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CALCULO VARIACIONAL E APLICACOES A MECANICA
CELESTE
Severino Horacio da Silva
Julho/2003
Sumario
Introducao 1
1 Calculo Variacional 3
1.1 Alguns problemas variacionais simples . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.2 A variacao de um funcional. Uma condicao necessaria para um extremo . . . . . . . . . . 5
1.2.1 Variacao ou diferencial de um funcional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.2.2 Uma condicao necessaria para um extremo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.3 Equacao de Euler-Lagrange para o problema variacional mais simples . . . . . . . . . . . 12
1.4 A derivada variacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.5 Invariancia das equacoes de Euler-Lagrange . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.6 Problema do ponto final fixo para n-funcoes desconhecidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.7 Problema variacional na forma parametrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
1.8 O problema variacional com vınculo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
1.8.1 O problema isoperimetrico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
1.8.2 Condicoes de vınculos finitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
1.9 A forma canonica das equacoes de Euler-Lagrange . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
1.10 Integral primeira das equacoes de Euler-Lagrange . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
i
2 O problema dos N-Corpos e Problemas Variacionais em Sistemas Mecanicos 38
2.1 Formulacao do problema dos N-corpos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
2.2 Princıpio da acao mınima . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
2.3 Lei de conservacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
2.4 Equivalencia entre as formulacoes Hamiltonianas e Lagrangianas em um sistema mecanico. 43
3 O Metodo Direto em Calculo Variacional e Sistemas Envolvendo Forca Forte e Forca
Fraca 48
3.1 Notacoes e Preliminares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
3.2 O Metodo direto em problemas variacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
3.2.1 Coercividade de um funcional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
3.2.2 Sequencia minimizante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
3.2.3 O metodo de Ritz e o metodo das diferencas finitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
3.2.4 Minimizacao basica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
3.3 Sistemas envolvendo forca forte e forca fraca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
3.4 Mais sobre coercividade e potenciais envolvendo forca forte . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
3.5 Ponto crıtico de um funcional e propriedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
4 Aplicacoes a Mecanica Celeste 75
4.1 Uma propriedade minimizante das orbitas Keplerianas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
4.1.1 Formulacao do resultado principal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
4.1.2 A acao integral para solucoes continuadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
4.1.3 Preliminares para a demonstracao do resultado principal . . . . . . . . . . . . . . . 81
4.1.4 Demonstracao do resultado principal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
4.2 Existencia de solucoes periodicas sem colisao em problemas planares do tipo N-corpos . . 85
ii
4.2.1 Preliminares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
4.2.2 Existencia de solucoes com restricoes topologicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
4.2.3 Existencia de solucoes com restricoes de simetria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
4.3 Solucoes com simetrias de rotacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
4.3.1 Estimativas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
4.3.2 Solucoes sem colisao para problemas do tipo N-corpos . . . . . . . . . . . . . . . . 113
4.4 Uma nova solucao para o problema dos tres corpos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
Apendice 125
A Alguns resultados classicos da Analise Funcional e Topologia 125
A.1 Alguns resultados da Analise Funcional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125
A.2 Alguns resultados da Topologia e Topologia Algebrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
B Topologia fraca 130
C Espacos de Sobolev 133
D Nocoes de distribuicoes 136
D.1 Operacao com distribuicao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137
D.2 Derivada distribucionais e derivadas classicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139
D.2.1 Calculo Variacional em distribuicoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142
D.3 Derivadas e primitivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143
D.4 Operadores elıpticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 144
D.5 Derivada de Frechet e derivada de Gateaux . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146
E Mais alguns resultados de Calculo Variacional 148
iii
E.1 Notacoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148
E.2 Colocacao dos resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149
E.3 Segunda variacao de um funcional e condicoes suficientes para um extremo . . . . . . . . 154
E.3.1 Segunda variacao de um funcional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 154
E.3.2 Condicoes suficientes para um extremo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155
Referencias Bibliograficas 157
iv
Era ela quem erguia casas
Onde antes so havia chao
Como passaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mao
O Operario da construcao - V. M.
A minha mae Clotilde Maria C. da Silva,
Ao meu irmao Jose Horacio da Silva Filho,
A minha esposa Michelli Karinne B. da Silva
v
vi
Agradecimentos
Agradeco primeiramente, a Deus por ter me fortalecido e iluminado minha inteligencia durante estes 23
meses de dedicacao ao Mestrado.
Agradeco de forma carinhosa a amiga, esposa e companheira Michelli por sua grande compreensao e
paciencia.
Agradeco tambem:
A minha famılia que sempre me motivou, em especial a minha mae Clotilde, a meus irmaos Jose
Horacio, Maria, Berenice, Severina e Judite.
Ao professor Jose Claudio Vidal pela orientacao amizade e paciencia.
Ao professor Hildelberto Cabral pela orientacao inicial no Calculo Variacional.
Ao professor Pedro Ontaneda pela grande ajuda na parte topologica deste trabalho.
Ao professor Ramon pelas sugestoes no inıcio do programa de Mestrado.
Aos professores do programa de Pos-Graduacao do Departamento de Matematica da Universidade
Federal de Pernambuco por suas contribuicoes a minha formacao, em especial a Jose Claudio Vidal,
Eduardo Shirlipe, Francisco Brito, Letterio Gatto, Paulo Santiago e Ramon Mendonca.
Aos professores Jose Claudio Vidal, Francisco Brito, Alain Albouy e Hildeberto Cabral pela confianca,
que muito contribuiu, para meu ingresso no Doutorado.
vii
Aos professores Alain Chenciner (Universite Paris - France), Daniel Offin (Queen´s University -
Canada), David Costa ( University of Nevada - USA), Marco Degiovanni (Universita Cattolica del Sacro
Cuore - Italia), Ugo Bessi (Universita degli Studi Roma Tre - Italia) e Vittorio Coti Zelati (Universita
di Napoli - Italia) pelas informacoes e sugestoes sobre este assunto aqui abordado que mesmo de longe
foram bastantes lucrativas.
Ao professor Vandik, grande orientador na Graduacao, e que mesmo de longe continuou sempre me
estimulando.
A Tania pela competencia, eficiencia e pelo constante apoio ao longo deste curso.
Aos funcionarios do Departamento de Matematica.
As minhas colegas de Gabinete Carlinda, Luciana e Tereza pela amizade e grande compreensao no
ambiente de estudo.
A amiga Patrıcia Leal pelo constante apoio, desde a monitoria de Algebra Vetorial na Graduacao aos
dias atuais suportando muitas vezes meu pesimo humor.
Aos colegas da Pos-Graduacao, em especial a Adriano, Adson, Almir, Angelo, Cristina, Custodio,
Fabio, Gledson, Gastao, Jalila, Joseilson, Luıs, Mario, Ricardo, Renata e Taıse.
Aos colegas de Graduacao da UFPB - Campus II, em especial a Michelli, Lindomberg, Patrıcia e
Diana.
Aos colegas Patrıcia Leal e Lenaldo pela convivencia pacıfica no ultimo semestre do Mestrado.
Aos professores do Departamento de Matematica e Estatıstica da Universidade Federal de Campina
Grande - Campus I, pela boa formacao academica que foi ferramenta essencial para meu desempenho
neste mestrado. Em especial aos professores Aparecido, Jaime, Mendes, Rosana e Vandik pela confianca
em mim depositada.
A Alaide pelo grande apoio consedido em Campina Grande na epoca do Vestibular.
A todos que direta ou indiretamente contribuıram para realizacao deste trabalho.
viii
A Banca Examinadora pela paciencia em analisar este material e pelas sugestoes que muito con-
tribuiram para enriquecer este trabalho.
Agradeco ao CNPQ pelo apoio financeiro.
ix
Resumo
A presente dissertacao intitulada “Calculo Variacional e Aplicacoes a Mecanica Celeste”, tem como
objetivo fazer um estudo dos resultados basicos do Calculo Variacional para posteriormente aplica-los
ao estudo de propriedades minimizantes das orbitas elıpticas no problema de Kepler e na existencia de
solucoes periodicas com restricoes topologicas e condicoes de simetrias em problemas “tipo N-corpos”da
Mecanica Celeste.
A dissertacao e consequencia de leituras de referencias basicas como Calculus of variations (Gelfand
and Fomin, 1963) e de alguns artigos de pesquisa como: Symmetries and noncollision closed orbits for
planar N-body type problems (Bessi and Coti Zelati, 1991), Action minimizing periodic orbits in the
Newtonian N-body problem (Chenciner, 1999), A first encounter with variational methods in diferential
equations (Costa, 2002), Periodic solutions for N-body type problems (Coti Zelati, 1990), Dynamical
systems with Newtonian type potentials (Degiovanni, 1987), Consevative dynamical systems involving
strong force (Gordon, 19975), A minimizing property of keplerian orbits (Gordon, 1977).
x
Abstract
This dissertation entitled ”Variational Calculus and Applications to Celestial Mechanics ”, has as ob-
jective to study the basic results of variational calculus and applications to the minimizing properties
of elliptic orbits of the Kepler problem and the existence of periodic solutions with topological restric-
tions and symmetric conditions in problem type N-bodies of Celestial Mechanics. The dissertation is a
consequence of the lectures of basic references and some papers namely : Symmetries and noncollision
closed orbits for planar N-body type problems (Bessi and Coti Zelati, 1991) , Action minimizing periodic
orbits in the Newtonian N-body problem (Chenciner, 1999), Dynamical systems with Newtonian type
potentials (Degiovanni, 1987), Conservative dynamical systems involving strong force (Gordon, 1975), A
minimizing property of Keplerian orbits (Gordon, 1977).
Key Words : Variational calculus, periodic solution, symmetry, N-body problem.
xi
Introducao
O Calculo Variacional e estudado a mais de tres seculos. Mas apenas em meados do seculo XIX e
inıcio do seculo XX com o surgimento do metodo direto, e que foi reconhecida sua grande importancia,
gracas a culminantes pesquisas de alguns matematicos famosos, entre eles: Hilbert, Lebesgue, Tonelli e
Weierstrass. Veja [8].
A Mecanica Celeste se situa no ambito das duas ciencias mais antigas da historia da humanidade, a
Matematica e a Astronomia. Mas apenas no seculo XVII com o tratado de Newton sobre Gravitacao, e
que deu-se inıcio ao estudo desta bela area de conhecimentos que estuda os movimentos dos corpos no
espaco.
Nos ultimos anos o Calculo Variacional tem sido muito usado na Mecanica Celeste, para estudar
existencia de solucoes periodicas em problemas planares ”tipo N-corpos”. Veja por exemplo: [2], [9], [10]
e [13]. Mais recentemente Chenciner e Montgomery mostraram a existencia de uma solucao periodica do
problema planar dos tres corpos com massas iguais, onde os tres corpos movem-se simetricamente sobre
uma ”figura oito”.
O objetivo desta Dissertacao consiste em desenvolver as ferramentas basicas do Calculo Variacional
para aplica-las ao estudo de solucoes periodicas em problemas da Mecanica Celeste, como por exemplo,
ao problema dos N -corpos.
As aplicacoes surgiram como consequencia da leitura de varios artigos de pesquisa, entre eles Symme-
tries and noncollision closed orbits for planar N-body type problems (Bessi and Coti Zelati, 1991), Action
minimizing periodic orbits in the Newtonian N-body problem (Chenciner, 1999), A first encounter with
1
variational methods in diferential equations (Costa, 2002), Periodic solutions for N-body type problems
(Coti Zelati, 1990), Consevative dynamical systems involving strong force (Gordon, 19975), A minimizing
property of keplerian orbits (Gordon, 1977) e outros.
A presente dissertacao esta dividida em quatro capıtulos, e esta organizada da seguinte forma: No
primeiro capıtulo apresentaremos os conceitos basicos de Calculo Variacional, tais como, a diferencial de
um funcional, condicao necessaria para um extremo de um funcional, deducao das equacoes de Euler-
Lagrange e problemas variacionais com vınculo.
No segundo capıtulo expomos o problema dos N -corpos com suas formulacoes Lagrangianas e Hamil-
tonianas, e a equivalencia entre estas formulacoes. Tambem analisamos a relacao entre os pontos crıticos
do funcional associado ao Lagrangeano do problema mecanico e as solucoes das equacoes diferenciais
associadas.
O terceiro capıtulo e dedicado a extensao do funcional (ou acao integral), associado a um problema
mecanico, ao espaco de Sobolev H1 (espaco das funcoes absolutamente contınuas cujas derivadas sao
de quadrado integravel). A seguir introduzimos os conceitos de coercividade e sequencias minimizantes,
ou seja, apresentamos o Metodo Direto em Calculo Variacional. Em seguida introduzimos os conceitos
de forca forte e forca fraca os quais sao importantes no estudo de existencia de solucoes periodicas sem
colisao. Tambem mostramos certos funcionais sobre H1, os quais sao coercivos, e fazemos uma analise da
condicao necessaria para ter pontos crıticos do funcional associado ao Lagrangeano do problema mecanico
sobre o espaco H1. Por ultimo analisamos a regularidade de um ponto crıtico.
No Capıtulo 4, apresentamos algumas aplicacoes do Calculo Variacional na Mecanica Celeste. Primeira-
mente mostramos que a acao integral de Hamilton e constante sobre a famılia de solucoes elıpticas (no
sentido estendido) para o problema de Kepler (planar), e que estas minimizam a acao de Hamilton. Outras
aplicacoes consistem em estudar a existencia de solucoes periodicas sem colisao em problemas mecanicos
planares e tambem em problemas do tipo N-corpos. Por ultimo aplicamos estes resultados para mostrar a
existencia de uma nova solucao periodica (diferente das solucoes Eulerianas e Lagrangeanas) no problema
Newtoniano dos tres corpos.
Finalmente apresentamos no Apendice alguns resultados basicos que implicitamente estao envolvidos
na elaboracao desta dissertacao.
2
Capıtulo 1
Calculo Variacional
O Calculo Variacional e a parte da Matematica que estuda extremos de funcoes cujo domınio de
definicao e um espaco de dimensao infinita, o espaco das curvas com certas propriedades dependendo
do problema em estudo. Tais funcoes sao denominadas funcionais. Como uma forma de motivar o uso
do Calculo Variacional no estudo de problemas da Mecanica, neste capıtulo nos preucuparemos apenas
em estudar funcionais que sao diferenciaveis, definidos sobre um espaco vetorial =, de curvas, as quais
assumimos que sao pelo menos de classe C2. Este estudo utiliza essencialmente a mesma abordagem
utilizada em ([1]) e ([12]), os quais nao se preucupam com a regularidade do funcional, de fato sao sempre
diferenciaveis e o espaco das funcoes = e de fato um espaco vetorial, nao necessariamente um espaco
de Hilbert, constituido por curvas bastantes regulares, pelo menos C2, de tal forma que na analise os
extremos do funcional sempre serao assumidos de classe C2. No Capıtulo 3, estudaremos com bastante
rigorosidade a questao da existencia de extremais, sua regularidade, e o espaco de curvas que estamos
considerando.
3
1.1 Alguns problemas variacionais simples
Apresentaremos alguns exemplos simples que servirao como motivacao para o estudo do Calculo
Variacional. Para entender o Calculo Variacional, e de extrema importancia notar que ele esta relacionado
a problemas de Analise Classica, isto e, ao estudo de funcoes de n-variaveis.
Exemplo 1.1.1 Considere o conjunto de todas as curvas retificaveis planas (isto e, todas as curvas planas
cujo comprimento pode ser aproximado por uma poligonal). Associamos a cada curva seu comprimento.
Isto define um funcional sobre o conjunto de todas as curvas retificaveis.
Exemplo 1.1.2 Encontre a menor curva plana passando por dois pontos A e B, isto e, encontre a
curva y = y(x) para a qual o funcional,
I(y) =
∫ b
a
√1 + y′2dx,
sujeito as condicoes de contorno y(a) = A e y(b) = B, atinge seu mınimo. Sabemos que a curva em
questao sera um segmento de reta.
Exemplo 1.1.3 (O Problema Isoperimetrico): Entre todas as curvas fechadas de um dado comprimento
l, encontre a curva que circunda a maior area. Este problema foi resolvido por Euler veja ([12], pp. 3),
e a curva procurada e um cırculo.
Observacao: Todos os problemas acima envolvem funcionais que podem ser escritos na forma
∫ b
a
F (x, y, y′)dx,
tais funcionais tem uma propriedade ”local”consistindo do fato que se dividirmos a curva y = y(x) em
partes e calculando o valor do funcional em cada parte, a soma dos valores do funcional das partes
separadas e igual ao valor do funcional para toda a curva. Abordaremos este fato na Secao 1.4.
4
1.2 A variacao de um funcional. Uma condicao necessaria para
um extremo
Consideraremos um espaco linear como sendo um espaco normado cujos elementos sao funcoes.
Definicao 1.2.1 Dizemos que um funcional I(y) definido sobre um espaco linear normado = e contınuo
no ponto y∗ ∈ = se para todo ε > 0 existe um δ > 0, t.q., |I(y)− I(y∗)| < ε, sempre que ‖y − y∗‖= < δ.
Comentario: Para nao sobrecarregar a notacao usaremos neste capıtulo simplesmente ‖ · ‖, ao inves de
‖ · ‖=.
Observacao: Mudando a desigualdade |I(y) − I(y∗)| < ε, por I(y) − I(y∗) > −ε, o funcional e dito ser
semi-contınuo inferiormente, e mudando |I(y) − I(y∗)| < ε, por I(y) − I(y∗) < ε, o funcional e dito ser
semi-contınuo superiormente.
Definicao 1.2.2 Seja = um espaco linear normado. Considere a aplicacao
ϕ : = 7→ R
h 7→ ϕ(h)
Dizemos que ϕ(h) e um funcional linear contınuo se:
(a) ϕ(αh) = αϕ(h), para todo h de = e α ∈ R;
(b) ϕ(h1 + h2) = ϕ(h1) + ϕ(h2), para quaisquer h1, h2 de =;
(c) ϕ(h) e contınuo para todo h.
Exemplo 1.2.3 A aplicacao
ϕ(h) =
∫ b
a
h(x)dx
define um funcional linear sobre C([a, b]) o espaco das funcoes contınuas sobre [a,b].
5
Exemplo 1.2.4 A aplicacao
ϕ(h) =
∫ b
a
[h′(x) + h′′(x) + ...+ h(n)(x)
]dx
define um funcional linear sobre Cn([a, b]) o espaco das funcoes diferenciaveis com n-esima derivada
contınua no intervalo [a,b].
Lema 1.2.5 (Lema de Lagrange) Se α(x) e contınua em [a,b], e se
∫ b
a
α(x)h(x)dx = 0
para toda h ∈ C([a, b]) tal que h(a) = h(b) = 0, entao α(x) = 0 para todo x ∈ [a, b].
Demonstracao: Suponha que α(x) > 0 para algum x ∈ [a, b] entao por continuidade existem x1, x2 ∈[a, b] distintos, tal que α(x) > 0 para todo x ∈ [x1, x2] ⊆ [a, b]. Defina h por h(x) = (x − x1)(x2 − x) se
x ∈ [x1, x2] e h(x) = 0 se x ∈ [a, b]− [x1, x2]. Claramente a funcao h satisfaz as condicoes do Lema 1.2.5,
e alem disso
∫ b
a
α(x)h(x)dx =
∫ x2
x1
α(x)(x− x1)(x2 − x)dx > 0,
o que e uma contradicao, o que conclui a demonstracao.
Observacao: O Lema acima e ainda valido se mudarmos C([a, b]) por Cn([a,b]). Para isto, basta
considerar h(x) = [(x− x1)(x2 − x)]n+1 se x ∈ [x1, x2] e h(x) = 0 se x ∈ [a, b] − [x1, x2].
Lema 1.2.6 Se α(x) e contınua em [a, b], e se
∫ b
a
α(x)h′(x)dx = 0
para toda funcao h ∈ C1([a, b]), tal que h(a) = h(b) = 0, entao α(x) = c para todo x ∈ [a, b], onde c e
uma constante.
Demonstracao: Considere a funcao h dada por
h(x) =
∫ x
a
[α(x) − c]dx = 0
6
onde c e dada pela equacao∫ b
a
[α(x) − c]dx = 0.
Por um lado, temos ∫ b
a
[α(x) − c]h′(x)dx =
∫ b
a
[α(x) − c]2dx ≥ 0.
Por outro lado, obtemos∫ b
a
[α(x) − c]h′(x)dx =
∫ b
a
α(x)h′(x)dx− c[h(b) − h(a)] = 0.
Das duas ultimas equacoes acima e da continuidade de α(x)− c, temos que α(x)− c = 0, donde, α ≡ c.
Lema 1.2.7 Se α(x) e contınua em [a, b], e se∫ b
a
α(x)h′′(x)dx = 0
para toda h ∈ C2([a, b]), tal que h(a) = h(b) = 0 e h′(a) = h′(b) = 0, entao α = c0 + c1x, para todo
x ∈ [a, b], onde c0 e c1 sao constantes.
Demonstracao: Considere a funcao
h(x) =
∫ x
a
∫ ξ
a
[α(t) − c0 − c1t]dtdξ
onde c0 e c1 sao definidas pelas condicoes∫ b
a
[α(t) − c0 − c1t]dt = 0,
∫ b
a
(∫ x
a
[α(ξ) − c0 − c1ξ]dξ
)dx.
Por um lado, temos∫ b
a
[α(x) − c0 − c1x]h′′(x)dx =
∫ b
a
[α(x) − c0 − c1x]2dx ≥ 0.
Por outro lado, usando integracao por partes∫ b
a
[α(x) − c0 − c1x]h′′(x)dx = −c1[xh′(x) − h(x)]|ba = 0.
Assim, α(x) − c0 − c1x = 0, donde, α(x) = c0 + c1x.
7
Lema 1.2.8 Se α(x) e β(x) sao funcoes contınuas em [a, b], e se
∫ b
a
[α(x)h(x) + β(x)h′(x)]dx = 0 (1.2.1)
para toda h ∈ C1([a, b]), tal que h(a) = h(b) = 0, entao α = β ′(x) para todo x ∈ [a, b].
Demonstracao: Considere
A(x) =
∫ x
a
α(ξ)dξ
resolvendo por partes a integral
∫ b
a
α(x)h(x)dx
podemos reescrever (1.2.1) como
∫ b
a
[α(x)h(x) + β(x)h′(x)]dx =
∫ b
a
α(x)h(x)dx+
∫ b
a
β(x)h′(x)dx
=
∫ b
a
[−A(x) + β(x)]h′(x)dx = 0.
Logo, usando o Lema 1.2.6, temos o resultado.
Lema 1.2.9 (Generalizacao do Lema 1.2.8) Se α0(x), ..., αn(x) sao funcoes contınuas em [a, b], e se
∫ b
a
[α0h(x) + α1h
′(x) + ...+ αnh(n)(x)
]dx = 0
para toda h ∈ Cn([a, b]), tal que h(a) = h(b) = h′(a) = h′(b) = · · · = h(n−1)(a) = h(n−1)(b) = 0, entao αj
tem derivada ate a ordem j para todo x ∈ [a, b] e
α0(x) − α′1(x) + ...+ (−1)nαn(x) = 0.
Demonstracao: Basta usar inducao e o Lema 1.2.8.
8
1.2.1 Variacao ou diferencial de um funcional
Seja I(y) um funcional definido sobre algum espaco linear normado, e seja
∆I(h) = I(y + h) − I(y)
o incremento correspondente ao acrescimo h = h(x) da ”variavel independente”y = y(x). Se y e fixado,
∆I(h) e um funcional de h, em geral nao linear, pois
∆I(h1 + h2) = I(y + h1 + h2) − I(y) = I(y + h1) − I(y) + I(h2) = ∆I(h1) + I(h2).
Suponha que
∆I(h) = ϕ(h) + ε‖h‖
onde ϕ(h) e linear e ε→ 0, com ‖h‖ → 0. Entao o funcional I(y) e dito ser diferenciavel, e a parte linear
do incremento ∆I(h), isto e, o funcional linear ϕ(h) que difere de ∆I(h) por um infinitesimo de ordem
superior a um relativo a ‖h‖, e chamado de primeira variacao ou (primeira diferencial) de I(h) e o
denotamos por δI(y) ·h, ou I ′(y) ·h. Por comodidade daqui por diante, chamaremos apenas de variacao
(ou diferencial de I(y)).
Comentario: Neste caso, conforme Secao D.5 do Apendice D, dizemos que o funcional I e diferenciavel
segundo Frechet. Para um estudo mais detalhado sobre derivada de Frechet, (veja [19]).
Exemplo 1.2.10 Seja
I(y) =
∫ b
a
y(x)dx
entao, I(y) e diferenciavel e δI(y) · h =∫ b
ah(x)dx.
De fato,
I(y + h) − I(y) =
∫ b
a
h(x)dx+ 0‖h‖.
Observacao: Lembremo-nos que se F (x1, ..., xn) e uma funcao de n-variaveis, entao F (x1, ..., xn) tem
um extremo relativo no ponto (x∗1, ..., x∗n) se
∆F = F (x1, ..., xn) − F (x∗1, ..., x∗n)
9
tem o mesmo sinal em todos os pontos de alguma vizinhanca, suficientemente pequena, de (x1, ..., xn),
onde o extremo F (x∗1, ..., x∗n) e um mınimo se ∆F > 0 e um maximo se ∆F < 0.
Definicao 1.2.11 Um funcional I(y) tem um extremo relativo para y = y∗ se I(y)− I(y∗) nao muda de
sinal em alguma vizinhanca, suficientemente pequena, da curva y = y∗(x).
As funcoes em C1([a, b]) sao continuamente diferenciaveis, entao elas podem em particular serem
consideradas como elementos de C([a, b]). Correspondendo a estas duas possibilidades podemos definir
dois tipos de extremos:
(A) Dizemos que um funcional I(y) tem um extremo fraco para y = y∗ se existir ε > 0 tal que
I(y)− I(y∗) tem o mesmo sinal para todo y no domınio de definicao do funcional satisfazendo a condicao
‖y − y∗‖W 1,∞ < ε, onde
‖y − y∗‖W 1,∞ = maxx∈[a,b]
|y(x) − y∗(x)| + |y′(x) − y∗′(x)|.
(B) Dizemos que um funcional I(y) tem um extremo forte para y = y∗ se existir ε > 0 tal que
I(y)− I(y∗) tem o mesmo sinal para todo y no domınio de definicao do funcional satisfazendo a condicao
‖y − y∗‖L∞ < ε, onde
‖y − y∗‖L∞ = maxx∈[a,b]
|y(x) − y∗(x)|.
Observacao: Todo extremo forte e um extremo fraco. Isto e uma consequencia da seguinte inclusao de
conjuntos:
y ∈ C1([a, b]) : ‖y − y∗‖W 1,∞ < ε ⊆ y ∈ C1([a, b]) : ‖y − y∗‖L∞ < ε.
Porem, nem todo extremo fraco e um extremo forte.
Teorema 1.2.12 A diferencial (ou variacao) de um funcional se existir e unica.
Demonstracao: Primeiro observe que se ϕ(h) e um funcional linear e se ϕ(h)‖h‖ −→ 0, quando ‖h‖ −→ 0,
entao ϕ(h) = 0 para todo h. De fato, suponha que ϕ(h0) 6= 0 para algum h0 6= 0 entao, considerando a
10
sequencia hn = h0
ne fazendo λ = ϕ(h0)
‖h0‖ , temos que ‖hn‖ −→ 0, mas
limn−→∞
ϕ(hn)
‖hn‖= lim
n−→∞
1nϕ(h0)
1n‖h0‖
=ϕ(h0)
‖h0‖= λ 6= 0,
o qual contradiz o fato, de que ϕ(h)‖h‖ −→ 0, quando ‖h‖ −→ 0. Suponha, agora, que a diferencial de I(y)
nao e unica, entao
I(h) = ϕ1(h) + ε1‖h‖
e
I(h) = ϕ2(h) + ε2‖h‖
onde ε1 , ε2 −→ 0, com ‖h‖ −→ 0, isto implica que
ϕ1(h) − ϕ2(h) = ε1‖h‖ − ε2‖h‖ = (ε1 − ε2)‖h‖
e logo, ϕ1(h)−ϕ2(h) e um infinitesimo de ordem superior a um relativo a ‖h‖. Mas ϕ1(h)−ϕ2(h) e linear
e
ϕ1(h) − ϕ2(h)
‖h‖ = (ε1 − ε2) −→ 0,
quando ‖h‖ −→ 0. Assim pela primeira parte da prova, temos que [ϕ1(h)−ϕ2(h)] ≡ 0. Portanto ϕ1(h) =
ϕ2(h).
Comentario: De agora em diante trabalharemos apenas com extremos fracos e, por comodidade, os
chamaremos de extremos.
1.2.2 Uma condicao necessaria para um extremo
Teorema 1.2.13 Uma condicao necessaria para um funcional diferenciavel I(y) tenha um extremo em
y = y∗ ∈ = e que sua diferencial se anule para y = y∗, isto e, que
δI(y) · h = 0
para y = y∗ e todo h ∈ =.
11
Demonstracao: Sem perda de generalidade podemos supor que I(h) tem um mınimo em y = y∗. De
acordo com a definicao de diferencial δI(y) · h, temos
∆I(h) = δI(y) · h+ ε‖h‖, (1.2.2)
onde ε→ 0 quando ‖h‖ → 0. Daı para ‖h‖ suficientemente pequeno
sinal(∆I(h)) = sinal(δI(y) · h).
Agora, suponha que δI(y)·(h0) 6= 0 para algum h0. Entao para cada α > 0, nao necessariamente pequeno,
temos
∆I(−αh0)) = −δI(y) · (αh0)), (1.2.3)
como ‖h‖ → 0, entao ‖ − αh0‖ = ‖αh0‖ → 0. Por (1.2.3) podemos expressar (1.2.2) de duas formas para
y = y∗ que sao
∆I(αh) = δI(y) · (αh) + ε‖h‖
e
∆I(−αh) = δI(y) · (−αh) + ε‖h‖.
Daı
sinal(∆I(αh)) = sinal(δI(y) · (αh)) = −(sinal(δI(y) · (−αh))).
Mas isto e uma contradicao, pois, I(y) tem um mınimo em y = y∗. Portanto, δI(y) · h ≡ 0.
1.3 Equacao de Euler-Lagrange para o problema variacional mais
simples
O problema variacional mais simples pode ser formulado como segue: Seja F (x, y, z) uma funcao com
primeiras e segundas derivadas parciais contınuas com respeito a todos os argumentos. Entao entre todas
as funcoes y = y(x) que sao continuamente diferenciaveis em [a, b] e satisfazem a condicao de fronteira
y(a) = A, y(b) = B (1.3.4)
12
o qual denotamos por C1 = y ∈ C1([a, b]) : y(a) = A e y(b) = B, encontre a funcao para a qual o
funcional
I(y) =
∫ b
a
F (x, y, y′)dx (1.3.5)
tem um extremo fraco sobre C1.
Em outras palavras o problema variacional mais simples consiste em encontrar um extremo fraco para
o funcional (1.3.5), onde a classe das curvas admissıveis consiste de todas as curvas suaves passando pelos
pontos A e B.
Para aplicar a condicao necessaria para um extremo de um funcional ao problema formulado, pre-
cisamos encontrar a diferencial do funcional dado por (1.3.5).
Observacao: Suponha que seja dado a y(x) um acrescimo h(x), de tal forma que y(x) + h(x) continue
satisfazendo a condicao de fronteira (1.3.4), entao
y(a) + h(a) = A e y(b) + h(b) = B,
assim
h(a) = h(b) = 0.
O incremente correspondente ao funcional em (1.3.5) e dado por
∆I = I(y + h) − I(y) =
∫ b
a
F (x, y + h, y′ + h′)dx−∫ b
a
F (x, y, y′)dx
=
∫ b
a
F (x, y + h, y′ + h′) − F (x, y, y′)dx
Mas usando a Formula de Taylor para um espaco linear, obtemos
F (x, y + h, y′ + h′) − F (x, y, y′) = Fy(x, y, y′)h+ Fy′(x, y, y′)h′+
Fyy(x, y, y′)h2
2!+ Fy′y′(x, y, y′)
(h′)2
2!+ 2Fyy′(x, y, y′)
hh′
2!+ · · ·
daı,
∆I =
∫ b
a
(Fy(x, y, y′)h+ Fy′(x, y, y′)h′
)dx+ · · ·
13
onde as reticencias denotam a parte nao linear em h. Logo, a variacao de I(y) e
δI(y) · h =
∫ b
a
(Fyh+ Fy′h′
)dx.
Mas de acordo com o Teorema 1.2.13, uma condicao necessaria para que I(y) tenha um extremo em
y = y(x) e que
δI(y) · h =
∫ b
a
(Fyh+ Fy′h′
)dx = 0, (1.3.6)
para todo acrescimo possıvel h. Mas de acordo com o Lema 1.2.8, a formula (1.3.6) implica que Fy′ e
diferenciavel e que
Fy − d
dx
(Fy′
)= 0. (1.3.7)
A equacao (1.3.7) e conhecida como equacao de Euler-Lagrange.
Com esta ultima observacao, demonstramos o seguinte
Teorema 1.3.1 Seja I(y) um funcional da forma
∫ b
a
F (x, y, y′)dx,
definido sobre o conjunto das funcoes y = y(x) que tem primeiras e segundas derivadas parciais contınuas
em [a, b] satisfazendo a condicao de fronteira, y(a) = A e y(b) = B. Entao uma condicao necessaria para
I(y) ter um extremo em uma dada funcao y(x) e que y(x) satisfaca a equacao de Euler-Lagrange (1.3.7).
Observacao: A equacao de Euler-Lagrange nos da uma condicao necessaria para um extremo, mas
em geral esta condicao nao e suficiente. A suficiencia sera garantida, usando a segunda variacao de
um funcional, de maneira analoga a funcoes de varias variaveis. Porem em muitos casos a equacao de
Euler-Lagrange e auto suficiente para encontrar uma solucao completa do problema.
Comentarios:
(A) Esta condicao necessaria e para um extremo fraco. Mas todo extremo forte e, tambem, extremo
fraco, entao temos tambem uma condicao necessaria para extremo forte.
(B) A equacao de Euler-Lagrange e uma equacao diferencial de segunda ordem e sua solucao depende
em geral de duas constantes arbitrarias que sao determinadas pelas condicoes de fronteira y(a) = A
14
e y(b) = B. As curvas integrais (solucao da equacao de Euler-Lagrange) sao chamadas extremais do
funcional I.
Observacao: Para um funcional da forma
∫ b
a
F (x, y, y′)dx,
a equacao de Euler-Lagrange e uma equacao diferencial de segunda ordem, mas e possıvel encontrar a
curva para a qual o funcional tenha um extremo, mas que esta curva nao seja de classe C2([a, b]). Por
exemplo considere o funcional
I(y) =
∫ 1
−1
y2(2x− y′
)2dx,
onde, y(−1) = 0, e y(1) = 1.
O mınimo de I(y) e alcancado para a funcao y = y∗ = 0 se x ∈ [−1, 0] e y = y∗ = x2 se x ∈ [0, 1], a
qual nao tem derivada segunda para x = 0. Todavia, y(x) satisfaz a equacao de Euler-Lagrange em quase
toda parte. De fato, derivando o integrando, obtemos
Fy = 2y(2x− y′)2; Fy′ = −2y2(2x− y′);d
dxFy′ = −4yy′(2x− y′) − 2y2(2 − y′′);
logo para −1 < x ≤ 0 temos
y∗ = 0; Fy = 0; Fy′ = 0;d
dxFy′ = 0;
para 0 < x ≤ 1 temos
Fy = y2(2x− 2x)2 = 0; Fy′ = −2x4(2x− 2x) = 0;
d
dxFy′ = −8x3(2x− 2x) − 2x4(2 − 2) = 0.
