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CONVERGÊNCIA DE MÍDIAS NO PORTAL GLOBO.COM Demócrito Garcia de Almeida 1 RESUMO O presente trabalho monográfico consiste em um estudo de caso sobre a forma como o portal globo.com utiliza-se dos recursos da multimídia convergente para a prática do jornalismo. Nosso objetivo foi observar a vivência cotidiana do globo.com sobre as linguagens midiáticas e os desafios que estas impõem à prática do jornalismo. Sua importância não reside em alguma constatação ou abordagem inovadora. É, ao contrário, a percepção de uma realidade sem a inquietação da inovação tecnológica, para que possa conduzir a um real amadurecimento da mídia digital. Para isto, nossa observação centrou-se sobre a estrutura “física” do globo.com e no modo como os recursos do ambiente digital integram o conteúdo informativo veiculado no portal. Realizamos uma abordagem a partir dos estudos sobre linguagem na Internet, inovação tecnológica e elementos estruturais da rede de computadores. Além de um levantamento histórico sobre o desenvolvimento das linguagens das mídias tradicionais, para tentar encontrar ali o ponto de amadurecimento que possa ser também utilizado na mídia digital. Chegamos à conclusão de que é mais recorrente a formação de uma estrutura em que diversos formatos de mídia possam convergir. Já o uso destas mídias não é tão expressivo para a produção de conteúdo jornalístico, não desenvolve os recursos que o meio on line possibilita para levar informação ao usuário. Palavras-chave: Globo.com. Convergência de mídias. Jornalismo na Internet. INTRODUÇÃO A Internet reestruturou sobremaneira o exercício do jornalismo em todo o mundo. Se, por um lado, os processos das mídias anteriores tornaram-se mais dinâmicos, de outro, a produção de informação dentro deste novo meio possui especificidades nunca antes desenvolvidas. As novidades precisam ser bem compreendidas para que cada aparato tecnológico possa provocar, de fato, um avanço. No entanto, ainda é difícil estabelecer os parâmetros que devem guiar a atuação do jornalista dentro das redações on line. Ou seja, de que forma e onde o jornalista deve trabalhar na Internet. Tamanha é a dificuldade em entender o novo meio que boa parte dos conteúdos dos informativos disponíveis na Web não foram projetados para este meio, são adaptações do jornalismo tradicional para as novas mídias. No contexto atual, a convergência de mídias dentro dos ambientes virtuais coloca-se como a principal inquietação nos processos de comunicação na Internet. A preocupação do jornalista da 1 Demócrito Garcia de Almeida é graduado em Comunicação Social pela UFPB, habilitação Jornalismo.

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CONVERGÊNCIA DE MÍDIAS NO PORTAL GLOBO.COM

Demócrito Garcia de Almeida1 RESUMO O presente trabalho monográfico consiste em um estudo de caso sobre a forma como o portal globo.com utiliza-se dos recursos da multimídia convergente para a prática do jornalismo. Nosso objetivo foi observar a vivência cotidiana do globo.com sobre as linguagens midiáticas e os desafios que estas impõem à prática do jornalismo. Sua importância não reside em alguma constatação ou abordagem inovadora. É, ao contrário, a percepção de uma realidade sem a inquietação da inovação tecnológica, para que possa conduzir a um real amadurecimento da mídia digital. Para isto, nossa observação centrou-se sobre a estrutura “física” do globo.com e no modo como os recursos do ambiente digital integram o conteúdo informativo veiculado no portal. Realizamos uma abordagem a partir dos estudos sobre linguagem na Internet, inovação tecnológica e elementos estruturais da rede de computadores. Além de um levantamento histórico sobre o desenvolvimento das linguagens das mídias tradicionais, para tentar encontrar ali o ponto de amadurecimento que possa ser também utilizado na mídia digital. Chegamos à conclusão de que é mais recorrente a formação de uma estrutura em que diversos formatos de mídia possam convergir. Já o uso destas mídias não é tão expressivo para a produção de conteúdo jornalístico, não desenvolve os recursos que o meio on line possibilita para levar informação ao usuário. Palavras-chave: Globo.com. Convergência de mídias. Jornalismo na Internet.

INTRODUÇÃO

A Internet reestruturou sobremaneira o exercício do jornalismo em todo o mundo. Se, por

um lado, os processos das mídias anteriores tornaram-se mais dinâmicos, de outro, a produção de

informação dentro deste novo meio possui especificidades nunca antes desenvolvidas. As novidades

precisam ser bem compreendidas para que cada aparato tecnológico possa provocar, de fato, um

avanço.

No entanto, ainda é difícil estabelecer os parâmetros que devem guiar a atuação do jornalista

dentro das redações on line. Ou seja, de que forma e onde o jornalista deve trabalhar na Internet.

Tamanha é a dificuldade em entender o novo meio que boa parte dos conteúdos dos informativos

disponíveis na Web não foram projetados para este meio, são adaptações do jornalismo tradicional

para as novas mídias.

No contexto atual, a convergência de mídias dentro dos ambientes virtuais coloca-se como a

principal inquietação nos processos de comunicação na Internet. A preocupação do jornalista da

1 Demócrito Garcia de Almeida é graduado em Comunicação Social pela UFPB, habilitação Jornalismo.

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mídia digital passa pelos caminhos do texto, dos sons e também das imagens. Além da concepção

do leitor enquanto agente participativo e construtivo da troca de informações.

Quando nos referimos à Internet, estamos falando do modelo de interligação de

computadores adotado mundialmente como produto final de tentativas anteriores para formação de

uma rede global de comunicação. Seus precursores tinham como finalidade descentralizar as

informações do Departamento de Defesa dos Estados Unidos a fim de que essas pudessem ser

preservadas em caso de danos às instalações físicas do governo norte-americano.

Para acadêmicos e profissionais de comunicação, a Internet representou a possibilidade de

levar informação a qualquer parte do mundo de maneira quase instantânea. Mas a rede mundial

apresentou-se também como espaço profícuo para a intervenção do receptor no processo de

comunicação, para a construção colaborativa de conhecimento e para a coexistência e correlação

dos diversos formatos de mídia. É este último aspecto o foco do nosso estudo. Outros tantos fatores

se relacionam à produção de conteúdo para Internet, cuja própria estrutura física, histórico, técnicas

e protocolos, ajudar-nos-ão a entender como se adapta o jornalismo a esta nova realidade.

Entender o diálogo entre as diversas mídias na produção de conteúdo hipertextual para a

grande rede é fundamental para compreender de que forma se estrutura este meio que já está mais

que inserido em nosso cotidiano. Nosso interesse se sedimenta na vivência cotidiana das novas

linguagens midiáticas, bem como os desafios que elas impõem para os que já atuam no campo da

comunicação.

Como forma de aproximação das novidades que estão sendo incorporadas no jornalismo

digital, o portal Globo.com será utilizado como objeto de estudo. Nele vamos procurar identificar as

nuanças da convergência de mídias em função do texto jornalístico e da organização multimídia do

portal. O formato de monografia deste estudo de caso possibilitará uma discussão dos aspectos

teóricos da comunicação neste novo meio, resgatando também aspectos históricos do jornalismo

para sugerir caminhos possíveis futuros.

A escolha do Globo.com para análise da união das mídias tradicionais a partir da Internet é

respaldada sobre a tradição e qualidade indubitável que as Organizações Globo mantêm dentro dos

meios tradicionais. Entre estes meios, podemos destacar: no campo do jornalismo impresso, Diário

de São Paulo, Jornal O Globo e Valor Econômico (em parceria com a Folha de São Paulo); as

revistas Época, Época Negócios, Marie Claire, PEGN, Quem Acontece, Revista Fantástico, Revista

Galileu; as emissoras de rádio 98 FM, BH FM, CBN, Globo FM, Globo AM; nas televisões, TV

Globo, Canal Brasil, Futura, Globo News, Globosat, GNT, Multishow, Shoptime, Sportv, Telecine.

Além do Globo.com, o sistema Globo atua na Internet com os sites G1, Globo Online,

Blogger.com.br, Kit.net, Globolog, EGO, 8P, Baixatudo e Paparazzo. Outras empresas e iniciativas

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do sistema globo são Criança Esperança, Amigos da Escola, Fundação Roberto Marinho, Globo

Filmes e Som Livre.

O Globo.com foi criado em março de 2000, em 2006 contava com cerca de 300 mil

assinantes segundo Manzoni (2006), e difunde em sua plataforma a rádio CBN, Revista Época,

Jornal O Globo (sua edição na Internet: O Globo Online) e Tv Globo. O site possui em seu acervo

um número próximo de 50 mil vídeos, que são utilizados em boa parte das reportagens do site, bem

como algumas animações e infográficos.

Sob a forma inicial de crítica ao modo como se desenvolve o jornalismo online no Brasil,

este estudo se destina, fundamentalmente, a explorar os caminhos praticados e possíveis para um

melhor fluxo de informação na Internet. E, tem como objetivo principal, identificar de que forma o

portal Globo.com trabalha as diversas mídias em um único endereço. Seja sob seu aspecto

estrutural, a arquitetura utilizada, seja pelo modo como o texto jornalístico absorve as linguagens

visual, sonora e textual em função da notícia.

Como objetivos secundários, o estudo intenta: comparar a forma como um mesmo conteúdo

pode ser veiculado em diferentes formatos; como se constroem a linguagem hipertextual dentro da

notícia do Globo.com; como o “leitor” interage e intervém nos conteúdos do portal.

1 AS NOVAS TECNOLOGIAS E O JORNALISMO

São tempos novos estes em que vivemos. Transformações que levavam anos para se

sedimentar eram permeadas por guerras ou outros conflitos. Desde a metade do século XX aos dias

de hoje muita coisa muda com maior freqüência e velocidade. O fato de termos abstraído

informações sob a forma de bits contribui e muito para tal fluidez, o kilobit por segundo (kbps)

tornou-se padrão para medidas diversas.

E tal configuração causa uma influência direta no estabelecimento da comunicação humana.

Os suportes tecnológicos inovam-se a cada instante, de tal maneira que as grandezas físicas de

tempo e espaço exigem medidas cada vez menores. Se, chegaram a se tornar desprezíveis, não

sabemos, nem o que o futuro nos reserva. Mas o presente aponta formas de interação cada vez mais

virtualizadas em que tudo ocorre de forma paralela ao tempo e espaço reais. As extensões humanas

de que nos fala McLuhan (2001) estão cada vez mais distantes do nosso corpo físico.

Para a prática jornalística, a formação de um complexo, dinâmico e expansivo sistema de

comunicação, traz possibilidades que vão além da publicação de notícias 24 horas por dia, da rápida

veiculação da notícia, ou do poder de abranger seu público num nível global. A Internet, como

espaço onde diversas formas de mídias convergem e interagem, modificou substancialmente a

forma de produção de informação preconizada pelos meios que a antecederam. Instaurou uma nova

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maneira de comunicação multimidiática, interativa e com um grau de personalização só vista,

ironicamente, em culturas de tradição oral. O diálogo que se procura estabelecer hoje com o leitor é

o mesmo que tiveram nossos antepassados com os contadores de histórias. Anos de pesquisa e

desenvolvimento de tecnologias da informação foram necessários para retomar a conversa, o bate-

papo ou chat.

1.1 As Tecnologias da Informação

A utilização das tecnologias da informação modificou sensivelmente as estruturas da nossa

sociedade. Da engenharia à medicina, dos estudos da psicologia às metodologias de ensino escolar,

a revolução tecnológica alterou processos e produtos vários. O próprio sistema econômico

capitalista, segundo Castells (2002), precisou adaptar-se ao novo fluxo de informações e oferecer

maior flexibilidade à sua gestão para se adequar às novas transformações.

O recente desenvolvimento da computação eletrônica de dados, aliada à interligação de

computadores em uma rede mundial, passou a ser o principal instrumento de inovação tecnológica

das últimas décadas. Considerado por Castells como um “novo paradigma tecnológico”:

Quando, na década de 70, se construiu um novo paradigma tecnológico, organizado em torno da tecnologia da informação, principalmente nos Estados Unidos, foi um segmento da sociedade norte-americana, em interação com a economia global e com a geopolítica mundial, que concretizou um novo estilo de produção de comunicação, de gestão, de viver. (CASTELLS, 2002, p.6)

No entanto, o conceito preciso do que são, de fato, essas tão faladas tecnologias da

informação ainda não foi bem estruturado. Contribui para isso a forma indiscriminada como tem

sido empregado o termo muitas vezes como sinônimo de inovação tecnológica. E também por ser

um processo ainda em andamento, as revoluções continuam a acontecer nos grandes centros de

pesquisa e nas garagens de jovens visionários. Tomemos emprestado o conceito de Rodrigues e

Ferrante (1995) a respeito da tecnologia de informação:

Compreende todos os recursos tecnológicos para armazenagem, tratamento e recuperação de dados, que são transformados em informações úteis para a nossa sociedade. Devido à utilização da tecnologia da informação, algumas importantes transformações ocorrem neste momento, principalmente à medida que rotinas físicas ou intelectuais originalmente realizadas por pessoas são gradualmente, e de forma irreversível, substituídas por rotinas executadas por máquinas. (RODRIGUES e FERRANTE, 1995, p.5)

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Mas até que ponto esse trecho contempla formas de comunicação como a fala, tratamento e

recuperação de dados, que são transformados em informação? O entendimento que Castells (2002,

p.34) apresenta a respeito da tecnologia trata-a como algo para além dos aparelhos eletrônicos ou

digitais contemporâneos: “Por tecnologia, entendo, em consonância com Harvey Brooks e Daniel

Bell, ‘a utilização do conhecimento científico para especificar as vias de se fazerem coisas de forma

reprodutível’.”

A partir de então, podemos sugerir uma definição de tecnologia da informação como sendo

técnicas que ampliam e dinamizam o tratamento de dados e transformam-lhes em informações

necessárias para a realização de ações, estabelecimento de comunicação e ampliação do

conhecimento.

A prensa de tipos móveis, ferramenta criada por Gutenberg no século XV, foi a tecnologia

que permitiu maior circulação de informações. O que não aconteceu tão logo surgiu a prensa, mas

foi responsável por mudanças políticas, ideológicas e religiosas. Acima de tudo, transformou a

narração de viagens e decisões dos seus comandantes em um jornal.

E assim ocorre até os dias de hoje. O exercício cotidiano do jornalismo esteve sempre

relacionado com o desenvolvimento de suportes tecnológicos necessários para estabelecer e

aperfeiçoar o fluxo de informações. Para que esta fosse, e seja a cada dia mais transmitida, de forma

rápida e precisa, facilitando processos de comunicação multidirecional e abrangendo um público

difuso ao redor de todo mundo.

1.2 As Linguagens do Jornalismo na História

1.2.1 Surgimento do Jornalismo

Assim como toda origem se dá pela junção de dois ou mais fatores que se tornam

insustentáveis, o surgimento da atividade do jornalista vem solucionar desníveis de informação

entre grupos social, política ou economicamente distintos. Tal como aconteceu no Império Romano,

tido como palco da primeira publicação periódica de informações sobre a Igreja e ações do Estado:

Roma conheceu antes de Julio César os anais dos pontífices, balanço político de fim de ano. Havia os secretos e públicos. Os primeiros formavam os comentarii pontificum; os segundos, os annales maximi. (...) Depois, com a expansão do império romano surgiu a acta publica, espécie de diário oficial que levava as notícias de cada dia até as províncias. (ROMERO, 1979, p.12)

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A publicação dos assuntos políticos do estado romano viria em seguida, com a acta diurna e,

ainda segundo Romero (1979), com a domus augusta teve início a difusão de informações sobre o

império e outras mais variadas.

