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Revista de Educação Dom Alberto
Revista de Educação Dom Alberto, n. 1, v. 1, jan./jul. 2012.
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COMPETÊNCIAS NECESSÁRIAS PARA OS PEDAGOGOS DO SÉCULO XXI: ALGUMAS
REFLEXÕES
Ieda Maria Cassuli Bianchini1
RESUMO Este estudo, de cunho qualitativo baseado em pesquisa bibliográfica,refere-se à formação de Pedagogos para o século XXI. A escolha dessa temática é motivada pela caminhada profissional dos últimos anos e por experiências que fizeram e fazem sentidos na constituição da trajetória da pesquisadora seja como docente ou como coordenadora pedagógica. Além disso, este estudo vai ao encontro da demanda de discussões que emergem nas políticas de formação de acadêmicos de um curso de Pedagogia e suas práticas pedagógicas, procurando organizar espaços de discussões em que a teoria e a prática se consolidam, e, principalmente, podendo abrir campo de reflexão sobre caminhos atuais e pertinentes à formação profissional dos discentes de cursos de licenciaturas, visando a identificar quais competências são imprescindíveis à formação desses profissionais.Isso implica em reconhecer momentos de transição e de crises paradigmáticas que caracterizam a realidade atual, exige do professor mudanças de posturas,bem como exige um repensar crítico sobre a educação, incluindo as práticas educacionais cotidianas.
Palavras-chave: Formação de professores. Competências. Práticas educativas.
ABSTRACT This study, a qualitative research-based literature, refers to the formation of Educators for the XXI century. The choice of this subject is motivated by professional walk the last few years and experiences that made and make sense of the trajectory in the constitution of the researcher is as a teacher or as educational coordinator. Furthermore, this study meets the demand for political discussions that emerge in the formation of an academic course in pedagogy and pedagogical practices, seeking to organize spaces for discussions in the theory and practice are consolidated, and, especially, may open field of reflection on ways current and relevant professional training of students for undergraduate courses in order to identify which skills are essential to the formation of these profissionais. It entails recognizing moments of transition and paradigmatic crises that characterize the present situation requires the teacher changes in the positions and requires a critical rethinking about education, including educational practices daily.
Keywords: Training of teachers. Skills. Educational practices
1 Graduada em Pedagogia, Especialista em Supervisão Escolar e Mestranda em Educação no UNILASALLE
E-mail: [email protected].
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INTRODUÇÃO
No campo das reflexões acerca da formação de professores oportunizada em cursos
de graduação para atuar na Educação Básica, torna-se relevante discutir o processo de
formação desses profissionais e práticas pedagógicas, nos cursos desenvolvidos.
Nesse percurso de formação de professores, observa-se que “o saber fazer” na
formação do professor e práticas pedagógicas é um processo muito maior, muito mais
intenso e complexo. A reflexão deve fazer parte do processo de ensinar, de aprender, de
formar-se e, conseqüentemente, de se desenvolver profissionalmente, auxiliando a
observação da atuação como professor. Eis o grande desejo que acompanha a
pesquisadora,seja no exercício da profissão, seja na formação continuada: estar em busca
de possíveis respostas para o problema e sua pesquisa de mestrado, voltada à reflexão
sobre formação de professores, tendo como recorte a formação no curso de Pedagogia.
Além disso, este estudo vai ao encontro da demanda de discussões que emergem nas
políticas de formação de acadêmicos de um curso de Pedagogia e suas práticas pedagógicas,
procurando organizar espaços de discussões em que a teoria e a prática se consolidam, e,
principalmente, podendo abrir campo de reflexão sobre caminhos atuais e pertinentes à
formação profissional dos discentes de cursos de licenciatura. Sendo assim, reafirma-se o
desejo de pesquisar sobre esse tema, pois se acredita que a formação profissional oferecida
aos graduandos do curso de Pedagogia, abordando competências fundamentais para ensinar
no século XXI, pode contribuir muito para uma educação de qualidade no ensino superior.
Ao delimitar esse enfoque, este trabalho tem por objetivo identificar as
competências necessárias à formação dos pedagogos para o século XXI. Para tanto, o artigo
apresenta seção que discute o processo de formação de professores e as competências que
se exige do pedagogo no contexto atual.
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FORMAÇÃO DE PEDAGOGOS PARA O SÉCULO XXI: QUE COMPETÊNCIAS DEVEM SER
DESENVOLVIDAS?
