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Centro Integrado de Estudos e Pesquisa do Homem (CIEPH) O Problema do Tabagismo, seu Enfoque e Tratamento sob o Ponto de Vista da Medicina Tradicional Chinesa Fábio Casagrande do Nascimento Florianópolis 2008

Centro Integrado de Estudos e Pesquisa do Homem · Centro Integrado de Estudos e Pesquisa do Homem (CIEPH) O ... e suas alterações ... Só há uma energia que é a matéria fundamental

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Centro Integrado de Estudos e Pesquisa do Homem

(CIEPH)

O Problema do Tabagismo, seu Enfoque e Tratamento sob o Ponto de Vista da Medicina

Tradicional Chinesa

Fábio Casagrande do Nascimento

Florianópolis

2008

ii

Orientador:

Kris Artiero

iii

Avaliadores:

Kris Artiero

Marcelo Fábian Oliva

Tátila de Souza Barcala

iv

Agradecimentos:

Agradeço aos meus pais Edevaldo e Neiva, que sempre estiveram ao meu lado, me

incentivando, a minha tia Neida por todo o apoio, a minha esposa Lilian, pela paciência e

companheirismo durante todos os meses que tive que me ausentar para estar dando

continuidade ao meu sonho de pós-graduação em acupuntura e massoterapia chinesa e ao

meu orientador Kris, que me auxiliou na construção deste trabalho.

v

Sumário

1. Introdução

1.1 O Problema e a Relevância

2. Objetivo

3. Definições e Termos

3.1 Tao

3.2 Yin Yang

3.3 Medicina Tradicional Chinesa

3.4 Os 5 Elementos

3.5 Qi

3.6 Sangue

3.7 Zang Fu

3.8 Acupuntura

3.9 Tuina

3.10 Tabagismo

4. Revisão Bibliográfica

4.1 Epidemiologia

4.2 Tabagismo e Efeitos Fisiológicos

4.3 Tabagismo e Psicopatologias

4.3.1 Tabagismo e Depressão

4.3.2 Tabagismo e Esquizofrenia

4.3.3 Tabagismo e Ansiedade

4.3.4 Tabagismo e Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC)

4.3.5 Tabagismo e Transtorno de Pânico

4.4 Tabagismo e Acupuntura

5. Enfoque pela Medicina Tradicional Chinesa (MTC)

5.1 Patologia

5.2 Padrões de Desarmonia Envolvidos no Consumo de Tabaco

5.2.1 Fígado

5.2.2 Pulmão

vi

5.3 Tratamentos Sugeridos na Bibliografia

6. Metodologia

6.1 População e Amostra

7. Conclusão

8. Bibliografia

1

1. Introdução

1.1 O Problema e a relevância.

O tabagismo é um relevante problema de saúde pública em todo o mundo. Estima-se que

1/3 da população mundial adulta (1 bilhão e 200 milhões de pessoas) seja fumante, e que

de toda a população masculina, 47% seja tabagista, enquanto na população feminina este

índice é de 12%. A mortalidade mundial por doenças tabaco-associadas está em torno de

4,9 milhões de mortes por ano, o que representa 10 mil mortes por dia. Acredita-se que

em 2030, caso a atual progressão epidemiológica se mantenha, poderá haver 10 milhões

de mortes por ano, sendo a metade dela em indivíduos produtivos.2

O tabagismo é a causa mais comum de morte evitável. São 140 mil mortes evitáveis por

ano, considerando apenas aquelas associadas às doenças cardiovasculares. O fumo é fator

de risco para as quatro principais causas de morte em todo o mundo, entre elas, doença

cardíaca e pulmonar obstrutiva crônica, câncer e acidente vascular cerebral. Além disso, é

fator de risco independente para doença arterial coronariana. A presença de fumo

associado a outros fatores de risco aumenta em oito vezes os riscos coronarianos.2

