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1 2015 Caderno de Resumos

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3º Encontro dos Estudantes do Programa de Pós-Graduação em Psicologia – UFRJ / 2015

2015

Caderno de Resumos

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3º Encontro dos Estudantes do Programa de Pós-Graduação em Psicologia – UFRJ / 2015

O Encontro

Este encontro partiu de um incomodo: o de que o sistema de avaliação e de creditação

acadêmica brasileiro põe em jogo uma série de mecanismos individualizantes. Especialmente

no que diz respeito aos programas de pós-graduação, estes procedimentos se constituem

como uma forma maciça de inserção e sequência do percurso discente, reforçando dinâmicas

individualizadas e distanciando seus membros. Como que habitado por uma inquietude frente

aos impasses apresentados pelas políticas acadêmicas, surgiu a proposta de realizar este

Encontro dos Estudantes do Programa de Pós Graduação em Psicologia, que, na sua terceira

edição, acontecerá nos dias 9, 10 e 11 de junho de 2015, no Instituto de Psicologia da UFRJ.

Entendemos que a troca e a contribuição mútua é de crucial importância não apenas

para o enriquecimento das pesquisas aqui propostas, como também para a possibilidade de

proposições para outros modos de se efetuar a pós-graduação. Modos que possam prezar pela

interação entre seus integrantes, assim como por uma maior proximidade com os processos de

formação em jogo já na graduação e a intensificação da interação com a comunidade em sua

forma ampla. Se algum dia foi importante para o conhecimento se estabelecer na distância do

“lugar comum”, hoje, em outros termos, é no sentido de reaver o interesse e a importância

deste comum que aqui nos dispomos.

Trata-se de uma oportunidade de exposição, troca e discussão, em um clima que se

propõe acolhedor, criativo, aberto e crítico, com espaço para se falar das dificuldades, desafios

e possibilidades pertinentes aos processos experienciados pelos discentes da pós-graduação.

O III Encontro dos Estudantes do PPGP/UFRJ dá sequência à orientação idealizada e

realizada nos anos de 2010 e 2011 (anos de realização dos I e II Encontros, respectivamente),

estabelecendo-se também na proximidade política aos demais encontros que, por diversas

partes do país, vem movendo integrantes de pós-graduação a um deslocamento em relação ao

ímpeto individualizador que há tanto rege seus funcionamentos.

O III Encontro dos Estudantes do Programa de Pós-Graduação em Psicologia almeja,

dessa forma, enriquecer o campo de discussões que dizem respeito à pesquisa como produção

de conhecimento, como produção social e intervenção política – elementos que, a nosso ver,

são indissociáveis.

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INSTITUTO DE PSICOLOGIA - UFRJ

Diretora

Rosa Maria Leite Ribeiro Pedro

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA – PPGP-UFRJ

Coordenador

Pedro Paulo Gastalho de Bicalho

Colegiado

Ângela Arruda

Arthur Ferreira

Bernard Rangé

Edson Filho

Fernando Gastal

Francisco Portugal

Hebe Gonçalves

Jane Correa

João Batista

Lúcia Novaes

Lúcia Rabello

Marcos Aguiar

Monica Alvim

Pedro Paulo Bicalho

Rodolfo Ribas

Rosa Pedro

Ruth Cohen

Vera Besset

Virgínia Kastrup

SECRETARIA PPGP UFRJ

Ana Cristina Brasil Arcos

Giancarlo Quadros dos Santos Mauro

3º ENCONTRO DOS ESTUDANTES DO PPGP - UFRJ

Comissão organizadora

Juliana Siqueira de Lara

Leandro de Oliveira Abreo

Lis Albuquerque Melo

Maria Luiza Rovaris Cidade

Mateus Thomaz Bayer

Raquel de Oliveira Guerreiro

Thiago Colmenero Cunha

Veronica Torres Gurgel

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Sessões

Terça 09/06

Quarta

10/06

Quinta 11/06

8:30 9:00

Abertura

9:00 12:00

Processo de pesquisar: questões e

procedimentos

9:00 12:00

Cognição, percepção e experiência

9:00 12:00

Cidade e Produção de Subjetividade

14:00 16:00

Aspectos epistêmicos e metodológicos

14:00 17:00

Questões do trabalho na contemporaneidade

14:00 16:00

Violências e práticas de cuidados

16:00 18:00

Corpo, subjetivação e contemporaneidade

16:00 18:00

Escrita, criação e subjetividade

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Sessões 09.06 (terça)

Sessão: Processo de pesquisar: questões e procedimentos

Hora: 9:00 – 12:00 Pg

Percursos iniciais da pesquisa: as entrevistas em uma instituição total Autor: Adriana Guerra Abreu Lemos - Orientação: Hebe Gonçalves

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E quando não acessa um plano comum? Buscando modos de pesquisarCOM agentes socioeducativos Autor: Leandro de Oliveira Abreo Orientação: Hebe Gonçalves Coorientação:João Batista

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Sobre a participação de crianças - levantando questões desde uma revisão de literatura Autor: Lis Albuquerque Melo Orientação: Lucia Rabello

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Reflexões sobre o ato de entrevistar na pesquisa cartográfica: O compartilhamento da experiência de pessoas trans no judiciário Autor: Maria Luiza Rovaris Cidade Orientação: Pedro Paulo Bicalho

12

Sessão: Aspectos epistêmicos e metodológicos

Hora: 14:00 – 16:00 Pg

Entre a Guerra dos Psis e as Práticas de Interdisciplinaridade: Existe lugar para uma Interdisciplinaridade Interna à Psicologia? Autor: Natalia Barbosa Pereira Orientação: Arthur Leal

13

Afirmativas, negativas, brechas e desvios: a construção de um rizoma no pesquisar com escolas estaduais policiadas Autor: Thiago Colmenero Cunha Orientação: Pedro Paulo Bicalho

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Do teórico ao prático: apreensões da responsabilidade na vida cotidiana de crianças Autor: Juliana Siqueira de Lara Orientação: Lucia Rabello

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Sessão: Corpo, subjetivação e contemporaneidade

Hora: 16:00 – 18:00 Pg

Modos identitários de produção de subjetividade e performatividade Autor: Brenda Fischer Sarcinelli Pacheco Orientação: Hebe Gonçalves

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Sintomas mudos, corpos falantes Autor: Rogério de Andrade Barros; Carla Fernandes Orientação: Vera Besset

17

Sobre o consumo de medicamentos para a melhora cognitiva e do humor: primeiros passos de uma Cartografia das Controvérsias Autor: Cristiana de Siqueira Gonçalves Orientação: Rosa Pedro

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3º Encontro dos Estudantes do Programa de Pós-Graduação em Psicologia – UFRJ / 2015

Sessões 10.06 (quarta)

Sessão: Cognição, percepção e experiência

Hora: 9:00 – 12:00 Pg

O olhar na pintura de Edouard Manet Autor: Rômulo Ballestê Marques dos Santos Orientação: Francisco Portugal

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A experiência do espectador e os processos cognitivos numa perspectiva emancipada Autor: Fabio Montalvão Soares Orientação: Virgínia Kastrup

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Ilusão perceptiva e sistemas de referências Autor: Filipe Herkenhoff Carijó Orientação: Virgínia Kastrup

21

A influência da mídia no comportamento consumidor infantil e reconhecimento de logos Autor: Daniel Campos Lopes Lemos Orientação: Rodolfo Ribas

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Sessão: Questões do trabalho na contemporaneidade

Hora: 14:00 – 17:00 Pg

Trabalho e tecnologia: controvérsias acerca do uso do das redes sociais Ana Paula da Cunha Rodrigues Orientação: Rosa Pedro

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Trabalho precário e modos de subjetivação: um estudo sobre jovens trabalhadores de uma empresa de fast food. Autor: Felipe Salvador Grisolia Orientação: Lucia Rabello

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Satisfação no trabalho e Anomia Autor: Gabriela Pereira Rangel Hora Orientação: Rodolfo Ribas

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Cartografando as relações institucionais pró-emprego e produção de subjetividade: estudo do analisador “empregabilidade” em políticas públicas de geração de emprego e renda e suas relações com o desemprego da população economicamente ativa jovem no município de queimados na baixada fluminense Autor: Jorge Antonio Tavares Peixoto Orientação: Francisco Portugal. Coorientação: Fernando Gastal

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Sessões 11.06 (quinta)

Sessão: Cidade e Produção de Subjetividade

Hora: 9:00 – 12:00 Pg

Territorializações e tecnologias de mobilidade: automóveis, bicicletas e a constituição de territórios urbanos e existenciais Autor: Pedro Legey de Abreu e Lima Orientação: Francisco Portugal

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Cidades e Subjetivação - reflexões de um grupo de estudos Autor: Alice Vignoli Reis, Pedro Legey de Abreu e Lima, Karoline Ruthes Sodré Orientação: Mônica Alvim e Francisco Portugal

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Ver e ser visto no Facebook: modos de subjetivação contemporâneos Autor: Luciana Santos Guilhon Albuquerque Orientação: Rosa Pedro

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Acessibilidade estética a pessoas com deficiência visual em um centro cultural do Rio de Janeiro Autor: Raquel Guerreiro Orientação: Virgínia Kastrup

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Sessão: Violencias e práticas de cuidados

Hora: 14:00 – 16:00 Pg

Serviços de responsabilização dos autores de violência doméstica contra a mulher: o “Y” da questão. Autor: Cecília Teixeira Soares Orientação: Hebe Gonçalves

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A articulação entre violência e as práticas de atenção e cuidado ao usuário de crack na Maré Autor: Rodrigo Costa do Nascimento Orientação: Arthur Leal

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Sessão: Escrita, criação e subjetividade

Hora: 16:00 – 18:00 Pg

A escrita literária: a co-emergência da obra e do autor. Autor: Veronica Torres Gurgel Orientação: Virgínia Kastrup

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A irrupção das materialidades escritas: por um evento reencontrado Autor: Mateus Thomaz Bayer Orientação: Arthur Leal

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O problema do pensamento intuitivo na Psicologia Autor: Maria Clara de Almeida Carijó Orientação: Virgínia Kastrup

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Resumos

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Percursos inicias da pesquisa: as entrevistas em uma instituição total Autor: Adriana Guerra Abreu Lemos Orientação: Hebe Gonçalves Linha de Pesquisa: Subjetividade, Cultura e Práticas Clínicas Sessão: Processo de pesquisar: questões e procedimentos; 09/06 (terça); 9:00-12:00

