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SEMINÁRIO TEOLÓGICO PRESBITERIANO REV. ASHBEL GREEN SIMONTON
VINICIO DA SILVA PEIXOTO
COMUNHÃO DOS SANTOS:UMA EXPRESSÃO DA COMUNHÃO COM DEUS
RIO DE JANEIRO
2017
VINICIO DA SILVA PEIXOTO
COMUNHÃO DOS SANTOS: UMA EXPRESSÃO DA COMUNHÃO COM DEUS
Monografia apresentada ao SeminárioTeológico Presbiteriano Rev. AshbelGreen Simonton, como requisito parcial àobtenção do grau de Bacharel emTeologia.
ORIENTADOR: Prof. Rev. João Batista Borges
Rio de Janeiro
2017
VINICIO DA SILVA PEIXOTO
COMUNHÃO DOS SANTOS: UMA EXPRESSÃO DA COMUNHÃO COM DEUS
Monografia apresentada ao SeminárioTeológico Presbiteriano Rev. AshbelGreen Simonton, como requisito parcial àobtenção do grau de Bacharel emTeologia.
Aprovada em:
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________________________
Prof. Rev. Marcos Roberto Bugliani Ocanha
Seminário Teológico Presbiteriano Rev. Ashbel Green Simonton
_____________________________________________________________
Prof. Rev. João Batista Borges - Orientador
Seminário Teológico Presbiteriano Rev. Ashbel Green Simonton
______________________________________________________________
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho as Igrejas Presbiterianas de Campo Grande, São Geraldo,Tingui e Corrêa por sustentar-me em oração, incentivando e apoiando a minhacaminhada até o futuro Ministério da Palavra.
AGRADECIMENTOS
A Deus por ter me abençoado e fortalecido durante todo percurso desta caminhada.
À minha querida mãe Rosali da Silva Peixoto pelo constante apoio e incentivo.
À minha amada namorada Larissa Iolanda por todo carinho e compreensão.
Ao meu Tutor Rev. Daniel Gomes de Deus pelo apoio, incentivo e pastoreio.
Ao Rev. Paulo Henrique pelas palavras motivadoras, pela confiança e apoio duranteesta trajetória.
Ao meu orientador Rev. João Batista Borges pelo suporte e orientações durante aelaboração deste trabalho.
Agradeço ao Presbitério Campo Grande – Rio por todo apoio, incentivo e confiançana minha vocação.
“Pois eu bem sei os planos que estouprojetando para vós, diz o Senhor;planos de paz, e não de mal, para vosdar um futuro e uma esperança.”(Jeremias 29:11).
RESUMO
No contexto atual das igrejas evangélicas no Brasil, o conceito de comunhão dos
santos em boa parte delas está em desacordo com a Palavra de Deus. Estas igrejas
se reúnem por diversos motivos: lazer, entretenimento, festas e eventos
considerando que isto seja a mais profunda e bela expressão de comunhão. No
entanto, faz-se necessário a reflexão à luz da Palavra de Deus do verdadeiro
conceito de comunhão dos santos, que é muito mais abrangente do que algumas
igrejas podem imaginar. No decorrer do trabalho será feita abordagem do conceito
de comunhão dos santos tomando como referência a Palavra de Deus, onde se
constata que a fonte da comunhão se inicia em Deus, no seu amor infinito e na sua
graça irresistível. Sendo assim, o indivíduo impactado pelo amor de Deus, agora
ama o seu próximo com as lentes do Evangelho. Isto implica em amar o seu próximo
assim como Cristo amou os seus discípulos, um amor sacrificial. Quando se ama na
perspectiva do amor de Cristo, a igreja vivencia na prática a comunhão dos santos,
amando-se mutuamente não apenas com palavras, mas com atitudes, exercita o
perdão e serve a Deus servindo ao próximo ajudando-lhe em suas necessidades.
Nesta perspectiva se reúne em comunidade com o principal objetivo de adorar a
Deus prestando-lhe culto e através da ação exclusiva do Espírito Santo a igreja
cresce espiritualmente e em quantidade de pessoas. Este tema é relevante, pois a
igreja que vivencia a verdadeira comunhão dos santos está centrada na Palavra de
Deus e de acordo com a sua vontade.
SUMÁRIO
SUMÁRIO......................................................................................................................8
3Os benefícios da comunhão na dimensão do indivíduo..............................26
9
1 INTRODUÇÃO
SUMÁRIO......................................................................................................................8
SUMÁRIO 8...................................................................................................................8
3Os benefícios da comunhão na dimensão do indivíduo..............................26
Esta pesquisa visa estudar o conceito de comunhão dos santos na perspectiva
bíblica, fundamentada na Confissão de Fé de Westminster (2008), a qual foi adotada
pela Igreja Presbiteriana do Brasil, onde afirma que todos os santos estão unidos
uns aos outros em amor por intermédio de Jesus Cristo.
Segundo Bonhoeffer (1997),sem Cristo o homem era inimigo de Deus e do próximo.
Cristo trouxe a paz e, portanto, é o único mediador entre Deus e os homens,
garantindo a comunhão com Deus e entre as pessoas, pois sem Ele, não se pode
conhecer a Deus e ao irmão. Apenas em Jesus Cristo ocorre a união com Deus e
com os outros. Ele é o único mediador que quebrou as barreiras do caminho que
conduz a Deus e ao irmão, e somente Nele, agora se pode amar a Deus e ao
próximo.
Observa-se que a comunhão dos santos é profunda e abrangente, e de suma
importância para a comunidade cristã, onde seus integrantes devem vivenciar o
amor que emana de Deus não apenas com palavras, mas com atitudes
evidenciando de fato o amor.
É importante destacar que a comunhão dos santos não se limita somente aqui na
terra, o indivíduo ao ser transformado pela ação do Espírito Santo por intermédio de
Jesus Cristo passa a experimentar uma comunhão com Deus e com os irmãos.
Porém, devido a nossa natureza pecaminosa essa comunhão não é em sua
plenitude, somente na eternidade, será possível desfrutar desta graciosa comunhão
com Deus e com os santos de forma plena, pois já não haverá o pecado e os efeitos
por ele produzidos.
O indivíduo ao ser transformado por Deus mediante Jesus Cristo, agora se aproxima
de Deus e, portanto, passa a ter comunhão com Ele. Essa relação vertical, ou seja,
de Deus para com o homem, que é atraído pelo seu amor incondicional e a sua
graça irresistível, faz com que o indivíduo criado a imagem e semelhança de Deus
10
tenha necessidade, prazer e alegria em se relacionar com Deus de forma intensa e
verdadeira, buscando primeiramente fazer e obedecer a sua vontade.
Este indivíduo que agora se deleita em Deus devido ao seu grande amor, passa ter
uma relação na horizontal, ou seja, ter comunhão com os santos, aqueles que foram
alcançados por sua graça e por seu amor. Esta relação horizontal tem como base o
amor de Deus, que é uma fonte inesgotável e, portanto é possível compartilhar e
vivenciar este amor entre a comunidade cristã.
Calvino (2006), afirma que a comunhão dos santos exprime a excelente natureza da
igreja e que os santos fazem parte da comunidade de Cristo. Sendo assim, todos e
quaisquer benefícios concedidos pelo próprio Deus devem ser compartilhados entre
os irmãos. O indivíduo então tem a compreensão de que Deus é Pai, logo a igreja é
a família de Deus e seus integrantes são os filhos. E também, a plena consciência
que Cristo é o Cabeça, logo a igreja é o corpo e seus integrantes os membros.
Portanto, a igreja está unida pelo amor de Deus, sendo impossível que os irmãos
desta família, e os membros deste corpo não ajudem uns aos outros.
Outra perspectiva importante que o autor aborda, é a que Deus criou o homem e a
mulher a sua imagem e semelhança, observa-se que de todas as criaturas, somente
o homem e a mulher, foram contemplados com essas características.
Segundo Hoekema (2010), assim como um espelho, o homem reflete Deus, pois de
um modo especial, Deus revelou sua presença e o seu poder ao criá-lo a sua
imagem e semelhança. Os céus e todas as outras criaturas declaram a sua glória,
contudo o homem além de glorificar a Deus, também tem o privilégio e a honra de
refletir nitidamente a sua imagem, portanto somente no homem, Deus torna-se
visível na terra.
Deus é relacional, é do seu agrado ter comunhão com o homem. O seu amor é tão
grandioso que entregou seu Filho para morrer, salvar e perdoar os pecados, mesmo
não sendo merecedores. A sua maravilhosa graça foi alcançada mediante o
sacrifício vicário de Jesus Cristo, o qual proporciona a dádiva dos indivíduos serem
chamados filhos de Deus. E consequentemente, agora faz parte da família bendita
do Senhor onde há comunhão, um relacionamento íntimo, puro e sincero que é
estabelecido, nutrido e sustentado por Ele.
11
Stott (1997) chama a atenção pelo fato de que o homem vive numa sociedade onde
a desintegração social, a dificuldade do indivíduo em se relacionar com outros,
acaba destruindo a comunhão. Cada vez mais se tem buscado o amor num mundo
sem amor, pois a falta de comunhão entre as pessoas tem levado a solidão. No
entanto, a busca incessante do amor, da comunhão deve estar voltada para os
propósitos de Deus, que não somente enviou seu Filho para salvar, mas também
para abolir as barreiras entre os irmãos e criar uma comunidade em Jesus Cristo,
que pode ser definida como a verdadeira sociedade que preza pelo cuidado e pelo
amor mútuo que ofusca os valores do mundo que tenta nos afastar do verdadeiro
amor de Deus.
Frame (2013) traz uma abordagem interessante sobre comunhão, onde declara que
há um conceito equivocado de muitas pessoas em pensar que comunhão se resume
apenas em festas e refeições, porém ele afirma que o conceito de comunhão no
Novo Testamento é muito mais abrangente. A comunhão é o ato de compartilhar
algo com alguém e ter alguma coisa em comum. Nesta comunhão cristã, exige do
indivíduo muito mais que palavras, é necessário amar ao seu irmão com atitudes, ou
seja, Jesus ordenou aos seus discípulos: amem uns aos outros assim como eu vos
amei. Isto implica estar pronto a entregar a vida por outro cristão. Esta é a
comunhão bíblica e ensinada pelo Senhor Jesus Cristo que raramente evidencia-se
nas igrejas da atualidade.
A comunhão com os irmãos abrange todas as esferas da vida, ou seja, os santos
são agora transformados por Deus por intermédio de Jesus Cristo, tendo uma nova
maneira de pensar e agir, e, portanto são conduzidos pelo Espírito Santo a
contribuírem na edificação espiritual mútua. Também nos suprimentos das
necessidades materiais entre a comunidade santa. Esta reciprocidade entre os
irmãos se dá de forma verdadeira, pura e voluntária; tendo-se a plena consciência
de que estão fazendo a vontade do soberano Deus.
A comunidade cristã se reúne em um único propósito de cultuar a Deus, pelo que
Ele é, fez e faz. Portanto é essencial o culto na vida dos indivíduos que fazem parte
da comunidade. Trata-se de uma necessidade prestar culto a Deus, pois somente
Ele merece toda expressão de adoração e louvor.
12
Na comunidade cristã, há serviço para todo indivíduo. Toda atividade realizada na
comunidade é importante e necessária. Serve-se em primeiro lugar a Deus, e
também aos irmãos. Independentes da faixa etária, do nível de escolaridade todos
servem na comunidade segundo o dom concedido a cada um pelo próprio Deus.
Importante destacar que, todo serviço realizado pelos integrantes da comunidade
visa única e exclusivamente à glória de Deus, pois se essa perspectiva não for
aplicada, haverá conflitos na comunidade por conta da vaidade humana, onde as
pessoas buscarão o serviço em detrimento de elogios ou para satisfação de seu
ego.
Segundo Bonhoeffer (1997), a comunidade está habitualmente propensa a pensar
que a única forma que se pode servir ao próximo é através da pregação Palavra de
Deus. Sabe-se que nenhum serviço é comparado a este, pois todos estão
orientados através dela, portanto evidencia-se que a comunidade não é constituída
somente de pregadores da Palavra. O serviço na comunidade inicia-se através da
Palavra e se expande em diversas áreas da vida, dentre elas destaca-se ouvir, servir
e suportar.
