Upload
vodiep
View
214
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
ENSINANDO E APRENDENDO
COM O JORNAL ESCOLAR
REDE JORNAL ESCOLA
2006
Daniel Raviolo - Júlio Lira - Karina Mota
Redação: Daniel Raviolo, Júlio Lira e Karina Mota
Capa e Editoração eletrônica: Carlos Machado
Direitos autorais:COMUNICAÇÃO E CULTURARua Castro e Silva, 12160030-010 FortalezaPABX (85) [email protected]
1ª edição 20002ª edição revisada 20013ª edição revisada 2006
CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte.
RAVIOLO, Daniel. LIRA, Júlio. MOTA, Karina
Ensinando e aprendendo com o jornal escolar /Por Daniel Raviolo, Karina Mota e Júlio Lira - 3ªedição revisada - Fortaleza-CE: Comunicação eCultura, 2006.
1.Alfabetização 2. Letramento3.Jornalismo escolar 4.Projetos educativos
de comunicaçãoI. Título
O projeto Primeiras Letras foi criado pela ONG
Comunicação e Cultura (Fortaleza) em 1998.
Desde o ano 2003 ele está sendo disseminado nacio-
nalmente através da Rede Jornal Escola. O objetivo do
projeto é contribuir para a melhoria dos processos de
ensino e aprendizagem e a formação cidadã das crian-
ças e adolescentes, através da publicação de jornais edi-
tados nas escolas de Ensino Fundamental. A produção
do jornal envolve alunos e professores, sendo estes os
responsáveis pela edição final.
O projeto resgata a função social da escrita e propõe a
inserção ativa das escolas na sociedade da informação.
O jornalismo escolar é uma tradição que nasceu com
o educador francês Célestin Freinet na década de 1920.
Na origem do projeto no Ceará está a experiência rea-
lizada pela professora Marluce Maia na escola Paro-
quial do Trilho, situada num bairro popular de Fortale-
za. Em 1995, a educadora aproveitou a oportunidade
criada por um outro projeto do Comunicação e Cultu-
ra para dar início à publicação do �Jornal Popular�,
com textos e desenhos de seus alunos. Os resultados
foram excelentes de todos os pontos de vista, e motiva-
ram a criação do projeto Primeiras Letras.
Nesta publicação apresentamos algumas recomenda-
ções inicias. Tratando-se de uma atividade eminente-
mente criativa, não duvidamos de que em pouco tem-
po as professoras e professores que abracem a idéia
terão descoberto novas formas de utilizar o jornal es-
colar para melhor ensinar e... aprender!
A professora Alice hesitou bastante quando a convidaram a produzir um jornal
escolar. �Mais uma dessas novidades...�, pensou com ceticismo; �além disso, como
vou publicar um jornal, se não sou jornalista?�.
Contudo, em pouco tempo, Alice descobriu que publicar um jornal não era ne-
nhum �bicho papão�, e - melhor ainda - que ele facilitava bastante o seu trabalho.
Os alunos e alunas entendiam melhor a função social da escrita e participavam
mais, motivados pela publicação de seus textos. Por outro lado, a própria Alice
sentiu-se valorizada e orgulhosa pelo seu trabalho.
Nesta publicação acompanharemos um pouco da experiência da profes-
sora Alice e conheceremos alguns exemplos de conexão entre o projeto
pedagógico e a produção de textos para o jornal. Além disso, rece-
beremos algumas recomendações práticas muito úteis. Tudo ti-
rado da experiência!
Lendo a apostila o professor(a) constatará que o jor-
nal é uma ferramenta adequada aos propósitos
educativos da escola. Mais do que isso, desco-
brirá que fazer um jornal junto com seus
alunos pode ser uma ótima oportu-
nidade para seu próprio desen-
volvimento pessoal. E isso
realmente importa!
Eu!... Trabalhar comjornal escolar?
