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Como a população indígena está se apropriando do espaço urbano em
Manaus?1
Anna Karoline Rocha da Cruz2
Resumo
Até pouco tempo atrás não existia dados globais que mensurasse o volume
populacional de autodeclarados indígenas segundo povo/etnia no Brasil. O Censo de
2010 foi o primeiro a suprimir essa lacuna, graças a junção da autodeclaração a outros
critérios de identificação dos povos indígenas como, por exemplo, o pertencimento
étnico e a língua falada no domicílio. Estes novos quesitos censitários permitiram
também realizar um estudo mais detalhado e com um nível maior de desagregação,
já que são dados coletados no questionário do universo da pesquisa. Assim, este
trabalho buscará compreender como a população autodeclarada indígena se apropria
do espaço urbano no município de Manaus, Amazonas, em 2010. Para tanto, buscar-
se-á, inicialmente, analisar o volume total de pessoas autodeclaradas indígenas por
sexo e idade e a composição domiciliar dos mesmos. Posteriormente, produzir um
mapa com a espacialização desses indígenas por bairros, com o intuito de observar a
dispersão ou a coesão desses grupos na cidade. E por fim, analisar os povos/etnias
segundo as línguas faladas por bairros, para que se possa pensar a apropriação
desses povos na cidade de Manaus e suas consequências.
Palavras-chaves: população indígena na cidade; Manaus; pertencimento étnico.
1 Trabalho apresentado XXI Encontro Nacional de Estudos Populacionais organizado pela Associação Brasileira de Estudos Populacionais (ABEP), nos dias 22 a 28 de setembro de 2018, em Poços de Caldas, Minas Gerais. 2 Doutoranda em Demografia pelo departamento de Demografia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp e bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM).
Introdução
Até pouco tempo atrás não existia dados globais que mensurasse o volume
populacional de autodeclarados indígenas segundo seu povo no Brasil. Com o Censo
de 2010, foi possível suprimir essa e outras lacunas deixadas pelos censos anteriores.
Com ele, juntou-se a autodeclaração a outros critérios para identificação dos povos
indígenas como, por exemplo, o pertencimento étnico e a língua falada no domicílio,
todos quesitos inseridos no questionário básico da pesquisa. A partir disso, abre-se
um leque de oportunidade de análise sobre os povos indígenas com níveis de
desagregação que os censos anteriores não permitiam.
Sendo assim, o objetivo principal desse trabalho é compreender como a
população autodeclarada indígena se apropria do espaço no município de Manaus,
Amazonas, em 2010.
Breve histórico sobre a cidade de Manaus
Manaus, antes de se torna uma grande metrópole, era o lar de muitos povos
indígenas. A cidade nasceu de antigas aldeias das missões e de fortalezas do período
colonial (FREIRE, 2003). Sua ocupação pelos portugueses ocorreu na metade do
século XVII, mais especificamente, em 1669, com a construção da fortaleza de São
José do Rio Negro e posteriormente com o povoado de nome Lugar da Barra (MELO;
MOURA, 1990). Pouco tempo depois, o lugar que ainda tinha características de uma
aldeia rural, alcançou uma população de aproximadamente 3.000 habitantes
(FREIRE, 2003). Boa parte dessa população era composta por índios3, alguns
remanescentes dos Tarumã, Baré, Baniwa e Passé, que foram aldeados ao redor da
Fortaleza da Barra do Rio Negro, enquanto outros eram Paiana, Warekena e Manaú,
todos transferidos de Barcelos (FREIRE, 2003).
Com a exploração e o crescimento da produção borracha, que teve duração
aproximada entre 1870 a 1920, a cidade começa a se expandir, atingindo um volume
3 Aqui Freire (2003) juntou duas categorias censitárias os “índios” – que são os destribalizados, e excluindo os aldeados e os considerados hostis – e os “mamelucos” – que são os filhos de índios com brancos.b
populacional de 75.000 habitantes (MELO; MOURA, 1990). Nesse período, os índios
que residiam lá já não falavam mais a Língua Geral, e sim, o português (FREIRE,
2003). Além disso, a população manauara começava a ser composta de migrantes
estrangeiros (ingleses, portugueses, franceses, italianos, turcos, judeus libaneses e
sírios) e nordestinos atraídos pelos lucros da extração da borracha (PINHEIRO, 2014),
deixando então a população indígena de ser maioria entre eles.
