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CMM – FREQUÊNCIA 1 Colecção do Pomian; What Could a Social Anthropologist Do in a Museum of Anthropology do Michael Ames; Franz Boas and Exhibits de Ira Jackins Ethnograpkic Showcases de Raymond Corbey The world as a marketplace, Hinley Curtis 1. Resumo do texto de Pomian “Colecção” Definição de colecção; tipos de colecção; colecção de colecções; o invisível e o visível; semioforos e coisas; utilidade e significado; homens-semioforos e homens- coisa; hierarquia social; colecções particulares e museus; marxismo: o objecto como produto e instrumento de produção; objectos como documentos de estilo de vida e comportamento culturais passados; questão da cultura material e as suas quatro características (pag 13, 14), materialidade, colectividade, repetição Cultura material Einaudi – a noção de cultura material tem uma grande capacidade de adaptação às necessidades da época; foi-se formando no decurso da segunda metade do século XIX; o estudo da cultura material só se transforma a partir dos anos 1920; a arqueologia como um caminho vantajoso para aceder cultura material; A cultura material tem 4 grandes características principais: (1) colectividade (que se opõe à individualidade, é uma cultura do colectivo, ao grosso da população); (2) repetição (interessa-se mais pelos não- acontecimentos, os factos do quotidiano, por aquilo é estável e que se repete vezes suficientes para serem encarados como hábitos, tradições reveladores da cultura que observa); (3) os fenómenos infra-estruturais (economia, técnica, Marx e as quantidades mensuráveis de

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Colecção do Pomian;

What Could a Social Anthropologist Do in a Museum of Anthropology do Michael Ames;

Franz Boas and Exhibits de Ira Jackins

Ethnograpkic Showcases de Raymond Corbey

The world as a marketplace, Hinley Curtis

1. Resumo do texto de Pomian “Colecção”

Definição de colecção; tipos de colecção; colecção de colecções; o invisível e o visível; semioforos e coisas; utilidade e significado; homens-semioforos e homens-coisa; hierarquia social; colecções particulares e museus; marxismo: o objecto como produto e instrumento de produção; objectos como documentos de estilo de vida e comportamento culturais passados; questão da cultura material e as suas quatro características (pag 13, 14), materialidade, colectividade, repetição

Cultura material Einaudi – a noção de cultura material tem uma grande capacidade de adaptação às necessidades da época; foi-se formando no decurso da segunda metade do século XIX; o estudo da cultura material só se transforma a partir dos anos 1920; a arqueologia como um caminho vantajoso para aceder cultura material; A cultura material tem 4 grandes características principais: (1) colectividade (que se opõe à individualidade, é uma cultura do colectivo, ao grosso da população); (2) repetição (interessa-se mais pelos não-acontecimentos, os factos do quotidiano, por aquilo é estável e que se repete vezes suficientes para serem encarados como hábitos, tradições reveladores da cultura que observa); (3) os fenómenos infra-estruturais (economia, técnica, Marx e as quantidades mensuráveis de matérias-primas ou de manufactos, elementos monetários); (4) os objectos concretos (estudar o material como forma de atingir o não material, conhecer os objectos, as suas dimensões, formas matéria e modos de fabrico e a sua proveniência exacta)Estudar a cultura material equivale estudar os meios materiais de produção: (a) os meis de produção extraídos da natureza e as modificações que o homem se inflinge; (b) as forças de produção (instrumentos ou força humana); (c) os instrumentos da produção como objectos fabricados e os produtos destinados ao consumoA técnica pertence ao domínio da cultura material; toda a cultura tem uma receptividade limitada; a cultura material tem uma dimensão temporal, espacial e social.

Miller: “Artefacts and the meaning of things” – Os antropólogos veem geralmente de sociedades que experienciam um grande aumento na quantidade da cultura material; a noção de significado tende a incorporar um sentido de “significativo” mais próximo do termo “significancia”; os artefactos são meios através dos quais

