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148 Caso Clínico/Case Report ABSTRACT Uterine lipoleiomyoma is a rare benign tumour arising from the myometrium and composed of smooth muscle cells and mature adipocytes. The authors describe a case of a patient with 66 years, with a diagnosis of uterine lipoleiomyoma. This type of tumor is easily misdiagnosed as an ovarian teratoma on imaging studies. Keywords: Uterine leiomyoma; Imaging avaliation. Lipoleiomioma uterino Uterine lipoleiomyoma Cátia Carnide*, Joana Raposo**, Carla Rodrigues***, Fernanda Geraldes**** Serviço de Ginecologia, Maternidade Bissaya Barreto, Coimbra * Interna Complementar Ginecologia e Obstetrícia, Maternidade Bissaya Barreto ** Interna Complementar de Anatomia-Patológica, Centro Hospitalar de Coimbra *** Assistente Hospitalar de Ginecologia e Obstetrícia, Maternidade Bissaya Barreto **** Assistente Graduada de Ginecologia, Maternidade Bissaya Barreto INTRODUÇÃO O lipoleiomioma uterino é um tumor benigno raro, representando 0.03% a 0.2% de todos os leiomiomas uterinos (1) . Histologicamente, é um tumor mesenqui- matoso misto constituído por adipócitos maduros e células de tecido muscular liso, com quantidade vari- ável de tecido conjuntivo ibroso, sem atipia celular 1 . Este tumor é mais frequentemente encontrado no cor- po uterino e é geralmente intramural. São tumores de tamanho variável, de superfície lisa, de limites bem deinidos, com uma cápsula ina de tecido conjuntivo, e estão geralmente associados a outros leiomiomas. Ocorrem quase exclusivamente na mulher pós-meno- páusica, entre os 50 e 80 anos. Na sua maioria são assintomáticos, podendo ma- nifestar-se clinicamente em 25 a 30% dos casos, sen- do os sintomas semelhantes aos do leiomioma uteri- no (massa palpável, metrorragia, dor ou sensação de peso pélvico) 2 . A maioria dos casos clínicos descritos na litera- tura foram diagnosticados após cirurgia, tendo sido diagnosticados no pré-operatório como teratoma do ovário 3 . CASO CLÍNICO Doente de 66 anos de idade, com menopausa espontâ- nea aos 52 anos, que recorre à Consulta de Ginecolo- gia por incontinência urinária de esforço invalidante, sem outras queixas ginecológicas associadas. Apre- sentava como patologia associada hipotiroidismo, hi- pertensão arterial e dislipidemia. Os seus anteceden- tes ginecológicos e obstétricos são irrelevantes. Carnide C, Raposo J, Rodrigues C, Geraldes F

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Caso Clínico/Case Report

ABSTRACT

Uterine lipoleiomyoma is a rare benign tumour arising from the myometrium and composed of smooth muscle cells and mature adipocytes. The authors describe a case of a patient with 66 years, with a diagnosis of uterine lipoleiomyoma. This type of tumor is easily misdiagnosed as an ovarian teratoma on imaging studies.Keywords: Uterine leiomyoma; Imaging avaliation.

Lipoleiomioma uterinoUterine lipoleiomyoma

Cátia Carnide*, Joana Raposo**, Carla Rodrigues***, Fernanda Geraldes****

Serviço de Ginecologia, Maternidade Bissaya Barreto, Coimbra

* Interna Complementar Ginecologia e Obstetrícia, Maternidade Bissaya Barreto** Interna Complementar de Anatomia-Patológica, Centro Hospitalar de Coimbra*** Assistente Hospitalar de Ginecologia e Obstetrícia, Maternidade Bissaya Barreto**** Assistente Graduada de Ginecologia, Maternidade Bissaya Barreto

INTRODUÇÃO

O lipoleiomioma uterino é um tumor benigno raro, representando 0.03% a 0.2% de todos os leiomiomas uterinos (1). Histologicamente, é um tumor mesenqui-matoso misto constituído por adipócitos maduros e células de tecido muscular liso, com quantidade vari-ável de tecido conjuntivo ibroso, sem atipia celular1.Este tumor é mais frequentemente encontrado no cor-po uterino e é geralmente intramural. São tumores de tamanho variável, de superfície lisa, de limites bem deinidos, com uma cápsula ina de tecido conjuntivo, e estão geralmente associados a outros leiomiomas.Ocorrem quase exclusivamente na mulher pós-meno-páusica, entre os 50 e 80 anos.

Na sua maioria são assintomáticos, podendo ma-nifestar-se clinicamente em 25 a 30% dos casos, sen-

do os sintomas semelhantes aos do leiomioma uteri-no (massa palpável, metrorragia, dor ou sensação de peso pélvico)2.

A maioria dos casos clínicos descritos na litera-tura foram diagnosticados após cirurgia, tendo sido diagnosticados no pré-operatório como teratoma do ovário3.

