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RECONSTRUÇÃO DO EDIFÍCIO CENTRO DE ARTE GRAÇA MORAIS (ENCONTRO DAS ARTES | ESPAÇO GRAÇA MORAIS) CONCURSO PÚBLICO DE ARQUITECTURA Vila Flor Peças Escritas – Memória Descritiva e Justificativa Página 1 de 24 2.2. Memoria Descritiva e Justificativa

Centro de Artes Graça Morais

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RECONSTRUÇÃO DO EDIFÍCIO CENTRO DE ARTE GRAÇA MORAIS (ENCONTRO DAS ARTES | ESPAÇO GRAÇA MORAIS) CONCURSO PÚBLICO DE ARQUITECTURA

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2.2. Memoria Descritiva e Justif icativa

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Introdução O projecto para o Centro de Arte Graça Morais pretende ser o espaço de “Encontro das Artes” do município de Vila Flor, de toda a sub-região de Trás-os-Montes e de toda a região Norte, funcionando como pólo dinamizador da arte e cultura artística da região. Um edifício aberto à população, contribuindo para o seu enriquecimento cultural assim como para o enriquecimento social da vila. A aproximação ao projecto buscou inspiração na obra da pintora Graça Morais, procurando estabelecer uma relação simbiótica com o envolvente de uma forma intemporal e silenciosa marcando, ao mesmo tempo, a sua posição no lugar, afirmando-se com uma personalidade intensa, de forma simples, directa e emotiva. O novo edifício procura articular-se com honestidade com a malha urbana envolvente. O edifício pré-existente (parcela 1) será inteiramente restaurado de modo a recuperar a antiga presença na Praça da Republica que ajudou a definir. A intervenção procura respeitar ao máximo a integridade do edifício que permanecerá no tempo como um testemunho da história do território. A adaptação do edifício ao novo uso procura estabelecer um equilíbrio sincero entre a necessidade de adaptação a um novo programa e a manutenção das características intrínsecas dos diferentes espaços existentes. O resultado final aparece como uma mescla interessante de materiais, revestimentos e texturas antigos e novos, técnicas antigas reinterpretadas á luz da tecnologia actual a par com a conservação das técnicas construtivas originais. O projecto procura explorar a riqueza construtiva e espacial pré-existente fazendo apenas alterações pontuais de adequação programática. A nova construção (parcela 1 e 2) procura adaptar-se á escala dos edifícios envolventes amenizando as dissonantes verificadas em alguns casos, como o edifício que ladeia a casa Sebastião Corte Real, ou a construção de 3 pisos na estreita rua Miguel Corte Real. O edifício abre-se ao município privilegiando as relações entre exterior-interior. Deste modo os visitantes são presenteados no interior do edifício com constantes vislumbres da envolvente próxima e os habitantes e visitantes da vila são atraídos para os eventos que ocorrem no exterior. A escala reduzida da área urbana onde se insere o edifício convida à abertura do espaço ao exterior, à valorização do sentimento de comunidade, que o projecto incita e defende. Praticamente todos os espaços têm algum tipo de ligação directa ao exterior, em alternativa ao circuito principal estabelecido desde a Sala de Entrada/Recepção que comunica com todos os espaços do novo Centro de Arte. Esses acessos secundários/alternativos permitem estabelecer uma rede de percursos com a Vila integrando-se na sua vivência quotidiana – o edifício abre-se ao espaço urbano. A nova intervenção procura potenciar a sustentabilidade do edifício através da sua arquitectura. Deste modo poder-se-á minimizar o efeito potencialmente nefasto das infra-estruturas de apoio necessárias ao funcionamento de um edifício destas características.

C oncepção da Sol ução

Esc al a Urbana – parc el a 1 A análise ao local resultou numa série de preocupações de carácter urbano que são necessárias resolver. Apesar da área alvo da intervenção apresentar uma coerência urbana considerável existem, igualmente, uma série de elementos dissonantes que perturbam a harmonia originada pelo conjunto. Se bem que não é possível ao projecto resolver todas as incongruências, parece clara a responsabilidade de procurar, dentro do possível, a integração na harmonia do conjunto, atenuando, de certo modo, as dissonâncias verificadas. O edifício de 3 pisos que confina juntamente com a Casa Corte Real o inicio da rua Miguel Corte Real constitui a maior dissonância. Há claramente um conflito de escala entre os dois edifícios devido à dimensão estreita da rua. De modo a atenuar esta situação de tensão urbana e permitir ao edifício Corte Real “respirar” é proposta a demolição da actual “garagem”. Deste modo cria-se uma maior afastamento entre construções e o anterior pátio exterior da casa localizado no piso 0 e piso 1, transforma-se num único espaço exterior aberto à Praça da Republica, garantindo maior nobreza à casa assim como permitindo a realização de várias actividades como

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exposições ao ar livre, recepções, entre outras funções – um espaço exterior privado, que contribui tanto para o beneficio da construção existente como do espaço urbano envolvente.

inicio da rua Miguel Corte Real resultado após demolição do volume “garagem” Outro elemento considerado dissonante na análise do local reside na construção em tabique localizada em confrontação com o pátio da casa Corte Real. Apesar desta construção não ser referida no Programa Preliminar do concurso como passível de demolição é muito difícil discernir qual a relação original que a construção estabelecia com o edifício principal, aparentando claramente tanto a nível de alçado como planta ser um acrescento posterior acoplado ao edifício principal sem qualquer cuidado e que claramente prejudica tanto a sua arquitectura como o seu funcionamento interior. Segunda a Carta de Veneza, artigo 11º “As c ontri bui ç ões v ál i das de todas as épocas para a construção de um monumento devem ser respeitadas, dado que a unidade de estilo não é o objectivo que se pretende alcançar nos trabalhos de restauro”; e o artigo 12º”Quando um edifício apresente uma sobreposição de trabalhos realizados em épocas diferentes, a eliminação de alguns desses trabalhos posteriores apenas poderá ser justificada em circunstâncias excepcionais, quando o que for removido seja de pouc o i nteresse e aquilo que se pretenda colocar a descoberto tenha grande valor histórico, arqueológico ou estético e o seu estado de conservação seja suficientemente bom para justificar uma acção deste tipo.”

construção adjacente à casa Corte Real vista de pátio piso 1 Naturalmente que seria necessário um estudo arqueológico e histórico da casa para poder decidir com consciência qual a atitude correcta a tomar, mas dentro das informações disponibilizadas pelo concurso e pela análise realizada a título particular de modo a

