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COMPORTAMENTO Franquia & Negócios | ABF ABR/MAI 2013 | www.franquiaenegocios.com.br 56 Quando Ademir Teixeira Gonçalves, de 44 anos, decidiu deixar de lado o ramo de funilaria e pintura, para o qual trabalhou por 25 anos, e comprar um bar que estava à beira da falência, o casamento de 24 anos com Regiane Faria da Silva Gonçalves, de 42, quase ter- minou. “Ela não queria que eu comprasse, porque era muito arriscado, mas comprei”, conta. Com um investimento de R$ 13 mil, Gonçalves adquiriu um estabelecimento que precisava de reformas e mercado- ria. Demorou, mas ele conseguiu convencer Regiane de que o negócio poderia dar certo e que o casamento não pre- cisava terminar. Ressabiada, ela não deixou o emprego de manicure, mas o ajudava com trabalho e recursos. Eles contam que tudo o que o bar faturava era reinvesti- do no negócio. Ainda assim, passaram meses no vermelho. Foi um amigo que apresentou ao casal a marca Nosso Bar, franquia da Ambev. A vontade de crescer fez Gonçalves con- verter o negócio independente em uma unidade da marca. E mais uma vez a decisão abalou o casamento. “Eu não queria muito, mas vi que seria um projeto grande e aceitei”, conta Regiane, que mesmo após a reinauguração da unidade na Vila Matilde, em São Paulo, manteve seu emprego. Hoje, após dois anos com a marca, o casal consegue um faturamento médio mensal de R$ 40 mil. Mas no primeiro ano da operação, o salário dela ajudava a manter o negócio. Quan- do a clientela aumentou, Regiane decidiu deixar o salão para ajudar o marido na operação. “Tudo mudou quando ela en- trou, porque ela controla melhor as contas”, afirma Gonçalves. As mudanças não ocorreram apenas nos negócios. A fran- quia permitiu ao casal conhecer-se melhor. “A relação mudou, estamos mais próximos e sempre juntos. Dividimos tudo e quan- do há diferenças, conseguimos resolver”, conta o empresário. No am r e nos negócios Casais que comandam franquias contam como fazem para equilibrar questões profissionais e pessoais POR CAMILA MENDONçA E PAULO GRATãO franqabf#48_ Montagem.indd 56 28/03/2013 17:24:52

Casais juntos no amor e nos negócios

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Page 1: Casais juntos no amor e nos negócios

COMPORTAMENTO

Franquia & Negócios | AbF abr/Mai 2013 | www.franquiaenegocios.com.br56

Quando Ademir Teixeira Gonçalves, de 44 anos, decidiu deixar de lado o ramo de funilaria e pintura, para o qual trabalhou por 25 anos, e comprar um bar que estava à beira da falência, o casamento de 24 anos com Regiane Faria da Silva Gonçalves, de 42, quase ter-minou. “Ela não queria que eu comprasse, porque era muito arriscado, mas comprei”, conta.

Com um investimento de R$ 13 mil, Gonçalves adquiriu um estabelecimento que precisava de reformas e mercado-ria. Demorou, mas ele conseguiu convencer Regiane de que o negócio poderia dar certo e que o casamento não pre-cisava terminar. Ressabiada, ela não deixou o emprego de manicure, mas o ajudava com trabalho e recursos.

Eles contam que tudo o que o bar faturava era reinvesti-do no negócio. Ainda assim, passaram meses no vermelho. Foi um amigo que apresentou ao casal a marca Nosso Bar, franquia da Ambev. A vontade de crescer fez Gonçalves con-verter o negócio independente em uma unidade da marca. E mais uma vez a decisão abalou o casamento. “Eu não queria muito, mas vi que seria um projeto grande e aceitei”, conta Regiane, que mesmo após a reinauguração da unidade na Vila Matilde, em São Paulo, manteve seu emprego.

hoje, após dois anos com a marca, o casal consegue um faturamento médio mensal de R$ 40 mil. Mas no primeiro ano da operação, o salário dela ajudava a manter o negócio. Quan-do a clientela aumentou, Regiane decidiu deixar o salão para ajudar o marido na operação. “Tudo mudou quando ela en-trou, porque ela controla melhor as contas”, afirma Gonçalves.

As mudanças não ocorreram apenas nos negócios. A fran-quia permitiu ao casal conhecer-se melhor. “A relação mudou, estamos mais próximos e sempre juntos. Dividimos tudo e quan-do há diferenças, conseguimos resolver”, conta o empresário.

No am re nos

negóciosCasais que comandam franquias contam

como fazem para equilibrar questões profissionais e pessoais

Por Camila mendonça e Paulo Gratão

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Convívio benéfico

Com o aumento da renda da população, cresce o número de pessoas interessadas em empreender. Segundo a GEM 2013 (Global Entrepreneurship Mo-nitor), mensurado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a propor-ção dos brasileiros que deseja ter o próprio negócio (43,5%) é superior a dos que desejam fazer carreira em empresas (24,7%).

Nesse cenário, é cada vez mais comum encon-trar negócios administrados a dois, principalmente no setor de franquias, avalia a diretora da Avance Franchising, Isa Silveira.

