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Clas Da Lua Alfa - Philip K. Dick

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phillip K dick book

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  • Philip K. Dick

    Cls da Lua Alfa

    Traduo

    Terezinha Batista dos Santos

  • 1964, by Philip K. Dick

    Publicado por acordo com Scott Meredith Literary Agency , Inc.

    845 Third Avenue, New York, N.Y., 10022

    Ttulo original: Clans of the Alphane Moon

    Capa Original: Roberto Garcia (Ziggy Trots e um Alfano)

    Capa do Exilado: http://bystander-koko.deviantart.com/art/Philip-K-Dick-Alphane-Moon-251438554

    Reviso tipogrfica: Henrique Tarnapolsky

    Digitalizao: Diogo Seisenhofer

    Impresso no BrasilPrinted in Brazil

    1987

    ISBN 85-265-0091-0

    Todos os direitos desta edio reservados :

    LIVRARIA FRANCISCO ALVES EDITORA S.A.

  • Rua Sete de Setembro, 177 Centro

    Tel.: 221-3198

    20050 Rio de Janeiro RJ

  • Introduo

    Qual o limite entre a sanidade mental e a loucura?Imagine no futuro uma pequena lua, que tendo um dia servido de asilo paraloucos, aps abandonada prpria sorte, agora um estado constitudo. Com suasleis e problemas.As pessoas se organizaram em sete cls os Psicticos, os Hebetizados(idiotia), os Manacos, os Paranoicos, os Esquizoides, os Depressivos e osObsessivos de acordo com suas doenas mentais. O resultado umasociedade surreal e ao mesmo tempo bizarra, arremedo da nossa.A Terra continua existindo, mas, mesmo nesse espao que conhecemos,estranhas criatura circulam e interferem nos destinos humanos.Voc ir conhecer a matria viscosa, estranha forma de vida com exticospoderes; Coelho Hentman (Bunny Hentman), protagonista de um famosoprograma humorstico na televiso; Chuck Rittersdorf, nosso anti-heri e claro...muitos simulacros, dos quais melhor no falar por agora.

    Philip K. Dick (1928-1982) nasceu em Chicago, no estado de Illinois, E.U.A., epassou grande parte de sua vida na Califrnia. Autor de 35 romances e de seislivros de contos, Dick recebeu em 1962 o prmio Hugo por seu romance OHomem do Castelo Alto. Em 1974, foi agraciado com o prmio John W.Campbell por seu romance Flow my Tears, the Policemen Said . O romanceBlade Runner O Caador de Androides (1968) foi adaptado, em maio de1982, para o cinema e recebeu vrias indicaes para o Oscar de 1983.As obras de Philip K. Dick exibem muitos elementos comuns fico cientfica,mas se destacam por trazer sempre um pouco do esprito humano e da suapsicologia em pgina do mais puro delrio ficcional.

    maior parte dos crticos escapou o fato de Dick entreter-nos com realidade eloucura, tempo e morte, pecado e salvao. Ningum se deu conta de que h maisde 30 anos possumos nosso Borges americano Ursula K. LeGuin (The NewRepublic)

  • Captulo1

    Antes de entrar na sala do conselho supremo, Gabriel Baines enviou seusimulacro, elaborado pelos Manacos, rangendo frente, para ver se o artefatopor acaso seria atacado. O simulacro habilmente construdo de forma aassemelhar-se a Baines em cada detalhe executava tarefas variadas, desdeque fora concludo pelo inventivo cl dos Manacos; no entanto, Baines limitava-se a empreg-lo para a defesa; o objetivo nico de sua vida consistia emdefender-se, bem como sua reivindicao a associar-se ao grupo dos Paranoicosem Vila de Adolf, no extremo norte da lua.

    Evidentemente Baines j sara diversas vezes de Vila de Adolf, mas s se sentiaem segurana ou melhor, relativamente seguro aqui, protegido pelos murosslidos da cidade dos Paranoicos. O que provava que seu pedido de participaono cl dos Paranoicos no fora parte de uma trama, um mero artifcio pelo qualele poderia penetrar na rea urbana mais resistente e solidamente construda dasredondezas. Sem dvida Baines era sincero... caso houvesse dvidas a seurespeito.

    A visita aos barracos inacreditavelmente degradados dos Hebetizados fora umexemplo. H pouco tempo estivera em busca de membros fugidos de umabrigada de trabalho; por serem Hebetizados, eles talvez houvessem retornado aVila de Gandhi. Entretanto, a dificuldade residia no fato de que todos osHebetizados se pareciam, pelo menos para ele: criaturas sujas e encurvadas,vestidas com trapos imundos, soltando risadinhas e incapazes de concentraoem qualquer atividade complicada. S eram teis no trabalho manual e nadamais. S que com a necessidade crescente de consertos nas fortificaes de Vilade Adolf, depredadas pelos Manacos, nos ltimos tempos estava sendo difcilobter mo-de-obra. E nenhum dos Paranoicos sujaria suas mos. De qualquermaneira, sentira o verdadeiro terror que assolava os barracos arruinados dosHebetizados, uma impresso de abandono quase total, evidente naquelas frgeisconstrues humanas, nos terrenos baldios tomados pelo lixo e repletos demoradias de papelo. Paradoxalmente, os Hebetizados no reclamavam. Viviamem meio ao refugo em plcida harmonia.

    Hoje, no segundo encontro anual do conselho representativo de todos os cls, osHebetizados certamente compareceriam com um representante. Comorepresentante dos Paranoicos, ele se veria constrangido a sentar-se na mesmasala, lado a lado com um literalmente nojento Hebetizado. O que no ajudava aenaltecer sua tarefa. Provavelmente este ano seria de novo Sarah Apostoles, agorda de cabelos desgrenhados.

    Mais aterrorizante seria o representante dos Manacos, pois, como todos os

  • Paranoicos, Baines temia todos os Manacos sem exceo. A violncia brutal ochocava, no chegando a compreend-la, to despropositada que era. Duranteanos considerara os Manacos simplesmente hostis. Contudo, esta explicao noera suficiente. Eles gostavam da violncia; sentiam um prazer malvolo emquebrar objetos e intimidar os outros, particularmente os Paranoicos, tais comoele, Baines.

    A conscincia deste fato no o ajudava muito; ainda se acovardava ante aperspectiva de confronto com Howard Straw, o representante dos Manacos.

    O simulacro retornou resfolegando como um asmtico, um sorriso fixo nosemblante artificial, semelhana do de Baines:

    Tudo em ordem, chefe. Nenhum gs mortfero, nenhuma descarga eltricade intensidade perigosa, nenhum veneno na garrafa d gua, nenhum orifcio paraespingarda a laser, nenhuma mquina diablica oculta. Consideraria que o senhorpode entrar sem perigo Emitiu alguns rudos, mantendo-se depois em silncio.

    Ningum se aproximou de voc? perguntou Baines, cauteloso.

    Ao que o simulacro respondeu: Ainda no chegou ningum. Exceto, claro, oHebetizado que est varrendo o cho.

    Baines, condicionado por uma vida inteira de dissimulao autoprotetora, abriu aporta o suficiente para dar uma olhadela.

    O Hebetizado, de sexo masculino, varria o cho em seu modo peculiar, lento emontono, a expresso de estupidez caracterstica do rosto de um Hebetizado,como se o trabalho lhe agradasse. Provavelmente poderia manter esta mscaradurante meses sem aborrecer-se; os Hebetizados no se cansavam de uma tarefapelo simples motivo de que nem ao menos compreendiam o conceito dediversidade. claro que havia alguma virtude na simplicidade, refletiu Baines.Impressionara-se com o famoso santo Hebetizado, Ignatz Ledebur, por exemplo,o qual irradiava espiritualidade enquanto vagava de uma cidade a outra,propagando o calor de sua personalidade inofensiva de Hebetizado. Este, semsombra de dvida, no parecia perigoso.

    Alm disso, os Hebetizados, inclusive os santos, ao menos no tentavamconverter as pessoas, como faziam os Esquizoides msticos. Tudo que osHebetizados pediam era que os deixassem em paz; eles simplesmente noqueriam ser importunados pela vida, e a cada ano distanciavam-se mais e maisdas complexidades da realidade. Retornando mera condio de vegetal, paraeles ideal, concluiu Baines.

    Testando sua pistola laser, que estava em ordem, Baines decidiu entrar. Assim,penetrou passo a passo na sala do conselho, pegou uma cadeira, trocandoabruptamente para uma outra; a anterior estava demasiado prxima da janela,tornando-o um alvo perfeito para algum do lado de fora.

    Tentando divertir-se enquanto aguardava a chegada dos demais, resolveu

  • importunar o Hebetizado: Como voc se chama? indagou.

    J-Jacob Simion tartamudeou o Hebetizado, continuando a varrer semmodificar o mesmo esgar idiotizado; um Hebetizado jamais percebia quandoestava sendo incomodado. Ou, se soubesse, no ligaria. Aquele era o jeitoHebetizado: a apatia em relao a tudo.

    Gosta de seu trabalho, Jacob? inquiriu Baines, acendendo um cigarro.

    Claro respondeu o Hebetizado, soltando uma risadinha.

    Sempre varreu o cho?

    Ahn? No parecia capaz de compreender a pergunta.

    A porta abriu, surgindo Annette Golding, graciosa e gorducha, a representantedos Infantilistas, bolsa sob o brao, o rosto rechonchudo afogueado, os olhosverdes brilhantes, arquejando em busca de flego: Pensei que estava atrasada.

    No tranquilizou-a Baines, levantando-se para oferecer-lhe uma cadeira.Percorreu-a com olhar profissional; nenhum indcio de que trouxesse algumaarma consigo. Mas ela bem poderia estar carregando germes ferozes emcpsulas de borracha ocultas no interior da boca. Conseguiu o que pretendia,recuando e selecionando uma cadeira no extremo mais distante da grande mesa.Distncia... fator fundamental.

    Est quente aqui proferiu Annette, ainda suando Subi as escadascorrendo Sorriu para ele da maneira caracterstica de um Infantilista. Ele aachava atraente... se ao menos ela perdesse alguns quilinhos. Ainda assim,gostava de Annette e aproveitou a oportunidade para caoar dela, compinceladas de erotismo.

    Annette comeou voc uma pessoa to agradvel e receptiva. umapena voc no se casar. Se casasse comigo...

    Eu sei, Gabe contraps Annette, sorrindo Seria protegida. Papeltornassol em cada canto da sala, anlise ininterrupta da atmosfera, equipamentoprotetor para o caso de radiao de mquinas indutoras...

    Falando srio disse Baines, irritado. Tentou adivinhar qual seria a idadedela; com certeza, no mais do que vinte. E como todas as Infantilistas, ela erainfantil. As Infantilistas no cresciam; permaneciam desenraizadas e, afinal decontas, o que era o infantilismo seno o prolongamento da infncia? Alm domais, as crianas de cada cl nasciam Infantilistas, iam para a escolacomunitria central como tais, no se diferenciando at provavelmente os dez,onze anos. Algumas, como Annette, jamais se tornariam seres individualizados.

    Abrindo a bolsa, Annette retirou um pacote de bombons, que rapidamentecomeou a devorar Estou nervosa explicou A, tenho que comer

  • Ofereceu o saco a Baines, que o recusou. Afinal de contas, nunca se podia saber.Baines preservara sua vida durante trinta e cinco anos, e no pretendia perd-laem razo de um impulso insignificante; tudo devia ser calculado, consideradocom antecedncia, se esperava viver outros trinta e cinco anos.

    Annette comentou: Imagino que Louis Manfreti vai novamente representar ocl dos Esquizoides este ano. Sempre gostei dele; tem ideias to interessantes,vises dos acontecimentos primordiais. Bestas da terra e do firmamento,monstros em luta no centro da terra... Sugou um pedao do bombom,pensativa Voc acha que as vises dos Esquizoides so reais, Gabe?