Como mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia, estou elaborando uma pesquisa que pretende analisar o processo de reiteração do ato infracional por adolescentes que recebem medida socioeducativa de internação em uma unidade do NOVO DEGASE no Rio de Janeiro, articulando esta questão às políticas públicas disponíveis para esse público. Para isso, pretendo utilizar o método cartográfico, entendendo que para acompanhar os movimentos e os instantes de ruptura entre a saída do adolescente e o retorno ao sistema socioeducativo é preciso tomá-los em seu processo constante de produção e transformação. A pesquisa ainda se encontra em fase inicial, portanto muitas questões ainda estão sendo delineadas. Para o III Encontro dos estudantes do PPGP-UFRJ, minha proposta é compartilhar uma inquietação presente a respeito da entrada no campo, pois este trata-se de uma instituição total, permeada pela rigidez que lhe é característica. Apesar desta entrada ter sido facilitada em um primeiro momento pela pesquisa coordenada por minha orientadora que já está em curso há alguns anos na unidade de internação pretendida, há constantes momentos de fortalecimento das relações como também de rupturas destas. No caso da unidade de internação pesquisada, há diversos grupos que a compõem: direção, equipe técnica, equipe de agentes socioeducativos, adolescentes. Nesta composição já há relações conflituosas anteriores entre estes e a equipe de pesquisa. Como pesquisar com atores que já tem uma pré-concepção da pesquisa a ser realizada, pois tomam como base uma pesquisa anterior em curso? Como produzir a confiança dos atores em um campo permeado a princípio por relações de grande tensão em que por vezes emerge a desconfiança? As questões tornam-se mais delicadas para mim em relação à equipe técnica, visto que já são realizadas atividades com os adolescentes e com os agentes socioeducativos, onde já pude estabelecer um contato inicial. Como abordar tais profissionais que por diversas outras questões além desta se distaciam da equipe de pesquisa? Além disso, o tema de meu estudo está diretamente ligado ao trabalho que é desenvolvido pela equipe técnica e muitas vezes se relaciona às frustrações e sentimento de fracasso destes profissionais. Outro obstáculo quando se pretende acompanhar os processos em curso é a rotatividade de profissionais. No sistema socioeducativo é comum a desistência do cargo após curtos períodos de tempo no trabalho. Acredito que irei me deparar com frequência com estas questões, por isso as destaco como disparadores para o encontro com os demais pesquisadores. Palavras-chave: cartografia; entrevista; sistema socioeducativo

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E quando não acessa um plano comum? Buscando modos de pesquisarCOM agentes socioeducativos Autor: Leandro de Oliveira Abreo Orientação: Hebe Gonçalves Coorientação: João Ferreira Linha de Pesquisa: Subjetividade, Cultura e Práticas Clínicas Sessão: Processo de pesquisar: questões e procedimentos; 09/06 (terça); 9:00-12:00

O presente estudo tem como objetivo apresentar e problematizar o processo de pesquisar na cartografia discutindo as dificuldades de traçar um plano comum junto aos agentes socioeducativos. Cabe explicar, brevemente, que o território que habito é uma unidade de internação do Departamento Geral de Ações Socioeducativas (DEGASE), destinada a adolescentes que cometeram algum ato infracional e foram privados de sua liberdade. O agente socioeducativo é o profissional responsável por assistir os adolescentes internados em suas diversas atividades dentro das instalações da unidade. Participando do Projeto Parcerias (IP-UFRJ), que atua na unidade desde 2009 realizando grupo com adolescentes internos, iniciamos em 2013 uma pesquisa-intervenção junto aos agentes socioeducativos. Era um campo totalmente novo para o projeto, com demandas, questões, forças e relações de poder que desconhecíamos. Nossa entrada se deu pelo meio já que os processos e forças deste território já estavam em curso. No acompanhar dos fluxos em movimento a partir de dedicação atenta e aberta, engajada e afetiva, realizamos – até o presente momento - três intervenções: grupos de discussão, entrevistas e reuniões de restituição. Sabíamos que seria uma difícil tarefa considerando a imprescindibilidade dos agentes entenderem a proposta da pesquisa e desejarem participar dela. Nossa aposta ao longo de cada visita á unidade, cada grupo ou entrevista, cada conversa nos corredores ou explicando o objetivo do nosso projeto, era de construir uma pesquisa “COM” eles, ou seja, uma pesquisa que garantisse a participação dos sujeitos fazendo valer seu protagonismo e sua inclusão ativa na produção do conhecimento. Na cartografia, para que esse conhecimento seja efeito de uma construção coletiva indissociando pesquisador e pesquisado, teoria e prática, sujeito e objeto, é necessário traçar um plano comum. Um comum que ao ser partilhado pelos sujeitos, é experenciado e vivido como pertencimento a um coletivo. Traçado comum que opera na comunicação entre singularidades heterogêneas e produz, nos participantes, o desejo e o engajamento no processo de pesquisar. É nesse ponto que emerge minha questão: e quando sentimos que isso não acontece? E quando não conseguimos produzir o traçado comum entre pesquisadores e pesquisados? Como proceder quando nos propomos a utilizar uma metodologia que necessite da participação ativa e engajamento dos sujeitos e percebemos desleixo e recusa na participação da entrevista; sentimento que nossa presença é tratada como um incômodo e empecilho ao trabalho deles; dificuldade de encontrar e conversar com os sujeitos; dificuldade na realização da análise da demanda e argumentos de que “só sendo agente para entender” o que eles passam. Como lidar com essa inversão que transforma uma linha que a princípio era inclusiva e de partilha em uma barreira excludente? Enfim, e se não consegue traçar um plano comum? O que fazer? Palavras-chave: cartografia; plano comum; pesquisarCOM; socioeducação; agentes socioeducativos

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Sobre a participação de crianças - levantando questões desde uma revisão de literatura Autor: Lis Albuquerque Melo Orientação: Lucia Rabello Linha de Pesquisa: Subjetividade, Cultura e Práticas Clínicas Sessão: Processo de pesquisar: questões e procedimentos; 09/06 (terça); 9:00-12:00

O tema da participação de crianças tem estado presente em uma série de discussões, práticas, pesquisas e políticas no campo da infância, marcadamente após a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Crianças, que traz como eixos centrais, além dos direitos à proteção e à provisão, o direito à participação. De início, nos vemos diante da seguinte questão: como falar de participação de um grupo social que tem historicamente ocupado posições marginalizadas, de subordinação, silêncio e invisibilidade, classificado estritamente por critérios etários e de certa forma despolitizado? Considerando a infância como uma construção social, relacionada aos contextos sócio históricos a partir dos quais a abordamos, indagamos por que falar de participação de crianças, considerando, nesse sentido, o que vem sendo debatido desde o lugar do qual falamos, qual seja, da periferia de um sistema capitalista, sustentado por valores ocidentais. Partimos de uma crítica às concepções de crianças e jovens como objetos da ação, atenção e proteção dos adultos, categorizados por uma natureza de vulnerabilidade. Nesse entendimento, a participação é colocada como um reconhecimento do desempenho das crianças às demandas sociais, de forma individualizada. Por outro lado, a compreensão das crianças como atores sociais, detentores de capacidades, habilidades e competências, parece trazer a ideia de um sujeito da participação, sendo determinados aspectos necessários para participar. No atual momento do doutorado, venho realizando um trabalho de revisão de literatura sobre o tema referido com o propósito de esmiuçá-lo, buscar o que está sendo escrito/pensado sobre o assunto e levantar questões que fundamentem um projeto de pesquisa. Os autores consultados até então destacam os discursos retóricos com que a temática tem sido tratada, a sua amplitude e consequente dificuldade de uma definição minimamente precisa, a variedade de modos e atividades de participação, assim como as diversas tensões e problematizações envolvidas. No entanto, como apontado por esses autores, ao mesmo tempo em que as atividades de participação se multiplicam, crescem as perguntas sobre como envolver as crianças de forma efetiva e significativa nos processos de participação, especialmente de uma maneira em que os mesmos impliquem em mudanças. São assinalados obstáculos para a participação de crianças, dentre os quais se destacam as imagens dominantes sobre infância, sustentando crenças na vulnerabilidade, imaturidade e, portanto, na incapacidade das crianças de participar efetivamente. São problematizadas as participações do tipo simbólicas, não legitimadas nem levadas à sério, nas quais geralmente as crianças são consultadas, mas não se sabe o que será feito com suas visões e opiniões compartilhadas. Dentre as razões para a promoção da participação de crianças, há desde uma perspectiva marcadamente desenvolvimentista, de capacitar as crianças em exercícios de participação para poderem no futuro ocupar um status de cidadã e efetivamente participar, às implicações de experiências de participação no presente para o avanço da democracia. A manutenção de modos tradicionais, institucionalizados e formais de participação, que têm historicamente excluído as crianças dos espaços legitimados dessa prática, são questionados em contraposição às maneiras mais informais das crianças se engajarem, a partir de uma participação que se dá no fazer diário da vida social. O tema da participação de crianças tem sido ainda discutido em sua interface com os campos dos direitos e da pesquisa e tem colocado em debate questões de relações de poder e modos de subjetivação. Mas que participação é essa da qual tanto se fala, que mais parece tratar de um novo código politicamente correto nas relações com as crianças? A diferença encarnada pelas crianças, visibilizada no debate sobre sua participação, aponta para possibilidades de pensarmos a sociedade. Nesse sentido, a participação de crianças pode (e deve) trazer à tona discussões sobre como nos relacionamos em sociedade, sobre como estabelecemos posições sociais em que uns dominam e outros são subordinados, excluindo uma diversidade de entendimentos e formas de estar no mundo imprimindo sentidos e transformando-o. Palavras-chave: participação de crianças; revisão de literatura; infância

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Reflexões sobre o ato de entrevistar na pesquisa cartográfica: O compartilhamento da experiência de pessoas trans no judiciário Autor: Maria Luiza Rovaris Cidade Orientação: Pedro Paulo Bicalho Linha de Pesquisa: Processos psicossociais e coletivos Sessão: Processo de pesquisar: questões e procedimentos; 09/06 (terça); 9:00-12:00

Esta proposta de comunicação oral tem como objetivo central dialogar sobre possíveis implicações e questões relacionadas ao ato de entrevistar na pesquisa cartográfica, baseada na relação com os aspectos metodológicos da minha pesquisa de mestrado. Tal pesquisa, situada na análise de processos relacionados à retificação do registro civil de pessoas trans no sistema judiciário fluminense, parte de uma problematização acerca das normativas de gênero inseridas no discurso e nas práticas jurídicas brasileiras. Os temas relacionados à produção de visibilidade e garantia de direitos de pessoas trans têm crescido substancialmente no Brasil a partir dos anos 2000, principalmente pela participação e protagonismo das próprias pessoas em diferentes processos políticos no campo social. A experiência trans parte da contestação, até mesmo negação, de uma produção de identidade baseada na relação direta entre o sistema de sexo/gênero, a aparência da genitália e o consequente registro de um nome. A designação se constitui a partir de um outro, circunscrito em sistemas de relações de poder. A partir das instituições que determinam o registro de populações, o saber médico e o oficial de registro irão efetuar, em cada um de nós, o primeiro processo de inserção na ordem biopolítica, em sua contradição: ao mesmo tempo em que nos inscreve no campo social e de direitos, mantém-nos aliados aos mecanismos de controle e vigilância estatais. Com a entrada no campo problemático, senti que minha tarefa principal seria a escuta. À medida que me reconhecia no campo, a partir do estabelecimento de planos comuns, fui compreendendo que escutar também se apresenta como silenciar em momentos oportunos. A destituição desse lugar do intelectual que sobre tudo fala é um complexo exercício que, a meu ver, deve ser radicalizado em contextos de movimentos sociais que reivindicam possibilidades de voz e visibilidade. A partir disso, elenquei como potencialidade de pesquisa a realização de entrevistas com pessoas que tenham passado pelos processos, apostando no lugar de fala e do compartilhamento do plano comum na experiência (TEDESCO, SADE e CALIMAN, 2013). A necessidade de efetivação de entrevistas com pessoas que passaram por tais processos de retificação do registro civil surgia não somente como componente metodológico, mas como questão ético-política de visibilizar o protagonismo de pessoas trans no campo que se refere à garantia de seus direitos e lugares de fala. Nesse sentido, pretendo abordar na presente comunicação oral o encontro que se deu entre pesquisadora e pessoas entrevistadas a partir da efetivação de duas entrevistas na pesquisa de mestrado, com a interlocução entre a pista da construção do plano comum e do ethos da confiança na pesquisa cartográfica (SADE, FERRAZ e ROCHA, 2014). Elementos que supostamente seriam de cunho procedimental, como a assinatura do Termo de Consentimento Livre Esclarecido e a questão do nome fictício para o texto se mostraram potentes analisadores para refletirmos sobre o tema das práticas de pesquisa em psicologia. Palavras-chave: Cartografia; Entrevista; Justiça; Transexualidade

