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Arildo Pinto da Cunha CONTROLE ESTRATÉGICO DE Amblyomma cajennense (Fabricius, 1787) (Acari: Ixodidae) E Anocentor nitens (Neumann, 1897) (Acari: Ixodidae) EM EQÜINOS, MINAS GERAIS, BRASIL Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Medicina Veterinária. Área de concentração: Medicina Veterinária Preventiva. Orientador: Professor Romário Cerqueira Leite Belo Horizonte Escola de Veterinária – UFMG 2006

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Arildo Pinto da Cunha

CONTROLE ESTRATÉGICO DE Amblyomma cajennense (Fabricius,1787) (Acari: Ixodidae) E Anocentor nitens (Neumann, 1897) (Acari:

Ixodidae) EM EQÜINOS, MINAS GERAIS, BRASIL

Dissertação apresentada como requisito parcialpara a obtenção do grau de Mestre em MedicinaVeterinária.

Área de concentração: Medicina VeterináriaPreventiva.

Orientador: Professor Romário Cerqueira Leite

Belo HorizonteEscola de Veterinária – UFMG

2006

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C972c Cunha, Arildo Pinto da, 1974- Controle estratégico de Amblyomma cajennense (Fabricius, 1787)(Acari: Ixodidae) e Anocentor nitens (Neumann, 1897) (Acari: Ixodidae)em eqüinos, Minas Gerais, Brasil / Arildo Pinto da Cunha. –2006. 62p. :il.

Orientador: Romário Cerqueira Leite Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais,Escola de Veterinária Inclui bibliografia

1. Eqüino – Teses. 2. Amblyomma cajennense – Teses. 3. Carrapato -Controle – Teses. I. Leite, Romário Cerqueira. II. Universidade Federal deMinas Gerais. Escola de Veterinária. III. Título.

CDD – 636.208 969 68

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Dedico,A Ana Cristina pelo companheirismo e pelo empenho para a

realização deste trabalho. Com amor e carinho.

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AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Romário Cerqueira Leite pela oportunidade de orientação e por fornecer todo o apoionecessário à execução deste estudo.

À Profa Maria José Sena pela atenção e empenho despendidos em minha formaçãoacadêmica.

Ao Prof Rômulo Cerqueira Leite pela credibilidade a mim conferida e por todo apoio no cursode mestrado.

Ao Prof. Maurílio Andrade Rocha pela colaboração que possibilitou minha entrada no curso demestrado.

À Profa Marília Martins Melo pela ajuda na elaboração do projeto de pesquisa.

Ao Prof. Paulo Roberto de Oliveira pela atenção e colaboração para a realização deste estudo.

À Fazenda Rancho Agropecuária nas pessoas de seus proprietários e de toda sua equipe, asquais foram imprescindíveis para a realização deste estudo.

Aos amigos do Laboratório de Doenças Parasitárias dos Animais da Escola de Veterinária daUFMG, particularmente, Ricardo Canesso e Eduardo Bastianetto.

À Lúcia da Gama Passos e Ana Leda da Gama Passos pela amizade e incentivo.

À Escola de Veterinária da UFMG, ao Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e aoColegiado de Pós-graduação, seus professores e funcionários, particularmente a Nilda LucasLaurindo, pela atenção e paciência em ajudar.

À Nadia Maria da Silva pelo gentil atenção e paciência na formatação deste trabalho.

Aos funcionários da biblioteca da UFMG e particularmente à Walkíria Maria Valle de Oliveirapelas correções bibliográficas.

Aos meus orientadores, colegas e amigos dos Laboratórios de Doenças Infecto-contagiosas eDoenças Parasitárias do Departamento de Medicina Veterinária da UFRPE, os quais têmparticipação fundamental em minha formação acadêmica.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq pelo apoiofinanceiro ao projeto e pela concessão de bolsa durante o curso de Mestrado.

Aos meus pais - Nilson e Tereza, irmãos - Aline e Fábio, familiares e amigos pela atençãocompreensão e irrestrito apoio, possibilitando o alcance desta importante etapa.

“Estudar os fenômenos das doenças sem livros énavegar num mar sem rumo, enquanto estudar nos livros

sem os pacientes é jamais ir para o mar.”

(William Osler, 1901)

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SUMÁRIO

PágRESUMO ............................................................................................................................... 9

ABSTRACT ........................................................................................................................... 10

1. INTRODUÇÃO................................................................................................................... 11

2. OBJETIVOS ...................................................................................................................... 122.1. Geral............................................................................................................................... 122.2. Específicos.................................................................................................................... 12

3. MATERIAL E MÉTODOS.................................................................................................. 123.1. Revisão de literatura .................................................................................................... 123.2. Local de realização e duração do experimento......................................................... 123.3. Programa de controle estratégico de A. cajennense em eqüinos .......................... 153.4. Redação do trabalho .................................................................................................... 17

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................. 17

5. CAPÍTULO I: Controle estratégico de Amblyomma cajennense (Fabricius, 1787)(Acari: Ixodidae) em eqüinos na Região Sudeste do Brasil............................................ 20

6. CAPÍTULO II: Aspectos clínicos e hematológicos em eqüinos submetidos a umprograma de controle estratégico de Amblyomma cajennense..................................... 42

7. CAPÍTULO III: Efeito de um programa de controle estratégico de Amblyommacajennense (Fabricius, 1787) (Acari: Ixodidae) sobre a população de Anocentornitens (Neumann, 1897) (Acari: Ixodidae) em eqüinos.................................................... 53

8. CONCLUSÕES ................................................................................................................. 62LISTA DE TABELAS

CAPÍTULO ITabela 1. Valores médios e desvios-padrão das contagens de adultos Amblyommacajennense em eqüinos antes e após o programa de controle estratégico,respectivamente, nos períodos de outubro de 2003 a março de 2004 e outubro de 2004a março de 2005 - Palma/MG................................................................................................ 24Tabela 2. Valores médios e desvios-padrão das contagens de adultos de Amblyommacajennense em eqüinos antes e após o programa de controle estratégico, nos mesesde fevereiro e março de 2004 e 2005 - Palma/MG ............................................................... 24Tabela 3. Monitoramento da população de A. cajennense nas pastagens, realizado acada quatorze dias, no período de abril a setembro de 2004 – Palma/MG.......................... 29

CAPÍTULO IITabela 1. Valores médios e amplitude do eritrograma de eqüinos submetidos a umprograma de controle de estratégico de Amblyomma cajennense – Palma/MG, 2005........ 46Tabela 2. Valores médios e amplitude do leucograma de eqüinos submetidos a umprograma de controle de estratégico de Amblyomma cajennense – Palma/MG, 2005........ 47Tabela 3. Valores médios e amplitude da bioquímica sérica de eqüinos submetidos aum programa de controle de estratégico de Amblyomma cajennense – Palma/MG, 2005.. 48

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CAPÍTULO IIITabela 1. Percentual de eqüinos parasitados por A. nitens no pavilhão auricular edivertículo nasal em avaliações realizadas antes (outubro de 2003 a março de 2004) edepois (outubro de 2004 a março de 2005) do programa de controle estratégico de A.cajennense – Palma/MG ....................................................................................................... 57

LISTA DE FIGURASMATERIAL E MÉTODOSFigura 1. Localização geográfica da propriedade e área onde foi realizado oexperimento ........................................................................................................................... 13Figura 2. Cronograma de realização dos tratamentos carrapaticidas, exames clínicos ecoletas de sangue para as análises da bioquímica sérica e do hemograma dos eqüinos- Palma/MG, 2004..................................................................................................................

17CAPÍTULO IFigura 1. Estádios adultos do A. cajennense em eqüinos antes e após o programa decontrole estratégico, respectivamente, nos períodos de outubro de 2003 a março de2004 e outubro de 2004 a março de 2005 - Palma/MG ........................................................ 25Figura 2. Machos de A. cajennense em eqüinos antes e após o programa de controleestratégico, respectivamente, nos períodos de outubro de 2003 a março de 2004 eoutubro de 2004 a março de 2005 - Palma/MG .................................................................... 27Figura 3. Fêmeas de A. cajennense em eqüinos antes e após o programa de controleestratégico, respectivamente, nos períodos de outubro de 2003 a março de 2004 eoutubro de 2004 a março de 2005 - Palma/MG .................................................................... 27Figura 4. Razão sexual de A. cajennense, em eqüinos antes e após o programa decontrole estratégico, respectivamente, nos períodos de outubro de 2003 a março de2004 e outubro de 2004 a março de 2005 - Palma/MG ........................................................ 29Figura 5. Precipitação mensal (mm) no período de janeiro de 2003 a dezembro de 2004e normal climatológica de precipitação (1961-1990) na Estação Meteorológica de SantoAntônio de Pádua - RJ, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia – 2005.................... 33Figura 6. Temperaturas máximas médias, médias compensadas, mínimas médias eumidade relativa do ar no período de janeiro 2003 a dezembro de 2004 na EstaçãoMeteorológica de Santo Antônio de Pádua - RJ, segundo o Instituto Nacional deMeteorologia – 2005 .............................................................................................................. 35

CAPÍTULO IIIFigura 1. Valores médios dos escores de carga parasitária de A. nitens no pavilhãoauricular e divertículo nasal dos eqüinos no período de outubro de 2003 a março de2004 e de outubro de 2004 a março de 2005 – Palma/MG .................................................. 57

LISTA DE QUADROSCAPÍTULO IQuadro 1. Fatores operacionais de uma proposta de controle estratégico programadode A. cajennense em eqüinos perante circunstâncias de campo de um sistema depecuária - Palma/MG, 2004................................................................................................... 37

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RESUMO

Avaliou-se a aplicação de um programa de controle estratégico de Amblyomma cajennense emeqüinos, no município de Palma, Minas Gerais. Antes da implantação do programa foramobservadas as cargas parasitárias de A. cajennense e Anocentor nitens, mensalmente, noperíodo de outubro de 2003 a março de 2004 e no mesmo período do ano seguinte foramrealizadas as observações comparativas. Os tratamentos carrapaticidas foram realizados acada sete dias e divididos em dois módulos: o primeiro com início em abril de 2004, compostode oito banhos e o segundo com início em julho de 2004, composto de cinco banhos,respectivamente, visando atingir as larvas e ninfas de A. cajennense. Empregou-se a basequímica piretróide - cipermetrina 0,015%, para banhar os eqüinos. Foram analisados aspectosclínicos e hematológicos (hemograma e bioquímica sérica) dos eqüinos perante o programa decontrole. Também foram observados os efeitos do programa destinado ao controle do A.cajennense sobre a população de A. nitens. Após o programa de controle houve uma reduçãode 44,85% de adultos de A. cajennense no período de outubro de 2004 a março 2005, e de59,74%, em fevereiro e março de 2005 em relação ao período anterior. Os resultados dosexames clínicos e hematológicos dos eqüinos não evidenciaram alterações. Observou-se amelhora em alguns parâmetros do hemograma em função das condições de saúde dos animaisapós o controle do carrapato. Porém os banhos carrapaticidas não determinaram reduçãosignificativa da carga parasitária de A. nitens nos eqüinos. O programa de controle mostrou-seefetivo para o controle do A. cajennense e seguro para os animais. No entanto, não foi possívelrealizar todas as etapas do planejamento inicial, uma vez que, o estudo foi realizado em umapropriedade comercial, contudo, buscou-se definir alguns pontos críticos para a implementaçãodeste tipo de tecnologia em situações de campo. Puderam-se evidenciar a interferência domodelo de gestão e estrutura da empresa rural com os aspectos técnicos e operacionais daproposta de controle do carrapato, fatores que podem ser determinantes no grau de sucessodo controle sanitário. A permanência dos níveis de infestação por A. nitens, pode ser devida, anão aplicação do produto carrapaticida no divertículo nasal dos animais, pois este é umimportante sítio de parasitismo de A. nitens em eqüinos, visto que não existem métodos ouformulações carrapaticidas compatíveis, técnica e operacionalmente, com as particularidadesdesta estrutura anatômica.

Palavras-chave: eqüinos, Amblyomma cajennense, controle estratégico, cipermetrina,hemograma, bioquímica sérica.

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ABSTRACT

The aim of this study was to evaluate the application of a strategic control program ofAmblyomma cajennense in equines, in the city of Palma, MG. Before the implantation of theprogram the parasitic loads of the A. cajennense and Anocentor nitens were observed, monthly,in the period from October of 2003 to March of 2004, in the same period of the following yearthe comparative analyses were carried. The acaricide treatments were carried to each sevendays and divided in two batteries: the first one beginning in April of 2004, composed of eighttreatments and second beginning in July of 2004, composed of five treatments, respectively,aiming to reach the larvae and nymphs of the A. cajennense. The chemical base used waspyrethroid - cypermethrin 0.015%, to bathe the equines. Clinical and hematological aspects(hemogram and serum biochemical) of the equines were analyzed before the control program.Also the effect of the program destined to the control of the A. cajennense on the population ofA. nitens was observed. After the control program had a reduction of 44.85% of adult’s A.cajennense of October of 2004 to March 2005, and 59.74%, in February and March of 2005.The results of the clinical and hematological examinations of the equines had not evidencedalterations undesirable, but the improvement in some hemogram parameters. However theacaricide treatments had not determined significant reduction of the parasitic load of A. nitens inthe equines. The control program revealed effective and safe for the control of the A.cajennense in the equines. However, it was not possible to carry through all the stages of theinitial planning, once the study was carried on a commercial property, searched to define somecritical points for the implantation of this type of technology in field situations. The interferencewas evidenced of the management model and structure of the agricultural company with theoperational and technical aspects of the proposal of control of the tick, factors that can bedeterminant in the degree of success of the sanitary control. The permanence of the levels ofinfestation for A. nitens can be by no application of acaricide in nasal diverticulum’s of theequines, since this is an important site of parasitism of A. nitens in equines, however there’s nocompatible methods or acaricide formulations with the particularities of this anatomical structure.

Key-words: equines, Amblyomma cajennense, strategic control, cypermethrin, hemogram,serum biochemical.

