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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO UNIVERSITÁRIO NORTE DO ESPÍRITO SANTO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRICULTURA TROPICAL CARMELITA DOS SANTOS OLIVEIRA Magister Scientiae CONTROLE DA FUSARIOSE DA PIMENTA-DO-REINO COM APLICAÇÃO DE TRICHODERMA HARZIANUM SÃO MATEUS, ES 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO UNIVERSITÁRIO NORTE DO ESPÍRITO SANTO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRICULTURA TROPICAL

CARMELITA DOS SANTOS OLIVEIRA Magister Scientiae

CONTROLE DA FUSARIOSE DA PIMENTA-DO-REINO COM APLICAÇÃO DE

TRICHODERMA HARZIANUM

SÃO MATEUS, ES

2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO UNIVERSITÁRIO NORTE DO ESPÍRITO SANTO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRICULTURA TROPICAL

CONTROLE DA FUSARIOSE DA PIMENTA-DO-REINO COM APLICAÇÃO DE

TRICHODERMA HARZIANUM

CARMELITA DOS SANTOS OLIVEIRA

Dissertação apresentada à Universidade Federal do Espírito Santo, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Agricultura Tropical, para obtenção do título de Mestre em Agricultu-ra Tropical.

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Barreto da Silva

SÃO MATEUS, ES

Junho de 2012

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Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)

(Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil)

Oliveira, Carmelita dos Santos, 1974-

O48c Controle da fusariose da pimenta-do-reino com aplicação de

trichoderma harzianum / Carmelita dos Santos Oliveira. – 2012.

41 f. : il.

Orientador: Marcelo Barreto da Silva.

Coorientador: Adriano Alves Fernandes.

Dissertação (Mestrado em Agricultura Tropical) – Universidade

Federal do Espírito Santo, Centro Universitário Norte do Espírito Santo.

1. Pragas - Controle biológico. 2. Pimenta-do-reino. 3. Fusarium

solani. I. Silva, Marcelo Barreto da. II. Fernandes, Adriano Alves. III.

Universidade Federal do Espírito Santo. Centro Universitário Norte do

Espírito Santo. IV. Título.

CDU: 63

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CONTROLE DA FUSARIOSE DA PIMENTA-DO-REINO COM APLICAÇÃO DE

TRICHODERMA HARZIANUM

CARMELITA DOS SANTOS OLIVEIRA

Dissertação apresentada à Universidade Federal do Espírito Santo, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Agricultura Tropical, para obtenção do título de Mestre em Agricultu-ra Tropical.

Aprovado em 19 de junho de 2012.

_______________________________ _______________________________ Dr. Trazilbo José de Paula Junior Prof. Dr. Adriano Alves Fernandes EPAMIG Universidade Federal do Espírito Santo CEUNES Co-Orientador

_______________________________ Prof. Dr. Marcelo Barreto da Silva

Universidade Federal do Espírito Santo CEUNES Orientador

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Dedico esse trabalho aos meus pais

Adão Sant‟Ana de Oliveira (in memo-

riam) e Maria Efren dos Santos Oli-

veira, pela educação e por serem

meu porto-seguro.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por me conceder a graça da vida e por ser luz em

minha caminhada; por me dar forças e muita persistência para lutar sempre e não

me deixar abater diante dos desafios e dificuldades e permitir que eu alcance meus

objetivos;

Ao professor, orientador e amigo Marcelo Barreto da Silva, que confiou na minha ca-

pacidade e permaneceu ao meu lado para críticas, incentivo, ajuda e atenção. Pro-

fissional solidário e gerador de oportunidades para aqueles que desejam desenvol-

ver seus talentos. Obrigada por seus ensinamentos, pois contribuíram valiosamente

para a minha formação acadêmica e pessoal;

Agradeço infinitamente à minha mãe Maria Efren dos Santos Oliveira, pelo exemplo

de vida e, mesmo distante, mostrou fundamental participação na minha formação,

me apoiando em todos os momentos da minha vida, com suas orações e com seu

amor incondicional (Ágape) por mim;

Ao amigo e irmão Antonio Pereira Drumond (amigo mais chegado do que um irmão

– Provérbios 18:24), pois me acolheu, ajudou e caminhou comigo, inclusive na con-

dução dos experimentos (“Tony” - muito obrigada);

Aos meus queridos irmãos Adriana, Claudiney, Edson, Andeides e Sônia, mesmo

longe estiveram presentes nesta caminhada; aos meus sobrinhos Vitória, Talita, Vic-

tor, Vanessa, Vinícius, Gabriel, Adam e Izabela; e às cunhadas Sheila e Claudiana.

Muito obrigada pela força.

Ao Centro Universitário Norte do Espírito Santo (CEUNES) – Universidade Federal

do Espírito Santo (UFES), pela sólida formação, a qual permitiu a continuidade dos

meus estudos;

Aos professores do Curso de Mestrado em Agricultura Tropical, pela confiança, ori-

entação e ensinamentos. Em especial ao saudoso e eterno amigo Prof. Valdenir Jo-

sé Belinelo (in memoriam), pelo incentivo e apoio;

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Agradeço aos meus amigos Terezinha, Bernadeth, Mariana Ferraço, Ana, Yasmim,

Fernanda Duque, Fábio Pires, Rodrigo Sobreira, Márcia Barbutti, Luiz Fernando Du-

boc, Helder, Francisco, Hewertton, Adelson, Maria, Jorge, Diego Capucho, Alex,

Bruno, Deângelys, Giliard, Eunícia, Thiago, Ribamar, Loide, Benedito, Clemilton, Síl-

via, Vanice, Júlio, Lucia, Larissa, Edilson, Damaris, Antelmo, Olivério, Adriano, Ro-

sângela, Fábio Partelli, Poliana, Ângela, Marcus, Valmir e Elias, pelo apoio;

Agradeço também às empresas Defagro (Marcelo), Fitoclin (Joseli Tatagiba), Itaforte

(Ariclenis Ballarotti) e ao Sindicato Rural, Incaper (Wellington Secundino e Jorge So-

ares), por contribuirem valiosamente na minha formação;

Aos senhores José Bonomo, Elizeu Bonomo e Rafael Malanquine, pela cessão do

espaço em suas propriedades, a fim de que os experimentos da presente pesquisa

acontecessem. Muito obrigada pelas suas colaborações;

À CAPES, pela concessão da bolsa de estudo, sem a qual nada do que até aqui al-

cancei teria se tornado real.

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BIOGRAFIA

Carmelita dos Santos Oliveira, filha de Adão Sant‟Ana de Oliveira e Maria Efren dos

Santos Oliveira, nasceu em 17 de setembro de 1974, na cidade de Governador Va-

ladares, MG.

Em dezembro de 2009, graduou-se em Agronomia pela Universidade do Vale do Rio

Doce, em Governador Valadares, MG.

Em maio de 2010, iniciou o Programa de Pós-Graduação em Agricultura Tropical,

em nível de Mestrado, na Universidade Federal do Espírito Santo, submetendo-se à

defesa de dissertação em junho de 2012.

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Não importa se a estação do ano muda [...] Se o século vira, se o milênio é ou-tro. Se a idade aumenta [...] Conserva a vontade de viver, Não se chega a parte alguma sem ela.

