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A conjuntura econômica nacional atual mostra um quadro nada animador e o desempenho extremamente desfavorável de variáveis estruturais como o investimento sugere que não há luz no fundo do túnel. Apenas as atividades vinculadas à agricultura e à produção de semi-elaborados para exportação vão bem e continuam empregando e isso se deve não ao mercado internacional favorável mas basicamente à desvalorização significativa da taxa de câmbio brasileira.
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Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 1 -
APRESENTAÇÃO
A conjuntura econômica nacional
atual mostra um quadro nada
animador e o desempenho
extremamente desfavorável de
variáveis estruturais como o
investimento sugere que não há
luz no fundo do túnel. Apenas as
atividades vinculadas à
agricultura e à produção de
semi-elaborados para exportação
vão bem e continuam
empregando e isso se deve não
ao mercado internacional
favorável mas basicamente à
desvalorização significativa da
taxa de câmbio brasileira. O
quadro de instabilidade
generalizada que impacta na
economia tem os seus
fundamentos não estritamente
na esfera política como muitos
advogam e sim, em boa medida,
na dimensão política que a
própria economia apresenta. A
rejeição pelos atores de peso no
país da política econômica e da
estratégia desenvolvimentista do
governo Dilma bem como o
fracasso do governo do PT no
sentido de estimular o
investimento privado e o
crescimento do PIB, sem
promover mudanças estruturais
de peso, evidenciam exatamente
onde está o seu cerne.
O contínuo martelar pela mídia,
desde o ano passado, das
denúncias de corrupção na
Petrobras, no BNDES ou onde
quer que seja conveniente
buscar, ofusca para a população
o que de fato interessa saber.
Para além do discurso anti-
corrupção, que rodas mais
fechadas de políticos e de
empresários reconhecem ser
endêmica no país, os de cima
entendem que é necessário
sacrificar o que seja para
retomar os trilhos da confiança e
da tranqüilidade que os tempos
de maior coerência com a
cartilha neoliberal traziam para
os mesmos. O fracasso do PT em
encontrar uma terceira via, que
trouxesse alguns ganhos para os
de baixo e mantivesse certa
concordância com a política
econômica do tripé
macroeconômico - especialmente
a capacidade do governo em
absorver em seu orçamento as
despesas financeiras -, bem
como um compromisso parcial
com algumas reformas liberais,
torna-se evidente para quem
busca enxergar além da poeira
que se levantou.
A despeito de não haver
qualquer indício de um golpe civil
militar em curso o ambiente
assemelha-se ao período que
antecedeu março de 1964. E
mantido ou não o governo Dilma
no poder a reversão da política
econômica fracassada, a
retomada da agenda de reformas
da oposição, com o basta que
vem sendo dado a algumas
conquistas que os de baixo
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 2 -
alcançaram até então, denota
que um golpe branco já se deu.
Por outro lado, independente do
sucesso da oposição em derrubar
o governo Dilma, a armadilha de
endividamento criada pela
estratégia desenvolvimentista do
governo assemelha-se a uma
teia que o aprisiona em sua
própria criação e o obriga a
executar o oposto do que
desejava. Além de se dever a
tentativa de sobreviver no poder,
esta capitulação se deve ao fato
de que foi o próprio governo
quem criou as condições de seu
inferno astral. A conta
econômica do fracasso lhe
aparece com despesas
financeiras que já atingem quase
10% do PIB e tornam pífios os
seus esforços para gerar
qualquer superávit primário bem
como fazer qualquer coisa que
seja no plano orçamentário.
Aprisionado no campo dos gastos
financeiros ele precisa cortar
outros gastos, onde quer que
possa, para absorver essa
despesa que o engole com mais
endividamento posto ver esvair
as suas receitas dada a pesada
retração da economia. Sendo
impossível o superávit primário,
face a queda radical da receita e
com as despesas financeiras em
rota explosiva, o déficit nominal
se acumula e realimenta a dívida
mobiliária levando o governo ao
mesmo imobilismo que acomete
uma presa que cai numa teia de
aranha. A diferença é que esta
teia foi por ele mesmo tecida.
Associado a esse inferno fiscal a
inflação praticamente chega à
casa de dois dígitos no
acumulado do ano, a taxa de
desemprego bate recordes,
puxada pelo crescimento da
desocupação na construção civil,
na indústria e no comércio.
Nesse quadro desfavorável, a
intensificação da pressão para a
elevação da taxa de juros básica,
que o governo já considerava em
patamar suficiente, torna-se
inevitável tendo em vista o
recrudescimento inflacionário.
Diante desse ambiente de difícil
solução, com ou sem golpe de
fato, o brasileiro vai se virando
como pode, buscando trabalhar
por conta própria, grupo que já
soma 22 milhões de pessoas no
país, bem como aceitando
propostas precarizadoras de
redução de jornada de trabalho e
de salários, como ocorreu na
indústria. Muitos pequenos e
médios negócios cerraram as
portas, o faturamento das
grandes empresas mostra
queda, a despeito das de maior
peso fecharem o ano ainda com
bons lucros, ajustados apenas a
um patamar de menores custos.
O investimento direto no país,
realizado por estrangeiros,
também retraiu-se
significativamente com relação
ao ano passado e as contas
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 3 -
externas só se beneficiam de um
saldo comercial que ocorre
predominantemente tendo em
vista a retração das importações
explicada pela recessão interna e
pela desvalorização cambial.
Numa economia de mercado em
crise, seja a crise fruto do ciclo
de negócios, seja ela produzida
pelo governo ou pelo
comportamento dos de cima, a
corda sempre arrebenta para os
de baixo.
Boa leitura!
1. POLÍTICA ECONÔMICA
DESAJUSTE FISCAL E
RECESSÃO: O QUE ESPERAR
DA ORTODOXIA?
A economia brasileira deve
fechar o ano de 2015 registrando
um recuo do PIB na casa de 3%
a 3,5% do PIB, o maior desde
1990, quando Fernando Collor de
Mello assumiu o governo com a
promessa de arrumar a casa e
liquidar a inflação com a
realização de um ajuste fiscal
que pretendia ficar inscrito na
história como o maior de todos
os tempos. Não conseguiu nem
uma coisa, nem outra, e
recolocou a economia na
trajetória da hiperinflação
acompanhada do estigma do
baixo crescimento, o qual, até os
dias atuais, não foi revertido.
Após as trapalhadas da política
econômica no período de 2011-
2014, que enfraqueceram as
bases do tripé macroeconômico
ortodoxo – câmbio
flutuante/metas
inflacionárias/superávit primário
-, sem se ter conseguido sucesso
com a equivocada proposta de
conciliá-lo com uma “Nova Matriz
Econômica” como estratégia de
desenvolvimento, o governo,
diante da deterioração das
variáveis centrais da economia –
inflação, déficit externo, contas
públicas etc. - causada por essa
política, terminou rendendo-se
novamente à ortodoxia para
implementar, como na época de
Collor, um ajuste muito
semelhante, visando a resgatar a
confiança do mercado.
Nele, a recessão é vista como
pré-condição para recompor as
bases do tripé, sanear
financeiramente o Estado,
libertando-o do fardo dos gastos
com as políticas sociais, com os
investimentos públicos e com as
farras das desonerações
tributárias destinadas a fomentar
o consumo e o investimento
privado, para, só então, o país
ter condições de abrir as portas
para o sol do crescimento.
Não estranha, assim, pela
natureza do ajuste que vem
sendo realizado pela política
econômica, e que deve continuar
nos próximos anos, que o
crescimento econômico esteja
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 2 -
sendo jogado ladeira abaixo e
que este só poderá voltar à
cena, nessa perspectiva, uma
vez aquele concluído. Mas isso
não ocorrerá em pouco tempo e
o país pode se preparar para
tempos também tão difíceis
como o deste ano.
A principal razão dessa
dificuldade reside no fato de que
a natureza do ajuste exigido pela
ortodoxia não se faz sem
subtrair forças dos próprios
fatores que são responsáveis por
impulsionar o crescimento,
embora existam outras
alternativas que poderiam ter
sido buscadas, mas que o
governo, talvez por que
enfraquecido também
politicamente, simplesmente
descartou. Isso, por algumas
razões.
Em primeiro lugar, por ser um de
seus objetivos a reversão dos
ganhos salariais que foram
obtidos acima do aumento da
produtividade, não como
resultado apenas do crescimento
econômico, segundo os
argumentos que se utiliza para
justificá-lo, mas principalmente
devido às políticas de reajustes
generosos aprovadas pelo
governo, as quais,
complementadas por políticas
redistributivas, aumentaram
excessivamente o consumo, sem
a correspondente ampliação da
oferta. Tal situação acabou
desencadeando pressões
inflacionárias e aumentando as
importações, com impactos
negativos também sobre o déficit
externo, vigas mestras do
modelo ortodoxo, tornando
necessária, assim, sua reversão.
A correção deste desequilíbrio,
que demanda a realização de um
ajuste cíclico, exige, assim, a
desmontagem deste quadro,
retirando dos trabalhadores
estes ganhos indevidos, para o
que a recessão desempenha
papel essencial, à medida que ao
desaquecer o mercado de
trabalho, aumenta o desemprego
e reduz os salários, ao mesmo
tempo em que inibe novos
reajustes acima do aumento da
produtividade. Na mesma
direção, a desvalorização
cambial, apesar dos impactos
inflacionários que ocasiona,
contribui para melhorar a relação
câmbio/salário, tornando a
produção nacional mais
competitiva, mesmo que
reduzindo a força da demanda
interna.
Em segundo, porque seu
objetivo é também o de
recuperar o Estado como fiador
da estabilização macroeconômica
e, com isso, resgatar o seu papel
como gerador de superávits
primários, o que teria deixado de
acontecer em 2014 e também
em 2015, visando a garantir o
pagamento dos credores de sua
dívida e acalmar o mercado
diante da desconfiança que este
passou a ter sobre a capacidade
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 3 -
do governo de honrar seus
compromissos financeiros.
Isso significa retirar tanto o
quanto possível, até mesmo por
meio de reformas
constitucionais, compromissos
do Estado com gastos de
natureza não financeira, caso
dos que este realiza com as
políticas sociais e os
investimentos, de forma a tornar
possível acomodar, no
orçamento, os ganhos da riqueza
financeira.
Ora, tal providência, que tem
sido proposta na forma de
abandono – ou pelo menos de
redução – do sistema de
vinculações constitucionais da
receita para as áreas sociais, da
reforma da previdência para
aumentar o tempo da
aposentadoria, ou mesmo de
priorização do investimento
privado em infraestrutura,
enfraquece também a ação do
Estado na promoção do
crescimento, por meio do gasto
público, em consumo,
investimentos ou na
implementação de políticas
redistributivas, que têm o
condão de fortalecer a demanda
agregada.
A retomada do crescimento
econômico passa a depender,
assim, quase que
exclusivamente do investimento
privado, num contexto em que
as forças da demanda por
consumo se encontram
enfraquecidas – consumo das
famílias e do governo – e, mais
grave, numa situação em que o
Estado estará com os caminhos
bloqueados para remover os
gargalos estruturais da economia
– de infraestrutura econômica e
social, de logística etc. -, e em
que a economia internacional
continua sem emitir sinais de
recuperação confiável, com a
ameaça da deflação na Europa, a
desaceleração progressiva da
China e o vai-e-vem da
economia dos Estados Unidos.
Não é possível, neste cenário,
enxergar qualquer fator de
incentivo ao investimento
produtivo privado capaz de
inspirar-lhe confiança para
aventurar-se na vida econômica,
a não ser a crença da ortodoxia
de que apenas o saneamento
financeiro do Estado seja capaz
de despertar-lhe o espírito
animal keynesiano, quando se
sabe que os seus determinantes
não se resumem a essa
condição.
Isso até pode valer
especificamente para o capital
financeiro que apenas quer ter a
garantia de que receberá seus
ganhos pelos empréstimos feitos
ao Estado, o que não é o caso do
capital produtivo, que precisa
contar, para realizar
investimentos, com políticas
macroeconômicas consistentes,
de impostos, câmbio e juros,
com infraestrutura adequada e
boa qualificação de mão de obra
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 4 -
para não ver ampliados seus
custos de produção,
comprometendo sua
competitividade. O que o ajuste
em curso não contempla.
Ao fazer a opção por privilegiar o
ajuste de cunho ortodoxo,
destituído de uma agenda para o
crescimento, que exigiria o
encaminhamento de reformas
estruturais, indicando a porta de
saída para a crise, e enfraquecer
a ação do Estado como promotor
de um novo projeto de
desenvolvimento, visando a
garantir a drenagem de recursos
do orçamento para os seus
credores e preservar de seu ônus
os setores mais poderosos
economicamente e a riqueza
financeira, o governo
praticamente sepultou as
chances que, já não tão grandes
no contexto atual, ainda
existiam, de retomada do
crescimento, e condenou a
economia ao purgatório da
recessão e da estagnação.
Tal como implementado,
preocupado apenas em produzir
a recessão em busca destes
resultados, o ajuste fiscal das
contas primárias realizado em
2015 terminou minando, ainda
mais, até mesmo as vigas
mestras do tripé
macroeconômico que, em tese,
se pretendia recompor,
prejudicando, inclusive, as
próprias contas públicas e
prenunciando que novos ajustes
dessa natureza, se necessários,
continuarão a ser realizados.
Isso, mesmo que se produza a
situação conhecida como a de
“paz dos cemitérios”, em que se
não há inflação, não há também
vida econômica e social pulsante,
desde que seu principal objetivo
seja alcançado, que é o da
preservação da riqueza
financeira.
A queda de mais de 3% do PIB
neste ano, com o nível do
desemprego caminhando para a
casa dos 10% parece, nessa
situação, apenas estar indicando
que tempos ainda mais difíceis
aguardam pelo país com a
política econômica implementada
e com a disposição do governo,
pelo menos até o momento, de a
ela dar continuidade nos
próximos anos.
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 43 -
2. INFLAÇÃO
IPCA e INPC
A inflação é um processo de alta
generalizada e continua dos
preços, que sempre foi motivo
de constante vigilância e de
debates na política econômica do
Brasil. Dentre os indicadores
mais importantes na mensuração
da inflação ganha destaque o
Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA),
medido pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística
(IBGE), que considera as famílias
com rendimentos mensais de até
quarenta salários mínimos e é a
principal referência para a
política monetária baseada em
metas1 de inflação fixada pelo
governo.
O IPCA acumulado no primeiro
semestre do ano de 2015 foi de
6,17% valor superior aos 3,75%
do mesmo período de 2014. O
IPCA acumulado nos 12 meses
anteriores a agosto de 2015 foi
de 9,53%, valor também acima
do acumulado no mesmo período
de 2014 (6,51%), e acima do
teto da meta de 6,50%. Em
outubro o acumulado no ano do
IPCA estava em 8,52%,
enquanto a variação em 12
meses foi de 9,93%, maior valor
1 O Banco Central definiu como meta de inflação para 2014 a taxa de 4,5% ao ano, podendo variar em 2,0 pontos percentuais para mais ou para menos.
observado desde 2003
(11,02%).
Como observado no Gráfico 2.1
as movimentações do IPCA de
2015, convergem com as do ano
de 2014 no mês de agosto e
setembro voltando a descolar
novamente no mês de outubro
apresentando variação de 0,82%
no mês contra os 0,42% em
outubro de 2014. O destaque
em outubro foi para o grupo de
Transportes (1,72%) como pode
ser visto na Tabela 2.1. Segundo
a publicação do IBGE, esse
aumento foi puxado pelos
reajustes nos preços dos
combustíveis nesse mês. O
consumidor pagou em média
5,05% a mais pelo litro de
gasolina, sendo a maior variação
em São Paulo (6,12%) e a
menor em Vitória (1,72%),
reflexo nas bombas do aumento
de 6,00% autorizado nas
refinarias desde 30 de setembro.
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 43 -
Gráfico 2.1 Variações mensais do IPCA para 2014 e 2015
Fonte: Formulação própria com dados fornecidos pelo IBGE, Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor.
No acumulado do ano o IPCA
apresentou variação geral de
8,52%, sendo observado valor
inferior de 7,5% para Vitória. Os
fatores que impactaram no
índice foram o fim do
represamento de preços da
energia elétrica e dos
combustíveis, que eram vigentes
até o final do ano passado. A
partir de 2015 houve reajustes
nestes preços (a contribuição
cobrada sobre os combustíveis
começou a ser reajustada com o
decreto presidencial 8.395 já no
início do ano).
Tabela 2.1 Variações mensais por grupos (%) – IPCA
Fonte: Formulação própria com dados fornecidos pelo IBGE
0.55
0.69
0.92
0.670.46 0.4
0…0.57 0.42
1.24 1.22 1.32
0.71 0.74
0.79
0.620.22
0.54 0.82
jan fev mar abr mai jun jul ago set out
2014 2015
Grupos Jan fev mar abr mai jun jul ago set out Acum
2015
Alimentação 1,48 0,81 1,17 0,97 1,37 0,63 0,65 -0,01 0,24 0,77 8,37
Habitação 2,42 1,22 5,29 0,93 1,22 0,86 1,52 0,29 1,3 0,75 16,87
Residência -0,28 0,87 0,35 0,66 0,36 0,72 0,86 0,37 0,19 0,39 4,58
Vestuário -0,69 -0,6 0,59 0,91 0,61 0,58 -0,31
0,2 0,5 0,67 2,47
Transportes 1,83 2,2 0,46 0,11 -0,29 0,7 0,15 -0,27 0,71 1,72 7,53
Saúde 0,32 0,6 0,69 1,32 1,1 0,91 0,84 0,62 0,55 0,55 7,75
Despesas pessoais
1,68 0,86 0,36 0,51 0,74 1,63 0,61
0,75 0,33 0,57 8,33
Educação 0,31 5,88 0,75 0,21 0,06 0,2 0 0,82 0,25 0,1 8,77
Comunicação 0,15 -0,02 -1,16 0,3 0,17 0,34 0,3 0,14 0,01 0,39 0,61
Índice Geral 1,48 0,81 1,17 0,97 1,37 0,63 0,65 -0,01 0,24 0,77 8,52
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 43 -
A Tabela 2.1 apresenta a
variação mensal do IPCA por
grupos de gastos com consumo
familiar, bem como o acumulado
no ano de 2015 até outubro. O
destaque foi para o grupo de
Habitação com variação
acumulada de 16,7%, seguido
por Educação de 8,8% e
Alimentação e bebidas de 8,4%.
