79
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS IGOR RAPP FERREIRA SILVA PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO PARCIAL DAS ATIVIDADES DE UMA PROTEÍNA RICA EM CISTEÍNA (CRISP) ISOLADA DA PEÇONHA DE BOTHROPS JARARACA CAMPINAS 2017

BOTHROPS JARARACA - repositorio.unicamp.brrepositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/330448/1/Silva_IgorRapp...ANNA LAURA BECHARA JACOB FERREIRA 5. PROFª. DRª. JULIANA MINARDI NASCIMENTO

  • Upload
    vodung

  • View
    219

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS

IGOR RAPP FERREIRA SILVA

PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO PARCIAL DAS ATIVIDADES DE UMA

PROTEÍNA RICA EM CISTEÍNA (CRISP) ISOLADA DA PEÇONHA DE BOTHROPS

JARARACA

CAMPINAS

2017

IGOR RAPP FERREIRA DA SILVA

PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO PARCIAL DAS ATIVIDADES DE UMA

PROTEÍNA RICA EM CISTEÍNA (CRISP) DA PEÇONHA DE BOTHROPS JARARACA

Tese apresentada à Faculdade de Ciências Médicas da Universidade

Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a

obtenção do título de Doutor em Farmacologia

ORIENTADOR: STEPHEN HYSLOP

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO

FINAL DA TESE DEFENDIDA PELO

ALUNO IGOR RAPP FERREIRA DA SILVA, E ORIENTADA PELO

PROF. DR. STEPHEN HYSLOP.

CAMPINAS

2017

BANCA EXAMINADORA DA DEFESA DE DOUTORADO

IGOR RAPP FERREIRA DA SILVA

ORIENTADOR: STEPHEN HYSLOP

MEMBROS:

1. PROF. DR. STEPHEN HYSLOP

2. PROF. DR. ANDRÉ LISBOA RENNÓ

3. PROF. DR. GABRIEL FORATO ANHÊ

4. PROFª. DRª. ANNA LAURA BECHARA JACOB FERREIRA

5. PROFª. DRª. JULIANA MINARDI NASCIMENTO

Programa de Pós-Graduação em Farmacologia da Faculdade de Ciências Médicas da

Universidade Estadual de Campinas.

A ata de defesa com as respectivas assinaturas dos membros da banca examinadora

encontra-se no processo de vida acadêmica do aluno.

Data: 31/07/2017

DEDICATÓRIA

Não foi fácil (e talvez nem devesse ter sido) produzir esse trabalho. Algumas

noites viradas, outros tantos finais de semana sem descanso. Centenas de páginas

lidas (algumas sem total compreensão até hoje). Ao que parece contraditório, embora o

trabalho se apresentasse solitário, o esforço era conjunto. Embora distante, impaciente,

por vezes arrogante e egocêntrico, vocês estiveram ao meu lado. Nesses anos de pós-

graduação, distanciei-me de boa parte dos meus vínculos familiares perseguindo meus

ideais de maneira solitária, mas, sobretudo, egoísta. Não importava o que acontecia ao

meu redor, só conseguia pensar em projetos, dissertações e teses. E mesmo assim,

vocês suportaram, permanecendo ao meu lado. Dessa forma, seria injusto colocar essa

peça como obra individual, uma vez que foi construída com esforços conjuntos. Dito

isso, dedico esse trabalho às pessoas que me deram suporte nessa longa e tortuosa

jornada mesmo não recebendo nenhuma compensação afetiva em resposta. Obrigado,

Maria Cristina Rapp da Silva, Leonardo Ferreira da Silva, Gabriela Rapp Ferreira

da Silva, Leonardo Rapp Ferreira da Silva e Simone Garcia Silva. Embora eu não

tenha sido, vocês foram a melhor família.

AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Stephen Hyslop por ter me aceitado no Laboratório de Farmacologia

Bioquímica, pela orientação e principalmente pelo auxílio e pela paciência nos

momentos de real necessidade.

A Todos do Laboratório de Farmacologia Bioquímica que com certeza pelos momentos

de conversa e risos que muito me auxiliaram no meu percurso.

Ao Programa de Pós-Graduação em

Farmacologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de

Campinas, bem como os coordenadores Profs. Drs. Edson Antunes, Gabriel Forato

Anhê e Fabíola Taufic Mónica Iglesias, pelas condições oferecidas para a realização

deste trabalho.

Aos Profs.Drs. Solange M. T. Serrano e André Zelanis do CAT-CEPID/Butantã e ao

CPNEM pelo auxílio na realização dos experimentos em espectrometria de massas.

À CAPES pela bolsa que tornou possível a realização desta tese e a conquista desta

vitória.

AGRADEÇO ESPECIALMENTE,

De um modo geral me sinto grato e honrado por ter feito parte de uma equipe do

Departamento de Farmacologia da Unicamp. Pessoas com talentos diversos e diversos

pontos de vista me impulsionaram à mudança e dessa forma me fortaleceram. Por isso

agradeço. Dentre todas, essas abaixo são as que mais contribuíram para a construção

do ser humano que sou hoje.

Agradeço aos amigos Mariana Leite Tamascia e Frank Denis Huaco Torres, por

sempre estarem dispostos a discutir. Graças a vocês, aprendi muito nessa jornada e,

embora não concordemos em quase nada, vocês são a minha imagem de cientista.

Agradeço aos técnicos José Ilton dos Santos e Patrícia Costa Panunto pelo suporte.

Zé e Pati, sem vocês a parte experimental desse trabalhado não teria saído do papel.

A amiga Erika Ferraresso dos Anjos. Poucas pessoas possuem seus talentos. Tive a

felicidade e a sorte de estar ao seu lado na bancada. Aprendi muito com você,

organizada, detalhista e com uma execução impecável, continuamente me deixava

envergonhado da minha “organização”.

A amiga Raquel Lorenzetti. A outra pessoa que sempre me deixava envergonhado da

minha “organização”. Tive a felicidade de trabalhar com você, uma das pessoas que me

manteve no doutorado, com certeza. Ajudou-me dentro do laboratório, dando-me

compreensão do que deveria ser feito, e fora do laboratório sendo uma das pessoas

mais compreensivas que eu conheço, quase nunca perdendo sua costumeira calma.

A minha família, que sempre esteve ao meu lado nessa jornada. Se nunca esmoreci

ou olhei para trás é por que tive pessoas me impulsionando.

À minha companheira Simone Garcia Silva. Nada do que eu escreva aqui pode

traduzir o quanto sou grato a você. Sempre acreditou em mim e nunca me deixou

desistir. Uma lanterna contra a escuridão, uma rocha contra as tormentas, me orientou,

me deu suporte. A isso só posso escrever: Conseguimos, vencemos mais essa!

EPÍGRAFE “O Universo: algumas informações para ajuda-lo a viver nele... População: nenhuma. É

fato conhecido que há um número infinito de mundos, simplesmente por que há um

espaço infinito para que esses mundos existam. Todavia, nem todos são habitados.

Assim, deve haver um número finito de mundos habitados. Qualquer número finito

dividido por infinito é tão perto de zero que não faz diferença, de forma que a população

de todos os planetas do Universo pode ser considerada igual a zero.”

Douglas Adams – “O Restaurante no Fim do Universo”

“... Same old song Just a drop of water in an endless sea

All we do Crumbles to the ground though we refuse to see...

Nothing lasts forever, but the earth and sky It slips away

And all your money won't another minute buy Dust in the wind

All we are is dust in the Wind...”

Kansas – Dust in the Wind

“A Terra é um palco muito pequeno em uma imensa arena cósmica. Pensem nos rios de sangue derramados por todos os generais e imperadores para que, na glória do

triunfo, pudessem ser os senhores momentâneos de uma fração desse ponto. Pensem nas crueldades infinitas cometidas pelos habitantes de um canto desse pixel contra os

habitantes mal distinguíveis de algum outro canto, em seus frequentes conflitos, em sua ânsia de recíproca destruição, em seus ódios ardentes.

Nossas atitudes, nossa pretensa importância, a ilusão de que temos uma posição privilegiada no Universo, tudo é posto em dúvida por esse ponto de luz pálida. O nosso

planeta é um pontinho solitário na grande escuridão cósmica circundante. Em nossa obscuridade, em meio a toda essa imensidão, não há nenhum indício de que, de algum

outro mundo, virá socorro que nos salve de nós mesmos.”

Carl Sagan (escrevendo sobre a última foto – que mostra a Terra como um ponto – da sonda Voyager II) – em “O Pálido ponto Azul”

RESUMO

As proteínas secretórias ricas em cisteína (CRISPs) são amplamente

distribuídas em vertebrados e ocorrem em peçonhas ofídicas, embora seu papel no

envenenamento ainda seja mal compreendido. Neste trabalho, isolamos e

caracterizamos parcialmente as atividades de uma CRISP da peçonha da serpente

Bothrops jararaca, a Sv-CRISP-Bj (snake venom CRISP). Essa proteína foi purificada

utilizando uma combinação de gel filtração e cromatografia de troca aniônica. SDS-

PAGE na ausência e presença de ditiotreitol ou -mercaptetanol indicou que a Sv-

CRISP-Bj era um polipeptídeo de cadeia simples com uma massa molecular de 29,8

kDa. A espectrometria de massa dos fragmentos de digestão de tripsina e

endopeptidase SV8 combinada com buscas em banco de dados revelou homologia e

alta identidade com outras Sv-CRISPs. Sv-CRISP-Bj mostrou uma única banda

imunorreativa em imunoblotting contra antiveneno botrópico. Sv-CRISP-Bj não

apresentou atividade caseinolítica e esterase, mas possuiu atividade - e -

fibrinogenolítica que foi inibida por EDTA e 1,10-fenantrolina, mas não por PMSF. Em

ensaio de recalcificação, a Sv-CRISP-Bj não afetou a velocidade de coagulação mas

atenuou o máximo de coagulação alcançada; não coagulou fibrinogênio bovino ou

plasma citratado de rato, mas agregou plaquetas lavadas de rato. Em pele dorsal de

rato, a Sv-CRISP-Bj não foi hemorrágica, mas causou edema. No músculo

gastrocnêmio de camundongo, a Sv-CRISP-Bj não foi hemorrágica ou mionecrotica,

mas estimulou a migração de células inflamatórias. Concluimos que a Sv-CRISP-Bj é

uma proteína não hemorrágica, não mionecrótica e não coagulante que pode contribuir

para o edema e inflamação locais associados ao envenenamento por B. jararaca.

Palavras-chaves: Bothrops jararaca, coagulação, CRISP, edema, mionecrose,

purificação

ABSTRACT

Cysteine-rich secretory proteins (CRISPs) are widely distributed in

vertebrates and occur in snake venoms, although their role in envenomation is still

poorly understood. In this work, we isolated and partially characterized a CRISP from

Bothrops jararaca snake venom, denominated Sv-CRISP-Bj (snake venom-CRISP).

This protein was purified using a combination of gel filtration and anion-exchange

chromatography. SDS-PAGE in the absence and presence of dithiothreitol or -

mercaptethanol indicated that Sv-CRISP-Bj was a single-chain polypeptide with a

molecular mass of 29.8 kDa. Mass spectrometry of trypsin and endoprotease SV8

digestion fragments combined with database searches revealed high sequence

homology and identity with other Sv-CRISPs. Sv-CRISP-Bj showed a single

immunoreactive band in immunoblotting against bothropic antivenom. Sv-CRISP-Bj was

devoid of caseinolytic and esterase activity but had - and -fibrinogenolytic activity that

was inhibited by EDTA and 1,10-phenanthroline but not by PMSF. Sv-CRISP-Bj

attenuated coagulation after plasma recalcification but did not clot fibrinogen or rat

citrated plasma. Sv-CRISP-Bj aggregated rat washed platelets. In rat dorsal skin, Sv-

CRISP-Bj was not hemorrhagic compared to venom but caused edema, as did the

venom. In mouse gastrocnemius muscle, Sv-CRISP-Bj (40 g) was not hemorrhagic or

myonecrotic but stimulated the migration of inflammatory cells, in contrast to venom that

was hemorrhagic and myonecrotic but caused less infiltration of inflammatory cells.

These results indicate that Sv-CRISP-Bj is a non-hemorrhagic, non-myonecrotic, non-

coagulant protein that may contribute to local edema and inflammation associated with

envenoming by B. jararaca.

Keywords: Bothrops jararaca, coagulation, CRISP, edema, mionecrosys, purification

LISTA DE FIGURAS

Figura Legenda Página

1 Esquema representativo dos domínios das CRISPs..................... 18

2 Modelo computacional da estrutura da natrina, de Naja atra........ 25

3 Esquema que mostra os efeitos das Sv-CRISPs.......................... 29

4 Processo de purificação da Sv-CRISP-Bj..................................... 43

5 Immunoblotting da peçonha e Sv-CRISP-Bj................................. 44

6 Alinhamento da sequencia da Sv-CRISP-Bj................................. 47

7 Atividade fibrinogenolítica da Sv-CRISP-Bj em SDS-PAGE......... 49

8 Recalcificação em plasma de ratos............................................... 50

9 Agregação plaquetária causada por Sv-CRISP-Bj........................ 51

10 Atividade mionecrótica da Sv-CRISP-Bj........................................ 53

LISTA DE TABELAS

Tabela Legenda Página

1 Distribuição das CRISPs em vertebrados e possíveis implicações...... 20

2 Abundância de Sv-CRISPs em algumas peçonhas ofídicas.................. 23

3 Peptídeos obtidos após digestão da Sv-CRISP-Bj por tripsina e SV8.. 45

4 Atividades enzimáticas e biológicas da Sv-CRISP-Bj........................... 48

5 Tabela resumo das atividades de Sv-CRISPs...................................... 55

SIGLAS E ABREVIATURAS

AEG Glicoproteína ácida epididimal

Ag-5 Antígeno 5

BAPNA Nα-Benzoil-L-arginina p-nitroanilida

Boc-Ala-Np n-t-Boc-L-alanina p-nitrofenil

CAP Superfamília das CRISP, Ag5, PR-1

CRISP Proteína secretória rica em cisteína

DHM Dose hemorrágica mínima

DMSO Dimetil sulfóxido

DRC Domínio rico em cisteína

DTT Ditiotreitol

EDTA Ácido etilenodiaminotetracético

ER Receptor de estrogênio

GAPR-1 PR-1 associada ao Golgi

HUVEC Células endoteliais humanas de cordão umbilical

ICAM Molécula de adesão intercelular

ICR Regulador de canais iônicos

MAP Proteína ativada por mitógeno

MAPK11 Proteína ativada por mitógeno quinase 11

NF-κB Fator de transcrição nuclear kappa de cadeia leve indutor de ativação de células B

Oct-2 Fator de transcrição octamêro-2

PLA2 Fosfolipase A2

PMSF Fluoreto de fenilmetanosulfonil

PPP Plasma pobre em plaqueta

PR-1 Pathogenesis-related-1

PRP Plasma rico em plaqueta

PVDF Fluoreto de polivinilideno

QToF Quadrupólo-tempo de voô

SBTI Inibidor de tripsina de soja

SDS Dodecil-sulfato de sódio

SDS-PAGE Eletroforese em gel de acrilamida com SDS

SGP Proteína específica de granulócito

SV8 Glutamil endopeptidase de Staphylococcus aureus V8

Sv-CRISP CRISP de peçonha ofídica

SVMPs Metaloproteases de peçonha ofídica

SVSPs Serinoproteases de peçonha ofídica

TAME Nα-p-tosil-L-arginina metil éster

Tpx-1 Proteína x-1 de testículo

VCAM Molécula de adesão de células vasculares

SUMÁRIO

Página

1. INTRODUÇÃO................................................................................................... 17

1.1. CLASSIFICAÇÃO, DISTRIBUIÇÃO E ESTRUTURA DAS CRISPS............................ 17

1.1.1. Classificação e distribuição e características gerais das CRISPs.... 17

1.1.2. Estrutura........................................................................................... 17

1.2. O PAPEL DAS CRISPS EM PROCESSOS FISIOLÓGICOS EM VERTEBRADOS......... 19

1.2.1. CRISPs na fertilidade........................................................................ 19

1.2.2. CRISPs na imunidade....................................................................... 21

1.3. CRISPS NAS PEÇONHAS OFÍDICAS................................................................. 22

1.3.1. Distribuição e estrutura...................................................................... 22

1.3.2. Atividades biológicas......................................................................... 24

1.4. POR QUE ESTUDAR SV-CRISPS?................................................................... 28

2. OBJETIVOS....................................................................................................... 30

3. MATERIAL E MÉTODOS.................................................................................. 31

3.1. REAGENTES E PEÇONHA................................................................................ 31

3.2. PURIFICAÇÃO DA SV-CRISP-BJ.................................................................... 31

3.2.1. Gel filtração em Superdex 75........................................................... 31

3.2.2. Cromatografia por troca aniônica em coluna HiTrap Q-Sepharose.. 32

3.2.3. Determinação de pureza por HPLC.................................................. 32

3.3. ELETROFORESE (SDS-PAGE)...................................................................... 32

3.4. CONCENTRAÇÃO DE PROTEÍNA....................................................................... 33

3.5. IMUNOBLOT DA PROTEÍNA FRENTE AO ANTISSORO BOTRÓPICO......................... 33

3.6. IDENTIFICAÇÃO DA PROTEÍNA POR ESPECTROMETRIA DE MASSAS..................... 33

3.7. ATIVIDADES ENZIMÁTICAS.............................................................................. 34

3.7.1. Atividade caseinolítica...................................................................... 34

3.7.2. Atividade fibrinogenolítica................................................................. 35

3.7.3. Atividade fibrinolítica......................................................................... 35

3.7.4. Atividade elastásica.......................................................................... 36

3.7.5. Atividade esterásica.......................................................................... 36

3.7.6 Atividade amidolítica.......................................................................... 36

Página

3.8. ATIVIDADES BIOLÓGICAS................................................................................ 37

3.8.1. Animais.............................................................................................. 37

3.8.2. Atividade trombina-símile................................................................... 37

3.8.3. Tempo de coagulação....................................................................... 37

3.8.4. Tempo de recalcificação.................................................................... 38

3.8.5. Agregação plaquetária....................................................................... 38

3.8.6. Atividade hemorrágica....................................................................... 39

3.8.7. Permeabilidade vascular.................................................................... 39

3.8.8. Miotoxicidade..................................................................................... 40

3.8.9. Análise histológica............................................................................. 40

3.9. ANÁLISE ESTÁTISTICA.................................................................................... 41

4. RESULTADOS................................................................................................... 42

4.1. PURIFICAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DA SV-CRISP-BJ........................................... 42

