280
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE INSTITUTO METRÓPOLE DIGITAL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM INOVAÇÃO EM TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA NATAL - RN 2020

repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

INSTITUTO METRÓPOLE DIGITAL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM INOVAÇÃO EM TECNOLOGIAS

EDUCACIONAIS

CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER

PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO

PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM

MATEMÁTICA

NATAL - RN

2020

Page 2: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER

PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO

PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM

MATEMÁTICA

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Inovação em

Tecnologias Educacionais do Instituto

Metrópole Digital da Universidade Federal

do Rio Grande do Norte, como requisito

parcial para obtenção do grau de Mestra.

Linha de Pesquisa: Práticas Educativas com

Tecnologias Digitais.

Orientador: Prof. Dr. Dennys Leite Maia.

NATAL - RN

2020

Page 3: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER

PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO

PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM

MATEMÁTICA

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Inovação em

Tecnologias Educacionais do Instituto

Metrópole Digital da Universidade Federal

do Rio Grande do Norte, como requisito

parcial para obtenção do grau de Mestre.

Linha de Pesquisa: Práticas Educativas com

Tecnologias Digitais.

Aprovada em: 26 / 06 / 2020

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________

Prof. Dr. Dennys Leite Maia

(Orientador)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

_____________________________________________

Profa. Dra. Flávia Roldan Viana

(Examinadora Interna)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

____________________________________________

Profa. Dra. Ivanika Lima de Azevedo

(Examinadora Externa ao Programa)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

___________________________________________

Profa. Dra. Eurivalda Ribeiro dos Santos Santana

(Examinadora Externa à Universidade)

Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC)

Page 4: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede

Xavier, Carmélia Regina Silva.

Processo formativo para o desenvolvimento profissional de

professores que ensinam matemática / Carmélia Regina Silva

Xavier. - 2020.

279 f.: il.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, Instituto Metrópole Digital, Programa de Pós-Graduação em

Inovação em Tecnologias Educacionais, Natal, RN, 2020.

Orientador: Prof. Dr. Dennys Leite Maia.

1. Formação continuada de professores - Dissertação. 2.

Educação matemática - Dissertação. 3. Desenvolvimento

profissional - Dissertação. 4. Conceitos estatísticos -

Dissertação. I. Maia, Dennys Leite. II. Título.

RN/UF/BCZM CDU 373.5

Elaborado por Ana Cristina Cavalcanti Tinoco - CRB-15/262

Page 5: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

À minha irmã Cléo Xavier (in memoriam),

fundamental nesta caminhada do mestrado

por me fortalecer nos momentos mais

difíceis de todo o processo. Onde estiver, sei

que está feliz por mim. Obrigada pelos

abraços espirituais durante este período.

A ela, dedico.

Page 6: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

AGRADECIMENTO

Quero expressar meus agradecimentos às pessoas que, de alguma forma, contribuíram

para a realização de mais esta etapa da minha vida.

A Deus, por acreditar que tudo o que acontece em nossa existência terrena tem a

permissão Dele;

A cada membro da minha família - pai, mãe, irmã Carol, irmão Junior e sobrinha

Manuela - que contribuíram para a efetivação deste trabalho por meio do carinho, da atenção,

do respeito e do entendimento da minha ausência em diversos momentos familiares;

Ao meu filho - Diego Leonardo - um agradecimento especial por ser o parceiro de

todas as horas e não diferente foi durante o percurso do mestrado. O melhor conselheiro

daquelas horas em que, em meio a tantas adversidades, vinha a incerteza da conclusão de

afazeres como uma dissertação;

A todos os amigos que direta, ou indiretamente, torceram pelo fim exitoso desta

trajetória. A eles deixo meu agradecimento e represento-os em nome de Neide Medeiros, a

quem devo a decisão de iniciar esta caminhada, e de Flávio José por ter me presenteado com a

correção do meu projeto de pesquisa para concorrer a vaga no processo seletivo do PPgITE,

em 2017;

Ao meu orientador – Dennys Leite – minha eterna gratidão pelos inúmeros

comentários feitos a cada parte da minha escrita que a ele foi enviada. Deixo aqui a certeza de

que todos eles me fizeram aprender muito e crescer como profissional. É um orientador

admirável pela dedicação, zelo, confiança e parceria com seus orientandos;

Aos professores colaboradores da escola onde ocorreu a formação continuada, o meu

eterno muito obrigada pela acolhida, pela dedicação ao trabalho desenvolvido e por toda a

aprendizagem que me foi possibilitada durante o período em que juntos caminhamos para a

efetivação desta pesquisa acadêmica. Um agradecimento especial ao gestor pedagógico que

não mediu esforços para atender a todas as demandas que a ele apresentei e solicitei, sempre

com o devido cuidado de não interferir na rotina escolar;

A Secretaria Municipal de Educação, em nome das professoras Ednice Peixoto e

Merise Maciel, que compreenderam todas as ausências no trabalho, consequência da

necessidade de realizar os encontros formativos em uma das escolas da Rede Municipal do

Page 7: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

Natal para a concretização da pesquisa. À primeira, meu agradecimento especial pela correção

de Língua Portuguesa a minha dissertação;

As professoras da banca – Eurivalda Santana, Flávia Viana e Ivanilka Azevedo – pelas

valiosas contribuições dadas a minha dissertação. Todas presentes desde a qualificação, as

duas primeiras na banca e a terceira entre as pessoas que assistiram e torceram por mim;

A toda equipe OBAMA pelo apoio técnico durante o desenvolvimento da pesquisa na

escola e por todas as aprendizagens. Em especial, meu agradecimento a Elvis Medeiros por

quem tenho um carinho enorme e com quem aprendi muito durante nossa trajetória de

mestrandos como alunos da mesma turma;

A Liana Quinderé e Milena Ferreira pela valiosa ajuda no abstract;

Aos demais que porventura não foram citados, a quem já me desculpo, mas que

certamente sabem que têm uma contribuição neste trabalho.;

A UFRN a quem devo toda a minha formação acadêmica - Graduação, Especialização

e agora, o Mestrado,

Por fim, a você, leitor(a), que se interessou por esta dissertação. Espero contribuir para

seus estudos, assim como várias pesquisas foram úteis a mim.

Page 8: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

―Um bom ensino não depende apenas do

facto de se ser ou não eficiente, de

desenvolverem competências, de se

dominarem determinadas técnicas ou de

possuir o tipo de conhecimento adequado. O

bom ensino também implica um trabalho

emocional. Está imbuído de prazer, paixão,

criatividade, desafio e alegria‖.

(Andy Hargreaves)

Page 9: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

RESUMO

A formação continuada de professores que ensinam Matemática nos anos iniciais do Ensino

Fundamental pode proporcionar momentos de reflexão sobre a prática docente referente a

esse componente curricular, dependendo da maneira como a formação é organizada e mediada

junto aos professores. Nesse sentido, visando aperfeiçoar o processo formativo na Secretaria

Municipal de Educação, a questão central desta pesquisa é: Como uma formação

continuada em serviço acerca do letramento estatístico pode promover desenvolvimento

profissional para professores que ensinam Matemática nos anos iniciais?Para tanto,

definiu-se como objetivo geral analisar a formação continuada em serviço acerca do

letramento estatísticopara o desenvolvimento profissional de professores que ensinam

Matemática nos anos iniciaisno Ensino Fundamental. A pesquisa se classifica nem uma

abordagem qualitativa, voltada para a interpretação e compreensão de uma determinada

realidade. Com ênfase na formação continuada e no desenvolvimento profissional de

professores que ensinam Matemática nos anos iniciais no Ensino Fundamental, a pesquisa

aconteceu em uma Escola Municipal de Natal e contemplou elementos de uma pesquisa

colaborativa. Além do desenvolvimento cognitivo, uma pesquisa assim classificada

contempla, também, as relações interpessoais entre os sujeitos da escola e entre eles e os

pesquisadores fazendo os indivíduos avançarem nos seus níveis de desenvolvimento, a partir

da mediação de outrem. Este trabalho de mestrado teve como principais instrumentos de

coleta de dados a aplicação dos instrumentos diagnósticos para a identificação dos saberes

docentes, a gravação de imagens e áudios de todos os encontros formativos e o diário de

campo. Os resultados da pesquisa apontam que os docentes reconhecem os benefícios

proporcionados pelo processo formativo para a sua prática em sala de aula, os desafios para a

sua própria aprendizagem, no caso desta pesquisa em Estatística, a ajuda na superação de

dificuldades, as melhorias da prática e reflexões sobre o ensino. Os dados analisados

evidenciaram o quanto os professores-colaboradores evoluíram em relação às aprendizagens

estatísticas ao que diz respeito a conceitos e práticas pedagógicas, assim como demonstraram

o desejo de continuação do modelo de formação colaborativa desenvolvido durante a

pesquisa, envolvendo os demais docentes da Escola. O êxito no resultado se deu, por

conseguinte, igualmente no que se refere ao desenvolvimento profissional docente, inclusive,

da pesquisadora. Diante da validação por parte dos colaboradores de todos esses elementos,

constataram-se a eficácia e a importância de uma formação continuada ocorrida no ambiente

escolar. A estrutura de desenvolvimento deste novo modelo de formação se encontra no

decorrer da dissertação.

Palavras-chave: Formação continuada de professores. Educação Matemática.

Desenvolvimento profissional. Conceitos estatísticos.

Page 10: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

ABSTRACT

The continued training of teachers who teach mathematics in the early stages of Elementary

School can promote moments of reflection on teaching practice regarding this curricular

component, depending on the way in which this statement was organized and mediated with

the teachers. In this sense, aiming to improve the training process in the Municipal Secretary

of Education - SME, the main question of this research is:How can the continued in-service

training on statistical literacy promote professional development for teachers who teach

mathematics in the early years? To this end, it was defined as a general objective the

analysis of the continued formation in service concerning the statistical literacy for the

professional development who teach Mathematics in the early stages of Elementary School.

The research is classified as a qualitative approach, focused on the interpretation and

understanding of a certain reality. With an emphasis on the continued formation and

professional development of teachers who teach Mathematics in the early stages of

elementary school, the research took place at a Municipal School in Natal and contemplated

elements of collaborative research. In addition to cognitive development, such classified

research also includes interpersonal relationships among school subjects and between them

and researchers making individuals advance in their levels of development, through the

mediation of others. This Masterwork had as main instruments of data collection the

application of diagnostic instruments for the identification of teaching knowledge, the

recording of images and audios of all formative meetings and the field diary. The results of

the research show that teachers recognize the benefits provided by the training process for

their classroom practice, the challenges for their own learning, in the case of this research in

Statistics, help in overcoming difficulties, improvements in practice, and reflections on

teaching. The analyzed data showed how much the teacher-collaborators have evolved in

relation to statistical learning, in regard to pedagogical concepts and practices, as well as

demonstrated the desire to continue the collaborative training model developed during the

research, involving the other teachers of the School .Therefore, the success in the result was

also with regard to the professional development of teachers, including the researcher. In view

of the validation, for the collaborators, of all these elements, it was verified the effectiveness

and the importance of a continued formation that occurred in the school environment. The

structure for the development of this training can be found throughout the dissertation.

Keywords: Continued teacher formation. Mathematics. Professional development. Statistical

concepts.

Page 11: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Desenvolvimento profissional segundo Clarke e Hollingsworth .......................... .49

Figura 2 - Fases do ciclo investigativo (PPDAC)............................................ ...................... .70

Figura 3 - Tabela Geográfica. .................................................................................................. .78

Figura 4 - Tabela Específica. .................................................................................................. .78

Figura 5 - Tabela Histórica ..................................................................................................... .78

Figura 6 - Cálculo de um quarto de uma quantidade inteira .................................................. .80

Figura 7 - Gráfico Pictórico .................................................................................................... .80

Figura 8 - Gráfico de barras.. ................................................................................................... .81

Figura 9 - Gráfico de colunas ……........................................................................... .............. .81

Figura 10 - Gráfico do IDEB da Escola Municipal B entre 2005 e 2007 .............................. 104

Figura 11 - Pastas por encontro de formação arquivados no google drive ........................... .109

Figura 12 - Criação do grupo de WhatsApp com os professores colaboradores ................... 111

Figura 13 - Ferramenta utilizada na elaboração do plano de aula colaborativo .................... 112

Figura 14 - Análise dos instrumentos diagnósticos ............................................................... 119

Figura 15 - Resposta da questão 1a (PC5C) .......................................................................... 122

Figura 16 - Resposta da questão 1a (PC4A) .......................................................................... 122

Figura 17 - Resposta da questão 1b (PC5A) ......................................................................... 123

Figura 18 - Resposta da questão 1b (PC5C) ......................................................................... .123

Figura 19 - Resposta da questão 1b (PC5B) ......................................................................... .124

Figura 20 - Resposta da questão 1c (PC5A) ......................................................................... .125

Figura 21 - Resposta da questão 1c (PC5B) ......................................................................... .126

Figura 22 - Resposta da questão 1c (PC5C) ......................................................................... .126

Figura 23 - Resposta da questão 2 (PC4A) .......................................................................... .127

Page 12: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

Figura 24 - Resposta da questão 2 (PC5A) .......................................................................... .128

Figura 25 - Resposta da questão 2 (PC5B) ........................................................................... .129

Figura 26 - Resposta da questão 2 (PC5C) ........................................................................... .129

Figura 27 - Resposta da questão 3 (PC4A) .......................................................................... .131

Figura 28 - Resposta da questão 3 (PC5A) .......................................................................... .133

Figura 29 - Resposta da questão 3 (PC5B) ........................................................................... .134

Figura 30 - Resposta da questão 3 (PC5C) ........................................................................... .135

Figura 31 - Questão 1 de um aluno de PC5C ....................................................................... .137

Figura 32 - Resultado por turma da questão 1a na Escola B, em julho de 2019 .................. .137

Figura 33 - Questão 1 de um aluno de PC5A ....................................................................... .138

Figura 34 - Resultado geral da questão 1a na Escola B, em julho de 2019 .......................... .139

Figura 35 - Questão 2 de um aluno de PC4A ....................................................................... .140

Figura 36 - Questão 2 de um aluno de PC5C ....................................................................... .141

Figura 37 - Resultado geral da questão 2d na Escola B, em julho de 2019 ......................... .142

Figura 38 - Questão 2 de alunos de PC5A ........................................................................... .143

Figura 39 - Questão 3 de alunos de PC5B ............................................................................ .144

Figura 40 - Resultado geral da questão 3a na Escola B, em julho de 2019 .......................... .145

Figura 41 - Questão 4 de um aluno de PC5C ....................................................................... .146

Figura 42 - Resultado geral da questão 4a na Escola B, em julho de 2019 .......................... .148

Figura 43 – Encontro formativo entre professores-colaboradores e universidades

que desenvolvem pesquisa sobre o D-Estat ........................................................ .157

Figura 44 - Estudo do texto sobre o PPDAC ........................................................................ .161

Figura 45 - Ciclo investigativo mediado pela professora Cazorla ....................................... .162

Figura 46 - Encontro formativo sobre conceitos estatísticos ................................................ .168

Figura 47 - Tipos de instrumentos para coleta de dados ...................................................... .169

Page 13: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

Figura 48 - Classificação das variáveis numa pesquisa estatística ....................................... .170

Figura 49 - Atividade do livro de Matemática do 5º ano ..................................................... .172

Figura 50 - Atividade do livro de Geografia do 5º ano ........................................................ .172

Figura 51 - Plano de aula colaborativo na plataforma OBAMA .......................................... .180

Figura 52 - Primeiro passo da sequência de ensino .............................................................. .183

Figura 53 - Imagens do vídeo sobre alimentação saudável .................................................. .185

Figura 54 - Planejamento colaborativo na plataforma OBAMA .......................................... .187

Figura 55 - Jogo dos alimentos ............................................................................................. .190

Figura 56 - Interação entre PC5C e a turma ......................................................................... .192

Figura 57 - Momento final da aula 2 da sequência de ensino .............................................. .193

Figura 58 - Seleção de alimentos segundo classificação da pirâmide alimentar .................. .194

Figura 59 - Registro da construção coletiva de uma tabela estatística ................................. .197

Figura 60 - PC5C explicando a diferença entre tabela e lista ............................................... .198

Figura 61 - Tabelas estatísticas construídas pelos alunos de PC5C ..................................... .200

Figura 62 - Construção da pirâmide alimentar ..................................................................... .201

Figura 63 - Levantamento dos dados para a construção de um gráfico ............................... .203

Figura 64 - Gráfico de coluna dos alunos de PC5C ............................................................. .208

Figura 65 - Gráficos com ausência de alguns elementos ...................................................... .209

Figura 66 - Quantidade de figuras encontradas por classificação alimentar ........................ .215

Figura 67 - Atividade adaptada do livro de Ciências ........................................................... .217

Figura 68 - Cálculo da Moda, Média e Mediana .................................................................. .218

Figura 69 - Alunos no laboratório de informática ................................................................ .222

Figura 70 - Objeto de aprendizagem planejado para a aula 6 .............................................. .223

Figura 71 - Alunos interagindo com o OA Conta Kg ........................................................... .224

Figura 72 - Segundo OA utilizado com os alunos de PC5C ................................................ .225

Page 14: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

Figura 73 - Tabela e gráfico gerados a partir da interação com os alunos de PC5C ............ .226

Figura 74 - Participação de PC5B e PC5C na I Feira Natalense de Matemática ................. .228

Figura 75 - Encontro avaliativo na Escola B ........................................................................ .229

Figura 76 - Confraternização com os alunos de PC4A, PC5B e PC5C ............................... .230

Page 15: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Tipos de formação continuada em serviço ............................................................ 46

Quadro 2 - Habilidades de Probabilidade e Estatística para o 4º ano ...................................... 64

Quadro 3 - Habilidades de Probabilidade e Estatística para o 5º ano ...................................... 65

Quadro 4 - Votação da fruta preferida dos alunos do 4º ano A ............................................... 75

Quadro 5 - Trabalhos acadêmicos correlatos a pesquisa ......................................................... 85

Quadro 6 – Formação continuada segundo os estágios de Anadón ....................................... 100

Quadro 7 - Distribuição dos alunos matriculados na Escola Municipal B ............................ 103

Quadro 8 - Datas dos encontros formativos com os professores colaboradores ................... 113

Quadro 9 – Habilidades avaliadas nas questões respondidas pelos docentes ........................ 120

Page 16: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Fruta preferida dos alunos da Escola Alvorecer em junho de 2019 ....................... 77

Tabela 2 - Distribuição de frequência da pesquisa realizada na Escola Alvorecer em

junho de 2019 ......................................................................................................... 79

Page 17: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

LISTA DE SIGLAS

BNCC - Base Nacional Comum Curricular

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CEMURE - Centro Municipal de Referência em Educação Aluízio Alves

DCN - Diretrizes Curriculares Nacionais

D-ESTAT - Desenvolvimento Profissional de Professores que Ensinam Matemática

GESTAR I - Programa Gestão da Aprendizagem Escolar para professores dos anos iniciais

GESTAR II - Programa Gestão da Aprendizagem Escolar para professores de Língua

Portuguesa e Matemática

GIIfE - Grupo Interdisciplinar de Pesquisa e Estudos de Informática na Educação

IDEB - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

IES - Instituição de Ensino Superior

IFRN - Instituto Federal do Rio Grande do Norte

IMD - Instituto Metrópole Digital

INEP - Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC - Ministério da Educação

OBAMA - Objetos de Aprendizagem para Matemática

OCDE - Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico

PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental

PISA - Programme for International Student Assessment

PME - Plano Municipal de Educação

PNAIC - Pacto Nacional de Alfabetização na Idade certa

PNE - Plano Nacional de Educação

PPDAC - Problema, Planejamento, Dados, Análise e Conclusões

PPgITE - Programa de Pós-graduação em Inovação em tecnologia Digital

RCNEI - Referenciais Curriculares Nacional para a Educação Infantil

SAEB - Sistema de Avaliação da Educação Básica

SEESP - Secretaria Estadual de Educação do Estado de São Paulo

SME - Secretaria Municipal de Educação

UnB - Universidade de Brasília

Page 18: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

UESC - Universidade Estadual de Santa Cruz

UFPE - Universidade Federal de Pernambuco

UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UTFPR - Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Page 19: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 19

2 A FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DO PROFESSOR QUE ENSINA

MATEMÁTICA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL ................... 35

2.1 A relação entre formação inicial e formação continuada para o ensino da

Matemática nos documentos oficiais e segundo a perspectiva de alguns autores......... 35

2.2 Formação continuada de professores que ensinam Matemática na perspectiva do

desenvolvimento profissional .................................................................................................... 42

3 CONCEITOS ESTATÍSTICOS COMO COMPONENTE PARA A FORMAÇÃO

E PRÁTICA DOCENTE EM MATEMÁTICA ................................................................ 56

3.1 A história da Estatística no Brasil e o ensino desse componente na Matemática

escolar segundo os documentos oficiais ........................................................................... 56

3.2 O ciclo investigativo e os conceitos estatísticos básicos trabalhados durante a

pesquisa .............................................................................................................................. 67

3.3 A leitura e a construção de tabelas e gráficos nos anos iniciais ...................................... 76

4 UMA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA SOBRE TRABALHOS CORRELATOS À

PESQUISA ........................................................................................................................... 83

5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DE UMA PESQUISA QUALITATIVA

NUMA PERSPECTIVA COLABORATIVA .................................................................... 92

5.1 Aprendizagem coletiva e investigação científica a partir de um grupo colaborativo .. 92

5.2 Estágios de uma pesquisa colaborativa contemplados nesta pesquisa .......................... 98

5.3 Características da escola: lócus e sujeitos da pesquisa ................................................. 100

5.3.1 A Escola parceira durante o desenvolvimento da pesquisa (Escola B) ......................... 102

5.3.2 Os professores colaboradores ......................................................................................... 105

5.4 Ferramentas e instrumentos para a coleta de dados ..................................................... 107

5.5 Categorias de análise ........................................................................................................ 115

6 ANÁLISE E RESULTADOS ............................................................................................ 117

6.1 Saberes docentes iniciais sobre conceitos estatísticos ................................................... 118

6.1.1 Saberes discentes sobre conceitos estatísticos ............................................................... 136

6.2 Formação continuada em serviço com pesquisadores e professores-colaboradores

da Escola B ................................................................................................................... 151

6.2.1 Apresentação da plataforma OBAMA ............................................................................ 152

6.2.2 Estudando sobre o ciclo investigativo (PPDAC) ........................................................... 156

6.2.3 Trabalhando conceitos estatísticos ................................................................................ 167

6.2.4 Planejando uma sequência de ensino por meio da plataforma OBAMA ....................... 179

6.2.5 A aplicação da sequência de ensino em sala de aula..................................................... 188

6.2.5.1 Introduzindo o tema da sequência de ensino ................................................................ 189

6.2.5.2 A importância de uma alimentação saudável ............................................................... 190

6.2.5.3 Construindo tabelas estatísticas e a pirâmide alimentar ............................................... 193

6.2.5.4 Construindo gráficos de barras verticais ...................................................................... 202

6.2.5.5 Planejando com a professora-colaboradora PC5C ....................................................... 211

6.2.5.6 Trabalhando os conceitos de Moda, Média e Mediana ................................................ 214

Page 20: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

6.2.5.7 Estatística e alimentação saudável na plataforma OBAMA ......................................... 221

6.3 Avaliando o processo formativo a partir da apropriação do conhecimento dos

envolvidos na pesquisa ................................................................................................. 228

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 241

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 248

Page 21: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

19

INTRODUÇÃO

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN - Lei 9394/96), as

reformas curriculares para Educação Básica, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e o

Plano Nacional de Educação (PNE) são documentos importantes quando se fala sobre

formação de professores. O PNE foi o plano de maior impacto sobre formação docente,

colocando a exigência de que todos os professores da Educação Básica deveriam, até 2007,

concluir sua formação em nível superior. Em relação à LDBEN/96, o parágrafo único do

artigo 62-A apresenta em seu texto a seguinte afirmação: ―Garantir-se-á formação continuada

para os profissionais a que se refere o caput, no local de trabalho ou em instituições de

Educação Básica e Superior, incluindo cursos de educação profissional, cursos superiores de

graduação plena ou tecnológicos e de pós-graduação‖ (BRASIL, 1996).

Além desses documentos, ainda é possível citar as Diretrizes Curriculares Nacionais

(DCN) que preconizam sobre a formação de professores e em seu Art. 3º afirma que ―A

formação de professores que atuarão nas diferentes etapas e modalidades da Educação Básica

observará princípios norteadores desse preparo para o exercício profissional específico‖,

demonstrando assim a preocupação com os saberes dos professores polivalentes, aqueles que

lecionam nas séries iniciais do Ensino Fundamental. A indicação CFE22/73 proposta pelo

Conselheiro Valnir Chagas definia o professor das séries iniciais com uma figura polivalente,

ou seja, que podia transitar facilmente em todas as séries iniciais do ensino de primeiro grau.

Em âmbito local, considerando o município do Natal/RN, o documento base com

vigência para o período de 2016 a 2026 apresenta no Plano Municipal de Educação (PME)1

metas e estratégias em consonância com os documentos nacionais. Nesse sentido, na meta 16

o plano municipal contempla a formação continuada afirmando que é obrigação do município

―garantir a todos os profissionais da Educação Básica formação continuada em sua área de

atuação, considerando as necessidades, demandas e contextualizações dos sistemas de

ensino‖. (NATAL, 2016)

Considerar as demandas e necessidades do sistema de ensino pensando na formação de

professores que ensinam Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental, sujeitos desta

pesquisa, implica, por exemplo, em enxergar a Matemática como um componente curricular

1 Disponível em: http://portal.natal.rn.gov.br/_anexos/publicacao/dom/dom_20160429.pdf. Acesso em

08/05/2019.

Page 22: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

20

capaz de contribuir de forma significativa com a função de preparar o cidadão para atuar na

sociedade em que vive (BRASIL, 1997). Porém, historicamente falando, no ensino da

Matemática a ênfase nos conteúdos e, principalmente, nos algoritmos, prevaleceu em relação

à preocupação com as abordagens metodológicas e com a variedade de recursos pedagógicos

utilizados nas instituições educacionais com o objetivo de alcançar melhores resultados na

aprendizagem dos alunos. Segundo Nacarato, Mengali e Passos (2019), esse fato de dá pelas

lacunas nos processos formativos que colocam esses professores diante do desafio de ensinar

conteúdos específicos de uma forma diferente da que aprenderam, além de precisarem romper

com crenças cristalizadas sobre práticas de ensino de matemática pouco eficazes para a

aprendizagem dos alunos.

A partir da década de 1990, documentos como a LDBEN, em 1996, e os PCN, em

1997, contribuíram para um novo caminhar em relação ao ensino da Matemática,

modificando, inclusive, os livros didáticos, buscando aproximar a proposta pedagógica desses

livros aos novos documentos publicados na época. Porém, esses livros costumam ser

escolhidos com base na proximidade da proposta apresentada com as crenças que os

professores têm sobre o que seja ensinar Matemática e, sendo assim, novos documentos

podem não trazer melhor qualidade nessa seleção, uma vez que, ―(...) os futuros professores

dos anos iniciais do Ensino Fundamental têm um histórico negativo para com a Matemática

que implicam em 'bloqueios para aprender e ensinar'‖ (NACARATO; MENGALI; PASSOS,

2009, p. 23).

Por ter sido professora do curso de Pedagogia em duas instituições privadas de ensino

superior (IES) durante sete anos, a pesquisadora pôde fazer um comparativo entre a fala das

autoras e a realidade vivenciada. No primeiro contato com a turma, ao iniciar a disciplina de

Metodologia e Prática do Ensino da Matemática na Educação Infantil e no Ensino

Fundamental, a pesquisadora sempre ouve os alunos para saber o porquê da escolha do curso

e se gostam de Matemática. Apesar da variedade de respostas, as mais frequentes são: a

escolha de cursar a Licenciatura em Pedagogia para fugir da Matemática e não gostar da

Matemática por dizer jamais ter aprendido, ou possuir alguma experiência desagradável no

passado, geralmente associada à metodologia utilizada pelos professores que tiveram em sua

formação até aquele momento. Apesar das respostas, a maioria apresenta o desejo de reverter

a visão que tem sobre o ensino e a aprendizagem em Matemática, no entanto, alguns dos

Page 23: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

21

alunos tomam suas dificuldades apresentadas como verdades irreversíveis e, assim, incapazes

de aprender Matemática para ensinar aos seus alunos.

Se existem lacunas e bloqueios causados pela Educação Básica no que diz respeito aos

conceitos matemáticos, os discentes ao cursarem a Licenciatura em Pedagogia deveriam,

durante a graduação, sanar, ou ao menos, minimizar essas lacunas acumuladas ao longo da

sua trajetória escolar, apesar desse objetivo não ser o papel do curso e, sim, desenvolver as

habilidade didáticas necessárias para os pedagogos ensinarem a disciplina de Matemática.

Porém, é sabido que nem a formação inicial, tampouco a simples existência de documentos

legais, darão conta de sustentar a prática docente. Por essa razão, toda a formação ocorrida

após a conclusão do curso de graduação se faz necessária para atualizar conhecimentos,

refletir sobre a prática e contribuir para que, com o tempo, o docente vença todos os bloqueios

provocados ao longo do tempo, pela sua formação, em relação ao ensinar Matemática.

Essa reflexão quando feita em grupo por meio de formação continuada de professores,

por exemplo, pode se constituir de grande relevância, uma vez que um professor poderá

vislumbrar novas possibilidades metodológicas a partir da ação pedagógica relatada por um

outro colega de profissão durante os encontros formativos. Nesse sentido, a formação em

serviço se constitui como uma das possibilidades da formação continuada e deve ser vista

com caráter de formação permanente em busca de mais aprendizagens e possibilidades de

prática pedagógicas, inclusive por parte do formador ou formadora.

Para Imbernón (2010), por exemplo, a formação continuada é entendida como parte do

desenvolvimento profissional que acontece ao longo da atuação docente, que possibilita um

novo sentido à prática pedagógica, a contextualizar novas circunstâncias e a ressignificar a

atuação do professor. Esse movimento reflexivo citado por Imbernón (2010) propõe a troca de

experiências entre os docentes participantes em uma formação continuada. Dessa forma,

aquelas dificuldades relacionadas ao aprender e ao ensinar Matemática, considerando o

período que vai da Educação Básica à formação inicial, podem ser contempladas durante os

encontros formativos, tornando-se, assim, uma das possibilidades de melhoria da prática

pedagógica. Nesse sentido, é pertinente investir na formação dos profissionais que já estão

atuando em sala de aula, considerando que essa formação continuada terá como pilar a relação

entre teoria e prática.

Além da importância de formar esse professor, é necessário pensar em um modelo de

formação em que formadores e pesquisadores das instituições formadoras levem em conta a

Page 24: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

22

necessidade de olhar, compreender, considerar e respeitar as necessidades dos professores,

tomando-os como parceiros na construção desse saber, trabalhando de forma colaborativa,

como afirma Altenfelder (2005). A mesma autora ressalta ainda que esse trabalho coletivo é

fundamental para que os educadores possam vencer os enormes desafios impostos pela

realidade escolar, sendo fundamental para isso um investimento nas relações interpessoais de

toda a equipe escolar.

As relações interpessoais e o trabalho colaborativo têm a possibilidade de serem

desenvolvidos muito mais durante a formação continuada, quando comparado ao período da

formação inicial, a graduação. Isso porque as universidades, em modelos tradicionais, fazem o

seu trabalho de formação que se conclui ao término do cumprimento da grade curricular

cursada pelo futuro pedagogo, sendo esse o único pré-requisito para obtenção da certificação.

Enquanto isso, a formação continuada, a troca de experiências, as ações colaborativas e,

portanto, o desenvolvimento profissional docente, fortalece-se e perpetua-se por todo o

período de atuação desse professor. Assim sendo, desenvolver um ambiente colaborativo

entre os professores de uma mesma instituição escolar, pela convivência diária, e com aquele

profissional que estar à frente dos momentos formativos, seja essa pessoa também da própria

escola, o coordenador, ou um assessor pedagógico da Secretaria de Educação, responsável

pela formação, que é o caso da pesquisadora, torna-se mais possível ser uma realidade.

Outro fator a ser considerado na formação de professores é a utilização da tecnologia

digital. Essa tecnologia pode surgir tanto como elemento da formação, quanto meio para a sua

realização ou ampliação. O uso de recursos tecnológicos permite que os professores, na

condição de aprendizes, ampliem o repertório de recursos didáticos a serem utilizados em

suas aulas, fazendo uso de ferramentas e linguagens inerentes ao atual contexto. Almeida e

Valente (2011) afirmam que a tecnologia digital aparece como uma possibilidade com grande

potencial para o meio educacional. Porém, faz-se necessário analisar como esse recurso vem

sendo utilizado pelos docentes nas formações continuadas e em serviço dos professores que

ensinam Matemática. Essa análise é pertinente por acreditar que recursos tecnológicos como

celular, tablet e computadores estão acessíveis cada vez mais em nossa sociedade, mesmo

quando se fala de escolas públicas, como é o caso do trabalho desenvolvido por Bandeira

(2019) e Melo (2019) que desenvolveram suas pesquisas em escolas públicas municipais de

Natal utilizando smartphone e lousa digital na sala de aula com alunos do anos iniciais e

finais do Ensino Fundamental, respectivamente.

Page 25: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

23

Apesar dos exemplos citados, o devido uso pedagógico dos recursos digitais presentes

nas escolas ainda não se constitui uma prática rotineira associando tecnologia a práticas

pedagógicas. Sendo assim, mesmo passadas mais de três décadas do surgimento das primeiras

políticas públicas voltadas para a inserção da tecnologia nas práticas pedagógicas, constata-se

que a relação entre tecnologia digital e as pessoas mudou, embora, ainda sejam poucas as

transformações na prática docente (ALMEIDA; VALENTE, 2011). Apesar da realidade

apresentada, nos dias atuais é inegável a presença da tecnologia digital no cotidiano dos

professores e, principalmente, no dia a dia dos alunos desses professores, reafirmando, assim,

a necessidade e a importância da inserção dessa tecnologia, de forma pedagogicamente

correta, nos encontros formativos.

A pesquisa relatada nesta dissertação teve como foco a formação continuada em

serviço dos professores que ensinam Matemática nos 4º e 5º anos de uma escola pública

municipal de Natal, visando o desenvolvimento profissional dos docentes. Durante a execução

da pesquisa, além de estudar e discutir sobre formação de professores, desenvolvimento

profissional e tecnologia digital, como apresentado até agora no texto, foi seguida ainda a

linha da Educação Matemática e, como recorte nos conceitos matemáticos, o ensino da

Estatística.

A opção de seguir pela linha da Educação Matemática se deu pelo fato de acreditar e

defender o que a mesma preconiza, quando afirma que para o educador que ensina

Matemática, não basta ter o domínio conceitual e procedimental da Matemática produzida

historicamente. É importante e necessário conhecer os fundamentos epistemológicos desse

componente curricular, sua evolução histórica, e, principalmente, a relação da Matemática

com a realidade, seus usos sociais e as diferentes linguagens com as quais se pode representar

ou expressar um conceito matemático, ou a solução de um determinado problema.

O uso social está diretamente relacionado ao conceito de letramento matemático que,

segundo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), configura-se como o reconhecimento

de que os conhecimentos matemáticos são fundamentais para a compreensão e atuação no

mundo. Percebe-se pelo texto do documento que o letramento matemático deve ser o pilar

principal do ensino desse componente curricular, desmitificando a ideia de que saber

Matemática é decorar fórmulas ou apenas aprender as operações básicas. Nessa mesma linha

de pensamento, a BNCC defende o ensino da Estatística como uma de suas unidades

temáticas denominada Probabilidade e Estatística.

Page 26: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

24

A Base Nacional Comum Curricular é um documento que determina as competências

(gerais e específicas), as habilidades e as aprendizagens essenciais que todos os alunos devem

desenvolver durante a etapa da educação básica – Educação Infantil, Ensino Fundamental e

Ensino Médio. A BNCC também determina que essas competências, habilidades e conteúdos

devem ser os mesmos, independentemente de onde as crianças, os adolescentes e os jovens

moram ou estudam.

Segundo esse documento, a partir da leitura e interpretação correta de dados e

informações encontradas no mundo escolar e não escolar, o aluno poderá desenvolver sua

capacidade de pensar e aprender. A BNCC enfatiza ainda mais a importância do letramento

estatístico que os PCN traziam no bloco de conteúdo denominado Tratamento da Informação.

Esse letramento estatístico na BNCC está imbuído no letramento matemático, quando o

documento afirma que

O Ensino Fundamental deve ter compromisso com o desenvolvimento do letramento

matemático, definido como as competências e habilidades de raciocinar, representar,

comunicar e argumentar matematicamente, de modo a favorecer o estabelecimento

de conjecturas, a formulação e a resolução de problemas em uma variedade de

contextos, utilizando conceitos, procedimentos, fatos e ferramentas matemáticas. É

também o letramento matemático que assegura aos alunos reconhecer que os

conhecimentos matemáticos são fundamentais para a compreensão e a atuação no

mundo (BRASIL, 2017, p.264).

Além dos documentos, autores como Cazorla (2017) defendem a importância de se

trabalhar a Estatística como a ciência do significado e uso dos dados e, portanto, um meio de

compreender o mundo como cidadão. O ensino da Estatística será tratado com mais afinco na

fundamentação teórica desta dissertação, pois ele se constituirá como recorte conceitual

matemático para a pesquisa relatada nesta escrita, como informado anteriormente.

A pesquisadora tem formação acadêmica em Licenciatura em Matemática pela

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e trabalha com formação continuada

de professores no município do Natal desde 2003, atuante na Secretaria Municipal de Ensino

(SME) deste município para realizar tal trabalho. Quando a pesquisadora foi convidada para

trabalhar com formação de professores que ensinam Matemática nos anos iniciais do Ensino

Fundamental, viu-se diante de um grande desafio, pois, até então, sua experiência tinha sido

apenas em sala de aula com alunos dos anos finais do Ensino Fundamental. Mesmo assim,

resolveu aceitar o convite por sempre ter se inquietado ao perceber que os alunos chegavam a

essa etapa de ensino com muitas lacunas na aprendizagem. Assim sendo, acreditou que

Page 27: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

25

pudesse contribuir mais trabalhando com formação de professores atuantes nos anos iniciais.

Afinal, não adiantava ficar reclamando dos alunos que chegavam aos anos finais do Ensino

Fundamental sem saber os conceitos matemáticos básicos e não fazer nada para ajudar a

mudar essa realidade.

Além da identificação com essa etapa de ensino, que veio com o passar do tempo,

como formadora, e do desejo de contribuir de forma significativa com a aprendizagem dos

docentes e discentes dos anos iniciais do Ensino Fundamental, a pesquisadora é a única

licenciada em Matemática que está lotada na SME e gosta de trabalhar com os anos iniciais.

Os demais formadores licenciados em Matemática não se identificam com esse público; pelo

contrário, parece existir uma ―rivalidade‖ entre pedagogos e licenciados em Matemática.

Geralmente, o que acontece é que os professores de Matemática atuantes nos anos finais do

Ensino Fundamental relacionam a dificuldade nos conteúdos de Matemática com que os

alunos saem do quinto ano à má atuação do pedagogo na sala de aula. Nas formações em que

a pesquisadora participou como professora, antes de ir para SME, era recorrente aparecer nas

discussões durante a formação a reclamação de que os alunos chegam aos anos finais do

Ensino Fundamental sem o domínio, se quer, das operações fundamentais. Falas como essa

aumentavam a vontade de fazer algo para ajudar nesse processo de transição entre as duas

etapas do Ensino Fundamental e o convite para ser formadora foi a oportunidade que a

pesquisadora precisava para encarar esse desafio.

A SME, como órgão central da administração municipal, oferece dois tipos de

formação. O primeiro tipo se refere às formações planejadas pelos próprios assessores

pedagógicos e, nesse caso, os professores não participam do planejamento inicial da

formação. O outro formato de formação ofertada pela SME diz respeito àquelas recebidas

pelo governo federal apenas para execução. Durante esse período de atuação na SME, a

pesquisadora já atuou como formadora ou coordenadora de ambos os formatos de formação.

Dentre as formações provenientes de políticas públicas vivenciadas pela pesquisadora estão o

Programa Gestão da Aprendizagem Escolar para professores atuantes nos anos iniciais

(GESTAR I), Programa Gestão da Aprendizagem Escolar para professores de Língua

Portuguesa e Matemática (GESTAR II), Programa de formação continuada de professores

para a melhoria da qualidade de aprendizagem da leitura/escrita e Matemática nos anos/séries

iniciais do Ensino Fundamental (Pró-Letramento) e Pacto Nacional pela Alfabetização na

Page 28: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

26

Idade Certa (PNAIC). Todas essas formações aconteceram no período compreendido entre

2003 a 2018, cronologicamente, na ordem em que foram citados.

Essas formações foram pensadas pelo MEC em parceria com algumas universidades e

geralmente apresentam as mesmas características. A SME recebe o material dos formadores e

professores de sala de aula, os formadores participam da formação oferecida pelas instituições

formadoras, as universidades. Dependendo da formação, a instituição formadora é diferente.

No caso do GESTAR I e II, a Universidade de Brasília (UnB) foi responsável; o Pró-

Letramento ficou a cargo da Universidade de Pernambuco (UFPE) e o PNAIC foi conduzido

pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

O GESTAR I merece destaque por ter sido uma formação em que houve aplicação de

instrumentos diagnósticos de entrada e saída a todos os alunos envolvidos com os professores

que estariam participando da formação. Além disso, os encontros formativos ocorriam na

própria escola e, portanto, a relação professor/formador se tornava muito mais estreita e os

exemplos a serem relatados e refletidos durante os encontros eram sempre de alunos daquela

instituição comum a todos do grupo. Em Natal, o GESTAR I ocorreu em 14 escolas, sendo 8

na Zona Norte da cidade e 6 na Zona Leste (grupo em que a pesquisadora fez parte como

formadora das escolas dessa localidade). Apesar do GESTAR I ter sido a primeira experiência

vivenciada pela pesquisadora, como formadora, é exatamente esse formato de formação que

mais se aproxima da forma como esta pesquisa será realizada. Inclusive, é possível afirmar

que esse formato é o que trouxe mais ganhos para professores, alunos e formadores. Esses

ganhos foram percebidos não só por meio dos instrumentos diagnósticos aplicados aos alunos,

mas pelo vínculo que se construiu com a equipe escolar nos encontros quinzenais, como

defende Altenfelder (2005), e pelas reflexões realizadas a partir da vivência coletiva.

As demais formações recebidas e executadas pela SME passaram a ocorrer no Centro

Municipal de Referência em Educação Aluízio Alves (CEMURE), local idealizado para a

prática de formações com professores, coordenadores e gestores (pedagógicos e

administrativos). Nesse mesmo espaço, ocorrem as formações planejadas pela própria SME,

sendo que essas são organizadas, inicialmente, pelos próprios formadores, como foi dito

anteriormente. Essas formações planejadas e executadas pela SME também apresentam um

formato pré-definido pelos grupos de formadores. O grupo pensa em uma proposta inicial e

durante a execução ouve opiniões e sugestões dos participantes para fazer os devidos ajustes

durante o ano, de acordo com a realidade e necessidade dos professores. Independente do

Page 29: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

27

público que será contemplado, essas formações acontecem da seguinte forma: as inscrições

são abertas para que os interessados se inscrevam e as turmas são formadas de acordo com a

disponibilidade dos docentes. Em relação ao formato, como acontecem as formações

continuadas no CEMURE, é possível resumir da seguinte forma: o primeiro e o último

encontro são realizados no auditório do CEMURE e os oito encontros, totalizando dez,

acontecem nas salas de aula desse local de formação, ou em espaços outros, como na UFRN

ou Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), por exemplo.

O primeiro encontro, geralmente, contempla uma palestra relacionada ao tema da

formação e ao público-alvo e no encontro final se costuma fazer relatos de experiências

desenvolvidas durante o ano, ou socialização de produção de material, ambos relacionados

com a formação. Os encontros formativos acontecem durante todo o ano, de março a

dezembro, e cada professor se inscreve dependendo do seu interesse e disponibilidade, já que

são oferecidas mais de uma formação todos os anos. Vale salientar que no município do Natal

os professores têm um dia por semana destinado ao seu planejamento semanal, conforme a

Lei complementar nº 058/20042, e a orientação é que eles participem das formações neste dia.

Essa orientação é dada porque não é permitido dispensar os alunos para participar de cursos,

nem sugerir que os professores participem no turno contrário, uma vez que na realidade de

Natal os docentes, em sua grande maioria, possuem mais de um vínculo empregatício. Desse

modo, não há prejuízo para o aluno porque nesse dia ele tem aula com os professores das

áreas de Arte, Educação Física e Ensino Religioso, nem o docente fica na obrigação de

participar das formações em outro turno de trabalho que não seja o seu referente ao vínculo

com o município do Natal.

Uma das formações que acontece dentro desse formato e, portanto, é planejada pelos

próprios assessores pedagógicos do órgão central (SME), denomina-se ―Educação

Matemática: jogos, projetos e oficinas‖, na qual a pesquisadora é formadora. Essa formação é

destinada aos professores que lecionam em turmas de 4º e 5º anos e teve início em 2013,

sendo interrompida em 2014 e 2015, e retomada somente em 2016. A formação inicialmente

foi pensada apenas para tais docentes para dar suporte teórico aos professores dos alunos que

fazem a Prova Brasil, e portanto, prevista para acontecer somente nos anos ímpares. Porém, a

escolha de manter a formação anualmente se deu pelo fato de que o objetivo principal não

deve ser preparar o aluno para as avaliações externas, e sim ajudá-lo a desenvolver o

2 Lei Complementar n 058, de 13 de setembro de 2004 que prevê no capítulo III - dos direitos, art. 39 , VII -

período reservado a estudos, planejamento avaliação, incluído na jornada de trabalho.

Page 30: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

28

raciocínio lógico e as habilidades previstas para cada ano de escolaridade, como orienta a

Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Apesar do município ainda não ter conseguido

atingir a meta prevista para os anos iniciais em todas as escolas, é possível perceber alguns

frutos dessa formação.

Esses frutos chegam em forma de relatos de professores e gestores que socializam com

os formadores as mudanças ocorridas na prática da sala de aula e nos momentos de avaliação

feitos ao final de cada encontro ou nos formulários avaliativos aplicados ao final de cada ano.

O último ponto da pauta nos encontros formativos sempre trata da avaliação daquele

momento, e é comum os docentes presentes relatarem sobre como a prática do colega, nos

momentos de socialização, o fez refletir e deu ideias para os futuros planejamentos, mesmo a

formação acontecendo entre professores de escolas distintas. É importante destacar que esse

tipo de reflexão acontece independente do fato de ser professores com maior tempo de

experiência de atuação ou maior grau de instrução formal, não sendo esses dois motivos sine

qua non para obtenção de melhores resultados dos alunos desses respectivos profissionais.

Acredita-se que essas falas e registros vivenciados nos momentos de avaliação são

importantes para validar a continuação da formação e comprovam o que Imbernón (2010) fala

sobre a importância da troca de experiências durante os encontros formativos.

A formação em questão acontece no modelo e local já descritos nesta introdução e

contempla a tecnologia digital por meio do uso de e-mail, WhatsApp e plataformas digitais.

No e-mail são disponibilizados textos para fundamentação teórica dos professores, os slides

utilizados a cada encontro e os moldes dos jogos utilizados pelos formadores a cada unidade

temática trabalhada. Acredita-se que esses moldes facilitam a reprodução do material, caso o

professor se disponibilize a produzir e utilizar com seus alunos. Em alguns casos, o material

produzido pelos docentes fica melhores (em qualidade e aparência) do que os produzidos

pelos formadores e utilizados durante a formação. Isso demonstra o zelo e compromisso em

utilizar um material de boa qualidade, além do empenho em colocar em prática o que foi

discutido e sugerido durante os encontros formativos. Em relação aos grupos de WhatsApp,

eles são criados por turma e servem para informes, dúvidas e socialização das práticas

realizadas em sala de aula referentes à formação, e que os professores costumam postar entre

um encontro e outro. É importante registrar que apesar da adesão ser positiva no que diz

respeito ao uso do e-mail e WhatsApp, ainda existem professores que não estão familiarizados

com esses recursos.

Page 31: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

29

Ainda falando da presença da tecnologia digital nos encontros formativos é possível

citar duas plataformas: a da Nova Escola3 e a OBAMA

4. Desde 2018, na distribuição do dever

de casa, pelo menos um professor fica responsável por pesquisar e aplicar, se possível, um

plano de aula da plataforma da Nova escola, ou um objeto de aprendizagem (OA) da

plataforma OBAMA em sua sala de aula. No encontro seguinte, a formação começa com o

relato dos professores expondo como aconteceu a aplicação do plano de aula ou OA

escolhido, ou ainda, de algum dos jogos propostos durante o encontro anterior. A inserção da

tecnologia digital nos encontros formativos, atualmente, é algo quase que obrigatório, tendo

em vista a imersão desse recurso na sociedade de hoje. Seguindo as ideias de Almeida e

Valente (2011), a criação de ambientes de aprendizagens interativos por meio das tecnologias

digitais pode impulsionar novas formas de ensinar, aprender e interagir com o conhecimento,

com o contexto local e global, além de propiciar o desenvolvimento da capacidade de

dialogar, representar o pensamento, buscar, selecionar e recuperar informações, construindo

conhecimento em colaboração.

Inspirada nessa formação destinada a professores de 4º e 5º anos, a presente pesquisa

terá como foco professores atuantes nesses anos de escolaridade de escolas municipais de

Natal. Em 2018 foi realizado um projeto piloto para esta dissertação em uma escola da zona

oeste da cidade contemplando quatro professoras, sendo duas de cada um desses anos de

escolaridade e em 2019, a pesquisa foi realizada em uma escola da zona norte. A escola da

zona oeste atende alunos dos anos iniciais no turno matutino e apresentou em 2017 um IDEB5

de 4,8, o que a classificou na faixa amarela, ou seja, precisa melhorar (atingiu a meta, cresceu

o IDEB, mas ainda não alcançou 6.0). No turno vespertino, a escola atende aos alunos dos

anos finais e possui um IDEB de 3,9 e por isso, classificada na faixa laranja, isso significa em

estado de atenção (não atingiu a meta, cresceu o IDEB, mas não alcançou 6.0). A escola da

zona norte atende a algumas turmas da Educação Infantil, mas o seu foco são os anos iniciais

do Ensino Fundamental e apresentou IDEB, em 2017, igual a 5,6 sendo por isso, também

classificada na faixa amarela.

Na última avaliação a escola da zona oeste ficou com 194,12 em Matemática o que na

3 Plataforma da Nova Escola: Planos de aula alinhados à BNCC. Disponível em: https://novaescola.org.br/plano-

de-aula/busca. Acesso em: 03/03/2019. 4 OBAMA: Objetos de aprendizagem para Matemática. Disponível em: https://obama.imd.ufrn.br/. Acesso em:

03/03/2019. 5 Fonte: QEdu.org.br. Dados do Ideb/Inep (2017).

Page 32: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

30

escala de proficiência6 a coloca no nível 3 (Desempenho maior ou igual a 175 e menor que

200). A situação da escola da zona norte é um pouco melhor, os alunos apresentaram uma

média de proficiência igual a 201,69 sendo por isso classificados no nível 4 (Desempenho

compreendido entre 220 e 224). Considerando que essa escala vai até 9, quando os alunos

atingem um desempenho maior ou igual a 350, ambas as escolas precisam melhorar em

Matemática. Para autores como Maia (2012), esse baixo rendimento indica que os alunos têm

poucas experiências em resolução de problemas, por exemplo, o que provoca um

comprometimento no desenvolvimento de várias habilidades. Esses resultados são

inquietantes porque faz refletir sobre os possíveis equívocos no processo formativo, uma vez

que as formações continuadas estão sendo realizadas com esses professores, mas os resultados

não estão se apresentando como desejado.

Muitas são as variáveis que interferem nesse processo e, consequentemente, nos

resultados obtidos a cada avaliação externa. Falta de estrutura física nas escolas, ausência da

família no acompanhamento do processo de ensino e aprendizagem dos alunos, provocando

um significativo número de faltas desse aluno nas aulas, o que compromete o seu

desenvolvimento pedagógico. Além disso, a desvalorização da carreira do magistério, fazendo

o professor trabalhar até três expedientes para conseguir adquirir uma melhor renda familiar, a

falta de recursos para dinamizar o dia a dia da sala de aula, enfim, esses e outros motivos

interferem nos baixos resultados. Além disso, a formação do professor que ensina Matemática

nos anos iniciais do Ensino Fundamental, diante dos resultados, apresenta-se como um dos

fatores a serem questionados e repensados na busca de melhores colocações nas próximas

avaliações oficiais. Para analisar todas as variáveis que podem estar interferindo nos baixos

resultados, precisa-se pensar também nas matrizes curriculares dos cursos de Licenciaturas

em Pedagogia, observando se as mesmas não estão muito teorizadas, distanciando teoria e

prática, se os professores estão dando a devida importância e disponibilidade à formação

continuada necessária ao profissional de todas as áreas, em especial, aos da Matemática,

dentre outras.

Enquanto formadora, a pesquisadora não pode deixar de inserir nas variáveis a serem

analisadas como sendo possíveis fatores que estão provocando os resultados não desejados a

reflexão sobre o modelo de formação continuada desenvolvido atualmente no município do

6 Disponível em:

http://download.inep.gov.br/educacao_basica/prova_brasil_saeb/escala/escala_proficiencia/2018/MT_5EF.p.

Acesso em: 06/03/2018.

Page 33: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

31

Natal e em outras localidades, analisando se ele de fato está contribuindo de forma

significativa na prática docente dos professores e se seria possível fazer diferente na tentativa

de obter novos e melhores resultados na aprendizagem dos alunos, aprendizagem essa

influenciada diretamente pelos saberes docentes.

Fiorentini e Crecci (2012, p.74) afirmam que os órgãos centrais ―(...) não reconhecem

os professores como sujeitos capazes de produzir conhecimentos a partir da reflexão e

investigação das práticas locais, nem de promover transformações curriculares possíveis,

tendo em vista as especificidades e os desafios de cada realidade escolar‖. Apesar dessa fala

dos autores se referir a uma determinada pesquisa realizada com os professores de

Matemática que lecionam na rede estadual paulista na região de Campinas sobre práticas de

desenvolvimento profissional que vivenciam em cursos de formação continuada promovidos

pela Secretaria Estadual de Educação do Estado de São Paulo (SEESP), a pesquisadora

diverge do pensamento de Fiorentini e Crecci (2012) por acreditar que a questão talvez não

seja o não reconhecer a capacidade dos professores em provocar mudanças em suas práticas

docentes a partir da participação em processos formativos, mas sim, o fato de que se costuma

reproduzir as práticas conhecidas e vivenciadas ao longo da vida profissional, seja como

professor ou como formador desses professores, daí a resistência em modificar a prática

reproduzida por vários anos de experiência docente.

Além disso, se for para pensar em um modelo de formação baseado no

desenvolvimento profissional, como é o caso desta pesquisa, cujo professor atua como sujeito

ativo de sua prática e desenvolvimento, não será possível enxergar esse modelo nas formações

de professores, quando essas forem provenientes de políticas públicas, pois nesses casos,

segundo (ALMEIDA et al., 2011), o que tem ocorrido é a oferta de cursos que enfatizam

práticas individualizadas em detrimento de práticas colaborativas. Já segundo Ferreira (2006,

p.149), o desenvolvimento profissional é visto ―(...) como um processo que se dá ao longo de

toda experiência profissional com o ensino e a aprendizagem da Matemática, que não possui

uma duração preestabelecida e nem acontece de forma linear‖. Indo mais além, é possível

afirmar que a ideia do desenvolvimento profissional inclui o professor como protagonista do

processo de formação inerente a todo e qualquer profissional que visa a melhoria da sua

prática pedagógica.

Refletir sobre o formato de formação oferecido atualmente pela SME do município do

Natal, comparado ao que os autores conceituam como formação continuada em uma

Page 34: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

32

perspectiva do desenvolvimento profissional, só veio à tona durante o mestrado após a leitura

de alguns trabalhos sobre essa temática. Até então, a pesquisadora planejava e executava as

formações oferecidas pensando estar fazendo da melhor maneira aquilo que julgava

necessário para a melhoria do ensino em Matemática, apesar de se inquietar com a ausência

de melhores resultados. Essa reflexão evidencia o processo de formação continuada da própria

pesquisadora que, apesar de não saber, ainda, o como fazer para modificar a dinâmica de

formação do município, já consegue perceber onde podem estar as lacunas no fazer das

formações. Vale salientar que uma nova proposta de formação requer valorização e condições

de trabalho diferentes das atuais para que este tipo e nível de formação, discutido pelos

autores presentes nesta introdução, possa, de fato, acontecer e proporcionar resultados

diferentes e melhores.

Diante do exposto, esta pesquisa apresenta como tema a formação de professores que

ensinam Matemática na perspectiva do desenvolvimento profissional e têm como objeto de

estudo os conceitos estatísticos na formação de professores dos anos iniciais do Ensino

Fundamental. O recorte relacionado aos conceitos estatísticos se deu pelo fato de que na era

da informação se faz necessário saber interpretar e entender as inúmeras informações

recebidas diariamente. Além disso, a partir da Estatística é possível trabalhar outros conceitos

matemáticos, dentre eles as operações básicas (adição, subtração, multiplicação e divisão),

assim como outros componentes curriculares. praticando dessa forma a interdisciplinaridade.

Nesta pesquisa, o letramento estatístico foi trabalhado com os docentes envolvidos e

seus respectivos alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental também com o uso da

tecnologia digital por meio de objetos de aprendizagem presentes na Plataforma OBAMA, por

exemplo. Além dos objetos de aprendizagem, as professoras que fizeram parte da pesquisa

tiveram a oportunidade de usar essa plataforma para elaboração dos planos de aula de forma

colaborativa, já que essa ferramenta tecnológica permite o compartilhamento durante o

processo de elaboração. Esse compartilhamento estreita ainda mais a relação de parceria com

a escola onde a pesquisa foi realizada, pois o diálogo, a troca de ideias e a construção coletiva

permitem o contato entre escola e pesquisadores não apenas nos encontros presenciais.

Segundo Almeida e Valente (2011), isso reitera a ideia de que as tecnologias digitais podem

ampliar os espaços formativos.

O modelo de colaboração citado dialoga com a proposta interdisciplinar do mestrado

do Instituto Metrópole Digital (IMD) que, por meio do Programa de Pós-Graduação em

Page 35: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

33

Inovação em Tecnologias Digitais (PPgITE), oferece duas linhas de pesquisa, entre elas a de

Práticas Educativas com Tecnologias Digitais, na qual a pesquisadora é aluna da turma 2018,

segunda turma deste mestrado. Por ocasião do mestrado, a pesquisadora foi inserida no grupo

de estudo sobre o Desenvolvimento Profissional de Professores que Ensinam Matemática (D-

Estat) executado pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e outras instituições

associadas. O objetivo geral do D-Estat é compreender as experiências de aprendizagens de

professores que ensinam Matemática no Ensino Fundamental no âmbito de um grupo

colaborativo, visando o seu desenvolvimento profissional. A partir desse objetivo, fica

evidente a relação entre o tema da pesquisa e a atividade profissional da pesquisadora e,

consequentemente, o desenvolvimento profissional da mesma proporcionado pela inserção

nesse projeto e contribuição do curso de mestrado.

Demonstrada a importância dos conceitos estatísticos e o conceito de formação

continuada em uma perspectiva do desenvolvimento profissional como pilares desta pesquisa,

o problema a ser investigado e respondido será: Como uma formação continuada em

serviço acerca do letramento estatístico pode promover desenvolvimento profissional

para professores que ensinam Matemática nos anos iniciais? Para responder a esse

questionamento, o presente trabalho tem como objetivo geral analisar a formação continuada

em serviço acerca do letramento estatístico para o desenvolvimento profissional de

professores que ensinam Matemática nos anos iniciais no Ensino Fundamental. Para atingir

tal objetivo, foram delineados os seguintes objetivos específicos: i) investigar os

conhecimentos dos professores sobre os conceitos estatísticos; ii) realizar formação

continuada em serviço e colaborativa dentro do ambiente escolar; iii) refletir sobre os

resultados trazidos pela formação para a prática docente e para o desenvolvimento

profissional do professor. O diferencial na proposta está no fato de que a formação aconteceu

no local de trabalho dos professores colaboradores e foi desenvolvida com e para os docentes,

partindo da realidade em que vivem a partir de um grupo colaborativo.

Nessa perspectiva, Nacarato et al. (2006, p.201) afirmam que ―(...) a constituição de

um grupo colaborativo, ao mesmo tempo em que adquire uma identidade própria constituída

pelos objetivos comuns, não provoca a perda dos objetivos individuais, mantendo a

singularidade e a identidade de cada um de seus membros‖. Esse movimento entre

desenvolvimento profissional, grupo colaborativo, recursos tecnológicos e reflexão sobre a

prática docente realizada entre professores da Educação Básica, atuantes na rede pública, e

Page 36: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

34

professores pesquisadores das instituições formadoras, proporciona aprendizagem de todos os

sujeitos envolvidos durante a socialização dos saberes. A expectativa é que esse conjunto de

ações e de pessoas contribua com a melhoria dos resultados e, para que ocorra o

desenvolvimento profissional do professor que ensina Matemática, o desenvolvimento das

competências no campo da Didática da Matemática, a criação das condições que o professor

precisa ter para tomar decisões favoráveis e estabelecer o contexto do ensino e da

aprendizagem e a construção dos planos de aula, elaborados a partir da plataforma OBAMA,

serão utilizados e valorizados durante esta pesquisa.

Visando atingir os objetivos elencados para a pesquisa, esta dissertação foi organizada

em sete capítulos, sendo esta introdução o primeiro deles. Na sequência, o segundo capítulo

discorre sobre formação de professores em uma perspectiva colaborativa e o conceito de

desenvolvimento profissional dos professores que ensinam Matemática nos anos iniciais do

Ensino Fundamental. O terceiro capítulo traz a fundamentação teórica sobre os conceitos

estatísticos que podem ser trabalhados nos anos iniciais, a partir do ciclo investigativo e em

seguida, o quarto capítulo apresenta uma pesquisa bibliográfica sobre trabalhos correlatos a

esta pesquisa para mostrar o quê de semelhante já tem sido feito no universo acadêmico sobre

a mesma temática desta dissertação em Língua Portuguesa e Língua Inglesa. Os

procedimentos metodológicos serão apresentados no capítulo cinco, as análises dos dados por

meio das categorias de análise no capítulo seis e, por fim, no último capítulo, as considerações

finais.

Page 37: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

35

2 A FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DO PROFESSOR QUE ENSINA

MATEMÁTICA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

O segundo capítulo desta dissertação foi reservado para a fundamentação teórica do

trabalho, espaço onde os autores que fundamentam a pesquisa em relação a formação inicial e

continuada foram discutidos para posterior análise dos dados coletados. Neste capítulo, a

formação de professores que ensinam Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental

foi abordada em duas seções. Na primeira, o texto contempla os tipos de formação a partir de

autores e documentos oficiais que versam sobre essa temática, e na segunda seção, o foco foi

a formação docente na perspectiva do desenvolvimento profissional, como segue o texto.

2.1 A relação entre formação inicial e formação continuada para o ensino da

Matemática nos documentos oficiais e segundo a perspectiva de alguns autores

A formação de professores que ensinam Matemática precisa ser analisada em relação a

dois aspectos, o conhecimento profissional e o desenvolvimento profissional. No campo do

conhecimento profissional, os licenciados em Matemática apresentam, via de regra, um

conhecimento bem mais fundamentado se comparado ao conhecimento matemático adquirido

pelo pedagogo, também professor de Matemática. Esse fato é de fácil compreensão, uma vez

que o licenciado em Matemática recebe uma formação inicial voltada especificamente para o

ensino desse componente curricular, enquanto que a formação inicial do pedagogo é muito

mais abrangente e generalista, sendo por isso denominado de professor polivalente.

Em relação ao desenvolvimento profissional, ambos podem e devem se preocupar,

pois o mesmo vai além das questões conteudistas. Há mais de duas décadas, Nóvoa (1992) já

afirmava que esse tipo de desenvolvimento desloca o centro de atenção dos conteúdos do

conhecimento a ser apropriado pelo professor para os processos de desenvolvimento do

próprio professor. Isso significa considerar o professor em seus aspectos cognitivos, afetivos e

relacionais. Tais aspectos se configuram de extrema importância e ajudam o professor a ter

um bom relacionamento com os alunos e a lidar com os desafios do dia a dia, fatores também

importantes no processo de ensino e aprendizagem.

O mesmo autor, no ano de 2014, em conferência no IV Congresso de Professores

Principiantes e Inserção Profissional à Docência na Universidade Tecnológica Federal do

Paraná (UTFPR), alertou para a crise na formação de professores que se configura no

Page 38: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

36

contexto internacional e indica que essa está ―(...) espartilhada entre os modelos acadêmicos,

falsamente teóricos, indiferentes à realidade das escolas e da profissão docente e entre os

modelos profissionalizantes, falsamente práticos, indiferentes à complexidade da profissão

docente‖. Relatórios internacionais, desde 2005, já centravam esforços nesse sentido e

destacavam a importância do papel dos professores nas possibilidades de aprendizagem dos

alunos. Exemplo disso foi o relatório publicado pela Organização para Cooperação do

Desenvolvimento Econômico (OCDE), uma organização que discute a implantação e o

desenvolvimento de políticas públicas visando o crescimento econômico dos países

envolvidos, intitulado Teachers matter: attracting, developing and retaining effective teachers

(OCDE, 2005).

Esse relatório é reflexo da preocupação, em nível internacional, com os professores:

como fazer para que a docência seja uma profissão atrativa e como conseguir que os

professores continuem a aprender ao longo das suas carreiras. Esta dissertação caminha por

essa vertente ao se preocupar com a continuação da aprendizagem, de modo que a

participação em formações continuadas não se limite à acumulação de certificados para o

professor e, sim, contribua, de fato, com benefícios para a prática docente.

Em consonância com esse pensamento, estão documentos como a Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional (LDBEN - Lei 9394/96), as Diretrizes Curriculares Nacionais

para o curso de Pedagogia (DCN, 2005) e o Plano Nacional de Educação (PNE, 2014). As

DCN, em seu Art. 4º, incisos I e II, afirma ser fundamental se preocupar com o conjunto das

competências necessárias à atuação profissional e adotar essas competências como

norteadoras tanto da proposta pedagógica, quanto da organização institucional e da gestão de

experiências educativas não-escolares. Entende-se, assim, que o documento tem um

entendimento amplo sobre os saberes necessários à atuação docente, indo além do saber

cognitivo.

O PNE dialoga com a LDBEN, pois apresenta em sua meta 15 a necessidade de

garantir formação em nível superior para os professores da Educação Básica. Essa meta é

composta por treze estratégias que descrevem como atingi-la durante o período de vigência do

PNE. Meta 15:

Page 39: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

37

Garantir, em regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e

os Municípios, no prazo de 1 (um) ano de vigência deste PNE, política nacional de

formação dos profissionais da educação de que tratam os incisos I, II e III do caput

do art. 61 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, assegurando que todos os

professores e as professoras da educação básica possuam formação específica de

nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de conhecimento em que

atuam. (BRASIL, 2014)

Enquanto o artigo 61 da LDBEN versa sobre garantir a formação inicial, o parágrafo

único do artigo 62-A, dessa mesma lei, apresenta-se da seguinte forma: ―Garantir-se-á

formação continuada para os profissionais a que se refere o caput, no local de trabalho ou em

instituições de Educação Básica e Superior, incluindo cursos de educação profissional, cursos

superiores de graduação plena ou tecnológicos e de pós-graduação‖ (BRASIL, 1996).

Essa garantia de formação continuada para professores em seu local de trabalho

contemplada pela especificidade do artigo 62 é o que melhor representa a pesquisa relatada

nesta escrita. A pesquisadora durante a coleta de dados realizou a formação com os

professores que ensinam Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental em escola

municipal da cidade do Natal, visando o desenvolvimento profissional dos docentes

envolvidos, não partindo apenas das necessidades formativas dos docentes, mas considerando

as necessidades outras do ambiente escolar. No PNE, a formação continuada foi contemplada

na meta 16, organizada em seis estratégias visando alcançar o seguinte objetivo:

Formar, em nível de pós-graduação, cinquenta por cento dos professores da

educação básica, até o último ano de vigência deste PNE, e garantir a todos (as) os

(as) profissionais da educação básica formação continuada em sua área de atuação,

considerando as necessidades, demandas e contextualizações dos sistemas de ensino.

(BRASIL, 2014)

Para a realidade do município onde a pesquisa foi realizada, uma das demandas

necessárias quanto à formação continuada de professores licenciados em Pedagogia, público

alvo desta pesquisa, é no campo da Matemática. Essa demanda é gerada devido à

generalidade na formação desses profissionais, como já foi apresentado no início desta seção.

Além de documentos, como a LDBEN, DCN e PNE, em âmbito local, considerando o

município do Natal/RN, o documento base com vigência para o período de 2016 a 2026,

apresenta no Plano Municipal de Educação (PME) metas e estratégias em consonância com os

nacionais. Nesse sentido, na meta 16, o plano municipal contempla a formação continuada

afirmando que é obrigação do município

Page 40: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

38

Formar e garantir em nível de pós-graduação, 65% (sessenta e cinco por cento) dos

professores da Educação Básica, até o último ano de vigência do PNE, e garantir a

todos os profissionais da Educação Básica formação continuada em sua área de

atuação, considerando as necessidades, demandas e contextualizações dos sistemas

de ensino. (NATAL, 2016)

Quando se fala em considerar as necessidades e demandas do sistema de ensino

relacionadas à atuação do pedagogo, logo se faz lembrar do trabalho com a Matemática.