A formação profissional de professores tem sido, ao longo dos últimos anos, fonte de
palestras, encontros pedagógicos e muitos investimentos financeiros no campo educacional.
Mas afinal, o que significa formação? Segundo dicionário Luft “formação é o ato ou efeito
de formar; constituição de um ser ou de uma sociedade; maneira pela qual se constitui uma
personalidade, um caráter, uma mentalidade; educação” (2001, p. 335). O mesmo autor diz
que formar é dar forma a algo, criar, constituir, dar formação a alguém, educar, desenvolver-
se, diplomar-se, graduar-se.
Zabalza (2011, p. 38-39) questiona ao referir-se à formação de professores:
O que esta formação deve oportunizar aos sujeitos para que efetivamente possam denominá-la assim? Competências necessárias para o século XXI? Como podemos dizer que alguém se formou como consequência da experiência ou programa que lhe foi oferecido? Ou dito de outro modo, que condições qualquer programa de formação(universitário ou não deve reunir para ser, de fato realmente formativo?
Relevante a observação do autor quando se refere à formação de professores como
oportunidades de crescimento e aperfeiçoamento de pessoas, num sentido global, tendo em
vista que essa integração é fundamental para a formação do docente. Nesta perspectiva, as
trajetórias pessoais e profissionais são fatores importantes, definidores e apontam para as
formas como o professor vai atuar, suas concepções sobre o fazer pedagógico. O docente
deve buscar aprender de forma contínua, visando ao seu aprimoramento. Cada professor
apresenta um histórico de vida, possui sua individualidade e, ao longo de sua trajetória
docente, vai se formando e se transformando, cabe a ele aceitar as oportunidades e
transformá-las na prática.
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Zabalza (2011, p.29) “afirma de que a importância da formação deriva da
necessidade da vinculação ao crescimento e ao aperfeiçoamento das pessoas,
aperfeiçoamento este que tem de ser entendido no sentido global. Crescer como pessoa”.
É relevante pontuar que a formação de docentes têm sido objeto de análise e
estudos a partir do movimento de transformação do ensino superior no Brasil. Atualmente,
espera-se dos docentes universitários que eles formem profissionais competentes e
comprometidos socialmente, que formem alunos que disponham dos saberes e do
conhecimento científico e que saibam fazer uma prática eficaz. Nesse contexto, referindo-
se à formação de docentes, também se defende a idéia de que o professor precisa exercer
sua profissão com o comportamento ético e com responsabilidade, que seja portador de
competências e atitudes que o capacitem a ultrapassar os obstáculos de toda ordem
educacional. É isso o que também se espera na formação de professores de Pedagogia.
Para a reflexão que se pretende desenvolver sobre competências necessárias para os
professores do século XXI,descreve-se o conceito de competências a partir de autores como
Rios (2001), Sugumar (2009), Braslavsky (1999), Perrenoud (2000) e Fernandes (2006) entre
outros.
A idéia de competência tem sido recorrente nas discussões que tratam do Ensino
Superior. Esse conceito está interligado ao perfil do futuro profissional. Sugumar (2009)
define competência do professor como uma característica subjacente de um indivíduo que
está causalmente relacionada ao critério de referência eficaz ou performance superior num
trabalho ou situação. Ao se referir ao conceito, o autor também o associa a conhecimento, a
habilidades e a atitudes que o professor deverá demonstrar em sua carreira.
Para Rios (2001), a competência do professor é um conjunto de saberes e fazeres, um
conceito semelhante ao de Braslavsky (1999), para a qual a competência docente é a
capacidade de fazer com saber e com consciência, buscando os resultados desse saber. Para
Braslavsky (1999), a competência envolve simultaneamente conhecimentos, maneiras de
fazer, valores e responsabilidades pelos resultados daquilo que foi realizado. Na ação
docente, Fernandes (2006) aponta a competência como uma configuração de dimensões
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inter-relacionadas, destacando que técnica, política, ética e estética se concretizam na
prática.
Já para Perrenoud (2002, p.16 ) a competência relaciona-se ao “saber fazer algo”,
que, por sua vez, envolve uma série de habilidades: “Do latim habilitas, que significa
“aptidão”, destreza, disposição para alguma coisa”.Para o autor a sociedade muda rápido,
por isso deve-se preparar os docentes para a prática reflexiva (inovação/cooperação).Neste
sentido, a descrição de definições de conceitos sobre competências do professor remete a
uma reflexão sobre o perfil do profissional que as universidades “formam” e faz alusão à
necessidade de formação de um professor inovador, que atenda às necessidades deste
século.
