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ISSN 2317-7411 CADERNO DE RESUMOS DA JORNADA HEIDEGGER VOLUME 3, 2011 Publicação do NEXT-Núcleo de Estudos sobre Existência Universidade do Estado do Rio Grande do Norte Caicó RN

CADERNO DE RESUMOS DA JORNADA HEIDEGGER · Maria Reilta Dantas Cirino ... A hipostasiação da técnica no pensamento de Martin Heidegger ... Nietzsche e Sartre

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ISSN 2317-7411

CADERNO DE RESUMOS DA

JORNADA HEIDEGGER

VOLUME 3, 2011

Publicação do NEXT-Núcleo de Estudos sobre Existência

Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

Caicó – RN

CADERNO DE RESUMOS DA

JORNADA HEIDEGGER

VOLUME 3, 2011

ISSN 2317-7411

Publicação do NEXT-Núcleo de Estudos sobre Existência

Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

Caicó – RN

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE - UERN Reitor Milton Marques de Medeiros Vice-reitor Aécio Cândido de Sousa Pró-reitor de Administração Lauro Gurgel de Brito Pró-reitor de Planejamento, Orçamento e Finanças

Francisco Severino Neto Pró-reitora de Recursos Humanos e Assuntos Estudantis Joana D'arc Lacerda Alves Felipe Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação Pedro Fernandes Ribeiro Neto

Pró-reitor de Ensino de Graduação João Batista Xavier Pró-reitor de Extensão Francisco Vanderlei de Lima

Diretora do Campus Caicó Maria Reilta Dantas Cirino Coordenador do Curso de Filosofia José Francisco das Chagas Souza

Coordenador do NEXT-Núcleo de Estudos sobre Existência Dax Moraes

CADERNO DE RESUMOS DA JORNADA HEIDEGGER Publicação do NEXT-Núcleo de Estudos sobre Existência

Editor responsável Dax Moraes (UERN) Corpo Editorial Dax Moraes (UERN) Edgar Lyra Netto (PUC-Rio) Fernando Antonio Soares Fragozo (UFRJ) Ligia Saramago (PUC-Rio) Marcia Sá Cavalcante Schuback (Södertörns Högskola – Suécia) Marco Antônio Casanova (UERJ) Paulo César Duque Estrada (PUC-Rio) Róbson Ramos dos Reis (UFSM) Rodrigo Ribeiro Alves Neto (UFRN) Rossano Pecoraro (PUC-Rio)

Revisão e Editoração Eletrônica Dax Moraes

Contatos Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN Curso de Filosofia A/C Dax Moraes Rua André Sales, nº 667, Paulo VI - Caicó-RN - CEP: 59300-000 Telefax: (0xx84) 3421-6513 [email protected]

SUMÁRIO

Apresentação 7 A hipostasiação da técnica no pensamento de Martin Heidegger Alberto Bezerra de Abreu 9 O potencial ético de Ser e tempo Vitor Sommavilla de Souza Barros 10 Comentários acerca do conceito “ser-todo” Luciano Gomes Brazil 11 O “divino” deve ser computado posteriormente à entidade do ente: Nietzsche, Heidegger e o “mais fatal dos erros” Edrisi Fernandes 12 Heidegger: estética e modernidade Luiz Fernando Fontes-Teixeira 14 Arte e verdade em Nietzsche e Heidegger Lis Helena Aschermann Keuchegerian 15 Pensar “o mesmo” em Heidegger Alan Marinho Lopes 16 Sobre o perigo Alfredo Henrique de Oliveira Marques 17 A leitura heideggeriana do princípio de razão suficiente Victor Hugo de O. Marques 18 Evaldo Coutinho e a liberdade: influências heideggerianas na construção do sistema fenomenológico brasileiro

Francisco José Sobreira de Matos 19 Nietzsche e a crítica da verdade enquanto negação das potencialidades afirmativas da vida Dalila Miranda Menezes 20 História e liberdade em Nietzsche Marcelo de Mello Rangel 21

Heidegger e o elogio ao cotidiano Bernardo Boelsums Barreto Sansevero 22 Algumas considerações a partir da abertura do Sanctus Januarius Amanda Santos 23 Liberdade-indeterminação do ser afetado e do quase-ente aparecente: desdobramentos ontológicos em Husserl diante da questão sobre o ser em Heidegger Alice Mara Serra 24 Escatologia e liberdade: a expectativa da parusia como expressão da vida fática Sérgio Eduardo Lima da Silva 26 A análise da existência enquanto resposta à destruição da metafísica e ao esquecimento do ser Telmir de Souza Soares 27