A comunidade que tem como objetivo fazer a vontade de Deus, vivendo sobre os
preceitos da Palavra e colocando-os em prática, evidencia o crescimento que é visto
na esfera relacional entre os irmãos, evitando-se conflitos e problemas
desnecessários que normalmente ocorrem por conta de uma imaturidade espiritual.
Também há um crescimento em número de pessoas na comunidade, uma vez que
os servos de Deus se empenham em fazer a sua vontade, anunciando as boas-
novas de salvação em Cristo aos que perdido estão na sociedade. A comunidade
cresce com a chegada de novos convertidos que são acrescentados pelo próprio
Deus, e os cristãos tem a consciência que a glória é de Deus.
Quando os integrantes da comunidade desenvolvem uma maturidade espiritual,
tendo como referência a Palavra de Deus, os conflitos não deixarão de existir devido
à natureza pecaminosa do ser humano. Porém, o grande diferencial, é que os
conflitos serão resolvidos à Luz da Palavra de Deus, de forma madura e consciente
e produzirão um crescimento espiritual e relacional para os irmãos.
13
Face ao exposto, o objetivo deste estudo é refletir sobre os benefícios da comunhão
dos santos para o indivíduo e para a comunidade eclesiástica. Pois se constata que
lamentavelmente, algumas igrejas perderam o conceito do que realmente é viver a
comunhão dos santos na comunidade cristã.
Com isso surge o seguinte problema central: Quais são os benefícios da comunhão
dos santos para o indivíduo e para comunidade eclesiástica?
A metodologia utilizada para a elaboração deste trabalho será a revisão bibliográfica,
pois ela se baseia em literatura escrita e para esta pesquisa, será utilizado a Bíblia,
a Confissão de Fé de Westminster e autores de pensamento teológico reformado.
14
2 CONCEITO DE COMUNHÃO DOS SANTOS
No decorrer da pesquisa, será abordada a comunhão dos santos, presente no
Antigo e no Novo Testamento, portanto faz-se necessário conhecer a origem
etimológica da palavra comunhão.
2.1 Etimologia
No Antigo Testamento a palavra comunhão é encontrada pela expressão hābar que
quer dizer: ser ajuntado, ligado, reunido, ajuntado, ter comunhão com, ser compacto.
A principal ideia de hābar no Antigo Testamento é ajuntar ou unir duas ou mais
coisas. Também se encontra a expressão, hābēr que significa: unido, associado,
companheiro, refere-se a laços íntimos que existem entre duas ou mais pessoas
(LARRIS, 1998).
Segundo o autor supracitado, o verbo hābar no sentido de ajuntar é usado com
quatro referências específicas:
1. Os objetos eram ajuntados, as cortinas do tabernáculo foram ajuntadas para que
se completasse um dos lados da tenda; as ombreiras foram ajuntadas na confecção
das santas vestes sacerdotais, as asas dos querubins sob a carruagem divina se
ajuntavam umas às outras.
2. Os homens se ajuntavam em atividades políticas militares. Cinco nações da
Confederação de Sodoma e Gomorra se uniram com propósitos militares contra
invasores do leste, mas sua união resultou numa derrota conjunta. Josafá fez uma
união política com Acazias, o ímpio rei de Israel, tendo em mira objetivos comerciais,
mas tal união foi denunciada pelo profeta de Deus.
3. Os homens estão unidos de maneira geral por pertencerem à raça dos viventes, e
de maneira específica como um grupo de pessoas que constituem uma cidade
unificada e forte.
15
4. Os homens de Judá erradamente se ajuntaram aos infiéis de Israel em
empreendimentos militares e políticos e com isso desagradaram a Deus; pessoas
que se ajuntaram aos ídolos e seus adoradores desagradaram-no ainda mais. A
queixa lancinante de Deus contra Efraim é que este havia ajuntado ídolos. Ajuntar-
se aos inimigos significa ter abandonado a Deus.
O termo hābēr refere-se ao relacionamento de intimidade entre Daniel e seus três
amigos graças à sua fé comum e à sua lealdade a Deus. O salmista também afirma
que o temor de Deus é o elo entre os companheiros. O termo hābēr também
expressa o relacionamento bem íntimo que existe entre pessoas de diferentes
condições de vida, pode-se observar isto quando os Israelitas se uniram “como um
só homem” em sua guerra contra os benjamitas, motivada pelo crime hediondo por
eles cometido. No entanto, os homens podem unir-se intimamente como ladrões,
como destruidores e como sacerdotes corruptos, comparados a salteadores
emboscados (LARRIS, 1998).
Já no Novo Testamento, a palavra κοινός (koinos), quando aplicada a coisas,
significa: comum, mútuo, público. No entanto, quando se aplica a pessoas significa:
aparentado, um parceiro, imparcial. A palavra κοινωνία (Koinonia) derivada de
κοινός (koinos), significa comunhão, participação, convívio(COENEM; BROWN,
2000).
De acordo com o autor citado, observa-se que no mundo grego e helenístico a
palavra koinonia tinha o significado de comunhão evidente e ininterrupta entre os
deuses e os homens, a estreita união e laços fraternais entre os homens. Koinonia
neste contexto, tem o sentido de fraternidade, sendo a expressão para a maneira de
se construir a vida social.
No Novo Testamento há o emprego da palavra koinonia em diversos textos, sendo,
porém, o mais expressivo relato de comunhão a partir da ótica do Evangelho, o
registro em Atos 2:42-47, onde pode ser entendida em sentido absoluto, como parte
essencial da vida de adoração. Sendo assim, koinonia pode ser traduzida como
comunhão ou fraternidade litúrgica na adoração, indicando a comunhão
proporcionada pelo Espírito Santo na comunidade cristã(COENEM; BROWN, 2000).
16
2.2 Base Veterotestamentária
Na criação do homem, observa-se que Deus tinha o propósito de relacionar-se com
ele, pois no ato da criação, o homem é o único feito a imagem e semelhança de
Deus, conforme declara Berkoff (2012, p. 190):
De acordo com a Escritura, a essência do homem consiste em ser ele aimagem de Deus. Como tal, ele se distingue de todas as demais criaturas ese ergue supremo como a cabeça e coroa da criação inteira. A escrituraassevera que o homem foi criado à imagem e conforme a semelhança deDeus, e fala do homem como um ser que é e leva a imagem de Deus.
Groningen (2003, p. 97) também afirma que:
A criação de macho e fêmea à imagem de Deus foi um ato de decisãodivina: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme nossa semelhança”.Deus no ato de criar demonstrou seu intento e produziu seu reino cósmico.A humanidade é uma parte essencial desse domínio criado. Mas somente ahumanidade é criada numa relação de amor, vital que estabelece laços comDeus.
No Antigo Testamento, destaca-se a beleza da comunhão dos santos presente no
Salmo 133:
1 Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos!2 É como o óleo precioso sobre a cabeça, o qual desce para a barba, abarba de Arão, e desce para a gola de suas vestes.3 É como o orvalho do Hermom, que desce sobre os montes de Sião. Ali,ordena o SENHOR a sua bênção e a vida para sempre.
Segundo Calvino (2009), este salmo é de ação de graças por aquela santa harmonia
presente no povo do Senhor, da qual foram energicamente exortados a cultivar. Não
há dúvida que neste Salmo que Davi está rendendo graças ao Senhor pela paz e
harmonia que sucedera um longo período de confusão e divisão no reino, e que ele
exorta a todos a se empenharem pela manutenção da paz. Portanto, havia muitos
motivos para louvar o Senhor, por Ele ter unido o povo que outrora estava dividido.
Quando Davi tomou posse do reino, a maior parte da nação o considerava como um
inimigo do bem público e se afastou dele. No entanto, a poderosa mão de Deus uniu
17
o seu povo, e isto era notável entre eles; pois antes tinham sido tomados por uma
grande antipatia, porém agora se congratulavam em plena cordialidade.
O autor supracitado chama a atenção para um detalhe muito importante, logo no
início do salmo, na expressão “oh!”. Observa-se a exclamação, que evidencia o
estado de coisas visíveis, mas também demonstra a diferença da paz que eles
estavam experimentando em contraste com os tumultos civis que quase destruíram
o reino.
Davi declara neste salmo, a grandiosa bondade de Deus, pois os judeus tinham
como característica a experiência em antagonismo interno, que quase os
destruíram, agora, porém, aprenderam a desfrutar da valiosa união proporcionada
por Deus. Era como se Davi estivesse falando o seguinte: “Nós, que éramos
naturalmente irmãos, nos tornamos tão divididos, que olhamos uns para os outros
com ódio mais amargo do que para com os inimigos estrangeiros; agora, porém,
quão bom é que cultivemos um espírito de concórdia fraternal” (CALVINO, 2009).
O Espírito Santo de Deus que reuniu o seu povo, e os fez deleitar na mais graciosa
harmonia que deve sempre existir entre os filhos de Deus, e, portanto seus filhos
devem se empenhar com diligência em manter essa harmonia. Pois onde prevalece
a divisão, discórdia, rancor e desentendimento, fruto da natureza pecaminosa, ainda
assim permanece como irmãos mediante um relacionamento comum com Deus Pai,
porém, de forma alguma estes irmãos podem ser considerados um só povo
enquanto permanecerem com a aparência de um corpo quebrado ou desmembrado,
proveniente da divisão e discórdia que afasta as pessoas e que desfaz
relacionamentos.
Calvino (2009) ainda destaca que o povo de Deus é unido por intermédio de Jesus
Cristo, e que, portanto, entre seu povo deve ser evidenciada a harmonia recíproca e
o amor fraternal e observa-se neste contexto, uma prova clara de que a verdadeira
união entre os irmãos vem do próprio Deus e que o legítimo objeto dessa união é
que todos sejam conduzidos ao culto dedicado a Deus em pureza e invoquem seu
nome com consenso e que os homens devem ser unidos entre si, em afeição mútua,
tendo isto com grande objetivo de serem reunidos em comunidade para glorificar
somente a Deus, pois somente Ele é digno de toda honra glória e louvor.
18
Quando o texto relata barba e golas das vestes, entende-se que o salmista faz
alusão a Paz que emana de Cristo, que como o Cabeça do corpo que é a igreja,
difunde por toda a extensão e amplitude da igreja a sua Paz. A outra figura é quando
se relata que a beleza da comunhão é como a do orvalho que desce do monte
Hermom e cai sobre o monte Sião, denota que uma unidade santa tem não só um
doce sabor diante de Deus, no entanto vai muito mais além, produzindo bons
efeitos, como orvalho umedece a terra e supre-a de seiva e frescor(CALVINO,
2009).
Interessante abordagem de que a vida do homem não teria vitalidade, seria inútil e
miserável, se não fosse sustentada pela harmonia fraternal. É de grande relevância
a comunhão entre os irmãos de tal forma, que se ela não existir a vida cristã se torna
como um deserto, portanto sem vida.
O cristão tem a necessidade de se reunir em comunidade e ser agraciado pelo
orvalho que vem de Deus que lhe dá vitalidade. Nota-se que o monte Hermom era
rico, frutífero e famoso entre as regiões de pastagens. Os montes dependem
principalmente da fertilidade do orvalho do céu, e isso foi demonstrado no caso do
monte Sião, portanto de igual forma os filhos de Deus, dependem única e
exclusivamente Dele para viver. O salmista Davi acrescenta, no final, que Deus
ordena sua benção onde a paz é cultivada; isso significa que ele testemunha o
quanto se agrada da comunhão entre os homens, e consequentemente faz chover
bênçãos sobre a vida deles.
19
2.3 Base Neotestamentária
Sobre comunhão dos santos, a Confissão de Fé de Westminster (2008, p. 202),
adotada pela Igreja Presbiteriana do Brasil declara:
Todos os santos que, pelo Espírito de Deus e pela fé, estão unidos a JesusCristo, seu cabeça, tem comunhão com ele nas suas graças, nos seussofrimentos, na sua morte, na sua ressurreição e na sua glória, e, estandounidos uns aos outros em amor, participam dos mesmos dons e graças eestão dos deveres públicos e particulares que contribuem para o seu mútuoproveito, tanto no homem interior como no exterior.
