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Rev Med Minas Gerais 2003; 13(3):211-4 211 NEUROTUBERCULOSE NA INFÂNCIA NEUROTUBERCULOSIS IN CHILDHOOD CHRISTÓVÃO DE CASTRO XAVIER*; LUÍS FERNANDO ANDRADE CARVALHO**; MARCELO MILITÃO ABRANTES***; RENATO PACHECO DE MELO**** RESUMO É relatado o caso clínico de uma criança, previamente hígida, que evoluiu com manifestações neurológicas inespecíficas. O diag- nóstico obtido, após investigação intervencionista, foi de neurotu- berculose. Instituído tratamento preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), com boa resposta clínica. O objetivo é alertar os pediatras para inclusão da neurotuberculose no diag- nóstico diferencial de doenças infecciosas e lesões expansivas do sistema nervoso central. Palavras-chave: Neurotuberculose; Tuberculomas intra- cranianos; Diagnóstico/tratamento A tuberculose, que nos últimos anos vem apresentan- do um aumento significativo de sua incidência, continua a ser uma doença infecciosa grave, sobretudo em regiões em desenvolvimento, a despeito da implantação de pro- gramas de controle e prevenção. O envolvimento do sis- tema nervoso central (neurotuberculose) pode se apresen- tar como meningoencefalite, tuberculoma intracraniano e aracnoidite basal, sendo esta última mais freqüente em adultos. A complicação mais grave da tuberculose, e tam- bém a forma mais freqüente de acometimento do sistema nervoso central na infância, é a meningoencefalite tuber- culosa. 1 Visto que os sinais e sintomas clássicos da neuro- tuberculose são pouco freqüentes, seu diagnóstico clínico, muitas vezes, é feito de forma tardia, piorando muito a evolução da doença. Os mais importantes fatores deter- minantes de prognóstico compreendem o estágio da doença, à época do diagnóstico, e a instituição de terapêu- tica adequada. 2 O envolvimento do sistema nervoso central (SNC) na tuberculose é mais freqüente em crianças com idade entre seis meses e seis anos, contudo, pode ocorrer em qualquer idade. 3 O tuberculoma é uma lesão sólida, granulomatosa, relativamente avascular, geralmente envolvida por uma cápsula, que pode ser única ou múltipla e de tamanho variado que constitui um foco caseoso ou proliferativo isolado de tuberculose. É mais comum em adultos, perfaz um percentual de 3% dos casos de neurotuberculose, e pode ser visto em crianças seguindo-se a um quadro de meningoencefalite. Nos países em desenvolvimento, os tuberculomas representam 15% a 20% de todos os tumo- res cerebrais. 4,5 Ocasionalmente, após resposta inicial satisfatória à terapêutica tuberculostática, esses surgem, geralmente nos três primeiros meses, devido a um meca- nismo ainda não esclarecido. Acredita-se que seja secun- dário a acúmulo de macrófagos e linfócitos em focos microscópicos pré-existentes, quando o tratamento é iniciado. 6 Na faixa etária pediátrica, a invasão do SNC ocorre após contágio pela via respiratória e disseminação hema- togênica, podendo coincidir com a presença do complexo primário pulmonar. Estudos de neuroimagem já mostra- ram a presença de granulomas no cérebro de pacientes neurologicamente assintomáticos. 7 A sintomatologia da meningoencefalite é composta por período prodrômico de cerca de duas semanas que cursa com febre, apatia, distúrbios do sono, dores abdomi - nais e mialgia. A seguir, a criança evolui com manifesta - ções neurológicas mais específicas, iniciando, então, com meningismo, náuseas, vômitos, alterações sensoriais e de comportamento. Aproximadamente 30% delas apresen - tam sinais neurológicos focais. Comprometimento de ner - vos cranianos ocorre em aproximadamente 25% dos casos, e hemiplegia, hemiparesia e crises convulsivas podem ocorrer em 10% a 15%. 8 As manifestações clínicas decor - rentes dos tuberculomas dependem da localização destes; em crianças predominam as lesões infratentoriais. Crises convulsivas e alterações do campo visual ocorrem nos tuberculomas hemisféricos, ataxia e hipertensão intra-cra - niana, nos de localização cerebelar, e síndrome de nervos cranianos e comprometimento de tratos longos, nos tuber - culomas localizados no tronco cerebral. 9 É importante lembrar que houve consentimento dos pais da criança para publicação deste relato de caso. CASO CLÍNICO Identificação: V.L.L; 12a e 9m; feodérmica; sexo femi- nino; naturalidade: Lajinha; residência: Lajinha, MG. História clínica: Criança previamente hígida, até agosto de 2001, quando apresentou episódio súbito, relatado * Preceptor adjunto da Residência de Neurologia Infantil do Centro Geral de Pediatria- FHEMIG; Neurologista Infantil do Hospital Gov. Israel Pinheiro (IPSEMG) e do Hospital Felício Rocho ** Pediatra e Residente de Terapia Intensiva Pediátrica- FHEMIG *** Pediatra e Residente de Nefrologia- HC/UFMG **** Médico Residente de Pediatria do Centro Geral de Pediatria- FHEMIG Centro Geral de Pediatria - FHEMIG Endereço para correspondência: Rua Timbiras, 1958 aptº 12 Centro Belo Horizonte, MG CEP: 30140-061 E-mail: [email protected]