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esclarecer esta situação, parece claramente que esta construção se enquadra no que poderemos considerar uma construção de pouco valor, não nos parecendo uma contribuição válida quer de carácter erudito ou vernacular de uma determinada época, que só contribui para uma confusão espacial que em nada contribui para o funcionamento quer do edifício pré-existente quer do novo programa. Colocar em causa a validade da construção refere-se unicamente ás relações que esta estabelece com o edifício principal, prejudicando claramente a leitura da sua volumetria, no alçado lateral da casa, com uma visibilidade relativa. Alem disso é necessário questionar as relações espaciais presentes no interior do edificado – a construção é completamente independente do edifício principal tanto a nível de acesso do exterior como de ligações interiores. A cota a que está implantada juntamente com o facto de se encontrar acoplado ao edifício principal torna impossível restaurar qualquer um dos acessos existentes de modo a serem usados por público tornando inviável o uso desse espaço para qualquer parte do novo programa, além de estabelecer um corte altimétrico entre o edifício principal e as construções anexas designadas no programa preliminar por 1C e o pátio da antiga cozinha.

degraus de acesso à construção designada A suporte do alpendre em betão armado Aliás, toda a área de garagem, pátio, alpendre e construção em tabique (A) apresentam um conjunto tão diverso de alterações e adaptações sucessivas que deveriam ser alvo de um estudo mais aprofundado de modo a esclarecer quais as contribuições válidas para a história do edifício e quais as que independentemente do carácter erudito ou vernacular não tem qualquer validade histórica implicando apenas a desvalorização geral do edifício tanto a nível físico como funcional. Pelos motivos apresentados consideramos ser nossa obrigação contribuir para restaurar ao edifício o seu verdadeiro valor, com respeito à sua integridade física e histórica e contribuir para que este possa albergar um novo programa com facilidade e nobreza. Consideramos assim que será uma enorme mais valia para o projecto a demolição da construção referida e redefinição da área de alpendre mantendo-se, no entanto as relações volumétricas pré-existentes. O espaço demolido será deixado em pedra à vista como testemunho da pré-existência e da assumpção do nossa ignorância relativamente á sua anterior disposição.

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rosa–edifício a conservar; amarelo–demolição (garagem); verde–recuperação; vermelho–construção nova As construções denominadas no programa preliminar como 1C niveladas com o pátio da antiga cozinha (piso 1 do edifício principal) serão recuperadas. Deste modo é mantida a continuidade da fachada em pedra na rua Miguel Corte Real contribuindo para a harmonia urbana do conjunto edificado. Trata-se, no entanto, de uma operação de recuperação e não de conservação. A construção encontra-se demasiado degradada e não apresenta condições para poder albergar qualquer programa se não forem alteradas algumas características construtivas base. As paredes exteriores, coberturas e vãos serão recuperados á sua condição inicial. Os pavimentos interiores ligeiramente nivelados para a cota da casa principal. A composição da cobertura terá que ser refeita de modo a permitir o conforto térmico interior e construídas paredes interiores com o mesmo objectivo. Os vãos existentes actualmente entaipados serão destapados e fechados com vidro e caixilharia que reporta claramente para uma intervenção contemporânea. O espaço exterior envolvente da área de intervenção foi redesenhado com o objectivo de assimilar o desenho urbano que vem da rua Miguel Corte Real e área envolvente. O projecto aceita o desenho existente procurando reinterpretar o conceito para o novo edifício. A propostas estende-se até à Praça da República e rua São Martinho propondo-se o contágio do desenho a toda a praça de modo a interligar dois núcleos importantes da vila (Nascente e Poente).

Esc al a Urbana – parc el a 2 De modo a não perturbar as relações de escala estabelecidas pelo conjunto urbano a nova construção toma como referencia a altura dos muros que delimitam a parcela 2 e as construções adjacentes. Consideramos que os muros existentes conferem um sentido de unidade e pertença ao lugar que deverá ser mantido. Terá que se proceder á reparação de parte do muro da rua São Martinho actualmente em alvenaria de tijolo. A exiguidade das ruas que delimitam o terreno obrigam a um cuidado redobrado relativamente ao controlo da volumetria construída, principalmente quando a necessidade de área determinada no novo programa é considerável. O projecto propõe uma nova construção que se divide em dois pisos, um dos quais semi-enterrado tentando libertar ao máximo terreno permeável para áreas verdes de convívio e actividades ao ar livre. A nova construção encaixa no terreno respeitando as características fisicas deste, assim como as espécies arbóreas existentes, fundindo-se com ele e com a realidade envolvente..

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As aberturas nos muros existentes são usadas como entradas secundárias na parcela e possibilitam a definição de percursos alternativos directos entre diferentes partes do edifício, assim como da via pública.

volume construído parcela 2 escala da construção nova na rua São Martinho

construção nova parcela 1 e 2 relação volumétrica - nova construção e envolvente

Esc al a Urbana – l i gaç ão entre parc el a 1 e parc el a 2 Apesar de não ser considerado obrigatório no Programa Preliminar do concurso consideramos fundamental a criação de um elemento de ligação entre a parcela 1 e 2. A não existência dessa ligação num programa relativamente pequeno como este criaria uma ruptura nefasta ao funcionamento geral do edifício. Neste caso a associação de usos e actividades com características diferentes num espaço comum constitui um factor de atractividade forte garantindo a permanência de pessoas no edifício por mais tempo assim como uma maior capacidade de atracção de potenciais visitantes. As condições climatéricas locais (quente no Verão e Frio no Inverno – com possível ocorrência de queda de neve) também não beneficiam uma potencial separação física entre as duas parcelas. Seria muito incómodo, por exemplo, em pleno inverno fazer uma inauguração de uma exposição conjunta da sala de exposição permanente e temporária ou inaugurar uma exposição na sala temporária e ter que ir para o exterior para aceder à cafetaria ou à loja. Estes são dois entre muitos exemplos que poderíamos enumerar. A proposta procurou um modo de realizar um atravessamento que não fosse demasiado conflituoso com a realidade urbana existente mas, ao mesmo tempo, funcionasse com imagem simbólica do novo Centro de Arte Graça Morais. O atravessamento é realizado no ponto mais baixo do terreno (parcela 2), ao lado de uma construção com cobertura inclinada. A inclinação natural do terreno acaba por absorver o atravessamento na cota mais alta, onde a malha urbana é mais apertada, aparecendo na totalidade da Praça da República e conferindo uma maior nobreza à antiga casa Corte Real, assim como apontando o novo uso ao espaço nobre da cidade.

