrari (2004), o primeiro site jornalístico brasileiro “foi o Jornal do Brasil,
criado em maio de 1995, seguido pela versão eletrônica do jornal O Globo”. (FERRARI, 2004,
p.25). Foram os conglomerados de mídia do país os responsáveis pelos primeiros passos do
jornalismo na Internet do Brasil.
Atualmente, além de produzir e dar suporte às informações, as empresas de mídia buscam
prestar serviços aos seus usuários. Seja sob a forma de entretenimento, formação ou informação, as
empresas buscam soluções para determinadas necessidades e não mais apenas “empanturrar” seus
leitores com um grande volume de conteúdo. Detalharemos estas e outras características, além do
comportamento do jornalismo na Internet nesse próximo capítulo. Bem como as inclinações a que
ele possa vir a ter num futuro não muito distante.
1.3.4 Jornalismo na Internet
Entender a convergência de mídias neste nosso estudo, é realizar uma análise de um estado
unido em que todas as formas e instrumentos da mídia por efeito dos computadores, digitalização e
da ligação entre as informações. Este é um novo espaço em que o processamento de informação é
altamente desenvolvido e virtualizado.
Para designar este novo espaço, podemos, no entanto, tomar emprestado o termo
“ciberespaço”, utilizado pelo escritor William Gibson em “Neuromancer”. O termo tem origens no
comportamento de grupos punk e em suas manifestações na Internet: cyberpunk. Parte do princípio
de que a comunicação mediada por computador é espaço para manifestações ao mesmo tempo
individuais, em massa e potencialmente subversiva. Segundo Lévy, o ciberespaço se configura
numa outra dimensão de interação máquina/homem:
“O ciberespaço é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não apenas a infra-estrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo” (LÉVY, 1999, p.17)
Dentre aqueles que “navegam e alimentam” o ciberespaço, os jornalistas possuem atuação
determinante. Tanto por conhecerem e lidarem com informação, como por uma certa “autoridade”
que lhe é conferida por já publicar em outras mídias. Ainda que dentro da Internet, atuem segundo
alguns preceitos diferentes dos que utilizavam em outras mídias. Neste capítulo, analisaremos
algumas destas características do jornalismo na Internet.
Na Internet, não só o texto é fundamental para transmitir uma informação. É preciso que o
jornalista conheça a estrutura daquele veículo que irá utilizar, as formas de distribuir informação
dentro dele e, assim, explorar melhor as possibilidades do seu conteúdo informar bem o ‘leitor’. Em
mídias anteriores, cabia ao editor selecionar as partes que iriam interessar a uma edição do jornal e
encaixá-la da melhor forma possível. O jornalismo na Internet exige do profissional a percepção do
conteúdo dentro de uma disposição adequada e atrativa para o destinatário.
Esta forma de jornalismo tem como suporte de circulação as redes de telecomunicação
mundiais, transmitindo sinais numéricos com suporte à interação com a outra ponta do sistema de
comunicação. Ou, como define Pinho (2003):
Diferencia-se do jornalismo praticado nos meios de comunicação tradicionais pela forma de tratamento dos dados e pelas relações que são articuladas com os usuários. Por sua vez, sendo a Internet uma mídia bastante distinta dos meios de comunicação tradicionais – televisão rádio, cinema, jornal e revista –, o jornalismo digital deve considerar e explorar a seu favor cada uma das características que diferenciam a rede mundial desses veículos (PINHO, 2003 p. 58)
Daremos maior ênfase a esta nova atuação mais adiante. Neste momento, preocupar-nos-
emos com o conteúdo das informações jornalísticas na Internet.
a) Tipos de conteúdo
De acordo com Ward (apud Pinho 2002, p. 182): o conteúdo em sites Web pode ser
classificado como: estático, dinâmico, funcional e interativo.
O primeiro deles, o estático é entendido como informações fixas que não estão sujeitas a
mudanças. Tal como a apresentação de uma empresa e sua política de privacidade.
O conteúdo dinâmico é aquele que está sendo constantemente atualizado. Um exemplo disto
poderiam ser as notícias de um determinado site.
Já o conteúdo funcional, tão informações que atuam como ferramentas em um determinado
site. Os botões de navegação ou uma lista com os principais temas do site, poderiam ser citados
como exemplo.
O último deles, o conteúdo interativo, diz respeito àquela informação manipulada e
produzida pelos usuários. As formas iniciais de interação era apenas lista de discussão e troca de
correio eletrônico. Cada vez mais, os profissionais da comunicação precisam planejar seu conteúdo
de forma a permitir uma interação maior com os usuários. Seja com infográficos, recursos de vídeo,
conversas por chat e outros.
A partir do entendimento destas três classes possíveis de conteúdo, poderemos entender
como a informação na Internet chega até os usuários.
b) Características da Informação on line
É bastante perceptível que as formas de leitura dentro da mídia Internet são muito diferentes
das que encontrávamos antigamente. Sendo o jornalismo um dos principais responsáveis pela
publicação de informações neste meio imprescindível que conheçamos suas características
peculiares.
i) Interatividade
Esta é uma das principais vedetes anunciadas pelas mídias digitais. A possibilidade de
intervir e interagir com determinada obra estimula muitas pessoas, as faz participar de um processo
de transmissão de informação tradicionalmente hierarquizante. O que, no entanto, não nos impedia
de inserir informações sobre as páginas dos livros e enciclopédias das bibliotecas. Sendo, pois, uma
forma de interatividade rudimentar praticada, ainda que, de há pouco tempo atrás.
Com o suporte eletrônico, o “manto sagrado” sobre as obras textuais foi desvelado. O leitor
não é mais constrangido ao intervir na obra de um autor. O filólogo Roger Chartier explica bem as
diferenças entre as duas épocas.
O novo suporte do texto permite usos, manuseios e intervenções do leitor infinitamente mais numerosos e mais livres do que qualquer uma das formas antigas do livro. No livro em rolo, como no códex, é certo, o leitor pode intervir. Sempre lhe é possível insinuar sua escrita nos espaços deixados em branco, mas permanece uma clara divisão, que se marca tanto no rolo antigo como no códex medieval e moderno, entre a autoridade do texto, oferecido pela cópia manuscrita ou pela composição tipográfica, e as intervenções do leitor, necessariamente indicadas nas margens, como um lugar periférico com relação à autoridade. (CHARTIER, 1999, p.88)
Acompanhando este resgate histórico do livro, Lúcia Leão (2005, p.30) em “Labirinto da
Hipermídia” aponta a semelhança entre os textos em rolo e as formas de leitura atuais na Internet.
De acordo com a autora, antes de o livro tomar este formato que conhecemos, em bloco, o textos
eram escritos em rolo, tal como pode ser encontrado na Internet. Em que os conteúdos extensos
precisam ser “rolados” para serem vistos.
Esta interatividade extrapola as possibilidades do texto, vai além da possibilidade de o leitor
atuar sobre a informação veiculada. Decerto, ele torna-se também um emissor de informações e
cada pessoa torna-se uma fonte única de conteúdo também único. O que, segundo Pierre Levy, nos
leva a aspectos civilizatórios ligados ao surgimento desta nova mídia: “novas estruturas de
comunicação, de regulação e de cooperação, linguagens e técnicas intelectuais inéditas, modificação
das relações de tempo e espaço etc.” (LÉVY, 1998, p.13).
A digitalização dos processos de produção e transmissão foi a concretização de um sonho
antigo do pesquisador Ted Nelson:
No início dos anos 60, Nelson propôs o desenvolvimento de um sistema que possibilitasse o compartilhamento de idéias entre as pessoas, no qual cada leitor deixaria seu comentário. Com aspirações cósmicas, o sistema Xanadu, como foi denominado, seria uma espécie de "biblioteca universal". Nele, as pessoas poderiam trocar imagens, sons, filmes, documentos, diálogos, interações, etc. (LEÃO, 2005 p.21)
E esta é se não a melhor, uma das melhores descrições daquilo que se poderia entender
como Internet.
Observando a postura dos leitores da mídia digital, percebemos que se assemelha à dos
antigos leitores dos enormes livros da idade média. Por não ser nada portáteis, estes livros exigiam
do leitor uma postura muito rígida:
A história das práticas de leitura, a partir do século XVIII, é também uma história da liberdade na leitura. É no século XVIII que as imagens representam um leitor na natureza, o leitor que lê andando, que lê na cama, enquanto, ao menos na iconografia conhecida, os leitores anteriores ao século XVII liam no interior de um gabinete, de um espaço retirado e privado, sentados e imóveis. (CHARTIER, 1999, p.78-79)
Traçando um paralelo com os computadores pessoais da atualidade, vemos a mesma postura
dos seus usuários, tal como se comportavam os leitores da antiguidade. A atenção daquele que se
mantém firme sobre a cadeira pode ser uma justificativa de sua interação constante na Internet.