Em Habitação o destaque é do
item energia elétrica residencial
em que houve aumento
acumulado no ano neste grupo
geral de 49,03%, e em Vitória de
37,67%. Em seguida, destaca-se
o grupo de Combustíveis os
aumentos sofridos nos preços do
gás de botijão, respectivamente,
de 21,40% e 20,72%, no geral e
na capital capixaba.
Em relação ao grupo Educação a
maior variação geral ocorreu no
item cursos diversos (10,32%)
com destaque para o curso de
idioma (13,82%). Nos cursos
formais apesar da menor
variação acumulada (9,17%)
vale ressaltar o expressivo
aumento nos preços das creches
(15,77%). Já na capital
capixaba, a maior variação
acumulada no ano até outubro
de 2015 foi observada nos
cursos regulares (10,11%), valor
puxado pelos aumentos nos
valores do ensino médio
(13,51%) e do ensino infantil
(13,42%).
Com relação ao grupo de
Alimentação e bebidas, as
maiores variações ocorreram na
alimentação fora do domicílio
com valores acumulados no ano
de 8,90% no geral e de 9,51%
em Vitória.
Outro indicador utilizado na
mensuração da inflação é o
Índice Nacional de Preços ao
Consumidor (INPC), que difere
do IPCA apenas no que diz
respeito à abrangência, uma vez
que considera as famílias com
rendas mensais de até cinco
salários mínimos.
A inflação para o INPC perdeu
força no último mês do primeiro
semestre sendo que o mesmo
movimento pode ser observado
nos dois meses seguintes. O
acumulado no ano em outubro
fechou em 9,07% bem acima da
taxa de 5,02% relativa ao
mesmo período em 2014. O
acumulado dos 12 meses
anteriores a outubro foi de
10,33%. Estes valores foram
menores para Vitória de 7,89% e
8,53% respectivamente.
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 44 -
Gráfico 2.2 Variações mensais do INPC para 2014 e 2015
Fonte: Formulação própria com dados fornecidos pelo IBGE
Pode-se observar no Gráfico 2.1
do INPC que, tal como no caso
do IPCA, houve um aumento nos
preços dos produtos para o
consumidor de até cinco salários
mínimos, e as movimentações do
primeiro semestre também
seguiram em 2015 o padrão do
ano anterior com exceção do
mês de abril.
Esta baixa no INPC de 0,19 p. p
de junho para julho tem como
responsável a queda na variação
mensal de preços no grupo de
alimentos e bebidas que fez com
que houvesse uma redução dos
preços de produtos requisitados
pelo o alvo da pesquisa do INPC,
ou seja, as famílias do grupo de
menores rendas.
IGP-DI e IGP-M
O Índice Geral de Preços (IGP) é
outro indicador de preços
importante para acompanhar a
dinâmica inflacionária da
economia brasileira. Calculado
pelo Instituto Brasileiro de
Economia (IBRE), da Fundação
Getúlio Vargas (FGV), devido à
sua composição2, permite a
análise da inflação em diferentes
etapas do processo produtivo,
apurando as variações de preços
no atacado e no varejo.
O IGP se subdivide em índices
que se diferenciam quanto à
periodicidade de coleta dos
dados. Enquanto o IGP-DI
(Disponibilidade Interna) é
medido do primeiro ao último dia
de cada mês, o IGP-M (Mercado)
é apurado do dia 20 de um mês
até o dia 21
2 O IGP é uma média aritmética
ponderada dos índices: Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), Índice de Preços ao Consumidor (IPC), e Índice Nacional de Custo da Construção (INCC); aplicados os pesos de 60%, 30% e 10% respectivamente.
0.63 0.640.82 0.78
0.6
0.26
0.13
0.18
0.490.38
1.48
1.16
1.51
0.71 0.990.77
0.58
0.25
0.51
0.77
jan fev mar abr mai jun jul ago set out
2014
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 43 -
do próximo mês. Os índices são
utilizados para correção de
valores contratuais: o IGP-DI é o
indexador da dívida dos estados
com a União e o IGP-M contratos
como os de fornecimento de
energia elétrica.
A variação do IGP-DI acumulado
no primeiro semestre do ano foi
de 4,48%, percentual superior
ao acumulado no mesmo período
de 2014 (2,10%). Analisando
separadamente os componentes
do índice, o IPA variou 3,65%
(em face ao acumulado de
0,84% no primeiro semestre de
2014); o IPC variou 6,42% (ante
um aumento de 4,19%
comparado ao mesmo período do
ano anterior); e o INCC variou
5,19% (próximo aos 5,18% em
2014). Em outubro o IDP-DI já
acumulava uma alta de 8,91%
no ano e 10,58% em 12 meses.
As elevações dos componentes
IPA e IPC foram reflexos da
combinação dos efeitos do fim da
política de controle de preços
(energia e derivados energéticos
de petróleo, por exemplo), do
período prolongado de estiagem,
da elevação de tributos e da alta
do dólar, tudo isso em um
ambiente de enfraquecimento da
atividade econômica.
No Gráfico 2.3 é possível
observar a variação mensal do
IGP-DI de janeiro de 2015 a
outubro de 2015, bem como as
variações dos componentes do
índice. O IPA foi responsável por
influenciar a movimentação
agregada do IGP-DI. Isso, no
entanto, não ocorre no mês de
fevereiro, quando, devido à
grande variação negativa do IPC,
o IGP-DI também retrocedeu
percentualmente. O Gráfico 2.3
mostra uma tendência de queda
das variações dos níveis de
preços analisados, todavia, é
importante destacar que o
mesmo movimento ocorreu em
2014, mas a níveis mais baixos
que os registrados no ano
vigente.
Gráfico 2.3 IGP-DI e componentes (% a.m)
Fonte: Formulação própria com dados fornecidos pelo IBRE/FVG
0.00
0.50
1.00
1.50
2.00
2.50
IGP-DI IPA IPC INCC
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 44 -
No IPA, os maiores aumentos
foram provenientes do item Bens
Finais, mas todos os outros itens
(bens intermediários e matérias-
primas) tiveram variação
superior àquela observada em
2014, de acordo com os dados
desagregados do índice. Os
resultados do IPA decorreram
em grande parte das elevações
de contribuições e tarifas, a
exemplo do PIS/Pasep e Cofins
de produtos importados (na
média, de 9,25% para 11,75%
de tributação de acordo com a
Lei nº 13.137, de 19 de junho de
2015) que são por muitas vezes
insumos para diversas produções
internas.
O IPC teve uma trajetória geral
com tendência descendente até
agosto de 2015, assim como no
mesmo período do ano anterior.
Merecem atenção os setores
Habitação e Transportes
(10,27% e 6,29%,
respectivamente, no acumulado
de janeiro a agosto), sendo que
o primeiro foi o setor com a
segunda maior variação, atrás
somente de Despesas Diversas
(11,13%). O grupo Habitação foi
influenciado pelo aumento no
preço da tarifa de energia
elétrica residencial, que foi
reajustado desde o início do ano
em diversas ocasiões. O setor de
Transportes foi pressionado além
dos aumentos já descritos pela
elevação da Contribuição de
Intervenção no Domínio
Econômico (Cide) conforme o
decreto presidencial 8.395.
No INCC o custo da mão-de-obra
foi o maior responsável pelos
valores do índice no primeiro
semestre (um aumento
acumulado de 7,99% em 12
meses enquanto o subgrupo de
Materiais, equipamentos e
serviços acumulou alta de
5,82%). O item mão-de-obra é
inclusive o responsável pela
movimentação expressiva do
INCC no mês de junho, já que,
de acordo com dados da FGV,
houve aumento de custos de
mão de obra no setor devido à
correção de salários e carências
de profissionais qualificados.
O IGP-M apresentou
comportamento similar ao IGP-
DI, como pode ser visto no
Gráfico 2.2. O IGP-M acumulado
no primeiro semestre de 2015
(4,33%) foi superior ao do ano
anterior (2,45%), assim como o
índice de Disponibilidade Interna.
Em outubro de 2015 o IGP-M
acumulava alta no ano de 8,35%
e 10,09% de variação em 12
meses.
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 44 -
Gráfico 2.4 IGP-M e componentes (% a.m)
Fonte: Formulação própria com dados fornecidos pelo IBRE/FVG
Analisando cada componente
separadamente, o IPA variou
4,52% (percentual acima dos -
0,12% registrados de janeiro a
agosto de 2014); o IPC variou
7,22% (contra 4,48% de
variação no mesmo período do
ano anterior) e o INCC variou
6,15% (ante aos 5,77% até
agosto de 2014).
Apesar da tendência de
decrescimento dos índices no
primeiro semestre de 2015, a
situação fiscal do governo indica
uma possível elevação de
impostos e tarifas de transações
bancárias, de energia e de
combustíveis. O aumento de
tarifas bancárias possui menor
impacto sobre a inflação, mas os
aumentos sobre a energia e
combustíveis interferem
diretamente sobre o preço de
necessidades básicas, como o
fornecimento de água e os
alimentos.
ICV e Cesta Básica
A variação acumulada no
primeiro semestre de 2015, pelo
Índice de Custo de Vida (ICV)3,
foi de 7,03%, sendo os grupos
que apresentaram taxas acima
da geral os de Habitação
(11,46%), Transporte (8,03%),
Educação e Leitura (7,30%) e
Despesas Pessoais (7,07%).
Estes valores foram superiores à
variação
3 O ICV é medido pelo DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), tendo o município de São Paulo como base para os estudos. A análise é feita de acordo com as seguintes variáveis: Alimentação, Habitação, Equipamento Domestico, Transporte, Saúde, Vestuário, Educação e Leitura, Despesas Pessoais e Despesas Diversas.
-0.50
0.00
0.50
1.00
1.50
2.00
2.50
3.00
IGP-M IPA IPC INCC
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 43 -
acumulada no mesmo período de
2014, de 4,13%, na qual os
mesmos grupos registraram
variações inferiores para os dois
primeiros de 3,00%, 1,51%, e
superiores para os dois últimos
8,49% e 8,35%
respectivamente.
Em relação ao grupo de
Habitação, a diferença relevante
no acumulado do semestre foi
verificada no subgrupo operação
do domicílio (16,19%) devido
principalmente aos reajustes dos
preços nos serviços
administrados de energia elétrica
(51,80%) e água e esgoto
(22,79%).
Na variação de junho o custo de
vida aumentou em 0,81% em
São Paulo, em relação a maio de
2015. Destacam-se os grupos de
Habitação (2,41%), seguido por
Saúde (0,55%) e Alimentação
(0,50%) e, o único grupo que
apresentou uma variação
negativa foi o de Transporte (-
0,33%).
Para o grupo Habitação, o maior
aumento foi no aumento nos
condomínios de 3,62%, seguido
pelos aumentos na operação do
domicílio (2,72%), consequência
dos reajustes da água no mês
(15,30%) e no gás de rua
(5,95%). O aumento da taxa no
grupo de Saúde, neste período
foi devido ao reajuste de seguros
e convênios médicos (0,75%).
No grupo Alimentação, os
maiores aumentos se
observaram na alimentação fora
do domicílio (0,71%), onde o
maior aumento foi das refeições
por quilo (1,15%), e nos
produtos da indústria alimentícia
(0,70%) destacam-se as altas da
mussarela (5,73%), da salsicha
(2,77%) e do leite (2,00%).
Já a queda no grupo de
Transporte pode ser explicada
pela diminuição do valor dos
combustíveis no mês de -1,00%,
tendo o álcool (-1,69%) e a
gasolina (-0,79%).
A análise do impacto da inflação
nos três estratos4 sociais revela
um aumento no custo de vida
diferenciado segundo tercis da
renda das famílias paulistanas,
sendo que as taxas em junho
foram maiores para as famílias
de mais baixa renda, de 1,09%
no estrato I, 0,90% para o
estrato II e de 0,76% no estrato
III. Essa relação pode ser vista
no Gráfico 2.5, sendo
desagregada nos grupos de
Habitação, Saúde, Transporte e
Alimentação. Observa-se que os
grupos de Habitação e
Alimentação tiveram maior
impacto sobre as famílias do
estrato I. Enquanto o grupo de
saúde impactou mais no estrato
III,
4 A população da análise é dividida em três estratos sociais e suas especificas faixas de renda; sendo: Estrato I com 1/3 da população de menor renda cuja renda média foi de R$ 377,49; Estrato II com renda média de R$ 934,17 e Estrato III com renda média de R$ 2.782,90.
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 43 -
assim como este também se
beneficiou mais com as reduções
observadas no grupo de
transporte.
A inflação acumulada anual
(jul/2014 a jun/2015), pelo ICV-
DIEESE, registrou uma taxa de
9,71%, sendo maior nos grupos
Habitação (15,74%) e Despesas
Diversas (10,25%). Novamente
o destaque foi para os aumentos
nas tarifas de energia elétrica
nos últimos doze meses
(79,01%) e nos condomínios
(16,11%). Já nas Despesas
Diversas a maior variação
acumulada se deu nas despesas
de comunicação (12,4%).
O aumento em doze meses
também foi maior para as
famílias do estrato I (11,22%),
seguida do estrato II (10,33%) e
estrato III (9,13%). Pôde ser
observado, que os componentes
que mais afetaram o custo de
vida, para os estratos I e II,
foram respectivamente:
Habitação (20,45% e 17,7%) e
Transporte (11,76% e 10,31%),
sendo a primeira puxada pela
variação na Operação do
domicílio (27,88%) e a segunda,
no Transporte coletivo (13,86%).
Para o estrato III, os maiores
aumentos foram verificados nos
grupos Habitação (13,81%) e
Despesas diversas (10,58%).
Gráfico 2.5 - Taxa de variação (%) componentes da cesta
básica – Junho 2015
Fonte: DIEESE
0.8
0.64
0.48
0.05 0.07 0.09
-0.02 -0.04 -0.05
0.18 0.16 0.15
1.09
0.9
0.76
-0.2
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
1.2
Estrato I Estrato II Estratro III
Habitação
Saúde
Transporte
Alimentação
Total
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 44 -
Pela análise do preço da cesta
básica5 em junho realizada pelo
DIEESE houve uma queda em 15
das 18 cidades pesquisadas,
sendo as maiores retrações em
Salvador (-8,05%) e Rio de
Janeiro (-6,71%) e as maiores
altas em Belém (5,11%) e
Manaus (2,49%). Em Vitória o
recuo em junho foi de -5,15%
em relação a maio de 2015. O
maior valor da cesta registrado
no mês foi em São Paulo
(R$392,77) e o menor, em
Aracaju (R$275,42), ficando na
capital capixaba o valor
observado em R$367,94.
No acumulado no primeiro
semestre de 2015 (janeiro a
junho) todas as capitais
registraram aumentos, sendo o
destaque para Salvador com a
maior variação (19,49%) e o
menor em Belo Horizonte
(7,18%). Em 12 meses (jul/2014
a jun/2015), todas as cidades
apresentaram uma alta no preço
da cesta básica, com destaque
novamente para Salvador
(14,72%), enquanto Natal
(3,51%) apresentou o menor
crescimento. Para Vitória os
valores acumulados no semestre
5 Refere-se a um índice que mede o preço médio da cesta básica dos alimentos em dezoito capitais brasileiras, calculado também pelo DIEESE. Os alimentos considerados pelo DIEESE, que compõe a cesta básica são: carne, leite,
feijão, arroz, farinha de trigo/mandioca, batata, tomate, pão, café, banana, açúcar, óleo, manteiga.
e em 12 meses foram
respectivamente 10,44% e
6,35%.
Em junho, os preços que
predominaram foram os da carne
bovina, do leite, do pão francês e
da batata. Já os que
apresentaram retração foram o
feijão e o tomate. De acordo com
análises feitas pelo DIEESE, em
12 meses em relação aos preços
da carne bovina houve elevação
do preço em todas as capitais
acompanhadas, sendo a menor
registrada em Vitória (10,55%) e
a maior em Campo Grande
(24,30%). A alta foi explicada
pelo órgão pela restrição na
oferta, pelo aumento das
exportações (juntamente com o
aumento do dólar) e pelos altos
custos de reposição de bezerros.
Já o aumento no preço do leite,
pelo quarto mês consecutivo,
justificou-se pelo período de
entressafra, enquanto o pão
francês foi relacionado à
desvalorização do real em
relação ao dólar, uma vez que
parte do trigo é importado, além
da menor produção interna do
produto e os aumentos nas
tarifas de água e energia.
De acordo com a análise feita
pelo DIEESE, ao comparar o
custo médio da cesta com o
salário mínimo liquido, o
trabalhador remunerado
comprometeu, em junho desse
ano, 47,49% de seu
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 43 -
salário mínimo liquido para gasto
com cesta básica, já no mesmo
período de 2014 correspondia a
47,43%. O maior valor da cesta
básica de São Paulo, segundo o
DIEESE, comprometeu 54,18%
do salário mínimo líquido (após
desconto da previdência),
percentual acima dos 53,24% de
junho de 2014. Para Vitória esse
percentual foi de 50,75% em
junho de 2015, 49,65% no
mesmo mês do ano anterior.