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ligação parcela 1 e 2 - vista Praça da República ligação parcela 1 e 2 – vista cimeira da r. Miguel C. Real

Edi f i c ado – Parc el a 1 O projecto procura interpretar o edifício existente com honestidade, propondo apenas as alterações consideradas indispensáveis para que possa albergar o novo programa. Por norma, será o programa a adaptar-se ao edifício existente. O exterior – paredes, cobertura, pavimentos, gradeamentos e vãos serão restaurados à sua condição inicial, com o máximo de exactidão possível. As novas intervenções distinguem-se claramente do existente procurando, no entanto uma harmonia silenciosa através da semelhança dos materiais utilizados trabalhados com técnicas e estéticas actuais. No interior, os maiores desafios colocam-se ao nível das cotas de pavimento no piso 0 e a integração das infra-estruturas necessárias para o funcionamento do edifício. O piso 0 apresenta um desnível considerável entre espaços (adaptando-se ao declive natural do terreno) inviabilizando o uso de grande parte dos espaços devido á altura de pé direito disponível e ao próprio acesso aos espaços. Naturalmente, as diferenças de cotas altimétricas dificultam senão impossibilitam a designação de um percurso acessível para pessoas com mobilidade condicionada. Conforme foi referido na abordagem critica ao programa preliminar, não consideramos que seja obrigatório numa intervenção com estas características cumprir toda a legislação aplicável, pois isso inviabilizaria certamente a maioria das intervenções em edifícios destas características. Acreditamos, no entanto, ser possível estabelecer um ponto de equilíbrio entre a integridade do edifício, o programa a instalar e a necessidade que um equipamento público tem em ser acessível à população. Com este objectivo em vista consideramos que o piso 0 do edifício tem que ser nivelado à cota da entrada. Como não foi disponibilizada informação suficiente relativamente á profundidade das sapatas das paredes resistentes, mas considerando provável que este nivelamento as deixe a descoberto, será necessário prever, paredes interiores de contenção de terras de modo a impedir a desintegração das paredes de pedra existentes e consequente ruína do edifício. Naturalmente a intervenção deverá ser o menos invasiva possível e prevemos que facilmente integrada na solução proposta, recorrendo a métodos de engenharia de prevenção e suporte já largamente testados em edifícios desta natureza. As características gerais do Piso 0 são mantidas á excepção da abertura de dois vãos, da demolição da área designada como “caldeira” e do compartimento onde está localizado a escada de acesso ao piso 1 – o compartimento é totalmente remodelado de modo a albergar uma escada e elevador de serviço permitindo um acesso privado desde o exterior a todos os espaços da parcela 1. As paredes resistentes em alvenaria de pedra serão deixadas á vista, depois de devidamente tratadas, os paramentos novos distinguem-se claramente da construção original. A antiga garagem e pátio exterior deram lugar e um espaço exterior amplo de uso do Centro de Arte – no dia-a-dia funciona como um espaço de contemplação que permite isolar as áreas de exposição e entrada do ruído normal provocado pela azáfama diária da vila sem necessitar perder o contacto com a luz natural e a vista panorâmica da envolvente urbana. No piso 1, as características do edifício serão mantidas na totalidade á excepção da construção acima referida, o antigo sanitário – reformulado para servir de apoio à cafetaria e compartimento de acesso ao piso águas furtadas (piso 2). Todos os materiais, revestimentos e texturas serão restaurados á sua condição original, incluindo os estuques

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de tectos em gesso e paredes, marmoreados das paredes do corredor, carpintarias, etc. Deverá ser estudada a possibilidade de adaptação da caixilharia existente para vidro duplo ou, como opção, a construção pelo interior de uma segunda barreira em vidro que permita as condições de temperatura e humidade necessárias na sala de exposição permanente. A área correspondente á construção demolida (A) ficará em alvenaria de pedra á vista, testemunho da demolição efectuada, funcionando como elemento de transição entre o edifício principal e a construção adjacente. O piso das águas furtadas (piso 2) será igualmente restaurado á sua condição inicial. Serão apenas abertos dois vãos pontuais para permitir o acesso das novas escadas e elevador. Será igualmente adaptado um dos arrumos laterais existentes para instalação sanitária de uso exclusivo. O pátio da antiga cozinha incluindo as construções junto ao tardoz serão igualmente restauradas. A fachada do edifício encontra-se em mau estado de conservação. Terá que se proceder ao tratamento da parede resistente e posterior pintura com estuque da cor original. As construções anexas reportam para um uso típico nestas construções e por esse motivo serão mantidas e adaptadas para zona técnica.

Inf ra- estruturas O projecto prevê a instalação de todas as infra-estruturas necessárias para o funcionamento de um edifício destas características sem comprometer a integridade do mesmo. Para isso foi considerada que a melhor solução seria construir uma parede técnica na parede de meação do edifício com o volume da chamada Casa Africana, que permita a distribuição de toda a tubagem necessária para sistemas de electricidade e telecomunicações, climatização, abastecimento de água e escoamento de águas residuais. Foi escolhida a parede de meação porque não tem vãos, corre transversalmente e verticalmente todo o edifício permitindo aceder a maioria dos espaços. O maior inconveniente reside no piso 1, visto que em duas salas a parede terá que ser refeita (rodapés e roda-tectos). A partir dessa parede as tubagens são distribuídas pelos pisos – o pisos 0 terá que ser revestido com um tecto falso, visto que o tecto actual não tem qualquer tipo de revestimento e não permite quer a protecção necessária para o piso superior como a passagem de qualquer tipo de infra-estrutura. No tecto do piso 0 passariam tubagens de apoio aos pisos 0 e 1. No piso águas furtadas (que terá que ser levantado) passará a tubagem necessária para servir os pisos 1 e águas furtadas. No forro da cobertura passa a tubagem necessária para servir o piso águas furtadas e as salas não alcançadas pela parede técnica do piso 1. Deste modo será possível manter os tectos em gesso do piso 1 e os tectos em madeira do piso águas furtadas. A ligação dos sistemas de climatização e electricidade a cada espaços será efectuada com cuidado através de furações pontuais nos locais determinados sem entrar em conflito com os tectos existentes.

