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Capítulo 5
A PROMOÇÃO DA ACTIVIDADE FÍSICA DOS ADOLESCENTES
Introdução
Apesar do nosso estudo estar centrado na compreensão dos determinantes que
explicam o comportamento de actividade física, um objectivo mais ambicioso seria obter
resultados que proporcionassem novas directrizes e orientações para a modificação desse
comportamento. Mais concretamente, o presente estudo procura compreender os factores
que influenciam o comportamento de actividade física. Foca, assim, aquilo que é preciso
saber antes de se desenvolver ou organizar um programa de intervenção. Esperamos,
contudo, que o este estudo possa contribuir para o desenvolvimento de intervenções
eficazes, no âmbito da promoção da actividade física dos adolescentes.
Neste sentido, considerámos relevante enunciar, no presente capítulo, alguns
modelos e estratégias de intervenção existentes, e alguns estudos sobre a eficácia dos
programas de intervenção para promoção da actividade física, na referida população.
Sallis e Owen (1999) reconheceram que, apesar das crianças e os jovens
constituírem a faixa etária da população mais activa, as intervenções na actividade física
nestas populações não representam uma prioridade. O facto de o nível de actividade física
diminuir imenso ao longo da idade escolar, de no secundário a maioria dos adolescentes
não preencher as recomendações de actividade física vigorosa e, ainda, de a obesidade
estar a aumentar na infância, tem aumentado a atenção sobre a necessidade de promover a
actividade física dos jovens. O tempo passado a ver televisão, jogar jogos de computador e
vídeo, navegar na Internet e ficar em casa limita a quantidade de tempo disponível para as
distracções activas.
As intervenções para promover a actividade física em geral podem ser
implementadas a vários níveis. Alguns programas focam-se na mudança dos indivíduos ou
grupos, outros procuram abranger populações ou comunidades, assumindo uma
perspectiva mais ecológica e ambiental. As revisões recentes definiram determinados
A promoção da actividade física dos adolescentes
108
constructos importantes para a clarificação do conceito de actividade física, de acordo com
os seus níveis de aplicação: intrapessoal/individual, interpessoal/social e
ambiental/contexto físico (Sallis & Owen, 1999; US DHHS, 1996 cit. in Dubbert, 2002).
Compreender a actividade física e construir programas de intervenção eficazes requer e
implica a atenção para estas três dimensões fundamentais. A tendência na última década
foi no sentido de atribuir mais importância às duas primeiras. Contudo, cada vez mais as
variáveis contextuais inerentes à abordagem ecológica vêm ganhando destaque,
nomeadamente, nas instituições com responsabilidade na promoção da saúde pública.
Em primeiro lugar, tentaremos apresentar algumas estratégias dirigidas aos
indivíduos ou grupos, como a família, e posteriormente alguns programas de intervenção
comunitária, nomeadamente, no âmbito da promoção da actividade física na escola.
1. Estratégias de intervenção focadas no indivíduo ou grupo
Com base na meta-análise de Dishman e Buckworth (1996), Sallis e Owen (1999)
ao reverem as estratégias de promoção da actividade física procuraram caracterizar a
intervenção na actividade física segundo o tipo, o formato e o objectivo. O quadro seguinte
mostra o nível de eficácia de cada intervenção, segundo essas características (Quadro 5.1).
Quadro 5.1 Nível de eficácia da intervenção na actividade física segundo as características
seleccionadas
Características das intervenções Nível de eficácia Tipo de Intervenção
Modificação comportamental Modificação cognitivo-comportamental Educação para a saúde e avaliação do risco de saúde Currículos de educação física
.92 .10 .10 .21
Formato da intervenção Programas administrados directamente (face-to-face) Intervenções mediadas (por mail, telefone ou correio) Combinação de ambos os formatos
.16 .91 .10
Objectivos da actividade Aumento da actividade durante o tempo de lazer Prescrição específica de actividade física aeróbica Treino de força Actividade não supervisionada Actividade de intensidade baixa-a-moderada Contexto comunitários em geral
.85 .18 .46 .78 .94 .82
Legenda: Eficácia baixa =.10; Eficácia média =.30; Eficácia elevada =.50
A promoção da actividade física dos adolescentes
109
Apesar desta revisão não se dirigir exclusivamente aos jovens os resultados
fornecem pistas muito interessantes para a promoção da actividade física em geral,
sobretudo as conclusões de que, as intervenções (tipo) baseadas nos princípios da
modificação do comportamento e dirigidas a pessoas saudáveis da comunidade podem ter
efeitos moderados a elevados (equivalentes a taxas de aumentos dos 50 aos 70% ou mais).
As intervenções mais eficazes envolvem a actividade física não supervisionada, de baixa
intensidade, de recreação e, ainda, que recorrem a estratégias mediadoras (Dubbert, 2002).
Por outro lado, as restantes abordagens do tipo cognitivo-comportamental, a educação para
a saúde e os currículos de educação física apresentam efeitos reduzidos. No entanto, os
autores assumem que a variabilidade dos efeitos deve-se também a factores como, o design
específico da intervenção, a qualidade dos procedimentos, a natureza da população e as
medidas usadas (Sallis & Owen, 1999). Relativamente ao formato, é surpreendente
verificarmos que as intervenções mediadas por telefone ou correio são mais eficazes que as
presenciais ou a combinação dos dois. Quanto ao objectivo, a maior eficácia verificada nas
actividades não supervisionadas durante o tempo livre, de baixa intensidade e em contexto
da comunidade em geral, parece sugerir que a combinação destas abordagens poderá
oferecer resultados prometedores (idibem).
Em seguida, apresentamos uma breve descrição de algumas estratégias usadas nas
intervenções comportamentais e cognitivo-comportamentais (Sallis & Owen, 1999; p.139).
1.1 Modificação comportamental
As intervenções comportamentais baseiam-se no modelo do condicionamento
operante de Skinner (1953) que enfatiza o papel dos antecedentes e consequências como
meio de controlo do comportamento. Para mudar os antecedentes usam-se técnicas de
controlo do estímulo; para alterar as consequências usam-se técnicas que aumentam o
comportamento (e.g. reforço ou recompensas), e técnicas que diminuem o comportamento
(e.g. a punição ou custo de resposta). No Quadro 5.2. são apresentados alguns exemplos
específicos destas técnicas aplicadas num programa de intervenção na actividade física.
