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Realização:
Departamento de História e Programa de Pós-‐Graduação em História (PPGHis) da Universidade Federal de Mato Grosso Apoio: Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT Universidade Federal de Goiás – UFG Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS Universidade Federal de Brasília -‐ UnB Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso Superintendência do Arquivo Público do Estado de Mato Grosso NEGRA – Núcleo de Estudos sobre Educação, Gênero, Raça e Alteridade/UNEMAT ETRÚRIA – Laboratório de Estudos de Memória, Patrimônio e Ensino de História/UFMT LABEHIS – Laboratório de Ensino de História, Curso de História/UNEMAT LEDUH-‐ Laboratório de Educação Histórica-‐ Curso de História/UFMS/CPTL NDIHR – Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional/UFMT Comitê Científico Kátia Maria Abud Lopes (USP) Marcelo Fronza (UFMT) Nileide Souza Dourado (UFMT) Osvaldo Mariotto Cerezer (UNEMAT) Renilson Rosa Ribeiro (UFMT) Silvana Maria Bitencourt (UFMT) Comissão Organizadora (UFMT) Ana Maria Marques Fabiana Francisca Macena Karla Ribeiro Gabriel Mesquita Kelen Katia Prates Silva Laís Dias Souza da Costa Maria Isabel Giraldo Vasquez Nailza Barbosa da Costa Gomes Rafael Reinaldo Freitas Rodolfo Souza Costa Sérgio da Silva Machado Junior Thamara Luiza da Silva e Lima
FICHA CATALOGRÁFICA Encontro Estadual de Ensino de História e Encontro Centro-‐Oeste de História e Estudos de Gênero (Volume 1.: 2016: Cuiabá). Anais do III Encontro Estadual de Ensino de História e o II Encontro Centro-‐Oeste de História e Estudos de Gênero, 22 a 24 de junho de 2016, E [recurso eletrônico]: Ensino de História, Relações de Gênero e Arranjos Familiares/organizado por Ana Maria Marques. [realização Departamento de História e Programa de Pós-‐Graduação em História (PPGHis) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)] – Cuiabá: 2016. Edição Digital ISSN: 2526-‐463X 1. História – Encontro – Brasil. 2. Ensino de História. 3. Estudos de Gênero. I. Marques, Ana Maria, org. Título: Ensino de História, Relações de Gênero e Arranjos Familiares. COMO CITAR
III Encontro Estadual de Ensino de História e o II Encontro Centro-‐Oeste de História e Estudos de Gênero – Volume 1, 2016, Cuiabá. Título da publicação (em itálico): subtítulo (se houver). Cuiabá: 2016. Disponível em: https://ecoheg.wordpress.com/edicao-‐atual/. Acesso em: dia, mês e ano.
APRESENTAÇÃO O III Encontro Estadual de Ensino de História e o II Encontro Centro-‐Oeste de História e Estudos de Gênero buscam promover um espaço de interlocução entre professores/pesquisadores sobre as interfaces entre ensino de história, relações de gênero e arranjos familiares, e as atividades de ensino, pesquisa e extensão relacionadas à formação inicial e continuada de professores e o ensino de História. Os encontros objetivam proporcionar momentos de reflexão sobre a questão de gênero, o ensino de história e as implicações cotidianas, seja na formação inicial e continuada, seja na formação do sentido de abordar essas questões. Envolvendo assim, pessoas das diversas instituições de ensino e IES, acadêmicos da graduação, egressos do curso de História da UFMT, professores da educação básica e demais interessados. Os encontros também estimulam a troca de experiências sobre a prática de ensino, sobre as pesquisas das relações de gênero e arranjos familiares, articulando-‐as às atividades da Linha de Pesquisa “Ensino de História, Patrimônio e Subjetividades”, aos grupos de pesquisa, laboratórios de ensino, grupos de trabalho de ensino de história e relações de gênero.
Sumário SIMPÓSIO 1 – GÊNERO EM DISCURSO: IMAGEM, SUBJETIVAÇÃO E RESISTÊNCIA NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO ....................................................................................................................... 7
1.1. -‐ ANÁLISE DAS FEMINILIDADES PRESENTES NAS OBRAS DE MOACYR FREITAS NO PERÍODO PROVINCIAL DE MATO GROSSO ................................................................................... 7
1.2 -‐ MULHERES PRIVADAS DE LIBERDADE: A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE FEMININA ATRAVÉS DE IMAGENS ................................................................................................................. 8
1.4 -‐ O MASCULINO-‐MILITAR REPRESENTADO EM LIVRO DIDÁTICO E IMAGENS DE HISTÓRIA DE MATO GROSSO ..................................................................................................... 10
1.5 -‐ JOGOS ELETRÔNICOS E RELAÇÃO DE GÊNERO: NOVAS NARRATIVAS E A BUSCA POR UM NOVO CÂNONE NOS VÍDEOS JOGOS ................................................................................... 12
1.6 – O DISCURSO DO MATERNO UNIVERSAL NA MATÉRIA “#POBREFAZENDOPOBRICE: SEIS ERROS DO POST QUE RIDICULARIZOU A AMAMENTAÇÃO” ............................................. 13
1.7 -‐ DISCURSOS DA IMPRENSA SOBRE O COMPORTAMENTO FEMININO EM CUIABÁ (1956-‐1964) ................................................................................................................................. 14
1.8 -‐ “BELLEZA CUYABANA”: PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO FEMININA NA CRÔNICA DE JOSÉ DE MESQUITA (1928) ......................................................................................................... 16
1.9 -‐ NOS ESCRITOS DO JORNAL "O ESTADO DE MATO GROSSO", (ANTI) FEMINISMOS INSCRITOS: OS SENTIDOS E OS EMBATES DA COBERTURA JORNALÍSTICA SOBRE O ANO INTERNACIONAL DA MULHER E O MOVIMENTO FEMINISTA ................................................... 17
SIMPÓSIO 2 -‐ SEXUALIDADES, CORPOS E VIOLÊNCIAS DE GÊNERO: DIÁLOGOS IN(TER)DISCIPLINAD@S .............................................................................................................. 18
2.1 -‐ DITADURA DO CORPO PERFEITO: REVISTA VIOLETA ENQUANTO VEÍCULO DE CIRCULAÇÃO EM CUIABÁ (1930-‐1945) ...................................................................................... 18
2.2 -‐ CORPOS E COMPORTAMENTOS: A MULHER GOIANA NAS PÁGINAS DO PERIÓDICO O LAR (1926-‐1932) ......................................................................................................................... 19
2.3 -‐ CANTILENAS DE GOIÁS: MEMÓRIA, GÊNERO E IDENTIDADES NA OBRA DE REGINA LACERDA ..................................................................................................................................... 20
2.4 -‐ O GÊNERO DO SERVIÇO SOCIAL: UMA PROFISSÃO DE (QUAIS) MULHERES? ................... 22
2.5 -‐ SOBRE O LUGAR DO GÊNERO NO PROCESSO DE MISCIGENAÇÃO: UMA VISÃO DESDE AMÉRICA LATINA ........................................................................................................................ 23
2.6 -‐ REGRA 11: AS MULHERES NO FUTEBOL BRASILEIRO ......................................................... 24
2.7 -‐ POLÍTICAS PÚBLICAS DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO BRASIL: INTERFACES COM O MOVIMENTO FEMINISTA E DE MULHERES ................................. 25
2.8 -‐ A LEI E O CORPO: UMA BREVE HISTÓRIA DO ASSASSINATO DE MULHERES SOB A PERSPECTIVA DO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO DE 1940 ............................................................ 27
2.9 -‐ MULHERES EM SITUAÇÃO DE RUA E SUAS VULNERABILIDADES ...................................... 27
2.10 -‐ (RE)DISCUTINDO A VIOLÊNCIA E A ORIENTAÇÃO SEXUAL NA IDENTIDADE DE GÊNERO E NA PERSPECTIVA BAKHTINIANA: REFLEXÕES INTRODUTÓRIAS E INCONCLUSAS .................... 28
2.11 -‐ RESISTÊNCIAS: NEGRITUDE E TRANSFEMINISMO NA ATUAL CONJUNTURA POLÍTICA DO BRASIL ......................................................................................................................................... 29
2.12 -‐ EXCLUSÃO FEMININA E CONFLITO DE GÊNERO EM BUTTERFLY BURNING DE YVONE VERA ........................................................................................................................................... 30
SIMPÓSIO 3 -‐ HISTÓRIA, GÊNERO, SEXUALIDADE E PRÁTICAS EDUCATIVAS ........................... 31
3.1 -‐ HISTÓRIA, GÊNERO, SEXUALIDADE E PRÁTICAS EDUCATIVAS .......................................... 32
3.2 -‐ OLHARES TRANSDISCIPLINARES SOBRE PRÁTICAS EDUCATIVAS: MULHERES, MUNDOS DO TRABALHO E MOVIMENTOS SOCIAIS ............................................................................... 33
3.3 -‐ FUNÇÃO PEDAGÓGICA E MOVIMENTO DE MULHERES: PENSANDO A FORMAÇÃO PROFISSIONAL ............................................................................................................................ 34
3.4-‐ GÊNERO NA EDUCAÇÃO: O PERCURSO PROFISSIONAL DAS DOCENTES NOS ESPAÇOS ESCOLARES EM COMUNIDADE QUILOMBOLAS ......................................................................... 35
3.5 -‐ POLÍTICAS SOBRE USO DO NOME SOCIAL NA EDUCAÇÃO E RESPECTIVOS SUJEITOS, DISCURSOS, PODERES E LUTAS: UM RECORTE NO ESTADO DE MATO GROSSO ...................... 36
SIMPÓSIO 4 -‐ CULTURA, CULTURA POPULAR E REPRESENTAÇÕES NO ENSINO DE HISTÓRIA 38
4.1 -‐ OFICINAS DE FOTOGRAFIAS DE ÁLBUNS DE FAMÍLIA: USOS SOCIAIS DAS IMAGENS E RECUPERAÇÕES DE TRAJETÓRIAS DE VIDA ................................................................................ 38
4.2 -‐ AS REPRESENTAÇÕES DAS “OBRAS OFICIAIS” DA ERA VARGAS EM MATO GROSSO E O ENSINO DE HISTÓRIA .................................................................................................................. 39
4.3 -‐ GOIÂNIA: O CHÃO VERMELHO EM QUE TODOS PISAM -‐ HISTÓRIA DA CIDADE POR MEIO DO ESCRITOR ELI BRASILIENSE ................................................................................................... 40
4.4 -‐ IMAGEM E CIDADE: UMA PROPOSTA DIDÁTICA DE ENSINO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO NA CIDADE DE MEDELLÍN, COLÔMBIA .......................................................... 41
4. 5 -‐ CULTURA E PATRIMÔNIO DA ESTRADA DE FERRO NOROESTE DO BRASIL: IMAGENS E PROBLEMATIZAÇÕES NA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL ............................................................... 43
4.6 -‐ MANIFESTAÇÕES POPULARES AFRO-‐ BRASILEIRA MATOGROSSENSE NA ESCOLA PUBLICA ...................................................................................................................................... 43
4.7 -‐ EDUCAÇÃO ESCOLAR E INTERCULTURALIDADE NA ESCOLA MUNICIPAL INDÍGENA CEL. OLAVO MENDES DUARTE LOCALIZADA NA ALDEIA SANTANA BAKAIRI-‐NOBRES/MT ............. 44
4.8 -‐ EDUCAÇÃO QUILOMBOLA: DA RESISTÊNCIA ÀS POSSIBILIDADES DE ENSINO ................. 45
4.9 -‐ UM OLHAR EPISTEMOLÓGICO SOBRE O FEMINISMO E A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO ......................................................................................................................... 47
SIMPÓSIO 1 – GÊNERO EM DISCURSO: IMAGEM, SUBJETIVAÇÃO E RESISTÊNCIA NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO
Laís Dias Souza da Costa (UFMT) Nailza da Costa Barbosa Gomes (UFMT)
1.1. -‐ ANÁLISE DAS FEMINILIDADES PRESENTES NAS OBRAS DE MOACYR FREITAS NO PERÍODO PROVINCIAL DE MATO GROSSO
Karla Ribeiro Gabriel Mesquita (UFMT)
Márcia Gabrielle da Silva Almeida (UFMT)
O presente trabalho tem por objetivo realizar uma oficina no Museu Histórico de Mato Grosso, no qual estará exposta a coleção pictórica de Moacyr Freitas referente ao período provincial. A oficina visa apresentar o autor aos ouvintes do evento, além de fomentar uma análise e discussão sobre a representação feminina nas obras do mesmo, assim como problematizar as feminilidades intrínsecas no contexto social da época e provocar uma reflexão de como essas imagens podem auxiliar no ensino de história através dos livros didáticos. Ademais, Moacyr Freitas é cuiabano, nasceu em 07 de julho de 1930. Em 1960 formou-‐se em arquitetura pela Faculdade Nacional de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Brasil. Também é escritor e começou a pintar após sua aposentadoria, em 1991, quando também entrou para o IHGMT. Foi professor em várias escolas de Cuiabá, escreveu dezenas de artigos na imprensa cuiabana sempre abordando temas relacionados à cidade: os problemas urbanos chegaram, como é difícil morar, a bela paisagem desprezada, o plano diretor, Cuiabá -‐ cidade doente e têm publicadas inúmeras obras. Sendo assim, analisaremos cinco obras específicas que possuem uma maior representatividade feminina e que possibilitam tal análise. Os quadros apresentados serão: A chegada de D. José a Cuiabá, Mello -‐ o – Bravo e a travessa dos Pantanais, Fundação do Liceu Cuiabano, Inauguração da Praça Alencastro, Rosa Boróro. Portanto, esta análise tem como base teórica os textos e artigos de Joan Scott, Joana Maria Pedro, Ana Maria Marques, entre outras autoras. A metodologia utilizada se baseará na comunicação oral, além da observação das obras no museu e também distribuição de folhetos informativos que irão conter dados biográficos sobre o autor e sobre os cinco quadros analisados. Logo, pretende-‐se com esta oficina aproximar a Universidade Federal de Mato Grosso ao Museu Histórico de Mato Grosso, para que possam ser pensadas novas formas de integrar os alunos aos espaços históricos públicos da cidade e criar propostas alternativas para que o ensino de História seja mais dinâmico e não reproduza a lógica cansativa da sala de aula, com isso, novas ideias poderão surgir e auxiliar na criação de atividades educativas que contemplem a necessidade de informação sobre a utilização dos patrimônios materiais e imateriais que estão disponíveis para o acesso dos estudantes e da sociedade em geral. Enfim, pretende-‐se também demonstrar como os espaços de memória são importantes e influentes na sociedade e com isso propor ao
museu novas formas de apresentação de seu acervo e voltar a atenção da população para estes espaços. Palavras-‐chave: feminilidades; Moacyr Freitas; Mato Grosso. Referências SCOTT, Joan W. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e Realidade, vol. 16, nº 2, Porto Alegre, jul./dez. 1990, p.5. PEDRO, Joana Maria. Traduzindo o debate: o uso da categoria gênero na pesquisa histórica. História [online]. 2005, vol.24, n.1, pp.77-‐98. ISSN 1980-‐4369. http://dx.doi.org/10.1590/S0101-‐90742005000100004.