No Novo Testamento observam-se diversos textos que comprovam a necessidade e
os benefícios desta graciosa comunhão dos santos, conceituada na Confissão de
Westminster e também a revelação do Deus encarnado, a saber, Jesus Cristo, que
proporciona viver em comunhão uns com os outros.
De acordo com Bonhoeffer (1997),sem Cristo o homem era considerado inimigo de
Deus e do próximo. Cristo trouxe a paz e é o único mediador entre Deus e os
homens, garantindo a comunhão irmão. Apenas em Jesus Cristo acontece a união
com Deus e uns com os outros. Ele é o único mediador que quebrou as barreiras do
caminho que conduz a Deus e ao próximo, e somente Nele, o homem torna-se um,
sendo assim agora se pode amar a Deus e ao irmão.
Portanto, somente através de Jesus Cristo é possível ter comunhão com Deus e
com o irmão. Todo cristão tem o privilégio de experimentar a verdadeira comunhão
dos santos na perspectiva do Evangelho genuíno, isto se torna uma necessidade do
cristão e, além disso, trata-se de um mandamento e uma ordenança basilar do
Evangelho estabelecida por Jesus Cristo.
O homem em seu estado natural pecaminoso não compreende estas coisas, pois
está distante de Deus e, portanto, também não prioriza o relacionamento com seu
próximo de acordo com a perspectiva do Evangelho, que é um relacionamento
saudável, onde se estreita o vínculo entre os indivíduos produzindo frutos de um
relacionamento que se inicia em Deus.
20
O homem transformado por Cristo tem uma nova cosmovisão em relação a Deus e
ao próximo, pois a comunhão dos santos não é entre os indiferentes, os egoístas,
mas entre os filhos cuja vida procede de Deus. É uma comunhão doce e bendita,
genuína e que não se origina do coração humano, mas é derramado através do
Espírito Santo de Deus, quando faz de um pecador, um homem santo. Agora este
novo homem, encontra comunhão entre os santos, procedente daquele os santificou
e santifica, a saber, o Espírito Santo. (KUYPER, 2010).
A comunhão dos santos não se limita somente aqui na terra, o indivíduo ao ser
transformado pela ação do Espírito Santo por intermédio de Jesus Cristo passa a
experimentar uma comunhão com Deus e com os irmãos. Porém, devido a nossa
natureza pecaminosa essa comunhão não é em sua plenitude, somente na
eternidade, será possível desfrutar desta graciosa comunhão com Deus e com os
santos de forma plena, pois já não haverá o pecado e os efeitos por ele produzidos.
O comentarista bíblico Kistemaker(2006) revela uma das mais profundas
abordagens do que significa a comunhão dos santos experimentada aqui na terra e
os frutos que esta comunhão produz, é originada do Evangelho genuíno que emana
do próprio Cristo. Ele descreve que a beleza da comunhão vivenciada por esta
comunidade cristã era intensa e fundamentada no ensino dos apóstolos, havia
entusiasmo demonstrado pelos crentes no elo comum durante o culto, no
compartilhar das refeições e de seus bens materiais. Observa-se o relato das
sagradas escrituras presente em Atos 2:42-47:
42 E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partirdo pão e nas orações.43 Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitospor intermédio dos apóstolos.44 Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum.45 Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entretodos, à medida que alguém tinha necessidade.46 Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casaem casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza decoração,47 louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo.Enquanto isso acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendosalvos.
21
O comentarista bíblico citado, ainda traz a colocação de que era perceptível a união
em Jesus Cristo quando eles se reuniam para cultuar a Deus, pois ao se
comunicarem chamavam uns aos outros de irmãos e irmãs, de forma espontânea e
verdadeira. Este relato, ainda descreve que depois do Pentecoste, os novos
convertidos de Jerusalém compartilhavam todas as coisas, vendiam suas
propriedades e bens e davam a qualquer um que tinha necessidade.
Observa-se que a atitude de compartilhar bens materiais era voluntária, partindo-se
da necessidade que surgia entre os irmãos da igreja, e também não se tratava de
um despojamento de riquezas, era a boa vontade dos proprietários em ajudar
aqueles que tinham mais necessidade, com o intuito de reduzir e extinguir a pobreza
do meio deles. O relacionamento íntimo e contínuo desta comunidade produzia
frutos,é notória a expressão de alegria e sinceridade em viver em comunhão, isso os
caracterizava como um povo distinto, onde suas atitudes eram contagiantes. De tal
maneira, que eram elogiados e admirados pela sociedade ao seu redor, uma prova
evidente de testemunho do verdadeiro Evangelho que transforma a vida do indivíduo
e da sociedade (KISTEMAKER, 2006).
Portanto, podemos ver que uma comunidade cristã de fato, tem em sua essência o
conhecimento dos ensinamentos do Senhor Jesus Cristo, e que pratica o Evangelho
através de atitudes e testemunho que se torna visível e admirável diante da
sociedade. Esta comunidade é conduzida pelo Espírito Santo de Deus que dá o
crescimento espiritual e também o crescimento em número de pessoas, fazendo
esta comunidade frutificar para a honra e glória de Deus.
O cristão tem que interagir com a comunidade, isto não se trata de uma opção ou
uma obrigação, mas uma característica de todo cristão. Na comunidade, o cristão se
desenvolve espiritualmente e também conta com o suporte dos irmãos para
solucionar um eventual problema que venha surgir em sua vida.
Viver em comunidade é uma benção que de Deus proporcionada por intermédio de
Jesus Cristo, não se pode perder o foco da razão de ser, nem do objetivo. Caso
contrário, o objetivo seria semelhante ao de pessoas que se reúnem para um evento
social ou clube, mas nunca de uma comunidade cristã.
22
Ser comunidade cristã implica em viver o Evangelho de forma plena, ter comunhão
com Deus e com os irmãos, ter a visão de ser a igreja de Cristo, sendo assim
membros do corpo de Cristo, onde ele é o cabeça e a igreja os seus membros que
estão interligados e precisam uns dos outros para viver a fé cristã.
Os protestantes asseveram que a unidade da Igreja não é primariamente decaráter externo, mas, sim de caráter interno e espiritual. É a unidade docorpo místico de Jesus Cristo, do qual todos os crentes são membros. Estecorpo é dirigido por uma Cabeça, Jesus Cristo, que é também o Rei daIgreja, e é vivificado por um só Espírito, o Espírito de Cristo. Esta unidadeimplica que todos os que pertencem à Igreja participam da mesma fé, sãosolidamente interligados pelo comum laço do amor, e têm a mesmaperspectiva gloriosa do futuro (BERKOFF, 2012, p.525).
E nesta perspectiva de corpo de Cristo, observa-se que em1 Coríntios 12:12-31 há
uma compreensão mais abrangente do que significa ser de fato corpo de Cristo de
uma forma minuciosa:
12 Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos osmembros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também comrespeito a Cristo.13 Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, querjudeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dadobeber de um só Espírito.14 Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos.15 Se disser o pé: Porque não sou mão, não sou do corpo; nem por issodeixa de ser do corpo.16 Se o ouvido disser: Porque não sou olho, não sou do corpo; nem por issodeixa de o ser.17 Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido,onde, o olfato?18 Mas Deus dispôs os membros, colocando cada um deles no corpo, comolhe aprouve.19 Se todos, porém, fossem um só membro, onde estaria o corpo?20 O certo é que há muitos membros, mas um só corpo.21 Não podem os olhos dizer à mão: Não precisamos de ti; nem ainda acabeça, aos pés: Não preciso de vós.22 Pelo contrário, os membros do corpo que parecem ser mais fracos sãonecessários;23 e os que nos parecem menos dignos no corpo, a estes damos muitomaior honra; também os que em nós não são decorosos revestimos deespecial honra.24 Mas os nossos membros nobres não têm necessidade disso. Contudo,Deus coordenou o corpo, concedendo muito mais honra àquilo que menostinha,25 para que não haja divisão no corpo; pelo contrário, cooperem osmembros, com igual cuidado, em favor uns dos outros.26 De maneira que, se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se umdeles é honrado, com ele todos se regozijam.27 Ora, vós sois corpo de Cristo; e, individualmente, membros desse corpo.28 A uns estabeleceu Deus na igreja, primeiramente, apóstolos; emsegundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois, operadores demilagres; depois, dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas.
23
29 Porventura, são todos apóstolos? Ou, todos profetas? São todosmestres? Ou, operadores de milagres?30 Têm todos dons de curar? Falam todos em outras línguas? Interpretam-nas todos?31 Entretanto, procurai, com zelo, os melhores dons. E eu passo a mostrar-vos ainda um caminho sobremodo excelente.
O comentarista bíblico Kistemaker (2006),relata que Paulo compara o corpo humano
com Cristo. Interessante esta analogia, pois Paulo usa a figura de linguagem,
chamada de metonímia, onde a parte é representada pelo todo, ou seja, Cristo
representa a igreja inteira e com esta analogia, entende-se que o corpo humano é
um organismo altamente diversificado, onde cada membro tem uma função
específica, e contribui para a operação do corpo inteiro. No corpo de Cristo, de
semelhante forma cada membro recebeu um dom espiritual, e o emprego de cada
dom é projetado para servir não aquele membro individual, mas sim a igreja toda no
coletivo.
Interessante que esta abordagem contrasta com a realidade de muitas comunidades
cristãs da atualidade, onde se busca a individualidade e não a coletividade. Viver em
comunidade é unidade sempre, quando integrantes da comunidade perdem esse
conceito, automaticamente deixam de experimentar a verdadeira comunhão cristã.
Observa-se no texto que Paulo enfatiza a unidade da Igreja em suas diferentes
formas, independentemente da nacionalidade, cultura, condição social essas
pessoas se reuniam para cultuar a Deus em uma só igreja. Portanto, diante de Deus
são iguais e não há distinção entre pessoas. Pois se houver acepção de pessoas
dentro da comunidade cristã, estará em contraste com a vontade de Deus que não
faz acepção de pessoas (KISTEMAKER, 2006).
Algumas comunidades cristãs da atualidade, infelizmente não seguem este precioso
parâmetro bíblico e diferenciam as pessoas pela condição financeira, social e até
pela cor de sua pele, no entanto, comunidades que assim procedem estão muito
distantes do Evangelho de Cristo e, portanto da graciosa comunhão dos santos.
Ele conceitua muito bem inspirado pelo Espírito Santo, à unidade e a diversidade
caracteriza não apenas o corpo humano, mas também todos os corpos criados. Pois
para qualquer organismo vivo se empenhar produtivamente, ele precisa coordenar
todas suas variadas partes, funcionar de modo compatível, e em sua diversidade
24
mostrar unidade com propósito. Como a beleza do corpo humano é realçada pela
variedade de suas partes, assim a glória do Corpo de Cristo aparece na diversidade
de seus membros (KISTEMAKER, 2006).
É sobre este conceito que muitas comunidades da atualidade precisam viver, só há
beleza na unidade, só há comunhão quando o corpo coopera em um objetivo
comum, esta comparação de Paulo com o corpo deixa claro e evidente que na igreja
não há espaço para o individualismo, porém todos cooperam mutuamente em prol
da obra do Senhor e a glória também é única e exclusivamente dele.
Os membros da igreja de Coríntios precisavam uns dos outros, e assim como eles
precisavam uns dos outros da mesma forma os integrantes das comunidades cristãs
da atualidade, precisam ter a plena consciência que precisam uns dos outros. Diante
de uma sociedade secularizada, onde o egoísmo fala alto, reconhecer que precisa
do outro é surpreendente, no entanto o Evangelho tem este poder de transformar a
maneira de pensar do indivíduo ao de reconhecer, que depende e precisa do seu
irmão em Cristo (KISTEMAKER, 2006).
O comentarista supracitado, ainda diz que Paulo também relata que cada um
recebeu um dom espiritual do qual os demais irmãos da igreja também. Quem
recebeu qualquer dom precisa entender que os membros da igreja dependem dele
ou dela para que exerça aquele dom espiritual. Quando todos os membros
empregam os talentos que o Espírito distribuiu ao povo de Deus, então a igreja
inteira funciona de forma eficiente para o bem de todos.