Segundo Perrenoud (2002, p. 164), a idéia de “competência implica certa ocorrência
entre diferentes elementos presentes em uma situação-problema e pode manifestar-se por
intermédio da aptidão para resolvê-los”, ou seja, habilidades que expressam a capacidade
que o indivíduo possui ao encontrar uma solução para um problema que se apresente a ele.
Em Dez Novas Competências (2000),o autor defende que um professor, por exemplo, deve
desenvolver uma prática reflexiva constante. Para tanto, enumera as seguintes habilidades e
competências: ter domínio da matriz curricular do curso em que atua; sistematizar
conceitos; elaborar questões e paradigmas que estruturam os saberes de uma disciplina.
Além disso, ressalta a importância de o professor propor situações-problema para que os
estudantes possam transpor obstáculos. Enfatiza ainda que se, forem problematizados, os
estudantes, ao se apropriarem do problema, construirão hipóteses. São concepções ligadas
à perspectiva cognitivo/interacionista em que o sujeito constrói seu próprio conhecimento.
Para Imbernón (2000, p. 93) “nós, educadores, temos um grande desafio no futuro.
Não podemos ser apenas espectadores passivos desse futuro, mas reservar-nos um papel
de sujeito-atores”. Não se pode esquecer de que professores são formados através de
modelos de formação convencionais, e estes se encontram inclusos em cada professor.
Enquanto alguns docentes conseguem fazer o movimento de reflexão e rever o próprio
modo de aprender e ensinar, outros ainda encontram-se passivos e perplexos diante de
tantas inovações. Cabe aos professores e gestores educacionais acompanhar os reclames da
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sociedade, com vistas a identificar novos paradigmas vigentes, a buscar respostas e a
construir uma prática mais reflexiva.
Para García (1999), os professores não são técnicos que executam instruções e
propostas elaboradas por especialistas. Cada vez mais se assume que o professor é um
construtivista, que processa informação, toma decisões, gera conhecimento prático, possui
crenças e rotinas que influenciam a sua atividade profissional.“Considera-se o professor com
‘um sujeito epistemológico’, capaz de gerar e contrastar teorias sobre a sua prática”
(GARCIA, 1999, p. 47).
Delors (2006), no relatório da UNESCO, na Comissão Internacional sobre Educação
para o século XXI, destacou saberes que serão a base das competências do futuro. E estes se
organizam em torno de quatro Pilares que serão a base das competências do futuro:
Aprender a conhecer, aprender a fazer , aprender a viver juntos e aprender a ser.Esse
conjunto de indicadores de competência para o professor pode satisfazer as exigências da
sociedade do conhecimento. A proposta do autor pode ser assim sintetizada:
QUADRO 1 – Pilares da modernidade
Nessa perspectiva, essas competências e qualificações tornam-se, muitas vezes, mais
acessíveis se quem estuda tiver possibilidade de se pôr à prova e de se enriquecer, tomando
1 APRENDER A CONHECER O aprender a conhecer, segundo Delor(2006), enfatiza a aprendizagem como um processo que nunca está acabado,um processo contínuo que depende tanto do professor como do próprio aluno, é uma forma de investigar a curiosidade, construir e reconstruir o conhecimento.
2 APRENDER A FAZER O aprender a fazer, segundo Delors(2006), refere-se à indissociabilidade do aprender a conhecer. Não se trata apenas de aprender uma profissão, mas de ter qualificações e competência para enfrentar situações que essa profissão possa exigir, relacionando também o trabalho em equipe. É preciso ter iniciativa, gostar de uma certa dose de risco, ter intuição, saber comunicar-se, saber resolver conflitos e ser flexível.
3 APRENDER A VIVER
JUNTOS
Saber relacionar-se e comunicar-se e saber trabalhar em equipe apontam para a outra aprendizagem preconizada por Delors (2006), o aprender a viver juntos. Acredita-se que essa deveria ser uma das características fundamentais da sociedade.
4 APRENDER A SER
A última das aprendizagens postuladas por Delors (2006) refere-se ao aprender a ser. Importante destacar a relevância desta aprendizagem: uma formação comesse pressuposto conseguirá despertar a afetividade, o companheirismo e o amor, fatores tão necessários para o viver junto.
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parte em atividades profissionais e sociais, em paralelo com os estudos” (DELORS, 2006, p.