Historicamente, esse componente curricular é visto com temor por estudantes, assim como

por professores que o ensinam nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Tais docentes,

formados prioritariamente em Pedagogia, muitas vezes escolhem este curso de Licenciatura

para fugir da Matemática sem perceberem que serão professores desta disciplina, exatamente,

em uma das fases mais importantes da aprendizagem discente. A fuga se justifica pelas

lacunas que os mesmos possuem em seu processo formativo até chegarem às universidades

(BARRETO, 2007; NACARATO; PASSOS; MENGALI, 2010; MAIA, 2012). As

dificuldades apresentadas dizem respeito não só aos conteúdos matemáticos, mas também

quanto à metodologia, ou seja, à didática utilizada por esses docentes durante suas aulas

(BARRETO, 2007; SILVA et al., 2018).

Em relação à fase em que o pedagogo ensina a Matemática, é possível afirmar que é

uma das mais importantes da aprendizagem porque se constitui no período em que se deve

começar a trabalhar no desenvolvimento do raciocínio lógico das crianças com idade entre

seis e dez anos, idade em que os alunos devem estar concluindo a primeira etapa do Ensino

Fundamental (1º ao 5º ano). Prova disso está nos estágios de desenvolvimento humano

apresentados por Piaget – Sensório-motor (0 a 2 anos), Pré-operatório (2 a 7 anos), Operações

concretas (7 a 11 ou 12 anos) e Operações formais (11 ou 12 anos em diante), que descrevem

as habilidades que devem ser desenvolvidas pelos discentes em cada um desses períodos.

Cada uma dessas fases pelas quais os alunos irão passar é caracterizada por formas diferentes

de organização mental que possibilitam as diferentes maneiras do indivíduo se relacionar com

a realidade e desenvolver-se em função dessa realidade, incluindo, portanto, o

desenvolvimento do saber matemático. Por conseguinte, o pedagogo precisa ter clareza e

domínio de como realizar esse trabalho.

O estágio sensório-motor é o período denominado por Piaget de inteligência prática

por ser nessa fase em que o desenvolvimento cognitivo da criança não usa a linguagem e sim

as ações e percepções, sendo esses os estimulantes do desenvolvimento das estruturas

mentais. No estágio pré-operatório, a inteligência ainda é prática, mas agora, além de prática,

Page 41: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

39

ela é uma inteligência em representação, o que significa que a criança utiliza a representação,

mas tem todo um trabalho de assimilação, acomodação e equilibração para organizar essas

representações em um todo. Na fase das operações concretas, a criança faz uso da capacidade

das operações reversíveis apenas sobre objetos que ela possa manipular, de situações que ela

possa vivenciar ou de lembrar a vivência, ainda não existe a presença da abstração. Por fim, a

principal característica da criança que chega ao estágio operatório formal consiste em poder

realizar estas operações sobre hipóteses e não somente sobre objetos. Isso significa dizer que a

criança pode versar sobre enunciados verbais, sobre proposições.

Saber trabalhar todas essas fases no desenvolvimento da criança é essencial no

processo de aprendizagem matemática. Além dos estágios do desenvolvimento humano

apresentados por Piaget, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) preconizam que um

bom ensino de Matemática, naquela faixa etária, forma uma base para os anos posteriores e dá

apoio à construção de outras áreas, pois ―(...) interfere fortemente na formação de capacidades

intelectuais, na estruturação do pensamento e na agilização do raciocínio dedutivo do aluno‖

(BRASIL, 1998, p. 15).

Afirmações como essas faz refletir sobre como se deve pensar as formações de

professores. Os baixos resultados apresentados pelas avaliações externas como a Prova Brasil

para os alunos dos 5º anos do Ensino Fundamental vêm se repetindo por muitos anos,

provavelmente pelo fato de que na vida se costuma reproduzir aquilo que se vivencia, o que

não é diferente na escola. Se o docente não teve uma boa formação escolar, no que diz

respeito ao ensino de Matemática, é quase certo que isso se repetirá na sua sala de aula.

Transformar essa realidade requer repensar quais fatores corroboram para o desencadeamento

do insucesso. Além disso, é importante ressaltar mudanças ocorridas no meio educacional

com o passar do tempo. Exemplo disso é a forma de elaborar os enunciados das questões,

sejam de avaliações externas ou dos livros didáticos. Atualmente, essas questões são mais

contextualizadas, solicitando do aluno muita leitura de mundo e de escola para poder

interpretar e compreender a questão, fato que muitos dos próprios docentes não vivenciaram

na sua época de aluno e agora precisam aprender a trabalhar nessa perspectiva.

Curi (2005), em pesquisa realizada sobre a matriz curricular dos cursos de

Licenciatura em Pedagogia, analisou o currículo de duas universidades de cada estado

brasileiro para identificar os saberes esperados dos egressos desses cursos. Ao encerrar a

pesquisa a autora concluiu que

Page 42: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

40

A investigação realizada mostra principalmente a pouca presença de conteúdos

matemáticos e de suas didáticas nos currículos dos cursos de Pedagogia. Cabe

destacar que a organização da disciplina de Metodologia do Ensino de Matemática,

em algumas instituições, era unificada à outra referente aos conteúdos matemáticos.

Na maioria, porém, a disciplina tinha caráter mais metodológico, com

predominância de temas de caráter mais geral do ensino de Matemática em

detrimento de discussões metodológicas sobre temas matemáticos previstos para

serem desenvolvidos nos anos iniciais do ensino fundamental. (CURI, 2005, p.8)

Apesar de não ser um estudo recente, é preocupante perceber que depois de quase 15

anos ainda se percebe a mesma realidade. Além disso, a autora ainda fez outras constatações

na pesquisa observando, por exemplo, que ―A disciplina Matemática Básica tem o caráter de

revisão de conteúdos ao invés da conotação de estudá-los sob a perspectiva do ensino e não

aborda temas curriculares importantes que constam do currículo de Matemática do Ensino

Fundamental‖ (CURI, 2005, p. 8).

Esse fato contribui para justificar, por exemplo, o porquê de na sala de aula ser

percebido muito timidamente o ensino da Geometria e praticamente nenhum ensino sobre

Grandezas e Medidas, apesar de serem duas unidades temática apresentadas pela BNCC

(2017) e importantes para o ensino da Matemática. A pesquisadora, autora desta dissertação,

faz essa reflexão afirmativa por trabalhar com assessoramento pedagógico nas escolas

municipais do município do Natal e vivenciar o quanto a preocupação da aprendizagem

matemática gira em torno das quatro operações, como se as outras unidades temáticas não

fossem importantes, ou não pudessem colaborar com a aprendizagem das operações básicas.

O mesmo ocorre com os conceitos estatísticos, recorte matemático foco desta pesquisa, que

compõe a unidade temática Probabilidade e Estatística e que também não é tratado em sala de

aula como versa a BNCC.

Pesquisas mais recentes corroboram com essa mesma realidade. É o caso de Gatti,

Barreto e André (2011) e Gatti et al (2019). Os dois estudos apresentados pelas autoras, por

meio de e-book, mostram dados de pesquisas realizadas no Brasil e em outros países sobre

formação inicial e formação continuada. A conclusão desses estudos gira sempre em torno da

afirmação de que os currículos não se voltam para as questões ligadas ao campo da prática

profissional, seus fundamentos metodológicos e formas de trabalhar em sala de aula.

Continuam a privilegiar os conhecimentos da área disciplinar em detrimento dos

conhecimentos pedagógicos propriamente ditos. Nesse sentido, para suprir as lacunas

formativas deixadas pelas matrizes curriculares, ementas das disciplinas e metodologias

utilizadas pelos professores dos cursos de graduação, alguns relatos de formação continuada,

Page 43: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

41

incluindo mestrado profissionais e grupos de estudos formados entre escolas e universidades,

foram relatados no e-book de 2019.

Em um desses relatos, visando atender as necessidades formativas de docentes que já

atuam em sala de aula, Fiorentini (2016) apresenta o que foi denominado de Grupo de Sábado

(GdS), comunidade de aprendizagem docente fundada a partir da iniciativa de professores de

escolas básicas da região de Campinas e acadêmicos da Faculdade de Educação da Unicamp

(FE/Unicamp). No relato, o autor argumenta que a adoção dessa alternativa de formação e

aprendizagem docente, pelo GdS, é decorrente do fracasso do modelo ainda predominante no

Brasil que não prevê nos cursos de formação inicial e continuada de professores a realização

de estudos, análises e problematizações da atividade matemática que acontece em sala de aula

nas escolas. É importante destacar que o GdS citado por Fiorentini (2016) está diretamente

relacionado ao grupo colaborativo no que diz respeito ao objetivo de criação e ações

desenvolvidas, formado durante esta pesquisa de mestrado entre docentes da escola

colaboradora e pesquisadores da UFRN, incluindo a autora deste texto.

Independentemente do tempo que as pesquisas apresentadas foram realizadas,

percebe-se que a problemática continua: lacunas formativas deixadas pela formação inicial

reverberam na prática docente dos professores no processo de ensino e aprendizagem dos

alunos e, consequentemente, nos resultados apresentados pelas avaliações oficiais. Curi

(2005) ainda acrescenta mais um ponto nessa problemática quando afirma que a ausência de

educadores matemáticos à frente das disciplinas voltadas para o ensino e à metodologia de

Matemática nos cursos de Pedagogia se constitui como um dos fatores que contribui para

nossa realidade.

Em relação a essa afirmação, a pesquisadora concorda em parte, pois o licenciado em

Matemática como professor da disciplina de Metodologia e Prática do Ensino da Matemática

nos cursos de Pedagogia iria muito contribuir nos conhecimentos conceituais. No entanto,

seria necessário observar a sua prática em relação à didática. Essa observação é feita pela

pesquisadora por ser licenciada em Matemática e ter passado pela experiência na qual a parte

conceitual prevaleceu à metodológica em sua formação durante a graduação. Por essa razão,

os licenciados tendem a enfatizar o trabalho com os conceitos sem muita preocupação em

analisar a melhor metodologia a ser aplicada em cada situação. Isso não significa dizer que a

formação inicial seja de má qualidade, porque, como bem afirma Gatti (2003), há quase duas

décadas a formação inicial pressupõe um processo que assegura um conjunto de habilidades

Page 44: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

42

aos estudantes e professores que permite iniciar sua carreira docente com um - mínimo - de

condições pessoais de qualificação. Nesse período, o futuro professor principia uma

transformação entre o papel de aluno e o papel de professor, tendo muito ainda a aprender

para aperfeiçoar a sua atuação após o término da graduação.

Todos esses fatores reiteram a importância da formação continuada e em serviço.

Contudo, faz-se necessário analisar se o modelo de formação que vem sendo oferecido aos

professores que ensinam Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental não se

apresenta também como um dos motivos para o insucesso na aprendizagem matemática de

nossos alunos. Por isso, é essencial pensar em um formato de formação na qual o foco não

seja apenas a exposição de conteúdos traçados pelo formador e apresentados ao professor

durante os encontros formativos. É preciso pensar em uma formação que contemple essa

demanda e algo mais amplo, como foi apresentado nas ideias de Nóvoa (2014) no início deste

texto.

Autoras como Curi (2005), Nacarato, Mengali e Passos (2009) afirmam que as lacunas

também são de cunho conteudista, mas dialogam com Nóvoa (1991), defendendo que essa

formação precisa ser planejada a partir da necessidade do professor e da realidade em que

atua, pensando nos desafios do seu contexto, mas também em seu desenvolvimento

profissional. Diante do exposto, percebe-se a necessidade de discutir sobre o que venha a ser o

conceito de desenvolvimento profissional na visão dos teóricos e é esse o objetivo da próxima

seção.

2.2 Formação continuada de professores que ensinam Matemática na perspectiva do

desenvolvimento profissional

O conceito de desenvolvimento profissional nesta pesquisa tem como eixo principal a

formação do docente de forma mais abrangente que aquela considerada pela academia, isso é,

atender as lacunas conceituais que possam existir provenientes de sua formação inicial, sem

esquecer a complexidade da prática e dos saberes docentes, considerando ainda o meio em

que vive e o local onde essa prática é desenvolvida, percebendo todo esse processo formativo

como contínuo e, portanto, inacabável, em âmbito pessoal, profissional e organizacional da

profissão docente.

Pensar nos desafios a serem vencidos em prol do desenvolvimento profissional

docente tem mediado a discussão sobre a relação entre formação inicial e continuada de

Page 45: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

43

professores que ensinam Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental tanto nos

documentos oficiais como em pesquisas acadêmicas, relatados na seção anterior. Com isso

espera-se melhorar a aprendizagem dos alunos de modo que os mesmos tenham maior

capacidade de interpretação e resolução dos problemas, por exemplo, e um entendimento mais

crítico dos resultados obtidos por eles. Para Ferreira (2006), um dos entraves dessa

problemática é a forma como as formações, inicial e continuada, se apresentam na vida desse

professor. Segundo a autora, enquanto que na graduação o professor recebe uma formação

mais teórica, distante da prática de sala de aula, a formação continuada se apresenta de forma

descontextualizada com a prática do docente por não ser planejada a partir do que é

vivenciado na escola e, assim, não contribui tanto quanto poderia com o desenvolvimento do

professor como aprendiz.

Para esta dissertação, o foco será a formação continuada e em serviço, mas foi

necessário fazer essa análise entre as formações, inicial e continuada, para entender a origem

da problemática posta até o momento. E assim sendo, aproximar a formação continuada em

serviço da prática docente em sala de aula requer pensar em uma formação na perspectiva do

desenvolvimento profissional, citada anteriormente, ainda não caracterizada de maneira mais

específica, como será feito a partir de agora. Para isso, buscou-se fundamentação teórica em

vários autores, entre eles, Ferreira (2006, p.149), que entende o desenvolvimento profissional

como ―(...) um processo que se dá ao longo de toda experiência profissional com o ensino e a

aprendizagem da Matemática, que não possui uma duração preestabelecida e nem acontece de

forma linear‖. Conceitos como esse reafirmam a importância da formação continuada, assim

como deixa clara a não completude da formação inicial.

Imbernón (2010) defende a formação continuada, entendendo-a como parte do

desenvolvimento profissional que acontece ao longo da atuação docente, podendo possibilitar

um novo sentido à prática pedagógica, contextualizar novas circunstâncias e ressignificar a

atuação do professor. Esse autor afirma que

O conhecimento profissional consolidado mediante a formação permanente apoia-se tanto na

aquisição de conhecimentos teóricos e de competências de processamento da informação, análise e

reflexão crítica em, sobre e durante a ação, o diagnóstico, a decisão racional, a avaliação de processos

e a reformulação de projetos (IMBERNÓN, 2010, p.75).

Esse mesmo autor afirma que analisar as características da formação continuada

pensando no desenvolvimento profissional dos docentes envolvidos requer a necessidade de

que essa formação venha do contexto, como a ação do professor em sala de aula. Nessa

Page 46: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

44

visão, o professor é visto como sujeito em constante processo formativo e, portanto, a

formação continuada precisa estar relacionada diretamente com a realidade vivenciada por

esse docente. Passos et. al. (2006), além de dialogarem positivamente com essa perspectiva de

formação, ainda discutem sobre a semelhança, ou não, das palavras formação e

desenvolvimento do professor. Segundo os autores, apesar dessas palavras serem

interpretadas por vezes como sinônimas, a primeira pode ser entendida como ―dar forma‖,

modelar algo ou alguém de acordo com um modelo que se presume ser o mais ideal

pressupondo a ação de alguém, o formador, e de uma instituição sobre um objeto de formação

representado por um futuro professor ou o professor em serviço. Eles afirmam ainda que,

nessa concepção, o formador assume o protagonismo, sendo o professor um mero participante

e assimilador de informações, provavelmente conteudistas, transmitidas durante os encontros

formativos.

Para os mesmos autores, a segunda expressão, desenvolvimento do professor, vai além

dos conhecimentos que o mesmo adquire ao longo da vida profissional. Faz-se necessário

entendê-lo como sujeito que sofre os condicionamentos de seu contexto histórico-cultural, ou

seja, um sujeito de relação com o mundo e com as práticas escolares. Assim, ―(...) há uma

multiplicidade de fatores (pessoais, sociais, culturais, históricos, institucionais, cognitivos e

afetivos) que participam e interferem no processo de desenvolvimento profissional dos

professores‖ (PASSOS et al., p.196). Esta pesquisa de mestrado caminhou em parceria com a

segunda expressão definida por Passos et.al. (2006), buscando considerar os professores

colaboradores como sujeitos inseridos em um determinado contexto. Além de fazer esse

comparativo entre formação e desenvolvimento do professor, os autores ainda esclarecem

sobre a denominação formação contínua, quando dizem que

(...) a formação docente numa perspectiva de formação contínua e de

desenvolvimento profissional, pode ser entendida como um processo pessoal,

permanente, contínuo e inconcluso que envolve múltiplas etapas e instâncias

formativas. Além do crescimento pessoal ao longo da vida, compreende também a

formação profissional (teórico-prática) da formação inicial — voltada para a

docência e que envolve aspectos conceituais, didático-pedagógicos e curriculares —

e o desenvolvimento e a atualização da atividade profissional em processos de

formação continuada após a conclusão da licenciatura. A formação contínua,

portanto, é um fenômeno que ocorre ao longo de toda a vida e que acontece de modo

integrado às práticas sociais e às cotidianas escolares de cada um, ganhando

intensidade e relevância em algumas delas. (PASSOS et. al., 2006, p.195)

Page 47: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

45

Com essa definição dada pelos autores é possível perceber que falar em formação

contínua e desenvolvimento profissional é algo muito mais amplo que discutir somente sobre

formação continuada. A pesquisadora, como formadora de professores desde 2003, acredita

que todas as formações continuadas realizadas pelos professores, ao longo da sua trajetória

pedagógica, contribuem para a qualidade da educação na sala de aula. É na formação

continuada que os docentes ampliam, individual e coletivamente, os seus saberes sobre o fazer

pedagógico a partir das experiências vivenciadas e compartilhadas com os seus pares,

proporcionando um novo olhar e novas ideias para planejamentos futuros. É possível afirmar

então que a formação continuada não deixa de ser parte da formação contínua desse professor

e, consequentemente, interferir em seu desenvolvimento profissional.

Pensando dessa maneira, formação contínua, formação continuada e desenvolvimento

profissional parecem se confundir em suas definições ou fazerem parte de um processo que

poderia ser chamado de efeito dominó em que uma ação implica na outra de forma inevitável.

Por essa razão, buscou-se auxílio em outros autores para diferenciar e caracterizar cada uma

dessas denominações, destacando sempre o entendimento sobre desenvolvimento profissional.

Ponte (1998), por exemplo, diz que o termo desenvolvimento profissional emergiu na

literatura educacional como forma de demarcar uma diferenciação entre esse conceito e o de

formação no modelo tradicional.

Com base no pensamento do autor é possível fazer um comparativo entre as

características de uma formação classificada como tradicional e uma formação na perspectiva

do desenvolvimento. Para esta dissertação, o conceito de formação tradicional, além de se

caracterizar em Ponte (1998), baseia-se nas ideias de Freire (1996) quando nega a eficácia de

uma formação com base apenas em suprir lacunas formativas. A pesquisadora afirma ser fruto

desse modelo de formação, porém, procura desenvolver seu trabalho seguindo na perspectiva

do desenvolvimento profissional, apesar da dinâmica de formação do município onde atua não

permitir ainda o desenvolvimento da formação no contexto de cada unidade escolar. Partindo

do princípio de que o município do Natal possui 72 unidades escolares, torna-se claro o

grande desafio que seria fazer uma formação diferente, ou seja, a partir e no contexto escolar,

o que se configura totalmente distinto de todo o processo de formação até então vivenciado

como aluna de Ensino Fundamental, Médio e também na Educação Superior. A experiência

de formação da pesquisadora apresentou sempre aulas acontecendo em um determinado lugar

físico (escolas, universidades e espaços destinados à formação de professores, como o

Page 48: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

46

CEMURE) e os alunos, ou professores, dirigindo-se até esse local para ―receber‖

conhecimentos.

No Quadro 1, fundamentado nas ideias de Ponte (1998), a pesquisadora organizou em

colunas o que o autor apresenta como características de uma formação dita tradicional e uma

formação na perspectiva do desenvolvimento profissional.

Quadro 1 – Tipos de formação continuada em serviço segundo Ponte (1998)

Formação Tradicional Formação na perspectiva do desenvolvimento

profissional

Foco na transmissão de conhecimentos

(movimento de fora para dentro)

O professor participa das tomadas de decisões no

processo formativo (movimento de dentro para fora)

Compartimentada por assunto, ou por disciplina Professor visto em sua totalidade (aspectos cognitivos,

afetivos e relacionais)

Costuma partir da teoria e frequentemente não

chega a sair da teoria

Costuma considerar a teoria e a prática de forma

integrada

Professor objeto Professor sujeito

Ideia de frequentar encontros formativos

Múltiplas formas (participa dos encontros formativos,

mas também, pensa em projetos, troca experiências,

leituras, reflexões, entre outros.

Atende às carências do professor Dar atenção às potencialidades docentes

Fonte: Elaborado pela pesquisadora

Pelo quadro percebe-se que a formação continuada na perspectiva do desenvolvimento

profissional se constitui em um somatório de conhecimentos de diversos domínios, como

afirma Ponte (2014). O autor diz ainda que o professor na sua prática educativa precisa ser

capaz de agir e, muitas vezes, de agir em situações de grande pressão, pois ―(...) a chave da

competência profissional é a capacidade de equacionar e resolver — em tempo oportuno —

problemas da prática profissional. Isso exige não só competências teóricas e competências

práticas, mas também competências na relação teoria-prática‖ (PONTE, 2014, p.4).

Nesse sentido, pensar em uma formação para o professor que ensina Matemática nos

anos iniciais do Ensino Fundamental vai significar pensar em uma formação que não seja

Page 49: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

47

apenas conteudista, que passa por reformular a concepção de formação docente, seja no ponto

de vista de procedimentos, seja nos aspectos conceituais. Isso representará potencialidade de

proporcionar melhores resultados pelo fato de contemplar além desses conteúdos, questões

metodológicas, afetivas e relacionais. Segundo Ponte (2014), o professor para exercer

adequadamente a sua atividade docente precisa

(a) ter bons conhecimentos e uma boa relação com a Matemática, (b) conhecer em

profundidade o currículo e ser capaz de o recriar de acordo com a sua situação de

trabalho, (c) conhecer o aluno e a aprendizagem, (d) dominar os processos de

instrução, os diversos métodos e técnicas, relacionando-os com os objetivos e

conteúdos curriculares, (e) conhecer bem o seu contexto de trabalho, nomeadamente

a escola e o sistema educativo e (f) conhecer-se a si mesmo como profissional.

(PONTE, 2014, p.4)

Pela citação de Ponte (2014), é possível perceber a complexidade da prática docente.

Nessa perspectiva não se fala mais de professor que precisa saber somente o conteúdo para ser

repassado aos seus alunos. A preocupação agora é muito maior, pois se consideram relevantes

o relacionamento de pessoas que precisam se conhecer e conhecer o outro, durante o processo

formativo, desenvolvendo competências como a empatia, a interação, a troca de experiências

e uma metodologia que atenda, senão a todos, a maioria do público ao qual o docente é

responsável. Isso é formação na perspectiva do desenvolvimento profissional, ir além da

execução de algo pronto e acabado.

Outro autor que pode contribuir nesta discussão é Marcelo (1999), quando o mesmo

afirma que a formação inicial é um processo de desenvolvimento e estruturação individual,

enquanto a formação continuada é uma atividade formativa direcionada para o professor em

exercício e que ocorre e se desenvolve em um contexto específico. Para o desenvolvimento

profissional, o autor diz ocorrer a partir dos questionamentos e pela busca por soluções em um

processo vivencial, integrador e em contexto. Segundo o mesmo autor, é necessário que se

―(...) proporcione tempo aos professores para provar novos métodos de ensino e receber apoio

e assessoramento em suas classes quando se deparam com problemas de implementação

(MARCELO, 2009, p. 25).

O posicionamento do autor leva à reflexão de que o desenvolvimento profissional

pode não ocorrer, mesmo o professor participando de formações, uma vez que, segundo o

autor, esse desenvolvimento depende dos questionamentos e da busca por soluções por parte

do docente. Assim, se o professor participa da formação e não reflete sobre o processo

formativo, não questiona sobre o seu fazer, nem se sente provocado a buscar soluções para os

Page 50: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

48

desafios surgidos em sala de aula, ele não vai se permitir se desenvolver profissionalmente.

Dessa forma, apesar de já ter sido afirmado que a formação continuada faz parte da formação

contínua e que esta reflete no desenvolvimento profissional, a partir das ideias de Marcelo é

possível perceber que, não necessariamente, essa tríade caminha de forma inseparável.

Os conceitos dos diversos autores convergem para uma mesma ideia, a de que o

professor para alcançar o seu desenvolvimento profissional deve ser o protagonista do seu

próprio processo de desenvolvimento, mas, nem por isso, esse caminhar deve ser solitário.

Além disso, autores, como Day (2001), fazem referência à necessidade da valorização docente

como caminho para o crescimento profissional em uma perspectiva para a formação

continuada:

(...) apresentar um leque de oportunidades de aprendizagem relacionadas a diferentes

interesses e que, principalmente, valorizem a prática docente e a experiência

profissional como componentes essenciais para esse processo e deve procurar não só

satisfazer necessidades de desenvolvimento em curto prazo, mas também

necessidades legítimas de desenvolvimento em longo prazo, uma vez que os

contextos em que ocorre representam mudanças a nível pessoal, profissional e

organizacional. (DAY, 2001, p. 208)

Segundo o mesmo autor, a aprendizagem para a docência não ocorre só por meio da

experiência. Essa experiência precisa ser analisada, examinada, assimilada para se transformar

em conhecimento, assegurando o desenvolvimento profissional docente. Day (2001) destaca

ainda que a maioria dos professores ainda trabalha isoladamente, mesmo que esse processo de

formação contínua ocorra no espaço escolar. Ele afirma que há a necessidade de diretores

promoverem uma mudança de cultura, na qual a troca seja uma ação de ordem entre os

professores no sentido de oportunizar ―culturas colegiais‖ (DAY, 2001, p. 85), as quais

sirvam não somente para falar das práticas, mas para examiná-las. Para esse autor, o conceito

de desenvolvimento profissional

Envolve todas as experiências espontâneas de aprendizagens e as atividades

conscientemente planificadas, realizadas para benefício, direto ou indireto, do

indivíduo, do grupo, ou da escola, e contribuem, através destes, para a qualidade da

educação na sala de aula. É o processo através do qual os professores, enquanto

agentes de mudança, reveem, renovam e ampliam, individual ou coletivamente, o

seu compromisso com os propósitos morais de ensino, adquirem e desenvolve de

forma crítica, juntamente com as crianças, jovens e colegas, o conhecimento, as

destrezas e a inteligência emocional, essenciais para uma reflexão, planificação e

práticas profissionais eficazes, em cada uma das fases das suas vidas profissionais.

(DAY ,2001, p. 20)

Page 51: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

49

A citação de Day (2001) reitera a ideia da amplidão que se tem ao falar em

desenvolvimento profissional, quando ele afirma ser possível adquirir e desenvolver também

a inteligência emocional dos docentes e demais atores envolvidos no processo formativo.

Sabe-se que a inteligência emocional é algo indispensável para o desenvolvimento do cidadão

como ser social e, em assim sendo, algo que já foi pensado apenas como uma transmissão de

conhecimentos matemáticos para ajudar o professor na sua prática em sala de aula passa a ser

visto por um outro ângulo, quando a formação considera o ser em sua totalidade.

Nessa perspectiva, fatores externos como a presença de pesquisadores e universidade

no ambiente escolar e fatores individuais como formação acadêmica inicial, experiência

profissional e formações continuadas realizadas ao longo da vida do professor, podem

contribuir para o seu desenvolvimento profissional. Clarke e Hollingsworth (2002)

apresentam esses dois fatores definidos pela pesquisadora por meio de um modelo para

descrever o processo de desenvolvimento profissional do professor, analisando o processo

formativo em quatro diferentes domínios: (i) domínio externo (fonte de informação, estímulo

e suporte); (ii) domínio da prática (experimentação profissional); (iii) domínio da

consequência (na aprendizagem dos estudantes); e (iv) domínio pessoal (inclui conhecimento,

crenças e atitudes do professor). Nesse modelo, o desenvolvimento profissional acontece por

meio de processos de reflexão e efetivação de ações, envolvendo os quatro domínios, como

mostra a figura 1.

Figura 1 – Desenvolvimento profissional segundo Clarke e Hollingsworth

Fonte: Clarke e Hollingsworth (2002, p. 951)

Page 52: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

50

Para as autoras, ―o domínio externo é distinguido dos outros domínios por estar

localizado fora do mundo pessoal do professor. Em combinação, domínio da prática, domínio

pessoal e domínio da consequência constituem o mundo individual da prática profissional do

professor‖ (CLARKE; HOLLINGSWORTH, 2002, p.951). Com base nas autoras citadas,

Santana, Serrazina e Nunes (2019) afirmam que o domínio da prática é necessário para que o

processo formativo permita reflexões sobre dados da realidade referentes à aprendizagem.

Esse domínio é bastante discutido nesta dissertação, uma vez que o foco é exatamente a

observação sobre a prática docente a partir do domínio externo representado pela presença dos

pesquisadores no processo formativo.

No domínio da consequência, por exemplo, segundo Santana, Serrazina e Nunes

(2019), é o momento em que o professor pode observar a aprendizagem do estudante. Para a

pesquisa aqui relatada, este domínio não será foco de discussão porque o objetivo é a

formação do professor, porém não tem como desvincular totalmente uma coisa da outra e, por

isso, esse domínio por vezes poderá aparecer no momento das análises dos dados.

No quarto e último domínio, o domínio pessoal, segundo as mesmas autoras, existe a

necessidade de o docente avaliar as ações implementadas no processo formativo que vise ao

seu desenvolvimento profissional. Esse domínio aconteceu na pesquisa durante o encontro de

avaliação realizado ao final do processo formativo, mas não quer dizer que durante o processo

o professor não tenha realizado autoavaliação a cada etapa em que ele participou como

professor colaborador.

Nóvoa (1992) comunga de ideias semelhantes, mas quando escreveu sobre os modelos

de formação, denominou-os de maneira diferente. Para ele, a formação no modelo tradicional

foi chamada de formação no modelo estrutural, enquanto a formação na perspectiva do

desenvolvimento profissional foi denominada de formação no modelo construtivo. Apesar da

diferença na forma de nomear, é fácil perceber a equivalência porque o modelo estrutural se

fundamenta na racionalidade técnica, sendo a formação organizada a partir de uma proposta

previamente organizada com a finalidade de atualizar conhecimentos produzidos e

sistematizados distanciados das práticas docentes.

Já o segundo modelo definido por Nóvoa (1992), modelo construtivo, é fundamentado

em um processo contínuo de reflexão interativa e contextualizada, no qual teoria e prática,

assim como formadores e formandos, estão articulados entre si. A relação de parceria entre

formadores e formandos acontece de modo que os mesmos interagem colaborativamente na

Page 53: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

51

resolução dos problemas propostos e daqueles que, porventura, possam surgir durante o

processo formativo. Fazendo essa reflexão entre diferentes nomenclaturas dadas por

diferentes autores, ao decorrer do tempo, percebe-se que o modelo de formação não

tradicional já existe há décadas, o que está faltando é ser colocado em prática.

Independente da nomenclatura dada à formação, o que se percebe em comum é a

necessidade de uma formação continuada centrada no desenvolvimento do professor e

preocupada com as várias vertentes imbuídas nesse processo, seja de origem conceitual,

metodológica, afetiva ou relacional. Nessa perspectiva, os autores estão falando de algo

processual, uma formação que não se completa apenas na formação inicial, nem em pequenos

e pontuais cursos realizados após a graduação. Fiorentini e Crecci (2012, p. 75) afirmam que

―(...) dificilmente cursos de curta duração terão condições de analisar e problematizar a

complexidade das práticas vigentes de sala de aula e, portanto, de promover efetivamente o

desenvolvimento profissional".

Diante do que foi apresentado como características de uma formação continuada na

perspectiva do desenvolvimento profissional, percebe-se a necessidade de um período de

tempo maior para a efetiva consolidação desse modelo. Isso porque este tipo de formação vai

desenvolver uma relação de confiança entre formadores e formandos, ou entre universidade e

escola, e é fato que uma relação assim não se desenvolve de um dia para o outro, nem em um

intervalo de tempo curto. Não só pelo desenvolvimento da relação de confiança, mas pela

própria natureza do trabalho que está sendo proposto, para ouvir as demandas da comunidade

escolar e tentar junto a eles desenvolver ações que contribuam de forma significativa precisa-

se de tempo para pensar, planejar, executar e observar se foi possível ajudar ou não.

Nesse sentido, Fiorentini (2008, p.59) afirma que se trata de ―(...) processos de (re)-

elaboração e produção de novos significados relativos às suas práticas e aos seus saberes

didáticos-pedagógicos, experimentais e conceituais‖, e portanto, é preciso tempo para se

consolidar e da vida inteira para se aperfeiçoar a cada ano letivo. Quando o autor fala da vida

inteira, não quer dizer que os formadores, pesquisadores ou grupos de estudos da universidade

passem a caminhar juntos à escola, ou aos professores envolvidos na experimentação. A ideia

é que uma rotina de formação diferente do modelo tradicional seja criada entre os professores

colaboradores e a partir de então os mesmos possam dar continuidade ao processo formativo

iniciado em uma perspectiva do desenvolvimento profissional.

Page 54: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

52

Essa perspectiva apresenta uma proposta de formação continuada baseada na

totalidade do ser professor, considerando esse profissional, além de sua atuação profissional,

como um ser humano, uma pessoa que apresenta várias nuances. Isso é perceptível na fala de

Imbernón (2010, p.10), autor já citado no texto, mas que carece chamá-lo novamente pela

relevância de sua fala quando o mesmo afirma que ―(...) as relações entre os professores, as

emoções e as atitudes, a complexidade docente, a mudança de relações de poder nos cursos de

formação, a autoformação, comunicação, a formação com a comunidade, a influência da

sociedade da informação‖, tudo isso é importante e interfere no processo formativo docente‖ .

No modelo tradicional de formação esses itens jamais seriam contemplados, uma vez que o

que interessa nesse modelo é o domínio do conteúdo e a autoridade do professor em sala de

aula com o objetivo de conseguir o silêncio dos alunos para que possa repassar os conteúdos.

Pensando dessa maneira, somente o domínio desses conteúdos é necessário, nada mais seria

relevante.

O mesmo autor diz ainda que a formação continuada de professores desenvolvida de

forma não tradicional passa pela condição de que estes vão assumindo uma identidade

docente, tornando-se sujeitos da formação, negando o simples papel de meros instrumentos

maleáveis nas mãos do formador pesquisador. Desenvolver esse tipo de relação valoriza o

professor porque assim ele vai se sentir pertencente àquela dinâmica de formação, além de ser

uma oportunidade de demonstrar-lhes que eles podem e devem desenvolver essa mesma

relação de confiança e pertencimento em sua sala de aula.

Para que isso se torne realidade, entende-se que o desenvolvimento profissional é

assumido não só pelo docente, mas também pelos gestores da instituição educacional e toda a

comunidade escolar, pois perpassa pelas condições de trabalho e pela cultura organizacional,

como afirmam Pryjma e Winkeler (2014). Assim, não haverá desenvolvimento profissional

sem que o docente se comprometa com esse processo, e esse será valorizado à medida em que

a instituição educacional priorizar ações nessa ordem, não sendo, portanto, um caminho de via

única. A pesquisadora corrobora com as ideias das autoras, inclusive com a complexidade do

processo, citada por elas, pois uma prática docente mediada dessa maneira depende da

estruturação das competências e habilidades profissionais (formação inicial), requer que a

prática profissional se desenvolva no contexto do trabalho e que essa seja analisada, entendida

e refletida (formação contínua), possibilitando que a transformação e aprimoramento da

prática docente se efetive (desenvolvimento profissional).

Page 55: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

53

Diante de mais uma relação entre formação inicial, formação continuada e

desenvolvimento profissional vai ficando clara a diferença entre esses conceitos e aquela ideia

de que esses termos podem ser utilizados como sinônimos acaba não se sustentando em si

mesmo. Fica evidente que o trabalho em uma perspectiva de desenvolvimento profissional é

algo muito mais amplo, apesar de contemplar a formação continuada em serviço e de fazer

parte da formação contínua do docente. Ibiapina (2004), em perspectiva semelhante, defende

que os professores devem refletir sobre a sua ação, sobre a estrutura organizacional, os

pressupostos, os valores e as condições do trabalho docente, compreendendo como o modo de

organização e controle do seu trabalho interfere na prática educativa e na sua autonomia

profissional. Essa reflexão se faz importante para não deixar o professor responsabilizar

apenas o governo, a família, a estrutura física da escola, entre outros fatores, e esquecer de

pensar como anda sua prática docente, apesar de não poder negar que tais fatores também

interferem no produto final, ou seja, na aprendizagem dos alunos.

Além do diálogo sincronizado entre os autores, percebe-se que nesse formato existe a

natureza do trabalho por meio de um grupo colaborativo presente na formação continuada de

professores definida nesta pesquisa. Apesar de o dicionário Aurélio on-line definir

colaboração como sendo Trabalhar em comum com outrem. Agir com outrem para a

obtenção de determinado resultado. Ter participação em obra coletiva, geralmente literária,

cultural ou científica, o mesmo dicionário apresenta como sinônimo de colaborar, o ato de

coadjuvar, contribuir e cooperar, causando a impressão de que colaborar e cooperar podem ser

utilizados uma ou outra sem causar dúvidas no sentido da informação. Para autores como

Ferreira (2006), na pesquisa científica existe diferença entre os termos, pois,

Na colaboração, cada indivíduo participa da maioria das decisões: escolher a meta,

definir as estratégias, definir as tarefas, avaliar o resultado; e o faz consciente de que

é algo realmente importante para ele, algo que tanto beneficia o grupo como um

todo, quanto a ele diretamente. Assim, a quantidade de esforço empregado, o gasto

de recursos e o grau de compromisso são maiores que nos relacionamentos de

cooperação e coordenação, uma vez que as duas últimas envolvem a ideia de

trabalhar junto, mas com menos compromisso em relação às metas comuns.

(FERREIRA, 2006, p.152)

Na colaboração, segundo Ferreira (2006), existe um desejo apresentado de forma

voluntária, cuja participação em um determinado grupo de pesquisa acontece por meio apenas

do querer estar ali, contribuindo e aprendendo com os demais participantes do grupo em torno

de um interesse comum. Esse movimento formativo proporcionará a ressignificação dos

Page 56: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

54

conteúdos aprendidos na formação inicial. Isso acontecerá com o tempo porque a valorização

das trocas de experiências durantes os encontros, do saber de cada integrante do grupo e da

prática docente diária vivenciada por cada um terá grande potencial de construir um ambiente

de aprendizagem para os envolvidos no processo.

Para a pesquisa relatada nesta escrita, especificamente, a colaboração será favorecida

pelo uso de uma plataforma digital que possibilitará os professores elaborarem suas

sequências de ensino de forma síncrona ou assíncrona, ampliando assim os espaços e

momentos de formação dos professores colaboradores, uma vez que esse recurso irá

possibilitar a reflexão de forma compartilhada. A pesquisadora tem consciência de que o uso

da plataforma, apesar de ser "um plus" no modelo de formação que está sendo proposto na

pesquisa, existe a possibilidade desse recurso trazer outros desafios como, por exemplo, a

familiaridade, ou não, dos professores com esse tipo de recurso, em especial nas aulas de

Matemática, e as reais condições de trabalho nos encontros formativos ocorridos na escola. As

condições de trabalho devem ser consideradas porque, apesar da instituição escolar lócus da

pesquisa ter laboratório de informática, as condições físicas desse espaço podem comprometer

a realização do planejamento da formação com o uso da tecnologia digital.

De todo modo, a proposta é vivenciar uma formação que proporcione subsídios

teóricos e práticos para os professores envolvidos, ampliando as possibilidades do docente a

partir de um modelo de formação continuada e em serviço na perspectiva do desenvolvimento

profissional, no próprio espaço de atuação dos colaboradores, como uma forma de aproximar

a formação da realidade vivenciada pelos envolvidos na pesquisa, incluindo tecnologia digital.

Diante do exposto, a pesquisadora encerra este capítulo com o conceito de

desenvolvimento profissional elaborado por ela, a partir das leituras realizadas e dos autores

citados até o momento dessa escrita: o desenvolvimento profissional inclui as aprendizagens

naturais do cotidiano, as experiências formais e informais, o crescimento profissional e

pessoal, além do processo formativo por meio de formação continuada em serviço, ou não, de

forma individual ou coletiva, que considera o docente como um ser integral. Esse processo

inicia-se pelas necessidades formativas ainda não desenvolvidas para o exercício da sua

profissão - e isso será contínuo enquanto estiver atuando, não havendo um momento de

completude do saber - sem deixar de lado a preocupação com o lócus de atuação, o perfil

atual dos discentes que estão sob a sua responsabilidade, a relação entre esse docente e toda a

Page 57: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

55

comunidade escolar, a valorização do seu trabalho profissional e o seu desenvolvimento

socioemocional, tudo isso visando o aperfeiçoamento da sua prática docente.

Dessa forma, falar em formação de professores na perspectiva do desenvolvimento

profissional é defender uma formação em que um grupo de pessoas aprendentes discutem e se

desenvolvem em prol da melhoria dos resultados escolares, pois a partir do momento em que

o docente começa a perceber o processo educativo carregado de todas essas características

postas pelos teóricos, a probabilidade de reverberar em melhores resultados se torna mais

provável. Isso porque o modelo de formação defendido nesta dissertação se preocupa para

além do processo de ensino e aprendizagem, valorizando e partindo das aprendizagens já

existentes no grupo escolar, pensando na colaboração entre os sujeitos envolvidos e

considerando também as relações socioemocionais. Uma formação realizada nessa

perspectiva tende a valorizar e transformar a prática institucional, uma vez que a mesma se

baseia na resolução de problemas da própria comunidade de forma contínua e permanente,

proporcionando o desenvolvimento profissional dos envolvidos na formação.

Além da formação continuada em serviço em uma perspectiva de desenvolvimento

profissional, para a execução da formação proposta, foram utilizados os conceitos estatísticos

básicos como recorte matemático, visando o letramento estatístico dos professores, sendo

esses o foco de discussão do próximo capítulo.

Page 58: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

56

3 CONCEITOS ESTATÍSTICOS COMO COMPONENTE PARA A FORMAÇÃO E

PRÁTICA DOCENTE EM MATEMÁTICA

O terceiro capítulo foi reservado para apresentar a fundamentação teórica referente aos

conceitos estatísticos, recorte matemático utilizado nesta pesquisa. Para tanto, o capítulo foi

dividido em três seções no qual a primeira foi reservada para historiar o ensino da Estatística

no Brasil, a partir de documentos oficiais. Na sequência, o texto apresenta o Ciclo

Investigativo - Problema, Planejamento, Dados, Análise, Conclusão (PPDAC) - como

metodologia didática a ser utilizada durante a pesquisa e os conceitos básicos de Estatística a

serem trabalhados em turmas de 4º e 5º anos. Para terminar o capítulo, a terceira e última

seções versaram sobre a leitura e a construção de tabelas e gráficos nos 4º e 5º anos do Ensino

Fundamental, discussão necessária para análise dos dados. Dessa análise surgiram as

categorias de análise a priori, como pode ser observado na sequência do texto.

3.1 A história da Estatística no Brasil e o ensino desse componente na Matemática

escolar segundo os documentos oficiais

Autoras como Franco (2016) afirmam que trabalhar com Matemática nos anos iniciais

do Ensino Fundamental se configura para os professores como um dos grandes desafios que a

profissão os apresenta como docentes. Por esta razão, a autora defende a necessidade de uma

direção de sentido para as formações de professores que ensinam esse componente curricular,

a partir de uma proposta que inclua, além da discussão sobre conteúdos programáticos,

propostas metodológicas desafiadoras para os alunos e a consciência da intencionalidade

pedagógica do professor. Segundo a autora, isso envolve as grades curriculares da formação

inicial e o planejamento das formações continuadas.

A pesquisadora, a partir da experiência que teve como professora da disciplina de

Metodologia e Prática do Ensino da Matemática em um curso de Pedagogia de uma

instituição privada de Natal e atual formadora de professores atuantes nos 4º e 5º anos,

consegue perceber o que os teóricos apresentam sobre as necessidades formativas desses

docentes, registradas na introdução desta dissertação. A maioria do público que escolhe por

cursar a licenciatura em Pedagogia apresenta um histórico em que a Matemática não foi

trabalhada de uma forma significativa, isto é, não se fazia a relação da Matemática com o

cotidiano do discente, valorizando o aprender das operações básicas sem aplicabilidade.

Page 59: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

57

Nesse contexto, ser bom em Matemática na formação dos docentes que hoje se

encontram em sala de aula, incluindo a pesquisadora, era sinônimo de saber fazer, de forma

aligeirada, qualquer cálculo relacionado com as quatro operações, em especial, àqueles que

envolviam a divisão, tão temida por muitos professores pedagogos na hora de fazê-la e

ensiná-la. Isso é vivenciado pela pesquisadora como professora do curso de Pedagogia e

atualmente, como formadora de professores que ensinam Matemática nos anos iniciais.

Assim sendo, não saber fazer as benditas ―continhas‖ significava dizer que o aluno não

sabia Matemática e, provavelmente, iria seguir por uma profissão para a qual os cálculos não

fossem necessários. Foi dessa forma que muitos pedagogos chegaram aos bancos

universitários e hoje atuam em sala de aula como polivalentes que ensinam, inclusive, a

Matemática. Visando contribuir para que essa realidade seja diferente no futuro, esta pesquisa

traz o ensino dos conceitos estatísticos nos anos iniciais como uma forma de trabalhar a

unidade temática - Probabilidade e Estatística - necessidade formativa declarada pelos

docentes polivalentes7, apesar da leitura e interpretação de dados estarem fortemente

relacionadas com temas sociais emergentes (CAZORLA et al., 2010) e, por isso, causar a

impressão de que se consegue interpretar, de forma satisfatória, os dados que aparecem no dia

a dia, incluindo aqueles presentes nos livros didáticos dos alunos.

Nessa mesma perspectiva, Lopes (2010, p. 58) afirma que a ausência dessa temática

no trabalho com os estudantes ocorre pela ―(...) falta de domínio teórico-metodológico do

professor sobre os conceitos estatísticos e probabilísticos (...)‖, falta de domínio essa,

provavelmente, provocada por lacunas conceituais deixadas pela formação inicial e

continuada dos professores atuantes em sala de aula. Para a autora,

Hoje podemos dizer que a Educação Estatística, enquanto área de pesquisa, objetiva

estudar e compreender a forma como as pessoas ensinam e aprendem estatística,

englobando a epistemologia dos conceitos estatísticos, os aspectos cognitivos e

afetivos do ensino e da aprendizagem, bem como o desenvolvimento de

metodologias e materiais para o ensino, visando ao desenvolvimento do letramento

estatístico. (CONTI, 2016, p.1119)

O livro denominado ―Do Tratamento da Informação ao Letramento Estatístico‖, de

Cazorla e Santana (2010), foi escrito para professores que ensinam Matemática na Educação

Básica, além de trazer sequências de ensino de Estatística para promover o desenvolvimento

7 O professor polivalente tem Licenciatura em Pedagogia, é responsável pela sala de aula dos anos iniciais do

Ensino Fundamental e trabalha todos os componentes curriculares, exceto, Educação Física, Ensino

Religioso e Ensino da Arte.

Page 60: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

58

do pensamento estatístico, define letramento estatístico como ―saber interpretar e avaliar

criticamente as informações estatísticas‖ (p.11). Para letrar estatisticamente o aluno, portanto,

é necessário desenvolver o pensamento estatístico – estratégias mentais associadas à tomada

de decisão em todas as etapas de um ciclo investigativo (WILD; PFANNHUCH, 1999) de

maneira que o discente reflita, de forma crítica, sobre todas as fases de uma pesquisa

estatística.

Seguindo essa mesma linha de raciocínio, durante essa pesquisa, trabalhou-se o

letramento estatístico, porém, com foco nos professores. Essa forma de pensar caminha na

direção de uma formação na qual os professores são os protagonistas do processo e, portanto,

configura-se como uma formação que poderá possibilitar o desenvolvimento profissional

docente, ou seja, uma formação em que se enfatiza não apenas as questões conteudistas.

Nessa perspectiva, não basta ensinar Estatística, é preciso abordá-la de modo a produzir

conhecimentos significativos e isso será possível quando, por exemplo, houver o

entendimento de informações apresentadas em tabelas, gráficos e em forma de percentuais, ou

até mesmo, quando conseguir realizar ou mediar uma pesquisa desde a coleta até a análise dos

dados, tarefa fundamental para o desenvolvimento de um cidadão com olhar crítico e

reflexivo, como é orientado na BNCC (2017). Bôas e Conti (2018) afirmam que

Como disciplina científica, a Estatística se estruturou no final do século XIX,

quando se assistiu a uma generalizada emergência e reconhecimento de problemas

de natureza estatística nos vários ramos científicos, na indústria e em atividades

governamentais, o que fez crescer o interesse pela área. (BÔAS; CONTI, 2018, p.

986)

Apesar do reconhecimento, a Estatística continuou sem receber a devida atenção nos

bancos escolares. Nos tempos de hoje, é inegável a presença da mesma tendo em vista a era

da informação e, em assim sendo, nada melhor do que o ensino da Estatística para ajudar na

interpretação dos dados presentes na sociedade. Na década de 1970, segundo Cazorla e

Utsumi (2010, p.19), surgiu mundialmente um movimento que ―(...) reconheceu a importância

do desenvolvimento do raciocínio probabilístico, a necessidade de romper com a cultura

determinística nas aulas de Matemática, a dimensão política e ética do uso da Estatística‖.

No Brasil, antes da década de 1980, a Estatística estava no planejamento, apenas, para

os alunos dos anos finais do Ensino Fundamental e para o Ensino Médio, como acontece com

probabilidade e a análise combinatória até hoje. Somente na década de 1980, segundo Lopes

(2003, p. 57), ―(...) o Comitê Educação International Statistical Institute (ISI) passou a se

Page 61: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

59

preocupar com a Educação Estatística nas escolas básicas‖. Surge assim, conforme a autora, a

International Association for Statistical Education (IASE) com o objetivo de implementar e

consolidar a Educação Estatística nas escolas básicas.

A orientação metodológica sobre ensinar conceitos estatísticos nos primeiros anos

escolares teve início com a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN).

Reconhece-se a partir de então que coletar e compreender a representação de dados

contemplam situações que se fazem presentes no nosso cotidiano e que podem contribuir na

formação de um aluno com pensamento crítico. O ensino da Matemática nesse documento se

apresenta organizado em quatro grandes blocos de conteúdos distintos, são eles: Números e

Operações/Álgebra e Funções8; Grandezas e Medidas; Espaço e Forma e Tratamento da

Informação. O ideal era que esses blocos não fossem trabalhados de forma isolada uns dos

outros; pelo contrário, o trabalho deve se realizar de forma a um complementar o outro de

acordo com os diferentes níveis educacionais e anos de escolarização, porém, não é isso que

as práticas escolares apresentam como realidade.

Segundo Watson (2006), a produção de dados e o acaso não tinham lugar de destaque

no currículo da Matemática escolar até a década de 1990. Apesar dessa informação ser

referente aos Estados Unidos, pode-se considerar esta época também no Brasil, pois foi a

época da publicação dos PCN. O bloco de conteúdo denominado Tratamento da Informação

surgiu a partir dessa publicação e orientava o trabalho com leitura e interpretação de tabelas e

gráficos para os alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Mesmo após a existência de

tal documento, quando essa temática entrava no planejamento anual era contemplado no

último bimestre com grandes chances de não ser trabalhada de fato, principalmente, na escola

pública onde não há a obrigatoriedade de trabalhar o livro didático em sua totalidade, como

acontece nas escolas privadas. Alguns fatores podem ter contribuído para a prática dessa

realidade, entre eles, a hierarquia entre os conteúdos, isto é, primeiro a preocupação com as

operações básicas, depois, a possibilidade de se trabalhar com outros conceitos matemáticos.

Além da hierarquia dos conteúdos trabalhados em sala de aula, o próprio documento

apresenta o bloco de conteúdo - Tratamento da Informação – como sendo o quarto e último a

ser discutido, o que não significa dizer que tal bloco deva ficar por último, durante o ano

letivo, mas poderá ter causado essa impressão. Vale salientar que para a BNCC, a unidade

8 Apesar de o nome do bloco de conteúdo ser denominado de Números e Operações/Álgebra e Funções, a parte

de Álgebra e Funções só era explorada nos anos finais. Após a publicação da BNCC, Álgebra passou a

constituir uma unidade temática devendo ser trabalhada nos anos iniciais de forma mais ampla e consciente.

Page 62: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

60

temática correspondente – Probabilidade e Estatística – também se apresenta como última

unidade a cada ano de escolaridade em que o documento lista as habilidades a serem

desenvolvidas pelos alunos. Nesse momento, a pesquisadora aproveita para fazer uma

reflexão, porque nas formações anuais que a mesma desenvolve pela SME para os professores

dos 4º e 5º anos, relatada na introdução desta dissertação, dos dez encontros anuais, os dois

últimos eram destinados ao trabalho com a unidade temática Probabilidade e Estatística, ou

seja, estava sendo feito exatamente o que o texto acaba de criticar.

Assim, como acontece nas instituições escolares, o final do segundo semestre tem

sempre uma dinâmica diferente, muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo (feira de

ciências, jogos internos, comemoração do dia das crianças entre outras atividades) e já se

começa a pensar na organização do encerramento, apresentando certo cansaço proveniente de

todo o ano letivo. Provavelmente, o aproveitamento, a aprendizagem e utilização do que é

sugerido na formação referente à Probabilidade e Estatística seriam mais bem desenvolvidos

se houvesse um tempo maior para tal trabalho. Em 2019, já como resultado dessa reflexão, o

planejamento foi reorganizado de modo a não repetir as experiências anteriores, ou seja, foi

antecipado o trabalho com a Estatística e orientado como proposta uma atividade de pesquisa

para que os docentes desenvolvessem com seus alunos, após o recesso no meio do ano, sendo

as pesquisas apresentadas como trabalho final no último encontro formativo do ano em

dezembro.

Além da falta de tempo, é certo que a falta de convicção da importância do

desenvolvimento do letramento estatístico também deve ter contribuído para essa postura do

professor e dos formadores da SME, incluindo a pesquisadora. Hoje, os próprios livros

didáticos ajudam a não deixar o estudo dos conceitos estatísticos para o final do ano letivo,

isso porque esses conceitos não se apresentam somente nos livros de Matemática, eles

aparecem como proposta de atividade em qualquer bimestre com outros componentes

curriculares, como por exemplo, os gráficos apresentados comparando o número de habitantes

por região no livro de Geografia.

Considerando que tenha sido vencida a questão de contemplar os conceitos estatísticos

por meio dos livros didáticos, nos diversos componentes curriculares, apenas no último

bimestre a preocupação passa a ser em relação a quais conceitos estatísticos estão sendo

contemplados e como estes são trabalhados pelos pedagogos em sala de aula. Para isso, em

termos de formação de professores, faz-se necessário apresentar os vários recursos que podem

Page 63: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

61

ser utilizados para desenvolver o letramento estatístico dos alunos, entre eles, recursos

digitais, contemplados nesta pesquisa por meio da plataforma OBAMA, materiais

manipuláveis para construir gráficos de colunas e papel milimetrado para a construção de

gráficos e tabelas, recursos possíveis de serem utilizados também com os professores dos

alunos na faixa etária a qual esta pesquisa se propôs a trabalhar.

Retomando a discussão sobre a clareza da importância de se trabalhar Estatística desde

os anos iniciais do Ensino Fundamental, os PCN corroboram para esse entendimento,

valorizando tanto a questão dos conteúdos como da interdisciplinaridade, pois, a partir desses

dois itens, trabalha-se o bloco de conteúdo Tratamento da Informação, visto que o documento

afirma que

A demanda social é que leva a destacar este tema como um bloco de conteúdo,

embora pudesse ser incorporado aos anteriores. A finalidade do destaque é

evidenciar sua importância, em função de seu uso atual na sociedade. Integrarão este

bloco estudos relativos a noções de estatística, de probabilidade e de combinatória.

(BRASIL, 1997, p. 56)

A interdisciplinaridade sugerida pelos PCN foi contemplada durante a pesquisa aqui

relatada quando a sequência de ensino foi planejada e aplicada para trabalhar os conceitos

estatísticos, tomando como base, contudo, a temática da alimentação saudável. Cazorla e

Santana (2010) reiteram a citação dos PCN defendendo que por meio de sequências de ensino

é possível articular a teoria e a prática da Estatística com ênfase no contexto interdisciplinar

(outras ciências), intradisciplinar (na Matemática) e transdisciplinar (implicações éticas do

uso da Estatística), além de percorrer as diversas fases de uma pesquisa científica escolar,

desde a coleta de dados pelos estudantes, orientação presente, inclusive, pela BNCC. Esses

mesmos autores apresentam a seguinte definição:

O significado da palavra Estatística, enquanto ciência refere-se ao conjunto de

ferramentas para obter, resumir e extrair informações relevantes de dados; encontrar

e avaliar padrões mostrados pelos mesmos; planejar levantamentos de dados ou

delinear experimentos e comunicar resultados de pesquisas quantitativas. Sua

importância reside no auxílio ao processo de pesquisa, que permeia todas as áreas do

conhecimento que lidam com observações empíricas. Assim, podemos dizer que a

Estatística é a ciência do significado e uso dos dados. (CAZORLA et al., 2017, p.

15)

Em termos de documentos oficiais, além dos PCN, os Referenciais Curriculares

Nacionais para a Educação Infantil (RCNEI) também apresenta a mesma organização para o

Page 64: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

62

ensino da Matemática, ou seja, os mesmos quatro blocos de conteúdo, tendo como diferença

apenas a etapa de ensino a qual se destina, Educação Infantil, e o nível de complexidade a ser

abordado em sala de aula. Passados cerca de 20 anos tendo esses dois documentos, PCN e

RCNEI, como norteadores do ensino da Matemática, em 2017, foi promulgada a BNCC que

reorganizou os quatro blocos de conteúdos em cinco unidades temáticas denominadas:

Números; Álgebra; Espaço e Forma; Grandezas e Medidas e Probabilidade e Estatística. Vale

salientar que a BNCC contempla todas as etapas da Educação Básica: Educação Infantil,

Ensino Fundamental e Ensino Médio, porém nesta pesquisa o foco são os anos iniciais do

Ensino Fundamental.

Após a publicação da BNCC, estados e municípios começaram a reformular os

documentos norteadores de cada localidade, exemplo disso são os Referenciais Curriculares

para o município do Natal que serão publicados em 2020. O documento manterá a

organização da BNCC, apresentando as habilidades em forma de quadro e por ano de

escolaridade, mas acrescentando mais três colunas: sugestões metodológicas, sugestões de

recursos didáticos e interdisciplinaridade, e por fim, avaliação. A construção do documento

foi feita com a participação de professores que estão em sala de aula e assessores da SME,

sendo a pesquisadora a responsável pela equipe que fez a escrita referente às orientações dos

anos iniciais para o ensino da Matemática.

Na BNCC, a ênfase na Estatística se apresenta mais aprofundada defendendo não

apenas a leitura de tabelas e gráficos de colunas, como era anteriormente nos PCN e nos

RCNEI, mas orientando que o ensino da Estatística deve contemplar todas as etapas de uma

pesquisa estatística ressaltando a importância da reflexão sobre os dados coletados,

corroborando assim com o pensamento de Cazorla et al. (2010). No texto da BNCC isso é dito

da seguinte forma:

Com relação à Estatística, os primeiros passos envolvem o trabalho com a coleta e a

organização de dados de uma pesquisa de interesse dos alunos. O planejamento de

como fazer a pesquisa ajuda a compreender o papel da estatística no cotidiano dos

alunos. Assim, a leitura, a interpretação e a construção de tabelas e gráficos têm

papel fundamental, bem como a forma de produção de texto escrito para a

comunicação de dados, pois é preciso compreender que o texto deve sintetizar ou

justificar as conclusões. (BRASIL, 2017, p. 273)

Pela citação é possível perceber que além de defender que os alunos devem vivenciar

todas as etapas da pesquisa, ainda é enfatizada a produção textual que será relevante em dois

Page 65: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

63

aspectos: na reflexão sobre a pesquisa realizada e na desmistificação da ideia de que não é

possível trabalhar escrita nas aulas de Matemática.

A seguir, em forma de quadro, foi feito um recorte sobre o que a BNCC orienta para

os 4º e 5º anos de escolaridade na unidade temática Probabilidade e Estatística. Nesse recorte,

aproveitou-se para exemplificar com uma sugestão de atividade, cada uma das habilidades

mostrando possibilidades e recursos como o livro didático, por exemplo.

A intenção de construir esse quadro foi a de contribuir com docentes leitores que

posteriormente possam considerar esta dissertação como aporte teórico para a sua prática

docente. Este leitor vai poder fazer uso das práticas sugeridas no Quadro 2 ou, a partir das

ideais postas, planejar outras possibilidades atendendo ao mesmo objeto de conhecimento e

habilidade.

Page 66: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

64

Quadro 2 – Habilidades de Probabilidade e Estatística para o 4º ano

Unidade

Temática e Ano

de escolaridade

Objetos

de conhecimento

Habilidades

Sugestão de atividade

Probabilidade e

Estatística

4º ano

Análise de chances

de eventos aleatórios

(EF04MA26)

Identificar, entre eventos

aleatórios cotidianos,

aqueles que têm maior

chance de ocorrência,

reconhecendo

características de

resultados mais prováveis,

sem utilizar frações.

Essa habilidade pode ser trabalhada a

partir de um dado, por exemplo, quando o

professor vivencia juntamente com seus

alunos situações do tipo: qual a

probabilidade de sair um número par? E a

probabilidade de sair um zero? e assim

sucessivamente, muitas questões podem

ser elaboradas nesse contexto. Algo

semelhante pode ser trabalhado com as

cartas de um baralho também.

Leitura, interpretação

e representação de

dados em tabelas de

dupla entrada,

gráficos de colunas

simples e agrupadas,

gráficos de barras e

colunas e gráficos

pictóricos

(EF04MA27)

Analisar dados

apresentados em tabelas

simples ou de dupla

entrada e em gráficos de

colunas ou pictóricos, com

base em informações das

diferentes áreas do

conhecimento, e produzir

texto com a síntese de sua

análise.

Essa habilidade pode ser trabalhada de

forma interdisciplinar quando o professor

pega como referência tabelas e gráficos

apresentados em livros de outros

componentes curriculares e faz toda a

interpretação dos dados apresentados de

forma oral e coletiva. Ao final da

discussão em conjunto, a atividade pode

ser uma produção de texto individual onde

o aluno poderá descrever o que foi

discutido durante a aula, demonstrando

seu entendimento em relação ao que foi

discutido e aos dados apresentados.

Diferenciação entre

variáveis categóricas

e variáveis numéricas

Coleta, classificação

e representação de

dados de

pesquisa realizada

(EF04MA28)

Realizar pesquisa

envolvendo variáveis

categóricas e numéricas e

organizar dados coletados

por meio de tabelas e

gráficos de colunas simples

ou agrupadas, com e sem

uso de tecnologias digitais.

Para essa habilidade, o professor poderá

realizar uma pesquisa com os alunos sobre

algo que ele realmente precise saber da

opinião dos alunos. Desse modo, o

docente estará dando sentido ao problema

pesquisado e durante a pesquisa vai poder

abordar todos os conceitos contemplados

no texto da habilidade. No caso desta

pesquisa, a tecnologia digital sugerida foi

a plataforma OBAMA, como recurso

didático.

Fonte: elaborado pela pesquisadora com base na BNCC (BRASIL, 2017).

Com a mesma intencionalidade pedagógica, segue o quadro para o 5º ano.

Page 67: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

65

Quadro 3 – Habilidades de Probabilidade e Estatística para o 5º ano

Unidade

Temática e

Ano de

escolaridade

Objetos de

conhecimento

Habilidades

Sugestão de atividade

Probabilidade

e Estatística

5º ano

Espaço amostral:

análise de chances de

eventos

aleatórios

(EF05MA22)

Apresentar todos os possíveis

resultados de um experimento

aleatório estimando se esses

resultados são igualmente

prováveis ou não.

Problemas envolvendo a

combinação de elementos

podem ser utilizados para

trabalhar tal habilidade.

Exemplo disso é pensar no

lançamento de duas moedas e

pedir para os alunos escreverem

todas as possibilidades de

resultados que poderão ser

apresentados pelas moedas.

Cálculo de

probabilidade de

eventos

equiprováveis

(EF05MA23)

Determinar a probabilidade de

ocorrência de um resultado em

eventos aleatórios, quando

todos os resultados possíveis

têm a mesma chance de

ocorrer (equiprováveis).

Nesse caso, os recursos podem

ser os mesmos (moeda, dado,

baralho...), porém a diferença

estará na situação proposta. o

professor precisará propor

situações em que o aluno

consiga perceber o que são

eventos com a mesma chance de

ocorrer. Exemplo: qual a chance

de sair cara quando se joga uma

moeda? E de sair coroa? Ambos

50% ou ½, portanto, eventos

equiprováveis.

Leitura, coleta,

classificação

interpretação e

representação de

dados em tabelas de

dupla

entrada, gráfico de

colunas agrupadas,

gráficos

pictóricos e gráfico de

linhas

Leitura, coleta,

classificação

interpretação e

representação de

dados em tabelas de

dupla

entrada, gráfico de

colunas agrupadas,

gráficos

pictóricos e gráfico de

linhas

(EF05MA24)

Interpretar dados estatísticos

apresentados em textos,

tabelas e gráficos (colunas ou

linhas), referentes a outras

áreas do conhecimento ou a

outros contextos, como saúde

e trânsito, e produzir textos

com o objetivo de sintetizar

conclusões.

Essa habilidade equivale a

EF04MA27, acrescentando o

trabalho com o gráfico de linhas.

Portanto, a sugestão segue no

mesmo sentido, trabalhar uma

pesquisa em que o resultado da

mesma seja significativo para o

aluno e útil para um

planejamento posterior.

(EF05MA25)

Realizar pesquisa envolvendo

variáveis categóricas e

numéricas, organizar dados

coletados por meio de tabelas,

gráficos de colunas, pictóricos

e de linhas, com e sem uso de

tecnologias digitais, e

apresentar texto escrito sobre a

finalidade da pesquisa e a

síntese dos resultados.

Da mesma forma acontece entre

essa habilidade e a EF04MA28.

Houve o acréscimo do trabalho

com o gráfico de colunas, a

tecnologia digital sugerida é a

plataforma OBAMA e a

inserção da produção textual

reitera esse tipo de atividade nas

aulas de Matemática.

Fonte: Elaborado pela pesquisadora com base na BNCC para compor os referenciais curriculares do município

do Natal (BRASIL, 2017)

Page 68: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

66

Acredita-se que um quadro nesse formato, sugerindo procedimentos metodológicos

que podem ser utilizados pelos professores, associados a uma formação continuada como a

proposta desta pesquisa, pode contribuir de forma significativa na prática docente dos

colaboradores. Além da formação e do quadro socializado, a mediação durante o processo,

não só nos encontros formativos presenciais, é vista como algo que irá ajudá-los a se

familiarizar com tais conceitos e fazer deles rotineiros em seus planejamentos.

Observa-se pelos quadros que as habilidades de um ano de escolaridade para outro

apresentam semelhanças, porém, diferem no grau de complexidade. Isso significa dizer que,

se o professor responsável por cada ano conseguir desenvolver nos alunos as habilidades

correspondentes a esse ano, os discentes, provavelmente, apresentarão menos dificuldades

para acompanhar os conceitos estudados no ano seguinte. Essa relação entre as habilidades e a

complexidade das mesmas é percebida em todas as unidades temáticas da BNCC, não apenas

em Probabilidade e Estatística.

Em relação aos dois últimos quadros apresentados, foi possível observar que das sete

habilidades contempladas no recorte realizado pela pesquisadora, apenas quatro (EF04MA27,

EF04MA28, EF05MA24 e EF05MA25) dizem respeito ao ensino da Estatística, ficando as

outras três (EF04MA26, EF05MA22 e EF05MA23) voltadas para a questão da Probabilidade.

Os códigos que definem as habilidades se constituem das seguintes informações: etapa de

ensino - Ensino Fundamental - EF, ano de escolaridade (nesse caso, 4º e 5º anos, por isso 04

ou 05, componente curricular - Matemática - MA e por último, o número correspondente a

habilidade (no quarto ano as habilidades 27 e 28, para o quinto ano 24 e 25).

Apesar de serem apenas duas habilidades voltadas para o ensino da Estatística em cada

um dos anos de escolaridade considerados para esta dissertação, muitos são os conceitos a

serem trabalhados com as crianças até que elas desenvolvam tais habilidades. Por esta razão,

nem tudo foi contemplado, pois, além do tempo limitado, a formação foi realizada a partir de

elementos de uma pesquisa colaborativa.

O fato de ser uma formação realizada a partir de um grupo colaborativo, o andamento

dos encontros, dos conteúdos contemplados, das discussões vivenciadas, das aprendizagens

adquiridas e socializadas foram fatores determinantes para definir exatamente o que seria

trabalhado e isso está descrito na próxima seção.

