Upload
others
View
10
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
CLAUDIA PIES BIFFI
INTOXICAÇÃO POR Senecio brasiliensis EM BOVINOS NO ESTADO
DE SANTA CATARINA E INTOXICAÇÃO EXPERIMENTAL POR
Senecio spp EM FRANGOS DE CORTE.
LAGES, SC
2017
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA - UDESC
CENTRO DE CIÊNCIAS AGROVETERINÁRIAS - CAV
DEPARTAMENTO DE CLÍNICA E PATOLOGIA
CLAUDIA PIES BIFFI
INTOXICAÇÃO POR Senecio brasiliensis EM BOVINOS NO ESTADO
DE SANTA CATARINA E INTOXICAÇÃO EXPERIMENTAL POR
Senecio spp EM FRANGOS DE CORTE.
Tese apresentada ao programa de pós-
graduação em Ciência Animal da
Universidade do Estado de Santa Catarina
– UDESC, como requisito para a obtenção
parcial do título de Doutor em Ciência
Animal.
Orientador: Prof. Dr. Aldo Gava
LAGES, SC
2017
Ficha catalográfica elaborada pelo(a) autor(a), com auxílio do programa de geração automática da
Biblioteca Setorial do CAV/UDESC
Pies Biffi, Claudia
INTOXICAÇÃO POR Senecio brasiliensis EM BOVINOS
NO ESTADO DE SANTA CATARINA E INTOXICAÇÃO
EXPERIMENTAL POR Senecio spp EM FRANGOS DE CORTE. /
Claudia Pies Biffi. - Lages , 2017.
62 p.
Orientador: Aldo Gava
Tese (Doutorado) - Universidade do Estado de Santa
Catarina, Centro de Ciências Agroveterinárias,
Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, Lages,
2017.
1. Planta hepatotóxica. 2. Senecio spp. 3.
Frangos de corte. 4. Bovinos. I. Gava, Aldo. II.
Universidade do Estado de Santa Catarina. Programa
de Pós-Graduação. III. Título.
AGRADECIMENTOS
Início meus agradecimentos por DEUS, já que ELE colocou pessoas tão especiais na
minha vida.
Agradeço aos meus pais, Antonio e Eleni, meus irmãos Ana Paula e Luiz Antonio, meu
amado sobrinho Murilo e meu cunhado. Obrigada por serem exemplo de amor, dedicação e
solidariedade, agradeço todos os dias por ter essa família maravilhosa.
Aos meus sogros, Aldérico e Darcy, pelo apoio e incentivo. Obrigada pelo carinho.
Aos meus amigos Daniela, Valquer, Soraia, Cristina, que mesmo estando longe, sempre
torcemos uns pelos outros, amizade como a nossa é pra sempre!
Aos amigos que a pós-graduação me deu, como Deus foi generoso colocando vocês na
minha vida: Claudia, Vanessa, Tiffany, Natalha, Daiane, Thaiza e Leise, obrigada pela amizade
e carinho!
Aos estagiários e bolsistas do Laboratório de Patologia Animal, muito obrigada por
tudo! Vocês foram importantíssimos na realização deste sonho, serei eternamente grata!
A todos os colegas do Laboratório de Patologia Animal, a Dona Iane, obrigada pelo
carinho, conversas, café, muito bom poder conviver com vocês!
Aos meus queridos mestres que contribuem continuamente para o meu aprendizado,
obrigada pelos ensinamentos!
Ao meu orientador, faltam palavras para descrever o quanto sou grata por tudo.
Obrigada pelos ensinamentos, pela amizade e por confiar e acreditar em mim!
Agradeço também a FAPESC pela concessão da bolsa durante esses 4 anos.
AGRADECIMENTO ESPECIAL
O meu agradecimento mais profundo só poderia ser dedicado a uma pessoa: meu
Esposo! O tempo todo ao meu lado, incentivando, apoiando, ajudando, incondicionalmente,
sempre me mostrando que os nossos sonhos são possíveis. Obrigada pela vida que construímos
juntos, obrigada pela família linda que estamos formando, obrigada pelo maior presente que
Deus nos deu: nossa Isabela!
RESUMO
Senecio spp. são plantas da Família Asteraceae encontradas nas regiões Sul e Sudeste do Brasil.
As plantas desse gênero são conhecidas por produzirem lesões hepáticas em diferentes espécies
de animais, inclusive no homem. Para avaliar a toxicidade de sete espécies de Senecio,
encontradas em regiões onde são criados bovinos no estado de Santa Catarina, foram
conduzidos experimentos em frangos de corte (Gallus domesticus). Folhas verdes de S.
heterotrichius, S. desiderabilis, S. stigophlebius, S. paulensis, S. leptolobus, S. conyzaefolius e
S. vernonioides foram coletadas e secadas a sombra. Após a secagem, as folhas foram trituradas,
misturadas a ração e fornecidas para quatro grupos de 10 frangos de corte para cada espécie da
planta. O Grupo 1 e o Grupo 2 receberam doses únicas de 5g/kg e 20g/kg, respectivamente. Ao
Grupo 3 foram fornecidas doses diárias de 1g/kg por 20 dias (valores correspondentes a planta
verde) e o Grupo Controle recebeu ração livre da planta. Cincos frangos de cada grupo foram
submetidos à necropsia aos 30 dias do início do experimento e os cinco restantes foram
submetidos à necropsia aos 60 dias após o início do fornecimento. Senecio vernonioides, S.
conyzaefolius e S. heterotrichius foram necropsiados também aos 90 dias. Senecio
vernonioides e S. heterotrichius nas doses de 1g/kg por 20 dias causaram lesões macroscópicas
nas aves necropsiadas aos 30, 60 e 90 dias. Essas se caracterizaram por fígado de coloração
amarelada, aumentado de tamanho, com consistência firme, padrão lobular evidente, ascite e
hidropericárdio. As demais espécies não tiveram lesões macroscópicas em nenhuma das
dosagens testadas. Na microscopia as principais lesões observadas foram megalocitose,
tumefação de hepatócitos, fibrose e hiperplasia biliar e foram mais intensas na dosagem de
1g/kg por 20 dias para as espécies S. vernonioides, S. heterotrichius, S. conyzaefolius, S.
leptolobus, S. paulensis e S. desiderabilis. O levantamento epidemiológico realizado para
identificar as fontes de contaminação em bovinos por Senecio brasiliensis, diagnosticados pelo
Laboratório de Patologia Animal Animal do CAV/UDESC, entre os anos de 1984 e 2016,
identificou que as principais fontes de contaminação foram de forma acidental, através da
ingestão de feno, silagem e resíduos de grãos contaminados com senecio e a planta fornecida
no cocho misturada a outras gramíneas.
TERMOS DE INDEXAÇÃO: Planta hepatotóxica, Senecio spp., frangos de corte, bovinos.
ABSTRACT
Senecio spp. are plants of the Asteraceae family found in the South and Southeast regions of
Brazil. Plants of this genus are known by producing hepatic lesions in different species of
animals, including humans. In order to evaluate the toxicity of seven species of Senecio found
in regions of livestock production in Santa Catarina state, experiments were conducted with
broiler (Gallus domesticus). The green leaves of S. heterotrichius, S. desiderabilis, S.
stigophlebius, S. paulensis, S. leptolobus, S. conyzaefolius and S. vernonioides were collected
and dried at shade. After drying, the leaves were crushed, mixed into the feed and provided to
four groups of 10 broilers to each plant species. The Group 1 and Group 2 received single doses
of 5g / kg and 20g / kg, respectively. Daily doses of 1g / kg were given for 20 days
(corresponding values to the green plant) to Group 3 and the Control Group received free ration
of the plant. Five broilers from each group were submitted to necropsy at 30 days after the start
of the experiment and the remaining five broilers were submitted to necropsy at 60 days after
starting the plant supply. Senecio vernonioides, S. conyzaefolius and S. heterotrichius were also
necropsied at 90 days. Senecio vernonioides and S. heterotrichius at 1 g / kg dose over 20 days
caused macroscopic lesions in broilers necropsied at 30, 60 and 90 days. These lesions were
characterized by yellowish liver, enlarged, with firm consistency, lobular pattern, ascites and
hydropericardium. The other species did not present macroscopic lesions in any of tested
dosages. At microscopy the main lesions observed were megalocytosis, hepatocyte swelling,
fibrosis and biliary hyperplasia and were more intense at the dosage of 1 g / kg over 20 days
for S. vernonioides, S. heterotrichius, S. conyzaefolius, S. leptolobus, S. paulensis and S.
desiderabilis. The epidemiological survey carried out to identify sources of cattle
contamination by Senecio brasiliensis, diagnosed by the Animal Pathology Laboratory - CAV
/ UDESC between 1984 and 2016, identified that the main sources of contamination were
accidentally ingestion of hay, silage and grain residues contaminated with Senecio and the plant
supplied in the trough or mixed with other grasses.
KEY WORDS: Hepatotoxic plant, Senecio spp., Broiler, Cattle
LISTA DE FIGURAS E QUADRO
Figura 1 - Fígado de aves do Grupo 3 (1g/kg por 20 dias) necropsiadas aos 60 dias (A) e 90 dias
(B) após o início do consumo de S. vernonioides. Observa-se fígado diminuído de
tamanho e com pontos avermelhados (A) e com áreas esbranquiçadas (B). ........... 34
Figura 2 - Histologia do fígado de ave do Grupo 3 (1g/kg por 20 dias) necropsiado 90 dias após
o início do consumo de S. vernonioides. Figura A demonstrando a megalocitose e
fibrose (seta), HE, Obj 40x. Figura B coloração de Masson identificando a fibrose
(seta), Obj 40x. ......................................................................................................... 35
Figura 3 - Fígado de ave do Grupo 3 (1g/kg por 20 dias) necropsiado aos 90 dias após o início
do consumo de S. heterotrichius. ............................................................................. 43
Figura 4- Diagnósticos de seneciose realizados entre os anos de 1987 e 2016 pelo LAPA. ... 50
Quadro 1 – Formas de ingestão de Senecio brasiliensis observadas nos surtos acompanhados
pelo LAPA-CAV/UDESC. ...................................................................................... 51
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Espécies de Senecio, dosagens correspondentes e administradas aos grupos de aves
para cada dosagem. .................................................................................................. 31
Tabela 2 - Lesões macroscópicas encontradas no Grupo 3 (dose 1g/kg durante 20 dias de
Senecio vernonioides) e que foram sacrificadas 30, 60 e 90 dias após o consumo. 33
Tabela 3 - Lesões microscópicas observadas nas aves que consumiram Senecio vernonioides
nas doses única de 5g/kg (Grupo 1), 20g/kg (Grupo 2) e dose contínua de 1g/kg
durante 20 dias (Grupo 3) aos 30, 60 e 90 dias após o início consumo. .................. 35
Tabela 4 - Lesões microscópicas observadas nas aves que consumiram Senecio conyzaefolius
nas doses única de 5g/kg (Grupo 1), 20g/kg (Grupo 2) e dose contínua de 1g/kg
durante 20 dias (Grupo 3) aos 30, 60 e 90 dias após o início consumo. .................. 36
Tabela 5 - Espécies de Senecio utilizadas, local de coleta e dosagens correspondentes a planta
seca. .......................................................................................................................... 42
Tabela 6 - Lesões microscópicas observadas nas aves que consumiram Senecio heterotrichius
nas doses única de 20g/kg (Grupo 2) e dose contínua de 1g/kg durante 20 dias (Grupo
3) aos 30, 60 e 90 dias após o início consumo. ........................................................ 44
Tabela 7 - Lesões microscópicas observadas nas aves que consumiram Senecio leptolobus nas
doses única de 5g/kg (Grupo 1), 20g/kg (Grupo 2) e dose contínua de 1g/kg durante
20 dias (Grupo 3) aos 30 e 60 dias após o início consumo. ..................................... 44
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 10
2 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................... 11
2.1 INTOXICAÇÃO POR SENECIO SPP. NO BRASIL ............................................... 11
2.2 CARACTERÍSTICAS DE CADA ESPÉCIE DE SENECIO TESTADO ................ 12
2.2.1 Senecio heterotrichius DC. ....................................................................................... 12
2.2.2 Senecio desiderabilis Vellozo .................................................................................... 12
2.2.3 Senecio stigophlebius Backer ................................................................................... 13
2.2.4 Senecio paulensis Bong. ............................................................................................ 13
2.2.5 Senecio leptolobus D.C .............................................................................................. 14
2.2.6 Senecio vernonioides Baker...................................................................................... 14
2.2.7 Senecio conyzaefolius Baker ..................................................................................... 14
2.3 PRINCÍPIO ATIVO E PATOGENIA ....................................................................... 15
2.4 INTOXICAÇÃO ESPONTÂNEA E EXPERIMENTAL ......................................... 16
2.5 EPIDEMIOLOGIA DA INTOXICAÇÃO ................................................................ 17
2.6 PARTES TÓXICAS DA PLANTA ........................................................................... 18
2.7 EVOLUÇÃO E QUADRO CLÍNICO PATOLÓGICO ............................................ 18
2.8 MEDIDAS DE CONTROLE DA SENECIOSE ....................................................... 20
2.9 UTILIZAÇÃO DE ANIMAIS DE EXPERIMENTAÇÃO ....................................... 21
2.10 INTOXICAÇÃO NO HOMEM ................................................................................. 21
3 OBJETIVOS ............................................................................................................. 29
4 ARTIGO I ................................................................................................................. 30
4.1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 30
4.2 MATERIAL E MÉTODOS ....................................................................................... 30
4.3 CLASSIFICAÇÃO BOTÂNICA .............................................................................. 32
4.4 DOSAGEM DOS APS .............................................................................................. 32
4.5 RESULTADOS ......................................................................................................... 32
4.5.1 Sinais Clínicos ........................................................................................................... 32
4.5.2 Dosagem de APs........................................................................................................ 32
4.5.3 Lesões macroscópicas ............................................................................................... 32
4.5.3.1 Senecio vernonioides .................................................................................................. 33
4.5.3.2 Senecio conyzaefolius e S. paulensis .......................................................................... 34
4.5.4 Lesões histológicas ..................................................................................................... 34
4.5.4.1 Senecio vernonioides .................................................................................................. 34
4.5.3.2 Senecio conyzaefolius ................................................................................................. 35
4.5.3.3 Senecio paulensis ....................................................................................................... 36
4.6 DISCUSSÃO ............................................................................................................. 36
4.7 CONCLUSÃO ........................................................................................................... 38
4.8 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 39
5 ARTIGO II ............................................................................................................... 41
5.1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 41
5.2 MATERIAL E MÉTODOS ....................................................................................... 41
5.3 RESULTADOS ......................................................................................................... 43
5.3.1 Lesões histológicas .................................................................................................... 43
5.4 DISCUSSÃO ............................................................................................................. 45
5.5 CONCLUSÃO ........................................................................................................... 47
5.6 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 47
6 ARTIGO III .............................................................................................................. 49
6.1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 49
6.2 MATERIAL E MÉTODOS ....................................................................................... 49
6.3 RESULTADOS ......................................................................................................... 50
6.4 DISCUSSÃO ............................................................................................................. 52
6.5 CONCLUSÃO ........................................................................................................... 54
6.6 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 54
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 57
8 ANEXO ..................................................................................................................... 58
10
1 INTRODUÇÃO
O manejo inadequado da terra favorece o aparecimento de algumas plantas invasoras,
sendo que algumas dessas apresentam potencial tóxico para os animais, muitas vezes
ocasionando sua morte (PEREIRA et al., 2011).
Dentre as principais plantas tóxicas invasoras na região sul do Brasil, destaca-se o
Senecio brasiliensis, popularmente conhecido como “maria-mole” ou “flor-das-almas”
(TOKARNIA et al., 2000). A intoxicação por Senecio é a principal causa de intoxicação por
plantas em bovinos no Rio Grande do Sul (KARAM et al., 2004), ocasionando perdas
econômicas significativas.
No mundo são descritas mais de 1250 espécies de Senecio (JUDD et al., 2009) e
aproximadamente 25 delas são comprovadamente tóxicas para animais ou para o homem
(TOKARNIA et al., 2000). O princípio ativo das plantas do gênero Senecio são os alcalóides
pirrolizidínicos (APs) (TRIGO et al., 2003), os quais ocasionam lesões hepáticas progressivas
e irreversíveis (MÉNDEZ et al., 1993; TOKARNIA et al., 2000; RIET-CORREA et al., 2007).