A dependência da nicotina, por trazer graves conseqüências à saúde e gerar um alto custo

social, tem sido apontada como um dos principais problemas de saúde pública.16

O envelhecimento é caracterizado, dentre outros fatores, pelo aumento progressivo da

concentração de cálcio nas paredes das artérias, que por sua vez é aumentado pela

diabetes mellitus, osteoporose, hipertesão arterial e tabagismo. Quanto a esse último,

experimentos em animais tem mostrado que a nicotina pode aumentar a concentração de

cálcio na nas paredes das artérias, e estudos clínicos tem demonstrado que a nicotina

induz a vaso constrição periférica, com o conseqüente aumento dos níveis de pressão

sanguínea.11

No início da década de 1950 os trabalhos da literatura demonstraram, pela primeira vez,

que o aparecimento do câncer de pulmão estava relacionado ao tabagismo. Desses

trabalhos, o mais importante foi o de Doll & Hill, que além de evidenciar a associação

2

tabaco-câncer de pulmão, demonstrou a correspondência entre o aparecimento da

neoplasia do pulmão e a carga tabágica consumida.3

Atualmente não restam dúvidas quanto à capacidade carcinogênica do tabaco, e é

reconhecida uma epidemia mundial de doenças relacionadas ao tabagismo.3

O fumo causa danos em praticamente todos os órgãos do corpo humano. Além do

impacto sobre os cânceres do pulmão, boca e esôfago, o cigarro aumenta as chances de

leucemia, cataratas, pneumonias em não portadores de DPOC, cânceres de pâncreas, colo

de uterino, bexiga e rim.3

O fumo é fator de risco para as 4 principais causas de morte em todo o mundo: a doença

cardíaca e pulmonar obstrutiva crônica, câncer e acidente vascular cerebral.2

O Painel de Consenso Sobre Acupuntura dos National Institutes of Health (NIH) dos

EUA (1998) afirma que a acupuntura "pode ser útil como um tratamento coadjuvante, ou

alternativa aceitável, ou parte de um programa abrangente" na terapia da adição a drogas,

incluindo a dependência da nicotina. Segundo o Consenso de Abordagem e Tratamento

do Fumante do Ministério da Saúde (2001), "até o momento atual não existem evidências

científicas suficientes para comprovar a eficácia" da acupuntura e de outros métodos

como aromaterapia e hipnose. Assim, a acupuntura "não é recomendada como o método

de escolha para a cessação de fumar", mas poderá ser usada "caso seja de escolha dos

pacientes e desde que não existam contra-indicações para o seu uso". 1

Conforme exposto acima, no presente estudo, sob revisão bibliográfica, buscaremos

apresentar a Acupuntura e o Tuiná como tratamento principal ou mesmo coadjuvante ao

tabagismo.

3

2. Objetivo

Estudar as informações concernentes a acupuntura e tuiná no tratamento de tabagistas.

Promover sugestões de tratamento à tabagistas para redução e conseqüente retirada do

uso de tabaco e seus derivados.

4

3. Definições e Termos

3.1 Tao

O princípio básico de todo o universo.20

Tao é o começo e o fim, vida e morte.20

3.2 Yin Yang

Yin e Yang estão contidos no Tao.20

Chama-se Yin Yang a reunião das 2 partes opostas quem existem em todos os fenômenos

o objetos em relação recíproca no meio natural.12

O Su Wen declara: O Yang é o puro céu, o Yin turvo é a terra. O Qi da terra, sobe como

nuvem, o Qi do céu desce como chuva.12

Todos os fenômenos do universo encerram os dois aspectos opostos do Yin e do Yang,

como o dia e a noite, o tempo claro e o tempo sombrio, o calor e o frio, a atividade e o

repouso. Tudo é constituído pelo movimento e a transformação dos dois aspectos Yin e

Yang.12

3.3 Medicina Tradicional Chinesa

Por medicina tradicional chinesa entendemos a teoria e prática da medicina chinesa

disseminada no Oriente e no Ocidente. Pode-se dizer que ela é uma continuidade da

medicina clássica chinesa, embora com novas formulações que, no entanto, não

descaracterizaram totalmente a primeira vertente.19

5

3.4 Os 5 Elementos

A teoria dos 5 elementos considera que o universo é formado pelo movimento e a

transformação dos 5 princípios representados por: Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água.