Fernando Pessoa

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Curva de progresso da doença, para os tratamentos........................... 28

FIGURA 2 – Área Abaixo da Curva de Progresso..................................................... 29

FIGURA 3 – Curva de progresso da fusariose.......................................................... 30

FIGURA 4 – Área Abaixo da Curva de Progresso da Doença (AACPD)................... 31

FIGURA 5 – Variação da intensidade da doença na última avaliação...................... 31

FIGURA 6 – Curva de progresso da fusariose.......................................................... 34

FIGURA 7 – Área Abaixo da Curva de Progresso da Doença (AACPD)................... 34

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SUMÁRIO

RESUMO................................................................................................................. 11

ABSTRACT............................................................................................................ 12

1 INTRODUÇÃO................................................................................................... 13

2 REVISÃO DE LITERATURA.......................................................................... 15

2.1 A CULTURA DA PIMENTA-DO-REINO............................................................... 15

2.2 A FUSARIOSE..................................................................................................... 16

2.3 CONTROLE BIOLÓGICO.................................................................................... 19

2.4 USO DE TRICHODERMA NO CONTROLE BIOLÓGICO................................... 20

2.5 TRICHODERMA NA CULTURA DE PIMENTA-DO-REINO................................ 23

3 MATERIAL E MÉTODOS................................................................................ 24

3.1 COMPARAÇÃO ENTRE DIFERENTES MÉTODOS DE APLICAÇÃO................24

3.2 ESTUDO DE DOSE E INTERVALO DE APLICAÇÃO......................................... 25

3.3 EXPERIMENTO DE VALIDAÇÃO........................................................................26

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO..................................................................... 27

4.1 COMPARAÇÃO ENTRE DIFERENTES MÉTODOS DE APLICAÇÃO................27

4.2 ESTUDO DE DOSE E INTERVALO DE APLICAÇÃO......................................... 30

4.3 EXPERIMENTO DE VALIDAÇÃO........................................................................33

5 CONCLUSÕES.................................................................................................. 36

REFERÊNCIAS..................................................................................................... 37

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RESUMO

OLIVEIRA, C. S.; M.Sc.; Universidade Federal do Espírito Santo, junho de 2012; Controle da fusariose da pimenta-do-reino com aplicação de Trichoderma Har-zianum. Orientador: Marcelo Barreto da Silva. Co-orientador: Adriano Alves Fernan-des. A fusariose é um dos principais problemas fitossanitários na cultura da pimenta-do-

reino, por causar a morte das plantas e, consequentemente, redução da produtivida-

de, acarretando prejuízos econômicos à pipericultura. Considerando as dificuldades

e limitações no controle desta doença, o controle biológico com o fungo Trichoderma

spp. surge como alternativa a ser incorporada em seu manejo integrado. Objetivou-

se neste trabalho avaliar a eficiência do produto Trichodermil® no controle da fusari-

ose em lavouras de pimenta-do-reino localizadas na região Norte do Espírito Santo,

no município de São Mateus. O uso do Trichodermil® reduziu a intensidade de doen-

ça nas lavouras, proporcionando eficiência de controle de até 50%. A mistura de

compostos fornecedores de matéria orgânica, com exceção da Polycana®, reduziu a

eficiência do Trichodermil®. O intervalo entre aplicações de 90 e 120 dias foram os

que apresentaram melhor controle, nas doses de 1 ou 2 mL por planta.

PALAVRAS-CHAVE: Fusarium solani f. sp. piperis, controle biológico, Piper nigrum

L.

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ABSTRACT

OLIVEIRA, C. S., M.Sc., Federal University of Espírito Santo, in June 2012, Control of fusarium wilt of black pepper with application of Trichoderma harzianum. Advisor: Marcelo Barreto da Silva. Co-advisor: Adriano Alves Fernandes.

The fusarium wil is a major disease of black pepper. Frequenttly it causes plant and,

consequently, reduces yield, resulting in economic losses for black pepper produc-

ers. Considering the difficulties and limitations in controlling this disease, biological

with Trichoderma spp. could be an alternative strategy to be inculded in the integrat-

ed disease management. The objective of this research was to evaluate the efficien-

cy of Trichodermil® in controlling fusarium disease n crops of black pepper in the

North of the Espírito Santo State in the city of São Mateus. The use of Trichodermil®

reduced the disease in the field up to 50%. The mixture of organic matter suppliers

compounds, with the exception of Polycana®, reduced the efficiency of Trichodermil®.

The application intervals of 90 and 120 days were those with better control, at doses

of 1 or 2 mL per plant.

KEYWORDS: Fusarium solani f. sp. piperis, biological control, Piper nigrum L.

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1 INTRODUÇÃO

A agricultura exerceu ao longo de sua história um papel fundamental para o desen-

volvimento da humanidade. Diante dos problemas enfrentados, passou a exigir pa-

drões de produtividade acima dos valores tradicionais, deixando de ser uma ativida-

de meramente extrativista para assumir um caráter de produção intensificada de ali-

mentos.

Na tentativa de controlar doenças que atacam as plantações, os defensivos quími-

cos são largamente utilizados devido a sua eficácia e praticidade de uso, porém seu

uso intensivo tem ocasionado vários problemas como desequilíbrio biológico, altera-

ção da ciclagem dos nutrientes, contaminação dos solos e da água, intoxicação dos

produtores, resistência de patógenos, eliminação de organismos benéficos e a redu-

ção da biodiversidade (BETTIOL & MORANDI, 2009).

O controle biológico torna-se uma alternativa viável para o controle dos diversos ti-

pos de patógenos, mostrando-se vantajoso em relação ao controle químico, especi-

almente quanto a alguns aspectos importantes para a vida no planeta, tais como o

impacto ambiental e o desenvolvimento da atividade sustentável. Entretanto, apenas

a substituição de um produto químico por outro biológico não é uma ação tão sim-

ples e adequada como se pensa. É imprescindível ainda o conhecimento acerca da

cultura a ser implantada, a área do cultivo, os patógenos específicos, a escolha de

variedades adaptadas à região ou melhoradas geneticamente, além de integrar sis-

temas de cultivo sustentáveis e manejo adequado dos recursos naturais.

Caracteriza-se controle biológico pela redução da densidade de inóculo ou das ativi-

dades determinantes da doença provocada por patógenos nos seus estados de ati-

vidade ou dormência, por um ou mais organismos, realizado naturalmente ou atra-

vés da manipulação do ambiente, hospedeiro ou antagonista (BAKER & COOK,

1974).

Segundo Bettiol et al. (2009), o manejo e as boas práticas agrícolas são importantes

para estimular a sobrevivência e aeficiência dos agentes biológicos, aumentando a

supressividade do solo.

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O cultivo da pimenta-do-reino (Piper nigrum L.) tem sido uma das atividades de mai-

or desafio para os produtores da região Norte do Estado do Espírito Santo, devido a

problemas fitossanitários, alto custo de implantação e oscilação de preço, compro-

metendo a sustentabilidade da produção no Estado (VENTURA & COSTA, 2004).

A fusariose, doença causada pelo fungo (Fusarium solani f. sp. piperis) é o principal

limitante do cultivo da pimenta-do-reino. O patógeno pode comprometer o sistema

radicular das plantas, obstruindo os vasos condutores de fotoassimilados, levando à

murcha e queda das folhas e internódios, ocasionando a perda da produtividade

O fungo Trichoderma harzianum é vastamente estudado para controle biológico de

patógenos como Meloidogne incognita (SANTIN, 2008), Pythium spp. (MONTERO-

BARRIENTOS et al., 2011; PANDEY et al., 2010), Rhizoctonia solani (PANDEY et

al., 2010), Phytophthora spp. (ADEDEJI et al., 2008; ROBERTS et al., 2010), Crini-

pellis perniciosa (SONOGO et al., 2002), Fusarium spp. (YANG et al., 2010) e Alter-

naria alternata (SEMPERE & SANTAMARINA, 2007).