4.2. CARACTERIZAÇÃO ENZIMÁTICA E BIOLÓGICA PARCIAL DA SV-CRISP-BJ.......... 48

5. DISCUSSÃO...................................................................................................... 56

5.1. CARACTERÍSTICAS BIOQUÍMICAS E ESTRUTURAIS DA SV-CRISP-BJ................. 56

5.2. ATIVIDADES ENZIMÁTICAS DA SV-CRISP-BJ .................................................. 58

5.3. ATIVIDADES BIOLÓGICAS DA SV-CRISP-BJ.................................................... 59

5.4. COMPARAÇÃO ENTRE A SV-CRISP-BJ E A BJ-CRP........................................ 62

6. CONCLUSÃO.................................................................................................... 64

7. REFERÊNCIAS.................................................................................................. 65

8. ANEXO............................................................................................................... 79

17

1. INTRODUÇÃO

1.1. CLASSIFICAÇÃO, DISTRIBUIÇÃO E ESTRUTURA DAS CRISPS

1.1.1. Classificação, distribuição e características gerais das CRISPs

As CRISPs (cysteine-rich secretory proteins) são proteínas amplamente

distribuídas entre os vertebrados, mas foram inicialmente isoladas e caracterizadas do

trato reprodutor de mamíferos (1-3). As CRISPs pertencem à superfamília CAP

(Cysteine-rich secretory proteins (CRISPs), Antigen 5 (Ag5) and Pathogenesis-Related

1 (Pr-1)). Nesta superfamília, as proteínas Ag5 são o maior grupo, estando presentes

em saliva de carrapato e mosquitos entre outros invertebrados (1,4,5) e são tidas como

o mais abundante componente de peçonhas de vespas (1) e responsável por promover

forte resposta alergênica, podendo levar à infertilidade de origem imunológica em

vertebrados (1,6). As PR-1 (Pathogenesis-Related-1) possuem a função de defesa em

plantas, protegendo-as contra a ação de bactérias, fungos e vírus (1,7). A liberação

dessas proteínas está vinculada ao aumento de substâncias, como os ácidos siálicos e

jasmônicos e o gás etileno, liberados pelos vegetais em situações de estresse e sob

ataques de predadores (1,8). Embora tais proteínas possuam homologia com CRISPs,

às classes Ag5 e PR-1 faltam o domínio rico em cisteína (1).

Em mamíferos, as CRISPs estão relacionadas a vários processos

fisiológicos, tais como a espermatogênese, motilidade e capacitação de

espermatozoides, e a resposta imune (1,9). Além disso, algumas CRISPs parecem ter

papel central no desenvolvimento de alguns tumores, pincipalmente tumores ligados ao

trato reprodutor, devido à sua capacidade de modular proteínas relacionadas à

proliferação celular (1,10,11). Embora as primeiras CRISPs tenham sido identificadas

no trato reprodutor de roedores, testículos, epidídimo e canais deferentes, atualmente

sabe-se que essas proteínas também são encontradas em espermatozoides, glândulas

salivares e tecidos linfoides (12,13). Entretanto, os mecanismos pelos quais as CRISPs

agem ainda não estão bem delineados.

1.1.2. Estrutura

Embora as CRISPs possam ser divididas em quatro grupos segundo a

homologia de suas sequências de aminoácidos (grupos de 1-4) (1), essas proteínas

18

Figura 1. Representação esquemática mostrando os domínios das CRISPs. Fonte: (15).

possuem características estruturais comuns: i) massa molecular entre 20 e 30 kDa, ii)

16 resíduos de cisteína como sua característica distintiva, e iii) três domínios distintos

(PR-1, articulação e DRC) (1,2). O domínio PR-1, presente na região N-terminal em

todas as proteínas dessa superfamília, nas CRISPs, possui tamanho relativo estimado

em 21 kDa e é implicado na interação dessas proteínas com as membranas

plasmáticas das células-alvo além da possível função de proteólise dessas proteínas

(1,14). O domínio rico em cisteína (DRC; ou CRD em inglês - cysteine-rich domain, ~6

kDa), localizado na região C-terminal, é responsável pela interação das CRISPs com os

canais iônicos. Além disso, há entre estes dois domínios uma região de articulação

(hinge) (Fig. 1) (15).

Charest et al. (16), utilizando-se da construção de cDNA com RNAm extraído

de epidídimo de ratos, evidenciaram uma das características idiossincráticas dessas

proteínas: 16 cisteínas na região carboxi-terminal. Além disso, estes autores mostraram

que as sequencias de aminoácidos teriam um alto teor de aminoácidos negativos e

hidrofóbicos (16). Entretanto, a relevância da localização e possíveis reflexos destas

características para a geometria molecular só seriam delineados em experimentos de

ressonância magnética ou cristalografia com proteínas da superfamília CAP.

Szyperski et al. (17) verificaram a estrutura da GliPR, uma proteína CAP de

220 aminoácidos expressa em gliomas humanos. A GliPR possui identidade com a

P14a, uma PR-1 encontrada em plantas. Baseado nesta semelhança, a P14a foi usada

como molde para estudos de ressonância magnética, o que permitiu a predição das

Articulação Domínio PR-1

- Interação com membranas - Atividade proteolítica - S1 e S2 – Sítios de ligação com

ovócitos

Modulação de

canais iônicos

N-Terminal

S1 S2

Domínio RC

Figura 1. Representação esquemática mostrando os domínios das CRISPs. Fonte: [15].

19

estruturas secundária e terciária da proteína. A estrutura primária da GliPR mostra

alguns aminoácidos altamente conservados (His22, Asp23, Arg26, Val29, Pro31, entre

outros) em relação a outras PR-1 (17). Sua estrutura secundária é composta por quatro

-hélices e cinco folhas-. Além disso, a estrutura terciária é formada por um núcleo

hidrofóbico contendo folhas- circundadas por -hélices. Contudo, não foi encontrado

qualquer indício de sítio catalítico ou dimerização nessa proteína. Por outro lado,

Serrano et al. (18), em estudo de cristalografia e posterior difração de raio-x,

evidenciaram a existência de dimerização in vitro da GAPR-1, uma PR-1 associada ao

complexo de Golgi humano, e encontraram indícios estruturais da formação de uma

tríade catalítica entre His54, Ser71 e His103, embora não haja evidência experimental de

atividade catalítica nessa proteína.

1.2. O PAPEL DAS CRISPS EM ALGUNS PROCESSOS FISIOLÓGICOS EM VERTEBRADOS

1.2.1. CRISPs na fertilidade

O crescente interesse na fertilidade humana nas últimas décadas levou ao

isolamento de inúmeros fatores implicados na maturação e capacitação de

espermatozoides bem como na interação destes com os ovócitos. Cameo e Blaquier

(19) encontraram, em homogenatos de epidídimo murinho, cinco proteínas (nomeadas

de A-E) que apresentavam características específicas quanto à concentração e massas

moleculares, contudo com liberação dependente de testosterona. Tais proteínas foram

denominadas AEG (do inglês: acidic epididymal glycoprotein) e subsequentemente

foram sequenciadas e isoladas (11,20). Contudo, a identificação dessas proteínas como

CRISP só foi confirmada a partir de 1989 quando Kasahara et al. (21) construíram

bibliotecas de cDNA com RNA extraído de testículos de camundongos BALB/c e

CRO437. Alguns clones mostravam sequências de bases que, uma vez traduzidas em

sequência de aminoácidos, mostravam identidade com proteínas das classes Ag5 e

PR-1.

Apesar da distribuição diferencial pelos vários órgãos (ver Tabela 1), as

quatro classes dessas proteínas são encontradas no trato reprodutor e gametas de

vertebrados (3,12,22,23). Mais especificamente, em humanos, as CRISPs-2 e CRISPs-

3 são expressas principalmente no trato reprodutor masculino (próstata, epidídimo e

20

testículos) (22,24), embora as CRISPs-3 também sejam encontradas em útero (25). Em

outras espécies de vertebrados, as CRISPs podem ainda ser encontradas em óvulos e

células do sistema imune associadas ao trato reprodutor de fêmeas (25,26).

Devido sua distribuição no trato reprodutor, vários estudos têm relacionado

as CRISPs ao desenvolvimento, motilidade e capacitação dos espermatozóides, o que

sugere que elas podem estar relacionadas à fertilidade masculina. O mecanismo de

ação dessas proteínas ainda é incerto, porém algumas investigações trazem luz sobre

esse aspecto.

Tabela 1. Distribuição das CRISPs em vertebrados e possíveis papeis fisiológicos.

Classes Distribuição Espécie Possíveis papeis fisiológicos Ref.

CRISP-1 Epidídimo

Testículos

Rato

Camundongo Maturação e capacitação de

espermatozoides

(19)

(12)

Epidídimo Humanos

CRISP-2 Testículo

Epidídimo

Espermatozóide

Camundongo

Humano

Rato

Interação entre células

espermatogênicas e células de

Sertollli

Reação acrossômica

(12)

(9)

(22)

(10) Ovário Humano Não determinado

CRISP-3 Útero

Leucócitos

Glândula salivar

Próstata

Humano Gravidez ectópica

Imunidade inata

Formação tumoral

(25)

(13)

(12)

Útero Cavalo EPIA* (26)

Útero Anfíbio Quimiotaxia (27)

CRISP-4 Epidídimo Ratos Não determinado (28)

*Endometrite persistente induzida por acasalamento

Maeda et al. (9) avaliaram a capacidade de células Jurkat com diferentes

trechos de DNA de células espermatogênicas se ligarem a células de Sertoli e

21

mostraram que o único clone celular capaz de fazer essa ligação era o que expressava

a Tpx-1, uma CRISP-2 cujo gene já tinha sido clonado. Concluíram então que esta

proteína é importante para a interação entre células espermatogênicas e as células de

Sertoli, auxiliando na maturação dos espermatócitos. Posteriormente, Busso et al. (22)

demonstraram que a Tpx-1 é incorporada ao acrossomo, uma vez que aparece nessa

organela e pode estar relacionada à reação acrossômica, pois em condições

ambientais que favorecem esse processo há uma migração dessa proteína para o

segmento equatorial de espermatozoides humanos.

As CRISPs podem estar relacionadas a vias de liberação de citocinas, ora

sendo ativadas por MAP (Mitogen-Activated Protein) cinases (10), ora ativando

proteínas responsáveis pela maturação acrossômica (29) através da interação dessas

proteínas com a região DRC da CRISP. Por outro lado, há estudos demonstrando o

envolvimento dessas proteínas com a capacitação e aumento de motilidade de

espermatozoide, bem como a quimiotaxia e a fusão entre óvulos e espermatozoides.

Alurina, um membro CAP destituído do DRC e expresso em ovos de Xenopus laevis,

possui capacidade quimioatrativa in vitro sobre espermatozoides de camundongos CD-

1 (27,30). Quando sequenciada, a alurina mostra uma sequência homóloga a CRISPs

da classe 3 (27,30), cuja localização no trato genital de fêmeas de mamíferos é

conhecida (26,31). Evans et al. (31) mostraram, por imunohistoquímica, uma dinâmica

de expressão através do ciclo estral em ratas. Nesse estudo, os autores demonstraram

a expressão de CRISP-3 em endométrio, glândulas acessórias, epitélio luminal,

estroma e leucócitos, sendo diferencialmente expressa em cada um desses tecidos ao

longo do ciclo estral. O maior nível de expressão ocorreria em leucócitos associados ao

útero na fase pró-estral, fase que ocorre a ovulação (32).

1.2.2. CRISPs na imunidade

Em mamíferos, alguns estudos trazem evidências de da ação de CRISPs na

imunidade inata, Gibbs et al. (33). Uma proteína homóloga a Tpx-1, a SGP-28 (specific

granulocyte protein 28) foi isolada de material degranulado de neutrófilos humanos

ativados por acetato de forbol-miristato, e também foi isolada de grânulos de eosinófilos

Ubdy et al. (13). Esta proteína possui cadeia única com tamanho molecular relativo de

22

28 kDa. Sua sequência de aminoácidos é bastante similar às de outras CRISPs e, em

condições redutoras, apresenta uma diminuição de sua mobilidade eletroforética, um

reflexo da abundância de pontes dissulfeto e de resíduos de cisteína (13,34).

Corroborando com a ideia de que as CRISPs participam da imunidade

humana, Pfisterer et al. (35) detectaram uma CRISP da classe 3 em linfócitos B

deficientes no fator de transcrição Oct-2; este fator é importante para a diferenciação

dessas células quando transfectadas com a fusão de genes Oct-2/ER (receptor de

estrógeno) e em presença do estradiol. Além disso, a CRISP-2 interage com a MAPK

11, proteína que pode ativar a via do fator de transcrição NF-κB e levar à liberação de

citocinas (10).

1.3. CRISPS NAS PEÇONHAS OFÍDICAS

1.3.1. Distribuição e estrutura

Várias CRISPs, também conhecidas como CRVPs (cysteine-rich venom

proteins) (36-38) ou Sv-CRISPs (snake venom-CRISPs), já foram isoladas de peçonhas

de répteis e, na classificação geral das CRISPs, pertencem ao subgrupo CRISP-3,

como mostram achados de reatividade cruzada em western blotting por Lecht et al.

(39).

A avaliação da distribuição de Sv-CRISPs tem sido facilitada nos últimos

anos por diversos estudos transcriptômicos e proteômicos em peçonhas ofídicas.

Análises transcriptômicas da glândula de veneno de espécies do gênero Bothrops

indicam uma abundância de 0,4% a 1,6% para as Sv-CRISPs (40-42). No caso de B.

jararaca, a proporção relativa de Sv-CRISPs em bibliotecas de espécimes juvenis é de

2,7% comparado a 0,4-0,9% em adultos (42), indicando uma possível variação

ontogenética desta proteína durante a maturação desta espécie. De modo geral, os

estudos proteômicos tem corroborado a baixa abundância de Sv-CRISPs em peçonhas,

exceto em algumas espécies de elapídeos asiáticos (Tabela 2). A maioria destes

estudos indicam que as Sv-CRISPs correspondem a <5% da composição de peçonhas

ofídicas.

23

Tabela 2. Abundância de Sv-CRISPs em algumas peçonhas ofídicas.

*Em análise de spots de eletroforese 2D, Peichoto et al. (44) também detectaram Sv-CRISPs nas

peçonhas de Philodryas baroni, Philodryas olfersii olfersii e Philodryas patagoniensis (colubrídeos sul-

americanos), e Hypsiglena torquata texana e Trimorphodon biscutatus lambda (colubrídeos norte-

americanos).

**Zelanis et al. (55) detectaram Sv-CRISPs na peçonha de Bothrops jararaca sem, porém, estimar a

proporção delas na peçonha.

Do ponto de vista estrutural, Guo et al. (56) determinaram a sequência e a

formação dos domínios da stericrisp da peçonha da serpente asiática Trimeresurus

stejnegeri. A stericrisp é formada por nove -hélices e dez folhas- intercaladas com

trechos sem estrutura secundária. A modelagem computacional mostrou que esta

estrutura era conservada em outras proteínas da superfamília CAP, salvo algumas

alterações em aminoácidos específicos, principalmente no domínio PR-1 (56). Wang et

al. (57) mostraram, em estudo por difração de raio-x, que a natrina, isolada da peçonha

Família Espécie Abundância (%) Referência

Colubridae* Thamnodynastes strigatus 1,2 43

Crotalidae** Bothrops asper 0,1 52

Bothrops atrox 3,8 54

Bothrops colombiensis 0,1 53

Crotalus durissus cascavella 0,9 51

Crotalus durissus terrificus 1,8 51

Elapidae Bungarus caeruleus 5,0 50

Micrurus dumerilli 0,0 45

Micrurus tschudii tschudii 0,0 46

Naja atra 2,0 47

Naja naja 7,0 50

Ophiophagus hannah 8,7 49

Pseudechis papuanus 2,3 48

24

de Naja atra, possui uma superfície carregada positivamente. Além disso, mostraram

que a natrina pode dimerizar-se espontaneamente in vitro, através do domínio PR-1.

Contudo, nenhuma Sv-CRISP de outras fontes foi testada quanto à capacidade de

dimerização. Ainda não se sabe se a dimerização ocorreria in vivo e qual seria a

relevância deste fenômeno nas funções desempenhadas por estas proteínas no

envenenamento.

O domínio PR-1 da natrina apresenta a mesma estrutura terciária relatada

para a GliPR (17) e para a GAPR-1 (18): um núcleo hidrofóbico constituído por folha-

intermediárias a dois conjuntos de -hélices. Entretanto, diferentemente ao que ocorre

nessas proteínas, na natrina, His60 e His115, juntamente com a Ser76, localizadas no

domínio PR-1, formariam uma tríade capaz de imobilizar um íon de Zn2+ e esse

tetraedro coordenaria uma molécula de água num processo análogo ao que ocorre com

metaloproteases (17,18), como indicado na Figura 2. Entretanto, embora haja

evidências estruturais que suportam uma atividade proteolítica putativa dessas

proteínas (14,17,18), tal atividade somente foi encontrada em Text31 uma PR-1 isolada

do molusco marinho Conus textile (14).