Por isso na igreja ninguém deve estar ocioso, cada um precisa usar o talento que
Deus lhe deu para edificação do corpo de Cristo. Paulo conclui que a igreja é
composta por muitos membros que juntos constituem um só corpo e este corpo
expressa harmonia e unidade, exatamente como os membros de um coral, cantando
cada um sua parte designada, criam harmonia musical. Onde cada integrante tem
sua importância (KISTEMAKER, 2006).
Algumas comunidades cristãs da atualidade precisam urgentemente refletir sobre a
verdade bíblica de ser corpo de Cristo, pois este princípio é vital para que a igreja
não adoeça espiritualmente, pois sem Cristo não há comunhão muito menos vida.
25
Sendo assim, este capítulo revelou a base bíblica que constata a beleza de vivenciar
a comunhão dos santos que está presente tanto no Antigo como no Novo
Testamento, pois quando o Senhor reúne seu povo para adorá-lo, desfruta-se da
maravilhosa comunhão que somente Deus pode proporcionar. No próximo capítulo
será abordada a graça proporcionada desta comunhão na vida do indivíduo fazendo
com que ele tenha um relacionamento íntimo com Deus e também com seu irmão
em Cristo, fazendo parte da família de Deus.
26
3 OS BENEFÍCIOS DA COMUNHÃO NA DIMENSÃO DO INDIVÍDUO
Neste capítulo, será abordada a relação de Deus com o indivíduo, onde o Deus de
amor tem comunhão e intimidade com o ser humano. E também a relação do
indivíduo para com o seu próximo, que tem origem a partir de seu relacionamento
com Deus, onde o indivíduo passa ter comunhão com seu próximo, se espelhando
no amor de Deus.
O indivíduo ao ser transformado por Deus mediante Jesus Cristo, agora se aproxima
de Deus e, portanto, passa a ter comunhão com Ele. Essa relação vertical, ou seja,
de Deus para com o homem, que é atraído pelo seu amor incondicional e a sua
graça irresistível faz com que o indivíduo criado a imagem e semelhança de Deus
tenham a necessidade, prazer e alegria em se relacionar com Deus de forma intensa
e verdadeira, buscando a priori fazer e obedecer à vontade de Deus.
Este indivíduo, que agora se deleita em Deus devido ao seu grande amor, passa ter
uma relação na horizontal, ou seja, ter comunhão com os santos, aqueles que foram
alcançados por sua graça e por seu amor. Esta relação horizontal tem como base o
amor de Deus, que é uma fonte inesgotável e, portanto compartilha-se e vive-se este
amor entre a comunidade cristã.
Nesta perspectiva, Sproul (2002, p.146-147) afirma:
Jesus resumiu toda a lei do antigo testamento na necessidade de amar aDeus e amar o próximo. O amor que se deve ter por Deus é incondicional.Aqui encontramos um tipo autêntico de amor incondicional na Bíblia. Não hácondições de Deus tenha de atender antes de termos a obrigação de amá-lode todo nosso coração, com toda nossa alma, força e mente. Ele é todomerecedor desse amor, e toda criatura que deve sua própria existência aseu Criador, que vive, se mexe e que tem sua existência nesse Criadordeve a ele a honra e a estima que é inerente em sua perfeição eterna.
Calvino (2006), afirma que a comunhão dos santos exprime a excelente natureza da
igreja e que os santos fazem parte da comunidade de Cristo. Sendo assim, todos e
quaisquer benefícios concedidos pelo próprio Deus devem ser compartilhados entre
os irmãos. O indivíduo então tem a compreensão de que Deus é Pai, logo a igreja é
a família de Deus e seus integrantes são os filhos. E também, a plena consciência
que Cristo é o Cabeça, logo a igreja é o corpo e seus integrantes os membros.
27
Portanto, a igreja está unida pelo amor de Deus, sendo impossível que os irmãos
desta família, e os membros deste corpo; não ajudem uns aos outros. Nesta
perspectiva afirma-se: “A comunhão com Deus, pois, é a fonte da qual se origina a
comunhão entre os crentes; e a comunhão com Deus é o fim para com o qual a
comunhão cristã é um meio” (PACKER, 1994, p. 177).
3.1 Comunhão com Deus
Depois de haver feito as outras criaturas, Deus criou o homem, macho efêmea, com alma racional e imortal, e dotou-os de inteligência, retidão eperfeita santidade, segundo a sua própria imagem, a lei de Deus escrita nocoração deles o poder de cumpri-la, mas com a possibilidade de transgredi-la, sendo deixados à liberdade de sua própria vontade, que era mutável.Além dessa lei escrita no coração, receberam preceito de não comerem daárvore da ciência do bem do mal; enquanto obedeceram a este preceito,foram felizes em sua comunhão com Deus e tiveram domínio sobre ascriaturas (CONFISSÃO DE WESTMINSTER, 2008, p. 46).
O Deus de amor e de infinita bondade criou o homem e a mulher a sua imagem e
semelhança, observa-se que de todas as criaturas, somente o homem e a mulher,
foram contemplados com essas características.
Segundo Hoekema (2010), assim como um espelho, o homem reflete Deus. Pois de
um modo especial, Deus revelou sua presença e o seu poder ao criá-lo a sua
imagem e semelhança. Os céus e todas as outras criaturas declaram a sua glória,
contudo o homem além de glorificar a Deus, também tem o privilégio e a honra de
refletir nitidamente a sua imagem, portanto somente no homem, Deus torna-se
visível na terra.
Nesta perspectiva, Bavinck ( 2012, p. 540) também afirma:
A essência da natureza humana é seu ser [criado] à imagem e semelhançade Deus. Todo o mundo é uma revelação de Deus, um espelho de seusatributos e perfeições. Toda criatura, ao seu próprio modo e grau, é aincorporação de um pensamento divino. Mas, entre as criaturas, apenas oser humano é a imagem de Deus, a mais exaltada e mais rica auto-revelação de Deus e, consequentemente, a cabeça e a coroa de todacriação [...].
28
Sobre a imagem de Deus, Ferreira (2011, p. 94) faz uma abordagem na perspectiva
da relação de Deus com o homem e do homem com a criação, onde há comunhão
entre eles. Conforme pode-se verificar, no seguinte texto:
Por isso, a imagem de Deus pode ser definida como uma capacidadeessencialmente relacional, que possui tríplice conexão: (1) relação comDeus, na qual este entra numa relação espiritual com suas criaturas –relação esta caracterizada por amor e afetividade; (2) relação com opróximo, na qual os seres humanos, criados homem e mulher, sãochamados para construir comunidades; (3) relação com a criação, na qualDeus estabelece os seres humanos como mordomos que cuidarão dacriação. Então, a imagem de Deus inclui tudo que o homem precisa paracumprir o mandato cultural dado por Deus. Isso inclui dons e talentosintelectuais e criativos que fazem parte da natureza humana. Além disso, aimagem de Deus abrange tudo que é necessário para cada homem emulher cumprir o propósito para o qual foi criado.
Conforme Packer (2014), Deus é um ser Tríplice, que ama de tal forma o homem,
que foi capaz de entregar seu Filho, o Filho por sua vez entregar sua vida, e juntos,
Pai e Filho deram o Espírito Santo para salvar e levar a uma glória inimaginável. O
maravilhoso amor divino gera e sustenta o amor das criaturas ao Criador e ao
próximo, devendo este amor, expressar a imensa gratidão pelo amor de Deus e ser
moldado por ele.
Sobre o amor de Deus, Campos (2012, p. 266) afirma:
Diferente do amor do ser humano, que em geral é interesseiro, o amor deDeus é sacrificial. O que significa? Significa que ele sempre procura o bem-estar do amado, sem se importar com o custo. O amor de Deus, que nosfavorece tanto, lhe custou muitíssimo caro. A salvação que recebemosgratuitamente teve um preço muito alto. João confirma isso ao afirmar que“Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós”(1João 3:16).
Berkoff ( 2012, p. 69) também afirma:
[...] o seu amor é definido como a perfeição de Deus pela qual ele é movidoeternamente a comunicar-se. Desde que Deus é absolutamente bom em simesmo, seu amor não pode achar completa satisfação em nenhum objetofalto de perfeição absoluta. Ele ama as suas criaturas racionais por amor asi mesmo, ou, para expressá-lo doutra forma, neles ele ama a si mesmo,suas próprias virtudes, obra e dons. Ele nem mesmo retira completamente oseu amor do pecador em seu estado pecaminoso atual, apesar de que opecado deste é abominação para ele, visto que, mesmo no pecador, elereconhece um portador de sua imagem. Ao mesmo tempo, ele ama oscrentes com amor especial, dado que os vê como seus filhos espirituais
29
Cristo. É a esses que ele comunica no seu sentido mais rico e maiscompleto, com toda a plenitude da sua graça e misericórdia.
Deus é relacional, observa-se que é do seu agrado ter comunhão com o homem. O
seu amor é tão grandioso que entregou seu Filho para morrer, salvar e perdoar os
pecados, mesmo não sendo merecedores. A sua maravilhosa graça alcançou aos
homens mediante o sacrifício vicário de Jesus Cristo, o qual proporciona a dádiva de
serem chamados filhos de Deus. E consequentemente, agora o ser humano faz
parte da família bendita do Senhor onde há comunhão, um relacionamento íntimo,
puro e sincero que é estabelecido, nutrido e sustentado por Ele.
Na perspectiva de filhos de Deus, a Confissão de Fé de Westminster (2008,p. 107)
afirma:
A todos os que são justificados, Deus se digna fazer participantes da graçada adoção em e por seu Único Filho Jesus Cristo. Por essa graça, eles sãorecebidos no número e gozam a liberdade e privilégios dos filhos de Deus,têm sobre si o nome dele, recebem o Espírito de adoção, têm acesso comousadia, ao trono da graça, e são habilitados a clamar: “Abba, Pai”; sãotratados com piedade, protegidos, providos, e corrigidos por ele, como porum Pai; nunca, porém, abandonados, mas selados para o dia da redenção,e recebem as promessas como herdeiros da eterna salvação.
A graça de Deus torna os indivíduos alcançados por ela e não há mérito nenhum
para que o homem seja chamado filhos de Deus, é algo exclusivo de Deus,
conforme afirma Campos (2012, p. 304):
A graça pode ser definida como o favor eterno e totalmente gratuito deDeus, manifestado na concessão de bênçãos espirituais e eternas acriaturas culpadas e indignas. A graça é a concessão de favores a quemnão tem mérito próprio, e pelos quais não é exigida compensação alguma.Não somente a graça é dada àqueles que não tem mérito próprio, como édada aos que merecem a condenação. Por ela ser imerecida, ninguém podereivindicá-la com direito. Se o pudesse, não seria graça. Graça e mérito sãoexcludentes.
Segundo Packer (1980), a filiação é fruto da exclusiva graça de Deus. Porém não se
trata de uma filiação natural, mas adotiva; e traçando um paralelo com a lei romana,
ele faz uma abordagem relatando que era prática comum, um adulto ter interesse
por um herdeiro, alguém para perpetuar o nome da família, portanto era feita a
adoção de crianças. Da mesma forma, Deus adotou e fez dos homens herdeiros
com Cristo de tudo que o Pai de amor concede, e é possível desfrutar do privilégio
30
de ser chamados filhos Deus, e através da palavra, pode-se conhecer a grandeza
deste amor.
Evidencia-se através das Sagradas Escrituras, o relacionamento perfeito do Deus
Triúno. Pai, Filho e Espírito Santo em perfeita harmonia e amor. Conforme Kuyper
(2010, p.521 ) afirma:
Os filhos de Deus têm obtido da palavra concepções mais profundas e ricasdo Amor divino, pois eles confessam um Deus triúno, Pai, Filho e EspíritoSanto, um Deus em três pessoas: o Pai, que gera; o Filho, que é gerado; eo Espírito Santo, que procede do Pai e do Filho. A vida de Amor pela qualesses Três se amam mutuamente é o próprio Ser Eterno. Somente essa é agenuína e real vida de Amor. As Escrituras em toda parte nos ensinam quenada é mais precioso e glorioso do que o Amor do Pai pelo Filho e do Filhopelo Pai e do Espírito Santo por ambos.