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damos forma e chegamos à compreensão nós mesmos, outros, ou abstrações como a nação ou o moderno; é aqui que a sua materialidade se torna problemática; os antropologos estudam determinados objectos porque crêem que os artefactos estão “cheios” de significado, regularmente integrando varios elementos da vida cultural; não é apenas nas sociedades industrializadas que virtualmente todos os objectos encontrados são artefactuais; seria descabido tentar definer cultura material como o resultado de desejos especificos ou diferenciar os productos da intenção daqueles da historia; cultura como o processo através do qual grupos humanos se constroem e se sociabilizam, aqui a cultura material torna-se um aspecto de objectivição; estudar cultura material é considerar as implicações da materialidade no processo cultural; a cultura material como uma forma de estar no mundo; as implicações da propria materialidade das coisas e a forma como tendemos a pensar nas coisas como opostas às pessoas; os artefactos são ordenados ao longo da historia de diferentes maneiras, procuravam-se padrões de afinidade; a ordem das coisas é também culturalmente construida; os objectos são vistos não tanto por si mesmos mas pelo lugar que ocupam como uma troca ou um ritual que tem um determinado efeito; nos museus do século XIX os objectos eram organizados do mais simples para o mais sofisticado; determinados grupos sociais tem mais influencia para a criação do mundo dos artefactos de tal maneira que incorporam os principios de organização impostos por esses mesmos interesses; pessoas que são criadas cercado por artefactos que incomporam esses principios de ordenação tendem a compreender o mundo em concordancia com essa ordem; homogenização da cultura material é tida como um sintoma da homegenização da cultura em si; o processo da americanização, dado que o os EUA são tidos como um simbolo de consume de massas; o aumento quantitative de bens é tido como representativo da queda imediata da alienação, estes bens são feitos nas sociedades metropolitanas por corporações multinacionais; artefactos, ou invés de coisas, podem relacionar-se mais com multiplicidade de significados e identidades, e as relações entre forma e significado podem ser complexos e ambiguous; os artefactos e a sua fisicalidade; os artefactos são também importantes nos seus contextos sociais particulares; os artefactos são objectos manufacturados que podem revelar a tecnologia que os fez; são usados de formas especificas; tal como as pessoas se conhecem atraves da identificação do totem do seu clã, é seu dever garantir a preservação para a proxima geração; os monumentos são, geralmente, grandes formas materiais construidas especificamente para incorporar a noção de que transcendem as gerações; a enorme herança industrial que se desenvolveu na maioria das sociedades inclui inumeros pequenos museus locais ou santuarios historicos para a industrialização; a segunda forma do relacionamento entre artefactos e pessoas deriva de um equivalencia temporal na qual objectos apoiam estados particulares das pessoas desse tempo, assim uma mudança nos atributos materiais de uma pessoa é indicative de uma mudança da pessoa em si; transigencia, e também longevidade, é uma propriedade potecial da relação entre pessoas e coisas, mas o seu significado cultural pode variar consideravelmente.

Pomian “Colecção”

Os objectos de coleção são um universo sem fim.

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Colecção – qualquer conjunto de objectos naturais ou artificais, mantidos temporariamente ou definitivamente fora do circuito das actividades económicas, sujeitos a uma protecção especial num local fechado preparado para esse fim e exposto ao olhar do publico, são exposta de forma a serem visto e não tocado, o seu carácter precioso manifesta-se na existência de um mercado no qual circulam mas não podemos reduzir uma coleção particular a um simples entesouramente; as peças são protegidas por possíveis furtos; excluem-se como coleções todas as acumulações de objectos formados por acaso e todos aqueles que não estão expostos ao olhar; o paradoxo da coleção: por um lado as peças são mantidas fora dos circuitos económicos, por outro são submetidas a uma protecção especial

Existem 2 tipos de coleção: (1) a particular e (2) o museu que existem também em sociedades diferentes da nossa, o número de objectos que formam uma coleção depende do local, do estado da sociedade, das suas técnicas e do modo de vida, a sua capacidade de produzir e acumular o excendente, da importância que essa comunidade atribui à comunicação entre o visível e o invisível; uma coleção é uma instituição universalmente difundida

As peças de coleção tem um valor de troca sem terem um valor de uso

Uma coleção de coleções: (1) o mobiliário funerário (objectos que pertenciam aos defuntos, serão olhados e admirados por aqueles que vivem no além); (2) as oferendas (nos templos estes objectos perdiam a sua utilidade, devem ser apenas olhados e admirados por parte dos deuses ou defuntos, deixando de estar acessíveis aos homens); (3) os presentes e os despojos (objectos oferecidos ou tirado ao inimigo, os despojos parecem estar na origem das coleções particulares romanas); (4) as relíquias e os objectos sagrados (objectos que se crêem ter estado em contacto com uma divindade, ou vestígios de um grande acontecimento mítico, foi o cristianismo que difundiu o culto dos santos, levando as reliquias ao seu apogeu, garantiam auxilio e prosperidade; as igrejas fornecem uma coleção); (5) tesouros principescos (colecionam objectos em busca de acumular riquezas e tinham apenas um uso cerimonial, como as joias).