    No respondeu Baines com sinceridade.

    Ento por que eles ficam meditando e falando sobre isso o tempo todo?Apesar de tudo, para eles as vises so reais.

    Misticismo desdenhou Baines. Em seguida, farejou algum odor incomumque chegara at ele, algum aroma doce. Percebeu ser o perfume dos cabelos deAnnette e relaxou. Ou o objetivo era justamente esse? refletiu, de sbito,novamente alerta Voc est usando um perfume delicioso Dissimulou Qual o nome?

    Noite sensual respondeu Annette Comprei-o de um negociante de AlfaII; custou-me noventa pratas, mas delicioso, no acha? Equivale ao salrio deum ms Os olhos escuros entristeceram-se.

    Case comigo insistiu Baines, calando-se em seguida.

    O representante dos Depressivos surgira; estacara no limiar da porta, o rostoencovado obcecado pelo medo, os olhos vidrados parecendo penetrar o magode Baines. Meu Deus, gemeu, sem saber se devia sentir compaixo pelo pobreDepressivo ou simplesmente total desprezo. Afinal, o homem podia recobrar-se;todos os Depressivos possuam um potencial de recuperao, se tivessem ummnimo de coragem. Mas coragem era o que faltava no povoado dosDepressivos, no sul. Este aqui demonstrava essa deficincia de forma cabal;hesitava, receoso de entrar e no entanto to resignado ao seu destino que emquesto de segundos acabaria por adentrar o recinto, fazendo exatamente o quetemia... ao passo que um Obsessivo contaria at dois, viraria as costas e fugiria.

    Entre, por favor Annette induziu-o amavelmente, indicando uma cadeira.

    Qual o objetivo desta conversa? inquiriu o Depressivo, caminhando comlentido, mergulhando em desespero S vamos conseguir nos arrasarmutuamente; no vejo por que convocar uma assembleia para constatarfracassos Contudo, sentou-se resignado, a cabea inclinada e as mosentrelaadas.

    Meu nome Annette Golding apresentou-se E este Gabriel Baines, oParanoico. Eu sou uma Infantilista. Voc Depressivo, no ? D para perceberpela maneira como voc olha fixo para o cho Soltou uma risada simptica.

  • O Depressivo nada disse; nem mesmo anunciou seu nome. Para um Depressivo,falar era tarefa das mais difceis; era-lhes penoso reunir energias. EsteDepressivo provavelmente chegara cedo, com medo de atrasar-se;supercompensao, tpica neles. Baines no os apreciava. Eram inteis para simesmos e para os outros cls; por que no morriam? Alm disso, ao contrriodos Hebetizados, no conseguiam nem ao menos funcionar como trabalhadores;deitavam-se no cho e fitavam o cu sem nada ver, destitudos de todaesperana.

    Aproximando-se de Baines, Annette pediu docemente: Anime-o.

    Com os demnios se eu vou rebateu Baines O que me interessa? A culpa dele se est desse jeito; se quisesse, poderia se modificar. Poderia crer emcoisas positivas se fizesse um esforo. O grupo dele no pior que o restante dens, talvez at estejam melhores, afinal de contas, trabalham a passo detartaruga... Gostaria de poder trabalhar to pouco durante o ano quanto umDepressivo.

    Neste momento, uma mulher alta e de meia-idade, vestindo um casaco cinzaatravessou a porta. Era Ingrid Hibbler, a Obsessiva; contando silenciosamentepara si mesma, rodeou a mesa seguidamente, dando um tapinha em cadacadeira. Baines e Annette aguardaram; o Hebetizado varrendo o cho levantou oolhar e soltou uma risadinha. O Depressivo continuou a fixar o nada. Por fim, aSra. Hibbler encontrou uma cadeira cuja numerologia lhe agradou; puxou-a esentou-se rigidamente, as mos unidas e apertadas, os dedos trabalhando emgrande velocidade, como se tricotando algum traje protetor invisvel.

    Cruzei com Straw no estacionamento pronunciou-se, contando em silnciopara si Nosso Manaco. Argh, ele horrvel; quase atropelou-me com seuveculo. Tive que...

    Deteve-se No importa. Mas difcil livrar-se da aura dele, uma vez que ela oinfecte estremeceu.

    Annette manifestou-se, dirigindo-se a ningum em particular Este ano, seManfreti for novamente o representante dos Esquizoides, provavelmente ele vaientrar pela janela e no pela porta Gargalhou contente. O Hebetizado,varrendo, juntou-se a ela E evidentemente estamos esperando o Hebetizado completou Annette.

    S-sou o representante da Vila de Gandhi manifestou-se o Hebetizado JacobSimion, movimentando a vassoura da mesma maneira montona S-s quepensei em ir varrendo enquanto esperava Ofereceu-lhes um sorriso ingnuo.

    Baines suspirou. O representante dos Hebetizados, um faxineiro. Mas era bvio;todos o eram, em potencial se no efetivamente. Assim, s faltavam o Esquizoidee o Manaco, Howard Straw, que chegaria logo que terminasse de correr noestacionamento, assustando os outros delegados que chegavam. melhor ele notentar me intimidar, pensou Baines. Pois a pistola laser em sua cintura no era de

  • brinquedo. E sempre lhe restava o simulacro, aguardando um chamado do ladode fora.

    Sobre o que este encontro? indagou a Sra. Hibbler, a Obsessiva, contandorapidamente de olhos fechados, os dedos em movimento Um, dois. Um, dois.

    Disse Annette: H rumores de que uma estranha aeronave foi localizada, eno so comerciantes de Alfa II; estamos razoavelmente certos disso Continuou a engolir seus bombons; Baines percebeu, entre divertido e irritado,que ela j devorara quase o saco inteiro. Como ele bem sabia, Annetteapresentava um distrbio dienceflico, uma ideia fixa relacionada sndrome dagula. E quando estava tensa ou preocupada, o problema se agravava.

    Uma nave fez o Depressivo, despertando para a realidade Talvez elapossa tirar-nos dessa enrascada.

    Que enrascada? indagou a Sra. Hibbler.

    Reanimando-se, O Depressivo afirmou: Voc sabe Era tudo que conseguiaelaborar; mais uma vez, voltou mudez, mergulhando em coma depressivo.Para um Depressivo, tudo era sempre confuso. Alm disso, tambm temiammudanas. O desprezo de Baines crescia em meio a estas consideraes. Mas...uma nave. O desprezo transformou-se em alarme. Seria verdade?

    Straw, o Manaco, saberia. No Cume de Da Vinci, os Manacos haviamdesenvolvido dispositivos para deteco do trfego de chegada; provavelmente aprimeira notcia originara-se do Cume de Da Vinci... a no ser, claro, que ummstico Esquizoide houvesse sido acometido por uma viso.

    Talvez seja um truque Baines levantou a voz.

    Todos na sala, incluindo o Depressivo sombrio, olharam-no. At o Hebetizadoparou de varrer por um instante.

    Esses Manacos explicou Vo tentar de tudo. Esta foi a maneira queencontraram para obter vantagem sobre ns, pagando na mesma moeda.

    Para qu? inquiriu a Sra. Hibbler.

    Voc sabe que os Manacos nos detestam disse Baines Pois eles socruis, desordeiros brbaros, um bando de bagunceiros imundos que sacam aarma sempre que ouvem a palavra civilizao. Est no metabolismo deles; ovelho gtico Na verdade, esta explicao no era suficiente; para ser sincero,ele no sabia por que os Manacos eram to determinados em ferir fosse quemfosse, a no ser que, segundo rezava sua teoria, em nome do simples prazer deinfligir a dor. No, pensou, deve haver algo mais. Maldade e inveja; eles devemter inveja de ns, sabendo que somos culturalmente superiores. Da maneiracomo o Cume de Da Vinci misturado, no existe ordem nem tampoucoharmonia esttica; as ideias deles no passam de uma miscelnea de projetosincompletos pseudocriativos, iniciados mas jamais concludos.

  • Annette pronunciou-se com lentido: Straw ligeiramente incivilizado,concordo. o tipo tipicamente arrojado. Mas por que ele denunciaria a presenade uma nave se ela no tivesse sido vista? Voc no apresentou uma justificativaconvincente.

    Mas eu sei teimou Baines que os Manacos, especialmente HowardStraw, esto contra ns; devamos nos proteger de... Parou de falar, pois aporta se abrira e Straw entrara bruscamente na sala.

    Ruivo, grandalho e musculoso, os dentes arreganharam-se em um sorriso. Aapario de uma nave em sua lua diminuta no o perturbava.

    Agora s faltava chegar o Esquizoide e, como sempre, ele deveria atrasar-seuma hora; ia errar em estado hipntico por algum lugar, perdido em visesenevoadas de uma realidade arquetpica de protoforas csmicas latentes nouniverso temporal, a eterna viso do chamado Urwelt.

    Devemos ficar vontade, decidiu Baines. Tanto quanto possvel, devido presena de Straw entre ns. E a Sra. Hibbler: tampouco chegava a se importarmuito com ela. Na verdade, no ligava para nenhum deles, exceto talvezAnnette: ela, com o busto exagerado e evidente. S que com ela no conseguirianada, como sempre.

    No era culpa dela; todas as Infantilistas eram assim ningum jamais sabia oque iam fazer. Eram propositalmente contraditrias, opondo-se aos padres dalgica. Por outro lado, no eram traas, como os Esquizoides, nem tampoucomquinas descerebradas como os Hebetizados. Irradiavam ostensiva vivacidade;era o que lhe agradava em Annette a animao e a jovialidade.

    Para ser sincero, ela o fazia sentir-se rgido e metlico, aprisionado em aocompacto como uma mquina arcaica de alguma guerra remota e sem sentido.Ela tinha vinte anos, ele trinta e cinco, o que talvez explicasse tudo. Mas no, noacreditava muito nesta hiptese; a pensou: aposto que ela quer que eu me sintaassim; est tentando, deliberadamente, fazer com que eu me sinta mal a seu lado.

    Como reao, assomou-lhe um dio glacial cujo objeto principal era Annette.Um dio cuidadosamente considerado, prprio dos Paranoicos.

    Annette, simulando desateno, continuou a comer os restos do saco de bombons.

    Omar Diamond, representante dos Esquizoides no encontro bianual em Vila de

  • Adolf, contemplava a paisagem do mundo e divisou, abaixo e acima dele, osdrages gmeos, vermelho e branco, da vida e da morte; os drages envolvidosna batalha faziam tremer a plancie, enquanto acima o cu fendia-se, deixandosurgir um sol cinzento, plido e murcho, o qual traria algum consolo a um mundoque rapidamente perdia suas reservas vitais.

    Alto fez Omar, levantando a mo em direo aos drages.

    Um homem e uma garota de cabelos ondulados, caminhando lado a lado emuma calada do centro de Vila de Adolf, rumando em direo a ele, estacaram.Perguntou a garota: Qual o problema dele? Est fazendo alguma coisa sentiu repugnncia.

    s um Esquizoide tranquilizou-a o homem, divertido Perdido emvises.

    Disse Omar: Eclodiu novamente a guerra eterna. Os poderes da vida esto emdeclnio. No existe um homem capaz de tomar a deciso fatal, renunciando sua vida em um ato de sacrifcio para restaurar estes poderes?

    O homem, piscando para a garota, sugeriu: Sabe, s vezes voc faz umapergunta a estes caras e obtm uma resposta interessante. V em frente,pergunte-lhe alguma coisa grandiosa e genrica, como por exemplo Qual osentido da existncia?, mas no Onde est a tesoura que perdi ontem? incitou-a.

    A mulher dirigiu-se cautelosamente a Omar: Desculpe, mas sempre tivevontade de saber: existe vida aps a morte?

    Respondeu Omar: No existe morte Surpreendera-se com a indagao,pautada em infinita ignorncia.