Foi nesse período também que Manaus ganhou estrutura de uma grande
cidade, pelo menos para época, com a criação de um sistema de abastecimento
d’água domiciliar, serviços de esgoto, iluminação elétrica, universidade, um porto
fluvial, sem deixar de incluir o luxuoso Teatro Amazonas, o Palácio da Justiça, a
Biblioteca Pública, a Alfândega e a Penitenciária do Estado. Todos esses
empreendimentos lhe renderam o título de “Paris dos trópicos”, aterrando e
escondendo, por consequência, as heranças dos povos indígenas que existiam na
cidade, que assim como os nordestinos, não viveram as glórias desse “paraíso”
(ANDES, 2015; MELO; MOURA, 1990).
Dos 75.000 habitantes em 1920, Manaus passa a acolher 283.685, em 1970,
um aumento expressivo que representava não só um crescimento vegetativo da sua
população como também um aumento no volume de migrantes que se dirigiam para
a capital (MELO; MOURA, 1990: 37). As migrações nesse período ocorriam das
cidades ou vilarejos que perderam sua importância com o fim do extrativismo da
borracha. Muitos migrantes se concentraram em áreas menos valorizadas da cidade
como, por exemplo, às margens dos igarapés (MELO; MOURA, 1990), que ficaram
densamente povoados durante um longo período de tempo na cidade (NOGUEIRA;
SANSON; PESSOA, 2007) e constituíram a chamada “Cidade Flutuante”.
Essa cidade foi a primeira grande favela de Manaus, e como próprio nome
sugere, nasceu sobre as águas ao longo da orla-sul do Rio Negro, Centro, “frente da
cidade” e nos igarapés que adentram a cidade (SOUZA, 2016). Nela, tinham-se
aproximadamente 1.950 casas flutuantes com uma população estimada de 12.000
pessoas, em 1966 (SOUZA, 2016 apud Lenz et al., 1966, p.7), A destruição dessa
cidade foi o marco final de preparação para receber o modelo desenvolvimentista da
Zona Franca e Distrito Industrial de Manaus. A remoção desses habitantes ocorreu de
forma violenta, onde parte dos moradores foram realocados no bairro da Raiz e outra
nos bairros da Vila da Prata e dos Jardins dos Barés (ANDES, 2015).
Fato interessante é que até início da década de 1940, a malha urbana de
Manaus não passava do Centro, bairro de origem da cidade, os bairros do Educandos
e Cachoeirinha (na Zona Leste), Mocó/ Vila Municipal (Zona Norte) e São Raimundo
(Zona Oeste) (SOUZA, 2016). O modelo de desenvolvimento (Zona Franca de
Manaus) e expansão empregada em Manaus produziu regiões marcadas pela
presença das chamadas “invasões”.
Com a criação da Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA),
em 1967, a cidade ganha mais um expressivo fluxo de migrantes interiorano e de
outros estados da Federação, vindos especialmente das regiões Norte e Nordeste.
Esse novo fluxo migratório gerou uma população de 611.763 habitantes em Manaus,
em 1980, em que 33,7% desses eram de não naturais (MELO; MOURA, 1990). Essa
migração também ocorre com a população indígena, mas com certas especificidades.
Isto porque as motivações que levam os indígenas migrarem podem ser distintas
daquelas citadas pelos não-indígenas como, por exemplo, por serem expulsos de
suas terras ou pela falta de oportunidade de educação e atendimento adequado de
saúde nas aldeias (TEIXEIRA; MAINBOURG; BRASIL, 2009). Esse retrato sobre a
história de construção de Manaus, ainda que apresentado de forma breve, reflete na
atual situação da cidade.
Método
A área de estudo será a zona urbana da cidade de Manaus, dividida em 63
bairros. Atualmente, a cidade é delimitada ao norte com o município de Presidente
Figueiredo, ao sul com os municípios de Iranduba, Careiro e Careiro da várzea, a leste
com os municípios de Rio Preto da Eva e Itacoatiara e a oeste com o município de
Novo Airão. Segundo o IBGE, Manaus não possui nenhuma Terra Indígena,
diferentemente dos municípios próximos que estão situadas as seguintes terras:
Waimiri-atroari, Rio Jumas, Lago do Marinheiro, Boa Vista, Gavião, Apipica, Tabocal,
Paraná do Arauato e Rio Urubu.
