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Materiais 1\ cerarrucos LOURENÇO CORRER SOBRINHO GILBERTO ANTONIO BORGES MÁRIO ALEXANDRE COELHO SINHORETI SIMONIDES CONSANI entre os materiais restauradores estéticos, a cerâmica pode ser considerada atual- mente a melhor escolha para reproduzir os dentes naturais. O uso rotineiro das restaurações em cerâmica é um acontecimento recente e sua utilização promoveu uma nova era na Odontologia estética, embora, este material restaurador tenha uma histó- ria antiga e utilização clínica controversa. O emprego clínico da cerâmica consagrou- se ao longo de sua história por apresentar várias características desejáveis como substituto dos dentes naturais, dentre as quais se destacam translucidez, fluorescência, estabilidade química, coeficiente de expansão térmica próximo ao da estrutura dentá- ria, compatibilidade biológica, maior resistência à compressão e abrasão. Portanto, tornou-se um material muito utilizado para confecção de restaurações indiretas e, ainda, encontra-se em pleno desenvolvimento tecnológico, visto que novos materiais cerâmicas têm sido introduzidos durante as duas últimas décadas. Em virtude da grande quantidade de cerâmicas disponíveis no mercado é importante que o profissio- nal conheça basicamente as etapas de produção desse material, bem como sua compo- sição, podendo assim ernpregá-lo com maior segurança. ------~ ------------ -

Capítulo 6 - Odontologia Estética (1)

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Odontologia Estética

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  • Materiais1\cerarrucos

    LOURENO CORRER SOBRINHO

    GILBERTO ANTONIO BORGES

    MRIO ALEXANDRE COELHO SINHORETI

    SIMONIDES CONSANI

    entre os materiais restauradores estticos, a cermica pode ser considerada atual-mente a melhor escolha para reproduzir os dentes naturais. O uso rotineiro dasrestauraes em cermica um acontecimento recente e sua utilizao promoveu umanova era na Odontologia esttica, embora, este material restaurador tenha uma hist-ria antiga e utilizao clnica controversa. O emprego clnico da cermica consagrou-se ao longo de sua histria por apresentar vrias caractersticas desejveis comosubstituto dos dentes naturais, dentre as quais se destacam translucidez, fluorescncia,estabilidade qumica, coeficiente de expanso trmica prximo ao da estrutura dent-ria, compatibilidade biolgica, maior resistncia compresso e abraso. Portanto,tornou-se um material muito utilizado para confeco de restauraes indiretas e,ainda, encontra-se em pleno desenvolvimento tecnolgico, visto que novos materiaiscermicas tm sido introduzidos durante as duas ltimas dcadas. Em virtude dagrande quantidade de cermicas disponveis no mercado importante que o profissio-nal conhea basicamente as etapas de produo desse material, bem como sua compo-sio, podendo assim ernpreg-lo com maior segurana.

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  • A cermica feldsptica definida como umvidro no cristalino baseada na slica (Si02) e nofeldspato de potssio (K20.Al203.6Si02) ou felds-pato sdico (Na20.Al203.6Si02). Vidro, opacifica-dores e pigmentos so adicionados para controlara fuso, temperatura de sinterizao, coeficientede expanso trmica e solubilidade. Classificam-se

    em: alta fuso (>1300C); mdia fuso (1101-1300C); baixa fuso (850-1100C); e, ultra-baixafuso (650-850C).4 Algumas cermicas de ultrabaixa fuso so utilizadas com ligas de titnio outitnio comercialmente puro. As cermicas tam-bm podem ser classificadas de acordo com otipo, uso e mtodo de fabricao (Figura 6.1).

    I . ., I I.. .

