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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES Pró-Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento
Diretoria de Projetos Especiais Instituto de pesquisas Sócio-Pedagógicas
CONSTRUINDO O CONHECIMENTO PELOS CAMINHOS DA AFETIVIDADE
Por: Débora de Souza Moreira
Orientada por: Prof. Mario Antônio Chaves
Rio de Janeiro Fevereiro/2002
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES Pró-Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento
Diretoria de Projetos Especiais Instituto de pesquisas Sócio-Pedagógicas
CONSTRUINDO O CONHECIMENTO PELOS CAMINHOS DA AFETIVIDADE
Por: Débora de Souza Moreira
Orientada por: Prof. Mario Antônio Chaves
Trabalho Monográfico apresentado à Universidade Cândido Mendes
como requisito parcial para obtenção do grau de especialidade em
Supervisão Escolar
Rio de Janeiro Fevereiro/2002
Agradecimentos
Agradeço a Deus, que me deu a vida, À minha mãe, que embora já não esteja entre nós,
terá sempre meu eterno amor. A meu esposo e filha, por serem tão especiais para mim.
Aos professores do curso, por dividirem e socializarem seus conhecimentos.
“Para permanecer vivo, educando a paixão, desejos
de vida e morte, é preciso educar o medo e a coragem. Medo e coragem em ousar.
Medo e coragem em assumir a solidão de ser diferente. Medo e coragem em assumir a educação desse drama, cujos personagens são nossos desejos de vida e morte.
Educar a paixão (de morte e vida) é lidar com esses dois ingredientes cotidianamente, por meio da
nossa capacidade, força vital (que todo ser humano possui, uns mais, outros menos, em outros anestesiada)
e desejar, sonhar, imaginar e criar. Somos sujeitos porque desejamos, sonhamos, imaginamos e criamos: na busca permanente da alegria, da esperança,
do fortalecimento da liberdade, de uma sociedade mais justa, da felicidade a que todos temos direito.
Este é o drama de permanecer VIVO ... fazendo educação !
RESUMO
Este trabalho buscou investigar como ocorre a aquisição de
conhecimento pelos caminhos da afetividade, num contexto educacional de
Ensino Fundamental. Tendo como palco uma turma de 2a. série cujos alunos
são em maioria repetentes.
Esta proposta de investigação, levantou questões como: a formação do
ser crítico-transformador, o respeito as diferenças, o estímulo a auto-estima e
as contribuições do conhecimento na prática de uma educação libertadora e
afetiva.
A aprendizagem que se apresentou, encontra aspectos positivos e
necessidade de aprofundar os questionamentos no desejo de transpor alguns
obstáculos ainda existentes.
SUMÁRIO Introdução..........................................................................................................01 Capítulo I – Explosão de Cidadania...................................................................05
1.1 – O Projeto Político-Pedagógico........................................................05 1.2 - O Projeto Político Pedagógico da Escola Estadual Prof. Odyla
Couto..................................................................................................06 1.2.1 – Apresentação....................................................................07 1.2.2 - Identificação.....................................................................07 1.2.2.A – Localização.....................................................................07 1.2.2.B – Estrutura e Funcionamento.............................................08 1.2.2.C – Características do Corpo Discente.................................08 1.2.3 – Marco Situacional – Explosão de Cidadania....................09 1.2.4 - Marco Doutrinal................................................................10 1.2.5 - Marco Operativo...............................................................11 1.2.6 Diagnóstico..........................................................................12 1.2.7 Programação.......................................................................13
Capítulo II – Competências e Habilidades.........................................................15 2.1 – O que é Competência no Contexto Educacional............................17 Capítulo III – A Inteligência................................................................................20 Conclusão..........................................................................................................23 Bibliografia.........................................................................................................25 Anexos...............................................................................................................26
INTRODUÇÃO
“A questão não é gerenciar o educador. É necessário acordá-lo. E, para acordá-
lo, uma experiência de amor é necessária. Já sei a pergunta que me
aguarda: - E qual é a receita para a experiência de amor, de paixão? Como
se administram tais coisas? E aí eu tenho de ficar em silêncio, porque não
tenho resposta alguma.” Muito se tem discutido, recentemente acerca de processos educativos.