Como já foi citado, os dados utilizados nesse trabalho são oriundos do Censo
Demográfico de 2010. As análises se darão, inicialmente, no volume total de pessoas
autodeclaradas indígenas por sexo e idade e a composição domiciliar dos mesmos.
Posteriormente, produzir-se-á um mapa com a espacialização desses indígenas por
bairros, com o intuito de observar a dispersão ou a coesão desses grupos em
Mananus. E por fim, analisar-se-á os povos/etnias segundo as línguas indígenas
faladas por bairros, para que se possa pensar a apropriação desses povos na cidade
de Manaus e suas consequências.
Resultados e Discussões
Segundo o IBGE, residiam em Manaus, em 2010, 4.040 pessoas
autodeclaradas indígenas, montante bem diferente daquele contabilizado nos Censos
de 1991, com 952 indígenas, e de 2000, 7.787. Essas variações também ocorreram
em outras cidades brasileiras, como apontam Teixeira e Mainbourg (2016), que
acreditam que a explicação para isso esteja na inclusão dos quesitos sobre etnia e
língua no Censo de 2010 que poderiam inibir os entrevistados com pouca convicção
de sua própria identidade indígena. Ainda que a par dessas considerações, não se
pode desconsiderar os avanços que esses quesitos trouxeram para entender, por
exemplo, quem e quantos são os povos indígenas residentes nas cidades. É a partir
desses quesitos que algumas análises presentes neste trabalho se darão.
Sexo, idade e composição domiciliar dos povos indígenas em Manaus
O percentual de mulheres indígenas na capital amazonense em quase todos
grupos etários, especialmente para as idades economicamente ativas (Tabela 1), é
um pouco maior do que a masculina, algo já demonstrado em outra pesquisa
(MAINBOURG ET AL., 2009). Uma explicação para essa diferença seria pelo
deslocamento das mulheres para capital em busca de escola e trabalho (TEIXEIRA;
MAINBOURG; BRASIL, 2009).
Tabela 1. Distribuição dos autodeclarados indígenas na cidade de Manaus por sexo e grandes grupos etários, 2010.
Fonte: Censo demográfico de 2010, IBGE.
Quanto a estrutura etária, observa-se uma população composto por pessoas
mais jovens e uma pequena parcela de pessoas idosas. Boa parte desses indígenas
(42%) são descendentes dos que migraram há mais tempo para a cidade, tratando-
Idade
n % n % n %
0 - 14 484 12 445 11 929 23
15- 64 1.380 34 1.472 36 2.852 71
65 e mais 109 3 150 4 259 6
Total 1.973 49 2.067 51 4.040 100
Homens Mulheres Total
se de uma segunda geração de indígenas4. Enquanto, os indígenas migrantes (ou
seja, aqueles que não são naturais de Manaus) totalizam em 2010, 2.536 pessoas,
montante bem diferente daquele registrado em 2000 (3.437) (TEIXEIRA, 2008), que
poderia dar indícios de uma redução no número de migrantes indígenas na cidade.
No entanto, outros fatores podem estar influenciando esses valores como por
exemplo, a mudança na declaração de raça ou cor, em que o indivíduo que se
declarava indígena no censo de 2000 não o faz em 2010.
Uma linha de investigação que busca compreender essas mudanças nos dados
censitários para os povos indígenas realiza uma análise a partir da composição
domiciliar dos mesmos. Essa investigação, em especial aos indígenas residentes das
áreas urbanas, pode ser relevante para entender as complexas mudanças observadas
entre 2000 e 2010 como também entre categorias de cor ou raça. Assim, segue abaixo
uma pequena reflexão sobre a composição domiciliar dos indígenas residentes na
cidade de Manaus.
Conforme apresenta a Tabela 2, dos 4.040 autodeclarados indígenas em
Manaus, 3.149 residem em domicílios cujo responsável é indígena, que pode indicar
um processo de manutenção da identidade étnica e de reprodução sociocultural
desses povos. Algo presente também para o conjunto do país (urbano e rural
combinados) em que o percentual de pessoas residindo em domicílios em que todos
são indígenas é muito elevado (73%) (MARINHO, 2015).
Tabela 2. Número de pessoas residentes em domicílios com chefia indígena segundo
raça ou cor em Manaus, 2010.
Fonte: Censo demográfico de 2010, IBGE.
4 Soma-se essa geração a partir dos indígenas que declararam terem nascido e sempre morado em Manaus (1.767) e aqueles que nasceram em Manaus, mas já moraram em outro município ou país (102).