1.3.2. Atividades biológicas

Apesar de vários relatos na literatura descrevendo a purificação e

caracterização de Sv-CRISPs, ainda pouco se sabe das suas atividades biológicas e

seu papel no envenenamento ofídico. Entretanto, pelo menos três atividades já foram

descritas para estas proteínas: (1) neurotoxicidade e bloqueio de canais iônicos, (2)

ação sobre células inflamatórias e (3) mionecrose.

25

Figura 2. Representação da estrutura da natrina. A) Domínio e as estruturas secundárias – o domínio

Hinge é formado por sequências sem estrutura secundária. B) Distribuição das cargas eletrostáticas na

superfície da proteína (em vermelho as regiões negativas e em azul as regiões positivas). A flecha indica

a possível tríade catalítica (His60

, Ser76

e His115

), mostrado em detalhes no painel C. DRC – domínio rico

em cisteína. Figuras retiradas de (56) e (57).

O primeiro estudo de uma CRISP em peçonha de réptil foi relatado por

Mochca-Morales et al. (58) que, em investigação de toxinas letais em camundongos da

peçonha de monstro de Gila (Heloderma horridum horridum), isolaram a helotermina,

uma proteína não enzimática de cadeia única com massa molecular de 25 kDa e pI de

6,8. A peçonha H. h. horridum mostrou LD50 aproximada de 60 µg em camundongos

enquanto a toxina foi letal na dose de 30 µg. Essa mesma dose causou sintomas

neurológicos variados: letargia, paralisia parcial de membros traseiros, diminuição de

temperatura e distensão intestinal. A toxina (20 µg) não mostrou efeito sobre o fluxo de

Ca2+, Na+ ou K+ em preparados de gânglio dorsal de ave, neurônios de lula ou ainda

coração de neonatos de ratos. A confirmação de similaridades sequenciais entre

CRISPs e a helotermina veio em estudo posterior quando Morissete et al. (59)

mostraram que a helotermina foi a primeira CRISP isolada de peçonhas de répteis.

Esse mesmo estudo ainda mostrou que 1 µg de toxin foi capaz de bloquear a ligação

entre rianodina e canais de Ca2+ em preparações de retículo sarcoplasmático

reduzindo, assim, a corrente de Ca2+ e efluxo de íons nesta organela.

Outros estudos também tem sugerido uma ação neurotóxica in vivo para Sv-

CRISPs. Estrella et al. (15) isolaram a helicopsina, da peçonha de Helicops angulatus

A B C

26

(colubrídeo sul-americano) que apresentou cadeia única de 20 kDa e LD50 106 µg/kg.

Quando injetada intraperitonealmente, a helicopsina (16 µg) causou manifestações

neurológicas diversas em camundongos, tais como hiperexcitabilidade, taquipnéia,

paralisia flácida e convulsão, entre outros. Contudo, não foram realizados ensaios

eletrofisiológicos para confirmar bloqueio de canais iônicos.

Em alguns casos, evidências estruturais e eletrofisiológicas sugerem uma

atividade bloqueadora em canais iônicos para algumas Sv-CRISPs. Guo et al. (56)

mostraram que a stericrisp da peçonha de T. stejnegeri (crotalídeo asiático) possui uma

conformação similar a bloqueadores de canais de K+, contudo nenhum ensaio

eletrofisiológico foi feito para comprovar esta atividade. Por outro lado, vários trabalhos

da década passada apresentaram dados eletrofisiológicos comprovando a atividade

bloqueadora dessas proteínas. Wang et al. (60) mostraram que a natrina (100 nM)

isolada de N. atra (cobra chinesa) pode bloquear canais de K+ dependentes de Ca2+ em

musculatura vascular de camundongo. Já a ablomina (1 µM), de Agkistrodon blomhoffi,

diminuiu a força de contração induzida por 60 mM de K+ em artérias caudais de rato

desprovidos de endotélio (61). Esta redução foi revertida por lavagem, indicando uma

ligação reversível entre a ablomina e os canais, e por incubação com cafeína 20 mM,

este último mostrando que o bloqueio não envolveu os canais rianodínicos do retículo

sarcoplasmático (61). Os autores concluíram que possivelmente a ablomina esteja

bloqueando os canais de Ca2+ do tipo L. Por sua vez, Brown et al. (62) mostraram que

500 nM de pseudechetoxina bloqueou até 90% da corrente de K+ em oócitos de

Xenopus laevis transfectados com canais de K+ dependentes de nucleotídeos. Mais

recentemente, Ludovicho et al. (63) mostraram que a Bj-CRP (1 µM), isolada de B.

jararaca, não bloqueia canais de K+ dependentes de voltagem. As divergências na

capacidade de Sv-CRISPs de atuar em canais iônicos provavelmente refletem

diferenças na afinidade destas proteínas para os diferentes tipos de canais.

Com relação à ação local e sobre células inflamatórias, Wang et al. (60)

mostraram que a natrina (100 nM) de N. atra aumentou a expressão de moléculas de

adesão, tais como ICAM, VCAM e E-selectinas, em cultura de HUVECs após 6 h de

incubação. Essa expressão é dependente da fosforilação da MAPK que, por sua vez,

ativa o fator de transcrição NF-κB. Esta ação da natrina sugere um papel importante

27

não somente na adesão e diapedese de leucócitos, mas também na quimiotaxia dos

mesmos. Já a Bj-CRP (5 µg/camundongo), quando injetada intraperitonealmente,

estimulou o recrutamento de leucócitos após 1 h, além de clivar os componentes C3,

C4 e C5 in vitro, após 1 h de incubação a 37 ºC (63). Peichoto et al. (64) relataram que

a patagonina, uma Sv-CRISP (~25 kDa) de Philodryas patagoniensis (colubrídeo sul-

americano), causa mionecrose e infiltração leucocitária polimorfonuclear em músculo

gastrocnêmio de camundongos. Porém, ao contrário de outras Sv-CRISPs, a

patagonina não afeta a musculatura lisa de anéis aórticos, sugerindo que essa toxina

não possui ação bloqueadora em canais iônicos. De modo geral, mais estudos são

necessários para determinar a relevância dos achados destes estudos para os

fenômenos que ocorrem in vivo nos envenenamentos.

Uma característica comum às Sv-CRISPs estudadas até o momento é a

ausência de atividades enzimáticas. No entanto, esta ausência reflete mais a natureza

incompleta da maioria dos estudos que focaram primordialmente em atividades

biológicas em detrimento às atividades enzimáticas do que à ausência de atividade

enzimática de fato. Em um dos poucos estudos a investigar esta questão, Milne et al.

(14) isolaram uma proteína com ação proteolítica, denominada Text 31, da peçonha do

gastrópode C. textile e que apresentava identidade com Sv-CRVPs. Esta proteína

mostrou atividade proteolítica sobre substratos sintéticos e era inibida por SBTI (soy

bean trypsin inhibitor), um importante inibidor de tripsina.

Além das atividades indicadas acima, as sv-CRISPs possuem outras

propriedades não relacionadas com o envenenamento. A crovirina, isolada da peçonha

de Crotalus viridis viridis (cascavel da pradaria da América do Norte) mostrou atividade

anti-parasitária sobre Leishmania amazonenses, Trypanosoma brucei rhodesiense e

Tryapanosoma cruzi: quando co-incubada por 72 h com esses parasitas, a covirina

(0,05-0,2 µM) invabilizou até 60% das células (65). Por vias bastante similares às

elucidadas por Wang et al. (60), mas com resultado diverso, Lecht et al. (39) mostraram

que a ES-CRISP, de Echis carinatus sochureki, inibiu a formação de novos vasos em

células HUVEC em Matrigel (na concentração de 2 µM) em até 75% e também atenuou

a angiogênese em membrana corio-alantóide de embrião de galinha (na dose de 20

28

µg). Esta ação parece estar relacionada à inibição da fosforilação de MAPK por ES-

CRISP.

1.4. POR QUE ESTUDAR SV-CRISPS?

Conforme indicado acima, as Sv-CRISPs possuem algumas atividades

biológicas que podem contribuir para o quadro de envenenamento. Entretanto, a

grande dificuldade no estudo destas toxinas é que, apesar de várias delas já terem sido

purificadas e caracterizadas, há poucas investigações sistemáticas das suas atividades

enzimáticas e biológicas, sendo que a maioria dos estudos tem focado a ação sobre

canais iônicos. Uma das principais causas disso é a quantidade diminuta encontrada

nas peçonhas e o relativo baixo rendimento durante a purificação, o que inviabiliza

estudos muito extensos. De qualquer forma, os estudos realizados até o momento

mostram que as Sv-CRISPs possuem atividades interessantes. Por exemplo, a indução

de processos inflamatórios locais pela patagonina (64) e natrina (60) indica a

necessidade de mais estudos sobre o possível papel das Sv-CRISPs no

envenenamento, especialmente no caso de peçonhas como as botrópicas, que são

conhecidas por suas manifestações locais (dor, edema, inflamação, hemorragia e

mionecrose) marcantes. Além disso, as Sv-CRISPs podem ser úteis como ferramentas

para elucidar os mecanismos fisiológicos envolvidos na fertilidade, na imunidade e na

biologia tumoral (66). A Fig. 3 resume algumas das atividades já descritas para Sv-

CRISPs.

29

Figura 3. Algumas atividades biológicas já descritas para Sv-CRISPs. (Fontes: Refs.15, 57-65)

30

2. OBJETIVOS

Considerando que há poucos estudos sobre as Sv-CRISPs de peçonhas

botrópicas, o objetivo principal desta investigação foi purificar e caracterizar bioquímica

e biologicamente uma Sv-CRISP da peçonha de Bothrops jararaca.

Os objetivos específicos foram:

1. Purificar e identificar a proteína baseada na sua estrutura primária.

2. Investigar as atividades enzimáticas da proteína purificada e sua

imunoreatividade contra o antissoro botrópico.

3. Avaliar algumas atividades biológicas da proteína purificada para entender

sua participação nos efeitos do envenenamento.

31

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1. REAGENTES E PEÇONHA

O anticorpo de coelho anti-IgG de cavalo conjugado com peroxidase, N-

benzoil-L-arginina p-nitroanilida (BAPNA), azocaseína, caseína, 4-cloro-1-naftol, 1,10-

fenantrolina, fibrinogênio livre de plasminogênio, n-t-boc-L-alanina p-nitrofenil éster, p-

nitrofenil, tosil-L-arginina metil éster (TAME), trombina bovina e vermelho Congo-

elastina foram adquiridos da Sigma-Aldrich Chemical Co. (St. Louis, MO, EUA). A resina

Superdex 75 e HiTrap Q-Sepharose, bem como os reagentes para eletroforese, os

marcadores moleculares e as membranas de fluoreto de polivinilideno (PVDF) para

imunoblot foram adquiridos da GE Lifesciences (Piscataway, NJ, EUA). Agarose e

EDTA foram adquiridos da USB (Cleveland, OH, EUA) e fenilmetanosulfonilfluoreto

(PMSF) foi adquirido da Calbiochem (San Diego, CA, EUA). Os anestésicos isofluorano

e tiopental foram adquiridos da Cristália Indústria Farmacêutica (Itapira, SP, Brasil). Os

sais e tampões utilizados para soluções foram obtidos da J.T. Baker/Mallinckrodt

(Cidade do México, México) e Merck Indústrias Químicas S.A. (Rio de Janeiro, RJ,

Brasil). Tubos Amicon® foram obtidos da Merck-Millipore (Billerica, MA, EUA).

A peçonha liofilizada, extraída de exemplares adultas de B. jararaca, foi obtida do

Centro de Estudos de Toxinas Animais (CETA, Morungaba, SP) e estocada a -20 ºC.

3.2. PURIFICAÇÃO DA SV-CRISP-BJ

3.2.1. Gel filtração em Superdex 75

A cromatografia da peçonha por gel filtração e troca iônica foi realizada

essencialmente conforme descrita anteriormente (67). Para a gel filtração, a peçonha

liofilizada (100 mg) foi solubilizada em 2 ml de Tris-HCl 10 mM, pH 8,0, contendo CaCl2

10 mM e NaCl 150 mM. A solução foi clarificada por centrifugação (12.000 x g, 5 min, 4

ºC) e o sobrenadante foi aplicado em coluna (16 x 60 cm) preenchida com Superdex 75

equilibrada com o mesmo tampão. As proteínas foram eluídas usando um fluxo de 0,5

ml/min e o perfil de eluição foi monitorado a 280 nm. Frações de 1 ml foram coletadas

usando um cromatógrafo ÄKTAprime (GE Lifesciences) e foram testadas quanto à sua

atividade caseinolítica. O segundo pico do perfil de eluição que apresentou essa

atividade foi concentrado por centrifugação (3.000 x g, 30 min, 4 ºC) em filtro Amicon

32

(10 kDa) usando tampão Tris-HCl 10 mM, pH 8,0, contendo CaCl2 10 mM. O conteúdo

proteico foi dosado pelo método de Lowry (seção 3.4) e o volume foi corrigido para uma

concentração de 2 mg/ml antes de estocar o pico a 4 ºC.

3.2.2. Cromatografia por troca aniônica em coluna HiTrap Q-Sepharose

O material concentrado da etapa anterior foi aplicado em coluna HiTrap Q-

Sepharose de 5 ml equilibrada com Tris-HCl 10 mM, pH 8,0, contendo CaCl2 10 mM.

Um mililitro desse concentrado foi injetado na coluna seguido por eluição a um fluxo de

0,5 ml/min usando um gradiente linear de sal (0-0,5 M). O perfil de eluição foi

monitorado em 280 nm e frações de 0,5 ml foram coletadas e testados quanto à sua

atividade caseinolítica.

3.2.3. Determinação de pureza por HPLC

A proteína obtida na etapa anterior foi concentrada e a pureza foi verificada

aplicando-se 100 μg em sistema de HPLC Shimadzu constituído de bombas LC-10AD-

VP e leitor de UV-VIS SPD-10AD-VP (Shimadzu Co., Tóquio, Japão) com coluna

Júpiter C18 (5 m 300 Å; Phenomenex) acoplada ao sistema e equilibrada com ácido

trifluoroacético 0,1% (tampão A). A proteína foi eluída usando um gradiente de 0 a

100% de acetonitrila (90% em água; tampão B) em ácido trifluoroacético 0,1% a um

fluxo de 1 ml/min, sendo que o perfil de eluição foi monitorado em 280 nm.

3.3. ELETROFORESE (SDS-PAGE)

A eletroforese foi realizada em sistema descontínuo (SDS-PAGE) usando gel

de empacotamento de 4% preparado em Tris HCl 0,5 M, pH 6,8, contendo 0,4% de

SDS e gel de migração de 15% preparado em Tris HCl 1,5 M, pH 8,8 contendo 0,4% de

SDS conforme descrito por Laemmli (68). Vinte microlitros de amostra (contendo 20 μg

de peçonha, frações ou proteína purificada) foram completados com 20 μl de tampão de

amostra (4% (p/v) de azul de bromofenol, SDS 2%, glicerol 10%, Tris HCl 0,5 M, pH

6,8) e então as amostras foram fervidas por 5 min e aplicadas no gel de

empacotamento. Em alguns casos, para redução das proteínas envolvendo quebra das

pontes dissulfeto, as amostras foram incubadas com 0,1% de DTT ou -mercaptoetanol

33

antes da eletroforese. Para os ensaios de immunoblotting foram utilizadas as doses de

25 e 50 µg de peçonha e 40 µg de Sv-CRISP-Bj. Os géis (10 x 12,5 cm) foram fixados

em cuba vertical mini-SE 260 (GE Lifesciences) acoplada à fonte elétrica EPS 600 (GE

Lifesciences), imersos em tampão Tris HCl 0,625 M-glicina 1,2 M, pH 6,8, contendo

SDS 10%, e então submetidos a 100 V constantes com corrente elétrica de 25 mA.

Após a corrida, os géis foram corados por prata. Foram incluídas em cada corrida

proteínas marcadoras de massa molecular e a massa molecular da proteína purificada

foi determinada conforme recomendado pelo fabricante.

3.4. CONCENTRAÇÃO DE PROTEÍNA

A concentração de proteínas nas amostras foi determinada pelo método de

Lowry et al. (69), usando albumina bovina como padrão.

3.5. IMUNOBLOT DA PROTEÍNA FRENTE AO ANTISSORO BOTRÓPICO

Após a eletroforese (vide supra), as proteínas foram transferidas para

membranas de fluoreto de polivinilideno (PVDF) (70,71) em uma câmara de

transferência Mighty Small TE22 (Hoefer-Pharmacia, Suécia). Após a transferência, os

sítios de ligações inespecíficas nas membranas foram bloqueados por incubação de 2 h

com Tween 20 a 0,05% (pH 7,6) contendo 5% de leite desnatado. Subsequente a seis

lavagens com tampão de TBS-T (Tris HCl 0,01 M, NaCl 0,17 M e Tween 20 a 0,02%),

as membranas foram incubadas com antissoro botrópico (Fundação Ezequiel Dias -

FUNED, Belo Horizonte, MG) diluída a 1:1000 em TBS-T durante a noite à temperatura

ambiente. Após mais seis lavagens, as membranas foram incubadas com um anticorpo

de coelho anti-IgG de cavalo conjugado com peroxidase diluído a 1:1500 em TBS-T. Ao

fim de 2 h, as membranas foram lavadas e as bandas imunorreactivas foram detectadas

com uma solução de 4-cloro-1-naftol mais H2O2 após incubação durante 10-30 min à

temperatura ambiente e, em seguida, documentada.

3.6. IDENTIFICAÇÃO DA PROTEÍNA POR ESPECTROMETRIA DE MASSAS

Amostras eluídas em RP-HPLC de proteína purificada foram submetidas a

digestão por proteases tripsina e endopeptidase SV8 para posterior sequenciamento e

34

identificação. As amostras (30µg) de proteína liofilizadas foram ressuspendidas em 50

mM NH4HCO3 pH 8,0 e a suspensão foi adicionado 4 mM de DTT (concentração final) e

então incubada por 30 minutos a 60ºC. Após isso, as amostras foram submetidas a

alquilação pela adição de 14 mM de iodocetamida e incubação por 15 minutos a

temperatura ambiente e total escuridão. O bloqueio da alquilação foi feita por adição de

5 mM de DTT. Dez microlitros (10µg) da proteína foram incubados a 37ºC por 16 horas

na presença de tripsina ou SV8 endopeptidase (proporção 50:1, amostra:enzima).

