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Cidade e Meteorologia Boletim da Sociedade Brasileira de Meteorologia ISSN 1676-014X vol. 32, n o 2-3, ago.-dez. 2008 a

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CidadeeMeteorologia

Boletim da Sociedade Brasileira de Meteorologia ISSN 1676-014X

vol. 32, no 2-3, ago.-dez. 2008

a

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O Boletim da Sociedade Brasileira de Meteorologia (BSBMET) é uma publicação quadrimestral da SBMET (www.sbmet.org.br), com tiragem de 1.000 exemplares. O BSBMET aceita colaborações, na forma de artigos originais de divulgação de assuntos técnicos, científi cos ou profi ssionais e reproduções de matérias de interesse do Corpo Social, desde que não protegidos por direitos autorais, ou mediante autorização expressa do detentor destes direitos.

DIRETORIA EXECUTIVA PARA O BIÊNIO 2007/2008

Presidente: Maria Gertrudes Alvarez Justi da SilvaDiretor Financeiro: Isimar de Azevedo SantosDiretora Administrativa: Marley C. de Lima MoscatiDiretor Científi co: Pedro Leite da Silva DiasDiretor Profi ssional: Alfredo Silveira da Silva

Vice-Presidente: Bernardo Barbosa da SilvaVice-Diretor Financeiro: Jonas da Costa CarvalhoVice-Diretora Administrativa: Heloisa M. T. NunesVice-Diretor Científi co: Osvaldo Luiz Leal de MoraesVice-Diretor Profi ssional: Marilene de Lima

CONSELHO DELIBERATIVO

Efetivos José Marques – Presidente José Antonio Marengo OrciniAdilson Wagner Gandu José Carlos FigueiredoHalley Soares Pinheiro Junior Marco Antonio JuseviciusJaci Maria Bilhalva Saraiva Maria Luiza Poci PintoRomisio Geraldo Bouhid André SuplentesEdmilson Dias de Freitas Rosane Rodrigues Chaves Valdo da Silva Marques

Conselho FiscalFrancisca Maria Alves Pinheiro Mariana Palagano Ramalho Silva Vera Aldreida Malfa Pereira

Editor Responsável Editor AssistenteMarley Cavalcante de Lima Moscati Pedro Leite da Silva Dias INPE - Prédio da Meteorologia, Sala 26 USP-IAG – Depto de MeteorologiaAv. dos Astronautas, 1758, Jd. da Granja Rua do Matão, 1226, Cidade Universitária12.227-010 – São José dos Campos, SP 05508-900 – São Paulo, [email protected] [email protected]

Editores Colaboradores: Heloisa M. T. Nunes, Luiz Augusto T. Machado e Nelson Jesus FerreiraSetor de Normas e Legislação: Alfredo Silveira da SilvaSetor de Divulgação e Marketing: Marley Cavalcante de Lima Moscati

Distribuição dirigida e gratuitaDistribuição dirigida e gratuita

EXPEDIENTE APOIO

Distribuição dirigida e gratuita

Coordenação: Marley Cavalcante de Lima MoscatiProjeto Gráfi co: Digital Press

Capa: DigitalPressImpressão: Graftipo Ltda

Revisão Editorial: Marley Cavalcante de Lima MoscatiISSN 1676-014X.

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EDITORIAL

Multidisciplinar, o tema deste boletim, “Meteorologia e a Cidade”, abrange o conhecimento de todos os campos da pesquisa urbana. Nestes, a Meteorologia e áreas afi ns podem, de alguma forma, trazer impactos signifi cativos para a sociedade e para o país. À essência do tema, associa-se uma complexidade de questões urbanísticas, ambientais, sociais, econômicas, entre outras, trazendo à luz conceitos que devem ser discutidos ampla e profundamente em todas as esferas da sociedade. Tema central também do XV Congresso Brasileiro de Meteorologia realizado em agosto de 2008, aqui publicamos seu Relatório Científi co, que traz uma síntese das discussões e conclusões nele obtidas.

Citam-se, a seguir, algumas matérias publicadas neste número, como a de Luiz Guilhon, que discute como informações sobre variabilidade climática e ocorrência de tempo severo são utilizadas pelo Operador Nacional do Sistema para defi nir sua política de planejamento e operacionalidade da geração, transmissão e distribuição de energia elétrica ao menor custo para a sociedade. O conceito de “ambiente construído”, linha de estudo ainda pouco explorada no âmbito da meteorologia brasileira, é apresentado por Fabiano Morelli, em matéria que mostra alguns exemplos de demandas na área de engenharia civil. Osmar Pinto e colaboradores apresentam e discutem aspectos relativos ao impacto da urbanização sobre a incidência de raios. Várias outras matérias mostram o uso da modelagem numérica como ferramenta na tomada de decisões em centros urbanos, contribuindo para o estabelecimento de políticas públicas. Igualmente importante é a abordagem de como o usuário faz uso da informação, tema da matéria de Renzo Taddei e que discute a comunicação social das informações meteorológicas. Estas e outras matérias e informações, igualmente interessantes e relevantes, estão nesse número. Vale a pena conferir!

Aproveitando, parabenizo os sócios Carlos Nobre e Maria Luiza Poci, pelas conquistas (representadas pelo Prêmio Scorpus 2008 e pelo cargo de Conselheira Federal do CREA, respectivamente), que honra em muito a SBMET.

Esta é uma edição especial para mim, pois ela encerra minhas atividades na SBMET como Editora Responsável do Boletim, e também como Diretora Administrativa. Aproveito para agradecer pela experiência que adquiri atuando nestas funções e aos sócios e parceiros pela valiosa colaboração. Nestes últimos quatro anos pude acompanhar, em particular, o salto que a SBMET deu em termos de visibilidade nacional e internacional e sua atuação frente a questões relevantes para a comunidade meteorológica. A SBMET tem muito a crescer ainda, e isso depende principalmente da maior participação da comunidade, seja se associando, seja unindo-se para lutar em prol da meteorologia, seja cobrando da SBMET maior atuação. Assim, convido você a participar mais intensamente da SBMET e da comunidade meteorológica, pois precisamos preservar o que é nosso!

Também, um novo ciclo começa em 2009, com a gestão de uma nova Diretoria, formada por profi ssionais competentes, jovens e com novas idéias. Quero desejar à todos seus membros muito sucesso e realizações.

Desejo à todos um ano de 2009 com muito sucesso e boas leituras!

Marley Cavalcante de Lima MoscatiEditora Responsável

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Boletim SBMET ago.-dez. 2008

Boletim da Sociedade Brasileira de Meteorologia Meteorologia e Cidades.vol. 32, nº 2-3, ago.-dez. 2008

Editorial .................................................................................................................1Marley Cavalcante de Lima Moscati

Palavra da Presidente da SBMET ...................................................................................4Maria Gertrudes Alvarez Justi da Silva

A Meteorologia e a Operação do Sistema Interligado Nacional ................................................7Luiz Guilherme Ferreira Guilhon

Raios em Grandes Centros Urbanos no Sudeste do Brasil .................................................... 14Osmar Pinto Junior, Kleber Pinheiro Naccarato, Iara Regina Cardoso de Almeida Pinto

Modelagem Numérica da Atmosfera em Regiões Urbanas: Aplicações em estudos e prognósticos sobre a qualidade do ar ............................................. 19Edmilson Dias de Freitas

Rede de Monitoramento de Tempo e Clima: O Projeto “Pilotinhos” ......................................... 28Maria Gertrudes Alvarez Justi da Silva, David Garrana Coelho, Luiz Rodrigo Lins Tozzi, Isimar de Azevedo Santos, Alfredo Silveira da Silva

Um Sistema Previsor baseado no WRF em fase de testes no INMET ........................................ 35Fabrício Härter, Fernando Barrros, Thiago Braga, Ricardo Raposo, Gilberto Bonatti, Juliana Mo ,

Francisco Quixaba Filho, Francisco Alves, José Maurício Guedes

Sistema de Previsão Hidrometeorológica para a bacia do Alto Tietê ........................................ 42Augusto José Pereira Filho, Oswaldo Massambani, Hugo Abi Karam, Ricardo Hallak, Reinaldo Haas, Felipe Vemado

Mudanças Climáticas nas Cidades e Interferências com o Aquecimento Global .......................... 61Teresinha de Maria Bezerra Sampaio Xavier, Augusto José Pereira Filho, Airton Fontenele Sampaio Xavier,

Pedro Leite da Silva Dias

A Meteorologia aplicada ao ambiente construído .............................................................. 69Fabiano Morelli

SUMÁRIO

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Boletim SBMET ago.-dez. 2008

A comunicação social de Informações sobre tempo e clima: o ponto de vista do usuário ............... 76Renzo Romano Taddei

Relatório Científi co do XV Congresso Brasileiro de Meteorologia ........................................... 87

XV Congresso Brasileiro de Meteorologia: Trabalhos Premiados ............................................ 97

XV Congresso Brasileiro de Meteorologia: Prêmios “Sampaio Ferraz” e “Adalberto Serra” entregues em 2008 .................................................................................................. 99

Comemoração dos 50 anos da SBMET ..........................................................................100

Eleita Nova Diretoria Executiva da SBMET: 2008-2010 .......................................................101

Pesquisador Carlos Nobre recebe Prêmio Scorpus 2008 por contribuição acadêmica ..................102

Maria Luiza Poci Pinto: A força da Mulher no Sistema CONFEA/CREA .....................................102

Norma de Fiscalização das atividades relativas à Meteorologia ........................................... 104

Agenda de Eventos ..................................................................................................106

Falece o Dr. John Owen Roads, Professor Pesquisador da Scripps de Oceanografi a ....................111

Política Editorial do Boletim da SBMET ..........................................................................113

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Boletim SBMET ago.-dez. 2008MENSAGEM

Prezados sócios e amigos da SBMET,

Estamos encerrando mais um ano de administração na Sociedade Brasileira de Meteorologia (SBMET). A realização do XV Congresso Brasileiro de Meteorologia e as comemorações dos 50 anos da nossa Sociedade neste ano de 2008 foram dois acontecimentos que podem ser considerados como marcos na história do crescimento da SBMET. Estamos encerrando também o segundo mandato de gestão à frente da Presidência da SBMET e nos causa orgulho termos podido acompanhar de perto o desenvolvimento da Meteorologia durante esses quatro últimos anos. Crescimento, principalmente, na percepção da população, sobre a importância desta ciência e no reconhecimento de que a atividade profi ssional relacionada à área é fundamental para o crescimento do país e, até mesmo, para a garantia da permanência da vida no planeta nas próximas décadas.

Aumentou o reconhecimento da importância da atuação da SBMET dentro da área acadêmica, junto às instituições que atuam diretamente com a Meteorologia e junto aos órgãos governamentais que fomentam, planejam ou deliberam sobre a ciência e os rumos políticos do desenvolvimento social, econômico e o bem estar dos brasileiros. Também, vejo de uma maneira muito otimista as oportunidades para os profi ssionais formados em Meteorologia em qualquer nível, mas reconheço a necessidade de uma enorme correção de rumo nas prioridades tanto na defi nição dos conteúdos dos Cursos (em todos os níveis) como na postura do profi ssional da área. Nunca foi tão importante ser mais ativo e empreendedor e menos reivindicativo.

Nos últimos quatro anos tive oportunidade de dividir a administração da SBMET com pessoas excepcionais. Gostaria de citar nominalmente todos eles, com o objetivo de marcar minha gratidão e reconhecimento a tudo que puderam fazer para me ajudar e ajudar a SBMET a se solidifi car como instituição. Cito inicialmente os amigos da UFRJ, Alfredo Silveira, Isimar Santos e Anne Moraes, com quem dividi não só os bons momentos, mas também todas as dúvidas e frustrações. Lembro de Marley Moscati, inigualável Diretora Administrativa, que nos acompanhou nas duas gestões e que me ensinou muito, muito mesmo, e ajudou a projetar uma imagem positiva da Diretoria aos sócios da SBMET. Gostaria de mencionar Augusto Pereira e Bernardo Silva, que não puderam mostrar e exercer todo seu potencial criativo, muito provavelmente em função da distância geográfi ca e das difi culdades inerentes ao próprio cargo de Vice-Presidente. Ressalto a contribuição de Teresinha Xavier, que sempre compartilhou comigo todo o empenho para o sucesso dos Congressos Brasileiros de Meteorologia, desde o primeiro deles, realizado em 1980. Tornaram-se meus novos amigos Manoel Gan, Marilene Lima, Osvaldo Moraes e Jonas Carvalho, todos fazendo parte pela primeira vez da Diretoria da SBMET. Espero sinceramente que esses “calouros” tenham tomado o gostinho e que possam repetir suas atuações em muitas administrações futuras. Muito me alegrou a presença de Ana Lúcia Frony, uma ex-aluna excepcional, que trouxe para a administração da SBMET a visão nas necessidades e procedimentos da área privada de Meteorologia. Tivemos a honra de contar nesta administração com a ajuda e a experiência de dois ex-Presidentes, Pedro Dias e Heloisa Nunes.

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Presidente da SBMET

Não tenho palavras para agradecer a contribuição qualifi cada do Pedro junto às questões científi cas nesta gestão e a doação de seu tempo e competência para a realização do maior Congresso que a SBMET já realizou. Heloisa não faz alarde de suas ações, mas todos, absolutamente todos que já conviveram com ela ou compartilharam trabalho em Comissões, Conselhos e grupos de trabalho conhecem sua criatividade, sua capacidade de organização e de busca de convergência em torno da solução das questões prioritárias. Agradeço de coração a Heloisa, que ainda passou os últimos quatro anos compartilhando comigo as preocupações inerentes ao cargo de presidente e me dando excelentes conselhos.

Na oportunidade, gostaria de agradecer a colaboração de todos os membros dos Conselhos Deliberativo e Fiscal da SBMET, e o faço na pessoa de Romísio André, símbolo de trabalho e cooperação. Agradeço, ainda, a Elza Sucharov, Claudine Dereczinsky e Luiz Augusto Machado, que embora não fi zessem parte da administração, deram apoio signifi cativo e fundamental à Diretoria da SBMET durante nosso primeiro mandato. Finalmente, agradeço a colaboração de Denise Barreto e Mariana Oliveira, profi ssionais competentes, que atuaram durante a última gestão desta Diretoria.

No dia 1 de dezembro de 2008 toma posse a nova Diretoria Executiva da SBMET trazendo o Dr. Nelson Jesus Ferreira como Presidente. Considero o Nelson um pesquisador, um professor e um ser humano com enormes virtudes e com uma animação sem par. Desejo a ele, e a todos os profi ssionais que compõem a nova Diretoria, toda a boa sorte possível e que todos tenham as mesmas alegrias que tive à frente da SBMET.

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A METEOROLOGIA E A OPERAÇÃO DO SISTEMA INTERLIGADO NACIONAL

Luiz Guilherme Ferreira Guilhon Operador Nacional do Sistema Elétrico – ONS

Gerência de HidrologiaRua da Quitanda 196, 10º andar , Centro, Rio de Janeiro-RJ - 20091-005 - Fone: (21) 2203-9883

E-mail: [email protected]

1. INTRODUÇÃO

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) é uma empresa sem fi ns lucrativos que possui como um dos principais objetivos efetuar o planejamento e a programação da operação, de modo a otimizar os recursos naturais necessários para a geração, transmissão e distribuição de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional (SIN), ao menor custo para a sociedade. Assim sendo, a cada instante de tempo são alocados recursos de geração hidroelétrica e termoelétrica, bem como são disponibilizadas linhas de transmissão para a migração dessa geração até os centros consumidores de energia elétrica, minimizando o custo de operação atual e futuro. Para tal, o ONS possui algumas ferramentas computacionais (modelos e aplicativos) que lhe permite exercer suas funções com eqüidade, reprodutibilidade e transparência. Considerando a maior participação da hidroeletricidade para a geração de energia elétrica, o SIN fi ca bastante vulnerável à variabilidade climática o que torna a previsão meteorológica e climática um subsídio de grande potencial qualitativo para os processos do ONS. As linhas de transmissão, com longos percursos entre os centros consumidores e as fontes geradoras de energia, fi cam também vulneráveis ocorrência de tempo severo em sua trajetória. A previsão de temperatura nas grandes cidades é determinativa não só do formato da curva de carga bem como da intensidade do consumo de energia elétrica nessas cidades.

2. CARACTERÍSTICAS DAS AFLUÊNCIAS

Para melhor entender as difi culdades que o ONS enfrenta no cumprimento de suas funções, é necessário introduzir alguns conceitos básicos que deverão ser levados em consideração. O primeiro deles é a questão da sazonalidade. Como se pode observar na Figura 1, as regiões Sudeste, Nordeste e Norte possuem uma sazonalidade marcada, na qual se observam vazões (assim como as Energias Naturais Afl uentes - ENA) mais elevadas no período úmido, entre novembro e abril, enquanto que de maio a outubro essas afl uências são menores. Por outro lado, na região Sul do Brasil, essa sazonalidade não existe.

Na Figura 1 apresenta-se a ENA Padronizada, defi nida como a ENA Mensal Média dividida pela média de longo termo da mesma. A presença ou não de uma sazonalidade pode ser reforçada nas Figuras 2 e 3, que apresentam algumas séries de vazões de alguns anos distintos (anos de 1933, 1946, 1955, 1967, 1969, 1997, 2005 e 2006) para a usina de Furnas no rio Grande e de Foz do Areia no rio Iguaçu, respectivamente. A análise dessas fi guras mostra que a previsão de vazões para a bacia do rio Grande apresenta-se mais promissora do que para a bacia do rio Iguaçu. Observa-se que, enquanto para Furnas no período seco, entre os meses de maio de outubro, a previsibilidade é maior, para Foz do Areia, tudo pode se esperar a qualquer época do ano. A previsão para as bacias da Região Sul, assim como a bacia do rio Iguaçu torna-se, desse modo, um grande desafi o para todos.

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Figura 1: Complementariedade hidrológica.

Outro problema fortemente identifi cado é a defasagem temporal do período hidrológico, principalmente na região Sudeste, na qual se encontra grande parte das fontes de geração hidroelétrica do SIN. Observa-se na Figura 4 que no período entre setembro de 2007 a agosto de 2008 houve uma defasagem entre as curvas, na qual nos meses de set/2007 a jan/2008 as afl uências situaram-se abaixo da média mensal de longo termo e somente a partir de fevereiro de 2008, passou-se a estar acima dessa média.

Figura 4: Defasagem temporal no período hidrológico na região Sudeste.

Outro dado importante a ser considerado é o fato de que as vazões naturais observadas após a implantação de um reservatório apresentam um comportamento com subidas e descidas instantâneas, o que não representa um hidrograma natural, devendo ser feita consistência. Como exemplo, na Figura 5 apresenta-se o gráfi co da UHE Serra da Mesa para o ano de 2003, onde a curva sem as marcas representa a situação fi nal após esse processo de consistência.

Figura 5: Vazões naturais na UHE Serra da Mesa em 2003.

Figura 2: Vazões naturais para a usina de Furnas na bacia do rio Grande.

Figura 3: Vazões naturais para a usina de Foz do Areia na bacia do rio Iguaçu.

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A previsão de vazões ganha cada vez mais importância devido a implantação de novas usinas hidroelétricas, que leva ao aumento da capacidade de regularização nos rios do país, e esta, por sua vez, cresce a cada instante em um ritmo mais lento, quando comparado ao aumento da capacidade instalada em MW, conforme se observa na Figura 6.

Figura 6: Evolução da capacidade instalada e do volume útil para armazenamento.Fonte: ONS (2008).

3. TEMPO SEVERO, FOCOS DE CALOR E INVERSÃO DE INTERCÂMBIO DE ENERGIA

Ao desempenhar suas funções, o ONS, consciente de que existem alguns fatores exógenos ao SIN, e de difícil previsibilidade e que podem vir a perturbar seu funcionamento, monitora as condições operacionais para viabilizar uma maior segurança do SIN. Dentre esses fatores cabe destacar a ocorrência de condições de tempo severo e de focos de calor, que podem comprometer as principais linhas de transmissão, criando a necessidade de se determinar modifi cações no trajeto da energia dos centros geradores até os centros consumidores. Também pode-se citar a previsão climática de precipitação, para um horizonte de até três meses à frente, que pode ser indicativa em termos de manutenção do despacho de geração nas regiões e/ou modifi car a característica central desse despacho, alterando o sentido do intercâmbio entre regiões e, até mesmo, modifi cando o tipo de geração

para termoelétrica com o intuito de economizar quando possível o armazenamento de água nos reservatórios.

Quanto à ocorrência de tempo severo, pode-se exemplifi car com um caso acontecido em 14/06/2005. No início desse dia, às 9:00 horas, foi dado um “aviso de tempo severo” que caracteriza a possibilidade de formação dessa condição sobre a linha de transmissão entre Foz do Iguaçu e Ivaiporã. Às 18 horas e 40 minutos do mesmo dia (20 minutos antes de sua ocorrência) foi dado o “alerta de tempo severo” que caracteriza uma maior proximidade dessa ocorrência. Isso permitiu uma reprogramação em tempo real do escoamento da transmissão de energia até a abertura da linha de transmissão às 19 horas. Na Figura 7 observa-se o sistema de detecção de descargas atmosféricas utilizado no monitoramento do tempo severo no dia 14/06/2005.

Figura 7: Sistema de Detecção de Descargas Atmosféricas.Fonte: ONS (2005).

O ONS possui um Sistema de Informações Georreferenciadas (GIS) que lhe permite visualizar a cada passo de tempo a localização de focos de calor sobre as principais linhas de transmissão, cujo exemplo de uma imagem apresenta-se na Figura 8. Esses focos de calor podem se transformar em motivo para indisponibilidade de linhas de transmissão, porém, o ONS hoje só trabalha com essa informação na pós-operação para auxiliar na descoberta do motivo das indisponibilidades de linhas.

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Figura 8: Sistema de Informações Georreferenciadas.Fonte: ONS (2008).

A inversão de intercâmbio de energia entre regiões, bem como o despacho de algumas usinas termoelétricas podem dar-se mediante a ocorrência de situações excepcionais. Para exemplifi car pode-se citar o caso do ano de 2006 para a região Sul, na qual, até o mês de abril daquele ano, haviam-se observado afl uências abaixo da média desde novembro de 2005, excetuando-se os meses de janeiro e março de 2006, além de armazenamentos inferiores aos do ano 2005 (Machado et al., 2007). A partir da previsão climática para os meses de maio, junho e julho de 2006, que indicava precipitações abaixo da média histórica, em maio, início do período mais

chuvoso na região Sul, foram tomadas as decisões de maximizar a geração a carvão, despachar a UTE Canoas, cancelar a manutenção em linhas de transmissão e usinas da região Sudeste, cancelar as manutenções nas termoelétricas da região Sul e ampliar o intercâmbio de energia vinda do Sudeste para o Sul passando de 4100 para 5800 MW médios. Essa medida, conforme apresentado na Figura 9, mostra que se conseguiu recuperar os níveis de armazenamento na região Sul que, mesmo não chegando aos níveis do ano anterior de 2005 (78,8% em dezembro), chegou-se em 2006 a 55,3% em dezembro.

Figura 9: Armazenamento na Região Sul em 2005 e 2006.Fonte: ONS (2007).

4. PREVISÃO DE CARGA E VAZÕES

A Previsão de Carga para os grandes centros de consumo de energia possui uma dependência de fatores meteorológicos, como a temperatura, a umidade relativa do ar (este dois primeiros defi nem o conforto térmico), a precipitação e a nebulosidade; fatores sociais, como os feriados, dias de fi nal de Copa do Mundo, de Olimpíada e de fi nal de novela; e fatores econômicos, como a política econômica

e o crescimento de mercado. O ONS possui um Sistema através do qual monitora o desconforto térmico dividindo-o em quatro classes segundo a sua intensidade. Para estimar a carga no médio prazo (1 ano) e no curto prazo (1 mês) são processados modelos baseados em amortecimento exponencial, regressão linear simples e modelagem auto-regressiva (sazonal ou não sazonal). Utilizam-se como dados de entrada

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somente as cargas ocorridas no passado e inserem-se informações qualitativas de temperatura. Para a programação diária, utiliza-se um conjunto maior de dados de entrada que abrange a temperatura verifi cada, a carga verifi cada, o indicativo de feriado, a previsão de temperatura (obtida através de modelo numérico) e os desvios históricos da previsão de carga, obtendo-se como saída de um modelo de regressão dinâmica a Carga Máxima Instantânea do próximo dia, e como saída de um sofi sticado modelo de redes neurais chamado ANNSTLF, a Curva de Carga Horária para um horizonte de até duas semanas (Khotanzad et al., 1998).

No que diz respeito às previsões de vazões, o ONS utiliza em seus modelos energéticos três horizontes distintos. Estes horizontes são: o médio prazo, que abrange um horizonte de até 5 anos à frente em base mensal; o curto prazo, que abrange um horizonte de até dois meses à frente, sendo o primeiro em base semanal e o segundo em base mensal; e a programação diária na qual se pode avançar até 14 dias à frente para estudar possíveis problemas futuros e tomar as medidas corretivas em tempo hábil.

No horizonte de médio prazo, considera-se que a incerteza é muito elevada. Desse modo, o modelo NEWAVE utiliza 200 cenários mensais de afl uências para cada região, ou subsistema, e as usinas são grupadas para cada região. Nesse horizonte são calculados os custos futuros que são passados ao modelo de curto prazo.

No curto prazo, para o segundo mês à frente, no qual ainda pode se considerar uma grande incerteza, são utilizados cenários mensais de vazão para cada usina, que variam entre 116 e 513, dependendo do mês. Para o primeiro mês, ainda no curto prazo, utiliza-se o Modelo Estocástico Previvaz para a previsão semanal de vazões para todas as usinas do SIN. Para a primeira semana à frente, excepcionalmente para algumas bacias do SIN, o ONS promoveu o desenvolvimento de modelos que utilizam informações de precipitação observada e prevista a partir da rodada estendida do modelo numérico ETA para 10 dias, fornecidas pelo CPTEC/INPE (www.cptec.inpe.br).

Para o trecho incremental entre Três Marias e Sobradinho, na bacia do rio São Francisco utiliza-se o modelo CPINS, que se constitui na rotina de propagação do modelo SSARR (Porto, 2007).

Para a bacia do rio Uruguai, utiliza-se o Modelo Previsor de Classes de Vazões (MPCV) que utiliza Data Mining e previsão bayesiana para prever uma faixa na qual deverá se encontrar a vazão da próxima semana (Silva et al., 2008). Essa faixa serve como balizamento para a previsão feita com o Modelo Estocástico Previvaz.

Para a bacia do rio Paraná no trecho incremental entre Porto Primavera, Rosana e Itaipu utiliza-se o modelo SMAP-MEL (Fadiga Jr. et al., 2008), que combina linearmente o modelo conceitual concentrado chuva-vazão SMAP com o modelo estocástico multivariado MEL. Os resultados de avaliação para as 20 semanas que compreendem da 7ª à 26ª semanas são bastante promissores se comparados com o sistema anterior que calculava previsões para o mesmo trecho incremental pela diferença de previsão nas três usinas supra-citas, utilizando o modelo Previvaz. Estes resultados apresentam-se na Figura 10 (Guilhon e Rocha, 2007).

Figura 10: Resultados do Modelo SMAP-MEL para a UHE Itaipu.Fonte: ONS (2008).

Para a bacia do rio Paranaíba, no trecho entre as usinas de Itumbiara e São Simão, processa-se o modelo conceitual distribuído MGB-IPH (Collischonn et al., 2007) que divide a bacia hidrográfi ca em células e realiza o balanço hídrico no solo em cada uma dessas células.

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Para a bacia do rio Iguaçu utiliza-se o modelo Fuzzy Recorrente (Guilhon et al., 2007) que é um modelo não linear, baseado em técnicas de data mining, que trata a chuva através de lógica nebulosa.

Estes modelos, MPCV, SMAP-MEL, MGB-IPH e Fuzzy Recorrente, utilizam previsões de precipitação oriundas do modelo numérico ETA estendido para 10 dias processado pelo CPTEC/INPE e fornecido ao ONS (Cataldi et al., 2007).

Para que se possam comparar os diferentes resultados destes modelos, para exemplifi car esse procedimento operacional pelo ONS, apresentam-se na Tabela 1 os resultados dos desvios absolutos percentuais para estes modelos e para o modelo estocástico Previvaz, quando processados a partir da semana 11 (na qual passaram-se a receber todos os dados de postos hidrometeorológicos) até a semana 35 que chega ao dia 29/08/2008.

Tabela 1: Desvios dos Modelos Chuva-Vazão de Previsão de Vazões

Fonte:ONS (2008).

A qualidade dessa previsão de precipitação utilizada nos modelos chuva-vazão é fundamental para a determinação da trajetória do hidrograma mais ajustada à realidade que se observa. Um exemplo claro dessa infl uência apresenta-se na Figura 11 na previsão para a usina de Foz do Areia no rio Iguaçu, na qual

após uma previsão de precipitação muito baixa entre os dias 07/08/08 e 13/08/08, observaram-se valores bem mais elevados de precipitação ocasionando a subida no hidrograma respectivo.

Figura 11: Resultados do Modelo ETA para Foz do Areia.Fonte: ONS (2008).

5. PESPECTIVAS FUTURAS IMEDIATAS

O ONS possui um Planejamento Estratégico, dentro do qual algumas ações são necessárias à evolução dos modelos e seu melhor desempenho. Dentre essas ações, podem-se citar:

Aplicação do Modelo chuva-vazão SMAP para •a bacia do rio Grande (ONS);

Aplicação do modelo chuva-vazão SMAP para •a bacia do rio Paranapanema (parceria ONS / Duke-Energy);

Sistema de Previsão de Vazões utilizando redes •neurais construtivas do tipo NSRBN (Non-linear Sigmoidal Regression Bloks Networks) para a UHE Três Marias na bacia do rio São Francisco (parceria ONS / UFPE-PE);

Ampliação do monitoramento através de •acordo operativo com a ANA com envio de dados de estações convencionais através de ligações com sistema 0800 (parceria ONS/ANA/CPRM);

Correção da previsão de precipitação utilizando •redes neurais artifi ciais (parceria ONS/COPPE/UFRJ);

Uso de previsões climáticas discretizadas •mensalmente utilizando técnicas de ensemble (parceria ONS/CPTEC-INPE).

Modelo Usina Desvio Modelo Desvio Previvaz

SMAP-MEL Itaipu 23,3 52,9

MGB-IPH S.Simão 8,6 9,3

FUZZY F. Areia 23,8 35,0

FUZZY Jordão 32,2 36,9

FUZZY S.Osório 44,9 113,0

MPCV B.Grande 93,8 101,5

MPCV C.Novos 30,3 42,2

MPCV Itá 41,7 72,1

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para melhorar os processos que envolvem o Planejamento e a Programação da Operação do Sistema Interligado Nacional, além das ações já em curso no ONS se faz necessário também:

Ampliar a visibilidade sobre o SIN •(recebimento pelo ONS de mais dados de estações hidrometeorológicas);

Conhecer cada vez melhor as especifi cidades •de cada bacia hidrográfi ca e de cada centro de consumo de carga;

Procurar produtos baseados na previsão de •precipitação para horizontes superiores a uma semana e inferiores a um mês;

Procurar produtos voltados para as bacias •de interesse do SIN que possam prover os modelos hidrológicos de um ganho qualitativo;

Aprimorar os modelos hidrológicos na medida •do possível;

Conhecer a probabilidade de um tempo severo •atingir uma determinada linha de transmissão.

7. INFORMAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

Cataldi, M.; Machado, C. O.; Guilhon, L. G. F. ; Chou, S. C. ; Gomes, J. L.; Bustamante, J. F. Análise das Previsões de Precipitação Obtidas com a Utilização do Modelo ETA como Insumo para Modelos de Previsão Semanal de Vazão Natural. Revista Brasileira de Recursos Hídricos, v. 12, p. 5-12, 2007.

Guilhon, L. G. F.; Rocha, V. F. Comparação de Métodos de Previsão de Vazões Naturais Afl uentes a Aproveitamentos Hidroelétricos. Revista Brasileira de Recursos Hídricos, v. 12, p. 13-20, 2007.

Khotanzad, A.; Afkhami-Rohani, R.; Maratukulam, D. A. Artifi cial Neural NEtwork Short-Term Load Forecaster - Generation Three. IEEE Transaction on Power Systems, v. 13, n0 4, p. 1413-1422, Nov. 1998.

Machado, C. O.; Rocha, V. F.; Cataldi, M.; Oliveira, F. J. A. A Aplicação das informações meteorológicas no planejamento eletroenergético de curto prazo e operação em tempo real do Sistema Interligado Nacional. IX EDAO – Encontro para Debates de Assuntos de Operação. Goiás, 2007, 10 p.

Porto, M. F. do A. Modelo SSARR: Aplicacao a pequenas bacias e analise de sensibilidade dos parametros. Tese de Mestrado - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1983, 264p.

Silva, S. B. da; Cataldi, M.; Braga, R.S. Previsão de Vazões Naturais Semanais com Aplicação de Redes Neurais e Mineração de Dados como Complemento de um Modelo estocástico: estudo de caso para a bacia do rio Uruguai, II Simpósio de Recursos Hídricos do Sul-Sudeste, Rio de Janeiro, 2008, 10p.

Fadiga Jr., F.M.; Lopes, J.E.G.; Martins, J.R.S. Modelos de Previsão de Vazões para a bacia incremental à UHE Itaipu, Revista Brasileira de Recursos Hídricos, vol. 13, nº 2 Abr/Jun 2008, 2008, p. 65-75.

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8. AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meteorologistas Chrisiane Osório Machado, Marcio Cataldi e Pedro Jourdan, do ONS, pelas relevantes informações fornecidas para a elaboração deste artigo. Gostaria de agradecer também ao engenheiro Vinicus Forain Rocha, pelo apoio à elaboração deste artigo.

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RAIOS EM GRANDES CENTROS URBANOS NO SUDESTE DO BRASIL

Osmar Pinto Junior, Kleber Pinheiro Naccarato, Iara Regina Cardoso de Almeida PintoInstituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)

Av. dos Astronautas 1758, São José dos Campos - SP – 12227-010E-mails: [email protected], [email protected], [email protected],

RESUMO

Neste trabalho é feita uma rápida revisão das observações realizadas por sistemas de detecção e localização de descargas atmosféricas em centros urbanos de diversos países, incluindo o Brasil. Maior detalhamento é dado para o estudo de três grandes centros do sudeste brasileiro - São Paulo, Campinas e São José dos Campos. Os estudos constatam um aumento na incidência de raios e mudanças em suas características. As hipóteses físicas relacionadas a estas observações também são descritas.Palavras-chave: Raios, descargas atmosféricas, centros urbanos.

ABSTRACTIn this article an overview of lightning observations in large urban areas is presented, which suggest an enhancement of the lightning activity and changes in the lightning characteristics in theses areas. The physical hypotheses to explain such observations are also discussed. Keywords: Lightning, atmospheric discharges, urban areas.

1. REVISÃO HISTÓRICA

Há mais de um século é conhecido que pessoas em grandes centros urbanos estão sujeitas as condições climáticas diferentes das condições previamente existentes (Howard, 1833). Estes efeitos, incluindo o fenômeno conhecido como ilha de calor, surgem como resultado das modifi cações na radiação, energia e momento resultantes das alterações no ambiente das cidades, somadas a emissão de calor, umidade e poluentes oriundos da atividade humana (McKendry, 2003).

Enquanto uma quantidade signifi cante de artigos tem tratado do fenômeno de ilha de calor, relativamente poucos artigos têm examinado o impacto da urbanização sobre a ocorrência de relâmpagos. Orville e Huffi nes (2001) foram os primeiros a apresentarem resultados conclusivos sobre o aumento da incidência de descargas nuvem-solo

ou raios em grandes centros urbanos, especifi camente na cidade de Houston (Texas, nos Estados Unidos), discutindo na ocasião algumas hipóteses na tentativa de explicar os resultados, com base nos processos de convergência e poluição atmosférica. A partir daí, novos estudos no Brasil, nos EUA e na Europa continuaram discutindo o assunto. Soriano e Pablo (2002) encontraram o mesmo efeito em nove pequenas cidades da Espanha. Os autores utilizaram três anos de dados de raios entre 1992 e1994 e selecionaram nove cidades da Espanha, com populações variando de cerca de 2 mil habitantes até aproximadamente 350 mil. As análises revelaram diferenças signifi cativas entre o número de eventos registrados para as regiões contrárias ao sentido dos ventos predominantes, a favor dos ventos e sobre a área urbana, refl etindo basicamente os efeitos das cidades.

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Mais tarde, Steiger et al. (2002) apresentaram uma análise bastante detalhada das características dos raios sobre a cidade de Houston, utilizando 12 anos de dados (1989-2000). Foi observado um aumento de 45% na atividade de raios sobre o centro urbano em comparação com suas vizinhanças, podendo chegar a 60% no verão e 74% na primavera, considerando-se apenas o período da tarde. Estudos estatísticos mostraram que o aumento no número de raios seria causado pela intensifi cação das tempestades sobre o centro urbano e não pela formação de tempestades adicionais. Foram dadas duas explicações para esse efeito: 1) a brisa marítima conjugada com a ilha de calor urbana (baseado nos estudos anteriores de Orville e Huffi nes, 2001); 2) a poluição atmosférica causada pelas emissões das refi narias de petróleo e dos veículos automotores (também com base nos resultados de Orville e Huffi nes, 2001). Ambos apresentaram comportamentos máximos no período do verão, quando a atividade de raios também alcança os maiores valores. Porém, nenhuma evidência mais conclusiva sobre um ou outro fator foi discutida. Outro efeito observado em Houston foi a redução do percentual de raios com polaridade positiva. Segundo os autores, esse efeito somente poderia ser explicado através do efeito microfísico dos aerossóis sobre as nuvens de tempestade. Nenhuma variação da corrente de pico nem da multiplicidade dos raios foi observada para esse centro urbano estudado. Steiger e Orville (2003), por sua vez, estudaram o efeito urbano das cidades americanas de Lake Charles e Baton Rouge, no sudeste da Louisiana, sobre a incidência de raios, e atribuíram o aumento da atividade de raios observado (mais acentuado para a cidade de Lake Charles) aos elevados índices de material particulado na atmosfera. Segundo os autores, a população de uma cidade tende a ser usada como referência para se estimar a intensidade de sua ilha de calor urbana. Como Lake Charles possui apenas 180 mil habitantes, em comparação com Houston (que possui cerca de 4,7 milhões de habitantes), o efeito termodinâmico da ilha de calor não poderia, neste caso, explicar o aumento local da atividade de raios, ao contrário de Houston. Entretanto, nenhuma evidência da inexistência de ilha de calor em Lake Charles foi apresentada. Além disso, mostrou-se também que a

maior incidência de raios coincide justamente com as regiões de maior concentração de material particulado (gerado pela atividade industrial local), reforçando assim a hipótese do efeito microfísico do aerossol.