Logo a equacao de Euler-Lagrange e satisfeita em quase toda parte.
Agora enunciaremos um resultado que garante quando as solucoes da equacao de Euler-Lagrange tem
derivada segunda.
Teorema 1.3.2 (Teorema de Regularidade) Suponha que y = y(x) tem primeira derivada contınua
e satisfaz a equacao (1.3.7). Entao se a funcao F (x, y, y′) tem primeiras e segundas derivadas parciais
15
contınuas com respeito a todo os argumentos, y(x) tem uma derivada segunda contınua em todo os pontos
(x, y) onde
Fy′y′ [x, y(x), y′(x)] 6= 0.
Demonstracao: Considere a diferenca
∆Fy′ = Fy′(x+ ∆x, y + ∆y, y′ + ∆y′) − F (x, y, y′).
Usando o Teorema de Taylor podemos escrever a ultima expressao na forma
∆Fy′ = ∆xF y′x + ∆yF y′y + ∆y′F y′y′ ,
onde as barras acima indicam que as correspondentes derivadas sao avaliadas ao longo de certas curvas
intermediarias. Dividindo ambos os membros da ultima expressao por ∆x, obtemos
∆Fy′
∆x= F y′x +
∆y
∆xF y′y +
∆y′
∆xF y′y′ .
Como lim∆x→0
∆Fy′
∆xexiste, ja que Fy′ tem derivada com relacao a x e pela equacao de Euler Lagrange e
Fy, entao
lim∆x→0
(F y′x +
∆y
∆xF y′y +
∆y′
∆xF y′y′
)
existe. Alem do mais, por hipotese, temos
(a) A funcao F (x, y, y′) tem derivada de segunda ordem contınua com respeito a todos os argumentos,
entao
lim∆x→0
F y′x = Fy′x =∂2F
∂y′∂x.
(b) Existe o seguinte limite
lim∆x→0
∆y
∆x= y′,
e a continuidade da derivada segunda Fy′y, assegura que
lim∆x→0
∆y
∆xF y′y = y′
∂2F
∂y′∂y
existe. Logo, de (a) e (b) temos que
lim∆x→0
∆y′
∆xF y′y′
16
existe. Mas quando ∆x→ 0, temos que F y′y′ converge para Fy′y′ 6= 0, e logo
lim∆x→0
∆y′
∆x= y′′(x)
existe. Finalmente, da equacao de Euler-Lagrange podemos encontrar a expressao para y ′′ que claramente
e contınua, ja que F (x, y, y′) tem segunda derivada contınua com respeito a todos os argumentos.
Apresentaremos alguns casos especiais, onde a equacao de Euler-Lagrange (1.3.7) pode ser reduzida a
uma equacao diferencial de primeira ordem, ou onde sua solucao pode ser obtida totalmente em termos
de quadratura.
Caso 1: Suponha que o integrando independa de y, isto e, se o funcional e da forma
∫ b
a
F (x, y′)dx
onde F nao contem y explicitamente. Neste caso, a equacao (1.3.7) torna-se
Fy′ = c (1.3.8)
onde c e uma constante. Isto e, uma equacao diferencial de primeira ordem que nao contem o termo y.
Se for possıvel resolver (1.3.8) em relacao a y′, obtemos
y′ = f(x, c)
Caso 2: Se o integrando nao depende de y′, a equacao (1.3.7) tem a forma
Fy(x, y) = 0
e logo nao e uma equacao diferencial, mas uma equacao ”finita,”(ou seja nao aparece derivadas na
expressao), cuja solucao consiste de uma ou mais curvas y = y(x).
Caso 3: Se o integrando nao depende de x, isto e, se
I(y) =
∫ b
a
F (y, y′)dx
entao a equacao (1.3.7) e dada por
Fy − Fy′yy′ − Fy′y′y′′ = 0 (1.3.9)
17
multiplicando ambos os membros de (1.3.9) por y′, obtemos
Fyy′ − Fy′yy
′2 − Fy′y′y′y′′ =d
dx
(F − y′Fy′
)= 0.
Neste caso a equacao de Euler-Lagrange tem a seguinte integral primeira
F − y′Fy′ = c,
onde c e uma constante.
Caso 4: Em varios problemas encontramos funcionais da forma∫ b
a
f(x, y)√
1 + y′2dx
representando a integral de uma funcao f, continuamente diferenciavel, com respeito ao comprimento de
arco s (ds =√
1 + y′2dx). Neste caso, a equacao de Euler-Lagrange tera a forma
∂F
∂y− d
dx
∂F
∂y′= fy(x, y)
√1 + y′2 − d
dx
(f(x, y)
y′√1 + y′2
)
= fy
√1 + y′2 − fx
y′√1 + y′2
− fd
dx
(y′√
1 + y′2
)− fy
y′2√1 + y′2
= 0.
Mas,
d
dx
(y′√
1 + y′2
)=
y′′
(1 + y′2
) 32
,
assim, a equacao de Euler-Lagrange e da forma
fy − fxy′ − f
y′′
1 + y′2= 0
Exemplo 1.3.3 Considere o funcional
I(y) =
∫ 2
1
√1 + y′2
xdx, y(1) = 0, y(2) = 1.
O integrando nao contem o termo em y (caso 1) e logo a equacao de Euler-Lagrange tem a forma
Fy′ = c,
onde c e uma constante. Assim, temos
1
x
1
2
2y′√1 + y′2
= c⇔ y′
x√
1 + y′2= c (1.3.10)
18
donde obtemos que
sinal(y′) = sinal(c),
resolvendo a segunda equacao de (1.3.10) por substituicao simples, temos
y =1
c
√1 − c2x2 + d⇔ (y − d)2 + x2 =
1
c2
onde d e uma constante, e a equacao obtida e de um cırculo.
1.4 A derivada variacional
Nesta secao apresentaremos um conceito analogo ao de derivada parcial para funcoes de n variaveis.
Consideraremos um funcional do tipo
I(y) =
∫ b
a
F (x, y, y′)dx, y(a) = A, y(b) = B (1.4.11)
correspondendo ao problema variacional mais simples. Aproximamos o problema variacional por um
problema n-dimensional e passamos o limite quando n → ∞. Para isto, dividimos o intervalo [a, b] em
n+ 1 sub-intervalos iguais introduzindo a particao
x0 = a, x1, · · · , xn+1 = b
e substituımos a funcao suave y(x) pela linha poligonal com vertices
(x0, y0), (x1, y1), · · · , (xn, yn), (xn+1, yn+1)
onde yi = yi(xi), entao (1.4.11) pode ser aproximada pela soma
I(y1, · · · , yn) ≡n∑
i=0
F
(xi, yi,
yi+1 − yi
∆x
)∆x,
que e uma funcao de n−variaveis. Lembremo-nos que ∆x = xi+1 − xi e, y0 = A, yn+1 = B sao fixos.
Logo, calculamos a derivada parcial
∂I(y1, · · · , yn)
∂yk
19
e observemos o que acontece com estas derivadas quando o numero de pontos da subdivisao tende para
infinito. Observando que cada variavel yk aparece em dois termos para i = k e i = k − 1, encontramos
que
∂I
∂yk
= Fy
(xk, yk,
yk+1 − yk
∆x
)∆x+ Fy′
(xk−1, yk−1,
yk − yk−1
∆x
)− Fy′
(xk, yk,
yk+1 − yk
∆x
).
Quando ∆x → 0, isto e o numero de subdivisoes cresce muito, aplicando o limite na ultima expressao
temos que o lado direito vai para zero, desde que ele seja uma quantidade de ordem ∆x. Na forma de
obter um limite que em geral e nao nulo com ∆x→ 0, dividimos ambos os membros da ultima expressao
por ∆x, obtendo
∂I
∂yk∆x= Fy
(xk, yk,
yk+1 − yk
∆x
)− 1
∆x
[Fy′
(xk, yk,
yk+1 − yk
∆x
)
− Fy′
(xk−1, yk−1,
yk − yk−1
∆x
)].
Note que a expressao ∂yk∆x que aparece no denominador da ultima expressao tem um significado
geometrico direto, e a area da regiao compreendida entre as curvas solidas e tracejadas. Veja figura
abaixo.
Figura 1.4.1: A area hachurada e dada por ∂yk∆x
Fazendo ∆x→ 0 na ultima expressao temos a convergencia para o limite
δI
δy≡ Fy(x, y, y′) − d
dxFy′(x, y, y′) (1.4.12)
20
chamado derivada variacional do funcional (1.4.11). Notemos, a semelhanca de (1.4.12) com as equacoes
de Euler-Lagrange, e assim, a derivada variacional do funcional sob as consideracoes assumidas se anula
em todo ponto (ao longo de uma extremal), isto e analogo ao que ocorre com funcoes de n variaveis.
Em geral a derivada variacional e definida como segue: seja I(y) o funcional dependendo da funcao
y(x), e suponha que seja dado a y(x) um acrescimo h(x) que e diferente de zero apenas numa vizinhanca
do ponto x0. Dividindo o correspondente incremento I(y + h) do funcional pela area ∆σ compreendida
entre a curva y = h(x) e o eixo x, obtemos a razao
I(y + h) − I(y)
∆σ. (1.4.13)
se ∆σ → 0, (equivalentemente a maxx∈[a,b]
|h(x)| e o comprimento do intervalo onde h(x) e diferente de
zero tenderem a zero). Entao se a razao (1.4.13) converge para um limite com ∆σ → 0, este limite e
chamado a derivada variacional do funcional I(y) no ponto x0 (para a curva y = y(x)) e e denotado por
δI
δy(y)|x=x0
.
Comentarios:
(A) E de facil verificacao que as regras familiares obedecidas pelas derivadas ordinarias no caso de funcoes
(como soma, produto, etc.) sao, tambem verificadas no caso de derivadas variacionais para funcionais.
(B) E claro da definicao de derivada variacional que se h(x) e diferente de zero em uma vizinhanca do
ponto x0, e se ∆σ e a area compreendida entre a curva y = h(x) e o eixo x, entao
∆I ≡ I(y + h) − I(y) =
δI
δy(y)|x=x0
+ ε
∆σ,
onde ε → 0, com ambos maxx∈[a,b]
|h(x)| e o comprimento do intervalo onde h(x) 6= 0, tendendo a zero.
Segue-se, entao, que em termos de derivada variacional, que a diferencial de um funcional I(y) no ponto
x0 para a curva y = y(x) e dada pela formula
δI(y) =δI
δy(y)|x=x0
∆σ,
ou em termos mais explıcitos,
δI(y) · h =δI
δy(y) · h|x=x0
∆σ. (1.4.14)
21
Observacao: Em particular se a curva acrescimo h for dada por h = εv, onde ε ∈ R e v : [a, b] → R2 e
uma aplicacao suave, satisfazendo v(a) = v(b) = 0, temos valida a seguinte relacao:
δI(y) · (v) =d
dεI(y + εv)|ε=0. (1.4.15)
De fato, neste caso, ∆σ = εA, onde A =∫ b
av(x)dx. Alem disso, ε→ 0, implica ∆σ → 0. Assim,
d
dεI(y + εv)|ε=0 = lim
ε→0
I(y + εv) − I(y)
ε= lim
∆σ→0
I(y + εv) − I(y)
ε
= A lim∆σ→0
I(y + εv) − I(y)
Aε= A lim
∆σ→0
I(y + h) − I(y)
∆σ
= AδI
δy(y) · (h)|x=x0
=∆σ
ε
δI
δy(y) · (h)|x=x0
=∆σ
ε
δI
δy(εv)|x=x0
= ∆σδI
δy(y) · (v)|x=x0
.
Mas, por (1.4.14), temos
∆σδI
δy(y) · (v)|x=x0
= δI(y) · (v).
Logo, segue-se a expressao (1.4.15).
Observacao: Note que a expressao (1.4.15) e semelhante a “Regra da Cadeia”valida para funcoes de n
variaveis.
1.5 Invariancia das equacoes de Euler-Lagrange
Suponha que em vez de coordenadas retangulares x e y, introduzimos novas coordenadas u e v, onde
x = x(u, v), y = y(u, v), J =
∣∣∣∣xu xv
yu yv
∣∣∣∣ 6= 0 (1.5.16)
sendo (1.5.16) o Jacobiano da mudanca de coordenada. Entao a curva dada pela equacao y = y(x) no
plano xy corresponde a uma curva dada por alguma equacao v = v(u) no plano uv.
Quando fizermos a mudanca de variavel (1.5.16), o funcional
I(y) =
∫ b
a
F (x, y, y′)dx
22
fica sob a forma
I1(v) =
∫ b1
a1
F
(x(u, v), y(u, v),
yu + yvv′
xu + xvv′
)(xu + xvv
′)du
=
∫ b
a
F1(u, v, v′)du,
onde
F1(u, v, v′) = F
(x(u, v), y(u, v),
yu + yvv′
xu + xvv′
)(xu + xvv
′).
Teorema 1.5.1 Se y = y(x) satisfaz a equacao de Euler-Lagrange
∂F
∂y− d
dx
∂F
∂y′= 0 (1.5.17)
correspondente ao funcional original I(y), entao v = v(u) satisfaz a equacao
∂F1
∂v− d
du
∂F1
∂v′= 0 (1.5.18)
correspondendo ao funcional I1(v). Isto significa que se (x, y(x), y′(x)) e um zero de (1.5.17) e se a
equacao de y = y(x) no plano uv e v = v(u), entao (u, v(u), v′(u)) e um zero de (1.5.18).
Demonstracao: Para provar este resultado usaremos o conceito de derivada variacional, introduzido
na secao anterior. Se ∆σ denota a area limitada pelas curvas y = y(x) e y = y(x) + h(x), e ∆σ1 denota
a area limitada pelas curvas correspondentes v = v(u) e v = v(u) + η(u) no plano uv. Pela formula
padrao de area, temos que quando ∆σ, ∆σ1 → 0, a razao ∆σ∆σ1
aproxima-se do jacobiano (1.5.16), que
por hipotese e diferente de zero. Logo
∆σ ' ∆σ1J.
Daı, se
lim∆σ→0
I(y + h) − I(y)
∆σ= 0, (1.5.19)
entao
lim∆σ1→0
I1(v + η) − I1(v)
∆σ1= 0. (1.5.20)
Mas pela secao anterior a expressao (1.5.19) e equivalente a
δI
δy= Fy
(x, y, y′
)− d
dxFy′
(x, y, y′
),
23
analogamente (1.5.20) e equivalente a
δI1δv
= Fv
(u, v, v′
)− d
duFv′
(u, v, v′
).
Portanto, se y = y(x) satisfaz a equacao (1.5.17) correspondente ao funcional I(y), entao v = v(u) satisfaz
a equacao (1.5.18) correspondente ao funcional I1(v).
Com este teorema provamos, assim, que a Equacao de Euler-Lagrange nao depende do sistema de
coordenadas.
1.6 Problema do ponto final fixo para n-funcoes desconhecidas
Seja F (x, y1, ..., yn, y′1, ..., y
′n) uma funcao com primeiras e segundas derivadas parciais contınuas com
respeito a todos os argumentos. Considere o problema de encontrar condicoes necessarias para um
extremo de um funcional da forma
I(y1, ..., yn) =
∫ b
a
F (x, y1, ..., yn, y′1, ..., y
′n)dx (1.6.21)
que depende de n funcoes continuamente diferenciaveis y1, ..., yn satisfazendo as condicoes de contorno
yi(a) = Ai, yi(b) = Bi, (i = 1, ..., n). (1.6.22)
Em outras palavras, estamos considerando um extremo do funcional (1.6.21) definido sobre o conjunto
de todas as curvas suaves unindo dois pontos fixos no espaco Euclidiano (n+1) dimensional.
Comentario: O problema de encontrar geodesicas, isto e, curvas minimizantes unindo dois pontos de
alguma variedade, e um problema deste tipo. A mesma classe de problemas surge em geometria optica,
em encontrar caminhos no qual o raio de luz propaga-se num meio nao homogeneo. De fato, de acordo
com o princıpio de Fermat a luz vai do ponto P0 ao ponto P1 ao longo do caminho que tem tempo de
transicao mınimo.
Para encontrar condicoes necessarias para o funcional ter um extremo, primeiro calculamos sua
variacao. Suponha que podemos mudar cada yi(x) por uma funcao yi(x) + hi(x). Para variacao δI
24
do funcional I(y1, ..., yn), pegamos a expressao que e linear em hi e h′i (i = 1, ..., n) que difere do incre-
mento
∆I = I(y1 + h1, ..., yn + hn) − I(y1, ..., yn))
por uma quantidade de ordem superior a um, relativo a hi e h′i (i = 1, ..., n). Desde que yi(x) e yi(x)+hi(x)
satisfacam a condicao de fronteira (1.6.22), para cada i, e claro que
hi(a) = hi(b) = 0 (i = 1, ..., n).
Agora usando o Teorema de Taylor, obtemos
∆I =
∫ b
a
[F (x, ...yi + hi, ..., y′i + h′i, ...) − F (x, ..., yi, ..., y
′i, ...)]dx
=
∫ b
a
n∑
i=1
(Fyihi + Fy′
ih′i)dx+ ...,
onde as reticencias denotam termos de ordem superior a um, relativo a hi e h′i (i = 1, ..., n). A
ultima integral do lado direito representa a parte principal linear do incremento ∆I, e logo a variacao de
I(y1, ..., yn) e
∆I =
∫ b
a
n∑
i=1
(Fyihi + Fy′
ih′i)dx,
como todos os incrementos hi(x) sao independentes, podemos escolher arbitrariamente um deles (satis-
fazendo a condicao de fronteira) e todos os outros nulos. Entao, a condicao necessaria δI = 0 para um
extremo implica
∫ b
a
(Fyi
hi + Fy′
ih′i)dx = 0 (i = 1, · · · , n),
usando o Lema 2.2.8, obtemos o seguinte sistema de equacoes de Euler-Lagrange:
Fyi− d
dxFy′
i= 0, (i = 1, · · · , n). (1.6.23)
O sistema (1.6.23) e um sistema de equacoes diferenciais de segunda ordem, sua solucao em geral de-
pende de 2n constantes arbitrarias, que sao determinadas usando as condicoes de contorno (1.6.22). Isto
demonstra o seguinte
Teorema 1.6.1 Uma condicao necessaria para a curva
yi = yi(x) (i = 1, · · · , n)
25
ser um extremo do funcional (1.6.21) e que as funcoes yi(x) satisfacam o sistema de equacoes de Euler-
Lagrange (1.6.23).
Observacao: Vimos como encontrar um sistema de equacoes de Euler-Lagrange para todo funcional do
tipo (1.6.21), no entanto, dois integrandos diferentes F podem conduzir ao mesmo sistema de equacoes
de Euler-Lagrange. De fato, seja
φ = φ(x, y1, · · · , yn)
alguma funcao de classe C2, e seja
ψ(x, y1, · · · , yn, y′1, · · · , y′n) =
∂φ
∂x+
n∑
i=1
∂φ
∂yi
y′i (1.6.24)
e de facil verificacao que∂ψ
∂yi
− d
dx
(∂ψ
∂y′i
)≡ 0.
Logo, os funcionais ∫ b
a
F (x, y1, · · · , yn)dx (1.6.25)
e ∫ b
a
[F (x, y1, · · · , yn) + ψ(x, y1, · · · , yn)
]dx, (1.6.26)
possuem o mesmo sistema de equacoes de Euler-Lagrange.
Dada alguma curva yi = yi(x), a funcao (1.6.24) e exatamente a derivada total de φ em relacao a x,
isto e,
d
dx
[φ(x, y1(x), · · · , yn(x))
].
Portanto, a integral
∫ b
a
ψ(x, y1, · · · , yn, y′1, · · · , y′n)dx =
∫ b
a
dφ
dxdx
tem os mesmos valores ao longo de toda curva que satisfaz a condicao de fronteira (1.6.22). Em outras
palavras os funcionais (1.6.25) e (1.6.26) definidos sobre a classe das funcoes que satisfazem (1.6.22)
diferem apenas por uma constante.
26
Definicao 1.6.2 Dizemos que dois funcionais sao equivalentes se eles tem as mesmas extremais (ou seja
eles tem o mesmo sistema de Equacoes de Euler-Lagrange).
Exemplo 1.6.3 Suponha que temos uma superfıcie σ especificada pela equacao vetorial
r = r(u, v).
A menor curva sobre σ unindo dois pontos de σ e chamada geodesica. Claramente as equacoes para as
geodesicas de σ sao equacoes de Euler-Lagrange de um problema variacional. De fato, uma curva sobre
a superfıcie σ pode ser dada pela equacao
u = u(t), v = v(t).
O comprimento de arco que une os pontos correspondentes aos valores t0 e t1 do parametro t e igual
I(u, v) =
∫ t1
t0
√Eu′2 + 2Fu′v′ + gv′2dt,
onde E,F e G sao os coeficientes da primeira forma fundamental da superfıcie σ. Escrevendo as equacoes
de Euler-Lagrange para o funcional acima, obtemos
Euu′2 + 2Fuu
′v′ +Guv′2
√Eu′2 + 2Fu′v′ +Gv′2
− d
dt
2(Eu′ + Fv′)√Eu′2 + 2Fu′v′ +Gv′2
= 0,
Evu′2 + 2Fvu
′v′ +Gvv′2
√Eu′2 + 2Fu′v′ +Gv′2
− d
dt
2(Fu′ +Gv′)√Eu′2 + 2Fu′v′ +Gv′2
= 0.
Este exemplo serve de motivacao para o que vamos estudar na secao seguinte.
1.7 Problema variacional na forma parametrica
Motivados pelo Exemplo 1.6.3, apresentaremos agora funcionais de curvas que nao sao dadas por uma
equacao da forma y = y(x).
Suponha que no funcional ∫ x1
x0
F (x, y, y′)dx (1.7.27)
27
estamos considerando o argumento y como uma funcao que e dada na forma parametrica, ao inves da
forma (1.7.27). Entao podemos reescrever (1.7.27), como∫ t1
t0
F
(x(t), y(t),
y(t)
x(t)
)x(t)dt =
∫ t1
t0
φ(x, y, x, y)dt, (1.7.28)
onde, φ(x, y, x, y) = F(x(t), y(t), y(t)
x(t)
)x(t) e (a = da
dt). Neste caso temos que (1.7.28) e um funcional que
depende de duas funcoes desconhecidas x(t) e y(t). A funcao φ que aparece na direita de (1.7.28) nao
envolve t explicitamente e e homogenea positiva de grau um em x(t) e y(t), isto e,
φ(x, y, λx, λy) = λφ(x, y, x, y),
para todo λ > 0.
Exemplo 1.7.1 A funcao comprimento de arco
φ(x, y, x, y) =
∫ t1
t0
√x2 + y2dt
e um exemplo de uma funcao homogenea positiva de grau um.
Por outro lado se∫ t1
t0
φ(x, y, x, y)dt
e um funcional cujo integrando φ nao envolve t explicitamente e e homogenea positiva de grau um em
x e y, mostraremos que os valores de tal funcional depende apenas da curva no plano xy definida pela
equacao parametrica x = x(t), y = y(t), e nao do parametro, isto e, se mudarmos o parametro t por um
outro τ, fazendo
t = t(τ),
onde dtdτ> 0 e [t0, t1] vai sobre [τ0, τ1], entao
∫ τ1
τ0
φ
(x, y,
dx
dτ,dy
dτ
)dτ =
∫ t1
t0
φ(x, y, x, y)dt.
Com efeito, sendo φ homogenea positiva de grau um em x e y segue-se que∫ τ1
τ0
φ
(x, y,
dx
dτ,dy
dτ
)dτ =
∫ τ1
τ0
φ
(x, y, x
dt
dτ, ydt
dτ
)dτ
=
∫ τ1
τ0
φ(x, y, x, y)dt
dτdτ.
28
Usando o Teorema da Mudanca de Variaveis, temos
∫ τ1
τ0
φ
(x, y,
dx
dτ,dy
dτ
)dτ =
∫ t1
t0
φ(x, y, x, y)dt
o que prova a afirmacao antes feita. Com isto, provamos o seguinte resultado:
Teorema 1.7.2 Uma condicao necessaria e suficiente para um funcional
∫ t1
t0
φ(t, x, y, x, y)dt
depender apenas da curva no plano-xy definida pelas equacoes x = x(t) e y = y(t) e nao da escolha da
parametrizacao, e que o integrando φ nao envolva t explicitamente e seja uma funcao homogenea positiva
de grau um em x e y.
Observacao: Suponha que alguma parametrizacao da curva y = y(x) reduz o funcional (1.7.27) para a
forma ∫ t1
t0
F
(x, y,
y
x
)xdt =
∫ t1
t0
φ(x, y, x, y)dt. (1.7.29)
O problema variacional da direita de (1.7.29) conduz ao par de equacoes de Euler-Lagrange
φx − d
dtφx = 0, φy − d
dtφy = 0, (1.7.30)
que deve ser equivalente a unica equacao de Euler-Lagrange
Fy − d
dxFy′ = 0, (1.7.31)
correspondente ao problema variacional original (1.7.27). Logo as equacoes (1.7.30) e (1.7.31) nao podem
ser independente. E de fato, fazendo alguns calculos tecnicos, mostra-se que elas estao relacionadas pela
identidade.
x
(φx − d
dtφx
)+ y
(φy − d
dtφy
)= 0
Observacao: Considerando um funcional na forma parametrica
∫ t1
t0
φ(x, y, x, y)dt
29
onde φ nao depende de t explicitamente e e homogenea positiva de grau um em x e y. O espaco das
curvas x(t), y(t) claramente engloba as curvas que sao graficos de uma funcao y = y(x), e do funcional
na forma parametrica podemos passar para o funcional original, pois
∫ t1
t0
φ(x, y, x, y)dt =
∫ t1
t0
x
xφ(x, y, x, y)dt =
∫ t1
t0
xφ(x, y, 1,y
x)dt
=
∫ x1
x0
φ(x, y, 1, y′)dx.
1.8 O problema variacional com vınculo
Em muitos problemas variacionais as condicoes de contorno nao sao suficientes para a sua resolucao,
e sao impostas outros tipos de condicoes sobre as curvas admissıveis, conhecidas, como condicoes de
vınculo.
1.8.1 O problema isoperimetrico
O problema isoperimetrico pode ser formulado como segue: Encontre a curva y = y(x) para a qual o
funcional
I(y) =
∫ b
a
F (x, y, y′)dx (1.8.32)
tem um extremo, onde as curvas admissıveis satisfazem a condicao de fronteira
y(a) = A, y(b) = B,
e sao tais que um outro funcional
K(y) =
∫ b
a
G(x, y, y′)dx (1.8.33)
tem um valor fixo l.
Para resolver este problema, assumimos que as funcoes F e G definindo os funcionais (1.8.32) e (1.8.33)
tem primeiras e segundas derivadas parciais contınuas em [a, b] para valores arbitrarios de y e y ′. Entao,
temos o seguinte resultado.
30
Teorema 1.8.1 Dado o funcional
I(y) =
∫ b
a
F (x, y, y′)dx,
se as curvas admissıveis satisfazem as condicoes
y(a) = A, y(b) = B, K(y) =
∫ b
a
G(x, y, y′)dx = l (1.8.34)
onde K(y) e outro funcional, e se I(y) tem um extremo para y = y(x). Entao se y = y(x) nao e um
extremo para K(y), existe uma constante λ, chamada multiplicador de Lagrange, tal que y = y(x) e um
extremo do funcional ∫ b
a
(F + λG
)dx,
isto e, y = y(x) satisfaz as equacoes diferenciais
Fy − d
dxFy′ + λ
(Gy − d
dxGy′
)= 0
Demonstracao: Veja ([12], pp. 43).
Observacao: O Teorema 2.8.1 pode ser generalizado para o caso de funcionais dependendo de n funcoes
desconhecidas e sujeito a varias condicoes de vınculos do tipo (1.8.33). De fato, suponha que estamos
procurando um extremo do funcional
I(y1, · · · , yn) =
∫ b
a
F (x, y1, · · · , yn, y′1, · · · , y′n)dx
sujeito as condicoes
yi(a) = Ai, yi(b) = Bi,
∫ b
a
Gj(x, y1, · · · , yn, y′1, · · · , y′n)dx = lj (1.8.35)
com lj = 1, ..., k e k < n. Neste caso uma condicao necessaria para um extremo e que
∂
∂yi
F +
k∑
j
λjGj
− d
dx
∂
∂y′i
F +
k∑
j
λjGj
= 0, (i = 1, ..n).
As 2n constantes arbitrarias que aparecem na solucao do sistema acima, e os valores dos k parametros
λ1, · · · , λk, chamados multiplicadores de Lagrange, sao determinados pelas condicoes de fronteira e pelas
condicoes de vınculo.
31
Observacao: Para usar o Teorema 2.8.1 na resolucao de um problema isoperimetrico, escrevemos a
solucao de (1.8.35), a qual contem duas constantes arbitrarias alem do parametro λ. Entao determinamos
estes tres valores usando as condicoes (1.8.34).
Exemplo 1.8.2 Entre todas as curvas de comprimento l no semi-plano superior passando pelos pontos
(−a, 0) e (a, 0), encontre a qual, com o segmento [a, b], circunda maior area.
Solucao: Estamos procurando por uma funcao y = y(x) para qual o funcional
I(y) =
∫ a
−a
ydx
tem um maximo sujeito as condicoes
y(−a) = y(a) = 0, K(y) =
∫ a
−a
√1 + y′2dx = l.
Assim, estamos lidando com um problema isoperimetrico. Usando o Teorema 2.8.1, formamos o funcional
∫ a
−a
(y + λ
√1 + y′2
)dx = l.
Escrevendo as equacoes de Euler-Lagrange para este funcional, obtemos
1 + λd
dx
y′√1 + y′2
= 0,
integrando em x, obtemos
x+ λy′√
1 + y′2= c1 ⇔ λ
y′√1 + y′2
= (c1 − x)
mas isto e equivalente a
y′ =c1 − x√
λ2 − (c1 − x)2
integrando mais uma vez em x e resolvendo a integral do lado direito por substituicao, temos
(y − c2)2 + (x− c1)
2 = λ2
onde c1 e c2 sao as constantes obtidas nas integracoes. Temos, entao como solucao uma famılia de cırculos.
Usando as condicoes de contorno e de vınculo descobrimos os valores de c1, c2 e λ.
32
1.8.2 Condicoes de vınculos finitas
No problema isoperimetrico as condicoes de vınculo que devem ser satisfeitas pelas funcoes y1, · · · , yn
sao dadas em formas de funcionais. Agora consideraremos um problema de um tipo de funcional diferente
que pode ser formulado como segue: Encontre as funcoes yi(x) para as quais o funcional
I(y1 · · · , yn) =
∫ b
a
F (x, y1. · · · , yn, y′1, · · · , y′n)dx
tem um extremo, onde as funcoes admissıveis satisfazem as condicoes de contorno
yi(a) = Ai, yi(b) = Bi, (i = 1, · · · , n)
e k ”finitas”condicoes de vınculo (k < n)
gj(x, y1, · · · , yn) = 0, (j = 1, · · · , k). (1.8.36)
Em outras palavras, o funcional I(y1 · · · , yn) nao esta sendo considerado para todas as curvas satis-
fazendo as condicoes de fronteira, mas apenas aqueles que estao na variedade de dimensao n− k definida
por (1.8.36).
Apresentaremos, agora, um Teorema analogo ao Teorema 2.8.1. Por simplicidade enunciaremos para
o caso n = 2 e k = 1.
Teorema 1.8.3 Dado o funcional
I(y, z) =
∫ b
a
F (x, y, z, y′, z′)dx
se as curvas admissıveis estao na superfıcie
g(x, y, z) = 0 (1.8.37)
e satisfazem as condicoes
y(a) = A1, y(b) = B1, z(a) = A2, z(b) = B2
e alem disso se I(y, z) tem um extremo para as curvas
y = y(x), z = z(x). (1.8.38)
33
Entao se gy e gz nao sao simultaneamente nulas em qualquer ponto da superfıcie (1.8.37), existe uma
funcao contınua λ(x) tal que (1.8.38) e uma extremal do funcional
∫ b
a
[F + λ(x)g] dx.
Isto e, as curva (1.8.38) satisfaz as equacoes diferenciais
Fy + λgy − d
dxFy′ = 0, Fz + λgz −
d
dxFz′ = 0.
Demonstracao: Ver ([12], pp. 46).
Observacao: Conforme [12], o Teorema 2.8.3 permanece valido quando a classe das curvas admissıveis
consiste do espaco das curvas suaves satisfazendo a equacao g(x, y, z, y ′, z′) = 0. Mas precisamente, se
o funcional I tem um extremo para uma curva γ, sujeito a condicao (1.8.38), e se gy′ e gz′ nao sao
simultaneamente nulas ao longo de γ, entao existe uma funcao λ(x), tal que γ e uma extremal do sistema
Φy − d
dxΦy′ = 0, Φz − d
dxΦz′ = 0,
onde, Φ = F + λG.
1.9 A forma canonica das equacoes de Euler-Lagrange
As equacoes de Euler-Lagrange para o funcional
I(y1, · · · , yn) =
∫ b
a
F (x, y1, · · · , yn, y′1, · · · , y′n)dx (1.9.39)
formam um sistema de n equacoes diferenciais de segunda ordem
Fyi− d
dxFy′
i= 0, (i = 1, · · · , n). (1.9.40)
Este sistema pode ser reduzido de varias maneiras para um sistema de 2n equacoes diferenciais de primeira
ordem. Por exemplo, considerando y′1, · · · , y′n como novas funcoes independentes de y1, · · · , yn, podemos
reescrever (1.9.40) na forma
dyi
dx= y′i; Fyi
− d
dxFy′
i= 0, (i = 1, · · · , n). (1.9.41)
34
Em (1.9.41) y1, · · · , yn, y′1, · · · , y′n sao 2n funcoes desconhecidas, e x e a variavel independente. No entanto
uma transformacao mais interessante sera a que apresentaremos agora. Seja
pi = Fy′
i, (i = 1, · · · , n), (1.9.42)
e suponha que o Jacobiano da mudanca de coordenada
det
[∂(p1, · · · , pn)
∂(y′1, · · · , y′n)
]= det
(Fy′
iy′
k
)6= 0,
onde,(Fy′
iy′
k
)denota a matriz cujas entradas sao os elementos Fy′
iy′
k. Entao podemos escrever na equacao
(1.9.40), y′1, · · · , y′n como funcoes das variaveis
x, y1, · · · , yn, p1, · · · , pn.
Em seguida expressamos a funcao F (x, y1, · · · , yn, · · · y′1, · · · , y′n) que aparece em (1.9.39) em termos de
uma nova funcao H(x, y1 · · · , yn, p1, · · · , pn) relacionadas com F pela formula
H = −F +n∑
i=1
y′iFy′
i= −F +
n∑
i=1
y′ipi,
onde y′i sao considerados como funcoes das variaveis (x, y1, · · · , yn, p1, · · · , pn). A funcao H e chamada
Hamiltoniana correspondente ao funcional I(y1 · · · , yn). Neste caso, podemos fazer uma transformacao
local das ”variaveis”x, y1, · · · , yn, y′1, · · · , y′n, F que aparecem em (1.9.39) para as novas variaveis x, y1, · · · , yn, p1, · · · , pn, H
chamadas variaveis canonicas.