Para melhor compreensão da toxicidade e das lesões ocasionadas pelas plantas do
gênero Senecio, algumas espécies de animais foram utilizadas como modelo experimental,
codornas (BUCKMASTER et al., 1977), coelhos (SWICK et al., 1982), porcos da Índia,
gerbilos, perus (CHEEKE; PIERSON-GOEGER, 1983), ratos (GOEGER et al., 1982) e frangos
(CHEEKE; PIERSON-GOEGER, 1983; MÉNDEZ et al., 1987; HUANA et al., 1992).
Entre as espécies avaliadas, os frangos se destacaram por serem sensíveis e
apresentarem lesões semelhantes às encontradas em bovinos (MÉNDEZ et al., 1990). Somado
a isso, a facilidade na manipulação, a pouca ocupação de espaços em alojamentos e por
consumirem menor quantidade de alimentos, as aves tornam-se modelos experimentais mais
baratos quando comparados a outras espécies, como bovinos.
Devido as vantagens descritas anteriormente, essa espécie foi a escolhida para a
avaliação da toxicidade, caracterização do quadro clínico e patológico da intoxicação e
determinação das quantidades tóxicas de sete espécies de Senecio. Sendo destas, cinco ainda
não testadas em frangos (Senecio vernonioides, S. conyzaefolius, S. desiderabilis, S. paulensis
e S. stigophlebius) e quatro em bovinos (Senecio vernonioides, S. conyzaefolius, S. paulensis e
S. stigophlebius).
11
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 INTOXICAÇÃO POR SENECIO SPP. NO BRASIL
Plantas tóxicas são responsáveis por um número significativo de mortes em bovinos no
Brasil. No estado do Rio Grande do Sul, estima-se que de 10 a 14% das mortes desses animais
são atribuídas a elas (RIET-CORREA; MEDEIROS, 2001). Estima-se que 50% dessas
mortalidades são ocasionadas por diferentes espécies de plantas do gênero Senecio (MÉNDEZ;
RIET-CORREA, 2008). No entanto estes números podem estar subestimados, já que a grande
maioria dos veterinários desconhecem os impactos desta doença nos rebanhos e por ser a doença
muitas vezes de caráter crônico e o consumo da planta ter ocorrido há meses, a investigação
epidemiológica muitas vezes não é eficiente (BASILE et al., 2005).
De acordo com Riet-Correa et al. (1993), no Brasil existem cerca de 128 espécies de
Senecio conhecidas, sendo o Senecio brasiliensis o mais difundido. Apresenta ampla
distribuição em toda região Sul, e ocorre ainda em pequenas áreas altas e mais frescas da região
Sudeste. Seu habitat são os campos nativos e cultivados (TOKARNIA; DÖBEREINER, 1984),
comportando-se como invasora de culturas e pastagens nativas (RIET-CORREA et al.,1993).
Os animais consomem as plantas do gênero Senecio, somente quando não existem
pastagens mais palatáveis (RIET-CORREA et al., 1993; PESSOA et al., 2013), ou quando os
animais passam fome, o que pode ser resultado de longos períodos de estiagem, invernos
rigorosos ou de privação de alimentos por alta lotação ou transporte (PESSOA et al., 2013). A
ingestão provavelmente ocorre durante os meses de maio a agosto, período no qual, diferentes
espécies estão em brotação e coincide com a queda considerável na disponibilidade de forragem
(MÉNDEZ et al., 1987; BARROS et al., 1992).
No estado de Santa Catarina, dados não publicados do Laboratório de Patologia Animal
(LAPA) da Universidade do Estado, registram que a intoxicação de bovinos por Senecio
brasiliensis ocorre em condições de privação de pastagem nos meses mais frios, em casos de
superlotação, com a infestação de pastagens nativas, mas principalmente pelo consumo de feno
ou silagem contaminado com a planta. No período compreendido entre os anos de 1987 a 2014,
foram identificados 29 surtos com morte de 123 animais.
12
2.2 CARACTERÍSTICAS DE CADA ESPÉCIE DE SENECIO TESTADO
2.2.1 Senecio heterotrichius DC.
Senecio heterotrichius DC. (De Candolle), popularmente conhecido como “catião-
melado”, é uma erva perene, de 30-50 cm de altura, com talos eretos, ramosos na parte superior,
foliosos, tomentosos na parte inferior e densamente pubescente-glandulosos na parte superior.
As folhas inferiores são oblanceoladas, agudas ou subobtusas no ápice, atenuadas na parte
inferior e dilatadas e auriculadas na base, dentadas na margem, densamente albo-tomentosas
em ambas as faces, de 30-100 mm de comprimento por 5-20 mm de largura. As folhas
superiores são linear lanceoladas, agudas, sésseis e auriculadas na base, inteiras ou pouco
dentadas, pubescente-glandulosas em ambas as faces, menores que as inferiores. As flores são
dimorfas, amarelas: as marginais liguladas, as do disco tubulosas (CABRERA; KLEIN, 1975).
Floresce durante os meses de outubro e novembro. Está presente nos estados de Santa
Catarina e Rio Grande do Sul, Uruguai e nordeste da Argentina. Ocorre principalmente nos
campos sujos situados em solos secos ou rochosos de coxilha, raramente também pode ser
encontrada sobre solos rochosos existentes às margens dos rios e regatos do planalto, entre
vegetação arbustiva secundária (CABRERA; KLEIN, 1975; MATZENBACHER, 1998).
Os principais alcalóides pirrolizidínicos descritos por Trigo et al. (2003) para S.
heterotrichius foram senecivernina, senecionina e integerrimina. Krebs et al. (1996)
identificaram os alcalóides senecionina, integerrimina e retrorsina.
2.2.2 Senecio desiderabilis Vellozo
Também conhecido como Pentacalia desiderabilis Vellozo, já foi descrito em Minas
Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul (HIND, 1993a).
São arbustos escandentes, ocasionalmente epífitos, perenes. Caule simples a
escassamente ramificado. Folhas elípticas a ovadas, ápice acuminado, base obtusa a aguda,
margem inteira, peninérveas, pecioladas. Capítulos heterógamos, radiados, dispostos em
capitulescências tirsiformes a paniculado-corimbiformes. Invólucro campanulado, brácteas
involucrais 8. Flores do raio 5, pistiladas, corola liguliforme, amarelas. Flores do disco 16,
perfeitas, corola tubulosa. Anteras com base sagitada. Ramos do estilete com ápice rombudo,
envolto por uma coroa de tricomas divergentes; linhas estigmáticas contíguas. Cipselas
obcônicas, 5-costadas, glabras. Pápus alvacento, persistente (TELES, 2008).
13
Arbusto escandente característico das bordas de matas e capões da zona Atlântica,
ocorre em altitudes que variam de 400 a 2220 m (CABRERA; KLEIN, 1975). Sendo encontrada
com flores e frutos de junho a setembro (TELES, 2008).
Entre os alcalóides isolados nesta espécie tem-se triangularina, platinecina e retronecina
(MENDONÇA, 2000).
2.2.3 Senecio stigophlebius Backer
Ocorrem nas regiões Sudeste (Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo) e Sul (Paraná
e Santa Catarina), sendo encontrada em sub-bosque de capões, nos campos de altitude da Serra
da Mantiqueira (CABRERA; KLEIN, 1975; MATZENBACHER, 1998; TELES, 2008;) e na
parte alta do Parque Nacional de Itatiaia, cresce na beira das estradas próximo a áreas úmidas,
com flores e frutos de junho a novembro (OLIVEIRA, 2014).
São subarbustos 2–2,5 m altura, robustos, eretos, perenes. Caule sulcado, fistuloso, com
folhas pecioladas regularmente distribuídas em toda sua extensão, lanuginoso ou glabro. Folhas
8–51,5 × 3–26 cm, elípticas a oval-elípticas, lirado-pinatissectas, com 4–7 pares de segmentos
1–15 × 0,5–3 cm, lanceolados ou oblongos, ápice agudo, margem irregularmente denteada,
dentes agudos, nervuras proeminentes na face abaxial, lanuginosas ou glabras na face adaxial,
tomentosas na abaxial, tricomas esbranquiçados; pecíolos 1–15 cm compr., com aurículas
semicirculares, amplexicaules.
Senecio stigophlebius pode ser facilmente reconhecido pelas folhas lirado-pinatissectas
com 4 a 7 pares de segmentos densamente tomentosas na face abaxial com tricomas
esbranquiçados (OLIVEIRA, 2014).
2.2.4 Senecio paulensis Bong.
Ervas eretas, perenes, 0,5-1,8 m alt. Caule multisulcado, meduloso, esparsamente
folhoso por toda a extensão, glabro. Folhas profundamente bipinatissectas. Flores do raio com
corola amarela (TELES, 2008).
A planta já foi encontrada e descrita nos estados de São Paulo e Paraná (HIND, 1993a),
Santa Catarina (CABRERA; KLEIN, 1975) e em Minas Gerais (TELES, 2008).
O alcalóide isolado desta espécie foi o tipo platifilina (MENDONÇA, 2000).
14
2.2.5 Senecio leptolobus D.C
Senecio leptolobus DC. (De Candolle), é um subarbusto com até 80cm altura, ramificado
na base, caules cilíndricos, estriados, glabros, densamente folhosos até as inflorescências. Suas
folhas são alternas, sésseis, glabras, profundamente pinatissectas, com ráquis estreita e
canaliculada na face ventral (MATZEMBACHER, 1998).
Floresce de outubro a abril, predominantemente nos meses de outubro e novembro. É
uma erva presente nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, no Uruguai e na
Argentina. Possui hábitat campestre, ocorrendo em campos argilo-arenosos, e também em solos
graníticos e basálticos, podendo também ser encontrada em campos arenosos do litoral
(CABRERA, KLEIN, 1975; MATZENBACHER, 1998).
Os principais alcalóides pirrolizidínicos descritos por Habermehl et al. (1988) para S.
leptolobus foram integerrimina, neosenquirquina e florosenina. Já Krebs et al. (1996) relatam a
presença de senecionina, integerrimina, retrorsina, usaramina, senecivernina, senquirquina,
neosenquirquina, otosenina, lorosenina e doronina.
2.2.6 Senecio vernonioides Baker
Está espécie de Senecio também é conhecida como Senecio lanifer Mart. ex C. Jeffrey
(HIND, 1993a).
Ervas eretas, perenes, 0,5-1 m altura. Caule multisulcado, meduloso, esparsamente
folhoso por toda a extensão, laxamente lanuginoso, indumento persistente. Possui folhas
lanceoladas a oblongo-lanceoladas, 2-9 x 0,3-0,6 cm, ápice agudo, base truncada, margem
inteira, nervuras imersas, laxamente lanuginosas na face adaxial, densamente lanuginosas na
face abaxial e sésseis (TELES, 2008). A planta já foi descrita nos estados de Minas Gerais, São
Paulo e Paraná (HIND, 1993a) e também em Santa Catarina (CABRERA, KLEIN, 1975).
De acordo com Mendonça (2000), o alcaloide isolado desta espécie de Senecio foi a
senecionina.
2.2.7 Senecio conyzaefolius Baker
Também conhecido como “margarida melada”, é encontrado no Brasil na região serrana
de Santa Catarina e no Rio Grande do Sul ocorre nas Missões, Campos de Cima da Serra,
Planalto Médio e Encosta Superior do Nordeste (CABRERA, KLEIN, 1975;
MATZENBACHER, 1998).
15
É uma erva ereta, bianual, de 30 a 60 cm de altura, ramificada na base, ramos estriados
e ascendentes, na maioria das vezes de coloração violácea, densamente glanduloso com pêlos
pluricelulares (MATZENBACHER, 1998).
Os principais alcalóides isolados por Paiva (2002) foram otosenina, serquinquina e
retrorsina. Já Mendonça (2000) isolou somente a platifilina.
2.3 PRINCÍPIO ATIVO E PATOGENIA
O princípio ativo das plantas do gênero Senecio são os alcaloides pirrolizidínicos (APs),
que são ésteres dos amino álcoois derivados do núcleo pirrolizidínico heterocíclico. Esses
compostos contém nitrogênio, usualmente no anel heterocíclico e são geralmente substâncias
básicas. Os núcleos dos APs contem de 2-5 anéis. A maioria é constituída por ésteres de dois
aminoácidos, retronecina e heliotridina e ocorrem em três grupos mono ésteres não cíclicos e di-
esteres cíclicos em ordem crescente de toxicidade. Para serem hepatotóxicos necessitam de ligação
dupla 1,2 no núcleo pirrolizidínico e uma ramificação no grupamento éster (CHEEKE, 1988).
Os APs não são tóxicos, mas os seus metabolitos pirrólicos, produzidos no fígado, são
importantes hepatotoxinas cumulativas, que se combinam com grupos pirróis, para formar tio
éteres pirrólicos. Esses são, então, convertidos em ésteres pirrólicos pelas enzimas hepáticas do
citocromo p-450. Os ésteres são agentes alquilantes que reagem com ácidos nucleicos e com as
proteínas nucleares e citosólicas (SANTOS et al., 2008), lesam as células hepáticas mediante
inibição da mitose (RADOSTITIS et al., 2002). Os hepatócitos não se dividem, mas continuam
sintetizando DNA no núcleo e aumentando seu tamanho na tentativa de repor aqueles que
sofreram necrose. Uma lesão celular tóxica dessa categoria ocorre mais frequentemente na área
centrolobular do fígado, isso porque essa é a região com concentração mais alta de enzimas do
citocromo p-450 (SANTOS et al., 2008).
Os hepatócitos lesionados perdem sua capacidade metabólica e posteriormente, essas
células morrem, sendo então substituídos por tecido fibroso, com isso há perda de função o que
acarreta no aparecimento do quadro clínico e morte (TOKARNIA; DÖBEREINEIR, 1984;
MÉNDEZ et al., 1987; BARROS et al., 1987; SANTOS et al., 2008). Parte dos pirróis
produzidos no fígado pode escapar para a circulação sistêmica causando lesões em outros
órgãos como nefrose e pneumonia intersticial, pois as enzimas do citocromo p-450 estão
presentes em outros órgãos e metabolizam os alcalóides (RADOSTITIS et al., 2002; SANTOS
et al., 2008).
16
As lesões nos hepatócitos podem ser reversíveis ou irreversíveis dependendo do grau de
lesão que as toxinas causam na membrana basal das células hepáticas. Quando os hepátocitos
apresentam megalocitose, estas células morrerão e a tendência fisiológica é a substituição por
tecido conjuntivo fibroso, o que evidencia um processo de evolução mais crônica. No entanto,
se os agentes químicos agressores estiverem em quantidade elevada, as células hepáticas podem
morrer em grande número e numa distribuição difusa, levando a insuficiência do órgão sem que
ocorra tempo hábil para formação de fibrose e reparação (CULLEN, 2007). Isso pode ser
observado nos casos agudos de manifestação da doença (TOKARNIA; DÖBEREINEIR, 1984).
A metabolização dos APs ocorre de forma diferente dependendo da espécie de animal
acometida (HOOPER, 1978; CRAIG et al., 1991). A resistência de algumas espécies é o
resultado do balanço entre as reações de bioativação, desintoxicação e desidrogenização. Além
desses fatores, a qualidade da dieta do animal aparentemente influência no processo de
detoxificação dos APs (CHEEKE, 1988). Os ovinos e caprinos são considerados de 30-40 vezes
mais resistentes a intoxicação que bovinos e equinos (CRAIG et al., 1991), isso provavelmente
é devido a sua habilidade em detoxificar os APs, uma vez que possuem maior quantidade de
microrganismos no rúmen capazes de biotransformar os alcaloides (HOOPER, 1978). Em
coelhos a resistência à intoxicação por Senecio jacobae é devido a eficiente eliminação pelo
aparelho urinário (SWICK et al., 1982).
2.4 INTOXICAÇÃO ESPONTÂNEA E EXPERIMENTAL
No Brasil as intoxicações espontâneas são relatadas desde o início da década de 50,
sendo um dos primeiros casos suspeitos de intoxicação em equinos (TOKARNIA;
DÖBEREINEIR, 1984). Além deste, são descritos em equinos, casos espontâneos nos estados
de Santa Catarina e Rio Grande do Sul (GAVA; BARROS 1997) e na Paraíba (NOBRE et al.,
2004 a).
Intoxicação por S. brasiliensis em bovinos é descrita em Santa Catarina, Paraná
(BASILE et al., 2005) e São Paulo (NAZÁRIO et al., 1988). No Rio Grande do Sul, surtos
foram associados às espécies de Senecio brasiliensis, S. selloi, S. heterotrichius, S.cisplatinus,
S.leptolobus, S.oxyphyllus, S.tweediei e S. madagascariensis (TOKARNIA et al., 1984;
MÉNDEZ et al., 1987; BARROS et al., 1987; BARROS et al., 1992; KARAM et al., 2004;
CRUZ et al., 2010, KARAM et al., 2011, STIGGER et al., 2014).