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Entre a Guerra dos Psis e as Práticas de Interdisciplinaridade: Existe lugar para uma Interdisciplinaridade Interna à Psicologia? Autor: Natalia Barbosa Pereira Orientação: Arthur Leal Linha de Pesquisa: Processos psicossociais e coletivos Sessão: Aspectos epistêmicos e metodológicos; 09/06 (terça); 14:00-16:00

Em 2009 Vincianne Despret esteve no Rio de Janeiro em uma conferência que felizmente tive oportunidade de assistir. Durante uma semana ela apresentava suas pesquisas atuais em uma parte do dia e na outra parte dialogava com os pesquisadores locais sobre suas respectivas apresentações. Um destes diálogos ficou gravado em minha memória e penso que teve muitas ressonâncias ao longo da minha formação e na motivação desta pesquisa que introduzo aqui. Apesar de ela mesma ter tido formação e prática de psicóloga e a grande maioria dos pesquisadores ali presentes também serem da área da psicologia, o campo de estudos do qual ela faz parte é denominado antropologia da ciência ou mesmo filosofia da ciência. Em certa altura, ao fazer o comentário sobre um dos trabalhos ali apresentados ela fez a seguinte fala em tom de elogio: Que aquele determinado pesquisador a quem ela se dirigia falava com propriedade sobre temas de filosofia, mas não como um filósofo, como um psicólogo. E que a grande diferença entre uma coisa e outra era que o psicólogo, ao falar de filosofia, tinha uma preocupação concreta: com o sofrimento humano. Quando um estudante de psicologia entra em contato com alguns autores da área da filosofia e da crítica social frequentemente a primeira reação que se tem é a de assumir uma postura crítica em relação à psicologia. O contato com a problematização da função de controle social e individualização de questões sociais que a psicologia exerceu historicamente e exerce tem o efeito de causar um distanciamento em relação ao campo. Esse foi, pelo menos, o efeito que teve em mim, que tive contato com alguns destes autores antes mesmo de iniciar minha formação clínica. Ao ponto em que, baseada na leitura destas referências e de certos autores da psicologia social, diversas vezes eu cheguei facilmente à conclusão de que a missão principal da psicologia nos dias de hoje era a de operar a despsicologização dos espaços onde estava inserida. Mas não é assim. E é nesse ponto que penso que Despret e os autores da antropologia das ciências tem muito a contribuir para a reflexão atual sobre os rumos da psicologia. Meu objetivo neste trabalho é trazer para esta reflexão sobre a função social da psicologia, o que penso ser a maior habilidade deste campo de estudos: a de ser uma crítica das ciências e da modernidade que não se coloca de fora das ciências e da modernidade. Nos auxiliando a pensar uma crítica da psicologia que não nos coloque em uma posição externa à psicologia, que considere não apenas seus pontos críticos mas também suas potencialidades. Como Stengers (1997) afirma em certo ponto de um livro entitulado “A vontade de fazer ciência”, a especificidade do campo científico em relação a outros campos de produção de conhecimento é a de ter inventado, através da padronização de suas práticas, uma forma de trabalho que é coletiva. Esta seria a novidade das ciências, a possibilidade de reunir um número enorme de pessoas, em escala global, ao redor de um mesmo conjunto de questões e objetivos. A padronização das práticas, cuja crítica é tão necessária e por motivos tão diferentes, não tem apenas o viés de exclusão de diferenças. Não seria possível criticar um determinado modo de fazer ciência e defender o respeito às diferenças e aos contextos locais onde ela atua e ainda assim não abrir mão deste empreendimento gigantesco que criamos e que por enquanto é a única maneira que conhecemos de trabalhar juntos? Minha proposição é a de que a dispersão da psicologia em múltiplas linhas psicológicas, ao dificultar a construção de um espaço comum de reflexões sobre a psicologia, dificulta também a reflexão sobre a especificidade do saber psicológico em relação aos demais. Esta poderia ser uma das causas a ser explorada, por exemplo, para a crise atual que vivemos em torno da definição da atuação profissional do psicólogo, que relaciono com a reflexão sobre a necessidade de “despsicologização” das práticas. A pergunta que buscamos delinear seria: Qual é a especificidade comum às diversas psicologias para além de seu viés de controle e individualização? Palavras-chave: Epistemologia Política, Guerra dos Psis, Interdisciplinaridade

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3º Encontro dos Estudantes do Programa de Pós-Graduação em Psicologia – UFRJ / 2015

Afirmativas, negativas, brechas e desvios: a construção de um rizoma no pesquisar com escolas estaduais policiadas Autor: Thiago Colmenero Cunha Orientação: Pedro Paulo Bicalho Linha de Pesquisa: Processos psicossociais e coletivos Sessão: Aspectos epistêmicos e metodológicos; 09/06 (terça); 14:00-16:00

O presente trabalho fala sobre a construção metodológica da pesquisa de mestrado “Paz Armada na Escola”. Tomando como dispositivo o policiamento ostensivo feito pela Policia Militar nas escolas estaduais do Rio de Janeiro, propõe-se fazer uma cartografia dos desdobramentos dessa politica publica, buscando seguir linhas que em um processo sócio-historico traçam o ordenamento e o controle do espaço escolar. A partir das reflexões e cores propostas pelos filósofos da Analise Institucional Francesa, é entendido que mais do que listar fatores que compõem uma problemática é revelar a processualidade deles, mostrar as forcas que o compõem, que relações de poder estão em jogo no plano estudado. O método de realizar a pesquisa não é um modo de lidar com o mundo dado lá fora, mas sim uma prática de performá-lo, de fazê-lo existir – é então escolhido fazer entrevistas com os atores do cenário estudado, isto é, secretários, estudantes, coordenadores, diretores, inspetores, profissionais de limpeza, professores e policiais que habitam as escolas estaduais que habitam as escolas estaduais do Rio de Janeiro para poder dar voz às contradições presentes na escola, invisibilizados no manequeismo de afirmar se a polícia é boa ou não para aquele espaço. Em processo, o presente trabalho pretende, fazer pensar como a presente pesquisa vai ao mesmo tempo pesquisando e construindo suas redes. Entrevistas negadas, entrada em escolas negada, entrevistas confirmadas, contatos refeitos, desvios possíveis, brechas que vao sendo abertos, contatos que vao sendo reafirmados, entrevistas transcritas, indicação de outros contatos, entrada de escolas por fora, outras redes vao sendo tecidas. O que significa dizer sim, participar de uma pesquisa, que relações de poder constituem o processo de entrevista? O que as negativas nos mostram, que fazem ver e falar nesse campo de forcas? Para acompanhar processos, diversidade como linhas que se condensam em estratos mais ou menos duros, sem hierarquia e totalização, a aposta é não unificar e sim tirar o único: a realidade se apresenta como plano de composição de elementos heterogêneos, um rizoma. Perceber forças e vetores, escolher analisadores que emergirem do campo. O rizoma se refere a um mapa que deve ser produzido, construído, sempre desmontável, conectável, reversível, modificável, com múltiplas entradas e saídas, com suas linhas de fuga, onde nos apoiaremos diretamente sobre uma linha de fuga que permita explodir os estratos, romper as raízes e operar novas conexões. Mostrar o campo de forças operando em um plano comum de acessos, entre os atores que fazem parte da pesquisa, trazendo as relações institucionais e suas encomendas, negativas, demandas, silêncios, questionamentos, verborragias. A partir de casos e situações que atravessam o pesquisador, a constante e interminável atitude de construir e reconstruir o caminho da pesquisa nos faz ver o quanto é fundamental pensá-la em movimento. Palavras-chave: Entrevista; Cartografia; Metodologia; Processualidade; Rizoma

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Do teórico ao prático: apreensões da responsabilidade na vida cotidiana de crianças Autor: Juliana Siqueira de Lara Orientação: Lucia Rabello Linha de Pesquisa: Subjetividade, Cultura e Práticas Clínicas Sessão: Aspectos epistêmicos e metodológicos; 09/06 (terça); 14:00-16:00

Concebemos, nesta proposta, uma reflexão sobre o tema da responsabilidade e sua aproximação com o campo da infância e à vida das crianças. Pretendemos, em um recorte do trabalho mais amplo, indagar como, metodologicamente, é possível realizar uma apreensão sobre uma noção teórica e abstrata na vida cotidiana e prática de crianças. De que maneira(s) é possível apreender como crianças experimentam a responsabilidade e/ou a assunção do ser responsável? Nessa pesquisa, a ideia de pesquisar uma noção teórica e verificar a sua aproximação na vida prática nos impôs desafios metodológicos que gostaríamos de refletir e discutir como forma de coletivizar as nossas angústias e tentar achar caminhos possíveis para os entraves aparentes. A noção de responsabilidade tem sido evocada como importante nos debates públicos e políticos sobre a vida de crianças, jovens e suas famílias hoje em dia. Entretanto, a aproximação dessa temática aos campos da infância não se dá de forma unívoca. De um lado, encontra-se na literatura voltada para crianças e jovens visões que compartilham da imagem das crianças como seres irresponsáveis e/ou livres de responsabilidades, especialmente por considera-las como não adultas, em processo de desenvolvimento, imaturas e vulneráveis. Por outra perspectiva, especialmente no que concerne ao debate político e social acerca dos direitos positivos das crianças, esses sujeitos tem sido reivindicados como seres responsáveis e/ou possuidores de responsabilidades. Esse estudo assume uma posição teórica da noção de responsabilidade que pretende se distanciar do sentido jurídico do termo enquanto imputação e/ou dever, e se aproximar do seu sentido ético, remetido ao outro. Nesse sentido, faz-se importante para nós se aproximar da relação de crianças e jovens a formas diferentes de existência que não as suas, pois acreditamos que o debate acerca do enfrentamento e reconhecimento da alteridade constitui a grande possibilidade de construção de uma sociedade democrática mais ética e, portanto, humana, uma vez que a condição de vulnerabilidade entre os sujeitos estaria sendo admitida. Além disso, ao nos basearmos na noção de responsabilidade como estando remetida ao outro apostamos em um caminho interessante para questionarmos a possibilidade de negociação da convivência sem que o aparato legislativo baseado em princípios racionais tenha que estabelecer tal exercício, aproximando, assim, crianças e jovens a problemática do pacto societário que rege o destino comum e regula as relações entre diferentes sujeitos. Palavras-chave: responsabilidade; crianças; metodologia

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Modos identitários de produção de subjetividade e performatividade Autor: Brenda Fischer Sarcinelli Pacheco Orientação: Hebe Gonçalves Linha de Pesquisa: Subjetividade, Cultura e Práticas Clínicas Sessão: Corpo, subjetivação e contemporaneidade; 09/06 (terça); 16:00-18:00