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Edi f i c ado – C onstruç ão N ov a – Parc el a 1 e 2 A exiguidade e unidade imagética do local alvo de intervenção exige uma atitude clara, simples, directa e emotiva ao programa. A nova intervenção terá que se demarcar claramente da construção pré-existente sem, no entanto, entrar demasiado em conflito com esta. O objectivo principal será sempre a formalização de uma atitude simultaneamente contemporânea e simbiótica, intensa e silenciosa. A nova intervenção será pautada pela unidade – uma só atitude, um só principio, válido para todo o programa – clareza construtiva, simplicidade formal, emotividade espacial. Para que isso aconteça a solução adoptada terá que ser capaz de protagonizar diferentes valências, simultaneamente opaca e transparente, revestimento e estrutura, perene e leve, erudita e vernacular, distinta e difusa. O projecto inspira-se na tradição portuguesa de construção em madeira interpretada á luz da tecnologia e linguagem actuais. A cor e textura da madeira, o modo de construir, de entalhar, o envelhecimento, conferem ao material uma extraordinária capacidade de se misturar neste ambiente tão característico. O comportamento do material compatibiliza-se facilmente com o edifício pré-existente – a ligação é directa, mas distinta. O material é usado simultaneamente como estrutura e revestimento, como que revelado em todo o seu esplendor, sem qualquer tipo de camuflagem – a estrutura é o rev esti mento. Para que o conceito resulte em harmonia é necessário um principio construtivo rigoroso que origine uma linguagem formal final coerente e equilibrada. A rev ersão do pri nc i pi o c onstruti v o dá ori gem a uma f ac hada c onti nua que permi te a protec ç ão c ontra a i nc i dênc i a di rec ta de rai os sol ares nos espaç os i nteri ores sem reti rar o c ontac to v i sual c om o exteri or. O edifício abre-se, desta forma para o exterior, permanecendo fechado numa estrutura contínua que lhe confere unidade. A estrutura pode por sua vez, afastar-se ou aproximar-se do paramento exterior, dando origem a espaços exteriores cobertos, para realização de todo o tipo de exposições e actividades ao ar livre. O r i tmo da estrutura denota r i gor, as sombras projec tadas nas paredes e pav i mentos apel am à emoç ão. A demolição do volume da “garagem” originou uma nova fachada lateral composta por um somatório desordenado de vãos e pilares de suporte do alpendre e escadas em betão mal executados. A nov a estrutura v em dev ol v er a uni f ormi dade perdi da e anunc i ar uma nov a f ac hada – passado e presente anunc i ados num ângul o de 9 0º sem c ompromi ssos nem i nc onv eni ênc i as. O antigo alpendre, espaço de estar e circulação exterior coberto, é reutilizado como espaço de exposição e circulação interior, reproduzido agora no piso 0, conferindo unidade funcional, espacial e estética ao conjunto. Por outro lado, representa uma reinterpretação construtiva do que deverá ter sido o alpendre antes da advinda dos acrescentos em betão armado.

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fachada lateral após demolição de garagem, alpendre e construção A A nova construção, junto ao edifício principal, tem um princípio claro - espaços de circulação e distribuição. O novo alpendre estende-se até ao local onde estava situada a construção em tabique entretanto demolida, cobrindo esse espaço com um tecto em vidro transparente. A estrutura portante de madeira percorre toda esta área garantindo a manutenção da antiga volumetria mas conferindo-lhe um carácter totalmente novo – trata-se de uma área de chegada e distribuição de programa com um carácter excepcional.

Deste ponto a forma estende-se sobre a rua ligando a parcela 1 à parcela 2, relembrando as antigas estruturas medievais em madeira que cumpriam a mesma função. Para que a presença da passagem sobre a via seja atenuada a estrutura muda de ritmo ( 2:1 em vez da regra 1:1 ) a única excepção ao ritmo estrutural. Envolvida numa caixa de vidro à excepção do pavimento, a forma parece fundir-se com o envolvente. Só o movimento das pessoas que atravessam o espaço, suspensas no ar, nos relembram a sua existência e aguçam a nossa curiosidade, acerca do edifício. Na parcela 2 o edifício divide-se em dois pisos, embrenhando-se no terreno como que tentando fazer parte do lugar. A construção segue a atitude formal, transformando a madeira em pedra no piso enterrado, fundindo-se com os muros que suportam os desníveis do terreno. Estes permanecem além da construção, testemunho de um passado recente. A construção envolve as árvores existentes, á excepção de uma laranjeira que terá que ser

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transplantada devido á necessidade de realizar acesso ao núcleo de reservas.

Na confrontação com a rua Miguel Corte Real, a construção encosta ao muro existente. Parece necessário rematar a parte superior deste muro ladeado por duas construções de um piso. O remate confere continuidade e harmonia á rua. O ritmo da estrutura de suporte marca presença acima do aparelho de pedra. Os vãos abertos na pedra permitem vislumbrar o que se passa no interior – dois níveis de actividade sobre uma cobertura inclinada única, imensa, inspirando a sentido de partilha e comunhão da cultura artística. Sempre que a cota o permite, é possível aceder ao interior originando uma multiplicidade de percursos possível que acaba por fundir a malha urbana com o edifício.

A confrontação com a rua São Martinho é bastante mais suave e distante. A forma serpenteia pelo terreno procurando entrar no equilíbrio de escala existente. O declive mais acentuado da rua e consequentemente dos muros, faz com que seja mais difícil a presença do edifício nos seus limites. A cobertura inclinada vai descendo em direcção ao muro até se afastar definitivamente recolhendo-se ao interior do terreno. Da rua São Martinho, o Centro de Arte Graça Morais vai aparecer um pouco furtivo, privilegiando o espaço exterior em detrimento do espaço construído, permitindo á rua respirar. È nesta rua que é feito o acesso ao núcleo de reservas através de um portão gradeado que permite vislumbrar o interior do

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terreno.

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Organi zação Funci onal

Parc el a 1 – pi so 0 O acesso ao edifício é efectuado pela Praça da República no piso 0 do edifício pré-existente (Casa Corte Real). A antecâmara localizada por baixo da escadaria em pedra que liga ao piso 1, abriga uma pequena portaria, antecipando a Sala de Entrada/Recepção, área de chegada e distribuição de público onde está disposta a informação relativamente aos eventos e actividades em curso, o balcão de atendimento para disponibilização de informações, bilhetes, reservas... Desta sala o público é direccionado para o corredor de circulação e distribuição, definido pela nova construção em madeira. A partir deste ponto poderá aceder a todos os espaços de acesso público do edifício. No piso 0 podem ainda aceder às instalações sanitárias. Os restantes espaços têm um carácter privado ou semi-privado como a administração, com acesso tanto pela corredor público como privado. Uma entrada independente, a partir da Praça da República permite o acesso de serviço ao edifício, interligando todos os espaços através de um percurso privado. Este caminho permite a ligação da área de atendimento e administração, arrecadação geral, arrumos de economato, localizados no piso 0, à direcção, sala de reuniões e instalações sanitárias de uso privado localizados no piso 2 (águas furtadas). Este piso encontra-se em mau estado de conservação. Os travejamentos que suportam o piso 1 serão completamente revistos e recuperados. As paredes de pedra terão que ser inspeccionadas, tratadas e lavadas. O nivelamento da cota de pavimento obrigará á construção de paredes de suporte de apoio ás existentes em pedra. O novo pavimento será um piso técnico em soalho corrido de madeira maciça de riga, excepto nas áreas de arrumação.