Em Junho de 2015, segundo o
DIEESE, para a manutenção de
uma família de quatro pessoas
seria necessário um salário
mínimo de R$ 3.299,666 ou 4,19
vezes mais que o mínimo de R$
788,00. Ou seja, isso demonstra
o quanto é impactante a relação
de salário mínimo e o valor da
cesta, visto que esse é só um
dos gastos das famílias
brasileiras.
No mês de setembro, de acordo
com DIEESE, a inflação no custo
de vida apresentou uma variação
no ano de 8,64%, tendo apenas
o grupo de Habitação uma taxa
acumulada superior de 15,31%
devido, principalmente, ao
aumento das taxas de
condomínio e serviços públicos,
6 Levando em consideração a
determinação constitucional que estabelece que o salário mínimo deve ser suficiente para suprir as despesas de um trabalhador e sua família com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência.
com 14,58% e 31,92%
respectivamente. Já em relação
ao preço médio da cesta básica
os valores recuaram neste
mesmo mês, a que apresentou
maior alta foi de Porto Alegre
(R$385,70) pouco superior a São
Paulo (R$383,21) e as que
apresentaram o menor valor
foram de Aracaju (R$280,26) e
Natal (R$282,72), ambas vem
apresentando o menor valor
desde o início do ano. O mesmo
movimento de queda se verificou
para Vitória cujo valor registrado
em setembro foi de R$361,54.
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 43 -
3. NÍVEL DE ATIVIDADE
PIB NACIONAL
Economistas adoram criar
metáforas para explicar
fenômenos econômicos. O “voo
da galinha” é uma delas, usada
para descrever a falta de
sustentação do crescimento da
economia brasileira. Porém,
neste ano há riscos de que a
galinha não consiga sequer voar,
isso se tomarmos como base os
últimos resultados divulgados
pelo IBGE para o Produto Interno
Bruto do país que, no acumulado
do ano,alcançou R$ 2,83 trilhões
em valores correntes, com uma
queda de 2,1% quando
comparado com igual período do
ano anterior. Como maior
agregado macroeconômico
brasileiro e o principal indicador
do nível da atividade econômica,
ao completar o segundo
trimestre consecutivo de queda,
os dados relativos ao PIB
apontam para o que os
economistas denominam de
recessão técnica.
Tabela 3.1 - Brasil: Produto Interno Bruto – Valores Correntes – (R$ milhões)
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais.
Analisando a composição do PIB
pela ótica da oferta, isto é, com
base no Valor Adicionado dos
três grandes setores produtivos
da economia, a citar,
Agropecuária, Indústria e
Serviços, o primeiro, cujo peso
relativo para a composição total
do PIB foi de 5,5% em 2014, foi
o único a apresentar variação
Setor de Atividade 1º
Sem/2014 1º
Sem/2015
Agropecuária 1 441 470 1 557 410
Indústria 495 978 531 523
Serviços 1 466 286 1 730 684
Impostos sobre produtos 368 836 418 380
PIB a preços de mercado 2 475 244 2 836 327
Despesa de consumo das famílias 1 588 033 1 783 882
Despesa de consumo do governo 514 486 570 872
Formação bruta de capital fixo 422 932 530 962
Exportação de bens e serviços 299 693 341 442
Importação de bens e serviços (-) 373 625 406 046
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 44 -
positiva, acusando expansão de
3,0% no primeiro semestre de
2015, quando comparado com
igual período do exercício
anterior. Esse resultado foi, em
parte, influenciado por alguns
produtos que possuem safra
relevante no segundo trimestre
do ano, como é o caso da soja,
milho e arroz.
A Indústria, setor que nos
últimos anos vem apresentando
retrações recorrentes, sofreu
nova queda no primeiro
semestre desse ano, desta vez
de 4,1%, resultado fortemente
influenciado pela queda na
produção de máquinas e
equipamentos, bem como
produtos automotivos,
eletrônicos e de informática. Vale
destacar que, desde 2006, o
grande setor Indústria, que pode
ser decomposto em quatro
subsetores, Extrativa,
Transformação, Produção e
distribuição de eletricidade, gás,
água, esgoto e limpeza urbana, e
Construção Civil, vem perdendo
força frente à composição total
do PIB, visto que, em 2005, o
setor representava 28,6% da
produção total do país, contra
23,4% em 2014. Em se
mantendo o ritmo apresentado
no primeiro semestre de 2015,
deverá fechar o exercício em
torno de 21,6% do total do PIB,
fato que empresta especial
importância à defesa do
argumento de que estaria em
curso no país um autêntico
processo de desindustrialização.
O quadro se agrava se levarmos
em conta que não há
expectativas de uma possível
melhora no curto prazo, haja
vista a ausência de uma robusta
política industrial que contemple
uma forte introdução de ciência
e tecnologia com a finalidade de
elevar os índices de
produtividade. A Indústria, ao
sofrer com a retração na
demanda, com a queda dos
investimentos no setor e com o
acúmulo de estoques, influencia
negativamente os demais
setores da economia e dificulta a
retomada do crescimento.
O setor de Serviços, que
também inclui a atividade do
Comércio e representou, em
2014, 71,1% do PIB brasileiro,
também apresentou queda no
primeiro semestre de 2015,
recuando 1,3% quando
comparado a igual período de
2014. Tal resultado negativo foi
fortemente influenciado pela
elevação da inflação e pela
deterioração do mercado de
trabalho, pois contribuem para a
redução do poder de compra do
consumidor e afetam
diretamente o Comércio,
atividade que registrou a mais
significativa queda, 6,6% em
relação ao primeiro semestre do
ano imediatamente anterior.
Por sua vez, analisando os dados
do PIB pela ótica do dispêndio,
isto é, a partir da somatória dos
gastos totais da sociedade
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 45 -
brasileira com Despesa de
Consumo das famílias, Despesa
de Consumo do Governo,
Investimento, este último
representado na conta
denominada Formação Bruta de
Capital Fixo (FBCF), além das
Exportações deduzidas as
Importações, o cenário também
preocupa. Especialmente se
olharmos com atenção para a
queda de 9,8% na FBCF ao longo
do primeiro semestre deste ano,
quando comparada ao mesmo
período do ano anterior. Essa
rubrica evidencia que está em
curso a redução da capacidade
produtiva futura de uma
economia por meio de
investimentos correntes em
ativos fixos. Ao computar,
basicamente, novos
investimentos em máquinas,
equipamentos e construção civil,
a FBCF traduz-se em um
indicador que sinaliza, em última
instância, a expectativa e os
níveis de confiança dos
empresários em relação ao
futuro. O fraco desempenho
dessa conta para o conjunto do
PIB brasileiro pode ser
atribuído a diversos fatores,
entre eles, a redução do ritmo do
crescimento econômico mundial,
a instabilidade econômica e
política internas, as altas taxas
de juros e a elevação na taxa de
câmbio, que, conjuntamente,
provocam tanto a queda da
produção interna de bens de
capital como das importações de
máquinas e equipamentos, além
de afetar negativamente o setor
da construção civil e inibir
encomendas de novos ativos
tangíveis e intangíveis.
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 43 -
Tabela 3.2 - Brasil: Produto Interno Bruto – Taxa Acumulada
ao longo do ano – (%)
Setor de Atividade 2014.III 2014.IV 2015.I 2015.II
Agropecuária 0,2 0,4 4,0 3,0
Indústria -0,9 -1,2 -3,0 -4,1
Extrativa Mineral 8,4 8,7 12,8 10,4
Transformação -3,2 -3,8 -7,0 -7,6
Construção Civil -2,6 -2,6 -2,9 -5,5 Prod. e distrib. de eletricidade, gás e água 1,4 -2,6 -2,9 -5,5
Serviços 0,8 0,7 -1,2 -1,2
Comércio -1,4 -1,8 -6,0 -6,6
Transporte, amarzenagem e correio 2,4 2,0 -3,6 -4,8
Serviços de informação 5,6 4,6 2,9 1,7 Interm. financ. seguros, prev. compl. e serv. rel. 0,1 0,4 -0,4 0,0
Outros serviços -0,2 0,1 -0,6 -1,2
Ativ. imobilárias e aluguel 3,4 3,3 2,8 2,8
Adm. saúde e educação públicas 0,7 0,5 1,4 -0,4
Valor adicionado a preços básicos 0,4 0,2 -1,2 -1,7
PIB a preços de mercado 0,3 0,1 -1,6 -2,1
Despesa de consumo das famílias 0,8 0,9 -0,9 -1,8 Despesa de consumo da administração pública 1,9 1,3 -1,5 -1,3
Formação bruta de capital fixo -3,9 -4,4 -7,8 -9,8
Exportação de bens e serviços 2,5 -1,1 3,2 5,6
Importação de bens e serviços (-) 0,1 -1,0 -4,7 -8,2
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais.
Além disso, o aumento das taxas
de desemprego, inflação e taxa
de juros afetou direta e
negativamente o resultado da
Despesa de Consumo das
Famílias e da Despesa de
Consumo do Governo, rubricas
que apresentaram queda de
1,8% e 1,3%, respectivamente,
no primeiro semestre do ano,
quando comparado a igual
período de 2014. Com a
deterioração do mercado de
trabalho, fator que empurra para
baixo a capacidade e o poder de
compra das famílias, o cenário
econômico atual não se
apresenta propício para uma
possível recuperação do
consumo, tanto que, no
resultado do primeiro semestre
de 2015, todos os componentes
da demanda interna
apresentaram queda.
Complementando a análise do
PIB pela ótica da despesa, no
setor externo, a alta do dólar
teve um impacto favorável para
as Exportações, que cresceram
5,6% no primeiro semestre do
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 44 -
ano. Os bens que obtiveram
maior crescimento foram
petróleo e carvão, siderurgia,
metalurgia e veículos
automotores. A desvalorização
cambial e a queda nas compras
externas impactaram nas
Importações, que recuaram
8,2%, no acumulado do ano.
Por mais que os preços das
commodities tenham sofrido
queda nos últimos seis meses, a
desvalorização cambial
contrabalançou a perda no setor
externo.
Gráfico 3.1 – Resultado PIB – Taxa acumulada nos últimos quatro trimestres em relação ao mesmo período do ano anterior (%)
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais.
Diante dos dados apresentados,
o cenário de crise permanece,
principalmente se levadas em
conta a instabilidade e
continuidade das pressões
políticas sofridas pelo governo.
Pelos indicadores aqui
analisados, o país está distante
de uma recuperação e as
projeções são de queda no nível
de atividade também no segundo
semestre. Segundo o Índice de
Atividade Econômica do Banco
Central do Brasil (IBC-BR),
indicador considerado como uma
prévia do resultado do PIB, a
expectativa é de retração do
principal agregado
macroeconômico brasileiro em
um percentual que pode variar
entre 2,0% e 3,0% em 2015.
Indústria
Segundo o IBGE, a produção
física da indústria nacional
-0.9
0.6
-2.5-0.2
0.2 0.4
-6.9
-1-2.5
-1.2
1.6
-2.9-0.5 -0.6 -0.3
-7.9
1
-4.7
-10-8-6-4-2024
2015.I 2015.II
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 44 -
retraiu 6,6% de janeiro a julho
de 2015, mantendo a tendência
de encolhimento da atividade
industrial no Brasil,
especialmente, a indústria de
transformação. As quatro
grandes categorias econômicas
do setor – bens de capital, bens
de consumo duráveis, bens de
consumo semi e não-duráveis,
bens intermediários –
apresentaram resultados
negativos no acumulado do ano.
A maior queda foi registrada no
setor produtor de bens de
capital, com um recuo de 20,9%.
Nas demais categorias são
observadas contrações de
14,2%, no setor d
e bens de consumo duráveis, de
7,0% no setor de bens de
consumo semi e não-duráveis e
de 3,4% no setor de bens
intermediários.
No segmento bens de capital,
quase todos os grupamentos
apresentaram recuo. A maior
queda deu-se novamente no
âmbito equipamentos de
transporte, com 26,6% de
redução, devido, principalmente,
contração da produção de
caminhão e trator para reboques
e semi-reboques, veículos para
transporte de mercadorias,
reboques e semi-reboques,
ônibus e vagões para transporte
de mercadorias. No tocante aos
bens de capital mistos, a
indústria da construção foi um
dos setores mais atingidos. Isso,
em parte, deve-se ao fato de
que as principais empreiteiras do
Brasil, responsáveis pelas
maiores obras de infraestrutura
do país, foram atingidas pela
operação Lava Jato, contribuindo
para o desempenho ruim da
indústria da construção.
Pressionado, principalmente,
pela menor fabricação de
automóveis, a qual recuou
13,0%, o segmento de bens de
consumo duráveis teve uma
queda de 14,2%, quando
comparado o primeiro semestre
de 2015 com o mesmo período
do exercício anterior. Outros
setores que apresentaram
contribuições negativas
relevantes foram os de
equipamentos de informática,
produtos eletrônicos e ópticos
com queda de 29,0%, no
acumulado no ano.
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 44 -
Tabela 3.3 - Produção Física Industrial por Atividades (Variação % Acumulada em relação à igual período do Ano Anterior)
Atividade / Mês
Jul14-
Jul15
Acum
ano
Acum
12m
Indústria Geral -8,9 -6,6 -5,3
Indústrias Extrativas 2,9 8,4 8,1
Indústria de Transformação -10,5 -8,5 -7,0
Fabricação de produtos alimentícios -7,2 -3,8 -4,3
Fabricação de bebidas -10,5 7,6 -4,8
Fabricação de produtos de fumo 1,0 -8,3 -2,9
Fabricação de produtos têxteis -18,6 -10,3 -8,6
Confecção de artigos do vestuário e acessórios -11,6 -10,5 -7,4
Prep couros, fab artef couro, artigos viagem, calçados -3,9 -4,3 -3,3
Fabricação de produtos de madeira -7,8 -3,2 -3,5
Fabricação de celulose, papel e produtos de papel 2,6 0,3 0,3
Impressão e reprodução de gravações -21,6 -11,9 -7,7
Fabric. coque, prod deriv.petróleo e biocombustíveis -6,2 -6,0 -2,1
Fabricação de produtos farmoquímicos e farmacêuticos -14,3 -15,5 -9,2
Fabric. Sabões/detergentes/prod limpeza, cosméticos,
produtos de perfumaria e de higiene pessoal -3,1 -3,8 -1,9
Fabricação de outros produtos químicos -6,4 -3,6 -3,7
Fabricação de produtos de borracha e material plástico -9,0 -6,5 -5,4
Fabricação de produtos de materiais não-metálicos -6,9 -5,4 -4,5
Metalurgia -7,9 -7,6 -8,5
Fabric.produtos metal, exc.máquinas e equipamentos -13,0 -9,2 -9,7
Fabricação de máquinas e equipamentos -15,1 -11,4 -9,0
Fabric.Equipam.informática, prod. eletrônicos e ópticos -34,8 -29,0 -22,8
Fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos -15,7 -6,8 -6,5
Fabricação de equipamentos de comunicação -45,8 -18,4 -8,3
Fabric instr. mat uso médico/odontológico/art. ópticos -5,4 9,0 10,6
Fabr veículos automotores, reboques e carrocerias -19,1 -20,2 -18,2
Fabric.outros equip. Transp., exc.veículos automotores -14,6 -5,8 -4,7
Fabricação de móveis -16,9 -8,7 -7,5
Fabricação de produtos diversos -10,0 2,9 -1,1
FONTE: IBGE / Sidra - Pesquisa da Indústria Mensal Produção Física
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 43 -
No acumulado dos primeiros sete
meses do ano, a categoria de
bens de consumo semi e não-
duráveis apresentou retração de
7,0%. A produção de alimentos
sofreu queda de 3,8%. Já nos
setores de bebidas e vestuário e
no de acessórios houve queda de
7,6% no primeiro e 10,5% no
segundo.
Distintamente dos demais
segmentos a indústria extrativa
apresentou crescimento da
ordem de 8,4% no acumulado do
ano, quando comparado com
igual período do ano
imediatamente anterior.
Impulsionada, principalmente,
pelo bom desempenho de itens
como minério de ferro pelotizado
e bruto e óleos brutos de
petróleo, não obstante ter sido
diretamente afetada pela
redução do ritmo de crescimento
mundial, em especial da China,
maior consumidor de minério de
ferro do mundo. A indústria
extrativa ainda assim acabou
sendo positivamente influenciada
pelos resultados das exportações
de seus principais produtos, haja
vista terem sido beneficiados
pela alta do dólar. Porém, o bom
desempenho do setor não foi
suficiente para evitar a retração
de 3,4% na categoria de bens
intermediários.
Tabela 3.4 - Produção Física Industrial Trimestral por Categorias de Uso (Variação % em Acumulada relação à igual período do ano anterior)
FONTE: IBGE / Sidra - Pesquisa da Indústria Mensal Produção Física
Indústria Capixaba
No Espírito Santo, a indústria
teve um desempenho
relativamente melhor do que a
indústria nacional face a sua
grande dependência por bens
semi-elaborados e primários
voltados para exportação. De
janeiro a julho, a indústria
capixaba acumulou crescimento
de 14,9% frente ao recuo de
6,6% sofrido pela indústria
brasileira.
Atualmente, o crescimento da
indústria capixaba é puxado pelo
desempenho do setor de
Atividade / Período Jan-Jul 2014 Jan-Jul
2015
Bens de Capital -7,8 -20,9
Bens Intermediários -2,5 -3,4
Bens de Consumo Duráveis -9,0 -14,2 Bens de Consumo Semi e Não Duráveis 0,4 -7,0
Indústria Geral -2,8 -6,6
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 44 -
fabricação de celulose, papel e
produtos de papel, indústria
extrativa e setor de metalurgia.