As coleções: o visível e o invisível: as coleções formam um elo entre o mundo visível e o mundo invisível; todos os objectos são intermediários entre os espectadores e o invisível, participam no intercâmbio entre aquilo que une o mundo visível e invisível, asseguram a comunicação entre os dois mundos o que não podem fazer sem serem observados; no caso do mobiliário fúnebre os seus espectadores são virtuais, as oferendas representam o longínquo, o oculto, o ausente, a fama dos deuses, o invisível de onde vivem; as relíquias representam seres normalmente invisíveis; os tesouros representam o invisível antes demais devido aos materiais de que são feitos, as suas formas (como a coroa) apresentam uma tradição, preservam a memória do passado;

O invisível é tudo aquilo que está muito longe no espaço ou no tempo, que está para lá de qualquer espaço físico, ou eternidade.

Os objetos que colaboram no intercâmbio entre o visível e o invisível diferem entre si segundo o carácter do destinatário e do emissor

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A linguagem foi um factor importante no processo do entendimento do invisível, sendo aquilo que conduz, inevitavelmente à oposição do visível ao invisível, a linguagem engendra-o Utilidade e significado: a história do interesse humano por objectos que não são coisas é breve; a coleção de curiosidade que “saltam aos olhos”, atraem o olhar; a mudança que se produz no paleolítico superior é fundamental dado que a relação com o invisível era apenas efectuado através da linguagem; para a maximação da utilidade ou para do significado; quer a utilidade quer o significado pressupõem um observador, a utilidade e o significado são reciprocamente exclusivos

Semióforos – objectos que não tem utilidade, que não podem ser consumidos, representam o invisível, são dotados de um significado, não são manipulados e são expostos ao olhar através do qual revelam o seu significado; atinge a sua plenitude quando se torna uma peça de celebração

Coisa é um objecto tem apenas uma utilidade sem ter significado nenhum, as coisas não podem trocadas por semióforos e os semióforos por outros inferiores

Existem objectos parecem ser ao mesmo coisas e semióforos mas não o são ao mesmo tempo a mesma coisa para um único observador

Um objecto vê-se atribuir um valor quando é protegido, conservado ou reproduzido, as peças de coleção são preciosas porque representam o invisível

Quanto mais significado tem um objecto menos importância tem a sua utilidade

Homem-semióforo reside no topo da pirâmide da organização hierárquica da sociedade, é um centro, quanto mais longe se está dele mais longe se está também do invisível; estão rodeados de objectos semióforos e abstém-se de qualquer actividade utilitaria

Homem-coisa reside na base da pirâmide, no centro encontram-se pessoas com diferentes graus de valores entre significado e utilidade É a hierarquia social que conduz ao aparecimento das coleções

As colecções particulares e os museus: na europa ocidental do século XIX surgem novas atitudes no que respeita ao invisível e especialmente ao passado; surgem 4 novas classes de semióforos: (1) os desperdícios (adquirem um novo significado quando são relacionados com textos da antiguidade, tornam-se objectos de estudo e adquirem significados através da pesquisa); (2) os que se estudam (os objectos da história natural (na França do século XVIII)); (3) os quadros e obras de arte (que ganham uma nova dignidade enquanto semióforos, aquilo que a arte representa tornar-se-á mais cedo ou mais tarde invisível; a protecção das artes cabe aos príncipes que se tornam mecenas, coleccionadores); (4) os instrumentos científicos (século XVII)

A ciência e a arte passam a ser símbolos de superioridade apenas detidos pelos detentores de poder, tornando os semióforos inacessíveis aos demais;

No século XVII inicia-se um processo para que todos tenham acesso aos semióforos; criam-se as bibliotecas publicas e mais tarde os museus;

Os museus sobrevivem à morte do seu fundador, ao contrário das coleções particulares, são uma instituição publica, assume um acto de colectividade; os museus substituem as igrejas como locais onde todos os membros da sociedade podem comunicar na celebração de um culto – o da história nacional