Desde as origens, considera-se que esses 5 princípios tem entre eles relações constantes:

eles se originam reciprocamente e são condicionados uns pelos outros. Seus movimentos

e suas alterações incessantes realizam um ciclo ao longo do qual, eles se sucedem

continuamente, daí sua segunda denominação: Os 5 Movimentos. 12

3.5 Qi

Só há uma energia que é a matéria fundamental que constitui o universo, e tudo no

mundo é o resultado de seus movimentos e transformações.12

Para o homem, microcosmo no macrocosmo, só existe um Qi que é a raiz dele.12

Esse Qi se apresenta de dois modos:

O Qi participando na formação dos elementos constitutivos do corpo e permitindo à vida

de se manifestar. É ele representado seja pela “essência”, por exemplo, o Qi da respiração

(Qi do céu), de natureza Yang, seja pela “substância”, por exemplo, o Qi da alimentação

(Qi da terra) de natureza Yin.12

O Qi constituído pela atividade fisiológica dos tecidos orgânicos, por exemplo, o Qi dos

órgãos, o Qi dos vasos.12

Esses dois aspectos do Qi tem relações recíprocas, o primeiro é a base material do

segundo, o segundo é a manifestação da atividade do primeiro.12

6

3.6 Sangue (XUE)

O sangue é o fruto da transformação da essência dos alimentos (Jing Qi) pelo Baço e o

Estômago. Segundo o Ling Shu: “O Aquecedor Mediano recebe o Sopro, retira o suco,

após transformação, eles erubessem, é o Sangue do Estômago.12

3.7 Zang Fu

O termo Zang Fu designa o conjunto das vísceras do corpo humano e abrange na

realidade 3 categorias de vísceras bem distintas:

As Zang que chamamos “Órgãos” e as Fu que se dividem em “Vísceras” e “Vísceras de

comportamento particular”.12

As 5 Zang são: Coração, Fígado, Baço, Rim e Pulmão.12

As 6 Fu são: Intestino Delgado, Estômago, Intestino Grosso, Bexiga, Vesícula Biliar e

Triplo Aquecedor.12

As 5 Fu de comportamento particular são: Cérebro, Medula, Ossos, Vasos e Útero.12

3.8 Acupuntura

É o nome ocidental dado ao procedimento ou à prática terapêutica chinesa que trata

disfunções ou promove analgesia através da inserção de agulhas em pontos específicos do

corpo, localizados em canais energéticos chamados de meridianos. A palavra

“acupuntura” é formada das palavras latinas acus, que significa “agulha”, e pungere, que

significa “picar” ou “inserir”.20

7

3.9 Tuiná

É o nome ocidental pelo qual é conhecida uma arte de massagem terapêutica chinesa.

Massagem terapêutica usada para harmonizar a energia essencial do corpo entre o Yin e o

Yang.13

O Tuiná é composto de técnicas manuais vigorosas, onde o terapeuta usa seus dedos,

mãos, punhos, cotovelos, antebraços e joelhos nos Pontos de Acupuntura e nos

Meridianos. As técnicas disponíveis também podem abranger manipulações articulares e

incluem outros recursos acessórios, como a ventosaterapia, a moxabustão, a sangria e

auriculoterapia.14

3.10 Tabagismo

O tabagismo é o ato de se consumir cigarros ou outros produtos que contenham tabaco,

cuja droga ou princípio ativo é a nicotina. 18

Uma toxicomania caracterizada pela dependência psicológica do consumo de tabaco.15

8

4. Revisão Bibliográfica

4.1 Epidemiologia

No Brasil, 1/3 da população é fumante (27,9 milhões de pessoas), sendo 60% do sexo

masculino e 40% do sexo feminino. A mortalidade por doenças tabaco-associadas está

estimada em 200 mil mortes ao ano. Entre as regiões brasileiras, o Sudeste ocupa o

primeiro lugar no ranking do tabagismo, com 42% de seus habitantes fumantes. Na

região Nordeste, o índice de fumantes é de 31%, e apesar de não ser o maior do país, é

considerado elevado.2

A faixa etária com maior prevalência de fumantes no Brasil é dos 20 aos 49 anos. A

proporção de homens é maior em todas as faixas etárias quando comparado às mulheres.