1.2 -‐ MULHERES PRIVADAS DE LIBERDADE: A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE FEMININA ATRAVÉS DE IMAGENS
Giselle Marques Ramos de Oliveira (UFMT)
Alex Feitosa Oliveira (UFMT)
Neste estudo, objetivamos analisar enunciados presentes no gênero artigo de revista, da esfera do jornalismo on line, a fim de identificar a constituição de discursos apresentados. Como objeto de estudo, utilizamos o artigo publicado na revista Azminas, Fotorreportagem: sonho atrás das grades, que apresenta as atividades do projeto Help-‐Portrait com mulheres presidiárias, em uma penitenciária do estado do Paraná, no Brasil. O projeto em questão busca “[...] resgatar autoestima e a identidade de pessoas em vulnerabilidade social, por meio da produção fotográfica (incluindo maquiagem, cabelo e troca de roupa)” (Azminas, 2015). Para tanto, refletimos sob a perspectiva da construção de identidade e da noção de eco cunhada por Scott (2002) e, também, das relações de poder de Foucault (2012). Como método, baseamo-‐nos na Análise Dialógica do Discurso (ADD), ancorada nos estudos de Bakhtin (Volochínov) (2014), quando buscamos o diálogo entre as vozes sociais presentes nos discursos. A partir da materialidade linguística do texto, observamos que ao mesmo tempo em que se afirma a condição de sujeito para as mulheres encontradas na reclusão, atribui-‐se a elas uma subjetivação padronizada, uma vez que os enunciados da revista são permeados pelo discurso conservador de identidade feminina homogeneizada. A proposta tanto do artigo quanto do projeto é fazer emergir as vozes dessas mulheres com a intenção de minimizar a condição a que são subjugadas: seres uniformes e invisíveis. No entanto, se ponderarmos o conceito de micropoder, de Foucault (2012), tais enunciados estão atravessados por outras vozes que insistem em controlar e monitorar as práticas discursivas sobre o que é ser mulher na sociedade. Dessa maneira, acabam por apresentarem, de modo contraditório ao discurso feminista, e caírem na recorrência da homogeneização do “ser feminino”. Nesse sentido, simbolicamente, as detentas são convidadas a saírem da condição
uniformizadora – por exemplo, o uso de fardamento na cor cinza, assim como devem manter os cabelos sempre presos – a que são submetidas no cárcere para se “reconstruírem” e se verem como sujeitos. Para tanto, o projeto recorre à reconstrução da imagem feminina padronizada e valorizada pela sociedade: da mulher-‐mãe e da mulher que se torna benevolente e útil à comunidade. De acordo com Bakhtin (2014), ao considerar que a constituição do sujeito se define a partir do seu encontro com o outro, a sua identidade se constitui no dialogismo, ou seja, no movimento dos enunciados de resposta entre enunciados já ditos e aqueles que estão por vir, outras vozes são invitadas a participar da construção do discurso. Para Scott (1995), a identidade se constrói socialmente no decorrer da história e, nesse momento socio-‐histórico, ainda é possível perceber também nos discursos das entrevistadas traços da percepção do feminino como categoria homogênea, vinculada a papéis sociais já consolidados. Nesse sentido, podemos compreender de que maneira age o biopoder sobre os discursos a favor de certas verdades instituídas, pois acabam por mascarar e excluir outras formas de ser mulher tanto dentro da penitenciária, onde age principalmente o poder coercitivo, como fora dela. Palavras-‐chave: relações dialógicas; micropoder; estudos de gênero. Referências BAKHTIN, M. Questões de literatura e estética: a teoria no romance. 7 ed. São Paulo: Hucitec, 2014. BAKHTIN, M (Volochínov). Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 2014. FOUCAULT, M. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Graal, [1979] 2012. SCOTT, Joan W. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. In: Educação e Realidade, Porto Alegre, v. 20, n. 2, jul./dez., 1995. SCOTT, Joan W. Fantasy echo: história e a construção da identidade. Tradução: In: Labrys, estudos feministas, Brasília, Paris, Montreal, n. 1-‐2, jul./ dez. 2002.
1.3 MANDA NUDES? IMAGENS ÍNTIMAS E A NARRATIVA JORNALÍSTICA BRASILEIRA
Nealla Valentim Machado (UFMT)
A internet mudou tudo. Ela foi a grande revolução midiática do início do século XXI. Todas as formas sociais encontram nesse ambiente catalizador e potencializador um instrumento poderoso de conexão. Dessa maneira a internet se encontra presente em todos os nossos espaços sociais, inclusive nos nossos meios de encontrar e de nos relacionarmos com nossos parceiros sexuais/amorosos. Mais do que mostrar o mundo, as mídias sociais digitais que proporcionam o deslocamento do aqui e agora, do espaço e do tempo, favorecendo a criação de redes de sociabilidade, através do compartilhamento. Em um universo cada vez maior de imagens compartilhadas nos
sites e redes sociais, em que os usuários são cada vez mais produtores e divulgadores de conteúdo, pretendemos compreender como a divulgação não consentida, na internet, de imagens produzidas em um contexto de intimidade, constitui uma realidade social e como é representada pela narrativa jornalística brasileira. Através da análise de notícias levantadas em dois grandes portais de comunicação, buscaremos identificar e analisar os processos de produção de novas categorias culturais e das relações de poder envolvidas nessas categorias nas esferas da sexualidade e das relações de gênero. Essas “novas” interações sociais não devem ser analisadas sem serem problematizadas também por questões relacionadas, entre outros pontos, ao gênero. São imagens produzidas em um contexto privado e divulgadas em um ambiente público, sem o aval prévio de quem aparece nelas, que na maioria das vezes são mulheres. A sexualidade é uma área simbólica e política ativamente disputada (Vance, 1995), em que grupos lutam para implementar suas próprias plataformas sexuais e tentar transformar os modelos e ideologias sexuais que já vigoram socialmente. Em outras palavras, a sexualidade está inserida em uma série de disputas de poder, desigualdades e modos de opressão. “O sexo é sempre político” (Rubin, 1998). Sobre a importância da dimensão de gênero na constituição desse fenômeno social, concluímos que a prática de exposição de imagens eróticas na internet pode ser uma forma de violência contra as mulheres, relacionada com valores assimétricos de gênero e sexualidade. As matérias jornalísticas analisadas neste trabalho, no atual cenário contemporâneo de circulação de imagens íntimas na internet, tentam traduzir esse fato social por meio da utilização de narrativas que fazem uso do gênero como um fator de diferenciação social. Como as análises demonstraram, o gênero aparece como um agregador de valores sociais, por meio do qual a mídia categoriza as mulheres como “vítimas” e os homens como “autores” “suspeitos” ou “criminosos”. No entanto, compreende-‐se que as relações de poder não são sempre unilaterais, há sempre uma disputa social. Nesse contexto, a mídia produz diferentes narrativas que dão significado para novas práticas sociais, que podem tanto reafirmar representações tradicionais de masculinidade e feminilidade, como transformar de maneira crítica modelos tradicionais de relações de gênero e moralidade. Palavras-‐chave: imagens íntimas; relações de gênero; internet. Referências BATAILLE, George. O erotismo, 1987. BUTLER, Judith P. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. 2014. FOUCAULT, Michel. História da sexualidade. 1997. GREGORI, Maria Filomena. Cenas e Queixas. Um estudo sobre mulheres, relações violentas e a prática feminista. 1993. MISKOLCI, R. Novas Conexões: notas teórico-‐metodológicas para pesquisas sobre o uso de mídias digitais, 2011, pp.9-‐22. SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. 1995, pp. 71-‐99.
1.4 -‐ O MASCULINO-‐MILITAR REPRESENTADO EM LIVRO DIDÁTICO E IMAGENS DE HISTÓRIA DE MATO GROSSO
Ruan Gabriel de Almeida Vital (UFMT)
A discussão do sujeito masculino-‐militar foi sendo construída e sedimentada cronologicamente nas sociedades ocidentais. Em uma perspectiva limitada geograficamente ao Estado de Mato Grosso, a pesquisa analisa um livro didático, de Elizabeth Madureira Siqueira, e foca o primeiro dos três períodos que compreendem a divisão didática tradicional da história do Brasil: o colonial, o imperial e a república. A imagem do militar aparece, frequentemente, ligada à virilidade masculina, ao patriotismo, bravura, coragem de defender a nação. Pretende-‐se também discutir gênero e de masculinidade na historiografia. A presente pesquisa caminha no sentido de buscar nos enunciados, tanto na escrita da história quanto nos lugares de memória, como se cristalizam verdades históricas nos livros didáticos e quadros históricos. Imortalizam-‐se sob o traçado da tinta os pioneiros dessas terras mato-‐grossenses. Os estudos de gênero assim como outros questionaram todos os arquétipos erigidos ou edificados através de métodos que operacionalizaram a escrita da história. As noções de masculino e feminino ultrapassam as esferas da divisão do trabalho, constituindo-‐se num manual simbólico herdado, manipulado e aperfeiçoado no tempo e diferentes espacialidades. Ser Homem ou ser Mulher foi mudando no decorrer dos tempos. E o livro didático e os quadros históricos possibilitam uma análise de gênero presentes nos cenários e personagens representados e no imaginário do leitor. Como diz Miguel Vale de Almeida (1996, s.p.): “Masculinidade e feminilidade não são sobreponíveis, respectivamente, a homens e mulheres: são metáforas de poder e de capacidade de ação, como tal acessíveis a homens e mulheres”. Todavia as questões de gênero ainda passam distante dos livros didáticos. Entendemos o gênero na definição de Joan Scott (1995, p. 86): “elemento constitutivo de relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos e o gênero é um primeiro modo de dar significado às relações de poder”. O homem traz uma carga de significados agregados a sua figura em todos os segmentos sociais faz com que este se sinta na plenitude entre seus pares e seus desiguais, masculinidade esta, que com o passar do tempo se aprimorou e criou novos mecanismos de dominação e subordinação, o militar além de ser o homem, também traz consigo toda essa bagagem que outorga sua legitimidade de poder entre os demais, poder este que justifica todo e qualquer ato deste. A prática de se questionar ainda é pouco corrente no cotidiano nesta sociedade do imediatismo, onde tudo ocorre e acontece sem ao menos pensarmos no acontecido. Nos últimos anos percebemos que a percepção de gênero vem aflorando cada vez mais nos ambientes escolares e dentre outros, não por uma conscientização e sim por uma lasciva necessidade, a qual a dominação simbólica que está no masculino não abarca e satisfaz ou submete como outrora. Palavras-‐chave: gênero; masculinidade; livro didático. Referências ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval M. Nordestino: uma invenção do falo – uma história do gênero masculino (Nordeste – 1920/1940). Maceió: Edições Catavento, 2003. ALMEIDA, Miguel Vale de. Gênero, masculinidade e poder: revendo um caso do sul de Portugal. Anuário Antropológico, 95. Portugal, 1996. BURKE, Peter. Testemunha Ocular: história e imagem. Bauru: EDUSC, 2004.
GIFFIN, Karen. A inserção dos homens nos estudos de gênero: contribuições de um sujeito histórico. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 10, n. 1, p. 47-‐57, Mar. 2005. SCOTT, Joan W. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e Realidade, Porto Alegre, v.20, n.2, jul/dez., 1995. SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. História de Mato Grosso: da ancestralidade aos dias atuais. Cuiabá: Entrelinhas, 2002.
1.5 -‐ JOGOS ELETRÔNICOS E RELAÇÃO DE GÊNERO: NOVAS NARRATIVAS E A BUSCA POR UM NOVO CÂNONE NOS VÍDEOS JOGOS
Rafael Freitas (UFMT)
Jogos eletrônicos são artefatos culturais que ocupam espaço central na vida cotidiana de indivíduos de diferentes idades, e, seguindo a lógica da rede de informação globalizada, um indicativo de uma rede de compartilhamento de imaginário, cultura e sentimento em âmbito global, intersubjetivo e intercultural BOGOST (2010) & FREITAS (2015). Esse artigo tem como principal objetivo apresentar, sob a perspectiva da história pautada no humanismo crítico (RÜSEN 2015a), as diferentes narrativas sobre a relação de gênero nos Vídeos Games, pois se é sabido que a estrutura de sentimento (WILIAMS, 2002) no desenvolvimento das representações das relação humanas, em tal linguagem, materializa personagens baseada no sujeito masculino, e másculo, em formas sexualizadas e em um cânone heteronormativo (MENDES, 2006), títulos como a trilogia Mass Effect (Bioware 2007, 2010 & 2012), publicado para diferentes plataformas e Dragon Age Inquisition( Bioware, 2014), também para múltiplas plataformas, são exemplos de jogos as quais procuram explorar a subjetividade d@ jogador(a), e apresentam regras que possibilitam diferentes formas para engajar relações com os personagens coadjuvantes. Outrossim, o humanismo tal qual abordado por Edward Said (2007) nos aponta a necessidade de destacar obras artísticas em seu grau qualitativo estético, de rompimento com cânones e estruturas de sentimento, na exploração do mais altivo princípio do Humanismo como corrente filosófica e de ação política -‐ a perseverança da necessidade de enxergar o cânone como local de descoberta impulsionada pela autocrítica, uma energia erudita investida para superar a errônea noção de “cânone como tábua rígida de regras fixas e de monumentos que nos intimidam a partir do passado” (SAID, 2007, p. 45). Visto isso, argumenta-‐se que as narrativas de constituição de sentido presentes nos jogos eletrônicos devem ser postas em análise atentando-‐se para o momento histórico de seu desenvolvimento, para tanto, o conceito de Cultura Histórica trazida pelo filósofo da história Jörn Rüsen (2015b) e seu âmbito estético toma posição central, uma vez que se toma como principal objetivo apresentar as diferentes narrativas sobre gênero nos Games, a estética e a emoção trazida por este corresponde à um fluxo de ideias, e no caso desse estudo, de rompimento fruto de narrativas históricas críticas, como as críticas feminista, e de gênero. Por fim, ao tomar o jogo eletrônico como linguagem canalizadora de subjetivação do que é “homem” e “mulher”, sua regra percebida no gameplay, ou seja, na estética da ação, é verificável que os sujeitos-‐jogadores escolhem relacionamentos os quais fogem da prática real destes, conclusão que se
aproxima com a noção “de gênero enfatiza todo um sistema de relações que pode incluir o sexo, mas não é diretamente determinado pelo sexo.” (SCOTT 1995, p. 76). Palavras-‐chave: jogos eletrônicos; gênero; narrativa. Referências BOGOST, Ian. Persuasive Games: Expressive Power of Videogames. MIT Press. 2010 MENDES, Cláudio Lúcio. Jogos Eletrônicos: Diversão, Poder e Subjetivação. Papirus, 2006 RÜSEN, Jörn. Humanismo e Didática da História. Editora UFPR. 2015a ___________. Teoria da História: Uma teoria da história como ciência. Editora UFPR. 2015b SAID, Edwar W. Humanismo e Crítica democrática. São Paulo, Cia das Letras. 2007 SCOTT, Joan. Gênero: Uma Categoria Útil de Análise Histórica. In: Educação e Realidade. Vol. 20, nº 2. 1995.
1.6 – O DISCURSO DO MATERNO UNIVERSAL NA MATÉRIA “#POBREFAZENDOPOBRICE: SEIS ERROS DO POST QUE RIDICULARIZOU A AMAMENTAÇÃO”
Criseida Rowena Zambotto de Lima (UFMT)
Neila Barbosa de Oliveira Bornemann (UFMT)
As representações sociais sobre a identidade da mulher-‐mãe são construtos sócio-‐históricos reforçados por práticas, instituições, discursos filosóficos, políticos e médicos, resultantes dos efeitos de poder-‐saber que forjam a subjetividade feminina. Esses discursos socialmente legitimados sobre maternidade, corpo feminino e amamentação apresentam forte viés androcêntrico e normativo. Dessa maneira, os sentidos atribuídos à maternagem, associados ao amor e ao cuidado, passam a reforçar valores ideais, verdades, que constituem e definem o que é ser mãe para nossa sociedade. As instâncias midiáticas e públicas têm por finalidade regular as ações individuais de modo a exercer controle/poder sobre a verdade, desenvolvendo um comportamento aceitação e submissão a essas formas de poder regentes. Por considerar que não há uma conduta materna universal, este trabalho pretende perscrutar a constituição dos efeitos de sentido de verdade, produto das relações de poder em disputa entre os discursos presentes nos enunciados da matéria “#pobrefazendopobrice: seis erros do post que ridicularizou a amamentação, publicada no Portal EBC. A reportagem está localizada na sessão destinada aos “pais” leitores do portal de notícias e traz as vozes de especialistas para desautorizar os enunciados de um post publicado no facebook no qual a enunciadora se posiciona contrariamente ao aleitamento materno dentre outras questões relacionadas. Para a análise, utilizamo-‐nos dos conceitos de verdade, saber e poder de Foucault (2012), bem como de sua noção de biopoder de modo a compreender como a matéria aciona a memória discursiva acerca da mulher-‐mãe-‐nutriz, produzindo efeitos de verdade/poder nos discursos sobre o aleitamento materno e identidade materna. Segundo o autor (1984), o controle da sociedade se opera no biológico e no corpo como realidade biopolítica, assim sendo, observamos como as práticas discursivas sobre o uso do corpo da mulher como nutriz reforçam o discurso hegemônico
autorizado pelo a priori de verdade do discurso especializado médico-‐científico. Para o debate foram consideradas, também, as contribuições de Badinter(1985), acerca das representações históricas da maternidade como instinto inato a todas as mulheres e a solidificação do mito do amor materno, e de Scott (1989), no que diz respeito ao fato de as relações de gênero estruturarem a percepção e a organização da vida social, “influenciando as concepções, as construções, a legitimação e a distribuição do próprio poder” (SILVA E OSTERNE, 2012). A presente análise questiona o modo como a temática acerca da identidade mulher-‐mãe-‐nutriz, de cunho íntimo e particular, se constitui em pauta pública e se traduz em consequências acerca da subjetividade investida sobre a mulher, uma vez que captura o sujeito no jogo da cidadania. Destarte, não se questionam os benefícios do aleitamento materno, mas como se operam os micropoderes de produção e reprodução da identidade feminina pela mídia e como funciona a resistência a essa subjetivação. Assim, podemos compreender que o discurso acerca do aleitamento materno como algo natural, instintivo e de demonstração de laços afetivos entre mãe e filho é, também, atravessado por outros discursos, tão legítimos quanto, que definem a relação complexa e fluida da constituição das identidades da mulher-‐mãe-‐nutriz. Palavras-‐chave: maternidade; subjetividade; biopoder. Referências BADINTER, E. Um amor conquistado: o mito do amor materno. (8a ed.). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. FOUCAULT, M. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Graal, [1979] 2012. FOUCAULT, M. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. 3 ed. Petrópolis: Vozes, 1984. SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil para análise histórica. Tradução Christine Rufino Dabat e Maria Betânia Ávila. 1989. SILVA; OSTERNE. Caderno Espaço Feminino -‐ Uberlândia-‐MG -‐ v. 25, n. 1 -‐ Jan./Jun. 2012 – ISSN online 1981-‐3082.