Em ovinos, surtos no Rio Grande do Sul foram relatados por Ilha et al. (2001), Schild
et al. (2007) e Grecco et al. (2011).
17
Também no Rio Grande do Sul há relato de um surto em búfalos (CORREIA et al.,
2008), enquanto que em suínos, sua ocorrência é considerada rara, com apenas um relato na
literarura (FORSYTH 1972 apud GRECCO et al., 2011).
Buscando entender a epidemiologia desta enfermidade, vários estudos experimentais
foram realizados. Para bovinos, as espécies Senecio brasiliensis, S. cisplatinus, S.
heterotrichius, S. selloi, S.oxyphyllus e S. tweediei foram comprovadamente tóxicas
(TOKARNIA; DOBEREINER, 1984; MÉNDEZ et al., 1987; DRIEMEIER; BARROS, 1992).
Senecio brasiliensis foi testado em ovinos (BARROS et al., 1989; GRECCO et al.,
2012) e eqüinos (PILATI; BARROS 2007) com reprodução da intoxicação.
Em aves, Méndez et al. (1990) avaliou Senecio brasiliensis, S. cisplatinus, S.
heterotrichius, S. selloi e S. leptolobus, os quais demonstraram ser tóxico para aves.
2.5 EPIDEMIOLOGIA DA INTOXICAÇÃO
Na região sul do país, os bovinos ingerem as plantas do gênero Senecio entre os meses
de maio e agosto, período em que essas plantas estão em brotação e há pouca disponibilidade
de forragem (MÉNDEZ et al., 1987; BARROS et al., 1992) ou por meio da ingestão de fenos
contendo espécies de Senecio (DRIEMEIER et al., 1991; BASILE et al., 2005).
Apesar de a planta não ser palatável, os animais as consomem quando não há outras
pastagens disponíveis, devido a longos períodos de estiagem, invernos rigorosos ou privação
de alimentos por alta lotação ou transporte (PESSOA et al., 2013).
As intoxicações geralmente ocorrem em adultos, como vacas leiteiras, pois permanecem
por períodos maiores na propriedade (BASILE et al., 2005) ou quando não há ovinos
pastoreando junto aos bovinos, pois estes por serem mais resistentes a intoxicação atuam como
controladores da infestação (GRECCO et al., 2011).
A morbidade da seneciose varia de 1 a 30%, porém a letalidade é de 100%. O impacto
econômico desta enfermidade ocorre em função das mortes, das falhas nos processos
reprodutivos, baixas produtividades, além do custo com reposição dos animais mortos, controle
da infestação na pastagem e diagnóstico da enfermidade no rebanho (MÉNDEZ; RIET-
CORREA, 2008).
A variação na quantidade e no tipo de APs presentes interfere na toxidez da planta e
consequentemente na manifestação clínica da doença (CULLEN, 2007). Alterações clínicas
podem ser observadas em todas as épocas do ano, existindo uma variação entre as diferentes
18
regiões de um estado, provavelmente em função das diferenças ambientais (KARAM et al.,
2011).
2.6 PARTES TÓXICAS DA PLANTA
Todas as espécies tóxicas de Senecio spp. possuem APs, sendo esses distribuídos por
toda a planta (MÉNDEZ et al., 1990; TOKARNIA et al., 2000). A toxicidade varia de acordo
com o conteúdo e tipos de alcalóides presentes nas mesmas (RIET-CORREA et al., 1993;
KARAM et al., 2004).Os alcalóides mais frequentes em plantas do gênero Senecio spp. são
integerrimina, retrosina e senecionina (MÉNDEZ et al., 1990).
Fatores como, local, época do ano, estágio de crescimento, tipo de solo, adubação e
ciclo vegetativo, em uma mesma região, de um ano para outro, pode alterar a quantidade de
alcalóides na planta (RIET-CORREA et al., 1993; KARAM et al., 2004). Sabe-se que podem
existir variações de toxicidade dentro de uma mesma espécie devido a fatores como
variabilidade genética, fase de desenvolvimento, armazenamento e parte da planta que foi
coletada ou consumida. Algumas plantas, como Senecio spp. são mais tóxicas durante a sua
fase de crescimento (PESSOA et al., 2013).
Tokarnia et al. (2000) descreve que com relação ao Senecio brasiliensis, todas as partes
da planta são tóxicas, independente de a planta ser verde ou estar dessecada. Na espécie S.
madagascariensis, o conteúdo de APs é maior nas flores, especialmente no período da
primavera (KARAM et al., 2011).
2.7 EVOLUÇÃO E QUADRO CLÍNICO PATOLÓGICO
A manifestação dos sinais clínicos ocorre de forma variada nos animais, depende do
grau de comprometimento orgânico e variações biológicas individuais (RADOSTITS et al.,
2002).
Nos bovinos, o quadro clínico em geral, é de 2 a 4 dias, sendo que os sinais nervosos de
encefalopatia hepática são observados 24 a 48 horas antes da morte (MÉNDEZ et al., 1987).
Esses sinais são variáveis, podendo observar-se apatia ou hiperexcitabilidade, agressividade,
pressão da cabeça contra objetos, andar compulsivo ou em círculos, tenesmo, diarreia e,
ocasionalmente, prolapso retal. Alguns bovinos apresentam emagrecimento progressivo, com
diarréia ou não, com um curso clínico que pode ser de vários meses, podendo se observar sinais
19
nervosos ou decúbito permanente antes da morte. Também pode haver ascite,
fotossensibilização, icterícia e edema de membros e barbela (TOKARNIA; DOBEREINER,
1984; MÉNDEZ et al., 1987; BARROS et al., 1987; KARAM et al., 2011). Alterações nervosas
não ocorrem por uma ação direta dos APs sobre o SNC, mas sim pela incapacidade do fígado
em metabolizar amônia levando a elevadas taxas dessa substância no cérebro e ocasionando a
desmielinização (BARROS et al., 1989).
À necropsia o fígado apresenta-se firme, com superfície irregular e áreas brancas
intercaladas com áreas vermelho-escuras e padrão lobular evidente. Edema de mesentério e
parede do abomaso, hidropericárdio e hidroperitônio são observados. As lesões histológicas se
caracterizam por necrose individual de hepatócitos, fibrose, formação de nódulos de
regeneração hepatocelular, proliferação de ductos biliares e bilestase canalicular (TOKARNIA;
DÖBEREINEIR, 1984; MÉNDEZ et al., 1987; BARROS et al., 1989).
Nos equinos os sinais clínicos se caracterizam por icterícia, encefalopatia hepática e
fotossensibilização. As lesões de necropsia são bastante semelhantes as dos bovinos, o fígado
firme, com superfície irregular e áreas brancas intercaladas com áreas vermelho-escuras e
padrão lobular evidente. Icterícia moderada, ascite, hidropericárdio e hidrotórax também podem
estar presentes. As lesões histológicas mostram fibrose periportal, megalocitose e proliferação
de ductos biliares. No sistema nervoso pode-se observar congestão, hemorragia discreta,
principalmente perivascular, e astrócitos Alzheimer tipo II no núcleo caudato e no córtex
(GAVA; BARROS, 1997; PILATTI; BARROS, 2007).
Os ovinos apesar de mais resistentes à intoxicação e de serem utilizados como medida
de controle em regiões infestadas por Senecio spp. (BARROS et al., 1989; GRECCO et al.,
2011), quando intoxicados observa-se, perda de peso, fotossensibilização, sinais nervosos,
icterícia e hemoglobinúria (ILHA et al., 2001; SCHILD et al., 2007; GRECCO et al., 2011). A
intoxicação desses animais pode ocorrer das seguintes formas: intoxicação aguda associada à
ingestão de doses elevadas em curto período de tempo, o que ocasiona necrose hepática centro-
lobular (KELLERMAN et al., 2005); intoxicação crônica causada pelo consumo de grandes
quantidades de planta em períodos prolongados associado a fibrose difusa (BULL et al., 1968);
e intoxicação crônica associada ao acúmulo excessivo de cobre no fígado devido às lesões
hepáticas prévias (BULL et al., 1968). É possível observar na necropsia desses animais, fígado
com áreas avermelhadas entremeadas por áreas pálidas, firme ao corte e com a superfície
capsular irregular e espessa. Vesícula biliar distendida, ascite, edema de abomaso e do
mesentério são algumas alterações observadas nos ovinos durante a necropsia. A histologia
revela fibrose periportal, proliferação de células epiteliais de ductos biliares, megalocitose e
20
bilestase. No encéfalo observam-se microcavitações, principalmente na substância branca
características de encefalopatia hepática (ILHA et al., 2001; GRECCO et al., 2011).
Nos frangos de corte intoxicados experimentalmente, as principais lesões
macroscópicas encontradas foram edema no tecido subcutâneo, ascite, fígado amarelado,
aumentado ou algumas vezes diminuído de tamanho, superfície irregular, aspecto nodular,
bordos arredondados. Vesícula biliar com aumento de tamanho, podendo em alguns casos vir
acompanhada de edema de parede. Na histologia, edema e congestão causando desorganização
do parênquima hepático, vacuolização generalizada do citoplasma dos hepatócitos e necrose de
alguns hepatócitos isolados. Megalocitose, proliferação de tecido fibroso e proliferação do
epitélio biliar. Não há relatos de sintomatologia clínica observada nesta espécie (MÉNDEZ et
al., 1990).
2.8 MEDIDAS DE CONTROLE DA SENECIOSE
Não existe tratamento específico nem sintomático que permita recuperar os animais com
sinais clínicos da doença (RIET-CORREA et al., 2007). Deve-se manter uma oferta adequada
de pasto de boa qualidade em relação à lotação animal, especialmente nas épocas críticas do
ano no sul do país, quando há diminuição das pastagens disponíveis (KARAM et al., 2011).
Nas áreas mais invadidas pela planta devem ser colocadas as categorias que irão permanecer
menor tempo no estabelecimento ou fazer rodízio das diferentes categorias (MÉNDEZ; RIET-
CORREA, 2008).
O uso de ovinos em pastoreio com bovinos pode ser uma alternativa de controle, já que
eles são considerados mais resistentes à intoxicação. No entanto, deve ser considerada a
possibilidade de que os ovinos introduzidos em áreas muito infestadas por Senecio spp. podem
se intoxicar. Uma lotação de 0,2 a 0,4 animais por hectare é capaz de controlar a ocorrência
(ILHA et al., 2001; GRECCO et al., 2011).
Alternativas para reduzir as perdas nos plantéis acometidos pela seneciose é a realização
da biópsia hepática. Esta técnica é um meio rápido e seguro para detectar se os animais estão
afetados ou não e permitir o abate antes que perdas econômicas maiores ocorram (BARROS et
al., 2007).
21
2.9 UTILIZAÇÃO DE ANIMAIS DE EXPERIMENTAÇÃO
A metodologia de utilização de animais como modelos experimentais gera muitas
polêmicas, principalmente relacionado à questão de bem estar animal. No entanto, o uso de
animais de laboratório na experimentação mostra-se bastante eficiente, pois estes são mais
fáceis de manusear e seu custo de manutenção é bem menor (DEMONTE, 2009).
Várias espécies de animais de laboratório já foram testadas com o objetivo de avaliar
sua sensibilidade a diferentes espécies de Senecio, sendo que a maioria deles se mostrou
bastante resistente à intoxicação.
Dentre eles, codornas foram as que manifestaram um alto grau de resistência, foram
utilizadas dosagens de 2.450% do peso inicial, ou 137% do peso vivo final de Senecio jacobae
e estas não manifestaram qualquer sintomatologia clínica (BUCKMASTER et al., 1977).
Dosagens de 3.640% de peso vivo inicial durante 333 dias da mesma espécie de senecio,
também não foram capazes de demonstrar sinais clínicos em gerbilos, assim como em hamsters
que consumiram 338% de seu peso sobreviveram 159 dias e porcos da Índia que sobreviveram
por 117 dias consumindo 119% do peso vivo (CHEEKE; PIERSON-GOEGER, 1983). Coelhos
também foram resistentes à alimentação contendo 5% de S. jacobaea durante 35 dias o que
correspondeu a um consumo de 17% do seu peso vivo inicial (SWICK et al., 1982).
No entanto, ratos demonstraram sensibilidade à intoxicação com 10% de S. jacobaea,
S. glabellus, S. vulgaris, consumindo de 5-20% do seu peso corporal (GOEGER et al., 1982).
Perus também são sensíveis, apresentando mortalidade em torno de 80% quando submetidos à
dieta contendo 10% de AP de S. jacobaea (CHEEKE; PIERSON-GOEGER, 1983). Assim
como os frangos de corte, os quais demonstraram sensibilidade a S. jacobaea (HUANA et al.,
1992), S. brasiliensis, S. heterotrichius, S. cisplatinus, S. selloi e S. leptolobus (MÉNDEZ et
al., 1990).
As lesões macroscópicas e histológicas encontradas nos frangos, são bastante
semelhantes às descritas em bovinos (HUANA et al., 1992; MÉNDEZ et al., 1990).
2.10 INTOXICAÇÃO NO HOMEM
Além da intoxicação em animais, também há relatos de contaminação humana pela
ingestão de plantas do gênero Senecio spp. (STEGELMEIER, 2011). Maganabosco et al. (1997)
e Taniguchi et al. ( 2002) relatam dois casos de intoxicação em crianças no Rio Grande do Sul
que consumiram por vários dias chá de Senecio brasiliensis e apresentaram sintomatologia
22
hepática, sendo diagnosticados com a doença veno-oclusiva hepática (DOV). Além desses
casos, também a relatos de contaminações humanas em países da América do Sul (BRAS et al.,
1954), Índia (TANDON et al., 1976) e Afeganistão (MOHABBAT et al., 1976). Nesses casos
as pessoas consumiram o chá como forma medicinal, pois acreditavam no seu poder curativo.
Há relatos de mães que consumiram chá durante o período gestacional e seus bebês nasceram
com a DOV, demonstrando o poder teratogênico dessas plantas (ROULET et al.,1988;
RASENACK et al., 2003).
Na Europa, recentemente, foi descrito contaminação de hortaliças, principalmente de
rúcula, com Senecio vulgaris (WIEDENFELD, 2011).
Acredita-se ainda que as pessoas podem se contaminar por meio da ingestão dos APs
contidos no leite (MOLINEUX; JAMES, 1990; MOLYNEUX et al., 2011), ovos (EDGAR;
SMITH, 2000) ou até mesmo o mel (DEINZER et al., 1977). No entanto, até o momento não
há relatos de intoxicação em seres humanos pela ingestão de alimentos contaminados pelos APs
do Senecio (SANDINI et al., 2013), mas sabe-se que os APs são metabolizados no fígado em
metabólitos pirrólicos e resíduos desses metabólitos podem ser encontrados em diversos tecidos
do animal durante longos períodos após cessar a ingestão dos alcaloides (MÉNDEZ; RIET-
CORREA, 2008).
23
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARROS, C. S. L.; METZDORF, L. L.; PEIXOTO, P. V. Intoxicação por Senecio spp. em
bovinos. Pesquisa Veterinária Brasileira, Rio de Janeiro, v.7, n.4., p.101-107,1987.
BARROS, C. L. S., METZDORF, L. L., SANTOS, M. N., BARROS, S. S., PEIXOTO, P. V.
Intoxicação experimental por Senecio brasiliensis (compositae) em ovinos. Pesquisa
Veterinária Brasileira v.9, n.(3/4):, p. 55-67, 1989.
BARROS C. S. L., DRIEMEIER D., PILATI C., BARROS S. S. & CASTILHOS L. M. L.
Senecio spp. poisoning in cattle in southern Brazil. Veterinary Human Toxicology. v.34,
p.241-246, 1992.
BARROS, C.S.L.; CASTILHOS, L.M.L.; RISSI, D.R.; KOMMERS, G.D.; RECH R.R..
Biópsia hepática no diagnóstico da intoxicação por Senecio brasiliensis (Asteraceae) em
bovinos. Pesquisa Veterinária Brasileira. v.27, n.1, p:53-60, 2007.
BASILE,J.R.;DINIZ, J.M.F.; OKANO, W.;CIRIO, S.M.;LEITE, LC. Intoxicação por Senecio
spp. (Compositae) em bovinos no sul do Brasil. Acta Scientiae Veterinariae. v. 33, n.1,
p.63-68, 2005.
BRAS G.;JELLIFFE,D.B.; STUART,K.L. Am. Med. Assoc. Archiv of Pathology . v.57,
p.285–300, 1954.
