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Universidade do MinhoInstituto de Educação
abril de 2016
Trajeto(s) na Construção do Conhecimento: das conceções prévias às novas aprendizagens
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6
Carla Daniela Gonçalves Silva
Carla Daniela Gonçalves Silva
abril de 2016
Trajeto(s) na Construção do Conhecimento: das conceções prévias às novas aprendizagens
Trabalho realizado sob a orientação daDoutora Maria de Lurdes Carvalho
Relatório de Estágio Mestrado em Educação Pré-Escolar e Ensino do 1.º Ciclo do Ensino Básico
Universidade do MinhoInstituto de Educação
Declaração
Nome: Carla Daniela Gonçalves Silva
Número do Cartão de Cidadão: 12994001
Endereço Eletrónico: [email protected]
Telefone: 913562422
Título do Relatório: Trajeto(s) na Construção do Conhecimento: das conceções prévias
às novas aprendizagens
Orientador: Doutora Maria Lurdes Carvalho
Ano de Conclusão: abril de 2016
Designação do Mestrado: Mestrado em Educação Pré-Escolar e Ensino do 1º Ciclo do
Ensino Básico
É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO PARCIAL DESTE RELATÓRIO, APENAS
PARA EFEITOS DE INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO
INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE.
Universidade do Minho, 30 de abril de 2016
Assinatura:
_____________________________________________
(Carla Daniela Gonçalves Silva)
“O ser humano é ativo na construção do seu conhecimento e não uma
massa “disforme” a ser moldada pelo professor”
Jean Piaget
iv
Agradecimentos
No decorrer do meu percurso académico tive o privilégio de estar rodeada de
pessoas que marcaram esta minha passagem que se tornou ao longo do tempo, mais do
que um objetivo, mas a concretização de um sonho que estava adormecido. Deste modo,
é com uma enorme satisfação que exprimo o meu mais profundo e sentido agradecimento
a todos aqueles que fizeram parte deste que foi o findar de uma etapa e o início de uma
longa jornada, são eles:
- À minha orientadora Professora Doutora Maria de Lurdes Carvalho, pela
constante partilha de experiências e conhecimentos que me estimularam para uma visão
crítica e mais reflexiva do meu trabalho, incentivando-me a marcar pela diferença.
- À querida e amiga Professora Olívia Resende, pois através da vasta experiência
transmitiu-me valores dos quais levo comigo para a prática profissional, assim como os
desabafos e partilhas que me fizeram crescer pessoalmente e profissionalmente.
- Aos alunos e ao professor cooperante Vitor Vaz, que fizeram parte desta
investigação, pela confiança, carinho e participação, pois sem o contributo deles esta
dissertação não seria de todo possível.
- Aos colegas de formação, pela partilha de ideias e companheirismo e,
principalmente à Cátia, amiga e parceira de estágio, pelos desabafos, pela determinação,
e pela sua humildade que tanto a caracteriza.
- À minha querida avó Olívia pela sua preocupação constante e pelos tantos terços
rezados para que terminasse este meu percurso com sucesso.
- À minha família, principalmente aos meus pais, pelo esforço que fizeram para
que eu pudesse concretizar este que era o meu maior objetivo, pelo carinho e pelos valores
que me passaram de nunca desistir.
- Ao Alix, amigo e namorado, por acreditar sempre em mim, por acreditar que eu
seria capaz, por estar ao meu lado nos momentos menos bons e pelas palavras certas nos
momentos certos “juntos somos mais fortes”.
- A Deus, por toda a força que me deu, por nunca me fazer desistir mesmo nos
momentos mais complicados no decurso deste projeto de vida.
A todos Muito Obrigada pelo Amor.
v
Resumo
O presente relatório insere-se numa investigação e intervenção pedagógica no
âmbito da Prática de Ensino Supervisionada (PES) do Mestrado em Pré-Escolar e Ensino
do 1º Ciclo do Ensino Básico, com a temática de estudo “Trajeto(s) na Construção do
Conhecimento: das conceções prévias às novas aprendizagens” no 1º Ciclo do Ensino
Básico, realizado numa escola do concelho de Braga com uma turma do 2º ano de
escolaridade.
Para a investigação recorreu-se a algumas das caraterísticas da metodologia de
investigação-ação, tendo como objetivos de estudo compreender a relevância das
conceções prévias e dos conhecimentos pré-adquiridos pelos alunos na construção de
novas aprendizagens e, avaliar/refletir sobre esse progresso de mudança concetual ao
longo de todo o processo de ensino e aprendizagem. Partindo do levantamento inicial dos
conhecimentos dos alunos e sucessiva (re)construção de novas aprendizagens, contruiu-
se um Projeto Curricular Integrado (PCI), intitulado “Será que existe ciência nas
profissões?”, que permitiu o desenvolvimento de atividades integradoras, flexíveis e
dinâmicas.
Toda a intervenção pedagógica surgia de um levantamento inicial de experiências
e ideias prévias dos alunos nas sucessivas atividades propostas. Estas contaram com uma
diversificação de metodologias, estratégias e adequações ao currículo, de maneira a
incluir os alunos com Necessidades Educativas Especiais (NEE) e Adequações
Curriculares (AC) num projeto comum a todos. Ao contactarem com o objeto ou
acontecimento significativo, partindo à descoberta com uma atitude de pesquisa, os
alunos confrontavam o novo conhecimento com o que já tinham retido nos seus esquemas
mentais, alterando-os e reorganizando-os, atribuindo-lhe um significado próprio e pessoal
com funcionalidade e coerência.
Os resultados de todo este projeto de investigação e intervenção revelam que o
valorizar e reforçar as experiências e ideias prévias da criança, tendo uma clara atenção
as características e potencialidades de cada e de todos os alunos, valoriza as histórias e
experiências de vida de cada aluno, promove um maior interesse e motivação no seu
processo de ensino e aprendizagem e, por outro lado, facilita a construção e
desenvolvimento de uma prática diferenciada, inovadora e integradora.
Palavras-Chave: Conceções Prévias, Aprendizagem Significativa, Integração.
vi
Abstract
The present report is inserted in a research and educational intervention under the
Supervised Teaching Practice (STP) of the Master in Preschool Education and Teaching
in the First Cycle of Basic Education, with study thematic "Path (s) in the Building of
Knowledge: from the previous conceptions to the new learnings” in the 1st cycle of Basic
Education performed at a school from the city of Braga with a class from the 2nd grade.
For the investigation was used some characteristics of the investigation-action
methodology, having has study objective the understanding of the importance of previous
conceptions and the acquired knowledge from students on the construction of new
learning and, evaluate / reflect about the progress of conceptual change throughout all the
process of teaching and learning. Starting from the initial collection of students'
knowledge and successive (re) constructions of new learning, it was constructed a Project
Integrated Curriculum (PIC), entitled "Is there science in professions?", which allowed
the development of the integrative, flexible and dynamic activities.
All pedagogical intervention emerged from an initial collection of experiences and
previous ideas from students in the successive proposed activities. These relied with a
diversification of methodologies, strategies and adaptations to the curriculum in order to
include students with Special Educational Needs (SEN) and Curricular adaptations (CA)
in a project common to all. When they contact with the object or significant event, starting
a discovery with a research attitude, the students faced the new knowledge with what they
had retained in their mental schemes, changing and reorganizing them, giving it a very
personal meaning with functionality and coherence.
The results of all this research project and intervention shows that when the
experiences and the child's previous ideas are valorized and re-forced, having attention to
the needs and potential of each and every student, the stories and life experiences of each
student are valorized, promoting a greater interest and motivation in the process of
teaching and learning and, on the other hand, facilitates the construction and development
of a differentiated and innovative integrated practice.
Keywords: Previous Conceptions, Significative Learning, Integration.
vii
Índice
Agradecimentos ...................................................................................................... iv
Resumo ..................................................................................................................... v
Abstract ................................................................................................................... vi
Índice ...................................................................................................................... vii
Índice de Quadros .................................................................................................. ix
Índice de Figuras .................................................................................................... ix
Siglas e Abreviaturas ............................................................................................... x
Introdução ................................................................................................................ 1
Capítulo I - Contexto de Investigação e de Intervenção ...................................... 3
Caracterização do Contexto ...................................................................... 3
Caracterização da Turma .......................................................................... 4
Capítulo II - Enquadramento Teórico ................................................................... 6
Teoria Socioconstrutivista ........................................................................ 6
Piaget e o Desenvolvimento Cognitivo ............................................. 7
A aprendizagem através da interação social e cultural ...................... 8
Levantamento de Conceções Prévias ..................................................... 10
Conceito de Conceções Prévias ....................................................... 10
Conceções Alternativas VERSUS Conceitos Científicos ................ 12
Disposição e motivação no processo de aprendizagem ................... 15
Partindo das conceções prévias para a construção de significado ... 19
Confronto de Ideias ................................................................................ 24
Mudança Concetual e Conflito Sociocognitivo ............................... 24
O Erro no processo de ensino e aprendizagem ................................ 29
Capítulo III - Metodologia de Investigação e Intervenção ................................ 31
Metodologia de Investigação-Ação ........................................................ 31
viii
Foco de Intervenção e Objetivos do Projeto .......................................... 33
Técnicas e Instrumentos de Recolha de Dados ...................................... 35
Estratégias de Intervenção ...................................................................... 36
Capítulo IV - Intervenção: Das Conceções Prévias às Novas Aprendizagens . 38
Desenvolvimento do Projeto de Intervenção .......................................... 38
Como surgiu? .................................................................................. 39
Desenho Global do Projeto ..................................................................... 42
Intervenção Pedagógica .......................................................................... 43
Primeiro Momento de Levantamento dos Conhecimentos Prévios dos
Alunos: uma orientação para a concretização do PCI ..................... 43
1ª Questão Geradora: “Que profissões existem na minha família?” 53
Construindo novas aprendizagens – Avaliação ...................................... 63
Avaliação e divulgação do Projeto .................................................. 71
Divulgação do Projeto ............................................................................ 73
Capítulo V - Considerações Finais ....................................................................... 76
Referências Bibliográficas .................................................................................... 82
Anexos ..................................................................................................................... 85
Anexo 1 – Princípios Pedagógicos ................................................................. 86
Anexo 2 – Desenho Global das Atividades Integradoras do PCI ................... 89
Anexo 3 – Mapas de Conteúdos da 1ª Questão Geradora .............................. 90
Anexo 4 – Mapas de Conteúdos da 2ª Questão Geradora .............................. 91
Anexo 5 – Mapas de Conteúdos da 3ª Questão Geradora .............................. 92
Anexo 6 – Mapas de Conteúdos do Núcleo Globalizado ............................... 93
Anexo 7 – Ficha de Registo ............................................................................ 94
Anexo 8 – Ficha de Registo para os Alunos com NEE e AC ......................... 95
Anexo 9 – Questionário Realizado pelos Alunos para os Pais ....................... 96
ix
Índice de Quadros
Quadro 1- Aspetos significativos entre Conceção Alternativa e Conceito
Científico ............................................................................................................ 15
Quadro 2- Abordagem Profunda e Abordagem Superficial (Adaptado de Solé,
2001, p. 33) ......................................................................................................... 17
Quadro 3 - Núcleo globalizador e as questões geradoras do projeto a desenvolver
............................................................................................................................ 41
Índice de Figuras
Figura 1- Os significados das experiências como resultados dos pensamentos,
sentimentos e ações ............................................................................................. 20
Figura 2 - Processos de Assimilação na Aprendizagem Significativa .............. 22
Figura 3 - Dimensões Fundamentais no processo de aprendizagem escolar ..... 23
Figura 4 - Processo de teorização (retirado de Latorre, 2003, p.14, de Whitehead,
1995) ................................................................................................................... 32
Figura 5 - Espiral de ciclos da Investigação-ação ............................................. 33
Figura 6 – Registos dos alunos .......................................................................... 40
Figura 7 - Registo pictórico "O que é para mim uma profissão?" .................... 44
Figura 8 - S.: "Ser professora" ........................................................................... 44
Figura 9 - M.: "Ser costureira" .......................................................................... 44
Figura 10 - R.: "Construir casas" ....................................................................... 44
Figura 11 - Registos "Eu quero ser... Porque..." ................................................ 45
Figura 12 - Apresentação da ficha "Eu quero ser...Porque…” .......................... 46
Figura 13 - Registo pictórico do G. "construir casas" ....................................... 47
Figura 14 - Registo pictórico da C. “recreio” .................................................... 47
Figura 15 - Registo do G. "Eu quero ser...” com adequações curriculares........ 48
Figura 16 - Registo do R. “Eu quero ser...Porque" sem adequações curriculares
............................................................................................................................ 48
Figura 17 - Registo pictórico e descritivo das profissões do R. e da J. ............. 55
Figura 18 - Registo pictórico e descritivo das profissões da M. e da M.S. ....... 56
x
Figura 19 - Preenchimento da árvore com as folhas respondendo à questão "o que
eu sei..."............................................................................................................... 57
Figura 20 - Concretização de um questionário e pesquisa de novos conceitos . 58
Figura 21 - Observação das suas ideias em confronto com as respostas do
questionário ......................................................................................................... 58
Figura 22 - Discurso dos alunos sobre as novas aprendizagens ........................ 59
Figura 23 - Chuva de Ideias ............................................................................... 63
Figura 24 - Recibo de Empenho ........................................................................ 65
Figura 25 - Preenchimento do "recibo de empenho" ......................................... 67
Figura 26 - Registo de Avaliação do Projeto ..................................................... 68
Figura 27 - Exemplo "O que aprendeste com este projeto?" ............................. 69
Figura 28 - Avaliação realizada pelos Encarregados de Educação "puzzle" ..... 70
Figura 29 - "Profissionário" construído pelos alunos ........................................ 71
Figura 30 - “Profissionário” construído pelos pais juntamente com os alunos . 72
Figura 31 - Construindo o poster ....................................................................... 72
Figura 32 - A árvore das profissões “O que eu sei..” e “O que descobri…” ..... 73
Figura 33 - Exposição do projeto ...................................................................... 74
Figura 34 - Cartão profissional .......................................................................... 74
Figura 35 - Poster .............................................................................................. 75
Figura 36 - Visualização do vídeo ..................................................................... 75
Siglas e Abreviaturas
PCI – Projeto Curricular Integrado
PCT – Projeto Curricular de Turma
PEA – Projeto Educativo do Agrupamento
NEE – Necessidades Educativas Especiais
AC – Adequações Curriculares
PEI – Programa Educativo Especializado
ZDP – Zona de Desenvolvimento Próximo
ZDR – Zona de Desenvolvimento Real
ZDPt – Zona de Desenvolvimento Potencial
ME – Ministério de Educação
xi
I-A – Investigação-Ação
TIC – Tecnologias da Informação e Comunicação
EE – Encarregados de Educação
TV - Televisão
1
Introdução
O presente relatório decorre no âmbito de uma investigação pedagógica, fazendo
parte integrante da Unidade Curricular Prática de Ensino Supervisionada do Mestrado em
Educação Pré-Escolar e Ensino do 1º Ciclo do Ensino Básico, Universidade do Minho. O
propósito deste relatório visa documentar, de modo pessoal, o estudo de uma prática
experiencial por observação, reflexão e avaliação e, também construir um conhecimento
profissional sustentado no processo de intervenção pedagógica.
Este projeto de investigação pedagógica foi desenvolvido numa turma do 2ºano
de escolaridade do 1ºCiclo do Ensino Básico, constituída por 20 alunos na faixa etária
dos 7 aos 9 anos. Para o desenvolvimento deste trabalho foram consideradas algumas das
características da metodologia investigação-ação, caraterizada por uma espiral de ciclos,
em que os intervenientes refletiram sobre ação tendo em vista a construção de
aprendizagens pelo aluno e construção do conhecimento profissional por parte do
professor investigador.
A temática em estudo centra-se em compreender a relevância do levantamento
inicial do conhecimento dos alunos para a (re)construção de novas aprendizagens. Deste
modo, surge o tema do projeto de investigação “Trajeto(s) na construção do
conhecimento: das conceções prévias às novas aprendizagens”, tendo como contributo o
Projeto Curricular Integrado (PCI), que visa reconhecer que os alunos são portadores de
experiências e ideias prévias, que embora incipientes, contribuem para a construção de
conhecimentos/conceitos no contacto com o meio que os rodeia.
O presente relatório tem como objetivos: desenvolver competências a nível
pessoal e profissional; compreender/problematizar práticas de ensino e aprendizagem e
avaliar o resultado das mesmas.
Este trabalho encontra-se sequencialmente dividido e organizado por capítulos
devidamente fundamentados. No capítulo I, apresento a caracterização do contexto e da
turma desenvolvido através de uma observação participada, da interação com os alunos,
do diálogo entre o professor cooperante e a colega de estágio, bem como restantes
membros da comunidade educativa. Este conhecimento do contexto real e concreto da
PES permitiu-me adequar estratégias tendo em conta os interesses, potencialidades e
necessidades da turma e a realidade do próprio contexto.
2
No capítulo II, apresento a revisão literária que sustenta todo o projeto de
investigação e intervenção. Partindo dos contributos de Piaget e Vygotsky, que sustentam
a perspetiva socioconstrutivista do conhecimento e aprendizagem, aludo, respetivamente,
para uma conceção construtivista da cognição e para uma aprendizagem como uma
construção social. Posteriormente, apresento a importância do levantamento das
conceções prévias dos alunos e, sucessivo confronto de ideias para a construção de
aprendizagens significativas e ativas no processo de ensino e aprendizagem.
No que concerne ao capítulo III, apresento a metodologia de investigação e
intervenção, particularmente a metodologia investigação-ação, salientando as suas
características peculiares que orientaram a investigação pedagógica. Conjuntamente,
apresento o contributo do Projeto Curricular Integrado (PCI), privilegiado de
metodologias investigativas, reflexivas e colaborativas. Ainda neste capítulo, refiro o
foco de intervenção e objetivos do projeto, instrumentos de recolha de informação e, por
último, as estratégias adotadas para o desenvolvimento da ação.
O capítulo IV é apresentada uma descrição, análise e reflexão/avaliação de
algumas atividades integradoras do Projeto Curricular Integrado (PCI) desenvolvido na
turma do 2ºano de escolaridade do Ensino Básico. Apresento ainda a avaliação e
divulgação do presente PCI.
Na finalização deste relatório, apresento no capítulo V as aprendizagens
construídas no decurso da intervenção pedagógica, quer dos alunos quer do próprio
investigador, o desenvolvimento de competências pessoais e profissionais por parte do
investigador, as limitações encontradas ao longo do projeto de investigação e de
intervenção, bem como as recomendações para uma futura investigação neste âmbito.
3
Capítulo I - Contexto de Investigação e de Intervenção1
Neste capítulo encontra-se caracterizado o contexto de 1º Ciclo do Ensino Básico
onde decorreu a investigação e intervenção pedagógica.
As informações recolhidas tiveram como suporte a observação, diálogo com o
professor cooperante e restantes membros da comunidade educativa. Através deste
diálogo foi possível conhecer os interesses e potencialidades da turma e, o meio que
envolve o contexto.
Caracterização do Contexto2
O contexto onde se desenvolveu a intervenção pedagógica insere-se no
Agrupamento de Escolas do concelho de Braga, e foi considerado pelo Ministério da
Educação como Território Educativo de Intervenção Prioritária. Possui um programa
intitulado por “Motivar para o sucesso”, que consiste em criar medidas e estratégias com
impacto direto na melhoria dos resultados escolares dos alunos e na prevenção do
abandono precoce. O projeto educativo denomina-se “Desafios do séc. XXI”. Esta
instituição foi inaugurada em 2007 e possui uma arquitetura contemporânea, onde o
espaço exterior define a sua amplitude. Este agrupamento promove o desenvolvimento
de uma vasta oferta educativa, tais como: educação pré-escolar, 1º, 2º e 3º ciclos, ensino
secundário, cursos de educação/formação para jovens e adultos e uma referência para
alunos cegos ou de baixa visão.
O espaço interior do centro escolar é constituído por oito salas na totalidade, seis
do ensino básico e duas para a educação pré-escolar. Possui também, sala de professores,
sala de educadores, biblioteca com espaço de multimédia, um refeitório, A.T.L.
(frequentado por um terço dos alunos para realizarem os trabalhos de casa), quatro WC´s
(dois para a educação pré-escolar e dois para o 1ª ciclo), corredor amplo/extenso e dois
quadros interativos que só estão disponíveis para o 4º ano de escolaridade.
1 Informação retirada e alterada do Portefólio da Prática de Ensino Supervisionada II de Daniela
Silva, 2016 2 Informação consultada e disponível em http://www.aemaximinos.net/web/index.php. Acesso
em: 10 de março, 2016.