Segundo Packer (1994), a comunhão com Deus envolve todos os atos de dar a Ele
e receber Dele, nessa reciprocidade é expressa a imensa gratidão pelo seu grande
amor. Onde Deus Pai, entregou seu Único filho para morrer pelos pecadores, e
neste ato redentivo, o homem é alcançado pelo amor e graça imensurável, e são
conhecidos como filhos de Deus por intermédio de Jesus Cristo, passando a ter o
privilégio de desfrutar das bênçãos deste Pai bondoso que ama e cuida de seus
filhos.
Fazer parte da família de Deus é o alicerce que garante a comunhão com Deus.
Nessa relação íntima com Deus, Ele outorga o perdão dos pecados diariamente,
sendo possível contemplar o cumprimento das suas promessas, o conhecimento e
revelação através das Santas Escrituras do seu Ser. Diariamente devem-se entregar
os temores e fracassos na confiança do Pai celeste, que através do seu grande
amor, tira deliberadamente a carga de preocupações a fim de lançá-los sobre Ele.
Costa (2014, p. 153) ilustra seu parecer sobre a filiação e o amor de Deus da
seguinte forma:
A nossa filiação revela parte do amor inefável de Deus; ao considerarmos agraça da adoção, vemos nesta doutrina estampada o amor invencível deDeus, “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, ao ponto desermos chamados filhos de Deus; e, de fato, somos filhos de Deus...”(1João 3:1). O amor de Deus transcende todos os outros dons em duração,pois todos os dons um dia cessarão, mas o amor é eterno.
31
Deus constrange com seu infinito amor e graça, faz com que seus filhos desfrutem
de suas promessas e através deste grandioso amor que provém Dele, se torna
possível amar o próximo. No entanto, Ferreira (2011, p. 63) salienta sobre a
comunhão de amor entre os irmãos, concedida pela graça de Deus:
[...] o Deus que se revela não é apenas o Deus infinito e transcendente, masé o Deus imanente e pessoal. [...] Deus existe em uma comunhão de amorem três pessoas, cada uma é igual à outra, sendo a mesma em essência equalidade, mas cada uma é distinta e eternamente diferente como pessoa.Por meio de uma ação graciosa e misericordiosa, o Deus infinito e pessoalage para inserir pecadores numa comunidade de amor transbordante, emque há comunhão e amizade.
A seguir será abordada a relação indivíduo com o próximo, relação esta que só
passa a existir após este indivíduo ter um relacionamento com o Deus de amor.
Após este relacionamento, o indivíduo é capaz de amar o seu próximo espelhando-
se no amor tão grandioso de Deus. Observa-se que este amor vem somente de
Deus, pois o homem sem Deus, não consegue amar. Deus ensina o que é o
verdadeiro amor, entregando seu Filho, Jesus Cristo, para morrer na cruz,
garantindo e a vida eterna e tornando seus filhos integrantes de sua bendita família.
3.2 Comunhão com os irmãos
A dificuldade do indivíduo em se relacionar com outros, acaba destruindo a
comunhão, e isto tem sido visto na sociedade, a desintegração social. Cada vez
mais se busca o amor num mundo sem amor, pois a falta de comunhão entre as
pessoas tem levado a solidão. No entanto, a busca incessante do amor, da
comunhão deve estar voltada para os propósitos de Deus, que não somente enviou
seu Filho para salvar, mas também para abolir as barreiras entre os irmãos e criar
uma comunidade em Jesus Cristo, que pode ser definida como a verdadeira
sociedade que preza pelo cuidado e pelo amor mútuo que ofusca os valores do
mundo que tenta afastar do verdadeiro amor de Deus (STOTT, 1997).
32
Frame (2013) faz uma interessante abordagem sobre comunhão, declarando que há
um conceito equivocado de muitas pessoas em pensar que comunhão se resume
apenas em festas e refeições, porém ele afirma que o conceito de comunhão no
Novo Testamento é muito mais abrangente. A comunhão é o ato de compartilhar
algo com alguém e ter alguma coisa em comum. Nesta comunhão cristã, exige-se
do indivíduo muito mais que palavras, é necessário amar ao seu irmão com atitudes,
ou seja, Jesus ordenou aos seus discípulos: “amem uns aos outros assim como eu
vos amei”. Isto implica estar pronto a entregar a vida por outro cristão. Esta é a
comunhão bíblica e ensinada pelo Senhor Jesus Cristo que raramente evidencia-se
nas igrejas da atualidade.
A comunhão com os irmãos abrange todas as esferas da vida, ou seja, os santos
são agora transformados por Deus por intermédio de Jesus Cristo, tendo uma nova
maneira de pensar e agir, e, portanto são conduzidos pelo Espírito Santo a
contribuírem na edificação espiritual mútua. Também nos suprimentos das
necessidades materiais entre a comunidade santa. Esta reciprocidade entre os
irmãos se dá de forma verdadeira, pura e voluntária; tendo-se a plena consciência
de que estão fazendo a vontade do soberano Deus.
De acordo com a Confissão de Fé de Westminster (2008, p. 202), pode-se destacar:
Os santos são, pela profissão de fé, obrigados a manter uma santasociedade e comunhão no culto de Deus e na realização de outros serviçosespirituais que contribuem para sua mútua edificação, bem como a socorreruns aos outros em coisas materiais, segundo as suas várias habilidades enecessidades; esta comunhão, conforme Deus oferecer ocasião deveestender-se a todos aqueles que, em todo lugar, invocam o nome do SenhorJesus.
Nesta perspectiva, Bonhoeffer (1997) afirma que os cristãos tem o privilégio de
viverem em comunhão com outros irmãos devido à misericordiosa graça de Deus,
podendo reunir-se neste mundo de maneira visível, ao redor da Palavra de Deus e
dos seus sacramentos, manifestando a multiforme graça de Deus através da
comunhão, possibilitando pertencer uns aos outros por meio de, e em Jesus Cristo.
Nesta perspectiva, Costa (2014, p. 157-158) ressalta:
Os filhos de Deus, na consciência da sua irmandade, procuram semprecomunhão fraterna, na verdade de Cristo, considerando que todos os quecrêem tem somente um pai: O que temos visto e ouvido anunciamos
33
também a vós outros, para que vós igualmente mantenhais comunhãoconosco. Daí todo o esforço da Igreja em preservar a unidade fraterna, queé produzida pelo Espírito mas, que, concomitantemente, é exercida edesenvolvida por todos nós.
Como cristãos do presente século, é possível desfrutar da graciosa comunhão dos
santos proporcionada por Deus. Reúnem-se para cultuar a Deus, onde a
centralidade do culto está expressa na Palavra de Deus e vive-se sobre esta
cosmovisão do Evangelho, isto reverbera em uma conduta de vida que impulsiona o
indivíduo a olhar o seu irmão como membro integrante do corpo de Cristo, onde Ele
une e através Dele pode-se experimentar esta comunhão inenarrável.
A comunhão dos santos implica na unidade em Cristo, o que conduz diretamente a
uma participação ativa na comunidade cristã. O ápice da comunhão se revela em
Cristo, no seu amor sacrificial, onde o indivíduo é induzido a amar o irmão da
mesma forma que Cristo o amou. Este amor na ótica humana é impossível de ser
vivenciado, sendo assim, no relato das Santas Escrituras na carta de Paulo aos
Romanos 5.5, este amor é referido como um dom concedido pelo Espírito Santo que
resulta em ações concretas (FERREIRA, 2011).
Calvino (2006) declara que o crente em Jesus Cristo continua sendo pecador e que,
portanto depende da graça e do perdão de Deus. O homem tem a necessidade
contínua de confessar a Deus os seus pecados, na certeza que Deus concede o
perdão. Da mesma forma, os irmãos em Cristo que fazem parte da comunidade,
devem exercitar a prática do perdão mutuamente, e de forma contínua sempre que
for necessário. Pois assim como Deus derrama sobre seus filhos sua graça e
perdão, seus filhos também devem agir de forma semelhante, evidenciando o amor
eterno e inesgotável de Deus Pai.
A comunidade é composta de indivíduos fortes e fracos, uma das virtudes da
comunhão em Cristo está no fato em que o forte ajuda o fraco. Não há espaço para
o egoísmo e a vaidade na comunidade cristã, mas o amor que emana de Deus reina
na comunidade. Onde seus integrantes vivem em comunhão, dão suporte uns aos
outros, e contribuem para a edificação mútua. Segundo Hayes (2002, p. 134):
[...] A comunhão dos santos deve demonstrar corporativamente a nossaunidade em Cristo e a nossa responsabilidade em relação tanto à Palavraquanto aos outros crentes. “Pois nenhum de nós vive apenas para si, e
34
nenhum de nós morre apenas para si” (Romanos 14:7). O fraco e o forteestão juntos nos laços de amor. Devemos fazer tudo para a edificaçãomútua (Romanos 14:19), dando o máximo para agir de uma forma queconduza à paz dentro da comunhão.
O amor é a tônica mais forte na comunidade, sem ele não há comunhão. Apenas
individualismo e vaidade decorrentes da natureza humana decaída, no entanto,
onde reina o amor de Deus, cada integrante da comunidade visa à edificação
recíproca e consequentemente há um crescimento em conjunto.
Uma referência direta sobre o amor que deve ser visto entre o povo de Deus é
evidenciado por Kuyper (2010, p. 579-580):
O amor que deve reinar entre o povo de Deus, não é uma estimulação deum sentimento místico, sonhador, que destrói a individualidade, mas umajustar e consolidar os eleitos, de forma que cada um possa alcançar aestatura plena de seu crescimento individual ordenado para si no conselhodivino e de modo que, nessa inteireza, a glória de sua membresia nomesmo corpo possa parecer e ser provada na consciência abençoada daunião mais terna e íntima.
Neste ambiente de vida comunitária cristã, há interesse mútuo, vida de oração e
cumplicidade, onde é evidenciada a vontade de Deus. Por isso, torna-se
inconcebível um cristão vivenciar o evangelho de forma isolada, distante da
comunidade, uma vez que isso está em oposição aos preceitos bíblicos e ao
conceito de igreja, onde necessitamos uns dos outros (FERREIRA, 2011).
O autor supracitado ainda afirma que esta comunhão é tão profunda quanto o
próprio Deus, nós vivemos em comunhão com a Santíssima Trindade, e em
decorrência deste maravilhoso relacionamento com Deus, nos relacionamos com
nossos irmãos como ramos, onde a videira é Cristo e, portanto somos vivificados e
santificados pela videira, e nela permaneceremos eternamente.
O amor ao próximo deve ser nutrido pelo verdadeiro amor de Cristo, os homens
desta forma são interligados por Ele e totalmente dependentes de Cristo. É através
Dele que a comunhão entre os irmãos torna-se possível de existir. Conforme
Campos (2012, p. 263):
Os seres humanos possuem amor porque eles receberam de Deus, mas oamor não é parte da essência deles, porque muitos vivem sem amor e nãotem amor para dar. O amor que os seres humanos possuem é derivado,mas o de Deus é original, pertencendo à sua essência.
35
Segundo Packer (2014), o amor entre os irmãos tem o propósito de honrar,
beneficiar, doar-se por compaixão da necessidade dos outros, mesmo que não
tenhamos afeição por eles.
Isto implica na ordenança de Cristo, de amar o próximo como a si mesmo, pois se
pela capacidade de prezar pelo próprio bem estar, suprir suas necessidades físicas
e materiais, assim também se deve fazer pelo próximo. Desta forma, o homem é
capaz de expressar o amor do Pai que foi capaz de doar a vida do seu Único Filho
em favor da humanidade. Consequentemente, espera-se que o homem seja capaz
de doar a própria vida pelos os irmãos, seguindo o exemplo de Cristo, Senhor e
Mestre. Através destas atitudes, o amor de Cristo é evidenciado, reconhecendo os
que praticam o amor seus discípulos.