1.7 -‐ DISCURSOS DA IMPRENSA SOBRE O COMPORTAMENTO FEMININO EM CUIABÁ (1956-‐1964)
Keren Martin Sandro Marques (UFMT)
Pretende-‐se neste trabalho, embasado nas abordagens da Nova História Cultural, elencar a postura da imprensa cuiabana em relação à representação do comportamento feminino na sociedade, num período de transformação econômica e cultural, entre os anos 1956 a 1964. Tomo como fonte os jornais da capital mato-‐grossense que se constituirão o corpus documental para a nossa pesquisa, são eles: A Cruz (1956-‐1964), Boletim da Associação de Imprensa Matogrossense (1959), O Combate (1956-‐1962), O Estado de Mato Grosso (1956-‐1964), O Social Democrata (1957, 1958, 1960), Tribuna Acadêmica (1959) e Tribuna Liberal (1964). Decidimos delimitar nosso recorte temporal entre 1956 e 1964, pois nesse espaço de tempo desenrolou boa parte do processo de modernização do país e consequente transformação na política, pois corresponde ao período de uma abertura democrática com o governo Juscelino Kubitschek e João Goulart, além de representar o momento de desenvolvimento econômico e principalmente cultural, com o boom das influências
norte-‐americana por meio do cinema e literatura, e claro, com a massificação da comunicação impressa e midiática. Os jornais serão as fontes e o objeto do trabalho tendo como função desvendar as normas culturais, os modelos de conduta e a moral dominante, dentro de uma ordem social e de hierarquias de poder. Essas fontes podem nos fornecer as performances dos atores históricos, submissas e/ou rebeldes aos limites sociais. Práticas, tensões e conflitos presentes na vida dos sujeitos históricos, que emergem das entrelinhas, bem como as transformações políticas, econômicas e culturais em que se encontravam a sociedade. Para realizar este trabalho as obras de Mary Del Priore, Margareth Rago, Carla Bassanezi, que abordam a temática serão primordiais para o seu desenvolvimento. A imprensa periódica se constitui segundo Morgado (2011) numa “importante ferramenta de estudos interdisciplinares e contribui para a compreensão da sociedade, em função do seu alcance e influência na maneira como as pessoas apreendem a realidade e lhe dão sentido” (p.11). Para De Luca (2008) algumas metodologias são necessárias para se realizar um bom trabalho com fontes impressas como, por exemplo: fazer uma análise do discurso do jornal identificando a narração dos acontecimentos em contra partida com o próprio acontecimento; bem como localizar a história do jornal, sua trajetória de formação, observar as características de ordem material, organização interna dos conteúdos, à presença ou não de iconografias, o grupo responsável pela publicação e redação, principais colaboradores, a que público é destinado o jornal, órgãos de financiamento, inclinações ideológicas, políticas ou religiosas. Em nosso trabalho as fontes serão estudadas mediante a sua origem, a organização/estrutura/ e as formas de produção e reprodução na sociedade Cuiabana, considerando seu o lugar social, seus proprietários, fontes de recursos, viés político, ideológico e religioso. Serão realizadas leituras, seleção e análise dos artigos dos jornais relativos às temáticas do comportamento das mulheres, principalmente aqueles que se referem a esfera privada, arte culinária, práticas de beleza e comportamento, dentre outros na cidade de Cuiabá. Como este trabalho se encontra em fase inicial, ainda não é possível apresentar sólidas conclusões. Palavras-‐chave: comportamento social; mulher; imprensa. Referências DEL PRIORE, Mary (Org.) História das Mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto/ Editora UNESP, 1997. LUCA, T. R. De. História dos, nos e por meio dos periódicos. In. PINSKY, Carla B. (org.) Fontes históricas. 2ed., 1º reimpressão – São Paulo: Contexto, 2008, p. 111-‐ 153. MORGADO, Elaine Maria Oliveira (Org.). Catálogo de jornais, revistas e boletins de Mato Grosso 1847-‐1985. Cuiabá: EdUFMT, 2011. PINSKY, Carla B; PEDRO, Joana M. (org.) Nova História das mulheres. São Paulo: Contexto, 2012. RAGO, Margareth – Trabalho feminino e sexualidade. In: DEL PRIORE, Mary (Org.) História das Mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto/Editora UNESP, 1997, p. 578-‐606. RAGO, Margareth. Do cabaré ao Lar – A Utopia da Cidade Disciplinar Brasil 1890-‐1930. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1987.
1.8 -‐ “BELLEZA CUYABANA”: PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO FEMININA NA CRÔNICA DE JOSÉ DE MESQUITA (1928)
Mayara Laet Moreira (UFMT)
Kamila Laet Moreira (UNEMAT)
A produção literária, os jornais, as revistas, são meios pelos quais se inscreve normas e valores, legitimados pelo estatuto intelectual que lhes são atribuídos. É o caso da crônica Belleza Cuyabana de 1928, que compõe a série de crônicas sob o título Gente e cousas de antanho, publicadas desde 1925 no jornal A Cruz por José de Mesquita e, posteriormente, reunidas na Revista do Instituto Histórico de Mato Grosso. Esse pensador, de profissão desembargador, escreveu inúmeras crônicas, poemas, contos, artigos, ensaios, textos jornalísticos e historiográficos. Podemos conjecturar sua influência na elite cuiabana e no meio letrado em que circulava. Por isso, nosso objetivo é focalizar os processos de subjetivação feminina presentes na crônica Belleza Cuyabana, entendendo-‐a enquanto efeito e mantenedora, simultaneamente, de uma rede de funcionamento – produção, reprodução, circulação –, assim denominada pelo historiador Luis Ferla (2009), que permite dar continuidade às conexões potenciais. Na prática, significa dizer que havia um projeto político de civilização, modernização e nacionalidade, que se espalhou pelo Brasil nas décadas de 1920 a 1940, sendo possível percebermos as ressonâncias desses discursos na obra de José de Mesquita, principalmente, no que se refere ao projeto eugênico e ao projeto de regeneração racial. Os intelectuais da época – médicos, juristas, pedagogos, psicólogos, entre outros –, viam a mulher – seu corpo, sua sexualidade – como produto do seu sistema reprodutivo e, consequentemente, meio de colocar em prática tais objetivos, como o aperfeiçoamento da raça e a correção dos processos degenerativos. Em sua crônica, José de Mesquita, ao mapear os elementos de “arianização” no processo de formação da estrutura racial mato-‐grossense, enaltecendo os dotes físicos das “patrícias de antanho” – isto é, as virtudes tradicionais da cuiabana –, deixa claro que compartilhava e reproduzia essa ideologia nacional que, por sua vez, vinha ganhando notoriedade e se espalhando pelos estados brasileiros desde o início do século XX. O trabalho metodológico desta pesquisa é inspirado em Michel Foucault, tanto em sua análise arqueológica proposta na obra Arqueologia do saber, ao ambicionarmos interrogar sobre as regras de formação discursivas e historicizar os enunciados e os saberes, quanto em seu enfoque na produção de subjetividade, tema investigado, sobretudo, nos volumes de História da Sexualidade. Conforme o pensador, a subjetividade deve ser entendida como processo ou prática, estritamente ligada com o tempo e com a dimensão transformacional ou criativa do corpo. Por isso, é importante perguntarmos a respeito das práticas discursivas pelas quais nos tornamos sujeitos. Nesse ponto, as reflexões da epistemologia feminista e o conceito de gênero nos têm oferecido suporte teórico e metodológico para realizar uma “desconstrução”, nos termos sugeridos por Jacques Derrida, dos arranjos sociais estabelecidos às mulheres e homens em diferentes épocas e dos movimentos políticos que procuravam organizar suas vidas e controlar seus corpos, criando esferas distintas de pertencimento, de atuação e poder. Portanto, a partir dessas leituras, procuramos dar visibilidade e problematizar os processos de subjetivação femininas inscritos na crônica de José de Mesquita.
Palavras-‐chave: processos de subjetivação; beleza cuiabana; José de Mesquita.
Referências FLORES, Maria Bernardete R.. "Ao Brasil dos meus sonhos": feminismo e modernismo na utopia de Adalzira Bittencourt. Revista Estudos Feministas. Florianópolis, SC, ano 10, p. 11-‐37, 2002. ______. A política da beleza: nacionalismo, corpo e sexualidade no projeto de padronização brasílica. Diálogos Latino-‐americanos. Aarhus, DK, p. 88-‐ 109, 2000. FOUCALUT, Michel. Arqueologia do saber. 7. ed. – Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008. ______. História da sexualidade I: a vontade de saber. São Paulo: Paz e Terra, 2014. ______. História da sexualidade II: o uso dos prazeres. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1984. RAGO, Luzia Margareth. Epistemologia Feminista, Gênero e História. In: PEDRO, Joana; GROSSI, Miriam (Orgs.). Masculino, Feminino, Plural. Florianópolis, SC: Ed. Mulheres, 1998, p. 21-‐46.1.
1.9 -‐ NOS ESCRITOS DO JORNAL "O ESTADO DE MATO GROSSO", (ANTI) FEMINISMOS INSCRITOS: OS SENTIDOS E OS EMBATES DA COBERTURA JORNALÍSTICA SOBRE O ANO INTERNACIONAL DA MULHER E O MOVIMENTO FEMINISTA
Paula Faustino Sampaio (UFMT)
1975 foi declarado pela Organização das Nações Unidas (ONU) o “Ano Internacional da Mulher”. Nesse ano também aconteceu a 1ª Conferência Mundial sobre as Mulheres, na Cidade do México, e ações voltadas às mulheres, patrocinadas pela ONU, ocorreram em diversos países. No Brasil, a Associação Brasileira de Imprensa no Rio de Janeiro, patrocinada pela ONU, realizou a “Semana de Pesquisas sobre o Papel e o Comportamento da Mulher Brasileira, entre 30 de junho e 6 de junho de 1975. Concomitantemente, o movimento feminista mostrava-‐se revigorado, apresentando novas bandeiras de luta e ampliação do número de militantes. Estes acontecimentos, que já eram objeto de escrita da imprensa feminista, foram noticiados em 1975 com especial atenção pela grande imprensa. Neste momento, o Brasil vivia sob a censura da imprensa imposta pelo regime civil-‐militar, o conservadorismo e o autoritarismo das relações sociais; apesar disso, a grande imprensa, quase sempre aliada dos governos militares, noticiou sobre o movimento feminismo e emitiu posicionamento sobre as bandeiras de luta das feministas. Tudo isso é objeto de estudos de historiadores (as), que vem renovando e ampliando os campos História das Mulheres e o Estudos de Gênero com estudos inovadores teórico e metodologicamente; são estudos problematizam as representações e os discursos sobre o movimento feminista e as feministas na sociedade brasileira do século XX, e mostram como os diversos meios de comunicação posicionaram em relação às bandeiras feministas. Em diálogo com os estudos de gênero e os estudos históricos sobre imprensa, o Projeto de Pesquisa UFMT/PROPEQ -‐ “Gênero e Feminismo discursos e representações na imprensa regional e na produção histórica, Mato Grosso, 1975 e 1988” localizou
notícias, reportagens, entrevistas, fotos, desenhos, entre outros tipos jornalísticos, sobre o “Ano Internacional da Mulher” e o Movimento Feminista no jornal “O Estado de Mato Grosso”. Considerando este jornal como um dos meios de comunicação difusor da ideologia dominante, conservadora e reacionária, no estado de Mato Grosso, é possível problematizar acerca dos sentidos da cobertura jornalística sobre as ideias contestadoras dos padrões sociais, cultural e sexuais, do ideal de feminilidade, das condições de vida das mulheres e do autoritarismo nas relações, para mostrar quais e como discursos feministas e sobre o feminismo foram publicados pelo jornal “O Estado de Mato Grosso”, apontando em que medida foi construindo no Jornal “O Estado de Mato Grosso”, no ano de 1975, uma crítica ora velada, ora escancarada ao movimento feminista e às feministas, revelando as formas e faces das ações hostis ao feminismo nos embates ideológicos do “Ano Internacional da Mulher”. Palavras-‐chave: feminismo; ano internacional da mulher; jornal. Referências SOIHET, Raquel. Feminismo e antifeminismo: mulheres e suas lutas pela conquista da cidadania plena. Rio de Janeiro, 7 Letras, 2013.
SIMPÓSIO 2 -‐ SEXUALIDADES, CORPOS E VIOLÊNCIAS DE GÊNERO: DIÁLOGOS IN(TER)DISCIPLINAD@S
Paulo Brito do Prado (UFF-‐RJ) Neide Célia Ferreira Barros (UFG-‐GO)
2.1 -‐ DITADURA DO CORPO PERFEITO: REVISTA VIOLETA ENQUANTO VEÍCULO DE CIRCULAÇÃO EM CUIABÁ (1930-‐1945)
Kamila Laet Moreira (UNEMAT) Mayara Laet Moreira (UFMT)
Esta proposta de trabalho tem como ponto de partida problematizar os fragmentos de pensamento, de receita, de literatura, de informativos que circularam nas páginas da Revista A Violeta em Cuiabá/MT, entre as décadas de 1930 a 1945, marcados por uma “política da beleza”, como denomina a historiadora Maria Bernardete Ramos Flores (2000). Em outras palavras, trata-‐se de analisar a “invenção”, no sentido deleuziano do termo, do corpo perfeito na revista enquanto efeito dos cuidados com a saúde. Segundo a historiadora Ana Maria Marques (2005), surgida em 1916 na cidade de Cuiabá/MT, a Revista A Violeta, oriunda do Grêmio Literário “Júlia Lopes” e liderada por mulheres da elite cuiabana, foi um importante veículo de divulgação das causas femininas, tendo sua circulação interrompida na década de 1950. Vale lembrar que, de acordo com a discussão historiográfica realizada, a política do embelezamento tornou-‐
se uma prática a nível nacional na época estudada. Durante o Estado Novo percebemos uma importância exagerada que assume o corpo e a sexualidade nos projetos eugênicos e nos processos de higienização sociais, uma espécie de combate incisivo da degenerescência física e moral – enfermos, alcoólatras, loucos, epiléticos, prostituição, homossexualidade. Isto é, vemos emergir uma enxurrada de parâmetros de normalização do corpo, não somente econômica ou ideológica, mas também “física”. Podemos cogitar que a presença dessas séries de receitas nutricionais e de informativos sobre a saúde na revista são resultados dos projetos políticos de intervenção no corpo social, que percorreram os estados brasileiros na época. Isso significa dizer que há todo um movimento dos intelectuais brasileiros, inspirados nas ideias vindas da Europa Ocidental desde meados do século XVIII ao século XX, na construção de uma identidade nacional com o aperfeiçoamento da raça, em que a estética corporal seria algo próximo do progresso e desenvolvimento da nação. Nesse sentido, percebendo o corpo como submetido a uma rede de poderes que, paradoxalmente, pretendia valorizá-‐lo, controlá-‐lo e vigiá-‐lo, procuramos focalizar os discursos e as políticas corporais que privilegiaram determinado tipo físico, dos quais a revista acabou por divulgar nos seus periódicos. Para tanto, na pesquisa utilizaremos as análises arqueológicas propostas pelo filósofo francês Michel Foucault, como referencial metodológico. Isto é, trata-‐se de realizar uma análise de discursos, de compreender seus conjuntos de regras, para questionar os enunciados que circularam na revista A Violeta tencionando estimular o cultivo do corpo saudável. É importante também o conceito de biopolítica desenvolvido por esse pensador, para questionarmos as práticas políticas que “inventaram” e investiram no corpo saudável e produtivo, tanto economicamente, quanto sexualmente.
Palavras-‐chave: A Violeta. Corpo. Política do embelezamento. Referências CORBIN, Alain; COURTINE, Jean-‐Jacques e VIGARELLO, Georges. História do corpo. 1. Da Renascença às Luzes. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012. DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. – Rio de Janeiro: Ed. 34, 1995. FLORES, Maria Bernardete R.. A política da beleza: nacionalismo, corpo e sexualidade no projeto de padronização brasílica. Diálogos Latino-‐americanos, Aarhus, DK, p. 88-‐ 109, 2000. FOUCALUT, Michel. Arqueologia do saber. 7. ed. – Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008. ______. Vigiar e Punir. – Rio de Janeiro: Petrópolis, RJ: Vozes, 2013. MARQUES, Ana Maria. O feminismo nas narrativas de mulheres da revista A Violeta Cuiabá: 1916-‐1950. Revista Territórios e Fronteiras, Cuiabá, MT, v. 4, p. 3-‐17, jan./jul. 2011.