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1. INTRODUÇÃO

O carrapato Amblyomma cajennense(Fabricius, 1787), pertence à famíliaIxodidae, subfamília Amblyomminae egênero Amblyomma (Oliver, 1989), tendosido primeiramente encontrado em Cayenna(Guiana Francesa) e descrito por Fabriciusem 1787. É um carrapato trioxeno, isto é,que utiliza três hospedeiros para arealização do seu ciclo parasitário (Rohr,1909). Tem como característica importanteuma baixa especificidade parasitária, noentanto, tem os eqüinos como hospedeirospreferenciais (Lopes et al., 1998).

O gênero Amblyomma possui 102 espéciesdescritas (Kettle, 1996) sendo que 33 delasocorrem no Brasil e dentre estas, o A.cajennense possui um papel de maiordestaque. Sua área de distribuição abrangea América do Sul, América Central, Sul daAmérica do Norte e Caribe, sendo maisfreqüente nas regiões quentes do que nasfrias (Aragão, 1936).

No Brasil, o A. cajennense apresentaelevada prevalência, vasta área dedistribuição, causando sérios transtornos àprodução animal e à saúde publica, taiscomo: espoliação sangüínea, transmissãode patógenos nocivos ao homem e aosanimais, gastos com honorários veterinários,medicamentos e demais medidas decontrole, que na maioria das vezes,mostram-se ineficazes (Moreno, 1984). O A.cajennense é vetor da Rickettsia rickettsii,agente etiológico da febre maculosa(Guedes et al., 2005).

O Brasil possui o terceiro maior rebanho deeqüídeos do mundo, com cerca de 5,9milhões de cabeças, um setor da economiaque gera aproximadamente 500 milempregos diretos (CNA, 2004). Entretanto, ocontrole de carrapatos em eqüinos, muarese asininos, na maioria das vezes, ainda éfeito empiricamente de forma indiscriminadae ineficiente.

Como tentativa de controle, a rotação depastagens já foi utilizada, porém, sabe-se

que os diferentes estágios do o A.cajennense podem sobreviver por longosperíodos no ambiente (Olivieri e Serra-Freire, 1984a,b). As queimadas determinamenormes prejuízos ao solo e ao meioambiente e, muitas vezes não destróem oscarrapatos que podem estar abrigados emrachaduras do solo (Leite et al., 1997). Ocontrole químico, com carrapaticidas, aindase faz indispensável. Contudo, a utilizaçãodestes produtos deve ser feita de maneiraracional, evitando danos ambientais,resistência parasitária e gastosdesnecessários. Deve ainda, preservar asaúde dos animais e do homem.

Para o controle de cada espécie decarrapato é de fundamental importância oconhecimento das interações entre oparasito, o hospedeiro e o ambiente. Assimsendo, Leite et al. (1997), formularam umaproposta de controle de A. cajennense,baseada em informações de literatura sobrea biologia e epidemiologia deste carrapato.

Em se tratando de controle de carrapatosem eqüinos, deve-se considerar além do A.cajennense, o Anocentor nitens (Neumann,1897), que é também um importanteparasito destes animais (Falce, 1986;Borges e Leite, 1998). O parasitismo por A.nitens também resulta em inúmerosprejuízos à pecuária. Sendo inclusive,reconhecido no Brasil e em toda a AméricaLatina como vetor da Babesia caballi,agente etiológico de uma forma debabesiose nos eqüinos (Roby e Anthony,1963). Este carrapato é, muitas vezes,esquecido nas ações de controle, talvezpelos seus sítios de parasitismo no corpodos animais. Sendo o divertículo nasal doseqüinos um local de infestação por A. nitens(Borges e Leite, 1993).

O presente estudo consistiu na aplicação everificação a campo de um programa decontrole estratégico de A. cajennense emeqüinos, considerando aspectos de gestãoda atividade produtiva, segurança eoperacionalidade e, também, oconcomitante parasitismo por A. nitens.

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2. OBJETIVOS

2.1. Geral:

• Verificar a eficiência de umprograma estratégico de controle deAmblyomma cajennense, baseado notratamento dos eqüinos parasitados naépoca de predominância dos estádios larvale ninfal em vida livre e parasitária.

2.2. Específicos:

• Verificar a eficiência de umprograma de controle estratégico de A.cajennense, constituído por dois módulos detratamentos, compostos por seis aplicaçõesde produtos carrapaticidas, com intervalosregulares de sete dias, nos períodos depredominância de larvas e ninfas,respectivamente;

• Avaliar a infestação natural por A.cajennense, em eqüinos mantidos emcondições de campo;

• Avaliar a infestação ambiental porA. cajennense em pastagens ocupadas poreqüinos naturalmente infestados;

• Observar aspectos de gestão daempresa rural e a operacionalidade doprograma de controle estratégico de A.cajennense;

• Monitorar eventuais implicaçõestoxicológicas nos eqüinos submetidos aoprograma de controle estratégico de A.cajennense, através de avaliações clínicas ehematológicas;

• Avaliar o efeito de um programa decontrole estratégico de A. cajennense sobrea população de A. nitens em eqüinos.

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1. Revisão de literatura

As revisões de literatura específicas aostemas abordados no presente estudo estãoapresentadas, separadamente, em seusrespectivos capítulos.

3.2. Local de realização e duração doestudo

O estudo foi realizado no período deoutubro de 2003 a março de 2005, em umapropriedade de pecuária de leite, localizadano município de Palma, Região da Zona daMata de Minas Gerais, Sudeste do Brasil. Olocal do experimento, segundo aclassificação climática de Köppen, temcomo característica um clima tropical úmido(megatérmico) de savana, com inverno secoe verão chuvoso. A temperatura média domês mais frio é superior a 18ºC. Aprecipitação no mês mais seco é inferior a60 mm. Tipo de clima que predomina,principalmente, em áreas de baixa altitude(Antunes, 1986). A propriedade continhaáreas de preservação e recuperaçãoambiental, com espécies da flora e faunacaracterísticas da Mata Atlântica. Aspastagens eram constituídas por espéciesnativas e cultivadas e apresentavam-senaturalmente infestadas por “plantasinvasoras”, também havia áreas destinadasaos canaviais para a suplementação dogado. O local do experimento situa-se a 95metros de altitude em uma área de relevoacidentado. Os dados climáticos deprecipitação, umidade relativa do ar e médiadas temperaturas médias, mínimas emáximas foram levantados junto ao InstitutoNacional de Meteorologia - INMET (2005),relativos à Estação Meteorológica SantoAntônio de Pádua - RJ, situada a 20quilômetros de distância do local doexperimento (latitude 21º32’S e longitude42º09’W).

A propriedade possuía uma área total de400 ha, estando situada na fronteira com oEstado de Rio de Janeiro, para ondeavançava parte de sua extensão territorial(Fig. 1). Sendo que, apenas 140 ha estavamsendo utilizados para fins de produção, quefoi a área analisada no experimento. Orestante das terras estava,temporariamente, sob a administração deterceiros. A principal atividade econômica daempresa rural era a bovinocultura de leite,sendo os eqüídeos mantidos para suporteao sistema produtivo. Os rebanhos debovinos e eqüídeos eram constituídos,respectivamente, de 120 e 21 animais. A

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proporção do número de eqüídeos emrelação ao número de bovinos apresentava-se elevada em relação ao que se encontrana maioria das fazendas de pecuáriabovina, isto porque, os eqüinos forammantidos para a realização do estudo e,além disso, a empresa estava em fase deexpansão, com perspectiva de incorporar orestante da área, aumentar o número debovinos e a produção de leite, de forma que,justificar-se-ia a manutenção deste rebanhoeqüídeo. Dentre tal rebanho, utilizou-se 16eqüinos adultos (11 machos e 5 fêmeas)para a realização do experimento. Ospotros, muares e asininos não estavaminclusos no estudo, devido ao fluxo deentrada e saída destes da fazenda(nascimentos, compras e vendas), porém osbanhos do programa de controle eram

comuns a todos os eqüídeos presentes napropriedade. Os eqüinos do experimentopermaneceram nos serviços de rotina dosistema produtivo e foram mantidos a pastocom suplementação mineral. As pastagenseram constituídas por Hyparrhernia rufa(capim jaraguá), Panicum maximum (capimcolonião), Brachiaria decumbens (capimbraquiária), Brachiaria mutica (capimangola) e Mellinis minutiflora (capimgordura), além de se apresentaremnaturalmente infestadas por diversasespécies de plantas invasoras.

A organização administrativa e operacionaldo sistema de produção compunha daseguinte forma: sócios proprietários, umgerente de operações, três funcionários.

Figura 1. Localização geográfica da propriedade e área onde foi realizado o experimento

Mapa da propriedade

Área do experimento

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3.3. Programa de controle estratégico deA. cajennense em eqüinos

Através de informações de biologia eepidemiologia de A. cajennense,encontradas na literatura, planejou-se umprograma para o controle estratégico destecarrapato em eqüinos. Sabendo-se que aslarvas e ninfas de A. cajennense são maissensíveis aos carrapaticidas que os estádiosadultos, foi proposta a realização de doismódulos de tratamentos carrapaticidas: umano período de predomínio de larvas e outrano período de predomínio de ninfas, com ointervalo entre os tratamentos de sete dias,considerando o tempo médio depermanência destes estádios nohospedeiro.

O planejamento inicial consistia narealização de dois módulos de seistratamentos cada, com a possibilidade detratamentos táticos em decorrência daobservação de larvas e ninfas de A.cajennense nos eqüinos e nas pastagens,também estava planejada a separação elimpeza de pastagens exclusivas para oseqüinos. Mas, na prática o que ocorreu foi arealização de oito tratamentos no primeiromódulo (isto é, dois tratamentos táticos) ecinco tratamentos no segundo módulo, poisneste não foi possível realizar o últimobanho esquematizado e nem tratamentostáticos. Também não foi possível aseparação das pastagens de eqüinos ebovinos. Com relação a estas alterações,não houve nenhuma intervenção por parte

do estudo, uma vez que, um dos objetivosfoi verificar o comportamento deste tipo deproposta tecnológica em situações decampo, com suas variáveis operacionais ede gestão do sistema produtivo.

Para a implantação do programa de controlede A. cajennense foi construída umaestrutura para a contenção e banhos poraspersão dos eqüinos, que se constituía deum tronco de cordoalha de aço comcapacidade para cinco eqüinos adultos,caixa d’água de 500 litros, bomba elétrica,tubulação e um jato de aspersão em cadalateral do tronco. De forma a garantir ummelhor controle das ações do programa, etambém, segurança aos operadores e aosanimais.

Diante da realização deste programaintensivo de tratamentos químicos noseqüinos, sugeriu-se o acompanhamentoclínico e hematológico, a fim de se verificaro perfil de alguns parâmetros importantes dafisiologia da espécie eqüina.

Sabendo que o A. nitens é também umimportante parasito de eqüinos, monitorou-se a carga parasitária deste carrapato,tendo em vista verificar sua susceptibilidadeaos tratamentos carrapaticidas, na forma emque foram aplicados.

O cronograma de tratamentoscarrapaticidas, exames clínicos dos eqüinose coleta de sangue para as análiseslaboratoriais está representado na Figura 2.

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Figura 2. Cronograma de realização dos tratamentos carrapaticidas, exames clínicos e coletasde sangue para as análises da bioquímica sérica e do hemograma dos eqüinos - Palma/MG,2004

3.4. Redação da dissertação

Optou-se por apresentar este trabalho dedissertação em capítulos, cada qual,estruturado metodologicamente visando àpublicação de artigos científicos emperiódicos especializados. Considerando odinamismo que esta forma de apresentaçãopermite para a divulgação das informaçõesobtidas no presente estudo.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Abr Maio Jun Jul

2004

Banhos

B. Sérica

Hemograma

3 10 17 24 1 8 15 22 5 19 3 10 17 24 31

Exames clínicos

Ago28

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5. CAPÍTULO I

Controle estratégico de Amblyomma cajennense (Fabricius, 1787) (Acari: Ixodidae) emeqüinos, Minas Gerais, Brasil

Strategic control of Amblyomma cajennense (Fabricius, 1787) (Acari: Ixodidae) onhorses, Minas Gerais, Brazil

Resumo: Objetivou-se verificar a eficiência de um programa de controle estratégico de A.cajennense em eqüinos sob condições de campo. Os tratamentos carrapaticidas foramrealizados a cada sete dias e divididos em dois módulos: o primeiro com início em abril de 2004e o segundo com início em julho de 2004, visando atingir as larvas e ninfas do carrapato.Empregou-se a base química piretróide - cipermetrina 0,015%, para banhar os eqüinos. Após oprograma de controle houve uma redução de 44,85% da carga parasitária de adultos docarrapato no período de outubro de 2004 a março 2005, e de 59,74%, em fevereiro e março de2005. Os resultados demonstraram a efetividade do controle estratégico. No entanto,consideram-se importantes fatores operacionais e de gerenciamento que podem interferir naaplicação prática desta tecnologia.

Palavras-chave: Amblyomma cajennense, controle estratégico, eqüinos.

Abstract: The objective of this study was to verify the program efficiency of strategic control ofthe A. cajennense in horses under field conditions. The acaricide treatments had been carriedeach seven days and divided in two batteries, the first one beginning in April of 2004 and thesecond beginning in July of 2004, aiming to reach the larvae and nymphs of the tick. It wasused pyrethroid chemical base - cypermethrin 0.015%, to bathe the equines. After the controlprogram had a reduction of 44.85% of the parasitic load of adults of the tick in the period ofOctober of 2004 to March 2005, and 59.74%, in February and March of 2005. The results haddemonstrated the effectiveness of the strategic control. However, they are considered importantadministrative and operational factors that can to intervene with the practical application of thistechnology.

Key-words: Amblyomma cajennense, strategic control, equines.