    I Restaurao II

    I Metalocermica II

    ITotalmente

    I.- em CermicaFeldsptica I

    I I

    ICermica Vtrea

    I IPrensada / Fresada / Inliltrada por vidro

    I I Feldsptica IFundida / Prensada Coping / Inlra-estruturaI I

    ~ I I I I IDicor Empress 1 OPC Vision Esthetic Finesse VitaPress Alto contedo

    I IBaixo contedo

    Mica Leucita Leucita Leucita Leucita Leucita de Leucita de Leucita

    I I I I I I IEmpress 2 In Ceram

    IVision II Cergogold II D~~~i~a~o II Finesse II Procera II II II Techceram II LavaEsthetic AIICeram Cerec U, 3 CerconDI-Silicato de litio Alumina Leucita LeuCita de ltio l.euota Alumina Ieuota Zircnio Alurnina Zircnio

    II IIn Ceram In Ceram Spinell

    In Ceram Celay Procera AIIZirconZirconia AluminatoZircnio de Magnsio

    Alumina Zircnio-

    FIG.6.1

    Organograma de classificao dos materiais cermicas dentais. Adaptado de TOUAT/, B. et aI. 75 Odontologia esttica e restauraescerrmcas.

  • CAPiTULO 6 MATERIAIS CERMICOS

    As restauraes metalo-cerrnicas so utiliza-das com sucesso clnico desde sua introduo em1956 por BRECKERY Embora as restauraesmetalo-cerrnicas tenham sido padres para aconfeco de restauraes unitrias ou mltiplas,diversos fatores tm sido relatados como desvan-tagem. Deficiente esttica, dificuldade de obtertranslucncia, margem metlica visvel, principal-mente, em regies anteriores e biocompatibilidadeinsuficiente so as maiores desvantagens desse sis-tema. Assim, a exigncia esttica gerou modifica-es no tipo e reteno do preparo prottico paraconseguir espao para a infra-estrutura metlica,bem como a cermica de cobertura. Na tentativade se conseguir esttica mais aceitvel, a estruturaem metal foi reduzida pela eliminao da margemno trmino do preparo;" Todavia, mesmo comtodas as modificaes, em algumas situaes asrestauraes metalo-cerrnicas ainda no apresen-tam resultados estticos satisfatrios. Assim, mui-ta ateno tem sido dada confeco de restaura-es sem a presena do metal.

    a tentativa de utilizar restauraes cermi-cas sem a presena de metal, McLEA e HU-GLES4\ em 1965 desenvolveram uma cermica,na qual um aumento da fase cristalina resultou nacermica aluminizada. Sua composio seme-lhante cermica feldsptica, porm a diferenamarcante a incorporao, em peso, de 40 a 50%de cristais de alumina fase vtrea. Isto resultouno aumento da resistncia do material de 120 a180 MPa, aproximadamente, o dobro da resistn-cia da cermica feldsptica.

    Nas duas ltimas dcadas, novos materiais etcnicas de confeco tm sido desenvolvidos, como intuito de aumentar a resistncia e a estticapara a regio anterior e posterior. Alguns sistemastotalmente cermicos so resumidamente descritosa seguir:

    DICOR

    o material cermico Dicor (Dentsply) foidesenvolvido por Grossman (Corning GlassWorks) e introduzido no mercado no incio dadcada de 80, contendo 45% de cristais de micatetraslica com flor fundido temperatura de1350C a 1400C. O processo de fundio reali-zado pela combinao da tcnica da cera perdidae injeo do vidro fundido por meio de centrifuga-o. Aps confeco, ocorre o processo de recris-

    talizao atravs de um tratamento trmico con-trolado, permitindo o crescimento de cristais(mica) na estrutura do material e aumento da re-sistncia.'? Esse material era indicado para confec-o de coroas anteriores e posteriores, inlays, on-lays e facetas laminadas, no qual er

  • fi , ODONTOLOGIA

    refratrio altas temperaturas, reproduzido atra-vs da duplicao do modelo de trabalho. Sobre a.infra-estrutura opaca aplicada. a cermica de co-bertura livre de leucita Vitadur N ou VitadurAlpha (Vita Zahnfabric, Bad Sackingen, Ger-many), proporcionando uma resistncia flexode 140 MPa.59

    CERMICAS FELDSPTICAS

    So indicadas para restauraes confecciona-das totalmente em cermica com baixo contedode leucita. processo de confeco pode ser efe-tuado sobre modelos refratrios, obtidos pela du-plicao dos modelos de trabalho, como pelaaplicao sobre lminas de platina com 0,025 mmde espessura, adaptadas sobre troquis para obtera forma desejada." So indicadas para a confec-o de coroas unitrias, inlays, onlays e facetas ,l~minadas.