2.2 -‐ CORPOS E COMPORTAMENTOS: A MULHER GOIANA NAS PÁGINAS DO PERIÓDICO O LAR (1926-‐1932)
Danielle Silva Moreira Dos Santos (UFG)
No ano de 1926, várias intelectuais goianas, dirigidas por Oscarlina Alves Pinto, reuniram-‐se e decidiram escrever sobre amor, família, política dentre outros temas variados. As colaboradoras desse periódico reconheceram a necessidade de uma atuação feminina e engendraram essa proposta, segundo elas, em benefício da sociedade Goiana. O Lar circulou na cidade de Goiás no começo do século XX, um momento da história nacional em que progresso e modernidade eram palavras de ordem. Fossem dentro ou fora do lar a mulher goiana idealizada nas páginas do ‘‘jornalzinho’’, seus corpos e seus ideais, possuíam um importante papel social a desempenhar. Sendo assim identificar as premissas e discursos sob os quais eram alicerçados a vida da mulher goiana são questões que norteiam esse estudo inicial. Nosso objetivo é compreender de que maneira esse jornal instruía mães, filhas, avós, irmã, refletindo e influenciando seus valores, convicções, anseios e angústias.
Palavras-‐chave: Imprensa feminina, escritoras goianas, comportamento.
2.3 -‐ CANTILENAS DE GOIÁS: MEMÓRIA, GÊNERO E IDENTIDADES NA OBRA DE REGINA LACERDA
Paulo Brito do Prado (UFF) O trabalho explora a obra e a trajetória de Regina Lacerda. Nele propomos evidenciar questões relacionadas aos jogos de gênero e as influências desses jogos no campo folclórico de Goiás. É nosso interesse perceber como se articulou o gênero na Comissão Goiana de Folclore e de que forma os relacionamentos de poder resultantes foram explicitados na obra da folclorista. Além destas questões, tentamos apresentar partes da obra de Regina que em muito se preocupou com elementos culturais “definidores” da memória social goiana. Observamos em seu trabalho de catalogação dos costumes goianos, um intrincado entrecruzar de culturas. Hibridizações, posteriormente publicadas em diferentes livros e textos. Embora ela tenha tentado “harmonizar” os choques culturais resultantes da miscigenação, dialogando com os pressupostos ideológicos de 1930 – as influências do mito da democracia racial desenvolvidos na obra de Gilberto Freire –, seu trabalho não perdeu a validade histórica. Na verdade ele se tornou fonte importante do estudo da história, em função dos seus muitos paradigmas indiciários e das notícias dadas sobre as origens culturais/identitárias do povo goiano. Sua ampla produção bibliográfica, embora se limite em descrições do locus observado, nos legou memórias importantes, e que cotidianamente emergem em nosso presente. Seu oficio de folclorista e os registros que produziu no desempenho dessa função, junto à Comissão Goiana de Folclore (CGF) são, nas palavras de Manoel Guimarães (2010), “lembranças e evocações que assumem um decisivo papel para a compreensão das [muitas] sociedades humanas” (p. 33) formadoras da identidade goiana. Não é interesse nosso, neste artigo, bancar o tipo “antropólogo” e perfilar os becos e vielas de Goiás numa tentativa desesperada de interpretar, se não, de registrar traços peculiares da cultura e do cotidiano da gente goiana e/ou vilaboense. Nosso interesse se aproxima mais de uma etnografia histórica que tenta discutir a cultura, a memória, as identidades registradas por Regina Lacerda
em seu livro “Vila Boa: história e folclore” na década de 1970 e os relacionamentos de gênero nos quais esta mulher se envolveu. Nosso interesse se concentrou nos temas trazidos pela folclorista na segunda edição. Nesta, além de atualizar diversas informações coletadas no período posterior à edição de 1957, a autora inseriu uma “conferência pronunciada na solenidade de reabertura do Gabinete Literário Goiano, em 04 de fevereiro de 1968”. Esta conferência, somada ao conteúdo do livro, nos ofereceu importantes impressões da autora acerca da constituição das identidades e da cultura em Goiás, sua “Cidade Mãe”. A obra de Regina Lacerda é lugar fundamental da memória feminina sobre a Goiás de fins do século XIX e meados do XX. Palavras-‐chave: Folclore. Gênero. Goiás. Regina Lacerda. Referências CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: 1. Artes do fazer. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. DUBY, Georges; PERROT, Michelle. Escrever a história das mulheres. In: THÉBAUD, Françoise (Direção). História das mulheres no Ocidente: vol. 05: o século XX. Porto: Edições Afrontamento, 1992. GUIMARÃES, Antonio Sérgio Alfredo. Racismo e anti-‐racismo no Brasil. São Paulo: Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo; Ed. 34, 1999. GUIMARÃES, Manuel Luiz Salgado. O presente do passado: as artes de Clio em tempos de memória. In: ABREU, Martha; SOIHET, Rachel; TEIXEIRA, Rebeca (Org.). Cultura política, historiografia e ensino de história. Rio de Janeiro: José Olympio, 2010. LACERDA, Regina. Vila Boa: folclore. São Paulo: Gráfica da Revista dos Tribunais; Goiânia: Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos, 1957. __________________ Cerâmica popular: artesanato vivo em Goiás. Goiânia, 1957. __________________ Tambor: dança que Nossa Senhora dançou. Goiás agora: boletim de cultura. Ano 01, n. 03. Goiânia: Edição da Livraria Brasil Central Editora, agosto de 1965. __________________ Cidade de Goiás, berço da cultura goiana: conferência pronunciada por Regina Lacerda na solenidade de reabertura do Gabinete Literário Goiano. Cidade de Goiás: Publicação do Departamento Estadual de Cultura, 04 de fevereiro de 1968. _________________ Papa-‐ceia: noticias do folclore goiano. Goiânia/Goiás: Gráfica Oriente, 1968. __________________ Vila Boa: história e folclore. Goiânia: Oriente, 1977. __________________ Folclore brasileiro: Goiás. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura/Departamento de Assuntos Culturais/Fundação Nacional de Arte/Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, 1977. __________________ Cantigas e cantares: músicas folclóricas e modinhas goianas. Goiânia: Ed. Da Universidade Federal de Goiás, 1985. __________________ Histórias e lendas de Goiás e Mato Grosso. São Paulo: Literart, s/d. PERROT, Michelle. As mulheres ou os silêncios da história. Tradução de Viviane Ribeiro. Bauru, SP: EDUSC, 2005. SCOTT, Joan Wallach. Experiencia. In: Revista de Estudos de Gênero -‐ La Ventana: Universidade de Guadalajara, 2011.
SCOTT, Joan Wallach. Género e historia. Tradução de Consol Vilá I. Boadas. México: FCE, Universidad Autónoma de la Ciudad de México, 2008. SCOTT, Joan Wallach. O enigma da igualdade. In: Revista Estudos Feministas: Universidade Federal de Santa Catarina: Florianópolis, 2005. SOIHET, Rachel. O feminismo tático de Bertha Lutz. Florianópolis: Ed. Mulheres; Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2006.
2.4 -‐ O GÊNERO DO SERVIÇO SOCIAL: UMA PROFISSÃO DE (QUAIS) MULHERES?
Jéssica Fernandes Federici (UFMT) O presente resumo surge das acepções do Trabalho de Conclusão da autora, intitulado Bicudos que se beijam? A relação Serviço Social, Gênero e Feminismo na concepção de alunas da UFMT; cabendo aqui refletir sobre a histórica feminização da profissão. Destarte, teve como objetivo verificar as prioridades dadas às questões de gênero no Serviço Social, realizou-‐se uma pesquisa exploratória de cunho quanti-‐qualitativo, assim como um levantamento bibliográfico. O Serviço Social brasileiro foi configurando-‐se através de ações da Liga das Senhoras Católicas e da Associação das Senhoras Brasileiras, dando origem ao Centro de Estudos e Ação Social (CEAS) e Legião Brasileira de Assistência (LBA). É preciso salientar que as mulheres estavam intrinsecamente relacionadas à caridade, além disso, é preciso evidenciar quem eram algumas dessas mulheres, “elas pertenciam à pequena burguesia paulistana: militares, clero, funcionários públicos, professores e profissionais liberais, além dos pequenos e médios proprietários urbanos e rurais.” (SILVA, 2014, p.102). Não haveria um questionamento das relações de gênero, uma vez que, deste modo “o Estado utiliza-‐se da figura da mulher, com todas as suas características, dons e papéis sociais difundidos ideologicamente pela Igreja Católica para assegurar o controle da “questão social” e ao mesmo tempo para desresponsabilizar-‐se pelos problemas sociais.” (CISNE, 2012, p.35). Discorre ainda, “na verdade, o Estado lança mão dos valores femininos para sensibilizar a sociedade a intervir na chamada “questão social”, dando impulso ao espírito filantrópico a partir de uma prática assistencialista, que marcaria a face da ação das primeiras-‐damas no Brasil.” (TORRES apud CISNE, 2012, p.38). “A assistência social é construída como um espaço ocupacional essencialmente feminino, absolutamente associada aos papéis conservadores de gênero cobrados da mulher”, (CISNE, 2012, p.39). Historicamente, o Serviço Social encontra-‐se feminizado por ser percebido como um trabalho que nada mais é do que a extensão de um tipo de atividade privada perpetrada pelas mulheres. O perfil da profissional de Serviço Social: 97% são mulheres, 63% têm entre 35 e 59 anos. São em sua maioria heterossexuais, 95%; ao todo 72,14% se declaram brancas e são majoritariamente católicas, 67,65%, dessas 76% tem assiduidade religiosa (BRASIL, 2005). Entendemos que este perfil pouco mudou nas quase oito décadas da profissão no Brasil, o que corrobora para uma permanência dos valores conservadores. De tal forma “sendo o trabalho uma atividade do sujeito, ao realizar-‐se, aciona não só o acervo de conhecimentos, mas a herança social cultural acumulada, com suas marcas de classe, de gênero, etnia, assim como do
processo de socialização atualizando valores, preconceitos e sentimentos que aí foram sendo moldados.” (IAMAMOTO, 2000, p.103) Salientamos que a insuficiência acerca das questões de gênero não advém apenas da pouca exibição nos conteúdos, porém as pessoas que buscam o Serviço Social também tem uma carga subjetiva, que podem relacionar a profissão a algo que ela não é, assim como resistir aos conhecimentos que abordam a história subalternizada das mulheres e a luta por seus direitos. Repensar a formação poderá trazer novas reflexões críticas sobre as relações de gênero, do ser mulher, assistente e/ou assistida. Palavras-‐chave: profissão feminina, gênero, diálogo Serviço Social. Referências BRASIL. Assistentes Sociais no Brasil: elementos para o estudo do perfil profissional. Brasília: Conselho Federal de Serviço Social, 2005. 73 p. CISNE, Mirla. Gênero, divisão sexual do trabalho e serviço social. 1ed. São Paulo: Outras Expressões, 2012. 144p. IAMAMOTO, Marilda V.. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2000. 325 p. SILVA, Ivone M. F.. Questão social e serviço social no Brasil: fundamentos sócio-‐históricos. 2. ed. Campinas, SP: Papel Social; Cuiabá, MT: EdUFMT, 2014. 250p.
2.5 -‐ SOBRE O LUGAR DO GÊNERO NO PROCESSO DE MISCIGENAÇÃO: UMA VISÃO DESDE AMÉRICA LATINA
Laura Marcela Serrano Vecino (UFMT) Os processos de miscigenação produto da colonização européia na América Latina, têm sido amplamente descritos a partir de diferentes perspectivas, abrangendo desde descrições narrativas (assim como ilustrações gráficas e elaborações literárias), que poderiam ser designados como etnográfias desse período histórico, até o desenvolvimento do pensamento filosófico, sociológico e antropológico da América Latina que estabeleceu e categorias analíticas para entender esses processos. Como resultado de um campo de conflito, longe de ser um processo de integração ou encontro harmonioso, a miscigenação na América Latina durante o período da colonização ocorreu violentamente, estabeleciendo um sistema de poder e dominação nas dimensões políticas e económicas que altera, consequentemente, formas de viver social e culturalmente das comunidades que vivíam no continente. Pela própria definição de miscigenação, entende-‐se que se deram processos inevitáveis de intercâmbio e transculturação, produto do movimento continuo de pessoas, objetos e a expansão e construção de novas vias e canais de comunicação em sentidos multidirecionais de valores, objetos, significados e conhecimento, que também levaram a processos que influenciaram diferentes grupos humanos que eram coexistentes. No entanto, não deve ser ignorado que esta é uma troca de forças desiguais que conduz a um controle hegemônico adquirido com violência, ou seja, pela imposição de valores e comportamentos de magnitude maior por parte de um dos sectores. Através do olhar de autores latino-‐americanos, este trabalho visa fazer um
acercamento teórico à interseccionalidade entre a raça e o género, nas relações de violência do processo de miscigenação e construção colonial da América Latina. A partir de autores como Aníbal Quijano e Maria Lugones tenta-‐se expõer que a colonialidade do género e a invenção da raça são exercícios simultâneos de dominação e violência, fundamentais na constituição da modernidade e, consequentemente, do sistema capitalista através da violência primaria diretamente sobre os corpos de mulheres sob a ideia de raça (indígenas e negras) , e depois sobre as estruturas comunitárias das quais elas eram participantes. A noção de heterarquias, exposta por Ramón Grosfoguel revela a relação de interdependência e de assistência mútua entre os diferentes sistemas de classificação de pessoas e seus efeitos sobre a reprodução das práticas coloniais através do reforço das identidades construídas com base no sistema de exclusão e atribuição específica de lugares e papeis sociais, legitimados com base em características biológicas que passam por um processo de ressignificação, criando uma espécie de ficções naturalizadas. Palabras-‐chave: Miscigenação, colonialidade, gênero. Referências GARGALLO, Francesca. Los feminismos de las mujeres indígena: acciones autónomas y desafío epistémico. En Tejiendo de otro modo: feminismo, epistemología y apuestas decoloniales en Abya Yala. Universidad del Cauca. Popayán, Colombia, 2014. P. 371-‐382. LUGONES, María. Colonialidad y Género. Tabula Rasa Num. 9, Julio – Diciembre 2008, pp. 73 – 101. Universidad Colegio Mayor de Cundinamarca. Bogotá, Colombia. Disponible en: http://redalyc.uaemex.mx/src/inicio/ArtPdfRed.jsp?iCve=39600906 QUIJANO, Aníbal. Colonialidad del poder, eurocentrismo y América Latina. En libro: La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias sociales. Perspectivas Latinoamericanas. Edgardo Lander (comp.) CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, Buenos Aires, Argentina. Julio de 2000. p. 246. Disponible en la World Wide Web: http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/lander/quijano.rtf WADE, Peter. Repensando el mestizaje. Revista Colombiana de Antropología, vol. 39, enero-‐diciembre, 2003, pp. 273-‐296, Instituto Colombiano de Antropología e Historia. Disponible en: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=105018181009
2.6 -‐ REGRA 11: AS MULHERES NO FUTEBOL BRASILEIRO
Kelen Katia Prates Silva (UFMT) Neste trabalho busca discutir as questões de gênero por meio das restrições da prática esportiva, neste caso a prática do futebol por mulheres. Este estudo tem como objetivo discutir a participação feminina no futebol e os processos de impedimento que as mulheres sofreram/sofrem no meio esportivo. Este estudo foi feito por meio de fontes jornalísticas e periódicos da época, contato com o diálogo com as referências bibliográficas sobre gênero e esporte. A
masculinidade dialoga em diversos momentos com as práticas esportivas, o que levou as mulheres a encontrar enormes dificuldades em serem aceitas no mundo esportivos e a sofrer muitas resistências. Os papeis sociais estabelecidos para homens e mulheres estão ligados ao uso do corpo. A delimitações do uso do corpo feminino determina os esportes que podem ser praticados pelas mulheres, e o futebol, no século XX, era visto como prejudicial ao sexo “frágil” podendo causar danos as funções reprodutivas. Neste debate é incorporada as questões do corpo feminino, as mulheres não eram atestadas como biologicamente preparadas para a prática de um esporte de intenso contato corporal e com tamanha exigência de força e agilidade. Em 1941, mediante aos debates, houve uma interferência do Estado na prática do futebol feminino. Por meio do Decreto-‐Lei 3.199 de 14 de abril de 1941, as mulheres foram legalmente proibidas de praticar alguns esportes de maior contato corporal, entre eles o futebol. A proibição só veio a ser revogada na década de 1980. Nota-‐se que a revogação desta lei não sanou os problemas e preconceitos sofridos pelo futebol feminino no Brasil, tanto que as mulheres continuam a sofrer preconceitos dentro e fora dos gramados. De acordo com (KNIJNIK, 2013, p.66): “Historicamente, procurou-‐se, de todas as formas, afastar a mulher do esporte, sendo dito e frisado que o corpo dela não podia, não devia, não cabia”. Palavras-‐chave: gênero; futebol; corpo. Referências DEL PRIORE, Mary e MELO, Victor Andrade de. História do esporte no Brasil: do Império aos dias atuais. São Paulo: Editora UNESP, 2009. FRANZINI, Fábio. Futebol é “coisa para macho”? Pequeno esboço para uma história das mulheres no país do futebol. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 25, nº 50, p. 315-‐328 – 2005. GOELLNER, Silvana Vilodre. Gênero e esporte na historiografia brasileira: balanços e potencialidades. Revista Tempo | Vol. 19 n. 34 | Dossiê Uma história do esporte para um país esportivo KNIJNIK, Jorge Dorfman. A mulher brasileira e o esporte: seu corpo, sua história. São Paulo: Editora Mackenzie, 2003. MAZZONI, Thomaz. O esporte a serviço da pátria. São Paulo, 1941. VEIGAS, Ana Maria. PEDRO, Joana Maria. In: Dicionário Crítico de Gênero. Organizadores: Ana Maria Colling, Losandro Antonio Tedeschi – Dourados, MS: Ed. UFGD, 2015.