    O que voc chama morte somente um estgio de germinao em quenovas formas de vida jazem adormecidas, espera do chamado para assumir aprxima encarnao Ergueu os braos, apontando o firmamento Voc v?O drago da vida no pode ser morto; mesmo quando seu sangue corre vermelhopelos prados, novas verses dele brotam de todos os lados. A semente oculta soba terra renasce Seguiu em frente, deixando o homem e a mulher para trs.

    Tenho que ir ao edifcio de pedra de seis andares, Omar murmurou para simesmo. Eles me esperam l, o conselho. Howard Straw, o brbaro. AnnetteGolding, a personificao da vida por excelncia, mergulhando em tudo que afaa ser. Gabriel Baines, aquele que compelido a elaborar maneiras de sedefender contra o que no o ataca. O simplrio com a vassoura, mais prximo aDeus do que qualquer um de ns. E o melanclico que nunca olha para o alto, ohomem que nem mesmo um nome possui. Como devo cham-lo? Talvez Otto.No, acho que vou apelid-lo Dino. Dino Watters. Aguarda a morte, inconscientede que vive antecipadamente um fantasma vazio; nem mesmo a morte podeproteg-lo de si mesmo.

  • De p ao lado do grande edifcio de seis andares, o maior no povoado dosParanoicos Vila de Adolf ele levitou; oscilou do lado de fora da janela,arranhando o vidro com as unhas at que finalmente algum no interior veioabri-la para ele.

    O Sr. Manfreti no vem? perguntou Annette.

    Este ano ele no pode ser alcanado explicou Omar Passou para outraesfera, limitando-se a permanecer sentado; alimentado fora atravs donariz.

    Ahn fez Annette, estremecendo Catalepsia.

    Mate-o sugeriu Straw, rudemente e acabe com isso de uma vez.Aqueles Esquizoides so mais do que imprestveis; so um dreno para as riquezasda Vila de Joana dArc. por isso que o povoado deles to pobre.

    Pobre materialmente salientou Omar mas rico em valores eternos.

    Manteve-se distante de Straw; no se importava realmente com ele. Straw*, adespeito do nome, era um transgressor. Gostava de quebrar e oprimir; era cruelpor prazer, no por necessidade. Em Straw, a maldade era gratuita.

    (*N. do T. Straw= Coisa insignificante)

    Por outro lado, l estava Gabe Baines. Baines, como todos os Paranoicos,tambm sabia ser cruel, mas ele era compelido, em sua prpria defesa;empenhava-se tanto em proteger-se do mal que naturalmente acabava porequivocar-se. Ningum poderia castig-lo, como deviam fazer com Straw.

    Tomando seu lugar mesa, Omar pronunciou-se Abenoada seja estaassembleia. E vamos ouvir as notcias dos domnios da vida, ao invs dasatividades do drago do mal Voltou-se para Straw: Qual a informao,Howard?

    Uma aeronave armada respondeu Straw, com um sorriso sinistro, largo emaldoso; estava usufruindo a ansiedade coletiva No um comerciante deAlfa II, mas de algum outro sistema; estvamos captando os pensamentos deles.No nenhuma misso comercial, mas esto aqui para... Interrompeu-se,sem concluir a frase propositalmente. Queria v-los contorcendo-se.

    Teremos de defender-nos manifestou-se Baines. A Sra. Hibbler assentiucom um movimento de cabea, assim como Annette, relutantemente. At oHebetizado parara com as risotas, parecendo inquieto Evidentemente, ns, deVila de Adolf observou Baines vamos organizar a defesa. Teremos derecorrer a seu grupo, Straw, para obteno da aparelhagem tecnolgica;esperamos muito de vocs. Desta vez, esperamos que voc interceda junto aosseus em prol do bem comum.

    O bem comum imitou Straw Voc quer dizer para o nosso bem.

  • Meu Deus! exclamou Annette Voc tem sempre que ser toirresponsvel, Straw? No consegue prever as consequncias uma vez sequer?Pense ao menos em nossas crianas. Temos que proteg-las, se no a nsmesmos.

    Omar Diamond rezava para si Deixemos as foras da vida se levantarem etriunfarem no campo de batalha. Deixemos o drago branco escapar da manchavermelha da morte aparente; deixemos o bero protetor descer a esta minsculaterra e defend-la daqueles que resistirem no campo dos mpios Subitamente,recordou uma cena vista na viagem a p at Vila de Adolf, arauto da chegada doinimigo. Uma corrente de gua transformara-se em sangue quando ali colocaraos ps. Agora compreendia o significado do sinal. Guerra e morte, e talvez adestruio dos sete cls e suas sete cidades seis, no se considerando odepsito de lixo que era o local de moradia dos Hebetizados.

    Dino Watters, o Depressivo, resmungou, a voz rouca: Estamos condenados.

    Todos o olharam, at mesmo Jacob Simion, o Hebetizado. Tpico de umDepressivo.

    Perdoem-no sussurrou Omar. E em algum lugar no imprio invisvel, oesprito da vida ouviu e respondeu, perdoando a criatura semimorta que era DinoWatters da aldeia dos Depressivos, Estados Cotton Mather.

  • Captulo2

    Correndo os olhos pelo velho apartamento, com suas paredes de chapas depedras fraturadas, a iluminao difusa que provavelmente no funcionava mais,janelas envidraadas arcaicas e ordinrias, piso de azulejos fora de moda anterior Guerra da Coria, Chuck Rittersdorf respondeu: Serve. Puxou otalo de cheques, estremecendo ante a viso da lareira central de ferro batido;no via algo no gnero desde 1970, desde a infncia.

    A dona do apartamento deteriorado, entretanto, franziu o cenho, desconfiada, aoreceber os documentos de identificao de Chuck: De acordo com osdocumentos, voc casado, Sr. Rittersdorf, e tem filhos. O senhor no vai trazermulher e crianas para este co-ap; ele se caracteriza, consoante os estatutos doprdio, como destinado a solteiros, empregados, abstmios a bebida e...

    Fatigado, Chuck interrompeu-a: Esta a questo A senhoria gorda e demeia-idade, com sua vestimenta surrada de grilo falante venusiano e chinelos depele (de algum animal interplanetrio) o repugnava; a experincia j estava setornando desagradvel Separei-me de minha mulher; Ela ficou com ascrianas. Por isso preciso do ap.

    Mas elas viro visit-lo soergueu os superclios tingidos de prpura.

    Respondeu Chuck: A senhora no conhece minha esposa.

    Ah, elas viro; conheo essas novas leis federais de divrcio. No so como asde antigamente, as leis estaduais. J compareceu ao tribunal? Pegou os primeirospapis?

    No admitiu. Para ele, as coisas mal estavam comeando. Na madrugadapassada pernoitara em um hotel e na noite anterior quela fora a ltima noiteem que tentara obter o impossvel, continuar a viver com Mary .

    Entregou o cheque proprietria; ela devolveu os documentos e saiu;imediatamente, ele fechou a porta, dirigiu-se a janela do ap mobiliado e olhoupara a rua abaixo, os veculos, os jatos saltadores, as rampas e canaletas parapedestres. Dentro em pouco teria que chamar seu advogado, Nat Wilder. Dentrode muito pouco tempo.

    A ironia fora a palavra-chave no rompimento de seu casamento, pois a profissode sua mulher e ela era uma excelente profissional era o de orientadoraconjugal. Na verdade, ela construra a reputao de melhor orientadora aqui doCondado de Marin, Estado da Califrnia do Norte, onde possua consultrio. Deussabe quantos relacionamentos destrudos ela recuperara. Todavia, por umrequinte magistral de injustia, esse mesmo talento e habilidade contriburampara lev-lo quele ap lgubre. Com o sucesso que alcanara em sua carreira,

  • Mary no lograra resistir ao sentimento de desprezo pelo marido, o qual cresceraao longo dos anos.

    A realidade mostrava e tinha de enfrent-la que em sua prpria carreiraele no fora to bem sucedido quanto Mary .

    Seu trabalho, de que pessoalmente gostava bastante, consistia em programarsimulacros do servio de inteligncia do governo Chey enne, elaborar osinterminveis programas de propaganda, promovendo a desordem no crculo dosEstados Comunistas que circundavam os Estados Unidos. Interiormente,acreditava profundamente em seu trabalho, mas racionalmente no podiaqualific-lo como um ofcio nobre ou muito bem pago; os programas por eleelaborados eram no mnimo infantis, esprios e tendenciosos. O interesseprincipal ficava por conta de garotos de escola, tanto dos Estados Unidos quantodos Estados Comunistas vizinhos, alm dos contingentes numerosos de adultos debase educacional inferior. Na verdade, ele era um medocre. O que Maryevidenciara vrias e vrias vezes.

    Medocre ou no, continuava em seu emprego, embora outros lhe tivessem sidooferecidos durante os seis anos de casamento. Possivelmente porque apreciavaouvir suas prprias palavras pronunciadas pelos simulacros, imitaes dohomem. Talvez por sentir que a causa em si era fundamental: os Estados Unidospostaram-se na defensiva, poltica e economicamente, e tinham de proteger-se.Necessitavam de pessoas que trabalhassem para o governo ganhando salriosreconhecidamente baixos, em funes desprovidas de qualidades de herosmo ouprojeo. Algum devia programar os simulacros para a propaganda, os quaiseram espalhados em todo o mundo, com o objetivo de realizar o trabalho derepresentantes das Autoridades de Inteligncia Computadorizada, agitando,convencendo, induzindo. Mas...

    H trs anos a crise comeara. Um dos clientes de Mary que estiveraenvolvido em dificuldades conjugais inacreditavelmente complexas, incluindotrs amantes ao mesmo tempo vinha a ser um produtor de televiso. GeraldFeld produzia o inigualvel, famoso programa de TV de Coelho Hentman,abiscoitando grande parte da audincia das produes cmicas populares.Secretamente, Mary passara a Feld diversos roteiros de programao escritospor Chuck para a sucursal local da CIA, em So Francisco. Feld os lera cominteresse, pois que apresentavam forte veia humorstica, e isto explicava aseleo de Mary. Aquele era justamente o talento de Chuck; ele programava ossimulacros com algo mais alm da pretenso e solenidade habituais... dizia-seque eles pareciam vivos e sagazes; os simulacros de Chuck sobressaam. Com oque Feld concordou, encarregando Mary de arranjar um encontro entre ele eChuck.

    Agora, de p junto janela do velho ap, pequeno e desarrumado, onde nocolocara nada de seu alm de uma pea de roupa, fitando a rua l embaixo,Chuck recordou a conversa com Mary que redundara na separao. Fora umadiscusso particularmente desagradvel, clssica, sem sombra de dvida;

  • concorrera para o rompimento.

    Para Mary , o problema era claro: ali estava uma possibilidade de trabalho, a qualdevia ser aproveitada sem hesitao; Feld pagava bem e a atividade televisivaproporcionaria enorme prestgio; todas as semanas, no final do programa deCoelho Hentman, o nome de Chuck, como um dos escritores, surgiria na tela,para todo o mundo no-comuna. Mary sentiria orgulho, e a residia o fator-chave: o trabalho do marido seria notavelmente criativo. E para Mary, acriatividade era o abre-te-ssamo da vida; o trabalho para a CIA, programandosimulacros para propaganda que tagarelavam mensagens para africanos, latino-americanos e asiticos incultos, no dava asas criatividade; as mensagenscostumavam ser as mesmas e, de qualquer maneira, a CIA era dona de mreputao nos crculos liberais, vanguardistas e sofisticados frequentados porMary .

    Voc como um funcionrio acomodado de algum satlite acusava Mary,furiosa Em algum servio pblico. a segurana fcil; o mesmo que deixarde lutar. A est voc, trinta e trs anos de idade e j desistiu de tentar. No temmais vontade de ser algum.