Especificamente para o jornalismo, Pinho (2003) observa a presença da participação do
leitor em fóruns e e-mails enviados à redação que podem ser, em seguida, publicados. Da mesma
maneira são os com etários feitos logo em abaixo de um dado conteúdo em um site noticioso.
Este é um tipo de interatividade limitada, em que o há apenas uma troca momentânea de
conteúdo. Uma real interatividade passar muito mais pela palavra “intervenção”. Quando o leitor,
através de um comentário acerca de um conteúdo, influencia diretamente na produção deste,
modificando a informação inicial. Seria uma espécie de retroalimentação definida por Pinho (2003)
como um modelo de três vias que envolve “a contribuição de usuários para usuários tanto quanto o
jornalista. Essa triangulação pode ser multiplicada ad infinitum, como o modelo de uma estrutura
molecular” (PINHO, 2003 p.145).
Bruno Rodrigues, autor de Webwriting, reforça a importância da interatividade no conteúdo
jornalístico da Internet: “o constante relacionamento entre um site e seu visitante produz um
conteúdo realmente útil e desejável, e cria um laço forte e duradouro entre as partes.”
(RODRIGUES, 2006 p. 78)
O jornalismo abandona seu caráter de “palestra” e passa a ser encarado como
uma conversa entre o autor e o leitor, os quais revezam seus postos constantemente.
“No webjornalismo a notícia deve ser encarada como o princípio de algo e não um fim
em si própria. Deve funcionar apenas como o 'tiro de partida' para uma discussão com os
leitores. Para além da introdução de diferentes pontos de vista.” (CANAVILHAS, 2001,
p.03)
ii) Hipertextualidade
A Web foi concebida semelhante ao modelo Xanadu do qual falamos anteriormente. Desta
forma, boa parte dos textos nela presente estabelece uma ligação com o um outro. A esta relação,
dá-se o nome de link. Que nada mais é do que o elo entre uma palavra, expressão ou outro
componente e um documento na Web.
Esta possibilidade de ligação expande as fronteiras de um assunto em um texto. É como se,
ao tratar de um determinado conteúdo, o autor pudesse expandir, ou não, uma determinada
informação sobre algo do texto inicial. Daí, surge uma modalidade de texto conhecida como
hipertexto, definida por Pollyana Ferrari como:
Um bloco de diferentes informações digitais interconectadas é um hipertexto, que, ao utilizar nós ou elos associativos (os chamados links), consegue moldar a rede hipertextual, permitindo que o leitor decida e avance sua leitura do modo como quiser, sem ser obrigado a seguir uma ordem linear. Na Internet não nos comportamos como se estivéssemos lendo um livro, com começo meio e fim. Saltamos de um lugar para outro – seja na mesma página, em páginas diferentes, línguas distintas, países distantes etc. (FERRARI, 2004 p.42)
Já Leão (2005, p.27), trabalha o conceito destes blocos de informação sob a forma de lexias.
Para ela, uma lexia é uma unidade básica de informação e “pode ser formada por diferentes
elementos, tais como textos, imagens, vídeos, ícones, botões, sons, narrações, etc.”
Os links, da forma como nos apresenta Pinho (2003), têm a função de dar profundidade à
informação. Servem para oferecer dados complementares e explicar o significado de abreviaturas e
termos técnicos. Os vínculos precisam mostrar claramente aos usuários para onde eles estão indo e
por que eles devem ir, facilitando sua caminhada (navegação) entre os hipertextos.
Vicente Gosciola (2003) nos apresenta alguns tipos de links que podem ser construídos
através de um trabalho de Landow chamado: Hyertext 2.0: the Convergence Contemporary Critical
Theory and Technology. De acordo com o autor (GOSCIOLA, 2003 p.82), as formas de link
utilizadas por autores de hipertexto podem ser:
lexia-lexia unidirecional: permite a passagem de um documento para outro sem a
possibilidade de retorno; quando o link é usado com documentos muito grandes, pode
desorientar o leitor;
lexia-lexia bidirecional: permite a comunicação entre dois documentos, possibilitando o
retorno pelo mesmo caminho;
lexia-lexia (linha- palavra ou frase): orientação simples de sentido por um ponto de partida
retórico quando um link está anexado a uma palavra; é a forma mais utilizada para links na
Web, promovendo a desorientação se não for bidirecional;
linha-linha: leva o leitor a um trecho ou a uma palavra exata de uma lexia para outra;
conexão um-para-muitos: oferece alternativas de linhas e lexias, podendo atender
suficientemente à demanda do leitor;
conexão muitos-para-um: leva de diversos textos para um texto que faz múltiplas referências;
personalizada (typed link): limita o link a um tipo específico de relacionamento.
Leão (2005, p.32) propõe uma tipificação links diferente, de acordo com o local da lexia
para o qual o link aponta. São dois tipos segundo a autora: link conjuntivo e link disjuntivo. O
primeiro estabelece uma relação simultânea com outra lexia, do tipo “e”. Sem que, para acessar uma
informação adicional, o leitor precise desviar a atenção do texto original. Já no segundo tipo, o
leitor é levado para outro ponto do sistema, distante do inicial. Estabelece, então, uma relação
separada do tipo “ou”.
A mesma autora traz uma contribuição significante do ponto de vista do entendimento
daquilo que se tornou o leitor da mídia digital. Algo que possui um papel de difícil entendimento,
mas primordial para os que pretendem produzir conteúdo na internet. Para Leão (2005), o termo
leitura designa hoje em dia a atividade daquele que interage com um sistema de informações:
O sentido desse termo, importado do universo da escrita, deve ser ampliado para esta discussão. Segundo pesquisas em Ciências Cognitivas, os textos hipermidiáticos exigem de seus leitores dois tipos de habilidade. A já conhecida habilidade de compreender um texto convencional continua sendo básica. Mas, além disso, o leitor deve adquirir a habilidade de "navegar" pelo espaço multidimensional do sistema. (LEÃO, 2005 p.118)
Antes de detalhar as conseqüências desta leitura fragmentada, trataremos da forma como o
som e a imagem, sob o formato digital, compõem a informação na Web.
iii) Multimediação ou Convergência
Ao longo deste estudo, observamos a tentativa da humanidade de representar suas
informações sob diferentes formatos: imagem, som e texto. De um ponto de vista comercial,
jornalístico, destas informações, os suportes foram criados em ordem inversa. Primeiro pudemos
imprimir textos em série, depois transmitir sons a longas distâncias e, por fim, a imagem levada de
um ponto a outro.
Mas, foi só a partir da transformação destas informações em bits (sistema numérico binário,
com dois dígitos, utilizado por computadores) que pudemos manipulá-las de forma mais harmônica
e prática. A digitalização deu ao homem uma nova possibilidade de registro, captação, troca,
transmissão, recebimento e interpretação da informação. Criou-se, assim, a possibilidade de unir
texto, som e imagem de forma simbiótica e integrada para lidar com a informação: a multimídia.
Aliada à interligação das pessoas em uma rede mundial, cada computador passar a ser um
poderoso centro de produção e distribuição de multimídia. Como apresentamos anteriormente, a
Web foi concebida para trabalhar eminentemente com textos. No entanto, ao longo do tempo,
algumas adaptações foram sendo feitas de forma a permitir a veiculação de informações sobre
outros formatos através da Internet.
A partir de então, abriu-se uma gama de possibilidades para a transmissão de conteúdo.
Audição e visão tornaram-se ao máximo estimulados pelas características antes presentes apenas
com o cinema, rádio e televisão. A multimídia apela diretamente na emoção, através da
sensibilização dos sentidos:
Ao registrar e difundir – seja em som ou imagem em movimento – o que não possuiria o mesmo impacto em texto, fotografia ou ilustração, os produtores de conteúdo conseguem abarcar a informação sem perder um aspecto que seja e ainda contem com a ajuda integral dos sentidos que garantem a observação e a atenção do usuário: a visão e a audição. (RODRIGUES, 2006, p.37)
Para o leitor, esta não é apenas uma forma atrativa de apresentar um conteúdo, mas sim uma
forma melhor de transmiti-lo. A informação multimídia pode se dar de forma redundante ou
complementar. Desta maneira, o leitor poderá escolher por seu formato de mídia preferido ou por
um aprofundamento daquela informação inicial.