2.7 -‐ POLÍTICAS PÚBLICAS DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO BRASIL: INTERFACES COM O MOVIMENTO FEMINISTA E DE MULHERES
Érica Caroline Iane Tedesque (UFMT) Rafaela Hernandes Godoy (UFMT)
O presente trabalho busca tecer reflexões acerca das contribuições dos movimentos de mulheres e feministas para a institucionalização das políticas públicas de enfrentamento à violência contra a mulher, objetivando identificar os desafios para materialização no contexto neoliberal. O ponto de partida para a pesquisa foram os escritos levantados através de pesquisa bibliográfica, a abordagem é qualitativa e será fundamentada no método materialista histórico dialético, por compreender que o mesmo oferece melhores condições de aproximação dos fatos, sob uma análise de conjuntura que contemple as inter-‐relações política, econômica, social e cultural do país. Dado que por meio de uma leitura totalizadora e abrangente se manifesta o sentido de reconstruir no pensamento um determinado fenômeno social, o interesse pela temática surgiu a partir da vivência da tríade ensino, pesquisa e extensão no Núcleo de Estudos sobre a Mulher e as Relações de Gênero (NUEPOM) sediado no Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS), a partir da pesquisa “A violência contra a mulher e a Rede de Atendimento em Cuiabá/MT”. O texto justifica a importância da compreensão da trajetória histórica de lutas expressas por marcos formais e jurídicos de garantia de direitos às mulheres, assim como, a materialização dessas conquistas. O intuito é uma primeira aproximação com os estudos feministas e de gênero, assim como, da categoria violência contra a mulher para subsidiar as discussões acerca da temática e contribuir com o debate referente às políticas públicas para mulheres e participação política da mulher no Brasil. A ressalva em torno da articulação entre os movimentos de mulheres e o feminismo brasileiro com o momento histórico e político no qual se desenvolveu é uma alternativa para se pensar as conquistas desses movimentos sociais e os impactos nos espaços públicos e privados. O capitalismo, como sistema de exploração e opressão, é um cenário favorável para a reprodução da violência na sociedade de classes, a percepção explícita dessa submissão e a confrontação estão na base dos atos violentos impetrados contra indivíduos e grupos que se opõem a esse tipo de dominação. A violência contra a mulher é um dos resultados desse status quo, no qual os homens exercem uma pressão ostensiva na imputação de um papel secundário à participação das mulheres. A problemática surge a partir da contradição presente entre os interesses das mulheres e o papel do Estado. Destarte, o reconhecimento das diferentes opressões vivenciadas pelas mulheres e das possibilidades do seu núcleo comum para a construção de uma identidade coletiva questionando a totalidade, com centralidade no patriarcado, no capitalismo e nas formas tradicionais de fazer política (GURGEL, 2010, p.07). Palavras-‐chave: Movimento de mulheres. Feminismo. Políticas Públicas. Referências CISNE, Mirla; GURGEL, Telma. Feminismo, Estado e Políticas Públicas: desafios em tempos neoliberais para a autonomia das mulheres. In: Revista Ser social. Vol. 10, nº 22. Brasília, 2008. (p. 69-‐96) CISNE, Mirla. Marxismo: uma teoria indispensável à luta feminista. Anais IV Colóquio Internacional Marx e Engels, 2005.
GURGEL, Telma. Feminismo e lutas de classe: história, movimento e desafios teórico-‐políticos do feminismo na contemporaneidade. In: Anais Eletrônicos do Fazendo Gênero IX: Diásporas, Diversidades, Deslocamentos. Florianópolis, UFSC, 2010. SAFFIOTI, H.I.B. Violência de Gênero-‐lugar da práxis na construção da subjetividade. In: Revista Lutas Sociais, Programa de Estudos Pós-‐graduados em Ciências Sociais da PUC-‐SP, nº 2, 1997. _______. Gênero, patriarcado, violência. Editora Fundação Perseu Abramo, São Paulo, 2004. SARTI, Cynthia. O feminismo brasileiro desde os anos 1970: revisitando uma trajetória. Estudos Feministas, v. 12, n. 2, p. 35-‐50, 2004.
2.8 -‐ A LEI E O CORPO: UMA BREVE HISTÓRIA DO ASSASSINATO DE MULHERES SOB A PERSPECTIVA DO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO DE 1940
Neide Célia Ferreira Barros (UFG) O atual Código Penal Brasileiro, nascido nos primeiros anos do Estado Novo, sob o comando de Getúlio Vargas e com forte influência da Escola Positivista italiana, é o mais importante compêndio de normas penais do país. Nascido no começo da década de quarenta do século passado, a letra desta lei sobreviveu a inúmeras transformações políticas e sociais ocorridas no Brasil ao longo do século XX, e ainda que com algumas mudanças permaneceu em sua estrutura basilar à passagem do tempo. Deste modo este trabalho propõe-‐se a analisar de forma sucinta as mudanças de entendimento a respeito do assassinato de mulheres sob a mesma lei penal, que se adaptou as reinvindicações sociais e as movimentações feministas, gerando novas leituras jurisprudenciais do mesmo fenômeno até a inserção da Lei 13.104/15, incluindo o feminicídio como tipo penal.
Palavras-‐chave: Gênero, Violência, Feminismo, Direito Penal.
2.9 -‐ MULHERES EM SITUAÇÃO DE RUA E SUAS VULNERABILIDADES
Viviane da Silva Massavi (UFMT) O presente trabalho está inserido na pesquisa “População de Rua: Desvendando Olhares das Razões Vulneráveis” do Programa de Pós-‐Graduação em Educação, da Universidade Federal de Mato Grosso (PPGEeduc/UFMT) na linha de pesquisa “Movimentos Sociais, Política e Educação Popular”. Tem como objetivo dar voz a população de rua a fim de descrever como essas pessoas se veem e veem o mundo que as rodeiam, a fim de se compreender os mecanismos que a oprimem e que provocam sua invisibilidade ou sua visibilidade a partir de padrões de colonização e de reificação delas. Busca-‐se a invisibilidade e os contornos dos silêncios, busca
compreender o desenho pela trama do verso: ao avesso. Esta pesquisa possui como referencial teórico-‐metodológico a fenomenologia, porque parte da compreensão do viver e não de definições ou conceitos, e é uma compreensão voltada para os significados do perceber. Inspirado em Maurice Merleau-‐Ponty e Paulo Freire. Merleau-‐Ponty, pois enfatiza a existência da pessoa em um mundo histórico determinado que não se separa dele. Trata-‐se de uma filosofia que está menos interessada pelo mundo expresso no mundo pensado, mas sim no mundo vivido imediato, e à medida em que este se engaja e existe no/para o mundo. Interessa-‐nos o mundo vivido, experienciado, que se constitui também nas experiências de um mundo irrefletido, sobre o qual se constroem as ciências (MERLEAU PONTY, 1971). Paulo Freire, porque a pesquisa utilizará a educação popular a partir da Pedagogia do Oprimido, quer que elas se conduza pelo ponto de vista, pelo olhar dos oprimidos, para ser significativa e não vir ‘de fora’ colonizando-‐os como se eles ignorassem nossa pedagogia ‘normalizadora’. A história de vida é o procedimento metodológico por meio do qual se foi ao encontro do universo dessas pessoas em situação de rua em Cuiabá. O artigo será apresentado através de um relato de experiência da pesquisadora enquanto Assistente Social do Programa Consultório de Rua do SUS da capital e possui um recorte de gênero, onde se busca compreender sobre as condições de vida e sobrevivência dessas mulheres, onde permeiam uma série de vulnerabilidades específicas por sua condição feminina, destacamos a violência masculina, exploração sexual e violência do Estado pelas mãos e coturnos dos policiais. As leis de proteção as mulheres não são sentidas no cotidiano das que vivem nas ruas e o seu corpo é utilizado muitas vezes como moeda de troca por sobrevivência e garantia de espaço. Palavras-‐chave: Mulheres em situação de rua; violência de gênero; vulnerabilidades. Referências BENEVIDES, Maria Vitória. “Linchamentos; violência e ‘justiça’ popular”. In Violência Brasileira. Paulo Sérgio Pinheiro (org.). São Paulo: Brasiliense, 1982. p. 93-‐117. FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido-‐ 17ª Ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987. MERLEAU-‐PONTY, Maurice. Fenomenologia da Percepção. Trad. Reginaldo di Piero. Rio Janeiro: Freitas Bastos, 1971. SCOTT, Joana W. Usos e abusos do gênero. Disponível em: http://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/view/15018. Acesso em: 10 nov 2014.
2.10 -‐ (RE)DISCUTINDO A VIOLÊNCIA E A ORIENTAÇÃO SEXUAL NA IDENTIDADE DE GÊNERO E NA PERSPECTIVA BAKHTINIANA: REFLEXÕES INTRODUTÓRIAS E INCONCLUSAS
Domingos Pinto de França (UFMT) Sabemos que para uma pessoa expressar sua livre orientação sexual e identidade de gênero, no meio social, seja ela Lésbica, Gay, Bissexual, Travesti, Transexual e Transgêneros LGBTTTs não é nada fácil. Mesmo com a tramitação do Projeto de Lei na
Câmara -‐ PLC 122/2006, criada com o intuito de reunir em Lei única todos os diretos das comunidades consideradas minoritárias e fruto da emancipação de políticas-‐sociais desses grupos subalternizados, com o propósito de ser mais um instrumento nas lutas contra os problemas de discriminação e violências sofridas, pois, infelizmente, ainda não é possível romper com a força coercitiva do Estado. Com mais de doze anos de existência e em pautas para votação e aprovação na Câmara, ele ainda não é aceito, dadas as divergências ideológicas entre os parlamentares que insistem em seu arquivamento em definitivo. Como norte investigativo do referido documento, tentaremos responder à seguinte questão: Por que existe, por parte dos legisladores, tanta resistência em aceitar o que diz o Projeto de Lei PLC 122/2006? Desse modo, tomamos o referido documento como um gênero discursivo, e como tal, ecoa sentidos variados nas filiações dialógicas que as constituem, e é passível de responsividade pelos sujeitos sociais. Para Gomes, 2015, esta questão era considerada abominável, a homossexualidade foi criminalizada pela Igreja, pelo Estado e pela Inquisição com penas que chegavam à morte. Por conseguinte, filiaremos nossa pesquisa nos pressupostos teóricos de Mikhail Bakhtin, (2006), mobilizando principalmente os conceitos de responsividade. Tentaremos mostrar como se constitui a arena ideológica neste documento, tendo em vista o embate ideológico religioso nele presente. Temos como hipótese a ideia de que as discussões e representações ideológicas das religiões de matriz judaico-‐cristã comprometem formas emancipatórias na garantia de direitos iguais a grupos socialmente diferentes, por meio da aprovação de um instrumento legal por parte dos legisladores. O alto índice de agressões aos direitos civis, registrados, contra a comunidade LGBTTTs demonstram a necessidade de um olhar diferenciado para solucionar estes conflitos enfrentados hoje em dia. Assim, acreditamos que somente a partir da força coercitiva da Lei, e daí a importância de sua promulgação para que seja utilizada como mais uma ferramenta de garantia de direitos. Palavras-‐chave: Identidade de gênero -‐ Projeto de Lei -‐ Responsividade.
2.11 -‐ RESISTÊNCIAS: NEGRITUDE E TRANSFEMINISMO NA ATUAL CONJUNTURA POLÍTICA DO BRASIL
Thamara Luiza da S. e Lima (UFMT) Vicente Tchalian (UFMT)
Habitar um corpo fora da norma que se estabelece cultural e socialmente de forma histórica, onde os sujeitos de voz são homens brancos, cristãos, heteronormativos e de classe média alta, constitui uma tarefa que implica em uma vida de violências e opressões. Segundo dados do Mapa da Violência 2015, divulgado e concebido pela Faculdade Latino-‐Americana de Ciências Sociais (FLACSO), entre os anos de 1980 à 2013 aproximadamente 110 mil mulheres foram assassinadas no Brasil, dentre essas 4762 só em 2013, representando o 5º país que mais mata mulheres no mundo, em um total que corresponde a 13 mortes por dia, das quais 7 se enquadram no crime de feminicídeo, termo que remete à Lei n°13.104/2015, que enquadra crimes onde há
violência doméstica e/ou familiar ou quando há discriminação e/ou menosprezo quanto à condição de mulher, sendo assim, crimes contra pessoas socialmente compreendidas como mulheres. Um dado de extrema relevância é que dessas vítimas, são maioria as mulheres de cor preta (Mapa da Violência, 2015, p. 29). Quanto à pessoas transgênero e/o sexo diversas, ou seja, que não se identificam segundo à norma binária dos sexos biológicos e gêneros (mulher-‐feminino e homem-‐masculino), o Brasil ocupa o topo da lista, com 689 casos registrados entre 2008 e 2014 de acordo com o relatório de monitoramento de assassinatos de pessoas transgênero (Trans Murder Monitoring – TMM), realizado pela instituição européia Transgender Euroupe (Europa Transgênero). Enfrentamos uma situação ainda mais preocupante desde a nomeação do presidente interino Michel Temer, que menos de 24 horas após sua posse, extinguiu os Ministérios das Mulheres e o Ministério da Igualdade Racial. Somando o alto índice de violência à mulheres negras e pessoas transgênero à extinção desses Ministérios, consolidando alianças políticas que evidenciam a não laicidade do Congresso Nacional, podemos perceber um cenário conturbado, nada favorável às pessoas já exaustivamente oprimidas. O intuito desse trabalho é possibilitar que essas vozes penetrem os muros da academia. Demanda essa proveniente da necessidade de discussão dessas temáticas e urgência por representatividade e legitimidade. Embasamos nossas discussões no transfeminismo negro de Jaqueline Gomes de Jesus, no debate de gênero de Judith Butler e Guacira Lopes Lobo e nos relatórios anteriormente mencionados, somadas às vivências que nossos corpos nos possibilitam, assim, neste trabalho consideramos nossas aflições, opressões e afetos, entendendo que esses podem ser interpretados como dados subjetivos relevantes à pesquisa. Palavras-‐chave: mulheres; violência; transgressões. Referências BUTLER, Judith. Problemas de gêneros: feminismo e subversão da identidade. Trad. Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010. JESUS, Jaqueline Gomes. Transfeminismo: teorias e práticas. Metanoia. Rio de Janeiro, 2014. LOURO, Guacira Lopes. Um corpo estanho: ensaios sobre sexualidade e teoria queer. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2008. WAISELFISZ, J. J. MAPA DA VIOLÊNCIA 2015 HOMICÍDIO DE MULHERES NO BRASIL. 1ª Edição Brasília – DF – 2015. Disponível em <www.mapadaviolencia.org.br> Acesso em: 19 nov. 2015.
2.12 -‐ EXCLUSÃO FEMININA E CONFLITO DE GÊNERO EM BUTTERFLY BURNING DE YVONE VERA
Sheila Dias da Silva Laverde (UFMT) Yvonne Vera é uma das mais notáveis escritoras que surgiu no Zimbábue e na África, nas últimas décadas. Ela utiliza a ficção para trazer à tona, através de suas personagens
femininas, a história silenciada das mulheres africanas que sofreram algum tipo de opressão masculina, seja pelo próprio pai, marido, ou até mesmo pelos companheiros de luta. Em seus romances, ela faz uma varredura pela história de seu país, ao abranger desde o período pré-‐colonial, as lutas pela independência até a crise política que se estabeleceu no regime de Robert Mugabe a partir da década de 1980. Suas narrativas apresentam as mulheres como agentes principais em um gênero tradicionalmente ocupado por homens, sobretudo no contexto africano. Em Butterfly burning (1998), romance que analisaremos, a história se passa antes da guerra civil, em pleno período colonial, quando imperava no Zimbábue o sistema do Apartheid, semelhante ao da África do Sul, e se centra em Phephelaphi, uma jovem que sonha ser enfermeira, numa época em que às mulheres africanas negras e pobres simplesmente não era permitido estudar. O leitor é convidado a testemunhar a tragédia da jovem que se esforça para atingir a integridade e independência, mas é traída por uma gravidez indesejada que a impede de continuar seu curso. Phephelaphi, sem alternativa, pois a faculdade de enfermagem, recém-‐aberta para mulheres negras, jamais a aceitaria estando grávida, recolhe-‐se a uma parte árida da cidade e usa um espinho para abortar o feto. Resolve voltar para Fumtamba, o homem com quem ela convive, que usa de violência para oprimi-‐la, obrigando-‐a a manter relações sexuais com ele. Ela acaba por engravidar uma segunda vez. Seu último recurso é o suicídio. O objetivo deste trabalho é demonstrar como a autora retrata as tentativas de resistência dessa personagem e todo o esforço de Phephelaphi por sua liberdade, trazendo à tona um problema universal atual que muitas mulheres enfrentam, independemente de sua origem étnica ou histórica. Ao final de nossa análise, percebemos que a gravidez para ela é algo que a impede de ser uma mulher livre e realizar seu desejo de se tornar a primeira enfermeira negra do país. Portanto, ela não aceita essa gravidez, esse impedimento, ou seja, ela não aceita que seu corpo não seja regido por ela mesma, preferindo interromper a gravidez e por último tirar a própria vida. Parece-‐nos que ela deseja tornar evidente que é dona de seu próprio corpo e que só a ela mesma seu corpo pertence. Vera elabora uma narrativa de aniquilação, retratando as tentativas de resistência e de superação da personagem, que, apesar de resistir a tanta opressão imposta a ela, habita um mundo limitado e acaba sendo autodestruída. Este estudo se dá pelo viés dos estudos pós-‐coloniais. Palavras-‐chave: exclusão feminina; conflito de gênero; Yvonne Vera.