A promoção da actividade física dos adolescentes
110
Quadro 5.2 Técnicas de intervenção comportamental (adaptado de Sallis & Owen, 1999, p.139)
Controlo
do estímulo
• Planear momentos e locais específicos para fazer actividade física • Trazer as sapatilhas no carro • Ter equipamento para fazer exercício em casa • Colocar lembretes escritos para fazer exercício • Viver perto de facilidades atractivas para o exercício (ginásios, parques, etc.) • Marcar encontros para prática de actividade física com outros
Reforço ou
Recompensas
• Incluir a socialização enquanto pratica actividade física • Incentivos monetários por andar a pé ou de bicicleta • Sistemas de pontos com certificados ou outros reconhecimentos para
promover a actividade física na idade escolar
Punição ou
custo de resposta
• Desconforto durante o exercício • Stress emocional enquanto caminha num bairro com elevada criminalidade • Ser gozado devido às competências desportivas serem baixas • Medo de ser atropelado por um carro enquanto anda de bicicleta numa
estrada muito movimentada
Neste tipo de intervenção os programas de promoção da actividade física procuram
fornecer reforço para a prática de exercício, e encontrar formas de remover ou reduzir os
factores punitivos. Com este objectivo podem-se construir sistemas de atribuição de
pontos, em que os sujeitos através de um contrato de contingências recebem reforços
(atribuição de pontos) ou punições (remoção de pontos) contingentes à realização ou não
do comportamento específico e operacionalizado nos objectivos de mudança. Estes pontos
são substituídos por prémios ou outro tipo de recompensas.
1.2 Modificação cognitivo-comportamental
As intervenções cognitivo-comportamentais baseiam-se na teoria sócio-cognitiva1
de Bandura (1986). Nesta teoria o comportamento é explicado pela influência recíproca
entre factores pessoais, factores ambientais e o comportamento (determinismo recíproco).
Ou seja, o ambiente influencia o comportamento, mas os indivíduos também modificam o
ambiente. Por exemplo, um jovem que mudou de cidade com a família (meio) pode ver
terminado o seu envolvimento na actividade física de desporto escolar (comportamento)
que mantinha anteriormente por não haver desporto escolar na nova escola (meio). Mas a
sua motivação (comportamento) para ocupar o seu tempo livre com uma actividade física,
pode levá-lo a explorar alternativas (comportamento) existentes na nova cidade que o
1 A teoria sócio-cognitiva baseia-se na teoria da aprendizagem social, segundo a qual, o comportamento é socialmente aprendido, sendo o resultado da interacção recíproca entre o próprio comportamento, factores pessoais e factores sócio-ambientais. Esta teoria tem como premissa que as pessoas aprendem não só através das próprias experiências, mas também observando as acções dos outros e os resultados dessas acções (Bandura,1992 cit. in Glanz, 1999). A teoria sócio-cognitiva explica o funcionamento humano em termos destas três causas recíprocas, considerando os determinantes pessoais na forma de cognições, emoções e factores biológicos.
A promoção da actividade física dos adolescentes
111
levem a preencher as suas necessidades Nesta procura descobre que um colega (social) da
mesma turma pratica andebol num clube da comunidade e desafia-o a ir falar com o
treinador (social). No Quadro 5.3 apresentamos algumas das técnicas provenientes deste
modelo de intervenção.
Quadro 5.3 Técnicas cognitivo-comportamentais (adaptado de Sallis & Owen, 1999, p.139)
Auto-monitorização Ter um diário da actividade física ou da forma como é ocupado o tempo enquanto não está activo.
Formulação de
objectivos
Baseando-se nos resultados da auto-monitorização, os objectivos são formulados para aumentar gradualmente o nível de actividade física. Os objectivos devem ser específicos, quantificáveis e de curto prazo.
Auto-reforço
Admnistrar a si próprio recompensas, de uma forma contingente à concretização dos objectivos. Os reforços podem incluir: ler um livro, ver o programa de televisão favorito, telefonar a um amigo, ou fazer auto-elogios.
Análise da Decisão balanceada
Examinar os “prós” e os “contras” de ser mais activo. Pode também considerar os “prós” e os “contras” de se manter sedentário.
Mudar Diálogo interno
Dar instruções a si próprios através de um diálogo incentivador. O objectivo é aumentar os pensamentos positivos e racionais acerca da actividade física e diminuir os pensamentos automáticos negativos.
Prevenção
de recaída
Todas as pessoas que praticam exercício físico sofrem retrocessos o que as conduz a um estado sedentário. Recaídas a curto prazo são substituídas por recaídas a longo prazo. Para a prevenção de recaídas é importante ter um plano para evitar situações que a potenciem. Quando a recaída ocorre, a pessoa não se deve sentir culpada pelo facto de ter faltado a uma sessão de exercício, deve sim usar auto-instruções positivas que a ajudem a estabelecer um plano de envolvimento activo numa actividade física.
Apoio social
A família e os amigos podem ajudar a pessoa a manter-se activa através do exercício em conjunto, ou substituindo-a em determinadas tarefas enquanto pratica exercício, ou simplesmente encorajando-a a tornar-se mais activa.
Shaping (Esbatimento)
Na mudança da actividade física é preferível fazer aumentos graduais no comportamento, do que repentinos. Os aumentos graduais são mais fáceis de implementar e reduzem o risco de lesões.
De acordo com Dubbert (2002) revisões da literatura, quer quantitativas quer
qualitativas, concluem que intervenções baseadas na teoria cognitivo-comportamental se
revelaram eficazes na mudança do comportamento de actividade física. Vejamos um
exemplo da aplicação da teoria sócio-cognitiva, no âmbito da promoção da actividade
física dos adolescentes, através dos centros de prestação de cuidados de saúde primários
(DuRant & Hergenroeder, 1994).
A promoção da actividade física dos adolescentes
112
1.3 Abordagem sócio-cognitiva
Aplicação nos serviços de cuidados de saúde primários
Nos Estados Unidos, a American Medical Association definiu, em 1994,
recomendações para os Serviços de Prevenção de Saúde dos Adolescentes (GAPS –
Guidelines for Adolescent Preventice Health Services) de utilização pelos profissionais de
saúde com o objectivo de educar os adolescentes em relação aos comportamentos ou
condições que apresentam potenciais consequências adversas para a saúde. Três destas
recomendações2 estavam relacionadas com a promoção da actividade física. A questão
central era saber quais as orientações que deviam ser seguidas pelos prestadores de
cuidados de saúde com vista à implementação as recomendações GAPS, no âmbito da
promoção da actividade física?
Educação para a saúde
A educação para a saúde visou, em primeiro lugar, o controlo dos comportamentos
de saúde indesejáveis e disfuncionais dos adolescentes através do fornecimento de
informação acerca das consequências negativas da emissão desses
comportamentos/actividades. Ora esta abordagem teve pouco impacto nas mudanças dos
hábitos de saúde desta faixa etária (Ashworth, DuRant, Newman & Gaillard, 1992). Ou
seja, esta informação não levou ao emagrecimento dos adolescentes com obesidade, não
erradicou o consumo de tabaco, não influenciou os hábitos alimentares, não mudou o
comportamento sexual (para a prevenção da Sida) ou a gravidez indesejada. Da mesma
forma, não há evidências que mostrem que o conhecimento baseado na abordagem de
educação para a saúde irá influencia a prática de actividade física nos adolescentes
(DuRant & Hergenroeder, 1994).