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As expedições do século XV trazem não só mercadorias vantajosas mas também novos saberes e novos semióforos (dado que são recolhidos não pelo seu uso mas pelo seu significado como representantes do invisível – países longínquos, etc)

2. Resumo do texto de Ames

O antropólogo palhaço; o período do Museu; período Museu-Universidade; período Universidade; razões para a fraca atracção pelo museu; diferenças em relação às condições de trabalho num e noutro; o antropólogo académico vs o antropólogo do museu; Universidade da Colombia Britanica; Museu como artefacto

Perguntas possíveis: Como é que as investigações podem agir de forma a "aumentar" as coleções? Com que sentidos é que os objectos foram enquadrados no museu? Que significados têm aqueles objectos para fazerem parte daquela coleção? Que tipo de estratégia desenvolvia para um tipo de objecto que sabiam muito pouco, de determinada coleção (tentar perceber o que foi escrito pelo colecionador sobre o objecto; descobrir o que foi escrito sobre aquele tipo de objecto na altura em que foi recolhido; estes pontos podem não dizer nada sobre a origem do objecto, mas permitem perceber o objecto em si)?

Buchli, “Introduction” – o termo cultura material surgiu em inglês no século XIX; o estudo da cultura material tornou-se um dos pontos centrais no nascimento da disciplina antropológica; desde o seu inicio que a cultura material, como uma categoria e como uma área de estudo, esteve intimamente ligada a grandes projectos culturais; no século XIX era usada como uma forma de medir o grau de sofisticaçãoo técnica e social de um determinado grupo; os vários grupos “não-civilizados” estavam sujeitos aos mesmos processos sociais e técnicos ainda que em níveis diferentes; todas as invenções e instituições da humanidade podiam ser usar como indicadores desta inexorável dinâmica de progresso; existia um desejo etnográfico para ordenar, gerir e constituir novos temas, sobretudo, coloniais e sujeitos aos princípios da universalidade a que todos podiam aspirar; estes objectos de conhecimento era uma super-categoria de objectos – a cultura material tem desde o seu inicio uma utilidade com um trabalho cultural especifico para fazer; Marx – relíquias de instrumentos de trabalho passados que possuem a mesma importância para a investigação de formas extintas de economia social, assim como os fosseis o fazem para determinar uma espécie extinta animal; o progresso social podia ser “lido” através da cultural material de um povo ou nação particular como um fóssil pode ser “lido” para determinar as fases da evolução; os objectos estavam intimamente relacionados com a ideia de progresso, eram o supremo significante do progresso universal e da modernidade; as curiosidades/artefactos colhidos noutras terras serviam como prova de um evento e um contacto e de um conhecimento dos povos encontrados; Boas – estas objectificações foram suplementadas pelas monografias etnográficas que começaram a imergir durante o desenvolvimento da antropologia social britânica como fonte de conhecimento autoritário das outras sociedades; estes artefactos como sugere Pomian tornavam o invisível visível; as escavações arqueológicas apresentam os produtos do passado, é a história da cultura material; nas grandes feiras todas as conquistas da humanidade era apresentadas sobre um único

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tecto, fornecendo uma ideia de ordem, progresso e prosperidade universal, assim estas grandes exposições serviam como uma janela para o reino universal do progresso e da prosperidade ao alcance de todos, os objectos expostos eram semióforos que representavam o invisível; a cultura material tinha a capacidade de materializar a identidade nacional na criação de uma nacionalidade; no século XIX a vida europeia tradicional mudava muito rapidamente assim como a sociedade tradicional que desaparecia como o advento do industrialismo, tal como a cultura material as ferramentas era o objectificação final de esperanças intrínsecas, a cultura material torna-se um espelho no qual o homem se pode observar; presentemente a cultura material é uma consequência directa da tradição de colectar do século XIX; Pomian – estas primeiras coleções etnográficas eram tentativas claras de mediar entre dois mundos: o conhecido (ocidental) e um desconhecido e invisível (não-ocidental); usamos hoje a cultura material como uma forma de traduzir o mundo do outro, as materialidades das imaterialidades; artefactualidade – o efeito de um artefacto com um propósito social.

