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Copyright © 2004 South-Western/Thomson Learning
Ciência Econômica
• Para começar, é necessário propor uma
definição de ciência.
• Ciência é uma forma de conhecimento.
Há outras: senso comum, intuição, religião.
• Você acredita na Teoria Geocêntrica?
• Que teoria você usa quando precisa colocar
um guarda-sol na praia?
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Ciência Econômica
• Você provavelmente não acredita na
Teoria Geocêntrica, mas você a utiliza
mesmo assim para resolver um problema
concreto.
• Outros exemplos: física newtoniana;
modelos econômicos; ratos de laboratório;
mapas; torre de tartarugas.
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Ciência Econômica
Ciência não trata de verdade; ciência
trata de erro útil. • A forma de conhecimento que apresenta algo
como verdade é a religião.
• “Erro útil” é a característica central da forma de
fazer ciência inaugurada na chamada Revolução
Científica Moderna.
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Ciência Econômica
• Ciência não propõe uma ‘verdade’, mas
uma ferramenta para resolver problemas
relevantes.
• O precursor da ciência moderna é o
filósofo inglês Francis Bacon, que cunhou a
frase:
Saber é poder.
(‘Poder’ no melhor sentido da palavra: capacidade de curar doenças, de
superar adversidades da natureza, etc.)
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Ciência Econômica
• Essa frase é um tanto óbvia hoje, mas não
era assim no século XVI.
• Saber e Poder eram em grande parte
dissociados.
• ‘Saber’ era apenas o saber escolástico –
essencialmente as escrituras, e as obras de
Platão e Aristóteles.
• ‘Poder’ era restrito (ao menos em teoria…) à
autoridade divina.
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Ciência Econômica
• A partir de Francis Bacon e da Revolução Científica Moderna, tenta-
se desenvolver um conhecimento sistemático da natureza que
permita atingir objetivos concretos.
• (Isso obviamente já era feito em alguma escala anteriormente, mas
dá um salto com o fim da Idade Média.)
• Especificamente, tenta-se entender o mundo identificando relações
de causalidade: “se A, então B”, “se chove, então molha”, “se tal
medicamento for usado, a mortalidade de determinada doença é
reduzida”.
• A ciência que surge a partir daí é menos ambiciosa do que o saber
religioso, bem como que os modelos de Platão e Aristóteles, que
propunham explicações de toda a realidade.
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Ciência Econômica
• Uma teoria científica é então uma ferramenta para entender algum
fenômeno do mundo.
• Não faz sentido “acreditar em uma teoria” – isso é tão razoável
quanto “acreditar em um martelo”, “acreditar” em um serrote”, ou
acreditar em qualquer outra ferramenta.
Teorias existem para que sejam usadas, não para que se acredite nelas.
• É uma ferramenta sabidamente imperfeita, baseada em
simplificações grosseiras da realidade (natural, social, econômica,
etc), pois o objetivo é ser útil.
• Simplificações grosseiras = hipóteses do modelo.
• Como avaliar se a teoria é de fato útil?
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Teste Empírico
• Como avaliar se a teoria é de fato útil?
Submetemos a teoria ao teste empírico: ela deve explicar um
determinado conjunto de dados.
Se a teoria diz que “se chove, então molha”, buscamos uma série
de dados sobre “chuva ou sol” e sobre “objeto molhado ou seco”
e vemos se a teoria explica a relação empírica observada.
O teste empírico deve sempre ser construído de forma a isolar as
variáveis relevantes do problema – ou, em outras palavras, tentar
tomar ‘tudo mais como constante’, para não comprometer o
resultado da avaliação, pois tipicamente há outras variáveis que
afetam as observações (uma superfície pode estar molhada
porque alguém lavou com água encanada).
Usamos frequentemente a expressão latina “ceteris paribus”, ou
“tudo mais constante”.
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Teste Empírico
• Um cuidado importante: nunca dizemos que, após um teste empírico
bem-sucedido, “aceitamos” a teoria. Dizemos apenas que “não a
rejeitamos”, mas não podemos aceitá-la porque, desde o princípio,
sabemos que ela é imperfeita, e seguimos com ela enquanto não for
rejeitada e enquanto não aparecer outra melhor (isto é, que explique
melhor os dados).