    Sobre o modelo refratrio ou lmina de pla-tina aplicada. a cermica feldspatica dentinriaem dimenses maiores, para compensar a contra-o da queima. So aplicadas e sinterizadas cama-das sucessivas para corrigir a contrao e compen-sar a camada de esmalte. Em seguida, realizasse osajustes necessrios, dando forma adequada ao den-te e aplicao do glaze.

    SISTEMAS CERMICaS INFILTRADOSPOR VIDRO

    Estes sistemas so baseados na confecode uma infra-estrutura em alumina porosa, queposteriormente infiltrada por vidro. Uma ce-rmica feldsptica compatvel termicamente aplicada pela tcni'ca de estratificao para'terminar a restaurao. sistema ln Ceraminfiltrado por vidro se divide em trs diferentesprodutos: ln Ceram Alumina, ln Ceram Spinelle ln Ceram Zirconia e o outro Sistema Techce-ramo

    IN CERAM ALUMINA

    Em 1985, Sadoun introduziu no mercado osistema ln Ceram alumina (Vita Zahnfabric, BadSackingen, Germany) com coping ou infra-estrutu-ra infiltrada por vidro, contendo 70 a 85% de par-tculas de alumina.P-" indicadas para confeco de

    coroas unitrias anteriores, posteriores e pr teseparcial fixa de trs elementos anteriores at canino .

    Delimita-se a margem do troquei de gesso es-pecial, aplica-se o selador (Vita - Zahnfabric H.Rauther GmbH & CO. - Germany) e com auxliode pincel aplica-se a cermica alumnica ln Ceram(Vita - Zahnfabric H. Rauther GmbH & Co. -Germany), preparada da seguinte maneira: 38 gra-mas de p ~~isturadt':>com 5 ml de gua deioniza-da (recpientes pr-medidos), alm da adio de 1gota do agente dispersante para obter mistura ho-mognea. O p dividido em trs partes: a primei-ra parte manipulada num bquer de vidro comauxlio de uma esptula de vidro e, em seguida,colocada no vibrador Vitasonic com gua gelada,por 2 minutos. As outras duas partes so submeti-das ao mesmo procedimento, porm, vibradas por2 e 7 minutos, respectivamente. Aps a manipula-o aplicado o vcuo por 40 segundos para re-mover bolhas de ar. A barbotina (suspenso dexido de alumnio) aplicada sobre o troquei degesso especial, com pincel dando forma ao copingou infra-estrutura do dente, seguida da aplicaodo estabilizador Vita.

    O coping ou infra-estrutura levado ao fornoVita lnceramat (VITA) (Figura 6.2) de acordo comos ciclos de queima: 6 horas a 120C, para remo-ver a gua e os agentes aglutinantes; elevao datemperatura 1120C, por 2 horas, mantendo pormais 2 horas, para aproximao das partculas epromover mnima contrao. Terminado o proce-dimento de queima realiza-se o ajuste do coping ouinfra-estrutura e aplica-se sobre a superfcie exter-na, o vidro aluminossilicato de lntano(LaAl203Si02) misturado com gua com auxlio deum pincel, com a finalidade de preencher os porosda alumina. O coping ou infra-estrutura colocadosobre uma lmina de ouro/platina e levada ao for-no lnceramat para queima por 30 minutos a 200Ce 4 (coroas unitrias) 'a 6 horas (prtese parcialfixa) a 11ooc. vidro funde-se e penetra porcapilaridade dentro no coping ou infra-estrutura.Aps a queima do vidro, o excesso que permanecesobre a superfcie removido com uma ponta ci-lndrica adiarnantada, jateamento com partculasde xido de alumnio (35 e 50 um) seguido daqueima por 10 minutos a 960C, sem vcuo. Afinalizao da restaurao completada pela apli-cao da cermica Vitadur Alpha (VITA) sobre ocoping ou infra-estrutura dando forma final aodente, caracterizao com stain, glaze e fixao aodente (Figura 6.3). Os valores de resistncia fle-

  • xo variam de 450-600 MPa.16,29,34,45,58,79Estudoclnico com avaliao de 7 anos mostrou 97% desucesso para coroas unitrias anteriores e posterio-

    .,.,FIG.6.2

    Forno Inceramat (VITA).