Colega Joãozinho,
Estou lhe escrevendo pois fiquei
com muita pena porque você dei-
xou de estudar, e agora o que vai
ser do seu futuro? Colega, sem es-
tudo jamais poderá ser alguém ou
arranjar um emprego até mesmo de
pedreiro vai ser muito difícil por isso
pense, você está agindo muito er-
rado, volte para a escola e deixe de
ser menino de rua, todos daqui es-
peramos que você volte. Abraços.
Juliana 2ª série B
O projeto pedagógico escolhido pela escola tra-tava do tema a importância da educação. Alice de-cidiu aproveitar a oportunidade para trabalhar ogênero correspondência. Ela mostrou aos alunosdois tipos de carta, uma publicada no jornal dacidade e outra, de tipo familiar, que tinha rece-bido de uma tia do interior. Partindo destesexemplos, debateu acerca da possibilidade de,por meio das cartas, manifestar pensamentos,sentimentos e participar da vida pública.
Para animar a conversa, a professora Ali-ce perguntou se alguém na sala já havia es-crito alguma correspondência. Propôs emseguida que todos escolhessem uma pessoapara quem gostariam de escrever a respei-to da importância da educação. Foi um al-voroço... Cartas para mães, amigos e Pa-pai Noel!
Ao final da atividade os alunos leramsuas cartas. Após debate, de comumacordo foram selecionadas para o jor-nal cartas que algumas crianças tinhamescrito para colegas fora da escola. Ali-ce, junto com a turma, providenciou oenvio das demais, utilizando envelopese explicando para as crianças comopreenchê-los.
As crianças perceberam os ele-mentos básicos do processo decomunicação (sujeito, receptore mensagem); expressaramsua afetividade, bem comoseus pontos de vista.
No debate para escolheras cartas que seriam pu-blicadas, agiram comoverdadeiros cidadãos,para uma finalidade debem comum. O exercí-cio serviu também paraestimular a inteligênciaemocional.
CartaTexto escrito na primeira pessoa(do singular ou plural) com oobjetivo de estabelecer umacomunicação direta com odestinatário ou os destinatários.A carta pode ser dirigida tantopara pessoas conhecidas, comopara autoridades. Sua funçãosocial também se caracteriza peladiversidade: é meio de expressãode afetividade, opiniões,protestos etc.
Querido amigo Júlio,Por que você abandonou a
escola? Você não gostava dasprofessoras ou dos alunos? Sevocê quiser voltar venha que nóstodos estamos esperando. Nãoesqueça que nós somos seusamigos e seus irmãos na alegria,na tristeza, na doença e nas coi-sas que você precisa. Já quevocê tem uma mãe que não ligapara você, não se esqueça denós. Me desculpe, eu estou fa-lando tudo isso porque eu gostode você, não quero ver você so-frendo que nem outros meninose meninas. Receba esta cartacom muito amor de sua grandeamiga.
Edinalda, 2ª série B
Resultados
8 Ensinando e aprendendo com o jornal escolar
Durante as reuniões de planeja-mento, os professores comentavam sem-
pre a necessidade de se aproximarem davida da comunidade. A professora Alicedecidiu trabalhar essa questão por meiode textos opinativos dos alunos.
De início ela conversou com seus alu-nos, solicitando que apresentassem os pro-blemas do bairro. A seguir Alice propôs aredação de textos sobre o assunto. Ela ex-plicou que primeiro se deve apresentar a si-tuação, deixando para dar a opinião depois.Para reforçar, leu um pequeno artigo de opi-nião publicado no jornal local.
Alice dividiu os alunos em grupos e solici-tou que apontassem, por escrito, alguma coi-sa do bairro que eles acham injusta ou erra-da. Também pediu para fazerem desenhos.
Após o momento da redação, os alunos apre-sentaram e debateram seus textos com os cole-gas. Entre todos, escolheram aquele que seriapublicado no jornal. Alice ainda os orientou afazer um mural com o título �De olho no bairro�,no qual todos os trabalhos foram expostos.
Com essa atividade as crianças sentiram-se responsáveis por sua comunidade.�Isto nunca tinha acontecido antes�, dis-se um dos pais; �achei muito positivomeu filho se interessar pelo bairro�.