Discutir educação significa ter em foco atores e metodologias. Compreender o modelo estrutural das unidades educacionais que primam pela exclusão que é, certamente, uma reprodução da sociedade vigente.
Através do projeto político pedagógico, onde estão embasadas as atividades realizadas na instituição, a de se compreender sua filosofia de trabalho, qual o seu enfoque principal, que tipo de cidadão pressupõe formar.
Nesta relação escola/educação é de fundamental importância priorizar o aluno como um todo: pessoal, emocional, espiritual, intelectual, buscar conhecer suas habilidades e competências, o seu potencial, sua inteligência e também as dificuldades, temores e barreiras que o aprisionam.
É relevante mencionar que esta dissertação está embasada no cotidiano da Escola Estadual Odyla do Couto. Considerada de fundamental importância para o estabelecimento de ensino em questão, que compreende o respeito entre as pessoas, a união, a solidariedade e muitas outras atitudes, que transformam o homem em um ser consciente de seus direitos e deveres, como um exercício constante de cidadania, e ao perceber que essas atitudes, tão importantes para fortalecerem as relações entre as pessoas estão se
degradando, conta com a contribuição desta pesquisa para a melhoria da qualidade de ensino, bem como das relações interpessoais. Este trabalho busca investigar o processo de construção do conhecimento, e o resgate da cidadania de uma turma de 2a. série do Ensino Fundamental, cujo corpo discente é formado basicamente por alunos repetentes, salvo algumas exceções. Conceber educação como elemento de transformação capaz de mover com as engrenagens da sociedade, criando cidadãos conscientes, críticos, capazes de tomar decisões e atuar na busca de soluções para as questões que se apresentam, nesse contexto, significa redimensionar a prática pedagógica de modo que afete docente e discente num processo de integração no qual possam interagir pelos caminhos da afetividade, sendo essa compreendida como: respeito, carinho, amizade, admiração e sentimentos que a esses se assemelhem. Crer em um processo educativo que conduza a libertação é transgredir, romper com a tradição, deixar-se conduzir pelo desejo de acertar. A observação torna-se um instrumento importante no momento de definir o caminho a ser percorrido e a sensibilidade, de igual valor, no momento de redefinir a trajetória. É neste conjunto de atividades que poderiam transformar o mundo, chamado prática educativa, neste todo de domínio moral e intelectual, que o profissional da educação administra participativamente saberes e diversas modalidades de inteligências, interfere no processo fazendo aflorar situações que exijam raciocínio, criatividade, iniciativa, capacidade para formular e reformular situações-problema proporcionando condições que favoreçam ao educando estar em sintonia com o mundo. Acreditando que a escola, lugar onde se deve ampliar o conhecimento e as relações humanas, desenvolve, ou deveria desenvolver, um papel de destaque no despertar da consciência e na formação de cidadãos autônomos, voltaremos a nossa atenção para a práxis pedagógica visando localizar os pontos de ruptura entre a teoria e a prática educacional, neste universo de educadores e educandos que interagindo contribuem para formar uma sociedade mais justa. O primeiro capítulo foi norteado basicamente pelas informações contidas no projeto político-pedagógico da escola, a fim de proporcionar ao leitor uma visão mais ampla acerca do seu modo de pensar e agir. Em seguida o segundo capítulo tratou das competências e habilidades, seguido pelo terceiro capítulo que aborda a questão da inteligência, questões que estão intrinsicamente ligadas. Finalmente procurou-se apontar algumas conclusões possíveis e levantar questões que merecem ser examinadas em estudos futuros.