A convergência de mídias na web se dá quando da integração entre os vários elementos de
informação: texto, gráfico, tabela, fotografia, ilustração, áudio e vídeo. De acordo com Ferrari
(2004, p.48), cabe ao profissional estabelecer critérios de predileção quanto à melhor mídia:
Os jornalistas on-line precisam sempre pensar em elementos diferentes e em como eles podem ser complementados. Isto é, procurar palavras para certas imagens, recursos de áudio e vídeo para frases, dados que poderão virar recursos interativos e assim por diante. (FERRARI, 2004, p.48)
Em virtude de questões estruturais, a transmissão de vídeo através da Internet não ocorre de
maneira ideal, ou próxima da já popular televisão. Isto, de certa forma, aliada à baixa qualidade do
vídeo, reduz o impacto deste sobre os internautas. Mas não impede a imagem de atuar com muita
expressão sobre o imaginário. Nicholas Negroponte nos fala um pouco sobre tal influência do vídeo
digital: “A multimédia interativa deixa muito pouco espaço para a imaginação. Tal e qual um filme
de Hollywood, a narrativa multimídia inclui representações tão específicas que deixa cada vez
menos espaço para a fantasia.” (NEGROPONTE, 1995, p.13)
Esta nova mídia se apresenta crescente e interativa, permite aos consumidores escolher quais
recursos de informação desejam, quando, quais e sob qual forma desejam ter acesso a eles. Para
entender tais exigências devem existir, por parte do profissional de jornalismo, a preocupação com
sua informação noticiosa, com a melhor forma de transmiti-la. Mas também com a estrutura e
formato idéias para levar seu conteúdo até os leitores.
iv) Não-linearidade
Os hábitos de leitura na mídia digital foram radicalmente transformados. Nos três tópicos
anteriores vimos como a informação tornou-se mais interativa, hipertextual e multimídia. Estas
características incorrem em mudanças na forma de ler que os usuários precisaram desenvolver.
A leitura é uma apropriação individual de significados. O pensamento de quem lê não
obedece, portanto, a mesma ordem seqüencial daquele que escreveu determinado texto. O primeiro
reescreve à sua maneira as informações que lhe chegam.
Por inserir recursos multimídia ao texto da Web, o conteúdo veiculado em mídias digitais é
também chamado de hipermídia. Seguindo os caminhos apontados por Leão (2005), hipermídia
pode ser entendida como:
A possibilidade de estabelecer conexões entre diversas mídias e entre diferentes documentos ou nós de uma rede. Com isso, os elos entre os documentos propiciam um pensamento não-linear e multifacetado. O leitor em hipermídia é um leitor ativo, que está a todo momento estabelecendo relações próprias entre diversos caminhos. Como um labirinto a ser visitado, a hipermídia nos promete surpresas, percursos desconhecidos (LEÃO, 2005 p.16)
Com esta série de caminhos a ser percorrida, percebemos que a realidade alienante da
hipermídia, assim como falou Negroponte, não se apresenta plenamente verdadeira. O texto em
hipermídia estimula associações mentais do leitor, bem como sua capacidade de raciocínio. Além
do mais, como já vimos, o leitor encontra-se em posição de ação, sempre disposto a colaborar e
interagir com aquilo que lhe é informado.
A não-linearidade da informação na Internet exige que o material mostrado na tela do monitor suscite no leitor a confiança de que ele encontrará no site a informação procurada. O redator do texto precisa antecipar o motivo pelo qual o usuário está visitando aquele site e certificar-se de que o que ele vê tem um contexto estabelecido, uma navegação apropriada e, por último, vai satisfazer plenamente as suas necessidades de informação. (PINHO, 2003 p. 50)
Referenciando o trabalho de Radfahre (apud PINHO, 2003, p.186), Pinho aponta cinco
regras para facilitar a criação de modelos não-lineares por parte dos jornalistas:
Escreva pequenos textos, independentes entre si, mas com elementos em comum;
Marque todas as palavras de cada texto que possam servir de conexão com outros textos;
Crie tabelas de conexão, marcando, para cada texto, quais são os textos que levam a ele e quais
são os que saem dele;
Organize as ligações, evitado “afunilamentos”: textos com muitos pontos de entrada ou de saída
e
Estruture esses textos em uma hiper-retórica, dando ao visitante a falsa impressão de controle
sobre os links, enquanto o leva para o ponto desejado.
v) Personalização de Conteúdo
A recriação do conceito de McLuhan sobre a Aldeia Global encontra conseqüências diretas
na produção de conteúdo para a Internet. Nela, tal como numa cultura de tradição oral, as
informações costumam atingir seu público específico analogamente a uma conversa entre dois
indivíduos de uma mesma tribo, aldeia.
A mesma proporção de interatividade vista nas mídias digitais deve ser correspondente à
personalização do conteúdo aos leitores. Cada texto desdobra-se em caminhos únicos para cara
indivíduo. As opções de multimídia que ele utiliza para percorrer também personalizam seu
conteúdo. Além de tudo isto, há ainda a construção individual das relações entre as informações, a
interpretação livre.
Mas o ponto central da personalização de conteúdo na Internet reside na possibilidade de
estabelecer comunicação “ponto-a-ponto” com um usuário. Ou, ao menos, fazê-lo ter esta sensação
ao assimilar um determinado conteúdo.
Não há, muito embora, uma personalização significativa de sites noticiosos. Pois estes não
têm, ou não dedicam, recursos suficientes para lidar com cada usuário em particular. Ainda não é
plenamente seguro oferecer um serviço personalizado sem gerar riscos de confidencialidade para as
informações dos usurários.
vi) Instantaneidade
O uso de computadores dinamizou bastante o processo produtivo de informações em todas
as mídias. A informatização dos sistemas trouxe uma maior e melhor dinâmica nas ações de
apuração, redação, edição e publicação. No entanto, pela natureza do veículo, nenhum dos antigos
meios tem a possibilidade de manter-se atualizado do webjornalismo. Por um simples fato: ele não
tem “edição” para ser fechado, ao menos em boa parte das publicações.
Ao passo que o jornal impresso, o rádio e a TV têm horários limitados para chegar aos
leitores e uma estrutura burocrática de produção, a Internet tem uma “edição que nunca acaba”.
Ainda que não seja uma exclusividade da Internet, pois no século XX o rádio e a TV consagram a
transmissão direta em tempo real de notícias e eventos esportivos. Como bem nos recorda Pinho
(2003), este é apenas uma exceção à regra:
Na maioria das vezes é preciso esperar pelas notícias no telejornal da manhã ou da noite, ocasiões em que as pessoas estão no meio de um tráfego congestionado, tentando chegar em casa. O jornal é ainda mais lento: os fatos precisam cobertos pelo repórter, a notícia é redigida e editada, as máquinas precisam rodar o jornal e, finalmente, ele precisa ser distribuído para as bancas e entregue nas residências e nos escritórios. (PINHO, 2003, p.51)
Já Rodrigues (2006), mostra-se mais cauteloso quanto ao jornalismo instantâneo da desta
mídia digital:
Noticiário em “tempo real” - ou “real time” - não é, nem nunca foi, o grande avanço do jornalismo online. O século XX consagrou este estilo mais do que necessário de apuração e que mudou para sempre a face do Jornalismo. Mas em seu Panteão, sempre estarão, lado a lado, rádio e televisão. (RODRIGUES, 2006 p.42)
Através de informações de registro geradas por cada usuários e salvas em seu computador
(cookies), as publicações online poderiam disponibilizar informações ainda mais personalizadas ao
seus leitores.
vii) Perenidade
O jornal impresso, dias depois de sua publicação, perde sua utilidade e é desprezado, sendo
usado até como papel para enrolar peixe fresco. Diferentemente, o jornalismo na Internet, permite
que as informações publicadas estejam sempre disponíveis a qualquer instante.
Esta forma de armazenamento de dados não ocupa muito espaço físico e permite manter
uma série de arquivos de informações acessíveis a quem quer que seja. Muito mais, a informação na
Internet permanece, se expande, agrega e constrói células de informação de alta longevidade.
Preocupar-se com o rumo que sua notícia terá depois de publicada nas principais páginas de
um site é função também do profissional de Internet. Rodrigues (2006) cita como exemplo o caso
em que o The New York Times constatou grande número de visitas aos seus conteúdos antigos:
É hora de nos preocuparmos com o que já foi destaque na primeira página e hoje está acumulando poeira nos porões dos nossos sites. Hoje, o nyt.com cobra pelo acesso às profundezas, e nelas também mora, agora, um reluzente pote de ouro...(RODRIGUES, 2006, p.42)
Por vezes, nem sempre o “real time” é a garantia de leitores e receita para um site.
c) Escrevendo para Mídia Digital
i) Planejamento
Existem dois tipos planejamento necessário para aqueles que desejam iniciar-se no
jornalismo online. O primeiro deles é a concepção de um sistema de notícias capaz de integrar
diversas mídias, estruturalmente preparado para trabalhar de forma adequada. O segundo
planejamento a ser feito é o planejamento de cada notícia. Ainda que seja por um curto espaço de
tempo, é preciso pensar sobre que estratégias adotar para produção de determinado conteúdo. Como
adequar o conteúdo ao formato, visando interação e leitura hipertextual por parte do leitor.