• Uma vez que o teste empírico é essencial para se avaliar uma teoria,
só se pode falar em “teoria científica” se ela gera predições
testáveis, que possam ser refutadas pelos dados. Uma teoria
deve ser ‘falseável’ (Popper).
• Compare:
Se chove, então molha.
“A última tequilla é a que te derruba”. Se você tomou 10 e passou mal, foi a
décima que fez você passar mal; se tivesse tomado apenas 9, ficaria bem.
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Formalização
• Ciência usa modelos formais, em que a intuição pode
não ser óbvia.
• O objetivo é sistematizar o conhecimento para ir além
do que a intuição e o senso comum permitem
alcançar.
• Ciência às vezes generaliza o senso comum (teoria
da gravidade explica a queda de uma maçã de uma
árvore e a órbita dos planetas em torno do sol), e às
vezes vai de encontro a ele, caracterizando-se como
um “senso incomum” (vacinação).
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Ciência Econômica
• Etimologicamente, economia significa
‘administração do lar’: eco = lar, nomia =
administração.
• A Ciência Econômica que fazemos hoje surge
com Adam Smith, no século XVII, ao publicar
“Uma Investigação sobre a Natureza e as
Causas da Riqueza das Nações”.
• Hoje, economia é definida como a ciência que
estuda a alocação de recursos escassos.
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Ciência Econômica
• Há várias formas formas de estudar recursos escassos.
Em economia, supomos inicialmente que as pessoas podem fazer
escolhas (em oposição a teorias determinísticas do comportamento
humano) e que a unidade de análise relevante para entender
escolhas é o indivíduo (e não um grupo de indivíduos, que
estudamos tentando decompor suas decisões em escolhas
individuais).
Supomos ainda que essas escolhas são feitas de acordo com algum
critério (não são puramente aleatórias) e estão sujeitas a restrições
(pois estudamos situações em que há escassez). Análise e otimização.
Estudamos então essas escolhas e tentamos agregá-las para
entender a sociedade. Álgebra Linear; conceito de equilíbrio: otimização simultânea, ou ausência de incentivo
unilateral ao desvio.
Há diversos conceitos de equilíbrio em economia.
Essa abordagem de “ciência da escolha” surge com a chamada
Revolução Marginalista, no final do século XIX.
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Homo Rationalis
• O Homo Rationalis, ou Homo Economicus, é um dos modelos
mais importantes da teoria econômica.
• Para fazer uma teoria da escolha, partimos de um indivíduo
estilizado, com critérios de decisão simples e restrições fáceis
de modelar. • Por exemplo, supomos que um consumidor quer “a maior quantidade possível de bens
e serviços” e está sujeito a uma “restrição orçamentária”.
• É um indivíduo perfeitamente racional.
• Sabemos que as pessoas ‘de verdade’ são diferentes desse indivíduo
estilizado. • As pessoas tomam decisões ‘irracionais’ porque estão cansadas.
• O critério de decisão pode envolver questões emocionais difíceis de modelar.
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Homo Rationalis
• Por que estudamos o ‘homo rationalis’ ao invés de estudar
diretamente o ‘homo sapiens’?
Novamente, essa é a ideia básica da ciência: usamos modelos
simplificados, que conseguimos entender bem, e os sujeitamos ao
teste empírico.
O ‘homo rationalis’ está para a economia como o ratinho de
laboratório está para medicina: é um modelo para tentar entender o
comportamento das pessoas ‘de verdade’. Ambos são bastante
úteis.
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Análise Positiva v. Normativa
• Afirmações Positivas tentam descrever o
mundo como ele é.
• Análise descritiva.
• Afirmações Normativas tentam descrever
como o mundo deveria ser.
• Análise prescritiva; envolve valores.
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Estrutura da Pesquisa
• Como os temas discutidos são implementados
na estrutura da pesquisa científica?
• Há elementos comuns e uma estrutura comum à
maior parte dos artigos científicos.