A discussão proposta para o III Encontro dos Estudantes do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFRJ está diretamente relacionada ao início do desenvovlivmento de uma pesquisa teórica proposta para o doutorado. Assim, busca-se compartilhar o tema e as dificuldades iniciais da pesquisa buscando a troca e a contribuição dos demais discentes. O projeto de pesquisa para o doutorado teve início durante o curso de mestrado em Psicologia, realizado ao longo dos anos de 2012 e 2013. Esse início foi a produção de uma questão, naquele momento ainda pouco clara e de difícil enunciação, pois delineou-se em meio ao debate e as discussões relativas às questões de gênero e sexualidade, que foram problematizadas em disciplinas e orientações do curso. Assim, enquanto voltada para a elaboração da dissertação de mestrado, não foi possível dar espaço para a emergência da questão proposta para o doutrado projeto. Adotando como referenciais teóricos centrais a obra de Michel Foucault e o trabalho de Judith Butler, propôs-se o desenvolvimento de uma pesquisa teórica sobre a mudança nos modos de subjetivação na modernidade tardia, a partir da proposta de Judith Butler da performatividade de gênero, que aponta para um novo descentramento do sujeito na contemporaneidade. Considera-se que os dois autores acima citados produzem uma importante contribuição para a possibilidade de compreender o sujeito na contemporaneidade, período histórico da sociedade ocidental também chamado de pós-modernidade ou modernidade tardia. Sua produção teórica e sua crítica política referem-se aos sujeitos, aos modos de subjetivação e aos limites de inteligibilidade que são produzidos no campo social. Portanto, entende-se que as questões propostas podem ter sido produzidas no campo da filosofia e da reivindicação teórica/política do feminismo, mas apresentam-se como questões da psicologia, visto tratarem dos sujeitos, de sua constituição identitária e dos efeitos de inteligibilidade produzidos pelas performances de gênero no campo social. No desenvolvimento do referencial teórico inicialmente será apresentada a proposta de Butler (2012) referente a performatividade de gênero e seu questionamento da heteronormatividade compulsória, que regula a pretensa coerência entre sexo, gênero e desejo. Visto a questão da identidade de gênero ser central na discussão da autora, buscaremos discutir as concepções tradicionais de identidade na modernidade tardia desenvolvidas por Stuart Hall, avançando por este campo com a proposição teórica de Gilbert Simond sobre os processos de individuação, em diálogo em a produção dos modos de subjetivação tal qual entendida por Foucault e Deleuze. Palavras-chave: Identidade, produção de subjetividade, performatividade

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Sintomas mudos, corpos falantes Autor: Rogério de Andrade Barros Orientação: Vera Besset Linha de Pesquisa: Subjetividade, Cultura e Práticas Clínicas Sessão: Corpo, subjetivação e contemporaneidade; 09/06 (terça); 16:00-18:00

Freud afirma que a vida na civilização é árdua demais, gerando sofrimentos que remetem ao desamparo fundamental do ser humano. Nesse contexto, a relação com outros seres humanos, com o mundo externo e com o próprio corpo são as fontes de mal-estar mais poderosas. Na atualidade, verificamos, cada vez mais na clínica, a prevalência de sintomas silenciosos, que se manifestam diretamente no corpo, não articulados à cadeia significante, distanciados do campo simbólico. Essas afecções apresentam-se diferentemente da conversão histérica, com a qual Freud se depara na época vitoriana. O sintoma histérico nos parece tributário de uma época marcada pela repressão sexual, e na qual os significados do ser homem e do ser mulher eram socialmente definidas. Na atualidade, a partir da revolução moral, sexual e liberal, aliado ao o despertar de novas experiências referentes a mudança do estatuto do homem e da mulher na cultura, e a espetacularização da intimidade, efeitos distintos podem ser encontrados na clínica. O pornô como excesso de visualização da cena sexual, retira o véu que velava o erotismo, eliminando a sensualidade. Se antes pensávamos, com Freud, o desejo como o oculto, algo que se perdeu, mas que seria possível encontrar no Outro, na contemporaneidade, o excesso do olhar, panóptico, nos faz interrogar quanto aos efeitos dessa suposta transparência sobre os sujeitos e seus corpos. Como pensar então a abordagem a esses casos, em que o corpo não mais é palco de sintomas que entram na conversa, mas pedaços de real descobertos de qualquer velamento? Se antes o recurso da interpretação e a referência ao sentido oculto balizava a prática analítica sob transferência, torna-se fundamental repensar a atuação dos psicanalistas frente ao silencio das afecções de corpos emudecidos. Considerando a relevância de considerar o corpo na clínica, sobretudo dos sintomas contemporâneos, o Núcleo de Pesquisa Clínica Psicanalítica (CLINP), coordenado pela professora Vera Lopes Besset, vem investigando temas referentes ao corpo sob a ótica da psicanálise. Abordaremos no trabalho, alguns temas das pesquisas em andamento no CLINP, bem como a sua relação internacional com o Laboratoire Recherches en psychopathologie clinique: champs et pratiques specifiques, da Universidade de Rennes II. Palavras-chave: Corpo; psicanálise; Freud; Lacan.

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Sobre o consumo de medicamentos para a melhora cognitiva e do humor: primeiros passos de uma Cartografia das Controvérsias Autor: Cristiana de Siqueira Gonçalves Orientação: Rosa Pedro Linha de Pesquisa: Processos psicossociais e coletivos Sessão: Corpo, subjetivação e contemporaneidade; 09/06 (terça); 16:00-18:00

O avanço biotecnológico tem possibilitado o aparecimento das enhancement technologies, intervenções que visam a melhora do funcionamento ou de características humanas para além do sustento da saúde ou reparo do corpo (Hogle, 2005). Uma dessas intervenções, é o consumo de medicamentos para a melhora da performance cognitiva e do humor, tais como o metilfenidato e os antidepressivos. O metilfenidato, que inicialmente era restrito ao tratamento de crianças com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), teve seu uso estendido quando o diagnóstico de TDAH passou a abranger pessoas em idade adulta (Conrad, 2007). Atualmente, vemos uma apropriação de seu consumo para fins de enhancement, que tem repercutido na mídia através de notícias de “concurseiros” e executivos que fazem uso dessas substâncias para conseguir estudar ou trabalhar por mais horas e bater suas metas. O antidepressivo, surgido nos anos 50, que teve relutância em ser comercializado pela indústria farmacêutica, por falta de mercado para o mesmo (Aguiar, 2004), teve grande expansão nos anos posteriores. Atualmente, o aumento nas prescrições desses medicamentos, leva ao questionamento se este consumo está associado ao aumento de transtornos ou a questões próprias da vida que estão sendo medicalizadas. Vemos assim, uma apropriação e aumento do consumo desses medicamentos que não está livre de controvérsias. Há uma indefinição das fronteiras que definem o que seria considerado patológico - cuja intervenção estaria voltada para o tratamento - e o que seria considerado “normal” – cuja intervenção estaria voltada para o aprimoramento da performance. Além disso, questões éticas também controversas, como a segurança desses medicamentos, a possibilidade de coerção ao seu consumo, a justiça distributiva e a redefinição da natureza humana se fazem presentes, tendo efeitos sobre a produção da subjetividade contemporânea. Nesse sentido, visando cartografar tais controvérsias envolvidas no consumo de medicamentos para fins de enhancement, exploraremos as articulações dos diferentes atores envolvidos nessa discussão partindo da análise de autores que tratam especificamente dessas questões, como também de matérias em revistas especializadas e na mídia comum, que versam especificamente sobre as questões éticas envolvidas no consumo de medicamentos para a melhora da performance cognitiva. Visamos com isso entender melhor essa rede sociotécnica heterogênea - composta por humanos e não-humanos –, fruto de associações, debates e discussões entre diferentes atores, que tem se estabelecido de determinada maneira, mas pode ser constituída diferentemente, performando outras realidades. Palavras-chave: Enhancement Technologies, Biotecnologias, Medicamentos, Cartografia das Controvérsias

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O olhar na pintura de Edouard Manet Autor: Rômulo Ballestê Marques dos Santos Orientação: Francisco Portugal Linha de Pesquisa: Processos psicossociais e coletivos Sessão: Cognição, percepção e experiência; 10/06 (quarta); 9:00-12:00

Nosso trabalho visa refletir o olhar inscrito na visualidade pictórica elaborada por Edouard Manet a partir da análise de Michel Foucault. De acordo com esta interpretação, o olhar, em sua articulação com a pintura de Manet, não guarda continuidade com as teorias psicológicas da percepção antes realiza-se como um jogo advindo da própria pintura do artista. Ao discutirmos o olhar implicado em noções pictóricas como: espaço, superfície, luz e profundidade acreditamos que novos caminhos podem ser abertos para a psicologia da percepção. Para Foucault, a pintura de Manet constitui um acontecimento instituidor de um campo discursivo, um marco gerador da pintura moderna, um corte na tradição representacional pictórica proveniente do quatrocentto. Organizando sua argumentação em três rubricas, o pensador se vale de um conjunto de quadros de Manet para cada aspecto: a primeira rubrica diz respeito ao problema do espaço; a segunda, ao problema da luz; e a terceira, analisa o ponto de vista do observador. O olhar ao mesmo tempo que atravessa, é constituído em cada um desses apontamentos. Foucault, analisando a primeira rubrica, aponta que, nos quadros Dans la Serre (1879) e Bal masqué à l'opéra (1873-4), Manet representa o espaço nas telas como um jogo no qual a profundidade está comprimida, ou seja, a distância entre o plano da superfície no qual as figuras estão alocadas e o espaço atrás das figuras é muito pequeno. É como se a própria tela empurrasse as figuras para a frente em direção ao observador. Este jogo que comprime a profundidade evidencia a materialidade da tela não apenas como uma superfície mas como uma superfície que possui um verso e um recto. Ainda que Foucault não tenha comentado sobre este aspecto em sua conferência, é possível introduzir um elemento nesta superfície. O eixo estabelecido pelo olhar da mulher em composição com o olhar da menina no quadro Le Chemin de fer (1872-3), ambos voltados para fora do quadro, transversaliza os eixos horizontal e vertical. Contudo, o olhar aqui não se sobrepõe aos eixos horizontal e vertical como se estivéssemos num plano cartesiano, num ponto zero de interceptação dos três eixos. O olhar aqui opera como um furo. O olhar como furo é o que permite tornar visível o invisível. O olhar não é uma espécie de linha reta pontilhada invisível que liga ininterruptamente os olhos do observador ao objeto visto. O olhar, pela sua própria implicação estética, é uma espécie de fazer ver que revela a existência de algo invisível e, enquanto furo, vazio de sentido. Uma vez que uma pintura não oferece algo a ser visto, a invisibilidade é um efeito da produção do visível. Justamente o que encontraremos representado é o olhar e não o que os olhos dos personagens, no quadro La Serveuse de Bocks (1879), vêem. A segunda rubrica acerca dos trabalhos de Manet versa sobre a iluminação e a luz. Tradicionalmente, luz e iluminação sempre tiveram a sua fonte determinada pela construção geométrica da perspectiva localizada no interior do quadro cujo efeito era dar relevo aos objetos representados. Em Olympia (1863), a luz que atinge o corpo da jovem incide perpendicularmente à superfície da tela. É uma luz que vem de fora da tela, vem da frente da tela. Se a visibilidade na pintura ocidental é referida à luz oriunda de um ponto conhecível que produz o espaço, em Manet o que compõe a visibilidade é a luz que atinge perpendicularmente a superfície material da tela. Isto abre a possibilidade da visibilidade. O lugar do observador, último aspecto a ser abordado, é desenvolvido a partir da análise do quadro Un bar aux Folies Bergère (1881-2). A ideia de totalidade, presente classicamente nas representações, é garantida quer pela centralização da figura, quer quando representada na frente de um espelho. Neste caso, a imagem refletida das costas pode ser vista pelo observador preenchendo uma experiência de completude e de totalidade próprias ao ilusionismo clássico. Há um espaço entre a figura e o espelho e é esta distância entre os dois que permite a visão da imagem das costas, voltada para o espelho, ser refletida e visualizada pelo observador ao mesmo tempo que o observador contempla a parte da frente. Este espaço em profundidade, classicamente representado, entre a figura e o espelho, será negado por Manet. Na verdade, a profundidade será negada duplamente nesse quadro pois não dá para ver o reflexo da imagem das costas da moça no espelho porque ela está perto demais do espelho e também não dá para ver o que está atrás da mulher entre as suas costas e o espelho. O olhar ocupa, por conseguinte, um lugar fundamental na transformação que Manet produz na pintura e é, assim, uma potente contribuição para pensarmos a posição do observador na história da psicologia da percepção. Palavras-chave: Olhar, pintura, Manet, Foucault