Pinho detalha uma das formas de planejamento do conteúdo para um site jornalístico:
O ideal é fragmentar as reportagens maiores em textos mais condensados, divididos em vários documentos ligados entre si por links. Esta organização permite que uma matéria seja editada em partes complementares, por camadas de aprofundamento ou interesse. O primeiro documento conteria as informações principais e os seguintes, dados mais detalhados, incluindo estatísticas, mapas, gráficos, imagens, animações e trechos de áudio e vídeo. (MANTA apud PINHO 2003, p.206)
ii) Leitura e Linkedição
Como vimos nos tópicos anteriores, a internet possibilita uma leitura esfacelada de um
conteúdo. Algo que a princípio não se apresenta tão nítido para o leitor, mas que deve ser tratado
com atenção pelo autor das informações. Para desenvolver este tipo de leitura, o autor precisa
adequar sua informação às possíveis interpretações dos leitores.
Para isto, deve trabalhar com a linkedição de textos dos textos. Que nada mais é do que a
construção dos pontos de conexão entre os diversos documentos Web de um site. Os links
emprestam profundidade a um texto. Devem, pois, ser preparados com cautela buscando facilitar a
navegação dos seus leitores.
Segundo Pinho (2003, p.189), o leitor é favorecido quando a frase do link permite uma clara
compreensão sobre o assunto para o qual ele está sendo direcionado. Desta forma, a dica para usar
links é sobre as palavras chaves de determinado documento e não em expressões do tipo “clique
aqui para continuar lendo”.
iii) Pirâmide Inverdita e Deitada
A pirâmide invertida é um modelo de apresentação de conteúdo largamente utilizado na
Internet. Tem sua origem ainda nos jornais impressos e consiste na apresentação das informações
por ordem decrescente de importância. Pinho dá maiores detalhes sobre esta técnica: “O redator
inicia o parágrafo de abertura contendo um resumo da história, uma conclusão ou os fatos principais
(o lide, que no texto informativo deve responder às questões básica: o quê, quem quando, onde,
como e por quê) (PINHO, 2003 p.207-208)
Temos, no entanto, um conceito apresentado por Canavilhas chamado pirâmide deitada.
Trata-se de um diagrama que considera um ponto inicial com menos informação, indo até os níveis
mais profundos de informação. São estes os níveis: Unidade base, Unidade de explicação, nível de
contextualizar e nível de exploração.
A pirâmide deitada é uma técnica libertadora para utilizadores, mas também para os jornalistas. Se o utilizador tem a possibilidade de navegar dentro da notícia, fazendo uma leitura pessoal, o jornalista tem ao seu dispor um conjunto de recursos estilísticos que, em conjunto com novos conteúdos multimédia, permitem reinventar o webjornalismo em cada nova notícia. (CANAVILHAS, 2006, p.16)
iv) Webwriting
No entanto, Rodrigues (2006, p.11) traz outra visão sobre a atuação do jornalista dentro dos
veículos de mídia online. Para ele, este profissional chama-se webwriter e a ele cabe a tarefa de
aliar texto, design e tecnologia num componente único: a informação. Webwriting é o conjunto de
técnicas que auxiliam na distribuição de conteúdo informativo em ambientes digitais.
Esta nomenclatura é usada pelo fato de o autor entender que “quem lida com jornalismo on
line são as versões para internet de veículos noticiosos impressos” (Rodrigues, 2006 p.12). Abaixo
segue algumas das características fundamentais para o webwriting:
(1) Persuasão
O redator tem em suas mãos o poder de fisgar leitores. Muito mais do que convencê-los, é
preciso cativar um público fiel ao seu texto. Abordar todos os aspectos possíveis de um tema e
exibi-los por partes pode satisfazes as necessidades de informação de um leitor sem deixá-lo
cansado.
Não importa a informação a ser apresentada, seja ela uma notícia em tempo real, um serviço de utilidade inquestionável ou um texto institucional esclarecedor, quem precisa criar interesse ao que está sendo apresentado e tornar clara a informação é o redator web. (RODRIGUES, 2006 p.13)
(2) Objetividade
Este preceito é um padrão de toda informação jornalística. Concisão nos conteúdos,
limitação ao tema tratado e outras especificações. Na Web, no entanto, não ocorre exatamente desta
maneira. Há necessidades do leitor que precisam ser satisfeitas. E que, se não forem atendidas,
implicarão em uma fuga de atenção do seu para outro site que as corresponda.
“Mais que auxiliar o usuário a encontrar o que procura, a função do redator web é lapidar a
informação, oferecendo apenas os aspectos de real interesse e descartando o que não possui
funcionalidade” (Rodrigues, 2006 p.15). Objetividade na Internet não quer dizer brevidade ou
simplicidade. Está mais próximo de “cumprir uma meta”, “atingir um objetivo”.
(3) Navegabilidade
Este é um conceito novo para os profissionais que migraram de outras mídias para a redação
web. Para cumprir as metas de que falamos no ponto anterior, é preciso orientar de forma adequada
o leitor de um site. Para isso, um estudo sobre a distribuição das informações dentro do site, aliado a
um bom uso de ligações (links) dentro de cada página, poderão instrui bem seus visitantes.
Rodrigues (2006) alerta para a importância que o link possui dentro da composição do
hipertexto. E que esta é chave que permite aos usuários navegar entre as páginas de forma
adequada.
Quando o conteúdo é bem trabalhado, o redator apresenta uma informação, sugere aspectos que possam complementá-la, aponta assuntos correlatos e, quando as possibilidades se encerram, recomenda outro site onde o usuário possa expandi-la (RODRIGUES, 2006, p.17)
Ainda segundo o autor, os links podem sugerir páginas dentro ou fora do próprio site. Para o
primeiro caso são acrescentadas informações complementares, e nestas está presente um link de
retorno à página inicial. Já no segundo caso o link deve vir acompanhado do conteúdo da página a
ser aberta. Pois, em geral é um serviço ou informação não oferecida pelo site.
Os links devem ser pensados em favor do usuário. Independentemente do caminho que ele
siga, possibilidades devem ser sugeridas para que ele construa sua própria leitura.
(4) Visibilidade
Ter visibilidade é fundamental para qualquer veículo de mídia. Se antes, conquistar uma boa
imagem no mercado era uma tarefa exclusiva da equipe de marketing, hoje em dia o redator web
precisa estar atento também a isso.
O conteúdo é o produto e a porta de entrada da maior parte dos sites. Desta forma, o redator
precisa aparecer para seu leitor tal como se vendesse um produto: “A idéia é que o conteúdo é um
produto, e o usuário, um possível cliente, modifica a relação do redator web com seu trabalho”
(RODRIGUES, 2006, p.19). Administrar bem sua vitrine de negócios é fundamental a para
conquistar um espaço ao sol.
(5) Arquitetura da Informação
Toda informação publicada na Internet precisa de uma ordem lógica para que diversos
públicos possam ter acesso a elas, e para que os produtores de conteúdo possam escolher qual dos
caminhos é o melhor. É a isto que chamamos “Arquitetura da Informação”, a estrutura em termos
de navegação, hierarquia e disposição dos elementos interativos em um site.
Pinho (2003, p.135) resume a essência edificante da Arquitetura da Informação: “(...) é
projetar a organização e o sistema de navegação com o propósito de ajudar os usuários a encontrar o
que procuram” (PINHO, 2003 p.135). Também é tarefa do jornalista entender de que forma um site
deve organizar-se. Pois é ele que irá operar sobre as informações lá publicadas, sua distribuição,
controle e desdobramentos possíveis.
Rodrigues (2006, p.59) dá as dicas de como proceder neste campo de atuação relativamente
novo para o jornalismo:
“Pense em dados e serviços oferecidos de bandeja: não complique a estrutura editorial, portanto. Deixe sempre à mostra a entrada para os documentos mais importantes para os empregados da empresa ou qualquer informação essencial para o dia-a-dia da empresta. Todo o resto vem depois (...)” (RODRIGUES, 2006 p.59)
O autor relaciona (2006 p.99-100) ainda algumas palavras de ordem da Arquitetura da
Informação:
Organizar – diz respeito à clareza com que o usuário irá apreender uma informação e sua
apresentação (texto, tabela, gráfico ou imagem)
Navegar – lida com um conceito amplo de aprendizagem, em que a leitura deve ser facilitada para
adequar-se a todos os públicos
Nomear – preocupa-se com a chegada da informação ao leitor, de forma não criar barreiras de
comunicação e com o entendimento lingüístico do público-alvo.
Buscar – uma informação deve ser facilmente visualizada em um texto, para que o usuário, assim
que acessar uma página, possa identificar o que procura.
(6) Usabilidade
Ainda como uma nova atribuição dada ao jornalista na Internet, a literatura indica a
preocupação incessante com o usuário. Seu nome é usabilidade e diz respeito às técnicas e
processos que ajudam os seres humanos a realizar tarefas em um computador no ambiente gráfico
da Web.