Chapman, “Arranging etnhology” – o sistema geográfico (os objectos eram expostos consoante o seu local de origem, de acordo com aquilo que consideravam como agrupamentos raciais e culturais, acreditavam que fornecia a melhor noção do estado relativo do progresso, a condição das suas artes e a natureza dos seus contactos com outros povos); o sistema de Jomard (favorecia um sistema comparativo de classes, ordens, espécies e variedades, incluindo categorias funcionais (comida, vestuários, etc), tipos de actividade (ferramentas de agricultura, armas)) o sistema de Klemm – tipológico (delineando paralelos entre peças etnográficas e arqueológicas, pretendia demonstrar uma sequencia do desenvolvimento da tecnologia, evoluindo através de pequenas gradações);

Ames “What could a social anthropologist do...” – o antropólogo palhaço que ensina as crianças, era dinâmico e mostrava entusiasmo em relação às colecções e artefactos, tornando o museu mais atractivo; no inicio da sua história a antropologia estava confinada ao museu, dado que era aqui que se sediavam as bases institucionais, o antropólogo desenvolve aqui os seus estudos, teorias – Período do Museu; entre 1849-1890 nos EUA e na Inglaterra, a natureza do trabalho antropológico modifica-se, o interesse foca-se agora em estudar aquilo que está por detrás da criação de um artefacto mais do que o artefacto em si, como tal os antropólogos começaram a desenvolver mais trabalho nas universidades – Período Museu-Universidade; em 1920 dá-se uma verdadeira ruptura entre o antropólogo e os museus que os deixa pela universidade, começa a associar com cientistas sociais e comportamentais que se preocupam mais com os componentes simbólicos e idealistas da cultura, o antropólogo torna-se mais metodologicamente e cientificamente orientado – Período da Universidade; nesta década (1920’) a antropologia deixa de se interessar pela cultura material; Ames refere 3 razões que provocam a fraca atração pelos museus por parte dos antropólogos: (1) muitos objectos não justificam o seu estudo devido à pouca informação que se tem sobre eles (qual a sua origem, função, significado); (2) muitos dos museus dificultam a pesquisa e fornecem pobres condições de trabalho aos investigadores; (3) a falta de importância dado aos problemas teóricos nos estudos da cultura material, deixando de promover teorias etnológicas; Ames refere ainda as diferenças de condições de trabalho entre o museu e a

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universidade: em primeiro lugar o museu é mais democratizado que a universidade já que está integrado na comunidade onde está situado, por outro lado a universidade é mais estática no seu grau de autonomia; o antropólogo académico é somente responsável pelo seu trabalho, apenas responde aos seus iguais e aos seus mecenas, não têm que responder perante o publico ou mesmo àqueles que estudam, o seu estudo é o da etnologia; o antropólogo do museu vê-se obrigado a partilhar notas pessoais, mostrar “trabalho feito” aos outros profissionais, ao publico e àqueles que estudam e de quem colectam, trabalho em equipa, está sujeito a criticas por parte do publico, é mais visível e logo mais vulnerável, deixa de lado as aspirações académicas; o trabalho no museu é interdisciplinar, o museu providencia um terreno fértil para a pesquisa pura numa variedade de tópicos e para o desenvolvimento das teorias antropológicas; Universidade da Colômbia Britânica incita os estudantes a serem mais reflexivos e a fazerem etnografia no seu próprio museu; o museu como um artefacto na nossa sociedade, as suas actividades e programas como performances culturais, apresenta os artefactos de outra cultura que podem ser examinados como nossos, já que os objectos “vivem par lá da sua origem, adquirem novos significados, novos usos”; uma afirmação feita não só pelo cultura nativa e originária desses objectos mas também pela nossa própria sociedade; o museu é uma representação da sociedade em que está inserido e onde ocorre diariamente uma reposição da cultura, é uma maquina de recontextualização, uma plataforma de transmissão cultural, disseminando o conhecimento pelo publico em geral, promovem a herança cultural, são repositórios de dados, encorajam investigação a longo prazo, permitem ao antropólogo social examinar padrões e propriedades culturais, através do estudos dos museus nas suas propriedades sociais e históricas podemos estudar a construção da cultura na sua realidade concreta.