20).
Considerando tais idéias, o autor traz sua contribuição sobre a importância de
redimensionar a teoria na prática, fortalecendo assim o conhecimento. A prática se altera
quando os professores possuem desejo de modificá-la, e sob essa ótica refletir sobre sua
própria ação é fundamental para uma educação mais eficaz. Esse exercício exige do
professor formador um assessoramento e acompanhamento pedagógico, sistemático
durante a formação de futuros professores da Educação Básica.
Para Delors (2006, p. 90)
Uma nova concepção ampliada de educação devia fazer com que todos pudessem descobrir, reanimar e fortalecer o seu potencial criativo – revelar o tesouro escondido em cada um de nós. Isto supõe que se ultrapasse a visão puramente instrumental da educação, considerada como a via obrigatória para obter certos resultados (saber-fazer, aquisição de capacidades diversas, fins de ordem econômica), e se passe a considerá-la em toda a sua plenitude realização da pessoa que, na sua totalidade, aprende a ser.
Cada professor traz dentro de si a sua história de vida e sua trajetória, enquanto
profissional e sujeito. Aos poucos o professor vai descobrindo novas práticas e adquirindo
consciência de que as teorias contemporâneas da educação apontam cada vez mais
necessidade de o professor se descobrir e se encontrar através das seguintes interrogações:
Quem sou? Onde estou? Onde quero chegar? Esse movimento vai sinalizando e revelando
suas capacidades profissionais que na sua totalidade contribuem para aprender a ser.
É interessante apontar que, nesse processo, a universidade enfrenta desafios. Zabalza
(2011) afirma que o desafio das universidades é traduzir essas idéias num projeto de
formação, adequando as peculiaridades das exigências de formação à instituição
universitária e ao curso em que os estudantes se formam.
Para Perrenoud (2000), o professor precisa trabalhar com competência para dar
conta da demanda exigida e precisa ser visto como um facilitador do processo ensino-
aprendizagem. Para tal, deve realizar uma mudança constante na seleção dos conteúdos,
partindo da realidade da vivência de seus alunos. Para que isso ocorra, é necessário um
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constante aperfeiçoamento para que o professor possa estar sempre atualizado, pois se
observa que o mercado de trabalho espera do profissional que ele seja capaz de resolver
diversas situações-problema que ocorrem no ambiente de trabalho.
Perrenoud (2002) afirma de que as competências profissionais revelam-se em um
professor reflexivo, que tenha a habilidade de avaliar e se auto-avaliar de acordo com uma
postura crítica. Assim esse profissional pode se fortalecer enquanto educador e garantir a
qualidade de seu trabalho. A ação educativa, através de uma prática crítica e reflexiva,
destaca a necessidade de se repensar os procedimentos e posturas desempenhados na
profissão, bem como a importância de se colocar na condição de eterno aluno, haja vista a
necessidade de se estar sempre aberto ao novo e se apropriar de novos paradigmas
existentes na sociedade contemporânea: “Falar no desenvolvimento de competências no
aluno implica dialogar sobre competências do próprio professor-educador. Para o professor
desenvolver competências na criança, ele precisa compreender e redescobrir suas próprias
competências” (PERRENOUD, 2002, p.168).
Desse modo o desafio das universidades implica pensar a formação permanente dos
profissionais que nela atuam, formando pessoas que aceitam o novo e os desafios que o
cotidiano profissional apresenta e se permitam transformar e não simplesmente repetir
conceitos e práticas. É preciso começar, é na dúvida, na incerteza, na inquietação, no diálogo
entre os pares que nasce o melhor de cada profissional, o que possibilita garantir uma
ampliação dos conhecimentos e proporciona a construção da autonomia, cooperação,
responsabilidade e criatividade.
Conforme Tardif (2011) os saberes profissionais dos professores, que são baseados
em conhecimentos, competências e habilidades, são utilizados diariamente no seu fazer
pedagógico, a fim de atingir seus objetivos. O primeiro saber relaciona-se à subjetividade
dos professores: para o autor o professor é um sujeito que assume sua prática a partir dos
significados que ele mesmo lhe dá, um sujeito que possui conhecimentos e um saber-fazer.
No segundo saber, o autor destaca a epistemologia da prática profissional, o conjunto dos
saberes utilizados na prática cotidiana, os conhecimentos, as atitudes, ou seja, saber-fazer
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e saber-ser. O terceiro saber destaca algumas características dos saberes profissionais:
saberes temporais, saberes plurais e heterogêneos, saberes personalizados.