A professora Alice avalia que os alunosassociaram a escrita à ação social pelamelhoria de qualidade de vida. Além dis-so, notou que o exercício ajudou as cri-anças a manifestar seus pensamentos comlógica e coerência.
Resultados
DE OLHO NO
BAIRRO
Em nosso bairro acontecem mui-
tas coisas; coisas boas e ruins, é cla-
ro. Mas um dos acontecimentos
mais importantes foi a vinda da água
para dentro de nossas casas através
da CAGECE.
A água da CAGECE vai nos pro-
porcionar melhores condições de
vida, o que era privilégio para al-
guns, agora podemos também usu-
fruir desse bem.
Além disso outros melhoramen-
tos também chegaram ao nosso bair-
ro como: reforma nas Escolas,
melhorias no calçamento e na ilu-
minação das ruas.
Isso, acredito que foi só um co-
meço, pois, precisamos de muito
mais: segurança, postos de saúde,
creches...
Precisamos de mais trabalho, de
mais empenho para fazer o nosso
bairro crescer.
Adriana Pereira de Almeida.
Tia Socorro – SA II – Manhã.
OpiniaoTexto através do qual o autorexpõe seus pensamentos acercade um tema. Em geral, aopinião é composta de umaintrodução na qual se apresentauma situação, seguida deargumentação demonstrandoum ponto de vista.Normalmente o artigo deopinião é finalizado com umaproposta ou uma reflexão.
~
9Ensinando e aprendendo com o jornal escolar
Como forma de engajar seus alu-nos na campanha contra a Dengue,que ameaça a saúde dos moradoresdo bairro, a professora Alice deci-diu trabalhar anúncios educativos.
Após falar sobre a epidemia,lançou aos alunos a idéia quecompletassem a seguinte frase:�se eu pudesse eu diria às pesso-as da minha comunidade que...�
Alice sintetizou as discussõesmostrando a relevância das men-sagens imaginadas e a importânciada circulação de idéias. Disse paraa turma que muitas pessoas usam osanúncios para apresentar suas idéi-as. Para ilustrar, mostrou alguns mo-delos de publicidade educativa.
Ao perceber que os alunos tinhamentendido bem o assunto, Alice soli-c i tou que cada um produzisse umanúncio contra a Dengue, com textoe desenho. Quando os anúncios fica-ram prontos, os alunos organizaramuma exposição e escolheram o melhorpara ser publicado no jornal. �Fiqueisurpresa!�, disse Al ice. �Eles f icarammuito concentrados�.
Os alunos se sentiram participantes deuma luta pela saúde comunitária. Eles en-tenderam o princípio da comunicação demassa, bem como características da co-municação aplicada à publicidade.
�As produções das crianças foram exce-lentes�, avalia a professora. �Eles conse-guiram expressar suas idéias através deformas muito simples�.
Resultados
AnúncioEducativoGênero que tem como objetivoconscientizar ou informar osleitores sobre determinadoassunto. Sua principalcaracterística é o poder desíntese: com poucas palavras eimagens deve seduzir os leitores.
10 Ensinando e aprendendo com o jornal escolar
Pensando no projeto mensal dos ciclos, quetratava do mundo da comunicação, a professoraAlice provocou um debate sobre os tipos de noti-ciários que os alunos já haviam visto. Em segui-da mostrou o grande trunfo do dia: uma caixa depapelão imitando uma TV. Com os meninos en-cantados, ela apresentou a proposta de fazer umjornal televisivo de faz-de-conta. Cada um delesdeveria investigar um fato novo da escola ou dasua vizinhança, descobrindo o que aconteceu,onde e quando aconteceu.
No dia seguinte, Alice solicitou que cadaum deles escrevesse sua notícia. Ela ficou bematenta tirando dúvidas e apresentado suges-tões e questionamentos relativos à reescritae à revisão.
Depois aconteceu a apresentação dotelejornal, com grande sucesso. Para termi-nar a atividade, a professora Alice orga-nizou uma pequena votação, para os alu-nos escolherem as notícias que seriampublicadas no jornal da escola.