4
O espaço exterior é caracterizado por um elevado gradeamento a toda à volta do
estabelecimento de ensino, parque infantil (baloiços, escorregas…), campo de futebol,
jardim em relva, espaço coberto e uma pequena horta.
À entrada do centro escolar o portão é controlado por um sistema de segurança e
nas traseiras um acesso à escola EB 2/3 Frei Caetano Brandão, restrito a funcionários e
comunidade docente.
O meio que envolve o Centro Escolar é constituído maioritariamente por prédios,
detém também de uma zona comercial, restauração e outras escolas do agrupamento. É
um meio socioeconómico médio/baixo e de diversidade étnica e cultural.
Caracterização da Turma
A turma do 2º ano de escolaridade era constituída por vinte alunos, sendo doze do
sexo masculino e oito do sexo feminino.
Era composta por um grupo heterogéneo ao nível do conhecimento, com idades
compreendidas entre os 6 e os 9 anos, tendo sido um grupo formado no ano letivo anterior.
Podemos sistematizar a heterogeneidade do grupo da seguinte forma:
Dois alunos integraram pela primeira vez esta turma, um por ser aluno repetente
e outro que frequentou o 1º ano de escolaridade noutra escola. A maioria fez a
transição da educação pré-escolar para o 1º ciclo pertencente ao mesmo
estabelecimento de ensino.
Na turma havia dois alunos de etnia cigana e um aluno de nacionalidade romena
(aluno que não compareceu no presente ano letivo).
Na turma incluía dois alunos com Adequações Curriculares (AC) e outros dois
com Necessidades Educativas Especiais (NEE), estes últimos assinalados com
dificuldades cognitivas e dificuldades cognitivas/motoras, ambos com um
Programa Educativo Individualizado (PEI), que constitui as respetivas
adequações curriculares. Este último documento foi elaborado tendo em conta o
aluno, os pais do aluno e, todos aqueles que intervieram ou vierem a intervir na
educação dos respetivos alunos. As medidas de apoio que visam a aquisição,
consolidação e desenvolvimento das aprendizagens destes dois alunos eram: o
reforço positivo, pedagogia diferenciada, pausas entre as atividades, apoio
educativo e o envolvimento dos pais.
5
A serem acompanhados pelo departamento de Psicologia e Terapia da Fala
encontravam-se dois alunos, outro na Mediação Social e quatro alunos usufruíam
de Apoio Educativo.
A turma demonstrava bastante autonomia na realização das tarefas que lhes eram
propostas, criando até alguma competitividade na finalização da mesma com o
companheiro do lado, consequentemente observável a cooperação e entre ajuda com o
colega de mesa. A maioria dos alunos eram participativos e demonstravam
interesse/curiosidade por assuntos relacionados com o quotidiano e abordados na
disciplina do Estudo do Meio.
Durante a primeira semana de observação participante constatei que era
inobservável o levantamento de ideias prévias dos alunos, aquando abordado um novo
conteúdo/temática, sendo recorrente o uso de fichas dos manuais. Também não foi
observado, nas primeiras semanas de PES, o recurso a projetos no processo de ensino e
aprendizagem. Considera-se, assim, fundamental levar a estes alunos um projeto com
significado, sentido pessoal e coletivo integrando os conteúdos curriculares das diferentes
áreas curriculares e não curriculares presentes no Currículo Nacional e no programa do
2ºano de escolaridade.
O professor desta turma usava frequentemente o reforço positivo através do “bater
palmas”, “parabéns”, “a tua letra está cada vez mais bonita”, criando um ambiente de
motivação que se revelava fundamental para o êxito do aluno.
No que se refere à relação que o professor estabelecia com os alunos, era notório
o respeito mútuo, o ambiente tranquilo e acima de tudo a afetividade.
6
Capítulo II - Enquadramento Teórico
Neste capítulo considerou-se relevante a abordagem socioconstrutivista para que
deste modo se possa compreender a importância desta teoria como eixo fundamental para
a presente investigação e intervenção. Neste sentido, considerou-se as contribuições de
Piaget e de Vygotsky fundamentais para o desenvolvimento de um pensamento
construtivista no âmbito educativo.
Primeiramente, e porque intrínseco à teoria socioconstrutivista, são apresentados
dois tópicos fundamentais: o primeiro refere-se à definição do levantamento das
conceções prévias dos alunos e à sua importância, onde serão abordados, também, aspetos
significativos e dissemelhanças entre dois conceitos, o de conceções prévias e conceitos
científicos. Ainda, será apresentada a distinção entre os conceitos de motivação e de
predisposição do aluno para a aprendizagem e, a sua relevância para a construção de
significado pelo aluno ativo.
Posteriormente, no segundo tópico será abordada a mudança concetual e o conflito
cognitivo no confronto de ideias. Para finalizar, será apresentado o erro no processo de
ensino e aprendizagem, partindo deste para a (re)construção de novos conhecimentos.
Teoria Socioconstrutivista
A perspetiva socioconstrutivista sustenta que um indivíduo não é apenas um
produto oriundo do ambiente nem um resultado de disposição interna, mas uma
construção pessoal que resulta da interação entre dois fatores: o cognitivo e social do
comportamento e, o afetivo (Carretero, 1997). De tal forma, a perspetiva
socioconstrutivista defende que o conhecimento não é uma imitação da realidade, mas
uma construção que o ser humano faz.
A construção da aprendizagem desenvolve-se em torno das atividades diárias do
aprendente, dependendo de dois aspetos fundamentais: a primeira refere-se à
representação inicial que o aluno tem relativamente ao novo conhecimento que lhe é
apresentado; a segunda ao conhecimento que detém da atividade a desenvolver. O autor
salienta ainda a ideia de que o ser humano atua por meio dos esquemas que possui na sua
mente, definindo esquema como uma “representação de uma situação concreta ou de um
7
conceito que permite manejá-lo internamente e enfrentar-se situações iguais ou parecidas
na realidade” (op. cit., p. 11).
O estar sistematicamente em contacto com novos conhecimentos permite que os
esquemas mentais do ser humano estejam em constante mudança. Por isso, esta mudança
ou modificação dos próprios esquemas do indivíduo aprendente, ao nível cognitivo,
ocorre do confronto entre o que o aluno retém nos seus esquemas e a nova situação
apresentada. Por isso, quanto mais experiências o indivíduo possuir em tarefas
diversificadas, mais ferramentas complexas e especializadas este irá utilizar (Carretero,
1997; Varela, 2010).
A educação escolar é de facto um impulsionador de desenvolvimento, no sentido
de estimular a atividade mental construtiva dos alunos. Deste modo, cabe à escola olhar
para os seus alunos como seres únicos e irrepetíveis num contexto de um determinado
grupo social. Sendo que, por sua vez, o aprendiz deve deixar de ser visto como um mero
recetor, mas sim como um agente ativo no processo de ensino e aprendizagem (Coll et
al., 2001).
Na conceção socioconstrutivista, a escola não pode descorar da importância dos
aspetos cognitivo, social e cultural para o desenvolvimento dos alunos. Isto é, segundo
Coll & Solé (2001) a escola torna
acessíveis aos seus alunos aspetos da cultura fundamentais para o seu
desenvolvimento pessoal, e não apenas no âmbito cognitivo; a educação é o motor
do desenvolvimento entendido de uma forma global, isto é, incluindo capacidades
de equilíbrio pessoal, de inserção social, de relação interpessoal e capacidades
motoras (p. 18).
Ainda, o aluno não vive isolado, por isso, esta construção vai do social para o
individual, em que os agentes culturais são fundamentais na construção pessoal do aluno
(Coll & Solé, 2001).
Piaget e o Desenvolvimento Cognitivo
Piaget (1990), pioneiro na abordagem construtivista, desenvolveu uma visão
fundamental para a compreensão do desenvolvimento cognitivo da criança desde o
nascimento até à idade adulta. Esta teoria de construção do conhecimento pelo próprio
aluno, indaga a evolução dos esquemas cognitivos do sujeito ativo e o seu conhecimento
ao longo das diferentes idades.
8
Na teoria cognitivista o aluno aprende a aprender, partindo do prossuposto de que,
como John Locke (1960) defende, o aluno não é uma tábua rasa. Isto é, o aluno é provido
de conhecimentos nas suas estruturas cognitivas, que por mais incipientes que estes
conhecimentos sejam, são essenciais para o processo de construção de novos significados
(Santos, 2007).
Santos (2007) apresenta a ideia de que o conhecimento e a aprendizagem só ocorre
“quando a criança é capaz de interpretar novas informações a partir das organizações
internas anteriores que lhe permite ampliar e ou (re)estruturar os conhecimentos
apreendidos” (p. 229). Desta forma, o aluno interrelaciona as suas capacidades, ao nível
cognitivo, de modo a que seja concebida uma diferenciação e/ou generalização de
esquemas, que possam ser articulados à nova situação (Carretero, 1997).
Neste sentido, aquando apresentado ao aluno conhecimentos novos,
demasiadamente díspares ou opostos àqueles que já possui nos seus esquemas, geram
conflito cognitivo no aluno, modificando esses esquemas (Santos, 2007). Isto é, quando
a informação nova, uma vez retida pelo aluno, for distinta da que ele já possui nas suas
estruturas cognitivas ocorre o desenvolvimento cognitivo (Carretero, 1997).
A adaptação da aquisição do próprio conhecimento no nível cognitivo é
considerada por Piaget (1990) como uma consequência para a procura de um equilíbrio.
Este processo de equilibração3 constitui dois processos interrelacionados: o de
assimilação e o de acomodação. O primeiro refere-se “à incorporação de nova informação
aos esquemas que já possui” e o segundo “à modificação de tais esquemas” (Carretero,
1997, p. 23). O autor acrescenta ainda que, tanto a assimilação como a acomodação são
duas componentes que interatuam entre si, não se podendo dissociar uma da outra, pois
não é possível captar toda a informação que nos rodeia, mas aquela que permite estruturar
o nosso conhecimento prévio.
A aprendizagem através da interação social e cultural
A visão de Vygotsky (1934, citado por Bertrand, 2001) opôs-se à teoria
cognitivista de Piaget (1990), referida anteriormente, ao contribuir com a ideia de um
processo de ensino e aprendizagem resultante de uma interação social.
3 É um conceito que se produz aquando alcançado um equilíbrio entre as “discrepâncias ou
contradições que surgem entre a informação nova que assimilamos e a informação que já tínhamos e a qual
nos acomodámos” (Carretero, 1997, p. 25).
9
A aprendizagem do aluno varia em função das interações que sucede na sua zona
de desenvolvimento, geradas pelos agentes culturais. Nesta perspetiva, todos os
“processos psicológicos superiores (comunicação, linguagem, raciocínio) são adquiridos,
primeiro, num contexto social e, depois, se internalizam” (Carretero, 1997, p. 13). Por
isso, o meio em que o aluno vive e se interrelaciona com os outros revela-se um dos
fatores essenciais para o aluno aprender. O indivíduo aprendente capta informações
nessas experiências que vivencia no seu meio e, sucessivamente integra-as e processa-as
de acordo com a organização das suas estruturas de ação, de pensamento e de
concetualização, ao nível cógnitivo (Santos, 2007).
O conhecimento não se traduz num produto individual, mas fundamentalmente
social. A ideia enfatizada é de que o aluno quando adquire “informação, o que está em
jogo é um processo de negociação de conteúdos estabelecidos arbitrariamente pela
sociedade” (Carretero 1997, p. 19).
O relacionamento e interação dos alunos assumem importância no processo de
construção de conhecimentos, não sendo apenas um processo interno, mas também social
e cultural. Deste modo, Vygotsky (1979, citado por Santos, 2007) alude para o conceito
de Zona de Desenvolvimento Próximo (ZDP) como a
diferença entre o nível de desenvolvimento atual e o nível de desenvolvimento
potencial, determinado através da resolução de problemas com a orientação e a
colaboração de adultos ou companheiros mais capazes (p. 231).
Nesta ideia, a Zona de Desenvolvimento Próximo (ZDP) é determinada pela
diferença entre a Zona de Desenvolvimento Real (ZDR) e a Zona de Desenvolvimento
Potencial (ZDPt). Sendo que, através de reforços e ajudas dos outros “se torna possível
desencadear o processo de construção, modificação, enriquecimento e diversificação dos
esquemas de conhecimento, característico da aprendizagem escolar” (Onrubia, 2001, p.
125). Partindo desta ideia, o que o aluno for capaz de realizar com apoio de “alguém mais
capaz”, posteriormente irá conseguir executar autonomamente.
Uma vez concretizada a interação social, esta torna-se fundamental nos processos
de aprendizagem. Estes processos fomentam indiretamente o desenvolvimento social do
aluno, adquirindo valores sociais, e geram diretamente conflitos cognitivos, resultantes
dos diálogos e de troca de ideias (Carretero, 1997).
10
Cabe à escola, socialmente responsável, de proporcionar aos alunos: momentos
de aprendizagem significativa4; de desenvolvimento de competências essenciais ao seu
desenvolvimento pessoal e social; de capacidades inerentes de compreensão da sua
realidade e das formas a atuar sobre ela (Coll, et al., 2001).
Os professores caraterizados como mediadores e dinamizadores auxiliam os
alunos no processo de ensino-aprendizagem, tendo como papel fundamental “a criação
de melhores condições de ativação do desenvolvimento humano de cada aluno, devendo
a ajuda ser diretamente proporcional às suas necessidades educativas” (Santos, 2007, p.
232).
Partindo de tarefas cooperativas entre os alunos e mediadas adequadamente pelo
professor, potencializará ao indivíduo aprendente a capacidade de compreensão e atuação
autónoma. Ainda, com a proposta de atividades diversificadas e recursos variados, levará
o aluno a predispor-se para a tarefa a desenvolver, trocando experiências e ideias com os
seus colegas, de modo a que o aluno “menos capaz” chegue mais além do que seria capaz
se o realizasse autonomamente (Coll, et al., 2001).
Levantamento de Conceções Prévias
Conceito de Conceções Prévias
Na perspetiva de Ausubel (1978, citado por Carretero, 1997), em qualquer nível
educativo, torna-se fundamental ter em consideração as conceções prévias do aluno sobre
o que este vai apreender, sendo que o novo conhecimento irá sobrepor-se ao
conhecimento inicial que possui. Assim, convém definir o conceito de conceção prévia,
como
representações pessoais, mais ou menos espontâneas, mais ou menos dependentes
do contexto, mais ou menos solidárias de uma estrutura e que são compartilhadas
por grupos de alunos. Adjetivamos o termo conceção com o termo alternativa para
reforçarmos a ideia de que tais conceções não têm estatuto de conceitos científicos,
que diferem significativamente destes, quer a nível de produto quer de processo de
construção e que funcionam, para o aluno, como alternativa aos conceitos científicos
correspondentes (Santos, 1998, p. 96).
4 É um conceito definido como “um processo através do qual um determinado conceito, ou uma
determinada afirmação, se relaciona com a estrutura cognitiva de quem o aprende, ficando integrado nela”
(Valadares & Moreira, 2009, p. 35).
11
O aluno é portador de conhecimentos/conceitos e experiências anteriormente
vivenciadas, resultantes das interações com e no seu meio físico e social. Isto é, a
interação com o meio desenvolve no indivíduo uma série de crenças, expectativas e
respostas às dúvidas crescentes sobre o mundo, estas providas de coerência interna
(Cubero, 2005). Por isso, acrescenta o autor, parte-se das estruturas concetuais gerais, por
vezes alternativas, resultado de explicações que constrói sobre o mundo e, que lhe permite
compreender os fenómenos do dia-a-dia. Cabe à escola “valorizar, reforçar, ampliar e
iniciar a sistematização dessas experiências e saberes, de modo a permitir, aos alunos, a
realização de aprendizagens posteriores mais complexas” (ME, 2004, p. 101).
O aluno aprendiz deve ser exposto a tarefas significativas, de maneira a que
relacione diretamente as relações estabelecidas entre o que possui nas suas estruturas
cognitivas e o novo conhecimento que lhe é apresentado. Deste modo, o aluno ativo
constrói aprendizagens significativas (Carretero, 1997).
Aprender determinado conteúdo presume-se dar sentido a este e edificar
significados inerentes nesse conteúdo. De facto, o aluno constrói pessoalmente
significado ou, por vezes, reconstrói esse significado através do meio social, tendo por
base interpretações que previamente construiu (Miras, 2001).
O aluno quando se depara com o novo conteúdo significativo gera, mentalmente,
uma atividade construtiva de significados e representações, estando deste modo
possibilitado ao contacto com o novo conhecimento. Como alude Coll (1990, citado por
Miras, 2001),
quando o aluno depara com um novo conteúdo a aprender, fá-lo sempre munido de
uma série de conceitos, conceções, representações e conhecimentos adquiridos no
decurso de experiências anteriores, que utiliza como instrumentos de leitura e
interpretação e que, em boa parte, vão determinar as informações a selecionar, a
forma de as organizar e o tipo de relações que vai estabelecer entre elas (pp. 57-58).
Partindo das ideias e experiências que o aluno possui, aquando deparado com um
novo conteúdo o aluno realiza uma primeira leitura, atribuindo-lhe um nível incipiente de
significado e sentido. Deste modo, inicia o processo de aprendizagem do mesmo (ibidem).
Os conhecimentos prévios dos alunos são caraterizados em esquemas de
conhecimento. Estes esquemas, já definidos na perspetiva socioconstrutivista atrás
apresentada, não estão associados somente à quantidade de saberes que os alunos
suportam, “mas também pelo seu nível de organização interna, quer dizer, pelas relações
12
que se estabelecem entre os conhecimentos que se integram num mesmo esquema, e pelo
grau de coerência entre eles” (Miras, 2001, p. 61).
De acordo com Ausubel, Novak & Hanesian, (1978, citado por Valadares &
Moreira, 2009) o fator influenciador do processo de aprendizagem são os esquemas
cognitivos que o aluno possui. Por isso, é crucial conhecer bem as estruturas cognitivas
de um aluno através do levantamento dessas ideias e experiências prévias, de forma a
direcionar a sua educação no novo conhecimento.
Neste sentido, os conteúdos bem como os objetivos concretos de aprendizagem
são critérios fundamentais para “determinar quais são os conhecimentos prévios que são
necessários explorar nos alunos” (Miras, 2001, p. 64).
Carretero (1997) refere que não chega só apresentar uma informação ao aluno para
que este aprenda, mas também que seja construída mediante a sua própria experiência
interna, ou seja, o professor deve ter em conta as conceções dos alunos, tanto as que
possuem antes de iniciar o processo de aprendizagem como as que expuserem ao longo
do processo.
Conceções Alternativas VERSUS Conceitos Científicos
Ao aludir para o conceito de conceções prévias, remete-nos diretamente para
outros dois conceitos: as conceções alternativas e os conceitos científicos. Estes conceitos
não devem ser confundidos no processo de ensino e aprendizagem, sendo crucial fazer
referência à sua definição e distinção.
As conceções definidas como alternativas são consideradas “representações que
cada indivíduo faz do mundo que o cerca consoante a sua própria maneira de ver o mundo
e de se ver a si próprio” (Santos, 1998, p. 111). Isto é, se visualizarmos um grupo de
crianças, face a um mesmo acontecimento, estas não retêm as mesmas ideias, cada uma
constrói o seu próprio significado em resposta a contributos do meio. Deste modo, as
conceções alternativas dos alunos não devem ser vistas como “cópias” do seu meio, mas
como influenciadas por este (Santos, 1998).
As conceções que os alunos possuem têm valor significativo e, são ponderadas e
úteis. Como declara Driver (1986, citado por Santos, 1998) as conceções prévias são
“esquemas dotados de certa coerência interna” (p. 112). A estrutura mental do aluno é
reorganizada aquando o indivíduo se depara com uma nova abordagem da realidade. O
aluno aprende, partindo do conhecimento anteriormente produzido na estrutura cognitiva,
13
reestruturando esse conhecimento e, por conseguinte, aprende contra o mesmo (Bertrand,
2001).
Os alunos possuem no domínio cognitivo determinados conceitos ou
representações que geralmente acreditam serem verdadeiros, encontrando-se muito
afeiçoados por razões afetivas e de segurança psicológica (Roldão, 1995). Estas
representações particularmente construídas partem da vivência empírica e do senso
comum, “na medida em que se constituem como alternativas aos conceitos científicos
estruturados relativamente às mesmas realidades ou fenómenos” (Roldão, 1995, p. 64).
Não obstante, estas conceções alternativas persistem ao longo do tempo, até
mesmo, aquando exploradas no ensino formal. Ausubel (1980, citado por Santos, 1998)
designou essas conceções alternativas que os alunos trazem para a escola por
“preconceções”, pois são “espantosamente tenazes e resistentes à mudança” (p. 113).