No Brasil, Naccarato et al. (2003) e Naccarato (2005) realizaram uma análise detalhada da ocorrência de raios em três importantes centros urbanos na região sudeste do Brasil - São Paulo, Campinas e São José dos Campos, a partir de observações da Rede Brasileira de Detecção de Descargas Atmosféricas – BrasilDat (Pinto et al., 2008). Eles encontraram um aumento de até 200% na atividade local de raios e uma redução de até 12% do percentual de raios positivos e apresentaram algumas hipóteses que poderiam explicar tais alterações, com base em efeitos termodinâmicos e microfísicos de aerossóis. A Figura 1 ilustra o aumento na incidência de raios nestes três centros urbanos.

Figura 1: Mapa da densidade de raios (raios.km-2.ano-1) corrigido por modelo de efi ciência de detecção desenvolvido pelo Grupo de Eletricidade Atmosférica (ELAT) nas áreas urbanas estudadas (São Paulo, Campinas e São José dos Campos) com resolução de 1 km x 1 km, referente ao período de 1999-2004.Fonte: Naccarato (2005).

Mais tarde, Pinto et al. (2004) observaram os mesmos efeitos para o número de raios e percentual de raios positivos na cidade brasileira de Belo Horizonte/MG, comprovando os resultados de Naccarato et al. (2003).

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Foram registrados aumentos de até 100% na atividade local de raios associados ao centro urbano e uma redução de 25% no percentual de positivos. Uma característica interessante foi o deslocamento da anomalia de raios em direção ao sul da cidade. Segundo os autores, os ventos

predominantes de norte para sul seriam os responsáveis por esse comportamento. Não foi observada nenhuma variação da corrente de pico relacionada com o centro urbano. Nenhuma discussão a respeito das possíveis causas para as anomalias observadas foi feita.

Figura 2: Mapas de: a) região de maior densidade de raios na cidade de São Paulo (indicada em vermelho) a partir de dados da Rede Brasileira de Detecção de Descargas Atmosféricas (BrasilDat). b) localização da área urbana do município de São Paulo (indicada em preto). c) temperatura aparente da superfície obtida a partir da imagem da banda termal do satélite LandSat-7, caracterizando a ilha de calor urbana.Fonte: Naccarato et al. (2003).

2. HIPÓTESES FÍSICAS

Uma comparação entre a temperatura aparente da superfície (obtida através da imagem da banda termal do satélite LandSat-7), que caracteriza a ilha de calor urbana, e a atividade de raios para São Paulo pode ser vista na Figura 2. Observa-se que os relâmpagos (indicados na Figura 2a) tendem a se concentrar sobre a área mais urbanizada da cidade (indicada em preto na Figura 2b), a qual também corresponde à área mais quente (Figura 2c). Observa-se a estreita correlação espacial entre a distribuição dos raios, a área urbana e a confi guração da ilha de calor.

Com base nos resultados acima, Naccarato et al. (2003) e Naccarato (2005) discutiram duas possíveis hipóteses que poderiam explicar o efeito urbano sobre os

raios: a primeira, conhecida como hipótese do aerossol, que propõe que a poluição urbana eleva a concentração de núcleos de condensação (NC) na atmosfera, provocando alterações nos processos microfísicos das nuvens de tempestade. Isso, por sua vez, afeta os mecanismos de separação de cargas, os quais dependem da concentração, fase e tamanho das partículas dentro da nuvem. Com isso haveria um aumento da atividade elétrica e variações na proporção entre as polaridades; a segunda, conhecida como hipótese termal, que propõe que as ilhas de calor urbanas são responsáveis pela intensifi cação da convecção local, potencializando assim a eletrifi cação das nuvens de tempestades sobre as cidades e promovendo um aumento na atividade de raios.

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Segundo Rosenfeld e Woodley (2001), a presença de material particulado na atmosfera inibe o crescimento de gotículas de água dentro de nuvens, uma vez que reduzem o tamanho médio dessas gotículas, distribuindo a água líquida entre um grande número de gotículas pequenas. Isso faz com que as nuvens poluídas tenham gotículas de água muito menores que as nuvens limpas, com seus tamanhos aumentando muito lentamente com a altura, ao contrário das nuvens limpas. O congelamento da água nas nuvens limpas ocorre em temperaturas muito mais altas (> –10°C) que nas nuvens poluídas (entre –10°C e –20°C, chegando até –30°C em casos extremos). Como conseqüência, a zona de fase mista das nuvens limpas é muito mais fi na que nas nuvens poluídas. Esse fato, aliado à rápida perda de água super-resfriada pela precipitação das gotículas, é consistente com as observações de que os relâmpagos são bem menos freqüentes nas nuvens oceânicas limpas que nas nuvens continentais poluídas. Isso sugere que as nuvens poluídas, que possuem uma zona de fase mista mais espessa e maior disponibilidade de água líquida, favoreceriam a atividade de relâmpagos.

A hipótese do aerossol poderia explicar também a diminuição dos raios de polaridade positiva em relação ao número total de eventos. Segundo esta hipótese, impurezas existentes nas gotículas de água (devido às emissões urbanas) poderiam afetar signifi cativamente a separação de cargas nas nuvens de tempestades locais, intensifi cando assim a ocorrência de raios com polaridade negativa. Neste caso, elevadas concentrações de poluentes nas gotículas de água super-resfriadas provocariam a eletrifi cação negativa das partículas de gelo nas temperaturas mais altas da nuvem (próximo à sua base). Isso promoveria então um crescimento vertical descendente do centro de cargas negativo em detrimento do centro de cargas positivo localizado logo abaixo, gerando assim mais raios negativos. Desta forma, haveria uma redução do percentual de positivos.

Mais recentemente Farias et al. (2008) observaram uma diminuição na incidência de raios nos fi ns de semana na cidade de São Paulo durante o período de 1999 a 2004, coincidente com uma diminuição da poluição neste período da semana. Eles também sugerem que a diminuição da incidência de raios é devida à diminuição

da duração do período ativo das tempestades e não à taxa de raios. Contudo, a diminuição na incidência de raios nos fi ns de semana é pequena se comparada ao aumento da incidência em relação às regiões vizinhas a cidade de São Paulo, sugerindo que o efeito da poluição é menor do que o efeito termal.

Conforme estudos de Oke (1982) e Bornstein e Lin (2000), os aumentos de temperatura produzidos pelas ilhas de calor urbanas tendem a desestabilizar o ar que fl ui sobre a cidade devido ao aquecimento diferenciado nos baixos níveis, provocando aumentos signifi cativos nas velocidades verticais das parcelas de ar dentro da camada limite. Com isso, a ilha de calor tende a intensifi car a convecção, favorecendo também maior ocorrência de chuvas de granizo (Lombardo, 1985). Observações da convergência em baixos níveis e simulações numéricas em centros urbanos (Hjelmfelt. 1982; Orville e Huffi nes, 2001) indicaram que a combinação dos efeitos urbanos resulta em velocidades verticais positivas sobre a cidade e, conseqüentemente, convergência de massas de ar, seguida por convecção. Williams et al. (2005) apresentaram evidências de que a hipótese termal consegue explicar também as variações observadas no percentual de positivos para os centros urbanos, considerando que as tempestades se formam em ambientes secos (com baixa umidade do ar) e apresentam alturas da base das nuvens mais elevadas.

3. CONCLUSÕES

Em suma, as cidades apresentam fatores que podem contribuir para o aumento da convecção e, conseqüentemente, aumento da atividade de raios, agindo como: (1) uma fonte de calor capaz de desestabilizar o ar que fl ui sobre a cidade; (2) uma fonte de Núcleos de Condensação (NC), afetando a formação de gelo nas nuvens.

A principal conclusão que emerge dos estudos descritos é de que a presença de grandes centros urbanos tende a aumentar a incidência de raios. Tal fenômeno tende a se intensifi car com o aumento das cidades e pode vir a ser agravado pelo aumento global de temperatura devido ao aquecimento global do planeta.

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4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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HJELMFELT, M. R. Numerical simulation of the effects of St. Louis on mesoscale boundary layer airfl ow and vertical air motions: simulations of urban vs. non-urban effects. Journal of Applied Meteorology, v. 21, n0 9, p. 1239-1257, 1982.

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LOMBARDO, M. A. Ilha de calor nas metrópoles: o exemplo de São Paulo. São Paulo: Hucitec, 1985, 244p.

MCKENDRY, I. G. Applied meteorology. Progress in Physical Geography, v. 27, n0 4, p. 597-606, 2003.

NACCARATO, K. P. Analysis of the lightning characteristics in the Southeast region of Brazil. PhD. Thesis, INPE, 258 p., 2005.

NACCARATO, K. P.; PINTO JR.; O., PINTO, I. R. C. A. Evidence of thermal and aerosol effects on the cloud-to-ground lightning density and polarity over large urban areas of Southeastern Brazil. Geophysical Research Letter, v. 30, n0 13, p. 1674-1677, 2003.

OKE, T. R. The energetic basis of the urban heat island. Quarterly Journal of the Royal Meteorological Society, v. 108, n0 455, p. 1-24, 1982.

ORVILLE, R. E.; HUFFINES, G. R. Cloud-to-ground lightning in the United States: NLDN results in the fi rst decade, 1989-98. Monthly Weather Review, v. 129, p. 1179-1193, 2001.

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PINTO JR., O.; PINTO, I. R. C. A.; NACCARATO, K. P. Maximum cloud-to-ground lightning fl ash densities observed by lightning location systems in the tropical region: A review. Atmospheric Research, v. 84, p. 189-200, 2007.

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STEIGER, S. M.; ORVILLE, R. E. Cloud-to-ground lightning enhancement over southern Lousiana. Geophysical Research Letters, v. 30, n0 19, 1975 (doi:10.1029/2003GL017923), 2003.

WILLIAMS, E.; MUSHTAK, V.; ROSENFELD, D.; GOODMAN, S.; BOCCIPPIO, D. Thermodynamic conditions favorable to superlative thunderstorm updraft, mixed phase microphysics and lightning fl ash rate. Atmospheric Research, v. 76, n0 1-4, p. 288-306, Jul.-Aug. 2005.

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MODELAGEM NUMÉRICA DA ATMOSFERA EM REGIÕES URBANAS: APLICAÇÕES EM ESTUDOS E PROGNÓSTICOS

SOBRE A QUALIDADE DO AREdmilson Dias de Freitas

Universidade de São Paulo - USPDepartamento de Ciências Atmosféricas - IAG

Laboratório de Meteorologia Aplicada a Sistemas de Tempo Regionais (MASTER)Rua do Matão, 1226 - Cidade Universitária, São Paulo - SP, 05508-090

E-mail: [email protected]

Dentro dos temas abordados durante o XV Congresso Brasileiro de Meteorologia, vários aspectos relacionados às grandes cidades, foco principal do evento, foram apresentados e discutidos entre a comunidade presente: sociedade e pesquisadores de todo o Brasil e outras partes do mundo. Com a divulgação dos resultados do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) em 2007 (Climate Change, 2007), aspectos relacionados ao aquecimento global e possíveis mudanças climáticas associadas aos diversos tipos de atividades humanas nos últimos anos têm despertado o interesse da sociedade sobre o assunto. Com isso, cresce expressivamente a exigência por providências para minimizar os efeitos prejudiciais causados à natureza pela queima de combustíveis fósseis, pelo desmatamento de fl orestas, pela poluição do ar, do solo e dos rios, entre outros. Para que tais providências sejam efetivas na diminuição dos efeitos prejudiciais decorrentes das diversas atividades humanas é necessário um maior conhecimento sobre os processos associados às mesmas. Isso só é possível através de um grande número de experimentos de campo e da melhoria das ferramentas de análise disponíveis. Uma das principais ferramentas utilizadas atualmente é a modelagem numérica dos processos envolvendo a interação solo-vegetação/superfície-atmosfera, com a qual é possível a construção de modelos de previsão e diagnóstico do tempo. Tais modelos podem auxiliar sobremaneira a tomada de decisões em situações emergenciais e a análise em longo prazo da evolução das condições do tempo e do clima regional e do planeta. Numa visão aplicada diretamente à sociedade, esses modelos já constituem um grande auxílio às atividades e ao bem-estar humano, seja no fornecimento de previsões das condições do tempo para atividades de lazer, seja para outras atividades que

envolvam alto risco econômico, tais como a agricultura. Nos grandes centros urbanos, em virtude dos graves problemas causados pela poluição à saúde humana, surge outra possibilidade de aplicação destes modelos e, ao mesmo tempo, um possível benefício à população.

Conhecendo-se o estado atmosférico e alguns aspectos importantes dos centros urbanos, como o número de indústrias e veículos em atividade, é possível a realização de previsões que forneçam informações sobre a qualidade do ar. Isto é feito desde escalas regionais, como em parques de grande porte, até a escala continental, envolvendo não só as contribuições de fontes locais, mas também de fontes exógenas, como queimadas em regiões agrícolas ou em fl orestas. Entretanto, tais previsões representam ainda um grande desafi o científi co e tecnológico que será discutido neste trabalho.

1. ÁREAS URBANAS E DIFICULDADES EM SUA REPRESENTAÇÃO

Uma das maiores difi culdades encontradas na representação de áreas urbanas em modelos atmosféricos se deve ao fato de que os elementos que as compõem têm características dinâmicas, ou seja, pessoas, veículos de pequeno, médio e grande porte, aeronaves, estão em movimento. Em escalas de espaço e tempo permitidas pelos computadores atualmente (da ordem de centenas de metros e poucos segundos), torna-se praticamente impossível o tratamento explícito destes elementos. Na maioria das vezes, a aproximação realizada é a consideração de que estes elementos estão em repouso (fi xos em uma determinada posição), contribuindo de

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maneira uniforme. Na melhor das hipóteses, os elementos são representados por funções densidade de probabilidade (PDF), que não descrevem o movimento explicitamente, mas fornecem matematicamente uma representação aproximada da movimentação existente nas cidades, o ciclo diurno da atividade urbana. Como exemplo deste tipo de representação, a Figura 1 apresenta a aproximação realizada no modelo de mesoescala RAMS (Pielke et al., 1992; Cotton et al., 2003) que, após modifi cações realizadas para a representação de centros urbanos (Masson, 2000; Rozzof, 2002; Freitas, 2003; Freitas e Silva Dias, 2005; Freitas et al., 2007) e para a representação de processos fotoquímicos (Freitas et al., 2005), é utilizado para a previsão de tempo e de concentração de poluentes na Região Metropolitana de São Paulo. A Figura 1 mostra uma aproximação para a representação dos fl uxos de calor sensível na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). No caso, são utilizadas duas distribuições gaussianas para representar os dois horários de máxima circulação de veículos na cidade (horários de Rush). O mesmo tipo de abordagem é utilizado para representar as emissões de poluentes realizadas pelos mesmos veículos. Neste tipo de aproximação, não se sabe exatamente onde um veículo se encontra, mas assume-se que existe uma probabilidade que o mesmo esteja em algum ponto da cidade. Para isso, é preciso defi nir ou identifi car os locais de maior probabilidade de circulação desses veículos, o que constitui outra difi culdade na representação correta das áreas urbanas em modelos.

Figura 1: Tipo de PDF aplicada na representação de atividades veiculares em áreas urbanas.Fonte: Baseado em Freitas et al. (2007).

Em geral, a defi nição das áreas urbanas em modelos atmosféricos é feita através da utilização de informações derivadas de satélites ambientais, que medem a quantidade de energia radiante emitida ou refl etida pelas diferentes superfícies da Terra (vegetação natural, plantações, corpos d’água, solo nu, construções de diversos portes, entre outros). Em alguns casos, a determinação dessas áreas apresenta alguma confusão, pois, dependendo da escala (resolução espacial das imagens disponíveis), é difícil diferenciar áreas de solo nu de áreas urbanizadas, pois estes dois tipos de uso do solo podem emitir quantidades de energia muito semelhantes. Dependendo da resolução da imagem, outros aspectos da superfície também podem ser confundidos, não havendo a possibilidade de uma boa representação. Boa parte da difi culdade surge da impossibilidade da representação em resolução compatível. Por exemplo, arquivos globais sobre o uso e classifi cação do tipo de solo, são fornecidos com resolução aproximada de 1 km. Nesta resolução é muito difícil, ou mesmo impossível, defi nir de maneira adequada as características da superfície. Para ilustrar este fato, na Figura 2 são apresentadas uma imagem composta das bandas 3, 4 e 5 do satélite Landsat-5 sobre a RMSP numa resolução espacial de 30 m (Figura 2 a) e uma classifi cação do uso do solo fornecida pelo United States Geological Survey (USGS), em sua versão 2, em uma resolução de aproximadamente 1 km (Figura 2 b). Embora possam ser verifi cados diferentes aspectos da área urbana na imagem da Figura 2a, o resultado da classifi cação do USGS mostra apenas uma grande mancha urbana (região em vermelho no centro da fi gura), não havendo nenhum tipo de distinção entre áreas residenciais, industriais, comerciais ou mistas, existente em grandes regiões urbanas como a RMSP. Neste caso, mesmo que um modelo atmosférico ou de qualidade do ar fosse capaz de representar os diferentes aspectos da área urbana em questão (isto é, possuísse um tratamento físico para tal representação em suas equações), baseado na classifi cação do uso do solo apresentada, apenas um tipo de área urbana seria identifi cado, o que poderia resultar em emissões de calor e poluentes totalmente diferentes daquelas observadas na região.

Como um exemplo, uma verifi cação mais detalhada na região urbana apresentada (maior resolução), mostra que dentro da área da Figura 2b são possíveis diversos tipos de superfície, que não

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podem ser considerados como um único tipo de área urbana. A Figura 3 ilustra esta situação. Nesta fi gura, são apresentados quatro tipos de ocupação urbana, entre os vários possíveis, existentes na área em vermelho apresentada na Figura 2.

b)

Figura 3: Diferentes tipos de uso do solo existentes na RMSP. a) Vista do Parque da Água Funda (localização da estação meteorológica do IAG-USP); b) vista da Cidade Ademar (zona sul da cidade de São Paulo); c) vista do Cebolão (entroncamento entre Marginal Tietê, Marginal Pinheiros e Rodovia Castelo Branco); d) vista da região da Avenida Paulista (Parque Trianon e MASP no centro).Fonte: Google Earth.

a)a)

b)

c)

d)

Figura 2: a) Composição de imagens do satélite Landsat-5, numa resolução espacial de 30 m; b) classifi cação do uso do solo fornecidada pelo USGS, numa resolução de aproximadamente 1 km.

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Na Figura 3a, verifi ca-se uma região predominantemente vegetada, com alguns corpos d´água e uma pequena porção urbanizada no canto superior esquerdo. Nesta região, não é esperado grande aquecimento do ar, pois o alto teor de umidade da superfície reduz o aquecimento (maior fl uxo de calor latente). Na Figura 3b, verifi ca-se uma área altamente urbanizada, predominantemente com residências de pequeno porte e pouco espaçamento entre as mesmas. Nesta região, a contribuição para os fl uxos de calor deve-se, em grande parte, à atividade doméstica e alguma interação com a radiação solar incidente (absorção e pequeno aprisionamento entre as paredes das construções), não havendo contribuição veicular ou industrial signifi cativa. A quantidade de vegetação nesta área é muito pequena e não se verifi cam corpos d´água, o que favorece um maior aquecimento do ar na região (maior fl uxo de calor sensível). Na Figura 3c, verifi ca-se uma região predominantemente ocupada por corpos d´água (rios Tietê e Pinheiros) e algumas das principais vias de tráfego da RMSP (entroncamento entre as marginais Tietê e Pinheiros e Rodovia Castelo Branco). Embora existam poucas edifi cações, a contribuição aos fl uxos de calor antropogênico são muito intensas, em virtude da alta circulação de veículos leves e pesados. Nos horários de maior circulação de veículos na RMSP, são observados grandes congestionamentos nesta região. Além disso, em dias de alta incidência de radiação solar, são esperadas contribuições tanto na forma de calor sensível como na forma de calor latente. Além das fontes de calor, fi ca evidente a grande contribuição em termos de emissões de poluentes de origem veicular nesta área. Finalmente, na Figura 3d verifi ca-se uma área altamente urbanizada, assim como na Figura 3b. Porém, nesta região são encontradas edifi cações de grande desenvolvimento vertical (edifícios em sua maioria) e vias mais largas, possibilitando a confi guração do tipo “canion urbano”, geralmente citada na literatura especializada (Oke, 1988; Masson, 2000; Roth, 2000; Freitas, 2003). Nesta região, além das fontes antropogênicas (veículos, atividade doméstica, comércio, etc), existe um grande aprisionamento de energia através de refl exões múltiplas da radiação (em todos os comprimentos de onda) entre as paredes das construções. Ao contrário da

região apresentada em 3b, esta é uma região para onde converge o fl uxo de veículos, sendo uma região fonte de calor e poluentes. Embora não ocupe uma porção muito grande da área apresentada, o parque localizado no centro da imagem constitui uma contribuição signifi cativa para a alteração dos fl uxos em superfície, pois possibilita a evapotranspiração, sombreamento da superfície e consequente diminuição no fl uxo de calor sensível (aquecimento do ar).

Embora não tenham sido apresentadas todas as possíveis heterogeneidades da área urbana, fi ca claro o grande erro cometido em considerar-se apenas um tipo de ocupação urbana para a representação de uma cidade. Quanto maior a cidade considerada, maior será o problema em sua representação, pois grandes centros urbanos tendem a apresentar padrões mais heterogêneos.

1.1. Alternativas para uma Melhor Representação das Cidades

As difi culdades apresentadas na seção anterior resultam em dois problemas principais para os modelos de previsão de tempo ou qualidade do ar: 1) diferentes caracterísiticas estruturais da área urbana e; 2) quantifi cação e localização das fontes de calor e de poluentes. A primeira está relacionada principalmente com a forma com que a cidade interage com a radiação e com o escoamento do ar. A segunda está ligada diretamente à contribuição antropogênica para o aquecimento observado nas cidades e à emissão de poluentes. Embora a concentração de poluentes também tenha efeito signifi cativo sobre o balanço radiativo, este aspecto não será discutido no presente trabalho.

a) Representação da Estrutura Urbana

Boa parte do problema relacionado à representação da estrutura das cidades em modelos numéricos está ligada à resolução espacial que esses modelos utilizam durante suas integrações. Este problema tem forte dependência tecnológica, pois o aumento da resolução requer uma maior capacidade computacional para que as integrações possam ser realizadas em tempo hábil.

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Também, envolve a necessidade de experimentos que permitam um melhor tratamento físico, pois quanto maior a resolução, maior será o detalhe exigido e menores serão as aproximações permitidas. Um bom exemplo de uma melhor representação das áreas urbanas em modelos numéricos foi a implantação do módulo Town Energy Budget - TEB (Masson, 2000) no modelo RAMS ou na versão que representa as contribuições brasileiras ao modelo RAMS (BRAMS). Após o acoplamento completo entre o módulo de vegetação do modelo, o LEAF (Walko et al., 2000), e o TEB, realizado por ocasião de um trabalho de mestrado executado na Universidade do Estado do Colorado-EUA (Rozoff, 2002) e de um doutorado realizado parcialmente na mesma universidade e na Universidade de São Paulo (Freitas, 2003), o modelo acoplado vem sendo utilizado desde 2003 para previsões operacionais sobre a RMSP, sendo portanto um trabalho pioneiro no Brasil. No esquema TEB, uma das principais variáveis que permitem a caracterização da estrutura urbana é o Fator de Visão do Céu (Sky View Factor – SVF), onde Ψ representa a porção do céu vista por um observador em superfície. Experimentalmente, o SVF pode ser obtido através da utilização de câmeras fotográfi cas com lentes do tipo “olho de peixe”, conforme ilustrado na Figura 4.

Na prática de modelagem numérica, o SVF é obtido considerando-se a altura média das construções e o espaçamento entre as mesmas, conforme ilustra a Figura 5. No topo da fi gura, verifi ca-se que, para um mesmo espaçamento (L) entre as construções, quanto menor a altura (H) das mesmas, maior será o SVF. Na base da fi gura verifi ca-se que, para uma mesma altura, quanto maior o espaçamento entre construções, maior o SVF.

Obviamente, a representação ideal da estrutura urbana em modelos numéricos deve considerar o SVF da melhor maneira possível. Para tornar o trabalho na determinação de SVF possível, pois, conforme pode ser deduzido da Figura 4, a determinação experimental deste fator é inviável para toda a área urbana, o primeiro passo a seguir é a determinação de áreas urbanas homogêneas. Tal determinação pode ser realizada com o uso de imagens de satélite em diferentes canais e com

o auxílio de um sistema de informações geográfi cas (SIG). Gouvêa (2007) efetuou tal procedimento para a RMSP, obtendo uma classifi cação com quatro grupos distintos de ocupação urbana, ilustrados na Figura 6. A partir desta classifi cação, é possível a criação de um arquivo com valores mais adequados de SVF, que pode ser obtido experimentalmente, conforme procedimento citado anteriormente.

Como este é um trabalho que envolve grande difi culdade se realizado em escala continental, o mais adequado seria a contribuição de possíveis usuários deste ou de outros modelos para a criação de tais arquivos, pois em muitas áreas urbanas do Brasil, as cidades não são identifi cadas nos arquivos de uso do solo geralmente utilizados (e.g. o arquivo do USGS em sua versão 2). Um exemplo de falha na representação de áreas urbanas é o da Região Metropolitana de Manaus, a qual é considerada como uma área vegetada no arquivo do USGS v2.

b) Representação das Emissões Veiculares de Calor e Poluentes

Nas megacidades, como é o caso da RMSP, a quantifi cação de fontes veiculares por si só já constitui uma tarefa difícil. A localização destas fontes é praticamente impossível. Entretanto, é possível identifi car a principais vias de circulação e ajustar a estas uma distribuição de probabilidades semelhante à apresentada na Figura 1. Em algumas grandes cidades existe um monitoramento realizado pelas Companhias de Engenharia de Tráfego (CET´s) que permite uma boa identifi cação da localização dos veículos. Embora não seja possível afi rmar exatamente se os mesmos são veículos leves ou pesados, fator de grande importância para defi nir o tipo de poluente e a quantidade de calor emitidos, é possível defi nir uma quantidade média desses veículos em determinadas horas do dia, que são característicos de algumas vias. Como um exemplo, Martins (2006) utilizou uma distribuição de emissões para a RMSP numa resolução de 5 km, apresentada na Figura 7. Nesta fi gura, cada cor corresponde a uma taxa de emissão que é lida pelo modelo de qualidade do ar e distribuída temporalmente ao longo da integração.

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Figura 7: Distribuição espacial de emissões na RMSP, Baixada Santista, Sorocaba e São José dos Campos.Fonte: Martins (2006).

A defi nição das taxas de emissão de poluentes e quantifi cação dos fl uxos de calor em função dos tipos de veículos pode ser realizada através de experimentos em túneis. Martins et al. (2006) e Sanchez-Ccoyllo et al. (2008) apresentam resultados de experimentos deste tipo realizados em dois grandes túneis da cidade de São Paulo. O túnel Jânio Quadros, com trafégo apenas de veículos leves, e o túnel Maria Maluf, onde trafegam todos os típos de veículos. Através destes experimentos, Martins et al. (2006) obtiveram fatores de emissão para CO, CO2, NOx, SO2 e compostos orgânicos voláteis (COV). Uma das observações importantes entre as emissões nos dois túneis foi a grande diferença encontrada nas emissões de NOx, sendo estas para veículos pesados 14 vezes maiores que para veículos leves. Durante os mesmos experimentos, Sanchez-Ccoyllo et al.

Figura 4: Ilustração do método para obtenção do SVF com o uso de câmeras digitais equipadas com lentes do tipo “olho de peixe”.Fonte: Adaptado de Brandão (2007).

Figura 5: Obtenção do SVF através da altura média das construções (H) e do espaçamento entre as mesmas (L).

Figura 6: Tipos de uso do solo na RMSP.Fonte: Adaptado de Gouvêa (2007).

(2008) calcularam fatores de emissão para partículas inaláveis. Os fatores de emissão calculados para estas partículas para veículos pesados foram 1,2 vezes maiores que aqueles encontrados em testes realizados com dinamômetros.

Esses e outros experimentos contribuem signifi cativamente para a melhoria nos inventários de emissões. Entretanto, ainda são necessários mais estudos desse tipo para diminuir cada vez mais as incertezas associadas às emissões, uma vez que existe uma variação signifi cativa entre as diferentes regiões metropolitanas, com frotas de diferentes idades e diferentes padrões de tráfego, e também para diferentes períodos do ano, pois períodos de férias escolares e fi nais de semana apresentam padrões bem distintos de emissão, quando comparados aos dias de semana de meses com atividades escolar, por exemplo.

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Com uma boa determinação das emissões de poluentes é possível um boa estimativa dos fl uxos de calor sensível e latente emitidos pelos veículos. Por exemplo, utilizando algum poluente que seja pouco reativo e que seja um bom estimador da quantidade de veículos e do ciclo diurno de circulação dos mesmos (em geral, utiliza-se o Monóxido de Carbono, CO, para esse fi m).

c) Fontes Fixas e Transporte de Poluentes

Boa parte das difi culdades apresentadas até o momento esteve ligada a problemas locais, em geral relacionados às fontes móveis (veículos). Porém, estas não são as únicas fontes. Ainda em escala local, as indústrias são grandes fontes de calor e poluentes. Embora sejam divulgados fatores de emissão para indústrias (como nos relatórios de qualidade do ar emitidos pela CETESB em São Paulo, por exemplo) ainda é necessário que as mesmas sejam bem localizadas nos modelos e que suas estimativas de emissão sejam revistas e melhor elaboradas para que os erros relacionados às fontes fi xas sejam reduzidos nos modelos de qualidade do ar. Atualmente, emissões industriais são divulgadas em quantidades anuais para toda uma área urbana, sem defi nição de ciclo diurno médio e da posição das fontes emissoras (ver CETESB, 2008).

Outro aspecto importante para uma boa determinação da qualidade do ar em uma região é a consideração de fontes exógenas, tais como queimadas relacionadas à atividade agrícola. Exemplos bem conhecidos são a queima da palha da cana-de-açúcar no interior do estado de São Paulo e as queimadas de fl orestas na região amazônica. Essas queimadas emitem grande quantidade de poluentes e calor para a atmosfera que, sob infl uência da circulação atmosférica em escala sinótica ou planetária, podem viajar para regiões distantes, atingindo inclusive outros países e até outros continentes. Para contornar este problema é necessário que modelos de qualidade do ar em escala regional sejam alimentados periodicamente por saídas de modelos de maior escala. Exemplos destes dois tipos de modelos utilizados para a avaliação da qualidade do ar serão apresentados a seguir.

2. EXEMPLOS DE MODELOS DE QUALIDADE DO AR UTILIZADOS NO BRASIL

Com o objetivo de fornecer informações sobre a qualidade do ar na RMSP, desde 2004 o Laboratório de Meteorologia Aplicada a Sistemas de Tempo Regionais (MASTER) do IAG-USP mantém um ciclo operacional de previsões de poluentes realizadas com o modelo BRAMS, acoplado a um módulo fotoquímico simplifi cado (SPM), descrito em Freitas et al. (2005). Além do caráter operacional e social, este tipo de previsão e o produto gerado tem grande importância acadêmica, pois foi desenvolvido e é mantido em colaboração ou como parte dos trabalhos dos alunos de pós-graduação ligados ao MASTER. O produto gerado pode ser verifi cado no sítio http://www.master.iag.usp.br/poluentes.

Outro exemplo de previsões voltadas à qualidade do ar é realizado pelo Grupo de Modelagem da Atmosfera e Interfaces (GMAI) do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/INPE). As previsões realizadas por este grupo envolvem, além das emissões realizadas nos centros urbanos, emissões de queimadas na Floresta Amazônica, Brasil Central e outras regiões do continente Sul-Americano. Emissões do continente africano também são consideradas pelo modelo utilizado (CATT-BRAMS). Maiores detalhes sobre as previsões realizadas pelo GMAI podem ser verifi cados no sítio http://meioambiente.cptec.inpe.br.

Com os resultados das simulações realizadas pelo GMAI é possível alimentar modelos regionais de qualidade do ar, tais como o SPM-BRAMS, e, deste modo, reduzir as incertezas relacionadas à qualidade do ar, fornecendo, consequentemente, previsões mais acuradas das concentrações de poluentes. Entretanto, é preciso que orgãos responsáveis pelo monitoramento e pela regulamentação dos padrões de qualidade do ar também contribuam, pois é fundamental para a condição inicial de qualquer modelo, seja para a previsão de tempo ou para a previsão da qualidade do ar, que as condições iniciais sejam as mais próximas da realidade quanto possível. Deste modo, é provável que os modelos de qualidade do ar possam benefi ciar diretamente a população e servir como ferramenta para órgãos públicos responsáveis pela manutenção e melhoria da qualidade de vida da população.

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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho buscou apresentar alguns aspectos relacionados a um tópico relativamente novo abordado na área de Ciências Atmosféricas e de grande utilidade para o estabelecimento de políticas públicas: o uso de modelos atmosféricos na previsão da concentração de poluentes e diagnóstico da qualidade do ar. O principal objetivo foi destacar as difi culdades envolvidas em tais previsões, que aparecem desde a própria defi nição das áreas emissoras de calor e poluentes

(regiões urbanas, fl orestas, plantios, entre outros), passam pela grande difi culdade na quantifi cação das emissões e vão até a questão do transporte de calor e poluentes, que ocorre em diversas escalas espaciais e temporais. Também, apresentar à comunidade exemplos de desenvolvimentos realizados nesta área em alguns centros de ensino e pesquisa do país, buscando incentivar a pesquisa nesta área tão importante do conhecimento científi co.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Freitas, E. D. Circulações locais em São Paulo e sua infl uência sobre a dispersão de poluentes. Tese de Doutorado do Departamento de Ciências Atmosféricas do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2003, 156p.

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Gouvêa, M. L. Cenários de impacto das propriedades da superfície sobre o conforto térmico humano na cidade de São Paulo. Dissertação de Mestrado do Departamento de Ciências Atmosféricas do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2007, 87 p.

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Martins, L. D. Sensibilidade da formação do ozônio troposférico às emissões veiculares na Região Metropolitana de São Paulo. Tese de Doutorado do Departamento de Ciências Atmosféricas do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2006, 198 p.

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Oke, T. R. Boundary Layer Climates. 2a ed., Routledge Kegan & Paul, 1988, 435 p.

Pielke, R. A.; Cotton, W. R.; Walko, L. R.; Tremback, C. J.; Lyons, W. A.; Grasso, L. D.; Nicholls, M. E.; Moran, M. D.; Wesley, D. A.; Lee, T. J.; Copeland, J. H. A comprehensive meteorological modeling system – RAMS. Meteorology and Atmospheric Physics, 49:69-91, 1992.

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Sanchez-Ccoyllo, O. R.; Ynoe, R. Y.; Martins, L. D.; Astolfo, R.; Miranda, R. M.; Freitas, E. D.; Borges, A. S.; Fornaro, A.; Freitas, H. C.; Moreira, A.; Andrade, M. F. Vehicular Particulate Matter Emissions in Road Tunnels in Sao Paulo, Brazil. Environmental Monitoring and Assessment, v. online, p. s10661-008-019, 2008. DOI 10.1007/s10661-008-0198-5.

Walko, R. L.; Band, L. E.; Baron, J.; Kittel, T. G. F.; Lammers, R.; Lee, T. J.; Ojima, D.; Pielke, R. A.; Taylor, C.; Tague, C.; Tremback, C. J.; Vidale, P. L. Coupled Atmosphere-Biophysics-Hydrology Models for Environmental Modeling. Journal of Applied Meteorology, 39:931-944, 2000.

5. AGRADECIMENTOS

Este trabalho contou com o apoio fi nanceiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científi co e Tecnológico-CNPq-Brasil, Proc. N0 485961/2006-7.

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Rede de Monitoramento de Tempo e Clima: O Projeto “Pilotinhos”

Maria Gertrudes Alvarez Justi da Silva, David Garrana Coelho, Luiz Rodrigo Lins Tozzi, Isimar de Azevedo Santos, Alfredo Silveira da Silva

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Geociências, Dept. de MeteorologiaCidade Universitária, Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, RJ - 21941-590

E-mails: [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected]

RESUMOA Sociedade Brasileira de Meteorologia (SBMET) e o Laboratório de Prognósticos em Mesoescala (LPM) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) atuaram com o MCT ao longo dos últimos três anos em um projeto que visou o desenvolvimento de sistemas numéricos de previsão e a atualização de profi ssionais dos Centros Estaduais de Meteorologia do país. Foram oferecidos três cursos que receberam mais de 60 profi ssionais de 2º diferentes estados brasileiros. Os sistemas numéricos de previsão foram desenvolvidos para 12 estados onde foi utilizado o modelo WRF com resolução de 9 km.Palavras-chaves: Meteorologia de mesoescala, Modelo WRF.

ABSTRACTFor three years SBMET and LPM/UFRJ has worked with MCT developing a collaboration to offer courses to meteorologists and developing numerical weather systems for some Brazilian States. It was offered three courses that received more than 60 professionals from 20 different states and it has been developed numerical weather systems for 12 states with WRF model with resolution of 9 km.Key words: Mesoscale Meteorology, WRF Model.

1. INTRODUÇÃO

A ocorrência de sistemas meteorológicos como as tempestades convectivas intensas na atmosfera e o aumento na freqüência de fenômenos extremos no Brasil, exigem o acompanhamento e a realização de investigações por parte de comunidade científi ca nacional, assim como a utilização plena dos resultados provenientes das pesquisas de ponta. As investigações em mesoescala se enquadram neste contexto, havendo também a necessidade de uma difusão adequada, no contexto operacional e em âmbito nacional, dos conhecimentos adquiridos em universidades e centros de pesquisa.

Dada a dimensão do Brasil, cada região tem

especifi cidades e necessidades distintas em termos de Meteorologia. Isso demanda que as previsões tenham resoluções espaciais e temporais mais detalhadas do que é possível ser feito em Centros nacionais como o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/INPE) ou o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). É de extrema relevância que cada Centro estadual possa gerar suas previsões, pois além de complementares, o objetivo fi nal das previsões pode ser diferente em cada estado, cada um com suas prioridades e, principalmente, diferentes usuários.

