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Darwin, citado em Pedro Luzes (1983), foi o primeiro a demonstrar a importância das emo- ções no estabelecimento das relações interpesso- ais, com base na sua função de comunicação. As emoções, linguagem de base biológica, estão em estreita relação com os movimentos expressivos. Constituem um estado total que permite uma in- tercomunicação, nomeadamente, entre crianças e adultos. Darwin, citado em Pedro Luzes (1983), fala, não só, dos movimentos expressivos, mas tam- bém do reconhecimento desses movimentos, a propósito do que refere que não há dúvida que os animais reconhecem os apelos das suas crias que emitem sinais solicitadores do seu auxílio. Admite que o mesmo se passa com a espécie hu- mana em que os movimentos revelam intenções. Na sequência do trabalho de Darwin, citado em Pedro Luzes (1983), várias abordagens foram desenvolvidas para tentar delinear o papel das emoções nas relações interpessoais, nomeada- mente a psicanalítica. A presente análise de algu- mas abordagens vai cingir-se à relação precoce mãe-filho. 1. É O CHORO DO RECÉM-NASCIDO TEORICAMENTE IMPORTANTE PARA O MODO COMO FREUD CONCEBE A ORIGEM E FORMAÇÃO DO APARELHO PSÍQUICO? Embora, em toda a sua obra, Freud (1988) não se tenha debruçado muito sobre o período que antecede a fase edipiana, atribui ao choro do be- bé um papel importante na sua teoria. O recém-nascido apenas pode descarregar a sua tensão que surge da sua necessidade interna de manifestação difusa, casual das emoções, através de gritos, segundo o esquema reflexo que constitui a primeira estrutura do aparelho psíqui- co de Freud (1988). Sendo uma expressão de emoção, o choro é primeiro que tudo uma modificação autoplástica. Por outro lado, ele é entendido pelo meio como um sinal ao qual o meio responde (modificação aloplástica), permitindo uma experiência de sa- tisfação e aliviando a tensão. Deste modo, a des- carga adquire uma segunda função, a de comu- nicação. Forma-se uma nova estrutura do apare- lho psíquico, onde o significado existe ao nível elementar do sinal. Daí que Freud, citado por Anzieu (1979), veja, na utilização do grito do bebé como «sinal de sofrimento, a origem da compreensão mútua entre os seres humanos» (op. cit., p. 18). De algum modo, o choro medeia a experiência de necessidade e a experiência de satisfação alucinatória da necessidade; surge, aqui, o processo psíquico primário. 325 Análise Psicológica (2000), 3 (XVIII): 325-334 Sobre o choro: Análise de perspectivas teóricas ANA SOFIA CORREIA DOS SANTOS (*) (*) Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educa- ção da Universidade de Lisboa, Alameda da Universi- dade, 1649-013 Lisboa, Portugal.

Choro

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  • Darwin, citado em Pedro Luzes (1983), foi oprimeiro a demonstrar a importncia das emo-es no estabelecimento das relaes interpesso-ais, com base na sua funo de comunicao. Asemoes, linguagem de base biolgica, esto emestreita relao com os movimentos expressivos.Constituem um estado total que permite uma in-tercomunicao, nomeadamente, entre crianas eadultos.

    Darwin, citado em Pedro Luzes (1983), fala,no s, dos movimentos expressivos, mas tam-bm do reconhecimento desses movimentos, apropsito do que refere que no h dvida que osanimais reconhecem os apelos das suas crias queemitem sinais solicitadores do seu auxlio.Admite que o mesmo se passa com a espcie hu-mana em que os movimentos revelam intenes.Na sequncia do trabalho de Darwin, citado emPedro Luzes (1983), vrias abordagens foramdesenvolvidas para tentar delinear o papel dasemoes nas relaes interpessoais, nomeada-mente a psicanaltica. A presente anlise de algu-mas abordagens vai cingir-se relao precoceme-filho.

    1. O CHORO DO RECM-NASCIDOTEORICAMENTE IMPORTANTE PARA O

    MODO COMO FREUD CONCEBE A ORIGEM EFORMAO DO APARELHO PSQUICO?

    Embora, em toda a sua obra, Freud (1988) nose tenha debruado muito sobre o perodo queantecede a fase edipiana, atribui ao choro do be-b um papel importante na sua teoria.

    O recm-nascido apenas pode descarregar asua tenso que surge da sua necessidade internade manifestao difusa, casual das emoes,atravs de gritos, segundo o esquema reflexo queconstitui a primeira estrutura do aparelho psqui-co de Freud (1988).