Só em 1438, com a viabilidade do uso de tipos móveis proporcionada por Johannes

Gutemberg, estava vencido outro problema: aumentar e dinamizar o processo de produção de

textos. O que, no entanto, não representou o instantâneo aparecimento dos jornais, do que viríamos

a conhecer como imprensa. Na realidade, o que determinou a criação do jornalismo foi a

necessidade de comunicação e não o surgimento da prensa em si:

Só quando a circulação de informações tornou-se uma necessidade para os homens é que surgiu a imprensa, pois é a necessidade que viabiliza o uso das tecnologias. A utilização dos elevadores, por exemplo, foi imposta pelas limitações de espaço das cidades, exigindo que elas crescessem verticalmente, e não horizontalmente. (LUSTOSA, 1996, p.38)

Quanto à necessidade de transmitir informações, essa é resultante da ascensão das potências

burguesas e da expansão das fronteiras de que o mercantilismo precisava. O novo modo de

produção trazido por esta classe, com a expansão de seu comércio com o mundo, demandou, como

define Marcondes Filho (1989, p.56), “um fluxo de informações controlável, regulável e

acessível...”. É a partir daí que o invento de Gutemberg é utilizado para criar a imprensa. Pouco

mais de um século depois do aparecimento dos tipos móveis, surgia uma “indústria” que utiliza a

prensa para “beneficiar” a informação, chamada jornalismo.

O aparecimento do jornal está subordinado ao desenvolvimento da economia de mercado e da lei de circulação econômica. Ou seja, o jornal surge como o instrumento de que o capitalismo financeiro e comercial precisava para fazer com que as mercadorias fluíssem mais rapidamente e as informações sobre exportações, importações e movimento de capital chegassem mais depressa e diretamente aos componentes do circuito comercial (MARCONDES FILHO, 1989, p.56)

Sendo mais um instrumento da classe burguesa insurgente, o jornalismo desempenhava a

função de transmitir informações politicamente ou economicamente vinculadas ao capital mercantil.

Já neste período seu caráter diário estava estabelecido. No entanto, seu público era composto por

burgueses ou intelectuais atrelados ao poder da classe burguesa, quebrando com toda tradição

restritiva de conhecimento centralizado no clero e nas academias.

A quebra deste paradigma vertical de circulação de informação é atribuída por Marcondes

Filho (1989) ao jornal: “o advento da impressa simboliza a ruptura com a forma segregada de

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armazenar informação”. O jornal tornava público os fatos de notoriedade e informações de

relevância, os fatos ganhavam as ruas através da transformação de um bem abstrato em produto

para comercialização.

A comunicação, como princípio humano de integração social, voltava a circular entre a

sociedade através das folhas do jornal. A informação que transitava de um indivíduo para outro, em

tempos remotos, e ficou depois estagnada e centralizada em instituições como a Igreja e a

universidade, retornou ao grande público pelas mãos dos jornalistas.

1.2.2 Jornalismo Impresso

Esta forma de transmitir informações através dos jornais adquiriu contornos bastante

peculiares. A consolidação do veículo deu-se, em um primeiro momento, dentro da comunicação de

negócios e inseriu-se nos meios públicos da economia, política e cultura, logo em seguida. Com a

conquista de espaços públicos e o aumento do número de leitores, o jornal seguiu aprimorando seu

produto para se tornar um eficiente meio de comunicação de massa.

Enfim consolidado como importante meio de informação, o jornal desenvolve características

próprias que perduram até os dias atuais. E, servirão de base neste estudo sobre as inter-relações

entre os meios.

O primeiro entendimento que se deve ter acerca de um jornal é que ele é uma empresa e,

como tal, possui interesses próprios, não necessariamente ligados a quaisquer segmentos da

sociedade. As informações nele contidas estão distantes de uma representação política ou

ideológica. A criação de um jornal, segundo Marcondes Filho (1989), é “cada vez menos um

resultado do movimento político e cada vez mais uma oportunidade dos que têm capital.” Ainda que

na maior parte das vezes este capital esteja atrelado a expressões políticas, o jornal possui a

liberdade de se posicionar segundo as orientações de seus proprietários.

Sendo uma empresa beneficiadora de informação, a prática do jornalismo precisou aprimorar

a qualidade e a apresentação de sua mercadoria, a notícia. A partir daí, desenvolveu-se uma série de

recursos estilísticos que acabaram por formar uma linguagem jornalística. Um veículo com

linguagem própria é o jornal, mas que também se remodelou com o passar do tempo e o surgimento

de outras mídias.

Lustosa (1996) define o jornalismo como o fruto de um trabalho intelectual que tem por

finalidade transmitir a informação precisa. O mesmo autor apresenta também algumas

características próprias do meio que nos ajudarão a entendê-lo melhor.

O jornal precisa que todos os textos sejam editados e todas as folhas impressas antes de

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chegar ao seu público. Desta forma, ele só consegue chegar às mãos dos seus leitores num espaço

de tempo depois de decorridos os fatos. O jornal, de acordo com Lustosa (1996), “trata dos fatos

ocorridos no dia anterior; assim, relata o que passou”. Tal peculiaridade reflete-se no conteúdo da

notícia quando os textos prezam pelas análises mais elaboradas e podem ir além dos aspectos

factuais. Isto pode ser bem explorado pelos meios impressos mas nem tanto pelos eletrônicos que o

seguiram. Ao contrário, eles se voltaram a transmitir os contornos do fato em detrimento das

conseqüências deste para a sociedade. O jornal teve que aprimorar-se sobre este ponto para garantir

sua sobrevivência.

Por circular no dia seguinte aos fatos, o jornal concorre com os veículos que já informaram o que aconteceu, como o rádio, que anda com o cidadão para todo lado (...) ou a televisão, a principal fonte de lazer e informação da população. Então, o jornal tem que oferecer uma refeição completa, já que o prato feito saiu no rádio e na televisão. (LUSTOSA, 1996, p.87).

Reflexão e análise devem ser, segundo Lustosa, sugeridas aos leitores do jornal através de

notícias que expliquem os fatos decorridos e as suas conseqüências futuras.

Os recursos que as empresas adquiriram ao longo do tempo permitiram que o jornal

incorporasse outros elementos além do texto em sua composição. A utilização de barras entre os

textos servia para delimitar cada conteúdo e marcou o início da preocupação com a apresentação

gráfica do texto. A possibilidade de trabalhar com fotografias e ilustrações intensificou a

necessidade do cuidado com a estética do jornal. Desta forma, o texto jornalístico lida diretamente

com dois códigos, o escrito e o visual em uma só publicação. No jornal, fotos e ilustrações além de

flexibilizarem a forma linear da narrativa textual, incorporam significados à informação que o texto

por si só talvez não conseguisse desenvolver.

Outra especificidade apontada por Lustosa (1996) quanto ao jornal é que este “só vale por

um dia, no outro será jogado fora”. Isto está relacionado com o aspecto material do jornal, pois o

leitor dificilmente terá disponibilidade para armazenar jornais em casa. O reflexo disto no

desenvolvimento da linguagem jornalística faz com que o jornalista seja redundante para conseguir

resgatar a memória do leitor. Ainda que guardasse todos os jornais dos dias anteriores, o leitor

jamais iria consultar seu acervo para entender os acontecimentos do passado. A produção da notícia

impressa deve sempre incluir os precedentes e o contexto onde se desenvolvem os fatos. Neste

sentido:

Quando o indivíduo se lembra de algo que leu num livro e tem dúvidas, vai à estante e pega a obra de novo, confere tudo e resolve o problema. Quando isto ocorre com uma matéria que saiu no jornal, não há como recuperar a

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informação por que raramente são guardados jornais velhos. É por isso que o jornal está sempre repetindo as informações básicas de matérias publicadas no dia anterior, acrescentando alguns poucos dados novos. (LUSTOSA, 1996, p.87)

A Internet possui, sobre este aspecto, a vantagem de facilitar o acesso às mais diferentes

fontes, opiniões ou relatos feitos em qualquer parte do mundo a respeito de uma determinada

informação. Porém, tal funcionalidade não se apóia simplesmente na boa vontade do leitor de ir

buscar as informações passadas, mas sim na capacidade do jornalista de envolver os contextos e

repercussões dos fatos que estão sendo divulgados. Capacidade que já era requisitada do

profissional dos veículos impressos, e que se transpõe para o meio digital, com a diferença da

quebra da linearidade da leitura que será mais explicada adiante.

Atento às mudanças nas tecnologias da informação, o jornal mantém sólida a sua essência

com o passar dos anos e o surgimento de mídias concorrentes, conservando ainda sua principal

característica: a profundidade. Tanto por ser um veículo de interação eminentemente individual,

como por ter mais espaço para trabalhar com diversas informações em sua edição. Diferente do

rádio e da televisão, o impresso consegue ir mais além quanto à apuração e redação das suas

notícias. O que, conseqüentemente, lhe permite uma abordagem mais cheia de detalhes. Na

concorrência com os meios eletrônicos, o jornal encontrou seu reduto no campo da leitura reflexiva.

Diferente do rádio e da televisão, onde as informações são “puro lides que pouco ou nada dizem

sobre os fatos”, de acordo com Marcondes Filho (1989, p.52).

1.2.3 Radio Jornalismo

As informações que já circulavam impressas em papel encontraram na tecnologia de

transmissão radiofônica do som a melhor maneira de expandir sua penetrabilidade. Foi nas ondas

eletromagnéticas moduladas da radiofreqüência transmitida pelo ar que o jornalismo enxergou um

novo filão a ser explorado. Esta é uma consideração muito simples, incapaz de abranger toda a

revolução que o rádio causou nas formas de comunicação humana, especialmente em seu modelo

mais comercial, o jornalismo. O rádio permitiu que a voz do homem se projetasse para além das

distâncias, tornando dispensável a presença física de um interlocutor para que os demais o

pudessem ouvir.

Se a mídia impressa levou o relato dos fatos aos grandes públicos, o rádio agregou emoção,

agilidade e proximidade com seus ouvintes, a um custo de produção inferior até os dias de hoje.

Como instrumento do jornalismo, as transmissões radiofônicas facilitam a vida do seu público por

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fazer a notícia chegar até eles sem exigir a aquisição do jornal para isto.

O radiojornalismo possui uma capacidade enorme de penetrabilidade no cotidiano das

pessoas, é de fácil aquisição e não ocupa toda atenção, apenas o sentido da audição, para que possa

ser acompanhado.

A radiodifusão, no entanto, já era usada para transmitir informações antes mesmo da

confecção do aparelho eletrônico popularmente chamado de rádio. A bordo das ondas

eletromagnéticas, viajavam códigos, tais como o Morse, utilizados para estabelecer comunicação

ente grandes distâncias. Até mesmo o jornalismo impresso usufruiu desses serviços ao receber

informações através do telégrafo dentro das redações.

No Brasil, a primeira locução oficial transmitida pelo rádio aconteceu em 7 de setembro de

1922, quando da comemoração do Centenário da Independência. Cesar (1999, p.33) observa que a

locução do festejado dia foi feita por Epitácio Pessoa, então Presidente da República, que pôde ser

ouvido no recinto da exposição, e chegou até as cidade de Niterói, Petrópolis e São Paulo, devido a

uma retransmissora instalada no Corcovado e de aparelhos para recepção nas respectivas cidades.

Mas tal pioneirismo é ainda cercado de uma polêmica, outras versões dão conta de que o

padre Roberto Landell de Moura conseguiu transmitir sua voz através de radiodifusão ainda em 03

de junho de 1900. E também de que em 1919, no Recife, Augusto Joaquim Pereira junto com Oscar

Moreira Pinto fundaram a Rádio Clube de Pernambuco que passou a adotar esse nome em 1923. Tal

nome foi atribuído inspirado na Rádio Clube do Rio de Janeiro, fundada por Roquete Pinto, em 20

de abril de 1923.

Com os pormenores ainda não totalmente esclarecidos, o fato é que só no ano seguinte à

transmissão presidencial tem início a formação das rádios comerciais:

Somente em 20 de abril de 1923 é que surgiu a primeira emissora, fundada por Edgard Roquete Pinto, na Academia Brasileira de Ciências, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro com o prefixo PRA-A. Logo depois Elba Dias fundou a Rádio Clube Brasil PRA-B. Em São Paulo a primeira emissora foi a Educadora Paulista, em 1924, presidida por Vergueiro Steidel. (CESAR, 1991 p. 34)

No entanto, o rádio não se tornou imediatamente um veículo das massas. O preço do

aparelho era elevado, pois tinha de ser importado. A programação estritamente cultural e erudita

eram outros fatores que não despertavam o interesse dos ouvintes pela nova mídia. O slogan da

Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, citado por Cesar (1990, p.34), traduzia bem o princípio do rádio

no Brasil: “Trabalhar pela cultura dos que vivem em nossa terra e pelo Brasil”.

Os anos trinta marcam a popularização do rádio no Brasil. Contribui para isso, a redução no

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preço dos aparelhos, a inserção de programas humorísticos, de auditório e maior número de música

popular durante a programação. Além da Rádio Nacional, inaugurada em 1936, no Rio de Janeiro

O seguir dos anos trouxe outros elementos ao rádio: a utilização dos transistores, tapes,

satélites e a telefonia móvel dinamizaram o processo de comunicação e ampliam a atuação do rádio.

As tecnologias da informação vão se juntando ao meio e modificando a forma de fazer rádio, a

técnica de levar informações através das ondas moduladas.

Mas a linguagem utilizada no rádio possui características próprias, essenciais para se

enquadrar ao meio, ainda que este tenha, a cada dia, novos concorrentes no mercado. O rádio

precisou entender o seu papel para melhor se posicionar e se diferenciar dos demais veículos dentro

do mercado.

O jornalismo feito no rádio possui a necessidade de abastecido constantemente por notícias,

precisa passar a informação antes do jornal impresso e antes mesmo que seu ouvinte vá para casa e

ligue a TV. De certa forma, defende Prado (1989, p.10), o rádio abandonaria sua agilidade e

imediatismo:

Não se pode mais apoiar na fonte do jornalismo impresso, no artigo “gilete-press”. Recortar notícias de jornal e lê-las no ar. O rádio jornalismo tem que estar à frente dos jornais. Nunca a reboque. O rádio repercute hoje as notícias que o jornal vai publicar amanhã. (PRADO, 1989, p.10)

O som é o elemento utilizado pelo rádio para informar seus ouvintes. Até então, nenhuma

novidade, Mas são as vantagens e limitações do som da fala humana que concebem toda estrutura

da linguagem utilizada no rádiojornalismo.

O código sonoro de uma língua é mais facilmente compreendido do que sua representação

escrita. Este ponto favoreceu a popularização do rádio no Brasil devido ao déficit educacional de

que faz vítima nossa nação. Mas isso não o restringe aos analfabetos, a diversidade do seu público é

uma constante no rádio. A recepção das informações se dá em lugares e situações as mais diversas,

devido à autonomia que os transistores possibilitaram aos aparelhos, projetando diversas situações

de uso.

A primeira exigência que a notícia radiofônica deve atender é ser clara o suficiente para

suprir a falta de imagens na informação. O ouvinte necessita de uma linguagem nítida para

compreender a informação e formar as imagens que estão encobertas pelas palavras.