SIMPÓSIO 3 -‐ HISTÓRIA, GÊNERO, SEXUALIDADE E PRÁTICAS EDUCATIVAS
Angélica Alves Bueno (UFG/Regional Catalão) Eriziane de Moura Silva (UFG/Regional Catalão)
3.1 -‐ HISTÓRIA, GÊNERO, SEXUALIDADE E PRÁTICAS EDUCATIVAS
Angélica Alves Bueno (UFG/Regional Catalão) Eriziane de Moura Silva (UFG/Regional Catalão)
Esse texto faz parte das reflexões desenvolvidas através dos encaminhamentos propostos pelo Programa de Pós-‐graduação em História – Mestrado Profissional, da Unidade Acadêmica Especial História e Ciências Sociais/UFG/Regional Catalão. As questões de gênero e diversidade aparecem a todo o momento nos diferentes ambientes escolares e expõem as concepções sociais sobre o que é ser homem/mulher/negro/a. Questões como: “homem não chora”, “menina não joga futebol”, “existe bailarina negra?”, “isso é coisa de mulherzinha”. Ou seja, debates que atravessam o cotidiano escolar e que ultrapassam os muros da escola e da sala de aula. Envolve a formação dos profissionais da escola, o material didático e o currículo. Nossa aspiração é enfrentar as reflexões sobre como a escola atribui sentido a tais questões e as possibilidades de enfrentamento que apresenta como proposta para tais situações. Entendemos que as concepções de corpo, enquanto construções sociais são marcadas pelas experiências de gênero, etnia, classe e não se dão naturalmente, mas são historicamente elaboradas e se cristalizam nas sociedades. A escola é um dos espaços sociais em que as “diferentes presenças se evidenciam” tornando-‐a um ambiente complexo que envolve sujeitos em processo de formação. A escola é, portanto um lugar onde diferentes diálogos se estabelecem e ganham visibilidade. Ampliar as reflexões em torno das diferenças no espaço escolar é bastante importante porque somos resultados de uma educação que reforça a reprodução de uma visão binária de homem/mulher e estabelece como padrão de beleza o modelo “branco” europeu. Consciente ou inconscientemente reproduzimos estas construções que permeiam a sociedade na qual estamos inserido/as. Acreditamos que a escola, por meio das suas praticas educativas deve oportunizar discussões e encaminhamentos sobre as concepções de gênero e diversidade que se cristalizaram na cultura. O presente texto busca refletir sobre as práticas educativas desenvolvidas no interior da Escola Municipal José Sebba de Catalão/GO, que atende clientela do primeiro e do segundo ciclo de alfabetização escolar. A partir de uma perspectiva metodológica qualitativa buscamos, por meio do levantamento de dados mapear diferentes experiências em torno de questões de gênero e diversidade que envolvem aquele espaço escolar. Neste sentido elegemos duas situações que assumiram amplas proporções no interior da escola que levou o coletivo de profissionais a estabelecer debates e reflexões em torno das questões de gênero e diversidade. Foram analisadas as ações, reações e encaminhamento da comunidade escolar sobre as questões. A análise apontou para o não rompimento com a ideia de homogeneidade e de uniformização dos sujeitos; reforço de práticas patriarcais, naturalização do preconceito racial, separação binária entre homem e mulher. Palavras-‐chave: Gênero Diversidade Escola Referencias
DIAS, Luciana de Oliveira. “Ação Afirmativa: superando desigualdades raciais no Brasil”. In: SILVA, Marilena da & GOMES, Uene José. (Orgs). África, Afrodescendência e Educação. Goiânia: Editora da UCG, 2006. GOMES, Nilma Lino. Educação e diversidade étnico-‐cultural. In: RAMOS, Marise Nogueira; et al (coods). Diversidade na educação: reflexões e experiências. Brasília: Secretaria de Educação Média e Tecnológica, 2003. HORN, G. B.; GERMINARI, G. D. O ensino de história e seu currículo: teoria e método. Petrópolis: Vozes, 2009. Kabengele Munanga .(Org). Superando o Racismo na escola. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005. LOURO, G. L.. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-‐ estruturalista. Petrópolis: Vozes, 1997. PINSKY, C. B.. Estudos de gênero e história social. Estudos Feministas. Florianóplois, 17(1): 296, janeiro-‐abril/2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ref/v17n1/a09v17n1.pdf>. Acesso em 20 out. 2014.
3.2 -‐ OLHARES TRANSDISCIPLINARES SOBRE PRÁTICAS EDUCATIVAS: MULHERES, MUNDOS DO TRABALHO E MOVIMENTOS SOCIAIS
Beatriz dos Santos de Oliveira Feitosa (UFMT/Rondonópolis) Paula Faustino Sampaio (UFMT/Rondonópolis)
A escolha, bem como as formas de abordagem utilizadas para tratar os olhares transdisciplinares que permitem discutir as relações de gênero, o mundo do trabalho e os movimentos sociais não deixa de considerar todas as relações que se entrelaçam no processo de escrita, construídas entre as experiências de quem pesquisa e pelo trabalho mediado por uma metodologia, que conta muito das relações humanas mantidas pelo (a) pesquisador (a) para além do universo da pesquisa histórica. Tais questões referentes à complexidade do humano, devem ter como lócus de debate o ambiente escolar, que permita uma diversidade de possibilidades para pensar o humano, dentre as quais propomos a problematização acerca dos deslocamentos resultantes de novas opções de trabalhadores (as) para sobreviver e das discussões sobre os lugares e papeis de gênero que dizem muito do que foi a trajetória de sujeitos históricos. Relatar os processos migratórios, as relações de gênero e os modos de organização social de sujeitos da escola, especialmente voltada para Jovens e Adultos, por meio de diversas metodologias nas regiões de recente intervenção de uma cultura do capital, diz muito das experiências de cada um e uma de nós, que com maior ou menor intensidade, temos nossas trajetórias marcadas por um intenso desterritorializar-‐se, reterritorializar-‐se para que, ainda contraditoriamente, calcados em concepções patriarcais, sexistas e homofóbicas em última instância tenhamos nossas existências marcadas pela multiterritorialização (HAESBAERT, 2012). Essas trajetórias pessoais de mulheres e homens de diferentes grupos étnicos e classes, que contam as experiências vividas por grupos humanos são atravessadas por disputas políticas que transcendem o limite do pessoal, como palimpsestos, constantemente apagados para dar origem a novas escritas, do mundo e de si mesmo. Diante deste
universo de reflexão, esta comunicação objetiva reunir estudos que relacionem as categorias gênero, trabalho e movimentos sociais para pensar as experiências de se fazer mulheres e homens no mundo do trabalho e da organização social de modo interseccional e transdisciplinar em diferentes contextos históricos. Questões imprescindíveis para pensar as práticas educativas na contemporaneidade. Palavras-‐chave: Processos Migratórios; Relações de Gênero; Práticas Educativas. Referências BAUMAN, Zygmunt. Vidas Desperdiçadas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005. COSTA, Claudia de Lima. O sujeito no feminismo: revisitando os debates. Cad. Pagu, Campinas , n. 19, p. 59-‐90, 2002 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-‐83332002000200004&lng=en&nrm=iso>. Access on 17 Mar. 2016. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-‐83332002000200004.p.79. Janeiro: Mauad X, 2013. HAESBAERT, Rogério. O Mito da Desterritorialização: do “fim dos territórios” à multiterritorialidade. 7. Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012. Alfredo Veiga Neto. 5. Ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013. PERROT, Michelle. As mulheres e os silêncios da História. Trad. Viviane Ribeiro. Bauru: EDUSC, 2005. 519 p. SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e Realidade, Porto Alegre, v. 20, n. 2, p. 71-‐99. Jul./dez., 1995. SPIVAK, Gayatri C. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.
3.3 -‐ FUNÇÃO PEDAGÓGICA E MOVIMENTO DE MULHERES: PENSANDO A FORMAÇÃO PROFISSIONAL
Érica Tedesque (UFMT) Rafaela Hernandes (UFMT)
O presente ensaio teórico busca construir reflexões acerca dos limites e possibilidades na prática profissional político-‐pedagógica em uma perspectiva de emancipação das mulheres, tecendo elementos importantes para a formação profissional no que concerne a organização e mobilização de mulheres através dos movimentos sociais e populares. O ponto de partida para o trabalho foi a pesquisa bibliográfica, em que verificou-‐se a necessidade de refletir acerca do processo de formação profissional, bem como, compreender a importância dessa temática, considerando o aumento significativo de ingresso de mulheres no cenário acadêmico. Visando desvelar as mediações acerca das relações que a envolvem, o trabalho terá abordagem qualitativa, em que serão utilizados como instrumentais técnicos a pesquisa bibliográfica, de campo e entrevista semiestruturada. A pesquisa encontra-‐se em fase inicial, qual seja, análise bibliográfica, a fim de subsidiar o debate acerca da função pedagógica, bem como, a educação para emancipação das mulheres. A força pedagógica própria dos movimentos sociais substância o vínculo orgânico entre a função pedagógica, organização e mobilização das mulheres. Dado que a pedagogia materializa-‐se horizontalmente através de uma perspectiva de totalidade, apreensão das questões individuais e coletivas e a identificação das vivências de violências visando fortalecer o movimento. Destarte, a formação profissional deve ser consubstanciada em relações pedagógicas para além de repassar saberes, compreendendo
dialeticamente a educação como troca de aprendizagem em que todas/os ensinam e aprendem, sem estabelecer domínios. Palavras-‐chave: Movimento de mulheres. Função pedagógica. Formação profissional. Referências ABREU, M. M. Serviço Social e a organização da cultura: perfis pedagógicos da prática profissional. São Paulo: Cortez, 4. ed. 2011. ABREU, M. M; CARDOSO, F. G. Mobilização social e práticas educativas. In: Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: Cfess/Abepss, 2009 p. 593-‐609. GOHN, M. Mulheres–atrizes dos movimentos sociais: relações político-‐culturais e debate teórico no processo democrático. Política & Sociedade. 6.11 (2008): 41-‐70. SILVA, C. S. M. ; CAMURCA, S. Feminismo e Movimentos de Mulheres. Recife: Edições SOS Corpo, 2013 SIMIONATO. Ivete. Classes Subalternas, Lutas de Classes e Hegemonia: uma abordagem gramsciana. Revista Katálisys. Florianópolis v. 12 n. 1 p. 41-‐49 jan./jun. 2009
3.4-‐ GÊNERO NA EDUCAÇÃO: O PERCURSO PROFISSIONAL DAS DOCENTES NOS ESPAÇOS ESCOLARES EM COMUNIDADE QUILOMBOLAS
Luciano da Silva Pereira (UFMT) O presente texto desponta das primeiras ponderações da pesquisa de mestrado em educação (UFMT/IE) que está sendo realizada na comunidade quilombola do Chumbo, localizada em Poconé/MT. O referido trabalho está nos permitindo pensar e analisar como as formas culturais, a participação ativa das mulheres e a história das comunidades quilombolas são imbricadas no contexto escolar. Ao percorrer a formação escolar e profissional, a mulher negra enfrenta várias situações de discriminação racial e de preconceito. Isso ocorre porque o racismo é um dos alicerces que, infelizmente, está enraizado na sociedade brasileira. Em um país formado por uma multiplicidade cultural como o Brasil, ser negro (a) ainda pode ser entendido como sinônimo de inferioridade. A discriminação e o preconceito racial adentram todas as instâncias da sociedade e constitui-‐se em um problema que demanda debates e reflexões. As discriminações raciais no Brasil, têm se destacado como eixos centrais de exclusão social. Essa realidade se reflete no mercado de trabalho, no qual as mulheres, principalmente as mulheres negras, vivenciam situações desfavoráveis. Neste contexto, as mulheres negras sofrem uma tripla discriminação no mercado de trabalho, por questões raciais, de gênero ou classe. O espaço educativo não está isento desse processo, pois na escola emergem as diferentes problemáticas sociais. Com o intuito de proporcionar discussões sobre a história educacional da pessoa negra, o presente trabalho tem como objetivo, proporcionar uma reflexão sobre a presença das mulheres negras na educação. A metodologia utilizada para elaboração deste ensaio compreendeu-‐se no processo de revisão bibliográfica, realizada nas bases de dados
dos periódicos científicos, os dados coletados durante as observações realizadas na comunidade. Os principais pressupostos teóricos que contribuem para nossos estudos são (CASTILHO, 2011, p.56), (MOURA, 2001, p.134), (GOMES, 2003, p. 123-‐124), (TEIXEIRA, 2011, p. 56-‐57), (NASCIMENTO, 2012), (OSÓRIO, 2008), (GEERTZ, 2008), (COSTA, 1983), (SHUCHAMN, 2014, p. 137-‐167), (SOUZA, 1983) e (VIANA, 2008). Os dados apontam que o percurso profissional de algumas mulheres foi marcado por superação, infere-‐se que a teoria do branqueamento contribuiu para que essa trajetória fosse realizada com muitos obstáculos, pois a ideia do branqueamento era “purificar” a “raça” e para isso a pessoa negra de posses poderia casar-‐se com a pessoa branca para que seus filhos pudessem nascer com a pele mais clara. Acredita-‐se que essa teoria contribuiu para a propagação e perpetuação do racismo no Brasil, sendo essa teoria transmitida por gerações. Palavras-‐chave: Docentes, racismo e trajetória. Referências CASTILHO, Suely Dulce de. Quilombo Contemporâneo: educação, família e culturas. Cuiabá, EdUFMT, 2011, p. 56. GEERTZ, Clifford. A interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: LTC, 2008. GOMES Nilma Lino. Corpo e cabelo como símbolos da identidade negra. In: II Seminário Internacional de Educação Intercultural; Gênero e Movimentos Sociais, 2003, Florianópolis. Anais. Florianópolis: UFSC, 2003, p. 123-‐124. MOURA, Clóvis. Rebeliões da Senzala. São Paulo: Edições Zumbi LTDA, 1959, p. 134. NASCIMENTO, Cleonice Ferreira do. Histórias de vida de professoras negras: trajetórias de sucesso. Dissertação (Mestrado em Educação) – Instituto de Educação da Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá/MT, 2012. SCHUCMAN, Lia Vainer. Entre o encardido, o branco e o branquíssimo: Branquitude, hierarquia e poder na cidade de São Paulo. São Paulo: Annablume, 2014. (p. 137-‐167).