Apresentação

Neste terceiro volume, registramos os resumos dos dezessete trabalhos apresentados sob a forma de comunicação na III Jornada Heidegger, ocorrida de 31 de maio a 2 de junho de 2011, cujo tema central foi “Entre Nietzsche e Sartre – Pensar a Liberdade”. Mais uma vez realizado em Natal, o congresso resultou de parceria com o Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), instituição que o acolheu como sede. Tal parceria permitiu, entre outros incrementos, a veiculação ao vivo, pela internet, de todas as apresentações, bem como a definitiva consolidação da Jornada Heidegger como evento nacional. Como nos volumes precedentes do Caderno de resumos da Jornada Heidegger, agradecemos a todos que contribuíram, sempre de modo decisivo, para o crescimento qualitativo e amadurecimento da Jornada Heidegger, com destaque para seus participantes e membros do Corpo Editorial desta publicação.

Dax Moraes

Organizador

Caderno de Resumos da Jornada Heidegger

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A hipostasiação da técnica no pensamento de Martin Heidegger

Alberto Bezerra de Abreu

O presente trabalho versa sobre as reflexões de Martin Heidegger acerca da técnica. O aspecto central de nossa abordagem será a perspectiva segundo a qual a reflexão heideggeriana sobre a técnica acarreta sua hipostasiação, enquanto algo que se elevaria acima do humano, seu criador e regulador. Para tal crítica, tomaremos como base o livro O conceito de tecnologia, de Álvaro Vieira Pinto. De Heidegger, privilegiaremos seu texto específico sobre o tema, intitulado “A questão da técnica”, bem como sua carta Sobre o humanismo e seu livro Os conceitos fundamentais da metafísica: mundo, finitude e solidão. Ligando-se organicamente à mencionada hipostasiação está o relativo pessimismo heideggeriano em relação à técnica; este fica patente em sua contraposição entre a técnica antiga (por ele tida como produção) e a técnica moderna (concebida como exploração). Entretanto, em sua citação de Hölderlin, segundo a qual onde há o perigo há também o que salva, Heidegger aponta para a possibilidade de o perigo da técnica moderna ser convertido em salvação, demonstrando assim que a chamada “questão da técnica” é mais profunda (e ambígua!) do que a maioria das pessoas (incluindo os pensadores da técnica) concebem.

Palavras-chave: Técnica; perigo; salvação. Mestrando em Filosofia na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Volume 3, 2011

10

O potencial ético de Ser e tempo

Vitor Sommavilla de Souza Barros

Para abordar a dimensão ética de Ser e tempo, primeiramente avaliarei algumas críticas ao pensamento heideggeriano, agrupando-as sob a denominação genérica de “tese do solipsismo”. Estas leituras sustentam, grosso modo, que a intersubjetividade seria um traço da impropriedade da vida cotidiana, a ser superada por um movimento de isolamento existencial, por vezes descrito como análogo ao abandono da caverna platônica. Pretende-se demonstrar a inviabilidade de tal interpretação, evidenciando-a como contrária à letra de Heidegger, visto que este defende que a constituição de uma vida própria pelo Dasein é condição de possibilidade para se estabelecerem relações próprias com os Mitdasein. Em seguida, avalia-se a crítica levinasiana de que o horizonte ontológico heideggeriano seria incapaz de compreender o outro em sua radical alteridade, permanecendo “metafisicamente violento” com relação a ele. Veremos que a crítica de suposta incapacidade ao considerar o outro, por recorrer à universalidade dos conceitos metafísicos, não se sustenta. Contudo, algo da crítica se mantém pois, mesmo possibilitando com que os Mitdasein sejam do modo mais próprio, o movimento de consideração ética para com eles é sempre pensado a partir do Dasein, do “si-mesmo”, e nunca a partir do outro, o que ainda o tornaria incapaz de lidar com a radical alteridade.