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A experiência do espectador e os processos cognitivos numa perspectiva emancipada Autor: Fabio Montalvão Soares Orientação: Virgínia Kastrup Linha de Pesquisa: Cognição e Subjetividade Sessão: Cognição, percepção e experiência; 10/06 (quarta); 9:00-12:00

Introdução: Esta pesquisa analisa o estatuto da experiência do espectador no cinema, avaliando os aspectos cognitivos que atravessam suas relações com o plano das imagens e as implicações sobre os processos de subjetivação. Visa investigar como se processa cognitivamente, a experiência dos espectadores com as imagens cinematográficas e, numa perspectiva emancipada (RANCIÈRE, 2008), como estes se apropriam dos materiais exibidos, no sentido estético de um processo de reinvenção de sí e do mundo (KASTRUP, 2009). Partindo dos estudos sobre espectatorialidade (STAN 2000) e recepção (MASCARELLO, 2009; JACKS; 2008; GOMES 2006, CANCLINNI 1994; BARBERO, 1990), realiza-se uma investigação sobre a especificidade do espectador de cinema, enfatizando a perspectiva fenomenológica sobre a experiência e a noção de emancipação intelectual (RANCIÉRE, 2000; 2008). Ao destacar que a discussão sobre a experiência no âmbito da recepção se limita a análises do comportamento do público, inferidas a partir de índices de audiência, a pesquisa atenta para o fato de não se considerar a dimensão processual e corporificada da experiência em seu aspecto cognitivo (VARELA, THOMPSON & ROSCH, 1990), constituindo o cinema comercial um modelo recognitivo (DELEUZE, 1983, 1985) presente no plano da interação com as imagens. Metodologia: Utilizamos o método da cartografia (PASSOS, KASTRUP & ESCÓSSIA, 2009; PASSOS, KASTRUP & TEDESCO, 2014) e a técnica de entrevista de explicitação (VERMERCH, 1994), visando o acesso ao plano da experiência do espectador, bem como a produção de relatos nela baseados. O entrevistado é convidado a falar de sua relação com as imagens audiovisuais e sobre os aspectos cognitivos e estéticos implícitos no processo autopoiético de reivenção de si a partir da interação com as obras cinematográficas. Resultados: A pesquisa teórica demonstrou a escassez de dados relativos à espectatorialidade no âmbito do cinema (MASCARELLO, 2009) e uma vinculação deste campo aos estudos de recepção em televisão (JACKS, 2008). Considerando-se que a maioria desses estudos dedicam-se a análises do comportamento do público expressos em índices de audiência voltados aos interesses mercadológicos (JACKS & ESCOTESGUY, 2006), constatou-se a carência de abordagens que tratem da experiência do espectador propriamente dita, visando o desenvolvimento de uma metodologia que aborde de modo satisfatório o problema. O desenvolvimento da pesquisa consolidou a construção de uma metodologia própria aos estudos sobre a experiência no âmbito da espectatorialidade no cinema, bem como numa delimitação mais precisa de sua especificidade, contribuído para a realização do trabalho de campo. Palavras-chave: espectador, experiência, cinema

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Ilusão perceptiva e sistemas de referências Autor: Filipe Herkenhoff Carijó Orientação: Virgínia Kastrup Linha de Pesquisa: Cognição e Subjetividade Sessão: Cognição, percepção e experiência; 10/06 (quarta); 9:00-12:00

Este trabalho tem um objetivo duplo: primeiro, elucidar e desenvolver o conceito de sistema de referências perceptivo, proposto pela primeira vez por Wertheimer; segundo, utilizar tal conceito para propor uma compreensão das ilusões espaciais. A tese a ser defendida é a de que uma ilusão espacial é uma experiência perceptiva em que uma cena é percebida segundo mais de um sistema de referências ao mesmo tempo ou segundo um sistema de referências incomum. Se isso for correto, o conceito de ilusão espacial poderá ser reduzido ao conceito do sistema de referências perceptivo. Wertheimer introduziu a noção de sistema de referências ao relatar um experimento em que o que vale como vertical perceptiva para o sujeito experimental – isto é, aquilo que lhe parece ser a vertical – é perceptivamente alterado através da manipulação das condições da percepção. A partir de tal experimento, lançou a tese de que certos fatores do campo visual determinam eixos (vertical e horizontal perceptivas) unicamente em relação aos quais algo pode ser percebido como espacialmente orientado. Generalizando a tese, supôs que, de forma análoga, fatores no campo determinam um “nível” unicamente em relação ao qual algo pode ser percebido como em movimento, como grande ou pequeno, etc. Olhando em retrospecto, não é surpreendente que a percepção de propriedades espaciais opere por sistemas de referência; afinal, as propriedades espaciais em questão são, objetivamente, propriedades relacionais: um objeto só é grande ou pequeno, espacialmente orientado dessa ou daquela forma, móvel ou estacionário em relação a outros objetos, que servem como referência. Wertheimer nunca disse o que um sistema de referências perceptivo é. Neste trabalho, proponho entendermos sistemas de referências perceptivos como funções de propriedades das coisas para aparências perceptivas. Discuto ainda os méritos e limitações da concepção de Wertheimer e, finalmente, utilizo-me do conceito em uma interpretação das ilusões perceptivas espaciais clássicas. Palavras-chave: ilusões espaciais; sistemas de referências perceptivos; Wertheimer

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A influência da mídia no comportamento consumidor infantil e reconhecimento de logos Autor: Daniel Campos Lopes Lemos Orientação: Rodolfo Ribas Linha de Pesquisa: Cognição e Subjetividade Sessão: Cognição, percepção e experiência; 10/06 (quarta); 9:00-12:00

O consumo exacerbado, característica das sociedades modernas se tornou uma questão de proporções globais, uma vez que este começa a impactar cada vez mais fortemente no meio ambiente, estima-se que para suportar nossa demanda atual por recursos ecológicos renováveis e serviços que deles provém seria necessário 1,5 Terras. A WWF organização que tem como foco a conservação da natureza dentro do contexto social e econômico, vem apresentando ao longo dos anos uma série de relatórios acerca do mal uso dos recursos naturais devido aos padrões de consumo vigentes. Na sociedade atual como salientam Andrade e Costa (2010) as pessoas, independentemente de condições econômicas, gênero, idade e grupo social, são convocadas a fazer parte das redes de consumo. Linn (2006) classifica a questão do consumo nas crianças como uma questão não exclusivamente comportamental, mas que acaba por exercer influencia em diversos fatores da vida, como a saúde, educação e até mesmo a formação de valores e juízos. Neste contexto cabe ainda ressaltar que a noção de consumo pode afetar a noção de felicidade apresentada por essas crianças estando diretamente ligada a posse ou não de um determinado item. As crianças seriam um mercado em potencial, maior do que qualquer outro na visão de alguns autores, tais como Mc Neal (2000), uma vez que se apresentam como um mercado primário, gastando o dinheiro que possuem no momento para saciar seus desejos e necessidades; um mercado de influencia já que através de sua influencia afetam diretamente o gasto dos pais de modo a alcançar seu beneficio próprio e por fim um mercado futuro, quando estes se tornarão consumidores de produtos específicos de determinada empresa uma vez que já se encontram fidelizados a uma determinada marca ou bem de consumo. Palavras-chave: Comportamento consumidor, infância, mídia

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Trabalho e tecnologia: controvérsias acerca do uso do das redes sociais Autor: Ana Paula da Cunha Rodrigues Orientação: Rosa Pedro Linha de Pesquisa:Processos psicossociais e coletivos Sessão: Questões do trabalho na contemporaneidade; 10/06 (quarta); 14:00-17:00

O mundo do trabalho, as formas de produzir e se relacionar na esfera profissional vêm sofrendo uma série de transformações ocasionadas pelo atravessamento das novas tecnologias. A tecnologia cumpre em parte seu papel de devolver ao trabalhador “parte do seu tempo”, todavia demanda constantes reestruturações, como nos alerta Pierre Lévy exigindo uma reorganização constante e em tempo real de agenciamentos como flexibilidade e prazo. Esses profissionais emprestam as organizações suas habilidades organizacionais herdadas da forma tecnológica como gerenciam seu trabalho, incorporando valores do novo mundo corporativo ao seu “self empreendedor” termo utilizado por Nikolas Rose para descrever a forma como passam a gerir suas próprias vidas baseados na excelência e eficiência. Sobre o uso de tecnologias, em maio desse ano, a temática do “ direito de ser esquecido” nos levou a refletir sobre os modos de subjetivação na atualidade. Na ocasião, o Google recebeu de um usuário espanhol uma solicitação de esquecimento, ao recorrer à justiça para que os resultados de busca pelo seu nome referentes a venda de um imóvel para pagamento de dívidas fossem apagados. A Corte Européia de Justiça decidiu que os indivíduos tem o direito de controlar seus dados pessoais, em caso de informações inadequadas ou não pertinentes, o que se convencionou chamar o “direito de esquecimento”. Google e Linked in possibilitam acesso rápido a pessoas e informações, ainda que com finalidades distintas, tendo em comum a velocidade. Todavia, se há um razoável consenso de que vivemos em um tempo de aceleração, o mesmo não pode ser afirmado sobre os efeitos que são produzidos em decorrência dessa aceleração e como o social é construído a partir desses actantes e atores. Segundo o sociólogo Bruno Latour, a teoria ator rede (TAR) defende que a partir do registro dos vínculos entre quadros de referências instáveis é possível identificar padrões reveladores e rastrear relações mais sólidas. (2012). Nesse sentido, o Linked in, possibilita agir internalizando valores do mercado de trabalho, ao mesmo tempo em que aponta para a falta de limites. E o que perecia estar na ordem do singular, uma vez que o indivíduo cria seu perfil e descreve sua trajetória profissional passa a integrar o coletivo. E o perfil profissional atende aos interesses das organizações pelo acesso a rede de relacionamentos do profissional com outras finalidades que não apenas a inicial de fazer networking, mas de gerar negócios e controlar a carreira do profissional, desfazendo assim a necessidade do panóptico foucaultiano. Os autores David Lyon e Zigmund Bauman retomam o panóptico foucautiano para descrever os empregados desse novo mundo do trabalho, que carregam em seus próprios corpos seus panópticos pessoais, utilizando a metáfora dos caramujos que transportam suas casas enquanto os profissionais transportam seus celulares e iPhones mantendo-se ligados e a disposição da empresa. Assim, acompanhar processos como “o direito de ser esquecido” do Google e “a necessidade de ser lembrado” do Linked in, explorando suas controvérsias apresenta-se como uma aposta promissora a partir da problematização das temáticas do mundo do trabalho e tecnologia na atualidade. Palavras-chave: Trabalho Redes Sociais e Controvérsias