Entretanto, nos últimos anos, o percentual de mulheres vem aumentando. Observa-se

também aumento significativo do uso de tabaco nas faixas etárias mais jovens.2

É importante salientar o aumento da precocidade do uso do tabaco no país. Estudos

apontam que na faixa etária dos 10 aos 12 anos, aproximadamente 11,6% dos jovens já

experimentaram cigarro. Deve-se atentar também, para o aumento de fumantes entre 12 e

24 anos. Entre 1991 e 1997 houve aumento de 32% no índice de fumantes nesta faixa

etária, o que resultou num índice de 33% de jovens fumantes em 1997. O crescimento do

uso do cigarro por jovens é fomentado pela aceitação social, legalização comercial e

precocidade no início do hábito de fumar, culminando com o desenvolvimento de

doenças tabaco-relacionadas entre pessoas jovens e adultas, economicamente ativas.2

O tabaco, de acordo com a Organização Mundial de Saúde e a Health Evidence Network

(2003), é uma das principais causas evitáveis de mortes ocorridas prematuramente no

mundo.7

9

4.2 Tabagismo e Efeitos Fisiológicos

O fumo de tabaco contém mais de 4 mil substâncias, muitas delas tóxicas.4

A nicotina, um dos principais componentes do cigarro, induz altos índices de tolerância

(necessidade de doses progressivamente maiores para obter o mesmo efeito) e

dependência (desejo de consumi-la) por agir nas vias dopaminérgicas do sistema

mesolímbico, diminuindo a atividade do tálamo. Assim como outras drogas psicoativas,

ela libera dopamina no nucleus accumbens, localizado no mesencéfalo, estimulando a

sensação de prazer e "recompensa". Vencido o desconforto provocado pelas primeiras

tragadas do tabaco (mal-estar, tontura, náuseas), o fumante passa a experimentar uma

sensação prazerosa pelo uso da nicotina.1

Freedman assinala que o tabagismo possue influencia negativa os níveis de triglicérides e

colesterol, e por esse aumento eleva os riscos de ataques do coração. É biologicamente

plausível que um significativo aumento da pressão arterial se acompanhe a inalação de

cada cigarro, e que esse efeito se mantenha por um longo tempo nas pessoas que fumam,

o que demonstra a inexistência de tolerância do organismo ao estímulo da nicotina

produzido sobre a atividade do sistema nervoso simpático encarregado da vasoconstrição

que por sua vez, conduz ao aumento da pressão arterial.4

As doenças cardiovasculares estão entre os problemas mais importantes para a medicina

hoje em dia, e o tabagismo e a obesidade estão entre os principais fatores de risco.5

Temos como um dos fatores de risco para o carcinoma hepatocelular (CHC), uma das

lesões neoplásicas mais comuns, com elevadas incidências na África e Ásia, o

tabagismo.6

No Brasil, de cada 100 pessoas que morrem de câncer no pulmão, 90 são fumantes, sendo

o fumo responsável por 85% das mortes por doença broncopulmonar obstrutiva crônica e

por 25% das mortes por doenças cardiovasculares.7

No que tange especificamente o público feminino, particularmente com relação à saúde

reprodutiva feminina, os riscos e danos do uso do tabaco têm sido bem documentados nas

últimas décadas, e incluem desde problemas fetais devido à insuficiência útero-

placentária relacionada à nicotina até distúrbios difusos da imunidade, que resultam num