Tardif (2011), ao destacar esses saberes, faz referência aos saberes necessários à
profissão. Diante do exposto, percebe-se a preocupação constante do autor em traçar o
perfil do profissional do século XXI, em que o trabalho dos professores deve ser considerado
um espaço de transformação e mobilização de saberes, em que se vê o professor como um
sujeito do conhecimento, um ator que c considera em sua prática teorias, conhecimentos e
saberes, já que, conforme Tardif (2011, p.234), “os professores são os principais atores e
mediadores da cultura e dos saberes escolares.”
Já Demo (1996, p. 274-278) relaciona aspectos relevantes que se espera deste novo
educador:
Capacidade de pesquisa, capacidade de elaboração própria, capacidade de analisar processualmente, capacidade de teorizar as práticas, capacidade de atualização, capacidade de trabalho interdisciplinar e capacidade de manejar instrumentos eletrônicos.
Nas considerações de Demo (1996), é preciso efetivar mudanças significativas e
transformadoras na prática do professor e apreender os mecanismos cognitivos de
aprender, pois o conhecimento é instrumento fundamental para que ocorram as
transformações exigidas pela sociedade. As atitudes do professor e o seu compromisso com
a aprendizagem dos alunos são indispensáveis ao se considerar os processos pelos quais os
professores se apropriam e constroem seus conhecimentos, suas características pessoais e
suas experiências de vida e profissional. Além disso, é relevante levar em conta a
flexibilidade das ações de formação, que devem estar de acordo com necessidades de
aprendizagens e as características do que se aprende. Outra competência que o autor
considera fundamental na formação é a de se trabalhar de forma cooperativa.
Compartilhando com a premissa do autor, acredita-se que o trabalho, quando construído
em equipe, acarreta efeitos positivos, e o comprometimento com a qualidade na educação
torna-se maior.
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CONSIDERAÇOES FINAIS
Autores como Imbernón (2010), Tardif (2011) e Nóvoa (2002) entre outros destacam
que os fatores que interferem na formação são de várias ordens. A complexidade das
instituições de ensino, a comunicação entre os professores, a formação inicial recebida, a
complexidade das interações da realidade, os estilos de liderança escolar, as relações e os
sistemas de apoio da comunidade profissional são elementos intervenientes no processo de
formação docente.
Para Imberón (2010, p.100)
A tarefa docente sempre foi complexa, mas nas últimas décadas tal complexidade aumentou muito. A formação deve deixar de trabalhar a partir de uma perspectiva linear, uniforme e simplista para introduzir-se na análise educativa a partir de um pensamento complexo, afim de revelar as questões ocultas que nos afetam e, assim, tomar decisões adequadas.
Diante de várias reflexões referentes à formação de professores, acredita-se que é
preciso repensar a educação. Tornam-se urgentes a construção de novas alternativas, a
descoberta de técnicas novas, projetos e programas desafiadores pautados na inovação e
inteligência voltados para uma reflexão crítica sobre o contexto atual, pois a formação
vivenciada há décadas por educadores, habituados a discutir e explorar conceitos formais, já
não se mostra adequada como referência para a nova geração de docentes e para o
contexto atual. Além disso, há de se considerar o avanço do conhecimento: primeiramente a
aprendizagem era fundamentada no conteúdo como fim e os professores necessitavam
atingir seus objetivos, nos tempos atuais passa a dirigir-se como meio e os professores
precisam muito mais do que transmitir saberes, precisam desenvolver competências. São
observações que ilustram a complexidade no processo de formação docente já apontada
por Imbernón (2010).
Um dos desafios dos profissionais que formam professores nas instituições de ensino
superior é manter-se sempre em constante aprendizado sobre as novas metodologias de
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ensino e refletir sobre como e o que ensinar no contexto atual em que alunos e escolas têm
papéis distintos aos de décadas anteriores. Nessa perspectiva, parece ser oportuna a
presença de um professor reflexivo, um profissional comprometido e autônomo que sabe
tomar decisões e que tem opiniões próprias. O percurso desta formação, voltado para
professores críticos reflexivos, implica à universidade propor novas técnicas, estratégias,
programas e projetos e criar espaços de discussões entre pares para refletir sobre sua
própria ação.