3. Resumo do texto de Jackins

Boas e a era dos museus; Museu Nacional Americano; Mason vs Boas; Boas e as 3 categorias e tipos de publico; Boas sobre os métodos expositivos; Boas e as principais falhas na organização do museu

Boas inicia-se na Antropologia em plena era dos Museus; após ter trabalhado em Berlim e na Feira de Chicago, começa a trabalhar no Museu Nacional (1896-1905) com Mason;

Exposição tribal vs Exposição tipológica

Mason era apoiante do evolucionismo cultural, acreditava que os objectos deviam ser organizados de acordo com a sua utilidade e nível tecnológico, para ele os objectos eram o reflexo do estado evolutivo da cultura em que foram criados, possuía uma perspectiva etnocêntrica, defendia a evolução paralela em que as diferentes culturas representam diferentes etapas da mesma história, a humanidade é só uma; noção de invenções universais;

Boas defendia o relativismo cultural, assim confrontava-se com Mason; acreditava que os fenómenos etnológicos não podiam ser classificados como fenómenos biológicos; o principal objectivo das coleções etnográficas era

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demonstrar e fazer compreender que é civilização não é algo de absoluto mas sim relativo, que as nossas ideias, concepções e valores são apenas verdadeiras na nossa civilização; acreditava que os artefactos deviam ser agrupados e expostos de acordo com a tribo a que pertencem e não de acordo com as suas acaracteristicas morfológicas; “cada invenção é producto de um complexo desenvolvimento histórico”; Boas visava contextualizar, organizar; para Boas a recolha de materiais era algo de importante para complementar a informação disponível no museu mas para a administração era apenas uma forma de atrair mais pessoas; defendia vivamente a importância do trabalho de campo

Os museus eram suportados por homens de negócios e não por homens da ciência; Boas viu-se obrigado a recorrer a mecenas como Jesup (presidente do museu); Boas acreditava que as restrições de poder, dinheiro, autoridade dificultavam o progresso científico no museu; ambicionava um museu que comunicasse com o publico mas que continuasse simultaneamente a apostar na investigação

Boas definiu três propósitos para o museu ligados a 3 tipos de publico com tipos expositivos distintos: (1) entretenimento em detrimento da educação – crianças e adultos menos instruídos; (2) instrução – professores básicos e adultos mais instruídos que necessitavam de instrução sistemática para que melhor lhe serviriam os museus de menores dimensões; (3) pesquisa/investigação – estudiosos mais avançados, a categoria mais importante para Boas e única razão porque existiam os grandes museus, criavam o elo entre o museu e a universidade, pesquisa avançada implicava instrução avançado;

Boas recomendava a existência de (1) edifício do museu - salas de exposição, unidades de colecção de estudo e salas de trabalho; (2) arranjo das salas - o conteúdo das salas deveria ser organizado consoante a proveniência, subdisciplina e tamanho do artefacto; procurava direcionar a atenção do visitante de acordo com uma ordem; (3) defendia a existência de “life-groups” em actividades quotidianas e de subsistência de forma a ilustrar o contexto e significados da cultura tribal, no entanto eram dispendioso em tempo e perícia; (4) etiquetas identificativas, (5) expositores para protecção dos objectos e monografias sobre o povo/artefacto para aqueles que estivessem interessados em melhor conhecer aquela cultura

Na década de 1890 o museu começou a integrar alguns parâmetros na organização Boasiana, contudo não desistiu do arranjo tipológico

Boas afastou-se do Museu devido a várias divergências com a administração dado que para Boas o museu devia incitar ao estudo, pesquisa, educação ao passo que para a administração o importante era o apelo ao publico; com Boas também a antropologia rompeu com o museu

Boas recolheu as principais falhas na organização dos museu: (1) o evolucionismo cultural, dispersando a informação ao publico; (2) pensamento etnocêntrico; (3) errada interpretação cultural

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4. Resumo do texto de Corbey

Exibições mundiais; o imperialismo e o colonialismo; o “outro” como matéria-prima; obsessão pela ideia de progresso; o carácter enciclopédico das feiras; a feira mundial como um microcosmos; os selvagens em exibição e exibições vivas; Hagenbeck e o Bildung e o Naturfolk; comércio e ciência; o civilizados e os cristãos; declínio; gaze

Price, “On the mall” – A promoção da exibição de nativos para explicar e entreter o publico europeu e americano; só apenas na segunda metade do século XIX é que a exibição de humanos se tornou completamente institucionalizada com o casamento da ciência antropológica e do mundo do espetáculo; até os próprios visitantes de países distantes, ainda que estudiosos, eram submetidos ao olhar e à curiosidade europeia; a exposição de St. Louis superou Chicago na escala das suas exibições de “primitivos”; estas exposições americanas tinham por um lado uma agenda científica (demonstrar a ascensão do homem civilizado) e por outro uma agenda política (justificando as conquistas americanas coloniais); Festival Americano de Folklore;