Palavras-chave: Solipsismo existencial; relação ética; alteridade. Mestrando em Filosofia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Caderno de Resumos da Jornada Heidegger

11

Comentários acerca do conceito “ser-todo”

Luciano Gomes Brazil

Trata-se de uma tentativa de falar do ser-todo, conceito caro a Ser e tempo. A princípio, a comunicação empenha-se em clarificar o método para o qual o ser-todo é visado. Isto reflete em um estreitamento do olhar para o “objeto” visado – o resultado tomado é o conceito “ser-no-mundo”; este se diferencia de uma investigação que queira um ente independente. O conceito “ser-no-mundo” coloca de volta em seu lugar a possibilidade máxima de se poder pensar. Se não há um ente total, que cubra todas as possibilidades, como pensar então em ser-todo? Diferencia-se então o todo, de total e tudo – estes, resultados ônticos –, para liberar o pensamento para uma tarefa propriamente pensante, i.e., buscar saber o que é esse “todo” que não fala em completude e tão menos de algo pronto e/ou acabado.

Palavras-chave: Ontologia; fenomenologia; existência.

Mestrando em Filosofia no Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGF/IFCS/UFRJ).

Volume 3, 2011

12

O “divino” deve ser computado posteriormente à entidade do ente:

Nietzsche, Heidegger e o “mais fatal dos erros”

Edrisi Fernandes

É esmiuçada a leitura heideggeriana do “mais fatal dos erros” segundo Nietzsche e de sua relação com a necessidade de efetuar uma “inversão do Platonismo”, levar a metafísica ao seu acabamento e pensar o ser, Deus e a humanidade de um modo novo. Investiga-se a genealogia do Zaratustra nietzscheano a partir de uma transvaloração do Zarathushtra iraniano e de sua herança Platônica, revisa-se a visão nietzscheana do curso da história da filosofia na quarta seção do Crepúsculo dos ídolos e da história do niilismo (ou de “como o ‘mundo verdadeiro’ acabou por se tornar uma fábula”) conforme às três metamorfoses descritas no livro I do Assim falava Zaratustra. Heidegger entende que o sexto e último período história do niilismo, aquele no qual o “mundo verdadeiro” é abolido (e com este também o mundo aparente), corresponde à passagem da segunda para a terceira metamorfose, da superação da “morte de Deus” mediante o advento de um novo começar, somente possível com a ultrapassagem do Platonismo e a superação (Übergang) da dicotomia entre o ideal e o aparente, com a instalação do pensamento filosófico sobre a relação do ser com o ente (a Seinfrage), capaz de abolir o “mais fatal dos erros” mediante a

Doutor em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e pós-doutorando em Filosofia na Universidade de Brasília (UnB).

Caderno de Resumos da Jornada Heidegger

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aceitação de que o “divino” deve se computado posteriormente à entidade do ente enquanto verdadeiro, belo e bom.

Palavras-chave: Seinfrage; superação da metafísica; Zaratustra.

Volume 3, 2011

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Heidegger: estética e modernidade

Luiz Fernando Fontes-Teixeira

Embora imbuído no sumário das teorias estéticas de grande parte dos manuais e compêndios sobre o tema, Heidegger nunca delineou nitidamente uma teoria estética ou filosofia da arte. A intenção desse artigo é observar as posições de Heidegger que mostrem com maior clareza e objetividade sua postura efetiva acerca da estética clássica instaurada no desenrolar da Modernidade. A hipótese sustentada é a de que Heidegger não possui um sistema para desenvolver uma estética teórica, mas que esteia uma posição muito clara acerca de seu lugar na história da filosofia.

Palavras-chave: Arte; estética; Heidegger; ontologia.

Doutorando em Filosofia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Caderno de Resumos da Jornada Heidegger

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Arte e verdade em Nietzsche e Heidegger

Lis Helena Aschermann Keuchegerian

A comunicação visa compreender os diversos desdobramentos encontrados no conceito de verdade. Primeiramente em Nietzsche e depois na obra de Heidegger, sobretudo o olhar que este último dirigiu para o pensamento de Nietzsche. Em seguida, procura compreender como, para esses dois pensadores, a questão da verdade se desenvolve no tema da arte.

Palavras-chave: Arte; verdade; desvelamento.