Tal clareza também importa pela temporalidade da notícia no rádio, que também pode ser

amenizada com a repetição das informações principais. Porchat (1993) enfatiza:

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A audição é passageira. Não se pode voltar atrás para ouvir uma informação que não se entendeu. Muitas vezes liga-se o aparelho no meio de uma reportagem. Novamente surge a imposição de uma linguagem nítida e também repetitiva, com relação às idéias básicas de uma informação. É preciso saber quando e como repetir, para não cansar o ouvinte (PORCHAT, 1993, p.97)

Além de enfatizar a informação principal, a repetição possibilita o entendimento da notícia a

pessoas que não a acompanharam desde o início.

O texto radiofônico deve ser dito ao ouvinte, não apenas lido. De modo geral, ele sempre está

fazendo outra coisa enquanto ouve rádio. É preciso ser dinâmico e invocar sua atenção. Em seu

manual de rádiojornalismo da Jovem Pan, Porchat (1993) ressalta que tal invocação deve sempre

buscar uma identificação dos ouvintes para que aquela informação possa se aproximar de seus

meios e de sua maneira de pensar.

Em suma, a eficácia da notícia radiofônica e o reconhecimento da relevância do meio só

serão obtidos através dos seguintes elementos: veiculação da informação instantaneamente, ou

quase simultaneamente ao fato, riqueza de detalhes da informação que possibilite ao ouvinte formar

imagens em sua mente. Tudo isso de forma clara e breve, pois é o mais importante no

radiojornalismo.

1.2.4 Telejornalismo

A história da civilização humana confunde-se com a história dos meios que seus integrantes

criam para comunicarem-se. Dentre estes meios, a televisão ocupou uma posição de relevância nas

últimas décadas do século XX por sua penetrabilidade e potencial informativo. E isto por dois

motivos: a possibilidade desta mídia não exigir de seus receptores nenhuma instrução prévia, tal

como acontece com o texto, que exige regras, convenções e repetição para ser decodificado. E a

dinâmica estimulante das imagens que desperta os sentidos dos que estão frente à TV.

Por incorporar a imagem ao som, a televisão poderia afastar de si a audiência dos ouvintes

habituados com o rádio, que tinham a possibilidade de realizar outras atividades enquanto se

mantinham informados. A TV exigiu do receptor a mesma atenção que este tinha com relação à

leitura. E, para assegurar esta atenção, desenvolveu uma linguagem própria, rápida, envolvente e

enfática.

O jornalismo tem se valido com grande presteza dessas características. A notícia

televisionada une elementos de forma tal que às vezes se sobrepõem, ultrajam, adaptam ou

superestimam a própria realidade dos fatos. “a TV surge com uma arma poderosa e (por que não?)

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infalível: a imagem da notícia – a informação visual” (PATERNOSTRO, 1987, p.87).

No entanto, o uso de informação visual em si não representa nenhuma novidade. Hieróglifos,

pictogramas, o próprio alfabeto, a fotografia e o cinema são formas de registro que comprovam a

tentativa do homem de comunicar-se através de imagens, das coisas ou dos sons. E a TV nada mais

é do que a evolução técnica destes suportes. O que não impede Sodré(1984) de questionar a

necessidade de criação da televisão:

A televisão, com contrário [do rádio], não veio atender nenhuma espera específica e preexistente da comunicação visual. Surgiu diretamente do meio técnico, como resultado da crescente autonomia dos bens eletrônicos (do mercado) com relação às carências humanas. A televisão é uma técnica, um eletrodoméstico, em busca de necessidades que a legitimem socialmente. (SODRÉ, 1984, p.14)

Mas o que mais poderia surgir que não fosse fruto da técnica, criatividade ou acaso?

Já Paternostro (1987, p.17), considera o surgimento da TV mais uma tentativa do homem de

vencer as barreiras do tempo e do espaço. “É nesse processo – urgente, avassalador – que surge a

televisão, com a informação na sua forma mais dinâmica e universal: através da imagem”.

Os aspectos históricos da criação da TV são bastante dispersos e é impreciso afirmar

exatamente quando ela surgiu. Tratam-se de sucessivas descobertas científicas que pouco a pouco

foram aperfeiçoando o modo de captação e transmissão da imagem para longas distâncias.

Já em 1917, o químico sueco Jackob Berzelius percebeu que o selênio tinha sua corrente

elétrica modificada quando a luz incidia sobre ele. Vinte e quatro anos depois, Paul Nipkow

construiu um disco de ferro com furos eqüidistantes e em espiral para subdividir uma imagem em

pequenos pontos quando girado. Mas foi só a partir da criação do iconoscópio de Vladimir

Zworykin em 1923 que a televisão começa a sair dos laboratórios e ir ganhar os lares. O

iconoscópio permitia a análise eletrônica da imagem através de células fotoelétricas. Zworykin

trabalhava para a norte-americana RCA (Radio Corporation of America) e, a partir de então, a

indústria tem impulsionado os aperfeiçoamentos da TV. Isto desde a construção das válvulas

elétricas, que permitiram um sistema totalmente eletrônico em 1940, a transmissão de imagens a

cores, a partir de 1950, até a implantação de transmissões via satélite, a primeira deles através do

TELSTAR, em 1962.

A primeira transmissão de TV ocorreu em 1936, na Inglaterra, pela British Broadcasting

Corporation (BBC) quando da coroação do rei Jorge VI. No Brasil, a primeira transmissão de TV

foi realizada em 18 de setembro de 1950. O paraibano Assis Chateaubriand foi quem trouxe os

equipamentos e técnicos dos Estados Unidos para formar a primeira emissora do país: PRF-3 TV

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Difusora. Que logo em seguida passou a se chamar TV Tupi de São Paulo. No ano de 1965 surge a

TV Globo, emissora das Organizações Globo, do Rio de Janeiro. A qual, hoje, ocupa uma posição

de destaque no cenário nacional e internacional.

Atualmente, a televisão avança na idade digital. Todo processo, da captura das imagens,

passando pela transmissão e indo até a recepção das imagens acontece sob a forma de bits. E os

padrões para desenvolver este meio incorporam características novas à televisão e ao

telejornalismo. Tais como: interatividade, maior qualidade de áudio e vídeo, suporte para

dispositivos móveis, entre outros.

Com a entrada no século XXI, a Internet surgiu como grande concorrente em um mercado

em que a TV vinha liderando desde a metade do século passado. Três implicações diretas ela sofre

devido à expansão da grande rede: a perda de audiência torna-se cada dia mais evidente, o que

demanda busca por novos formatos para tentar manter-se líder. A segunda é a integração com a

própria rede, usando-a como arquivo ou repositório de vídeos, espaço para discussões, informações

complementares, serviços e outros. E a terceira implicação é a adaptação às novas posturas que o

telespectador assume devido ao seu contato com a Internet. Entre os quais se destacam a vontade de

guiar os assuntos e mesmo intervir no que é veiculado.

“É verdade, juro, passou na televisão”. Assim diz o refrão da música “É Verdade” do grupo

português Terrakota. A televisão é um meio que lida com a realidade de maneira muito intensa. A

forma como a TV veicula suas informações, ainda que de forma superficial, contribui

intencionalmente para a construção desta realidade. Paternostro (1987) nos ajuda a entender esta

superficialidade como um estímulo para o telespectador:

A TV pode “abrir o apetite” dos receptores da mensagem e estimular a investigação, a busca diversificada da informação, uma vez que seu público, tendo tomado conhecimento da dimensão de um fato, pode não se ter satisfeito de forma total. (PATERNOSTRO, 1987, p.35)

Seguindo as características do telejornalismo definidas por Paternostro (1987), discutiremos

alguns pontos que compõem este meio tão questionado e, ao mesmo tempo, tão apaixonante.

A primeira dessas características é a mais evidente e, talvez por isso mesmo, mais

significativa: o uso da informação visual. Uma imagem possui uma carga de significados que mil

palavras não poderiam representar, tal como fala o provérbio. A informação visual não requer

conhecimento de uma língua, nem necessita de traduções. Quando aliada à informação sonora, de

forma redundante ou complementar, formam um signo de grande representatividade.

O imediatismo é outra característica que a TV pôde explorar após a “miniaturização” dos

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seus equipamentos e estações de transmissão. Desta forma, consegue noticiar os fatos com maior

agilidade. Mas esta preocupação em noticiar um acontecimento no momento exato em que ele

ocorre pode não ser tão proveitoso para a televisão. Pois o rádio cumpre bem esta função e a TV

possui horários restritos para seu telejornalismo em boa parte das emissoras.

Como terceiro ponto, destacaríamos o envolvimento que a televisão proporciona ao

telespectador. A linguagem televisiva causa um fascínio que por vezes deixa o telespectador alheio

àquilo que o rodeia. Seus sentidos “sintonizam” com o que a televisão propaga ao ponto de eles

sentirem-se transportados para dentro delas. O “plim-plim” da Globo tem a função de despertar o

telespectador para o início ou fim do programa, e que anteriormente, absorto na programação,

levava um susto ou não percebia quando iniciava ou terminava o intervalo comercial.

A penetrabilidade também é um ponto importante da TV. Pois permite àqueles que não têm

acesso à livros ou jornais, informarem-se. Utilizando sistemas de códigos que não demandam um

aprendizado anterior além daquele vivenciado no cotidiano: a imagem e a língua falada.

A informação nesta mídia é também instantânea, aquilo que é veiculado não poderá ser

retomado algum tempo depois. A atenção do telespectador é fundamental para que ele não perca a

mensagem. Segundo Paternostro (1987, p.36): “O conceito de instantaneidade é dos mais

importantes na elaboração do texto jornalístico”. O jornalista deve ter a preocupação de não deixar

que seu texto, que inclui também o aspecto visual, dê margens para que o telespectador fique

disperso.

As emissoras exploram uma concessão pública de rádio difusão. É dever das

empresas cumprir as normas da Agência Nacional de Telecomunicações, Anatel, e servir

ao bem público.

1.3 O Jornalismo na Internet

Por toda parte surgem discussões, os mais diversos autores buscam dissolver o imbróglio,

mas ainda não há um consenso sequer sobre como deve ser nomeada a função do produtor de

conteúdo para os meios digitais. Nem mesmo atribuir-lhe o nome de produtor de conteúdo é de todo

acertado. Pois que falamos da informação como algo que pode ser coletado, manipulado, trocado

(portanto, entre dois ou mais partícipes) e processado.

Webjornalismo, jornalismo online, ciberjornalismo... Afinal, como definir esta modalidade

de jornalismo praticada na Internet? Esta não é tarefa das mais simples. E a cada instante surgem

tentativas de equacionar o problema.

Uma dentre tantas chama-se webwriting, termo que tem origem nos estudos de Jacob

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Nielsen, considerado pai da usabilidade (estudo que analisaremos melhor adiante), sobre o

comportamento da informação na mídia digital. Em seu livro intitulado “Webwriting”, Rodrigues

(2006) define a função do webwriting como o conjunto de técnicas que auxiliam na distribuição de

conteúdo informativo em ambientes digitais. Mas ele mesmo questiona-se a respeito da

continuidade do uso deste termo, já que em sua tradução literal – escrevendo na web – restringe um

imenso campo de atuação. Rodrigues fala que o meio, Internet, e a função, webwriter, ainda vivem

seus primeiros momentos, e sugere: “É provável que, em breve, o termo seja substituído por Gestão

da Informação Digital” (RODRIGUES, 2006).

Estamos sentados diante de um rio de bits e não conseguimos enxergar o que corre em seu

leito. Talvez nossos olhos queiram sempre antever as próximas águas, saber o que o futuro nos

reserva, mas não sabemos sequer dar nome ao que se põe aos nossos olhos. Este novo rio, ou

information highway quando falamos da nova mídia, nada mais é do que um caminho de águas, ou

de bytes, e assim deve ser entendido.

Não há motivos para nomear o jornalismo praticado em ambientes digitais com nomes que

fujam de jornalismo digital, jornalismo on-line ou jornalismo na Internet. Da mesma forma como

aconteceu e foi apresentado anteriormente, dentro das outras mídias onde se modifica o nome do

meio, mas persiste o mesmo jornalismo: radiojornalismo e telejornalismo. Cada uma delas exigiu

dos profissionais tradicionais uma mudança na linguagem veiculada e na forma de como lidar com

a informação em cada formato.

O termo jornalismo na Web também não possui total conformidade com nova demanda de

tarefas, pois, ao contrário do que muitos se habituaram a pensar, a Web, ou World Wide Web, não é

sinônimo de Internet. Esta, consiste em uma rede de computadores conectados e descentralizados

que se comunicam através de diversos protocolos, padrões e procedimentos dispostos para execução

de uma determinada tarefa. O protocolo HTTP (Hypertext Transfer Protocol) é utilizado pela rede

Web para que os usuários tenham acesso a um servidor remoto onde estão depositados os arquivos

de foto, vídeo e áudio em formato digital.

Teia de abrangência mundial é tradução literal desta rede que se liga por hiperlinks, criada

por Tim Berners Lee no início da década de 1990. Ela foi responsável pela popularização da

Internet e torná-la acessível aos mais diversos usuários. É a principal responsável por esta revolução

informacional e pela quebra da linearidade de leitura.

Ainda que, já em seu modelo original, a WWW tenha aberto um largo campo de atuação

para empresas de comunicação, ela possui algumas limitações estruturais, que vão sendo

solucionadas ou remediadas aos poucos. Permite apenas que o jornalista lance num espaço físico

aquilo que produziu, reduzindo significativamente as possibilidades de interação dentro do meio. Os

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infográficos, que analisaremos adiante, são uma forma de amenizar esse desfalque quanto à

interatividade possível ao simular situações breves onde os leitores percorrem caminhos diversos

para obter a informação que desejam. Mobilidade, personalização de conteúdo e interatividade, ao

ponto de permitir intervenções, são características da Internet ainda não muito utilizadas para

produção jornalística e estão além das possibilidades da Web. Os jogos, blogs e comunidades

virtuais se apropriam melhor de tais recursos e contribuem, por isso mesmo, para o amadurecimento

da Internet. Veremos, no entanto, que a percepção dos jornalistas quanto a essas possibilidades

cresce a cada dia.

1.3.1 O Surgimento da Internet

Não raro é encontrar trabalhos acadêmicos de comunicação que tratem do surgimento da

Internet e dos motivos pelos quais ela foi criada. O que por vezes pode ser repetitivo, considero

fundamental para compreender o comportamento e as futuras mudanças que poderemos

implementar na grande rede.

É preciso ressaltar, por exemplo, que quando a Agência de Pesquisas em Projetos Avançados

(ARPA) dos Estados Unidos contratou a Rand Corporation para que fizesse uma consultoria sobre

os sistemas de comando e controle. Pois estavam preocupados com a ameaça eminente vinda do

bloco comunista durante a Guerra Fria. Esta consultoria resultou em 1964 nos estudos chamados

“Sistemas Distribuidos” e propunham mudanças num ponto central das informações: a hierarquia.

Entre outras recomendações, a consultoria sugeria a criação de um sistema de comunicação

não-hierárquica, em substituição ao sistema tradicional, e a implementação de redes de comutação

de pacotes, os quais garantiam que o comando e o controle dos Estados Unidos pudessem

sobreviver no caso de um ataque nuclear maciço destruindo o Pentágono. (PINHO, 2003, p.22)

Comunicação não-hierárquica e comutação de pacotes, eis os pontos-chave de uma boa rede

de terminais interligados. O primeiro ponto apresenta uma distribuição de informação a partir de

diversas origens, sem que nenhuma fonte seja exclusiva. Já a comutação, permite que qualquer

caminho seja seguido para transmitir uma informação de forma segura e efetiva.

A ARPA decidiu unir-se com universidades e centros de pesquisa para colocar em prática

este sistema. Nascia, assim, de forma experimental, em 1969, a mãe de todas as redes de

computadores: a ARPAnet.