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planta piso 0

Parc el a 1 – pi so 1 A chegada do público ao piso 1 é efectuado na local da antiga construção em tabique entretanto demolida (A). O espaço livre pela demolição exerce agora a função de coração do edifício, centro nevrálgico de distribuição espacial para todos os pisos, e para as parcelas 1 e 2. Não se procurou reconstruir de alguma forma a realidade anterior mas sim assumir a necessidade de libertar esta área para permitir ao edifício principal recuperar a presença e clareza que tinha anteriormente – permitir ao edifício respirar. As paredes resistentes em alvenaria de pedra que suportavam parte do antigo volume são tratadas e deixadas á vista – definem o novo volume de comunicação e ajudam a suportar, na parede de meação, a estrutura de madeira que faz a nova cobertura. O volume é deixado vazado, ocupado por uma caixa de elevador em vidro, envolvido por uma escadaria em degraus de madeira fixos lateralmente á paredes. A escada circunda o volume interligando as diferentes cotas ás quais é permitido o acesso ao edifício – piso 0 (cota538.50); cota 540.65 (ligação directa exterior do piso 0 parcela 1 ao piso 0, parcela 2); piso 1 (cota 541.62); cota 544.00 (passagem de ligação parcela 1 a parcela 2). Chegados ao piso 1 o visitante é encaminhado para uma sala de recepção e distribuição. Aí pode levantar/comprar informação específica sobre a exposição, aceder à cafetaria e loja, ou ir directamente para a exposição permanente. Toda esta área é coberta pela estrutura de madeira que suporta panos de vidro transparente conferindo ao espaço um carácter de excepção interessante, permitindo ver através da estrutura da madeira o céu, os limites das construções adjacentes, enfim, tomar contacto com o miolo da construção existentes algo anteriormente impossível.

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área de distribuição (A) vista a partir da passagem de ligação e do corredor da sala exposição permanente A Exposição Permanente ocupa basicamente todo o piso 1 do edifício principal. Consideramos que faria sentido, tentar estabelecer uma correspondência de funções entre o antigo edifício e o novo programa – o espaço principal da antiga habitação corresponde ao espaço principal do novo Centro de Arte. Apesar de, no programa preliminar fornecido, o espaço de exposições estar dividido entre esta área e o chamado volume 1C, consideramos que alterar a antiga distribuição funcional do edifício será, neste piso, tão nefasta à integridade deste quanto o desrespeito pelos sistemas construtivo, materiais, revestimentos ou texturas originais. Parece-nos que para a conservação ser bem sucedida, o projecto deve procurar compreender a essência do edifício em que intervém, agindo pontualmente no sentido de adaptar usos passados aos presentes. Daí considerarmos preferível localizar a circulação numa construção nova e assumir o edifício existente na sua integridade. Anteriormente, a ligação entre piso 0 e 1 era deficiente, porque a nível funcional as suas funções eram completamente distintas – no piso 1 e águas furtadas funcionava a casa, o piso 0 tinha um uso secundário. Com o novo programa, todos os pisos precisam de estar interligados, com importâncias programáticas muito semelhantes. Como manter as características de funcionamento anteriores sem perturbar a integridade do edifício? Na nossa opinião não é possível. O acesso de serviço que liga pisos 0, 1 e 2, ocupa o local das antiga comunicação deficiente, mas nunca conseguirá ter a nobreza e riqueza espacial que consideramos necessária para um edifício com estas características. Além disso, as relações de programa que se estabeleceriam iriam perturbar seriamente o anterior funcionamento do edifício. Deste modo, colocando o acesso numa área considerada exterior ao edifício principal e claramente aditada a este, poder-se-á estabelecer uma dicotomia interessante entre acessos passados e presentes: anteriormente o acesso principal ao edifício era realizado através da escadaria fronteira à Praça da República, acesso que fica praticamente inutilizado devido à dificuldade em realizar um recepção adequada a um edifício deste género no piso 1 existente, assim como por uma questão de acessibilidade a pessoas com mobilidade condicionada. O novo acesso que reporta ao tempo presente, implanta-se no extremo oposto ao existente permitindo o estabelecimento de circuitos de visita á exposição com entrada por um lado e saída por outro, usar a escadaria principal em eventos especiais, e muitas outras situações que, caso o novo acesso fosse colocado num local intermédio, não seria possível, perturbando a antiga disposição espacial do edifício.

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A cafetaria ocupa o volume designado no programa preliminar como 1C. O acesso é feito a partir do edifício na sala de recepção do piso 1 e do exterior através de um acesso à cota da rua. Assim fica garantida a independência do espaço relativamente ao restante programa, permitindo-lhe funcionar em horários diferenciados, efectuar cargas e descargas sem perturbar o funcionamento do edifício. A cafetaria é estendida para o pátio exterior da antiga cozinha, através de um acesso existente. Deste modo poder-se-á criar uma esplanada exterior protegida nos meses mais quentes do anos, muito agradável. A antigo volume foi recuperado mantendo alguns traços da construção original, mas completamente renovado de modo a oferecer o conforto térmico de acústico que o espaço necessita. Os vãos entaipados serão abertos, a pedra de remate tratada e protegidos com vidro transparente. Foi mantida a diferença de cota existente assim como a parede em alvenaria de pedra com meia altura que dividia o espaço em duas áreas. O bar localiza-se na cota superior com uma zona de bancos altos e mesas pousadas sobra a parede de pedra e, na cota inferior, com acesso ao pátio e entrada, distribui-se uma área de mesas altas e outra com mesas de refeição. A estrutura da cobertura terá que ser completamente refeita devido ao mau estado de conservação, mas o método construtivo será reproduzido e ficará à vista como testemunho do modo de construção anterior.