    Sendo uma expresso de emoo, o choro primeiro que tudo uma modificao autoplstica.Por outro lado, ele entendido pelo meio comoum sinal ao qual o meio responde (modificaoaloplstica), permitindo uma experincia de sa-tisfao e aliviando a tenso. Deste modo, a des-carga adquire uma segunda funo, a de comu-nicao. Forma-se uma nova estrutura do apare-lho psquico, onde o significado existe ao nvelelementar do sinal. Da que Freud, citado porAnzieu (1979), veja, na utilizao do grito dobeb como sinal de sofrimento, a origem dacompreenso mtua entre os seres humanos(op. cit., p. 18). De algum modo, o choro medeiaa experincia de necessidade e a experincia desatisfao alucinatria da necessidade; surge,aqui, o processo psquico primrio.

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    Anlise Psicolgica (2000), 3 (XVIII): 325-334

    Sobre o choro: Anlise de perspectivastericas

    ANA SOFIA CORREIA DOS SANTOS (*)

    (*) Faculdade de Psicologia e de Cincias da Educa-o da Universidade de Lisboa, Alameda da Universi-dade, 1649-013 Lisboa, Portugal.

  • A imagem mnsica (de experincia de satis-fao), que permaneceu associada ao trao mn-sico da excitao da necessidade, investida pe-la energia psquica quando ocorre novamente aexperincia de necessidade. O aparecimento dapercepo a realizao do desejo. Esta imagemmnsica j no est relacionada com o registo dosom mas principalmente visual ou motora. Asatisfao uma auto-satisfao e no dependedo meio, como anteriormente. Aqui, j no esta-mos ao nvel do sinal mas est presente uma for-ma de simbolizao que corresponde associa-o entre imagem mnsica e a actividade instin-tiva. Nova complexificao surge com a articu-lao de traos verbais (representantes de pala-vras) representao das coisas, o que institui oprocesso secundrio. Mas, como comenta An-zieu (1976), o que fundamental reter queFreud descreve, como origem desta articulao,a articulao entre sons e percepes.

    Apartir da experincia de choro do beb, Freud,citado por Anzieu (1976), no s delinea, desde aorigem, a evoluo do funcionamento do aparelhointrapsquico como chega s instncias que oconstituem, segundo a sua conceptualizao.

    A referncia ao papel da me, neste processo, tnue na medida em que a me importanteenquanto possibilita a satisfao real da necessi-dade de alimento. Freud, citado por Spitz (1988)conceptualiza a relao me-filho como umarelao de dependncia original que a crianatem da pessoa que a alimenta, protege, cuida. Namedida em que Freud, citado por Spitz (1988),considera que as vivncias do recm-nascidoso experimentadas em conexo com funes vi-tais que servem ao propsito da auto preserva-o (op. cit., p. 22), a situao de alimentao a base do desenvolvimento psicolgico dorecm-nascido. Com isto, Freud, citado por Spitz(1988), marca a sua diferena de autores maisrecentes da relao me-filho, que referireiposteriormente.

    2. CONTRIBUTOS EMPRICOS PARA OESTUDO DO CHORO COMO UM DOSPRIMEIROS MODOS DE CONTACTO

    EMOCIONAL RECPROCO

    Spitz (1988) foi talvez o primeiro autor que

    estudou, experimentalmente, o nascimento dosafectos no beb.

    Para este autor (1988), no incio, existem esta-dos de tenso fisiolgica que, progressivamente,perdem o seu carcter difuso aparecendo entomanifestaes de desprazer mais especficas eestruturadas. O choro a expresso afectivamaior. Nesta altura, a criana reage de forma ar-caica, atravs de um reflexo, s sensaes vindasdo interior ou do exterior. No terceiro ms de vi-da ocorre uma mudana, surge a capacidade deassinalar as suas necessidades para o meio que arodeia, o que constitui uma manifestao activa,dirigida e intencional. Atravs do choro, que cor-responderia a um apelo, a criana sinaliza assuas necessidades.

    Anzieu (1979) salienta o facto das observa-es de Spitz, sobre o banho de falas em que acriana vive e sobre a constituio primitiva deuma cavidade olfactiva, tctil e sonora, que en-globa a me e o filho numa troca de sensaes,terem levado a considerar que a reproduo in-tencional em espelho, pelo adulto, de um somque a criana sabe articular, fundamental paraesta aceder a uma comunicao simblica.