Com essas prioridades e considerações em vista

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foi submetido um projeto ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) denominado “Implantação da Rede de Meteorologia e Clima” cujos objetivos foram: a) desenvolver sistemas que atendessem às demandas por previsão do tempo para atividades específi cas regionais e b) qualifi car meteorologistas dos Centros Estaduais em pesquisa sobre o tratamento de fenômenos meteorológicos de escala local que demandam resposta rápida e efi ciente. Devido ao caráter experimental (pesquisa piloto) da introdução de sistemas numéricos de previsão de tempo em cada um dos estados brasileiros, este projeto fi cou conhecido e foi denominado entre seus proponentes e usuários como projeto “Pilotinhos”.

2. ATIVIDADES REALIZADAS

2.1. Sistemas Numéricos de Previsão

Os sistemas desenvolvidos basearam-se na experiência de pesquisa que o Laboratório de Prognósticos em Mesoescala (LPM) da Universidade Federal do Rio de Janeiro vem fazendo desde 1999 (Coelho et al., 2000; Justi da Silva et al., 2001), com o desenvolvimento de sistema automático de previsões para o estado do Rio de Janeiro, que inclui as fases de pré-processamento, integração do modelo numérico da atmosfera, pós-processamento e disponibilização de produtos de previsão do tempo. Este sistema disponibiliza previsões com resolução espacial de temporal que contemplam as necessidades tanto dos meteorologistas como do público em geral (ver em www.lpm.meteoro.ufrj.br). As vantagens mostradas no desenvolvimento feito pelo LPM, que o diferencia de outros Centros no país, foram a utilização de máquinas de menor custo e com desempenho cada vez maior (os computadores pessoais), o uso de sistemas operacionais gratuitos (Linux) e o uso de modelos atmosféricos também gratuitos (MM5 inicialmente e depois o Weather Research and Forecasting - WRF) e com vasta utilização pela comunidade de pesquisa em inúmeros países.

No primeiro ano do projeto foram defi nidos os estados do Amazonas, Piauí, Tocantins e Goiás como os integrantes do projeto piloto para o desenvolvimento dos Sistemas Numéricos de Previsão. No segundo ano de Projeto foram incluídos os estados do Amapá,

Sergipe, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo e Santa Catarina. Em função da necessidade de ajustar o Modelo WRF para representar melhor algumas características tropicais e litorâneas e devido a experiência já detectada nestes estados, foram incluídos os estados da Paraíba e de Pernambuco na fase fi nal do Projeto.

O Sistema Numérico de Previsão desenvolvido é um conjunto de programas e scripts que abrangem todos os passos necessários para a geração de previsões numéricas de tempo para o estado específi co, bem como seus produtos fi nais, sem a necessidade de intervenção humana. O sistema foi montado visando obter bons resultados, um desempenho robusto e fácil personalização de seus produtos, visando atender especifi camente as necessidades do estado. Um esquema simplifi cado do mesmo pode ser visto na Figura 1. Essencialmente, os dados usados na alimentação do modelo numérico são os do Modelo Global Forecast System (GFS) do National Centers for Environmental Prediction (NCEP) adquiridos nos bancos de dados do Projeto NOMADS (National Operational Model Archive & Distribution System – http://nomads.ncdc.noaa.gov/) da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), nos Estados Unidos.

Figura 1: Esquema básico do Sistema Numérico de Previsão. BD signifi ca banco de dados.

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O modelo numérico de mesoescala utilizado no sistema é o WRF (www.wrf-model.org). O WRF é considerado um modelo de previsão numérica da próxima geração, pois além de ser fl exível quanto a sua instalação e confi guração física e numérica, pode ser utilizado em diversas escalas, que pode ir de apenas alguns metros até milhares de quilômetros e atende fi nalidades tais como: a) simulações idealizadas (convecção, ondas baroclínicas, etc.), b) pesquisa em parametrizações, c) pesquisa em assimilação de dados, d) pesquisa em previsão de tempo, e) acoplamentos entre modelos de aplicações diferentes (tempo-ondas, tempo-poluição, etc.), f) ensino. O WRF permite, portanto, realizar simulações com dados reais ou idealizados e é considerado muito efi ciente em termos computacionais, com uma arquitetura de software pronta para o processamento paralelo. Este modelo é o resultado de um esforço conjunto de diversas entidades dos Estados Unidos: o National Center for Atmospheric Research (NCAR), a NOAA, o NCEP, o Forecast Systems Laboratory (FSL), a Air Force Weather Agency (AFWA), o Naval Research Laboratory (NRL), a Universidade de Oklahoma e a Federal Aviation Administration (FAA). Além das instituições citadas, o WRF tem uma crescente comunidade internacional de usuários e é usado operacionalmente por vários Centros, inclusive o NCEP.

A versão do WRF instalada nos sistemas de previsão desenvolvidos neste projeto foi a ARW 2.2, no caso dos primeiros quatro estados, e a 3.0 nos demais estados, e usa o módulo WRF Pre-Processing System (WPS) para o pré-processamento (Wang e Powers, 2007). Nos sistemas desenvolvidos, o Modelo WRF é executado com uma resolução horizontal de 9 km, com 28 níveis verticais na atmosfera e 5 níveis de solo. Usa as seguintes opções de parametrização: a) Microfísica: Thompson Graupel, b) Radiação: SW Dudhia/LW RRTM, c) Camada Limite Planetária: Mellor-Yamada-Janjic (ETA) TKE, d) Camada Limite Superfi cial: Monin-Obukhov (Janjic ETA), e) Superfície: Difusão Térmica e f) Cumulus: Grell-Devenyi ensemble.

O pós-processamento segue o esquema mostrado na Figura 2, repetido a cada 30 minutos, com a geração

de produtos e fi guras até o fi nal da integração total do modelo. O esquema permite também a alimentação de um banco de dados onde fi cam armazenados os valores das variáveis previstas em todos os pontos de grade do modelo, facilitando as verifi cações posteriores das previsões efetuadas. O Sistema Numérico de Previsão gera seus produtos com um horizonte de previsão de 168 horas (7 dias), com intervalos de previsão de 3 horas, sendo os produtos para o público discriminados nos períodos do dia (manhã, tarde, noite e madrugada) de acordo com o horário local.

Figura 2: Esquema discriminando o pós-processamento do Sistema de Previsão.

O script principal consiste de um arquivo em linguagem korn shell que executa verifi cações e, atendidas as condições necessárias, executa o script de controle do pós-processamento do Pacote R. O projeto R é um ambiente de software gratuito para computação estatística, composto de um sistema integrado de pacotes desenvolvidos pelos próprios usuários. O Sistema Numérico de Previsão desenvolvido neste projeto permite que o usuário efetue mudanças nos produtos gerados, quer nas variáveis atmosféricas disponibilizadas, quer nos campos gerados e nas respectivas formas de apresentação.

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Dois cursos de treinamento sobre os Sistemas Numéricos de Previsão implantados nos estados foram realizados nas dependências do LPM/UFRJ, o primeiro no período de 8 a 11 de outubro de 2006 e o segundo no período de 2 a 5 de outubro de 2007. O objetivo destes Cursos foi explicar a concepção do Sistema, suas várias características, e mostrar as possibilidades e as alterações possíveis para customizar o Sistema com as necessidades de cada estado para o qual o projeto piloto foi implantado. O projeto fi nanciou a vinda ao Rio de Janeiro de dois profi ssionais de cada estado, um especialista em Meteorologia e outro com formação básica em Informática, para que houvesse uma maximização no entendimento das características e das potencialidades oferecidas pelos Sistemas implantados.

Após a implantação dos Sistemas nas máquinas adquiridas e enviadas aos estados procedeu-se a uma verifi cação das previsões efetuadas comparando os valores previstos em algumas cidades de maior interesse e onde puderam ser disponibilizados dados observados em estações meteorológicas ou PCD´s. Foram utilizados índices estatísticos de verifi cação de previsões consagrados na literatura para a quantifi cação de erros e tendências (Chou e Justi da Silva, 1999; Justi da Silva et al., 2000; Oliveira et al., 2000; Wilks, 2006). A totalidade do material obtido nos meses de verifi cações serviu para que alguns ajustes fossem feitos em parâmetros do modelo. Após um período inicial, estimulou-se aos próprios Centros Estaduais que mantivesse uma verifi cação sistemática das previsões disponibilizadas, utilizando o material usado no Curso de Meteorologia de Mesoescala (2006) e nos Cursos de Treinamento nos Sistemas Numéricos implantados (2006 e 2007).

2.2. Cursos de Atualização

Para atender ao segundo grande objetivo deste projeto foram oferecidos três cursos de atualização aos meteorologistas e demais profi ssionais de instituições ligadas à previsão de tempo, preferencialmente provenientes dos Centros Estaduais que integravam o Programa de Monitoramento de Tempo, Clima e Recursos Hídricos do MCT. As respectivas ementas, corpo docente e corpo discente são discriminados

a seguir. O material impresso discutido nas aulas e as apresentações dos professores foram revisadas e disponibilizadas aos alunos e respectivas instituições de origem através da confecção de um CDROM para cada Curso.

2.2.1. Curso de Atualização em Meteorologia de Mesosescala

Foi oferecido um Curso de Atualização em Meteorologia de Mesoescala nas dependências do Departamento de Meteorologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no período de 15 a 27 de maio de 2006, curso com um total de 88 horas de aula.

Ementa: Classifi cação das escalas atmosféricas. Aspectos de grande escala (sinóticos) associados com a formação e evolução de sistemas de mesoescala: escoamentos no ar superior, escoamentos nos baixos níveis, advecção térmica e conversões de energia termodinâmica em movimento. Classifi cação dos sistemas de mesoescala: aspectos termodinâmicos e dinâmicos associados. Teoria da propagação dos sistemas de mesoescala. Técnicas de previsão de sistemas convectivos. Interpretação de imagens de radar meteorológico e aplicações à previsão de curto prazo. O uso de imagens de satélites na detecção de sistemas convectivos e na quantifi cação da precipitação associada. Modelagem de mesoescala: soluções numéricas, parametrizações e aspectos computacionais. Verifi cação objetiva das previsões meteorológicas. Acesso às bases de dados do NCEP e da UNIDATA.

Corpo Docente: Atuaram no Curso de Mesoescala os seguintes professores: Augusto José Pereira Filho (USP), David Garrana Coelho (UFRJ), Edmilson Freitas (USP), Ernani Lima do Nascimento (UFPR), Gustavo Escobar (CPTEC/INPE), Isimar de Azevedo Santos (UFRJ), Luiz Augusto Toledo Machado (DSA/INPE), Maria Assunção Faus da Silva Dias (CPTEC/INPE), Maria Gertrudes Alvarez Justi da Silva (UFRJ), Waldenio Gambi (CPTEC/INPE), Wallace Figueiredo Menezes (UFRJ) e William Cotton (Colorado State University).

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Corpo Discente: Este Curso foi realizado por 36 profi ssionais oriundos de 21 diferentes estados brasileiros, sendo as despesas de 20 profi ssionais custeadas pelo Projeto.

2.2.2. Curso de Atualização em Meteorologia Sinótica Prática Aplicada à Previsão de Tempo

Foi oferecido um Curso de Atualização em Meteorologia Sinótica Prática Aplicada à Previsão de Tempo nas dependências do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no período de 3 a 8 de dezembro de 2007, curso este com um total de 54 horas de aula. O objetivo foi o de fortalecer os conhecimentos de Meteorologia Sinótica através da utilização de ferramentas objetivas de prognóstico dos diferentes sistemas meteorológicos que infl uenciam o tempo no Brasil.

Ementa: a) Revisão de conceitos básicos de Meteorologia Sinótica. Identifi cação de sistemas frontais: frentes frias, frentes quentes, frentes estacionárias, frentes subtropicais e cavados baroclínicos. jatos de altos níveis: jato subtropical (JST), Jato Polar Norte (JPN) e Jato Polar Sul (JPS). Teoria de Desenvolvimento de sistemas de baixa e alta pressão (Equação de Sutcliffe): ondas frontais e índices de instabilidade: K, LI, SH, TT, CT, VT, SWEAT, CAPE. b) Uso do Gempak: visualização de imagens de satélite, visualização de dados de superfície (metar, synop) e de altitude (radiossondagem), visualização de cartas sinóticas e geração de cartas sinóticas; traçado de frentes, cavados, jatos e condição de tempo. c) Elaboração da previsão de tempo: análise das cartas sinóticas: superfície e altitude (500 hPa e 250 hPa), previsão de tempo através da utilização de ferramentas objetivas de prognóstico derivadas de modelos numéricos e elaboração de boletins técnicos.

Corpo Docente: O principal instrutor do Curso foi o Dr. Gustavo Carlos Juan Escobar, do INPE/CPTEC, que contou com o apoio dos professores e técnicos do LPM/UFRJ.

Corpo Discente: Participaram do Curso 24 profi ssionais, em sua maioria meteorologistas, oriundos de 19 diferentes estados brasileiros, sendo 17 deles custeados com recursos do Projeto. O número de alunos do curso foi limitado pelas necessidades de infra-estrutura de computadores e software específi co.

2.2.3. Curso de Modelagem Hidrológica Aplicada a Sistemas de Alerta de Enchentes e Monitoramento Hidrometeorológico por Sensoriamento Remoto

Este Curso foi oferecido nas dependências do CREA-RJ, no período de 1 a 5 de dezembro de 2008 com um total de 40 horas de aula.

Ementa: A) Monitoramento Hidrometeorológico por Sensoriamento Remoto. Uso de informações de radar, satélite e raios para nowcasting: Descargas elétricas atmosféricas: formação de descargas em nuvens; relação da polaridade com severidade da tempestade. Radar meteorológico: refl etividade e velocidade radial; composições CAPPI e PPI; recuperação do campo de vento por dados de Radar; detecção de granizo; análise de tempestades e linhas de instabilidade. Satélite meteorológico: estimativas de precipitação por satélite - comparação de técnicas; integração com radares e pluviômetros. Estudo de caso de tempestade: análise de previsão de nowcasting (3h) e de curto prazo (24h); utilização de índices de instabilidade. B) A Quantifi cação e o Monitoramento de Secas Agrícolas. Índices meteorológicos e agrometeorológicos para monitorar e quantifi car a seca sob os diferentes pontos de vista; adaptação de índices para quantifi car a seca e os seus efeitos sobre as culturas agrícolas; vulnerabilidade da região à secas agrícolas e adaptação de índices para estudos de riscos climáticos e seus efeitos na agricultura. C) Modelagem Hidrológica na bacia do Rio Doce (Minas Gerais e Espírito Santo). Modelagem hidrológica: Histórico dos modelos, tipos de modelos, calibração e validação de modelos hidrológicos, integração com produtos dos modelos de previsão de tempo e a planície de inundação. Estrutura observacional de aquisição de dados: precipitação, nível de cursos de água, esquemas de transmissão dos dados e radar

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meteorológico. Esquema de operação: integração com Centros de previsão de tempo e difusão de informações e integração com a Defesa Civil local. Exemplos de operação do sistema em períodos grandes cheias: janeiro de 2003 e março de 2005. D) Modelagem Hidrológica na bacia do Araranguá (Santa Catarina). Modelagem hidrológica: a opção do modelo (SWAT), calibração e validação do modelo hidrológico, integração com produtos dos modelos de previsão de tempo (WRF) e a planície de inundação. Estrutura observacional de aquisição de dados: precipitação, nível de cursos de água e esquemas de transmissão dos dados. Esquema de operação: integração com centros de previsão de tempo e difusão de informações e integração com a Defesa Civil local. Exemplos de operação do sistema em períodos grandes cheias: novembro de 2006 e maio de 2008.

Corpo Docente: Cesar Augustus Assis Beneti (SIMEPAR-PR), Elizabeth Guelman Davis (CPRM-MG), Gerson Conceição (EPAGRI/CIRAM-SC), Leonardo Calvetti (SIMEPAR- PR) e Orivaldo Brunini (IAC-SP).

Corpo Discente: Participaram do Curso 41 profi ssionais, em sua maioria meteorologistas, oriundos de 20 diferentes estados brasileiros, sendo 20 deles custeados com recursos do Projeto.

2.3. REUNIÃO DE COORDENADORES DOS CENTROS ESTADUAIS

Aproveitando a presença de vários Coordenadores durante a realização do primeiro curso de atualização (2006) foi criado um espaço para uma reunião de trabalho que resultou na

elaboração de uma lista de prioridades que foram encaminhadas à Sociedade Brasileira de Meteorologia (SBMET) e ao MCT tratando das necessidades dos Centros Estaduais. Nesta ocasião foi reconhecida também a necessidade de uma organização formal para canalizar e encaminhar as futuras propostas. Em decorrência, foi criado durante a realização do segundo curso de atualização (2007) e com a presença da maioria dos Coordenadores dos Centros Estaduais, o Fórum Brasileiro de Meteorologia Regional (http://www.meteorologiaregional.com.br) e eleita uma primeira Diretoria para um período de dois anos. Este Fórum se reuniu mais uma vez por ocasião da realização do terceiro curso de atualização fi nanciado por este projeto. Cabe ressaltar que como resultado deste Fórum a FINEP recebeu durante o XV Congresso Brasileiro de Meteorologia (XV CBMET) sugestões para melhoria do último Edital para fi nanciamento de projetos na área de meteorologia, tendo acatado e incorporando as sugestões no referido Edital.

3. CONCLUSÕES

Este projeto permitiu que a SBMET pudesse cumprir com mais facilidade uma de suas metas que é a de oferecer cursos para seus sócios e profi ssionais que atuam em Meteorologia no país.

O investimento feito no desenvolvimento dos Sistemas Numéricos de Previsão, levando para os estados a oportunidade de uma customização de suas previsões, foi reconhecido e valorizado pelos Centros Estaduais, tendo havido solicitações para uma extensão do Projeto com o desenvolvimento e implantação de sistemas em novos estados.

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4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Chou, S. C.; Justi da Silva, M G. A. Objective evaluation of Eta model precipitation forecasts over South America. Climanálise, 14, n0 1, 1999.

Coelho, D. G.; Justi da Silva, M. G. A.; Santos, I. A. Modelagem de mesoescala: uma alternativa de baixo custo. XI Congresso Brasileiro de Meteorologia, Rio de Janeiro, RJ. Anais. CDROM, 2000.

Justi da Silva, M. G. A.; Bardos, C. D.; Xavier, M. C. A. Sistema Alerta-Rio: verifi cação objetiva das previsões de precipitação e temperatura. XI Congresso Brasileiro de Meteorologia. Rio de Janeiro, RJ. Anais, CDROM. 2000.

Justi da Silva, M. G. A.; Santos, I. A.; Coelho, D. G. Operacionalização de previsões meteorológicas locais no estado do Rio de Janeiro. Boletim da Sociedade Brasileira de Meteorologia, 25 (2), 21-29, 2001.

Oliveira, G. A.; Coelho, D. G.; Justi da Silva, M. G. A. Avaliação dos erros das previsões numéricas sobre o estado do Rio de Janeiro. XI Congresso Brasileiro de Meteorologia, Rio de Janeiro, RJ. Anais, CDROM. 2000.

Wang; Powers, J. G. A Description of the Advanced Research WRF Version 2. NCAR, Boulder, CO, NCAR TECHNICAL NOTE 468, 2007.

Wilks, D. S. Statistical methods in the Atmospheric Sciences. 2a ed., San Diego, Academic Press, 2006, 627 p.

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UM SISTEMA PREVISOR BASEADO NO WRF EM FASE DE TESTES NO INMET

Fabrício Härter, Fernando Barrros, Thiago Braga, Ricardo Raposo, Gilberto Bonatti, Juliana Mo , Francisco Quixaba Filho, Francisco Alves, José Maurício Guedes

Instituto Nacional de Meteorologia (INMET)Eixo Monumental Via S1, Sudoeste Brasília – DF, CEP: 70680-900

E-mail: [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected],

[email protected], [email protected], [email protected],

1. INTRODUÇÃO

O INMET, desde 1999, tem um sistema de Previsão Numérica de Tempo (PNT) baseado no Modelo Brasileiro de Alta Resolução (MBAR) (Silveira et al., 2000). Atualmente este sistema gera previsões diárias às 0000 UTC e 1200 UTC com resolução horizontal de 25 km para o domínio da América do Sul (AS) e de 7 km para o domínio do Brasil. Faz parte deste sistema, além do processamento do MBAR, a fase de pré-processamento, que inclui a preparação da análise com assimilação de dados via LAPS (Local Analysis and Prediction System) e pós-processamento, abrangendo verifi cações diárias e mensais em ponto de grade e em ponto de estação meteorológica; previsão estatística, bem como verifi cações mensais e diárias destas previsões. Este sistema abrange ainda visualização de produtos, armazenamento e controle de qualidade dos dados.

Devido à contínua melhora dos parques computacionais, e a pesquisas científi cas que resultam em modelos numéricos que representam a atmosfera com precisão cada vez maior, os grandes centros mundiais de meteorologia estão aumentando a resolução dos seus modelos globais. A DWD, sigla do Centro Meteorológico alemão que fornece as condições iniciais e de fronteira para integração do MBAR, projeta disponibilizar previsões do seu modelo global com resolução horizontal de 20 km em 2009, enquanto o ECMFW já realiza testes com o ECMWF Model para 10 km de resolução horizontal. Esta alta resolução dos modelos globais exige um planejamento dos Centros que integram modelos regionais, pois estes devem preparar-se para, num futuro

próximo, disponibilizarem PNT com resolução inferior a 10 km, com precisão melhor do que a precisão dos modelos globais.

Embora o INMET já realize previsões com 7 km de resolução horizontal desde 2006 (MBAR 7 km), é importante pesquisar novas alternativas, pois este modelo é hidrostático e não apresenta em sua solução, por exemplo, ondas acústicas rápidas que se propagam praticamente na direção vertical (Holton, 1992). As alternativas para contemplar esta demanda por modelos de resolução tão fi na são (1) integrar modelos hidrostáticos e (2) utilizar técnicas de dowscaling estatístico, esta última alternativa está fora do escopo deste texto.

Um modelo com modo não-hidrostático atrativo para o objetivo em questão é o Weather Research and Forecasting Model (WRF), pois seu código é aberto, apresenta opção de rodar com grades aninhadas, tem uma ampla comunidade de usuários no Brasil e no exterior, documentação atualizada, pode ser inicializado como dados disponibilizados em diversas fontes, tais como National Centers for Environmental Prediction (NCEP) e National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), além de possibilitar a acoplagem a modelos de química (WRF-Chem). Portanto, neste trabalho apresentam-se resultados de um teste feito com o WRF Model numa máquina do parque computacional do INMET. Avalia-se a precisão do modelo ao simular a passagem de um sistema frontal na Região Sul do Brasil, que causou fortes ventos, chuva e granizo no RS, SC e PR.

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2. MODELO E DADOS

O WRF é um modelo de equações primitivas desenvolvido pelo National Center for Atmospheric Research (NCAR) em colaboração com o NCEP/NOAA e o Forecast Systems Laboratory (FSL). O sistema de assimilação formado pelo modelo, pelo método de assimilação e demais utilitários resultam num sistema de previsão numérica de tempo de última geração, podendo ser implementado em várias arquiteturas de computadores e suportando diferentes diretivas de paralelismo.

No INMET, o WRF está inicialmente instalado numa máquina HP, sob sistema operacional UNIX Tru64 e compilado com diretivas Open MP. O domínio escolhido para testes compreende basicamente a região Sul do Brasil, sendo de 220 S a 360S e de 420W a 630W. Há opção de integração do modelo tanto em modo hidrostático como não-hidrostático e opção de usar grades aninhadas (não explorada neste trabalho, ver defi nição nas considerações fi nais). O modelo é integrado com 28 níveis verticais com Coordenada Eta e Projeção Lambert.

Os prognósticos são feitos diariamente a partir das 0000 UTC para 72 horas, com dados no formato grib2 do Global Forecast System (GFS), modelo global do NCEP. O GFS tem resolução horizontal de 1º com 26 níveis de pressão sem contar com a superfície. Inclui-se a temperatura da superfície do mar do dia anterior à rodada e dados terrestres com 30 segundos de resolução.

A verifi cação, viés e Erro Quadrático Médio (EQM) são feitos em ponto de estação meteorológica, ou seja, as variáveis do modelo em ponto de grade são interpoladas para o ponto de observação e comparadas com a observação. Os dados são coletados na rede automática das estações de superfície do INMET.

3. O CASO SELECIONADO

Simula-se um caso típico de entrada de um sistema frontal na Região Sul do Brasil. A ciclogênese ocorreu no sul do Oceano Atlântico no dia 11 da agosto de 2008. No dia 12 de agosto às 0015 UTC o sistema frontal estava bem organizado sobre o Uruguai (Figura 1a). As 0200 UTC o sistema já atingia o RS, onde chuva e fortes ventos durante a madrugada causaram prejuízos em vários pontos do estado. A cidade mais atingida foi Pelotas, onde ocorreu queda de granizo durante 10 minutos. A Figura 1b mostra o sistema sobre o estado às 1215 UTC. Segundo a imprensa local rajadas de ventos de 120 km h-1 causaram a queda da antena de uma rádio, derrubaram árvores e casas foram destelhadas, sendo que há registros de que pelo menos duas casas foram parcialmente destruídas pela queda de árvores. Na fronteira oeste, região de Uruguaiana, o vento derrubou uma torre de transmissão da companhia de energia elétrica deixando aproximadamente 13 mil pessoas sem energia elétrica. Em regiões mais populosas até 86 mil pessoas fi caram sem energia elétrica devido a queda de torres de transmissão. Nos dados coletados na estação meteorológica automática da rede do INMET, durante o dia 12 de agosto na estação de Uruguaiana (A809), em 29,840 S e 57,080 W destaca-se a rajada de vento de 33,2 ms-1 (119,52 km h-1) e o acumulado horário de 21,4 mm de precipitação, ocorrido às 0500 UTC. Nos dados, não anexados a este texto, observa-se que a pressão estava baixa e aumentou ao longo do dia à medida que a frente se deslocava para SC. Ainda no dia 12 de agosto, a frente atingiu os estados de SC e PR, conforme pode ser visto na Figuras 1c, das 2115 UTC. Nestes estados os estragos e prejuízos não foram menores do que no RS.

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Figura1: Imagem de satélite no canal infravermelho termal para às: a) 0015 UTC, b) 1215 UTC, c) 2115 UTC.

4. SIMULAÇÃO DO SISTEMA FRONTAL COM O WRF

Nesta seção se avalia a capacidade do WRF com 15 km de resolução horizontal no modo hidrostático em simular o sistema sinótico predominante na região Sul do Brasil no dia 12 de agosto de 2008. O objetivo deste texto não é fazer uma análise detalhada sobre o caso, mas identifi car se o modelo simula a intensidade e propagação do sistema. Especifi camente, o modelo deve representar a entrada do sistema de baixa pressão e fortes ventos sobre os estados da Região Sul do Brasil.

A Figura 2 mostra que a posição e a intensidade do sistema de baixa pressão sobre o Uruguai foram bem representadas na análise. O campo de vento mostra a confl uência dos ventos à 10 metros da superfície, evidenciando que o modelo simula a rápida propagação do sistema, conforme observado nas imagens de satélite (Figura 1). Integrações do WRF com 5 km de resolução horizontal no modo não-hidrostático, não apresentados neste artigo, mostram

a) b) c)

que o sistema foi bem previsto com esta confi guração, porém estes experimentos serão analisados ao se fazer um estudo mais detalhado sobre o caso em questão.

A Figura 3 mostra o campo de velocidade vertical, no momento em que a frente está sobre o RS (0900 UTC) e sobre o Paraná (2100 UTC), evidenciando que o modelo simulou de maneira coerente a propagação do sistema, mostrado nas imagens de satélite (Figura 1).

Na Figura 4 foram grafados os campos de umidade relativa do ar em 300 hPa, mostrando que esta variável também está coerente com a teoria de desenvolvimento de sistemas frontais, pois à medida que a frente avança, as regiões atingidas pela massa de ar frio, apresentam uma diminuição da umidade relativa do ar, enquanto as regiões adiante do sistema apresenta um aumento de umidade.

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c) d)

Figura 2: Resultados da integração do Modelo WRF para o dia 12 de agosto de 2008: a) campo de Pressão ao Nível do Mar às 0000 UTC, b) campo de vento à 10m da superfície às 0300 UTC, c) campo de vento à 10m da superfície às 0900 UTC, d) campo de vento à 10m da superfície às 1800 UTC.

Figura 3: Campos de velocidade vertical (W) dia 12 de agosto de 2008 às: a) 0900 UTC, b) 2100 UTC.

a) b)

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Figura 4: Campo de umidade relativa do ar em 300 hPa.

5. VERIFICAÇÕES EM PONTOS DE OBSERVAÇÃO

As verifi cações são feitas através de interpolação do ponto de grade do modelo para pontos de observação. Grafa-se na Figura 5 as evoluções temporais de Pressão ao Nível do Mar, temperatura à 2 m da Superfície e vento à 10 m do Solo.

Embora a avaliação do Modelo WRF para um único dia, em uma única estação, não seja representativa do ponto de vista estatístico, as avaliações apresentadas na Figura 6 servem para confi rmar que o modelo simulou o caso estudado de maneira satisfatória, acompanhado muito bem a pressão ao nível do mar e a temperatura à superfície e previu qualitativamente bem o vento à 10 m do solo.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho foi apresentada a implementação do Modelo WRF atualmente em fase de testes numa máquina do parque computacional do INMET. O objetivo é oferecer uma alternativa à Coordenadoria de Modelagem Numérica (CMN) de um modelo hidrostático que contemple a demanda por previsões numéricas de alta resolução. O Modelo WRF é especialmente atrativo pelas seguintes características:

1. O código é completamente aberto e disponível para download - a utilização do WRF é gratuita e não exige acordos com o desenvolvedor do código;

2. Possui opção por rodadas no modo hidrostático e não-hidrostático – permite, por exemplo, que se faça concomitantemente uma previsão com

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resolução de 15 km no modo hidrostático e com 5 km de resolução no modo não-hidrostático, numa grade aninhada;

3. Possui opção para rodadas com grades aninhadas – sub-grades podem ser utilizadas em um modo aninhado, ou seja, as informações geradas pela rodada de uma grade principal são incorporadas como condições de contorno para a grade aninhada num subdomínio da grade principal. Isto implica em redução de custo computacional, comparando-se a rodada do domínio da grade aninhada com uma rodada para o mesmo domínio onde não se usa grade aninhada;

4. Possui opção de re-start - em caso de interrupção na rodada do modelo, pode-se recomeçar a integração do ponto onde a interrupção ocorre, eliminando-se a necessidade de recomeçar a do tempo inicial. Esta característica é muito importante para previsão

operacional, onde o tempo para disponibilização do produto é sempre importante;

5. Há interfaces para rodá-lo acoplado a modelo de química, tal como WRF-Chem – O INMET está continuamente ampliando os produtos gerados na CMN, portanto, utilizar um modelo que permita futuramente optar por rodar modelos acoplados é uma vantagem, pois não exige que o modelo atmosférico seja descontinuado em prol de outro que contemple esta necessidade;

6. Pode ser utilizado no estudo de previsão numérica de clima - esta característica também abre uma possibilidade para futuramente se ampliar os produtos gerados pala CMN;

7. Vem sendo utilizado por ampla comunidade nacional, internacional que mantém lista de e-mail e página web para discussão – isto é interessante à medida que permite a troca de informações com

Figura 5: Evolução temporal, viés e EMQ de Pressão ao Nível do Mar, temperatura à 2m da superfície e vento à 10m do solo, para a cidade de Uruguaiana-RS. As variáveis grafadas referem-se ao modelo, linha 1, a observação, linha 2, viés, linha 3 e Erro Médio Quadrático, linha 4. Em todos os gráfi cos apresentados onde há descontinuidade na linha azul signifi ca que não há observação no horário.

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diversos parceiros;8. Documentação atualizada – manter a

documentação atualizada das versões de um software é uma tarefa importante e difícil. No caso do WRF, os desenvolvedores do código mantém a documentação atualizada e disponível via webpage;

9. Para o domínio da América do Sul o modelo pode ser incializado com dados do GFS (produto do NCEP), dados NCEP FNL (NCEP Final Analyses) e NNRP (NCEP/NCAR reanálise) – é importante que se tenha mais de uma fonte de dados e de download para inicializar o modelo, pois falhando uma, tem-se alternativa.

Conclui-se que o Modelo WRF é uma boa alternativa para compor um sistema previsor adicional no INMET, pois além das características enumeradas acima, nesta fase de teste, o modelo mostrou-se estável com os parâmetros utilizados e reproduziu o sistema atmosférico que ocorreu no período estudado.

Futuramente, caso o Modelo WRF venha a ser o cerne de um novo sistema de previsão de tempo do INMET, planeja-se instalar a versão 3 do modelo, para o domínio da AS, com espaçamento de grade a ser defi nido de acordo com os recursos computacionais alocado para este sistema. Pretende-se compilar o modelo com diretivas de paralelismo Message Passing Interface (MPI), explorar o pacote de assimilação com os dados do INMET e calibrar o fi ltro digital para que a inicialização do modelo seja feita da melhor forma possível. A verifi cação do modelo deve ser melhorada, incluindo-se verifi cações em ponto de grade mensais e diárias para métricas estatísticas adequadas a verifi cação de modelos de baixíssima resolução (entre 5 km e 2 km de resolução horizontal). O modelo deve ser disponibilizado na internet e intranet do INMET, de forma que a visualização, tanto das saídas do modelo, como das verifi cações devem ser aprimoradas.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Holton, J. An Introduction to Dynamic Meteorology. San Diego, CA, Academic Press, 2004, 535 p.

WRF Model. Disponível em:<(http://www.wrf-model.org/wrfadmin/publications.php>. Acesso em 10 de Setembro de 2008.

Silveira, R. B.; Bernardet, L. R.; Edwards, J. P.; Mendonça, A. F.; Mol, J. M. D. Dall’Antonia, A. M. O Modelo Numérico de Previsão de Tempo Utilizado no INMET. XI Congresso Brasileiro de Meteorologia. Rio de Janeiro, Anais, 2000.

8. AGRADECIMENTOSOs autores agradecem ao Meteorologista Ricardo

Reinke do Centro de Análise e Previsão de Tempo do INMET (CAPRE/INMET) pela ajuda na seleção do caso simulado pelo WRF e apresentado neste trabalho.

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SISTEMA DE PREVISÃO HIDROMETEOROLÓGICA PARAA BACIA DO ALTO TIETÊ

Augusto José Pereira Filho1, Oswaldo Massambani1, Hugo Abi Karam2, Ricardo Hallak1, Reinaldo Haas3, Felipe Vemado1

1 Universidade de São Paulo, Rua do Matão, 1226, São Paulo, SP, 05508-0902 Universidade Federal do Rio de Janeiro – Cid. Universitária, Ilha do Fundão, RJ, 21941-590

3 Universidade Federal de Santa Catarina, Servidão Cacupé, 139, Florianópolis, SC, 88050-205

E-mails: [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected]

RESUMOEste trabalho apresenta resultados do Sistema de Previsão Hidrometeorológica (SPH) para a bacia do Alto Tietê (BAT), particularmente, dois componentes associados com a previsão de chuva a curto e curtíssimo prazo obtidas por meio da modelagem numérica com o sistema ARPS e radar meteorológico móvel MXPOL, respectivamente. Também são apresentadas análises comparativas de uma Estação Meteorológica Automática (EMA) contra os dados da estação meteorológica do IAG/USP. Esta EMA faz parte de uma rede metropolitana que será implantada.Palavras-chave: Precipitação, enchentes, radar meteorológico, modelagem numérica, redes de estações meteorológicas.

ABSTRACTThis work presents results of a Hydrometeorological Forecast System (SPH) for the Alto Tietê watershed (BAT), particularly two components related to rainfall forecasting and nowcasting obtained by means of numerical modeling with the ARPS system and the mobile weather radar MXPOL, respectively. It is also shown a comparative analysis of an automatic weather station (EMA) against IAG/USP conventional weather stations. The EMA is associated to a metropolitan network.Keywords: Rainfall, fl ash fl oods, weather radar, numerical modeling, network of weather stations.

1. INTRODUÇÃO

O Sistema Integrado de Hidrometeorologia do Estado de São Paulo (SIHESP) do Governo do Estado de São Paulo implantou uma rede de Estações Meteorológicas Automáticas (EMA) denominada de Mesonet, modernizou os radares meteorológicos de Bauru e Presidente Prudente, adquiriu sistemas computacionais de alto desempenho e um radar meteorológico móvel. Originalmente, propôs-se um projeto para instalação e manutenção de uma rede de estações hidrometeorológicas automáticas,

perfi ladores de vento e um radar Doppler de polarização diversifi cada para estudar, por exemplo, o balanço hídrico e energético da superfície e da atmosfera. Dados de satélite, bem como balões radiossonda e cativo seriam utilizados neste projeto para estudos de casos no período chuvoso. O projeto foi aprovado e parcialmente fi nanciado com recursos do Programa SIHESP/FAPESP. Adquiriram-se um sistema computacional de processamento paralelo de alto desempenho para modelagem numérica da atmosfera

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com o sistema ARPS e um radar meteorológico Doppler móvel banda X de dupla polarização (MXPOL). O radar MXPOL entrou em operação em janeiro de 2008. O sistema é operado 24 horas por uma equipe da Defesa Civil do Município de Barueri desde meados de fevereiro de 2008. O sistema de previsão hidrometeorológica será operacionalizado para a Região Metropolitana de São Paulo RMSP e integrado ao Sistema de Alerta às Inundações de São Paulo (SAISP), de modo a mitigar os efeitos adversos das enchentes e deslizamentos nessa região. O trabalho realizado no desenvolvimento do SPH-BAT pode ser utilizado em outras bacias hidrográfi cas do Brasil, com metodologias de quantifi cação e previsão de precipitação e vazão diversas. O leste de São Paulo é privilegiado com várias plataformas observacionais, mas mesmo estas se apresentaram muito limitadas quanto à quantidade e qualidade de dados.