Considerando as dificuldades e limitações no controle da podridão das raízes, o con-

trole biológico com o fungo Trichoderma spp. surge como alternativa promissora no

contexto do manejo integrado de doenças. Objetivou-se neste trabalho avaliar a efi-

ciência do Trichodermil, produzido à base de Trichoderma harzianum, no controle da

fusariose em lavouras de pimenta-do-reino.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 A CULTURA DA PIMENTA-DO-REINO

A pimenta-do-reino (Piper nigrum L.) é originária do sudeste da Ásia, mais precisa-

mente da Índia, sendo a mais comum e importante das especiarias. Constitui-se uma

planta trepadeira, pertencente à família Piperaceae (COSTA & MEDEIROS, 2000),

adequando-se ao clima quente e úmido, com temperatura ótima entre 23 e 28 ºC,

precipitação de 1500 a 2500 mm e umidade relativa do ar de 80%). É uma espécie

que dá retorno de produção em curto período de tempo, podendo ser comercializada

a partir do segundo ano com ampla utilização na culinária, indústria de cosméticos e

de carnes, como conservante e para dar sabor peculiar aos diversos alimentos em

várias partes do mundo. As variedades mais cultivadas no Espírito Santo são a

“Bragantina” e a “Guajarina”, com produção em larga escala para o comércio interno

e externo.

A cultura apresenta grande importância socioeconômica, como geradora de renda

para famílias rurais, empregando várias pessoas no período da safra. Além disso,

permite que propriedades de base familiar tenham sua rentabilidade aumentada. Os

principais países produtores de pimenta-do-reino no mundo em 2010, segundo Pep-

pertrade (2011), foram Vietnã, com 90 mil toneladas, Índia, com mais 50 mil tonela-

das, Brasil, com aproximadamente 45 mil toneladas e Indonésia e Malásia, com 25

mil e 20 mil toneladas, respectivamente. Estes números correspondem a pratica-

mente 80% de todo volume produzido no mundo, pouco superior a 271 mil tonela-

das.

O Brasil é um dos maiores produtores de pimenta-do-reino, com oscilação entre a

segunda e a terceira posição no mercado mundial. Em 2011, o país teve uma produ-

ção de 65 mil toneladas de pimenta-do-reino (FAO, 2011), sendo 45 mil toneladas

exportadas para a Europa e Estados Unidos (PEDEAG, 2011). Em termos de produ-

ção nacional, os Estados do Pará, Espírito Santo, Bahia, Maranhão e Paraíba se

destacam (IBGE, 2011).

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16

Conforme Serrano, et al. (2008) a pimenta-do-reino é cultivada especialmente por

pequenos e médios produtores rurais e 80 a 85% da produção são destinadas ao

mercado externo. De acordo com Peppertrade (2011), a produção capixaba repre-

senta 10% da produção nacional, em uma área de 2.600 ha. A exportação da pimen-

ta-do-reino pelo porto de Vitória, em 2007, gerou uma receita de 31 milhões de reais,

colocando a pimenta-do-reino em terceiro lugar em importância dos produtos da ex-

portação agrícola pelo Estado (PEPPERTRADE, 2011). Com a safra de 2010, arre-

cadou-se em torno de 45 milhões de reais no Espírito Santo, o que confirmou o Es-

tado como segundo maior produtor da especiaria no Brasil. O Estado produz todos

os anos, de sete a oito mil toneladas do produto, o que corresponde a aproximada-

mente 15% da produção nacional.

O município de São Mateus concentra 73% da produção de pimenta-do-reino do Es-

pírito Santo, sendo o maior município produtor desta especiaria no Brasil. Assim, a

pipericultura torna-se uma atividade socioeconômica de grande valor, gerando 2.200

empregos e receita no valor de 19 milhões de reais anuais (PEDEAG, 2011).

Ao longo dos últimos 30 anos a fusariose se estabeleceu na região produtora de pi-

menta-do-reino do Espírito Santo, passando a ser um componente que afeta a sus-

tentabilidade da produção no Estado, reduzindo o período da produção da lavoura.

2.2 A FUSARIOSE

A fusariose da pimenta-do-reino é causada pelo fungo Fusarium solani f.sp. piperis.

O fungo produz esporos assexuais (macroconídios e microconídios) e clamidósporos

(estruturas de resistência de patógeno), que sobrevivem no solo ou em restos cultu-

rais, podendo ser transmitidos por equipamentos e água (ZACCARDELLI et al.,

2008).

Todas as espécies de Fusarium possuem um estágio saprofítico e são habitantes

comuns do solo. Uma vez introduzidos no solo, persistem quase que indefinidamen-

te na forma de micélio em restos culturais ou como esporos dormentes (clamidóspo-

ros).

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17

A doença é também conhecida por podridão do pé e podridão das raízes. O patóge-

no ataca o sistema radicular da planta, interrompendo o fluxo de seiva nos vasos

condutores e, consequentemente, diminuindo gradativamente a vitalidade das plan-

tas, até provocar, na maioria dos casos, sua morte. Os sintomas na parte aérea ini-

ciam-se com necrose, murcha e queda dos internódios e folha, levando à morte da

planta.

Conforme Ventura e Costa (2004) a doença inicia-se em pequenas reboleiras, ex-

pandindo-se posteriormente para toda a lavoura. São recomendadas medidas de

manejo de prevenção, como produção de mudas sadias, escolha adequada da área

de plantio e adoção de práticas culturais, como a não movimentação do solo e a a-

dubação adequada.

Os fungos do gênero Fusarium têm uma ampla distribuição geográfica, com espé-

cies cosmopolitas e outras com ocorrência restrita a determinados ambientes, ocor-

rendo, predominantemente, nas regiões tropicais e subtropicais ou em condições de

clima frio das regiões temperadas, embora algumas espécies tenham uma íntima

associação com os hospedeiros (BURGESS et al., 1994).

A variabilidade da cultura é comum em algumas espécies, como F. oxysporium e F.

solani, estando possivelmente associada a sua ampla adaptação em diferentes am-

bientes. A identificação de espécies de Fusarium. é baseada na morfologia dos ma-

cro e microconídios, conidióforos, clamidósporos e na disposição dos conídios no

conidióforo. Marcante é o fato das características morfológicas sofrerem influência

do ambiente e das condições nutricionais do substrato. Especialistas no gênero utili-

zam meios de cultura e condições padronizadas para identificação (PORTAL PATO-

LOGIA DE SEMENTES, 2010).

Conforme orienta Domsch et al. (1980), o gênero Fusarium é caracterizado pelo

crescimento rápido, colônias com coloração pálida ou colorida (violeta a púrpura es-

cura ou do creme a laranja), com micélio aéreo e difuso, é composta por fungos de

solo que fazem a decomposição de substratos celulósicos das plantas, sendo que

alguns isolados são parasitas das plantas.