3.5 -‐ POLÍTICAS SOBRE USO DO NOME SOCIAL NA EDUCAÇÃO E RESPECTIVOS SUJEITOS, DISCURSOS, PODERES E LUTAS: UM RECORTE NO ESTADO DE MATO GROSSO
Sérgio da Silva Machado Junior (UFMT) A motivação para tal pesquisa parte da concepção da escola como importante polo de poder, subjetivação, produção e reprodução de discursos relativos a práticas heteronormativas e hierarquizadoras entre os gêneros (LOURO, 2000, p.9). Com um recorte temporal que vai dos anos 1990 até 2015, esta busca rastrear os processos que envolveram a idealização de algumas políticas públicas sobre sexualidade na educação. O recorte do objeto restringiu-‐se à política de uso do nome social e uso do banheiro de acordo com a identidade de gênero em instituições de ensino a partir da resolução de nº 12 do CNDC/LGBT de 2015 (Conselho Nacional Contra da Discriminação LGBT). O rastreio busca identificar eventos, discursos, sujeitos, polos de poder, caminhos, embates e entraves envolvidos desde as demandas que ocasionaram sua idealização até sua efetiva implantação ou não nas instituições de ensino. Partindo do âmbito
nacional, com a resolução nº12, (CNDC/LGBT, 2015), a pesquisa buscou os atores envolvidos em sua construção e, através de entrevistas, suas motivações, ações, lutas e discursos que culminaram em tais iniciativas. Sujeito como a travesti, militante e ex-‐presidente da ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), Keila Simpson e o professor Clóvis Arantes, que tem suas vidas de militância política LGBT iniciadas no começo dos anos 90. Neste rastreio, outros sujeitos foram fundamentais para materialização desta demanda em resolução do CNDC/LGBT– materialização construída a partir de pesquisa e embasamento teórico adequado por Marina Reidel.. Responsável por esta etapa, a travesti, pesquisadora, militante e professora Marina Reidel faz parte a ABEH (Associação Brasileira de Estudos da Homocultura) e também é membro do CNDC/LGBT. A resolução nº12, quando publicada, teve pareceres positivos do MEC e do CNE e logo beneficiou estudantes trans no ENEM do mesmo ano, que puderam usar seus nomes sociais e banheiros de acordo com suas identidades de gênero. De outro lado, polos conservadores iniciaram uma série de ações para impedir tais avanços com significativas reverberações nas esferas estaduais e municipais. Com foco o Estado de Mato Grosso, foram analisados os desdobramentos desta resolução e eventuais abordagens sobre gênero na educação, tanto na SEDUC-‐MT como as ações da militância nesse estado. Na SEDUC foram ouvidos os técnicos pedagógicos da Coordenadoria de Diversidades Sexuais, Admilson Mário de Assunção e Gisele Marques Mateus, professora técnica pedagógica desta mesma coordenadoria. Gisele participou da construção do documento da SEDUC/MT, “Orientações Curriculares para Educação em Direitos Humanos, Gênero e Diversidade Sexual”, disponível no site desta secretaria. Ambos foram ouvidos sobre suas funções nesta coordenadoria, atuação perante a resolução nº12 do CNDC/LGBT e escolas do estado, suas dificuldades e conquistas. Ainda no MT, o professor, militante, membro do CNDC/LGBT e presidente da ONG Livremente, Clóvis Arantes, relatou sobre seus embates com a assembleia legislativa do MT e analisou aspectos que tem dificultado ações de cunho progressista da SEDUC especificamente para a população LGBT. Além de documentação oficial, como as alterações nos Planos Educacionais, foram analisadas resoluções do Conselho Estadual de Educação. Um acompanhamento na imprensa foi feito para ouvir como sujeitos estratégicos posicionaram-‐se diante dos acontecimentos. Palavras chave: educação, gênero, políticas públicas. Referências CNDC/LGBT. Resolução nº 12, de 16 de janeiro de 2015. Estabelece parâmetros para a garantia das condições de acesso e permanência de pessoas travestis e transexuais e todas aquelas que tenham sua identidade de gênero não reconhecida em diferentes espaços sociais nos sistemas e instituições de ensino, formulando orientações quanto ao reconhecimento institucional da identidade de gênero e sua operacionalização.. Resolução Nº12. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/diarios/87749317/dou-‐secao-‐1-‐12-‐03-‐2015-‐pg-‐3>. Acesso em: 27 mar. 2016. LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-‐estruturalista Petrópolis, RJ :Vozes,2014.16ª Ed. 184 p.
SIMPÓSIO 4 -‐ CULTURA, CULTURA POPULAR E REPRESENTAÇÕES NO ENSINO DE HISTÓRIA
Márcia Pereira dos Santos (UFG/Regional Catalão) Jaciely Soares da Silva (UFU)
4.1 -‐ OFICINAS DE FOTOGRAFIAS DE ÁLBUNS DE FAMÍLIA: USOS SOCIAIS DAS IMAGENS E RECUPERAÇÕES DE TRAJETÓRIAS DE VIDA
Carlos Américo Bertolini (UFMT)
A experiência com a condução de oficinas de análise documental com fotografias resultou de três oportunidades de aplicação, nos anos de 2010 a 2014. Os alunos receberam aporte teórico da análise iconográfica, como postulado pela corrente de história da arte da “Escola de Warburg”, travaram contato com elementos de história cultural, referentes às formas de representações empregadas nas pinturas e retratos e suas respectivas relações com os registros fotográficos de que dispunham em seus acervos familiares. Além do levantamento dos usos sociais das imagens, suas formas de circulação no ambiente doméstico e os momentos em que os álbuns assumem a função de signos de distinção social, os iniciantes na investigação dos testemunhos documentais fotográficos debruçaram-‐se sobre suas trajetórias pessoais e familiares para contextualizar os registros selecionados para interpretação inicial. Travaram contato com seus parentes de maior idade e buscaram identificar os curadores informais dos acervos, bem como os narradores melhores preparados para declinar as legendas e os mitos das memórias das famílias. De uma amostra em situação hipotética, a de elaboração da narrativa pessoal do investigador, mediante a organização de um conjunto de fotografias a serem abordadas pelo próprio sujeito retratado, se chegou à soma do instrumento biográfico, associado ao levantamento da memória familiar e da inserção histórica do período envolvido no recorte temporal proposto pelo estudante. A atividade final envolveu elaboração de roteiros de aulas que, como experiência didática futura, recuperassem as imagens dos seus futuros alunos como testemunhos de suas trajetórias de vida, memória familiar e interação desses elementos no quadro geral de história da cidade. Para diversos alunos de menor faixa etária, a organização da biografia e trajetória de sua família nuclear foi um desafio inédito, tanto quanto entrevistar os parentes de gerações anteriores. Abordar a imagem enquanto texto, decodificando-‐o para uma plateia de colegas de turma, ou discorrer sobre a trajetória profissional e de suas opções de vida, revelando os contextos vividos além dos muros da universidade, representou um crescimento pessoal significativo e uma possibilidade de travar contato com a consciência da inserção peculiar de cada sujeito no quadro da cidade em que habita. Palavras-‐chave: História Cultural, Cidade, Fotografia. Referências
BURKE, P. Testemunha ocular: história e imagem. Trad. V. M. X. dos Santos; rev. tec. D. A. Reis Fº. Bauru, SP: EdUSC, 2004. FABRIS, A. Identidades Virtuais: uma leitura do retrato fotográfico. Belo Horizonte: EdUFMG, 2004. KOSSOY, B. Realidade e ficções na trama fotográfica. Cotia, SP: Ateliê, 1999. KRACAUER, S. Photography. In: ____. The mass ornament and other Weimar Essays. Translated and Edited by T. Y. Levin. Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press, 1995. p. 47-‐64. MIRANDA, L. Cuiabá: um olhar sobre a cidade. Cuiabá: Entrelinhas, 2002. SILVA, A. Álbum de família: a imagem de nós mesmos. Trad. de S. M. Dolinsk. São Paulo: Senac São Paulo, 2008.
4.2 -‐ AS REPRESENTAÇÕES DAS “OBRAS OFICIAIS” DA ERA VARGAS EM MATO GROSSO E O ENSINO DE HISTÓRIA
Murillo da Silva Santos (UNEMAT) Carlos Edinei de Oliveira (UNEMAT)
A proposta deste texto é apresentar as “obras oficiais”, exemplos de cultura material, construídas em Mato Grosso durante o período do Estado Novo como referencias para o ensino de história da Era Vargas. Neste sentido, estabelece-‐se como questão principal, a seguinte indagação: Como um conjunto arquitetônico pode subsidiar o ensino de História e produzir reflexões sobre o cuidado com o patrimônio cultural no tempo presente? Em busca de uma análise sobre a questão da pesquisa, tem-‐se como objetivo apresentar as “obras oficiais” como referências ilustrativas para o ensino de História, pois estas obras revelam ensinamentos e simbologias de várias naturezas. As denominadas “obras oficiais” em análise são: a casa dos governadores, Cine Teatro de Cuiabá, Grande Hotel (Secretaria de Cultura de Mato Grosso), Secretaria Geral (Arquivo Público), Palácio da Justiça, Ponte sobre o Rio Cuiabá “Júlio Müller” e a estação de tratamento de água. O estilo art déco marca a construção da maioria destas obras e revelam a marca da arquitetura dos anos 1930 e 1940 no Brasil. Para se compreender estas referências de cultura material, como possibilidades para o ensino de história, faz-‐se necessário ter a história cultural como referência teórica, pois esta permite estabelecer conexão entre as diferentes possibilidades do saber histórico. Neste caso, as “obras oficiais” são fontes históricas, e cabe ao professor de História reconstruir a partir delas “as representações da vida elaboradas pelos homens do passado” (PESAVENTO, 2005, p.42). Metodologicamente a pesquisa foi construída com fontes documentais (Arquivo do Estado de Mato Grosso e Arquivo Nacional): imprensa, cartas, telegramas e visita in loco para o registro fotográfico das edificações e de seus detalhes arquitetônicos. Em síntese, podemos afirmar que o conjunto arquitetônico produzido em Cuiabá, durante o Estado Novo, revela aspectos considerados em relação à dinâmica urbana adotada na época para as capitais brasileiras, com a construção de prédios públicos modernos e o poder centralizador do Estado e seu controle sobre a Interventoria de Júlio Müller. As edificações que fazem parte do patrimônio cultural da cidade revelam também saberes e técnicas construtivas de um determinado tempo. Estes lugares libertam as memórias de indivíduos e grupos sociais diferentes. Neste sentido, cabe ao professor de História
proporcionar um exercício crítico aos alunos de como a memória foi construída, que espaços de memória são relegados à posteridade (neste caso as obras oficiais) e quais espaços foram deixados ao esquecimento. O conjunto arquitetônico varguista presente no espaço urbano de Cuiabá permite ao professor de História, além de trabalhar para a valorização do patrimônio histórico edificado e suas implicações, poder trazer o passado para uma aproximação significativa e real com o tempo presente. Palavras-‐chave: Cultura Material. Era Vargas. Ensino de História. Referências CHARTIER, Roger, A História cultural: entre práticas e representações. Lisboa, DIFEL: Rio de Janeiro: Beltrand Brasil S.A, 1990. MARTINS, Ana Luiza Martins. Fontes para o patrimônio cultural: uma construção permanente. In: PINSKY, Carla Bassanezi; LUCA, Tania Regina de. O historiador e suas fontes. São Paulo: Contexto, 2009. p.281-‐ 308. PESAVENTO, Sandra Jatahy. História & História Cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. REZENDE, Vera F. (org). Urbanismo na Era Vargas: a transformação das cidades brasileiras. Niterói: Editora da UFF, 2012. SÁ, Cássio Veiga de. Memorias de um cuiabano honorário: 1939 1945. São Paulo: Resenha Tributária. [s.d.]. SILVA, Marcos; FONSECA, Selva Guimarães. Ensinar História no século XXI: em busca do tempo entendido. Campinas, SP: Papirus, 2007.
4.3 -‐ GOIÂNIA: O CHÃO VERMELHO EM QUE TODOS PISAM -‐ HISTÓRIA DA CIDADE POR MEIO DO ESCRITOR ELI BRASILIENSE
Marcos Rossiny Leandro (UFG/Regional Catalão) Este trabalho tem como objetivo discutir o cotidiano das transformações da cidade de Goiânia durante a década de 1950, tendo como fonte principal e privilegiada o livro Chão vermelho, escrito por Eli Brasiliense, publicado pela primeira vez em 1965. Recorremos ainda, como fonte complementar e secundária, que nos ajuda a ampliar nossa investigação sobre a cidade, a coletânea de fotografias de Hélio de Oliveira denominada Eu vi Goiânia Crescer publicada em 2008, é que constituída por fotos, as quais explicitam sua preocupação também com os temas e lugares do cotidiano da nova capital. Estes livros nos oportunizaram ampliar as reflexões, análises e discussões até então existentes acerca da cidade de Goiânia, nos conduzindo a mergulhar, por meio desses artefatos, textos escritos e imagéticos, no cotidiano das pessoas que, em específico, viviam naquela cidade e experimentaram sua constituição. Assim, busco desenvolver uma investigação focada nos discursos, nas vozes e nas diversas visões, olhares que constituem leituras próprias de alguns segmentos sociais sobre a trajetória da cidade e suas mudanças ao longo do tempo, em especial na década de 1950. Pelos trechos selecionados da obra de Brasiliense, procuramos perceber qual ou quais foram os discursos e as visões produzidos sobre a cidade mirando compreender o processo
de formação, constituição e transformação da mesma, atentando para a relação expressa entre “progresso”, “desenvolvimento” econômico e as condições de vida e cultura de seus habitantes, os quais, em geral, envolvem a construção histórica de tantas outras cidades, além de entender seu lugar e papel na formação do povo goiano. No trabalho, realizamos um estudo sobre a vida e a obras de Eli Brasiliense, procurando inseri-‐los nos contextos históricos que o autor viveu, escreveu e a que fez referência no livro Chão vermelho. Abordo, a figura de Hélio de Oliveira e de sua obra Eu vi Goiânia crescer, buscando situar o processo histórico que levou a transferência da capital Estado da Cidade de Goiás para Goiânia, realizando um levantamento histórico do movimento que parte dos discursos rumo à fundação e formação da cidade até chegarmos a década de 1950, momento o qual Brasiliense aborda e representa em seu livro e que Oliveira, por sua vez, fotografa.Procuro analisar alguns aspectos do livro de Eli Brasiliense, como dadas marcações que indicam o período que a narrativa abarca, para em seguida determos em cenas do cotidiano dos personagens na cidade aclamada por sua modernidade, abordando questões como crescimento populacional e os problemas sociais a ele atrelado, a preocupação e apologia ao trabalho em contraponto à malandragem e, por fim, os conflitos ligados a terra e os lastros da cultura rural ainda presentes no dia a dia de seus moradores. Por fim, elaboro um livreto com caráter de material didático que tem como objetivo apresentar algumas formas de como o cotidiano da cidade de Goiânia pode ser trabalhado em sala de aula no Ensino Médio por meio do livro Chão vermelho e as fotos de Eu vi Goiânia Crescer, de Hélio de Oliveira, com sugestões de trabalhos que levam em consideração os capítulos anteriormente elaborados nesta pesquisa. Palavras-‐chave: Goiânia, História e cotidiano. Referencias ALMEIDA, Nelly Alves de. Presença literária de Eli Brasiliense: estudo crítico-‐histórico-‐biográfico: seleção de textos: notas explicativas. Goiânia: UCG, 1985. BITTENCOURT, Circe M. F. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004. BRASILIENSE, Eli. Chão vermelho. Goiânia: IGL: AGEPEL, 2002. CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: 1. Artes de fazer. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. CERTEAU, Michel de. A escrita da História. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002. GEERTZ, Cliford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1989. LE GOFF, Jacques. Por amor às cidades: conversações com Jean Lebrun. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1998.
4.4 -‐ IMAGEM E CIDADE: UMA PROPOSTA DIDÁTICA DE ENSINO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO NA CIDADE DE MEDELLÍN, COLÔMBIA
María Isabel Giraldo Vásquez (UFMT)
Esta proposta mostra o resultado da aplicação de didáticas de aula para o ensino da história do desing e os valores estéticos populares durante o final do século XIX e início do XX, na cidade de Medellín. O estudo de caso inclui a análise de estratégias didáticas de ensino no curso de História do Design oferecido aos estudantes de graduação em Design Visual da Fundação Universitária Bellas Artes, em Medellin, Colômbia. Se propõe, apresentar uma ação didática específica, considerada com sucesso. O desenvolvimento do exercício acadêmico começou a partir dos questionamentos como professora de História do Design para encontrar estratégias e ferramentas de ensino que conseguissem gerar empatia, conexões sensíveis e relacionamentos significativos com a vida dos estudantes e cativá-‐los no exercício da pesquisa, observação e compreensão das dinâmicas populares que constroem e constituem a história e o património material e imaterial de uma cidade. Esta abordagem metodológica significa conceber o património cultural como uma entidade viva, ativa e crítica em relação ao presente. Uma das principais dificuldades encontradas é a percepção de que os cursos de história correspondem apenas a uma dimensão teórica e narrativa da história, e não ativa e dinâmica em relação ao presente. O problema é agravado ao entender que o perfil do programa de Design Visual visa o desenvolvimento de habilidades práticas e técnicas, não críticas, nem de investigação ou teóricas. A proposta do exercício, tem como objetivo interligar as novas formas de comunicação dos jovens estudantes, as facilidades que atualmente eles têm para tirar fotos com celulares e massificação das redes sociais como mecanismo de comunicação primário. Além disso, pretende-‐se estabelecer um diálogo entre as aplicações tecnológicas utilizadas pelos alunos (a exemplo do Facebook) e as experiências populares da e na cidade. Foi proposto um jogo visual articulado entre fotografia patrimonial e fotografia contemporânea. O conhecimento da cidade e a concepção do espaço como patrimônio arquitectônico popular fazem entender que, quando se fala do popular neste exercício, pretende-‐se que os estudantes se assumam como parte da cidade, identifiquem o espaço e se reconheçam dentro dela. Embora o exercício não trabalhou sob nenhuma corrente pedagógica particular, se poderia dizer que ele é moldado e ligado à metodologia da investigação-‐ação-‐participação (IAP), proposta pelo sociólogo colombiano Orlando Fals Borda (1991), que sugere gerar experiências de ligação com o conhecimento dos contextos sociais por parte dos sujeitos de investigação, de modo tal que sejam eles mesmos a construir um conhecimento de acordo com seus interesses e possibilidades. Assim, o pesquisador -‐ e o professor, por analogia -‐, é basicamente um mediador no conhecimento específico dos contextos culturais do sujeito-‐objeto de estudo. Como resultado desta experiência ao final do semestre os estudantes mesmos reconhecem uma aprendizagem e reconhecimento do patrimônio e da cultura popular em Medellin do final do século XIX e início do XX; e a geração do pensamento crítico em relação aos eventos populares que permitem o estabelecimento de relações entre passado e presente para acrescentar uma memória coletiva, viva e dinâmicas da sua cidade. Palavras-‐chave: historia do design, didáticas, patrimônio arquitetônico. Referências FALS BORDA, Orlando y MD. ANISUR. Acción y conocimiento: rompiendo el monopolio con la IAP. Bogotá: Rahman, 1991.