Mostraremos, agora, como as equacoes de Euler-Lagrange se transformam quando introduzimos as
variaveis canonicas. Na condicao de fazer esta mudanca de variaveis temos que expressar as derivadas
parciais de F, isto e, as Fyi(avaliadas em x, y′1, · · · , y′n) em termos das derivadas parciais Hyi
(avaliadas
em x, p1, · · · , pn). O calculo direto destas derivadas sao mais leves. Portanto para evitar longos calculos
escrevemos as expressoes para diferencial H. Entao, usando o fato de que a primeira diferencial de uma
funcao nao depende da escolha das variaveis, obteremos as formulas requeridas sem muito esforco.
Pela definicao de H, temos
dH = −dF +
n∑
i=1
pidy′i +
n∑
i=1
y′idpi. (1.9.43)
Usualmente, antes de usar (1.9.43) para obter as expressoes das derivadas de H, teremos que expressar
as dy′i em termos de x, y′i, pi. No entanto por causa das relacoes
∂F
∂y′i= pi, (i = 1, · · · , n),
35
os termos contendo dy′i em (1.9.43) cancelam-se, e obtemos
dH = −∂F∂x
dx−n∑
i=1
∂F
∂yi
dyi +n∑
i=1
y′idpi. (1.9.44)
Daı, para obtermos as derivadas parciais de H, apenas escrevemos os coeficientes apropriados da difer-
encial na direita de (1.9.44), isto e,
∂H
∂x= −∂F
∂x,∂H
∂yi
= −∂F∂yi
,∂H
∂pi
= y′i.
Em outras palavras, as funcoes ∂F∂yi
e y′i sao conectadas com as derivadas parciais de H pelas formulas
y′i =∂H
∂pi
,∂F
∂yi
= −∂H∂yi
. (1.9.45)
Usando (1.9.45), podemos escrever as equacoes de Euler-Lagrange (1.9.40) na forma
dyi
dx=∂H
∂pi
,dpi
dx= −∂H
∂yi
, (i = 1, · · · , n). (1.9.46)
Estas 2n equacoes diferenciais formam um sistema que e equivalente ao sistema (1.9.40) e e chamado
sistema de equacoes de Euler-Lagrange canonico (ou simplesmente sistema canonico de Euler-
Lagrange) do funcional (1.9.39).
1.10 Integral primeira das equacoes de Euler-Lagrange
Uma integral primeira de um sistema de equacoes diferenciais e uma funcao que tem valores constantes
ao longo de cada curva integral do sistema. Os sistemas (1.9.40) e (1.9.46) sao equivalentes logo, tem
mesmas integrais primeiras. Primeiramente, consideremos o caso onde a funcao F definindo o funcional
(1.9.39) nao depende de x explicitamente, isto e, e da forma F (y1, · · · , yn). Entao a funcao
H = −F +
n∑
i=1
y′ipi
tambem nao depende de x explicitamente, e logo
dH
dx=
n∑
i=1
(∂H
∂yi
dyi
dx+∂H
∂pi
dpi
dx
). (1.10.47)
Usando as equacoes de Euler-Lagrange na forma canonica (1.9.46) encontramos que (1.10.47) torna-se
dH
dx=
n∑
i=1
(∂H
∂yi
∂H
∂pi
− ∂H
∂pi
∂H
∂yi
)= 0,
36
ao longo de cada extremal. Daı, se F nao depende de x explicitamente, a funcao
H(y1, · · · , yn, p1, · · · , pn)
e uma integral primeira da equacao de Euler-Lagrange.
Observacao: Se H depende de x explicitamente, a forma
dH
dx=∂H
∂x
pode ser deduzida usando o mesmo argumento.
Agora, consideremos uma funcao arbitraria da forma
φ = φ(y1, · · · , yn, p1, · · · , pn)
e examinemos as condicoes sob a qual φ e uma integral primeira do sistema (1.9.46). Esquecendo a
suposicao de que F nao depende explicitamente de x, e em vez disto consideremos o caso geral. Ao longo
de cada curva integral do sistema (1.9.46), obtemos
dφ
dx=
n∑
i=1
(∂φ
∂yi
dyi
dx+∂φ
∂pi
dpi
dx
)=
n∑
i=1
(∂φ
∂yi
∂H
∂pi
− ∂φ
∂pi
∂H
∂yi
)= [φ,H],
que e chamado o colchete de Poisson das funcoes φ e H. Assim, provamos que
dφ
dx= [φ,H]. (1.10.48)
Segue-se de (1.10.48) que uma condicao necessaria e suficiente para uma funcao
φ = φ(y1, · · · , yn, p1, · · · , pn)
ser uma integral primeira do sistema de equacoes de Euler-Lagrange (1.9.46) e que o colchete de Poisson
[φ,H] seja identicamente nulo.
37
Capıtulo 2
O problema dos N-Corpos e
Problemas Variacionais em Sistemas
Mecanicos
O problema dos N -corpos estuda a dinamica de N partıculas materiais no espaco, com vetores posicao
q1, · · · , qN e massas m1, · · · ,mN , mi > 0 para todo i = 1, · · · , N, sujeitas unicamente a acao mutuas de
suas atracoes gravitacionais.
Em sistemas dinamicos os funcionais que consideraremos serao da forma
∫ b
a
Ldt
onde L e a Lagrangiana do sistema.
2.1 Formulacao do problema dos N-corpos
Considere N massas pontuais movendo-se num sistema referencial Newtoniano R3, (ou R
2) sujeitas
apenas a acoes mutuas de suas atracoes gravitacionais. Se a i-esima partıcula tem vetor posicao qi e
massa mi > 0; entao aplicando a Segunda Lei de Newton e a Lei de Gravitacao Universal, temos as
38
seguintes equacoes diferenciais de movimento
−miq′′i =
N∑
i6=j
mimj(qi − qj)
‖qi − qj‖3=∂V
∂qi, (2.1.1)
onde
V = −∑
1≤i<j≤N
mimj
‖qi − qj‖. (2.1.2)
onde V e menos a energia potencial.
Seja
q = (q1, · · · , qN ) εR3N (ouR
2N )
e M = diag(m1m1m1, · · · ,mNmNmN ) (ouM = diag(m1m1, · · · ,mNmN )) como a equacao (2.1.1) e da
forma
Mq′′ − ∂V
∂q= 0,
defina como acima p = (p1, · · · , pN ) εR3N (ouR
2N ) por
p = Mq′
deste modo pi = miq′i e o momento da i-esima partıcula. Assim, as equacoes do movimento (2.1.1) sao
equivalentes a
q′i =pi
mi
=∂H
∂pi
, p′i = −N∑
i6=j
mimj(qi − qj)
‖qi − qj‖3= −∂H
∂qi(2.1.3)
ou seja, temos um sistema Hamiltoniano cuja funcao Hamiltoniana e dada por
H =
N∑
i=1
‖pi‖2
2mi
+ V. (2.1.4)
Nos referimos a (2.1.4) como a formulacao Hamiltoniana para o sistema (2.1.1) e H representa a energia
do sistema. Note que a energia cinetica do sistema e dada por
T =1
2
N∑
i=1
‖pi‖2
mi
.
Introduzindo a funcao Lagrangiana L, associada a este problema a qual e dada por
L = T − V (2.1.5)
39
dizemos que (2.1.5) e a Lagrangiana do sistema (2.1.1). Voltaremos a falar sobre este assunto mais adiante
na proxima secao e na Secao 3.4.
Se as N partıculas estiverem num mesmo plano, temos o problema planar dos N - Corpos.
Observacao: Como as partıculas em estudo estao em R3 podemos considerar cada componente qj de q
dada por
qj = (xj , yj , zj),
se qj ∈ R2, entao temos zj = 0.
Observacao: E de facil verificacao que a funcao Hamiltoniana H e uma integral primeira do sistema
(2.1.3), ou seja, H e constante ao longo das trajetorias (curvas integrais) deste sistema.
Observacao: O problema de N -corpos e um sistema de 6N equacoes diferenciais de primeira ordem,
uma solucao completa exigira 6N − 1 integrais primeiras independentes do tempo e uma que depende do
tempo. Se N > 2 nao ha muitas integrais globais. No entanto, existem 10 integrais primeiras de facil
verificacao para o problema dos N -corpos, a saber, o centro de massa, o momento linear, o momento
angular e a energia. Mais detalhes, veja [21].
2.2 Princıpio da acao mınima
Agora aplicaremos os resultados obtidos no capıtulo anterior em alguns problemas mecanicos.
Suponha que seja dado um sistema de N partıculas (massas pontuais), onde nao ha influencia de
forcas alem de suas atracoes mutuas. Se a i-esima partıcula tem massa mi e coordenadas qi = (xi, yi, zi),
(i = 1, · · · , N). Entao a energia cinetica do sistema e
T =1
2
N∑
i=1
mi(x′2i + y′2i + z′2i ). (2.2.6)
Assumiremos que o sistema tem energia potencial V, isto e, existe uma funcao
V = V (t, x1, y1, z1, · · · , xN , yN , zN ) (2.2.7)
40
tal que a forca atuando sobre a i-esima partıcula tem componentes
F i1 = − ∂V
∂xi
, F i2 = −∂V
∂yi
, F i3 = −∂V
∂zi
.
Em seguida introduzimos a expressao
L = T − V (2.2.8)
chamada funcao Lagrangiana do sistema de partıculas. Obviamente L e uma funcao do tempo, das
posicoes (xi, yi, zi) e das velocidades (x′i, y′i, z
′i) do sistema de N partıculas.
Suponha que no tempo t0 o sistema esta em alguma posicao fixa. Entao a evolucao subsequente do
sistema no tempo e descrita por uma curva
xi = xi(t), yi = yi(t), zi = zi(t), (i = 1, · · · , N)
no espaco 3N dimensional (ou 2N dimensional se for planar). Pode-se mostrar que entre todas as curvas
passando por um ponto correspondente a posicao inicial do sistema, a curva que de fato descreve o
movimento do sistema dado, sob a influencia de forcas agindo sobre ele, satisfaz a seguinte condicao
conhecida como Princıpio da Mınima Acao de Hamilton:
Teorema 2.2.1 (Princıpio da mınima acao de Hamilton) O movimento de um sistema de N
partıculas durante um intervalo de tempo [t0, t1] e descrito pelas funcoes
xi(t), yi(t), zi(t)
com 1 ≤ i ≤ N, para o qual o funcional
∫ t1
t0
L(x(t), x′(t))dt (2.2.9)
tem um mınimo. A expressao (2.2.9) e chamada mınima acao de Hamilton.
Demonstracao: Para provarmos este resultado, mostraremos que o princıpio da mınima acao implica
as usuais equacoes de movimentos de um sistema de N partıculas. Se o funcional (2.2.9) tem um mınimo,
entao as equacoes de Euler-Lagrange sao
∂L
∂xi
− d
dt
∂L
∂x′i= 0,
∂L
∂yi
− d
dt
∂L
∂y′i= 0,
∂L
∂zi
− d
dt
∂L
∂z′i= 0, (2.2.10)
41
deve ser satisfeita para i = 1, · · · , N. Lembrando que a energia potencial V depende apenas de xi, yi, zi, e
nao depende de x′i, y′i, z
′i, enquanto que a energia cinetica T e uma soma de quadrados das componentes
de velocidades x′i, y′i, z
′i (com coeficientes 1
2mi), podemos escrever as equacoes (2.2.10) na forma
− ∂V
∂xi
− d
dtmix
′i = 0; −∂V
∂yi
− d
dtmiy
′i = 0; −∂V
∂zi
− d
dtmiz
′i = 0. (2.2.11)
Mas como as derivadas
− ∂V
∂xi
; −∂V∂yi
; −∂V∂zi
;
sao as componentes de forca atuando na i-esima partıcula, o sistema (2.2.11) reduz-se para
mix′′i = F i
1; miy′′i = F i
2; miz′′i = F i
3,
que sao exatamente as equacoes Newtonianas do movimento para um sistema deN partıculas sem estarem
sujeitas a vınculo (forcas externas), provando assim o Teorema.
Observacao: Do Teorema 3.2.1 e da relacao
H = −F +N∑
i=1
y′ipi
onde pi = Fyi, temos que as formulacoes Hamiltonianas e Lagrangianas para o problema de N-corpos sao
equivalentes. Veremos esta equivalencia de maneira mais explıcita na Secao 3.4.
Observacao: O princıpio da acao mınima permanece valido no caso onde o sistema de partıculas esta
sujeita a vınculos (forcas externas atuando no sistema), restringindo entao as curvas em que o funcional
(2.2.9) e considerado para que satisfacam o vınculo. Em outras palavras, neste caso, a aplicacao do
princıpio da acao mınima sera um problema variacional com vınculo, pois de acordo com a Secao 2.8.2,
trata-se de minimizar o funcional (2.2.9) restringindo seu domınio as funcoes que satisfazem o vınculo
(forca externa).
Observacao: O princıpio da mınima acao pode ser usado nao apenas em Mecanica, mas tambem em
outros ramos da Fısica, como por exemplo na Eletrodinamica, desde que consideremos intervalos su-
ficientemente pequenos [t0, t1], e facamos uma adaptacao para um sistema Mecanico. Veja ([12], pp.
159).
42
2.3 Lei de conservacao
Vimos que as equacoes de movimento de um sistema mecanico consistindo de N partıculas, com
energia cinetica (2.2.6), energia potencial (2.2.7) e Lagrangiana (2.2.8), pode ser obtido do princıpio da
acao mınima, isto e, minimizando a integral
∫ t1
t0
Ldt =
∫ t1
t0
(T − V )dt. (2.3.12)
As variaveis canonicas correspondente ao funcional (2.3.12) sao dadas por
pix =∂L
∂x′i= mix
′i, piy =
∂L
∂y′i= miy
′i, piz =
∂L
∂z′i= miz
′i
que sao exatamente as componentes do momento da i-esima partıcula. Em termos de
pix, piy, piz,
obtemos
H =
n∑
i=1
(x′ipix + y′ipiy + z′ipiz
)− L = 2T − (T − V ) = T + V,
assim, H e a energia total do sistema.
Usando a forma do integrando em (2.3.12), podemos encontrar varias funcoes, (como, a energia,
o momento linear e o momento angular), que assumem valores constantes ao longo das trajetorias do
sistema, obtendo assim as chamadas Leis de Conservacao.
2.4 Equivalencia entre as formulacoes Hamiltonianas e Lagrangianas
em um sistema mecanico.
Seja
L(x, x′)
a Lagrangiana de um sistema Mecanico. Suponha L regular, isto e, Lx′x′ e uma matriz invertıvel. Facamos
a seguinte mudanca de variaveis
43
x = x, y = Lx′(x, x′)
que e um difeomorfismo, ja que sua jacobiana(
I 0A Lx′x′
)
e inversıvel com inversa
x = x, x′ = ϕ(x, y),
para alguma aplicacao ϕ : R2n → R
n, e assim, Dxϕ(x, y) : Rn → R
n.
Para passarmos da formulacao Lagrangiana para a formulacao Hamiltoniana, defina a aplicacao H,
por
H(x, y) = 〈x′, y〉 − L(x, x′) (2.4.13)
onde, x′ = ϕ(x, y) e 〈, 〉 denota o produto interno usual de Rn. A expressao (2.4.13) e chamada Trans-
formada de Legendre da funcao L.
Proposicao 2.4.1 Se
H(x, y) = 〈x′, y〉 − L(x, x′), x′ = ϕ(x, y),
Entao
Hx = −Lx; Hy = x′
Demonstracao: Derivando H em relacao a x, temos
DxH(x, y)ξ = 〈Dxϕ(x, y)ξ, y〉 − [(DxL(x, x′)ξ +Dx′L(x, x′)Dxϕ(x, y)ξ)].
Escrevendo esta ultima equacao em termos de gradiente, obtemos
〈Hx, ξ〉 = 〈Dxϕ(x, y)ξ, y〉 − 〈DxL(x, x′), ξ〉 − 〈Dx′L(x, x′), Dxϕ(x, y)ξ〉
= −〈DxL(x, x′), ξ〉 = −〈Lx, ξ〉,
como isto e valido para todo ξ, temos que Hx = −Lx.
De maneira analoga, derivando H em relacao a y, obtemos
DyH(x, y)η = 〈Dyϕ(x, y)η, y〉 + 〈x′, η〉 −Dx′L(x, x′)Dyϕ(x, y)η.
44
Em termos de gradiente, obtemos
〈Hy, η〉 = 〈Dyϕ(x, y)η, y〉 + 〈x′, η〉 − 〈Dx′L(x, x′), Dyϕ(x, y)η〉
= 〈x′, η〉,
como isto e valido para todo η, resulta que Hy = x′.
Corolario 2.4.2 Se (x(t), x′(t)) e solucao de
Lx − d
dtLx′ = 0,
entao (x(t), y(t)) e solucao de
x′ = Hy, y′ = −Hx.
Demonstracao: De fato, sendo Hy = x′ e Hx = −Lx, usando transformada de Legendre, temos
y′ = −Hx.
Em outras palavras, se as variaveis posicao e velocidade, (x(t), x′(t)), e solucao do sistema La-
grangeano, entao usando a transformada de Legendre temos que as novas variaveis posicao e momento,
(x(t), y(t)), e solucao do sistema Hamiltoniano.
Agora dado H(x, y) a funcao Hamiltoniana de um sistema Hamiltoniano. Suponha H regular, isto e,
Hyy uma matriz invertıvel. Considere a seguinte mudanca de variaveis
x = x, x′ = Hy(x, y)
que e um difeomorfismo, ja que a matriz jacobiana
(I 0A Hyy
)
e invertıvel com inversa
x = x, y = ψ(x, x′),
para alguma ψ : R2n → R
n.
45
Para passarmos da formulacao Hamiltoniana para a formulacao Lagrangiana, defina a aplicacao L,
dada por
L(x, x′) = 〈x′, y〉 −H(x, y). (2.4.14)
A expressao (2.4.14) e a Transformada de Legendre da funcao H.
Proposicao 2.4.3 Seja
L(x, x′) = 〈x′, y〉 −H(x, y)
onde, y = ψ(x, x′). Entao
Lx = −Hx, Lx′ = y.
Demonstracao: Derivando L em relacao a x, temos
DxL(x, x′)ξ = 〈x′, Dxψ(x, x′)ξ〉 −DxH(x, y)ξ −DyH(x, y)Dxψ(x, x′)ξ.
Em termos de gradiente, obtemos
〈Lx, ξ〉 = 〈x′, Dxψ(x, x′)ξ〉 − 〈DxH(x, y), ξ〉 − 〈DyH(x, y), Dxψ(x, x′)ξ〉
= −〈DxH(x, y), ξ〉 = −〈Hx, ξ〉.
Como isto e valido para todo ξ, segue-se que Lx = −Hx.
Da mesma forma, derivando L em relacao a x′, temos
Dx′L(x, x′)η = 〈η, y〉 + 〈x′, Dx′ψ(x, x′)η〉 −DyH(x, y)Dx′ψ(x, x′)η.
Em termos de gradiente
〈Lx′ , η〉 = 〈η, y〉 + 〈x′, Dx′ψ(x, x′)η〉 − 〈DyH(x, y), Dx′ψ(x, x′)η〉
= 〈η, y〉,
como isto vale para todo η, resulta que Lx′ = y.
Corolario 2.4.4 Se (x(t), y(t)) e solucao do sistema
x′ = Hy; y′ = −Hx
46
entao (x(t), x′(t)) e solucao de
Lx − d
dtLx′ = 0.
Demonstracao: De fato,
Lx − d
dtLx′ = −Hx − d
dty = −Hx − y′ = 0.
Em outras palavras, se as variaveis posicao e momento, (x(t), y(t)), e solucao do sistema Hamiltoniano,
entao usando a transformada de Legendre temos que as novas variaveis posicao e velocidade, (x(t), x′(t)),
e solucao do sistema Lagrangeano.
47
Capıtulo 3
O Metodo Direto em Calculo
Variacional e Sistemas Envolvendo
Forca Forte e Forca Fraca
Nosso objetivo neste Capıtulo e introduzir os resultados basicos importantes, para em seguida no
Capıtulo 4 fazer as aplicacoes em problemas da Mecanica Celeste. Para este proposito, comecamos
introduzindo o espaco de Sobolev H1 e os conceitos de coercividade e sequencia minimizante, ou seja,
trabalharemos o metodo direto em Calculo Variacional. Posteriormente introduzimos os conceitos de
forca forte e forca fraca que serao muito uteis no proximo Capıtulo para mostrar a existencia de solucoes
sem singularidades. Por ultimo trabalharemos com a nocao de ponto crıtico de um funcional sobre H 1,
assim como a de gradiente deste funcional, e analisamos a regularidade destes pontos crıticos.
3.1 Notacoes e Preliminares
Para aplicacoes T -periodica, t → x(t), x : R → R2, x ∈ C2([0, T ]; R2), temos os seguintes produtos
internos
〈x, y〉0 =
∫ T
0
〈x(t), y(t)〉dt,
〈x, y〉1 = 〈x, y〉0 + 〈x′, y′〉0 =
∫ T
0
〈x(t), y(t)〉dt+
∫ T
0
〈x′(t), y′(t)〉dt,
48
onde 〈, 〉 e o produto interno canonico de R2 e x′ denota a derivada de x com respeito ao parametro t.
Lembrando, ainda, que C2([0, T ]; R2) e o espaco das funcoes definidas sobre [0, T ] com valores em R2 que
tem segundas derivadas contınuas.
Sejam ‖x‖0 e ‖x‖1 as respectivas normas com respeito aos produtos internos acima, isto e,
‖x‖0 =
(∫ T
0
|x(t)|2dt) 1
2
,
‖x‖1 =
(∫ T
0
|x(t)|2dt+
∫ T
0
|x′(t)|2dt) 1
2
=√
‖x‖20 + ‖x′‖2
0.
Lembramos que S1 ≡ [0, T ]/0, T. Denotamos por
H0(S1; R2k
)e H1
(S1; R2k
)(ou H1
([0, T ]; R2k
)
o espaco de Hilbert obtido pelo completamento de(C2([0, T ]); R2k
)com as normas ‖.‖0 e ‖.‖H1 = ‖.‖1,
respectivamente. Lembremo-nos que para todo espaco W com produto interno existe um espaco de
Hilbert H, (seu completamento), e um isomorfismo A de W sobre um subespaco W de H, denso em H.
O espaco H e unico a menos de isomorfismo. (Veja [17], pp. 139).
Observacao: O espaco H0(S1; R2k
)e simplesmente o espaco de aplicacoes L2([0, T ]) e H1
(S1; R2k
)e
o espaco de Sobolev das aplicacoes absolutamente contınuas cujas derivadas sao de quadrado integravel,
(veja [14]). Alem disso, o completamento das funcoes de classe C2([0, T ]) coincide com o completa-
mento das funcoes de classe C∞([0, T ]), e temos ainda mais, para qualquer 1 ≤ k ≤ ∞, verifica-se que
Ck([0, T ]; RN
)e denso em H1
([0, T ]; RN
)com a norma ‖ · ‖H1 . (Veja [3]).
3.2 O Metodo direto em problemas variacionais
Nesta secao veremos importantes metodos que sao usados para resolver alguns problema variacionais
sem ter que resolver um sistema de EDO‘s.
49
3.2.1 Coercividade de um funcional
Consideraremos nesta secao = como um espaco linear normado. Em particular, podemos considerar
= como sendo um subespaco de H1 = H1(S1; R2k
).
Definicao 3.2.1 Considere um funcional I : = → R. Dizemos que I e coercivo sobre =, se I(y) → +∞quando ‖y‖ → +∞.
De maneira analoga para funcoes de N variaveis, temos a seguinte definicao
Definicao 3.2.2 Seja F : RN → R uma funcao real de N variaveis reais. Dizemos que F e coerciva
sobre RN , se F (y) → +∞ para todo y ∈ R
N com ‖y‖ → +∞.
Exemplo 3.2.3 Seja I : = → R dado por
∫ T
0
(|y(t)|2 + |y′(t)|2
)dt
Entao claramente I e coercivo, pois se
‖y‖H1 =
(∫ T
0
[|y(t)|2 + |y′(t)|2
]dt
) 12
→ +∞,
entao
I(y) = ‖y‖2H1 → +∞.
Proposicao 3.2.4 No caso do espaco de funcoes = ser de dimensao finita temos que uma funcao coerciva
F : = → R e contınua, admite um mınimo global, isto e, existe x0 ∈ =, tal que F (x) ≥ F (x0) para todo
x ∈ =.
Demonstracao: Da coercividade de F (x), e suficiente procurar tal x0 num conjunto compacto (fechado
e limitado) conveniente, digamos uma bola fechada de centro x = 0 e raio R, BR(0), para algum R > 0.
(A coercividade de F (x) permite escolher R > 0 tal que F (x) > F (0) para todo x com ‖x‖ > R e isso
assegura que o ponto de mınimo devera existir e necessariamente estara na bola BR(0)). Mas do fato de
= ≡ Rn temos que:
50
(a) A bola fechada BR(0) e um conjunto compacto, logo toda sequencia de pontos possuem uma sub-
sequencia convergindo para um ponto da bola;
(b) Uma funcao contınua F : K → R definida num conjunto compacto tem um mınimo, isto e existe
x0 ∈ K, tal que F (x) ≥ F (x0) para todo x ∈ K. Finalmente, usando (a) e (b) podemos prontamente
concluir o teorema. Os fatos cruciais da prova acima foram: (a) e o fato de F |BR(0) ser contınua. (A
coercividade de F (x) no espaco = foi usado para reduzir o problema de = para BR(0) ⊂ =).
3.2.2 Sequencia minimizante
Ha varias tecnicas diferentes relacionadas com o metodo direto principal, que servem para aproximar
um espaco de funcoes de dimensao infinita por espacos de dimensao finita. No entanto nesta subsecao
consideraremos apenas os metodos baseados nas ideias seguintes: Considere o problema de encontrar o
mınimo de um funcional I(y) definido sobre um espaco linear =. Para o problema fazer sentido e
necessario assumirmos que ha funcoes em = para quais I(y) <∞, e alem do mais que
infy∈=
I(y) = µ > −∞. (3.2.1)
Entao pela definicao de µ, existe uma sequencia de funcoes yn, chamada sequencia minimizante,
tal que
limn→∞
I(yn) = µ.
Se a sequencia yn tem uma funcao limite y∗, e se ele e legıtimo no sentido de podermos escrever
I(y∗) = limn→∞
I(yn), (3.2.2)
isto e,
I( limn→∞
yn) = limn→∞
I(yn),
entao
I(y∗) = µ,
e y∗ por ser uma funcao na qual o funcional I assume um extremo (mınimo), e a solucao de um problema
variacional. Alem disso, as funcoes da sequencia minimizante yn podem ser consideradas como solucoes
aproximadas do nosso problema variacional, pois a medida que yn → y∗, temos que I(yn) → I(y∗) = µ.
51
Daı, para resolver um dado problema variacional pelo metodo direto, precisamos:
(1) Construir uma sequencia minimizante yn;
(2) Provar que yn tem uma funcao limite y∗;
(3) Provar a legitimidade do limite dada pela expressao (3.2.2).
Comentarios:
(A) Dois metodos diretos, o de Ritz e o das Diferencas Finitas, cada um envolvendo a construcao de
uma sequencia minimizante serao discutidos nesta Subsecao. Complementamos que uma sequencia min-
imizante pode sempre ser construıda se (3.2.1) vale.
(B) Mesmo se uma sequencia minimizante yn exista para um dado problema variacional, ela pode nao
ter uma funcao limite y∗. Por exemplo, considere o funcional definido sobre C1([−1, 1]) por
I(y) =
∫ 1
−1
t2y′2dt,
com
y(−1) = −1, y(1) = 1. (3.2.3)
Obviamente, I(y) assume apenas valores nao negativos e
infyI(y) = 0.
Podemos escolher como sequencia minimizante
yn(t) =tan−1(nt)
tan−1(n), (n = 1, 2, · · ·) (3.2.4)
como ∫ 1
−1
n2t2dt
[tan−1(n)]2[1 + n2t2]2<
1
[tan−1(n)]2
∫ 1
−1
dt
1 + n2t2=
2
n tan−1(n).
Logo, I(yn) → 0, quando n → ∞. Mas quando n → ∞ a sequencia (3.2.4) nao tem limite na classe das
funcoes contınuas satisfazendo as condicoes de fronteira (3.2.3). De fato,
yn(t) → 0 se t = 0, yn(t) → 1 se t > 0 yn(t) → −1 se t < 0.
Mesmo se a sequencia minimizante yn tem um limite y∗ no sentido da norma de C([a, b]) (isto e
yn → y∗ sem qualquer exigencia sobre a convergencia das derivadas de yn) temos que (3.2.2) e ainda
52
valido, porem e nao trivial a justificativa, pois em geral, as funcoes consideradas no calculo das variacoes
nao sao contınuas na norma dada em C([a, b]). No entanto, (3.2.2) ainda vale se a continuidade de I(y)
for substituıda pela condicao de continuidade fraca, que sera definida adiante, (veja [12], pp. 194).
Teorema 3.2.5 Se yn e uma sequencia, em =, minimizante para o funcional I(y), com funcao limite
y∗, e se I(y) e semi-contınuo inferiormente em y∗, entao
I(y∗) = limn→∞
I(yn).
Demonstracao: Por um lado,
I(y∗) ≥ limn→∞
I(yn) = infy∈=
I(y), (3.2.5)
enquanto por outro lado, dado ε > 0,
I(yn) − I(y∗) > −ε, (3.2.6)
se n e suficientemente grande. Fazendo n→ ∞ em (3.2.5), obtemos
I(y∗) ≤ limn→∞
I(yn) + ε
e fazendo ε→ 0, temos
I(y∗) ≤ limn→∞
I(yn). (3.2.7)
De (3.2.5) e (3.2.7) segue-se o resultado.
Este Teorema simplesmente assegura que semi-continuidade do funcional I(y) em y∗, implica legiti-
midade do limite de yn.
3.2.3 O metodo de Ritz e o metodo das diferencas finitas
Primeiro descreveremos o metodo de Ritz que e um dos mais usados em problemas variacionais diretos.
Suponha que estamos olhando para o mınimo de um funcional I(y) definido sobre algum espaco de funcoes
=, que por simplicidade, suponhamos um espaco linear normado. Se ϕn e uma sequencia de funcoes
em =, e se =n e o subespaco n-dimensional de = gerado pelas n primeiras funcoes de ϕn, isto e, o
conjunto de todas as combinacoes lineares da forma
α1ϕ1 + · · · + αnϕn, (3.2.8)
53
onde, α1, · · · , αn ∈ R. Entao, sobre cada subespaco =n o funcional I(y) conduz a uma funcao
I(α1ϕ1 + · · · + αnϕn) (3.2.9)
de n variaveis α1, · · · , αn.
Em seguida, escolhemos α1, · · · , αn, de tal modo que minimize (3.2.9). Denotemos o mınimo por µn e
o elemento de =n onde o mınimo e atingido por yn. (Em princıpio, este e um problema mais simples do
que o de encontrar o mınimo do funcional original I(y), pois estamos, agora, lidando com um subespaco
de dimensao finita). Claramente, µn nao pode aumentar com n, isto e, devemos ter
µ1 ≥ µ2 ≥ · · ·
pois se A ⊂ B, entao infy∈A
I ≥ infy∈B
I. Como toda combinacao linear de ϕ1, · · · , ϕn e automaticamente uma
combinacao linear de ϕ1, · · ·ϕn, ϕn+1, cada subespaco da sequencia =1,=2, · · · esta contido no proximo.
Definicao 3.2.6 A sequencia ϕn e dita ser completa (em =) se dada qualquer y ∈ = e qualquer ε > 0,
existe uma combinacao linear ηn da forma (3.2.8) tal que
‖ηn − y‖ < ε
onde n depende de ε.
Agora, no proximo Teorema, daremos condicoes que garantem quando a sequencia yn e uma
sequencia minimizante.
Teorema 3.2.7 Se o funcional I(y) e contınuo em =, e se a sequencia ϕn e completa, entao
limn→∞
µn = µ
onde µ = infy∈=
I(y).
Demonstracao: Dado qualquer ε > 0, seja y∗ tal que
I(y∗) < µ+ ε,
54
(um tal y∗ existe para todo ε > 0, pela definicao de µ). Sendo I(y) contınuo,
|I(y) − I(y∗)| < ε (3.2.10)
contanto que ‖y − y∗‖ < δ = δ(ε). Seja ηn uma combinacao linear do tipo (3.2.8) tal que ‖ηn − y∗‖ <δ. (Uma tal sequencia ηn sempre existe para n grande pois ϕn e completa). Alem disso, seja yn
uma combinacao linear da forma (3.2.8) para qual (3.2.9) assume seu mınimo. Entao usando (3.2.10),
encontramos que
µ ≤ I(yn) ≤ I(ηn) < µ+ 2ε.
Como ε e arbitrario, segue-se que
limn→∞
I(yn) = limn→∞
µn = µ
provando, assim, o Teorema.
Comentarios:
(A) A ideia geometrica da prova e a seguinte: Se ϕn e completa, entao todo elemento no espaco de
dimensao infinita =, pode ser aproximado arbitrariamente de perto (isto e, a aproximacao nao e grosseira),
por um elemento do espaco de dimensao finita =n (para n bastante grande). Se y∗ e um elemento de =para o qual I(y∗) = µ e seja y∗n ∈ =n uma sequencia de funcoes convergindo para y∗. Entao y∗n e uma
sequencia minimizante, pois I(y) e contınuo. Embora esta sequencia minimizante nao seja extruturada
sem os conhecimentos anteriores de y∗, pode-se mostrar que a nossa construcao explicita da sequencia
yn, e tal que, podemos pegar valores de I(yn) arbitrariamente proximos de I(y∗n), e assim, esta sequencia
e minimizante. (Veja [12], pp. 196).
(B) A velocidade da convergencia do metodo de Ritz para um dado problema variacional obviamente
depende do problema e da escolha da sequencia ϕn. No entanto, veja ([12], pp. 197), que em muitos
casos, combinacoes lineares envolvendo apenas um numero pequeno de funcoes ϕn e suficiente para dar
totalmente uma aproximacao satisfatoria para a solucao exata.
Agora descreveremos outro metodo envolvendo uma sequencia de aproximacoes de =, por aprox-
imacoes de espacos de dimensao finita. Este e o metodo das Diferencas Finitas que ja foi estudado na
Secao 2.4, onde fizemos uma conexao com as equacoes de Euler-Lagrange.
55
O problema de encontrar um extremo para o funcional
I(y) =
∫ b
a
F (x, y, y′)dx, y(a) = A, y(b) = B (3.2.11)
pode ser aproximado pelo problema de encontrar o extremo de uma funcao de n variaveis, obtido como
segue: Dividamos o intervalo [a, b] em n+ 1 sub-intervalos iguais introduzindo a particao
x0 = a, x1, · · · , xn+1 = b
e substituımos a funcao suave y(x) pela linha poligonal com vertices
(x0, y0), (x1, y1), · · · , (xn, yn), (xn+1, yn+1),
onde yi = yi(xi), entao (3.2.11) pode ser aproximada pela soma
I(y1, · · · , yn) ≡n∑
i=0
F
(xi, yi,
yi+1 − yi
∆x
)∆x, (3.2.12)
que e uma funcao de n−variaveis. (Lembrando que y0 = A e yn+1 = B sao fixos.) Se para cada n
encontrarmos a linha poligonal minimizante de (3.2.12), obtemos uma sequencia de solucoes aproximadas
para o problema variacional original.