    Escuta indagou, em vo Voc minha mulher ou minha me? seutrabalho ficar me espicaando? Tenho que estar sempre subindo? At me tornarpresidente da Terplan? isso o que voc quer? Havia algo mais alm deprestgio e dinheiro. Era evidente, Mary ansiava que ele fosse outra pessoa. Ela,que o conhecia melhor que todos, envergonhava-se dele. Se aceitasse a tarefa deescrever para Coelho Hentman, se transformaria em algum diferente ouassim ela logicamente pensava.

    No podia negar a lgica de seu raciocnio. E ainda assim ele persistia; noqueria largar seu emprego, no queria mudar. Algo em seu interiorsimplesmente mantinha-se em inrcia. Fosse bom ou mau. A essncia de cadaindivduo comportava uma histerese e ele no se desvencilharia de sua essnciacom facilidade.

    Do lado de fora, na rua, um Chevrolet branco de luxo, um modelo novo de seisportas, baixava em direo ao meio-fio, pousando. Chuck permaneceuobservando preguiosamente a cena, at perceber, com um comeo deincredulidade, que impossvel e no entanto verdade sua ex-mulher era amotorista do veculo; l estava Mary . J o descobrira.

    Sua esposa, Doutora Mary Rittersdorf, estava prestes a fazer-lhe uma visita.

    Estava assustado, um sentimento crescente de fracasso; no fora nem mesmocapaz de providenciar um co-ap onde Mary no conseguisse localiz-lo. Dali amais alguns dias, Nat Wilder poderia arranjar proteo legal, mas nestemomento, estava desamparado; teria de receb-la.

    No era difcil concluir como ela seguira seus passos; existiam mtodosmodernos de deteco, baratos e disponveis. Mary provavelmente dirigira-se a

  • uma companhia de deteco robotizada, agncias que utilizavam robs paralocalizar pessoas, contratara um rob detector de cheiros, e apresentara o seupadro ceflico; o detector iniciara o trabalho, seguindo-o por todos os lugaresaonde fora desde que a deixara. Hoje em dia, localizar um indivduo tornara-seuma cincia exata.

    Assim uma mulher determinada a localizar voc, refletiu, consegue o que quer.Talvez houvesse uma lei que definisse esta busca; possivelmente, poderiadenomin-la Lei Rittersdorf. Proporcionalmente ao desejo de escapar, deesconder-se, os mecanismos de deteco...

    Um golpe seco soou na porta oca do co-ap.

    Enquanto caminhava, rgido e sem vontade, em direo porta, pensou: ela vaipronunciar um discurso que englobar todos os apelos possveis e imaginveis.Eu, evidentemente, no apresentarei argumentos alm do sentimento de que nopodemos continuar juntos, pois o desprezo que ela sente por mim indica ofracasso irreversvel de nossa unio, no admitindo qualquer intimidade futura.

    Abriu a porta. L estava ela, cabelos escuros, delicada, vestindo seu (melhor)casaco de l natural, sem maquilagem; uma mulher calma, competente eeducada, superior a ele em incontveis sentidos Escute, Chuck disse ela No vou tolerar isto. Arranjei uma companhia de mudanas para recolher osseus pertences e coloc-los no estoque; estou aqui por causa de um cheque; querotodo o dinheiro em sua conta bancria. Preciso dele para pagar contas.

    Ento ele se equivocara; nenhum discurso de doce racionalidade. Ao contrrio;sua esposa estava colocando o ponto final. Absolutamente surpreso, limitava-se aencar-la, boquiaberto.

    Falei com Bob Alfson informou Mary Ele vai proceder liquidaojudicial da casa.

    O qu? surpreendeu-se ele Por qu?

    A fim de que voc possa me ceder sua parte da casa.

    Por qu?

    Para que eu possa coloc-la venda. Decidi que no tenho necessidade deuma casa to grande; alm disso, poderei dispor do dinheiro. Vou matricularDebbie naquele colgio interno do leste de que falamos Deborah era a filhamais velha, ainda assim com somente seis anos, jovem demais para ser afastadade casa. Cus.

    Deixe-me falar com Nat Wilder primeiro protestou debilmente.

    Quero o cheque agora Mary no esboou qualquer movimento para entrar;simplesmente permaneceu de p na porta. Chuck sentia-se desesperado, o pnicodesesperado, o pnico da derrota e do sofrimento; j perdera a parada; elaconseguiria fazer dele o que bem quisesse.

  • Enquanto entrava para pegar o talo de cheques, Mary deu alguns passosapartamento adentro. A averso que sentia no podia ser expressada empalavras; no disse nada. Ele se retraiu mais ainda, incapaz de enfrentar odesprezo da esposa; ocupou-se rabiscando a quantia no cheque.

    Alis fez Mary, em tom de conversa agora que voc foi embora parasempre, estou livre para aceitar aquele convite do governo.

    Que convite?

    Eles precisam de psiclogas consultoras para um projeto interplanetrio; faleicom voc sobre o assunto No pretendia sobrecarregar-se explicando tudo aele.

    Ah, sim Tinha uma vaga lembrana Trabalho de caridade Aexcrescncia do conflito Terra-Alfa de dez anos atrs. Uma lua incomunicvelno sistema Alfa, colonizado por terrestres, isolada h duas geraes devido guerra; existiam colnias de tais grupos no sistema Alfa, o qual inclua dzias deluas, bem como vinte e dois planetas.

    Ela aceitou o cheque, dobrando-o em dois e colocando-o no bolso do casaco.

    Voc vai ganhar alguma coisa? ele indagou.

    No fez Mary , vagamente.

    Ento ela ia viver alm de sustentar as crianas somente com o salriodele. Ocorreu-lhe a seguinte ideia: ela aguardava uma deciso do jri que oforasse a fazer exatamente o que recusara, o que terminara com dezesseis anosde casamento. Ela obteria, por meio de vasta influncia que exercia nas varas docondado de Marin, uma deciso que o obrigaria a deixar seu emprego na filial deSo Francisco e a procurar outro.

    Quanto tempo vai ficar fora? perguntou. Sem dvida, ela pretendia fazerbom uso do intervalo nas vidas deles; faria todas as coisas que a presena dele ao menos era o que ela alegava impedira.

    Uns seis meses. Depende. No espere comunicar-se comigo. Sereirepresentada no jri por Alfson; no vou aparecer ajuntou J preparei oprocesso de separao, assim voc no ter que se preocupar com isso.

    A iniciativa, mesmo a, proviera de Mary . Como sempre, fora demasiado lento.

    Pode ficar com tudo prontamente afirmou.

    O olhar dela dizia: mas o que voc pode oferecer no suficiente. Tudo nosignificava nada, no que se referia s posses dele.

    No posso te dar o que no tenho argumentou, calmo.

    Pode, sim contraps Mary, sem um sorriso Pois o juiz vai descobrir oque eu sempre soube. Se for preciso, se algum o obrigar, voc corresponder

  • aos padres habituais seguidos por homens adultos, com responsabilidade demulher e filhos.

    Disse ele: Mas... tenho que guardar algo para mim.

    Sua primeira obrigao para conosco cortou Mary .

    Diante de tal argumentao no encontrava resposta; limitou-se a assentir com acabea.

    Mia tarde, aps a sada de Mary, de posse do cheque, procurou e localizou umapilha de jornais antigos na despensa do ap. Sentou-se no velho sof estilodinamarqus, na sala de estar, folheando-os procura dos artigos sobre o projetointerplanetrio do qual Mary pretendia participar. Uma nova vida, disse para simesmo, em substituio quela de casada.

    Em um jornal da semana anterior, encontrou uma matria mais ou menoscompleta; acendeu um cigarro e leu-a cuidadosamente.

    O Servio Interplanetrio de Sade e Bem-Estar dos Estados Unidos adiantavaque precisavam de psiclogos, pois a lua originalmente consistira de um hospital,um centro de assistncia psiquitrica para emigrantes terrestres no sistemaAlfa que haviam sucumbido sob as presses excessivas e anormais do sistemainterplanetrio de colonizao. Os habitantes de Alfa abandonaram a lua, excetoos comerciantes.

    O que se sabia da atual situao da lua provinha dos comerciantes de Alfa. Deacordo com eles, uma civilizao inferior surgira durante as dcadas em que ohospital permanecera desligado da jurisdio terrestre. Entretanto, eles nopodiam avaliar perfeitamente a situao, pois o conhecimento dos comerciantesde Alfa no que dizia respeito aos costumes terrestres no eram os mais precisos.De qualquer maneira, criaram-se produtos locais que eram comercializados;igualmente, existia uma indstria domstica, e Chuck ficou imaginando por que ogoverno da Terra desejava interferir. Podia ver com nitidez a presena de Marynaquele local; ela era exatamente o tipo que a Terplan, a agncia internacional,selecionaria. Pessoas como Mary sempre eram bem-sucedidas.

    Dirigindo-se antiga janela envidraada, permaneceu de p durante mais algumtempo, olhando para baixo. E ento, furtivamente, sentiu crescer dentro de si umimpulso familiar. O sentimento de que era intil prosseguir; o suicdio, noimporta o que afirmassem a lei e a igreja, era a nica resposta real nesteinstante.

    Descobriu uma janela lateral, menor, a qual abriu; ouviu o zumbido de um jatosaltador aterrissando em um telhado no extremo mais distante da rua. O som foimorrendo. Aguardou, e ento comeou a escalar o peitoril da janela,pendurando-se acima do trfego que se movimentava l embaixo...

    Uma voz em seu interior, que no a dele mesmo, indagou: Por favor, diga-meseu nome. Independente do senhor pretender pular ou no.

  • Voltando-se, Chuck percebeu uma matria viscosa amarela, de Ganimedes, quesilenciosamente deslizara por sob a porta do co-ap, reorganizando-se em pilhasde pequenos glbulos, os quais compreendiam sua substncia fsica.

    Alugo o co-ap do outro lado do corredor declarou a matria viscosa.

    Disse Chuck: Entre terrestres costuma-se bater porta.

    No tenho com que bater. De qualquer maneira, queria entrar antes de voc...partir.

    problema meu se vou pular ou no.

    Nenhum terrestre uma ilha A matria viscosa fez uma espcie de citao Bem-vindo ao edifcio que ns, locadores dos ap, apelidamos jocosamente deco-ap descartveis. O senhor tem que conhecer outros que moram aqui.Vrios terrestres como o senhor alm de uma infinidade de no-terrestresde aparncias variadas, alguns dos quais o repugnaro, outros que sem dvida oatrairo. Planejara pegar uma xcara de cultura bacteriana para iogurteemprestada, mas diante de sua preocupao, o pedido me parece um insulto.

    Ainda no trouxe minhas coisas. At agora Passou a perna por sobre opeitoril da janela e voltou a pisar o cho da sala, afastando-se da janela. No sesurpreendera ao ver a matria viscosa de Ganimedes; no-terrestres suportavamuma situao de gueto: a despeito de altamente influentes e bem situados em suasprprias sociedades, na Terra eram forados a habitar locais inferiores comoeste.

    Se estivesse com meu carto de visita observou a matria viscosa lheofereceria um. Sou importador de pedras preciosas no lapidadas, negcio comouro de segunda mo e, sob circunstncias adequadas, sou um compradorfantico de colees filatlicas. Para falar a verdade, atualmente possuo em meuap uma coleo variada dos antigos norte-americanos, particularmente asquadras americanas. O senhor gostaria... Deteve-se J vi que no. Mesmoassim, o desejo de destruir a si mesmo, ao menos temporariamente, afastou-sede seu pensamento. Isto bom. Alm de minha anunciada atividade comercial...

    Voc no obrigado por lei a controlar a sua habilidade teleptica enquantoestiver na Terra? inquiriu Chuck.

    Sou, mas o seu caso parecia excepcional. Sr. Rittersdorf, eu, pessoalmente,no posso empregar o senhor, pois no necessito de servios de propaganda;entretanto, possuo diversos contatos nas nove luas; com o tempo...

    No, obrigado recusou Chuck bruscamente S quero que me deixem empaz J suportara suficiente assistncia para que obtivesse um emprego capazde mant-lo para o resto da vida.

