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Local Local Local Local Local Local Local Local Local 120 Local Local Local Local Local Local Local Local Local 121 Casa manuelina histórias Texto: Marta Almeida Carvalho Fotos: Virgínia Ferreira Para quem passa pela Avenida do Brasil, este edifício sugere uma envolvência quase mítica. Ninguém fica indiferente a esta magnífica moradia mas poucos sabem a sua história. A Viva! fez uma viagem ao passado no sentido de a descobrir. Em inícios do século XX, a Foz assumiu-se como uma das praias mais cosmopolitas do Norte. A moda de “ir a banhos”, uma importação inglesa que se generalizou entre a burguesia portuense, e a democratização dos transportes, geraram uma crescente afluência à Foz, que começou a estender-se até Carreiros, onde surgiram novos arruamentos e acessibilidades. No início de 1907, Artur Jorge Guimarães, capitão de artilharia, e sua A casa A casa A casa A casa A casa do relógio-de-sol Quem nunca se interrogou sobre a história da bonita casa de estilo neomanuelino, situada na Avenida do Brasil? O edifício encontra-se desocupado e o seu estado de degradação é bem visível. Qual será a sua história e o porquê de ter sido votado a tão longo desleixo? um magnífico salão de visitas, onde ainda se podem ver vestígios do tecido ornamentado que forrava as paredes e um espelho. O 2º andar foi dedicado à zona de dormir - uma espaçosa suite (composta por uma sala de estar com lareira, um quarto de vestir e wc), um quarto de criança com um anexo para as brincadeiras e com ligação directa a outra divisão que serviria de quarto a uma ama. No sótão há uma bonita sala, embora pequena, com luz directa e que poderia ter servido de local de leitura. Há ainda um reservatório de água, o que não seria muito comum na época. O mulher Beatriz Jorge Guimarães, compraram um terreno na Avenida de Carreiros para aí construirem uma residência. Em Setembro desse ano, o projecto (segundo os proprietários da autoria do escultor Teixeira Lopes) deu entrada na Câmara Municipal do Porto, tendo sido aprovado em 26 de Setembro de 1907 (Arquivo Histórico Municipal do Porto, Livro de Plantas 202, folhas 225 à 230, licença nº 847). A casa é composta por 4 andares e, apesar do grau de degradação ser acentuado, ainda se conseguem definir perfeitamente todos os espaços. No rés-do-chão situa-se a garagem, uma enorme cozinha (com um elevador para que as comidas pudessem ser transportadas para a sala, no andar de cima, e com uma escadaria só para os criados), e a zona da criadagem (quarto, hall e wc). Espalhados pelos restantes pisos existem mais 3 wc`s, halls, sala e

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    Casa manuelinahistrias

    Texto: Marta Almeida CarvalhoFotos: Virgnia Ferreira

    Para quem passa pela Avenida do Brasil, esteedifcio sugere uma envolvncia quase mtica.Ningum fica indiferente a esta magnfica moradiamas poucos sabem a sua histria. A Viva! fez umaviagem ao passado no sentido de a descobrir. Emincios do sculo XX, a Foz assumiu-se como umadas praias mais cosmopolitas do Norte. A moda deir a banhos, uma importao inglesa que segeneralizou entre a burguesia portuense, e ademocratizao dos transportes, geraram umacrescente afluncia Foz, que comeou aestender-se at Carreiros, onde surgiram novosarruamentos e acessibilidades. No incio de 1907,Artur Jorge Guimares, capito de artilharia, e sua

    A casaA casaA casaA casaA casa do relgio-de-sol

    Quem nunca se interrogousobre a histria da bonita casa

    de estilo neomanuelino, situadana Avenida do Brasil? O edifcio

    encontra-se desocupado e oseu estado de degradao bem visvel. Qual ser a sua

    histria e o porqu de ter sidovotado a to longo desleixo?