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Trabalho precário e modos de subjetivação: um estudo sobre jovens trabalhadores de uma empresa de fast food. Autor: Felipe Salvador Grisolia Orientação: Lucia Rabello Linha de Pesquisa: Subjetividade, Cultura e Práticas Clínicas Sessão: Questões do trabalho na contemporaneidade; 10/06 (quarta); 14:00-17:00

A presente investigação visa estudar o processo de subjetivação de jovens que estão em empregos precários. A juventude é entendida como uma produção sócio-histórica e não como uma categoria natural, e a subjetivação como a produção do sujeito no âmbito das suas condições políticas, econômicas e culturais que simultaneamente constrangem e favorecem sua ação. Discute-se como as mudanças no mundo do trabalho, que se tornam proeminentes no Brasil na década de 90, acabaram por aumentar as modalidades do emprego precário e do desemprego em especial para juventude. Neste estudo os jovens empregados em uma empresa de fast food foram investigados. Esta instituição aparece nos dias de hoje como símbolo do vínculo empregatício precário pelo desrespeito às normas trabalhistas, baixos salários e pela alta rotatividade de seus funcionários. O trabalho de campo contou com três dimensões que dizem respeito a: a institucionalidade sindical; a vivência pelo próprio pesquisador do processo de seleção para a empresa estudada; e as narrativas dos jovens sobre seu trabalho. A análise do material empírico nestas diferentes etapas mostra que: a instância sindical é distante dos empregados e que os mesmos a desconhecem; e é na empresa que vivem sua primeira experiência de trabalho formal onde são submetidos a alta padronização na rotina de trabalho e a péssimas condições salariais. Os resultados mostram que os empregados lidam de forma individualizada com os incômodos da padronização e dos baixos salários e almejam outra inserção laboral que lhes garanta maiores vencimentos. O modelo de subjetivação que o emprego na empresa de fast food estudada promove é o de um ser individualista que vê as demandas do mundo do trabalho como naturalizadas, devendo o trabalhador se ajustar a elas e buscar se qualificar para conseguir uma melhor posição no mundo do trabalho. Palavras-chave: Juventude; Trabalho precário; fast food

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Satisfação no trabalho e Anomia Autor: Gabriela Pereira Rangel Hora Orientação: Rodolfo Ribas Linha de Pesquisa: Cognição e Subjetividade Sessão: Questões do trabalho na contemporaneidade; 10/06 (quarta); 14:00-17:00

A Satisfação no Trabalho, em quanto constructo da psicologia organizacional, vem sendo largamente estudado ao longo dos últimos 40 anos. Inúmeras pesquisas buscam compreender a relação desta variável com outras variáveis organizacionais. Entretanto a relação entre a Satisfação no Trabalho e a Anomia não está clarificada na literatura científica. Objetivo da pesquisa é investigar a relação entre esses dois aspectos, e compreender como essas duas variáveis se correlacionam no ambiente de trabalho. Para tal será realizado a) uma revisão da bibliografia para definir quais são as práticas mais adotadas para a investigação dos constructos; b) aplicação dos instrumentos mais adequados de acordo com a literatura; c) análise dos dados. O trabalho proposto possui relevância acadêmica pela sua singularidade, além de relevância para a sociedade, por se propor a lançar luz a um apecto da Psicologia Organizacional e do mundo do trabalho. Palavras-chave: Satisfação no Trabalho, Anomia, Psicologia Organizacional.

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Cartografando as relações institucionais pró-emprego e produção de subjetividade: estudo do analisador “empregabilidade” em políticas públicas de geração de emprego e renda e suas relações com o desemprego da população economicamente ativa jovem no município de queimados na baixada fluminense Autor: Jorge Antonio Tavares Peixoto Orientação: Francisco Portugal Linha de Pesquisa: Processos psicossociais e coletivos Sessão: Questões do trabalho na contemporaneidade; 10/06 (quarta); 14:00-17:00

O trabalho visa realizar uma pesquisa cartográfica com as populações jovens potencialmente ativas, no Município de Queimados, na Baixada Fluminense-RJ, sobre um recorte regional das complexas relações que se estabelecem entre as iniciativas Públicas de agenciamento e geração de emprego e renda. Elegeu-se como analisador para fazer emergir e mapear essas relações o conceito da Empregabilidade. Oriundo da Teoria do Capital Humano, este conceito que se desenvolveu e se inseriu nas políticas públicas no Brasil , iniciando-se a partir da década 90, durante o momento em que o país passa por um período de restruturação pós-ditadura e alicerçado num discurso de desenvolvimento de novas políticas de menor intervenção do Estado e suposta eficiência da máquina pública. A situação de desemprego começa ser justificada por preceitos que levam ao entendimento que cada sujeito deve se preocupar em se manter “empregável” e qualificado de acordo com as novas exigências do mercado de trabalho. Ao desimplicar o Estado de sua função de promotor de políticas públicas que gerem emprego em renda, se aposta nas ideias de processos maquinímicos que justificam tal situação e produzem no sujeito a relação de culpabilidade, descrita por Guattari torna-se responsável por sua inserção no mercado de trabalho na promoção de políticas públicas de emprego. Assim o presente trabalho aponta a necessidade de conhecer melhor os efeitos dessa relação e dessa produção de subjetividade num município que embora esteja em expansão industrial e comercial, ainda se configura como um dos mais pobres e com maior número desempregados na região, especialmente entre os jovens. Palavras-chave: Políticas públicas, emprego e Renda; produção de subjetividade

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Territorializações e tecnologias de mobilidade: automóveis, bicicletas e a constituição de territórios urbanos e existenciais Autor: Pedro Legey de Abreu e Lima Orientação: Francisco Portugal Linha de Pesquisa: Processos psicossociais e coletivos Sessão: Cidade e Produção de Subjetividade; 11/06 (quinta); 9:00-12:00

Historicamente, o viver em grandes cidades tem tornado inquestionável o fato da mobilidade ser um problema frequente. Ela é um tópico chave à urbanistas, engenheiros, arquitetos, administradores, candidatos eleitorais e tantos outros mais. Entretanto, o tema tem sido contemplado não apenas quando a circulação de grandes cidades se torna um problema atualmente. Pode-se também ressaltar sua importância na medida em que as cidades expandiram-se ao longo de suas histórias, já que a maneira em que seus crescimentos se desenrolam não pode deixar de lado a importância da circulação de pessoas, mercadorias, produtos e mesmo de informações dentro dos seus territórios. A industrialização trouxe tanto o crescimento das cidades como a presença intensa de automóveis em seus espaços, estando todos esses atores imbricados na construção dos cenários urbanos atuais. Ao serem colonizados pela presença de máquinas motorizadas que propunham deslocamentos inovadores, esses espaços modificaram-se conforme a existência de tais tecnologias, contribuindo para mudanças significativas na vida urbana, bem como na experiência de seus habitantes. Hoje em dia, por outro lado, tem-se cada vez mais a atenção direcionada para outra máquina, fruto da mesma época que inventou o automóvel, mas que, no entanto, não possui motor. Proporcionando um deslocamento fruto do metabolismo corporal, a bicicleta tem reaparecido como instrumento de transporte – não tendo mais sua existência renegada apenas à existência como um brinquedo ou objeto de esporte. Dessa maneira, o uso dessas diferentes tecnologias podem ser pensadas como diferentes apostas de ocupação do espaço urbano. Não obstante, uma vez que a circulação de pessoas ainda é corriqueiramente apresentada como assunto puramente técnico, e passa despercebida como categoria de análise que fala de questões sociais e coletivas, torna-se premente o estudo da mobilidade enquanto processo psicosocial, que tanto reproduz quanto cria desvios em certos modos de relacionar-se consigo, com os demais e com o mundo. Nesse sentido, o tema da mobilidade apareceria aqui não apenas sendo central para a constituição do ambiente em que vivemos, mas também como sendo central ao entendimento daquilo que nos constitui enquanto subjetividades. Investigar de que maneira tecnologias de mobilidade podem-se relacionar a constituição de certos modos de ser e existir no mundo é o tema da pesquisa a ser apresentada aqui. Mais especificamente, pretende-se focar nas possíveis diferenciações entre o uso do automóvel e da bicicleta no que diz respeito à processos de criação de subjetividades. Palavras-chave: subjetivação, bicicleta, automóvel, mobilidade

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Cidades e Subjetivação - reflexões de um grupo de estudos Autor: Alice Vignoli Reis, Pedro Legey de Abreu e Lima, Karoline Ruthes Sodré Orientação: Mônica Alvim e Francisco Portugal Linha de Pesquisa: Subjetividade, Cultura e Práticas Clínicas Sessão: Cidade e Produção de Subjetividade; 11/06 (quinta); 9:00-12:00

Compreendendo a cidade como locus privilegiado de produção das subjetividades contemporâneas e os modos de organização do espaço urbano como dimensões materiais e concretas de processos históricos, políticos, econômicos e sociais, o grupo de estudos Cidades e Subjetivação, fruto de iniciativa de estudantes de pós-graduação em psicologia da UFRJ, propõe-se a fazer um estudo coletivo sobre o espaço da cidade e os modos de subjetivação que ela produz. O presente trabalho articula os temas já discutidos pelo grupo, a partir do pensamento de David Harvey, Michel De Certeau e Paola Jacques com a temática dos projetos de pesquisa de alguns dos integrantes do grupo de estudos, a saber: as relações entre corpo e espaço, pensando no processo de produção de corporeidades/subjetividades em uma cidade partida, marcada por intenso processo de segregação espacial; a discussão sobre o direito à cidade e a ocupação de espaços públicos por coletivos artísticos pensando no fazer coletivo enquanto produtor de outras formas de viver a cidade e as relações nesse espaço. Nesses encontros, que acontecem semanalmente no Instituto de Psicologia da UFRJ, além do debate que os textos suscitam entre os integrantes do grupo, vem se intensificando o desejo de produzir intervenções para além de uma sala dentro da universidade. Os próprios textos apontam para uma corporificação dos conceitos debatidos: o que o ato de caminhar, percorrer e apreender a cidade pode produzir enquanto conhecimento interessante à Psicologia? Segundo Harvey, a concepção de um projeto de cidade é indissociável da consciência a respeito de que tipo de vínculos com os outros, com a natureza, com as tecnologias, com os valores estéticos almejamos. Jacques nos apresenta o conceito de corpografia, uma cartografia corporal da experiência da cidade que fica inscrita no corpo de quem a experimenta e também o configura. Assim, ao habitarmos o espaço citadino produzimos corpo com ele. Harvey também afirma, citando Robert Park, que o homem, ao fazer a cidade refez a si mesmo. Assim, se ao produzir a cidade o homem também se produz, que outro homem poderia forjar-se ao apostarmos em outras formas de produção de cidade? Que cidade estamos construindo cotidianamente a partir das práticas coletivas instituídas? E que derivações, rupturas, reinvenções são possíveis nessas práticas? Seria possível conceber outros projetos de cidade? O presente trabalho visa trazer esta discussão à tona entre os estudantes de pós-graduação em psicologia da UFRJ, como maneira de fazer circular pensamentos sobre a cidade. Palavras-chave: Cidades, processos de subjetivação, corpografias urbanas, práticas coletivas de espaços comuns