    De minha parte, bem ao contrrio de sua esposa, no tenho motivosdissimulados A matria viscosa deslizou para perto Como ocorre com amaioria dos homens terrestres, o sentimento de amor-prprio cultivado pelo

  • senhor entra em choque com suas possibilidades salariais, uma rea em que osenhor apresenta dvidas cruciais, bem como culpas extremas. Posso fazer algopelo senhor... mas vai levar tempo. Em breve vou deixar a Terra e voltar paraminha prpria lua. Suponhamos que eu pague cinco mil pratas ao senhor americanas, claro para que v comigo. Se quiser, considere como umemprstimo.

    O que eu faria em Ganimedes? perguntou Chuck, exasperado Voctambm no acredita em mim? Tenho um trabalho; um que considero ideal no quero deix-lo.

    Inconscientemente...

    No leia meu inconsciente. Saia daqui e deixe-me em paz Virou de costaspara a matria viscosa.

    Temo que seu impulso suicida volte a se manifestar talvez antes desta noite.

    Deixe-o voltar.

    Disse a matria viscosa: S existe uma coisa capaz de ajud-lo, que no minha pobre oferta de trabalho.

    E o que , afinal?

    Uma mulher para substituir sua esposa.

    Agora voc est se comportando como um...

    De jeito algum. Minha sugesto no se baseia em necessidades fsicas,tampouco etreas; simplesmente racional. O senhor tem que encontrar umamulher que o aceite e ame como o senhor . Caso contrrio, perecer. Deixe-mepensar sobre o assunto. Enquanto isso, controle-se. D-me cinco horas. E no saiadaqui A matria viscosa deslizou por sob a porta, atravs da fenda, saindo nocorredor. Os pensamentos dele foram se afastando Como importador,comprador e negociante, tenho muitos contatos com terrestres de todos os nveissociais... Ento, os pensamentos desvaneceram-se por completo.

    Abatido, Chuck acendeu um cigarro. Colocou-se bem distante da janela,sentando-se no velho sof estilo dinamarqus. Ficou aguardando.

    No sabia como reagir ao oferecimento caridoso da matria viscosa. Sentia-seao mesmo tempo irritado e emocionado e, acima de tudo, intrigado. Ser que amatria viscosa poderia realmente ajud-lo? Parecia impossvel.

    Esperou uma hora.

    Ouviu uma pancadinha na porta do co-ap. No podia ser o Ganimedes de volta,pois uma matria viscosa no batia, ou melhor, no consegui bater porta. Chuckdirigiu-se entrada e abriu-a.

    Uma garota terrestre aguardava do lado de fora.

  • Captulo3

    Apesar da infinidade de problemas pendentes, todos relativos ao seu novotrabalho no-remunerado para o Departamento Interplanetrio de Sade e Bem-Estar, a Doutora Mary Rittersdorf encontrou tempo para um assunto pessoal.Mais uma vez, tomou um txi a jato rumo a Nova Iorque e ao escritrio de JerryFeld, o produtor do programa Coelho Hentman, localizado na Quinta Avenida. Huma semana ela lhe entregara uma srie dos ltimos e melhores roteirospara a CIA escritos por Chuck; agora j era tempo de averiguar se o marido, ouex-marido, teria alguma possibilidade de obter o trabalho.

    J que Chuck no procurava um emprego melhor por si mesmo, ela tomaria ainiciativa por ele. Era o dever dela, quanto mais no seja porque, ao menos noano seguinte, ela e as crianas dependeriam totalmente do salrio de Chuck.

    Aps aterrissar no campo de pouso no terrao, Mary desceu pela rampa internaat o 90 andar, encaminhou-se at a porta envidraada, hesitou, esperou queabrisse para entrar na sala de espera, onde se encontrava recepcionista do Sr.Feld bastante atraente, bem maquilada e vestindo um suter de seda dearanha. Mary aborreceu-se com a garota; o fato de o suti estar ultrapassadojustificava que uma moa com os seios to avantajados seguisse a moda? Nestecaso, o bom senso ditava o uso do suti, e Mary postou-se diante da escrivaninhasentindo-se ruborizar em protesto. Como se no bastasse, dilatao artificial dosmamilos. Isto j era demais.

    Pois no? fez a recepcionista, fitando-a atravs de um monculo elegante emoderno. Diante da frieza de Mary, os bicos dos seios murcharam ligeiramentecomo se, induzidos pelo medo submisso, estivessem assustados.

    Gostaria de falar com o Sr. Feld. Sou a Dra. Rittersdorf e no tenho muitotempo disponvel; devo seguir para a base lunar interplanetria s trs horas datarde, horrio de Nova Iorque Produziu um tom de voz to eficiente e exigentecomo s ela seria capaz.

    Aps uma srie de procedimentos burocrticos efetuados pela recepcionista,May foi encaminhada presena de Feld.

    Jerry Feld estava sentado mesa imitao de carvalho, visto que h mais dedez de dez anos no se encontrava carvalho legtimo com um projetor devideoteipe, mergulhado na anlise de questes profissionais Um momentinho,Dra. Rittersdorf Indicou-lhe uma cadeira; ela se sentou, cruzou as pernas eacendeu um cigarro.

    Na tela de TV em miniatura, Coelho Hentman representava um industrial

  • alemo; vestia um terno azul tipo jaqueto e explicava junta de diretores de quemaneira as novas charruas autnomas, que estavam sendo produzidas por seucartel, poderiam ser utilizadas na guerra. Quatro charruas se transformavam emuma s unidade quando houvesse sinal de hostilidade; a unidade no consistiriaem uma charrua maior, mas em um lanador de msseis. Coelho procedia sexplicaes com seu sotaque acentuado, situando-as como importantesaquisies, acompanhado das risadinhas de Feld.

    No disponho de muito tempo, Sr. Feld observou Mary energicamente.

    Relutante, Feld desligou o videoteipe, virando-se para ela Mostrei os roteiros aCoelho. Ele est interessado. O humor de seu marido limitado e no muitoimaginativo, mas autntico. o que certa vez...

    Sei de tudo isso cortou Mary Tive de ouvir roteiros de programaodurante anos; ele sempre os submetia a mim Fumava ansiosamente,parecendo tensa Bem, o senhor acha que Coelho poderia aproveit-los?

    No chegaremos a parte alguma argumentou Feld at que seu maridose encontre com Coelho; no adianta...

    A porta do escritrio abriu, entrando Coelho Hentman.

    Aquela era a primeira vez que Mary via o famoso comediante de TVpessoalmente; estava curiosa: seria ele muito diferente de sua imagem pblica?Decidiu que era um pouco mais baixo e bem mais velho do que na televiso;apresentava um comeo de calvcie e parecia cansado. Em verdade, na vida realCoelho parecia um assustado vendedor de drogas da Europa Central, vestindo umterno amarrotado, no muito bem barbeado, os cabelos ralos desordenados e completando a impresso fumava os restos de um charuto. Por outro lado,havia os olhos... Irradiavam sagacidade, mas tambm ternura. Mary ps-se dep, de frente para ele. Na televiso, a fora de seu olhar dilua-se. Noirradiavam somente inteligncia; possuam um algo mais, uma percepo de...ela no sabia o qu. E...

    Havia uma aura em torno de Coelho, uma aura de sofrimento. O rosto, o corpopareciam tomados pelo sofrimento. Sim, ela pensou, isso que transparece emseu olhar. A lembrana de mgoa muito antiga, mas ainda no esquecida ejamais seria. Fora concebido, colocado no planeta, para sofrer; no admira serele um grande comediante. Para Coelho, a comdia era uma luta, uma batalhacontra a realidade da dor fsica literal; consistia em reao de fora descomunal e eficaz.

    Bem apresentou Jerry Feld esta a Dra. Mary Rittersdorf; o maridodela escreveu aqueles programas para robs da CIA que mostrei a voc quinta-feira passada.

    O comediante estendeu a mo; Mary cumprimentou-o e esboou: Sr.Hentman...

  • Por favor atalhou o comediante Este no passa de meu nomeprofissional. Meu nome verdadeiro, com o qual fui batizado, SangueleoninoReal. Naturalmente, tive de mud-lo; quem consegue entrar para o show-bizchamando-se Sangueleonino Real? Pode me chamar Sangueleonino ou Sanguesimplesmente; o Jer aqui me apelidou de LL Real uma marca deintimidade acrescentou, ainda retendo a mo de Mary entre as dele E seexiste uma coisa que me agrada em uma mulher a intimidade.

    Ll Real esclareceu Feld o seu endereo por cabo; voc confundiunovamente.

    isso Hentman soltou a mo de Mary Bem, Frau Doktor Rattenfnger...

    Rittersdorf corrigiu Mary .

    Rattenfnger disse Feld o nome em alemo para apanhador de ratos.Olha, Coelho, no cometa um erro desses novamente.

    Desculpe redimiu-se o comediante Escute, Frau Doktor Rittersdorf. Porfavor diga-me alguma coisa agradvel; posso fazer uso disso. Imploro a atenode mulheres bonitas; o garotinho que existe em mim Sorriu, contudo o rosto particularmente os olhos ainda continha a dor e a mgoa do mundo, o pesode um fardo milenar Vou contratar seu marido se puder v-la de vez emquando. Se ele perceber o verdadeiro motivo do negcio, o que diplomataschamam protocolos secretos... Para Jerry Feld, disse: E voc sabe comomeus protocolos tm me dado trabalho ultimamente.

    Chuck alugou um co-ap decadente na costa oeste explicou Mary Vouanotar o endereo Prontamente, tomou papel e caneta e escreveu Diga-lheque voc precisa da colaborao dele; diga...

    Mas no preciso dele contraps Coelho Hentman calmamente.

    Mary indagou, cautelosa: O senhor no poderia ir v-lo, Sr. Hentman? Chuck dono de talento nico. Temo que, sem incentivo...

    Mordendo o lbio inferior, Hentman completou: Voc teme que ele no faauso deste talento, que se perder.

    isso mesmo assentiu.

    Mas o talento dele. Cabe a ele decidir.

    Meu marido insistiu Mary precisa de ajuda Eu deveria ter imaginadoisto, pensou. Meu trabalho compreender as pessoas. Chuck o tipo dependentee infantil; tem que ser empurrado e guiado para progredir. Caso contrrio, vaiapodrecer naquele co-ap apertado e velho que alugou. Ou ento vai se jogar pelajanela. Este trabalho, Mary decidiu, sua nica salvao. Embora ele seja oltimo a admiti-lo.

    Olhando-a ardentemente, Hentman props: Posso fazer um trato com a

  • senhora, Dra. Rittersdorf?

    Que... que espcie de trato? Correu os olhos para Feld; o rosto destepermaneceria impassvel, como se houvesse se retirado da situao; como umatartaruga.

    Simplesmente ver a senhora de vez em quando fez Hentman Mas no anegcios.

    No vou estar aqui. Vou trabalhar para a Interplanetria; permanecerei nosistema Alfa durante meses, quem sabe anos O pnico a invadira.

    Ento nada de emprego para o seu maridinho finalizou Hentman.

    Feld indagou: Quando a senhora viaja, Dra. Rittersdorf?

    Imediatamente respondeu Mary Daqui a quatro dias. Tenho de fazer asmalas, providenciar para que as crianas...

    Quatro dias considerou Hentman, pensativo. Continuava a olh-la de cimaa baixo A senhora e seu marido esto separados? Jerry me disse...

    Estamos redarguiu Mary Chuck j se mudou para outro local.

    Jante comigo esta noite insistiu Hentman E nesse meio tempo eu dareiuma passada no co-ap de seu marido, ou mando algum da minha equipe.Ofereceremos a ele seis semanas de experincia... prepar-lo para comear aescrever roteiros. Que tal?

    No h inconveniente em jantar com o senhor fez Mary Mas...

