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1 COMPORTAMENTO ELEITORAL E A DECISÃO DO VOTO: Um Estudo das Eleições Municipais em Belém - 2012 José Américo do Canto Lopes* INTRODUÇÃO O processo que envolveu a redemocratização no Brasil possibilitou a ampliação do sufrágio eleitoral e dessa forma, a sociedade passou a escolher seus representantes em um contexto de maior concorrência e disputas entre candidatos pelo voto do eleitor. Essa disputa acontece de acordo com o sistema eleitoral brasileiro que segue regras estabelecidas, que determina as formas que os candidatos podem se manifestar para conseguir expor suas propostas de gestão. Tendo em vista que o eleitor, em sua grande maioria, somente interage com a política no período das eleições, quais os critérios que os mesmos utilizam para escolher seus candidatos? Esse é uma questão que para a ciência política é de fundamental importância, haja vista o distanciamento entre a política e o cidadão, a descrença que o eleitor tem em relação ao político. Podemos dizer que devido à complexidade dos fenômenos sociais, existe uma multiplicidade de variáveis que envolvem a relação política entre eleitor e candidato, entretanto, vamos procurar identificar qual ou quais são mais evidentes e em que teoria tais variáveis melhor se enquadram. Com referência as teorias clássicas que explicam o comportamento eleitoral e com base em estudos sobre o comportamento eleitoral, realizados no Brasil a partir da década de 70, nosso desafio foi identificar através de estudo empírico, quais são os critérios adotados pelo eleitor belenense para escolher seu candidato a prefeito e vereador da cidade de Belém. Identificar qual a teoria que melhor se enquadra para explicar a decisão do voto desse eleitor é à base deste estudo. Hipoteticamente, acredita-se que as escolhas eleitorais em Belém são motivadas tanto por variáveis relacionadas à teoria sociológica, como psicológica, quanto pela teoria da escolha racional, é um fenômeno multicausal, associado a “fatores tanto de ordem estrutural como conjuntural” 1 . Da mesma forma como supomos que as variáveis sociais como renda, escolaridade, sexo, idade e religião, influenciam na decisão do voto e no comportamento do eleitor. Quanto maior a renda e escolaridade aumentam a tendência do voto pautado na teoria sociológica e quanto menor a renda e escolaridade do indivíduo o voto tende a ser motivado 1 ALBERTO CARLOS ALMEIDA. Como são feitas as pesquisas eleitorais e de opinião. FGV, p. 31.

Comportamento Eleitoral e a Decisão Do Voto

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    COMPORTAMENTO ELEITORAL E A DECISO DO VOTO: Um Estudo das

    Eleies Municipais em Belm - 2012

    Jos Amrico do Canto Lopes*

    INTRODUO

    O processo que envolveu a redemocratizao no Brasil possibilitou a ampliao do

    sufrgio eleitoral e dessa forma, a sociedade passou a escolher seus representantes em um

    contexto de maior concorrncia e disputas entre candidatos pelo voto do eleitor. Essa disputa

    acontece de acordo com o sistema eleitoral brasileiro que segue regras estabelecidas, que

    determina as formas que os candidatos podem se manifestar para conseguir expor suas

    propostas de gesto. Tendo em vista que o eleitor, em sua grande maioria, somente interage

    com a poltica no perodo das eleies, quais os critrios que os mesmos utilizam para

    escolher seus candidatos? Esse uma questo que para a cincia poltica de fundamental

    importncia, haja vista o distanciamento entre a poltica e o cidado, a descrena que o eleitor

    tem em relao ao poltico.

    Podemos dizer que devido complexidade dos fenmenos sociais, existe uma

    multiplicidade de variveis que envolvem a relao poltica entre eleitor e candidato,

    entretanto, vamos procurar identificar qual ou quais so mais evidentes e em que teoria tais

    variveis melhor se enquadram. Com referncia as teorias clssicas que explicam o

    comportamento eleitoral e com base em estudos sobre o comportamento eleitoral, realizados

    no Brasil a partir da dcada de 70, nosso desafio foi identificar atravs de estudo emprico,

    quais so os critrios adotados pelo eleitor belenense para escolher seu candidato a prefeito e

    vereador da cidade de Belm. Identificar qual a teoria que melhor se enquadra para explicar a

    deciso do voto desse eleitor base deste estudo.

    Hipoteticamente, acredita-se que as escolhas eleitorais em Belm so motivadas

    tanto por variveis relacionadas teoria sociolgica, como psicolgica, quanto pela teoria da

    escolha racional, um fenmeno multicausal, associado a fatores tanto de ordem estrutural

    como conjuntural1. Da mesma forma como supomos que as variveis sociais como renda,

    escolaridade, sexo, idade e religio, influenciam na deciso do voto e no comportamento do

    eleitor. Quanto maior a renda e escolaridade aumentam a tendncia do voto pautado na teoria

    sociolgica e quanto menor a renda e escolaridade do indivduo o voto tende a ser motivado

    1 ALBERTO CARLOS ALMEIDA. Como so feitas as pesquisas eleitorais e de opinio. FGV, p. 31.

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    por escolhas racionais. Da mesma forma, evanglicos so mais motivados pelo voto

    psicolgico e os catlicos por critrios da escolha racional. Os jovens so motivados por

    preferncias pautadas no voto psicolgico e os adultos na escolha racional.

    A deciso do voto tambm influenciada pelo cargo em disputa. Na eleio para

    prefeito predomina uma deciso do voto pautado por critrios da escolha racional e na eleio

    para vereador por critrios sociolgicos e psicolgicos.

    Para entender tais questes apresentadas em forma de hipteses, procurou-se analisar

    as principais discusses da literatura brasileira em torno da temtica do voto e a partir da se

    estabeleceu os elementos em comum nas diversas interpretaes do comportamento do eleitor

    brasileiro. Esse fato possibilitou a identificao das principais caractersticas do

    comportamento da maioria do eleitorado e com a aplicao de pesquisas eleitorais, foi

    possvel comprovar ou refutar tais caractersticas apresentadas.