BULL, L. B., CULVENOR, C. C. J. & DICK, A. T.. The pyrrolizidine alkaloids:Their
chemistry, pathogenicity and other biological properties. North-Holland Publish
Amsterdam, 293p. 1968.
BUCKMASTER, G. W.; CHEEKE, S, P. R.; ARSCOTT, G. H.; DICKINSON, E.
O.;PIERSON, M. L.; SHULL, L. R. Response of Japanese quail to dietary and injected
pyrrolizidine (Senecio) alkaloid. Journal of Animal Science. Champaing. v. 45, n. 6, dez,
1977.
CABRERA, A. L.; KLEINS, R. M. Compostas. Tribo: Senecioneae. In: REINTZ, P. R. Flora
ilustrada Catarinense. Itajaí: CNPq, p. 187-191,1975.
CRAIG, A. M.; PEARSON, E. G.; MEYER, C.; SCHMIT, J. A. Serum liver enzyme and
histopathological changes in calves with chronic and chronic-delayed Senecio jacobaea
toxicosis. American Journal of Veterinary Research, Oregon. v. 52, f. 12, p.1969-1978,
1991.
CHEEKE, P.R. Toxicity and metabolism of pyrrolizidine alkaloids. Journal of Animal
Science, Champaing, v. 66, p. 2343–2350, 1988.
CHEEKE, P. R.; PIERSON-GOEGER, M.L. Comparative toxicity and metabolism of
pyrrolizidine alcaloids in various laboratory animals and avian species, Toxicology Letters.
v. 18, p. 343, 1983.
24
CORRÊA, A.M.R.; BEZERRA JUNIOR, P. S.; PAVARINI, S.P.; SANTOS, A. S.; SONNE,
L.; ZLOTOWSKI, P.; GOMES, G.; DRIEMEIER, D. Senecio brasiliensis(Asteraceae)
poisoning in Murrah buffaloes in Rio Grande do Sul. Pesquisa Veterinária Brasileira. v. 28,
n.3, p. 187-189, 2008.
CRUZ, C.E.F.; KARAM, F.C.; DALTO, A.C.; PAVARINI, S.P.; BANDARRA, P. M.;
DRIEMEIER, D. Fireweed (Senecio madagascariensis) poisoning in cattle. Pesquisa
Veterinária Brasileira. v.30, n.1, p.10-12, 2010.
CULLEN, J. M. Liver, biliary system, and exocrine pancreas. In Pathologic basis of
Veterinary Disease, eds. MCGAVIN, M. D., ZACHARY, J. F. 4 ed. Mosby Elsevier, St.
Louis, Missouri, p.426-446, 2007.
DEMONTE, A. Jornal UNESP Junho/2009– Ano XXII – nº
245 http://www.unesp.br/aci/jornal/245/opiniao.php acesso 25/03/2015
DRIEMEIER, D.; BARROS, C. S .L. Intoxicação experimental por Senecio oxyphyllus
(compositae) em bovinos. Pesquisa Veterinária Brasileira v.12, n.(1/2), p.33-42, 1992.
DRIEMEIER, D., BARROS, C. S. L., PILATI, C. Seneciose em bovinos. A hora veterinária
v.10, n.59, p. 23-30, 1991.
EDGAR, J. A.; SMITH, L. W. Transfer of pyrrolizidine alkaloids into eggs: Food safety
implications. In: Natural and select synthetic. Biological implications.ACS, Symposium
Series American Chemical Society, Washington, v.745, p. 118-128, 2000.
GAVA, A.; BARROS, C. S. L. Senecio spp. poisoning in horses in southern Brazil. Pesquisa
Veterinária Brasileira, v.17, p. 36-40, 1997.
GOEGER, D. E; CHEEKE, P. R.; SCHMITZ, J. A.; BUHLER, D. R; Effect of feeding milk
from goats fed tansy ragwort (Senecio jacobaea) to rats and calves. American Journal of
Veterinary Research, v. 43, n. 9, p. 1631-1633, 1982.
GRECCO, F. B.; ESTIMA-SILVA, P.; MARCOLONGO-PEREIRA,C.; SOARES, M. P.;
COLLARES, G.; SCHILD, A. L. Seneciose crônica em ovinos no sul do Rio Grande do Sul.
Pesquisa Veterinária Brasileira. v.31, n.4, p.326-330, 2011.
HABERMEHL, G. G. et al. Livestock poisoning in South America by species of the Senecio
plant. Toxicon, v. 26, n. 3, p. 275-286, 1988.
HIND, D. J. N. A checklist of the Brazilian Senecioneae (Compositae). Kew Bulletin v.48,
n.2, p. 279-295, 1993a.
HOOPER, P. T. Pyrrolizidine alkaloid poisoning-pathology with particular reference to
differences in animal and plant species, p.162-176. In: KEELER R.F., VAN KAMPEN K.R.;
JAMES L.F. (ed.), Effects of Poisonous Plants on Livestock, New York, Academic Press.
1978. 600 p.
25
HUANA, J.; CHEEKE, P. R.; LOWRYB, R. R. NAKAUEA, H. S. SNYDER, S. P.;
WHANGERB, P. D. Dietary pyrrolizidine (Senecio) alkaloids and tissue distribution of
copper and vitamin A in broiler chickens. Toxicology Letters, v. 62, p. 139-153, 1992.
IBGE. Censo Agropecuário 2006 : resultados preliminares. Rio de Janeiro:IBGE, 2007.
141 p.
ILHA, M. R., LORETTI, A. P., BARROS, S. S., BARROS, C. L. S. Intoxicação espontânea
por Senecio brasiliensis (Asteraceae) em ovinos no Rio Grande do Sul. Pesquisa Veterinária
Brasileira v.21, p: 123-138, 2001.
JUDD, W. S.; CAMPBELL, C. S.; KELLOGG, E. A.; STEVENS, P. F.; DONOGHU, M.
J.;Sistemática Vegetal - Um enfoque filogenético. 3a ed. São Jose do Rio Preto: Artmed.
2009.
KARAM, F. S. C.; SOARES, M. P.; HARAGUCHI, M., RIET-CORREA, F.; MÉNDEZ, M.
C.; JARENKOW J. A. Aspectos epidemiológicos da seneciose na região sul do Rio Grande
do Sul. Pesquisa Veterinária Brasileira. v.24, p.191-198, 2004.
KARAM, F.C.; SCHILD, A.L.; MELLO, J.R.B. Intoxicação por Senecio spp. em bovinos no
Rio Grande do Sul: condições ambientais favoráveis e medidas de controle. Pesquisa
Veterinária Brasileira. v.31, n.7, p.603-609, 2011.
KELLERMAN, T. S.; COETZER, J. A. W.; NAUDÉ, T. W. Plant poisonings and
mycotoxicoses of livestock in Southern Africa 2 ed. Oxford University Press Southern
Africa, p.6-13. 2005.
KREBS, H. C.; CARL, T.; HABERMEH, G. G. Pyrrolizidine alkaloid composition in six
Brazilian Senecio species. Phytochemistry, v. 43, n. 6, p. 1227-1229, 1996.
MAGNABOSCO, E. M.; RIVERA M. L.; PROLLA I. R.; DE VERNEY Y. M.; DE MELLO
E. S. Hepatic veno-oclusivedisease:report of case, Journal of Pediatrics, v. 73, n. 2, p.115-
118, 1997.
MATZENBACHER, N. I. O complexo “Senecionoide” (Asteraceae – Senecioneae) no Rio
Grande do Sul –276p. il. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Porto Alegre, 1998.
MÉNDEZ, M. C., RIET-CORREA, F.; SCHILD, A. L. Intoxicação por Senecio spp.
(Compositae) em bovinos no Rio Grande do Sul. Pesquisa Veterinária Brasileira. v.7, n.2,
p.51-56, 1987.
MÉNDEZ, M. C.; RIET-CORREA, F.; SCHILD, A. L.; MARTZ, W. Intoxicação
experimental por cinco espécies de Senecio em bovinos e aves. Pesquisa Veterinária
Brasileira, Rio de Janeiro. v.10, n. 3/4, p. 63-69, 1990.
MÉNDEZ M. C. Intoxicação por Senecio spp. In: RIET-CORREA F.; MÉNDEZ M.C.;
SCHILD A.L. (ed.) Intoxicações por Plantas e Micotoxicoses em Animais Domésticos.
Montevideo: Editorial AgropecuariaHemisferioSur. p.43-57, 1993.
26
MÉNDEZ, M.C.; RIET-CORREA, F. Plantas tóxicas e Micotoxicoses. 2ª edição. Editora e
Gráfica Universitária, Pelotas. 2008.298p.
MENDONÇA, C.J.S. Alcalóides pirrolizidínicos em plantas de interesse alimentar e
medicinal: identificação e toxicologia – 227p. Tese (Doutorado) – Universidade Estadual de
Campinas. Faculdade de Engenharia de Alimentos, Campinas, 2000.
MOHABBAT,O.;YOUNOS,M.S.;MERZAD,A.A.;SRIVASTAVA,R.N.;
SEDIQ,G.G.;ARAM,G.N. An outbreak of hepatic veno-occlu-sive disease in north-western
Afghanistan, Lancet, v.2, p. 269–271, 1976.
MOLYNEUX, R. J.; GARDNER, D. L.; COLEGATE, S. M.; EDGAR, J. A. Pyrrolizidine
alkaloid toxicity in livestock: a paradigm for human poisoning. Food Additives and
Contaminants, v. 28, n. 3, p. 293-307, 2011.
MOLYNEUX, R. J.; JAMES, L. F. Pyrrolidizine alkaloids in milk: thresholds of intoxication.
Veterinary and Human Toxicology, v. 32, n. 1, p. 94-103, 1990.
NAZÁRIO, W.; PORTUGAL, M.A.S.C.; FANCELI, M.I. Considerações sobre o papel do
Senecio brasiliensis, Lessing, acompanhamento de acidente tóxico em bovinos, ocorrido em
São Paulo. Pesquisa Agropecuária Brasileira. v. 23, n. 5, p.537-542, 1988.
OLIVEIRA, C. C.; SILVA, M. J.; TELES, A. M.; Estudo taxonômico do gênero Senecio
sensu stricto (Asteraceae - Senecioneae) para o estado do Rio de Janeiro, Brasil.
Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Vegetal). Universidade Federal
de Goiás. 50F. 2014.
PAIVA, J.A. Estudo fitoquímico em espécies do gênero Senecio (Asteraceae) – 166p. Tese
(Doutorado) – Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Química, Campinas, 2002.
PESSOA, C. R. M.; MEDEIROS, R. M. T.; RIET-CORREA, F. Importância econômica,
epidemiologia e controle das intoxicações por plantas no Brasil. Pesquisa Veterinária
Brasileira, v. 33, n. 6, 2013.
PILATI, C.; BARROS, C. S. L. Intoxicação experimental por Senecio
brasiliensis (Compositae) em equinos. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.27, n.7, p. 287-
296, 2007.
RADOSTITS, O. M.; GAY, C. C.; BLOOD, D. C.; HINCHCLIFF, K. W. Clínica
Veterinária: um tratado de doenças dos bovinos, ovinos, suínos, caprinos e equinos. 9 ed.
Guanabara Koogan. 2002. 1737p.
RASENACK, R.; MULLER, C.; KLEINSCHMIDT, M.; RASENACK, J.; WIEDENFELD,
H. Veno-occlusivedisease ina foetus caused by pyrrolizidine alkaloids of food origin. Fetal
Diagnosis and Therapy, v. 18, n. 4, p. 223-225, 2003.
RIET-CORREA, F.; MÉNDEZ, M. C.; SCHILD, A. L. Intoxicações por plantas e
micotoxicoses em animais domésticos. Montevideo: Editorial Hemisfério Sur. 1993. 340 p.
27
RIET-CORREA, F.; MEDEIROS, R. M. T. Intoxicação por plantas em ruminantes no Brasil
e no Uruguai: importância econômica, controle e riscos para a saúde pública. Pesquisa
Veterinária Brasileira. v.21, p. 38-42, 2001.
RIET-CORREA, F.; SCHILD, A. L.; LEMOS, R. A. A.; BORGES, J. R. Doenças de
Ruminantes e Equinos.Santa Maria: Ed. Palotti. 3 ed. v. 2, p. 692, 2007.
ROULET, M.; LAURINI, R.; RIVIER, L.; CALAME, A. Hepatic veno-occlusive disease in
newborn infant of a woman drinking herbal tea. Journal of Pediatrics, v. 112, n. 3, p. 433-
436, 1988.
SANDINI, T.M.; BERTO, M.S.U.; SPINOSA, H.S. Senecio brasiliensis e alcaloides
pirrolizidínicos: toxicidade em animais e na saúde humana. Biotemas, v. 26, n.2, p. 83-92,
2013.
SANTOS, J. C. A.; RIET-CORREA, F.; SIMÕES, S. V. D.; BARROS, C. S. L. Patogênese,
sinais clínicos e patologia das doenças causadas por plantas hepatotóxicas em ruminantes e
eqüinos no Brasil. Pesquisa Veterinária Brasileira. v. 28, p. 1-14, 2008.
SCHILD, A. L., FERREIRA, J. L., LADEIRA, S. R. L., SOARES, M. P., GRECCO, F. B.,
GUIM, T. N. Doenças diagnosticadas pelo Laboratório regional de Diagnóstico no ano 2006.
Boletim do Laboratório Regional de Diagnóstico, Editora Universitária, 56p. 2007.
STEGELMEIER B. L. Pyrrolizidine alkaloid-containing toxic plants (Senecio, Crotalaria,
Cynoglossum, Amsinckia, Heliotropium, and Echium spp.). Veterinary Clinics of North
America: Food Animal Practice, v. 27, n. 2, p. 419-428, 2011.
STIGGER, A.L., ESTIMA-SILVA, P., FISS, L., COELHO, A.C.B.,GARDNER, D.R.,
MARCOLONGO-PEREIRA, C., SCHILD, A.L. Senecio madagascariensis Poir.
(Asteraceae): uma nova causa de seneciose em bovinos no Sul do Rio Grande do Sul.
Pesquisa Veterinária Brasileira, v.34, n.9, p. 851-855, 2014.
SWICK, R. A.; CHEEKE, P. R.; PATTON, N. M.; BUHLER, D. R. Absorption and excretion
of pyrrolizidine (Senecio) alkaloids and their effects on mineral metabolism in rabbits.
Journalof Animal Science. v. 55, n. 6, 1982.
TANDON,B.N.;TANDON,H.D.;TANDON,R.K.; NARNDRANATHAN,M.; JOSHI,Y.K. An
epidemic of veno-occlusive disease of liver in central India, Lancet , v.2, p.271–272, 1976.
TANIGUCHI, A. N. R.; CÉLIA, L.; VIEIRA, S. M.; FERREIRA,C. T.; ZAFFONATTO, D.;
CERSKI, T.; SILVEIRA, T. R. Relatode caso – Doença veno-oclusiva induzida por chá de
Seneciobrasiliensis. Revista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e Faculdade de
Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v. 22, n. 1, p. 183-
184, 2002.
TRIGO, J. R.; LEAL, I. R.; MATZENBACHER, N. I.; LEWINSOHN, T. M.;
Chemotaxonomic value of pyrrolizidine alkaloids in southern Brazil Senecio (Senecioneae:
Asteraceae). Biochemical Systematics and Ecology. v. 31, p.1011–1022. 2003.
28
TELES, A. M. Contribuição ao estudo taxonômico da tribo Astereae no Brasil e
Senecioneae(Asteraceae) no estado de Minas Gerais - 256p. il. Tese (Doutorado) -
Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Ciências Biológicas, Belo Horizonte,
2008.
TOKARNIA, C. H.; DÖBEREINER, J. Intoxicação experimental por Senecio
brasiliensis (Compositae) em bovinos. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 4, p.39-65, 1984.
TOKARNIA, C.H.; GAVA, A.; PEIXOTO, P.V.; STOLF, L.;CONSORTE,
L.B.;DOBEREINER, J. Intoxicação experimental por Senecio desiderabilis (Compositae) em
bovinos. Pesquisa Veterinária Brasileira. v.10, p. 35-42, 1990.
TOKARNIA, C. H.; DÖBEREINER, J.; PEIXOTO, P. V. Plantas hepatotóxicas, p.80-110. In:
TOKARNIA, C. H.; DÖBEREINER, J.; PEIXOTO, P. V. Plantas Tóxicas do Brasil. Rio de
Janeiro: Helianthus. 2000. 310 p.
USDA. USDA ForeignAgricultural Service. Disponivel em
<http://apps.fas.usda.gov/psdonline/>. Acesso em 04 de março de 2015.