De facto, é importante que os prestadores de cuidados de saúde primários
compreendam que para que os adolescentes efectuem uma mudança positiva nos seus
2 As três recomendações são: a) Os pais ou encarregados de educação devem receber orientação, pelo menos uma vez, em cada um dos períodos da adolescência (inicial, intermédio e final). Isto pressupõe dar informação aos filhos sobre a importância da abordagem dos comportamentos de saúde adequados e saudáveis, planear actividades, agir como modelo relativamente a esses comportamentos, etc. b) Todos os adolescentes devem receber orientações para a saúde, anualmente, para a promover e reduzir o risco de lesões. Esta orientação inclui conselhos para a promoção da aquisição da condição física adequada antes da prática do exercício... c) Todos os adolescentes devem receber orientação para a saúde, anualmente, acerca dos benefícios do exercício, e
A promoção da actividade física dos adolescentes
113
comportamentos de saúde (prática de exercício físico, duma forma regular), para além de
estarem informados sobre as razões e os factores de risco da emissão de comportamentos
indesejáveis, necessitam de competências, recursos e apoio social para realizarem essa
mudança de forma efectiva (DuRant & Hergenroeder, 1994). A auto-regulação de
comportamentos de saúde requer certas competências de tomada de decisão, auto-
motivação e auto-orientação (Bandura, 1981 cit. in DuRant & Hergenroeder, 1994). Por
outro lado, existe ainda uma diferença entre o possuir as competências necessárias para
regular os comportamentos de saúde, tal como a actividade física, e ser capaz de aplicar
essas competências eficaz e consistentemente nos diversos contextos de vida, onde existem
uma série de barreiras que dificultam a adopção de comportamentos positivos. Deste
modo, o uso com sucesso das competências auto-reguladoras exige que o adolescente
possua uma forte crença na sua eficácia (auto-eficácia) de auto-controlo sobre o
comportamento de exercício, numa variedade de circunstâncias difíceis ou situações de
alto risco, onde existem barreiras à adopção da actividade física regular (Bandura, 1992).
Esta abordagem tem subjacente a teoria sócio-cognitiva de Bandura (1992), que se
baseia na teoria da aprendizagem social3, e que sintetiza conceitos e processos que derivam
dos modelos de mudança de comportamentos cognitivistas, comportamentais e emocionais
(Glanz, 1999). Ou seja, assume que quer os comportamentos prejudiciais quer os
preventivos para a saúde são socialmente aprendidos, propositados, e que o
comportamento funcional resulta da interacção entre factores sócio-ambientais e pessoais.
Neste sentido, comportamentos como actividade física, ver televisão, jogar jogos de vídeo
são aprendidos através de processos de modelamento e reforço que são mediados por
factores pessoais, tais como as cognições, atitudes e crenças (DuRant & Hergenroeder,
1994). Vejamos um exemplo apresentado pelos autores:
Uma adolescente de 15 anos sedentária vive com a família que nunca a encorajou a fazer exercício ou lhe proporcionou oportunidades para aprender actividades agradáveis, tais como nadar em equipas da comunidade, classes de ginástica ou integrar equipas de desporto colectivo. A maioria dos amigos é sedentária, e quer eles, quer ela podem acreditar que suar não é “coisa de raparigas” ou não é “fino” (e.g. “Os rapazes não gostam de raparigas atléticas”). Em vez de passar o seu tempo livre (tardes sem aulas ou fins de semana) envolvida em desportos organizados, ou num programa de exercício regular (jogging) ela diverte-se mais a ir com os amigos para a alameda, a conversar ao telemóvel, a ouvir
devem ser encorajados a praticar exercício seguro numa base regular (DuRant & Hergenroeder, 1994, p.448). 3 Teoria da aprendizagem social – o comportamento é socialmente aprendido sendo o resultado da interacção reciproca entre o próprio comportamento, factores pessoais e factores sócio-ambientais.
A promoção da actividade física dos adolescentes
114
música, ver vídeos e T.V. Nunca lhe falaram sobre o exercício (de uma forma eficaz), sendo improvável que comece a praticar exercício através da informação que receber da educação para a saúde (p.450).
Segundo Bandura (1992) para se reduzir o risco de adopção de comportamentos
prejudiciais à saúde e aumentar a probabilidade de adesão a comportamentos saudáveis
(exemplo: a actividade física) existem quatro factores que, provavelmente, podem alterar
cada um dos três determinantes enunciados atrás:
1º) Aumentar a atenção e o conhecimento sobre a saúde, riscos e benefícios sociais
inerentes à adopção de comportamentos particulares;
2º) Melhorar as competências sociais e auto-reguladoras que os adolescentes
possuem, necessárias à implementação de acções de prevenção efectivas;
3º) A quantidade de situações formais e informais nos gabinetes dos médicos, nas
escolas, nos grupos religiosos, nos grupos de pares, na comunidade que
providenciam oportunidades que permitem aumentar as competências e
construir uma auto-eficácia resiliente – guiar a prática e fornecer feedback
correctivo – e aplicar essas competências a situações com barreiras à prática de
actividade física;
4º) A quantidade de apoio social que previne a adopção de comportamentos
prejudiciais à saúde que promove os comportamentos de saúde preventivos e
que está disponível aos adolescentes (DuRant & Hergenroeder, 1994, p. 450).
Contudo, nem sempre estes quatro factores estão disponíveis para um número
considerável de adolescentes em várias situações sociais, principalmente ambientes sociais
de elevado risco. Vejamos algumas estratégias de intervenção propostas pelos autores, com
orientações práticas, e que visam de desenvolver os quatro factores promotores da
mudança, e susceptíveis de aplicação em contextos dos cuidados de saúde primários.
Em primeiro lugar, e no sentido de melhorar o primeiro item, deve-se começar por
facultar informação, discutir formas de iniciar acções e formular objectivos. As estratégias
de promoção da saúde mais eficazes nos jovens são as que procuram desenvolver neles a
crença de que têm capacidade para mudar o comportamento ou hábito de saúde4, e as que
4 Este argumento remete-nos para a noção de percepção de auto-eficácia, que segundo Bandura (1992) é a crença do adolescente de que é capaz de exercer controlo sobre a sua motivação, o seu comportamento e o ambiente social. Vários estudos referem que a percepção de auto-eficácia dos adolescentes relativa ao comportamento de saúde é o preditor mais
A promoção da actividade física dos adolescentes
115
ensinam formas práticas de alcançar essas mudanças (Maddux & Rogers, 1983 cit. in
DuRant & Hergenroeder, 1994). A informação a fornecer pelos profissionais de saúde aos
adolescentes não deve amedrontá-los relativamente ao comportamento de saúde, mas sim
fornecer-lhes informação factual acerca do comportamento, isto é, os benefícios e perdas
associados aos vários comportamentos de saúde positivos e negativos, e as “dicas”
necessárias para que exerçam controlo pessoal sobre os seus hábitos de saúde5 (Bandura,
1992).