    ASPECTOS METODLOGICOS DO ESTUDO

    Com a inteno de entender e buscar respostas para as indagaes que surgem em

    relao ao comportamento do eleitor belenense quanto ao voto e os critrios adotados para

    escolher candidatos a prefeito e vereador nas eleies de 2012, descrevemos a seguir, os

    aspectos metodolgicos para o desenvolvimento do estudo.

    Reportando-nos ao espao geogrfico de interesse para o estudo, segundo o Instituto

    Brasileiro de Geografia e Estatstica IBGE existe no Estado Par 7.588.078 habitantes e na

    capital do Estado, segundo o Tribunal Superior Eleitoral TSE, dados de abril de 2011, onde

    est a maior concentrao de eleitores, formada por 1.009.756, seguida por Ananindeua com

    270.654, Santarm 193.021 eleitores, Marab 140.165 e o municpio de Castanhal com

    110.857. Como podemos observar, do total de 144 municpios existentes no Estado, somente

    em dois, h eleitorado acima de 200.000 mil, portanto, onde pode ocorrer eleio em segundo

    turno de acordo com a legislao eleitoral brasileira.

    O fato do municpio de Belm ser o maior colgio eleitoral do estado do Par e por

    ser o municpio onde a disputa poltica eleitoral recebe maior peso de influncia religiosa,

    miditica, ideolgica com concentrao de sindicatos, partidarismo poltico, dentre outros,

    fator fundamental para Belm, ser objeto deste estudo.

    Os critrios metodolgicos esto relacionados ao instrumento de coleta de dados

    utilizado na pesquisa, que foi caracterizado por um questionrio quantitativo e qualitativo,

    composto por questes fechadas e abertas. Para a elaborao do questionrio foi realizada

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    uma pesquisa qualitativa onde indagvamos junto ao eleitor, quais os critrios que os mesmos

    utilizavam para escolher seus candidatos a prefeitos e vereadores. O conjunto de respostas foi

    agrupado em vinte e duas variveis de maior relevncia, que por sua vez, foram classificadas

    como variveis psicolgicas, sociolgicas e da escolha racional.

    A populao alvo da pesquisa foi constituda por pessoas com 16 anos de idade a

    mais, eleitores da cidade de Belm, dividida por estratificao social idade, renda,

    escolaridade e sexo. Para obter resultados mais prximo possveis da realidade, foi desenhado

    um plano amostral com intervalo de confiana de 95% e margem de erro mxima de 3,0%

    para mais ou para menos.

    O clculo da amostra foi efetuado com base na populao eleitora do municpio de

    Belm, de acordo com dados fornecidos pelo Tribunal Superior Eleitoral TSE. Para atingir o

    intervalo de confiana e a margem de erro desejada foi calculada amostra com base na

    seguinte equao:

    n = tamanho da amostra

    o2 = nvel de confiana escolhido, expresso em n de desvios-padro (para 95% de

    confiana temos 2 desvios).

    p = percentagem com a qual o fenmeno se verifica

    q = percentagem complementar (100 p)

    e = erro mximo permitido

    N = tamanho da populao

    Desta forma, cada pesquisa foi desenvolvida com uma amostra composta de mil e

    duzentas (1200) entrevistas, que foram realizadas de forma pessoal, domiciliar e face a face,

    por pessoas com experincia em pesquisas desse tipo.

    Para garantir a qualidade do levantamento realizado, todos os questionrios aplicados

    em campo foram devidamente criticados para avaliao da consistncia das informaes,

    alm da checagem de 20% do material coletado em campo.

    Tendo como referencial as teorias da deciso do voto, que tem sido utilizada na

    cincia poltica para perceber os elementos que interferem na deciso do voto, partimos da

    teoria sociolgica do voto onde s decises e escolhas so determinadas pela conscincia dos

    indivduos em relao aos problemas que afetam o seu cotidiano. Essa teoria tem seu embrio

    e2(N 1) + o2 p.q

    o2 p.q.N n =

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    nos anos 40, na Universidade de Colmbia, nos Estados Unidos. Suas ideias se contrapem a

    teoria da corrente psicolgica e aponta que as condies sociais, o contexto social, poltico e

    cultural o ponto fundamental para a anlise da deciso do eleitor.

    Nesta teoria a conscincia no se traduz como um processo natural, que nasce e

    segue com o homem ao longo de sua vida, mas como algo que construdo, a partir da

    insero do indivduo em algumas estruturas que transformam a sua concepo de mundo ao

    longo do tempo.

    Para a interpretao sociolgica do voto, as condies de vida, o contexto social,

    poltico e cultural so fatores fundamentais. A anlise sociolgica do voto tem como

    referncia as interpretaes do coletivo social, a sociedade interagindo em seus vrios

    aspectos e esse fato agrega aes coletivas. Desse modo, as explicaes apresentadas pela

    teoria psicolgica, que aponta as decises polticas pela tica individual, seriam insuficientes,

    tendo em vista que a interao social leva as pessoas a tomarem decises de acordo com o

    comportamento das demais.

    A deciso do eleitor resultado do contexto social, poltico e cultural no qual o

    indivduo est inserido. Para compreender o comportamento eleitoral a corrente sociolgica

    tem olhar macro2 e procura compreender a deciso do voto dos eleitores a partir da

    construo de variveis como: ideologia, identidade de grupos e classes sociais. O ponto para

    explicao da distribuio de preferncias entre os eleitores, segundo a sociologia poltica,

    est na existncia de identidades culturais objetivamente estabelecidas, ou na existncia de

    conscincia de classe.

    Desta forma, a partir da teoria sociolgica, as variveis analisadas neste trabalho

    foram experincia administrativa do candidato, a ideologia do candidato, a trajetria

    poltica/histrico poltico do candidato, nvel educacional do candidato, propaganda eleitoral

    na TV ou rdio.