Assim, segundo Bertrand (2001) cabe à escola iniciar pelas representações que os alunos
possuem, que por vezes, apresentam-se como obstáculos à aprendizagem, e
posteriormente ir construindo conceitos mais formais, científicos.
Como refere Astolfi (1985, citado por Santos, 1998) “as representações dos alunos
não devem ser consideradas como um “vazio” em função do seu afastamento dos
objetivos (…) mas como pontos de partida obrigatórios de um caminho do pensamento
que conduzirá à sua retificação” (p. 91).
Nesse sentido, as conceções alternativas que cada aluno constrói
espontaneamente, de forma a atribuir significado ao que ocorre à sua volta são “mais ou
menos simples e mais ou menos isoladas” (Santos, 1998, pp. 111), mas ao longo do
processo de ensino-aprendizagem vão-se tornando cada vez mais formais, complexas e
científicas, permitindo ao aluno ir fazendo face a uma quantidade cada vez maior de
experiências. Estas mesmas experiências são organizadas pelo aluno de forma natural e
pessoal, sendo posteriormente (re)organizadas e estruturadas de acordo com os esquemas
que possui.
Nesta atividade de construção da realidade ao nível cognitivo, os conceitos são
definidos como que o processo e o produto dessa mesma atividade, ou seja, são “como
formas de organizar e dar significado às experiências pessoais – etapas de um
desenvolvimento concetual contínuo e ativo” (ibidem, p. 117). Assim, a concetualização
é apresentada como um processo complexo, sendo uma das mais importantes formas de
conhecimento.
14
Embora os alunos contactem com as ideias científicas em contexto escolar, alguns
tendem a não aplicar essas ideias fora dos contextos educativos. Solomon (1983, citado
por Santos, 1998) referiu que é compreensível esta persistência em ignorar as
contradições e preservar com as suas conceções alternativas, se se admitir que tais
conhecimentos sejam conhecimentos socializados. Isto é, estas conceções alternativas
estão de tal modo enraizadas na nossa sociedade, que
na conversação diária e através dos mass media, as nossas crianças são confrontadas
com suposições sobre como as coisas se movem, sobre a sua energia, e sobre outras
propriedades que não podem ser diretamente, questionadas pelas explicações
científicas que aprendem na escola (pp. 113-114).
Apesar de se verificar relações convergentes entre as conceções alternativas e os
conceitos científicos, são também observados aspetos significativos em que tais
conhecimentos divergem. De tal forma, é apresentado um quadro (adaptado) de Santos
(1998, pp. 117-119) onde são destacados os seguintes aspetos significativos:
É menos estruturada do
que o conceito científico
Tende a construir-se com base numa lógica de atributos enquanto o
conceito científico se constrói com base numa lógica de relações.
É uma explicação pessoal Cada criança interioriza a sua experiência de uma maneira que lhe é
própria. O conceito científico é uma construção socializada, que não se
limita a problemas presentes, atuais e confinados a determinados
contextos.
Pertence a um modo de
conhecimento
predominantemente
figurativo
Enquanto o conhecimento científico é predominantemente operativo. As
funções cognitivas figurativas não tendem a transformar o objeto, mas a
reproduzir a realidade, enquanto as funções operativas são
caracterizadas pelo poder de transformar o objeto, para o conhecer, com
recurso a ações interiorizadas. De facto, as conceções alternativas
assentam em aspetos óbvios de perceção.
Limita-se a fenómenos da
vida corrente
Enquanto a capacidade preditiva do conceito científico se alarga a
fenómenos que ultrapassam largamente as nossas capacidades de
observação natural – os limites da nossa situação no mundo.
Tende a substancializar ou
a “coisificar” ideias
abstratas
Enquanto o conceito científico tende para a abstração matemática.
Conceção Alternativa
15
Liga-se diretamente a uma
causalidade linear
Limita-se a apontar, em sequência rígida, que tal causa produz tal efeito
sem fazer intervir uma rede complexa de relações causais como é
apanágio do conhecimento científico.
Liga-se diretamente a
explicações egocêntricas,
pragmáticas,
antropomórficas
Geralmente de natureza afetiva, enquanto o conceito científico se
desenvolve no sentido de uma objetivação crescente.
São penetradas por certezas
prematuras
A criança tem grande dificuldade em raciocinar sobre o possível, sobre
o hipotético. Tende a procurar na experiência o que confirma as suas
certezas e não o que as refuta. Quando a experiência contradiz o que ela
pensa considera-a uma má experiência e desinteressa-se por ela.
Os alunos usam uma
linguagem imprecisa e
termos indiferenciados…
… para expressar as suas conceções alternativas. Elas são muito
influenciadas pela linguagem do dia-a-dia, pelo uso de analogias
espontâneas e de metáforas. Pelo contrário, na construção dos conceitos
científicos são usadas uma linguagem e uma superestrutura matemática
específicas.
Quadro 1- Aspetos significativos entre Conceção Alternativa e Conceito Científico
Disposição e motivação no processo de aprendizagem
Na construção das aprendizagens intervêm aspetos relacionais e afetivos, sendo
que as capacidades de equilíbrio pessoal, inerentes a esse processo de aprendizagem, não
se constroem a partir do nada, nem da influência de outras capacidades (Solé, 2001).
Nesse sentido, existem inúmeros fatores pessoais e interpessoais que quando
articulados promovem impacto na atividade do aluno numa determinada tarefa ou
abordagem de um novo conhecimento/conteúdo. Sendo as experiências anteriores dos
alunos um dos fatores que influência a disposição do aluno para aprender determinados
conteúdos que lhe são apresentados (Miras, 2001).
De acordo com Miras (2001),
perante qualquer situação de aprendizagem, os alunos dispõem de determinadas
capacidades, instrumentos, estratégias e competências gerais para levarem a cabo o
processo. (…) o aluno conta com determinadas capacidades cognitivas gerais, ou em
termos mais correntes, com níveis de inteligência, raciocínio e memória que lhe
permite um determinado grau de compreensão e realização da tarefa (p.56).
Assim, os alunos detêm uma capacidade extraordinária para dar sentido e
significado ao mundo que os rodeia (Carretero, 1997), mesmo que os conhecimentos que
possuem pareçam, por vezes, pouco elaborados e com contradições.
16
Quando o aluno atribui significado a um determinado conteúdo/conhecimento que
lhe é apresentado, ativa o processo de mobilização a nível cognitivo. Sendo este processo
definido por Solé (2001) como
o que nos leva a rever e a apelar aos nossos esquemas de conhecimento, a fim de dar
conta de uma nova situação, tarefa ou conteúdo de aprendizagem (…), em resultado
do confronto entre o que para nós é já um dado adquirido e o que nos é proposto de
novo, esses esquemas podem sofrer modificações, leves ou mesmo drásticas, devido
ao estabelecimento de novos esquemas, conexões e relações na nossa estrutura
cognitiva (pp. 29-30).
Na teoria da aprendizagem significativa de Ausubel (2003), este alude para a
disposição por parte do aluno para a aprendizagem significativa. Esta disposição é
indispensável para “levar a cabo um tratamento profundo da informação que pretende
aprender, para estabelecer relações entre essa informação e aquilo que já sabe, para
esclarecer e analisar, minuciosamente, os conceitos” (Solé, 2001, pp. 32-33). Esta
disposição e o modo como o aluno encara a aprendizagem, foi relacionada por Marton e
seus colaboradores (1984, citado por Solé, 2001). Os alunos no seu processo de ensino e
aprendizagem, aquando expostos a uma tarefa, podem realizar dois tipos de abordagem:
a abordagem superficial e a abordagem profunda (Solé, 2001).
Relativamente à abordagem superficial definida por Entwistle (1988, citado por
Solé, 2001), é caraterizada pelos processos de memorização, sem reflexão e sem
integração. Ao contrário da abordagem profunda, em que “leva a relacionar o conteúdo
desse estudo com conhecimentos prévios, com a experiência pessoal e com outros temas,
a avaliar o que se vai realizando e a perseverar nesse esforço até se alcançar um grau de
compreensão aceitável” (p. 33). Deste modo, Coll e seus colaboradores (2001) inspiram-
se em Entwistle (1988) e descrevem estas diferenças de modo a clarificar e comparar
estas duas abordagens, das quais, seguidamente é apresentado:
Abordagem Profunda Abordagem Superficial
Intenção de compreender; Intenção de cumprir os requisitos da tarefa;
Forte interação com o conteúdo; Memorização da informação necessária para
provas ou exames;
Relação de novas ideias com os conhecimentos
anteriores;
Encarar atarefa como uma imposição externa;
17
Relação de conceitos com a experiência
quotidiana;
Ausência de reflexão sobre finalidades ou
estratégias;
Relação de dados com conclusões; Atenção concentrada em elementos soltos, sem
integração;
Verificação da lógica da argumentação. Não há distinção de princípios a partir de
exemplos.
Quadro 2- Abordagem Profunda e Abordagem Superficial (Adaptado de Solé, 2001, p. 33)
Quando o aluno desconhece a finalidade da tarefa e não consegue fazer a
interligação dessa finalidade com a compreensão que a tarefa envolve, a consequência da
atividade terá como resultado, um estudo superficial por parte do aluno. Caso contrário,
quando é estabelecida uma dinâmica no grupo/turma, e o professor, recorrendo a
estratégias tais como, a explicação objetiva da tarefa ou quando faculta e expõe instruções
para a conclusão da mesma ou quando faz um acompanhamento individual/grupo, acaba
por fomentar a dependência dos alunos (Solé, 2001).
Para uma abordagem profunda, tendo em conta o pensamento de Entwistle (1988),
é necessário tempo, quanto mais exigirmos do aluno e, se esta exigência for demasiado
célere, o aluno tenderá a caminhar para o fracasso e a estudar de forma superficial. Sem
motivação, o aluno não concretizará nenhum trabalho de forma eficaz, nem saberá aplicar
as estratégias que lhe permitiriam resolver questões semelhantes às aprendidas. Daí a
pertinência do professor ao propor determinadas tarefas aos seus alunos e os meios que
dispões para os avaliar (Carretero, 1997).
Os alunos tendem para uma abordagem profunda devido a uma motivação
despertada por determinada tarefa ou abordagem de determinado conhecimento. De tal
modo, Ausubel (2003, pp. 204-207) apresenta as três dimensões variáveis da motivação:
“i) Impulso Cognitivo – Este tipo de motivação é talvez um dos mais importantes
na aprendizagem da sala de aula. A aprendizagem significativa faculta
automaticamente a própria recompensa, ou seja, a recompensa que satisfaz o impulso
reside na realização da própria tarefa.
A escola deve fomentar “o valor do conhecimento e da compreensão por direito,
independentemente de quaisquer benefícios práticos que possam conferir” (p. 205).
Considerando estes fatores, torna-se relevante encontrar métodos que beneficiem a
aquisição de um conjunto de conhecimentos significativos e úteis, desenvolvendo a
motivação intrínseca do aluno, apropriadas para determinada aprendizagem.
18
ii) Impulso de Melhoramento do Ego – Este, diz respeito ao desempenho como
uma fonte de estatuto merecido, nomeadamente, o tipo de estatuto que um jovem
merece em proporção ao desempenho ou nível de competência próprios. A
ansiedade, nestes casos, é vista como uma ameaça, pois surge em forma de resposta
ao receio que detêm de perder determinado estatuto e autoestima, anteriormente
adquirido. Quando o professor satisfaz o aluno com uma aprovação, irá melhorar o
ego da motivação para o desempenho. Assim, para além de se encorajar a motivação
intrínseca para a aprendizagem, também é necessários, do ponto de vista do
amadurecimento da personalidade, incentivar-se o melhoramento do ego e as
motivações para o avanço na carreira, com vista ao desempenho académico.
iii) Impulso de Afiliação – Este determina-se pela aceitação intrínseca contínua
da(s) pessoa(s) com a(s) qual(is) se identifica, logo, quem usufrui deste estatuto,
encontra-se motivado para obter a aprovação desta(s) mesma(s) pessoa(s). O aluno
tende a cumprir as expectativas geradas por estas pessoas, obtendo um bom
desempenho académico. Assim o impulso de afiliação, expressa a necessidade de
um aluno se sair bem na escola, de forma a obter e a reter a aprovação (e o estatuto
derivado contínuo que isto significa) da figura superior (pai, professor), com a qual
se identifica num sentido emocionalmente independente”.
É importante referir, que na última fase da infância, este impulso diminui de
intensidade sofrendo uma reorientação, desta vez, dos pais para os colegas da mesma
idade. Esta alteração constitui, em grande parte das vezes, um forte fator motivacional
(Ausubel, 2003).
Tendo em conta a motivação humana e as suas implicações no trabalho educativo,
as motivações intrínseca e extrínseca surgem como elementos integrantes do aluno e
exclusivos do universo pessoal (Solé, 2001).
A motivação psicológica ou extrínseca é incutida do exterior, revelando-se mais
ou menos eficaz. Por seu lado, a motivação intrínseca revela-se mais eficaz e deve ser
aquela que o aluno deverá possuir desde o início, de modo a sentir que aprender e
compreender os temas programáticos é um processo mais enriquecedor e compensador
para ele (Valadares & Moreira, 2009).
Os vários estilos motivacionais implicarão diversos tipos de expectativas e
recompensas que, no entanto, terão efeitos distintos. Torna-se fundamental não só utilizar
recompensas externas, para modificar os resultados de aprendizagem, como também
mensagens dirigidas a mudar o estilo motivacional dos alunos (Carretero, 1997).
19
Os alunos devem ser estimulados a partir dos seus conhecimentos previamente
estruturados, de forma a que vão (re)construindo melhor as suas ideias iniciais,
privilegiando, deste modo, de uma aprendizagem significativa, ao em vez de caírem no
aparente facilitismo da aprendizagem mecânica (Valadares & Moreira, 2009).
Partindo das conceções prévias para a construção de significado
Um aspeto pertinente na teoria da aprendizagem significativa de Ausubel (2003)
é o modo como os alunos atribuem significado ao conhecimento que constroem. Sendo
esta teoria “parte integrante de uma visão da construção de conhecimento que é ao mesmo
tempo epistemológica e educacional e a que chamamos construtivismo humano”
(Valadares & Moreira, 2009, p. 10).
A construção de conhecimento significativo por parte do indivíduo aprendente é
um conhecimento partilhado, envolvendo deste modo, a partilha de ideias e sentimentos.
De tal modo que, a aprendizagem seja enriquecedora ao permitir construir significados
acerca daquilo que se aprende e, que haja uma sucessiva mudança na experiência de quem
aprende (Valadares & Moreira, 2009).
Para os teóricos do construtivismo humano, os professores e alunos não só
partilham significados como sentimentos para obter uma modificação efetiva no
significado da experiência. Assim, pensamentos, sentimentos e ações se integram no
processo de modificação das experiências vividas (Novak, 2000, citado por Valadares &
Moreira, 2009).
Estes teóricos enfatizam a centralidade da experiência do aluno na sua educação
(Valadares & Moreira, 2009). Neste seguimento é apresentado um esquema (adaptado)
de Novak (2000, p. 10, retirado de Valadares & Moreira, 2009, p. 16).
20
Figura 1- Os significados das experiências como resultados dos pensamentos, sentimentos e
ações
O processo da aprendizagem significativa desenvolve-se partindo do facto de que,
o aluno em contacto com as novas ideias relaciona-as com aquilo que já sabe. Isto é,
aquilo que o aluno adquiriu e como adquiriu é fulcral para o que vai aprender (Valadares
& Moreira, 2009).
A aprendizagem só se torna significativa quando o aluno “se apropria dela em
termos intelectivos e afetivos, incorporando-a e enquadrando-a harmoniosamente no seu
quadro de referências e experiência pessoal anterior” (Roldão, 1995, p. 53). Tal como
vem mencionado no programa do Ministério da Educação (2004) nos princípios
orientadores da ação pedagógica do programa do 1º Ciclo, as aprendizagens significativas
relacionam-se com as vivências efetivamente realizadas pelos alunos fora ou dentro
da escola e que decorrem da sua história pessoal ou que a ela se ligam. São
igualmente significativos os saberes que correspondem a interesses e necessidades
reais de cada criança. Isto pressupõe que a cultura de origem de cada aluno é
determinante para que os conteúdos programáticos possam gerar novas significações
(p. 23).
Ser humano
Pensamento
s
Sentimentos Ações
Significados e
Experiências
Tem
Juntos formam
21
O aluno aquando orientado, parte da atividade mental construtiva, assim, deve
ativar, mobilizar, e atualizar os seus conhecimentos anteriormente estabelecidos. Só desta
forma entenderá a relação que comportam com o novo conteúdo. Esta relação que
estabelece, determina uma construção significativa, funcional e estável (Coll, et al.,
2001).
A aprendizagem significativa concebida por Ausubel (1968, citado por Valadares
& Moreira, 2009) traduz-se em “formas efetivas e eficazes de provocar de modo
deliberado mudanças cognitivas estáveis, com significado individual e social” (p. 33) e
define-se por um “processo através do qual um determinado conceito, ou uma
determinada afirmação, se relaciona com a estrutura cognitiva de quem o aprende, ficando
integrado nela” (p. 35).
Este tipo de aprendizagem exige que os alunos estejam predispostos a
relacionarem o que possuem nos seus esquemas cognitivos com o novo conteúdo a ser
apreendido, de maneira “não arbitrária e não literal, à própria estrutura de conhecimentos”
(Ausubel, 2003, p. 72). De tal modo, o conteúdo que é apresentado aos alunos tem de ser
potencialmente significativo para que ocorra essa relação.
Na teoria de Ausubel (1980, citado por Santos, 1998) “o fator singular mais
importante que influência a aprendizagem é aquilo que o aprendiz já conhece” (p. 74).
Numa interação cognitiva entre o que o aluno conhece e os novos conhecimentos a serem
adquiridos, as ideias prévias relevantes funcionem como ancoradouros cognitivos para a
receção dos novos conhecimentos. Posteriormente, os novos conhecimentos adquiridos
ganham significado e os preexistentes permanecem mais elaborados, mais estáveis a nível
cognitivo e mais aptos de fornecer ancoragem cognitiva para outros saberes (Valadares
& Moreira, 2009).
A aprendizagem significativa caracteriza-se por um processo construtivo e
sucessivamente reconstrutivo, na medida em que as conceções do aluno se vão
enriquecendo de forma progressiva. As ideias novas interligam-se às ideias
relevantemente ancoradas que consistirá para o aluno o significado das ideias de instrução
acabadas de introduzir. Os novos significados, são deste modo, armazenados e
(re)organizados na memória com as ideias correspondentemente ancoradas (Ausubel,
2003).
Nesse sentido, quando os novos conteúdos vão ganhando significado para o aluno,
ocorre uma transformação de subsunçores da estrutura cognitiva, sendo que Ausubel
22
(2003) define esse processo por assimilação significativa (Valadares & Moreira, 2009, p.
35). Ou seja, este processo consiste
na atribuição de significados à nova informação, acompanhado de um
enriquecimento e modificação dos subsunçores, que assim se tornam mais potentes
e explicativos para servirem de base a futuras aprendizagens (Valadares & Moreira,
2009, p. 36).
Seguidamente apresento uma figura (adaptada) referente aos processos de
assimilação inerentes à fase da aprendizagem significativa proferidos por Ausubel (2003,
p. 8):
Figura 2 - Processos de Assimilação na Aprendizagem Significativa
Neste âmbito, para ocorrerem estes processos, destaca-se a importância de se
reunirem condições necessárias para suceder a uma aprendizagem significativa, tais
como, que existam subsunçores apropriados na estrutura cognitiva do aluno que permitem
essa tal assimilação significativa do novo conteúdo e que o aluno, principalmente, seja
detentor de uma atitude de aprendizagem significativa, ou seja, que esteja predisposto a
aprender de forma significativa (Valadares & Moreira, 2009).
O antagonismo a este processo de aprendizagem significativa denomina-se por
aprendizagem mecânica ou memorística, aquilo que se apresenta não se envolve com
qualquer subsunçor apropriado e preexistente na estrutura cognitiva. Não obstante,
Ancoragem seletiva do material de aprendizagem às
ideias relevantes existentes na estrutura cognitiva;
Interação entre as ieias acabadas de introduzir e as
ideias relevantes existentes;
A ligação dos novos significados emergentes com as
ideias ancoradas correspondentes no intervalo de
memória(retenção).
(1)
(3)
(2)
23
“variam continuamente de uma aprendizagem altamente significativa até uma
aprendizagem profundamente mecânica ou memorística” (Valadares & Moreira, 2009, p.
37).