Corbey, “Etnhographic showcases” Feiras mundiais Nas exibições e feiras mundiais o mundo era colectado e exibido testemunhando o imperialismo das nações-estado do século XIX; os ditos selvagens eram disponibilizados para a inspecção visual por parte dos milhões de cidadãos ocidentais; esta forma de lidar com o exótico, com o “colonial otherness” testemunhavam a hegemonia europeia e a sua bem sucedida expansão; tudo era exibido – as matérias-primas e produtos, as próprias pessoas como matéria-prima da colónia, assim como artefactos arqueológicos; tencionava-se mostrar o progresso em todas as áreas; rapidamente estas feiras se tornaram inseparáveis da noção de imperialismo e nacionalismo; o idioma civilizacional formava a base da visão contemporânea dos “primitivos” ligado à ideologia imperialista e ao darwinismo social; tencionavam possuir um carácter enciclopédico; em todas as culturas as elites acumulam preciosidades como forma de adquirir prestigio e mostrar a sua cognoscibilidade; As feiras mundiais como um microcosmos criado pela classe média ocidental, como uma construção de um mundo feito à sua própria imagem e padrões europeus; contavam a história da humanidade que acompanhava e legitimava a expansão colonial; Progresso e civilização eram conceitos-chave por detrás das representações dos “selves” da classe média e dos “outros” selvagens

Selvagens em exibição Os nativos das colónias rapidamente se tornaram standart (a partir da feira de Paris em 1878) nas feiras mundiais para educação e entretenimento dos ocidentais; eram exibidas juntamente com as suas “vilas nativas”; Estas exibições “vivas” ficavam no parte circunscrita do espaço da exibição que representavam o seu mundo, a fronteira entre a selvajaria e a civilidade, natureza e cultura; eram lugares de confronto físico entre os cidadãos europeus com os

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africanos exóticos para entretenimento e edificação; os nativos eram exibidos como diferentes a obrigados a comportarem-se como tal; Os governos estavam bem cientes da oportunidade de publicitar as suas politicas coloniais e de a manipular a atitude publica em relação aos territórios adquiridos; Em Chicago (1893) havia uma clara oposição entre o selvagem e o civilizado e o desejo pelos povos civilizados que ainda eram selvagens (exemplo pai e filho);

Hagenbeck – exibia tribos africanos nos zoos e feiras – os naturvolker (“pessoas naturais”); o fornecimentos dos nativos seguia de perto as conquistas coloniais; promovia o Bildung (o conhecimento e cultura que um individuo civilizado deve possuir) e estimulava nos alemães o seu entusiasmo nacionalista pela expansão colonial; no virar do século é dada mais atenção e importância à etnografia do que à simples exibição das diferenças entre uns povos e outros; na Holanda os bushman podiam ser tocados com a mesma atitude com o que se faz com os animais;

Comércio e ciência Durante a expansão europeia todas as gerações de europeus podiam ver povos de outros locais do planeta (núbios, inuites, pigmeus, ameríndios, saami); durante os século XVIII e XIX estas exibições vivas era cada vez mais enquadradas cientificamente (especialmente na antropologia física e na história natural); exemplo de Sara Baartman; os antropólogos entravam em conflito com aqueles que desejavam mais tirar partido do seu interesse comercial do que dos interesses científicos e educacionais; Nos laboratórios antropomórficos e psicométricos os visitantes testemunhavam e participavam na pesquisa científica em relação às características raciais (frenologia e craniometria); Procurava-se exibir os nativos coloniais, colecta-los, medi-los e classifica-los cientificamente A ciência e o comercio e o imperialismo caminhavam de mãos dadas; as sociedades e instituições forneciam informações e autenticidade sobre os temas e pessoas exibidas e sugeriam novos grupos-alvo que serviriam necessidades financeiras dos empresários assim como os seus próprios projectos científicos; Por volta de 1890’s a exibição torna-se novamente uma forma de entretenimento, não impedindo, no entanto, a persistência de uma terceira função – a da propaganda política e imperialistas; os civilizados e cristãos brancos levavam “a luz da civilização” aos selvagens e pagãos em nome de uma instancia superior, fosse ela o progresso ou deus; A década de 1930 testemunha o declínio da exibição etnográfica que se tornam agora moralmente objetiváveis, o forte criticismo ao imperialismo e racismo;