Condição no domicílio chefiado por indígenas n % n % n % n % n %
Pessoa responsável pelo domicílio 1343 42,6
Cônjuge ou companheiro(a) 190 25,2 49 32,2 16 31,4 273 17,1 274 8,7
Filho(a) do responsável e do cônjuge 178 23,6 48 31,6 12 23,5 510 32,0 582 18,5
Filho(a) somente do responsável 115 15,2 12 7,9 7 13,7 315 19,8 355 11,3
outros parentes 255 33,8 41 27,0 15 29,4 466 29,3 560 17,8
Agregado(a) 4 0,5 1 0,7 8 0,5 9 0,3
Convivente/ Pensionista 13 1,7 1 0,7 1 2,0 18 1,1 24 0,8
Parente do(a) empregado(a) doméstico(a) 2 0,1 2 0,1
Total 755 100 152 100 51 100 1592 100 3149 100
Branca Preta Amarela Pardas Indígenas
Raça ou cor
Além desse caso, há também pessoas que se declararam com raça ou cor
diferente da indígena que residiram em domicílios chefiados por indígenas, que
totalizam um montante de 2.550 pessoas. Boa parte dessas pessoas se declararam
pardas (1.592) e fazem parte do núcleo familiar do responsável do domicílio (1.098).
Esse elevado número pode carregar uma certa “herança” de décadas passadas, em
que os indígenas estavam sujeitos a ser discriminados como inferior ou culturalmente
inferior e classificados como “caboclo” (LUCIANO, 2006), que pode levar moradores
indígenas a não se identificarem como tal. Este é caso também de cidade de
Tabatinga (AM) que mesmo contando com uma Terra Indígena próxima apresentou
um contingente populacional no Censo de 2010 que não correspondem com a
realidade. O censo de 2010 contabilizou 810 autodeclarados indígenas enquanto uma
pesquisa participativa, realizada em 2014, enumerou 5.073 pessoas pertencentes do
povo Kokama e Ticuna (TEIXEIRA; MAINBOURG, 2016).
Um outro movimento é olhar os indígenas que residem em domicílios cujos
responsáveis não são indígenas, análise presente na Tabela 3. Nesta, somente uma
pequena parcela dos autodeclarados indígenas (876) residem em domicílios cujos
responsáveis não são indígenas. Observou-se também um pequeno percentual de
indígenas que eram empregados domésticos e residiam em domicílios cujos
responsáveis eram brancos, amarelos ou pardos. Possivelmente, trata-se de
mulheres indígenas vindas de outros municípios do Amazonas em busca de melhores
condições de vida (TEIXEIRA; MAINBOURG; BRASIL, 2009).
Tabela 3. Número de autodeclarados indígenas residentes em domicílios com chefias
não indígenas em Manaus, 2010.
Fonte: Censo demográfico de 2010, IBGE.
Condição dos indígenas no domicílio n % n % n % n %
Cônjuge ou companheiro(a) de sexo diferente 126 49,6 37 45,7 17 40,5 197 39,5
Filho(a) do responsável e do cônjuge 20 7,9 20 24,7 8 19,0 81 16,2
Filho(a) somente do responsável 17 6,7 4 4,9 3 7,1 50 10,0
outros parentes 62 24,4 19 23,5 9 21,4 129 25,9
Agregado(a) 8 3,1 1 1,2 13 2,6
Convivente 10 3,9 2 4,8 15 3,0
Empregado(a) doméstico(a) 11 4,3 3 7,1 12 2,4
Pensionista 1 0,2
Parente do(a) empregado(a) doméstico(a) 1 0,2
Total 254 100 81 100 42 100 499 100
Branca Preta Amarela Parda
Cor ou raça do responsável pelo domicílio
Povo/etnia em Manaus
Em Manaus, foram contabilizados 99 povos/etnias diferentes em 2010. Destes,
os povos com o maior número de declarados foram: Baré, Sateré-Mawé, Tukano,
Múra, Tikúna, Kokama e Mundurukú. Por tanto, assim como apresentado em uma
pesquisa amostral na cidade, em 2007 (TEIXEIRA, MAINBOURG e BRASIL, 2009),
observa-se que boa parte dos indígenas residentes em Manaus são provenientes das
terras indígenas do estado do Amazonas. Dos povos que não estão situados no
Amazonas, encontrou-se os: Guarani, Guarani Kaiowá, Guarani Mbya, Pataxó,
Potiguara, Zoró. Estes apresentavam somente 1 ou 2 pessoas declaradas, e estavam
dispersos na cidade. Além desses, encontrou-se também 15 pessoas pertencentes
de povos e etnias de outros países, montante provavelmente que mudará no próximo
censo devido ao grande fluxo de migrantes indígenas vindos da Venezuela.