CASO CLÍNICO

Doente de 66 anos de idade, com menopausa espontâ-nea aos 52 anos, que recorre à Consulta de Ginecolo-gia por incontinência urinária de esforço invalidante, sem outras queixas ginecológicas associadas. Apre-sentava como patologia associada hipotiroidismo, hi-pertensão arterial e dislipidemia. Os seus anteceden-tes ginecológicos e obstétricos são irrelevantes.

Carnide C, Raposo J, Rodrigues C, Geraldes F

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Acta Obstet Ginecol Port 2011;5(3):148-152

O exame físico ginecológico revelou uma atroia vulvo-vaginal e, à palpação bimanual, um útero glo-boso, ligeiramente aumentado de dimensões. O stress teste e o TVT teste foram positivos. A citologia do colo do útero foi negativa para lesão intraepitelial.

Foi realizada uma ecograia endovaginal que re-velou uma massa hiperecogénica na região anexial esquerda, bem deinida, com 32x37mm (Fig. 1), e útero com um diâmetro antero-posterior de 22,4mm e endométrio com 3,1mm de espessura.

A Tomograia Axial Computadorizada (TAC) com contraste mostrou uma massa oval de limites regula-

res com 36 mm, hipodensa, heterogénea, a nível da pélvis, concluindo tratar-se de um teratoma/quisto dermóide anexial esquerdo, sem outras alterações, nomeadamente adenomegalias (Fig. 2).

Analiticamente, o CA 125 foi de 4,4 U/ml.Perante a hipótese diagnóstica de teratoma do ová-

rio esquerdo, a doente foi proposta para realização de anexectomia esquerda por laparoscopia e correcção de incontinência urinária. Durante a intervenção la-paroscópica identiicou-se uma formação miomatosa, subserosa, com cerca de 5cm, localizado no fundo e corno uterino direito, tendo sido realizada miomec-tomia.

O estudo anatomopatológico revelou tratar-se de “uma neoplasia benigna constituída por células fusi-formes sem atipia à mistura com numerosos adipóci-tos maduros”, concluindo tratar-se de um leiomioma com metaplasia adiposa extensa (Fig. 3). Foi feito o estudo imunohistoquímico, tendo-se observado imu-norreactividade universal para a desmina e actina

Figura 1 – Ecograia transvaginal onde se visualiza o diâ-metro antero-posterior do útero de 22mm, a espessura en-dometrial de 3mm (a) e uma formação hiperecogénica na região anexial esquerda com 32x38mm (b).

Figura 2 – Tomograia Axial Computadorizada pélvica onde se visualiza uma massa oval, heterogénea pré (a) e pós-contraste (b).

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muscular lisa nas células fusiformes e focal para o CD34, não tendo havido reactividade para os anticor-pos anti-proteina S100 nem Vimentina.

DISCUSSÃO

O lipoleiomioma é um tumor uterino raro, que ocorre tipicamente na mulher menopáusica.

É composto por tecido muscular liso e quantida-des variáveis de tecido adiposo maduro. Dependendo dos seus constituintes, pode variar desde lipoma ute-rino puro, lipoleiomioma ou ibromiolipoma, sendo os dois últimos as variantes mais frequentes do leio-mioma4. Esta presença de tecido adiposo no miomé-trio é anómala.

A patogenia deste tumor benigno é desconhecida mas, no entanto, há duas teorias para a sua génese: (a) degenerescência “lipomatosa” das células musculares lisas e (b) origem em células adiposas embrionárias ou células mesenquimatosas ectópicas1,5,6,7,8. Apesar de controverso7,9, a primeira teoria é universalmente con-siderada o mecanismo mais aceite no desenvolvimento do lipoleiomioma3,11,12,22. O estudo imunohistoquímico permite conirmar a natureza do tumor como sendo do músculo liso, uma vez que os adipócitos demonstram ter reactividade para a vimentina, desmina e actina, e ausência de reactividade para antigénios histiocitários como CD-68 e MAC 3898,13,14, o que também apoia a teoria da degenerescência lipomatosa8,12.

Existe uma elevada incidência de leiomiomas ute-rinos concomitantes. A apresentação clínica do lipo-leiomioma é semelhante ao do leiomioma, sendo a maioria das doentes assintomática.

A transformação maligna do lipoleiomioma ute-rino é extremamente rara4,15,16. Alguns autores de-fendem que, nos casos raros de leiomiossarcomas uterinos concomitantes com lesões lipomatosas, não está provado que a malignização decorra da degene-rescência da lesão lipomatosa9.

Quando há um alto índice de suspeição, o diag-nóstico pré-operatório é possível através de exames imagiológicos, como ecograia, TAC e Ressonância Magnética Nuclear (RMN). No entanto, o diagnós-tico radiológico de lesões exofíticas ou pediculadas pode ser difícil devido à semelhança que o lipoleio-mioma pode ter com outros tumores anexiais.