Na teoria da assimilação de Ausubel, radicam duas dimensões de aprendizagem,
das quais destaco na seguinte figura (Santos, 1998, p. 78):
Figura 3 - Dimensões Fundamentais no processo de aprendizagem escolar
Segundo a figura supra ilustrada, a aprendizagem deverá ser o mais significativa
possível, e com a máxima autonomia do aluno, “que este irá adquirindo em campos, em
que a sua estrutura cognitiva se for tornando particularmente rica, fruto de muito trabalho
e consequente familiarização nesse campo” (Valadares & Moreira, 2009, p. 39). Ausubel
defende que estas dimensões não se excluem reciprocamente, existem, no entanto, uma
série contínua de dissemelhantes tipos de aprendizagem. Assim, as crianças ao iniciarem
a idade escolar possuem um vasto conhecimento prévio adequadamente organizado que
lhe vai possibilitar a ocorrência de aprendizagem recetiva-significativa (Santos, 1998).
24
Confronto de Ideias
Mudança Concetual e Conflito Sociocognitivo
Verifica-se na atualidade, modelos de mudança concetual que implicam
discussões díspares e que afetam os seus próprios fundamentos teóricos e epistemológicos
(Cubero, 2005).
Na visão de Santos (1998), as teses racionalistas e construtivistas, contrariamente
das empiristas, indicam que o aluno “não se limita a acumular passivamente as
informações” (p. 175). Pelo contrário, o aluno é detentor de um papel ativo, demarcado
pelo seu quadro referencial teórico no processamento da experiência e da informação.
Deste modo, “sujeitos diferentes constroem conceções diferentes a partir da mesma
informação e que as «novas» ideias não são acrescentadas às velhas, mas que interagem
com elas requerendo alteração de ambas” (ibidem).
Parte do professor a importante tarefa de apoiar o aluno e ajudá-lo a empregar de
forma deliberada, produtiva e racional a sua capacidade de pensamento, sendo que deve
“ensinar a pensar, a tornar-se consciente das estratégias de aprendizagem a que ocorre
para construir (reconstruir) conceitos científicos” (Santos, 1998, p. 168).
Numa perspetiva construtivista da mudança concetual na visão de Gunstone &
Mitchell (2000) é o aluno que deve reconhecer as suas próprias conceções, avaliá-las,
decidir sobre a sua reconstrução considerando aspetos relevantes da sua compreensão até
à consistência. Estes aspetos, no entanto, poderão ser influenciados, positivamente ou
negativamente, pelo modo como o professor estrutura as práticas da aula (ibidem).
Baseado em vários trabalhos relacionados com as primeiras propostas sobre a
mudança concetual, Cubero (2005) dividiu esta em dois processos: i) captura concetual,
que consiste em integrar ao conjunto de conceções uma nova, a partir das já existentes;
ii) substituição concetual, que consiste na substituição de umas conceções por outras mais
adequadas (p. 127). Para o autor, a diferença entre estes dois processos mencionados,
reside na
possibilidade de reconciliar uma nova conceção com outra anterior (assimilação), o
que significa integrá-la num contexto existente ou a necessidade de abandonar em
função da aprendizagem e da compreensão um conjunto de ideias que explicam mal
um fenómeno por outro mais plausível (acomodação) (p. 127).
25
A captura concetual ou acomodação acarreta uma mudança concetual de maior
escala. É de extrema importância perceber que, para que se conceda este processo, as
conceções que os alunos possuem não sejam suficientes para explicar ou interpretar certos
factos. Deste modo, através destas carências se promova a insatisfação no aluno, para que
o incentive a ir em busca de explicações mais adequadas ou coerentes (Cubero, 2005).
Assim, a mudança concetual,
concebe a aprendizagem como um exercício de racionalidade em que a criança deve
continuar julgando os factos da sua experiência, procurando alternativas mais
plausíveis de acordo com a disciplina científica de referência e aceitar novas
conceções que sejam superiores às anteriores em relação ao poder explicativo (p.
128).
Não obstante, Fensham, Gunstone & White, (1994, citado por Gunstone &
Mitchell, 2000) consideraram que a mudança concetual não é uma substituição drástica
de conceitos, mas sim uma ampliação de informações que o aluno usa para descriminar
as situações em que é favorável utilizar uma ou outra forma de explicação.
Outros modelos de mudança concetual salientam a ideia de que a apropriação de
conceitos científicos é determinada pelas conceções alternativas. Assim sendo, são as
conceções alternativas que influenciam as observações e interpretações que os alunos
fazem nas aulas (Santos, 1998).
Nesse sentido, reside a ideia de que só os alunos podem construir/reconstruir as
novas ideias, isto é “o processo de aprender implica que, quem aprende recorra aos seus
esquemas (ou maneiras de pensar) para enfrentar uma situação que tenta compreender”
(Santos, 1998, p. 173).
Porém, o que se verifica, é que os alunos aceitam um conceito científico em
contexto formal, mas posteriormente noutro contexto informal voltam a usar o conceito
prévio. “A mudança concetual é, assim instável e dependente do contexto” (Gunstone &
Mitchell, 2000, p. 132).
Santos (1998), também afirma que a mudança não é fácil, aludindo que “o
conhecimento constrói-se por reestruturações sucessivas” (p. 174). As ideias que os
alunos detêm estão amplamente articuladas a outras ideias de forma complexa e
consequentemente, para mudar, por vezes, uma ideia, implicaria sobretudo, repensar
outras (ibidem).
26
Os modelos de mudança concetual proposto por Santos (1998) defendem que são
os alunos na sua atividade que permitem organizar/reorganizar os conhecimentos em
esquemas e cada um com a sua estrutura própria. Assim, é ao aluno que compete “traçar
os degraus do familiar para o novo, da conceção que processou para o conceito de que se
irá apropriar” (Santos, 1998, p. 174). Segundo este autor, estes modelos de mudança
concetual reúnem três pontos fundamentais, são eles:
1. necessidade de partir sempre do que o aluno já sabe;
2. necessidade de haver mudança concetual;
3. necessidade do aluno desempenhar um papel ativo em tal mudança,
traçando os degraus do familiar para o novo.
Ainda, deve ser dada uma verdadeira importância à representação inicial que o
aluno faz aquando confrontado com o problema a resolver. O aluno tem de se aperceber
que na abordagem de uma nova problemática, a mesma já existe antes de selecionar as
estratégias adequadas e necessárias para a resolver (Santos, 1998).
O fator tempo é também relevante, na medida em que o aluno tem propensão a
facultar respostas rápidas, sem, por vezes, refletir. Devendo-se conceder, deste modo,
“um primeiro tempo de espera (wait-time) após uma questão e um segundo tempo de
espera após a resposta do aluno para que ele possa melhorar e explicitar essa primeira
resposta” (Santos, 1998, p. 191). Consequentemente, toda a atenção será focalizada nas
estratégias que se instituem como pontes estre essas conceções.
Constituídos estes factos, importa dizer, que a “mudança concetual estável e
duradoura é conseguida quando o aluno reconhece algo relevante que seja comum a todos
os contextos, e a generalidade da conceção científica por todos estes contextos” (Tao &
Gunstone, 1997, citado por Gunstone & Mitchell, 2000, p. 132).
O professor no processo de ensino e aprendizagem deverá desempenhar o papel
de “provocar, com a sua intervenção, desequilíbrios no equilíbrio inicial dos esquemas de
conhecimento do aluno, e tem de desempenhar, evidentemente, um papel muito
importante na busca do reequilíbrio posterior” (Mauri, 2001, p. 95).
É necessário haver conflitos para se construírem novas aprendizagens, estes
conflitos ativam o pensamento. “A partir de uma situação nova que vem perturbar o
campo atual, criando assim um desequilíbrio que o sujeito terá de compensar com uma
adaptação de que resultará um reequilíbrio valorativo” (Piaget, 1967, citado por Bertrand,
2001, p. 128).
27
O desequilíbrio é desencadeado, por vezes, pela insatisfação relativamente às
próprias ideias e “pela necessidade de as rever, reorganizar e ajustar de novo” (Mauri,
2001, p. 95).
Seguidamente será apresentado estratégias (adaptadas) metodológicas de
desestruturação em três fases congruentes: consciencialização, desequilibração e
familiarização (Santos, 1998).
Consciencialização: A ideia principal nesta fase passa por “levar o aluno a
consciencializar e a explicar as suas certezas. Não se destina a proporcionar a
compreensão dos conceitos científicos, mas apenas, a explorar ideias próprias, chamando-
as à consciência, clarificando-as, formulando-as, explicitando-as e discutindo-as”
(Santos, 1998, pp. 211-212). Também Mauri (2001) refere que é necessário “dar-lhes a
oportunidade de rever a fundo essas ideias, alargando as experiências que eles já possuem
sobre o tema, de modo a que consigam aperceber-se das suas limitações e possam
procurar alternativas” (p. 95).
O professor tem o papel fundamental de facultar ao aluno tempo e espaço
necessários para este refletir sobre o que já sabe, e proporcionar atividades que o incentive
a recorrer às suas ideias correntes e a explicitá-las para os colegas, para o professor e
principalmente para ele próprio (Santos, 1998).
De acordo com o mesmo autor “considerando que alunos diferentes atribuem
significados diferentes às mesmas afirmações, há que guiar o diálogo no sentido da
consciencialização das diferentes interpretações atribuídas ao que está a ser dito” (p. 212).
Desequilibração: Esta fase tem como intento levar os alunos a questionarem-se
sobre o que já sabem, “a consciencializar que a sua própria subjetividade se pode tornar
obstáculo” (Santos, 1998, p.213). Por isso, o autor considera que “os alunos, em vez de
se centrarem nas suas próprias ideias, (…), se centrem no pensamento de outras pessoas
– pensem acerca do pensamento dos seus pares (colegas de turma)” (p.213). Torna-se
fulcral encaminhar o aluno à reflexão sobre o que ainda não sabe, a avaliar e explicitar o
desenvolvimento do seu pensamento em detrimento das dos outros. Este desequilíbrio de
formas de pensar e desmontagem das suas ideias favorecerá o aparecimento de conflitos
cognitivos.
28
É no confronto de ideias com as dos outros “que vai permitir a cada aluno dar-se
conta das divergências existentes entre o seu eu e o de outrem e a não tomar como
absolutas as suas perceções e conceções” (Santos, 1998, p. 215).
A interação social favorece a aprendizagem no que se refere à criação de conflitos
cognitivos, causando a mudança concetual. Como salienta Carretero (1997) “o
intercâmbio de informação entre companheiros que têm diferentes níveis de
conhecimento provoca uma modificação dos esquemas do indivíduo e acaba produzindo
aprendizagem, além de melhorar as condições motivacionais da instrução” (p. 19).
A fase da desequilibração passa por uma discussão aberta, conduzida pelo
professor, fazendo este o papel de mediador entre o aluno e o ambiente de aprendizagem.
Familiarização: Após realizada a análise das próprias conceções, nesta fase
torna-se essencial, que os alunos entrem em contacto com as novas abordagens e se
exprimam em termos científicos (Mauri, 2001). Considera-se relevante “familiarizá-los
com teorias ou modelos mais preditivos ou explicativos e promover o seu uso para a
solução de diferentes problemas” (Mauri, 2001, p. 95).
Note-se que a mudança de ideias não ocorre de forma imediata, existem
dificuldades não só internas como externas que dificultam, por vezes, essa mudança,
podendo contribuir para a rejeição do novo conteúdo adquirido (Santos, 1998).
O professor deverá recorrer a várias estratégias, tais como, analogias e metáforas,
de forma a possibilitar “uma clara distinção entre significados metafóricos e científicos,
(…) para iluminar conceitos para os quais não há palavras próprias” (Santos, 1998, p.
217).
De salientar, que a ideia de conflito cognitivo “deve ser entendida como a
existência de pontos de vista distintos, ao tentarmos coordenar as próprias ações ou
ideias” (Miras, 2001, p. 96).
Neste âmbito, Bertrand (2001, p. 130) alude para a importância que o conflito
cognitivo possui na aprendizagem, apresentando as seguintes razões:
- “permite à criança ganhar consciência de respostas diferentes das suas e comparar
a diversidade dos pontos de vista; isto obriga-a a descentrar-se relativamente à sua
resposta inicial;
- o conflito aumenta a probabilidade da criança se cognitivamente ativa, visto que há
uma certa necessidade de regulações sociais ou, até, de uma coordenação nos atos
exigidos por uma dada situação;
29
- a criança aprende a descobrir informações (interessantes, imprevistas, conhecidas,
tranquilizadoras, falsas, pouco importa) nas respostas dos outros, que lhe serão úteis
na construção do seu conhecimento;
- o conflito pode levar o estudante a aceitar estar numa situação de mudança e a
cooperar no sentido da resolução de problemas”.
O Erro no processo de ensino e aprendizagem
Os alunos ao errarem no processo de ensino e aprendizagem, apresentam dois
diferentes tipos de comportamentos: de motivação e/ou desmotivação.
Cabe à escola, principalmente ao professor mediador, atribuir aos alunos alguma
responsabilidade no que se refere à seleção e tomada de decisões sobre as tarefas e, na
avaliação dos resultados. Desta forma, os alunos não só irão compreender ativamente os
princípios envolvidos como os procedimentos da tarefa, levando a um aumento da sua
motivação, que consequentemente auxilia no sucesso da concretização da tarefa (Fosnot,
1999).
De acordo com Wells & Chang-Wells (1992, citado por Fosnot, 1999):
cada ponto de vista dos alunos é um ponto de entrada educativo que se situa na porta
de acesso ao ensino personalizado. Os professores que operam sem conhecimento
dos pontos de vista dos seus alunos frequentemente condenam-nos a experiências
aborrecidas e irrelevantes a até mesmo ao fracasso (p. 145).
Os erros, não devem ser menorizados nem evitados, mas entendidos como um
resultado das conceções prévias dos alunos (Fosnot, 1999).
Sendo que a postura pedagógica que o professor assume, de mediador na
construção do conhecimento do aluno ativo, possibilitará a aquisição por parte dos alunos
de um número elevado de hipóteses e estratégias, sendo estas posteriormente substituídas
por outras mais convencionais.
Os professores devem interessar-se por descobrir a razão pela qual ocorrem esses
erros e utilizá-los para fomentarem a aprendizagem dos alunos (Coll et al., 2001). Os
erros informam sobre como o aluno está a reestruturar o conhecimento prévio, quando
contactado com o novo conhecimento/conceito (Carretero, 1997).
Ausubel (1978, citado por Carretero, 1997) denominou por organizadores prévios,
representações que fazem com que o aluno estabeleça relações apropriadas entre o novo
30
conhecimento com o que já possui. Trata-se de pontes cognitivas para passar de um
conhecimento menos elaborado ou incorreto a um conhecimento mais elaborado.
O professor deve estimular os alunos, principalmente nos processos de
descobrimento, estimulando a atividade por parte do aluno, pois tudo o que se ensina ao
aluno é impedido a este que o descubra (Carretero, 1997). A transmissão é considerada
como passividade dentro da sala de aula, não favorecendo a aprendizagem do aluno.
Bachelard (1928, citado por Santos, 1998) considera o erro um elemento impulsor
do conhecimento. Para este autor, o professor deve reconhecer e encarar os erros como
sendo positivos e úteis num processo que se considera ativo na construção do
conhecimento (ibidem).
31
Capítulo III - Metodologia de Investigação e Intervenção
O projeto de investigação e intervenção pedagógica teve como principal enfoque
o levantamento das conceções prévias dos alunos no início de cada atividade integradora.
Desta forma, a concretização do Projeto Curricular Integrado (PCI) possibilitou valorizar
essas experiências e ideias prévias dos alunos para a construção de novas aprendizagens.
No presente capítulo é apresentada uma breve alusão à metodologia de
Investigação-Ação, enquanto estrutura metodológica do projeto de investigação e
intervenção pedagógica. Esta metodologia visa observar, refletir e analisar a prática ao
longo do projeto e realizar ajustes no desenrolar das atividades em função dessa
avaliação/reflexão.
Seguidamente, é apresentado o foco de intervenção, os objetivos pretendidos com
a realização do projeto, as técnicas e instrumentos utilizados na recolha de dados e, por
último, as estratégias de intervenção, fazendo uma abordagem ao PCI.
Metodologia de Investigação-Ação
O projeto desenvolvido na intervenção pedagógica seguiu algumas caraterísticas
da metodologia Investigação-Ação (I-A), favorecendo a observação, reflexão e análise
crítica sobre a prática, e, consequentemente a sua reformulação e melhoria.
A metodologia de I-A foi sofrendo ao longo dos tempos reformas concetuais,
gerando alguma controvérsia entre autores. Por outro lado, estes destacavam uma mesma
ideia: a importância da reflexão sobre a ação para a condução da investigação (Máximo-
Esteves, 2008).
Jonh Elliott (1991, citado por Máximo-Esteves, 2008) apresenta uma proposta de
focalização da investigação-ação no desenvolvimento curricular, definindo esta
metodologia como um estudo de uma situação social com o intuito de aprimorar a
qualidade da ação. Neste seguimento, Máximo-Esteves (2008) afirma que a investigação-
ação tem como finalidade
apoiar os professores e os grupos de professores para lidarem com os desafios e
problemas da prática e para adotarem as inovações de forma refletida. Os
professores não só contribuem para melhorar o trabalho nas suas escolas, mas
32
também ampliam o seu conhecimento e a sua competência profissional através
da investigação que efetuam (p. 18).
Segundo Latorre (2003), as aulas são concebidas como uma atividade
investigadora e a investigação como uma atividade autorreflexiva, concretizada pelo
professor com o intuito de melhorar a sua prática. Neste sentido, refletir sobre a ação
contribui para uma maior compreensão da própria e do contexto em que esta se insere.
De seguida, será apresentado na Figura 4 (adaptado) a visão tradicional em
confronto com a atual relação entre a teoria e a prática, e continuada reformulação de
ambas:
Figura 4 - Processo de teorização (retirado de Latorre, 2003, p.14, de Whitehead, 1995)
A estratégia implementada por Whitehead (1995, citado por Latorre, 2003)
envolve o diálogo entre a teoria, a prática e principalmente uma reformulação contínua
de ambas. A prática é vista como o ponto de partida, como apoio de formação, de reflexão
e sucessiva construção – transformação/reformulação. Este processo presume uma
mudança essencial das práticas investigativas, em que o professor pode e deve investigar
as suas propostas educativas, construindo importantes teorias sobre a sua prática (Latorre,
2003).
Como alude Stenhouse (1975, citado por Silva, 1996), cabe aos professores
melhorar a sua capacidade de criticar as práticas, à luz das suas convicções e estas, à luz
das suas práticas, constituindo a base da investigação e da inovação no processo de ensino
e aprendizagem.
Kemmis & McTaggart (1988, citado por Latorre, 2003, p. 25) caraterizaram a
metodologia investigação-ação como: i) participativa; ii) colaborativa; iii) criadora de
comunidades autocríticas; iv) um processo sistemático de aprendizagem; v) refletir sobre
prática; vi) práticas testadas; vii) implica registar, reunir e analisar; viii) um processo
33
político; ix) realizadora de análises críticas das situações; x) pequenos ciclos de
planificação, ação, observação e reflexão.
O processo de I-A não se limita unicamente a um ciclo, tendo como conceito
primordial a alteração das práticas sucessivas, como está representada na seguinte figura
em espiral de ciclos (Coutinho, 2008):
Figura 5 - Espiral de ciclos da Investigação-ação
A I-A rege-se por um conjunto de fases, sendo apresentado em forma de uma
espiral de ciclos: planificação, ação, observação e reflexão. Ao interligarem-se,
permitem ao professor investigador realizar processos de reflexão-ação-reflexão
sucessivos para a concretização de mudanças e (re)planificação da sua prática (Coutinho,
et al., 2009) com vista a melhorar a educação através da mudança e a aprender através
das consequências dessas alterações (Latorre, 2003). Para sustentar este processo, a
metodologia investigação-ação distingue-se pela sua flexibilidade de adaptação ao
contexto, permitindo ao professor/investigador observar e agir consoante as necessidades
e especificidades da turma, readaptando-o. Esta prática tem como objetivo fundamental
melhorar e reformular as intervenções futuras tendo como grande influenciador para este
fim, as interações dos alunos.
Foco de Intervenção e Objetivos do Projeto
O foco do projeto de investigação, intitulado “Trajeto(s) na construção do
conhecimento: das conceções prévias às novas aprendizagens”, foi desenvolvido com
34
uma turma do 2º ano escolaridade do Ensino Básico de um Agrupamento de Escolas da
cidade de Braga.