Dessas amostras, um volume de 4,5µL foi aplicado em esquema LC/MS MS utilizando

coluna C18 RP-nanoUPLC (100 X 6100 mm) e espetometro de massas ESI Q-Tof

Premier (Waters, MA, EUA). A identificação dos fragmentos foi obtida por busca em

banco de dados (snake databases) usando o sistema MASCOT (Matrix Science, UK)

foram feitas essencialmente conforme descrito anteriormente (72).

Uma vez identificadas, as sequencias foram submetidas a alinhamento in

silico. Foram utilizados os softwares EditSeq e MegAlign (DNAStar Inc., Madison, WI,

EUA) versão 5.01. Resumidamente, as sequencias foram transferidas uma a uma em

software EditSeq para a produção de arquivos com extensões compatíveis com o

MegAlign. Baseado em instruções do fabricante, todos os arquivos foram transferidos

para software MegAlign com o qual o alinhamento das sequencias foi obtido utilizando o

método CLUSTAL V contra as sequencias das CRISPs das espécies Sorex araneus

(mamífero), Crotalus viridis (serpente) e Deinagkistrodon acutus (serpente). Uma vez

que a sequencia da Sv-CRISP foi obtida, essa foi comparada e alinhada a outras sv-

CRISPs utilizando o mesmo software, contudo utilizando o método CLUSTAL W no

modo default.

3.7. ATIVIDADES ENZIMÁTICAS

3.7.1. Atividade caseinolítica

A atividade sobre caseína foi analisada pelo método de Kunitz (73). Para o

ensaio, 1,9 ml de solução de caseína (1% em Tris-HCl 0,1 M, pH 7,8) foram incubados

com 0,1 ml de amostra por 20 min, a 37 ºC. Após esse tempo, a reação foi interrompida

adicionando-se 2 ml de solução de ácido tricloroacético 5% e mantida em gelo por 30

min. Terminada a incubação, as amostras foram centrifugadas (2.500 x g, 15 min,

35

temperatura ambiente). A absorbância do sobrenadante foi determinada em 280 nm em

espectrofotômetro Beckman DU800. Uma unidade de atividade foi definida como o

aumento de 0,001 unidades na absorbância (A280 nm)/min.

3.7.3. Atividade fibrinogenolítica

Foi utilizada uma solução de fibrinogênio (5 mg/ml) livre de plasminogênio

solubilizado em Tris-HCl 0,1 M, pH 7,5, contendo NaCl 0,1 M. Para o ensaio, 100 μl (10

μg) de amostra foram incubados com 100 μl da solução de fibrinogênio a 37 ºC e 20 μl

dessa mistura foram transferidos para tubos tipo Eppendorf contendo 20 μl de uma

solução contendo -mercaptoetanol 2% e SDS 2% nos tempos 0 min, 5 min, 10 min, 30

min, 1 h, 2 h, 4 h e 6 h. As amostras foram corridas por SDS-PAGE (68) em géis de

12,5% de acrilamida. Para os ensaios de inibição, utilizamos três inibidores, nas

concentrações finais indicadas: 1,10 fenantrolina 5 mM (inibidor de metaloproteases),

EDTA 5 mM (inibidor de metaloproteases) e PMSF 10 mM (inibidor de serinoproteases).

A Sv-CRISP-Bj (10 µg/90 µl) foi pré-incubada com 10 µl de inibidor na concentração

indicada por 10 min, e após isso foram adicionados à mistura 100 µl de substrato,

seguindo o ensaio como descrito acima.

3.7.4. Atividade fibrinolítica

A atividade fibrinolítica foi determinada conforme descrito por Maruyama et

al. (74), com algumas modificações. A atividade foi medida utilizando-se placas de Petri

contendo solução de 1% de agarose e fibrinogênio livre de plasminogênio (0,5%)

incubado com 30 μl de trombina (1000 unidades/ml) preparada em Tris-HCl 0,1 M, pH

7,5, contendo NaCl 0,1 M. Para o ensaio, foram usadas 30 μg de peçonha e 30 g de

proteína purificada. Amostra (peçonha ou proteína purificada) e tampão sozinho

(branco) foram adicionados à placa, seguido por incubação por 18 h a 37 ºC. Após esta

incubação, os halos de lise foram medidos. Uma unidade de atividade fibrinolítica (U)

correspondia a um halo de lise de um centímetro de diâmetro e a „atividade específica‟

correspondia à atividade fibrinolítica presente em 1 mg de proteína (U/mg).

36

3.7.5. Atividade elastásica

A atividade elastásica foi determinada usando dois substratos: elastina

acoplada ao corante vermelho do Congo e o substrato sintético n-t-boc-L-alanina p-

nitrofenil éster. Para o ensaio com elastina-vermelho do Congo, o substrato foi

suspendido (1 mg/ml) em fosfato de sódio 50 mM, pH 7,2 e então 100 μl dessa

suspensão foram incubados com 100 μl (40 μg) de amostra (ou tampão, no caso do

branco) por 18 h a 37 ºC. Após esse período, as amostras foram centrifugadas (10.000

x g, 15 min, 8 ºC) e a absorbância do sobrenadante foi lida em 490 nm. Uma unidade

de atividade corresponde ao aumento de 0,001 na absorbância por hora de incubação

(75). O ensaio com n-t-boc-L-alanina p-nitrofenil éster foi feito segundo Visser e Blout

(76). O substrato foi dissolvido em tampão fosfato 50 mM, pH 7,2. O ensaio foi realizado

em placas de 96 poços, sendo que 150 μl de substrato (0,2 mM) foram colocados em

cada poço juntamente com 50 μl de amostra (40 μg) ou tampão (branco). A placa foi

incubada a 37 ºC por 30 min e a absorbância foi lida a 348 nm. Construiu-se então uma

curva de calibração com p-nitrofenol vs. A348nm onde uma unidade de atividade

correspondia à liberação de 1 µmol de p-nitrofenol/min. A comparação entre as

amostras foi feita com base nas atividades específicas (µmol/min/mg).

3.7.6. Atividade esterásica

A atividade esterásica foi investigada usando o substrato N-p-tosil-L-

arginina éster (TAME), segundo o método de Schwert e Takenaka (77). Uma solução

mãe de TAME (1 mM) foi preparada em Tris-HCl 0,1 M, pH 7,8. A um volume de 0,47

ml de substrato foi adicionado 0,5 ml de tampão e 0,03 ml de amostra (40 μg de

peçonha ou proteína purificada). A mistura foi incubada por 10 min a temperatura

ambiente e o aumento na absorbância das amostras foi monitorado continuamente a

253 nm. Uma unidade de atividade foi definida como um aumento de 0,001 na

absorbância A253nm/min.

3.7.7. Atividade amidolítica

O substrato Nα-benzoil-L-arginina p-nitroanilida (BAPNA) é usado para

detectar principalmente atividade serinoprotease (78). Esse teste foi feito conforme

37

descrito por Torres-Huaco et al. (79). Uma solução-estoque de BAPNA (100 mM) foi

preparada em sulfóxido de dimetilo (DMSO) e a solução foi diluída em Tris-HCl 10 mM,

pH 8,0, CaCl2 1 mM para obter uma solução de trabalho (1 mM). Duzentos microlitros

de substrato (1 mM) foram, então, incubados, com 20 µl de amosta (1-300 µg de

peçonha ou 40 µg de proteína purificada) por 30 minutos a 37 ºC. A atividade da curva

foi expressa em nmol/min e a atividade específica em nmol/min/mg. Para os cálculos foi

utilizanda a lei de Beer-Lambert admitindo 30 min de reação, coeficiente de extinção

molar de 8800 para p-nitroanilida e caminho óptico de 1 cm.

3.8. ATIVIDADES BIOLÓGICAS

3.8.1. Animais

Camundongos Swiss machos (25-30 g) e ratos Wistar machos (300-350 g)

foram obtidos do Centro Multidisciplinar de Investigação Biológica (CEMIB/UNICAMP) e

foram mantidos no Biotério do Departamento de Farmacologia da FCM/UNICAMP. Os

animais foram alojados 5 (ratos) ou 10 (camundongos) por gaiola a 23 oC sob ciclo de

luz/escuro de 12 h, com livro acesso à água e ração. Os protocolos experimentais

usando animais foram aprovados pela Comissão de Ética no Uso de Animais da

UNICAMP (CEUA/UNICAMP, protocolo no. 2253-1).

3.8.2. Atividade trombina-símile

Uma solução de 5 mM de fibrinogênio bovino livre de plasminogênio foi

preparada em tampão Tris-HCl 50 mM, pH 7,5 contendo 0,1 M de NaCl. Cento e oitenta

microlitros dessa solução foram incubadas por 10 min em 37 °C e então 20 μl de

amostra (10 μg e 40 μg de peçonha ou proteína purificada) no mesmo tampão foram

adicionados a solução e o tempo de coagulação foi tomado. A atividade trombina-símile

das amostras foi comparada baseada em uma curva-padrão construída com diferentes

concentrações de trombina bovina.

3.8.3. Tempo de coagulação

Ratos Wistar machos foram anestesiados com isoflurano e exsanguinados

via artéria aorta com escalpes (19G) citratados (3,8%). O sangue foi coletado em tubos

38

de polipropileno contendo citrato 3,8% e centrifugado (2000 x g, 12 min, temperatura

ambiente) para obtenção do PPP. Cento e oitenta microlitros de PPP foram adicionados

a 20 μl de tampão Tris-HCl 50 mM, pH 8,0 contendo 10 μg e 40 μg de peçonha e

proteína purificada, respectivamente, e o tempo decorrido para a formação das

primeiras fibras do coágulo foi tomado.

3.8.4. Tempo de recalcificação

O tempo de recalcificação de plasma citratado foi avaliado conforme descrito

por Berger et al. (80). Ratos foram anestesiados com isoflurano e o ramo descendente

da aorta foi exposto para coleta de sangue em tubos de polipropileno contendo 1 ml de

citrato de sódio 3,8%. Em seguida, o sangue foi centrifugado (2000 x g, 12 min,

temperatura ambiente) para a obtenção do plasma pobre em plaqueta (PPP). O PPP foi

transferido para uma placa de 96 poços (50 µl/poço) e incubado com 10 µl de amostra

(controle: Tris-HCl 50 mM, pH 8,0; amostra: 10 ou 40 µg de proteína isolada) por 5 min

a 37 ºC. Após esse tempo, 10 µl de CaCl2 250 mM foi adicionado a cada poço e o

aumento de absorbância em 650 nm foi monitorado por 30 min a intervalos de 1 min. O

resultado foi expresso em aumento de absorbância.

3.8.5. Agregação plaquetária

A agregação plaquetária foi realizada por ensaio turbidimétrico (81) com um

agregômetro (Chrono-log Lumi-Aggregometer modelo 560-Ca; Havertown, PA, EUA). O

sangue arterial de rato foi recolhido em tubos de polipropileno contendo um décimo do

volume final de citrato de sódio a 3,8% (1:9, v/v). O plasma rico em plaquetas (PRP) foi

obtido por centrifugação de sangue total (400 x g, 15 min, temperatura ambiente) e

lavado numa solução tampão (composição em mM: citrato de sódio 12, NaCl 140, KCl

5, glucose 10 e sacarose 12, pH 6) numa proporção de 5:7 (v/v) de PRP:solução

tampão e centrifugado (800 x g, 13 min, 20 °C). O precipitado de plaquetas foi

suavemente ressuspenso numa solução de Krebs-Ringer desprovida de Ca2+ (NaCl 118

mM, NaHCO3 35 mM, KCl 4,7 mM, KH2PO4 1,2 mM, MgSO4.7H2O 1,17 mM, glicose 5,6

mM) e as plaquetas foram contadas em câmara de Neubauer. A suspensão plaquetária

final foi ajustada para 1,2 x 108 plaquetas/ml. Os ensaios de agregação foram

39

realizados utilizando 400 μl da solução de plaquetas lavadas em uma cubeta e

incubadas a 37 ºC com agitação constante. Os resultados foram expressos em % de

absorbância.

3.8.6. Atividade hemorrágica

A atividade hemorrágica foi avaliada conforme descrito por Theakston e Reid

(82). Ratos Wistar machos foram anestesiados com tiopental (30 mg/kg, i.p.) e, após

tricotomia do dorso, foram injetados intradermicamente (i.d., 100 µl) com 4,5, 13,5 e

45,0 μg de peçonha ou 30 μg de proteína purificada diluídas em tampão Tris-HCl 10

mM, pH 8,0, contendo CaCl2 10 mM. O tampão sozinho foi usado como controle. Após

24 h, os ratos foram sacrificados com isoflurano e a pele dorsal foi removida e o

diâmetro do halo hemorrágico da face interna foi medida. A dose hemorrágica mínima

(DHM), definida como a quantidade de proteína suficiente para causar um halo de 1 cm

de diâmetro, foi determinada por interpolação a partir de uma curva das doses de

proteína vs. o halo hemorrágico produzido com cada dose indicada acima, usando a

opção „Fit spline/LOWESS‟ no software Prism v.5.0 (GraphPad, La Jolla, CA, EUA).

3.8.7. Permeabilidade vascular

O ensaio para a quantificação de plasma extravasamento em local de

inoculação da toxina foi feito conforme Brain e Williams (83). Dessa forma, ratos Wistar

machos foram anestesiados com tiopental sódico (30 mg/kg, i.p.) e doses de

manutenção foram administradas quando necessário. O extravasamento de proteínas

plasmáticas em resposta à injeção intradérmica de peçonha (3-40 μg/sítio), proteína

purificada (10 e 30 μg/sítio) ou solução de Tyrode (composição, em mM: NaCl, 137;

KCl, 2,7; MgCl2, 0,5; NaH2PO4, 0,4; NaHCO3, 11,9 e glicose, 5,6; 100 μl; controle) foi

avaliado em pele dorsal depilada dos ratos. O extravasamento de proteínas plasmáticas

foi medido pelo acúmulo de 125I-albumina sérica humana (2,5 μCi/rato, i.v.); o corante

azul de Evans (20 mg/kg, i.v.) foi usado como marcador visual para identificar os sítios

de injeção. Trinta minutos após a injeção das substâncias teste, uma amostra de

sangue (1 ml) foi coletada por punção cardíaca e transferida para tubos de polipropileno

contendo 100 μl de heparina antes de ser centrifugado (8.000 x g, 10 min, temperatura

40

ambiente) para obtenção do plasma. Em seguida, os ratos foram eutanasiados por

overdose de isoflurano e a pele dorsal removida. Os sítios injetados foram recortados e

a radioatividade mensurada, juntamente com as amostras de plasma, em um contador

gama. O extravasamento de plasma foi expresso como o volume (μl) de plasma

acumulado em cada local da pele em comparação com a contagem total em 1 ml de

plasma.

3.8.8. Miotoxicidade

Para determinação da miotoxicidade, camundongos Swiss machos foram

injetados (volume de 100 µl) no músculo gastrocnêmio direito com proteína purificada

(40 µg) ou Tris-HCl 10 mM, pH 8,0 (controle). Após 6 h, os animais foram anestesiados

com isoflurano e amostras de sangue retiradas, por punção cardíaca, para a

quantificação da atividade plasmática de creatina quinase (CK), e em seguida os

animais foram mortos com overdose de anestésico. O sangue transferido para tubos

Eppendorf e centrifugado (1000 x g) em temperatura ambiente por 10 min a fim de

obter-se o plasma. A quantificação de CK foi realizada utilizando kits comerciais

(LaborLab, Guarulhos, SP, Brasil). O músculo injetado foi removido nesse mesmo

tempo e processado para análise histológica.

3.8.9. Análise histológica

O músculo gastrocnêmio dissecado foi imediatamente lavado em PBS e

transferido para cassetes de plástico e fixados em solução paraformaldeído 10%

(Synth) preparado em tampão fosfato 0,1 M, pH 7,4 durante 12 h. Uma vez fixado, o

material passou por diafanização com xilol e inclusão em parafina (Histotec, Merk). Os

blocos de parafina foram seccionados em micrótomo (Leica RM 2245, Alemanha) em

cortes de 5 µm de espessura. Essas secções foram coradas com hematoxilina-eosina e

analisadas em microscopia de luz utilizando um microscópio Leica DM 5000 B (Leica,

Alemanha). As imagens foram capturadas e analisadas usando camêra CCD Leica

CTR5000 e software Qwim Plus versão 3.2.0.

41

3.4. ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os dados foram expressos como média ± desvio padrão. As comparações

estatísticas foram feitas usando o test t de Student ou ANOVA seguida pelo teste de

múltiplas comparações de Bonferroni. Valores de p<0,05 indicaram significância.

42

4. RESULTADOS

4.1. PURIFICAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DA SV-CRISP-BJ

A cromatografia da peçonha por gel filtração resultou em dois picos que

apresentaram atividade caseinolítica (picos numerados em 1 e 2) (fig. 4A) dois quais o

pico 2 foi utilizado para a caracterização da BJ-P12, uma metaloprotease (SVMP) da

classe P-I (67). Quando este pico foi concentrado e submetido à cromatografia de troca

iônica, foi obtido o perfil mostrado na Fig. 4B abaixo. O pico contendo a Sv-CRISP

correspondeu ao segundo pico não retido na coluna (eluido antes do gradiente e

indicado pela seta vermelha). A eletroforese deste pico por SDS-PAGE resultou em

uma única banda com massa molecular estimada em 29,8±0,3 (n=3) kDa (Fig. 4C). A

pureza da proteína foi confirmada por RP-HPLC que revelou um único pico principal

(Fig. 4D). A eletroforese por SDS-PAGE realizada em condições redutoras indicou que

a proteína consistiu de uma única cadeia proteica (Fig. 4E).