Quatro anos mais tarde, a ARPAnet estabelecia suas primeiras conexões internacionais com

Inglaterra e Noruega. No ano seguinte, 1974, contava com “62 servidores e a necessidade de

aperfeiçoar seu protocolo de comunicação” (PINHO, 2003, p.26). Este protocolo é a “língua” sobre

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a qual os computadores “conversam” e, assim, trocar informações.

Foram, então, criados os protocolos TCP (Transfer Control Protocol) e IP (Internet Protocol)

usados em conjunto até hoje. Responsáveis, respectivamente, pela subdivisão da informação e pelo

caminho a ser percorrido entre o emissor e o receptor.

Sucederam-se a formação de outras redes de computadores em empresas, centros de pesquisa

e países diversos. Só em 1991, todas elas passaram a ser sub-redes de outra que interligava a todas:

a Internet.

Mas este nosso resgate encontra no ano seguinte, 1991, o marco que levou a Internet para o

cotidiano das pessoas, além das fronteiras acadêmicas. Falo da Word Wide Web, ou simplesmente

Web, criada pelo inglês Tim Berners-Lee, que é tida por muitos como sinônimo da própria Internet.

Nada mais é, no entanto, do que uma forma de organizar as informações sob um modelo cliente-

servidor e estabelece comunicação, quando requerida, a um cliente via o protocolo HTTP

(Hypertext Transfer Protocol).

1.3.2 Características da Internet

Para bem entendermos esta modalidade jornalística que se põe em nossa frente, e para

projetarmos suas futuras melhorias quanto à adequação do meio, discorreremos sobre as

especificidades do meio e como isto influencia o conteúdo gerado. É importante percebermos como

a mídia se configura para saber como projetar as informações através dela. Porém, conhecer como

funciona a Internet não é tão simples como entender o sistema de impressão de um jornal, ou a

forma de captura de imagens feita pelas câmeras da televisão. A nova mídia não é um produto

acabado, sua construção ainda está em processo. E, para isto, ela conta com a participação de

cientistas, estudiosos, usuários avançados e usuários comuns.

Ainda que em estágio inacabado, a Internet já possui vida própria e que lhe confere devido

valor no campo das informações mediatas. E o jornalismo hoje praticado neste novo meio também

possui suas especificidades que devem ser conhecidas e melhor exploradas. Da mesma forma,

devemos segmentar sua utilização para que, juntamente com os meios já existentes, seja possível

suprir as mais diversas necessidades de informação. O rádio e a televisão sempre estarão lado a lado

com a Internet, praticando um estilo de jornalismo iniciado no século XX, mas direto e apurado. De

acordo com Rodrigues (2006), o grande avanço trazido pelo jornalismo on line não é, nem nunca foi

o noticiário em tempo real, algo que há muito é utilizado pelo ‘rádio’ e pela ‘televisão’. Além deste,

outros fatores determinantes, fazem da Internet um meio totalmente inovador:

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A Internet é uma ferramenta de comunicação bastante distinta dos meios tradicionais – televisão, rádio, cinema, jornal e revista. Cada um dos aspectos críticos que diferenciam a rede mundial dessas mídias – não-linearidade, fisiologia, instantaneidade, acessibilidade e receptor ativo – deve ser mais bem conhecido e corretamente considerado para o uso adequado da Internet como instrumento de informação. (PINHO, 2000, p.49)

A Internet é um aglomerado de redes de computadores que podem trocar informações entre

si, interligados. Esta interligação pode dar-se de forma local, regional e internacional. Formando

redes que, respectivamente, gerenciam computadores de uma empresa/instituição, de uma região

com várias empresas/instituições conectadas e de países, ultrapassando limites geográficos de

qualquer região do planeta.

Fisicamente, a Internet equivale a uma estrada da informação – mais propriamente uma “superestrada da informação”, um mecanismo de transporte que conduz os dados por um caminho de milhões de computadores interligados. Os pacotes de informação viajam então por meio de redes que compõem a Internet, seguindo um caminho que passa por muitos níveis diferentes de redes em vários tipos de linhas de comunicação. (PINHO, 2003, p.42)

Esta rede a que fazemos referência é composta por nós e elos. Os nós são os diversos tipos de

computadores que usam, repetem ou produzem informações. Já os elos, são os canais responsáveis

por transportar fisicamente as informações. Como vimos, a Web é apenas uma das redes que

compõem a Internet. Ela é, atualmente, a mais difundida e utiliza uma estrutura de clientes e

servidores. Os clientes são os responsáveis por gerar e consumir as informações. Já aos servidores,

cabe a função de armazená-las.

Quando, por exemplo, um jornalista deseja publicar determinada matéria na Internet, ele

utiliza um nó (computador) do tipo cliente para esta tarefa. As informações inseridas ali são

guardadas em um servidor (computador) remoto para que outro cliente (computador), independente

de onde esteja ou no momento em que deseje, possa acessá-las para obter a notícia.

A estrutura responsável por realizar este transporte foi baseada, inicialmente na rede de

telefonia. Atualmente, a Internet utiliza-se de cabos de fibra ótica, cabos telefônicos, transmissões

por satélite, microondas, radio e outras tecnologias que funcionam como os elos de conexão.

A rede é também constituída por aparelhos que ampliam os sinais elétricos e permitem um

maior alcance dos elos. E por outros que, como guias, apontam os caminhos a serem seguidos por

uma informação para que ela chegue ao seu destino.

Além de toda esta estrutura física apresentada, a Internet precisa de uma “língua” com a qual

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os computadores passam a comunicar-se entre si. Esta língua é chamada de protocolo e cada rede

possui um protocolo específico. A Web é a parte da Internet mais usada pelas empresas jornalísticas

e utiliza o protocolo HTTP definido por Pinho (2003) como:

Protocolo que define como dois programas/servidores devem interagir, de maneira que transfiram entre eles comandos ou informação relativos ao WWW. O protocolo HTTP possibilita que os autores de hipertextos incluam comandos que permitem saltos para recursos e para outros documentos disponíveis em sistemas remotos, de forma transparente par o usuário. Por sua vez, o Uniforme Resource Locator (URL) é o localizador que permite identificar e acessar um serviço na Web. (PINHO, 2003, p.33)

Como pudemos ver, a Web foi responsável por propiciar o surgimento do hipertexto

eletrônico que modificou abruptamente o modo de registro e leitura do pensamento humano. Este

conceito de hipertexto é anterior à Internet. Porém, foi o Hypertext Markup Language (HTML),

linguagem padrão de documentos WWW, que permitiu a criação de documentos com textos, sons,

imagens e animações de forma que pudessem estabelecer elos (links) entre si. Com isto, estava

formado o alicerce para que as informações pudessem ser multimídia e hipertextuais. E também

com um fácil método para lançar/publicar e ler/baixar informações.

A Web é uma grande teia de bancos de dados interligados. Para visitar esses bancos,

necessita-se de um computador, (ligado à Internet através de linha telefônica), de um modem e de

um programa (software) conhecido como browser, que permita a leitura de texto e a recuperação de

material gráfico e sonoro (fotos, gravuras, cores, trilhas sonoras, efeitos de som, etc.). As

informações na WWW estão contidas em sites (sítios, ou simplesmente lugares), cada um dos sites

composto por muitas "páginas", isto é, arquivos em memórias de computadores, integrando textos,

sons e imagens.

Apesar de mais usada, a Web não é a única estrutura disponível na Internet, também para o

jornalismo. O envio e o recebimento de correio eletrônico, o acesso de dispositivos móveis, a troca

direta de arquivos entre dois computadores, o compartilhamento de arquivos em grupos, a conversa

entre pessoas em chats, a formação de fóruns e jogos virtuais utilizam outros protocolos ainda

pouco explorados, sobretudo pelo jornalismo, e que ainda têm muito a nos oferecer.

Vale lembrar, ainda, que o HTML foi concebido inicialmente para transmissão exclusiva de

textos. Aos poucos, os recursos visuais e sonoros incrementaram o projeto que “tecnicamente”

tornou-se uma “gambiarra”. O que não tira os méritos desta criação, mas aponta futuras

modificações necessárias e às quais os profissionais precisarão, mais uma vez, adaptar-se.

Em seguida, apresentaremos um conjunto de elementos que compõem os caminhos possíveis

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do jornalismo na Internet. Utilizaremos os conceitos apresentados pelos autores que embasam este

estudo de forma unificada, resumindo, inclusive, nomenclaturas distintas para uma mesma idéia.

1.3.3 História do Jornalismo na Internet

Temos visto ao longo deste trabalho que, assim que surge uma nova mídia, o conteúdo nela

veiculado é, ao menos a princípio, diretamente reaproveitado de outro meio já existente. Com o

passar do tempo, esta nova mídia estabelece-se e passa a produzir seu próprio conteúdo de acordo

com sua demanda. Explorando suas potencialidades próprias para ganhar vantagens sobre os demais

veículos.

Desta mesma forma aconteceu com a Internet, quando as primeiras incursões do jornalismo

trataram-se apenas de transposições do conteúdo publicado em papel. A jornalista e professora de

jornalismo online, Ferrari (2004) descreve a experiência pioneira do The Wall Street Journal:

O pioneiro foi o norte-americano The Wall Street Journal, que em março de 1995 lançou o Personal Journal, veículo entendido pela mídia como sendo o “primeiro jornal com tiragem de um exemplar”. O princípio básico desse jornal era enviar textos personalizados às tela de computadores. A escolha do conteúdo e a sua formação seriam feitas pelo próprio assinante, conforme suas preferências de leitura – depois de escolher suas áreas de interesse, ele receberia, por meio de uma mensagem eletrônica, um portfólio pessoal com notícias sobre tudo aquilo que escolheu. (FERRARI, 2004, p.23)

Depois de certo amadurecimento é que as versões eletrônicas dos jornais passaram a ser

independentes da impressa. Seu conteúdo e organização passaram a explorar, com a devida

propriedade, todo “arsenal” de recursos disponíveis na Internet.

Em seguida a esta consolidação, tivemos o surgimento de empresas exclusivamente on-line.

Com um perfil muito mais inovador sobre as informações que circulavam na Internet, e passaram a

competir em pé de igualdade com os grandes conglomerados de mídia tradicionais.

O próximo passo dado pelos sistemas de produção de informação foi possibilitar ao usuário

(leitor) a possibilidade de não só comentar ou intervir naquilo que era publicado. Passou-se a

estimulá-los para que eles próprios produzissem o conteúdo. Podemos dizer que este é o panorama

atual da Internet, o que leva à discussões acirradas sobre propriedade intelectual, confiabilidade da

fonte, formação do profissional de jornalismo e até mesmo sobre a extinção desta.

De acordo com Ferrari (2004), o primeiro site jornalístico brasileiro “foi o Jornal do Brasil,

criado em maio de 1995, seguido pela versão eletrônica do jornal O Globo”. (FERRARI, 2004,

p.25). Foram os conglomerados de mídia do país os responsáveis pelos primeiros passos do

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jornalismo na Internet do Brasil.

Atualmente, além de produzir e dar suporte às informações, as empresas de mídia buscam

prestar serviços aos seus usuários. Seja sob a forma de entretenimento, formação ou informação, as

empresas buscam soluções para determinadas necessidades e não mais apenas “empanturrar” seus

leitores com um grande volume de conteúdo. Detalharemos estas e outras características, além do

comportamento do jornalismo na Internet nesse próximo capítulo. Bem como as inclinações a que

ele possa vir a ter num futuro não muito distante.

1.3.4 Jornalismo na Internet

Entender a convergência de mídias neste nosso estudo, é realizar uma análise de um estado

unido em que todas as formas e instrumentos da mídia por efeito dos computadores, digitalização e

da ligação entre as informações. Este é um novo espaço em que o processamento de informação é

altamente desenvolvido e virtualizado.

Para designar este novo espaço, podemos, no entanto, tomar emprestado o termo

“ciberespaço”, utilizado pelo escritor William Gibson em “Neuromancer”. O termo tem origens no

comportamento de grupos punk e em suas manifestações na Internet: cyberpunk. Parte do princípio

de que a comunicação mediada por computador é espaço para manifestações ao mesmo tempo

individuais, em massa e potencialmente subversiva. Segundo Lévy, o ciberespaço se configura

numa outra dimensão de interação máquina/homem:

“O ciberespaço é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não apenas a infra-estrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo” (LÉVY, 1999, p.17)

Dentre aqueles que “navegam e alimentam” o ciberespaço, os jornalistas possuem atuação

determinante. Tanto por conhecerem e lidarem com informação, como por uma certa “autoridade”

que lhe é conferida por já publicar em outras mídias. Ainda que dentro da Internet, atuem segundo

alguns preceitos diferentes dos que utilizavam em outras mídias. Neste capítulo, analisaremos

algumas destas características do jornalismo na Internet.

Na Internet, não só o texto é fundamental para transmitir uma informação. É preciso que o

jornalista conheça a estrutura daquele veículo que irá utilizar, as formas de distribuir informação

dentro dele e, assim, explorar melhor as possibilidades do seu conteúdo informar bem o ‘leitor’. Em

mídias anteriores, cabia ao editor selecionar as partes que iriam interessar a uma edição do jornal e

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encaixá-la da melhor forma possível. O jornalismo na Internet exige do profissional a percepção do

conteúdo dentro de uma disposição adequada e atrativa para o destinatário.

Esta forma de jornalismo tem como suporte de circulação as redes de telecomunicação

mundiais, transmitindo sinais numéricos com suporte à interação com a outra ponta do sistema de

comunicação. Ou, como define Pinho (2003):

Diferencia-se do jornalismo praticado nos meios de comunicação tradicionais pela forma de tratamento dos dados e pelas relações que são articuladas com os usuários. Por sua vez, sendo a Internet uma mídia bastante distinta dos meios de comunicação tradicionais – televisão rádio, cinema, jornal e revista –, o jornalismo digital deve considerar e explorar a seu favor cada uma das características que diferenciam a rede mundial desses veículos (PINHO, 2003 p. 58)

Daremos maior ênfase a esta nova atuação mais adiante. Neste momento, preocupar-nos-

emos com o conteúdo das informações jornalísticas na Internet.

a) Tipos de conteúdo

De acordo com Ward (apud Pinho 2002, p. 182): o conteúdo em sites Web pode ser

classificado como: estático, dinâmico, funcional e interativo.

O primeiro deles, o estático é entendido como informações fixas que não estão sujeitas a

mudanças. Tal como a apresentação de uma empresa e sua política de privacidade.

O conteúdo dinâmico é aquele que está sendo constantemente atualizado. Um exemplo disto

poderiam ser as notícias de um determinado site.

Já o conteúdo funcional, tão informações que atuam como ferramentas em um determinado

site. Os botões de navegação ou uma lista com os principais temas do site, poderiam ser citados

como exemplo.

O último deles, o conteúdo interativo, diz respeito àquela informação manipulada e

produzida pelos usuários. As formas iniciais de interação era apenas lista de discussão e troca de

correio eletrônico. Cada vez mais, os profissionais da comunicação precisam planejar seu conteúdo

de forma a permitir uma interação maior com os usuários. Seja com infográficos, recursos de vídeo,

conversas por chat e outros.

A partir do entendimento destas três classes possíveis de conteúdo, poderemos entender

como a informação na Internet chega até os usuários.