    um magnfico salo de visitas, onde ainda sepodem ver vestgios do tecido ornamentado queforrava as paredes e um espelho. O 2 andar foidedicado zona de dormir - uma espaosa suite(composta por uma sala de estar com lareira, umquarto de vestir e wc), um quarto de criana comum anexo para as brincadeiras e com ligaodirecta a outra diviso que serviria de quarto auma ama. No sto h uma bonita sala, emborapequena, com luz directa e que poderia ter servidode local de leitura. H ainda um reservatrio degua, o que no seria muito comum na poca. O

    mulher Beatriz Jorge Guimares, compraram umterreno na Avenida de Carreiros para aconstruirem uma residncia. Em Setembro desseano, o projecto (segundo os proprietrios daautoria do escultor Teixeira Lopes) deu entrada naCmara Municipal do Porto, tendo sido aprovadoem 26 de Setembro de 1907 (Arquivo HistricoMunicipal do Porto, Livro de Plantas 202, folhas225 230, licena n 847). A casa compostapor 4 andares e, apesar do grau de degradao seracentuado, ainda se conseguem definirperfeitamente todos os espaos. No rs-do-cho

    situa-se agaragem, umaenorme cozinha(com um elevadorpara que ascomidaspudessem sertransportadas

    para a sala, no andar de cima, e com umaescadaria s para os criados), e a zona dacriadagem (quarto, hall e wc). Espalhados pelosrestantes pisos existem mais 3 wc`s, halls, sala e

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    histrias

    exterior caracterizado pelos motivosnacionalistas, evocando os Descobrimentos, comocordas, esfera armilar, cruz de Cristo e outrosmotivos, e pelos bonitos painis de azulejoshispano-mouriscos. Um relgio-de-sol deu,durante algum tempo, nome casa. Recorde-seque est classificada como imvel de interessepblico nacional.

    Dos tempos sumptuosos degradao

    Depois de ficar viva, e por motivo de doena,Beatriz Guimares foi viver para fora do Porto.Depois da sua morte foram quatro os herdeiros afilha Maria Beatriz e os trs netos, Liz, Maria Jose Gil de Cantos. Entretanto, no 25 de Abril de1974, a casa foi ocupada ilegalmente por umsapateiro que se apropriou de tudo o que estava noseu interior. Quando ele a ocupou estava intacta,ainda com as moblias, tendo inclusivamente umpiano. Desapareceu tudo, refere Maria HelenaBraga de Cantos, a actual proprietria. Depois deum longo processo em tribunal, que se arrastoudurante anos, e que a famlia acabou por perder(segundo os proprietrios por incompetnciaprofissional do advogado), o ocupa saiu da casah cerca de dez anos, mediante uma indemnizaoda famlia, deixando-a totalmente destruda e tendo-se, alegadamente, apropriado de tudo o que estavano seu interior. volta das maanetas, existia uma

    armao de pau santo que esse senhor arrancou detodas as portas provavelmente para vender, referePaulo Ferreira Braga, filho da proprietria,salientando que o sapateiro, durante anos, nodeixou sequer l entrar os proprietrios. MariaHelena, viva de Liz de Cantos ainda se recorda del passar os meses de Vero. A casa era da minhatia-av e eu passava l as minhas frias. Em Julhoamos para a praia mesmo em frente casa e emAgosto para a Pvoa de Varzim. Lembro-me de haverpessoas que achavam que ramos mulatas, de toqueimadas que ficvamos recorda. Apesar delegalmente s se ter tornado proprietria h poucomais de um ano, Maria Helena gostava de recuper-la. O meu marido era muito apegado a esta casa.S por isso custa-me desfazer dela, embora tenhaconscincia que preciso fazer algo. Pode ser queainda pense em vender. H muita gente que a queriamas por tuta-e-meia, diz, salientando que o filhoPaulo no queria desfazer-se da casa. As constantesinvestidas de toxicodependentes e sem-abrigodegradam-na ainda mais. Tive de arranjar maneirade isolar portas e janelas para que no entrassemestranhos. Os vizinhos sabem que de vez em quandoentram aqui delinquentes e so incapazes de chamara polcia. Alguns at aproveitam e despejam todo ognero de lixo para o nosso terreno. inadmissvel,refere Paulo Braga, salientando que pagacontribuio autrquica e todas as obrigaesinerentes. Q