O setor de fabricação de
celulose, papel e produtos de
papel, cresceu 2,2%, enquanto a
indústria extrativa expandiu
22,1%. Já o setor de metalurgia,
teve o melhor desempenho, com
crescimento de 30,2%.
Os resultados positivos
garantiram ao Espírito Santo o
melhor desempenho entre os
quinze estados pesquisados pelo
IBGE, seguido pelo Pará, onde
também há forte presença da
indústria extrativa. Tal fato
denota a importância desse setor
da indústria na diminuição do
impacto negativo sobre a
indústria nacional, além de
contribuir para o crescimento da
indústria capixaba. No entanto,
por outro lado, os mesmos
resultados mostram a forte
dependência do Espírito Santo
em relação à produção e
exportação de commodities
agrícolas e minerais, deixando a
economia capixaba refém do
crescimento econômico externo
e do comportamento do dólar.
Comércio
A queda do poder de compra da
população, o maior
endividamento das famílias e a
instabilidade do emprego foram
as principais causas apontadas
pelo boletim da Confederação
Nacional da Indústria para
explicar a queda de 1% nas
vendas do comércio varejista,
segundo a Pesquisa Mensal do
Comércio - PMC, divulgada pelo
IBGE no mês de julho deste ano.
Pode-se citar como outro fator
preponderante desse
movimento, a alta da inflação.
Mantendo a tendência de queda
durante todo o primeiro
semestre do ano, tal movimento
do volume de vendas no país
deve perdurar pelo segundo
semestre, principalmente se
aprovadas asmedidas propostas
pelo governo para levar a cabo o
ajuste fiscal, as quais tenderão a
elevar a tributação sobre a renda
e o consumo.
O setor que apresentou o melhor
desempenho foi o de Outros
artigos de uso pessoal e
doméstico, o qual, no acumulado
do ano, aumentou o volume e a
receita de vendas, 3,4% e 8,1%,
respectivamente, quando
comparados com o primeiro
semestrede 2014. Tal fato
demonstra interessante
comportamento da demanda,
pois, apesar do clima de crise
instalado no país, as pessoas
continuam ainda consumindo
artigos como revistas,
cosméticos e outros produtos de
beleza.
Já o setor automobilístico,
importante para a sustentação
do nível da atividade econômica
do país, apresentou, no
acumulado do ano, queda de
11,4% na receita de vendas, o
que levou montadoras como
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 45 -
Mercedez-Benz, Volkswagen e
Chevrolet a suspender contratos
de trabalho, demitir funcionários
e/ou dar férias coletivas.
Combustíveis e Lubrificantes,
segmento considerado
complementar do setor
automobilístico, apresentou
queda de 5,8% no acumulado do
ano, demonstrando influência
não apenas da queda da venda
de veículos como também do
aumento da gasolina,
especialmente após o fim das
desonerações fiscais que
reduziam o impacto da carga
tributária sobre combustíveis.
Tabela 3.5 – Taxa de variação do volume de vendas e de receitas para as principais atividades (%)
Atividades Julho/ Jun
Acum Ano
Acum 12
Meses
Volume de Vendas Comércio varejista -1,0 -2,4 -1,0
Hiper.,Super., Alim., Beb. e Fumo -1,0 -1,8 -1,4 Móveis e eletrodomésticos -1,7 -11,5 -7,3 Outros art. de uso pessoal e doméstico 0,0 3,4 5,0
Comércio Varejista ampliado 0,6 -6,5 -4,9 Veic. e motos, partes e Peças 5,1 -15,3 -13,1 Combustíveis e lubrificantes -0,4 -3,3 -1,2 Material de Construção -2,4 -5,0 -3,5
Receita de Vendas Comércio varejista 6,8 6,5 -4,9
Hiper.,Super., Alim., Beb. e Fumo 7,6 6,3 6,4 Móveis e eletrodomésticos -10,8 -9,3 -3,8 Outros art. de uso pessoal e doméstico 5,3 8,1 10,0
Comércio varejista ampliado 0,2 -0,3 0,9 Veic. e motos, partes e Peças -8,6 -11,4 9,6 Combustíveis e lubrificantes 7,5 5,8 6,3 Material de Construção -2,5 -0,4 1,4
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas. Coordenação de Serviços e Comércio.
Outro setor a apresentar
resultado negativo, no que diz
respeito ao volume de vendas,
foi o de Material de construção, o
qual observou queda de 5% no
acumulado do ano. Tal setor teve
o resultado fortemente
influenciado pela redução do
crédito imobiliário, aliada ao
cenário de maior instabilidade e
insegurança da parte dos
consumidores. A Caixa
Econômica Federal, em maio
deste ano, anunciou a redução
do crédito imobiliário em R$30
milhões, o que afetou,
principalmente, os resultados
apresentados pelas construtoras
envolvidas em grandes projetos
governamentais, como o
Programa Minha Casa, Minha
Vida.
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 44 -
No geral, é importante observar
que, apesar da queda no volume
total de vendas do comércio
varejista da ordem de 2,4% no
acumulado do ano, a receita de
vendas apresentou crescimento
de 6,5% no mesmo período, o
que empresta significativa
importância a duas observações:
que a elevação dos preços
contrarrestou a redução das
vendas e que o setor vive o pior
resultado desde o ano de 2003,
quando o mesmo sofreu queda
de 6,7%.
Comércio Capixaba
No Espírito Santo, observou-se a
mesma queda do volume de
vendas na maior parte das
atividades econômicas, repetindo
a tendência nacional. O
Comércio Varejista Ampliado
registrou queda de 4,6% no
primeiro semestre de
2015,quando comparado a igual
período de 2014; Veículos,
motos, partes e peçasfoi o
segmento que apresentou a
maior queda no volume de
vendas, 21,2%, seguido por
Outros artigos de uso pessoal
doméstico, 15,3%, Combustíveis
e lubrificantes, 14%, e Material
de construção, o qual apresentou
recuo de 10%, quando
submetido a mesma
comparação. Queda no nível do
emprego e na confiança acerca
da manutenção da
empregabilidade, elevação da
inflação, aumento das alíquotas
sobre veículos constituem-se
possíveis causas que concorrem
para explicar o baixo
desempenho do setor.
Tabela 3.6– Taxa de variação do volume de vendas e de receitas para as principais atividades no Espírito Santo (%)
Atividades Julho/Mês anterior
Acum. Ano
Acum. 12 Meses
Volume de Vendas Comércio varejista -6,1 -4,6 -2,5
Hiper.,Super., Alim., Beb. e Fumo -3,0 -2,5 -2,6 Móveis e eletrodomésticos -8,7 -1,2 4,6 Outros art. de uso pessoal e doméstico -15,4 -15,3 -15,3
Comércio Varejista ampliado -8,5 -12,1 -4,8 Veic. e motos, partes e Peças -31,4 -21,2 -12,3 Combustíveis e lubrificantes -8,9 -14,0 -8,3 Material de Construção -8,8 -10,0 -9,2
Receita de Vendas Comércio varejista 1,5 2,3 4,0
Hiper.,Super., Alim., Beb. e Fumo 6,6 6,2 5,6 Móveis e eletrodomésticos -5,0 1,9 9,0 Outros art. de uso pessoal e doméstico -11,2 -11,5 -11,0
Comércio varejista ampliado -10,8 -6,8 -3,0 Veic. e motos, partes e Peças -27,7 -19,4 -12,3 Combustíveis e lubrificantes 0,7 -4,5 -1,4 Material de Construção -4,3 -4,8 -4,1
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas. Coordenação de Serviços e Comércio.
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 43 -
Impulsionada pela queda do
volume de vendas da ordem de
4,6% no acumulado do ano (que
corresponde ao primeiro
semestre de 2015), a receita de
vendas do comércio varejista
ampliado apresentou queda de
6,8%, quando submetida à
mesma base de comparação,
influenciada, sobretudo, pela
queda de 19,4% observada no
segmento Veículos, motos,
partes e peças, atividade de
grande peso dentro do setor.
Hiper e supermercados bem
como Móveis e Eletrodomésticos
foram os segmentos que
contrariaram o movimento
generalizado de queda,
apresentando, no primeiro
semestre do ano, crescimento de
6,2% e 1,9%, respectivamente,
o que representa pouco diante
de um cenário bastante adverso
para o comércio capixaba.
4. EMPREGO E SALÁRIOS
Para análise dos indicadores de
empregos e salários na economia
brasileira no período de janeiro a
setembro de 2015, utilizamos os
dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE),
do Departamento Intersindical
de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (DIEESE) e do
Ministério do Trabalho e
Emprego (MTE). Vale ressaltar
que as metodologias utilizadas
em cada pesquisa diferem e,
portanto, não devem ser
comparadas.
O IBGE, no intuito de aperfeiçoar
seu sistema de levantamento de
dados e embasado nas
recomendações da Organização
Internacional do Trabalho (OIT),
substituiu a Pesquisa Mensal de
Emprego (PME) pela Pesquisa
Nacional por Amostra de
Domicílios (PNAD Contínua), com
maior abrangência territorial e
com periodicidade baseada em
trimestres móveis, mais
favorável à elaboração de análise
conjuntural. Tal pesquisa fornece
informações relativas ao
mercado de trabalho de acordo
com parâmetros geográficos e
educacionais da população, além
de propiciar um melhor
entendimento do conceito de
trabalho.
O DIEESE elabora a Pesquisa de
Emprego e Desemprego (PED),
que realiza um levantamento
domiciliar contínuo, em parceria
com a Fundação SEADE.
Atualmente a PED é realizada no
Distrito Federal e em outras
cinco Regiões Metropolitanas,
constituindo o Sistema PED. A
PED metropolitana deixou
recentemente de ser realizada
em Belo Horizonte devido à falta
de verbas, tendo sua última
divulgação sido feita em junho
de 2014. A pesquisa é apoiada
financeiramente pelo MTE,
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 44 -
porém, o poder executivo de
Minas Gerais informa não ter
recebido o repasse do auxílio em
2014.
O MTE tem a responsabilidade de
publicar o Cadastro Geral de
Empregados e Desempregados
(CAGED) que contabiliza os
dados de emprego em forma de
fluxo, ou seja, tendo como base
o saldo total dos trabalhadores
admitidos e desligados
(aposentados, demitidos e
falecidos). Os dados são
utilizados, por exemplo, pelo
Programa de Seguro-
Desemprego e por outros
programas sociais
governamentais.
IBGE - PNAD Contínua
A PNAD Contínua, que abrange
as vinte mais importantes
regiões metropolitanas do Brasil
em 3.500 municípios, apresentou
tendência de alta ao longo dos
meses de 2015. A metodologia
da pesquisa subdivide a força de
trabalho em ocupados (aqueles
que estão exercendo atividade
remunerada) e desocupados
(todos aqueles que estão à
procura e prontos para assumir
um emprego na semana da
pesquisa). A taxa de
desocupação é uma inferência
muito relevante, pois diz a
proporção dos que estão
computados como força de
trabalho, mas que estão
desocupados no período.
O relatório da PNAD contínua
apresentou a maior taxa de
desocupados na série histórica
iniciada em 2012, atingindo
8,3% no segundo trimestre de
2015, conforme Gráfico 3.1. O
setor que mais desempregou no
período foi o de construção; a
região com a maior taxa de
desocupação foi a do nordeste
(10,3%); a faixa etária mais
afetada pela desocupação foi de
14 a 24 anos, compreendendo os
jovens e que totalizaram 43%
dos desocupados do período; a
parcela da população com ensino
médio incompleto compreendeu
o maior contingente de
desocupados considerando os
outros níveis de instrução.
A taxa do segundo trimestre de
2015 correspondeu a um
aumento de 1,5 p.p. em
comparação com o mesmo
período de 2014 (6,8%) e 0,4
p.p. em relação ao primeiro
trimestre de 2015 (7,9%),
atingindo, portanto, o maior
patamar desde 2012. No que
corresponde à tendência, os
trimestres de 2015 rompem com
a sequência histórica que
mostrava uma queda na taxa de
desocupação em 2014. Esta
tendência acompanha a redução
do nível de atividade,
principalmente nos setores da
indústria e construção que
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 43 -
GRÁFICO 3.1: TENDÊNCIA DO ÍNDICE DE DESOCUPAÇÃO (PNAD CONTÍNUA
2012 – 2015)
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados (PNAD/IBGE).
tiveram as maiores demissões
entre maio e junho 2015.
O setor da Construção e da
Indústria Geral registraram as
maiores demissões no mercado
de trabalho, sendo que, entre o
primeiro e segundo trimestre de
2015, as maiores dispensas
ocorreram no setor da
Construção, sendo uma das
maiores desde o início da
pesquisa em 2012.
Por outro lado, alguns setores da
economia mostraram um
aumento nas contratações como
a Agricultura, Comércio,
Administração Pública e Serviços
(informação, comunicação e
atividades financeiras,
imobiliárias, profissionais e
administrativas), conforme
Tabela 4.1. Como indicado
anteriormente, a Indústria e a
Construção apresentaram
variações negativas.
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 44 -
TABELA 4.1: OCUPAÇÃO POR GRUPO DE ATIVIDADE
Setor 1º Trimestre (mil) 2º Trimestre (mil) Variação (%)
Agricultura 9548 9561 0,1
Indústria 13242 13101 -1,1
Construção 7645 7131 -6,7
Comércio 17439 17578 0,8
Adm. Pública 15004 15277 1,8
Serviços 10351 10768 4
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados (PNAD/IBGE).
Quanto à dinâmica regional, o
Nordeste obteve a maior
variação positiva de
desemprego, no segundo
trimestre do ano corrente, com
um aumento de 0,7 p.p. em
relação ao primeiro trimestre,
atingindo uma taxa de 10,3%. Já
o Sudeste registrou uma taxa de
desocupação de 8,3%,
semelhante à taxa nacional, e
com uma das menores
expansões do período, de 0,3
p.p. A menor taxa de
desocupados para o segundo
trimestre foi a da região Sul
(5,5%).
A taxa de desocupação para
quem tem ensino médio
incompleto (13,8%) foi superior
à verificada para outros níveis de
instrução. Entretanto se constata
uma redução de 0,2 p.p.,
quando confrontado com o
primeiro trimestre. Para aqueles
que têm ensino médio completo
houve aumento da taxa
chegando a 9,9% no segundo
trimestre, sendo que no primeiro
esse valor era de 9,5%. Com
graduação completa houve
redução do desemprego, pois no
primeiro trimestre a taxa estava
em 4,6% e no segundo 4,1%.
Já quanto aos rendimentos,
houve pequeno aumento nos
trimestres de 2015 nos setores
da Indústria, Construção e Setor
público, negativo na Agricultura
e 0% no Comércio.
DIEESE – PED
Os resultados da Pesquisa de
Emprego e Desemprego (PED),
no período de janeiro a setembro
de 2015, podem ser observados
através do Gráfico 4.2 que
apresenta a média do Distrito
Federal e das regiões
metropolitanas analisadas:
Fortaleza, Porto Alegre, Recife,
Salvador e São Paulo. Como dito
anteriormente, a ausência de
Belo Horizonte se deve
à interrupção momentânea das
operações de coleta e
tratamento de informações
domiciliares na Região
Metropolitana de Belo Horizonte
(PED-RMBH).
Vale ressaltar que a taxa de
desemprego na pesquisa é
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 44 -
dividida em desemprego aberto
(pessoas que procuraram
trabalho de maneira efetiva nos
30 dias anteriores ao da
entrevista e não exerceram
nenhum trabalho nos sete
últimos dias) e oculto, sendo
este último dividido em outros
dois subgrupos: desemprego
oculto pelo trabalho precário e o
desemprego oculto pelo
desalento.
GRÁFICO 4.2: EVOLUÇÃO DA TAXA DE DESEMPREGO TOTAL – PED (%)
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados (DIEESE/PED).
A análise do Gráfico 4.2 revela o
crescimento da taxa de
desemprego em todos os meses
pesquisados. Quando se observa
o saldo final até setembro de
2015 é possível perceber que a
taxa de desemprego apresentou
crescimento de 27,62% no
período. A combinação de
demissões na maioria dos
setores da economia e o retorno
ao mercado de trabalho de
pessoas que haviam deixado de
procurar emprego nos últimos
anos estão, também, entre as
prováveis causas do aumento do
nível de desemprego.
Acompanhando esse aumento,
merece também destaque o
crescimento de atividades
informais/autônomas, carentes
da proteção advinda da
legislação trabalhista.
Dentre os setores afetados, o
desemprego na construção civil
é, sem dúvida, um dos mais
preocupantes. Os aumentos
recentes na taxa básica de juros
e o quadro recessivo, acabam
10.50% 10.70%11.50%
12.10% 12.50% 12.60% 13% 13.20%13.40%
0.00%
2.00%
4.00%
6.00%
8.00%
10.00%
12.00%
14.00%
16.00%
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 44 -
por desencadear um efeito
inibidor na demanda agregada,
afetando o custo do crédito
provocando no setor uma forte
redução em sua dinâmica,
colocando-o entre os que mais
demitiram no mês de julho deste
ano. No primeiro semestre, 184
mil trabalhadores foram
demitidos em todo país e, de
acordo com informações do
sindicato da categoria, a previsão
agora é de mais 505 mil
demissões até o fim do ano.