    IN (ERAM SPINElL

    In Ceram Spinell uma cerarruca compostapor alumina e magnsio (MgAI204 - aluminato demagnsio). O procedimento de confeco o mes-mo do In Ceram Alumina. A diferena na compo-sio proporcionou a obteno de um materialcom maior translucidez -em relao ao In CeramAlumina e Zirconia, por causa do baixo ndice derefrao do aluminato de magnsio e da matriz devidro permitindo melhorar os aspectos estticos.Por outro lado, a resistncia flexo de 280 a380 MPa, aproximadamente 25% inferior aoda alumina.25,42,58Em funo da translucidez indicado para coroas unitrias anteriores, inlays,onlays e facetas laminadas. Estudo clnico comavaliao de 5 anos mostrou 97,5% de sucessoclnico para coroas unitrias anteriores.P

    res e prtese fixa anterior." Outro estudo mostrou98% de sucesso para 4 anos de avaliao em 68coroas unitrias posteriores e 28 anteriores. 53

    FIGS.6.3A-D

    A) Situao inicial;B) Incisivos anteriores superiores e caninos preparados para coroastotais;C) Prova dos copings de alumina;D) Coroas totais In Ceram olumina cimentados. (Fotos gentilmentecedidas pelo Dr. Luis Fernando Pegoraro.)

    IN (ERAM ZIRCONIA

    A Inceram Zirconia foi desenvolvijd, paraatender demanda para confeco de prtese par-cial fixa de trs elementos para a regio posterior.Esse sistema desenvolvido pela Vita (Vita Zahnfa-bric, Bad Sackingen, Germany) composto peloadio de 33 % de zirconio parcialmente estabili-zado ao In Ceram Alumina, tornando o materialmais resistente. O procedimento de obteno doIn Ceram Zirconia semelhante ao ln Ceram Alu-mina pela aplicao da barbotina (suspenso dexido de alumnio) num troquel de gesso especial,ou na forma de blocos parcialmente sinterizadospara posterior usinagem no sistema CAD/CAM.

    O In Ceram Zircniaapresenta opacidadeque dificulta sua aplicao em regies que exigempropriedades pticas perfeitas, como em dentes

  • I I I I I

    anteriores. Assim, este material indicado pararegies posteriores, especificamente em prtesefixa de trs elementos para regio de molares (Fi-gura 6.4), coroas posteriores sobre dentes naturaisou implantes posteriores. Os valores de resistncia flexo de aproximadamente 750 MPa.25,68 Aliteratura no apresentou at agora nenhum estu-do clnico do comportamento desse material. Po-rm, uma reviso nos sistemas cermicos relataque investigaes feitas pelo fabricante durantesete anos apresentou 98 % de sucesso clnico.+"

    FIGS.6AA-D

    A) Situao Inicial;B) Elementos dentrios preparados;C) Prova da infra-estrutura em Zirconia;D) Prtese Parcial Fixa In Ceram Zirconia cimentada. (Fotosgentilmente cedidas pelo Dr Luis Femando Pegoraro.)

    TECHCERAM

    Techceram (Tecnblogy Centre) foi lanado no'mercado em 1996 sendo composto por cermica base de alumina e indicada para confeco de co-roas anteriores e posteriores, inlays, onlays e fa-cetas laminadas.

    Delimita-se a margem do troquel de gesso es-pecial, aplica-se o espaador, molda-se com silico-ne por adio. O molde ento vazado com reves-timento refratrio. O troquel obtido posicionadonum dispositivo, de modo que, o mesmo fiquecom uma inclinao de 45 em relao ao plano.Este dispositivo gira possibilitando que a cermica base de alumina seja aplicada sobre o troqueirefratrio, queimada com uma chama de maarico

    oxignio-acetileno, formando um coping eo0,5 mm de espessura. A distncia da chama