A Sv-CRISP-Bj foi reconhecida pelo antissoro botrópico, mostrando que a

proteína é imunogênica (Fig. 5). A comparação da localização desta banda com o perfil

de imunorreatividade da peçonha indica a detecção da presença de uma banda

bastante fraca apenas quando usada a quantidade de 50 g de peçonha, o que reflete

o baixo conteúdo da Sv-CRISP-Bj na peçonha. De fato, na purificação, o

rendimento proteico médio foi de 0,25%, ou seja, a cada 100 mg de peçonha

inicialmente aplicada em gel filtração, recuperamos 250 µg de proteína purificada após

a segunda etapa. Aplicando-se tal rendimento às amostras de imunoblot, a quantidade

de Sv-CRISP-Bj em 50 g de peçonha seria 0,125 µg, o que provavelmente teria pouca

reatividade no ensaio (embora esta questão não tenha sido investigada). Por outro lado,

o uso de 40 µg da Sv-CRISP-Bj resultou em reação bastante forte.

43

Figura 4. Purificação da Sv-CRISP-Bj de B. jararaca. A. Perfil de eluição da gel filtração segundo da Silva et al. (67). A linha tracejada representa o perfil de eluição das proteínas com atividade caseinolítica. Os números indicam os picos de atividade. B. A segunda etapa (troca iônica em coluna de HiTrap Q-Sepharose) da purificação da BJ-PI2 (67), mostrando o pico (seta) correspondente à Sv-CRISP-Bj. Note que este segundo pico de troca iônica não possui atividade caseinolítica. ( ) A280 nm, ( ) atividade caseinolítica. C. SDS-PAGE da Sv-CRISP-Bj. Gel de poliacrilamida a 15%, coloração com prata. Faixa 1 - marcadores de massa molecular, Faixa 2 – Sv-CRISP-Bj. D. RP-HPLC da Sv-CRISP-Bj. E. A massa molecular da Sv-CRISP-Bj determinada por SDS-PAGE em condições não redutoras e redutoras. Faixa 1 – Marcadores de massa molecular, Faixa 2 – condições não redutoras, Faixa 3 – ditiotreitol 0,1 M (DTT) e Faixa 4 – β-mercaptoetanol 0,1% (w/v). Gel corado com azul de Coomassie.

1 2 3 4 kDa

97

66 45

30

20,1

14,4

D

1 2 kDa

97

66

45

30

20,1

14,4

B C

A

E

44

Figura 5. Detecção da Sv-CRISP-Bj por imunoblot. Peçonha (50 e 25 g, pista 1 e 2, respectivamente) e

Sv-CRISP-Bj (40 g, pista 3) foram aplicadas em gel de poliacrilamida a 12,5% e corridas por SDS-PAGE

em sistema mini-VE 206E. Após a corrida, as amostras foram transferidas para uma membrana de PVDF

em câmara de transferência Mighty Small TE22. Após bloqueio dos sítios inespecíficos, a membrana foi

incubada com antissoro botrópico e posteriormente as bandas foram detectadas com uma solução de 4-

cloro-1-naftol mais H2O2 após incubação por 10 min em temperatura ambiente. Note a pequena banda

(seta, pistas 1 e 2) na mesma altura que a Sv-CRISP-Bj (pista 3), provavelmente correspondente à

proteína purificada.

A análise por espectrometria de massa dos fragmentos obtidos em digestão

por tripsina e endopeptidase SV8 mostrou identidade com fragmentos de três CRISPs

(Tabela 3). Nenhum dos fragmentos mostrou homologia com proteínas de outras

classes de toxinas, tais como SVMPs ou SVSPs. Este mesmo resultado (identificação

de fragmentos com homologia com Sv-CRISPs, mas não com outras proteínas de

peçonha ofídica) foi obtido em análises realizadas em três locais e aparelhos diferentes

(Instituto de Química-UNICAMP, Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais-

CPNEM, e Instituto Butantan). Para obtenção das sequências, o espectro de cada um

dos fragmentos foi comparado com os dados de massa de fragmentos em banco de

kDa

202

116

80

38

30

15

1 2 3

45

dados para identificar peptídeos com massas iguais, o que permitiu então a

identificação dos aminoácidos contidos nos fragmentos da amostra.

Uma vez efetuado o alinhamento destes fragmentos com sequências de

outras Sv-CRISPs obtidas de bancos de dados observou-se identidade superior a ~85%

com proteínas de outros crotalídeos e entre ~60% e 65% com proteínas de elapídeos

(Fig. 6). Baseado nestes resultados, concluímos que se tratava de uma Sv-CRISP que

denominamos Sv-CRISP-Bj. Considerando que o comprimento médio das Sv-CRISPs é

de 220 aminoácidos, conseguimos determinar ~33% da sequência total da Sv-CRISP-

Bj. A Fig. 6 mostra que identificamos três resíduos de cisteína (tachados em amarelo) e

que sequenciamos boa parte do domínio PR-1 (flecha vermelha), características estas

baseadas no trabalho de Guo et al. (56).

Sequência Massa

Espécie

Observada Calculada

SVDFDSESPR 1137,4825 1137,4925 D. acutus

SVNPTASNMLK 1160,5566 1160,5859 D. acutus

WTEIIHAWHGEYK 1668,7842 1668,8049 D. acutus

KPEIQNEIVDLHNSLR 1903,9845 1904,0115 D. acutus

YYFVCQYCPAGNLR 1809,7845 1809,7967 S. araneus

IIHAWHGE 961,4784 961,4770 C. viridis

RWAYRCIE 1152,5302 1152,5498 C. viridis

SVDFDSESPRKPE 1491,6419 1491,6841 C. viridis

Tabela 3. Peptídeos obtidos a partir da digestão da proteína Sv-CRISP-Bj com tripsina

(fragmentos em vermelho) e com endopeptidase SV8 (fragmentos em negrito). A

identificação dos fragmentos foi obtida a partir do confronto das massas obtidas

(observadas) com o respectivo banco de dados (massas calculadas). Espécies de origem

do banco de dados: D. acutus: Deinagkistrodon acutus; S. araneus: Sorex araneus; C

viridis: Crotalus viridis.

46

Enquanto esse estudo era finalizado, foi descrita a purificação de uma Sv-

CRISP de B. jararaca (Bj-CRP), com a sequência parcialmente deduzida por

espectrometria de massas (63). A sequência da Bj-CRP está incluída na Fig. 6 para

comparação e mostra que houve 100% de identidade com a Sv-CRISP-Bj

(desconsiderando os aminoácidos que foram sequenciados em apenas uma ou outra

das duas proteínas).

47

Figura 6. Sequência de aminoácidos da Sv-CRISP-Bj, alinhamento e comparação com sequências de Sv-CRISPs isoladas de outras peçonhas

ofídicas. As sequências utilizadas foram obtidas do banco de dados BLAST (Pubmed-Medline). Bj-CRP de Bothrops jararaca (63), Da-CRPb de

Deinagkistrodon acutus (GI:190195339) (National Center for Biotechnology Information em GenBank nº ACE73576.1, 84), piscivorina de

Agkistrodon piscivorus piscivorus (GI:28972957) (85), CV-CRP de Crotalus viridis (GI:190195319) (National Center for Biotechnology Information

em GenBank nº ACE73566.1, 84), triflina de Protobothrops flavoviridis (GI:21305553) (61), catrina de Crotalus atrox (GI:48428839) (85), ophanina

de Ophiophagus hannah (GI:28972961) (85), kaouthina de Naja kaouthia (GI:485956112) (86), natrina de Naja atra (GI:32492059) (57) e

pseudechetoxina de Pseudechis australis (GI:23264042) (87). Os espaços com traços e os quadros em branco correspondem a aminoácidos não

sequenciados e a sequências idênticas, respectivamente. As setas vermelhas indicam o domínio PR-1. Os três pontes dissulfeto formados pelos

resíduos de cisteína identificados (tachados em amarelo) também estão indicados. Baseado em Guo et al. (56).

48

4.2. CARACTERIZAÇÃO ENZIMÁTICA E BIOLÓGICA PARCIAL DA SV-CRISP-BJ

A Tabela 4 apresenta algumas atividades enzimáticas e biológicas da Sv-

CRISP-Bj. A proteína não mostrou atividade proteolítica sobre caseína, porém mostrou

alguma atividade proteolítica inespecífica sobre a elastina-vermelho do Congo, contudo

não houve degradação observável contra o substrato sintético, e específico para

elastase, n-t-boc-L-alanina-p-nitrofenol éster, portanto sendo classificada como

atividade pseudoelastase. A Sv-CRISP-Bj não mostrou atividade fibrinolítica ou

hemorrágica comparada com a peçonha, mas aumentou a permeabilidade vascular em

pele dorsal de ratos, embora em grau menor que a peçonha.

Tabela 4. Atividades enzimáticas e biológicas da Sv-CRISP-Bj.

A quantidade de peçonha e de Sv-CRISP-Bj usada para as atividades esterase, amidase e elastase foi

de 40 µg. Para os ensaios de fibrinólise, hemorragia e permeabilidade vascular foram usados 30 µg de

Sv-CRISP-Bj e de peçonha. Para os testes de tempo de coagulação em fibrinogênio e em PPP foram

utilizados 10 µg de peçonha e 40 µg de Sv-CRISP-Bj. Os valores para 10 U de trombina usada como

controle positivo em fibrinogênio: 16,6 ± 0,6 s (n=3) e PPP: 8,8 ± 2,1 s (n=4). Os resultados são

apresentados como média ± DP (n=3-8). DHM – dose hemorrágica mínima; n.d. – não detectada. *Os

valores para peçonha foram obtidos da Ref. (67).

Atividades Peçonha* Sv-CRISP-Bj

Esterase - TAME (U/mg) 282,0± 22,63 n.d.

Amidase – BAPNA (nmol/min) 0,91±0,02 n.d.

Elastase

n-t-boc-L-alanina p-nitrofenil (µmol/min/mg) 131,5±27,7 7,1±0,9

Elastina-vermelho de Congo (U/mg) 413,7±34,0 162±52

Atividade fibrinolítica (U/mg) 6,3±0,9 n.d.

Coagulação em fibrinogênio (s) 149,3±22,4 n.d

Coagulação em PPP (s) 45,2±9,7 n.d

Atividade hemorrágica (DHM, μg) 20,7 n.d

Permeabilidade vascular (μl) 141,2±0,63 62,6±12,1

49

Para avaliar a capacidade da Sv-CRISP-Bj em degradar fibrinogênio, foi

incubada uma solução de fibrinogênio (5 mg/ml) com 40 μg de Sv-CRISP-Bj por tempos

variados e também na presença de inibidores de proteases (EDTA, fenantrolina e

PMSF). A Fig. 7A mostra que a Sv-CRISP-Bj degradou as cadeias e do

fibrinogênio (principalmente a cadeia e em grau menor, a ), sem afetar a cadeia . A

atividade fibrinogenolítica foi inibida quando a proteína foi pré-incubada com

fenantrolina 5 mM ou EDTA 1 mM, mas não foi afetada pelo PMSF 5 mM (Fig. 7B).

Estes resultados indicam que a atividade sobre fibrinogênio é dependente de cátions

bivalentes.

Figura 7. Atividade fibrinogenolítica da Sv-CRISP-Bj. A. Cinética da atividade fibrinogenolítica da Sv-

CRISP-Bj. A degradação das cadeias de fibrinogênio foi verificada pela incubação da mistura

fibrinogênio- Sv-CRISP-Bj a 37 °C e posterior análise em SDS-PAGE nos tempos indicados no eixo X. A

Sv-CRISP-Bj (40 g) clivou a cadeia Aα primeiramente, seguida pela cadeia Bβ; a cadeia mostrou-se

relativamente resistente à degradação. B. Inibição da atividade fibrinogenolítica da Sv-CRISP-Bj (40 g)

após pré-incubação, por 10 min a 37ºC, com inibidores de proteases. As concentrações de inibidores

usadas foram: EDTA – 1 mM, 1,10-fenantrolina (Fen) – 5 mM e PMSF – 5 mM. O tempo de incubação do

fibrinogênio com a proteína Sv-CRISP-Bj nestes experimentos foi de 360 min. Em ambas as figuras as

amostras foram aplicadas em géis de poliacrilamida de 12,5% e as proteínas foram separadas por SDS-

PAGE. Os géis foram corados com azul de Coomassie. Fib – fibrinogênio. M – marcadores de massa

molecular (em kDa).

50

Quando à possível atividade coagulante sobre uma solução de 5% de

fibrinogênio ou sobre plasma murino pobre em plaquetas, a Sv-CRISP-Bj não

apresentou nenhuma atividade. Tendo em vista a degradação de fibrinogênio mostrado

na Fig. 7 e a ausência de coagulação, avaliamos o efeito da Sv-CRISP-BJ no tempo de

recalcificação de plasma, in vitro. A Fig. 8 mostra que não houve alteração na fase

inicial da coagulação (ou seja, sem efeito na velocidade da resposta), porém houve

atenuação da magnitude da resposta final, o que corrobora com a degradação de

fibrinogênio visto em SDS-PAGE.

Figura 8. Recalcificação de plasma de rato. Sv-CRVP-Bj (40 µg) ( ) ou Tris-HCl (controle, ) foram

incubados com PPP por 5 min a 37 ºC. Após esse tempo, 10 µl de CaCl2 250 mM foram transferidos para

cada poço e incubados por mais 30 min a 37 ºC. A absorbância foi monitorada em intervalos de 1 min. Os

pontos representam a média ± DP (n=4).

Na agregação plaquetária, a Sv-CRISP-Bj (10 µg e 40 µg) desencadeou, em

plaquetas lavadas, uma resposta com intensidade similar àquela desencadeada pela

trombina, um agonista conhecido deste fenômeno (Fig. 9).

51

Figura 9. Agregação de plaquetas lavadas pela Sv-CRISP-Bj. Quatrocentos microlitros de suspensão,

contendo 1,2 x 108 plaquetas/ml, foram incubados com trombina (200 mU/ml) ou Sv-CRISP-Bj (10 e 40

µg) por 10 min a 37 ºC sob agitação constante. A agregação foi medida em porcentagem de

transmitância de luz. Painel superior: Histograma mostrando a agregação plaquetária em presença nas

duas quantidades de Sv-CRISP-Bj testadas. A linha tracejada representa a agregação em presença de

trombina. As colunas mostram a média ± DP (n = 5). Painel inferior: Curvas típicas de agregação para

cada tratamento.

Peichoto et al. (64) demonstraram que a patagonina provoca mionecrose

quando injetada em gastrocnêmio de camundongo. Dessa forma, avaliamos a

capacidade da Sv-CRISP-Bj de também causar mionecrose. A Fig. 10 mostra que a Sv-

CRISP-Bj (40 µg) não causou aumento significante em níveis plasmáticos de CK e

52

também não resultou no aparecimento de fibras mionecróticas em músculo

gastrocnêmio de camundongo. Contudo, a proteína causou forte migração de células

inflamatórias para o tecido muscular.

53

Figura 10. Miotoxicidade em músculo gastrocnêmio de camundongo. Sv-CRISP-Bj (40 µg) ou salina

0,9% (controle, volume de 100 µl) foi injetado em músculo de camundongo, e após 6 h, os animais foram

eutanasiados e o sangue e o músculo foram retirados para análise. A. Níveis plasmáticos de CK. Não

houve diferença significante entre o controle e a Sv-CRISP-Bj. As colunas representam a média ± DP

(n=5). B. Análise histológica dos músuculos em aumento de 20X. Painéis histológicos A e C: cortes

longitudinais de músculos tratados com salina e Sv-CRISP-Bj, respectivamente. Painéis histológicos B

e D: cortes transversais dos mesmos tratamentos. Em comparação ao controle, a Sv-CRISP-Bj não

causou mionecrose mas estimulou o acúmulo de células inflamatórias (flechas). Coloração: HE. Barra de

escala: 30 m. Painel histológico E: Mionecrose provocada por 40 µg de peçonha de B. jararaca. Setas

mostram infiltrado inflamatório, H, hemorragia e M, mionecrose. Fonte: (67).

A

B

M

E

M

M

H

54

A Tabela 5 compara os resultados obtidos neste estudo com os dados

fornecidos em outros trabalhos que descrevem a caracterização de Sv-CRISP-Bj. Vale

ressaltar que os dados relativos a massa molecular das várias Sv-CRISPs aqui

compilados foram obtidos a partir de diversos métodos. Para ablomina, triflina,

helocopsina, ophanina, catrina e para a Sv-CRISP-Bj, a estimativa foi feita a partir de

ensaio de eletroforese em SDS-PAGE, enquanto para a Bj-CRP e patagonina, houve a

confirmação das respectivas massas a partir de dados de espectrometria de massas.

Os rendimentos apresentados aqui foram estimados baseados na quantidade usada na

primeira etapa cromatográfica de cada método de separação. Contudo, em alguns

trabalhos não há menção à quantidade de proteína pura obtida, e.g., helicopsina. Esta

tabela mostra claramente que há considerável variação nas atividades biológicas

avaliadas para Sv-CRISPs, o que dificulta generalizações sobre estas proteínas. Das

atividades investigadas, a única que consistentemente é negativa nas Sv-CRISPs é a

hemorragia; as outras atividades tem sido investigadas em número muito reduzido de

espécies para permitir conclusões definitivas.

55

Tabela 5. Comparação das atividades encontradas em Sv-CRISP-Bj com outras Sv-CRISPs.

*Não determinado. #Artigo não traz informação.