Outro setor que também merece
atenção é a indústria, que
segundo o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE),
cortou, só no mês de julho/2015,
85 mil postos de trabalho. Para
enfrentar a onda de demissões,
o governo anunciou o Programa
de Proteção ao Emprego, cuja
vigência teve início no último dia
7 de julho, com a divulgação de
medida provisória resultado de
negociações entre centrais
sindicais, indústria e o governo.
O programa permite a redução
da jornada de trabalho em até
30%, com também redução nos
salários. No caso da redução de
jornada de 30%, a redução
salarial será de no mínimo 15%,
uma vez que o governo deve
complementar outros 15% com
recursos do Fundo de Amparo ao
Trabalhador (FAT). No entanto,
essa complementação será
limitada a 65% do maior
benefício do seguro-desemprego.
Segundo o governo, o FAT
possui os recursos necessários e
o programa, no fim das contas,
irá representar uma economia
por poupar o fundo de
desembolsos com seguro-
desemprego e evitar a queda de
arrecadação com INSS, FGTS e
imposto de renda. Contudo, o
trabalhador ainda terá parte de
sua renda comprometida, o que
em tempos de alta inflação
compromete seriamente seu
padrão de vida.
Em relação às regiões
metropolitanas, Porto Alegre foi
a que apresentou o maior índice
de crescimento de desemprego,
chegando a atingir 0,68% no
mês de setembro, com uma
média de 0,33% entre janeiro e
setembro/2015, conforme tabela
seguinte. Segundo a economista
do DIEESE, Virgínia Donoso, o
resultado nesta região ocorreu
porque a redução do nível
ocupacional (-24 mil pessoas) foi
maior que a retração da PEA,
que teve a saída de 8 mil
pessoas do mercado de trabalho.
“O rítmo de crescimento do
desemprego está acelerado”,
afirmou Virgínia.
São Paulo teve variação de
0,13% e Fortaleza, Recife e
Salvador, 0,03%, 0,05% e
0,01%, respectivamente, regiões
que possuem historicamente
taxas de desemprego elevadas.
Os valores referentes ao Distrito
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 45 -
Federal ficaram de fora da tabela
devido à ausência de dados para
a região no período de janeiro a
setembro de 2014. Os resultados
das demais regiões podem ser
observados na Tabela 4.2.
TABELA 4.2: TAXA DE CRESCIMENTO DO DESEMPREGO POR REGIÕES METROPOLITANAS
Fortaleza Porto Alegre Recife Salvador São Paulo
jan/15 -0,03% 0,02% 0,04% -0,04% 0,02%
Fev -0,06% 0,02% -0,01% -0,07% -0,01%
Mar 0,01% 0,03% 0,01% -0,02% -0,01%
Abr 0,04% 0,16% 0,00% -0,01% 0,07%
Mai 0,07% 0,26% 0,05% 0,04% 0,13%
Jun 0,07% 0,49% 0,05% -0,01% 0,17%
Jul 0,03% 0,65% 0,12% 0,06% 0,20%
Ago 0,05% 0,64% 0,14% 0,05% 0,23%
Set 0,10% 0,68% - 0,11% 0,34%
Média 0,03% 0,33% 0,05% 0,01% 0,13%
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados (DIEESE/PED).
Um efeito curioso do aumento da
taxa de desemprego e que
precisa ser levado em conta é
que, com o maior número de
trabalhadores desocupados,
aumentou bastante o número de
pessoas que decidiram trabalhar
por conta própria, como
alternativa ao desemprego,
engrossando as fileiras da
informalidade. Já são um total de
22 milhões de brasileiros nessa
situação. E mais 4 milhões
considerados empregadores,
aqueles com pelo menos um
funcionário. Estes trabalhadores
por conta própria fazem parte do
núcleo da informalidade do
mercado de trabalho, tendo, em
sua maior parte, baixa
remuneração e ausência de
proteção social.
O DIEESE calcula o salário
mínimo necessário para a
reprodução da força de trabalho
e sua família. Em outubro 2015,
este salário totalizava R$
3.210,28, quatro vezes mais do
que o salário mínimo vigente, o
que demonstra que esta
reprodução se dá de maneira
intensamente precária no país.
Já a remuneração média real dos
ocupados e assalariados em
Salvador, em agosto 2015, foi de
R$ 1.255,00 e R$ 1.340,00,
respectivamente; em São Paulo
foi de R$ 1.876,00 e R$
1.901,00.
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 44 -
MTE – CAGED
Ao analisar os dados do CAGED
para o período de janeiro a
setembro de 2015, é possível
observar que o saldo acumulado
nestes sete primeiros meses do
ano foi negativo em 657.761
vagas. No meio do ano, em
julho, o setor que apresentou a
maior queda foi a Indústria de
Transformação (-4.312), sendo
que todos os subsetores dessa
categoria obtiveram variações
negativas nos postos de
trabalho, algo que vem
acontecendo desde maio. As
maiores reduções foram na
indústria têxtil, com um saldo
negativo de 8.567 vagas,
seguida pela indústria mecânica,
com menos 7.762 postos de
trabalho. De todos os setores só
a agricultura apresentou
resultado positivo, com a criação
de 24.465 vagas, por motivos
sazonais, segundo boletim do
CAGED.
Em setembro, novamente a
agricultura ajudou a reduzir o
impacto negativo no saldo de
empregos formais. Dentre os
setores listados pelo MTE,
somente a agropecuária
(106.459 vagas) e a
administração pública (12.375)
apresentaram saldos positivos.
Os demais, extrativa mineral,
Indústria de transformação,
Serv. Ind. de Util. Pública,
Construção civil e Comércio
apresentaram variações
negativas.
TABELA 4.3: BRASIL – EVOLUÇÃO DO EMPREGO POR SETOR DE ATIVIDADE ECONÔMICA (JAN – SET / 2015)
Jan Fev Mar Abr Maio Jun Jul Ago Set Total
Ind
Transf.
27.417 2001 -14.683 -53.850 -60.989 -64.228 -64.312 -47.944 -10.915 -
287.472
Const
Civil
-9.729 -25.823 -18.205 -23.048 -29.795 -24.131 -21.996 -25.069 -28.221 -
204.852
Com -97.800 -30.354 2.684 -20.882 -19.351 -25.585 -34.545 -12.954 -17.253 -238.482
Serv -7.141 52.261 53.778 -7.530 -32.602 -39.130 -58.010 4.965 -33.535 -32.550
Outros 5.479 -500 -4.292 7.482 27.138 41.875 20.958 -5.541 -5.678 105.595
Total -81.774 -2.415 19.282 -97.828 -
115.599
-
111.199
-
157.905
-86.543 -95.602 -
657.761
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados (MTE/CAGED).
No intervalo histórico acima, o
pior resultado no ano 2015 foi da
Indústria de Transformação, que
acumulou um saldo negativo de
287.472 vagas. É possível
observar o fraco desempenho da
indústria quanto à oferta de
trabalho, reflexo da queda da
produção do setor. “Esse
segundo trimestre do ano está
mostrando um aprofundamento
da redução da produção
industrial. E, claramente, os
números do emprego denotam
uma crise na baixa capacidade
de consumo da população e
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 44 -
também da redução de
investimentos na economia como
um todo, seja pela queda de
investimentos do governo, seja
pelas empresas”, afirma o
gerente de economia da
Federação das Indústrias de
Minas Gerais (FIEMG), Guilherme
Leão. O setor vem registrando
queda desde 2014, quando
fechou o ano com um
encerramento de 163.817 vagas.
Na Tabela 4.3 é possível
perceber também que o setor de
Construção Civil apresentou
saldos negativos em todos os
meses, acumulando 204.852
postos de trabalho a menos no
ano, sendo que o último mês em
que apresentou saldo positivo foi
em setembro de 2014. Em 12
meses, o saldo negativo foi de
426.746 vagas. Alguns fatores
podem explicar esse
comportamento. Com o crédito
restrito e as taxas de juros mais
altos, o brasileiro tem freado os
gastos, inclusive na compra de
imóveis por exemplo. Alguns
analistas também apontam que
os desdobramentos da Operação
Lava Jato prejudicaram o caixa
de várias construtoras, que
pararam de investir. Não só isso
freia os investimentos das
construtoras, como também a
redução na demanda dos
consumidores.
O comércio foi o segundo pior
resultado, acumulando um saldo
negativo de 238.482 vagas. O
setor só obteve saldo positivo
em março (2.684 vagas),
provavelmente beneficiado com
as contratações extras da
Páscoa. Março também foi o
único mês em que a soma dos
saldos dos setores da atividade
econômica foi positiva (19.282
vagas), fato que pode ser
explicado pelo pessimismo
exagerado no começo do ano,
quando empregadores demitiram
mais que o necessário. Inflação,
juros altos e incertezas são
responsáveis por desaquecer o
setor. A Intenção de Consumo
das Famílias, medida pela
Confederação Nacional do
Comércio de Bens, Serviços e
Turismo (CNC), caiu 5,9% em
agosto, na comparação com o
mês anterior. Na comparação
com agosto de 2014, a queda foi
32,3%. No ano, comparando o
setor varejista com o atacadista,
o primeiro apresenta um pior
resultado.
Nos meses de agosto e setembro
algumas quedas foram menores.
Os setores de Indústria de
Transformação e de Comércio
continuaram caindo, mas em
números menores que nos
meses anteriores do ano. Em
setembro, no primeiro setor,
houve um encerramento de
10.915 vagas e no outro um
encerramento de 17.253 postos
de trabalho.
O CAGED disponibiliza também o
saldo de empregados e
desempregados no estado do
Espírito Santo. Percebemos que
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 45 -
no estado o saldo é negativo em
todos os oito setores, ao se
considerar o acumulado nos 12
meses. No saldo acumulado do
ano, é possível observar que
foram fechadas 27.287 vagas.
Dos setores pesquisados os
únicos que apresentaram saldo
positivo no ano foram a
Agropecuária (849 vagas), a
Indústria Extrativa Mineral (96
vagas) e a Administração Pública
(05 vagas).
TABELA 4.4: ES – EVOLUÇÃO DO EMPREGO POR SETOR DE ATIVIDADE
ECONÔMICA (JAN-JUL / 2015)
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Total
Ind. Transf 1.424 -256 418 -943 -533 -976 -715 -711 96 -1.814
Const. Civil 87 -1.591 -248 -389 -1.781
-689 -1.125
-804 -432 -6.560
Comércio -2.348 -1.771 -417 -806 -964 -
1.267
-
1.609
-925 135 -10.002
Serviços -202 409 -
1.028
-
2.347
-
1.603
-
1.426
-543 -698 -1946 -9.110
Outros -82 148 -209 3.212 2.780 -
2.777
-
1.674
-
1.365
-255 -222
Total -1.121 -3.061 -
1.484
-
1.273
-
2.101
-
7.135
-
5.666
-
4.503
-2.402 -27.287
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados (MTE/CAGED).
O setor mais afetado é o de
Comércio, que acumula saldo
negativo de 10.002 vagas,
seguido do de Serviços, com
9.110 postos, e o da Construção
civil (-6.560). Segundo o diretor
de Economia e Estatística do
Sinduscon-ES, Eduardo Borges,
a instituição vê tendência de
queda no número de
lançamentos habitacionais
durante o ano, o que pode
pressionar o desemprego no
setor no restante do ano de
2015. No Comércio, fatores já
destacados aqui como a inflação
e a diminuição da renda real das
famílias influenciaram no
resultado.
O aumento da inadimplência
pode ser considerado o principal
fator que frustra a expectativa
das atividades comerciais. Dados
da CDL Vitória (Câmara de
Dirigentes Lojistas) indicam que
no Brasil são 53 milhões de
pessoas negativadas. No Espírito
Santo, esse número chega a 550
mil.
O setor da Indústria de
Transformação, acompanhando a
baixa do país, também registrou
saldo negativo no ano, 1.814
vagas, embora menor do que os
demais setores. A maioria dos
subsetores da Indústria de
Transformação apresentaram
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 44 -
negativos, mas vale destacar o
desempenho da Indústria de
material para transporte.
5. POLÍTICA MONETÁRIA
CRÉDITO
Tomando como base os dados do
Banco Central do Brasil, O saldo
das operações de crédito do
sistema financeiro, incluindo
recursos livres - que são aqueles
empréstimos a taxa de juros e
demais condições pactuadas
entre os bancos e seus clientes -
, e os direcionados - que são
aqueles destinados a
determinados setores ou
atividades -, alcançou o valor de
R$ 3,13 trilhões em agosto de
2015. A variação mensal refletiu
elevações nas carteiras
destinadas a pessoas físicas e a
pessoas jurídicas e que
totalizaram montantes de R$
1,48 trilhão e R$1,65 trilhão,
nesta ordem. A relação
crédito/PIB atingiu uma marca
de 54,6%, acima de igual
período do ano anterior, quando
atingiu 52,9%.
Tabela 5.1 – Saldo do Crédito do Sistema Financeiro(R$ bilhões), variação
periódica (%)e participação no PIB em 2015.
Jun Jul Ago 3
meses
12
mes
es
Total 3100,9 3110,7 3132,4 1,6 9,6
Pessoas jurídicas 1637,3 1641,9 1652,5 1,6 9,2
Recursos livres 804,8 800,9 804,4 1,2 5,7
Direcionados 832,5 840,9 848,1 1,8 12,8
Pessoas físicas 1463,6 1468,8 1479,9 1,7 10,1
Recursos livres 791,6 793,9 796 0,9 4,6
Direcionados 672,1 674,9 683,9 2,7 17,2
Participação %:
Total/PIB 54,6 54,5 54,6
Pes. Jurídicas/PIB 28,8 28,8 28,8
Pessoas físicas/PIB 25,8 25,7 25,8
Recursos livres/PIB 28,1 27,9 27,9
R. direcionados/PIB 26,5 26,5 26,7
Fonte: Elaboração própria. Dados do BCB – Nota para a imprensa de setembro de 2015.
O crédito com recursos livres
alcançou R$ 1,6 trilhão (soma
entre os valores de PF e PJ),
representando, assim, 51,1% do
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 53 -
total da carteira do sistema
financeiro. Nas contratações com
empresas, o saldo foi de R$ 804
bilhões, destacando-se os
financiamentos a exportações. O
crédito livre às famílias atingiu
R$ 796 bilhões, destacando-se o
crédito pessoal.
Os financiamentos com recursos
direcionados alcançaram um
saldo de R$ 1,53 trilhão (soma
entre os valores de PF e PJ). As
operações com pessoas físicas
somaram R$ 684 bilhões, devido
à expansão das contratações de
crédito rural e o nível ainda
elevado de concessões de crédito
imobiliário. No segmento
corporativo, o saldo foi de R$
848 bilhões, concentrado em
especial nos financiamentos para
investimentos com recursos do
BNDES.
No que se refere ao crédito
destinado às pessoas jurídicas,
destacaram-se os crescimentos
dos saldos destinados à indústria
de transformação (petróleo e
combustíveis), aos transportes e
à administração pública, que
alcançaram, respectivamente, R$
457 bilhões, R$ 164 bilhões e R$
113 bilhões. Em sentido
contrário, o crédito destinado ao
comércio, teve um saldo de R$
297 bilhões, observando-se um
recuo.
Gráfico 5.1 - Saldo por Atividade Econômica: Composição em (%) no saldo do total de crédito concedido para a atividade econômica em 2015
Fonte: Elaboração própria. BCB (Nota para a imprensa de set 2015).
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 53 -
Gráfico 5.2 – Operações de Crédito em Controle de Capital em 2015
Fonte: Elaboração própria. BCB (Nota para a imprensa de set 2015).
As carteiras das instituições
financeiras públicas, privadas
nacionais e privadas estrangeiras
representaram, na ordem,
55,5%, 30,1% e 14,4% do total
de crédito do sistema financeiro
em agosto (53,2%, 32,1% e
14,7%, respectivamente, em
agosto de 2014).
O total de crédito ao setor
privado somou R$2,89 trilhões,
tendo aumentos no segmento de
pessoas físicas e de pessoas
jurídicas. O crédito destinado ao
setor público somou R$ 244
bilhões, decorrente de variações
dos empréstimos ao governo
federal, aos estados e
municípios.
De acordo com as estatísticas de
crédito regionais, as maiores
expansões ocorreram nas
regiões Sudeste, Sul e Centro-
Oeste, com saldos respectivos de
R$ 1,68 trilhão, R$ 545 bilhões e
R$ 322 bilhões. Já nas regiões
Nordeste e Norte, as carteiras
atingiram, respectivamente, R$
397 bilhões e R$ 116 bilhões. A
taxa de inadimplência do sistema
financeiro, que corresponde às
dívidas com atrasos maiores que
noventa dias, atingiu 3,1 % em
agosto. A taxa atingiu 3,8 % no
segmento de pessoas físicas
devido ao desemprego crescente
bem como a inflação e aos juros
altos, dificultando assim manter
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 53 -
Gráfico 5.3 – Taxa de Inadimplência atraso maior 90 dias
Fonte: Elaboração própria. Dados do Banco Central do Brasil – Nota para a imprensa de setembro de 2015.
os seus pagamentos em dia, e
2,4 % no de pessoas jurídicas
devido à economia estagnada e
ao aumento dos preços de
insumos como combustíveis e
eletricidade, impactando na
saúde financeira das empresas.
A inadimplência atingiu 4,8 %
nas contratações com recursos
livres e 1,2 % nas contratações
realizadas com recursos
direcionados.
TAXA DE JUROS
Após uma série de altas, ao
longo de mais de dois anos, o
Conselho de Política Monetária
(Copom) anunciou o
encerramento do ciclo de
aumento da taxa básica de juros.