Page 69: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

67

3.2 O ciclo investigativo e os conceitos estatísticos básicos trabalhados durante a

pesquisa

A Estatística é subdividida em duas áreas: a Estatística Descritiva e a Estatística

Inferencial. A Estatística Descritiva ou a Análise Exploratória de Dados é definida por

Cazorla e Oliveira (2010), como sendo,

A Estatística Descritiva fornece um conjunto de técnicas analíticas que nos permite,

de forma sistemática, organizar, descrever analisar e interpretar dados oriundos de

observações ou experimentos realizados em qualquer área do conhecimento. Essas

técnicas reduzem os dados a poucos números, tabelas e gráficos que, por sua vez,

ajudam-nos a compreender a natureza dos fenômenos em estudo. (CAZORLA;

OLIVEIRA, 2010, p.115)

É exatamente sobre a Estatística Descritiva que trata a BNCC, e portanto, a que será

trabalhada nos 4º e 5º anos do Ensino Fundamental. No momento de iniciar o trabalho com

pesquisa estatística, o professor deve ter o cuidado de selecionar o tema a ser pesquisado de

forma que o mesmo seja relevante aos alunos e que traga informações importantes para a

aprendizagem. Esse tema de pesquisa, inclusive, poderá ser escolhido com os alunos a partir

de uma situação vivenciada durante as aulas ou de algo que seja importante descobrir para

aquele grupo de alunos. Agindo assim, o docente estará ensinando os conceitos e

procedimentos estatísticos não apenas como conteúdo, mas com o objetivo também de

promover o letramento estatístico, ou seja, ensiná-los para além do domínio dos

procedimentos, enfatizando a sua utilidade na compreensão do mundo e na tomada de

decisões conscientes.

Esse posicionamento quanto ao que vem se denominar letramento estatístico surge do

comparativo realizado a partir do ser letrado referente ao conceito de alfabetização, segundo

Soares (2003). Para a autora, alfabetizar-se é deixar de ser analfabeto. Porém, é necessário

deixar claro que para Soares (2003, p.19) ―(...) alfabetizado nomeia aquele que apenas

aprendeu a ler e a escrever, não aquele que adquiriu o estado ou a condição de quem se

apropriou da leitura e da escrita, incorporando as práticas sociais que as demandam‖. Fazendo

um paralelo com a Matemática, em relação ao conhecimento estatístico, é preciso trabalhar

com os professores e estes com seus alunos não apenas as técnicas do como fazer para

encontrar a moda, a média e a mediana de uma determinada situação, ou as regras de

construção de um gráfico ou tabela, por exemplo. O saber estatístico precisa ir além, o

Page 70: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

68

professor precisa ajudar o aluno a perceber a importância dos dados analisados e as

consequências do resultado de uma pesquisa.

Saber ter esse olhar crítico e relacionar com o cotidiano é o que Magda Soares

denominou de ser letrado. O conceito de Letramento, segundo Soares (2003, p. 44), nomeia

―(...) o estado ou condição de quem interage com diferentes portadores de leitura e de escrita,

com diferentes gêneros e tipos de leitura e de escrita, com as diferentes funções que a leitura e

a escrita desempenham em nossa vida‖, ou, resumidamente, ―(...) estado ou condição de quem

se envolve nas numerosas e variadas práticas sociais de leitura e de escrita‖. Para as aulas de

Matemática, é possível afirmar que são nas pequenas pesquisas estatísticas realizadas em sala

de aula que o professor poderá despertar em seu aluno o como analisar dados coletados de

forma mais criteriosa, de modo que esse aluno possa levar essa forma de ler e interpretar

informações para a sua vida cotidiana.

É importante registrar que, apesar do foco desta pesquisa ser a formação dos

professores, não é possível se desvencilhar da denominação alunos, ou discentes, porque a

formação que foi desenvolvida durante a pesquisa com os docentes interferiu diretamente na

sua prática em sala de aula, uma vez que foi essa prática o objeto observado para chegar às

análises e considerações finais desta pesquisa. Além disso, quando os autores discutem sobre

a preocupação de como os alunos devem aprender Estatística de modo a letrar-se

estatisticamente, existe uma relação direta com esta dissertação, pois, para a pesquisadora, os

professores eram seus alunos durante os encontros formativos.

Nesse sentido, a ideia de letramento estatístico baseada no pensamento de Soares

(2003) dialoga com Cazorla e Vital (2017), quando enfatizam a necessidade de definir cada

conceito estatístico, mas, ao mesmo tempo, conscientizar os alunos sobre o real papel da

Estatística na compreensão dos problemas e fenômenos que permeiam o mundo. Para tanto,

torna-se necessário trabalhar a partir de problemas contextualizados que ajudem aos alunos

compreenderem a essência da Estatística. Esse movimento de conscientização e trabalho com

a Estatística pode ser realizado a partir do Ciclo Investigativo proposto por Wild e Pfannkuch

(1999), no qual a ideia é proporcionar ao aluno a participação em todas as etapas do ciclo:

problematização, planejamento, coleta de dados, análise e conclusões - PPDAC.

O Ciclo Investigativo pode ser definido como uma técnica de resolução de problemas

estatísticos. Fazer uso de todas as etapas deste ciclo facilita na compreensão sobre o que é e

para que serve uma pesquisa estatística. Na definição do problema (P), o docente deve

Page 71: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

69

aproveitar a oportunidade para selecionar algo que faça parte do contexto escolar dos seus

alunos, para que ao final do ciclo, na conclusão (C), possa responder o problema posto ou dá

origem a novos problemas. Entre a definição do problema e a conclusão, o docente precisará

passar pelo Planejamento (P) de ações para executar a investigação, definindo as variáveis9, o

instrumento a ser utilizado na coleta de dados (C), como os dados coletados serão

armazenados e o público que será pesquisado.

A fase da coleta de dados se configura como a execução de tudo que foi planejado sob

a supervisão do professor para verificar se os alunos estarão registrando de forma correta as

informações. Outra forma de coletar os dados é fazer de forma coletiva. Assim, quem está à

frente do processo, professor ou pesquisadora, vai fazendo o registro das respostas dadas de

modo que todos os envolvidos acompanhem em tempo real. Durante a fase da coleta, diz-se

que os dados estão dispostos de forma bruta, são os dados brutos, isto é, ainda não passaram

por nenhum tipo de refinamento.

Esse refinamento acontecerá na fase da análise, fase em que os dados serão tratados e

momento no qual o professor poderá mediar a construção de tabelas e gráficos. Após as

análises e apresentação dos resultados, as conclusões do ciclo serão apresentadas e será o

momento, também, de discutir se durante o processo foi feito algo que, de uma próxima vez,

precisará ser melhorado ou se foi cometido algum erro para posterior ajuste, replanejamento.

O Ciclo Investigativo pode ser representado de maneira figural na imagem seguinte:

9 Pode ser qualitativa ou quantitativa e será especificada melhor quando chegar o momento de definir os

conceitos elementares da Estatística.

Page 72: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

70

Figura 2 – Fases do ciclo investigativo (PPDAC)

Fonte: Cazorla e Santana (2010)

Pela figura e pela descrição das fases, é possível observar que se trata de uma

metodologia didática cíclica. Ao chegar na quinta fase, não significa dizer que esse ciclo será

encerrado totalmente, podendo ser reiniciado dependendo das conclusões obtidas na última

fase. Em uma primeira aplicação do PPDAC, a questão inicial pode ser totalmente

respondida, ou não. Porém, durante a execução do ciclo, novas ideias, ou novas questões

podem surgir ao se trabalhar na perspectiva do letramento estatístico, proporcionando um

novo ciclo, sempre com a participação dos alunos em uma sala de aula, ou dos professores

durante uma formação continuada, valorizando o protagonismo dos envolvidos.

Ao trabalhar o Ciclo Investigativo, o professor precisará explicar alguns conceitos

elementares da Estatística possíveis de serem trabalhados nos anos iniciais. São eles:

população, amostra, variáveis (qualitativas e quantitativas), dados e fonte. Além desses

conceitos, a construção de tabelas e de alguns tipos de gráficos serão necessários para o

trabalho com o ciclo. Por essa razão, durante o período de formação ocorrido no decorrer da

pesquisa, foram trabalhados tais conceitos com os professores para que os mesmos pudessem

planejar as aulas que seriam observadas, se os conceitos estavam sendo contemplados.

Segundo Cazorla e Oliveira (2010, p. 125), a população ―(...) é composta por

elementos distintos, chamados de unidades populacionais, que possuem características

comuns e nos quais serão observados os fenômenos de interesse‖. E amostra ―(...) é um

Page 73: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

71

subconjunto de elementos da população. É desejável que a amostra seja representativa da

população, e a forma de garantir essa representatividade é uma seleção aleatória, denominada

de amostras aleatórias ou probabilísticas (...)‖. Em resumo, diz-se que a população é o total de

unidades que se pode investigar e amostra, o que é possível investigar em um determinado

momento. Exemplo disso seria uma pesquisa sobre a fruta preferida dos alunos do turno

matutino, do 4º ano A de uma determinada escola com o objetivo de conhecer as frutas mais

votadas e daí fazer uma salada de frutas para o lanche. Esse exemplo será tomado como

referência para simular uma situação que seja possível demonstrar os conceitos estatísticos,

porém, é fictício.

No exemplo dado, a população seria representada por todos os alunos do turno

matutino, mas a amostra seria composta apenas pelos discentes do professor que propôs a

pesquisa, caso esse docente não instigasse seus alunos a investigar a fruta preferida dos

colegas das outras turmas. A variável dessa pesquisa seria ―fruta preferida‖ que é classificada

como variável qualitativa por ser resultado de uma observação que se refere a uma qualidade.

O conceito de variável está relacionado a uma característica da população, ou amostra,

utilizada na pesquisa, e é algo possível de ser medido, contado ou categorizado. Toda

pesquisa terá variável, será exatamente sobre o que se quer descobrir algo, informações

desejadas em uma determinada situação para tal objetivo. Nesse exemplo da fruta, a variável

será contabilizada para o conhecimento da preferida, ou das preferidas, mas dependendo do

objetivo da professora, a variável poderia ser também categorizada em cítricas e não cítricas,

por exemplo, a depender da intencionalidade pedagógica de quem está mediando a pesquisa.

As variáveis estatísticas podem ser classificadas em dois tipos conforme a sua

natureza: qualitativas ou quantitativas. As variáveis qualitativas (ou categórica) podem ser

definidas como sendo aquelas em que suas características não possuem valores quantitativos

(numéricos). Essas variáveis ainda podem ser classificadas em qualitativas nominais (quando

não existe ordenação dentre as categorias. Exemplos: sexo, cor dos olhos...) ou qualitativas

ordinais (quando existe uma ordenação entre as categorias. Exemplos: escolaridade - 1o, 2

o, 3

o

graus; estágio da doença - inicial, intermediário, terminal; mês de observação - janeiro,

fevereiro, ..., dezembro). Diante das definições, a variável fruta da pesquisa dada como

exemplo recebe a classificação de variável qualitativa nominal.

Para as variáveis quantitativas, é possível definir como sendo as apresentadas

utilizando valores numéricos. Esses tipos de variáveis ainda podem ser classificadas como

Page 74: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

72

discretas ou contínuas. As discretas podem assumir apenas um número finito. Por essa razão,

assumirão somente valores inteiros, representados por um número natural. O resultado é

proveniente de uma contagem, como por exemplo, número de filhos. Não faz sentido você

dizer para alguém que tem dois filhos e meio, ou você tem dois filhos, ou tem três filhos, ou

seja, um número inteiro.

Em relação às variáveis quantitativas contínuas, elas possuem características

mensuráveis podendo assumir valores em uma escala contínua (na reta numérica), para as

quais valores fracionais fazem sentido, ou seja, é possível ter valores não inteiros. São

medidas por meio de algum instrumento, como por exemplo, variável peso (instrumento

balança), variável altura (instrumentos régua, fita métrica, trena, entre outros), variável tempo

(instrumento relógio), entre outros. Para o exemplo da pesquisa, na qual a variável foi

descobrir a fruta preferida dos alunos, não existiu variável quantitativa.

Para o público que esta pesquisa se propôs a trabalhar, professores de alunos dos 4º e

5º anos, entender a diferença entre uma variável qualitativa e uma quantitativa já se faz

suficiente. Porém, dependendo da turma, o professor poderá aprofundar um pouco mais sobre

as características das variáveis e trabalhar essa subclassificação. O reconhecimento e a

diferenciação das variáveis são muito importantes, pois os procedimentos estatísticos

dependem do tipo de variável.

É o caso das medidas de tendência central (Moda, Média e Mediana) calculadas a

partir das variáveis quantitativas. A Moda é a única medida de tendência central que pode ser

encontrada nas variáveis qualitativas. Para o exemplo dado, a Moda da pesquisa será a fruta

mais votada, aquela que foi mais escolhida pelos alunos. Em caso de empate, em que duas

frutas recebem a mesma quantidade de votos, diz-se que a pesquisa seria bimodal.

Independente de a variável ser qualitativa ou quantitativa, a Moda representa o valor mais

frequente de um conjunto de dados, ou seja, basta observar a frequência absoluta (quantidade

de votos) que cada item apresentou e pegar o mais votado sem necessidade de fazer cálculos.

Diferentemente da Moda, a Média para ser determinada precisa ser calculada, por isso,

é possível encontrá-la apenas nas variáveis quantitativas. Dentre os diferentes tipos de média,

para essa escrita será tratado apenas a média aritmética simples e a média aritmética

ponderada, tendo em vista que se trata de um público relacionado aos anos iniciais do Ensino

Fundamental. A média aritmética simples é mais fácil de explicar para os alunos dos 4º e 5º

anos porque o professor pode fazer referência à média escolar que eles precisam alcançar para

Page 75: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

73

aprovação de um ano escolar para outro. Essa média simples nada mais é do que uma divisão

entre o somatório dos dados coletados e a quantidade de dados envolvidos. Para exemplificar,

mais uma vez, é possível calculando a média de um aluno que obteve durante o ano as notas

(7; 8; 6 e 9) para saber se ele conseguiria ser aprovado para o ano seguinte. Para isso, basta

somar todas as notas (7 + 8 + 6 + 9 = 30) e dividir pelo total de notas (4), o que daria uma

média igual a 7,5 (30: 4 = 7,5). Supondo que a escola onde esse aluno estuda para ser

aprovado precisa alcançar média 7,0 – no mínimo – significa dizer que o aluno do exemplo

dado seria aprovado.

Na média aritmética ponderada, o cálculo é um pouco mais complexo porque cada

dado coletado apresentará um peso diferente. Nesse caso, cada um dos dados é multiplicado

pelo seu peso, soma-se todos os produtos e, por fim, divide pelo somatório dos pesos. Para

exemplificar, pode-se utilizar uma situação, também de nota, mas agora a referência será a

forma de calcular a média na UFRN, na época em que a pesquisadora era aluna da graduação.

Em uma determinada disciplina semestral em que o aluno precisa obter três notas, uma para

cada unidade, e, supondo que esse aluno obteve as seguintes notas 6; 7 e 5, cada uma com os

seguintes pesos 4; 5 e 6, respectivamente, o cálculo da média ponderada deve ser realizado da

seguinte forma: o primeiro passo seria multiplicar cada nota pelo seu peso e depois somar os

produtos (6 x 4 + 7 x 5 + 5 x 6 = 24 + 35 + 30 = 89). Na sequência, divide-se este somatório

(89) pelo somatório dos pesos (4 + 5 + 6 = 15), o que daria uma média igual a 5,93 (89: 15 =

5,9333…). Com esse resultado, o aluno iria depender do arredondamento do professor, ou do

sistema, para conseguir aprovação, já que a média 6 era a determinada na instituição para

obter aprovação. Caso contrário, o aluno iria para a recuperação, o que era chamado na época

de quarta prova, gerando assim um novo cálculo para obtenção da sua nota final.

A partir do exemplo dado para média ponderada, fazem-se duas observações

importantes: a primeira diz respeito ao fato de que, se o sistema de avaliação da instituição

fizesse uso na época da média aritmética simples, o aluno seria aprovado com média 6, não

dependendo de um arredondamento, ou de uma quarta prova. A segunda observação a ser

feita diz respeito à complexidade do cálculo para os alunos dos anos iniciais, tendo em vista

que além da expressão numérica a ser realizada no primeiro passo obedecendo a hierarquia

das operações, o resultado final ainda apresentou uma dízima periódica10

com necessidade de

10

Uma dízima periódica é um número que quando escrito no sistema decimal apresenta uma série infinita de

algarismos decimais que, a partir de certo algarismo, repetem-se em grupos de um ou mais algarismos,

ordenados sempre na mesma disposição e chamados de período.

Page 76: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

74

arredondamento11

para deixar a nota com apenas um dígito decimal. Nesse sentido, a média

aritmética ponderada não foi recomendada para o público ao qual a pesquisa se propôs a

trabalhar. Vale salientar ainda que a UFRN não utiliza mais essa forma de calcular as notas

dos alunos da instituição.

Como última tendência de medida central, a Mediana, apesar de também ser obtida a

partir das variáveis quantitativas, possui um procedimento mais simples para ser determinada.

Nesse caso, basta organizar os termos coletados em ordem crescente, ou decrescente, e pegar

o termo central. Se a sequência numérica tiver um número ímpar de elementos, esse termo

central será único, como por exemplo, na sequência (9, 9, 9, 10, 10). Considerando que esses

números são as idades de cinco alunos do 4º ano, organizadas em ordem crescente, pode-se

afirmar que o valor da Mediana é igual a 9, termo que ficou na posição central dos dados. É

importante observar que no momento de escrever os termos em ordem crescente ou

decrescente, aqueles que se repetem devem ser todos considerados, como foi mostrado no

exemplo dado. Ainda sobre o mesmo exemplo, se a idade de mais um aluno fosse

acrescentada aos dados e esse aluno tivesse 10 anos, a sequência ficaria (9, 9, 9, 10, 10, 10),

tendo nesse caso um número par de termos e, portanto, não teria o termo central. Quando isso

acontecer, para obter a mediana será necessário fazer a média aritmética simples dos dois

termos centrais (9 e 10), obtendo dessa forma uma mediana igual a 9,5 (9 + 10 = 19: 2 = 9,5).

Assim como na classificação das variáveis em qualitativas e quantitativas e suas

respectivas subclassificação, nas medidas de tendência central o professor deve observar o

que é possível trabalhar com a sua turma. Até porque, além da complexidade de alguns

cálculos, o importante não é apenas o domínio da técnica de calcular cada medida, mas sim o

significado e a importância da interpretação das informações calculadas, ou seja, proporcionar

ao aprendente o letramento estatístico defendido por Cazorla (2002) como sendo tão

11

Segundo as Regras de Arredondamento na Numeração Decimal - Norma ABNT NBR 5891, quando o

algarismo imediatamente seguinte ao último algarismo a ser conservado for inferior a 5, o último algarismo a

ser conservado permanecerá sem modificação (Exemplo: 1,333 3 arredondado à primeira decimal temos:

1,3). Quando o algarismo imediatamente seguinte ao último algarismo a ser conservado for superior a 5, ou,

sendo 5, for seguido de no mínimo um algarismo diferente de zero, o último algarismo a ser conservado

deverá ser aumentado de uma unidade (Exemplo A: 1,666 6 arredondado à primeira decimal temos: 1,7.

Exemplo B: 4,850 5 arredondados à primeira decimal temos: 4,9). Quando o algarismo imediatamente

seguinte ao último algarismo a ser conservado for 5 seguido de zeros, dever-se-á arredondar o algarismo a ser

conservado para o algarismo par mais próximo. Consequentemente, o último a ser retirado, se for ímpar,

aumentará uma unidade (Exemplo: 4,550 0 arredondados à primeira decimal temos: 4,6). Quando o

algarismo imediatamente seguinte ao último a ser conservado for 5 seguido de zeros, se for par o algarismo a

ser conservado, ele permanecerá sem modificação (Exemplo: 4,850 0 arredondados à primeira decimal

temos: 4,8).

Page 77: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

75

necessário ao exercício pleno da cidadania quanto à capacidade de ler e escrever. A referida

autora se refere ao letramento estatístico como sendo a capacidade de utilizar de forma

adequada as ferramentas estatísticas na solução de problemas, de entender a essência dos

dados e fazer inferências, daí não ser suficiente apenas aprender a calcular.

Dos conceitos elementares da Estatística – população, amostra, variáveis (qualitativas

e quantitativas), dados e fonte – falta definir e exemplificar dados e Fonte. Em relação aos

dados, Cazorla e Oliveira (2010, p. 118), definem como sendo ―(...) os resultados de

observação dos fenômenos, da replicação dos experimentos e da realização das simulações.

Consistem no mero registro dos aspectos estudados, e o pesquisador tem a capacidade de

registrá-los‖. Os autores afirmam ainda que os dados quando coletados e não tratados ou

organizados são considerados como dados brutos ou absolutos, são aqueles coletados

diretamente da fonte sem nenhum tipo de intervenção estatística.

Na pesquisa dada como exemplo, cujo único objetivo é descobrir a fruta preferida dos

alunos, os dados seriam dispostos aleatoriamente, de acordo com as respostas dadas pelos

discentes (laranja, banana, uva, banana, maçã, laranja,...) e só depois esses dados seriam

analisados, tratados e organizados de forma que cada fruta só aparecesse uma única vez com

sua respectiva quantidade de votos. Para a coleta dos dados o professor poderia utilizar algo

como a figura abaixo, em que cada ―x‖ colocado no quadro de anotações representaria um

voto dado pelo aluno.

Quadro 4 – Votação da fruta preferida dos alunos do 4º ano A

Frutas preferida Votos

Abacaxi XXX

Banana XXXXXXX

Laranja XXXXXXXXXX

Maçã XX

Mamão X

Fonte: elaborado pela pesquisadora

Essa organização dos dados já sugere a construção de uma tabela para melhor clareza

e entendimento da apresentação dos resultados, apesar de se constituir um quadro por ter as

laterais fechadas. O ―x‖ que representa cada voto poderá ser feito pelo professor ou o próprio

Page 78: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

76

aluno poderá fazer o registro do seu voto. Um gráfico de colunas, ou um gráfico pictórico,

também poderia ser construído nesse momento, dependendo da intencionalidade pedagógica

do professor. Os tipos de gráficos serão apresentados na terceira seção deste capítulo.

O último conceito elementar da Estatística é a fonte. Existem dois tipos de fontes para

a coleta de dados: fonte primária e fonte secundária. A fonte primária é quando o próprio

investigador produz os dados, ou coleta esses dados direto da fonte. No caso do exemplo da

pesquisa sobre a fruta preferida dos alunos, o professor vai coletar as respostas (os dados)

direto na fonte. Os próprios alunos irão responder a fruta que mais gostam, portanto, tem-se

um caso de fonte primária. A fonte secundária ocorre quando os dados foram coletados ou

gerados por outra pessoa e o investigador, aquele que não participou da coleta de dados,

realiza as análises dos índices já existentes. Como exemplo, pode-se citar dados que o

professor poderá pegar na secretaria da escola. Se o docente for até a secretaria da escola

pegar informações sobre o nome do responsável de cada um dos seus alunos, esta informação

já estará na ficha de cada um dos discentes, o docente fará uso dos dados coletados por

outrem, daí dizer que se trata de uma fonte secundária.

Além dos conceitos elementares, ainda é possível trabalhar a construção de tabelas e

gráficos com os professores que lecionam nas turmas de 4º e 5º anos e é sobre isso que

versará a próxima seção deste terceiro capítulo.

3.3 A leitura e a construção de tabelas e gráficos nos anos iniciais

Uma tabela é definida por qualquer organização matricial composta por linhas e

colunas, cujas interseções são denominadas de células, onde se encontram os dados, que

podem ser números, categorias, palavras, frases, dentre outros itens (CAZORLA et al., 2017).

As características de uma tabela estatística como título, corpo, cabeçalho, coluna indicadora e

fonte podem ser trabalhadas pelos professores dos alunos da faixa etária a qual se estar

trabalhando nesta pesquisa. Isso porque o objetivo principal da tabela deve ser o de mostrar

aos alunos que por meio dela é possível apresentar os dados coletados de maneira reduzida e

organizada, uma vez que após a coleta de dados as informações estão dispostas de forma

aleatória, daí serem chamados de dados brutos. A tabela 1 mostra uma simulação:

Page 79: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

77

Tabela 1 – Fruta preferida dos alunos da Escola Alvorecer em junho de 2019

Frutas preferidas Votos

Abacaxi 3

Banana 7

Laranja 10

Maçã 2

Mamão 1

Total 23

Fonte: alunos do 4º ano A

As tabelas estatísticas devem ser abertas nas laterais, caso contrário se tem a

representação de um quadro e não de uma tabela. Além disso, elas devem apresentar quatro

elementos essenciais: título (indicação que precede a tabela contendo a designação do fato

observado, o local e a época em que foi estudado, ou seja, o que, o onde e o quando), o corpo

(conjunto formado pelo cruzamento das linhas e das colunas onde estão inseridos os dados), o

cabeçalho (parte superior da tabela que indica o conteúdo das colunas - primeira linha) e a

coluna indicadora (parte da tabela que indica o conteúdo das linhas). Para os professores que

trabalham com os 4º e 5º anos, ainda é possível falar sobre um dos elementos complementares

na representação de uma tabela, a fonte (indica os responsáveis pelos dados coletados, isto é,

pessoas que contribuíram respondendo a pesquisa). Na tabela acima, todas essas

características foram contempladas.

As tabelas estatísticas também são denominadas de séries estatísticas e elas podem ser

classificadas em Geográficas, territorial, regional ou de localização (quando a variável é

indexada pelo espaço ou localização), em Específica ou categórica (quando se quer

demonstrar as categorias da variável, como por exemplo, classe social, grau de instrução,

ocupação, entre outros), em Histórica, temporal, cronológica ou evolutiva (quando a(s)

variável(eis) é(são) indexadas pelo tempo) e em Distribuição de Frequência (caso particular

das tabelas estatísticas onde se pode registrar a frequência absoluta – registro numérico – e a

frequência relativa – registro em porcentagem). Mais uma vez, caberá ao professor saber até

onde é possível ir nessas representações, afinal os níveis em que os alunos se encontram

variam de uma turma para outra.

Page 80: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

78

A seguir, será apresentado um exemplo de cada um desses tipos de tabela para melhor

compreensão do leitor. É importante registrar que para selecionar os exemplos que serão

apresentados foi utilizado como fonte de busca o próprio livro didático dos alunos, não apenas

o de Matemática. A ideia de fazer uso de exemplos dos livros utilizados pelos alunos, durante

o ano de 2019, surgiu quando no encontro em que foi apresentada a plataforma digital para os

professores colaboradores, um deles mostrou o livro de Geografia da turma que tratava sobre

os municípios mais e menos populosos (Figura 2). Com esse capítulo do livro, o professor

tem como trabalhar leitura e interpretação das informações fornecidas por meio de tabelas e

gráficos, sendo este o exercício que mais aparece nos livros quando se vai analisar como a

Estatística está sendo abordada nos livros.

Figura 3 – Tabela Geográfica Figura 4 – Tabela Específica

Fonte: Livro de Geografia do 4º ano Fonte: Livro de Matemática do 4º ano

Figura 5 – Tabela Histórica

Fonte: apostila de Estatística descritiva, Cazorla e Junior (2010)

Page 81: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

79

Como não foram encontradas tabelas do tipo histórica nos livros didáticos dos alunos

da Escola onde a pesquisa foi realizada, utilizou-se um exemplo de uma apostila elaborada

sobre Estatística descritiva, como informado na fonte da figura 04. Pelas imagens

apresentadas, observa-se que nem sempre as tabelas dos livros didáticos seguem as normas de

uma tabela estatística, como por exemplo, ser aberta nas laterais, informar a fonte e ter um

título completo (contendo as respostas de o que? quando? onde?).

Para exemplificar a tabela de distribuição de frequência, voltando a utilizar o exemplo

fictício da pesquisa sobre a fruta preferida dos alunos, a tabela, além de apresentar o número

de discentes que votaram em cada fruta (frequência absoluta), mostra ainda o cálculo do

percentual de votos – freqüência relativa – obtido por cada uma dessas frutas, como segue

abaixo.

Tabela 2 – Distribuição de frequência da pesquisa na Escola Alvorecer em junho de 2019

Frutas preferidas Quantidade de alunos (Votos)

Frequência absoluta (FA)

Frequência relativa (FR)

Abacaxi 3 13,04%

Banana 7 30,43%

Laranja 10 43,48%

Maçã 2 8,70%

Mamão 1 4,35%

Total 23 100,00%

Fonte: exemplo fictício elaborado pela pesquisadora.

Para os professores que lecionam com alunos dos 4º e 5º anos, talvez ainda não seja o

momento de trabalhar com frequência relativa de pesquisa reais. Isso porque, como a

quantidade de votos que cada item receberia não seria escolhido pelo docente, dependendo

apenas das respostas dadas pelos estudantes, os valores calculadas poderiam resultar em

números racionais com mais de uma casa decimal, como aconteceu na tabela acima em que

os valores precisaram de arredondamento para poder representá-los com duas casas decimais.

A própria BNCC orienta trabalhar com percentuais mais simples e fáceis de serem calculados,

quando na sexta habilidade do quinto ano afirma que

Page 82: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

80

EF05MA06: Associar as representações de 10%, 25%, 50%, 75% e 100%

respectivamente à décima parte, quarta parte, metade, três quartos e um inteiro, para

calcular porcentagens, utilizando estratégias pessoais, cálculo mental e calculadora,

em contextos de educação financeira, entre outros. (BNCC, 2017)

Como o texto da habilidade diz, esses percentuais podem ser relacionados à parte de

um todo, sem cálculos mais complexos, no quinto ano. Calcular 25% de 60, por exemplo,

pode ser pensado pelo aluno apenas como ¼ do todo e, portanto, um valor igual a 15. Isso

porque, um inteiro (100%) dividido em quatro partes, significa dizer que cada parte iria

representar 25% desse inteiro, valor que se quer calcular. Dessa forma, é possível utilizar a

representação figural para facilitar o entendimento, como demonstra o exemplo apresentado

na figura 6:

Figura 6 – Cálculo de um quarto de uma quantidade inteira

25% =15 25% = 15 25% = 15 25% = 15

Fonte: elaborado pela pesquisadora

Em relação aos gráficos, Cazorla (2002) afirma que um gráfico estatístico é uma

representação simbólica de dados, geralmente relacionando duas ou mais variáveis, utilizando

o sistema de coordenadas cartesianas. Para a faixa etária contemplada nesta pesquisa, é

possível propor a construção do pictograma (a representação é feita com objetos como caixa

de fósforo, por exemplo, ou figuras representativas do próprio objeto pesquisado, como as

camisas que representam o time de futebol favorito dos alunos). Na verdade, o pictograma é

um gráfico de colunas, ou de barras horizontais, construído de forma lúdica e, por esse

motivo, pode ser utilizado desde a Educação Infantil.

Figura 7 – Gráfico pictórico

Fonte: Livro de Matemática do 5º ano

Page 83: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

81

Outro gráfico de fácil construção para trabalhar com a faixa etária a qual se destina

esta pesquisa é o gráfico de barras e o de colunas. Cazorla (2002) afirma que esses tipos de

gráficos são utilizados para representar variáveis qualitativas ou séries de tempo, variáveis

que são indexadas pelo tempo (geralmente meses ou anos). É constituído por barras e colunas

horizontais ou verticais de comprimentos (alturas) proporcionais à frequência de suas

categorias ou aos valores da variável tratada. Conseguir trabalhar esses três tipos de gráficos,

de forma que os alunos se sintam seguros em construí-los e interpretá-los, já é uma boa

conquista para alunos que estão em fase de conclusão dos anos iniciais do Ensino

Fundamental.

Figura 8 – Gráfico de barras Figura 9 – Gráfico de colunas

Os exemplos apresentados são todos dos livros utilizados pelas professoras

colaboradoras da pesquisa e apresentam os gráficos recomendados pela BNCC para trabalhar

com os alunos dos 4º e 5º anos. Além disso, é importante registrar que foram observados os

livros dos componentes curriculares - Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, Geografia,

História e Artes - e apenas os de Arte e Língua Portuguesa não apresentaram tabelas, nem

gráficos. Em relação aos outros livros, o de História foi o que apresentou menor relação com

o ensino da Estatística, mas os de Geografia, Ciências e Matemática apresentaram um número

significativo de atividades com esses elementos, demonstrando a interdisciplinaridade dos

componentes curriculares a partir dos conceitos estatísticos.

Diante dos conceitos estatísticos apresentados até o momento, é possível afirmar que,

se o professor conseguir trabalhar esses conceitos e consolidá-los em situações práticas do

cotidiano dos alunos, ele estará contribuindo para o desenvolvimento das habilidades

Page 84: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

82

indicadas pela BNCC para alunos dos 4º e 5º anos e, consequentemente, para a formação de

um sujeito mais crítico, participativo e com um olhar mais sensível para as informações

estatísticas presentes na sociedade.

O próximo capítulo desta dissertação trará a revisão de literatura realizada para

conhecer o que de semelhante já existe no campo da pesquisa acadêmica referente ao trabalho

com Estatística nos anos iniciais a partir da formação de professores na perspectiva do

desenvolvimento profissional.

Page 85: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

83

4 UMA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA SOBRE TRABALHOS CORRELATOS À

PESQUISA

A pesquisa bibliográfica se constitui em um procedimento metodológico utilizado na

busca de soluções para um problema de pesquisa. Lima e Mioto (2007) salientam que nessa

abordagem é necessária a escolha do método de pesquisa empregado, a exposição da maneira

como ocorreu a construção do desenho metodológico e a escolha pelos procedimentos

utilizados. O levantamento inicial permite ao pesquisador a elaboração de ensaios que

favorecem a contextualização, problematização e uma primeira validação do quadro teórico a

ser utilizado na investigação. O aprofundamento dessa análise pode se constituir em estudo do

tipo Estado da Arte que Gil (2010) denomina como sendo a identificação das fontes ligadas ao

objeto de estudo. O autor identifica esta etapa do trabalho como uma procura de fontes

capazes de fornecer as respostas adequadas à solução do problema proposto que tem como

objetivo realizar levantamentos do que se conhece sobre um determinado assunto a partir das

pesquisas realizadas em uma determinada área e tempo.

Baseado nesses conceitos, este capítulo tem caráter teórico e foi guiado por uma

combinação de elementos de duas abordagens metodológicas – pesquisa bibliográfica e estado

da arte – com vistas a compreender o contexto do objeto de estudo e identificar experiências

semelhantes realizadas. A busca teve como foco identificar como as tecnologias digitais e

conceitos estatísticos são abordados nas formações de professores que ensinam Matemática

nos anos iniciais do Ensino Fundamental, quando essa formação é realizada na perspectiva de

desenvolvimento profissional.

O procedimento de busca de trabalhos acadêmicos foi realizado nas Plataforma

Google Acadêmico12

e Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior (CAPES), no período entre os anos 2014 e 2019. Em ambas plataformas, foram

utilizadas as seguintes palavras de busca: ―tecnologia digital‖; ―conceitos estatísticos‖;

―professores que ensinam Matemática‖; ―desenvolvimento profissional‖ e ―formação

docente‖. A busca foi realizada no modo avançado e foram considerados resultados em

Língua Portuguesa e Língua Inglesa.

Para a Língua Portuguesa, a partir das palavras de busca foram encontrados 74 (setenta

e quatro) trabalhos em Educação Matemática que relacionavam, pelo menos, um dos tópicos

utilizados para analisar os trabalhos encontrados, quais sejam: desenvolvimento profissional,

12

https://scholar.google.com.br/

Page 86: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

84

conceitos estatísticos e utilização de tecnologias digitais. Um primeiro recorte foi feito a partir

da leitura do título e dos resumos com o intuito de analisar a relevância dos trabalhos para

nosso interesse de pesquisa. Ao final deste procedimento, restaram apenas 17 (dezessete)

trabalhos que foram categorizados e protocolados também por etapas de ensino, quais sejam:

Educação Infantil (EI); Ensino Fundamental I (anos iniciais) e II (anos finais) (EF I e EF II,

respectivamente); Ensino Médio (EM) e Educação Superior (ES).

Após essa classificação, identificou-se que a maior parte dos trabalhos se concentra no

mesmo público deste estudo. Isso porque 8 (oito) trabalhos, que representam 47,05%,

tratavam sobre professores que atuam na Educação Infantil e anos iniciais do Ensino

Fundamental, portanto, professores formados, prioritariamente, nos cursos de Licenciatura em

Pedagogia. Os demais trabalhos, 3 (três) – 17,65% – focaram os anos finais do Ensino

Fundamental (um trabalho contemplava professores tanto dos anos iniciais, quanto dos anos

finais) e o Ensino Médio, portanto, Licenciados em Matemática, e seis (35,30%) falavam do

contexto da Educação Superior.

Ao final, dos 17 (dezessete) trabalhos, apenas 3 (três) contemplaram as três categorias

relacionadas a este estudo, quais sejam: Desenvolvimento Profissional (DP), Conceitos

Estatísticos (EST) e Adoção de Tecnologias Digitais (TD). Deste montante, apenas um

abordou, de forma específica, professores que ensinam Matemática nos anos iniciais, ou seja,

egressos dos cursos de Licenciatura em Pedagogia, assim como os professores colaboradores

desta pesquisa.

Para apresentar de forma mais objetiva as características de cada um dos três trabalhos

selecionados a partir dos critérios utilizados, o quadro 5 foi organizado de tal modo que nas

linhas estão os trabalhos e nas colunas todas as informações observadas para esta seleção.

Page 87: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

85

Quadro 5 – Trabalhos acadêmicos correlatos a pesquisa

Nº Autor Ano Título Plataforma Nível DP EST TD

1

Araújo, M.

2017

Práticas investigativas e

webquest: construindo

interfaces para o ensino

sobre Tratamento da

Informação para além do

paradigma do exercício.

Google

Acadêmico

EF I

Sim

Sim

Sim

2 Berlikowski, M. 2018

As abordagens

metodológicas e o perfil dos

professores que lecionam

Estatística no Ensino

Superior.

Google

Acadêmico ES Sim Sim Sim

3 Silva, N. 2018

Níveis de Letramento

Estatístico em um curso de

formação continuada.

Google

Acadêmico ES Sim Sim Sim

Fonte: elaborado pela pesquisadora

Discorrendo sobre os trabalhos, os quais contemplaram as três categorias de análise,

Araújo (2017), na condição de professora, formadora e pesquisadora, tinha como objetivo

investigar o ensino sobre Tratamento da Informação, utilizando WebQuest, uma metodologia

de ensino que privilegia uma pesquisa orientada utilizando a internet como principal fonte de

informação, com o intuito de propor práticas investigativas com o uso de tecnologias digitais.

Nessa pesquisa o recurso digital foi apresentado como uma possibilidade de promover a

(auto)formação, o letramento estatístico e o ensino qualitativamente positivo sobre tratamento

da informação para os primeiros anos escolares.

Essa pesquisa sobre formação de professores ocorreu no município de Marabá /PA,

onde a WebQuest foi utilizada para motivar os sujeitos envolvidos e apresentar o tema relativo

a cada encontro formativo. Além disso, por meio dessa metodologia foi possível

disponibilizar atividades que fossem desafiadoras e tratassem sobre o pensamento estatístico,

fornecer os indicadores qualitativos e/ou quantitativos do desempenho dos professores e, por

fim, concluir com um desfecho de forma clara, breve e simples, relembrando os objetivos da

atividade e deixando pistas para pesquisas ou atividades futuras sobre a mesma temática. A

ideia inicial era que os professores participantes desta pesquisa vivenciassem a mesma

experiência com seus alunos, construindo uma WebQuest para suas turmas e levando os

relatos para serem socializados durante a pesquisa, mas devido ao tempo, não foi possível

colocar em prática essa etapa do planejamento.

Page 88: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

86

Mesmo assim, os professores avaliaram que a experiência formativa possibilitou novas

reflexões acerca do que foi vivenciado, destacando a relevância das práticas investigativas na

promoção de atitudes de interação e valorização dos sujeitos da aprendizagem no ambiente

educativo, e portanto, contribuindo para o desenvolvimento profissional dos envolvidos. Um

dos fatores que mais contribuiu para esse desenvolvimento profissional foi o acesso à

tecnologia digital, uma vez que os professores revelaram não conhecer tal ferramenta e não ter

muito domínio tecnológico, apesar de trabalharem com alunos denominados nativos digitais

(PRENSKY, 2001).

O trabalho de Araújo (2017) foi o que mais se assemelhou às características da

pesquisa relatada nesta dissertação, pois se trata de uma experiência vivenciada com docentes

dos anos iniciais do Ensino Fundamental, numa pesquisa realizada no ambiente de trabalho

desses docentes. Além disso, a autora do trabalho analisado dialoga com a pesquisadora

quando, por exemplo, acredita que a ação pedagógica docente está diretamente relacionada à

formação do professor e a sua experiência em toda sua história escolar, seja como aluno ou

docente.

Berlikowski (2018) em sua tese teve como objetivo analisar as concepções da

Educação e caracterizar os professores de Estatística que atuam na Educação Superior. Para

isso, realizou sua pesquisa com 14 docentes com o intuito de verificar de que forma esses

profissionais ressignificam e moldam as suas práticas pedagógicas. Os professores

selecionados pertenciam a uma instituição pública (5) e a uma privada (9) do Rio Grande do

Sul e responderam questões sobre formação inicial e continuada, aspectos pedagógicos e

metodológicos de suas trajetórias como docentes de Estatística. Ao final da pesquisa,

percebeu-se que o ensino de Estatística na Educação Superior, independe da formação inicial

dos seus docentes, apresentava dificuldades tanto nos profissionais que concluíram a

licenciatura quanto o bacharelado, sendo estas trabalhadas por meio de formação continuada e

outras estratégias para facilitar o entendimento e a aprendizagem dos seus alunos, a partir do

desenvolvimento profissional docente.

A tecnologia digital nesta pesquisa foi utilizada como um facilitador para

aprendizagem da Estatística, sendo percebida como um recurso com o qual alunos e

professores podem utilizar nos cálculos e da construção manual dos gráficos, tornando-se

mais fácil o trabalho com um número maior de dados e em um período de tempo mais curto.

Para a autora da tese esse facilitador pode se apresentar por meio de computadores portáteis,

Page 89: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

87

tablets, softwares e aparelhos celulares.

Embora a pesquisa de Berlikowski (2018) tenha sido direcionada para a Educação

Superior, o trabalho contribuiu com a revisão realizada quando reafirma a importância da

formação continuada e em serviço, e quando reconhece que apenas a formação inicial não é

capaz de abarcar em sua totalidade todo o conhecimento necessário para a ação docente. Além

disso, ainda ressalta a importância do uso da tecnologia digital utilizada de forma pedagógica

e a relevância de se trabalhar Estatística em todos os níveis de ensino por se tratar de um

conhecimento necessário para a vida.

O terceiro e último trabalho selecionado que apresentou todas as categorias de análise

foi o de Silva (2018) que tinha como objetivo apresentar os conteúdos e a abordagem utilizada

no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) do curso de formação continuada de

Letramento Estatístico de uma universidade privada, bem como os conteúdos de Estatística

nos documentos oficiais de Brasil, EUA, França e Espanha, e identificar os níveis de

Letramento Estatístico apresentados pelos grupos no Trabalho Final do Curso. O curso

Letramento Estatístico de 120 horas foi ministrado para os funcionários-tutores da Instituição

de Ensino Superior - IES com formação superior e pós-graduação em três módulos, realizados

junto ao AVA. Cada um dos módulos contemplou conteúdos que abordaram o Letramento

Estatístico, para que os participantes pudessem vivenciar, analisar e utilizar em seu cotidiano.

O autor conclui a pesquisa afirmando que os resultados foram positivos em relação ao

Letramento Estatístico, pois 60% dos trabalhos concluídos obtiveram o Nível Científico, logo

estavam letrados estatisticamente. Afirma ainda que os cursistas possuem as habilidades de

ler, compreender, analisar, avaliar, fazer inferência, bem como comunicar de forma crítica e

contextualizada as informações submetidas a tratamento estatístico, habilidades importantes

para o exercício da cidadania. Para o autor, a tecnologia aparece no ensino da Estatística com

um papel de descentralizador do conhecimento, de levar às pessoas uma ferramenta que lhes

possibilite ter uma melhor compreensão do mundo. Apesar da conclusão positiva, o autor

afirma a necessidade da continuação da formação.

A pesquisa desse autor foi contemplada na revisão bibliográfica após o critério de

busca pelo fato de que o tutor, apesar de não ser o professor dos alunos com os quais trabalha,

é compreendido como um sujeito que ensina fazendo as vezes do docente em cursos ocorridos

em AVA. Com os resultados deste trabalho, foi possível perceber o quanto a tecnologia

digital pode contribuir no processo educacional, independente da formação adquirida até

Page 90: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

88

então e da forma como essa formação é realizada, seja presencialmente ou virtualmente.

Demonstra ainda que a necessidade de continuidade da formação em serviço é importante em

toda faixa etária, nível de formação docente, ou ambiente formativo.

Em Língua Inglesa, as plataformas e palavras de busca foram as mesmas, mas

observou-se que o enfoque do resultado obtido foi na tecnologia. Na plataforma Google

acadêmico, apenas 10% dos textos encontrados não citavam a inserção da tecnologia nos

relatos. Porém, o foco para esta pesquisa era observar a presença do ensino da Estatística na

formação de professores que ensinam Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental,

sendo a tecnologia apenas um plus para essa formação. Dos 91 (noventa e um) trabalhos

encontrados, 39 (trinta e nove) - 43% - eram livros e 8 (oito) - 9% - foram classificados no

grupo de estudo de caso ou revisão de literatura, totalizando 52% dos arquivos selecionados,

ambos não considerados para análise, assim como foi feito em Língua Portuguesa.

Nos outros 44 (quarenta e quatro) arquivos – 48% - percebeu-se uma preocupação

maior, quando comparado com o resultado da busca em Língua Portuguesa, com a inserção da

tecnologia e do ensino da Estatística na formação docente inicial, denominada nos textos de

formação para professores de pré-serviço. Esse dado não deixa de ser positivo, porém não

favoreceu a busca da revisão de bibliografia para esta pesquisa. Além dessa característica

ainda se encontraram trabalhos nos quais o foco era observar o desenvolvimento do aluno, e

não do professor, após a formação realizada. É importante registrar, também, a presença de

trabalhos relacionados a outras áreas do conhecimento como Geografia, Saúde, Desing,

evasão escolar, entre outros, mostrando o caráter interdisciplinar, intradisciplinaridade e

transdisciplinar da Estatística. Dentre esses trabalhos estavam presentes teses, dissertações e

artigos, sendo estes o de maior presença entre os 48% dos trabalhos selecionados que estão

sendo analisados neste parágrafo.

Após os critérios de leitura de título, resumo e resultados obtidos e de todas as

observações descritas acima, nenhum trabalho atendeu aos critérios de busca que interessa a

esta dissertação (Tecnologia, Estatística, Anos iniciais e formação docente em serviço).

Mesmo assim, um dos arquivos selecionados mereceu destaque por abordar uma formação na

perspectiva do desenvolvimento profissional, apesar do foco intensificado ter sido no uso da

tecnologia. Julgou-se importante citar essa tese de doutorado intitulada Beliefs vs Behavior of

Elementary Teachers Integrating Technology in Mathematics (Crenças e Comportamento dos

Professores do Ensino Fundamental Integrando Tecnologia em Matemática) de autoria de

Page 91: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

89

Annette Huzzie-Brown realizada na Walden University porque nela apareceu alguns fatores

que se fizeram presentes durante a formação ocorrida na escola parceira e a pesquisadora ao

ler fez as comparações que irá descrever no próximo parágrafo.

O objetivo desse trabalho que se quer destacar foi explorar a autoeficácia em

integração de tecnologia de professores de Matemática, seu nível de adoção de tecnologia e

seu comportamento real de integração de tecnologia, ou seja, o nível de integração da

tecnologia na sala de aula. Nove professores voluntários de Ensino Fundamental e Médio

(todos da mesma escola) participaram de pesquisas, observações e entrevistas de

acompanhamento e as conclusões deste estudo indicaram que as percepções dos professores

eram positivas, pois acreditavam que a tecnologia poderia proporcionar boas implicações no

processo de ensino e aprendizagem. No entanto, os resultados também indicaram que nem

todos os professores do estudo se sentiam confiantes em usar a tecnologia em sua prática.

Esses professores indicaram que havia necessidade de suporte no local, orientação por

pares e desenvolvimento profissional voltado para o alinhamento eficaz de conteúdo,

pedagogia e tecnologia. Vê-se pela descrição que a preocupação estava na inserção da

tecnologia em sala de aula, mas apesar de não focar na formação dos professores, a pesquisa

desenvolvida em 2018, em outro país, traz uma semelhança com a nossa realidade, o fato da

insegurança dos professores ao utilizar a tecnologia como um recurso pedagógico. Observa-se

que são realidades distintas, no que diz respeito à localização, mas que dialoga perfeitamente

com a realidade brasileira.

Feito o destaque desejado, faz-se necessário registrar que na tese selecionada para

comentar não se frisou o recorte matemático utilizado porque o que interessava era a inserção

tecnológica nas aulas de Matemática, diferentemente da pesquisa relatada nesta dissertação

que teve como recorte o ensino da Estatística. Brown (2018) concluiu sua pesquisa propondo

apoios necessários a serem oferecidos para professores de acordo com suas crenças de onde

eles estão na implementação da tecnologia continuum, a fim de avançar autenticamente para a

plena implementação. Diz ainda que essa ação pode ser realizada por meio do uso de

desenvolvimento profissional voltado para desenvolver a autoeficácia tecnológica dos

professores e ensinar lições específicas de matemática, particularmente àquelas alinhadas com

as competências de aprendizagem do século XXI.

A busca por trabalhos acadêmicos em Língua Inglesa também foi realizada na

plataforma Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

Page 92: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

90

(CAPES) e apresentou resultados semelhantes aos descritos acima. Nessa plataforma ao

utilizar ("teacher professional development" AND "digital technology" AND "statistical

concepts") AND ("teachers who teach mathematics" AND "teacher training") nenhum

resultado foi encontrado, demonstrando não haver trabalhos que contemplassem todos os itens

desejados pela busca. Na segunda tentativa, as palavras de busca foram dispostas da seguinte

forma: ("teacher professional development" OR "digital technology" OR "statistical

concepts") AND ("teachers who teach mathematics" OR "teacher training") e nesse caso, a

plataforma apresentou 1122 (mil cento e vinte e dois) resultados.

Destes, apenas os 200 primeiros foram analisados pois até então nenhum deles atendeu

a pelo menos dois dos critérios: formação continuada em serviço de professores que ensinam

Matemática nos anos iniciais, conceitos estatísticos e uso da tecnologia digital. Após essa

quantidade inicial analisada, trabalhos de áreas totalmente diferentes do que se tinha como

objetivo, como por exemplo, àqueles relacionados à Engenharia e à Astronomia, também

entraram no critério de exclusão pela não proximidade com o objeto de estudo. Do total de

trabalhos analisados, cerca de 10% ficaram no grupo classificados como livros e revistas e

20%, estudo de caso ou revisão de literatura, ambos não analisados porque assim se procedeu

na pesquisa bibliográfica em Língua Portuguesa. Os outros 70% dos trabalhos foram

organizados pela pesquisadora em oito grupos e tiveram a predominância do uso da

tecnologia digital na educação.

No primeiro grupo ficaram os trabalhos voltados para Matemática, mas esses não

enfatizavam a formação continuada em serviço e sim, o ensino da Matemática por meio da

tecnologia digital como recurso pedagógico. Além disso, o nível que mais apareceu nesses

trabalhos foram o Ensino Médio e o Ensino Superior, totalizando 9% dos artigos encontrados

e analisados. No segundo grupo ficaram os trabalhos voltados para o ensino de Matemática

por meio da tecnologia digital, dessa vez, analisando o grau de aprendizagem dos alunos sem

focar na formação de professores. Esse grupo contemplou 12% dos artigos acadêmicos

analisados. No terceiro grupo, a pesquisadora colocou os trabalhos com foco apenas na

tecnologia digital, o ensino sendo proposto por meio de produção de vídeo, blogs13

, Moocs14

,

entre outros. Esse tipo de trabalho agrupou 15% dos artigos analisados.

13

Blog é uma palavra que resulta da simplificação do termo weblog. Este, por sua vez, é resultante da

justaposição das palavras da língua inglesa web e log. Web aparece aqui com o significado de rede (da

internet) enquanto log é utilizado para designar o registro de atividade ou desempenho regular de algo. 14

Curso Online Aberto e Massivo, do inglês Massive Open Online Course (MOOC), é um tipo de curso

aberto oferecido por meio de ambientes virtuais de aprendizagem, ferramentas da Web 2.0 ou redes sociais.

Page 93: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

91

Continuando, no quarto grupo a pesquisadora reuniu os trabalhos que envolveram a

tecnologia digital com outras áreas do conhecimento como História, Geografia, Ciências,

Artes e Inglês, totalizando 19% e com predominância de trabalhos na área de Inglês. Os

últimos quatro grupos foram os menores, o quinto com 5% dos trabalhos analisados e

voltados à análise de pesquisas com professores em pré-serviço (formação inicial). Em

seguida, o sexto grupo com 4% dos trabalhos voltados para inclusão dos alunos com alguma

deficiência, incluindo superdotação. Por fim, os últimos dois grupos, cada um com 3%,

contemplaram trabalhos nas áreas das Engenharias e da Astronomia.

A análise descrita neste capítulo reitera a relevância da pesquisa desenvolvida e

descrita nesta dissertação por contemplar itens presentes nos trabalhos acadêmicos analisados

(Formação continuada de professores em serviço, professores que ensinam Matemática nos

anos iniciais, conceitos estatísticos e tecnologia digital), porém não agrupados em um mesmo

trabalho. No próximo capítulo, os procedimentos metodológicos, os estágios de uma pesquisa

colaborativa, a caracterização do lócus e dos sujeitos participantes, assim como os

instrumentos de coletas, as categorias de análise e o cronograma serão apresentados e

descritos para um melhor entendimento do leitor.

Page 94: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

92

5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DE UMA PESQUISA QUALITATIVA

NUMA PERSPECTIVA COLABORATIVA

Este capítulo apresenta a metodologia norteadora do trabalho de pesquisa descrito

nesta dissertação. Nesse sentido, o planejamento para atingir cada objetivo construído na

busca de responder à questão de pesquisa será descrito durante as próximas seções do

capítulo. Para delinear as características metodológicas da pesquisa se buscou fundamentação

teórica em Gil (2010) para classificá-la quanto a área de conhecimento, a sua finalidade, os

seus objetivos e os métodos empregados.

A pesquisa aqui descrita apresenta elementos de uma pesquisa colaborativa em que

todos os sujeitos envolvidos possuem a mesma importância no processo formativo, não sendo

valorizada a hierarquia entre docentes e sim o aprender que cada um pode consolidar a partir

da troca de experiências pedagógicas adquiridas durante o seu fazer educacional como

profissional. As características deste tipo de pesquisa serão explicadas na primeira seção deste

capítulo.

O fato da pesquisa possuir elementos de uma pesquisa colaborativa, fez-se necessário

apresentar seus estágios e como ela ocorre em cada uma das etapas, demonstrando o processo

de intervenção na elaboração de conceitos estatísticos com os professores dos 4º e 5º anos do

Ensino Fundamental da Escola Municipal B, localizada na Zona Norte do município do Natal.

A descrição dos estágios da pesquisa e a caracterização da escola (locus e sujeitos) serão

apresentados nas seções dois e três deste capítulo, respectivamente.

Com foco na formação de professores, esta pesquisa se dará em um processo de

investigação abrangendo situações de reflexões relativas aos saberes docentes dos professores

envolvidos e, para tanto, a quarta seção apresentará as ferramentas e os instrumentos de

coletas de dados, enquanto a quinta e última seção trarão as categorias de análise, pensadas de

modo a contribuir para a obtenção dos objetivos específicos e, consequentemente, do objetivo

geral desta pesquisa realizada com professores que ensinam Matemática nos anos iniciais do

Ensino Fundamental.

5.1 Aprendizagem coletiva e investigação científica a partir de um grupo colaborativo

Segundo Gil (2010, p.27), a pesquisa descrita nesta dissertação se classifica na área

das Ciências Humanas e de acordo com sua finalidade pode ser chamada de pesquisa

Page 95: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

93

aplicada, aquela ―(...) voltada à aquisição e conhecimentos com vistas à aplicação numa

situação específica‖. O mesmo autor, quanto ao método, classifica tal pesquisa em uma

abordagem qualitativa, voltada para a interpretação e compreensão de uma determinada

realidade com a intenção de intervir e transformar a prática ocorrida no locus da pesquisa.

Porém, o fato dessa intervenção não ocorrer de fora para dentro da escola, como

denomina Ponte (1998) se referindo a uma prática em que os sujeitos e sua realidade não são

considerados, esta pesquisa teve como ponto de partida problemáticas e necessidades

formativas do público envolvido, não deixando espaço para se assemelhar a algo relacionado

aos métodos tradicionais nos quais os pesquisadores se sobressaem aos profissionais da escola

apenas pelo fato de serem pesquisadores. Isso é o que Gil (2010) chamaria de pesquisa

participante:

Esse tipo de pesquisa trata de um modelo que difere dos tradicionais porque a

população não é considerada passiva e seu planejamento e condução não ficam a

cargo de pesquisadores profissionais. A seleção dos problemas a serem estudados

não emerge da simples decisão dos pesquisadores, mas da própria população

envolvida, que os discute com os especialistas apropriados. (GIL, 2010, p.43)

Observa-se que a abordagem qualitativa dialoga com a pesquisa participante, ambas

não tradicionais. As origens da pesquisa participante estão na ação educativa e sua principal

influência encontra-se nos trabalhos de Paulo Freire, relacionados à educação popular. Nessa

mesma perspectiva, porém, com ênfase na formação de professores e no desenvolvimento

profissional desses sujeitos, surge a partir da década de 1980 a discussão sobre pesquisa

colaborativa, método que permeou esta pesquisa.

Nesse período, começa-se a pensar na pesquisa com os professores, ao invés de se

falar sobre eles, adquirindo um caráter mais sociológico. Nesse processo, o professor passa a

ser visto como sujeito que tem papel ativo e seus saberes devem ser valorizados bem como a

partilha de conhecimentos em uma produção conjunta de saberes teóricos mediados pela

prática, e vice-versa, entre pesquisadores e professores colaboradores. Segundo Hargreaves

(1999), a colaboração acontece quando um grupo de professores estabelece objetivos comuns

e, na intenção de atingi-los, negociam pontos de vista, apoiam-se mutuamente e investem seus

recursos pessoais, independentemente de facilidades ou estímulos externos ao grupo.

Nessa perspectiva, o que estimula a manutenção do grupo é a decisão de caminhar

juntos, de atingirem os objetivos traçados coletivamente, o compartilhamento das soluções

pensadas e das aprendizagens construídas por meio da experiência pessoal no grupo.

Page 96: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

94

Magalhães (2002, p. 28) salienta que, nessa perspectiva, todo momento é oportuno para

―questionar, expandir, recolocar o que foi posto em negociação‖, o que proporciona, além de

produção de conhecimento, desenvolvimento profissional para os envolvidos, objetivo

principal desta pesquisa. Desse modo, é possível dizer que a pesquisa aqui relatada deu

origem a um grupo que se dispôs a trabalhar junto em prol do crescimento profissional

individual, contudo, também coletivo, um grupo colaborativo.

Segundo Boavida e Ponte (2002), a colaboração é uma estratégia fundamental para

enfrentar problemas de natureza complexa, como, por exemplo, a prática docente. Os mesmo

autores apontam que a colaboração oferece vantagens em relação ao trabalho individual na

concretização dos objetivos traçados, como por exemplo, aumento do empenho em virtude da

maior quantidade de pessoas envolvidas, mais recursos devido às trocas de experiências entre

os colaboradores, propiciando mais segurança em mudanças e inovações, uma vez que as

interações favorecem os processos de reflexão, de aprendizagens mútuas e de melhores

condições para o enfrentamento de obstáculos e incertezas que possam surgir. Apesar dessas

características estarem presentes na pesquisa relatada nesta dissertação, a mesma não foi

classificada como colaborativa porque os docentes participantes não analisaram os dados com

a pesquisadora, embora, seja necessário registrar que analisaram as práticas que

desenvolveram e aplicaram juntos.

Por possuir elementos da pesquisa colaborativa, a experiência vivenciada não colocou

a pesquisadora como a definidora dos passos e das mudanças de uma forma unilateral. Isso é,

os professores colaboradores não foram tratados como meros executores das atividades que a

pesquisadora precisou desenvolver, ou seja, os docentes atuaram de forma ativa durante o

processo. Para Fiorentini (2012, p. 80), ―O trabalho colaborativo e a pesquisa colaborativa,

entre profissionais do ensino de diferentes instituições e níveis de ensino, têm surgido no

mundo inteiro como uma resposta às mudanças sociais, políticas, culturais e tecnológicas que

estão ocorrendo em escala mundial‖. Dialogando com essa mesma linha de pensamento,

Andrade Junior (2005) compreende que

A pesquisa colaborativa é um processo investigativo de aprendizagens sociais e de

reflexão crítica, necessárias ao desenvolvimento profissional e humano do educador.

O professor colaborativo se insere numa complexidade de relações estabelecidas

entre agentes sociais que a instituem no percurso de suas práticas investigativas e/ou

educativas. (ANDRADE JUNIOR, 2005, p.36)

Page 97: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

95

Novamente a experiência relatada se assemelha às características da pesquisa

colaborativa, quando se observa a fala de Andrade Junior (2005) e quando se considera que

houve a preocupação em excluir as relações hierárquicas, garantindo espaços democráticos

com maior fluidez de opiniões para que a proposta da pesquisa contemplasse, da melhor

forma possível, as reais demandas do grupo colaborativo. O mesmo autor afirma ainda que

A pesquisa qualitativa do tipo colaborativa não requer apenas a simples constatação

de problemas enfrentados por profissionais práticos no seu contexto e/ou as suas

simples participações na construção e coleta de dados, mas a compreensão de

problemas enfrentados por esses profissionais em seu contexto prático por meio de

um engajamento mútuo entre pesquisadores e colaboradores. Assim, o objeto de

pesquisa deve ser construído num contexto real em que ocorra o fenômeno a ser

explorado. O referido tipo de pesquisa se apoia sobre uma concepção que considera

os colaboradores como atores sociais, em que as reflexões críticas sobre o problema

de co-investigação devem ser concebidas pelos participantes como atividades que

possibilitam a formação profissional e humana. (ANDRADE JUNIOR, 2005, p.38)

O autor denomina de profissionais práticos os professores de sala de aula e em sua fala

há a preocupação não apenas com a formação pedagógica e profissional do professor, mas

também com o seu desenvolvimento social, afetivo e emocional, quando cita a formação

humana, caminho que também foi considerado nesta pesquisa e que já foi referenciado desde

a introdução quando se citou a autora Altenfelder (2005), além na BNCC (2017) que reservou

as cinco últimas competências gerais do documento para enfatizar esse tipo de

desenvolvimento docente.

Além de Fiorentini (2012) e Andrade Junior (2005), autores como Desgagné (2007, p.

9) também conceituam a pesquisa colaborativa afirmando que a mesma ―(...) supõe a

contribuição dos professores em exercício no processo de investigação de um objeto de

pesquisa, este frequentemente enquadrado por um ou mais pesquisadores universitários‖. Ele

define a pesquisa colaborativa partindo de três dimensões, sendo - A pesquisa colaborativa

associa atividades de produção de conhecimentos e de desenvolvimento profissional - a que

mais se assemelha a esta pesquisa. Para o autor,

Page 98: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

96

A pesquisa colaborativa não exige que os docentes assumam tarefas ligadas à

realização da pesquisa, no sentido formal do termo; o que ela exige é a sua

participação como co-construtores, ou como já dissemos, o seu engajamento para a

investigação de um aspecto de sua prática, a fim de evidenciar a sua compreensão do

fenômeno explorado em contexto. Nesse sentido, a atividade de exploração se

apresenta sob duas facetas: para o pesquisador, que faz dela um objeto de

investigação, será atividade de pesquisa, para os docentes, que a veem como uma

ocasião de aperfeiçoamento, será atividade de formação. O pesquisador deverá se

ajustar as duas atividades em consequência, acumulará os papéis de pesquisador e de

formador. (DESGAGNÉ, 2007, p. 9)

Eis que surge um dos fatores que não permite a classificação desta pesquisa como

colaborativa em sua totalidade. Três enunciados estruturam essa conceituação para Desgagné

(2007), quais sejam: a abordagem colaborativa supõe um processo de co-construção entre os

parceiros envolvidos, assim como foi dito na citação acima; joga-se simultaneamente sobre

dois registros, que é o da produção de conhecimentos e o do desenvolvimento profissional dos

docentes; e, contribui para a aproximação e mediação entre comunidade de pesquisa e escola.

É no primeiro enunciado que não se pode afirmar a real produção escrita realizada em

parceria entre colaboradores e pesquisadora.

Existe uma divergência de pensamento entre os autores quando alguns afirmam que

para uma pesquisa ser colaborativa se faz necessário também a produção científica coletiva,

fato que não aconteceu nesta experiência. O fator tempo foi determinante para a ausência de

produção escrita entre colaboradores e pesquisadora, sendo possível para o período de

desenvolvimento da pesquisa apenas uma exposição durante a I Feira Natalense de

Matemática ocorrida durante os dias 12, 13 e 14 de março de 2020 no CEMURE.

Para Desgagné (2007) e Fiorentini (2012), não se pode afirmar que esta pesquisa se

constitui uma pesquisa colaborativa, pois, para os autores, até mesmo a escrita final

proveniente da pesquisa realizada deveria ter a participação de todos os envolvidos. Assim,

percebe-se que falar em pesquisa colaborativa abrange vários fatores e diversos autores a

serem analisados para uma tomada de decisão de qual linha será seguida como aporte teórico.

Ainda assim, a pesquisadora lembra que produções científicas como relatos das experiências

construídas com os professores podem ser publicadas em eventos, posteriormente, sem falar

do plano de aula publicado na OBAMA, o que faria contemplar também esse elemento de

produção coletiva entre professores e pesquisadora.

É importante registrar que a perspectiva ao desenvolver esta pesquisa de mestrado foi

colaborar com o desenvolvimento cognitivo de todos os envolvidos no processo, inclusive o

da pesquisadora, considerando as relações interpessoais entre os sujeitos da escola e entre eles

Page 99: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

97

e os pesquisadores, isto é, ―A colaboração é uma espécie de ação desenvolvida conjuntamente

que faz os indivíduos avançarem nos seus níveis de desenvolvimento, na medida em que a

mediação de alguém faz avançar (...)‖ (IBIAPINA, 2004, p.50). Além de dialogar com o

aporte teórico desta escrita, a autora citada neste parágrafo será a principal referência, ou a

referência escolhida para embasar esta escrita no que se refere aos elementos de colaboração.

Ao pontuar a pertinência desse tipo de pesquisa no ambiente escolar, Ibiapina (2008) afirma

que

[...] quando o pesquisador aproxima suas preocupações das preocupações dos

professores, compreendendo-as por meio da reflexividade crítica, e proporciona

condições para que os professores revejam conceitos e práticas; e de outro lado,

contempla o campo da prática, quando o pesquisador solicita a colaboração dos

docentes para investigar certo objeto de pesquisa, investigando e fazendo avançar a

formação docente, esse é um dos desafios colaborativos, responder às necessidades

de docentes e os interesses de produção de conhecimentos. A pesquisa colaborativa,

portanto, reconcilia duas dimensões da pesquisa em educação, a produção de saberes

e a formação continuada de professores. Essa dupla dimensão privilegia pesquisa e

formação, fazendo avançar os conhecimentos produzidos na academia e na escola.

(IBIAPINA, 2008, p.114-115)

Segundo a autora, no âmbito da educação, esse método de pesquisa é uma produção de

conhecimentos científicos e desenvolvimento profissional por meio da atividade de formação

e reflexão. Esse desenvolvimento profissional é proporcionado a partir de uma atividade de

pesquisa capaz de articular processo de investigação acadêmica e formação de professores

(TELES; IBIAPINA, 2009). Quando essa formação de professores durante a pesquisa ocorre

na escola, a parceria com a universidade (instituição do pesquisador) oferece subsídios para

políticas de formação em serviço. Esse foi o caminho de parceria entre escola e universidade

seguido na pesquisa aqui relatada, fazendo uso desse método que é movido pela investigação,

visando encontrar novas soluções para os problemas vivenciados na comunidade escolar.

Nesse sentido, Ibiapina (2008) apresenta como atribuições do professor mediador (o

pesquisador): (i) levantar conceitos e necessidades formativas que serão levadas para

discussão no grupo; (ii) fazer o diagnóstico dos conhecimentos prévios sobre os conceitos a

serem trabalhados; (iii) aplicar os instrumentos de coleta de informações e organizar textos

para estudo; (iv) mediar as sessões reflexivas durante os encontros formativos, entre outros.

Vale salientar que todos esses itens foram contemplados pela pesquisadora durante o período

que realizou a pesquisa na escola. Para os professores colaboradores, Ibiapina (2008)

apresenta como atribuições: aprovar os conceitos selecionados no levantamento das

Page 100: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

98

necessidades formativas; participar ativamente de todas as atividades propostas pela pesquisa;

o voluntário/colaborador deve se apresentar disponível para encontros extras com o mediador;

ler com antecedência os textos; colaborar com os pares nas ações reflexivas, entre outras

atribuições. Dos itens elencados para os professores colaboradores, é possível afirmar que o

único ponto em que foi apresentada resistência para executá-lo foi a realização das leituras de

forma prévia aos encontros formativos.