    A teoria psicolgica do comportamento eleitoral parte de uma anlise que coloca o

    indivduo no centro de sua discusso e a partir de uma perspectiva psicolgica analisa as

    motivaes dos indivduos. Essa teoria foi elaborada por um grupo de pesquisadores da

    Universidade de Michigan, EUA, sob a liderana de Augus Campbell, no final dos anos 50.

    Para os autores dessa teoria a anlise sobre o comportamento eleitoral feita a partir do

    indivduo, por meio de avaliaes individuais e o mtodo de estudo feito por amostragem,

    2 A ideia que fatores histricos, estruturais e culturais globais conformam caractersticas sociais, econmicas e polticas de uma sociedade, gerando clivagens sociais que se expressam atravs de partidos especficos, com os

    quais os eleitores se identificam (CASTRO, 1994)

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    aplicada atravs de pesquisa (survey). Aps as coletas individuais, so feitas generalizaes

    para o conjunto da populao. Deve ser ressaltado, que as interpretaes dos dados tambm

    so realizadas segundo as motivaes psicolgicas dos indivduos.

    Para essa teoria importa considerar que as atitudes polticas do indivduo, a formao

    de opinio, a propenso por determinadas escolhas e suas avaliaes partem de sua base

    psicolgica que possui razes em sua famlia, na relao com amigos e pessoas, enfim, em seu

    ambiente social.

    O poder explicativo desta teoria reside no fato de que, uma vez formadas, as atitudes,

    opinies e ideias a respeito do mundo social so relativamente estveis no tempo; e tendem a

    interrelacionar-se com outros que sejam logicamente consistentes com as anteriores. A fonte

    do direcionamento poltico dos indivduos est na formao desses campos de atitudes, e o

    potencial de predio desta teoria repousa na cristalizao de um sistema de crenas polticas.

    A previsibilidade do comportamento poltico, segundo Converse, s aplicvel parcela

    altamente politizada da sociedade. A maior parte do eleitorado age pelas prprias convices

    o que no permite muita previso a cerca do seu comportamento poltico.

    As variveis da teoria psicolgica que foram analisadas neste trabalho so o partido

    poltico, religio, raa, a classe social do candidato, conversa e indicao de parentes e

    amigos, opinio de pessoas influentes como, lideres religiosos e partido poltico do candidato.

    A teoria da escolha racional tambm conhecida como teoria econmica do voto,

    tem um carter instrumental, o que vale dizer que o eleitor capaz de reconhecer seus

    interesses e, em funo disto, escolhe o candidato que est mais sintonizado com os seus

    objetivos. Por esta razo, a escola da escolha racional tende a enfatizar a racionalidade da

    deciso do eleitor, dando pouca importncia para os elementos sociolgicos e atitudinais,

    prprios das anlises determinadas pelos modelos anteriores.

    Esta teoria tem como principal expoente a obra clssica de Anthony Downs Uma

    Teoria Econmica da Democracia e apresenta o eleitor como um agente racional, cujos

    interesses individuais, orientado para maximizar benefcios e reduzir custos, se constituem

    como o elemento que o guia no momento de realizao de suas escolhas.

    Para Downs (1999) o comportamento do eleitor conduzido pelos seus interesses

    medidos racionalmente. Assim, para esta interpretao, na medida em que a democracia

    possibilita que candidatos estabeleam competio para acessar o poder, o processo de

    escolha se assemelha a uma situao de mercado, semelhante ao que acontece na

    racionalidade econmica. Desta forma, os candidatos e partidos competem entre si e os

    eleitores selecionam entre os diversos polticos disponveis no mercado, aqueles que melhor

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    atendam a suas utilidades. Neste sentido as eleies so visualizadas como um mercado de

    concorrncia perfeita, onde h o encontro entre vendedores e compradores.

    Na perspectiva da escolha racional seu argumento central que o

    comportamento poltico e eleitoral pode ser explicado tomando os indivduos como atores

    racionais que agem tendo como objetivo primeiro a maximizao dos ganhos com

    a minimizao dos custos, tal qual um consumidor no mbito do mercado. Nessa teoria, a

    lgica do voto baseia-se na premissa de que diante de diversas alternativas, um ator racional

    escolhe sempre aquela que lhe traz a maior utilidade, ou seja, age em seu prprio benefcio.

    Nesta teoria, o eleitor raciocina sobre suas escolhas e apoia partido ou candidatos

    comprometidos com seus interesses. Na interpretao da teoria da escolha racional,

    utilizamos para anlise s variveis que tratam da avaliao do governo municipal numa

    perspectiva satisfacionista, as propostas para gesto do candidato, honestidade/carter, os

    resultados das pesquisas eleitorais, por conhecer o candidato/promessas, por troca de

    favores/ateno a rua/aterro.

    Apresentamos a seguir alguns estudos sobre o comportamento do eleitor brasileiro,

    realizados a partir da dcada de 70. Em seguida contextualizamos a realidade paraense e

    belenense em seus aspectos econmicos, sociais e polticos para uma melhor compreenso do

    cenrio poltico-eleitoral exibido por Belm, nas eleies municipais de 2012 e finalmente

    sero apresentados os resultados da anlise dos dados sistematizados em tabelas e grficos em

    relao ao voto para prefeito e vereador do municpio de Belm.

    ESTUDOS DO COMPORTAMENTO ELEITORAL NO BRASIL

    Neste item apresentamos de forma sucinta alguns autores que tratam da temtica em

    estudo para que dessa maneira, possamos compreender as vrias formas de interpretao do

    comportamento eleitoral brasileiro, o que dar suporte para a compreenso do comportamento

    eleitoral do belenense. Inicialmente faremos referncia aos estudos desenvolvidos por

    Figueiredo, (1991) e Castro, (1994), que enfocam questes da racionalidade no processo de

    deciso eleitoral, seguidos por Fbio Wanderley Reis (1988), Marcello Baquero (1997),

    Andr Singer (2000), Carreiro (2002), Almeida (2008), Anastasia (2009), dentre outros.