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18

Os microconídios são unicelulares e uninucleados, aparecendo ocasionalmente em

culturas velhas; os macroconídios mais comuns são multicelulares, mas cada célula

tem somente um núcleo e os clamidósporos são globosos, ocasionais e a maioria in-

tercalar, solitário ou em cadeias curtas e são estruturas de resistência. Todos os nú-

cleos de um macroconídio, contudo, são descendentes mitóticos de um mesmo nú-

cleo progenitor e são, portanto, geneticamente idênticos (PUHALLA, 1981).

Segundo Puhalla (1981), os estágios sexuais de Fusarium são ascomicetos; o espo-

ro sexual é o ascósporo. Cada célula de um ascósporo bicelular é uninucleada e

ambos os núcleos são geneticamente idênticos. São classificados na classe Hifomi-

ceta da subdivisão Deuteromicotina, incluindo espécies que produzem macroconí-

dios hialinos, geralmente septados, caracterizados por possuírem as células basais

e apicais diferenciadas, que são de grande importância na taxonomia das espécies.

Devido à plasticidade e variações de características fenotípicas encontradas neste

fungo, a taxonomia baseada somente em conceitos morfológicos não é confiável

(SNYDER & HANSEN, 1953; TAYLOR et al., 2001; SUMMERELL & LESLIE, 2003),

uma vez que algumas espécies de Cylindrocarpon spp. e Acremonium spp também

produzem conídios multicelulares fusiformes, semelhantes aos produzidos pelas es-

pécies de Fusarium. Claramente, uma investigação da variação em Fusarium é es-

sencial para uma caracterização do gênero (GODOY & COLOMBO, 2004). Ainda

neste aspecto, dentro do gênero Fusarium, há uma série de variações de caracterís-

ticas morfológicas e patogênicas, resultando em uma classificação complexa dividida

em seções, formae speciales e raças (OLIVEIRA & COSTA, 2002).

O termo usado formae speciales foi usado por Snyder e Hansen (1953) para reco-

nhecer isolados patogênicos que foram morfologicamente semelhantes a isolados

saprofíticos de mesma espécie, mas que diferenciam em sua habilidade para parasi-

tar hospedeiros específicos. Isolados patogênicos de F. oxysporum estão classifica-

dos dentro de mais de 120 formae speciales e raças.

Algumas espécies primariamente causam decomposição e estão associadas com

podridões em órgãos de reserva de vários vegetais (Fusarium moniliforme, podridão

da cana-de-açúcar); outras espécies são primariamente invasoras do tecido cortical,

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19

causando “damping off” ou tombamento (Fusarium spp., em cebola, eucalipto, fumo

e tomate); podridões de raízes e da coroa e cancros em caules (Fusarium solani f.

sp. phaseoli, em feijoeiro) e outras são parasitas vasculares altamente específicos,

citam-se várias formae speciales de Fusarium oxysporum, entre elas o Fusarium

oxysporum f. sp. Phaseoli, causada da murcha-de-fusarium em feijoeiro (BEDENDO,

2005).

As espécies de Fusarium que causam murchas vasculares são todas classificadas

como Fusarium oxysporum (ALEXOPOULOS et al., 1996), que formam um comple-

xo de fungos de solo, compostos por patótipos classificados em várias formae speci-

ales, com base em critério patogênico (NELSON et al., 1983).

Ocorrem mais de 20 doenças de importância econômica causadas por Fusarium

oxysporum. O patógeno invade as plantas principalmente pelo sistema radicular e

coloniza o xilema (vasos condutores de água do sistema vascular). Os sintomas in-

cluem: murcha, descoloração vascular, clorose, nanismo e morte prematura de plan-

tas.

Entre algumas doenças de importância econômica podem ser citadas: murcha-do-

algodoeiro (F. oxysporum f.sp. vasinfectum), murcha-de-fusarium-do-tomateiro (F.

oxysporum f.sp . lycopersici), murcha-da-bananeira (F. oxysporum f. sp. cubense) e

murcha-de-fusarium-do-feijoeiro (F. oxysporum f. sp. phaseoli) (BEDENDO, 2005).

2.3 CONTROLE BIOLÓGICO

O controle biológico se mostra como uma opção essencial na agricultura . Isto é evi-

denciado pelo fato de que, quando a planta é domesticada e cultivada em condições

diferentes, em monocultura, por exemplo, adubação química e agrotóxicos, ocorre a

alteração do ecossistema original, isto é, da microflora e fauna benéficas à planta.

Assim, criam-se condições para o surgimento de epidemias de doenças e pragas

(BERGAMIM FILHO et al., 2005).

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20

O controle químico de plantas não é totalmente eficaz, uma vez que o patógeno

consegue penetrar no tecido vascular da planta, como é o caso de Fusarium oxyspo-

rum, onde o produto químico não atua com eficiência. Os produtos fitossanitários

têm causado impactos negativos nos mais diferentes compartimentos dos ecossis-

temas.

Alternativa para o controle de fitopatógenos é o uso de microrganismos antagonis-

tas, os quais oferecem potencialmente respostas para muitos problemas enfrentados

na agricultura. O controle biológico de patógenos veiculados pelo solo pode ser obti-

do através da introdução de antagonistas, tanto no solo quanto nos órgãos de pro-

pagação ou através da manipulação do ambiente.

O controle biológico atua onde outros métodos não conseguem ou são limitados,

podendo fornecer resultados em curto período. Um exemplo de sua aplicação é o

parasitismo de escleródios de S. sclerotiorum, que sobrevivem por vários anos no

solo. Essa vantagem tem impulsionado seu uso no Brasil, ainda que de forma relati-

vamente empírica. Em campo, há poucos estudos realizados de forma sistematiza-

da, o que tem dificultado sua aceitação por agricultores e profissionais da assistência

técnica (EMBRAPA, 2009).

2.4 O USO DE TRICHODERMA NO CONTROLE BIOLÓGICO

O gênero Trichoderma, pertencente à Ordem Hypocreales, é representado por fun-

gos não patogênicos, habitantes do solo e que exercem antagonismo a vários fitopa-

tógenos, através da competição ou antibiose, bem como por hiperparasitismo (ME-

LO, 1998). Trichoderma ssp. é um micoparasita necrotrófico eficaz no controle de i-

números fungos fitopatogênicos, principalmente aqueles com estruturas de resistên-

cia consideradas difíceis de serem atacadas por microrganismos, como escleródios,

clamidósporos e microescleródios (MELO, 1996).

Os principais mecanismos de controle biológico que Trichoderma utiliza em confron-

to direto com fungos patógenos são micoparasitismo (HARMAN & KUBICEK, 1998;

HOWELL, 2003) e antibiose (HOWELL, 1998). O complexo processo de micoparasi-

Page 22: Carmelita dos Santos Oliveira.pdf

21

tismo consiste em vários eventos, incluindo o reconhecimento do hospedeiro, ataque

e subsequente penetração e morte.

Trichoderma é um dos fungos mais pesquisados no controle de fitopatógenos por

proporcionar numerosas vantagens, tais como controle de agentes patogênicos e

estimulação do crescimento das raízes, bem como o apoio ao crescimento saudável

da planta (HARMAN et al., 2004). Sua eficiência na redução do inóculo de patóge-

nos no ambiente e na severidade de doenças já foi estudado em Fusarium sp., Phy-

tophtora, Phytium, Rhizoctonia, Sclerotium, Sclerotinia, Botrytis, Roselinia. (POMEL-

LA & RIBEIRO, 2009).