Ao analisar a distribuição dos autodeclarados indígenas na cidade de Manaus
(Figura 1), observou-se que a maior concentração, em termos absolutos, de
autodeclarados indígenas ocorreram nos bairros do Jorge Teixeira (57), Cidade Nova
(50) e Redenção (18), com 333, 323 e 204 pessoas, respectivamente. A maior parte
dos autodeclarados indígenas do bairro do Jorge Teixeira e Cidade Nova não
souberam dizer o povo/etnia a que pertenciam. Já no bairro da Redenção, boa parte
- mais especificamente, 1105 pessoas - se declararam pertencentes do povo Sateré-
Mawé.
5 Juntando os 104 declarados no Bairro da Redenção mais 6 pessoas declaradas no Bairro da Paz.
Figura 1. Número de pessoas autodeclaradas indígenas por bairros da cidade de Manaus, 2010.
Fonte: Censo demográfico de 2010, IBGE.
Com relação a língua indígena falada, observou-se um pequeno número de
falantes da cidade. Do total de indígenas em Manaus, 516 falam uma língua indígena
dentro do domicílio, que resultam em 43 línguas indígenas faladas na cidade (Tabela
4). Dentre aquelas com o maior número de falantes estão: Tukáno, Mawé, Tikúna,
Kokama e Língua Geral Amazônia.
Tabela 4. Número de pessoas segundo a língua indígena falada dentro do
domicílio por povo/etnia em Manaus, 2010.
Fonte: Censo demográfico de 2010, IBGE.
Segundo Mainbourg, Araújo e Cruz (2012) a capacidade de falar fluentemente
uma língua indígena é mais alta entre os mais velhos do que os mais jovens em
Manaus. E muito provavelmente isso se intensifica quando estes jovens nascem na
cidade.
língua indígena falada ou usada Povo/ Etnia Freqüência
Apurinã Apurinã 9
Aruak não especificado Apurinã 1
Banawá Baniwa / Kubeo 9
Dení Dení 2
Desána Desána 6
Guarani Kaiowá Sateré-Mawé 1
Guarani Mbya Guarani Mbya 1
Kulina Madijá Kulina Madijá 1
Lingua de Sinais Ka'apor Baniwa 1
Lingua Geral Amazônica
Kokama / Baniwa / Baré/ Tariana/ Múra/ Arapáso/ Desána /
Tukano / mal definada/ não sabem/ não determinada 80
Línguas indígenas de outros países Outras etnias indígenas de outros países 3
Mal definida Mal definidas 1
Miránha Miránha 8
Mundurukú Mundurukú 3
Nahukwá Maragua 1
Não determinada Não determinadas 1
Não Sabe Mundurukú/ Baniwa/ Baré 4
Não Sabe Não Sabem 6
Tariána Tariana 1
Tikúna
Arara do Aripuanã / Tariana/ Tikuna/ Arapáso Desána/
Piratapuya/ Siriano/ Tukano 103
Tukáno
Sateré-Mawé / Apurinã/ Baré/ Tariana/ Tikuna/ Arapáso/
Bará/ Desána/ Kubeo/ Piratapuya/ Tukano/ Tuyyuca/ nçao
sabem 217
Tupi-Guarani não especificado
Sateré-Mawé/ Kokama/ Guarani/ Baré/ Múra/ Tukano/ Não
determinadas/ Não sabem 38
Tupinambá Baré/ Tupinambá/ Tupinambaraná 6
Wanana Wanana 8
Wapixána Wapixana/ Múra 2
Yanomámi Yanomámi 3
516Total
Considerações finais
O Censo de 2010 permitiu uma investigação mais detalhada de quem seriam
esses povos, a partir da inserção de quesitos como pertencimento étnico e línguas
indígenas. Com esses ganhos é possível gerar análises que levem em consideração
as especificidades de cada povo, permitindo, assim, saber as relações específicas de
cada um com a cidade. Esse foi só um pequeno exercício sobre as potencialidades
que o Censo pode nos oferecer para conhecer os diversos e dispersos povos
indígenas residentes na cidade de Manaus.
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