    Castro (1994) confronta as principais explicaes propostas pela cincia poltica para

    o comportamento eleitoral e procura explicar os mecanismos de deciso do voto segundo o

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    grau de sofisticao poltica dos eleitores3. Segundo a autora, a sofisticao poltica seria a

    varivel explicativa que melhor caracterizaria o comportamento eleitoral do brasileiro. Sua

    tese que enquanto os eleitores sofisticados (minoria) votam orientados por opinies sobre

    issues4 diversos e por uma preferncia partidria baseada em uma viso informada sobre os

    partidos e os candidatos, a grande massa popular desinformada e no tem opinio sobre as

    grandes questes do debate poltico.

    Andr Singer (2000) desenvolveu um estudo chamado: Esquerda e Direita no

    eleitorado brasileiro: a identificao ideolgica nas disputas Presidenciais de 1989 e 1994.

    Nesse trabalho o autor procura demonstrar que a identificao ideolgica precisa ser

    incorporada anlise do comportamento eleitoral no Brasil se quiser compreender de modo

    mais completo como vota o brasileiro.

    Com base em seus estudos, Andr Singer (2000) aponta algumas caractersticas do

    eleitorado no Brasil. Para o autor, o eleitor no muito conscientizado. O que ocorre que

    eles se sentem inclinados por uma posio ou por outra. Quem opta por uma posio

    conservadora ou de direita tende a ser um eleitor de alta renda, e a a escolha tem a ver com a

    defesa dos prprios interesses, ou de renda mais baixa. A ocorre o que chamo de opo pela

    ordem. Quer dizer, um eleitor que quer mudanas sociais que o favoream, mas dentro da

    ordem, sem rupturas. De certa forma, esses eleitores querem que a mudana venha por

    intermdio de uma liderana forte, que a imponha, sem necessidade de organizao popular.

    Almeida (2002) em artigo que trata Das Bases Ideolgicas do Comportamento

    Eleitoral, tece crticas em relao ao modelo aplicado por Andr Singer, quando da

    identificao do eleitor de esquerda e de direita e identifica que para tal classificao, deveria

    ser incorporado outras variveis e, portanto, o uso da escala no teria validade cientfica tendo

    em vista que o eleitor de maneira geral no sabe identificar o que ser de esquerda e de

    direita.

    Soares (2000) no artigo Em Busca da Racionalidade Perdida faz anlise do grau

    de satisfao do eleitor do distrito Federal em relao ao poder local. O trabalho se

    desenvolve metodologicamente em uma relao comparativa da administrao de Cristovam

    3 O grau de sofisticao poltica constitudo a partir do somatrio de quatro variveis: o interesse por poltica, o

    envolvimento no processo eleitoral, a exposio ao programa eleitoral gratuito na televiso e o grau de

    informao a respeito dos candidatos a presidente da repblica.

    4 Issues so temas, assuntos em que se pautam as campanhas eleitorais. Os issues so geralmente as inquietaes

    do povo. Os candidatos, assim, abstraem as necessidades e angstias da populao, e cada um, tenta mostrar a

    melhor soluo.

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    Buarque e Joaquim Roriz. O autor pretende identificar em seu trabalho o nvel de satisfao

    do eleitor com os ltimos governadores do Distrito Federal tendo como base a satisfao com

    os servios pblicos como trnsito, educao e transporte.

    Telles (2008) nos chama a ateno da importncia de verificar a lgica do eleitor no

    perodo ps-redemocratizao, se essa lgica ainda segue baseada em clivagens5 econmicas

    e sociais. Outra varivel que segundo a autora vlida para analisar o comportamento do

    eleitor em esfera municipal a racionalidade do eleitor em contextos micros-sociais, isto : de

    que forma a realidade do eleitor pode estar relacionada aos aspectos da poltica local.

    Ftima Anastasia (2009) demonstra em suas pesquisas o elevado nvel de satisfao

    da populao com o governo federal e aponta resultados positivos para o partido dos

    trabalhadores nas eleies de 2008. A autora faz correlao entre o controle econmico, a

    estabilidade e as polticas pblicas, sociais do governo federal o que faz avanar a

    popularidade do Lula e transferir votos para os candidatos locais. Dessa forma, podemos dizer

    que Anastasia levanta a tese da influncia do satisfacionismo do eleitor na deciso do voto.

    Dentre os mais recentes estudos dessa natureza, encontra-se o trabalho desenvolvido

    por Lavareda e Telles (2011) que tem como temtica, Como o eleitor escolhe seu prefeito:

    campanha e voto nas eleies municipais. Esse estudo apresenta uma anlise sobre os

    critrios que os eleitores utilizam para escolher seus candidatos e foi desenvolvido em 12

    capitais brasileiras, inclusive Belm. Nesse trabalho que avalia as eleies municipais no ano

    de 2008, Lavareda (2011), identificou a existncia de padres diferentes para votar em cada

    uma das unidades investigadas o que indica a existncia de diversidade de padres de

    comportamento do eleitor.

    Como podemos observar, so variadas as formas de interpretar o comportamento

    eleitoral do brasileiro e para entendermos o comportamento do eleitor belenense, se faz

    necessrio situarmos o leitor no cenrio poltico que envolveu as eleies de 2012 em Belm.

    5 Clivagens em Cincia Poltica um modo primrio de organizao de atitudes polticas numa certa sociedade, correspondendo formao da sociedade nas suas expresses polticas, na objetivao poltica dos seus

    interesses. As clivagens polticas correspondem a uma macro-agenda implcita, em funo da qual se estruturam

    e se colocam os principais partidos em sistema democrtico, ainda que evoluindo nas suas opes programticas

    medida que o contedo concreto dessas clivagens se vai modificando em conseqncia das mudanas ocorridas

    na sociedade.

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    CENRIO POLTICO DAS ELEIES DE 2012 EM BELM

    Contextualizamos a realidade paraense e belenense em seus aspectos econmicos,

    sociais e polticos para uma melhor compreenso do cenrio poltico-eleitoral exibido por

    Belm, nas eleies municipais de 2012.