Ecograicamente, o componente lipomatoso do li-poleiomioma revela-se como uma massa hiperecogé-nica uterina bem deinida, rodeada por um anel hipoe-cogéncio, o qual representa o miométrio que rodeia a massa lipomatosa2,3,17. Esta aparência ecográica é ca-racterística mas não é especíica do lipoleiomioma. As-sim, a ecograia isoladamente pode não ser suiciente para o diagnóstico, uma vez que estes tumores podem mimetizar outros tumores uterinos malignos ou ovári-cos e, no caso de grandes massas, pode não ser capaz de identiicar exactamente o órgão de origem7,18,19.

A TAC e a RMN permitem a melhor caracterização do tumor através da conirmação do exacto órgão de origem e da sua natureza lipomatosa, e assim o pla-

Figura 3 – Imagens do estudo anatomo-patológico, com coloração hematoxilina & eosina, visualizando-se feixes de células fusiformes misturadas com áreas de tecido adi-poso maduro na ampliação 50x (a), e na ampliação 200x (b), não se identiicando atipia celular nem mitoses.

Carnide C, Raposo J, Rodrigues C, Geraldes F

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neamento do tipo de cirurgia necessária2,10,11. A TAC revela uma massa de limites bem deinidos, hipoden-sa, rodeada por tecido miometrial e, após contraste, há realce da homogenicidade dos tecidos moles e da he-terogenicidade do componente lipomatoso central18. A RMN é mais sensível na identiicação do componente lipomatoso e do órgão de origem do tumor e, assim, seria idealmente o exame de eleição18. Este revela um comportamento característico, o tumor uterino tem um sinal baixo em todas as sequências, e tem perda do si-nal na sequência com saturação de gordura, o que con-irma o seu componente lipomatoso18,20.

O diagnóstico diferencial mais importante a ser feito é com o teratoma do ovário, o qual requer tra-tamento cirúrgico. A apresentação ecográica do te-ratoma do ovário pode ser muito variada, podendo visualizar-se uma lesão quística com um tubérculo ecogénico projectado no lúmen do cisto (nódulo de Rokitansky); inos ecos difusos no interior do quisto (ios de cabelo); massa ecogénica difusa ou parcial-mente difusa com sombra acústica posterior; nível líquido-líquido pela presença de material sebáceo e seroso21. As características do teratoma do ovário à RM são a presença de gordura no interior da lesão (com perda do sinal na sequência com saturação de gordura), de calciicações com hipossinal (dentes), e “plugs” dermóides aderentes à parede do cisto. As-sim, o que se torna essencial na diferenciação destes tumores é a identiicação o órgão de origem do tumor. Radiologicamente, o “beak sign”, que consiste na de-formação do contorno uterino provocada pela massa lipomatosa, pode também ser útil na identiicação da origem uterina do tumor18.

Devem também ser excluídos os diagnósticos de tumor lipomatoso não-teratomatoso do ovário, li-poma benigno pélvico, liposarcoma, mielolipoma extra-adrenal de localização pélvica, linfadenopatia lipoblástica, hamartoma cística retroperitoneal, an-giolipoma e angiomiolipoma.

Embora a maioria dos tumores uterinos sejam trata-dos cirurgicamente, os tumores assintomáticos benig-nos lipomatosos podem não exigir este tipo de trata-mento. Os achados da ecograia, da TAC (atenuação do componente lipomatoso) e da RMN (perda do sinal na sequência com saturação de gordura) do lipoleiomio-

ma são característicos, permitindo a vigilância clínica nos casos assintomáticos, sendo a ecograia o exame mais indicado. São sinais a favor de benignidade a ma-nutenção do tumor dentro da cápsula e o aumento do componente lipomatoso. No caso de haver crescimen-to do tumor num curto intervalo de tempo pode não ser necessariamente uma degeneração maligna, podendo-se optar por uma vigilância imagiológica mais regular ou por uma intervenção cirúrgica7.

Como ilustrado neste caso, o diagnóstico de uma massa pélvica pode ser feito através do exame ecográ-ico e da TAC, podendo diagnosticar-se erradamen-te um teratoma do ovário, uma vez que os achados imagiológicos podem não ser suicientemente espe-cíicos. Nos casos em que persistem dúvidas relativa-mente ao diagnóstico após a realização destes exames auxiliares de diagnóstico, a RMN pode ser útil uma vez que este é mais sensível na identiicação do órgão de origem e do componente lipomatoso.

Perante um diagnóstico pré-operatório de terato-ma do ovário é importante ter em mente que este faz diagnóstico diferencial com o lipoleiomioma uterino, podendo o correcto diagnóstico possibilitar a dimi-nuição da realização de intervenções cirúrgicas des-necessárias.

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