Fatores como temperatura, umidade, aeração, pH e teor de matéria orgânica influ-

enciam na sobrevivência de Trichoderma em solo natural ou infestado artificialmen-

te. T. viride é um antagonista ativo em condições de solo úmido, mas é inibido em

presença de umidade com pH acima de 5,4. Foi observado antagonismo de T. harzi-

anum em vários valores de pH menores de 6,5, sendo a faixa ótima entre 4,5 e 5,3

(COOK; BAKER, 1983; ETHUR, 2002). Medidas da colonização saprofítica competi-

tiva foram usadas para avaliar a atividade de T. harzianum em solos não estéreis

sob condições de variação de umidade e temperatura do solo, sendo que a atividade

saprofítica de T. harzianum foi maior em temperaturas de 15 a 21ºC (EASTBURN &

BUTLER, 1991).

Sutton (2000) mostrou alguns exemplos importantes de controle: o estabelecimento

de T. viride no solo, favorecendo o cultivo de maçãs, onde a mistura de antagonista

com solo parcialmente esterilizado foi capaz de proteger mudas de macieiras por

muitos anos contra podridões causadas por Phytophthora e Rosellinia (SANHUEZA,

1987). A aplicação de T. harzianum no solo, protege pessegueiros contra Armillaria

mellea por pelo menos quatro anos (HARMAN, 2004); a aplicação de T. harzianum

no solo, antes do plantio de mudas de morango, protege a cultura e houve multipli-

cação do antagonista em solos infestados com Verticillium e Phytophthora (G.

HARMAN, 2000).

Trichoderma harzianum (Ascomycota, Hypocreales, Hypocreaceae) é um fungo fila-

mentoso, assexual, parasita de outros fungos (SAMUELS, 2006). Esse fungo ocorre

Page 23: Carmelita dos Santos Oliveira.pdf

22

em, praticamente, todos os tipos de solos tropicais, utilizando substratos orgânicos

como fonte de carbono e nitrogênio em ecossistemas rizosféricos (VITERBO et al.

2004; DRUZHININA & KUBICEK 2005).

A ação antagônica de Trichoderma spp. sobre outros fungos acontece em decorrên-

cia da competição de nutrientes, espaço, oxigênio e por hiperparasitismo, devido à

produção de compostos metabólicos voláteis e não voláteis. Esse fungo também a-

presenta rápida taxa de crescimento micelial, enrolamento de hifas e penetração so-

bre os fungos (MOINO & ALVES, 1999).

Trichoderma harzianum é utilizado no controle biológico de patógenos de plantas

como Meloidogine incognita (SANTIN, 2008), Pythium spp. (MONTERO-

BARRIENTOS et al., 2011; PANDEY et al., 2010), Rhizoctonia soloni (PANDEY et

al., 2010), Phytophthora spp. (ADEDEJI et al., 2008; ROBERTS et al., 2010), Crini-

pellis perniciosa (SONOGO et al., 2002), Fusarium spp. (YANG et al., 2010), Alterna-

ria alternata (SEMPERE & SANTAMARINA, 2007) entre outros. No entanto, sua efi-

ciência no controle desses fitopatógenos pode variar de acordo com os seguintes fa-

tores: a espécie de Trichoderma, o patógeno, a umidade do solo, o tipo de cultivo, a

disponibilidade de nutriente, o pH, a temperatura e a concentração de ferro (BENI-

TEZ et al., 2004).

O fungo Trichoderma apresenta efeito sobre as culturas aumentando a frequência e

o desenvolvimento das raízes, a produtividade, a resistência a estresses abióticos e

absorção e utilização de nutrientes. Em muitos casos, essas respostas ocorrem pela

diminuição da atividade da microflora da raiz, inativação de compostos tóxicos na ri-

zosfera, aumento na eficiência do uso do nitrogênio e solubilização de nutrientes no

solo. Bases genéticas e moleculares destes efeitos são desconhecidas (HARMAN et

al., 2004).

Os fertilizantes na forma líquida são utilizados em diferentes estágios fenológicos no

cultivo da planta tais como via fertirrigação por gotejamento, aspersão e outras for-

mas de aplicação, principalmente como fonte de macro e micronutrientes (OLIVEIRA

et al., 2009). Sendo prática regular na região a mistura de tanque de fertilizantes

com formulações de T. harzianum no controle da fusariose em pimenta-do-reino.A

Page 24: Carmelita dos Santos Oliveira.pdf

23

mistura pode apresentar resultados negativos sobre o agente de controle biológico,

comprometendo assim a eficiência do controle no campo.

2.5 TRICHODERMA NA CULTURA DE PIMENTA-DO-REINO

A cultura da pimenta-do-reino é suscetível ao fungo Fusarium solani sp., causador

de danos à cultura, reduzindo o período útil de exploração e produção para apenas

quatro anos (DUARTE & ALBUQUERQUE, 1997). Sendo Trichoderma um agente

biológico utilizado no combate a este fungo, pesquisas vêm sendo realizadas a fim

de comprovar o grau de eficácia das diversas dosagens aplicadas em plantas de pi-

menta-do-reino, como parte das experiências monitoradas pelo Programa de Pós

Graduação em Agricultura Tropical (PPGAT) do Centro Universitário Norte do Espíri-

to Santo (CEUNES).

Ainda não há registros científicos comprovando resultados na utilização do Tricho-

derma para combater a fusariose na cultura da pimenta-do-reino. Neste contexto, va-

le ressaltar que existem desafios a serem enfrentados pelos pesquisadores, quando

confrontados pelos diversos interesses. Por isso, Morandi e Bettiol (2009) identifica-

ram, em pesquisa realizada em abril de 2008, 13 empresas que produzem e comer-

cializam produtos à base de Trichoderma, restritos a seis Estados, principalmente no

Centro Sul do país. Tais produtos são usados no tratamento das culturas de feijão,

soja, algodão, fumo, morango, tomate, cebola, alho, plantas ornamentais e cacau.

Além destas, alguns produtos são recomendados para o tratamento de substratos e

para tratamento de sementes.

Ressalta-se, porém, que o registro oficial no Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento (MAPA) como antagonista apenas para o tratamento da cultura do

feijão. À semelhança do uso nas culturas citadas, para o tratamento da pimenta-do-

reino, usa-se o Trichoderma, porém sem nenhum registro técnico.

Page 25: Carmelita dos Santos Oliveira.pdf

24

3 MATERIAL E MÉTODOS

Foram conduzidos três experimentos, em três lavouras de pimenta-do-reino, varie-

dade Bragantina, com quatro anos de idade, espaçamento 2,5m x 2,5m, localizadas

na rodovia São Mateus x Nova Venécia, nos km 23, km 28 e km 31, no município de

São Mateus, norte do Espírito Santo, no período de março de 2010 a março de

2012.

De acordo com a EMBRAPA (1999), o clima da região é classificado como tropical

úmido, com inverno seco e chuvas máximas no verão; a precipitação média anual de

1.200 mm concentrado nos meses de novembro e janeiro; a temperatura média a-

nual é de 23°C, com médias máximas e mínimas de 29°C e 18°C, respectivamente;

e o solo é classificado como latossolo vermelho-amarelo distrófico de textura argilo-

arenosa.

Em todos os experimentos foi avaliada a intensidade da doença mensalmente atra-

vés de uma escala descritiva, atribuindo-se notas variando de 1 a 9, de acordo com

os avanços dos sintomas da doença: (1) para a planta sadia, (2) início de amarele-

cimento nas folhas, (3) amarelecimento generalizado das folhas, (4) queda de ra-

mos, (5) queda de folhas e internódios no terço superior, (6) queda de 50% das fo-

lhas, (7) morte dos ramos superiores, (8) planta seca com ramos verdes e (9) morte

da planta, considerando-se plantas doentes as que apresentaram notas maiores ou

iguais a (4).