    H j alguns anos que toda uma linha de in-vestigao tende a demonstrar que as emoesso a principal modalidade para estabelecer umacomunicao entre a criana e o adulto.

    Um dos meios preferenciais de transmisso daemoo, nas fases iniciais da vida, o meio vo-cal, que parte quer da me quer do beb.

    Vrias investigaes, nomeadamente as deWolff, citado por Pedro Luzes (1983), demons-tram empiricamente que os meios audio-fnicosso um dos primeiros modos de contacto emo-cional recproco me-criana. Wolff, citado porPedro Luzes (1983), discrimina quatro gritos dis-tintos apartir da terceira semana de vida: o gritode fome, clera, dor, e frustrao. Tambm, des-de a terceira semana aparece o grito de desampa-ro que, constituindo a primeira expresso emo-cional do tipo intencional, pretende chamar aateno. Desde a quinta semana o beb conseguedistinguir a voz da me de outras vozes mas ain-da no consegue distinguir a sua face de outrasfaces. A voz da me revela-se tambm o melhormeio de apaziguar os gritos. Rapidamente o bebcomea a discriminar o valor expressivo da in-terveno acstica do adulto. Parece, ento, queos bebs so, muito precocemente, sensveis ao

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  • feedback do ambiente. Esse feedback de natu-reza audio-fnica e diz respeito primeiramenteao choro e depois s vocalizaes. Deste modo, aaquisio da significao pr-lingustica (dochoro e depois do balbucio) precede a da signi-ficao infra-lingustica (das mmicas e gestos)(Anzieu, 1985).

    As experincias de Wolff, citado por PedroLuzes (1983), contradizem, de algum modo, acronologia apresentada por Spitz (1988), queassinala a primeira manifestao intencional aoterceiro ms. Wolff, citado por Pedro Luzes(1983), ao mostrar que o grito de desamparo (in-tencional) ocorre na terceira semana de vida,afirma a precocidade do papel activo do beb eafirma a reciprocidade deste sistema de comuni-cao audio-fnico me-beb.

    Todas estas experincias revelam capacidadesmuito precoces de audio e fonao nos recm-nascidos s quais as teorias psicanalticas nopodem ficar indiferentes. Torna-se, portanto,imprescindvel que as teorizaes avancem pa-ralelamente ao conhecimento emprico sobre ocomportamento do beb. o que se observa emalguns autores que preconizam a relao me-filho numa perspectiva psicodinmica, sobre osquais me vou pronunciar.

    3. A IMPORTNCIA DE ACOMODARTEORICAMENTE OS RESULTADOSEMPRICOS SOBRE O CHORO DO

    RECM-NASCIDO PARA CRIAR NOVASTEORIAS DA INTERACO ME-FILHO

    3.1. A proposta de Anzieu

    Anzieu (1985) refere a importncia de umacomunicao emocional de base sonora para aconstituio, numa fase muito precoce, do self,cuja forma primria seria a de um invlucrosonoro. Este self, constitudo por introjeco douniverso sonoro, seria uma cavidade psquicapr-individual dotada de um esboo de unidade ede identidade. Esta introjeco implica que ame faculte criana experincias audio-fnicasprimitivas de carcter emocional, mas com a par-ticipao da criana no sentido de receber ossons que esta produz, como o choro e o grito. Es-tas experincias, que Anzieu (1985) chama de

    banho sonoro ou espelho sonoro do self,prefiguram o eu-pele e a sua dupla face (para fo-ra e para dentro) pois que o invlucro sonoro composto de sons emitidos, alternadamente, pelobeb e pelo meio. A combinao desses sonsproduz: um espao-volume comum permitindouma troca bilateral, uma primeira imagem docorpo espacio-auditiva e uma ligao fusionalreal com a me sem a qual a ulterior fuso ima-ginria seria impossvel.

    Anzieu (1985) mostra a importncia do espe-lho sonoro na aquisio da capacidade de simbo-lizar. O beb introduzido no mundo de ilusoatravs daquele que, ao escut-lo, reveste o selfde uma harmonia. Em contrapartida, a crianarepete os sons e assim estimula-se a si prprio.

    3.2. A proposta de Winnicott

    Winnicott (1988) coloca o grito ao mesmo n-vel dos outros fenmenos transicionais. No en-tanto, o banho sonoro que a me proporcionaao beb que permite criar este mundo de iluso,que o beb comea a usar para fortalecer o seuself e iniciar o seu ego. Trata-se de uma zona in-termdia entre o erotismo oral e a verdadeira re-lao objectal que permite criana proteger-sede angstias de separao da me, atravs do ob-jecto transicional que representa o objecto daprimeira relao.