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INDRODUÇÃO

O carrapato Amblyomma cajennense,pertence à família Ixodidae, subfamíliaAmblyomminae e ao gênero Amblyomma,tendo sido primeiramente relatado emCayenna (Guiana Francesa) e descrito porFabricius em 1787 (Oliver, 1989). Sua áreade distribuição abrange a América do Sul,América Central, Sul da América do Norte eCaribe (Aragão, 1936). É um carrapatotrioxeno, isto é, que utiliza três hospedeirospara a realização do seu ciclo parasitário(Rohr, 1909). Internacionalmente conhecidopor “cayenne tick” ou “tropical horse tick”, noBrasil recebe denominações como:“rodoleiro” e “carrapato estrela” para osestádios adultos; “vermelhinho” para asninfas; e “micuim” para as larvas (Aragão,1936; Leite et al., 1997). Tem comocaracterística uma baixa especificidadeparasitária, podendo parasitar váriasespécies de animais domésticos esilvestres, embora os eqüídeos sejam oshospedeiros preferenciais (Lopes et al.,1998). Este ixodídeo ocasiona perdaseconômicas importantes, em decorrência daqueda de produtividade dos animais e dosgastos com o uso incorreto decarrapaticidas (Prata et al., 1996). Éresponsável pela transmissão de patógenosaos animais, estando também implicado emsaúde pública, destacando-se a transmissãodo agente etiológico da febre maculosa,uma das mais freqüentes e conhecidaszoonoses transmitida por carrapatos nasAméricas (Fonseca, 1997; Leite et al.,1998).

Os conhecimentos de bioecologia daespécie A. cajennense são de fundamentalimportância no controle de suas populações(Leite et al., 1997). Estudos realizados emTrinidad por Smith (1975), na Argentina porGuglielmone et al. (1990) e no Brasil porSerra-Freire (1982), Souza e Serra-Freire(1992), Souza e Serra-Freire (1994),Oliveira et al. (2000), Labruna et al. (2002) eOliveira et al. (2003) caracterizaram adinâmica populacional de A. cajennense emvida livre e parasitária, demonstrando odesenvolvimento de apenas uma geraçãopor ano, com picos definidos das

populações de larvas, ninfas e adultos, comum maior predomínio de estádios imaturosnos meses mais frios e secos e de adultosnos meses mais quentes e chuvosos.Oliveira et al. (2000) e Oliveira et al. (2003)em Pedro Leopoldo, Minas Gerais, Brasil,observaram, em eqüinos e no ambiente,que as maiores concentrações de larvasocorrendo em abril e maio e as de ninfas nomês de julho. Outro fator importante é otempo de permanência de cada estádio doA. cajennense no hospedeiro. As larvas eninfas se alimentam por um período dequatro a sete dias, as fêmeas por dez aquatorze dias (Olivieri e Serra-Freire, 1984a;Olivieri e Serra-Freire, 1984b; Serra-Freire eOlivieri, 1992; Prata et al., 1996), enquantoque os machos podem sobreviver epermanecerem ativos sexualmente por até86 dias no hospedeiro (Pinter et al., 2002).Além disso, esta espécie apresenta umenorme potencial biótico, sendo que aslarvas podem permanecer em jejum noambiente por seis meses, as ninfas por umano e os adultos podem resistir por até doisanos (Leite et al., 1997).

De acordo com Pinheiro (1987) e Bittencourtet al. (1989) a espécie A. cajennense exigeconcentrações mais elevadas deformulações carrapaticidas do que aquelasutilizadas para o controle do Boophilusmicroplus (Canestrini, 1887). Os autoresverificaram também que à medida que osestádios evolutivos do A. cajennense sedesenvolvem, as concentrações decarrapaticida requeridas para o seu controletambém se elevam, sendo as larvas maissensíveis que as ninfas e estas maissensíveis que os adultos. Porém, pode-seobservar no manejo das criações deeqüinos no Brasil, que os tratamentoscarrapaticidas se concentram na primaverae no verão, quando as infestações porfêmeas ingurgitadas são notadas peloprodutor e o problema já está instalado(Labruna et al., 2004). Por uma questão deeficiência e segurança, os produtos dogrupo dos piretróides sãos os únicosindicados para banhos em eqüinosdisponíveis no mercado brasileiro (Pinheiro,1987; Bittencourt et al., 1989; Leite et al.,1997). Apesar dos conhecimentos teórico-

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científicos já existentes a respeito do A.cajennense, o controle desta espécie decarrapato, muitas vezes, ainda éerroneamente realizado a semelhança doque se faz para o controle do B. microplusem bovinos.

Leite et al. (1997), considerando aspectosepidemiológicos das infestações por A.cajennense, elaboraram uma proposta decontrole estratégico baseada em módulosde tratamentos carrapaticidas nos eqüinos,banhando os eqüinos a cada sete a dezdias, no período de predominância de larvase ninfas do carrapato.

Considerando as questões que relacionameste carrapato ao complexo da pecuária e àsaúde pública, objetivou-se com este estudoverificar a eficiência de um programa decontrole estratégico de A. cajennense emeqüinos perante situações da prática decampo, definidas pelas variáveis ambientais,por fatores econômicos, sócio-culturais e deoperacionalidade, em um sistema deprodução representativo da cadeia dapecuária brasileira.

MATERIAL E MÉTODOS

Local de realização e duração do estudo

O experimento foi realizado em umaempresa de pecuária leiteira comercial, comum rebanho bovino de 120 cabeças,localizada no município de Palma, Zona daMata do Estado de Minas Gerais,constituída de 140 ha de pastagens nativase cultivadas e de áreas de preservaçãopermanente com vegetação arbustiva earbórea. A propriedade apresentavahistórico de infestação natural porAmblyomma cajennense, porém, nãoempregava nenhum esquema específicopara o controle de carrapatos nos eqüinos.O estudo, incluindo o período de controle,teve duração de 18 meses, de outubro de2003 a março de 2005. A fazenda eragerida, hierarquicamente, por umcondomínio de proprietários, por um gerenteoperacional e por três funcionários.

Animais e pastagens

Foram utilizados 16 eqüinos adultos de raçanão definida (11 machos e 5 fêmeas),mantidos no manejo habitual dapropriedade, realizando trabalhos de traçãoe/ou participando na lida com o gado, sendoque as fêmeas permaneceram emreprodução. Os animais foram mantidosexclusivamente a pasto, comsuplementação mineral. Em abril de 2004,quando do início dos tratamentoscarrapaticidas, os eqüinos foramvermifugados (com a base albendazole1)como parte inicial de um programacompreendido por quatro dosificaçõesanuais. Ao início e no decorrer do estudotodos os eqüinos foram mensalmenteinspecionados quanto aos aspectos clínico-nutricionais de temperatura retal,freqüências cardíaca e respiratória, pulsoarterial, mucosas, tempo de perfusãocapilar, auscultação abdominal, turgorcutâneo, linfonodos e condição corporal,conforme Speirs (1999). Além disso, após arealização de cada tratamento carrapaticidaos animais foram observados quanto apossíveis alterações clínicas.

As pastagens eram constituídas porHyparrhernia rufa (capim jaraguá), Panicummaximum (capim colonião), Brachiariadecumbens (capim braquiária), Brachiariamutica (capim angola) e Mellinis minutiflora(capim gordura), além de se apresentaremnaturalmente infestadas por diversasespécies de plantas invasoras. De acordocom a programação inicial, os eqüinosdeveriam permanecer - durante todo oexperimento - segregados dos bovinos empiquetes pré-estabelecidos e devidamentelimpos (roçados); porém, isto não foipossível devido a circunstâncias denatureza organizacional e estrutural dapropriedade. Sendo assim, os eqüinospermaneceram compartilhando os pastoscom os bovinos e circulando por extensasáreas da propriedade.

1 Valbazen® 10 Cobalto – Pfizer

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Os tratamentos químicos estratégicos

Inicialmente, estabeleceu-se um esquemade controle estratégico com base eminformações de dinâmica populacional de A.cajennense para Região Sudeste do Brasil(Souza, 1990; Oliveira et al., 2000; Labrunaet al., 2002; Oliveira et al., 2003) e decontrole (Leite et al., 1997), dividido em doismódulos de seis banhos carrapaticidasintervalados por sete dias. Previamenteplanejado da seguinte forma: o primeiromódulo com início na primeira semana domês de abril de 2004, visando atingirprincipalmente a fase de predomínio delarvas do carrapato; e o segundo módulocom início na primeira semana de julho de2004, visando atingir principalmente a fasede maior ocorrência de ninfas. No entanto,ao final do primeiro módulo de tratamentosna avaliação de monitoramento realizadaem maio (sete dias após o sexto tratamentocarrapaticida) verificou-se, ainda, apresença de larvas nos animais e naspastagens, determinando-se então, arealização de dois tratamentoscarrapaticidas táticos. Enquanto que, nasegunda etapa de tratamentos executaram-se apenas cinco tratamentos carrapaticidas,pois, devido a interferências climáticas equestões de ordem operacional daempresa, não foi possível executar o últimobanho carrapaticida do programa, bemcomo não foi possível realizar tratamentostáticos. Sabendo que o primeiro módulo detratamentos teve a duração de 49 dias entreo primeiro e o último banho, e o segundodurou 28 dias, com um intervalo de 42 diasentre ambos. Os animais ao serembanhados retornaram ao pasto de origem;além disso, foram banhados sempre quecircularam por áreas circunvizinhas, ou seja,fora da propriedade.

A estrutura para contenção dos animais eaplicação dos tratamentos carrapaticidascompunha-se de um tronco de cordoalha deaço com capacidade para cinco eqüinosadultos, uma bomba elétrica, uma caixad’água de 500 litros, tubulação hidráulica eum aspersor com bico transversal em cadalateral do tronco, possibilitando a operaçãodo sistema por duas pessoassimultaneamente, conforme Leite (2004). Os

funcionários da propriedade foramdevidamente orientados e treinados para aexecução dos banhos carrapaticidas e parao manejo dos animais, e também foraminformados da importância do A. cajennensee de seu controle. Os banhos foramrealizados nos finais de tarde, quando o sole a temperatura se apresentavam maisamenos. Utilizou-se um volume por animalde 3 a 5 litros de emulsão carrapaticida,tendo como base química um produtopiretróide na mesma concentraçãorecomendada para uso em bovinos(cipermetrina2 na concentração de 0,015%).

Monitoramento da infestação por A.cajennense nos eqüinos e nas pastagens

De abril a setembro de 2004, a cada 14dias, os eqüinos e as pastagens forammonitorados quanto às infestações por A.cajennense. Empregando-se o arraste deflanelas nas pastagens e a raspagem dapelagem dos eqüinos (Oliveira e Leite,1997; Oliveira, 1998). Sendo, objetivo doprograma de controle atingir os estádiosimaturos do carrapato, tais observaçõesforam consideradas no estabelecimento dosmódulos de tratamentos e na necessidade,ou não, de tratamentos carrapaticidastáticos.

Período controle e período de avaliaçãodo programa de controle estratégico parao A. cajennense

Antes da implantação do programa decontrole estratégico, todo o plantel doexperimento foi avaliado quanto à cargaparasitária de estádios adultos,quantificando-se, separadamente, machos efêmeas de A. cajennense presentes nocorpo dos animais. Esta avaliação foirealizada mensalmente compreendendo operíodo de outubro de 2003 a março de2004. As contagens foram realizadas sobreo antímero esquerdo dos animais,multiplicando-se o valor numérico observadopor dois, obtendo-se uma estimativa dacarga parasitária total, segundo metodologiadescrita por Oliveira e Leite (1997) e Oliveira 2 Ec-Tox CE 15%® - Schering-Plough SaúdeAnimal.

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(1998). Os dados obtidos nestas análisespreliminares serviram como parâmetrospara as avaliações comparativas realizadasdepois do programa de controle estratégico,no período de outubro de 2004 a março de2005, de acordo com a metodologia acimadescrita. Também foram realizadasobservações a respeito do gerenciamentoda propriedade e da operacionalidade doprograma de controle.

Dados meteorológicos

Os dados climáticos de precipitação,umidade relativa do ar e média dastemperaturas médias, mínimas e máximas(Fig. 4 e 5) foram levantados junto aoInstituto Nacional de Meteorologia - INMET(2005) relativos à Estação MeteorológicaSanto Antônio de Pádua - RJ, situada a 20quilômetros de distância do local do estudo,a uma altitude de 95 metros, latitude21º32’S e longitude 42º09’W.

Análise estatística dos dados

Os dados obtidos das contagens dosestádios adulto do A. cajennense foramsubmetidos ao teste não-paramétrico deMann-Whitney, os valores da razão sexualdeste carrapato foram analisados portransformação logarítmica (Sampaio, 2002).

RESULTADOS

Os valores médios das contagens pré e pós-tratamentos carrapaticidas de estádiosadultos do A. cajennense em eqüinos foram,respectivamente, 78,35 e 43,21 carrapatospor animal, (Tab. 1). Demonstrando umaredução significativa da carga parasitária(P<0,03) de 44,85% para o período deoutubro de 2004 a março de 2005 emrelação ao mesmo período do ano anterior.

Tabela 1. Valores médios e desvios-padrão das contagens de adultos de Amblyommacajennense em eqüinos antes e após o programa de controle estratégico, respectivamente, nosperíodos de outubro de 2003 a março de 2004 e outubro de 2004 a março de 2005 - Palma/MG

A. cajennenseMeses

Pré-tratamentos Pós-tratamentos Percentual de variação %Outubro 20,67 (±12,63)a 26,67 (±11,91)a + 29,03Novembro 14,18 (±14,22)a 38,5(±18,91)b + 171,51Dezembro 34,36 (±38,81)a 43,50 (±22,55)a + 26,6Janeiro 56,93 (±41,09)a 30,75 (±14,71)b - 45,99Fevereiro 149,12 (±87,57)a 44,50 (±22,39)b - 70,16Março 121,00 (±63,99)a 65,24 (±28,77)b - 46,08Média global 78,35 (±76,64)a 43,21 (±24,17)b - 44,85*Letras minúsculas na mesma linha, não coincidentes, diferem estatisticamente pelo teste de Mann-Whitney ao nível de 5% de significância.