Mestranda em Filosofia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Volume 3, 2011

16

Pensar “o mesmo” em Heidegger

Alan Marinho Lopes

Pensar sobre “o mesmo” em Heidegger significa buscar nas raízes do pensamento ocidental o sentido do ser e também do pensamento, pois é somente olhando para trás que o homem pode verdadeiramente encontrar sua determinação fundamental e originária. A discussão acerca do “mesmo” funda sua relevância na desconstrução da metafísica tradicional e da engessada dicotomia sujeito-objeto, sua abrangência fornece um horizonte para que o pensamento se liberte de grilhões modernos e floresça na contemporaneidade como possibilidade de instaurar outro começo. O trabalho se concentra primeiramente na apresentação da questão exposta em “Princípio de identidade” para depois explicitar a interpretação heideggeriana do célebre verso parmenídico “Ser e pensar são o mesmo”.

Palavras-chave: Ser; pensar; princípio de identidade.

Doutorando em Filosofia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Caderno de Resumos da Jornada Heidegger

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Sobre o perigo

Alfredo Henrique de Oliveira Marques

A comunicação que segue este resumo fora elaborada com o intento de conversar sobre o perigo essencial da determinação metafísica do mundo, isto é, a impossibilidade de auscultar o próprio, o perigo. Esta impossibilidade de ver o perigo como perigo, é, para Heidegger, a determinação da metafísica – urgente – em nosso tempo. O cordão semântico deste discurso encontra seu nó central em conversa com o texto “Die Kehre”, de Martin Heidegger. A comunicação se alongará na questão fundamental: diante do perigo, que é a impossibilidade de ver o perigo como perigo, onde está o homem?

Palavras-chave: Homem; metafísica; liberdade.

Graduando em Filosofia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Volume 3, 2011

18

A leitura heideggeriana do princípio de razão suficiente

Victor Hugo de O. Marques

O papel metafísico da tematização do fundamento na modernidade racionalista é posto sob suspeita quando Leibniz, ao tratar do princípio de razão suficiente – princípio este que ficou tradicionalmente conhecido como “Princípio do Fundamento” –, afirma que este é fruto da natureza da verdade enquanto relação de identidade entre sujeito e predicado na proposição. É justamente a partir desta leitura que Heidegger abre a discussão sobre o fundamento. Em sua obra Monadologia, Leibniz argumenta que nada pode ser considerado existente ou verdadeiro numa proposição se não tiver uma razão suficiente que a fundamente, que, em última instância, se identificaria com Deus. O problema do fundamento, então, é, sem dúvida, o problema da validação da verdade, ou seja, um problema sobre a essência da verdade. A proposta desta comunicação é trazer este debate entre Leibniz e Heidegger sobre o princípio de razão suficiente, na medida em que este afirma que a verdade lógica (considerada a natureza da verdade) é antecedida pela verdade ontológica (pré-predicativa), a qual só se alcança quando se tem por um lado a diferença ontológica e, por outro, o princípio de possibilitação da verdade enquanto transcendência (Transzendenz).

Palavras-chave: Heidegger; Leibniz; fundamento.

Mestrando em Filosofia na Universidade Federal de Goiás (UFG).

Caderno de Resumos da Jornada Heidegger

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Evaldo Coutinho e a liberdade: influências heideggerianas na construção

do sistema fenomenológico brasileiro

Francisco José Sobreira de Matos

O intento deste trabalho é mostrar a influência do pensamento de Heidegger na construção dos conceitos de “ordem fisionômica” e “liberdade” em Evaldo Coutinho. Evidencia-se a influência dos avanços trazidos pelo pensador alemão e suas novas formas conceituar a temática da liberdade, finitude e transcendência da condição humana, capaz de realizar um desligamento e uma negação da independência das coisas, condição que é propícia ao exercício da radical liberdade do Dasein na construção do pensamento fenomenológico do pensador brasileiro. Em Coutinho, a independência dos fenômenos é negada, pois sou o sustentáculo derradeiro de tudo quanto existe e existiu. Todas as coisas renascem e perecem na suprema investidura de minha liberdade, a qual manipula tudo para o que me volto, temporalizando no espaço da minha radical finitude uma ordem fisionômica absolutamente única. Assim, essa minha radical liberdade vem anunciar que todas as presenças e ausências são entidades de meu repertório, sendo regidas pelos limites de minhas fronteiras, tornando-se, pois, constituintes desta minha ordem fisionômica. Torna-se, pois, clara a necessidade de uma compreensão do pensamento de Heidegger para elucidar o sistema de Evaldo Coutinho, sendo este o nosso principal intento.

Palavras-chave: Fenomenologia; liberdade; transcendência.