O fato de elaborarem uma no-tícia sobre a escola ou a comu-nidade levou os alunos a co-nhecer melhor o mundo em quevivem .
Ao buscar informações paraescrever uma notícia, os alu-nos puderam realizar uma pe-quena pesquisa, base da cons-trução de qualquer tipo de co-nhecimento.
A escolha pelos alunos dasmatérias que seriam publi-cadas no jornal levou-os a re-fletir sobre a importância dosmeios de comunicação.
NotíciaEste gênero se caracteriza como umregistro objetivo dos fatos; o autorprocurando passar mais informaçõesdo que opiniões. Na notícia ojornalista procura responder algumasperguntas clássicas: o queaconteceu? por que, como, quando eonde aconteceu? quem estáenvolvido?
Plano de EmergênciaEstamos enfrentado mais um ano
de seca, e também um ano de muitos
trabalho. Nossos pais trabalham muito
para sustentar a família.Exemplo: Cortam capim, brocam,
fazem cerca, cacimbões e outros.
Ganham 90 reais por mês. Onde
temos famílias que tem 10 pessoas.
Resultados
11Ensinando e aprendendo com o jornal escolar
O primeiro ciclo estava engajado numprojeto referente à situação da criança. Aprofessora Alice decidiu trabalhar sobre o Es-tatuto da Criança e do Adolescente com seusalunos, utilizando desenhos.
Ela procurou na biblioteca da escola umexemplar do Estatuto e partiu para o desafiode tornar essa lei algo de fácil compreensão.
Alice iniciou a conversa com a turma a par-tir da questão: �De que uma criança precisapara ser feliz?� Ao comentar as respostas, fezassociações aos direitos da criança e, em se-guida, listou-os no quadro. Deu continuidadeao debate com a pergunta: �O que uma crian-ça pode fazer para tornar os outros felizes emcasa, na escola...?� Ela associou as respostasaos deveres da criança e novamente os listouno quadro.
Em seguida sugeriu que os alunos, em du-plas, ilustrassem alguns dos direitos e deve-res da criança. Alice estimulou as crianças aexibirem as ilustrações em um mural e a se-lecionarem aquelas que iriam para o jornal.
Junto com a turma, refletiu sobre osacordos (direitos e deveres) que são feitosao longo dos tempos para que as pessoasconvivam melhor, e falou ainda como, mui-tas vezes, as crianças têm seus direitos des-respeitados. Encerrou a aula apresentan-do o estatuto para seus alunos.
A atividade possibilitou a refle-xão sobre os fundamentos doconceito de cidadania, com umdebate sobre responsabilida-des e direitos das crianças.
A turma teve e lementospara entender e se posi-cionar criticamente quan-to à situação das criançasno Brasil e no mundo.
Resultados
IlustraçaoImagem utilizada pelo jornal naforma de fotografia, desenho,caricatura ou charge.
~
Lazer Educação
Família Moradia
Saúde
Não jogarlixo no chão
Deveres da criança
Direitos da criança
Chegar cedoà escola
Não riscar asparedes daescola
Respeitar aprofessora e oscolegas
Prestaratenção àaula
Alunos 2º Ciclo
12 Ensinando e aprendendo com o jornal escolar
Conto:Texto que tem por objetivonarrar uma história que, emgeral, é fictícia. Neste gêneronão se tem uma preocupaçãoinformativa, diferenciando-sedesta forma da notícia.
O projeto escolar daquele mês tinha portema a importância da literatura. A professoraAlice pensou que um gênero interessante paraser trabalhado em sala de aula seria o conto,que é mais curto e que prenderia a atençãoda turma. Selecionou para tanto um doscontos de que ela gostava, para ser lidopara a turma.
A leitura foi prazerosa, pois Alice temo dom de fazer com que as crianças ima-ginem mil cenas à proporção em que lê.Em seguida debateu com as crianças umpouco da história do autor e o conto.
Para estimular a imaginação de seusalunos, Alice pediu que cada um rees-crevesse a estória com um final dife-rente, ilustrando-a à sua maneira.