Nesse trabalho apresenta-se uma descrição sobre o sistema de análise e tratamento de dados que possibilite a quantifi cação da precipitação em tempo atual e sua previsão com resolução adequada à previsão hidrometeorológica e a gestão de recursos hídricos do Estado de São Paulo e do meio ambiente urbano da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). Os componentes básicos deste sistema de previsão hidrometeorológica (Figura 1) foram desenvolvidos originalmente para o Estado de Oklahoma, Estados Unidos da América (Pereira Filho, 1996), e é composto de cinco módulos: 1) análise da precipitação; 2) ajuste das taxas de precipitação; 3) previsão de precipitação por extrapolação (0-3 horas); 4) previsão de precipitação por modelagem de mesoescala (0-48 horas); 5) previsão hidrológica. Ressalta-se o uso de um radar meteorológico banda X móvel (MXPOL) para monitorar sistemas meteorológicos na Bacia do Alto Tietê de modo a antecipar o desenvolvimento de tempestades severas ainda no estágio de formação das mesmas. A análise da precipitação é realizada por meio de um esquema de análise objetiva estatística que integra a chuva acumulada por pluviômetros com estimativas de chuva de radar meteorológico e satélite de modo a minimizar erros observacionais. O campo das taxas de precipitação derivados das refl etividades do radar meteorológico é ajustado para previsão de

precipitação por extrapolação. O esquema de análise acima foi utilização em São Paulo e Paraná, onde foi implantado. A previsão de precipitação com um modelo de mesoescala é efetuada com dados disponíveis da rede sinótica de superfície e de altitude, de balão piloto, de vento, pressão e temperatura derivados do radar meteorológico Doppler, de precipitação e de modelos numéricos globais. As previsões de precipitação são, então, utilizadas na previsão hidrológica de bacias hidrográfi cas de interesse. O caráter modular do sistema de previsão hidrometeorológica permite que seus componentes sejam substituídos por outros mais adequados às necessidades e restrições de utilização.

Figura 1: Diagrama do Sistema de Previsão Hidrometeorológica (SPH).

A seguir apresentam-se os sistemas já implantados e os resultados obtidos até o momento. No fi m deste manuscrito, apresenta-se o projeto da rede de EMAs.

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2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1. Previsão de Precipitação com o Modelo ARPS

O modelo Advanced Regional Prediction System (ARPS) é um código escalonável e portável para várias arquiteturas e sistemas computacionais. O ARPS pode realizar simulações atmosféricas com resolução de até 1 km em um tempo de processamento satisfatório em processamento paralelo. As principais características do ARPS podem ser obtidas em Xue et al. (1995, 2001, 2002 e 2003). Destacam-se no sistema ARPS a estrutura modular do código que permite a modifi cação do mesmo, escalonabilidade, sistema de visualização simples de resultados do modelo mesmo em operação e engenharia de software. Detalhes do modelo ARPS são dados em Hallak (2007).

O Modelo ARPS permite assimilar dados mais recentes durante o seu processamento. Estes dados são assimilados pelo ARPS Data Assimilation System (ADAS). Este sistema (Figura 2) interpola os dados na grade do modelo de modo a combinar estes com um campo inicial de um modelo de grande escala. O ADAS assimila dados de radar Doppler, radiossondas, estações de superfície, perfi ladores de vento, satélites e outros. Cada plataforma de dados possui erros inerentes que são utilizados na análise. O ADAS utiliza o esquema de correções sucessivas de Bratseth (1986), que é iterativo e converge para um esquema de interpolação ótima (Lorenc, 1986). As correções sucessivas de Bratseth são computacionalmente mais rápidas, além de permitir ajustes e balanços dinâmicos e termodinâmicos no fi m de cada iteração. Assim, é possível controlar a estabilidade numérica e outros aspectos da análise em desenvolvimento. Este esquema de análise tem sido utilizado em pesquisa e em modelagem operacional de mesoescala com sucesso. O ADAS ainda possui um esquema de análise 3-D de extensão e profundidade de nuvens, fundamentado no esquema Local Analysis and Prediction System (LAPS), para reduzir o

tempo de ajuste do modelo ou spin-up. Ele também pode assimilar dados de nuvens provenientes de observações de superfície dos tipos SYNOP e METAR, dados de imagens de satélites infravermelho e visível que combina o campo de umidade relativa obtido por uma estimativa preliminar para se obter o campo 3D da cobertura de nuvens e precipitação. Outrossim, permite a assimilação dos dados de radar meteorológico e suas variáveis estimadas tais como a razão de mistura de água, de nuvem e de gelo, tipos de nuvem e precipitação, velocidade vertical na nuvem, índice de geração gelo e razões de mistura de chuva, neve e granizo, base e topo de nuvens. Outros dados de altitude, satélite e superfície podem ser assimilados.

O Modelo ARPS utiliza uma base fi siográfi ca de tipos de vegetação, índice de vegetação, solos e relevos para o

Figura 2: Fluxograma do sistema ARPS.

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Sul e Sudeste do Brasil com 30 s de resolução espacial. O ARPS foi confi gurado para dois aninhamentos com base nas saídas do modelo global GFS 0,50 do NCEP. O espaçamento variável da grade vertical usado é baseado numa função hiperbólica, onde o espaçamento varia de 20 m na superfície até 500 m na metade da altura atmosférica representada. Utilizou-se a parametrização da convecção de Kain e Fritsch (1993), com função de disparo dada pela verifi cação da instabilidade do Esquema Fritsch-Chappel (Kain e Fritsch, 1993). Utilizou-se a parametrização de microfísica de fria de Lin-Tao (Lin et al., 1983). Na grade de 12 km são utilizadas as condições iniciais do modelo GFS_MASTER do NCEP com 0,50 de resolução. Neste caso, a renovação das fronteiras é realizada a cada três horas com um amortecimento de 7 pontos de grade. Em todas as grades é utilizada a parametrização de turbulência de Sun e Chang (1985) e a radiação de ondas longas e curtas proposta por Chou (1990, 1992). O sistema ADAS foi utilizado para assimilar os dados disponíveis até a hora da previsão em ambas as grades de 2 km e 12 km para as previsões da 0000 UTC e das 1200 UTC. A interpolação das saídas do ARPS para a grade de 2 km é efetuada com o programa que interpola cubicamente na horizontal e linearmente na vertical. Quando necessário, utiliza-se extrapolação vertical com base na taxa de variação vertical da temperatura e hidrostática.

Desde setembro de 2005, a previsão numérica do tempo esta sendo realizada com resoluções de 12 km sobre as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul do Brasil e 2 km sobre o Estado de São Paulo, conforme o exemplo mostrado na Figura 3. O ARPS é executado diariamente no âmbito do Laboratório de Hidrometeorologia do DCA/IAG/USP e disponibilizado na internet no sítio: http://ftpdca.iag.usp.br/arps/. As previsões estão sendo geradas a cada 12 horas num intervalo de até 36 horas à frente. As previsões de chuva, temperatura, umidade, pressão, nebulosidade, ventos, e outras para aplicações específi cas (isto é, agricultura, recursos hídricos, meio ambiente, defesa civil, turismo e outras) serão disponibilizados sobre o Estado de São Paulo numa grade regular nas resoluções acima. Neste estudo, verifi caram-se as previsões numéricas de curto prazo com o sistema ARPS com resolução espacial de 12 km sobre o Sudeste, Centro-Oeste e Sul do Brasil e, de 2 km, sobre o leste de São Paulo (Figura 3). O ARPS foi executado duas vezes

diariamente no cluster de processadores do Laboratório de Hidrometeorologia do IAG/USP (Figura 4). As previsões com até 48 horas a frente são divulgadas no sítio do IAG/USP.

Figura 3: Áreas de previsão do modelo ARPS para resoluções espaciais de 12 km e 2 km, respectivamente. O ponto GRO indicado pela seta indica a localização do Aeroporto de Guarulhos (23,43º S e 46,45º W) no domínio de maior resolução horizontal.

Figura 4: Foto do sistema computacional instalado no Laboratório de Hidrometeorologia do Departamento de Ciências Atmosféricas do IAG USP.

São apresentados, a seguir, os primeiros testes de desempenho do Modelo ARPS com verifi cação

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da chuva horária prevista contra a chuva estimada com o radar meteorológico de São Paulo dos meses de fevereiro e março de 2006 e para as variáveis de superfície medidas no Aeroporto de Guarulhos para o ano de 2007.

O desempenho da previsão de chuva iniciada as 0000 UTC foi medido por meio do índice de sucesso crítico (do inglês Critical Success Index - CSI), que é a razão entre o número total de previsões de precipitação corretas, para um valor de precipitação de referência (Po) arbitrário estimado com o radar meteorológico, e a somatória dessas com o número de previsões incorretas e falsos alarmes (Pereira Filho et al., 2006). Esta previsão foi elaborada com dados de previsões das 1000 UTC em diante até as 22 horas à frente. A partir daquele horário em virtude do tempo entre a obtenção das previsões do modelo global, realização da previsão para a grade de 12 km, que tem tempo de processamento de cerca de 30 minutos, e fi nalmente, a realização da previsão com 2 km, que tem tempo de processamento de cerca de 3 horas. Os valores de Po utilizados neste estudo são 0,0, 0,2, 2,0 e 4,0 mm. Por último, obteve-se o CSI dos eventos de chuva associados às Frentes Frias (FF), Linhas de Instabilidade (LI) e sistema de Convecção Isolada (CI).

2.2. Radar Meteorológico MXPOL

O MXPOL trata-se de um sistema multifuncional com várias inovações tecnológicas para usos diversos, desde em cursos de treinamento básico até o monitoramento avançado de tempestades severas, sendo o primeiro radar meteorológico brasileiro desse tipo a ser utilizado na operação para prover dados polarimétricos de altíssima resolução espacial.

O controle da antena e processamento de sinais é realizado pelo RCP8 e RVP8, respectivamente, da SIGMET. O software denominado de IRIS da SIGMET controla o processador RVP8 e o controle da antena RCP8. O IRIS também processa PPI e gera arquivos de dados brutos em tempo atual. As variáveis medidas são refl etividade ajustada (Z) e sem correção (T), velocidade radial (Vr), largura espectral (W), refl etividade

diferencial (Zdr), propagação de fase diferencial (φdp), e fase diferencial especifi ca (Kdp), coefi ciente de correlação da magnitude do sinal co-pol H e co-pol V (ρoHV ), coefi ciente de correlação da magnitude do sinal co-pol H e cross-pol V (ρoH ) e coefi ciente de correlação entre as fases dos sinais co-pol H e cross-pol V (ρφHV). Detalhes dessas variáveis podem ser obtidos em Pereira Filho (2007).

O software denominado IRIS Analysis que processa produtos dos arquivos de dados brutos este instalado num terceiro processador para melhor desempenho do sistema. Os principais produtos são PPI, RHI, CAPPI, ECHO TOPS, chuva acumulada, perfi s de refl etividade máxima, cortes transversais, previsão de deslocamento de tempestades, trajeto e previsão de tempestades, alertas especiais na tela, água líquida integrada na vertical, velocidade e direção do vento.

Outras características do MXPOL incluem um caminhão VW Diesel de seis cilindros de 180 HP (Figura 5), um gerador de energia elétrica Diesel de 18 KVA com autonomia de uma semana, suspensão a ar, sistema de nivelamento automático, GPS, linha de internet via telefone celular e sistema de comunicação banda larga, sistema de posicionamento de antena SIGMET, medidor e gerador de microondas, e software de calibração eletrônica automático.

Figura 5: Foto do radar meteorológico móvel banda X Doppler de dupla polarização (MXPOL) do Laboratório de Hidrometeorologia (LabHidro) do IAG/USP. Podem ser vistos a corneta, guias de onda, refl etor, pedestal, gerador de eletricidade, cabine, sistema de comunicação via celular, ar condicionado e caminhão Diesel.

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O sistema de radar foi desenvolvido pela ATMOS SYSTEMS LTDA, uma empresa de radares Brasileira. Muitas das partes do radar foram adquiridas nos EUA (isto é, válvula Magnetron, guias de ondas, duplexador, chaveadores e receptores), Itália (motores de elevação e azimute, codifi cadores e anéis deslizantes), Finlândia (refl etor e suportes) e Brasil (caminhão e gerador diesel, ar condicionado, cabine e prateleiras). O pedestal foi projetado pela ATMOS SYSTEM LTDA com um sistema de lubrifi cação que não requer manutenção. O radar MXPOL foi testado em várias condições de tempo com tempestades sobre o radar durante a operação e deslocamento do radar por vias de terra íngremes. A autonomia do gerador de energia diesel permite seu uso em áreas sem infra-estrutura básica. Além disso, o sistema de comunicação por meio de telefonia celular, embora limitado, é fundamental para a transmissão de produtos de locais remotos.

O radar MXPOL é o primeiro radar móvel de dupla polarização a ser utilizado operacionalmente para a previsão a curtíssimo prazo na RMSP e, se agrega ao sistema de radar existente para maior antecipação na previsão de eventos severos de tempo. A dupla polarização permite a estimativa da chuva com maior acurácia, entre outras vantagens, tais como a classifi cação de hidrometeoros (Rocco e Pereira Filho, 2003). O seu maior alcance dinâmico e sensibilidade permitem a detecção de nuvens no estágio inicial de formação. Há, entretanto, a necessidade de melhorias quanto ao algoritmo de correção por atenuação que ainda se fundamenta num ajuste logaritmo com a distância ao radar. A mobilidade do radar meteorológico MXPOL faz dele uma excelente ferramenta para experimentos onde a infra-estrutura seja limitada ou inexistente (Pereira Filho et al., 2007).

3. RESULTADOS

3.1. Previsão de Precipitação com o Modelo ARPS

A Figura 6 mostra os índices CSI do Modelo ARPS para todos os eventos de chuva no período de fevereiro a março de 2006. Nota-se que o modelo tem melhor desempenho após 20 horas de previsão, que coincide com o período de máxima atividade da convecção. O CSI decresce rapidamente com o aumento do limiar de chuva

acumulada horário de 30%, 23%, 14% e 10% para os limiares de 0,0, 0,2, 2,0 e 4,0 mm, respectivamente. Apesar de baixos, estes CSI são compatíveis com os obtidos por Pereira Filho et al. (1999) para eventos convectivos de latitudes médias, exceto para uma resolução espacial 10 vezes maior neste estudo. No período deste estudo, analisaram-se sete eventos de FF, dez eventos de LI e oito de CI. Os CSI desses eventos estão mostrados na Figura 7. O melhor desempenho do Modelo ARPS foi obtido para as previsões de FF com CSI de 47%. O desempenho máximo do modelo para LI e CI são 20% e 18%, respectivamente. Sugere-se que este comportamento esteja relacionado à estrutura e organização dos sistemas. Sistemas com maior organização e persistência são mais facilmente monitorados e previstos com as redes e métodos de assimilação de dados existentes.

Figura 6: Evolução temporal dos índices de desempenho CSI médios do Modelo ARPS para limites de precipitação acumulada de 0,0, 0,2, 2,0 e 4,0 mm, indicadas pelas curvas na seqüência de cima para baixo, respectivamente.

Figura7: Evolução temporal do desempenho do Modelo ARPS na previsão de FF (curva superior), LI (curva do meio) e CI (curva inferior). Foram utilizados 7, 10 e 8 eventos de FF, LI e CI, respectivamente.

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Os CSIs aqui apresentados são coerentes com os obtidos por Pereira Filho et al. (1999), exceto que as estatísticas aqui são maiores e para previsões com resolução espacial de 2 km x 2 km. O modelo ARPS apresentou spin-up da precipitação, problema comum em todos os modelos de previsão (isto é, Pereira Filho et al., 1999). As previsões realizadas as 0000 UTC obtiveram seu máximo de desempenho entre 18 h e 24 h após o inicio da previsão, independente do sistema atmosférico analisado. Isto sugere uma estratégia ótima de previsão para a região leste do Estado de São Paulo, particularmente no período de primavera e verão com chuvas mais freqüentes no período da tarde.

As previsões de temperatura do ar, ventos e umidade relativa com o sistema ARPS do ano de 2007 foram verifi cadas contra os dados da estação meteorológica do Aeroporto de Guarulhos (Figura 3). As previsões numéricas foram armazenadas com resolução temporal horária. A operação do sistema ARPS foi interrompida alguns dias ao longo do ano por causa de problemas diversos, tais como acesso aos dados do modelo global do NCEP.

Deste modo, no período de 10 de janeiro a 31 de novembro de 2007 (324 dias), utilizaram-se 258 rodadas do Modelo ARPS iniciadas as 0000 UTC, num total de 6.192 h. As primeiras 8 h de cada rodada de 24 h de integração foram descartadas por causa do efeito de spin-up na previsão de precipitação (Pereira Filho et al., 2006).

A Figura 8 mostra o diagrama de espalhamento entre as temperaturas medidas e previstas. O Modelo ARPS reproduziu 84% da variância da temperatura do ar, com maior diferença entre as temperaturas mais baixas. As rosas dos ventos medida e prevista para o Aeroporto de Guarulhos indicam que intensidades dos ventos e direções são compatíveis. O modelo tende a produzir ventos de NW-SE enquanto as medições indicam ventos de E-W.

A Figura 9 mostra o diagrama de espalhamento entre as umidades relativas medidas e simuladas. O Modelo ARPS reproduziu 59% da variância da umidade relativa, com maior diferença para umidade mais baixa. Nota-se que a umidade relativa nunca chega a 100% nas previsões do Modelo ARPS.

Estes resultados preliminares indicam uma boa correlação entre as medições e previsões de temperatura do ar, ventos e umidade relativa no ano de 2007, com uma tendência do modelo a produzir temperaturas e umidade de menor amplitude e ventos mais intensos na área do Aeroporto de Guarulhos. As previsões diárias do sistema ARPS esta no endereço: http://ftpdca.iag.usp.br/arps/.

Figura 8: Diagrama de espalhamento entre a temperatura do ar medida no Aeroporto de Guarulhos (EMA_GRU) e simulada com o Modelo ARPS (ARPS_GRU), para o período de janeiro a novembro de 2007. Reta de regressão linear e coefi ciente de variação estão indicados.

Figura 9: Diagrama de espalhamento entre a umidade relativa do ar medida no Aeroporto de Guarulhos (EMA_GRU) e simulada com o modelo ARPS (ARPS_GRU), para o período de janeiro a novembro de 2007. Reta de regressão linear e coefi ciente de variação estão indicados.

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Este módulo do SPH-BAT utilizará esquemas de assimilação de variáveis hidrometeorológicas medidas pelas redes de superfície Micronet (RMSP) e Mesonet (Estado de São Paulo), dados de radares, inclusive o radar meteorológico MXPOL, radiossondagem e satélite de modo a melhorar o desempenho do modelo. Alternativas também devem ser avaliadas quanto a previsão por conjuntos obtidos dos esquemas de parametrização e perturbações do modelo.

3.2. Sistemas Precipitantes Monitorados com o MXPOL

Realizaram-se experimentos nos meses de abril, maio, setembro e novembro de 2007 para testes do sistema e identifi cação de possíveis sítios para operação do MXPOL. A Figura 10 mostra os três locais identifi cados a partir de análises de mapas digitais e visitas a campo. A operação do radar MXPOL começou em 3/01/2008. Inicialmente, o sítio de operação foi decidido com base nas previsões numéricas do modelo ARPS da rodada da 0000 UTC do dia anterior. Sistemas atmosféricos com deslocamento de oeste seriam monitorados de Mogi das Cruzes, os com deslocamento de leste, de Barueri e, os estacionários sobre o litoral, na Praia Grande. Por exemplo, o radar MXPOL foi posicionado em Barueri em 3/01/2008, em Mogi das Cruzes em 4/01/2008 e na Praia Grande em 14/01/2008.

A Figura 11 mostra o campo de refl etividade diferencial medida às 1650 UTC de 4/01/2008 no sítio de Mogi das Cruzes. Nota-se na Figura 11 b um sistema precipitante próximo a Campinas com movimento para leste com áreas de ZDR> 3,0 dB associados a gotas grandes. O sistema ARPS previu corretamente a previsão de deslocamento de leste para o oeste em forma de bandas de precipitação. Entretanto, o sistema monitorado pelo radar MXPOL foi menos organizado e intenso do que o previsto pelo sistema ARPS. A Figura 11a mostra o campo das taxas de precipitação estimadas com o radar meteorológico de São Paulo. Há uma muito boa correlação da estrutura espacial do sistema precipitante monitorada por ambos os radares. Entretanto, o campo de ZDR do radar

b)

Figura 10: Mapas de localização dos possíveis sítios de operação do radar MXPOL: a) na Praia Grande, b) Barueri, c) Mogi das Cruzes. Circunferências concêntricas indicam distâncias radiais ao MXPOL a cada 10 km. Cidades, estradas e topografi a estão indicadas. Fonte: Google Maps (http://maps.google.com/maps).

c)

a)

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MXPOL permite um maior e melhor detalhamento do sistema precipitante quanto ao espectro de gotas e respectivas taxas de precipitação.

A Figura 12 mostra a precipitação acumulada estimada com o Radar meteorológico de São Paulo (RSP) e com o radar MXPOL em 29/01/2008. Os dados de precipitação medidos com a rede telemétrica do Alto Tietê (não mostrado) indicam que o primeiro superestimou o total acumulado em mais de 100% e, o segundo, subestimou. Cortes verticais realizados com o radar MXPOL (não mostrado) indicaram que havia uma banda brilhante bem defi nida associada ao evento, o que explica em grande parte a precipitação acumulada estimada com o RSP muito acima da medida pela rede telemétrica. Por outro lado, a refl etividade do radar MXPOL é atenuada pela precipitação, mas, neste caso, podem-se utilizar as variáveis polarimétricas (isto é, Zh, Zv, ZDR, KDP e φDP) para melhorar a estimativa de precipitação. Estudos serão desenvolvidos com estas variáveis para este fi m, uma das principais razões para se utilizar o radar MXPOL.

A Figura 13 mostra o sistema precipitante monitorado simultaneamente pelo RSP e MXPOL em 14/01/2008. O radar MXPOL estava no sítio da Praia Grande, a poucos quilômetros da Serra do Mar. O sistema de remoção de ecos de terreno do MXPOL permitiu o monitoramento da célula de precipitação rasa próxima a Cubatão, conforme pode ser visto no plano yz da Figura 13 b. Este resultado indica que o radar MXPOL permite monitorar áreas de encostas em situações pós-frontais que produzem sistemas precipitantes rasos (quentes) que podem perdurar por vários dias e causar deslizamentos e escorregamentos, muito freqüentes em São Paulo.

A seqüência de campos de refl etividade máxima do radar MXPOL da Figura 14 em 10/01/2008 evidencia a penetração da frente de brisa marítima, que disparou uma célula convectiva na região de Guarulhos por volta das 1845 UTC. Nas respectivas imagens do RSP (Figura 15) o sistema foi detectado mais de 30 minutos depois. Este resultado preliminar sugere que nestas condições há um aumento no intervalo de previsão à frente da de mais de 30 minutos.

As Figuras 16 e 17 apresentam resultados similares do RSP e MXPOL, respectivamente, para o dia 10 de janeiro de 2008. Neste caso, a frente de brisa é mais bem defi nida, pois a válvula de fechamento da recepção do canal horizontal do radar havia sido substituída por uma nova (leia mais abaixo), o que permitiu um aumento na potência do sinal de retorno no canal horizontal. Nota-se que a brisa passa pela RMSP e produz levantamento e células convectivas cerca de 50 minutos depois, embora, neste caso, o evento não tenho sido muito intenso.

Em virtude da ainda precariedade da infra-estrutura nos sítios de Praia Grande e Mogi das Cruzes, optou-se por operar o radar móvel MXPOL no sítio de Barueri neste fi m de período chuvoso. Durante a operação do radar MXPOL no sítio de Barueri, no dia 16/01/2008, estabeleceu-se contato com a Defesa Civil daquele município, que indicou haver grande interesse em cooperar para operar o radar MXPOL.

Houve uma reunião com o Secretário de Segurança da Prefeitura do Município de Barueri (SSPMB), Cel. Edson Santos da Silva, em 18 de janeiro, quando foi proposto um convênio entre o LadHidro do IAG/USP com a referida Secretaria. A minuta de convênio apresentada pelo IAG/USP foi aprovada pela SSPMB e, deve ser assinada em breve. Concomitantemente, a Prefeitura selecionou oito servidores da Guarda Civil Metropolitana para serem treinados na operação do radar MXPOL. A Figura 18 mostra o Grupo de Operação do Radar (GOR) em 2/02/2008, após o encerramento do treinamento, realizado entre 21 e 30 de janeiro de 2008. A equipe é composta de servidores com nível superior completo ou em fase de conclusão que trabalham na Defesa Civil de Barueri. Inicialmente, a equipe de operação era composta do coordenador do projeto, estudantes de pós-graduação e de graduação e motoristas do IAG/USP para condução do caminhão. O período de operação inicial foi do fi m da manhã ao início da noite. A partir de 12/02/2008, a operação do radar MXPOL passou a ser de 24 horas, com turnos de 8 horas cada um, durante sete dias da semana. Destaque-se também que a energia elétrica e sistema de comunicação serão providos pela SSPMB. O radar MXPOL operou com o gerador a Diesel até a manhã de 19 de fevereiro e, com a instalação dos

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a)b)

a)

b)

a)

b)

Figura 11: CAPPI de 3 km das taxas de precipitação (mm) estimadas com o: a) radar meteorológico de São Paulo, num raio de 240 km, b) PPI de 0,6º do campo de refl etividade diferencial (ZDR) medido pelo radar MXPOL no Pico do Urubu, Mogi das Cruzes, às 1650 UTC de 4/01/2008. Escala em tons de cinza em (b) indica valores de ZDR. Topografi a, azimutes e distâncias radiais estão também indicados.

Figura 12: Campos de precipitação acumulada (mm) com o: a) radar meteorológico de São Paulo num raio de 240 km, b) radar MXPOL num raio de 100 km entre 1500 UTC e 2200 UTC de 29/01/2008. Escala em tons de cinza indicam acumulações.

Figura 13: Campos da taxa de precipitação (mm) do: a) radar meteorológico de São Paulo, b) refl etividade máxima (dBZ) nos planos xy, xz, e yz medidos pelo radar MXPOL às 1940 UTC de 14/01/2008. Escalas em tons de cinza indicam respectivas intensidades.

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Figura 14: Campos da refl etividade máxima (dBZ) nos planos xy, xz, e yz medidos pelo radar MXPOL em 14/01/2008 nos horários indicados. Escala em tons de cinza indica intensidades.

Figura 15: Campos da taxa de precipitação (mm) do radar meteorológico de São Paulo em 14/01/2008 nos horários indicados. Escala em tons de cinza indica intensidades.

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conectores de eletricidade, passou a ser operado com a rede elétrica. Providências foram tomadas para se estabelecer a comunicação via micro-ondas do sítio do radar MXPOL com um roteador em Alphaville e, deste ponto, para o IAG/USP. Até o momento, a transmissão de dados é realizada via linha de celular (GPRS), que é bastante lenta é com falhas muito freqüentes. Por causa disso, apenas produtos tais como CAPPI e PPI da refl etividade e velocidade radial são enviados em tempo atual. Os dados estão disponíveis no sítio: ftp://ftpdca.iag.usp.br/labhidro/mxpol/.

Figura 16: Similar à Figura 14, exceto para 12/02/2008.

Os dados brutos no formato SIGMET serão transformados para o Formato Universal (do inglês, Universal Format - UF) para permitir a sua leitura em qualquer sistema operacional. O formato SIGMET requer a utilização do sistema operacional Linux Enterprise para utilização do software denominado de IRIS, que pode ser baixado gratuitamente da internet, mas oferece recursos muito limitados, ou adquirido na versão completa por cerca de 40 mil dólares.

Estas primeiras medições com o MXPOL

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Figura 17: Similar à Figura 15, exceto para 12/02/2008.

são inéditas e revelam as características de sistema de tempo com altíssima resolução espaço-temporal. O MXPOL monitorou circulações na camada limite planetária com nuvens cumulus de bom tempo até 60 km de distância do radar, assinaturas de convergência e divergência horizontal, vorticidade relativa e turbulência, características microfísicas de nuvens quentes e frias, a camada de derretimento de cristais de gelo e assinaturas do campo elétrico (não mostrado). As medições do MXPOL são consistentes com as do RSP, a rede RINDAT e sondagem. Trata-se ainda do primeiro radar móvel polarimétrico a ser utilizado operacionalmente em aplicações hidrometeorológicas.

O MXPOL também será fundamental na pesquisa básica para estudos da microfísica da precipitação, eletricidade e dinâmica, quantifi cação de precipitação e verifi cação, recuperação de dados 3D, intercomparações de dados, campanhas de medição em experimentos, estudos de meso-escala e sinóticos, modelagem numérica, assimilação e integração de dados, entre outros. Além disso, o MXPOL será utilizado no ensino de graduação e pós-graduação, programas de extensão universitária e estudos para implantação de novos sítios de radar meteorológico. O MXPOL representa um avanço acadêmico, de pesquisa e operacional que foi disponibilizado pelo Programa SIHESP/FAPESP.

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O sistema de previsão hidrometeorológico inclui ainda o monitoramento de superfície por meio de uma rede de estações meteorológicas automáticas a serem instaladas na RMSP, com resolução espacial da ordem de 15 km denominada de Micronet. A Figura 19 mostra a distribuição espacial da rede Micronet ideal. Recentemente, instalou-se uma EMA no cercada da estação meteorológica do IAG USP (Figura 20), a primeira de um conjunto de vinte EMAs a serem instaladas para o monitoramento do tempo e previsão do tempo a curtíssimo prazo. A Figura 20 mostra o cercado meteorológico com a EMA instalada em 17 de abril de 2007 que comporá a rede Micronet. As variáveis medidas são temperatura do ar (o C) e umidade relativa (%) a 1,5 m de altura, direção (graus) e intensidade do vento (m s-1) a 10 m de altura, precipitação (mm), pressão atmosférica (hPa), radiação solar ( W m-2) e temperatura de solo a 0, 5, 10, 20, 30 e 40 cm de profundidade. Trata-se de uma EMA da Campbell Scientifi c do Brasil adquirida com recursos do Programa SIHESP/FAPESP. Essas variáveis têm sido medidas a intervalos de 5 minutos desde 17 de abril de 2007. A EMA replica as medições da EM IAG/USP. Efetuaram-se comparações de medidas de temperatura, umidade relativa e pressão atmosférica

no período de maio a julho de 2007. Os diagramas de espalhamento das variáveis acima indicam coefi cientes de variação da temperatura, umidade do ar, pressão atmosférica e temperaturas de solo a 0, 10 e 40 cm são 0,99; 0,99; 0,98; 0,95; 0,90 e 0,97, respectivamente (Figura 21). Estes resultados mostram uma boa acurácia das medições dos sensores da EMA.

Figura 19: Imagem do satélite LANDSAT-14 da RMSP. Letras N indicam locais de instalação de estações meteorológicas automáticas da rede Micronet. A área indicada corresponde ao Parque Estadual e Fontes do Ipiranga (PEFI) onde foi instalada uma estação meteorológica automática.

Figura 20: Foto do cercado da Estação Meteorológica do IAG/USP com o abrigo meteorológico no primeiro plano, pluviômetros no segundo plano e torre metálica da Estação Meteorológica Automática ao fundo.

Figura 18: Foto do grupo de operação do radar MXPOL na Base da Guarda Civil Municipal de Barueri. Em pé, da esquerda para a direita: Supervisor Leal, Mecânico Carlos (IAG/USP), Inspetor Domingues, GCM Agostinho, Eng. Higor (Atmos), GCM Luiz Alberto, Eng. Paulo (Atmos), GCM Moisés e GCM Medeiros. Sentados, da esquerda para a direita: Motoristas Cristivão, Élio e Augusto (IAG/USP), GCM Sarai e GCM Plácido.

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Figura 21: Diagramas de espalhamento de variáveis meteorológicas medidas pela EM e EMA do IAG/USP nos meses de maio, junho e julho de 2007. Estão indicados os coefi cientes de variação da reta de regressão entre os dados ajustada pelo método dos mínimos quadrados. As temperaturas de solo estão indicadas por Tsxx, onde xx=profundidade (cm).

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4. CONCLUSÃO

Os resultados aqui apresentados indicam a viabilidade de ambos os métodos de previsão de precipitação para o SPH, que esta em fase de implantação na bacia do Alto Tietê. As previsões de precipitação com o ARPS mostram que estas tendem a melhorar com o grau de organização espacial dos sistemas precipitantes e com o tempo de integração do modelo até 20 horas à frente. Neste intervalo de tempo, os índices de sucesso crítico são maiores para frentes frias (~0,5) e, menores para sistemas convectivos isolados (~0,15). Neste último caso, o radar MXPOL será fundamental para a previsão de curtíssimo prazo de tempestades severas na RMSP (Pereira Filho et al., 2005). Os resultados de experimentos e testes iniciais com o radar MXPOL são bastante promissores. O MXPOL permite a detecção de nuvens no seu estágio de formação inicial. Além disso, a polarimetria dual permite a determinação de tipos e quantidades de

hidrometeoros nos sistemas precipitantes e, assim, pode-se melhorar a quantifi cação de precipitação.

O estabelecimento de uma rede de EMA na RMSP permitirá uma análise espacial dos sistemas de tempo sem precedentes, com ganhos signifi cativos para a previsão do tempo de curtíssimo e curto prazo. No âmbito da rede Micronet a ser estabelecida, há necessidade também de um laboratório de calibração e aferição de sensores meteorológicos, bem como um controle de qualidade de dados para permitiu a avaliação de fenômenos de tempo de curta duração e baixa amplitude que podem gerar sistemas de tempo adversos. A rede Micronet possibilitará a implantação de um módulo de camada limite urbana ao modelo ARPS, denominado de TEB-T que permita similar e prever a evolução espaço-temporal das circulações geradas pela ilha de calor urbana (Pereira Filho et al., 2005).

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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6. AGRADECIMENTOS

O primeiro autor gostaria de agradecer o suporte recebido da FAPESP (13952-2) e CNPq (300456/2005-0). Os autores são gratos aos funcionários do IAG/USP, da Secretaria de Segurança e Defesa Civil do Município de Barueri e da Atmos Systems Ltda. que participam direta ou indiretamente do projeto do radar meteorológico MXPOL. Aos revisores anônimos que muito melhoram a organização e redação deste artigo.

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MUDANÇAS CLIMÁTICAS NAS CIDADES E INTERFERÊNCIAS COM O AQUECIMENTO GLOBAL

Teresinha de Maria Bezerra Sampaio Xavier1, Augusto José Pereira Filho2, Airton Fontenele Sampaio Xavier3, Pedro Leite da Silva Dias4

1 ACECI - Academia Cearense de Ciências; UFC, Fortaleza, CE2 Universidade de São Paulo, Rua do Matão, 1226, São Paulo, SP, 05508-090

3 ACECI, MPCOMP-UECE-CEFET, Fortaleza-CE4 LNCC, Av. Getúlio Vargas, 333, Quitandinha, Petrópolis, RJ – 25651-075

E-mails: [email protected], [email protected], [email protected], [email protected]

1. INTRODUÇÃO

Parte-se da constatação que há cerca de um século, ou mais, ocorre aumento gradativo das temperaturas na Terra, mais nitidamente desde o início do Século XX, mas de forma exacerbada no decorrer dos últimos 30 anos. O aumento refere-se a temperaturas do ar nos dois hemisférios, com predominância do Hemisfério Norte (HN) e, ainda, em função de temperaturas das águas oceânicas. Tudo envolvendo, em conjunto, o “Aquecimento Global” (Xavier e Xavier, 2007).

É inconteste, em particular, que as cidades continuam aquecendo. Assim, a “ilha de calor” traduz-se por temperaturas mais altas quando se compara uma área urbana com áreas rurais vizinhas. O aquecimento refere-se não só às temperaturas de superfície, mas a todo um domo de calor sobre a cidade. A constatação de tal aquecimento urbano já data de quase dois séculos, desde Howard (1818-20) com estudos para Londres e com respeito à Paris, veja-se a monografi a de Dettwiller (1970).

A secção central deste artigo trata de investigações próprias e/ou de colaboradores, sobre alterações climáticas na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP); como no Ceará, para a Região Metropolitana de Fortaleza - RMF (Xavier (2001, 2007); Xavier et al. (2007); IAG/USP (2007)); remetendo a uma bibliografi a complementar e a artigos dos autores dessa matéria em periódicos, anais de congressos, relatórios de pesquisa e conferências. Um documento

prévio refere-se à apresentação de Xavier (2008) na Mesa-Redonda de abertura do XV Congresso Brasileiro de Meteorologia. Discutem-se aspectos visando aclarar as relações gerais do clima nas cidades com o problema mais amplo do aquecimento global. Em cidades com maiores discrepâncias térmicas, estacionais e/ou diárias, os contrastes serão marcantes em certos trimestres do ano, ou horários. O aquecimento urbano pode receber infl uência dos ventos, cujos regimes nas cidades, não guardam relações estreitas com o aquecimento global. Finalmente, à ilha de calor costuma associar-se ilha de baixa umidade. Considera-se problemas correlatos, como o aumento do nível do mar.

2. DADOS OBSERVACIONAIS E METODOLOGIA

Esta seção trata das fontes dos dados de temperaturas de superfície e umidade relativa, e outros dados climáticos na RMSP e na RMF.

2.1. Dados Climáticos Para a RMSP e a RMF

Consideram-se dados diários/mensais de temperatura do ar, umidade relativa e vento (direção e intensidade) para 1936-2005, da Estação Meteorológica Automática (EMA) E3-036 do IAG/USP, no Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (PEFI)/Barra Funda, na Cidade de São Paulo, de

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coordenadas 230 39´ S e 460 38´ W, situada a 799,2 m. O parque insere-se em extensa área verde. Por volta de 1933 e anos seguintes, podendo considerar-se “extra-muros” à cidade, isto é, de situação periférica com respeito à área urbana. Mas, gradualmente, englobado pela “urbe” e transformado em enclave verde circundado por áreas densamente construídas. Demais, ante a qualidade intrínseca dos seus dados, a EMA do IAG/USP considera-se laboratório natural no estudo de alterações ligadas à urbanização e poluição.

Para a RMF utilizaram-se dados de duas estações: 1º) do Campus do Pici/Universidade Federal do Ceará, mantida com apoio do INMET/WMO; 2º) da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH)/FUNCEME.