Tem como principal enfoque o estudo da relevância e significado das conceções
prévias dos alunos e, partindo destas, a construção de novas aprendizagens. Nas palavras
de Miras (2001) os “conhecimentos prévios não só permitem um contacto inicial com o
novo conteúdo, como são, também, fundamentais para a construção de novos
significados” (p. 58). Desta forma, considera-se relevante refletir sobre a importância das
ideias e experiências que os alunos são portadores e que trazem para a escola e para dentro
da sala de aula, bem como a sua influência na construção de uma aprendizagem
significativa.
A questão de investigação centrou-se em:
“Qual o contributo das conceções prévias para a construção de novas
aprendizagens?”
Para o presente estudo, foram organizados os seguintes objetivos de investigação
e de intervenção:
Objetivos de investigação:
Compreender a importância das conceções prévias dos alunos para a construção
de novas aprendizagens;
Compreender a importância dos conhecimentos pré-adquiridos na aquisição de
novas aprendizagens;
Avaliar o progresso das ideias prévias dos alunos, e mudanças conceptuais dessas
mesmas ideias.
Objetivos de intervenção:
Fomentar a expressão das ideias prévias dos alunos, promovendo o diálogo, a
partilha de ideias/saberes, o debate, e a discussão crítica;
Promover a reconstrução das conceções prévias, através de novas aprendizagens
que suscitem o conflito cognitivo;
Promover a aprendizagem de novos conteúdos através do confronto dos
conhecimentos prévios com as novas aprendizagens;
Estimular questões reflexivas adequadas ao contexto social dos alunos.
35
Técnicas e Instrumentos de Recolha de Dados
Qualquer investigação carece de dados objetivos e concretos. Como refere
Coutinho e seus colaboradores (2009), para uma investigação de acordo com a
metodologia investigação-ação “é sempre necessário pensar nas formas de recolher a
informação que a própria investigação vai proporcionando” (p. 373).
No desenvolvimento deste projeto, os instrumentos utilizados na recolha de dados
demonstraram-se cruciais para a concretização do mesmo, como na reflexão final de cada
atividade integradora, com o intuito de planificar posteriores intervenções. Esta recolha
dos dados sustentou-se na observação participante e respetivas notas de campo com a
apresentação dos diálogos dos alunos, bem como nos registos/produções dos alunos
(fotográficos, audiovisuais, pictóricos e escritos).
Neste estudo, o professor/estagiário assumiu o papel de investigador e recorreu à
observação direta e participante, de forma a permitir “o conhecimento direto dos
fenómenos tal como eles acontecem num determinado contexto” (Máximo-Esteves, 2008,
p. 87). Desta forma, as observações tiveram como principal foco as ações e interações
dos alunos, que após registadas nas notas de campo e analisadas, permitiram a
(re)planificação de propostas de atividades. O professor através dessas notas de campo
“vê, ouve, experiencia e medita sobre o que acontece à sua volta” (Máximo-Esteves,
2008, p. 88).
As notas de campo decorreram assim especialmente em dois grandes momentos
de observação participada: o momento em que ocorre e o momento após a ocorrência
(Máximo-Esteves, 2008). O “momento em que ocorre” resultou de pequenas anotações
redigidas dentro da sala de aula nos momentos de trabalho (frases, palavras-chave…) que
foram depois acrescentadas e analisadas. Para além desses registos breves e pontuais, o
recurso às fotografias e vídeos permitiu a recolha do processo de elaboração e produção
dos trabalhos desenvolvidos pelos alunos, que serviram como peças chave e
indispensáveis para compreender e analisar as aprendizagens que estes construíram no
decurso de todo o projeto investigativo.
O “momento após a ocorrência” decorre sob forma de “anotações extensas,
detalhadas e reflexivas, elaboradas depois da aula” (Máximo-Esteves, 2008, p. 88). Estas
anotações foram realizadas em forma de reflexões semanais e para o portefólio, passando
36
por um registo extenso e reflexivo de acontecimentos, preocupações, aprendizagens…
das anotações efetuadas no momento anterior.
Estratégias de Intervenção
Ao longo da intervenção pedagógica realizou-se sempre o levantamento das
necessidades e interesses dos alunos, bem como das suas experiências e ideias iniciais na
construção e desenvolvimento do Projeto Curricular Integrado (PCI).
Estes momentos decorriam em diálogo em grande e pequeno grupo de trabalho,
tendo como especial propósito levar cada um dos alunos a (re)pensar sobre os seus
conhecimentos/conceitos, promover momentos de discussão e partilha de saberes. Assim,
em momento de trabalho de grupo permitiu, ainda, aos alunos desenvolver o espirito de
equipa, a colaboração e cooperação, sendo os alunos “co-responsáveis não só pela
realização do trabalho específico em curso, como (…) pela organização e gestão do
próprio grupo” (Sim-Sim, 2005, p. 17).
Relativamente aos alunos com Adequações Curriculares (AC) e Necessidades
Educativas Especiais (NEE), recorreu-se a uma diferenciação de estratégias,
principalmente no levantamento das ideias prévias. No decorrer do mesmo projeto de
intervenção, para além da diferenciação de estratégias, também se procedeu à
diferenciação curricular, de maneira a integrá-los no trabalho da turma e/ou do respetivo
grupo de trabalho.
A turma foi envolvida no decorrer do PCI “em processos de aprendizagem ativos,
assentes em metodologias de descoberta, e apoiados em atividades intelectuais de
construção de saber” (Roldão, 1995, p. 31). Privilegiado de metodologias investigativa,
colaborativa e reflexiva, a construção e desenvolvimento do PCI parte do que o aluno já
sabe, das suas conceções sobre determinado conteúdo, fomentando a dinâmica das
práticas, desta forma:
estimula a observação, a curiosidade, a pesquisa e a atitude científica perante a
realidade, de forma a, progressivamente, ampliar e modificar as suas conceções,
tornando a aprendizagem mais significativa, refletida e funcional, e desenvolvendo
um pensamento crítico e consciente sobre a mesma (Alonso, 2001, p.16).
Neste sentido, a elaboração do PCI parte sempre dos alunos de modo a que eles
desenvolvam saberes e construam aprendizagens, tanto ao nível cognitivo como social,
37
de forma fruída e significativa. Este processo incide progressivamente na mudança das
conceções e atitudes (Alonso, 2001).
Tendo como organização sequencial a planificação, o desenvolvimento e a
avaliação, o PCI é envolvido por questões geradoras definidas pelos alunos. Estas
questões são constituídas por atividades integradoras globalizantes, significativas e
contextualizadas na experiência e nas conceções prévias dos alunos, de forma a construir
um sentido pessoal e funcional, que responda ao núcleo globalizador (Alonso, 2001).
As atividades integradoras privilegiam as metodologias de investigação, reflexão
e colaboração, para que desta forma o aluno possa dar sentido e relevância ao que aprende,
transferindo esse conhecimento para as novas situações/problemas que se depare ao longo
da vida. O principal ponto de partida para a construção, desenvolvimento e avaliação do
PCI, focaliza-se na identificação dos conhecimentos prévios, interesses, potencialidades,
curiosidades dos alunos e a realidade do contexto.
No PCI, professores e alunos assumem-se como investigadores de um
determinado tema ou questão-problema, ao mesmo tempo que trabalham conteúdos das
áreas curriculares e não curriculares do Currículo Nacional e programas (Alonso, 2001).
Numa prática curricular aberta e flexível, própria do PCI, e numa conceção construtivista
do desenvolvimento humano, a aprendizagem ativa, dinâmica e cooperativa leva a prática
a um “processo de construção pessoal e social do conhecimento, o qual é elaborado
através de um processo interativo de reestruturação contínua das ideias sobre a realidade
e dos esquemas de conhecimento” (Alonso, 2001, p.4).
As características que o Projeto Curricular tem assente como orientadores para a
sua concretização são as seguintes: i) detentor de um “desenho aberto, reflexivo e
dinâmico”; ii) parte dos interesses e conceções iniciais dos alunos; iii) é planificado de
forma participada e negociada em diálogo com os alunos da turma; iv) orientado por
princípios e finalidades; v) é articulado em torno de uma questão relevante para a turma;
vi) está enraizado no meio envolvente (Alonso, 2001, p. 3).
38
Capítulo IV - Intervenção: Das Conceções Prévias às Novas
Aprendizagens5
Vários autores, anteriormente referidos no enquadramento teórico, alertam-nos
para a relevância dos conhecimentos e experiências de vida que o ser humano possui no
processo de construção de novos conhecimentos e saberes. Por isso, esse é o foco central
de estudo no presente projeto de intervenção.
Através de uma observação participante do e no contexto e turma, foram definidas
opções e prioridades de ação e toda a construção do desenho global do projeto. Partindo
desta construção e desenvolvimento do PCI, apresentam-se as conceções prévias dos
alunos ao longo das questões geradoras e avaliação das suas novas aprendizagens.
Desenvolvimento do Projeto de Intervenção
O desenvolvimento do projeto teve como orientação o Projeto Curricular de
Turma (PCT) “to be or not to be” e o Projeto Educativo do Agrupamento (PEA),
denominado “Desafios do séc. XXI”. O PEA constitui uma proposta para o
desenvolvimento de práticas pedagógicas inovadoras que capacitem os alunos a pensarem
criativa e criticamente sobre a cultura e a identidade, de forma a dar resposta aos desafios
da sociedade pós-moderna (Roldão, 1995; Oliveira & Milhano, 2010).
Entendemos que esta abordagem do PEA sugeria uma trajetória que poderia ter
como ponto de partida a área curricular de Estudo do Meio. Assim, através do meio físico
e social, foram abordadas temáticas que tinham como especial enfoque a realidade mais
próxima dos alunos. Este contexto de proveniência dos alunos e, consequentemente, onde
se localizava a escola, é caracterizado por uma diversidade étnica e cultural com
diferentes ritmos de aprendizagens e níveis de desempenho escolar. Partindo sempre das
experiências vivenciadas pelos alunos, considerou-se fundamental proporcionar-lhes,
posteriormente, um contacto com as realidades e situações que ampliavam a sua visão de
mundo porque ultrapassavam as barreiras do seu meio próximo.
Como refere o ME (2004), um dos objetivos gerais do Ensino Básico é que “sejam
equilibradamente inter-relacionados o saber e o saber fazer, a teoria e a prática, a cultura
5 Informação retirada e alterada do Portefólio da Prática de Ensino Supervisionada II de Daniela Silva, 2016
39
escolar e a cultura do quotidiano” (p.12). Deste modo, o estudo da caraterização do
contexto tornou-se crucial para fundamentar as propostas de atividades indo ao encontro
das diferentes culturas, com respetivos corpos de valores e códigos linguisticamente
diversificados, de forma a não gerar falta de compreensão por esses alunos (Roldão,
1995).
Face à heterogeneidade da turma quanto ao nível do conhecimento, tornou-se
relevante pensar em adequar curricular e pedagogicamente as tarefas propostas aos alunos
com Necessidades Educativas Especiais (NEE) e Adequações Curriculares (AC),
incluindo-os no trabalho geral da turma. O principal objetivo centrou-se em garantir o
desenvolvimento dos alunos e das aprendizagens, ainda que os percursos e objetivos a
desenvolver fossem díspares, ou seja, nem todos tinham que percorrer os mesmos
caminhos, nem alcançar os mesmos objetivos, sendo esta uma conceção de escola para
todos (Sim-Sim, 2005).
Como surgiu?
Na abordagem de um texto alusivo às profissões na área curricular de Português
e após a leitura do mesmo, denotou-se grande entusiasmo por parte dos alunos aquando
questionados “O que querem ser quando forem grandes?”, a qual gerou um momento de
diálogo paralelo, como revelam as seguintes notas de campo:
R.: “Quero ser motorista dos autocarros”
M.: “Quero ser costureira”
J.: “Quero ser mecânico”
C.: “Quero ser futebolista”
A.: “Quero ser manicura”
C.: “Quero ser cabeleireira”
G.: “Quero ser pintor de carros ou aviões “
As ideias dos alunos relativamente à questão apresentada parecem revelar uma
focalização no contexto cultural e socioeconómico dos seus meios próximos, que
certamente manifestam impacto no processo de desenvolvimento e aprendizagem desses
mesmos alunos. Como se pode observar, as ideias da maioria dos alunos faziam referência
às profissões dos seus familiares, tendo como exemplo o caso do aluno de etnia cigana
que respondeu “Quero ser feirante”. Logo, em reflexão e análise destes discursos,
verificou-se que os alunos escolheram profissões que estão diretamente em contacto nas
40
vivências do seu dia-a-dia. Segundo Freinet (1981, citado por Antunes, 2001) “o contexto
cultural e político, assim como as condições socioeconómicas dos pais e das crianças
influenciam de forma decisiva o processo de educação-aprendizagem (…) não se pode
dissociar escola e sociedade, pedagogia e política” (p. 136).
Nesta mesma linha de pensamento, o ME (2004) lembra que se deve privilegiar o
meio local e o meio em que a criança se desloca, pois esta é a “primeira aprendizagem
metódica e sistemática da criança já que, nestas idades, o pensamento está voltado para a
aprendizagem concreta” (p.101). Com a preocupação assente no meio, a exploração da
temática das profissões na área curricular do Estudo do Meio, apresentada no Currículo
Nacional, permitiu uma abordagem transversal e integrada a todas as outras áreas
curriculares e não curriculares do 2ºano de escolaridade.
Numa primeira atividade para o desenvolvimento do projeto, recorreu-se a um
levantamento das ideias dos alunos, colocando a questão ao grupo “O que é uma
profissão?”, de forma a concretizar uma “chuva de ideias” que respondesse às seguintes
questões: “O que sabemos?”, “O que queremos saber?” e “Como vamos saber?” (Figura
6). Pretendia-se a sistematização das ideias dos alunos de forma a ser possível a
construção e desenvolvimento do Projeto Curricular Integrado (PCI).
Figura 6 – Registos dos alunos
Em diálogo, os alunos apresentaram as suas ideias, respondendo à questão “O que
queremos saber?”. Nesta troca de ideias entre os alunos, era observável a curiosidade
destes em conhecer as profissões dos seus familiares, mas também de outras profissões
distantes da sua realidade, como por exemplo, “O que faz o detetive?”.
41
Com o intuito de investigar algumas profissões e, com o curto intervalo de tempo
para o desenvolvimento do PCI, os alunos tiveram de selecionar três profissões a
investigar, através de um momento de votação.
O G. apresentou uma questão interessante “O professor de ciências e o cientista
não é a mesma coisa?”, e que provocou um debate em grande grupo sobre o professor de
ciências e o cientista serem a mesma profissão ou não, tirando a turma a conclusão de que
“ciência é ciência” e “professor é professor”.
Assim, surgiu uma questão relevante e do interesse dos alunos, que constitui o
núcleo globalizador, intitulado “Será que existe ciências nas profissões?”. O núcleo foi
respondido através da exploração das diferentes questões geradoras que integram o PCI
(Quadro 3), relacionando meio próximo, realidades profissionais desconhecidas e ciência.
Quadro 3 - Núcleo globalizador e as questões geradoras do projeto a desenvolver
As atividades de ciências fomentam a comunicação e, por norma, os alunos
mostram-se participativos e motivados, promovendo a capacidade de o aluno pensar.
Assim, as ciências “enquanto processo, enquanto método de descoberta, promovem
oportunidades excelentes para uma aprendizagem centrada na ação e na reflexão sobre a
própria ação” (Sá, 2002, p. 30).
Ao mediar os alunos no desenvolvimento da curiosidade e da criatividade,
fomentamos a investigação e a aprendizagem progressivas. Ouvir as suas ideias, desafia-
las e confrontá-las com ideias novas despertará formas de pensar com significado muito
para além dos acontecimentos da ciência (Williams, Rockwell & Sherwood, 1995).
Núcleo Globalizador
"Será que existe ciência nas profissões?"
1ª Questão Geradora
"Que profissões existem na minha
família”
2ª Questão Geradora
“Será que todos os pintores desenham e
depois pintam?”
3ª Questão Geradora
"O que faz um detetive?”
43
Intervenção Pedagógica
Durante o projeto partiu-se sempre da primeira abordagem que caracteriza o PCI,
considerando fundamental um levantamento das ideias/conhecimentos prévios dos alunos
para que, numa fase posterior, os alunos construíssem novas aprendizagens, numa
atividade construtiva de significados e representações.
Ao longo deste documento será realizada uma descrição e reflexão sobre as
seguintes situações: i) o primeiro momento de levantamento das ideias/conhecimentos
prévios dos alunos que, serviu de orientação para a concretização do PCI; ii) as atividades
integradoras da 1ª questão geradora; iii) a avaliação, contínua e final, que se revelou
fundamental para (re)planificar as propostas de atividades seguintes; iv) a divulgação do
projeto.
Para a realização deste relatório optou-se pela abordagem apenas da 1.ª questão
geradora. Esta opção deve-se ao facto de ser o início do projeto e, consequentemente, o
início de estratégias curriculares e pedagógicas inovadoras para o grupo. Nas questões
geradoras que se seguiram, os alunos participavam, num registo semelhante ao verificado
na primeira questão geradora e, por isso, a nossa opção de apenas apresentar e refletir
sobre a 1.ª questão geradora. Pretendia-se neste momento, e porque de um projeto de
investigação se trata, verificar/averiguar as mudanças observadas nos alunos e na sua
participação e envolvimento na tarefa, tendo em consideração, e como ponto de partida,
as suas ideias prévias.
Primeiro Momento de Levantamento dos Conhecimentos Prévios dos
Alunos: uma orientação para a concretização do PCI
Partindo dos interesses relativamente à temática das profissões, a atividade no
primeiro momento iniciou-se com a representação pictórica da questão “O que é para
mim uma profissão?” (Figura 7).
44
Figura 7 - Registo pictórico "O que é para mim uma profissão?"
No decorrer deste primeiro registo, alguns alunos apresentaram dificuldades em
manifestar as ideias prévias sobre a questão proposta devido à incompreensão do
significado “profissão”, verbalizando “Eu não sei o que é uma profissão” (G.R);
“Professora eu não sei o que é profissão” (G.6) Com base neste discurso, e de forma a
ultrapassar as dificuldades apresentadas, houve a necessidade de a estagiária
investigadora reformular a questão para “O que é para ti trabalhar?”, apresentando um
vocabulário adequado aos alunos, obtendo deste modo, as ideias prévias por parte destes
dois alunos:
G.R: “É acordar cedo e ter um dia atarefado como o professor”
G.: (etnia cigana): “É um senhor construir casas”
Concretizada a tarefa proposta (Figuras 8, 9 e 10), os alunos apresentaram os seus
registos pictóricos à turma e realizaram uma leitura dos próprios. Deste modo, os alunos
proferiram:
Figura 8 - S.: "Ser professora" Figura 9 - M.: "Ser costureira" Figura 10 - R.: "Construir casas"
R.: “É ter uma vida atarefada”
6 G. era um aluno de etnia cigana
45
G.: “É ser futebolista”
M.: “É trabalhar, orgulhamo-nos, gostarmos do trabalho que temos
e sermos felizes com o que fazemos”
J.: “É trabalhar”
C.: “Para mim uma profissão é ser professor. Fazer atividades e
ensinar os meninos”
G.: “É ser pintor”
J.: “É ser atriz”
C.: “É ser cansativo”
M.: “É ter uma loja”
No final construiu-se uma “chuva de ideias” no quadro, respondendo à questão
“O que sabemos?”.
No levantamento de ideias sobre “O que sabemos?”, dando resposta à questão
principal “O que é para mim uma profissão?”, foi fundamental recolher novamente mais
conhecimentos prévios para a mesma questão, pois os dados apresentados até ao
momento eram insuficientes para poder ter um ponto de partida sólido. Assim, os alunos
elaboraram uma ficha de registo com a frase “Eu quero ser…porque…” e o respetivo
registo pictórico da profissão (Figura 11).
Figura 11 - Registos "Eu quero ser... Porque..."
No final apresentaram o trabalho à turma e expuseram o motivo da escolha da
profissão (Figura 12).
46
Figura 12 - Apresentação da ficha "Eu quero ser...Porque…”
R.: Eu quero ser, “motorista de táxi”. Porque “gosto muito de carros e
gostava de transportar pessoas”;
M.: Eu quero ser, “corredor de carros”. Porque “gostava de fazer corridas
e competições”;
P.: Eu quero ser, “polícia”. Porque “gosto de estar atarefado e também de
prender ladrões”;
G.: Eu quero ser, “pintor de quadros”. Porque “é divertido e posso fazer
autorretratos”;
A.: Eu quero ser, “atriz”. Porque “apareço na televisão, recebo dinheiro e
faço muitos filmes e novelas”.