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A loja fica localizada no local da anterior cozinha. Desse modo esta poderá manter as suas características originais sem qualquer inconveniente. Sob a antiga chaminé, implanta-se o balcão de atendimento. A exposição dos produtos para venda poderão ocupar livremente o espaço disponível. A loja também tem acesso ao pátio permitindo a criação de percursos alternativos entre as diferentes partes do programa. Poder-se-á aceder á loja, desde a entrada principal no piso 0, da parcela 2 através da passagem de ligação, directamente da rua, através da cafetaria. O pavimento existente em pedra será recuperado assim como a chaminé e as caixilharias. A antiga porta que conectava à escada de acesso ao piso 2 permanece mas será fechada para garantir segurança do acesso de serviço. Paredes e cobertura encontram-se em mau estado de conservação terão que ser completamente restauradas. Parece-nos importante a implantação da cafetaria e loja próximo do coração do edifício. Actualmente estes espaços adquiriram uma importância significativa neste tipo de edifícios, agindo como focos dinamizadores dos mesmos. A verdade é que a loja e cafetaria do Centro de Arte Graça Morais poderão ter uma capacidade de atrair um público mais variado e com mais frequência do que as exposições e, por isso, será de todo conveniente, usa-los como íman para os acontecimentos e actividades do Centro de Arte, contribuindo para a divulgação da cultura artística. Por outro lado, a localização deste programa no piso 1, junto aos acessos verticais, permite um fácil acesso tanto da parcela 1 como da parcela 2, o que é igualmente importante – versatilidade. O sucesso do edifício irá depender muito da sua capacidade de proporcionar conforto e bem estar aos seus utentes e os espaços de apoio complementares são muito importantes para que isso aconteça. O pátio da antiga cozinha, agora espaço exterior da loja e cafetaria, será revestido com uma camada de saibro. As paredes limite serão tratadas e deixadas com a alvenaria de pedra á vista. As construções adjacentes ao tardoz são mantidas servindo como casa de máquinas, depósito de água potável e depósito de água não potável, o espaço livre adjacente é transformado num jardim aromático para uso da cafetaria e usufruto olfactivo dos visitantes.

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Parc el a 1 – pi so 2 (águas f urtadas) No piso 2 está localizada a sala de direcção, sala de reuniões e sanitário de uso exclusivo. O objectivo da intervenção é respeitar ao máximo a estrutura existente até porque, esta construção é construída em tabique de madeira e está a suportar grande parte da cobertura. Qualquer alteração poderá fragilizar o equilíbrio estrutural existente. O novo sistema de comunicação vertical (escadas e elevador) estão implantados no local da anterior escada, uma zona com um pé-direito baixo (2,20m) mas apenas na zona de chegada. Não nos parece que a altura do pé direito inviabilize o seu uso, porque só existe em espaço de permanência temporária – hall de chegada do elevador e instalação sanitária. As únicas alterações efectuadas à estrutura original é a abertura de dois vãos de modo a permitir aceder do hall do elevador à área de estar/espera para a sala de direcção, sala de reuniões. A disposição espacial permite aceder independentemente aos dois espaços, apesar destes comunicarem directamente entre si. O pavimento deste piso terá que ser levantado para colocação de infra-estruturas, o restante será instalado entre o forro do tecto e a cobertura. As características originais da construção serão completamente mantidas – materiais, cores, texturas, sistema construtivo. As novas abertura serão claramente distintas das originais consistindo numa porta de vidro transparente simples.

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Parc el a 2 – pi so 1 A passagem de ligação da parcela 1 á parcela 2 é realizada á cota 544.00, permitindo um acesso praticamente de nível ao piso 1 da parcela 2. O atravessamento é construído com a mesma estrutura de madeira, com um espaçamento de pilares maior, completamente revestida a vidro de modo a garantir a leveza do atravessamento sobre a rua, assim como uma espécie de ponte panorâmica sobre a área. Na chega à parcela 2 o visitante tem imediatamente a opção de continuar a visita através de uma rampa que liga á cota do piso 1 (543.50) ou descer por elevador para o piso 0. O piso foi concebido como um enorme pavilhão que inspire a partilha e o sentido de comunidade, onde percursos e pessoas se cruzam em diferentes actividades partilhando conhecimentos e experiências. A sala de Exposição Temporária que preferimos apelidar de Sala Polivalente é acedida logo após a rampa de acesso ao piso 1. O objectivo do projecto é que esta permita o máximo de usos possível, mantendo a qualidade espacial. Também considera importante que a sala estabeleça uma relação franca com o exterior permitindo aos visitantes entrar em contacto com a vila, com o céu, a vegetação...Permitir que a luz natural inunde o espaço sempre que possível. A estrutura de madeira exterior garante o controlo da luz natural, permitindo que o espaço seja iluminado naturalmente sem que esta luz tenha uma incidência directa sobre pessoas e elementos expostos. Para que a sala possa oferecer luz natural e contacto com o exterior e, ao mesmo tempo, reclusão e controlo de luz total, as janelas e portas existentes são todas fechadas por portadas opacas com capacidades acústicas. Deste modo, é possível, em algumas exposições e eventos, ter portas e janelas abertos, originando um espaço fluído e continuo desde a parcela 1 até á parcela 2, evoluindo até uma situação de completa reclusão com todas as portadas fechadas para, por exemplo, apresentar um filme ou garantir a segurança de uma exposição. A Sala Polivalente tem uma área independente de arrumos para que possa ser guardado todo o material necessário à adaptação da sala ás diferentes funções assim como material técnico.

sala de exposições temporárias | sala polivalente – todos os vãos podem ser fechados

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O núcleo educativo está localizado ao lado da Sala Polivalente, no piso 1. Pode ser acedido desde a parcela 1 através da passagem de ligação ou directamente da rua através da entrada à cota 543.94. O núcleo foi desenvolvido segundo os mesmos princípios do restante projecto – um espaço amplo e polivalente passível de ser utilizado sob as mais variadas premissas. Uma porta em vidro encerra o núcleo da azafama exterior, permitindo igualmente controlar o acesso aos restantes espaços. O espaço interior rodeado de vidro contacta com o espaço verde exterior envolvente. Interior e exterior misturam-se transformando-se numa única entidade. Um móvel/parede permite arrumar todos os materiais necessários ás actividades aí decorridas. Tinas de lavagem estão embutidas nesse móvel e dispostas pelo espaço de modo a permitir que, quando este é subdividido, sejam acessíveis para diferentes usos. Cortinas acústicas permitem subdividir o espaço até ao máximo de uma sala comum e 3 ateliers. Os sub-espaços mantêm todos o contacto com o exterior tanto a nível visual como físico. Abertura pontuais permitem o acesso ao exterior para actividades ao ar livre. Uma área exterior coberta permite a execução de actividades protegidas da incidência directa de raios solares. O acesso do piso 1 ao piso 0 é realizado através do elevador ou de uma ampla escadaria que acompanha o desnível da rua Miguel Corte Real. Desse modo o edifício adapta-se ao perfil da rua e vãos existentes nos muros de pedra e permite aos transeuntes que percorrem a rua terem a percepção do funcionamento do edifício, nos dois pisos.