É importante ressaltar que todas essas atribuições previstas para os professores

colaboradores foram aceitas pelos mesmos. Após apresentação da proposta de pesquisa, eles

foram convidados para serem parceiros e assim se constituiu o grupo colaborativo entre escola

e universidade. Desse modo, quando as demandas foram aparecendo, eles já sabiam

previamente de suas atribuições, porém sempre deixando clara a parceria presente em todas as

etapas do trabalho. Ao se falar em colaboração, faz-se necessário discutir sobre os três

estágios que compõem uma pesquisa assim definida, ou com elementos dela, como é o caso

desta escrita. A descrição desses estágios e como eles serão contemplados neste trabalho serão

apresentados na próxima seção.

5.2 Estágios de uma pesquisa colaborativa contemplados nesta pesquisa

Uma vez que, metodologicamente, optou-se por realizar uma pesquisa contemplando

elementos de uma pesquisa colaborativa, essencial falar nos estágios referentes a esse tipo de

pesquisa citados por Maia (2016) durante sua tese de doutorado em Educação. Anadón (2007

apud Maia 2016) afirma que a colaboração ocorre em três estágios, não estanques, durante o

seu percurso: cossituação, cooperação e coprodução. O autor defende que os estágios

acontecem durante a parceria desenvolvida entre pesquisadores e professores colaboradores,

sendo de grande relevância para a efetivação e consolidação do objetivo desejado, nesse caso,

a prática de uma formação continuada em serviço para professores que ensinam Matemática

nos anos iniciais do Ensino Fundamental, visando o desenvolvimento profissional docente.

O primeiro estágio – Cossituação – é o momento de sensibilização dos atores da escola

e de definição do que efetivamente será vivenciado na pesquisa de acordo com as demandas

dos professores participantes. Na escola parceira em 2019, a cossituação se iniciou com o

contato feito ao gestor pedagógico no mês de abril. Em seguida, no mês de maio, realizou-se

uma reunião com o gestor pedagógico e os professores dos 4º e 5º anos do turno matutino.

Nessa reunião foi explicada a proposta da pesquisa e houve aceitação por parte do grupo. A

Page 101: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

99

intenção dessa primeira reunião, além da explicação da pesquisa e o possível aceite por parte

dos professores, foi iniciar uma aproximação do grupo da universidade com os professores da

escola, pensando em desenvolver um ambiente de parceria e confiança entre os envolvidos na

experiência. Vale salientar ainda que em todos os demais encontros se fez necessário

continuar investindo na sensibilização e na empatia a fim de desenvolver também o

sentimento de pertença por parte do grupo da escola, em relação à pesquisa, não se

preocupando apenas com o momento inicial.

O segundo estágio – Cooperação – correspondeu ao processo de reflexão acerca das

questões de pesquisa. Esse estágio esteve presente em todo o trabalho desenvolvido

conjuntamente. Para uma pesquisa desenvolvida por meio de uma formação continuada e em

serviço visando o desenvolvimento profissional docente dos envolvidos, o estágio da

cooperação se torna o foco principal, devendo essa cooperação permear todo o processo de

formação gerando os dados para posterior reflexão e análise. Para garantir a análise detalhada

e minuciosa do processo formativo e reflexivo, os encontros presenciais foram gravados em

áudios e vídeos. Durante todo o tempo de realização da pesquisa, a colaboração e a

cooperação estiveram presentes desfazendo qualquer impressão hierárquica entre escola e

universidade.

É importante diferenciar a colaboração da cooperação, isto porque os dois termos,

embora conceitualmente diferentes, por vezes são empregados como sinônimos. Muitos

autores (BOAVIDA; PONTE, 2002; HARGREAVES, 1999; PONTE; SERRAZINA, 2003)

descrevem que, de um modo geral, a concretização da colaboração ocorre mediante alto grau

de negociação, confiança, diálogo, empatia e interações não hierarquizadas. A cooperação é

uma estratégia para realizar ou alcançar um objetivo ou meta em que as relações tendem a se

basear na posição hierárquica dos componentes do grupo. Apesar de ter sido afirmado no

parágrafo anterior sobre a ausência de hierarquia, é inegável que existe uma relação

organizacional na qual as funções estão definidas de um modo em que a escola tem a vivência

do ensino para a Educação Básica e a universidade possui a função de instituição formadora

de profissionais, seja formação inicial ou continuada, - no caso desta pesquisa, em prol de um

objetivo comum, a formação continuada em serviço. Por essa razão, acredita-se ser necessário

considerar, apresentar e diferenciar os dois conceitos.

Além disso, a partir dos estágios outrora apresentados é possível descrever a execução

da pesquisa descrita nesta dissertação, conforme quadro 6.

Page 102: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

100

Quadro 6 – Formação continuada segundo os estágios de Anadón

ESTÁGIOS PESQUISA

COSSITUAÇÃO

- Contato inicial com o gestor pedagógico

- Reunião com gestor pedagógico, coordenadora e professores-colaboradores

- Apresentação da pesquisa

- Confirmação de participação na pesquisa

- Formação de um grupo colaborativo

COOPERAÇÃO

-Aplicação e discussão sobre o instrumento diagnóstico

-Formação sobre a plataforma digital OBAMA utilizada durante a pesquisa

-Estudo sobre o ciclo investigativo PPDAC

-Encontro formativo sobre os conceitos estatísticos destinados aos anos iniciais

-Encontros de planejamentos intercalados durante o período de realização da

pesquisa, presencialmente ou virtualmente

-Elaboração de uma sequência de ensino organizada em seis aulas

-Acompanhamento da pesquisadora em todos os itens elencados

COPRODUÇÃO

-Apresentação da pesquisa durante a I Feira Natalense de Matemática

-Previsão de produção científica posterior ao término da pesquisa

Fonte: elaborado pela pesquisadora

Os estágios foram apresentados no quadro de forma independente, mas é importante

registrar que eles acontecem de forma não estanques prevalecendo sempre a colaboração e

não a hierarquização entre os participantes da pesquisa.

Para concluir esta seção, o terceiro e último estágio – Coprodução – corresponde aos

momentos de produção científica coletiva entre os envolvidos, escola e universidade,

incluindo a produção de saberes. Esse estágio contribuiu para definir o trabalhado

desenvolvido como uma pesquisa que apresenta elementos de uma pesquisa colaborativa. Na

análise dos dados, os estágios serão citados e descritos como estiveram presentes durante a

formação continuada à medida em que os mesmos aconteceram. Vale salientar que a presença

dos estágios aconteceu em ambas as escolas, A e B. O motivo da troca de escola, assim como

o lócus de pesquisa e os sujeitos envolvidos, serão apresentados na próxima seção.

5.3 Características da escola: lócus e sujeitos da pesquisa

A Escola Municipal A, onde a pesquisa ocorreu em 2018 (projeto piloto), não pôde

permanecer como escola colaboradora em 2019. Nessa escola, quatro docentes colaboradoras

fizeram parte da experiência, sendo duas professoras do 4º ano e duas do 5º ano. A

impossibilidade de a escola continuar como parceira se deu pelo fato de que as turmas de 4º e

5º anos dessa escola passaram a fazer parte dos programas Se Liga e Acelera, programas de

Page 103: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

101

correção fluxo desenvolvidos pela Secretaria Municipal de Educação com a metodologia do

Instituto Ayrton Senna.

Esses programas atendem aos alunos que estão cursando esses anos de escolaridade,

mas ainda não desenvolveram as habilidades correspondentes. Com foco nesses alunos, a

Secretaria de Educação desenvolveu, em parceria com o Instituto Ayrton Senna, com gestores

e educadores esta proposta de aceleração da aprendizagem para estudantes dos anos iniciais

do Ensino Fundamental com dois ou mais anos de atraso escolar. Para os alunos que estão

nessa mesma situação, mas ainda não estão alfabetizados, foi aplicada a metodologia do

Programa Se Liga15

.

Uma vez que os alunos são inseridos nesses programas, seus respectivos professores

passam a participar do planejamento com o grupo pedagógico da Secretaria de Educação, que

recebe assistência técnica e metodológica do Instituto, tendo toda uma programação a ser

seguida, não podendo interromper a sequência metodológica do programa, pois deve se

cumprir rigorosamente o total de aulas pré-definidas e as atividades próprias do programa. Por

essa razão, não foi possível continuar participando em 2019 do processo formativo já iniciado

em 2018. Mesmo não sendo possível continuar com o mesmo grupo de professores

colaboradores, vale salientar que a escola vivenciou todas as etapas previstas para a realização

da pesquisa: apresentação da proposta formativa, aceite por parte dos professores, aplicação

dos instrumentos (professores e alunos), discussão sobre os resultados dos instrumentos

aplicados, oficina para apresentação da plataforma OBAMA, estudo sobre o PPDAC,

elaboração do plano de aula colaborativo utilizando a plataforma, aplicação desse plano em

uma das turmas, discussão e reflexão sobre a aula e avaliação da conclusão do primeiro ciclo.

Para 2019, a ideia era continuar com os encontros formativos e iniciar o ano letivo

com o planejamento de um segundo ciclo investigativo, partindo dos resultados obtidos no

ano anterior, mantendo o que foi avaliado como relevante e ajustando o que o grupo avaliou

como não positivo. Porém, ao iniciar o ano letivo, a mudança na proposta pedagógica das

turmas envolvidas na pesquisa levou a pesquisadora à necessidade de selecionar uma nova

escola parceira, apresentada na subseção a seguir.

15

https://institutoayrtonsenna.org.br/pt-br/Atuacao/se-liga.html

Page 104: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

102

5.3.1 A Escola parceira durante o desenvolvimento da pesquisa (Escola B)

Na nova Escola Municipal, onde a pesquisa ocorreu em 2019, Escola B, também

houve a adesão de 4 professores, sendo 1 do 4º ano e 3 do 5º ano. A escola foi selecionada por

ter laboratório de informática que pudesse facilitar o uso da plataforma OBAMA, durante os

encontros formativos, apesar de que o laboratório foi encontrado inoperante, com ausência de

manutenção e sem o devido uso por ausência de recursos técnicos e humanos. A escola não

possui o regente de laboratório e os professores não costumavam planejar contemplando as

máquinas até pela inoperância já declarada. Quanto a essa impossibilidade de uso, foi

realizada uma manutenção no laboratório a partir de outro projeto oferecido pela UFRN, em

especial, a equipe OBAMA, por meio da Iniciativa de Reestruturação do Espaço Digital das

Escolas (InREDE)16

.

Além da possibilidade do uso do laboratório, outro fator que contribuiu para escolha

da escola B foi o interesse do gestor pedagógico em levar a pesquisa para a sua escola,

argumentando ser uma oportunidade para vivenciar uma experiência de estudo sobre

conceitos estatísticos, contemplados pela BNCC, mas presentes de forma tímida nas aulas de

Matemática dos 4º e 5º anos, segundo o próprio gestor. Em 2018, houve greve dos professores

da Rede Municipal de Ensino do Natal e, por esse motivo, o ano letivo foi até janeiro de 2019.

Consequentemente, o novo ano letivo se iniciou mais tarde do que normalmente acontece, em

março do corrente ano (2019), fato que provocou certo atraso no recomeço das atividades de

pesquisa.

A Escola Municipal B se localiza na Zona Norte da Cidade do Natal e tem na equipe

gestora dois profissionais, um gestor pedagógico e uma gestora administrativa financeira,

ambos com pós-graduação. A equipe técnica pedagógica contém um coordenador pedagógico,

uma inspetora, um assistente financeiro, uma coordenadora do Programa Novo Mais

Educação (PNME) e vinte e quatro professores pedagogos. Dos professores, dezessete já

possuem pós-graduação lato sensu e quatro estão cursando. Em relação à quantidade de

alunos, a Escola B atende a 631 alunos distribuídos em dois turnos, matutino e vespertino,

como mostra o quadro abaixo:

16

As ações do InREDE podem ser solicitadas por qualquer escola por meio do site da equipe OBAMA em:

obama.imd.ufrn.br/solicitações.

Page 105: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

103

Quadro 7 – Distribuição dos alunos matriculados na Escola Municipal B

Turno/Etapa de

ensino

Ed.

Infantil

Ensino Fundamental

1º ano 2º ano 3º ano 4º ano 5º ano

Matutino 2 2 1 2 2 3

Vespertino 4 2 2 2 2 -

Fonte: elaborado pela pesquisadora

Quanto ao Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), a Escola está

classificada na faixa amarela o que significa que atingiu a meta e cresceu, mas não alcançou

6,0. Segundo informações contidas no QEdu17

, as escolas classificadas nessa cor devem

melhorar para garantir mais alunos aprendendo e com um fluxo escolar adequado. Com a

pesquisa se espera contribuir também com a melhoria dos resultados da instituição que, apesar

de não ter atingido a nota máxima, superou a meta a ser alcançada no último resultado.

Em 2019, os alunos passaram por novo processo avaliativo por meio do Sistema de

Avaliação da Educação Básica (SAEB), mas esses resultados mais atuais ainda não estavam

disponíveis até a conclusão da escrita desta dissertação. As avaliações acontecem sempre nos

anos ímpares e os respectivos resultados são apresentados no ano seguinte. No gráfico a

seguir, é possível verificar como o índice da escola se comportou desde 2007, primeiro ano

em que o índice foi divulgado, até 2017, ano em que saiu o resultado mais recente, até o

momento desta escrita. O gráfico utilizado para apresentação dos resultados por escola é do

tipo gráfico de linhas e mostra duas linhas, uma que representa a meta a ser alcançada pela

instituição e outra, o resultado real.

17

https://academia.qedu.org.br/como-usar/ideb/situacao-das-escolas/

Page 106: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

104

Figura 10 – Gráfico do IDEB da Escola Municipal B, entre 2007 e 2017

Fonte: QEdu.org.br. Dados do Ideb/Inep (2017).

Pelo gráfico se compreende o porquê da Escola Municipal B está classificada na faixa

amarela, pois a meta que a mesma deveria alcançar seria de 5,3. Porém, o gráfico mostra que

a instituição atingiu um índice correspondente a 5,6, resultado bastante positivo, tendo em

vista que a instituição passa por todos os desafios comuns à escola pública: comunidade

carente, ausência da família no acompanhamento do processo de ensino e aprendizagem dos

alunos, entre outros.

Em relação aos professores dessa instituição escolar, a realidade é a mesma para toda

rede de ensino, ou seja, vivem a mesma insatisfação dos demais colegas, insatisfeitos com

baixos salários e as devidas condições de trabalho. Porém, demonstram estar comprometidos

com o fazer pedagógico e com a aprendizagem dos alunos, prova disso é o crescimento do

IDEB ocorrido entre os últimos três resultados (2013, 2015 e 2017). Na subseção a seguir,

está a apresentação dos sujeitos da pesquisa.

Page 107: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

105

5.3.2 Os professores colaboradores

Do quadro de professores da Escola Municipal B, apenas quatro docentes fizeram

parte da pesquisa, são eles: a professora do 4º ano A e os três professores do 5º ano, sendo

duas professoras e um professor. A Escola tem mais um 4º ano, mas a docente dessa turma

não fez parte do grupo de pesquisa porque a sua turma integra o programa Se Liga, já descrito

nesta dissertação quando se falou sobre a Escola A, onde aconteceu a pesquisa-piloto.

Para manter o anonimato dos professores, assim como foi feito com as escolas A e B,

durante a análise dos dados, os professores colaboradores serão denominados por siglas:

professora do 4º ano A foi denominada de PC4A ( PC = Professora colaboradora e 4 por

lecionar no 4º ano) e os professores dos 5º anos - PC5A (não seguiu até o final da pesquisa),

PC5B e PC5C - respectivamente para os professores das turmas A, B e C, seguindo a mesma

ideia da sigla, PC significa professor(a) colaborador(a), o 5 refere-se ao ano de escolaridade e

a última letra à turma correspondente a cada professor. Além dos professores, outro

colaborador que merece destaque é o gestor pedagógico (GP), presente em todos os encontros

formativos, apesar do foco da pesquisa ser a formação dos professores.

Todos os docentes responderam a um questionário (Anexo E) no mesmo dia (28/05)

em que realizaram o instrumento diagnóstico sobre conceitos estatísticos. O questionário era

composto por três partes: perfil do professor (composto por oito questões), experiências de

aprendizagem no percurso profissional (composto por onze questões subjetivas) e relação com

a gestão da escola (composto por 11 questões em que o docente tinha que optar por marcar

entre as opções nunca, raramente, com certa frequência ou frequentemente). O questionário

respondido será mais bem detalhado no capítulo reservado às análises, mas seguem algumas

observações nesta seção para melhor conhecer os sujeitos colaboradores.

Analisando a primeira parte do questionário aplicado é possível afirmar que todos os

colaboradores são licenciados em Pedagogia e possuem cursos de pós-graduação lato sensu.

A professora PC4A tem especialização em Psicopedagogia, PC5A e PC5B em Gestão Escolar

e PC5C em Ensino de História nos anos iniciais. Além disso, todos os docentes trabalham

apenas na Rede Municipal de Ensino, exceto PC4A que também atua na rede estadual de

ensino.

Em relação ao tempo de atuação como professores de Matemática nos anos iniciais,

todos têm, pelo menos, 4 anos de experiência. Além disso, dois dos professores têm entre 7 e

18 anos de sala de aula e um deles entre 19 e 30 anos. Pode-se dizer, portanto, que são

Page 108: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

106

professores já com um bom tempo de experiência. Quanto ao gosto pela Matemática, dois dos

professores assumiram pouca afeição (detestava ou gostava pouco), enquanto os outros dois

assumiram gostar da disciplina. Essa informação mostra duas faces de uma mesma realidade

onde de um lado estão aqueles que fogem da disciplina, a qual precisam trabalhar em sala de

aula, situação essa já discutida na introdução desta dissertação, e do outro lado professores

que dizem gostar da Matemática e, portanto, um fator que vem somar em todos os sentidos.

Quando perguntados se essa opinião sobre o gosto pela Matemática tem mudado ao

longo do tempo, os dois que tinham respondido gostar, afirmaram continuar gostando. O

colaborador que respondeu detestar, afirmou ter mudado de opinião após ministrar uma

disciplina na pós-graduação e a que disse gostar pouco, confessou ter mudado de opinião

depois da necessidade de estudar para ministrar aulas nos anos iniciais do Ensino

Fundamental.

Em seguida, o questionário perguntava quanto ao gosto pela Matemática na trajetória

profissional. Nessa questão, três colaboradores disseram gostar da Matemática e um deles,

aquele que disse detestar a Matemática na época de estudante, agora se diz gostar muito,

sendo esse (PC5A) o colaborador que passou da resposta mais pessimista para a mais

otimista, quanto ao gostar da Matemática.

Quando questionados sobre já terem participado de pesquisas em que o foco estava

nos problemas de ensino e de aprendizagem da sala de aula, dois deles afirmaram ter

participado, porém, sem dar detalhes, e portanto, não deram subsídios para afirmar como foi

exatamente essa participação como colaborador. As outras duas colaboradoras (PC5B e

PC5C) responderam sim, mas se referindo a formações como o Pró-Letramento e as

formações oferecidas pela SME. Pelas respostas, percebeu-se que as formações as quais eles

participaram têm o perfil tradicional na qual alguém pensa e planeja (MEC E SME) e os

professores se encontram em algum lugar para receber e executar, posteriormente, em sala de

aula, diferente da proposta trazida nesta dissertação.

Em relação à dinâmica com a qual os professores ministram suas aulas de Matemática,

foi possível observar que os mesmos se preocupam em relacionar suas aulas ao cotidiano dos

alunos, ao desenvolvimento do raciocínio lógico e à utilização de materiais manipuláveis. É

positivo o fato de os docentes fazerem relação da Matemática com a vida cotidiana, coisa que

a pesquisadora não lembra ter ocorrido na época em que era aluna. Positivo também foi ter

Page 109: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

107

surgido o registro do uso de material concreto e a reflexão sobre as diferentes maneiras de se

resolver uma determinada situação problema, mostrando o estímulo ao pensar dos alunos.

A primeira impressão que se estabeleceu após análise das respostas dadas pelos

colaboradores, apesar de não analisar todas as questões neste momento, é que são professores

com formação adequada para atuarem nas turmas nas quais estão lecionando, apesar da

relação com os conceitos estatísticos divergirem de um para outro e não parecer tão comum

entre eles. Nenhum deles tinha participado, ainda, de uma pesquisa no formato da que foi

oferecida por meio desta experiência de mestrado, apesar de terem relatado participar com

frequência de formações continuadas, inclusive a que acontece na própria escola durante os

planejamentos semanais.

Esse questionário ajudou a caracterizar os sujeitos colaboradores quanto à formação

acadêmica, à prática pedagógica e à relação dos mesmos com a gestão escolar. Além desse

questionário, outros instrumentos foram utilizados para o diagnóstico inicial e para subsidiar o

processo formativo, visando atingir os objetivos específicos e, consequentemente, o objetivo

geral. Tais instrumentos estão apresentados e descritos na próxima seção e se encontram todos

em anexo.

5.4 Ferramentas e instrumentos para a coleta de dados

Partindo do objeto de pesquisa – conceitos estatísticos na formação de professores dos

anos iniciais do Ensino Fundamental – este estudo contemplou diversos instrumentos de

coletas de dados (instrumento sobre conceitos estatísticos a serem respondidas pelos

professores – Anexo D, entrevistas – Anexo C, gravação de áudios e vídeos dos encontros

formativos, diário de campo, grupo de WhatsApp e uma plataforma digital) para dar conta

dos três objetivos específicos apresentados na introdução desta dissertação.

Nesse sentido, pensando no primeiro objetivo específico – investigar os

conhecimentos dos professores sobre os conceitos estatísticos – foram aplicados instrumentos

nos quais os professores responderam questões relacionadas aos conceitos estatísticos que se

pretendia trabalhar durante os encontros formativos. O objetivo da aplicação desse

instrumento foi entender o que os professores já sabiam sobre o recorte matemático escolhido

para esta pesquisa. O instrumento foi aplicado no mesmo dia (28/05) em que os docentes

responderam ao questionário que já foi comentado na seção anterior (anexo E).

Page 110: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

108

Esse instrumento (Anexo D) foi respondido individualmente e era composto por

questões subjetivas sobre conceitos estatísticos e foi aplicado no segundo encontro com os

docentes, considerando que o primeiro foi o da apresentação e aceite da pesquisa (23/05). No

dia da aplicação do instrumento dos professores também foi aplicado o instrumento dos

alunos desses docentes, mas esses não serão utilizados nesta dissertação porque o foco é a

formação de professores que ensinam Matemática.

Para alcançar o primeiro objetivo, além do instrumento respondido pelos docentes,

uma entrevista com cada professor e com o gestor pedagógico foi realizada pela pesquisadora.

A entrevista feita aos professores contemplava dois aspectos: escolha profissional e a sua

experiência com a Estatística como aluno e como docente da Educação Básica. Para conhecer

sobre a trajetória de construção da aprendizagem do professor em relação ao estudo de

Estatística, visando à docência, o roteiro de pesquisa orientava questionar o docente sobre as

disciplinas cursadas envolvendo conteúdos de Estatística durante a graduação e a pós-

graduação e como foi o aprendizado desses conteúdos durante as disciplinas, informando se

tinham tido algum tipo de dificuldade ou não.

Em relação a experiência docente com conteúdo de Estatística na Educação Básica, os

objetivos da entrevista eram identificar como o professor trabalha com os conteúdos de

Estatística, suas aprendizagens e dificuldades, além de analisar a organização e o

planejamento de suas aulas em relação a esses conteúdos. Para tanto, foi perguntado aos

professores colaboradores se os conteúdos de Estatísticas (Tratamento da Informação) devem

ser inseridos na Educação Básica e por que, se eles trabalham com seus alunos durante o ano

letivo com conteúdos estatísticos, como o trabalho com esses conceitos são organizados ao

longo do ano e se eles têm alguma dificuldade para trabalhar tais conteúdos em sala de aula.

Ainda em relação à experiência docente com conteúdo de Estatística na Educação

Básica, outro objetivo era proporcionar aos professores momento de reflexão sobre o ensino e

a aprendizagem do aluno no que se refere a esse recorte matemático e, para isso, foi

perguntado como o docente avalia os conhecimentos dos seus alunos em relação à Estatística.

O detalhamento das respostas dadas pelos colaboradores fará parte do capítulo destinado às

análises desta pesquisa.

A entrevista feita ao gestor pedagógico seguiu outro roteiro, o mesmo que seria

aplicado à coordenadora pedagógica, se esta não estivesse de licença médica. Por ser os

professores o foco desta pesquisa, não serão detalhados os dados coletados com a entrevista

Page 111: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

109

feita ao gestor. Além disso, é importante destacar que todos esses instrumentos estão nos

anexos desta dissertação e não foram elaborados pela pesquisadora por fazerem parte dos

instrumentos de pesquisa do D-Estat (Desenvolvimento Profissional de professores que

ensinam Matemática). Esse projeto tem como objetivo geral compreender as experiências de

aprendizagens de professores que ensinam Matemática no Ensino Fundamental, no âmbito de

um grupo colaborativo, visando o seu desenvolvimento profissional e a pesquisadora o

desenvolveu em Natal/RN por meio da pesquisa descrita nesta dissertação. Outro fator

importante a ser destacado é a aprovação do Comitê de Ética pela Universidade Estadual de

Santa Cruz, em Ilhéus na Bahia (UESC - Ilhéus/BA), aprovação esta utilizada por todos os

pesquisadores que estão desenvolvendo o mesmo projeto neste e em outros estados.

Em relação ao segundo objetivo específico da pesquisadora - realizar formação

continuada em serviço e colaborativa dentro do ambiente escolar - a gravação de áudio e

vídeo dos encontros formativos, o diário de campo e um grupo de WhatsApp18

foram os

instrumentos utilizados com o intuito de atingir tal objetivo. Os áudios e os vídeos foram

salvos em uma pasta no Google Drive do grupo de pesquisa, denominada com o nome da

escola. Esses arquivos foram salvos utilizando um padrão de nomenclatura (número e data do

encontro, exemplo: 1º encontro - 23/05/19), como mostra a figura 11.

Figura 11 – Pastas por encontro de formação arquivadas no google drive

Fonte: Print feito pela pesquisadora.

18

Aplicativo de mensagens instantâneas e chamadas de voz para smartphones. Além de mensagens de texto, é

possível enviar imagens, vídeos e documentos. O app tem mais de um bilhão de usuários. Site:

whatsapp.com.

Page 112: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

110

Vale salientar que nem todo o conteúdo gravado e salvo nas pastas foi transcrito,

apenas os fragmentos avaliados como relevantes, principalmente àqueles relacionados às

categorias de análise no que diz respeito aos momentos de reflexão e efetivação de

aprendizagem colaborativa entre pesquisadora e professores colaboradores sobre os conceitos

estatísticos. É importante ressaltar que a gravação em áudio e vídeo foi realizado somente

após consentimento das professoras e do gestor pedagógico que participou assiduamente. Os

dois tipos de gravação (áudio e vídeo) contribuíram de forma significativa, ampliando dados

acerca da compreensão teórica dos colaboradores da pesquisa e ajudando a pesquisadora na

hora de planejar o próximo encontro formativo, além de ajudar na reflexão sobre o processo

de aprendizagem dos professores e, portanto, no momento da escrita desta dissertação.

No diário de campo foram registradas as atividades desenvolvidas, detalhando datas e

locais da formação, conteúdo, discussões, questionamentos e reflexões, entre outras

informações. Além de documentar o que estava acontecendo na pesquisa, o diário permitiu

uma posterior reflexão crítica sobre o que foi registrado e poderia ser usado como instrumento

de avaliação. A atenção esteve voltada para as ações e reações (perguntas e questionamentos)

dos professores e da pesquisadora.

A opção pela utilização de um grupo de WhatsApp se deu pelo fato de ser um recurso

de fácil acesso, o qual todos os professores já o utilizavam e assim facilitou a comunicação, o

compartilhamento de informações relativas à formação, além de estreitar os laços entre escola

e universidade, não havendo contato apenas durante os dias de encontros formativos. O grupo

do WhatsApp, nomeado ―D-Estat-Escola B‖ (figura 12), foi criado em 12 de julho de 2019 e é

importante registrar que se trata de um recurso de relevância em uma formação de professores

na qual a colaboração e a cooperação estiveram presentes em todos os planejamentos e

encontros formativos. Por meio desse grupo, foi possível dar respostas mais rápidas aos

colaboradores, além de ter contribuído na interação entre os participantes.

Esse aplicativo de conversas instantâneas facilita o compartilhamento de textos,

áudios, imagens e vídeos contribuindo para que as professoras socializem com o grupo

momentos vividos em sala de aula e o grupo de pesquisadores socializem material para

estudo, informes e registros relevantes dos encontros formativos (MAIA, 2016). Vale

salientar que o grupo foi criado somente após o consentimento dos professores, obtido durante

o terceiro encontro, quando foi realizada a formação para conhecimento da plataforma

OBAMA.

Page 113: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

111

Os colaboradores, além de estarem de acordo com a criação do grupo, ainda

concordaram que facilitaria o contato entre pesquisadores e colaboradores, apenas ressaltaram

o desejo de ser um grupo com assuntos estritamente voltados para a pesquisa. Nas mensagens

de boas-vindas, no dia da criação do grupo, a pesquisadora aproveitou para reafirmar os

combinados no texto inicial colocado para os professores. Para manter o anonimato da

instituição escolar, o nome da escola que aparece logo depois da sigla D-Estat foi borrado.

Após o cumprimento de todos os combinados o grupo foi criado, como mostra a figura 12:

Figura 12 – Criação do grupo de WhatsApp com os professores-colaboradores

Fonte: Print feito pela pesquisadora

Como o terceiro e último objetivo específico é refletir sobre os resultados trazidos pela

formação para a prática docente e para o desenvolvimento profissional do professor, após a

realização da formação - incluindo a elaboração de uma sequência de ensino por meio da

plataforma digital OBAMA (figura 13) e sua aplicação em sala de aula de uma das

professoras – foi realizado um último encontro avaliativo para que colaboradores e

pesquisadora pudessem se posicionar sobre os pontos positivos e negativos de todo o

processo, segundo o olhar de cada um.

Page 114: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

112

Figura 13 – Ferramenta utilizada na elaboração do plano de aula colaborativo

Fonte: Print feito pela pesquisadora.

Em relação à elaboração do plano de ensino, como demonstra a figura 13, a plataforma

já apresenta os itens principais de uma sequência de ensino acompanhados por uma pequena

explicação do que se espera do professor em cada um desses itens. Além disso, no print

aparece apenas o nome da pesquisadora, lado esquerdo do objetivo geral, porque quando o

print foi realizado apenas ela estava online. Por ter sido um documento compartilhado, o fato

de estar sozinha neste momento não impediu que os demais colaboradores pudessem

visualizar o que havia sido feito, quando puderam acessar a plataforma, uma vez que o plano

de aula estava o tempo todo compartilhado com os envolvidos. Quando todos, ou mais de um,

estavam acessando a sequência de ensino, ao mesmo tempo, a tela apresentava todos os

nomes dos docentes envolvidos na elaboração naquele momento.

Os encontros formativos com os professores colaboradores aconteceram nas datas

descritas no quadro 8 com suas respectivas pautas.

Page 115: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

113

Quadro 8 – Datas dos encontros formativos com os professores-colaboradores

Datas Pauta

23.05.2019 Apresentação do projeto para gestor pedagógico e professores colaboradores

28.05.2019

Assinatura dos termos de consentimento de professores (Anexo A) e alunos (Anexo B)

Aplicação dos instrumentos diagnósticos para alunos e professores e

Entrevista com os professores e gestor pedagógico

13.06.2019 Formação sobre a plataforma OBAMA

10.07.2019 Análise dos livros didáticos e planejamento com o GP das datas para os encontros formativos

25.07.2019 Apresentação dos resultados dos instrumentos aplicados (professor e alunos)

15.08.2019 Estudo sobre o texto do PPDAC

12.09.2019 Retomada do PPDAC e conceitos estatísticos

23.09.2019 Planejamento na plataforma OBAMA (segunda-feira)

30.09.2019 Planejamento na plataforma OBAMA (segunda-feira)

07.10.2019 Sala de vídeo (Segundo momento da sequência de ensino)

17.10.2019 Construção da pirâmide alimentar e de tabelas estatísticas

21.10.2019 Construção de gráficos de colunas

04.11.2019 Conceitos de moda, média e mediana

11.11.2019 Objetos de aprendizagem no laboratório de informática para a turma PC5C

18.11.2019 Objetos de aprendizagem no laboratório de informática para a turma PC5B

29.11.2019 Encontro para reflexão e avaliação da formação continuada em serviço

Fonte: elaborado pela pesquisadora.

A parte da pesquisa realizada na Escola foi contemplada em 16 (dezesseis) dias

presenciais, porém, no capítulo de análise dos resultados serão descritos apenas 14 (quatorze)

desses encontros. Esta opção se deu para priorizar o relato da execução da sequência de

ensino desenvolvida por PC5C, docente que teve a sua prática acompanhada com mais

proximidade.

Em relação aos encontros que não foram descritos no capítulo de análise, no primeiro

aconteceu a análise dos livros didáticos (10/07/2020) utilizados pelas docentes do 5º ano da

Escola B. Os exemplos dados no capítulo 3, em que se discutiu sobre os conceitos estatísticos

Page 116: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

114

contemplados na formação docente, foram todos retirados desses livros considerando os

diversos componentes curriculares, não somente matemática.

No segundo encontro não considerado para o capítulo das análises (18/11/2020)

ocorreu a aula no laboratório de informática com a turma de PC5B vivenciando objetos de

aprendizagem na plataforma OBAMA. Essa aula foi solicitada por PC5B logo após a mesma

pauta ter sido realizada com a turma de PC5C, uma vez que ambas planejaram a sequência de

ensino juntas.

Como mostrou o Quadro 7, as atividades na escola tiveram início em maio de 2019

quando foi feita a apresentação do projeto para professores e gestor pedagógico, após prévia

conversa com esse gestor sobre a proposta da pesquisa e os encontros formativos aconteceram

até o final do mês de novembro desse ano. Esses encontros tiveram duração de 2h e estavam

programados para serem realizados uma vez por mês. Porém, houve a necessidade de ter mais

de um encontro em determinados meses, visando cumprir todas as etapas da pesquisa.

É importante registrar que os encontros formativos foram planejados de acordo com a

disponibilidade da instituição escolar, sempre se preocupando em não modificar a rotina

pedagógica dos colaboradores. Por essa razão, esses encontros aconteceram nas quintas feiras,

dia semanal que os docentes envolvidos na pesquisa estavam liberados da sala de aula, após o

intervalo, para realizar o planejamento da semana seguinte. Na descrição e análise dos

encontros será relatada uma situação em que foi necessário fugir da regra de se encontrar

apenas no dia do planejamento.

Devido à necessidade de mudança do lócus da pesquisa, como já foi explicado

anteriormente, só foi possível planejar e executar uma única sequência de ensino, um único

ciclo investigativo por causa do tempo limite para a defesa do mestrado. Porém, isso não

interferiu na qualidade do processo formativo, apenas impediu o planejamento, execução e

reflexão de outros ciclos investigativos, seja utilizando o mesmo problema definido por esta

pesquisa (alimentação saudável), ou modificando-o, de acordo com a necessidade da

comunidade escolar.

A próxima seção apresenta as categorias de análise definidas a priori e também como

se deu a escolha dessas categorias com base nos objetivos específicos e geral da pesquisa.

Page 117: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

115

5.5 Categorias de análise

Para atender aos aportes teóricos que norteiam esta pesquisa – conceitos estatísticos e

formação de professores na perspectiva do desenvolvimento profissional – as técnicas de

coletas de dados foram pensadas para contemplar esses dois aspectos. Em relação aos

conceitos estatísticos, as análises foram realizadas com base na entrevista realizada com os

professores (Anexo C), nas respostas dadas pelos mesmos durante a realização do instrumento

diagnóstico sobre o recorte matemático priorizado nesta pesquisa (Anexo D) e nas

informações sobre a formação de cada docente (graduação, pós-graduação, cursos de

formação continuada, entre outros) – Anexo E. Todos esses instrumentos foram aplicados

antes de iniciar os encontros formativos

Esse diagnóstico inicial sobre os saberes estatísticos dos professores colaboradores

contemplou o primeiro objetivo específico desta pesquisa. Para atender ao segundo objetivo

específico, a formação continuada em serviço considerou os vários conceitos estatísticos

abordados no instrumento diagnóstico dando subsídios para o planejamento da sequência de

ensino.

Para verificar a aprendizagem alcançada pelos colaboradores consideraram-se os

saberes iniciais dos docentes e os avanços conceituais dos mesmos demonstrados por meio

das falas durante os encontros formativos e da mediação em sala dos professores envolvidos

na pesquisa. Esses avanços foram observados por meio tanto do domínio para construir

gráficos de colunas, uma das dificuldades apontada pelo instrumento diagnóstico, como da

apropriação dos elementos que acompanham essa construção, tal título e fonte, por exemplo.

Vale ressaltar ainda que tanto a formação realizada com os professores como a

sequência de ensino executada em sala de aula seguiram a metodologia do PPDAC,

perpassando por todas as etapas do ciclo investigativo. No capítulo das análises dos dados

coletados, os dois ciclos serão citados e analisados, porém o foco será no PPDAC realizado

pelos professores colaboradores.

Para atender ao terceiro e último objetivo específico, o modo como a formação

continuada foi realizada será analisada a partir dos registros de fotos, vídeos e diário de

campo a fim de inferir se essa formação possibilitou o desenvolvimento profissional docente.

Acredita-se que a colaboração, a confiança e a troca de aprendizagens presentes durante todo

o processo contribuíram para o desenvolvimento profissional docente, porém somente com as

Page 118: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

116

evidências e a análise dos fatos vivenciados será possível afirmar essa ação formativa. A

partir dos referenciais teóricos e das informações coletados durante o período de realização da

pesquisa, foram criadas categorias de análise. Essas categorias estão associadas a fragmentos

teóricos que auxiliam na interpretação e compreensão dos dados.

Diante do exposto, os dados coletados serão analisados a partir das seguintes

categorias de análise: a) conhecimento e prática docente acerca dos conceitos estatísticos: I - a

utilização do ciclo investigativo (PPDAC) e II - a construção do gráfico de colunas; b)

desenvolvimento profissional docente a partir da formação continuada e em serviço. Essas

categorias serão detalhadas no sexto capítulo, que traz os resultados e discussões da pesquisa.

Após a apresentação dos procedimentos metodológicos, o próximo capítulo versará

sobre as análises de cada uma das categorias com base na fundamentação teórica contida

nesta escrita e nos dados coletados.

Page 119: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

117

6 ANÁLISE E RESULTADOS

Segundo Gil (2002), a pesquisa participante caracteriza-se pela interação entre

pesquisadores e membros das situações investigadas. Nessa perspectiva, o sexto capítulo desta

dissertação associa esse tipo de pesquisa a elementos da pesquisa colaborativa para

demonstrar como os estágios apresentados por Anadón (2007) – cossituação, cooperação e

coprodução – são indispensáveis para a efetivação de uma pesquisa aplicada. Neste trabalho,

buscou-se fazer um estudo científico voltado a solucionar um problema específico, não

servindo apenas para gerar um novo conhecimento, mas também para aplicá-lo na prática,

intervindo no mundo real - como o proposto na formação continuada em serviço, foco deste

trabalho de mestrado.

A escolha do quadro teórico apresentado nos capítulos anteriores, assim como a

problemática e os procedimentos metodológicos estão alinhados ao problema de pesquisa.

Desta feita, considera-se que realizar formação de professores que ensinam Matemática, na

perspectiva de Desenvolvimento Profissional, no ambiente escolar dos docentes

colaboradores, possui princípios colaborativos e métodos de observação que podem trazer

resultados mais relevantes quando comparados às formações ocorridas de fora para dentro,

como as denominadas por Ponte (1998).

Para atender ao objetivo geral da Dissertação - analisar a formação continuada em

serviço acerca do letramento estatístico para o desenvolvimento profissional de professores

que ensinam Matemática nos anos iniciais no Ensino Fundamental – organizou-se a análise

dos dados de acordo com os objetivos específicos delineados para a investigação. Sendo

assim, os dados estão dispostos em três subseções que contemplam cada passo da pesquisa.

Inicia-se, portanto, com os dados considerados prévios para o estudo que são os

conhecimentos iniciais dos professores colaboradores sobre os conceitos estatísticos. Em

seguida, na segunda seção do capítulo, explicita-se como a formação continuada dentro do

ambiente escolar foi realizada e recebida pelos docentes, visando o letramento estatístico dos

mesmos. Por fim, o texto apresenta uma reflexão sobre os resultados trazidos pela formação

para a prática docente e para o desenvolvimento profissional do professor, a partir do olhar da

pesquisadora e dos docentes colaboradores.

Page 120: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

118

6.1 Saberes docentes iniciais sobre conceitos estatísticos

Nesta primeira seção do capítulo seis, os instrumentos dos quatro docentes

colaboradores estão analisados sob a ótica dos autores que fundamentaram teoricamente esta

escrita acadêmica e do gabarito de interpretação e correção do instrumento diagnóstico para

verificação das habilidades correspondentes a cada item respondido pelo professor, visando

atender ao primeiro objetivo específico - investigar os conhecimentos dos professores sobre

os conceitos estatísticos. Esta análise foi feita previamente pela pesquisadora e equipe da

UFRN, após a aplicação dos instrumentos ocorrida no dia 28/05/2019. A socialização dessa

análise foi apresentada aos colaboradores no dia 25/07/2019, momento em que os mesmos

tiveram a oportunidade de refletir e discutir sobre os resultados com a pesquisadora.

Apesar de o foco ser a formação com os professores, nesse encontro de socialização

dos resultados foram discutidos tanto a análise dos instrumentos aplicados aos professores,

quanto ao aplicado aos alunos. Proporcionar esse momento de reflexão sobre os dois

instrumentos foi uma forma de, por meio dos comentários feitos pelos docentes, perceber

sobre o que eles já tinham o domínio e o que era novo pra eles em relação aos conceitos

estatísticos. Assim sendo, é importante ressaltar que não se teve como objetivo medir a

proficiência dos alunos, mas usar algumas respostas deles como meio para discussão com os

professores. O instrumento aplicado para diagnosticar os saberes docentes sobre conceitos

estatísticos (Anexo D), assim como o instrumento aplicado aos alunos (Anexo F), fazem parte

do acervo dos instrumentos de pesquisa do D-Estat e foram aplicados em todas as demais

localidades onde a pesquisa foi desenvolvida.

Mesmo tendo um encontro previsto, posteriormente, para trabalhar somente os

conceitos estatísticos, naquele dia 25/07/2019 os docentes já conseguiram refletir, aprender e

tirar muitas dúvidas relacionadas aos conceitos abordados nos instrumentos. Durante a

discussão, os docentes estavam de posse dos instrumentos, tanto o aplicado aos alunos quanto

o respondido por eles, para poder acompanhar as questões. Foi dado um tempo para eles

conhecerem o instrumento dos alunos, isso porque não foram os professores-colaboradores

que realizaram a aplicação, e para poderem relembrar as questões respondidas por eles. Além

dos docentes, o GP e uma das coordenadoras também estiveram presentes no encontro como

mostram as imagens da figura 14.

Page 121: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

119

Figura 14 – Análise dos instrumentos diagnósticos

Fonte: acervo da pesquisadora

Os professores-colaboradores não tiveram acesso aos instrumentos respondidos e sim,

a cópias (em branco), pois a ideia não era comparar ou mensurar a partir das respostas dadas,

mas analisar, refletir, diagnosticar e aprender a partir da socialização, visto que se tratava de

uma pesquisa qualitativa.

A discussão neste dia começou pelo instrumento aplicado aos docentes em que eles

puderam analisar todas as questões novamente, dessa vez, discutindo entre eles e com a

pesquisadora, diferente de como haviam feito anteriormente de forma individual. Para

subsidiar as reflexões sobre as respostas dadas por eles, o quadro 9 apresenta as habilidades

avaliadas em cada um dos itens do instrumento respondido (Anexo D). Essas habilidades

foram apresentadas aos professores-colaboradores durante o encontro para os docentes

saberem em que foram avaliados, o que acertaram, assim como em que ainda é necessário

aprofundar os conhecimentos.

Page 122: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

120

Quadro 9 – Habilidades avaliadas nas questões respondidas pelos docentes sobre conceitos

estatísticos

Questão Habilidade Avaliada

1a

❏ Interpreta os resultados de uma pesquisa cujos dados estão apresentados em uma

tabela de dupla entrada.

❏ Resolve problemas envolvendo a seleção de dados apresentados em uma tabela de

dupla entrada e calcula porcentagem.

1b ❏ Constrói gráfico de frequências a partir de dados obtidos em pesquisas por amostras

estatísticas.

1c ❏ Interpreta os resultados de uma pesquisa cujos dados estão apresentados em um gráfico

de barras.

2a ❏ Retira informação de gráfico de colunas.

2b ❏ Retira informação de gráfico de colunas.

2c ❏ Determina a moda de uma distribuição de dados apresentados em um gráfico

❏ Interpreta a moda

2d ❏ Calcula a média de uma distribuição de dados apresentados em um gráfico.

❏ Interpreta a média.

3a ❏ Resolve problema envolvendo informação retirada de tabela simples, cálculo de

porcentagem, compreensão das propriedades das medidas estatísticas.

3b ❏ Resolve problema envolvendo informação retirada de tabela simples e justifica tomada

de decisão

3c ❏ Resolve problema envolvendo informação retirada de tabela simples

3d ❏ Resolve problema envolvendo informação retirada de tabela simples

Fonte: instrumento avaliativo inicial utilizado pelo projeto D-Estat

As habilidades elencadas no quadro 9 estão em consonância com as habilidades

citadas na BNCC para o trabalho com alunos dos 4º e 5º anos. Durante as análises, a

pesquisadora fez referência às habilidades avaliadas utilizando os verbos no infinitivo por

Page 123: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

121

entender que se referem a uma ação desenvolvida pelo aprendiz, o professor colaborador,

independente da expectativa do observador, sem causar com isso desvio da intencionalidade

pedagógica inicial prevista pelos autores do quadro.

Na primeira questão (Anexo D), foi solicitado o preenchimento da tabela 2 com

valores percentuais correspondentes aos valores absolutos apresentados na Tabela 1 (1a), a

construção de um gráfico que representasse a Tabela 2 preenchida pela docente (1b) e uma

questão subjetiva em que se pedia para falar sobre a relação entre o acesso ao ensino superior

e a classe social a qual pertence o sujeito em discussão (1c), relação abordada nos itens

anteriores por meio da tabela e do gráfico.

Como cada coluna da Tabela 1 (Questão 1) trazia dados de uma classe social diferente,

segundo o gabarito (a pesquisadora fez a opção de substituir o nome ―grade‖ por ―gabarito‖

por entender que grade se refere à imagem de algo preso, policialesco. A opção não fere a

autoria do instrumento, nem o objetivo pedagógico dele) de interpretação e correção do

instrumento, a tabela 2 só estaria totalmente correta se o docente considerasse cada uma das

classes sociais como sendo 100%. Porém, os quatro docentes colaboradores consideram os

100% como sendo o total de pessoas pesquisadas, incluindo as três classes sociais (baixa,

média e alta).

Com essa opção procedimental, os docentes não acertaram completamente o item 1a e

demonstraram não ter totalmente desenvolvidas as habilidades de interpretar os resultados de

uma pesquisa cujos dados estão apresentados em uma tabela de dupla entrada e resolver

problemas envolvendo a seleção de dados apresentados em uma tabela de dupla entrada e

calcular a porcentagem.

Durante o encontro, professores-colaboradores e pesquisadora discutiram sobre como

deveria ter sido respondida a questão e as consequências no resultado, caso os dados não

fossem analisados em sua totalidade, fazendo distinção entre os quantitativos classes sociais.

Além da discussão sobre o instrumento diagnóstico, a metodologia utilizada também se

constituiu como um momento de formação em que dúvidas foram esclarecidas e

aprendizagens foram socializadas. A figura 15 apresenta as respostas da professora PC5C que

foram iguais às dos docentes PC5A e PC5B.

Page 124: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

122

Figura 15 – Resposta da questão 1a (PC5C)

Fonte: instrumento diagnóstico dos professores utilizado pelo projeto D-Estat.

Em relação à docente PC4A, apesar da opção procedimental ter sido a mesma, ela não

conseguiu acabar de completar os dados da Tabela 2, ficando a penúltima coluna incorreta e a

última sem preenchimento, veja na figura 16.

Figura 16 – Resposta da questão 1a (PC4A)

Fonte: instrumento diagnóstico dos professores utilizado pelo projeto D-Estat

No item 1b, quando solicitado a construção de um gráfico mais apropriado para

representar a resposta dada pelo docente, as resposta foram as seguintes: PC4A não

respondeu, ou seja, não construiu o gráfico, PC5A e PC5C construíram gráfico de barras

verticais, porém, utilizando escalas diferentes (Figuras 17 e 18) e PC5B tentou responder ao

Page 125: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

123

item, mas não teve a devida compreensão de como fazê-lo e acabou ficando um gráfico

confuso (Figura 19).

Figura 17 – Resposta da questão 1b (PC5A) Figura 18 – Resposta da questão 1b (PC5C)

Fonte: instrumento diagnóstico dos professores Fonte: instrumento diagnóstico dos professores

Pela figura 17, observa-se que PC5A utilizou no eixo vertical uma escala com

graduação percentual de espaçamento igual a cinco e representou para cada classe social tanto

a quantidade correspondente ao acesso como também ao não acesso. Além disso, a largura

das barras verticais foi feita com medida de um quadradinho da malha quadriculada. O

gabarito de interpretação e correção do instrumento apresenta a opção de PC5A como a

correta.

Em relação à resposta de PC5C apresentada na figura 18 observa-se que foi utilizada a

estrutura de um gráfico de barras verticais com intervalos de dez em dez no eixo vertical.

Apesar da marcação está correta, a forma como o gráfico foi construído caracteriza um

gráfico de barras contínuas que se refere à ideia de histograma e que é um gráfico não

indicado para essa variável. Além disso, a docente representou apenas o percentual de pessoas

com acesso ao Ensino Superior, em cada uma das classes sociais, desconsiderando o não

acesso e utilizando para isso a largura de dois quadradinhos da malha quadriculada para cada

coluna. O gabarito de interpretação e correção do instrumento não apresenta esta resposta

como correta.

Após as análises das figuras 17 e 18 conclui-se que tanto PC5A como PC5C ainda não

desenvolveram a habilidade avaliada no item 1b - construir gráfico de frequências a partir de

dados obtidos em pesquisas por amostras estatísticas. O gabarito de interpretação e correção

do instrumento indicava para observar a largura das barras e entre as barras, a altura da barra

Page 126: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

124

se estava correspondente ao valor da célula, se os eixos apresentavam uma escala correta,

rótulo e nome da variável e por fim, a existência da legenda. Apesar do gabarito não ter

frisado a existência de um título para o gráfico construído é sabido que o mesmo compõe os

elementos básicos na construção de um gráfico (CAZORLA et al.,2017).

Observando todos esses itens necessários na construção de um gráfico, é possível

afirmar com base nas figuras 17 e 18 que PC5A não deu nome aos eixos, nem título ao

gráfico, contemplando os demais itens, enquanto que PC5C atendeu a todos os itens, apesar

de não ter registrado o percentual do não acesso ao Ensino Superior. Para concluir a reflexão

sobre o item 1b do instrumento diagnóstico, pela figura 19 percebe-se que a docente PC5B

tem a ideia de que se faz necessário distribuir as variáveis nos eixos cartesianos, porém, não

conseguiu colocar em prática a construção do gráfico com seus respectivos elementos.

Figura 19 – Resposta da questão 1b (PC5B)

Fonte: instrumento diagnóstico dos professores utilizado pelo projeto D-Estat

Além das dificuldades na construção do gráfico, a figura acima demonstra que PC5B

foi a única docente que pensou em inverter os eixos das variáveis. Dessa maneira, se a

docente tivesse obtido êxito na construção, o resultado obtido teria sido um gráfico de barras

horizontais, gráfico esse que também poderia ser utilizado para comparar os índices de acesso

e não acesso às universidades.

Para concluir a primeira questão, o item ―c‖ perguntou aos docentes qual a conclusão

acerca da relação entre a classe social e o acesso ao Ensino Superior. Como se tratava de uma

Page 127: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

125

questão subjetiva, percebeu-se pela escrita dos professores que a resposta foi embasada mais

no senso comum do que na análise dos valores calculados e apresentados por eles.

Essa afirmação da pesquisadora é possível de ser feita porque os professores-

colaboradores partiram do princípio de que a classe baixa, historicamente falando, sempre

teve menos acesso à educação e a partir dessa informação fundamentaram suas respostas,

como mostra a figura 20.

Figura 20 – Resposta da questão 1c (PC5A)

Fonte: instrumento diagnóstico dos professores utilizado pelo projeto D-Estat

Observa-se que PC5A se deteve a falar sobre a falta de acesso, provavelmente, porque

é notória a diferença (colunas vermelhas das classes baixa e alta). Em nenhum momento, o

docente faz alusão ao total de pessoas de cada uma das classes sociais envolvidas na pesquisa

(500 pessoas na classe baixa e apenas 150 na classe alta), nem comentou sobre a falsa

igualdade nos percentuais de acesso dessas classes.

Page 128: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

126

Nessa mesma linha de raciocínio responderam PC5B e PC5C, sendo que PC5B

apresentou sua resposta descrevendo os números colocados na tabela 2 e PC5C se deteve ao

dado social de que, na classe de baixa renda, o acesso ao Ensino Superior apresenta uma

discrepância considerável quando comparada com o acesso da classe alta. Isso está

evidenciado nas figuras 21 e 22.

Figura 21 – Resposta da questão 1c (PC5B)

Fonte: instrumento diagnóstico dos professores utilizado pelo projeto D-Estat

Figura 22 – Resposta da questão 1c (PC5C)

Fonte: instrumento diagnóstico dos professores utilizado pelo projeto D-Estat

Page 129: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

127

Analisando as respostas dos três docentes, isso porque PC4A não respondeu aos itens

1b e 1c, é possível verificar que eles ainda não desenvolveram a habilidade avaliada no item

1c - interpretar os resultados de uma pesquisa cujos dados estão apresentados em um gráfico

de barras. Neste caso, antes de afirmar o domínio, ou não, dessa habilidade, faz-se necessário

lembrar que o gráfico foi construído pelo próprio docente. Então, se os cálculos do item 1a

não foram realizados de forma correta, ou, se a construção do gráfico no item 1b não foi feita

seguindo os conceitos estatísticos, a resposta do item 1c, consequentemente, sofre influência

dos dois itens anteriores.

Não conseguir resolver a primeira questão de forma satisfatória faz lembrar Cazorla

(2017), quando a autora afirma a necessidade do indivíduo saber ler informações numéricas

de forma crítica, defendendo o ensino e a aprendizagem da Estatística para esse fim.

Desenvolver a habilidade de ler corretamente dados estatísticos traz benefícios ao indivíduo

de modo a não se apoiar em ideias do senso comum, nem ser manipulado pelas notícias

divulgadas por meio analógico ou digital, tornando-o estatisticamente letrado.

Na segunda questão, o gráfico já estava construído e a partir dele o instrumento tinha o

objetivo de verificar se os docentes sabiam retirar informações desse gráfico, respondendo

questões sobre Moda e Média aritmética simples. PC4A respondeu os quatro itens da questão

de forma correta, mas não deixou nenhum comentário ou cálculo que evidenciasse a

consolidação dos conceitos estatísticos utilizados para responder, como mostra a figura 23.

Figura 23 – Resposta da questão 2 (PC4A)

Fonte: instrumento diagnóstico dos professores utilizado pelo projeto D-Estat

Page 130: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

128

Com PC5A foi diferente, o docente acertou os quatro itens e deixou registrado como

chegou à resposta dada, o que ajudou a pesquisadora entender que ele não só conseguiu

responder como também tem o domínio dos conceitos estatísticos abordados na questão. Isso

ajuda a concluir que o mesmo já desenvolveu as habilidades inseridas na questão: retira

informação de gráfico de colunas, determina a moda de uma distribuição de dados

apresentados em um gráfico, interpreta a moda, calcula a média de uma distribuição de dados

apresentados em um gráfico e interpreta a média, conforme apresenta a próxima figura.

Figura 24 – Resposta da questão 2 (PC5A)

Fonte: instrumento diagnóstico dos professores utilizado pelo projeto D-Estat

Diferentemente de PC5A, PC5B apresentou dificuldades em responder à questão 2

(Figura 25), apesar de ter tentado responder todos os itens, o que para a pesquisadora é um

ponto positivo. Durante esse encontro de discussão sobre os instrumentos diagnósticos, a

pesquisadora teve o cuidado de tratar as respostas corretas de forma reflexiva fazendo com

que os docentes percebessem se acertaram, ou não. Esse cuidado foi necessário para não os

intimidar diante de possíveis dificuldades objetivando despertar o sentimento de confiança

entre o grupo, movimento este realizado desde o momento inicial durante o estágio de

cossituação (ANADÓN, 2007). Autores como Boavida e Ponte (2002), Hargreaves1999) e

Ponte e Serrazina (2003) defendem que a concretização da colaboração se dá, também, a

partir desse clima de confiança.

Page 131: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

129

Figura 25 – Resposta da questão 2 (PC5B)

Fonte: instrumento diagnóstico dos professores utilizado pelo projeto D-Estat

Além disso, deixar à mostra suas dificuldades em responder a questão 2, ajuda a

pesquisadora a conhecer o perfil de cada docente que, em uma próxima etapa, participou na

formação continuada e em serviço relatada na próxima seção desta dissertação. Algo parecido

ocorreu nas respostas da docente PC5C, quando a mesma escreveu, literalmente, não lembrar

do conceito de Moda. Nesse caso, não é possível ter a certeza se ela realmente não lembrava,

naquele momento, ou se não sabia do conceito. De todo modo, ficou a informação de que se

fazia necessário trabalhar o que é Moda no campo da Estatística durante os encontros

formativos. As respostas da questão 2 da docente PC5C estão apresentadas na figura 26.

Figura 26 – Resposta da questão 2 (PC5C)

Fonte: instrumento diagnóstico dos professores utilizado pelo projeto D-Estat

Page 132: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

130

Nesse caso, não houve acerto nem do valor da Moda que seria 0º, nem da explicação

do conceito (valor que se repete com maior frequência). No momento de refletir sobre as

questões respondidas pelos alunos, ainda nesta seção, aparece na fala de uma das docentes

colaboradoras a afirmação de que a palavra Moda, até aquele momento, remetia-se somente

aquela moda que se fala no dia a dia referente a roupas, sapatos e outros acessórios.

Essa situação posta sobre o conceito de Moda faz lembrar Lopes (2010, p. 58) ao

afirmar que a ausência do trabalho com os estudantes, voltado para o ensino da unidade

temática Probabilidade e Estatística, ocorre pela ―(...) falta de domínio teórico-metodológico

do professor sobre os conceitos estatísticos e probabilísticos (...)‖. Não se pode trabalhar

aquilo que não se sabe, não se domina ou que jamais foi estudado, seja na formação inicial ou

continuada.

Para concluir a análise do instrumento diagnóstico sobre os conceitos estatísticos, a

terceira questão apresenta um quadro demonstrativo da folha de pagamento de uma

determinada empresa e supõe duas opções de reajuste salarial. Em uma das opções, todos

ganhariam 10% e na outra situação R$ 150,00 a mais para todos os funcionários. Os salários

atuais foram disponibilizados dispostos em um quadro e para responder à questão os docentes

precisavam preencher mais duas colunas desse quadro (uma com os valores reajustados em

10% - opção 1 e a outra coluna com os valores acrescidos de R$ 150,00 – opção 2).

Além do quadro para preencher, item ―a‖ da questão, os docentes ainda precisavam

responder às seguintes questões: item b) Se você fosse membro do Sindicato, qual das duas

opções você defenderia? Argumente a razão de sua escolha; item c) Se você fosse um dos

funcionários mais bem pagos da empresa, qual das duas opções você escolheria? Como você

argumentaria com seus colegas para defender sua escolha? e item d) Por que para a empresa é

indiferente a qualquer uma das duas opções? Para responder a letra ―a‖, ou seja, preencher o

quadro, o docente precisava fazer o devido cálculo de cada um dos valores em relação ao

salário atual.

Com a realização dos cálculos efetuados para responder o item ―a‖, segundo o gabarito

de interpretação e correção do instrumento, foi possível avaliar a habilidade de resolver

problema envolvendo informação retirada de tabela simples, cálculo de porcentagem,

compreensão das propriedades das medidas estatísticas. Em relação aos itens ―b‖, ―c‖ e ―d‖,

as habilidades avaliadas foram resolver problema envolvendo informação retirada de tabela

simples e justificar tomada de decisão (letra ―b‖), ou apenas, resolver problema envolvendo

Page 133: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

131

informação retirada de tabela simples (letras ―c‖ e ―d‖). Analisando as respostas da docente

PC4A, de acordo com a figura 27, é possível afirmar que a mesma só não respondeu de forma

correta o cálculo da primeira linha da opção 1 do quadro, as demais respostas estão todas

corretas de acordo com o gabarito de correção.

Figura 27 – Resposta da questão 3 (PC4A)

Fonte: Instrumento diagnóstico dos professores utilizado pelo projeto D-Estat

Acertando quase que a totalidade da questão, pode-se dizer que PC4A tem domínio

das habilidades envolvidas na questão. Porém, faz-se necessário uma observação na resposta

da letra ―c‖, a qual a professora usou a expressão ―manter a luta‖. Por ser sindicalista na Rede

Municipal do Natal, a resposta da docente pode ter sofrido influência da experiência

vivenciada pela professora-colaboradora.

Assim sendo, reitera-se a linha de pensamento da Educação Matemática, seguida por

esta pesquisa quando preconiza que, para o educador que ensina Matemática, não basta ter o

Page 134: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

132

domínio conceitual e procedimental produzida historicamente sobre esse componente

curricular. Mais do que isso, é importante e necessário conhecer os fundamentos

epistemológicos, sua evolução histórica, e principalmente, a relação da Matemática com a

realidade, seus usos sociais e as diferentes linguagens com as quais se pode representar ou

expressar um conceito matemático, ou a solução de um determinado problema, como dito na

introdução desta escrita. Isso comprova o que afirma a BNCC (2017), quando diz que os

conhecimentos matemáticos são fundamentais para a compreensão e atuação no mundo e

vice-versa.

PC5A teve um desempenho semelhante ao de PC4A nesta questão, inclusive, não

acertando a mesma informação. O erro de PC5A na primeira linha da coluna da opção 1,

levou-o a justificar de forma equivocada o item ―d‖ da questão. Com esse não acerto, ele

encontrou valores iguais para as opções 1 e 2 na primeira linha e baseando-se nisso respondeu

que era indiferente qualquer uma das duas opções porque o gasto com a folha de pagamento

seria igual nos dois casos, quando na verdade a justificativa correta deveria ser baseado no

valor encontrado para a média.

A partir dessas análises, verifica-se que a habilidade – Resolver problema envolvendo

informação retirada de tabela simples, cálculo de porcentagem, compreensão das propriedades

das medidas estatísticas – ainda precisa ser trabalhada com os docentes que responderam o

instrumento diagnóstico para uma melhor consolidação desta habilidade. A constatação dessa

e de outras lacunas formativas dos docentes ajudou a pesquisadora planejar o encontro em que

os conceitos estatísticos foram tratados, antes da elaboração da sequência de ensino.

Em relação às respostas dos itens ―b‖ e ―c‖, apesar de PC5A ter respondido com

palavras diferentes às apresentadas pelo gabarito de correção, a interpretação dada pelo

docente está em consonância com os dados apresentados e calculados. Por essa razão, as

respostas do professor-colaborador foram consideradas corretas, valorizando a forma de

pensar e de se expressar de PC5A, assim como deve ser feito com os discentes. As respostas

comentadas neste parágrafo estão registradas na figura 28.

Page 135: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

133

Figura 28 – Resposta da questão 3 (PC5A)

Fonte: instrumento diagnóstico dos professores utilizado pelo projeto D-Estat

Analisando as respostas da questão 3, dadas pelos docentes PC4A e PC5A, é possível

perceber que ambos tiveram um bom desempenho, podendo afirmar que eles possuem as

habilidades previstas para essa questão e apresentadas no Quadro 9.

Diferente disso, PC5B e PC5C não conseguiram interpretar estatisticamente os dados

calculados por elas. PC5B, por exemplo, começou se equivocando já no item ―a‖, quando nos

cálculos da opção 1 registrou-se apenas o valor correspondente aos 10% e não, opção 1 mais

10% como solicitava a questão. Certamente, isso influenciou nas respostas dos outros três

itens.

Além disso, na primeira resposta da opção 2, a docente respondeu um valor que não

corresponde a nenhum dos questionamentos feitos no quadro, ou seja, não era 10% do valor,

nem 10% mais opção, nem opção 2 mais R$ 150,00. Com isso, ela apresentou uma resposta

desconectada dos valores apresentados pela questão como apresenta a figura 29.

Page 136: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

134

Figura 29 – Resposta da questão 3 (PC5B)

Fonte: instrumento diagnóstico dos professores utilizado pelo projeto D-Estat

No item ―a‖, PC5C marcou a opção 1 e, além disso, não informou para quem o

aumento seria mais significativo. No item ―b‖, a opção marcada foi a correta - opção 1, mas a

justificativa não atendeu ao que foi questionado, assim como no item ―c‖, em que a resposta

dada não se fundamenta nas informações oferecidas pela questão. Não conseguir interpretar

os dados devidamente faz lembrar Cazorla e Vital (2017) quando enfatizam que para ser

letrado estatisticamente existe a necessidade de saber interpretar cada dado estatístico para se

conscientizar sobre o real papel da Estatística na compreensão dos problemas e fenômenos

que permeiam o mundo.

Observa-se que, em alguns casos, o docente consegue fazer o cálculo devidamente

correto, mas no momento de interpretá-los a habilidade não se apresenta consolidada. Esse é

um exemplo de que para ensinar Matemática, neste caso específico a Estatística, não é

suficiente saber fazer cálculos, vai além disso. Foi o que aconteceu com PC5C que acertou

100% dos valores no item ―a‖, mas ao responder os outros três itens não foram verificados

100% de acertos. No item ―b‖, a docente marcou a opção 1 e não a 2 como correta e justificou

a escolha dizendo que a folha de pagamento seria maior, mais pessoas seriam beneficiadas,

Page 137: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

135

porém não fez relação quanto ao fato de que esse maior número de beneficiados está

relacionado às pessoas com menores salários, como pode ser observado na figura 30.

Figura 30 – Resposta da questão 3 (PC5C)

Fonte: instrumento diagnóstico dos professores utilizado pelo projeto D-Estat

Quando foi perguntado no item ―c‖ qual a melhor opção de aumento salarial para um

dos funcionários mais bem pagos da empresa, solicitando também o argumento da escolha, a

docente escolheu a opção 1, aumento de 10%, justificando pela proporcionalidade do

aumento, quanto maior o salário, maior o benefício. Apesar da primeira opção ser a melhor

para um funcionário bem remunerado, esperava-se que a justificativa fosse algo como tenho

um cargo de gerência, com maior qualificação e com maior responsabilidade - sugestão da

chave de resposta, uma vez que a questão sugeria responder se colocando no lugar desse

funcionário com maior salário.

A última pergunta apresentada no instrumento ―d‖ questionava sobre a razão de para a

empresa ser indiferente a escolha de qualquer uma das duas opções. PC5C respondeu dizendo

Page 138: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

136

que em ambas as opções havia perdas e ganhos. Pela sugestão de resposta do gabarito, não o

considerando como verdade absoluta, mas levando em consideração aspectos do pensamento

estatístico, a justificativa deveria ser fundamentada no valor da média que, por ser igual nas

duas opções, a folha de pagamento (média x número de funcionários) seria indiferente. A

docente poderia ter chegado a esta conclusão por que os seus cálculos no item ―a‖ estão todos

corretos, mas a habilidade de resolver problemas envolvendo informações retiradas de uma

tabela simples, justificando a tomada de decisão, não foi contemplada por PC5C. Uma

observação no gabarito do instrumento diz que uma outra justificativa poderia ser aceita desde

que fundamentada nos dados da tabela.

Concluída as análises dos instrumentos respondidos pelos docentes colaboradores é

possível afirmar que os mesmos possuem saberes relacionados aos conceitos estatísticos

previstos pela BNCC (2017) para o ensino da Estatística nos anos iniciais do Ensino

Fundamental. Porém, existem lacunas formativas (conceito de Moda e Mediana, elementos de

uma tabela estatística e construção de gráficos) que precisam ser preenchidas na formação

continuada em serviço, prevista para esta pesquisa, de modo a proporcionar fundamentação

teórica para os professores trabalharem tais conceitos com melhor desempenho e propriedade.

A análise referente ao instrumento respondido pelos alunos está descrita na próxima subseção.

6.1.1 Saberes discentes sobre conceitos estatísticos

Após discussão sobre o instrumento dos docentes, foi iniciada a reflexão sobre as

questões respondidas pelos alunos. O foco da pesquisadora não foi analisar diretamente a

aprendizagem do discente, uma vez que a pesquisa objetivava planejar e executar um novo

modelo de formação continuada em serviço para os professores-colaboradores. Porém, para o

momento de reflexão sobre os instrumentos diagnósticos aplicados se avaliou importante

pensar também nas habilidades que os alunos ainda não apresentaram domínio, afinal, a

aprendizagem discente não deixa de ser reflexo da atuação docente.