    Winnicott (1989) d particular nfase aos cui-dados maternais que define como as qualidades emodificaes da me que se adapta s necessida-des especficas do beb sobre o qual est centra-da. Esta sua posio mudou, de algum modo, aabordagem psicanaltica que at ento preconiza-va a importncia da relao de satisfao oral.

    Winnicott (1989) releva os cuidados mater-nais na medida que permitem que o beb desen-volva o seu potencial inato, atinja uma estrutura-o psquica e uma individualidade. Na sua opi-nio, fundamental que a me desenvolva umaatitude adequada aos comportamentos do beb.Assim, se numa primeira fase, de dependnciaabsoluta, a compreenso maternal das necessida-des do beb se baseia na empatia e na capacida-de de identificao com o beb, medida que obeb comea a diferenciar-se da me, essa com-preenso passa a estar baseada em qualquer coi-sa que indica a necessidade no beb, como ochoro. O choro adquire, assim, um papel funda-

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  • mental a partir desta fase, de comeo de diferen-ciao do beb da me. O choro, correspondendoa uma expresso de necessidades especficas,exige uma conduta activa na descoberta dassuas razes.

    Winnicott (1957) distingue quatro tipos dechoro: de satisfao, dor, raiva e tristeza que, dealgum modo, transmitem a evoluo do bebporque o seu aparecimento implica estruturaspsquicas progressivamente mais complexas.

    Assim, se o choro de dor ou de fome podeacontecer em qualquer ocasio desde o nasci-mento, a raiva aparece quando o beb est apto aconcatenar certos acontecimentos e uma reac-o directa frustrao. O medo, indicando a ex-pectativa de dor, significa que o beb elaborouideias prprias. A tristeza indicar algo muitomais complexo; significa que a criana j con-quistou o seu lugar no mundo e comeou assu-mir a sua responsabilidade em relao ao meio.

    3.3. A proposta de Bettelheim

    Bettelheim (1987) v no choro e na respostaapropriada e positiva da me a raiz do relaciona-mento e da comunicao no beb humano.

    Para Bettelheim (1987) fundamental que obeb se sinta activo. Da que refira que, horriosalimentares artificiais podem desumanizar o be-b e impedir a experincia sociabilizadora, namedida em que o impedem de sentir que as suaaces (choro) tm um efeito significativo emexperincias importantes da sua vida como a dealimentao. De facto, o choro do beb por ali-mento necessita de uma resposta imediata de sa-ciedade por parte dos outros, pois s assim esteter a experincia de agir sobre o meio, o quemarcar tentativas posteriores de aco auto-mo-tivada e o desenvolvimento de uma actuao re-cproca com os outros.

    O choro, como actividade espontnea e mes-mo casual do beb, reveste-se de grande impor-tncia na medida em que, quando respondidoconsistentemente, permite ao beb definir,gradualmente, a expresso das suas necessidades(atravs das quais actua) e posteriormente a dosseus sentimentos (atravs dos quais interage). Aimportncia de todo este processo para o desen-volvimento no pode ser subestimada.

    A perspectiva destes autores sobre a teoria da

    relao me-filho difere profundamente daperspectiva de Freud (1988). Seno vejamos:

    - O beb percebe o mundo desde os primeirosdias de vida. Ele j um ser activo e, porisso, no necessita unicamente de ser esti-mulado mas sim respondido. necessrioento que a me compreenda os sinais dobeb pois o seu desenvolvimento psicol-gico precoce, nomeadamente das competn-cias sociais, parece depender de quo apro-priada a resposta da me, desde os primei-ros momentos de vida. Esta posio diferedaquela que considera que o desenvolvi-mento nos primeiros tempos de vida de-pende de quo satisfeitas esto as necessida-des orais da criana.

    - Na perspectiva destes autores o eu no uma transformao do id em contacto com arealidade mas uma entidade que resulta deuma relao. Nesta relao, a me assumeum papel fundamental porque proporcionauma alimentao emocional e porquedesperta, recebe e elabora emoes do bebque tm a sua expresso no choro. A me ,nesta perspectiva, um objecto de relaoprimria.

    Como referi anteriormente, muitos autoresde interaco precoce fizeram do choro o objectoisolado das suas investigaes, em grande parteporque, privados do meio privilegiado da Psico-logia a linguagem foi necessrio, para com-preender o beb, atender a outros canais de co-municao de que as manifestao vocais, comoo choro, so exemplo.