Em momento de diálogo e partilha em grande grupo, os alunos interrogavam-se
sobre as várias profissões existentes para completarem a “chuva de ideias”, surgindo,
deste modo, a questão do núcleo globalizador e as sucessivas questões geradoras.
E qual foi a intervenção/participação dos alunos com Adequações Curriculares
(AC) e Necessidades Educativas Especiais (NEE)?
Os alunos com AC e NEE, que no primeiro momento realizaram registos opostos
ao que era pedido na folha de registo. Neste sentido, apresento o registo do G. (etnia
cigana) que respondeu que uma profissão era construir casas (Figura 13), e, o registo da
C. (AC) que desenhou o recreio (Figura 14), sendo percetível a importância que a escola
tem para a aluna.
47
Figura 13 - Registo pictórico do G. "construir casas"
Figura 14 - Registo pictórico da C. “recreio”
Para esta primeira atividade de preenchimento de uma folha de registo, foi
fundamental efetuar adequações nos registos. Assim, a figura 15 apresenta o registo
preenchido pelos alunos com NEE e AC e a figura 16 apresenta o registo elaborado pelos
restantes alunos.
Na primeira figura, está apresentado registo do G. (AC) que refere “Eu quero ser
feirante” (Figura 15), remetendo-nos para a ideia que a visão do meio próximo é a
referência que detém do termo “profissão”.
48
Figura 15 - Registo do G. "Eu quero ser...” com adequações curriculares
Figura 16 - Registo do R. “Eu quero ser...Porque" sem adequações curriculares
Neste mesmo debate os alunos salientaram que gostariam de investigar primeiro
“Que profissões existem na minha família”, nomeadamente o nome da profissão que os
pais exerciam assim, como a profissão dos avós. Esta última surge em conversa com o R.
que curiosamente referiu “A profissão da minha avó é ver televisão”.
49
Uma possível análise…
Aquando apresentada a questão “O que é uma profissão?”, alguns alunos não
compreenderam o significado do termo profissão, sendo que as estagiárias investigadoras
consideraram importante reformular a questão inicial. Era importante que cada aluno
compreendesse o significado daquilo que lhe era questionado, para que pudesse relacionar
com os conhecimentos prévios e experiência pessoal até chegar ao grau de compreensão.
Esta estratégia de desconstrução das conceções alternativas que os alunos possuem como
“verdadeiras” permite a substituição gradual da conceção alternativa pela conceção
científica (Roldão, 1995). Mas, é importante salientar que esta reorganização concetual
pela qual o aluno passa, não é necessariamente um processo simples nem imediato, o
objetivo é que este possa utilizá-lo em diversas situações tanto académicas como no seu
quotidiano (Carretero, 1997). Deste modo, refiro a importância de observarmos,
refletirmos e questionarmos se o meio realmente ocupa espaço na aprendizagem destes
alunos, fazendo uma leitura educativa e didática apropriada.
Tendo como referência o desenho, os alunos transmitiram em grande grupo as
várias ideias que possuíam sobre o “O que é uma profissão?”, confrontando-se com as
ideias dos outros e reconstruindo novas. Neste sentido, as aprendizagens tornam-se
significativas quando os alunos estabelecem uma relação entre a experiência anterior e a
dinâmica que a atividade de aprendizagem consegue gerar (Roldão, 1995).
Em análise dos desenhos dos alunos, verifica-se que a escolha das profissões se
centra especialmente no quotidiano da vida da criança ou meio próximo, como exemplo
“Para mim uma profissão é ser professor”, “É ser pintor”, “É construir casas”, e/ou
profissões evidenciadas na televisão (TV) “É ser atriz”. Esta centralidade no meio
próximo demonstra a visão de mundo reduzida ou limitada destes alunos, pelo que se
considera relevante, em futuras intervenções, ampliar o conhecimento deste mundo
próximo para contextos e experiências mais distantes do “aqui e agora”.
Ao analisar as fichas de registos dos alunos "Eu quero ser...Porque…”, e tendo
em conta as suas respostas, foi possível constar que eram recorrentes as palavras “gosto”
ou “porque é divertido”, sendo que só uma aluna referiu o “dinheiro” para completar a
escolha da profissão. A resposta desta aluna exige o questionamento e reflexão profunda
na tentativa de compreensão da lógica associada: O que significará o dinheiro para ela?
Será que de algum modo as suas experiências/conhecimentos e o contacto com o seu meio
próximo a influenciou nesta resposta? Paralelamente, questionamo-nos quanto ao prazer
50
e divertimento associados às profissões. As respostas sugerem que estes alunos associam
a profissão a algo que é agradável e, portanto, não apenas só influenciado pelo meio
circundante, mas também por si próprio, pelos seus interesses e caraterísticas pessoais.
Nos registos pictóricos são, também, visíveis elementos característicos da
profissão referida, complementando com a ação que envolve a mesma. Uma vez mais,
aqui visível as suas experiências/conhecimentos pessoais, bem como, o contacto com
profissões ligadas ao seu meio próximo/TV, como o exemplo do P. que refere “Eu quero
se polícia, porque eu gosto de estar atarefado e também prender os ladrões com as
algemas”.
Os alunos chegam à escola com ideias previamente definidas, construídas através
do conjunto de experiências que o próprio meio lhe proporcionou, criando “modelos
interpretativos, explicações sobre o mundo físico-natural que os rodeia, fruto de uma
longa elaboração pessoal espontânea baseada na experiência sensível de todos os dias”
(Sá, 2002, p.30). Estes conceitos construídos a partir do que ouvem e vivem designam-se
por conceções alternativas, que constituem alternativas às ideias cientificamente corretas.
Com base nas características e especificidades desta turma, considera-se
fundamental realizar uma análise mais focalizada e separada do levantamento de ideias
prévias com os alunos com NEE e AC e, todo o acompanhamento no seu processo de
ensino e aprendizagem.
Ao longo das semanas de estágio, o G., aluno de etnia cigana, repetente do 2º ano
de escolaridade, demonstrava dificuldades na área curricular do português, sendo-lhe
atribuída, por norma, tarefas curricularmente integradas do 1º ano de escolaridade. Por
diversas vezes o G. perguntava-me como se liam determinadas palavras para fazer a
ligação à imagem (significado) denotando carência na consciência silábica. O G. não
identificava, ainda, todos os fonemas das palavras escritas, recorrendo à memorização
visual das palavras para ligar ao significado que o próprio construiu e/ou já conhece.
Verificava-se uma ausência de compreensão em conseguir separar os sons da fala,
dificultando o desenvolvimento da consciência fonética, ou seja, a “capacidade
consciente e deliberada de prestar a atenção aos sons dentro das sílabas” (Pereira, 2010,
pp, 5-6). O G. todos os dias transcrevia o alfabético no caderno tendo que consultar as
páginas anteriores para ver como se escrevia. Tendo observado esta situação, pedi-lhe
para fazer, mas sem consultar, o aluno ficou a pensar uns largos minutos e depois referiu
“Eu se não for ver não sei como se escreve”. Concluí então que este aluno não dominava
o princípio alfabético, sendo este princípio essencial na aprendizagem da decifração. O
51
G. carecia do “desenvolvimento de comportamentos emergentes de leitura, o
desenvolvimento da linguagem oral na língua de escolarização e o desenvolvimento da
consciência fonológica” (Sim-Sim, 2009, p.21), fatores essenciais e inseparáveis no
ensino informal que posteriormente dá origem à motivação para a aprendizagem da
leitura, inerentemente na “vontade de aprender a ler para ler sozinho” (p.21). Promover
os fatores mencionados leva a que seja proporcionado ao aluno um contacto diário com a
linguagem escrita, despertando o convívio num ambiente de leitura e provocando o
diálogo sobre o que ouviu ler (Sim-Sim, 2009).
Enquanto estagiária investigadora tenho a reter deste caso específico, a escolha de
estratégias pedagógicas tendo em conta as características dos alunos, os conhecimentos
emergentes da leitura, o conhecimento da língua de escolarização, especialmente a
riqueza lexical e o nível de consciência fonológica de cada criança/aluno (ibidem). Face
à heterogeneidade da população escolar é importante pensarmos em desenvolver um
trabalho com sucessivos ajustes curriculares junto dos alunos com NEE (Sim-Sim, 2005).
Futuramente, a dirigir uma turma de níveis de aprendizagem diversificados e com o
impacto pela primeira vez numa turma com estas características, as dúvidas foram
constantes, pois ora a atenção era direcionada aos alunos do ensino regular ou focada em
alunos com NEE que tanto precisavam de um apoio sistemático.
No caso do J. e do G. o tempo e dedicação que lhes era prestado, quase exclusivo,
era, por vezes, incompatível com a necessidade de atenção prestada ao resto da turma.
O princípio cooperativo em grupos heterogéneos “favorece a participação e
interação dos alunos, sendo estes co-responsáveis não só pela realização do trabalho
específico em curso, como (…) pela organização e gestão do próprio grupo” (Sim-Sim,
2005, p. 17). De realçar, o exemplo da S. que no trabalho de grupo apoiou o J. (NEE) na
leitura, na compreensão e na realização dos “recibos de empenho”, deliberadamente.
Outro exemplo a salientar é o da da C. (Adequações Curriculares), que enquanto realizava
uma tarefa do manual do 1º ano o C., colega de mesa, corrigia-a nos erros ortográficos:
“Não é assim que se escreve”; “Tens de rodar o “s” para ficar correto”; “Queres que te
ajude?”. A ZDP é um lugar onde a ajuda dos outros, se torna um processo de “construção,
modificação, enriquecimento e diversificação dos esquemas de conhecimento” (Onrubia,
2001, p. 125).
Nos registos efetuados ao longo da intervenção - reflexões semanais e notas do
investigador - há uma clara evidência no trabalho diário realizado com estes alunos,
demonstrando especial preocupação em integrá-los nas atividades para que todos
52
participassem e desenvolvessem o princípio cooperativo para a inclusão na turma e na
escola:
No desenrolar das atividades e sempre que o professor cooperante
facultava tarefas na área curricular do português o G. (etnia cigana)
demonstrava desinteresse e por consequência da frustração de não conseguir
questionava “Professora podemos passar para a matemática, eu gosto
mais”. Este aluno tem consciência das suas limitações, no entanto demonstra
vontade de aprender a ler quando referia “Eu tenho de saber ler se não
depois não posso ir para a feira”. É fundamental que os alunos possuam um
elevado nível de consciência linguística, pois quanto maior for essa
aprendizagem maior será o êxito inicial da leitura e da escrita (Pereira,
2010). Segundo esta mesma autora, um dos passos mais importantes para
facilitar a iniciação à leitura e à escrita “consiste na promoção da reflexão
dos alunos sobre a oralidade, (…), no treino da capacidade de segmentação
da cadeia de fala em frases, das frases em palavras, das palavras em sílabas
e destas nos sons que as compõem” (p. 6). Num processo de ensino-
aprendizagem o aluno para compreender o código alfabético necessita de
compreender que a língua no seu modo oral é “formada por unidades
linguísticas mínimas, os sons da fala, e que os carateres do alfabeto
representam, na escrita, essas unidades mínimas” (Pereira, 2010, p.6). O
ambiente social dos alunos é um fator determinante e influenciador no
conhecimento das regras pragmáticas e conhecimento lexical. Em conversa
com o professor cooperante analisamos o caso do G. que não detém de
acompanhamento diário pelos familiares, refletindo-se no seu
aproveitamento escolar. Quanto mais vasto e diversificado for o
conhecimento lexical do aluno, maior será a sua facilidade na aprendizagem
da decifração (Sim-Sim, 2009). [8ª Reflexão, do dia 24 a 27 de novembro de
2015]
É certo que a exigência da diferenciação curricular no planeamento das
atividades tem sido um marco gratificante para mim. O meu principal
objetivo é garantir que as competências de cada um dos alunos sejam
alcançadas, ainda que os percursos a desenvolver sejam díspares, “melhorar
a qualidade do ensino, diferenciando formas de intervenção e percursos de
53
aprendizagem” (Sim-Sim, 2005, p. 13). [9ª Reflexão, do dia 1 a 4 de dezembro
de 2015]
Uma das preocupações e que realço aqui é o exemplo da S. que no trabalho
de grupo apoiou o J. (NEE) na leitura, na compreensão e na realização do
“recibo de empenho”. A criação destes desafios leva-nos a refletir sobre a
ZDP de Vygotsky, que se define como a “distância entre o nível de resolução
de uma tarefa que uma pessoa pode atingir, atuando independentemente, e o
nível que pode alcançar com a ajuda de um colega mais competente ou mais
bem preparado nessa tarefa” (Onrubia, 2001, p.125). A inserção dos alunos
com NEE nestes grupos tem sido cuidadosamente distribuída para que estes
não realizem somente o que já sabem fazer mas sim que os obrigue a
implicar-se num esforço de compreensão e atuação junto dos seus pares. [10ª
Reflexão, do dia 8 a 11 de dezembro de 2015]
1ª Questão Geradora: “Que profissões existem na minha família?”
Concretizado o levantamento de ideias prévias junto dos alunos para a construção
de um Projeto Curricular Integrado (PCI), identificou-se os seus interesses e
necessidades. Desta forma, os alunos podem desenvolver competências e aprendizagens,
tanto ao nível cognitivo como social, de forma fruída e significativa. Este processo incide
progressivamente na mudança das conceções e atitudes (Alonso, 2001).
Após a identificação do núcleo globalizador e respetivas questões geradoras a
responder, iniciamos a exploração da primeira questão geradora intitulada “Que
profissões existem na minha família?”. Esta primeira questão reveste-se de atividades
integradoras que permitirão responder ao núcleo globalizador e, consequentemente,
possibilitar que o aluno capte a informação empregando-a e processando-a de acordo com
a organização intrínseca que já possui na sua estrutura cognitiva. Deste modo, irá
manifestá-la em estruturas de ação, de pensamento e de concetualização.
“O que sei..”
Em momento de grande grupo, coloquei uma questão inicial “Será que existem
profissões na vossa família?”. Os alunos ativamente partilharam as suas ideias:
S.: “Sim, a minha mãe é costureira”
G.: Contrariando refere “Isso não é uma profissão”
54
Estagiária: “Porquê?”
G.: “Porque vai-se ao multibanco e tira-se dinheiro”
G.: “Porque ganha-se dinheiro”
J.: “Sim, porque se tem um chefe”
Estagiária: “Tem que haver um chefe?”
É.: “A minha mãe tem um chefe”
R.: “O meu pai tem um chefe e trabalha na mesma”
C.: “A minha mãe tem uma patroa que trabalha, mas não pode ser chefe
porque trabalha”
R.: “O meu avô trabalha numa fábrica a fazer madeira, ele diz-nos que
ganha dinheiro”
Estagiária: “Como é que se ganha dinheiro?”
R.: “Ao final do mês recebe-se dinheiro, a patroa dela vai ao multibanco,
levanta dinheiro e dá-lhe”
C.: “A minha avó já foi ao multibanco tirar dinheiro e depois deu há minha
tia”
M.: “É o ordenado.
Durante este diálogo era visível a comunicação e interação entre todos os
membros da turma, a partilha das ideias que detinham sustentadas nas situações realmente
vividas, ou defendidas por argumentos lineares, concretos caraterísticos da inteligência
prática.
Seguidamente, considerei relevante e oportuno apresentar os conceitos de geração
e árvore genealógica, uma vez que os alunos demonstraram interesse em descobrir a
profissão dos pais e avós e este conteúdo programático está alocado no 2º ano de
escolaridade no Currículo Nacional. Este momento de diálogo possibilitou o descobrir e
o comparar de conceitos, e a relação entre os significados destes dois conceitos com o de
família, procedendo à esquematização da 2ª e 3ª geração.
Sequencialmente, após exemplificar uma árvore genealógica, os alunos
representaram pictoricamente, e por escrito, as suas ideias relativamente às profissões dos
pais, avós maternos e paternos. Este registo foi desenvolvido em forma de folha para
posteriormente construírem uma árvore, “a árvore das profissões”. No decorrer desta
atividade, os alunos puderam confrontar-se com as ideias incipientes que tinham sobre a
profissão dos seus familiares. Alguns alunos realizaram somente o registo pictórico e
55
outros, como já foi referido anteriormente, identificaram a ação descrevendo esta como o
nome da profissão ou, outro exemplo, um elemento característico da mesma.
Para exemplificar, passo a demonstrar o registo do R. que na representação da
profissão do pai escreveu “madeira” e na profissão da mãe escreveu “salão”, na descrição
da J. comparativamente à profissão do pai descreve “trabalhador de supermercado”, não
identificando a profissão da mãe nem por escrito nem pictoricamente (Figura 17).
Figura 17 - Registo pictórico e descritivo das profissões do R. e da J.
Importa salientar que na profissão dos avós, só um número mínimo de alunos é
que identificaram algumas características das profissões dos mesmos. Como
presentemente demonstro o registo da M. que descreve tanto a profissão do pai como a
da mãe “engenheiros” e na descrição dos avós maternos referiu “dona de casa” e
“agricultor”. No registo da M.S., esta descreve a profissão dos pais como “cabeleireira”
e “violeiro”, na profissão dos avós tanto maternos como paternos referiu “dona de casa”
e “dono de casa” (Figura 18).
56
Figura 18 - Registo pictórico e descritivo das profissões da M. e da M.S.
No decorrer da atividade em que concretizavam a folha das profissões, registei
através do discurso oral o interesse e entusiasmo dos alunos, em relação à temática a
explorar. Neste âmbito, pudemos perceber a ideia pré-concebida que os alunos possuíam
sobre o conceito de profissão, mediante o seu meio:
D.: (etnia cigana): “O meu tio trabalha na feira, mas os meus pais não”
G.: (NEE): “O meu pai tem um chefe. Trabalha na lenha e a minha mãe
trabalha nos telemóveis”
J.: (NEE): “A minha mãe cozinha”
P.: “O meu pai constrói passeios e a minha mãe trabalha aqui na escola.
A diferença é que ela ajuda os outros”
M.: “O meu avô foi para a tropa e cozinhava para os outros”
Estagiária: “A tropa é uma profissão?”
G.: “A tropa é uma profissão porque aprendeu a cozinhar”
Estagiária: “Se eu cozinhar em casa então a minha profissão qual é?”
J.: “Cozinhar em casa é para nós, a profissão cozinheiro é cozinhar para
os outros”
Mediante a finalização das “folhas das profissões”, os alunos foram construindo a
“árvore das profissões” (Figura 19) expondo-a na parede da sala, respondendo à questão
“O que eu sei…”. Esta estratégia foi importante para que numa fase posterior pudessem
fazer comparações, desconstruindo as suas ideias e (re)construindo novas ideias.
57
Figura 19 - Preenchimento da árvore com as folhas respondendo à questão "o que eu sei..."
Em momento de diálogo, surgiu a questão das profissões dos familiares devido a
um cartão profissional que o C. exibiu aos colegas. Este cartão despoletou o diálogo nos
alunos mencionando a profissão dos pais e/ou familiares próximos.
No final da atividade, os alunos proferiram que para descobrir as profissões que
desconheciam tinham que “perguntar aos pais e às mães”.
“O que descobri…”
Tendo sido detetadas dúvidas que surgiram sobre as profissões na família, foi
sugerido à turma a realização de um questionário para os pais, sobre as profissões que
exerciam.
A atividade realizou-se em grupos para promover uma relação autónoma no meio
cooperativo, ou seja, a divisão da turma em dois grupos, integrando os alunos com
Adequações Curriculares (AC) e os alunos com Necessidades Educativas Especiais
(NEE). Esta divisão da turma em grupos teve como objetivo estimular a autonomia dos
alunos nas decisões do grupo, na distribuição de tarefas e na planificação das ações que
58
os levaram a atingir os objetivos, fomentando a autorregulação e autodireção no processo
de aprendizagem.
Figura 20 - Concretização de um questionário e pesquisa de novos conceitos
Inicialmente, os alunos exploraram um questionário exemplo, de forma a
compreender a estrutura deste. Seguidamente, verificamos a falta de vocabulário
relativamente à temática das profissões, pelo que as estagiárias investigadoras
propuseram o recurso ao dicionário. Enquanto uns exploravam o dicionário, outros iam
começando a escrever o cabeçalho e o título do questionário.
Por fim, o questionário foi impresso e os alunos puderam entregá-lo aos
encarregados de educação para responder ao mesmo.