A primeira questão informava que sete crianças estavam jogando bola de gude no

pátio da escola e dizia a quantidade de bolas de cada uma delas. Diante desse cenário, seis

itens foram solicitados aos alunos. Nos três primeiros itens pedia-se que a) pintasse um

gráfico com a quantidade de bolas de gudes que as crianças tinham, de acordo com o

enunciado; b) o total de bolas de gudes que as crianças têm juntas e c) dentre as quantidades

Page 139: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

137

de bolas de gude de cada criança, qual a quantidade que se repetia mais vezes. Observem a

resposta de um dos alunos de PC5A, na figura 31.

Figura 31 – Questão 1 de um aluno de PC5C

Fonte: acervo da pesquisadora

Pela imagem, é possível observar que a criança acertou os três itens, porém, isso não

significa dizer que tenha o domínio da habilidade de construir gráficos, nem do conceito de

Moda que era a intencionalidade pedagógica do item ―c‖. Acredita-se que o acerto dos itens

―a‖ e ―c‖, que envolvem conceitos estatísticos, pode ter ocorrido pela forma como a pergunta

foi elaborada, uma vez que os elementos que compõem um gráfico não foram solicitados,

apenas a pintura da quantidade de bolas de gudes de cada criança. O item ―1a‖ apresentou o

maior percentual de acertos em todas as turmas, chegando uma delas a 94%, como mostra a

figura 32.

Figura 32 – Resultado por turma da Questão 1a na Escola B, em julho de 2019

Fonte: elaborado pela pesquisadora

Page 140: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

138

Pelo gráfico, observa-se que mesmo a turma com menor percentual de acertos

apresentou mais de 50% dos alunos com resposta correta, indicando ser um item de fácil

entendimento para os alunos, apesar de ter acontecido alguns não acertos. Dessa forma, é

possível afirmar que a maior parte dos alunos já possui a habilidade de construir gráficos de

colunas a partir de dados fornecidos pela questão. Para resolver esse item, os discentes

utilizaram diversas estratégias como, por exemplo, fazer um ―x‖ em todos os quadradinhos da

coluna que representava a resposta, ou passar um traço contemplando a quantidade de

quadradinhos correspondentes, ou ainda, pintando a coluna, como mostrou a figura 31.

Para os não acertos, aconteceram situações em que parecia que o aluno sabia fazer a

marcação do gráfico, porém, fez de tal forma que não foi possível considerar a marcação

como correta por ter marcado apenas o topo das respectivas colunas, por exemplo, como

mostra a figura 33.

Figura 33 – Questão 1 de um aluno de PC5A

Fonte: elaborado pela pesquisadora.

Outro fator que vale destacar é que nenhum aluno deixou de responder o item (figura

34), fato que não ocorreu em nenhuma das outras questões. O não responder foi denominado

de ―em branco‖ e era representado nos gráficos na cor amarela. A figura 34 mostra que para a

questão 1a, quando se totalizou a correção dos instrumentos de todos os alunos que

responderam ao diagnóstico, apenas as cores vermelhas (não certo) e azul (certo) apareceram

no gráfico.

Page 141: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

139

Figura 34 – Resultado geral da Questão 1a na Escola B, em julho de 2019

Fonte: elaborado pela pesquisadora a partir dos instrumentos respondidos pelos discentes da Escola B

Apesar de todos terem respondido à questão, o gráfico circular mostra que no geral o

resultado do item ―a‖ da primeira questão não foi favorável pois 79,3% das respostas não

estavam corretas e apenas 20,7% representaram os certos. Em relação ao item ―1c‖,

apresentado na figura 31, não se tem como afirmar que o aluno tem o domínio do conceito de

Moda, ele apenas entendeu que o item pedia a quantidade que mais se repetia. Talvez, se fosse

solicitado o valor que representava a Moda dos valores da questão, ele não conseguisse

responder e isso pode ser evidenciado na fala da professora desse aluno que, enquanto

discutia-se sobre a questão, fez a seguinte observação:

PC5C: a Moda que eu conhecia era a de roupas, sapatos, etc.

Como foi dito, durante as análises dos instrumentos dos docentes, PC5C fez esse

registro ao se falar sobre o conceito de Moda. Assim sendo, não tem como ela ter trabalhado

com a sua turma esse conceito, antes da aplicação do instrumento, se ela mesma disse não o

conhecer até aquele momento. Outro momento que gerou inquietação por parte dos

professores colaboradores foi quando a discussão chegou na questão 2c, quando o aluno

precisou trabalhar com uma sequência numérica com uma quantidade par de elementos para

encontrar a Mediana, entre esses termos.

Nesses casos o discente precisaria fazer a Média aritmética simples, uma outra

medida de tendência central. Nessa questão, foi dado um quadro com o número de brigadeiros

Page 142: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

140

consumidos por crianças durante o sábado e o domingo, algumas perguntas foram feitas, entre

elas, na letra ―d‖ perguntou-se sobre ―qual a quantidade de brigadeiros que ocupa a posição

central?‖, após ter solicitado na letra ―c‖ que as quantidades referentes ao total de cada

criança fossem todos colocados em ordem crescente.

O objetivo da questão era trabalhar o conceito de Mediana, como já foi dito, apesar de

não ter sido citado o nome do termo estatístico, como é possível verificar na figura 35. A

partir da localização do termo central, após ordenação da sequência numérica proveniente do

somatório de brigadeiros de cada criança, o aluno tinha como responder à questão. Observe

que o aluno da professora PC4A (figura 35) acertou o somatório e a ordenação dos termos,

mas na hora de responder disse que o termo central era o da terceira posição.

Figura 35 – Questão 2 de um aluno de PC4A

Fonte: acervo da pesquisadora.

Page 143: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

141

Durante a discussão entre professores-colaboradores e pesquisadora, pela fala de

alguns docentes percebeu-se que eles também não tinham conhecimento do conceito abordado

nesta segunda questão, como demonstram as falas a seguir:

GP: É o 9 a posição central? Já que o 0 não conta.

PC4A: Esse instrumento, eu acho, dá pra gente sentir o que a gente precisa trabalhar

mais. Esses conceitos que pra gente também é novo.

Com esse posicionamento do GP, observa-se que ele queria desconsiderar o zero,

assim a sequência ficaria com três termos e teria um termo central. Além desse tipo de

raciocínio, igual ao do GP, outros também não permitiram que os discentes acertassem a

questão, como por exemplo, a) não ordenaram os números, colocando-os no quadro da letra

―c‖ na mesma sequência em que eles se encontravam no quadro original; b) organizaram os

números em ordem decrescente; c) juntaram os algarismos correspondentes às quantidades de

brigadeiro de cada neto sem fazer o somatório (ex.: Clara comeu 4 brigadeiros no sábado e 5

no domingo, por isso, o aluno registrou como total para Clara o valor 45, ver figura 36); d)

escolher o último termo dos quatro como resposta.

Figura 36 – Questão 2 de um aluno de PC5C

Fonte: acervo da pesquisadora.

Page 144: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

142

A figura 36 demonstra que o aluno não somou as quantidades de brigadeiros comidos

por cada criança durante o final de semana. Para dá a resposta, o discente escreveu um

número composto pelas quantidades de brigadeiros comida no sábado e domingo. Exemplo

disso pode ser visto ao observar a quantidade registrada para Clara em que foi colocado 45 (4

do sábado e 5 do domingo) como resposta. Erros como esse fizeram com que os discentes não

obtivessem os valores corretos, apesar de que na hora de ordená-los em ordem decrescente

(item 2c) o fizeram de forma correta.

Essa e outras formas de resolução dos alunos fizeram o índice de acertos nessa questão

ser muito pequeno, como mostra o gráfico na figura 37:

Figura 37 – Resultado geral da Questão 2d na Escola B, em julho de 2019

Fonte: elaborado pela pesquisadora a partir dos instrumentos respondidos pelos discentes da Escola B.

Observando o gráfico é importante ressaltar que o fato do percentual de não acerto ser

maior que o percentual das respostas em branco, pode ser considerado como um ponto

positivo porque significa que eles tentaram, de alguma forma, responder à questão.

Analisando agora o item ―2d‖, a figura 38 mostra a resposta de dois alunos. Um deles

acertou e o outro deu uma resposta interessante de ser analisada, causando reflexões por parte

dos docentes colaboradores.

Page 145: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

143

Figura 38 – Questão 2 de alunos de PC5A

Fonte: acervo da pesquisadora

O aluno da esquerda respondeu no item 2d ―Não consigo ver a posição central‖ e o do

lado direito, o único que acertou a questão, não deixou nenhum indício de como respondeu,

escrevendo apenas 8,5. Apesar dos alunos serem de PC5A, na hora da discussão PC5C fez

uma observação interessante para justificar a ausência de cálculos do aluno que deu a resposta

correta:

PC5C: E se ele percebeu que o 8 e o 9 são contínuos e colocou 8,5?

PC5C quis dizer que o aluno pode ter percebido que o valor compreendido entre 8 e

9, ou seja, o valor que está na posição central ou no meio desses dois termos é o 8,5. De fato,

o aluno pode ter pensado dessa forma ao associar a quantidade que ocupa a posição central

com o valor que ele precisava responder e isso demonstra indícios do letramento estatístico

desse aluno. Além disso, essas estratégias de resolução do aluno fazem lembrar Cazorla

(2002) quando afirma que mais importante do que a técnica – o cálculo da média aritmética

para encontrar o resultado da Mediana – é o entendimento do conceito posto em prática neste

exemplo, assim como o seu uso social.

Para responder a PC5C, a pesquisadora deu um exemplo com outra sequência de

números em que o intervalo entre eles fosse maior. Para isso, utilizou a sequência (10, 35, 63,

80) e demonstrou que pela técnica (35+63)/2, resultado da Mediana é igual a 49. Da mesma

Page 146: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

144

forma, encontrando o termo central entre 35 e 63 é possível verificar que também é 49, apenas

não é tão perceptível por existir um intervalo maior entre os números. De todo modo, o

discente ter conseguido responder demonstrou a capacidade de resolução de problemas

existente nos alunos e que precisam ser valorizadas pelos docentes, discussão que no

momento veio à tona e que deve ser considerada não somente no ensino da Estatística.

Na terceira questão, foi apresentado um quadro demonstrando as respostas dos alunos

em relação ao animal favorito. O quadro já trazia os dados contabilizados de forma que era

necessário consultá-lo para conseguir responder os itens. No item ―a‖ foi perguntado quantos

estudantes responderam à pergunta sobre o animal favorito. Nesse caso, os alunos precisariam

além de saber ler as informações fornecidas, identificar qual a operação responderia de forma

correta o que estava sendo solicitado. A figura 39 mostra como dois alunos de PC5B

responderam.

Figura 39 – Questão 3 de alunos de PC5B

Fonte: acervo da pesquisadora

Os dois alunos da figura acertaram a resposta mesmo não tendo deixado registros

sobre as estratégias utilizadas para encontrar o somatório. Porém, no item ―b‖, quando

perguntado sobre qual o animal de estimação da maioria dos estudantes, o aluno da esquerda

acertou, mas o da direita, não. A resposta ―gato‖ dada pelo aluno que não acertou indica

Page 147: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

145

ausência da habilidade de retirar informações contidas em um quadro, tabela ou gráfico, como

indica a BNCC (2017). Apesar da figura apresentar dois alunos que acertaram a primeira

resposta, esse item teve pouco menos de 30% de acertos, conforme mostra a figura 40.

Figura 40 – Resultado geral da Questão 3a, em julho de 2019

Fonte: elaborado pela pesquisadora a partir dos instrumentos respondidos pelos discentes da Escola B

Um dos fatores que deve ter contribuído para os mais de 64% de não acerto foi o fato

de na última linha do quadro da questão 3 aparecer a informação de que quatro estudantes

pesquisados não possuíam animal de estimação. Com isso, alguns discentes que responderam

o instrumento não consideraram esses quatro votos no somatório, encontrando como resposta

um total de 46 pessoas pesquisadas e não 50, como seria o correto. Esse pensamento

aconteceu também com os colaboradores e foi percebido no momento da discussão quando

uma delas questionou:

PC5B: Mas esse ―nenhum‖ entra nessa soma?

Na ocasião, a pesquisadora explicou para PC5C que as quatro respostas faziam sim

parte do total de estudantes pesquisados porque eles responderam à questão, apesar de não

possuírem animal de estimação. Com este comentário percebe-se que a colaboradora não

reconhecia os quatro votantes como parte da população da pesquisa. A população, segundo

Cazorla e Oliveira (2010), ―é composta por elementos distintos, chamados de unidades

populacionais, que possuem características comuns e nos quais são observados os fenômenos

de interesse‖ (p. 152), ou seja, o animal preferido de cada estudante pesquisado.

Page 148: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

146

Após a explicação da pesquisadora, PC5C entendeu e verbalizou: ―Como não pensei

nisso, antes?! (risos)‖. Esse diálogo entre pesquisadora e professores colaboradores baseada

na realidade escolar é o foco principal desta pesquisa, proporcionando o desenvolvimento

profissional de ambos a partir de um modelo diferente de formação, antes não presenciado

pela pesquisadora com um grupo tão pequeno e específico de professores. Além de ser

baseada na realidade dos docentes, o diálogo durante este encontro aconteceu de acordo com

o que eles interpretaram das respostas dos alunos, sem contar que estavam no próprio

ambiente de trabalho, e toda a mediação foi realizada de forma colaborativa.

Na quarta questão, foi dado um gráfico de linhas em que apresentava a preferência dos

estudantes em relação a dois candidatos (A e B), durante quatro meses (junho a setembro) e o

escolhido seria o representante dos votantes. No item ―a‖ perguntava qual o percentual de

estudantes que no mês de setembro ainda não sabiam em quem iriam votar e no item ―b‖ qual

o candidato com mais chance de ganhar, conforme mostra a figura 41.

Figura 41 – Questão 4 de um aluno de PC5C

Fonte: acervo da pesquisadora

Pelos dados fornecidos pela questão, a resposta do item ―a‖ não estava no gráfico, os

estudantes precisariam fazer o somatório dos que já tinham feito a sua escolha (44%+35%) e

Page 149: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

147

diminuir dos 100% que representa o total de alunos. Dessa forma, a resposta seria encontrada

(100% - 79% = 21%). O item ―b‖ apresentou muitas respostas em branco, ou respondidas não

com base do gráfico, como por exemplo, ser o candidato A o vencedor por motivos como:

―Porque estou torcendo por ele‖; ―Porque ele sempre teve os maiores votos‖. A forma como o

aluno da figura 41 respondeu, marcando o candidato A, assemelha-se com uma dessas

respostas quando o aluno disse que foi ―Porque ele tem mais votos‖. Os alunos que deram

esse tipo de resposta, provavelmente, apoiaram-se nos valores mostrados pelo gráfico, pois

esse candidato ao longo dos quatro meses apresentou números iguais a 50; 48; 46; 44 sempre

maiores do que os valores do candidato B.

Esse comportamento dos alunos demonstra não ter ainda desenvolvido a habilidade de

leitura de um gráfico de linhas, não atendendo a vigésima quarta habilidade da BNCC para o

5º ano: (EF05MA24) Interpretar dados estatísticos apresentados em textos, tabelas e gráficos

(colunas ou linhas), referentes a outras áreas do conhecimento ou a outros contextos, como

saúde e trânsito, e produzir textos com o objetivo de sintetizar conclusões. Apesar da

dificuldade apresentada pelos alunos, uma das professoras colaboradoras observou um ponto

positivo no desenvolvimento de sua turma, após a aplicação do instrumento:

PC4A: O candidato A começou na frente e depois foi caindo, né? ... É interessante

essa coisa da leitura porque eles acham que a leitura é só de palavras … Quando eu

comecei a trabalhar Geografia com os gráficos que aparecem no conteúdo [...] eu

percebi mais interesse, mais cuidado na questão da atenção dos meninos [...] não sei

se foi o instrumento que vocês aplicaram que também despertou …

Apesar de olhar para a questão com uma expressão de dúvida, a docente pensou na

possibilidade de que o fato de seus alunos terem vivenciado esse tipo de leitura de

informações, quando responderam o instrumento diagnóstico, pode ter contribuído na leitura

de gráficos que ela utilizou na aula de Geografia. A pesquisadora tentou refletir mais um

pouco com a professora colaboradora, de modo que a mesma analisasse melhor o fato de, por

ter respondido o instrumento, o aluno está mais atento às informações contidas em gráficos

durante as aulas de outros componentes curriculares. Na visão da pesquisadora, faz-se

necessário mais evidências para essa afirmação se consolidar, mas para PC4A o instrumento

tinha sim despertado nos alunos mais curiosidade e interesse em leitura de gráficos.

Com base na fala da docente, e nas respostas dos alunos, percebe-se ainda existir a

necessidade de um trabalho voltado para a leitura e interpretação de gráficos. Essa questão foi

a que teve o menor número de acertos, conforme mostra a figura 42.

Page 150: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

148

Figura 42 – Resultado geral da Questão 4 na Escola B, em julho de 2019

Fonte: elaborado pela pesquisadora a partir dos instrumentos respondidos pelos discentes da Escola B.

O único aluno que acertou o item ―a‖ escreveu apenas o número 21, não deixando

indícios de como pensou para responder e no item ―b‖, não houve acerto da justificativa. É

interessante destacar também as respostas em branco, pois se tratam de alunos que, por

diversas razões, sequer propuseram alguma coisa como resposta, o que pode indicar total

desconhecimento do assunto.

Diante das análises, é possível concluir que, de um modo geral, os resultados não

foram satisfatórios, mostrando assim a necessidade do trabalho com os conceitos estatísticos

nos anos iniciais do Ensino Fundamental da Escola B. Esse resultado não desejado pelos

docentes os fez refletir sobre a importância da formação que a pesquisadora iria desenvolver

ao longo do ano, pois assim poderiam se apropriar melhor dos conceitos estatísticos e,

consequentemente, melhorar o desenvolvimento de seus alunos. Exemplo disso é o que foi

dito pela professora colaboradora:

PC4A: Eu nunca trabalhei Estatística com esses conceitos, levando em consideração

esses conceitos. Pra mim, a Estatística, eu trabalhava fazendo a leitura de gráficos

[…] Aqui a gente tá também se apropriando de alguns conceitos, e na hora que a

gente vai se apropriando de alguns conceitos, a gente vai observar no aluno se esses

conceitos, eles também vão tá ―pegando‖.

A fala de PC4A demonstrou de forma positiva que naquele momento de análise e

reflexão sobre os instrumentos diagnósticos aplicados houve um momento formativo de

aprendizagem. Se para ela, o ensino da Estatística até aquele momento era só leitura de

Page 151: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

149

gráficos, e não incluía construção de gráfico, elaboração de pesquisa, coleta de dados, entre

outros conceitos estatísticos, significa dizer que já houve aprendizagem para essa

colaboradora. Foi interessante a reflexão feita por PC4A por dois motivos, primeiro porque ao

término da apresentação dos resultados os docentes estavam desanimados, disseram que

esperavam melhor desempenho por parte dos alunos e mesmo assim, a professora deu esse

depoimento que foi visto pela pesquisadora como positivo, afinal, existia na fala o

reconhecimento de uma necessidade formativa.

O segundo motivo diz respeito à fala de Nacarato, Mengali e Passos (2009) ao

afirmarem que os professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental têm um histórico

negativo para com a Matemática que implicam em bloqueios para aprender e ensinar esse

componente curricular. Na experiência vivida com esses professores colaboradores, durante a

pesquisa, não foi observado bloqueios para aprender, e sim lacunas formativas em que os

mesmos mostram interesse em saná-las para poder aprender o que ainda não sabem, porque

não tiveram oportunidade.

Esse encontro terminou com a avaliação oral dos professores colaboradores e do

gestor pedagógico falando sobre os resultados apresentados e da visão deles após aquele

encontro de discussão. Os relatos estão na sequência em que eles se dispuseram a falar.

PC5B: Eu acho que a gente tá bem enferrujado, nós, professores. Mas, aí a gente

tava precisando ter essa formação [...] Foi ótimo!

GP: Num primeiro instante a gente fica petrificado [...] Essas habilidades, esses

conteúdos, eles precisam ser revistos [...] não foi visto na graduação [...] Quando

a gente pensa nessa qualidade, nessa quantidade da formação, e a BNCC da ênfase

nisso... Mas a gente precisa ter consciência da unidade e da necessidade da

formação do professor em trabalho. Uma outra questão: a forma como você

apresentou essas análises tá promovendo um processo formativo e reflexivo, ou

seja, o instrumento traz para discussão pra ver se a gente fez, como é que a gente

fez [...] Então, isso é um processo reflexivo muito interessante.

PC4A: Eu acho que tem falha na formação. Existe falha e quando eu me deparei

com o instrumento, é que a gente percebe que essas falhas, elas existem e que a

gente precisa corrigir; [...] E a correção dessas falhas vai levar a uma prática

diferente [...] Eu acho que essa formação têm a ver com isso: o que eu sei, o que é

que eu não sei que eu preciso melhorar para a minha atuação na sala de aula.

PC5A: Eu achei muito bacana ver o desenvolvimento dos alunos. Eu tenho feito

isso em sala [...] e nos enxergando dessa forma, a primeira coisa que me veio foi: eu

quero ver os instrumentos, eu quero ver o que eu preciso melhorar [...] Nós,

professores, a gente sempre vai ter a necessidade de acompanhar as mudanças, de se

aperfeiçoar. [...] Agora a gente sabe exatamente o que fazer ou não, então cabe a nós

utilizar essa ferramenta como um ponto de partida para que a gente possa promover

o que tá sendo exigido na sociedade hoje em dia.

PC5C: Esses instrumentos são favoráveis porque você já parte daquilo que o

aluno tem conhecimento, facilita o trabalho. Eu procuro fazer isso em sala de aula

porque a gente vai direcionando para alcançar o objetivo mais rápido do que se a

gente desse o conteúdo partindo do nada, sem saber.

Page 152: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

150

Analisando o posicionamento dos professores colaboradores, com ênfase nos grifos da

pesquisadora, na fala de PC5B (a primeira a se pronunciar) ficou evidente a necessidade da

formação continuada sobre os conceitos estatísticos que está sendo proposta nesta pesquisa.

Mostrou ainda a relevância dessa formação ser realizada no ambiente escolar e baseada na

prática do professor, na realidade dele.

Nesta mesma linha de raciocínio, o GP reiterou a necessidade do trabalho com a

Estatística, deixando registrado ter sido algo não vivenciado em sua formação inicial e

refletindo sobre a prática e a qualidade da formação continuada realizada naquele momento de

discussão. Quando ele reconheceu a necessidade da formação em trabalho, e caracterizou

aquele encontro como formativo e reflexivo, percebe-se indícios de seu desenvolvimento

profissional, tanto estatístico, como pedagogicamente. Além disso, quando avaliou

positivamente a forma como os resultados foram apresentados, servindo para avaliar o que

fizeram e como fizeram, demonstrou o despertar do que não sabem e aprovou o formato da

formação realizada no ambiente escolar. Por fim, percebe-se características da aprendizagem

colaborativa, quando ele entendeu não ser um problema o fato de mostrar suas dificuldades

perante os demais.

Na sequência, PC4A também reconhece as falhas nas formações inicial e continuada,

dialogando com os professores colaboradores que já haviam falado e reconhecendo que é

preciso corrigir essas lacunas formativas com o objetivo de propor uma prática diferente e

melhor. Com esse posicionamento, é possível perceber que PC4A entendeu, exatamente, o

que a pesquisa estava querendo proporcionar a todos da Escola B, ao refletir sobre a prática, a

partir de elementos dela. Essa reflexão evidencia a realidade escolar e demonstra

desenvolvimento profissional da professora. Esse movimento de reflexão também aconteceu

por parte da pesquisadora, pois como disse PC4A pensar no que se sabe, no que não se sabe, e

no que precisa melhorar é necessário e traz melhoria para a prática docente, nesse caso, como

formadora de professores.

PC5A demonstrou interesse em analisar mais detalhadamente os instrumentos dos

alunos da sua turma por ter avaliado interessante observar o desenvolvimento dos seus alunos

a partir das respostas dadas por eles no instrumento diagnóstico, apesar disso não se constituir

propósito da pesquisa. É importante registrar que, devido ao fator tempo, não foi

disponibilizado neste dia do encontro os instrumentos de todos os alunos que participaram do

diagnóstico inicial. Para contemplar alunos de todos os professores colaboradores foi

Page 153: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

151

selecionada uma amostra de cada turma, como demonstrado pelas figuras desta seção, para a

partir dessa amostra refletir sobre as respostas dadas, daí o interesse de PC5A.

Por fim, PC5C corroborou com as falas anteriores e avaliou como positiva a dinâmica

de partir do que já se sabia para pensar na formação que viria após aquele momento de

apresentação dos resultados. Concluídas as falas, é possível afirmar que esses professores

colaboradores não olharão Matemática e Estatística como antes e isso é fruto da maneira

como os encontros foram mediados em que os colaboradores não eram meros ouvintes. O

diálogo inicial que antecedeu o início dos encontros, a aplicação dos instrumentos e esse

momento de reflexão foi dando um formato diferente nas ações, nas intervenções, nas

relações interpessoais e na prática docente de todos os envolvidos, concretizando o foco maior

desta pesquisa, realizar uma formação continuada em serviço na perspectiva do

desenvolvimento profissional.

Além disso, a pesquisadora conseguiu perceber com clareza a diferença entre as

reflexões realizadas pelos professores-colaboradores e aquelas feitas pelos professores que

participam das formações planejadas pelos assessores da SME. O sentimento de

pertencimento a situação posta é muito mais intenso, o envolvimento é mais significativo e os

elementos discutidos fazem parte da realidade do público envolvido. Nesse sentido, pode ser

até que eles não venham a apreender todos os conceitos estatísticos, mas o fato de reconhecer

que sempre têm o que aprender e podem aprender juntos e fazer melhor, isso é muito positivo.

Diante do exposto, o primeiro objetivo específico – investigar os conhecimentos dos

professores sobre os conceitos estatísticos – foi atingido e na próxima seção a formação

continuada em serviço será relatada por encontro formativo.

6.2 Formação continuada em serviço com pesquisadores e professores-colaboradores

da Escola B

Apresentados os resultados e diagnosticado o nível de conhecimento sobre conceitos

estatísticos dos professores-colaboradores desta pesquisa, iniciou-se o processo de formação

inicialmente planejado, apesar de considerar que mesmo durante o período de cossituação,

relativo à pesquisa colaborativa, o processo formativo e a aprendizagem colaborativa já se

fizeram presentes. Em busca de alcançar o segundo objetivo específico – realizar formação

continuada em serviço e colaborativa dentro do ambiente escolar –, nesta seção foram

relatados e analisados todos os encontros formativos realizados na Escola B.

Page 154: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

152

Para tanto, baseando-se no que os professores-colaboradores ainda desconheciam

sobre os conceitos estatísticos explorados nos instrumentos diagnósticos (conceito de Moda e

Mediana, elementos de uma tabela estatística e construção de gráficos de colunas), e na

prática deles, foi realizada uma formação in loco. O processo formativo se iniciou com a

apresentação da plataforma OBAMA, relatada na subseção a seguir.

6.2.1 Apresentação da plataforma OBAMA

Após o estágio de cossituação, momento de sensibilização dos atores da Escola e de

definição do que efetivamente seria vivenciado na pesquisa, de acordo com as demandas dos

professores participantes, iniciou-se o estágio da cooperação que corresponde ao processo de

reflexão acerca das questões de pesquisa e, portanto, presente durante todo o período de

colaboração entre pesquisadora e Escola. É importante registrar que os professores não

discutiram sobre os dados coletados durante a pesquisa, mas ajudaram a criá-los a partir da

reflexão sobre os temas abordados na formação, objeto de estudo desta dissertação.

Entre a aplicação dos instrumentos diagnósticos (28/05/2019) e a apresentação dos

dados coletados (25/07/2019) foi realizada uma oficina para apresentar a Plataforma OBAMA

aos participantes da pesquisa (13/06/2019). O objetivo desse encontro foi fazer com que os

professores-colaboradores aprendessem como ter acesso aos objetos de aprendizagens (OA)

presentes na plataforma, assim como utilizar a funcionalidade do plano de aula colaborativo, a

fim de instrumentalizá-los para o momento de elaboração da sequência de ensino.

Na apresentação da plataforma estavam presentes o gestor pedagógico (GP) da

Escola, os professores-colaboradores (PC4A, PC5A e PC5B) e dois estudantes de iniciação

científica da Equipe OBAMA. A docente PC5C não esteve presente porque se encontrava

com problemas de saúde, mas, posteriormente, houve a apresentação da Plataforma para a

mesma. Na ocasião mostraram-se os recursos e funcionalidades da OBAMA e em seguida

todos os professores-colaboradores tiveram a oportunidade de interagir para melhor conhecer

e tirar possíveis dúvidas.

O encontro foi iniciado com a seguinte questão - O coordenador pedagógico da

escola chega até você e diz: Que tal planejar uma aula explorando o celular ou

computador na aula de Matemática? O que você estaria apto(a) a propor? Após o

questionamento, começaram os posicionamentos dos presentes:

Page 155: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

153

PC5A: Tamo junto. Eu penso que é uma ferramenta, uma ferramenta como outra

qualquer, a questão é, o uso, a abordagem no momento e o uso que a gente tá

fazendo ali. Há um tempo atrás [o celular] só servia para atender e ligar. Hoje em

dia, é um computador. Agora, temos o mundo em nossas mãos. Então, às vezes, a

gente reclama, mas a gente reclama porque não consegue fazer uma aula usando,

sabe? Mas... a gente tem uma imensidão de coisas que a gente pode utilizar, e às

vezes por falta de criatividade, nos impede de fazer.

Nesse momento o professor lembrou de uma professora que teve durante a graduação,

em que a mesma ao ver um monte de lixo, não o considerava apenas como algo descartado e

inútil, mas sim como um amontoado de recursos pedagógicos. Então, segundo o professor-

colaborador a questão está em como se olha e enxerga determinado recurso.

A fala do professor faz lembrar Almeida e Valente (2011) quando afirmam que a

tecnologia digital aparece como uma possibilidade com grande potencial para o meio

educacional. Porém, apesar de ser pertinente acreditar que recursos tecnológicos como

celular, tablet e computadores estão acessíveis cada vez mais em nossa sociedade, faz-se

necessário pensar no devido uso pedagógico, pois esse ainda não se apresenta a contento. As

demais docentes também se posicionaram, quanto ao questionamento feito:

PC4A: Pela caridade, como assim? [risos] No momento, não consigo imaginar,

mas…, como posso dizer…, estou aberta para aprender.

A docente PC4A foi a que menos percebeu a possibilidade de fazer uso do celular na

sala de aula, como se pode comprovar com a sua resposta. Ela não conseguiu vislumbrar

nenhuma forma de utilização desse recurso naquele momento. Mas, se mostrou interessada

em aprender durante o desenvolvimento da pesquisa na escola. A resposta da professora

dialoga com Imbernón (2010) quando afirma que a formação continuada é entendida como

parte do desenvolvimento profissional que acontece ao longo da atuação docente, podendo

possibilitar um novo sentido à prática pedagógica, contextualizar novas circunstâncias e

ressignificar a atuação do professor. Algo parecido ocorreu com PC5B que, apesar de não ter

dado uma resposta direta ao que havia sido questionado, foi logo afirmando ser possível,

quando respondeu assim:

PC5B: Ah! Eu acho que pode ser utilizado sim…, dependendo do momento e como

ele será abordado…

Percebe-se pelas respostas que os docentes estão dispostos a aceitar as sugestões de

Page 156: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

154

recursos didáticos e abertos a novas experiência pedagógicas, o que na visão da pesquisadora

é um fator relevante e se apresenta como uma das principais característica do processo de

formação continuada.

O encontro para a apresentação da Plataforma OBAMA terminou com os participantes

fazendo a avaliação do que havia sido vivenciado durante aquela manhã.

GP: Eu tô empolgadíssimo e fiquei maravilhado com a plataforma, já tive aqui

milhões de ideias. A gente sabe é... que diante dos desafios com nossos alunos, a

gente sabe que a turma de PC4A é uma das turmas mais difíceis em termos de

comportamento, não é porque…, enfim, é porque eles precisam de outras coisas.

Então, chegou essa outra coisa PC4A e eu… tô ... porque eu vou trabalhar contigo,

adorei a fala dela. Então, assim, é algo que a escola tava precisando desse..., dessas

oportunidades e as oportunidades apareceram, temos quatro novas possibilidades

para trabalhar agora e a tecnologia é uma delas...

O GP faz referência à fala da professora quando ela disse estar aberta a aprender e,

além disso, na fala dele aparece o desejo e a disponibilidade para colaborar com a docente na

inserção de novas possibilidades em relação a metodologias, ou recursos pedagógicos. Dessa

forma, a atitude do GP caminha lado a lado com o pensamento de Ferreira (2006) ao afirmar

que na colaboração existe um desejo apresentado de forma voluntária, desejando contribuir e

aprender com os demais participantes do grupo, em torno de um interesse comum.

Continuando a avaliação, mais uma colaboradora diz:

PC5B: Eu gostei demais. Assim como o GP eu fiquei maravilhada com a

plataforma, é mais uma ferramenta para utilizar em sala de aula. Então assim, é…

Eu acho que eu estou mais feliz agora do que no dia que eu aceitei fazer parte

porque quando a gente aceitou, tinha só uma ideia, não dava pra ter ideia do todo. E

como eu já estava fazendo uso também de whatsApp, vídeo, essas coisas, só que é

meio sem direcionamento, né? Porque eu ainda estou no processo de aprendizagem,

aí tem coisa que passa despercebido. Então, …, é algo que vai só somar àquilo que a

gente já faz, na verdade no que a gente já trabalha.

O comentário de PC5B permite perceber a relação que a mesma faz daquele momento

vivido com a sua prática docente. Apesar desse comentário ter ocorrido em um dos primeiros

encontros de todo o processo vivenciado entre pesquisadora e professores-colaboradores, a

fala da professora já mostra indícios da proposta a qual esta pesquisa se propõe que é realizar

uma formação que proporcione subsídios teóricos e práticos para os professores envolvidos,

ampliando as possibilidades do docente a partir de um modelo de formação continuada e em

serviço. A próxima a se pronunciar sobre como tinha sido conhecer a Plataforma OBAMA foi

PC4A reiterando o interesse em aprender junto com o grupo colaborativo quando afirmou:

Page 157: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

155

PC4A: Assim…, eu..., eu acho que eu sou de uma idade mais avançada, aí, por isso,

eu vou devagar nas coisas, mas sempre com vontade e aberta para aprender. Meus

alunos precisam de novas propostas como essa, hoje não deu para aprender tudo,

mas eu quero me familiarizar e, e, …, utilizar sim em sala de aula, porque vai nos

ajudar.

Pela fala da professora-colaboradora percebe-se que, mesmo ela estando receosa, está

aberta e pretende aprender junto com o grupo. Dessa forma, observa-se o diálogo entre o

desenvolvimento profissional, a aprendizagem colaborativa e a formação continuada em

serviço realizada no ambiente escolar e proposta nesta pesquisa. O último a falar sobre o

encontro foi PC5A, que se pronunciou de forma positiva, mas se deteve a deixar registrado

que já possuía o conhecimento de alguns recursos digitais, porém afirmou ser interessante

conhecer uma Plataforma que oferece vários recursos.

PC5A: Achei interessante a variedade de OA, já conhecia alguns recursos digitais,

mas foi muito bom conhecer um local onde se pode buscar recursos.

Analisando e refletindo sobre a avaliação feita pelos docentes após esse encontro, é

possível perceber três aspectos que os abrangem de forma geral: primeiro, que os professores

estão abertos a novas aprendizagens, apesar da rotina dinâmica que tem um professor. O

segundo aspecto vem da relação com o pensamento de Almeida e Valente (2011), quando eles

afirmam que a relação entre tecnologia digital e pessoas mudou, contudo, ainda são poucas as

transformações na prática docente e, por fim, a considerada principal pela pesquisadora, que é

a abertura dos participantes para novas aprendizagens a partir de uma formação continuada,

na escola, pautada na prática e cultura docente.

Por falta de computadores com acesso à internet, não foi possível que os professores-

colaboradores acessassem a plataforma. Porém, foram dadas todas as instruções sobre como

fazer pesquisa e como se cadastrar na OBAMA. Apesar das condições do laboratório de

informática não ter permitido o acesso previsto, o encontro foi concluído e atingiu o seu

objetivo, que era o de apresentar a plataforma OBAMA.

Após conclusão do encontro formativo, PC4A fez uma reflexão sobre a preocupação

dela em relação ao uso das ferramentas tecnológicas digitais substituírem o contato entre as

pessoas, comprometendo a relação de aproximação, ou até tornando-a inexistente. O

posicionamento de PC4A faz lembrar Nóvoa (1992) quando afirma que o desenvolvimento

profissional vai além das questões conteudistas, isso significa considerar o professor como um

todo, em seus aspectos cognitivos, afetivos e relacionais (professor - aluno) e Altenfelder

Page 158: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

156

(2005), quando afirma ser necessário um investimento nas relações interpessoais de toda a

equipe escolar. Este investimento nas relações interpessoais vai ajudar ao professor perceber a

relevância do seu papel como educador, assim como a importância da tecnologia digital na

atualidade.

A reflexão feita por PC4A não ocorreu no momento do encontro, como informado

acima. Mesmo depois de a formação ter sido concluída, em termos de horário, esta discussão

aconteceu nos corredores. A professora PC4A falou e envolveu os demais e a pesquisadora

aproveitou para fazer o registro em seu diário de campo. Isso mostra que o desenvolvimento

profissional estava acontecendo e um momento fora do horário "pré-agendado" proporcionou

reflexão colaborativa. O GP, presente neste momento, fez um comentário em relação à

colocação de PC4A. Ele disse que entendia a preocupação da professora, mas também não era

possível negar que a inserção da tecnologia digital nos dias de hoje é ―um caminho sem

volta‖. Disse ainda que, como havia sido discutido no encontro, o grande desafio é a

mediação pedagógica dos ―imigrantes digitais‖ para com os ―nativos digitais‖ (PRENSKY,

2001). Após lembrar das expressões citadas, ele sorriu dizendo que havia aprendido novos

termos, naquele dia.

A pauta do encontro seguinte seria a discussão do texto sobre o ciclo investigativo

(PPDAC), sendo o mesmo disponibilizado previamente via grupo de WhatsApp. A descrição e

reflexão da pesquisadora sobre este encontro está na próxima subseção deste capítulo.

6.2.2 Estudando sobre o ciclo investigativo (PPDAC)

O encontro relatado nesta subseção estava programado para o dia 15/08/2019,

conforme agendamento de encontros formativos com o GP da Escola B. A ideia inicial era

fazer um encontro mensal de modo a realizar a pesquisa sem interferência na rotina da Escola.

Os relatos nas próximas subseções mostram que não foi possível fazer exatamente como o

planejado inicialmente. Foram necessários mais encontros do que o previsto, mas a

preocupação em não atrapalhar o dia a dia da Escola permaneceu até a conclusão do trabalho.

Esta preocupação, inclusive, é característica da pesquisa colaborativa, qualitativa e

principalmente do modelo de formação proposto neste trabalho.

Neste dia 15/08/2019, o agendamento foi para estudo e discussão do texto - Princípios

para construção de sequências de ensino na perspectiva investigativa – escrito pelas autoras

Eurivalda Santana e Irene Cazorla, as quais serão denominadas durante esta escrita de Santana

Page 159: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

157

e Cazorla, respectivamente. Durante a semana de 12 a 15 de agosto do mesmo ano, aconteceu

o Workshop Desenvolvimento Profissional de professores que Ensinam Matemática19

, uma

atividade do D-Estat ocorrido no Instituto Metrópole Digital (IMD) da UFRN, instituição a

qual a pesquisadora é mestranda. Por ocasião do Workshop, pesquisadores de outros estados

brasileiros que compõem uma pesquisa maior, a do D-Estat, estiveram em Natal/RN para

participar do evento, inclusive as autoras do texto.

Aproveitando o acontecimento desse evento, o encontro do dia 15 foi realizado com a

participação das autoras do texto. Todo o grupo que estava participando do Workshop foi para

a Escola B e lá se realizou, inicialmente, uma reunião para conhecimento e interação das

equipes (Escola e visitantes) e em seguida, o encontro para estudo do texto como já estava

previsto. A figura 43 mostra os participantes do encontro descrito.

Figura 43 – Encontro formativo entre professores-colaboradores e universidades

que desenvolvem pesquisa sobre o D-Estat

Fonte: acervo da pesquisadora.

Sob o comando da professora Santana iniciou-se o primeiro momento com ela

perguntando sobre o porquê de apenas quatro professores professores-colaboradores mais o

GP estarem fazendo parte da pesquisa e não toda a equipe escolar. Na sequência, ela afirma

que a pesquisa não é para trazer coisas novas para escola e sim potencializar o que a escola já

faz de bom e pergunta o que os professores-colaboradores estão achando da pesquisa na

escola. Neste momento, o GP fez o seguinte registro:

19

https://www.sympla.com.br/workshop---desenvolvimento-profissional-de-professores-que-ensinam-

matematica_560773?token=6bbd1affd127d9cfa6c936e76b248e01#info

Page 160: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

158

GP: É importante essa aproximação das universidades com a escola, gostei da

comitiva que chegou aqui. É importante a aproximação escola - universidade e o

foco da pesquisa que é Estatística. Nós abraçamos a pesquisa porque acreditamos

que dá certo, que vai ser bom, positivo. Apesar de não trabalhar apenas para o IDEB,

nós precisamos aprender mais sobre Estatísticas. A pesquisa vem trazer algo novo

porque ainda não é muito claro para os professores a questão da Estatística, essa é a

grande contribuição desta pesquisa. Nós estamos tendo o privilégio de participar

dessa pesquisa. Eu sou pedagogo, eu preciso da formação dessa pesquisa também.

A fala do GP dialoga com Gatti, Barreto e André (2011) e Gatti et al (2019) quando

mostram dados de pesquisas realizadas no Brasil e em outros países sobre formação inicial e

formação continuada e conclui que os currículos não se voltam para as questões ligadas ao

campo da prática profissional e formas de trabalhar em sala de aula, continuando a privilegiar

os conhecimentos da área disciplinar em detrimento dos conhecimentos pedagógicos

propriamente ditos. Percebe-se pela colocação do GP que já se instalou um clima de confiança

no trabalho que está sendo desenvolvido, característica primordial em uma pesquisa com

elementos colaborativos.

A professora Santana parabenizou o GP pelo envolvimento na pesquisa e pela clareza

nas informações sobre o nível de aprendizagem dos alunos daquela escola, mas não deixou de

reiterar a importância da participação de todos – coordenadores, professores e gestores –

apesar do GP já ter explicado que o motivo de apenas quatro professores participarem é a

incompatibilidade de um dia comum para o encontro de formação, uma vez que os

professores têm a dinâmica de um dia de planejamento por semana, mas esse dia difere de um

ano de escolaridade para outro. Na sequência, uma das coordenadoras dos 4º e 5º anos da

escola pediu a fala para fazer o seguinte registro:

Coordenadora: eu estava de licença quando a pesquisa começou, tive apenas um

encontro com Carmélia. Acredito ser bastante favorável a pesquisa na escola. Tudo

que vem ajudar no processo de ensino e aprendizagem é válido. No último encontro,

eu percebi que têm conceitos que estão nas nossas caras e a gente não percebe e a

formação está ajudando a gente aprender (grifos da autora). Então, estamos aqui

para aprender (grifos da autora), ajudar a vocês e vocês ajudarem a gente mais do

que a gente ajuda a vocês.

Nesse momento o GP complementa:

GP: Vocês irão ajudar a gente no que nós erramos.

Sobre estas falas, duas observações são importantes. A primeira é o reconhecimento da

Page 161: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

159

coordenadora ao afirmar que a formação está ajudando a aprender (grifos da autora),

reconhecendo a importância da formação que estava sendo realizada, além da sua

disponibilidade em aprender (grifos da autora) e do sentimento de colaboração quando disse

que um grupo ajudará o outro durante o processo. Esse posicionamento da coordenadora faz

lembrar Clarke e Hollingsworth (2002) quando colocam que fatores externos como a presença

de pesquisadores e universidade no ambiente escolar, de fatores individuais como formação

acadêmica inicial, de experiência profissional e de formações continuadas realizadas ao longo

da vida do professor, podem contribuir para o seu desenvolvimento profissional. Percebe-se

que o caminho está sendo percorrido na direção correta e com aprovação dos participantes.

A segunda observação diz respeito a resposta dada pela professora Cazorla ao GP,

quando ele falou em ajuda para os erros cometidos pela escola:

Cazorla: Não é que vocês erraram, vocês têm uma coisa que nós não temos, o saber

escolar. E a gente não sabe de tudo, não, a gente sabe do que tem [além] nos muros

das universidades. Vocês nos ajudam a compreender como as coisas acontecem,

porque não adianta produzir sequências de ensino maravilhosas que não são

possíveis de serem aplicadas na escola pública.

A professora Cazorla, além de ter sido receptiva com os professores-colaboradores

deixando-os mais à vontade para atuarem ativamente da pesquisa, também lembrou Clarke e

Hollingsworth (2002) que descrevem o processo de desenvolvimento profissional do

professor, analisando-o em quatro diferentes domínios, sendo o primeiro deles o domínio

externo. Segundo as autoras, esse domínio externo é a fonte de informação, estímulo e suporte

à escola parceira e é distinto dos outros domínios por estar localizado fora do mundo pessoal

do professor. Essa troca de experiências e de ideias é fundamental para o desenvolvimento

profissional de todos os envolvidos e para a efetivação de uma pesquisa com elementos

colaborativos.

Para concluir aquele momento inicial, a professora Santana perguntou se o grupo tinha

lido o texto que seria trabalhado logo após aquela conversa. Mais uma vez o GP se

pronunciou dizendo:

GP: O texto nos proporcionou uma formação reflexiva sobre o nosso fazer

(grifos da autora), nesse tempo que a gente arrumou para ler o texto, tempo que a

princípio nós não tínhamos, mas a gente foi lendo e foi refletindo sobre o que

fazemos na escola.

Page 162: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

160

Interessante foi quando o GP chamou a leitura do texto de formação reflexiva sobre o

fazer escolar (grifos da autora). Mesmo antes do encontro para refletir sobre o texto, apenas se

baseando no momento de leitura que fez junto a coordenadora. Perceber como momento de

formação a leitura desse texto corrobora com as ideias de Pryjma & Winkeler (2014), quando

afirmam entender que o desenvolvimento profissional é assumido não só pelo docente, mas

também pelos gestores da instituição educacional e toda a comunidade escolar, pois perpassa

pelas condições de trabalho e pela cultura organizacional. Os posicionamentos do GP neste

diálogo entre professores-colaboradores e pesquisadores demonstrou o comportamento que o

mesmo teve durante a pesquisa, não medindo esforços para que todas as etapas acontecessem

com presteza. O primeiro ponto de pauta da manhã termina com a fala do professor Dennys,

orientador da pesquisadora, que também estava presente.

Dennys: Queremos agradecer ao GP a disponibilidade da escola desde do início.

Esse movimento de vir para a escola é importante. A ideia é compor um grupo

colaborativo entre escola e universidade, por isso, convidamos todos para participar

do workshop e esse momento vai fazer parte da programação oficial do evento.

A fala do professor Dennys dialoga com a da professora Cazorla no sentido de que

uma pesquisa realizada nesse formato, no local de trabalho dos professores-colaboradores,

traz ganhos para os dois lados, escola e universidades. Isso é reiterado por Nacarato et al.

(2006) ao afirmar que a constituição de um grupo colaborativo contribui para a aquisição de

uma identidade própria constituída pelos objetivos comuns, não provocando a perda dos

objetivos individuais, mantendo a singularidade e a identidade de todos. O grupo colaborativo

proporciona o desenvolvimento da confiança e, consequentemente, da aprendizagem

colaborativa, uma vez que a hierarquia não é um fator presente, tampouco determinante,

sendo este o caminho percorrido por esta pesquisa.

Concluído esse momento inicial foi feita uma pausa para o intervalo e em seguida o

grupo foi reunido mais uma vez para estudo e reflexão do texto - Princípios para construção

de sequências de ensino na perspectiva investigativa. Para conduzir a discussão, as

professoras Cazorla e Santana mediaram a execução de um ciclo investigativo (PPDAC)

completo a partir do tema alimentação saudável. A professora Santana iniciou o encontro

falando sobre vários aspectos relacionados ao tema, entre eles, a relação do consumo de

açúcar e a produção insuficiente de insulina, mostrando dados oficiais sobre o número de

pessoas com problemas de saúde provenientes dos maus hábitos alimentares.

Page 163: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

161

Neste encontro de formação estavam presentes três grupos (Figura 45): o da escola

parceira na pesquisa, os pesquisadores da UFRN, aos quais a professora Cazorla denominou

de Obameiros, e os pesquisadores das universidades de outros estados brasileiros presentes

em Natal devido ao Workshop já citado no texto. Todos participaram ativamente,

principalmente após a fala introdutória da professora Santana, momento em que começou a

simulação de um ciclo investigativo, uma técnica de resolução de problemas estatísticos.

Figura 44 – Estudo do texto sobre o PPDAC

Fonte: acervo da pesquisadora

Como a primeira fase do PPDAC requer a definição de uma problemática, para

construir uma pergunta de investigação a professora Cazorla quis saber sobre o hábito

alimentar dos professores presentes. Antes de responder, todos foram colocados a pensar

sobre seus atuais hábitos alimentares, se costumam comer mais alimentos naturais ou

industrializados e também sobre quais os alimentos produzidos pela Terra. Na sequência, foi

necessário elaborar de forma sistematizada o instrumento necessário para obter as

informações que se deseja e isso fez parte da segunda fase do ciclo investigativos, que é a fase

do planejamento.

Devido ao curto espaço de tempo que se tinha para executar um ciclo investigativo

completo, as questões a serem respondidas, após elaboradas de forma coletiva, foram

registradas no quadro branco utilizado pela professora Cazorla durante a condução do

encontro. A elaboração colaborativa das questões condiz com a proposta de formação, a qual

se destina esta dissertação, por tratar os professores-colaboradores como sujeitos ativos e não

como meros ouvintes. A figura 45 mostra um pouco desse momento de interação entre Escola

e Universidades.

Page 164: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

162

Figura 45 – Ciclo investigativo mediado pela professora Cazorla

Fonte: acervo da pesquisadora.

Todos responderam as questões: ―qual a frequência com que você consome alimentos

saudáveis/naturais?‖ e ―qual a frequência com que você consome alimentos industrializados?‖

Em ambos os casos, os presentes tinham as seguintes opções de respostas: nunca, às vezes,

regularmente ou sempre. Além de mediar a coleta de dados, a professora ainda informou se

tratar de uma variável classificada como ordinal. Cada participante do encontro foi

respondendo às duas questões e duas pessoas (GP e uma das professoras visitantes) foram

selecionadas para anotar as opções escolhidas. Para cada questão, uma dessas pessoas anotava

todas as respostas dadas.

Após todos responderem, a professora Cazorla afirmou que poderia ter feito aquele

levantamento de dados utilizando outras estratégias, como por exemplo, lendo cada

alternativa e pedindo que os professores levantassem a mão para contabilizar o total de cada

uma das respostas ou, segundo ela, a forma mais segura pra não ―perder‖ o dado seria colocar

cada um para registrar as suas respostas. Fazer referência às várias formas de coletar os dados

foi importante para o conhecimento dos professores colaboradores e isso ficou evidenciado,

posteriormente, quando, ao acompanhar as aulas de PC5C, a pesquisadora presenciou a

professora diversificando a forma de coletar os dados e, inclusive, chamando a atenção dos

alunos para que eles percebessem que ela tinha feito de um modo diferente nas aulas

anteriores.

Em relação à professora Cazorla, ela sentiu a necessidade de fazer a observação sobre

as variadas formas de coletar dados por dois motivos: primeiro, para informar que existem

maneiras diferentes de se fazer coleta de dados e depois porque no momento de contabilizar

os votos, uma questão teve mais votos do que a outra, o que não poderia ter acontecido, pois

todos responderam às duas perguntas. Neste caso, como ninguém deixou de responder, o que

deve ter acontecido foi a ausência de registro de alguns dos participantes. Para solucionar a

Page 165: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

163

situação, uma nova rodada de respostas foi realizada e, dessa vez, foi feito por alternativas, as

quais os participantes levantavam as mãos para cada um dos itens chamados pela professora

Cazorla, sem poder optar por dois itens para a mesma questão, como aconteceu na primeira

vez.

Enquanto os presentes votavam, aqueles que estavam registrando as respostas iam

conferindo o registro anterior para localizar onde tinha sido o erro, até que se verificou quais

respostas não haviam sido contabilizadas. A pesquisadora avaliou esse momento de

recontagem do total de respostas para cada item como sendo de suma importância porque a

partir dele foi possível demonstrar como é relevante o cuidado com a coleta dos dados. Se a

população pesquisada naquele momento fosse maior, todos os alunos da Rede Municipal do

Natal, por exemplo, ou se os dados tivessem sido contabilizados após o encerramento do

encontro, não teria como rever a situação.

É importante registrar que esses exemplos alertaram PC5C no momento de coleta de

dados em sua sala de aula. Em um determinado momento, quando ela orientou os alunos para

levantarem a mão na hora de votar sobre a disciplina preferida por eles, ela logo foi

explicando que só podia levantar a mão uma única vez, caso contrário, o total de alunos não

iria condizer com o número de votos. Interessante foi quando ocorreu de não coincidir os

valores, votos e alunos, e ela soube como explicar aos discentes o que havia acontecido e

como proceder para mediar e corrigir a situação.

Retomando à aula da professora Cazorla, terminada a coleta de dados, iniciou-se a fase

de análise em que os dados brutos são tratados e apresentados em forma de tabelas e gráficos

para demonstrar a execução da pesquisa. Nesse momento, a professora Cazorla utilizou

alguns termos estatísticos que foram questionados pelos participantes, em especial, os

professores-colaboradores da escola parceira:

GP: A senhora falou em variável conceitual, quando estávamos elaborando as

questões de pesquisa e aí eu fiquei esperando pra saber de que se tratava, mas eu não

consegui entender o que é. É possível a senhora explicar?

A professora Cazorla de prontidão disse que poderia responder e ainda frisou que se

mais alguém tivesse ficado com alguma dúvida poderia perguntar após a resposta sobre

variável conceitual.

Page 166: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

164

Cazorla: Variável conceitual é quando a pessoa informa, o sujeito quem vai nos

informar e corre o risco de constranger quem está perguntando e a pessoa não

responder de forma verdadeira o que está sendo perguntado. Tem também a variável

científica, por exemplo: Quantos celulares eu tenho em cima da mesa? Eu conto.

Qual a largura da mesa? Eu meço. Quanto que eu peso? Eu uso um instrumento de

medida.

A explicação da professora Cazorla foi clara e objetiva, os exemplos dados para

diferenciar um tipo de variável da outra foi essencial para o entendimento de todos. Além

desse questionamento, outros foram feitos pelos professores-colaboradores e respondidos pela

professora, o que mais uma vez demonstra a abertura dos professores em aprender quando

perguntam e a aprendizagem colaborativa vivenciada naquele momento a partir da troca de

conhecimento.

Apesar da pesquisadora já ter falado sobre alguns termos estatísticos no dia da

apresentação dos resultados dos instrumentos diagnósticos, relatado anteriormente, o encontro

planejado para tratar sobre os conceitos estatísticos ainda não tinha acontecido neste dia do

estudo sobre o PPDAC, estando previsto para o mês seguinte, setembro/2019. Esse fato

justifica os questionamentos feitos pelos professores-colaboradores, assim como demonstra

que explicar e exemplificar determinados conceitos ainda não foi suficiente para a

consolidação da aprendizagem por parte dos professores envolvidos na pesquisa.

Essa não consolidação é natural porque a aprendizagem é um processo e não seria um

único encontro de apresentação do diagnóstico inicial que iria ser suficiente para aprender

todos os conceitos estatísticos que, como os próprios professores-colaboradores relataram,

eram conceitos até então não conhecidos seja na formação inicial ou continuada. O mais

importante nos questionamentos feitos durante este encontro foi perceber a participação dos

docentes como sujeitos ativos e a interação entre escola e universidade gerando

aprendizagens, comprovando o modelo de formação não tradicional como se propôs esta

pesquisa.

Terminada a fase das análises, chega o momento de concluir a pesquisa. Pelos dados

coletados, no pequeno intervalo de tempo, concluiu-se que o grupo estava bem dividido

quanto a forma de se alimentar. Porém, a maioria demonstrou tentar balancear o tipo de

alimento que consome, apesar de ter tido casos extremos no sentido de alimentar-se sempre

ou nunca de forma saudável. Quando se estava discutindo sobre os resultados da pesquisa

realizada, a professora Santana lembrou que, quando for realizar um ciclo investigativo com

os alunos, faz-se necessário a construção de uma produção textual para finalizar o trabalho.

Page 167: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

165

Ao final do encontro, ela perguntou se todos tinham entendido a proposta do texto, se teriam

mais alguma dúvida para perguntar e como avaliaram o encontro. O gestor pedagógico disse:

GP: Eu entendi todo o texto, todo o processo que vocês trabalharam hoje aqui e tal,

mas…eu percebo que, eu não tive formação para trabalhar esses conceitos que foram

postos hoje. Eu peguei seis conceitos aqui como a questão das variáveis, da

calibração, da escala, da categoria, da moda, da Fonte e nós, enquanto pedagogo,

não recebemos formação para isso.

Antes de apresentar a resposta dada ao GP, é importante lembrar que essa fala

dialoga com autores como Curi (2005), Nacarato, Mengali e Passos (2009) quando afirmam

que as lacunas também são de cunho conteudista e com Nóvoa (1991) quando defende que a

formação continuada precisa ser planejada a partir da necessidade do professor e da realidade

em que atua, pensando nos desafios do seu contexto, mas também em seu desenvolvimento

profissional. É nessa linha de pensamento desses autores apresentados durante a

fundamentação teórica que esta dissertação caminha, valorizando a necessidade do grupo de

professores-colaboradores de modo a proporcionar uma formação a partir deles e para eles.

Para o questionamento feito, a resposta foi a seguinte:

Santana: Então, isso que o GP falou é necessário para trabalhar com ciclo

investigativo. Amei as colocações de GP, porque eu observei essas fragilidades,

quando vocês estavam fazendo o que foi solicitado durante o dia de hoje. Eu vejo

aqui que temos muito o que trabalhar. E nós não vamos parar para aprender para

depois ir para a sala de aula, nós vamos aprender no processo. E não é só o trabalho

com a Estatística, o trabalho pede outras unidades temáticas, porque inclui operações

básicas, resolução de problemas, outros componentes curriculares como Ciência,

Geografia, Língua Portuguesa,... Mas, eu não posso parar no problema, eu vou

aprender no processo. Vou elencando minhas dúvidas, vou pensando na minha

questão de pesquisa, vou pedindo ajuda, aprendendo junto com o grupo. Para

responder à pergunta posta, eu não tenho de usar o que eu já sei, eu preciso usar o

que será coletado nos dados.

Na resposta da professora Santana, evidencia-se a dinâmica do modelo de formação

proposto durante esta pesquisa em que o desenvolvimento profissional dos envolvidos

acontece no processo e a partir das demandas surgidas, proporcionando aprendizagem de

forma colaborativa, sendo possível destacar três pontos importantes. Primeiro foi o fato de ela

dizer que não se vai parar para aprender e só depois ir para a sala de aula, aprende-se no

processo, fazendo, e esse é um dos desafios de se trabalhar com formação continuada de

professores. É necessário mediar o processo de aprendizagem e de desenvolvimento

profissional desse professor, enquanto ele faz a mediação do processo de aprendizagem do

Page 168: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

166

seu aluno, concomitantemente. O segundo ponto a ser destacado se refere à

interdisciplinaridade, que ela falou quando se trabalha com Estatística, fato que é evidente na

habilidade de número 27 do 4º ano indicada pela BNCC:

EF04MA27: analisar dados apresentados em tabelas simples ou de dupla entrada e

em gráficos de colunas ou pictóricos, com base em informações das diferentes áreas

do conhecimento, e produzir texto com a síntese de sua análise. (BRASIL, 2017)

Trabalhar de forma interdisciplinar, a partir de situações significativas para o público

alvo e analisar dados estatísticos, contribui para o letramento estatístico dos professores e,

consequentemente, dá subsídios para ele fazer o mesmo com a sua turma de alunos,

colocando em prática a aprendizagem colaborativa realizada por meio de um grupo

colaborativo.

Por fim, o terceiro ponto a ser destacado é o fato de a professora Santana ter frisado

que para responder à questão de pesquisa, o sujeito não pode se basear no que já se sabe, e

sim, nos dados coletados. Essa fala dela dialoga com o que aconteceu com dois dos

professores-colaboradores quando foram responder o instrumento diagnóstico,

fundamentando as respostas no senso comum, como foi posto na seção anterior.

Na sequência, três professoras colaboradoras se pronunciaram. PC5C quis apenas

registar o desejo de trabalhar com o tema alimentação saudável, e isso de fato aconteceu e

será relatado mais adiante, decisão que deve ter sido influenciada pelo tema trabalhado neste

encontro. PC5B deixou claro que tinha muita dificuldade para construir gráficos, disse não

conseguir de forma alguma e a coordenadora fez uma fala mais abrangente:

Coordenadora: Eu gostaria de parabenizar a professora (Cazorla) quando ela falou

de sair dos muros das universidades, isso é muito importante. Agradecer a

pesquisadora por ser tão acessível. Parabenizar pela forma como foi conduzido o

encontro, não foi enfadonho. Estava preocupada, de verdade, de como seria esse

encontro, mas, foi muito bom.

Pela fala da coordenadora, percebe-se o clima de satisfação com o encontro, o que é

um aspecto positivo, porque ela, como responsável pela formação que acontece na escola com

os professores, juntamente ao GP, ter essa visão ao final do encontro é bom para o andamento

da pesquisa e para a efetivação do modelo de formação proposto. Além disso, demonstra

indícios do seu desenvolvimento profissional, quando a mesma faz uma reflexão sobre a

forma como se conduziu a formação daquele dia. Na fala da coordenadora também se

Page 169: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

167

evidenciou a confiança na pesquisadora, fato importante de ser considerado por se tratar de

uma pesquisa com elementos de uma pesquisa colaborativa. Esse fato corrobora com alguns

autores (BOAVIDA; PONTE, 2002; HARGREAVES, 1999; PONTE; SERRAZINA, 2003),

quando descrevem que a concretização da colaboração ocorre mediante alto grau de

negociação, confiança, diálogo, empatia e interações não hierarquizadas.

Diante do exposto, o dia de formação foi concluído com a certeza de que o objetivo

do encontro tinha sido alcançado com sucesso. A próxima subseção traz o relato do encontro

seguinte que teve como pauta trabalhar os conceitos estatísticos com os professores-

colaboradores.

6.2.3 Trabalhando conceitos estatísticos

O encontro do mês de setembro tinha como pauta o estudo sobre conceitos estatísticos

e o início do planejamento da sequência de ensino a ser executado em sala de aula. Porém,

devido ao prolongamento das discussões sobre esses conceitos, não foi possível iniciar esse

planejamento, ficando assim para um encontro posterior, relatado na subseção seguinte. Essa

decisão demonstra mais uma característica do novo modelo formativo trabalhado durante a

pesquisa em que o desenvolvimento do processo ocorre conforme a evolução do grupo.

Para contribuir com a consolidação dos conceitos trabalhados e subsidiar a elaboração

da sequência de ensino foram enviados, via grupo de WhatsApp, três arquivos para os

professores-colaboradores: os slides elaborados pela pesquisadora e utilizados durante o

encontro, orientações para a escolha e tratamento das variáveis e uma sequência de ensino

sobre cartão de vacinação. Os dois últimos arquivos fazem parte do acervo do D-Estat.

Neste dia estiveram presentes a pesquisadora, o GP, PC4A, PC5A, PC5B, PC5C e as

duas coordenadoras do turno matutino, inseridas no grupo de WhatsApp, naquele dia. Para

reiterar o trabalho com pesquisas estatísticas realizadas a partir de um ciclo investigativo,

como havia ocorrido no encontro passado, a pesquisadora optou por utilizar essa metodologia

com um tema atual para aquele público presente no encontro. Como eles estavam organizando

um passeio em comemoração ao dia do professor e o do funcionário público que se

comemoram nos dias 15 e 28 de outubro, respectivamente, foi feito uso dessa situação para

pensar nas cinco etapas do PPDAC.

Page 170: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

168

Figura 46 – Encontro formativo sobre conceitos estatísticos

Fonte: acervo da pesquisadora

Para começar, o tema definido foi o passeio em comemoração ao dia do professor e do

funcionário público e o problema que se tinha era definir quantas pessoas iriam para esse

passeio, informação essa necessária para a definição de outras providências. É importante

registrar que, assim como foi feito com os professores-colaboradores, o tema do PPDAC com

os alunos deve emergir deles, ou ter engajamento dos mesmos. Após a definição do tema,

começou-se então a construção coletiva do instrumento que seria utilizado para coletar os

dados, a fase do planejamento. Como todos os presentes participaram do encontro anterior, já

possuíam a ideia de que precisavam pensar nas perguntas que seriam feitas aos professores,

coordenadores e gestores, e em suas respectivas respostas, o que já demonstrou apropriação

conceitual. Assim, cada um começou a sugerir as questões.

GP: Você vai ao passeio? Sim ou Não

PC5B: Você vai levar acompanhante? Sim ou Não?

PC5C: Quantos acompanhantes você vai levar?

PC4A: Os acompanhantes serão adultos ou crianças?

Quando os professores-colaboradores elaboraram as questões, a pesquisadora

perguntou se eram questões abertas ou fechadas. As respostas não apresentaram convicção,

alguns apostaram dizer “aberta”, outros “fechada”, mas não houve uma explicação que

demonstrasse apropriação dos conceitos, ainda. Por essa razão, a pesquisadora apresentou

uma explicação sobre a diferença entre os dois tipos de questões:

Pesquisadora: Três delas são questões classificadas com fechadas (apresenta

opções de respostas) e somente uma é aberta (o respondente fica livre para responder

o que desejar). Se a quantidade de acompanhantes fosse limitada, essa pergunta

também seria fechada apresentando como alternativas as quantidades possíveis de

serem respondidas.

Page 171: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

169

Além do meio de comunicação ampliado, com o uso do WhatsApp foi disponibilizado

material didático em formato digital. Dessa forma, para garantir o entendimento dos

participantes e não deixar dúvidas sobre a diferença entre os tipos de questão, além do

exemplo realizado na prática, a apresentação de slides utilizada serviu de recurso para

oferecer outros exemplos, conforme figura 47.

Figura 47 – Tipos de instrumentos para coleta de dados

Fonte: acervo da pesquisadora

Pela figura observa-se que o instrumento pode ser totalmente aberto, ou fechado, ou

ainda ter questões dos dois tipos, como foi o caso da pesquisa vivenciada durante o encontro

de formação com os professores-colaboradores. Além dos exemplos dados, a pesquisadora

instigou um diálogo para poder ouvir dos professores-colaboradores como estavam

compreendendo a situação posta.

Pesquisadora: Qual a vantagem ou desvantagem de ser aberto ou fechado?

PC5C: O fechado facilita na hora de fazer a tabela e o gráfico.

Pesquisadora: Por que facilita?

PC5C: Porque não tem tantas opções de respostas.

Pesquisadora: Certo. Muito bem! Porém, o fechado pode burlar o resultado real. Eu

posso escolher outra resposta por não ter a que eu gostaria de responder, é o caso do

animal preferido que está no slide, por exemplo.

PC5C: Verdade..., não tinha pensado nisso.

Esse e outros momentos de reflexão que a pesquisadora realizou durante o encontro

corrobora com Ibiapina (2008) quando, entre as atribuições do professor mediador (o

pesquisador), ela cita mediar as sessões reflexivas durante os encontros formativos. Numa

mediação como essa, a informação importante que necessita ser compreendida não é

comunicada ao professor e sim interpretada por ele à medida que o entendimento vai se

Page 172: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

170

consolidando. Importante perceber também que as etapas da formação colaborativa, embora

um processo diferente, confunde-se com a pesquisa colaborativa.

Após a elaboração das questões, a pesquisadora mediou o processo do levantamento

de hipóteses, informando ser um momento importante da pesquisa para posteriormente

averiguação com o resultado final. Para os professores-colaboradores, antes da coleta de

dados, eles comungavam da ideia de que a minoria dos pesquisados não iria ao passeio, ou

iria sozinhos e pensavam também que os acompanhantes seriam em sua maioria adultos. É

importante ressaltar que essas conjecturas foram realizadas apenas pelos presentes ao

encontro naquele dia, o que representava um percentual mínimo, quando comparado ao total

de professores e funcionários dos dois turnos da Escola.

Ao final da pesquisa, tais conjecturas sobre as hipóteses não foram consolidadas e isso

contribuiu para que a pesquisadora reiterasse a importância da coleta de dados em detrimento

de respostas dadas com base no senso comum. Além disso, o exemplo dado durante o

encontro foi para vivenciar uma situação a qual os professores-colaboradores devem colocar

em prática quando forem desenvolver pesquisas estatísticas com seus alunos.

O próximo passo foi ter clareza do tipo de variável que estava sendo gerada a partir

daquelas indagações feitas aos pesquisados. Apenas elaborar questões de pesquisa não é o

suficiente, necessário saber qual o tipo de variável que está sendo trabalhada para posterior

tratamento dos dados coletados e cálculo das medidas de tendência central. Para tanto,

mostraram-se as possíveis classificações de uma variável utilizando para isso os slides do

encontro, como mostra a figura 48.

