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Burke

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BURKE, Peter. “A Vitória da quaresma: a reforma da cultura popular”. In: Cultura popular na Idade Moderna: Europa 1500-1800. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. pp. 231-290.

1. Primeira fase da reforma 1500-16501.1. Quadro de Brueguel, Combate entre o Carnaval e a Quaresma – parte do entrudo:

“Sinto-me tentado a interpretar o “Carnaval”, que pertence ao lado da taverna no quadro, como símbolo da cultura popular tradicional, e a Quaresma, que pertence ao lado da Igreja, como o Clero, que naquela época (1559) estava tentando reformar ou suprimir muitas festas populares.”

1.2. Reforma da cultura popular: “descrever a tentativa sistemática por parte de algumas pessoas cultas (“reformadores” ou “devotos”) de modificar as atitudes e valores do restante da população, ou como costumavam dizer os vitorianos, “aperfeiçoá-los””

1.3. Movimentos da reforma: “O movimento teve dois lados: o negativo e o positivo. O lado negativo e positivo. O negativo, consistia na tentativa de suprimir, ou pelo menos “purificar” muitos itens da cultura popular – os reformadores também eram vistos como puritanos, pelo menos no sentido literal de que estavam fervorosamente preocupados com a purificação. O lado positivo do movimento, foi a tentativa de levar as reformas protestante e católica para camponeses e artesãos.”

1.4. Os “índios” da Europa: “os Jesuítas que pregavam em Huelva, a oeste de Sevilha, declararam no final do século XVI que os habitantes “pareciam mais índios do que espanhóis”. Sir Benjamin Rudyerd disse na Câmara dos Comuns, em 1628, que existiam partes do país de Gales e do norte da Inglaterra que eram parcas de cristianismo, onde Deus era pouco mais conhecido do que entre os índios.”

1.5. O foco da reforma:1.5.1. Religião popular – peças de milagres, mistérios, sermões populares e

“acima de tudo, as festas religiosas como os dias de santos e peregrinações”

1.5.2. Cultura popular secular: “atores, baladas, açulamento de ursos, touradas, jogos de cartas, livretos populares, charivari, charlatães, danças, dados, adivinhações, feiras, contos folclóricos, leituras da sorte, magia, máscaras, tavernas e feitiçaria. Um número considerável desses itens criticados associava-se ao Carnaval, de modo que não surpreende que os reformadores concentrassem suas investidas contra ele. Além disso, proibiam – ou queimavam – livros, destruíam imagens, fechavam teatros, picavam Mastros de Maio (São Caralho?!) e dissolviam “abadias de desgoverno””.

1.6. Qual o problema da cultura popular? São dois os problemas:1.6.1. “O carnaval é não cristão, por conter vestígios do antigo paganismo”:

carnaval/bacanal, santos/deuses, magia/crendices, peças religiosas, necessidade de separar o sagrado do profano.

1.6.2. “O carnaval também é não cristão, porque nessas ocasiões o povo se entrega à licenciosidade”.

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1.7. Reforma católica1.7.1. O tempo sagrado – preocupação com o fato de que o carnaval se estendia

até a Quaresma1.7.2. Danças profanas – preocupação com a tradição de dançar ou encenar

peças na igreja, pois uma igreja é um lugar sagrado. Proibiram que os leigos se vestissem de padres durante o carnaval (blasfêmia)

1.7.3. Proibições – o clero foi proibido de participar das festas populares à maneira tradicional (danças e máscaras) foram proibidos de assistir às peças, touradas.

1.7.4. Reformadores católicos: menos radicais – Não atacavam o culto dos santos, mas apenas seus excessos, tal como o culto a santos apócrifos (São Caralho!). Eles queriam festas purificadas mas não eliminadas.

1.8. Reforma na Idade Média: esporádicas e de iniciativa individual (não traduziu-se num movimento), com uma grande dificuldade de comunicação e por isso mesmo ineficaz.

1.9. Diferenças entre os protestantes1.9.1. Lutero – encarava com relativa simpatia as tradições populares. Não se

opunha totalmente a imagens ou santos e não era um inimigo do carnaval ou fanático.