10

maior risco de abortamento entre mulheres tabagistas. Outros efeitos do tabaco na saúde

da mulher que foram relatados em artigos referem-se, entre outros, à antecipação na idade

da menopausa e o aumento no risco de doenças cardiovasculares diversas, sobretudo

quando há associação entre o uso de tabaco e de pílulas anticoncepcionais. Apesar de a

gravidez estimular a incorporação de hábitos mais saudáveis de vida, incluindo a

cessação do tabagismo, a ocorrência de recaídas é alta, sobretudo depois do parto. 17

4.3 Tabagismo e Psicopatologias

4.3.1 Tabagismo e Depressão

A bibliografia denota forte associação entre tabagismo e transtornos depressivos. Em

especial, destaca-se a relação entre consumo de tabaco e depressão maior.8

Está comprovado que a probabilidade de abandono do tabagismo é reduzida em pacientes

com transtornos de depressão. Sabe-se que fumantes com histórico de depressão correm

mais risco de recaídas durante o período de abstinência, em comparação a fumantes sem

o mesmo histórico. Nos fumantes com histórico de transtornos depressivos, a cessação do

tabagismo é fator de risco para a manutenção do quadro clinico ou o desenvolvimento de

novo surto depressivo.8

A literatura apresenta diferentes hipóteses acerca da natureza dessa associação. O

tabagismo pode, por exemplo, auxiliar na “automedicação” de sentimentos de tristeza ou

humor negativo. Ou seja, os níveis de depressão podem influenciar, em uma relação de

causalidade direta, os níveis subseqüentes de consumo de tabaco.8

Tem-se ainda a hipótese de que, mais do que uma relação unidirecional, tabagismo e

depressão podem influenciar-se reciprocamente. Por exemplo, alguns fumantes

deprimidos podem fumar para aliviar seus sentimentos negativos e, por conseguinte, uma

vez que a nicotina tem esse efeito desejado, o tabagismo para esses indivíduos é

reforçado positivamente. Contudo, sob a cessação do consumo, fumantes com histórico

11

depressivo podem ter aumentado seu risco de desenvolver novo episodio depressivo, o

que pode aumentar sua predisposição às recaídas. Finalmente, uma quarta hipótese vem

sendo apresentada por alguns estudiosos: mais do que uma relação causal entre depressão

e tabagismo, uma série de variáveis comuns, ou altamente correlacionadas (como por

exemplo, fatores genéticos e psico-sociais), contribui para a expressão de

ambos(tabagismo e depressão).8

4.3.2 Tabagismo e Esquizofrenia

Levantamentos efetuados nos EUA nas duas últimas décadas demonstraram que a

prevalência de tabagismo em portadores de esquizofrenia tende a ser mais elevada em

relação à população em geral e também em comparação a outras populações

psiquiátricas.8

A bibliografia sugere que uma variedade de mecanismos pode mediar essa associação. O

consumo de tabaco pode ser reflexo de processo de institucionalização, tédio e baixo

controle dos impulsos dos portadores dessa doença. Esquizofrênicos relatam que fumar

produz relaxamento, reduz a ansiedade e os efeitos colaterais de medicações.8

O consumo de tabaco pode ainda melhorar a concentração, reduzir a hiperestimulação

desagradável experimentada por esquizofrênicos e promover um dos poucos prazeres

disponíveis para muitos portadores da doença. Além disso, se os efeitos da nicotina em

populações não portadoras de distúrbios forem generalizáveis para populações

esquizofrênicas, é possível ainda que a nicotina reduza os sintomas esquizofrênicos

negativos, tais como apatia, tédio e as emoções da síndrome de abstinência, e que ao

mesmo tempo melhore os processos de atenção e concentração.8

12

4.3.3 Tabagismo e Ansiedade

Numerosos trabalhos publicados nas duas últimas décadas revelam associação entre

tabagismo e ansiedade/transtornos de ansiedade. Contudo, muitos autores afirmam que as