Para trabalhar com usabilidade um determinado site precisa permitir ao usuário completar a
tarefa a que se propôs, com qualidade, rapidez e precisão. Jackon Nielsen, precursor nos estudos de
usabilidade, expõe seu entendimento sobre estas ações:
Usabilidade é a ferramenta da Web. Se um cliente não consegue encontrar um produto, simplesmente não irá comprá-lo. A Web é a fronteira entre o empreendedor e o cliente. Se ele der dois cliques no mouse e não encontrar o que procura, outros competidores no mundo oferecerão o mesmo produto, mas num outro clique, fora do seu site. (NIELSEN apud FERRARI, 2004, p.60)
2 TODAS AS MÍDIAS NUM SÓ LUGAR 2.1 Metodologia da Pesquisa
Neste capítulo, apresentaremos os pormenores da metodologia aplicada para a realização do
nosso estudo. Bem como, justificaremos o uso do estudo de caso como método mais adequado para
o objeto em questão.
2.1.1 Escolha do Método
O presente estudo possui um caráter predominantemente qualitativo, nosso foco não é
conhecer qual a mais difundida ou aplicada maneira de lidar com as mídias digitais na Internet.
Mas, sim, saber de que forma um determinado veículo produz conteúdo dentro destas novas
configurações da comunicação.
Desta forma, o método de Estudo de Caso foi escolhido por tentar responder questões sobre
os processos, tal como explica Yin:
O estudo de caso é uma inquirição empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de um contexto da vida real, quando a fronteira entre o fenômeno e o contexto não é claramente evidente e onde múltiplas fontes de evidência são utilizadas (YIN apud DUARTE, 2006, p.216)
Ainda segundo Duarte (2006), o estudo de caso é a estratégia preferida quando é preciso
responder a questões do tipo “como” e “por que”. Para a elaboração de um estudo de caso, é preciso
analisar a realidade de forma aprofundada. Pois, estes são sugeridos para pesquisas em que deve ser
feita uma compreensão maior dos fatos do que sua mensuração.
Conclui-se, então, que o método de estudo de caso é o mais apropriado, uma vez que nosso
objetivo é compreender a forma (como) com que o globo.com desenvolve seu conteúdo, a partir de
um estado unido de informações multimídia na Internet.
Ele enfatiza ser a estratégia preferida quando é preciso responder a questões do tipo "como" e "por que" o pesquisador tem pouco controle sobre os eventos e quando o foco se encontra em fenômenos contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real. (DUARTE, 2006 p.216)
2.1.2 O objeto
O caso específico do Globo.com reforça ainda mais nossa proposta de analisar um conjunto
de mídias. Por ser mais uma iniciativa das Organizações Globo, o site globo.com funciona como um
ponto de fusão entre as mídias em que a empresa já atuava. Além de, claro, desenvolver a
linguagem própria do jornalismo na Internet.
2.1.3 Procedimento Metodológico
Nosso estudo exploratório buscou conhecer o funcionamento do site através de uma
exploração da realidade do seu conteúdo. Este tipo de procedimento é chamado de observação
direta em que aquele que irá analisar, entra em contato direto com as ações do objeto de estudo. De
acordo com Duarte (2006), a observação direta:
É feita quando em visita ao local do estudo de caso e serve para fornecer dados adicionais sobre o tema em análise. Compreende atividades formais como desenvolver protocolos de observação; e informais como as condições físicas de um edifício e a distribuição de espaços de trabalho que podem revelar algo sobre problemas financeiros de uma instituição ou sobre a posição ocupada pelo respondente em sua estrutura. (DUARTE, 2006, p.230)
Desta forma, nossa análise será baseada no contato direto com o site globo.com. Sem querer
ter a mesma conduta de um usuário comum, mas com um olhar crítico sobre todo conjunto de
informações disponíveis. A única fonte de informação para nosso estudo de caso foi o próprio
globo.com, a experiência da análise crítica de toda sua estrutura é que enriqueceram este estudo.
Nosso roteiro de análise está estruturado da seguinte forma:
1 Visão geral do site – aspectos primários de distribuição de informações
2 Identificação da distribuição de conteúdo em áudio, vídeo e texto
3 Exame de notícias que usem preferencialmente mais de uma mídia
4 Apresentação de uma proposta diferenciada de conteúdo (infográfico)
5 Participação dos usuários – em matérias e demais setores do site.
2.2 O Globo.com
2.2.1 Apresentação
O portal de notícias Globo.com. pertencente a um grupo de mídia com tradição e qualidade
reconhecida não só no Brasil, como em vários outros países. O globo.com situa-se entre os grandes
sites jornalísticos do país, sendo o único, no entanto, que possui atuação nas áreas de mídia
impressa, radiofônica e televisionada. Aliada a sua qualidade já tradicional, o site em questão é
também reconhecido por suas constantes inovações e por buscar aproveitar todas as possibilidades
deste novo meio ainda em desenvolvimento.
De acordo com o site Alexa, que reúne informações sobre o uso da Internet no mundo, o
globo.com é o oitavo site mais visitado no Brasil. Dentre os portais de notícias, ele fica com a
segunda posição, perdendo apenas para o Universo OnLine (UOL). fonte: http://www.alexa.com
O globo.com surgiu em 2000 e vem, ao longo dos anos, inovando na forma de lidar com a
Internet. Acompanha cada nova mudança implantada na rede e tem a forte marca da inovação em
suas ações.
Tais características podem ser percebida se olharmos atentamente para as mudanças pela
quais o site passou através da história, acompanhando as evoluções dos navegadores (browsers) e
da capacidade de fluxo da Internet. Segundo Barreto (apud PINHO, 2003, p.166), há características
em cada “geração” dos sites jornalísticos.
A primeira geração seria, então, formada por sites que lançavam conteúdos na Internet sem
nenhuma preocupação estética. Os responsáveis por criar as páginas eram cientistas cuja
preocupação residia em levar informação por modems e cabeamento lentos.
O uso aperfeiçoado da linguagem HTML permitiu o uso de ícones, imagens de fundo e
botões, um princípio de planejamento de design na Internet. “A maior diferença da segunda geração
para a primeira foi a substituição de palavras por elementos gráficos. (...) Cria-se o conceito de
'home-page': uma página (...) que serve de menu para acessar o restante de um site” (BARRETO
apud PINHO, 2003, p.167).
Em seguida, o design toma grandes proporções, a banda larga permite o tráfego de imagens
cada vez mais complexas. O resultado é um trabalho minucioso que precisa de uma equipe
trabalhando unida para colocar um site para funcionar.
Atualmente, o globo.com possui arquitetura e design frutos de estudos voltados para uma
peça importantíssima no processo de comunicação na internet: o usuário. Ele é o foco do que talvez
possa ser considerada a “quarta geração dos portais noticiosos” e esta preocupação tornam o modelo
do globo.com referência em jornalismo on line.
Figura 1: globo.com em 2002, imagens e cores de fundo compondo um site da "segunda geração"
2.2.2 Estrutura do site
2.2.2.1 Grupos de Informações
A estrutura do globo.com é basicamente dividida em cinco elementos básicos, aglutinados
por tipo de função a ser realizada. São elas: topo, coluna esquerda, coluna direita, coluna central e
rodapé. Tal distribuição, confere uma composição ao mesmo tempo harmônica e compacta ao
globo.com. “Toda página bem construída é um arranjo de harmonias e contrastes entre suas partes”.
(PINHO, 2003, p.163)
No topo, estão localizadas: a logomarca do globo.com, um menu horizontal com os tipos de
assuntos, um campo para buscas, e outro menu de referências internas do site.
Na coluna esquerda, o primeiro quadro permite o acesso à Caixa de E-mails dos usuários
com cadastro no globo.com. Em seguida, um menu vertical expõe os diversos conteúdos do site,
Figura 2: Leveza e preocupação com o usuário no globo.com atual, sem imagens desnecessárias e muito texto no design.
Figura 3: Bloco de apresentação e guia inicial à navegação
segmentados inicialmente por tema geral e depois por assunto. No fim desta coluna, há ainda um
guia com a programação da TV Globo e para as outras mídias da empresa.
Ao contrário destes dois elementos iniciais, a coluna lateral direita possui alguns conteúdos
que mudam a cada atualização. Este tipo de informação é chamada de “conteúdo dinâmico” e, no
caso específico do globo.com, exibe neste espaço outros sites da empresa que são vinculados ao
portal globo.com. Tais como: vídeos, globomail, publicidade (globoshopping, provedor globo de
internet), guia de programação, lista de rádios do Sistema Globo, entre outros.
O conteúdo principal vem disposto, obviamente, na coluna do meio do globo.com. Nela, são
expostas as notícias e informações principais a serem divulgadas nos sites da Globo. Esta coluna
tem, no entanto, uma particularidade: em sua parte superior ela apresenta o que seriam as
Figura 4: Barra lateral esquerda, detalhe para todo design projetado sobre textos e contornos
“manchetes” de uma edição de jornal. Com um desenho semelhante, até, ao dos jornais impressos.
Em seguida a esta parte inicial, a coluna do meio subdivide-se em outras três que apontam,
cada uma, para os temas de notícias, esportes e entretenimento.