Ao final da aula, solicitou aos alu-nos que apresentassem o texto e a ilus-tração para o restante do grupo. Alicecomentou o valor das diferentes solu-ções criadas pelos pequenos escrito-res. Um trabalho foi selecionado paraser publicado no jornal da escola.
A atividade permitiu que as cri-anças se aproximassem à litera-tura narrativa, despertando ne-las a vontade de ler e escrevercontos.
Possibilitou ainda que elas tra-balhassem a coerência e a lógi-ca, ordenando causas e conse-qüências dos acontecimentos,bem como estimulou a criati-vidade e a percepção do valorda imaginação.
Resultados
Cavalo de pauEra uma vez uma menina que
não tinha brinquedos. E nem com
quem brincar, ela vivia triste, mas
um dia ela foi para a escola e a
professora ensinou a fazer um ca-
valo de pau, ela aprendeu e fez
um, ela morava numa favela e as
outras crinaças também não ti-
nham brinquedos. Ela ensinou
para elas aprenderam e fizeram.Então, todas as crianças da fa-
vela agora tinha um brinquedo,
elas ficaram muito felizes.E viveram felizes para sempre.Maria, 5ª série B
13Ensinando e aprendendo com o jornal escolar
Numa oportunidade, Alice selecionou parapublicação o texto de uma criança que tinha sofri-do sérias queimaduras num acidente doméstico.Ela explicou à turma que achava que a meninamerecia o reconhecimento, porque apesar da ad-versidade continuava na escola. Os colegas apoi-aram esse ponto de vista com uma salva de pal-mas. �Eu sabia que o texto não era o melhor dasala, mas a menina precisava levantar o moral,porque estava bastante abalada�, comenta a pro-fessora. �Após ter sua matéria publicada ela me-lhorou muito sua integração e participação�.
Resultados como esse surgem do reconhecimen-to que a própria criança e as pessoas que a cer-cam fazem de seu trabalho, quando publicado nojornal. Por isso, nem sempre é conveniente pu-blicar o melhor texto da aula. Publicar trabalhosde alunos que precisem de apoio especial porqualquer circunstância é uma boa estratégia.
�Minha matéria não saiu�
Entretanto, a quantidade de textos que po-dem ser publicados no jornal é limitada, porfalta de espaço. Está aí um grande risco.Se não forem tomadas algumas precau-ções, um projeto que deveria aumentar aauto-confiança pode vir a ter efeito con-t rá r io, com os a lunos sen t indo- sefrustados e preteridos.
Um caso ilustra bem este risco: nodia da distribuição do jornal, as cri-anças avançaram procurando seusexemplares. Tiago, um garoto de 9anos, folheou e imediatamente ras-gou o jornal em mil pedaços. Es-tava furioso porque o seu dese-nho não tinha sido publicado.
O que fazer para aproveitar ojornal no reforço da auto-esti-ma dos alunos, evitando frus-trações? Veja algumas dicasao lado.
l Sempre que possível é recomendável trabalhartextos coletivos que, além de proporcionarema socialização do grupo, representam toda umaturma no jornal.
l A professora pode promover dinâmicas paraque os alunos escolham eles mesmos os tex-tos a serem publicados, seja através de debateou até de eleição.
l O educador pode escolher ele mesmo um tex-to, mas sempre explicando seus motivos. Umbom exemplo é quando escolhe um trabalhode um aluno que tem melhorado muito e, porisso, merece ser reconhecido.
l Obviamente é necessário evitar que sejam sem-pre os mesmos alunos que tenham seus traba-lhos publicados no jornal. O professor deveficar atento para dar oportunidades a todos.
l Os trabalhos não veiculados no jornal podemser valorizados em outros espaços, como mu-rais, caixas de recados, correios etc.
Dicas
A seleção dos textos
14 Ensinando e aprendendo com o jornal escolar
Publicar ou não textos com erros? Eis uma questãoque agita muitas escolas. A professora Alice sustenta queo fato de os textos terem visibilidade pública no jornalé um ótimo estímulo para os alunos valorizarem a re-visão, sobretudo através de trabalhos coletivos em salade aula.