Foi decidido na última reunião, 2
e 3 de setembro de 2015, que a
meta da taxa Selic continuará
em 14,25% a.a. Essa decisão, de
acordo com o sistema de metas
de inflação proposto pelo
Conselho Monetário Nacional
(CMN), visa o controle da
inflação. Para o Copom, a
inflação, medida pelo IPCA, se
encontrava em patamares
elevados, necessitando de uma
política monetária contracionista.
Através desse parecer, o Copom
vem determinando a
manutenção da taxa Selic em
níveis elevados, visando à
redução do nível de preços no
médio e longo prazo. O Copom
considera essa medida
necessária tendo em vista que:
na sua perspectiva ela permite a
recuperação do crescimento da
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 53 -
economia por reduzir os riscos e
a depreciação de investimentos,
facilitando o planejamento das
famílias, empresas e governo;
promove a estabilidade do
sistema financeiro, tendo em
vista que atualmente houve uma
elevação dos riscos financeiros
globais, com a inclinação da
curva de juros em economias
maduras.
Dessa forma, a perspectiva para
as próximas decisões do Copom
são para manutenção da taxa
Selic em patamares elevados,
até a convergência da inflação
para próximo ao centro da meta.
A tendência é que a taxa Selic
não ultrapasse de 14,25% a.a.,
mas que passe por um processo
de redução na medida em que a
inflação retroceda. Porém, o
Copom deixa evidente que,
devido a elevações de prêmios
de riscos, que se reflete no preço
dos ativos, a política monetária
estará vigilante em caso de
desvios significativos das
projeções de inflação em relação
à meta. Então, ainda pode-se
esperar que a taxa Selic se eleve
nessas situações.
Gráfico 5.4 – Taxa SELIC Meta X IPCA
Fonte: Elaboração própria. Dados do Banco Central do Brasil e IBGE.
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 53 -
Acompanhando a alta da taxa
básica de juros, podemos
observar que a taxa média de
juros das operações de crédito
do sistema financeiro,
computadas as contratações com
recursos livres e direcionados,
atingiu 29% a.a. em agosto,
tendo uma elevação de 0,6 p.p.
em relação ao mês de julho e
uma variação de 1,9 p.p. no
último trimestre.
Tabela 5.4 – Taxa de aplicação (% a.a.) em 2015
Período Pessoa Jurídica Pessoa física Total
Jan 17,4 32 24,9
Fev 18,1 32,9 25,7
Mar 18,1 33,3 25,9
Abr 18,5 34 26,5
Mai 18,8 34,8 27,1
Jun 19,2 35,4 27,6
Jul 19,8 36,4 28,4
Ago 20,3 36,9 29
Fonte: Elaboração própria. Dados do Banco Central do Brasil.
No segmento de pessoas físicas,
a taxa média de juros ficou em
36,9% a.a., aumentando 2,1
p.p. no trimestre e 0,5 p.p., em
relação ao mês anterior. Essa
evolução no trimestre deve-se ao
aumento nas contratações com
recursos livres, que aumentou
3,8 p.p., ficando em 61,2%.
Destacam-se as elevações nas
modalidades cheque especial,
que teve uma variação de 21,2
p.p. e cartão de crédito rotativo,
que teve uma variação de 43,2
p.p., sendo respectivamente, no
mês de agosto, de 253,2% a.a. e
403,5% a.a.
No que tange o segmento de
pessoas jurídicas, a taxa média
de juros atingiu 20,3% a.a. em
agosto, elevando-se 1,5 p.p. no
trimestre e 0.5 p.p. em relação
ao mês anterior. Essa elevação
deve-se ao fato de que houve
um crescimento por um lado dos
empréstimos com recursos
livres, que variou no trimestre
1,6 p.p., ficando em 28,5% a.a.,
decorrendo das variações nas
modalidades capital de giro 2,6
p.p. e conta garantida 1,6 p.p.,
ficando respectivamente, no mês
de agosto, em 26,0% a.a. e
47,2% a.a.. Por outro lado, esse
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 53 -
aumento deve-se a expansão
dos empréstimos com recursos
direcionados, que teve uma
variação de 1,2 p.p., atingindo
10,6% a.a.. Nestas evidencia-se
as elevações nas modalidades
financiamentos do BNDES, que
teve variação de 1,2 p.p.
Pode-se notar que, de forma
geral, a tendência foi de
aumento das taxas de juros,
acompanhada no trimestre de
todas as taxas médias de juros,
tanto para pessoas físicas,
quanto para jurídica. Se a
economia passar por mais
situações adversas a tendência é
um de aumento para os
próximos períodos.
AGREGADOS MONETÁRIOS
No último mês em análise neste
boletim, a base monetária –
composta pelo total de moeda
emitida e reservas bancárias -
apresentou um saldo próximo a
R$ 231,71 bilhões e variação de
0,2 p.p. no acumulado de 12
meses e equivaleu a 4,0% do
PIB estimado em agosto. Esse
resultado foi resultado de seus
condicionantes, tendo em vista
seus reflexos últimos na
economia nacional. Na Tabela
5.5 encontra-se o saldo da base
monetária no ano vigente, tal
como a variação acumulada
referente a cada mês.
Tabela 5.5 - Base monetária e componentes. Saldos em final de período – 2015 (R$ bilhões), e variação (%) em 12 meses e jan/ago
Fonte: Elaboração própria. Dados do Banco Central do Brasil.
Componentes Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago
Base monetária 238,52 238,81 240,65 235,02 239,51 231,95 225,06 231,71
Var. 12 meses 7,0 6,3 5,5 5,6 11,5 4,1 0,7 0,2 Papel-moeda emitido 199,35 198,07 198,87 197,27 194,54 195,61 195,65 195,15
Var. 12 meses 8,3 4,4 9,4 8,4 8,0 6,0 6,3 4,2 Reservas bancárias 39,17 40,73 41,78 37,75 44,97 36,34 29,41 36,56
Var. 12 meses 0,7 16,7 -9,5 -6,7 29,6 -5,1 -25,6 -17,0
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 52 -
No Gráfico 5.5 pode ser
observado o saldo em final de
mês da base monetária do ano
passado e deste ano, tal como
suas respectivas tendências.
Dessa forma, fica visível a
diferença da conjuntura
econômica entre os períodos em
questão.
Gráfico 5.5 - Saldo em final de mês da base monetária (R$
Fonte: Elaboração própria. Dados do Banco Central do Brasil.
As operações referentes à conta
do Tesouro Nacional no período
de janeiro a agosto promoveram
uma contração na base
monetária de R$ 270 milhões. A
política contracionista adotada
tem como objetivo combater o
aumento contínuo da inflação. O
Tesouro Nacional atuou
vendendo um maior volume de
papéis, visando absorver liquidez
na economia. Nesse período, os
títulos públicos federais
obtiveram grande valorização
nos mercados de transação,
tendo em vista o gradual
crescimento da taxa de juros que
ocorrera no primeiro semestre
de 2015. Ressalta-se que, ainda
que utilizada como instrumento
de controle de liquidez corrente,
a emissão desses títulos resulta
em um volume crescente
endividamento do governo. Por
questões analíticas, vale
ressaltar que a Dívida Pública
Mobiliaria Federal Interna
(DPMFi) em agosto deste ano
somou aproximados R$ 2,55
trilhões, e tende a crescer com a
manutenção dessa política. No
mercado secundário de títulos
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 53 -
públicos emitidos pelo Tesouro
Nacional, ocorrem as
transferências e renegociações
de títulos já lançados no
mercado. Nele, as operações de
curto prazo baseadas na taxa
SELIC e lastreadas em
determinados títulos, são os
principais componentes do
mercado de operações
compromissadas - operações
com compromisso de recompra.
No período em questão,
obtiveram em média um volume
de transações de R$ 947,41
bilhões. Se comparada ao
mesmo período do ano passado,
vê-se um aumento de 21,36%.
Tabela 5.6 - Fatores condicionantes da base monetária (R$ bilhoes) em 2015
Fonte: Elaboração própria. Dados do Banco Central do Brasil.
O início do ano foi marcado pela
compra de divisas no mercado
externo pelo Banco Central, ação
que contribui para a expansão da
base monetária. Pode ser
observado na tabela 1.6, desde
maio uma constante queda
nesse saldo paralelamente a
elevação da taxa de câmbio. O
acumulado de maio a agosto em
2015 foi de R$ 18,16 bilhões,
contra R$ 28,48 bilhões em
2014, evidenciando que tais
operações foram maiores no ano
passado.
Com objetivo de controlar a
valorização da moeda americana
frente ao Real, – esta que já se
encontrava em 34,95% no ano -
o Banco Central anunciou o
retorno dos leilões de linha
(injeção de dólar na economia
por parte do governo, com
compromisso de recompra) no
final do mesmo mês, indicando a
rolagem do leilão ocorrido em
março, na quantia aproximada
de US$ 2,4 bilhões. O uso de
derivativos como o swap
Condicionantes Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago
Conta do tesouro nacional
17,97 -11,20 -7,51 -
10,18 -4,68 7,61 10,32 -2,60
Op. com títulos
públicos federais -33,78 -23,83
-
30,74 35,62
-
22,80 -18,86 -40,17 -6,22
Op. do setor externo 0,44 2,28 4,01 -1,43 9,74 4,71 3,08 0,58
Redesconto do banco
central -0,00 -0,00 1,00 0,00 -1,00 20,00 -20,00 1,00
Dep. de instituições
financeiras 0,05 5,39 1,69 1,91
-
0,85 6,76 -4,78 -2,75
Op. com derivativos -10,78 27,29 34,51 -
31,82 22,06 -8,12 23,90 17,22
Outras contas 1,09 0,36 -0,11 0,27 1,03 0,31 0,76 0,42
Var. da base monetária -25,00 0,29 1,84 -5,63 4,49 -7,55 -6,89 6,65
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 53 -
cambial, que se baseia em uma
relação contratual entre
variações na taxa de juros e
variações do câmbio, vinha
sendo reduzido devido ao grau
de endividamento resultante
para as contas públicas, foi
retomado no mês de agosto,
somando-se aos US$ 1,16 bilhão
que já estavam em rolagem
desde o início do ano. Essas
medidas estão sendo aplicadas
como tentativa de evitar a
evasão de divisas no setor
externo e conter a valorização do
dólar.
No primeiro semestre de 2015, o
M1 encerrou com o saldo
próximo a R$ 304,26 bilhões,
sendo destes R$ 159,62 bilhões
eram papel moeda e R$ 144,62
bilhões depósitos à vista. O M2,
composto pelo M1 acrescido de
emissões de alta liquidez,
encerrou o mesmo semestre com
saldo de R$ 2,15 trilhões. O M3,
resultado da soma das cotas de
fundos de renda fixa e operações
compromissadas com títulos
federais; e o M4, títulos públicos
federais (SELIC) agregados ao
M3, obtiveram grandes
expansões em relação ao ano
passado. O M3 cresceu 11,9% e
o M4 12,8% em relação ao
observado em 2014. Esse
crescimento apresentado reflete
especialmente o aumento do
volume das transações
envolvendo os títulos públicos.
Ainda nos chamados meios de
pagamentos ampliados (M4), seu
saldo semestral foi de R$ 5,27
trilhões, correspondente a
92,9% no PIB no período. Até
agosto o seu crescimento mensal
foi, em média, 0,71 p.p..
Tabela 5.7 - Saldo em final de período: meios de pagamento (R$ milhões)
Meios de pagamento Jun (2014)
Jan (2015)
Jun (2015)
Ago (2015)
M1 305 835 321 695 304 256 296 482
Depósitos de poupança 628 926 663 517 648 879 650 622
Títulos privados 1088 118
1142 078
1199 380
1212 645
M2 2 022 880
2 127 291
2 152 515
2 159 749
Quotas de fundos de investimentos
1 851 408
2 002 469
2 160 477
2 196 010
Oper. comp. com títulos federais 127 276 205 757 165 162 161 530
M3 4 001 564
4 335 516
4 478 154
4 517 288
Títulos federais (Selic) 675 123 713 487 797 277 776 947
M4 4 676 688
5 049 003
5 275 431
5 294 235
Fonte: Elaboração própria. Dados do Banco Central do Brasil.
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 53 -
6. POLÍTICA FISCAL
Análise do Governo Central e
dados acima da linha
Observa-se que, desde as
eleições de novembro último, o
Governo Dilma vem adotando
políticas restritivas, com ajuste
fiscal e metas primárias mais
realistas visando recuperar a
confiabilidade do mercado. O
Governo já anunciara, no fim de
2014, algumas alterações nos
ministérios que merecem
destaque, como a nomeação dos
ministros da Fazenda (Joaquim
Levy) e do Planejamento (Nelson
Barbosa). Ao longo de 2015
mudanças significativas no
cenário político e econômico têm
lançado incertezas sobre a
política fiscal. A proposta para
este mantém a política fiscal
contracionista, voltada para o
ajuste das contas públicas por
meio de diminuição dos gastos e
de tentativas de aumento da
carga tributária, tais como a
recriação da CPMF. Porém, a
nova política fiscal não logrou
êxito até a presente data.
Além da forte queda na
arrecadação, a chamada “pauta
bomba” e a morosidade do
Congresso Nacional em votar as
medidas de ajuste, contribuíram
significativamente. Concomitante
a isso, o Tribunal de Contas da
União, por unanimidade,
recomendou a reprovação das
contas do governo Dilma de
2014 pelas chamadas “Pedaladas
Fiscais”, alegando manobras
contábeis que envolveriam o uso
de recursos de bancos federais
para maquiar o orçamento
federal.
A meta fiscal aprovada na Lei de
Diretrizes Orçamentárias (LDO)
de 2015 era de um superávit
primário de R$ 66,32 bilhões, o
equivalente a 1,1% do PIB. Não
obstante, frente ao quadro de
queda na arrecadação e a
previsão de continuidade da
recessão econômica, o Governo
Federal enviou ao Congresso, no
dia 22 de julho deste ano, um
projeto de lei que altera a LDO e
reduz a meta de superávit para
R$ 8,48 bilhões, equivalente a
0,15% do PIB. Além disso, a
Proposta de Lei Orçamentária
Anual de 2016 (PLOA),
apresentada pelo governo em
fins de agosto corrente, prevê
um déficit de R$ 35 bilhões.
Nesse clima adverso, a agência
de classificação de risco
Standard and Poor’s anunciou o
rebaixamento da nota de crédito
do Brasil, fazendo com que o
país perdesse o grau de
investimento, e assim, o selo de
bom pagador.
Para fazer uma análise mais
apurada desses movimentos nas
contas fiscais do Governo
Central, é necessário analisar os
dados acima da linha para que
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 67 -
se avalie o que houve com o resultado primário, as
receitas e despesas no
acumulado do ano. A Tabela 6.1
mostra resumidamente esses
dados.
Tabela 6.1 Resultado Primário do Governo Central (R$ milhões- preços constantes)
Jan - Set
Discriminação 2014 2015 Diferença Variação
I. RECEITA TOTAL 996.207,1 948.956,0 -47.251,1 -4,7%
I.1. Receitas do Tesouro 729.447,6 690.897,4 -38.550,2 -5,3%
I.2. Receitas da Previdência Social 264.089,6 255.837,3 -8.252,2 -3,1%
I.3. Receitas do Banco Central 2.669,9 2.221,3 -448,6 -16,8% II. TRANSFERÊNCIAS A ESTADOS E
MUNICÍPIOS 172.794,8 163.311,2 -9.483,6 -5,5%
III. RECEITA LÍQUIDA TOTAL (I-II) 823.412,3 785.644,8 -37.767,4 -4,6%
IV. DESPESA TOTAL 840.009,2 806.321,9 -33.687,3 -4,0%
IV.1. Pessoal e Encargos Sociais 176.107,4 172.855,2 -3.252,2 -1,8%
IV.2. Benefícios Previdenciários 316.925,4 311.372,9 -5.552,5 -1,8%
IV.3. Custeio e Capital 342.220,2 317.596,0 -24.624,2 -7,2% IV.4. Transferência do Tesouro ao Banco
Central 2.064,5 1.664,3 -400,2 -19,4%
IV.5. Despesas do Banco Central 2.691,7 2.883,4 141,7 5,3% V. RESULTADO PRIMÁRIO GOVERNO
CENTRAL (III - IV) -16.597,0 -20.667,1 -4.080,1 24,6%
V.1. Tesouro Nacional 36.260,6 35.470,6 -790,0 -2,2%
V.2. Previdência Social -52.835,8 -55.535,6 -2.699,8 5,1%
V.3. Banco Central -21,8 -612,1 -590,3 2.707,7% VI. RESULTADO PRIMÁRIO/PIB (%) - - - -
Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional
Nota-se que mesmo com o corte
dos gastos governamentais, o
Governo Central registra um
déficit primário no valor de R$
20,67 bilhões no acumulado até
setembro. Esse resultado é ainda
pior do que o verificado em igual
período de 2014, um déficit
primário de R$ 16,60 bilhões. Do
déficit primário de 2015 o
Tesouro Nacional registra um
superávit primário de R$ 35,47
bilhões, enquanto a Previdência
Social um déficit de R$ 55,53
bilhões. O principal fator a
explicar esta situação é a queda
da receita.
A retração do crescimento
econômico, o aumento da taxa
de desemprego, além da inflação
acima do teto da meta,
configuram alguns aspectos
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 67 -
decisivos que impactaram
negativamente na arrecadação
tributária do Governo. De janeiro
a setembro de 2015, o resultado
a preços constantes das receitas
do Governo Central, foi de R$
948,96 bilhões, numa retração
de 4,7% com relação a 2014. No
que diz respeito às despesas, os
cortes orçamentários feitos são
corroborados pelos dados até
setembro do ano corrente.
Apesar dos cortes drásticos, as
despesas ainda apresentaram
queda um pouco menor do que
as receitas, de 4,0%,
equivalendo a R$ 806,32 bilhões
até setembro.