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Ver e ser visto no Facebook: modos de subjetivação contemporâneos Autor: Luciana Santos Guilhon Albuquerque Orientação: Rosa Pedro Linha de Pesquisa: Processos psicossociais e coletivos Sessão: Cidade e Produção de Subjetividade; 11/06 (quinta); 9:00-12:00

O presente estudo tem como objetivo principal refletir sobre como as dinâmicas contemporâneas de vigilância e visibilidade reverberam na produção de novas formas de subjetivação, ou seja, analisar como o ato de vigiar e ser vigiado, usando o Facebook, produz novos modos de ser e de se relacionar com os outros. O estudo se justifica na medida em que as tecnologias de vigilância, que se apóiam em objetos técnicos, como celulares, câmeras, computadores, cada vez mais faz parte do nosso cotidiano, tornando-se banal e naturalizada. Além da sua popularidade crescente no Brasil, estima-se que o número de usuários atualmente gire em torno de setenta e seis milhões de usuários, o Facebook atualiza uma dinâmica de vigilância, os usuários, para usarem o sítio precisam se expor e a interação se baseia em se deixar vigiar e ser vigiado pelos outros. Recentemente tornou-se pública a notícia de que os governos têm usados os dados publicados no Facebook como instrumento de vigilância dentro das políticas de segurança. Nesse sentido, parece fundamental entender como essas novas formas de vigiar utilizando essa rede social podem estar afetando e produzindo novas formas de subjetivação, ou seja, novas formas de sentir, pensar e se relacionar. O foco será num fenômeno recente, que surpreendeu a todos: as manifestações pelo passe livre que ocuparam as ruas do país em 2013 e foram mobilizadas por essa rede social. Para tanto, pretende-se realizar um estudo cartográfico para delinear as controvérsias em questão e obter uma compreensão e descrição dessa realidade complexa. Serão utilizados como instrumentos de pesquisa a análise de páginas do Facebook, de notícias de jornais que abordem o tema e entrevistas com participantes que se dividirão entre ativistas, inclusive alguns que sofreram algum tipo de retaliação direta em decorrência da vigilância, advogados, integrantes do governo e jornalistas que escreveram sobre o assunto. Os dados serão analisados por meio de procedimentos qualitativos, que irão procurar delinear as controvérsias dos discursos, a partir da metodologia proposta pela Cartografia das Controvérsias. Os resultados servirão de base para a reflexão sobre as práticas de vigilância exercidas atualmente e como elas têm afetado a subjetividade atualmente. Pretende-se, assim, contribuir para o questionamento desse excesso de tecnologias de vigilância, questionando sua eficácia e refletindo sobre seus danos e consequências psíquicas. Palavras-chave: Facebook, vigilância, visibilidade, manifestações

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Acessibilidade estética a pessoas com deficiência visual em um centro cultural do Rio de Janeiro Autor: Raquel Guerreiro Orientação: Virgínia Kastrup Linha de Pesquisa: Cognição e Subjetividade Sessão: Cidade e Produção de Subjetividade; 11/06 (quinta); 9:00-12:00

Estratégias para a acessibilidade de pessoas com deficiência a museus e centros culturais vêm sendo pensadas e desenvolvidas no Brasil e no exterior desde a década de 80. Para além das mudanças no acesso ao espaço físico das instituições e ao modo como os conteúdos das exposições são difundidos, há outro tipo de acessibilidade que precisa ser levado em consideração. Em “C de cultura” de seu abecedário, Deleuze (1997) comenta que quando vai a uma exposição de arte ou ao cinema, não está interessado em cultura, mas em encontros. E estes encontros, mais do que com pessoas, são com obras. Kastrup (2010) comenta a fala do filósofo, pontuando que quando vamos a uma exposição de arte, estamos em busca “de experiências e de aprendizagem, e não de informação e de um saber pronto para ser absorvido e consumido” (KASTRUP, 2010, p.39). Ou seja, quando vamos ao encontro da arte, procuramos experiências que nos surpreendam, que nos tirem do lugar e “que desencadeiem em nós mesmos processos de criação” (KASTRUP, 2010, p.39). Esta reflexão nos leva a recolocar a questão da acessibilidade e, apoiados no conceito de experiência estética do filósofo John Dewey (1934), propomos um trabalho com o conceito de acessibilidade estética, que seria a fruição do bloco de sensações que compõe a obra de arte (DELEUZE, 1992). Para isso, programas especiais de mediação, toque às obras e reproduções táteis são alguns dos exemplos do que vem sendo disponibilizado para o acesso a arte ao público cego e com baixa visão nos museus e centros culturais. Contudo, ainda há da resistência para o toque em obras como esculturas e objetos, e um dos grandes desafios neste campo é a criação de estratégias e dispositivos capazes de traduzir para aqueles que não veem a expressividade estética de pinturas, desenhos, gravuras e fotografias. Ao longo de alguns anos vimos iniciativas na cidade do Rio de Janeiro, como os “Encontros Multissensoriais” no Museu de Arte Moderna (MAM-RJ), que apostava em estratégias experiementais e trocas de experiências entre cegos e videntes (2011 a 2013), e visitas pontuais a exposições, como a de Hércules Barsotti na Caixa Cultural (2012) e na exposição “Artevida”, na casa França-Brasil (2014). Atualmente, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB-RJ) é a única instituição de arte que possui medidas em acessibilidade estética a pessoas cegas e com baixa visão em sua programação regular, desde abril de 2012. Assim, o projeto de pesquisa “Experiência estética e transmodalidade: fundamentos cognitivos para museus acessíveis a pessoas com deficiência visual”, coordenado pela Professora Virgínia Kastrup (UFRJ) em parceria com o Instituto Benjamim Constant (IBC), tem como objetivo acompanhar grupos de pessoas com deficiência visual a exposições nas quais medidas para acessibilidade estética são oferecidas, a fim de avaliar sua eficácia enquanto produtoras de experiência estética. Apoiada nos conhecimentos da psicologia cognitiva da deficiência visual, a pesquisa utiliza o método da cartografia que, proposto por Deleuze e Guattari (1995) e desenvolvido por Passos, Kastrup e Escóssia (2009), possui como pilares a pesquisa-intervenção, o acompanhamento de processos, a emergência de problemas em campo e a devolução dos resultados às instituições participantes. Desde 2012, acompanho estes grupos às exposições que contam com medidas de acessibilidade estética no CCBB e, para a minha dissertação de mestrado, faço uma cartografia deste processo até 2015. Deste modo, apresento os efeitos que as intervenções da nossa pesquisa e que o público com deficiência visual geraram na criação e desenvolvimento de estratégias e dispositivos para a acessibilidade estética e, pelo estudo da cognição de pessoas cegas, aponto para outros possíveis caminhos. Assim, o objetivo deste trabalho é apresentar o que preparei para a minha qualificação de mestrado (que acontecerá no dia 19 de junho de 2015), aberta a sugestões bibliográficas e metodológicas, discussões sobre o tema e a novos problemas que podem surgir com esta exposição aos estudantes desta e outras linhas de pesquisa. A apresentação consiste no primeiro capítulo da dissertação, que aborda os temas da acessibilidade de pessoas com deficiência visual à arte e experiência estética (DEWEY, 1934) e em partes do capítulo três, que falam da experiência e da análise das estratégias e dispositivos utilizados em visitas a exposições no CCBB. Palavras-chave: deficiência visual, acessibilidade, experiência estética

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Serviços de responsabilização dos autores de violência doméstica contra a mulher: o “Y” da questão. Autor: Cecília Teixeira Soares Orientação: Hebe Gonçalves Linha de Pesquisa: Subjetividade, Cultura e Práticas Clínicas Sessão: Violências e práticas de cuidado; 11/06 (quinta); 14:00-16:00

O estudo caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa, tendo como objeto analisar os resultados do trabalho de responsabilização dos homens autores de violência doméstica contra a mulher no I Juizado da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher do Rio de Janeiro. Justificativa: A Lei 11.340/06, que trata da violência doméstica contra mulheres - conhecida como Lei Maria da Penha - faculta aos Juízes a determinação de “comparecimento obrigatório do agressor a programas de recuperação e reeducação” (art.45). A Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República – SPM/PR promoveu nos anos 2007 e 2008 encontros com especialistas e representantes dos movimentos sociais para discutir esse artigo da lei, bem como o que fala da “criação de centros de educação e reabilitação dos agressores” (art.35). Um dos primeiros e principais pontos dessas discussões foi a necessidade de se substituir os termos reeducação, recuperação e reabilitação, passando-se, então a se dar a esse trabalho o nome de responsabilização dos agressores. Em pesquisa de opinião sobre o que deveria acontecer com homens que agridem suas companheiras, apenas 33% das mulheres e 25% dos homens consideraram que eles deveriam participar de serviços que os ajudassem a mudar o comportamento agressivo. A resposta de que eles deveriam ser presos foi a de 65% dos homens e 64% das mulheres (IBOPE / Instituto Patrícia Galvão, 2006). No entanto, diversos estudos mostram que as mulheres em situação de violência geralmente não desejam que seus companheiros sejam presos, e sim que eles parem de agredi-las (Muniz, 1996; Oliveira, 2006; Rifiotis, 2004). A contradição expressa nesses resultados sugere que a abordagem dos homens autores de agressão merece ser melhor estudada, de modo a que se possam estabelecer procedimentos que aproximem a medida judicial dos propósitos da Lei Maria da Penha e da política Nacional de Enfrentamento da Violência de Gênero. Objetivo Geral: Analisar os resultados do trabalho de responsabilização dos homens autores de violência doméstica contra a mulher. Objetivos Específicos: Conhecer o funcionamento e objetivos dos grupos de responsabilização dos homens autores de violência no I Juizado da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; Fazer o levantamento do perfil socioeconômico dos homens participantes dos grupos; Conhecer a avaliação dos homens e das suas (ex) companheiras sobre o processo responsabilização e os resultados alcançados; Desenho Metodológico: A operacionalização desta proposta será feita em duas etapas. A primeira etapa constará de análise documental no I Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher da capital do Rio de Janeiro. Esta análise visa ao levantamento do total de homens processados por violência doméstica, dentre eles o número de homens encaminhados por ordem judicial aos grupos de educação e responsabilização e o percentual que teve freqüência integral aos encontros. O levantamento do perfil socioeconômico dos homens que participaram dos grupos será feito com base nos instrumentos de registro da equipe técnica do I Juizado. Entrevistas semi estruturadas com a equipe técnica e com juízes poderão complementar as informações sobre o processo de trabalho com autores de violência. Além da abordagem quantitativa, a leitura dos documentos permitirá também conhecer a metodologia do trabalho dos grupos, programa, objetivos, resultados esperados. Em uma segunda etapa, em período posterior ainda a ser determinado, será empregada a abordagem qualitativa na realização de entrevistas semi estruturadas com homens que tenham participado dos grupos e suas (ex) companheiras. O roteiro das entrevistas versará sobre a percepção dos homens e das mulheres sobre as questões relativas à desigualdade de gênero, à violência conjugal e sobre a avaliação do trabalho em grupo. O número de homens e mulheres a serem entrevistados na segunda etapa corresponderá a um percentual, ainda a ser estabelecido, do número de participantes dos grupos nos Juizados. Palavras-chave: Violência; Gênero; Responsabilização