    Estes estudos recorreram fundamentalmente metodologia de observao da Etologia que semostrou um meio eficaz de estudar o choro nobeb.

    3.4. A proposta de Brazelton

    O autor da interaco precoce que pretendomencionar Brazelton (1962). As investigaese as conceptualizaes deste autor sobre o choroprendem-se com a noo de estdio. Um dos es-tdios possveis em que o beb se pode encontrar o estdio de choro.

    Na perspectiva de Brazelton, citado por Go-mes Pedro (1985), quando o beb utiliza ochoro est a controlar as suas reaces s tenses

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  • endgenas e exgenas. Este um mecanismoimportante para o beb e representa a sua capa-cidade de se organizar. Segundo esta ideia, o es-tdio de choro um mecanismo de regulaoque o beb utiliza para descarregar toda a suaactividade e energia acumulada e que lhe d aoportunidade de passar a um estdio mais calmo(Lebovici, 1987).

    Do ponto de vista da interaco, o estdio re-presenta uma forma arcaica de comunicao en-tre o beb e a me. Assim, o estdio de choro po-de comunicar me a disposio do recm-nas-cido para a interaco e a necessidade de protec-o. Neste sentido, ele conduz rapidamente aoscuidados maternos, cuja regularidade e consis-tncia permitem ao beb criar elos entre o choroe o tipo de cuidados dispensados. A partir da, autilizao do choro conta com a capacidade deantecipao, pelo beb, da resposta da me.

    O choro pode ainda indicar a necessidade decortar o contacto com o ambiente.

    Brazelton (1981) enfatiza particularmente aideia de que o beb, atravs dos seus estdios,modula o ambiente. No fundo, quase que pode-ramos dizer que a funo faz o orgo na me-dida em que, a partir do momento em que o bebse adapta activamente ao seu potencial neurofi-siolgico (dispe e controla os seus estdios), ele capaz de o alterar e controlar consoante o seuobjectivo de interaco com a me.

    Combinando as diferentes propostas tericasdescritas, parece razovel afirmar que as opini-es destes autores sobre o choro reflectem pers-pectivas, ligeiramente, diferenciadas da interac-o me-filho.

    Hoje aceita-se que a me e o beb se influen-ciam mutuamente na relao. aqui, contudo,que as diferenas entre os autores, se estabele-cem:

    Anzieu (1976), Winnicott (1957) e Bettelheim(1987), autores da relao objectal, enfatizammais o papel activo que a me toma ao perceberas necessidades que o beb expressa e ao dar res-postas adequadas ao beb.

    Por outro lado, Brazelton (1989) privilegia opapel do beb na interaco e as suas competn-cias para interagir. Para ele o beb impe umritmo na relao, condicionando as aces dame. Outra diferena entre estes autores que,enquanto os primeiros procedem anlise dochoro e do seu papel na interaco numa pers-

    pectiva de desenvolvimento da personalidade,Brazelton (1962) investiga o choro na interaconuma perspectiva de intervir precocemente narelao me-filho e na adaptao da me scompetncias e caractersticas individuais dobeb.

    3.5. O choro um sinal de vnculo

    Continuando a pensar no choro do ponto devista relacional, e de um modo global, temos en-to que considerar dois elementos de anlise: porum lado, o choro algo de que a criana dispeprecocemente como seu recurso e com o qual en-tra na relao, por outro lado, o poder metafricodeste modo de expresso suscita um banho deafectos interrelacional (Lebovici, 1987) e ante-cipaes maternas desde o primeiro dia. A partirdesse momento, o choro ganha significado e to-ma aspectos diferentes com o objectivo de co-municar no contexto da interaco.

    Daqui pode-se dizer que, o beb que desen-volveu esta forma primria de expresso de car-gas emocionais e que a utiliza para comunicar o beb que estabeleceu, numa fase anterior, umarelao, um vnculo. O choro , pois, um sinal devinculao. Esta ideia suportada por vriasobservaes:

    1. Lucien Malson (1978), a propsito das cri-anas selvagens, observa que a sensibilida-de e a afectividade s muito lentamente sevo enriquecendo e que o choro no acon-tece seno passado muito tempo, a partir domomento em que so postas em contactocom pessoas;

    2. Por outro lado, um dos sintomas do autis-mo a ausncia de choro;

    3. Ainda, Bowlby e Spitz, citado por PedroLuzes (1983), quando falam da separaoda criana da me, observam que numa ter-ceira fase de desinteresse, desvinculao, acriana j no chora ou grita.