Espécie Proteína Fibrinólise Fibrinogenólise Hemorragia Edema Mionecrose Rendimento

(%)

Massa

(kDa)

Referência

B. jararaca Sv-CRISP-Bj Não Sim

(cadeias e ) Não Sim Não 0,25 29,8 Esse estudo

B. jararaca Bj-CRP Não Não Não * * 0,1 24,6 (63)

H. angulatus Helicopsina * * Não * * # 20,0 (15)

G. blomhoffi

brevicaudus Ablomina * * * * * 0,70 26,0 (61)

P. flavoviridis Triflina * * * * * * 30,0 (61)

C. atrox Catrina * * * * * * 24,1 (85)

P. patagoniensis Patagonina * * Não Não Sim * 27,4 (64)

O. hannah Ophanina * * * * * * 28,6 (85)

56

5. DISCUSSÃO

5.1. CARACTERÍSTICAS BIOQUÍMICAS E ESTRUTURAIS DA SV-CRISP-BJ

Os resultados do presente estudo mostram que purificamos uma Sv-CRISP

da peçonha de B. jararaca em apenas duas cromatográficas, diferentemente ao

processo de três etapas descrito por Ludovicho et al. (63). Esta proteína de massa

molecular de ~29 kDa é monomérica, conforme mostrada por SDS-PAGE em condições

redutoras. O aumento na massa molecular da proteína na presença de DTT ou -

mercaptoetanol provavelmente seja reflexo da abertura da cadeia polipeptídica

subsequente à ruptura das ligações dissulfetos, levando à uma conformação mais

aberta e filamentosa (menos compacta e globular), dificultando assim sua migração em

SDS-PAGE e dando a impressão de uma massa molecular maior. Em relação à massa

molecular, embora seja de 29 kDa, a mais alta entre as Sv-CRISPs, ainda é bastante

semelhante aos achados de outros estudos, conforme indicado na Tabela 5.

Adicionalmente, em relação a outra Sv-CRISP isolada de B. jararaca (Bj-CRP), temos

uma discrepância entre as massas observadas 29,8 kDa (Sv-CRISP-Bj) vs. 24 kDa

(aproximadamente para BJ-CRP) em SDS-PAGE. Essa discrepância pode ser devida à

existência de glicosilações na Sv-CRISP-Bj. Embora não existam estudos em Sv-

CRISPs que apoiem esta afirmação, a SGP-28, uma CRISP-3 encontrada em

leucócitos humanos, possui uma massa de 28 kDa que, após tratamento da proteína

com deglicosilases, sofre uma redução de 3 kDa, (34,35). Em relação ao aumento de

massa apresentado pela Sv-CRISP-Bj em presença de agentes redutores, resultados

similares foram encontrados para a SGP-28 (13) e Bj-CRP (63).

Embora não haja trabalhos mostrando a imurreatividade de Sv-CRISPs em

imunoblot, Calvete et al. (54) e Gay et al. (88) mostraram que os antissoros botrópicos

fornecidos pelo Instituto Butantan e pelo Instituto Vital Brazil formam imunocomplexos

com Sv-CRISPs de B. atrox e B. diporus, respectivamente. Outros estudos de

antivenômica mostram que Sv-CRISPs de elapídeos podem ser reconhecidos pelos

antivenenos específicos para as serpentes de origem (89). Apesar destes estudos

mostrando a imunorreatividade de Sv-CRISPs com antivenenos, ainda será necessário

mostrar a inibição das atividades biológicas destas proteínas pelos antivenenos.

57

Como mencionado acima, o rendimento de Sv-CRISP-Bj após a purificação

foi de 0,25%, valor semelhante àquele relatado para outras Sv-CRISPs (Tabela 5). É

importante notar a diferença de rendimento entre nosso trabalho e o de Ludovicho et al

(63). Nesse último, houve o rendimento de 0,1% no processo de isolamento de Bj-CRP,

sendo que essa diferença pode ser devida à etapa adicional usado por estes autores.

De qualquer forma, em ambos os estudos o rendimento está abaixo da abundância de

Sv-CRISPs verificada por análises proteômicas e transcriptomas, sugerindo

discrepância entre a expressão gênica e a abundância protéica; pode também refletir

uma perda de material durante a purificação. Cidade et al. (50) mostraram que os

transcritos para Sv-CRISP correspondiam a 1,6% do total de transcritos de toxinas em

transcriptoma de B. jararaca. Posteriormente, Zelanis et al. (52) mostraram diferenças

no conteúdo de Sv-CRISPs nos transcriptomas de indivíduos juvenis (2,7%) e adultos

(1,5%) de B. jararaca. Estudos proteômicos com outras espécies botrópicas (52,54) e

com Crotalus durissus ssp. (90) mostraram números similares a esses.

A digestão enzimática com tripsina e endopetidades SV8 resultou em

fragmentos que, quando analisados por espectrometria de massas, permitiram a

identificação da proteína como uma Sv-CRISP baseado em buscas em banco de dados

e alinhamento de sequências. Considerando que as CRISPs possuem um tamanho

médio de 220 aminoácidos (1,61) (Fig. 6), sequenciamos ~33% da proteína (72

aminoácidos). Os fragmentos identificados mostraram homologia e alta identidade com

outras Sv-CRISPs, inclusive com fragmentos de Sv-CRISP identificados em estudo

proteômico de B. jararaca. Ludovicho et al. (63) sequenciaram 100 aminoácidos da Bj-

CRP. Diferenças no tempo de incubação com as enzimas de digestão podem ter

afetado o rendimento de fragmento para o sequenciamento. Em nosso trabalho,

utilizamos um tempo de digestão de 16 h enquanto Ludovicho et al. (63) utilizaram um

tempo de 24 h, o que pode ter resultado em maior digestão das amostras. O

alinhamento das sequências da Sv-CRISP-Bj e da Bj-CRP (Fig. 6) revelou altíssima

homologia entre as duas proteínas, sugerindo que são a mesma proteína.

Segundo Guo et al. (56) e Wang et al. (57), as Sv-CRISPs possuem algumas

características estruturais bem conservadas. Em todas elas, o N-terminal tem início em

um resíduo aparagina ou serina (ambos aminoácidos neutros). O domínio PR-1 se

58

estende desse aminoácido até o aminoácido 160 que, na maioria das sequencias

estudadas, é ocupada por uma prolina. As sequencias obtidas em nossa análise

cobrem 45% do domínio PR-1. Esse domínio é o mais bem conservado da superfamília

CAP (56), o que também explicaria a identidade de parte da sequência da Sv-CRISP-Bj

com a sequência de uma CRISP-3 de mamífero (Sorex araneus) (Tabela 3).

Adicionalmente, as Sv-CRISPs são formadas por nove -hélices e dez -

folhas (57). As porções sequenciadas da Sv-CRISP-Bj cobrem totalmente a 1 (Arg10 –

Val29) e parcialmente 1 (Asp30 – Lis37), 2 (Arg51 – Glu58), 4 (Trp86 – Lis98) e 8 (Tir141

– Arg154). Dentro dessa estrutura, há alguns sítios bem conservados e que

possivelmente mantém a integridade da proteína. O loop iniciado na Pro31 e que se

estende ao AA38 (esse variando entre lisina, arginina ou glutamina) forma um vale para

a interação com a porção Hinge. Além disso, a Trp98 é importante para a manutenção

da estrutura da molécula por interações não-covalentes envolvendo a sua cadeia lateral

(56). Identificamos também três das 16 cisteínas conservadas nessas proteínas

(Cis56,145,148). Em modelo computacional proposto por Guo et al. (56), utilizando a

stericrisp como modelo, esses resíduos de cisteína formam três pontes dissulfeto que

teriam como papel a estabilização da estrutura em “sanduíche” (como mencionado na

seção 1.1.2 da Introdução). Nesse modelo, a Cis56 liga-se por ponte dissulfeto a Cis134,

Cis145 liga-se à Cis129 e a Cis148 formaria a ponte com a Cis73. O rompimento deste alto

conteúdo de pontes dissulfeto explica o comportamento eletroforético da Sv-CRISP-Bj

(aumento aparente na massa molecular) em presença dos agentes redutores DTT e -

mercaptoetanol.

5.2. ATIVIDADES ENZIMÁTICAS DA SV-CRISP-BJ

Poucos estudos têm investigado a possível atividade enzimática das Sv-

CRISPs, mas aqueles que avaliaram este aspecto mostram que essas toxinas não

possuem atividade catalítica. Guo et al. (56) estudaram a atividade catalítica da

stericrisp, incubando substratos peptídicos sintéticos com 5 µg de toxina purificada em

diversas condições de pH e não observaram nenhum indício de atividade sobre esses

substratos. Peichoto et al. (64) testaram a capacidade da patagonina de degradar

fibrina, fibrinogênio ou azocaseína e em nenhum dos casos a toxina (20 µg) foi capaz

59

de degradar os substratos. Estrella et al. (15) não observaram atividade gelatinase com

a helicopsina. Por outro lado, Ludovicho et al. (63) mostraram que a Bj-CRP (2 µg),

quando co-incubada com fatores do sistema complemento por 1 h a 37 ºC, foi capaz de

degradar os fatores C3 e C4. Conforme mostrado aqui, a Sv-CRISP-Bj não possui

atividade proteolítica sobre caseína, ao contrário da peçonha. Este achado está de

acordo com o fato de que, em peçonhas botrópicas, a atividade caseinolítica é

geralmente associada às SVMPs. Para avaliar a possível atividade esterásica

utilizamos dois substratos sintéticos para serinoproteases: (i) N-p-tosil-L-arginina metil

ester (TAME) e (ii) N-benzoil-L-arginina p-nitroanilida (BAPNA). Enquanto substrato (i)

é clivado em uma ligação éster, o substrato (ii) libera uma molécula de p-nitroanilina,

quando clivado em ligação amida. A Sv-CRISP-Bj foi incapaz de degradar qualquer um

dos dois substratos, indicando ausência de atividade esterásica.

As elastases são uma classe de serinoproteases encontradas em neutrófilos

e pâncreas de mamíferos (91,92) e apresentam certa especificidade para a proteína

elastina presente em no tecido conjuntivo associado a artérias elásticas e que

desempenha papel importante na integridade da parede arterial (93). A elastina pode

ser degradada por leucócitos no processo de remodelamento do tecido conectivo

(92,94). Sendo as peçonhas botrópicas fontes de enzimas que podem romper a

integridade de vasos sanguíneos (95-97), testou-se a atividade da Sv-CRISP-Bj sobre

dois substratos para elastases: o sintético n-t-boc-L-alanina p-nitrofenil e o substrato

nativo elastina-vermelho de Congo. A Sv-CRISP-Bj mostrou atividade moderada sobre

elastina-vermelho de Congo, contudo baixa atividade em n-t-boc-L-alanina p-nitrofenil,

quando comparado à peçonha. Segundo Bieth et al. (93), o substrato n-t-boc-L-alanine

p-nitrofenil pode ser atacado também por tripsina e quimotripsina, o que pode explicar

parte da atividade da peçonha sobre estes substratos. Isso sugere que as proteases da

peçonha clivam a elastina em sítios diferentes das elastases. A Sv-CRISP-Bj mostrou

um perfil semelhante ao da peçonha, porém com atividade mais baixa.

5.3. ATIVIDADES BIOLÓGICAS DA SV-CRISP-BJ

Peçonhas botrópicas são fontes ricas de proteases que podem interferir nas

proteases da cascata de coagulação, levando à ativação ou degradação das mesmas

60

(74). O fibrinogênio, um dos alvos destas proteases de peçonhas, é composta de

cadeias , e , sendo que as cadeias e devem ser clivadas em ponto específico

de suas sequências pela trombina, liberando os fibrinopeptideos A e B (98). Esse ponto

de clivagem está localizado no N-terminal de cada uma das cadeias entre um resíduo

de arginina e outro de glicina (99). A clivagem das cadeias e do fibrinogênio leva à

formação de uma rede de fibrina que, em vasos sanguíneos lesionados, impede o

extravasamento de sangue. Conforme mostrado aqui, a Sv-CRISP-Bj degradou as

cadeias e , com preferência pela , sem, porém, levar à formação de um coágulo ou

de coagular plasma citratado (ao contrário da trombina); também não mostrou atividade

fibrinolítica. A inibição da atividade fibrinogenolítica por 1,10-fenantrolina e EDTA, mas

não por PMSF, indicou que se tratava de uma atividade dependente de cátions

bivalentes como Zn2+ e Ca2+. Wang et al. (60) mostraram por experimentos de SPR

(surface plasmon ressonance) que a propriedade da natrina de ligar-se a fatores da

matriz extracelular (principalmente heparina) é dependente de íons Zn2+. Além disso, os

autores observaram que quando em presença de Zn2+, há um aumento (dependente da

concentração) na expressão de ICAM, VCAM e E-selectina induzida por natrina.

Por outro lado, o sítio catalítico da Sv-CRISP-Bj parece não possuir uma serina ativa,

uma vez que o PMSF, um inibidor não reversível de SVSPs por ligar-se à serina do sítio

catalítico dessas enzimas, não afetou a ação da proteína. Esta insensibilidade à

inibição por PMSF é coerente com a ausência de atividade sobre TAME e BAPNA; a

atividade da Sv-CRISP-Bj sobre nt-Boc-L-Ala-pNA foi bem baixa em relação à peçonha

(7,1±0,9 U/mg vs. 131,5±27,7 U/mg para a peçonha).

O perfil de degradação de fibrinogênio foi semelhante àquele encontrado em

metaloproteases da classe P-I tais como a BJPI-2 de B. jararaca (67), atroxlisina-I de B.

atrox (100) e a BthMP de B. moojeni (101). Esta semelhança na atividade

fibrinogenolítica entre Sv-CRISP-Bj e SVMPs da classe P-I inicialmente levantou

suspeito de contaminação da Sv-CRISP-Bj por BJPI-2, já que as duas proteínas eluem

muito próximas uma da outra na segunda etapa cromatográfica. Porém, o fato da Sv-

CRISP-Bj mostrar apenas uma banda em SDS-PAGE e no imunoblot, um pico no RP-

HPLC, e não ter revelado nenhum fragmento semelhante a SVMPs na análise por

61

espectrometria de massas indicam que não houve contaminação desta proteína com a

BJPI-2.

A coagulopatia é a manifestação mais comum do envenenamento botrópico

e é frequentemente acompanhada por trombocitopenia (102). A interferência na

agregação plaquetária é um fator importante na hemorragia ocasionada por SVMPs

(103,104). De fato, várias proteínas capazes de interferir na agregação plaquetária já

foram identificadas em peçonhas botrópicas (104,105). Embora boa parte da

interferência na agregação plaquetária por peçonhas botrópicas tenha sido atribuída à

atuação de SVMPs, SVSPs e PLA2, outros componentes menos abundantes, e.g., L-

aminoácido oxidases, lectinas do tipo C, etc., também podem contribuir para este

fenômeno (105-107). Conforme mostrado aqui, a Sv-CRISP-Bj foi capaz de agregar

plaquetas lavadas in vitro, porém sem diferença significativa entre as duas quantidades

testadas (10 e 40 µg). O mecanismo envolvido nesta agregação ainda é desconhecido.

A hemorragia é uma manifestação local importante no envenenamento

botrópico e é mediada principalmente por SVMPs (95,97,108) que podem representar

até 50% da composição de algumas peçonhas (55). Outros componentes destas

peçonhas, como L-aminoácido oxidases (106) também podem contribuir para o

desencadeamento de hemorragia. Em vista disso, investigamos a atividade

hemorrágica da Sv-CRISP-Bj e observamos que ela não causa hemorragia, mesmo

quando testada em uma dose bastante acima da dose hemorrágica mínima da

peçonha. Peichoto et al. (64) e Ludovicho et al. (63) demonstraram que a patagonina e

a Bj-CRP, respectivamente, também não apresentam atividade hemorrágica.

O edema, resultante de aumento na permeabilidade vascular, e a inflamação

também são efeitos locais característicos do envenenamento botrópico (108,109). Estas

respostas são mediadas em grande parte por PLA2 destas peçonhas (110,111), mas

também pode haver o envolvimento de SVMPs (111,112). As PLA2 podem levar à

formação de mediadores inflamatórios lipídicos a partir da liberação de ácido

araquidônico de fosfolipídios da membrana celular. Já as SVMPs podem contribuir para

este quadro liberando citocinas pró-inflamatórias e fatores do sistema complemento

(112,114). Além destes grupos principais, outras toxinas menos abundantes nestas

peçonhas, tais como lectinas com afinidade para carboidratos (106,115) e L-aminoácido

62

oxidases (116) podem contribuir para o edema e a inflamação causados por estas

peçonhas. Conforme mostrado aqui, a Sv-CRISP-Bj pode ser mais um componente da

peçonha de B. jararaca a contribuir para o edema já que ela aumentou a

permeabilidade vascular em pele dorsal de ratos. Entretanto, os mecanismos

envolvidos nesta resposta ainda precisam ser esclarecidos. Peichoto et al. (64)

observaram que a injeção de patagonina em músculo gastrocnêmio de camundongo

causou afastamento das fibras musculares, sugerindo a ocorrência de edema tecidual.

Semelhantemente, Ludovicho et al. (63) demonstraram que a Bj-CRP (10 µg) estimulou

a migração leucocitária 4 h após a injeção em peritônio de camundongo. Esses

achados indicam que as Sv-CRISPs podem contribuir para o quadro de inflamação

local característico do envenenamento botrópico.

5.4. COMPARAÇÃO ENTRE A SV-CRISP-BJ E A BJ-CRP

Durante a realização deste trabalho, foi descrita a purificação e

caracterização de uma Sv-CRISP de B. jararaca por outro grupo de pesquisadores (63).

A comparação das propriedades bioquímicas e atividades biológicas das moléculas

descritas nestes dois estudos indica que se trata da mesma proteína. Contudo, algumas

diferenças estruturais e de atividades foram encontradas. Ludovicho et al. (63)

estimaram , por SDS-PAGE, a massa molecular em 24 kDa, aproximadamente, sendo

esse resultado corroborado por dados de espectrometria de massas feito no mesmo

estudo (24,6kDa). Por outro lado, a massa molecular da Sv-CRISP-Bj foi estimada em

29,3 kDa após SDS-PAGE. Essa discrepância entre as massas seria explicada pela

existência, na Sv-CRISP-Bj, de resíduos glicosilados, semelhante àquilo que foi

observado para a SGP-28, uma CRISP-3 de leucócitos humanos (13,34,63). Porém, até

o momento, nenhuma Sv-CRISP apresentou glicosilações.