Tabela 2. Valores médios e desvios-padrão das contagens de adultos de Amblyommacajennense em eqüinos antes e após o programa de controle estratégico, nos meses defevereiro e março de 2004 e 2005 - Palma/MGA. cajennense Fevereiro/março

2004Fevereiro/março

2005Percentual de

variação %Machos 77,19 (±47,44)a 33,75 (±16,68)b - 56,27Fêmeas 57,87 (±31,78)a 20,62 (±12,64)b - 64,37Média global 135,06 (±78,59)a 54,37 (±28,04)b - 59,74*Letras minúsculas na mesma linha, não coincidentes, diferem estatisticamente pelo teste de Mann-Whitney ao nível de 0,001% de significância.

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Pode-se observar, Figura 1, que os maiorespicos de adultos de A. cajennenseocorreram nos meses de fevereiro e marçotanto no período pré-tratamentos como noperíodo pós-tratamentos. Quando se analisaeste bimestre, separadamente, observa-seque houve uma redução altamentesignificativa (P<0,0001) de 59,74%, ou seja,

de 135,06 para 54,37 adultos de A.cajennense por eqüino (Tab. 2). Entretanto,comparando-se as contagens referentes aomês de novembro, observou-se umaumento estatisticamente considerável(P<0,05) da carga parasitária de adultos deA. cajennense nos eqüinos (Tab. 1 e Fig. 1).

0

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Out Nov Dez Jan Fev Mar

A. c

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Pré-tratamentos Pós-tratamentos

Figura 1. Estádios adultos do A. cajennense em eqüinos antes e após o programa de controleestratégico, respectivamente, nos períodos de outubro de 2003 a março de 2004 e outubro de2004 a março de 2005 - Palma/MG

As contagens específicas de machos e defêmeas de A. cajennense nos eqüinos estãorepresentadas nas Figuras 2 e 3. Osresultados gerais mostram uma redução de36,28% (P<0,05) e de 56,59% (P<0,004)das cargas parasitárias de machos efêmeas, respectivamente. No entanto,

comparando-se os períodos referentes afevereiro/março constata-se diferençaextremamente significativa (P<0,0001), comdecréscimo de 56,28% de machos e64,38% de fêmeas de A. cajennense noseqüinos após o programa de controle (Tab.2).

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0

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Out Nov Dez Jan Fev Mar

A. c

ajen

nen

se

Macho Pré-tratamentos Macho Pós-tratamentos

Figura 2. Machos de A. cajennense em eqüinos antes e após o programa de controleestratégico, respectivamente, nos períodos de outubro de 2003 a março de 2004 e outubro de2004 a março de 2005 - Palma/MG

0

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40

50

60

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Out Nov Dez Jan Fev Mar

A. c

ajen

nen

se

Fêmea Pré-tratamentos Fêmea Pós-tratamentos

Figura 3. Fêmeas de A. cajennense em eqüinos antes e após o programa de controleestratégico, respectivamente, nos períodos de outubro de 2003 a março de 2004 e outubro de2004 a março de 2005 - Palma/MG

Os percentuais de razão sexual de A.cajennense, mostraram um evidenteaumento (P<0,05) da relação macho:fêmeaem todos os meses de contagens pós-tratamentos, a exceção do mês denovembro em que tal variação não foisignificativa (Fig. 4). Verificaram-se asmaiores proporções macho:fêmea emoutubro, com 3,51 machos:fêmea noperíodo pré-tratamentos e 4,07machos:fêmea no período pós-tratamentos.As menores proporções macho:fêmea foramobservadas no mês de março com 1,36 e1,59 machos:fêmea para as contagens prée pós-tratamentos, respectivamente. Os

machos de A. cajennense forampredominantes em todas as contagens, prée pós-tratamentos. As fêmeasrepresentaram 40,07% da população totalde adultos de A. cajennense no período pré-tratamentos, percentual reduzidosignificativamente (P<0,05) para 31,31% noperíodo pós-tratamentos.

Na tabela 3 estão representadas asobservações do monitoramento quinzenalda população de A. cajennense em vidalivre e parasitária, através do arraste deflanela e raspagem nos eqüinos, no períodode abril a setembro de 2004.

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Tabela 3. Monitoramento da população de A. cajennense nas pastagens, realizado a cadaquatorze dias, no período de abril a setembro de 2004 – Palma/MG

Monitoramento de A. cajennense nas pastagens e nos eqüinosAbril Maio Junho Julho Agosto SetembroEstádios

AV1 AV2 AV1 AV2 AV1 AV2 AV1 AV2 AV1 AV2 AV1 AV2

Larvas - - + + + + + - - + + +

Ninfas - - - - - - + - + + + +

Pas

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Adultos - - - - - - - - - - - -

Larvas + - - + - - + - - - + +

Ninfas - - - - - - + - - + + +

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Adultos + + + + + + + + + + + +

• AV1: 1ª avaliação do mês; AV2: 2ª avaliação do mês; -: Ausência; +: Presença.

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Pré-tratamentos Pós-tratamentos

Figura 4. Razão sexual de A. cajennense, em eqüinos antes e após o programa de controleestratégico, respectivamente, nos períodos de outubro de 2003 a março de 2004 e outubro de2004 a março de 2005 - Palma/MG

No decorrer do estudo, perante as análisessemiológicas, não foi observada nenhumareação clínica adversa nos eqüinos. Ametodologia empregada para os banhoscarrapaticidas mostrou-se eficiente para acontenção dos animais e aplicação daemulsão carrapaticida. A operação debanho teve uma duração média de 35segundos por animal, quando executada pordois operadores. O custo com o produtocarrapaticida foi R$ 0,19 ou US$ 0,076 portratamento por animal. A estrutura paracontenção e banho dos animais custou R$1200,00 ou US$ 480,00, valores indexadosno período de execução do programa decontrole.

DISCUSSÃO

As informações obtidas no presente estudoconsolidam a validade dos princípiosepidemiológicos preconizados por Leite etal. (1997) para o controle do A. cajennenseem eqüinos, e ainda, esclarecem algunspontos críticos importantes para aimplantação e execução deste tipo deproposta tecnológica. Apesar dosconhecimentos sobre biologia eepidemiologia de A. cajennense, ainda sãonecessários mais estudos a respeito daaplicabilidade prática de tais informaçõesem situações de campo. Lopes (2000) eLabruna et al. (2004) avaliaram a propostade Leite et al. (1997), embora os estudostenham sido realizados em eqüinos a pasto,foram mantidas condições experimentaiscontroladas, sem considerar importantes

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variáveis relacionadas ao sistema produtivo,tais como: o modelo de gestão da empresarural, a atividade econômica e aoperacionalidade do programa.

Observaram-se as maiores populações deadultos de A. cajennense parasitando oseqüinos nos meses de fevereiro e marçonas contagens pré e pós-tratamentos, estefoi também o período de maior percentualde redução da carga parasitária após ostratamentos carrapaticidas (59,74%) (Tab.2). Labruna et al. (2004) em Pirassununga,São Paulo, Brasil, empregaram umprograma de controle deste carrapato emeqüinos, avaliando contagens nos meses dejaneiro e fevereiro a cada 21 dias – antes eapós os tratamentos carrapaticidas,obtiveram uma redução 58,6% cargaparasitária de adultos quando banharam oseqüinos com uma formulação piretróide daprimeira semana de abril à ultima de julho e89,7% quando banharam os animais daprimeira semana de abril à ultima deoutubro, em ambas as situações os animaisforam banhados a cada sete dias. Pode-sedefrontar parcialmente o presente estudocom o experimento realizado por Labruna etal. (2004) com base nos objetivos propostospor ambos. No entanto, devem-se ressalvarparticularidades metodológicas ecircunstanciais importantes. Além dasdiferenças no período e quantidade debanhos, período e freqüência dasavaliações, aqueles autores diferentementedo presente estudo, utilizaram pastagensexclusivas e permanentes para os eqüinosem uma lotação fixa e utilizaram, parabanhar os animais, uma emulsão doprincípio ativo alfametrina a 0,01%. Emboraos estágios adultos do A. cajennenserequeiram concentrações de carrapaticidassuperiores àquelas utilizadas para ocontrole do B. microplus (Bittencourt et al.,1989), não se têm informações na literaturasobre o efeito de tais concentraçõescarrapaticidas em eqüinos.

Lopes (2000), em Pedro Leopoldo, MinasGerais, Brasil, aplicou seis tratamentoscarrapaticidas em eqüinos intervalados por10 dias, com uma base piretróide nosmeses de maio e junho e outros seistratamentos nos meses de agosto e

setembro, e realizou contagens dosestágios imaturos de A. cajennense noseqüinos respeitando o mesmo cronogramaestabelecido para os tratamentoscarrapaticidas, onde verificou uma reduçãode 66,67% de larvas e de 100% de ninfas.Os períodos de vida parasitária de larvas ede ninfas de A. cajennense devem serconsiderados em esquemas de controledirecionados aos hospedeiros, visando ocontato do carrapaticida com uma maiorpercentagem de estágios imaturos depopulações deste carrapato.

No presente estudo verificou-se uma maiorconcentração de machos em relação afêmeas de A. cajennense em vidaparasitária; além disso, a proporçãomacho:fêmea foi significativamente maiorem outubro perante os outros meses decontagens, dinâmica semelhante à relatadapor Oliveira et al. (2003) e Labruna et al.(2004). Os machos de A. cajennenseaparecem mais cedo e em maior densidadepopulacional nas pastagens e nos animais,do que as fêmeas (Oliveira, 1998; Labrunaet al., 2002). Segundo Sonenshine et al.(1982) e Oliveira (1998) a infestaçãoexpressiva de machos antes das fêmeas,pode estar relacionada à necessidade deque os machos parasitem e se alimentemprimeiramente, atinjam a maturidade sexuale produzam feromônios para atrair fêmeas,ninfas e outros machos a se fixarem nohospedeiro. Entretanto, Pinter et al. (2002) eFreitas et al. (1999), em condiçõeslaboratoriais, a partir de ninfas ingurgitadascoletadas de eqüinos obtiveram 35-36% demachos e 64-65% de fêmeas de A.cajennense, respectivamente. As diferentesproporções sexuais de A. cajennenseobservadas entre contagens realizadas emhospedeiros a campo e em condições delaboratório, podem estar relacionadas aomaior tempo de parasitismo dos machos,pois dependendo do intervalo de contagens,pode-se contabilizar o mesmo machoparasitando o mesmo hospedeiro em maisde uma ocasião (Labruna et al., 2002; Pinteret al., 2002).

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A maior redução de fêmeas em relação aosmachos de A. cajennense, após programade controle, pode estar relacionada a ummaior efeito dos tratamentos carrapaticidas,realizados no período de predominância deestádios imaturos do carrapato, sobre apopulação de fêmeas. Possivelmente, pelamenor influência de feromônios de machosem vida parasitária sobre as fêmeas de A.cajennense no ambiente, tornando oseqüinos menos atrativos ao parasitismo porfêmeas (Sonenshine, 1991; Oliveira, 1998;Labruna et al., 2002; Pinter et al., 2002). Emcondições naturais, o crescimento dapopulação de carrapatos está diretamenterelacionado ao número de fêmeasingurgitadas que se desprendem dohospedeiro, entre duas gerações (Labrunaet al., 2004).

A Tabela 1 e Figuras 1, 2 e 3, mostram queapesar da população total de adultos de A.cajennense ter diminuído significativamenteapós os tratamentos carrapaticidas, ocorreuum aumento considerável (P<0,05) decarrapatos adultos no mês de novembro de2004 em relação ao mesmo período do anoanterior. Tais variações podem advir deinterferências no programa de controle de A.cajennense, no manejo dos animais e doambiente, além de influências climáticas naregião e/ou ocorrências de anomaliasclimatológicas entre os dois períodosobservados. De acordo com informações doInstituto Nacional de Meteorologia – INMET(2005) houve anomalias climatológicas

importantes no período de janeiro de 2003 adezembro de 2004, principalmente comrelação aos gradientes de precipitação, osquais estão graficamente representados naFigura 5. Pode-se também observar o perfil,ao longo de 2003 e 2004, com relação àtemperatura e umidade relativa do ar (Fig.6). Labruna et al. (2002) demonstraramhaver correlação negativa entre o númerode larvas e ninfas de A. cajennenseingurgitadas com os valores de temperatura,dias de chuva, fotoperíodo e umidaderelativa do ar; já para os estádios adultos osautores verificaram correlação positiva comos valores de temperatura, umidade relativado ar, total de chuvas, dias de chuva efotoperíodo. De acordo com Labruna et al.(2003), o fato do A. cajennense completarapenas uma geração por ano na RegiãoSudeste do Brasil é primariamentecontrolado pela diapausa comportamentaldas larvas, porém os diferentes períodosentre o aparecimento das larvas e ninfas eentre ninfas e adultos são controlados poreventos tais como os limites de temperatura,e não por fatores relacionados à diapausa.Paula et al. (2004) ao imergirem larvas nãoalimentadas de A. cajennense em águadestilada verificaram alteraçõessignificativas no tempo de longevidade dasmesmas, com efeitos deletérios a partir 48hde imersão. Segundo Leite et al. (1997), omeio ambiente físico e climático regula emgrande parte a dinâmica das populações deparasitos.