    Tambm, Murray (1979) descreveu dois mo-delos que conceptualizam o choro como elicita-dor de cuidados maternais:

    1. Num dos modelos, o choro visto comoum activador de emoes de natureza al-trusta ou egosta. O choro uma aco re-flexa involuntria ao sofrimento do beb e

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  • que cria sentimentos de desconforto noadulto. As emoes egostas suscitadas pe-lo choro levam a respostas de evitamentoou afastamento pela me no sentido de di-minuir o seu prprio desconforto (Frodi,Lamb, Leavitt e colaboradores, 1978). Asemoes altrustas, que pretendem reduziro desconforto do beb, conduzem a com-portamento de remoo, pela me, da causadesse desconforto. Este modelo tem comoquadro de referncia o modelo emptico deHoffman, citado por Frodi, Lamb, Leavitt ecolaboradores, 1978. Tomkins, citado porPedro Luzes (1983), quando na sua teoriase refere socializao do choro, apontaduas atitudes polarizadas que conduzem aduas aces opostas, face ao choro. Essasatitudes so: as punitivas, entre as quais es-to os castigos, os gritos, o deixar cho-rar, e as consoladoras que conduzem auma socializao positiva do choro. Defacto, o choro do recm-nascido humanogeralmente aumenta a proximidade e inves-timento do adulto (Ainsworth, 1969), mas aparentemente tambm desencadeador deriscos srios de abuso de crianas e mesmoinfanticdio (Frodi, 1981). Isto tem sidochamado o paradoxo do choro (Barr,1990), do qual se falar, em mais porme-nor, adiante.

    2. Num outro modelo, segundo um quadro dereferncia etolgico, o choro um sinal dedesconforto desencadeador de cuidadosadaptativos pela me. O choro protege oindivduo e ajuda a assegurar a sobrevivn-cia da espcie. Nesta perspectiva, encon-tram-se integrados os trabalhos de Bowlby(1984) e de Bell e Ainsworth (1972). ParaBowlby (1984), o choro um sistema com-portamental primitivo do recm-nascidopronto para ser activado por estmulos. Ochoro fornece as bases para o desenvolvi-mento ulterior do comportamento de apego. um comportamento de assinalamento cu-jo efeito o restabelecimento da proximi-dade da me em relao criana. SegundoSanders e Julia, citados por Lebovici(1987), os gritos formam o equivalente aum cordo umbilical acstico (op. cit., p.141). Este comportamento assegura a pro-teco contra os predadores e, na pers-

    pectiva de Murphy, citado por Bowlby(1984), confere ao beb a oportunidade deaprender com a me vrias actividades ne-cessrias sobrevivncia. Bell e Ainsworth(1972), acentuam o facto da resposta da fi-gura de apego, que elas definiram comosensibilidade maternal ao choro, permitir asua socializao e a introduo de varia-es na sua utilizao.

    Muitas investigaes recentes sobre o choroutilizam como quadro de referncia a teoria deapego de Bowlby (1984). Entre as quais esto ostrabalhos desenvolvidos por Eurico Figueiredo(1985). Este autor pressupe que o choro umaforma de comunicao especificamente dirigida figura de apego, e que a disponibilidade dame e qualidade da relao precoce determinama evoluo do grito para outras formas de comu-nicao mais intencionais. Utiliza ento uma si-tuao de separao me-filho, com bebs de 6,9, 12, 15, e 18 meses, que lhe permite concluirque a resposta do beb separao se desenvol-ve desde o grito automtico at aquisio dacapacidade de chorar, num processo de compen-sao interna. Enquanto que bebs mais novosreagem separao com gritos e respostas mo-toras intensas, mais tarde a reaco de chorocom inibio motora. Para Eurico Figueiredo(1985), esta capacidade de chorar corresponde,do ponto de vista do desenvolvimentos cogniti-vo, capacidade de conceptualizar os objectosinternamente, e do ponto de vista do desenvolvi-mento psico-afectivo, ao estabelecimento doattachment.