De antemão, percebe-se que o
esforço do Governo com o corte
de gastos tem dado resultados.
Porém, o comportamento
altamente desfavorável das
receitas traz sérias dificuldades
ao governo. Para averiguar essa
diferença, é necessário analisar
os determinantes de cada
categoria (receita e despesa)
que contribuiram para esses
números.
As receitas do Tesouro Nacional
caíram de R$ 729,45 bilhões em
2014, para R$ 690,90 bilhões,
em 2015. Desse montante,
houve uma redução com as
receitas provenientes de
impostos de R$ 6,57 bilhões,
devido ao comportamento do
Imposto de Renda. Pode-se
observar uma redução na
arrecadação das Contribuições
em relação ao acumulado de
2014, no valor de R$ 11,83
bilhões. Desse montante, o que
chama atenção é a redução da
Contribuição Social Sobre o
Lucro Líquido (CSLL) em R$ 7,06
bilhões, possivelmente face à
desaceleração da economia.
Porém, os pontos de destaque
nas receitas observam-se na
Cota parte de compensações
financeiras (redução de R$ 11,5
bilhões) e no recebimento de
Dividendos pelo Governo
Federal. A primeira são receitas
provenientes de contribuições
econômicas de recursos
resultantes da exploração de
petróleo bruto, xisto, xisto
betuminoso e gás, de recursos
hídricos e de recursos minerais.
Assim, a redução do preço
internacional do petróleo fez com
que houvesse uma queda nessa
arrecadação, de acordo com o
Tesouro Nacional. Já a queda dos
dividendos é explicada pelo não
pagamento dos mesmos, no ano
corrente, da parte da Petrobras e
do BNDES. A maior empresa
Estatal do país passa por
problemas significativos, com
funcionários do alto escalão
envolvidos em um grave
esquema de corrupção da
Operação Lava Jato.
Em relação às despesas do
Tesouro Nacional houve uma
redução no montante de R$
28,28 bilhões no acumulado de
2015 em comparação com o
mesmo período em 2014. Alguns
fatores chamam a atenção para
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 68 -
esse resultado. De acordo com os dados do Tesouro
Nacional, na conta Custeio e
Capital houve uma redução de
R$ 24,62 bilhões. Desse
montante, o Tesouro obteve um
decréscimo de R$ 22,53 bilhões
no Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC). Também
houve uma diminuição de R$
16,11 bilhões nas despesas
discricionárias. Esses últimos
gastos conferem ao gestor maior
flexibilidade quanto ao seu
estabelecimento, e incluem R$
5,22 bilhões referentes ao
Ministério da Educação e R$ 3,55
bilhões ao Ministério da Saúde.
Na direção contrária, outro fator
chama muito a atenção nos
gastos do Tesouro Nacional: o
aumento de R$ 13,85 bilhões
nas despesas de Subsídios e
Subvenções Econômicas. De
acordo com os dados do Tesouro
Nacional envolve gastos com o
Programa de Sustentação do
Investimento (R$ 7,4 bilhões), o
Pronaf (R$ 3,2 bilhões) e o
Custeio Agropecuário (R$ 1,1
bilhão).
Em relação à Previdência, a
receita acumulada no ano
registrou uma redução de R$
8,25 bilhões, na comparação
com o mesmo período do ano
anterior. Segundo os dados do
Tesouro Nacional, a arrecadação
da contribuição previdenciária
teve queda em relação a 2014,
de R$ 12,77 bilhões. A
diminuição por parte da
contribuição previdenciária se
deu pela inclusão de novos
setores na desoneração da folha
salarial (Leis nº 12.844/2013 e
nº 12680/2013). Ainda, deve-se
levar em conta uma redução de
4,8% da massa salarial, entre os
períodos de dezembro de 2014 a
agosto de 2015, apurada pela
PME/IBGE. Por outro lado, a
compensação do tesouro ao
Fundo do RGPS elevou-se em R$
5,22 bilhões.
No que diz respeito às despesas
da Previdência, houve uma
redução de R$ 5,5 bilhões em
relação ao ano de 2014.
Segundo o Tesouro Nacional,
isso se deu face à redução do
valor médio real dos benefícios
pagos pela Previdência em R$
5,86, parcialmente compensada
pela elevação de 801,6 mil no
número de benefícios emitidos
em 2015.
Conforme a análise dos dados
verifica-se que, apesar de todos
os cortes que estão sendo
realizados pelo Governo Federal,
a indicação é de que o resultado
das contas públicas acima da
linha para esse ano será de
déficit. O esforço para ajustar as
contas públicas indica uma
tendência para um resultado
desfavorável frente aos graves
problemas encontrados, tanto no
cenário macroeconômico, quanto
no jogo político.
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 68 -
Análise do Setor Público
Consolidado (abaixo da linha)
As contas do Setor Público
Consolidado (SPC),
considerando-se o conceito
“abaixo da linha”, analisam o
resultado fiscal pela ótica do
financiamento e mostram o
desempenho fiscal do governo
através da variação do
endividamento líquido. De
acordo com este conceito, o
resultado primário do SPC,
acumulado de janeiro a
setembro de 2015, registrou um
déficit primário de R$ 8,42
bilhões, que corresponde a
0,20% do PIB. Os números
referem-se ao Governo Central,
Estados, Municípios e empresas
estatais (excluindo-se Eletrobrás
e Petrobrás).
O Governo Central respondeu
por um déficit primário de R$
21,72 bilhões (0,51% do PIB).
Os números do Banco Central
mostram que, no acumulado dos
nove primeiros meses deste ano,
os estados e municípios tiveram
desempenho muito superior ao do
governo federal.
No acumulado, os Estados e
Municípios registraram um
superávit primário de R$ 16,37
bilhões, enquanto as empresas
estatais tiveram um déficit de R$
3,06 bilhões.
A política de taxas de juros altas,
usada como argumento para
combate a inflação, bem como a
elevação da taxa média de
remuneração da dívida pública
face ao quadro de forte
instabilidade, atingindo 30,9%
em setembro, amplia
sensivelmente as despesas
financeiras do governo. A
despesa com juros nominais
alcançou, no acumulado no ano,
R$ 408,32 bilhões, 9,5 % do
PIB, com forte contribuição do
governo Central (7,9% do PIB).
Se comparado com o mesmo
período do ano anterior, as
despesas com juros quase
dobraram (equivaliam a 5,1 %).
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 68 -
Tabela 6.2 – Necessidades de financiamento do setor público (em milhões)
2014 2015
Jan-Set
Jan-Set
Discriminação Fluxos % Fluxos PIB Primário 15.286,0 0,38 8.422,9 Governo Central 19.470,5 0,48 21.724,6 Governos regionais -6.059,5 -0,15 -16.367,2 Empresas estatais 1.875,0 0,05 3.065,6
Nominal 224.429,2 5,51 416.742,3 Governo Central 188.011,2 4,61 361.776,3 Governos regionais 32.158,2 0,79 47.446,1 Empresas estatais 4259,7 0,10 7.519,4
Juros nominais 209.143,2 5,13 408.319,3 Governo Central 168.540,6 4,14 340.052,0 Governos regionais 38.217,8 0,94 63.813,3 Empresas estatais 2.384,7 0,06 4.453,8
PIB acumulado no ano 4.075.189,8 - 4.294.690,9 Fonte: Banco Central do Brasil
O déficit primário e a forte
elevação das despesas financeiras
levaram à ampliação do déficit
nominal do SPC, que atingiu 9,7%
do PIB, ampliando com isso o
estoque da dívida pública.
Tabela 6.3 - Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) (em milhões
R$)
2014
2015
Dez
Set
Discriminação Saldos % Saldos %
PIB PIB
Dívida líquida total 1.883.146,9 36,8 1.906.018,8 33,2
Governo Federal 1.272.707,4 24,8 1.297.564,0 22,6 Governos estaduais 551.199,2 10,8 627.455,2 10,9 Empresas estatais 39.401,8 0,8 49.917,5 0,9
Dívida interna líquida 2.669.546,8 52,1 3.086.025,0 53,8 Dívida externa líquida -786.399,9 -15,4 -1.180.006,2 -20,6 Fonte: Banco Central do Brasil
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 67 -
A dívida líquida do setor público
consolidado alcançou R$1,9
trilhão em setembro (33,2% do
PIB), reduzindo-se frente se
comparada a igual período de
2014, a despeito da severa
deterioração fiscal. È
fundamental analisar outros
indicadores de endividamento
para buscar entender a situação
fiscal do governo. Um indicador é
a Dívida Bruta do Governo Geral,
que inclui apenas os governos
federal, estaduais e municipais.
A Dívida Bruta do Governo Geral
alcançou R$ 3,79 trilhões em
setembro (66,0% do PIB), muito
acima do que representou em
dezembro de 2014, 58,9% do
PIB. O aumento da dívida reflete
o significativo déficit nominal nas
contas públicas desse ano. Além
da dívida bruta é importante
avaliar a dívida mobiliária
federal.
Dívida Mobiliária Federal
A dívida mobiliária federal é um
elemento essencial para análise
da dívida do governo no Brasil,
por se constituir na maior parte
do endividamento público
federal. Ela é formada por títulos
emitidos pelo Tesouro Nacional
que estão em poder do mercado.
Esses títulos estão associados a
flutuações da taxa básica de
juros, aos índices de inflação e à
taxa de câmbio.
Em setembro de 2015, o saldo
da dívida mobiliária federal
totalizou R$ 2,58 trilhões (Tabela
6.5), um aumento de 21,1% em
relação a janeiro deste ano.
Desse modo, a dívida mobiliária,
que correspondia a 38,6% do
PIB em janeiro deste ano
alcançou 45,1% em setembro. O
Tesouro Nacional, portanto, vem
promovendo um aumento na
venda de títulos públicos, com o
objetivo de conter o excesso de
liquidez na economia e o quadro
de instabilidade
macroeconômica. Essa medida,
no entanto, tem elevado o
endividamento do governo
central no longo prazo.
A atração de investidores pelos
títulos indexados à Selic com
swap cambial se elevou nesse
primeiro semestre de 2015. Essa
modalidade, que em janeiro
tinha uma participação de 4,3%,
passou a responder por 5,0% em
setembro (Tabela 6.4). A taxa
Selic subiu no período de janeiro
a setembro de 12,25% a.a. para
14,25% a.a..
Além disso, a participação dos
títulos pré-fixados se elevou, no
período de janeiro a setembro,
de 28,4% para 32,6%. Esses
papéis, de uma forma geral,
contribuem para melhorar o
perfil da dívida, pois dão ao
governo o conhecimento do seu
valor no futuro. Mas deve-se
destacar que a taxa de
remuneração dos mesmos é
mais elevada do que a da taxa
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 68 -
Selic, ampliando o custo financeiro da
dívida.
Em relação aos títulos vinculados
ao câmbio, esses se mantiveram
com pequena elevação nos
primeiros seis meses do ano,
fechando em 10,7% em junho
(Tabela 6.4). Todavia, a
participação desses títulos se
elevou de forma mais
significativa em setembro, com
os títulos indexados a taxa de
câmbio com swap cambial
alcançando 12,4%, atraídos,
sobretudo, pela alta na taxa de
câmbio.
Ante o cenário de piora fiscal e a
necessidade de ampliação da
dívida mobiliária para além do
planejado, o Tesouro Nacional
anunciou em agosto, pela
primeira vez em muitos anos,
uma revisão para mais dos
limites de estoque da Dívida
Pública Federal - DPF definidos
em seu Plano Anual de
Financiamento – PAF 2015. O
intervalo de expansão foi
ampliado de R$ 2,45 a R$ 2,60
trilhões para de R$ 2,65 a R$
2,80 trilhões. Isso indica uma
expectativa mais pessimista no
que tange ao controle da dívida
mobiliária, que, como visto,
chegou a R$ 2,58 trilhões em
setembro corrente.
Tabela 6.4 - Títulos Públicos Federais e oper. e mercado aberto (R$
milhões e %)
Discriminação Dez/14 Jan/15 Jun/15 Set/15
Dívida Total (R$ bilhões) 2.975.184 3.039.139 3.278.553 3.425.126
Indexadores (%) - - - -
Over/Selic sem Swap 14,1 14,3 15,6 16,8
Over/Selic com Swap 4,5 4,3 5,3 5,0
Câmbio sem Swap 0,4 0,4 0,4 0,5
Câmbio com Swap 10,0 10,4 10,7 12,4
Prefixado 31,6 28,4 33,1 32,6
TR 0,3 0,3 0,3 0,3
Índice de preços 26,9 26,8 25,7 25,3
Oper. De Merc. Aberto 26,6 29,7 24,9 24,4
Fonte: BCB - Notas para imprensa de 18/10/2015
Em termos da composição dos
títulos da dívida, no período de
janeiro a setembro de 2015,
destacam-se as NTNs, que
alcançaram o patamar de R$
1,17 trilhão em setembro
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 68 -
(Tabela 6.5) desse ano – 45,3%
dos títulos fora do BACEN.
Segundo o Balanço do Tesouro
Direto, de agosto de 2015, a
maior parte das NTNs
correspondem à NTN-B e à NTN-
B principal, que são títulos
vinculados ao IPCA. Com a alta
da inflação no último período, a
participação desses títulos no
total de títulos fora do Bacen
obteve uma elevação de 10,7%
no período.
As Letras do Tesouro Nacional
(LTNs), por sua vez, são títulos
pré-fixados de baixa volatilidade.
Constata-se um aumento da
participação dessa modalidade,
alcançando 31,3% do total de
títulos fora do Bacen em
setembro, correspondendo a um
montante de R$ 811,23 bilhões
(Tabela 6.5) em junho.
No mesmo período, as LFTs, que
são títulos pós-fixados indexados
pela taxa Selic, obtiveram um
aumento da participação no total
de títulos fora do BACEN,
passando de 20,38% em janeiro
para 22,26% em setembro. Essa
elevação começa a representar
um problema, demonstrando a
dificuldade do governo no
cumprimento da diretriz do Plano
Anual de Financiamento de 2015
(PAF), que prevê a substituição
gradual dos títulos remunerados
a taxas de juros flutuantes por
títulos com rentabilidade pré-
fixada, o que pode promover
também uma piora em termos
do perfil da dívida nesse ano.
O cenário de instabilidade vivido
no país, associado à piora do
quadro macroeconômico, à
dificuldade do controle cambial e
da inflação e à alta dos juros
contribui para um quadro de
mais instabilidade no que tange
a dívida mobiliária federal
levando a sua elevação.
Tabela 6.5 - Perfil dos Títulos Públicos Federais Emitidos pelo Tesouro (R$ milhões e %)
Discriminação Dez/14 Jan/15 Jun/15 Set/15
Títulos emitidos 3.301.051 3.204.002 3.585.830 3.802.663
Carteira do BACEN 1.117.440 1.066.054 1.123.411 1.213.927
LTN 686.033 616.444 773.981 811.239
LFT 418.587 435.732 511.178 576.417
NTN 1.052.636 1.059.354 1.150.143 1.172.570
Dívida Securt. 7.054 6.944 6.775 6.688
CFT/CTN 16.437 16.638 17.658 19.209
TODA 2.862 2.835 2.683 2.612
BTN 0 0 0 0
Total Fora do BACEN 2.183.611 2.137.948 2.462.419 2.588.736
% do PIB 39,5 38,6 43,4 45,1
Fonte: BCB - Notas para imprensa de setembro de 2015
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 18 -
7. SETOR EXTERNO
Nos oito primeiros meses do
ano, com um déficit de
aproximadamente US$ 2,7
bilhões no Balanço de
Pagamentos, o Brasil fechou
suas contas externas com US$
1,1 bilhão a menos do que o
registrado no mesmo período do
ano passado. Dentre as
principais causas, podemos citar
a redução de 38,9% da remessa
de lucros ao exterior no período,
na conta de renda primária.
Além disso, também a redução
em viagens internacionais na
conta de serviços, em 26,8%.
Fator primordial para entender
tais quedas é a constante
desvalorização do Real que, de
fevereiro a agosto, atingiu cerca
de 25%, chegando aos R$ 3,60.
A atual conjuntura do cenário
internacional tem influenciado
bastante no desempenho das
contas Brasileiras. Parceiros
comerciais, que antes
dinamizavam a Balança
Comercial e os investimentos
brasileiros, nestes primeiros oito
meses não se encontram mais
tão pujantes, fechando as
exportações de janeiro a agosto
de 2015 com uma retração de
US$ 25,6 bilhões em relação ao
mesmo período de 2014. Uma
trajetória de queda nas bolsas
asiáticas, principalmente as
chinesas, promove retração em
outra rubrica de extrema
importância para o Balanço, os
investimentos diretos no país
(IDP), com quedas calculadas no
valor de US$ 23,3 bilhões em
relação ao ano passado. Além de
todo este panorama
internacional nada benéfico às
contas externas brasileiras, o
atual momento político-
econômico do nosso país,
intensifica ainda mais o
ambiente de incerteza quanto às
inversões. Dessa forma, não foi
possível cobrir o déficit nas
Transações Correntes com a
conta Capital e Financeira,
historicamente responsável pelos
superávits do Balanço de
Pagamentos.
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 78 -
Tabela 7.1 - Balanço de pagamentos – janeiro a agosto - (US$ milhões)
Balanço de pagamentos
Jan – Ago 2014 Jan – Ago 2015
Transações Correntes -65 248 -46 648
Balança comercial
Exportações Importações
-889
153 757 154 646
6 333
127 634 121 301
Serviços e Rendas Viagens
-64 360 -12 339
-52 481 -9 032
Conta Capital e Financeira -63 610 -43 907
Conta Capital 124 246
Conta Financeira -61 434 -44 153
IDP 65432 42169
Erros e Omissões 3 690 1 750
Resultado do Balanço -1 638 -2 741
Fonte: Banco Central do Brasil – Elaboração Própria.