Figura 48 – Classificação das variáveis numa pesquisa estatística

Fonte: acervo da pesquisadora

Page 173: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

171

Inicialmente, a discussão se deteve a classificar em ser a variável qualitativa ou

quantitativa. A pesquisadora tomou como referência o instrumento de coleta mostrado na

figura 48, classificando as variáveis desse instrumento primeiramente, para depois classificar

as variáveis da pesquisa que se estava realizando com os professores-colaboradores. A

princípio, parecia ter ficado claro que no instrumento dos slides havia apenas variáveis

qualitativas, enquanto na pesquisa realizada com os professores-colaboradores havia três

variáveis qualitativas e uma quantitativa (quantidade de acompanhantes). Porém, com a

continuidade do encontro, no momento da construção do gráfico, a pesquisadora percebeu que

os professores-colaboradores ainda estavam confusos na classificação das variáveis.

Na sequência, iniciou-se o processo de coleta de dados. Para aquele momento,

responderam apenas os professores-colaboradores presentes. Coletados os dados de forma

bruta, a pesquisadora mediou o processo para contabilizar os dados em uma tabela estatística

para facilitar a leitura dos dados e a construção dos gráficos. Durante a construção da tabela, a

pesquisadora foi dando informações sobre as características de uma tabela estatística, como

por exemplo: composição por linhas e colunas, laterais abertas, título respondendo à questões

(O quê?, Quando? e Onde?) relacionadas à coleta dos dados, à existência de uma Fonte, entre

outros. Algumas dessas informações eram novas para os professores-colaboradores e por isso,

sentiram a necessidade de fazer algumas perguntas:

PC5C: Você poderia repetir a informação sobre as laterais de uma tabela? Acabei de

fechar aqui…tá errado, então?

PC4A: Também preciso. Como é? Repita aí, por favor?

Pesquisadora: A diferença entre uma tabela e um quadro é que a tabela não deve

ser fechada nas laterais e, geralmente, são utilizadas para dados quantitativos.

PC5B: Tô acabando de ver uma tabela aqui no livro deles e está fechada. E aí?

Pesquisadora: Nem todos os livros didáticos seguem as regras de uma tabela

estatística, também já vi essa situação.

A pesquisadora já havia percebido o que PC5B comentou sobre os livros utilizados

pelo 5º ano, quando analisou todos eles em busca de exemplos para utilizar durante a escrita

do capítulo 3. O que mais chamou atenção nessa análise foi o livro de Matemática ser o que

mais apresentou casos de quadros chamados de tabelas, enquanto que o de Geografia foi o

que apresentou mais tabelas de forma estatisticamente correta. A figura 49 mostra um

exemplo do livro de Matemática em que a questão pede para o aluno completar a tabela, mas

disponibilizou um quadro para realização da tarefa.

Page 174: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

172

Figura 49 – Atividade do livro de Matemática do 5º ano

Fonte: acervo da pesquisadora.

Pela imagem, percebe-se que os dados são quantitativos, mas as bordas laterais não

estão abertas, portanto, trata-se de um quadro. Além disso, para ser tabela, o título precisaria

contemplar mais informações respondendo às três questões (O quê? Onde? Quando?). Esse

tipo de situação foi muito comum no livro de Matemática. Diferentemente, no livro de

Geografia quando o enunciado falava sobre tabelas, todos os itens que a caracterizam estavam

presentes, como mostra a figura 50

Figura 50 – Atividade do livro de Geografia do 5º ano

Fonte: acervo da pesquisadora

Após o diálogo que deu origem a discussão sobre os livros didáticos, os professores-

colaboradores manusearam os livros os quais estavam de posse, pois tinham saído de sala de

Page 175: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

173

aula há pouco tempo e começaram a observar o que era tabela e o que era quadro. Com isso

ficaram mais seguros da definição de tabela estatística e como reconhecê-la nos livros dos

alunos e em outros materiais escolares, ou não escolares. O fato de os docentes questionarem

um dos livros utilizados por eles, a despeito de estarem certo, demonstra o desenvolvimento

profissional emanado da prática e sobre a reflexão dessa prática.

Na ocasião, o GP pediu ajuda para fazer o título de uma tabela que iria demonstrar o

resultado de um simulado feito pela escola para a Prova Brasil. Ele gostaria de elaborar o

título nos moldes das regras estatísticas (O quê? Quando? e Onde?) e a pesquisadora

aproveitou a oportunidade para construir junto com o grupo, ficando esse título da seguinte

forma: Resultado do simulado para a Prova Brasil da Escola B, em agosto de 2019. Para

concluir essa demanda e continuar o encontro, a pesquisadora ainda acrescentou a informação

de que na fonte deveria ser anunciadas as turmas que realizaram o simulado, quais sejam, 5ºA,

5ºB e 5º C.

Esse momento do encontro formativo comprova o que Nóvoa (1992) afirma sobre a

relação de parceria entre formadores e formandos acontecendo de modo que eles interagem

colaborativamente na resolução dos problemas propostos e daqueles que, porventura, possam

surgir durante o processo formativo. O próximo passo foi construir um gráfico de colunas e

para esse momento relembraram-se informações que a professora Cazorla falou no encontro

anterior, como por exemplo, calibração de escala, que é o espaçamento igual entre as colunas

e largura das colunas.

A pesquisadora mediou o processo de construção do gráfico e apenas ela realizou a

construção, por dois motivos. O primeiro foi o avançar da hora, devido aos muitos

questionamentos, o tempo já estava bem escasso para cumprir com o planejamento daquele

dia. O segundo motivo foi o fato de a pesquisadora não ter levado folhas de papel

quadriculado para o encontro, algo que foi planejado por ela, mas acabou não sendo possível.

Posteriormente, a pesquisadora avaliou como um erro não ter proporcionado esse momento de

construção, mesmo em folha de caderno ou outro tipo de papel que estivesse disponível

naquele dia.

Apesar do ocorrido, a construção do gráfico aconteceu a contento, sendo a

pesquisadora apenas a escriba do momento. Os docentes foram dizendo como fazer a

marcação nos eixos, a calibração possível de ser feita de acordo com o espaço que se tinha na

ocasião e todos os demais detalhes necessários para a construção do gráfico. Após a conclusão

Page 176: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

174

coletiva, inclusive com título e fonte, o próximo passo foi falar sobre as medidas de tendência

central (Moda, Média e Mediana).

Esses três conceitos já haviam sido trabalhados em dois momentos, no dia da

apresentação dos resultados dos instrumentos diagnósticos e no dia da discussão sobre o texto

do PPDAC. Por essa razão, os professores-colaboradores disseram lembrar dos conceitos e

por isso, a pesquisadora recapitulou apenas o fato de que apenas com as variáveis

quantitativas é possível o cálculo das três medidas, quando a variável é qualitativa, somente a

Moda pode ser calculada. Observando a tabela e o gráfico que se encontravam construídos no

quadro utilizado pela pesquisadora foi realizado o seguinte diálogo:

Pesquisadora: Quem é a população e a amostra no caso da nossa pesquisa?

PC5C: A população são todos os professores e funcionários da escola e a amostra de

hoje foi só a gente aqui.

Pesquisadora: Muito bem, está correto! Entenderam? (Todos balançaram a cabeça

dando sinal positivo)

Pesquisadora: Dá para encontrar Moda, Média e Mediana?

GP: Dá sim

Pesquisadora: De quais variáveis?

GP: De todas

Pesquisadora: Nós já vimos que três variáveis são qualitativas e uma é quantitativa.

E aí?

GP: Mas, você não disse que eu posso quantificar as respostas, sim? [referindo-se às

duas primeiras questões dos instrumentos de coleta, construído pelo grupo].

Pesquisadora: Sim, mas isso não é pra dizer se é qualitativa ou quantitativa. É outra

coisa.

GP: Ah, certo!

Pesquisadora: Estou querendo saber se dá para encontrar Moda, Média e Mediana

da primeira variável. Então, já que você falou na resposta ―sim‖.

PC4A: Não, só Moda.

Pesquisadora: Por que?

PC4A: Por que é uma variável…, esqueci o nome! [risos]

Pesquisadora: Tem a qualitativa e a quantitativa, qual das duas?

PC4A: Qualitativa.

Pesquisadora: Muito bem, variável qualitativa só dá para encontrar a Moda.

Apesar dos professores-colaboradores terem afirmado que lembravam dos conceitos

das medidas de tendência central, verificou-se durante o diálogo uma certa dificuldade em

colocar em prática esse entendimento. Além disso, nesse momento ficou evidente para a

pesquisadora que ainda não existia clareza na diferença entre variável qualitativa e

quantitativa, como informado anteriormente. Essa evidência se fez quando o GP pensou ser

quantitativa a primeira variável do instrumento de coleta (Você vai ao passeio?) pelo fato de

poder contabilizar ao final a quantidade de ―Sim‖ e ―Não‖ que a resposta recebeu, ou seja,

pensou no número gerado e por isso afirmou ser uma variável quantitativa.

Page 177: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

175

O modelo de formação desenvolvido nesta pesquisa permitiu que a formadora

evidenciasse essa e outras situações durante o processo formativo, percebendo como os

professores-colaboradores estavam aprendendo, ou não. Nos modelos tradicionais, em que o

curso é dado e a formadora não tem esse diálogo mais aproximado com os cursistas, esse

desenvolvimento profissional torna-se mais difícil ou até mesmo, inexistente. Retomando à

discussão sobre como diferenciar os tipos de variáveis, a pesquisadora definiu os tipos de

variáveis dizendo assim:

Pesquisadora: Quando para vocês responderem à questão precisar falar um valor,

uma quantidade numérica, será uma variável quantitativa, é o caso da terceira

questão do instrumento de coleta de dados quando perguntou: - Quantos

acompanhantes você vai levar? Para responder, você vai precisar dizer a quantidade,

um número, concordam? Assim sendo, será possível encontrar o valor da Média, da

Moda e da Mediana. Porém, para responder as outras três perguntas não será

necessário fazer uso de respostas quantitativas (numéricas). É possível responder

com palavras (Sim, Não, Adulto, Criança). Por esta razão, são variáveis qualitativas

e nesse caso, apenas a Moda poderá ser indicada.

Após essa nova explicação, a pesquisadora voltou a analisar os dados coletados e

apresentados em tabelas e gráficos para concluir essa parte das medidas de tendência central.

A Moda e a Mediana foram respondidas com maior facilidade, mas a Média ainda provocou

um novo diálogo:

Pesquisadora: Como se faz a Média?

PC5C: Soma e divide

Pesquisadora: Se eu quiser fazer a Média dos acompanhantes que vocês irão levar

para o passeio, como faço?

PC5C: Soma e divide

Pesquisadora: Divide por quanto?

[Momento de silêncio…]

PC5C: Divide pela quantidade de termos que se tem…, é?

A pesquisadora imaginava que o cálculo da Média não iria apresentar dúvidas por

ser uma prática vivenciada pelos professores durante o ano letivo. Porém, não foi bem isso

que aconteceu, talvez pelo fato de estarem acostumados com o cálculo realizado no âmbito

escolar, não colocando em prática o mesmo conceito em outras situações. Com a continuação

do diálogo entre pesquisadora e professores-colaboradores, o cálculo da Média acabou sendo

feito, o equívoco foi momentâneo. Provavelmente, esse equívoco foi causado pelo fato de que

naquela situação os docentes teriam que somar sete termos e depois dividir este somatório por

Page 178: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

176

sete, quantidade de termos essa que os docentes não estão habituados a realizar, o cálculo da

Média.

Cazorla (2002) define o letramento estatístico como sendo a capacidade de utilizar de

forma adequada as ferramentas estatísticas na solução de problemas, de entender a essência

dos dados e fazer inferências, daí não ser suficiente apenas aprender a calcular. Assim, ainda

não é possível afirmar que os professores-colaboradores estão letrados estatisticamente, os

seja, estão em processo de formação e este é um dos objetivos desta pesquisa. Isso foi

comprovado durante a análise do instrumento diagnóstico respondido pelos docentes quando a

questão ―2d‖, que solicitava a cálculo da Média ,foi realizado de forma correta apenas por

PC5A e PC5C. PC4A não respondeu e PC5B respondeu o item de forma incorreta.

Coincidentemente, neste item ―2d‖ do instrumento diagnóstico respondido pelos professores-

colaboradores, que solicitava a Média, também envolvia sete termos, ou seja, situação

diferente da que eles são acostumados a calcular essa medida de tendência central.

A melhor forma de definir o nível de entendimento dos professores-colaboradores até

aquele momento é afirmando que eles estão em processo de consolidação da aprendizagem.

Existem dúvidas na hora de aplicar o conceito de Média na resolução de problemas e isso

pôde ser comprovado no próprio instrumento diagnóstico quando em outro item (3d), que

pedia o entendimento desse conceito para responder corretamente, apenas PC4A acertou e

justificou a sua resposta fazendo uso do valor da Média. Ou seja, a docente que não respondeu

o item ―2d‖, acertou o ―3d‖, comportamento característico de quem tem conhecimento do

assunto, mas que ainda há algo a ser consolidado.

Após todas essas etapas, chega o momento de tirar as conclusões sobre a pesquisa,

verificar se as hipóteses foram comprovadas, ou não, e se o instrumento de coleta de dados foi

eficaz para o objetivo ao qual se propôs: programar o passeio a ser realizado por professores,

gestores e funcionários. Ao analisar o resultado, observou-se que nenhuma das hipóteses

foram comprovadas, pois a maioria dos pesquisados disse que iria para o passeio, não iria

sozinhas e a maioria levaria como acompanhantes as crianças e não adultos como dito,

anteriormente. Sobre essa conclusão, o GP se posicionou dizendo:

GP: Entendi, eu não devo responder baseado no senso comum. Os dados respaldam

a minha resposta. Né assim?

Pesquisadora: Isso, mesmo. Muito bem! Além disso, não é só fazer pesquisa para

calcular as medidas de tendências central, nem amontoar dados. Os dados eles

devem ser coletados para serem interpretados e deles, retirar informações relevantes.

Page 179: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

177

Mais uma vez fica visível que o entendimento vai se consolidando à medida que os

questionamentos são realizados pelos professores-colaboradores e que isso ocorre em tempos

diferentes para cada um, assim como acontece com os discentes que possuem seu tempo

individual de aprendizagem. Isso dialoga com Marcelo (2009), quando afirma que o

desenvolvimento profissional ocorre a partir dos questionamentos e pela busca por soluções

em um processo vivencial, integrador e em contexto. Enquanto o GP fez essa reflexão sobre

os resultados da pesquisa, uma das colaboradoras trouxe à tona a questão da fase de

elaboração do instrumento para coletar os dados:

PC5C: Os dados coletados não são suficientes.

Pesquisadora: Por quê?

PC5C: Porque não lembrou de pedir o número do CPF, necessário para fazer o

seguro viagem.

Pesquisadora: Faltou mais alguma coisa?

PC5C: Agora, não percebo.

Pesquisadora: O que isso nos diz?

PC5C: Que é preciso ter muito cuidado na hora de elaborar o instrumento.

Com essa reflexão da colaboradora, a pesquisadora aproveitou para reiterar a

importância do momento de planejamento, segunda fase do PPDAC. Se o planejamento não

for pensado de forma organizada e detalhada corre-se o risco de ao final do tratamento dos

dados não se ter as informações necessárias para responder a pesquisa, como aconteceu no

experimento da formação. Isso é importante para que os professores-colaboradores percebam

porque a próxima etapa da formação é o planejamento de uma sequência de ensino

envolvendo uma pesquisa estatística.

Depois da fala de PC5C os demais professores-colaboradores começaram a querer

acabar o encontro devido ao avançar da hora. A formação foi bastante produtiva e os

professores-colaboradores participaram ativamente, mas isso demandou muito tempo e gerou

o não cumprimento da pauta completa, porque não foi possível fazer a produção textual após

a análise dos dados e conclusão da pesquisa, nem iniciar o planejamento da sequência de

ensino, como estava programado inicialmente, e a avaliação do encontro foi realizada de

forma aligeirada. Mesmo com o tempo apertado, os professores-colaboradores deixaram seus

registros relacionados àquele dia de formação:

Page 180: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

178

GP: A prova objetiva não dá conta de avaliar o verdadeiro nível de aprendizagem

dos alunos. Quem vê de fora, vê apenas o número. Essa formação serviu…, a partir

dessa formação de hoje, me fez perceber que outros fatores precisam ser observados.

Eu acabei de refletir sobre coisas que eu não sabia.

Observa-se pela fala do GP que ele foi além daquele momento de execução de uma

pesquisa estatística, voltando suas análises para a sua prática do dia a dia quando o mesmo

analisa os resultados dos alunos a cada avaliação realizada. Imbernón (2010) vai dizer que

isso é possível quando defende a formação continuada, entendida como parte do

desenvolvimento profissional que acontece ao longo da atuação docente, podendo possibilitar

um novo sentido à prática pedagógica, contextualizar novas circunstâncias e ressignificar a

atuação do professor. Ou seja, as ações pedagógicas não estão dissociadas uma das outras e

portanto, esses links podem acontecer durante o processo formativo docente. Além do GP,

outros professores-colaboradores também fizeram a fala final daquele dia:

PC5C: Deu para entender, só é muita informação.

PC5B: A minha dúvida é como construir gráficos. Minha angústia só é essa, porque

no livro os gráficos já vêm prontos (grifos da pesquisadora) para responder as

atividades.

Pesquisadora: Sentaremos para ver essa questão com você. Não fique angustiada.

Mas, se eu pedisse para vocês encontrarem a Mediana de uma situação, vocês

saberiam?

Coordenadora: Não, eu não saberia. Mas, vou planejar junto com as meninas para

aprender mais.

Pesquisadora: Conseguem diferenciar uma variável qualitativa de uma

quantitativa?

Coordenadora: Acho que sim.

Apesar da participação dos professores-colaboradores durante todas as etapas do

ciclo investigativo realizado durante o encontro, percebe-se que ainda existem dúvidas, falta

de segurança de dizer que sabe fazer. Isso é entendível por ser uma prática que até então não

era presente naquele ambiente escolar, realizar pesquisa estatística com os alunos, e também

porque é sabido que o processo de aprendizagem de novos conceitos acontece de forma

gradativa e isso foi possível verificar devido ao modelo de formação desenvolvido nesta

pesquisa.

Porém, o desejo em aprender demonstrado pela coordenadora é de suma importância

para fazer essa aprendizagem ocorrer, principalmente, quando se trata de trabalho realizado a

partir de um grupo colaborativo. Além da coordenadora, a pesquisadora também destaca a

fala de PB5B quando a mesma percebe na formação a possibilidade de aprender a construir

gráficos pelo fato de nos livros didáticos, segundo a professora-colaboradora (grifos da

Page 181: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

179

pesquisadora), possuir apenas gráficos prontos solicitando a leitura e interpretação dos dados,

sem oportunizar a construção. Mais uma vez, o modelo de formação desenvolvido na escola

proveniente desta pesquisa mostra eficácia proporcionando aprendizagem aos envolvidos e

demonstrando que os sujeitos não são meros executores das ações planejadas pela

pesquisadora.

Ferreira (2006) corrobora com a situação acima descrita quando afirma que na

colaboração cada indivíduo participa da maioria das decisões, como por exemplo, escolher a

meta, definir as estratégias, definir as tarefas, avaliar o resultado, entre outros, fazendo isso de

forma consciente de que é algo realmente importante para ele, algo que tanto beneficia o

grupo como um todo, quanto a ele diretamente. As evidências trazidas pela pesquisadora têm

mostrado que esse movimento colaborativo esteve presente durante a formação continuada em

serviço realizada na Escola B.

É importante registrar que a ausência de fotografias durante o relato de muitas das

evidências se deu pelo fato de que neste dia não foi possível nenhum dos estudantes de

iniciação científica da equipe OBAMA acompanhar a pesquisadora. Eram eles que sempre

auxiliaram nos registros e nos equipamentos tecnológicos digitais, deixando a pesquisadora

disponível para a mediação do encontro formativo. Neste dia as discussões foram diversas e a

formadora acabou se envolvendo com o encontro e fazendo o registro apenas em áudio e após

o encontro em seu diário de campo.

O encontro formativo foi concluído agendando, ainda para setembro, um novo

encontro para realizar o planejamento coletivo de uma sequência de ensino e esse

planejamento está relatado na próxima subseção.

6.2.4 Planejando uma sequência de ensino por meio da plataforma OBAMA

Dando continuidade ao desenvolvimento da pesquisa realizada na Escola B, no dia 26

de setembro de 2019 foi realizado o primeiro encontro para planejamento da sequência de

ensino envolvendo os conceitos estatísticos. Estiveram presentes, além da pesquisadora, os

professores-colaboradores PC4A, PC5B e PC5C e um estudante de iniciação científica da

Equipe OBAMA, como mostra a figura 51.

Page 182: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

180

Figura 51 – Plano de aula colaborativo na plataforma OBAMA

Fonte: acervo da pesquisadora

O encontro se iniciou com estudante de iniciação científica apresentando novamente a

plataforma OBAMA, porque no dia em que a apresentação ocorreu (13/06/2019), PC5C não

estava presente por motivo de saúde. Enquanto isso, a pesquisadora acompanhava mais de

perto a colaboradora ajudando-a para que a mesma realizasse seu cadastro e pudesse ter

acesso a opção plano de aula que a plataforma oferece aos cadastrados.

Depois que todas as colaboradoras estavam cadastradas foi dado um tempo para que

elas pudessem visitar os objetos de aprendizagem (OA) e selecionar quais poderiam fazer

parte do plano de aula que estavam ali para planejar. Nesse momento, uma colaboradora falou

com a outra dizendo:

PC5B: Olha PC5C, dá certo com o nosso conteúdo de alimentação saudável?

Esse comentário de PC5B foi feito quando a mesma estava interagindo com o OA

denominado Brincando e aprendendo com gráficos e tabelas. PC5C concordou e fez uma

pergunta logo depois:

PC5C: Quem fica no comando da interação, durante a execução de um OA? O

professor? Ou os alunos podem interagir sozinhos?

O estudante de iniciação científica explicou que há as duas opções, vai depender do

planejamento e do objetivo do professor. Além disso, ele aproveitou o OA citado pelas

professoras e sugeriu um outro que trata do tema sobre alimentação, o Conta Kg. PC5C

também quis saber sobre qual a quantidade de pessoas que se podia compartilhar um mesmo

plano de aula e a pesquisadora informou que não tem uma quantidade limitada de

Page 183: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

181

compartilhamento. Ao que parece, PC5C estava empolgada com a possibilidade de planejar

colaborativamente. Isso é algo que o modelo de formação realizado na escola B proporcionou

e o uso da plataforma ajudou a desenvolver esse sentimento.

Após a reapresentação da plataforma e da interação das colaboradoras com a

pesquisadora e com a OBAMA, ficou decidido que PC5B e PC5C fariam o plano de aula

sobre o mesmo tema – Alimentação Saudável – por serem as duas professoras do 5º ano e

planejarem no mesmo dia da semana (quinta-feira), ficando assim mais fácil de se

encontrarem para pensar na continuação das aulas sobre conceitos estatísticos. Essa foi a

justificativa dada por elas mesmo depois de ser dito que a plataforma proporciona o

planejamento de forma assíncrona, ou seja, desconectada do tempo e do espaço. Nesse caso, o

comunicador e o receptor podem manter relacionamento à medida em que tenham tempo

disponível.

Somente depois de um tempo de uso as colaboradoras começaram a utilizar a

tecnologia digital a favor delas no que diz respeito a tempo e espaço físico. Entenderam que a

plataforma funcionava como o WhatsApp em que a pessoa pode enviar uma mensagem e o

outro pode ver e interagir, não necessariamente, no mesmo momento. Como afirmam

Almeida e Valente (2011), a tecnologia digital aparece como uma possibilidade com potencial

para o meio educacional, porém, é necessário analisar se é utilizada de fato e como se dá esse

uso. A resistência inicial das colaboradoras em planejar por meio de um recurso digital é

entendível por não fazer parte da rotina delas e também porque o novo costuma causar

estranheza. Porém, a partir da formação continuada realizada, os recursos digitais foram sendo

utilizados pelas professoras com mais propriedade.

Em relação à sequência de ensino de PC4A, ela não soube informar naquele momento

qual seria o tema. Disse que iria pensar e posteriormente comunicaria para a pesquisadora.

Assim terminou o dia 26/09/2019 e por não ter dado para concluir o planejamento, antes da

pesquisadora começar a acompanhar a execução da sequência de ensino na sala de aula das

colaboradoras, foi necessário marcar mais uma data, o dia 30/09/2019. Apesar da não

conclusão, a pesquisadora avaliou como positivo o encontro pela interação e por perceber que

dos seis itens citados por Ponte (2014) para o professor exercer adequadamente a sua

atividade docente, dois deles aconteceram naquele encontro: ter bons conhecimentos e uma

boa relação com a Matemática e dominar os processos de instrução, os diversos métodos e

técnicas, relacionando-os com os objetivos e conteúdos curriculares.

Page 184: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

182

Para se ter uma boa relação com a Matemática se faz necessário entender e ter clareza

sobre o que se quer fazer com o aluno e isso estava sendo acompanhado de perto e com

cuidado. Em relação a dominar processos de instrução e diversas técnicas, a pesquisadora

também estava auxiliando presencialmente e à distância (via WhatsApp do grupo ou

individual). Daí, avaliar como positivo o caminho que a pesquisa estava seguindo naquele

momento.

Antes de começar a relatar a continuação do planejamento ocorrido no dia 30 se faz

necessário registrar dois pontos importantes. Primeiro é em relação ao uso da plataforma para

dar continuidade à sequência de ensino que não ocorreu e que já era esperado como citado

acima. As colaboradoras acessaram novamente a plataforma somente no momento em que

estava com a colaboradora. Isso significa dizer que, mesmo proporcionando um modelo

diferente de formação, as professoras ainda necessitam das atividades presenciais, seja por

familiaridade, seja pela falta de tempo disponível para dedicação de tempo para formação,

para além do que é disponibilizado na lei do piso.

O segundo registro diz respeito a disponibilidade do GP para oportunizar esse dia de

planejamento, pois não era um dia oficial das professoras planejarem por ser um dia de

segunda-feira. Isso corrobora com o que foi dito sobre o fator tempo, no parágrafo anterior,

até porque o dia fixo de planejamento utilizado pelas professoras também é para planejamento

de todos os demais componentes curriculares. Mesmo com toda a preocupação em não alterar

a rotina da Escola, visto que nesse modelo de formação a prática e cultura docente estão no

centro para evitar sobrecarregar aos professores, houve a necessidade desse dia a mais para dá

continuidade ao planejamento da sequência de ensino e a pessoa do GP foi fundamental.

Para que fosse possível o acesso às colaboradoras neste dia, o GP as substituiu por 45

minutos, tempo correspondente a uma aula. Dessa forma, uma de cada vez pode ficar com a

pesquisadora no laboratório de informática e dá continuidade a sequência de ensino que havia

sido compartilhada no último dia 23/09/2019. Essa atitude do GP dialoga com Pryjma e

Winkeler (2014) quando entendem que o desenvolvimento profissional docente é assumido

não só pelos docentes, mas também pelos gestores da instituição educacional e toda a

comunidade escolar, pois perpassa pelas condições de trabalho e pela cultura organizacional.

Isso significa dizer que fazer uma formação continuada em serviço na perspectiva do

desenvolvimento profissional requer a ação de todos os envolvidos, de modo a desenvolver o

sentimento de pertencimento dessa dinâmica de formação. Essa atitude do GP demonstra seu

Page 185: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

183

engajamento com a pesquisa que estava sendo realizada na Escola e comprova a eficácia no

desenvolvimento do processo formativo.

A pesquisadora começou com PC5B logando a plataforma para elaborar a sequência

de ensino. Para isso, iniciou o processo preenchendo o primeiro passo que solicita

informações como o nome da instituição, uma frase que defina a sequência de ensino, o ano

de escolaridade e o tempo necessário para executar o que está sendo planejado, como mostra a

figura 52.

Figura 52 – Primeiro passo da sequência de ensino

Fonte: print da plataforma

Na sequência, no segundo passo, a plataforma solicita ao docente o objetivo geral, os

objetivos específicos, a metodologia, a avaliação, os recursos e as referências. A pesquisadora

e PC5B conversaram sobre como ficaria o objetivo geral da sequência de ensino e ela fez um

primeiro esboço que posteriormente foi aprimorado por PC5C. Em relação aos objetivos

específicos, a pesquisadora lembrou que devem se referir as etapas a serem cumpridas pelos

alunos, ou seja, objetivos de aprendizagem.

Após as orientações, PC5B foi digitando os objetivos específicos na plataforma e

recebendo as devidas orientações. Ao escolher - Explicar o que é alimentação saudável e

compreender a importância da alimentação saudável - a pesquisadora explicou que o segundo

objetivo específico poderia permanecer, mas o primeiro, não. Isso porque - explicar o que é

alimentação saudável - vai ser uma tarefa a ser realizada pelo professor e não pelo aluno. Ela

Page 186: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

184

afirmou que entendeu e que iria deixar, por enquanto, apenas o segundo digitado e PC5C

daria continuidade. Essa dificuldade na elaboração de objetivos específicos não é uma

realidade apenas de PC5B. Silva et al. (2018) apresentaram um artigo na Revista Tecnologias

na Educação analisando os planos de aulas de diversos professores que utilizaram a

plataforma OBAMA e verificaram que 36% desses professores centraram a escrita dos

objetivos específicos no fazer docente e não na aprendizagem discente.

Depois disso, foi dado um tempo para ela pensar na metodologia. Ao fazer a leitura do

que a colaboradora havia escrito, foi solicitado que ela pensasse naquele professor que não

conhece aquele planejamento, mas que pode ter acesso ao mesmo por meio da plataforma.

Sendo assim, é necessário que fique clara a sequência dos fatos na escrita do passo a passo de

modo que qualquer pessoa possa entender e utilizá-lo, se assim desejar. Como os 45 minutos

estavam se esgotando, a pesquisadora foi dando algumas sugestões para PC5B dar

continuidade a sequência de ensino, sem necessariamente, precisar estar na escola e no seu

horário de planejamento: utilizar um vídeo sobre o tema, após o levantamento dos

conhecimentos que os alunos já possuem sobre o assunto, item já contemplado na

metodologia; pesquisar imagens de alimentos para depois classificar em saudáveis e não

saudáveis; inserir os conceitos estatísticos que ela avaliasse ser possível trabalhar a partir da

interdisciplinaridade entre Ciências e Matemática. Esse diálogo entre pesquisadora e

professora-colaboradora só foi possível por causa do modelo de formação que estava sendo

desenvolvido e essa aproximação é muito positiva para ambas.

A forma como a sequência de ensino estava sendo planejada corrobora com Cazorla et

al. (2010) quando a mesma defende que por meio de sequências de ensino é possível articular

a teoria e a prática da Estatística com ênfase no contexto interdisciplinar (outras ciências),

intradisciplinar (na Matemática) e transdisciplinar (implicações éticas do uso da Estatística).

Tendo em vista que bons hábitos alimentares são importantes para a saúde de todos, e esse

tema trabalhado juntamente à Estatística traz à tona todas essas relações defendidas pela

autora.

Terminadas as sugestões dadas pela pesquisadora para PC5B, a docente voltou a

afirmar que não sabia construir gráficos e que conseguia apenas trabalhar com a leitura e

interpretação dos que vinham nos livros didáticos, construção não. A pesquisadora não tinha

mais tempo para explicar novamente a construção de um gráfico, naquele momento, mas

assumiu o compromisso de se reunir com a colaboradora e minimizar sua dificuldade no

Page 187: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

185

próximo encontro. Ao se disponibilizar para ajudar a docente, PC5B disse que a pesquisadora

não se preocupasse porque ela também iria procurar estudar para aprender e disse ainda que

PC5C sabia construir gráficos e poderia ajudá-la nesse sentido.

A relação entre pesquisadora e colaboradoras que estava se desenvolvendo e o

trabalho realizado comungam com as ideias de Hargreaves (1999) ao afirmar que a

colaboração acontece quando um grupo de professores estabelece objetivos comuns e, na

intenção de atingi-los, negociam pontos de vista, apoiam-se mutuamente e investem seus

recursos pessoais, independentemente de facilidades ou estímulos externos ao grupo. Mesmo

diante da dificuldade em construir gráficos, PC5B não se desestimulou e ainda chegou a

vislumbrar outras possibilidades senão com a ajuda da pesquisadora, demonstrando

envolvimento e comprometimento com o trabalho que estava sendo realizado.

Quando PC5B precisou ir embora porque havia tocado o sinal da escola para começar

a próxima aula, o GP foi para a turma de PC5C e esta foi para o laboratório de informática

continuar o planejamento juntamente à pesquisadora. Após se inteirar de todo o processo,

PC5C concordou com o que até então tinha sido proposto e, inclusive, já havia selecionado

um vídeo denominado Nutriamigos para inserir no planejamento. Esse vídeo fala sobre os

nutrientes necessários para as pessoas viverem de forma saudável, como mostra a figura 53.

Figura 53 – Imagens do vídeo sobre alimentação saudável

Fonte: https://youtu.be/QT9RKjMWEoI

Page 188: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

186

O fato de a professora-colaboradora ter pesquisado anteriormente recursos para serem

inseridos na sequência de ensino demonstra que ela estava engajada. Mesmo não tendo

antecipado o planejamento de forma assíncrona na Plataforma, ela pesquisou coisas para

compor a aula. Isso comprova o engajamento da docente e, provavelmente, o registro da

plataforma não aconteceu por pouca familiaridade com a ferramenta tecnológica. Como os

recursos pensados para trabalhar a parte de Ciências estavam se definindo, a pesquisadora

questionou em relação à Matemática, já que se tratava de uma sequência de ensino

interdisciplinar:

Pesquisadora: Quais os conceitos estatísticos você acha que vai dar para inserir?

PC5C: A Moda, a Mediana e acho que…, a Média, também, né?

Pesquisadora: Vocês é quem devem definir. Na verdade, o ritmo da turma vai

dando indícios de até onde vai ser possível trabalhar a Estatística.

PC5C: A ideia é associar as atividades do livro didático com os conceitos

estatísticos para poder dar conta do que eles precisam aprender em Ciências.

Após esse diálogo, PC5C informou que já começou o assunto sobre alimentação

saudável em sala de aula iniciando por um jogo da memória sugerido pelo livro de Ciências e

denominado de Jogo dos Alimentos, no qual o objetivo foi trabalhar a diferença entre

alimento de origem animal e vegetal. Como a pesquisadora não acompanhou essa aula, pediu

que a professora relatasse como tinha sido para compreender a sequência das ações que a

colaboradora estava pensando e poder fazer as devidas intervenções. Com PC5C, o tempo de

planejamento ficou apenas no diálogo em que ela foi relatando como estava pensando a

sequência de ensino e encaixando as ideias registradas por PC5B.

Ao ser informada por PC5C que o tema norteador da sequência de ensino já havia sido

iniciado, a pesquisadora precisou marcar com a colaboradora para começar a acompanhar as

aulas na semana seguinte. Desse modo, ficou acordado que o acompanhamento aconteceria

sempre nas segundas-feiras, dia em que a professora tinha duas aulas de Ciências com seus

alunos e assim, mais tempo para executar o que estava sendo planejado. Após a combinação

de como aconteceria o acompanhamento das aulas, PC5C informou que gostaria de concluir a

escrita da sequência de ensino no turno da tarde, em casa.

Assim foi feito e de forma síncrona ou assíncrona o planejar da docente foi mediado

naquela tarde e durante a realização das aulas, uma vez que para executar todo o planejamento

foram necessárias cinco segundas-feiras e, portanto, o planejamento foi se moldando ao que ia

Page 189: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

187

sendo executado por PC5C. A figura abaixo mostra um dos momentos em que PC5C e a

pesquisadora estavam on-line dando continuidade ao planejamento.

Figura 54 – Planejamento colaborativo na plataforma OBAMA

Fonte: print da plataforma

O print apresentado na figura 54 mostra apenas parte do planejamento, porém, o anexo

G apresenta a sequência de ensino na íntegra. Além disso, pode-se dizer que, apesar dessa

pesquisa não se caracterizar como uma pesquisa colaborativa, mas apenas com alguns

elementos desse tipo de pesquisa, com o passar do tempo a colaboração entre os participantes

vai ficando cada vez mais evidente, seja por parte do GP, das professoras ou da pesquisadora.

Boavida e Ponte (2002) afirmam que a colaboração oferece vantagens em relação ao

trabalho individual na concretização dos objetivos traçados, como por exemplo, aumento do

empenho em virtude da maior quantidade de pessoas envolvidas, mais recursos devido às

trocas de experiências entre os professores-colaboradores, propiciando mais segurança em

mudanças e inovações. Segundo os autores, isso acontece porque as interações favorecem os

processos de reflexão, de aprendizagens mútuas e de melhores condições para o

enfrentamento de obstáculos e incertezas que possam surgir.

Pelas ações desenvolvidas até o planejamento percebe-se que tais características estão

permeando o caminhar da pesquisa aqui relatada e consolidando o modelo diferente de

formação sobre conceitos matemáticos. Dando continuidade a esta colaboração, a próxima

seção apresenta a execução da sequência de ensino que foi acompanhada pela pesquisadora de

início ao fim para observar a intervenção e o desenvolvimento profissional docente.

Page 190: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

188

6.2.5 A aplicação da sequência de ensino em sala de aula

Neste item, o desempenho analisado será o da colaboradora PC5C, docente a quem foi

possível acompanhar o desenvolvimento da sequência de ensino planejada de forma

colaborativa entre ela, PC5B e a pesquisadora. Por este motivo, PC5C é a professora de quem

mais evidências foram possíveis observar em relação ao desenvolvimento profissional

docente. Isso ocorreu devido à aproximação proporcionada por meio do acompanhamento das

suas aulas e pela quantidade de vezes em que a colaboradora e a pesquisadora estiveram

juntas. A sequência de ensino planejada foi executada em seis momentos de 2h cada, os quais

as colaboradoras chamaram de aulas (aula 1, aula 2, aula 3, aula 4, aula 5 e aula 6) como

mostra o anexo G.

É importante ressaltar que PC5B, apesar de ter realizado todo o planejamento

juntamente à PC5C, não teve suas aulas acompanhadas pela pesquisadora por dois motivos:

primeiro, a referida professora não começou a executar o planejamento no mesmo período de

PC5C, pois ainda estava concluindo o trabalho de revisão para a Prova Brasil e, segundo,

porque quando ela começou a executar a sequência de ensino em sala de aula, a pesquisadora

não teve disponibilidade de tempo para acompanhar as duas docentes. Porém, manteve-se

sempre disponível para tirar as possíveis dúvidas de PC5B e a última aula, a de número 5, que

previa uma atividade no laboratório de informática com os alunos interagindo na Plataforma

OBAMA, foi realizada normalmente para que os discentes não perdessem a oportunidade de

conhecer um recurso educacional digital em que eles iriam acessar no dia planejado e em

qualquer outro momento, seja de escola ou até mesmo em casa.

Em relação aos demais professores-colaboradores, por motivos particulares, PC5A não

pode continuar participando do grupo colaborativo, desde o encontro em que foi iniciado o

planejamento da sequência de ensino. PC4A teve a sequência de ensino planejada apenas

entre ela e a pesquisadora, por ser a única docente atuante no 4º ano de escolaridade que

estava participando do grupo colaborativo, mas, esse planejamento não foi concluído, nem

colocado em prática, pois a docente passou um tempo de atestado médico. As desistências e o

avanço em nível diferente dos professores-colaboradores são comuns em grupos

colaborativos, nem todos têm o mesmo engajamento. Exemplo disso está registrado na tese de

Maia (2016), quando o autor comenta sobre o fato de que uma das 3 professoras não teve o

mesmo avanço que as outras duas colaboradoras. Isso mostra que o ocorrido nesta pesquisa

Page 191: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

189

não foi um caso isolado e que isso não é um problema, senão uma característica de pesquisas

em escola e em ciências humanas.

Apesar do acompanhamento da prática docente de apenas uma das colaboradoras,

todos os envolvidos – gestor pedagógico, coordenadores e docentes – que permaneceram até o

final, participaram do momento avaliativo e reflexivo sobre a execução de toda a formação

continuada em serviço ocorrida da Escola. Esse momento de reflexão está descrito na próxima

seção, a terceira deste capítulo, e o próximo passo é relatar a aplicação da sequência de

ensino.

6.2.5.1 Introduzindo o tema da sequência de ensino

Na aula 1, PC5C iniciou o trabalho com o tema alimentação saudável realizando o

levantamento dos conhecimentos dos alunos acerca dos alimentos. Esse levantamento foi feito

a partir do Jogo dos Alimentos que tratava sobre a origem animal e vegetal desses alimentos,

jogo esse sugerido pelo próprio livro didático. Essa aula não foi acompanhada pela

pesquisadora, como já registrado na subseção anterior, mas a professora-colaboradora fez o

relato seguinte.

PC5C: Na primeira aula do projeto fizemos uma sondagem sobre o que eles

achavam que era alimentação saudável e em seguida apresentamos o assunto que

seria trabalhado no livro. O restante da aula, eles prepararam o jogo recortando e

colando uma cartolina dura nas peças para ficar mais resistente e durável. Na aula

seguinte [outra segunda-feira], o GP ficou com eles para que a gente planejasse com

você. O jogo era formado por 20 imagens que dividiam os alimentos em dois

grupos: 10 alimentos de origem animal e 10 de origem vegetal. Os alunos divididos

em dupla iriam virar todas as cartas e cada um, na sua vez, vira duas cartas com o

objetivo de formar os pares, ou seja, duas cartas com alimentos de origem animal ou

duas cartas com alimentos de origem vegetal. Ganha a dupla que formar mais pares

de alimentos da mesma origem. O objetivo do jogo é aproximar o aluno do assunto

através de uma forma lúdica e a partir disso, já começar a identificar que os

alimentos são divididos em grupos. Neste caso, vegetal e animal.

Com o relato da docente, a pesquisadora pode se inteirar de como tinha sido a primeira

aula da sequência de ensino e assim pensar junto com a colaboradora as demais aulas. Além

do registro feito por PC5C, ela ainda disponibilizou imagens do livro para mostrar como eram

os anexos que possibilitaram a construção do jogo, conforme mostra a Figura 55.

Page 192: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

190

Figura 55 – Jogo dos Alimentos

Fonte: acervo da pesquisadora

Percebe-se a forma dinâmica que a colaboradora utilizou para introduzir a sequência

de ensino, que, segundo ela, contribuiu para que os alunos se envolvessem no jogo com o

intuito de ganhar, mas na verdade estavam aprendendo, apesar de ter sido apenas um

momento inicial sem explicação alguma da professora até aquele momento. Quando a

professora afirma que houve aprendizagem por meio da interação dos alunos faz lembrar

Clarke e Hollingsworth (2002) que descrevem o processo de desenvolvimento profissional do

professor, analisando o processo formativo em quatro diferentes domínios, entre eles, o

domínio da consequência, momento em que o professor pode observar a aprendizagem do

estudante.

6.2.5.2 A importância de uma alimentação saudável

A aula 2, primeira acompanhada pela pesquisadora, ocorreu na sala de vídeo, que

divide o mesmo espaço com o laboratório de informática, e teve como pauta a apresentação

de dois vídeos: o primeiro, denominado Nutriamigos (figura 53), mostrou para os alunos a

importância da alimentação e seus nutrientes. Durante o vídeo, os personagens em formato de

alimentos (pães, leite, entre outros) dialogam com Duda, a personagem principal, que

enquanto toma seu café da manhã, antes de ir para escola, vai ouvindo de cada alimento a

importância deles para uma alimentação saudável. Como os alimentos foram representados

Page 193: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

191

por personagens falantes, as informações repassadas por eles eram importantes tanto para a

personagem, quanto para os alunos de PC5C.

Ao ouvirem ―Eu sou o carboidrato e posso ser encontrado no macarrão, no arroz..." ou

ainda; "Eu sou a proteína e vocês podem me encontrar nas carnes, castanha...", os alunos da

professora-colaboradora foram fazendo relação com a classificação dos alimentos trabalhados

na aula 1 por meio do jogo, anteriormente relatado. Ao final do vídeo, a docente iniciou um

diálogo com a turma:

PC5C: E aí, o que acharam do vídeo?

Alunos: Legal, muito legal!

PC5C: Qual a alimentação foi dita no vídeo que é a mais saudável do dia?

Alunos: O café da manhã

PC5C: Por que?

Alunos: Por que é a alimentação que deixa a gente forte para passar o dia.

PC5C: Muito bem! É a alimentação que deixa vocês fortes durante todo o dia.

Vocês comem frutas pela manhã?

[silêncio]

Alunos: Às vezes. Eu não como não.

PC5C: Por que às vezes a gente fica gripado?

Alunos: Porque a alimentação não deve ser saudável.

PC5C: Quais os alimentos que mais nos ajudam a não ficar doente?

[silêncio]

PC5C: Frutas e verduras!

Assim prosseguiu o diálogo entre professora e alunos. O objetivo da professora com

esse diálogo era ouvir dos alunos o que eles tinham aprendido com o vídeo e como era a

maneira que eles se alimentavam no dia a dia. Fazendo assim, era uma forma de proporcionar

aos alunos um momento de reflexão sobre o que é uma alimentação saudável e como

acontecia a alimentação deles. A forma como a colaboradora fez a mediação com seus alunos

foi positiva pelo fato de fazê-los refletir e não apenas fornecer informações aos discentes, o

que agora se assemelha ao quarto domínio de Clarke e Hollingsworth (2002), o domínio

pessoal e inclui conhecimento, crenças e atitudes do professor.

Apesar das frutas serem uma das opções do lanche da escola, nem todos os discentes

as consomem porque levam outro tipo de lanche de casa, como pipoca, doces, entre outros

industrializados, sendo este um dos motivos que contribuiu para a escolha do tema da

sequência de ensino. A partir do interesse em conscientizar os alunos sobre a importância de

uma alimentação saudável, surgiu a problemática do ciclo investigativo, o que corrobora com

o PPDAC, quando defende que o tema deve ter relevância para os sujeitos envolvidos.

Page 194: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

192

Além do interesse em conscientizar os alunos, o tema alimentação saudável se deu

pelo fato de PC5C está passando por um processo de reorganização alimentar por ter tido

problemas de saúde devido ao sobrepeso. Segundo ela, este é mais um dos motivos de ter

escolhido o tema para fazer a sequência de ensino, porque acredita ser um assunto que

transcende os muros da escola e pode ajudar muitas pessoas, relacionando-se assim com os

propósitos da Matemática Crítica. Além disso, na atividade do Workshop D-Estat, realizada

na escola, em que se discutiu sobre o PPDAC, a professora Santana também utilizou esse

tema para mediar aquele encontro realizando uma pesquisa com os professores presentes e já

naquele dia, PC5C se pronunciou dizendo do seu interesse em utilizar o mesmo tema. Dessa

forma, fica contemplado o primeiro P (o problema) do PPDAC.

Para tanto PC5C utilizou como recursos didáticos, além do vídeo denominado

Nutriamigos, um documentário apresentando fatos reais de pessoas com problemas de saúde

motivados por uma má alimentação e uma apresentação de slides que a auxiliou durante o

diálogo com os alunos, como mostra a figura 56.

Figura 56 – Interação entre PC5C e a turma

Fonte: acervo da pesquisadora

Clarke & Hollingsworth (2002) chama esse trabalho de conscientização que a

colaboradora fez de domínio da prática, aquele necessário para que o processo formativo

permita reflexões sobre dados da realidade referentes à aprendizagem, nesse caso, dos alunos.

A professora encerrou a aula orientando uma atividade de pesquisa para casa em que os

alunos deveriam procurar recortes de jornais, revistas e panfletos com alimentos de todas as

classes alimentares, conforme mostra a figura 57.

Page 195: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

193

Figura 57 – Momento final da aula 2 da sequência de ensino

Fonte: acervo da pesquisadora

Pelo planejamento previsto para a aula 2, anexo G, observa-se que a colaboradora

realizou todos os itens previstos e mediou de forma crítica e reflexiva o conteúdo abordado,

trabalhando a teoria associada à prática e à vida cotidiana. Além de continuar o trabalho com

o componente curricular de Ciências da Natureza, na aula seguinte inseriu-se a Matemática a

partir dos conceitos estatísticos.

6.2.5.3 Construindo tabelas estatísticas e a pirâmide alimentar

No dia 17/10/2019 aconteceu a aula 3. Neste dia apenas 15 dos 27 alunos da

professora PC5C estiveram presentes, porque a aula seria até às 9h0020

e, segundo a

colaboradora, quando há redução do horário alguns alunos acabam não indo para escola. A

aula se iniciou com a professora fazendo retomada sobre o que já havia sido trabalhado na

turma sobre alimentação saudável e informando aos alunos que os objetivos principais

daquele dia eram a construção de uma pirâmide alimentar e de tabelas estatísticas.

Pelo objetivo, observa-se que PC5C vai começar a trabalhar com a Estatística a partir

da aula 3, interdisciplinando os componentes curriculares Ciência da Natureza e Matemática e

fazendo uso da BNCC (2017) quando orienta como uma das habilidades a serem

desenvolvidas nos alunos do 5º ano: (EF05MA24) Interpretar dados estatísticos apresentados

em textos, tabelas e gráficos (colunas ou linhas), referentes a outras áreas do conhecimento ou

20

Neste dia, a aula foi até às 9h porque no dia seguinte seria a comemoração pelo dia da criança e as

professoras iriam se reunir depois do intervalo para concluir a confecção das lembrancinhas que seriam dadas

às crianças.

Page 196: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

194

a outros contextos, como saúde e trânsito, e produzir textos com o objetivo de sintetizar

conclusões. As aulas anteriores serviram para instrumentalizar os alunos sobre pontos de vista

para fazerem as análises.

Para iniciar a dinâmica do planejamento do dia, as imagens de alimentos pesquisados

pelos alunos (dever de casa da aula 2) foram todas colocadas em cima da mesa da professora.

Em seguida, ela dividiu a turma em grupos de modo que cada um trabalhou somente com um

tipo de alimento: carboidratos, vitaminas e sais minerais, proteínas ou gordura. A interação

entre os alunos aconteceu de forma satisfatória, assim como a mediação da professora para

com eles, não deixando nenhum grupo sem atendimento durante o processo. A imagem

abaixo demonstra o trabalho dos alunos agrupados da forma como foram orientados e a

realização da primeira parte da atividade, separar os alimentos de acordo com a classificação,

a qual ficaram responsável.

Figura 58 – Seleção de alimentos segundo classificação da pirâmide alimentar

Fonte: acervo da pesquisadora.

Durante o processo de separação das imagens, algumas dúvidas foram surgindo e

PC5C atendeu aos alunos dando explicação não só para o grupo que perguntava, mas para

toda a turma de modo que a informação chegasse a todos. Segue uma dessas dúvidas mediada

por PC5C:

Aluna: Castanha do Pará, é o quê, professora?

PC5C: É gordura, gordura boa, mas é proteína também. Deixem no grupo da

gordura.

Page 197: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

195

Após esse esclarecimento, como os grupos já estavam concluindo a seleção dos

recortes, a colaboradora deu o seguinte encaminhamento:

PC5C: Quantas imagens cada grupo tem? Anotem… Esse número tá representando

o quê?

Alunos: Proteínas.

PC5C: Além de proteínas, eles são o quê?

Aluno: Alimentos.

PC5C: Muito bem. Então, escrevam: total de alimentos igual a...

A intenção da colaboradora quando pediu para quantificar foi guardar essa informação

para, posteriormente, fazer relação com qual tipo de alimentos tinha sido mais pesquisado

(Moda) e em que tipo de variável seria possível classificar os alimentos pesquisados,

qualitativa ou quantitativa. Vale salientar que essas nomenclaturas não foram mencionadas

nesse momento. Concluída a primeira etapa da atividade, a próxima fase foi construir uma

tabela estatística para registrar os alimentos referentes à classificação alimentar de cada grupo.

Para isso, a professora deu um exemplo de como os alunos deveriam fazer:

PC5C: Vou explicar para vocês como se constrói uma tabela. Prestem atenção!

Quantos alunos nós temos hoje?

Ela mesma contou e respondeu. Depois, deu continuidade, dizendo:

PC5C: O que tem de diferente nos grupos, pessoal?

Alunos: Os alimentos.

PC5C: Além dos alimentos, o que tem de diferentes entre os dois lados da turma?

Alunos: De um lado estão os meninos e do outro, as meninas.

Como se percebe pelo diálogo entre professora-colaboradora e alunos, ela tem o hábito

de organizar a turma separando os meninos das meninas21

. Perguntada sobre o porquê daquela

organização, PC5C disse apenas que já era de costume aquela disposição. Outra questão que

merece comentário é o fato de a professora ter perguntado e ela mesma ter respondido a

quantidade de alunos presentes, naquele dia. Agindo dessa forma, ela impediu que os alunos

propusessem e apresentassem a resposta. Por outro lado, a pesquisadora entende que a

intenção de PC5C foi ganhar tempo na contagem dos alunos, uma vez que o objetivo maior

era orientar como se constrói uma tabela estatística. A partir do número de alunos presentes, a

21

A pesquisadora não vê a intencionalidade pedagógica desta organização. Porém, não cabia naquele momento

uma discussão sobre o porquê da opção metodológica da professora colaboradora.

Page 198: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

196

docente construiu uma tabela para servir de exemplo para os alunos e essa construção foi

acompanhada sempre do diálogo entre ela e os discentes:

PC5C: Essa tabela falta o quê?

Aluno: O título

PC5C: Muito bem! [Disse a professora para um dos alunos]

PC5C: Vamos fazer o título dessa tabela?

Nos encontros de formação e planejamento, já havia sido orientado pela pesquisadora

que o título de uma tabela deveria ser escrito de tal forma que respondesse às questões: o quê?

quando? e onde? Porém, no momento da construção da tabela no quadro, mediada por PC5C,

a resposta sobre o local (o onde) ficou na Fonte (Alunos do 5º ano C da EMPZF22

).

Quando a colaboradora acabou de construir a tabela, colocando por último o elemento

Fonte, ela olhou para o fundo da sala, onde a pesquisadora estava localizada, e perguntou: Eu

acertei? [risos]. A pesquisadora fez sinal positivo para PC5C e deixou que continuasse a dar

os encaminhamentos à turma, deixando para conversar com ela posteriormente, de modo a

não interromper a sua mediação com a turma. Esse gesto da professora deixou para a

pesquisadora duas evidências: primeiro, a ausência de segurança ao dar as orientações sobre a

construção de uma tabela, o que é entendível por se tratar de algo que ela estava mediando

pela primeira vez e também pela situação posta, aula sendo assistida e filmada, fato que tira a

colaboradora da sua zona de conforto.

A segunda evidência vem do sentimento de confiança que a mesma demonstrou ao

perguntar se estava correta e ao dá um sorriso de alívio após o sinal de positivo da

pesquisadora, confiança essa fundamental em um trabalho baseado na colaboração entre os

envolvidos. A tensão que se percebeu naquele momento lembra Ferreira (2006) quando

afirma que o desenvolvimento profissional é visto como um processo que se dá ao longo de

toda experiência profissional e que não possui uma duração preestabelecida e nem acontece

de forma linear. Ou seja, não é porque o encontro formativo sobre os conceitos estatísticos já

havia acontecido que a colaboradora deveria saber e dominar tudo que havia sido trabalhado

naquele encontro.

É importante destacar que o modelo de formação desenvolvido nesta pesquisa

proporcionou à pesquisadora identificar, neste momento, o que PC5C ainda precisava avançar

e à docente possibilitou a opção de verificar uma dúvida e validar um conhecimento. Errar faz

22

EMPZF: sigla utilizada para abreviar o nome da Escola B.

Page 199: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

197

parte do processo de aprendizagem, então, o equívoco cometido pela professora, quando foi

elaborar o título e a fonte da tabela estatística, além de ter contribuído para o desenvolvimento

profissional dela, demonstrou total confiança na pesquisadora. A figura 58 mostra o processo

de construção coletiva dessa tabela.

Figura 59 – Registro da construção coletiva de uma tabela estatística

Fonte: acervo da pesquisadora

Após as orientações de como fazer uma tabela com seus elementos (linhas, colunas,

abertura nas laterais, título e fonte) foi dado um tempo para os discentes construírem uma

tabela com os alimentos que eles tinham acabado de classificar. Um dos alunos mostrou o

caderno e disse:

Aluno: A gente já tava fazendo isso, professora. Olhe aqui...

PC5C: Vocês não estão fazendo uma tabela e sim uma lista porque estão escrevendo

o nome do alimento e a quantidade de imagens que conseguiram dele. Assim:

macarrão 2, arroz 3,...

Aluno: E não foi assim que a senhora fez?

PC5C: Não, preste atenção a estrutura do que está feito no quadro. Dá para ver a

diferença?

Para ajudar o aluno a entender, PC5C pegou as informações que estavam dispostas nas

duas colunas (alunos e quantidade) da tabela construída no quadro e as escreveu em forma de

lista, como tinha feito um dos grupos. Dessa forma os alunos conseguiram entender a

diferença que existia entre as duas formas de registro. A imagem 59 mostra o momento em

que a professora tirava a dúvida do grupo.

Page 200: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

198

Figura 60 – PC5C explicando a diferença entre tabela e lista

Fonte: acervo da pesquisadora

Pela figura é possível perceber que uma das meninas ficou no meio da imagem

enquanto a docente dava a explicação aos alunos. Por essa razão, não foi possível aparecer os

dados em forma de lista. A partir do questionamento do aluno sobre a forma de fazer os

registros dos dados coletados, evidenciou-se o não conhecimento de uma tabela estatística por

parte dos alunos, até aquele momento. Porém, foi positivo observar que PC5C foi capaz de

identificar a diferença entre as duas formas de fazer o registro dos dados e mediar uma

explicação de forma a obter o entendimento dos discentes. A forma como a sequência de

ensino foi vivenciada está de acordo com a BNCC (2017), quando, em relação ao ensino da

Estatística, defende que os primeiros passos devem envolver o trabalho com a coleta e a

organização de dados de uma pesquisa de interesse dos alunos. Diz ainda que a leitura, a

interpretação e a construção de tabelas e gráficos têm papel fundamental para a comunicação

de dados. Nesse sentido, a professora fez uma reflexão com os alunos mostrando como os

dados demonstrados em tabelas tornavam as informações mais objetivas e permitiam fazer

várias observações, como por exemplo, qual alimento teve mais ou menos imagens

pesquisadas.

Enquanto os alunos em grupo construíam as suas tabelas, a professora foi perguntar à

pesquisadora se estava tudo caminhando como o planejado e se ela tinha cometido algum

erro. Neste momento, a pesquisadora aproveitou para falar sobre o título da tabela feita no

quadro (Quantidade de alunos presentes em 17/10/2019), questionando a docente se o título

estava respondendo às três questões.

Page 201: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

199

Pesquisadora: O título do jeito que ficou, responde às três questões?

PC5C: Responde o quê [quantidade de alunos presentes] e…

Pesquisadora: Correto. Mas responde o quando e o onde também?

PC5C: Não, só o quando? Acho que coloquei o onde na Fonte, não foi?

Pesquisadora: Exatamente, muito bem!

PC5C: Mas na Fonte pode ficar só alunos do 5º ano C?

Pesquisadora: Sim, é assim mesmo que deve ficar. Fique à vontade para fazer a

intervenção para fazer essa observação no momento que você quiser. Certo? Ficou

claro?

PC5C: Ficou sim, obrigada!

Após esse diálogo com a pesquisadora, PC5C anotou no quadro as questões que o

título deve responder (O quê? Quando? Onde?), mas não falou nada ainda com os alunos para

não tirar a atenção deles enquanto faziam a atividade em grupo. Esse tipo de intervenção que

a pesquisadora realizou só foi possível devido ao modelo de formação proposto nesta

pesquisa, pois, por acontecer no ambiente escolar do professor-colaborador, essa aproximação

se torna frequente e proporciona esse tipo de aprendizagem colaborativa.

Quando os alunos terminaram de construir a tabela, a professora chamou a atenção

deles para o quadro onde estava a tabela construída, anteriormente, e fez o ajuste do título da

mesma forma que a pesquisadora fez com ela, relembrando as três questões que deveriam ser

contempladas (O quê? Quando? Onde?) e questionando se a forma como tinha sido feita

estava correta. Com a mediação da professora, os alunos conseguiram entender onde

precisava ser modificado para que o título ficasse escrito de forma correta e em seguida PC5C

refletiu sobre a fonte das imagens, as quais os alunos estavam trabalhando (panfletos, revistas

e livros).

Para a pesquisadora, observar a mediação da professora durante o processo de

construção de uma tabela estatística foi bastante significativo por perceber que, apesar da

Estatística ser algo que antes não havia sido trabalhado naquela sala de aula da forma como

havia sido orientada, professora e alunos estavam todos engajados na aprendizagem, foi uma

aprendizagem simultânea. A pesquisadora aprendeu sobre alimentação saudável e como fazer

a intervenção em tempo real, experiência nova para ela, e os professores-colaboradores

aprenderam sobre conceitos estatísticos. Imbernón (2010) diz que a formação continuada é

entendida como parte do desenvolvimento profissional que acontece ao longo da atuação

docente, podendo possibilitar um novo sentido à prática pedagógica, contextualizar novas

circunstâncias e ressignificar a atuação do professor. Diante dessa situação, é possível dizer

que o desenvolvimento profissional ocorreu em mão dupla, pesquisadora e colaboradora

aprendendo novos saberes e modificando a prática de ambas.

Page 202: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

200

Quando acabou o tempo definido para a construção da tabela, a professora recolheu a

atividade realizada pelos quatro grupos e informou que na aula seguinte eles iriam construir

um gráfico a partir daquela tabela. A figura 61 mostra a produção dos grupos.

Figura 61 – Tabelas estatísticas construídas pelos alunos de PC5C

Fonte: acervo da pesquisadora

Pelas imagens se observa que os alunos conseguiram construir as tabelas

contemplando todos os elementos citados pela professora, mostrando que PC5C se apropriou

dos conceitos estatísticos trabalhados na formação e fez com que seus alunos os

compreendessem também. Partindo do princípio que foi a primeira tabela que eles

construíram, porque até então o trabalho havia sido feito apenas com leitura de tabelas

advindas dos livros didáticos, significa dizer que realizar um trabalho voltado para docentes e

Page 203: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

201

discentes no que diz respeito ao letramento estatístico é possível. Isso faz lembrar Conti

(2016) quando diz que Educação Estatística, como área de pesquisa, objetiva estudar e

compreender a forma como as pessoas ensinam e aprendem estatística. Se esse tema é uma

parte esquecida da Matemática, a formação continuada em serviço pode contribuir sim para a

efetivação desse trabalho na Escola.

A próxima e última atividade daquela aula era a construção de uma pirâmide

alimentar. Para isso, a professora distribuiu tiras de cartolina entre os grupos, cada um em cor

diferente. O grupo dos carboidratos recebeu cartolina na cor marrom, vitamina e sais minerais

laranja, proteínas a amarela e gorduras em rosa. Os alunos precisavam colar as imagens de

alimentos recortados das Fontes no pedaço de cartolina recebido para depois juntar todas as

partes e formar a pirâmide da turma. As imagens da figura 62 mostram esse processo de

construção.

Figura 62 – Construção da pirâmide alimentar

Fonte: acervo da pesquisadora

Concluída mais uma atividade, a professora-colaboradora fez uma reflexão sobre

como tinha ficado a pirâmide ao final da construção, mediando o diálogo abaixo:

Page 204: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

202

PC5C: As imagens que a gente mais tinha eram de gorduras. É esse o alimento que

a gente mais deve consumir?

Alunos: Nããão!

PC5C: Vejam que a parte dos carboidratos sobrou espaço sem imagens, não foi?

Alunos: Foooi!

PC5C: Por que sobrou espaço?

Alunos: Porque a gente encontrou poucas imagens de carboidratos.

PC5C: Muito bem. Prestem atenção nos alimentos que devemos consumir mais e

lembrem do vídeo que assistimos na aula passada. As crianças com obesidade

infantil por causa da má alimentação. Lembram?

Alunos: Siiim!

Pelo diálogo se percebe que a forma como foi feita a mediação vai além de uma aula

de Ciências, pois provoca o aluno a refletir sobre a sua realidade alimentar, ajudando a

esclarecer para os discentes e suas famílias questões relacionadas a essa temática. Após esse

momento de reflexão com a turma, a aula foi concluída.

6.2.5.4 Construindo gráficos de barras verticais

A próxima aula (aula 4), acompanhada pela pesquisadora, aconteceu em 21 de outubro

de 2019, o planejamento para esse dia foi a construção de gráficos a partir das tabelas

produzidas anteriormente e havia 24 alunos presentes. Antes de iniciar, PC5C pediu para que

a pesquisadora explicasse aos alunos o porquê de as aulas estarem sendo filmadas, pois,

segundo a professora, os discentes estavam questionando frequentemente. Após a explicação,

que em termo de escrita está na metodologia, PC5C iniciou retomando o que já tinha sido

feito nas aulas anteriores sobre o tema alimentação saudável. Olhando para a pirâmide

alimentar construída em uma das paredes da sala, ela iniciou um diálogo com a turma:

PC5C: Por que vocês conseguiram mais alimentos referentes a gorduras?

Alunos: Porque consumimos mais esse tipo de comida, professora!

PC5C: Conseguimos imagens de frutas e verduras nos panfletos?

Alunos: Não!

PC5C: Por quê?

[silêncio]

A esta pergunta os alunos não souberam responder, mas a professora relembrou o

vídeo assistido pelos alunos reafirmando que as propagandas costumam ser elaboradas de

modo a convencer o consumidor a adquirir alimentos industrializados. Assim como fez na

aula em que os alunos construíram uma tabela, a colaboradora construiu um gráfico no quadro

com a participação dos alunos para servir de exemplo para os discentes. O exemplo foi dado a

Page 205: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

203

partir do levantamento sobre o componente curricular preferido dos alunos. A professora foi

falando os componentes curriculares, um de cada vez, e os alunos foram levantando a mão

para representar seu voto. PC5C frisou bem que só era possível votar uma única vez, caso

contrário, o total ao final da votação iria ultrapassar o número de alunos presentes.

Segundo PC5C, ela deu essa orientação da não possibilidade de o mesmo aluno poder

votar duas vezes, com base na experiência vivenciada por ela no encontro de formação em

que se discutiu sobre o ciclo investigativo com as professoras Cazorla e Santana. Porém, é

importante lembrar que em algumas situações é possível que o pesquisado escolha mais de

uma opção. A figura 63 mostra o momento da votação.

Figura 63 – Levantamento dos dados para construção de um gráfico

Fonte: acervo da pesquisadora

A professora-colaboradora decidiu seguir esse formato metodológico para dar

oportunidade aos alunos que perderam a aula anterior de vivenciar a construção de uma

tabela, antes de partir para a construção do gráfico. É importante ressaltar que, mesmo a

professora explicando que cada aluno só poderia votar uma vez, ao final da votação o

somatório dos votos não correspondeu ao total de alunos presentes. Por esse motivo, foi

necessário refazer a votação. É importante registrar que a discordância no resultado final se

deu porque dois dos alunos não seguiram as orientações da professora e levantaram a mão

mais de uma vez durante o processo de votação.

Ainda em relação a construção da tabela, no momento de elaborar como ficaria o

título, PC5C serviu de escriba para os alunos e ouvindo o que eles diziam escreveu -

Page 206: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

204

Disciplina preferida dos alunos da EMPZF. Neste momento, uma aluna se pronunciou e disse

que faltava "o quando" para o título ficar completo e aí a professora a parabenizou e fez a

reescrita - Disciplina preferida dos alunos da EMPZF, em outubro de 2019.

Essa parte da aula evidenciou duas situações. A primeira diz respeito à aprendizagem

discente que pôde ser observada enquanto a professora mediava a construção da tabela e os

alunos a ajudaram nessa construção, inclusive, sentindo falta de parte do título. Novamente é

possível associar às ideias de Clarke e Hollingsworth (2002) quando falam sobre o domínio

da consequência, momento em que o professora pode observar a aprendizagem do estudante,

o que não deixa de ser também um momento em que se verifica o desenvolvimento da

docente como mediadora do processo. Se a mediação está gerando aprendizagem houve o

desenvolvimento profissional docente, é o que os mesmos autores chamam de domínio

pessoal, desde que o docente avalie suas ações implementadas em consequência do processo

formativo.

Esse momento de avaliação aconteceu quando a pesquisadora chamou a professora,

em um intervalo de tempo em que ela não estava à frente das orientações e perguntou o que

ela tinha achado sobre a participação dos alunos durante a construção da tabela. PC5C

concordou que foi positivo vê-los interagindo e colocando em prática conhecimentos

adquiridos na aula anterior. A pesquisadora aproveitou esse momento de diálogo para dizer

que, quando o somatório não correspondeu ao total de alunos e quando ela decidiu pesquisar

sobre a disciplina favorita, ela deixou passar a oportunidade de trabalhar os conceitos de

população e de variável qualitativa, respectivamente.

Quando questionada sobre não ter trabalhado esses dois conceitos, ela falou que não

tinha lembrado do termo população e em relação à variável, disse ainda ter dúvidas. Por essa

razão, marcou-se um novo momento de planejamento, antes da próxima aula. Esse caminhar

da sequência de ensino corrobora com a proposta desta dissertação quando tem como meta

realizar uma formação continuada em serviço na perspectiva do desenvolvimento profissional.

Somente nesta perspectiva, o professor é considerado em sua totalidade sendo acompanhado

de forma sistematizada a ponto de permitir a análise da aprendizagem docente e de provocar a

intervenção do pesquisador na totalidade do ser professor, considerando tanto o profissional

como a pessoa desse docente como aprendentes.