Por exemplo, um rapaz de 14 anos com excesso de peso, provavelmente, irá muitas vezes ignorar o conselho do profissional de saúde de que deve “fazer um pouco de exercício” como estratégia de controlo do ganho ponderal (perder peso). Provavelmente, nas aulas de educação física nunca foi explicado a este jovem como desenvolver um auto-programa estruturado de actividade física aeróbica; provavelmente na sua família nuclear ninguém pratica exercício; e talvez os amigos manifestem comportamentos sedentários. Para ser eficaz, o profissional de saúde necessita de lhe fornecer informação factual acerca dos benefícios dos vários tipos de actividade física, e a relação entre a actividade aeróbia e anaeróbia, dieta alimentar e perda de peso (p.451).
Assim, o profissional de saúde deve discutir com os adolescentes estratégias
práticas que promovam o início de programas de actividade física nos quais estes sintam
que conseguem efectuá-los e que poderão evoluir lentamente para níveis de actividade
física recomendados. A formulação de objectivos realistas e graduais é uma estratégia útil
que previne a desmotivação inicial devido à baixa percepção de auto-eficácia, podendo ser
acompanhada de um registo diário de auto-monitorização da actividade física de cada dia,
e que o adolescente consultará após completar certas etapas. Esta estratégia poderá ajudá-
lo a adquirir a crença de que a mudança efectiva e eficaz só é possível pelo reconhecimento
da exequibilidade dos objectivos de curto prazo. Ainda nesta fase, os adolescentes devem
aprender que uma mudança bem sucedida só ocorre através de novos esforços seguidos de
várias tentativas falhadas, e que por isso a perseverança é essencial para que a percepção
importante do nível de resposta às mensagens de saúde (Bandura, 1986; Maibach et al., 1991; Slater, 1989, Bandura, 1991; O’Leary, 1985 cit. in DuRant & Hergenroeder, 1994). Esta crença influencia a direcção, intensidade de esforço e persistência que o adolescente aplica num comportamento face às dificuldades, e ainda, influencia o padrão de pensamento que poderá ser auto-depreciativo ou auto-encorajador (Bandura, 1992). Isto significa que os adolescentes vêm poucas razões para tentar mudar o seu comportamento se acreditarem que não têm controlo suficiente sobre o seu próprio comportamento, ou sobre os comportamentos ou influência social dos outros (ibidem). 5 Em geral as pessoas interpretam a informação relativa às actividades de risco em termos de potenciais ganhos e perdas que advêm dessa actividade (DuRant & Seymore, 1991; ibidem). Estudos demonstraram que a informação sobre saúde fornecida apenas em termos de benefícios de um comportamento tem menos impacto na mudança de comportamentos indesejáveis, e na promoção de comportamentos de saúde positivos, do que a informação fornecida em termos de perdas e ganhos pessoais (Bandura, 1992; ibidem).
A promoção da actividade física dos adolescentes
116
de eficácia do adolescente não diminua, quando confrontado com alguns obstáculos
(Bandura, 1986). Neste caso, o papel do profissional de saúde é reforçar a mensagem sobre
a saúde nas sucessivas sessões com o adolescente (DuRant & Hergenroeder, 1994).
Em segundo lugar, intervir no segundo factor exige o ensino de competências e
estratégias para iniciar a mudança. As competências a desenvolver devem ser específicas
para o tipo de comportamento de saúde a mudar, e para o ambiente social em que o
adolescente vive. Se o componente de modelamento de um programa de educação para a
saúde for conduzido por alguém com quem o adolescente se possa identificar étnica ou
culturalmente será mais provável que venha a adquirir o conhecimento, competências e
percepção de auto-eficácia necessários para mudar o seu comportamento6. Para atender a
este dado importante o profissional de saúde, com vista a aumentar a sua eficácia, poderá
recorrer a vídeos educativos com actores adolescentes para promover a actividade física ou
exercício dos seus doentes.
Em terceiro lugar, deve-se orientar os adolescentes para as oportunidades que
possam encontrar e fornecer feedback relativamente ao comportamento que conseguem
levar a cabo. Inicialmente deve dar-se oportunidade de praticar as competências em
situações simuladas onde o adolescente não terá receio de cometer erros ou parecer
inadequado. Para tal o role-playing é uma estratégia útil, através da qual o adolescente
pratica a forma como pode lidar com o tipo de situações que tem de enfrentar no seu
ambiente social real. O profissional de saúde deverá dar feedback correctivo contingente à
aprendizagem, até que o adolescente desempenhe as competências de uma forma
consistente e espontânea7. Posteriormente, deve ser dada a oportunidade ao adolescente de
praticar as competências em situações reais. Este processo deve ser acompanhado por
feedback e reforço, e finalmente, deve-se efectuar consultas de follow-up para dar
feedback contínuo, e ajudar a reforçar as competências de auto-eficácia aprendidas, de
forma a conseguirem realizar o comportamento em qualquer situação (nomeadamente as
de maior risco).
Em quarto e último lugar, deve-se orientar os adolescentes para criarem as suas
próprias redes de suporte. Para tal, deve-lhes ser lembrado que qualquer mudança nos
6 Os adolescentes avaliam a sua capacidade de adoptar certos tipos de actividade física regular, e de lidar com algumas barreiras, em parte, com base na forma como os outros pares (modelos) com quem se identificam exercem controlo sobre situações semelhantes (DuRant & Hergenroeder, 1994). 7 O acumular de experiências de controlo sobre as situações sociais vai permitir o desenvolvimento da auto-eficácia (Bandura, 1988 cit. in DuRant & Hergenroeder, 1994).
A promoção da actividade física dos adolescentes
117
comportamentos de saúde ocorre dentro de redes de influência social (Bandura, 1986) e
que a natureza dessas redes pode ajudar, retardar ou limitar os esforços de mudança dos
jovens. Isto aplica-se ainda mais aos comportamentos prejudiciais à saúde, dado que estão
mais fortemente sujeitos a influências sociais normativas. O profissional de saúde necessita
de formas práticas de ajudar o adolescente a quebrar os laços com as redes sociais que não
promovem a mudança, e a desenvolver fortes envolvimentos com redes de apoio à
mudança positiva (DuRant & Hergenroeder, 1994).
Para finalizar esta abordagem, apresentamos ainda sucintamente, um modelo de
promoção da actividade física dos adolescentes, no qual se procura aplicar estas medidas
no contexto clínico dos cuidados de saúde primários, ou seja, através de consulta médica.
O modelo designado “GAPS” desenvolvido por Schubiner (in press) foi elaborado
em conjunto com as recomendações da AMA (DuRant & Hergenroeder, 1994). A sigla
GAPS8 representa cada uma das fases do programa de intervenção, que enunciamos em
seguida:
1ª (G) Obter informação
Nesta primeira fase determina-se qual a fase de mudança em que se encontra o
adolescente relativamente ao seu comportamento de actividade física.
2ª (A) Avaliação adicional
Na segunda fase, se o adolescente está no estádio de manutenção relativamente à
actividade física, o profissional de saúde deve limitar-se a reforçá-lo e a dar-lhe alguns
conselhos acerca da prática adequada, da importância do aquecimento antes do exercício e
de outras técnicas para evitar lesões. No caso do adolescente não praticar actividade física
adequada o profissional deve passar à fase de intervenção seguinte.