Mestrando em Filosofia na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Volume 3, 2011

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Nietzsche e a crítica da verdade enquanto negação das potencialidades afirmativas da vida

Dalila Miranda Menezes

Ao destituir a verdade de seu caráter de autenticidade, Nietzsche passa a examinar o seu valor, razão pela qual, na elaboração do presente artigo, investigaremos como Nietzsche questionará o valor da verdade em prol do fortalecimento afirmativo da vida. Averiguaremos a origem da verdade enquanto valor supremo e absoluto, considerando que Nietzsche tem como referência para essa investigação o procedimento genealógico que problematiza o valor da verdade, apresentada pela tradição como uma certeza absoluta. Elucidaremos, portanto, o modo como a análise nietzscheana pretende converter essa suposta evidência da verdade como valor absoluto em problema.

Palavras-chave: Verdade; Nietzsche; vida.

Mestranda em Filosofia na Universidade Federal do Ceará (UFC), bolsista da Fundação Cearense de Apoio à Pesquisa (FUNCAP).

Caderno de Resumos da Jornada Heidegger

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História e liberdade em Nietzsche

Marcelo de Mello Rangel

Evidenciamos a compreensão ontológica que Nietzsche explicita em sua “Segunda consideração intempestiva”, segundo a qual a vida aparece como sendo determinada pela relação sempiterna entre ser e devir. A partir desta compreensão, Nietzsche assinala uma espécie de antropologia segundo a qual caberia ao homem mais propriamente a assunção e a concretização incessante de determinados sentidos sempre já oferecidos pela vida. Por fim, perceberemos que a história, ou melhor, a ciência histórica aparece para Nietzsche como sendo um exercício pragmático à evidenciação de sentidos e afetos já experimentados e concretizados no passado e, por sua vez, fundamentais à relação adequada do homem com a vida no presente. Como acompanharemos, o homem, junto ao passado, se tornaria mais competente à configuração de novas determinações adequadas à concretização da vida, conquistando, assim, a liberdade que é sua, a saber, a faculdade de pensar e agir em consonância com a vida em sua dinâmica mais radical.

Palavras-chave: História; ontologia; liberdade.

Professor da Universidade Cândido Mendes (UCAM) e doutorando em Filosofia no Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGF/IFCS/UFRJ).

Volume 3, 2011

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Heidegger e o elogio ao cotidiano

Bernardo Boelsums Barreto Sansevero

Uma possível distinção entre a leitura heideggeriana e a leitura tradicional sobre a essência do homem encontra-se na definição do ponto de partida. Em Ser e tempo, a noção de cotidianidade cumpre o papel de orientar devidamente a proposta da obra, de uma “nova” interpretação do homem, imprescindível para recolocar a pergunta pelo sentido de ser. O presente trabalho frisa este aspecto procurando esclarecer em que sentido o modo de ser cotidiano é o mais indicado em se tratando da ontologia fundamental presente em Ser e tempo.

Palavras-chave: Homem; essência; cotidianidade.

Doutorando em Filosofia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

Caderno de Resumos da Jornada Heidegger

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Algumas considerações a partir da abertura do Sanctus Januarius

Amanda Santos

Pretende-se, a partir da explanação feita por Nietzsche sobre “aprender a ver como belo aquilo que é necessário nas coisas”, contida na definição de “amor fati” expressa no livro IV da Gaia ciência, investigar o que vem a ser necessário ao nosso redor. Necessidade, aceitação, afirmação, serão discutidos no ensejo de se identificar a possibilidade do agir livre no pensamento nietzschiano.

Palavras-chave: Amor fati; liberdade; vida.

Mestranda em Filosofia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Volume 3, 2011

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Liberdade-indeterminação do ser afetado e do quase-ente aparecente: desdobramentos ontológicos em Husserl

diante da questão sobre o ser em Heidegger

Alice Mara Serra

Partindo principalmente dos textos de Heidegger Über den Humanismus (1946) e Mein Weg in die Phänomelogie (1963) pretende-se, num primeiro momento, elucidar: 1) A relação entre a restrição de Heidegger ao conceito de humanismo e os sentidos de liberdade inerentes à ideia de proximidade entre linguagem e ser; 2) Em que medida um dos sentidos fundamentais do ser em Heidegger remete a uma concepção inicial de Husserl exposta nas Logische Untersuchungen (1901) sobre a relação entre intuição, expressão e significado; 3) Sob quais aspectos a questão sobre o ser em Heidegger pode ser considerada como fenomenológica. Em seguida, partindo da análise de alguns escritos de Husserl redigidos no contexto de sua fenomenologia genética (a partir de 1918) pretende-se mostrar: 1) Que as concepções de Husserl sobre a intuição, o sentido e a expressão expostas nas Logische Untersuchungen alteram-se consideravelmente no contexto de suas análises sobre as sínteses passivas e o problema da afecção; 2) Que a intencionalidade noemática ou intencionalidade da segunda camada hilética (hetero-afectiva) não pode ser compreendida a partir da dualidade entre aparecimento e não-aparecimento; 3) Que o problema do ser nas análises tardias de Husserl deve ser