CAPÍTULO I – Explosão de Cidadania
1.1– O Projeto Político-Pedagógico
“A prática de pensar é a melhor maneira de pensar certo.” (Paulo Freire, Revista Educação e Sociedade, n.1, p.65)
Atualmente, observa-se que, dentre os inúmeros motivos que
enfraquecia a ação pedagógica planejada, era a existência dos planejadores,
executores e avaliadores. Três grupos distintos que exerciam funções
diferentes. Um pequeno grupo planejando, enquanto o grupo maior executava
ineficazmente as atividades propostas.
O projeto político-pedagógico tem sido então uma poderosa ferramenta
de cunho democrático, pois a sua confecção estende-se a participação de toda
comunidade escolar, onde os planejadores são os executores e
conseqüentemente os avaliadores do andamento do programa.
Sendo assim, ele reflete a maneira de pensar e agir da coletividade,
definindo prioridades e refletindo o compromisso assumido pelos sujeitos que
nele interagem, orientando-lhes a ação, podendo ser entendido como a
sistematização, nunca definitiva, de um processo de planejamento participativo.
O projeto político-pedagógico é composto, basicamente, de três grandes
partes, articuladas entre si: Marco Referencial, Diagnóstico e Programação. O
Marco Referencial é constituído pelo Marco Situacional, Marco Doutrinal e
Marco Operativo. O Marco Situacional retrata o posicionamento do grupo em
relação ao mundo atual, é uma visão da realidade global. O Marco Doutrinal
demonstra a pretensão que tem o grupo em relação ao Marco Situacional,
expondo o que se pretende alcançar frente à situação atual. O Marco Operativo
define a direção a ser tomada para atingir os ideais políticos e pedagógicos
almejados. Já o Diagnóstico funciona como unidade de medida, pois através
dele visualiza-se a que distância está o desejado da realidade. Na
Programação serão traçados objetivos, políticas e estratégias, prioridades e
demais instrumentos de execução.
1.2 – O Projeto Político-Pedagógico da Escola Estadual
Professora Odyla do Couto
Tendo em vista os aspectos observados no projeto político-pedagógico,
retrataremos aqui, de modo global, seus enfoques principais, dando margem
para a compreensão da filosofia de trabalho da instituição, que de modo
participativo tem se esmerado para formular um projeto que, ainda em
construção, reflita os desejos e anseios de docentes, discentes e demais
envolvidos.
1.2.1 – Apresentação
Em sua apresentação o projeto deixa clara a sua natureza participativa e
democrática, embora, tenha como finalidade orientar a conduta escolar e o
fazer pedagógico para que sejam alcançados os objetivos propostos.
Participam da formulação do projeto alunos, pais, mestres e funcionários.
Uma das características da escola é que a direção procura manter um
relacionamento aberto com a comunidade, que atua de forma significativa na
elaboração e execução do projeto político-pedagógico da escola, nas
culminâncias e nas demais comemorações do ano letivo.
1.2.2 - Identificação
1.2.2.A – Localização
A Escola Estadual 181821 Professora Odyla do Couto pertencente à
Coordenadoria Metropolitana XI, situada na Rua Doutor Rubens Farrula, nº 41,
no bairro de Vila Rosali, no município de São João de Meriti, no estado do Rio
de Janeiro, funciona desde 1968.
1.2.2.B – Estrutura e Funcionamento
A escola funciona em dois turnos, atendendo a comunidade da 2a. à 7a.
série. Este é o último ano que a escola terá em seu quadro uma turma de
segunda série. O primeiro segmento do Ensino Fundamental está, aos poucos,
sendo extinto, dando lugar as turmas do segundo. Possui cinco salas de aula,
um refeitório, pequeno pátio coberto, uma quadra pequena, seis banheiros para
alunos, um banheiro para professores e funcionários, uma sala de professores,
uma cozinha, uma secretaria, um gabinete da direção e dispensa. As
dependências estão em bom estado de conservação e recebem diariamente,
em média, 400 alunos.
A organização curricular de ensino, se constitui em ciclos de formação e
regime de seriação. Conta com vinte professores regentes, uma diretora geral,
uma adjunta, quatro professores na equipe técnico-pedagógica, uma secretaria
e dez profissionais na equipe de apoio. Seu modo de avaliar é quantificável
seguido de relatório, podendo haver retenção de alunos de um ciclo para o
outro.