3ª (P) Identificar o problema, os prós e contras e planificar
Nesta fase, o profissional e o adolescente devem chegar à conclusão de que existe
um problema, depois determinar os comportamentos que este poderá mudar, estabelecer
objectivos para a actividade física, e desenvolver um plano para a mudança.
4ª (S) Auto-eficácia, resolução de barreiras e estabelecer um contrato
Na última fase, pode, então, discutir-se a probabilidade de o adolescente conseguir
cumprir o plano e atingir os objectivos definidos.
A promoção da actividade física dos adolescentes
118
Intervenção com as famílias para promoção da actividade física nos jovens
A família é um modelo de socialização para as crianças e jovens, transmitindo
valores e normas que influenciam a formação das atitudes e aquisição de comportamentos
associados à prática de actividade física. Para além deste papel de modelo na transmissão
destes valores, os pais são uma fonte de desenvolvimento de uma capacidade fundamental
para a adesão à actividade física pelas crianças/jovens – a percepção de competência
pessoal (McElroy, 2002 cit. in Calmeiro & Matos, 2004).
Uma vez que as crianças, e em certa medida os adolescentes, estão sob a influencia
e dependência dos pais, e constatando-se que são, de facto, os pais que controlam o acesso
dos filhos a programas de actividade física, podendo as famílias apoiar-se mutuamente e
fazer actividade física em conjunto, alguns programas de intervenção baseados no
indivíduo são implementados para toda a família (Sallis & Owen, 1999). Contudo, a
maioria das famílias encontra imensas barreiras à prática de actividade física devido aos
conflitos existentes entre a escola e o trabalho. Dois estudos, um desenvolvido por
Baranowski et al. (1990) e outro por Nader et al. (1989) retratam este problema. Ambos
tinham como objectivo a promoção da actividade física e as mudanças na alimentação em
famílias saudáveis; utilizaram a abordagem educativa (e.g. fornecer informação, ensino de
competências comportamentais para a mudança e formulação de objectivos) e a prática de
exercício em conjunto. Os resultados obtidos não foram satisfatórios, principalmente, pela
pouca assiduidade das famílias. A conclusão a retirar de ambos é a de que intervenções em
famílias saudáveis, através de programas de educação para a saúde, não são eficazes na
promoção da actividade física das crianças. No entanto, este tipo de intervenções mostra-se
eficaz com crianças obesas e suas famílias, na promoção da alteração do comportamento
alimentar e, simultaneamente, da actividade física. O mesmo não se verifica com os
adolescentes, com a mesma patologia (ibidem).
A percepção de perda de peso é muitas vezes identificada como uma preocupação
significativa nos adolescentes, e por isso, poderá ser vista como um aspecto da qualidade
de vida e saúde. Existe alguma evidência de que os programas que promovem a actividade
física como estilo de vida, ou seja, que encorajem as crianças a integrar a actividade física
nas suas rotinas diárias são mais efectivos na redução do peso, que os programas de
exercício estruturados (Epstein et al., 1998). Contudo, nenhum estudo examinou se a
8 GAPS (G= Gather information; A= Assess Further; P= Problem Identification, Pros and Cons, Plan; S= Self-efficacy,
A promoção da actividade física dos adolescentes
119
actividade física previne o ganho de excesso de peso ou de gordura corporal na população
adolescente (cit. in Baranowski et al., 2003).
2. Intervenção focada na comunidade e população
Sendo o sedentarismo um problema que afecta a nossa a sociedade, principalmente
nos países desenvolvidos, e considerando que a promoção da actividade física da
população em geral um dos objectivos mais importantes ao nível da saúde pública, a
solução para a resolução do problema não poderá centrar-se, só, em intervenções focadas
nos indivíduos ou em pequenos grupos.
De acordo com os objectivos para 20109 – “Healthy People 2010” (ver Capítulo 1)
- pretende-se aumentar a percentagem da população adolescente e adulta que pratica
determinada actividade física com determinada intensidade e frequência.
Mas como é que estes objectivos poderão ser alcançados?
Karen e Glanz (1999) especialistas na promoção da saúde pública postulam que os
programas que se baseiam na compreensão dos comportamentos de saúde e no contexto
ambiental onde se inserem, são os que apresentam uma maior probabilidade de sucesso
(Sardinha et al., 1999).
Procuramos agora focar os esforços em massa para promover de forma mais ampla
a participação na actividade física. Este tipo de abordagem inclui os programas de
promoção da actividade física a implementar na escola ou nos locais de trabalho, apesar de
nosso estudo apenas nos interessar a promoção da actividade física no contexto escolar.
Com efeito, as duas maiores componentes das abordagens em larga escala, dirigidas a toda
a comunidade ou população, são: os programas nos quais os média são a principal
componente, e as mudanças ambientais e políticas que podem tornar a actividade física
uma opção mais acessível à maioria das pessoas (Sallis & Owen, 1999).
solving barriers, stake on a contract). 9 Objectivos específicos para 2010: (a) aumentar a proporção de adolescentes que pratica actividade física vigorosa três ou mais dias por semana, durante 20 minutos ou mais por ocasião; (b) aumentar a proporção de adultos que pratica de forma regular, de preferência diariamente, actividade física moderada pelo menos 30 minutos por dia (Dubbert, 2002)
A promoção da actividade física dos adolescentes
120
2.1 Promoção da actividade física na escola
Os primeiros esforços para prevenir o crescimento do sedentarismo nas crianças e
jovens envolveram mudanças nos programas da educação física na escola (Kaplan et al.,
1993). Mas, vários são os factores que dificultam esta tarefa. Apesar de actualmente, se
constatar que os jovens necessitam de ser activos de uma forma regular e de aprender
actividades que possam ser facilmente transferidas para o mundo dos adultos, a maioria
dos programas de educação física ensinam desportos e actividades físicas que a maioria
dos adultos não pratica, tais como, futebol, andebol, basquetebol, etc. As actividades de
fitness que promovem a condição física, tal como correr e ginástica aeróbica são raramente
incluídas nos currículos. Por outro lado, as aulas de educação física nem sequer
providenciam aos alunos uma quantidade suficiente de actividade, uma vez que, em grande
parte delas têm de estar à espera da sua vez de jogar10. Estes dados confirmam a
necessidade que existe em melhorar os programas de educação física aplicados nas escolas
(Kaplan et al., 1993; Sallis & Owen, 1999). Deste modo, apesar de existir um forte
movimento para a adopção da promoção da actividade física como a primeira missão da
educação física, nem todos aceitam os objectivos relacionados com a saúde (Pate & Hohn,
1994). De qualquer forma, sejam quais forem os objectivos, não se podem promover
competências motoras através das tradicionais aulas em que se ouve o professor e se
observa os outros, o que mostra que o maior problema reside, de facto, nos programas das
aulas de educação física (Sallis & Owen, 1999).