WIEDENFELD, H. Plants containing pyrrolizidine alkaloids:toxicity and problems. Food
Additives and Contaminants, v. 28, n. 3, p. 282-292, 2011.
29
3 OBJETIVOS
Geral
Estudar os aspectos clínicos e a patologia da intoxicação experimental por sete espécies
de Senecio spp. em frangos de corte.
Realizar levantamento epidemiológico e o número de bovinos intoxicados por Senecio
brasiliensis no estado de Santa Catarina diagnosticados pelo Laboratório de Patologia Animal
do CAV/UDESC.
Específicos
1. Verificar quais espécies de Senecio spp. presentes em áreas de criação de bovinos são
tóxicas;
2. Avaliar as doses tóxicas em (g/kg de peso vivo) necessárias para produzir alterações
clínicas e lesões em frangos de corte;
3. Quantificar o número de casos diagnosticados pelo Laboratório de Patologia Animal do
CAV/UDESC para intoxicação em bovinos;
4. Identificar as fontes de contaminação para os bovinos.
30
4 ARTIGO I
Intoxicação experimental em frangos de corte por Senecio vernonioides, Senecio
conyzaefolius e Senecio paulensis.
4.1 INTRODUÇÃO
Plantas do gênero Senecio são responsáveis pela morte de bovinos em todo o Brasil
(RIET-CORREA; MEDEIROS, 2001). No entanto, por serem plantas pouco palatáveis,
somente são consumidas quando os mesmos passam por períodos de privação alimentar, sejam
esses por estiagem, inverno ou mesmo transporte prolongado (RIET-CORREA et al., 1993;
PESSOA et al., 2013). Outra forma de ingestão da planta pelos animais é pela sua presença em
silagens, ou, fenos (MÉNDEZ et al., 1987; LAPA- dados não publicados).
No estado do Rio Grande do Sul, as principais espécies envolvidas nos casos de
intoxicações são Senecio brasiliensis (KARAM et al., 2004), S. oxyphyllus, S. heterotrichius,
S. selloi, S. tweediei (MÉNDEZ et al., 1987) e S. madagascariensis (CRUZ et al., 2010).
Senecio brasieliensis é a principal espécie envolvida nos casos de intoxicações em
bovinos no estado de Santa Catarina, de acordo com dados do Laboratório de Patologia Animal
da Universidade do Estado (LAPA, dados não publicados).
Não há relatos de intoxicação em animais pelas espécies de Senecio vernonioides, S.
conyzaefolius e S. paulensis. Assim, o objetivo desse trabalho foi avaliar se estas espécies são
tóxicas, uma vez que há grande disponibilidade destas na região do Planalto e Meio Oeste
Catarinense. Para esta avaliação foram utilizados frangos de corte, os quais já demonstraram
experimentalmente ser sensíveis aos alcaloides pirrolizidínicos (APs) presentes nas plantas do
gênero Senecio e apresentar lesões semelhantes às encontradas em bovinos (CHEEKE;
PIERSON-GOEGER, 1983; MENDÉZ et al., 1987; MENDÉZ et al., 1990; HUANA et al.,
1992).
4.2 MATERIAL E MÉTODOS
Durante os meses de junho a agosto de 2014, as três espécies de Senecio (S.
vernonioides, S. conyzaefolius e S. paulensis) avaliadas foram coletadas, sendo a espécie
Senecio vernonioides no município de Água Doce, S. conyzaefolius em Lages e S. paulensis em
Matos Costa, todos municípios do Meio-Oeste e Planalto Catarinense. Somente as folhas verdes
foram coletadas, secadas a sombra e posteriormente trituradas em moedor. Para cada espécie
31
de Senecio foram separadas 100 gramas e secadas a parte, para avaliação da perda de peso após
secagem. Os valores correspondentes à perda de peso de cada espécie são descritos na Tabela
1. As dosagens utilizadas na experimentação correspondem à planta verde.
Para o experimento, 110 pintinhos de um dia da linhagem Coob foram alojados no
aviário experimental localizado no Setor de Avicultura do CAV/UDESC. As aves foram
mantidas em boxes onde receberam ração e água ad libitum. Para as espécies de S. vernonioides
e S. conyzaefolius, foram formados grupos de 35 aves, os quais foram subdivididos em lotes de
10 frangos para as dosagens únicas de 5g/kg/PV e 20g/kg/PV e de 15 aves para a dose de
1g/kg/PV por vinte dias. Para a espécie de S. paulensis foram utilizadas 10 aves para cada dose
avaliada. No total 100 frangos receberam Senecio na ração e mais o grupo controle com 10
aves.
A partir dos 12 dias de idade, os grupos de aves formados passaram a receber os
diferentes tipos de Senecio misturados à ração, com exceção do Grupo Controle que recebeu
somente ração. A formação dos grupos, assim como as espécies de Senecio testadas e suas
respectivas dosagens são apresentadas na Tabela 1.
Tabela 1 - Espécies de Senecio, dosagens correspondentes e administradas aos grupos de aves
para cada dosagem.
Planta usada Grupo Dose planta
verde (g/kg)
Dose
correspondente
planta seca (g/kg)
Senecio vernonioides
1 5 d.u. 2 d.u.
2 20 d.u. 8 d.u.
3 1/ 20 dias 0,4 / 20dias
Senecio conyzaefolius
1 5 d.u. 1,75 d.u.
2 20 d.u. 7 d.u.
3 1/ 20 dias 0,35 / 20dias
Senecio paulensis
1 5 d.u. 1,75 d.u.
2 20 d.u. 7 d.u.
3 1/ 20 dias 0,35 /20dias Legenda: d.u – dose única.
Fonte: o autor.
Durante a realização do experimento as aves eram inspecionadas diariamente avaliando-
se comportamento e consumo de ração. Semanalmente as aves dos Grupos 1, 2 e Controle eram
pesadas. Para o Grupo 3 a pesagem foi realizada duas vezes na semana, nos primeiros 20 dias,
para reajustar a dose diária de senecio ao peso crescente das aves.
Decorridos 30 e 60 dias após o início do consumo do Senecio, cinco aves de cada grupo
foram eutanasiadas. Para as espécies de Senecio vernonioides e S. conyzaefolius 5 aves do
32
Grupo 3 foram eutanasiadas também aos 90 dias. Para a eutanásia foi utilizado o método de
deslocamento cervical, aprovado pela Normativa 1000 do CFMV e pelo comitê de ética e
experimentação animal do CAV/UDESC (Protocolo 01.07.14). Todas as aves foram
necropsiadas para observação de lesões e coleta de amostras de sistema nervoso central, rim,
pulmão e fígado, as quais foram fixadas em formol tamponado a 10%, processadas
rotineiramente e coradas com hematoxilina e eosina (HE)e coloração de Massom. O
processamento dos materiais e a análise histológica foram realizados nas dependências do
Laboratório de Patologia Animal do CAV/UDESC.
4.3 CLASSIFICAÇÃO BOTÂNICA
Amostras das plantas coletadas foram encaminhadas ao departamento de Botânica da
Universidade do Estado de Santa Catarina para sua identificação e classificação.
4.4 DOSAGEM DOS APS
Amostras das plantas secas foram enviadas ao USDA – ARS – Poisonous Plant
Research Laboratory – Logan, Utah, USA, para análise e quantificação das dosagens
específicas de alcaloides pirrolizidínicos.
4.5 RESULTADOS
4.5.1 Sinais Clínicos
Não foram observados sinais nas aves que consumiram a planta.
4.5.2 Dosagem de APs
A análise dos APs das amostras de Senecio spp. utilizadas neste estudo revelou a
presença de alcaloides tóxicos éster dehidro-pirrolizidínicos (DHPA) e sua quantificação foi
feita a partir do peso seco das amostras. Senecio vernonioides apresentou dosagem de 19.599
µg/g, S. conyzaefolius 2.500 µg/g e S. paulensis 157 µg/g.
4.5.3 Lesões macroscópicas
33
4.5.3.1 Senecio vernonioides
As aves que receberam esta espécie da planta na dose de 1g/kg durante 20 dias e
eutanasiadas aos 30 e 60 dias após o início do consumo, apresentaram líquido na cavidade
abdominal, hidropericárdio, fígado de cor amarela, consistência firme, padrão lobular evidente
e diminuído de tamanho (Tabela 2). As aves sacrificadas aos 60 dias apresentavam ainda
palidez de vísceras e músculos. Na necropsia realizada aos 90 dias, além das lesões
anteriormente citadas, o fígado apresentou consistência mais firme e áreas esbranquiçadas na
superfície (Figura 1). As aves dos grupos 1 e 2 não apresentaram lesões, assim como não foram
observadas lesões nos demais órgãos.
Tabela 2 - Lesões macroscópicas encontradas no Grupo 3 (dose 1g/kg durante 20 dias de
Senecio vernonioides) e que foram sacrificadas 30, 60 e 90 dias após o consumo.
Fonte: o autor.
30 dias 60 dias 90 dias
Lesões
Grupo 3
(dose 1g/kg durante
20 dias)
Grupo 3
(dose 1g/kg durante
20 dias)
Grupo 3
(dose 1g/kg durante
20 dias)
Ascite 1/5 1/5 1/5
Hidropericárdio 1/5 3/5 3/5
Vesícula biliar com
aumento de volume - 1/5 -
Atrofia hepática 2/5 3/5 5/5
Fígado com padrão lobular
evidente 1/5 2/5 5/5
Fígado amarelado 1/5 2/5 0/5
34
Figura 1 - Fígado de aves do Grupo 3 (1g/kg por 20 dias) necropsiadas aos 60 dias (A) e 90 dias
(B) após o início do consumo de S. vernonioides. Observa-se fígado diminuído de
tamanho e com pontos avermelhados (A) e com áreas esbranquiçadas (B).
Fonte: o autor
4.5.3.2 Senecio conyzaefolius e S. paulensis
Não foram observadas lesões macroscópicas em nenhuma das dosagens testadas.
4.5.4 Lesões histológicas
4.5.4.1 Senecio vernonioides
As aves do Grupo 1 (dose única de 5g/kg), sacrificadas aos 30 dias após o fornecimento
da planta apresentaram tumefação discreta de hepatócitos e as sacrificadas aos 60 dias após o
consumo, discreta fibrose e tumefação de hepatócitos. Na dose única de 20g/kg (Grupo 2), as
aves apresentaram somente lesões 30 dias após o consumo da planta e estas se caracterizaram
por tumefação leve de hepatócitos.
As lesões encontradas na dose de 1g/kg durante 20 dias (Grupo 3) foram moderada
tumefação de hepatócitos, associada a leve megalocitose e fibrose, isso aos 30 dias após o início
do consumo da planta. Aos 60 e 90 dias as lesões se repetiram com maior intensidade associado
a leve proliferação biliar e vacuolização de hepatócitos (Tabela 3). As lesões de fibrose,
megalocitose e tumefação são observadas na Figura 2.
B A
35
Tabela 3 - Lesões microscópicas observadas nas aves que consumiram Senecio vernonioides
nas doses única de 5g/kg (Grupo 1), 20g/kg (Grupo 2) e dose contínua de 1g/kg
durante 20 dias (Grupo 3) aos 30, 60 e 90 dias após o início consumo.
Grupo1 Grupo 2 Grupo 3
30 dias 60 dias 30 dias 60 dias 30 dias 60 dias 90 dias
Lesões
Tumefação
hepatócitos + + + - ++ ++ +++
Megalocitose - - - - + ++ ++
Fibrose - + - - + + ++
Vacuolização
hepatócitos - - - - - + +
Proliferação
biliar - - - - - + +
Legenda: + leve, ++ moderada, +++ severa, - ausente.
Fonte: o autor.
Figura 2 - Histologia do fígado de ave do Grupo 3 (1g/kg por 20 dias) necropsiado 90 dias após
o início do consumo de S. vernonioides. Figura A demonstrando a megalocitose e
fibrose (seta), HE, Obj 40x. Figura B coloração de Masson identificando a fibrose
(seta), Obj 40x.
Fonte: o autor
4.5.3.2 Senecio conyzaefolius
As aves do Grupo 1 (dose única de 5g/kg) apresentaram leve tumefação de hepatócitos,
megalocitose e vacuolização aos 30 e 60 dias após o início do consumo. No Grupo 2 (dose
única de 20g/kg) as lesões foram semelhantes as observadas na dose única de 5g/kg. O Grupo
3 (dose de 1g/kg durante 20 dias) aos 30 dias do início do consumo revelou megalocitose,
36
vacuolização de hepatócitos e tumefação leve. Essas lesões tornaram-se mais evidentes aos 60
e 90 dias após o consumo, associado a fibrose leve (Tabela 4).
Tabela 4 - Lesões microscópicas observadas nas aves que consumiram Senecio conyzaefolius
nas doses única de 5g/kg (Grupo 1), 20g/kg (Grupo 2) e dose contínua de 1g/kg
durante 20 dias (Grupo 3) aos 30, 60 e 90 dias após o início consumo.
Grupo1 Grupo 2 Grupo 3
30 dias 60 dias 30 dias 60 dias 30 dias 60 dias 90 dias
Lesões
Tumefação
hepatócitos + + + + + + +
Megalocitose + + + + + + +
Fibrose - - - - - + +
Vacuolização
hepatócitos + + + + + + +
Proliferação
biliar - - - - - - -
Legenda: + leve, ++ moderada, +++ severa, - ausente.
Fonte: o autor.
4.5.3.3 Senecio paulensis
As aves do Grupo 1 (dose única de 5g/kg), Grupo 2 (dose única de 20g/kg) e Grupo 3
(dose de 1g/kg durante 20 dias) aos 30 e 60 dias após o fornecimento da planta apresentaram
leve tumefação de hepatócitos.
Não foram observadas lesões macroscópicas e histológicas em rim, pulmão e sistema
nervoso central em nenhuma das espécies de Senecio testadas.
4.6 DISCUSSÃO
As espécies de S. vernonioides e S. conyzaefolius revelaram-se tóxicas para as aves, as
lesões macro e microscópicas variaram de acordo com a dose testada. As lesões ocasionados
pelo S. paulensis foram pouco significativas.
As lesões macroscópicas caracterizadas por ascite, hidropericárdio, fígado de coloração
amarelada, consistência firme, padrão lobular evidente e diminuído de tamanho que foram
observadas na necropsia das aves que receberam S. vernonioides na dosagem de 1g/kg durante
20 dias são compatíveis as relatadas por Méndez et al. (1990) em intoxicações experimentais
com S. brasiliensis, S. heterotrichius e S. cisplatinus.
37
Além das aves, essas lesões também são descritas nas intoxicações por S. brasiliensis
em bovinos (TOKARNIA; DÖBEREINER, 1984; MÉNDEZ et al., 1987; BARROS et al.,
1989), equinos (GAVA; BARROS, 1997; PILATTI; BARROS, 2007) e ovinos (ILHA et al.,
2001; SCHILD et al., 2007; GRECCO et al., 2011).
As espécies de S. conyzaefolius e S. paulensis não apresentaram lesões macroscópicas
nas dosagens e períodos de consumo avaliados. Esse fato pode estar relacionado ao tempo pelo
qual as aves consumiram a planta. Nos experimentos realizados por Méndez et al. (1990) com
outras espécies de Senecio, os animais receberam a planta por um período maior de tempo (60
dias consecutivos) e de acordo com Tokarnia e Döbereiner (1984) as lesões ocasionadas pelos
APs são progressivas. Outro fator envolvido poderia estar relacionado as variações na
quantidade de APs presentes nestas espécies quando comparados ao S. vernonioides, o qual
apresentou dosagem de 19.599µg/g de DPHA, sendo que S. conyzaefolius apresentou
2.500µg/g e S. paulensis 157µg/g. Sttigger et al. (2014) observaram lesões macroscópicas em
bovinos intoxicados naturalmente por S. madagascariensis com dosagem de APs de 500µg/g,
inferior ao encontrado em S. conyzaefolius. O aparecimento dessas lesões poderia estar
relacionado ao período e quantidade de planta consumida, pois naquele caso os animais
encontravam-se com restrição alimentar. Lesões também foram observadas experimentalmente
em aves e bovinos que consumiram diferentes espécies de Senecio com dosagens de APs que
variaram de 50 a 3.100 µg/g (MÉNDEZ et al., 1990).