TRANSAÇÕES CORRENTES
A Conta Transações Correntes,
no primeiro semestre de 2015,
como observado na Tabela 7.1,
obteve um comportamento bem
diferente ao período de janeiro a
agosto de 2014. Inicialmente
chama a atenção a redução em
US$ 18,6 bilhões de seu déficit
no período de janeiro a agosto.
Gráfico 7.1 –Transações Correntes– janeiro a agosto - (US$ milhões)
Fonte: Banco Central – Elaboração Própria
-889
-30,735-35,187
1,5626,333
-26,417 -27,619
1,555
-40,000
-30,000
-20,000
-10,000
0
10,000
Balança comercial(bens)
Serviços Renda primária Renda secundária
2014 2015
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 77 -
O que contribuiu para o declínio
do déficit em Transações
Correntes foi, principalmente, o
resultado positivo na Balança
Comercial, de US$ 6,3 bilhões de
janeiro a agosto de 2015 contra
um déficit comercial de US$ 0,8
bilhão no mesmo período de
2014. Mas isso se deve muito
mais ao impacto da recessão
sobre as importações do que a
um melhor desempenho das
exportações. A composição do
déficit, entretanto, não se altera,
sendo a rubrica de Serviços e
Rendas a mais deficitária, com
US$ 52,4 bilhões no primeiro
semestre deste ano, contra US$
64,3 bilhões do primeiro
semestre do ano passado.
A conta de serviços, como visto
no Gráfico 7.1, foi deficitária em
US$ 26,4 bilhões, em função de
aluguel de equipamentos e de
viagens. O déficit em alugueis e
equipamentos voltou a se elevar
e somou US$ 14,1 bilhões de
janeiro a agosto, maior déficit
dentro conta de serviços, ante
US$ 13,9 bilhões no mesmo
período de 2014.
O item viagens internacionais
registrou um déficit total de US$
9,03 bilhões, como já colocado
anteriormente houve redução de
26,8%, comparativamente ao
ocorrido no mesmo período do
ano anterior, em que o déficit foi
de US$ 12,3 bilhões. O resultado
foi influenciado pela retração de
25,1% nos gastos de turistas
brasileiros em viagens ao
exterior, mas também pela
diminuição de 20,8% nas
despesas de viajantes
estrangeiros ao Brasil. É bom
ressaltar aqui que a base de
comparação para os gastos dos
turistas estrangeiros teve uma
grande redução devido
principalmente, a copa do mundo
no ano de 2014. Não diferente
das viagens, na rubrica de
transportes também houve uma
redução no déficit, o que em
2014 somou US$ 5,8 bilhões,
este ano somou US$ 4,2 bilhões.
No que diz respeito à renda
primária, o maior destaque foi a
redução de US$ 5,5 bilhões da
remessa de lucros e dividendos
ao exterior, o que tanto decorre
da própria redução dos
montantes de lucros gerados
internamente como da
desvalorização da taxa de
câmbio, o que desincentiva o
envio de recursos das empresas
a suas matrizes no exterior.
Ainda dentro da conta de renda
primária, o pagamento de juros
de títulos negociados no
mercado interno ficou
relativamente estável se
comparado o período de janeiro
a agosto de 2014 (US$ 7,3
bilhões), neste ano
correspondente a US$ 6,7
bilhões. Porém, na renda de
investimento em carteira, não se
elimina o fato de que a despesa
com pagamentos de juros ao
exterior é ainda uma parcela
significativa, que no período de
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 78 -
janeiro a agosto deste ano
fechou com déficit de US$ 4,6
bilhões.
No que tange a balança
comercial, a variação absoluta
das exportações de 2015, em
relação a 2014, foi negativa em
US$ 25,6 bilhões, sendo que o
maior responsável por esse
resultado foi a exportação de
produtos industrializados, com
queda de US$ 7,5 bilhões o
equivalente a menos 10,41%.
Esse resultado ocorreu devido à
diminuição das exportações de
produtos manufaturados, cuja
variação absoluta foi de menos
US$ 6,1 bilhões, e a variação
relativa de menos 11,52%. A
queda dos semimanufaturados
representou uma variação
absoluta de menos US$ 1,35
bilhão, e a variação relativa de
menos 7,23%. A variação
absoluta de exportação de
produtos básicos teve queda de
US$ 17,2 bilhões e variação
relativa de menos 22,19%.
Dentro do setor de
manufaturados, o resultado
exposto está relacionado à
queda nas exportações de óleos
combustíveis com variação
relativa de menos 61,48% e
absoluta de menos US$ 1,65
bilhão, a variação pode estar
relacionada à queda do preço
médio do produto de US$
626,00, em 2014, para US$
303,25, em 2015. Além disso,
registrou-se queda
principalmente na exportação de
etanol (menos 23,01%), devido
à queda do preço médio em
23%. Por outro lado, observou-
se um crescimento na
exportação óxidos e hidróxidos
de alumínio (14,81), laminados
planos(66,73%), aviões
(21,46%). O aumento deste
último ocorreu principalmente
devido a maior participação de
países como Estados Unidos
(66,38%) e Venezuela
(88,31%).
A maior queda dentro do setor
dos semimanufaturados advém
da exportação de açúcar em
bruto (menos 20,48%), uma
variação absoluta de menos US$
0,9 bilhão. Este resultado deveu-
se ao fato de que as importações
desse produto decairam por
parte de seis dos nossos
principais parceiros como China,
Argélia e Rússia. Além disso,
houve queda da exportação
couros e peles (menos 19,31%)
e ferro-ligas (menos 14,53%).
Por outro lado, observou-se um
aumento na exportação de
catodos de cobre (95,49%),
manteiga, gordura e óleo de
cacau (43,81) e zinco em bruto
(105,44%).
Já em relação aos produtos
básicos, nota-se uma grande
queda nas exportações de
produtos como minérios de ferro
e seus concentrados (menos
47,6%) tendo variação absoluta
de menos US$ 8,6 bilhões, isso
se deve principalmente a queda
do preço médio em 50%. Além
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 79 -
disso, tivemos também uma
diminuição das exportações de
soja mesmo triturada(menos
17,19%), e variação absoluta de
menos US$ 3,6 bilhões. Isso
ocorreu devido a redução nas
importações desse item de
países como China, Espanha e
Holanda, em menos 13,72%,
menos 19,75% e menos
45,54%. Tivemos também uma
queda na exportação de óleos
bruto de petróleo (menos
21,75%), e variação absoluta de
menos US$ 2,3 bilhões. Isso
ocorre principalmente devido a
queda das importações desse
item por países como Estados
Unidos e Chile, em menos
36,54% e menos 44,28%
respectivamente. Por outro lado,
houve um aumento na
exportação de minérios de cobre
e seus concentrados (22,41%) e
um pequeno aumento de café
cru em grão (1,08%).
Decresceram as importações de
bens de capital (menos 27,4%),
matérias-primas, bens
intermediários (menos 26%) e
bens de consumo (menos
23,4%). Essa queda deve-se ao
efeito da desvalorização
cambialque melhora a
rentabilidade em reais das
exportações brasileiras, mas
também faz diminuir as
importações. Além disso, o
desaquecimento da economia
tem gerado uma menor
demanda por bens importados.
No segmento de matérias-primas
e intermediários, decresceram as
aquisições de produtos minerais,
produtos alimentícios, produtos
agropecuários não alimentícios,
partes e peças de produtos
intermediários, produtos
químicos e farmacêuticos,
acessórios de equipamento de
transporte e matérias-primas
para agricultura.
As principais quedas nas
aquisições de bens de consumo
foram observadas nas
importações de automóveis de
passageiros e partes, bebidas e
tabaco, vestuário, produtos de
toucador, partes e peças para
bens de consumo duráveis,
móveis, produtos alimentícios,
máquinas e aparelhos de uso
doméstico, produtos
farmacêuticos e peças de
decoração.
Por parte dos produtos
industrializados as importações
registraram uma variação
relativa de menos 18,59%. Isso
ocorre devido à queda nas
importações de produtos
manufaturados, que apresentou
variação relativa de menos 19%.
Houve que dos medicamentos
para medicina (menos 11,41%),
peças para veículos (menos
23,16%), automóveis de
passageiros (menos 27,43%) e
óleos combustíveis (menos
51,42%). Porém, observou-se
um aumento nas importações de
plataformas de petróleo e
perfuração (111,19%) e parte de
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 80 -
motores e turbinas de avião
(10,01%).
Houve também uma queda de
importação de
semimanufaturados, com
variação relativa de menos
8,27%, essa queda advém da
queda de importação de cloreto
de potássio (menos 14,86%) e
catados de cobre (menos
10,22%). Por outro lado houve
um aumento nas importações de
alumínio em bruto (21,5%) e
ferro-ligas (14,53%).
Os produtos básicos
apresentaram uma queda nas
importações com variação
absoluta de menos 38,23%. A
queda deveu-se principalmente
pelos óleos brutos de petróleo
(menos 38,23%), gás natural
(menos 58,5%) e trigos em
grãos (menos 39,32%). Por
outro lado houve um aumento
nas importações de mineiros de
cobre e seus concentrados
(3,95%), enxofre sublimado
(19,9%).
Atualmente, a balança comercial
brasileira atravessa problemas
devido à conjuntura externa,
como redução das importações
por parte de países parceiros,
como por exemplo, a do nosso
principal consumidor, a China. O
desempenho positivo levou a
uma revisão para cima na
estimativa do superávit
comercial de 2015. Agora, o
Midic aguarda um resultado
positivo de US$ 15 bilhões. A
previsão anterior era algo entre
US$ 10 bilhões e US$ 12 bilhões,
o acumulado até setembro já
indica um superávit de US$ 10,2
bilhões.
Conta Capital e Financeira
Em um cenário conturbado,
rodeado de incertezas, como o
vivido pela economia brasileira,
pode-se prever mudanças
drásticas no que tange aos
fluxos decorrentes de transações
com ativos e passivos financeiros
entre residentes e não
residentes, registrados na conta
financeira. O que se verificou
nestes primeiros oito meses de
2015 foi uma retração de
aproximadamente US$ 17,3
bilhões na conta financeira, se
comparado ao mesmo período de
2014. O mesmo já não se pode
dizer da conta capital, na qual as
transferências de capital que
dizem respeito ao patrimônio de
migrantes ou aquisição de
patentes e marcas, não
registram grandes diferenças,
apenas uma alta de US$ 122
milhões, sendo assim, pouco
relevante para o estudo do
Balanço de Pagamentos.
Voltando à conta financeira,
observa-se que o investimento
direto no exterior (IDE) marcou
uma queda de US$ 8,8 bilhões
em relação ao mesmo período de
2014, puxado pelo aumento nos
regressos dos investimentos de
brasileiros no exterior no que se
refere à participação no capital
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 81 -
das empresas (uma alta de US$
3,6 bilhões), já que a
desvalorização do real os torna
mais caros, inibindo novas
aplicações, diferente do cenário
interno em que as taxas de juros
não param de subir e atrair
novos investidores residentes.
Por sua vez, as transações entre
matrizes e filiais também não
foram poupadas pelo atual
momento da economia brasileira,
que não permitiu maiores níveis
de concessões de crédito entre
as mesmas.
Todavia, nenhum registro sofreu
tanto com a atual crise quanto a
principal rubrica da conta
financeira, o investimento direto
no país (IDP), durante anos,
responsável pelos superávits do
Balanço de Pagamentos e,
teoricamente, pelo fomento das
atividades nas cadeias
produtivas das empresas. O IDP
registrou uma queda, no
comparativo com o mesmo
período de 2014, de cerca de
US$ 23,3 bilhões. Aqui, o baixo
nível de investimentos de
estrangeiros no capital das
empresas nacionais foram os
responsáveis, US$ 8,3 bilhões a
menos, junto com uma queda
nas concessões de crédito entre
matrizes e filiais e um alto valor
pago em amortizações para o
exterior, na qual fecharam as
operações intercompanhia com
uma baixa de quase US$15
bilhões. Nitidamente, os
resultados são reflexos de uma
economia totalmente
dependente do cenário
internacional, e mergulhada
numa crise econômica e política
de grandes proporções. Os
investidores estrangeiros
mostram cautelosos face a esse
quadro, somado ao
rebaixamento de sua nota pelas
agências internacionais de
classificação de risco, pioram
ainda mais a sua relação com o
resto do mundo, tornando um
superávit nas contas externas
cada vez mais difícil.
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 77 -
Tabela 7.2–Conta Financeira– janeiro a agosto – (US$ milhões)
Fonte: Banco Central
Seguindo a lógica econômica, os
investimentos em carteira,
também chamados
investimentos em portfólio,
acompanharam a queda dos
investimentos diretos e
registraram na rubrica um saldo
negativo de aproximadamente
US$ 13,6 bilhões a menos do
que no ano passado,
evidenciando uma saída de
divisas, que teve como seu carro
chefe os títulos de renda fixa,
que passaram de um saldo
negativo de US$ 27,2 bilhões,
nos oito primeiros meses de
2014, para um de US$ 12,2
bilhões no mesmo período me
2015, principalmente os de longo
prazo, ou seja, investidores
residentes e não-residentes
estão se desfazendo cada vez
mais de títulos de renda fixa
negociados tanto no mercado
doméstico quanto no mercado
externo. Operam aqui duas
variáveis de importante
influência nas contas do Balanço
de Pagamentos brasileiro, a taxa
básica de juros (SELIC) e a taxa
de câmbio, na qual os residentes
voltam seu capital para investir
no Brasil, onde os rendimentos
têm aumentado
consideravelmente, devido os
aumentos paulatinos da taxa
SELIC. Já aos investidores não-
residentes, não se pode dizer o
mesmo, visto que retiram as
suas aplicações daqui, pelo fato
de não obterem rendimentos tão
consideráveis devido à
desvalorização do real, o que
Conta Financeira Jan - Ago
2014
Jan –Ago
2015
IDE 21 857 13 039 Participação no Capital 20 659 13 972 Operações Intercompanhia 1 198 -933 Créditos concedidos ao exterior 2 420 737
IDP 65432 42169 Operações intercompanhia 28019 13056 Créditos recebidos do exterior 40 225 34 961 Filial no exterior e matriz no Brasil 18 676 10 733 Amortizações pagas ao exterior 12 206 21 904
Investimento em carteira – passivos 40087 21543 Fundos de investimento 166 2 773 Títulos de renda fixa 29444 11416 Negociados no mercado doméstico 28 694 18 719 Ingressos 79 436 76 227 Saídas 50 742 57 508 Negociados no mercado externo 750 -7 303 Títulos de Longo Prazo -1 182 -4 554 Ingressos 8 088 5 037
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 78 -
diminui os ganhos desses
rentistas.
A respeito dos demais
investimentos, os gastos com
amortizações de empréstimos,
tanto os de curto quanto os de
longo prazo, chamam atenção
pelo saldo deficitário em US$ 6,6
bilhões na conta Outros
Investimentos, entre Janeiro e
Agosto de 2015, em relação a
2014.
Tais amortizações de curto prazo
passaram de US$ 505 milhões
para US$14,2 bilhões enquanto
os de longo prazo foram de US$
23,3 bilhões em 2014 para US$
42,3 bilhões em 2015.
Estar refém de um cenário
externo estagnado, cauteloso, e
com redução no crescimento
econômico de algumas
potências, no caso a China, já
isso uma crise político-
econômica interna, com era ruim
para o Brasil, somar a
conseqüente desvalorização da
moeda nacional e perda do título
de bom pagador gerou forte
deterioração das contas de
capital e financeira, complicando
o fechamento do déficit em
transações correntes do país.
Tudo isto evidencia um modelo
de Balanço de Pagamentos
pautado na dependência da
entrada de investimentos
externos, altamente voláteis e
instáveis frente a qualquer sinal
de incerteza Tal conjuntura está
fora do alcance de intervenções
das autoridades domésticas
sobre as ações dos agentes,
tornando mais evidente a
vulnerabilidade brasileira no que
tange as suas relações com o
resto do mundo.
Vitória/ES – Boletim Nº 53 - 18 -
Grupo de Estudos e Pesquisa em Conjuntura
Departamento de Economia
Curso de Ciências Econômicas Universidade Federal do Espírito Santo
Av. Fernando Ferrari, 514 – Campus Goiabeiras – Vitória – ES
CEP 29075-910 – Tel/fax: (27) 4009-2605
Coordenação: Neide César Vargas Professores Pesquisadores: Luis Enrique Casais Padilla, Maurício de Souza Sabadini, Renata Couto Moreira e Vinícius
Vieira Pereira, Vitor Daher.
Política Econômica: Fabrício Augusto de Oliveira
Participaram neste número: Adriano Edgar Sousa Duarte Alexandre Lopes Farias
André Luiz de Oliveira Sacani Bruno Montarrois Bastos
Clevi Rangel Nunes Tosta Daniel Pereira dos Anjos Elionai Rodrigues Francisco
Carlos Batistini Brunoro Júnior Maria Amélia Santiago Ataíde
Maria Carolina S. Ferrari Marina de Abreu Queiroz Millena de Pinho Moraes Alves
Nathan Marques Dirr Raiane Silva Brenner
Ramon Moreira de Paula Ricardo Silva Pereira Sirlone Lopes da Silva Júnior
Tales Lins Costa Thiago Filipe Silva Pinto
Vitor Santos Araújo Vitor Augusto Rocha Pampermayer Yuri Pimentel Coelho