Dialogando com essas reflexões, Contreras (1997) afirma que a autonomia
profissional requer oportunidades em espaços públicos para expor e defender pontos de
vista, posicionamentos, compromissos a respeito do ensino e da realização profissional.
Esses espaços auxiliam no desenvolvimento de competências profissionais, oportunizando
momentos de análise crítica da ação pedagógica, justificando assim a reflexão de prática
educativa do professor. Nesse sentido, o movimento da autonomia profissional vem
acompanhado de um movimento interior de compreensão e construção pessoal e
profissional.
Neste sentido, à luz dessas reflexões, postula-se que o educador também possui um
papel relevante nesse processo de rápidas transformações, por isso as práticas pedagógicas
devem permitir aos alunos não somente acessar o conhecimento, mas também transformá-
lo e inová-lo. Para tanto, é importante enriquecer os processos educativos de maneira que
possam contribuir com a autonomia, criatividade, reflexão crítica e busca ativa e interativa
do conhecimento. Toda mudança nasce do casamento entre a necessidade e o desejo
(ROSA, 1994, p. 16). Essas interrogações questionadoras inquietam e reforçam cada vez
mais a necessidade de se pensar um professor consciente e competente, que possa rever
seus conceitos e tomar decisões transformadoras, que orientam o seu trabalho da melhor
forma possível.
Através da experiência construída ao longo da trajetória profissional, vê-se que é
imprescindível, nos tempos atuais, parar para observar e refletir sobre a atuação
pedagógica, pois isso remete a uma reflexão sobre o trabalho e consequentemente indica a
necessidade de uma formação de qualidade para os futuros professores.
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Para que isso se torne possível, a pesquisa é uma alternativa de intervenção na
prática pedagógica inovadora. Favorece a formação do professor ao ser instigado sobre suas
concepções e experiências, faz a auto-reflexão sobre o seu trabalho. Nesse contexto de
reflexão acerca da formação ofertada no ensino superior, as pesquisas focadas em
qualidade no ensino superior vêm aumentando, buscando caminhos viáveis para reconstruir
e ressignificar a prática pedagógica, com a avaliação sistemática da qualidade na formação
de professores do ensino superior.
Segundo relatório da UNESCO (2006), a qualidade é um conceito multifacetado e está
em constante reconstrução. Os indicadores de qualidade da educação foram elaborados
para contribuir com as instituições de ensino superior e setores envolvidos com a educação
na avaliação e na melhoria dos processos de formação professores, contribuindo, assim, na
construção de uma sociedade mais inclusiva, solidária e justa.
Morosini (2008), ao tratar sobre a internacionalização da educação superior, no que
se refere a indicadores na perspectiva da qualidade do ensino e da pesquisa, sinaliza
Reformas no currículo, padrões mais altos e desenvolvimento de instrumento para avaliação de estudante, inovação em programas profissionais, programas melhores para instrutores e desenvolvimento em padrões e sistemas de promoção; grande consolidação da qualidade e crescimento da atenção dada a função ensino nas IES e nas comunidades acadêmicas, através de discussões sobre ensino, monitoria e implicações do ensino por ele mesmo [...] da informação para os professores sobre seus pontos fortes e fragilidades,situações diagnósticas de ajuda; discussão e mudança de valores desenvolvimento de sentido de pertença a uma IES e legitimidade daqueles que iniciaram a avaliação.(MOROSINI, 2008, p. 262)
A implementação de mecanismos avaliativos que priorizam a qualidade da educação
superior está relacionada a mudanças no processo de ensino e aprendizagem, sobretudo
porque apontam para critérios e indicadores, destacando o que está acontecendo a
contento e o que precisa ser redimensionado para alcançar os objetivos previstos para a IES,
para o Curso, para a produção docente e discente, entre outros aspectos.
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Tendo em vista as discussões referidas até o momento, postula-se a necessidade de
um professor reflexivo no contexto atual, questionador de suas ações, com criticidade sobre
a sua ação pedagógica. Essas assertivas induzem a pensar a formação de professores sobre
uma nova ótica num sentido mais amplo: uma formação voltada para o desenvolvimento
intelectual, humano e cultural tanto para os formandos, como para os próprios professores,
que fazem parte dos processos de conhecimento de si e do mundo. A grande preocupação
do momento está voltada para a necessidade urgente do professor reflexivo de sua prática,
indagador de suas ações, crítico de seu saber-fazer e daquela que busca sentido e prazer
naquilo que faz, sendo essas algumas das competências requeridas nos tempos atuais.
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