Perante esta situação, muitos profissionais de saúde consideram que o potencial de
educação física não está a ser optimizado com vista à melhoria da saúde das crianças e
jovens, pois para além de não providenciar a actividade física suficiente durante a escola,
também não ensina como se pode adoptar um estilo de vida activo e manter esse estilo na
adultez (Sallis & McKenzie, 1991; Corbin, 1994 cit. in Sallis & Owen, 1999).
No entanto, apesar destes factores, a escola é, indiscutivelmente, a primeira
instituição na sociedade com responsabilidade na promoção da actividade física dos jovens
na maioria dos países, pois o potencial da educação física em chegar virtualmente a todas
as crianças faz dela um recurso importante e único (Sallis & Owen, 1999). É, por isso, que
10 Observações intensivas de aulas em escolas do 1º e 2º ciclo dos EUA dadas por professores de educação física certificados, revelaram que as crianças realizavam actividade física vigorosa apenas durante cerca de 3 minutos em cada meia hora de aula, ou seja, 10% do tempo (Simons-Morton, Taylor & Snider et al., 1994). Um estudo na escola primária em quatro estados, concluiu que as crianças passam cerca de 30 minutos por semana (cerca de 34% do tempo de aula) a fazer qualquer actividade física durante a aula de educação física (McKenzie, Nader & Strikmiller et al., 1996). Estes
A promoção da actividade física dos adolescentes
121
a educação física na escola continua a ser muito recomendada, como um meio para
promover a actividade física (Mackenzie, Sallis, Prochaska, Conway, Marshal &
Rosengard, 2004). Vários têm sido os esforços para implementar mudanças ao nível da
educação física, reforçando as actividades de fitness como promotoras da saúde física,
nomeadamente, a introdução gradual e de forma positiva da corrida e de outras actividades
aeróbicas (Kaplan et al., 1993).
Em 1983, um estudo levado a cabo por Dunan, Boyce, Itami e Puffenbarger, em
que estes aplicaram um programa de corrida, mostrou que a resistência cardiovascular dos
alunos aumentou, sendo necessário cada vez menos tempo de corrida; contudo esta
resistência diminuiu no Verão pelo facto de não se manter o mesmo nível de actividade
física (Kaplan et al., 1993). Este dado indica a necessidade de se incluírem competências
cognitivo-comportamentais que permitam às crianças aprender a manter a sua actividade
física de forma mais autónoma. Os cursos que ensinam este tipo de competências de
mudança comportamental são mais adequados perto do final da escolaridade. Apesar disto,
apenas 26% dos Estados Unidos da América incluíram cursos sobre a actividade física e
tempo de vida (Pate, Small, Ross et al., 1995). Existem algumas evidências de que este
tipo de cursos pode apresentar efeitos a longo-prazo (Brynteson & Adams, 1993 cit. in
Sallis & Owen, 1999).
A possibilidade de melhorar a qualidade da educação física na escola primária foi
demonstrada em estudos através da mudança dos currículos e treino de professores. Os
currículos relacionados com a saúde enfatizam actividades que as crianças podem manter
pela vida fora, que podem ser praticadas fora da escola e não exigem constituição de
equipas (e.g. andar, corrida, ténis, jogos e dança aeróbica); por outro lado, estes currículos
procuram manter todas as crianças o mais activas possível, providenciando equipamento
suficiente para todas, evitando jogos com revezamentos, e investindo em jogos com
pequenas equipas; o divertimento na actividade física é desenvolvido através do frequente
encorajamento e elogio; procura-se evitar a vitória e colocar os estudantes a seleccionar as
equipas, e utiliza-se o exercício físico não como uma punição (Sallis & Owen, 1999).
Um programa para a promoção da actividade física do Texas – “Go for Health
Study”, concluiu após dois anos de intervenção que as crianças eram activas em 40% das
aulas de educação física contra 10% das crianças do grupo de controlo. Utilizaram como
dados mostram que a actividade física praticada nas aulas de educação física é reduzida (Sallis & Owen, 1999).
A promoção da actividade física dos adolescentes
122
estratégia o treino de professores e o encorajamento da sua própria actividade física
(Simon-Morton, Parcel & Baranowski et al., 1991 cit. in Sallis & Owen, 1999).
Outro programa desenvolvido nos EUA - CATCH (Child and Adolescent Trial for
Cardiovascular Health; McKenzie, Nader, Strikmiller et al., 1996) envolveu mais de 5.000
crianças e adolescentes do terceiro, quarto e quinto ano de escolaridade de 96 escolas e
tinha como objectivo: aumentar a actividade física moderada e vigorosa durante as aulas de
educação física e fora da escola e aumentar a condição física dos alunos. O programa
incluía mudanças nas turmas e currículos de educação física, para além de uma
componente referente à nutrição. Os resultados foram positivos ao demonstrar um aumento
da actividade física nas aulas (os alunos eram activos em 51% das aulas de educação física
contra os 42% dos alunos do grupo de controlo) e um aumento da actividade física
vigorosa fora da escola. Um estudo de follow-up de três anos depois com estudantes do
oitavo ano de escolaridade (que frequentaram o CATCH no quinto ano) concluiu que estes
mantinham um elevado grau de actividade física (Nader, Stone & Lytle et al., 1999 cit. in
Dubbert, 2002).
Em 1997, Sallis, McKenzie e Alcaraz et al. desenvolveram outro projecto SPARK
(Sport Play and Recreation for Kids) que aplicaram a 900 estudantes de sete escolas. Este
projecto avaliou um currículo de educação física e de auto-regulação do comportamento
em algumas classes, umas dirigidas por experts outras por professores treinados pelo
projecto. A qualidade dos métodos incluía encorajar actividade de fitness, dar instruções
gerais e fornecer actividades de demonstração. Os resultados demonstram que os dois tipos
de classes de educação física aumentaram a quantidade de minutos de actividade física
moderada e vigorosa durante a aula, i.é, as classes de professores treinados obtiveram 32.7
minutos contra 17.8 minutos nas classes de controlo. Por sua vez, as classes dirigidas por
especialistas do projecto obtiveram 40.2 minutos (Sallis & Owen, 1999). Os professores
melhoraram o uso dos métodos de ensino e os alunos também apresentaram melhorias nas
suas competências físicas (McKenzie, Alvaraz, Sallis & Faucetter, 1998 cit. in Dubbert,
2002).
Ainda relativamente ao SPARK, devemos acrescentar que um estudo de follow-up
de um ano e meio após a intervenção revelou efeitos a longo-prazo quer nos professores,
quer nos alunos (McKenzie, Sallis, Kolody & Faucette, 1997). Os professores que
receberam treino e apoio durante a intervenção eram os que continuavam a ter maiores
A promoção da actividade física dos adolescentes
123
níveis de actividade física nas aulas após o apoio ter cessado, assim como 88% dos alunos
se mantiveram, igualmente, activos desde a intervenção. Quanto aos professores que
receberam treino após a intervenção, sem apoio, verificaram que as suas classes, apesar de
terem sido dirigidas pelos especialistas do projecto durante a intervenção, apresentaram
resultados semelhantes aos das classes de controlo. Isto significa que os professores com
treino e apoio em simultâneo podem melhorar as suas classes de educação física, em
qualidade e quantidade (Sallis & Owen, 1999).