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b) Características da Informação on line

É bastante perceptível que as formas de leitura dentro da mídia Internet são muito diferentes

das que encontrávamos antigamente. Sendo o jornalismo um dos principais responsáveis pela

publicação de informações neste meio imprescindível que conheçamos suas características

peculiares.

i) Interatividade

Esta é uma das principais vedetes anunciadas pelas mídias digitais. A possibilidade de

intervir e interagir com determinada obra estimula muitas pessoas, as faz participar de um processo

de transmissão de informação tradicionalmente hierarquizante. O que, no entanto, não nos impedia

de inserir informações sobre as páginas dos livros e enciclopédias das bibliotecas. Sendo, pois, uma

forma de interatividade rudimentar praticada, ainda que, de há pouco tempo atrás.

Com o suporte eletrônico, o “manto sagrado” sobre as obras textuais foi desvelado. O leitor

não é mais constrangido ao intervir na obra de um autor. O filólogo Roger Chartier explica bem as

diferenças entre as duas épocas.

O novo suporte do texto permite usos, manuseios e intervenções do leitor infinitamente mais numerosos e mais livres do que qualquer uma das formas antigas do livro. No livro em rolo, como no códex, é certo, o leitor pode intervir. Sempre lhe é possível insinuar sua escrita nos espaços deixados em branco, mas permanece uma clara divisão, que se marca tanto no rolo antigo como no códex medieval e moderno, entre a autoridade do texto, oferecido pela cópia manuscrita ou pela composição tipográfica, e as intervenções do leitor, necessariamente indicadas nas margens, como um lugar periférico com relação à autoridade. (CHARTIER, 1999, p.88)

Acompanhando este resgate histórico do livro, Lúcia Leão (2005, p.30) em “Labirinto da

Hipermídia” aponta a semelhança entre os textos em rolo e as formas de leitura atuais na Internet.

De acordo com a autora, antes de o livro tomar este formato que conhecemos, em bloco, o textos

eram escritos em rolo, tal como pode ser encontrado na Internet. Em que os conteúdos extensos

precisam ser “rolados” para serem vistos.

Esta interatividade extrapola as possibilidades do texto, vai além da possibilidade de o leitor

atuar sobre a informação veiculada. Decerto, ele torna-se também um emissor de informações e

cada pessoa torna-se uma fonte única de conteúdo também único. O que, segundo Pierre Levy, nos

leva a aspectos civilizatórios ligados ao surgimento desta nova mídia: “novas estruturas de

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comunicação, de regulação e de cooperação, linguagens e técnicas intelectuais inéditas, modificação

das relações de tempo e espaço etc.” (LÉVY, 1998, p.13).

A digitalização dos processos de produção e transmissão foi a concretização de um sonho

antigo do pesquisador Ted Nelson:

No início dos anos 60, Nelson propôs o desenvolvimento de um sistema que possibilitasse o compartilhamento de idéias entre as pessoas, no qual cada leitor deixaria seu comentário. Com aspirações cósmicas, o sistema Xanadu, como foi denominado, seria uma espécie de "biblioteca universal". Nele, as pessoas poderiam trocar imagens, sons, filmes, documentos, diálogos, interações, etc. (LEÃO, 2005 p.21)

E esta é se não a melhor, uma das melhores descrições daquilo que se poderia entender

como Internet.

Observando a postura dos leitores da mídia digital, percebemos que se assemelha à dos

antigos leitores dos enormes livros da idade média. Por não ser nada portáteis, estes livros exigiam

do leitor uma postura muito rígida:

A história das práticas de leitura, a partir do século XVIII, é também uma história da liberdade na leitura. É no século XVIII que as imagens representam um leitor na natureza, o leitor que lê andando, que lê na cama, enquanto, ao menos na iconografia conhecida, os leitores anteriores ao século XVII liam no interior de um gabinete, de um espaço retirado e privado, sentados e imóveis. (CHARTIER, 1999, p.78-79)

Traçando um paralelo com os computadores pessoais da atualidade, vemos a mesma postura

dos seus usuários, tal como se comportavam os leitores da antiguidade. A atenção daquele que se

mantém firme sobre a cadeira pode ser uma justificativa de sua interação constante na Internet.

Especificamente para o jornalismo, Pinho (2003) observa a presença da participação do

leitor em fóruns e e-mails enviados à redação que podem ser, em seguida, publicados. Da mesma

maneira são os com etários feitos logo em abaixo de um dado conteúdo em um site noticioso.

Este é um tipo de interatividade limitada, em que o há apenas uma troca momentânea de

conteúdo. Uma real interatividade passar muito mais pela palavra “intervenção”. Quando o leitor,

através de um comentário acerca de um conteúdo, influencia diretamente na produção deste,

modificando a informação inicial. Seria uma espécie de retroalimentação definida por Pinho (2003)

como um modelo de três vias que envolve “a contribuição de usuários para usuários tanto quanto o

jornalista. Essa triangulação pode ser multiplicada ad infinitum, como o modelo de uma estrutura

molecular” (PINHO, 2003 p.145).

Bruno Rodrigues, autor de Webwriting, reforça a importância da interatividade no conteúdo

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jornalístico da Internet: “o constante relacionamento entre um site e seu visitante produz um

conteúdo realmente útil e desejável, e cria um laço forte e duradouro entre as partes.”

(RODRIGUES, 2006 p. 78)

O jornalismo abandona seu caráter de “palestra” e passa a ser encarado como

uma conversa entre o autor e o leitor, os quais revezam seus postos constantemente.

“No webjornalismo a notícia deve ser encarada como o princípio de algo e não um fim

em si própria. Deve funcionar apenas como o 'tiro de partida' para uma discussão com os

leitores. Para além da introdução de diferentes pontos de vista.” (CANAVILHAS, 2001,

p.03)

ii) Hipertextualidade

A Web foi concebida semelhante ao modelo Xanadu do qual falamos anteriormente. Desta

forma, boa parte dos textos nela presente estabelece uma ligação com o um outro. A esta relação,

dá-se o nome de link. Que nada mais é do que o elo entre uma palavra, expressão ou outro

componente e um documento na Web.

Esta possibilidade de ligação expande as fronteiras de um assunto em um texto. É como se,

ao tratar de um determinado conteúdo, o autor pudesse expandir, ou não, uma determinada

informação sobre algo do texto inicial. Daí, surge uma modalidade de texto conhecida como

hipertexto, definida por Pollyana Ferrari como:

Um bloco de diferentes informações digitais interconectadas é um hipertexto, que, ao utilizar nós ou elos associativos (os chamados links), consegue moldar a rede hipertextual, permitindo que o leitor decida e avance sua leitura do modo como quiser, sem ser obrigado a seguir uma ordem linear. Na Internet não nos comportamos como se estivéssemos lendo um livro, com começo meio e fim. Saltamos de um lugar para outro – seja na mesma página, em páginas diferentes, línguas distintas, países distantes etc. (FERRARI, 2004 p.42)

Já Leão (2005, p.27), trabalha o conceito destes blocos de informação sob a forma de lexias.

Para ela, uma lexia é uma unidade básica de informação e “pode ser formada por diferentes

elementos, tais como textos, imagens, vídeos, ícones, botões, sons, narrações, etc.”

Os links, da forma como nos apresenta Pinho (2003), têm a função de dar profundidade à

informação. Servem para oferecer dados complementares e explicar o significado de abreviaturas e

termos técnicos. Os vínculos precisam mostrar claramente aos usuários para onde eles estão indo e

por que eles devem ir, facilitando sua caminhada (navegação) entre os hipertextos.

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Vicente Gosciola (2003) nos apresenta alguns tipos de links que podem ser construídos

através de um trabalho de Landow chamado: Hyertext 2.0: the Convergence Contemporary Critical

Theory and Technology. De acordo com o autor (GOSCIOLA, 2003 p.82), as formas de link

utilizadas por autores de hipertexto podem ser:

lexia-lexia unidirecional: permite a passagem de um documento para outro sem a

possibilidade de retorno; quando o link é usado com documentos muito grandes, pode

desorientar o leitor;

lexia-lexia bidirecional: permite a comunicação entre dois documentos, possibilitando o

retorno pelo mesmo caminho;

lexia-lexia (linha- palavra ou frase): orientação simples de sentido por um ponto de partida

retórico quando um link está anexado a uma palavra; é a forma mais utilizada para links na

Web, promovendo a desorientação se não for bidirecional;

linha-linha: leva o leitor a um trecho ou a uma palavra exata de uma lexia para outra;

conexão um-para-muitos: oferece alternativas de linhas e lexias, podendo atender

suficientemente à demanda do leitor;

conexão muitos-para-um: leva de diversos textos para um texto que faz múltiplas referências;

personalizada (typed link): limita o link a um tipo específico de relacionamento.

Leão (2005, p.32) propõe uma tipificação links diferente, de acordo com o local da lexia

para o qual o link aponta. São dois tipos segundo a autora: link conjuntivo e link disjuntivo. O

primeiro estabelece uma relação simultânea com outra lexia, do tipo “e”. Sem que, para acessar uma

informação adicional, o leitor precise desviar a atenção do texto original. Já no segundo tipo, o

leitor é levado para outro ponto do sistema, distante do inicial. Estabelece, então, uma relação

separada do tipo “ou”.

A mesma autora traz uma contribuição significante do ponto de vista do entendimento

daquilo que se tornou o leitor da mídia digital. Algo que possui um papel de difícil entendimento,

mas primordial para os que pretendem produzir conteúdo na internet. Para Leão (2005), o termo

leitura designa hoje em dia a atividade daquele que interage com um sistema de informações:

O sentido desse termo, importado do universo da escrita, deve ser ampliado para esta discussão. Segundo pesquisas em Ciências Cognitivas, os textos hipermidiáticos exigem de seus leitores dois tipos de habilidade. A já conhecida habilidade de compreender um texto convencional continua sendo básica. Mas, além disso, o leitor deve adquirir a habilidade de "navegar" pelo espaço multidimensional do sistema. (LEÃO, 2005 p.118)

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Antes de detalhar as conseqüências desta leitura fragmentada, trataremos da forma como o

som e a imagem, sob o formato digital, compõem a informação na Web.

iii) Multimediação ou Convergência

Ao longo deste estudo, observamos a tentativa da humanidade de representar suas

informações sob diferentes formatos: imagem, som e texto. De um ponto de vista comercial,

jornalístico, destas informações, os suportes foram criados em ordem inversa. Primeiro pudemos

imprimir textos em série, depois transmitir sons a longas distâncias e, por fim, a imagem levada de

um ponto a outro.

Mas, foi só a partir da transformação destas informações em bits (sistema numérico binário,

com dois dígitos, utilizado por computadores) que pudemos manipulá-las de forma mais harmônica

e prática. A digitalização deu ao homem uma nova possibilidade de registro, captação, troca,

transmissão, recebimento e interpretação da informação. Criou-se, assim, a possibilidade de unir

texto, som e imagem de forma simbiótica e integrada para lidar com a informação: a multimídia.

Aliada à interligação das pessoas em uma rede mundial, cada computador passar a ser um

poderoso centro de produção e distribuição de multimídia. Como apresentamos anteriormente, a

Web foi concebida para trabalhar eminentemente com textos. No entanto, ao longo do tempo,

algumas adaptações foram sendo feitas de forma a permitir a veiculação de informações sobre

outros formatos através da Internet.

A partir de então, abriu-se uma gama de possibilidades para a transmissão de conteúdo.

Audição e visão tornaram-se ao máximo estimulados pelas características antes presentes apenas

com o cinema, rádio e televisão. A multimídia apela diretamente na emoção, através da

sensibilização dos sentidos:

Ao registrar e difundir – seja em som ou imagem em movimento – o que não possuiria o mesmo impacto em texto, fotografia ou ilustração, os produtores de conteúdo conseguem abarcar a informação sem perder um aspecto que seja e ainda contem com a ajuda integral dos sentidos que garantem a observação e a atenção do usuário: a visão e a audição. (RODRIGUES, 2006, p.37)

Para o leitor, esta não é apenas uma forma atrativa de apresentar um conteúdo, mas sim uma

forma melhor de transmiti-lo. A informação multimídia pode se dar de forma redundante ou

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complementar. Desta maneira, o leitor poderá escolher por seu formato de mídia preferido ou por

um aprofundamento daquela informação inicial.

A convergência de mídias na web se dá quando da integração entre os vários elementos de

informação: texto, gráfico, tabela, fotografia, ilustração, áudio e vídeo. De acordo com Ferrari

(2004, p.48), cabe ao profissional estabelecer critérios de predileção quanto à melhor mídia:

Os jornalistas on-line precisam sempre pensar em elementos diferentes e em como eles podem ser complementados. Isto é, procurar palavras para certas imagens, recursos de áudio e vídeo para frases, dados que poderão virar recursos interativos e assim por diante. (FERRARI, 2004, p.48)

Em virtude de questões estruturais, a transmissão de vídeo através da Internet não ocorre de

maneira ideal, ou próxima da já popular televisão. Isto, de certa forma, aliada à baixa qualidade do

vídeo, reduz o impacto deste sobre os internautas. Mas não impede a imagem de atuar com muita

expressão sobre o imaginário. Nicholas Negroponte nos fala um pouco sobre tal influência do vídeo

digital: “A multimédia interativa deixa muito pouco espaço para a imaginação. Tal e qual um filme

de Hollywood, a narrativa multimídia inclui representações tão específicas que deixa cada vez

menos espaço para a fantasia.” (NEGROPONTE, 1995, p.13)

Esta nova mídia se apresenta crescente e interativa, permite aos consumidores escolher quais

recursos de informação desejam, quando, quais e sob qual forma desejam ter acesso a eles. Para

entender tais exigências devem existir, por parte do profissional de jornalismo, a preocupação com

sua informação noticiosa, com a melhor forma de transmiti-la. Mas também com a estrutura e

formato idéias para levar seu conteúdo até os leitores.

iv) Não-linearidade

Os hábitos de leitura na mídia digital foram radicalmente transformados. Nos três tópicos

anteriores vimos como a informação tornou-se mais interativa, hipertextual e multimídia. Estas

características incorrem em mudanças na forma de ler que os usuários precisaram desenvolver.

A leitura é uma apropriação individual de significados. O pensamento de quem lê não

obedece, portanto, a mesma ordem seqüencial daquele que escreveu determinado texto. O primeiro

reescreve à sua maneira as informações que lhe chegam.

Por inserir recursos multimídia ao texto da Web, o conteúdo veiculado em mídias digitais é

também chamado de hipermídia. Seguindo os caminhos apontados por Leão (2005), hipermídia

pode ser entendida como:

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A possibilidade de estabelecer conexões entre diversas mídias e entre diferentes documentos ou nós de uma rede. Com isso, os elos entre os documentos propiciam um pensamento não-linear e multifacetado. O leitor em hipermídia é um leitor ativo, que está a todo momento estabelecendo relações próprias entre diversos caminhos. Como um labirinto a ser visitado, a hipermídia nos promete surpresas, percursos desconhecidos (LEÃO, 2005 p.16)

Com esta série de caminhos a ser percorrida, percebemos que a realidade alienante da

hipermídia, assim como falou Negroponte, não se apresenta plenamente verdadeira. O texto em

hipermídia estimula associações mentais do leitor, bem como sua capacidade de raciocínio. Além

do mais, como já vimos, o leitor encontra-se em posição de ação, sempre disposto a colaborar e

interagir com aquilo que lhe é informado.