1.2.2.C – Características do Corpo Discente
A clientela recebida na escola é oriunda da própria comunidade e
adjacências, pertencentes ao próprio município. Em geral, residem nas
proximidades, assim como vários professores e funcionários; o que aproxima e
identifica com mais facilidade escola e comunidade.
A escola é procurada pelos pais porque vêem nela uma forma de
preparação para o futuro das crianças, um lugar onde seus filhos podem ficar
para que os responsáveis possam trabalhar e por ser próxima às suas
residências. Um grande número de alunos sofrem a ausência de Zeus pais
durante o dia, por se tratar de uma comunidade cujo perfil sócio-econômico
das famílias é de baixa renda.
1.2.3 – Marco Situacional – Explosão de Cidadania
Acreditando que educar não é uma tarefa simples, envolve muita
responsabilidade, escolhas e até mesmo apostas no sentido de inovar
conscientemente, perpassando pelo questionamento a respeito da sociedade
em que estamos vivendo e portanto que ajudamos a formar.
Nesta perspectiva, a finalidade da proposta é contribuir para a
conscientização do aluno, abordando princípios que despertem sua
participação no problema e sua co-responsabilidade na solução do mesmo.
A escola tem, então, a intenção de desenvolver os valores éticos,
humanitários, políticos e religiosos para a formação do aluno enquanto
indivíduo inserido na sociedade, com o objetivo de contribuir na formação de
um cidadão crítico, consciente, capaz de ter autonomia nas suas decisões
diante de situações-problema.
Neste sentido, a construção do processo prevê a participação ativa e
responsável do alunado na construção do próprio processo, onde as instruções
do professor não serão priorizadas em relação a ação dos alunos. É a própria
ação dos alunos que consolidará o projeto.
1.2.4 - Marco Doutrinal
“Nunca acreditei em verdades únicas. Nem nas
minhas, nem nas dos outros. Acredito que todas
As escolas, todas as teorias podem ser úteis em
algum lugar, num determinado momento. Mas
descobri que é impossível viver sem uma
apaixonada e absoluta identificação com um ponto
de vista. No entanto, à medida que o tempo passa,
e nós mudamos, e o mundo se modifica, os
alvos variam e o ponto de vista se desloca. Num
retrospecto de muitos anos de ensaios publicados
e idéias proferidas em vários lugares, em tantas
ocasiões diferentes, uma coisa me impressiona
por sua consistência. Para que um ponto de
vista seja útil, temos que assumi-lo totalmente e
defendê-lo até a morte. Mas, ao mesmo tempo,
uma voz interior nos sussurra: ’Não o leve muito
a sério. Mantenha-o firmemente, abandone-o sem
constrangimento.’ “
(Peter Block)
Aprender a aprender, eis aí o grande pilar sobre o qual foi embasado o Marco Doutrinal desta proposta de trabalho, docentes e discentes envolvidos
pelo desejo de aprender, o ensino só é efetivo onde existe aprendizagem.
“O que dá vida a uma escola? Seria o projeto educativo?
Não podemos ter esta ilusão. São as pessoas, os sujeitos
que historicamente assumem a construção de uma prática
libertadora, transformadora.“
(Vasconcellos, p.144, 1995)
A sensibilidade é uma característica imprescindível a nós, educadores. É
com ela que tentamos conhecer melhor nossos alunos para atuarmos como
educadores. É com essa mesma sensibilidade que tentamos adequar, ao
máximo, o planejamento à turma, as suas necessidades e aos seus desejos.
Essa sensibilidade, então, vai permitir maior exatidão no nosso trabalho. Vai
nos permitir perceber o que está diante de nós e que, muitas vezes, não
vemos.
Com esse posicionamento, busca-se sempre a qualidade do ensino,
pois, é proporcionado ao aluno uma aprendizagem significativa, global e
verdadeira. É proporcionado o desafio mor da educação brasileira que é o
ensinar a aprender, o aprender a aprender.