2.2. Metodologia

Aplicaram-se Análises de Variância (ANOVA) e Regressão (AR) linear e curvilínea, como técnicas complementares entre si (Xavier, 2001, 2006; Xavier et al., 2007). Por outro lado, utilizam-se recursos gráfi cos multivariados, a par do uso da Linguagem R (Xavier et al., 2007, op. cit. Anexo 1, p. 213-216). A ANOVA é raramente utilizada por meteorologistas no Brasil, apesar de ser procedimento clássico. Contudo, visitada por especialistas em agrometeorologia e agroclimatologia, em especial se oriundos da área agronômica propriamente dita. Por outro lado, causa espécie que essas técnicas sejam muitas vezes aplicadas sem o apoio de testes de signifi cância estatística, o que é obrigatório.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. Ilha de Calor e outras Mudanças em Áreas Urbanas

Gases e aerossóis na atmosfera são os principais fatores do aquecimento global. Aporte suplementar decorre das ilhas de calor sobre áreas urbanas. De fato, a junção dessas ilhas de temperaturas mais altas que no meio rural, pode representar contribuição importante ao acréscimo progressivo de temperaturas

na superfície terrestre. Trata-se de mecanismo pouco explicitado na literatura científi ca, decerto por se referir a uma origem local; sem dúvida, omissão imperdoável. Na verdade o aquecimento nas cidades é fenômeno intra-urbano, decerto ocorrendo desde os primórdios da civilização, em função de como as cidades são criadas, envolvendo agressões ao meio natural. Sabe-se que uma ilha de calor sempre se associa à cidade, independente de seu tamanho. Ou seja, mesmo um pequeno aglomerado urbano ou qualquer ajuntamento de edifícios, de pedra ou concreto, costuma criar sua “mini” ilha de calor.

De fato, é difícil separar a contribuição da própria cidade para seu aquecimento “intra-muros”, daquela proveniente do aquecimento regional, hemisférico ou global. Por ser difícil separar tais distintas contribuições, seria incorreto querer comprovar o aquecimento global a partir de medidas exclusivamente em meio urbano. Como se tem visto, para Campinas, Piracicaba ou mesmo São Paulo e seu entorno metropolitano. No caso, caberia efetuar investigações paralelas, com base no que ocorre em estações climáticas fora das cidades, em meio rural ou fl oresta.

Por último, uma vez que nas cidades são produzidos tanto gases como aerossóis poluentes, em última análise os habitantes de centros urbanos acabam partícipes, para não dizer também grandes responsáveis pelo aquecimento global.

3.1.1. Temperaturas de Superfície na Estação do IAG/USP-Barra Funda (1936-2005)

São relatados a seguir alguns resultados sobre a variação de dados envolvidos na ilha de calor extraídos de IAG/USP (2008) e Xavier et al. (2008 a).

Na Figura 1a denota-se aumento progressivo das temperaturas médias mensais, em JANEIRO (1936 a 2005), com 4 (quatro) classes consecutivas de 18, 17, 18 e 17 anos, respectivamente, através da ANOVA, cuja probabilidade de erro é p=0,0002. Os segmentos verticais representam, para as várias classes, intervalos

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de confi ança ao nível probabilístico de 95%. Na Figura 2 b, em JANEIRO, o aumento é ainda signifi cativo, com p=0,0005; agora, considerando sete classes ou décadas: 1936-45, 1946-55, ....., 1996-2005. No caso, o aumento de temperatura é mais importante nas duas últimas décadas. Denota-se análogo comportamento em FEVEREIRO (não mostrada), com p=0,0001, para 4 e 7 classes, respectivamente; e MARÇO (não mostrada), com p=0,0000, também para 4 e 7 classes, respectivamente. Por fi m, nos TRIMESTRES 2, 3 e 4, com p=0,0000 e 7 classes.

(a)

(b)

Figura 1: Evolução da temperatura média em JANEIRO (1936 a 2005) pela ANOVA, com: a) k = 4 (quatro classes consecutivas, p=0,0002) de 18, 17, 18 e 17 anos, respectivamente, b) k=7 (sete classes ou décadas, p=0,0005), IAG/USP/Parque do Estado/Barra Funda/Cidade de São Paulo.

Mostra-se, agora, como o incremento das temperaturas pode ser avaliado pela Regressão. Conforme as Figuras 2 a e b, respectivamente. Na Figura 2 a, verifi ca-se que a regressão é altamente signifi cativa, com p=0,0000. Obtida a equação de regressão linear: y= - 56,045 + 0,0383 x, esta revela incremento médio das temperaturas médias,

nesse trimestre, da ordem de 0,03830 C/ano. Donde aumento estimado, no período 1936-2005, igual a 70 x 0,00383 = 2,68 °C. Na Figura 2b, verifi ca-se que a regressão revela uma observação anômala (outlier) ou ponto isolado, próximo ao eixo das abscissas. Note-se que, claramente, a ANOVA e a AR funcionam como procedimentos fornecendo informações complementares, entre si.

(a)

(b)

Figura 2: Evolução da temperatura média (1936 a 2005) pela AR Linear, como procedimento complementar à ANOVA, para: a) TRIMESTRE 4 (out.-nov.-dez.), com p=0,0002, b) TRIMESTRES 2 (abr.-mai.-jun.), com p=0,0005, para IAG/USP/Parque do Estado/Cidade de São Paulo.

3.1.2. Umidade Relativa na Estação do IAG/USP Barra Funda (1936-2005)

Nas Figuras 3 a, b e c, respectivamente comprova-se queda da umidade relativa na área urbana (“ilha de baixa umidade”); em função, não só das temperaturas mais elevadas na cidade porém, ainda, pela diminuição do “verde”. Finalmente, também foi feito uma avaliação do decremento da umidade relativa poderia ser empreendida pela Regressão (gráfi co omitido).

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(a)

(b)

(c)

Figura 3: Evolução da umidade relativa (1936-2005), para o TRIMESTRE 4, para intervalos de confi ança na ANOVA, k=7 classes (décadas), com erro p=0,0000 (IAG/USP/Parque do Estado/Cidade de São Paulo) utilizando distintos recursos gráfi cos, com informações complementares, entre si, para: a) intervalos de confi ança na ANOVA, b) observações individuais, nas várias classes, c) “Box e Whisker Plot”.

3.1.3. Intensidade do Vento na EM do IAG/USP-Barra Funda (1936-2005)

Nas Figuras 4 a e b, tem-se a análise da queda da velocidade do vento, em MARÇO, por regressões linear e quadrática, com p=0,000. Na verdade, é possível que esta queda no Parque do Estado ocorresse em função, seja da sua barragem por construções

mais altas no entorno próximo ao parque, seja a maior “rugosidade” em área circundante mais extensa, como resultante do veloz processo de urbanização: IAG/USP (2007), Xavier, Pereira e Silva Dias (2008 b).

(a)

(b)

Figura 4: Evolução da velocidade (intensidade) média do vento em março (1936 a 2005) pela AR linear e quadrática, com p=0,0000. IAG/USP/Parque do Estado/Cidade de São Paulo.

3.1.4. O Vento em Cidades Litorâneas

Em urbes litorâneas, como Fortaleza-CE e outras cidades à beira-mar, a “ilha de calor” e o “desconforto térmico” podem intensifi car-se devido à “verticalização” urbana, máxime na orla marítima, como decorrência da especulação imobiliária que promove a construção de edifícios muito elevados e territorialmente adensados. Ou seja, formando falésias artifi ciais que servem de barreira à penetração da brisa (Xavier, 2001, Cap. 12, p. 385–407).

De julho a dezembro, em 1974-2005, a queda da intensidade do vento alcança até 50%, ao comparar as medidas na orla com aquelas dentro da cidade. Ao contrário, espaços entre os blocos de edifícios podem constituir canyons nos quais a velocidade do vento alcança valores muito grandes, inclusive com rajadas

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de certa intensidade. Porém, ventos muito fortes no litoral podem ainda resultar da penetração de ondas de leste ligadas, em geral, a mudanças climáticas no Oceano Atlântico intertropical nas proximidades da costa africana.

3.2. Papéis dos dois Hemisférios para o Aquecimento Global

O aquecimento com origem no somatório das “ilhas de calor” é decerto mais importante no Hemisfério Norte, bem mais continental que o Hemisfério Sul. Além disso, a contribuição à poluição atmosférica também é mais importante nos países industriais do norte, em vista da elevada concentração de plantas industriais e, ainda, em função da circulação automotora, etc. Ou seja, processos ligados à queima de combustíveis fósseis, como carvão, gás natural e petróleo. Mas não é apenas a continentalidade que contribui para maior aquecimento, ao norte. De fato, o somatório das “ilhas de calor” seria ainda mais importante no referido hemisfério; pois, ali, maior adensamento de centros urbanos pode se constatar por imagens de satélite mostrando a distribuição de pontos brilhantes correspondendo à iluminação artifi cial, noturna, das cidades (colagem de imagens parciais de todo o planeta, no mesmo horário noturno). Uma imagem da NASA mostra que o aquecimento resulta realmente bem maior, ao norte (ao norte, de 10 C a 40 C; ao sul, de 0,20 C a 10 C). Conforme a Figura 5. Demais, a poluição da neve no hemisfério norte é outro fator. Com efeito, a neve suja (escura) [dirty snow] absorve calor, já a neve não poluída (branca) refl ete a radiação solar (ver Figura 6). Já na Figura 7, mostra-se a distribuição dos teores de CO na atmosfera, resultante de queimadas, numa imagem recobrindo parte das Américas e da África. Observe-se que as maiores concentrações ocorrem no Hemisfério Sul, pelas queimadas na Amazônia e no sul da África. Na Figura 8, imagem análoga, global, não comentada.

Figura 5: Aquecimento no Hemisfério Norte e Hemisfério Sul.Fonte: NASA.

Figura 6: Contribuição da Neve Suja.Fonte: University of California Irving/C. Zender.

Figura 7: Distribuição de CO, pela Imagem AIRS do Satélite Acqua.Fonte: Mission News, NASA, de 25/07/2007.

Figura 8: Distribuição Global de CO, pela Imagem AIRS do Satélite Acqua.Fonte: JPL, NASA, 25/07/2007.

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Tais imagens são apresentadas para evidenciar que, embora seja o Hemisfério Norte o principal responsável pelo aquecimento global, também cabe aos habitantes do Hemisfério Sul (e respectivos governos) assumirem sua parcela de responsabilidade. Com efeito, os mesmos mecanismos “predatórios” são aí também exercidos, embora em menor escala. À parte de parâmetros já expressivos no tocante a uma agressão à cobertura vegetal (bosques e fl orestas), inclusive para fi ns agrícolas e de pastoreio. Somem-se, pois, as agressões à fl oresta amazônica, ao cerrados, ao pantanal, ao semi-árido, através de queimadas, derrubadas, etc.

3.3. A Questão do Nível do Mar

Embora a tendência de aumento do nível do mar, segundo prognósticos do IPCC e de acordo com recentes constatações científi cas (degelo no ártico, etc.) seja difi cilmente contestada, não obstante, tem sido questão explorada de forma incorreta ou exagerada, na mídia, ou até por “especialistas”. Não se deseja polemizar, donde não serem citadas fontes envolvendo tal tratamento impróprio, principalmente se de origem supostamente “científi ca”. Entre os exageros, atribuir ao “aquecimento global” eventos de diversas naturezas, apresentados como se fossem situações de aumento real do nível do mar: a) efeito de ressacas ou marés excepcionais; b) acomodação da linha de costa, por motivos naturais, seja em função de diferentes obras de engenharia, com uma sub-seqüente alteração das correntes litorâneas e movimentação de sedimentos; c) subida aparente do nível do mar por “afundamento geológico” (seria o caso ocorrido em Macaé/RJ); etc. Com efeito, embora prognósticos do IPCC apontem para um aumento signifi cativo do nível do mar, a partir das próximas décadas, contudo, as alterações até agora detectadas são ainda de pequena monta. Embora se devesse reavaliar o papel, a médio e longo prazo, de recentes episódios de degelo exacerbado no Ártico e Antártida. Demais, como se sabe, a medida real do “nível do mar” é questão tecnicamente difícil (mesmo dispondo de medidas por satélite), pois exige comparação com medidas em áreas marítimas geologicamente estáveis, além de considerar o efeito das marés, a ação de “marés da crosta”, etc.

Em particular, avanços mais signifi cativos do mar nas costas cearenses, até o presente, costumam se dar, realmente, por causas já mencionadas acima. Em

Fortaleza, lembre-se o caso das destruições pelo mar na praia de Iracema (década de 40), em decorrência de vários fatores, como alterações das correntes em função do grande espigão para o porto de Fortaleza. Posteriormente, na praia do Pacheco e depois no Icaraí e outras praias no litoral a oeste de Fortaleza, por motivos análogos. Contudo, fatos desta natureza não são novos, pois há relatos de “ressacas” de grande altura em passado mais recuado. Como em “Nota” na “Rev. do Instituto do Ceará” (1901, p. 107-109, sob o título “A Grande Maré”).

3.3.1. Eventos no Litoral da Zona da Mata (litoral leste do Nordeste brasileiro)

Em todo o litoral leste do Nordeste, na zona da mata (desde parte do Rio Grande do Norte, como também em Recife e Olinda, até ao Recôncavo baiano) eventos de chuvas fortes trazidas por ondas de leste, decerto se acompanham de vagas poderosas, impulsionadas pelo vento, capazes de provocar estragos e até danos maiores em edifi cações e estruturas à beira-mar. Trabalho recente, assinado por oceanógrafos (não citado, também para evitar polêmica) atribui fatos desta natureza, sem dúvida erroneamente, ao problema do “aumento do nível do mar” (em Recife, Olinda, etc).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

É claro que no futuro, no litoral leste do Nordeste, a conjunção de fatores [ondas fortes impulsionados por ondas de leste mais o aumento real do nível do mar] poderá vir a causar problemas ainda maiores. Na verdade, com a tendência do aquecimento crescente na costa da África, no Golfo de Guiné e ao sul da linha equatorial, possa vir a se intensifi car o fenômeno das ondas de leste donde resultar bem maiores os desgastes na linha litorânea. Veja-se a respeito Xavier et al. (2000), Xavier (2005), Xavier et al. (2006, a-b), Xavier et al. (2006, c).

Por outro lado, o aquecimento das cidades litorâneas poderá se tornar problema ainda mais preocupante, devido à crescente especulação imobiliária. Em particular, Fortaleza é uma cidade com grande atraso no trato de tais questões ambientais, a partir de um código municipal equivocado quanto ao uso do espaço

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geográfi co, comparativamente a outras cidades, Aracaju, Maceió e João Pessoa. Caberia aos responsáveis pela construção civil propugnarem por construções inteligentes capazes de criar condições mais humanas de vida. Embora algumas mudanças sejam atualmente percebidas no setor, provavelmente pela exigência da população por mais áreas verdes nos novos condomínios habitacionais, horizontais ou verticais.

Adendo importante refere-se ao fato de que aridez completa para todo o Nordeste, como indicam certos prognósticos, muito provavelmente, também constitui um exagero. Com efeito, o aquecimento continuado de áreas do Oceano Atlântico intertropical na costa da África, implicará em chuvas também crescentes para o litoral leste da região e, provavelmente, para outras áreas do Nordeste setentrional, em particular no Ceará.

Deixou-se de considerar aspectos de ordem nosológica, com a tendência do alastramento e ampliação geográfi ca do palco de doenças infecciosas, vetoriais ou não, em especial se de predomínio em áreas urbanas, como dengue, leptospirose e outras, sob impacto de mudanças climáticas. Caso particular é a melioidose que até agora, no Ceará, atingiu áreas predominantemente rurais. Porém, esta, é uma entidade mórbida que também se instala em áreas urbanas, como ocorre em Singapura e na Austrália, e ainda na Índia, Hong-Kong, etc. Assim, no Ceará, poderia chegar a atingir cidades de médio e mesmo de maior porte, inclusive na RMF, o que seria completo desastre. Com efeito, se no caso do vetor do dengue já é difícil controlar caixas d´água e outros depósitos onde as larvas proliferam, seria virtualmente impossível esterilizar todo o solo, habitat natural da bulkholderia pseudomallei, seu principal agente bacteriano.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Dettwiller, J. Evolution Séculaire du Climat de Paris – Infl uences de l’Urbanisation. METEO Nationale, France, 1970, 83pp.

Howard, L. The Climate of London (deduced from Meteorological Observations made in the Metropolis and various places around), Volumes 1 e 2, 1818-1820.

IAG/USP Evolução do Tempo e do Clima na Região Metropolitana de São Paulo. São Paulo , 2007, 282pp. [Cap.6 Xavier e Pereira Fo, “Análise das Medições e Observações Meteorológico-Climáticas de Superfície”, p.123-231; Cap.7 – Pereira Fo. e Xavier, “Monitoramento Espacial do Tempo e do Clima na Região Metropolitana de São Paulo”, p. 233-263], 2007.

Xavier, T.de Ma. B. S., Xavier, A. F. S.; Silva Dias, P. L. Temperature Changes at São Paulo -Brazil. Conf. on Environmemtrics on Brazil/7th Internat. Conf. of Quantitative Methods on Environmental Sci., Inst. Math. and Statistics, USP, July 22-26, Anais. 1996, 3 p.

Xavier, A. F. S., Xavier, T. de Ma. B. S.; Alves, J. Ma B. Evidências de variações climáticas no Atlântico Intertropical no período 1964-1999. XI CBMET. Anais. CD-ROM, Rio de Janeiro, 2000.

XAVIER, T. de Ma. B. S. TEMPO DE CHUVA - Estudos Climáticos e de Previsão para o Ceará e Nordeste Setentrional. ABC Editora, Fortaleza-Ceará, 2001, 478 pp.

Xavier, T. de Ma. B. S.; Xavier, A. F. S. Aumentos dramáticos da TSM/SST em áreas e sub-áreas do Atlântico Intertropical Leste: 1950/64: I Simpósio Internacional de Climatologia. Anais. CD-ROM, 2005, 8 p.

Xavier, T. de Ma. B. S. Avanços na área de climatologia no Brasil: algumas considerações.BSBMET, vol. 30, n0 2-3, p. 53-61, 2006.

Xavier, A. F. S.; Xavier, T. de Ma. B. S.; Alves, J. Ma. B. Mudanças climáticas no Atlântico e sua análise exploratória pela ´Linguagem´ R: 1. TSM nas adjacências da Costa Africana 1964-2005; 2. TSM nas proximidades das Américas 1964-2005. XIV Congresso Brasileiro de Meteorologia, Florianópolis, Nov. 2006 a-b. Anais. CD-ROM.

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Xavier, T. de Ma. B. S. Mudanças Climáticas e as Cidades, Mesa-Redonda 1, XV Congr. Bras. Meteorologia, São Paulo, 2008 [ apresentação em power-point, 46 slides].

Xavier, T. de Ma. B. S., Pereira Fo, A. J.; Xavier, A.F.S., 2008-a, Ilhas de Calor e de Baixa Umidade no Parque Estadual das Fontes do Ipiranga / Estação Meteorológica do IAG-USP /São Paulo-SP: 1936-2005. XV Congresso Brasileiro de Meteorologia, São Paulo, Anais. CD-ROM, 5 p.

Xavier, T. de Ma. B. S., Pereira Fo, A. J.; Silva Dias, P. L. Vento de superfície na Estação Meteorológica/IAG/USP, no Parque do Estado/Cidade de São Paulo: Mudanças relacionadas com o meio urbano (1936-2005). XV Congresso Brasileiro de Meteorologia, São Paulo, Anais. CD-ROM, 2008 b, 5 p.

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A METEOROLOGIA APLICADA AO AMBIENTE CONSTRUÍDO1

Fabiano Morelli

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPECentro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos – CPTEC

Divisão de Satélites e Sistemas Ambientais – DSAE-mail: [email protected]

1 Maiores informações sobre esse tema podem ser obtidos em: Morelli, F. Aplicações de Sistemas de Informações Geográfi cas ao Ambiente Construído: mapeamento dos agentes de degradação dos materiais e sistemas de construção. Tese de Doutorado em Engenharia Aeronáutica e Mecânica, ITA, 2008, 160 p.

1. INTRODUÇÃO

Uma linha de estudo ainda pouco explorada na meteorologia brasileira está diretamente ligada ao desenvolvimento de produtos específi cos para o Ambiente Construído. O Ambiente Construído é uma área da Engenharia Civil voltada para avaliar o comportamento das construções e materiais utilizados quanto à sua durabilidade e degradação frente aos diferentes parâmetros meteorológicos e ambientais. A grande importância é que um engenheiro para atender as normas da construção civil, deve se preocupar com as ações do ambiente sobre a construção, de tal forma que seu projeto tenha durabilidade esperada de 50 anos. As normas trazem especifi cações quanto aos limiares de alguns parâmetros meteorológicos, porém, apenas a norma de vento apresenta um mapa descrevendo espacialmente as variações mais signifi cativas deste. Por exemplo, segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, a norma brasileira de Projeto de Estruturas de Concreto (NBR 6118) defi ne que as estruturas de concreto devem conservar suas características de segurança, estabilidade e aptidão em serviço durante um período mínimo de 50 anos, se forem mantidas sua utilização e condições ambientais conforme previstas na época do Projeto (ABNT, 2004).

Existem várias instituições atuando na linha de trabalho de Ambiente Construído, em vários países, colaborando para o desenvolvimento de projetos cujos objetivos envolvem a preparação dos dados meteorológicos e ambientais para serem adaptados às suas necessidades, pois na sua maioria já recebem os dados adequados aos seus estudos dos respectivos institutos de meteorologia e outras instituições ligadas diretamente. Citam-se o Projeto DURACON, de abrangência Ibero-América, e o Projeto DURACRETE, desenvolvido pela União Européia, como exemplos onde o envelhecimento de corpos-de-prova dos materiais ou sistemas construtivos são monitorados em condições naturais e em tempo real, ocupando pequenos espaços vizinhos às estações meteorológicas. Também, o Conseil Interternational Du Batiment Pour La Recherche Létude Et La Documentation (CIB) tem como objetivo estimular e facilitar as cooperações internacionais para troca de informações entre diferentes instituições de pesquisa em materiais e construções (CIB, 2000). Portanto, o CIB é uma das mais importantes referências quanto à organização de instituições e pesquisadores atuando nesta área.

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Na Índia, o Central Building Research Institute (CBRI) é lembrado pelas publicações de Chand e Bhargava principalmente relacionadas à pesquisa de chuva dirigida (CBRI, 2008). Na Suíça, importantes contribuições estão sendo feitas por Fabien J. R. van Mook (Mook, 2008), da Chalmers Universidade de Tecnologia, com contribuições de Högberb e Kragh.

Na Austrália existe uma linha de pesquisa ligada à corrosividade atmosférica com destaque para os trabalhos de Cole e Trinidad (Cole et al., 2002; Trinidad e Cole, 2002; Cole et al., 1999; Trinidad et al., 1999). Ainda se destacam os pesquisadores S. E. Haagenrud e C. Sjöström, ambos do Norwegian Institute for Air Research (NILU), na Noruega, cujos objetivos são conduzir pesquisas ambientais com ênfase nas fontes de poluição do ar, transporte atmosférico, transformação e deposição de agentes poluidores de corrosão, como também estudos envolvendo a avaliação dos efeitos da poluição nos ecossistemas, a saúde humana e dos materiais (NILU, 2008). Na Espanha destacam-se Morcilo e Feliu (1993), que desenvolveram mapas de corrosividade atmosférica para a Espanha e para os países da Ibero-Americanos.

No Canadá, pesquisadores do National Research Council possuem projetos em desenvolvimento que visam caracterizar os aspectos referentes ao meio ambiente, buscando desenvolver modelos de degradação baseados em um índice de umidade, que permite a classifi cação de climas e ambientes quanto à agressividade a diferentes tipos de paredes (Cornick e Dalgliesh, 2003; Cornick et al., 2003; Cornick et al. 2002).

No Brasil, instituições como a Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído (ANTAC), através do Grupo de Trabalho sobre Durabilidade das Construções, e o Instituto Brasileiro do Concreto (IBRACON), incentivam e defi nem diretrizes para a realização de pesquisas e busca do conhecimento na área de durabilidade, em especial em modelagem, permitindo que se realizem previsões de vida útil mais adequada aos parâmetros climáticos nacionais.

Como a maior parte das construções se encontra exposta à ação dos agentes naturais, faz-se necessário conhecer e quantifi car as variáveis meteorológicas envolvidas nos processos de degradação dos materiais. Também se faz necessário conhecer o impacto que a interação de duas ou mais variáveis meteorológicas produz nas construções civis. Para muitos casos, a caracterização do clima através de mapas e médias espaciais de alguma variável meteorológica ou climática em escalas regionalizadas, ou até mesmo em escalas locais, pode contribuir para a melhoria dos estudos sobre a durabilidade e degradação do ambiente construído.

Atualmente as normas brasileiras de construção civil não consideram a variação sazonal e espacial dos parâmetros meteorológicos e ambientais, ou agentes de degradação, devido à inexistência de estudos que revelam o comportamento desses parâmetros. A falta de estudos enfocando variáveis meteorológicas aplicados ao ambiente construído se dá devido à baixa interação entre as áreas de engenharias e outras áreas do conhecimento humano.

O atual estágio tecnológico em que a humanidade se encontra permite que todas as áreas do conhecimento interajam entre si a fi m de buscar soluções para seus problemas. Isto não é diferente com a Engenharia Civil, que necessita do conhecimento de áreas como a Meteorologia, por exemplo, para mapear e localizar os agentes causadores de danos ao ambiente construído. Assim, com o auxilio de Sistemas de Informação Geográfi ca (SIG), é possível integrar informações de diferentes naturezas, como a distribuição da temperatura em uma determinada área, e os dados sobre a durabilidade e resistência de materiais, entre outros.

Com esta integração de diferentes área e uso intensivo dos recursos de informática, é possível modelar o comportamento dos diferentes materiais nas diversas regiões do país, garantindo que as atividades de manutenção possam ser previstas dentro da vida útil de uma determinada construção. Com isto, evita-se que um problema pequeno e localizado se transforme em um problema generalizado e de

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difícil solução. Desta forma, é possível aperfeiçoar os processos de construções, minimizar custos e perdas de materiais, diminuir problemas de saúde da população e aumentar a segurança dos usuários.

Estes temas são exaustivamente discutidos em diversas áreas das Engenharias, especialmente na Engenharia Civil, que desde 1997 vem demonstrando cada vez mais a necessidade de mapas atualizados que apresentam as variações ambientais que afetam o setor. Durante a realização do 1° Workshop sobre Durabilidade das Construções, realizado em 1997, na cidade de São Leopoldo, levantaram-se linhas de pesquisa prioritárias, que foram alvo de um Edital HABITARE fi nanciado pela Caixa Econômica Federal (CEF) e pela FINEP (Lima et al., 1997).

Na prática, observa-se com grande freqüência a degradação prematura das construções, o que não ocorria no início do Século XIX. Nos dias de hoje a degradação ocorre mesmo que as construções tenham sido projetadas e construídas obedecendo às normas adequadas. Isto pode ser explicado em parte pela simples mudança nas tecnologias de construção, sem considerar que as variações ambientais que acontecem a cada ano têm contribuído para catalisar os problemas de durabilidade do ambiente construído. Ou seja, devido à crescente demanda pela conclusão de uma edifi cação, os processos construtivos atuais têm facilitado a ação dos agentes de degradação comprometendo a durabilidade das construções, e se intensifi cando com as variações globais do clima ao longo das últimas décadas.

2. EXEMPLOS DE DEMANDAS

a) Tempo de Superfície Úmida

Segundo a International Organization for Standarization (ISO) 9223 (ISO, 1992), o termo “Tempo de Superfície Úmida” para metais é defi nido como o tempo em que a umidade relativa do ar é superior a 80% e a temperatura do ar é superior a 0ºC. O tempo de superfície úmida é o somatório dos períodos em que houve disponibilidade de água capaz

de ser utilizada nas reações de corrosão. Além da grande importância deste parâmetro para os metais e ligas, o efeito da umidade relativa do ar também pode ser observado para outros materiais porosos, como por exemplo, madeira, rochas e concreto.

b) Precipitação

Além da climatologia regional, existem demandas de informação sobre a quantidade de tempo que choveu acima de um determinado limiar. Esta informação tem aplicação direta tanto nos modelos de previsão de vida útil do ambiente construído, como nos projetos de execução de obras.

c) Concentração de Poluentes

Segundo Lima (2005), a presença de substâncias particuladas na atmosfera, que se depositam na superfície das construções, associada à disponibilidade de umidade, cria ambiente propício para a formação de novos compostos químicos (por exemplo, a geração de ácidos) e/ou para o crescimento de fungos e vegetação. O dióxido de carbono (CO2) presente na atmosfera, por exemplo, é um dos principais fatores desencadeantes do processo de carbonatação do concreto e da conseqüente corrosão das armaduras, que é uma das patologias que mais afeta e degrada as estruturas de concreto.

Além do Dióxido de carbono (CO2), outro composto muito estudado é o dióxido de enxofre (SO2), considerado como o mais importante contribuinte para a acidifi cação ambiental e formação de chuvas ácidas. O SO2 é facilmente absorvido na superfície dos materiais e sua deposição pode ser seca ou úmida. A concentração, ou taxa de deposição, do SO2 é um parâmetro usado na classifi cação da corrosividade atmosférica, e de acordo com a ISO 9223 (ISO, 1992). O Estado de São Paulo mantém desde a década de 70 redes de monitoramento da qualidade do ar, que têm permitido a medição dos poluentes atmosféricos nas escalas local e regional. Essas redes são controladas pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB), que é o único órgão estadual que realiza o monitoramento contínuo de compostos

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particulados presentes na baixa atmosfera, no Brasil. Porém, as saídas do Modelo CCATT BRAMS poderiam ser avaliadas quanto à sua aplicabilidade direta no Ambiente Construído, permitindo uma análise mais ampla das variações espaciais destes parâmetros.

d) Vento

A norma nacional NBR 6123, cuja última revisão aconteceu em 1988 (ABNT, 1988), está baseada em trabalhos realizados na década de 70. Porém, atualmente uma demanda maior pelo conhecimento das variações regionais e locais de vento têm acontecido, especialmente por parte das seguradoras, seja na forma de laudos que comprovem, ou não, a ocorrência de um sinistro, seja para regionalizar suas tarifas de cobrança conforme o fator de risco.

O vento também é agente responsável, em parte, pela movimentação de água nos poros dos materiais, pois provoca sua secagem nas camadas superfi ciais e catalisa algumas reações, como se observa na geração de pontos de carbonatação em estruturas de concreto situadas em regiões de variação de maré (Lima, 2005).

A consideração de sentido preferencial do vento é importante para projetos de fachadas, ou quando há um interesse em avaliar as infl uências ambientais no entorno de uma construção. Para isto é necessário que se tenha monitoramento de vento e chuva em escala horária e com uma malha de estações meteorológicas que permita estudos de microclima, ou pelo menos de mesoclima.

Além do uso do vento agindo diretamente como agente de degradação, sabe-se que esta é uma variável meteorológica que também tem infl uência na durabilidade das construções quando associada à chuva, produzindo assim um parâmetro conhecido como chuva dirigida.

e) Índice de Chuva Dirigida

Como o próprio nome sugere, este parâmetro é defi nido por uma expressão matemática que faz uso direto de duas variáveis ambientais que são medidas diretamente, que são o vento e a precipitação. O Índice de Chuva Dirigida (do inglês, Driving Rain Index - DRI) é elaborado segundo metodologia proposta por Lacy (1980), que apresenta a seguinte expressão:

onde: V = Velocidade média anual do vento (m s-1) P = Total de precipitação anual (mm)

Originalmente o DRI é classifi cado de acordo com três faixas de agressividade, assim distribuídas: a) até 3 m2 s-1 corresponde a uma exposição protegida; b) entre 3 m2 s-1 e 7 m2 s-1 corresponde a uma exposição moderada, c) 7 m2 s-1 e 20 m2 s-1 corresponde a uma exposição severa. Desta forma o grau de agressividade varia nos tipos protegida, moderada e severa (Lima e Morelli, 2005).

A norma BS 8104/92 do British Standards Institution (BSI) relata que a quantidade de chuva que escorre por uma fachada é proporcional à quantidade de chuva que cai em uma superfície horizontal e a velocidade do vento no local; sendo assim, apresenta o Índice de Chuva Dirigida anual, como sendo resultado do produto da média anual de vento com o total de precipitação anual, em um determinado local (BSI, 1992). O índice anual, aqui apresentado, é o mais simples de todos os índices de chuva dirigida, outros mais elaborados podem ser desenvolvidos de forma operacional, o que catalisaria uma grande quantidade de novos estudos.

As plataformas de coleta de dados geralmente disponibilizam a precipitação acumulada em uma hora juntamente com informações do vento máximo que ocorreu neste período. O ideal seria que um banco de dados pudesse assimilar, além da precipitação

DRIVP

1000=

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acumulada e da rajada de vento, dados de direção e velocidade do vento e a quantidade de chuva que ocorrem simultaneamente em um mesmo período.

f) Amplitude Térmica

As trocas de temperatura entre o meio ambiente e as construções causam variações térmicas nas estruturas/construções chegando ao seu interior e, desta forma, o agente de degradação pode atuar com ação física ou química. A patologia comumente associada aos efeitos da temperatura ou, mais especifi camente, com as variações de temperatura são as fi ssuras provocadas pela dilatação e retração (Lima, 2005).

A amplitude térmica é defi nida como a variação entre a temperatura máxima e a temperatura mínima. A NBR 6118 defi ne que a variação da temperatura da estrutura causada pelo efeito da variação da temperatura da atmosfera e da insolação, é considerada uniforme Ela depende do local da implantação da construção e das dimensões das peças que a compõem. Seguindo as considerações que são apresentadas por esta norma, um engenheiro projetista deve estar atento para locais onde a amplitude térmica esteja entre 50C e 15ºC e maior que 15ºC, pois nestas condições, dependendo das características de cada peça (dimensões, preenchimento, etc.), condições especiais devem ser adotadas para o devido dimensionamento e projeto da estrutura.

Apesar de muito simples, este parâmetro não se encontra disponível em nenhum portal de instituições brasileiras que disponibiliza informação meteorológica. Por nunca terem sido elaborados e disponibilizados mapas de Amplitude Térmica de forma sistemática e operacional, a NBR 6118 está sendo desrespeitada justamente devido à falta de informações apropriadas que auxilie o Engenheiro a melhor projetar sua obra.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho apresentou pontos importantes para o desenvolvimento de novas pesquisas ligadas à aplicação da Meteorologia na temática de durabilidade e degradação do Ambiente Construído no Brasil. Constata-se que no país há uma grande lacuna de informações referentes ao mapeamento dos agentes de degradação dos materiais e construções como um todo. Esta lacuna esta relacionada principalmente à fatores como:

Indisponibilidade dos dados brutos de • monitoramento dos agentes de degradação ambiental que possam ser utilizados nos modelos numéricos de durabilidade;Desconsideração dos agentes e fatores de • degradação nas normas nacionais; eNecessidade de redes de monitoramento • contínuo de parâmetros meteorológicos e ambientais em escalas de tempo e espaço compatíveis com as necessidades dos Engenheiros Civis.

Por outro lado, percebe-se que não somente a área de Engenharia Civil tem requisitado maior conhecimento sobre esta temática, como vários outros setores da economia estão buscando embasamento científi co para planejamento estratégico de mercado, como é o caso de seguradoras, por exemplo. Verifi ca-se, portanto, que atualmente há uma grande demanda por estudos envolvendo variáveis meteorológicas que possam ser utilizadas no Ambiente Construído. Mostrou-se que um dos caminhos mais efi cientes para a realização de tais estudos é através da interação de profi ssionais de diversas áreas e também a união de esforços de diferentes Institutos de Ensino e Pesquisa. Esta linha de pesquisa deve ser melhor analisada quanto à sua aplicação direta na formação básica de Engenheiros e Meteorologistas, visto que trata-se de uma possibilidade de integração entre estas áreas e, assim, abrindo novas oportunidades de mercado para estes profi ssionais.

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Atualmente, o INPE/CPTEC (www.cptec.inpe.br) disponibiliza grande quantidade de dados derivados a partir de satélites meteorológicos e de modelos numéricos, o que propicia o desenvolvimento de novos estudos visando atender as necessidades das

áreas ligadas à construção civil. Em um país com dimensões continentais como o Brasil, esse tipo de dado é uma excelente oportunidade para preencher a inexistência ou complementar os poucos conjuntos de dados coletados por estações meteorológicas.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6123: Forças devidas ao vento em edifi cações. Rio de Janeiro, 1988. 80p.

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A COMUNICAÇÃO SOCIAL DE INFORMAÇÕES SOBRE TEMPO E CLIMA: O PONTO DE VISTA DO USUÁRIO1

Renzo TaddeiUniversidade Estadual de Campinas, Departamento de Antropologia

Caixa Postal 6110, Campinas - SP, 13081-970E-mail: [email protected]

RESUMOEste artigo discute problemas ligados à comunicação social das informações meteorológicas. O texto sugere a necessidade do estudo e compreensão dos contextos de uso das informações disseminadas, das formas habituais de interpretação de mensagens meteorológicas e das associações entre a informação meteorológica e outros temas localmente relevantes. A mensagem deve ser construída buscando levar esses fatores em consideração, e procurando evitar associações que deslocam o signifi cado da informação para outros campos interpretativos. O trabalho de comunicação social, desta forma, deixa de ser meramente burocrático e ganha a dimensão de pesquisa, o que sugere a necessidade da colaboração interdisciplinar sistemática entre a meteorologia e as ciências sociais e da comunicação. Apesar de essa ser uma posição amplamente aceita nas pesquisas das dimensões humanas das mudanças climáticas, parece não haver reconhecimento institucional, até o momento, da necessidade do estudo sistemático das dimensões humanas do clima e do tempo, onde a comunicação social tem papel central.Palavras-chave: Comunicação, contexto, recepção, sociedade, Meteorologia.

ABSTRACTThis article discusses problems associated to the social communication of meteorological information. The text suggest that there is the need to study and understand the contexts where the information will be used, habitual forms of interpretation and other locally relevant themes. The message should be constructed taking these factors in consideration, and trying to avoid associations that displace the meaning of the information to other interpretive fi elds. The work of social communication therefore cannot be seen as merely bureaucratic, and gains the dimension of research, what suggests the need for a systematic interdisciplinary collaboration between meteorology and social and communication sciences. Despite of the fact that this is an approach widely accepted in the research about the human dimensions of climate change, there seems to be no institutional recognition, to this moment, of the need of systematic study of the human dimensions of climate and weather, where social communication plays a central role.Keywords: Communication, context, reception, society, Meteorology.

1 Este trabalho foi apresentado no XV Congresso Brasileiro de Meteorologia, em 28 de agosto de 2008, em São Paulo. A pesquisa que deu origem a este artigo foi fi nanciada, em momentos distintos, pelo CNPq, Wenner-Gren Foundation, International Research Institute for Climate and Society (IRI), e Landes Memorial Fund/Comitas Institute for Anthropological Studies. Muitas pessoas pacientemente dedicaram parte valiosa de seu tempo ajudando este autor a entender aspectos conceituais e institucionais ligados à Meteorologia no Brasil e no exterior, dentre as quais merecem menção Antonio Divino Moura, Francisco de Assis de Souza Filho, Eduardo Sávio Passos Rodrigues Martins, Antônio Geraldo Ferreira, Namir Giovani da Silva Melo, David Ferran Moncunill, Alexandre Araújo Costa, Pedro Leite da Silva Dias, Steve Zebiak, Walter Baethgen, Lisa Goddard, e Liqiang Sun. O autor é o único responsável pelas limitações deste trabalho.