Em relação aos achados enzimáticos para as duas proteínas, nenhuma

delas apresentou atividade sobre caseína ou fibrina. Contudo, houve divergência na

atividade sobre fibrinogênio, sendo que a Sv-CRISP-Bj, na dose de 40 µg, foi capaz de

degradar as cadeias em 10 min enquanto os primeiros sinais de degradação da

cadeia ocorrem somente aos 30 min. Em contrapartida, Ludovicho et al. (63)

relataram que na dose de 5 µg, a Bj-CRP não mostrou qualquer degradação apreciável

63

de cadeia ou após 1 h de incubação. Além disso, no nosso protocolo, utilizamos

uma solução de fibrinogênio mais concentrada que os outros autores (5 mg/ml vs. 2

mg/ml). A Sv-CRISP-Bj não mostrou atividade esterásica sobre TAME e BAPNA

(substratos para SVSPs) e teve baixa atividade sobre Boc-Ala-Np para elastases. Estas

atividades não foram avaliadas para Bj-CRP, mas essa proteína foi ativa sobre o

sistema complemento (zimografia), degradando (ativando) alguns componentes do

mesmo.

Em relação às atividades biológicas, nenhuma das duas proteínas

apresentou atividade coagulante ou hemorrágica. Por outro lado, a Sv-CRISP-Bj

causou agregação plaquetária, atividade esta que não foi investigada por Ludovicho et

al. (63). As duas proteínas foram capazes de desencadear um processo inflamatório

local. Em nosso trabalho, a Sv-CRISP-Bj (40 µg), quando injetada em dorso de rato,

causou edema moderado quando comparada com a peçonha. Além disso, a Sv-CRISP-

Bj pode levar ao acúmulo de infiltrado inflamatório 6 h após injeção em músculo

gastrocnêmio de camundongo (dados não mostrados). Por outro lado, Ludovicho et al.

(63) mostraram que a Bj-CRP (5 µg) estimulou a migração de células

polimorfonucleares ao peritônio de camundongo 4 h após injeção, acompanhado por

aumento da citocina IL-6.

Ludovicho et al. (63) investigaram a capacidade da Bj-CRP de modular

canais de K+ dependentes de voltagem em oócitos de Xenopus laevis transfectados. A

toxina (1 µM) não foi capaz de alterar o fluxo de K+ em ensaio de voltage-clamp. De

modo semelhante, em experimentos não relatados aqui, observamos que a Sv-CRISP-

Bj (1 µM) na causou alteração marcante na contratilidade (sensibilidade) de artérias

mesentéricas isoladas de camundongos frente à hiperpolarização com 60 mM de K+.

64

6. CONCLUSÃO

Os resultados deste trabalho incidam que isolamos uma Sv-CRISP-Bj (~30

kDa) da peçonha de B. jararaca. Esta proteína degrada fibrinogênio sem, porém,

coagular fibrinogênio ou plasma citratado; não possui atividade fibrinolítica. Além disso,

não apresenta atividade anticoagulante in vitro. A Sv-CRISP-Bj agregou plaquetas in

vitro, aumentou a permeabilidade vascular e estimulou a migração de células

inflamatórias, porém, sem causar hemorragia ou mionecrose. Estas atividades sugerem

que a Sv-CRISP-Bj é mais um componente da peçonha de B. jararaca que pode

contribuir para o processo inflamatório (aumento de permeabilidade vascular e

migração de células inflamatórias) associado ao envenenamento, porém sem contribuir

para a hemorragia e mionecrose.

65

7. REFERÊNCIAS

1. Gibbs GM, Roelants K, O'Bryan MK (2008). The CAP superfamily: cysteine-rich

secretory proteins, antigen 5, and pathogenesis-related 1 proteins – roles in

reproduction, cancer, and immune defense. Endocrine Rev. 29(7):865-97.

2. Koppers AJ, Reddy T, O'Bryan MK (2011). The role of cysteine-rich secretory

proteins in male fertility. Asian J Androl. 13(1):111-7.

3. Garberi JC, Kohane AC, Cameo MS, Blaquier JA (1978). Isolation and

characterization of specific rat epididymal proteins. Mol Cell Endocrinol. 13(1):73-

82.

4. Mans BJ, Andersen JF, Francischetti IM, Valenzuela JG, Schwan TG, Pham VM,

Garfield MK, Hammer CH, Ribeiro JM (2008). Comparative sialomics between

hard and soft ticks: implications for the evolution of blood-feeding behavior. Insect

Biochem Mol Biol. 38(1):42-58.

5. Charlab R, Valenzuela JG, Rowton ED, Ribeiro JM (1999). Toward an

understanding of the biochemical and pharmacological complexity of the saliva of a

hematophagous sand fly Lutzomyia longipalpis. Proc Natl Acad Sci USA.

96(26):15155-60.

6. Brunner-Agten S, Pavlovic R, Müller L, Horn MP, Huber AR, Stadler BM, Vogel M

(2011). Increased level of antibodies cross-reacting with Ves v 5 and CRISP-2 in

MAR-positive patients. Int Arch Allergy Immunol. 160(1):47-55.

7. Darwiche R, Mène-Saffrané L, Gfeller D, Asojo OA, Schneiter R (2016). The

pathogen-related yeast protein Pry1, a member of the CAP protein superfamily, is

a fatty acid-binding protein. J Biol Chem. 292(20):8304-14.

8. van Loon LC, Rep M, Pieterse CM (2006). Significance of inducible defense-

related proteins in infected plants. Annu Rev Phytopathol. 44:135-62.

9. Maeda T, Sakashita M, Ohba Y, Nakanishi Y (1998). Molecular cloning of the rat

Tpx-1 responsible for the interaction between spermatogenic and Sertoli cells.

Biochem Biophys Res Commun. 248(1):140-6.

66

10. Gibbs GM, Bianco DM, Jamsai D, Herlihy A, Ristevski S, Aitken RJ, Kretser DM,

O'Bryan MK (2007). Cysteine-rich secretory protein 2 binds to mitogen-activated

protein kinase kinase kinase 11 in mouse sperm. Biol Reprod. 77(1):108-14.

11. Bjartell A, Johansson R, Björk T, Gadaleanu V, Lundwall A, Lilja H, Kjeldsen L,

Udby L (2006). Immunohistochemical detection of cysteine-rich secretory protein 3

in tissue and in serum from men with cancer or benign enlargement of the prostate

gland. Prostate. 66(6):591-603.

12. Krätzschmar J, Haendler B, Eberspaecher U, Roosterman D, Donner P,

Schleuning WD (1996). The human cysteine-rich secretory protein (CRISP) family.

Primary structure and tissue distribution of CRISP-1, CRISP-2 and CRISP-3. Eur J

Biochem. 236(3):827-36.

13. Udby L, Cowland JB, Johnsen AH, Sørensen OE, Borregaard N, Kjeldsen L

(2002). An ELISA for SGP28/CRISP-3, a cysteine-rich secretory protein in human

neutrophils, plasma, and exocrine secretions. J Immunol Methods 263(1-2):43-55.

14. Milne TJ, Abbenante G, Tyndall JD, Halliday J, Lewis RJ (2003). Isolation and

characterization of a cone snail protease with homology to CRISP proteins of the

pathogenesis-related protein superfamily. J Biol Chem. 278(33):31105-10.

15. Estrella A, Sánchez EE, Galán JA, Tao WA, Guerrero B, Navarrete LF, Rodríguez-

Acosta A (2010). Characterization of toxins from the broad-banded water snake

Helicops angulatus (Linnaeus, 1758): isolation of a cysteine-rich secretory protein,

helicopsin. Arch Toxicol. 85(4):305-13.

16. Charest NJ, Joseph DR, Wilson EM, French FS (1988). Molecular cloning of

complementary deoxyribonucleic acid for an androgen-regulated epididymal

protein: sequence homology with metalloproteins. Mol Endocrinol. 2(10):999-1004.

17. Szyperski T, Fernández C, Mumenthaler C, Wüthrich K (1998). Structure

comparison of human glioma pathogenesis-related protein GliPR and the plant

pathogenesis-related protein P14a indicates a functional link between the human

immune system and a plant defense system. Proc Natl Acad Sci USA. 95(5):2262-

6.

67

18. Serrano RL, Kuhn A, Hendricks A, Helms JB, Sinning I, Groves MR (2004).

Structural analysis of the human Golgi-associated plant pathogenesis related

protein GAPR-1 implicates dimerization as a regulatory mechanism. J Mol Biol.

339(1):173-83.

19. Cameo MS, Blaquier JA (1976). Androgen-controlled specific proteins in rat

epididymis. J Endocrinol. 69(1):47-55.

20. Kasahara M, Figueroa F, Klein J (1987). Random cloning of genes from mouse

chromosome 17. Proc Natl Acad Sci USA. 84(10):3325-8.

21. Kasahara M, Gutknecht J, Brew K, Spurr N, Goodfellow PN (1989). Cloning and

mapping of a testis-specific gene with sequence similarity to a sperm-coating

glycoprotein gene. Genomics. 5(3):527-34.

22. Busso D, Cohen DJ, Hayashi M, Kasahara M, Cuasnicú PS (2005). Human

testicular protein TPX1/CRISP-2: localization in spermatozoa, fate after

capacitation and relevance for gamete interaction. Mol Hum Reprod. 11(4):299-

305.

23. Da Ros VG, Muñoz MW, Battistone MA, Brukman NG, Carvajal G, Curci L,

Gómez-ElIas MD, Cohen DB, Cuasnicú PS (2015). From the epididymis to the

egg: participation of CRISP proteins in mammalian fertilization. Asian J Androl.

17(5):711-5.

24. Udby L, Bjartell A, Malm J, Egesten A, Lundwall A, Cowland JB, Borregaard N,

Kjeldsen L (2005). Characterization and localization of cysteine-rich secretory

protein 3 (CRISP-3) in the human male reproductive tract. J Androl. 26(3):333-42.

25. Horne AW, Duncan WC, King AE, Burgess S, Lourenço PC, Cornes P, Ghazal P,

Williams AR, Udby L, Critchley HO (2009). Endometrial cysteine-rich secretory

protein 3 is inhibited by human chorionic gonadotrophin, and is increased in the

decidua of tubal ectopic pregnancy. Mol Hum Reprod. 15(5):287-94.

26. Fedorka CE, Scoggin KE, Woodward EM, Squires EL, Ball BA, Troedsson M

(2016). The effect of select seminal plasma proteins on endometrial mRNA

cytokine expression in mares susceptible to persistent mating-induced

endometritis. Reprod Domest Anim. 52(1):89-96.

68

27. Burnett LA, Anderson DM, Rawls A, Bieber AL, Chandler DE (2011). Mouse sperm

exhibit chemotaxis to allurin, a truncated member of the cysteine-rich secretory

protein family. Dev Biol. 360(2):318-28.

28. Jalkanen J, Huhtaniemi I, Poutanen M (2005). Mouse cysteine-rich secretory

protein 4 (CRISP4): a member of the Crisp family exclusively expressed in the

epididymis in an androgen-dependent manner. Biol Reprod. 72(5):1268-74.

29. Jamsai D, Bianco DM, Smith SJ, Merriner DJ, Ly-Huynh JD, Herlihy A, Niranjan B,

Gibbs GM, O'Bryan MK (2008). Characterization of gametogenetin 1 (GGN1) and

its potential role in male fertility through the interaction with the ion channel

regulator, cysteine-rich secretory protein 2 (CRISP2) in the sperm tail.

Reproduction 135(6):751-9.

30. Burnett LA, Washburn CA, Sugiyama H, Xiang X, Olson JH, Al-Anzi B, Bieber AL,

Chandler DE (2012). Allurin, an amphibian sperm chemoattractant having

implications for mammalian sperm physiology. Int Rev Cell Mol Biol. 295:1-61.

31. Evans J, D'Sylva R, Volpert M, Jamsai D, Merriner DJ, Nie G, Salamonsen LA,

O'Bryan MK (2015). Endometrial CRISP3 is regulated throughout the mouse

estrous and human menstrual cycle and facilitates adhesion and proliferation of

endometrial epithelial cells. Biol Reprod. 92(4):99.

32. Marcondes FK, Bianchi FJ, Tanno AP (2002). Determination of the estrous cycle

phases of rats: some helpful considerations. Braz J Biol. 62(4A):609-14.

33. Gibbs GM, Scanlon MJ, Swarbrick J, Curtis S, Gallant E, Dulhunty AF, O'Bryan MK

(2006). The cysteine-rich secretory protein domain of Tpx-1 is related to ion

channel toxins and regulates ryanodine receptor Ca2+ signaling. J Biol Chem.

281(7):4156-63.

34. Kjeldsen L, Cowland JB, Johnsen AH, Borregaard N (1996). SGP28, a novel

matrix glycoprotein in specific granules of human neutrophils with similarity to a

human testis-specific gene product and a rodent sperm-coating glycoprotein. FEBS

Lett. 380(3):246-50.

69

35. Pfisterer P, König H, Hess J, Lipowsky G, Haendler B, Schleuning WD, Wirth T

(1996). CRISP-3, a protein with homology to plant defense proteins, is expressed

in mouse B cells under the control of Oct2. Mol Cell Biol. 16(11):6160-8.

36. Chang TY, Mao SH, Guo YW (1997). Cloning and expression of a cysteine-rich

venom protein from Trimeresurus mucrosquamatus (Taiwan habu). Toxicon

35(6):879-88.

37. Jin Y, Lu Q, Zhou X, Zhu S, Li R, Wang W, Xiong Y (2003). Purification and cloning

of cysteine-rich proteins from Trimeresurus jerdonii and Naja atra venoms. Toxicon

42(5):539-47.

38. Osipov AV, Levashov MY, Tsetlin VI, Utkin YN (2005). Cobra venom contains a

pool of cysteine-rich secretory proteins. Biochem Biophys Res Commun.

328(1):177-82.

39. Lecht S, Chiaverelli RA, Gerstenhaber J, Calvete JJ, Lazarovici P, Casewell NR,

Harrison R, Lelkes PI, Marcinkiewicz C (2015). Anti-angiogenic activities of snake

venom CRISP isolated from Echis carinatus sochureki. Biochim Biophys Acta.

1850(6):1169-79.

40. Cidade DA, Simão TA, Dávila AM, Wagner G, Junqueira-de-Azevedo IL, Ho PL,

Bon C, Zingali RB, Albano RM (2006). Bothrops jararaca venom gland

transcriptome: analysis of the gene expression pattern. Toxicon 48(4):437-61.

41. Cardoso KC, Da Silva MJ, Costa GG, Torres TT, Del Bem LE, Vidal RO, Menossi

M, Hyslop S (2010). A transcriptomic analysis of gene expression in the venom

gland of the snake Bothrops alternatus (urutu). BMC Genomics 11:605-27.

42. Zelanis A, Andrade-Silva D, Rocha MM, Furtado MF, Serrano SM, Junqueira-de-

Azevedo IL, Ho PL (2012). A transcriptomic view of the proteome variability of

newborn and adult Bothrops jararaca snake venoms. PLoS Negl Trop Dis.

6(3):e1554.

43. Ching AT, Paes Leme AF, Zelanis A, Rocha MM, Furtado MF, Silva DA, Trugilho

MR, da Rocha SL, Perales J, Ho PL, Serrano SM, Junqueira-de-Azevedo IL

(2012). Venomics profiling of Thamnodynastes strigatus unveils matrix

70

metalloproteinases and other novel proteins recruited to the toxin arsenal of rear-

fanged snakes. J Proteome Res. 11(2):1152-62.

44. Peichoto ME, Tavares FL, Santoro ML, Mackessy SP (2012). Venom proteomes of

South and North American opisthoglyphous (Colubridae and Dipsadidae) snake

species: a preliminary approach to understanding their biological roles. Comp

Biochem Physiol Part D Genomics Proteomics 7(4):361-9.

45. Rey-Suárez P, Núñez V, Fernández J, Lomonte B (2016). Integrative

characterization of the venom of the coral snake Micrurus dumerilii (Elapidae) from

Colombia: proteome, toxicity, and cross-neutralization by antivenom. J Proteomics

136:262-73.

46. Sanz L, Pla D, Pérez A, Rodríguez Y, Zavaleta A, Salas M, Lomonte B, Calvete JJ

(2016). Venomic analysis of the poorly studied desert coral snake, Micrurus

tschudii tschudii, supports the 3FTx/PLA₂ dichotomy across Micrurus venoms.

Toxins (Basel) 8(6):E178.

47. Huang HW, Liu BS, Chien KY, Chiang LC, Huang SY, Sung WC, Wu WG (2015).

Cobra venom proteome and glycome determined from individual snakes of Naja

atra reveal medically important dynamic range and systematic geographic

variation. J Proteomics 128(14):92-104.

48. Pla D, Bande BW, Welton RE, Paiva OK, Sanz L, Segura Á, Wright CE, Calvete

JJ, Gutiérrez JM, Williams DJ (2017). Proteomics and antivenomics of Papuan

black snake (Pseudechis papuanus) venom with analysis of its toxicological profile

and the preclinical efficacy of Australian antivenoms. J Proteomics 150(6):201-215.

49. Tan CH, Tan KY, Fung SY, Tan NH (2015). Venom-gland transcriptome and

venom proteome of the Malaysian king cobra (Ophiophagus hannah). BMC

Genomics 16:687-98.

50. Choudhury M, McCleary RJR, Kesherwani M, Kini RM, Velmurugan D (2017).

Comparison of proteomic profiles of the venoms of two of the 'Big Four' snakes of

India, the Indian cobra (Naja naja) and the common krait (Bungarus caeruleus),

and analyses of their toxins. Toxicon 135(1): 33-42.