    3.6. Valor evolutivo do choro e suas repercus-ses na compreenso do choro do recm--nascido humano

    As vocalizaes solicitadoras de cuidadosno so limitadas aos bebs humanos. So co-muns em aves e em outras espcies mamferas, eocorrem ao longo da ordem primata (Newman,1985). Alguns autores tm-se preocupado em es-tudar o choro humano no contexto da teoria daevoluo, tendo em conta o valor deste sinal,evolutivamente (Godfray, 1991). Na opinio dealguns autores, a resoluo para o paradoxo dochoro pode estar ligada ao estudo deste sinalnuma perspectiva evolutiva. O paradoxo do

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  • choro tem suporte no facto do choro ser aparen-temente necessrio para o recm-nascido solici-tar cuidados mas poder resultar em reacespor parte dos adultos que tm impacto sobre asua oportunidade de sobrevivncia. Uma resolu-o para este paradoxo tem que explicar, quer osaspectos benficos das reaces dos adultos,quer os aspectos dessas reaces que reduzem ashipteses de sobrevivncia da cria. Zahavi(1975) e Grafen (1990) argumentam que o choropode constituir um sinal que comunica de formaeficaz a qualidade fenotpica de quem enviou osinal e, neste sentido, pode ter tido um papel po-tencialmente importante na evoluo do chorodo recm-nascido humano. Nas aves, os progeni-tores que avaliam, discriminativamente, a quali-dade fenotpica das suas crias antes de responders suas solicitaes podem evitar os custos, paraa sobrevivncia, de investir em crias inviveis.Godfray (1991), apresenta um modelo que pres-supe que existe algum tipo de critrio que per-mite que os progenitores avaliem o valor repro-dutivo das suas crias. Algumas espcies parecemter esses componentes de avaliao nos seus dis-positivos neonatais de solicitude (Lyon, Eadle &Hamilton, 1994; Bustamante, Cuervo & Moreno,1992). Nos seus estudos, alguns autores preocu-pam-se em avaliar predies feitas a partir da hi-ptese de que o choro do recm-nascido humanocontm, ele prprio, critrios que permitem aavaliao parental do valor reprodutivo das suascrias. Ou seja, possvel que a estrutura acsticadas vocalizaes de choro indique, de forma pre-cisa, a condio de um recm-nascido a chorar, e,assim, se correlacione com o seu valor reprodu-tivo intrnseco. Os padres de investimento e li-gao parental dependem de uma avaliao pre-coce do valor reprodutivo da cria (Daly & Wil-son, 1995), e estes autores propem que o choroconstitui uma importante fonte de informao,para os pais, das capacidades das crias, duranteeste perodo de avaliao. Existem muitos ind-cios comportamentais e fsicos da sade dascrias que esto disponveis para os pais (respira-o irregular, erupo, etc.), mas porque o choroenvolve aspectos neurolgicos, cardio-respirat-rios e vocais, que no so facilmente avaliadosatravs de uma erupo de pele, o choro pode re-velar informao sobre a estrutura interna e a in-tegridade fsica da cria. A seleco dever ter fa-vorecido respostas discriminativas a estes ndi-

    ces. Se assim , duas predies testveis tornam-se evidentes: os parmetros acsticos do choroestaro correlacionados com a condio fenotpi-ca da criana, e os parmetros relevantes do cho-ro estaro correlacionados com os comportamen-tos de investimento parental (ou com emoescomo hostilidade ou preocupao, que provavel-mente inspiram comportamentos como abusoou negligncia, ou investimento imediato).

    1. condio do beb e acstica do choro: Ochoro de crianas normais tem uma fre-quncia mdia aproximada de 300-600Hz(Furlow, 1997). Desde crianas com lesescerebrais, a crianas prematuras, asfixiadase desnutridas, baixas condies de sobrevi-vncia esto significativamente correlacio-nadas com um aumento significativo dafrequncia do choro (Frodi, 1985; Morley,Thornton, Cole, Fowler & Hewson, 1991).A frequncia do choro mais exclusiva-mente indicativa de doena sria do quesintomas tipicamente detectados pelos pe-diatras, incluindo uma mudana de respira-o ou da pulsao, ou temperatura, ou de-sidratao (Morley e colaboradores, 1991).A magnitude da anormalidade da frequn-cia do choro est correlacionada com amagnitude dos impactes na oportunidadede sobrevivncia da criana. Por exemplo,a severidade da anormalidade da frequnciaem crianas com meningite mais pronun-ciada em bebs mais tarde diagnosticadoscom sequelas neurolgicas. A frequnciado choro est tambm associada com odesenvolvimento cognitivo subsequente(Donzelli, Rapisardi, Moroni, Scarano, Is-maelli & Bruscaglioni, 1995). Aos 18 me-ses e aos 5 anos, as pontuaes de crianasem testes cognitivos foram previstas pelaanlise da frequncia do choro durante aprimeira infncia bebs com frequnciasde choro mais elevadas e variveis tinhampontuaes significativamente mais baixasem testes cognitivos dos que outras crian-as (Lester, 1987).