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1. INTRODUÇÃO

Com o trabalho do IPCC e o debate internacional sobre o aquecimento global, a questão da relação entre o que a Meteorologia produz e a maneira como a sociedade recebe, interpreta e utiliza essas informações nunca esteve tanto em evidência. São poucos, até o momento, os trabalhos que buscam entender, de forma sistemática, os problemas ligados à disseminação de informações meteorológicas, especialmente em seus aspectos sociais (pode-se citar como trabalhos representativos nessa área Broad et al., 2002; Lemos et al., 2002; Lemos e Dilling, 2007; Orlove e Tosteson, 1999; Pennesi, 2007; Rayner et al., 2005; e Roncoli et al., 2004). Foco maior tem sido dado aos problemas de aplicação de tais informações em usos estritamente econômicos e produtivos (como em Alves et al., 2008; Baethgen et al., 2004; Bravo et al., 2005; Collischonn et al., 2005; Lall e De Souza, 2004; Meinke et al., 2001; e Meza et al., 2008). Neste trabalho, abordaremos esta questão a partir de uma perspectiva ligada às ciências sociais, e focaremos nossa atenção na forma como os usuários recebem e interpretam as informações meteorológicas que recebem.

Este texto está estruturado da seguinte forma: inicialmente discute-se a presença da comunicação dentro das instituições que produzem informações meteorológicas e, a partir da forma como se dá essa presença, podemos deduzir como a Meteorologia entende a questão da comunicação. Em seguida, apresentam-se algumas contribuições das teorias da comunicação, em especial no que diz respeito aos estudos de recepção de mensagens no processo comunicativo; e conclui-se o texto discutindo as implicações da discussão teórica para a prática da comunicação social nas organizações meteorológicas.

Os estudos de recepção no processo comunicativo podem contribuir com a análise da comunicação social na Meteorologia na medida em que trazem para o centro da discussão o contexto em que o usuário recebe e faz uso das informações. Este texto defende que uma análise mais pormenorizada do

processo comunicativo, da forma como praticado atualmente por um grande número de agências meteorológicas, revela, à luz das contribuições advindas de teorias comunicacionais, possíveis razões para a baixa efi ciência comunicativa das mensagens meteorológicas, e sugere uma nova abordagem para a questão da comunicação social em meteorologia.

Esse trabalho é resultado de uma pesquisa de mais de seis anos, fruto de uma parceria entre o International Research Institute for Climate and Society (IRI) e a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME). Os dados foram coletados em pesquisa de campo, no estado do Ceará, onde foram realizadas mais de 150 entrevistas com cientistas, políticos, agricultores e técnicos. O autor participou como observador nos fóruns regionais de previsão climática, além de outros eventos ligados à ciência meteorológica, entre os anos de 2002 e 2008; e os processos de disseminação de outras formas de informação climática (como as produzidas pelos chamados “Profetas da Chuva” do sertão, por exemplo) foram também estudados (Taddei, 2005, 2006). Além disso, o autor se baseou na sua experiência como Pesquisador Associado do IRI, desde o ano de 2002, onde participou de diversas discussões sobre as relações entre a Meteorologia e a sociedade.

1.1. O lugar da comunicação na Meteorologia

Partimos do pressuposto de que a análise da comunicação no fazer meteorológico é essencial para entender os problemas da comunicação do resultado do trabalho da Meteorologia. Isso demanda uma análise organizacional das instituições meteorológicas, buscando entender onde e quando a comunicação social ganha relevo e importância. Institucionalmente falando, a comunicação é um aspecto do trabalho meteorológico que foi, de certa forma, historicamente negligenciado. Uma avaliação da presença da comunicação dentro dos institutos de meteorologia e agências que produzem informação de clima revela que, em geral, a comunicação tem o mesmo status

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dos departamentos de recursos humanos ou jurídico, restringindo-se a um assessor de imprensa produzindo, de forma quase mecânica, material a ser enviado aos meios de comunicação. Ainda que a preocupação a respeito da forma como os usuários interpretam as informações meteorológicas exista e se manifeste freqüentemente entre meteorologistas (como, por exemplo, na atenção que dedicam à escolha das palavras e termos que serão usados na disseminação de previsões meteorológicas), não há reconhecimento institucional nesse sentido, ou seja, as instituições meteorológicas que fazem a “operação”, isto é, produzem informações para distribuição a usuários, e que por essa razão moldam a imagem pública da Meteorologia, pautam-se por valores herdados de outra faceta da disciplina, a pesquisa científi ca, concentrando esforços nas áreas de desenvolvimento teórico e tecnológico, e tratando a comunicação social como um aspecto menor e burocrático da sua atividade. Meteorologistas têm mais status dentro da Meteorologia se vistos como pesquisadores competentes do que como comunicadores efi cientes. Há também a crença, marcante em diversas áreas da pesquisa científi ca, de que para ser bom comunicador é preciso ser bom pesquisador, ou seja, a comunicação científi ca é entendida como subsidiária da pesquisa científi ca (cf. Gregory e Miller, 1998), e não como atividade que possui suas complexidades e desafi os próprios.

Como a estrutura das organizações muda mais lentamente do que as idéias e valores das pessoas que nelas desenvolvem duas atividades, a atenção limitada dada institucionalmente à comunicação não refl ete o pensamento de boa parte dos meteorologistas da atualidade. Na década de 1990 houve uma certa mobilização internacional no sentido de expandir o escopo da pesquisa climática, e o International Research Institute for Climate and Society (IRI) foi criado, em Nova York, para estudar a interação entre a Meteorologia e a sociedade; não como uma agência meteorológica, mas como uma agência de estudos do espaço existente entre quem produz a informação sobre o clima e quem a usa, ou poderia usar, mas não o faz. Foi isso, na verdade, que motivou a criação do IRI e da abordagem “ponta-a-ponta”: a constatação,

após a previsão dos El Niños de 1993 e 1997/1998, de que a disseminação da informação meteorológica, mesmo quando feita de forma efi caz, não se traduz imediatamente em benefício social. Ainda assim, atualmente dentro do IRI o peso da produção de conhecimento meteorológico é maior do que o dos estudos sobre como as informações meteorológicas são aplicadas na prática2; e nos estudos de aplicação, o estudo de processos econômicos, como agricultura e gestão de água, além de questões ligadas à saúde pública, prevalecem sobre os estudos sobre a comunicação propriamente dita.

Também não há mudanças signifi cativas no que diz respeito à formação dos profi ssionais de Meteorologia. Os currículos de graduação em Meteorologia não incluem disciplinas sobre as dimensões humanas do tempo e do clima, e menos ainda sobre a comunicação climática. Um dos problemas que disso decorre é o fato de que uma parte signifi cativa dos profi ssionais de Meteorologia vai eventualmente se tornar gestor das instituições de pesquisa e previsão. Esses profi ssionais ocuparão cargos de direção, e a comunicação social é parte integrante das funções do cargo de gestor. Como resultado, o meteorologista-gestor se vê obrigado a improvisar, a aprender na prática, por tentativa e erro; responsabilidade demais é transferida ao assessor de imprensa, que na maioria das vezes é um jornalista e entende bem da mídia, mas não dos usos que se faz da informação no nível das comunidades e grupos específi cos de usuários, nem dos problemas econômicos ligados ao clima. A duras penas, o meteorologista-gestor intui que a comunicação é algo mais amplo e complexo que a assessoria de imprensa, mas em geral não tem clareza a respeito de quais são os outros recursos à sua disposição.

Do ponto de vista de quem tenta entender o usuário da informação do clima, a existência de modelos atmosféricos espetacularmente bons deixa de fazer

2 A distribuição de previsões climáticas em forma de tercis é talvez a contribuição mais visível e reconhecida do IRI, apesar do grande número de pesquisas em saúde pública, agricultura, pesca e recursos hídricos.

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diferença se essa informação se perde no caminho da disseminação. À medida que a informação viaja pela sociedade, a cada momento ela encontra o desafi o da compreensão e da aplicabilidade: se essa informação não for compreendida, ou se os usuários não souberem como aplicá-la às suas atividades e seus problemas, isso é equivalente à inexistência da informação. Do ponto do vista do usuário, receber uma informação que não é entendida é a mesma coisa que não receber informação. (Na verdade isso não é inteiramente verdade, porque, entre alguns usuários, a não compreensão da informação gera o sentimento de frustração e a acusação de que há arrogância por parte do emissor da mensagem. Essas reações emocionais diminuem ainda mais a efi ciência do processo comunicativo.) Por isso a importância da incorporação de discussões sobre a comunicação nas atividades cotidianas da Meteorologia.

Esta discussão não é, de forma alguma, uma novidade histórica: no século 19, na Inglaterra, já havia controvérsia entre cientistas a respeito da conveniência de se fazer e disseminar previsões meteorológicas (Anderson, 2005). O foco do debate não era os méritos do estudo da Meteorologia, mas sim a conveniência de se produzir prognósticos e disseminá-los, justamente em razão de todos os efeitos e expectativas sociais que isso podia acarretar. Quando o autor deste texto iniciou suas pesquisas no Ceará, no ano de 2002, existiam pessoas no alto escalão do governo estadual que defendiam (e ainda defendem) a idéia de que a FUNCEME não deveria disseminar publicamente prognósticos para o semi-árido. Isso não ocorre porque o prognóstico é bom ou ruim; como é sabido, ele nunca foi tão bom, em razão dos avanços no conhecimento meteorológico e na capacidade computacional ocorrida nos últimos 20 anos. O problema encontra-se justamente no que acontece do outro lado do processo de comunicação: as chuvas, bem como informações sobre elas, têm impactos econômicos, sociais e políticos. No semi-árido, crises de ansiedade coletiva em relação à estação de chuvas são comuns, e essas crises podem ser ocasionadas pela disseminação de informações climáticas (Martins, 2006; Taddei, 2005). Isso é algo que coloca problemas complexos aos governos

locais. Mas é importante que se diga que esse não é necessariamente um aspecto incontornável da questão. No Brasil e no exterior, muitas vezes o fracasso em processos de distribuição e uso de informações científi cas (especialmente em projetos de desenvolvimento econômico) é diagnosticado como tendo ocorrido em razão de “questões culturais”. Essa expressão, “questões culturais”, é usada, no discurso destes cientistas, como causa mortis irremediável. Ao mesmo tempo, as Ciências Sociais, e a Antropologia em particular, se dedicam integralmente a isso: a entender problemas culturais e a aprender a lidar com eles. Por essa razão, uma ponte entre a Meteorologia e as Ciências Sociais têm o potencial de produzir avanços consideráveis na questão da comunicação meteorológica.

1.2. O que é comunicação?

A comunicação é, de certa forma, como a atmosfera: invisível, mas bastante complexa. Um indicador dessa complexidade é a quantidade de departamentos e programas de pesquisa que estudam a comunicação em uma universidade de grande porte: além do jornalismo, da lingüística e da semiótica, há estudos de comunicação em psicologia, em educação, em propaganda, em antropologia, em sociologia, em fi losofi a, e em engenharia. O que podemos deduzir disso é que a comunicação não é algo trivial, e por isso merece uma atenção especial.

O que se diz e o que se entende depende da forma como a comunicação ocorre. E como é que a comunicação ocorre? Existem diversos modelos que descrevem o processo comunicativo (Duck, 1994; Jakobson, 1979; Kellerman, 1992; Shannon e Weaver, 1949). Um modelo simplifi cado do processo de comunicação, proposto por Roman Jakobson (1979), pode nos ajudar. De acordo com este autor, a comunicação ocorre de acordo com o diagrama abaixo:

ContextoMensagem

Emissor ReceptorContatoCódigo

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Há quatro dimensões essenciais no processo, conforme esse modelo. Todo processo de comunicação tem um contexto, uma mensagem, o contato (por onde a mensagem trafega, como o ar ou cabos de fi bra ótica), e existe um código (como a língua portuguesa). Além disso, tipicamente o processo de comunicação tem um emissor e um receptor. Como o processo de comunicação é interativo, emissor e receptor estão, a todo momento, trocando de papéis. No caso da comunicação meteorológica, em geral o emissor é quem produz e inicia o processo de disseminação da informação climática, e o receptor é quem recebe essa informação - mídia, agências do governo, comunidades rurais. Este processo não é unidirecional: a atividade meteorológica é afetada por expectativas sociais (Fine, 2007; Taddei, 2005), e meteorologistas fazem o esforço de adequarem seus produtos ao que percebem como demandas dos usuários. Desta forma, ao emitir a sua mensagem, a meteorologia já recebeu e processou mensagens anteriores enviadas pela sociedade.

O que nos interessa nesta análise é o contexto, e como este afeta a comunicação. O contexto afeta e defi ne, de certa forma, os signifi cados que vão ser atribuídos às informações, ou seja, como elas serão entendidas. A palavra chuva, por exemplo, tem signifi cados diferentes em contextos diferentes. Na Bíblia há uma grande quantidade de passagens em que a palavra chuva aparece, especialmente no velho testamento. O mesmo ocorre com a palavra água. No contexto religioso, as conotações, os signifi cados, as reações que as pessoas tem à idéia de chuva e de água são muito diferentes das que teriam numa discussão sobre desenvolvimento econômico, por exemplo, quando as idéias de chuva e água são mencionadas. Apesar do termo ser o mesmo, o contexto tem infl uência sobre como as pessoas vão entender a mensagem, e como vão reagir a ela, ou seja, como isso afetará suas ações. Chuva num contexto religioso pode evocar a idéia de punição divina, como ocorreu em algumas comunidades do vale do Jaguaribe durante as inundações de janeiro de 2004 (Taddei, 2005), e isso induz as pessoas a adotarem uma postura

de humildade e resignação3; num contexto dominado pelo otimismo técnico e desenvolvimentista, a chuva pode ser vista como algo passível de ser produzida ou controlada por seres humanos, como no caso da nucleação artifi cial de nuvens, o que foi realizado no Nordeste brasileiro no passado recente e continua sendo feito em lugares como Espanha e Israel. São duas posturas radicalmente opostas ligadas ao mesmo fenômeno atmosférico, induzidas pelas idéias e valores que marcam cada contexto.

E o que é o contexto da comunicação? O contexto é a situação de uso da informação, e inclui objetivos, intenções, expectativas, valores, idéias, e também tecnologias, recursos, calendários, instituições, e formas de tomada de decisões. Como o contexto “emoldura” a mensagem, e desta forma dá-lhe sentido e signifi cado, nenhuma mensagem mantém o signifi cado original num contexto diferente. À medida que uma mensagem sai do seu ponto de origem e começa a ser disseminada - sai da assessoria de imprensa de um instituto meteorológico e chega à redação de um jornal, por exemplo -, o que ocorre é que a informação é descontextualizada e recontextualizada. Ou seja, ao chegar a lugares onde as pessoas têm objetivos, agendas, formas de trabalhar e calendários distintos daqueles onde foi produzida, a informação ganha novas dimensões, valores e signifi cados. É por isso que raramente uma manchete de jornal baseada em previsão climática agrada aos meteorologistas. Isso é especialmente o caso no Nordeste, onde previsões climáticas têm mais relevância do que em outras regiões do país. Ao atravessar o processo jornalístico, é comum que o caráter probabilístico da informação desapareça ou seja desvalorizado. Para muitos meteorologistas, a mensagem, depois de re-elaborada e simplifi cada no processo jornalístico, tende a perder

3 Como afi rmado em outro lugar (Taddei, 2008 a), o conceito de punição divina, mesmo quando existente de forma subjacente a atitudes não religiosas, se associado à idéia de aquecimento global, pode induzir à resignação, e conseqüentemente, à inação. A maneira como formas estruturadas e subjacentes de pensamento e compreensão da realidade (como a visão religiosa) geram atitudes específi cas com relação a questões ambientais demanda pesquisas mais aprofundadas.

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parte importante do seu conteúdo, e, por essa razão, empobrece em precisão e qualidade. Do ponto de vista jornalístico, não há perda de conteúdo, mas, inversamente, há ganho em clareza, uma vez que ao jornalista cabe a tarefa de depurar a mensagem de todo jargão científi co e da opacidade da linguagem técnica. Como podemos ver, objetivos diferentes induzem meteorologistas e jornalistas a entenderem o mesmo processo, a simplifi cação da informação, sua condensação e tradução da linguagem técnica à linguagem jornalística, de formas opostas em termos do valor que a informação passa a ter.

O importante é entendermos que a mudança de contexto irá sempre resultar em mudanças de signifi cado. Quando se “engessa” a mensagem para que ela mantenha o sentido original, negando o processo natural de adaptação a novos contextos, o que ocorre é que a mensagem tende a perder o sentido, e torna-se ininteligível para o receptor. No processo de comunicação meteorológica, isso ocorre quando o meteorologista usa seu acesso à TV ou rádio para enviar a mensagem original, sem transformações, ao público fi nal, sem dar-se conta que não apenas o jargão técnico, mas também as escalas espaciais e temporais usadas na informação são ininteligíveis para grande parte da audiência que recebe as informações. Uma tira humorística publicada na Inglaterra exemplifi ca isso: nela o repórter meteorológico, em frente ao mapa das ilhas britânicas, diz: “e agora, sem razão nenhuma, eu vou mostrar o mapa isobárico, como de costume”. Ou seja, o mapa isobárico é uma informação que tem muita relevância em um outro contexto; no contexto do jornalismo meteorológico, ela é irrelevante porque a audiência não é capaz de entendê-la.

1.3. O Contexto e a Informação Meteorológica

Com relação à disseminação da informação, vimos que a informação viaja através da sociedade, e em cada ponto em que chega ela ganha novos contextos e novas nuances. Desta forma, uma conclusão lógica é que o processo comunicativo será mais efi ciente se quem emite a mensagem conhece o receptor o sufi ciente para adequar a mensagem às

suas necessidades e particularidades. Na realidade, fazemos isso todo o tempo quando nos comunicamos: aumento o volume de minha voz se percebo que a pessoa com quem falo ouve mal, ou procuro adequar a formalidade das frases que uso em função da aparente solenidade da pessoa à qual me dirijo (ou ao contexto da conversa, como no caso de estarmos, eu e meu interlocutor, em tribunal ou igreja, por exemplo). O foco da atenção de quem comunica deve ser o contexto onde a informação vai chegar. Na verdade, em geral, quando há baixa efi cácia comunicativa na comunicação meteorológica, isso se deve ao fato de que essas questões são tratadas de forma intuitiva ou simplesmente desconsideradas. Quem depende do comportamento da audiência – políticos e emissoras de televisão são os exemplos mais conhecidos – faz pesquisas para conhecer seu público e muda suas formas de ação em virtude dos resultados encontrados. Quando a meteorologia não conhece o seu público, e o público não conhece a meteorologia, o resultado é que cada um cria estereótipos e mitos a respeito do outro, o que não raro conduz a expectativas irreais e frustração. Uma outra tira humorística publicada na Inglaterra exemplifi ca isso: nela um jornalista meteorológico, em frente às câmeras de TV e com o mapa das ilhas britânicas ao fundo, diz “e agora, o tempo para o fi m de semana”, enquanto insere sua mão em um recipiente rotulado “balde da sorte”. Esse tipo de humor surge do fato de que o público em geral tem uma idéia muito tênue do que a Meteorologia faz.

Uma das características mais importantes do contexto de recepção das mensagens no processo de comunicação é o fato de que este é dinâmico e refl ete a organização social e cultural locais. Ou seja, entender o contexto em que a informação é recebida não se resume em inventariar idéias, valores, objetivos, expectativas, recursos, calendários, e problemas, mas sim entender como essas coisas funcionam e fazem a vida social funcionar. Quando a informação chega a um grupo de pessoas ou comunidade, ela não encontra indivíduos dispostos a interromper suas atividades cotidianas para analisar racionalmente a informação, como se o entorno não fosse relevante naquele momento. O que a informação encontra é uma miríade

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de processos sociais acontecendo – disputas políticas, problemas de produção econômica, controvérsias morais ou religiosas, e todas essas coisas conectadas umas às outras – e o que ocorre é que a informação é sugada para dentro desse turbilhão social. No caso da disseminação de informações meteorológicas, a melhor das hipóteses é a em que essa informação conecta-se às discussões sobre produção econômica, a estratégias de proteção da vida e da infra-estrutura física, e a debates políticos sobre a distribuição de recursos, de modo que a efi ciência produtiva aumente, a vulnerabilidade aos impactos climáticos diminua, e os confl itos por recursos sejam reduzidos. Infelizmente, nem sempre isso acontece. Um caso já notório de uso de informações climáticas ocorrido no Ceará pode exemplifi car como as coisas podem ocorrer de forma diversa.

No fi nal da década passada, a Secretaria de Agricultura do Estado do Ceará (naquela época com o nome de Secretaria de Desenvolvimento Rural) decidiu que a distribuição de sementes selecionadas, resistentes a baixos níveis de chuva, aos agricultores familiares do estado, estaria vinculada à medição de umidade do solo e à previsão de chuvas produzida pela FUNCEME. O fato é que tais sementes são caras, e o hábito de fazer o plantio após as primeiras chuvas da estação, comum entre os agricultores do sertão, ocasiona a perda de uma grande quantidade de sementes. O uso das informações vindas da FUNCEME tinha como objetivo reduzir a despesa do Estado e evitar a perda das sementes no início da estação (uma vez que as primeiras chuvas são em geral irregulares demais para que o cultivo se mantenha). A idéia do governo era que os agricultores desta forma passariam a usar a previsão meteorológica como informação relevante para a decisão de quando iniciar o plantio.

Os produtores rurais manifestaram seu desagrado logo no início do uso da previsão meteorológica; após alguns anos de reclamações e confl itos, o governo decidiu desvincular a distribuição de sementes da previsão climática. Dentre os principais problemas encontrados nesse episódio está o fato de que os modelos meteorológicos têm pouca habilidade para prever as chuvas de pré-estação no Nordeste Setentrional, e em

geral previsões climáticas fazem referência às chuvas trazidas pela Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), e não às chuvas trazidas por frentes frias vindas do sul, vórtices ciclônicos dos altos níveis ou ondas de leste. As chuvas de pré-estação, no entanto, quando intensas o sufi ciente para unir-se com as chuvas trazidas pela ZCIT, podem resultar em duas safras de feijão e milho verdes, o que signifi ca, para o agricultor de sequeiro, a duplicação de seus ganhos anuais. Isso raramente ocorre; no entanto, se o agricultor esperar pelas chuvas vindas no norte (decorrentes da atuação da ZCIT), perderá essa oportunidade quando ela eventualmente se manifestar. Os agricultores então fazem seus cultivos sempre que a umidade do solo alcança cerca de um palmo de profundidade – ou seja, independentemente de qualquer previsão climática. Ao fazerem isso, estão minimizando a perda da oportunidade da chuva, ainda que desperdiçando sementes. Isso é compreensível, dado o fato de que sementes estão disponíveis no mercado, enquanto a chuva não está.

Na percepção dos produtores locais, o que houve foi a desconsideração tácita e irresponsável de estratégias locais de plantio, e o desrespeito a formas locais de conhecimento sobre o clima. Até mesmo a reunião anual de Profetas da Chuva do sertão, realizada na cidade de Quixadá, teve como uma de suas motivações, de acordo com seu idealizador4, fi gurar como reação à atitude do governo com relação ao calendário de distribuição de sementes, buscando dar visibilidade ao conhecimento climático local que estava sendo ignorado pelo governo. O episódio foi então interpretado como mais uma ação de um governo que priorizava outras formas de atividade econômica – a indústria, o turismo e o agronegócio – e que via a agricultura familiar como um fardo. Ou seja, a informação climática acabou sugada para dentro do redemoinho político daquele momento, e identifi cada com um governo que, em muitas localidades rurais, era visto como tendo agendas antagônicas com as da comunidade. Desta forma, a informação meteorológica era naquele momento entendida como ferramenta produzida pelo governo para tomar controle sobre as atividades de produção

4 Helder Cortes, comunicação pessoal.

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locais. Por essa razão, a informação meteorológica era rechaçada de antemão, sem sequer ser analisada.

Como evitar esse tipo de situação? Alguns trabalhos sobre a comunicação social de informações científi cas podem oferecer subsídios nesse sentido. Cash e seu grupo, por exemplo, sugerem que a disseminação de informações tem mais chance de ganhar um uso efetivo se a informação tiver saliência, credibilidade e legitimidade (Cash et al., 2002; Cash et al., 2003; Cash e Buizer, 2005). Taddei (2008 b) propôs a expansão deste conjunto de características para saliência, relevância, autoridade e legitimidade. Cash identifi ca saliência com relevância, enquanto estas características são claramente distintas. Saliência refere-se à capacidade, por parte dos receptores da informação, de detectarem detalhes importantes para a compreensão da mensagem. Em alguns casos, esses detalhes não são percebidos, e a interpretação da mensagem é prejudicada. Na meteorologia, o caso mais notório é a distinção entre tempo e clima. Uma mensagem baseada implicitamente nesta distinção será entendida de forma incorreta se as pessoas que a receberem não souberem da distinção em questão. Por essa razão, eventos de tempo são geralmente usados para avaliar (incorretamente) previsões de clima. Adicionalmente, a linguagem técnica, em geral, reduz a saliência da informação. Outro elemento que possui baixa saliência é a informação probabilística: por questões cognitivas e culturais, o aspecto probabilístico da informação é de difícil retenção, e é o primeiro elemento a desaparecer no processo de disseminação da informação meteorológica.

Relevância, por sua vez, refere-se à aplicabilidade da informação nos processos produtivos, culturais, ou políticos de quem a recebe. Informações meteorológicas de boa qualidade técnica, mas em escalas espaciais distintas das em que os usuários operam, perde relevância. O mesmo de dá com relação a calendários decisórios: a informação certa na hora errada é irrelevante. A informação meteorológica, quando chega aos locais de uso, se acopla a tentativas locais de resolução de problemas. A chance de um uso efi caz da informação aumenta se esse acoplamento for facilitado. Por essa razão, a compreensão dos problemas e das formas locais de

tentativa de solução destes é importante.

Autoridade é resultado da credibilidade atribuída à informação, e à confi ança depositada em sua fonte. De acordo com Gregory e Miller (1998), devido à própria especialização do conhecimento científi co e técnico e à complexidade informacional do mundo em que vivemos, é comum que os indivíduos sejam mais ativos na busca de relações de confi ança do que na busca da compreensão dos fatos e elementos técnicos. Em situações de risco, por exemplo, mais do que entender com detalhes o que está acontecendo, pesquisas sugerem que indivíduos buscam sinais que indiquem se podem ou não confi ar nas autoridades responsáveis pela gestão da situação (Gregory e Miller, 1998, p. 193).

Um dos problemas ligado à autoridade consiste no fato de que emissor e receptor da mensagem podem defi nir autoridade de forma diferente. Na opinião da comunidade científi ca, o que atribui autoridade a determinada informação é o rigor metodológico através do qual ela foi gerada. Como a população em geral não entende como a ciência funciona internamente, esse critério não se aplica fora das paredes das instituições de pesquisa. Em outros setores da população, a autoridade está ligada ao acesso restrito ao conhecimento, a recursos e a poder decisório. Em algumas comunidades, há formas culturais de atribuição de autoridade: em determinados lugares, a autoridade quem tem é o padre; em outros lugares, é a pessoa mais velha; em outros, é quem tem a arma de fogo; em outros ainda, é o representante da família que tradicionalmente detém o poder, como nas monarquias. O fato de que a população não entende a autoridade científi ca da mesma forma como o fazem os cientistas foi constatado numa série de pesquisas feita nos Estados Unidos, buscando medir o grau de compreensão que a população tinha, na época em que as pesquisas foram feitas, do trabalho da ciência. Ao serem perguntados “o que signifi ca estudar algo cientifi camente?”, em 1957, apenas 12% dos americanos entrevistados mencionaram experimentação e teste de hipóteses. Em 1979, essa proporção era de 14%; em 1985, 5% (Gregory e Miller, 1998, p. 5). Isso não signifi ca que essas pessoas não atribuíssem autoridade aos cientistas,

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mas que essa autoridade não era necessariamente atribuída em virtude do uso do método científi co.

E legitimidade refere-se à adequação da informação aos valores, formas de vida e perspectivas locais. A mensagem e a sua forma de disseminação, quando legítimas, não se confrontam frontalmente com valores locais. Quando há esse confronto, em geral não são os valores locais os perdedores, mas sim a informação científi ca. Numa comunidade em que os valores religiosos são importantes, por exemplo, se a informação científi ca chegar fazendo menção, mesmo que indiretamente, de que existe uma polaridade, uma oposição entre ciência e religião, quem vai perder legitimidade é a ciência. Não é esse tipo de embate que faz com que a religião deixe de ter legitimidade. O mesmo ocorre com polaridades como urbano versus rural, agendas ofi ciais versus agendas locais, pequena agricultura versus agronegócio.

Podemos ver todos esses elementos em ação no caso da distribuição de sementes. Inicialmente, a distinção feita pela meteorologia entre as chuvas de pré-estação (trazidas por frentes frias vindas do sul) e chuvas de estação (trazidas pela ZCIT) não possui saliência para grande parte da população rural, e a razão da retenção das sementes até a confi guração das chuvas ligadas à ZCIT não foi entendida pelos agricultores. Ao mesmo tempo, confi gurações ideológicas (desprezo pelo conhecimento rural tradicional) e institucionais (maior atenção dada a áreas defi nidas como estratégicas pelo governo, como o agronegócio voltado à exportação) fi zeram com que formas locais de organização produtiva fossem invisíveis aos olhos do governo. Ou seja, formas locais de produção não tinham saliência junto ao governo. Adicionalmente, a estratégia de uso da informação meteorológica resultou não apenas numa situação irrelevante para os produtores locais, em função do choque entre o calendário de produção local e o imposto pelo governo, mas também danifi cou a confi ança depositada pelos produtores nas agências governamentais (dentre as quais a FUNCEME), o que resultou na perda da autoridade destas agências. E, por fi m, a ação do governo foi entendida como autoritária e desrespeitosa, e desta forma, ilegítima.

2. CONCLUSÃO

O que este texto pretendeu mostrar é que, como em qualquer processo de divulgação científi ca, a efi ciência da comunicação depende da atenção dada ao contexto em que a informação será recebida, e não o em que a informação é emitida. Desta forma, a informação meteorológica, para ser efi caz em seu propósito comunicativo, deve estar estruturada, em termos de conteúdo e de estratégias de disseminação, em função das formas de pensamento e ação que caracterizam o seu público alvo, e não das formas de conhecimento que caracterizam o grupo que a produz. No entanto, entender de forma detalhada os contextos culturais, sociais e políticos em que as informações de clima serão recebidas é tarefa complexa, até mesmo para quem se dedica a isso em tempo integral. Por essa razão, não há sentido em sugerir que a Meteorologia absorva integralmente esse desafi o, mas é preciso fomentar e fortalecer a cooperação entre quem produz a informação de tempo e clima e especialistas em comunicação e cultura.

Desta discussão, algumas implicações mais salientes se convertem em recomendações. A primeira é que, se a comunicação depende da construção de autoridade e legitimidade, ela é a outra face da gestão da imagem social e pública da Meteorologia. Sendo assim, convém que gestores e líderes desta atividade participem, de forma mais incisiva, de debates sociais onde negociem com a sociedade quais são os graus de previsibilidade que a Meteorologia pode oferecer, e o que a sociedade deve esperar. O ajuste de expectativas sociais é necessário para que não se chegue em situações em que os gestores políticos decidam censurar a disseminação da informação meteorológica, ou em que à meteorologia seja atribuída culpa por supostos “erros” de prognósticos, quando na verdade são as expectativas sociais que se mostram irrealistas.

Em segundo lugar, muitas vezes é necessário que se reduza a quantidade de intermediários entre a Meteorologia e seu público alvo. Por outro lado, existem intermediários estratégicos, pessoas – nas comunidades ou instituições - que são mais capazes de fazer as traduções de linguagem e culturais, e desta

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forma é preciso identifi car e solicitar a colaboração dessas pessoas.

Em terceiro lugar, é preciso fazer concessões terminológicas. Cientistas e meteorologistas precisam acostumar-se com a idéia de que as defi nições e conceitos devem ganhar o mundo de forma fl exibilizada, e que a manutenção da precisão e do caráter técnico da informação implica em perda de saliência e relevância, diminuindo a chance de seu uso.

E, por fi m, é preciso fazer pesquisas sistemáticas sobre as estratégias comunicativas. Em campo e em situações experimentais de laboratório, é preciso

construir conhecimento sobre quais formas de comunicação, em termos de forma e de conteúdo, são mais efi cazes em diferentes contextos e para populações diversas. É conveniente aproveitar o impulso dado aos estudos sobre as mudanças climáticas e criar condições para que se desenvolvam estudos sobre as relações entre a Meteorologia e a sociedade. Se o clima é a integral do tempo no tempo, piada meteorológica que o professor Pedro Leite da Silva Dias costuma contar aos seus alunos, é preciso derivar no tempo os estudos das dimensões humanas das mudanças climáticas, de modo a chegarmos nas dimensões humanas do tempo e do clima.

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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RELATÓRIO CIENTÍFICO DOXV CONGRESSO BRASILEIRO DE METEOROLOGIA

24 a 29 de agosto de 2008, São Paulo, SP

Pedro Leite da Silva DiasPresidente do Comitê Organizador

O XV Congresso Brasileiro de Meteorologia (XV CBMET), seguindo os passos das edições anteriores, reuniu a comunidade científi ca brasileira e com expressiva participação estrangeira, principalmente dos países de língua espanhola, para apresentar e discutir os resultados das novas descobertas na Meteorologia e nas áreas correlatas, enfocando os benefícios que essas inovações podem trazer para a sociedade como um todo.

Este XV Congresso, particularmente, trouxe visibilidade às diversas aplicações da Meteorologia com a interação e o debate dos diferentes atores e segmentos envolvidos. Os objetivos específi cos relacionados ao tema central do evento foram:

Avaliar o conhecimento atual sobre o clima urbano • e seus controles;

Explorar as aplicações da Meteorologia Urbana • na Energia, Esportes, Turismo, Lazer e Cultura, Saúde, Meio Ambiente, Economia, Indústria, Comércio, Transporte, Comunicações e Defesa Civil;

Reunir especialistas ligados aos temas das • Câmaras Técnicas da Comissão de Comissão de Coordenação de Meteorologia, Climatologia e Hidrologia CMCH - para promover debates e a participação da comunidade em suporte às suas decisões;

Discutir os temas básicos da Meteorologia, • incluindo questões de ensino.

O XV CBMET foi realizado em São Paulo, entre 24 e 29 de agosto de 2008, no Centro de Convenções

Frei Caneca. O local foi excelente, do ponto de vista das facilidades de acesso dos aeroportos, proximidade do metrô e de hotéis de variados preços.

Os números globais de atendimento ao XV CBMET foram (tipologia indicada pelos próprios inscritos no evento):

PERFIL DOS PARTICIPANTESTIPO NÚMEROBiólogo 1Jornalista 1Oceanógrafo 2Tecnologista 4Estagiário 9Bolsista 24Profi ssional 54Nível Médio – Estudante 58Meteorologista 81Pesquisador 115Professor 146Pós-Graduação – Estudante 220Graduação – Estudante 290Sem Descrição 5TOTAL 1010

O mini-curso sobre Empreendedorismo, ministrado pelo Dr. José Augusto Correa, FGV/SP, realizado em 24 de agosto de 2008, contou com a participação 192 inscritos. A exposição do Prof. Dr. José Augusto Correa, especialista no tema, causou impacto por trazer uma visão moderna do empreendedorismo, tanto do ponto de vista do setor

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privado como do setor público. Foram apresentados cases, seguidos de uma discussão iterativa com os participantes. Foram selecionados dois cases para apresentação mais detalhada sendo um do setor privado e outro do setor público: CLIMATEMPO (com o Sr. Carlos Magno) e FUNCEME (com Dr. Eduardo Sávio Passos Rodrigues Martins). Houve também, em menor detalhamento, a exposição sobre o SIMEPAR (com Dr. Cesar Augustus Assis Beneti).

Nos demais dias do evento, foram realizadas palestras, mesas redondas, apresentações de trabalhos na forma oral e painéis, entre outras atividades. Foram proferidas ao todo 15 Palestras, a saber: Palestra 1: Ações Regionais no Quadro das Mudanças Climáticas: caso São Paulo (Dr. Fernando Rei, CETESB), Palestra 2: Monitoramento da Atmosfera (Dr. Antonio Divino Moura, INMET), Palestra 3: Monções nas Américas (Dra. Carolina Susana Vera, Universidade de Buenos Aires), Palestra 4: Meteorologia Urbana e Saúde (Dr. Paulo Afonso de André, FM/USP), Palestra 5: Previsão de Tempo e de Clima e suas Aplicações ao Meio Ambiente (Dra. Maria Assunção F. S. Dias, CPTEC/INPE e IAG/USP), Palestra 6: O Programa da Bacia do Prata - LPB (Dr. Ernesto Hugo Berbery, Universidade de Maryland, EUA), Palestra 7: Hidrologia (Dr. Mario Thadeu Leme de Barros, PHD/EPUSP), Palestra 8: A Meteorologia e a Operação do Sistema Interligado Nacional (Dr. Luiz Guilherme Guilhon, ONS), Palestra 9: Assimilação de Dados (Dr. Arlindo M. da Silva, NASA), Palestra 10: Poluição e Transporte de Poluentes nas Megacidades (Ms. Marcelo Felix Alonso, CPTEC/INPE), Palestra 11: Comunicação Social da Informação em Meteorologia (Dr. Renzo Romano Taddei, UNICAMP), Palestra 12: Sistema de Fomento à Pesquisa no Brasil (Sr. Eugenius Kaszkurewicz, FINEP), Palestra 13: Poluição do Ar: das Emissões Locais aos Efeitos Globais (Dr. Paulo Eduardo Artaxo Netto, IF/USP, Palestra 14: Clima e Segurança Alimentar (Dr. Luiz Cláudio Costa, UFV), Palestra 15: Mudanças Climáticas e Climatologia (Dr. Carlos Afonso Nobre, INPE). Algumas das palestras proferidas durante o XV CBMET estão publicadas no Boletim da SBMET, vol. 32, n0 2-3, ago.dez. 2008.