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A articulação entre violência e as práticas de atenção e cuidado ao usuário de crack na Maré Autor: Rodrigo Costa do Nascimento Orientação: Arthur Leal Linha de Pesquisa: Processos psicossociais e coletivos Sessão: Violências e práticas de cuidado; 11/06 (quinta); 14:00-16:00

O presente trabalho tem como objetivo central discutir a articulação entre a violência e criminalidade com as práticas terapêuticas e discursivas de profissionais e usuários envolvidos direta ou indiretamente na atenção e cuidado ao usuário de crack, com foco de atuação no conjunto de favelas da Maré, Rio de Janeiro. Este projeto de pesquisa de doutorado está diretamente relacionado com uma série de inquietações, críticas e reflexões disparadas a partir de minha experiência profissional e da militância política desempenhada junto à área de Direitos Humanos do Observatório de Favelas, organização da sociedade civil de pesquisa e consultoria que se dedica à produção e à troca de conhecimentos sobre comunidades populares urbanas a fim de incidir na construção de políticas públicas. A questão das drogas, que afetam notoriamente esses espaços, vinculam os campos da segurança pública e da saúde mental. Ainda que possamos apontar nisso um avanço significativo, essa vinculação traz consigo a emergência de novos riscos, impasses e possibilidades de retrocesso no que tange às transformações recentemente desenvolvidas segundo os paradigmas da reforma psiquiátrica brasileira. Motivados pelo aumento expressivo do consumo de crack, pelos problemas urbanos e sociais evidenciados pela proliferação das cracolândias e pela forma como atinge crianças e adolescentes, uma série de medidas de caráter higienista vem sendo desenvolvidas, atualizando a lógica manicomial e coadunando ações repressivas e autoritárias às práticas e políticas de saúde mental. O presente projeto de pesquisa tem como objetivo central investigar o modo como problemas relacionados à violência e à criminalidade estão implicados na formulação e no desenvolvimento de práticas de atenção e cuidado do usuário de crack, modula discursos e práticas institucionais e incide na concepção e funcionamento dos dispositivos, projetos terapêuticos e formas de abordagem do problema. Recentemente, nesse âmbito territorial, foi inaugurado um dispositivo de saúde mental voltado para os problemas relacionados com a drogadicção, o CAPS AD III Miriam Makeba. Como meio de traçar um contraponto e comparação entre as diferenças metodológicas e os modos de subjetivação produzidos entre diferentes dispositivos voltados para a mesma questão, investigo também uma rede de acolhimento atuante na Maré que envolve organizações da sociedade civil, serviços públicos e entidades filantrópicas de cunho religioso. O trabalho de campo está em andamento, o que já permite uma caracterização interessante do momento atual vivenciado na região, onde o processo de pacificação e ocupação militar e o desenvolvimento de ações de caráter psicossocial se articulam numa trama social peculiar e relevante.

Palavras-chave: Violência; drogas; cuidado; cidadania

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A escrita literária: a co-emergência da obra e do autor. Autor: Veronica Torres Gurgel Orientação: Virgínia Kastrup Linha de Pesquisa: Cognição e Subjetividade Sessão: Escrita, criação e subjetividade; 11/06 (quinta); 16:00-18:00

Gostaria de apresentar brevemente o trabalho de pesquisa desenvolvido ao longo do meu mestrado. A minha dissertação teve como tema o processo de escrita literária, buscando compreendê-lo considerando seu aspecto coletivo. Este tema surgiu a partir do contato com entrevistas em que escritores comentam seu processo de criação, evidenciando que a escrita não é um processo individualizado, resultante de uma história pessoal, mas uma criação da qual participam diversos vetores – tecnológicos, econômicos, estéticos, etc. Isso contradiz duas concepções corriqueiras: para a primeira o “espírito do tempo” determina os textos; para a segunda o escritor é a origem da obra e nela projeta suas vivências e seus desejos. Tomando como referência as discussões de Roland Barthes, Michel Foucault e Roger Chartier acerca do autor, procura-se evidenciar que a ideia de que o texto é fruto de uma entidade individualizada não é natural nem óbvia, mas surgiu por volta do século XVII, com vistas a punir aqueles que escreviam textos considerados perigosos. Neste trabalho eu investiguei ainda as principais vertentes de estudo da linguagem, buscando identificar suas consequências para a compreensão da escrita. Para isso, analisa o formalismo e sua ênfase nos invariantes da linguagem. Segundo essa vertente, a literatura é um caso de fala, obedecendo às regras impostas pela língua. Em contraposição a essa abordagem, recorremos ao pragmatismo de John Austin, que enfatiza o aspecto produtivo da linguagem e defende que os enunciados são capazes de modificar o mundo empírico, desde que sejam pronunciados em situações favoráveis. Ainda tratando da abordagem pragmática, toma-se como base Gilles Deleuze e Félix Guattari. Para eles, um enunciado não é uma simples combinatória das regras da língua, mas é capaz de provocar rachaduras em toda a linguagem. Além disso, os enunciados podem transformar o plano empírico sem depender da convergência entre o dito e as convenções sociais. Deleuze e Guattari, bem como Blanchot e Foucault, enfocam a relação da literatura com a resistência a práticas de dominação, embora com diferentes nuances. Blanchot enfatiza a estranheza produzida pela palavra essencial, em oposição à familiaridade da palavra bruta. Foucault aponta para a palavra que permite a produção de novos discursos, em oposição àquelas que se esgotam em si mesmas. Por fim, Deleuze e Guattari enfocam o uso majoritário e minoritário da língua: o primeiro mais capturável por práticas homogeneizantes e o segundo mais permeável às desestabilizações. Com base em John Dewey, conclui que, para haver experiência estética na escrita, é preciso um equilíbrio entre fazer e padecer. Assim, o escritor precisa escrever, mas também se deixar guiar pelo que percebe da sua obra: é escritor e leitor, agente e fruidor simultaneamente. Portanto, a sua criação não é nem um relato de sua vida nem uma criação ex-nihilo, pois o processo de criação também é um processo de produção de subjetividade, dizendo respeito à co-emergência da obra e do autor. Palavras-chave: Escrita. Criação; Coletivo; Produção de subjetividade.

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A irrupção das materialidades escritas: por um evento reencontrado Autor: Mateus Thomaz Bayer Orientação: Arthur Leal Linha de Pesquisa: Processos psicossociais e coletivos Sessão: Escrita, criação e subjetividade; 11.06 (quinta); 16/00-18:00

Há muito tempo nossa forma de relação com os materiais escritos é regrada. Aprendemos por um ensino cuidadoso – do qual, por exemplo, fazem parte as aulas, os livros introdutórios, os comentários apresentados sistematicamente, etc. – a tornar um conjunto de coisas escritas em um texto; a identificar aí a presença do intuito de um autor; a situar uma parte restrita em relação a toda uma obra; a distinguir no interior desse conjunto suas passagens mais fundamentais e esclarecedoras do que ele efetivamente quer dizer. Trata-se de regras de formação de um tipo de relação com os escritos que permite que, de um aglomerado de grafias próximas umas às outras, consigamos destilar um sentido preciso e uma certa completude coerente. É deste modo que somos chamados a falar em nome dos discursos: dizemos novamente e de forma nova aquilo que neles, de alguma forma, já havia sido dito; impomos a uma série de folhas uma ordem condizente com um autor e sua obra. Eis um intrincado jogo pelo qual se pode exercer um certo controle da dizibilidade dos discursos e a segregação dos efeitos de sua irrupção nos mais diversos contextos dentro de uma instituição de ensino. Tal série de articulações – que está longe de ser a única em nossa sociedade – engendra instrumentos de repartição e regulação das dizibilidades, buscando suspender, enfim, a dimensão própria do aparecimento dos discursos. Desse modo, a proposta aqui apresentada busca reativar algumas questões acerca da viabilidade de um outro modo de relação com o material escrito de pesquisa que possa investir naquilo que Michel Foucault indicou como sendo o discurso no seu registro de evento reencontrado –que se apresenta, deste modo, simultaneamente como batalha e arma, como conjuntura e vestígio, como encontro irregular e cena repetível. É neste sentido que suas críticas às noções que ainda hoje nos são muito caras como fatores de organização dos discursos escritos terão a sua entrada. São elas as noções de autor e obra, assim como aquela que a elas se estabelece como correlato, qual seja, a do comentário. Assim, é pela própria realização da crítica dos mecanismos que em nossa sociedade agem esvaziando o caráter de acontecimento dos discursos que se busca, então, fazer da própria dimensão que aí se abrirá o solo de uma experimentação. Palavras-chave: material escrito; discurso; acontecimento; experimentação.

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O problema do pensamento intuitivo na Psicologia Autor: Maria Clara de Almeida Carijó Orientação: Virgínia Kastrup Linha de Pesquisa: Cognição e Subjetividade Sessão: Escrita, criação e subjetividade; 11.06 (quinta); 16/00-18:00

O presente trabalho tem como objeto de investigação a dimensão intuitiva do pensamento. O pensamento intuitivo tem papel fundamental não somente no processo de criação científica e artística, mas também em contextos de aprendizagem e de solução inventiva de problemas. Apesar de sua enorme importância, o pensamento intuitivo é um tema ainda pouco estudado no campo da psicologia e das ciências da cognição. Isso se deve, em parte, à existência de um preconceito em torno da ideia de intuição dentro do campo acadêmico, uma vez que tal fenômeno é considerado como não científico, não verificável e dotado de um teor místico indesejável. Assim, as pesquisas que abordam o tema são esparsas, isoladas e pouco apreciadas pela academia de maneira mais ampla. Além disso, como uma análise crítica de pesquisas empíricas nesse campo parece sugerir, alguns pesquisadores, buscando se livrar de um suposto “excesso de subjetividade” associado à intuição, a restringem a fenômenos bastante empobrecidos e circunscritos, deixando de considerar, então, a complexidade característica do fenômeno. Com isso, muitos aspectos dessa forma de conhecimento permanecem obscuros. Há ainda muitas controvérsias no campo, e a maioria dos estudos existentes sobre o pensamento intuitivo carece de sistematização. Dessa forma, o objetivo de minha tese de doutorado é fazer uma análise dos estudos da intuição na psicologia e nas ciências cognitivas, comparando criticamente as diferentes abordagens do tema em relação (1) ao modo como a intuição se apresenta como um problema para cada uma, (2) às diferentes formas de conceituá-la, (3) às características que são consideradas como fundamentais em cada perspectiva e (4) às estratégias metodológicas utilizadas para sua investigação. Para isso, examinaremos estudos teóricos e experimentais provenientes do cognitivismo, do gestaltismo e da tradição fenomenológica. Palavras-chave: psicologia do pensamento; intuição; processos criativos

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