Na parte inferior desta coluna principal, há ainda uma série de funções mostrando as
informações mais lidas ou mais procuradas.
Por fim, o site apresenta um bloco de rodapé onde repetem-se os links para as matérias, de
acordo com o tema. Há, também novamente, um campo para buscas no site e um guia de
informações institucionais sobre o globo.com.
Outro aspecto interessante desta disposição de colunas, é que a exibição do site não fica
prejudicada em computadores com monitor pequeno ou com resolução de tela de 800x600 pixels.
Com esta configuração, a tela apenas não exibe a coluna direita. Colocando, ainda, em destaque os
conteúdos principais do site.
2.2.2.2 Cores
As cores são um componente essencial dentro da estrutura do globo.com. Elas não estão lá
dispostas para reforçar a identidade visual da empresa, ou passar uma mensagem conceitual. Nesta
Figura 5: Informações principais do globo.com, simetria semelhante à dos jornais impressos.
proposição, vemos as cores sendo usadas com funções voltadas para facilitar a leitura e o
entendimento das informações.
Apensar de sua logomarca ser predominantemente azul, pouco se vê desta cor dentro do site.
Ao contrário, é o branco a cor que se sobressai neste layout. E isto possui uma funcionalidade ótima
para a divisão das células de conteúdo, facilitando a vida do usuário. Pinho (2003, p. 156) esclarece
como os designers devem trabalhar utilizando espaços em branco: “os espaços em branco devem ser
parte integrante do design de uma página Web e empregados para permitir a leitura mais fácil e a
melhor compreensão do texto ou ainda indicar ao internauta onde começa e onde termina uma
seção.”
Além do branco, as cores vermelha, verde e laranja cumprem outras funções dentro da
composição do globo.com. Estas cores são utilizadas para colorir os textos, principalmente títulos
do site, fazendo que além da informação textual, a cor já defina o tema de que trata aquela matéria.
Da mesma forma, ficou mais fácil de reconhecer os links na página, praticamente tudo que tiver
cinza é texto e o que for colorido é um link.
Os títulos em vermelho referenciam, entre outros, assuntos como política, economia,
cotidiano e tecnologia. Já o mundo dos esportes tem no título de suas notícias a cor verde. E o
entretenimento, televisão e a vida das celebridades são tituladas com a cor laranja.
Um título colorido transmite informação sem que o leitor precise lê-lo, ou duas informações
(tema e conteúdo) caso ele decida ler determinada informação. O que facilita, por exemplo, a vida
de quem está interessado em notícias sobre esportes. Este leitor correrá os olhos apenas por aqueles
títulos verdes da página principal, no caso específico do globo.com, sem se ater a outro conteúdo
disperso no layout da página. Um belo exemplo de como as cores podem contribuir para um layout
não só de forma estética mas também para a usabilidade.
Figura 6: As cores no globo.com compõem o site em seu aspecto estético e funcional
2.2.2.3 Tipologia
Desde a criação da prensa em 1455, o homem tem dado atenção às formas das letras com
que se precisavam escrever documentos, livros e outros. E hoje, com os recursos de composição
mais simples facilitam a criação de infindáveis desenhos de letra.
Na Web, entretanto, temos algumas limitações quanto ao uso de tipos muito diferentes. É
preciso que quem faça uma página para Internet tenha em mente os usuários que vão navegar por
ela. E que tais usuários terão configuração distintas de computador, podendo, inclusive, não ter a
mesma fonte (tipo) instalada.
Então, a solução adotada pelos desenvolvedores do globo.com e por diversos outros sites foi
usar uma fonte padrão, Arial, pois todos os computadores possuem esta fonte ou outra
correspondente. Além deste fator, como ressalta Pinho (2003, p.180) “os sites de conteúdo
jornalístico devem respeitar um das principais regras de design, de não utilizar muitas fontes numa
mesma página.” Neste caso, o autor sugere o uso máximo de duas fontes. O que não foi preciso em
nosso estudo de caso, pois uma diferenciação bastante relevante já foi conseguida com o uso das
cores.
2.2.2.4 Interface
Interface é aquilo que se põe entre uma ferramenta ou sistema e a pessoa que vai usá-lo. É o
cabo da pá utilizada pelo pedreiro. “O ambiente gráfico da World Wide Web também exige que o
site apresente interface amigável, que permita ao usuário a manipulação das ferramentas simples,
diretas e agradáveis para um trabalho ou tarefa” (PINHO, 2003, p.136)
Este é o ponto central do site do Globo.com. Todas as características utilizadas e já
comentadas até aqui, convergem para a construção de uma boa experiência de interface para o
leitor. A simplicidade cede lugar ao conteúdo, foco do globo.com, a fim de facilitar a leitura e
exibição de vídeos e fotos. O layout limpo, enxuto, clean, favorece a capacidade de se adaptar à
qualquer plataforma, característica relevante por possibilitar que diversos usuários possam acessar o
conteúdo e fixá-lo.
Isto é algo que tínhamos no início da Internet. Quando os designers tinham que compor seus
trabalhos pensando em conexões de 14/28kps, sem firulas, simples, afinal de contas a largura de
banda não ajudava em nada. Com o passar do tempo, e o desenvolvimento da banda larga já a partir
de 256kps, sites com imagens grandes e elementos em flash começaram a se popularizar. Hoje em
dia temos conexões de 4Mps e o que vemos, no entanto, é uma enxugada geral em degradês, efeitos
“aqua” e afins. Assim o globo.com atuou. Passou por todas essas fazes, mas percebeu que o que
realmente importava era o conteúdo que o usuário tinha em mãos, em função deste, toda construção
deve trabalhar.
2.2.2.5 Arquitetura da Informação
A estrutura do globo.com possui uma hierarquia muitíssimo reduzida. O único nível de
especialização que se pode perceber é com relação à capacidade de a página inicial do globo.com
referenciar todos os demais sites. Os quais, na realidade, não são submetido à nenhum outro, têm
existência independente. Seu agrupamento se dá apenas com relação ao foco que possuem. Eles são
estruturados de acordo com o seu assunto abordado.
Desta maneira, os usuários navegam com maior fluidez entre as páginas que se relacionam
em toda gama de sites da Globo. O que aproxima o globo.com da característica da arquitetura da
informação que estrutura o site de forma a: “fornecer o que o usuário procura até no terceiro clique.
Um site com boa arquitetura da informação terá como principal qualidade a característica de
fornecer ao usuário o que ele está buscando no máximo em seu terceiro clique”. (BEZERRA,
2002b, apud PINHO, 2003, p.135)
2.2.2.6 Usabilidade
Usabilidade é uma medida para avaliar a utilidade de uma ferramenta, a facilidade de uso
dela, e, por fim, a facilidade de aprendizagem. “A combinação adequada entre arquitetura da
informação (a estrutura lógica) e a interface (significado visual) é determinante para a
usabilidade (usability) do site, ou seja, para criar no usuário uma experiência de navegação, com o
perdão da rima, até mesmo inesquecível”(PINHO, 2003, p.136).
Consideramos o globo.com um site útil quando consegue prestar seus serviços a contento,
dentro do prazo e adequadamente. Pode ser considerado fácil de usar por ser bem distribuido em
blocos e não ter muitas informações próximas ou sobrepostas.
Já quanto à facilidade de aprendizagem, leva em consideração o tempo médio necessário
para que um usuário execute tarefas no site. O que não nos foi possível realizar, mas que a
distribuição dos elementos e interface bem colocada nos dá a idéia de rápido aprendizado da
ferramenta.
Vale ressaltar que todas estas características são reforçadas por um pensamento de tornar o
globo.com compatível com os mais diversos equipamentos, softwares e modos de acesso a internet,
simples e ágil.
2.2.3 Integração entre as mídias
A página da Globo na Internet é, ao mesmo tempo, uma plataforma de projeção de suas
mídias tradicionais num novo espaço de comunicação. E, também, um campo de atuação com a
qualidade e inovação que as mídias digitais exigem.
Desta maneira, nossa análise busca conhecer estas duas realidades do globo.com: a estrutura
montada para que as mídias convirjam, e o trato da informação on-line com o uso de diversas
mídias.
2.2.3.1 Quanto à Arquitetura
O globo.com é um portal de entrada para uma vastidão de produtos/informações das
Organizações Globo. Ao longo do nosso estudo, vimos a utilização de texto, som e imagem no
jornalismo. E estas três linguagens estão também presentes no portal globo.
Os caminhos para se chegar até esses “canais” podem ser os mais diversos, há links
distribuídos por toda a página inicial e outros tantos intercruzados. No entanto, eles possuem
também sua “porteira” principal. Onde, se assim um usuário desejar, poderá obter conteúdo
somente de um destes formatos (texto, som ou vídeo).