Dados recentes referem, contudo, que as intervenções predominantemente
ambientais que manipulam a educação física na escola aumentam a actividade física nos
rapazes, mas não nas raparigas (Sallis, McKenzie & Conway, 2003). Esta ideia é
confirmada num estudo desenvolvido por Mckenzie, Sallis, Prochaska, Conway, Marshal e
Rosengard (2004) em que os autores implementaram e avaliaram uma intervenção, cujo
objectivo era aumentar a actividade física durante as aulas de educação física nas escolas
do ensino básico e secundário. Este programa, com duração de dois anos, intervinha ao
nível do currículo, do desenvolvimento de recursos humanos e avaliações de follow-up. Os
resultados revelaram efeitos significativos da intervenção (p=.02): a actividade física
moderada a vigorosa (MPVA11) aumentou 3 minutos por aula, houve efeitos cumulativos
de 18% de aumento de MVPA por ano, havendo um efeito maior nos rapazes (d=.98) do
que nas raparigas (d=.68). Os autores concluíram que o programa estandardizado
aumentou a MVPA na escola básica e secundária, sem exigir um aumento da frequência e
duração das aulas de educação física, tendo sido bem aceite pelos professores. Apesar de
reconhecerem a necessidade de elaborarem estratégias adicionais para as raparigas, o
programa evidencia potencial para a posterior generalização na sua aplicação noutros
contextos escolares.
2.2 Promoção da actividade física no âmbito dos serviços de cuidados de saúde
primários
Em 2000, um grupo de investigadores (Patrick, Sallis, Lydston, Prochaska, Calfas,
Zabinski, Wilfley & Saelens, 2000) iniciou o projecto PACE+ (Counseling Adolescents for
Exercise and Nutrition) para os adolescentes através dos serviços de cuidados de saúde
primários, com cerca de 878 utentes entre os 11 e os 15 anos de idade oriundos de San
A promoção da actividade física dos adolescentes
124
Diego, nos EUA. Os participantes foram aleatoriamente seleccionados pelos profissionais
de saúde para receber duas sucessivas “doses” do PACE+ num ano ou para receber
conselhos sobre comportamento de protecção solar (condições do grupo de controlo). Este
estudo avaliou quatro comportamentos: 1) actividade física moderada e vigorosa; 2)
hábitos sedentários; 3) consumo total de dieta gorda; 4) consumo de fruta e vegetais. A
intervenção incluiu avaliação computadorizada do comportamento e formulação de
objectivos, conselhos do profissional de cuidados de saúde primários, e um extensivo
manual de aconselhamento telefónico baseado nas fases de mudança. O aconselhamento
telefónico e os materiais enviados e imprimidos guiaram os adolescentes na aplicação de
competências cognitivo-comportamentais que permitissem mudanças no comportamento.
Os resultados preliminares após 6 meses demonstraram a eficácia do PACE+, pois
registaram-se mudanças da fase pré-acção para a fase acção ou manutenção para a
actividade física (p<.05), para o consumo de frutos e vegetais (p<.001) e para o consumo
de dieta gorda (p<.05). As medidas da actividade física através de acelerómetros indicaram
efeitos positivos da intervenção em minutos de actividade física vigorosa (p<.05), mas não
para a moderada. Os efeitos da intervenção também foram encontrados para as medidas de
auto-relato dos hábitos sedentários (p<.01), para o consumo de frutos e vegetais (p<-01) e
para o consumo de dieta gorda (p<.05).
2.3 Abordagem ecológica
Os modelos ecológicos de comportamentos de saúde realçam os indivíduos assim
como os factores sociais e ambientais que podem facilitar ou inibir o comportamento
individual (Sallis & Owen, 1997cit. in Spence & Lee, 2003).
A perspectiva ecológica tem dois pressupostos essenciais que orientam as
intervenções na promoção da saúde quer partindo do indivíduo, quer partindo do ambiente.
O primeiro pressuposto é o de que o comportamento é determinado por múltiplos
níveis de influência. Os níveis de influência identificados para comportamentos
relacionados com a saúde são: factores intrapessoais ou individuais; factores interpessoais
ou de grupo; factores organizacionais ou institucionais; factores comunitários; factores
políticos (McLeroy, Steckler & Glanz, 1988 cit. in Glanz, 1999). Por exemplo: um
adolescente aconselhado pelo médico de família a praticar actividade física para diminuir
11 MVPA - Medida única que avalia a acumulação de 60 minutos de actividade física por dia moderada a vigorosa
A promoção da actividade física dos adolescentes
125
um súbito aumento de peso recente pode adiar, constantemente, o início dessa prática por
falta de motivação (factor intrapessoal). Contudo, a sua atitude pode também ser
influenciada pelo facto de nenhum dos seus amigos praticar actividade física (factor
interpessoal), de não haver nenhum ginásio ou local apropriado próximo (factor
organizacional) ou por dificuldade em pagar o elevado preço das actividades disponíveis
num helth club (factor comunitário).
O segundo pressuposto estabelece a possibilidade da existência de uma relação
causal recíproca entre os indivíduos e os seus ambientes, ou seja, o comportamento tanto
influencia como é influenciado pelo ambiente social (Glanz, 1999). Por exemplo, o mesmo
adolescente, ao desejar participar numa das actividades físicas extra-curriculares da sua
escola vê-se impedido de o fazer por o seu horário escolar não ser compatível com o
horário dessa actividade. Poderá, então, sugerir aos responsáveis pelo planeamento das
actividades físicas que mudem o horário da actividade em questão, de forma a que todos os
alunos tenham a mesma oportunidade de acesso. Ou poderá, ainda, convencer os
participantes da actividade física a reivindicarem junto dos responsáveis por um horário
mais favorável a todos, levando-os a sentirem-se pressionados a fazê-lo sob pena de
ficarem sem participantes.
Posto isto, as vantagens das intervenções a vários níveis combinando factores
comportamentais e ambientais são claras. E, neste sentido a intervenção efectuada com
base nas abordagens ecológicas tem sido amplamente discutida (McLeroy et al., 1988),
podendo incluir, também, legislação e políticas de acção. Por exemplo, colocar apenas
produtos saudáveis nas máquinas de venda automática, no âmbito da promoção dos
hábitos alimentares (Glanz, Lankenau, Foerster, Temple, Mullis & Schmid, 1995 cit. in
Baranowski et al., 2003). No que concerne à promoção da actividade física, desenhar os
bairros de forma ecológica, efectuar mudanças no ambiente físico e, nomeadamente,
prever a existência de equipamentos que incitem a prática de actividades físicas e de
recreação (Jago & Bailey, 2001), ou colocar sinais que incentivem o uso das escadas em
vez do elevador (Kerr, Eves & Carroll, 2001, ibidem).