3.2.4 Minimizacao basica
Apresentaremos nesta Subsecao um resultado que resume o metodo direto usado em problemas varia-
cionais. De acordo com [8], este metodo surgiu por volta da segunda metade do seculo XIX e os primeiros
matematicos a estuda-lo foram: Hilbert, Lebesgue, Tonelli e Weierstrass.
Consideraremos = como um espaco de Hilbert.
Definicao 3.2.8 Uma sequencia yn em = converge fracamente para uma funcao y ∈ = se 〈yn, h〉 →〈y, h〉, para toda h ∈ =, onde 〈, 〉 denota um produto interno em =.
Definicao 3.2.9 (a) Um funcional I : = → R e dito ser fracamente contınuo se
I(y) = limn→∞
I(yn),
56
sempre que yn → y, fracamente, quando n→ ∞.
(b) Um funcional I : = → R e dito ser fracamente semi-contınuo inferiormente se
I(y) ≤ lim infn→∞
I(yn),
sempre que yn → y, fracamente, quando n→ ∞.
(c) Um funcional I : = → R e dito ser fracamente semi-contınuo superiormente se
I(y) ≥ lim supn→∞
I(yn),
sempre que yn → y, fracamente, quando n→ ∞.
Com estas definicoes como em [8], temos os seguintes Lemas:
Lema 3.2.10 A bola fechada BR(0) ⊂ = e fracamente compacta, isto e, dada uma sequencia yn com
‖yn‖ ≤ R, existem uma subsequencia ynke y∗ com ‖y∗‖ ≤ R, tal que ynk
→ y∗ fracamente.
Demonstracao: Veja ([3], pp. 43).
Lema 3.2.11 A norma N(y) = ‖y‖1 =[∫ T
0|y(t)|2dt+
∫ T
0|y(t)|dt
] 12
; y ∈ H1, e um funcional fraca-
mente semi-contınuo inferiormente.
Demonstracao: Basta combinar o Teorema de Sobolev com o Lema de Fatou e, usar o fato que, toda
sequencia yn de H1, e contınua e esta definida num compacto.
Lema 3.2.12 Dada uma funcao contınua f : R → R, e seja I : H1 → R, dado por
I(y) =
∫ T
0
f(y(t))dt,
Entao, I e um funcional fracamente contınuo.
57
Demonstracao: Seja yn uma sequencia em = convergindo fracamente para y. Entao, sendo yn definida
num compacto e f contınua, temos que f yn converge fracamente uniformemente para f y. Assim,
limn→∞
I(yn) = limn→∞
∫ T
0
f(yn(t))dt =
∫ T
0
limn→∞
f(yn(t))dt =
∫ T
0
f(y(t))dt = I(y).
Teorema 3.2.13 (Minimizacao Basica) Seja = um espaco de Hilbert e assuma que um dado funcional
I : = → R e
(a) Coercivo;
(b) Fracamente semi-contınuo inferiormente.
Entao, I(y) tem um mınimo, isto e, existe y0 ∈ =, tal que I(y) ≥ I(y0) para todo y ∈ =.
Demonstracao: Usando a coercividade do funcional I(y), escolhamos R > 0, tal que I(y) > I(0)
para todo y com ‖y‖ > R. Entao podemos restringir nossa atencao para as bolas fechadas BR(0) ⊂ =.Comecamos afirmando que o ınfimo
µ = infy∈=
I(y)
e finito. De fato, se limn→∞
I(zn) = −∞ para alguma sequencia zn em BR(0) entao pelo Lema 4.2.10, existe
z∗ ∈ BR(0) e uma subsequencia znk, tal que
znk→ z∗
fracamente. Pela semi-continuidade fraca de I(y), chegamos na conclusao absurda que
I(z∗) ≤ lim infk→∞
I(znk) = −∞.
Logo,
I(y) ≥ µ > −∞, ∀ y ∈ =. (3.2.13)
Agora, seja yn uma sequencia minimizante para I em BR(0), entao
limn→∞
I(yn) = µ.
58
Novamente, usando a compacidade fraca da bola dada pelo Lema 4.2.10, existe y0 ∈ BR(0) e uma sub-
sequencia ynkde yn, tal que ynk
→ y0 fracamente. E pela semi-continuidade inferior de I(y), concluımos
que
I(y0) ≤ lim infk→∞
I(ynk) = µ,
logo, I(y0) = µ e
I(y) ≥ I(y0), ∀ y ∈ =.
Em vista de (3.2.13), o Teorema esta demonstrado.
3.3 Sistemas envolvendo forca forte e forca fraca
Considere o seguinte funcional
I(x) =
∫ T
0
[1
2|x′(t)|2 − V (x(t))
]dt, (3.3.14)
onde V = V (x) e um ”potencial”correspondente a um sistema dinamico conservativo
mx′′ = −∇V (x), (3.3.15)
com x ∈ RN − S, V : R
N − S → R e de classe C1, onde S e o conjunto das singularidades de V.
A seguir apresentaremos dois novos conceitos, o de forca forte e o de forca fraca, que foram introduzidos
por Gordon em [13].
Definicao 3.3.1 Dizemos que o potencial V, que tem S como conjunto das singularidades, satisfaz a
condicao de forca forte se, e somente se, existe uma funcao U e uma vizinhanca N de S, tal que
(i) U(x) → −∞; (ii) V (x) ≤ −|∇U(x)|2. (F.F.)
para todo x ∈ N − S, com x→ S.
Definicao 3.3.2 Se o potencial V de (3.3.15) satisfaz a condicao (F.F.), dizemos que (3.3.15) e um
sistema envolvendo forca forte. Caso V nao satisfaca a condicao (F.F.) dizemos que (3.3.15) e um
sistema envolvendo forca fraca.
59
Exemplo 3.3.3 O potencial V : RN − 0 → R, dado por V (x) = − 1
|x|2 , com S = 0, satisfaz a
condicao (F.F.).
De fato, basta considerar a funcao U dada por U(x) = log|x|. Logo, quando |x| → 0, temos que
U(x) = log|x| → −∞,
e
−V (x) =1
|x|2 = |∇U(x)|2.
Exemplo 3.3.4 O potencial V : RN − 0 → R, dado por V (x) = − 1
|x| , com S = 0, nao satisfaz a
condicao (F.F.), (ou seja o sistema (3.3.15) correspondente e um sistema de forca fraca).
De fato, ja no caso unidimensional, x ∈ R, nao existe funcao U satisfazendo as duas condicoes de (F.F.).
Com efeito, considere U satisfazendo a segunda condicao de (F.F.), entao
|∇U(x)|2 = |U ′(x)|2 ≤ 1
|x| ,
supondo x > 0 e integrando ambos os membros da ultima desigualdade, obtemos
−1
2x
12 ≤ U(x) ≤ 1
2x
12 .
Logo, quando x → 0, temos que U(x) → 0, contradizendo a primeira condicao de (F.F.). Para x < 0,
chega-se a mesma contradicao.
Observacao: Os Exemplos 4.3.3 e 4.3.4, sao casos particulares do resultado geral que afirma que o
potencial gravitacional
V (x) = − 1
|x|α
satisfaz a condicao de (F.F.) se, e somente se, α ≥ 2, (veja, [10] e [13]).
Assumamos que o potencial V tem a forma
V (x) = −∑
1≤i<j≤N
f(rij),
60
com rij = |xi−xj |, e onde a funcao potencial de dois corpos f(r), sendo r = rij , e uma funcao diferenciavel
nao positiva de r > 0, a qual explode quando rij tende a 0. O potencial e dito Newtoniano quando f = cr,
para alguma constante positiva c. Assim,
V : R2N − S → R
−
e S = Ω (conjunto das singularidades de V ), ou seja, Ω =⋃
i,j
Ωij , sendo
Ωij = r ∈ R2N : ri = rj.
Se colocarmos a hipotese adicional de que existem constantes positivas c e δ tais que
f(r) ≥ c
r,
sempre que r < δ. Temos que V satisfaz a condicao de forca forte e o sistema (3.3.15) e um sistema
envolvendo forca forte.
Assumindo as condicoes acima temos o seguinte resultado
Proposicao 3.3.5 Se V e um potencial como acima, entao qualquer caminho com colisao, de (3.3.15),
tem acao integral infinita (ou seja o funcional dado por (3.3.14) explode).
Demonstracao: Suponha que o caminho sofre uma colisao com as massas mi e mj colidindo num
tempo tc ∈ R. Escreva r por rij = ri − rj , e chame M =
N∑
i=1
mi. Afirmamos que a energia cinetica
T =N∑
i=1
mi
2|x′i|2
da acao integral satisfaz
T ≥ mimj
4M(|ri − rj |′)2 =
mimj
4M(r′)2 = k(r′)2,
onde k =mimj
4M.
De fato,
|ri − rj |2 = 〈ri − rj , ri − rj〉,
61
derivando ambos os membros da ultima expressao e usando a desigualdade de Holder, temos
|ri − rj |′ ≤ |r′i − r′j |
entao
mimj(|ri − rj |′)2 ≤ mimj |r′i − r′j |2
= mimj [|r′i|2 + |r′j |2 − 2〈r′i − r′j〉]
≤ mimj [|r′i|2 + |r′j |2 − 2|r′i||r′j |]
≤ mimj |r′i|2 +mimj |r′j |2
≤N∑
i,j=1
mimj |r′i|2 +
N∑
i,j=1
mimj |r′j |2
= 2M
N∑
i=1
mi|r′i|2
= 4MT.
o que prova a afirmacao.
Desde que x e contınua, temos que r(t) < δ para algum intervalo |t − tc| ≤ ε. Da condicao de forca
forte, temos que −V ≥ cr2 sobre este intervalo. Assim a Lagrangiana satisfaz
L = T − V ≥ k(r′)2 +c
r2.
Usando o fato que a2 + b2 ≥ 2ab, temos que
L ≥ 2√kcr′
r
para t ∈ (tc − ε, tc + ε). Mas, ∣∣∣∣∫ t2
t1
r′
rdt
∣∣∣∣ = | ln r(t2) − ln r(t1)|,
e r(tc) = 0. Disto concluımos que a acao parcial∫ tc+ε
t
Ldt
diverge logaritmicamente quando t→ tc, e assim a acao da orbita de colisao e infinita.
Observacao: Como vimos no Exemplo 4.3.4, a condicao (F.F.) exclui o caso gravitacional
V (x) = − 1
|x| .
62
Assim como neste caso, para sistemas gravitacionais envolvendo forca fraca nao se pode esperar uma
famılia minimizante xn que se acumule longe da singularidade S. Logo, passando o limite com n → ∞,
podemos obter uma solucao x que possivelmente intercepta S. Chamaremos tais solucoes de solucoes
continuadas, para distinguir das solucoes regulares que estao no domınio no qual V e regular. (Esta
terminologia nao tem haver com regularizacao de variaveis).
3.4 Mais sobre coercividade e potenciais envolvendo forca forte
Consideremos o seguinte sistema de equacoes diferenciais ordinarias de segunda ordem
−mix′′i (t) = ∇xi
V (x0(t), · · · , xN (t)), (3.4.16)
onde assumimos que V : R2N − 0 → R, V ∈ C2
(R
2N − 0; R), V (x) < 0 para todo x em R
2N − 0e V (x) → −∞, quando |x| → 0.
Introduzindo a Lagrangiana
L(y, y′) =1
2
N∑
i=0
mi|y′i|2 − V (y0, · · · , yN ). (3.4.17)
Facamos a seguinte mudanca de coordenadas
xi = yi − y0, (i = 1, · · · , N)
e defina a nova Lagrangiana L como
L(x, x′) =1
2
N∑
i=1
mi|x′i|2 −1
2
∑
i,j
mimj
M〈x′i, x′j〉 − V (x1, · · · , xN ), (3.4.18)
onde V denota o potencial V na nova coordenada.
Comentario: A mudanca de cooredenada feita acima bem como a mudanca de Lagrangeanas serao
justificadas na Secao 4.2.1 do Capıtulo 4.
Definamos, agora, o seguinte conjunto:
Λk = α ∈ H1(S1; R2 − 0
): grau(α) = k,
63
onde para α : S1 → R2 − 0 ≈ S1, o grau(α) = k ∈ N significa que α e uma curva fechada que fecha
apos dar k voltas em torno da origem.
Seja, agora,
Λ(k1,...,kN ) = x = (x1, · · · , xN ) ∈ Λk1× · · · × ΛkN
: xj(t) 6= xi(t) ∀ t ∈ S1, ∀ i 6= j.
Definamos o funcional f : Λ(k1,...,kN ) → R por
f(x1, · · · , xN ) =
∫ T
0
L(x1(t), · · · , xN (t))dt (3.4.19)
Entao temos o seguinte Lema
Lema 3.4.1 Seja f como em (3.4.19) e L dada por (3.4.18). Entao f e coercivo sobre Λ(k1,...,kN ).
Demonstracao: De fato, usando a relacao
〈x′i, x′j〉 =1
2|x′i|2 + |x′j |2 − |x′i − x′j |2,
temos
N∑
i=1
mi|x′i|2 −N∑
i,j=1
mimj
M〈x′i, x′j〉 =
N∑
i=1
mi|x′i|2 −N∑
i,j=1
mimj
M
1
2
(−|x′i − x′i|2 + |x′i|2 + |x′j |
)
=
N∑
i=1
mi|x′i|2 −1
2
N∑
i,j=1
mimj
M|x′i|2 −
1
2
N∑
i,j=1
mimj
M|x′j |2
+1
2
N∑
i,j=1
mimj |x′i − x′j |2.
Assim,
N∑
i=1
mi|x′i|2 −N∑
i,j=1
mimj
M〈x′i, x′j〉 ≥
N∑
i=1
mi|x′i|2 −1
2
N∑
i,j=1
mimj
M|x′i|2 −
1
2
N∑
i,j=1
mimj
M|x′j |2
=
N∑
i=1
mi|x′i|2 −1
2
N∑
i=1
mi
M|x′i|2(M −m0)
− 1
2
N∑
j=1
mj
M|x′j |2(M −m0)
64
=
N∑
i=1
mi|x′i|2 +
N∑
i=1
mi
M|x′i|2(m0 −M)
=N∑
i=1
(M +m0 −M
M
)mi|x′i|2,
dondeN∑
i=1
mi|x′i|2 −N∑
i,j=1
mimj
M〈x′i, x′j〉 ≥
m0
M
N∑
i=1
mi|x′i|2.
Usando esta desigualdade e o fato de V < 0, obtemos
f(x1, · · · , xN ) =
∫ T
0
L(x(t), x′(t))dt
=1
2
∫ T
0
N∑
i=1
mi|x′i|2 −∑
1≤i,j≤N
mimj
M〈x′i, x′j〉 − V (x1, · · · , xN )
dt
≥ 1
2
∫ T
0
N∑
i=1
mi|x′i|2 −∑
1≤i6=j≤N
mimj
M〈x′i, x′j〉
dt
≥ m0
2M
N∑
i=1
mi
∫ T
0
|x′i|2dt
≥ m0
2Mm∗
N∑
i=1
∫ T
0
|x′i|2,
onde m∗ = min1≤i≤N
mi. Segue-se, entao que
f(x1, · · · , xN ) ≥ m∗
2M‖x′‖2
L2 . (3.4.20)
Mas, para todo x ∈ Λk com k 6= 0 temos que
‖x‖L∞ ≤ supt,s∈[0,T ]
|x(t) − x(s)| ≤√T‖x′‖L2 (3.4.21)
De fato, quanto a primeira desigualdade, note que sendo x um elemento de Λk, temos que para todo
t ∈ [0, T ] existe um τ ∈ [0, t], tal que a reta em R2 determinada por x(t) e x(τ) passa pela origem e deixa
x(t) e x(τ) em ”lados opostos”com relacao a origem. Assim,
‖x‖L∞ = supt∈[0,T ]
|x(t)| = |x(t0)| ≤ |x(t0) − x(τ0)| ≤ supt,s∈[0,T ]
|x(t) − x(s)|, (3.4.22)
65
quanto a segunda desigualdade, temos que supt,s∈[0,T ]
|x(t)−x(s)| = |x(t0)−x(s0)|, sem perda de generalidade
podemos supor s0 < t0, assim,
supt,s∈[0,T ]
|x(t) − x(s)| = |x(t0) − x(s0)| =
∣∣∣∣∫ t0
s0
x′(τ)dτ
∣∣∣∣ ≤∣∣∣∣∣
∫ T
0
1 · x′(τ)dτ∣∣∣∣∣
usando a desigualdade de Holder, obtemos
supt,s∈[0,T ]
|x(t) − x(s)| ≤√T‖x′‖L2 .
Alem disso,
‖x‖L2 ≤√T‖x‖L∞ .
Com efeito,
‖x‖L2 =
(∫ T
0
|x(t)|2dt) 1
2
≤(∫ T
0
‖x‖2L∞dt
) 12
=(T‖x‖2
L∞
) 12 =
√T‖x‖L∞ .
Logo,
‖x‖2H1 = ‖x′‖2
L2 + ‖x‖2L2
≤ ‖x′‖2L2 + T‖x‖2
L∞
≤ (1 + T )‖x′‖2L2 .
Esta ultima desigualdade combinada com (3.4.20), implica que f e coercivo sobre Λ(k1,...,kN ) desde que
ki 6= 0 para todo i.
De fato,
‖x‖H1 → ∞ ⇒ ‖x′‖L2 → ∞.
Portanto, (3.4.20) implica a coercividade de f .
Observacao: E possıvel provar que o Lema acima continua valido, quando substituımos Λ(k1,...,kN ) pelo
subespaco linear de H1, Λ0, onde
Λ0 =
x = (x1, · · · , xN ) : xi ∈ H1(S1; R2), e xi
(t+
T
2
)= −xi(t)
,
66
pois, basta observar que se x ∈ Λ0, temos
|x(t)| =1
2
∣∣∣∣x(t) − x
(t+
T
2
)∣∣∣∣
=1
2
∣∣∣∣∣
∫ t+ T2
t
x′(s)ds
∣∣∣∣∣
≤ 1
2
√T
2
∫ t+ T2
t
|x′(s)|2ds 1
2
≤√T
4
∫ T
0
|x′(s)|2ds 1
2
,
entao
‖x‖2L∞ ≤ T
16‖x′‖L2 ,
que e uma estimativa semelhante a (3.4.21).
Lema 3.4.2 Considere o conjunto
Λ = x = (x1, · · · , xN ) : xi ∈ H1(S1; R2 − 0
): xi(t) 6= xj(t)∀ t, ∀ i 6= j.
cuja fronteira e dada por
∂Λ = x = (x1, · · · , xN ) : xi ∈ H1(S1; R2 − 0) : xi(t) = xj(t) para algum t ∈ S1, e i 6= j.
Entao se (F.F.) vale, tem-se que f : Λ → R, dado por
f(x1(t), · · · , xN (t)) =
∫ T
0
[1
2
N∑
i=1
mi|x′i|2 − V (x1(t), · · · , xN (t))
]dt
satisfaz
f(x1, · · · , xN ) → ∞, quando (x1, · · · , xN ) → ∂Λ.
Demonstracao: Como ha (F.F.) existe uma funcao U tal que, quando x→ ∂Λ
−V (x(t)) ≥ |∇U(x(t))|2 e U(x) → −∞.
Defina g : [0, T ] → R, por
g(t) = U(x(t)),
67
entao
g′(t) = 〈∇U(x(t)), x′(t)〉.
O funcional f e dado por
f(x1(t), · · · , xN (t)) =
∫ T
0
[1
2
N∑
i=1
mi|x′i|2 − V (x1(t), · · · , xN (t))
]dt.
Para facilitar os calculos vamos supor mi = 1 para todo i ∈ 1, · · · , N. Logo,
f(x1(t), · · · , xN (t)) =
∫ T
0
[1
2‖x′(t)‖2 − V (x(t))
]dt
≥∫ t
0
[1
2‖x′(t)‖2 − V (x(t))
]dt,
onde t e algum valor de t no qual ocorre colisao. Usando a hipotese de forca forte, temos
f(x1(t), · · · , xN (t)) ≥∫ t
0
[1
2‖x′(t)‖2 + |∇U((x(t))|2
]dt,
como a2 + b2 ≥ 2ab, temos
f(x1(t), · · · , xN (t)) ≥√
2
∫ t
0
‖x′(t)‖|∇U((x(t))|dt,
usando a desigualdade de Cauchy - Schwartz, temos
f(x1(t), · · · , xN (t)) ≥√
2
∫ t
0
|〈x′(t),∇U(x(t))〉|dt
≥√
2
∣∣∣∣∫ t
0
〈x′(t),∇U(x(t))〉dt∣∣∣∣.
Como 〈x′(t),∇U(x(t))〉 = g′(t), temos
f(x1(t), · · · , xN (t)) ≥√
2
∣∣∣∣∫ t
0
g′(t)dt
∣∣∣∣
=√
2
∣∣∣∣ limt→t
g(t)
∣∣∣∣
=√
2
∣∣∣∣ limt→t
U(x(t))
∣∣∣∣
como
limt→t
U(x(t)) → −∞,
temos que
f(x1(t), · · · , xN (t)) → +∞.
68
3.5 Ponto crıtico de um funcional e propriedades
Considere o sistema mecanico de equacoes diferenciais
−mix′′i (t) = ∇xi
V (x1(t), · · · , xN (t)) = ∇xiV (x(t)), (i = 1, · · · , N), (3.5.23)
onde, V : R2N − S → R, e de classe C1, sendo S o conjunto das singularidades de V.
Seja
L(x(t), x′(t)) =
N∑
i=1
mi
2|x′i(t)|2 − V (x1(t), · · · , xN (t)).
Consideramos H1 = H1([0, T ]; R2N
), o completamento de Ck
([0, T ]; R2N
). Defina o funcional I : H1 →
R, por
I(x) =
∫ T
0
L(x(t), x′(t))dt. (3.5.24)
A diferencial de I em x, δI(x) : TxH1 ≡ H1 → R e dada no sentido classico por
δI(x) · h =
∫ T
0
〈Lx(t), h(t)〉dt+
∫ T
0
〈Lx′(t), h′(t)〉dt
=
∫ T
0
〈(m1x′1(t), · · · ,mNx
′N (t)), (h′1(t), · · · , h′N (t))〉dt−
∫ T
0
〈∇V (x(t)), h(t)〉dt,
onde h ∈ H1, TxH1 denota o espaco tangente de H1 no ”ponto”x e entende-se h como um campo vetorial
tangente ao longo da curva x(t), com t ∈ [0, T ].
Usando integracao por partes na segunda integral da ultima expressao, obtemos
δI(x) · h =
∫ T
0
N∑
i=1
mix′i(t)h
′i(t)dt+
∫ T
0
N∑
i=1
[∫ t
0
∇xiV (x1(s), · · · , xN (s))ds
]h′i(t)dt+ C,
ou equivalentemente
δI(x) · h =
∫ T
0
N∑
i=1
[mix
′i(t) +
∫ t
0
∇xiV (x1(s), · · · , xN (s))ds
]h′i(t)dt+ C, (3.5.25)
onde C e a constante obtida na integracao.
Comentario: O espaco H1 pode ser visto como uma variedade de dimensao infinita e como H1 e um
espaco vetorial, tem-se a seguinte identificacao
TxH1 ≡ H1,
69
para todo x ∈ H1. Esta identificacao tambem ocorre em todo x ∈ Λ, desde que Λ seja um aberto de H1.
Para mais detalhes sobre variedades de dimensao infinita (veja, [18], pp. 26).
Definicao 3.5.1 Dizemos que x ∈ H1 e um ponto crıtico de I em H1, se
δI(x) · h = 0, para todo h ∈ TxH1 ≡ H1.
Seja x um ponto crıtico de I em H1. Escolhendo, de forma conveniente, as funcoes (hi)′s em (3.5.25),
obtemos que
mix′i(t) +
∫ t
0
∇xiV (x1(s), · · · , xN (s))ds+ C = 0. (3.5.26)
Teorema 3.5.2 (Regularidade do ponto crıtico:) Seja I : Λ ⊂ H1 como em (3.5.24). Suponha que
o suporte de I esta no conjunto onde V e de classe C1. Entao os pontos crıticos de I|Λ sao de classe C2
e, logo, satisfazem a equacao (3.5.23).
Demonstracao: De (3.5.26), temos
mix′i(t) =
∫ t
0
−∇xiV (x1(s), · · · , xN (s))ds− C.
O integrando acima tem sentido, ja que x esta em H1, logo contınua, e V e C1. Assim, deduzimos que
x′i(t) tem como derivada − 1mi
∇xiV (x(t)) que e contınua, pois V e de classe C1. Portanto x e de classe
C2, e consequentemente satisfaz (3.5.23).
Comentario: Entende-se por suporte de um funcional I : Λ ⊂ H1 → R, o conjunto
x ∈ Λ : I(x) 6= 0.
Observacao: Do Teorema de acima e de (3.5.26) segue-se que, todo ponto crıtico de I em H1 deve
satisfazer as equacoes de Euler-Lagrange, isto e,
∂L
∂x′i(x(t), x′(t)) =
∫ t
t0
∂L
∂xi
(x(t), x′(t))dt+ C
onde C e uma constante.
70
Comentario: Este Teorema podera sempre ser aplicado a funcionais definidos por (3.5.24), que quando
restritos a subconjuntos Λ ⊂ H1, tenham suportes fora do conjunto das singularidades (colisao) do
potencial. Um exemplo tıpico onde isto ocorre e quando I esta definido sobre o conjunto Λ(k1,···,kN ), que
sera trabalhado no proximo capıtulo. Para subespacos lineares de H1, como 4Nl , veja [5].
Definicao 3.5.3 Definimos o gradiente do funcional I, ∇0I, da seguinte forma
〈∇I(x), h〉0 = δI(x) · h, para todo h ∈ H1.
Observacao: Se I : H1 → R, e dado por
I(x) =
∫ T
0
(1
2|x′(t)|2 − V (x(t))
)dt,
temos
〈∇I(x), h〉0 =
∫ T
0
〈x′(t), h′(t)〉dt−∫ T
0
〈∇V (x(t)), h(t)〉dt
= 〈x′, h′〉0 − 〈∇V (x), h〉0.
Comentario: Por simplicidade denotaremos o gradiente de I, apenas por ∇I.
Proposicao 3.5.4 Seja Λ ⊂ H1 um aberto. Entao os pontos crıticos de I|Λ sao os mesmos pontos
crıticos de I sobre H1.
Demonstracao: Seja x um ponto crıtico de I|Λ. Entao
δI(x) : TxΛ → R
satisfaz
δI(x) · h = 0, ∀h ∈ TxΛ.
Mas, TxΛ ≡ H1, ja que Λ e um aberto de H1. Logo, os pontos crıticos de I|Λ coincidem com os pontos
crıticos de I sobre H1.
71
Proposicao 3.5.5 Seja Λ ⊂ H1 um subespaco linear de H1, entao x, ponto crıtico de I|Λ, e ponto crıtico
de I em H1 se
δI(x) · v = 0, ∀ v ∈ Λ⊥
Demonstracao: O espaco tangente de Λ em x se identifica com Λ. Assim,
δI(x) : Λ → R.
Por outro lado
H = Λ ⊕ Λ⊥.
Sendo x ponto crıtico de I|Λ, entao para todo h ∈ Λ, temos
δI(x) · h = 〈∇I(x), h〉0 = 0.
Assim, para x ser, tambem, ponto crıtico de I em H1 e necessario apenas que
δI(x) · v = 0, ∀ v ∈ Λ⊥.
Corolario 3.5.6 Seja
Λ0 =
x = (x1, · · · , xN ) : xi ∈ H1
(S1; R2
): xi
(t+
T
2
)= −xi(t)
.
Coloquemos a seguinte hipotese adicional sobre V
V (−x) = V (x), (3.5.27)
entao se x e ponto crıtico de I|Λ0, (x ∈ Λ0), temos que x sera ponto crıtico de I sobre H1.
Demonstracao: Primeiramente, notemos que de (3.5.27), temos que
∇V (−x) = −∇V (x).
Seja x um ponto crıtico de I sobre Λ0, como x ∈ Λ0, temos
x
(t+
T
2
)= −x(t).
72
Temos ainda, δ(x) : TxΛ0 ≡ Λ0 → R, e
δI(x) · h =
∫ T
0
〈(m1x′1(t), · · · ,mNx
′N (t)), (h′1(t), · · · , h′N (t))〉dt−
∫ T
0
〈∇V (x(t)), h(t)〉dt
= 〈∇I(x), h〉0.
Tome y(t) = x(t+ T
2
)= −x(t), isto e, y ∈ Λ0. Entao,
〈∇I(−x), h〉0 = δI(y) · h,
mas, por outro lado para toda h ∈ Λ0, temos
δI(y) · h =
∫ T
0
〈(m1y′1(t), · · · ,mNy
′N (t)), (h′1(t), · · · , h′N (t))〉dt−
∫ T
0
〈∇V (y(t)), h(t)〉dt
= −∫ T
0
〈(m1x′1(t), · · · ,mNx
′N (t)), (h′1(t), · · · , h′N (t))〉dt+
∫ T
0
〈∇V (x(t)), h(t)〉dt
= −∫ T
0
〈(m1x′1(t), · · · ,mNx
′N (t)), (h′1(t), · · · , h′N (t))〉dt−
∫ T
0
〈∇V (x(t)), h(t)〉dt
= −〈∇I(x), h〉0.
Daı, obtemos
〈∇I(−x), h〉 = −〈∇I(x), h〉, ∀ h ∈ Λ0,
o que implica
∇I(−x) = −∇I(x), em Λ0.
Assim, se γ(t) = ∇I(x(t)), entao
γ
(t+
T
2
)= ∇I
(x
(t+
T
2
))= ∇I(−x(t)) = −∇I(x(t)) = −γ(t),
ou seja, ∇I(x) ∈ Λ0. Por outro lado,
H1 = Λ0 ⊕ Λ⊥0 .
Logo, se h ∈ H1, h = h0 + h⊥, com h0 ∈ Λ0 e h⊥ ∈ Λ⊥0 . Daı
〈∇I(x), h〉0 = 〈∇I(x), h0〉0 + 〈∇I(x), h⊥〉0 = 0
Portanto x e ponto crıtico de I sobre H1.
73
Observacao: O Corolario acima pode ser estendido para funcionais I|4Nl, onde
4Nl = (x1, · · · , xN ) : xi ∈ H1
(S1; R2
), xi(t) 6= xj(t), ∀ t ∈ S1, ∀ i 6= j,
xi
(t+
T
l
)= R 2π
lxi(t), ∀ t, i = 1, · · · , N
onde Rθ ∈ SO(2). Para isto sao extremamentes importantes os seguintes fatos: O conjunto 4Nl e aberto
em 4 2πl
e por sua vez 4 2πl
e um subespaco linear de H1, onde
4 2πl
= (x1, · · · , xN ) : xi ∈ H1(S1; R2
), xi
(t+
T
l
)= R 2π
lxi(t), ∀ t, i = 1, · · · , N.
Veja [5].
74
Capıtulo 4
Aplicacoes a Mecanica Celeste
Neste capıtulo aplicaremos os conhecimentos adquiridos nos capıtulos anteriores para mostrar que
as solucoes periodicas elıpticas do problema de Kepler minimizam a acao integral de Hamilton e para
encontrar solucoes periodicas sem colisao em problemas planares do tipo N -corpos. Seguiremos os artigos
(Symmetries and noncollision closed orbits for planar N-body-type problems, de (Bessi and Coti Zelati,
1991), Periodic solutions for N-body type problems de (Coti Zelati, 1990), A minimizing property of
Keplerian orbits de (Gordon, 1975).
4.1 Uma propriedade minimizante das orbitas Keplerianas
Nesta Secao, mostraremos que as solucoes periodicas elıpticas de perıodo T do problema de Kepler na
verdade minimizam a acao integral de Hamilton. Seguiremos o artigo A minimizing property of Keplerian
orbits de (Gordon, 1977).
4.1.1 Formulacao do resultado principal
Denotemos por Σ(T ) o conjunto de todos os ”ciclos”x = x(t) no plano R2 que sao absolutamente
contınuos, tem derivadas L2 definidas quase sempre, e que circundam a origem mas nao a interceptam.
Entao, temos o seguinte Teorema, formulado por Gordon, (em [14]).
75
Teorema 4.1.1 Seja T um numero real positivo fixo mas arbitrario, e seja Seja I : H1(S1; R2
)→ R, a
acao integral (o funcional), definida(o) por
I(x) =
∫ T
0
[1
2|x′(t)|2 +
1
|x(t)|
]dt (4.1.1)
correspondendo ao potencial V (x) = − 1|x| . Entao a restricao de I a Σ(T ) tem seu valor mınimo numa
solucao elıptica T -periodica da equacao Kepleriana de movimento
x′′ = −∇(− 1
|x|
)= − x
|x|3 , (4.1.2)
para a qual T e o perıodo mınimo.
Antes de fazer a demonstracao deste resultado faremos alguns fatos preliminares muito importantes.
4.1.2 A acao integral para solucoes continuadas
E bem conhecido que uma solucao de classe C2 para (4.1.2) e periodica se, e somente se, ela tem
energia total negativa (H = 12 |x′|2 − 1
|x| ), e que a energia total H, o perıodo T e a acao integral I (o
funcional dado em (4.1.1)), estao relacionados. De fato, para solucoes com perıodo mınimo T, temos o
seguinte Lema
Lema 4.1.2 Para as solucoes T -periodicas circulares de (4.1.2) temos
T =(2−
12π)
(H)− 3
2 , (4.1.3)
I = (3π) (2π)− 1
3 T13 . (4.1.4)
Demonstracao: Seja γ uma solucao T -periodica circular de (4.1.2), da forma
γ(t) = aeiωt,
onde a e o raio e T = 2πω. Derivando duas vezes a expressao de γ, obtemos as expressoes
γ′(t) = iaωeiωt e γ′′(t) = −aω2eiωt,
usando o fato de γ ser solucao de (4.1.2), temos
−aω2eiωt = − 1
a2eiωt
76
donde,
a3ω2 = 1. (4.1.5)
A energia e dada por
H =1
2a2ω2 − 1
a,
entao1
a3=
1(− 1
2H
) 32
, (4.1.6)
assim, substituindo (4.1.5) na expressao da energia, temos
H = − 1
2a.
Daı usando (4.1.5) e (4.1.6), obtemos
I = I(γ(t)) =
∫ T
0
[1
2a2ω2 +
1
a
]dt =
1
a
(3
2
)T =
3
2(−H)T =
3 (T )− 2
3 (π)23 (π)
13
(2)11 (π)
13
T
=3π (T )
13
(2)13 (π)
13
,
que resulta na expressao (4.1.4). Alem disso, substituindo ω =(
2πT
)em (4.1.5), obtemos
(2π
T
)2
=1
a3
e, usando (4.1.6), temos (2π
T
)2
=1
(− 1
H
) 32
ou equivalentemente2π
T= (−H)
32 (2)
32
Logo,
−H = (T )− 2
3(π)
23
(2)13
o que conclui a demonstracao do Lema.