evidências dessa relação ainda são bem menos consistentes, em contraste com a relação

tabagismo – depressão.8

4.3.4 Tabagismo e Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC)

Alguns autores sugerem uma associação inversa entre consumo de tabaco e TOC. Há

indícios de que a prevalência de tabagismo é menor em portadores desse transtorno em

relação à população em geral e em comparação a outras populações psiquiátricas.8

Discute-se a hipótese de que o baixo consumo de tabaco em portadores de TOC possa ser

o reflexo de um fator genético subjacente, possivelmente relacionado aos sistemas

serotonérgico e colinérgico. A bibliografia sobre personalidade e tabagismo revela que

traços de personalidade, como comportamento impulsivo e de risco, extroversão,

comportamentos não-convencionais e tendências anti-sociais, são relacionados ao

consumo de tabaco e precedem a iniciação do hábito. Coincidentemente, muitos desses

traços de personalidade são raros em portadores de TOC, o que poderia explicar a baixa

prevalência de tabagismo em portadores dessa perturbação.8

4.3.5 Tabagismo e Transtorno de Pânico

A partir de meados da década de 1980, a relação entre tabagismo e ataques de

pânico/transtorno de pânico (TP) passou a despertar a atenção de alguns estudiosos. Nas

13

duas últimas décadas, o assunto foi objeto de numerosas publicações, que demonstram

indícios de associação entre tabagismo e essa perturbação psiquiátrica.8

O cômputo geral das pesquisas denota associação entre consumo de tabaco e pânico e

sugere a possibilidade de que o tabagismo seja fator de risco para o aparecimento do

problema. No entanto, os mecanismos responsáveis por essa associação ainda não estão

completamente elucidados. Análises exploratórias sugerem que doenças pulmonares

decorrentes do consumo de tabaco (como bronquite e enfisema) podem constituir-se em

um dos mecanismos ou elos entre tabagismo e TP. Aumentando o risco para doenças

pulmonares, o tabagismo pode indiretamente aumentar o risco de ataques de pânico.

Além disso, estudos adicionais afirmam que é de considerável interesse o fato de que

diversos estudos anteriores indicaram que "respiração deficiente" (impaired respiration)

pode estar associada a transtornos de ansiedade, como pânico, agorafobia e ansiedade

generalizada, mas não à ansiedade social e ao TOC.8

4.4 Tabagismo e Acupuntura

He et al. (2001) acompanharam 46 adultos que fumavam 10 ou mais cigarros por dia,

dividindo-os em dois grupos. O grupo de estudo foi submetido à eletroacupuntura,

auriculoacupuntura e auriculoacupressura (técnica manual, sem uso de agulhas) durante

três semanas. Os pontos estimulados correspondiam aos pulmões, vias aéreas e boca. Os

indivíduos do grupo controle foram submetidos à acupuntura com estimulação de pontos

relacionados ao sistema músculo-esquelético, supostamente sem influência nos órgãos

afetados pelo fumo. Dentre os pacientes do grupo de estudo, 32% abandonaram o fumo,

contra 23% do grupo controle. O desejo de fumar reduziu-se em ambos os grupos, porém

o sabor do tabaco piorou significativamente entre as pessoas submetidas à acupuntura.

Segundo os autores, os mecanismos de ação da acupuntura no tratamento do tabagismo

permanecem obscuros, mas é possível que a técnica reduza o paladar para o tabaco, com

a conseqüente diminuição do desejo de fumar.