1.2.5 – Marco Operativo
Ninguém está satisfeito com a educação que temos, sonhamos e
idealizamos uma educação diferente, onde o ideal projetado é a conquista da
liberdade e da autonomia. O rumo que a escola deve seguir para atingir a
educação que deseja deve pressupor uma interação mais visível com o mundo
real para que as pessoas possam, com mais profundidade, exercer a cidadania
que elas próprias constroem dentro de si.
As várias bases teóricas que orientam a elaboração dos
Parâmetros Curriculares Nacionais apontam para a necessidade imperiosa de
que o conhecimento seja trabalhado de uma maneira conjugada, mostrando
claramente que nenhuma das disciplinas que compõe o currículo escolar dá
conta, isoladamente, do conhecimento real, que cativa independente das
partições artificiais elaboradas pelo homem. Por isso, é fundamental partirmos
do pressuposto de que a dimensão interdisciplinar do projeto objetiva, portanto,
redimensionar a abordagem metodológica do ensino,procurando articular as
várias áreas do conhecimento, que só assim pode ser efetivamente
compreendida pelas crianças. Esta abordagem facilita a compreensão e, por
isso, torna mais forte a possibilidade de tomada de consciência.
1.2.6 - Diagnóstico
A partir da análise dos dados obtidos com um questionário de
sondagem, da observação direta da realidade da Escola Estadual Professora
Odyla do Couto e, após discussão e reflexão do grupo, pudemos constatar que
as maiores necessidades da comunidade escolar em questão, atualmente,
podem ser identificadas através dos aspectos que serão apresentados.
A impossibilidade dos alunos de realizarem suas tarefas sozinhos.
A interação do corpo docente, equipe técnico-administrativa e a equipe
de apoio são fundamentais para a conquista de um trabalho que se integre a
dinâmica social.
Valorização da eqüidade, restabelecendo a igualdade e respeito as
diferenças.
A fragmentação na construção dos conceitos por parte dos profissionais
de ensino.
Oferta a todos os profissionais de cursos de capacitação que propiciem
o crescimento profissional, intelectual e pessoal.
Explosão de cidadania é um projeto político-pedagógico elaborado em
cima destas questões que se apresentam, mas que a escola ainda não deu
conta de abranda-las e que, por isso, continuará a enfrenta-las de maneira
direta, questionando-as mais profundamente e procurando, através de
estratégias mais eficazes, sensibilizar a comunidade escolar de tal forma que
este quadro posa ser revertido.
1.2.7 - Programação
O projeto político-pedagógico explosão de cidadania da Escola Estadual
Professora Odyla do Couto, uma agência dedicada exclusivamente à
educação, que mantém claros os seus objetivos e sua filosofia, um projeto em
andamento, em fase de reestruturação, que possui uma longa história
buscando:
X Formar os alunos de maneira global, valorizando todos os seus
talentos e possibilidades.
X Formar alunos que tenham compromisso de educação consigo, com
os outros e com o que é público.
X Garantir uma formação crítica e questionadora, utilizando a
informação como um dos instrumentos de mudança da sociedade.
X Trabalhar de forma humana para investir no futuro cidadão: fraterno,
justo e solidário.
Segundo essa linha filosófica acreditamos que perseguimos um trabalho
participativo e solidário onde a interação escola-realidade global tem seu ponto
culminante para uma escola coerente e bem sucedida.
CAPÍTULO II – Competências e Habilidades Conhecendo o perfil da comunidade escolar onde foi realizado este
trabalho d pesquisa, nos reportaremos agora as questões que estão
diretamente ligadas a ele, manteremos a atenção voltada para os alunos da
turma de 2a. série (201), que estudam em uma instituição que acredita em
projetos participativos, comunidade escolar crítica e consciente, autonomia,
construção do conhecimento, eqüidade, respeito as diferenças e valorização
dos talentos e possibilidades.