    Isto tudo assegurou Hentman S um jantar. No restaurante de suapreferncia, em qualquer parte dos Estados Unidos. Agora, se acontecer maisalguma coisa... Sorriu.

    Aps regressar da costa oeste de txi a jato, Mary viajou de monotrilho urbanoat o centro de So Francisco, onde se localizava a Interplanetria, agncia comque tratara de seu novo emprego, altamente desejvel.

    Em pouco tempo viu-se ascendendo em um elevador; a seu lado, um rapazelegante e bem vestido, um funcionrio de Relaes Pblicas, cujo nome,segundo apreendera, era Lawrence McRae.

  • Disse McRae: Um bando de reprteres dos jornais locais esto espera, e eisa o que eles vo atirar em cima da senhora: Vo insinuar, e tentar obterconfirmao, de que este projeto teraputico no passa de um pretexto para aTerra adquirir a lua Alfa III M2. Que vamos para l basicamente com o objetivode restabelecer uma colnia, reivindic-la, desenvolv-la e ento enviar colonos.

    Mas ela nos pertencia antes da guerra argumentou Mary Seno, comopoderia ter sido utilizada como hospital de base?

    verdade aquiesceu McRae. Saram do elevador, atravessaram umcorredor Mas nenhuma nave terrestre visitou-a em vinte e cinco anos, e,legalmente falando, este fato anula nosso direito lua. H cinco anos a luareverteu situao de autonomia poltico-jurdica. Entretanto, se pousarmos erestabelecermos um hospital de base, com tcnicos, mdicos, terapeutas e tudoque for necessrio, poderemos reivindicar nossos direitos novamente se oshabitantes no o tiverem reclamado, o que com certeza no fizeram. Certamenteeles ainda esto se recuperando dos efeitos da guerra; uma possibilidade. Oueles podem ter explorado a lua e chegado concluso de que no isso quedesejam, pois a ecologia demasiado diversa da biologia humana. Por aqui Manteve uma porta aberta para que ela entrasse, encontrando-se frente areprteres dos jornais locais, uns quinze ou dezesseis, alguns munidos decmeras.

    Respirando fundo, encaminhou-se para o atril indicado por McRae, equipadocom um microfone.

    Falando ao microfone, McRae iniciou a coletiva: Senhoras e senhores, esta aDra. Mary Rittersdorf, a renomada orientadora matrimonial do condado deMarin e que, como sabem, ofereceu voluntariamente seus servios para esteprojeto.

    De pronto um reprter indagou, calmamente: Dra. Rittersdorf, como sechama este projeto? Projeto psictico? Os outros reprteres desataram a rir.

    Foi McRae quem respondeu: O nome por ns utilizado Operao CinquentaMinutos.

    Para onde iro os doentes na lua quando vocs os pegarem? perguntououtro reprter Talvez vocs possam varr-los para debaixo do tapete, no mesmo?

    Mary respondeu ao microfone: Inicialmente realizaremos pesquisas, com oobjetivo de esquadrinhar a situao. J sabemos que os pacientes ao menosalguns deles e sua progenitura esto vivos. No fingimos saber a viabilidade dasociedade por eles formada. Imagino que essa sociedade no seja efetivamentevivel, exceto considerando-se o sentido estritamente literal de que eles semantm vivos. Tentaremos uma terapia corretiva junto queles que oferecerempossibilidades. Sem dvida as crianas so os que mais nos preocupam.

  • Quando espera chegar em Alfa III M2, doutora? indagou um reprter. Ascmeras instantneas trabalhavam, zunindo como insetos ao longe.

    Acho que dentro de duas semanas disse Mary .

    A senhora no est sendo paga por este trabalho, no , doutora? perguntououtro reprter.

    No.

    Ento, a senhora est convencida de que esta tarefa visa o bem comum? uma causa?

    Bem hesitou Mary O trabalho...

    Portanto, a Terra se beneficiar com nossa intromisso nessa civilizao deex-pacientes de instituies para doentes mentais? A voz do reprter erainsistente.

    Mary voltou-se para McRae em busca de auxlio O que devo dizer?

    McRae respondeu ao microfone: Esta no a rea da Dra. Rittersdorf; ela uma psicloga graduada e no um poltico. Ela se recusa a responder.

    Um jornalista alto, magro, experiente, levantou-se e inquiriu, a fala arrastada J ocorreu Interplanetria simplesmente deixar esta lua em paz? A tratar acultura deles como outra qualquer, respeitando seus valores e costumes?

    Mary respondeu, hesitante: Ainda no sabemos o suficiente. Talvez quandoobtivermos mais informaes... Interrompeu-se, atrapalhada De qualquermaneira, aquela no uma verdadeira cultura argumentou No possuitradio. uma sociedade composta de indivduos mentalmente deficientes, e aprole gerada h menos de vinte e cinco anos... No se pode compar-la a,digamos, culturas como a da matria viscosa ou dos Jnios. Que valores osdoentes mentais podem desenvolver? E em to curto espao de tempo.

    Mas a senhora mesmo disse contraps o reprter que neste momentono sabe nada a respeito deles. A partir do que conhece...

    McRae, falando ao microfone, interrompeu-o bruscamente: Caso eles tenhamdesenvolvido alguma espcie de cultura estvel e vivel, ns os deixaremos empaz. Mas esta deciso cabe a especialistas como a Dra. Rittersdorf, e no a vocou a mim ou opinio pblica americana. Francamente achamos que no hnada mais potencialmente explosivo do que uma sociedade na qual os psicticosdominam, definem os valores, controlam os meios de comunicao. Um nmeroquase infinito de problemas pode advir a partir da um culto religioso indito efantico, uma concepo de estado paranoica e nacionalista, a destruiobrbara de tipo manaco estas possibilidades por si s j justificam nossainvestigao em Alfa III M2. Este projeto uma defesa de nossas prprias vidase valores.

  • Os reprteres permaneceram em silncio, visivelmente convencidos com aexposio de McRae. Com a qual Mary certamente concordou.

    Mais tarde, ao deixarem a sala, Mary indagou: O motivo realmente este?

    Fitando-a, McRae afirmou: Voc quer dizer, se estamos indo para Alfa III M2porque tememos as consequncias para ns de um enclave social de perturbadosmentais, pois uma sociedade enlouquecida como essa nos deixa apreensivos?Acho que qualquer razo suficiente; Para a senhora com certeza deve ser.

    No devo perguntar? Encarou o jovem funcionrio elegante Devolimitar-me a...

    Deve limitar-se a realizar sua tarefa teraputica e basta. No disse senhoracomo curar pessoas doentes; por que a senhora deveria me dizer comosolucionar um problema poltico? Olhou-a friamente No entanto,fornecerei mais um motivo para a Operao Cinquenta Minutos em que talvez asenhora no tenha pensado. perfeitamente possvel que em vinte e cinco anosuma sociedade de doentes mentais possa ter adquirido ideias tecnolgicas de quepossamos fazer uso, especialmente os manacos a classe mais ativa Pressionou o boto do elevador Acredito que eles sejam inventivos. Assimcomo os paranoicos.

    Mary prosseguiu: Isto explica por que a Terra ainda no havia enviadoalgum? Vocs queriam ver como as ideias deles se desenvolviam?

    McRae aguardava a chegada do elevador; no respondeu. Ele parecia, decidiuMary, completamente seguro de si. E isto, at onde ia o conhecimento depsicticos, era um erro. Provavelmente um erro grave.

    Quase uma hora depois, quando ela estava voltando casa no condado de Marinpara terminar de fazer as malas, percebeu a contradio fundamental na posiodo governo. Em primeiro lugar, eles estavam investigando a sociedade deAlfa III M2 porque temiam fosse ela letal, e ento pretendiam devass-la paradescobrir se eles haviam desenvolvido algo produtivo. H quase um sculo Freuddemonstrara que tal lgica dupla encerrava a dubiedade; em um fato real, cadaproposio anulava a outra. O governo simplesmente no podia basear-se nosdois motivos.

    A psicanlise provou que, normalmente, quando so dadas duas razes que secontradizem mutuamente para uma mesma atitude, a verdadeira razosubjacente no reside em nenhum daqueles dois motivos mas em um terceiro, doqual a pessoa ou, neste caso, o grupo de funcionrios pblicos no estavaconsciente.

    Assim sendo, considerou, qual seria o verdadeiro motivo?

    De qualquer maneira, o projeto para o qual oferecera seus serviosvoluntariamente no mais lhe parecia to idealista e livre de propsitos ulteriores.

    Inclua claramente que, qualquer que fosse a verdadeira motivao do governo,

  • seria egosta e inflexvel.

    Alm dessa, ainda carregava outra suspeita.

    Provavelmente ela jamais saberia a razo verdadeira.

    Estava absorvida na tarefa de arrumar os incontveis suteres quando,subitamente, percebeu no estar sozinha. Dois homens estavam de p no limiarda porta; Mary voltou-se rapidamente, pondo-se de p.

    Onde est o Sr. Rittersdorf? inquiriu o homem mais velho, estendendo umaidentificao de cor negra; os dois homens, ela viu, pertenciam ao escritrio domarido, a filial de So Francisco da CIA.

    Ele se mudou respondeu Vou lhes dar o endereo.

    Recebemos uma informao disse o homem mais velho de algumno-identificado, de que seu marido estaria planejando suicdio.

    Ele sempre est disse ela, enquanto anotava o endereo do pardieiro ondeChuck agora morava Eu no me preocuparia com ele; est cronicamentedoente, mas no completamente morto.

    O mais velho da CIA encarou-a com fria hostilidade: Suponho que a senhora eo Sr. Rittersdorf esto se separando.

    verdade. Se for da sua conta Ofereceu-lhe um sorriso breve eprofissional Bom, posso continuar fazendo as malas?

    Nosso escritrio explicou o home da CIA costuma oferecer uma certaproteo a seus empregados. Caso seu marido cometa suicdio, se proceder ainvestigao para determinar em que medida a senhora est envolvida acrescentou E em vista de sua condio de conselheira matrimonial, seriabastante embaraoso, no?

    Aps um instante, Mary respondeu: - , acho que sim.

    O homem mais jovem da CIA disse: Considere esta visita como um simplesaviso informal. V com calma, Sra. Rittersdorf; no pressione seu marido.Compreende? Os olhos congelados pareciam no ter vida.

    Ela assentiu. E estremeceu.

  • Enquanto isso disse o mais velho se ele aparecer aqui, diga-lhe paratelefonar. Ele recebeu trs dias de folga, mas gostaramos de falar com ele ambos deixaram o recinto pela porta da frente.

    Mary voltou-se para as malas, soltando um suspiro de alvio agora que os doishomens da CIA haviam sado.

    A CIA no vai me dizer o que fazer, disse para si mesma. Falarei o que meaprouver para meu marido. Farei o que quiser. Eles no vo proteger voc,Chuck, mencionou para si mesma enquanto arrumava suter aps suter,pressionando-os selvagemente para dentro da mala. Na verdade, considerou de sipara si, vai ser pior para voc t-los envolvido; portanto, fique preparado.

    Rindo, ela pensou: seu molenga amedrontado. Achou que tinha sido espertotentando intimidar-me com seus dois capangas. Voc pode ter medo deles, maseu no. Eles no passam de tiras estpidos e lerdos.

    Enquanto arrumava a mala, brincou com a ideia de chamar seu advogado erelatar-lhe a ttica de presso da CIA. No, decidiu, no farei isso; vou aguardarat que a ao do divrcio seja levada ao juiz Brizzolara. A ento, utilizarei estefato como evidncia; ele vai demonstrar o tipo de vida que fui forada a levar,casada com tal homem. Frequentemente exposta aos incmodos da polcia. Eameaada por tentar ajud-lo a arranjar emprego.

    Alegremente, colocou o ltimo suter na valise, fechou-a e com um movimentorpido dos dedos, trancou-a.