As Mesas Redondas foram organizadas em três

grandes grupos:(a) Tema central do evento – A Meteorologia e a

Cidade(b) Temas das Comissões da CMCH(c) Temas gerais da Meteorologia

Assim, houve 15 Mesas Redondas, com os seguintes temas:

Mesa Redonda 1: Mudanças Climáticas e Cidades

Mesa Redonda 2: Monitoramento da Atmosfera

Mesa Redonda 3: Monções na América do Sul

Mesa Redonda 4: Meteorologia Urbana e Saúde

Mesa Redonda 5: Previsão de Tempo e de Clima e suas Aplicações

Mesa Redonda 6: O Programa da Bacia do Prata – LPB

Mesa Redonda 7: Meteorologia e Defesa Civil nas Cidades

Mesa Redonda 8: Meteorologia, Climatologia e Hidrologia para o Setor Elétrico

Mesa Redonda 9: Assimilação de Dados

Mesa Redonda 10: Poluição e Transporte de Poluentes nas Megacidades

Mesa Redonda 11: Climatologia e Aplicações

Mesa Redonda 12: Fomento à ações em Meteorologia

Mesa Redonda 13: Rede de Monitoramento e Padrões de Qualidade do Ar

Mesa Redonda 14: Meteorologia e Hidrologia para os Setores de Transporte Aéreo, Aqüaviário e Terrestre

Mesa Redonda 15: Clima, Oceanos e Gelo

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Por fi m, a Mesa Redonda no fi nal do XV CBMET levantou uma série de questões referentes às oportunidades no setor, principalmente trazidas por alunos.

Em resumo, o evento cumpriu os objetivos iniciais da SBMET e ofereceu à CMCH importante contribuição do ponto de vista da avaliação do estado atual da Meteorologia Brasileira e sugestões de como aprimorar a interação entre os vários atores. Para fi nalizar o XV CBMET, a SBMET ofereceu um coquetel de confraternização.

A seguir, apresenta-se um resumo das apresentações das 15 Mesas Redondas realizadas no XV CBMET:

Mesa Redonda 1: Mudanças Climáticas e CidadesCoordenação: Fernando Rei, CETESBDebatedores:Carlos Henrique Fioravanti, Revista Pesquisa FAPESPLaura Valente, ICLEIMorrow Gaines Campbell III, Vitae CivilisTeresinha Maria B. S. Xavier, UFC e ACECI

Morrow Campbell relatou o papel que as energias renováveis podem desempenhar como alternativa energética para as demandas locais privadas e públicas, ilustrando com exemplos de impacto a partir de iniciativas do terceiro setor. Por sua vez, Teresinha Xavier apresentou um estudo comparativo sobre os efeitos das mudanças climáticas em duas grandes cidades brasileiras, São Paulo e Fortaleza, destacando o papel da universidade na geração do conhecimento. Laura Valente apresentou a experiência internacional de uma rede de grandes cidades que buscam gerar sua própria agenda de mitigação e adaptação. Carlos Fioravanti encerrou a apresentação destacando o papel que a mídia pode desempenhar na informação e formação de opinião, a partir de uma experiência britânica. Após caloroso debate, os componentes da mesa acordaram na relevância em engajar a mídia na discussão do problema das mudanças climáticas e as cidades, inclusive com programas de capacitação para jornalistas.

Mesa Redonda 2: Monitoramento da AtmosferaCoordenação: Antonio Divino Moura, INMETDebatedores:Cesar Augustus Assis Beneti, SIMEPAREduardo Sávio Passos Rodrigues Martins, FUNCEMEJaci Maria Bilhalva Saraiva, SIPAMLuiz Augusto Toledo Machado, CPTEC/INPEThyrso Villela Neto, AEB

César Beneti apresentou uma visão geral da missão do SIMEPAR (papel de monitoramento, previsão e desenvolvimento de pesquisas para o aprimoramento dos serviços). A geração de informações meteorológicas e hidrológicas é parte intrínseca na missão da instituição e o faz através da operação de densa rede de estações, radar meteorológico, detecção de descargas elétricas e acesso e processamento de produtos de sensoriamento remoto por satélite. Foi desenvolvido um efi ciente sistema integrado de estimativa de precipitação com produtos de amplo uso no Paraná. A FUNCEME (apresentada pelo Dr. Eduardo Martins) também mantém um sistema de monitoramento hidrometeorológico no Ceará e disponibiliza as informações para o governo estadual e para a sociedade em geral. A FUNCEME utiliza a rede observacional para alimentar modelos regionais de previsão de tempo além do uso das informações para monitoramento climático. O SIPAM (apresentado pela Dra. Jaci Saraiva) tem a responsabilidade pela manutenção dos Sistema de Observação na Amazônia e está dotado de uma ampla rede de superfície, aerológica e de radares meteorológicos. Tanto a FUNCEME como o SIMEPAR e o SIPAM, baseiam-se em dados de uma rede densa de observações fundamentada em estações automáticas. Chamaram a atenção para a necessidade de um efi ciente sistema de manutenção das estações. No caso da Amazônia há uma difi culdade adicional: dimensão da área, que difi culta enormemente a manutenção da rede observacional. Somente do ponto de vista da cobertura por radares, são dez sistemas em operação no momento. Os dados do SIPAM estão sendo gravados e disponíveis para a pesquisa meteorológica.

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A produção de informações de sensoriamento remoto no CPTEC/INPE foi apresentada pelo Dr. Luiz Augusto Toledo Machado. Foram tratados os seguintes aspectos: a) O Sistema Operacional de Observação da Terra e da Atmosfera, b) Produtos Operacionais de Satélites Meteorológicos e Ambientais, c) O Sistema Geonetcast e o GEOSS, d) O Satélite Geoestacionário Brasileiro. Foi enfatizada a necessidade de aplicativos que permitam juntar as informações em sistemas geográfi cos de informação e a necessidade de um efi ciente sistema de transmissão das informações tendo em vista o volume de dados gerados pelo sensoriamento remoto. Por fi m, discutiu-se a necessidade do Brasil ter um Satélite Geoestacionário Brasileiro, posição defendida pelo Dr. Thyrso Villela, da AEB. Concluiu-se que o monitoramento freqüente por sensoriamento remoto (da ordem de minutos) depende, essencialmente, da capacidade de gerenciamento do satélite geostacionário. No momento, o Brasil depende do GOES10 que já apresenta algumas defi ciências nos sensores.

O Dr. Antonio Divino Moura comentou que o INMET tem hoje uma notável rede de observações sobre o Brasil e que os dados recentes estão todos disponíveis em meios digitais de acesso público irrestrito. Dados passados dependem de processamento. A rede do INMET, em conjunto com as redes regionais, hoje bem mais integradas, coloca o Brasil numa posição de destaque no cenário internacional.

Mesa Redonda 3: Monções na América do SulCoordenação: Pedro Leite S. Dias, LNCC e IAG/USPDebatedores:Alice Marlene Grimm, UFPRFabio Ricardo Marin, EMBRAPA/CNPTIAJose Antonio Marengo, CPTEC/INPELeila Maria Véspoli Carvalho, IAG/USP

A visão geral das principais características das monções na América do Sul sob o ponto de vista da evolução sazonal, variabilidade interanual e previsiblidade foi dada pela Profa. Alice Grimm.

Ela chamou a atenção para o fato de os modelos previsores usadas na escala sazonal apresentarem baixa previsibilidade no Brasil Central. Sua apresentação realçou o potencial impacto da umidade do solo nos processos que controlam a evolução temporal da chuva, fator este não bem reproduzido nos modelos. Fabio Marin falou sobre a importância das Monções na América do Sul para a Agricultura. Mostrou que a agricultura brasileira cresceu muito nos últimos 30 anos e como é dependente do regime de chuvas. Discutiu como o início da estação chuvosa e qualidade da mesma são relevantes em diferentes fases das culturas e como variedades diferentes, por exemplo, do milho, podem ser usadas dependendo das previsões da data de início da estação chuvosa em função do impacto que pode ter na safrinha. Por fi m, mostrou que melhores previsões podem levar a signifi cativo aumento da produtividade nacional.

A Profa. Leila Carvalho mostrou que é preciso estabelecer um índice capaz de caracterizar a monção em grande-escala na América do Sul que seja efi ciente para : a) Caracterizar as monções com respeito à precipitação, circulação, termodinâmica, b) identifi car a ZCAS e sua atividade oceânica, c) representar a variabilidade de baixa frequência (intrasazonal a decadal) da monção e da ZCAS, d) que este índice de monitoramento deve ser contínuo no tempo para caracterizar o estágio da monção em tempo real. Uma proposta de índice foi apresentada, baseada na técnica de Análise de Componentes Principais Multivariada. Propõe-se que este índice seja usado nos Centros Operacionais para caracterizar o estado das monções.

José Antonio Marengo trouxe a perspectiva das monções nos cenários do IPCC. Há indícios de mudanças signifi cativas no fl uxo de vapor d’água da Bacia Amazônica para a Bacia do Prata. Entretanto, há muita divergência entre os modelos. Discutiu também a importância da interação entre a fl oresta e o clima regional e o potencial impacto das alterações no regime chuvoso sobre os ecossistemas regionais, que são fundamentalmente dependentes do regime de chuvas de monções, e a importância de melhorar a representação dos processos de superfície nos modelos do IPCC.

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As apresentações indicam que houve, claramente, uma evolução muito grande em nosso conhecimento sobre as monções e que é preciso introduzir novas métricas nos serviços operacionais para avaliação do estado das monções e que os modelos previsores podem ser aprimorados com um melhor tratamento dos processos de superfície.

Mesa Redonda 4: Meteorologia Urbana e SaúdeCoordenação: Maria de Fátima Andrade, IAG/USPDebatedores:Bernardo Rangel Tura, INCEliane Ignotti, UNEMATFábio Luiz Teixeira Gonçalves, IAG/USPPaulo Sérgio Lúcio, UFRN

Todos os debatedores fi zeram suas apresentações e a audiência formulou várias perguntas. O Dr. Bernardo Rangel apresentou resultados de um modelo termodinâmico aplicado ao conceito de fatores que determinam o tempo de vida. A Dra. Eliane apresentou resultados do impacto das queimadas sobre a saúde no contexto do Projeto LBA. O Prof. Fábio fez uma apresentação sobre a relevância dos parâmetros bio-meteorológicos sobre a saúde humana, discutindo impactos de temperatura, umidade e pressão, enquanto o Dr. Paulo Sérgio apresentou um modelo de tratamento de extremos de variáveis meteorológicas sobre a saúde humana.

As perguntas formuladas pela platéia relacionaram-se com os efeitos das variáveis meteorotrópicas e de poluentes sobre a saúde humana. Questionaram o papel da umidade e da temperatura no bem-estar. No fi nal as recomendações concentraram-se na necessidade de mais trabalhos em conjunto entre os diferentes pesquisadores das diversas áreas. Há muitas informações que não estão sendo consideradas nas abordagens individuais de cada pesquisador, mas que resultariam em avanços nas determinações das inter-relações entre os diferentes efeitos.

Mesa Redonda 5: Previsão de Tempo e de Climae suas Aplicações

Coordenador: Tercio Ambrizzi, IAG/USPDebatedores:Alexandre Bernarndes Pezza, Universidade de MelbourneÊnio Pereira de Souza, UFCGIsimar de Azevedo Santos, UFRJReinaldo Silveira, SIMEPAR

A Mesa Redonda 5 foi aberta pelo Coordenador mencionando a importância sócio-econômica atual das previsões de tempo e clima para o país e como podem ser aplicadas para os diversos setores da sociedade. O debate contou com a participação de 5 especialistas de diferentes instituições de ensino e pesquisa e da iniciativa privada. A primeira palestra foi proferida pelo Dr. Ênio Pereira, que descreveu o sistema SegHidro e como tem sido usado para previsões de tempo em outras áreas fora da Meteorologia como, por exemplo, hidrologia e geração de energia na Paraíba. O Dr. Isimar Santos comentou sobre as atividades didáticas e operacionais do Laboratório de Prognósticos de Mesoescala da UFRJ, onde através da utilização de diferentes modelos de área limitada, alunos e professores podem desenvolver seus estudos de pesquisa e aprimoramento da qualidade das previsões de tempo para o Rio de Janeiro provenientes dos mesmos. A terceira apresentação foi feita pelo Dr. Reinaldo Silveira, que falou sobre o Projeto SIMPAT do INMET, focando sobre o uso da Previsão de Tempo e Clima para auxílio em alertas da Defesa Civil e sobre o Projeto de Demonstração da OMM de Previsão de Eventos Severos utilizando Ferramentas de Previsão Numérica do Tempo.” Por último, o Dr. Alexandre Pezza descreveu a previsão de tempo (incluindo nowcasting), e um pouco da previsão de clima na Austrália. Comentou que o sistema é centralizado e 99% das previsões são emitidas ofi cialmente pelo governo (Bureau of Meteorology). Desta forma, mostrou como o sistema do Bureau funciona e comentou sobre alguns dos desenvolvimentos recentes de software e aplicação

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atuais. Ao fi nal das apresentações, abriu-se o debate para a audiência que fez várias perguntas de esclarecimento aos palestrantes. Entre elas, discutiu-se a importância dos dados meteorológicos para a previsão de tempo e de clima e sua disponibilidade, qual a importância das previsões climáticas para a comunidade em geral, e algumas perguntas específi cas sobre estudos de viabilidade de energia eólica e sua relação com o clima regional. De forma geral, o debate foi importante para a comunidade e ampliou nossos conhecimentos sobre as possibilidades de aplicação das previsões de tempo e clima feitas em nosso país atualmente.

Mesa Redonda 6: O Programa da Bacia do Prata – LPB

Coordenador: Ernesto Hugo Berbery, MarylandDebatedores:Andrea Celeste Saulo, Universidade de Buenos AiresCarlos Augusto Morales Rodrigues, IAG/USPHumberto Ribeiro da Rocha, IAG/USPWalter Collischonn, IPH/UFRGS

Humberto Ribeiro da Rocha discorreu sobre a combinação da evaporação e do fl uxo de calor sensível que é um dos fatores que estimulam a formação de nuvens cumuliformes, que podem tornar-se sistemas precipitantes, principalmente nas regiões tropicais. O padrão continental de evaporação mostra na região da bacia do Prata um forte gradiente com máximos à leste e mínimos a leste. A correta previsão da partição de energia nas áreas centrais (intermediárias) é potencialmente uma das chaves para a melhoria da estimativa da precipitação e a performance dos modelos hidrológicos.

Na apresentação de Carlos Augusto Morales Rodriguez, foi apontado que a Bacia do Prata contempla um grande número de tempestades severas e sistemas precipitantes volumosos, porém, a sua caracterização ainda depende de medidas feitas por satélites (Tropical Rainfall Measuring Mission – TRMM e GOES), uma vez que a região apresenta uma baixa densidade de instrumentos (radares meteorológicos e tipping buckets). Apesar do monitoramento contínuo

por satélites, as estimativas de precipitação horárias ainda são imprecisas e dependem basicamente do tipo de sistema observado. Finalmente, levantou-se uma discussão sobre o controle de qualidade dos dados (pluviômetros e radares meteorológicos) e como os dados de chuva podem ser úteis para a calibração dos modelos de estimativa de precipitação.

Para Celeste Saulo, o Programa científi co da bacia do Prata apresenta uma oportunidade única para o estado dos processos de interação entre o superfi cie/atmosfera/hidrosfera, numa região estratégica par o desenvolvimento da América do Sul. A bacia do Prata conta com uma grande diversidade de modelos prognósticos e é possível construir um super-conjunto para estimar a probabilidade de ocorrência dos eventos meteorológicos. A comparação das previsões com as observações permite identifi car um viés frio que tem signifi cativo impacto no acoplamento entre o solo e a atmosfera. Os prognósticos de precipitação mostram grande dispersão e observa-se a necessidade de mais dados de precipitação para a validação dos resultados dos modelos.

O tema principal da apresentação de Walter Collischonn foi mostrar as experiências de integração entre meteorologia e hidrologia para a realização de previsões de vazão úteis na área de recursos hídricos na região da Bacia do Prata. Foram apresentados exemplos dos rios Grande e Paranaíba, formadores do rio Paraná. Também foram comentados resultados de previsão de médio prazo na bacia incremental próxima a Itaipu, entre dois grandes aproveitamentos hidrelétricos: Porto Primavera e Itaipu. Com relação à climatologia e às mudanças climáticas foram apresentados resultados de simulações hidrológicas baseadas na climatologia do modelo global do CPTEC, que conta com 50 anos de dados. Os dados de precipitação da climatologia do modelo global foram utilizados para gerar vazões em diferentes locais ao longo da bacia do rio Grande, e os resultados foram analisados em termos de capacidade de reproduzir a magnitude de eventos extremos. Os resultados mostram que o modelo global é capaz de reproduzir adequadamente as magnitudes dos eventos extremos que causam cheias nesta bacia. No que se refere à

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modelagem hidrológica para a obtenção de previsões de vazão, novos desenvolvimentos devem passar por uma maior integração dos módulos de balanço hídrico de superfície, incluindo o papel da vegetação (SVATs) e pela incorporação de metodologias de assimilação de dados em modelos hidrológicos.

Conclusões e Recomendações dessa Mesa: As apresentações foram focadas nos temas críticos para a bacia do Prata, desde o ponto de vista das observações e dos modelos hidrológicos e atmosféricos. Houve concordância entre os apresentadores de que a obtenção dos fl uxos de superfície (calor latente e sensível) e outras propriedades como umidade do solo, constituem requisitos indispensáveis para a melhoria da qualidade dos prognósticos. Foi proposto um pequeno grupo coordenador para avaliar a questão das observações por radar, com membros das instituições interessadas no Brasil, Argentina e Paraguai.

Mesa Redonda 7: Meteorologia e Defesa Civil nas Cidades

Coordenação: Agostinho Tadashi Ogura, IPT/SPDebatedores:Adilson Nazário, CGE/SPHugo José Braga, CIRAM/EPAGRIToni Kasai, Casa Civil do Governo Estado São PauloRicardo Neiva D’Orsi, Fundação GeoRio

O Centro de Gerenciamento de Emergências da Prefeitura de São Paulo, CIRAM em Santa Catarina, a Casa Civil em São Paulo e a Fundação GeoRio, fazem o monitoramento das condições meteorológicas adversas e atuam no sentido de minimizar os transtornos causados pelas chuvas, ventos e outras situações climáticas extremas como secas e períodos de umidade muito baixa. Fazem amplo uso do sistema de observações e estão conectados aos Centros previsores. Uma característica importante da Defesa Civil é o caráter multidisciplinar de suas equipes. Ressaltou-se a importância das pesquisas sobre eventos extremos, como o caso do Furacão Catarina em 2004. Por fi m, Tono Kasai e Ricardo

D’Orsi realçaram a preocupação com as mudanças climáticas. Há uma preocupação crescente por parte da Defesa Civil com relação à possibilidade de eventos extremos mais freqüentes e/ou mais intensos.

Mesa Redonda 8: Meteorologia, Climatologia e Hidrologia para o Setor Elétrico

Coordenação: Benedito P. F. Braga, ANADebatedores:Carlos Augusto Morales Rodrigues, IAG/USPEduardo Alvim Leite, SIMEPAROswaldo Enrique Calisto Acosta, ANEELWalter Collischonn, IPH/UFRGS

O ponto que fi cou muito claro nesta mesa foi sobre a necessidade de bons sistemas de monitoramento hidrometeorológico e sistemas de previsão em tempo real que levem em conta a incerteza na previsão. Ficou evidente também que o setor elétrico deveria institucionalizar a metodologia de previsão de afl uências para fazer a operação de curto prazo. Há também a necessidade de se investigar mais profundamente a utilização de sensoriamento remoto (radar e satélite) para melhorar a qualidade da previsão hidrológica em bacias hidrográfi cas de maior porte (caso dos reservatórios do setor elétrico).

Mesa Redonda 9: Assimilação de DadosCoordenação: Maria Assunção F. S. Dias,

CPTEC/INPE e IAG/USPDebatedores:Clemente Augusto Souza Tanajura, UFBADirceu Luis Herdies, CPTEC/INPEHaroldo Fraga de Campos Velho, LAC/INPELuis Gustavo G. de Gonçalves, NASA/GSFC e ESSIC/UMD

A Mesa Redonda enfocou diversos aspectos da assimilação de dados passando pela área mais operacional e os aspectos básicos de pesquisa. O Dr. Tanajura enfocou aspectos de assimilação oceânica, o Dr. Dirceu Herdies apresentou o status atual e as perspectivas da assimilação no CPTEC/INPE, o Dr. Haroldo Velho enfocou o uso de redes neurais e o Dr.

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Gonçalves, a assimilação de dados de superfície. O debate ressaltou o grande avanço nessa área obtido pelas instituições brasileiras nos últimos anos e a grande possibilidade de agregação de esforços.

Mesa Redonda 10: Poluição e Transporte de Poluentes nas Megacidades

Coordenação: Olimpio Melo Alvares Jr., CETESBDebatedores:Aline Sarmento Procópio, UFRJEdmilson Dias de Freitas, IAG/USPMarcelo Felix Alonso, CPTEC/INPEMaurício Osses Alvarado, Universidade do Chile

Mauricio Osses discorreu sobre o Projeto SAEMC - South America Emissions, Megacities and Cimate Change, que produzirá cenários de emissões locais e globais com ênfase nas megacidades, incluindo levantamento de fatores de emissão locais de fontes móveis por meio de medições e técnicas de modelagem inversa. Aline Procópio falou sobre a avaliação de poluentes atmosféricos com sensoriamento remoto por satélite, que tem boa resolução espacial, mas ainda não conta com resolução temporal satisfatória. As avaliações de poluentes por satélite, segundo Aline, complementarão as informações de qualidade do ar de redes locais de medição. Por sua vez, Edmilson Freitas falou sobre a modelagem de transporte de poluentes em escala regional em grandes centros urbanos, como a Região Metropolitana de São Paulo. Apresentou exemplos de modelos numéricos de previsão de tempo, que auxiliam na avaliação da qualidade do ar - duas versões do modelo BRAMS, utilizadas pelo CPTEC/INPE e IAG/USP. Finalmente, Marcelo Alonso do CPTEC/INPE discorreu sobre o Modelo CCATT-BRAMS (Coupled Chemistry Aerosol and Tracer Transport model to the Brazilian Developments on the Regional Atmospheric Modeling System), nova versão do sistema CATT, operacional no CPTEC/INPE. Foram apresentados durante a seção alguns resultados de simulações numéricas para mostrar a infl uência

das plumas urbanas em áreas distantes centenas de quilômetros das megacidades. Além das perguntas referentes aos assuntos diretamente abordados pelos palestrantes, houve interesse da audiência sobre o futuro dos programas de controle de emissões de fontes móveis no Brasil, e a polêmica sobre a necessidade de redução do teor de enxofre nos combustíveis, respondidas pelo Coordenador da Mesa.

Mesa Redonda 11: Climatologia e AplicaçõesCoordenação: Maria Gertrudes Justi da Silva,

UFRJ e SBMETDebatedores:Alice Marlene Grimm, UFPREduardo Delgado Assad, EMBRAPA/CNPTIAJose Antonio Marengo Orsini, CPTEC/INPE

Foi mostrado como resultados signifi cativos no aumento da produtividade e na economia de recursos podem ser conseguidos com a aplicação das informações meteorológicas já existentes e disponíveis. Nesta mesa redonda todos os seus membros enfatizaram a necessidade de se contar com séries históricas de dados meteorológicos para as diversas aplicações, o que ainda é lento e burocrático, dependendo das informações necessárias. É consenso que só com dados de qualidade e de fácil e livre acesso, teremos uma melhor compreensão do clima e da sua variabilidade nas diversas escalas espaciais e de tempo. Os membros desta mesa redonda acreditam que a defi nição de uma política efetiva de disponibilização das informações básicas de tempo e clima, redundará em crescimento signifi cativo do conhecimento científi co, e que viabilizará os meios para a efetiva aplicação dessas informações nos diversos setores produtivos da economia no país. Reconheceram a importância do investimento que está sendo feito pela FINEP no levantamento da situação dos dados do INMET e na quantifi cação de recursos para sua recuperação e disponibilização aos diversos setores da sociedade brasileira.

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Mesa Redonda 12: Fomento à Ações em Meteorologia

Coordenação: Maria Assunção F.S. Dias, CPTEC/INPE e IAG/USP

Debatedores:Darly Henriques da Silva, MCTOscar de Moraes Cordeiro Netto, ANA

A Mesa Redonda 12 teve a participação da Agência Nacional das Águas (ANA) através do Dr. Oscar de Moraes Cordeiro Netto, o qual fez uma apresentação das diversas interfaces entre o manejo das águas e a Meteorologia. A Dra. Darly Henriques da Silva anunciou as diversas atividades de fomento apresentadas pelo MCT. O debate ressaltou o aumento nas oportunidades de fi nanciamento para a área e a necessidade da SBMET realizar gestões junto aos participantes dos Fundos Setoriais para incremento das ações específi cas na área de Meteorologia.

Mesa Redonda 13: Rede de Monitoramento e Padrões de Qualidade do Ar

Coordenação: Jesuino Romano, CETESBDebatedores:José Arnaldo Sales, FEEMAMaria Lúcia Gonçalves Guardani, CETESB

O debatedor José Arnaldo Sales apresentou uma visão panorâmica do problema da poluição do ar no estado do Rio de Janeiro, em especial a Região Metropolitana, com ênfase à topografi a local, que infl uencia fortemente as condições de dispersão e consequentemente, a qualidade do ar na região em função do grande número de fontes de poluição na região. Tal fato levou à distinção e denominação das diferentes bacias aéreas para essa região. Também apresentou o estágio atual do inventário das fontes móveis (veicular) e fi xa (industrial) em meio digitalizado, o que facilita enormemente a FEEMA, no conhecimento do problema da poluição e no estabelecimento de programas para abater as emissões atmosféricas. Por último, foram apresentados os resultados do monitoramento dos poluentes, com destaque ao material particulado e ozônio devido às altas concentrações registradas na atmosfera, em

especial a Bacia Aérea II. A debatedora Maria Lúcia Gonçalves Guardani apresentou uma classifi cação das estações da rede de monitoramento da CETESB no que concerne ao alcance e representatividade da medida do poluente bem como os resultados obtidos ao longo dos últimos anos quanto às tendências, bem como a comparação com os padrões de qualidade do ar nacionais. Também apresentou a forma como os resultados do monitoramento são divulgados diariamente na internet. Aproveitando o tempo disponível, o Coordenador fez uma breve apresentação dos novos Valores Guia e Valores Intermediários da Organização Mundial da Saúde (OMS), seus critérios para adoção e comparou-os com os padrões de qualidade do ar da Legislação Brasileira. As perguntas formuladas pela platéia relacionaram-se ao interesse de acesso aos dados da FEEMA, esclarecimentos sobre alguns slides apresentados, a importância da qualidade dos dados e da necessidade de discussão e revisão dos nossos padrões atuais de qualidade do ar.

Mesa Redonda 14: Meteorologia e Hidrologia para os Setores de Transporte Aéreo, Aqüaviário e Terrestre

Coordenação: Antonio Fernando Garcez Faria, CHMDebatedores:Artur Luiz Souza dos Santos, FENSEGCarlos Augusto Chaves Leal Silva, CHMMarcos Massari, SOMARMartim Roberto Matschinske, DECEA

A FENSEG divulgou diversos resultados sobre eventos meteorológicos extremos e sua correlação com as perdas das seguradoras no Brasil e no mundo, onde, constatou-se um grande volume de recursos destinados a este tipo de sinistro especifi camente em relação a outras modalidades seguradas. A SOMAR Meteorologia mostrou a infl uência da chuva no trânsito das grandes cidades, em especial na cidade de São Paulo, devido à ocorrência de tempestades e grandes enchentes típicas de verão. Fatores problemáticos como a invasão de leito de córregos, lixos e detritos em curso de água, erosão pelas ocupações irregulares, acumulo de lixo e falta de manutenção das vias

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agravam mais ainda essa situação caótica do trânsito. Em parceria com a Defesa Civil do Estado de São Paulo no Centro de Gerenciamento de Emergências tem o objetivo de minimizar os transtornos causados pelas chuvas com alertas de curtíssimo prazo, emitindo boletins diários de previsão de tempo para o Estado, monitorando as chuvas e emitindo alertas de enchentes, funcionando durante 24h nos meses chuvosos da região. Outra parceria se dá com a empresa de seguros Porto Seguro, traçando novas rotas e mapas das regiões alagadas para minimizar o número de ocorrências de sinistro devido a regiões com alagamentos. O DECEA mostrou a importância do serviço do meteorologista através de impactadores operacionais, onde os usuários da Meteorologia Operacional antes e durante o vôo procuram o objetivo fi nal (efi ciência) do serviço prestado nas informações (existentes e previstas) sobre as condições meteorológicas nos aeródromos e em rota. Foram apresentadas condições meteorológicas mínimas operacionais dos principais aeroportos em relação a teto e visibilidade, em diversas fases do vôo (decolagem, subida, em rota, em aproximação e pouso). A contribuição da sua rede de estações (superfície, altitude e radar meteorológico) e da rede de centros meteorológicos monitorando, em tempo real, as condições adversas do tempo, serve de auxílio à aviação, no que tange à segurança nas condições de vôo. Os principais produtos disponibilizados são: avisos de aeródromos, previsão de área para vôos em baixos níveis, previsão de tempo signifi cativo em rotas, vento e temperatura em altitude, previsão de aeródromo. As perspectivas de aumento no tráfego aéreo foram apresentadas, estando atreladas a novas metodologias e desenvolvimento tecnológico da meteorologia para reduzir os atrasos provocados pelo mau tempo, utilizando a modelagem numérica de alta resolução, redes neurais e a mineração de dados. O Serviço Meteorológico Marinho do Centro de Hidrografi a da Marinha (CHM) vem disponibilizando previsões meteorológicas e avisos de mau tempo (vento, mar, ressaca e baixa visibilidade) para o setor de transporte aquaviário em sua área de responsabilidade (METAREA V), onde se observa um grande fl uxo de transporte de mercadorias (importação e exportação) pelos meios

mercantes, a crescente exploração turística da costa brasileira e também para a salvaguarda da vida no mar. Outro ponto importante são as previsões especiais destinadas à ocorrência de SAR (salvamento e resgate) utilizando os produtos oferecidos (cartas sinóticas, boletins meteorológicos e climáticos) e pelo Projeto SARMAP em parceria com a PETROBRAS, simulando a deriva de objeto no mar a partir de sua última posição, conhecida com simulação de posição válida para 72h. Essas informações são disseminadas pela internet, via satélite, rede nacional de estações costeiras, radiofacsímile e radioteleimpressão.

O teor das apresentações e as questões formuladas no período de debates deixaram clara a importância da METEOROLOGIA e da HIDROLOGIA como ferramentas de planejamento e operação do sistema de transporte em seus modais aéreo, terrestre e aqüaviário. Adicionalmente, em função das necessidades desses setores demandarem previsões que vão desde a escala sinótica até a local, abrangendo também diferentes escalas temporais, torna-se necessário que a Câmara Técnica da CMCH, dedicada ao apoio a esse setor, promova um amplo debate envolvendo as Instituições Federais, Estaduais e Municipais, bem como os usuários fi nais. Tal medida visa estabelecer uma política voltada para o desenvolvimento de Centros locais e aprimoramento dos Centros regionais e nacionais de forma a identifi car as ações e os recursos necessários para prover informações confi áveis que atendam essas diferentes demandas que impactam diretamente no Custo Brasil.

Mesa Redonda 15: Clima, Oceanos e GeloCoordenação: Paulo Nobre, CPTEC/INPEDebatedores:Edmo Campos, IO/USPFlávio Barbosa Justino, UFVJefferson Cardia Simões, UFRGSRicardo de Camargo, IAG/USP

A mesa redonda sobre o papel dos oceanos e do gelo no clima contou com a presença de todos os palestrantes convidados. As atividades tiveram início com algumas palavras do Presidente da Mesa, que apresentou alguns

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slides para introduzir os temas a serem debatidos pelos debatedores. Em seguida, apresentaram suas palestras o Dr. Edmo Campos, que falou sobre a importância do acoplamento oceano-atmosfera para os estudos e previsibilidade climática sazonal a decadal; Na seqüência, falou o Dr. Flavio Justino, sobre as eras glaciais passadas e a dinâmica climática de escalas de tempo milenares. Em seguida, a palestra do Dr. Jefferson Simões sobre glaciologia e seus impactos no clima, revelando recente

descoberta de rede de drenagem de rios e lagos sob o manto gelado da Antártica. Por fi m, ouvimos a palestra do Dr. Ricardo de Camargo sobre variabilidade climática intrasazonal e seu acoplamento com os oceanos. Foi então aberta a palavra para a audiência, que questionou os palestrantes nos temas de suas apresentações. Por fi m a mesa de debate teve seu encerramento com as palavras de síntese do Presidente da mesa.

XV CONGRESSO BRASILEIRO DE METEOROLOGIA: TRABALHOS PREMIADOS

Tema: AgrometeorologiaMODELO DE ESTIMATIVA DE RENDIMENTO DE GRÃOS DE ARROZ IRRIGADO PARA O ESTADO DO RIO GRANDE DO SULEliana Veleda Klering, Denise Cybis Fontana, Moacir Antonio Berlato, Alberto Cargnelutti Filho

Tema: Assimilação de DadosAVALIAÇÃO DO IMPACTO DA ASSIMILAÇÃO DE PERFIS DE ALTURA GEOPOTENCIAL PROVE-NIENTES DO SENSOR AIRS PELO SISTEMA DE ASSIMILAÇÃO RPSAS DO CPTECCarlos Frederico Bastarz, Dirceu Luiz Herdies, Tatiane Felinto Barbosa, Jairo Geraldo Gomes Junior

Tema: BiometeorologiaVARIÁVEIS METEOROLÓGICAS E O COMPOR-TAMENTO FENOLÓGICO DE PLANTAS EM ÁREA URBANA NA CIDADE DE CURITIBA, PARANÁ, BRASILLuciana Leal, Daniela Biondi, Antonio Carlos Batista

Tema: ClimatologiaPECULIARIDADES DO CICLO DIÁRIO DE TEM-PERATURAS DO AR OBSERVADAS NA ESTAÇÃO ANTÁRTICA COMANDANTE FERRAZAntonio Gabriel Pontes e Dechiche¹ & Alberto Setzer²

Tema: Dinâmica e Modelagem AtmosféricaRESULTADOS PRELIMINARES DE UM SIMPLES ACOPLAMENTO ENTRE AS PARAMETRIZA-ÇÕES FÍSICAS DE CÚMULOS RASOS E PRO-

FUNDOS: EFEITO NA SIMULAÇÃO DO CICLO DIURNO E INTENSIDADE DA PRECIPITAÇÃOCláudio Moisés Santos e Silva, Saulo Ribeiro de Frei-tas, Ralf Gielow

Tema: HidrometeorologiaORGANIZAÇÃO ESPACIAL DA PRECIPITAÇÃO NO ESTADO DE SÃO PAULOLuciana Figueiredo Prado, Augusto José PereiraFilho, Gré de Araújo Lobo, Ricardo Hallak

Tema: Meteorologia AmbientalMODELAGEM COMPUTACIONAL SIMPLIFICA-DA DA CINÉTICA DE FORMAÇÃO DO OZÔNIO TROPOSFÉRICOLeonardo Aragão Ferreira da Silva e Luiz Cláudio Gomes Pimentel

Tema: Meteorologia Aeronáutica e MarinhaANÁLISE E VERIFICAÇÃO ESTATÍSTICA DAS SIMULAÇÕES NUMÉRICAS DE ALTA RESOLUÇÃO PARA A FORÇA AÉREA BRASILEIRA (FAB)Gabriela Joly, Mariana Palagano, Ricardo Marcelo da Silva, Audálio R. T. Junior

Tema: Meteorologia Física e RadarAVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES ATMOSFÉRICAS PREDOMINANTES DURANTE UM EVENTO DE TEMPO SEVERO EM CAMPINAS DO SUL-RSAline Bilhalva da Silva, Paulo Roberto Pelufo Foster, Maria Helena de Carvalho

APRESENTADOS COMO PÔSTER

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Tema: AgrometeorologiaUTILIZAÇÃO DE DADOS OBSERVACIONAIS E DE PREVISÃO DE TEMPO (MODELO ETA40) PARA O MONITORAMENTO E PREVISÃO DE DOENÇAS FOLIARES NA CULTURA DA SOJA.Rodrigo Yoiti Tsukahara, Franscielly Aparecida Mar-quardt, Caroline Vidal Ferreira da Guia

Tema: ClimatologiaVARIABILIDADE INTRA-SAZONAL DA ZONA DE CONVERGÊNCIA DO ATLÂNTICO SULAna Elizabethe da Silva, Leila Maria Véspoli de Car-valho

MÉTODO OBJETIVO QUE IDENTIFICA VÓRTICE CICLÔNICO EM ALTOS NÍVEIS NA REGIÃO TROPICALMichelyne Duarte Leal Coutinho, Manoel Alonso Gan, Vadlamudi Brahmananda Rao

Tema: Dinâmica e modelagem atmosféricaESTUDO DA PREVISIBILIDADE DO CICLONE CATARINA A PARTIR DAS PREVISÕES DE TEMPO POR CONJUNTO DO CPTEC/INPEAntônio Marcos Mendonça e José Paulo Bonatti

Tema: HidrometeorologiaVARIAÇÕES SIGNIFICATIVAS DE EVENTOS EXTREMOS DE PRECIPITAÇÃO E DE VAZÃO DURANTE EPISÓDIOS EL NIÑO E LA NIÑARenata Gonçalves Tedeschi, Alice Marlene Grimm

Tema: Meteorologia FísicaÍNDICES DE INSTABILIDADE E TEMPESTADES SEVERAS NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULOAna Carolina Nóbile Tomaziello, Adilson Wagner Gandu

TRABALHOS ORAIS PREMIADOS

Tema: Meteorologia por SatéliteCARACTERIZAÇÃO PRELIMINAR DOS SISTE-MAS METEOROLÓGICOS ASSOCIADOS À PRE-CIPITAÇÃO NO CENTRO DE LANÇAMENTO DE ALCÂNTARASheila Santana de Barros, Marcos Daisuke Oyama

Tema: Meteorologia SinóticaEVENTOS EXTREMOS DE PRECIPITAÇÃO NO ESTADO DO AMAZONASMonique Brasil de Souza, Ana Cris Souza de Oliveira, Jaci Maria Bilhalva Saraiva, Diego Silva Oliveira.