3.1 COMPARAÇÃO ENTRE DIFERENTES MÉTODOS DE APLICAÇÃO

O experimento foi instalado em um delineamento em blocos ao acaso (DBC) com

nove tratamentos e dez repetições, tendo a parcela útil central oito plantas. Para e-

feito de normatização, o isodado de Trichoderma utilizado neste ensaio foi obtido do

produto comercial Trichodermil SC1, concentração mínima de 2x10¹² conídios viá-

veis/L. Esse produto foi escolhido por estar disponível ao agricultor da região.

1 Trichodermil SC – Fungicida bilógico que tem como ingrediente ativo esporos do fungo Trichoderma

Harzianum concentração mínima de 2x10¹² conídios viáveis/L.

Page 26: Carmelita dos Santos Oliveira.pdf

25

A aplicação dos tratamentos foi realizada trimensalmente conforme segue: (T1) Tri-

chodermil (aplicação de 500 mL de água contendo 1 mL de Trichodermil/planta),

(T2) mistura de tanque de Trichodermil com Torped (aplicação de 500 mL de água

contendo 1 mL Trichodermil e 5 mL de Torped2), (T3) Trichodermil (aplicação de

500mL de água contendo 1 mL do Trichodermil por planta alternada com Derosal3

(aplicação de 500 mL e água contendo 1 mL de Derosal por planta, trinta dias após

a aplicação de Trichodermil ), (T4) mistura de tanque de Trichodermil com Polycana4

(1mL do Trichodermil e 5mL de Polycana), (T5) mistura de tanque de Trichodermil

com GZ (1mL de Trichodermil e 1mL de GZ5), (T6) mistura de tanque de Trichoder-

mil com GZ (1mL de Trichodermil e 1mL de GZ) com pulverização de FH6 (20g/20L)

trinta dias após a aplicação do Trichodermil, (T7) Trichodermil (contendo 1mL de Tri-

chodermil) e aplicação de FH (20g/20L) após 30 dias, (T8) Aplicação no solo de

Carbendazin (1mL do Derosal) e (T9) testemunha, sem controle da doença.

3.2 ESTUDO DE DOSE E INTERVALO DE APLICAÇÃO

Realizou-se um levantamento de incidência da doença, onde constatou-se a presen-

ça de 20% de plantas infectadas, garantindo o inóculo inicial do patógeno no expe-

rimento. O delineamento experimental foi de blocos ao acaso, com sete tratamentos

e sete repetições. A parcela experimental foi constituída por cinco plantas úteis.

Foram avaliadas duas doses do Trichodermil (1 e 2 mL/planta), concentração míni-

ma de 2x10¹² conídios viáveis/L, aplicadas em três intervalos: dois, três e quatro me-

ses. Para aplicação do produto foi preparada uma suspensão de 40 mL de Tricho-

dermil e 200 mL de Torped e diluídos em 20 L de água. Desta suspensão foram ver-

tidos 500 mL por planta, finalizando a dose de 1 mL de Trichodermil por planta. Para

obter a dose de 2 mL por planta foram adicionados 80 mL de Trichodermil e 200 mL

de Torped em 20 L de água e aplicado 500 mL por planta. A concentração do produ-

to de 1 e 2 mL para cada 500 mL por planta foi aplicada na projeção da copa, to-

2 Torped – Fertilizante foliar organomineral, com macro e micro nutrientes.

3 Derosal – Fungicida de contato e sistêmico, a base de carbendazin.

4 Polycana BR – Mistura de dois fertilizantes: fosfato de dipotássico e hidróxido de potássio, para complemento nutricional dos cultivos tropicais.

5 GZ – Fertilizante foliar que combina nutrientes minerais associados a parcelas orgânicas.

6 FH – Fertilizante foliar composto de cobre, zinco, boro e enxofre.

Page 27: Carmelita dos Santos Oliveira.pdf

26

mando o cuidado de fazer irrigação no dia anterior, não fazendo a aplicação em dias

chuvosos.

3.3 EXPERIMENTO DE VALIDAÇÃO

O delineamento experimental empregado foi casualizado (DIC). O mesmo foi consti-

tuído por cinco tratamentos e dez repetições, com parcela constituída de 8 plantas

úteis e no mínimo duas plantas como bordadura entre as parcelas na fileira de plan-

tio, com intervalo de aplicação de dois meses, nas seguintes dosagens/tratamento:

T1. Testemunha; T2. Trichodermil (1 mL); T3. Trichodermil (1 mL) + Polycana (5

mL); T4. Trichodermil (1 mL) + Turfa Gel (6,25 mL); T5. Polycana (5 mL). Estas do-

ses são equivalentes a uma diluição de 200 mL, 1250mL e 1000mL/100L de água de

Trichodermil, Turfa Gel e Polycana, respectivamente.

Uma mistura de tanque foi preparada para cada tratamento das doses avaliadas de

Trichodermil. Foram vertidov 500 ml por planta da mistura de tanque, foi aplicada na

projeção da copa, com o cuidado de realizar a irrigação no dia anterior e não aplicar

em dias chuvosos.

Page 28: Carmelita dos Santos Oliveira.pdf

27

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em decorrência da natureza dos dados, referente ao método de avaliação da doen-

ça (escala descritiva variando de 1 a 9) e do tipo de patógeno (habitante do solo com

distribuição em focos), os mesmo não satisfizeram as exigências necessárias às rea-

lizações de testes paramétricos, constatado pelo teste de normalidade de Kolmogo-

rov-Smirnov. Dentre os testes não paramétricos possíveis de serem utilizados, op-

tou-se pelo Mann-Whitney (p=0,05) que faz comparação entre duas amostras de da-

dos independentes. Este teste, segundo Siegel (1956), trata-se de uma excelente al-

ternativa para o teste “t” (paramétrico), sendo que em alguns casos tem maior poder

de rejeitar Ho, o que o faz ser considerado como um dos testes não-paramétricos

mais poderosos.

4.1 COMPARAÇÃO ENTRE DIFERENTES MÉTODOS DE APLICAÇÃO

Na Figura 1, é possível observar o progresso da doença ocorrido nos tratamentos 1,

4, 5, 8 e 9. Observa-se que a maior incidência da doença ocorreu na última avalia-

ção do tratamento 5 (mistura Trichodermil + GZ), onde foram observadas 2,5 plantas

doentes, o que corresponde a 30% de incidência. A menor incidência foi observada

no tratamento 4 (mistura Trichodermil + Polycana), com 1,4 plantas doentes ou 17%

do total. Os demais tratamentos T1, T8 e T9 apresentaram valores semelhantes e in-

termediários aos dois tratamentos descritos. O tratamento número 5 não só apresen-

tou valor final maior que os demais, como durante todo o período do experimento,

ele manteve maior quantidade de doença em suas parcelas.

Page 29: Carmelita dos Santos Oliveira.pdf

28

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

0 90 180 210 240 270 300 330 360

Dias

me

ro d

e P

lan

tas

Do

en

tes

T1

T4

T5

T8

T9

FIGURA 1 – Curva de progresso da doença, para os tratamentos T1 (Trichodermil), T4 (Tricho-dermil + Polycana), T5 (Trichodermil + GZ), T8 (Derosal) e T9 (Testemunha).