CHRISTÓVÃO DE CASTRO XAVIER*; LUÍS FERNANDO …rmmg.org/exportar-pdf/1551/v13n3a11.pdf · 211 rev med minas gerais 2003; 13(3):211-4 neurotuberculose na infÂncia neurotuberculosis

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Rev Med Minas Gerais 2003; 13(3):211-4211

NEUROTUBERCULOSE NA INFÂNCIA

NEUROTUBERCULOSIS IN CHILDHOOD

CHRISTÓVÃO DE CASTRO XAVIER*; LUÍS FERNANDO ANDRADE CARVALHO**; MARCELO MILITÃO ABRANTES***; RENATO PACHECO DE MELO****

RESU MO

É rela ta do o caso clí ni co de uma crian ça, pre via men te hígi da, que

evo luiu com mani fes ta ções neu ro ló gi cas ines pe cí fi cas. O diag -

nós ti co obti do, após inves ti ga ção inter ven cio nis ta, foi de neu ro tu -

ber cu lo se. Instituído tra ta men to pre co ni za do pela Organização

Mundial de Saúde (OMS), com boa res pos ta clí ni ca. O obje ti vo é

aler tar os pedia tras para inclu são da neu ro tu ber cu lo se no diag -

nós ti co dife ren cial de doen ças infec cio sas e lesões expan si vas do

sis te ma ner vo so cen tral.

Palavras-chave: Neurotuberculose; Tuberculomas intra -

cra nia nos; Diagnóstico/tratamento

A tuber cu lo se, que nos últi mos anos vem apre sen tan -do um aumen to sig ni fi ca ti vo de sua inci dên cia, con ti nuaa ser uma doen ça infec cio sa grave, sobre tu do em regiõesem desen vol vi men to, a des pei to da implan ta ção de pro -gra mas de con tro le e pre ven ção. O envol vi men to do sis -te ma ner vo so cen tral (neu ro tu ber cu lo se) pode se apre sen -tar como menin goen ce fa li te, tuber cu lo ma intra cra nia no earac noi di te basal, sendo esta últi ma mais fre qüen te emadul tos. A com pli ca ção mais grave da tuber cu lo se, e tam -bém a forma mais fre qüen te de aco me ti men to do sis te maner vo so cen tral na infân cia, é a menin goen ce fa li te tuber -cu lo sa.1 Visto que os sinais e sin to mas clás si cos da neu ro -tu ber cu lo se são pouco fre qüen tes, seu diag nós ti co clí ni co,mui tas vezes, é feito de forma tar dia, pio ran do muito aevo lu ção da doen ça. Os mais impor tan tes fato res deter -mi nan tes de prog nós ti co com preen dem o está gio dadoen ça, à época do diag nós ti co, e a ins ti tui ção de tera pêu -ti ca ade qua da.2

O envol vi men to do sis te ma ner vo so cen tral (SNC) natuber cu lo se é mais fre qüen te em crian ças com idade entreseis meses e seis anos, con tu do, pode ocor rer em qual quer idade.3