Porém ela sabe que a revisão é uma situação di-dática. Quando são trabalhados textos de alunos queapenas começaram a escrever, o importante é focara revisão nas questões de coerência e coesão. A re-visão dos erros ortográficos irá ganhando impor-tância à medida em que o professor sentir que oaluno consegue expressar seus pensamentos de for-ma lógica.
Mas como seguir essa recomendação quando sa-bemos que os erros dos alunos são lidos pelos fami-liares e pela comunidade escolar? Será que os pró-prios alunos não gostariam de apresentar textos im-pecáveis e, para tanto, de receber a ajuda dos pro-fessores? Por outro lado, qual é o limite da revisãopara os alunos se identificarem com suas matérias eserem reconhecidos como autores?
O importante é que os professores tenham consciên-cia tanto do potencial do jornal escolar para o aprimo-
ramento da redação, através da revisão, como do riscode se cometer excessos que desvirtuem os textos dos alu-
nos, �inventando� uma capacidade de expressão escritainexistente.
Em todo caso é prudente informar aos leitores sobre anatureza da publicação, inserindo uma mensagem como a
seguinte: �Este jornal publica textos de alunos em fase de alfa-betização. Seja tolerante com eventuais erros�.
Dicas
Erros em debate
l A professora escreve na lousa o(s) texto(s) escolhido(s) para representar asala no jornal. Conversa sobre a importância do jornal, sobre a opinião queos leitores terão do trabalho da escola e da sala de aula. Propõe que todosjuntos façam a revisão do texto. A seguir solicita que alguém leia em voz alta.Os alunos interrompem a leitura a medida em que descobrem erros ou têmsugestões a fazer.
O menino e seunavioEra uma vez um menino seunavio. Ela saia para pesca e naserto dia o navio afundou e ominino quaze que ia se alogou.Pedro, 1º ciclo
O menino e seu
navio
Era uma vez um menino e seu
navio. Ela saía para pescar e
certo dia o navio afundou. O
menino quase se afogou.
Pedro, 1º ciclo
15Ensinando e aprendendo com o jornal escolar
Uma agitação percorre as cartei-ras. Os alunos se impacientam, nãoquerem aguardar sua vez. Um ou ou-tro grita �Aqui, aqui!�. Outros esticamo braço. A professora Alice procuraacalmar os mais afoitos. É o jornal es-colar sendo distribuído.
�O momento em que o jornal édistribuído em sala de aula é mági-co�, disse Alice. �Dá gosto ver osalunos tão interessados pela leitu-ra�. De fato, os estudantes pas-sam o jornal todo em revista, pro-curando novas matérias, autoresconhecidos, assuntos polêmi-cos, recadinhos, avisos...
Esta movimentação todafez Alice procurar aproveitarmelhor o interesse dos alunos,para melhor explorar o po-tencial do jornal. Ela se ins-pirou nas �dicas� ao lado.
l Reconhecer a configuração de um jornal: deque é feito um jornal? como as letras e pá-ginas se arranjam? em que é diferente deum livro?
l Identificar as diferentes partes do jornal: oque são matérias? o que é expediente? o queé prestação de contas?
l Identificar diferentes tipos de texto: quem écapaz de encontrar a notícia? e recadinhos?e publicidade?
l Identificar diferentes funções dos textos:para que serve uma notícia, uma publicida-de, o expediente? Para que serve a man-chete? por que ela tem as letras maiores?
l Relacionar textos a seus leitores: para quemdeterminado texto foi escrito? a pessoa queescreveu queria se comunicar com quem?
l Localizar e retirar informações: o que estetexto nos informa? Fazer perguntas especí-ficas, relacionadas a um ou outro aspectodo texto.
l Compreensão global de um texto: de quetrata esta matéria?
l Sintetizar informações: como você contariaessa história em poucas frases?
l Identificar causas e conseqüências de fatos:como isto começou? isso vai parar por aíou vai ter conseqüências?