“Antes, o marido comprava a franquia para a mu-lher, porque ela queria. Mas as redes começaram a ser mais exigentes com o perfil do franqueado”, afirma.

Essa exigência mudou as perspectivas: agora, o in-vestimento e a gestão são divididos entre o casal. À primeira vista, essa convivência parece conflituosa. Contudo, casais que passam a administrar seus negó-cios juntos conseguem, em geral, reforçar a parceria dentro de casa.

Assim como ocorreu com Gonçalves e Regiane foi o franchising que aproximou ainda mais Claudia e Elcio Bassi, ambos de 43 anos. O convívio do casal à frente de uma operação da Riolax, marca especia-lizada em comércio de banheiras, spa e acessórios, foi benéfico para a relação, na visão de Bassi.

Após dezenove anos de casamento, os dois con-seguiram se redescobrir por meio do franchising. “Tí-nhamos amigos que falaram que não era boa experiência, mas nosso relacionamento até melhorou. Con-versamos mais, trocamos ideias na empresa. Ela viu pontos meus que não conhecia e eu também”.

O segredo, segundo o empre-endedor, é saber chegar em casa à noite e deixar os assuntos pro-fissionais na empresa. “Mudamos o foco diretamente para os filhos. Nunca tivemos uma discussão profissional, e nem em casa por causa da empresa”, afirma.

Bassi trabalhou no mercado publicitário por vinte anos, em São José do Rio Preto (SP), antes de tomar a decisão que mudaria a vida de toda a sua família. Can-sado de atuar no mesmo ramo

por tanto tempo, e apoiado pela esposa, que até então era responsável pela educação dos filhos e cuidados do lar, Bassi procurou uma marca de franquias em que poderia investir.

A franquia da Riolax, que ficava a 400 quilô-metros de distância, foi a que mais o atraiu. Viu, então, que era hora de fazer as malas de toda a família, trancar a casa no condomínio fechado em que morava, pedir transferência de escola para as crianças, deixar o promissor interior paulista para trás e apostar em outro mercado. “Pesquisei ci-dades em Minas Gerais e Paraná, e após avaliar as condições, resolvi investir em Londrina, por ser uma praça grande e que atende também Marin-gá. Temos dois milhões de clientes”.

um ano se passou desde a mudança que al-terou toda a rotina da família. Cláudia passou a trabalhar com o marido e agora coloca em prá-tica no negócio a sua formação administrativa.

“Tínhamos amigos que falaram que não era boa experiência, mas nosso relacionamento até melhorou. Conversamos mais, trocamos ideias na empresa. Ela viu pontos meus que não conhecia e eu também”Elcio Bassi, franqueado da riolax

“Ela é a responsável pela parte fi-nanceira da loja, cuida de todos os pagamentos, controles, admi-nistração, e eu fico com a parte comercial e prospecção de novos clientes”.

Sem pé atrás

A confiança é um dos principais fatores para que uma sociedade empresarial dê certo. Nesse sentido, os casais já estão em vantagem.

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o casal claudia e elcio Bassi, sócios da riolax

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“Quando se monta um negócio com o marido ou a esposa, o elemento confiança, em tese, já está sana-do. Isso tende a não ser problema no futuro”, afirma o diretor do Instituto de Administração (Instiad), luiz Cláudio Binato.

Sem confiança, Dafne Carey Moreira Duarte, de 26 anos, e Paulo Roberto Gomes Duarte, de 28, não teriam aberto um negócio juntos. “Sem ela, não seria possível”, diz ele. Até 2009, Duarte trabalhava com o pai em uma escola de informá-tica, mas decidiu sair para abrir o próprio negó-cio. “Saí da empresa com conhecimento, mas sem dinheiro”, conta.

Em Guararema, em São Paulo, o empreen-dedor encontrou uma escola que não estava indo bem e fez negócio. Parte dos R$ 18 mil in-vestidos saiu do bolso de Dafne, que trabalha-va como secretária bilíngue. “No começo, todo o dinheiro, tudo o que precisava, era ela que dava. Absolutamente tudo”, ressalta ele. Por três meses, Duarte era professor e atendente. A reforma foi feita aos poucos. Como moravam na cidade vizinha, Santa Isabel, o casal dormiu por diversas vezes na escola, para economi-zar combustível.

Quando o faturamento passou de R$ 3 mil para R$ 15 mil e o número de alunos subiu de 50 para 200, Duarte pediu para que Dafne saísse do trabalho dela. E mais uma vez, ela o apoiou. hoje, com bandeira da Easycomp, a escola fatura em média R$ 30 mil, tem sete funcionários e 450 alunos. Com o sucesso da primeira empreitada, o casal abriu a segunda unidade da marca, em Santa Isabel, que fatura R$ 55 mil e

atende 650 alunos. Para Duarte, a confiança que Dafne depositou

nele foi essencial para que seu sonho de em-preender se tornasse realidade. “Em uma fase de namoro é fácil que a pessoa ceda o nome ou dinheiro, mas fazer essa pessoa ficar ao seu lado em momentos difíceis é raro”, acre-dita. hoje, ele cuida da parte de vendas e contratações e ela das contas a pagar e rece-

ber, além das decisões de marketing.