História e o olhar (gaze) Noção da heroica ascensão da civilização industrial; as feiras mundiais categorizavam povos, raças, culturas, espécies e artefactos, criando taxonomias e ordenando-os sigmaticamente; O “outro” como a diferença entre o civilizado e o selvagem; é de um lugar diferente e de um tempo alocronico;

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Mote da feira de Chicago – “To see is to know” reflecte a ideologia típica da época, mas o olhar não é inocente, é uma ilusão; os visitantes assumem-se num patamar superior

5. Resumo do texto de Curtis

Era da exposição industrial e comodificação do “outro”; aspectos (2) que todas as feiras incorporavam; duas tradições de exibição de pessoas; Goode; Putman e Boas; Boas e os Kwakiutl; antropologia popular; a midway; a mercantilidade de tudo

Hinsley, “The world as a marketplace” Era da exposição industrial e da comoditização do “outro”; uma abordagem colonial que exibe material etnológico e arqueológico; o fenómeno colectivo das exposições celebra a ascensão do poder do civilizado sobre a natureza e os primitivos; Após a feira de Paris (1878) todas as seguintes feiras incorporavam 2 aspectos: (1) a exibição dos avanços do industrialismo; e (2) a exibição do “outro” primitivo, colectado na periferia dos territórios coloniais; Os ameríndios foram muitas vezes expostos com o objectivo de obter lucro e entreter; Paris em 1889 surge a exibição de “live-groups” que muito impressionou Mason (Museu Nacional Americano), dado acreditava que ensinavam a história da cultura humana através de modelos de habitações e cenas de trabalho; 1890 existiam 2 tradições de exibição de humanos: (1) o tipo Hagenbeck (que proclamava por vezes a autenticidade etnográfica) e (2) o tipo Barnum (de freaks e excentricidades);

Goode – “a feira ilustrava os passos do progresso da civilização”, “uma enciclopédia ilustrada da humanidade”

Feira de Chicago (1893) Celebrava os 400 anos da chegada de Colombo ao novo mundo; contava com a participação de F. Putman assistido por F. Boas; procarava-se mostrar as condições naturais e diferentes dos povos encontrados por Colombo;

O “outro” como base de comparação, para a glorificação do industrialismo e evidenciar a superioridade da civilização;

Antropologia popular Putman e Boas acreditavam na função publica da apresentação antropológica; Putman desejava uma exposição exterior de ameríndios nas suas casas, vestidos tradicionalmente, cercados pelos frutos da sua manufactura;

“O mais sério lugar do mundo”;

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Boas com o auxilio de George Hunt exibiu um grupo de 14 individuos Kwakiutl da Colombia Britânica e para adicionar autenticidade à exibição foi capaz também de apresentar uma aldeia nativa (retirada das Ilhas Queen Charlote); Boas intencionava que a tribo vivesse o mais normalmente possível, mas acabaram por reproduzir rituais que já não era habitualmente praticados; Boas tencionava recapturar a presumida condições pré-colombiana mas arriscavam-se a bloquear as mudanças do tempo;

Midway Mais comercio que ciência, colorida e pouco científica; intenções muito diferenças das de Boas e Putman; um caleidoscópio de cenas, o visitante é levado de cena para outra, convidado a relaxar, não pára para aprender, vendo montras no departamento de culturas exóticas; o observador/consumidor passeia pelo bazar exótico, testemunhando exibições desconcertantes de humanos, horrores e prazeres, passeia na rua das diferenças humanas como um turista; o exótico e o erótico proibido unem-se como uma mercadoria; Procuravam determinar distancias e lugares relativos entre povos, física e ideologicamente; A sombrinha da mulher e a bengala do homem como emblemas do estatuto civilizado Procurava-se encorajar a simpatia para com o exótico e simultaneamente manter uma certa distancia;

A feira fornece uma medida familiar nos relacionamentos humanos – o dinheiro; o processo da comodificação onde tudo se pode comprar e toda a gente tem um preço Era um monumento ao movimento de bens, serviços e pessoas Boas é pessimista e afirma que existem poucas pessoas nos EUA que são capazes e abertos de entrar nos modos de pensamento das outras nações; A feira de Chicago a curiosidade do publico sobre os outros povos é mediada em termos de mercado, produzindo uma forma inicial de consumo turístico.