Medidas de intervenção ambiental como a construção de zonas exclusivamente
pedonais, de ciclovias ou passeios marítimos, aproveitando muitas vezes os recursos
naturais existentes nas localidades e garantindo a segurança dos utentes, parecem encorajar
(moderate-to-vigorous physical activity – MVPA).
A promoção da actividade física dos adolescentes
126
actividades como andar a pé ou de bicicleta, correr, andar de patins (Calmeiro & Matos,
2004).
Estudos com jovens demonstram que os rapazes têm mais probabilidade de serem
activos ao ar livre e com supervisão, enquanto que as raparigas têm mais probabilidade de
serem activas “dentro de portas” (indoors) e sem supervisão (Sallis, Conway, Prochaska,
MacKenzie, Marshall, Brown, 2001 cit. in Baranowski et al., 2003). As intervenções
ambientais predominantes que manipulem a educação física na escola aumentam a
actividade física entre os estudantes rapazes, mas não entre as raparigas (Sallis, McKenzie,
Conway et al., 2001, ibidem).
De facto, apesar das facilidades do ambiente, estudos demonstram que os factores
individuais e sociais estão mais fortemente correlacionados com actividade física do que o
acesso às facilidades recreativas (Giles-Corti & Donovan, 2002 cit. in Baranowski et al.,
2003). Por outro lado, nem sempre são óbvios os preditores das investigações ecológicas
como é o caso das crianças dos bairros de baixo nível sócio-económico. Ou seja, apesar de
estas percepcionarem mais o perigo têm mais probabilidade de serem fisicamente activas
(Romero, Robinson & Kraemer et al., 2001, ibidem)
2.4. Abordagem através do “Marketing social”
O “marketing social” não é um modelo para compreender o comportamento, mas
sim uma série de procedimentos baseados no “marketing comercial”, cuja função é
promover a mudança de comportamentos relacionados com a saúde (Baranowski et al.,
2003). Os princípios do marketing utilizados nesta abordagem são cinco: 1) tentativa de
mudar e manter o comportamento voluntário de um grupo alvo (target market members);
2) oferta de benefícios ao grupo alvo pela realização desses comportamentos, minimizando
as barreiras para o desempenho dos mesmos; 3) os primeiros beneficiados com a troca são
o grupo alvo e não os “fornecedores” (marketers); 4) isto promove a mudança defendendo
os interesses próprios do grupo alvo (ou a percepção que têm de quais serão esses
interesses); 5) os que usam o marketing (marketers) também estão a preencher,
simultaneamente, os seus interesses (e.g. redução dos futuros custos médicos com os
problemas associados ao sedentarismo) (Maibach, Rothschild & Novelli, 2002, ibidem)
Podemos constatar que esta abordagem integra formalmente conceitos de várias
teorias tradicionais na mudança comportamental, nomeadamente, as expectativas de
A promoção da actividade física dos adolescentes
127
resultado, a análise dos “prós” e “contras” ou dos benefícios e barreiras à mudança. Assim,
uma campanha de marketing, procura inicialmente identificar o segmento da população à
qual se deve dirigir, apresentar um produto que é percepcionado com válido para esse
grupo alvo (e que é percepcionado como mais válido do que as alternativas), minimizar as
barreiras que impedem a selecção desse produto, fornecer as conveniências máximas para
a escolha desse produto, e promover o produto (fornecendo informação e usando a
persuasão) de forma a ser mais facilmente compreendido pela população-alvo.
Apesar dos programas de promoção da mudança de comportamento com base no
“marketing social” apresentarem resultados promissores, uma limitação tem impedido a
maioria dos investigadores académicos aplicarem nos seus estudos, e que é o facto de não
se controlar se as mudanças ocorrem devido à campanha ou a outras mudanças ocorridas
no meio (Glanz, 1999).
Conclusão
Para concluir, gostaríamos de realçar a importância das abordagens ecológicas e
ambientais, dado que procuram envolver os vários sectores da sociedade, tais como o
governo, as escolas, as associações comunitárias, e as famílias numa perspectiva de
promoção da saúde através da actividade física, com efeitos amplamente reconhecidos por
todos esses sectores.
As crianças e jovens das nações mais ocidentais são, em larga medida, inactivas e
têm falta de condição física, o que tem como consequência o aumento progressivo do seu
peso. A inactividade física ameaça reverter décadas com um longo progresso na redução
das mortes por doença cardiovascular. Isto pode ter um impacto devastador nos
orçamentos dos cuidados de saúde nacionais. É neste sentido que nos EUA o programa de
saúde escolar para adolescentes do CDC (Adolecents and School Health Program - Center
of Disease Control and Prevention, 1997) apresenta linhas orientadoras para os programas
comunitários e escolares de promoção da actividade física dos jovens. Ou seja, estabeleceu
dez estratégias para promover a participação dos jovens ao longo da vida em actividade
físicas e desportivas divertidas e seguras. Estas recomendações são o exemplo da aplicação
da abordagem puramente ecológica, focando os vários níveis de influência para este
problema:
1) Devem ser estabelecidas políticas que promovam actividades físicas vitalícias;
A promoção da actividade física dos adolescentes
128
2) Os ambientes, físicos e sociais devem estar munidos de forma a encorajar e
capacitar a prática de actividade físicas seguras e agradáveis;
3) A educação física deve estar estruturada no sentido de promover a actividade
física na aula e pela vida fora;
4) A educação para a saúde deve possuir componentes relevantes que promovam a
actividade física vitalícia;
5) As actividades extracurriculares devem incluir actividades físicas que vão de
encontro às necessidades e interesses de todos os estudantes;
6) O envolvimento dos pais é necessário para apoiar programas escolares e
comunitários, assim como, dar apoio directo à prática de actividade física dos filhos;
7) É necessário treino pessoal para profissionais e voluntários de numerosos
sectores que podem ter um papel na promoção da actividade física dos jovens;
8) Os serviços de saúde podem ser redefinidos, por forma a incluir intervenções que
promovam a actividade física vitalícia nos jovens;
9) São necessários programas comunitários que forneçam actividades físicas que
vão de encontro às necessidades e interesses dos jovens;
10) É necessária avaliação que monitorize a qualidade das prescrições dos
programas e facilidades da actividade física (CDC, 1997).
Em síntese, as estratégias de promoção da adesão à prática de actividade física que
se têm revelado particularmente sensíveis e eficazes baseiam-se na modificação cognitivo-
comportamental. O comportamento sofre alterações através da aplicação de técnicas de
manejo contingente (controlo de estímulo), do controlo do reforço, etc., e da modificação
das variáveis cognitivas mediadoras do comportamento (crenças, expectativas, estilo
atribucional, atitudes, auto-percepção, etc.) (Calmeiro & Matos, 2004). Mas, não só. O
desenvolvimento e a implementação de programas de promoção deve, também, englobar
os diversos níveis de abordagem: intrapessoal/individual, interpessoal/grupal,
institucional/organizacional, comunitário e legislativo (perspectiva ecológica).