Autores como Imbernón (2010) defendem essa forma de realizar formação continuada

por acreditar que as relações entre os professores (colaboradora e pesquisadora ou professores

Page 207: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

205

da mesma instituição) acontecem de forma diferenciada nesse formato, sendo importante e

interferindo no processo formativo docente, isso é, no desenvolvimento profissional de

ambos. No modelo tradicional de formação esse acompanhamento da prática feita pela

pesquisadora e a marcação de novos encontros de planejamento, a depender da necessidade da

professora-colaboradora, não seriam contemplados, uma vez que o que interessa nesse modelo

é o domínio do conteúdo e a autoridade do professor em sala de aula. Além disso, o modo

como as formações tradicionais acontecem não permite a aproximação e a colaboração das

partes envolvidas no processo.

Após a construção da tabela sobre a disciplina preferida dos alunos, PC5C começou a

explicar como construir um gráfico:

PC5C: Todo gráfico tem duas linhas [grifos da autora], uma vertical e uma

horizontal. O gráfico também tem título e Fonte e devem ser iguais aos da tabela

que iremos usar as informações para fazer o gráfico. A coluna ou linha vertical vai

ser utilizada para marcar a disciplina ou o número de alunos. Geralmente a linha

vertical representa quantidade, então vou colocar aqui número de alunos e na

horizontal, as disciplinas. Eu vou observar agora os resultados para poder fazer a

marcação. O zero vai ficar aqui, no encontro das linhas. Para o gráfico ficar correto,

precisamos prestar atenção na escala, a distância entre os números precisa ser a

mesma. O maior número que tivemos foi o 11 (número de alunos que gostam de

Matemática). Então, precisamos colocar todos [grifos da autora] os números, até o

11. Vamos marcar agora cada um dos resultados dos votos de vocês [...] Vejam que

eu fui pontilhando até chegar na disciplina correspondente e esse pontilhado vai

indicar a altura da coluna que eu vou fazer.

A professora construiu o gráfico no quadro branco utilizando uma régua e explicando

o passo a passo como descrito acima. Percebe-se que apesar de ter chamado os eixos

cartesianos de linhas [grifo da autora] (vertical e horizontal), a professora mediou o processo

de construção com clareza, sempre pedindo para os alunos prestarem atenção porque tratava-

se apenas de um exemplo em que eles deveriam ter como referência quando fossem fazer o

gráfico correspondente à tabela construída sobre os alimentos da pirâmide alimentar. Os

momentos em que a professora ficou repetindo para os alunos prestarem atenção, assim como

aqueles que precisou mediar pequenos conflitos entre os alunos, não foram descritos para se

deter ao foco das análises.

Pela explicação da colaboradora é possível observar seu entendimento sobre o que

estava explicando, pois, como afirma Cazorla (2002), um gráfico estatístico é uma

representação simbólica de dados, geralmente relacionando duas ou mais variáveis, utilizando

o sistema de coordenadas cartesianas e isso PC5C explicou com clareza para os alunos

Page 208: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

206

fazendo uso da linguagem que até aquele momento tinha a compreensão. Em relação ao

desenvolvimento profissional, o autor que corrobora com a situação posta é Marcelo (2009)

ao defender que se faz necessário proporcionar tempo aos professores para provar novos

métodos de ensino e receber apoio e assessoramento em suas classes quando se deparam com

problemas de implementação. Apesar de não ser, exatamente, um problema, mas sim ajustes

que precisam ser feitos na condução da mediação sobre construção de um gráfico, o tempo e o

assessoramento aconteceram dentro do possível.

Além da construção do gráfico, PC5C trabalhou mais alguns conceitos estatísticos

antes dos alunos começarem a construção deles:

PC5C: A Estatística é uma parte que a gente estuda dentro da Matemática que

trabalha com tabelas e gráficos e ela nos ajuda a fazer e compreender uma pesquisa.

Além disso, tem alguns conceitos dentro da Estatística que precisamos aprender, por

exemplo, qual a disciplina que recebeu mais votos?

Alunos: Matemática

PC5C: Pois bem, a Matemática na nossa pesquisa de hoje foi a Moda.

Alunos: E o que é Moda, professora?

PC5C: É aquilo que mais aparece, que mais foi respondido na pesquisa. Outro

conceito é a média. Quanto vocês precisam tirar pra passar de ano?

Alunos: 7,0; 8,0; 10,0!

PC5C: Não, estou perguntando o mínimo que vocês precisam tirar pra passar, qual

é?

Alunos: 6,0

PC5C: Isso. Vamos fazer um exemplo aqui de um aluno que tirou notas iguais a 7,0;

8,0; 6,0 e 9,0 pra ver se ele iria passar, ou não [...].

Na sequência, a professora calculou o valor da média fazendo a divisão pelo método

da soma de parcelas iguais, ou seja, se o somatório das notas deu 30 e teria que dividir por 4,

ela saiu somando várias parcelas iguais a 4 até saber quantas vezes se aproximava mais do

total 30. E assim, ela procedeu até chegar o resultado final que foi 7,5. Os alunos

acompanharam a resolução feita dessa maneira, parecendo ser assim a forma como a

professora trabalha divisão com a turma. Este diálogo entre PC5C e os alunos, em que ela

explicou o que era a Moda e como calcular a Média, evidenciou uma aprendizagem da

professora-colaboradora não demonstrada no instrumento diagnóstico (anexo D) que foi o

conceito de Moda. Desta feita, é possível afirmar que a apropriação docente referente a este

conceito é resultado da formação continuada em serviço desenvolvida pela pesquisadora na

Escola B.

Após o cálculo da Média no exemplo dado com as notas fictícia de um aluno, a

colaboradora foi fazer a Média da pesquisa sobre a disciplina favorita e começou fazendo o

Page 209: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

207

somatório dos números de votos que cada disciplina recebeu até que chegou em uma das

disciplinas que não tinha recebido votos. Quando isso aconteceu, ela deu uma pausa de

segundos como se estivesse pensando naquele zero e perguntou:

PC5C: O zero vai entrar no somatório, pesquisadora?

Pesquisadora: Se fosse um zero na nota do bimestre, entraria no somatório?

PC5C: Entraria porque ia somar as quatro notas para poder dividir por quatro

depois.

Pesquisadora: Exato, então?

PC5C: Entra sim. é verdade.

Quando a professora-colaboradora questionou sobre o zero entrar ou não no

somatório, a pesquisadora iniciou esse diálogo descrito acima para não falar diante aos alunos

que a professora estava equivocada. Mesmo assim, pelo fato dela ter parado para fazer a

pergunta, um dos alunos ainda fez um comentário: “A professora tá precisando de uma

aula”. A pesquisadora acredita que não teria problema em explicar que, naquele caso, não

cabia calcular a Média, porque a disciplina favorita dos alunos é uma variável qualitativa e

nesses casos só é possível definir a Moda. Além disso, o professor não tem a obrigação de

saber tudo, seria um bom motivo para um diálogo com os discentes, nesse sentido.

Mas, como a professora-colaboradora não tinha explorado a classificação das variáveis

ainda e também por não saber como a professora iria reagir se fosse dito que ela estava

equivocada, a pesquisadora decidiu por fazer um comparativo com o cálculo da média escolar

uma vez que, dessa forma, conseguiu colocá-la para refletir sobre o porquê do zero fazer parte

do somatório, caso a variável seja quantitativa. Apesar do equívoco não ter sido exposto,

PC5C não se sentiu confortável para continuar. Mesmo as evidências mostradas durante esta

escrita provando as vantagens de se realizar uma formação continuada em serviço, no

ambiente de trabalho dos professores-colaboradores, percebe-se que a situação relatada em

relação ao equívoco da professora se constitui uma das facetas desse tipo de formação que,

por ora, podem se apresentar de maneira positiva, ou não. Ainda assim, acredita-se na eficácia

do novo modelo.

Quando PC5C decidiu parar com a mediação que estava fazendo, ela iria explicar

como encontrar a Mediana e acabou desistindo e liberando os alunos para começar a

construção do gráfico. Essa decisão da colaboradora foi positiva porque o cálculo da Mediana,

também, não seria possível pelo mesmo motivo que a pesquisadora já expôs, tratava-se de

Page 210: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

208

uma variável qualitativa. Porém, a assertiva na decisão se deu não por ter propriedade do

conceito, mas por receio causado pelo fato ocorrido em relação à Média.

Enquanto os alunos construíram os gráficos, a colaboradora foi até a pesquisadora e

disse que estava com a sensação de que tinha cometido algum erro. Nesse momento, a

pesquisadora explicou à PC5C o que tinha ocorrido, ela entendeu, voltou a dizer que tinha

dúvidas na questão das variáveis e afirmou a necessidade de um novo encontro de

planejamento para entender de fato. A pesquisadora disse que faria um novo encontro com a

professora, como já havia combinado e, para deixá-la confortável, falou que a situação

ocorrida fazia parte do processo e que o desenvolvimento profissional docente, segundo Day

(2001), vai além de aprender e ensinar conteúdos, é algo mais amplo, envolve inteligência

emocional, indispensável para formação do ser social, seja ele criança, adolescente, adulto,

aluno ou professor.

Mais uma vez, é possível destacar o quão é positivo o modelo de formação vivenciado

nesta pesquisa, pois além de proporcionar um feedback prévio quase que instantâneo, ainda

caminha conforme as demandas apresentadas pela professora-colaboradora. Antes de ir

conversar com a pesquisadora, PC5C distribuiu entre os quatro grupos já existentes os alunos

faltosos da aula anterior, de modo que ninguém ficasse deslocado. Cada grupo tinha apenas

uma tabela construída, mas para o gráfico PC5C orientou que todos iriam fazê-lo de forma

individual. A figura 64 mostra a produção de alguns alunos responsáveis pelos alimentos

classificados no grupo das gorduras.

Figura 64 – Gráfico de colunas dos alunos de PC5C

Fonte: acervo da pesquisadora

Page 211: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

209

Ao observar os gráficos construídos percebeu-se que o grupo que ficou com os

alimentos classificados como gorduras foi o que melhor obteve o entendimento quanto à

construção gráfica. Os dois registros da figura 64 demonstram que os alunos estiveram atentos

a todos os itens explicados pela professora durante a explicação: escala de marcação nos eixos

cartesianos, espaçamento entre as colunas, forma de escrever o título, Fonte e legenda. O fato

de os alunos conseguirem obter o entendimento sobre como construir o gráfico evidencia o

quão foi positiva a mediação de PC5C no momento da explicação, proporcionando um bom

resultado na atividade proposta.

Para os demais grupos, o entendimento não foi da mesma forma, alguns não

colocaram título e fonte, as colunas foram representadas por linhas verticais, a numeração dos

eixos em alguns casos não estava devidamente localizada, entre outras ausências que para

aquele momento se constituiu como algo natural de acontecer, tendo em vista que era a

primeira vez que a turma estava construindo um gráfico. Para demonstrar essa construção, a

figura 65 apresenta a atividade de dois alunos.

Figura 65 – Gráficos com ausência de alguns elementos

Fonte: acervo da pesquisadora

Analisando as figuras 64 e 65 percebe-se que o trabalho em grupo favoreceu os

componentes. Isso é possível afirmar porque o nível dos gráficos construídos em um mesmo

grupo foi bem semelhante, como observou a professora-colaboradora. Desse modo, para

Page 212: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

210

construções posteriores é interessante que se modifique a organização dos grupos e se atenda

de forma individualizada às necessidades de cada aluno. Apesar dos ajustes ainda necessários,

a professora-colaboradora avaliou como positiva a construção gráfica dos alunos, até porque

foi a primeira vez que eles estiveram diante de uma atividade desse tipo, anteriormente,

tinham trabalhado apenas com leitura e interpretação de gráficos presentes nos livros

didáticos.

A aula terminou com a professora recolhendo os gráficos para analisar cada caso e

poder ajudar os alunos em suas respectivas dificuldades. Terminada a aula, a pesquisadora

conversou com PC5C dando mais algumas orientações que ela poderia utilizar em outras

aulas cujo objetivo fosse a construção de gráficos, entre elas, a legenda pode ser feita a partir

de cores, o gráfico pode ser construído em papel milimetrado para facilitar no momento da

marcação da escala e no desenho da coluna e a numeração dos eixos não, necessariamente,

precisa ser realizada um a um, principalmente, quando for preciso marcar um número maior

em um dos eixos. Outro item que a pesquisadora sentiu falta na aula foi a produção textual a

partir do que tinha sido trabalhado até aquele momento como fechamento de um ciclo

investigativo. A professora relatou que pensou em fazer, mas que o tempo não foi suficiente,

tendo em vista que os alunos demoraram na construção dos gráficos.

Neste momento final de diálogo, observando a produção dos alunos a pesquisadora

ainda comentou com a professora-colaboradora sobre a mediação e intervenção dela durante o

processo de construção dos gráficos. Eram muitos alunos para ela atender e tirar as dúvidas ao

mesmo tempo. Quando a pesquisadora fez esta observação para PC5C, a docente concordou e

confessou que ficou angustiada tentando atender a todos os alunos. Ainda sobre a construção

dos gráficos, a docente afirmou estar satisfeita com a primeira produção dos alunos, mas que

reconhecia a necessidade de retomar em outros momentos, dando novas explicações e

propondo mais atividades para que os discentes pudessem se apropriar do conhecimento e

desenvolver a habilidade de construir gráficos contemplada na vigésima quinta habilidade do

5º ano – EF05MA25 – descrita no quadro 3.

Ouvir esse posicionamento da professora-colaboradora foi muito positivo porque a

Estatística não é algo rotineiro de ser trabalhado em sala de aula, principalmente nos Anos

Iniciais. Então, aceitar colocar em prática a proposta trazida pela pesquisa demonstra o desejo

de aprender de PC5C e, como consequência, o seu desenvolvimento profissional. Vale

lembrar que a forma como a pesquisa estava se desenvolvendo dava relevância para o novo

Page 213: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

211

modelo de formação vivenciado pela pesquisadora na Escola B e apresentava dois desafios: o

modelo formativo e a temática. Mesmo assim, diante de todo esse desafio, a formação foi

desenvolvida a contento e a própria natureza dessa formação promoveu mais engajamento

entre os envolvidos, Escola e Universidade.

6.2.5.5 Planejando com a professora-colaboradora PC5C

Atendendo ao pedido de PC5C, antes da aula 5, a pesquisadora esteve com a

colaboradora no dia 01/11/2019 para planejar a próxima aula e conversar sobre o cálculo da

Média e Mediana, pontos que causaram dúvidas a professora durante a aula 4. O encontro

aconteceu durante 1h30min e ficou evidente que a dúvida não estava nesses cálculos e sim na

definição e classificação das variáveis, qualitativa e quantitativa, conforme diálogo a seguir:

PC5C: Estou angustiada porque na última aula eu acabei ficando confusa. Eu estava

nervosa!

Pesquisadora: Mas na aula passada, deu tudo certo. Só teve um pequeno equívoco

em relação à variável quando você foi calcular a Média e era uma variável

qualitativa.

PC5C: Pois é! É isso que não está entrando na minha cabeça.

Pesquisa: Calma, é simples. Vou te explicar, novamente.

Depois dessa fala da colaboradora, a pesquisadora retomou à explicação dada no dia

do encontro sobre os conceitos estatísticos, utilizando-se de exemplos variados para fazê-la

entender. Na ocasião, a pesquisadora lembrou a PC5C que a questão que dá origem a variável

e como essa questão poderá ser respondida, numericamente ou não, é o que vai ajudar a

classificar em qualitativa ou quantitativa. Ao ouvir as explicações, PC5C retrucou:

PC5C: O que me confunde é que tudo acaba sendo número, entende?

Pesquisadora: Não pense na tabela final, quando já se contabilizou os dados. Pense

em qual pergunta você ou seu aluno vai estar respondendo.

PC5C: Como assim?

Pesquisadora: Quantas frutas vocês comeram ontem?

PC5C: Três

Pesquisadora: Qual a cor predominante na sua roupa hoje?

PC5C: Branca

Pesquisadora: Qual das duas perguntas você respondeu com um número?

PC5C: A primeira

Pesquisadora: Tem como responder a segunda pergunta com um número?

PC5C: Não

Pesquisadora: Então, qual é a variável quantitativa?

PC5C: A quantidade de fruta?

Pesquisadora: Fruta

PC5C: Fruta sempre será variável quantitativa?

Page 214: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

212

Pesquisadora: Se eu te perguntar qual a sua fruta preferida, você vai me responder

numericamente?

PC5C: Não. Tá certo. Preciso pensar na resposta que será dada. É assim?

Pesquisadora: Exatamente!

Após esse diálogo, a colaboradora disse ter ficado mais clara a diferença entre a

classificação das variáveis e começou a falar das possibilidades que já tinha pensado para a

próxima aula, mas não estava conseguindo definir o que exatamente iria fazer. Entre essas

ideias estavam o cálculo do índice de massa corpórea (IMC), comparação de calorias

consumidas pelos alunos durante o almoço, entre outras. Para colocar em prática as atividades

pensadas por PC5C, precisaria envolver construção de um novo gráfico e comparação de

números decimais que ela ainda não tinha trabalhado com a turma. Por essa razão, a

pesquisadora mediou de tal forma que a fizesse refletir que, apesar das muitas possibilidades,

era necessário fechar em uma ideia mais simples, porque seria apenas para contemplar o

cálculo da Média e da Mediana que não tinha sido possível na aula anterior e que, não

necessariamente, ela precisaria abordar aqueles conceitos.

Caso aceitasse não trabalhar com esses dois conceitos, a sugestão da pesquisadora foi

ela fazer uma produção textual com os alunos sobre a experiência vivenciada durante o ciclo

investigativo que envolveu o tema da alimentação saudável e a Estatística. Porém, PC5C

insistia em planejar algo que contemplasse Média e Mediana. Isso mostra que ela estava

engajada em trabalhar os conceitos que eram novos, inclusive, para a docente, e voltou a

demonstrar a sua preocupação:

PC5C: Para trabalhar Média eu preciso internalizar. Eu só trabalho Média usando

a média escolar, mesmo [grifos da autora]. Para trabalhar média em outro contexto,

eu não me sinto segura.

Pesquisadora: Você precisa entender o conceito de Média. Não adianta só calcular,

mas sim entender o que aquele valor significa dentro da situação posta.

PC5C: Eu fiquei angustiada na aula passada porque eu passei o domingo estudando

e ainda fiquei confusa e acabou o aluno ainda dizendo que eu estava precisando de

aula. Fiquei chateada comigo mesma [grifos da autora].

Pesquisadora: Seria interessante você ter um diálogo com a turma e dizer pra eles

que professor não sabe de tudo, ninguém sabe de tudo. Todos nós somos

aprendentes.

PC5C: Eu já tive uma conversa com eles, nesse sentido. Aquele aluno que falou

aquilo é novato. Você viu como eles têm a memória boa? Lembraram que no

título que eu escrevi faltava o quando, não foi? [grifos da autora]

Em relação ao diálogo entre a pesquisadora e a professora-colaboradora é importante

destacar três pontos. O primeiro diz respeito à fala de PC5C [grifos da autora] quando a

Page 215: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

213

mesma revelou só trabalhar a Média no contexto escolar. Isso corrobora com a resposta dada

por ela no item ―d‖ da questão 2 do instrumento diagnóstico quando a docente acertou o

cálculo, mas não justificou de forma correta, demonstrando o domínio apenas do calcular, não

sendo possível assim perceber características de um letramento estatístico.

O segundo ponto a ser destacado diz respeito à professora-colaboradora ter ficado

chateada com ela mesma [grifos da autora] pelo comentário feito pelo aluno quando a docente

mostrou insegurança durante a explicação. Apesar do mal-estar causado à PC5C, ela não

pensou em desistir de trabalhar os conceitos sobre os quais ainda estava com dúvidas, pelo

contrário, pediu ajuda a pesquisadora para melhor poder mediar a explicação na aula seguinte.

Isso demonstra mais motivação para se apropriar do que ainda não sabia, além da confiança

na pesquisadora.

O terceiro e último ponto está relacionado à fala de PC5C quando, de um jeito

orgulhoso, lembrou da aluna que havia ajudado a complementar o título do gráfico que estava

sendo construído de forma coletiva pela professora-colaboradora. Essa reflexão sobre a

própria prática demonstra indícios do seu desenvolvimento profissional. A pesquisadora

aproveitou a lembrança dessa aluna para mostrar à PC5C que isso era um ponto muito

positivo e que indicava a evolução deles quanto ao ensino de Estatística, sendo da docente o

mérito por esse desenvolvimento dos discentes.

Na continuação do diálogo, a colaboradora continuou falando sobre como fazer o

planejamento da aula 5 e em um determinado momento perguntou se era possível não haver a

Moda em uma dada situação. A pesquisadora respondeu que sim e que nesse caso chama-se

de amodal. Disse ainda que, da mesma forma que pode não ter a Moda, pode também ter mais

de uma e nesses casos chama-se de bimodal. Retiradas as dúvidas e expostas todas as

possibilidades que a docente havia pensado para a aula 5, a opção que PC5C estava mais

propensa a aderir era trabalhar com o valor calórico dos alimentos fornecidos por uma tabela

do livro didático e a partir do somatório das calorias consumidas durante o almoço, trabalhar

os conceitos de Moda, Média e Mediana, como está definido na sequência de ensino (anexo

G).

O encontro entre a professora-colaboradora e a pesquisadora encerrou devido ao

término do turno matutino, mas PC5C ainda não tinha registrado como ficaria o planejamento.

Por esse motivo, ficou acordado que se a professora tivesse alguma dúvida durante o final de

semana poderia perguntar, já que a aula 5 seria na segunda-feira, próximo dia letivo, após

Page 216: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

214

aquele encontro. Esse momento vivenciado entre pesquisadora e colaboradora corrobora com

Passos et al. (2006) quando afirmam que há uma multiplicidade de fatores (pessoais, sociais,

culturais, históricos, institucionais, cognitivos e afetivos) que participam e interferem no

processo de desenvolvimento profissional dos professores.

Isso foi possível perceber durante esse encontro porque, apesar do motivo que levou à

marcação do mesmo, foi necessário mais do que explicações conteudistas. A professora

estava desanimada e angustiada no início da conversa, mas com o passar do tempo foi se

comportando de forma mais confortável. Isso demonstra mais um ganho do modelo de

formação desenvolvido nesta pesquisa. A pesquisadora tem como intervir de forma mais

direta nos desânimos e desistências. Esse movimento pode até ter um custo maior, devido ao

trabalho mais próximo, a quantidade de deslocamentos que o pesquisador precisa fazer, entre

outros fatores, mas os ganhos que vêm em médio e longo prazo também são enormes.

Além disso, Boavida e Ponte (2002) afirmam que a colaboração é uma estratégia

fundamental para enfrentar problemas de natureza complexa, como a prática docente, por

exemplo. Para esse momento da pesquisa, a colaboração foi muito importante, ajudou a

professora-colaboradora a receber o apoio que estava precisando para continuar demonstrando

também a confiança que a mesma já havia desenvolvido em relação à pesquisadora.

Novamente, isso acontece devido ao modelo de formação continuada desta pesquisa que é

baseado no desenvolvimento profissional e na colaboração.

Durante o final de semana, PC5C se comunicou via WhatsApp mas, como de costume,

não utilizou o grupo formado para o diálogo entre o grupo colaborativo, A opção que a

colaboradora fez uso durante toda a pesquisa, quando havia alguma dúvida, sempre foi falar

com a pesquisadora pelo WhatsApp privado, constituindo-se mais uma demonstração de

confiança. Utilizando essa ferramenta, os últimos ajustes da aula 5 foram feitos e a aula

aconteceu na segunda-feira dia 04/11/2019, como descrito na próxima subseção, sendo

possível afirmar que os espaços formativos e colaborativos foram ampliados via recurso

digital.

6.2.5.6 Trabalhando os conceitos de Moda, Média e Mediana

Como de costume, a professora começou a aula recapitulando o que tinha sido visto

até aquele momento, tanto em relação à alimentação saudável, como a Estatística. Essa opção

metodológica, segundo PC5C, era utilizada para contemplar os alunos faltosos de modo que

Page 217: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

215

eles pudessem se inteirar sobre o que tinha acontecido nas últimas aulas e para observar o que

os alunos ainda lembravam e, portanto, aprenderam.

Nesse dia estavam presentes 24 alunos e a primeira atividade da manhã foi fazer uma

tabela estatística feita de forma coletiva em que a professora ia escrevendo as informações

dadas pelos alunos. A tabela tinha como objetivo registrar quantas imagens foram encontradas

de cada classificação alimentar para depois realizar a construção da pirâmide alimentar. A

figura 66 mostra esse registro.

Figura 66 – Quantidade de figuras encontradas por classificação alimentar

Fonte: acervo da pesquisadora

Pela imagem, observa-se que além do registro em tabela contemplado todos os

elementos até então estudados (título, fonte e laterais abertas), PC5C encontrou os valores da

Moda e da Média. Porém, ao registrar como Moda o valor 70 percebe-se que ainda existem

dúvidas na hora de definir esse conceito estatístico. As imagens mais encontradas durante a

pesquisa foram as correspondentes à gordura e doces e, portanto, essa deveria ser a resposta

da Moda e não o valor correspondente a quantidade de imagens. Em relação à Média, além do

cálculo, PC5C fez a seguinte reflexão com a turma:

Page 218: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

216

PC5C: Por que foi dividido por 4? Só porque no exemplo da nota de vocês, que nós

fizemos na aula passada, foi dividido por 4, também?

Alunos: Não, porque são 4 grupos alimentares.

PC5C: O que significa esse 51 que foi o resultado da Média? Que a média das

imagens encontradas foi 51. Vejam que 60 e 49 estão bem próximos da média. Já o

25 e o 70 estão distantes, mas um compensa o outro [grifos da autora] porque 51 tá

representando a média e não o valor exato de cada um.

A professora-colaboradora respondeu à pergunta referente ao significado do valor 51,

porque nenhum aluno se pronunciou tentando responder. Essa atitude dos alunos já era

esperada, porque PC5C só tinha falado sobre a Média, anteriormente, uma única vez quando

simulou o cálculo da Média escolar para um aluno imaginário. Então, observou-se que os

discentes ainda estavam se apropriando do conceito estando mais claro, naquele momento,

apenas a forma de calcular.

Em relação à PC5C, quando ela usou a expressão ―um compensa o outro‖ [grifos da

autora] é possível perceber sua evolução quanto ao entendimento do significado do conceito,

não apenas do cálculo. Porém, ainda precisa de um aprimoramento por parte da docente

porque se essas imagens fossem ser distribuídas pelos quatro grupos, por exemplo, todos eles

receberiam 51 imagens. Neste caso, o grupo que conseguiu encontrar 70 imagens receberia 21

imagens a menos do que a quantidade pesquisada e isso seria na verdade uma desvantagem.

Enquanto isso, o grupo que encontrou na pesquisa apenas 25 imagens, se recebessem 51 na

distribuição proveniente da Média teriam uma vantagem de 26 figuras a mais, mais que o

dobro.

Pensando dessa forma, necessário ter clareza que quando se vai trabalhar com a

Média, nem sempre todos saíram ganhando para não causar a falsa impressão de que ―um

compensa o outro‖ [grifos da autora] reflete sempre uma situação favorável a todos. A Média

sempre vai representar a Média aritmética de um conjunto de números. De todo modo, existe

um avanço na aprendizagem de PC5C referente à interpretação do conceito de Média,

interpretação essa que ela não conseguiu realizar de forma satisfatória no instrumento

diagnóstico.

Essa evidência no desenvolvimento profissional de PC5C corrobora com Ferreira

(2006) quando afirma que a formação continuada quando não contribui para o

desenvolvimento profissional é porque se apresenta de forma descontextualizada com a

prática do docente, por não ser planejada a partir do que é vivenciado na escola. Na situação

posta, o avanço da professora no que diz respeito ao entendimento do conceito de Média se

deu, exatamente, pelo ato de planejar a partir da sua necessidade e prática docente.

Page 219: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

217

Concluída essa etapa da aula, a segunda atividade proposta foi uma adaptação feita do

livro didático de Ciências, em que foram dadas várias opções de alimentos para o aluno

montar a sua refeição referente ao almoço. Para isso, eles precisavam escolher cinco itens

entre os apresentados na tabela. Como foi uma adaptação, PC5C não utilizou o próprio livro

levando para os alunos a atividades xerografadas, como mostra a figura 67.

Figura 67 – Atividade adaptada do livro de Ciências

Fonte: acervo da pesquisadora

Pela atividade selecionada para explicar na figura 67, observa-se que o aluno montou

seu almoço utilizando feijão, macarrão, frango, alface e batata frita. Na sequência, ele pegou o

valor calórico de cada alimento escolhido para calcular o total de calorias consumido. Além

disso, os alunos ainda tinham que dizer o alimento mais calórico e o menos calórico, a

Page 220: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

218

classificação de cada item escolhido (carboidrato, proteína, vitamina e sais minerais, gorduras

e doces) e por fim, responder se aquele prato montado por ele estava nutricionalmente

equilibrado. Para responder a última questão, os alunos se basearam no livro didático onde

tinha a informação de que para os nutricionistas a alimentação deve conter 2000 calorias por

dia. Quando todos responderam, a colaboradora recolheu as atividades e pediu ajuda da

colaboradora para selecionar sete entre as vinte quatro.

O cuidado no momento da seleção foi necessário para poder garantir que teria pelo

menos um valor repetido para poder ser a Moda da situação. Esse cuidado foi necessário

porque mesmo a pesquisadora tendo informado, no dia do planejamento, a PC5C que não,

necessariamente, precisa existir um valor para a Moda, a professora-colaboradora no

momento da aula pediu ajuda perguntando se tinha como garantir a existência do valor da

Moda naquela atividade, pois ela não queria introduzir uma nova informação naquele

momento. A pesquisadora informou que escolhendo de forma não aleatória, era possível

contemplar o que a docente solicitou e assim foi feita a seleção que deu origem aos registros

representados na figura 68.

Figura 68 – Cálculo da Moda, Média e Mediana

Fonte: acervo da pesquisadora

Page 221: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

219

Após a seleção das sete atividades, a professora começou a mediar o processo de

construção de uma tabela de forma que pudesse abordar os conceitos estatísticos de Moda,

Média e Mediana:

PC5C: Hoje, nós somos 24 alunos que podemos chamar de população, mas iremos

trabalhar com uma amostra de 7 alunos para trabalhar os conceitos de Moda, Média

e Mediana. Certo?

Alunos: Certo.

PC5C: Vamos começar construindo uma tabela com os dados dessas sete

atividades. Como ficará o título?

Alunos: Caloria do almoço dos alunos da EMPZF realizada em novembro de 2019.

E a Fonte, professora?

PC5C: Como ficará?

Alunos: Alunos do 5ºC

PC5C: Muito bem. E qual será a moda?

Alunos: Gustavo e Dennis!

PC5C: Gustavo e Dennis?

Alunos: Não, professora. É o valor calórico.

PC5C: Muito bem! Então, será 1021. E a média? Como encontro?

Alunos: Some os valores, professora.

PC5C: E depois de somar?

Alunos: Divide

PC5C: Divide por quanto?

Alunos: Divide por 7

PC5C: Por que por sete?

Alunos: Porque a senhora pegou sete alunos pra fazer a tabela.

PC5C: Somando e dividindo deu 762,57. Podemos arredondar esse número, quanto

ficará?

Alunos: Tá mais perto de 763.

PC5C: Muito bem. Quando a gente arredonda escreve assim, Média ≅ 763 calorias.

Outro conceito da Estatística é a mediana. Vamos escrever os valores em ordem

crescente e ver qual o valor que fica no meio?

Alunos: O que significa a mediana, professora?

PC5C: Nesse caso, quem está abaixo da mediana, tá distante de uma alimentação

equilibrada e quem está depois da mediana está fazendo uma alimentação muito

calórica [grifos da autora]. Deu para entender o que é Moda, Média e Mediana?

Alunos: Deu sim.

A mediação da colaboradora deixou algumas evidências. A primeira delas é em

relação ao conceito de Moda. Dessa vez a intervenção feita aos alunos e a resposta dada para

a Moda foi correta. Portanto, se ainda não internalizou, é possível afirmar que melhorou

porque além de ter acertado o valor da Moda, ela ainda fez a intervenção no momento em que

os alunos deram como resposta, Gustavo e Dennis, e não o valor que mais se repetiu entre os

valores analisado. A segunda evidência é que os alunos já tinham o domínio, pelo menos os

que responderam, de como arredondar um número que apresenta casas decimais, o que

demonstra que juntamente ao ensino da Estatística se trabalha as operações fundamentais, o

arredondamento de números racionais e a interdisciplinaridade, nesse caso, com o

Page 222: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

220

componente curricular Ciências, contemplando a habilidade EF05MA24 (quadro 3) e outras

habilidades da Unidade Temática Números que não foram objeto de estudo desta pesquisa.

A terceira evidência diz respeito ao cálculo da Média que mesmo mudando a

quantidade de termos, tanto a docente quanto os alunos não demonstraram dúvidas em dividir

o somatório por sete. Como PC5C revelou durante o planejamento com a pesquisadora que

até então somente havia utilizado o cálculo da Média no contexto escolar, essa evidência não

deixa de demonstrar um avanço em seu entendimento em relação a esse conceito, apesar da

dificuldade da docente, desde o instrumento diagnóstico ser mais na interpretação e não ao

calcular.

Por fim, a quarta evidência corresponde ao momento de explicar o significado do

conceito de Mediana. A forma de encontrá-la e a resposta foram corretas, apesar de PC5C ter

colocado entre os termos o sinal que representa a operação de adição, o que não se faz

necessário porque os termos não serão adicionados, sendo necessário apenas organizá-los em

ordem crescente, ou decrescente. Porém, como ela escreveu os sinais intercalando os termos,

mas não operacionalizou, isso não representou um problema.

Porém, no momento do diálogo com os alunos explicando sobre o que significava

aquele valor, PC5C tomou como referência as calorias de uma alimentação saudável,

equilibrada, dizendo: “[...] quem está depois da mediana está fazendo uma alimentação muito

calórica”. Porém, não era possível esta assertiva, pois a mesma varia de acordo com a dieta

de cada aluno a depender do índice de massa corporal, assunto que a docente só iria trabalhar

posteriormente e não fez parte da sequência de ensino. Mais uma vez se destaca o domínio do

cálculo em detrimento do significado do conceito.

Ao término da aula, a pesquisadora a chamou para conversar e explicou que aquele

resultado da Mediana representava o valor que separa a metade maior e a metade menor de

uma amostra, no caso da atividade, os sete alunos selecionados estavam representando esta

amostra. Disse ainda que, em termos mais simples, mediana nada mais é do que o valor do

meio de um conjunto de dados e para fazer referência se aqueles valores estavam relacionados

a uma alimentação calórica, ou não, seriam necessários outros critérios de análise. Após esta

explicação da pesquisadora, a colaboradora agradeceu e fez um comentário sorrindo:

“Quando eu penso que entendi, ainda falta um detalhe!”.

Nestes momentos de desânimo da professora-colaboradora, a pesquisadora sempre

procurava animá-la fazendo um comparativo com a aprendizagem dos alunos que não

Page 223: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

221

evoluem em uma única aula, mas sim, durante um intervalo de tempo, precisando considerar

todas as nuances de um processo de ensino e aprendizagem. Observando o desenvolvimento

profissional de PC5C percebe-se que o mesmo corrobora com Passos et al. (2006) quando

afirmam que a formação docente em uma perspectiva de formação contínua e de

desenvolvimento profissional pode ser entendida como um processo pessoal, permanente,

contínuo e inconcluso que envolve múltiplas etapas e instâncias formativas.

A afirmação das autoras se fez presente quando a colaboradora foi aprimorando seu

saber em relação aos conceitos estatísticos à medida que os encontros de formação e

planejamento foram acontecendo e até mesmo quando ela externou o sentimento de que

sempre faltava um detalhe para aprender, demonstrando a inconclusão do processo.

Para finalizar a aula 5, a professora pediu aos alunos que fizessem a agenda para

anotar o dever de casa e comunicou que a próxima aula (aula 6) de Ciências seria no

laboratório de informática, aula esta que será apresentada na próxima subseção.

6.2.5.7 Estatística e alimentação saudável na plataforma OBAMA

A aula 6 encerra a sequência de ensino e foi planejada para acontecer no laboratório de

informática, como está registrado no planejamento (anexo G). A proposta foi trabalhar o

objeto de aprendizagem "Conta kg" que aborda o mesmo tema da sequência de ensino

(alimentação saudável) e envolve conceitos estatísticos. No planejamento também foi prevista

a possibilidade de um segundo OA ser utilizado, Brincando e aprendendo com gráficos e

tabelas, a depender do tempo de interação dos alunos com o primeiro recurso digital.

Por ausência de máquinas para todos os alunos, eles foram dispostos em dupla por

computador. Para que nenhum aluno ficasse sem interagir com os AO que seriam trabalhados,

a orientação foi que seria dado o tempo para que os dois pudessem vivenciar o que estava

sendo proposto, um de cada vez, e assim foi feito e acompanhado tanto pela pesquisadora

como pela professora-colaboradora, conforme mostra a figura 69.

Page 224: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

222

Figura 69 – Alunos no laboratório de informática

Fonte: acervo da pesquisadora

Neste dia, a pesquisadora esperava que a professora-colaboradora assumisse a

mediação da aula durante a interação dos alunos com o objeto de aprendizagem (OA)

selecionado da plataforma OBAMA e posto no planejamento. Porém, PC5C apenas fez a

abertura da aula, pediu que os alunos prestassem atenção à explicação, fez uma breve

introdução falando sobre o que a turma tinha visto sobre alimentação saudável e conceitos

estatísticos informando que o OA que eles iriam conhecer estava relacionado com os mesmos

assuntos e passou a palavra para a pesquisadora. Isto reforça a ideia de que o laboratório não é

utilizado como uma extensão da sala de aula e passou a impressão de que aquele momento era

só para divertimento.

Como afirmam Almeida e Valente (2011), o uso de recursos tecnológicos permite que

os professores ampliem o repertório de recursos didáticos a serem utilizados em suas aulas,

em que a tecnologia digital aparece como uma possibilidade com grande potencial para o

meio educacional. Por esse motivo, apesar de que não estava prevista a mediação da

pesquisadora, naquele momento, a aula transcorreu naturalmente, pois a mesma entendeu que,

como PC5C estava presente durante toda a aula, seria para ela uma oportunidade de

aprendizagem também. É fato que essa decisão só foi possível devido ao modelo de formação

vivenciado durante esta pesquisa em que a parceria e a colaboração andam lado a lado em

prol do desenvolvimento profissional de todos os envolvidos.

O OA inicialmente escolhido para a aula 6 foi o Conta Kg devido à relação com a

temática abordada na sequência de ensino, conforme informado anteriormente e na figura 70.

Page 225: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

223

Figura 70 – Objeto de aprendizagem planejado para a aula 6

Fonte: prints da plataforma OBAMA

O OA tem uma nutricionista que contextualiza e interage com o aluno. Num

determinado momento, ela pede que o aluno escolha qual gráfico quer construir e após sua

escolha, uma situação é posta para ele. Vale salientar que, apesar da sequência de ensino

vivenciada pela pesquisadora e a turma ter contemplado apenas o gráfico de colunas ou barras

verticais, os discentes já tinham conhecimento do gráfico circular por meio do livro didático

de Ciências, como informou PC5C aos alunos, em sua fala inicial, antes de passar a mediação

para a pesquisadora. Em relação ao gráfico de barras horizontais, os alunos não tiveram

dificuldade para entender quando a pesquisadora fez a relação deste com o de barras verticais

ou colunas que eles haviam construídos durante as aulas de Matemática.

É importante registrar que, apesar da professora-colaboradora não ter ficado a frente

da mediação da aula, ela conhecia o OA, interagiu com o mesmo e tinha clareza do

conhecimento necessário aos alunos para esse momento de interação. Por este motivo, ela já

havia apresentado, senão durante as aulas da sequência de ensino, mas por meio das aulas de

outros componentes curriculares, os tipos de gráficos que apareceriam no OA e que, portanto,

os alunos precisavam ter o mínimo de conhecimento possível. Isso não invalida a necessidade

de um aprofundamento no ensino dos tipos de gráficos. Após a explicação, os alunos

começaram a interação com o objeto de aprendizagem, conforme mostra a figura 71.

Page 226: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

224

Figura 71 – Alunos interagindo com o OA Conta Kg

Fonte: acervo da pesquisadora

Como os alunos estavam em duplas, foi dado um tempo suficiente para que os dois

pudessem vivenciar o OA, um de cada vez. Depois da interação, a professora-colaboradora

assumiu a mediação e foi fazer a relação dos alimentos que tinham no OA com os alimentos

da atividade adaptada do livro (aula 5), falando sobre os valores calóricos dos mesmos e suas

classes alimentares, respectivamente. Em seguida, falou dos gráficos que tinham no OA,

fazendo a associação com o que os alunos tinham visto na aula: ―no eixo vertical sempre as

quantidades, no horizontal a variável que está sendo utilizada na atividade, no caso, os

alimentos. Lembram?”.

Durante essa mediação de PC5C com os alunos observou-se que, pela primeira vez,

a docente utilizou a palavra eixo para fazer referência ao plano cartesiano. Anteriormente, ela

falava sempre linha horizontal e linha vertical. Essa evidência mostra um avanço no

desenvolvimento profissional da professora-colaboradora porque mesmo ela conseguindo

passar a mensagem do que seria a linha horizontal e vertical, falar o termo estatístico correto é

uma apropriação do conhecimento não demonstrado antes da formação continuada em serviço

desenvolvida na Escola B.

Ao terminar a interação com o Conta Kg, ainda havia tempo para vivenciar mais um

OA, antes de terminar a aula. Por esse motivo, foi proposto aos alunos ―Brincando e

Page 227: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

225

aprendendo com gráficos e tabelas‖, previsto no planejamento por sugestão da pesquisadora.

Essa sugestão foi acatada por PC5C porque ambas, colaboradora e pesquisadora, imaginaram

que os alunos iriam ser rápidos no manuseio com a tecnologia digital, característica comum

dos alunos denominados nativos digitais. A figura 72 mostra esse AO.

Figura 72 – Segundo OA utilizado com os alunos de PC5C

Fonte: Prints da plataforma OBAMA

O procedimento com o segundo OA foi diferente porque a interação proposta era

coletiva. Como PC5C já estava mais à vontade, ela mesma mediou o processo após a

apresentação do recurso digital feita pela pesquisadora. Isso mostra que a docente foi

identificando aquele espaço do laboratório de informática como extensão da sua sala de aula e

isso foi algo muito positivo naquele dia. O fato de a professora-colaboradora acabar se

envolvendo como mediadora demonstrou mais uma vez a relação de parceria com a

pesquisadora que a ajudou a vencer aquele bloqueio inicial. Além disso, ficou visível que o

receio de PC5C era mais com a questão tecnológica do que com a mediação da aula

propriamente dita.

Para interagir com a turma, PC5C escolheu o tema frutas entre os muitos temas que o

OA oferece, como uma forma de permanecer dentro do tema original que era alimentação

saudável. Todos votaram na sua fruta preferida e ao final da votação foram gerados uma

tabela e um gráfico, como mostra a figura 73.

Page 228: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

226

Figura 73 – Tabela e gráfico gerados a partir da interação com os alunos de PC5C

Fonte: arquivos da pesquisadora

Enquanto interagia de forma coletiva, PC5C também fez relação com os conceitos

estatísticos trabalhados nas aulas anteriores, questionando aos alunos como fazer o título e a

Fonte das tabelas e dos gráficos que estavam aparecendo no OA e qual o valor da Moda da

situação, após observação dos gráficos, como mostra o diálogo:

PC5C: Pelo que a gente aprendeu dos conceitos estatísticos nas aulas passadas qual

é a Moda dessa tabela?

Alunos: Abacaxi

PC5C: Tem quantos abacaxis?

Alunos: Tem 13

PC5C: E porque abacaxi é a Moda?

Alunos: Porque é o que tem mais. É o valor mais alto.

PC5C: Foi a fruta que mais se repetiu. Lembra o que a gente estudou? A Moda é o

que mais se repete na pesquisa. Lembram?

Alunos: Siiim!

PC5C: E o gráfico? Como é o nome desse gráfico?

Alunos: Gráficos de barras

PC5C: O que foi que a gente viu que tem que ter em todo gráfico?

Alunos: Fonte que seria alunos do 5º C

PC5C: Vamos colocar assim, turma do 5º C, tá certo?

Alunos: Siiim!

PC5C: E o que falta mais?

Alunos: O título.

PC5C: Como vai ficar o título?

Alunos: Frutas favoritas

PC5C: Só isso?

Alunos: Falta o quando?

PC5C: O título completo vai ficar ―Frutas preferidas dos alunos da EMPZF, em

novembro de 2019.

Pela mediação de PC5C percebe-se a segurança em tratar sobre a Moda e elementos de

um gráfico, como título e Fonte. A apropriação desses saberes aconteceu durante o processo

Page 229: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

227

de formação e isso é possível afirmar porque no instrumento diagnóstico ela disse não lembrar

sobre o que era a Moda. Em relação aos elementos de um gráfico foi no encontro de formação

sobre os conceitos estatísticos, ocorrido no dia 12/09/2019, que a professora-colaboradora

disse ter aprendido sobre como compor um título de forma completa.

A aula foi concluída após o segundo OA e os alunos saíram bem empolgados com a

plataforma que conheceram e a pesquisadora os avisou que eles poderiam acessar de casa e

interagir novamente com os mesmos OA, ou com outros. Essa aula fez lembrar Almeida e

Valente (2011) quando os autores afirmam que a criação de ambientes de aprendizagens

interativos por meio das tecnologias digitais pode impulsionar novas formas de ensinar,

aprender e interagir com o conhecimento. Além disso, propicia o desenvolvimento da

capacidade de dialogar, representar o pensamento, buscar, selecionar e recuperar informações,

construindo conhecimento em colaboração.

É importante registrar que essa aula do laboratório também foi oportunizada para os

alunos de PC5B, pelo fato dela ter participado de todo o planejamento da sequência de ensino,

juntamente à colaboradora PC5C e à pesquisadora. Porém, esta aula não será descrita e

analisada, pois apenas a prática de PC5C foi acompanhada durante todo o processo. Outro

ponto que merece ser registrado é que, antes do encontro de avaliação da formação, haveria

mais uma aula da professora-colaboradora a ser acompanhada pela pesquisadora em que os

alunos fariam uma produção textual e a docente encerraria o ciclo investigativo.

Porém, por motivo de saúde, essa aula não foi possível de acontecer nem de ser

reprogramada devido as datas restritas de final de ano. Os alunos já iriam começar a fazer as

avaliações do quarto bimestre e as professoras tinham que começar a fazer revisão. Como a

proposta da pesquisa sempre foi zelar por não interferir na rotina da Escola, a aula do

laboratório acabou sendo a última da sequência de ensino.

Antes de concluir esta seção é importante registrar que a sequência de ensino aqui

relatada foi um dos trabalhos apresentados durante a I Feira Natalense de Matemática ocorrida

no CEMURE, no período de 12 a 14 de março de 2020. O evento foi uma parceria entre a

Secretaria Municipal de Educação (SME) e a Sociedade Brasileira de Educação Matemática

(SBEM) em que os professores da Rede Municipal do Natal socializaram experiências

exitosas realizadas em sala de aula durante o ano letivo de 2019, como mostra a figura 74:

Page 230: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

228

Figura 74 – Participação de PC5B e PC5C na I Feira Natalense de Matemática

Fonte: acervo da pesquisadora

A participação da Escola B neste evento foi uma produção coletiva. As professoras-

colaboradoras com seus respectivos alunos produziram todo o material socializado: pirâmide

alimentar, tabelas, gráficos, entre outros. O GP se empenhou na produção do banner, também

exposto no stand da escola, e a pesquisadora deu toda orientação e apoio desde a elaboração

do resumo do trabalho enviado para consolidar a inscrição na Feira, até o acompanhamento da

apresentação da sequência de ensino durante os três dias de evento.

Diante do exposto, verifica-se que o segundo objetivo específico desta pesquisa foi

contemplado - Realizar formação continuada em serviço e colaborativa dentro do ambiente

escolar. A próxima seção relata o último encontro entre professores-colaboradores e

pesquisadora em que objetivou avaliar o processo formativo e o desenvolvimento

profissional, não só de PC5C, mas de todos os envolvidos da Escola B.

6.3 Avaliando o processo formativo a partir da apropriação do conhecimento dos

envolvidos na pesquisa

Após todo o processo formativo descrito na seção anterior, a última fase da pesquisa

foi analisar, juntamente aos colaboradores, a formação realizada na Escola B com o propósito

de contemplar o terceiro objetivo específico desta dissertação – refletir sobre os resultados

trazidos pela formação para a prática docente e para o desenvolvimento profissional do

professor. A reflexão nesta seção é referente a todos os envolvidos na pesquisa, inclusive

PC5C que já teve a sua ação docente acompanhada e refletida pela pesquisadora. Para tanto, o

dia 29/11/2019 foi agendado para tal fim e contou com a presença de integrantes da Escola

(PC5B, PC5C, GP e coordenadora) e da UFRN (pesquisadora, orientador e duas estudantes de

iniciação científica da equipe OBAMA), conforme mostra a figura 75.

Page 231: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

229

Figura 75 – Encontro avaliativo na Escola B

Fonte: acervo da pesquisadora

Antes de começar o encontro para reflexão de todo o trabalho desenvolvido por meio

da pesquisa, foi feito um momento de confraternização entre os alunos de PC4A (mesmo ela

não estando presente porque estava de atestado médico), PC5B e PC5C. Este momento

aconteceu no refeitório da Escola e foi utilizado para agradecer a toda a comunidade escolar a

parceria firmada desde o primeiro encontro para apresentação da proposta até aquele último

dia.

Na ocasião, após as falas de quem se propôs a se pronunciar, foram feitos registros

fotográficos das três turmas e para terminar esse momento, a distribuição do lanche paras as

crianças, conforme mostra a figura 76.

Page 232: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

230

Figura 76 – Confraternização com os alunos de PC4A, PC5B e PC5C

Fonte: acervo da pesquisadora

Concluído o momento de confraternização, após o intervalo se iniciou o último

encontro presencial. A pesquisadora fez a fala inicial utilizando uma apresentação em slides

para recapitular todo o processo (convite para firmar parceria, aplicação dos instrumentos,

apresentação dos resultados e da plataforma OBAMA, planejamento e execução da sequência

de ensino, aula no laboratório de informática com as turmas de PC5B e PC5C) para depois

socializar suas impressões. Em sua fala, a pesquisadora enalteceu os pontos positivos como a

disponibilidade dos colaboradores, a vontade de aprender sempre evidente em todo o grupo

escolar, o crescimento de todos durante o processo e a aprendizagem evidenciada na

mediação entre professoras e alunos em relação aos conceitos estatísticos.

Page 233: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

231

Porém, não deixou de refletir sobre os pontos que, segundo ela, ficaram a desejar,

como não conseguir acompanhar a prática de todas as docentes durante a execução da

sequência de ensino, registrou que esperava uma mediação maior por parte das professoras

colaboradoras no dia da aula no laboratório de informática, porque elas eram as protagonistas

naquele momento, assim como deixou clara a sua insatisfação por não ter conseguido reunir-

se com PC5B para ensiná-la, individualmente, como construir gráficos, lacuna formativa

registrada pela colaboradora desde os primeiros encontros, assim como demonstrou

insatisfeita por não ter conseguido planejar a sequência de ensino do 4º ano com PC4A até o

final.

Ibiapina (2004) defende que os professores devem refletir sobre a sua ação

compreendendo como o modo de organização e controle do seu trabalho interfere na prática

docente, evitando culpar somente terceiros (governo, família, estrutura física da escola, entre

outros fatores) pelo insucesso do processo escolar. Com base no pensamento da autora, a

pesquisadora decidiu por se colocar primeiro, durante o encontro destinado à avaliação, e

assim procedeu por entender que dessa forma os colaboradores ficariam mais à vontade para

avaliar sem dar relevância apenas aos pontos positivos. Além disso, a fala da pesquisadora foi

uma autoavaliação sobre o seu desenvolvimento profissional que também aconteceu durante o

processo formativo.

A avaliação dos colaboradores começou por PC5C. Ela iniciou dizendo que quando

fez Pedagogia, curso concluído em 2008, cursou uma única disciplina de Estatística e que não

lembrava mais nada sobre o assunto. Na sequência, ela afirma ter sido um desafio aceitar

participar da pesquisa, conforme fala abaixo.

PC5C: Lembro que toda vida que eu saía da aula e encontrava a coordenadora, ela

perguntava: E aí? Eu dizia: passou mais uma [risos]. Então assim..., nos bastidores

foi bastante desgastante pra mim porque as aulas sempre eram na segunda e eu

passava o domingo planejando. Mas foi gratificante pra mim, porque a maior alegria

do professor é ver os alunos aprendendo e dava pra perceber isso, porque as aulas

eram semanais e quando eu começava a aula recapitulando o que já tinha sido visto,

eles interagiam respondendo tudo!

A fala de PC5C dialoga com Lopes (2010) quando afirma que a ausência do trabalho

com os estudantes em relação à Estatística se dá pela falta de domínio teórico-metodológico

do professor sobre os conceitos estatísticos e que essa ausência de domínio, provavelmente, é

provocada por lacunas conceituais deixadas pelas formação inicial e continuada dos

professores atuantes em sala de aula. Quando PC5C afirma que cursou apenas uma disciplina

Page 234: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

232

relacionada a esse tema e que não mais lembrava do estudado, a afirmação da autora é

comprovada.

Além disso, ao observar a angústia relatada pela professora, a cada aula realizada, e ao

mesmo tempo a satisfação em perceber a aprendizagem dos seus alunos, constata-se que

houve aprendizagem por parte da docente que mediava e dos discentes, os mediados. Assim

sendo, Ponte (1998) é lembrado ao defender que a formação continuada em serviço na

perspectiva do desenvolvimento profissional requer que o professor seja visto em sua

totalidade, ou seja, nos seus aspectos cognitivos, afetivos e relacionais. Se houve sucesso,

segunda a professora-colaboradora, a pesquisa caminhou como indica o autor. Tais achados

indicam que o modelo formativo proposto contribuiu tanto para a aprendizagem docente e

consequentemente, embora não medido nesta pesquisa, quanto para os discentes.

Outro momento relevante da avaliação de PC5C foi quando a mesma relatou sobre os

novos conhecimentos.

PC5C: Até hoje fico pensando: variável qualitativa? ou variável quantitativa?

[risos]. Durante todo o processo eu ficava: essa variável dá pra encontrar Média,

Moda e Mediana? [risos] Ou só Moda? [risos]. Este foi o meu maior desafio! [risos].

Hoje mesmo, antes do intervalo, eu fiz uma pesquisa breve com eles sobre o

esporte preferido e percebi que só dava para encontrar a Moda [grifos da

autora]. Aí, eu pensei: ah! até que fim, aprendi [risos]

Como PC5C mesma relatou, esse foi o maior desafio para ela, entender quando e

como encontrar os valores da Moda, Média e Mediana, entendendo o significado do resultado

encontrado. Foi essa dúvida que gerou um encontro extra de planejamento relatado na seção

anterior, mas, pela fala da professora-colaboradora e pela avaliação sobre a pesquisa, feita de

forma escrita (anexo H), comprovou-se que ainda se tem o que aprender, porém, muito foi

consolidado durante o processo formativo. Exemplo disso foi quando PC5C reconheceu que a

partir da pesquisa sobre o esporte preferido dos alunos [grifos da autora] só seria possível

encontrar uma resposta para a Moda. Esse exemplo mostra claramente o desenvolvimento da

professora-colaboradora a partir da formação realizada pela pesquisadora porque no

instrumento diagnóstico ela disse não saber o que seria a Moda. Quando perguntada o que, na

opinião dela, não deu certo, PC5C respondeu:

Page 235: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

233

PC5C: Algumas coisas que eu gostaria de ter feito e não consegui como, por

exemplo, mediar a construção de tabelas e gráficos de forma individual. Todos eles

fazendo ao mesmo tempo e eu: ―Meu Deus, como vou orientar todos de uma vez?!‖

E realmente não dá! Vai precisar ser no processo mesmo. Na construção de gráficos,

eu já tinha o domínio do que marcar na linha vertical e na linha horizontal, mas essa

parte de título e a Fonte eu não sabia como era, tanto que nos livros didáticos não

tem. Eles não respeitam o quê, quando e onde, alguns não apresentam a Fonte. Tem

quadro nos livros sendo chamados de tabela e isso eu aprendi a diferenciar,

bem direitinho [grifos da autora] e os próprios livros não tem isso. Então…,

assim,... foi um aprendizado muito significativo.

A professora-colaboradora demonstra a aprendizagem que obteve durante o processo

a partir da explicação de como construir uma tabela e um gráfico, além de apresentar

preocupação com a mediação individual para proporcionar o entendimento de todos os alunos

ao aprendizado que ela comprova ter aprendido. Essa fala lembra Day (2001) quando afirma

que a formação para ser contínua deve procurar não só satisfazer necessidades de

desenvolvimento em curto prazo, mas também necessidades legítimas de desenvolvimento em

longo prazo.

Além disso, quando PC5C afirma ter quadros nos livros didáticos sendo chamados de

tabelas [grifos da autora], demonstra mais uma evidência de que a formação desenvolvida

pela pesquisadora na Escola B oportunizou conhecimentos novos e mais do que isso,

segurança para questionarem o que para muitos é verdade absoluta, o livro. Mesmo com o

término da pesquisa, a professora pode e deve continuar investindo no trabalho com a

Estatística como uma estratégia de consolidar o aprendizado discente e isso ela também relata

ao concluir a sua avaliação durante o encontro:

PC5C: Então…, eu só tenho a agradecer mesmo e em relação aos alunos, já fiz até

outro gráfico, dessa vez com malha quadriculada, mas já foi em relação a outro

tema, na aula de Matemática, não foi mais dentro do assunto da alimentação. Já saiu

bem mais organizados os gráficos, eles pintaram as colunas e percebi que já

estavam entendendo bem melhor [grifos da autora]. E assim..., como a

pesquisadora disse: a Estatística pode ser trabalhada em vários temas, em vários

componentes curriculares e isso é muito interessante!

Quando PC5C afirma ter percebido um melhor entendimento dos alunos em relação

à construção de um novo gráfico de colunas [grifos da autora], mostra que ela se apropriou de

como mediar essa construção, independentemente de estar sendo acompanhada pela

pesquisadora, ou não. Ela também relatou sobre a importância de trabalhar a Estatística de

forma interdisciplinar visando contribuir para desenvolver a criticidade dos alunos.

Demonstrar segurança ao falar de trabalhos futuros com seus alunos, mesmo depois de

Page 236: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

234

afirmar no início da avaliação, não lembrar de mais nada que havia estudado durante a

graduação é uma forte evidência de habilidades desenvolvidas pela docente, durante o

processo formativo realizado pela pesquisadora, validando mais uma vez o formato em que

esse processo aconteceu na Escola B e comprovando o desenvolvimento profissional da

professora-colaboradora.

Essas afirmações feitas por PC5C, de forma oral durante o momento de avaliação da

formação e também na avaliação escrita (anexo H), corrobora com Cazorla (2017) ao

defender a importância de se trabalhar a Estatística como a ciência do significado e uso dos

dados e portanto, um meio de compreender o mundo enquanto cidadão. Além disso, apresenta

uma docente diferente daquela encontrada ainda na fase da cossituação em que aceitou

participar do grupo colaborativo, mas expôs suas lacunas formativas relacionadas aos

conteúdos estatísticos, tanto no instrumento diagnóstico como nos encontros formativos. Essa

diferença diz respeito ao notório desenvolvimento profissional docente de PC5C que terminou

o processo formativo demonstrando segurança e novas habilidades desenvolvidas.

A segunda colaboradora a se pronunciar foi PC5B que iniciou sua avaliação

dizendo:

PC5B: Com relação aos conceitos, PC5C me ajudou o tempo todo, a gente sentou,

planejou e como ela estava aplicando [a sequência de ensino] primeiro, ela foi me

ajudando e foi clareando na minha cabeça. Então..., é..., depois da leitura dos textos

que a pesquisadora nos enviou, mais as ajudas de PC5C, eu consegui entender

direitinho. Eu me surpreendi na sala porque achei que ia ter mais dificuldade para

trabalhar os assuntos. Embora você não tenha assistido a minha aula, não foi menos

angustiante, eu passei muito tempo estudando, pesquisando, ajeitando as minhas

aulas em casa.

Analisando a fala da professora é possível observar dois aspectos importantes. O

primeiro diz respeito a questão da colaboração entre as docentes. No termo de consentimento

livre e esclarecimento do professor (anexo A), assinado pelos colaboradores no primeiro

encontro dizia que: o(a) professor (a) estava sendo convidado para participar como voluntário

(a) em uma pesquisa que tem o seguinte tema: ―Desenvolvimento Profissional de professores

que ensinam Matemática‖ e que o objetivo principal era compreender as experiências de

aprendizagens de professores que ensinam Matemática no Ensino Fundamental, no âmbito de

um grupo colaborativo, visando o seu desenvolvimento profissional, tendo em vista a

formação de um grupo com características colaborativas.

Page 237: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

235

Vê-se pelo relato da colaboradora que a finalidade da pesquisa foi alcançada e que as

colaboradoras não mantiveram dependência da mediação da pesquisadora para interagir,

aprender e desenvolver-se durante o processo, fato importante no desenvolvimento de um

grupo colaborativo. É evidente que para iniciar a dinâmica do grupo foi necessário a presença

e os encaminhamentos da pesquisadora, mas perceber que o mesmo conseguiu se manter vivo

entre as participantes, no cotidiano escolar, não deixa de ser resultado da forma como a

pesquisa foi encaminhada na Escola B.

O segundo aspecto está relacionado ao engajamento de PC5B, mesmo sabendo que

não ia ser possível a pesquisadora acompanhar a sua prática docente. Isso acabou

demonstrando a pesquisadora que é possível a implementação de grupos colaborativos nas

escolas municipais do Natal, onde trabalha como formadora de professores. Essa

implementação colocaria em prática o novo modelo de formação aqui executado e a função da

pesquisadora seria o monitoramento desses grupos. Segundo Andrade Junior (2005) e

Desgagné (2007), o engajamento é um dos elementos mais importantes numa pesquisa

colaborativa e é inegável como a colaboração contribuiu para o sucesso do modelo formativo

desta pesquisa.

Na sequência da fala, PC5B ainda deixou claro não ter sido possível trabalhar de

forma mais detalhada os conceitos estatísticos por motivos específicos da sua turma e que

tinha clareza da necessidade de retomar e aprofundar tais conceitos. Em relação ao ensino da

Estatística, relatou ainda que:

PC5B: Foi positivo não ter atrapalhado o conteúdo que já estava previsto porque nós

iríamos mesmo trabalhar com alimentação. Então, assim…, só veio a acrescentar.

Na construção dos gráficos, eu consegui mediar os alunos no processo e consegui

fazer o meu no quadro para explicar a eles. Eu aprendi fazer um gráfico! [risos].

PC5B, enfim, revela que aprendeu a fazer um gráfico, lacuna formativa que ela frisava

desde o início dos encontros e que foi comprovada ao responder o instrumento diagnóstico.

Para essa aprendizagem da professora houve muito mais a atuação do grupo colaborativo do

que da própria pesquisadora por não ter sido possível a acompanhar mais de perto, como

aconteceu com PC5C. Nesse sentido, Ibiapina (2008) afirma que o pesquisador solicita a

colaboração dos docentes para investigar certo objeto de pesquisa, investigando e fazendo

avançar a formação docente e esse é um dos desafios colaborativos, responder às necessidades

de docentes e os interesses de produção de conhecimentos. Assim sendo, é possível dizer que

Page 238: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

236

o desafio foi alcançado com sucesso. Nessa mesma perspectiva de colaboração, após a fala de

PC5B, PC5C pediu para fazer um comentário sobre a prática da colega:

PC5C: O que eu achei legal foi porque era o mesmo tema [alimentação saudável]

mas cada pessoa vê as coisas de um jeito, né? PC5B construiu o gráfico a partir da

salada de frutas que ela fez com a turma, eu pensei em fazer com o valor calórico do

prato feito para o almoço deles. Que tamanho ia ficar esse gráfico com os valores

trezentos e tanto, seiscentos e pouco…? E quando ela fez a partir da salada de frutas,

já foi melhor porque ela fez a partir de uma atividade prática que tinha sido feita

com eles em sala de aula, já facilitou e não passou essa ideia na minha cabeça. Eu

gostei da forma como ela fez e é interessante o professor entender que ele precisa ser

um eterno aprendiz! A troca de experiências proporciona isso. A gente precisa ser

humilde para dividir as ideias e aprender com o outro. Quem ganha no final são os

alunos. A gente aprendeu juntas, amiga!

Apesar da fala de PC5C ter evidenciado que ela ainda não internalizou a questão da

calibração da escala quando se faz um gráfico com números elevados, foi importante a

percepção dela em relação à prática de PC5B, isso demonstra um amadurecimento no

movimento de reflexão necessário a todo docente, uma reflexão sobre a prática mesmo não

sendo a dela e isso também foi proporcionado pelo modelo de formação desenvolvido nesta

pesquisa. Além disso, a experiência vivida servirá como parâmetro para outros momentos de

planejamento e socialização das práticas de ambas em busca de novas aprendizagens. Depois

das professoras, foi a vez da coordenadora:

Coordenadora: Lembro bem que PC5C dizia assim: eu não sei se quando eu vejo a

Pesquisadora, eu sinto alegria ou se me dá um frio na barriga [risos]. Eu avalio como

positivo, apesar de eu não ter participado de todos os momentos, como eu gostaria

porque eu gosto de aprender. [...] Mas aquele encontro que eu participei [sobre os

conceitos estatísticos] foi muito interessante como a pesquisadora fez, ela

contextualizou uma situação que era nossa realidade naquele momento [passeio em

comemoração ao dia do funcionário público] para chegar nos conceitos estatísticos.

Apesar de não ter sido possível a coordenadora participar de todo o processo de forma

mais próxima devido as muitas atribuições que abarca um coordenador, é possível afirmar que

também houve desenvolvimento profissional nesse caso, quando Day (2001, p.20) afirma que

―o desenvolvimento profissional envolve todas as experiências espontâneas de aprendizagens

e as atividades conscientemente planificadas, realizadas para benefício, direto ou indireto, do

indivíduo, do grupo, ou da escola‖. Ao observar a fala e a avaliação escrita da coordenadora

(anexo H), verifica-se o diálogo com o conceito de desenvolvimento profissional dado pelo

Page 239: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

237

autor quando, por exemplo, ela diz ter despertado o interesse pelos estudos sobre os conceitos

estatísticos.

A coordenadora conclui a sua avaliação afirmando que de mais positivo destacava a

troca de experiência entre as professoras e de negativo, não ter participado como gostaria,

fazendo um pedido à PC5B e à PC5C:

Coordenadora: (...) quero pedir para as meninas me ensinarem o que é Média,

Moda..., e qual é o outro, mesmo [risos]?

PC5C: Mediana.

Coordenadora: Isso! Porque eu não sei o que é Moda, pra mim é outra coisa.

Apesar de reconhecer a importância que teve o desenvolvimento da pesquisa para a

Escola, as colaboradoras e os alunos, a coordenadora não deixa dúvidas de que muito ainda

precisa caminhar na aprendizagem sobre os conceitos estatísticos. Além disso, demonstrou

que a formação envolveu, de fato, a escola, e não só os professores e alunos, incluiu a gestão.

Esse sentimento de pertencimento e de vontade de continuação foi provocado pelo modelo

diferente de formação realizado pela pesquisadora.

O último a avaliar a pesquisa, a qual também fez parte, foi o gestor pedagógico. Com

ele, o processo foi o inverso. A partir da formação continuada realizada em serviço, ele

concluiu que fazia uso da Estatística, de forma inconsciente, para acompanhar o

desenvolvimento da aprendizagem dos alunos, conforme mostrou ao falar:

GP: Bom, a questão da aprendizagem dos conceitos estatísticos, no meu caso e no

da coordenadora, para coordenar a parte pedagógica nós temos feito um trabalho de

análise de resultados para novos planejamentos. Nós usávamos essas análises de

forma muito rudimentar por meio de gráficos porque, pra nós, era a forma mais fácil

de analisar os resultados. Mas, eu não tinha muita experiência, muitas noções, eu

não sabia fazer muitas coisas. Enfim… Então, qual foi a maior contribuição em

participar de quase todos os momentos da pesquisa? A visão aclarou em relação

aquilo que a gente fazia e hoje eu sei que o que é feito nessa escola, em relação ao

pedagógico, é mediado pela Estatística.

Nesse caso, percebe-se que a Estatística passou a ter um significado e um

entendimento diferente. Além do crescimento no que diz respeito à aprendizagem matemática,

houve também o desenvolvimento profissional. Isso se evidencia ao lembrar de Day (2001,

p.56) quando o autor afirma que ―o desenvolvimento é o processo por meio do qual os

professores, enquanto agentes de mudança, reveem, renovam e ampliam, individual ou

Page 240: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

238

coletivamente, o seu compromisso com os propósitos morais de ensino‖ e isso o próprio GP

verbalizou:

GP: Ampliou meu trabalho enquanto pedagógico. Meu desenvolvimento

profissional cresceu em relação a ter uma compreensão mais alargada. A gente já

fazia, mas ampliou, com os encontros e o estudo dos textos [grifos da autora]. É

claro que ainda não aprendemos tudo que precisa. Como diz Vigotsky a gente ainda

precisa de mediação [grifos da autora] porque a aprendizagem é um processo.

Escolher as meninas do quinto ano para participar da pesquisa atiçou os outros

professores a quererem participar, também [grifos da autora]. Então, para o

próximo ano a gente já quer expandir isso [grifos da autora], aí. Foi um processo

que trouxe um desenvolvimento amplo. A palavra pra mim é crescimento!