O tuber cu lo ma é uma lesão sóli da, gra nu lo ma to sa,rela ti va men te avas cu lar, geral men te envol vi da por umacáp su la, que pode ser única ou múl ti pla e de tama nhovaria do que cons ti tui um foco caseo so ou pro li fe ra ti voiso la do de tuber cu lo se. É mais comum em adul tos, per fazum per cen tual de 3% dos casos de neu ro tu ber cu lo se, epode ser visto em crian ças seguin do-se a um qua dro demenin goen ce fa li te. Nos paí ses em desen vol vi men to, ostuber cu lo mas repre sen tam 15% a 20% de todos os tumo -res cere brais.4,5 Ocasionalmente, após res pos ta ini cialsatis fa tó ria à tera pêu ti ca tuber cu los tá ti ca, esses sur gem,

geral men te nos três pri mei ros meses, devi do a um meca -nis mo ainda não escla re ci do. Acredita-se que seja secun -dá rio a acú mu lo de macró fa gos e lin fó ci tos em focosmicros có pi cos pré-exis ten tes, quan do o tra ta men to é ini cia do.6

Na faixa etá ria pediá tri ca, a inva são do SNC ocor reapós con tá gio pela via res pi ra tó ria e dis se mi na ção hema -to gê ni ca, poden do coin ci dir com a pre sen ça do com ple xopri má rio pul mo nar. Estudos de neu roi ma gem já mos tra -ram a pre sen ça de gra nu lo mas no cére bro de pacien tesneu ro lo gi ca men te assin to má ti cos.7

A sin to ma to lo gia da menin goen ce fa li te é com pos tapor perío do pro drô mi co de cerca de duas sema nas quecursa com febre, apa tia, dis túr bios do sono, dores abdo mi -nais e mial gia. A seguir, a crian ça evo lui com mani fes ta -ções neu ro ló gi cas mais espe cí fi cas, ini cian do, então, commenin gis mo, náu seas, vômi tos, alte ra ções sen so riais e decom por ta men to. Aproximadamente 30% delas apre sen -tam sinais neu ro ló gi cos focais. Comprometimento de ner -vos cra nia nos ocor re em apro xi ma da men te 25% dos casos,e hemi ple gia, hemi pa re sia e cri ses con vul si vas podemocor rer em 10% a 15%.8 As mani fes ta ções clí ni cas decor -ren tes dos tuber cu lo mas depen dem da loca li za ção des tes;em crian ças pre do mi nam as lesões infra ten to riais. Crisescon vul si vas e alte ra ções do campo visual ocor rem nostuber cu lo mas hemis fé ri cos, ata xia e hiper ten são intra-cra -nia na, nos de loca li za ção cere be lar, e sín dro me de ner voscra nia nos e com pro me ti men to de tra tos lon gos, nos tuber -cu lo mas loca li za dos no tron co cere bral.9

É impor tan te lem brar que houve con sen ti men to dospais da crian ça para publi ca ção deste rela to de caso.

CASO CLÍNICO

Identificação: V.L.L; 12a e 9m; feodérmica; sexo femi -ni no; natu ra li da de: Lajinha; resi dên cia: Lajinha, MG.História clínica: Criança pre via men te hígi da, até agos tode 2001, quan do apre sen tou epi só dio súbi to, rela ta do

* Preceptor adjunto da Residência de Neurologia Infantil do Centro Geral de Pediatria- FHEMIG;Neurologista Infantil do Hospital Gov. Israel Pinheiro (IPSEMG) e do Hospital Felício Rocho** Pediatra e Residente de Terapia Intensiva Pediátrica- FHEMIG*** Pediatra e Residente de Nefrologia- HC/UFMG**** Médico Residente de Pediatria do Centro Geral de Pediatria- FHEMIG

Centro Geral de Pediatria - FHEMIG

Endereço para correspondência:Rua Timbiras, 1958 aptº 12 CentroBelo Horizonte, MG CEP: 30140-061 E-mail: [email protected]