Sabendo-se que o processo de reconstrução do projeto encontra-se em
andamento, é compreensível constatar que uma turma de segundo ano seja
formada basicamente por alunos repetentes; visto que, quando se educa para
transformar, um dos maiores desafios é conquistar o maior número possível de
parceiros nesta luta.
E quando falamos em educar, não estamos nos referindo a controle de
disciplina, mas a algo muito mais amplo do que ter a turma sentada,
comportada, recebendo informações para tas quais não encontre nenhuma
aplicabilidade. Estou falando, sim, do olhar amoroso do professor, que quer
ajudar valorizando as competências, habilidades e inteligências de cada
discente.
Tendo uma clientela que varia em idade de 7 à 14 anos e alunos com
convicção cristalizada que são incapazes de ler, escrever ou mesmo realizar
cálculos matemáticos. Uma turma como esta, formada por uma maioria de
excluídos por uma educação quantitativa e uma avaliação classificatória, grita
por uma educação libertadora.
Comprometer-se com uma prática pedagógica que respeite e
desenvolva competências e habilidades, pressupõe um professor que não se
limite ao papel de transmissor de conteúdos. Questionador, dado a reflexões,
consciente da defasagem escola/mudanças sociais, com uma grande dose de
sensibilidade para perceber esses alunos como produto da prática educacional,
que em grande parte está ligada a uma educação bancária.
Deslocar o foco das atenções dos conteúdos disciplinares para os
alunos, partindo das suas vivências, competências e habilidades já
construídas, torna-se o caminho mais viável para construção de conteúdos e
valores significativos para o educando, levado a refletir sobre si mesmo e as
relações sociais que norteiam suas vivências, pretendendo, assim, formar
cidadãos que saibam articular fatos e conseqüências e posicionar-se diante
deles.
Diante desta situação a reconstrução da prática educacional é
imprescindível, onde as atividades desenvolvidas proporcionem vivências que
preparem para um mundo globalizado, e portanto, diversificado, o programa do
professor deve ter sentido na vida, ao invés de ser um acúmulo de conteúdos a
serviço da aprovação ou reprovação.
Quando assumimos as mudanças ocorridas no campo didático, na forma
de conceber educação, a avaliação da práxis ultrapassa o modelo padronizado,
onde todos são quantificados e classificados a partir de um mesmo ponto de
vista, a saber, o acúmulo quantitativo de informações retidas. A avaliação
passa a ser participativa, onde professor e aluno avaliam a que distância estão
do ponto de partida, avanços e obstáculos são avaliados na busca da
superação das dificuldades, facilitando a caminhada na construção das
competências e habilidades.
Desenvolver uma proposta que trabalhe competências e habilidades é
deixar expresso que o aluno é o centro do processo, o programa não é
importante, mas sim o desenvolvimento das competências, a análise das
dificuldades encontradas pelo discente levará o professor a traçar novos
percursos possibilitando o prosseguir.
2.1 – O que é Competência no Contexto Educacional
No documento básico referente ao Exame Nacional do Ensino Médio
(ENEM):
“As competências são associadas a modalidades
estruturais da inteligência ou a ações e operações
que utilizamos para estabelecer relações com e
entre objetos, situações, fenômenos e pessoas.”
Marise Ramos (2001) afirma que:
“A competência associa-se à conjugação dos
diversos saberes mobilizados pelo indivíduo (saber,
saber-fazer e saber-ser) na realização de uma
atividade. Ela faz apelo não somente aos seus
conhecimentos formais, mas à toda gama de
aprendizagens interiorizadas nas experiências
vividas, que constituiriam sua própria subjetividade.”
Nas duas definições sobre competência observamos que o indivíduo é o
centro do desenvolvimento, de onde parte a estrutura que constrói a
competência, que segundo Marise Ramos é a conjugação dos diversos
saberes mobilizados pelo indivíduo. O saber formalizado, conhecimentos
produzidos pela sociedade no decorrer dos anos que fundamentam a ação das
pessoas, como indivíduos e como profissionais. O saber fazer, pois é na prática
d determinadas habilidades que a competência vai sendo construída. O saber
ser, pois é no meio social que os saberes articulados, formalizados e
consolidados pelo indivíduo em forma de competências sofrem a aceitabilidade
segundo o regulamento social.