Um resultado analogo ao Lema anterior obtem-se quando analisamos solucoes periodicas retilıneas do
problema de Kepler, as quais devem-se ser estentidas da seguinte forma: a solucao sai da origem (colisao)
e move-se ao longo de um seguimento (determinado pela velocidade inicial) e logo retorna a origem num
tempo T que corresponde ao perıodo. E claro que tais solucoes so podem ser obtidas regularizando o
problema de Kepler.
77
Lema 4.1.3 Para solucoes T -periodicas no caso retilıneo as expressoes (4.1.3) e (4.1.4) sao validas.
Demonstracao: Considere o sistema de equacoes diferenciais
x′′ = − 1
x2, x ∈ R, (4.1.7)
onde a′ = dadt. Note que (4.1.7) e o caso unidimensional de (4.1.2). Fazendo a mudanca de coordenada
(que permite a regularizacao da colisao)
dt
dτ=x
k, k = (−2H)
12 (4.1.8)
e usando o fato que em (4.1.7) a energia e conservada, podemos transformar (4.1.7) no sistema
x+ x =1
k2, (4.1.9)
no qual assumimos as seguintes condicoes iniciais
x(0) = 0, x(0) = 0, (4.1.10)
onde b = dbdτ. A equacao homogenea correspondente a (4.1.9) e
x+ x = 0 (4.1.11)
cuja solucao geral e dada por
x(τ) = A cos(τ) +B sin(τ),
considerando
ρ =√A2 +B2, cos θ0 =
A√A2 +B2
, sin θ0 =B√
A2 +B2
podemos reescrever x(τ) na forma
x(τ) = ρ cos(θ0) cos(τ) + ρ sin(θ0) sin(τ).
Alem disso, e de facil verificacao que
x(τ) = cos(τ) + c
e uma solucao particular de (4.1.9), desde que c = 1k2 . Logo, a solucao geral para (4.1.9) e dada por
x(τ) = ρ cos(τ − θ0) + cos(τ) +1
k2.
78
Usando as condicoes iniciais (4.1.10), obtemos
ρ = 1 +1
k2, e θ0 = π,
Portanto, a solucao de (4.1.9) e dada por
x(τ) =1
k2[1 − cos(τ)] .
Facamos E = E(τ(t)) = τ(t), E assim definida, e a anomalia excentrica. Escrevendo x na nova variavel
E, temos
x(E) =1
k2[1 − cos(E)]. (4.1.12)
De (4.1.8), resulta ∫ t
0
dt =
∫ t
0
x(E(τ))
kdτ,
donde
t =1
k3(E − sin(E)) =
1
k3(E(τ) − sin(E(τ)))
derivando implicitamente em relacao a t, obtemos
E′ =k3
1 − cos(E).
Note que a solucao x tal que
(x′)2 =2
x+ 2H
satisfaz (4.1.7). Mas,
x′(t) =1
k2sin(E)E′ = k
sin(E)
1 − cos(E)
entao,
(x′)2 = k2 sin2(E)
(1 − cos(E))2= −2H
sin2(E)
(1 − cos(E))2.
De (4.1.12), temos que x e uma solucao 2π-periodica na variavel E. Mas, quando E = π, sendo π metade
do perıodo em E, temos que
t =π
k3=T
2,
onde T2 e a metade do perıodo na variavel t. Logo, sendo k = −2H > 0, temos
T =2π
k3=
2π
(−2H)32
=2π
2
√2 (−H)
32
=π√2
(−H)− 3
2 .
79
Comentario: As deducoes de (4.1.3) e (4.1.4) no caso de solucoes elıpticas no caso geral sao mais
complicadas, mas podem ser feitas usando o conceito de anomalia excentrica, veja [4].
Observacao: Seja x uma orbita periodica com perıodo mınimo T e seja y uma orbita periodica cujo
perıodo e Tn
(n um numero natural). Entao a orbita T -periodica obtida por repetir y n-vezes(z(t) = ny
(tn
))
tem sua acao integral nI(y) e como consequencia de (4.1.4) ela tem a forma
nI(y) = n23 I(x).
De fato,
nI(y) = n(3π)(2π)−13
(T
n
) 13
= n23 (3π)(2π)−
13T
13
= n23 I(x).
Consequentemente, a acao integral e minimizante em apenas tais solucoes T -periodicas para a qual T e
o perıodo mınimo.
Desejamos, agora, descrever as solucoes continuadas de (4.1.2) e calcular suas acoes integrais. A mais
simples solucao continuada e um segmento de reta. A partıcula inicialmente em repouso no ponto Q 6= 0
desloca-se em direcao a origem, alcancando-a em tempo t = T2 . A partıcula entao, inverte o percurso do
movimento, sobre a reta que contem OQ ate alcancar o ponto Q, onde tera velocidade zero. Chamaremos
tais solucoes de um suporte de perıodo T. Note que a energia total neste caso e dada por H = −|OQ|−1.
Uma solucao continuada consistindo de dois suporte de perıodos T1 e T2 cujo perıodo total da trajetoria
inteira e dado por T = T1 + T2, pode ser descrita como segue: comecando em repouso, num ponto Q1, a
partıcula desloca-se para a origem, onde emerge a um angulo arbitrario movendo-se para um ponto Q2,
onde tem velocidade zero. Em Q2 o percurso e invertido e a trajetoria termina em Q1.
Mais, geralmente, uma solucao continuada T -periodica pode consistir de um numero finito, ou enu-
meravel, de suportes de perıodos Ti, exigindo apenas que
T =∞∑
i=1
Ti <∞.
Observacao: Note que podem existir solucoes x e y, sendo x uma solucao que tenha um so suporte
cujo perıodo seja T e y seja uma solucao de varios suportes de perıodo Ti, tal que o perıodo total de sua
80
trajetoria seja∑
i
Ti = T.
Lema 4.1.4 Considere o funcional I definido em (4.1.1). Entre todas as solucoes continuadas de perıodo
T, o funcional I tem sua mınima acao numa solucao que consiste de um so suporte.
Demonstracao: Numa trajetoria T -periodica de suportes com perıodos Ti, cada suporte de perıodo Ti
tem, pelo Lema 4.1.3, uma acao integral igual a c (Ti)13 , onde c e a mesma constante dada em (4.1.4).
Denotemos por Iv a acao definida numa solucao de varios suportes, e por I1 a acao definida numa solucao
de um so suporte. Logo, sendo T =∑
i
Ti, temos
Iv = c∑
i
(Ti)13 = c (T )
13
∑
i
(Ti
T
) 13
≥ c (T )13
∑
i
(Ti
T
)= c (T )
13 = I1.
o que conclui a demonstracao do Lema.
Observacao: Como a acao I e o perıodo T sao relacionados do mesmo modo para orbitas regulares e
para orbitas continuadas consistindo de um so suporte, o Lema 4.1.4, tem a seguinte consequencia:
Lema 4.1.5 Para provar o Teorema 4.1.1 e suficiente mostrar que existe uma solucao x0 T -periodica
possivelmente continuada satisfazendo
I(x0) ≤ I(x)
para todo x em Σ(T ).
Demonstracao: E consequencia direta do fato que a expressao (4.1.4) se verifica tanto para orbitas
regulares como para orbitas continuadas.
4.1.3 Preliminares para a demonstracao do resultado principal
Para todo funcional I sobre H1 e para todo numero real c, seja
Ic = x ∈ H1 : I(x) ≤ c.
81
Lembramos que I e semi-contınuo inferiormente em uma topologia se I c e fechado nesta topologia para
todo c (veja [20], pp. 37). Neste caso I e limitado inferiormente e atinge seu ınfimo sobre qualquer
subconjunto que e compacto com respeito a esta topologia. Isto e consequencia do Teorema 3.2.5, e do
fato que toda sequencia definida num compacto possui uma subsequencia uniformemente convergente.
Lema 4.1.6 Seja I um funcional que e definido sobre um subespaco W de H1, e suponha que para todo
numero real c, o conjunto Ic ∩W e compacto em H1. Entao, I e limitado inferiormente e assume seu
ınfimo sobre W.
Demonstracao: Como a topologia fraca de H1 e Hausdorff, conforme Proposicao B.0.12, e como todo
compacto num espaco de Hausdorff e fechado, conforme Teorema A.2.1, temos que I c ∩W e fechado na
topologia fraca de H1. Logo, Ic ∩W e fechado na topologia fraca (relativa) de W, assim, I restrito a
W e semi-contınuo inferiormente sobre W. Fixe um numero real c tal que I c ∩W 6= ∅. Entao I assume
seu ınfimo sobre Ic ∩W, ja que Ic ∩W e fechado na topologia fraca relativa de W. Em consequencia da
topologia relativa de W, o ınfimo de I sobre Ic ∩W e o ınfimo de I sobre W.
Comentario: O Lema acima nos diz que para encontrar o ınfimo de I sobre H1 e bastante estudar I
sobre W.
4.1.4 Demonstracao do resultado principal
Seja Σ∗ = Σ∗(T ) o espaco de todos os ciclos T -periodicos x = x(t) deH1 que circundam ou interceptam
a origem, e para o qual I(x) existe como integral de Lebesgue. Mostraremos que I|Σ∗ assume seu ınfimo.
De acordo com o Lema 4.1.6, e suficiente mostrar que Ic ∩Σ∗ e um subconjunto fracamente compacto de
H1 para todo numero real c, isto e, temos que mostrar que para todo numero real c,
(i) O conjunto Ic ∩ Σ∗ e limitado na norma H1,
(ii) O conjunto Ic ∩ Σ∗ e fechado na topologia fraca de H1.
Demonstracao:
82
(i) Da desigualdade de Cauchy-Schwarz, temos
l(x) =
∫ T
0
|x′(t)|dt ≤[T
∫ T
0
|x′(t)|2dt] 1
2
,
onde l(x) denota o comprimento de arco da curva x entre t = 0 e t = T. Logo, referindo-se a (4.1.1),
temos que os elementos de Ic sao uniformemente limitados no comprimento de arco.
De fato, para x ∈ Ic = x ∈ H1 : I(x) ≤ c, temos
I(x) =
∫ T
0
[1
2|x′(t)|2 +
1
|x(t)|
]dt ≤ c,
entao, ∫ T
0
|x′(t)|2dt ≤ 2c.
Assim,
l(x) =
∫ T
0
|x′(t)|dt ≤[T
∫ T
0
|x′(t)|2dt] 1
2
≤ [T2c]12 .
Alem disso, de (3.4.21) temos que
‖x‖L2 ≤ const‖x′‖L2 ,
e como
‖x‖2H1 = ‖x‖2
L2 + ‖x′‖2L2
segue-se que Ic ∩ Σ∗ e limitado na norma H1.
(ii) Seja xn uma sequencia em Ic ∩ Σ∗que converge fracamente para algum x em H1. Entao, x = x(t)
circunda ou intercepta a origem, pois convergencia fraca em H1 implica convergencia em C0, (veja [13]).
Mostraremos, agora, que I(x) existe e que I(x) ≤ c, ou seja, que x ∈ I c.
Para cada n seja fn(t) = 1|xn(t)| e seja f(t) = 1
|x(t)| , cada fn pertence a L1, pois I(xn) < ∞. Isto
implica que o conjunto dos t para o qual xn(t) = 0 tem medida zero. Logo, fn(t) → f(t) quase sempre.
Tambem, ∫ T
0
fndt =
∫ T
0
1
|xn(t)|dt ≤ I(xn) ≤ c,
ja que xn esta em Ic. Logo, pelo Lema de Fatou, segue-se que f pertence a L1 e que
∫ T
0
f(t)dt =
∫ T
0
[lim infn→∞
fn(t)]dt ≤ lim inf
n→∞
∫ T
0
fn(t)dt. (4.1.13)
83
Agora, a convergencia fraca de xn para x no espaco de Hilbert H1 implica que
‖x‖H1 ≤ lim supn→∞
‖xn‖H1 ,
conforme Proposicao B.0.13. Logo,
‖x‖2L2 + ‖x′‖2
L2 ≤ lim supn→∞
‖xn‖2
L2 + ‖x′‖2L2
= lim supn→∞
‖xn‖2
L2
+ lim sup
n→∞
‖x′n‖2
L2
.
Mas, pelo Teorema de Sobolev xn converge em C0, ou seja
‖x‖2L2 = lim sup
n→∞
‖xn‖2
L2
.
Consequentemente,
‖x′‖2L2 ≤ lim sup
n→∞
‖x′n‖2
L2
. (4.1.14)
Sendo,
I(x) =
∫ T
0
|x′(t)|2dt+
∫ T
0
1
|x(t)|dt
= ‖x′‖2L2 +
∫ T
0
f(t)dt,
por (4.1.13), temos
I(x) ≤ ‖x′‖2L2 + lim inf
n→∞
∫ T
0
fn(t)dt
.
Assim, usando (4.1.14), obtemos
I(x) ≤ lim supn→∞
‖x′‖2
L2
+ lim inf
n→∞
∫ T
0
fn(t)dt
≤ lim supn→∞
‖x′‖2
L2
+ lim sup
n→∞
∫ T
0
fn(t)dt
= lim supn→∞
‖x′‖2
L2 +
∫ T
0
fn(t)dt
= lim supn→∞
I(xn) ≤ c.
Logo, I assume seu ınfimo sobre Ic ∩ Σ∗, o que completa a prova de (ii).
Seja x∗ um elemento de Σ∗ no qual I|Σ∗ assume seu ınfimo. Suponha que x∗ pertence a Σ = Σ(T ).
Entao, x∗ = x∗(t) nao intercepta a origem, assim, o mesmo argumento simples, dado na Secao 3.5, mostra
que x∗ e uma solucao de (4.1.2), e que satisfaz as equacoes de Euler-Lagrange para o funcional I.
84
Suponha, agora, que x∗ = x∗(t) intercepta a origem em certo tempo t. De acordo com o Lema 4.1.5,
para completar a prova, neste caso, e suficiente mostrar que x∗ = x∗(t) e uma solucao continuada de
(4.1.2).
O conjunto dos t para os quais x∗(t) 6= 0 e aberto. Seja [a, b] algum intervalo fechado neste conjunto
aberto, [este intervalo fechado pode ser escolhido tal que x∗(a) 6= 0 e x∗(b) 6= 0]. Seja t → v(t) uma
aplicacao suave definida sobre [a, b] e tomando valores em R2 com v(a) = v(b) = 0. Agora, da propriedade
minimizante de x∗ segue-se que o arco
γ := x∗ = x∗(t), a ≤ t ≤ b
obriga minimizar a acao de I sobre o espaco dos caminhos y = y(t) de H1 que unem x∗(a) a x∗(b) com
tempo de transicao T = b− a, e que podem ser deformado continuamente sobre o arco γ sem interceptar
a origem. Logo em consequencia de (1.4.15) da Secao 1.4, temos
d
dεI(x∗ + εv)|t=t0 = 0
para todo t0 em (a, b), e logo, x∗ = x∗(t) satisfaz as equacoes de Euler-Lagrange sobre o intervalo aberto
(a, b). Como isto e valido para todo intervalo (a, b), nas condicoes descritas acima, segue-se que x∗ e uma
solucao continuada de (4.1.2), o que conclui a prova do Teorema 4.2.1.
Observacao: Geralmente por operar na categoria dos espacos H1 nao introduzimos certas complicacoes
sobre este argumento classico. Normalmente, deve-se mostrar que o caminho minimizante e suficiente-
mente regular antes de poder estabelecer que ela satisfaz as equacoes de Euler-Lagrange. (Veja [12] e
[13]).
4.2 Existencia de solucoes periodicas sem colisao em problemas
planares do tipo N-corpos
Nesta secao, usaremos metodos variacionais para encontrar solucoes periodicas sem colisao em proble-
mas planares do tipo N-corpos (isto e, em problemas cuja funcao potencial satisfaz as condicoes (V1)-(V4)
abaixo). Seguiremos os artigos Symetries and noncolision closed orbits for planar N-body type problems,
de (Bessi and Coti Zelati, 1991) e Periodic solutions for N-body type problems de (Coti Zelati, 1990).
85
4.2.1 Preliminares
Consideremos o seguinte sistema de equacoes diferenciais ordinarias de segunda ordem
−miy′′i (t) = ∇yiV (y0(t), · · · , yN (t)). (4.2.15)
Onde assumimos as seguintes hipoteses sobre V : R2(N+1) → R.
(V1) V (y0, · · · , yN ) = 12
∑
0≤i6=j≤N
Vij(yi − yj),
(V2) Vij ∈ C2(R2 − 0; R), para todo i, j ∈ 1, · · · , N, i 6= j,
(V3) Vij(ξ) → −∞, quando |ξ| → 0, para todo i, j ∈ 1, · · · , N, i 6= j, ξ ∈ R2 − 0,
(V4) V (y0 · · · , yN ) ≤ 0, para todo (y0, · · · , yN ) ∈ R2(N+1).
Assumiremos, tambem que mi > 0, para todo i, e faremos M =
N∑
i=0
mi.
Observacao: A funcao potencial do problema dos (N + 1)-corpos e dada por
V = −∑
0≤i<j≤N
mimj
|yi − yj |
e claramente satisfaz as propriedades (V1)-(V4). De fato,
(V’1) Comomimj
|yj−yi| =mimj
|yi−yj | , temos −∑
0≤i<j≤N
mimj
|yi − yj |= −1
2
∑
0≤i6=j≤N
mimj
|yi − yj |,
(V’2) Vij(ξ) = −mimj
|ξ| ∈ C∞(R2 − 0; R), para todo 0 ≤ i 6= j ≤ N,
(V’3) Vij(ξ) = −mimj
|ξ| → −∞, quando |ξ| → 0.
(V’4) V (y0 · · · , yN ) = −∑
0≤i<j≤N
mimj
|yi − yj |< 0, para todo (y0, · · · , yN ) ∈ R
2(N+1), pois ml > 0 para todo
l = 0, · · · , N.
86
Definicao 4.2.1 Dizemos que uma funcao
y(t) = (y0(t), · · · , yN (t))
e uma solucao sem colisao de (4.2.15) se y(t) e solucao de (4.2.15) e se yi(t) 6= yj(t) sempre que i 6= j,
para todo t ∈ [0, T ].
Definicao 4.2.2 Dizemos que
y(t) = (y0(t), · · · , yN (t)) ∈ H1(S1; R2(N+1)
)
e uma solucao generalizada de (4.2.15) se, y(t) e solucao de (4.2.15) e se, denotando por C o conjunto
C = t ∈ [0, T ] : yi(t) = yj(t) para algum i 6= j
tivermos satisfeitas as tres condicoes seguintes:
(a) med(C) = 0; onde, med indica a medida de Lebesgue;
(b) y(t) = (y0(t), · · · , yN (t)) ∈ C2([0, T ] − C; (R2)(N+1)
);
(c) H =N∑
0=1
mi
2|y′i|2 + V (y0(t), · · · , yN (t)) e constante sobre [0, T ] − C.
Observacao: Como
∇Vyk= −
∑
0≤j 6=k≤N
∇Vj k(yj − yk) +∑
0≤j 6=k≤N
∇Vk j(yk − yj).
Segue-se de (4.2.15) que
N∑
k=0
mky′′k = −
N∑
k=0
∇ykV =
N∑
k=0
∑
0≤j 6=k≤N
∇Vj k(yj − yk) +∑
0≤j 6=k≤N
∇Vk j(yk − yj)
= 0,
onde por integracao diretaN∑
k=0
mky′k(t) = A
e logoN∑
k=0
mkyk(t) = At+B,
87
sendo A e B constantes dependendo das condicoes iniciais. Assim, temos que o momento linear e conser-
vado e o centro de massa esta sobre a reta
r(t) = At+B.
Alem disso, se existir algum numero real P > 0 tal que, yk(t + P ) = yk(t) para todo t e para todo
k ∈ 0, · · · , N, temosN∑
k=0
mkyk(t) = At+B
eN∑
k=0
mkyk(t+ P ) = A(t+ P ) +B = At+B + PA.
Mas,N∑
k=0
mkyk(t) =N∑
k=0
mkyk(t+ P ),
entao
At+B = At+B + PA,
assim PA = 0, o que implica A = 0. Logo concluımos que em tal situacao o momento linear deve ser
nulo.
Usando a conservacao do momento linear o sistema (4.2.15) pode ser transformado em um outro
equivalente. Introduzindo a Lagrangiana
L(y, y′) =1
2
N∑
i=0
mi|y′i|2 − V (y0, · · · , yN ), (4.2.16)
o sistema (4.2.15) corresponde as equacoes de Euler-Lagrange correspondente ao funcional cujo integrando
e a Lagrangiana L.
De fato, as equacoes de Euler-Lagrange para tal funcional sao dadas por
Lyi− d
dtLy′
i= 0, (i = 0, · · · , N),
mas,
Lyi= −∇yi
V, Ly′
i= miy
′′i .
Logo,
Lyi− d
dtLy′
i= 0 ⇔ −∇yi
V −miy′′i = 0
88
que resulta na equacao (4.2.15).
Facamos, agora, a seguinte mudanca de coordenadas
xi = yi − y0, (i = 1, · · · , N) (4.2.17)
e defina a nova Lagrangiana L como
L(x, x′) =1
2
N∑
i=1
mi|x′i|2 −1
2
∑
i,j
mimj
M〈x′i, x′j〉 − V (x1, · · · , xN ) (4.2.18)
onde V denota o potencial V na nova coordenada x, ou seja,
V = V (x1, · · · , xN ) =1
2
N∑
i=1
[Vi0(xi) + V0i(−xi)] +1
2
∑
1≤i6=j≤N
Vij(xi − xj).
Com efeito,
1
2
N∑
i=1
[(Vi0(xi)) + V0i(−xi)] =1
2
N∑
i=1
Vi0(yi − y0) +1
2
N∑
i=1
V0i(y0 − yi),
e
1
2
∑
1≤i6=j≤N
Vij(xi − xj) =1
2
N∑
i6=j, i=1
[Vij((yi − y0) − (yj − y0))] =1
2
N∑
i6=j, i=1
Vij(yi − yj),
somando as duas ultimas equacoes, obtemos V (y0, · · · , yN ). Provando que V e dado por V nas novas
coordenadas.
Se (4.2.15) representa as equacoes de movimento de um problema de (N + 1)-corpos no plano com
centro de massa na origem, isto e,N∑
i=0
miyi = 0,
ao efetivar a mudanca de coordenadas (4.2.17), reduzimos a um problema de N -corpos com centro de
massa em −My0, ou sejaN∑
i=1
mixi = −My0.
Ainda temos o seguinte Lema.
Lema 4.2.3 Se (y0, · · · , yN ) e uma solucao de (4.2.15) tal que
R(t) =
N∑
i=0
miyi(t) ≡ 0, (4.2.19)
89
entao (x1(t), · · · , xN (t)) e uma solucao de
∂
∂xL(x(t), x′(t)) − d
dt
∂
∂x′L(x(t), x′(t)) = 0. (4.2.20)
Reciprocamente, se (x1, · · · , xN (t)) e uma solucao de (4.2.20), entao y(t) dado por
y0(t) = − 1
M
N∑
i=1
mixi(t), yi(t) = xi(t) −1
M
N∑
i=1
mixi(t) (4.2.21)
e uma solucao de (4.2.15) satisfazendo R(t) = 0.
Demonstracao: Suponhamos que (y0(t), · · · , yN (t)) e uma solucao de (4.2.15), tal queR(t) =
N∑
i=0
miyi(t) =
0. Entao, para todo i = 0, . . . , N, temos
∂
∂yi
L(y, y′) − d
dt
∂
∂y′iL(y, y′) ≡ 0,
e como m0y0 + · · · +mNyN = 0 implica y0 = − 1m0
(m1y1 + · · · +mnyN ), donde ∂y0
∂yi= −mi
m0. Por outro
lado,
y′0 = − 1
m0(m1y
′1 + · · · +mNy
′N ), donde
∂y′0∂y′i
= −mi
m0.
usando estas hipoteses, temos
∂L
∂yi
=N∑
j=1
[∂L∂xj
∂xj
∂yi
+∂L
∂y0
∂y0∂yi
]=∂L∂xi
− mi
m0
∂L
∂y0,
∂L
∂y′i=
N∑
j=1
[∂L∂x′j
∂x′j∂y′i
+∂L
∂y′0
∂y′0∂y′i
]=∂L∂x′i
− mi
m0
∂L
∂y′0,
ed
dt
∂L
∂y′i=
d
dt
∂L∂x′i
− mi
m0
d
dt
∂L
∂y′0.
Daı
0 =∂L∂xi
− d
dt
∂L∂x′i
+mi
m0
[d
dt
∂L
∂y′0− ∂L
∂y0
]
comod
dt
∂L
∂y′0− ∂L
∂y0= 0,
ja que y e solucao de (4.2.15), resulta que (x1, · · · , xN ) e solucao de (4.2.20).
90
Reciprocamente, suponha que (x1, · · · , xN ) e uma solucao de (4.2.20), o que implica
∂L∂x
− d
dt
∂L∂x′
= 0, para i = 1, · · · , N.
Mas
∂L∂xi
=
N∑
j=1
∂L
∂yj
∂yj
∂xi
=[1 − mi
M
] ∂L∂yi
,
∂L∂x′i
=N∑
j=1
∂L
∂y′j
∂y′j∂x′i
=[1 − mi
M
] ∂L∂y′i
ed
dt
∂L∂x′i
=d
dt
∂L
∂y′i− mi
M
d
dt
∂L
∂y′i.
Assim, usando estas tres ultimas equacoes, temos
0 =∂L
∂yi
− mi
M
∂L
∂yi
− d
dt
∂L
∂y′i+mi
M
d
dt
∂L
∂y′i
ou seja,
0 =
[∂L
∂yi
− d
dt
∂L
∂y′i
]− mi
M
[∂L
∂yi
− d
dt
∂L
∂y′i
]=[1 − mi
M
] [ ∂L∂yi
− d
dt
∂L
∂y′i
],
como mi
M6= 1, pois cada mi > 0 e mi
M= 1 se, e somente se, mj = 0 para todo j 6= i. Entao, temos que
(y0, · · · , yN ) e uma solucao de∂L
∂yi
− d
dt
∂L
∂y′i.
Logo e uma solucao de (4.2.15). Alem disso, como y0 e yi sao dados por (4.2.21)
m0y0(t) +
N∑
i=1
miyi(t) = −m0
M
N∑
i=1
mixi(t) +
N∑
i=1
mixi(t) −[
N∑
i=1
mi
M
]N∑
i=1
mixi(t)
= −
m0 +N∑
i=1
mi
M
N∑
i=1
mixi(t) +
N∑
i=1
mixi(t)
= −N∑
i=1
mixi(t) +
N∑
i=1
mixi(t) = 0.
Logo, R(t) =
N∑
i=1
miyi(t) = 0.
91
Lema 4.2.4 Nas condicoes do Lema anterior, se x(t) e uma solucao T -periodica de (4.2.20), entao y(t)
sera, tambem, uma solucao T -periodica de (4.2.15).
Demonstracao: Suponha x(t) periodica de perıodo T, isto e, x(t + T ) = x(t), entao xi(t + T ) =
xi(t) para, i = 1, · · · , N. Logo,
y0(t+ T ) = − 1
M
N∑
i=1
mixi(t+ T ) = − 1
M
N∑
i=1
mixi(t) = y0(t),
yi(t+ T ) = xi(t+ T ) − 1
M
N∑
i=1
mixi(t+ T ) = xi(t) −1
M
N∑
i=1
mixi(t) = yi(t).
Portanto, y(t) = (y0(t), · · · , yN (t)) e tambem periodica.
4.2.2 Existencia de solucoes com restricoes topologicas
Definamos os seguintes conjuntos:
Λ = x(t) = (x1(t), · · · , xN (t)) ∈(R
2 − 0)× · · · ×
(R
2 − 0)
: xi(t) 6= xj(t) ∀ t ∈ S1, ∀ i 6= j.
Λk = x ∈ H1(S1; R2 − 0
): grau(x) = k,
onde α : S1 → R2 − 0 ≈ S1 (onde ≈ denota um difeomorfismo), e grau(α) = k significa que α e uma
curva periodica que fecha apos dar k voltas em torno da origem (note que sendo α uma curva plana
o grau(α) coincide com o ındice de α). Daı, α e uma curva periodica de perıodo Tk. Note que pela
continuidade da funcao grau, o conjunto Λk e um aberto em H1(S1; R2 − 0
).
Seja, agora,
Λ(k1,...,kN ) = x = (x1, · · · , xN ) ∈ Λk1× · · · × ΛkN
: xj(t) 6= xi(t) ∀ t ∈ S1, ∀ i 6= j.
Note que se x ∈ Λ(k1,...,kN ), entao x e uma curva periodica de perıodo T. Em particular se x ∈Λ(k1,...,kN ) e x(t) e uma solucao de (4.2.20), teremos que ela e periodica de perıodo T.
Para conseguir solucoes periodicas de (4.2.20), e logo de (4.2.15), usando Calculo Variacional, defi-
namos o funcional f : Λ(k1,...,kN ) → R por
f(x1, · · · , xN ) =
∫ T
0
L(x1(t), · · · , xN , x
′1(t), · · · , x′N (t)
)dt. (4.2.22)
92
Primeiramente, observemos que Λ(k1,...,kN ) e aberto em H1 = H1(S1; R2 − 0
), logo conforme Secao
3.5, os pontos crıticos de f |Λ(k1,...,kN )sao tambem pontos crıticos de f sobre H1. (Note que da segunda
Observacao da Secao 1.3, do Capıtulo 1, tais pontos crıticos correspondem a pontos de mınimo desde que
L > 0).
Claramente os pontos crıticos de f em Λ(k1,...,kN ) sao solucoes sem colisao de (4.2.20), pois xi(t) 6= xj(t)
se i 6= j e as equacoes de Euler-Lagrange do funcional f sao dadas por (4.2.20).
Suponha, agora, que as condicoes (V1)-(V4) valem. Entao pelo Lema 3.4.1, temos que f e coercivo
sobre Λ(k1,...,kN ), conforme foi definido na Secao 3.2.1.
Teorema 4.2.5 Suponha (V1)-(V4) validas e que (F.F) vale. Entao (4.2.15) tem uma solucao T -
periodica sem colisao.
Demonstracao: Precisamos mostrar que existe (x1, · · · , xN ) ∈ Λ(k1,···,kN ), tal que
f(x1, · · · , xN ) = minΛ(k1,···,kN )
f
e que (x1, · · · , xN ) e uma solucao sem colisao de (4.2.20). Para isto, considere
µ = inff(x) : x ∈ Λ(k1,···,kN ),
e seja xn uma sequencia minimizante de Λ(k1,···,kN ), (conforme a Secao 3.2.2), assim
f(x(n)
)→ µ.
Entao dado ε > 0, para n suficientemente grande,
N∑
i=1
mi
2
∫ T
0
|x(n)′
i (t)|2dt−∫ T
0
V (x(n)1 (t), · · · , x(n)
N (t))dt ≤ µ+ ε.
Como V(x
(n)1 , · · · , x(n)
N
)≤ 0, temos que para todo i
∫ T
0
|x(n)i (t)|2dt ≤ 2(µ+ ε)
mi
.
Mas, de (3.4.21)
‖x‖2L∞ ≤
√T‖x′‖L2
93
temos que para a sequencia minimizante x(n) = (x(n)1 , · · · , x(n)
N )
‖x(n)i ‖H1 ≤ const.
para i ∈ 1, · · · , N e para todo n suficientemente grande, pois
‖x(n)i ‖2
H1 ≤ (1 + T 2)‖x(n)i ‖2
L2 ≤ (1 + T 2)2(µ+ ε)
mi
.
Pela compacidade fraca da bola fechada centrada na origem e raio R, conforme Lema 3.2.10, temos que
para i ∈ 1, · · · , N,x
(n)i → xi
fracamente em H1(S1; R2), e logo, pelo Teorema de Sobolev, converge em C0([0, T ]). (Veja [13]). Mas
xn esta definida num compacto, entao temos convergencia uniforme em C0([0, T ]). Assim, usando o
Lema de Fatou, obtemos
f(x) = f(lim infn→∞
x(n)) =N∑
i=1
∫ T
0
lim infn→∞
mi
2|x(n)′
i (t)|2dt−∫ T
0
lim infn→∞
V (x(n)1 (t), · · · , x(n)
N (t))dt
≤ lim infn→∞
N∑
i=1
∫ T
0
mi
2|x(n)′
i (t)|2dt−∫ T
0
V (x(n)1 (t), · · · , x(n)
N (t))dt
= lim infn→∞
f(x(n)
).
Logo, f e fracamente semi-contınuo inferiormente.
Como ha (F.F.) pelo Lema 3.4.2, segue-se que f(x(n)
)→ +∞, para toda sequencia x(n) tal que
x(n) → x fracamente em H1, com x ∈ ∂Λ(k1,···,kN ). Logo x esta no interior de Λ(k1,···,kN ). Como f e
fracamente semi-contınuo inferiormente e xn e uma sequencia minimizante segue-se, do Teorema da
Minimizacao Basica, que x ∈ Λ(k1,···,kN ) e um mınimo para f em Λ(k1,···,kN ). Tal mınimo e uma solucao
sem colisao de (4.2.20), ja que xi(t) 6= xj(t) se i 6= j e as equacoes de Euler-Lagrange do funcional f sao
dadas por (4.2.20). Logo, o y correspondente obtido por (4.2.17) e uma solucao sem colisao de (4.2.15).
Teorema 4.2.6 Suponha que as mesmas hipoteses do Teorema 4.2.5 sao validas mas (F.F.) nao neces-
sariamente e valida. Entao podemos concluir, ainda que, (4.2.15) tem ao menos uma solucao T -periodica
generalizada.
94
Demonstracao: Neste caso onde (F.F.) nao vale, a coisa e mais delicada, e dividiremos a demonstracao
em tres etapas:
Etapa 1 (Pertubacao no Potencial V ): Podemos modificar Vij em Bδ(0) de tal modo que o potencial
modificado, denotado por, V δij satisfaz (F.F.) e tende para Vij em quase toda parte.
Isto pode ser feito, por exemplo considerando
V δij(x) = Vij(x) −
ϕδ(|x|)|x|2 ,
onde, ϕδ ∈ C2(R+; R+ ∪ 0), ϕδ(x) = 0, ∀x ≥ δ2 , ϕδ(x) = 1, ∀ x < δ
2 . Entao
V δij(x) ≤ − 1
|x|2 = −|∇ log |x||2, ∀ |x| < δ
2,
assim, (F.F.) vale com Uij(x) = − log |x|.
Note que
limδ→0
V δij(x) = Vij(x) − lim
δ→0
ϕδ(|x|)|x|2 = Vij(x).
Etapa 2 (Existencia de Mınimo): Fazendo
Vδ(x1, · · · , xN ) =1
2
∑
1≤i6=j≤N
V δij(xi − xj),
o funcional fδ para a Lagrangiana modificada
Lδ(x, x′) =
1
2
N∑
i=1
mi|xi|2 −1
2
N∑
i,j
mimj
M〈x′i, x′j〉 − Vδ(x1, · · · , xN )
tem um mınimo no interior de Λ(k1,···,kN ).
De fato, seja
µδ = inffδ(x) : x ∈ Λ(k1,···,kN ).
Considere uma sequencia minimizante x(n) ∈ Λ(k1,···,kN ), conforme Secao 3.2.2, assim
fδ(x(n)) → µδ.