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Jan Fev Mar Abr Maio Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

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2003 2004 Histórico

Figura 5. Precipitação mensal (mm) no período de janeiro de 2003 a dezembro de 2004 enormal climatológica de precipitação (1961-1990) na Estação Meteorológica de Santo Antôniode Pádua - RJ, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia – 2005

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Figura 6. Temperaturas máximas médias, médias compensadas, mínimas médias e umidaderelativa do ar no período de janeiro 2003 a dezembro de 2004 na Estação Meteorológica deSanto Antônio de Pádua - RJ, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia – 2005

No mês de maio de 2004, sete dias após oúltimo banho programado para o primeiromódulo, verificou-se ainda, a presençalarvas nas pastagens e nos animais (Tab.3), o que determinou a necessidade derealizar dois tratamentos carrapaticidastáticos, quando então, percebeu-se aausência de estádios imaturos do carrapatonos animais e o módulo foi encerrado. Osegundo módulo de banhos teve início naprimeira semana de julho, momento em quejá se verificava o reaparecimento deestádios imaturos de A. cajennense nosanimais. O último banho deste módulo nãofoi realizado, pois na semana na qual estavaprevisto, choveu por vários diasconsecutivos, inviabilizando a operação.Apesar de ter sido verificada a presença delarvas e ninfas nas pastagens e nos animaisnos meses de agosto e setembro, não foipossível realizar banhos carrapaticidastáticos, uma vez que, em decorrência dosaltos índices pluviométricos determinandocondições propícias ao plantio, os

operadores do sistema de controle docarrapato foram redirecionados parafunções relacionadas à implantação depastagens, o que era a “prioridade” daempresa naquele momento.

No período de monitoramento (abril asetembro de 2004) não foram encontradosestádios adultos de A. cajennense naspastagens. Ainda durante o período de abrila setembro de 2004 foram observadasbaixas cargas parasitárias de adultos noseqüinos, sempre inferiores a dez carrapatospor animal. Segundo Souza (1990), Oliveira(1998) e Labruna et al. (2002), adultos de A.cajennense ocorrem em vida livre eparasitária durante todo o ano. Asinformações epidemiológicas sobre o A.cajennense, os hospedeiros e o ambientesão importantes para a tomada de decisõestécnicas, podendo indicar o momento maisadequado para se dar início, interromper ouencerrar a seqüência de banhos.

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Embora os índices de redução da cargaparasitária de A. cajennense tenham sidosignificativos, as contagens realizadas apósos tratamentos carrapaticidas aindarevelaram um considerável parasitismo poradultos de A. cajennense, com uma médiade 43,21 carrapatos adultos por animal noperíodo de outubro de 2004 a março de2005, e de 54,37 em fevereiro e março de2005. Lembrando que, por questõesoperacionais de falta de mão-de-obra e derecursos para investimento na estrutura deseparação e limpeza dos pastos, não foipossível separar os eqüinos dos bovinos emantê-los em pastos específicos e limpos

de plantas invasoras a contento doplanejamento inicial e dos fundamentosteóricos propostos por Leite et al. (1997),permanecendo as condições ambientais eclimáticas para desenvolvimento do A.cajennense e de hospedeiros alternativos.Circunstâncias estas que, certamenteinterferiram nos aspectos técnicos deexecução do programa e que possivelmenteinfluenciaram nos resultados finais. NoQuadro 1 estão representados algunsaspectos técnicos da proposta de controle,bem como seus respectivos níveis deexeqüibilidade para o sistema de produçãoem que foram aplicados.

Quadro 1. Fatores operacionais de uma proposta de controle estratégico de A. cajennense emeqüinos perante circunstâncias de campo de um sistema de pecuária - Palma/MG, 2004

Planejamento técnico Grau de execuçãoCronograma fixo de banhos carrapaticidas ParcialEstrutura para contenções dos animais TotalOperações de banho TotalPastos separados para eqüinos Não realizadoLimpeza dos pastos ParcialRetorno dos eqüinos ao pasto de origem após os banhos TotalBanho dos eqüinos quando circularam por áreas externas à propriedade TotalManejo sanitário dos eqüinos TotalEscrituração dos acontecimentos Não realizado

No controle do A. cajennense em umapropriedade, as áreas circunvizinhas são deextrema importância, pois, segundo Lopeset al. (1998), este carrapato por ser trioxenoe de baixa especificidade parasitária tem umgrande poder de dispersão por extensasáreas. A separação das pastagens deeqüinos e de bovinos é outro fatordeterminante para o controle destecarrapato. Segundo Rocha (2005), grandeparte das propriedades de pecuária de leitepossuem eqüídeos. E sabe-se que osbovinos de exploração leiteira sãofacilmente parasitados por A. cajennense(Serra-Freire, 1982; Moreno, 1984; Falce,1986; Serra-Freire e Cunha, 1987).

A presença de mamíferos e pássarossilvestres contribui para a manutenção edispersão do A. cajennense (Smith, 1974;Lopes et al., 1998; Rojas et al., 1999).Labruna et al. (2001) estabeleceram a

associação entre a presença de pastos“sujos” em haras com maiores infestaçõespor A. cajennense em eqüinos. Torna-seimportante destacar que o ciclo de vida doA. cajennense pode durar até 3,5 anos,portanto, para se garantir o êxito de umprograma, as operações de controle devemperdurar pelo mesmo período de tempo oumais, sabendo que as larvas destecarrapato podem permanecer em jejum noambiente por até seis meses, as ninfas poraté um ano e os adultos por até dois anos(Leite et al., 1997). Sendo assim, esperam-se reduções da população do carrapato, degeração a geração, podendo reduzirgradativamente o número de banhos.Labruna et al. (2004) verificaram umaredução significativa de A. cajennense noseqüinos após o primeiro ano de controle; noentanto, no ano seguinte, quando oseqüinos não foram banhados, a populaçãode carrapatos voltou a crescer, reforçado anecessidade de continuidade nas ações de

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controle. Leite et al. (1997) indicamtambém, para a primavera e verão, períodode predomínio de estádios adultos, aretirada manual de fêmeas ingurgitadas docarrapato.

Deve-se registrar que, não foramobservadas alterações clínicas,comportamentais ou reprodutivas noseqüinos perante o programa de controleestratégico de A. cajennense, visto quehouve concepções e partos normais emquatro das cinco éguas do experimento.Lembrando que as éguas são poliéstricasestacionais com fotoperíodo positivo, deforma que, na Região Sudeste do Brasil, aséguas estão mais aptas à reprodução apartir do terceiro trimestre de cada ano.Sendo o programa de controle de A.cajennense proposto para o período deoutono e inverno, geralmente coincide como terço médio da gestação das éguas.Intervalo da gestação menos susceptível aimplicações teratogênicas e abortogênicasem eqüinos (Roberts, 1980). E ainda, deacordo com Labruna et al. (2004), nesteperíodo existe a possibilidade de se repetirtratamentos carrapaticidas a cada sete diascom uma eficácia satisfatória, devido àocorrência de menores índicespluviométricos neste período em grandeparte do Brasil.

O programa de controle estratégico,utilizando uma emulsão carrapaticida naconcentração recomendada para o controledo B. microplus em bovinos, apresentouefeitos sobre os estádios larval e ninfal do A.cajennense, conseqüentemente reduzindo acarga parasitária de estádios adultos docarrapato; o que corrobora com asinformações de Pinheiro (1987) e Bittencourtet al. (1989) que demonstraram que aslarvas e ninfas deste carrapato são maissensíveis que os estádios adultos, enquantoque estes são 1,8 vezes mais resistentesque os estádios adultos de B. microplus.Fato que aliado à possibilidade de seestabelecer o número de banhos de acordocom o nível de infestação da propriedade,resulta em uma racionalização do uso doproduto carrapaticida e da mão-de-obraenvolvida, determinando menores riscos decontaminação para os animais, para o

homem e para o meio ambiente. Outraobservação a ser ponderada é que, nodecorrer do estudo com as freqüentesmanipulações, os eqüinos tornaram-se maisdóceis e condicionados ao manejo doprograma de controle contra o A.cajennense e também perante as atividadesde rotina da propriedade. O sistemaempregado para a contenção dos animais eaplicação dos tratamentos carrapaticidas semostrou seguro para os animais e para osoperadores, possibilitando fácil acesso àsdiferentes regiões do corpo dos eqüinos eresultando em agilidade e qualidade naexecução dos banhos, podendo inclusiveser utilizado para o controle de carrapatosem bovinos. Segundo Leite (2004), o uso deequipamentos inadequados constitui umadas principais causas de erros na aplicaçãode carrapaticidas.

Além dos resultados específicos referentesao controle do carrapato, o presente estudoaborda diferentes questões degerenciamento e operacionalidade dosistema de produção envolvido, fornecendoinformações a serem consideradas noplanejamento e implantação de programasde controle que visem à eficiência daaplicação prática dos conhecimentos técno-cientificos, coerentemente com a atividadeeconômica, com as práticas de manejo ecom os princípios bioéticos. De forma aconstituir alternativas viáveis para odesenvolvimento do setor pecuário emequilíbrio com a sanidade animal e com asaúde pública.

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6. CAPÍTULO II

Avaliação de parâmetros clínicos e hematológicos de eqüinos submetidos a umprograma de controle estratégico de Amblyomma cajennense (Fabricius, 1787) (Acari:

Ixodidae)

Evaluation of clinical and hematological parameters of equines submitted to a strategiccontrol program of Amblyomma cajennense (Fabricius, 1787) (Acari: Ixodidae)

Resumo: Estudaram-se aspectos clínicos e hematológicos em eqüinos submetidos a umprograma de controle estratégico de A. cajennense. Os tratamentos carrapaticidas foramrealizados a cada sete dias e divididos em dois módulos, o primeiro com início em abril de 2004e o segundo com início em julho do mesmo, utilizando-se a base química piretróide -cipermetrina na concentração de 0,015%. Além do acompanhamento clínico dos animais,foram realizados os hemogramas completos antes e após o programa de controle do carrapato.As dosagens bioquímicas de bilirrubinas, gama-glutamiltransferase (GGT), aspartatoaminotransferase (AST), creatina kinase (CK), proteína total, albumina e globulinas, foramrealizadas antes, durante e ao final do experimento. Os resultados demonstraram que houveuma melhora no quadro hematológico dos animais após o programa de controle. Ostratamentos carrapaticidas, na forma em foram aplicados, não provocaram alteraçõesdesfavoráveis nos parâmetros clínicos e hematológicos dos eqüinos. Tais informações podemser consideradas na busca de alternativas viáveis e seguras para o controle deste carrapato.

Palavras-chave: Eqüinos, Amblyomma cajennense, controle, clínica, hemograma, bioquímicasérica.

Abstract: Clinical and hematological aspects were studied in equines submitted to a strategiccontrol program of A. cajennense. The acaricide treatments were carried to each seven daysand divided in two batteries, the first one beginning in April of 2004 and second beginning inJuly this same year, using a pyrethroid chemical base - cypermethrin in the concentration of0.015%. Beyond the clinical accompaniment of the animals, the complete hemogram wascarried before and after the control program of the tick, and also the serum dosages ofbilirrubins, gamma-glutamiltransferase (GGT), aspartate aminotransferase (AST), creatin kinase(CK), total protein, albumin and globulins, carried before, during and to the end of theexperiment. The results showed an improvement in the hematological parameters of theanimals after control program. The acaricide treatments not provoked undesirable alterations ofthe clinical and hematological parameters studied in the equines. Such information can beconsidered in the search of viable and safe alternatives for the control of this tick.

Key words: Equines, Amblyomma cajennense, control, clinical symptoms, hemogram, serumbiochemical, pyrethroid.

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INTRODUÇÃO

Os carrapatos são parasitos de grandeimportância para os animais domésticos esilvestres e para o homem (Fonseca, 1997).O Amblyomma cajennense (Fabricius, 1787)(Acari: Ixodidae) pertence à família Ixodidaee subfamília Amblyomminae, sua área dedistribuição abrange a América do Sul eCentral, Sul da América do Norte e Regiãodo Caribe (Aragão, 1936). É um carrapatotrioxeno e que apresenta baixaespecificidade parasitária, embora oseqüídeos sejam os hospedeirospreferenciais (Lopes et al., 1998).

As infestações por A. cajennenseocasionam perdas econômicas importantes,em decorrência da queda de produtividadedos animais e dos gastos com o usoincorreto de produtos carrapaticidas (Prataet al., 1996). Além disso, este carrapato éincriminado na transmissão de inúmerospatógenos aos animais e ao homem,destacando-se a febre maculosa: umaimportante zoonose (Fonseca, 1997; Leiteet al., 1998).

Segundo Pinheiro (1987), no Brasil, ocontrole do A. cajennense tem sido feitoempiricamente, através do uso de produtoscarrapaticidas encontrados no comércio abase de organofosforados, carbamatos,amidinas e piretróides sintéticos, emconcentrações recomendadas para ocontrole do carrapato dos bovinos Boophilusmicroplus (Canestrini, 1887). No entanto,Pinheiro (1987) e Bittencourt et al. (1989),avaliando diferentes bases piretróides,observaram que o controle do A.Cajennense exige concentrações maiselevadas de carrapaticida e intervalosestratégicos entre os banhos, verificaramainda, que as larvas e ninfas de A.cajennense são mais sensíveis aospiretróides que os estágios adultos.

De acordo com Leite et al. (1997), algunscuidados devem ser observados narecomendação de carrapaticidas de basesfosforadas ou misturas de piretróides comfosforados, uma vez que, seu uso intensivo

pode resultar em quadros de intoxicaçãonos animais e operadores. Produtos debase diamidina não devem ser utilizados emeqüinos, pois causam graves quadros deintoxicação e morte (Leite et al., 1997;Duarte et al., 2003).

Leite et al. (1997), baseados eminformações epidemiológicas sobreaspectos parasitários e não parasitáriosdesta espécie de carrapato, propuseram ocontrole através da aplicação estratégica desucessivos tratamentos carrapaticidas emeqüinos, a cada sete a dez dias, nosperíodos de predominância de larvas e deninfas de A. cajennense nos animais e noambiente, com o emprego de formulaçõespiretróides puras, na forma de concentradosemulsionáveis para banhos de aspersão ouimersão.

Os piretróides são compostos químicos queatuam nos canais de íons prolongando aexcitação neuronal, mas não sãodiretamente citotóxicos. Promovem oaumento da permeabilidade da membrananervosa conduzindo a um bloqueio nastrocas de íons sódio e potássio, levando auma despolarização intermediada peloácido gama-aminobutírico (GABA) eATPase (Miller, 1988; Ray e Forshaw,2000). Enquanto os organofosforados ecarbamatos inibem a acetilcolinesterase,aumentando a ação neurotransmissora daacetilcolina (Miller, 1988).