Com base nos dados da Curva de Progresso da Doença foi possível calcular a Área

Abaixo da Curva de Progresso (AACPD) para cada tratamento (FIGURA 2). Consi-

derando-se a AACPD é possível observar que o T5 (Trichodermil + GZ) destaca-se

dos demais por apresentar maior valor, inclusive maior que a própria testemunha

(T9), a semelhança da curva de progresso. Os menores valores foram observados

nos tratamentos T4 (Trichodermil + Polycana) e T8 (Derosal), com AACPD iguais a

282 e 283,5 respectivamente.

Os tratamentos foram comparados dois a dois com base nos dados da AACPD pelo

teste de Mann-Whitney (p=0,05). Os contrastes significativos estão na Tabela 1.

Considerando os dados da Tabela 1, é possível observar que os tratamentos que in-

cluíam a aplicação do GZ normalmente estavam associados às maiores AACPDs,

exceto nos casos em que havia a aplicação de FH, que provavelmente deve ter

compensado o efeito negativo do GZ pelo fornecimento de nutrientes na parte aérea

da planta. Apesar de ter pequena diferença (7%) a aplicação do Trichodermil puro

aumentou a intensidade da doença em relação à testemunha. O tratamento 4 (Tri-

chodermil + Polycana), não diferiu dos demais tratamentos, inclusive da aplicação do

Derosal, que foi considerado padrão químico de controle. Os resultados apresenta-

dos demonstram que parece ser um equívoco a mistura de compostos fornecedores

Page 30: Carmelita dos Santos Oliveira.pdf

29

de nutrientes ao produto comercial Trichodermil, que em sua formulação já apresen-

ta fonte de carbono que possibilita o estabelecimento do antagonista na área aplica-

da.

0

100

200

300

400

500

600

T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9

Tratamento

AA

CP

D

FIGURA 2 – Área Abaixo da Curva de Progresso para os diferentes tratamentos, sendo: T1 (Trichodermil), T2 (Trichodermil + Torped), T3 (Trichodermil alternado com Derosal), T4 (Tri-chodermil + Polycana), T5 (Trichodermil + GZ), T6 (Trichodermil alternando com GZ e pulveri-zação aérea de FH), T7 (Trichodermil alternado com pulverização aérea de FH), T8 (Derosal) e T9 (Testemunha).

TABELA 1 – Contrastes significativos pelo teste Mann-Whitney (p=0,05), considerando dados de Área Abaixo da Curva de Progresso da Doença para os diferentes tratamentos.

Contraste AACPD AACPD

Trichodermil x Trichodermil + GZ 430,5 543

Trichodermil x Testemunha 430,5 400,5

Trichodermil alternado com Derosal x Trichodermil + GZ 406,5 513,4

Trichodermil alternado com Derosal x Testemunha 406,5 400,5

Trichodermil + GZ x Trichodermil alternado com GZ e pulveriza-ção aérea de FH

543 322,5

Trichodermil alternado com GZ e pulverização aérea de FH x Tri-chodermil alternado com pulverização aérea de FH

322,5 324

Trichodermil alternado com GZ e pulverização aérea de FH x De-rosal

322,5 283,5

Trichodermil alternado com GZ e pulverização aérea de FH x Testemunha

322,5 400,5

Page 31: Carmelita dos Santos Oliveira.pdf

30

A mistura de compostos para ser aplicada junto ao Trichodermil parece ser preocu-

pante por vários aspectos. Primeiro é decorrente de uma prática de campo e carece

de fundamentação científica para tanto. Segundo, estes produtos exercem efeito ne-

gativo sobre o crescimento do T. harzianum, como demonstrado por MARQUES

(2011). Em terceiro lugar, muitos destes compostos apresentam associados a eles,

microrganismos, que podem interagir de diversas formas com o agente de controle

biológico e o patógeno. Os resultados ficam mais evidentes no tratamento onde o

GZ entrou como mistura.

4.2 ESTUDO DE DOSE E INTERVALO DE APLICAÇÃO

A curva de progresso da doença, com dados de número de plantas doentes por par-

cela pode ser vista na Figura 3. Nenhum tratamento foi capaz de controlar totalmen-

te a doença. É possível observar o crescimento acentuado do número de plantas

doentes no tratamento testemunha, atingindo 76% de plantas doentes. Todos os

demais tratamentos apresentaram redução no progresso da doença em comparação

com a testemunha.

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

0 30 90 150 210 240 270 300 330

Dias

mero

de P

lan

tas D

oen

tes

T1

T2

T3

T4

T5

T6

T7

FIGURA 3 – Curva de progresso da fusariose (número de plantas por tratamento), de acordo com os tratamentos: T1 (Testemunha), T2 (Trichodermil 1mL/2meses), T3 (Trichodermil 1mL/3meses), T4 (Trichodermil 1mL/4meses), T5 (Trichodermil 2mL/2meses), T6 (Trichodermil 2mL/3meses),T7 (Trichodermil 2mL/4meses).

Page 32: Carmelita dos Santos Oliveira.pdf

31

Com base nos dados da Curva de Progresso da Doença foi possível calcular a Área

Abaixo da Curva de Progresso para cada tratamento (FIGURA 4). Considerando-se

a AACPD observa-se que o maior valor da AACPD está presente na testemunha e

que, esta reduz tanto para o lado esquerdo, quanto, para o lado direito quando man-

tendo-se a mesma dose e amplia-se o intervalo de aplicação. O resultado pode ser

melhor descrito quando faz-se a relação entre a intensidade da doença na última

avaliação e o intervalo de aplicação do produto (FIGURA 5).

0

100

200

300

400

500

600

700

800

1mL/4m 1mL/3m 1mL/2m Testemunha 2mL/2m 2mL/3m 2mL/4m

Tratamento

AA

CP

D

FIGURA 4 – Área Abaixo da Curva de Progresso da Doença (AACPD) para fusariose da pimen-ta-do-reino com plantas submetidas ao tratamento: T1 (sem controle), T2 (Tricodermil 1mL/2meses), T3 (Tricodermil 1mL/3meses), T4 (Tricodermil 1mL/4meses), T5 (Tricodermil 2mL/2meses), T6 (Tricodermil 2mL/3meses), T7(Tricodermil 2mL/4meses).

y = -0,1857x + 61,286

R2 = 0,9606

y = -0,2467x + 61,4

R2 = 0,9925

0

10

20

30

40

50

60

70

0 30 60 90 120 150

Intervalo de Aplicação (dias)

Incid

ên

cia

(%

)

FFIGURA 5 – Variação da intensidade da doença na última avaliação em função do intervalo de aplicação da mistura de Trichodermil + Torped, para dose de 2mL/planta (círculo) e 1mL/planta (triângulo).

Page 33: Carmelita dos Santos Oliveira.pdf

32

Para a equação ajustada na Figura 5, considerando a dose de 1mL do produto por

planta a taxa observada é negativa foi igual a 0,25, enquanto a taxa para aplicação

de 2 mL do produto foi negativa e igual a 0,19, ou seja 24% menor que a primeira.

Isso mostrando que não somente a dose, mas o intervalo de aplicação deve ser

considerado na hora de aplicação de um produto biológico.

Os tratamentos foram comparados dois a dois com base nos dados da AACPD pelo

Teste de Mann-Whitney (p=0,05). Os contrastes significativos estão na Tabela 2.