A não-linearidade da informação na Internet exige que o material mostrado na tela do monitor suscite no leitor a confiança de que ele encontrará no site a informação procurada. O redator do texto precisa antecipar o motivo pelo qual o usuário está visitando aquele site e certificar-se de que o que ele vê tem um contexto estabelecido, uma navegação apropriada e, por último, vai satisfazer plenamente as suas necessidades de informação. (PINHO, 2003 p. 50)

Referenciando o trabalho de Radfahre (apud PINHO, 2003, p.186), Pinho aponta cinco

regras para facilitar a criação de modelos não-lineares por parte dos jornalistas:

Escreva pequenos textos, independentes entre si, mas com elementos em comum;

Marque todas as palavras de cada texto que possam servir de conexão com outros textos;

Crie tabelas de conexão, marcando, para cada texto, quais são os textos que levam a ele e quais

são os que saem dele;

Organize as ligações, evitado “afunilamentos”: textos com muitos pontos de entrada ou de saída

e

Estruture esses textos em uma hiper-retórica, dando ao visitante a falsa impressão de controle

sobre os links, enquanto o leva para o ponto desejado.

v) Personalização de Conteúdo

A recriação do conceito de McLuhan sobre a Aldeia Global encontra conseqüências diretas

na produção de conteúdo para a Internet. Nela, tal como numa cultura de tradição oral, as

informações costumam atingir seu público específico analogamente a uma conversa entre dois

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indivíduos de uma mesma tribo, aldeia.

A mesma proporção de interatividade vista nas mídias digitais deve ser correspondente à

personalização do conteúdo aos leitores. Cada texto desdobra-se em caminhos únicos para cara

indivíduo. As opções de multimídia que ele utiliza para percorrer também personalizam seu

conteúdo. Além de tudo isto, há ainda a construção individual das relações entre as informações, a

interpretação livre.

Mas o ponto central da personalização de conteúdo na Internet reside na possibilidade de

estabelecer comunicação “ponto-a-ponto” com um usuário. Ou, ao menos, fazê-lo ter esta sensação

ao assimilar um determinado conteúdo.

Não há, muito embora, uma personalização significativa de sites noticiosos. Pois estes não

têm, ou não dedicam, recursos suficientes para lidar com cada usuário em particular. Ainda não é

plenamente seguro oferecer um serviço personalizado sem gerar riscos de confidencialidade para as

informações dos usurários.

vi) Instantaneidade

O uso de computadores dinamizou bastante o processo produtivo de informações em todas

as mídias. A informatização dos sistemas trouxe uma maior e melhor dinâmica nas ações de

apuração, redação, edição e publicação. No entanto, pela natureza do veículo, nenhum dos antigos

meios tem a possibilidade de manter-se atualizado do webjornalismo. Por um simples fato: ele não

tem “edição” para ser fechado, ao menos em boa parte das publicações.

Ao passo que o jornal impresso, o rádio e a TV têm horários limitados para chegar aos

leitores e uma estrutura burocrática de produção, a Internet tem uma “edição que nunca acaba”.

Ainda que não seja uma exclusividade da Internet, pois no século XX o rádio e a TV consagram a

transmissão direta em tempo real de notícias e eventos esportivos. Como bem nos recorda Pinho

(2003), este é apenas uma exceção à regra:

Na maioria das vezes é preciso esperar pelas notícias no telejornal da manhã ou da noite, ocasiões em que as pessoas estão no meio de um tráfego congestionado, tentando chegar em casa. O jornal é ainda mais lento: os fatos precisam cobertos pelo repórter, a notícia é redigida e editada, as máquinas precisam rodar o jornal e, finalmente, ele precisa ser distribuído para as bancas e entregue nas residências e nos escritórios. (PINHO, 2003, p.51)

Já Rodrigues (2006), mostra-se mais cauteloso quanto ao jornalismo instantâneo da desta

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mídia digital:

Noticiário em “tempo real” - ou “real time” - não é, nem nunca foi, o grande avanço do jornalismo online. O século XX consagrou este estilo mais do que necessário de apuração e que mudou para sempre a face do Jornalismo. Mas em seu Panteão, sempre estarão, lado a lado, rádio e televisão. (RODRIGUES, 2006 p.42)

Através de informações de registro geradas por cada usuários e salvas em seu computador

(cookies), as publicações online poderiam disponibilizar informações ainda mais personalizadas ao

seus leitores.

vii) Perenidade

O jornal impresso, dias depois de sua publicação, perde sua utilidade e é desprezado, sendo

usado até como papel para enrolar peixe fresco. Diferentemente, o jornalismo na Internet, permite

que as informações publicadas estejam sempre disponíveis a qualquer instante.

Esta forma de armazenamento de dados não ocupa muito espaço físico e permite manter

uma série de arquivos de informações acessíveis a quem quer que seja. Muito mais, a informação na

Internet permanece, se expande, agrega e constrói células de informação de alta longevidade.

Preocupar-se com o rumo que sua notícia terá depois de publicada nas principais páginas de

um site é função também do profissional de Internet. Rodrigues (2006) cita como exemplo o caso

em que o The New York Times constatou grande número de visitas aos seus conteúdos antigos:

É hora de nos preocuparmos com o que já foi destaque na primeira página e hoje está acumulando poeira nos porões dos nossos sites. Hoje, o nyt.com cobra pelo acesso às profundezas, e nelas também mora, agora, um reluzente pote de ouro...(RODRIGUES, 2006, p.42)

Por vezes, nem sempre o “real time” é a garantia de leitores e receita para um site.

c) Escrevendo para Mídia Digital

i) Planejamento

Existem dois tipos planejamento necessário para aqueles que desejam iniciar-se no

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jornalismo online. O primeiro deles é a concepção de um sistema de notícias capaz de integrar

diversas mídias, estruturalmente preparado para trabalhar de forma adequada. O segundo

planejamento a ser feito é o planejamento de cada notícia. Ainda que seja por um curto espaço de

tempo, é preciso pensar sobre que estratégias adotar para produção de determinado conteúdo. Como

adequar o conteúdo ao formato, visando interação e leitura hipertextual por parte do leitor.

Pinho detalha uma das formas de planejamento do conteúdo para um site jornalístico:

O ideal é fragmentar as reportagens maiores em textos mais condensados, divididos em vários documentos ligados entre si por links. Esta organização permite que uma matéria seja editada em partes complementares, por camadas de aprofundamento ou interesse. O primeiro documento conteria as informações principais e os seguintes, dados mais detalhados, incluindo estatísticas, mapas, gráficos, imagens, animações e trechos de áudio e vídeo. (MANTA apud PINHO 2003, p.206)

ii) Leitura e Linkedição

Como vimos nos tópicos anteriores, a internet possibilita uma leitura esfacelada de um

conteúdo. Algo que a princípio não se apresenta tão nítido para o leitor, mas que deve ser tratado

com atenção pelo autor das informações. Para desenvolver este tipo de leitura, o autor precisa

adequar sua informação às possíveis interpretações dos leitores.

Para isto, deve trabalhar com a linkedição de textos dos textos. Que nada mais é do que a

construção dos pontos de conexão entre os diversos documentos Web de um site. Os links

emprestam profundidade a um texto. Devem, pois, ser preparados com cautela buscando facilitar a

navegação dos seus leitores.

Segundo Pinho (2003, p.189), o leitor é favorecido quando a frase do link permite uma clara

compreensão sobre o assunto para o qual ele está sendo direcionado. Desta forma, a dica para usar

links é sobre as palavras chaves de determinado documento e não em expressões do tipo “clique

aqui para continuar lendo”.

iii) Pirâmide Inverdita e Deitada

A pirâmide invertida é um modelo de apresentação de conteúdo largamente utilizado na

Internet. Tem sua origem ainda nos jornais impressos e consiste na apresentação das informações

por ordem decrescente de importância. Pinho dá maiores detalhes sobre esta técnica: “O redator

inicia o parágrafo de abertura contendo um resumo da história, uma conclusão ou os fatos principais

(o lide, que no texto informativo deve responder às questões básica: o quê, quem quando, onde,

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como e por quê) (PINHO, 2003 p.207-208)

Temos, no entanto, um conceito apresentado por Canavilhas chamado pirâmide deitada.

Trata-se de um diagrama que considera um ponto inicial com menos informação, indo até os níveis

mais profundos de informação. São estes os níveis: Unidade base, Unidade de explicação, nível de

contextualizar e nível de exploração.

A pirâmide deitada é uma técnica libertadora para utilizadores, mas também para os jornalistas. Se o utilizador tem a possibilidade de navegar dentro da notícia, fazendo uma leitura pessoal, o jornalista tem ao seu dispor um conjunto de recursos estilísticos que, em conjunto com novos conteúdos multimédia, permitem reinventar o webjornalismo em cada nova notícia. (CANAVILHAS, 2006, p.16)

iv) Webwriting

No entanto, Rodrigues (2006, p.11) traz outra visão sobre a atuação do jornalista dentro dos

veículos de mídia online. Para ele, este profissional chama-se webwriter e a ele cabe a tarefa de

aliar texto, design e tecnologia num componente único: a informação. Webwriting é o conjunto de

técnicas que auxiliam na distribuição de conteúdo informativo em ambientes digitais.

Esta nomenclatura é usada pelo fato de o autor entender que “quem lida com jornalismo on

line são as versões para internet de veículos noticiosos impressos” (Rodrigues, 2006 p.12). Abaixo

segue algumas das características fundamentais para o webwriting:

(1) Persuasão

O redator tem em suas mãos o poder de fisgar leitores. Muito mais do que convencê-los, é

preciso cativar um público fiel ao seu texto. Abordar todos os aspectos possíveis de um tema e

exibi-los por partes pode satisfazes as necessidades de informação de um leitor sem deixá-lo

cansado.

Não importa a informação a ser apresentada, seja ela uma notícia em tempo real, um serviço de utilidade inquestionável ou um texto institucional esclarecedor, quem precisa criar interesse ao que está sendo apresentado e tornar clara a informação é o redator web. (RODRIGUES, 2006 p.13)

(2) Objetividade

Este preceito é um padrão de toda informação jornalística. Concisão nos conteúdos,

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limitação ao tema tratado e outras especificações. Na Web, no entanto, não ocorre exatamente desta

maneira. Há necessidades do leitor que precisam ser satisfeitas. E que, se não forem atendidas,

implicarão em uma fuga de atenção do seu para outro site que as corresponda.

“Mais que auxiliar o usuário a encontrar o que procura, a função do redator web é lapidar a

informação, oferecendo apenas os aspectos de real interesse e descartando o que não possui

funcionalidade” (Rodrigues, 2006 p.15). Objetividade na Internet não quer dizer brevidade ou

simplicidade. Está mais próximo de “cumprir uma meta”, “atingir um objetivo”.

(3) Navegabilidade

Este é um conceito novo para os profissionais que migraram de outras mídias para a redação

web. Para cumprir as metas de que falamos no ponto anterior, é preciso orientar de forma adequada

o leitor de um site. Para isso, um estudo sobre a distribuição das informações dentro do site, aliado a

um bom uso de ligações (links) dentro de cada página, poderão instrui bem seus visitantes.

Rodrigues (2006) alerta para a importância que o link possui dentro da composição do

hipertexto. E que esta é chave que permite aos usuários navegar entre as páginas de forma

adequada.

Quando o conteúdo é bem trabalhado, o redator apresenta uma informação, sugere aspectos que possam complementá-la, aponta assuntos correlatos e, quando as possibilidades se encerram, recomenda outro site onde o usuário possa expandi-la (RODRIGUES, 2006, p.17)

Ainda segundo o autor, os links podem sugerir páginas dentro ou fora do próprio site. Para o

primeiro caso são acrescentadas informações complementares, e nestas está presente um link de

retorno à página inicial. Já no segundo caso o link deve vir acompanhado do conteúdo da página a

ser aberta. Pois, em geral é um serviço ou informação não oferecida pelo site.

Os links devem ser pensados em favor do usuário. Independentemente do caminho que ele

siga, possibilidades devem ser sugeridas para que ele construa sua própria leitura.

(4) Visibilidade

Ter visibilidade é fundamental para qualquer veículo de mídia. Se antes, conquistar uma boa

imagem no mercado era uma tarefa exclusiva da equipe de marketing, hoje em dia o redator web

precisa estar atento também a isso.

O conteúdo é o produto e a porta de entrada da maior parte dos sites. Desta forma, o redator

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precisa aparecer para seu leitor tal como se vendesse um produto: “A idéia é que o conteúdo é um

produto, e o usuário, um possível cliente, modifica a relação do redator web com seu trabalho”

(RODRIGUES, 2006, p.19). Administrar bem sua vitrine de negócios é fundamental a para

conquistar um espaço ao sol.

(5) Arquitetura da Informação

Toda informação publicada na Internet precisa de uma ordem lógica para que diversos

públicos possam ter acesso a elas, e para que os produtores de conteúdo possam escolher qual dos

caminhos é o melhor. É a isto que chamamos “Arquitetura da Informação”, a estrutura em termos

de navegação, hierarquia e disposição dos elementos interativos em um site.

Pinho (2003, p.135) resume a essência edificante da Arquitetura da Informação: “(...) é

projetar a organização e o sistema de navegação com o propósito de ajudar os usuários a encontrar o

que procuram” (PINHO, 2003 p.135). Também é tarefa do jornalista entender de que forma um site

deve organizar-se. Pois é ele que irá operar sobre as informações lá publicadas, sua distribuição,

controle e desdobramentos possíveis.

Rodrigues (2006, p.59) dá as dicas de como proceder neste campo de atuação relativamente

novo para o jornalismo:

“Pense em dados e serviços oferecidos de bandeja: não complique a estrutura editorial, portanto. Deixe sempre à mostra a entrada para os documentos mais importantes para os empregados da empresa ou qualquer informação essencial para o dia-a-dia da empresta. Todo o resto vem depois (...)” (RODRIGUES, 2006 p.59)

O autor relaciona (2006 p.99-100) ainda algumas palavras de ordem da Arquitetura da

Informação:

Organizar – diz respeito à clareza com que o usuário irá apreender uma informação e sua

apresentação (texto, tabela, gráfico ou imagem)

Navegar – lida com um conceito amplo de aprendizagem, em que a leitura deve ser facilitada para

adequar-se a todos os públicos

Nomear – preocupa-se com a chegada da informação ao leitor, de forma não criar barreiras de

comunicação e com o entendimento lingüístico do público-alvo.

Buscar – uma informação deve ser facilmente visualizada em um texto, para que o usuário, assim

que acessar uma página, possa identificar o que procura.

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(6) Usabilidade

Ainda como uma nova atribuição dada ao jornalista na Internet, a literatura indica a

preocupação incessante com o usuário. Seu nome é usabilidade e diz respeito às técnicas e

processos que ajudam os seres humanos a realizar tarefas em um computador no ambiente gráfico

da Web.

Para trabalhar com usabilidade um determinado site precisa permitir ao usuário completar a

tarefa a que se propôs, com qualidade, rapidez e precisão. Jackon Nielsen, precursor nos estudos de

usabilidade, expõe seu entendimento sobre estas ações:

Usabilidade é a ferramenta da Web. Se um cliente não consegue encontrar um produto, simplesmente não irá comprá-lo. A Web é a fronteira entre o empreendedor e o cliente. Se ele der dois cliques no mouse e não encontrar o que procura, outros competidores no mundo oferecerão o mesmo produto, mas num outro clique, fora do seu site. (NIELSEN apud FERRARI, 2004, p.60)

2 TODAS AS MÍDIAS NUM SÓ LUGAR 2.1 Metodologia da Pesquisa

Neste capítulo, apresentaremos os pormenores da metodologia aplicada para a realização do

nosso estudo. Bem como, justificaremos o uso do estudo de caso como método mais adequado para

o objeto em questão.

2.1.1 Escolha do Método

O presente estudo possui um caráter predominantemente qualitativo, nosso foco não é

conhecer qual a mais difundida ou aplicada maneira de lidar com as mídias digitais na Internet.

Mas, sim, saber de que forma um determinado veículo produz conteúdo dentro destas novas

configurações da comunicação.