Os piretróides são divididos em duassubclasses (tipo I e tipo II) em decorrênciada estrutura química e da síndrome deintoxicação que podem causar em insetos e,também em mamíferos. Piretróides tipo Isão ésteres do ácidocrisantemonocarboxílico e produzemhiperexcitabilidade e tremores. Piretróidestipo II são ésteres do ácidocrisantemonodicarboxílico e causamsalivação, incoordenação motora,hiperexcitabilidade e reflexo de apreensão.Piretróides tipo II atuam nos canais de íonsde sódio e também nos canais de íons decloro (Ray e Forshaw, 2000; Soderlund etal., 2002).

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A cipermetrina é um piretróide tipo II(Wolansky et al., 2006). É uma molécula deterceira geração do grupamentofenoxibenzílico, no qual foi introduzido umgrupo ciano no fenoxibenzilester e asubstituição do átomo de hidrogênio peloátomo de cloro, tornando-a mais fotoestávele com potencialidade biológica maior que ospiretróides de primeira e segunda geração(Fulgêncio e Cordovés, 1997). Ospiretróides são metabolizados por oxidação,hidrólise ou conjugação (Miller, 1988),mecanismos que podem variar de acordocom a estrutura química da molécula (Ray,1991).

Segundo Valentine (1990), muitaspesquisas sobre os efeitos toxicológicos depiretróides têm sido realizadas eminvertebrados e animais de laboratório, masexistem poucas informações sobre taisinterações em outras espécies.

Considerando a importância do controle doA. cajennense e a escassez de informaçõesde literatura a respeito dos efeitos dafreqüência de tratamentos carrapaticidassobre os parâmetros fisiológicos de eqüinose possíveis implicações toxicológicas,objetivou-se estudar os aspectos clínicos ehematológicos em eqüinos submetidos a umprograma de controle estratégico destecarrapato baseado na proposta de Leite etal. (1997).

MATERIAL E MÉTODOS

Este estudo foi realizado no município dePalma, Região da Zona da Mata do Estadode Minas Gerais. Foram utilizados 16eqüinos adultos (11 machos e 5 fêmeas)sem raça definida (SRD), mantidos emregime extensivo com suplementaçãomineral. Os animais eram destinados aotrabalho, no manejo de uma propriedade debovinocultura de leite. Estes animais foramutilizados concomitantemente em umexperimento para a avaliação de umprograma de controle estratégico de A.cajennense, os quais foram inspecionadosquanto à carga parasitária de adultos destecarrapato a partir de outubro de 2003 atémarço de 2004. Também a partir de outubrode 2003 foi implantado um esquema para o

controle de helmintos, utilizando-se a basealbendazole1 por via oral a cada três meses.

Durante os períodos de tratamentoscarrapaticidas foram realizados, a cada 14dias, exames clínicos nos animais,observando-se a temperatura retal, asfreqüências cardíaca e respiratória, o pulsoarterial, as mucosas, o tempo de perfusãocapilar, auscultação abdominal, turgorcutâneo e linfonodos, de acordo com Speirs(1999).

Os tratamentos carrapaticidas foramdivididos em dois módulos de banhos: aprimeira realizada nos meses de abril emaio, composta por oito banhosintervalados por sete dias; a segunda nomês de julho, composta por cinco banhosintervalados por sete dias. Tal metodologiafoi proposta por Leite et al. (1997),considerando os períodos de picos delarvas e ninfas de A. cajennense em vidalivre e parasitária para a Região Sudeste doBrasil (Souza, 1990; Oliveira, 1998; Labrunaet al., 2002), por serem estes estágios maissensíveis aos carrapaticidas do que osadultos (Pinheiro, 1987; Bittencourt et al.,1989). Utilizou-se um piretróide sintético –cipermetrina2 a 0,015%. Cada animal foipulverizado com 3-5 litros da emulsãocarrapaticida, os banhos foram realizadosnos períodos de dia em que astemperaturas e a intensidade solarapresentavam-se mais amenos. O primeiromódulo de tratamentos teve a duração de49 dias entre o primeiro e o último banho, eo segundo durou 28 dias, com um intervalode 42 dias entre ambas.

Para a realização do hemograma foramcoletadas duas amostras de sangue decada um dos animais, mediante punção daveia jugular, utilizando-se agulhasdescartáveis (40 x 12 mm) e tubosVacumtainer contendo 0,05 mL de soluçãoaquosa a 10% de sal dissódico deetilenodiaminotetracetato (EDTA). Os tubosforam acondicionados em caixasisotérmicas e encaminhados ao laboratório.

1 Valbazen® 10 Cobalto – Pfizer2 Ec-Tox CE 15%® - Schering-Plough SaúdeAnimal

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A primeira amostra foi coletada no dia zero(dia do primeiro tratamento carrapaticida,antes dos animais serem banhados), a qualfoi considerada como controle paracomparação com a segunda amostra, quefoi coletada 28 dias após o último banho dosegundo módulo de tratamentos.Analisaram-se os valores de hemácias,hematócrito, hemoglobina, volumecorpuscular médio (VCM), hemoglobinacorpuscular media (HCM) e concentraçãode hemoglobina corpuscular media (CHCM),contagem total e diferencial de leucócitos epresença de linfócitos reativos. As amostrasforam processadas pelo princípio defotometria no equipamento eletrônico ABCVet3.

Para as análises da bioquímica sérica foramrealizadas seis coletas de sangue, sendotrês para cada módulo de tratamentoscarrapaticidas: para o primeiro móduloforam coletadas amostras no dia zero (antesdo primeiro tratamento carrapaticida), 15 e43, e para a segunda no dia zero, 15 e 57.O procedimento para obtenção dasamostras foi semelhante ao descrito para ohemograma, com a exceção de que foramutilizados tubos vacumtainer semanticoagulante para a obtenção dasalíquotas de soro, as quais foram mantidasa -20ºC, e posteriormente analisadas paraos seguintes parâmetros: bilirrubinas total,direta e indireta, gama-glutamiltransferase(GGT), aspartato aminotransferase (AST),creatina Kinase (CK), proteína total,albumina e globulinas. No cronograma decoletas das amostras foi considerado otempo de meia-vida sérica das enzimasanalisadas, conforme Kaneko et al. (1997).

3 Automated Blood Counter/Animal Counter® –ABX Diagnostics

As amostras foram processadas utilizando-se kits diagnósticos (Biosystem) baseadosno princípio de fotocolorimetria e a leituraefetuada em aparelho espectrofotômetro4.

Os resultados das análises hematológicas eda bioquímica dos eqüinos foramsubmetidos estatisticamente ao teste deTukey ao nível de 5% de significância,conforme Sampaio (2002).

RESULTADOS

Ao longo do experimento, os parâmetrosobservados no exame clínico mantiveram-sesempre dentro dos limites de referência paraa espécie eqüina, segundo Speirs (1999).

Os valores médios obtidos para as variáveisdo eritrograma de eqüinos submetidos a umprograma de controle estratégicoprogramado de A. cajennense estãoexpressos na Tabela 1. Os parâmetros dehemácias, hematócrito, hemoglobina, VCMe HCM apresentaram valores superioresapós os tratamentos carrapaticidas emrelação à coleta controle (P<0,05), enquantoque o para parâmetro CHCM não houvevariação significativa.

4 Cobas Mira Plus® – Roche

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Tabela 1. Valores médios e amplitude do eritrograma de eqüinos adultos (11 machos e 5fêmeas) submetidos a um programa de controle de estratégico de Amblyomma cajennense –Palma/MG, 2005

AmostraParâmetros Pré-tratamentos

(controle) Pós-tratamentosReferência**

Hemácias (x106/µl)6,65a

(5,07 – 8,49)7,96b

(5,61 – 11,01) 6,8 – 14,43

Hematócrito (%) 29,19a

(24,00 – 34,70)36,23b

(28,30 – 46,80) 32 – 53

Hemoglobina (g/dl) 9,66a

(8,60 – 11,60)11,93b

(9,90 – 15,20) 11,0 – 19,0

VCM (fl) 43,15a

(38,25 – 49,59)46,09b

(41,04 – 55,02) 37 – 58

HCM (pg) 14,37a

(12,65 – 16,53)15,21b

(13,54 – 18,34) 12,3 – 19,7

CHCM (g/dl) 33,29a

(33,08 – 33,46)32,98a

(32,20 – 33,92) 31,0 – 38,6

* Letras minúsculas na mesma linha, não coincidentes, diferem estatisticamente pelo teste de Tukey ao nível de 5% designificância.** Limites de referência para eqüinos segundo Jain (1986).

Com relação aos parâmetros do leucogramados eqüinos (leucócitos, bastonetes,segmentados, linfócitos, eosinófilos,

monócitos, basófilos e linfócitos reativos),não houve alterações significativas entre asamostras coletadas antes e após os banhoscarrapaticidas (Tab. 2).

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Tabela 2. Valores médios e amplitude do leucograma de eqüinos adultos (11 machos e 5fêmeas) submetidos a um programa de controle de estratégico de Amblyomma cajennense –Palma/MG, 2005

AmostraParâmetros Pré-tratamentos

(controle) Pós-tratamentosReferência

Leucócitos (x103/µl)10,23a

(8,10 - 14,70)

11,67a

(7,4 – 15,10)5,4 – 14,3**

Bastonetes (x103/µl) 0a 0,02a

(0 – 0,24)0 – 0,1**

Segmentados (x103/µl)6,20a

(3,91 – 9,83)

6,12a

(4,23 – 8,15)2,3 – 8,5**

Linfócitos (x103/µl)3,65a

(1,83 – 5,00)

4,94a

(2,59 – 7,36)1,5 – 7,7**

Eosinófilos (x103/µl)0,20a

0 – 1,75

0,35a

(0,10 – 0,64)0 – 1**

Monócitos (x103/µl)0,17a

(0,08 – 0,28)

0,25a

(0,09 – 0,49)0 – 0,1**

Basófilos (x103/µl) 0a 0a 0 – 0,3***

Linfócitos reativos (x103/µl) 0a 0a 0 – 2***

* Letras minúsculas na mesma linha, não coincidentes, diferem estatisticamente pelo teste de Tukey ao nível de 5% designificância.** Limites de referência para eqüinos segundo Jain (1986).*** Limites de referência para eqüinos segundo Eades e Bounous (1997).

Na Tabela 3 encontram-se os valoresmédios da bioquímica sérica de eqüinos(bilirrubina total, direta e indireta, GGT, AST,CK, proteína total, albumina, globulinas e

relação albumina:globulinas). Destacando-se variações significativas apenas para osparâmetros de bilirrubina indireta e GGT(P<0,05).

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Tabela 3. Valores médios e amplitude da bioquímica sérica de eqüinos adultos (11 machos e 5fêmeas) submetidos a um programa de controle de estratégico de Amblyomma cajennense –Palma/MG, 2005

Amostras1ª módulo de tratamentos 2ª módulo de tratamentos

ParâmetrosDia zero(controle) Dia 15 Dia 43 Dia zero Dia 15 Dia 57

Referência

B. total (mg/dl) 0,97a

(0,63 – 1,16)1,01a

(0,76 – 1,71)1,06a

(0,74 – 1,83)0,98a

(0,66 – 1,52)1,29a

(0,83 – 1,74)1,11a

(1,03 – 1,24)1 – 2**

B. direta(mg/dl)

0,31a

(0,04 – 0,54)0,41a

(0,29 – 0,59)0,38a

(0,27 – 0,58)0,28a

(0,19 – 0,49)0,28a

(0,18 – 0,44)0,27a

(0,18 – 0,32) 0 – 0,4**

B. indireta(mg/dl)

0,64a

(0,39 – 0,84)0,67ab

(0,42 – 0,96)0,68ab

(0,38 – 1,25)0,69ab

(0,41 – 1,04)1,01b

0,65 – 1,42)0,84ab

(0,75 – 0,98)0,2 – 2**

GGT (U/l) 19,44a

(14 – 28)27,69b

(11 – 35)18,94a

(13 – 36)17,94a

(11 – 31)19,38a

(12 – 36)14,57a

(8 – 32)6 – 32***

AST (U/l) 348,62a

(186 – 446)371,31a

(195 – 624)376,62a

(295 – 501)349,12a

(257 – 461)378,69a

(262 – 478)343,86a

(283 – 413) 160 – 412***

CK (U/l) 319,12a

(185 – 725)359,69a

(185 – 725)390,31a

(245 – 726)506,56a

(166 – 1136)420,94a

(248 – 792)436,71a

(289 – 898)60 – 330***

P. total (g/dl) 7,29a

(6,13 – 8,02)7,23a

(6,14 – 8,09)7,06a

(6,36 – 7,76)6,92a

(6,25 – 7,80)7,72a

(5,78 – 8,21)6,69a

(6,16 – 7,32)5,6 – 7,9**

Albumina(g/dl)

2,28a

(1,80 – 2,70)2,32a

(2,00 – 2,60)2,38a

(2,00 – 2,60)2,27a

(1,90 – 2,90)2,57a

(2,30 – 3,00)2,23a

(1,90 – 2,60) 2,6 – 3,7**

Globulinas(g/dl)

5,02a

(3,83 – 5,62)4,85a

(3,84 – 5,89)4,68a

(3,86 – 5,76)4,65a

(3,80 – 5,60)5,15a

(3,18 – 6,37)4,46a

(3,86 – 5,02)2,62 – 4,04**

Relação A:G(g/dl)

0,46a

(0,32 – 0,60)0,48a

(0,36 – 0,62)0,51a

(0,34 – 0,64)0,50a

(0,37 – 0,74)0,51a

(0,39 – 0,81)0,50a

(0,39 – 0,60)0,62 – 1,46**

* Letras minúsculas na mesma linha, não coincidentes, diferem estatisticamente pelo teste de Tukey ao nível de 5% designificância.** Limites de referência para eqüinos segundo Kaneko et al. (1997).*** Limites de referência para eqüinos segundo Eades e Bounous (1997).