    Pobre Chuck, disse para si, voc no ter chances quando eu o levar ao tribunal.Nunca vai saber o que o atingiu; vai pagar pelo resto da vida. Enquanto viver,querido, no se livrar de mim; sempre vou custar algo a voc.

    Comeou a dobrar os inmeros vestidos com cuidado, colocando-os no enormeba provido de cabides especiais.

    Isto tudo vai custar caro, disse para si mesma, mais do que voc possa pagar.

  • Captulo4

    Em um tom de voz suave e hesitante, a garota na soleira da porta apresentou-se: Ahn, meu nome Joan Trieste. O Lorde Gosma Veloz me disse que vocacabou de se mudar para este apartamento Os olhos dela corriam de ChuckRittersdorf para o apartamento Voc ainda no trouxe nenhum dos seuspertences, no? Posso ajudar? Posso colocar as cortinas e limpar as prateleiras nacozinha, se quiser.

    Chuck declinou o oferecimento: Obrigado, mas estou bem assim Ocorreu-lhe que fora a matria viscosa o autor disso, requisitando essa garota.

    Ela ainda no chegara aos vinte anos, decidiu ele; os cabelos caam em umamassa compacta sobre os ombros, amarrados por uma fita, sem uma coloraoespecfica, cabelos bem comuns. Ela possua a pele branca, demasiado plida. Epareceu-lhe que o pescoo era muito comprido. No se poderia consider-lauma garota realmente atraente, apesar de ser pelo menos esbelta. Joan Triestevestia calas de um tom escuro coladas pele, alm de chinelos e uma camisade corte masculino; ao que parecia, no estava usando suti, como ditava amoda; entretanto, os seios no passavam de crculos escuros e planos, sob oalgodo sinttico branco da camisa; ela no tinha meios ou no fazia questo para a operao de dilatao atualmente em voga. Ocorreu-lhe ento que elaera pobre. Possivelmente estudante.

    Lorde Gosma Veloz ela explicou de Ganimedes; mora no ap emfrente sorriu de leve; Chuck entreviu dentes brancos e pequenos, bemformados e sem irregularidades. Quase perfeitos, para falar a verdade.

    Eu sei observou Chuck Ele deslizou por baixo da porta h mais ou menosuma hora E acrescentou: Disse que ia mandar algum. Parece que elepensou...

    verdade que voc tentou se matar?

    Ele deu de ombros, aps um curto intervalo: A matria viscosa achou que sim.

    Voc tentou. Agora posso afirmar com certeza; est em voc Passou porele e entrou no ap Eu sou... voc sabe. Uma psi.

    Que espcie de psi? Deixou a porta da sala aberta, dirigindo-se ao mao dePall Mall e acendendo um cigarro Existem psis de todos os tipos. Desde os quepodem mover montanhas at aqueles que somente...

    Joan interrompeu-o Possuo poderes bastante limitados, mas olha: Voltando-se, levantou a gola da camisa V o meu boto? Membro autntico da

  • Corporao Psi da Amrica Explicou: Posso fazer o tempo retroceder. Emuma rea circunscrita, digamos de 3,5 por 2,70 m, aproximadamente o tamanhodesta sala. At um perodo de cinco minutos sorriu, e novamente ele admirou-lhe os dentes. Eles transformavam o rosto da garota, tornando-o belo; quandosorria, era agradvel observ-la, e a Chuck pareceu que esta caracterstica diziaalgo sobre ela. A qualidade da beleza emanava do interior; por dentro ela eraadorvel e Chuck percebeu que, ao longo dos anos, conforme fosse ficando maisvelha, essa beleza se exteriorizaria gradativamente, influenciando a aparnciaexterna. Por volta dos trinta, trinta e cinco anos, ela brilharia. Agora, no passavade uma criana.

    Essa aptido til? indagou.

    Possibilita um uso limitado empoleirando-se no brao do sof arcaico estilodinamarqus, enfiou os dedos nos bolsos das calas apertadas e explicou: Trabalho para o Departamento de Polcia Ross; eles me chamam no momentoem que ocorrem acidentes de trnsito graves e voc vai achar graa, masrealmente funciona eu retorno o tempo at antes do acidente ou, se estiveratrasada, se j tiverem se passado mais de cinco minutos, s vezes posso trazerde volta a pessoa que acabou de morrer. Entendeu?

    Entendi fez ele.

    No pagam muito bem. E, o que pior, tenho que estar disposio vinte equatro horas por dia. Eles me avisam no co-ap e vou de jato saltador de altavelocidade at o local. Olha s Virou a cabea, apontando para a orelhadireita; Chuck distinguiu um pequeno cilindro curto e grosso embutido na orelhada garota. Percebeu que era um receptor da polcia Estou sempre sintonizada.Quer dizer, no levo mais do que alguns segundos em locomoo, claro; possoir a restaurantes, teatros e casas de outras pessoas, mas...

    Bem contraps ele Talvez algum dia voc possa salvar minha vida Ficou pensando: se eu tivesse pulado, voc poderia ter me forado a voltar existncia novamente. Que grande servio...

    J salvei muitas vidas Joan ergueu a mo Voc pode me dar umcigarro?

    Ele lhe ofereceu um, acendendo-o, sentindo-se, como sempre, culpado peloesquecimento.

    O que voc faz? inquiriu Joan.

    Relutante, no porque fosse confidencial, mas sim porque o trabalho conferia umstatus inferior na escala da considerao pblica, descreveu sua funo na CIA.Joan Trieste ouviu com ateno.

    Ento, voc ajuda a evitar que o governo caia concluiu ela, com um sorrisode prazer Que maravilha.

  • Encantado, Chuck esboou um obrigado.

    verdade. Imagine s neste exato momento centenas de simulacros emtodo o mundo comunista esto proferindo as suas palavras, detendo pessoas nasesquinas e nas florestas... Os olhos brilhavam E tudo que eu fao ajudar oDepartamento de Polcia Ross.

    Existe uma lei explicou Chuck qual eu chamo Terceira Lei Rittersdorfde Reduo de Retornos, que estabelece a proporcionalidade entre o tempo detrabalho e a reduo progressiva da importncia que voc confere a essetrabalho Retribuiu o sorriso; o fulgor nos olhos dela, o brilho dos dentes alvosfaziam-no sorrir com facilidade. Comeava a esquecer a disposio desesperadae lgubre de pouco tempo atrs.

    Joan perambulou pelo ap Voc vai trazer muitos objetos pessoais para c? Ouvai viver assim mesmo? Ajudarei a decorar o ap, e Lorde Gosma Veloztambm, na medida do possvel. No final do corredor mora uma forma de vidade metal liquefeito de Jpiter, chamado Edgar; nestes ltimos dias ele esthibernando, mas quando voltar vida vai querer lanar-se ao trabalho. E no ap esquerda existe um pssaro mgico de marte; sabe, com aquela plumagemmulticolorida... No tem mos, mas consegue mover objetos atravs dapsicocintica; vai oferecer auxlio, exceto hoje, pois est em incubao;encontra-se dentro de um ovo.

    Meu Deus! exclamou Chuck Que edifcio poligentico Estava umtanto atordoado ao ouvir todas aquelas informaes.

    Alm desses completou Joan no andar de baixo mora uma preguia deCalisto; permanece toda enrolada em torno de um abajur que consiste emmoblia padro nestes co-aps... de cerca de 1960. Ela dever despertar assim queo sol se puser; a ela vai sair para comprar comida. E a matria viscosa, que vocj conhece Deu uma tragada vigorosa ligeiramente inexperiente nocigarro Gosto daqui; voc entra em contato com todas as espcies de formasviventes. Antes de voc, morava um habitante de Vnus neste ap. Certa vez,salvei a vida dele; ele tinha ressecado... eles tm que manter-se midos, vocsabe. O clima aqui do Condado de Marin era demasiado seco para ele; por fim,mudou-se para o norte, Oregon, onde chove o tempo todo Voltou-se e estacou,observando-o Voc parece estar cheio de problemas.

    Nenhum problema real. S os imaginrios. O tipo evitvel Problema queeu poderia ter evitado; se tivesse usado a cabea, no teria me envolvido, ejamais casaria com ela.

    Qual o nome de sua esposa?

    Surpreso, respondeu: Mary .

    No se mate porque ela o deixou aconselhou Joan Em poucos meses ouat mesmo semanas, vai estar inteiro novamente. Agora voc se sente como ametade de um organismo que se dividiu em dois. A fisso binria sempre traz

  • mgoa; sei disso devido a um protoplasma que morava aqui... ele sofria a cadadiviso, mas ele tinha que se dividir, tinha que crescer.

    Acho que crescer machuca Dirigiu-se para a janela envidraada,observando mais uma vez as passarelas de pedestres, os veculos e jatossaltadores l embaixo. Chegara to perto...

    No ruim viver aqui comentou Joan Falo com conhecimento de causa.J vivi em vrios lugares. claro que todo mundo no Departamento de PolciaRoss conhece os co-aps descartveis acrescentou com sinceridade Temsempre muitos problemas por aqui, pequenos roubos, brigas e at um homicdio.No um lugar calmo, d para reparar.

    E mesmo assim...

    E mesmo assim acho que voc devia ficar. Vai ter companhia. Especialmente noite, as formas no-terrestres que moram aqui comeam a circular, comovoc logo perceber. E o Lorde Gosma Veloz um grande amigo; j ajudoumuita gente. Os Ganimedes possuem uma virtude que So Paulo chamavacaridade... e lembre-se, So Paulo afirmou que a caridade era a maior de todasas virtudes Acrescentou: Acho que a palavra atual para esta virtude seriaempatia.

    Algum abriu a porta do co-ap. Chuck voltou-se no mesmo instante. E viu doishomens que conhecia muito bem. Seu chefe, Jack Elwood, e seu colaborador naelaborao de roteiros, Pete Petri. Ao v-lo, ambos mostraram-se aliviados.

    Com os diabos proferiu Elwood: Achamos que era tarde demais.Passamos em sua casa, pensando que talvez estivesse l.

    Disse Joan Trieste, dirigindo-se a Elwood: Sou do Departamento de PolciaRoss. Posso ver seus documentos, por favor? A voz era fria.

    Elwood e Petri apresentaram maquinalmente a identificao da CIA,interpelando Chuck: O que a polcia municipal est fazendo aqui?

    uma amiga explicou Chuck.

    Elwood deu de ombros; obviamente no pretendia pression-lo para obter maisdetalhes Voc no podia ter arranjado um ap melhor? Analisou a sala Este lugar fede, literalmente.

    temporrio justificou-se Chuck, embaraado.

    No se arrune aconselhou Pete Petri E quanto aos dias de licena, bem. melhor voc no ficar aqui pensando besteira Encarou Joan Trieste,considerando, sem disfarar, se ela teria interferido na tentativa de suicdio. Noentanto, ningum elucidou sua dvida Portanto, voc volta conosco para otrabalho? Tem um monte de coisas para voc fazer; ao que parece, vai passar anoite l.

  • Obrigado disse Chuck Mas tenho que fazer a mudana das minhascoisas. Preciso decorar o ap, pelo menos o mnimo ainda sentia necessidadede ficar sozinho, com a mesma intensidade com que apreciara as boas intenesdeles. Era um instinto, arrastar-se para dentro da toca, esconder-se; erahereditrio.

    Joan Trieste afirmou, dirigindo-se aos dois homens da CIA: Posso ficar comele, pelo menos por enquanto. A no ser que eu tenha alguma chamada deemergncia. Geralmente sou chamada por volta de uma da manh, quando ocomutador de trfego entra em funcionamento. Mas at l...

    Escuta aqui interrompeu Chuck bruscamente.

    Os trs se voltaram, curiosos, em direo a ele.

    Se uma pessoa quer se matar disse vocs no podem impedi-la. Talvezconsigam retardar o ato. Talvez uma psi como Joan possa traz-lo de volta. Mas,mesmo atrasado, ele realizar seu desejo, mesmo que seja ressuscitado, vaiarranjar um jeito de repetir a tentativa. Portanto, deixem-me em paz Estavacansado s quatro horas tenho um compromisso com meu advogado tenhomuito o que fazer. No posso perder tempo aqui conversando.