4. 5 -‐ CULTURA E PATRIMÔNIO DA ESTRADA DE FERRO NOROESTE DO BRASIL: IMAGENS E PROBLEMATIZAÇÕES NA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
Jaqueline Aparecida M. Zarbato (UFMS) Caio Santos (UFMS)
A estrada de ferro Noroeste do Brasil, construída sob perspectiva política e econômica no início do século passado, hoje guarda saudosismo por parte daqueles que estiveram de alguma forma, ligados à sua significação cultural, seja por meio do trabalho na operação desta ou pelo elo histórico concebido nas relações familiares daqueles que fizeram parte de sua construção (início do século XX). Neste trabalho objetiva-‐se analisar a importância da estrada de ferro Noroeste do Brasil enquanto patrimônio histórico cultural e as ações para sua preservação e possibilidades de problematização na Educação Patrimonial. Investiga-‐se, nesta pesquisa, no âmbito metodológico as narrativas de trabalhadores/as da região centro-‐oeste, imagens da ferrovia, das estações, das utilizações em diferentes tempos históricos (1960-‐2014); da problematização das imagens, narrativas e textos. O recorte temporal justifica-‐se pelo período dado como de “desenvolvimento local”, devido à operação ferroviária e o transporte de pessoas. As imagens retratam a alteração do espaço, possibilitando fazer análise da alteração do espaço. Objetiva-‐se, também, com esta pesquisa, a construção de um banco de dados com narrativas, imagens, textos jornalísticos, correlacionados á temática e suas possibilidades na Educação Patrimonial, uma vez que a partir da Educação patrimonial torna-‐se possível estreitar as leituras de mundo e os significados e sentidos dos elementos culturais e patrimoniais para as identidades e diversidades. Para substanciar a relação da aprendizagem histórica, a educação patrimonial decorrente a este processo de conceitos de memória nesta pesquisa, utilizamos substancialmente as produções de Isabel Barca, Maria Auxiliadora Schmidt e Jörn Rüsen. Palavras-‐chave: Patrimônio; Estrada de Ferro Noroeste; Educação Patrimonial.
4.6 -‐ MANIFESTAÇÕES POPULARES AFRO-‐ BRASILEIRA MATOGROSSENSE NA ESCOLA PUBLICA
Rozelha Barbosa da Silva (UFMT)
A metodologia do ensino de história atualmente nas escolas publica ainda perpassa conceitos sistematizados, pelo fato das identificações culturais dos povos do mundo todo estar situadas no cotidiano de cada grupo sendo relevante os seus aspectos socioeconômicos, políticos, religiosos e ambientais. A pesquisa pretende verificar qual a concepção de história presente dentro das salas de aulas mato-‐grossense e, sobretudo como os alunos permeiam o passado com o presente em especial quando se estuda as origens afro-‐brasileiras presentes no próprio Estado e município tendo por pressuposto o entendimento de que as manifestações culturais produzem tal qual a história e as formas peculiares de saber história. O universo cultural afro-‐brasileiro se
apresenta na diversidade das contribuições dos povos africanos traficados para o Brasil, contudo (SANTOS, 2003, p. 9) podemos apontar que duas matrizes étnicas africanas respondem pela herança africana na cultura brasileira Bantú e Nagôs”. O estudo envolveu seu objeto a partir da problemática Didática da História da África dentro das salas de aulas das escolas publicas de Matogrosso sem gerar preconceito quanto aos afro-‐brasileiros, ou seja, a preocupação em entender e repassar este conhecimento sendo necessário estabelecer como instrumento didático as manifestações populares dentro das salas de aulas. A opção de analise, da cultura mato-‐grossense, envolve uma gama de especulações das historias populares, gerando um contesto artístico, o qual os alunos nortearão o conteúdo em sala com mais gosto e participações gerando um bate bola entre contexto histórico de identificação cultural, pois para (SANTOS, 2003, p. 10); os elementos da influencia africana na cultura brasileira são perceptíveis em vários aspectos do nosso cotidiano e estão presentes em nosso comportamento, na linguagem, gestos, gostos culinários, na arte, manifestações populares, na religião, vestuários e até no jeito de andar. A África é outro ponto de união da historia. O continente, por vezes retratado de forma bastante imprecisa, aparece nas narrativas como terra de mouros, lugar de pecado, mas por outro lado, também poderia ser lugar que gerava servos fiéis a Cristo e à sua Igreja. (FIGUEIREDO, 2009, p.37). O resultado da pesquisa satisfará tão somente aluno-‐professor, tornado o ensino de história sobre a africanidade ponderado em suas reflexões em seu âmbito regional e pessoal, gerando pesquisa sobre as manifestações populares do passado e as atuais deixadas como legado cultural dentro das escolas publica mato-‐grossense. Palavras chaves: Metodologia, Manifestações, Escola. Referencias FIGUEIREDO, Luciano. Raízes Africanas. Rio de Janeiro-‐RJ: Sabin, 2009, p. 112; SANTOS, Ângela Maria dos. Identidade e Cultura Afro-‐ Brasileira. Cuiabá-‐MT: UAB/EdUFMT, 2013, p.39; SILVÉRIO, Valter Roberto. História Geral da África: século XVI-‐ XX. Brasília: UNESCO, MEC, UFSCar, 2013, p. 784.
4.7 -‐ EDUCAÇÃO ESCOLAR E INTERCULTURALIDADE NA ESCOLA MUNICIPAL INDÍGENA CEL. OLAVO MENDES DUARTE LOCALIZADA NA ALDEIA SANTANA BAKAIRI-‐NOBRES/MT
Marinilza de Fatima Surubim (UFMT) Este resumo é resultado de uma pesquisa realizada na Escola Municipal indígena cel. Olavo Mendes Duarte na aldeia Santana Bakairi-‐Nobres/MT. Tem como objetivo descrever o sentido da Educação Escolar indígena como específica e diferenciada pautadas no âmbito da Interculturalidade, bem como estabelecer relações entre os saberes indígenas e o saberes não indígenas manifestadas nas práticas pedagógicas cotidianas. Coloca-‐se enquanto problema de pesquisa se a educação escolar indígena diferenciada colabora no fortalecimento e na afirmação da identidade Bakairi
enquanto grupo, assegurando a participação dos sujeitos nos processos políticos e nas lutas por direitos sociais. Os referenciais teórico-‐metodológico são a fenomenologia de Merleau-‐Ponty (1999), sobretudo seu trabalho acerca de Lévis-‐Strauss (1989), Paulo Freire (2000) e a antropologia interpretativa de Clifford Geertz (1989). Esta pesquisa qualitativa pretende seguir os caminhos do chamado método fenomenológico de investigação baseados nos fundamentos teóricos de Hussel e Merleau-‐Ponty para análise dos dados de pesquisa. A Fenomenologia propõe a descrição do fenômeno na maneira como este se apresenta ao ser, despidos dos pré-‐conceitos de todo o conhecimento cientifico acumulado, a fim de considerar antes de tudo, a experiência do ser que vivencia o fenômeno antes da realidade objetiva. Outros recursos metodológicos também serão utilizados como a pesquisa bibliográfica a entrevista e a observação. Esta pesquisa tem revelado a diversidade de manifestações culturais expressados na língua na dança, nos costumes e modos de viver próprios das comunidades indígenas através das vivências cotidianas entre professores e alunos no âmbito do espaço escolar. Um modo de viver próprio que não ignora ou abre mão das invenções tecnológicas da sociedade ocidental, com o qual a maioria das comunidades indígenas já convive diariamente após séculos de contato. A valorização cultural em diversas sociedades consiste na luta constante em conciliar no possível, valores de outras culturas às nossas vivências cotidianas, em face da globalização real que pode expressar-‐se em níveis da interculturalidade. A escola que se faz presente na maioria das comunidades indígenas com sua função ressignificada pelas lutas e demandas, pode ajudar na difícil tarefa de garantir a sobrevivência de inúmeras culturas indígenas presentes em nosso país. Palavras-‐chaves: Bakairi, Identidade, Povos indígenas. Referências MELEAU-‐PONTY. Maurice. Fenomenologia da percepção. [tradução Carlos Alberto Ribeiro de Moura]. -‐ 2-‐ ed. -‐ São Paulo: Martins Fontes, 1999. MERLEAU-‐PONTY. Maurice. De Mauss a Lévy-‐Strauss. São Paulo: Nova Cultural, 1989. p. 140-‐ 154. [Os Pensadores]. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000. GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Trad. Fanny Wrobel. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1989. Bicudo. M. A. V. Pesquisa Qualitativa: segundo a visão Fenomenológica. São Paulo. Cortez, 2011.
4.8 -‐ EDUCAÇÃO QUILOMBOLA: DA RESISTÊNCIA ÀS POSSIBILIDADES DE ENSINO
Bruna Maria de Oliveira (UFMT)
O presente texto desponta das primeiras ponderações da pesquisa de mestrado em educação (UFMT/IE) que está sendo realizada na comunidade quilombola Campina de Pedra, localizada em Poconé/MT. O referido trabalho, está nos permitindo pensar e analisar como as formas culturais e a história das comunidades quilombolas são
imbricadas no contexto escolar. A educação quilombola é uma reflexão da escolarização nesses territórios e fomenta a democratização de uma escola pública de qualidade para essas comunidades. Nessa conjuntura, podemos exemplificar algumas conquistas educacionais para os quilombolas: os marcos legais como a lei nº 10.639/03 modificada pela lei 11.645/08 que determina às instituições de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares a obrigatoriedade da inclusão no currículo oficial a temática História e cultura afro-‐brasileira e das Culturas Indígenas, a Resolução CNE/CP nº 01/2004, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-‐Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-‐Brasileira e Africana e o avanço no âmbito estadual com as Orientações Curriculares para Educação Escolar Quilombola. Ao compreender a realidade e as particularidades vivenciadas por essas comunidades quilombolas, entendemos que o espaço formal da escola quilombola deve proporcionar a valorização da identidade étnica deste grupo. Este espaço pedagógico pode se valer da cultura para efetivar seus objetivos de ensinar e aprender história e a resistência destes grupos étnicos. É o ensinar para além do livro didático, aprendendo com a dinâmica a qual estão inseridos e com as narrativas do grupo, que dialogam com passado e o presente, com a história e o cotidiano das comunidades quilombolas de hoje. Os principais pressupostos teóricos que contribuem para nossos estudos, são Castilho (2011), Moura (2001), Geertz (2008), Santos & Cruz (2012), Ferreira (2015), Carvalho (2016) e Silva (2011). A pesquisa desenvolvida é qualitativa, tem como método a etnografia geertzniana. Os instrumentos de coletas são as observações no cotidiano escolar e da comunidade, análise do projeto político pedagógico da escola de Campina de Pedra e entrevistas com a equipe escolar. Apesar do ensino da história não ser o intenção central do estudo de mestrado, essa problemática, nasce justamente no decorrer dos nossos processos reflexivos e analíticos. Entendemos que as memórias coletivas dos mais velhos, detentores da história local, são fontes metodológicas para apreender e construir a história como saber e como marca cultural e identitária. Nesse sentido, o currículo escolar e uma educação contextualizada são elementos cruciais e determinantes para se pensar uma educação quilombola de qualidade. Palavras-‐chave: Educação quilombola, currículo e quilombos contemporâneos Referências CARVALHO, Francisca Edilza Barbosa de Andrade. Educação escolar quilombola na comunidade baixio -‐ Barra do Bugres/MT: avanços e desafios. Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2016. CASTILHO, Suely Dulce de. Quilombo contemporâneo: educação, família e culturas. Cuiabá: EdUFMT, 2011. FERREIRA, Augusta Eulália. Educação escolar quilombola: uma perspectiva identitária a partir da Escola Estadual Maria de Arruda Muller. Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2015. GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. l. ed., 13ª reimpr. Rio de Janeiro: LTC, 2008. SANTOS, Maria Walburga dos; CRUZ, Ana Cristina Juvenal da. Diásporas e comunidades quilombolas: perspectivas metodológicas para o ensino de história da África e da cultura afro-‐brasileira. In. Revista História. Hoje, v. 1, nº 1, p. 193-‐215, 2012.
SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de Identidade: Uma Introdução às Teorias do Currículo.3ª.ed.2. reimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2011.
4.9 -‐ UM OLHAR EPISTEMOLÓGICO SOBRE O FEMINISMO E A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO
Andreia Marcia Zattoni (UFMT) Alécio Donizete da Silva (UFMT)
A epistemologia feminista insere-‐se num campo teórico que tem sido problematizado, atualmente, de várias maneiras. Fala-‐se em crise do paradigma científico dominante pautado no modelo epistemológico fundado na revolução científica do século XVII. (SANTOS, 2006) Defender a pluralidade metodológica é um dos postulados desta epistemologia, o que nos leva a acreditar ser mais apropriado falar em epistemologias feministas, dentre outras epistemologias chamadas libertárias. Várias discussões estão em curso, a favor e contra, a uma proposta de abordagem singular feminista nas pesquisas científicas e históricas. O presente artigo pretende mapear as discussões referentes ao tema para definir as possibilidades de existência de uma especificidade feminina relativa à construção do conhecimento. Nessa epistemologia o conhecimento seria sempre situado e bem-‐vinda a interdisciplinariedade. A crítica posta por esta epistemologia tem sido profícua, não somente porque denuncia um estado de dominação social e epistêmica patriarcal, mas porque define objetos e objetivos a serem abordados nas pesquisas, antes ignorados ou emudecidos, a saber, a história e experiência das mulheres que como objetos de pesquisa têm sido desvalorizadas e negligenciadas. Assim, os fins e meios de se fazer ciência são revistos e ampliados com novas categorias de análise, como é o caso das “relações de gênero”. Margareth Rago afirma que as mulheres trazem uma experiência histórica e cultural diferenciada da masculina, considerada muitas vezes como das margens, da construção miúda, da gestão do detalhe e que se expressa na busca de uma nova linguagem, um contra discurso que expressaria as mutações que vem acontecendo na produção do conhecimento científico (RAGO, 2001). As bases teóricas nas quais funda-‐se a ciência moderna e todo o seu arcabouço conceitual que sustenta as práticas científicas no presente tem estado presentes nas reflexões de Genevieve Lloyd. A autora chama a atenção para os binarismos (homem-‐mulher, corpo-‐mente, objeto-‐sujeito, natureza-‐cultura) existentes no discurso científico. (LLOYD,1996). Sandra Harding tem refletido sobre a instabilidade das categorias analíticas na teoria feminista fazendo uma análise histórica de vários posicionamentos e alternativas dadas pela teoria feminista em relação à produção do conhecimento. Para autora também instável, problemática e tensa tem sido a história do próprio feminismo. (HARDING, 1996) Jane Flax na busca de especificidades da pesquisa feminista propõe a compreensão de um “Eu recíproco”, propriamente feminino, que basearia as concepções de si mesmo, do outro, da natureza em uma relação de reciprocidade. Daí surgiria o conhecimento relacional e contextual, em oposição ao conhecimento dualista defensivo. (FLAX, 1991) Donna Haraway, parte do feminismo perspectivista para mostrar a sua influência nos postulados da epistemologia feminista, propondo que a visão feminista deve compor as análises, dizendo o lugar de onde se olha, de quem olha, sendo uma parcialidade responsável, uma objetividade corporificada, onde o sujeito cognoscente estaria
dentro do campo de visão, agindo participativa e ativamente no método de abordagem e definições dos objetivos e fins da ciência produzida. (HARAWAY, 1995) Palavras-‐chave: epistemologia feminista, feminismo, produção de conhecimento. Referências FLAX, Jane. Pós-‐modernismo e as relações de gênero na teoria feminista. In: H. Buarque de Hollanda (org.), Pós-‐Modernismo e Política, Rio de Janeiro: Rocco, 1991, pp.:217-‐250. HARDING, Sandra. Ciencia y feminismo. Tradução de Pablo Manzano. Madrid: Ediciones Morata, S.L., 1996. HARAWAY, Donna, Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial. Cadernos Pagu, (5), 1995:07-‐42. LLOYD, Genevieve. Reason, Science and the Domination of Matter. IN: E.Fox Keller e H. Longino, Feminism & Science. Oxford: Oxford Univ. Press, 1996, pp.:41-‐ 53. RAGO, Margareth. 1998. Epistemologia Feminista: Gênero e História in PEDRO, J.M & SCHIEBINGER, Londa.“Feminismo Mudou a Ciência?”. Bauru,SP. EDUSC, 2001.