    Com uma populao de 7,4 milhes de habitantes, o Par o segundo maior Estado

    brasileiro em extenso territorial, com uma rea de 1.247 (um milho, duzentos e quarenta e

    sete quilmetros quadrados), o Estado exibe uma economia acentuadamente dependente do

    extrativismo mineral e vegetal.

    A principal atividade industrial do Estado a de extrao de minrios ferro,

    bauxita, alumnio, mangans, estanho, ouro -, destinados exportao. Ao lado de Barcarena,

    Marab, Parauapebas e Tucuru, Belm figura dentre os cinco municpios que respondem por

    65,8% da produo industrial do Par.

    Segundo o Dieese, o Departamento Intersindical de Estatsticas e Estudos

    Socioeconmicos, o percentual de desemprego na populao economicamente ativa no Par

    situava-se, at recentemente, entre 16% e 18%. Tambm de acordo com o Dieese, 53,8% dos

    ocupados vivem hoje na faixa da pobreza, ganhando at, no mximo, dois salrios mnimos.

    O Par, que at 1994 tinha o terceiro melhor PIB, (Produto Interno Bruto), per capita da

    Amaznia, desabou para o quinto lugar, frente apenas de Roraima e Tocantins, revelam os

    nmeros do IBGE, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica.

    Dessa forma, embora o Estado produza muita riqueza, contra ele conspira uma infra-

    estrutura de transportes sucateada. Portos, estradas e ferrovias do Par permanecem em

    condies precrias.

    Esses problemas acima elencados se reproduzem, obviamente, em Belm, a capital

    do Par, um dos municpios mais populosos do Brasil, segundo estimativa do IBGE. A capital

    paraense figura no 11 lugar do ranking dos 15 municpios mais populosos do pas, com

    1.410.430 habitantes. O levantamento diz respeito aos 5.565 municpios do Pas.

    Nmeros sobre o eleitorado belenense extrado no site do TSE, o Tribunal Superior

    Eleitoral, apontam que, em um universo de 1.009.756 eleitores aptos a votar, 1,3% so

    analfabetos, o que corresponde a 6.278 pessoas. Somente lem e escrevem 5,8% do eleitorado

    belenense, totalizando 62.858 eleitores. Aqueles que estudaram at o ensino fundamental

    completo ou incompleto constituem 44,5% do eleitorado correspondendo a 207.667.

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    Declararam ter estudado o ensino mdio incompleto ou completo 39,6% que totaliza 185.329

    e 8,6% tm o ensino superior incompleto ou completo perfazendo o total de 40.235 eleitores.

    As eleies municipais de 2012 em Belm, para prefeito e vereadores, se

    desenrolaram sob o signo de uma nova correlao de foras, que, aps o naufrgio eleitoral de

    2006, ressuscitou o PSDB em geral e o governador Simo Jatene, em particular, na esteira do

    desastroso governo Ana Jlia Carepa e do fracasso da ex-governadora petista ao tentar a

    reeleio, no pleito de 2010. A inpcia poltica e administrativa de Ana Jlia Carepa foi

    tamanha, que as frustraes provocadas parecem ter estigmatizado o prprio PT no Par, a

    legenda da primeira governadora eleita pelo voto direto na histria do Estado.

    A mais elementar das estratgias de exerccio de poder dissociado de preocupaes

    ticas, que dividir para reinar, pontuou a eleio para prefeito de Belm em 2012. Com as

    excees que confirmam a regra, a maioria dos candidatos foi de legendas que serviram de

    linha auxiliar ao PSDB, na clara inteno de pulverizar a votao, forando a disputa de um

    segundo turno, diante do prvio favoritismo do deputado estadual Edmilson Rodrigues, o ex-

    prefeito de Belm, eleito em 1996 e reeleito em 2000, quando ainda no PT, e que disputou um

    terceiro mandato, agora pelo PSOL.

    A largada formal para as eleies municipais de 2012 ocorreu no dia 6 de julho,

    mobilizando em Belm um vasto elenco de candidatos a prefeito e vice-prefeito, alm de 766

    candidatos as 35 vagas de vereador. O total de candidatos a prefeito chegou a 10 postulantes,

    com destaque para o deputado federal Zenaldo Coutinho, do PSDB, do qual patrono poltico

    o governador tucano Simo Jatene; o deputado estadual Edmilson Rodrigues, do PSOL, ex-

    prefeito de Belm; o deputado federal Jos Priante, do PMDB; o vice-prefeito de Belm

    Anivaldo Vale, do PTB, partido do prefeito em fim de mandato, Duciomar Costa, o deputado

    federal Arnaldo Jordy, do PPS; e o deputado estadual Alfredo Costa, do PT. A eles se

    somaram o ex-secretrio municipal de Sade de Belm, Srgio Pimentel, do PSL; o radialista

    Jeferson Lima, do PP; Marcos Rego, do PRTB; e Leny Campelo, do PPL.

    Um fator tradicionalmente determinante para as coligaes celebradas, o tempo

    disponibilizado no horrio eleitoral gratuito na televiso e no rdio, assume um papel vital na

    disputa pelo voto, porque confere maior ou menor visibilidade aos candidatos,

    particularmente na disputa por cargos majoritrios.

    O tempo de propaganda de cada candidato ou coligao, tanto a prefeito como para

    vereador, definido proporcionalmente pelo tamanho das bancadas partidrias na Cmara dos

    Deputados. No caso de Belm, a partilha do tempo dos candidatos a prefeito, no horrio

    eleitoral gratuito, na televiso e no rdio, ficou assim definida: Anivaldo Vale (PR), 423;

  • 11

    Marcos Rgo (PRTB), 104; Sergio Pimentel (PSL), 102; Leny Campelo (PPL), 100; Jos

    Priante (PMDB), 430; Alfredo Costa (PT), 423; Arnaldo Jordy (PPS), 240; Edmilson

    Rodrigues (PSOL), 139; Jefferson Lima (PP), 235; Zenaldo Coutinho (PSDB), 639.