Conhecer para eliminar os erros
No dia seguinte, os alunos prontamente apresentaram os questionários
preenchidos pelos respetivos encarregados de educação relativamente às profissões dos
pais, bem como às dos avós. Após visualizarem os questionários, foi sugerido aos alunos
que apresentassem aos colegas o que sabiam e o que ficaram a saber, demonstrando algum
espanto com as suas descobertas, tal como se pode verificar nas seguintes notas de campo:
Figura 21 - Observação das suas ideias em confronto com as respostas do questionário
59
C.: “Afinal o meu pai não limpa máquinas”
G.: “Eu pensei que o meu avô era jornalista porque me levava sempre ao
jornal”
J.: “Eu tinha dito que a minha mãe trabalhava na Bosh, mas ela é
administradora da Bosh”
P.: “Afinal a profissão da minha mãe não é funcionária da escola, é
assistente operacional”
S.: “Eu tinha na folha pintor, mas o meu pai respondeu pintor civil”
De seguida será apresentada uma comparação das ideias prévias dos alunos na
folha de árvore “O que sei?” com a resposta dos encarregados de educação numa nova
folha “O que descobri?”:
Figura 22 - Discurso dos alunos sobre as novas aprendizagens
Uma possível análise…
Numa conceção construtivista, os alunos aprendem quando são capazes de
produzir uma representação pessoal sobre um conteúdo que se pretende abordar,
implicando deste modo, uma aproximação do conteúdo somente com uma finalidade, o
Conceções Prévias
• Situação 1: (mãe) Funcionária da escola
• Situação 2: (pai) Pintor
• Situação 3: (pai) Limpa máquinas
• Situação 4: (mãe) Engenheira (avó) Dona de casa
• Situação 5: (Pai) Joga jogos (Mãe) Peixeira
Após visualizarem o questionário
• Situação 1: (mãe) Assistente operacional
• Situação 2: (pai) Pintor da Construção Civil
• Situação 3: (Pai) Operador de CNC
• Situação 4: (Mãe) Técnica de serviços de expropriações (avó) Reformada
• Situação 5: (Pai) Organizador de jogos eletrónicos (Mãe) Operadora de loja
60
de apreender. Não obstante, “não se trata de uma aproximação vazia, a partir do nada,
pois parte-se de experiências, interesses e conhecimentos prévios, que presumivelmente,
possam resolver a nova situação” (Coll & Solé, 2001, p.19). O levantamento de conceções
prévias é considerado pelos alunos como desafios que procuram responder, modificando
à posteriori os significados de que são providos, de forma a poder dar conta do novo
conteúdo (Coll et al., 2001).
Considerando a capacidade geral do aluno e de acordo com Vygotsky (1985,
citado por Carretero, 1997) a “aprendizagem é um motor de desenvolvimento cognitivo,
e não só o inverso” (p.42). É necessário o professor certificar-se que o aluno construa
aprendizagens mediante a sua própria experiência interna, ou seja, a minha intenção
pedagógica foi centrar-me nas conceções dos alunos, tendo por base as que possuíam
antes de começar o processo de aprendizagem e as que serão produzidas durante esse
mesmo processo (Carretero, 1997).
Verifiquei no discurso dos alunos relativamente à pergunta “Que profissões
existem na minha família?”, que a maioria não sabia o nome da profissão dos pais,
facultando respostas de incerteza/dúvida, designando o mesmo pela função ou local: “o
meu pai arranja máquinas”, “a minha mãe arranja unhas”, “o meu pai faz móveis”, “o
meu pai trabalha nos jogos”, “a minha mãe trabalha no Intermarché”, “a minha mãe
trabalha na Bosh”, entre outros. Deste modo, questionei-me enquanto investigadora
sobre qual a importância que a escola atribui a estes valores sociais e se os estatutos
sociais têm real impacto nos conhecimentos ou ideias dos alunos. Numa possível resposta
a estas duas questões, é possível que a referência que fazem ao local é por este ser aceite
e reconhecido pela sociedade, normalmente associado a empresas com um forte estatuto
social.
Relativamente às estratégias recorridas no desenvolvimento da presente questão
geradora, recorreu-se no primeiro momento ao trabalho em grupo. Partindo do
prossuposto que parte da aprendizagem é realizada na escola, torna-se fundamental
observarmos alguns aspetos afetivos, relacionais e cognitivos da aprendizagem
cooperativa. Assim, como refere Bessa & Fontaine (2002) o trabalho em conjunto,
fomenta as interações entre os alunos. Eles apresentam opiniões, idealizam cenários,
constroem imagens e estratégias. E é por via destas estratégias que são ativados os
processos de reestruturação cognitiva e os fenómenos de conflito cognitivo ou
sociocognitivo, que estão na origem da realização das aprendizagens (pp. 44-45).
61
Estas atividades pedagógicas organizadas em estratégias de participação
promovem oportunidades de os alunos tomarem decisões, apresentarem as suas opiniões
e pontos de vista, e distribuírem e negociarem tarefas caraterísticas das aprendizagens
cooperativas (Santos, 2007). Paralelamente, estas ações levam o aluno a ter confiança nas
suas possibilidades e limitações, promovendo a autoestima, a autonomia e a
responsabilidade. Nestes momentos de trabalho em grupos o meu papel de mediação teve
como propósito valorizar as capacidades intrínsecas de cada um, estimulando os alunos a
desenvolverem competências essenciais, para além da motivação para continuar a
aprender, não era observável no início da intervenção.
Uma outra estratégia relevante foi recorrer a materiais significativos, como por
exemplo, o uso do dicionário, sendo a primeira vez que o exploraram. Aqui os alunos
puderam experienciar de forma percetual e concetual o significado da palavra profissão e
a respetiva família de palavras, valorizando o dicionário como recurso indispensável na
análise de significados. Todavia, tal como Fosnot (1999) refere esta “análise de
significados conduz invariavelmente à experiência individual e ao processo social de
acomodação dos elos entre as palavras e as partes dessa experiência até o indivíduo os
considerar compatíveis com a utilização” (pp. 19-20).
O meu papel nesta primeira exploração foi de mediar e possibilitar experiências
das quais não eram usuais dentro da sala de aula e, fundamentalmente facultar-lhes
autonomia e espírito de equipa. Através da cooperação os alunos sabiam que a
participação de todos era fundamental para a realização do questionário. Aquando
divididos em grupos para a concretização do questionário os alunos repartiram tarefas,
uns realizavam o questionário e outros exploravam o dicionário através de pesquisa de
palavras relativas ao conceito “profissão”. Esta divisão da turma em dois grupos em que
os alunos com Adequações Curriculares (AC) e Necessidades Educativas Especiais
(NEE) estavam incluídos, foi importante na medida em que elegessem uma tarefa para
cada um, ou seja, todos detinham um papel relevante para a elaboração da atividade. Um
ficava com a tarefa de passar o questionário para o computador, outro de o apoiar na
procura das letras, outro com a tarefa de ditar, outro de reler no fim o resultado final…
Desta forma, denotei um consenso entre todos não havendo disputas entre eles. Neste
sentido, Fosnot (1999) refere que “cooperar significa tentar alcançar um objetivo comum
ao mesmo tempo que se coordenam os próprios sentimentos e perspetivas do próprio com
a consciência dos sentimentos e perspetivas do outro” (p. 158).
62
Uma última estratégia foi recorrer a uma metodologia de descoberta. De tal modo,
não me limitei somente à “descrição/observação/classificação das realidades do meio
envolvente, mas de levar os alunos a redescobrir o seu quotidiano, em termos do que pode
haver de fascinante, desconhecido e estimulante nessa realidade rotineira a que estão
habituados” (Roldão, 1995, p. 26). A necessidade de consciencializar o aluno acerca da
realidade em que vive, prepara-o para intervir não só no seu meio próximo, mas também,
levá-lo a descobrir, explorar, experimentar e observar outras vivências sociais e culturais.
O momento do confronto de ideias permitiu que os alunos levantassem as suas
próprias questões, que gerassem as suas próprias hipóteses, refletindo sobre as suas
aprendizagens. Este desequilíbrio causado pelo confronto das suas ideias com as respostas
facultadas pelos familiares, permitiu ao aluno criar um grande número de possibilidades,
tanto afirmativas como contraditórias. As contradições face à ideia que eles detinham em
particular, precisaram de ser clarificadas, exploradas e discutidas.
Os alunos puderam reavaliar o seu conhecimento ao confrontar as suas ideias com
a nova informação, construindo novos conceitos, de forma a aplicá-los em outros
contextos e/ou situações.
Vários estudos indicam que os erros necessitam de ser vistos como o resultado das
conceções dos alunos, por isso, não devemos evita-los nem minimizá-los. É através de
experiências mediadas pelo professor, adequadamente preparadas, que os alunos criam
um maior número de possibilidades tanto afirmativas como contraditórias (Fosnot, 1999).
No confronto de ideias, como papel de mediadora, considero relevante que se
encontrem várias maneiras de os alunos exprimirem os seus pontos de vista, tanto
verbalmente como através de produções escritas, permitindo a consciencialização e
reflexão das suas ideias, estimulando-os intelectual, social e emocionalmente (ibidem).
Os alunos no desenvolvimento do Projeto Curricular Integrado (PCI) passaram
por um processo de construção de significados a partir daquilo que já possuíam,
encaminhando para a formação de grandes ideias. Estes princípios construídos e
organizados pelos alunos através da oportunidade de experiências significativas, por
norma exigem a anulação ou a reorganização de conceitos anteriormente concebidos.
63
Construindo novas aprendizagens – Avaliação
O PCI tem como característica relevante a organização em torno de planificações,
desenvolvimento do projeto e avaliação sequencialmente interligados de atividades
integradoras que se pretendem que sejam “globalizadores, significativos e
contextualizados na experiência e nas conceções prévias dos alunos, de forma a conferir
um sentido pessoal, funcional e global à realização das experiências de aprendizagem”
(Alonso, 2002, p. 72).
A primeira atividade foi crucial para o desenrolar de todo o projeto, tendo sempre
como principal foco as conceções/conhecimentos prévios dos alunos, para que o mesmo
fosse enriquecido e adequado através de processos de investigação, experimentação e
avaliação. Sendo, paralelamente interligados “numa atitude de diálogo permanente entre
os princípios e a realidade, entre o desejável e o possível” (Alonso, 2002, p.71).
Figura 23 - Chuva de Ideias
A avaliação inicial consistiu em utilizar no início de cada atividade uma “chuva
de ideias” respondendo à questão “O que sabemos?”, para que os alunos expusessem as
suas conceções iniciais de modo a visualizarem e a sistematizarem não só as suas ideias
como a dos colegas, contactando com outras perspetivas.
Este exemplo de exercício no início de cada atividade foi relevante para o processo
investigativo, não só ao longo do projeto como também no final, acompanhando deste
modo a modificação e/ou evolução das conceções ou conhecimentos. Partindo das
conceções iniciais, curiosidades, interesses, expectativas e contrastação de experiências
dos alunos, desenvolveu-se um projeto integrado e flexível, de forma a promover no aluno
conflito cognitivo e social, garantindo uma maior facilidade em ultrapassar os obstáculos
64
em todo o percurso. Foi importante haver esta reestruturação de significados ao longo do
processo de construção de novos conhecimentos (Alonso, 2001).
A avaliação passa pelo professor focar-se especialmente no aluno nas “suas
capacidades, interesses, necessidades, expectativas iniciais, no seu ritmo de trabalho e no
seu percurso de aprendizagem, são os resultados conseguidos nesse mesmo processo que
são objeto de avaliação” (Ferreira, 2007, p. 16).
Para a concretização da avaliação, sendo esta realizada no decurso de todo o
projeto, foram necessários recursos que se mantiveram presentes nas minhas observações
e análise, sendo eles: reflexões pessoais e registos escritos dos alunos juntamente com
gravações áudio e visuais dos mesmos. Com a constante utilização destes recursos pude
constar e identificar os interesses dos alunos ampliando este campo.
Considerando estes princípios de procedimento e tendo como objetivo primordial
a valorização do meio como recurso fundamental de aprendizagem, o meu papel foi
sempre de observadora, ouvindo as ideias iniciais dos alunos.
Avaliação contínua
No desenrolar do projeto foi essencial haver uma avaliação contínua, perceber
como o aluno mobilizou os conhecimentos prévios com a interiorização dos novos
significados e como processou as novas aprendizagens no decorrer de cada atividade
proposta.
A avaliação contínua permitiu perceber o interesse dos alunos, se a atividade
proporcionou a sua participação e cooperação, prevendo qual a trajetória de ensino e
aprendizagem e, formas de ultrapassar possíveis dificuldades. Como sentido orientador,
para também poder avaliar o processo de aprendizagem dos alunos, tive como apoio as
aquisições dos novos conhecimentos/conteúdos para construção de futuras planificações.
Esta avaliação surgiu em diálogo com a turma no momento em que referiram o
termo “ordenado” e de que forma os pais recebiam dinheiro. Através desta troca de
experiências pessoais, realizou-se uma breve explicação sobre os recibos de vencimento,
tendo surgido a ideia de reinventa-lo. Em consenso com a minha colega de estágio
atribuiu-se o nome de “recibo de empenho”. Assim, em cada atividade finalizada os
alunos preenchiam de forma a se autoavaliarem e a registarem o que aprenderam em cada
tarefa. Deste modo, assumiram uma profissão designando-a no “recibo” e no final
completavam a frase “Hoje aprendi…”.
65
De seguida, é apresentado o “recibo de empenho” (Figura 24) sendo revelador no
que concerne às respostas dos alunos ao longo de cada atividade que foram
desenvolvendo, descrevendo as suas aprendizagens.
Figura 24 - Recibo de Empenho
Na observação de cada “recibo”, percebi o entusiamo gerado pela atividade, sendo
motivador visualizar respostas surpreendentemente construtivas das novas aprendizagens
e naturalmente por adotarem uma nova situação profissional. De seguida, apresento uma
análise das respostas aos registos “Hoje aprendi…” em cada uma das questões geradoras:
1ª Questão Geradora “Que profissões existem na minha família?”
Atividade - “Quais são as profissões da minha família?”
J.: “Aprendi o que faz a minha mãe, o meu pai e os meus avós”
R.: “Aprendi que existem muitas profissões que não conhecia e quais as
profissões que existem na minha família”
P.: “Aprendi a fazer um questionário”
M.: “Aprendi que a profissão da minha mãe é muito importante”
2ª Questão Geradora “Será que todos os pintores desenham e depois pintam?”
Atividade – “Descobrir quem é Miró?”
G.: “Aprendi que Miró nasceu em Barcelona, que fica em Espanha”
S.: “Aprendi que Miró era um artista e sei quando nasceu e quando morreu”
66
C.: “Aprendi a pintar as obras de Miró”
C.: “Aprendi a pintar com pinceis”
P.: “Aprendi o nome de três quadros de Miró”
Atividade – “Entrevista ao pintor da construção civil”
G.: “Hoje aprendi que um pintor da construção civil só pinta, e eu pensava que
desenhava primeiro”
R.: “Hoje aprendi quais os instrumentos que um pintor da construção civil
utiliza”
É.: “Aprendi a pintar com rolos”
P.: “Aprendi a entrevistar uma pessoa”
Atividade – “Dissolver ou não dissolver na água”
É.: “Aprendi palavras novas”
A.: “Aprendi o que quer dizer solúvel e insolúvel”
G.: “Hoje aprendi que algumas coisas dissolvem-se e outras não”
M.: “Hoje aprendi a fazer ciência com café, sal, arroz, tinta…”
R.: “Aprendi o que dissolve e o que não se dissolve na água”
3ª Questão Geradora “O que faz um detetive?”
Atividade – “Resolver o caso da Capuchinho Vermelho”
S.: “Aprendi a separar as pistas e a investigar”
G.: “Hoje aprendi que os detetives investigam casos e usam lupas para ver melhor
as provas”
M.: “Aprendi a ser um detetive e a investigar um caso com pistas”
R.: “Aprendi a ser um detetive e aprendi palavras novas”
67
Figura 25 - Preenchimento do "recibo de empenho"
A avaliação contínua teve como fundamento principal a compreensão do
funcionamento cognitivo do aluno face a uma atividade que lhe é proposta. Integrada
nesse processo, “os dados recolhidos relacionam-se, sobretudo, com as representações do
aluno sobre a tarefa em que está envolvido, com as estratégias e com os raciocínios que
utiliza para chegar a um determinado resultado” (Ferreira, 2007, p. 93).
“O que aprendeste com este projeto?”
Para concluir o projeto foi elaborado um registo de avaliação final, direcionado
aos alunos com o objetivo dos mesmos refletirem e registarem as suas aprendizagens
desde, o que sabiam inicialmente e o que aprenderam/adquiriram ao longo de todo o
percurso de atividades.
No preenchimento do registo de avaliação os alunos relacionaram o que sabiam
com o que aprenderam, mobilizando todo o conhecimento adquirido, levando-os a refletir
sobre as atividades. Neste decorrer os alunos questionaram-se sobre as novas
aprendizagens, selecionaram as atividades que para eles foram mais significativas,
expondo os seus interesses. De seguida apresento alguns exemplos de respostas dos
alunos à questão “O que aprendeste com este projeto?” (Figura 26):
68
Figura 26 - Registo de Avaliação do Projeto
P.: “Aprendi palavras novas e pensava que os pintores todos só pintavam
não desenhavam e não sabia que a ciência existia”
G.: “Eu aprendi com este projeto que a ciência está em tudo, que nem
todos os pintores desenham antes de pintar e aprendi a profissão dos meus
pais”
R.: “Aprendi a ser um detetive, que alguns pintores não desenham, quando
nasceu e morreu Miró e qual era a profissão dos meus pais. Ciência é
experimentar coisas novas”
R.: “Aprendi que os pintores da construção civil usam rolos para pintar,
pistolas de tinta e espátulas. Os detetives resolvem casos e encontram
pistas. Aprendi que o grafiter usa mascara, latas de spray e escadotes”
S.: “Aprendi que a ciência está em todas as profissões”
C.: “Aprendi o que são profissões o que se faz em cada uma”
69
Figura 27 - Exemplo "O que aprendeste com este projeto?"
Como se pode visualizar no exemplo supra mencionado, os alunos no registo
sobre a avaliação final do projeto proferiram as várias aprendizagens construídas ao longo
do mesmo, não se centrando a uma única atividade, respondendo à questão do núcleo
globalizador. Deste modo, verificou-se o cumprimento dos objetivos estipulados no início
do projeto.
Saliento também para o facto de as ideias iniciais terem sido reconstruídas ao
longo do projeto, passando para os novos significados, tais como, proferido pelo P. “Este
projeto foi divertido e engraçado porque descobrimos as profissões da nossa família e
eu não sabia os nomes”; “Fizemos coisas diferentes e aprendemos palavras novas”. Esta
avaliação fomentou os alunos para uma avaliação reflexiva das aprendizagens obtidas.
Avaliação do projeto pelos Encarregados de Educação
Neste projeto, os Encarregados de Educação (EE) tiveram um papel fundamental
para a conclusão com veracidade de determinadas atividades. Em exemplo, a atividade
em que estes responderam ao questionário realizado pelos alunos.
Para a avaliação pelos EE, realizou-se um puzzle em que, cada aluno ficou
responsável por levar uma peça desse puzzle para casa para os respetivos Encarregados
de Educação avaliarem a construção e desenvolvimento do projeto. Esta avaliação foi ao
critério de cada um, sendo que na maioria registaram falas dos seus filhos no decorrer do
projeto. Posteriormente, cada aluno tinha a responsabilidade de trazer a peça para fixá-la
na parede da sala e construírem o puzzle.
70
Com este contributo, saliento a minha satisfação ao ver que os alunos falavam de
diversas atividades em casa, constatando o entusiasmo destes na execução das mesmas.
Deste modo, apresento de seguida alguns exemplos da avaliação pelos EE:
Figura 28 - Avaliação realizada pelos Encarregados de Educação "puzzle"
Pelos pais do R.:
“No dia em que o R. teve aulas com as professoras estagiárias referiu em casa
que gostou muito, porque fez um desenho relacionado com o que queria ser
quando fosse grande. Realizou também um bonito quadro de Miró”
Pelos pais do C.:
“O C. questionou o pai várias vezes sobre qual a sua profissão e o que fazia”
Pelos pais da CA.:
“A CA. disse-me que aprendeu a ser cientista e soube o que é ser pintor da
construção civil. Descobriu que os pintores de quadros antes de pintarem
desenham primeiro”
71
Pelos pais do RI.:
“O RI. gostou de conhecer o pintor da construção civil e os materiais que este
utiliza”
Avaliação e divulgação do Projeto
O “profissionário” surge em torno das profissões dos familiares dos alunos,
inspirado no dicionário, este contém um conjunto de termos próprios, característicos de
cada profissão. Aqui a participação e colaboração dos Encarregados de Educação foi
crucial para que juntamente com os seus filhos, em casa, construíssem uma página sobre
a profissão de cada um (mãe e pai), assim como os materiais próprios de cada atividade
profissional.