Falemos então do “O Globo Online”, primeira incursão da Globo na Internet. Desde a morte
do pai, Roberto Marinho assumiu O Globo que circulava no Rio de Janeiro e sudeste do país. Nele,
imprimiu sua forte marca pessoal e construiu um dos maiores conglomerados de mídia do país e do
mundo.
A versão digital ( http://oglobo.globo.com/ ) está disponível à brasileiros, brasileiras e
também estrangeiros e tem hoje o seguinte aspecto:
Percebe-se uma leveza de cores semelhante à do portal globo.com. No entanto, os recursos
visuais são pouco explorados, diante das possibilidades da informática, tal como num jornal
impresso de fato. Este mesmo princípio é seguido no corpo das matérias, onde predominam os
textos e recursos gráficos não são bem explorados. Como ponto positivo, O Globo OnLine possui
uma boa atualização das informações e um com grupo de colunistas.
As rádio da Globo têm também um espaço cativo na Internet( http://globoradio.globo.com/
).
Figura 7: O Globo Online, versão digital do tradicional jornal da família Marinho
Figura 8: GloboRádio, o diretório de rádios AM e FM do sistema globo, além de guia com informações e listas de músicas diversas
Seu acesso se dá a partir de diversos links diretos do globo.com. O que poderia significa
múltiplas formas de acesso, acaba por não exibir todo conteúdo de rádios de que o portão dispõe.
Afora este problema, o GloboRádios traz sempre notícias e músicas para aqueles que
desejam fazer uma outra atividade enquanto ouvem rádio. Pois, como vimos no início do estudo, o
rádio permite esta mobilidade e atenção parcial por parte do receptor.
A grande vedete do globo.com é, na realidade, seu diretório de vídeos. É nele que são
“depositados” todos os vídeos veiculados pela TV Globo, a que os internautas podem ter acesso. O
material disponível abertamente é basicamente composto por matérias ou trechos de programas da
emissora. As edições completas dos programas estão disponíveis apenas para assinantes do site.
O Globo Vídeos exibe em destaque os vídeos mais recentes e mais acessados no portal.
Obedece ainda a outras divisões, de acordo com o tema abordado (notícia, esporte e entretenimento)
ou com o programa no qual foi veiculado.
2.2.3.2 Quanto ao Conteúdo
Neste tópico, observaremos de que maneira uma notícia do globo.com aproveita-se destes
recursos multimídia e uni-os aos demais elementos da linguagem desenvolvida na Internet. Há um
portal essencialmente desenvolvido para as notícias do sistema Globo na Internet: o G1. Ainda que
seu conteúdo em boa parte seja repetido globo.com, nele não há redirecionamentos para os demais
Figura 9: Globo Vídeos, um dos maiores repositores de vídeo da Internet brasileira.
sites do portal que não estejam diretamente relacionados às notícias. É no G1 que toda equipe de
jornalismo na internet da Globo reúne-se com a proposta de fortalecer a convergência. Veremos, a
seguir, alguns casos de implementação da multimídia e demais características do jornalismo on line
no globo.com:
a) Texto e Vídeo
http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL751851-5598,00-
PARAIBA+SEDIA+CONGRESSO+INTERNACIONAL+DE+NATURISMO.html
“Paraíba sedia Congresso Internacional de Naturismo” - esta manchete é de uma notícia do
G1, veiculada no dia 8 de agosto deste ano. Dá conta de um Congresso Naturista ocorrido na cidade
do Conde, e é o desdobramento de uma matéria do Jornal Hoje da TV Globo com a mesma
temática.
É possível perceber, logo de início a brevidade do título da matéria e o uso de palavras
presentes no corpo do texto. Além de melhor situar o leitor, o uso destas palavras também é
percebido e bem visto pelos motores de busca da Internet (Google, Yahoo!, MSN Search, entre
outros). Resultando numa melhor posição entre os sites listados quando de uma busca em um destes
buscadores. Técnicas de SEO (Seach Engine Optimization) como esta, e outras mais, podem ser
bem exploradas por jornalistas e profissionais da comunicação.
Todo o primeiro parágrafo do texto da edição on-line sobre o Congresso repete as mesmas
palavras, de forma um pouco mais organizada, da apresentadora do Jornal Hoje e da repórter local.
Tal repetição pode ter ocorrido pela necessidade de reforçar o texto do vídeo ou simplesmente pela
qualidade do texto inicial da TV. E assim segue até o final da matéria, reproduzindo o que já
tínhamos em vídeo, inclusive as citações dos entrevistados e o texto legenda que aparece no rodapé
da tela.
Há, no corpo da matéria, um link convidando o leitor a visitar uma página com as demais
matérias veiculadas no Jornal Hoje deste mesmo dia. O que, como já vimos, não é uma forma de
expandir o sentido daquele texto. Ao contrário, desvia-se o leitor daquele assunto, no meio da
matéria, sem que ele tenha terminado de ler ou ver a matéria completa. Também não há espaço para
contribuições dos leitores, apenas possibilidades de envio da notícia a outros internautas, impressão
e outras tarefas.
b) Texto e Infográfico
http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL753907-5603,00-
MAIOR+ACELERADOR+DE+PARTICULAS+DO+MUNDO+COMECA+A+OPERAR.html
Figura 10: Texto e vídeo têm um encontro redundante ao descrever um congresso em Tambaba
“Maior acelerador de partículas do mundo começa a operar” - Como explicar o
funcionamento de um aparelho que lida com partículas? Quando um texto pode acabar confundindo
um leitor com termos muito técnicos, e um vídeo não é capaz de captar a imagem daquilo que se
quer informar, a Internet lança mão dos Infográficos. Eles são representações gráficas animadas que
detalham o funcionamento de algo ou mostram uma nova visão sobre um certo acontecimento.
Depois de inventar a Web para melhorar sua comunicação interna, o CERN (Organização
Européia para a Pesquisa Nuclear) construiu o maior acelerador de partículas do mundo. Uma
complexa estrutura que tenta encontrar a origem da massa dos corpos. Algo ainda maisi difícil de
explicar, e que o globo.com solucionou bem com o uso de um Infográfico.
A
lém
deste
recur
so, a
matér
ia
possu
i
links
para
o site
do
CER
N e
para uma outra matéria falando da participação de brasileiros. Há ainda um aprofundamento do
assunto na própria matéria, explicando os pormenores da invenção, estendendo o texto de forma
incomum, mas atrativa, na Internet.
Uma possível melhora seria seguir o principio de conteúdo como “cebola” colocado por
Rodrigues (2006, p.16): “Trabalhar o conteúdo aos poucos, oferecendo aspectos a cada camada, é a
maneira mais eficaz de lidar com a informação na web.” Desta maneira, toda extensão da matéria
poderia ser diluída em camadas com níveis de especialização determinados e que poderiam ser
seguidos à medida do interesse do usuário.
Figura 11: Infografia para explicar o funcionamento da máquina que tenta explicar a vida na Terra.
c) Texto Hiperlinkado
http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,MUL760692-5601,00-
LULA+PARTICIPA+DE+REUNIAO+SOBRE+CRISE+NA+BOLIVIA.html
“Lula participa de reunião sobre crise na Bolívia” - notícia do dia 15 de setembro relata a
participação do presidente brasileiro no impasse político vivido na Bolívia. Matérias políticas e de
diplomacia trazem, em geral uma retomada do contexto para melhor situar o leitor. Esta, em
particular, tem uma foto que ilustra a chagada de Lula no Chile e uma série de links no texto. Dois
destes links, de forma imperativa, convidam o usuário a segui-los, e têm o seguinte enunciado:
“Leia mais sobre a crise na Bolívia” e “Saiba o que é a Unasul”.
Ao final desta mesma matéria é feito um resgate de outras matérias para que o usuário
contextualize aquela informação factual e possa ter uma informação mais completa a respeito desta
crise.
Milhões de informações circulam na Internet e neste turbilhão, o jornalista acaba ocupando
uma importante função de guia do internauta, de forma que ele aprenda as informações de seu
Figura 12: Bloco de links contextualiza a crise vivenciada na Bolívia
interesse. E estas informações possuem relações (links) entre si. Desta forma, o jornalista é
responsável, não só por prover a informação, como também por interrelacioná-las, formando uma
trama de conhecimentos, um hipertexto.
2.2.4 Participação do leitor
Falamos anteriormente em três fases distintas pelas quais passaram os portais noticiosos na
Internet. Todas elas compreendiam melhores condutas de produção do site para facilitar a passagem
de informações para o usuário. Vivemos, no entanto, um momento em que o próprio internauta
passa a ser encarado como principal fonte de informação. E não mais através de sua participação em
enquetes virtuais ou mensagens por e-mail.
Poderíamos nos arriscar a dizer que vivemos numa outra fase, em que o conteúdo produzido
pelo próprio usuário ganha proporções muito maiores. Em algumas situações, mais relevantes até
do que o da imprensa formal.