14

Ainda não há evidências suficientes de que a acupuntura seja eficaz no tratamento da

dependência da nicotina, mas vários pacientes sentem-se melhor ao fazê-la durante a

abstinência do fumo.1

15

5 Enfoque pela Medicina Tradicional Chinesa (MTC)

Pode-se descrever o vício do tabagismo primariamente como uma alteração adquirida,

pelo consumo (inalação) crônico de tabaco e seus derivados, tanto pelo órgão Pulmão

(Fei), onde o mesmo, que é particularmente o responsável pela regência do Qi e

direcionamento da respiração, tem com o contato primário do tabaco que se dá no seu

interior, gradualmente suas funções enfraquecidas; como pelo orgão Fígado (Gan), que

acaba entrando num ciclo, onde na ausência do consumo de tabaco, ocorre o

aparecimento de alterações que acarretam tanto uma desarmonia à nível do ciclo dos 5

elementos, onde há o aparecimento de uma contra-dominância por parte da Madeira

sobre o Metal, quanto ao seu nível de orgão por si só, onde há o comprometimento da sua

função de “aplainar e assegurar a regulação do Qi”, mais especificamente na direção que

rege os sentimentos, que também são induzidos a uma desarmonia. Estabelecendo-se

assim uma necessidade e dependência de consumo, para uma re-harmonização das

funções previamente alteradas.

5.1 Patologia

Temos dois órgãos que dão origem aos sinais e sintomas referentes à desarmonia

proveniente do consumo crônico de tabaco pela MTC, são eles o Fígado e o Pulmão, que

por sua vez possuem seus próprios padrões de alteração.9

Por uma maneira indireta, uma insuficiência energética a nível de P (Me), que equilibra a

ação de F (Ma) através do ciclo de criação dos 5 elementos, pode acarretar num aumento

de energia deste último.

16

5.2 Padrões de Desarmonia Envolvidos no Consumo de Tabaco

5.2.1 Fígado

a. Estagnação do Qi do Fígado.

De longe, o padrão mais comum do Fígado e também um dos padrões mais comuns de

modo geral, apresenta diversas manifestações clínicas diretas associadas a esse padrão

quando do uso de tabaco, tais como: melancolia, depressão, estado mental instável,

estado temperamental, tristeza, e “sensação de agitação”; além de outras manifestações

indiretas.

Alterações emocionais são sua causa mais importante.

b. Ascendência do Yang do Fígado.

Também se apresentando em decorrência à alterações emocionais. Apresenta como

manifestações clinicas quando relacionadas so consumo de tabaco, boca e garganta secas,

insônia, irritabilidade e sensação de exaltação.

5.2.2 Pulmão

c. Deficiência do Qi do Pulmão.

Dentre as causas dessa desarmonia, a que remete ao tabagismo é o ataque de Vento-

Calor, apresentando, por conseguinte, como manifestações clinicas, dispnéia, tosse,

propensão a gripes e cansaço.

d. Deficiência do Yin do Pulmão.

Nos moldes do consumo de tabaco, esse padrão pode desenvolver-se a partir de uma

Deficiência do Qi do Pulmão prolongada ou mesmo a partir de uma condição de secura

17

no Pulmão. Apresenta como manifestações clinicas: tosse (seca ou com pouco

expectoração pegajosa, expectoração com sangue, insônia, boca e garganta secas, voz

rouca e prurido na garganta.10

5.3. Tratamentos Sugeridos na Bibliografia

Descreveremos agora os tratamentos encontrados nas bibliografias de referência, tanto

para a Acupuntura quanto para o Tuiná, nas suas respectivas seqüências, focados em cada

padrão particular de desarmonia citado no item anterior e explanados em separado para

cada uma das duas formas tradicionais de terapia.

a. Estagnação do Qi do Fígado.

O principio de tratamento consiste em dispersar o fígado e regularizar o seu Qi.

Acupuntura:

Puntura em Yanglingquan (VB-34), Taichong (F-3), Qimen (F-14), Zhigou (TA-6) e

Neiguan (VC-6), todos em sedação sem aplicação de moxa.

Tuiná:

Acupressão sedante primeiramente em Yanglingquan (VB-34), Taichong (F-3), Zhigou

(TA-6) e Neiguan (VC-6);

Deslizamento com leve pressão ao longo e em sentido favorável ao meridiano do Fígado;

Acupressão sedante em Qimen (F-14).

b. Ascendência do Yang do Fígado.