Sabe-se que em alguns momentos, a igreja que deveria expressar o amor mútuo
entre os irmãos, deixa de demonstrar atenção, o cuidado, o zelo, para com os que
querem fazer parte da comunidade e, infelizmente, acabam afastando aqueles que
procuram o amor e ali não encontram. Porém, não se pode deixar de lembrar que
ainda existem comunidades cristãs onde é encontrado o amor verdadeiro, sacrificial,
atencioso, que ultrapassa as diferenças e evidencia a atuação de Jesus entre os
homens. É nessas comunidades que os membros são unidos pela intimidade e pelo
verdadeiro amor de Cristo (STOTT, 1997).
Interessante ressaltar que a comunidade cristã é a família de Deus, pois temos um
Pai em comum que nos ama graciosamente, e nos tornou filhos através de Jesus
Cristo. Ser família de Deus é um privilégio, pois há comunhão e intimidade entre o
Pai e os filhos e consequentemente entre os irmãos. Segundo Packer (1994, p. 178):
A comunhão cristã é uma atitude em família, da qual participam os filhos deDeus. Tal como a comunhão com o pai e com o filho, a comunhão entre oscrentes é como uma rua de mão dupla, que envolve tanto dar, como oreceber de ambas as partes. Em primeiro lugar, consiste em compartilharcom nossos irmãos na fé, as coisas que Deus nos revelou sobre si mesmo,na esperança de que assim poderemos ajudá-los e conhecê-lo melhor e aenriquecerem a comunhão com Ele.
Shedd (2007), afirma que na comunidade cristã, o egoísmo do indivíduo foi
substituído pelo amor que emana de Deus. Onde agora o indivíduo vive em família e
36
age com generosidade diante das demandas que venham ocorrer entre os seus
irmãos, ou seja, ajudando aqueles que necessitam de alguma coisa material. Esta
atitude deve ser de gratidão a Deus que é generoso para com os seus filhos, e
consequentemente os integrantes da família de Deus, devem compartilhar algo ou
ajudar com alguma coisa material com os que têm mais necessidade, pois agindo
desta forma estarão fazendo a vontade de Deus.
Os cristãos, unidos em Cristo, pode expressar essa união com os irmãos por meio
de atitudes específicas que são capazes de demonstrar que verdadeiramente se
tornaram um, por meio daquele que os amou, morrendo na cruz.
Segundo Hoekema (1987), se o homem está unido em Cristo, deverá relacionar-se
com os pecadores perdoados sem julgá-los, ajudando e perdoando mutuamente, e
também confessando os pecados não apenas a Deus, mas aos irmãos, o que
também caracteriza a verdadeira comunhão em Cristo. Devem-se orar uns pelos
outros, agradecer uns pelos outros, pois é uma fonte de enriquecimento espiritual e
de estar em comunhão com os amigos cristãos. Deve-se ver Cristo no irmão, ou
seja, é da natureza humana procurar falhas e defeitos nos outros, porém, estando
em comunhão com Cristo, torna-se possível ver no outro o que Cristo fez e está
fazendo através dele, e então regozijar uns com os outros, confiar uns nos outros,
encorajar uns aos outros e acima de tudo, deve-se manter a unidade em Cristo.
A comunhão entre os irmãos é de extrema importância, a comunidade se reúne com
alegria com o objetivo de adorar e louvar a Deus, e agradecer-lhe por seu infinito
amor e graça pela igreja. Os integrantes da comunidade, não devem perder o
privilégio de se reunirem com este propósito. Pois lamentavelmente, algumas igrejas
da atualidade, perderam o foco e o motivo pelo qual se reúnem.
Nesta perspectiva de estar em comunhão e alegrar-se por esta dádiva, Bonhoeffer
(1997, p. 11-12) traz uma brilhante colocação sobre a maravilhosa graça concedida
por Deus aos seus filhos:
Se um único encontro com um irmão traz tanta felicidade, que riquezainesgotável deve se abrir àqueles que, pela vontade de Deus, sãoconsiderados dignos de viver em comunhão diária com outros cristãos! [...] acomunhão dos irmãos cristãos é um presente gracioso procedente do reinode Deus [...] Por isso, quem pode até este momento viver em comunhãocom outros irmãos, que louve a graça de Deus do fundo do coração,
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agradeça a Deus de joelhos e reconheça: é graça, nada mais do que graça,o fato de que hoje ainda podemos viver em comunhão com irmãos cristãos.
No próximo capítulo será abordada a relação de Deus com sua amada igreja, onde
dentro da comunidade santa, Deus habita e há comunhão entre os irmãos. Através
desta comunhão onde Deus opera, são produzidos frutos, há um crescimento
espiritual e quantitativo, que conduz os irmãos servirem a Deus e ao próximo dentro
e fora da comunidade cristã.
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4 COMUNHÃO DOS SANTOS E O SERVIÇO DIVINO
Uma comunidade quando conduzida pelo Espírito Santo e centrada nas Sagradas
Escrituras, possui comunhão íntima e sincera com Deus. Através desta comunhão
com Deus, os indivíduos também experimentam da comunhão entre si. Esta
comunidade exerce atitudes visíveis que primeiramente evidenciam a vontade de
Deus. Portanto, podem-se citar três características que apontam e manifestam a
vontade de Deus para com seus filhos amados.
A primeira refere-se ao culto que deve ser prestado somente a Deus, e, portanto a
comunidade se reúne exclusivamente com este propósito. A segunda refere-se ao
serviço, o indivíduo é conduzido a servir a Deus e também ao próximo com toda
alegria e com sinceridade. A terceira e última, refere-se ao crescimento quantitativo
e qualitativo, resultado de uma comunidade que está comprometida e empenhada
em fazer a vontade de Deus.
4.1 Culto
Dizer que o culto é o coração da comunidade cristã não equivalesimplesmente a lembrá-la do critério central da vida que é chamada a viver.Significa também recordar-lhe que, se o culto cessa, a comunidade morre. Épelo culto que a Igreja vive, é nele que pulsa a vida da igreja [...] O que ocoração é para a vida animal, o culto é também para a vida da Igreja,ativando a circulação para intensificar e santificar essa vida (ALLMEN, 2005,p. 53-54).
A comunidade cristã se reúne em um único propósito de cultuar a Deus, pelo que
Ele é, fez e faz. Portanto é essencial o culto na vida dos indivíduos que fazem parte
da comunidade, pois se trata de uma necessidade prestar culto a Deus, pois
somente Ele merece toda expressão de adoração e louvor. Conforme afirma a
Confissão de Fé de Westminster (2008, p. 168):
A luz da natureza mostra que há um Deus, que tem domínio e sabedoriasobre tudo, é bom e faz bem a todos, e que, portanto, deve ser temido,amado, louvado, invocado, crido, servido de todo o coração, de toda a alma
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e de toda força; mas, o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus éinstituído por ele mesmo, e é tão limitado pela sua própria vontade revelada,que ele não pode ser adorado segundo as imaginações e invenções doshomens, ou sugestões de Satanás, nem sob qualquer representação visível,ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras.
O ser humano foi criado com o propósito de glorificar a Deus, e através do culto, a
comunidade expressa que somente Deus merece ser glorificado e adorado. No culto
há uma comunhão da criatura com o Criador, dos filhos para com o Pai amado.
Através da comunhão com Deus no culto, tem-se comunhão com o irmão e há uma
relação de amor que emana de Deus. Por isso é inconcebível cultuar a Deus
isoladamente, ou seja, fora da comunidade.
A expressão de amor da comunidade é direcionada em forma de culto ao Deus
bondoso e gracioso que mesmo sendo transcendente, é também imanente e se
relaciona com a criação. Piper (2008, p. 81-82) salienta:
Jesus veio estabelecer o tipo de relacionamento para o qual os sereshumanos foram criados: o relacionamento com Deus e entre si. No que serefere ao relacionamento com Deus, Jesus diz que, acima de tudo, fomoscriados para amar a Deus de todo o nosso coração, de toda a nossa alma,de todo nosso entendimento e de todas as nossas forças. Jesus parte doprincípio de que amar a Deus significa amá-lo por quem ele é, e essa visãode Jesus acerca de Deus está presente em tudo que ele diz.
A vida do indivíduo cristão tem como característica, a adoração única e exclusiva
somente a Deus. Essa adoração se revela por meio do ato de cultuar a Deus em
comunidade e se expande por toda a sua vida. O indivíduo é conduzido a adorar,
acima das circunstâncias, por tudo que Deus é e, consciente que somente Ele é
merecedor de toda honra e toda glória, esta adoração é feita não por obrigação, mas
com um coração agradecido e de forma espontânea que é evidenciado na
comunidade através de palavras e atitudes. Sheed (2007, p. 17-18) traz uma
colocação sobre a adoração:
Adorar e cultuar, justamente com palavras com fé e amor, pertencentes aosmais profundos níveis da verdade cristã, não se enquadram facilmentedentro de definições nítidas. Mais susceptível à descrição e experiência doque às limitações de uma definição verbal, qualquer tentativa de definiradoração será falha. Assim fala um sábio desejoso de expressar compalavras o que seria adoração: O transbordar de um coração grato,impulsionado pelo sentimento do favor divino.
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A adoração dos indivíduos da comunidade amplia-se para toda a sua vida. Em
todos os ambientes que estejam, deve-se demonstrar o único propósito de adorar e
glorificar a Deus, sendo assim, o indivíduo evidencia esta adoração com suas
atitudes no trabalho, na faculdade no convívio com as pessoas e na sociedade, por
conseguinte, torna-se reconhecido como um cristão autêntico diante das pessoas
que ele se relaciona através de sua conduta diferenciada.
Sobre a essência desta adoração que os indivíduos devem prestar a Deus, Piper
(2008, p. 113) elucida que:
A essência da adoração está na visão verdadeira de Deus em nossa mentee nas afeições autênticas de nosso espírito por Deus. Toda vez quemanifestamos a excelência de Deus por meio de palavras ou de açõesprocedentes de um espírito que o ama como realmente é, estamosadorando em espírito e em verdade. Pode ser no trabalho, em casa ou naigreja. Não importa. O importante é que vejamos a glória de Deus em Jesuse o amemos acima de todas as coisas. Quando isso transborda em nós,tratamos as pessoas com amor e abnegação, para o bem delas. Poucascoisas manifestam de maneira mais clara a beleza de Deus. Para osseguidores de Jesus, esse tipo de adoração se aplica à vida inteira.
Segundo Clowney (2007), a igreja é a assembleia que se reúne para adorar a Deus.
Os homens foram feitos à imagem e semelhança de Deus, e com o propósito de
adorá-lo. O culto não é um produto da imaginação humana, mas sim, a resposta da
criatura à glória revelada do seu Criador. É preciso adorar a Deus, não só pelo fato
de sua transcendência, sabedoria e justiça, mas essencialmente por seu amor e
misericórdia. Reconhecer na adoração, que somente o amor de Deus transforma a
vida dos pecadores, isto garante que por intermédio de Cristo, ser-se-ão chamados
filhos de Deus.
Segundo Costa (2009, p. 49-50), destaca-se:
O culto cristão é a expressão da alma que conhece a Deus e que desejadialogar com seu Criador; mesmo que este diálogo por alguns instantesconsista num monólogo edificante no qual Deus nos fale por meio de suaPalavra.[...] O culto é a resposta reverente e adoradora que só se tornapossível pela graça de Deus, que nos dá vida, capacitando-nos para esteevento. A grandeza do culto não está em sua pompa - em geral superficial,crédula e inutilmente substitutiva, pretensa qualidade das pessoas, brilho docoral, eloquência do pregador, beleza do templo ou qualquer outra coisaque possamos apresentar; na realidade, a grandeza de nosso culto está nasantidade majestosa de Deus. Nada é mais eloquente do que a nossaobediência a Deus em nosso culto solene e em nossa vida de culto.
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O indivíduo cultua e adora a Deus em comunidade, junto com os santos por seu
imenso amor e graça. Ter uma vida de culto, que vai além da adoração específica
em comunidade, se estende a todos os ambientes que ele convive. Desta forma, é
possível expressar diante dos homens uma vida de adoração e obediência a Deus
que é constada através de suas palavras e atitudes.