E no globo.com, além dos comentários possíveis sobre algumas das matérias, há um espaço
para que os próprios internautas controlem aquilo que será veiculado. Trata-se do “Vc no G1” ou
“Você no G1”, site que coloca os leitores como produtores de conteúdo, modalidade conhecida
como “jornalismo colaborativo”. Bastando apenas, para isso, obedecerem algumas normas exigidas
pela empresa.
Figura 13: VC no G1, espaço para o jornalismo colaborativo sob a forma de texto, foto ou vídeo.
Lidamos com informações vindas de todos os lados. Basta um aparato técnico desenvolvido
para que cada cidadão torne-se uma fonte de informação. Se são fontes confiáveis ou não, isso não é
possível saber. Mas também temos esta mesma dúvida quanto aos veículos tradicionais.
O jornalista passa a ter, de acordo com Rodrigues (2006, p.106), a função de gestor de tais
informações. Algo que lida com um aparato técnico diferente e, principalmente, uma nova postura
do outro lado da ponta: o usuário/leitor/produtor.
CONCLUSÃO
A percepção estrutural de um ambiente de mídias convergentes nem sempre é a mesma com
relação ao conteúdo por ele disponibilizado. A busca por inovações tecnológicas mais recentes nos
faz, por vezes, esquecer de utilizar aquilo que já possuímos de uma forma melhor e mais adequada.
E foram estas as constatações maiores de nossa pesquisa.
Como primeiro ponto, acompanhamos a linha histórica de cada formato de mídia,
observando que, assim que surgem, copiam o formato e conteúdo daquela que a antecedeu. E então,
partimos para explorar o novo meio acreditando ser ele a solução para os problemas que tínhamos
ao lidar com o anterior.
É um ciclo que vivenciamos com o jornal, o rádio e a televisão. E que de uns tempos para cá
nos surge novamente com a Internet. Identificando nas experiências anteriores a maneira de melhor
trabalhar seus formatos, partimos para análise do jornalismo na Internet com um olhar
desmistificado a este respeito. O amadurecimento deste meio se dará quando, em lugar da novidade,
buscarmos a funcionalidade. Para isto, foi-nos necessário conhecer um pouco da história das mídias,
a estrutura da rede de comunicação digital e partirmos para a observação daquilo que hoje se coloca
como jornalismo na Internet.
Nosso objeto foi o globo.com e vimos a sofisticada estrutura montada por um dos maiores
grupos de mídia do país para veicular suas informações também na grande rede. O globo.com é um
portal de entrada, e como tal, encabeça uma hierarquia de sites dos mais diversos formatos e tipos.
O suporte aos recursos de mídia convergente é extremamente bem executado no globo.com,
ao menos com o que pôde ser visto em nossa pesquisa por observação. Há esta entrada inicial por
onde podem ser tomados os mais diversos caminhos. Sob ela, outros sites que agrupam informações
por tipo (notícias, esportes, entretenimento), formato (áudio, vídeo, texto), nicho (mulheres,
cozinha, novelas) e outros mais variados (blogs, comunidade virtual, utilidade pública).
Com isto, vemos uma arquitetura bem planejada de forma a facilitar a navegação do usuário.
Essa navegação é favorecida por aspectos de design e usabilidade das páginas Web do portal, num
modelo bem arranjado e copiado por outros sites da internet brasileira. Ressaltamos ainda a
simplicidade no uso de poucos gráficos e cores participando da estética e conteúdo do site.
No que diz respeito à absorção de tal postura no texto jornalístico, acredito que o globo.com,
assim como boa parte dos portais noticiosos, ainda tenha muito a acrescentar. É quase nula ou
exígua a utilização de recursos verdadeiramente hipertextuais, interativos e multimídia pelo portal.
Entre as matérias analisadas, apenas uma delas criou extensões para o assunto tratado.
Utilizando, no entanto, outros conteúdos semelhantes dentro do próprio globo.com. O que reduz
sensivelmente a capacidade de expansão da leitura hipertextual.
Quanto à interação dos usuários, não incorporam o sentido de “intervenção” a esta palavra e
o que já não era muito interativo, foi restrito a um espaço para veiculação de informações dos
próprios internautas, o “VC no G1” que adota o modelo de jornalismo colaborativo.
Já a multimídia é o refúgio de inovação onde se resguarda o globo.com. Alimentado
essencialmente por gravações do material da TV Globo, o globo.com atua como repositório de
vídeos da TV sem maiores funcionalidades além desta.
Também os infográficos poderiam ser mais e melhor aproveitados. Apesar de não serem
compatíveis com todos os suportes da Internet, são um espaço realmente integrado de informações
para o meio on line.
Estão são os resultados da observação deste nosso estudo de caso. Obviamente, a todo
instante o globo.com e outros veículos desenvolvem maneiras de amadurecer o uso jornalístico da
Web. Como de fato já caminha o globo.com a desenvolver aplicações, softwares, cujo
funcionamento está diretamente relacionado com a contribuição de conteúdo pelos internautas.
Rodrigues (2006) delineia um pensamento do jornalista como distribuidor de conteúdo em
ambientes digitais, um webwriter, com a tarefa de aliar texto, design e tecnologia em função da
informação. Sobre este profissional recai também a responsabilidade de planejar espaços de
interação entre usuários, e lidar com a informação como um todo, sejam ícones, fotos, vídeos, sons
ou texto plano. Seria, pois, de acordo com o mesmo autor, uma gestão da informação e de seus
fluxos. Sobre o que nos parece pertinente refletir, uma vez que os instrumentos para transmissão de
informação estão cada vez mais acessíveis ao indivíduo comum e o profissional de comunicação
acaba por ter uma visão macro das possibilidades mais interessantes ao estabelecimento deste
contato. Desta forma, a atuação do jornalista enquanto coletor, tratador e disseminador de
informação tornar-se-ia defasada. O amadurecimento do mundo dos bits aponta uma nova postura
do profissional, com percepção complexa, sempre alerta e preocupado com a forma do texto digital
para levar informação ao usuário.
REFERÊNCIAS CANAVILHAS, João. Webjornalismo: Da pirâmide invertida à pirâmide deitada. Disponível em: www.bocc.ubi.pt/pag/canavilhas-joao-webjornalismo-piramide-invertida.pdf. Acessado em: 10/09/2008. CASTELLS, Manuel. A Era da Informação: economia, sociedade e cultura – Volume I : A Sociedade em Rede. Lisboa: Ed. Fundação Calouste Gulbenkian, 2002. ______. A Galáxia Internet. Lisboa: Ed. Fundação Calouste Gulbenkian, 2004. CESAR, Cyro. Como falar no rádio: prática de locução AM-FM. 7. ed. São Paulo: Ibrasa, 1990. CHARTIER, Roger. A aventura do Livro: do leitor ao navegador. tradução: Reginaldo de Moraes. São Paulo: Editora UNESP/Imprensa oficial do estado, 1999. DIZARD, Wilson. A nova mídia: a comunicação de massa na era da informação. Edmond Jorg (trad.) Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. [HIPERMIDIA] DUARTE, Marcia Yukiko Matsuuchi. Estudo de caso. In: DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio (Org.). Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. São Paulo: Atlas, 2005. FERRARI, Pollyana. Jornalismo digital. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2004. FILHO, Ciro Marcondes. O capital da notícia. São Paulo: Ática, 1996. GOSCIOLA, Vicente. Roteiro para as novas mídias - do game à TV interativa. São Paulo: Ed. Senac, 2003. LEÃO, Lúcia. O labirinto da hipermídia. São Paulo: Iluminuras, 2005. LEVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999 LUSTOSA, Elcias. O texto da notícia. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1996. McLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo: Cultrix, 2001. MANZONI, Ralphe Júnior. Globo.com faz nova aposta na convergência da TV com a internet. Disponível em:< http://idgnow.uol.com.br/internet/2006/09/21/idgnoticia.2006-09-20.0076811400/ >. Acesso em: 05/05/08. NEGROPONTE, Nicholas. A vida digital. Sérgio Tellaroli (trad.). São Paulo: Companhia das Letras, 1995. PORCHAT, Maria Elisa. Manual de radiojornalismo – Jovem Pan. 3. ed. São Paulo: Ática, 1993. PRADO, Emílio. Estrutura da informação radiofônica. Marco Antônio de Carvalho (trad.). São Paulo: Summus, 1989. RODRIGUES, Bruno. Webwriting: redação & informação para a web. Rio de Janeiro: Brasport,
2006. RODRIGUES, M.V., FERRANTE, A.J. Tecnologia da informação e mudança organizacional. Rio de Janeiro: E-Papers, 1995. ROMERO, Alberto. O assunto é jornal. Rio de Janeiro: Ouvidor, 1979. PATERNOSTRO, Vera Iris. O Texto na TV: manual de telejornalismo. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987. PINHO, J.B. Jornalismo na internet: planejamento e produção de informação on-line. São Paulo: Summus, 2003.
________________________________________
Todos os direitos reservados: http://www.insite.pro.br/