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pela mãe, de movi men ta ção invo lun tá ria da cabe ça, semperda da cons ciên cia, acom pa nha do de con tra ção demus cu la tu ra perior bi cu lar esquer da, com reso lu çãoespon tâ nea. Após três dias apre sen tou novo epi só dioseme lhan te ao ante rior, segui do por pares te sia de mãoesquer da, quan do, então, pro cu rou assis tên cia médi ca.Permaneceu em obser va ção hos pi ta lar na cida de de ori -gem por um dia, sendo, então, ava lia da por neu ro lo gis taem cida de vizi nha. Na his tó ria pre gres sa não havia infor -ma ções rele van tes, e a his tó ria fami liar era nega ti va paratuber cu lo se. A mãe rela ta va imu ni za ções atua li za das, con -tu do não apre sen tou car tão vaci nal e a crian ça tinha cica -triz de BCG de cerca de 5mm de diâ me tro trans ver sal.Realizado EEG em 05/09/01 que evi den ciou tra ça do comalte ra ção mode ra da gene ra li za da por dis fun ção cór ti co-sub cor ti cal difu sa, sendo ini cia do ácido val prói co(50mg/kg/dia). Encaminhada para Belo Horizonte, ondefoi rea li za da tomo gra fia com pu ta do ri za da (TC) de crâ nioem 04/10/01 que exi bia lesão expan si va fron to-têm po ro-parie tal direi ta (figu ra l), e res so nân cia mag né ti ca de crâ -nio (08/10/01): lesão expan si va intra-axial fron to pa rie taldirei ta (figu ras 2 e 3). Em 11/10/01 foi sub me ti da a cra -nio to mia fron to-parie tal direi ta com exé re se de somen tepeque na parte da lesão, visto que apre sen ta va con sis tên ciaamo le ci da. A pacien te rece beu alta hos pi ta lar após cincodias, em uso de pred ni so na (2mg/kg/dia) e feno bar bi tal(3mg/kg/dia). Uma sema na após a alta, evo luiu compares te sia sig ni fi ca ti va em mem bro infe rior esquer do,asso cia da a febre ele va da (39ºC), afa sia e para li sia facialcen tral à esquer da, quan do, então, foi orien ta da a pro cu -rar aten di men to no Centro Geral de Pediatria-FHE MIG,Belo Horizonte. Ao exame de admis são no CGP, apre sen -ta va-se hipo co ra da (+/4), dis cre ta rigi dez de nuca; AR:murmúrio vesicular fisio ló gi co sem ruí dos adven tí ciosFR:16 irpm; FC:80 bpm; SN: pupi las2+/2+, disar trialeve, hemi pa re sia, hiper re fle xia e refle xo cutâ neo plan tarindi fe ren te à esquer da, mar cha hemi pa ré ti ca, fundo deolho sem alte ra ções. A radio gra fia de tórax não evi den cia -va alte ra ções com pa tí veis com tuber cu lo se pul mo nar.Após infor ma ção de ter sido rea li za da cra nio to mia, foipro vi den cia do con ta to com hos pi tal onde fora feito opro ce di men to e obti do o resul ta do anato mopato ló gi co;macros co pia: " vários frag men tos irre gu la res e pardo-ama re la dos, medin do em con jun to 6,5 x 6,0 x 4,0 cm.Aos cor tes são sóli dos, bran ca cen tos, de con sis tên ciamacia," e à micros co pia: " inten sa rea ção infla ma tó ria gra -nu lo ma to sa (gra nu lo mas cen tra dos por célu las gigan tesdo tipo Langhans e envol vi dos por his tió ci tos epi te liói dese coroa exter na lin fo ci tá ria) em torno de exten sas zonas denecro se caseo sa. A pes qui sa de BAAR foi posi ti va, con fir -man do, assim, o diag nós ti co de menin gi te tuber cu lo saasso cia da a neu ro tu ber cu lo ma. A pacien te, após seis

meses de evo lu ção, com tera pêu ti ca em curso, ainda apre -sen ta va dis cre ta hemi pa re sia à esquer da. Atualmente, járeto mou suas ati vi da des esco la res com alguns sinais dedéfi cit de apren di za gem, sem demais inter cor rên cias.

NEUROTUBERCULOSE NA INFÂNCIA

Figura 1 - Tomografia computadorizada de crânio: lesão expansivafronto-têmporo-parietal-direita

Figura 2 - Ressonância magnética de encéfalo T1 sem contraste: lesãoexpansiva intra-axial fronto-parietal-direita