Já a habilidade representa o saber-fazer, é através dela que o educador
consegue analisar a construção da competência, pode ser considerada como a
parte visível deste complexo processo de conjugação e articulação dos
saberes.
Segundo esta linha de pensamento, visando valorizar, principalmente as
competências e habilidades já construídas, na tentativa de resgatar a auto-
estima e segurança dos alunos da turma 201, prosseguimos centralizando os
alunos e participativamente criando alternativas para a superação das
dificuldades, na construção das competências e desenvolvimento das
habilidades.
CAPÍTULO III - A Inteligência Quando nos propomos a realizar um trabalho com uma turma cuja auto-
estima está fortemente abalada, não devemos desprezar seus conhecimentos
e sua criatividade, antes os usaremos como ponto de partida para o
desenvolvimento das aulas, fazendo com que o aluno se sinta capaz e seguro
o suficiente para expor suas idéias.
Necessário se faz, neste momento, compreendermos que não temos
domínio sobre o destino de nossos alunos, suas opções e oportunidades
futuras, podemos estar falando ao mesmo tempo com futuros médicos,
jogadores de futebol, músicos, advogados, jornalistas, professores, operários,
empresários, e muitas outras opções que podem circundar a vida humana,
então trabalhemos em uma perspectiva individual, onde cada inteligência seja
estimulada.
Segundo o Dicionário Escolar da Língua Portuguesa do Ministério da
Educação e Desporto, inteligência é, “faculdade de compreender e aptidão
para captar as relações.” Sendo uma operação que se realiza no cérebro,
através da qual buscamos soluções para os problemas que se apresentam e
escolhemos a que nos é mais viável.
Quando trabalhamos inteligência como uma competência individual, que
responde de acordo com as problematizações do meio e respeitamos
diferentes respostas para a mesma situação apresentada, desde que seja
satisfatória, os alunos se sentem competentes e, portanto, estimulados a
aprofundar-se mais.
Apresentaremos um quadro retirado do livro: As Inteligências Múltiplas e
Seus Estímulos, de Celso Antunes, baseado no estudo de neurobiológicos a
respeito do que chamam de sinapses “a relação de contato entre células
nervosas cerebrais”, que procura mostrar os períodos de maior abertura do que
chamaram de “janelas de oportunidades”.
Observe a seguir o quadro que destaca os períodos de maior abertura de
cada uma das janelas conhecidas:
INTELIGÊNCIAS ABERTURA DA JANELA
O QUE ACONTECE NO CÉREBRO
QUE “GINÁSTICAS” DESENVOLVER
Espacial (lado direito)
Dos 5 aos 10 anos
Regulação do sentido de lateralidade e direcionalidade. Aperfeiçoamento da coordenação motora e a percepção do corpo no espaço.
Exercícios físicos e jogos operatórios que explorem a noção de direita, esquerda, em cima, em baixo. Natação, judô e alfabetização cartográfica.
Lingüistíca ou Verbal (lado esquerdo)
Do nascimento aos 10 anos
Conexão dos circuitos que transformam os sons em palavras.
As crianças precisam ouvir muitas palavras novas, participar de conversas estimulantes, construir com palavras imagens sobre composição com objetos, aprender, quando possível, uma língua estrangeira.
INTELIGÊNCIAS ABERTURA DA JANELA
O QUE ACONTECE NO CÉREBRO
QUE “GINÁSTICAS” DESENVOLVER
Sonora ou Musical (lado direito)
Dos 3 aos 10 anos
As áreas do cérebro ligadas aos movimentos dos dedos da mão esquerda, são muito sensíveis e facilitam a
Cantar junto com a criança e brincar de “aprender a ouvir” a musicalidade dos sons naturais e das palavras são estímulos importantes, como
execução de instrumentos de corda
também habituar-se a deixar um som de CD no aparelho de som, com música suave, quando a criança estiver comendo, brincando ou mesmo dormindo.