    Nas eleies municipais de 2012 a propaganda eleitoral gratuita, na televiso e no

    rdio, se estendeu de segunda-feira a sbado, com durao de 30 minutos, duas vezes por dia:

    das 7h s 7h30 e das 12h s 12h30, no rdio; e das 13h s 13h30 e das 20h30 s 21h, na

    televiso. Aos candidatos a prefeito foram reservadas, para suas aparies, as segundas,

    quartas e sextas-feiras. J aos candidatos a vereadores foram destinadas as teras-feiras,

    quintas e aos sbados. Nas cidades com mais de 200 mil eleitores, como o caso de Belm,

    cuja eleio para prefeito exigiu a realizao do segundo turno, a propaganda eleitoral gratuita

    teve incio a 13 de outubro e se estendeu at o dia 26. O tempo da propaganda foi dividido

    meio a meio entre os dois candidatos mais votados e a sua veiculao, na televiso e no rdio,

    ocorreu de segunda-feira a sbado, nos mesmos horrios do primeiro turno.

    Outra questo que requer comentrios quando do processo eleitoral de 2012 em

    Belm, est relacionada aos recursos que foram declarados para despesas de campanha. As

    declaraes feitas ao Tribunal Regional Eleitoral - TRE, sobre os recursos destinados s

    despesas de campanha, se comparadas com a realidade das ruas, fatalmente sinalizam para a

    banalizao de um crime eleitoral, que o caixa dois, entretanto, no esse assunto que nos

    interessa. Nossa inteno posicionar para o leitor de forma sistemtica, quanto cada

    candidato ou coligao declarou que dispunha para gastar com a campanha eleitoral e dessa

    maneira termos ideia do custo de uma campanha eleitoral para prefeito e vereador no

    municpio de Belm, de acordo com as regras da Lei Eleitoral.

    De acordo com as declaraes feitas ao TRE, o candidato com maior limite de

    recurso para a campanha poltica foi Alfredo Costa, do PT, seguido de Anivaldo Vale, do

    PTB, apoiado pelo prefeito em fim de mandato, Duciomar Costa, e Jos Priante, do PMDB.

    Em quarto lugar, em aporte financeiro para a campanha, figurou Edmilson Rodrigues, do

    PSOL. O quinto maior oramento, para a campanha, foi oficialmente o de Zenaldo Coutinho,

    do PSDB, apoiado pelo governador Simo Jatene.

    Levando em considerao o total de despesas que cada candidato declarou junto ao

    TRE e comparando com o nmero de votos obtidos por cada candidato, o custo mdio do voto

    nas eleies de Belm, no ano de 2012 ficou em R$ 7,96 (sete reais e noventa e seis centavos)

    por eleitor. Excluindo os candidatos (Leny Campelo, Marcos Rego e Sergio Pimentel), devido

    inexpressiva votao. A campanha de Jefferson Lima foi a que obteve o menor custo-

  • 12

    benefcio do ano em estudo e o voto mais caro, ficou com o eleitor do candidato Arnaldo

    Jordy.

    nesse contexto que a sociedade belenense, embalada pelo desejo de ver o

    municpio em melhores condies e as principais mazelas sociais solucionadas, alimenta a

    esperana de poder escolher aquele candidato que possa melhor represent-lo(a).

    FATORES DETERMINANTES NA DECISO DO VOTO PARA PREFEITO E

    VEREADOR DE BELM NAS ELEIES DE 2012.

    A seguir, procuramos identificar quais os fatores determinantes na escolha de um

    candidato a prefeito de Belm, na viso do eleitor. A pergunta foi: O que mais importante

    para que voc decida votar em um candidato a prefeito em 1 lugar, em 2 lugar e em 3

    lugar? Em seguida, procuramos saber o que mais importante para que voc decida votar em

    um candidato a vereador em 1 lugar, em 2 lugar e em 3 lugar?

    Os resultados apresentados no Grfico 1 vm demonstrar que a teoria da escolha

    racional se sobrepe as outras teorias quando tratamos do comportamento eleitoral do

    belenense tanto para o cargo de prefeito como de vereador. Ao mesmo tempo em que

    confirma a primeira hiptese levantada neste estudo, e que consenso entre os estudiosos da

    temtica, que diz que no h um fato nico a influenciar o eleitor, mas um conjunto de

    variveis que devem ser levadas em conta para explicar os resultados eleitorais".

  • 13

    A segunda hiptese levantada neste estudo diz que quanto maior a renda e

    escolaridade do eleitor aumentam a tendncia do voto pautado na teoria sociolgica e quanto

    menor a renda e escolaridade do indivduo o voto tende a ser motivado por escolhas racionais.

    Os dados do Grfico 2 confirmam a segunda hiptese levantada por este estudo, no

    caso das escolhas para prefeito, o que no ocorre quando a votao para o cargo de

    vereador.

    32,3

    14,1

    4,8

    3,3

    2,1

    5,7

    3,1

    1,5

    1,1

    59,6

    23,7

    14,5

    7,5

    3,3

    1,7

    10,6

    5,4

    3,1

    0,8

    0,4

    1,0

    19,2

    3,2

    11,7

    4,3

    68,8

    18,3

    18,5

    3,4

    13,2

    3,8

    11,8

    SOCIOLGICA

    Trajetria poltica/gesto anterior

    Experincia/conhecimento poltico

    Capacidade/competncia administrativa

    Conhecer os problemas do municpio

    Represente mudana

    PSICLOGICA

    O partido poltico/alianas polticas

    Influncia de amigos e parentes

    Fatores religiosos/Evanglico/Catlico

    RACIONAL

    Honestidade/sinceridade/integridade

    Propostas e projetos de gesto

    Cumprir promessas

    Por ser do bairro/ser da comunidade

    Por conhecer o trabalho desenvolvido

    Por prestar servios a comunidade

    Fator determinante na escolha de um candidato

    VEREADORES PREFEITO

  • 14

    A terceira hiptese levantada no estudo, diz respeito religiosidade. A hiptese

    afirma que os evanglicos so mais motivados a votar por critrios psicolgicos e os catlicos

    por variveis da escolha racional, assim como, os jovens so motivados por preferncias

    pautadas no voto psicolgico e os adultos na escolha racional.