Desta forma, o método de Estudo de Caso foi escolhido por tentar responder questões sobre

os processos, tal como explica Yin:

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O estudo de caso é uma inquirição empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de um contexto da vida real, quando a fronteira entre o fenômeno e o contexto não é claramente evidente e onde múltiplas fontes de evidência são utilizadas (YIN apud DUARTE, 2006, p.216)

Ainda segundo Duarte (2006), o estudo de caso é a estratégia preferida quando é preciso

responder a questões do tipo “como” e “por que”. Para a elaboração de um estudo de caso, é preciso

analisar a realidade de forma aprofundada. Pois, estes são sugeridos para pesquisas em que deve ser

feita uma compreensão maior dos fatos do que sua mensuração.

Conclui-se, então, que o método de estudo de caso é o mais apropriado, uma vez que nosso

objetivo é compreender a forma (como) com que o globo.com desenvolve seu conteúdo, a partir de

um estado unido de informações multimídia na Internet.

Ele enfatiza ser a estratégia preferida quando é preciso responder a questões do tipo "como" e "por que" o pesquisador tem pouco controle sobre os eventos e quando o foco se encontra em fenômenos contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real. (DUARTE, 2006 p.216)

2.1.2 O objeto

O caso específico do Globo.com reforça ainda mais nossa proposta de analisar um conjunto

de mídias. Por ser mais uma iniciativa das Organizações Globo, o site globo.com funciona como um

ponto de fusão entre as mídias em que a empresa já atuava. Além de, claro, desenvolver a

linguagem própria do jornalismo na Internet.

2.1.3 Procedimento Metodológico

Nosso estudo exploratório buscou conhecer o funcionamento do site através de uma

exploração da realidade do seu conteúdo. Este tipo de procedimento é chamado de observação

direta em que aquele que irá analisar, entra em contato direto com as ações do objeto de estudo. De

acordo com Duarte (2006), a observação direta:

É feita quando em visita ao local do estudo de caso e serve para fornecer dados adicionais sobre o tema em análise. Compreende atividades formais como desenvolver protocolos de observação; e informais como as condições físicas de um edifício e a distribuição de espaços de trabalho que podem revelar algo sobre problemas financeiros de uma instituição ou sobre a posição ocupada pelo respondente em sua estrutura. (DUARTE, 2006, p.230)

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Desta forma, nossa análise será baseada no contato direto com o site globo.com. Sem querer

ter a mesma conduta de um usuário comum, mas com um olhar crítico sobre todo conjunto de

informações disponíveis. A única fonte de informação para nosso estudo de caso foi o próprio

globo.com, a experiência da análise crítica de toda sua estrutura é que enriqueceram este estudo.

Nosso roteiro de análise está estruturado da seguinte forma:

1 Visão geral do site – aspectos primários de distribuição de informações

2 Identificação da distribuição de conteúdo em áudio, vídeo e texto

3 Exame de notícias que usem preferencialmente mais de uma mídia

4 Apresentação de uma proposta diferenciada de conteúdo (infográfico)

5 Participação dos usuários – em matérias e demais setores do site.

2.2 O Globo.com

2.2.1 Apresentação

O portal de notícias Globo.com. pertencente a um grupo de mídia com tradição e qualidade

reconhecida não só no Brasil, como em vários outros países. O globo.com situa-se entre os grandes

sites jornalísticos do país, sendo o único, no entanto, que possui atuação nas áreas de mídia

impressa, radiofônica e televisionada. Aliada a sua qualidade já tradicional, o site em questão é

também reconhecido por suas constantes inovações e por buscar aproveitar todas as possibilidades

deste novo meio ainda em desenvolvimento.

De acordo com o site Alexa, que reúne informações sobre o uso da Internet no mundo, o

globo.com é o oitavo site mais visitado no Brasil. Dentre os portais de notícias, ele fica com a

segunda posição, perdendo apenas para o Universo OnLine (UOL). fonte: http://www.alexa.com

O globo.com surgiu em 2000 e vem, ao longo dos anos, inovando na forma de lidar com a

Internet. Acompanha cada nova mudança implantada na rede e tem a forte marca da inovação em

suas ações.

Tais características podem ser percebida se olharmos atentamente para as mudanças pela

quais o site passou através da história, acompanhando as evoluções dos navegadores (browsers) e

da capacidade de fluxo da Internet. Segundo Barreto (apud PINHO, 2003, p.166), há características

em cada “geração” dos sites jornalísticos.

A primeira geração seria, então, formada por sites que lançavam conteúdos na Internet sem

nenhuma preocupação estética. Os responsáveis por criar as páginas eram cientistas cuja

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preocupação residia em levar informação por modems e cabeamento lentos.

O uso aperfeiçoado da linguagem HTML permitiu o uso de ícones, imagens de fundo e

botões, um princípio de planejamento de design na Internet. “A maior diferença da segunda geração

para a primeira foi a substituição de palavras por elementos gráficos. (...) Cria-se o conceito de

'home-page': uma página (...) que serve de menu para acessar o restante de um site” (BARRETO

apud PINHO, 2003, p.167).

Em seguida, o design toma grandes proporções, a banda larga permite o tráfego de imagens

cada vez mais complexas. O resultado é um trabalho minucioso que precisa de uma equipe

trabalhando unida para colocar um site para funcionar.

Atualmente, o globo.com possui arquitetura e design frutos de estudos voltados para uma

peça importantíssima no processo de comunicação na internet: o usuário. Ele é o foco do que talvez

possa ser considerada a “quarta geração dos portais noticiosos” e esta preocupação tornam o modelo

do globo.com referência em jornalismo on line.

Figura 1: globo.com em 2002, imagens e cores de fundo compondo um site da "segunda geração"

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2.2.2 Estrutura do site

2.2.2.1 Grupos de Informações

A estrutura do globo.com é basicamente dividida em cinco elementos básicos, aglutinados

por tipo de função a ser realizada. São elas: topo, coluna esquerda, coluna direita, coluna central e

rodapé. Tal distribuição, confere uma composição ao mesmo tempo harmônica e compacta ao

globo.com. “Toda página bem construída é um arranjo de harmonias e contrastes entre suas partes”.

(PINHO, 2003, p.163)

No topo, estão localizadas: a logomarca do globo.com, um menu horizontal com os tipos de

assuntos, um campo para buscas, e outro menu de referências internas do site.

Na coluna esquerda, o primeiro quadro permite o acesso à Caixa de E-mails dos usuários

com cadastro no globo.com. Em seguida, um menu vertical expõe os diversos conteúdos do site,

Figura 2: Leveza e preocupação com o usuário no globo.com atual, sem imagens desnecessárias e muito texto no design.

Figura 3: Bloco de apresentação e guia inicial à navegação

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segmentados inicialmente por tema geral e depois por assunto. No fim desta coluna, há ainda um

guia com a programação da TV Globo e para as outras mídias da empresa.

Ao contrário destes dois elementos iniciais, a coluna lateral direita possui alguns conteúdos

que mudam a cada atualização. Este tipo de informação é chamada de “conteúdo dinâmico” e, no

caso específico do globo.com, exibe neste espaço outros sites da empresa que são vinculados ao

portal globo.com. Tais como: vídeos, globomail, publicidade (globoshopping, provedor globo de

internet), guia de programação, lista de rádios do Sistema Globo, entre outros.

O conteúdo principal vem disposto, obviamente, na coluna do meio do globo.com. Nela, são

expostas as notícias e informações principais a serem divulgadas nos sites da Globo. Esta coluna

tem, no entanto, uma particularidade: em sua parte superior ela apresenta o que seriam as

Figura 4: Barra lateral esquerda, detalhe para todo design projetado sobre textos e contornos

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“manchetes” de uma edição de jornal. Com um desenho semelhante, até, ao dos jornais impressos.

Em seguida a esta parte inicial, a coluna do meio subdivide-se em outras três que apontam,

cada uma, para os temas de notícias, esportes e entretenimento.

Na parte inferior desta coluna principal, há ainda uma série de funções mostrando as

informações mais lidas ou mais procuradas.

Por fim, o site apresenta um bloco de rodapé onde repetem-se os links para as matérias, de

acordo com o tema. Há, também novamente, um campo para buscas no site e um guia de

informações institucionais sobre o globo.com.

Outro aspecto interessante desta disposição de colunas, é que a exibição do site não fica

prejudicada em computadores com monitor pequeno ou com resolução de tela de 800x600 pixels.

Com esta configuração, a tela apenas não exibe a coluna direita. Colocando, ainda, em destaque os

conteúdos principais do site.

2.2.2.2 Cores

As cores são um componente essencial dentro da estrutura do globo.com. Elas não estão lá

dispostas para reforçar a identidade visual da empresa, ou passar uma mensagem conceitual. Nesta

Figura 5: Informações principais do globo.com, simetria semelhante à dos jornais impressos.

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proposição, vemos as cores sendo usadas com funções voltadas para facilitar a leitura e o

entendimento das informações.

Apensar de sua logomarca ser predominantemente azul, pouco se vê desta cor dentro do site.

Ao contrário, é o branco a cor que se sobressai neste layout. E isto possui uma funcionalidade ótima

para a divisão das células de conteúdo, facilitando a vida do usuário. Pinho (2003, p. 156) esclarece

como os designers devem trabalhar utilizando espaços em branco: “os espaços em branco devem ser

parte integrante do design de uma página Web e empregados para permitir a leitura mais fácil e a

melhor compreensão do texto ou ainda indicar ao internauta onde começa e onde termina uma

seção.”

Além do branco, as cores vermelha, verde e laranja cumprem outras funções dentro da

composição do globo.com. Estas cores são utilizadas para colorir os textos, principalmente títulos

do site, fazendo que além da informação textual, a cor já defina o tema de que trata aquela matéria.

Da mesma forma, ficou mais fácil de reconhecer os links na página, praticamente tudo que tiver

cinza é texto e o que for colorido é um link.

Os títulos em vermelho referenciam, entre outros, assuntos como política, economia,

cotidiano e tecnologia. Já o mundo dos esportes tem no título de suas notícias a cor verde. E o

entretenimento, televisão e a vida das celebridades são tituladas com a cor laranja.

Um título colorido transmite informação sem que o leitor precise lê-lo, ou duas informações

(tema e conteúdo) caso ele decida ler determinada informação. O que facilita, por exemplo, a vida

de quem está interessado em notícias sobre esportes. Este leitor correrá os olhos apenas por aqueles

títulos verdes da página principal, no caso específico do globo.com, sem se ater a outro conteúdo

disperso no layout da página. Um belo exemplo de como as cores podem contribuir para um layout

não só de forma estética mas também para a usabilidade.

Figura 6: As cores no globo.com compõem o site em seu aspecto estético e funcional

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2.2.2.3 Tipologia

Desde a criação da prensa em 1455, o homem tem dado atenção às formas das letras com

que se precisavam escrever documentos, livros e outros. E hoje, com os recursos de composição

mais simples facilitam a criação de infindáveis desenhos de letra.

Na Web, entretanto, temos algumas limitações quanto ao uso de tipos muito diferentes. É

preciso que quem faça uma página para Internet tenha em mente os usuários que vão navegar por

ela. E que tais usuários terão configuração distintas de computador, podendo, inclusive, não ter a

mesma fonte (tipo) instalada.

Então, a solução adotada pelos desenvolvedores do globo.com e por diversos outros sites foi

usar uma fonte padrão, Arial, pois todos os computadores possuem esta fonte ou outra

correspondente. Além deste fator, como ressalta Pinho (2003, p.180) “os sites de conteúdo

jornalístico devem respeitar um das principais regras de design, de não utilizar muitas fontes numa

mesma página.” Neste caso, o autor sugere o uso máximo de duas fontes. O que não foi preciso em

nosso estudo de caso, pois uma diferenciação bastante relevante já foi conseguida com o uso das

cores.

2.2.2.4 Interface

Interface é aquilo que se põe entre uma ferramenta ou sistema e a pessoa que vai usá-lo. É o

cabo da pá utilizada pelo pedreiro. “O ambiente gráfico da World Wide Web também exige que o

site apresente interface amigável, que permita ao usuário a manipulação das ferramentas simples,

diretas e agradáveis para um trabalho ou tarefa” (PINHO, 2003, p.136)

Este é o ponto central do site do Globo.com. Todas as características utilizadas e já

comentadas até aqui, convergem para a construção de uma boa experiência de interface para o

leitor. A simplicidade cede lugar ao conteúdo, foco do globo.com, a fim de facilitar a leitura e

exibição de vídeos e fotos. O layout limpo, enxuto, clean, favorece a capacidade de se adaptar à

qualquer plataforma, característica relevante por possibilitar que diversos usuários possam acessar o

conteúdo e fixá-lo.

Isto é algo que tínhamos no início da Internet. Quando os designers tinham que compor seus

trabalhos pensando em conexões de 14/28kps, sem firulas, simples, afinal de contas a largura de

banda não ajudava em nada. Com o passar do tempo, e o desenvolvimento da banda larga já a partir

de 256kps, sites com imagens grandes e elementos em flash começaram a se popularizar. Hoje em

dia temos conexões de 4Mps e o que vemos, no entanto, é uma enxugada geral em degradês, efeitos

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“aqua” e afins. Assim o globo.com atuou. Passou por todas essas fazes, mas percebeu que o que

realmente importava era o conteúdo que o usuário tinha em mãos, em função deste, toda construção

deve trabalhar.

2.2.2.5 Arquitetura da Informação

A estrutura do globo.com possui uma hierarquia muitíssimo reduzida. O único nível de

especialização que se pode perceber é com relação à capacidade de a página inicial do globo.com

referenciar todos os demais sites. Os quais, na realidade, não são submetido à nenhum outro, têm

existência independente. Seu agrupamento se dá apenas com relação ao foco que possuem. Eles são

estruturados de acordo com o seu assunto abordado.

Desta maneira, os usuários navegam com maior fluidez entre as páginas que se relacionam

em toda gama de sites da Globo. O que aproxima o globo.com da característica da arquitetura da

informação que estrutura o site de forma a: “fornecer o que o usuário procura até no terceiro clique.

Um site com boa arquitetura da informação terá como principal qualidade a característica de

fornecer ao usuário o que ele está buscando no máximo em seu terceiro clique”. (BEZERRA,

2002b, apud PINHO, 2003, p.135)

2.2.2.6 Usabilidade

Usabilidade é uma medida para avaliar a utilidade de uma ferramenta, a facilidade de uso

dela, e, por fim, a facilidade de aprendizagem. “A combinação adequada entre arquitetura da

informação (a estrutura lógica) e a interface (significado visual) é determinante para a

usabilidade (usability) do site, ou seja, para criar no usuário uma experiência de navegação, com o

perdão da rima, até mesmo inesquecível”(PINHO, 2003, p.136).

Consideramos o globo.com um site útil quando consegue prestar seus serviços a contento,

dentro do prazo e adequadamente. Pode ser considerado fácil de usar por ser bem distribuido em

blocos e não ter muitas informações próximas ou sobrepostas.

Já quanto à facilidade de aprendizagem, leva em consideração o tempo médio necessário

para que um usuário execute tarefas no site. O que não nos foi possível realizar, mas que a

distribuição dos elementos e interface bem colocada nos dá a idéia de rápido aprendizado da

ferramenta.

Vale ressaltar que todas estas características são reforçadas por um pensamento de tornar o

globo.com compatível com os mais diversos equipamentos, softwares e modos de acesso a internet,

simples e ágil.