Figura 3 - Ressonância magnética de encéfalo T1 com contraste

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DISCUSSÃO

O qua dro clí ni co de envol vi men to do sis te ma ner vo sopela tuber cu lo se é bas tan te pleo mór fi co. Dessa forma, osexa mes com ple men ta res são de cru cial impor tân cia para odiag nós ti co. O exame do líqui do cefa lor ra qui dia no (LCR),não rea li za do nesse caso, mos tra carac te ris ti ca men te pleo ci -to se do tipo mista, mas com pre do mí nio lin fo ci tá rio,aumen to dis cre to dos níveis de pro teí na e bai xos teo res degli co se. A difi cul da de em se obser var o Micobacterium tuber -cu lo sis pelos méto dos dire tos resi de no fato de o LCR con terpou cos baci los, de 10 a 103/mm3. A uti li da de e efi cá cia dadetec ção de anti cor pos anti mi co bac té ria pelo antí ge no A-60no soro ou no LCR con sis te em poten cial auxí lio diag nós ti -co. Contudo, atual men te, a téc ni ca de PCR é o melhorméto do para detec ção pre co ce de menin goen ce fa li te tuber -cu lo sa. A pes qui sa de infec ção pré via ou tuber cu lo se con co -mi tan te pode ser útil, e estu dos recen tes têm docu men ta doposi ti vi da de do teste tuber cu lí ni co em 50% a 85% depacien tes de áreas endê mi cas e não endê mi cas.10 Entre 33%e 80% dos pacien tes com tuber cu lo ma apre sen tam evi dên -cias de tuber cu lo se à radio gra fia de tórax, entre tan to a his tó -ria de diag nós ti co pré vio de tuber cu lo se é obti da em menosde 50% dos casos.11

A ava lia ção por ima gem evi den cia como anor ma li da demais comum, nos casos de menin gi te, o real ce das menin gesna região da cis ter na basal ou na con ve xi da de.12

Os tuber cu lo mas podem ser visua li za dos, múl ti plos ouiso la dos e, pre fe ren cial men te, na jun ção cór ti co-sub cor ti cal.Na TC de crâ nio, estes apa re cem como lesões hiper den sas,que cap tam con tras te em sua peri fe ria (Figu ra 1), rara men tese cal ci fi cam ou são acom pa nha das de edema.13

O diag nós ti co dife ren cial deve ser feito com toxo plas mo -se, crip to co co se, sífi lis, abs ces sos pio gê ni cos, menin gi tes lin -fo mo no ci tá rias e car ci no ma to sas, neste caso, o exame do liquor mos tra célu las com carac te rís ti cas neo plá si cas.

As com pli ca ções mais fre qüen tes da menin goen ce fa li te/tuber cu lo ma com preen dem os infar tos isquê mi cos quepodem ocor rer em até 40% dos pacien tes, hidro ce fa lia em50% a 70%, além de hemi pa re sia/hemi ple gia, alte ra ções visuais, epi lep sia e atra so do desen vol vi men to neu rop si co -mo tor.14

A inter ven ção cirúr gi ca teria boa indi ca ção no sen ti do dese esta be le cer o diag nós ti co cor re to nos casos duvi do sos epara os casos em que o tuber cu lo ma apre sen ta loca li za çãocrí ti ca de modo a oca sio nar hidro ce fa lia obs tru ti va ou com -pres são do tron co cere bral.15

A tera pêu ti ca ins ti tuí da cor res pon de à reco men da da pelaOrganização Mundial de Saúde: nos pri mei ros dois meses ,uti li za-se associação de rifam pi ci na (20mg/kg/dia), iso nia zi -da (20mg/kg/dia), pira zi na mi da (35mg/kg/dia), asso cia da apred ni so na (2mg/kg/dia) com obje ti vo de pre ven ção de

fibro se menín gea e vas cu li te. Nos dez meses sub se qüen tes,man tém-se a asso cia ção de rifam pi ci na e iso nia zi da. A regres -são das lesões é bas tan te lenta e não sig ni fi ca, neces sa ria men -te, resis tên cia medi ca men to sa ou falta de ade rên cia ao tra ta -men to.16

A vaci na ção com BCG em recém-nas ci dos e crian ças debaixa idade reduz o risco de tuber cu lo se em mais de 50% doscasos. A pro te ção tem sido obser va da con tra a tuber cu lo se,prin ci pal men te con tra as for mas gra ves (menin gi te e miliar).Os índi ces de pro te ção con tra casos con fir ma dos por tes teslabo ra to riais, que redu zem a pos si bi li da de de erros de clas si -fi ca ção da doen ça, apre sen tam valo res mais acu ra dos da efi -cá cia do BCG e são supe rio res a 83%.17