Parc el a 2 – pi so 0 O piso 0 é organizado a partir de um hall de distribuição central, localizado no extremo da construção. Nesse ponto nevrálgico estão localizados o elevador, a escada que permite aceder da cota da rua (ligação secundária exterior à parcela 1, piso 0) e da escadaria que liga ao piso 1. O hall de distribuição tem uma área interior e uma área exterior coberta para fumadores e para uso dos utilizadores da biblioteca. A biblioteca e as instalações sanitárias são os únicos espaços de carácter público deste piso e, por isso, está localizada ao lado do hall de distribuição, próximo dos acessos de comunicação e da ligação exterior à parcela1. A biblioteca é composta por uma pequena sala com uma grande mesa central onde se poderão consultar os arquivos do Centro de Arte. A luz natural e o ruído são controlados

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através da abertura de um vão voltado para um pátio exterior reservado e área exterior coberta (acima referida) que permite leituras ao ar livre sem risco de segurança necessária dos documentos. A biblioteca foi localizada nesta área porque consideramos ser um espaço, que poderá ter muita importância no futuro cultural de Vila Flor mas nunca poderá partilhar o espírito de fluidez e continuidade dos restantes espaços. Deste modo, a biblioteca e arquivos estão localizados numa área nobre, em relação directa tanto com o piso 1 através da ampla escadaria, como com a via pública, e a parcela 1, garantindo a sua independência e, ao mesmo tempo, relação estreita com o restante programa. O arquivo de documentação corrente está localizado ao lado da sala de leitura (biblioteca) com acesso por esta e pelo corredor de serviço, ligando depois ao arquivo de documentos. O arquivo de documentos foi guardado um lugar mais reservado de modo a garantir a sua segurança. Estando localizado no fim do corredor de serviço, minimizam-se cruzamentos de percursos desnecessários. O núcleo de reservas está localizado no piso 0 com acesso directo ao pátio de cargas e descargas. Este espaço só tem acesso através de um portão na rua São Martinho, e permite a entrada de camiões para que obras de arte e outros elementos possam ser transportados em segurança, sem perturbar a via pública. Associado ao núcleo de reservas estão as oficinas para eventuais trabalhos que sejam necessários. As portas deste espaço são maiores que as restantes e de correr de modo a facilitar o transporte de obras de arte de grandes dimensões. As peças poderão ser transportadas pelas amplas escadas ou directamente pelo elevador para ambas as salas de exposição ou para as áreas exteriores no caso de pretenderem realizar exposições ao ar livre. A sua localização perto do centro de distribuição de circulação permite estar perto de todo o programa e, ao mesmo tempo, reservado do público.

Parc el a 2 – espaç o exteri or Conforme já foi referido anteriormente, o projecto procurou libertar o máximo possível de terreno permeável para que fosse possível criar, nesta malha urbana densa, um conjunto agradável de espaços exteriores que permitissem alargar o leque de possibilidades ao Centro de Arte a nível de acontecimentos e actividades ao ar livre. O projecto procura respeitar as características morfológicas do terreno, tendo sido mantidos os muros de suporte e cotas excepto na zona do pátio de cargas e descargas. Aí terá que se baixar a cota do terreno de modo a permitir a entrada a partir da rua São Martinho ao núcleo de reservas (cota 539.00). De qualquer forma, o terreno permanecerá permeável, e as espécies arbóreas existentes replantadas no mesmo local.

Opções C onstruti vas

O bra de C onserv aç ão e Restauro As premissas determinadas no programa preliminar do concurso foram inteiramente integradas no projecto desenvolvido. O principal objectivo é proceder ao restauro do edifício principal a nível de estrutura, técnicas, revestimentos, materiais e texturas. Como foi descrito, todas as intervenções encetadas para converter a antiga casa Corte Real no novo Centro de Arte Graça Morais procuram respeitar ao máximo as características inerentes ao edifício. No piso 0 as paredes em alvenaria de pedra serão mantidas á vista, depois de devidamente recuperadas e lavadas. A sala de entrada será revestida em parte (2 paredes) com um armário em paneis de madeira (cor branca) permitindo arrumar todos os elementos de apoio ao balcão de atendimento, quadros gerais, painel informativo, etc. O antigo pavimento em terra será substituído por um piso técnico em soalho corrido de madeira de riga. A escolha do pavimento igual ao dos pisos superiores está relacionada com o conceito de fluidez e continuidade do projecto. Apesar de anteriormente, este piso corresponder a uma área menos nobre do edifício, no novo programa, ele faz parte integrante do mesmo. O mesmo se aplica ao tecto, actualmente com a estrutura de madeira á vista e que terá que ser fechado com um tecto falso. Este será certamente o piso que sofrerá mais alterações porque terá que se transformar uma antiga área de arrumos da casa em sala de entrada do Centro de Arte.

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Nos restantes pisos, o objectivo do projecto será restaurar a casa á sua condição inicial. Para isso será necessário rever todo o pavimento, refazer grande parte das carpintarias muito danificadas, reparar fissuras de paredes e tectos, reparar estuques de paredes e tectos. De modo a evitar perturbar a estrutura existente, todas as infra-estruturas novas deverão passar da parede técnica para o pavimento e aí serem feitas todas as ligações necessárias de electricidade, telecomunicações e climatização. As paredes de tabique existentes não podem ser perturbadas com este tipo de infra-estruturas. A cobertura em telha, terá que ser completamente removida de modo que se possam passar algumas infra-estruturas, garantir o tratamento de todos os madeiramentos, substituição de todas as telhas danificadas, revisão e restauro de todas as caleiras e tubos de queda. As paredes e muros exteriores terão que ser cuidadosamente inspeccionados, reparadas fissuras e de novo caiados. Os aparelhos de pedra serão cuidadosamente lavados. As tintas utilizadas nas pinturas e caiações deverão seguir ao máximo cores e técnicas originais.

O bra de Rec uperaç ão – v ol ume 1C O volume 1c será recuperado para uma nova função – cafetaria. As paredes exteriores em alvenaria de pedra serão desprovidas do revestimento actual de argamassa e deixadas á vista. A cobertura existente será substituída por nova com isolamento térmico que garanta o conforto interior da construção. A estrutura de suporte bastante danificada, será refeita, aproveitando-se as peças possíveis e substituindo-se por idênticas as que estiverem demasiado danificadas. No interior será construída uma nova parede com isolamento térmico de modo a garantir o conforto interior da construção. O interior - paredes e tecto, será revestido a gesso cartonado e pintado de branco. A estrutura da cobertura é deixada á vista. A parede de pedra existente, que divide o espaço em duas áreas, permanece intacta. O pavimento será em soalho corrido de riga. As infra-estruturas serão instaladas no pavimento.