HABILIDADES NALEITURA DE TEXTOJORNALíSTICO (*)
(*) Texto de referência: �Leitor de jornal,perspectiva metodológica�, Leiva de
Figueiredo Viana Leal, Revista PresençaPedagógica, Maio/Junho 1996.
Formando leitores
Dicas
16 Ensinando e aprendendo com o jornal escolar
O jornal escolar é uma ferramenta que sepresta bem para o aperfeiçoamento da ora-lidade. Quem não gosta de comentar a notíciaque leu? Quem nunca leu em voz alta uma notí-
cia que achou interessante? Quem nunca parti-cipou de uma polêmica envolvendo informações
veiculadas pelos meios de comunicação?
�Trabalhar a oralidade com as crianças é per-mitir que elas vivam situações de expressão que
os cidadãos adultos já vivem�, observa a profes-sora Alice. �As matérias presentes no jornal da es-
cola são bons motivos para as crianças falarem so-bre si, relatarem suas experiências, externarem suas
opiniões e, principalmente, debaterem sobre o quepensam e sentem...�
Mesmo antes de escrever a criança já pode conversarsobre assuntos que fazem parte do dia-a-dia do seu bair-
ro, da sua cidade, do seu país. O aluno pode participar davida pública na qualidade de sujeito sem perder a condi-
ção infantil. Cidadania deixa de ser a palavra já desgastadade tanto mau uso e passa a reluzir de tanta vitalidade.
VOCÊ DECIDE
l O professor pode fazer do momento da escolha do textoque irá para o jornal excelente oportunidade de debate.Qual é a carta que vamos enviar para o jornal? Porqueesse assunto e não tal outro? Com jeito, ele pode levar osalunos, mesmo os mais pequeninos e pequeninas, a teremconsciência do papel formador da opinião pública presen-te na comunicação.
l �O nosso bairro ou nossa escola está precisando de quetipo de matérias?� pode ser uma pergunta chave.
l A preparação do texto, quando realizado através de traba-lho em grupo, é uma situação que fomenta nos alunos ohábito da troca de conhecimentos.
l Participar da seleção da matéria que irá para o jornal já éum exercício de cidadania, de valorização do diálogo e dalógica presente nas argumentações.
Dicas
Com a palavra, as crianças
17Ensinando e aprendendo com o jornal escolar
CONCLUSÃO QUE É UM INÍCIO
Nas páginas desta cartilha a professora Aliceguiou nossos passos, para mostrar-nos como, semmuito esforço, é possível resgatar a função social daescrita, a paixão pela leitura e, fundamentalmente,tornar os momentos de aprendizagem mais prazerosos.
Quem é a professora Alice? A professora Alice,que também poderia ter sido o professor Pedro, so-mos todos nós, profissionais da educação que acre-ditamos no potencial de nossos alunos e alunas, esobretudo em nosso próprio potencial para inventaroutras maneiras de ser e de viver.
A publicação do jornal escolar Primeiras Letrastem esse significado: um ato de criação que dá aosprofessores e professoras o direito de voltar a ser cri-ança, para descobrir novas opções, novas possibili-dades e, no final das contas, terminar a jornada coma satisfação do enriquecimento pessoal.
Esta cartilha é o fruto do envolvimento de muitaspessoas com essa idéia. A elas, nossos agradecimen-tos e o compromisso de trabalharmos para que maise mais professoras e professores possam utilizar edesfrutar esta ferramenta que o projeto Primeiras Le-tras coloca a seu alcance.
18 Ensinando e aprendendo com o jornal escolar
Linha Direta : (85) 3226.2684
VISITE O PORTAL DO PROJETOPRIMEIRAS LETRAS
E ACESSE UM MUNDO DE INFORMAÇÕES:
resultados do PRIMEIRAS LETRAS em seu município,
textos sobre COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO,
capacitação à distância,
coleções de JORNAIS ESCOLARES,
relatos sobre a PRODUÇÃO DO JORNAL na escola,
boletim COMUNICANDO,
DICAS para aproveitar o jornal na escola.
DINAMIZE A SUA SALA DE AULA!
acesse www.primeirasletras.org.br