    2. Choro e reaces parentais: O choro re-conhecido em muitas culturas como um si-nal de sade na criana. Na tribo africanaIgbo, bebs que no chorem vigorosamenteso abandonados na floresta (Basden,

    331

  • 1966). Estudos laboratoriais sobre as reac-es dos adultos a choros gravados eviden-ciam uma reaco emocional negativa achoros de frequncia elevada, nas culturasocidentais (Crowe & Zeskind, 1992). Asreaces dos adultos ao choro so seme-lhantes apesar de diferenas na experinciaem cuidar de crianas, do sexo, da idade(Furlow, 1997). A resposta cardaca e os n-veis de conductabilidade da pele suportamos estados emocionais auto-relatados (Fur-low, 1997).

    Parece pois que o choro fornece informaosobre a sade da criana e pode servir como umndice importante de valor reprodutivo da criapara os pais. Os pais, por sua vez, reagem nega-tivamente a, pelo menos, um aspecto acsticocorrelacionado com baixo valor reprodutivo dascrianas a frequncia do choro. Se a medida deaverso, em laboratrio, indicadora das emo-es parentais face ao choro em ambientes natu-rais, parecer que crianas pouco saudveis po-dero sofrer de um investimento reduzido oumesmo de hostilidade parental. Contudo, uma li-mitao bvia destes estudos ter por base da-dos correlacionais, e com a excepo das reac-es emocionais s variaes acsticas do choro,a causalidade ser assumida em vez de estabele-cida empiricamente.

    Enquadrar o choro numa srie de modelostericos diferentes e, a partir dessas abordagens,discutir a sua importncia e funo no domnioda interaco me-beb foi o objectivo desteartigo. A capacidade de chorar parece correspon-der, do ponto de vista do desenvolvimento cogni-tivo, capacidade de conceptualizar os objectosinternamente, do ponto de vista do desenvolvi-mento psico-afectivo, capacidade de estabele-cer a vinculao, e o choro parece ser um sinalcomportamental carregado de valor evolutivo.Que essas conceptualizaes tericas possamevoluir acomodando os resultados das investiga-es experimentais, cada vez mais especifica-mente desenhadas para testar hipteses relacio-nadas com o choro do recm-nascido, o que sepretende de uma rea de estudo to promissora ecom um impacto to grande na compreenso dodesenvolvimento humano.

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    RESUMO

    O choro tem sido vastamente estudado como indi-cador de diagnstico de desordens de foro neurolgi-co. Contudo, os contributos dos tericos preocupadoscom a interaco me-beb sugerem, ainda que indi-rectamente, a importncia desta manifestao choro no contexto da relao entre o beb e uma figura pri-vilegiada. Lebovici sublinha, alis, a importncia dochoro neste contexto quando diz: basta imaginar oque seria a tarefa dos pais na ausncia dos gritos: elesdeveriam ento adivinhar quando o beb tem fome,quando ele est sujo, e quais so as suas diversas ne-cessidades e desconfortos. Em definitivo, uma situaono primeiro contacto mais calma e menos ansiognea,seria uma realidade mais preocupante, pois ento elaconstrangeria os pais a se interrogarem quase de ma-neira permanente sobre o estado do beb. (Lebovici,1987).

    Esta reflexo eminentemente terica, que desenvol-vo, procura enquadrar o choro numa srie de modelostericos diferentes e, a partir dessas abordagens, discu-tir a sua importncia e funo, no domnio da interac-o me-beb.

    Palavras-chave: choro, interaco me-beb.

    ABSTRACT

    Infant crying has been vastly studied as a diagnosticindicator of neurologic disorders. However, contribu-tes from mother-infant interaction theory suggest,

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  • even though indirectly, the value of this manifestation crying in the context of the mother-infant relation-ship. Lebovici underlines the importance of crying inthis context when he says: it is enough to imaginewhat would be the parents task without infant crying:they would have to be constantly guessing when thebaby is hungry, when he is dirty, and what are his va-rious needs and discomforts. Undoubtedly, a morecalm and less anxious situation, at first view, would be

    a more preoccupying reality, because it would cons-train parents to be permanently interrogating themsel-ves about the baby condition. (Lebovici, 1987).

    The present theorical reflection attempts to frameinfant crying in different theorical models and, fromthose approaches, to discuss its value and function, inmother-infant interaction domain.

    Key words: infant crying, mother-child interaction.

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