Tema: Meteorologia de MesoescalaCONTRIBUIÇÃO DA UMIDADE PROVENIENTE DA AMAZÔNIA E PANTANAL SOBRE A PRECIPI-TAÇÃO NA BACIA DO PRATAMarília Guedes do Nascimento , Carlos Frederico de Angelis, Diego Oliveira de Souza

Tema: Meteorologia MarinhaINCLUSÃO DOS PROCESSOS RADIATIVOS ASSOCIADOS ÀS MASSAS D’ÁGUA NA MOD-ELAGEM DA CIRCULAÇÃO DO ATLÂNTICO SUDOESTECaroline R. Mazzoli da Rocha, Audalio Rebelo Torres Júnior

Tema: Meteorologia por SatéliteHYDROTRACK: UMA FERRAMENTA PARA PRE-VISAO IMEDIATA DA PRECIPITAÇÃOAlan James Peixoto Calheiros, Luiz Augusto Toledo Machado

Tema: Meteorologia SinóticaCARACTERIZAÇÃO ESPACIAL DOS EVENTOS DE ZCAS NOS VERÕES DE 2005/2006 E 2006/2007Felipe Marques de Andrade e Edilson Marton

Tema: Meteorologia RadarADAPTAÇÃO DO SISTEMA FORTRACC PARA USO COM DADOS DE RADARAntônio Paulo de Queiroz, Luiz Augusto Toledo Machado

Tema: MicrometeorologiaTROCAS DE ENERGIA ENTRE A FLORESTA E A ATMOSFERA EM SÃO GABRIEL DA CACHOEIRAMaria Betania Leal de Oliveira, Antonio Ocimar Mansi, Marta de Oliveira Sá, Maria Rosimar P. S. Fernandes

EXPEDIENTEda SBMET

Tema: MicrometeorologiaFLUXOS TURBULENTOS E BALANÇO DE ENER-GIA SOBRE UMA CULTURA DE ARROZ IRRIGADOJanaína V. Carneiro, Cláudio Teichrieb, Hans Zim-ermann, Osvaldo L. L. Moraes , Otávio C. Acevedo

Tema: Variabilidade e Mudanças ClimáticasANÁLISE PRELIMINAR DA TSM NOS MODELOS ACOPLADOS UTILIZADOS NO IPCC-AR4Henrique de M. Jorge Barbosa e Jose Antonio Marengo

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Tema: Variabilidade e Mudanças ClimáticasSIMULAÇÃO DO CLIMA DO ÚLTIMO MÁXIMO GLACIAL COM UM MODELO ESTATÍSTICO-DINÂMICOMarilia Harumi Shimizu, Vadlamudi Brahmaanda Rao, Sergio Henrique Franchito

PRÊMIOS “SAMPAIO FERRAZ” E “ADALBERTO SERRA” ENTREGUES EM 2008

A SBMET deverá agraciar, durante o XV Congresso Brasileiro de Meteorologia, as seguintes personalidades:

PREMIO SAMPAIO FERRAZ - concedido para personalidades que se destacaram na área da meteorologia operacional

- Antonio Divino Moura e equipe de meteorologistas do INMET

Justifi cativa:Pela modernização e ampliação da rede de superfície do INMET, com a implantação da automatização e telemetria e inicio da disponibilização, em tempo real, dos dados dessa rede, colocando-os disposição da comunidade.

- Luiz Augusto Toledo Machado e equipe do DSA-CPTEC-INPE

Justifi cativa:Responsáveis pela implantação de um sistema de informações de produtos de satélite meterológicos que vem disponibili-zando esses produtos à comunidade, de forma ágil e amigável e em tempo real, ao longo do últimos anos, incluindo bases de dados históricas.

PREMIO ADALBERTO SERRA - concedido a pesquisadores que contribuíram de forma signifi cativa para a ciências at-mosféricas

- Sócios da SBMET que participaram diretamente da elaboração do IV Relatório do IPCC em 2007:

Carlos Afonso Nobre, José Antônio Orsini Marengo, Luiz Gylvan Meira Filho e Pedro Leite Da Silva Dias

Justifi cativa:Reconhecimento à enorme contribuição científi ca que deram à pesquisa que contribuiu para a composição do referido relatório.

- Vernon Kousky

Justifi cativa:O Vernon Kousky chegou no Brasil como professor do IAG/USP em 1975. Em 1977 passou para o INPE onde desenvolveu pesquisas sobre Meteorologia Sinótica, trazendo inovações metodológicas. Suas atividades não se restringiram à Sinótica. Incentivou trabalhos de modelagem atmosférica e de climatologia dinâmica. Sua contribuição para o entendimento dos impactos do ENOS na América do Sul foi notável, construindo-se em referência internacional sobre o tema até hoje. Tam-bém foi notável a contribuição do Dr. Kousky na formação de recursos humanos. Seus ex-alunos e colaboradores exercem importante papel da Meteorologia Brasileira.

COMUNICADO SBMET

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Boletim SBMET ago.-dez. 2008EXPEDIENTEda SBMET

COMEMORAÇÃO DOS 50 ANOS DA SBMET

Em 2008, a Sociedade Brasileira de Meteorologia (SBMET) completa 50 anos de existência!

Fundada em 29 de dezembro de 1958, a SBMET é uma sociedade civil, de características técnico-científi ca e profi ssional, sem fi ns lucrativos, de duração ilimitada, com sede e Foro na cidade do Rio de Janeiro.

Para comemorar a data, a Diretoria Executiva em exercício lançou semanalmente, de maio até agosto, 15 pequenos clipes com imagens que fi zeram parte da trajetória da Sociedade Brasileira de Meteorologia. A reconstituição da História da SBMET fi cou sob a Coordenação de Anne Moraes e a colaboração de Mariana Oliveira, que contaram com a ajuda de sócios e colaboradores, os quais enviaram fotos, documentos, ajudaram na localização de antigos sócios e deram contribuições signifi cativas sobre datas e fatos importantes que merecem por todos serem lembrados.

O primeiro clipe comemorativo de 50 anos da SBMET mostra a evolução da logomarca da SBMET. O segundo e quarto clipes reúnem fotografi as de congressos, apresentações e principalmente personagens que foram importantes ao longo deste período. O terceiro clipe mostra algumas das publicações que a SBMET produziu ao longo de meio século de vida. O 50 clipe é uma coletânea de fotos dos congressos realizados pela SBMET entre 1990 e 2006. O 60 clipe mostra alguns dos personagens que ajudaram a escrever 50 anos de História da SBMET. O 70 clipe seleciona momentos descontraídos de confraternizações entre sócios em alguns dos eventos promovidos pela SBMET. O 80 clipe continua a série de fotos de momentos descontraídos e confraternizações entre sócios e diretorias em alguns dos eventos promovidos pela SBMET. O 90, 100 e 110 clipes mostram fotos de apresentações de trabalhos durante eventos da SBMET e momentos descontraídos

entre os participantes. O 120 clipe mostra bastidores de encontros de meteorologistas promovidos pela SBMET. O 13º e 140 clipes apresentam todos os presidentes que exerceram mandatos na SBMET desde 1958 até 2008. Por último, na 15º edição dos vídeos comemorativos dos 50 anos da SBMET, é mostrado alguns dos momentos mais descontraídos dos bastidores dos eventos da SBMET. Esse material foi lançado e está disponível no Portal da SBMET (www.sbmet.org.br).

A SBMET também lançou o “Concurso Cultural 50 anos da SBMET”, em 15/08/2008, cujos vencedores foram Victor Hugo Pezzini, Rodrigo Barreto Mathias Rio de Janeiro e Cinthia Avellar, todos sócios da SBMET, do Rio de Janeiro, RJ.

Durante o XV Congresso Brasileiro de Meteorologia, realizado no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo, na noite do dia 27 de agosto de 2008, foi realizada a Cerimônia comemorativa aos 50 anos da SBMET. Nessa ocasião, houve a premiação dos trabalhos científi cos apresentados na forma de pôster e a premiação dos meteorologistas agraciados com os Prêmios Sampaio Ferraz e Adalberto Serra, entregues por ocasião dos congressos bienais a pesquisadores e profi ssionais que se destacam na Meteorologia. O Prêmio Sampaio Ferraz foi concedido a Antonio Divino Moura e Equipe de meteorologistas do INMET e a Luiz Augusto Toledo Machado e Equipe do DAS/CPTEC/INPE. O Prêmio Adalberto Serra foi concedido aos sócios da SBMET que participaram diretamente da elaboração do IV Relatório do IPCC, em 2007: Carlos Afonso Nobre, José Antonio Marengo Orsini, Luiz Gylvan Meira Filho e Pedro Leite da Silva Dias. Outro sócio da SBMET agraciado com o Prêmio Adalberto Serra foi Vernon Kousky, em reconhecimento à enorme contribuição científi ca e pela formação de recursos humanos para o país. O evento também premiou alguns dos sócios de contribuíram de forma signifi cativa para a construção

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destes 50 anos de História, entre ex-Presidentes, ex-Editores da RBMET, colaboradores, entre outros, relacionados abaixo:

1) Valdo da Silva Marques: Por sua dedicação enquanto Presidente e como colaborador. Pelas marcas deixadas em sua gestão, como a compra da Sede no Rio de Janeiro.

2) Antonio Divino Moura/Romísio Bouhid André/Silvio de Oliveira: Pelo trabalho enquanto Diretores Científi cos, pelo esforço na estruturação e solidifi cação da Revista Brasileira de Meteorologia (RBMET).

3) Heloísa Moreira Torres Nunes: Pelo trabalho enquanto membro dos colegiados da SBMET, com atuação notória na organização das atividades dos Conselhos Deliberativo e Fiscal, além de uma importante contribuição enquanto Presidente.

4) Alfredo Silveira da Silva: Por seu trabalho enquanto Diretor Profi ssional da SBMET, especialmente pela sua atuação junto aos CREAs e ao CONFEA.

5) Marley Cavalcante de Lima Moscati: Se toda gestão da SBMET deixa sua marca registrada, defi nitivamente uma das marcas da atual gestão é o trabalho impecável enquanto Diretora Administrativa.

6) Elza Sucharov: Pelo cuidado com toda documentação da SBMET, e pelo trabalho exemplar

enquanto Diretora Financeira da instituição.7) Teresinha de Maria Bezerra Sampaio Xavier:

Representando os profi ssionais de outras áreas e que com garra e determinação abraçaram o trabalho da SBMET.

8) Manoel Francisco Gomes Filho: Pela organização do I Congresso Brasileiro de Meteorologia (I CBMET), em 1980, que hoje está em sua 15ª edição.

9) Fernando Pimenta Alves, Maurílio Campos de Moraes e Castro, Dagoberto Sobreira de Moura, Ivan Pereira de Abreu, Eugênio Jose Ferreira Neiva, Lucimar Luciano de Oliveira, Pedro Leite da Silva Dias, Maria Assunção Faus da Silva Dias, Maria Gertrudes Alvarez Justi da Silva, Prakki Satyamurty, Francisco de Assis Diniz: Os Ex-Presidentes e a atual Presidente da SBMET, todos importantes para a manutenção e o fortalecimento da instituição, e exemplos de trabalho e dedicação.

10) Homenagens Especiais: José de Lima Filho e Francisco Raddi Lourenço.

11) Alexandre Pezza, Everson Dal Piva, Luiz Augusto Toledo Machado, Reinaldo Hass: Pela dedicação, empenho e pontualidade em atender as solicitações de revisão de artigos da RBMET.

Ao fi nal da cerimônia foi exibido o vídeo comemorativo dos 50 anos da SBMET, e oferecido um coquetel de confraternização aos presentes.

O dia 1º de dezembro de 2008 inaugura uma nova etapa da Sociedade Brasileira de Meteorologia. A Diretoria Executiva, eleita durante o XV Congresso Brasileiro de Meteorologia, em São Paulo, tomou posse em cerimônia realizada na sede do CREA-RJ. Nelson de Jesus Ferreira, Presidente eleito, agradeceu pelo apoio e carinho que recebeu da atual Diretoria. “Eles me deixaram felizes e animados. Com este apoio tenho certeza de que podemos fazer a diferença”, declarou. Após a cerimônia, foi oferecido um coquetel de confraternização. Estavam reunidos para a confraternização membros da antiga diretoria, sócios da SBMET e representantes dos Centros Meteorológicos Estaduais.

ELEITA NOVA DIRETORIA EXECUTIVA DA SBMET: 2008-2010Confi ra abaixo os novos integrantes da Diretoria

Executiva da SBMET no biênio 2008-2010:

Presidente: Nelson de Jesus Ferreira (CPTEC/INPE)Vice-Presidente: João Batista Miranda Ribeiro (UFPA)Diretor Administrativo: Jojhy Sakuragi (UNIVAP)Vice-Diretor Administrativo: Marcio Cataldi (ONS)Diretor Científi co: Enio Pereira de Souza (UFCG)Vice-Diretora Científica: Julia Clarinda Paiva Cohen (UFPA)Diretor Financeiro: William Escobar (CPTEC/INPE)Vice-Diretor Financeiro: Lincoln Muniz Alves

(CPTEC/INPE)Diretor Profi ssional: Carlos Magno do Nascimento

(Climatempo)Vice-Diretor Profi ssional: Alfredo Silveira da Silva (UFRJ)

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Boletim SBMET ago.-dez. 2008ISSO FOINOTÍCIA

PESQUISADOR CARLOS NOBRE RECEBE PRÊMIO Scorpus 2008 POR CONTRIBUIÇÃO ACADÊMICA

Em 2008, o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais/Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (INPE/CPTEC) Dr. Carlos Afonso Nobre foi agraciado com o Prêmio Scopus 2008, concedido pela Elservier Science & Technology e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). O Prêmio foi concedido ao pesquisador pelo número de artigos publicados, citações recebidas e orientandos.

O Prêmio Scopus reconhece os pesquisadores brasileiros que em sua carreira acadêmica apresentam uma produção científi ca de alto destaque e excelência retratada na base de dados Scopus, a mais ampla base de resumos e citações de literatura científi ca mundial.

A entrega do Prêmio Scopus foi feita em 10 de julho de 2008, em Brasília.

Fonte: http://www.inpe.br, consultado em 4/07/2008.

MARIA LUIZA POCI PINTO: A FORÇA DA MULHER NO SISTEMA CONFEA/CREA

Dia 04 de junho de 2008 foi um dos dias D, tanto para a SBMET como para a Meteorologia. Nessa data, os profi ssionais do CREA-RJ foram às urnas para escolher seus representantes no Sistema CREA/CONFEA. O resultado fi nal das eleições, informado pela ATEL, considerando os dois candidatos inscritos ao cargo de Conselheiro Federal do CREA, foi:

Atual Presidente do CREA/RJ:Agostinho Guerreiro - 2.251 votos

Atual Conselheira Federal do CREA/RJ:Maria Luiza Poci Pinto - 2.711 votos

Assim, Maria Luiza Poci Pinto foi eleita a primeira mulher meteorologista a ocupar o cargo de Conselheira Federal no CREA.

Em 1988, Maria Luiza foi designada representante dos funcionários do INMET junto ao Ministério da Agricultura. Defendeu os profi ssionais de nível médio e superior, enquadrados indevidamente na MP, saindo vitoriosa em suas argumentações perante a comissão

de negociação em Brasília. Foi Diretora fundadora do SINTRASEF, de 1990 a 1992, representando, no Ministério da Agricultura, os funcionários do INMET.

Sempre atuante, esteve à frente da SBMET participando da Diretoria do Conselho Deliberativo e, durante duas gestões, foi Diretora do Núcleo Regional - NRR/SBMET. Em 2002, marca a história como a primeira técnica eleita conselheira no CREA-RJ. No CREA-RJ, está no seu 3° mandato, participou de várias comissões e foi Coordenadora Adjunta da Câmara Especializada de Agronomia. Em 2005, recebeu do CONFEA o Certifi cado de Serviço Relevante Prestado à Nação e, em 2006, a Moção de Louvor da Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

Antes de ganhar as eleições no CREA-RJ, era representante do plenário da Câmara Especializada de Geologia e Engenharia de Minas da Comissão Julgadora do selo CREA-RJ de Responsabilidade Social, da Comissão de Análise e Prevenção de Acidentes e Coordenadora - adjunta da Comissão de Ética. Faz parte do GT-MULHER (grupo de trabalho voltado para as profi ssionais do Sistema CONFEA/CREA).

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Propostas:1) Criar planos de trabalho visando à educação

continuada para técnicos e profi ssionais de nível superior;

2) Atuar junto aos CREAs para dirimir as dúvidas sobre as atribuições dos técnicos e profi ssionais de nível superior;

3) Realizar projetos para aumentar signifi cativamente o número de profi ssionais de nivel técnico e superior registrados no CREA;

4) Promover articulações para que os técnicos obtenham a proporcionalidade nas Câmaras Técnicas do CREA;

5) Implementar iniciativas junto às escolas técnicas e universidades para divulgação do Código de Ética e o papel do CREA nas nossas profi ssões;

6) Apresentação e defesa de propostas e interesses

dos profi ssionais do CREA-RJ de nível superior e técnico;

A experiência ao longo da vida profi ssional e a vivência adquirida ao longo dos mandatos de conselheira no CREA-RJ, certamente, faz com que Maria Luiza Poci tenha as melhores condições de representar com competência os profi ssionais da Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Rio de Janeiro nesse Conselho.

A SBMET parabeniza a sócia Maria Luiza Poci Pinto pela conquista e deseja uma carreira brilhante no cargo, coroada com muita luta, especialmente em prol da Meteorologia e da Mulher profi ssional.

Email para contato: [email protected]://www.sherique.com.br

Momentos da Cerimônia de Posse, em Brasília:

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Boletim SBMET ago.-dez. 2008NORMAS eLEGISLAÇÃO

Câmara Especializada de Agronomia CEAgro NF-01/08NORMA DE FISCALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES RELATIVAS À METEOROLOGIAAprovada pela Câmara Especializada de Agronomia em 13 de outubro de 2008.Coordenador da CEAgro:Eng. Agrônomo Luiz Rodrigues Freire

I. OBJETIVO

Esta norma tem como objetivo fi xar os critérios e parâmetros, no âmbito de atuação dos profi ssionais meteorologistas para o registro no Crea-RJ e Anotação de Responsabilidade Técnica – ART.

II. FUNDAMENTAÇÃO

A Câmara Especializada de Agronomia do Crea-RJ, no uso de suas atribuições que lhe confere a alínea e do artigo 46 da Lei 5.194/66, considerando o disposto nas leis 5194/66, 5.524/68, 6.496/77 e 6835/80, nas Resoluções n.º 473/2005 e 1010/2005, bem como a Decisão Normativa n.º 50/1993 e, ainda,

CONSIDERANDO:

A necessidade de se disciplinar o registro de pessoas físicas e jurídicas que se dedicam às atividades na área da Meteorologia;

Que o exercício dessas atividades é de competência de profi ssionais da área da Meteorologia;

Que o CREA tem como fi nalidade a defesa da sociedade, procurando assegurar o uso adequado do conhecimento profi ssional e da tecnologia;

RESOLVE

Adotar os parâmetros e procedimentos constantes da Seção III, como base para a fi scalização das atividades profi ssionais mencionadas na Seção I, na jurisdição do Crea-RJ.

III - PARÂMETROS E PROCEDIMENTOS

Em razão do exposto na Seção II, fi cam estabelecidos os seguintes parâmetros e procedimentos para o exercício da fi scalização:

São obrigados ao registro no Crea-RJ, as empresas e profi ssionais autônomos que prestam serviços nas áreas de:

Projeto, instalação, manutenção e/ou operação de Estações Meteorológicas.

Comercialização de equipamentos e Estações Meteorológicas, quando para a efetivação da venda estiver vinculada orientação e/ou assistência técnica.

Consultoria, análise e interpretação crítica de observações de dados, vinculados à previsão de tempo e de clima.

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Boletim SBMET ago.-dez. 2008

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Codifi cação, disseminação e divulgação técnica da informação meteorológica nos meios de comunicação social, técnica e científi ca.

Sensoriamento remoto aplicado à Meteorologia.Modelagem do tempo, clima, hidrometeorologia e

de interação oceano/atmosfera.

Desenvolvimento de modelos conceituais e numéricos de sistemas meteorológicos.

Deverão ser executadas e/ou orientadas, por profi ssional Meteorologista devidamente registrado no Crea-RJ, com o registro da Anotação de Responsabilidade Técnica pertinente:

Modifi cação artifi cial do tempo.

Análise, diagnóstico e prognóstico da atmosfera, e suas relações mutuas com a hidrosfera, biosfera, litosfera, e a criosfera.

Meteorologia marinha e aeronáutica. Diagnóstico de dispersão de poluentes

atmosférico.

Avaliação de impactos ambientais, no que concerne aos eventos meteorológicos.

Climatologia e meteorologia ambiental divulgada pelos meios de comunicação social, técnica e científi ca.

As atividades de geração de boletins meteorológicos e desenvolvimento de modelos atmosféricos e de clima deverão ser executadas por profi ssional Meteorologista devidamente registrado no Crea-RJ, com o registro da Anotação de Responsabilidade Técnica pertinente.

Os veículos de comunicação que fazem a divulgação técnica, TV, Radio e Jornais, devem ter profi ssional Meteorologista no seu quadro ou serem orientados por profi ssionais meteorologistas registrados ou com visto no Crea-RJ.

IV. APROVAÇÃO E REVISÕES

1. AprovaçãoA Norma 01/08 foi aprovada pela Câmara

Especializada de Agronomia – CEAgro em 13 de outubro de 2008.

2. RevisãoNão se aplica.

Eng. Agrônomo Luiz Rodrigues FreireCoordenador da CEAgro

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AGOSTO 2008

SETEMBRO 2008

AGENDA

International Radiation Symposium•

Período: 3 a 8 de agosto de 2008Local: Foz do Iguaçu, PRInformações: http://www.irs2008.org.br/

IV Simpósio Regional de Geoprocessamento e • Sensoriamento Remoto

Período: 12 a 15 de agosto de 2008Local: Aracaju, SEInformações: http://www.exitoeventos.com.br/geonordeste/

Workshop de Dados•

Período: 21 a 23 de agosto de 2008Local: São Paulo, SPInformações: http://www.sbmet.org.br/eventos/_evento_16/index.html

• XV Congresso Brasileiro de Meteorologia

Período: 24 a 29 de agosto de 2008Local: Centro de Convenção Frei Caneca, São Paulo, SPInformações: http://www.sbmet.org.br/noticias_sbmet/XV_Congresso_Brasileiro_de_Meteorologia/index.html

II Simpósio Brasileiro de Ciências Geodésicas e • Tecnologias da Geoinformação

Período: 8 a 11 de setembro de 2008Local: Recife, PEInformações: http://www.ufpe.br/cgtg/simgeo/

10th Plinius Conference on Mediterranean Storms•

Período: 22 a 24 de setembro de 2008Local: Nicósia, CYPInformações: http://meetings.copernicus.org/plinius10/

Fórum Brasileiro de Energia•

Período: 24 a 27 de setembro de 2008Local: Bento Gonçalves, RSInformações: http://www.institutoventuri.com.br/energia/

XVI Simpósio Brasileiro sobre Pesquisa Antártica•

Período: 24 a 26 de setembro de 2008Prazo para recebimento de resumos: 31/07/2008Informações para o e-mail: [email protected]

Regional Weather Predictability and Modelling•

Período: 29 de setembro a 10 de outubro de 2008Local: Trieste, ItáliaInformações: http://www.sbmet.org.br/eventos/_evento_18/Poster_1966.pdf

South African Society for Atmospheric Sciences • Conference 2008 (SASAS)

Período: 30 de setembro a 1º de outubro de 2008Local: Pretória, África do SulInformações: http://www.sbmet.org.br/publicacoes/informes/192008/CALL4papers_2008.pdf

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Boletim SBMET ago.-dez. 2008

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OUTUBRO 2008

NOVEMBRO 2008

VIII do Encontro de Pós-graduação em • Meteorologia do INPE

Período: 1 a 3 de outubro de 2008Local: INPE, Auditório do IAI, São José dos Campos, SPInformações: http://www.cptec.inpe.br/epgmet/

XII Reunião de Agrometeorologia• Tema: La Agrometeorologia y su repuesta al cambio climático Global.

Período: 8 a 10 de outubro de 2008Local: Facultad de Ciencias Agrarias UNJu, San Salvador de Jujuy/ArgentinaInformações: http://www.unju.edu.ar/agrometeorologia2008

Ibero American Workshop on Seasonal Prediction•

Período: 21 a 23 de outubro de 2008Local: Guayaquil, EquadorInformações: http://www.sbmet.org.br/publicacoes/informes/202008/ibero_american.doc

Annual Climate Diagnostics and Prediction / • Workshop US Clivar sobre secas

Período: 20 a 24 de outubro de 2008Local: Lincoln, Nebraska, EUAInformações: http://www.cpc.ncep.noaa.gov/products/outreach/meetings.shtml

Reunião Regional da SBPC/AL• Tema: Diversidade e o Desenvolvimento Regional

Período: 22 a 25 de outubro de 2008Local: UFAL, Cidade Universitária, Maceió/ALInformações: www.sbpcnet.org.br

I Encontro Brasileiro dos Meteorologistas • Operacionais de Previsão de Tempo e Clima (I EBMOP)

Período: 20 a 31 de outubro de 2008Local: INMET, Eixo Monumental Via S1, Sudoeste, Brasília - DFRequisito: Curso superior em Meteorologia ou áreas afi ns, preferencialmente em meteorologia.Inscrições: de 20 a 31 de outubro de 2008.Informações: http://www.sbmet.org.br/campanhas/ebmop/

II Encontro Nacional de Análise Matemática e • Aplicações

Período: 4 a 7 de novembro de 2008Local: UFPB, João Pessoa, PBInformações: http://www.enama.org/

WWRP/Thorpex Workshop on 4D-VAR and • Emsemble Kalman Filter Inter-ComparisonsPeríodo: 10 a 13 de novembro de 2008Local: Buenos Aires, ArgentinaInformações: http://4dvarenkf.cima.fcen.uba.ar/

3º International Conference on Lightning Physics • and EffectsPeríodo: 16 a 20 de novembro de 2008Local: Florianópolis, SCInformações: http://www.groundconferences.com/

Conferência Internacional em Aterramentos Elétricos e • da Física das Descargas Atmosféricas (GROUND’ 2008)Período: 16 e 20 de novembro de 2008Local: Torres da Cachoeira Hotel, Av. Luiz Boiteau Piazza 3991, Cachoeira do Bom Jesus, Florianópolis, SCInformações: www.groundconferences.com

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NOVEMBRO 2008

DEZEMBRO 2008

Conferência Científi ca LBA/GEOMA/PPBio•

Período: 17 a 20 de novembro de 2008Local: Manaus, AMInformações: http://www.lbaconferencia.org/lbaconf_2008/port/index.htm

CBENS e ISES-CLA / I CBENS - Congresso • Brasileiro de Energia Solar / III ISES-CLA - Conferência Latinoamericana da ISES

Período: 18 a 21 de novembro de 2008Local: Florianópolis, SCInformações: http://www.cbens-crlises.com.br/

IV EGU Alexander von Humboldt International • Conference - The Andes: Challenge for Geosciences

Período: 24 a 28 de novembro de 2008Local: Santiago do Chile, ChileInformações: http://meetings.copernicus.org/avh4/

Curso “Modeling the soil-water-plant-atmosphere • system with the SWAP-model”

Período: 25 a 28 de novembro de 2008Local: ESALQ/USP, Piracicaba/SPInscrições gratuitas e vagas limitadas.Contato por e-mail: [email protected], até 30/09/2008.

Modelagem Hidrológica Aplicada a Sistemas • de Alerta de Enchentes e Monitoramento Hidrometeorológico por Sensoriamento Remoto

Período: 1 a 5 de dezembro 2008Local: Rio de Janeiro/RJRealização: SBMET e MCTInscrições gratuitas para sócios da SBMET com registro no CREA. Outras inscrições: R$ 150,00Informações: Anne Moraes ([email protected], Fone: 21-2275-9992)

Curso Aplicações de Satélites Meteorológicos no • Monitoramento da Superfície Continental

Período: 1 a 5 de dezembro de 2008Local: Sede do INMET, Brasília-DFPalestrantes: Land-SAF/IM, INMET, CPTEC/INPE e EUMETSATInformações: http://webaula.cptec.inpe.br/visitview/curso_msc2008/index.shtml

IX Pan Ocean Remote Sensing Conference•

Período: 2 a 6 de dezembro de 2008Local: Guangzhou, ChinaInformações: http://ledweb.scsio.ac.cn/porsec2008

AGU Meeting: Predicting Precipitation•

Período: 15 a 19 de dezembro 2008Local: São Francisco/USAPrazo para envio de artigos: 10 de setembro de 2008Informações: AGU Fall Meeting.

AGENDA

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Boletim SBMET ago.-dez. 2008

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JANEIRO 2009

MARÇO 2009

ABRIL 2009

FEVEREIRO 2009

II Encontro Acadêmico de Modelagem • Computacional do Laboratório Nacional de Computação Científi ca

Período: 13 de janeiro de 2009Local: LNCC, Petrópolis/RJPrazo de inscrição prorrogado: 29 de novembro de 2008.Valor da Inscrição: GRATUITA.Informações: http://www.lncc.br/eventoSeminario/loginCPF.php?idt_evento=583

9º Conferência Internacional Sobre Meteorologia e • Oceanografi a no Hemisfério Sul (ICSHMO): “Extremes: Climate and Water in the Southern Hemisphere”

Período: 9 a 13 de fevereiro de 2009Local: Melbourne/AustráliaInformações: http://www.bom.gov.au/events/9icshmo/index.shtml

6º Simpósio de Meteorologia e Geofísica da APMG • e 10º Encontro Luso-Espanhol de MeteorologiaTema “Desastres Naturais – Um Desafi o para a Humanidade”

Período: 16 a 19 de março de 2009Local: Hotel Meliã Capuchos, Costa da Caparica/PortugalInformações: http://simposio.apmg.pt/

VIII Simpósio Nacional de Controle de Erosão•

Período: 29 de março a 2 de abril de 2009Local: Espaço APAS Eventos, Rua Pio XI, 1200 - Alto da lapa – Pinheiros, São Paulo - SPInformações: http://www.acquacon.com.br/8snce/

Assembléia Geral da European Geosciences Union • (EGU)

Período: 19 a 24 de abril de 2009Local: Viena, ÁustriaInformações: http://meetingorganizer.copernicus.org/EGU2009/session/162

XIV Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto•

Período: 20 a 30 de abril de 2009Local: Centro de Convenções de Natal, Av. Dinarte Mariz , s/n - Via Costeira Natal - RNPrazo para submissão de trabalhos: 10 de novembro de 2008Informações: http://www.dsr.inpe.br/sbsr2009/

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Boletim SBMET ago.-dez. 2008

JUNHO 2009 AGOSTO 2009

SETEMBRO 2009

OUTUBRO 2009

NOVEMBRO 2009

JULHO 2009

CALMet Conference•

Período: 29 de junho a 4 de julho de 2009Local: São Petersburgo/RússiaPrazo para submissão de trabalhos: 31 de dezembro de 2008.Informações: http://www.calmet.org/

VII Convención International INTERNACIONAL • SOBRE MEDIO AMBIENTE Y DESARROLLO

Período: 6 a 10 de julho de 2009Local: Palacio de Convenciones de La Habana, CubaInformações por e-mail com Maria Isabel Torna Falco: [email protected]

13ª Conferência Mundial de Sistemas, Cibernética • e Informática (WM-SCI 2009)

Período: 10 a 13 de julho de 2009Local: Orlando, Flórida/EUAPrazo para submissão de trabalhos: 7 de outubro de 2008.Informações: http://www.2009iiisconferences.org/WMSCI

Congresso Mundial de Ciências da Computação • (WORLDCOMP 2009)

Período: 13 a 16 de julho de 2009Local: Las Vegas/USAPrazo para submissão de trabalhos: 25 de fevereiro de 2009.Informações: http://www.world-academy-of-science.org/worldcomp09/ws

The World Climate Conference 3 - WCRP•

Período: 31 de agosto a 4 de setembro de 2009Local: Geneva Informações: Ghassem Asrar ([email protected]), com cópia para ([email protected], [email protected] e [email protected]).

International Conference "Megacities: Risk, • Vulnerability and Sustainable development"

Período: 7 a 10 de setembro de 2009Local: Leipzig, GermanyInformações: http://www.megacity-conference2009.ufz.de/

5• 0 Congresso Europeu sobre Tempestades Severas

Período: 12 a 16 de outubro de 2009Local: Landshut/GER - AlemanhaInformações: http://www.essl.org/ECSS/2009/

5• 0 Workshop Lidar Measurements na Latin America

Período: 30 de novembro e 4 de dezembro de 2009Local: Instituto Tecnológico de Buenos Aires (ITBA), Buenos Aires, ArgentinaPrazo fi nal para submissão de resumos: 14 de agosto de 2009Informações: http://www.lidar.camaguey.cu/wlmla/5w/w5en_main.htm

AGENDA

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Boletim SBMET abril 2008

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OBITUÁRIO

FALECE O DR. JOHN OWEN ROADS, PROFESSOR PESQUISADOR DA SCRIPPS DE OCEANOGRAFIA

( 20 de janeiro de 1918 - 21 de junho de 2008 )

Professor Pesquisador da Instituição Scripps de Oceanografi a Dr. John Owen Roads, da Universidade da Califórnia, San Diego, nos Estados Unidos, faleceu de consequências de leucemia no dia 21 de junho último. O Dr. Roads graduou-se na Universidade do Colorado com honra ao mérito e obteve seu Ph.D no MIT em 1977, onde foi orientado do Prof. Edward Lorenz, o pai da Teoria do Caos na Meteorologia. Roads começou sua carreira na Scripps, onde foi Diretor do Centro de Previsão Climática Experimental (ECPC), desde 1986. Orientou várias dissertações de mestrado e teses de doutorado e mais de uma centena de papers publicados. Ajudou na consolidação de métodos numéricos de downscaling a partir de modelos globais.

Junto com Joe Smagorinsky, Stefan Hastenrath, J. Shukla, dentre outros, John participou de um workshop com fértil resultado no INPE, em fevereiro de 1980, quando ajudaram a lançar as bases de um futuro Centro de modelagem climática no Brasil (que mais tarde veio a consolidar-se como o CPTEC/INPE). Foi colega de turma do Dr. Antonio Divino Moura no MIT, com quem mantinha laços de amizade e de trabalho profi ssional.

John foi casado com Lori Henderson, com quem teve dois fi lhos: Garret (que veio a falecer adolescente, de trágico acidente de carro) e Emily. Em tempos recentes era casado com Elena Orlova e viviam em San Diego, CA, nos Estados Unidos.

FONTE: Nota traduzida e enviada pelo Dr. Antonio Divino Moura.

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Boletim SBMET abril 2008

Secretaria da SBMET

E-mail Geral: [email protected] Administrativa: Dra. Marley C. L. Moscati Email: [email protected]: (0xx12) 3945-6653Fax: (0xx12) 3945-6666

Setor de Imprensa e Comunicação:

E-mail: [email protected]

Home-page:www.sbmet.org.br

Sobre Boletim da SBMET

Informações Gerais:[email protected]

Envio de artigos e matérias:Dra. Marley MoscatiE-mail: [email protected]: (+5512) 3945-6653Fax: (+5512) 3945-6666

Sobre Revista Brasileira de Meteorologia (RBMET)

InformaçõesGerais:E-mail: [email protected]

Envio de artigos e matérias:Dr. Manoel Gan – [email protected]: (+ 55 - 12) 3945-6650Fax: (+55 - 12) 3945-6666

ATENDIMENTO DA SBMETATENDIMENTO DA SBMET

APOIO

www.confea.org.brE-mail: [email protected]

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Política Editorial do Boletim da Sociedade Brasileira de Meteorologia

Instruções aos Autores:

1) Serão aceitos para publicação no BSBMET, artigos originais na área de meteorologia e áreas correlatas, não publicados anteriormente, versando sobre conclusões e andamentos de Projetos, opiniões sobre pontos de relevância na meteorologia e problemas atuais da meteorologia e do clima, além de matérias técnicas e profi ssionais de interesse.

2) Os manuscritos submetidos deverão ser enviados ao Editor Responsável do BSBMET via e-mail.

3) Os trabalhos devem ser organizados,sempre que possível, com a seguinte estrutura: TÍTULO, nome completo dos autores, as Instituições a que pertencem e o endereço postal, RESUMO/palavras chaves, ABSTRACT/Key words, 1. INTRODUÇÃO, 2. RESULTADOS E DISCUSSÃO, 3. CONCLUSÕES (ou CONSIDERAÇÕES FINAIS), 4. AGRADECIMENTOS, 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. As fi guras e tabelas deverão estar posicionadas dentro do texto conforme estipulados pelos autores. As referências bibliográfi cas, as equações e as unidades devem seguir as normas adotadas pela Revista Brasileira de Meteorologia.

4) O texto deve ter, no máximo, dez (10) páginas e ser escrito em formato A4 (297 x 210 mm), usando-se o Editor Word 6.0 ou posterior, fonte Times New Roman 12, espaço 1,5 cm, todas as margens de 2,5 cm e espaçamento 1,5 cm entre parágrafos.

Padrões para confecção e envio de arquivos eletrônicos dos anúncios:

1. Especifi cação de formatos:1.1 Anúncio ¼ de página, 8x12 cm sem sangria.1.2 Anúncio 1/2 página, 20 x13,25 cm sem sangria.1.3 Anúncio de página inteira, 17,5 x 24 cm com 5 mm de sangria.

2. Programas disponíveis para recepção de arquivos:2.1 CorelDraw X4 ou inferior, nas plataformas PC.2.2 PDF 8.0 (em alta resolução) ou inferior, nas plataformas PC.

3. Mídias para envio:3.1 CDR ou CDR-W3.2 E-mail, para arquivos menores que 8MB

Obs: (1) Para enviar arquivos, favor gravar todos os links e fontes utilizadas na mesma mídia, lembrando que a qualidade de imagens e calibração de cores é de inteira responsabilidade do anunciante. É imprescindível o acompanhamento de uma impressão colorida que possa demonstrar a expectativa de reprodução de arquivo. (2) Todas as imagens (fi guras, tabelas e fotos) devem ser enviadas em arquivos à parte, em JPG ou PDF, em alta resolução.

Endereço para envio: A/c Marley C. L. Moscati, INPE/CPTEC – Dept. Meteorologia, Sala 26, Av. dos Astronautas, 1758, Jd. Granja, São José dos Campos/ SP – 12227-010E-mail: [email protected], com cópia para [email protected].

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DE HISTÓRIA( 29/12/1958 - 29/12/2008 )

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50 ANOS