Entao para n suficientemente grande,
N∑
i=1
mi
2
∫ T
0
|x(n)′
i (t)|2dt−∫ T
0
Vδ(x(n)1 (t), · · · , x(n)
N (t))dt ≤ µδ + ε.
95
Como V (x(n)1 , · · · , x(n)
N ) ≤ 0, temos que para todo i
∫ T
0
|x(n)i (t)|2dt ≤ 2(µδ + ε)
mi
como de (3.4.21)
‖x‖2L∞ ≤
√T‖x′‖L2
temos que para a sequencia minimizante x(n) = (x(n)1 , · · · , x(n)
N )
‖x(n)i ‖H1 ≤ const.
para todo i ∈ 1, · · · , N e para todo n suficientemente grande, pois
‖x(n)i ‖2
H1 ≤ (1 + T 2)‖x(n)i ‖2
L2 ≤ (1 + T 2)2(µδ)
mi
.
Pela compacidade fraca da bola centrada na origem e raio R, conforme Lema 3.2.10, temos que para
i ∈ 1, · · · , N,x
(n)i → xδ
i
fracamente em H1(S1; R2), e logo, pelo Teorema de Sobolev, uniformemente em C0([0, T ]). Assim, usando
o Lema de Fatou, temos
fδ(xδ) = f(lim inf
n→∞x(n)) =
N∑
i=1
∫ T
0
lim infn→∞
mi
2|x(n)′
i (t)|2dt−∫ T
0
lim infn→∞
Vδ(x(n)1 (t), · · · , x(n)
N (t))dt
≤ lim infn→∞
N∑
i=1
∫ T
0
mi
2|x(n)′
i (t)|2dt−∫ T
0
Vδ(x(n)1 (t), · · · , x(n)
N (t))dt
= lim infn→∞
fδ
(x(n)
).
Logo, fδ e fracamente semi-contınuo inferiormente.
Como ha (F.F.) segue-se do Lema 3.4.2, que f(x(n)) → +∞, para toda sequencia x(n) tal que
x(n) → xδ fracamente em H1 com xδ ∈ ∂Λ(k1,···,kN ). Logo xδ esta no interior de Λ(k1,···,kN ). Como f e
fracamente semi-contınuo inferiormente segue-se, do Teorema da Minimizacao Basica e do fato de xnser minimizante, que xδ ∈ Λ(k1,···,kN ) e um mınimo para fδ em Λ(k1,···,kN ).
Etapa 3 (Convergencia no conjunto dos mınimos): O conjunto dos mınimos (xδ1, · · · , xδ
N ) de
fδ e fracamente compacto em H1 e quando δ → 0, o mınimo converge fracamente para uma solucao
generalizada de (4.2.20).
96
De fato, sabemos que os µδ sao finitos, entao µδ ≤ c, para todo δ > 0. Isto implica que
‖xδi ‖2
H1 ≤ C
∫ T
0
|xδi |2dt ≤ C ′, ∀ 1 ≤ i ≤ N, ∀ δ > 0.
Entao, pelo mesmo argumento usado na etapa anterior xδi → xi fracamente em H1. Basta, entao mostrar
que x = (x1, · · · , xN ) e uma solucao generalizada de (4.2.20). Para isto, considere, ∀ i 6= j
Cij = t ∈ [0, T ] | xi(t) = xj(t) ∀ δ > 0.
Entao, como (xi − xj) e contınua, cada Cij e um conjunto fechado e, quando δ → 0
(xδ
i − xδj
)→ 0
uniformemente em Cij . Entao, se med(Cij) > 0, quando δ → 0,
µδ = fδ(xδ) ≥ −
∫ T
0
V δij(x
δi (t) − xδ
j(t))dt→ +∞,
pois Vδ admite (F.F.). Mas isto e uma contradicao. Logo med(Cij) = 0 ∀ i 6= j.
Seja C =⋃
1≤i6=j≤N
Cij , entao med(C) = 0. Considere para todo n ≥ 1
Kn ⊂ [0, T ] − C,
onde os Kn sa compactos,⋃
n≥1
Kn = [0, T ] − C, Kn ⊂ Kn+1. Seja
Kn = x(t) : t ∈ Kn.
Entao para todo n ≥ 1, Kn e um conjunto compacto pois x e contınua.
Escolha uma vizinhanca Un de Kn tal que o fecho de Un e compacto em Λ (podemos sempre escolher
tal vizinhanca Un, pois, a distancia de Kn a Λc e positiva). Entao, para todo δ suficientemente pequeno
temos que Vδ → V em C1(Un; R). Com efeito, na Etapa 1 vimos que Vδ → V, quando δ → 0. Alem disso
d
dtV δ
ij (x(t)) =∂V δ
ij
∂x(x(t))x′(t) =
∂
∂x
(Vij(x) −
ϕδ(|x|)|x|2
)x′(t)
=
(∂
∂xVij(x) +
ϕδ(|x|)2x′|x|4
)x′(t).
97
Daı
limδ→0
d
dtV δ
ij(x(t)) =∂Vij
∂x(x(t))x′(t) + lim
δ→0
[ϕδ(|x|)2x′
|x|4 x′(t)
]
=∂Vij
∂x(x(t))x′(t)
=d
dtVij (x(t)) ,
Logo, Vδ → V em C1(Un; R) quando δ e suficientemente pequeno.
Consequentemente,
∇xiVδ(x
δ1(t), · · · , xδ
N (t)) → ∇xiV (x1(t), · · · , xN (t))
uniformemente em Kn. Como
−mi(xδi )
′′(t) = ∇xiVδ(x
δ1(t), · · · , xδ
N (t))
temos que quando δ → 0
xδi → xi
em C2[0, T ] sobre Kn e logo, x(t) = (x1(t), · · · , xN (t)) e solucao de
−mix′′i (t) = ∇xi
V (x1(t), · · · , xN (t)),
para todo t ∈ Kn.
Como⋃
n≥1
Kn = [0, T ] − C, temos que x satisfaz as condicoes (a) e (b) da definicao de solucao
generalizada. A condicao (c) segue-se, notando que
Hδ(t) =1
2
N∑
i=1
mi|xδi
′(t)|2 + V δ(xδ
1(t), · · · , xδN (t))
e uma constante do movimento. Alem disso, de
Hδ =1
Tfδ(x
δ1, · · · , xδ
N )
sendo
fδ(xδ) = µδ
98
e ∫ T
0
|(xδi )
′|2dt ≤ const.
temos que Hδ e limitada em R. Podemos entao assumir que Hδ → H quando δ → 0. Entao segue-se que
para todo t1, t2 ∈ [0, T ] − C.
H0(t1) =1
2
N∑
i=1
mi|x′i|2 + V (x1(t), · · · , xN (t))
= limδ→0
Hδ(t1)
= limδ→0
Hδ(t2)
= H0(t2)
e isto prova que x e uma solucao generalizada de
−mix′′i (t) = ∇xi
V (x1(t), · · · , xN (t)).
Logo y dado atraves de (4.2.17) e uma solucao generalizada de (4.2.15). Completando, assim a demon-
stracao do Teorema 4.2.6.
Observacao: Como no problema dos N-corpos nao ha (F.F.), nao podemos aplicar o Teorema 4.2.5.,
para estudar a existencia de solucoes periodicas sem colisao.
4.2.3 Existencia de solucoes com restricoes de simetria
Consideremos o seguinte sistema de equacoes diferenciais de segunda ordem
−mix′′i (t) = ∇xi
V (x1(t), · · · , xN (t)) (4.2.23)
com a seguinte condicao inicial
xi(0) = xi(T ).
Assumimos que V satisfaz as mesmas hipoteses (V1)-(V4), da Secao anterior. Assumimos, ainda que
mi > 0 para todo i, M =
N∑
i=1
mi e
Vij(x) = Vji(x), para 1 ≤ i 6= j ≤ N. (4.2.24)
99
Definamos os seguintes conjuntos
Λ = x = (x1, · · · , xN ) : xi ∈ H1(S1; R2
),
Λ0 =
x ∈ Λ : x
(t+
T
2
)= −x(t)
e defina o funcional f : Λ0 → R como
f(x1, · · · , xN ) =N∑
i=1
mi
2
∫ T
0
|x′i(t)|2dt−∫ T
0
V (x1(t), · · · , xN (t))dt.
Como vimos na Secao 3.5, do capıtulo 3, os pontos crıticos de f |Λ0sao tambem pontos crıticos de f sobre
H1.
Aplicando o mesmo procedimento da Secao anterior e facil mostrar que os pontos crıticos de f sobre
Λ0 sao solucoes sem colisao de (4.2.23) e que f e coercivo sobre Λ0, conforme Secao 3.4. Alem disso,
como Vij(x) = Vji(x), temos
V (−x1(t), · · · ,−xN (t)) =1
2
∑
1≤i6=j≤N
Vij(−xi(t) + xj(t))
=1
2
∑
1≤i6=j≤N
Vji(xj(t) − xi(t))
= V (x1(t), · · · , xN (t)).
Logo,
f(−x1(t), · · · ,−xN (t)) = f(x1(t), · · · , xN (t)),
entao, −x e tambem ponto crıtico de f, logo solucao de (4.2.23).
Ainda temos o seguinte Teorema
Teorema 4.2.7 Suponha V satisfazendo (V1)-(V4) e (4.2.24). Entao para todo T > 0, temos infinitas
solucoes generalizadas T -periodicas para (4.2.23).
Demonstracao: Provaremos primeiro a existencia de pelo menos uma solucao generalizada. Se cada Vij
satisfaz a condicao (F.F.) a demonstracao e inteiramente analoga a do Teorema 4.2.5, onde ha existencia
de pelo menos uma solucao T -periodica sem colisao (e logo generalizada), para (4.2.23). Caso o potencial
V nao satisfaca a condicao de (F.F.), a demonstracao de que existe pelo menos uma solucao T -periodica
100
generalizada e semelhante a do Teorema 4.2.6, onde dividimos a demonstracao em tres etapas. Nas Etapas
1 e 3 repetimos os mesmos procedimentos. Quanto a Etapa 2, pelo fato das curvas nao, necessariamente,
circundarem a origem, nao podemos usar a estimativa
‖x‖2L∞ ≤
√T‖x′‖L2 .
Mas usando a hipotese de simetria, podemos obter uma estimativa semelhante, pois sendo xi
(t+ T
2
)=
−xi(t), temos
|x(t)| =1
2
∣∣∣∣x(t) − x
(t+
T
2
)∣∣∣∣
=1
2
∣∣∣∣∣
∫ t+ T2
t
x′(s)ds
∣∣∣∣∣
≤ 1
2
√T
2
∫ t+ T2
t
|x′(s)|2ds 1
2
≤√T
4
∫ T
0
|x′(s)|2ds 1
2
,
logo
‖x‖2L∞ ≤ T
16‖x′‖L2 .
Consequentemente, podemos adaptar a Etapa 2 com esta nova estimativa e concluir que (4.2.23) tem
pelo menos uma solucao generalizada.
Mostraremos, agora, que na verdade existem uma infinidade de solucoes generalizadas T -periodicas
para (4.2.23). De fato, Seja xT a solucao encontrada pelo processo descrito acima (isto e conforme
adaptacao do Teorema 4.2.6). Para provar a existencia de infinitas solucoes T-periodicas, comecemos
observando que xT nao pode ser constante, pois se isto ocorresse
xT (t+T
2) = −xT (t) ⇒ xT ≡ 0,
contradizendo o fato de xT ser generalizada. Seja TK, K ≥ 1 o perıodo mınimo de xT . Aplicando a
prova de existencia, como acima, com T substituıdo por TK+1 encontramos uma solucao x T
K+1que e uma
solucao(
TK+1
)-periodica de (4.2.23). Sendo o problema autonomo, tal solucao e tambem uma solucao
T-periodica. Procedendo com esta construcao conseguiremos uma infinidade de solucoes T-periodicas.
101
4.3 Solucoes com simetrias de rotacao
Motivados pelo problema dos N -Corpos em Rk, para o qual
V (y0, · · · , yN ) = V (Ry0, · · · , RyN ),∀ R ∈ O(k) (4.3.25)
(onde O(k) denota o grupo das rotacoes em Rk). Faremos algumas suposicoes de simetrias sobre nosso
potencial V. Comecamos introduzindo
Rθ =
(cos θ sen θ−sen θ cos θ
), (4.3.26)
onde Rθ ∈ SO(2), θ ∈ [0, 2π] onde SO(2) denota o grupo das rotacoes em R2 preservando orientacao.
Observacao: Pelo Teoria classica das Equacoes Diferenciais Ordinarias, segue-se que, se y(t) e solucao
da EDO
y′′ = ∇V (y(t))
e se
V (Rθy(t)) = V (y(t)).
Entao, Rθy(t) e tambem solucao da mesma EDO.
Assumiremos que existe l ∈ N, l ≥ 2, tal que
V (y0, · · · , yN ) = V(R 2π
ly0, · · · , R 2π
lyN
). (V 5)l
Observacao: Note que, sendo θ = 2πl
entao Rlθ = I. Alem disso, se y
(t+ T
l
)= R 2π
ly(t), temos
y(t+ T ) = y
(t+ l
T
l
)= y
t+
l−vezes︷ ︸︸ ︷T
l+ · · · + T
l
= R( 2πl··· 2π
l )y(t) = Rl2πl
y(t)
= y(t).
Logo, y(t) e uma solucao T-periodica.
102
Entao introduzimos o conjunto 4Nl , dado por
4Nl = (y0, · · · , yN ) : yi ∈ H1
(S1; R2
), yi(t) 6= yj(t), ∀ t ∈ S1, ∀ i 6= j,
yi
(t+
T
l
)= R 2π
lyi(t), ∀ t, ∀ i.
Cuja fronteira e dada por
∂4Nl = (y0, · · · , yN ) : yi(t) ∈ H1
(S1; R2
), ∃ t ∈ S1, : yi(t) = yj(t), para algum i 6= j,
yi
(t+
T
l
)= R 2π
lyi(t), ∀ t, i.
Note que se (y0, · · · , yN ) ∈ 4Nl , entao
V
(y
(t+
T
l
))= V
(y0
(t+
T
l
), · · · , yN
(t+
T
l
))
= V(R 2π
ly0(t), · · · , R 2π
lyN (t)
)
= V (y0(t), · · · , yN (t)) = V (y(t)).
Introduzimos, tambem, o funcional I : 4Nl → R dado por
I(y0, · · · , yN ) =
N∑
i=0
mi
2
∫ T
0
|y′i(t)|2dt−∫ T
0
V (y0, · · · , yN )dt (4.3.27)
e o conjunto ”colisao”
ΓNl = (y0, · · · , yN ) ∈ 4N
l : ∃ t ∈ S1 com yi(t) = yj(t)∀ i, j.
Observacao: Note que 4Nl e um conjunto aberto no subespaco linear de H1,
Λ = (y0, · · · , yN ) : yi(t) ∈ H1(S1; R2
): yi
(t+
T
l
)= R 2π
lyi(t), ∀ t, ∀ i.
Logo, conforme Corolario 3.5.6, da Secao 3.5, segue-se que os pontos crıticos de I|Λ sao tambem pontos
crıticos de I em H1 e pela Proposicao 3.5.4, os pontos crıticos de I|4Nl
sao tambem pontos crıticos de
I|Λ e por transitividade os pontos crıticos de I|4Nl
sao pontos crıticos de I sobre H1.
Como consequencia desta ultima Observacao formulamos o seguinte Lema
Lema 4.3.1 Suponha (V1)-(V4) e (V 5)l validas. Entao os pontos crıticos de I em 4Nl sao solucoes de
(4.2.15).
103
Lema 4.3.2 Suponha (V1)-(V4) e (V 5)l validas com l ≥ 2. Entao I e coercivo em 4Nl , no sentido que
para toda sequencia (xn) ⊂ 4Nl , ‖xn‖ → +∞ implica que I(xn) → +∞.
Demonstracao: Observemos que de (V4) segue-se que
I(y0, · · · , yN ) ≥N∑
i=0
mi
∫ T
0
|y′i|2dt
pois V (y0, · · · , yN ) < 0. Assim,
I(y0, · · · , yN ) ≥N∑
i=0
m∗∫ T
0
|y′i|2dt = m∗‖y′‖2L2
onde m∗ = min0≤i≤N
mi.
Por outro lado,
∣∣∣∣yi
(t+
T
l
)− yi(t)
∣∣∣∣2
=∣∣∣R 2π
lyi(t) − yi(t)
∣∣∣2
=∣∣∣2 sin
(πl
)∣∣∣2
|yi|2.
Com efeito, seja zi = Rθyi, claramente
|zi|2 = |yi|2,
assim,
|zi − yi|2 = 2[(1 − cos θ)|yi(t)|2]
para θ = 2πl
= πl
+ πl,
|zi − yi|2 = 2[1 −
(cos2
(πl
)− sin2
(πl
))|yi|2
]
= 2[1 − cos2
(πl
)+ sin2
(πl
)]|yi|2
= 2[sin2
(πl
)+ sin2
(πl
)]
=∣∣∣2 sin2
(πl
)∣∣∣2
|yi|2.
Daı, fazendo
y(t) = (y0, · · · , yN )
com yi
(t+ T
l
)= R 2π
lyi(t) temos
∣∣∣∣y(t+
T
l
)− y(t)
∣∣∣∣2
=∣∣∣2 sin
(πl
)∣∣∣2
|y(t)|2,
104
ou equivalentemente
|y(t)| =1
2∣∣sin
(πl
)∣∣
∣∣∣∣y(t+
T
l
)− y(t)
∣∣∣∣ ,
e disto segue-se
‖y‖L∞ ≤ 1
2| sin(πl)|
√T
l‖y′‖L2 .
Daı,
‖y‖2H1 = ‖y′‖2
L2 + ‖y‖2L2
≤ ‖y′‖2L2 + T‖y‖2
L∞
≤ (1 +T 2
l2)‖y′‖2
L2 .
Entao
‖y‖H1 → +∞ ⇒ ‖y′‖L2 → +∞ ⇒ I(y) → +∞.
O que prova a coercividade do funcional I.
4.3.1 Estimativas
Na proxima Subsecao provaremos a existencia de solucoes sem colisao para (4.2.15). Para isto, faremos
algumas estimativas para o ınfimo do funcional I sobre 4Nl e sobre ∂4N
l .
Lema 4.3.3 Seja, 0 < α ≤ 2. Considere V = − 12
∑
1≤i6=j≤N
mimj
|xi − xj |α. Entao,
1
2
∑
1≤i6=j≤N
mimj
|xi − xj |α≥ 1
2(α+1)
2
(∑
i6=j
mimj
) (2+α)2
Mα2
1( N∑
i=1
mi|xi|2)α
2
(4.3.28)
onde M =
N∑
i=1
mi.
Demonstracao: Observemos primeiramente que pela desigualdade de Holder
∑
i6=j
mimj =∑
i6=j
mimj
|xi − xj |α2
|xi − xj |α2
105
≤(∑
i6=j
mimj
|xi − xj |α) 1
2(∑
i6=j
mimj |xi − xj |α) 1
2
usando o fato, que a funcao ϕ(θ) = θα2 e convexa com 0 < α ≤ 2, e mais uma vez a desigualdade de
Holder, temos
∑
i6=j
mimj ≤√
2√−V (x1, · · · , xN )
(∑
i6=j
mimj
) (2−α)4(∑
i6=j
mimj |xi − xj |2)α
4
=√
2√−V (x1, · · · , xN )
(∑
i6=j
mimj
) (2−α)4(
2MN∑
i=1
mi|xi|2 −∣∣∣∣
N∑
i=1
mixi
∣∣∣∣2)α
4
≤ 2(2+α)
4 Mα4√−V (x1, · · · , xN )
(∑
i6=j
mimj
) (2−α)4( N∑
i=1
mi|xi|2)α
4
= 22+α
4 Mα4
[∑
i6=j
mimj
|xi − xj |α] 1
2(∑
i6=j
mimj
) 2−α4( N∑
i=1
mi|xi|2)α
4
.
Assim,
∑
i6=j
mimj ≤ 22+α
4 Mα4
[∑
i6=j
mimj
|xi − xj |α] 1
2(∑
i6=j
mimj
) 2−α4( N∑
i=1
mi|xi|2)α
4
.
Desta ultima desigualdade segue-se que
1
22+α
4
1
Mα4
1(∑
i6=j
mimj
) 2−α4
1( N∑
i=1
mi|xi|2)α
4
(∑
i6=j
mimj
)≤[∑
i6=j
mimj
|xi − xj |α] 1
2
ou equivalentemente,
1
22+α
4
1
Mα4
(∑
i6=j
mimj
)−(2−α)4(∑
i6=j
mimj
)
( N∑
i=1
mi|xi|2)α
4
≤[∑
i6=j
mimj
|xi − xj |α] 1
2
como −(2−α)4 + 1 = 2+α
4 , temos
[∑
i6=j
mimj
|xi − xj |α] 1
2
≥ 1
22+α
4
1
Mα4
(∑
i6=j
mimj
) 2+α4
( N∑
i=1
mi|xi|2)α
4
106
elevando ambos os membros ao quadrado temos o resultado.
Lema 4.3.4 Considere o funcional f : 4Nl → R, dado por
f(y0, · · · , yN ) =
N∑
i=0
mi
2
∫ T
0
|y′i|2dt+b
2
∑
i6=j
∫ T
0
mimj
|yi − yj |αdt, b > 0,
onde 1 ≤ α ≤ 2 e b e uma constante real positiva. Entao, fazendo ω = 2πT, temos que
infΓN
l
f ≥ 1
2
(1
2+
1
α
)b
2α+2α
2α+2ω
2αα+2 l
2αα+1
∑i6=j mimj
Mα
α+2T
Demonstracao: Do Lema 4.3.3, temos
f(y0, · · · , yN ) ≥N∑
i=0
mi
2
∫ T
0
|y′i|2dt+b
2α+2
2
(∑
i6=j
mimj
) 2+α2
Mα2
∫ T
0
dt( N∑
i=0
mi|yi|2)α
2
. (4.3.29)
Se (y0, · · · , yN ) ∈ ΓNl temos que existe um t tal que yi(t) = yj(t) para todo i, j. Da condicao de simetria
podemos assumir, sem perda de generalidade, que t = 0 e que yi(0) = 0.
Se, agora, definirmos o momento de inercia R(t) ∈ R por
MR(t)2 =
N∑
i=0
mi|yi(t)|2
temos que
R ∈ H10
((0, T ); R+
),
onde H10 ((0, T )) denota o espaco de Sobolev das aplicacoes absolutamente contınuas sobre [0, T ] que se
anulam nos extremos e cujas derivadas sao de quadrado integravel. Mais detalhes veja ([3]).
Nestas condicoes e de facil verificacao que
MR′(t)2 ≤N∑
i=0
mi|y′i|2
pois
MR(t)R′(t) =
N∑
i=0
〈yi, y′i〉
107
e usando a desigualdade de Cauchy-Schwarz, temos
MR(t)|R′(t)|2 ≤MR(t)2N∑
i=0
mi|y′i|2
Alem do mais, como
yi
(t+
T
l
)= R 2π
lyi(t),
temos que
R
(t+
T
l
)= R(t).
Com efeito,
MR
(t+
T
l
)2
=N∑
i=0
mi
∣∣∣∣yi(t+T
l)
∣∣∣∣2
=N∑
i=0
mi
∣∣∣R 2πlyi(t)
∣∣∣2
=
N∑
i=0
mi|yi(t)|2 = MR(t).
Assim, R e Tl
periodica, e R ∈ H10
((0, T
l
); R+
).
Disto deduzimos que
infΓN
l
f(y0, · · · , yN ) ≥ infH1((0, T
l); R+)
J(R)
onde, J : H1((0, Tl; R+) → R e dado por
J(R) = l
M
2
∫ Tl
0
|R′|2 +b
2α+2
2
(∑
i6=j
mimj
) 2+α2
Mα2
∫ Tl
0
dt
Rα
.
De fato, pela observacao anterior, temos
f(y0, · · · , yN ) ≥ M
2
∫ T
0
|R′(t)|2 +b
2α+2
2
(∑
i6=j
mimj
) 2+α2
Mα2
∫ T
0
dt( N∑
i=0
mi|yi|2)α
2
sendo R periodica de perıodo Tl
resulta que
f(y0, · · · , yN ) ≥ l
M
2
∫ Tl
0
|R′(t)|2 +b
2α+2
2
(∑
i6=j
mimj
) 2+α2
Mα
∫ Tl
0
dt(R(t)
)α.
108
Assim, o resultado deste Lema segue-se do Lema abaixo.
Lema 4.3.5 Nas hipoteses do Lema anterior, temos
infH1
0 ((0,T ); R+)J(R) = T min
R>0
1
2Ml2ω2R2 +
b
2α+2
2
(∑
i6=j
mimj
) 2+α2
Mα
1
Rα
=1
2
(1
2+
1
α
)b
2α+2α
2α+2ω
2αα+2 l
2αα+2
∑i6=j mimj
Mα
α+2T.
Demonstracao: Veja [10].
Proposicao 4.3.6 Proposicao (Desigualdade de Jensen): Se h e uma funcao real mensuravel, e
ϕ e convexa sobre (a, b), (se ϕ e duas vezes diferenciavel ϕ′′(θ) ≥ 0 para todo θ ∈ (a, b)), entao se
a < h(x) < b para todo x ∈ Ω e med(Ω) = 1, temos∫
Ω
(ϕ h
)dµ ≥ ϕ
(∫
Ω
hdµ
).
Demonstracao: Veja ([20], pp. 62).
Usando esta proposicao daremos mais uma estimativa para nosso funcional f no seguinte Lema.
Lema 4.3.7 Suponha b uma constante positiva e 1 ≤ α ≤ 2. Considere
f(y0, · · · , yN ) =N∑
i=0
mi
2
∫ T
0
|y′i(t)|2dt+ b∑
i6=j
∫ T
0
mimj
|yi − yj |αdt.
Entao, para ω = 2πT, temos
inf4N
l
f(y0, · · · , yN ) ≥ 1
2
(1
2+
1
α
)b
2α+2α
2α+2ω
2αα+2
∑i6=j mimj
Mα
α+2T
Demonstracao: Defina y(t) ∈ R2N por
√My(t) = (
√m0y0(t), · · · ,
√mNyN (t)) .
109
Daı,N∑
i=0
mi|yi(t)|2 = M |y(t)|2.
Se denotarmos por ΣNl o conjunto
ΣNl =
y(t) =
(√m0
My0, · · · ,
√mN
MyN
): (y0, · · · , yN ) ∈ 4N
l
,
aplicando a desigualdade de Jensen na segunda integral de (4.3.29), temos
f(y) ≥ M
2
∫ T
0
|y′|2dt+b
2α+2
2
(∑
i6=j
mimj
) 2+α2
MαT
(1
T
∫ T
0
dt
|y(t)|
)α
.
De fato, notemos que da segunda integral de (4.3.29) temos∫ T
0
dt( N∑
i=0
mi|yi(t)|2)α
2
≥∫ T
0
dt
(M |y(t)|2)α2
=1
Mα2
∫ T
0
dt
|y(t)|α
=1
Mα2T
(1
T
∫ T
0
(1
|y(t)|
)α
dt
)
alem disso, 1T
∫ T
0dt = 1; chamando ϕ(θ) = θα e h(t) = 1
|y(t)| , temos que h e contınua, pois y ∈ R2N −0,
e ϕ e convexa, ja que α ≥ 1. Entao, pela desigualdade de Jensen(
1
T
∫ T
0
(1
|y(t)|
)α
dt
)≥(
1
T
∫ T
0
dt
|y(t)|
)α
.
Logo ∫ T
0
dt( N∑
i=0
mi|yi(t)|2)α
2
≥ 1
Mα2T
(1
T
∫ T
0
dt
|y(t)|
)α
.
Assim, de (4.3.29), obtemos
f(y0, · · · , yN ) ≥∫ T
0
N∑
i=0
mi
2|y′i|2dt+
b
2α+2
2
(∑
i6=j
mimj
) 2+α2
MαT
(1
T
∫ T
0
dt
|y|
)α
=M
2
∫ T
0
|y′|2dt+b
2α+2
2
(∑
i6=j
mimj
) 2+α2
MαT
(1
T
∫ T
0
dt
|y(t)|
)α
.
110
A seguir mostraremos que o funcional
g(y) =M
2
∫ T
0
|y′|2dt+b
2α+2
2
(∑
i6=j
mimj
) 2+α2
MαT
(1
T
∫ T
0
dt
|y(t)|
)α
satisfaz as seguinte condicoes:
(i) o funcional g e coercivo sobre ΣNl e toda sequencia minimizante de g converge para uma funcao y no
interior de H1(S1; R2N+1 − 0
)a qual e uma solucao (circular) do problema dos 2-corpos em R
2N+1,
(ii) g(y) ≥ g(y), onde y e alguma solucao circular do problema dos 2-corpos em R2N+1 com perıodo
mınimo T,
(iii)
infΣN
l
g(y) = minR>0
M
2TR2ω2 +
b
2α+2
2
(∑
i6=j
mimj
)α+22
Mα
T
Rα
.
Logo, usando o Lema 4.3.5, concluimos a demonstracao do Lema 4.3.7.
Comentario: Usamos o fato de 1 ≤ α ≤ 2 para podermos aplicar o Lema 4.3.3 e para garantir a
convexidade da funcao ϕ(θ) = (θ)α
e assim, poder aplicar a Desigualdade de Jensen.
Encerraremos esta Subsecao voltando as tres condicoes citadas acima:
A coercividade de g(y) e direta ja que
‖y‖H1 ≤ const.‖y′‖L2
e que quando ‖y‖ → +∞, g(y) resume-se a
g(y) =M
2
∫ T
0
|y′(t)|2dt =M
2‖y′‖2
L2 → +∞.
Suponha, agora, que yn e uma sequencia minimizante para g sobre ΣNl . Entao, yn e limitada em
H1(S1; R2N+1
), pois g e coercivo. Daı
‖yn‖ ≤ const.
111
Logo, yn sempre converge fracamente uniforme para uma funcao de H1(S1; R2N+1
).
Seja y o limite fraco uniforme de yn. Entao,
g(y) ≤ lim infn→∞
g(yn).
Ainda temos o seguinte Lema
Lema 4.3.8 Nas condicoes acima se existir um t tal que
y
(t+
T
l
)= y(t) = 0,
entao, o funcional g satisfaz
g(y) > g(y)
onde y e alguma solucao circular do problema dos 2-corpos em R2N+1 com perıodo mınimo T.
Demonstracao: Veja [10].
Suponha que exista t tal que y(t) = 0. Da continuidade de y, ja que H1([0, T ]) ⊂ C0([0, T ]), temos
que
y
(t+
T
l
)= y(t) = 0.
Logo, pelo Lema acima
g(y) > g(y),
onde y e alguma solucao circular do problema dos 2-corpos em R2N+1 com perıodo mınimo T. Se um tal
y ∈ ΣNl , temos uma contradicao (por ser yn uma sequencia minimizante e y ser seu limite fraco uniforme),
esta contradicao prova que y esta no interior de H1(S1; R2N+1
).
Alem disso, y e um ponto crıtico de g sobre H1(S1; R2N+1 − 0).
De fato, desde que 4Nl e aberto em Λ, como ΣN
l e um subconjunto aberto do subespaco linear 4Nl ,
temos que ΣNl tambem e aberto em Λ. Logo, todo ponto crıtico de g|ΣN
lsera ponto crıtico de g em H1.
112
Como y ∈ H1(S1; R2N+1 − 0
), veja [10], que e possıvel deduzir que y e uma solucao do problema
dos 2-corpos em R2N+1 e que
infΣN
l
g(y) = minR>0
M
2TR2ω2 +
b
2α+2
2
(∑
i6=j
mimj
) 2+α2
Mα
T
Rα
se verifica.
Comentario: Em [10], encontram-se alguns resultados mais gerais envolvendo certas funcoes convexas,
nos quais, Esta ultima expressao, assim como os Lemas 4.3.5 e 4.3.8 podem, com um pouco de calculos,
serem adaptados. Apresentaremos alguns destes resultados mais gerais no Apendice E.
4.3.2 Solucoes sem colisao para problemas do tipo N-corpos
Comecemos introduzindo a seguinte notacao
ρ(α,m0, · · · ,mN ) =∑
0≤i6=j≤N
mimj∣∣∣sin(
π(i−j)N+1
)∣∣∣α
e
σ(m0, · · · ,mN ) =∑
0≤i6=j≤N
mimj sin2
(π(i− j)
N + 1
).
Entao provaremos o seguinte Lema
Lema 4.3.9 Considere 1 ≤ α ≤ 2. Se
V (y0, · · · , yN ) ≥ −a2
∑
0≤i6=j≤N
mimj
|yi − yj |α,
e se y e um mınimo para o funcional I dado por (4.3.27), entao
I(y) ≤ 1
2
(1
2+
1
α
)a
2α+2α
2α+2ω
2αα+2
ρ2
α+2σα
α+2
Mα
α+2T. (4.3.30)
Demonstracao: Temos
ρ(α,m0, · · · ,mN ) =∑
0≤i6=j≤N
mimj∣∣∣sin(
π(i−j)N+1
)∣∣∣α ,
113
e
σ(m0, · · · ,mN ) =∑
0≤i6=j≤N
mimj sin2
(π(i− j)
N + 1
).
Seja
Rα+22 =
αaMρ
2α+2ω2σ.
Considere ξ, η ∈ R2N+1, tal que |ξ|2 = |η|2 = 1, e 〈ξ, η〉 = 0, e defina
yi(t) = R
ξ
[cos
(ωt+
2πi
N + 1
)− 1
M
N∑
l=0
ml cos
(ωt+
2πl
N + 1
)]
+ η
[sin
(ωt+
2πi
N + 1
)− 1
M
N∑
l=0
ml sin
(ωt+
2πl
N + 1
)],
onde R e um numero real a ser determinado.
Entao, apos alguns calculos e manipulacoes trigonometricas, temos
N∑
i=0
mi
2
∫ T
0
|y′|2dt =1
2
M − 1
M
∑
i, j
mimj cos2(π(i− j)
N + 1
)R2ω2T
=R2ω2T
M
∑
i, j
mimj sin2
(π(i− j)
N + 1
).
Notemos que
|yi(t) − yj(t)| = 4R2 sin2
(π(i− j)
N + 1
).
De fato,
1
R(yi(t) − yj(t)) = ξ
[cos
(ωt+
2πi
N + 1
)− cos
(ωt+
2πj
N + 1
)]
+ η
[sin
(ωt+
2πi
N + 1
)− sin
(ωt+
2πj
N + 1
)],
daı
1
R2|yi(t) − yj(t)|2 =
[cos
(ωt+
2πi
N + 1
)− cos
(ωt+
2πj
N + 1
)]2
+
[sin
(ωt+
2πi
N + 1
)− sin
(ωt+
2πj
N + 1
)]2
= cos2(ωt+
2πi
N + 1
)− 2 cos
(ωt+
2πi
N + 1
)cos
(ωt+
2πj
N + 1
)
+ cos2(ωt+
2πj
N + 1
)+ sin2
(ωt+
2πi
N + 1
)
114
− 2 sin
(ωt+
2πi
N + 1
)sin
(ωt+
2πj
N + 1
)+ sin2
(ωt+
2πj
N + 1
)
= 2 − 2
[cos
(ωt+
2πi
N + 1
)cos
(ωt+
2πj
N + 1
)
+ sin
(ωt+
2πi
N + 1
)sin
(ωt+
2πj
N + 1
)]
= 2
[1 − cos
(2π(i− j)
N + 1
)]
= 2
[2 sin2
(π(i− j)
N + 1
)]
= 22 sin2
(π(i− j)
N + 1
)
e, de
|yi(t) − yj(t)|2 = R222 sin2
(π(i− j)
N + 1
),
temos
|yi(t) − yj(t)| =
(R222 sin2
(π(i− j)
N + 1
)) 12
,
logo,
|yi(t) − yj(t)|α = Rα2α sinα
(π(i− j)
N + 1
).