Professora-pesquisadora pelo PRODOC/CAPES na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Doutora em Filosofia pela Universität Albert-Ludwig Freiburg (Alemanha).

Caderno de Resumos da Jornada Heidegger

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pensado segundo graus de intensidade e indeterminação da relação entre aquilo que aparece e o ser afetado pelo aparecer. Finalmente, as possibilidades de não-mostração, mostração parcial e do não voltar-se àquilo que tende a emergir serão pensadas em sentido quase-transcendental (Derrida) como condições de (im)possibilidade da liberdade no horizonte de indeterminação ontológica e hermenêutica.

Palavras-chave: Fenomenologia; afecção; doação.

Volume 3, 2011

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Escatologia e liberdade: a expectativa da parusia como expressão da vida fática

Sérgio Eduardo Lima da Silva

Este trabalho possui a intenção de explorar, no âmbito do curso de inverno ministrado pelo jovem Heidegger (1920-1921), intitulado Introdução à fenomenologia da religião, o projeto existencial vivido pelos primeiros cristãos no século I, projeto este marcado por uma experiência fática que assegura o sentido da história. Na perspectiva da Parusia, em que “o Dia do Senhor virá como um ladrão à noite”, os cristãos primitivos estabelecem para si uma temporalidade de vida marcada não pelo tempo cotidiano do mundo greco-romano de então, mas por uma noção de tempo kairológica, de um “ainda não” característico da Parusia. Este aspecto do vivenciar um tempo distinto do habitual a partir de uma perspectiva escatológica revela a autenticidade de uma liberdade cristã primitiva ainda não contaminada pelas categorias filosóficas e teológicas que culminarão em uma teologia dogmática. Heidegger, a partir da leitura das cartas de Paulo aos tessalonicenses, diferentemente da postura estabelecida por Nietzsche que via então nas cartas paulinas a expressão do ressentimento cristão, procura descrever esta vida cristã primitiva marcada pela expectativa da tribulação que antecede a Parusia frente à “paz e segurança” características da vida inautêntica.

Palavras-chave: Escatologia; vida fática; cristianismo.

Professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e doutorando em Filosofia na mesma instituição.

Caderno de Resumos da Jornada Heidegger

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A análise da existência enquanto resposta à destruição da metafísica e ao esquecimento do ser

Telmir de Souza Soares

Não menos que em outras épocas da história, na

contemporaneidade, a crítica à metafísica representou boa parte do labor dos mais diversos filósofos e correntes filosóficas. Para tal crítica, aparentemente, parecia ter chegado ao fim todas as pretensões da metafísica. Cabia aos remanescentes do labor filosófico ser os coveiros de tão famoso defunto. Esta comunicação detém-se na obra de Heidegger e na sua peculiar forma de filosofar que implicou numa das mais interessantes e mais prolíficas réplicas à suposta morte da metafísica na contemporaneidade. Temos por objetivo com este trabalho mostrar que a analítica existencial representou a resposta heideggeriana ao desafio crítico exposto no que se denominou “fim da metafísica”. Temos um exemplo desse empreendimento na preleção de 1929 que tem por objetivo responder a uma questão fundamental, a saber, o que é a metafísica. De imediato, Heidegger modifica o foco da questão, passando de uma perspectiva analítica para uma perspectiva analítica existencial. Essa passagem dá-se em função das peculiaridades do tipo próprio que é o de uma investigação metafísica que deve ter como horizonte de investigação o Dasein. Neste novo horizonte investigativo temos a resposta heideggeriana à destruição da metafísica e ao esquecimento do ser.

Palavras-chave: Heidegger; analítica existencial; Dasein. Professor do Departamento de Filosofia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) e doutorando em Filosofia na Universidade Federal da Paraíba (UFPB).