    A disposio do Grfico 3 demonstra que tanto para o cargo de prefeito como para

    de vereador h o mesmo padro de deciso do voto se comparado com outras variveis de

    anlise j apresentadas o que representa uma contraposio a hiptese descrita acima. Os

    42,0

    36,3 33,1 33,4

    37,4

    45,9

    40,4

    49,2 45,7 45,0

    47,6

    40,5

    12,6 10,7 15,0 15,9

    10,5 10,6

    AB C DE 1 GRAU 2 GRAU 3 GRAU

    Fator determinante na escolha de um candidato (em %) CARGO PREFEITO

    SOCIOLGICA RACIONAL PSICOLGICA

    22,4

    17,6

    14,7

    15,9 18,3

    22,5

    55,1

    64,4 61,9 61,2 61,1

    59,9

    16,9 11,9

    15,3

    14,1 14,8 14,0

    AB C DE 1 GRAU 2 GRAU 3 GRAU

    Fator determinante na escolha de um candidato (em %) CARGO VEREADOR

    SOCIOLGICA RACIONAL PSICOLGICA

  • 15

    evanglicos tendem a votar, levando em considerao, principalmente variveis relacionadas

    escolha racional. Quanto aos catlicos o quadro toma algumas propores diferentes onde o

    percentual daqueles que optam em votar pela escolha racional permanece no mesmo patamar

    dos evanglicos, entretanto, percebe-se que as variveis da teoria sociolgica ganham

    significativo destaque junto aos catlicos.

    Em relao quarta hiptese que diz que os jovens so motivados a votar

    principalmente por critrios da teoria psicolgica e os adultos por variveis da escolha

    racional. Observa-se no Grfico 4 que a hiptese foi refutada quando se trata dos jovens e

    foi confirmada em relao aos adustos. Os resultados demonstram que a teoria da escolha

    racional novamente se sobrepe s outras teorias e indica que tanto as pessoas jovens como

    adultas tendem a votar principalmente pelos critrios da teoria da escolha racional. Vale

    EVANGLICOSCATLICOS

    46,2 45,2

    34,7 38,5

    15,6 10,8

    Fator determinante na escolha de um candidato (em %) CARGO PREFEITO

    RACIONAL SOCIOLGICA PSICOLGICA

    EVANGLICOSCATLICOS

    60,1 62,4

    18,1 17,4 16,1

    12,9

    Fator determinante na escolha de um candidato (em %) CARGO VEREADOR

    RACIONAL SOCIOLGICA PSICOLGICA

  • 16

    observar que quando a escolha est relacionada ao cargo de prefeito as variveis da teoria

    sociolgica tendem a ganhar maior destaque, assim como, nas escolhas para o cargo de

    vereador as variveis da teoria da escolha racional se destacam ainda mais.

    A quinta hiptese afirma que a deciso do voto tambm influenciada pelo cargo em

    disputa. Na eleio para prefeito predomina uma deciso do voto pautada por critrios da

    escolha racional e na eleio para vereador por critrios sociolgicos e psicolgicos. A

    hiptese foi confirmada em relao deciso do voto para prefeito. As variveis agrupadas na

    teoria da escolha racional foram as mais citadas pelos entrevistados. Os indicadores da teoria

    sociolgica ficaram em segundo lugar e os indicadores da teoria psicolgica receberam menor

    16

    25

    35

    45

    60

    46,9

    45,4

    46,8

    45,9

    41,5

    38,4

    39,3

    36,1

    37,8

    34,1

    12,7

    11,3

    14,0

    12,4

    11,3

    Fator determinante na escolha de um candidato (em %) CARGO PREFEITO

    RACIONAL SOCIOLGICA PSICOLGICA

    16

    25

    35

    45

    60

    59,5

    63,3

    59,3

    63,5

    57,5

    18,7

    18,0

    18,5

    20,5

    13,5

    18,5

    14,0

    15,5

    10,3

    14,8

    Fator determinante na escolha de um candidato (em %) CARGO VEREADOR

    RACIONAL SOCIOLGICA PSICOLGICA

  • 17

    nmero de citaes. Nas eleies para vereador a hiptese foi refutada. Os indicadores da

    teoria da escolha racional ganham ainda maior visibilidade seguida das variveis relacionadas

    teoria sociolgica e por fim aparece em terceiro lugar as variveis da teoria psicolgica.

    61,0

    12,7

    7,6

    5,9

    2,4

    0,8

    4,8

    8,9

    9,0

    9,1

    18,1

    5,1

    4,0

    3,5

    1,9

    1,4

    2,1

    14,4

    2,1

    5,1

    3,0

    0,6

    1,2

    1,3

    1,1

    45,6

    21,9

    16,5

    4,5

    2,0

    0,7

    37,4

    15,4

    9,9

    5,6

    4,0

    2,4

    12,4

    3,6

    3,5

    1,5

    1,2

    1,6

    1,0

    RACIONAL

    Honestidade/carter

    As propostas para a gesto

    Por conhecer o candidato/promessas

    Por troca de favores/ateno a rua/aterro

    Os resultados das pesquisas eleitorais

    Faa e aprove leis para beneficiar o povo

    Que fiscalize as aes do prefeito/prefeitura

    Que prestes servios relevantes/trabalhe pelo

    Que seja do bairro/comunidade

    SOCIOLGICA

    A experincia administrativa do candidato

    A trajetria/histrico poltico

    A ideologia do candidato

    Nvel educacional do candidato

    Propagandas eleitorais na TV ou rdio

    Comprometido com segmentos de classes

    PSICOLGICA

    Partido poltico do candidato

    Conversa e indicao de parentes e amigos

    Que seja parente ou amigo da famlia

    Origem tnica do candidato

    A classe social do candidato

    Religiosidade do candidato

    Opinio de pessoas influentes

    Fator determinante na escolha de um candidato

    PREFEITO VEREADORES

  • 18

    CONSIDERAES

    Tendo como referncia a literatura que trata do comportamento eleitoral em suas

    variadas formas de anlise tanto a nvel internacional como nacional, alm de pesquisas