Isto implica que
−V (y0(t), · · · , yN (t)) ≤ a
2
∑
0≤i6=j≤N
mimj
|yi − yj |α
=a
21+αRα
∑
0≤i6=j≤N
mimj∣∣∣sin(
π(i−j)N+1
)∣∣∣α .
Assim, deduzimos que para todo R > 0
f(y0, · · · , yN ) ≤ R2ω2
MTσ +
aT
21+αRαρ.
Por outro lado, facilmente verifica-se que um mınimo para a funcao
φ(R) =R2ω2
MTσ +
aT
21+αRαρ
e dado por
R = R2 =
(αaMρ
2α+2ω2σ
) 1α+2
.
115
Assim, teremos
f(y0, · · · , yN ) ≤(
1 +2
α
)R2
2ω2
MTσ.
Para concluirmos a demonstracao deste Lema precisamos, apenas, mostrar que
(1 +
2
α
)R2
2ω2Tσ =
1
2
(1
2+
1
α
)a
2α+2α
2α+2ω
2αα+2
ρ2
α+2σα
α+2
Mα
α+2.
Para isto lembremo-nos que(1 + 2
α
)= 2
(12 + 1
α
), e que
R22 =
1
22α
2α+2 a
2α+2
1
ω2
α+2
ρ2
α+2
σα
α+2M
αα+2 ,
entao,
(1 +
2
α
)(1 +
2
α
)R2
2ω2Tσ = 2
(1
2+
1
α
)(1 +
2
α
)R2
2ω2Tσ
= 2
(1
2+
1
α
)1
4
α2
α+2 a2
α+2ω2α
α+2 ρ2
α+2σα
α+2
Mα
α+2
=1
2
(1
2+
1
α
)a
2α+2α
2α+2ω
2αα+2
ρ2
α+2σα
α+2
Mα
α+2.
Portanto,
f(y0, · · · , yN ) ≤ f(y0, · · · , yN ) ≤ 1
2
(1
2+
1
α
)a
2α+2α
2α+2ω
2αα+2
ρ2
α+2σα
α+2
Mα
α+2,
concluindo, assim, a demonstracao do Lema.
Teorema 4.3.10 Suponha (V1)-(V4), (V 5)l, (l ≥ 2) validas. Suponha, alem disso,
−a2
∑
i6=j
mimj
|yi − yj |α≤ V (y0, · · · , yN ) ≤ − b
2
∑
i6=j
mimj
|yi − yj |α, (V 6)
0 < m0 ≤ m1 ≤ · · · ≤ mN ,
e
a2
α+2ρ
2α+2σ
αα+2
Mα
α+2< b
2α+2
2l2α
α+2m0m1
(m0 +m1)α
α+2+
∑
2≤i6=j≤N
mimj
( N∑
i=2
mi
) αα+2
, (4.3.31)
onde a e b sao constantes positivas e 1 ≤ α ≤ 2. Entao (4.2.15) tem pelo menos uma solucao T-periodica
sem colisao.
116
Demonstracao: Considere o funcional I : 4Nl → R, definido por
I(y0, · · · , yN ) =
N∑
i=0
mi
2
∫ T
0
|y′i(t)|2dt−∫ T
0
V (y0, · · · , yN )dt.
A hipotese (V6) implica que
I(y0, · · · , yN ) ≥N∑
i=0
mi
2
∫ T
0
|y′i(t)|2dt+ b∑
0<i6=j≤N
∫ T
0
mimj
|yi − yj |αdt.
Pois,
−V (y0, · · · , yN ) ≥ b
2
∑
i6=j
mimj
|yi − yj |α≥ b
∑
i6=j
mimj
|yi − yj |α.
Do Lema 4.3.2, segue-se que I e coercivo sobre 4Nl . Seja yn = (y0n
, · · · , yNn) uma sequencia minimizante
para o funcional I, em 4Nl . Queremos mostrar que yn converge para uma funcao do interior de 4N
l , a
qual e solucao sem colisao de (4.2.15).
Primeiro do que tudo observe que
yn → y ∈ H1(S1; R2N+1)
com
I(y) ≤ lim infn→∞
I(yn).
Pois sendo I coercivo, podemos supor que a sequencia minimizante yn ∈ BR(0) que e um conjunto
fracamente compacto. Entao,
yn → y ∈ BR(0) ⊂ H1(S1; R2N+1)
e usando o Teorema de Sobolev e o Lema de Fatou, obtemos
I(y) ≤ lim infn→∞
I(yn).
Logo, o funcional I e, tambem, fracamente semi-contınuo inferiormente.
Alem disso,
yn ∈ 4Nl ⊂ 4N
l .
Como yn converge para y, e sendo 4Nl um conjunto fechado, obrigatoriamente y ∈ 4N
l .
117
Assim, pelo Teorema da Minimizacao Basica temos que y e o mınimo de I em 4Nl . Consequentemente
y e uma solucao de (4.2.15). Para mostrarmos que y e uma solucao sem colisao e suficiente verificarmos
que
y 6∈ ∂4Nl .
Do Lema 4.3.9, segue-se que vale a expressao (4.3.30), dada por
f(y0, · · · , yN ) ≤ 1
2
(1
2+
1
α
)a
2α+2α
2α+2ω
2αα+2
ρ2
α+2σα
α+2
Mα
α+2T.
Suponha, por contradicao, que y ∈ ∂4Nl . Podemos supor que existe i 6= j e t ∈ S1 tal que
yi(t) = yj(t).
Se assumirmos que i = 0, e j = 1. Entao por hipotese
I(y) ≥ m0
2
∫ T
0
|y′0(t)|2dt+m1
2
∫ T
0
|y′1|2dt+ b
∫ T
0
m0m1
|y0(t) − y1(t)|αdt
+N∑
i=2
mi
2
∫ T
0
|y′i(t)|2dt+ b∑
2≤i6=j≤N
∫ T
0
mimj
|yi(t) − yj(t)|αdt
e usando os Lemas 4.3.4 e 4.3.7, que estimam o ınfimo de I em ΓNl e 4N
l , respectivamente, encontramos
I(y) ≥ 1
2
(1
2+
1
α
)b
2α+2α
2α+2ω
2αα+2
2l2α
α+2m0m1
(m0 +m1)α
α+2+
∑
2≤i6=j≤N
mimj
(∑Ni=2mi
) αα+2
T (4.3.32)
As equacoes (4.3.30) e (4.3.32) contradiz (4.3.31). Esta contradicao implica que y esta no interior de 4Nl .
Concluindo a demonstracao do Teorema.
Comentario: Usamos o fato de 1 ≤ α ≤ 2 para podermos usar os Lemas 4.3.4 e 4.3.7.
Lema 4.3.11 Para obter (4.3.32) acima, assumimos que y0(t) = y1(t), mas na verdade (4.3.32) e sempre
valido em geral, desde que m0 ≤ m1 ≤ · · · ≤ mN .
Demonstracao: Isto e consequencia da seguinte desigualdade
2l2α
α+2mpmq
(mp +mq)α
α+2+
∑
i6=j, i,j 6= p,q
mimj
(∑Ni6=p,q mi
) αα+2
≥
2l2α
α+2m0m1
(m0 +m1)α
α+2+
∑
2≤i6=j≤N
mimj
(N∑
i=2
mi
) αα+2
T
118
desigualdade esta que segue-se dempmq
mp +mq
≥ m0m1
m0 +m1.
Que e sempre verdade desde que
(m0 +m1)(mpmq) ≥ (m0m1)(mp +mq)
que e equivalente a
(m0 +m1) ≥ (mp +mq)m0m1
mpmq
.
Mas isto sempre ocorre, pois sendo m0 ≤ · · · ≤ mN ⇒ m0m1
mpmq≤ 1.
Observacao: Notemos que (4.3.31) vale para quaisquer a > b e m0, · · · ,mN > 0, desde que l seja
suficientemente grande. Por exemplo, se N = 2 (o problema dos 3-corpos) e mi = 1 para todo i, temos
que (4.3.31) torna-se
(ab
) 2α+2
<3
αα+2
ρ2
α+2σα
α+2
2l2α
α+2
2α
α+2=
(3
2
) αα+2 2
ρ2
α+2σα
α+2
l2α
α+2 ,
o que implica
a
b< 2
(3
2
)α2 lα
ρσα2.
Mas, no problema dos tres corpos α = 1, entao σ = 72 e ρ = 8+4
√3√
3. Assim,
a
b<
3√
6
(8 + 4√
3)√
7l,
como3√
6
(8 + 4√
3)√
7≤ 1
3√
2
obtemos quea
b≤ l
3√
2
desde que a ≥ b, deduzimos que l ≥ 5.
Observacao: Nao podemos provar (e nao esperavamos) que a solucoes encontrada, via Teorema 4.3.10,
e diferente da solucao encontrada para o caso do potencial Newtoniano dos 3-corpos, onde
V ≡ −∑ mimj
|yi − yj |.
119
4.4 Uma nova solucao para o problema dos tres corpos
Nesta secao vamos estudar o caso correspondente ao problema planar dos tres corpos. Assim, a
equacao (4.2.15) resume-se a
−miy′′i (t) = ∇yi
V (y0, y1, y2); (i = 0, 1, 2).
Onde
V (y0, y1, y2) = −b∑
0≤i6=j≤2
mimj
|yi − yj |α; b > 0, 1 ≤ α ≤ 2.
Logo, o funcional considerado e da forma
I(y0, y1, y2) =2∑
i=0
mi
2
∫ T
0
|y′i(t)|2dt+ b∑
0≤i6=j≤2
mimj
|yi − yj |α.
Mostraremos que o problema dos tres corpos (α = 1) tem uma nova solucao (y0, y1, y2) que:
(a) Nao e uma solucao com colisao simultanea, ou colisao total (a ser definida abaixo);
(b) Nao se reduz a nenhuma solucao de equilıbrio relativo ja conhecida.
Definicao 4.4.1 Uma solucao com colisao simultanea, ou colisao total para a equacao (4.2.15) e uma
solucao generalizada (y0, y1, y2) de (4.2.15) tal que existe t∗ ∈ [0, T ] com y0(t∗) = y1(t
∗) = y2(t∗), isto
e, as tres partıculas colidem no instante t∗.
Observacao: Segue-se do Lema 4.3.4 que com ω = 2πT,
infΓ2
2
f ≥ 22α
α+2
2
(1
2+
1
α
)b
2α+2α
2α+2ω
2αα+2
(∑
i6=j
mimj
)
Mα
α+2T ≡ σ1. (4.4.33)
Para obtermos a estimativa (4.4.33) basta substituir o valor l = 2 na tese do Lema 4.3.4.
Consideremos tambem,
σ2 = T (ω2)α
α+2
(1
2α
2α+2 + α
−αα+2
)[(m1 −
m21
M
) αα+2
(m0m1)2
α+2
+ (k2)α
α+2
(m2 −
m22
M
) αα+2
(m0m2)2
α+2
]
120
+ T (ω2)α
α+2α−αα+2
m1m2∣∣∣∣(
m0Mm0+m2
) 1α −
(m0M
k2(m0+m1)
) 1α+2
∣∣∣∣α
e
µ(α, k,m0,m1,m2) =
(σ1
σ2
)α+22
.
O objetivo desta Secao seguira como corolario do seguinte Teorema
Teorema 4.4.2 Suponha V satisfazendo (V1)-(V4),(V 5)l, (V 6) e que
1 ≤ a
b< µ(α, k,m0,m1,m2) (4.4.34)
com k ımpar e b ≤ 1 e 1 ≤ α ≤ 2. Entao (4.2.15) tem pelo menos uma solucao generalizada y que nao e
uma solucao de (4.2.15) com colisao simultanea e que
y
(t+
T
l
)= −y(t).
Alem disso, se y = (y0, y1, y2) e uma solucao sem colisao, entao
grau(y1 − y0) = 1; grau(y2 − y0) = k
Demonstracao: Temos que
422 =
(y0, y1, y2) : yi ∈ H1(S1; R2); yi(t) 6= yj(t), ∀ t ∈ S1,
∀ i 6= j, yi
(t+
T
2
)= −yi(t) para i = 0, 1, 2
.
Se y ∈ H1(S1; R2 − 0
)e tal que y
(t+ T
2
)= −y(t), segue-se da Topologia Algebrica que grau(y) e
ımpar, (isto e uma consequencia do Teorema de Borsuk-Ulam, (veja [15], pp. 174)), a tıtulo de exemplo,
seja γ(t+ T
2
)= −γ(t), com γ(t) = ekit sendo t ∈ [0, T ] e T = 2π, entao grau(γ) = k. Mas
γ
(t+
T
2
)= γ(t+ π) = eik(t+π) = (−1)kγ(t).
Assim, γ(t+ T
2
)= −γ(t) se, e somente se, k e ımpar.
Considere
Λ(1,k) = (y0, y1, y2) ∈ 422 : grau(y1 − y0) = 1, grau(y2 − y0) = k.
121
onde k > 1 e um inteiro ımpar.
Observe que 422 e aberto no subespaco linear Λ0, de H1, onde
Λ0 =
(y0, y1, y2) : yi ∈ H1(S1; R2);
yi
(t+ T
2
)= −yi(t), para i = 0, 1, 2
,
ja que as funcoes yl sao contınuas com l = 0, 1, 2.
Note que, Λ(1,k) e nao vazio. De fato, considere
y0 = εeit, yi = eit, y2 = 2eikt
onde, k > 1 e ımpar e ε > 0 e suficientemente pequeno. Entao, como y1 − y0 esta proxima de y1 e y2 − y0esta proxima de y2, temos que
grau(y1 − y0) = grau(y1) = 1 e grau(y2 − y0) = grau(y2) = k.
Logo, (y0, y1, y2) ∈ Λ(1,k).
Observacao: Pela Proposicao A.2.7 do Apendice A, temos que Λ(1,k) e aberto em Λ0. Daı, os pontos
crıticos de I|Λ(1,k)sao pontos crıticos de I sobre o subespaco linear Λ0. Mas, como vimos na Secao 3.5, os
pontos crıticos de I|Λ0sao pontos crıticos de I sobre H1. Logo, por transitividade, temos que os pontos
crıticos de I|Λ(1,k)sao pontos crıticos de I sobre H1.
Denotaremos, tambem, por I a restricao de I a Λ(1,k). Portanto, pela Observacao, anterior os pontos
crıticos de I sobre Λ(1,k) sao solucoes de (4.2.15).
Estamos, agora, em condicoes de estudar o ınfimo de I sobre Λ(1,k). Para este proposito consideremos
as funcoes
x1(t) = R1[ξ cosωt+ η sinωt];
x2(t) = R2[ξ cos kωt+ η sin kωt];
onde k > 1 e ımpar e ξ, η ∈ R2, sao tais que |ξ|2 = |η|2 = 1, 〈ξ, η〉 = 0 e R1 e R2 sao constantes positivas.
Note que cos(ωt), sin(ωt) ∈ Λ1 e cos(kωt), sin(kωt) ∈ Λk.
122
Facamos agora
Rα+21 =
αm0a
ω2(1 − m1
M),
Rα+22 =
αm0a
ω2k2(1 − m2
M).
Logo, considerando
y0(t) = − 1
M(m1x1(t) +m2x2(t)) ;
y1(t) = x1(1) −1
M(m1x1(t) +m2x2(t)) = x1(t) + y0(t);
e
y2(t) = x2(1) −1
M(m1x1(t) +m2x2(t)) = x2(t) + y0(t).
Com estas escolhas para y0, y1, y2, apos alguns calculos algebricos, encontramos
I(y0, y1, y2) ≤ ω2T
2
((m1 −
m21
M)
)R2
1 + k2
((m2 −
m22
M)R2
2
)
+am0m1
Rα1
T +am0m2
Rα2
T + a
∫ T
0
m1m2
|x1(t) − x2(t)|αdt
≤ ω2T
2
((m1 −
m21
M
)R2
1 + k2
(m2 −
m22
M
)R2
2
)+am0m1
Rα1
T
+am0m2
Rα2
T +am1m2
|R1 −R2|αT
≤ Ta2
α+2 (ω2)α
α+2
(1
2α
2α+2 + α
−αα+2
)[(m1 −
m21
M
) αα+2
(m0m1)α
α+2
+ (k2)α
α+2
(m2 −
m22
M
) αα+2
(m0m2)2
α+2
]
+ T (ω2)α
α+2α−αα+2
a2
α+2m1m2∣∣∣∣(
m0Mm0+m2
) 1α+2 −
(m0M
k2(m0+m1)
) 1α+2
∣∣∣∣α
= σ2a2
α+2 .
Agora estamos em condicoes de comparar o ınfimo λc de I sobre o conjunto das colisoes simultaneas
e o ınfimo λ de I sobre Λ(1,k), vendo o funcional I como sendo a extensao de I sobre 42
2, ou como sua
restricao sobre Λ(1,k).
Afirmamos que
λ < λc,
123
sempre que
b2
α+2σ1
a2
α+2σ2
> 1
ou equivalentemente,
1 ≤ a
b< µ(α, k,m0,m1,m2),
onde b < 1.
De fato, sejam
λc = infΓ2
2
I; λ = inf∧(1,k)
I.
Entao
λ ≤ I(y0, y1, y2) ≤ σ2a2
α+2 < σ1b2
α+2 ≤ b2
α+2 infΓ2
2
I = b2
α+2λc,
sendo b ≤ 1, temos que λ < λc.
Logo, o mınimo de I sobre 422 e atingido em algum y ∈ Λ(1,k). E e naturalmente uma solucao de
(4.2.15).
Observacao: Esta solucao y nao coincide com nenhuma das solucoes triangulares de Lagrange (solucoes
de equilıbrio relativo do problema dos tres corpos, onde em cada instante as partıculas formam um
triangulo equilatero) e colineares de Euler (solucoes de equilıbrio relativo do problema dos tres corpos,
onde em cada instante as partıculas estao sobre uma reta), ja que estas sao solucoes circulares (onde
grau(xj) = 1, para j = 0, 1, 2). Em cada caso podemos tomar, sem perda de generalidade, x0 e x2
tais que grau(x2 − x0) = 1. E na nova solucao encontrada y ∈ Λ(1,k) ⊂ 422 (onde nao ocorre colisao),
grau(y1 − y0) = 1 e grau(y2 − y0) = k, com K > 1.
Corolario 4.4.3 Para caso do problema dos tres corpos
b = α = 1.
Portanto, temos que existe uma nova solucao y ∈ Λ(1,k), e que esta nao coincide com nenhuma solucao
de equilıbrio relativo padrao (as de Euler e de Lagrange).
124
Apendice A
Alguns resultados classicos da
Analise Funcional e Topologia
A.1 Alguns resultados da Analise Funcional
Definicao A.1.1 Seja E um espaco vetorial normado. Um hiperplano (afim) sobre E e um conjunto
da forma
H = x ∈ E : f(x) = α,
onde f e um funcional linear (nao necessariamente contınuo) sobre E, nao identicamente nulo e α ∈ R.
Se diz que H e o hiperplano de equacao (f = α).
Definicao A.1.2 Sejam A ⊂ E e B ⊂ E. Dizemos que o hiperplano H de equacao (f = α) separa A e
B em sentido amplo se verifica
f(x) ≤ α ∀ x ∈ A e f(x) ≥ α ∀ x ∈ B.
Dizemos que H separa A e B em sentido restrito se existe ε > 0 tal que
f(x) ≤ α− ε ∀ x ∈ A e f(x) ≥ α+ ε ∀ x ∈ B.
Observacao: Geometricamente a separacao significa que A e B se situa em lados opostos do hiperplano
H.
125
Proposicao A.1.3 O hiperplano de equacao (f = α) e fechado se, e somente se f e contınua
Demonstracao: (Veja [3], pp. 4).
Definicao A.1.4 Um conjunto A contido em um espaco de Banach E e dito convexo se
(tx+ (1 − t)y) ∈ E
para todo x y em E e para todo t em [0, 1].
Teorema A.1.5 (Teorema de Hahn-Banach-primeira forma geometrica) Sejam A ⊂ E e B ⊂ E
dois conjuntos convexos, nao vazios e disjuntos. Suponhamos que A e aberto. Entao existe um hiperplano
fechado que separa A e B em sentido amplo.
Demonstracao: (Veja [3], pp. 6).
Teorema A.1.6 (Teorema de Hahn-Banach-segunda forma geometrica) Sejam A ⊂ E e B ⊂ E
dois conjuntos convexos, nao vazios e disjuntos. Suponhamos que A e fechado e que B e compacto. Entao
existe um hiperplano fechado que separa A e B em sentido restrito.
Demonstracao: (Veja [3], pp. 7).
Teorema A.1.7 (Teorema de Banach-Steinhaus) Sejam E e F dois espacos de Banach. Seja
(Ti)i∈λ uma famılia (nao necessariamente enumeravel) de operadores lineares e contınuos de E em F.
Suponhamos que
supi∈λ
‖Tix‖ <∞ ∀x ∈ E.
Entao, denotando o espaco dos operadores lineares e contınuos por L(E ,F), temos
supi∈λ
‖Ti‖L(E,F) <∞,
126
De outra forma, existe uma constante c tal que
‖Tix‖ ≤ c‖x‖ ∀x ∈ E, ∀ i ∈ λ.
Demonstracao: (Veja [3], pp. 17).
Lema A.1.8 (Lema de Fatou) Se fn : X → [0,∞] e mensuravel para cada inteiro positivo n, entao∫
X
(lim inf
n→∞fn
)dµ ≤ lim inf
n→∞
∫
X
fndµ.
Demonstracao: (Veja [20], pp. 23).
A.2 Alguns resultados da Topologia e Topologia Algebrica
Iniciemos esta Secao demonstrando um importante resultado da Topologia, e que foi usado na Secao
4.2.
Teorema A.2.1 Em um espaco de Hausdorff, todo conjunto compacto e fechado.
Demonstracao: Se F e um conjunto compacto em um espaco de Hausdorff, e x 6∈ F, entao x e F sao
conjuntos compactos distintos e portanto separados, digamos por vizinhancas Ux e Ux. Entao o conjunto
⋃Ux : x 6∈ F
e aberto, pois e a uniao de uma colecao de conjuntos abertos. Mas
F =
[ ⋃
x6∈F
Ux
]c
.
Logo, F e fechado.
Teorema A.2.2 (Teorema de Borsuk-Ulam) Uma aplicacao ımpar f : Sn → Sn, satisfazendo f(−x) =
−f(x) para todo x deve ter grau ımpar.
127
Demonstracao: (Veja [15], pp. 174).
Definicao A.2.3 Sejam X e Y dois espacos e I = [0, 1]. Duas aplicacoes f, g : X → Y sao chamadas
homotopicas (e denotamos f ' g) se existir uma aplicacao contınua Φ : X×I → Y tal que Φ(x, 0) = f(x)
e Φ(x, 1) = g(x) para cada x ∈ X.
Teorema A.2.4 Sejam X e Y espacos topologicos
(1) Se f ' g, entao f e g estao na mesma componente conexa
(2) Se f e g estao numa mesma componente conexa, entao f ' g, contanto que Y seja um espaco vetorial.
Demonstracao: (Veja [11], pp. 320).
Teorema A.2.5 (H. Hopf) Seja n ≥ 1. Duas aplicacoes de Sn sobre Sn sao homotopicas se e somente
se elas tem o mesmo grau.
Demonstracao: (Veja [11], pp. 352).
Observacao: Um consequencia deste ultimo Teorema e que se f, g : R2 − 0 → R
2 − 0. Entao f ' g
se e somente se f e g tem o mesmo grau.
Proposicao A.2.6 Sejam f, g : X → Ω, duas aplicacoes contınuas, onde X e um compacto e Ω e um
aberto de um espaco linear normado W. Se existe
ε > 0, d(f(x), g(x)) < ε,
(onde, d indica a distancia de f a g, que pode sempre ser definida num espaco linear). Entao temos que
f ' g.
Demonstracao: Tome ε = 12d(f(x),Ωc), e defina H : X × [0, 1] → Ω, por
H(x, t) = tf(x) + (1 − t)g(x),
128
note que
(tf(x) + (1 − t)g(x)) ∈ Ω, H(x, 0) = g(x) e H(x, 1) = f(x).
Portanto, H e uma homotopia.
Considere os seguintes conjuntos em H1
Λ0 =
(y0, y1, y2) : yi ∈ H1(S1; R2);
yi
(t+ T
2
)= −yi(t) para i = 0, 1, 2
.
422 =
(y0, y1, y2) : yi ∈ H1(S1; R2); yi(t) 6= yj(t) ∀ i 6= j
yi
(t+ T
2
)= −yi(t) para i = 0, 1, 2
.
Λ(1,k) = (y0, y1, y2) ∈ 422 : grau(y1 − y0) = 1, grau(y2 − y0) = k.
onde k > 1 e um inteiro ımpar. Entao temos o seguinte resultado
Proposicao A.2.7 O conjunto Λ(1,k) e aberto em Λ0.
Demonstracao: Mostraremos que Λc(1,k), o complementar de Λ(1,k), e fechado. Para isto, seja yn =
(yn0 , y
n1 , y
n2 ) uma sequencia em Λc
(1,k). Entao
grau(yn1 − yn
0 ) 6= 1 ou grau(yn2 − yn
0 ) 6= k.
Sem perda de generalidade, podemos supor que grau(yn1 − yn
0 ) 6= 1. Suponha, agora que
yn → y = (y0, y1, y2) ∈ Λ.
Assim, yn1 − yn
0 esta proximo de y1 − y0 e yn2 − yn
0 esta proximo de y2 − y0. Entao para n suficientemente
grande, temos que existe um ε > 0, tal que
d(yn1 − yn
0 , y1 − y0) < ε.
Logo, pela proposicao anterior temos, grau(y1 − y0) = grau(yn1 − yn
0 ) 6= 1. Portanto, Λc(1,k) e fechado.
129
Apendice B
Topologia fraca
Sejam E um espaco de Banach, E ′ seu dual e f ∈ E′. Se designarmos por
ϕf : E → R
a aplicacao dada por
ϕf (x) = f(x).
Quando f percorre E′ obtemos uma famılia (ϕf )f∈E′ de aplicacoes de E em R.
Definicao B.0.8 Sejam E um espaco de Banach e E ′ seu dual. A topologia fraca sobre E, designada
por σ(E,E′), e a topologia menos fina (no sentido de ter menos abertos), de tal forma que todas as
aplicacoes (ϕf )f∈E′ sejam contınuas.
Notacao: Dada uma sequencia xn em E, se designa por xn x convergencia de xn na topologia fraca
σ(E,E′). Se xn → x, diz-se as vezes que a convergencia e forte quando ‖xn − x‖ → 0.
Lema B.0.9 (Lema da Convergencia Fraca) Seja xn uma sequencia que converge fracamente para
x. Entao
(i) O limite fraco x de xn e unico.
(ii) Toda subsequencia de xn converge fracamente para x.
130
(iii) A sequencia xn e limitada.
Demonstracao: (Veja [17], pp. 258).
Definicao B.0.10 Seja F um subconjunto de H1. Dizemos que F e fracamente fechado se para toda
sequencia xn em F existir uma subsequencia xnke um x em F, tal que xn converge fracamente para x.
Definicao B.0.11 Seja K um subconjunto de H1. Dizemos que K e fracamente compacto se ele for
fracamente fechado e limitado na norma ‖ · ‖H1 .
Observacao: Quando E e de dimensao finita a topologia fraca coincide com a topologia forte. (Veja [3],
pp. 41).
Proposicao B.0.12 A topologia fraca σ(E,E ′) e separavel (Hausdorff)
Demonstracao: Sejam x1 e x2 elementos de E com x1 6= x2. Queremos construir abertos A e B da
topologia fraca σ(E,E′) tais que x1 ∈ A, x2 ∈ B com A ∩ B = ∅. Pelo Teorema de Hahn-Banach
(segunda forma geometrica) existe um hiperplano fechado que separa x1 e x2 no sentido restrito.
Assim, existem f ∈ E′ e α ∈ R tais que
f(x1) < α < f(x2).
Facamos
A = x ∈ E : f(x) < α = ϕ−1f ((−∞, α)) ,
e
B = x ∈ E : f(x) > α = ϕ−1f ((α,∞)) .
Entao, A e B sao dois conjuntos abertos de σ(E,E ′) e se verifica x1 ∈ A, x2 ∈ B e A∩B = ∅. Portanto,
σ(E,E′) e separavel.
131
Proposicao B.0.13 Seja xn uma sequencia em E. Entao se verifica as seguintes condicoes:
(a) xn x (i.e. xn converge para x em σ(E,E ′)) se, e somente se f(xn) converge para f(x), para todo
f em E′.
(b) Se xn → x, fortemente, entao xn x fracamente.
(c) Se xn x fracamente em σ(E,E′), entao ‖xn‖ ≤ const. e
‖x‖ ≤ lim infn→∞
‖xn‖.
(d) Se xn x fracamente em σ(E,E′)e se fn → f fortemente em E′ (i.e., ‖fn − f‖ → 0), entao
f(xn) → f(x).
Demonstracao: (Veja [3], pp. 36).
Seja Σ∞ o espaco de todas as aplicacoes λ-periodicas, de classe C∞, de R em RN . Os espacos de
Sobolev Σi = Σi(λ; RN ), i = 0, 1, sao definidos como o completamento de Σ∞ com respeito a norma ‖·‖i.
Entao, conforme [13], temos os seguintes resultados bem conhecidos:
Teorema B.0.14 (Teorema de Rellich) Σ1 ⊂ Σ0, e a injecao Σ1 → Σ0, e compacta.
Teorema B.0.15 (Teorema de Sobolev) Convergencia fraca em Σ1 implica convergencia uniforme
em C0(R).
132
Apendice C
Espacos de Sobolev
Seja I = (a, b) um intervalo limitado ou nao e seja p ∈ R com 1 ≤ p ≤ ∞. Considere Ckc (I) como o
conjunto das funcoes definidas com derivadas de ordem k contınuas e com suporte compacto em I.
Definicao C.0.16 O espaco de Sobolev W 1,p(I) se define por
W 1,p(I) =
u ∈ Lp(I) : ∃ g ∈ Lp tal que
∫
I
uϕ′ = −∫
I
gϕ ∀ ϕ ∈ C1c (I)
.
Se representa
H1(I) = W 1,2(I).
Para cada u ∈W 1,p(I) se denota u′ = g.
Observacao: Na definicao de W 1,p(I) se diz que ϕ e uma funcao de teste. Se pode utilizar indistinta-
mente C1c (I) ou C∞
c (I) como conjunto de funcoes de teste, (veja [3], pp. 120).
Observacao: E claro que se u ∈ C1 ∩ Lp(I) e se u′ ∈ Lp(I) (aqui u′ denota a derivada de u no sentido
usual), entao u ∈W 1,p(I). Alem disso a derivada usual de u coincide com a derivada de u no sentido de
W 1,p(I).
Notacoes: O espaco W 1,p esta dotado da norma
‖u‖W 1,p = ‖u‖pLp + ‖u′‖p
Lp1p .
133
O espaco H1 esta dotado do produto interno
〈u, v〉H1 = 〈u, v〉L2 + 〈u′, v′〉L2 ;
cuja norma associada e
‖u‖H1 =(‖u‖2
L2 + ‖u′‖2L2
) 12
que e equivalente a norma W 1,2.
Proposicao C.0.17 O espaco W 1,p e um espaco de Banach para 1 ≤ p ≤ ∞.
Demonstracao: Seja un uma sequencia de Cauchy em W 1,p, entao un e u′n sao sequencias de
Cauchy em Lp. Por conseguinte un → u em Lp e u′n → g em Lp. Assim, tem-se∫
I
unϕ′ = −
∫
I
u′nϕ ∀ϕ ∈ C1c (I),
aplicando o limite quando n→ ∞, obtemos∫
I
uϕ′ = −∫
I
gϕ ∀ϕ ∈ C1c (I).
Portanto u ∈W 1,p, u′ = g e ‖un − u‖W 1,p → 0.
Proposicao C.0.18 O espaco W 1,p e reflexivo para 1 ≤ p ≤ ∞. E o espaco H1 e um espaco de Hilbert
separavel.
Demonstracao: (Veja [3], pp. 121).
Observacao: A propriedade de reflexibilidade e uma vantagem do espacoW 1,p. Em problemas de Calculo
Variacional se utiliza preferencialmente W 1,p em lugar de C1, que nao e reflexivo.
As funcoes de W 1,p sao a grosso modo primitivas de funcoes de Lp, isto sera formulado no seguinte
Teorema
Teorema C.0.19 Seja u ∈W 1,p(I); entao existe uma funcao u ∈ C(I) tal que
u = u, q.t.p. em I
134
e
u(x) − u(y) =
∫ x
y
u′(t)dt ∀ x, y ∈ I.
Demonstracao: (Veja [3], pp. 123).
Comentario: O Teorema acima afirma que toda funcao u de W 1,p admite um representante contınuo (e
so um), isto e, existe uma funcao contınua pertencente a classe de equivalencia de u pela relacao u ∼ v
se u = v q.t.p.
Comentario: Para definir W 1,p se pode utilizar a teoria de distribuicoes (apresentamos uma introducao
no Apendice D). Toda funcao u ∈ Lp(I) admite derivada no sentido de distribuicao, que e um elemento
de D′. Se diz que u ∈ W 1,p se sua derivada no sentido de distribuicao coincide no espaco D
′ com uma
funcao de Lp. (Veja [22]).
Teorema C.0.20 (Densidade) Seja u ∈ W 1,p(I) com 1 ≤ p ≤ ∞. Entao existe uma sequencia unem C∞
c (R) tal que un|I → u em W 1,p(I).
Demonstracao: (Veja [3], pp. 127).
Teorema C.0.21 Existe uma constante C (dependendo apenas da medida de I que e ≤ ∞ ) tal que
‖u‖L∞(I) ≤ C‖u‖W 1,p(I), ∀u ∈ W 1,p(I), ∀ 1 ≤ p ≤ ∞. De outra forma W 1,p(I) ⊂ L∞(I) com injecao
contınua para todo 1 ≤ p ≤ ∞. Alem disso, quando I e limitado se verifica:
(a) A injecao W 1,p(I) ⊂ C0(I) e compacta para 1 ≤ p ≤ ∞.
(b) A injecao W 1,1(I) ⊂ Lq(I) e compacta para 1 ≤ q <∞.
Demonstracao: (Veja [3], pp. 127).
135
Apendice D
Nocoes de distribuicoes
Definicao D.0.22 Seja Ω ⊆ Rn um aberto e C∞
c (Ω) o conjunto das funcoes de classe C∞ com suporte
compacto sobre Ω. Um funcional linear contınuo u : C∞c (Ω) → C e dito uma distribuicao em Ω. O espaco
das distribuicoes em Ω se denota por D′(Ω).