O principio do tratamento consiste em dominar o yang do Fígado e tonificar o seu Yin.

Acupuntura:

Puntura tonificante em Sanyinjiao (BP-6), Taixi (R-3) e Ququan (F-8);

Puntura sedante em Taichong (F-3), Waiguan (TA-5), Xiaxi (VB-43), Yangfu (VB-38),

Zanzhu (B-2), Taiyang (ponto extra), Fengchi (VB-20), Tianchong (VB-9), Shuaigu (VB-

8) e Xuanli (VB-6).

18

Tuiná:

Acupressão sedante em Taichong (F-3), Waiguan (TA-5), Xiaxi (VB-43) e Yangfu (VB-

38);

Acupressão tonificante em Sanyinjiao (BP-6), Taixi (R-3) e Ququan (F-8);

Deslizamento com pressão moderada ao longo e a favor de todos os meridianos Yin do

corpo;

Deslizamento com pressão moderada ao longo e contra-sentido ao meridiano do Fígado e

Vesícula Biliar;

Acupressão sedante em Zanzhu (B-2), Taiyang (ponto extra), Fengchi (VB-20),

Tianchong (VB-9), Shuaigu (VB-8) e Xuanli (VB-6).

c. Deficiência do Qi do Pulmão.

O principio de tratamento consiste em tonificar o Qi do Pulmão e aquecer o Yang.

Acupuntura:

Puntura em Tayuan (P-9), Lieque (P-7), Qihai (VC-6), Feishu (B-13), Shenzhu (VG 12) e

Zusanli (E-36), todos em tonificação.

Tuiná:

Acupressão tonificante em Tayuan (P-9), Lieque (P-7) e Zusanli (E-36);

Deslizamento com pressão moderada e velocidade (para gerar calor) ao longo e a favor

do meridiano do Pulmão;

Acupressão tonificante em Feishu (B-13), Qihai (VC-6) e Shenzhu (VG 12).

d. Deficiência do Yin do Pulmão:

O princípio do tratamento consiste em tonificar o Yin do Pulmão, nutrir os fluidos

corpóreos e eliminar o Calor-Vazio.

Acupuntura:

Puntura tonificante em Taiyuan (P-9), Shanzhong (VC-17), Gaohuangshu (B-43), Feishu

(B-13), Shenzhu (VG12), Guanyuan (VC-4), Zhaohai (R-6) e Zhongwan (VC12);

Puntura sedante em Yuji (P-10).

Tuiná:

Acupressão tonificante em Taiyuan (P-9), Gaohuangshu (B-43) e Zhaohai (R-6);

19

Acupressão sedante em Yuji (P-10);

Deslizamento com pressão leve ao longo e a favor de todos os meridianos Yin do corpo;

Acupressão tonificante em Shanzhong (VC-17), Feishu (B-13), Shenzhu (VG12) e

Guanyuan (VC-4).

20

6. Metodologia

6.1 População e Amostra

Esse trabalho baseia-se em dados coletados de artigos e livros específicos em suas

determinadas áreas visando um enfoque voltado a realidade brasileira, levando em conta

os costumes e a população do Brasil, bem como uma perspectiva regional de apoio a

pacientes que desejam e/ou necessitam auxílio no controle e/ou interrupção do consumo

de tabaco e seus derivados.

21

7. Conclusão

O Tabaco e seus derivados são hoje alguns dos grandes algozes no que tange a

substâncias licitas indutoras a dependência comprovadamente prejudiciais à saúde

humana, não só no Brasil como no mundo, e terapias alternativas como a acupuntura e

massoterapia não só podem, como devem ser estimuladas, tendo em vista seu

comprovado efeito sobre a re-harmonização olística do organismo como um todo, mesmo

que cientificamente ainda existam” lacunas a serem cobertas” por estudos científicos

mais específicos, os resultados práticos estimulam seu uso e não deixam dúvidas sobre

sua eficácia geral ao bem estar físico e psicológico dos pacientes que procuram auxílio

em tais terapias.

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