    Consultando o relgio, Elwood ofereceu: Ns podemos dar uma carona at oseu advogado. Pelo menos isso Esboou um rpido sinal em direo a Petri.

    Chuck prometeu a Joan: Talvez nos vejamos de novo. Qualquer dia Sentia-se fatigado demais para preocupar-se com isso Obrigado esboou,vagamente. No sabia ao certo o que estava agradecendo.

    Com cuidadosa insistncia, Joan avisou: Lorde Gosma Veloz est no ap dele econsegue captar os seus pensamentos; se tentar se matar novamente, ele vaiouvir e interferir. Portanto, se pretende...

    Certo cortou Chuck No tentarei aqui Encaminhou-se para a portacom Elwood e Petri ladeando-o; Joan segui-os.

    Chegando ao corredor, percebeu que a porta da matria viscosa estava aberta. Aextensa massa amarelada ondulava em saudao.

    Obrigado a voc tambm agradeceu Chuck, um tanto irnico, afastando-sejunto aos dois colaboradores da CIA.

  • Enquanto seguiam de carro para o escritrio de Nat Wilder em So Francisco,Jack Elwood comentou: Nesta Operao Cinquenta Minutos, requisitamos aincluso de um homem nosso no grupo de pouso inicial; requisio de rotina queevidentemente foi acatada Olhou pensativo em direo a Chuck Acho queneste caso vamos fazer uso de um simulacro.

    Chuck Rittersdorf meneou a cabea preguiosamente. Fazia parte doprocedimento padro utilizar um simulacro em projetos envolvendo grupospotencialmente hostis; o oramento operacional da CIA no era dos mais vastos,e a instituio no gostava de perder seus homens.

    Na verdade explicou Elwood o simulacro foi construdo pela GeneralDy namics de Palo Alto; j est pronto em nosso escritrio. Seria bom voc sedar ao trabalho de dar uma olhada Examinou uma pequena nota retirada dobolso da casaco O nome Daniel Mageboom. Vinte e seis anos. Anglo-saxo.Graduado em Stanford, com especializao em Cincia Polivalente. Durante umano lecionou no Estado de So Jos, e ento veio trabalhar na CIA. Isto o quediremos oficialmente; seremos os nicos a saber que ele um simula colhendodados para ns E concluiu: At agora ainda no decidimos quem vamosencaixar como operador definitivo de Dan Mageboom. Talvez Johnstone.

    Aquele idiota discordou Chuck. Um simula podia funcionar de maneiraautnoma at certo ponto, mas em uma operao desse tipo exigiam-se muitasdecises; se fosse deixado sozinho, Dan Mageboom logo revelaria ser umartefato mecnico. Caminharia e falaria. Contudo, quando chegasse o momentode decidir planos de ao, a um bom operador, acomodado em segurana noprimeiro andar do edifcio da CIA em So Francisco, assumiria o controle.

    Enquanto estacionavam no campo de pouso no terrao do escritrio de NatWilder, Elwood comentou, pensativo: Sabe, Chuck, estive pensando, e vocbem que poderia assumir o controle de Danny . Como voc disse, Johnstone no o melhor.

    Chuck olhou para ele tomado de surpresa Por qu? No minha funo ACIA dispunha de um corpo de homens treinados para a animao de simulacros.

    Fica como um favor para voc disse Elwood lentamente, contemplando otrnsito areo engarrafado da tarde, elevando-se sobre a cidade como umacamada de fumaa Assim voc poderia estar com sua mulher.

    Aps um intervalo, Chuck respondeu: De jeito nenhum.

    Ento vigie-a.

    Para qu? Acometera-o uma raiva desconcertada. Sentia-se ultrajado.

    Sejamos realistas sugeriu Elwood Para os psi da CIA, bvio que vocainda est apaixonado por ela. E ns precisamos de um operador em tempointegral para Dan Mageboom. Petri pode encarregar-se dos roteiros durantealgumas semanas; pegue este trabalho, veja s o que acha e se no gostar, deixe-

  • o e volte aos roteiros. Cus, h anos voc programa simulacros; vai ser bomtrabalhar com controle remoto... Vou inscrever voc. E voc vai estar na mesmaaeronave de Mary , vai pousar em Alfa III M2 ao mesmo tempo...

    No repetiu Chuck. Abriu a porta do carro, desceu no campo de pouso Vejo vocs mais tarde; obrigado pela carona.

    Voc sabe muito bem alertou Elwood eu podia ordenar que vocassumisse o controle. E eu faria isto, se achasse que seria para o seu bem. E podeperfeitamente ser. Os meus planos so esses: vou pegar o dossi do FBI sobre suamulher e examin-lo. Dependendo do tipo de pessoa que ela for... Esboouum gesto Vou decidir a partir disso.

    Que tipo de pessoa ela poderia ser observou Chuck para que fossenecessrio espion-la atravs de um simulacro da CIA?

    Elwood respondeu: Uma mulher que merea que voc volte para ela Fechou a porta do carro; Petri ligou o motor e o veculo disparou rumo aoentardecer. Chuck observou-os subir.

    Pensamento tpico da CIA, disse custico para si mesmo. Bom, a essa altura euj devia estar acostumado.

    Mas Elwood estava certo em uma coisa. Ele de fato programara inmerossimulacros e com retrica calculadamente persuasiva. Se assumisse ocontrole deste simulacro, poderia no s dirigir Dan Mageboom, ou seja l qualfor nome dele, com sucesso, como tambm o que o fez estacar poderiatransformar o simulacro em um instrumento delicadamente regulado, umamquina que dominaria, enganaria, e, sim, at corromperia aqueles em tornodele. O prprio Chuck no conseguiria ser to eloquente; Somente atravs de seuengenho realizaria o seu intento.

    Nas mos de Chuck, Dan Mageboom poderia realizar muita coisa ao lado deMary. E ningum percebera isto melhor do que seu chefe, Jack Elwood. Noadmira que Elwood tenha feito esta sugesto.

    Por outro lado, a tarefa apresentava um carter potencialmente sinistro, que orepugnava; relutou, intuindo a torpeza daquele ato.

    No entanto, no conseguia simplesmente deixar a ideia de lado; as coisas aprpria vida, a existncia na Terra no eram assim to simples.

    Talvez a soluo repousasse em algum a quem pudesse confiar a guarda dosimulacro. Petri, por exemplo. Algum que pudesse zelar por seus interesses.

    A pensou: afinal quais so meus interesses?

    Desceu a rampa interna mergulhado em reflexes. Pois uma nova ideia, nosugerida por seu patro Jack Elwood, surgira sem mais nem menos em suamente.

  • Pensou: existe algo que eu poderia fazer em tais circunstncias. Um simulacro daCIA com Mary em uma lua distante de outro sistema solar... entre os membrospsicticos de uma sociedade enlouquecida. Algo que passaria despercebidonestas circunstncias to excepcionais.

    No podia discutir aquela ideia com qualquer um, na verdade enfrentoudificuldades em express-la para si mesmo. Mesmo assim, ela se mostrava maisvantajosa que o suicdio, e este ele j estivera prestes a cometer.

    Em tais circunstncias, conseguiria mat-la, considerou para si mesmo. Por meiodo artefato da CIA, ou melhor, da General Dy namics. Legalmente, teriarazoveis chances de absolvio, j que um simulacro operado quela distnciafrequentemente age por si mesmo; os circuitos autnomos em geral temprecedncia sobre as instrues a longa distncia do controlador. De qualquermaneira, valia a pena tentar. No tribunal, alegaria que o simulacro agira porconta prpria; e posso confiscar uma infinidade de relatrios tcnicos provandoque simulacros normalmente agem dessa forma... A histria das operaes daCIA repleta de tais mancadas em momentos caticos.

    Vai ser difcil a acusao conseguir provar que fui eu quem instruiu o simulacro.

    Dirigiu-se at a porta de Nat Wilder; esta abriu e ele entrou, ainda em meio areflexes.

    Podia ser uma boa ideia ou no; sem dvida os mritos da questo estavamabertos a discusso somente a nvel moral, se no mesmo a nvel prtico. Dequalquer jeito, era o tipo de ideia que, uma vez considerada, no costumavadesaparecer; como uma ideia fixa que tomara seu pensamento e ali se instalara,impossvel de ser anulada.

    No seria de maneira alguma, nem mesmo teoricamente, um crime perfeito.Fortes suspeitas imediatamente recairiam sobre ele; o promotor do Estado ou domunicpio fosse quem fosse o responsvel por tais questes logo perceberiao que ocorrera. Assim como os jornais locais, entre os quais encontravam-se asmentalidades mais sagazes dos Estados Unidos. Entretanto, havia uma grandedistncia entre suspeitar e provar um crime.

    De certa forma, ele poderia ocultar-se por trs da cortina altamente secreta quefrequentemente obscurecia as atividades da CIA.

    Mais de trs anos-luz separavam a Terra do sistema Alfa; uma distncia enorme,com certeza descomunal, em condies normais, para se cometer um crimecapital. Muitas mensagens de sinais eletromagnticos atravessando o hiperespaopoderiam perfeitamente ser encaradas como fator determinante. Um bomadvogado seria capaz de construir uma excelente defesa baseando-se somenteneste detalhe.

    E Nat Wilder era um timo advogado.

  • Captulo5

    Naquela noite, aps jantar no restaurante Blue Fox, telefonou para o patro, JackElwood.

    Gostaria de ver a criatura que voc chama Dan Mageboom afirmoucauteloso.

    Na pequena videotela o rosto do patro retorceu-se em um sorriso Certo. Isso muito fcil v para aquele apartamento caindo aos pedaos em que seenfiou, e em um minuto Dan estar l. Ele est aqui em casa. Lavando a louana cozinha. O que fez voc decidir?

    Nenhum motivo especfico disse Chuck, desligando.

    Voltou ao co-ap noite, com a iluminao antiga, falha e difusa, a salatornara-se mais deprimente do que nunca e sentou-se, espera de Dan.

    Quase no mesmo instante ouviu o som de uma voz no corredor, uma vozmasculina perguntando por ele. Em seguida, os pensamentos da matria viscosade Ganimedes formaram-se em seu crebro Sr. Rittersdorf, tem um homemno corredor procurando pelo senhor; por favor, abra a porta e cumprimente-o.

    Dirigindo-se porta, Chuck abriu-a.

    No corredor encontrava-se um homem de meia-idade, baixinho e com umabarriga protuberante, vestindo um terno antiquado Voc Rittersdorf? indagou, taciturno Nossa, que espelunca. E cheio de no-terrestres esquisitos o que um terrestre est fazendo aqui? Enxugou o rosto vermelho e suadocom um leno Sou Coelho Hentman. Voc o roteirista, no? Ou isto aqui uma loucura completa?

    Sou um pseudo-roteirista respondeu Chuck. Evidentemente aquilo era obrade Mary ; ela queria assegurar-se de que ele receberia uma boa renda parasustent-la na situao ps-conjugal.

    Como voc no me reconheceu? perguntou Hentman, mal-humorado No sou famoso no mundo inteiro? Ou quem sabe voc no assiste televiso Irritado, soltou uma baforada do charuto Aqui estou eu. Aqui estou. Voc querou no trabalhar comigo? Escuta aqui, Rittersdorf No estou habituado a sairpor a implorando. Mas o seu trabalho bom; sou obrigado a admitir. Onde asala? Ou vamos ficar plantados aqui no corredor? Percebeu a porta meioaberta do co-ap de Chuck; no mesmo instante dirigiu-se para l com passadaslargas, entrou no apartamento e desapareceu.

  • Pensando rpido, Chuck seguiu-o.

    Obviamente no era fcil livrar-se de Hentman. Mas para falar a verdade, eleno tinha nada a perder com a presena dele;