Primeiramente, os alunos construíram o “profissionário” (Figura 29) em torno das
profissões que foram abordadas em sala de aula, contendo imagens alusivas a cada
profissão, bem como os instrumentos de trabalho, servindo como exemplo para levarem
para casa.
Figura 29 - "Profissionário" construído pelos alunos
Neste desenvolvimento, os alunos um a um, levaram para casa com o objetivo de
construírem o trabalho iniciado pelos mesmos na escola. Para que este trabalho fosse
continuado e dada por finalizada a minha presença em contexto de estágio, pedi a
colaboração do professor cooperante e dos encarregados de educação para darem
seguimento a este projeto tão bem produzido pelos alunos juntamente com os seus
familiares, onde passo a apresentar dois exemplos desse processo.
72
Figura 30 - “Profissionário” construído pelos pais juntamente com os alunos
Na avaliação final os alunos fizeram um poster para sintetizarem todo o processo
pelo qual passaram. Com o recurso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC),
os alunos procederam a uma pesquisa, passando pela seleção, sintetização e organização
da informação (Figura 31). Os alunos dividiram tarefas, demonstrando destreza no seu
manuseamento, possuindo alguns conhecimentos na ótica do utilizador. A escolha do
formato do poster foi discutida e escolhida em consenso entre eles, assim como a
informação nele exposto para futura exposição.
Figura 31 - Construindo o poster
Neste momento, realizaram um levantamento de ideias do que apreenderam ao
longo do projeto, para isso pedi que completassem a frase “Ciência é…”. Após este
levantamento, as principais ideias foram: “levantar hipóteses”, “investigar”,
“experimentar”, “descobrir” e “divertida”. Estes conceitos constam no poster, assim
como os registos fotográficos referentes aos mesmos.
73
Divulgação do Projeto
A divulgação é fundamental para apresentar os resultados das aprendizagens
construídas ao longo do projeto à comunidade educativa e familiar. Assim, ao longo das
atividades foi realizada uma exposição dos trabalhos no placard exterior e/ou interior da
sala de aula. Esta exposição era planificada com os alunos, sendo que eles escolhiam o
local a expor, selecionavam e organizavam os trabalhos a serem expostos. Deste modo,
os alunos organizavam as suas ideias de modo a responder a cada questão geradora.
Apresento a “árvore das profissões” (Figura 32), construída no interior da sala,
exposição sugerida pelos alunos. A construção desta árvore surge no âmbito da questão
“Será que existem profissões na minha família?”, tendo sido construída uma folha com
os conhecimentos prévios dos alunos relativamente à profissão dos seus familiares.
Posteriormente os alunos preencheram-na, concluindo com os resultados presentes no
questionário respondido pelos pais. Desta forma, os alunos confrontaram-se com os novos
resultados, visualizando respostas inesperadas e desconhecidas para eles. Os novos
conceitos foram assim, apresentados contrariando as ideias espontâneas dos alunos.
Figura 32 - A árvore das profissões “O que eu sei..” e “O que descobri…”
No decorrer das outras atividades integradoras apresentadas, os alunos escolheram
expor esses trabalhos no placard exterior da sala (Figura 33). Mais uma vez, selecionaram
74
e organizaram estes no respetivo local. Deste modo, os alunos ao divulgarem os seus
trabalhos ao longo do projeto, puderam receber feedbacks dos seus colegas de outras
turmas, dos outros professores e encarregados de educação.
Figura 33 - Exposição do projeto
Seguidamente, apresento a concretização dos “cartões profissionais” ao longo do
projeto, que surgiu por parte do interesse do aluno C. em mostrar aos seus colegas o cartão
profissional do cabeleireiro onde a sua mãe trabalhava. Esta partilha em grande grupo,
despoletou a curiosidade dos restantes colegas levando assim à criação de um primeiro
“cartão profissional”. Em cada atividade realizada de exploração de outras profissões,
concretizavam um novo cartão de forma personalizada (Figura 34).
Figura 34 - Cartão profissional
75
Como já foi mencionado anteriormente na avaliação do projeto, a construção do
poster foi também divulgada à Comunidade Educativa, sendo exposto no exterior da sala
(Figura 35).
Ainda, no último dia de estágio foi apresentado à turma e ao professor cooperante
um vídeo (Figura 36) com o desenrolar de todo o processo que desencadeou o projeto.
Este foi elaborado contendo registos áudio, visuais e escritos bem como as falas dos
alunos proferidas durante as atividades.
Na parte final do vídeo, foi curioso visualizar o entusiasmo dos alunos quando se
aperceberam dos seus nomes na ficha técnica da realização do vídeo. Após a conclusão
deste, pediram para repetir novamente, passando para o momento final em que surgia o
nome dos responsáveis pelo projeto. Enchendo-se de orgulho proferindo “O meu nome
está ali”, “O meu também está, eu participei sempre nas atividades”.
Figura 35 - Poster Figura 36 - Visualização do vídeo
76
Capítulo V - Considerações Finais
Este capítulo pretende sistematizar, de forma reflexiva, o conjunto de
aprendizagens – dos alunos e do futuro professor - ao longo do projeto de investigação e
intervenção, que segue algumas caraterísticas da metodologia investigação-ação na sua
concretização.
A Prática de Ensino Supervisionada (PES) foi realizada com uma turma do 2ºano
de escolaridade do 1ºCiclo do Ensino Básico, pertencente ao Agrupamento de Escolas de
Maximinos. Desenvolvemos, ao longo desta PES, um Projeto Curricular Integrado (PCI),
que partiu das experiências e ideias prévias dos alunos, tendo em atenção as suas
necessidades, interesses e potencialidades, bem como as condições do próprio contexto.
Deste modo, partindo de uma questão-problema relevante para a turma, os alunos ao
longo de quatro meses envolveram-se em atividades integradoras reflexivas,
potencializando o confronto entre as suas ideias prévias e o novo conhecimento/conteúdo,
tornando este processo de ensino e aprendizagem significativo. Simultaneamente,
enquanto investigadora, refletia de forma crítica e sistemática sobre a ação, tanto no
desenvolvimento do projeto, como na identificação das prioridades de ação do próprio
contexto e interesses do grupo de alunos.
No desenvolvimento deste projeto foram muitas as aprendizagens construídas,
quer por parte dos alunos quer por parte do próprio investigador.
Relativamente aos alunos, estes puderam, pela primeira vez, construir um Projeto
Curricular Integrado (PCI), onde foram envolvidos em atividades integradoras,
inovadoras, significativas e ativas, num clima dinâmico e cooperativo. Assim, os
conteúdos curriculares das diferentes áreas curriculares e não curriculares presentes no
Currículo Nacional e o programa do 2ºano de escolaridade foram trabalhados num projeto
com significado, sentido pessoal e coletivo para os alunos que nele participaram, tendo
em consideração que nem todos têm de seguir os mesmos caminhos (Alonso, 2001) nem
os mesmos ritmos.
Numa prática investigativa e reflexiva, os alunos construíram novos
conceitos/conhecimentos, ou seja, ao refletirem sobre as experiências e ideias prévias que
tinham retidas nas suas estruturas cognitivas, os alunos partiram à descoberta e assumiram
atitudes de observação e de pesquisa para a construção das novas aprendizagens. Esta
metodologia de descoberta possibilitou orientar os alunos para processos de
77
aprendizagem ativos, em que os alunos planificaram, desenvolveram e avaliaram de
forma sequencial e interligada atividades integradoras globalizadoras. Tendo sempre
como referencial de partida as conceções prévias dos alunos, o processo de pensamento
crítico e divergente sobre a atividade proposta e o envolvimento ativo sobre o meio que
os rodeia levou à construção de uma aprendizagem enriquecedora e funcional (Alonso,
2001). Por outro lado, esta metodologia capacitou os alunos a pensarem criticamente e
criativamente, levantando e testando hipóteses, colocando questões e dúvidas,
observando, pesquisando, refletindo e colaborando com os colegas na partilha, aceitação
de ideias e resolução de problemas. O meu papel neste processo caracterizou-se em
construir, desenvolver, propor, orientar, ou adequar estratégias pedagógicas que
promovessem esse envolvimento afetivo dos alunos nos processos cognitivos da
aprendizagem, tornando a aprendizagem dos alunos cada vez mais significativa (Roldão,
1995).
O desenvolvimento de um projeto comum à turma, em que todos os seus
intervenientes participam e colaboram uns com os outros, permitiu o fomentar de atitudes
de respeito pelo outro, aceitação das ideias dos outros, partilha, espírito de equipa,
solidariedade, entre outros aspetos. Também, desenvolveram a sua autonomia, mesmo
em momentos de trabalho de grupo, pois cooperativamente cada aluno concretizava a
tarefa que lhe tinha sido atribuída, de forma a findar a atividade do grupo com sucesso.
Numa fase inicial do projeto, a harmonia entre os grupos não era observável,
sendo desde o início denotado como uma prioridade do contexto a colmatar. Com o
desenrolar do mesmo, os alunos já aceitavam as ideias dos outros, partilhavam
experiências, distribuíam as tarefas democraticamente dentro do próprio grupo…
As minhas aprendizagens pessoais e profissionais, construídas ao longo da PES
revelaram-se fundamentais e orientadoras para a minha futura prática. Primeiramente,
saliento a aprendizagem de construção, desenvolvimento e avaliação de um Projeto
Curricular Integrado (PCI) em contexto de 1º ciclo do Ensino Básico. Aqui, foi
imprescindível um olhar focalizado nos interesses, necessidades e potencialidades dos
alunos, bem como na valorização e respeito pelas experiências e ideias prévias que os
alunos traziam para a sala de aula a cada atividade proposta. É de salientar que este facto
requereu, da minha parte, um esforço em afastar-me das expectativas que tinha em relação
às ideias que estes poderiam apresentar em determinada atividade.
78
Na concretização de planificações semanais, construídas cooperativamente com
os alunos, a minha colega de estágio e professor cooperante, tiveram em vista dar resposta
às questões, interesses e necessidades dos alunos. No que diz respeito ao tempo e
organização do espaço da sala de aula, fomos experimentando e aprendendo com os erros
e/ou sucessos na prática. Percebi que o espaço determina interações (porque reduz ou
porque fomenta), promove tempos de concentração ou distração, favorece a organização
do grupo e de trabalhos, entre tantos outros aspetos.
O (re)planificar as atividades do projeto adveio de uma reflexão permanente sobre
a ação ao longo das semanas de estágio, ao analisar semanalmente os discursos dos
alunos, registados em notas de campo e, refletir sobre a evolução das suas aprendizagens
e do meu desenvolvimento profissional. Esta reorientação da prática dos alunos foi
crucial para a construção do saber fazer, surgisse como sequência lógica da anterior
(Estrela & Estrela, 2001).
A intervenção pedagógica capacitou-me para uma observação sistemática,
participante e pormenorizada e a análise da prática, reflexão sobre a ação e reflexão para
a ação, permitiram uma maior e melhor adaptação ao contexto e um processo de
socialização profissional mais abrangente com os diferentes agentes educativos que o
compõem.
A minha principal preocupação passou sempre por ouvir os alunos, as suas ideias
para que desta forma lhes pudesse proporcionar aprendizagens com significado pessoal,
fomentando a mobilização de conhecimentos, capacidades e atitudes.
Com uma reavaliação dos objetivos previamente estabelecidos, constatei, ao
analisar o registo inicial dos alunos e, a avaliação contínua e formativa do projeto, que
estes cooperaram entre si e estabeleceram conexões entre o conhecimento prévio com as
novas aprendizagens. Com a recorrente observação, análise e reflexão sobre os “recibos
de empenho”, confirmei o entusiasmo que os alunos detinham em cada atividade
desenvolvida, registando as suas aprendizagens e consequentemente demonstrando
capacidade de reflexão em torno das mesmas.
A maior dificuldade, mas também o grande desafio desta investigação, foi o gerir
curricularmente uma turma com ritmos e estilos de aprendizagem distintos, alguns com
adequações curriculares individualizadas, integrando-os num mesmo projeto em que
todos trabalhavam e cooperavam uns com os outros para o mesmo fim. Esta competência
pessoal e profissional adquirida de diferenciar metodologias, estratégias e conteúdos de
79
acordo com os ritmos e estilos de aprendizagem de cada aluno, reforçou a minha visão
não uniformizadora de ensino, de currículo, de diferenciação curricular.
As expectativas e os receios sentidos durante a prática pedagógica levaram-me a
uma pesquisa constante e específica, face à diversidade ao nível do conhecimento e de
ritmos de aprendizagem. Nesse momento senti uma ausência de preparação na formação
académica relativamente à planificação e gestão de turmas com adequações curriculares
distintas. Neste sentido, a orientação tando do professor cooperante, como da professora
supervisora e a necessidade eminente de recorrer a fundamentos teóricos, permitiu-me
clarificar as dúvidas e anseios relativamente a incluir estes alunos num projeto comum.
A ligação que estabeleci à componente teórica surgiu de forma natural com a necessidade
de recorrer constantemente a esta para uma melhor compreensão da minha prática,
destacando a reflexão e análise como um processo crucial na prática do investigador.
O facto de estar constantemente com os alunos com NEE e AC a apoiá-los no
trabalho individual e em grupo, possibilitou a criação de um clima de afetividade, que se
revelou fundamental para a predisposição para executar determinadas tarefas ou
atividades, bem como predisposição para a própria aprendizagem. Também, o facto de
partir de uma temática que faz parte do interesse deles, onde demonstraram uma maior
motivação, pode ser a razão de terem colocado todo o seu esforço na tarefa que estavam
a realizar. Isto posto, independentemente do contexto social, familiar, afetivo e até mesmo
das limitações físicas ou psicológicas que o aluno possa apresentar, cada criança é um ser
único, capaz de aprender e de se desenvolver através de estímulos propositadamente
programados pelo docente.
Ao longo deste capítulo tenho de destacar e sublinhar alguns momentos
pertinentes da investigação e intervenção pedagógica, que contaram como momentos de
socialização profissional entre os diferentes agentes educativos.
Durante a intervenção pedagógica, no dia-a-dia, revelou-se fundamental a partilha
e a experiência no diálogo com o professor cooperante, colega de estágio, os restantes
professores do contexto educativo e assistentes operacionais, traduzindo-se em momentos
de aprendizagem relativamente à burocracia e modo de gerir uma turma, bem como o
consciencializar-me para o trabalho em equipa: o ouvir, respeitar as ideias e cooperar uns
com os outros. O professor cooperante foi imprescindível na integração no ambiente de
turma, como também em ultrapassar a difícil tarefa de comunicar com os encarregados
de educação, já que, estes participaram e integraram o projeto. Ainda devo destacar as
aprendizagens adquiridas sobre as burocracias da prática profissional, nomeadamente na
80
construção de um Plano Educativo Individualizado (PEI) para os alunos com
Necessidades Educativas Especiais (NEE).
De salientar ainda, a importância da empatia criada desde o início com a minha
colega de estágio, que, não obstante das nossas diferenças, permitiu desenvolver
cooperativamente um equilíbrio entre as experiências e as aprendizagens que cada uma
construiu no seu percurso académico.
Um outro âmbito da socialização profissional teve lugar nas reuniões de
orientação com a professora supervisora. Numa das primeiras tutorias esta referiu
“deixem a vossa marca na escola, sejam diferentes”, levando a refletir constantemente
sobre as decisões a tomar no próprio contexto. De tal modo, as tutorias foram importantes
na medida em que me orientaram para uma reflexão constante, recebendo feedbacks por
parte da supervisora para que no fim as escolhas fossem as mais acertadas. Ainda, de
salientar os comentários construtivos de forma a orientar o planeamento das atividades
integradoras e inovadoras no Projeto Curricular Integrado (PCI).
Quanto às limitações sentidas no âmbito da intervenção pedagógica, verifico ainda
muitos obstáculos nas escolas ao não permitirem, por vezes, uma intervenção que foge
àquilo que as práticas burocráticas dos agrupamentos se regem.
Ainda, uma outra limitação é a questão do tempo reduzido que nos é determinado
para a intervenção pedagógica. Mesmo com os dados recolhidos para o foco de estudo
serem suficientes, caso nos disponibilizassem mais tempo, os resultados seriam mais
abrangentes. Fica a sensação de que, quando finalizamos a mesma, é quando se verifica
a confiança depositada, tanto por parte dos alunos como dos restantes agentes educativos.
Para finalizar, como recomendações saliento a importância de se prolongar o
tempo necessário para uma revisão da literatura científica mais aprofundada sobre o tema
em estudo. Mas também, o tempo necessário para uma análise e reflexão dos resultados
obtidos, pois estes requerem uma atenção redobrada das evidências dos alunos nos
registos (escritos, fotográficos, vídeos, …).
Relativamente à recomendação para uma futura investigação, esta temática em
estudo poderia focalizar na identificação das experiências que os alunos vivenciam no seu
meio familiar e recreio, de que forma estas vivências influenciam a construção das suas
ideias prévias. Também, como possível investigação, um trabalho direcionado somente
aos alunos com AC e NEE, para que deste modo se pudesse observar quais os
conhecimentos que possuem e a consequente evolução da (re)construção de
conhecimentos.
81
Em suma, a criança é um ser ativo, pensante, capaz e o papel do adulto é
principalmente, de desafiar, estimular e guiar a criança na construção do conhecimento.
Permanece a vontade de trabalhar, de me confrontar com a realidade, mas, desta vez, com
uma turma onde serei o leme da motivação para os alunos e, da minha parte, o permanente
profissional desafiador.
82
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86
Anexo 1 – Princípios Pedagógicos
Princípio Definição
Aprendizagem Significativa Partindo da realidade próxima do aluno, este irá estabelecer relação entre os conteúdos a adquirir e o
que conhece, contruindo o seu próprio conhecimento. O aluno aprende a refletir na ação e sobre a
ação, tomando consciência da funcionalidade dos conhecimentos adquiridos no contexto escolar nas
circunstâncias reais com que se depare.
Cooperação O projeto rege-se pela criação de momentos em que os alunos possam desenvolver valores e atitudes
de respeito e aceitação do outro pela troca de experiências, partilha de saberes e confronto de ideias,
tanto na turma como na participação e colaboração da comunidade educativa. Podendo desenvolver
hábitos e atitudes de trabalho em grupo em momentos de trabalho cooperativo.
Integração Educar para uma cidadania ativa, de inclusão social, requer definir estratégias de confronto com a
desigualdade de oportunidades e, atender à diversidade étnica, de classe, género e capacidade
individual, a fim de promover a igualdade de oportunidades de sucesso para todos. Para além disso,
partindo das suas conceções e experiências prévias, os alunos devem ser envolvidos ativamente na
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investigação de um problema do/no meio, articulando-o com as diferentes áreas do saber e da
experiência de forma a tornarem as suas aprendizagens mais significativas e relevantes.
Autonomia Garantir práticas de atividade em que os alunos façam parte da tomada de decisões sobre a
organização do processo ensino e aprendizagem, em que possam resolver situações problemáticas do
seu quotidiano e estabeleçam previamente as regras e a postura a adotar em determinada atividade.
Deste modo, preparar os alunos de uma forma autónoma e informada para a vida em sociedade.
Educação para a Cidadania Proporcionando momentos de trabalho de grupo e de conversa em grande-grupo, o aluno desenvolve o
espirito de entreajuda, respeito pela vez do outro falar e constrói laços de afetividade com os seus
colegas.
Responsabilização
O aluno enquanto sujeito ativo responsabiliza-se pelo seu próprio processo de aprendizagem,
desenvolvendo atitudes de caráter investigativo e reflexivo. Também, o aluno faz parte da negociação
de regras e assume um papel nos momentos de trabalho de grupo, responsabilizando-se pelas suas
próprias atitudes.
Espírito Crítico No decorrer do projeto, o aluno de forma crítica e criativa reflete sobre o seu meio físico e social,
responsabilizando pelas suas atitudes enquanto cidadão. Desse modo, são criados momentos de
resolução de conflitos, de reflexão/avaliação do desenvolvimento das atividades e dos trabalhos
apresentados.
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Inovação, Mudança e Diversificado
A escola deve preparar os alunos para viver numa sociedade com caraterísticas cada vez mais
científico-tecnológica, proporcionando atividades, assentes em metodologias inovadoras e
diversificadas, de controlar e gerir a mudança, desenvolver o pensamento científico e investigar
cientificamente ou tecnologicamente.
Participação As atividades propostas devem ir ao encontro às necessidades e interesses dos alunos, de maneira que
independentemente dos ritmos de aprendizagem participem ativamente e significativamente nas
mesmas. Da mesma forma, também deve-se promover a participação da comunidade educativa com a
partilha de conhecimentos e recursos.