A definicao significa que se φ1, φ2 ∈ C∞c (Ω), λ ∈ C e (φj) e uma sequencia em C∞
c (Ω),
u(φ1 + λφ2) = u(φ1) + λu(φ2) (linearidade)
φj → 0 em C∞c (Ω) ⇒ u(φj) → 0 = u(0). (continuidade)
As vezes, e conveniente escrever 〈u, φ〉 em vez de u(φ).
Exemplo D.0.23 Considere Ω = Rn, e defina 〈δ, φ〉 = φ(0), φ ∈ C∞
c (Rn). O funcional δ e claramente
linear e contınuo. Esta distribuicao e chamada ”delta de Dirac”.
Exemplo D.0.24 Definamos 〈T, φ〉 =∫∞−∞ |t|φ′(t)dt, φ ∈ C∞
c (R), a linearidade e clara, e se o suporte
de φ, S(φ), esta contido em [−a, a] e φ′j(t) → 0 uniformemente, segue-se que
|〈T, φj〉| ≤ 2a2 supt
|φ′j(t)| → 0.
Exemplo D.0.25 Seja L1loc(Ω) o espaco das funcoes localmente integraveis sobre Ω. Considere f ∈
136
L1loc(Ω), Ω ⊆ R
n, e defina
〈Tf , φ〉 =
∫
Ω
fφdx, φ ∈ C∞c (Ω).
A linearidade e clara, e a continuidade decorre da estimativa
|〈Tf , φ〉| ≤ supt
|φ(t)|∫
S(φ)
|f |dx.
Observacao: E interessante notar que se 〈Tf , φ〉 = 〈Tg, φ〉 ∀φ ∈ C∞c (Ω) e f, g ∈ L1
loc(Ω), entao f =
g, q.t.p.
Abandonaremos agora a notacao provisoria Tf e escrevemos simplesmente
〈f, φ〉 =
∫fφdx.
Isto equivale a identificar qualquer funcao localmente integravel f, com o funcional Tf definido no Exemplo
D.0.23. Esta identificacao permite considerar muitos espacos de funcoes, como Lp(Ω), 1 ≤ p ≤ ∞, e
Ck(Ω), 1 ≤ k ≤ ∞, como subespacos de D′(Ω). E neste sentido que as distribuicoes sao consideradas como
”funcoes generalizadas”. De agora em diante a identificacao f → Tf sera feita sem maiores comentarios.
D.1 Operacao com distribuicao
A soma e o produto por escalar de distribuicoes define-se de maneira obvia. Se u1, u2 ∈ D′(Ω), φ ∈
C∞c , λ ∈ C,
〈u1 + u2, φ〉 = 〈u1, φ〉 + 〈u2, φ〉
〈λu1, φ〉 = λ〈u1, φ〉.
A filosofia geral para definir operacoes nas distribuicoes e a seguinte. Suponhamos que existam dois
operadores lineares contınuos L e L′ de C∞c (Ω) em C∞
c tais que∫
Ω
(Lφ)ψdx =
∫
Ω
φ(L′ψ)dx, φ, ψ ∈ C∞c (Ω). (D.1.1)
Quando isto acontece diz-se que L e o transposto formal de L′ e vice versa. A continuidade de L (ou L′)
significa simplesmente que Lφj → 0 (ou L′φj → 0,) sempre que φj → 0 em C∞c . Note que por hipotese
φ, Lφ, ψ, Lψ ∈ C∞c (Ω) ⊆ L1
loc(Ω) ⊆ D′(Ω)
137
e portanto (D.1.1) pode ser escrito na forma
〈Lφ,ψ〉 = 〈φ,L′ψ〉.
Neste caso, e possıvel estender o operador L a um operador L : D′(Ω) → D
′(Ω).
De fato, definamos
〈Lu, ψ〉 = 〈u, L′ψ〉, u ∈ D′(Ω), ψ ∈ C∞
c (Ω). (D.1.2)
E claro que Lu e um funcional linear em C∞c (Ω). Alem disso, se ψj → 0 em C∞
c (Ω), L′ψj → 0 em C∞c (Ω),
e portanto 〈u, L′ψj〉 → 0, o que significa Lu ∈ D′(Ω). Finalmente, se u ∈ C∞
c , resulta de (D.1.1) que
∫(Lu)ψdx = 〈Lu, ψ〉,
isto e, Lu ∈ L1loc e Lu = Lu. Em outras palavras L e uma extensao de L. Normalmente se usa a mesma
notacao L, tanto para o operador original quanto para sua extensao L.
Comentario: Nos exemplos abaixo Ω representara um aberto do Rn.
Exemplo D.1.1 (Produto por uma funcao C∞) Seja f ∈ C∞c (Ω) e definamos o operador contınuo
L : C∞c (Ω) → C∞
c (Ω) por (Lφ)(x) = f(x)φ(x). Naturalmente L = L′ satisfaz (D.1.1) e a operacao
”multiplicacao por f”fica definida para qualquer distribuicao por meio da expressao
〈fu, φ〉 = 〈u, fφ〉. (D.1.3)
Exemplo D.1.2 (Derivacao) Sejam (x1 · · · , xn) coordenadas cartesianas em Ω e definamos L = ∂∂xj
.
Integrando por partes em relacao a variavel xj , obtemos
∫
Ω
∂φ
∂xj
ψdx = −∫
Ω
φ∂ψ
∂xj
dx.
O termo nao integrado e nulo porque as funcoes φ, ψ sa nulas fora de um compacto. Entao − ∂∂xj
e o
transposto formal de ∂∂xj
, e podemos definir
⟨∂u
∂xj
, φ
⟩= −
⟨u,
∂φ
∂xj
⟩. (D.1.4)
Exemplo D.1.3 (Operadores diferenciais) Um operador diferencial linear com coeficientes C∞ e
uma combinacao linear de derivacoes e multiplicacoes por funcoes C∞. Se L e um tal operador, e possıvel
138
achar L′ aplicando sucessivamente (D.1.3) e (D.1.4). Por exemplo, se L = 4 =(
∂∂x1
)2
+ · · ·+(
∂∂x1n
)2
duas aplicacoes de (D.1.4) resulta em
〈4u, φ〉 = 〈u,4φ〉, u ∈ D′(Ω), φ ∈ C∞
c (Ω). (D.1.5)
Exemplo D.1.4 (Mudanca de variaveis) Seja Φ : Ω → Ω um difeomorfismo de classe C∞ e defi-
namos Lφ = φΦ, φ ∈ C∞c (Ω). Note que S(φΦ) = Φ−1(S(φ)) e portanto Lφ ∈ C∞
c (Ω). Para encontrar
L′ aplicamos o Teorema da mudanca de variaveis na seguinte integral∫
Ω
φ(Φ(y))ψ(y)dy =
∫
Ω
φ(x)ψ(Φ−1(x))|J(Φ−1)(x)|dx. (D.1.6)
onde J(Φ−1) e o jacobiano de Φ−1. Isto nos leva a definir L′ψ = |J(Φ−1)|ψ Φ−1. Lembremo-nos que
|J(Φ−1)| 6= 0∀x ∈ Ω. Assim, quando u ∈ D′(Ω), definimos entao,
〈u Φ, φ〉 = 〈u, (φ Φ−1)|J(Φ−1)|〉. (D.1.7)
Exemplo D.1.5 Seja a ∈ Rn, Φ : R
n → Rn, definida por Φ(x) = x − a. Definamos a translacao de
φ(x) ∈ C∞c como a funcao
φa(x) = φ(x− a).
Se u ∈ D′(Rn), a translacao de u se define usando (D.1.7), ou seja
〈ua, φ〉 = 〈u, φ(x+ a)〉. (D.1.8)
Exemplo D.1.6 Seja Ω um aberto simetrico em relacao a origem e consideremos Φ(x) = −x. Definamos
a translacao de
φR(x) = φ(−x)
para φ ∈ C∞c e assim se u ∈ D
′(Rn), a rotacao de u se define por
〈uR, φ〉 = 〈u, φR〉, u ∈ D′(Ω), φ ∈ C∞
c (Ω). (D.1.9)
D.2 Derivada distribucionais e derivadas classicas
Se f(x) ∈ C1(R), a formula de integracao por partes prova que a derivada de f no sentido de dis-
tribuicoes dada pela formula (D.1.4) coincide com a distribuicao definida pela funcao contınua dfdx. Por-
tanto, para funcoes suficientemente regulares as derivadas no sentido usual e no sentido das distribuicoes
139
coincidem. Vejamos o que acontece com funcoes de uma variavel que apresentam uma descontinuidade
de primeira especie na origem. Mais precisamente, suponhamos que f ∈ C1(R − 0) e que os limites
laterais
limx→0−
f(x) = f(0−) e limx→0+
f(x) = f(0+)
existem e sao finitos. Denotaremos por f ′ a funcao definida como dfdx
para x 6= 0 e nao definida
para x = 0, e suponhamos ainda que f ′ ∈ L1loc(R). Para calcular f ′ (a derivada de f no sentido das
distribuicoes) basta observar que se φ ∈ C∞c (R), S(φ) ⊆ [−N.N ]
〈f ′, φ〉 = −〈f, φ′〉 = − limε→0
[∫ −ε
−N
fφ′]dx− lim
ε→0
[∫ N
ε
fφ′]dx
= limε→0
[∫ −ε
−N
f ′φ
]dx+ lim
ε→0
[∫ N
ε
f ′φ
]dx− lim
ε→0
[f(x)φ(x)|−ε
−N + f(x)φ(x)|εN]
= [f(0+) − f(0−)]φ(0) +
∫ ∞
−∞f ′φdx.
Assim,
〈f ′, φ〉 = [f(0+) − f(0−)]φ(0) +
∫ ∞
−∞f ′φdx. (D.2.10)
Um caso particular importante se obtem quando f(x) = H(x)= funcao de Heaviside, que vale 1 se x > 0
e vale 0 se x < 0 (como funcao de L1loc nao precisa estar definida na origem). Claramente
H(0+) = 1, H(0−) = 0 e H ′ = 0.
Assim
〈H ′, φ〉 = [H(0+) −H(0−)]φ(0) +
∫ ∞
−∞H ′φdx = φ(0) = 〈δ, φ〉. (D.2.11)
Obtemos assim a distribuicao do Exemplo D. 0.21, como a derivada de H(x). Por conseguinte, a formula
(D.2.10) pode ser escrita como
f ′ = f + [f(0+) − f(0−)]δ. (D.2.12)
Por conseguinte e possıvel fazer com que uma funcao nao localmente integravel defina uma distribuicao.
Um tal exemplo ocorre com f(x) = 1x
em R. A integral de f(x) = 1|x| em qualquer vizinhanca da origem
e infinita e f 6∈ L1loc. Entretanto, para x 6= 0, d
dx(log|x|) = 1
xe g(x) = log|x| e localmente integravel, ja
que ∣∣∣∣∫ 1
−1
log|x|dx∣∣∣∣ = 2
140
e log|x| e contınua para x 6= 0. Podemos entao ”chutar”como distribuicao
〈g′, φ〉 = −〈g, φ〉.
Se S(φ) ⊆ [−N,N ] e φ ∈ C∞c (R), temos
−∫log|x|φ′(x)dx = − lim
ε→0
[∫ −ε
−N
log|x|φ′(x)dx]− lim
ε→0
[∫ N
ε
log|x|φ′(x)dx]
= limε→0
[∫
|x|>ε
φ′(x)
xdx+ (φ(ε) − φ(−ε))logε
].
Onde, a ultima igualdade foi obtida usando integracao por partes em ambos intervalos de integracao. A
desigualdade do valor medio permite concluir que
|φ(ε) − φ(ε)| ≤ supt
|φ′(t)|2ε.
Como limε→0 logε = 0, obtemos
−〈log|x|, φ′〉 = limε→0+
∫
|x|>0
φ(x)
xdx. (D.2.13)
A distribuicao dada pelo membro direito de (D.2.13) se conhece com o nome de valor principal de 1x
e se
denota por v.p. 1x.
Observacao: Se f ∈ C∞, φ ∈ C∞c , temos
〈fδ, φ〉 = 〈δ, fφ〉 = f(0)φ(0) = 〈f(0)δ, φ〉
o que significa que fδ = f(0)δ, e so o valor de f em x = 0 e relevante no produto fδ. Analogamente
〈fδ′, φ〉 = 〈δ′, fφ〉 = −〈δ, f ′φ+ fφ′〉 = 〈f(0)δ′ − f ′(0)δ, φ〉,
ou seja, fδ′ = f(0)δ′ − f ′(0)δ.
Observacao: E de facil verificacao que a regra de Leibniz para a derivada do produto de duas funcoes,
se mantem quando um dos fatores e uma distribuicao. De fato, se u ∈ D′(Ω), f ∈ C∞ e φ ∈ C∞
c (Ω),
temos⟨∂(uf)
∂xj
, φ
⟩= −
⟨uf,
∂φ
∂xj
⟩= −
⟨u, f
∂φ
∂xj
⟩= −
⟨u,∂(fφ)
∂xj
− φ∂f
∂xj
⟩
=
⟨f∂u
∂xj
+∂u
∂xj
u, φ
⟩,
141
ou seja,∂(uf)
∂xj
= f∂u
∂xj
+∂f
∂xj
u. (D.2.14)
Vejamos agora que o comentario feito no inıcio desta Secao pode se estender a funcoes contınuas se a
derivada distribucional tambem for contınua.
Teorema D.2.1 Se u e f sa contınuas em Ω ⊂ Rn e ∂u
∂xj= f, entao u e diferenciavel em relacao a xj
e ∂u∂xj
= f, no sentido classico.
Demonstracao: (Veja [16], pp. 23).
D.2.1 Calculo Variacional em distribuicoes
No Calculo Variacional classico se considera uma funcao de tres variaveis F (α, β, γ) suficientemente
diferenciavel e se procura minimizar o funcional dado pela integral
I(u) =
∫ b
a
F (x, u(x), u′(x))dx
na classe das funcoes u(t), continuamente diferenciaveis em [a, b]. Se u e uma solucao do problema e
φ ∈ C∞c (a, b), a funcao
g(t) = I(u+ tφ), t ∈ R
tem um mınimo para t = 0, e consequentemente g′(0) = 0. Derivando sob o sinal de integracao, obtemos
g′(0) =d
dtg(t)|t=0 =
d
dtI(u+ tφ)|t=0 =
d
dt
(∫ b
a
F [x, u(x) + tφ, u′(x) + tφ′(x)] dx
)|t=0
=
∫ b
a
d
dt(F [x, u(x) + tφ, u′(x) + tφ′(x)]) |t=0dx.
Assim,
g′(0) =
∫ b
a
[∂F
∂uφ+
∂F
∂u′φ′]dx = 0, φ ∈ C∞
c ((a, b)). (D.2.15)
As funcoes de x,∂F
∂u(x, u(x), u′(x)) e
∂F
∂u′(x, u(x), u′(x))
142
sao contınuas e a equacao (D.2.15) implica que a primeira e a derivada no sentido de distribuicao da
segunda, pois ∫ b
a
[∂F
∂uφ
]dx = −
∫ b
a
[∂F
∂u′φ′]dx.
Mas, o Teorema anterior afirma que, de fato, esta e uma derivada no sentido classico. Entao, a funcao
minimal u(t) se existir, deve satisfazer as conhecidas equacoes de Euler-Lagrange
d
dt
∂F
∂u′=∂F
∂u. (D.2.16)
Este resultado foi obtido por Du Bois-Reymoud no seculo XIX.
Exemplo D.2.2 Se quisermos achar uma curva plana u(x), de comprimento mınimo, que liga a origem
ao ponto (1,b), devemos considerar a integral
∫ 1
0
√1 + u′2dx.
A equacao (D.2.16) se reduz neste caso a
d
dx
(1√
1 + u′2
)= 0.
Segue-se que u′ deve ser constante e o traco de u(x) sera uma reta.
D.3 Derivadas e primitivas
Se f e diferenciavel no intervalo (a, b) e f ′ = 0 neste intervalo, o Teorema do Valor Medio implica que
f e constante em (a, b). E significativo que o mesmo resultado seja satisfeito para derivadas no sentido
de distribuicoes. Isto sera formulado no seguinte Teorema
Teorema D.3.1 Se u ∈ D′(a, b) e u′ = 0 em (a, b). Entao u e constante em (a, b).
Demonstracao: (Veja [16], pp. 25).
Corolario D.3.2 Se u ∈ D′((a, b)) e u(k) = 0, entao u e um polinomio de grau ≤ k − 1.
143
Demonstracao: O Teorema anterior prova o caso em que k = 1. Suponha como hipotese de inducao
que o resultado seja valido para k−1. Daı se u(k) = 0, entao escrevendo v = u(k−1) e aplicando o Teorema
anterior a V, concluimos que existe uma constante c tal que v = c. Entao,(u− c
xk−1
(k − 1)!
)k−1
= u(k−1) − c = v − c = 0
e pela hipotese de inducao, temos
u− cxk−1
(k − 1)!=
k−2∑
j=0
ajxj
com aj ∈ R e j = 1, · · · , k − 2.
Corolario D.3.3 Toda distribuicao u ∈ D′(a, b) tem uma primitiva.
Demonstracao: (Veja [16], pp. 27).
Observacao: Note a semelhanca do Corolario D.3.3 com O Teorema C.0.17.
D.4 Operadores elıpticos
Definicao D.4.1 Se u ∈ D′
(Ω) definimos o suporte de u, S(u), como a intersecao de todos os fechados
de Ω fora dos quais u e nulo.
Observacao: E possıvel mostrar que esta definicao coincide com a definicao de suporte de u, vendo u
como funcao, isto e, (o fecho x : u(x) 6= 0). (Veja [16], pp. 36).
De maneira analoga temos a seguinte definicao
Definicao D.4.2 Se u ∈ D′
(Ω) definimos o suporte singular de u, SS(u), como a intersecao de todos os
fechados de Ω fora dos quais u e C∞.
Dizer que u e C∞ num aberto U e dizer que existe uma funcao f ∈ C∞(U) tal que
〈u, φ〉 =
∫fφdx = 〈f, φ〉 para toda φ ∈ C∞
c .
144
Definicao D.4.3 Dizemos que operador diferencial
P (x,Dx) =∑
|α|≤m
aα(x)Dα
com coeficientes em C∞ e localmente resoluvel em Ω se todo ponto de Ω tem uma vizinhanca U tal que
para todo f ∈ C∞c (U) existe u ∈ D
′
tal que
Pu = f.
Definicao D.4.4 Um operador diferencial
P (x,D) =∑
|α|≤m
aα(x)Dα
definido em Ω ⊆ Rn se diz elıptico no ponto x0 ∈ Ω se
Pm(x0, ξ) =∑
|α|=m
aα(x0)ξα 6= 0 para todo ξ 6= 0, ξ ∈ R
n.
Observacao: Se P (x,D) e elıptico em todos os pontos de Ω, dizemos que P (x,D) e elıptico em Ω.
Exemplo D.4.5 O operador
4 = −D2x −D2
y
e elıptico, ja que
4m(ξ) = −ξ21 − ξ22 .
Definicao D.4.6 Um operador P (x,D) definido em Ω ⊆ Rn e dito hipoelıptico se SS(Pu) = SS(u) para
todo u ∈ D′
.
Exemplo D.4.7 O operadord
dxe hipoelıptico em R.
De fato, se f ∈ C∞(a, b), u ∈ D′
(a, b) e u′ = f, entao escrevendo
g(x) =
∫ x
0
f(t)dt
com a < b < c, temos que (u− g)′
= 0. Logo, do Teorema D.3.1, resulta que u = g+ constante. Portanto
u ∈ C∞(a, b).
145
Definicao D.4.8 Seja
P (D) =∑
|α|≤m
aαDα, aα∈C,
um operador com coeficientes constantes em Rn. Dizemos que E ∈ D
′
(Rn) e uma solucao fundamental
de P se
P (D)(E) = δ.
Teorema D.4.9 Se o operador com coeficientes constantes P (D) admite uma solucao fundamental E
que e de classe C∞ fora da origem, entao P (D) e hipoelıptico. Reciprocamente, se P (D) e hipoelıptico e
E e uma solucao fundamental de P (D), entao E e C∞ em Rn − 0.
Demonstracao: (Veja [16], pp. 129).
D.5 Derivada de Frechet e derivada de Gateaux
Nesta seccao consideraremos L e M como espacos lineares normados.
Seja f uma funcao definida sobre um conjunto aberto U ⊆ L, assumindo valores sobre M.
Definicao D.5.1 Dizemos que f e diferenciavel segundo Frechet, se existir uma transformacao
linear T : L→M tal que, para todo h em L suficientemente pequeno,
f(x0 + h) = f(x0) + T (h) + ‖h‖ε(x0, h),
onde ε(x0, h) ∈ M tende para zero quando ‖h‖ → 0. A transformacao linear T e chamada deivada de
Frechet de f em x0 e e denotada por f ′(x0).
Definicao D.5.2 Dizemos que f e diferenciavel segundo Gateaux em x0 se a derivada direcional
f ′(x0; v) existir para cada v ∈ L, isto e, se
limt→0
f(x0 + tv) − f(x0)
t= f ′(x0; v),
existir para cada v ∈ L.
146
Teorema D.5.3 Seja f uma funcao convexa definida sobre um conjunto aberto convexo U ⊆ Rn, e seja
E o subconjunto de U onde f e diferenciavel segundo Frechet. Entao f ′ e contınua sobre E.
Demonstracao: (Veja [19], pp. 117).
Comentario: Um estudo mais detalhado envolvendo estes dois conceitos de derivadas e feito por exemplo
em [19].
147
Apendice E
Mais alguns resultados de Calculo
Variacional
Neste Secao apresentaremos alguns resultados variacionais, citados em [10], os quais deixam os Lemas
4.3.5 e 4.3.8 como caso particulares e definiremos a segunda diferencial de um funcional conforme [12].
E.1 Notacoes
consideraremos nesta secao
V : Ω → (−∞, 0)
uma funcao de classe C1 sobre um subconjunto aberto Ω de RN (N ≥ 2), e T > 0. Geralmente (como
fizemos no Capıtulo 4) estuda-se a existencia de curvas T -periodicas q : R → Ω de classe C2 tal que:
q′′(t) + ∇V (q(t)) = 0 ∀ t ∈ R. (E.1.1)
Como conhecemos bem, este problema tem uma estrutura variacional. Primeiro de tudo, pela mudanca
de variavel q(t) = q(Tt), podemos reduzir nosso estudo para curvas 1-periodicas q : R → Ω de classe C2
tal que:
q′′(t) + T 2∇V (q(t)) = 0 ∀ t ∈ R. (E.1.2)
148
Sejam
H = q ∈ H1([0, 1]; RN ) : q(0) = q(1)
Λ = q ∈ H : q(t) ∈ Ω, ∀ t ∈ [0, 1]
e considere o funcional f : Λ → R definida por
f(q) =1
2
∫ 1
0
|q′(t)|2dt− T 2
∫ 1
0
V (q(t))dt.
Entao Λ e um subconjunto aberto do espaco de Hilbert H, o funcional f e de classe C1 sobre Λ e,
conforme vimos no Capıtulo 1, temos que δf(q) = 0 se e somente q e a restricao a [0, 1] de uma solucao
de (E.1.2).
Como nosso principal interesse e solucoes sem colisao ( Ω = RN − 0), consideraremos tambem
X0 = q ∈ H : ∃ t ∈ [0, 1] com q(t) = 0.
Isto sera util para podermos fazer algumas consideracoes envolvendo potenciais radiais e em particular,
o caso V (x) = − 1|x| .
E.2 Colocacao dos resultados
Lema E.2.1 Seja T > 0 e seja γ : (0, 1) → (0,+∞) a unica solucao de classe C2 da EDO
γ′′ + T 2 1
γ2= 0
com as seguintes condicoes iniciais
γ′(
1
2
)= 0, lim
t→0γ(t) = lim
t→1γ(t) = 0.
Entao temos1
2
∫ 1
0
(γ′)2dt =1
2(2πT 2)
23 ,
T 2
∫ 1
0
1
γdt = (2πT 2)
23 ,
‖γ‖L∞(0,1) =
(2T 2
π2
) 13
.
149
Demonstracao: E consequencia direta das expressoes (4.1.3) e (4.1.4) do Capıtulo 4 levando-se em
consideracao a mudanca de variavel feita na secao anterior.
Proposicao E.2.2 Seja ψ : (0,+∞) → (0,+∞) uma funcao convexa e crescente. Entao temos
min
1
2
∫ 1
0
(γ′)2dt+ ψ
(∫ 1
0
dt
γ
): γ ∈ H1
0 (0, 1), γ ≥ 0
= min
2π2R2 + ψ
(1
R
): R > 0
.
Demonstracao: Seja R um numero minimizante para a expressao do lado direito (este R sempre existe
ja que ψ e convexa e 2πR2 e estritamente convexa).
Note que a expressao do lado esquerdo e finita para algum γ por exemplo para
γ(t) = [t(1 − t)]23
ja que ∫ 1
0
1
γ(t)dt =
2
3
π32 (√
3)213
γ( 23 )γ( 5
6 )e
∫ 1
0
(γ′(t))2dt =2
5
π32 (√
3)213
γ( 23 )γ( 5
6 ).
Considere o funcional
f(γ) =1
2
∫ 1
0
(γ′)2dt+ ψ
(∫ 1
0
1
γdt
).
Como ψ e crescente e positiva, usando o Teorema de Sobolev e o Lema de Fatou, de forma analoga aos
procedimentos usados no Capıtulo 4, mostra-se que o funcional f e coercivo e fracamente semi-contınuo
inferiormente sobre H10 ((0, 1)). Logo, vai existir um γ minimizante.
Usando a conhecida desigualdade a2+b2
2 ≥ ab para a, b ∈ R, temos que
1
2
∫ 1
0
(η′)2dt
e estritamente convexa sobre H10 ((0, 1)). Alem disso
ψ
(∫ 1
0
1
ηdt
)
e convexa sobre η ∈ H10 ((0, 1)) : η ≥ 0. Entao, tal γ e unico.
150
Afirmamos que este γ, satisfaz γ(t) > 0 para todo t em (0, 1). De fato, suponha, por contradicao, que
γ(t) = 0 para algum t ∈ (0, 1). Sejam a ∈ (0, t) e b ∈ (t, 1), tal que γ(a) = γ(b) > 0. entao, a funcao η(t)
definida por η(t) = maxγ(t), γ(a) em [a, b] e η(t) = γ(t) em [0, 1] − [a, b] e outro mınimo diferente de
γ, o que e uma contradicao.
Agora se supormos ψ de classe C1, ao minimizar a funcao
φ(R) = 2π2R2 + ψ
(1
R
)
obtemos
4π2R3 = ψ′(
1
R
).
De maneira analoga ao Teorema de Regularidade do ponto crıtico, mostra-se que γ ∈ C2(0, 1). Alem
disso, γ satisfaz a EDO.
γ′′ +ψ′(x)
γ2= 0
em (0, 1), quando x =∫ 1
01γdt.
De fato, considerando o funcional
J(γ) =1
2
∫ 1
0
γ′2dt+ ψ
(∫ 1
0
dt
γ
).
Calcularemos a primeira variacao de J. Para isto seja
ϕ(t) = J(γ + th), h ∈ C∞c (0, 1)
daı
ϕ′(t) =1
2
∫ 1
0
(2γ′h′ + 2th′2)dt− ψ′(∫ 1
0
dt
γ + th
)(∫ 1
0
dt
(γ + th)2h
),
entao
ϕ′(0) =
∫ 1
0
γ′h′dt− ψ′(∫ 1
0
dt
γ
)(∫ 1
0
dt
γ2
),
usando integracao por partes na primeira integral da ultima expressao, temos
ϕ′(0) = −[∫ T
0
(γ′′ +
ψ′(x)
γ2h
)],
sendo γ um ponto crıtico de J, temos que ϕ′(0) = 0, ou equivalentemente
∫ T
0
(γ′′ +
ψ′(x)
γ2h
)= 0, ∀h ∈ C c∞(0, 1).
151
Portanto
γ′′ +ψ′(x)
γ2= 0.
Alem disso, por unicidade de γ, temos que γ ′(
12
)= 0. Logo, pelo Lema E.2.1, obtemos
1
2
∫ 1
0
|γ′|2dt =1
2(2πψ′(x))
23 ,
ψ′(x)
∫ 1
0
dt
γ= (2πψ′(x))
23 .
Assim, ψ′(x) = 4π2
x3 e x = 1R. Portanto,
1
2
∫ 1
0
(γ′)2dt+ ψ
(∫ 1
0
dt
γ
)=
1
2(2πψ′(x))
23 + ψ(x)
=1
2
(2π
4π2
x3
) 23
+ ψ(x)
=1
2
(4π2
x2
)+ ψ(x)
= 2π2 1
x2+ ψ
(1
R
)
= 2π2R2 + ψ
(1
R
).
Proposicao E.2.3 Seja T > 0 e ψ : (0,+∞) → (0,+∞) como na Proposicao anterior. Entao temos
inf
1
2
∫ 1
0
(γ′)2dt+ T 2
∫ 1
0
ψ
(1
γ
)dt : γ ∈ H1
0 (0, 1), γ ≥ 0
= inf
1
2
∫ 1
0
|q′|2dt+ T 2
∫ 1
0
ψ
(1
|q|
)dt : q ∈ X0,
ambos podendo assumir o valor +∞.
Demonstracao: Como H10 ((0, 1)) ⊂ X0 temos que a desigualdade ”≥ ”e obvia. Por outro lado, como ψ
nao depende explicitamente de t nao faz diferenca minimizar o lado direito para q ∈ X0 ou q ∈ H10 ((0, 1)).
No segundo caso temos, tambem, que |q| ∈ H10 ((0, 1)) e |q| ≥ 0. Alem disso, de
|q|2 = 〈q, q〉
152
temos
|q||q|′ = 〈q, q′〉
pela desigualdade de Cauchy-Schwarz
|q|′ ≤ |q′|
donde |q|′ ≤ |q′|. Logo, ∫ 1
0
|q′|2dt ≥∫ 1
0
(|q|′)2dt.
Provando a desigualdade oposta.
Se T > 0 e ψ : (0,+∞) → (0,+∞) e crescente e convexa, facamos
v0(ψ, T ) = inf
1
2
∫ 1
0
(γ′)2dt+ T 2
∫ 1
0
ψ
(1
γ
)dt : γ ∈ H1
0 (0, 1), γ ≥ 0
v1(ψ, T ) = min
2π2R2 + T 2ψ
(1
R
): R > 0
,
com a convencao ψ(+∞) = +∞.
Se o funcional f e associado com o potencial
V (x) = −ψ(
1
|x|
),
entao
2π2R2 + T 2ψ
(1
R
)
e exatamente o maximo de f entre todas as trajetorias circulares de perıodo mınimo 1 e velocidade de
modulo constante, que estao na esfera de raio R centrada na origem. O numero v1(ψ, T ) e determinado
escolhendo o raio R conveniente. Por outro lado, como vimos na Proposicao E.2.3, v0(ψ, T ) e a maior
das cotas inferiores de f sobre as trajetorias circulares que encontram a origem.
Observacao: Note que a funcao convexa ψ que usamos no Capıtulo 4 e nada mais que ψ(s) = λsα, com
α ∈ [1, 2] e λ e uma constante positiva. Por exemplo no Lema 4.3.5, λ e dada por
λ =b
2α+2
2
(∑
i6=j
mimj
) 2+α2
Mα.
E combinacoes das Proposicoes E.2.2 2 e E.2.3, com ψ(s) = λsα, provam os Lemas 4.3.5 e 4.3.8.
153
E.3 Segunda variacao de um funcional e condicoes suficientes
para um extremo
Nesta Secao apresentaremos a definicao da segunda diferencial de um funcional. Esta definicao e
bastante util para termos condicoes suficientes para um extremo.
E.3.1 Segunda variacao de um funcional
Lembremo-nos que se y e uma funcao de n- variaveis, uma condicao necessaria para y ter um mınimo
(resp, maximo) e que y′ = 0 e y′′ > 0 (resp, y′′ < 0).
Funcionais quadraticos
Um funcional B(x, y) dependendo de dois elementos x e y pertencentes a algum espaco linear normado
e dito ser bilinear se
B(αx+ y, z) = αB(x, z) +B(y, z),
para quaisquer x, y no espaco linear e qualquer α ∈ R.
Fazendo y = x num funcional bilinear, obtemos uma expressao chamada de funcional quadratico.
Definicao E.3.1 Um funcional quadratico A(x) = B(x, x) e dito ser positivo definido se A(x) > 0, ∀ x 6=0.
Um funcional bilinear definido sobre um espaco de dimensao finita e chamado uma forma bilinear.
Toda forma bilinear B(x, y) pode ser representada como
B(x, y) =
n∑
i,k=1
bikξiηk
onde ξ1, · · · , ξn sao as coordenadas dos elementos x e y, relativo a alguma base.
Exemplo E.3.2 Seja α(t) > 0 para todo t ∈ [a, b]. Entao o funcional
A(x) =
∫ b
a
α(t)x2(t)dt
154
e definido positivo.
Agora introduziremos o conceito da segunda diferencial de um funcional. Se I(y) e um funcional
definido sobre algum espaco linear normado, dizemos que o funcional I(y) e duplamente diferenciavel se
seu incremento pode ser escrito na forma
∆I(h) = ϕ1(h) + ϕ2(h) + ε‖h‖2,
ou de forma mais rigorosa
∆I(y)(h) = ϕ1(y)(h) + ϕ2(y)(h) + ε‖h‖2,
onde ϕ1(h) e um funcional linear (de fato a primeira diferencial), ϕ2(h) e um funcional quadratico, e
ε → 0, quando ‖h‖ → 0. A funcao quadratica ϕ2(h) e chamada segunda diferencial ou segunda
variacao do funcional I(y), e denotamos por δ2(y)(h).
Teorema E.3.3 A segunda variacao de um funcional se existir e unica.
Demonstracao: Basta aplicar o mesmo procedimento da demonstracao do Teorema 1.2.12.
E.3.2 Condicoes suficientes para um extremo
Visando obter condicoes suficientes para um extremo de um funcional, daremos a seguinte definicao
Definicao E.3.4 Dizemos que um funcional quadratico ϕ2(h) definido sobre algum espaco linear nor-
mado e fortemente positivo se existir uma constante k > 0 tal que
ϕ2(h) ≥ k‖h‖2
para todo h no espaco linear.
Teorema E.3.5 Uma condicao suficiente para um funcional ter um mınimo para y = y∗, dado que a
primeira diferencial se anule em y = y∗, e que sua segunda variacao, δ2I(y∗)(h) seja fortemente positiva.
155
Demonstracao: Para y = y∗, temos que δI(y∗)(h) = 0 para todo h, e logo
∆I(h) = δ2(y∗)(h) + ε‖h‖2, (E.3.3)
com ε→ 0, quando ‖h‖ → 0. Alem disso, para y = y∗
δ2I(y∗)(h) ≥ k‖h‖2 (E.3.4)
para alguma constante positiva k. Entao de (E.3.3) e (E.3.4), temos
∆I(h) = δ2I(y∗)(h) + ε‖h‖2
= (K + ε)‖h‖2.
Logo, o incremento ∆(h) = I(y∗ + h) − I(y∗) nao muda de sinal e e positivo. Portanto y∗ e um mınimo
para I(y).
Comentario: Para um estudo mais aprofundado sobre a segunda diferencial de um funcional e recomen-
dado ([12], Capıtulo 4).
156
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