1.9.2. Zwinglio, Calvino e outros foram muito além de Lutero em sua oposição às tradições populares. O primeiro mandou que fossem retiradas da Igreja de Zurique todas as imagens; Calvino opunha-se a peças e canções obscenas

1.10. Perseguição ao teatro religioso

2- A cultura dos devotos – o lado positivo: uma nova cultura popular

2.1. Popularização da bíblia: para os protestantes, a grande prioridade era tornar a Bíblia acessível às pessoas simples, numa linguagem que lãs pudessem entender. As publicações dessas bíblias nas várias línguas foi um grande acontecimento cultural que influenciou largamente a linguagem e a literatura dos respectivos países.

2.2. A transmissão da Bíblia – os artesãos e camponeses protestantes muitas vezes devem ter recebido o conhecimento que tinham da Bíblia oralmente e de segunda mão. As leituras da Bíblia constituíam um elemento importante nos ofícios luteranos e calvinistas. O que os protestantes comuns provavelmente mais conheciam eram os salmos, pois podiam ser cantados e ocupavam um papel importante nas liturgias reformadas.

2.3. O catecismo – primordial para a cultura popular protestante era o catecismo, um livrinho contendo informações elementares sobre a doutrina religiosa. Os catecismos já existiam antes da reforma sua novidade era de apresentar a matéria em forma de pergunta e resposta, tornando fácil difundir – e testar – o conhecimento religioso.

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2.4. A cultura do sermão – os sermões podiam durar horas e constituir uma grande experiência emocional, envolvendo a participação da audiência, com exclamações, suspiros ou lágrimas dos membros da congregação

2.5. A música, o ritual e as imagens tinham, todos eles, seu papel na cultura popular protestante. Lutero autorizou que se cantassem na igreja outros hinos além dos salmos. A música religiosa de Bach tem suas raízes na cultura popular luterana.

2.6. O teatro protestante – Nos primeiros anos da reforma, o ritual e o teatro foram postos a serviço dos protestantes. Os carnavais foram a ocasião para ridicularizar o papa e seu clero. (...) A longo prazo,porém, as peças perderam sua importância para os protestantes, ou porque sua tarefa havia-se encerrado, ou porque o povo tornara-se mais letrado. O mesmo serve em relação a imagem religiosa, como a gravura, que num primeiro momento tivera grande importância mas que com o tempo perde seu papel de instrumento de propaganda, pelas mesmas razões descritas acima.

2.7. Adaptação católica

2.7.1. Sincretismo – a conversão (a força) de muçulmanos em Granada, no final do século XV foi acompanhada da autorização para que pudessem utilizar suas canções tradicionais nos ofícios religiosos. Além disso, foram permitidos, em alguns casos, o uso de fogueiras em rituais religiosos, como no caso da noite de São João.

2.7.2. Novos rituais – procissões de Via Crucis, Readaptação de sermões para os populares e,principalmente, os rituais de teatro e música usados pelos jesuítas nas conversões e/ou condenações de hereges.

2.7.3. Popularização e reabilitação dos santos – Em lugar do que fora expurgado pela Reforma, a Igreja ofereceu aos católicos novos santos e novas imagens

2.7.4. O catecismo católico – Por último, e provavelmente de maior importância na cultura católica, veio a tentativa de alcançar os leigos letrados através da Bíblia e outras leituras piedosas. A primeira Bíblia impressa em alemão remonta a 1466. Os catecismos católicos se modelavam pelos protestantes.

3- A segunda fase da Reforma: 1650-1800.

3.1. Diferenças:

3.1.1. O papel dos leigos – A companhia do Sagrado Sacramento era um gripo misto de padres e leigos. Na Inglaterra,muitos leigos, participaram ao lado do clero no movimento pela reforma dos costumes, filiando-se às sociedades locais fundadas com a finalidade de colocar em vigor os ideais reformador no Tribunal.

3.1.2. A importância de argumentos seculares – o bom gosto e considerações estéticas

3.1.3. “O sobrenatural é tolice” – Se Calvino, na primeira fase da reforma, acreditava no papel diabólico desempenhado pela magia, o que reforçou a caça às bruxas que atingira o ápice entre finais do XVI e inícios do XVII, a partir de 1650 a magia fora considerada mera

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superstição, medo irracional, práticas inofensivas pois não tinham absolutamente nenhum efeito.