Cinestésica Corporal (lado esquerdo)
Do nascimento aos 5 / 6 anos
Desenvolver brincadeiras que estimulem o tato, o paladar e o olfato. Simular situações de mímica e brincar com a interpretação dos movimentos. Promover jogos e atividades motoras diversas.
INTELIGÊNCIAS E HABILIDADES
ABERTURA DA JANELA
O QUE ACONTECE NO CÉREBRO
QUE “GINÁSTICAS” DESENVOLVER
Pessoais (Intra e Interpessoal) (Lobo frontal)
Do nascimento a puberdade
Os circuitos do sistema límbico começam a se conectar e se mostram muito sensíveis a estímulos provocados por outras pessoas.
Abraçar a criança carinhosamente, brincar bastante. Compartilhar de sua admiração pelas descobertas. Mimos e estímulos na dosagem e na hora corretas são importantes.
Lógico-matemática (Lobos parietais esquerdos)
De 1 aos 10 anos O conhecimento matemático deriva inicialmente das ações da criança sobre os objetos do mundo (berço, chupeta, chocalho) e evolui para suas expectativas sobre como esses objetos se comportarão em outras circunstâncias.
Acompanhar com atenção a evolução das funções motoras. Exercícios com atividades sonoras que aprimorem o raciocínio lógico-matemático. Estimular desenhos e facilitar a descoberta das escalas presentes em todas as fotos e desenhos mostrados.
Baseado neste estudo, compreendemos melhor porque alguns alunos
demonstram maiores dificuldades, e não impossibilidades, para desenvolver
determinadas competências.
CONCLUSÃO Em virtude dos fatos mencionados tratarem não só de um trabalho de
pesquisa, mas também de uma intervenção pedagógica explicitaremos os fatos
que presenciamos mediante ao resultado.
Olhar a diferença com indiferença é sem dúvida uma das diversas
formas de exclusão social, a mudança de olhar do professor em relação a
diferença foi um dos pontos principais para os sucessos que foram alcançados.
Desenvolver uma práxis que buscasse a construção do conhecimento pelos
caminhos da afetividade implicava na mudança de postura do professor, que se
deu mediante ao conhecimento acerca de planejamento, cidadania,
inteligência, competência, opressão, auto-estima e demais leituras necessárias
a compreensão da necessidade de realizar um trabalho que possibilitasse a
todos oportunidades de crescimento intelectual, pessoal, emocional e espiritual,
em busca de uma sociedade mais humana, justa e igualitária.
As conclusões que chegamos em relação aos alunos foram
surpreendentes, alunos considerados incapazes de desenvolver raciocínio
lógico-matemático, após recuperarem a auto-estima, resolviam situações-
problema com relativa facilidade.
Alunos faltosos passaram a ser assíduos mediante a valorização de
suas competências e habilidades, o que os levou a desenvolver desafios cada
vez maiores obtendo bons resultados. Alunos, por vezes, desatentos se
propunham espontaneamente a solucionar novos desafios.
Passo a passo, o conhecimento tornava-se a realidade de um sonho que
busca a transformação social, partilhando da crença em um saber que se
constrói e reconstrói a cada momento da vida. Ganhamos a maior parte das
nossas apostas pedagógicas, mas não todas.
O ponto de maior entrave foi o desenvolvimento das competências e
habilidades referentes a leitura e a escrita, motivo pelo qual pretendemos
continuar esta pesquisa, acompanhando a mesma turma que foi aprovada em
sua totalidade, porém com outro professor, com o qual buscaremos parceria,
para o aprofundamento do conhecer e experimentar caminhos que levem ao
sucesso na construção das competências e habilidades através da inteligência.
A busca pelo conhecimento, através de um ensino de qualidade que visa
formar cidadãos autônomos e competentes, é, a melhor resposta frente as
transformações sociais e econômicas que permeiam a nossa sociedade.
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Anexos