Divisão de papéis O maior desafio para o ca-

sal que assume o compro-misso de gerir uma empre-

sa é incorporar os papéis

de acionista, gestor e cônjuge no tempo certo, segundo Binato, do Instiad “Nesse arranjo o homem é marido, acionista e gestor da empresa, assim como a mulher. O acionista não pode falar como marido, ou a esposa falar como gestora. Na em-presa o papel é um, em casa é outro. Con-fundir isso pode transformar em ameaça o que seria uma boa oportunidade”.

Para ajudar os casais, principalmen-te iniciantes no mundo dos negócios, o especialista aconselha que seja feito um planejamento prévio com atribuições de tarefas e papéis, mas que envolva tam-bém as características pessoais de cada um. “É preciso entender que pessoa físi-ca é uma coisa e jurídica é outra, convi-vem, mas não se misturam. Deixar bem claro quais são os papéis, os resultados que se espera e como prestar conta um ao outro”.

Essa divisão, completa Isa Silveira, é fundamental para que também não haja sobreposição de funções. “É muito co-mum que ocorram situações em que um acabe se dedicando mais ao negócio que o outro. A forma de evitar isso e de resol-ver essas questões é o diálogo e descrição clara das funções”, avalia.

“Em uma fase de namoro é fácil que a pessoa ceda o nome ou dinheiro, mas fazer essa pessoa ficar ao seu lado em momentos difíceis é raro”Paulo Roberto Gomes Duarte, franqueado da easycomp, ao lado de sua esposa e sócia dafne carey moreira duarte

COMPORTAMENTO

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Luiz Cláudio Binato, diretor do instiad

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A divisão, conta Saccaro, foi definida de acordo com as características de am-bos. “Ela é mais calma e sabe ouvir bem, já eu sou mais agitado e gosto de sair resolvendo as questões mais objetivas do negócio”, afirma.

Apesar das definições, ambos dão seus palpites quando necessário. “Eu faço as compras, mas como o produto é infantil, gosto de ouvir a opinião dela”, afirma o empresário. Os cuidados para manter os papéis claros e a relação tran-quila, conta Saccaro, é tentar sair da ro-tina de vez em quando. “Em casa, evi-tamos discussões geradas por questões de negócio e para respirar fazemos viagens rápidas.”

Para Isa Silveira, da Avance Franchi-sing, a definição de funções parte do conhecimento mútuo. “O sucesso vem daí, de perceber as competências com-plementares de cada um. Com isso, não apenas o negócio prospera, mas o casa-mento também.”

unidos pelo FrancHisingFoi em santo andré, no aBcd paulista, que daniela d’andrea abriu sua primeira franquia da rede embelleze, em sociedade com sua cunhada, em 2003. dois anos depois, as duas abriram mais uma unidade em Barueri, também na grande são paulo e foi com essa que daniela ficou depois de desfeita a sociedade. o que ela não sabia, no entanto, é que em 2006 a embelleze lhe daria mais do que uma empresa: o amor. danilo rodrigues Verrillo começou a trabalhar como consultor da máster franqueada da marca, mas não atendia a loja de daniela. em um evento realizado para franqueados e consultores foi que o olhar da franqueada e do consultor se cruzou pela primeira vez. “Eu não o conhecia. Ele era consultor da franquia de Pinheiros, começamos a conversar, e ele me chamou para sair”, lembra a empreendedora.atualmente, daniela e danilo são casados e têm um filho de quatro anos. “Hoje ele é gerente de expansão da SPR e eu cuido da gestão da franquia. Por trabalharmos em áreas correlatas, temos alguns choques de opinião, mas a gente leva isso na boa”.

Consultores podem ser úteis para ajudar na elaboração des-se planejamento e até a me-diar possíveis conflitos a fim de evitar que desgaste o relacio-namento. “Hoje existem ferra-mentas que analisam papéis na empresa e o comportamento das pessoas, características, o que ela poderia usar melhor quando for acionista ou quando for ma-rido e mulher”, afirma Binato.

O consultor pode ser útil, também, para abrir a mente do casal para situações delicadas que passam longe do pensa-mento quando o contrato de franquia é assinado, como, por exemplo, uma eventual separa-ção conjugal. “É preciso antever isso. Por essa razão, o plano de papéis é importante, pois o con-sultor desenha o papel na jun-ção do negócio e já deixa dese-nhado caso haja a disjunção, também”, diz.

Operacional dividido

há três anos, heleny Saccaro, de 51 anos, e Gilberto Sac-caro, de 55, abriram uma unidade da Magic Feet, de calçados infantis, e inauguraram a segunda em 2012, ambas em São José dos Campos, em São Paulo. Apesar de decidirem ques-tões estratégicas juntos, as operacionais são bem divididas: ele é responsável pela parte financeira e compras e ela faz a parte de Recursos humanos e marketing.

Gilberto e Heleny Saccaro, sócios da franquia de calçados infantis magic Feet

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COMPORTAMENTO

o casal danilo e daniela no dia do casamento com o filho lucca, de quatro anos

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