DISCUSSÃO

O perfil clínico dos eqüinos perante oprograma de controle estratégico de A.cajennense não demonstrou quaisqueralterações comportamentais ou fisiológicasque pudessem ser detectadas ao exameclínico, realizado conforme Speirs (1999).Pinheiro (1987) utilizando concentraçõeselevadas de diferentes piretróides emeqüinos não verificou alterações aparentes.Labruna et al. (2004) utilizando aalfametrina na concentração de 0,01% eméguas, a cada sete dias ininterruptamente,durante meses, não observaram reaçõesadversas após os banhos, sabendo-se quetal concentração foi duas vezes maior que aconcentração usualmente recomendadapara o carrapato bovino (B. microplus). Noentanto, a maioria das toxinas não lesapreferencialmente um tecido, um órgão ouum sistema orgânico isolado, masfreqüentemente acomete diversos órgãosou sistemas corpóreos ao mesmo tempo(Schmitz, 2000). Segundo Valentine (1990),desordens neurológicas e musculares são

sinais clínicos característicos emintoxicações por piretróides. Entretanto, emalgumas situações os animais podem vir aóbito sem apresentarem sinais específicosde intoxicação (Galey, 1992).

O contato cutâneo pode causar parestesia ea ingestão irritação gastrintestinal; noentanto, a absorção lenta de piretróidesatravés da pele raramente causaintoxicações sistêmicas (Ray e Forshaw,2000). Fulgêncio e Cordovés (1997) citamalguns aspectos importantes dos piretróidesquando comparados aos inseticidasorganofosforados e clorados. Tais como:são pouco absorvidos pela pele dohospedeiro; deixam baixo resíduo nosanimais utilizados para consumo humano;além disso, apresentam uma meia-vidacurta.

Com relação ao eritrograma dos eqüinos(Tab. 1), os exames realizados após oesquema de controle do carrapatoapresentaram valores dentro dos limites depadrão para a espécie eqüina (Jain, 1986;

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Eades e Bounous, 1997). Entretanto osvalores de hemácias, hematócrito,hemoglobina, VCM, e HCM se mostraramsignificativamente aumentados em relação àamostragem coletada no dia zero doexperimento, ou seja, antes dos tratamentoscarrapaticidas, o que pode ser resultante doprograma de controle diminuindo ainfestação por carrapatos, que são grandesespoliadores sangüíneos. Além disso, naprimeira amostragem (dia zero) os valoresmédios de hemácias, hematócrito ehemoglobina apresentaram-se abaixo dosíndices referenciados na literatura para oseqüinos, indicando uma anemia normocíticanormocrômica.

Serra-Freire (1984) verificou redução dosíndices de hemácias, hematócrito,Hemoglobina, CHCM e leucócitos, eaumento do VCM e HCM, em bovinosnatural e experimentalmente infestados poradultos A. cajennense, e relatou que um dosanimais que não morreram pelo parasitismonecessitou de mais de sete meses pararecuperar o status hematológico de antes dainfestação. A presença de helmintos podecolaborar para que os efeitos da infestaçãopelos carrapatos tornem-se mais severos(Serra-Freire, 1984). Labruna et al. (2002)observaram uma correlação negativa entreo hematócrito e o parasitismo por Anocentornitens (Neumann, 1897), onde os maiorespicos deste carrapato coincidiam com osmenores índices de hematócrito. De fato,em monitoramento da carga parasitária deA. cajennense realizado nos eqüinos dopresente estudo, no período de outubro de2003 a março de 2004, evidenciou-se osmaiores picos populacionais de adultosdeste carrapato nos meses de fevereiro emarço, neste mesmo período (outubro amarço) puderam-se registrar infestaçõespelo carrapato A. nitens. Enquanto que noperíodo de abril a setembro de 2004 ascargas parasitárias de adultos de A.cajennense e A. nitens se mantiveram emníveis inferiores àqueles do período anterior,quer seja pela bioecologia das espécies,quer seja pelo efeito dos tratamentoscarrapaticidas. Fatores que podem estarrelacionados às variações no eritrograma,uma vez que este tendeu à normalidade da

espécie na amostragem realizada emsetembro de 2004.

Segundo Ray (1991), em camundongos,altas dosagens de cipermetrina podemaumentar a incidência de distúrbios namedula óssea, com alterações noseritrócitos, e também podem apresentaratividade teratogênica ou mutagênica.

Quanto ao leucograma dos eqüinos, não foiobservada nenhuma alteração significativaentre as avaliações realizadas antes e apósos módulos de tratamentos carrapaticidas(Tab. 2). Nas duas amostragens osparâmetros mostraram-se dentro dos limitesfisiológicos para a espécie eqüina (Eades eBounous, 1997 e Radostits et al., 2000).Estes achados aliados aos resultados doeritrograma demonstram que os tratamentoscarrapaticidas não influenciaramnegativamente nos parâmetros dohemograma dos eqüinos.

O fígado e os rins são responsáveis pelabiotransformação de numerosos compostosendógenos e exógenos e estabiotransformação envolve uma série dereações enzimáticas que alteram aspropriedades físicas ou atividade doscompostos (Barton et al, 2000). Então,buscou-se caracterizar o perfil de algunsparâmetros relacionados com as funçõeshepática e renal dos eqüinos, perante oprograma de tratamentos carrapaticidas.

O perfil da bioquímica sérica dos eqüinos semostrou estável perante o programa decontrole estratégico de A. cajennense. Osvalores médios de bilirrubina total e direta,AST e proteína total não apresentaramvariações significativas entre asamostragens e nem discrepâncias emrelação aos padrões fisiológicos, segundoKaneko et al. (1997) e Eades e Bounous(1997).

Apesar de se verificarem alteraçõessignificativas para bilirrubina indireta e GGT(P<0,05), tais variações se mantiveramcompatíveis com os limites fisiológicos paraa espécie, de acordo com Kaneko et al.(1997) e Eades e Bounous (1997).

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Embora os índices de CK tenham semostrado ligeiramente elevados a partir dasegunda amostragem, quando comparadoscom os valores encontrados na literatura,não houve diferença estatística entre osvalores médios das diferentes amostragens(P>0,05). Segundo Eades e Bounous (1997)os valores de CK devem ser analisados emconjunto com os valores de AST a fim de sedeterminar a causa, ou não, de distúrbiospara esses parâmetros. De acordo comBarton et al. (2000), basicamente todas ascélulas do organismo contêm a enzima AST,mas as células hepáticas e muscularescontêm maiores concentrações, de formaque o valor da AST tem maior significadoquando analisado em conjunto com enzimasespecificas para o tecido muscular, que nocaso é a CK. Portanto se somente a CK,como ocorreu no presente estudo, ou seambas estiverem aumentadas é maisprovável que a causa tenha origemmuscular, do contrário, pode haverenvolvimento hepático. Silveira (1988) citaque em animais de grande porte os níveisséricos significantes de CK estão acima de700 U/l, corroborando com Kramer eHoffmann (1997) que destacam quesomente grandes aumentos dos níveisséricos de CK têm significado clínico, poisaté mesmo pequenas contusões, injeçõesintramusculares ou exercícios físicosproduzem aumentos detectáveis de CK. Oque pode estar relacionado ao discretoaumento destas enzimas para o presenteestudo, onde os animais eram submetidosconstantemente a exercícios quedemandavam grande atividade muscular.

Os valores médios de albumina mostraramum discreto decréscimo, acompanhado deum ligeiro aumento das globulinas e,conseqüentemente um discreto declínio darelação albumina:globulinas, diante dosvalores citados por Kaneko et al. (1997).Porém, esses valores se apresentaramestáveis às diferentes amostragens(P>0,05), caracterizando que não houveinfluência dos tratamentos carrapaticidasnesta discreta disproteinemia. De acordocom Jain (1986) e Kaneko et al. (1997) osníveis das proteínas séricas podem variardevido a influências fisiológicas nãoassociadas com doenças, tais como: idade,

sexo, hormônios, prenhês, lactação,nutrição, estresse e alteraçõeshidroeletrolíticas. Desta forma, as variaçõesda bioquímica sérica acima descritas, parabilirrubina indireta, GGT, CK, albumina,globulinas e relação albumina:globulinas,não se caracterizaram como decorrentesdos banhos carrapaticidas.

Ressalta-se que os banhos carrapaticidasforam realizados com a concentraçãorecomendada para o controle de B.microplus em bovinos (0,015%). Pois aproposta de controle de A. cajennensedescrita por Leite et al. (1997) preconizaatingir as fases larval e ninfal. Estágios dociclo de vida deste carrapato maissusceptíveis a ação dos carrapaticidaspiretróides, pois se sabe que os estágiosadultos de A. cajennense demandam 1,8vezes a concentração carrapaticidarequerida para combater o B. microplus(Pinheiro, 1987). Diante da possibilidade dese utilizar bases químicas e concentraçõesmenos tóxicas em períodos determinados,torna-se racional que programas de controlede A. cajennense considerem o bem-estaranimal, a saúde pública e a preservaçãoambiental.

Os resultados obtidos são indiretos, umavez que, não foram investigados a presençae os níveis de cipermetrina no organismodos animais, mas reúnem informaçõesimportantes quanto ao uso desta basequímica em programas estratégicos eintensivos para o controle do A. cajennenseem eqüinos. O programa de controle aquiestudado, na forma em foi aplicado,mostrou-se seguro quanto aos aspectosclínico-hematológicos avaliados noseqüinos.

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7. CAPÍTULO III

Efeito do controle estratégico de Amblyomma cajennense (Fabricius, 1787) (Acari:Ixodidae) sobre a população de Anocentor nitens (Neumann, 1897) (Acari: Ixodidae) em

eqüinos

Effect of the strategic control of Amblyomma cajennense (Fabricius, 1787) (Acari:Ixodidae) on the population of Anocentor nitens (Neumann, 1897) (Acari: Ixodidae) in

equines

Resumo: Objetivou-se avaliar o efeito de um programa de controle estratégico de Amblyommacajennense sobre a população de Anocentor nitens em eqüinos. Os tratamentos carrapaticidasforam realizados a cada sete dias e divididos em dois módulos, o primeiro com início em abrilde 2004 e o segundo com início em julho do mesmo ano, utilizando-se a base químicapiretróide - cipermetrina na concentração de 0,015%. Avaliou-se mensalmente a cargaparasitária de A. nitens no pavilhão auricular e divertículo nasal dos eqüinos antes (outubro de2003 a março de 2004) e depois (outubro de 2004 a março de 2005) do programa de banhoscarrapaticidas. Utilizaram-se escores de 0 – 3 para classificar os níveis de infestação.Entretanto, não houve redução significativa da carga parasitária de A. nitens no pavilhãoauricular e no divertículo nasal dos eqüinos, possivelmente, devido a não aplicação sistemáticade carrapaticida no divertículo nasal, pois, esta estrutura anatômica se mostrou um importantesítio de infestação por A. nitens em eqüinos.

Palavras chave: Eqüinos, Anocentor nitens, divertículo nasal, controle.

Abstract: The objective of this study was to evaluate the effect of the strategic control programof Amblyomma cajennense on the population of Anocentor nitens. The acaricide treatmentswere carried to each seven days and divided in two batteries, the first one beginning in April of2004 and second beginning in July of the same year, using pyrethroid chemical base -cypermethrin in the concentration of 0,015%. Monthly evaluated the parasitic load of A. nitens inthe ear and nasal diverticulum of the equines before (October of 2003 to March of 2004) andlater (October of 2004 to March of 2005) of the program of acaricide treatments. It was usedscore of 0 - 3 to classify the infestation levels. However, it did not have significant reduction ofthe parasitic load of A. nitens in the ear and nasal diverticulum of the equines. Possibly,because not application of acaricide in nasal diverticulum. Therefore, this anatomical structure ifit presented an important place of infestation by A. nitens in equines.

Key words: Equines, Anocentor nitens, nasal diverticulum, control.

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INTRODUÇÃO

O carrapato Anocentor nitens (Neumann,1897) é considerado, no Brasil, uma dasprincipais espécies de carrapatos doseqüídeos (Borges e Leite, 1993a).Conhecido como “carrapato da orelha docavalo” (Flechtmann, 1977), determinainúmeros prejuízos pela queda naprodutividade dos animais, irritação,espoliação sangüínea, predisposição amiíases e infecções bacterianassecundárias e queda do pavilhão auricular(Malheiro, 1952; Borges e Leite, 1998).Além disso, o A. nitens é vetor da Babesiacaballi (Nutall e Strickland), agenteetiológico da babesiose eqüina (Roby eAnthony, 1963).

Os conhecimentos de biologia eepidemiologia dos parasitos são defundamental importância nas intervençõesde controle (Leite et al., 2004). Podem-sedestacar os estudos realizados por Daemone Serra-Freire (1984) e por Borges e Leite(1993) que caracterizaram o comportamentobiológico de A. nitens na fase nãoparasitária em condições de laboratório. Adinâmica sazonal deste carrapato comoparasito de eqüinos foi observada porSouza e Serra-Freire (1992) em Itaguaí –RJ, por Borges e Leite (2000) em PedroLeopoldo – MG, e por Labruna et al. (2002)em Pirassununga – SP. A dinâmica sazonalda fase não parasitária foi estudada porSouza e Serra-Freire (1994) e Borges et al.(1999).

O A. nitens é um carrapato monoxeno(Labruna et al. (2002) e que realizadiferentes gerações por ano na RegiãoSudeste do Brasil (Souza e Serra-Freire,1992; Souza e Serra-Freire, 1994; Borges etal., 1999; Borges et. al., 2000). Sanavria ePrata (1996) estudaram a fase parasitáriade A. nitens em eqüinos, observandoperíodos larval e ninfal de oito e dez dias,respectivamente; com a queda da maioriadas fêmeas ocorrendo 28 dias após ainoculação das ninfas. Enquanto que Freitaset al (1984) observaram a permanência de

machos de A. nitens por até 100 dias após ainoculação das ninfas).

De acordo com Falce (1986) e Borges et al.(2000) o A. nitens têm predileção eminfestar a face interna da orelha doseqüídeos, podendo infestar outros sítioscomo o períneo, a cauda e a região davirilha (Labruna et al., 2002), e também, odivertículo nasal (Borges e Leite, 1993a).