Apesar da dis po ni bi li da de da vaci na BCG, da qui mio -pro fi la xia com iso nia zi da, de dro gas tuber cu los tá ti cas e detéc ni cas diag nós ti cas mais desen vol vi das, a mor ta li da de porneu ro tu ber cu lo se man tém-se em níveis ele va dos, varian do de20% a 50%.18 Conseqüentemente, é muito impor tan teincluir mos no diag nós ti co dife ren cial de doen ças infec cio sase de lesões expan si vas do sis te ma ner vo so cen tral a neu ro tu -ber cu lo se, devi do à sua inci dên cia e à pos si bi li da de de melho -ra do prog nós ti co com diag nós ti co e tra ta men to pre co ces.

SUMMARY

Related a cli ni cal case of a child, pre viously healthy, who eva -lua ted with unes pe ci fic neu ro lo gi cal mani fes ta tions. Thediag no sis obtai ned, after inter ven tio nist inves ti ga tion, wasneu ro tu ber cu lo sis. Instituted treat ment exto led by OMS,with good cli ni cal res pon se. The goal is adver ti se pedia tricsto add neu ro tu ber cu lo sis to dif fe ren tial diag no sis of infecc -tious disea ses and expan si ve lesions of cen tral ner vous system

Keywords: Neurotuberculosis; Intracranial tuber cu lo mas;Diagnosis/treatment

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NEUROTUBERCULOSE NA INFÂNCIA

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RESU MO

São rela ta dos três casos de pacien tes por ta do res de úlce ra de

Martorell refra tá ria ao tra ta men to con ven cio nal que obti ve ram

reso lu ção de suas lesões com o empre go de oxi ge no te ra pia

hiper bá ri ca. São dis cu ti dos tam bém os méto dos diag nós ti cos e

tera pêu ti cos dessa lesão.

Palavras-chave: Úlcera de Martorell; Úlcera de mem-

bros inferiores; Oxigênioterapia hiperbárica.

A ulce ra ção dolo ro sa, his to pa to lo gi ca men te carac te -ri za da como isquê mi ca, loca li za da nas extre mi da des dis -tais dos mem bros infe rio res de pacien tes por ta do res dehiper ten são arte rial sis tê mi ca é deno mi na da úlce ra de Martorell.

Foi obser va da pela pri mei ra vez por Hines em 1941e logo des cri ta por Martorell em 1945.1

A hiper ten são arte rial sis tê mi ca tem como órgãos-alvo: cére bro, cora ção, rins, reti nas e arté rias peri fé ri cas.As lesões pro vo ca das nas arte río las dos órgãos-alvo sãoas mes mas lesões das arte río las peri fé ri cas dos mem bros.Inicialmente ocor re vasoes pas mo, hiper tro fia e hiper -pla sia da cama da média, espes sa men to inti mal devi do àhiper pla sia do endo té lio e acú mu lo de mate rial hia li no.Todas essas trans for ma ções pro mo vem dimi nui ção daluz arte rio lar, pri van do os teci dos aju san tes de san gueem quan ti da des fisio ló gi cas. Para Martorell, a pre sen ça

NEUROTUBERCULOSE NA INFÂNCIA

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OXIGENOTERAPIA HIPERBÁRICA NO TRATAMENTO DA ÚLCERA DE MARTORELL:REVISÃO DA LITERATURA E RELATO DE TRÊS CASOS

HIPERBARIC OXIGENOTHERAPY IN TREATMENT OF MARTORELL’s ULCER: REVIEW OF THE LITERATURE AND THREE CASES REPORT

ROBERTO CARLOS DE OLIVEIRA E SILVA*; MARIA DO CARMO MAIA DE OLIVEIRA PERPETUO**; ETIENNE SOARES DE MIRANDA***

* Cirurgião Geral, Mestre e Doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de MinasGerais (FM-UFMG), Médico Hiperbarista** Médica Oncologista e Médica Hiperbarista*** Interno da FM-UFMGCentro Mineiro de Medicina Hiperbárica

Endereço para correspondência:Avenida do Contorno, 4747, sala 1715Funcionários, Belo Horizonte, MGCEP: 30.110-100Tel. 3344-6810; 3283-9667; 9107-8423E-mail: [email protected]