Com relação as dosagens testadas, as lesões mais evidentes foram na dose 1 g/kg por 20
dias seguidos. Pequenas doses por um período prolongado produziram lesões mais evidentes
que doses altas e únicas. Este resultado corrobora a afirmativa de Tokarnia e Döbereiner (1984)
e Riet-Correa et al. (2007), que descrevem as lesões ocasionadas pelos APs como progressivas
e irreversíveis. Esse efeito progressivo descrito pelos autores pode explicar a não manifestação
de sinais clínicos e morte. Contudo, as lesões encontradas indicam prejuízo na função hepática
sugerindo que, se esses animais continuassem vivos, poderiam desenvolver lesões mais graves
com o aparecimento de sinais clínicos e mortalidade. As lesões histológicas variaram de leve a
moderada megalocitose, fibrose, proliferação biliar e tumefação dos hepatócitos, sendo as
lesões mais evidentes nas aves necropsiadas aos 60 e 90 dias após o consumo das plantas,
reiterando as afirmações de Tokarnia e Döbereiner (1984) e Riet-Correa et al. (2007).
Méndez et al. (1990) descrevem em aves que consumiram a planta por um período de
60 dias, megalocitose, desorganização do parênquima hepático, proliferação de epitélio biliar,
além de necrose e proliferação de tecido conjuntivo para dentro do parênquima a partir da
cápsula de Glisson para as aves experimentalmente intoxicadas com S. heterotrichius.
38
Com relação as doses únicas administradas, a dose de 20 g/kg foi mais tóxica que a dose
de 5 g/kg, porém esta diferença foi pouco evidente, assim como as variações de intensidade de
lesão entre as espécies de Senecio. Contudo, as lesões foram levemente mais evidentes nas aves
necropsiadas 60 dias após o consumo da planta, comprovando mais uma vez a relação entre o
período após o fornecimento e o desenvolvimento das lesões (TOKARNIA; DÖBEREINER,
1984; RIET-CORREA et al., 2007).
Uma pequena variação individual na intensidade das lesões dentro da mesma espécie de
Senecio avaliada foi observada, isto demonstra a sensibilidade individual quanto à
susceptibilidade aos APs (HOOPER, 1978).
A administração de doses únicas e altas é responsável por ocasionar quadros agudos de
manifestação da doença, com sintomatologia e morte dos animais (TOKARNIA;
DÖBEREINER, 1984; MÉNDEZ et al., 1987; BARROS et al., 1987; RIET-CORREA et al.,
2007). Neste experimento com as espécies testadas não foi possível observar esse quadro.
Descrição semelhante é feita por Tokarnia et al. (1990), com doses únicas de 20 e 40 g/kg de S.
desiderabilis não conseguiram reproduzir o quadro agudo da doença, porém com doses menores
e contínuas dois bovinos morreram. No entanto, a manifestação aguda foi comprovada
experimentalmente por Tokarnia e Döbereiner (1984) fornecendo dose única de 20g/kg de S.
brasiliensis a um bovino que desenvolveu quadro clínico e morte 20 dias após a ingestão. Pilati
e Barros (2007) também forneceram dose única de 15g/kg de S. brasiliensis a um equino que
demonstrou, principalmente, sinais neurológicos. Já Grecco et al. (2012) forneceram S.
brasiliensis em dose única de 60g/kg a um ovino que não apresentou sinais clínicos nem
alterações microscópicas, o que demonstra a resistência dessa espécie a dose única da planta.
O aparecimento de lesões em outros órgãos como coração, rim e SNC de bovinos
(TOKARNIA; DÖBEREINEIR, 1984; MÉNDEZ et al., 1987; BARROS et al., 1987;
MÉNDEZ et al., 1990), SNC de equinos (GAVA; BARROS, 1997; PILATTI; BARROS, 2007)
e ovinos (ILHA et al., 2001; GRECCO et al., 2011) não foi observado neste estudo, assim como
nos experimentos de Cheeke e Pierson- Goeger (1983) e Méndez et al. (1990).
4.7 CONCLUSÃO
As espécies de Senecio vernonioides, S. conyzaefolius e S. paulensis revelaram-se
tóxicas para as aves nos períodos e dosagens testadas. Estas espécies são possíveis fontes de
intoxicação para bovinos, pois estão presentes em grandes quantidades nas regiões de Planalto
e Meio- Oeste Catarinense, e são pouco conhecidas por produtores e médicos veterinários.
39
4.8 REFERÊNCIAS
BARROS, C. S. L.; METZDORF, L. L.; PEIXOTO, P. V. Intoxicação por Senecio spp. em
bovinos. Pesquisa Veterinária Brasileira, Rio de Janeiro, v.7, n.4., p.101-107,1987.
BARROS, C. L. S., METZDORF, L. L., SANTOS, M. N., BARROS, S. S., PEIXOTO, P. V.
Intoxicação experimental por Senecio brasiliensis (compositae) em ovinos. Pesquisa
Veterinária Brasileira v.9, n.(3/4):, p. 55-67, 1989.
CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA. PROCEDIMENTOS E
MÉTODOS DE EUTANÁSIA SÃO REVISTOS PELO CFMV: 1000. Brasília, 2012.
CHEEKE, P.R. Toxicity and metabolism of pyrrolizidine alkaloids. Journal of Animal
Science, Champaing, v. 66, p. 2343–2350, 1988.
CHEEKE, P. R.; PIERSON-GOEGER, M.L. Comparative toxicity and metabolism of
pyrrolizidine alcaloids in various laboratory animals and avian species, Toxicology Letters.
v. 18, p. 343, 1983.
CRUZ, C.E.F.; KARAM, F.C.; DALTO, A.C.; PAVARINI, S.P.; BANDARRA, P. M.;
DRIEMEIER, D. Fireweed (Senecio madagascariensis) poisoning in cattle. Pesquisa
Veterinária Brasileira. v.30, n.1, p.10-12, 2010.
GAVA, A.; BARROS, C. S. L. Senecio spp. poisoning in horses in southern Brazil. Pesquisa
Veterinária Brasileira, v.17, p. 36-40, 1997.
GRECCO, F. B.; ESTIMA-SILVA, P.; MARCOLONGO-PEREIRA,C.; SOARES, M. P.;
COLLARES, G.; SCHILD, A. L. Seneciose crônica em ovinos no sul do Rio Grande do Sul.
Pesquisa Veterinária Brasileira. v.31, n.4, p.326-330, 2011.
GRECCO, F. B.; ESTIMA-SILVA, P.; MARCOLONGO-PEREIRA,C.; SOARES, M. P.;
RAFFI, M.B.; SALLIS, E.S.V.; SCHILD, A. L. Intoxicação experimental aguda por Senecio
brasiliensis em ovinos e indução de resistência à intoxicação. Pesquisa Veterinária
Brasileira. v.32, n.9, p.912-916, 2012.
HOOPER, P. T. Pyrrolizidine alkaloid poisoning-pathology with particular reference to
differences in animal and plant species, p.162-176. In: KEELER R.F., VAN KAMPEN K.R.;
JAMES L.F. (ed.), Effects of Poisonous Plants on Livestock, New York, Academic Press.
1978. 600 p.
HUANA, J.; CHEEKE, P. R.; LOWRYB, R. R. NAKAUEA, H. S. SNYDER, S. P.;
WHANGERB, P. D. Dietary pyrrolizidine (Senecio) alkaloids and tissue distribution of
copper and vitamin A in broiler chickens. Toxicology Letters, v. 62, p. 139-153, 1992.
ILHA, M. R., LORETTI, A. P., BARROS, S. S., BARROS, C. L. S. Intoxicação espontânea
por Senecio brasiliensis (Asteraceae) em ovinos no Rio Grande do Sul. Pesquisa Veterinária
Brasileira v.21, p: 123-138, 2001.
40
KARAM, F. S. C.; SOARES, M. P.; HARAGUCHI, M., RIET-CORREA, F.; MÉNDEZ, M.
C.; JARENKOW J. A. Aspectos epidemiológicos da seneciose na região sul do Rio Grande
do Sul. Pesquisa Veterinária Brasileira. v.24, p.191-198, 2004.
MÉNDEZ, M. C., RIET-CORREA, F.; SCHILD, A. L. Intoxicação por Senecio spp.
(Compositae) em bovinos no Rio Grande do Sul. Pesquisa Veterinária Brasileira. v.7, n.2,
p.51-56, 1987.
MÉNDEZ, M. C.; RIET-CORREA, F.; SCHILD, A. L.; MARTZ, W. Intoxicação
experimental por cinco espécies de Senecio em bovinos e aves. Pesquisa Veterinária
Brasileira, Rio de Janeiro. v.10, n. 3/4, p. 63-69, 1990.
MÉNDEZ M. C. Intoxicação por Senecio spp. In: RIET-CORREA F.; MÉNDEZ M.C.;
SCHILD A.L. (ed.) Intoxicações por Plantas e Micotoxicoses em Animais Domésticos.
Montevideo: Editorial AgropecuariaHemisferioSur. p.43-57, 1993.
PESSOA, C. R. M.; MEDEIROS, R. M. T.; RIET-CORREA, F. Importância econômica,
epidemiologia e controle das intoxicações por plantas no Brasil. Pesquisa Veterinária
Brasileira, v. 33, n. 6, 2013.
PILATI, C.; BARROS, C. S. L. Intoxicação experimental por Senecio
brasiliensis (Compositae) em equinos. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.27, n.7, p. 287-
296, 2007.
RIET-CORREA, F.; MÉNDEZ, M. C.; SCHILD, A. L. Intoxicações por plantas e
micotoxicoses em animais domésticos. Montevideo: Editorial Hemisfério Sur. 1993. 340 p.
RIET-CORREA, F.; MEDEIROS, R. M. T. Intoxicação por plantas em ruminantes no Brasil
e no Uruguai: importância econômica, controle e riscos para a saúde pública. Pesquisa
Veterinária Brasileira. v.21, p. 38-42, 2001.
RIET-CORREA, F.; SCHILD, A. L.; LEMOS, R. A. A.; BORGES, J. R. Doenças de
Ruminantes e Equinos.Santa Maria: Ed. Palotti. 3 ed. v. 2, p. 692, 2007.
SCHILD, A. L., FERREIRA, J. L., LADEIRA, S. R. L., SOARES, M. P., GRECCO, F. B.,
GUIM, T. N. Doenças diagnosticadas pelo Laboratório regional de Diagnóstico no ano 2006.
Boletim do Laboratório Regional de Diagnóstico, Editora Universitária, 56p. 2007.
STIGGER, A.L., ESTIMA-SILVA, P., FISS, L., COELHO, A.C.B.,GARDNER, D.R.,
MARCOLONGO-PEREIRA, C., SCHILD, A.L. Senecio madagascariensis Poir.
(Asteraceae): uma nova causa de seneciose em bovinos no Sul do Rio Grande do Sul.
Pesquisa Veterinária Brasileira, v.34, n.9, p. 851-855, 2014.
TOKARNIA, C. H.; DÖBEREINER, J. Intoxicação experimental por Senecio
brasiliensis (Compositae) em bovinos. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 4, p.39-65, 1984.
TOKARNIA, C.H.; GAVA, A.; PEIXOTO, P.V.; STOLF, L.;CONSORTE,
L.B.;DOBEREINER, J. Intoxicação experimental por Senecio desiderabilis (Compositae) em
bovinos. Pesquisa Veterinária Brasileira. v.10, p. 35-42, 1990.
41
5 ARTIGO II
Frangos de corte intoxicados experimentalmente por quatro espécies de Senecio
spp.
5.1 INTRODUÇÃO
Em função da vasta presença de plantas do gênero Senecio no estado de Santa Catarina,
e por plantas deste gênero serem responsáveis pela perda de bovinos, foram utilizadas as
espécies Senecio heterotrichius, S. leptolobus, S. desiderabilis e S. stigophlebius para
intoxicação experimental em frangos de corte. O objetivo foi avaliar possíveis manifestações
clínicas e lesões com determinadas dosagens da planta, assim como quantificar os alcaloides
pirrolizidínicos (APs) presentes nestas espécies. Os frangos de corte foram utilizados como
modelo experimental, pois segundo Hooper (1978), essa é a espécie mais sensível aos APs
depois dos suínos.
5.2 MATERIAL E MÉTODOS
As espécies de Senecio testadas foram coletadas no período de junho a agosto de 2014,
sendo que as folhas verdes foram secadas a sombra e posteriormente trituradas em moedor.
Para cada espécie de Senecio foram separadas 100 gramas e secadas a parte, para avaliação da
perda de peso após secagem. Os valores correspondentes à perda de peso de cada espécie da
planta, assim como o local de coleta, são descritos na Tabela 5. As dosagens utilizadas na
experimentação correspondem à planta verde.
Foram alojados 135 pintinhos de um dia da linhagem Coob. As aves foram mantidas em
boxes onde receberam ração e água ad libitum. Os grupos formados continham 10 aves para
cada dosagem a ser avaliada, com exceção ao grupo 3 do S. heterotrichius que era formado por
15 aves. As aves pertencentes aos grupos 1 e 2 receberam dosagens únicas de 5g/kg/PV e
20g/kg/PV respectivamente e o grupo 3 recebeu a dose de 1g/kg/PV durante vinte dias. No total
125 frangos receberam Senecio misturado à ração, o qual passou a ser fornecido às aves quando
as mesmas completaram 12 dias de idade. As dez aves do grupo controle receberam somente
ração.
Diariamente as aves eram inspecionadas e avaliado comportamento e consumo de ração.
Semanalmente as aves dos Grupos 1, 2 e Controle eram pesadas. Para o Grupo 3 a pesagem foi
42
realizada duas vezes na semana, nos primeiros 20 dias, para reajustar a dose diária de senecio
ao peso crescente das aves.
Tabela 5 - Espécies de Senecio utilizadas, local de coleta e dosagens correspondentes a planta
seca.
Espécie Local
coleta
Grupo Dose
planta
verde
(g/kg)
Dose
correspondente
planta seca
(g/kg)
Senecio
heterotrichius
Capinzal/SC 1 5 d.u. 1,6 d.u.
2 20 d.u. 6 d.u.
3 1/ 20 dias 0,32 / 20dias
Senecio
desiderabilis
Urubici/SC 1 5 d.u. 1,8 d.u.
2 20 d.u. 7,2 d.u.
3 1/ 20 dias 0,36 / 20dias
Senecio
stigophlebius
Lebon
Régis/SC
1 5 d.u. 1,75 d.u.
2 20 d.u. 7 d.u.
3 1/ 20 dias 0,35 /20dias
Senecio
leptolobus
São
Joaquim/SC
1 5 d.u. 2,35 d.u.
2 20 d.u. 9,4 d.u.
3 1/ 20 dias 0,47 /20dias Legenda: d.u – dose única.
Fonte: o autor.
Decorridos 30 e 60 dias após o início do consumo, cinco aves de cada grupo foram
sacrificadas. Para a espécie de Senecio heterotrichius aves do Grupo 3 foram sacrificadas
também aos 90 dias. Para a eutanásia foi utilizado o método de deslocamento cervical, aprovado
pela Normativa 1000 do CFMV e pelo comitê de ética e experimentação animal do
CAV/UDESC (Protocolo 01.07.14). As aves foram necropsiadas para observação de lesões e
coleta de amostras de sistema nervoso central, rim, pulmão e fígado. O material coletado foi
fixado em formol tamponado a 10%, processado rotineiramente e corado com hematoxilina e
eosina (HE). O processamento dos materiais e sua análise histológica foram realizados nas
dependências do Laboratório de Patologia Animal do CAV/UDESC.
Amostras das plantas coletadas foram encaminhadas ao departamento de Botânica da
Universidade do Estado de Santa Catarina para sua identificação e classificação. Assim como
foram encaminhadas amostras das plantas secas ao USDA – ARS – Poisonous Plant Research
Laboratory – Logan, Utah, USA, para análise e quantificação das dosagens específicas de
alcaloides pirrolizidínicos.
43
5.3 RESULTADOS
A análise das amostras de Senecio revelou a presença de alcaloides tóxicos éster
dehidro-pirrolizidínicos (DHPA), sendo que S. heterotrichius apresentou dosagem de 4.685
µg/g, S. desiderabilis 1.319 µg/g, S. leptolobus 579 µg/g e na espécie de S. stigophlebius não
foi identificado a presença de alcaloide.
Não foram observados sinais clínicos nas aves que consumiram as plantas em nenhuma
das dosagens testadas, assim como não foram observadas lesões macroscópicas, exceto para S.
heterotrichius. Nas aves que consumiram essa espécie da planta foi observado hidropericárdio
(1/5) e fígado amarelado (2/5) nas aves do Grupo 2 (dose única de 20g/kg) 60 dias após o
consumo da planta. Nas aves do Grupo 3 (1g/kg por 20 dias) foi observado no mesmo período
de consumo dos grupos anteriores 3/5 aves com fígado amarelado. Aos 90 dias além de 3/5
aves com fígado amarelado, foi observado 1/5 com hidropericárdio (Figura 3).