    desenvolvidas junto sociedade belenense, podemos concluir que a conduta do eleitor

    belenense no pode ser compreendida a partir de uma nica teoria. A diversidade de fatores

    scio-culturais e econmicos que fazem parte do contexto social belenense e brasileiro

    possibilita ao eleitor formas variadas de escolher seus candidatos a prefeito e vereador.

    Os inmeros escndalos e denncias de corrupo na poltica brasileira e local gera

    descrdito na maioria da populao quando se trata de poltica e eleies, apesar disso,

    encontramos significativo nmero de pessoas que acreditam e buscam na honestidade, no

    comprometimento e no cumprimento das promessas dos candidatos justificativas para eleg-

    los.

    Os resultados deste estudo apontaram que os eleitores escolhem seus candidatos

    tanto a prefeito como para vereador, com base em fatores bem pragmticos, sendo que a

    varivel honestidade, propostas e projetos de governo ou de gesto, a trajetria

    poltica/histrico/gesto anterior/trabalho j realizado, o fato de o candidato cumprir ou

    fazer promessas que podero ser cumpridas so respostas que se sobressaram entre os

    eleitores. Observa-se que a maioria do eleitorado vota na pessoa do candidato principalmente

    por avaliar a sua honestidade. A honestidade como questo subjetiva, aparece como fator de

    suma importncia para uma sociedade que no confia nas instituies partidrias e nem nos

    polticos.

    Contemplado os objetivos deste estudo que foi identificar os critrios que os eleitores

    utilizam para escolher candidatos a prefeito e vereador, assim como, confirmar ou refutar as

    hipteses levantadas, nos detemos em comentar alguns fatores que envolveram as eleies em

    Belm, no ano de 2012 e que so relevantes para entendermos as escolhas eleitorais.

    A avaliao administrativa do governo. Em Downs, (1999), a teoria econmica da

    escolha racional argumenta que o nvel de aprovao de um governo tem como causa a

    maximizao de utilidade ou satisfao subjetiva oferecida pela atuao desse governo na

    vida dos eleitores. Isso quer dizer que a elevada avaliao negativa e a inrcia do governo

    Duciomar por um lado e por outro a forte campanha de mdia realizada pelo governo estadual

    foram pndulos nas eleies municipais o que repercutiu de forma negativo para o candidato

    do prefeito Duciomar e positivo para o candidato do governo do Estado onde a campanha se

    deu entorno da perspectiva na unio do governo do Estado e a Prefeitura Municipal de Belm.

  • 19

    O voto retrospectivo6 no foi fator preponderante, entretanto, o prospectivo

    7 merece

    comentrio haja vista estar embasado nas promessas de campanhas, naquilo que vir e o

    pragmatismo e a racionalidade do eleitor, teve como referncia esse fato para tomada de

    deciso.

    O tempo de HGPE fator bastante discutido em uma eleio e nas eleies

    municipais no Par no poderia ser diferente. O obvio que, se os candidatos dispem de

    mais tempo na televiso, aumenta a quantidade de informaes que podero apresentar o que

    possibilita poder de convencimento do eleitorado. Esse fato se evidenciou pelo crescimento

    do candidato com mais tempo no HGPE no decorrer do processo eleitoral.

    Na garimpagem do voto, as eleies em Belm tanto para prefeito como para

    vereador, foram pautadas por prticas tradicionais com o clientelismo e ao mesmo tempo o

    uso de avanadas tcnicas de comunicao. Percebeu-se que apesar da existncia de

    coligaes formadas por vrios partidos, essas coligaes foram de bastidores, pois houve

    omisso do nome da coligao, dos partidos que a compem e dos vices das chapas dos

    candidatos. Era mais fcil identificar cartaz dos candidatos com o ex. presidente Lula ou com

    o Governador. Os partidos polticos so pouco divulgados no material de campanha. Os

    partidos centram as campanhas no candidato e no no partido o que mais uma vez refora o

    personalismo.

    Acredita-se que esse conjunto de elementos expostos, remete o eleitor a decidir a

    votar na pessoa de um candidato, principalmente por avaliar a sua honestidade. Soa como

    ironia, a honestidade aparecer como critrio fundamental para um poltico ideal.

    6 Diz respeito ao que j foi feito pela candidatura. tpica de candidaturas a reeleio. Evidentemente, candidaturas a reeleio tambm faro uso da prospectiva, uma vez que precisam demonstrar o que ainda resta

    por fazer em seu projeto de governo.

    7 Correspondem as promessas de campanha, aquilo que ainda vir. Candidaturas desafiantes tambm faro uso

    da retrospectiva, uma vez que tenham experincias administrativas anteriores a demonstrar sejam pelo partido,

    seja pelo candidato.

  • 20

    ALGUMAS REFERNCIAS

    ALMEIDA, Alberto Carlos. Ideologia e comportamento eleitoral: evidncias de que a

    ideologia no importante para explicar o voto. In: XXV ENCONTRO ANUAL DA

    ANPOCS, Caxambu, 2001.

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    DOWNS, Anthony. Uma teoria econmica da democracia. Editora da Universidade de So

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    INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA. Sntese de Indicadores

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  • 21

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    NEVES, Fabrcio Jesus Teixeira. Direita, centro e esquerda no Brasil: Um mapa do

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    *Amrico Canto socilogo e mestre em Cincia Poltica. Atua como diretor de pesquisas do

    Instituto de pesquisas Acertar.