São poucas as informações existentes arespeito do controle do A. nitens emeqüinos. Na maioria das vezes, utilizam-sedos artifícios disponíveis para o controle doB. microplus em bovinos. Visando aoperacionalidade do controle integrado decarrapatos em eqüinos, objetivou-se comeste estudo avaliar o efeito de um programade controle estratégico de A. cajennensesobre a população de A. nitens em eqüinos.

MATERIAL E MÉTODOS

Este estudo foi realizado no município dePalma, Região da Zona da Mata do Estadode Minas Gerais, no período de outubro de2003 a março de 2005. Foram utilizados 16eqüinos adultos (11 machos e 5 fêmeas)sem raça definida (SRD), mantidos emregime extensivo com suplementaçãomineral, sendo que estes permaneceramnos mesmos pastos que os bovinos. Osanimais eram destinados ao trabalho, nomanejo de uma propriedade debovinocultura de leite. A partir de outubro de2003 foi implantado um esquema para ocontrole de helmintos, utilizando-se a basealbendazole1 por via oral a cada três meses.A propriedade apresentava histórico deinfestação natural por A. cajennense e A.nitens, porém, não empregava nenhumesquema específico para o controle decarrapatos nos eqüinos.

O programa de controle estratégico de A.cajennense constitui-se de dois módulos detratamentos carrapaticidas nos eqüinos,utilizando-se um produto piretróide

1 Valbazen® 10 Cobalto – Pfizer

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(cipermetrina2 a 0,015%). O primeiro móduloteve início na primeira semana do mês deabril de 2004 e foi composto por oitobanhos, o intervalo entre cada banho foi desete dias. O segundo módulo teve início naprimeira semana de julho e foi composta porcinco banhos, também a intervalossemanais. O intervalo entre o final doprimeiro módulo e o início do segundo foi de42 dias. Além disso, mensalmente, noperíodo de outubro a março dos dois anosdo estudo, sempre que se constatou apresença de carrapatos no pavilhãoauricular dos eqüinos, aplicou-secarrapaticida tópico3.

A estrutura para contenção dos animais eaplicação dos tratamentos carrapaticidascompunha-se de um tronco de cordoalha deaço com capacidade para cinco eqüinos,uma bomba elétrica, uma caixa d’água de500 litros, tubulação hidráulica e umaspersor com bico transversal em cadalateral do tronco, possibilitando a operaçãodo sistema por duas pessoassimultaneamente, conforme Leite (2004). Osanimais foram banhados por completo,inclusive no pavilhão auricular. No entanto,o divertículo nasal dos eqüinos não foiacessado com a emulsão carrapaticida,como objeto específico de orientaçãotécnica.

A partir de outubro de 2003 a março de2004, realizaram-se mensalmenteavaliações qualitativas das infestações porA. nitens no pavilhão auricular e nodivertículo nasal do antímero esquerdo decada eqüino. Utilizou-se a mesmametodologia no período de outubro de 2004a março de 2005, a fim de se comparar oefeito dos tratamentos carrapaticidas. Aclassificação dos níveis de infestação de A.nitens no pavilhão auricular e divertículonasal foi realizada aplicando-se osseguintes escores:

2 Ec-Tox CE 15%®- Schering-Plough SaúdeAnimal3 Butoflin Pó® – Hoechst Roussel Vet.

0 – para a ausência de carrapatos, 1 - paracolônias com até dois centímetros dediâmetro de área infestada, 2 - paracolônias com diâmetro entre dois e quatrocentímetros e 3 – para colônias comdiâmetro acima de quatro centímetros.Quando da presença de mais de umacolônia, somaram-se as áreas dassuperfícies infestadas.

Os resultados foram analisados pelo testeWilcoxon para diferenças entre paresordenadas, segundo Sampaio (2002).

RESULTADOS

Os resultados das avaliações das cargasparasitárias de A. nitens realizadas noseqüinos antes e depois do programa decontrole estratégico de A. cajennense estãorepresentados na Figura 1. No período deoutubro de 2004 a março de 2005 nãohouve redução da carga parasitária de A.nitens nos pavilhões auriculares edivertículos nasais dos eqüinos em relaçãoao mesmo período do ano anterior (P>0,05).Ocorrendo um aumento dos índicesparasitários nos meses de dezembro de2004 e fevereiro de 2005, em relação aoscorrespondentes períodos dos anosanteriores, para a população de A. nitensdos pavilhões auriculares (P<0,05); o que,da mesma forma, ocorreu no mês defevereiro de 2005 para a população dosdivertículos nasais.

Na Tabela 1 estão representados ospercentuais de eqüinos parasitados por A.nitens no pavilhão auricular e divertículonasal, nas avaliações realizadas antes edepois do programa de controle estratégicode A. cajennense.

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Figura 1. Valores médios dos escores de carga parasitária de A. nitens no pavilhão auricular edivertículo nasal de eqüinos adultos (11 machos e 5 fêmeas) no período de outubro de 2003 amarço de 2004 e de outubro de 2004 a março de 2005 – Palma/MG

Tabela 1. Percentual de eqüinos parasitados por A. nitens no pavilhão auricular e divertículonasal em avaliações realizadas antes (outubro de 2003 a março de 2004) e depois (outubro de2004 a março de 2005) do programa de controle estratégico de A. cajennense – Palma/MG

Presença eqüinos parasitados por A. nitens

Pavilhão auricular Divertículo nasalAntes (%) Depois (%) Antes (%) Depois (%)

Outubro 50,00 50,00 31,25 31,25Novembro 56,25 37,50 31,25 18,75Dezembro 100,00 100,00 75,00 62,50Janeiro 68,75 50,00 50,00 12,50Fevereiro 56,25 100,00 31,25 56,25Março 50,00 81,25 43,75 68,75

DISCUSSÃO

O programa de controle estratégico de A.cajennense não proporcionou reduçõessignificativas nas populações de A. nitensdos pavilhões auriculares e divertículosnasais dos eqüinos. Pôde-se observar, emdeterminadas avaliações, o aumentosignificativo da carga parasitária após ostratamentos carrapaticidas (P<0,05) (Fig. 1).

Souza e Serra-Freire (1992) observaram ainfluência de tratamentos carrapaticidassobre as curvas de carga parasitária de A.nitens, quando realizaram contagens de 12a 14 após os banhos; no entanto, verificou-se, em determinados momentos do estudo,o aumento do número de teleóginas noseqüinos mesmo no período de realizaçãodos banhos. Borges et al. (2000) sugeriramque medidas de controles estratégicos para

o A. nitens em eqüinos deveriam sersimilares àquelas aplicadas para o controledo B. microplus em bovinos, tal comoOliveira (1993). De forma que ostratamentos carrapaticidas deveriam sermais intensivos na primavera e verão,quando as infestações são altas, existe aabundância de larvas e, o ciclo de vida doA. nitens é menor devido às altastemperaturas (Borges et al., 2000).

Souza e Serra-Freire (1992), em Itaguaí, noEstado do Rio de Janeiro, verificaram umavariação populacional de teleóginas de A.nitens, apresentando picos bimensais, como maior pico ocorrendo no mês de maio, emdois anos consecutivos de observações.Labruna et al. (2002), em Pirassununga,Estado de São Paulo, verificaram osmaiores picos de infestações por teleóginasem abril, julho e outubro.

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

Out Nov Dez Jan Fev Mar

Esc

ore

P. auricular Antes P. auricular Depois D. nasal Antes D. nasal Depois

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Borges et al. (2000), em Pedro Leopoldo,Minas Gerais, verificaram picos parasitáriosocorrendo nos meses de novembro, janeiroe julho no primeiro ano de estudo e, emoutubro, dezembro e julho no segundo ano,sendo os maiores picos registrados nosmeses de julho de cada ano. No presenteestudo os banhos foram realizados nosmeses de abril, maio e julho, com intervalosde sete dias, isto é, período em seriaesperado atingir picos de A. nitensinfestando os eqüinos, porém como já foidito, não houve redução da cargaparasitária. Além disso, não houve indíciosde resistência do A. nitens ao carrapaticidautilizado. Deduziu-se que outras variáveispossam ter interferido nestes resultados.

No presente estudo, os eqüinoscompartilhavam as pastagens com osbovinos, hábito que segundo Falce (1986)constitui-se em um fator de veiculaçãorecíproca de carrapatos, complicando oestabelecimento de medidas profiláticas aserem desenvolvidas nos rebanhos. Noentanto, a propriedade empregava açõesespecíficas para o controle do B. microplusnos bovinos.

Deve-se ressaltar que não foram realizadostratamentos carrapaticidas nos divertículosnasais dos animais, devido às dificuldadesde se acessar esta região anatômica com obico aspersor, e também, pelo desconforto erepulsa que esta operação provoca nosanimais. Isto pode ter contribuído para amanutenção da carga parasitária no períodode outubro de 2004 a março de 2005. Outrofator importante constatado no presenteestudo foi o total desconhecimento, porparte dos funcionários da propriedade, dasinfestações por A. nitens nos divertículosnasais dos eqüinos. De acordo com Borgese Leite (1993b), os divertículos nasais sãofreqüentemente esquecidos como sítios defixação de A. nitens e, a não ser que seesteja atento a este fato, é impossíveldetectar os carrapatos ali presentes.

Os eqüinos, além dos banhos carrapaticidasde outono e inverno, receberam tambémtratamentos tópicos mensais no interior dopavilhão auricular, sempre que notada apresença de carrapatos neste sítio, no

período de outubro a março dos dois anosdo estudo. Porém, a carga parasitária semanteve intensa e freqüente no pavilhãoauricular e divertículo nasal dos eqüinos(Fig. 1 e Tab. 1), podendo ter ocorrido queos carrapatos presentes nos divertículosnasais tenham contribuído para apermanência destes níveis de infestações,por terem podido realizar completamenteseu ciclo sem a influência dos tratamentosaplicados.

Labruna et al. (2001) constataram que o usotópico de carrapaticidas nos pavilhõesauriculares dos eqüinos apresentou altaassociação com a presença de altasinfestações de A. nitens, sem que, noentanto, houvesse um controle efetivo destecarrapato. Os autores verificaram tambémque em propriedades que realizavamtratamentos carrapaticidas tópicos nospavilhões auriculares de todos os eqüinos,em intervalos menores que 21 dias, e semque houvesse evidências de resistência aestes carrapaticidas, as infestaçõescontinuavam ocorrendo, demonstrando quetais carrapatos poderiam estar sealimentando em outras partes do corpo doseqüinos que não haviam sido tratadas comcarrapaticida, tais como a virilha, o períneo,a cauda e os divertículos nasais. Labruna etal. (2001) discutem que medidas controleeficiente do A. nitens não devem basear-seapenas nos tratamentos carrapaticidastópicos nos pavilhões auriculares, devendo-se esquematizar um programa de banhosno corpo dos eqüinos, inclusive nodivertículo nasal, em intervalos não maioresque 21 dias.

Pôde-se observar (Tab. 1) que, emdeterminados momentos do estudo, antes edepois dos banhos carrapaticidas, 100%dos eqüinos apresentavam infestações porA. nitens no pavilhão auricular; enquantoque no divertículo nasal as maiorespercentuais de animais parasitados foram75% no mês de dezembro (antes dosbanhos) e 68,75 % no mês de março(depois dos banhos). Foi observado, emtodas as avaliações, sempre um maiornúmero de animais parasitados por A. nitensno pavilhão auricular em relação aodivertículo nasal; entretanto, observaram-se

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em diversos animais e em diferentesmomentos infestações no divertículo nasalsem que houvesse carrapatos destaespécie no pavilhão auricular. SegundoBorges e Leite (1993c) o parasitismo dodivertículo nasal por A. nitens independe donível de infestação auricular. Borges et al.(2000) estudando infestações naturais de A.nitens em eqüinos em Minas Gerais,verificaram a ocorrência de 61% de fêmeasadultas no pavilhão auricular e 39% emoutras partes do corpo, porém este estudonão quantificou os exemplares de A. nitensdos divertículos nasais.

Encontram-se disponíveis na literaturaestudos de biologia e epidemiologia de A.nitens, porém, ainda existe a demanda porinformações quanto ao controle específicodeste carrapato. Além disso, não existe nomercado nenhum produto para o controle deA. nitens no divertículo nasal de eqüinos.Lembrando que esta região do corpo doseqüinos apresenta particularidades quantoao acesso, às condições de temperatura,umidade e gases do processo respiratório e,ainda, a presença excrementos advindosdas vias aéreas e do ducto naso-lacrimal,fatores que devem ser considerados emprogramas de controle.

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8. CONCLUSÕES

O programa estratégico demonstrou eficáciano controle do A. cajennense em eqüinos.Porém, evidenciou-se a presença de pontoscríticos relacionados à gestão e à estruturado sistema produtivo. Fatores a seremconsiderados no planejamento eimplantação deste tipo de tecnologia, quedemanda gerenciamento, disciplina,persistência e capacitação técnica.

O programa de controle estratégico de A.cajennense, com o emprego intensivo detratamentos carrapaticidas utilizandocipermetrina na concentração de 0,015%,não demonstrou alterações desfavoráveisnos parâmetros clínicos e hematológicosanalisados nos eqüinos.

As ações do controle estratégico de A.cajennense não determinaram reduções nascargas parasitárias de A. nitens. O que podeestar relacionado ao fato de não ter havidocontato do carrapaticida com os carrapatosdesta espécie presentes no divertículo nasaldos eqüinos. O que deve ser melhorinvestigado, na tentativa de se propormétodos viáveis, seguros e integrados parao controle de carrapatos em eqüinos,visando otimizar as operações, racionalizaro uso de carrapaticidas e diminuir os custos.

A estrutura utilizada para contenção ebanhos dos eqüinos demonstroupraticidade, rapidez e segurança, podendoser utilizada em situações semelhantes eque justifiquem o investimento, inclusivepara o controle de carrapatos em bovinos.