Considerando os dados da Tabela 2, constata-se que aplicação do Trichodermil a in-

tervalo de 60 dias, não apresentou controle significativo. Por outro lado, a aplicação

do produto a intervalos de 90 e 120 apresentou controle significativo da doença, in-

dependente da dose do produto aplicado por planta, 1 ou 2 mL. Os valores de A-

ACPD dos tratamentos que receberam 1 e 2 mL/planta não diferiram entre si pelo

testes Mann-Whitney (p=0,05), apesar do observado na Figura 5, onde os valores

numéricos da intensidade da doença nos tratamentos que receberam 2 mL/planta,

foram consistentemente menores que os observados nos tratamentos que recebe-

ram 1 mL/planta (FIGURA 4 e TABELA 2).

Os resultados aqui apresentados contribuem para entender o controle biológico da

fusariose da pimenta-do-reino, pois contradiz outra prática regular da região. Ou se-

ja, a tendência de aumentar a dose do produto ou reduzir o intervalo de aplicação do

mesmo, parece ser uma lógica inversa à observada no controle químico, visto que

no controle biológico a alta dose do microrganismo antagonista e o menor tempo de

aplicação do mesmo ocasionaram em um menor controle da doença (FIGURA 4).

A dosagem mais eficiente para controle de um patógeno não é necessariamente a

mais alta. Acima da dosagem ideal, a eficiência do controle biológico e a produtivi-

dade caem. Além disso, os custos de produção aumentam, já que o produtor está

fazendo uso de mais um insumo.

Segundo Carvalho et al. (2009), trabalhando com controle biológico de patógenos

habitantes do solo com Trichoderma sp., na cultura do feijoeiro comum, verificaram

que doses excessivas de T. harzianum não propiciaram aumento da produção, ne-

nhuma redução do inóculo ou controle de doenças, em comparação com as teste-

Page 34: Carmelita dos Santos Oliveira.pdf

33

munhas, nesses e em outros experimentos realizados. É provável que em doses

muito altas ocorra algum tipo de autoinibição ou competição afetando o desenvolvi-

mento do antagonista.

Lobo (2009), trabalhando com o controle biológico do fungo Rhizoctonia solani e Fu-

sarium solani, na cultura do feijoeiro comum, verificou que doses entre 800 mL e

1200 mL ha-1suspensão oleosa de T. harzianum „1306‟ com 2 x 109 conídios viáveis

mL-1 foram as melhores doses para redução do inóculo dos patógenos junto às raí-

zes do feijoeiro comum. Em solo na linha de plantio, houve redução de até 67% do

inóculo de F. solani, enquanto que para R. solani o decréscimo foi de até 85%, aos

30 dias após o plantio.

TABELA 2 – Contrastes significativos pelo teste Mann-Whitney (p=0,05), considerando dados de Área Abaixo da Curva de Progresso da Doença para os diferentes tratamentos.

Contraste AACPD AACPD

Testemunha x Trichodermil 1mL/3meses (T3) 684,9 488,6

Testemunha x Trichodermil 1mL/4meses (T4) 684,9 457,5

Testemunha x Trichodermil 2mL/3meses (T6) 684,9 513,4

Testemunha x Trichodermil 2mL/4meses (T7) 684,9 468,0

Tricodermil 2mL/2meses (T5) x Trichodermil 2mL/4meses (T7) 608,6 468,0

4.3 EXPERIMENTO DE VALIDAÇÃO

A curva de progresso da doença, com dados de número de plantas doentes por par-

cela pode ser vista na Figura 6. Nenhum tratamento foi capaz de controlar totalmen-

te a doença. É possível observar o crescimento acentuado do número de plantas

doentes no tratamento que recebeu mistura de Trichodermil com Turfa-gel7, com in-

tensidade de doença 30% maior que a testemunha. Isso confirma o observado no

tratamento que recebeu o GZ, apontando o perigo do uso de mistura de produtos ao

produto biológico. Dois tratamentos apresentam menores tendências de crescimen-

to, com uma estabilização no crescimento da doença: o Trichodermil e a mistura Tri-

chodermil com Polycana.

7 Turfa gel – fertilizante organomineral (turfa, substâncias húmicas e sulfato de potássio e água).

Page 35: Carmelita dos Santos Oliveira.pdf

34

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

0 30 60 90 120 150 180 210

Dias

mero

de P

lan

tas D

oen

tes

T1

T2

T3

T4

T5

FIGURA 6 – Curva de progresso da fusariose (número de plantas doentes por tratamento), de

acordo com os tratamentos: T1 (Testemunha), T2 (Trichodermil), T3 (Mistura Trichodermil com

Policana), T4 (Mistura Trichodermil com Turfa-gel), T5 (Polycana).

Com base nos dados da Curva de Progresso da Doença foi possível calcular a Área

Abaixo da Curva de Progresso para cada tratamento (FIGURA 7). Considerando-se

a AACPD observa-se que os maiores valores da AACPD forma obtido na parcela

que recebeu o tratamento Testemunha e a mistura Trichodermil com Turfa-gel.

0

20

40

60

80

100

120

T1 T2 T3 T4 T5

Tratamento

AA

CP

D

FIGURA 7 – Área Abaixo da Curva de Progresso da Doença (AACPD) para fusariose da pimen-ta-do-reino com plantas submetidas ao tratamento: T1 (Testemunha), T2 (Trichodermil), T3 (Mistura Trichodermil com Policana), T4 (Mistura Trichodermil com Turfa-gel), T5 (Polycana).

Page 36: Carmelita dos Santos Oliveira.pdf

35

TABELA 3 – Contrastes significativos pelo teste Mann-Whitney (p=0,05), considerando dados de Área Abaixo da Curva de Progresso da Doença para os diferentes tratamentos.

Contraste AACPD AACPD

Testemunha x Trichodermil 103 23

Testemunha x Mistura Trichodermil com Polycana 103 33

Trichodermil x Mistura Trichodermil com Turfa-gel 23 110

Trichodermil x Polycana 23 63

Mistura Trichodermil com Polycana x Mistura Trichodermil com Turfa-gel

33 110

Analisando os contrastes (TABELA 3), observa-se que o Trichodermil puro foi o me-

lhor tratamento, seguido da mistura com Polycana. Contudo, o Trichodermil puro tem

efeito melhor que o Polycana puro, o que torna possível isolar o efeito do Polycana,

que é menor que o da Mistura com o Trichodermil. A mistura de compostos orgâni-

cos, como a Turfa-gel, mostrou-se negativa, tendo menor eficiência que o Tricho-

dermil puro (TABELA 3), comprovando mais uma vez o efeito negativo da adição de

fontes de matéria orgânica ao Trichodermil, no controle de doenças.

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5 CONCLUSÕES

O controle biológico da fusariose da pimenta-do-reino com Trichodermil é uma medi-

da que reduz a intensidade de doença nas lavouras, proporcionando uma eficiência

de controle até 50%.

A mistura de compostos fornecedores de matéria orgânica, prática usualmente apli-

cada no Norte do Espírito Santo, apresenta mais desvantagens que vantagens no

controle da fusariose.

Das misturas testadas, somente a Polycana, apresentou efeito positivo, necessitan-

do de mais estudos para a sua validação.

Entre os intervalos de aplicação do Trichodermil, 90 e 120 dias foram os que apre-

sentaram melhor controle, nas doses de 1 ou 2 mL por planta.

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