C onstruç ão N ov a – parc el a 1 A construção nova é constituída por um sistema autoportante de perfis de madeira lamelada, interligados entre si através de encaixe e aparafusamento, originando uma estrutura portante e solidária. O pavimento é sempre em madeira de riga e assenta nesta estrutura através do processo tradicional de construção em madeira. A principal diferença reside no facto do ser um pavimento técnico, com uma caixa maior do que o normal para passagem de infra-estruturas. Pelo interior da estrutura poder-se-ão utilizar dois tipos de revestimentos: vidro duplo; ou painéis leves com poliestireno revestido a chapa de zinco pelo exterior e parede de gesso cartonado pelo interior. Na parcela 1, a estrutura nova adapta-se á estrutura existente. A estrutura de madeira, é autoportante não colocando nenhum peso sobre o edifício existente. Na área do antigo edifício em tabique (A) parte da cobertura é apoiada nas paredes resistentes em pedra remanescentes. O restante volume é revestido a vidro – área de circulação, à excepção do pavimento composto por soalho corrido de riga. As paredes resistentes em pedra serão desprovidas da argamassa que as cobre, tratadas e deixadas á vista. As infra-estruturas que terão que passar nessa zona, correm no piso técnico.

C onstruç ão N ov a – parc el a 2 Na parcela 2 a construção divide-se em dois sistemas construtivos distintos. O piso 1 é construído segundo o sistema de estrutura autoportante de madeira referido, enquanto o piso 0, porque está parcialmente enterrado, é constituído por uma estrutura de paredes e pavimento em betão armado que serve de suporte à estrutura de madeira do piso superior. Para manter o muro existente na confrontação com a rua Miguel Corte Real, será construída uma parede de betão pelo interior que suporta a estrutura de madeira da cobertura.

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Na confrontação com a rua São Martinho essa operação torna-se desnecessária porque o muro mantém as características originais. Os pavimentos serão construídos com passagens técnicas, em soalho corrido de madeira de riga. As paredes divisórias serão em gesso cartonado, assim como os tectos com uma ampla caixa para passagem de condutas assim como acomodação de algumas infra-estruturas como máquinas de projecção, entre outras.

S ustentabi l i dade Falar de sustentabilidade em edifícios históricos é sempre um tema difícil, devido ás condicionantes inerentes a obras de conservação e restauro. No entanto, em consonância com a atitude assumida relativamente a toda a legislação aplicável, o projecto desenvolvido procura pensar a intervenção sobre uma perspectiva sustentável cujas medidas são enumeradas em seguida:

- Permeabilidade do solo A permeabilidade do solo parece ser um tema muitas vezes esquecido ao falar de sustentabilidade quando, na realidade, é um dos principais responsáveis pelo equilíbrio dos lençóis freáticos que correm no subsolo de todas as povoações. As consequências são óbvias – incapacidade do pouco solo permeável disponível absorver a águas das chuvas originando situações de inundação que destroem edifícios e, em situações mais graves, vastas áreas urbanas. No caso de Vila Flor, é obvio que a situação dificilmente se tornará alarmante, mas também é verdade que o Centro de Arte está localizado numa zona densa, com uma área reduzida de solo permeável. A principal preocupação do projecto é dar a melhor contribuição possível para este tema.

- Energia solar passiva A estrutura de madeira que envolve tanto a construção pré-existente como a construção nova tem um objectivo estrutural claro e um objectivo sustentável menos óbvio. Os pilares de madeira exteriores protegem os paramentos envidraçados do sobreaquecimento, permitindo no entanto a criação do chamado efeito de estufa entre os pilares e o vidro quando necessário. No verão, telas exteriores colocadas entre os pilares de madeira e o vidro, protegem o interior do sobreaquecimento e , no inverno, permitem entrada dos raios solares para o interior produzindo parte do calor necessário ao aquecimento interior. Este sistema é aplicável tanto á construção nova como ao edifício preexistente e reduz drasticamente as necessidades de recurso a climatização artificial do edifício. Um sistema informático central poderá controlar até que ponto o edifício poderá funcionar com um sistema de aquecimento passivo através do aproveitamento da luz solar e ventilação natural e quando é necessário recorrer a um sistema de apoio.

- Ventilação natural Os sistema de energia solar passiva devem ser sempre acompanhados por um sistema de ventilação natural eficaz, pois só assim se poderá obter um sistema auto-suficiente ao nível da climatização do edifício. As fachadas voltadas a sul tanto do edifício preexistente como do novo serão monitorizadas por um sistema informático capaz de garantir o máximo ganho de energia. A ventilação natural funciona á base de aberturas controladas electricamente e localizadas em diversos pontos do edifício, no caminho das correntes de ar criadas dentro deste, que permitem no Inverno, se fechadas, concentrar o calor obtido com as fachadas de vidro dentro do edifício e, no verão, ao serem abertas, permitirem que o ar flua pelo edifício refrescando o interior.

- Energia solar activa O objectivo do edifício é que este possa ser auto-suficiente a nível de produção de energia. No entanto, parecia difícil conseguir alcançar esse objectivo pois os sistemas de energia alternativa ainda são muito invasivos, principalmente em centros históricos. A solução encontrada para resolver esse problema foi recorrer a dois sistemas distintos. Na construção nova, entre as vigas da cobertura de madeira, voltada a sul, serão montados painéis fotovóltaicos. A área de painéis será capaz de produzir energia suficiente para todo o edifício – produção de energia eléctrica e aquecimento de águas. As baterias serão colocadas numa casa de máquinas sobre as instalação sanitária (piso o, parcela 2). Depois de transformada a energia, a ligação à parcela 1 será realizada através do piso técnico da passagem de ligação entre a parcela 1 e 2.

- Energia geotérmica: Como apoio aos painéis fotovoltaicos, e solução de aquecimento de águas, consideramos a utilização de um sistema muito menos invasivo – a energia geotérmica. Este sistema está a ser muito utilizado nos países nórdicos onde a energia solar é mais difícil de obter com

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excelentes resultados. A principal vantagem é que não requer um investimento demasiado elevado e permite a auto-suficiência energética do edifício durante todo o inverno. Para isso será feito um furo no terreno (parcela 2) de 30m. O calor da terra é transformado em energia numa casa de máquinas localizada por baixo a escada que estabelece a ligação da cota da rua ao piso 0 da parcela 2.

- Aproveitamento de águas pluviais A recolha de águas pluviais é o sistema mais fácil de prever. No edifício existente toda a água da cobertura é recolhida para caleiras que ligam a tubos de queda que, antes de chegarem ao solo serão desviados para um depósito. De modo a não perturbar o desenho do edifício, poderá ser necessário ter depósitos em vários pisos. Na parcela 1, o depósito principal fica localizado na construção anexa ao pátio. Desse modo consegue-se facilmente estabelecer uma ligação á cafetaria, I.S. da cafetaria e I.S. do piso 0. Na parcela 2, o deposito ficará colocado na casa de máquinas localizada por cima da I.S. do piso 0 ser abastecerá a I.S. e o núcleo educativo do piso 1.