4.2 Serviço
Na comunidade cristã, há serviço para todo indivíduo. Toda atividade realizada na
comunidade é importante e necessária. Serve-se em primeiro lugar a Deus, e
também aos irmãos. Independentes da faixa etária, do nível de escolaridade todos
servem na comunidade segundo o dom concedido a cada um pelo próprio Deus.
Importante destacar que, todo serviço realizado pelos integrantes da comunidade
visa única e exclusivamente à glória de Deus, pois se essa perspectiva não for
aplicada, haverá conflitos na comunidade por conta da vaidade humana, onde as
pessoas buscarão o serviço em detrimento de elogios ou para satisfação de seu
ego. Segundo Bonhoeffer (1997, p. 82):
Na comunhão cristã, tudo depende de que cada pessoa se transforme numelo indispensável de uma corrente. A corrente será inquebrável só quando omenor elo engrenar com firmeza também. Uma comunidade que tolera aexistência de membros que não são aproveitados irá à ruína através deles.Será, pois, conveniente que cada pessoa receba uma tarefa determinadadentro da comunidade, para que em momento de dúvida, saiba que tambémela não é inútil e inaproveitável. [...] Quem, alguma vez em sua vida,experimentou a misericórdia de Deus, dali por diante só desejará servir.
De acordo com Sheed (2007,p. 118-119), podemos destacar:
Ministério (diaconia, serviço) é também um carisma, um dom de Deus. Todoe qualquer trabalho sacrificial oferecido a Deus, por intermédio do auxílio airmãos da igreja, é uma forma de adorar. Do mesmo modo que aperseguição da igreja atinge o Cabeça – Jesus Cristo, o serviço oferecidoaos santos igualmente afeta o Senhor. “Se alguém serve, faça-o na forçaque Deus supre, para que em todas as coisas seja Deus glorificado, pormeio de Jesus Cristo” (1 Pedro 4.11). Jesus viveu o que ele mesmo afirmou:“O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir” (Marcos10:45). Suas horas todas foram comprometidas em glorificar o Pai, servindo.O ministério de seus seguidores também reconhecido como adoração,quando motivado pela graça do servo do Senhor. Assim, notamos que K.Hess reconhece esta verdade ao escrever: “O significado neotestamentáriode diakoneo deriva da pessoa de Jesus e do evangelho...um termo que
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denota a ação amorosa em prol do irmão e do vizinho, e também descrevea operação da koinonia, comunhão”.
Segundo Bonhoeffer (1997), a comunidade está habitualmente propensa a pensar
que a única forma que podemos servir ao próximo é através da pregação Palavra de
Deus. Sabe-se que nenhum serviço é comparado a este, pois todos estão
orientados através dela, portanto evidencia-se que a comunidade não é constituída
somente de pregadores da Palavra. O serviço na comunidade inicia-se através da
Palavra e se expande em diversas áreas da vida, dentre elas destaca-se ouvir, servir
e suportar.
Sobre ouvir:
O primeiro serviço que alguém deve ao outro na comunidade é ouvi-lo.Assim como o amor a Deus começa quando ouvimos a sua Palavra, assimtambém o amor ao irmão começa quando aprendemos a escutá-lo. É provade amor de Deus para conosco, que não apenas nos dá a sua Palavra, mastambém nos empresta o seu ouvido. Portanto, é realizar a obra de Deus noirmão quando aprendemos a ouvir. Cristãos e de modo especial, ospregadores, sempre acham que têm que oferecer algo quando seencontram na companhia de outras pessoas, como se isso fosse seu únicoserviço. Esquecem que ouvir pode ser um serviço maior do que falar(BONHOEFFER, 1997, p. 85).
Na comunicação entre os irmãos da comunidade, tem que haver reciprocidade para
se obter um relacionamento saudável, ou seja, não somente falar, mas saber ouvir o
outro de forma atenciosa. Quando não se estabelece esse parâmetro,
consequentemente haverá conflitos na comunidade, pois não haverá a atitude de se
predispor a emprestar o ouvido ao outro, gerando assim problemas de
relacionamento entre os irmãos que deverão ser sanados o mais breve possível.
Bonhoeffer aborda de forma brilhante essa questão relacional entre irmãos, pois se
consta hoje no ambiente eclesiástico, infelizmente, muitos conflitos entre os irmãos
por justamente não expressar essa atitude da reciprocidade, ou seja, saber falar e
ouvir o outro. O fato do indivíduo não se colocar no lugar do outro, compromete o
relacionamento saudável, sendo necessário um trabalho com a liderança à Luz da
Palavra de Deus para que haja uma restauração no convívio entre irmãos.
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Sobre servir:
O segundo serviço que devemos prestar uns aos outros na comunidadecristã é nos colocar à disposição para ajudar de maneira prática. Pensa-se aprincípio, na ajuda simples em coisas pequenas e externas. Existem muitasdelas em toda a vida em comunidade [...] Quem alega não ter tempo aperder com a ajuda externa em coisas pequenas, apenas revela que, namaioria das vezes, dá importância excessiva para o seu próprio trabalho.Temos que nos dispor e permitir que Deus nos interrompa. Constantemente,a cada dia, Deus interferirá em nossos caminhos e planos, colocando anossa frente pessoas com suas exigências e solicitações [...] É um fatosingular que justamente cristãos e teólogos muitas vezes, consideram seutrabalho tão importante e urgente, que não permitem que nada no mundo osinterrompa. Pensam que assim prestam um serviço a Deus [...] Somentequando não se poupam as mãos no serviço de amor e de misericórdia nadisposição diária de ajudar, pode a boca anunciar com alegria ecredibilidade a palavra do amor e da misericórdia de Deus (BONHOEFFER,1997, p. 86-87).
A comunidade cristã é composta de indivíduos que sem exceção, podem precisar de
ajuda ou socorro em determinado momento de sua vida. Portanto, cabe aos
integrantes desta comunidade ajudar-se. Em consequência da agitação do século
XXI, os membros das igrejas justificam não poder ajudar o irmão necessitado por
falta de tempo. Sabe-se que essa ajuda não é uma obrigação ou favor, é um
mandamento do próprio Senhor Jesus amar o próximo. O ato de ajudar, expressa
amor, satisfação e alegria em fazer a vontade de Deus.
Os integrantes da comunidade, e principalmente a liderança precisa ter essa
sensibilidade de identificar aqueles que estão precisando de ajuda e suprir as
necessidades por um determinado momento. Pois, podem ocorrer diversas
circunstancias na vida dos indivíduos que vão demandar naturalmente a ajuda dos
membros da comunidade, como por exemplo: enfermidade, falecimento,
desemprego, crise financeira e cabe à comunidade se mobilizar para ajudar o irmão
necessitado.
Sobre suportar:
Em terceiro lugar, mencionamos o serviço de carregar o outro. “Carregai opeso uns dos outros e assim cumprireis a Lei de Cristo” (Gálatas 6:2).Portanto a lei de Cristo é carregar pesos[...] Tem que suportar o irmão[...]tão pesado foi o fardo da humanidade ao próprio Deus, que sob seu pesoacabou na cruz. No corpo de Jesus Cristo, Deus de fato foi afligido pelahumanidade. Carregou-a, porém como a mãe leva uma criança, como opastor põe no ombro a ovelha perdida. Deus aceitou os seres humanos eeles o esmagaram. Deus, porém, ficou com eles, e eles com Deus.Suportando as pessoas, Deus manteve comunhão com elas. Essa é a lei de
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Cristo cumprida na cruz. Os cristãos tomam parte nessa lei, devem suportare carregar o irmão e, o que é mais importante, agora possa suportá-lo sob alei de Cristo cumprida [...] Levar o fardo do outro significa aqui suportar arealidade do outro em sua condição de criatura, aceitá-la [...] O fraco nãojulgue o forte; o forte não despreze o fraco. O fraco se guarde daarrogância; o forte que se cuide da indiferença [“...] Decerto é sobre essesuportar o outro em sua liberdade que fala a Escritura ao admoestar:“Suportando-vos uns aos outros” (Colossenses 3:13);” Com toda humildadee mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros com amor,procurando conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (Efésios4:2)(BONHOEFFER, 1997, p. 87-89).
A comunidade é composta de indivíduos que pensam diferentes, e isto é natural. No
entanto, há de ser ter essa consciência de forma coletiva, pois nesse aspecto
relacional devemos aceitar o nosso irmão como ele é, ou seja, diferente de nós.
Embora pareça algo simples na forma conceitual, na prática, encontram-se muitos
conflitos na comunidade desta natureza.
Quando um irmão não se predispõe a caminhar com outro irmão com debilidades e
que precisa de suporte ou apoio, e prefere a indiferença, ou ainda mais agravante, à
distância. Isto não é de forma alguma prática do Evangelho de Cristo, pois temos
que dar suporte aquele irmão mais fraco ou necessitado, e isso exigem esforço e
dedicação.
O que capacita e impulsiona o indivíduo a suportar o outro é o amor que emana de
Deus. Ele ama de forma graciosa, portanto os indivíduos são habilitados a amar.
Este amor implica em ações, e estas ações são espontâneas em prol de viver em
comunhão com o irmão, tendo um relacionamento segundo a vontade de Deus. Há
de se considerar também o perdão, porque Deus perdoa seus filhos e como seus
filhos amados é preciso ter a atitude de perdoar o próximo. Tal perdão deve ser uma
via de mão dupla, ou seja, perdoar e ser perdoado para que se tenha uma
comunidade madura e consciente emocionalmente e espiritualmente.
4.3 Crescimento
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A comunidade que tem como objetivo fazer a vontade de Deus, vivendo sobre os
preceitos da Palavra e colocando-os em prática, evidencia o crescimento que é visto
na esfera relacional entre os irmãos, evitando-se conflitos e problemas
desnecessários que normalmente ocorrem por conta de uma imaturidade espiritual.
Também há um crescimento em número de pessoas na comunidade, uma vez que
os servos de Deus se empenham em fazer a sua vontade, anunciando as boas-
novas de salvação em Cristo aos que perdidos estão na sociedade. A comunidade
cresce com a chegada de novos convertidos que são acrescentados pelo próprio
Deus, e os cristãos tem a consciência que a glória é de Deus.
Segundo McGavran (2001, p. 28), é possível observar o desejo de Deus para a
igreja:
Deus quer que a igreja cresça. Os cristãos, como seu Mestre, são enviadosa buscar e salvar os perdidos. Isto significa não um ganho pessoal, mastornar-se servo por amor a Cristo. Crescimento da Igreja é um deverhumanitário: os mais fortes ajudando os mais fracos e levando aos famintoso verdadeiro pão que eles necessitam. Mesmo assim, os servos de Deusnão buscam o crescimento da Igreja como forma de melhorar a sociedade,mas em obediência a Deus. Ele se agrada disto. Fazer a igreja crescer é serfiel a Deus.
Quando os integrantes da comunidade desenvolvem uma maturidade espiritual,
tendo como referência a Palavra de Deus, os conflitos não deixarão de existir devido
à natureza pecaminosa do ser humano. O grande diferencial é que os conflitos serão
resolvidos à Luz da Palavra de Deus, de forma madura e consciente e produzindo
um crescimento espiritual e relacional para os irmãos. Conforme o texto:
A igreja é mais do que um auditório de crentes. Como comunidade desantos, ela deve ser um corpo em crescimento, adoração e espírito deserviço. O convite de Cristo ao discipulado é um convite para uma vida deaprendizado e crescimento. Essa vida, vivida de maneira digna da vocação,é mais do que um ideal. Deve ser uma norma. Paulo ensinou que os donsespirituais são dados à igreja visando diversidade dentro de uma unidadefundamental. Essa unidade funciona na fé e no conhecimento do Filho deDeus, para que os crentes cheguem à maturidade, atingindo a medida daplenitude de Cristo (HAYES, 2002, p. 265).
A Palavra de Deus não pode deixar de ser proclamada, pois através dela vidas são
transformadas. O Espírito Santo convence o indivíduo do pecado, da justiça e do
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juízo. A comunidade tem que estar centrada na Palavra que é sua única regra de fé
e prática e, através do Espírito Santo de Deus há comunhão entre os irmãos, o
crescimento espiritual e o aumento de integrantes na comunidade.