Analisando a fala do gestor é possível destacar quatro pontos importantes [grifos da

autora]. O primeiro diz respeito ao momento em que ele afirma ter ampliado o

desenvolvimento profissional dos envolvidos por meio dos encontros e do estudo dos textos,

validando e defendendo o modelo de formação ocorrido na escola B. O segundo ponto a se

destacar se refere à afirmação da necessidade de continuação da mediação, nesse caso, da

pesquisadora. Isso implica no desejo de continuar aprendendo e constata a importância da

formação inicial, aquela que todo profissional precisa consolidar para poder atuar na área, mas

sobretudo reitera a relevância da formação continuada, em especial, a desenvolvida em

serviço pela pesquisadora. Este formato até então não desenvolvido por ela, como formadora

de professores na Rede Municipal do Natal, proporcionou reflexão sobre os conhecimentos

anteriores do colaborador e evidenciou o papel da pesquisadora e o resultado positivo deixado

pela formação desenvolvida durante a pesquisa.

A reflexão realizada pelo gestor corrobora com Marcelo (1999) quando o autor afirma

que a formação inicial é um processo de desenvolvimento e estruturação individual, enquanto

a formação continuada é uma atividade formativa direcionada para o professor em exercício.

É importante salientar que o professor citado pelo autor está representando todos da escola,

mesmo os que estão gestor ou coordenador. Isso porque, antes de estarem assumindo cargos,

são professores de ofício e de formação.

O terceiro item destacado se refere ao fato de o gestor ter afirmado que a escolha das

professoras dos 4º e 5º anos para participar da pesquisa provocou o desejo de participação nos

demais docentes. Percebe-se pela fala dele que se criou uma cultura colaborativa na escola e

isso ratifica a contribuição trazida pela formação. Por fim, o quarto item a se destacar faz

referência ao desejo de expandir o modelo de formação no ano letivo de 2020 e dessa forma

Page 241: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

239

não é a pesquisadora que afirma o bom resultado da pesquisa, mas o gestor da escola que

percebe e consolida os ganhos trazidos pela formação.

Perguntado pela pesquisadora se ele elencaria alguma coisa que não deu certo durante

todo o processo de desenvolvimento da pesquisa, o GP respondeu:

GP: Eu não avalio que algo não deu certo, nós tivemos imprevistos. Não teve o que

não deu certo. [...] Um dos itens que eu aprendi foi a questão da mediação. Ficou

muito claro na fala das meninas [PC5B e PC5C], a questão da mediação e ficou

muito claro na fala, esse desenvolvimento profissional das professoras, a

colaboração, a interação.

A mediação citada pelo GP foi ressaltada pela pesquisadora durante o encontro sobre

os conceitos estatísticos. Naquele momento, ela frisou a importância da intencionalidade

pedagógico do mediador, seja ele pesquisador ou professor. Dependendo da mediação, o

aluno é instigado a pensar, a participar de forma ativa, a construir conhecimento de forma

significativa.

Em relação à colaboração e a interação destacado pelo GP só foi possível devido ao

compromisso depositado pelas professoras na efetivação da pesquisa. Esse compromisso é

citado por Pryjma e Winkeler (2014) quando afirmam que não haverá desenvolvimento

profissional sem que o docente se comprometa com esse processo. A pesquisadora teve

bastante evidências desse comprometimento. Até PC5B, mesmo não tendo o

acompanhamento direto durante a aplicação da sequência de ensino, esteve sempre presente e

demonstrando interesse.

Ainda sobre Pryjma e Winkeler (2014), as autoras frisam também que esse

compromisso é valorizado à medida que a instituição educacional priorizar ações nessa

ordem, não sendo, portanto, um caminho de via única. Na Escola B, de fato, houve

envolvimento do GP priorizando e incentivando todas as etapas da pesquisa, como foi

descrito pela pesquisadora durante a seção anterior que descreveu o processo formativo.

Muito do sucesso da pesquisa se deveu ao apoio da gestão, especialmente, o GP. Até para a

sala de aula ele foi para a pesquisadora planejar com PC5B e PC5C, demonstrando muito

comprometimento.

Para concluir a avaliação sobre a pesquisa desenvolvida na Escola B, o GP fez o

seguinte registro:

Page 242: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

240

GP: Um dos itens que eu aprendi foi a questão da mediação, a pesquisadora sempre

vem falando, e tá muito claro o desenvolvimento profissional a partir da mediação.

O triângulo entre a pesquisadora e as meninas [PC5B e PC5C] funcionou muito

bem. Quando a pesquisadora não podia, elas entre si [colaboravam]. Ficou muito

claro na fala delas, né? A questão da colaboração. A ideia de uma, depois que ouvia

a outra, se transformava, se reestruturava e se encontrava um ponto comum, né?

Ainda é uma dificuldade nossa conseguir fazer esse trabalho mediado de forma

colaborativa porque nós fomos..., como posso dizer… Tivemos uma formação muito

positivista, muito individualista, então essa ideia é algo que ainda precisa ser

melhorado para nós.

A colaboração e interação destacada pelo GP é de suma importância para que uma

formação continuada em serviço, na perspectiva do desenvolvimento profissional, aconteça de

fato. Isso é ressaltado por Day (2001) quando destaca que a maioria dos professores ainda

trabalha isoladamente, mesmo que esse processo de formação contínua ocorra no espaço

escolar. O autor ainda afirma que há a necessidade de gestores promoverem uma mudança de

cultura, na qual a troca seja uma ação de ordem entre os professores. Para o caso da Escola B,

o GP demonstrou disposição para tornar esse formato uma rotina escolar, porém, registrou

também o quão grande é o desafio.

Além disso, quando o GP falou do ponto comum encontrado por PC5B e PC5C após o

compartilhamento de ideias retrata mais um momento de reflexão sobre a prática docente, a

práxis. Ainda sobre a fala do GP, ao reconhecer que a pesquisa proporcionou algo que a

formação inicial deixou a desejar, pensar e planejar de forma colaborativa, destaca mais uma

vez de forma positiva o modelo formativo empregado.

Diante das falas dos colaboradores o terceiro objetivo desta pesquisa - refletir sobre os

resultados trazidos pela formação para a prática docente e para o desenvolvimento

profissional do professor – foi atingido e consequentemente, o objetivo geral – analisar a

formação continuada em serviço acerca do letramento estatístico para o desenvolvimento

profissional de professores que ensinam Matemática nos anos iniciais no Ensino

Fundamental, também.

Antes de encerrar o capítulo das análises é importante registrar que para utilizar as

imagens e falas dos professores-colaboradores foi solicitada autorização do direito de imagem

e voz (Anexo I). Contemplados os objetivos planejados para esta pesquisa, o próximo passo é

apresentar as considerações finais e ações futuras provenientes deste trabalho.

Page 243: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

241

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização desta pesquisa proporcionou aprendizagens e possibilitou reflexões

referentes ao desenvolvimento profissional docente e aos conceitos estatísticos. O

desenvolvimento profissional docente se deu a partir da formação continuada em serviço

realizada com os colaboradores da Escola B em um formato em que os encontros formativos

aconteceram no próprio ambiente escolar. Desenvolver um trabalho de formação de

professores no espaço de atuação docente, com o formador in loco para realizar os encontros

formativos, planejar conjuntamente, tirar as dúvidas durante o processo, acompanhar a prática

e refletir sobre essa prática, fez toda a diferença no resultado final em relação a aprendizagem

dos professores colaboradores e ao desenvolvimentos profissional de todos, incluindo o da

pesquisadora.

A pesquisa aconteceu em três estágios. No primeiro deles, a cossituação, foi o

momento em que se mobilizou os professores-colaboradores da Escola B para a formação do

grupo colaborativo. Em seguida, aplicou-se o instrumento diagnóstico para contemplar o

primeiro objetivo específico da pesquisa, investigar os conhecimentos dos professores sobre

os conceitos estatísticos. Os resultados mostraram lacunas formativas relacionadas aos saberes

estatísticos, lacunas estas posteriormente verbalizadas pelos próprios docentes, relacionando-

as tanto à formação inicial como à formação continuada ocorrida até aquele momento.

A reflexão sobre os resultados do instrumento diagnóstico constituiu o início do

segundo estágio, a cooperação. A pesquisa que teve em sua essência elementos de uma

pesquisa colaborativa, aconteceu de forma bilateral. O resultado obtido de forma positiva se

deu a partir da colaboração, da interação, do compromisso e da parceria com e dos

colaboradores. A partir desses elementos, o desenvolvimento profissional dos envolvidos foi

se evidenciando durante o processo. As professoras perceberam o quanto aprenderam

compartilhando ideias e socializando resultados. O gestor pedagógico vivenciou a dinâmica e

afirmou querer expandir para os demais docentes da instituição o mesmo formato de formação

e a coordenadora ofereceu todo o apoio logístico e até emocional, quando necessário.

O fato de a pesquisa ter acontecido de forma exitosa não significa dizer que não

houve dificuldades como, por exemplo, a disponibilidade de tempo dos envolvidos para

acompanhar uma formação que solicitou novos estudos e conhecimentos de todos. O fator

tempo foi um grande desafio, tendo em vista que os professores tinham outros afazeres

Page 244: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

242

próprios da rotina escolar e a pesquisadora precisou se deslocar muitas vezes para a

instituição onde aconteceu a pesquisa, se ausentando do seu local de trabalho. Mas, a

formação continuada em serviço desenvolvida na Escola B mostrou com afinco que a

colaboração entre escola e universidade pode e deve acontecer, trazendo benefícios para os

dois lados.

Realizar formação continuada em serviço e colaborativa dentro do ambiente escolar

constituiu o segundo objetivo específico desta pesquisa e proporcionou aprendizagens e

desenvolvimento profissional para todos os envolvidos. O desconforto sentido pela

colaboradora por ter a sua prática docente acompanhada pela pesquisadora é outro desafio que

pode ser citado, pois, permitir alguém presente em sua sala de aula significa, no mínimo, sair

da sua zona de conforto. Mas, a parceria firmada a partir do grupo colaborativo permitiu essa

e outras ações provenientes do desenrolar da pesquisa. Foi um modelo de formação de

professores planejado e executado de forma diferente daquele que a pesquisadora costuma

realizar como formadora de professores da Rede Municipal de Ensino do Natal. Não é um

modelo simples de ser realizado, requer condições diferentes das formações pensadas nos

órgãos centrais para um grupo maior de professores.

Dentre os fatores que diferencia essa formação de professores das outras ditas

tradicionais está a flexibilidade do planejamento. Houve a construção de um cronograma

inicial de encontros, incluindo estudos, planejamentos e acompanhamento da prática docente

de uma das colaboradoras, PC5C, mas o que determinou a quantidade de vezes em que

professores-colaboradores e pesquisadores se encontraram, presencialmente ou não, foram as

necessidades surgidas durante o processo. É relevante pontuar ainda que a confiança

desenvolvida a partir do grupo colaborativo instigou os docentes a estudarem além dos

conteúdos dos livros didáticos, ou seja, propuseram-se a desafios que em sua rotina dita

normal não precisariam enfrentar. A Escola foi mobilizada de uma forma geral. O gestor

contribuiu para que os imprevistos fossem contornados e os estudos presenciais de fato

acontecessem, a coordenação deu o apoio diário às professoras e estas precisaram planejar em

um outro formato, à distância por exemplo, ou, em outro dia diferente daquele previsto no

horário semanal. Toda essa dinâmica foi bastante gratificante, pois permitiu evidenciar a

aprendizagem dos docentes envolvidos, a efetivação da colaboração na escola e o

engajamento de todos.

Page 245: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

243

É importante ressaltar que tudo isso aconteceu sem esquecer da preocupação de

manter a rotina dos alunos no que diz respeito aos horários de aulas. Em relação à rotina das

professoras-colaboradoras, o modelo de formação executado durante a pesquisa objetivou

mexer minimamente com a realidade e cotidiano escolar delas, justamente para se mostrar

factível. Ajustes aconteceram por demanda e sugestão de professores e gestão. Dessa forma, o

desenvolvimento profissional dos envolvidos dentro da expertise a que se propôs o trabalho

foi alcançado, assim como o da pesquisadora. Ela hoje tem uma visão diferente de como uma

formação de professores pode acontecer de forma mais próxima do sujeito a quem essa

formação se destina. Isso ratifica e responde a questão de pesquisa desta dissertação quando

perguntou como uma formação continuada em serviço acerca do letramento estatístico pode

promover desenvolvimento profissional para professores que ensinam Matemática nos anos

iniciais.

Durante a formação, a pesquisadora não planejou encontros formativos para levar às

professoras, ela planejou de forma colaborativa com as docentes e quando pontos do

planejamento não deram certo, juntas o modificaram. Os resultados positivos foram visíveis e

em diferentes esferas a médio e longo prazo. Até mesmo em curto prazo, se pensar no

engajamento das professoras-colaboradoras na formação. O mais relevante foi perceber que

isso é possível de ser feito em uma escola pública, que apesar de ser um grande desafio

atender, nesse formato, as 72 escolas que o município de Natal possui, a questão está na

logística, nas condições de trabalho e não na impossibilidade do fazer. Este trabalho

comprova isso e se constitui como exemplo e ponto de partida para planejamentos posteriores

de formação continuada em serviço seguindo essa experiência.

Além do desenvolvimento profissional, o outro aspecto que este trabalho possibilitou

foram momentos de reflexão e construção de conhecimentos acerca do objeto de estudo -

modelo de formação docente para Matemática - e teve como recorte matemático o ensino da

Estatística nos anos iniciais. A elaboração da sequência de ensino a partir do recorte

matemático dialogou com a proposta da formação e ainda foi possível fazer a

interdisciplinaridade com o componente curricular Ciências da Natureza, por meio do tema

alimentação saudável. Ao mesmo tempo em que se estudava como se alimentar melhor, quais

alimentos devem ser consumidos e o que uma má alimentação pode ocasionar a saúde,

conceitos estatísticos, tratados na Matemática escolar, como população, amostra, variável,

Page 246: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

244

Moda, Média, Mediana, construção de tabelas e gráficos foram construídos e interpretados

pelos colaboradores e seus respectivos alunos.

Diante do exposto percebe-se que as lacunas formativas se mostraram presentes,

confirmando o que a pesquisadora apresentou na fundamentação teórica e analisou no

instrumento diagnóstico respondido pelos docentes. Mas a vontade de fazer acontecer, de

aprender e de mediar de forma cada vez melhor, existia entre as professoras-colaboradoras.

Assim sendo, mesmo o trabalho com a Estatística sendo indicado para ser contemplado nos

anos iniciais, desde os PCN, e reiterado posteriormente pela BNCC, é sabido que isso não é

uma realidade e não diferente foi diagnosticado na Escola B. Porém, durante os encontros

formativos foi possível demonstrar a importância do desenvolvimento das habilidades

matemáticas voltadas ao ensino da Estatística, pois, a partir destas, é possível compreender

métodos para a coleta, organização, descrição, análise e interpretação de dados e para a

utilização dos mesmos na tomada de decisões, algo necessário a todo cidadão crítico e

reflexivo.

Assim como acontece quando se fala em processo de aprendizagem dos alunos, é fato

que os colaboradores, no que diz respeito à aprendizagem sobre os conceitos estatísticos

estudados durante a formação, concluíram a pesquisa com níveis diferentes de entendimento.

Desse modo, para contemplar o terceiro objetivo específico - refletir sobre os resultados

trazidos pela formação para a prática docente e para o desenvolvimento profissional do

professor realizou-se um encontro de avaliação do processo formativo em que os presentes

puderam avaliar de forma oral e escrita.

O gestor pedagógico percebeu que as interpretações de gráficos já realizadas na Escola

para acompanhamento bimestral faziam parte do campo da Estatística. Ou seja, ele já fazia

uso dessas interpretações gráficas, mas quando questionado, durante a entrevista inicial sobre

a existência da Estatística no cotidiano escolar, o mesmo afirmou que ainda não era uma

realidade da Escola. A coordenadora, como não conseguiu participar efetivamente da

formação continuada, foi a que menos apresentou indícios de aprendizagem em relação a esse

aspecto da pesquisa. Porém, no encontro final demonstrou interesse em aprender como PC5B

e PC5C que melhor se desenvolveram nesse sentido, porque tiveram mais tempo com a

pesquisadora e aplicaram a sequência de ensino em sala de aula. o que oportunizou a reflexão

sobre a prática.

Page 247: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

245

Com as professoras, as evidências de aprendizagem foram diversas. PC5C foi a que

mais demonstrou desenvolvimento, até pelo fato de ter sido acompanhada pela pesquisadora

de forma mais frequente, durante todas as seis aulas da sequência de ensino. Mediou as aulas

de Ciências de forma que conseguiu aplicar todos os conceitos estatísticos trabalhados nos

encontros formativos. Apresentou dificuldades no processo, mas recebeu o apoio da

pesquisadora por meio de encontros extras de planejamentos e orientações via plataforma

OBAMA ou WhatsApp. Teve seus momentos de angústia por sentir que ainda não havia

consolidado os conceitos estudados, mas não por isso deixou de apresentar todos eles a turma

durante as aulas, planejando de forma que os alunos puderam vivenciar situações práticas de

usabilidade desses conceitos.

Todo esse processo vivenciado pela professora-colaboradora foi de suma importância

para a pesquisadora, pois permitiu que ela mediasse, observasse e intervisse no processo de

aprendizagem e de atuação docente, à medida em que as situações eram postas durante a

dinâmica do trabalho. Essa tríade de ações até então não fazia parte da experiência da

pesquisadora como formadora de professores de forma tão próxima ao sujeito e em lócus.

Essa aproximação entre escola e universidade proporcionou a todos os envolvidos a

percepção de que é possível e positiva essa parceria e que, a partir de um trabalho dessa

natureza, a instituição formadora conhece mais de perto a realidade a qual seus discentes

serão encaminhados durante e após a formação inicial, assim como a escola tem a

oportunidade de desfrutar de um olhar mais atencioso das instituições formadoras.

PC5B não recebeu o mesmo acompanhamento por parte da pesquisadora, no que diz

respeito a prática docente desenvolvida em sala de aula, mas não por isso deixou de planejar e

trabalhar os conceitos com seus alunos, nem de receber orientações. A aprendizagem

estatística de PC5B ocorreu também por meio da colaboração entre ela e PC5C. Como eram

professoras do mesmo ano de escolaridade e planejavam juntas todas as quintas feiras, PC5B

teve PC5C como sua mediadora no processo de aprendizagem a ponto de afirmar no encontro

final que aprendeu construir gráficos com a ajuda da colega de trabalho. Ambas ainda estão

em processo de consolidação dos conceitos estudados, mas é possível afirmar que aprenderam

e que, concluída a pesquisa, possuem condição de elaborar novas sequências de ensino

contemplando a Estatística e outros componentes curriculares.

Os resultados positivos resultantes da colaboração foi outra experiência inédita para a

pesquisadora, perceber que os participantes de uma formação continuada em serviço

Page 248: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

246

conseguem interagir entre eles gerando aprendizagens sem, necessariamente, ficar dependente

da intervenção do formador. Isso não diminui o papel nem a importância desse formador, pelo

contrário, fortalece seu trabalho à medida que é possível perceber as aprendizagens advindas

da sua atuação por meio dos sujeitos envolvidos. Além disso, o trabalho formativo que

acontece também entre os professores de uma unidade escolar, independentemente de estarem

participando de uma pesquisa ou de ter um formador externo participando do processo, se

alicerçado com base na colaboração, vai gerar uma rotina de aprendizagens colaborativas e,

consequentemente, o desenvolvimento profissional de todos.

Além dos resultados profícuos provenientes do trabalho realizado na Escola B, esta

pesquisa também permitiu a produção de um artigo intitulado - Desenvolvimento Profissional,

Tecnologia Digital e Conceitos Estatísticos na Formação de Professores que Ensinam

Matemática. Este artigo foi aprovado a apresentado no evento IV Congresso sobre Tecnologia

na Educação (Ctrl+E) no ano de 2019. O artigo apresentou uma revisão bibliográfica sobre

trabalhos brasileiros correlatos a esta pesquisa, entre os anos de 2014 a 2019, em que três

trabalhos se assemelharam a formação descrita nesta dissertação, mas apenas um contemplou

os anos iniciais, reiterando a importância da pesquisa ora apresentada nesta escrita. Além

deste artigo, contemplando o estágio da coprodução é possível citar a participação de PC5B e

PC5C na I Feira Natalense de Matemática em que o trabalho desenvolvido em sala de aula foi

apresentado, inclusive, com a participação de alunos para interagir com o público visitante.

Como trabalhos futuros pretende-se continuar a parceria com a Escola B, acompanhando o

trabalho pedagógico e realizando encontros formativos periódicos de acordo com as

necessidades formativas dos docentes. Além disso, outras escritas acadêmicas devem ser

realizadas a partir dos dados coletados durante a pesquisa.

Por fim, conclui-se afirmando que os resultados apresentados nesta dissertação dão

subsídios para se repensar os processos de formação continuada de professores e assim o

objetivo geral - analisar a formação continuada em serviço acerca do letramento estatístico

para o desenvolvimento profissional de professores que ensinam Matemática nos anos iniciais

no Ensino Fundamental - foi consolidado com êxito. Essa formação docente precisa evoluir

para além da oferta de cursos, com conteúdo e metodologias pré-definidas para modelos,

como o vivenciado nesta experiência, em que se fomenta a constituição de grupo de

aprendizagem colaborativa, permitindo discussões sobre elementos da prática dos professores.

Espera-se, então, que a experiência realizada neste trabalho contribua para a replicação em

Page 249: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

247

outros contextos e conteúdo da Educação Matemática pela Secretaria Municipal de Educação

do Natal com a finalidade de disseminar práticas mais profícuas de ensino e aprendizagem.

Page 250: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

248

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, M. E. B. de; VALENTE, J. A. Tecnologias e currículo: trajetórias convergentes

ou divergentes? São Paulo: Paulus (Coleção Questões Fundamentais da Educação -10), 2011.

ALMEIDA, P. C, et at. Secretarias de Educação e as Práticas de Formação Continuada de

Professores. Anais da 34º Reunião da Anped, 2011.

ALTENFELDER, A. H. Desafios e tendências em formação continuada. Constr.

psicopedag., São Paulo, v. 13, n. 10, 2005. Disponível em:

http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-69542005000100004&

lng=pt&nrm=iso. Acesso em 15 fev. 2019.

ANADÓN, M. E. Novas dinâmicas na pesquisa educativa e formação continuada dos

docentes: os modelos participativos. In: Colóquio Nacional Epistemologia das Ciências da

Educação. Anais. Natal: EDUFRN, 2007

ANDRADE JÚNIOR, F. V. de. A (re) significação conceptual nas práticas colaborativas

com professores do Ensino Fundamental. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal

do Rio Grande do Norte, 2005.

ARAÚJO, M. et al. Práticas investigativas e webquest: construindo interfaces para o ensino

sobre tratamento da informação para além do paradigma do exercício. Dissertação de

Mestrado. Belém, 2017.

BANDEIRA, M. L. da S. A. O uso da lousa digital interativa e objetos de aprendizagem

no desenvolvimento de processos mentais básicos como base para elaboração do conceito

de número. Dissertação de Mestrado, Brasil, 2019.

BARRETO, M. Desafios aos pedagogos no ensino de Matemática. In: SALES, J. et al.

Formação e Práticas Docentes. Fortaleza: EdUECE, p.243-254, 2017.

BERLIKOWSKI, M. et al. As abordagens metodológicas e o perfil dos professores que

lecionam estatística no ensino superior. Tese - Pontifícia Universidade Católica do Rio

Grande do Sul, 2018.

BÔAS, S. G. V.; CONTI, K. C. Base Nacional Comum Curricular: um olhar para Estatística e

Probabilidade nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Ensino em Re-Vista, v. 25, n. 4, p.

984-1003, 2018.

BOAVIDA, A. M.; PONTE, J. P. Investigação colaborativa: potencialidades e problemas. In:

GTI (Org). Reflectir e investigar sobre a prática profissional. Lisboa: APM, p. 43-55,

2002.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.

Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil - Brasília, DF: MEC/SEF,

1998.

Page 251: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

249

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais:

matemática – Brasília, DF: MEC/SEF, 1997.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC), 2017. Disponível em:

http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_20dez_site.pdf. Acesso em: 20 jun

2019.

BRASIL. Ministério da Educação. Lei nº 9394/96. Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional. Diário oficial da República Federativa do Brasil Brasília, DF, 1996. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm. Acesso em: 22 jan 2019

BRASIL. Ministério da Educação. Plano Nacional de Educacional de Educação. Brasília,

DF, 2001. Disponível em: http://www.mec.gov.br. Acesso em: 22 jan 2019.

BRASIL Conselho Nacional de Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais: Educação

Básica. 2001. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/docman/julho-2013-pdf/13677-

diretrizes-educacao-basica-2013-pdf/file

CAZORLA, Irene et al. (Org.). Estatística para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental

[livro eletrônico]. Brasília: Sociedade Brasileira de Educação Matemática - SBEM, 2017.

CAZORLA, I. M; SANTANA, E. Do Tratamento da Informação ao Letramento Estatístico.

In: CAZORLA, I.; SANTANA, E. (Orgs.). Série Alfabetização Matemática, Estatística e

Científica. Itabuna: Via Litterarum, 2010.

CAZORLA, I. M.; OLIVEIRA, M. S. de. Para saber mais. In: CAZORLA, Irene Mauricio;

SANTANA, Eurivalda (Orgs.). Do tratamento da informação ao letramento estatístico.

Itabuna: Via Litterarum, Cap. 1, p. 9-18, 2010.

CAZORLA, I.; UTSUMI, M. C. Reflexões sobre o ensino de Estatística na Educação Básica.

In: CAZORLA, Irene; SANTANA, Eurinalva. (Org.). Do tratamento da informação ao

letramento estatístico. Itabuna: Via Litterarum, p. 09-21, 2010.

CAZORLA, I. M.; SANTANA, E. Do tratamento da informação ao letramento estatístico.

Itabuna: Via Litterarum, 2010.

CAZORLA, I. M. A relação entre a habilidade viso-pictórica e o domínio de conceitos

estatísticos na leitura de Gráficos. Tese de Doutorado em Educação - Universidade Estadual

de Campinas (UNICAMP). Campinas, 2002.

CLARKE, D. J.; HOLLINGSWRTH, H. Elaborating a model of teacher professional growth.

Teaching and Teacher Education 18, 2002.

CONTI, K.C. E. L. I. Educação Estatística num contexto colaborativo: ensinar e aprender

probabilidade. Educação Matemática Pesquisa, v. 18, n. 3, 2016.

Page 252: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

250

CRECCI, V. M. Desenvolvimento profissional de educadores matemáticos participantes

de uma comunidade fronteiriça entre escola e universidade. 325 p. Tese (doutorado) -

Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2016.

CURI, E. A formação matemática de professores dos anos iniciais do ensino fundamental face

às novas demandas brasileiras. Revista Iberoamericana de Educación, v. 37, n. 5, p. 1-10,

2005.

DAY, C. Desenvolvimento profissional de professores: os desafios da aprendizagem

permanente. Porto: Porto Editora, 2001.

DESGAGNÉ, S. O conceito de pesquisa colaborativa: A ideia de uma aproximação entre

pesquisadores universitários e professores práticos. Université Laval, Québec-Canadá.

Tradução Adir Luiz Ferreira Margarete Vale Sousa, Universidade Federal do Rio Grande do

Norte. Revista Educação em Questão, Natal, v. 29, n. 15, p. 7-35, maio/ago. 2007.

Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/educacaoemquestao/article/view/4443/3629 . Acesso

em 24 jan. 2020.

FERREIRA, A. C. O trabalho colaborativo como ferramenta e contexto para o

desenvolvimento profissional: compartilhando experiências. In: NACARATO, A. M.;

PAIVA, M. A. V. (Orgs.). A formação do professor que ensina Matemática: perspectivas e

pesquisas. Belo Horizonte: Autêntica, p.149-166, 2006.

FIORENTINI, D. A pesquisa e as práticas de formação de professores de matemática em face

das políticas públicas no Brasil. Boletim de Educação Matemática, v. 21, n. 29, 2008.

FIORENTINI, D.; CRECCI, V; M. Práticas de desenvolvimento profissional sob a

perspectiva dos professores. Diversa Prática, v. 1, n. 1, 2016.

FIORENTINI, D. Pesquisar práticas colaborativas ou pesquisar colaborativamente? In:

BORBA, M. de C.; ARAÚJO, J. de L. (Org.). Pesquisa Qualitativa em Educação

Matemática. 4.ed. rev. ampl. Belo Horizonte: Autêntica, p.53-85, 2012.

FRANCO, M. A. do R. S.. Prática pedagógica e docência: um olhar a partir da epistemologia

do conceito. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v. 97, n. 247, p. 534-551, 2016.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São

Paulo: Paz e Terra, 1996.

GATTI, B. A. Tendências da pesquisa em Psicologia da Educação e suas contribuições para o

ensino. In:TIBALLI, E. F. A.; CHAVES, S. M. Concepções e práticas em formação de

professores: diferentes olhares. Rio de janeiro: DP&A, 2003.

GATTI, B. A.; BARRETTO, E. S. S.; ANDRÉ, M. E. D. A. Políticas docentes no Brasil:

um estado da arte. Brasília: UNESCO, 2011. Disponível em:

https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000212183?posInSet=1&queryId=176c14bf-863c-

4704-8f9ab432ec715504.

Page 253: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

251

GATTI, B. A et al. Professores do Brasil: Novos cenários de formação. Brasília: UNESCO,

2019. Disponível em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000367919?posInSet=2&

queryId=c605a908-97da-4777-a996-b3532872f9a1.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

HARGREAVES, A. Profesorado, cultura y postmodernidad. Madrid: Morata, 1999.

HUZZIE-BROWN, Annette. Beliefs vs Behavior of Elementary Teachers Integrating

Technology in Mathematics. Tese de Doutorado. Walden University, 2018.

IBIAPINA, I. M. L. de M. Docência universitária: um romance construído na reflexão

dialógica. 2004. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, Natal, 2004.

______. Pesquisa colaborativa: investigação, formação e produção de conhecimentos.

Brasília: Líber Livro Editora, 2008.

IMBERNÓN, F.. Formação continuada de professores. Artmed Editora, 2010.

LIMA, T. CS; MIOTO, R. C. T.. Procedimentos metodológicos na construção do

conhecimento científico: a pesquisa bibliográfica. Revista Katálysis, v. 10, n. 1, p. 37-45,

2007.

LOPES, C. A. E. O conhecimento profissional dos professores e suas relações com

estatística e Probabilidade na Educação. 2003. 281 f. Tese (Doutorado em Educação) -

Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2003.

______. Os desafios para Educação Estatística no currículo de Matemática. In: LOPES, Celi

E.; COUTINHO, Cileda Q. S.; ALMOULOUD, Saddo A. Estudos e reflexões em Educação

Estatística. Campinas: Mercado de Letras, 2010.

MAGALHÃES, M. C. C. Sessões reflexivas como uma ferramenta aos professores para

compreensão crítica das ações da sala de aula. In: Congresso da Sociedade Internacional para

a pesquisa cultural e teoria da atividade. Amsterdam. Anais. Amsterdam: Vrije University, p.

18-22, 2002.

MAIA, D. L. Ensinar Matemática com o uso de tecnologias digitais: um estudo a partir da

representação social de estudantes de Pedagogia. Dissertação – Universidade Estadual do

Ceará, Fortaleza, 2012.

______. Aprendizagem docente sobre estruturas multiplicativas a partir de uma

formação colaborativa apoiada em tecnologias digitais. 195p. Tese – Universidade

Estadual do Ceará, Fortaleza, 2016.

MAIA, D.; DE CASTRO FILHO, J. A. Aprendizagem Colaborativa Apoiada por TDIC

na Educação Matemática de Professores: Tecendo Argumentos para Efetivação de uma

Proposta. Artigo – Congresso Regional Sobre Tecnologias na Educação, 2016.

Page 254: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

252

MARCELO, C. G. Formação de Professores: para uma mudança educativa. Porto: Porto

Editora, 1999.

______. Políticas de inserción a la docencia: de eslabón perdido a puente para el desarrollo

professional docente. In: MARCELO, C. G. (Coord.) El profesorado principiante: inserción

a la docencia. Barcelona: Ediciones Octaedro, 2009.

MELO, E. M. de. A integração do smartphone em sequência de ensino de estatística para

o desenvolvimento do conhecimento tecnológico, pedagógico e do conteúdo. Dissertação

de Mestrado. Brasil, 2019.

NACARATO, A. M. et al. Professores e futuros professores compartilhando aprendizagens:

dimensões colaborativas em processo de formação. In: NACARATO, Adair Mendes; PAIVA,

Maria Auxiliadora Vilela (Org.). A formação do professor que ensina Matemática:

perspectivas e pesquisas. Belo Horizonte: Autêntica, p.197-212, 2006.

NACARATO, A. M.; MENGALI, B. L. da S.; PASSOS, C. L. B. A matemática nos anos

iniciais do Ensino Fundamental: tecendo fios do ensinar e do aprender. Belo Horizonte:

Autêntica, 2010.

NATAL. Secretaria Municipal de Educação de Natal. Plano Municipal de Educação 2016-

2026. Natal, RN. Disponível em: https://leismunicipais.com.br/a1/rn/n/natal/lei-

ordinaria/2016/661/6603/lei-ordinaria-n-6603-2016-aprova-o-plano-municipal-de-educacao-

do-municipio-do-natal-e-da-outras-providencias. Acesso em: 03 ago. 2020.

NÓVOA, A. Formação de professores e profissão docente. In: NÓVOA, A. (Org.) Os

professores e sua formação. Lisboa: Instituto de Inovação Educacional, p. 139-158, 1992.

NÓVOA, A. Professores principiantes: porque é que não fazemos aquilo que dizemos que é

preciso fazer? In: Congresso de professores principiantes e inserção profissional à docência,

IV., 2014, Curitiba. Materiais do Congresso. Curitiba: [s.n.], 2014. Disponível em:

http://pt.congreprinci.com.br/wp-content/uploads/2014/03/Conferencia_Antonio_Novoa_

21_02_2014_IV-Congreprinci.pdf. Acesso em: 15 de janeiro de 2020.

PASSOS, C.L.B. et al. Desenvolvimento profissional do professor que ensina Matemática:

Uma meta-análise de estudos brasileiros. Quadrante. Revista Teórica e de Investigação,

Lisboa, v.15, n.1/2, p.193-219, 2006.

PIAGET, J. O juízo moral na criança. São Paulo: Summus,1994.

_________. Epistemologia Genética. Petrópolis: Vozes, 1970

PONTE, J. P. Da formação ao desenvolvimento profissional. Lisboa: APM, 1998.

PONTE, J. P. (org.) Práticas profissionais dos professores de Matemática. Coleção

Encontros de Educação. Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, 2014.

Page 255: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

253

PONTE, J. P.; SERRAZINA, L. Professores e formadores investigam a sua própria

prática: o papel da colaboração. Zetetiké, Campinas, v. 11, n. 20, p. 51-84, 2003.

PRENSKY, Marc. Nativos digitais, imigrantes digitais. On the horizon, v. 9, n. 5, p. 1-6,

2001.

PRYJMA, M. F., & WINKELER, M. S. B. Da formação inicial ao desenvolvimento

profissional docente: análises e reflexões sobre os processos formativos. Formação Docente –

Revista Brasileira de Pesquisa sobre Formação de Professores, 6(11), p. 23-34, 2014.

SANTANA, E. R. S.; CAZORLA, I. M. Princípios para construção de sequências de

ensino na perspectiva investigativa. Texto em processo de submissão, 2019.

SANTANA, E; SERRAZINA, L.; NUNES, C.. Contribuições de um processo formativo para

o desenvolvimento profissional dos professores envolvidos. Revista Latinoamericana de

Investigación en Matemática Educativa - RELIME, v. 22, n. 1, p. 11-38, 2019.

SILVA, N. Níveis de letramento estatístico em um curso de formação continuada.

Dissertação de Mestrado – UNOPAR, Londrina, 2018.

SOARES, M. Letramento e escolarização. In: RIBEIRO, Vera M. (Org.). Letramento no

Brasil. São Paulo: Global; Ação Educativa Assessoria, Pesquisa e Informação, Instituto Paulo

Montenegro, p. 89-113, 2003.

TELES, F. P.; IBIAPINA, I. M. L. de M. A pesquisa colaborativa como proposta

inovadora de investigação educacional. Diversa. Ano 2, n.3, p.5-15, jan./jun. 2009.

WATSON, J. M. Statistical literacy at school: Growth and goals. Mahwah-NJ: Lawrence

Erlbaum, 2006.

WILD, C.; PFANNKUCH, M. Statistical Thinking in Empirical Enquiry. International

Statistical Review, v.67, n.3, p.223-265, 1999.

Page 256: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

254

APÊNDICE A – ESTRUTURA DE DESENVOLVIMENTO DA FORMAÇÃO

CONTINUADA DESENVOLVIDA DURANTE A PESQUISA

Quadro 10 – Estrutura do novo modelo de formação continuada em serviço

IDENTIFICAÇÃO

Curso Formação Continuada em serviço numa perspectiva de desenvolvimento

profissional

Tema A Estatística na alimentação saudável

Professora-pesquisadora Carmélia Regina Silva Xavier

Período Maio a novembro

de 2019 Público alvo Professores de 4º e 5º

anos

Carga horária

Apresentação da proposta de formação 1 encontro de 2h 2h

Aplicação do instrumento diagnóstico 1 encontro de 4h 4h

Análise dos livros didáticos 1 encontro de 2h 2h

Encontros formativos presenciais 4 encontros de 2h 8h

Encontros de planejamento presenciais 3 encontros de 2h 6h

Acompanhamento da prática pedagógica da

professora colaboradora

6 encontros de 2h 12h

Encontros formativos à distância Quantos forem necessários de acordo com a

necessidade do professor-colaborador

Encontro de avaliação da formação 1 encontro de 2h 2h

Carga horária aproximada 36h

EMENTA

Page 257: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

255

EMENTA

Formação continuada em serviço e o desenvolvimento profissional docente. A formação do professor dos

anos iniciais para o ensino da Estatística. A interdisciplinaridade e o ciclo investigativo. Trabalho com os

conceitos estatísticos (população, amostra, variáveis qualitativas e quantitativas, Moda, Média e Mediana).

A construção de tabelas e gráficos estatísticos.

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM (CONHECIMENTOS E HABILIDADES)

Objetivo geral

Possibilitar ao professor dos anos iniciais do Ensino Fundamental o desenvolvimento profissional e a

aquisição de conhecimentos teóricos e metodológicos que contribuam para a ampliação da competência

relacionadas ao uso da Estatística nos diversos componentes curriculares.

Objetivos específicos

- Refletir acerca da formação continuada enquanto professores de Matemática dos anos iniciais;

- Socializar experiências docentes entre escola e universidade;

- Compreender como a Estatística perpassa todos os componentes curriculares;

- Aprofundar o estudo sobre textos e práticas pedagógicas a partir do ciclo investigativo.

JUSTIFICATIVA

Diante da necessidade de discutir e investir na formação continuada de professores atuantes na Educação

Básica, em especial nos anos iniciais do Ensino Fundamental, a pesquisa se propôs a contribuir com o

desenvolvimento profissional dos professores-colaboradores da Escola parceira. Com a publicação da

BNCC em 2017, associada às demandas formativas relacionadas ao ensino da Matemática nesta etapa de

ensino, o recorte feito para a formação foi o uso da Estatística a partir do ciclo investigativo e da

interdisciplinaridade. Para tanto, a constituição de um grupo colaborativo formado por docentes de uma

escola pública e pesquisadores da UFRN contribuiu para o desenvolvimento de habilidades estatísticas

fundamentais para a atuação docente.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

- Estudo sobre o ciclo investigativo e suas etapas (Problema, Planejamento, Dados, Análise, Conclusão –

PPDAC)

- Conceitos estatísticos (população, amostra, variáveis qualitativas e quantitativas, Moda, Média e

Mediana).

-A construção de tabelas e gráficos estatísticos.

- A tecnologia nas aulas de Matemática (plataforma OBAMA)

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

- Estudo de textos

- Aula expositiva e dialogada

- Oficina sobre a plataforma OBAMA

- Planejamento coletivo

Page 258: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

256

ACOMPANHAMENTO DA PRÁTICA DOCENTE DA PROFESSORA-COLABORADORA

REALIZADO PELA PESQUISADORA

O acompanhamento foi realizado na sala de aula da professora-colaboradora durante as seis aulas

planejadas, segundo a sequência de ensino (anexo G). As aulas foram gravadas em áudio e vídeo para

posterior análise da mediação da professora observada. Não houve intervenção da pesquisadora durante as

aulas, exceto, quando solicitado pela própria docente. As solicitações eram atendidas ainda no momento da

aula, enquanto os alunos realizavam alguma atividade. As dúvidas não sanadas naquele momento

motivaram docente e pesquisadora a marcação de um novo planejamento presencial.

PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO

-Avaliação contínua: realizada para verificar a aprendizagem desenvolvida e replanejar para e com os

docentes.

- Avaliação final: encontro de avaliação escrita e oral para socialização das experiências individuais dos

professores-colaboradores envolvidos.

REFERÊNCIAS

BIGAISKI, D. Akpalô Ciências, 5º ano. 4ª ed – São Paulo: Editora do Brasil, 2017.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Disponível em:http://basenacionalcomum.mec.gov.br/.

Acesso em: 04 jun 2020.

DANTE, L.R. Ápis Matemática, 5º ano: ensino fundamental, anos iniciais. 3ª ed. São Paulo: Ática, 2017.

SANTANA, E. R. S.; CAZORLA, I. M. Princípios para construcao de sequências de ensino na perspectiva

investigativa. Texto em processo de submissão, 2019.

Fonte: elaborado pela pesquisadora

Page 259: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

257

ANEXO A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO DO

PROFESSOR

Prezado(a) Senhor(a):

Você está sendo convidado para participar como voluntário (a) em uma pesquisa que tem o

seguinte tema: “Desenvolvimento Profissional de professores que ensinam Matemática”.

Esta pesquisa tem como objetivo principal compreender as experiências de aprendizagens de

professores, que ensinam matemática no ensino fundamental, no âmbito de um grupo

colaborativo visando o seu desenvolvimento profissional, tendo em vista a formação de um

grupo com características colaborativas. No caso de aceitar fazer parte da mesma, você vai

fazer parte de um grupo colaborativo de professores que vão investigar e discutir sobre as suas

práticas de sala de aula num movimento de planejamento, desenvolvimento de ações e

reflexões constantes. A sua participação será de grande valor, podendo contribuir para a

melhoria do ensino e aprendizagem de Matemática para estudantes da Educação Básica. Você

não é obrigado a participar, tendo total liberdade para discordar ou desistir da participação em

qualquer momento que desejar. Caso participe, você também terá a liberdade para pedir

esclarecimentos sobre qualquer dúvida que tiver. Como pesquisadores responsáveis por esta

pesquisa, manteremos em segredo todos os dados confidenciais. Se em algum momento

sentir-se constrangido ou cansado do processo formativo, você pode parar as atividades e não

mais participar ou voltar a participar quando se sentir à vontade. Se você se sentir

desconfortável poderá desistir em qualquer momento. Garantimos, também, o direito de

indenização se porventura sofrer algum prejuízo moral ou físico por causa da participação e,

que você não terá nenhum gasto e nem receberá nenhum pagamento nessa pesquisa. Caso

tenha algum gasto o seu dinheiro será devolvido. Então, se está claro para você para que serve

essa pesquisa e se concorda em participar da mesma, pedimos que assine este documento.

Esse termo foi impresso em duas vias iguais e você ficará com uma das vias.

_______________________________ ___________________________________ Eurivalda Ribeiro dos Santos Santana Dennys Leite Maia

Pesquisa Coordenadora do Projeto Pesquisador responsável pelo Núcleo-Natal/RN

Telefone para contato: (73) 3680-5657 Telefone para contato: (73) 3342-2216

Eu, ___________________________________________________, aceito participar das

atividades da pesquisa “Desenvolvimento Profissional de professores que ensinam

Matemática”. Fui devidamente informado(a) que eu participarei do grupo colaborativo. Foi-

me garantido que posso desistir da pesquisa a qualquer momento, e que os resultados serão

tratados confidencialmente.

_________________, ____/____/_____ ________________________________

Local Data Assinatura

Esta pesquisa teve os aspectos relativos à Ética da Pesquisa envolvendo Seres Humanos

analisados pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual de Santa

Cruz. Em caso de dúvidas sobre a ética desta pesquisa ou denúncias de abuso, procure o

CEP, que fica no Campus Soane Nazaré de Andrade, Rodovia Jorge Amado, KM16,

Bairro Salobrinho, Torre Administrativa, 3º andar, CEP 45552-900, Ilhéus, Bahia. Fone

(73) 3680-5319. Email: [email protected]. Horário de funcionamento: segunda a quinta-

feira, de 8h às 12h e de 13h30 às 16h.

Page 260: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

258

ANEXO B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO DOS

ALUNOS DE MENOR

Prezado(a) Senhor(a):

Convidamos seu filho(a) para participar de uma pesquisa sobre: “Desenvolvimento

Profissional de professores que ensinam Matemática”. Esta pesquisa tem como objetivo

principal compreender as experiências de aprendizagens de professores, que ensinam

matemática no ensino fundamental, no âmbito de um grupo colaborativo visando o seu

desenvolvimento profissional, tendo em vista a formação de um grupo com características

colaborativas. No caso de aceitar fazer parte da mesma, seu(ua) filho(a) e demais colegas da

turma vão responder tarefas com atividades que envolvem conteúdo de estatística. Para isso,

seu(ua) filho(a) está sendo convidado(a) a participar respondendo as atividades junto com os

colegas. Estas atividades serão respondidas durante aulas de Matemática da escola, em

parceria com a professora da turma, e em concordância com a direção da escola. A

participação de seu(ua) filho(a) será de grande valor, podendo contribuir para a melhoria do

ensino e aprendizagem de Matemática. Seu(ua) filho(a) não é obrigado(a) a participar do

estudo, tendo total liberdade para desistir, caso participe, ele(a) também terá a liberdade para

pedir informações ou tirar qualquer dúvida que tiver. Se seu(ua) filho(a) ficar cansado(a) ou

não conseguir responder alguma atividade, poderá deixar sem responder, pois não é um teste

para a nota.Como pesquisadora responsável por este estudo, comprometo-me a manter em

segredo todos os dados confidenciais. Garantimos, também, o direito de indenização se

porventura sofrer algum prejuízo moral ou físico por causa da participação e, que seu(ua)

filho(a) não terá nenhum gasto e nem receberá nenhum pagamento nessa pesquisa. Caso tenha

algum gasto o dinheiro será devolvido. Então, se está claro para o senhor(a), peço que assine

este documento. O seu consentimento deve estar de acordo com o consentimento do(a)

seu(ua) filho(a), isto é, se ele(a) não concordar em participar, a opinião dele(a) será

respeitada. Esse termo foi impresso em duas vias iguais e você ficará com uma das vias.

________________________________________

Eurivalda Ribeiro dos Santos Santana

Coordenadora do Projeto. Contato (73)3680-5657

Eu, __________________________________________________, aceito que meu(inha)

filho(a) participe das tarefas da pesquisa: “Desenvolvimento Profissional de professores

que ensinam Matemática”. Fui claramente informado que ele(a) responderá a tarefas de

Matemática. Foi-me garantido que meu(inha) filho(a) poderá desistir da pesquisa a qualquer

momento que desejar, sem que isto leve a quaisquer prejuízos em seu aprendizado na escola,

que as informações confidenciais serão mantidas em segredo.

_____________,____/____/_____

Local Data

…………………………………………..……...

Pais ou responsável legal, se houver.

Marca do polegar

Page 261: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

259

A rogo do senhor (a)............................................

assinam:

....................................................................................

Assinatura da Testemunha 1

......................................................................................

Assinatura da Testemunha 2

Esta pesquisa teve os aspectos relativos à Ética da Pesquisa envolvendo Seres Humanos

analisados pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual de Santa

Cruz. Em caso de dúvidas sobre a ética desta pesquisa ou denúncias de abuso, procure o

CEP, que fica no Campus Soane Nazaré de Andrade, Rodovia Jorge Amado, KM16,

Bairro Salobrinho, Torre Administrativa, 3º andar, CEP 45552-900, Ilhéus, Bahia. Fone

(73) 3680-5319. Email: [email protected]. Horário de funcionamento: segunda a quinta-

feira, de 8h às 12h e de 13h30 às 16h.

Page 262: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

260

ANEXO C – ROTEIRO PARA ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA COM OS

PROFESSORES

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ – UESC/ GEPMEC

PROJETO DE PESQUISA: Desenvolvimento Profissional de Professores que ensinam

Matemática

ROTEIRO PARA A ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA COM OS

PROFESSORES – Inicial

PARTE I – Sobre a profissão Objetivos

Escolha profissional e a sua experiência (sujeito) com a

Estatística 1- Na graduação e na pós-graduação você cursou

disciplinas envolvendo conteúdos de Estatística? Se sim,

você lembra quais foram?

2- Como foi o aprendizado desses conteúdos para você?

Tinha alguma dificuldade?

Conhecer a trajetória de

construção da aprendizagem da

docência do professor com o

estudo de Estatística visando à

docência

Experiência docente com conteúdo de Estatística na

Educação Básica 1- Na sua percepção, os conteúdos de Estatística

(Tratamento da Informação) devem ser inseridos na

Educação Básica? Por quê?

2- Você trabalha com seus alunos durante o ano letivo

com conteúdos estatísticos?

● Se sim, de que forma? ● Como você os organiza para 260 trabalhá-los ao

longo do ano? ● Essa forma adotada foi uma organização ou um

planejamento realizado com a coordenação da escola? ● Se não, por que você não trabalha esses conteúdos

com seus alunos? 3- Você tem alguma dificuldade para trabalhar com

conteúdo de estatística em sala com seus alunos? Se sim,

quais conteúdos tens mais dificuldades?

4- A que você atribui essa sua dificuldade em lidar com

esses conteúdos na sala com seus alunos.

Identificar como o professor

trabalha com os conteúdos de

Estatística, suas aprendizagens e

dificuldades.

Analisar a organização e o

planejamento com os conteúdos

de Estatística.

1- Como você avalia os conhecimentos dos seus alunos

em relação aos conteúdos de Estatística?

Proporcionar aos professores

momento de reflexão sobre o

ensino e a aprendizagem do

aluno no que se refere ao

conteúdo de Estatística.

Page 263: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

261

ANEXO D – INSTRUMENTO DIAGNÓSTICO PARA PROFESSORES SOBRE

CONCEITOS

Nome: ___________________________________________________________________

1. Em uma pesquisa sobre a classe social e o acesso ao Ensino Superior (ES) foram

entrevistadas mil pessoas. Os dados desta amostra estão na Tabela 1.

a) Preencha a Tabela 2 com a porcentagem calculada da forma que lhe pareça mais

conveniente para argumentar a existência ou não de relação entre a classe social e o acesso ao

Ensino Superior.

Tabela 1. Número de pessoas segundo

o acesso ao ensino superior e a classe

social

Tabela 2. Porcentagem de pessoas segundo o

acesso ao ensino superior e a classe social

Acesso

ao ES

Classe Social

Total

Acesso

ao ES

Classe Social

Total

Baixa Média Alta Baixa Média Alta

Sim 100 150 100 350 Sim

Não 400 200 50 650 Não

Total 500 350 150 1000 Total

Fonte: Elaborado pelos pesquisadores.

Page 264: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

262

b) Construa um gráfico que lhe pareça mais apropriado, para apresentar seu argumento.

c) O que você pode concluir acerca da relação entre a classe social e o acesso ao ensino

superior?

2. A passagem de uma forte massa de ar

polar na virada do outono para o inverno de

2017 provocou temperaturas abaixo de zero

no Sul do Brasil. A temperatura registrada

às 8 horas da manhã da cidade de Bom

Jardim da Serra, em Santa Catarina, ao

longo de uma semana, está representada na

Figura 1.

Figura 1: Gráfico das temperaturas registradas em

Bom Jardim da Serra, em uma determinada semana

F

Fonte: Andrini e Vasconcellos (2015).

Page 265: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

263

a) Qual foi a menor temperatura registrada? ___________________________________

b) Qual foi a maior temperatura registrada?___________________________________

c) Determine a moda. Explique seu significado. _________________________

d) Calcule a média. Explique seu significado. ______________________________________

Page 266: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

264

3. Numa negociação salarial, a Diretoria de uma empresa que possui 100 funcionários

apresenta ao sindicato da categoria duas opções para reajustar os salários:

Opção 1) Aumento geral de 10% sobre o salário mensal atual; ou

Opção 2) Aumento geral de R$ 150,00 sobre o salário mensal atual.

a) As estatísticas do salário mensal atual se encontram na segunda coluna do Quadro 1.

Calcule as estatísticas das Opções 1 e 2, e complete o Quadro 1.

Quadro 1 – Distribuição do salário mensal dos empregados da empresa

Estatísticas: Salário atual Opção 1: +10% Opção 2: +R$ 150,00

Gasto com a folha de

pagamento

R$ 150.000,00

Mínimo R$ 1.000,00

Média R$ 1.500,00

Mediana R$ 1.300,00

Máximo R$ 5.000,00

Desvio Padrão R$ 700,00

Fonte: Elaborado pelos autores.

b) Se você fosse membro do Sindicato, qual das duas opções você defenderia?

( ) Opção 1 ( ) Opção 2. Argumente a razão de sua escolha:

______________________________________________________________________

c) Se você fosse um dos funcionários mais bem pagos da empresa, qual das duas

opções você escolheria? ( ) Opção 1 ( ) Opção 2. Como você argumentaria com seus

colegas para defender sua escolha?

______________________________________________________________________

d) Por que para a empresa é indiferente qualquer uma das duas opções?

______________________________________________________________________

Page 267: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

265

ANEXO E – QUESTIONÁRIO APLICADO AO PROFESSOR-COLABORADOR

Nome: ___________________________________________________________________

Prezado(a) professor(a),

Esse instrumento (questionário) tem o objetivo coletar informações sobre a sua formação e

sua prática profissional. As suas respostas nos permitirão lhe conhecer melhor e ao mesmo

tempo que nos possibilitará estabelecer alguns parâmetros para a formatação do processo

formativo com o viés colaborativo. Para tanto, solicitamos que responda as perguntas que

se seguem.

1ª Parte: Perfil do professor

11. Seu nível de instrução é:

▢Magistério ▢Superior incompleto ▢Superior Completo ▢Especialização ▢Mestrado

▢Outro: _______________

2. Você tem Curso superior em: ___________________________________ concluído

em (ano): _____________

3. Em qual(is) rede(s) você ministra aulas?

▢Estadual ▢Municipal ▢Particular (pode marcar mais de uma)

4. Há quantos anos você ensina Matemática?

▢1 – 3 anos ▢4 – 6 anos ▢7 – 18 anos ▢19 – 30 anos ▢31 – 40 anos

5. Em sua trajetória estudantil, qual era o seu gosto pela Matemática?

▢Detestava ▢Gostava pouco ▢Indiferente ▢Gostava ▢Gostava muito

6. a) Esse gosto mudou? SIM NÃO.

b) Se seu gosto mudou, explique: EM QUÊ?

POR QUÊ?

7. Em sua trajetória profissional, qual o seu gosto pela matemática?

▢Detesto ▢Gosto pouco ▢Indiferente ▢Gosto ▢Gosto muito

8. Em relação aos conteúdos e conceitos de estatística (Tratamento da Informação), você

teve contato na sua:

▢ Formação inicial ▢Formação continuada ▢Na sua prática de ensino ▢Nunca teve

Page 268: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

266

2ª Parte: Experiências de aprendizagem no percurso profissional

1. Você participou de cursos com colegas da escola e profissionais externos à escola

(pesquisadores da universidade, da secretaria de educação etc.) que focaram problemas de

ensino ou de aprendizagem da sala de aula dos professores participantes? Em caso positivo,

como foi o seu papel nesse grupo?

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

2. Como você descreve a sua prática de ensino nas aulas de matemática?

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

3. Como você gerencia a sua prática de ensino nas aulas de matemática de modo que o

processo de ensino resulte na aprendizagem do estudante?

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

4. De que forma sua prática de ensino, nas aulas de matemática, permite a interação com os

estudantes?

_________________________________________________________________________

5. Em sua prática de ensino, nas aulas de matemática, você propõe desafios matemáticos

aos estudantes de maneira a engajá-los nas tarefas propostas em sala de aula? Em caso

positivo, como desenvolve essa prática? Em caso negativo, por que não aplica essa prática?

_____________________________________________________________________

6. Como você percebe a aprendizagem do estudante, em Matemática?

_________________________________________________________________________

7. Em relação ao conteúdo de estatística (Tratamento da Informação) para a educação

básica, você trabalha com os mesmos durante o ano

letivo?____________________________________________________________________

________________________________________________________________________

Se respondeu SIM à questão 7, responda as questões 8 e 9:

8. Como distribui esses conteúdos ao longo do ano letivo?

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

9. Como desenvolve as aulas com os conteúdos estatísticos?

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

Page 269: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

267

Se respondeu NÃO à questão 7, responda as questões 10 e 11:

10. Por que não trabalha com os conteúdos de estatística (Tratamento da Informação) em

sala de aula?

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

11. Você tem alguma dificuldade com os conteúdos ou conceitos de estatística (Tratamento

da Informação)? Em caso positivo, quais os conteúdos ou conceitos você tem mais

dificuldades?

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

3ª Parte: Relação com a gestão da escola

Prezado(a) Professor(a),

com o objetivo de conhecer melhor alguns aspectos relacionados a gestão de sua escola

(direção e coordenação), você encontrará, na sequência algumas afirmações. Por favor,

indique a frequência que estas atividades (ações) ocorrem durante o ano letivo na sua

escola. Marque com ―x‖.

Nunca Raramente Com certa

frequência

Frequentemente

Discute as metas educacionais com

os professores

Garante que os professores

trabalhem de acordo com as metas

educacionais da escola

Observa o ensino em sala de aula e

faz intervenções pedagógicas

sempre que necessário

Apresenta e discute sugestões aos

professores de como eles podem

melhorar seu ensino

Page 270: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

268

Toma a iniciativa de discutir

problemas relacionados à sala de

aula no que diz respeito ao ensino e

aprendizagem da matemática

Garante que os professores sejam

informados sobre as possibilidades

de atualização de seu conhecimento

e habilidades

Trabalha com base em um plano de

desenvolvimento da escola

Define as metas a serem alcançadas

pela equipe escolar

Garante que uma organização do

trabalho voltada a realização tarefas

seja fomentada com vistas a

melhoria da qualidade de ensino

Procura juntamente com os

professores assegurar que as

questões de qualidade de ensino

sejam uma responsabilidade

coletiva

Assegura que nos espaços de

discussão coletiva sejam gestadas e

implementadas ações que visem a

formação continuada e o

desenvolvimento profissional do

professor

Page 271: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

269

ANEXO F – INSTRUMENTO DIAGNÓSTICO DO ALUNO SOBRE CONCEITOS

ESTATÍSTICOS

Page 272: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

270

Page 273: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

271

Page 274: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

272

ANEXO G - SEQUÊNCIA DE ENSINO ELABORADA E EXECUTADA DURANTE A

PESQUISA

PLANO DE AULA

OBJETOS DE APRENDIZAGEM PARA MATEMÁTICA - OBAMA

GRUPO INTERDISCIPLINAR DE ESTUDOS E PESQUISAS EM INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO (GIIfE)

Alimentação saudável

Autor(es): Andreza Ribeiro Gomes, Carmélia Regina Silva Xavier.

Instituição de Escola Municipal Professora Zuleide Fernandes

Ano de ensino: 5º Ano -

Duração da aula:

Objetos de

aprendizagem:

720 (minutos)

BRINCANDO E APRENDENDO COM GRÁFICOS E TABELAS,

CONTA KG

Descrição da aula

• Objetivo geral

• Compreender a importância da alimentação saudável.

• Objetivos específicos

• Identificar alimentos de origem animal e vegetal;

• Identificar alimentos naturais e industrializados;

• Construir tabelas e gráficos com os resultados de uma pesquisa;

• Introduzir os conceitos estatísticos de Moda, Média e Mediana.

• Metodologia (Cada uma das seis aulas teve duração de 2 horas e aconteceram

semanalmente)

Aula 1

- Levantamento dos conhecimentos dos alunos acerca dos alimentos;

Page 275: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

273

- Jogo dos alimentos (alimento de origem animal e vegetal): o jogo foi uma sugestão do livro

didático de Ciências;

Aula 2

- Apresentação de um vídeo sobre alimentação e seus nutrientes (Nutriamigos);

- Conversa sobre o vídeo e aula expositiva em Power Point sobre alimentação saudável;

- Apresentação de outro vídeo sobre alimentação com produtos industrializados e seus

resultados sobre a saúde (documentário);

- Pesquisa em panfletos, revistas, livros e internet de diferentes imagens de alimentos

(atividade para casa);

Aula 3

- A partir das imagens pesquisadas, dividir os alunos em grupos e classificar as imagens a

partir do grupo nutricional o qual pertence (Carboidratos, Vitaminas e Sais Minerais,

Proteínas, Gorduras e Doces);

- Após a classificação, construir tabelas com seus respectivos elementos: linhas e colunas,

aberta nas lateriais, título (o quê, quando? e onde?) e Fonte.

- Explicação do conceito de Moda.

- Construção de uma pirâmide alimentar com as imagens;

Aula 4

- Retomada da sequência de ensino para revisar o que já havia sido realizado e oportunizar os

alunos faltosos;

- Construção de gráficos a partir da tabela construída na aula 3. Gráfico com mesmo título e

Fonte da tabela, no eixo vertical (quantidades) e no eixo horizontal (categorias).

Aula 5

- Trabalhar uma tabela do livro didático de Ciências sobre o valor calórico/energético de

alguns alimentos;

- A partir dessa tabela, cada aluno vai escolher alimentos para compor o seu almoço e, em

seguida, calcular o valor calórico do prato composto por ele.

- Após a conclusão da atividade, a professora irá pegar uma amostra de 7 atividades e

calcular, juntamente com os discentes, o resulatdo da Moda, da Média e da Mediana.

Page 276: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

274

Aula 6

- Aula no laboratório de informática utilizando a plataforma OBAMA

- Trabalhar o Objeto de Aprendizagem "Conta kg"(aborda o mesmo tema da sequência de

ensino - alimentação saudável e envolve conceitos estatísticos)

- A depender do tempo de interação dos alunos com o primeiro OA, trabalhar um segundo

recurso da plataforma contemplando a mesma temática - Brincando e aprendendo com gráficos

e tabelas - com o objetivo de ampliar os conceitos estatísticos trabalhados em sala de aula.

• Avaliação

A avaliação será contínua, ou seja, a cada etapa iremos detectar os avanços a partir dos

questionamentos orais, do comprometimento com as atividades propostas, exposição dos

cartazes e explanação dos resultados, como também a realização de algumas atividades

individuais que serão registradas em folha.

• Recursos

Livro didático;

Cartolina para confecção do jogo;

Papel para confecção de envelopes para guardar os jogos;

Computador, projetor e caixa de som para apresentação em Power Point e filme;

Cartolinas para a produção da Pirâmide Alimentar. Plataforma OBAMA

• Referências

BIGAISKI, Denise; SOURIENT, Lilian. Akpalô Ciências, 5° ano. 4. ed. São Paulo: Editora

do Brasil, 2017.

MUITO ALÉM DO PESO – OFICIAL. Disponível em:

<https://www.youtube.com/watch?v=8UGe5GiHCT4&t=11s>. Acesso em: 7 de outubro de

2019.

Nutriamigos super-heróis da Nutrição Infantil – Completo. Disponível em:

<https://www.youtube.com/watch?v=AayWl40KE4M&t=471s>. Acesso em: 7 de outubro de

2019.

Page 277: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

275

ANEXO H - AVALIAÇÃO FINAL FEITA PELOS COLABORADORES

1 – Descrever como fez a contextualização e a formulação do problema

reação dos estudantes com o tema escolhido;

conhecimento prévio dos estudantes sobre o tema;

pontos relevantes ou comentários levantados pelos estudantes durante a reflexão;

desafios e limitações encontrados na fase de contextualização;

registro fotográfico das atividades, dos cadernos;

local onde foi desenvolvido a fase de contextualização (sala de aula, sala de leitura,

pátio etc.).

2 – Descrever a fase de construção do instrumento de coleta dos dados

perguntas lançadas pelo professor e as respostas dos estudantes que contribuíram para

a elaboração do instrumento de coleta de dados;

grau de envolvimento dos estudantes na realização;

elementos interessantes que chamou a atenção dos estudantes;

dificuldades apresentadas pelos estudantes nesta fase;

o instrumento ficou diferente do planejado? Se sim, quais foram as mudanças?

os estudantes perceberam a relação entre o instrumento e o objeto matemático /

estatístico?

local onde foi desenvolvido esta fase (sala de aula, sala de leitura, pátio etc.).

3- Desenvolvimento da pesquisa – a coleta de dados

grau de envolvimento dos estudantes na realização da pesquisa;

registro fotográfico das atividades, dos cadernos;

local onde foi desenvolvido esta fase (sala de aula, sala de leitura, pátio etc.).

4 – Tratamento dos dados

como foi realizada a organização dos dados:

foi construído uma lista na lousa, ou no papel metro ou cartolina, onde os estudantes

registraram seus dados e a partir desses foram construídos as tabelas e os gráficos?

As tabelas ou gráficos foram construídos diretamente dos instrumentos os estudantes

registraram em uma folha a parte, no caderno ou foi produzido material específico?

comentários mais relevantes dos estudantes;

elementos interessantes que chamou a atenção dos estudantes;

participação dos estudantes nesta fase;

Page 278: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

276

registro fotográfico das atividades, dos cadernos;

local onde foi desenvolvido esta fase (sala de aula, sala de leitura, pátio etc.).

5 - Analisando os dados

as tabelas ou gráficos foram construídos coletivamente no quadro e depois os

estudantes copiaram no caderno;

na sistematização dos dados para a construção de tabelas ou gráficos os estudantes

levantaram a mão e o professor foi sistematizando no quadro;

quais foram as dificuldades dos estudantes na construção dos gráficos?

quais foram as dificuldades dos estudantes na construção das tabelas?

os conteúdos de matemática/estatística foram contemplados conforme planejado?

os estudantes conseguiram analisar os dados de acordo com os objetivos pretendidos?

quais as dificuldades dos estudantes em relacionar os dados com o conteúdo

matemático e estatístico?

houve alterações do que foi planejado para o que foi desenvolvido? Se sim, quais?

registro fotográfico das atividades, dos cadernos;

local onde foi desenvolvido esta fase (sala de aula, sala de leitura, pátio etc.);

6 – A conclusão

local onde foi desenvolvido esta fase (sala de aula, sala de leitura, pátio etc.);

os estudantes foram convidados para comunicar os resultados?

houve apresentação para a turma, escola, comunidade?

o envolvimento dos estudantes nesta fase;

os estudantes conseguiram responder a pergunta de pesquisa elaborada na fase da

formulação do problema?

os estudantes perceberam a importância de ter trabalhado com seus próprios dados?

os estudantes tomaram consciência das implicações do tema trabalhado?

os estudantes manifestaram mudança de opinião relativamente ao seu conhecimento?

os estudantes manifestaram mudança de opinião relativamente a suas atitudes ou de

sua família ou de sua comunidade?

registro fotográfico das atividades, dos cadernos.

7 – Reflexões sobre o processo

os objetivos planejados na sequência foram alcançados?

os conteúdos matemáticos/estatísticos foram institucionalizados?

Page 279: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

277

quais observações você tem a fazer sobre a participação, envolvimento e

aprendizagem dos estudantes durante a realização das sequências de ensino?

o que você modificaria ou não faria para planejar e desenvolver outras Sequências de

Ensino?

qual reflexão você faz sobre a sua prática no desenvolvimento das sequências?

Page 280: repositorio.ufrn.br€¦ · CARMÉLIA REGINA SILVA XAVIER PROCESSO FORMATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao

278

ANEXO I - TERMO DE CESSÃO DE DIREITO DE USO DE IMAGEM E VOZ

TERMO DE CESSÃO DE DIREITO DE USO DE IMAGEM E VOZ

Eu ___________________________________________, nacionalidade ________

____________, estado civil , portador(a) da Cédula de

identidade RG nº. , inscrito no CPF sob nº

_________________________, residente na Av/Rua

____________ , nº __, município

de , pelo presente instrumento autorizo a pesquisadora CARMÉLIA REGINA SILVA

XAVIER autora da pesquisa de mestrado intitulada FORMAÇÃO CONTINUADA EM

SERVIÇO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES QUE

ENSINAM MATEMÁTICA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO

FUNDAMENTAL sob a orientação do professor Dr. DENNYS LEITE MAIA a utilizar,

divulgar e dispor da minha imagem e/ou voz para fins acadêmicos. A referida

pesquisa faz parte do Programa de Pós-graduação em Inovação em Tecnologias

Educacionais (PPgITE) do Instituto Metrópole Digital (IMD) da Universidade Federal do

Rio Grande Norte (UFRN).

Declaro estar ciente que esta autorização não transfere à pesquisadora nem ao orientador

qualquer ônus ou responsabilidades civis ou criminais decorrentes do conteúdo do material

disponibilizado em sítio eletrônico da instituição ou em outras mídias, na íntegra ou em

partes.

O presente Termo é firmado em caráter irrevogável, irretratável e por prazo indeterminado,

tendo sido outorgado livre, espontânea e gratuitamente, com base na Lei nº 9.610/98, não

incorrendo a autorizada em qualquer custo ou ônus, seja a que título for.

Por serem estas informações a expressão da verdade, na melhor forma do Direito e de

minha livre e espontânea vontade, subscrevo o presente Termo.

__________________________ ,____/ / (Local e Data)

Assinatura