71

51. Boldrini-França J, Corrêa-Netto C, Silva MM, Rodrigues RS, De La Torre P, Pérez

A, Soares AM, Zingali RB, Nogueira RA, Rodrigues VM, Sanz L, Calvete JJ

(2010). Snake venomics and antivenomics of Crotalus durissus subspecies from

Brazil: assessment of geographic variation and its implication on snakebite

management. J Proteomics 73(9):1758-76.

52. Alape-Girón A, Sanz L, Escolano J, Flores-Díaz M, Madrigal M, Sasa M, Calvete

JJ (2008). Snake venomics of the lancehead pitviper Bothrops asper: geographic,

individual, and ontogenetic variations. J Proteome Res. 7(8):3556-71.

53. Calvete JJ, Borges A, Segura A, Flores-Díaz M, Alape-Girón A, Gutiérrez JM, Diez

N, De Sousa L, Kiriakos D, Sánchez E, Faks JG, Escolano J, Sanz L (2009).

Snake venomics and antivenomics of Bothrops colombiensis, a medically

important pitviper of the Bothrops atrox-asper complex endemic to Venezuela:

contributing to its taxonomy and snakebite management. J Proteomics 72(2):227-

40.

54. Calvete JJ, Sanz L, Pérez A, Borges A, Vargas AM, Lomonte B, Angulo Y,

Gutiérrez JM, Chalkidis HM, Mourão RH, Furtado MF, Moura-da-Silva AM (2011).

Snake population venomics and antivenomics of Bothrops atrox: paedomorphism

along its transamazonian dispersal and implications of geographic venom

variability on snakebite management. J Proteomics 74(4):510-27.

55. Zelanis A, Tashima AK, Pinto AF, Paes Leme AF, Stuginski DR, Furtado MF,

Sherman NE, Ho PL, Fox JW, Serrano SM (2011). Bothrops jararaca venom

proteome rearrangement upon neonate to adult transition. Proteomics

11(21):4218-28.

56. Guo M, Teng M, Niu L, Liu Q, Huang Q, Hao Q (2005). Crystal structure of the

cysteine-rich secretory protein stericrisp reveals that the cysteine-rich domain has

a K+ channel inhibitor-like fold. J Biol Chem. 280(13):12405-12.

57. Wang F, Li H, Liu MN, Song H, Han HM, Wang QL, Yin CC, Zhou YC, Qi Z, Shu

YY, Lin ZJ, Jiang T (2006). Structural and functional analysis of natrin, a venom

protein that targets various ion channels. Biochem Biophys Res Commun.

351(2):443-8.

72

58. Mochca-Morales J, Martin BM, Possani LD (1990). Isolation and characterization of

helothermine, a novel toxin from Heloderma horridum horridum (Mexican beaded

lizard) venom. Toxicon 28(3):299-309.

59. Morrissette J, Krätzschmar J, Haendler B, el-Hayek R, Mochca-Morales J, Martin

BM, Patel JR, Moss RL, Schleuning WD, Coronado R (1995). Primary structure

and properties of helothermine, a peptide toxin that blocks ryanodine receptors.

Biophys J. 68(6):2280-8.

60. Wang YL, Kuo JH, Lee SC, Liu JS, Hsieh YC, Shih YT, Chen CJ, Chiu JJ, Wu WG

(2010). Cobra CRISP functions as an inflammatory modulator via a novel Zn2+- and

heparan sulfate-dependent transcriptional regulation of endothelial cell adhesion

molecules. J Biol Chem. 85(48):37872-83.

61. Yamazaki Y, Koike H, Sugiyama Y, Motoyoshi K, Wada T, Hishinuma S, Mita M,

Morita T (2002). Cloning and characterization of novel snake venom proteins that

block smooth muscle contraction. Eur J Biochem. 269(11):2708-15.

62. Brown RL, Lynch LL, Haley TL, Arsanjani R (2003). Pseudechetoxin binds to the

pore turret of cyclic nucleotide-gated ion channels. J Gen Physiol. 122(6):749-60.

63. Lodovicho ME, Costa TR, Bernardes CP, Menaldo DL, Zoccal KF, Carone SE,

Rosa JC, Pucca MB, Cerni FA, Arantes EC, Tytgat J, Faccioli LH, Pereira-Crott LS,

Sampaio SV (2017). Investigating possible biological targets of Bj-CRP, the first

cysteine-rich secretory protein (CRISP) isolated from Bothrops jararaca snake

venom. Toxicol Lett. 265(4):156-169.

64. Peichoto ME, Mackessy SP, Teibler P, Tavares FL, Burckhardt PL, Breno MC,

Acosta O, Santoro ML (2009). Purification and characterization of a cysteine-rich

secretory protein from Philodryas patagoniensis snake venom. Comp Biochem

Physiol C Toxicol Pharmacol. 150(1):79-84.

65. Adade CM, Carvalho AL, Tomaz MA, Costa TF, Godinho JL, Melo PA, Lima AP,

Rodrigues JC, Zingali RB, Souto-Padrón T (2014). Crovirin, a snake venom

cysteine-rich secretory protein (CRISP) with promising activity against

trypanosomes and Leishmania. PLoS Negl Trop Dis. 8(10):e3252.

73

66. Bjartell A, Johansson R, Björk T, Gadaleanu V, Lundwall A, Lilja H, Kjeldsen L,

Udby L (2006). Immunohistochemical detection of cysteine-rich secretory protein 3

in tissue and in serum from men with cancer or benign enlargement of the prostate

gland. Prostate 66(6):591-603.

67. da Silva IR, Lorenzetti R, Rennó AL, Baldissera L Jr, Zelanis A, Serrano SM,

Hyslop S (2012). BJ-PI2, a non-hemorrhagic metalloproteinase from Bothrops

jararaca snake venom. Biochim Biophys Acta. 1820(11):1809-21.

68. Laemmli UK (1970). Cleavage of structural proteins during the assembly of the

head of bacteriophage T4. Nature 227(5259):680-5.

69. Lowry OH, Rosebrough NJ, Farr AL, Randall RJ (1951). Protein measurement with

the Folin phenol reagent. J Biol Chem. 193(1):265-75.

70. Towbin H, Staehelin T, Gordon J (1979). Electrophoretic transfer of proteins from

polyacrylamide gels to nitrocellulose sheets: procedure and some applications.

Proc Natl Acad Sci USA. 76(9):4350-4.

71. Valério AA, Corradini AC, Panunto, PC, Mello, SM, Hyslop S (2002). Purification

and characterization of a phosphodiesterase from Bothrops alternatus snake

venom. J Protein Chem. 21(8):495-503.

72. Damico DC, Vassequi-Silva T, Torres-Huaco FD, Nery-Diez AC, de Souza RC, Da

Silva SL, Vicente CP, Mendes CB, Antunes E, Werneck CC, Marangoni S (2012).

LmrTX, a basic PLA₂ (D49) purified from Lachesis muta rhombeata snake venom

with enzymatic-related antithrombotic and anticoagulant activity. Toxicon

60(5):773-81.

73. Kunitz M (1946). Crystalline soybean trypsin inhibitor. J Gen Physiol. 29:149-54.

74. Maruyama M, Sugiki M, Yoshida E, Mihara H, Nakajima N (1992). Purification and

characterization of two fibrinolytic enzymes from Bothrops jararaca (jararaca)

venom. Toxicon 30(8):853-64.

75. Naughton MA, Sanger F (1961). Purification and specificity of pancreatic elastase.

Biochem J. 78(1):156-63.

76. Visser L, Blout ER. The use of p-nitrophenyl N-tert-butyloxycarbonyl-L-alaninate as

substrate for elastase. Biochim Biophys Acta 268(1):257-60.

74

77. Schwert GW, Takenaka YA (1955). A spectrophotometric determination of trypsin

and chymotrypsin. Biochim Biophys Acta 16(4):570-5.

78. Erlanger BF, Kokowsky N, Cohen W (1961). The preparation and properties of two

new chromogenic substrates of trypsin. Arch Biochem Biophys. 95(1):271-8.

79. Torres-Huaco FD, Werneck CC, Vicente CP, Vassequi-Silva T, Nery-Diez AC,

Mendes CB, Antunes E, Marangoni S, Damico DC (2013). Rapid purification and

procoagulant and platelet aggregating activities of rhombeobin: a thrombin-

like/gyroxin-like enzyme from Lachesis muta rhombeata snake venom. Biomed

Res Int. 2013:903292.

80. Berger M, Pinto AF, Guimarães JA (2008). Purification and functional

characterization of bothrojaractivase, a prothrombin-activating metalloproteinase

isolated from Bothrops jararaca snake venom. Toxicon 51(4):488-501.

81. Born GV (1965). Platelets in thrombogenesis: mechanism and inhibition of platelet

aggregation. Nature 205:678-80.

82. Theakston RD, Reid HA (1983). Development of simple standard assay

procedures for the characterization of snake venom. Bull World Health Organ.

61(6):949-56.

83. Brain SD, Williams TJ (1985). Inflammatory oedema induced by synergism

between calcitonin gene-related peptide (CGRP) and mediators of increased

vascular permeability. Br J Pharmacol. 86(4):855-60.

84. National Center for Biotechnology Information (NCBI/NML). GenBank acesso em

28/09/2017. Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov.

85. Yamazaki Y, Hyodo F, Morita T (2003). Wide distribution of cysteine-rich secretory

proteins in snake venoms: isolation and cloning of novel snake venom cysteine-

rich secretory proteins. Arch Biochem Biophys. 412(1):133-41.

86. Matsunaga Y, Yamazaki Y, Hyodo F, Sugiyama Y, Nozaki M, Morita T (2009).

Structural divergence of cysteine-rich secretory proteins in snake venoms. J

Biochem. 145(3):365-75.

75

87. Yamazaki Y, Brown RL, Morita T (2002). Purification and cloning of toxins from

elapid venoms that target cyclic nucleotide-gated ion channels. Biochemistry

41(38):11331-7.

88. Gay C, Sanz L, Calvete JJ, Pla D (2016). Snake venomics and antivenomics of

Bothrops diporus, a medically important pitviper in northeastern Argentina. Toxins

(Basel). 8(1):E9.

89. Xu N, Zhao HY, Yin Y, Shen SS, Shan LL, Chen CX, Zhang YX, Gao JF, Ji X

(2017). Combined venomics, antivenomics and venom gland transcriptome

analysis of the monocoled cobra (Naja kaouthia) from China. J Proteomics.

159(21):19-31.

90. Calvete JJ, Sanz L, Cid P, de la Torre P, Flores-Díaz M, Dos Santos MC, Borges

A, Bremo A, Angulo Y, Lomonte B, Alape-Girón A, Gutiérrez JM (2010). Snake

venomics of the Central American rattlesnake Crotalus simus and the South

American Crotalus durissus complex points to neurotoxicity as an adaptive

paedomorphic trend along Crotalus dispersal in South America. J Proteome Res.

9(1):528-44.

91. Berlov MN, Lodygin PA, Andreeva YV, Kokryakov VN (2001). Isolation and some

physical and chemical properties of elastase and cathepsin G from dog

neutrophils. Biochemistry. 66(9):1008-13.

92. Kristensen JH, Karsdal MA, Sand JM, Willumsen N, Diefenbach C, Svensson B,

Hägglund P, Oersnes-Leeming DJ (2015). Serological assessment of neutrophil

elastase activity on elastin during lung ECM remodeling. BMC Pulm Med. 15:53.

93. Bieth J, Spiess B, Wermuth CG (1974). The synthesis and analytical use of a

highly sensitive and convenient substrate of elastase. Biochem Med. 11(4):350-7.

94. Masood A, Yi M, Belcastro R, Li J, Lopez L, Kantores C, Jankov RP, Tanswell AK

(2015). Neutrophil elastase-induced elastin degradation mediates macrophage

influx and lung injury in 60% O2-exposed neonatal rats. Am J Physiol Lung Cell Mol

Physiol. 309(1):L53-62.

95. Gutiérrez JM, Rucavado A (2000). Snake venom metalloproteinases: their role in

the pathogenesis of local tissue damage. Biochimie 82(9-10):841-50.

76

96. Escalante T, Shannon J, Moura-da-Silva AM, Gutiérrez JM, Fox JW (2006). Novel

insights into capillary vessel basement membrane damage by snake venom

hemorrhagic metalloproteinases: a biochemical and immunohistochemical study.

Arch Biochem Biophys. 455(2):144-53.

97. Escalante T, Ortiz N, Rucavado A, Sanchez EF, Richardson M, Fox JW, Gutiérrez

JM (2011). Role of collagens and perlecan in microvascular stability: exploring the

mechanism of capillary vessel damage by snake venom metalloproteinases. PLoS

One 6(12):e28017.

98. Henschen A, Lottspeich F, Kehl M, Southan C (1983). Covalent structure of

fibrinogen. Ann N Y Acad Sci. 408:28-43.

99. Blombäck B, Blombäck M (1972). The molecular structure of fibrinogen. Ann N Y

Acad Sci. 202:77-97.

100. Sanchez EF, Schneider FS, Yarleque A, Borges MH, Richardson M, Figueiredo

SG, Evangelista KS, Eble JA (2010). The novel metalloproteinase atroxlysin-I from

Peruvian Bothrops atrox (Jergón) snake venom acts both on blood vessel ECM

and platelets. Arch Biochem Biophys. 496(1):9-20.

101. Gomes MS, Mendes MM, de Oliveira F, de Andrade RM, Bernardes CP,

Hamaguchi A, de Alcântara TM, Soares AM, Rodrigues VM, Homsi-Brandeburgo

MI (2009). BthMP: a new weakly hemorrhagic metalloproteinase from Bothrops

moojeni snake venom. Toxicon 53(1):24-32.

102. Kamiguti AS, Cardoso JL, Theakston RD, Sano-Martins IS, Hutton RA, Rugman

FP, Warrell DA, Hay CR (1991). Coagulopathy and haemorrhage in human victims

of Bothrops jararaca envenoming in Brazil. Toxicon 29(8):961-72.

103. Gutiérrez JM, Rucavado A, Escalante T, Díaz C (2005). Hemorrhage induced by

snake venom metalloproteinases: biochemical and biophysical mechanisms

involved in microvessel damage. Toxicon 45(8):997-1011.

104. Serrano SM, Wang D, Shannon JD, Pinto AF, Polanowska-Grabowska RK, Fox

JW (2007). Interaction of the cysteine-rich domain of snake venom

metalloproteinases with the A1 domain of von Willebrand factor promotes site-

77

specific proteolysis of von Willebrand factor and inhibition of von Willebrand factor-

mediated platelet aggregation. FEBS J. 274(14):3611-21.

105. Santoro ML, Vaquero TS, Paes Leme AF, Serrano SM (2009). NPP-BJ, a

nucleotide pyrophosphatase/phosphodiesterase from Bothrops jararaca snake

venom, inhibits platelet aggregation. Toxicon 54(4):499-512.

106. Panunto PC, da Silva MA, Linardi A, Buzin MP, Melo SE, Mello SM, Prado-

Franceschi J, Hyslop S (2006). Biological activities of a lectin from Bothrops

jararacussu snake venom. Toxicon 47(1):21-31.

107. Takatsuka H, Sakurai Y, Yoshioka A, Kokubo T, Usami Y, Suzuki M, Matsui T,

Titani K, Yagi H, Matsumoto M, Fujimura Y (2001). Molecular characterization of L-

amino acid oxidase from Agkistrodon halys blomhoffii with special reference to

platelet aggregation. Biochim Biophys Acta 1544(1-2):267-77.

108. Escalante T, Rucavado A, Fox JW, Gutiérrez JM (2011). Key events in

microvascular damage induced by snake venom hemorrhagic metalloproteinases.

J Proteomics. 74(9):1781-94.

109. Warrell DA (2004). Snakebites in Central and South America: epidemiology,

clinical features and clinical management. In: Campbell JA, Lamar WW (eds.),

Venomous Reptiles of the Western Hemisphere, vol. 2. Comstock Publishing

Associates/Cornell University Press, Ithaca; pp. 709-761.

110. França FOS, Málaque CMS (2009). Acidente botrópico. In: Cardoso JLC, França

FOS, Wen FH, Málaque CMS, Haddad Jr., V (eds.), Animais Peçonhentos no

Brasil: Biologia, Clínica e Terapêutica dos Acidentes. Sarvier/FAPESP, São Paulo;

pp. 81-95.

111. Teixeira CF, Landucci EC, Antunes E, Chacur M, Cury Y (2003). Inflammatory

effects of snake venom myotoxic phospholipases A2. Toxicon 42(8):947-62.

112. Teixeira C, Cury Y, Moreira V, Picolo G, Chaves F (2009). Inflammation induced by

Bothrops asper venom. Toxicon 54(7):67-76.

113. Moura-da-Silva AM, Laing GD, Paine MJ, Dennison JM, Politi V, Crampton JM,

Theakston RD (1996). Processing of pro-tumor necrosis factor-alpha by venom

78

metalloproteinases: a hypothesis explaining local tissue damage following snake

bite. Eur J Immunol. 26(9):2000-5.

114. Pidde-Queiroz G, Magnoli FC, Portaro FC, Serrano SM, Lopes AS, Paes Leme AF,

van den Berg CW, Tambourgi DV (2013). P-I snake venom metalloproteinase is

able to activate the complement system by direct cleavage of central components

of the cascade. PLoS Negl Trop Dis. 7(10):e2519.

115. Sartim MA, Riul TB, Del Cistia-Andrade C, Stowell SR, Arthur CM, Sorgi CA,

Faccioli LH, Cummings RD, Dias-Baruffi M, Sampaio SV (2014). Galatrox is a C-

type lectin in Bothrops atrox snake venom that selectively binds LacNAc-

terminated glycans and can induce acute inflammation. Glycobiology 24(11):1010-

21.

116. Wei JF, Yang HW, Wei XL, Qiao LY, Wang WY, He SH (2009). Purification,

characterization and biological activities of the L-amino acid oxidase from

Bungarus fasciatus snake venom. Toxicon 54(3):262-71.

79

ANEXOS