Marshall, Payne (2015) revela que em todos os momentos, sejam eles bons ou
ruins, a verdade bíblica deve ser pregada, ouvida e aplicada piedosamente para que
aconteça a ação do Espírito, e isto consequentemente levará ao crescimento. No
entanto, o crescimento acontecerá através do ministério da Palavra e a atuação do
Espírito.
Quando o indivíduo tem sua vida transformada por Cristo, ocorre uma mudança em
sua maneira de pensar e agir. Tais mudanças levam a busca incessante pelo
conhecimento da Palavra, o que leva ao crescimento e maturidade espiritual.
Importante destacar que este crescimento é contínuo enquanto vive-se na terra ou
até a volta de Cristo. Todos os integrantes da comunidade caminham nesta
perspectiva do crescimento. Segundo Clowney (2007, p. 132-133), podemos
destacar:
Os cristãos maduros não são mais agitados de um lado para o outro elevados ao redor por todo vento de doutrina, mas falam a verdade em amor.Os cristãos que têm maturidade em fé têm conhecimento do Filho de Deuse são edificados em amor. Eles se edificam mutuamente, e não entristecemuns aos outros. Esse crescimento é um processo: o crescimento em Cristo,o Cabeça, continua até que ele retorne. Esse crescimento é corporativo. Aigreja não tem o objetivo de produzir uns poucos santos confiáveis pelamédia. Ela busca o crescimento de todo o corpo mediante o funcionamentode cada junta. Cada cristão tem um papel a desempenhar noamadurecimento do Corpo de Cristo.
Observa-se que os ensinamentos de Jesus foram marcados pela ideia do
crescimento e Tippet (1970) faz uma abordagem relevante sobre alguns textos
bíblicos que revelam e incentivam o crescimento dos discípulos de Jesus, dos quais
se pode destacar:
A primeira abordagem está presente em Mateus 13:47, na Parábola da rede, onde
os discípulos que eram pescadores de peixes, agora se tornam pescadores de
homens, ou seja, Jesus lhes dá uma nova perspectiva de trabalho. Agora já não
trabalham para si próprios, mas para fazer a vontade de Deus.
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A segunda abordagem está presente em Mateus 9:38, onde Jesus revela a seus
discípulos a necessidade de que houvessem mais trabalhadores empenhados em
fazer a obra de Deus, e, portanto ensina a seus discípulos a rogarem ao Senhor da
seara, ou seja, Deus Pai; para que mande mais trabalhadores para fazer a sua obra.
A terceira abordagem está presente em João 15:5, onde Jesus é a videira e seus
discípulos os ramos e consequentemente os ramos produzem frutos através da
videira que é Cristo. Os frutos não são para a vaidade e glória do indivíduo, porém
única e exclusivamente para glória de Deus.
A quarta abordagem está presente em Mateus 13:31-32, a parábola do grão de
mostarda, onde Jesus relata que o reino dos céus é semelhante a um pequeno grão
de mostarda que um homem plantou no campo, e esta semente cresceu e se tornou
uma portentosa árvore. Evidencia-se que os discípulos de Cristo, crescem
espiritualmente e também produzem frutos como toda árvore. O grande diferencial é
que o crescimento vem do Senhor.
A quinta abordagem está presente em Mateus 5:16, onde Jesus diz a seus
discípulos que eles são a luz do mundo. Esta luz deve brilhar diante dos homens,
porém aponta para Cristo e seus discípulos através de suas atitudes, dão
testemunho de Cristo diante de uma sociedade submersa no pecado e distante de
Deus. Esta Luz que vem de Cristo conduz os pecadores ao arrependimento,
transformando-os em discípulos de Cristo e luzeiros no mundo.
O modelo da igreja em crescimento pode ser destacado no seguinte texto:
[...] Então os que lhe aceitaram a palavra foram batizados; havendo umacréscimo naquele dia de quase três mil pessoas. E perseveravam nadoutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações(Atos 2:36-38, 41-42). Temos aqui a igreja em todo seu vigor, quando amemória de Jesus mantinha-se fresca e o dom do Espírito Santo era umanovidade. Deus nos dá aqui um modelo de igreja em crescimento. Ao fazerisso, Ele nos deixou lembrança eterna de que a igreja é mais do que umareunião informal de indivíduos salvos. Ela é uma comunidade de fé à qualos membros são acrescentados. À medida que o Espírito Santo convenceos homens de pecado e eles confiam em Cristo para sua salvação, sãobatizados e recebidos na igreja (SHELLEY, 1989, p. 44).
É necessário que cada integrante da comunidade entenda que quando se reúne
com os irmãos, o objetivo principal é adorar e glorificar a Deus. Sendo assim, têm
também a consciência que a comunidade precisa crescer e frutificar. Compete a
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cada integrante da comunidade evangelizar, e o crescimento virá do Senhor. E
através do Espírito Santo que convence os pecadores ao arrependimento em Cristo,
e consequentemente têm suas vidas transformadas, agora terão o privilégio de fazer
parte da família de Deus.
E neste contexto de que o crescimento vem do Senhor, Stott (2005, p. 13) salienta:
[...] E o Senhor acrescentava diariamente os que iam sendo salvos (Atos2:47). Nessa breve referência podemos aprender alguns pontos sobre aevangelização. O primeiro é que o próprio Senhor acrescentava os quehaviam de ser salvos[...] Vivemos em uma época que confia muito noativismo e na tecnologia. Sem dúvida, é preciso utilizar toda a tecnologiaque o Senhor nos tem dado. Porém temos que nos humilhar diante de Deuse reconhecer que somente Cristo pode abrir os olhos dos cegos, destaparos ouvidos dos surdos e dar vida às almas mortas. A igreja, hoje, precisaser mais humilde.
Não são os métodos implantados na igreja que fazem ela crescer de forma saudável
e madura, observa-se que o crescimento em Atos 2, vem do Senhor. As igrejas na
atualidade precisam ter esta consciência, pois, muitas têm implantado métodos para
crescimento, porém sem nenhum parâmetro bíblico, visando somente quantidade e
não a espiritualidade cristã. Depositam toda credibilidade em seus métodos para
crescimento da igreja, porém se esquecem de algo fundamental: o crescimento da
igreja vem do Senhor. Neste crescimento há espiritualidade, maturidade e a
verdadeira comunhão cristã.
O autor ainda traz um segundo ponto observado a respeito do crescimento:
Um segundo ponto sobre a evangelização é que Jesus fazia duas coisas, eestas devem estar sempre juntas: acrescentava diariamente à igreja os queiam ser salvos. Ou seja, Jesus não os acrescentava sem que fossem salvosnem os salvava sem acrescentá-los à igreja. Ser salvo e pertencer à igrejasão dois atos que caminham juntos ( STOTT, 2005, p.13 ).
O Senhor Jesus Cristo acrescentava a igreja os que iam sendo salvos, ou seja, a
comunidade crescia através da ação única e exclusiva de Jesus Cristo. O que
acontece infelizmente em algumas igrejas da atualidade, é que esse crescimento
fica restrito a ação do homem e, portanto não se afirmam que ele vem do Senhor.
Sabendo que a evangelização leva ao crescimento, pode-se notar que Jesus o fazia
diariamente conforme explica Stott (2005 p. 13-14):
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Em terceiro lugar, Jesus fazia isso diariamente. O Senhor fazia crescer dia-a-dia a comunidade. A evangelização não é um assunto ocasional, masdeve ser algo contínuo. Quando a igreja está cheia do Espírito Santo, ela seabre ao mundo necessitado de Deus, e então as pessoas podem seracrescentadas diariamente à igreja.
O crescimento do Senhor era contínuo, a evangelização tem que ser uma das
prioridades na comunidade. Pois é uma ordenança do Senhor Jesus Cristo, consta-
se na atualidade, por mais absurdo que seja que algumas igrejas não evangelizam
e, portanto não crescem. Ressalta-se que evangelizar é uma prerrogativa de todos
os integrantes da comunidade, e através da evangelização o Senhor dá o
crescimento.
O livro de Atos deixa bem claro o privilégio de anunciar o Evangelho às pessoas.
Este mandamento foi dado por Jesus Cristo, e, portanto deve-se cumprir a vontade
do Senhor com todo empenho e alegria, certos de que o crescimento virá, mas não
por mérito humano, mas através do Senhor. Nesta perspectiva:
Não podemos ler o livro de atos e permanecer indiferentes ao conceito deque a Igreja tem que crescer em termos de número de pessoas que estãosendo convertidas ao Senhor Jesus e agregadas às igrejas. Ao contrário,devemos ser movidos a pregar e a orar para que o Senhor faça em nossosdias o que fez no poder do Espírito e pelo Ministério da Palavra nos dias dosapóstolos ( SMITH; PORTELA, 1997, p. 16 ).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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A reflexão feita no decorrer do trabalho, possibilitou observar a grande importância
de viver em comunhão a luz da Palavra de Deus e, portanto, foi realizada uma
profunda pesquisa que trouxe uma gama de conteúdos necessários para aperfeiçoar
a compreensão sobre a comunhão dos santos na perspectiva bíblica, e com isso
trazer o discernimento correto deste conceito, corroborando para a edificação e
crescimento do indivíduo e da comunidade cristã.
Ao elaborar o trabalho de forma ordenada, foi necessário inicialmente fazer a
abordagem da origem da palavra comunhão, no Antigo e Novo Testamento e em
seguida destacar os textos bíblicos que relatam a comunhão dos santos e os efeitos
por ela produzidos.
Foi possível abordar implicações práticas no relacionamento do indivíduo com Deus
e com o próximo e os benefícios de uma comunidade cristã que desfruta da
verdadeira comunhão dos santos a luz da Palavra de Deus, demonstrando que em
uma comunidade cristã onde há comunhão de fato, todos se reúnem com objetivo
principal de cultuar a Deus e render a Ele toda glória e louvor. Esta comunidade
reunida serve a Deus e também ao próximo com alegria e satisfação, e
consequentemente isto leva ao crescimento espiritual e também em número de
pessoas.
Uma importante consideração diante da atualidade das igrejas evangélicas foi
destacada, pois infelizmente, muitas se afastaram do real sentido da comunhão,
deixando de vivê-la em sua plenitude como é relatada na Palavra de Deus, o que
acarreta a problemas e conflitos de origem relacional, onde as pessoas não
conseguem se colocar no lugar do outro e muito menos cumprir o mandamento do
Senhor Jesus Cristo, onde se deve amar o próximo assim como Ele amou seus
discípulos.
Observa-se que a maior índice de ocorrência de evasão das comunidades cristãs se
dá por conta de conflitos relacionais que normalmente ocorrem com os líderes da
comunidade ou entre os próprios membros e considera-se que este alto número de
evasão de membros das comunidades deve-se principalmente, pelo fato das
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pessoas não compreenderem o que é amar o próximo com as lentes do Evangelho
de Cristo, vivenciando o amor sacrificial.
Viver a comunhão dos santos, não significa de forma alguma ausência de conflitos
ou problemas, mas, vivendo-se sobre a luz do Evangelho, estes problemas e
conflitos são solucionados tendo como principal referência o amor de Cristo pelos
irmãos da comunidade. Com isso, a vaidade e o ego são diminuídos, o perdão é
exercitado e os integrantes da comunidade amadurecem emocionalmente e
espiritualmente.
Espera-se que com este estudo, seja possível proporcionar aos leitores a exata
dimensão e profundidade da comunhão dos santos, que é basilar no evangelho de
Cristo e que seja possível aplicarem os ensinamentos propostos, a fim de evitar
conflitos e problemas desnecessários na comunidade cristã por falta de
conhecimento da Palavra, e também falta de maturidade cristã.
Conclui-se portando este trabalho com satisfação e alegria em ter pesquisado um
tema de tamanha relevância e necessidade para as comunidades cristãs da
atualidade e que seja possível viver a graciosa Comunhão dos Santos, que traz o
deleite em Deus juntamente com os irmãos em Cristo.
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