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2.2.3 Integração entre as mídias

A página da Globo na Internet é, ao mesmo tempo, uma plataforma de projeção de suas

mídias tradicionais num novo espaço de comunicação. E, também, um campo de atuação com a

qualidade e inovação que as mídias digitais exigem.

Desta maneira, nossa análise busca conhecer estas duas realidades do globo.com: a estrutura

montada para que as mídias convirjam, e o trato da informação on-line com o uso de diversas

mídias.

2.2.3.1 Quanto à Arquitetura

O globo.com é um portal de entrada para uma vastidão de produtos/informações das

Organizações Globo. Ao longo do nosso estudo, vimos a utilização de texto, som e imagem no

jornalismo. E estas três linguagens estão também presentes no portal globo.

Os caminhos para se chegar até esses “canais” podem ser os mais diversos, há links

distribuídos por toda a página inicial e outros tantos intercruzados. No entanto, eles possuem

também sua “porteira” principal. Onde, se assim um usuário desejar, poderá obter conteúdo

somente de um destes formatos (texto, som ou vídeo).

Falemos então do “O Globo Online”, primeira incursão da Globo na Internet. Desde a morte

do pai, Roberto Marinho assumiu O Globo que circulava no Rio de Janeiro e sudeste do país. Nele,

imprimiu sua forte marca pessoal e construiu um dos maiores conglomerados de mídia do país e do

mundo.

A versão digital ( http://oglobo.globo.com/ ) está disponível à brasileiros, brasileiras e

também estrangeiros e tem hoje o seguinte aspecto:

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Percebe-se uma leveza de cores semelhante à do portal globo.com. No entanto, os recursos

visuais são pouco explorados, diante das possibilidades da informática, tal como num jornal

impresso de fato. Este mesmo princípio é seguido no corpo das matérias, onde predominam os

textos e recursos gráficos não são bem explorados. Como ponto positivo, O Globo OnLine possui

uma boa atualização das informações e um com grupo de colunistas.

As rádio da Globo têm também um espaço cativo na Internet( http://globoradio.globo.com/

).

Figura 7: O Globo Online, versão digital do tradicional jornal da família Marinho

Figura 8: GloboRádio, o diretório de rádios AM e FM do sistema globo, além de guia com informações e listas de músicas diversas

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Seu acesso se dá a partir de diversos links diretos do globo.com. O que poderia significa

múltiplas formas de acesso, acaba por não exibir todo conteúdo de rádios de que o portão dispõe.

Afora este problema, o GloboRádios traz sempre notícias e músicas para aqueles que

desejam fazer uma outra atividade enquanto ouvem rádio. Pois, como vimos no início do estudo, o

rádio permite esta mobilidade e atenção parcial por parte do receptor.

A grande vedete do globo.com é, na realidade, seu diretório de vídeos. É nele que são

“depositados” todos os vídeos veiculados pela TV Globo, a que os internautas podem ter acesso. O

material disponível abertamente é basicamente composto por matérias ou trechos de programas da

emissora. As edições completas dos programas estão disponíveis apenas para assinantes do site.

O Globo Vídeos exibe em destaque os vídeos mais recentes e mais acessados no portal.

Obedece ainda a outras divisões, de acordo com o tema abordado (notícia, esporte e entretenimento)

ou com o programa no qual foi veiculado.

2.2.3.2 Quanto ao Conteúdo

Neste tópico, observaremos de que maneira uma notícia do globo.com aproveita-se destes

recursos multimídia e uni-os aos demais elementos da linguagem desenvolvida na Internet. Há um

portal essencialmente desenvolvido para as notícias do sistema Globo na Internet: o G1. Ainda que

seu conteúdo em boa parte seja repetido globo.com, nele não há redirecionamentos para os demais

Figura 9: Globo Vídeos, um dos maiores repositores de vídeo da Internet brasileira.

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sites do portal que não estejam diretamente relacionados às notícias. É no G1 que toda equipe de

jornalismo na internet da Globo reúne-se com a proposta de fortalecer a convergência. Veremos, a

seguir, alguns casos de implementação da multimídia e demais características do jornalismo on line

no globo.com:

a) Texto e Vídeo

http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL751851-5598,00-

PARAIBA+SEDIA+CONGRESSO+INTERNACIONAL+DE+NATURISMO.html

“Paraíba sedia Congresso Internacional de Naturismo” - esta manchete é de uma notícia do

G1, veiculada no dia 8 de agosto deste ano. Dá conta de um Congresso Naturista ocorrido na cidade

do Conde, e é o desdobramento de uma matéria do Jornal Hoje da TV Globo com a mesma

temática.

É possível perceber, logo de início a brevidade do título da matéria e o uso de palavras

presentes no corpo do texto. Além de melhor situar o leitor, o uso destas palavras também é

percebido e bem visto pelos motores de busca da Internet (Google, Yahoo!, MSN Search, entre

outros). Resultando numa melhor posição entre os sites listados quando de uma busca em um destes

buscadores. Técnicas de SEO (Seach Engine Optimization) como esta, e outras mais, podem ser

bem exploradas por jornalistas e profissionais da comunicação.

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Todo o primeiro parágrafo do texto da edição on-line sobre o Congresso repete as mesmas

palavras, de forma um pouco mais organizada, da apresentadora do Jornal Hoje e da repórter local.

Tal repetição pode ter ocorrido pela necessidade de reforçar o texto do vídeo ou simplesmente pela

qualidade do texto inicial da TV. E assim segue até o final da matéria, reproduzindo o que já

tínhamos em vídeo, inclusive as citações dos entrevistados e o texto legenda que aparece no rodapé

da tela.

Há, no corpo da matéria, um link convidando o leitor a visitar uma página com as demais

matérias veiculadas no Jornal Hoje deste mesmo dia. O que, como já vimos, não é uma forma de

expandir o sentido daquele texto. Ao contrário, desvia-se o leitor daquele assunto, no meio da

matéria, sem que ele tenha terminado de ler ou ver a matéria completa. Também não há espaço para

contribuições dos leitores, apenas possibilidades de envio da notícia a outros internautas, impressão

e outras tarefas.

b) Texto e Infográfico

http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL753907-5603,00-

MAIOR+ACELERADOR+DE+PARTICULAS+DO+MUNDO+COMECA+A+OPERAR.html

Figura 10: Texto e vídeo têm um encontro redundante ao descrever um congresso em Tambaba

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“Maior acelerador de partículas do mundo começa a operar” - Como explicar o

funcionamento de um aparelho que lida com partículas? Quando um texto pode acabar confundindo

um leitor com termos muito técnicos, e um vídeo não é capaz de captar a imagem daquilo que se

quer informar, a Internet lança mão dos Infográficos. Eles são representações gráficas animadas que

detalham o funcionamento de algo ou mostram uma nova visão sobre um certo acontecimento.

Depois de inventar a Web para melhorar sua comunicação interna, o CERN (Organização

Européia para a Pesquisa Nuclear) construiu o maior acelerador de partículas do mundo. Uma

complexa estrutura que tenta encontrar a origem da massa dos corpos. Algo ainda maisi difícil de

explicar, e que o globo.com solucionou bem com o uso de um Infográfico.

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deste

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links

para

o site

do

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para uma outra matéria falando da participação de brasileiros. Há ainda um aprofundamento do

assunto na própria matéria, explicando os pormenores da invenção, estendendo o texto de forma

incomum, mas atrativa, na Internet.

Uma possível melhora seria seguir o principio de conteúdo como “cebola” colocado por

Rodrigues (2006, p.16): “Trabalhar o conteúdo aos poucos, oferecendo aspectos a cada camada, é a

maneira mais eficaz de lidar com a informação na web.” Desta maneira, toda extensão da matéria

poderia ser diluída em camadas com níveis de especialização determinados e que poderiam ser

seguidos à medida do interesse do usuário.

Figura 11: Infografia para explicar o funcionamento da máquina que tenta explicar a vida na Terra.

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c) Texto Hiperlinkado

http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,MUL760692-5601,00-

LULA+PARTICIPA+DE+REUNIAO+SOBRE+CRISE+NA+BOLIVIA.html

“Lula participa de reunião sobre crise na Bolívia” - notícia do dia 15 de setembro relata a

participação do presidente brasileiro no impasse político vivido na Bolívia. Matérias políticas e de

diplomacia trazem, em geral uma retomada do contexto para melhor situar o leitor. Esta, em

particular, tem uma foto que ilustra a chagada de Lula no Chile e uma série de links no texto. Dois

destes links, de forma imperativa, convidam o usuário a segui-los, e têm o seguinte enunciado:

“Leia mais sobre a crise na Bolívia” e “Saiba o que é a Unasul”.

Ao final desta mesma matéria é feito um resgate de outras matérias para que o usuário

contextualize aquela informação factual e possa ter uma informação mais completa a respeito desta

crise.

Milhões de informações circulam na Internet e neste turbilhão, o jornalista acaba ocupando

uma importante função de guia do internauta, de forma que ele aprenda as informações de seu

Figura 12: Bloco de links contextualiza a crise vivenciada na Bolívia

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interesse. E estas informações possuem relações (links) entre si. Desta forma, o jornalista é

responsável, não só por prover a informação, como também por interrelacioná-las, formando uma

trama de conhecimentos, um hipertexto.

2.2.4 Participação do leitor

Falamos anteriormente em três fases distintas pelas quais passaram os portais noticiosos na

Internet. Todas elas compreendiam melhores condutas de produção do site para facilitar a passagem

de informações para o usuário. Vivemos, no entanto, um momento em que o próprio internauta

passa a ser encarado como principal fonte de informação. E não mais através de sua participação em

enquetes virtuais ou mensagens por e-mail.

Poderíamos nos arriscar a dizer que vivemos numa outra fase, em que o conteúdo produzido

pelo próprio usuário ganha proporções muito maiores. Em algumas situações, mais relevantes até

do que o da imprensa formal.

E no globo.com, além dos comentários possíveis sobre algumas das matérias, há um espaço

para que os próprios internautas controlem aquilo que será veiculado. Trata-se do “Vc no G1” ou

“Você no G1”, site que coloca os leitores como produtores de conteúdo, modalidade conhecida

como “jornalismo colaborativo”. Bastando apenas, para isso, obedecerem algumas normas exigidas

pela empresa.

Figura 13: VC no G1, espaço para o jornalismo colaborativo sob a forma de texto, foto ou vídeo.

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Lidamos com informações vindas de todos os lados. Basta um aparato técnico desenvolvido

para que cada cidadão torne-se uma fonte de informação. Se são fontes confiáveis ou não, isso não é

possível saber. Mas também temos esta mesma dúvida quanto aos veículos tradicionais.

O jornalista passa a ter, de acordo com Rodrigues (2006, p.106), a função de gestor de tais

informações. Algo que lida com um aparato técnico diferente e, principalmente, uma nova postura

do outro lado da ponta: o usuário/leitor/produtor.

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CONCLUSÃO

A percepção estrutural de um ambiente de mídias convergentes nem sempre é a mesma com

relação ao conteúdo por ele disponibilizado. A busca por inovações tecnológicas mais recentes nos

faz, por vezes, esquecer de utilizar aquilo que já possuímos de uma forma melhor e mais adequada.

E foram estas as constatações maiores de nossa pesquisa.

Como primeiro ponto, acompanhamos a linha histórica de cada formato de mídia,

observando que, assim que surgem, copiam o formato e conteúdo daquela que a antecedeu. E então,

partimos para explorar o novo meio acreditando ser ele a solução para os problemas que tínhamos

ao lidar com o anterior.

É um ciclo que vivenciamos com o jornal, o rádio e a televisão. E que de uns tempos para cá

nos surge novamente com a Internet. Identificando nas experiências anteriores a maneira de melhor

trabalhar seus formatos, partimos para análise do jornalismo na Internet com um olhar

desmistificado a este respeito. O amadurecimento deste meio se dará quando, em lugar da novidade,

buscarmos a funcionalidade. Para isto, foi-nos necessário conhecer um pouco da história das mídias,

a estrutura da rede de comunicação digital e partirmos para a observação daquilo que hoje se coloca

como jornalismo na Internet.

Nosso objeto foi o globo.com e vimos a sofisticada estrutura montada por um dos maiores

grupos de mídia do país para veicular suas informações também na grande rede. O globo.com é um

portal de entrada, e como tal, encabeça uma hierarquia de sites dos mais diversos formatos e tipos.

O suporte aos recursos de mídia convergente é extremamente bem executado no globo.com,

ao menos com o que pôde ser visto em nossa pesquisa por observação. Há esta entrada inicial por

onde podem ser tomados os mais diversos caminhos. Sob ela, outros sites que agrupam informações

por tipo (notícias, esportes, entretenimento), formato (áudio, vídeo, texto), nicho (mulheres,

cozinha, novelas) e outros mais variados (blogs, comunidade virtual, utilidade pública).

Com isto, vemos uma arquitetura bem planejada de forma a facilitar a navegação do usuário.

Essa navegação é favorecida por aspectos de design e usabilidade das páginas Web do portal, num

modelo bem arranjado e copiado por outros sites da internet brasileira. Ressaltamos ainda a

simplicidade no uso de poucos gráficos e cores participando da estética e conteúdo do site.

No que diz respeito à absorção de tal postura no texto jornalístico, acredito que o globo.com,

assim como boa parte dos portais noticiosos, ainda tenha muito a acrescentar. É quase nula ou

exígua a utilização de recursos verdadeiramente hipertextuais, interativos e multimídia pelo portal.

Entre as matérias analisadas, apenas uma delas criou extensões para o assunto tratado.

Utilizando, no entanto, outros conteúdos semelhantes dentro do próprio globo.com. O que reduz

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sensivelmente a capacidade de expansão da leitura hipertextual.

Quanto à interação dos usuários, não incorporam o sentido de “intervenção” a esta palavra e

o que já não era muito interativo, foi restrito a um espaço para veiculação de informações dos

próprios internautas, o “VC no G1” que adota o modelo de jornalismo colaborativo.

Já a multimídia é o refúgio de inovação onde se resguarda o globo.com. Alimentado

essencialmente por gravações do material da TV Globo, o globo.com atua como repositório de

vídeos da TV sem maiores funcionalidades além desta.

Também os infográficos poderiam ser mais e melhor aproveitados. Apesar de não serem

compatíveis com todos os suportes da Internet, são um espaço realmente integrado de informações

para o meio on line.

Estão são os resultados da observação deste nosso estudo de caso. Obviamente, a todo

instante o globo.com e outros veículos desenvolvem maneiras de amadurecer o uso jornalístico da

Web. Como de fato já caminha o globo.com a desenvolver aplicações, softwares, cujo

funcionamento está diretamente relacionado com a contribuição de conteúdo pelos internautas.

Rodrigues (2006) delineia um pensamento do jornalista como distribuidor de conteúdo em

ambientes digitais, um webwriter, com a tarefa de aliar texto, design e tecnologia em função da

informação. Sobre este profissional recai também a responsabilidade de planejar espaços de

interação entre usuários, e lidar com a informação como um todo, sejam ícones, fotos, vídeos, sons

ou texto plano. Seria, pois, de acordo com o mesmo autor, uma gestão da informação e de seus

fluxos. Sobre o que nos parece pertinente refletir, uma vez que os instrumentos para transmissão de

informação estão cada vez mais acessíveis ao indivíduo comum e o profissional de comunicação

acaba por ter uma visão macro das possibilidades mais interessantes ao estabelecimento deste

contato. Desta forma, a atuação do jornalista enquanto coletor, tratador e disseminador de

informação tornar-se-ia defasada. O amadurecimento do mundo dos bits aponta uma nova postura

do profissional, com percepção complexa, sempre alerta e preocupado com a forma do texto digital

para levar informação ao usuário.

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