Figura 3 - Fígado de ave do Grupo 3 (1g/kg por 20 dias) necropsiado aos 90 dias após
o início do consumo de S. heterotrichius.
Fonte: o autor
5.3.1 Lesões histológicas
As aves que consumiram S. heterotrichius na dose única de 5g/kg (Grupo 1) não
apresentaram lesões microscópicas aos 30 e 60 dias após o início do consumo. No Grupo 2
(dose única de 20g/kg) observou-se leve fibrose e tumefação de hepatócitos aos 30 dias e 60
dias. O Grupo 3 (dose de 1g/kg durante 20 dias) aos 30 dias do início do consumo revelou
megalocitose e fibrose leve e tumefação moderada de hepatócitos. Com 60 dias as lesões
mantiveram-se, evidenciando um leve aumento na proliferação biliar e aos 90 dias a
megalocitose, fibrose e tumefação dos hepatócitos tornaram-se mais evidentes (Tabela 6).
44
Tabela 6 - Lesões microscópicas observadas nas aves que consumiram Senecio heterotrichius
nas doses única de 20g/kg (Grupo 2) e dose contínua de 1g/kg durante 20 dias (Grupo
3) aos 30, 60 e 90 dias após o início consumo.
Grupo 2 Grupo 3
30 dias 60 dias 30 dias 60 dias 90 dias
Lesões
Tumefação
hepatócitos + + ++ ++ ++
Megalocitose - - + + ++
Fibrose + + + + ++
Vacuolização
hepatócitos - - - - +
Proliferação
biliar - - + + +
Legenda: + leve, ++ moderada, +++ severa, - ausente.
Fonte: o autor.
Já as aves que consumiram S. leptolobus aos 30 e 60 dias após o fornecimento da planta
apresentaram leve megalocitose e tumefação de hepatócitos. Essas lesões foram observadas em
todas as dosagens testadas (Tabela 7).
Tabela 7 - Lesões microscópicas observadas nas aves que consumiram Senecio leptolobus nas
doses única de 5g/kg (Grupo 1), 20g/kg (Grupo 2) e dose contínua de 1g/kg durante
20 dias (Grupo 3) aos 30 e 60 dias após o início consumo.
Grupo1 Grupo 2 Grupo 3
30 dias 60 dias 30 dias 60 dias 30 dias 60 dias
Lesões
Tumefação
hepatócitos + + + + + +
Megalocitose + + + + + +
Fibrose - - - - - -
Vacuolização
hepatócitos - - - - - +
Proliferação
biliar - - - + - -
Legenda: + leve, ++ moderada, +++ severa, - ausente.
Fonte: o autor.
As lesões ocasionadas pelo S. desiderabilis ocorreram somente nas aves do Grupo 3
(dose de 1g/kg durante 20 dias) 30 dias após o consumo, onde foram observadas alterações, que
se caracterizaram por leve fibrose e tumefação de hepatócitos.
Nas aves que consumiram S. stigophlebius não foram observadas lesões
microscópicas. Assim como não foram observadas lesões nos demais órgãos coletados.
45
5.4 DISCUSSÃO
Senecio heterotrichius, S. leptolobus e S. desiderabilis foram tóxicos para as aves nos
períodos e dosagens testadas. A intensidade das lesões variou de acordo com as dosagens e
espécie da planta, sendo que S. heterotrichius foi a espécie mais tóxica, com lesões
macroscópicas e histológicas mais evidentes que as outras duas espécies. Essa característica de
intensidade das lesões pode estar relacionada a quantidade de APs isolada desta espécie da
planta, 4.685 µg/g. Enquanto para S. desiderabilis foi identificado 1.319 µg/g e S. leptolobus
579 µg/g.
Mesmo com dosagem elevada de APs, principalmente para S. heterotrichius, não foram
observados sinais clínicos nas aves. Nos bovinos pode-se observar-se apatia ou
hiperexcitabilidade, agressividade, pressão da cabeça contra objetos, andar compulsivo ou em
círculos, tenesmo, diarreia escura, opistótomo e, ocasionalmente, prolapso retal. Esse curso
clínico pode ser de poucos dias ou vários meses, podendo se observar sinais nervosos ou
decúbito permanente antes da morte. Também pode haver ascite, fotossensibilização, icterícia
e edema de membros e barbela (TOKARNIA; DOBEREINER, 1984; MÉNDEZ et al., 1987;
BARROS et al., 1987; KARAM et al., 2011, STIGGER et al., 2014).
A ausência desses sinais também foi descrita nos experimentos realizados em aves por
Méndez et al. (1990) com S. brasiliensis, S. heterotrichius, S. selloi, S. leptolobus e S.
cisplatinus e por Cheeke e Pierson-Goeger (1983) utilizando S. jacobae. O fato de as aves
deste experimento não apresentarem sinais pode ser devido ao tempo de consumo da planta,
assim como em relação a dosagem utilizada. A presença das lesões histológicas demonstra que
há comprometimento hepático, o que sugere que num período maior de tempo as aves poderiam
vir a manifestar os sinais clínicos, pois de acordo com Tokarnia e Döbereiner (1984) as lesões
ocasionadas pelos APs são progressivas.
S. madagascariensis com APs em torno 500 µg/g, produziu sinais clínicos em bovinos
(STIGGER et al., 2014). A concentração de APs nessa espécie de Senecio é menor que nas
espécies usadas neste trabalho. Os bovinos estavam em campo severamente invadido por
Senecio, provavelmente a dose consumida pelos animais foi alta. Mesmo as aves tendo
consumido dose elevada (20 g/kg), os sinais não foram observados o que difere dos relatos de
alguns autores onde a administração de doses únicas e altas é responsável por ocasionar quadros
agudos de manifestação da doença, com sintomatologia e morte dos animais (TOKARNIA;
46
DÖBEREINER, 1984; MÉNDEZ et al., 1987; BARROS et al., 1987; RIET-CORREA et al.,
2007).
A dose mais tóxicas para as aves não foi dose única e alta, mas sim doses menores e
contínuas, isso foi observado tanto para S. heterotrichius como para S. desiderabilis. Este
resultado corrobora a afirmativa de Tokarnia e Döbereiner (1984) e Riet-Correa et al. (2007),
que descrevem as lesões ocasionadas pelos APs como progressivas e irreversíveis.
As aves que receberam S. heterotrichius foram as únicas que apresentaram lesões
macroscópicas. Estas se caracterizaram por hidropericárdio e fígado amarelado nas três
dosagens testadas, porém, de pouca intensidade. Esses resultados diferem dos achados de
Méndez et al. (1990) para a mesma espécie de planta testada. O mesmo ocorre para o S.
leptolobus que não apresentou lesões macroscópicas neste estudo e no experimento de Méndez
et al. (1990) foi observado fígado amarelo e aumentado de tamanho. As variações de lesões
podem ser devido ao fato de no experimento de Méndez et al. (1990) os animais terem recebido
a planta por um período maior de tempo (60 dias consecutivos).
As lesões histológicas das espécies testadas variaram de leve a moderada megalocitose,
fibrose, proliferação biliar e tumefação dos hepatócitos, sendo as lesões mais evidentes nas aves
necropsiadas aos 90 dias após o consumo das plantas, reiterando as afirmações de Tokarnia e
Döbereiner (1984) e Riet-Correa et al. (2007). Mesmo assim, essas lesões se caracterizaram
por menor intensidade quando comparadas as descritas por Méndez et al. (1990) onde as aves
que consumiram a planta por um período de 60 dias, apresentaram lesões de megalocitose,
desorganização do parênquima hepático, proliferação de epitélio biliar, além de necrose e
proliferação de tecido conjuntivo para dentro do parênquima a partir da cápsula de Glisson para
as aves experimentalmente intoxicadas com S. heterotrichius. Observaram também que as
lesões ocasionadas por S. leptolobus foram menos intensas, com leve megalocitose e
vacuolização do citoplasma de hepatócitos. Ambos os trabalhos demonstram que o S.
heterotrichius é mais tóxico para as aves que S. leptolobus.
Senecio desiderabilis apresentou somente lesões histológicas e apenas na dosagem de 1
g/kg por 20 dias seguidos nas aves necropsiadas aos 30 dias. Tokarnia et al. (1990) também
constataram lesões muito leves em bovinos que foram experimentalmente intoxicados com S.
desiderabilis, no entanto, dois bovinos morreram devido a intoxicação. Um dos animais
apresentou icterícia generalizada, leve, acúmulo de líquido na cavidade abdominal, edema de
cólon, abomaso e vesícula biliar. Fígado com tamanho normal, firme e de cor alaranjada. O
segundo apresentou lesões semelhantes, porém sem acúmulo de líquido na cavidade abdominal.
Esses animais consumiram a planta em dose de 10g/kg por um período superior aos dias
47
testados no experimento com as aves (29 e 102 dias). Acredita-se que os APs contidos nesta
espécie de senecio são menos tóxicos, pois em bovinos as lesões macroscópicas foram pouco
significativas e nas aves não foram observadas.
Entre as espécies de Senecio avaliadas neste estudo, somente a espécie de S.
stigophlebius não causou lesões macroscópicas ou microscópicas. Na dosagem de APs
realizada não foi identificado a presença deste, o que corrobora com os achados de Paiva (2002),
onde também não foi isolado nenhum tipo de alcaloide tóxico.
5.5 CONCLUSÃO
Senecio heterotrichius, S. leptolobus e S. desiderabilis foram tóxicos para as aves nas
dosagens testadas, sendo a dose mais tóxica para as aves a de 1 g/kg durante 20 dias
consecutivos.
5.6 REFERÊNCIAS
BARROS, C. S. L.; METZDORF, L. L.; PEIXOTO, P. V. Intoxicação por Senecio spp. em
bovinos. Pesquisa Veterinária Brasileira, Rio de Janeiro, v.7, n.4., p.101-107,1987.
CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA. PROCEDIMENTOS E
MÉTODOS DE EUTANÁSIA SÃO REVISTOS PELO CFMV: 1000. Brasília, 2012.
CHEEKE, P. R.; PIERSON-GOEGER, M.L. Comparative toxicity and metabolism of
pyrrolizidine alcaloids in various laboratory animals and avian species, Toxicology Letters.
v. 18, p. 343, 1983.
HOOPER, P. T. Pyrrolizidine alkaloid poisoning-pathology with particular reference to
differences in animal and plant species, p.162-176. In: KEELER R.F., VAN KAMPEN K.R.;
JAMES L.F. (ed.), Effects of Poisonous Plants on Livestock, New York, Academic Press.
1978. 600 p.
KARAM, F.C.; SCHILD, A.L.; MELLO, J.R.B. Intoxicação por Senecio spp. em bovinos no
Rio Grande do Sul: condições ambientais favoráveis e medidas de controle. Pesquisa
Veterinária Brasileira. v.31, n.7, p.603-609, 2011.
MÉNDEZ, M. C., RIET-CORREA, F.; SCHILD, A. L. Intoxicação por Senecio spp.
(Compositae) em bovinos no Rio Grande do Sul. Pesquisa Veterinária Brasileira. v.7, n.2,
p.51-56, 1987.
MÉNDEZ, M. C.; RIET-CORREA, F.; SCHILD, A. L.; MARTZ, W. Intoxicação
experimental por cinco espécies de Senecio em bovinos e aves. Pesquisa Veterinária
Brasileira, Rio de Janeiro. v.10, n. 3/4, p. 63-69, 1990.
48
PAIVA, J.A. Estudo fitoquímico em espécies do gênero Senecio (Asteraceae) – 166p. Tese
(Doutorado) – Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Química, Campinas, 2002.
RIET-CORREA, F.; SCHILD, A. L.; LEMOS, R. A. A.; BORGES, J. R. Doenças de
Ruminantes e Equinos.Santa Maria: Ed. Palotti. 3 ed. v. 2, p. 692, 2007.
STIGGER, A.L., ESTIMA-SILVA, P., FISS, L., COELHO, A.C.B.,GARDNER, D.R.,
MARCOLONGO-PEREIRA, C., SCHILD, A.L. Senecio madagascariensis Poir.
(Asteraceae): uma nova causa de seneciose em bovinos no Sul do Rio Grande do Sul.
Pesquisa Veterinária Brasileira, v.34, n.9, p. 851-855, 2014.
TOKARNIA, C. H.; DÖBEREINER, J. Intoxicação experimental por Senecio
brasiliensis (Compositae) em bovinos. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 4, p.39-65, 1984.
TOKARNIA, C.H.; GAVA, A.; PEIXOTO, P.V.; STOLF, L.;CONSORTE,
L.B.;DOBEREINER, J. Intoxicação experimental por Senecio desiderabilis (Compositae) em
bovinos. Pesquisa Veterinária Brasileira. v.10, p. 35-42, 1990.
49
6 ARTIGO III
Intoxicação por Senecio brasiliensis em bovinos no estado de Santa Catarina.
6.1 INTRODUÇÃO
Senecio é uma planta de distribuição mundial, é responsável por ocasionar perdas
em lotes de bovinos devido a sua característica de provocar lesão hepática de forma
crônica. No Brasil, a primeira espécie desse gênero que teve sua toxicidade demonstrada
experimentalmente em animais domésticos, e com relatos de intoxicação natural foi
Senecio brasiliensis (TOKARNIA; DÖBEREINER, 1984). No entanto, Senecio
cisplatinus, S. heterotrichius, S. selloi, S. oxyphyllus, S. tweediei, S. leptolobus e S.
madagascariensis também já são comprovadamente tóxicos para bovinos (MÉNDEZ et
al., 1987; BARROS et al., 1987; BARROS et al., 1992; KARAM et al., 2004; CRUZ et
al., 2010, KARAM et al., 2011, STIGGER et al., 2014).
Devido ao seu sabor desagradável, os animais geralmente rejeitam a planta e a
consomem quando passam fome, o que pode ser resultado de longos períodos de
estiagem, invernos rigorosos ou de privação alimentar por alta lotação ou transporte
(RIET-CORREA et al., 1993; PESSOA et al., 2013). A ingestão geralmente ocorre
durante os meses de maio a agosto, período no qual, diferentes espécies estão em brotação
e coincide com a queda considerável na disponibilidade de forragem (MÉNDEZ et al.,
1987; BARROS et al., 1992). Além dessa forma de consumo da planta, os animais podem
consumi-la quando estiver associada a feno, ou associada a outra pastagem (DRIEMEIER
et al., 1991).
O objetivo desse estudo é identificar as principais fontes de ingestão de Senecio
brasiliensis pelos bovinos no estado de Santa Catarina e caracterizar os surtos
diagnosticados pelo Laboratório de Patologia Animal do CAV/UDESC (LAPA).
6.2 MATERIAL E MÉTODOS
Foi realizado o estudo epidemiológico retrospectivo dos surtos de intoxicação
por Senecio brasiliensis em bovinos, ocorridos na área de atuação do Laboratório de
Patologia Animal da Universidade do Estado de Santa Catarina (LAPA-CAV/UDESC),
entre os anos de 1987 e 2016. Neste estudo estão incluídos os casos de necropsias e os
50
materiais recebidos no Laboratório oriundos de necropsias realizadas por médicos
veterinários autônomos.
Fragmentos dos órgãos coletados foram fixados em formalina tamponada a 10%,
processados rotineiramente e corados pelas técnicas de hematoxilina e eosina (HE). Após
a confirmação do diagnóstico, foi realizado o levantamento dos históricos dos casos
confirmados de intoxicação por Senecio brasiliensis para identificar a epidemiologia e as
diversas fontes de ingestão da planta.
A coleta de dados epidemiológicos, a observação de sinais clínicos e achados de
necropsia foram feitas durante visitas às propriedades onde ocorreram os surtos de
intoxicação por Senecio brasiliensis e complementados através de informações obtidas
com proprietários e médicos veterinários.
6.3 RESULTADOS
Foram realizadas 177 necropsias, destas, 29 feitas pela equipe do LAPA e as
demais por veterinários autônomos. Os exames histopatológicos dos materiais coletados
foram realizados no LAPA.
A distribuição dos diagnósticos de seneciose entre os anos de 1987 e 2016 estão
descritos na Figura 4.
Figura 4- Diagnósticos de seneciose realizados entre os anos de 1987 e 2016 pelo LAPA.
Fonte: o autor
51
Os dados levantados referente às diferentes fontes de ingestão da planta, assim
como o possível número de animais acometidos estão demonstrados no Quadro 1.
Quadro 1 – Formas de ingestão de Senecio brasiliensis observadas nos surtos acompanhados
pelo LAPA-CAV/UDESC.