Esses elementos e estruturas são um prática, não
uma obrigação.
Após entendê-los, o pesquisados tem liberdade para
fazer variações, usando a forma mais adequada à
pesquisa.
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Estrutura da Pesquisa
• Questões que devem ser respondidas:
A que pergunta você está tentando responder?
Por que essa pergunta é importante? (Motivação)
Que respostas já foram dadas a essa pergunta, ou a
outras semelhantes? (Revisão de literatura)
Por que a sua resposta é relevante, e no que ela é
distinta das anteriores?
Que método você usou para obter sua resposta?
Em particular: quais são as hipóteses do seu modelo?
Se o trabalho for empírico: que dados foram usados?
Que respostas você encontrou?
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Estrutura da Pesquisa
• Outras questões comuns:
Qual é o mecanismo de transmissão?
Quais são as implicações dos seus resultados para a
política pública / desenho de mercado?
• Indispensável: o artigo deve informar exatamente
como os resultados foram obtidos, permitindo
que sejam reproduzidos por outros
pesquisadores.
Contra-exemplo: Lott (“More guns, less crimes”).
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Uma Estrutura Típica
Artigos científicos tipicamente apresentam a
seguinte estrutura: 1. Título
2. Resumo
3. Introdução
4. Revisão de Literatura
5. Contexto
6. Modelo Teórico
7. Descrição dos dados
8. Modelo Empírico
9. Resultados
10. Conclusão
11. Referências
12. Apêndice
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Exemplo
“Voting Technology, Political Responsiveness, and Infant Health: Evidence from
Brazil”
Thomas Fujiwara, Econometrica (2015)
A que pergunta você está tentando responder? Qual é o impacto de
urnas eletrônicas sobre saúde infantil?
Por que essa pergunta é importante? (Motivação) Saúde infantil é um
dos principais determinantes de bem-estar, e pode ser afetada de
forma relevante pelo sistema político – em particular, pela
participação da população mais pobre nas escolhas políticas, o que
é facilitado por formas de votação mais simples.
Que respostas já foram dadas a essa pergunta, ou a outras
semelhantes? (Revisão de literatura) Vários…
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Exemplo
“Voting Technology, Political Responsiveness, and Infant Health: Evidence from
Brazil”
Thomas Fujiwara, Econometrica (2015)
Por que a sua resposta é relevante, e no que ela é distinta das
anteriores? Não havia medida de impacto de urnas eletrônicas sobre
saúde infantil (margem extensiva da participação política).
Que método você usou para obter sua resposta? RDD (regression
discontinuity design), que é possível porque a adoção de urnas
eletrônicas no Brasil se deu em etapas distintas (apenas municípios
a partir de 40.500 habitantes em 1998, todos os municípios em
2000). Os dados foram extraídos do Censo e da Justiça Eleitoral.
Que respostas você encontrou? A adoção de urnas eletrônicas
melhora os resultados de saúde infantil: aumenta o número de
consultas no pré-natal e o peso ao nascer.
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Exemplo
“Voting Technology, Political Responsiveness, and Infant Health: Evidence from
Brazil”
Thomas Fujiwara, Econometrica (2015)
Qual é o mecanismo de transmissão? Aumenta o número de votos “de
fato” da população mais pobre; aumenta a votação de partidos
ligados a investimento de saúde pública; aumenta o gasto em saúde
pública.
Quais são as implicações dos seus resultados para a política pública /
desenho de mercado? Devemos implementar métodos de votação
que facilitem o voto de todos os segmentos da população.
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Ponto Principal
• Há uma estrutura comum em artigos acadêmicos, e
elementos sempre presentes, mas não há um modelo
fechado.
• A melhor forma de aprender a escrever bons artigos é ler
bons artigos.
• Habitue-se a acompanhar os bons journals da profissão.
• Top five: Econometrica, Journal of Political Economy, American
Economic Review, Quarterly Journal of Economics, Review of
Economic Studies.
• Top field journals: Journal of Development Economics, Journal of
Economic Theory, Journal of Public Economics, Rand, Journal of
Monetary Economics…