Formas de ingestão de Senecio
brasiliensis Surtos
Animais
mortos
Total de
animais
Planta adulta no campo nativo 4 19 95
Planta jovem 1 18 50
Planta verde cortada com outras
gramíneas e fornecidas no cocho 2 9 87
Planta adulta em área de pastagem
de aveia e azevém 3 63 130
Planta adulta em área de estrela
africana seca 1 15 84
Contaminação em feno de aveia 2 15 30
Contaminação feno de alfafa 2 39 130
Silagem pré-secada 1 8 14
Contaminação em resíduos de
grãos/milho 1 12 20
Formas desconhecidas 24 26
Total 41 224 640
Fonte: o autor
Os sinais clínicos observados, levando em consideração somente os animais
necropsiados ou os observados durante as visitas às fazendas incluem diarreia (41,4%),
apatia e anorexia (38%), emagrecimento progressivo (34,5%), tenesmo e prolapso retal
(31%), agressividade (27,6%), incoordenação e andar em círculos (17,2%),
fotossensibilização (6,9%), constipação (3,4%) e nistagno (3,4%).
Na necropsia as lesões frequentemente observadas, incluíram fígado diminuído
de tamanho, endurecido, de coloração amarelada ou escura, algumas vezes com estriações
52
esbranquiçadas, vesícula biliar distendida e com espessamento da parede, edema na
submucosa do abomaso e no mesentério e ascite. Nos achados microscópicos as principais
lesões foram encontradas no fígado e caracterizaram-se por proliferação de ductos
biliares, megalocitose, proliferação de tecido fibroso em graus variáveis, degeneração
gordurosa, e às vezes no sistema nervoso degeneração de astrócitos e espongiose
moderada.
6.4 DISCUSSÃO
No estado de Santa Catarina, estima-se que de 14 a 18% das mortes ocorridas
em bovinos, estão relacionadas a plantas tóxicas, o que representa uma mortalidade
aproximada de 30.000 a 40.000 bovinos por ano. O Laboratório Regional de Diagnóstico
da UFPEL (Universidade Federal de Pelotas) identificou que aproximadamente 10% dos
casos de bovinos diagnosticados por eles são ocasionados por plantas (RIET-CORREA;
MEDEIROS, 2001). No Setor de Patologia Veterinária da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS) foi identificado que aproximadamente 7% das mortes de bovinos
são causadas pela ingestão de plantas tóxicas (PEDROSO et al., 2005).
Estudo realizado por Rissi et al. (2007) demonstra que dentre os casos de
intoxicação por plantas diagnosticados no Laboratório de Patologia Veterinária da UFSM
(Universidade Federal de Santa Maria), 56,14% foram atribuídos à intoxicação por
espécies do gênero Senecio. Sendo também uma das principais causas de mortalidade
ocasionadas por plantas na área de atuação do Laboratório Regional de Diagnóstico da
UFPEL (KARAM et al., 2004). Os dados obtidos no presente estudo mostram que a
intoxicação ocasionada pelo Senecio brasiliensis, no estado de Santa Catarina é
responsável por aproximadamente 10% das mortalidades por plantas tóxicas em bovinos.
A mortalidade dos bovinos nos surtos diagnosticados foi de até 60% do rebanho.
O maior número de casos de intoxicação por Senecio brasiliensis diagnosticado
pelo LAPA ocorreu entre os anos 2000 e 2008. Neste período a planta já havia sido
amplamente estudada e demonstrado seu efeito tóxico (TOKARNIA; DÖBEREINER,
1984; MÉNDEZ et al., 1987; BARROS et al., 1987; DRIEMEIER et al., 1991).
As plantas do gênero Senecio tem características invasoras, ocupando
principalmente campos nativos ou onde não há um manejo adequado da terra (PEREIRA
et al., 2011). Em função dessa característica, os bovinos acabam consumindo-a quando
há indisponibilidade de alimento (RIET-CORREA et al., 1993; PESSOA et al., 2013). A
53
maioria dos surtos de seneciose descritos no Brasil, ocorreu em bovinos que estavam em
campo nativo ou que consumiram a planta em pastagens contaminadas (MÉNDEZ et al.,
1987; BARROS et al., 1987; BARROS et al., 1992; KARAM et al., 2004; CRUZ et al.,
2010, KARAM et al., 2011, STIGGER et al., 2014). Esses quadros diferem dos
encontrados nesse levantamento, onde a maioria dos casos ocorreu pelo consumo da
planta de forma acidental, com a planta associada a fenos, silagem ou misturada a outras
gramíneas e fornecidas no cocho aos animais. Dos 41 surtos acompanhados, oito são
referentes a contaminação de campo nativo ou pastagens por S. brasiliensis. Há um surto
relacionado ao consumo da planta jovem, onde a mortalidade foi de 36%. Quando a planta
encontra-se em fase de brotação e associada a pastagens, principalmente, os animais não
conseguem fazer a seleção, ocorrendo assim, o consumo.
Nas situações onde existe a infestação do campo pela planta, a utilização de
ovinos como forma de controlar a infecção, é uma ferramenta recomendada, pois esta
espécie é considerada de 30 a 40 vezes mais resistente à infecção que os bovinos (CRAIG
et al., 1991). No entanto, deve-se ter atenção ao número de ovinos utilizados, uma lotação
de 0,2 a 0,4 animais por hectare é capaz de controlar a ocorrência, do contrário esta
espécie também pode desenvolver o quadro de seneciose (ILHA et al., 2001; GRECCO
et al., 2011). Nos surtos acompanhados pelo LAPA, não há relatos de que houvessem
ovinos pastoreando junto aos bovinos.
Neste levantamento foi possível observar o acometimento de bovinos adultos,
principalmente, mas também de bovinos jovens. Panziera et al. (2017), descreve um surto
em bovinos jovens, recém desmanados e que foram alojados em campo nativo
severamente infestado por S. brasiliensis. Apesar de não ser muito comum a
contaminação de animais jovens, ela acontece, principalmente quando estão alojados em
local com alta infestação e falta de pastagem ou de forma acidental, através de feno
contaminado.
No Brasil são poucos os relatos de consumo da planta de forma acidental, apesar
de a planta ser considerada de baixa palatabilidade (RIET-CORREA et al., 1993), nestas
situações os bovinos as consomem com facilidade, e mesmo estando dessecada, a planta
não perde seu teor de toxicidade (MÉNDEZ et al., 1987; MÉNDEZ et al., 1990;
MÉNDEZ; RIET-CORREA, 2008).
Foram identificados quatro surtos onde os animais consumiram a planta
associada à feno de aveia e/ou alfafa, a mortalidade foi de 33% dos animais presentes no
rebanho. Além desses, há descrição de um surto ocorrido também em animais jovens e
54
vacas leiteiras no estado de Santa Catarina (BASILE et al., 2005) e um no Rio Grande do
Sul (DRIEMEIER et al., 1991). Em todas as situações o feno foi minuciosamente avaliado
e foi encontrado a presença da planta em quantidades em torno de 3% (BASILE et al.,
2005).
A ingestão acidental da planta presente na silagem foi acompanhada em um
surto, neste caso 57% dos animais da propriedade morreram. Não há relatos de casos de
intoxicação de bovinos pelo consumo do Senecio associado a silagem no Brasil. Também
não há descrição de contaminação de grãos de milho com resíduos da planta resultantes
da limpeza de secadores de grãos, este surto teve mortalidade de 60%.
Nos casos de ingestão acidental a mortalidade é mais elevada, demonstrado a
severidade da ação tóxica da planta.
Os sinais clínicos observados nos casos diagnosticados pelo LAPA, ou descritos
pelos veterinários que atenderam aos surtos, assim como as lesões observadas à necropsia
e lesões histológicas, são descritos por diferentes autores nos diversos surtos observados
(TOKARNIA; DÖBEREINER, 1984; MÉNDEZ et al., 1987; BARROS et al., 1987;
DRIEMEIER et al., 1991; BARROS et al., 1992; KARAM et al., 2004; BASILE et al.,
2005; CRUZ et al., 2010, KARAM et al., 2011, STIGGER et al., 2014).
6.5 CONCLUSÃO
Para o estado de Santa Catarina, S. brasiliensis é uma das principais plantas
tóxicas para bovinos. A intoxicação ocorreu por ingestão da planta adulta em pastagens
contaminadas, por ingestão de feno de aveia e/ou alfafa, silagem, resíduos de secador
de grãos e também por contaminação de pastos colhidos e fornecidos no cocho.
6.6 REFERÊNCIAS
BARROS C. S. L., DRIEMEIER D., PILATI C., BARROS S. S. & CASTILHOS L. M. L.
Senecio spp. poisoning in cattle in southern Brazil. Veterinary Human Toxicology. v.34,
p.241-246, 1992.
BARROS, C. S. L.; METZDORF, L. L.; PEIXOTO, P. V. Intoxicação por Senecio spp. em
bovinos. Pesquisa Veterinária Brasileira, Rio de Janeiro, v.7, n.4., p.101-107,1987.
BASILE,J.R.;DINIZ, J.M.F.; OKANO, W.;CIRIO, S.M.;LEITE, LC. Intoxicação por Senecio
spp. (Compositae) em bovinos no sul do Brasil. Acta Scientiae Veterinariae. v. 33, n.1,
p.63-68, 2005.
55
CRAIG, A. M.; PEARSON, E. G.; MEYER, C.; SCHMIT, J. A. Serum liver enzyme and
histopathological changes in calves with chronic and chronic-delayed Senecio jacobaea
toxicosis. American Journal of Veterinary Research, Oregon. v. 52, f. 12, p.1969-1978,
1991.
CRUZ, C.E.F.; KARAM, F.C.; DALTO, A.C.; PAVARINI, S.P.; BANDARRA, P. M.;
DRIEMEIER, D. Fireweed (Senecio madagascariensis) poisoning in cattle. Pesquisa
Veterinária Brasileira. v.30, n.1, p.10-12, 2010.
DRIEMEIER, D., BARROS, C. S. L., PILATI, C. Seneciose em bovinos. A hora veterinária
v.10, n.59, p. 23-30, 1991.
GRECCO, F. B.; ESTIMA-SILVA, P.; MARCOLONGO-PEREIRA,C.; SOARES, M. P.;
COLLARES, G.; SCHILD, A. L. Seneciose crônica em ovinos no sul do Rio Grande do Sul.
Pesquisa Veterinária Brasileira. v.31, n.4, p.326-330, 2011.
ILHA, M. R., LORETTI, A. P., BARROS, S. S., BARROS, C. L. S. Intoxicação espontânea
por Senecio brasiliensis (Asteraceae) em ovinos no Rio Grande do Sul. Pesquisa Veterinária
Brasileira v.21, p: 123-138, 2001.
KARAM F.S.C.; SOARES M.P.; HARAGUCHI M.; RIET-CORREA F.; MÉNDEZ M.C.;
JARENKOW J.A. Aspectos epidemiológicos da seneciose na região sul do Rio Grande do
Sul. Pesquisa Veterinária Brasileira. v.24, p.191-198, 2004.
KARAM, F.C.; SCHILD, A.L.; MELLO, J.R.B. Intoxicação por Senecio spp. em bovinos no
Rio Grande do Sul: condições ambientais favoráveis e medidas de controle. Pesquisa
Veterinária Brasileira. v.31, n.7, p.603-609, 2011.
MÉNDEZ, M. C., RIET-CORREA, F.; SCHILD, A. L. Intoxicação por Senecio spp.
(Compositae) em bovinos no Rio Grande do Sul. Pesquisa Veterinária Brasileira. v.7, n.2,
p.51-56, 1987.
MÉNDEZ, M. C.; RIET-CORREA, F.; SCHILD, A. L.; MARTZ, W. Intoxicação
experimental por cinco espécies de Senecio em bovinos e aves. Pesquisa Veterinária
Brasileira, Rio de Janeiro. v.10, n. 3/4, p. 63-69, 1990.
MÉNDEZ, M.C.; RIET-CORREA, F. Plantas tóxicas e Micotoxicoses. 2ª edição. Editora e
Gráfica Universitária, Pelotas. 2008.298p.
PANZIERA, W.; GONÇALVES, M. A.; OLIVEIRA, L. G. S.; LORENZETT, M. P.; REIS,
M.; HAMMERSCHMITT, M.E.; PAVARINI, S.P.; DRIEMEIER, D. Intoxicação por Senecio
brasiliensis em bezerros: padrão e evolução de lesões hepáticas. Pesquisa Veterinária
Brasileira, v. 37(1), n. 8-16, 2017.
PEDROSO, P.M.O.; RAYMUNDO, D.L.; GUAGNINI, F.S.; OLIVEIRA, E.C.; CORRÊA,
A.M.R.; COLODEL, E.M.; DRIEMEIER D. Intoxicações por plantas e substâncias químicas
em ruminantes diagnosticadas no Setor de Patologia Veterinária da UFRGS no período de
1997-2004. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia. v.57, p.74-75, 2005.
56
PEREIRA, F. A. R; VERZIGNASSI, J. R.; ARIAS, E.R. A.; CARVALHO, F. T.; SILVA,
A. P. Controle de plantas daninhas em pastagens. Embrapa Gado de Corte. 22 p. 2011.
PESSOA, C. R. M.; MEDEIROS, R. M. T.; RIET-CORREA, F. Importância econômica,
epidemiologia e controle das intoxicações por plantas no Brasil. Pesquisa Veterinária
Brasileira, v. 33, n. 6, 2013.
RIET-CORREA, F.; MEDEIROS, R.M.T. Intoxicações por plantas em ruminantes no Brasil e
no Uruguai: importância econômica, controle e riscos para a saúde pública. Pesquisa
Veterinária Brasileira,. 21:38-422001
RIET-CORREA, F.; MÉNDEZ, M. C.; SCHILD, A. L. Intoxicações por plantas e
micotoxicoses em animais domésticos. Montevideo: Editorial Hemisfério Sur. 1993. 340 p.
RISSI, D. R.; RECH, R. R.; PIEREZAN, F.; GABRIEL, A. L.; TROST, M. E.; BRUM, J. S.;
KOMMERS, G. D.; BARROS, C. S. L. Intoxicações por plantas e micotoxinas associadas a
plantas em bovinos no Rio Grande do Sul: 461 casos. Pesquisa Veterinária Brasileira. v.7,
n. 7, p. 261-268, 2007.
STIGGER, A.L., ESTIMA-SILVA, P., FISS, L., COELHO, A.C.B.,GARDNER, D.R.,
MARCOLONGO-PEREIRA, C., SCHILD, A.L. Senecio madagascariensis Poir.
(Asteraceae): uma nova causa de seneciose em bovinos no Sul do Rio Grande do Sul.
Pesquisa Veterinária Brasileira, v.34, n.9, p. 851-855, 2014.
TOKARNIA, C. H.; DÖBEREINER, J. Intoxicação experimental por Senecio
brasiliensis (Compositae) em bovinos. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 4, p.39-65, 1984.
57
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As espécies de Senecio avaliadas demonstraram ser tóxicas para frangos de corte, exceto
para S. stigophlebius, sendo que nesta espécie não foi possível a detecção de APs.
A dosagem de 1g/kg durante 20 dias foi a que causou lesões mais significativas,
demonstrando que os frangos são mais sensíveis a doses menores e contínuas do que a doses
altas e únicas.
As lesões mais graves também foram observadas nas aves abatidas com período maior
de tempo (90 dias) após o consumo.
A espécie de Senecio que apresentou lesões mais severas foi S. vernonioides, a
severidade das lesões, tanto à necropsia como na histologia, se confirma pela maior dosagem
de APs encontrada, quando comparada aos demais senecios.
As lesões de fibrose observadas na microscopia são menos severas quando comparadas
as lesões observadas em bovinos intoxicados, no entanto as lesões foram bastante graves
quando comparadas dentro da espécie.
O maior número de casos de contaminação em bovinos ocorreu por ingestão da planta
de forma acidental, através de fenos, silagem ou fornecendo a planta no cocho misturada a
outras gramíneas, diferente do que é observado na maioria dos surtos relatados, onde os bovinos
consomem a planta em campo nativo ou associada a pastagem.
58
8 ANEXO
Anexo 1 – Senecio vernonioides
Fonte: o autor
Anexo 2 – Senecio heterotrichius
Fonte: o autor
59
Anexo 3 – Senecio desiderabilis
Fonte: o autor
Anexo 4 – Senecio leptolobus
Fonte: o autor
60
Anexo 5 – Senecio paulensis
Fonte: o autor
Anexo 6 – Senecio conyzaefolius
Fonte: o autor
61
Anexo 7 – Senecio stigophlebius
Fonte: o autor
Anexo 8 – Senecio brasiliensis
Fonte: o autor